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Revista Brasileira de Terapia

e-ISSN: 1982-3541 Comportamental e Cognitiva

Uma Proposta Conceitual para o Estudo Comportamental

ARTIGOS CONCEITUAIS | CONCEPTUAL ARTICLES | ARTÍCULOS CONCEPTUALES


do Desenvolvimento e Criatividade Individual: A Árvore
de Comportamentos
A Conceptual Framework for a Behavioral Study of Individual Development and
Creativity: The Behavior Tree

Una Propuesta Conceptual para el Estudio Conductual del Desarrollo Y La


Creatividad Individual: El Árbol de Comportamiento

RESUMO: Criatividade e desenvolvimento humano são Autores


duas áreas de pesquisa nas quais a Análise do Comporta- Hernando Borges Neves Filho 1*
mento tem tido inserção ativa. Entretanto, dado que essas Felipe Lustosa Leite 2
inserções ocorreram em paralelo, há pouco diálogo entre as Natalie Brito Araripe 3
abordagens comportamentais da criatividade e do desenvol- Carlos Rafael Fernandes Picanço 4
vimento. No presente ensaio, tal aproximação é feita, indi- 1
Universidade Estadual de Londrina, PR
2
Imagine Publicações, Fortaleza, CE
cando pontos de encontro entre pesquisas nos dois temas. 3
Imagine Tecnologia Comportamental &
Como produto dessa aproximação, é apresentada a árvore LUNA ABA, Fortaleza, CE
de comportamentos, um diagrama esquemático com fins de 4
Imagine Tecnologia Comportamental &
planejamento de intervenções comportamentais. A árvore de Imagine Publicações Fortaleza, CE

comportamentos é um diagrama que explicita e mapeia o re- Correspondente


pertório comportamental individual, levando em conta va- * hernandonevesfilho@gmail.com
riáveis filogenéticas, ontogenéticas e culturais, de modo a Endereço: Rodovia Celso Garcia Cid | Pr 445
permitir o planejamento de programas de ensino que fomen- Km 380 | Campus Universitário | Cx. Postal
10.011 | CEP 86.057-970 | Londrina - PR
tem a criatividade (i.e. comportamento novo e funcional).
Implicações e vantagens da adoção desse tipo de diagrama
para planejamento de intervenções são discutidas ao final.
Dados do Artigo
Palavras-chave: comportamento novo, inovação, metodo-
DOI: 10.31505/rbtcc.v21i3.1341
logia, intervenção comportamental.
Recebido: 13 de Agosto de 2019
ABSTRACT: Creativity and human development are two Revisado: 20 de Dezembro de 2019
Aprovado: 31 de Janeiro de 2020
topics of research in which Behavior Analysis had active
contributions. However, since these contributions occurred Como citar este documento
in parallel, there is little dialogue between behavioral ap- Neves Filho, H. B., Leite, F. L., Araripe, N.
B., & Picanço, C. R. F. (2019). Uma pro-
proaches to creativity and development. In the present essay, posta conceitual para o estudo comporta-
such approximation is made, indicating converging points mental do desenvolvimento e criatividade
individual: A árvore de comportamentos.
between researches on both themes. As a result of this ap- Revista Brasileira de Terapia Comporta-
proach, the behavior tree is presented, a schematic diagram mental e Cognitiva. 21(3), 350-371. doi: ht-
tps://10.31505/rbtcc.v21i3.1341
for the purpose of planning behavioral interventions. The re-
sponse tree is a diagram that spells out and maps the individ-
ual behavioral repertoire, taking into account phylogenetic,
ontogenetic, and cultural variables that enable the design of É permitido compartilhar e adaptar. Deve dar o crédito
apropriado, não pode usar para fins comerciais.
teaching programs that foster creativity (i.e. new and func-

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tional behavior). Implications and advantages of adopting this type of intervention planning di-
agram are discussed.
Keywords: new behavior, innovation, methodology, behavioral intervention

RESUMEN: La creatividad y el desarrollo humano son dos áreas de investigación en que el


análisis de la conducta se ha insertado activamente. Sin embargo, dado que estas inserciones
ocurrieron en paralelo, existe poco diálogo entre los enfoques conductuales de la creatividad y
el desarrollo. En el presente ensayo, se realiza tal aproximación, indicando puntos de encuen-
tro entre investigaciones sobre ambos temas. Como resultado de este enfoque, se presenta el ár-
bol de comportamientos, un diagrama esquemático con el propósito de planificar intervencio-
nes conductuales. El árbol de comportamiento es un diagrama que explica y mapea el repertorio
conductual individual, teniendo en cuenta las variables filogenéticas, ontogenéticas y cultura-
les, para permitir el diseño de programas de enseñanza que fomenten la creatividad (un com-
portamiento nuevo y funcional). Las implicaciones y ventajas de adoptar este tipo de diagrama
de planificación de intervención se discuten al final.
Palabras-clave: nuevo comportamiento, innovación, metodología, intervención conductual

A Análise do Comportamento (AC) tem


elencado e estudado diversos processos
comportamentais, tanto em ambiente de labo-
cima (bottom-up), com foco primordialmen-
te (mas não exclusivamente) molecular. Uma
abordagem de baixo para cima, parte sempre
ratório como em ambiente aplicado (Tourinho, da racional de que processos tipicamente com-
2003). O estudo e formulação operacional des- plexos, como linguagem, criatividade, dentre
ses processos tem fornecido uma oportunidade outros , são compostos por elementos básicos,
ímpar de se discutir o comportamento a partir que no caso da AC, são os processos comporta-
de uma ótica empírica, conceitual, selecionis- mentais identificados e controlados em labora-
ta e funcional, pautada em previsão e contro- tório (Kubina, Morrison, & Lee, 2006). Não há
le (Skinner, 1953). Boa parte desse desenvol- necessidade de se evocar constructos e explica-
vimento se deu em paralelo com investigações ções especiais para se estudar o comportamento
empíricas de tópicos e processos comporta- verbal (Skinner, 1957), da mesma maneira que
mentais específicos, sem a preocupação formal não há tal necessidade para se estudar a cria-
de se criar uma teoria geral do comportamen- tividade humana e não-humana (Neves Filho,
to (Williams, 1986; Fryling, 2013; Mahoney 2018). Tal postura é muitas vezes contraposta
et al., 2019). Tal desenvolvimento, apesar de a uma abordagem de cima para baixo (top-do-
ter permitido um grande avanço na formaliza- wn), que tipifica parte das abordagens cogni-
ção de processos e conceitos, resulta também tivas, em especial as mais clássicas e antigas,
em uma condição geral de pouco diálogo entre que tem foco e objetivos explícitos de estudar
áreas de pesquisa específicas, mesmo quando fenômenos tidos como complexos, sem a ne-
elas, ao que tudo indica, tratam de fenômenos cessidade de se olhar para os processos bási-
comportamentais similares (Schlinger, 1992). cos que a constituem (Neisser, 1976; Zilio &
Tal desenvolvimento da AC, mesmo que Neves Filho, 2018).
fragmentado, pode ser caracterizado epistemolo- Assim, uma abordagem de baixo para cima
gicamente como uma abordagem de baixo para privilegia um olhar molecular dos fenômenos

