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contemporâneos1
Leonardo Silveira2
Resumo
Palavras-chave
Esse artigo é fruto de uma pesquisa que busca investigar como a autoria, o
compartilhamento em rede e a interatividade, articulados no YouTube, podem contribuir para
a construção de um processo formativo audiovisual contemporâneo. A pesquisa em questão
encontra-se em andamento na fase da discussão teórica, dialogando com a literatura
especializada em torno do tema proposto, portanto, esse artigo se apresenta enquanto
constructo teórico, em fase de aprofundamento e discussão.
Para tanto será utilizada a abordagem qualitativa, visando, dessa forma, investigar o processo
formativo audiovisual de um grupo de sujeitos que atuam no YouTube, na tentativa de
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Artigo científico apresentado ao eixo temático “Redes Sociais, Comunidades Virtuais e Sociabilidade”, do IV
Simpósio Nacional da ABCiber.
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Bacharel em Desenho Industrial pela Universidade do Estado da Bahia (2001), Especialista em Educação a
Distância, pela Universidade de Brasília (2008). Mestrando em Educação e Contemporaneidade pela
Universidade Estadual da Bahia (2010), orientado pela profª drª Tânia M. Hetkowski . Atua como Designer de
Multimeios no Núcleo de Educação a Distância do SENAI - Bahia, desde 2005. E-mail:
silveira.design@gmail.com
Daí a necessidade de operar com uma lógica inclusiva, porque são as operações mentais de
sujeitos históricos que estabelecem conexões entre níveis distintos de organização, todos
autopoiéticos. Assim a linguagem matemática não dá conta da complexidade físico-química-
biológica-psíquica dos indivíduos e dos agrupamentos sociais humanos, sendo apenas um dos
meios de descrição disponíveis. O ser humano também precisa de imagens, afetos, juízos,
metáforas e conceitos para formar uma compreensão articulada da sua existência concreta
(GALEFFI; 2009).
Esse caráter sensível, computante e cogitante do homem e não meramente mecânico, modelar
e ideal, indica que compreender a realidade humana consiste em compreender os processos
atualizados de um organismo autoreflexivo, em constante retroalimentação. Na tentativa de
compreender uma totalidade vivente da condição humana faz-se mister evitar velhas
dicotomia criadas por nossa construção cultural, tais como qualitativo versus quantitativo,
subjetivo versus objetivo, mente versus corpo, sem, contudo, buscar alcances definitivos
(GALEFFI, 2009; SANTOS, 2005).
Inspirado nessas premissas, esse projeto investe na tentativa de atualizar-experimentar tais
bases, assumindo que a construção de uma pesquisa que se pretenda qualitativa e qualificada
não pode deixar de levar em conta as influências da subjetividade no processo de
compreensão dos fenômenos humanos.
Da primeira grande revolução neolítica que foi o advento da agricultura nas civilizações
primitivas ao mais recente salto tecnológico com o surgimento das Tecnologias de
Informação e Comunicação, o homem vem alterando seu sistema de produção (material e
simbólico) para construir suas relações sócio-políticas, gerando mudanças tecnológicas que
não se restringem ao aspecto instrumental (LÉVY, 1993).
Segundo Lima Júnior (2005), a tecnologia é mais que instrumentalização e produção de bem
material. É a arte de organizar o pensamento para interferir na vida humana. Esse
imbrincamento homem-máquina (LÉVY, 1993) configura-se enquanto realidade
interdependente, nas quais a técnica é humanizada e o homem tecnologizado, a exemplo do
corpo e da linguagem, tidos como ferramentas naturais do homem que operam e criam
transformações no mundo externo, e, ao mesmo tempo, sofrem os reflexos dessas alterações
decorrentes. Desta forma, a humanidade atualiza seu modo de ser, no decurso civilizatório, na
história, transformando a realidade e a si mesma. (ARENDT, 1981 apud LIMA JR;
HETKOWSKI, 2006).
Guimarães (2002, apud BURLAMAQUI; BRANDÃO, 2006a, p. 8), com percepção similar,
afirma que o papel da tecnologia desempenhado na sociedade atual “[...] é tão profundo e
extenso que se torna difícil conceber um único âmbito de atividade em que não estejam
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As redes sociais audiovisuais no ciberespaço são sítios na rede mundial de computadores que
possibilitam a distribuição e a socialização de conteúdos em vídeo digital, potencializando a
interação entre esses autores e suas produções, criando novas sociabilidades ou ampliando as
já existentes.