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estudados, ou seja, uma análise pormenorizada dessa aproximação, é fornecida uma ferramen-
de relações funcionais com proximidade tem- ta conceitual e esquemática, de caráter molar,
poral. O comportamento imediato é descrito porém com focos moleculares, sob uma pers-
então de acordo com variáveis próximas, tanto pectiva de baixo para cima, que une conceitos
antecedentes quanto consequentes. Entretanto, e processos da pesquisa sobre desenvolvimen-
para além da análise molecular de laboratório, é to e criatividade: a árvore de comportamentos.
necessário também uma análise molar de rela- Tal ferramenta pretende ser um referencial con-
ções funcionais que determinam a ocorrência de ceitual comportamental e desenvolvimentista
determinados comportamentos em uma escala para tratar da construção de repertórios, e em
temporal maior. Uma análise molar, identifica última instância, planejar e fomentar compor-
fontes de controle estendidas temporalmente, tamentos novos (i.e., a criatividade). Para isso,
não necessariamente imediatas à ocorrência do neste ensaio é apresentado brevemente o his-
comportamento (e.g., Tinbergen, 1963). Ape- tórico das duas áreas de pesquisa (desenvolvi-
sar de no laboratório operante o foco ser pri- mento e criatividade), seguido de uma aproxi-
mordialmente molecular (uma análise de ante- mação conceitual, que culmina na proposta da
cedentes e consequentes da resposta), de fato, árvore de resposta. Ao final, são sugeridas al-
um viés molar sempre esteve presente na AC, gumas implicações e aplicações imediatas de
como por exemplo, em conceitos fundamentais uma abordagem comportamental do desenvol-
como “repertório comportamental” ou “história vimento e da criatividade individual, bem como
de aprendizagem”, ambos conceitos que tratam as vantagens do uso da árvore de comportamen-
de um fenômeno estendido temporalmente, e tos no planejamento de pesquisa e intervenção
não restrito a um momento ou local (Rachlin, comportamental.
2013). Diante deste cenário, duas áreas de pes-
quisa operante têm destaque no âmbito do exer- Uma perspectiva analítico-
cício de um olhar híbrido, molecular e molar, comportamental do desenvolvimento
partindo de um pressuposto de baixo para cima, humano
a saber, as áreas do Desenvolvimento Humano
e da Criatividade (Neves Filho, 2018). O estudo do desenvolvimento humano é um
Diante disto, o presente ensaio pretende fa- tópico antigo da Psicologia como um todo, bem
zer uma apresentação e discussão dessas duas como de áreas afins como a biologia, sociolo-
áreas, o desenvolvimento e a criatividade hu- gia, antropologia, educação e medicina (Hogan,
mana, sob uma perspectiva operante. Em um 2000). A origem da abordagem moderna do de-
cenário mais amplo, disciplinas que tradicional- senvolvimento humano é muitas vezes traçada
mente estudam a criatividade em geral a rela- ao romance pedagógico “Emílio, ou da Edu-
cionam com o desenvolvimento do organismo cação” de Rousseau (1762), na qual o desen-
(Sawyer et al., 2003). Na AC, apesar desta não volvimento humano é dividido em estágios ou
ser uma teoria ou proposta diretamente voltada etapas. A obra de Rousseau reverberou em con-
para assuntos de desenvolvimento e criativida- cepções posteriores de desenvolvimento huma-
de, há avanços conceituais e empíricos nesses no que ecoam um olhar estruturalista sobre o
dois tópicos, entretanto, como é o caso geral tema, i.e., um olhar focado em etapas bem de-
da área, pouco ou nenhum diálogo é feito en- finidas (Hogan, 2000). Alguns exemplos his-
tre pesquisas e conceitos operantes nestes te- toricamente notáveis dessa tradição estrutura-
mas . O presente ensaio pretende também ser lista são os trabalhos de Baldwin (1896), Freud
uma tentativa nessa direção. Como resultado (1905), Piaget (1936) e Flavel (1963).

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Em parcial contraponto às abordagens es- ro. Anos depois, Watson publicou um manual
truturalistas, algumas outras perspectivas sur- controverso sobre cuidados de crianças (Wat-
gidas na Psicologia focaram não tanto em eta- son & Rayner, 1928), no qual explora em de-
pas bem definidas de desenvolvimento, mas talhes as implicações da aprendizagem sobre o
sim em como eventos específicos, não neces- desenvolvimento infantil, à época descrita pri-
sariamente ligados ao desenvolvimento bioló- mordialmente por meio da noção de hábito e de
gico, teriam impacto no desenvolvimento do condicionamento respondente (Bijou, 1968).
organismo. O contraponto é parcial, pois es- Boa parte da controvérsia do trabalho de
tas abordagens não negam que existam etapas Watson se deu em especial pelo fato de Albert
razoavelmente bem definidas de desenvolvi- não ter recebido um treino para reverter o pa-
mento, mas sim que há um segundo elemento reamento de respostas emocionais. Watson e
importante na história de desenvolvimento do Rayner (1928) planejaram essa etapa, e che-
organismo, que é o efeito da aprendizagem e a gam a descrever possíveis procedimentos para
análise de como eventos e situações específi- isso, entretanto, não os realizaram. Isso gerou
cas modificam o organismo de forma transitó- um acalorado debate ético que inflamou de ime-
ria ou mesmo permanente (Reese, 1982). Um diato o desapreço por este tipo de abordagem
dos primeiros exemplos dessa linha se deu com sobre o desenvolvimento, bem como uma lon-
o trabalho de Watson e Rayner (1920), o mes- ga busca pelo destino de Albert (Beck, Levin-
mo Watson do seminal “A Psicologia como o son & Irons, 2009). Diante dessa controvérsia,
Behaviorista a vê”, que ficou conhecido como abordagens estruturalistas acabaram por se re-
o manifesto behaviorista (Watson, 1913). finar cada vez mais e dominar o debate sobre
O estudo de Watson e Rayner (1920) foi uma o tema na primeira metade do século XX. En-
das primeiras demonstrações empíricas do con- tretanto, na segunda metade do século XX, a
dicionamento das chamadas “respostas emocio- abordagem funcional do desenvolvimento, fo-
nais”, além de ter sido um dos primeiros estu- cada em aprendizagem, foi retomada com pes-
dos comportamentais no paradigma de sujeito quisas de viés analítico comportamental, de
único, sujeito este que ficou conhecido como forma mais refinada e com uma preocupação
o “pequeno Albert”. Nesse estudo, inicialmen- maior com questões aplicadas .
te foi observado que Albert não exibia nenhu- A primeira grande empreitada analítico com-
ma resposta de medo ou aversão a um animal portamental sobre o desenvolvimento humano
peludo, no caso um rato albino de laboratório. foi feita por Bijou e Baer (1961; 1965), que de-
O animal foi posto à frente de Albert, que se pois foi aprimorada por Bijou (1968; 1976).
inclinou em direção ao animal e o tocou. Pos- Dada a época de sua formulação, esta é uma
teriormente, em uma outra apresentação, os empreitada pautada principalmente em proces-
experimentadores produziram um som alto e sos básicos tradicionais (reforço, extinção, en-
inesperado, batendo com força em uma bar- cadeamento, generalização de estímulos etc), e
ra de ferro, no momento em que Albert tocava não incorpora metodologias e processos mais
o rato, o que produziu imediatas respostas de recentes (como a variabilidade aprendida, sal-
orientação e susto na criança. Esse pareamento tos comportamentais, recombinação de reper-
foi repetido duas vezes, e foi o suficiente para tórios, etc). Da mesma maneira, é uma proposta
eliciar respostas de choro e irritabilidade em que tem alguns pressupostos sobre o papel da
diversas apresentações posteriores, tanto des- biologia sobre o desenvolvimento que hoje são
se mesmo rato, quanto também de outros ani- anacrônicos, dados os avanços dessa área nas
mais peludos, como um coelho e um cachor- últimas décadas, bem como é uma proposta que

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pouco dialoga com variáveis culturais, apesar repertório comportamental a partir do constan-
do foco em aprendizagem (c.f. Misra & Babu, te contato social, simbólico e verbal com seu
2013). Apesar disso, é ainda um trabalho para- ambiente. Os três estágios são dependentes de
digmático, e que serve de base para debates que estágios de desenvolvimento e maturação bio-
circulam na área até hoje (e.g., Gehm, 2013). lógico, entretanto, ocorrem de maneira idios-
Para Bijou (1968, p.226, tradução livre), “a sincrática e em tempos individuais, na medida
criança pode ser conceitualizada como um lo- em que dependem do acúmulo e interação de
cus de variáveis de estímulos e respostas em uma série de contingências de reforço e punição.
um contexto interacional”, o que já de imedia- Para Bijou (1968), o diferencial de sua Psi-
to identifica a aprendizagem, as variáveis de cologia do desenvolvimento operante é de que,
estímulos e respostas, como foco privilegiado a partir desses estágios, e de repetidas medidas
da proposta. Complementando essa afirmação, de linha de base, é possível tanto mapear eta-
Bijou (1968) toma o cuidado de deixar explí- pas de desenvolvimento levando a história in-
cito que a criança, nesse sentido, não é um lo- dividual como medida, como é também possí-
cus passivo, no qual estímulos imprimem seus vel fomentar e desenvolver comportamentos
efeitos. Pelo contrário, a criança é um agente (com o uso de técnicas de reforço, punição e
ativo que interage constantemente com seu am- modelagem) de modo a incrementar o reper-
biente, modificando-o e sendo modificado por tório comportamental do indivíduo de maneira
ele. Nenhuma criança é portanto uma tabula adaptativa e socialmente relevante. (Mendres
rasa. Neste ponto, a proposta de Bijou (1968) & Frank-Crawford, 2009). Tal raciocínio geral
tem certa aproximação com a teoria sistêmica levou a uma robusta agenda de propostas, pes-
do desenvolvimento humano de Bronfenbren- quisas e intervenções analítico-comportamen-
ner (1977), que também tem como ponto cen- tais, voltadas inclusive para indivíduos com
tral a relação do organismo e seu ambiente, desenvolvimento atípico, particularmente indi-
porém neste caso em um viés mais ecológico/ víduos diagnosticados com Transtorno do Es-
biológico (Rosa & Tudge, 2013). Além disso, pectro Autista (e.g., Tarbox, Dixon, Sturmey,
diversas teorias cognitivas mais recentes, mes- & Matson, 2014).
mo estas partindo de uma postura estruturalis- Um segundo marco da Psicologia desen-
ta, tem começado a dar mais destaque para o volvimentista de viés comportamental se deu
efeito da aprendizagem sobre o desenvolvimen- poucas décadas depois das propostas inicias de
to, em alguns casos até mesmo em termos si- Bijou (1968), marco esse delimitado pela for-
milares aos propostos por Bijou (e.g. Gopnik, malização dos conceitos de saltos comporta-
Meltzoff & Kuhl, 2016) mentais (Bosch & Fuqua, 2001; Rosales-Ruiz
Bijou (1968) apresenta três grandes estágios & Baer, 1997) e comportamento pivotal (Koegel
do desenvolvimento humano: (1) o estágio uni- & Frea, 1993). Os conceitos de salto compor-
versal da infância, que vai desde o nascimento tamental (também chamado de cunha, cúspide
até o estabelecimento de comportamento ver- ou patamar comportamental) e comportamento
bal funcional, (2) o estágio básico, quando o pivotal não tratam de processos comportamen-
indivíduo começa a desenvolver sua persona- tais novos, distintos dos processos tradicionais
lidade, advinda das contingências únicas com (como reforço, punição, extinção etc), mas sim
as quais ele interage (família, cultura, primeiras são maneiras de olhar para o desenvolvimento
socializações etc), e (3) o estágio social, que é do repertório comportamental de forma molar
do fim da infância até o fim do ciclo de desen- e desenvolvimentista. Apesar de serem tratados
volvimento, no qual o indivíduo expande seu muitas vezes como sinônimos, os conceitos de

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saltos comportamentais e comportamentos pi- trução similar, de modo que possivelmente este
votais têm diferenças sutis entre si. treino seja generalizado para casos similares,
Um salto comportamental, como inicialmen- para frases e construções verbais/escritas dife-
te definido por Rosales-Ruiz e Baer (1997), se rentes da originalmente treinada. Em um outro
dá quando um indivíduo aprende um determina- exemplo clássico, Stahmer (1995) ensinou um
do comportamento que permite entrar em conta- repertório geral de brincadeiras simbólicas, com
to com novas contingências, com novas conse- atribuição de características fictícias a objetos
quências. Exemplos clássicos e bem nítidos de e estímulos, como, por exemplo, usar uma ba-
saltos comportamentais são aprender a andar e nana como telefone “de brincadeira”. O treino
aprender a ler. Ao aprender a andar, ou se loco- foi dado a crianças com desenvolvimento típico
mover de forma geral, um organismo passa a ter e atípico, e em ambos grupos de crianças, foi
acesso a um grande número de novos objetos, observado o surgimento do brincar simbólico
eventos e ambientes, que sem a locomoção es- com os estímulos treinados, que posteriormen-
tariam inacessíveis. Da mesma maneira, quando te foram generalizados para novas brincadeiras
um humano aprende a ler, este entra em conta- e novos estímulos, dado um treino adequado
to com todo o conteúdo simbólico de sua cultu- para cada caso. A diferença entre saltos com-
ra, acumulado durante gerações e armazenados portamentais e comportamento pivotal é que,
em formas de livros, textos e outros documen- no caso dos saltos comportamentais um com-
tos físicos e digitais. Nesses dois casos, apren- portamento permite acesso à novas contingên-
der um determinado repertório comportamen- cias, enquanto que um comportamento pivotal
tal, andar ou ler, permite ao indivíduo acessar é um comportamento que tem efeito sobre a
contingências que, antes de aprender esses re- emissão de variações não treinadas desse com-
pertórios, eram totalmente inacessíveis (i.e., não portamento. O primeiro expande o contato com
controlavam comportamento). Diversos compor- o ambiente e novas contingências, o segundo
tamentos podem ser categorizados como saltos: expande o repertório comportamental indireta-
aprender um novo instrumento musical, apren- mente. Ambos casos são comportamentos que
der uma nova língua, conseguir um novo empre- expandem drasticamente o repertório do indi-
go, dentre tantos outros exemplos, permitem ex- víduo (e.g., Twyman, 2011).
pandir seu repertório de um modo que antes era Diante disso, pode-se afirmar que, hoje em
impossível ou pouco provável. dia, uma abordagem analítico-comportamen-
Já um comportamento pivotal, como defi- tal do desenvolvimento humano tem como
nido por Koegel e Frea (1993), descreve um pedra angular a formação e a expansão de re-
tipo de comportamento que, quando aprendido, pertórios comportamentais, expansão essa que
permite a ocorrência de outros comportamen- ocorre no decorrer da ontogênese, da vida de
tos similares sem a necessidade de um treino um indivíduo, e que é determinada por uma
específico adicional. Um exemplo é o treino construção gradual e inclusiva de componen-
de comunicação funcional. Um indivíduo pode tes desses repertórios, que são expandidos (ou
conhecer sua língua materna e saber se comu- eliminados) de acordo com as contingências
nicar, porém de forma não funcional ou pou- nas quais esse repertório é estabelecido e man-
co efetiva, como, por exemplo, apresentando tido. Dito isso, tem-se hoje em dia uma pro-
dificuldade de articular a fala em uma senten- posta desenvolvimentista de caráter compor-
ça coesa. A articulação da fala pode ser ensi- tamental que parte de um olhar de baixo para
nada em um treino de caso específico, a partir cima (processos operantes e respondentes bá-
de múltiplos exemplares de frases com cons- sicos estabelecem os comportamentos pivotais,

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os saltos básicos de um repertório) com espe- de intrínseca, que em última instância podem
cial atenção a uma interpretação molar (estes caracterizar comportamentos discretos inédi-
repertórios interagem entre si, criando condi- tos (Neves Filho, 2019). Em todos os casos,
ções para a ocorrência e surgimento de novos comportamentos criativos, por mais extraor-
repertórios). Tal olhar tem um paralelo direto dinários e inéditos que sejam, são determina-
com abordagens operantes da criatividade hu- dos por processos comportamentais bem docu-
mana, na medida em que este é um fenôme- mentados, e podem portanto ser analisados em
no que também tem sido trabalhado em uma uma perspectiva operante, de baixo para cima
perspectiva de baixo para cima, sob um olhar (Zilio & Neves Filho, 2018).
molar (Kubina, Morrison, & Lee, 2006; Ne- Entretanto, todos os estudos operantes sobre
ves Filho, 2018). a origem de comportamentos novos tem deta-
lhado e investigado um tipo específico de cria-
O desenvolvimento de uma abordagem tividade, chamada de criatividade-p (Kubina,
analítico-comportamental da criatividade Morrison, & Lee, 2006). A criatividade-p (ou
criatividade, com “c” minúsculo) é uma cate-
Diversos autores e autoras tem apresenta- goria descritiva de comportamentos novos que
do propostas e teorias operantes da criativida- tem a vida do sujeito em questão como medida.
de (para uma revisão detalhada, conferir Neves Por exemplo, aprender a tocar um instrumento
Filho, 2018). Em geral, esses autores e auto- musical novo, ou aprender uma nova língua, são
ras focam na origem de comportamentos no- exemplos de criatividade-p, na medida em que
vos, o que culmina na criatividade, mas não tratam de repertórios comportamentais novos
necessariamente é sempre um exemplo dela, para aquele sujeito. Tais comportamentos, em
já que para ser criativo, o comportamento pre- uma perspectiva comportamental e desenvol-
cisa ter função, e não somente ineditismo (Si- vimentista, são também comportamentos pivo-
monton, 2000). tais, ou saltos comportamentais.
De acordo com essas propostas, diversos Um segundo tipo de criatividade é a cha-
processos comportamentais bem documenta- mada de criatividade-h (ou Criatividade. com
dos estão ligados à origem de comportamen- “C” maiúsculo), e esta é uma criatividade his-
tos novos, desde processos básicos como a in- tórica, inédita para o grupo ou cultura na qual
dução de respostas, generalização de estímulos ela ocorre. Cabe aqui ressaltar que Criativida-
e reforço diferencial, até processos mais com- de-p e -h são duas categorias didáticas estru-
plexos, como a recombinação de repertórios, turais usadas para distinguir instâncias de cria-
a variabilidade aprendida e a adução pela con- tividade, de modo que propostas recentes têm
tingência (para uma revisão detalhada destes e refinado essas duas categorias gerais em de-
outros processos, bem como sua relação com a zenas de outras subcategorias, como tradicio-
criatividade, conferir Neves Filho, 2018). De nalmente é observado no desenvolvimento de
fato, dada a própria natureza do fenômeno es- abordagens estruturalistas (para mais detalhes
tudado (o comportamento), pesquisas operan- sobre este tópico, conferir Sousa, 2009; Mer-
tes sempre lidam com um fator de novidade, rotsy, 2013). De qualquer maneira, exemplos
de aspectos novos estocásticos intrínsecos ao de criatividade-h envolvem o desenvolvimen-
comportamento, e para lidar com isto, utiliza- to de novas tecnologias, novas teorias científi-
-se de conceitos como a classe de respostas, cas, novos produtos, novos gêneros musicais,
que é uma maneira de agrupar funcionalmente etc. Toda criatividade-h é também um exemplo
uma gama de respostas com uma variabilida- de criatividade-p (para ser novo para o grupo,

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tem de ser novo para indivíduo que o produz), estudo da criatividade-h (como a historiome-
com o adicional de dispersão no grupo (assim tria), tem focado em identificar sua ocorrência
que começa a ocorrer, diversos membros do e observar como ela se dispersa em uma cul-
grupo utilizam ou disseminam esse produto tura. Em uma perspectiva que privilegia pre-
ou comportamento). A criatividade-p abre no- visão e controle, como a perspectiva operante,
vas portas, novas possibilidades para um indi- é possível, em tese, dar um passo adicional:
víduo, enquanto que a criatividade-h muda a prever e controlar a criatividade-h.
dinâmica e cria novas relações em um grupo É justamente neste ponto que se localizam
(Boden, 1996). Desta maneira, ao se falar de intersecções potencialmente frutíferas das con-
criatividade-h, está-se falando das origens de tribuições dos campos de criatividade e desen-
práticas culturais. volvimento, perpassando o estudo da cultura,
Práticas culturais são um dos objetos de no sentido de que: (a) o estudo da criativida-
estudo privilegiados de uma outra área de de capacita cientistas do comportamento a de-
pesquisa da AC, a Análise Comportamental senvolverem procedimentos e tecnologia de
da Cultura. Em termos de discussões concei- ensino efetivas para treino de inovação e re-
tuais nessa área, e fazendo um paralelo entre solução de problemas, (b) o campo do desen-
ontogênese e cultura, Glenn et al. (2016) es- volvimento humano apresenta dados valiosos
tenderam o conceito de saltos comportamen- acerca de questões relacionadas a pré-requisi-
tais para tratar de inovações culturais, des- tos comportamentais ou de maturação bioló-
crevendo o que nomearam de saltos culturais gica que permitem ou são necessárias para a
(do inglês cultural cusp, em tradução livre) maestria de dado repertório comportamental
como a “coalescência única e não recorrente e, (c) investigações comportamentais culturais
de contingências comportamentais entrelaça- permitem que se otimizem modos de organi-
das e/ou contingências comportamentais indi- zação social ou até das relações entre grupo,
viduais que resultam em um produto que leva espaço físico e consumo de recursos de modo
a significativa mudança sociocultural” (p. 21, a tanto identificar repertórios que são deman-
tradução livre). Assim como os saltos com- das ou relevantes para serem aprendidos na-
portamentais tem um paralelo direto com o quele grupo ou apenas podem ser dominados
conceito de criatividade-p, os saltos culturais através do contato com ambientes sociais e/ou
tem paralelo direto com o conceito de criati- verbais específicos.
vidade-h. Este paralelismo conceitual pode Assim, apresentadas as propostas compor-
ser um primeiro passo no sentido de abertura tamentais de estudo do desenvolvimento e da
de canais de diálogos entre pesquisadores dos criatividade, perpassando a análise da cultu-
campos da cultura e da criatividade, o que po- ra e dando continuidade às interlocuções en-
deria dar luz a uma linha de pesquisa inédita tre estes campos, a seguir será realizada uma
com avaliações de efeitos de variáveis cultu- análise desenvolvimentista da criatividade, que
rais, ou como práticas culturais podem evoluir tanto busca identificar os processos relaciona-
de modo a fomentar inovação – maior efeti- dos ou necessários para aprendizagem, como
vidade em resolução de problemas, o que já também permita mapear caminhos de desen-
foi descrito por Glenn (1986) como processos volvimento comportamental que tornem mais
culturais tecnológicos – e, consequentemen- prováveis a aprendizagem generalizada de re-
te tornar mais provável a ocorrência de cria- solução de problemas, fomentando a criativi-
tividade-p e portanto também criatividade-h. dade-p, e criando condições do surgimento da
Até o momento, metodologias tradicionais de criatividade-h.

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Criatividade e desenvolvimento desenvolvimento de seu repertório comporta-


mental, no acúmulo de suas experiências pas-
Estudar instâncias de criatividade-p, de com- sadas, que por sua vez alteram a interação com
portamentos novos na história de um indiví- eventos presentes. De fato, estudos historiomé-
duo, requer necessariamente um olhar sobre tricos que fizeram o levantamento de centenas
o desenvolvimento daquele indivíduo, na me- de biografias de cientistas e artistas, identifi-
dida em que o interesse principal é como no- cam que para se produzir uma obra artística,
vos comportamentos surgem, de acordo com uma tecnologia ou teoria científica de impac-
aprendizagens anteriores. Entretanto, falar da to em sua área, é necessário, em média, ao me-
origem de comportamentos novos não neces- nos dez anos de expertise naquela área (Erics-
sariamente implica em falar de criatividade, já son, Krampe, & Tesch-Römer, 1993).
que para isso são necessários alguns cuidados Em termos distintos, mas comentando so-
a mais, em especial no que se refere a forma- bre o mesmo tema, Skinner (1972) afirma que
ção de um repertório especializado, a função, o poeta, assim como uma mãe que dá luz a seu
e a dispersão desse repertório em um grupo de filho, é um locus de efeitos cumulativos. Uma
indivíduos. Para que algo seja “criativo” não mãe ao gestar seu bebê está gerando um orga-
basta ser novo e inédito, é necessário também nismo, que carrega genes seus (que por sua vez
ter uma função e ser replicável entre os sujei- foram de seus antepassados) e genes de seu par-
tos de um grupo (Neves Filho, 2019) ceiro. Da mesma maneira, o poeta ou a poeta,
No estudo geral da criatividade, é quase ao escrever um poema, é também um locus de
consenso que, para se obter uma performan- sua história de vida, de suas aspirações, refe-
ce criativa e inovadora em uma área específi- rências, língua mãe, autores e autoras preferi-
ca do conhecimento ou atuação, é necessário dos etc. Em ambos os casos, o produto é cuida-
um conhecimento prévio dessa área (Simon- do e gerido pelo seu criador, mas os processos
ton, 2000). Um exemplo que ilustra esse ar- que os levam a criar são produtos históricos,
gumento é a criatividade infantil. Crianças de determinados pelas contingências que os leva-
variadas idades são exímias em produzir com- ram à concepção.
portamento novo. Um desenho inicial de um Este comentário de Skinner sobre o compor-
girassol comumente se torna um sol com um tamento criativo é quase uma paráfrase em di-
rosto, casas ganham asas, e animais são dese- ferente contexto do que, como apresentado an-
nhados com as mais variadas liberdades artís- teriormente, Bijou (1968) conceitualiza como
ticas. Uma única instância de reforço produz criança. Para Skinner (1970) o poeta é o locus
diversos casos de indução de respostas simila- de contingências, para Bijou (1968) a criança,
res (Hunter & Rosales-Ruiz, 2019). Entretanto, como um organismo em desenvolvimento, pode
dificilmente um desenho infantil é considera- ser entendida como um locus de contingências.
do uma obra de arte com valor de mercado, ou A diferença entre o poeta adulto e a criança,
engloba características apreciadas por críticos neste caso, é um recorte epistemológico. Tem-
e curadores de arte. Da mesma maneira, ape- -se aqui portanto um indicativo de que a apro-
sar da criatividade quase irrestrita de crianças, ximação das duas áreas não é algo casual e ar-
quase sempre de caráter questionadora e indu- bitrário, o que resulta na conclusão de que se
tiva, não temos exemplos de teorias científicas a AC tem pretensões de estudar a criatividade,
advindas de turmas de jardim de infância. O di- em sua perspectiva individual e social, e não
ferencial, se dá, portanto, no repertório acumu- somente catalogar processos que resultam em
lado, no desenvolvimento desse organismo, no comportamentos inéditos, é necessário sinteti-

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zar uma abordagem operante tanto dessa ori- nejamento de contingências que, similar à mo-
gem de comportamentos novos, como do de- delagem, identifique um comportamento alvo
senvolvimento de repertórios comportamentais e o destrinche em repertórios pré-requisito. É
no decorrer da vida de um indivíduo. Da mes- possível, em tese, identificar, por exemplo, que
ma maneira, para se entender o desenvolvimen- repertórios são necessários para se aprender a
to humano, é importante saber qual a origem tocar violino, e a partir disso, criar um progra-
de comportamentos novos, como o repertório ma de ensino desses repertórios. Uma aborda-
se expande, e como novos comportamentos gem direta e tradicional para isso, seria focar na
influenciam a aquisição e manutenção de ou- modelagem destes repertórios até chegar ao ob-
tros comportamentos, ao longo do desenvolvi- jetivo final. Essa é de fato a estratégia que tem
mento da história do indivíduo. Tem-se ai por- mostrado resultados positivos em programas
tanto o delineamento geral de uma abordagem de intervenção para indivíduos com desenvol-
operante e desenvolvimentista da criatividade. vimento atípico, como o VBMAPP (Sundberg,
Desse modo, é possível concluir que o pró- 2008). Uma outra maneira de se obter resulta-
prio estudo da criatividade por um viés analíti- dos similares de forma mais econômica, e apli-
co-comportamental demanda que não seja limi- cável a uma maior população, seria identificar
tado a somente catalogar processos que resultam e mapear os repertórios já presentes e instala-
em comportamentos inéditos, mas também ne- dos, identificando-os como pré-requisito, como
cessita que sintetize uma abordagem que englo- saltos comportamentais ou comportamentos
be o corpo de conhecimento relativo ao desen- pivotais para outros repertórios, e a partir dis-
volvimento humano e impactos de interações so criar um programa de ensino voltado para a
com ambientes sociais. Tal síntese resulta em recombinação dessas unidades, algo que pos-
um campo de investigação ampliado que en- sivelmente engendra maiores componentes de
globa: (1) o mapeamento de ramos de desen- variabilidade e inovação do que a modelagem
volvimento de repertórios comportamentais que (e.g., Johnson & Street, 2012). Uma proposta
possibilitam a emergência de dado comporta- para se pensar a construção de repertórios des-
mento-alvo ou dado salto comportamental; (2) ta maneira é a árvore de comportamentos apre-
a aproximação e junção de procedimentos de sentada a seguir.
ensino desenvolvidos nos campos do desen-
volvimento humano e da criatividade para que Árvore Comportamental: um diagrama para
seja possível emergir dado comportamento; e análise e construção de repertórios novos
(3) a análise de ambientes sociais que determi-
nam a relevância de comportamentos específi- A árvore comportamental é um modelo ini-
cos a serem ensinados ou que emerjam a par- cialmente proposto, de forma breve, por Ne-
tir da recombinação do que foi aprendido em ves Filho (2018), cujo objetivo central é servir
treinos anteriores. Embora parta de campos de como uma ferramenta de mapeamento de de-
investigação já consolidados, a recombinação mandas e planejamento de ensino que leve em
de diferentes tradições de pesquisa e interven- conta possibilidades de recombinação de re-
ção pode resultar na emergência de um campo pertórios, fornecendo ainda um suporte visual
novo, que por si pode ser caracterizado como para o percurso de treino com seus pré-requi-
um exemplo de criatividade-h. sitos e ramificações. Toma-se como pressu-
Partindo desta abordagem comportamental e posto básico que ao mapear um vasto núme-
desenvolvimentista da criatividade, como aqui ro de comportamentos em medidas de linha de
brevemente delineada, é possível fazer um pla- base, torna-se possível aproveitar componen-

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tes destes comportamentos como unidades pi- A Figura 1 apresenta a árvore de comporta-
votais, ou pré-requisitos a serem recombinados mentos de um rato albino (Rattus norvegicus),
em direção aos comportamentos-alvos finais. criado e mantido em biotério, que participou
Para ilustrar a ferramenta, ela será demonstra- de um experimento de resolução de problemas
da primeiro em um experimento de resolução (Neves Filho, Stella, Dicezare, & Garcia-Mija-
de problemas com ratos (Figura 1) e depois res, 2015). No experimento, o problema a ser
em um experimento mais complexo com cor- resolvido requeria a recombinação de dois re-
vos da Nova Caledônia, que possui interfaces pertórios comportamentais: (1) cavar de for-
com pesquisas aplicadas (Figura 2). Por fim, é ma direcionada em uma superfície coberta por
apresentada uma árvore com planejamento hi- serragem, e (2) escalar dois lances de escadas.
potético de contingências de ensino de um re- Os ratos do estudo aprenderam os dois reper-
pertório complexo em um humano (Figura 3). tórios de forma isolada, em sessões distintas

Figura 1. Árvore de comportamentos para um rato albino (Rattus norvegicus) do estudo de Neves Filho et al.
(2015). Neste estudo, o rato foi exposto a uma situação-problema na qual precisava recombinar dois comporta-
mentos (R1 e R2) aprendidos de forma independente. Animais que receberam o treino dos dois repertórios, que
foram modelados a partir de comportamentos observados em linha de base (não treinados) recombinaram os dois
comportamentos treinados no teste final, emitindo assim uma sequência de comportamentos novos, advindos
destes pré-requisitos treinados de maneira independente um do outro.

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(i.e., não encadeados), e resolveram o proble- cavar e escalar, foi possível desenhar uma ta-
ma após este treino. Nenhum dos animais re- refa para estudar o fenômeno (a recombina-
solveu este problema antes do treino (sessões ção de repertórios), de maneira mais fácil e
de pré-teste). Da mesma maneira, nenhum ani- econômica (i.e., com menos sessões de treino
mal que aprendeu somente um dos dois reper- e com mais resultados de solução do proble-
tórios resolveu o problema. Resultados simila- ma em questão). A árvore da Figura 1 identi-
res foram também encontrados em um estudo fica justamente por que a empreitada deste es-
posterior, também com ratos, no mesmo pro- tudo foi bem-sucedida: seu ponto de partida
cedimento (Neves Filho, Dicezare, Martins Fi- tomou proveito de diversos repertórios já emi-
lho, & Garcia-Mijares 2016). tidos pelo sujeito, o que economizou tempo de
Com base no treino fornecido nesse estu- treino e garantiu uma situação-problema eco-
do (Neves Filho et al. 2015), e o conhecimento logicamente relevante, que permitiu aos ratos
do etograma básico de ratos albinos (Whishaw, solucionar a tarefa proposta pelos experimen-
Haun, & Kolb, 1999), é possível construir a ár- tadores e experimentadoras.
vore da Figura 1 de modo a identificar qual o A Figura 1 apresenta talvez a mais simples das
repertório final esperado no estudo (o repertório situações possíveis para uso da árvore como ferra-
recombinado de resolução do problema), bem menta de mapeamento e planejamento de repertó-
como quais comportamentos diretamente treina- rios. Neste caso, a árvore foi utilizada para anali-
dos foram pré-requisitos para que o desempenho sar dados já coletados, identificando que variáveis
final emergisse. É possível também identificar de treino foram bem-sucedidas ou não, bem como
quais são os componentes básicos dos compor- desenhar um “mapa” da replicação deste treino
tamentos treinados, ou seja, quais são as unida- para estudos seguintes. Para exemplificar de for-
des componentes deste comportamento que o ma mais completa o modelo aqui exposto, ainda
animal já emitia antes do treino (linha de base). utilizando dados de experimentos já publicados,
Todos estes comportamentos, neste caso, foram a seguir será apresentado seu uso em uma situa-
comportamentos comumente encontrados em ção experimental que envolveu mais comporta-
etogramas de ratos, e portanto comportamen- mentos (Neves Filho, Knaus, & Taylor, 2019).
tos basais, com forte determinação filogenética. A Figura 2 ilustra a árvore de comporta-
Uma das preocupações no estudo de Neves mentos de um corvo da Nova Caledônia (Cor-
Filho et al. (2015) foi desenhar uma situação- vus moneduloides) que aprendeu seis repertó-
-problema que requeresse repertórios pré-re- rios comportamentais distintos, em contextos
quisito para sua solução que fossem ecologi- distintos e com consequências distintas (Ne-
camente relevantes, ou que fossem ao menos ves Filho, Knaus, & Taylor, 2019). O corvo
fáceis de treinar em ratos. Tal preocupação foi em questão foi capturado em seu habitat e foi
proveniente de dados de uma série de estudos mantido por um período de seis meses em um
anteriores, com um procedimento diferente, aviário no qual participou de uma série de pes-
que consistentemente obtiveram dados nega- quisas sobre tópicos recentes de cognição ani-
tivos (para uma revisão, conferir Neves Filho, mal (Taylor, 2014). Após estes estudos foi re-
2016). Nestes estudos, foi utilizada uma tare- querido que o animal solucionasse uma tarefa
fa predominantemente visual, e que requeria que consistia em (1) acionar um mecanismo
centenas de sessões de treino, e que nem to- que abria uma porta roxa que conectava duas
dos os ratos resolviam, ou quando resolviam, gaiolas, (2) cruzar de uma gaiola para outra, (3)
faziam-no erraticamente. Ao identificar reper- acionar um mecanismo para abrir uma caixa,
tórios comumente observados em ratos, como (4) obter uma pedra do interior de uma caixa,

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(5) cruzar de uma gaiola para outra carregan- veu a tarefa em sua primeira apresentação. Dos
do uma pedra, e (6) derrubar uma pedra em um demais, em todos os casos, nenhum deles emi-
aparato, obtendo assim um pedaço de alimen- tiu o comportamento (5). Diante disso, foi feito
to do interior deste aparato. O mecanismo uti- um breve treino de um novo repertório, “buscar
lizado nos repertórios (1) e (4) foi o mesmo. pedras” (7), no qual dez pedras foram espalha-
Com exceção do repertório (5) todos os ou- das em um ambiente, e o animal deveria devol-
tros foram diretamente treinados no decorrer de ver estas pedras ao experimentador, uma a uma.
outros experimentos nos quais aqueles sujeitos Anteriormente, o animal foi treinado a utilizar a
participaram durante sua estadia no aviário, de pedra em um local próximo de onde ela estava
modo que esses repertórios foram treinados em disponível, de modo que este novo treino (“bus-
diferentes contextos, em diferentes quantidades car pedras”) teve por função ensinar a “carregar
e com diferentes consequências (o repertório 2 pedras para um determinado local”, um possível
foi treinado com acesso a um coespecífico como pré-requisito do comportamento (5). Após este
consequência, os demais foram treinados com breve treino, todos os animais resolveram a ta-
alimentos como consequência). Dos seis cor- refa em apresentações subsequentes. A Figura 2
vos que receberam o treino dos cinco repertórios apresenta a árvore de resposta de um destes su-
pré-requisito da tarefa final, somente um resol- jeitos que recebeu este treino adicional.

Figura 2. Árvore de comportamentos construída a partir dos dados de Neves Filho, Knaus e Taylor (2019) com
corvos da Nova Caledônia (Corvus moneduloides). Seis comportamentos foram ensinados em experimentos dis-
tintos, com objetivos distintos, reforçadores distintos e contextos distintos. Na situação-problema, a maioria dos
corvos não resolveu o problema apenas com o treino de seis comportamentos (R1, R2, R3, R4, R5 e R6). Desta
maneira, foi feito um breve treino de um repertório adicional, R7, e todos os animais resolveram o problema.

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O exemplo com corvos da Figura 2 tem pa- des pré-requisito, e foi observado qual desses
ralelo direto com intervenções aplicadas em repertórios o animal em questão não emitia, e
AC. Foi identificado um deficit comportamen- partindo desse dado, foi feito um treino de um
tal deste sujeito que o impedia de concluir uma componente do repertório faltante (mas não do
tarefa (cruzar de uma gaiola para a outra car- repertório propriamente dito), o que levou o su-
regando a pedra). Foi então dado um treino de jeito a resolver a tarefa. Ao desenhar uma ár-
um repertório componente deste deficit, “bus- vore comportamental deste corvo, já com base
car pedras”, o que por sua vez permitiu este su- nos resultados finais, é possível portanto utili-
jeito resolver a tarefa, carregando as pedras de zar esta mesma árvore para produzir compor-
uma gaiola para outra, quando necessário. O pa- tamento similar em outros corvos numa mesma
pel do experimentador nesse caso foi similar situação. Tem-se em mãos um “plano de ensi-
ao do pesquisador ou prático aplicado: a situa- no” daquela tarefa, baseada em dados de um
ção-problema foi decomposta em suas habilida- animal bem-sucedido nesta.

Figura 3. Arvore hipotética de planejamento de ensino da habilidade “tocar violino”. A árvore foi construída to-
mando como base preceitos do método/filosofia Suzuki (1978/2013). Os princípios do método Suzuki apontam
que são necessárias atenções constantes com rotina de escuta de músicas, postura e rotina de treino, entretanto
estas não são operacionalizadas. Na árvore são operacionalizados que comportamentos devem ser treinados para
se obter esse objetivo, bem como que comportamentos antecedem estes pré-requisitos diretamente treinados. Com
este planejamento, tocar uma melodia no violino é um comportamento emergente, que tem suas bases nas diretri-
zes operacionalizadas do método Suzuki.

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Esses dois exemplos mostram como é possí- de comportamento. Entretanto, boa parte das
vel mapear diversos repertórios em uma árvo- críticas ao método/filosofia se dá no fato das
re comportamental para fins de pesquisa, tanto diretrizes apresentadas serem genéricas, o que
para planejamento como para análise de dados. resulta em uma alta variabilidade dos efeitos
Entretanto, é possível também utilizar a árvore do método a depender dos professores e apli-
comportamental como uma ferramenta de pla- cadores envolvidos.
nejamento de ensino. No caso do corvo, por se A árvore da Figura 3 é, portanto, nada mais
tratar de uma situação-problema nova (para o que a operacionalização diagramática das dire-
corvo e para os experimentadores), a árvore só trizes gerais do método/filosofia Suzuki, iden-
pode ser confeccionada diante dos dados da pri- tificando as classes de comportamento e todos
meira solução. Entretanto, temos diversos ca- os pré-requisitos para se obter o resultado alvo:
sos de solução de problemas, e aprendizagens tocar um violino. Tocar qualquer instrumen-
em geral, nos quais podemos com razoável se- to pela primeira vez é um processo recombi-
gurança elencar que passos ou que repertórios nativo. É bastante improvável alguém encon-
pré-requisito são necessários para se solucio- trar um instrumento pela primeira vez, e sem
nar o problema, como foi o caso do exemplo nenhum conhecimento de teoria e performan-
com ratos, pautado no etograma bem mapeado ce musical, tirar deste instrumento uma me-
da espécie (Figura 1). Estes são casos nos quais lodia ou canção completa. Para se obter esse
a árvore de resposta tem importância evidente resultado, uma melodia ou canção, são neces-
como ferramenta útil para planejamento e in- sários diversos pré-requisitos, como os ilustra-
tervenção. Para ilustrar isso, a Figura 3 mostra dos na Figura 3.
a árvore hipotética de um jovem que pretende Entendendo que a complexidade de fenô-
aprender a tocar violino via o método/filoso- menos comportamentais implica a inclusão de
fia Suzuki (Suzuki, 1978/2013), um dos mais variáveis necessárias para sua análise e conse-
tradicionais e utilizados em escolas de músi- quente compreensão, a possibilidade de uma
ca pelo mundo (Kendall, 1985; Mehl, 2009). apresentação gráfica da inter-relação e desen-
O método/filosofia Suzuki, apesar de popu- volvimento de repertórios relativos ao compor-
lar, tem em sua base apenas diretrizes gerais e tamento humano também necessita a inclusão
exercícios de performance. No caso do método/ de variáveis biológicas e culturais (Tourinho,
filosofia aplicado ao ensino de violino, as qua- 2003). Variáveis filogenéticas constituem a base
tro diretrizes gerais são: (1) ouvir músicas de de possibilidades de como um dado organismo
referência para desenvolver sensibilidade mu- é fisicamente capaz de operar sobre o mundo.
sical, (2) Treino de tonalização, e foco em tocar Na representação de repertórios comportamen-
notas limpas no violino, (3) Atenção constante tais em uma árvore, a base biológica com a qual
para postura e manuseio do instrumento, e (4) um ser humano nasce estão apresentadas como
Motivação extrínseca, como elogios e incenti- suas raízes, a parte inferior, o começo da árvo-
vo de terceiros, em especial, familiares (Suzu- re. Dados relativos a características genéticas e
ki, 1978/2013). Boa parte da novidade que o fisiológicas de um organismo contribuem para
método Suzuki trouxe para os conservatórios análises mais precisas de comportamentos já
de música foi a diretriz (4), que foi algo ino- apresentados e possibilidades de ramificar no-
vador em uma cultura fortemente calcada na vos percursos para desenvolvimento de reper-
noção de genialidade e talento inato e imutá- tórios comportamentais.
vel (Dacey, 1999; Mehl, 2009). Em outras pa- No entanto, e seguindo adiante com a metá-
lavras, o item (4) fala de reforço e manutenção fora da árvore aqui apresentada, cabe ressaltar

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que, assim como é possível que façamos inter- le indivíduo em particular seria identificar va-
venções utilizando desenvolvimentos tecnoló- riáveis relativas ao seu ambiente social que in-
gicos diversos para manipular as raízes da árvo- dicam repertórios a serem (ou que podem ser)
re e impactar características dela, avanços nos desenvolvidos, guiando assim um planejamen-
campos da genética, epigenética, neurociên- to de ensino adequado a estas condições, e que
cias, entre outros, podem identificar e modifi- também tire proveito destas para acelerar e via-
car características biológicas e fisiológicas de bilizar o processo. Da mesma maneira, ao es-
um organismo e abrir novas possibilidades de tudar diversos repertórios individuais mapea-
interação com o mundo. De qualquer forma, dos em árvores individuais, é possível em tese
desde suas raízes (a filogênese) cada árvore é também estudar a dispersão de comportamen-
distinta uma da outra, e isso nos dá uma visão tos em um grupo, ou mais especificamente, a
privilegiada para trabalhar com idiossincrasias criatividade-h. De qualquer forma, nossa apre-
e com a metodologia de sujeito único. Isso sentação da árvore até o momento se enquadra
tem como consequência que animais da mes- somente como uma proposta para análise da on-
ma espécie compartilham de raízes (filogêne- togênese. Expandir esta metáfora para eventos
se) similares, porém idiossincráticas. As idios- culturais requer ainda maiores cuidados con-
sincrasias são ampliadas durante a ontogênese ceituais, bem como dados que mostrem a efi-
(o tronco da árvore), o que portanto tem como cácia da árvore de comportamentos como uma
consequência que todo tronco (ontogênese) de estratégia eficaz para entender e planejar con-
uma árvore comportamental é também único. tingências ontogenéticas.
A cultura, que pode ser representada pela copa Para além de mapear e planejar repertórios, a
da árvore, é mais padronizada que a ontogêne- árvore de comportamentos é também uma ma-
se, pois é onde são encontrados comportamen- neira de organizar repertórios de acordo com
tos fortemente determinados por práticas cul- sua determinação predominante (filogenética,
turais locais do ambiente do indivíduo, como ontogenética e cultural), bem como identificar
sua língua materna, padrões de vestimenta etc. variáveis epigenéticas (na interseção entre fi-
De acordo com o exposto até aqui, pode-se logênese e ontogênese). Além disso, a cons-
afirmar que a árvore de comportamentos é um trução da árvore pressupõe que todo compor-
diagrama focado em comportamentos de um tamento tem base em unidades anteriores, em
indivíduo somente. Entretanto, é possível ain- componentes ou variações de comportamento
da a inclusão de variáveis culturais na metáfo- anteriormente aprendidos, o que está em acor-
ra da árvore. Estas seriam representadas pela do com uma perspectiva desenvolvimentista e
“população” de árvores que a circunda, i.e., a construcional do repertório comportamental to-
cultura seria a “floresta” com a qual aquela ár- tal do indivíduo (Bijou, 1968; Epstein, 2015;
vore singular interage. Cada repertório de um Goldiamond, 2002; Hixson, 2004). Tal pres-
indivíduo é uma árvore, e essa árvore intera- suposto está em total acordo com uma Psico-
ge e é afetada por árvores vizinhas (seu grupo, logia comportamental, adicionando a esta uma
seus familiares etc). A cultura – ou, o ambien- noção explicitamente desenvolvimentista so-
te social (Skinner, 1984) –, composto por di- bre o comportamento, além de uma operacio-
versas árvores de comportamento individual, nalização instrumental do conceito de história
determinam repertórios que são considerados comportamental.
relevantes para uma dada população e padro- Como comentário final, cabe ressaltar que
nizam costumes e tradições do grupo. Nesse a árvore de comportamentos é similar a árvore
sentido, conhecer a “flora” que circunda aque- da vida de Darwin (1859), que cataloga e apre-

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senta diferentes espécies em uma árvore difu- metodologias ativas de ensino que se pautam
sa, que apesar de partir de pontos de encontro prioritariamente em construção de repertórios
em comum (antepassados em comum), apre- com base em saltos comportamentais e recom-
senta o desenvolvimento geracional de cada binação de repertórios.
espécie, cada uma com sua história, com sua Um destes exemplos é a metodologia da
trajetória distinta de sobrevivência e reprodu- Morningside Academy, uma escola idealiza-
ção diferencial. Da mesma maneira, o reper- da por pesquisadores com formação analítico
tório de um indivíduo pode ser catalogado em comportamental, situada em Seattle, nos Esta-
diferentes instâncias, diferentes classes de res- dos Unidos (Johnson & Street, 2012). Boa parte
postas (que seriam análogas às espécies na ár- do currículo da instituição é baseado em ensi-
vore darwiniana), que compartilham de histó- nar comportamentos de modo a recombiná-los
rias em comum (um comportamento pivotal). em situações de teste, uma metodologia carac-
Entretanto, diferente da árvore evolutiva dar- terizada pelo que é chamado de aprendizagem
winiana, a árvore de comportamentos pode ser por descoberta (Layng, Twyman, & Stikelea-
utilizada para “mesclar” ou “recombinar” estas ther, 2004). Todo o currículo é planejado para
classes de respostas em novas respostas, me- ter propriedades “generativas”, ou seja, que uma
diante um treino adequado. Um paralelo evo- aprendizagem pontual possa ser reaproveitada
lutivo fictício dessa aplicação seria criar novas em diferentes outras situações de modo a facili-
variantes de espécies a partir da “mesclagem” tar novas aprendizagens e ampliar este repertó-
de espécies próximas na árvore evolutiva. Da- rio. Um currículo assim formatado pretende ser
das as propriedades de variação, seleção e re- um currículo que fomente e desenvolva a criati-
tenção na filogênese, tal empreendimento seria vidade, em seu sentido mais genérico (Johnson
impossível com nossa atual tecnologia (carre- & Street, 2012). A árvore de comportamentos
gando ainda sérias implicações éticas). Em con- é uma ferramenta que trabalha no sentido de
trapartida, se aplicada a ontogênese, a lógica formatar e estruturar estratégias como as utili-
de mesclar ou recombinar repertórios é não só zadas na Morningside Academy.
possível como amplamente registrada na lite- Para além de ser uma ferramenta para de-
ratura empírica, básica e aplicada (e.g. Neves senvolvimento de metodologias de ensino e es-
Filho, 2018). truturação de serviços comportamentais, outra
Aplicações e desenvolvimentos no ensino, no aplicação da árvore de comportamentos é no
estudo e planejamento da criatividade humana entendimento e planejamento de fenômenos ti-
A árvore, como aqui apresentada, é uma fer- picamente relacionados à criatividade. A cria-
ramenta de planejamento e intervenção para si- tividade humana é um fenômeno com dire-
tuações das mais variadas, desde pesquisa bá- tas implicações econômicas e sociais (Weiner,
sica até pesquisa aplicada e desenvolvimento 2000), e é, portanto, um fenômeno altamente
de serviços de acompanhamento e desenvolvi- valorizado pela sociedade, em especial a socie-
mento comportamental (como a prática clínica, dade ocidental moderna (Simonton, 2000). No
acompanhamento terapêutico, etc). É também atual momento, temos uma série de processos
uma maneira de operacionalizar diretrizes ge- e procedimentos que permitem prever e con-
rais, e depurar disso um planejamento de ensi- trolar a origem de comportamentos novos em
no (como no exemplo da Figura 3). Em tese, a uma perspectiva operante. Entretanto, não há
árvore pode ser utilizada em quaisquer situa- nenhuma metodologia estruturada de como ob-
ções de ensino. De fato, já existem alguns cur- ter isso, já que a área, fragmentada como está,
rículos escolares e acadêmicos baseados em apenas fornece os caminhos pelos quais é pos-

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sível obter esta previsão e controle em animais culturais e de práticas culturais na inter-rela-
específicos em procedimentos específicos (Ne- ção entre diferentes indivíduos, entre diferen-
ves Filho, 2016). A árvore de comportamentos tes árvores de comportamento. Com o acúmulo
é portanto uma ferramenta que se presta a en- de dados sobre os usos e aplicações da árvore
trelaçar estes saberes e processos, fornecendo de respostas, é esperado que para além de ser
como produto a estrutura geral de um progra- uma metáfora, esta também seja uma poten-
ma de ensino estruturado para o desenvolvi- cial ferramenta de planejamento de interven-
mento de respostas inéditas, portanto, criati- ções comportamentais.
vas em diferentes medidas.
Como no exemplo hipotético da Figura 3, na Conclusão
qual é planejado o ensino de “tocar violino”, é
possível utilizar a árvore como ferramenta de A AC, dado seu foco em construir conheci-
planejamento para diversos outros comporta- mento de baixo para cima (assumindo que even-
mentos inéditos, o que se configuraria como tos complexos são constituídos de elementos
um programa de ampliação de criatividade, ou básicos), e foco molecular (em relações causais
mesmo de reforço de classes de respostas ge- imediatamente antecedentes e consequentes),
néricas de “inovar” ou mesmo “ser criativo”, acabou por se desenvolver de forma fragmen-
em determinados contextos. Uma empreitada tada. Na falta de um esforço conceitual e teó-
como essa se configura como um protocolo rico unificador, pesquisas da área começaram
de planejamento de criatividade-p. Para o es- a formular e desenvolver conceitos sem mútuo
tudo de instâncias de criatividade-h, é neces- diálogo, e consequentemente, diversas áreas es-
sário ainda a adição de variáveis e fenômenos pecíficas, como o estudo do desenvolvimento,
sociais e culturais, algo que precisa ainda ser da criatividade e da cultura pouco dialogaram,
melhor explorado e formalizado na proposta apesar de claras sobreposições entre estas.
aqui apresentada. Na proposta conceitual aqui desenvolvida,
Dito isto, neste momento, a árvore de res- buscou-se justamente aproximar as áreas de
posta é tão somente uma proposta conceitual, pesquisa analítico-comportamentais de desen-
uma metáfora. O uso de metáforas na Psico- volvimento humano e criatividade, adicionan-
logia não é novidade, e de fato diversas des- do ainda uma análise comportamental da cul-
tas impulsionaram programas de pesquisa va- tura. Esta aproximação resultou na proposta
liosos (Leary, 1990). Dentre este universo de da árvore de comportamentos, uma ferramen-
metáforas, um dos diferenciais da proposta da ta conceitual e esquemática para planejamento
árvore de comportamentos é sua fundamenta- de ensino de repertórios comportamentais pau-
ção em conceitos bem estabelecidos na litera- tada em uma concepção de baixo para cima,
tura tanto básica quanto aplicada, em uma das com foco híbrido: molar, para entender o re-
primeiras investidas que se propõe a agrupar pertório do indivíduo como um todo, e mole-
tantos conceitos e metodologias em um único cular, para entender a relação direta e proximal
protocolo geral de planejamento e interven- entre diversos repertórios que compõem a his-
ção. Nesse sentido, apresentados os pressupos- tória comportamental do organismo. A ferra-
tos dessa ferramenta, os próximos passos foca- menta contempla variáveis filogenéticas, on-
rão em protocolos para a construção de árvores togenéticas e culturais, identificando também
específicas, testar estes protocolos em diferen- relações epigenéticas quando necessário, sem-
tes situações controladas de pesquisa básica e pre com foco em previsão e controle. Partindo
aplicada, e aprofundar a inserção de variáveis da identificação de repertórios já presentes na

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história do sujeito (medidos via linha de base, Bijou S. W, Baer D. M. (1961) Child develop-
que geram o pool de repertórios “não treina- ment: A systematic and empirical theory.
dos” na intervenção ou planejamento), a ferra- New York: Appleton-Century-Crofts.
menta se propõe a ser uma maneira de traçar Bijou S. W, Baer D. M. (1965) Child develop-
caminhos de modo a aproveitar estes repertó- ment: The universal stage of infancy. New
rios para criar novos repertórios, novos sal- York: Appleton-Century-Crofts.
tos, novos comportamentos pivotais, novas re- Bijou S. W. (1976) Child development: The ba-
combinação, ou, em outras palavras, produzir sic stage of early childhood. Englewood
a criatividade, ou mais especificamente, o en- Cliffs, NJ: Prentice-Hall.
sino estruturado da criatividade. Bijou, S. W. (1996). Reflections on some ear-
Entretanto, apesar de ser conceitualmente coe- ly events related to behavior analysis of
rente, a proposta requer ainda um amplo teste em- child development. The Behavior Analyst,
pírico, tanto para planejar e construir repertórios, 19(1), 49–60.
como também avaliar sua eficácia nesse plane- Bosch, S. & Fuqua, R. W. (2001). Behavioral
jamento. Em tese, a árvore de comportamentos cusps: a model for selecting target beha-
permite ao planejador de contingências mapear viors. Journal of Applied Behavior Analy-
e planejar comportamentos em uma perspecti- sis, 34(1), 123–125. http://doi.org/10.1901/
va molar e levando em conta os mais recentes jaba.2001.34-123
e bem documentados processos comportamen- Boden, M. A. (1996). What is creativity? Em
tais relacionados com a expansão de repertórios, M. A. Boden (Ed.). Dimensions of creati-
sempre partindo do simples para o mais comple- vity. London: The MIT Press.
xo. Espera-se que, a partir do que foi apresenta- Bosch, S., & Fuqua, R. W. (2001). Behavio-
do aqui, a árvore de comportamentos, como po- ral cusps: a model for selecting target
tencial ferramenta operante para planejamento behaviors. Journal of applied behavior
de repertórios em uma perspectiva desenvolvi- analysis, 34(1), 123–125. doi:10.1901/
mentista e com foco em criatividade, receba o jaba.2001.34-123
devido e exigente tratamento empírico que uma Bronfenbrenner, U. (1977). Toward an expe-
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