Essas redes sociais que pululam no ciberespaço são fruto da Terceira Revolução Tecnológica,
filhas de uma revolução informacional engendrada pelas sociedades tecnocientíficas que
começaram na esfera político-militar, extrapolaram para os processos de produção industriais,
culminando na crescente penetrabilidade em praticamente todos os processos produtivos, e,
por fim, espraiaram-se pela vida cotidiana dos sujeitos contemporâneos.
A informatização da vida humana por meio da digitalização dos dados (signos)
informacionais e comunicacionais (textos, áudios, imagens) surge do desenvolvimento de
pesquisas na teleinformática - informática, microeletrônica e telecomunicação. Nos países
economicamente desenvolvidos populariza-se entre os anos 70 e 80, enquanto no Brasil, esse
evento sociotécnico ocorre entre os anos 80 e 90.
A criação de interfaces homem-software-máquina mais intuitivas e visualmente mais
agradáveis aproximaram as TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) digitais das
pessoas que não possuíam domínio dessas linguagens. A crescente popularização dos
artefatos-dispositivos-instrumentos como os computadores pessoais (PC - Personal
Computer) e os aparelhos de telefonia móvel (celulares) reduziram etapas de produção-
criação e ampliaram possibilidades de comunicação e tráfego de informações entre pessoas e
organizações sociais. A convergência de dispositivos em um único aparelho (celular, máquina
fotográfica, gravador e filmadora), por outro lado, disseminou a digitalização dos dados e
ampliou consideravelmente a mobilidade e independência das pessoas na produção de seus
próprios conteúdos audiovisuais.
Além da digitalização dos dados, sua distribuição em uma rede mundial de computadores
(Internet), difundida, em 1996, por uma interface gráfica menos rígida, a WWW (World Wide
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Ambiente on line que veicula o mais conhecido acervo audiovisual da internet, comprado pelo Google Inc. em
novembro de 2006.
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4
Disponível em:< http://wnews.uol.com.br/site/noticias/materia.php?id_secao=4&id_conteudo=13726>. Acesso
em 26 de junho de 2009.
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Se as TIC mudam o homem, mudam sua forma de ser e pensar, mudam, portanto, sua forma
de conhecer e produzir conhecimento. Alguns especialistas em educação defendem a
utilização das TIC enquanto elemento significativo para os processos de formação
contemporânea, dentro de uma perspectiva pedagógica que privilegie a autoria, o
compartilhamento de conteúdos e a interatividades entre os sujeitos. Uma visão além da
instrumentalização para uma formação atual e significativa, que pode ser mais criativa,
melhor apropriada e mais crítica (ALVES, 2009; HETKOWSKI; NASCIMENTO, 2009;
LÉVY, 1993; LIMA JR, 2006; LIMA JR, 2007; SANTAELLA, 2003).
Mattar (2009) em recente artigo traz uma série de experiências formativas vivenciadas no
YouTube, na tentativa de integrar as potencialidades da rede na educação, compartilhando as
percepções e impressões de diversos autores, analisando algumas ferramentas numa
perspectiva educacional e confrontando potencialidades e barreiras. Aponta a possibilidade de
registrar aulas, palestras e debates, de criar blogs com vídeos sobre educação para se
comunicar com os alunos, bem como aborda e discutes os limites pedagógicos, técnicos e
legais dessa rede.
No YouTube, de maneira similar (Becker,1982) os valores estéticos, formas culturais, e
técnicas criativas são normatizadas por meio de atividades coletivas e julgamentos da rede
social – formando um “mundo artístico” informal e emergente específico ao YouTube.
(BORGES, GREEN; 2009, p.88).
Essa crescente audiência em torno do YouTube, sobretudo nas populações mais jovens, e a
forma como seu conteúdo polêmico e controverso tem se espraiado para a vida cotidiana,
promovendo nova forma de entretenimento, de construção de autoria, de fazer negócios e
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Referências bibliográficas
BURGUESS, Jean; GREEN, joshua.Youtube E A Revoluçao Digital. 1. ed. São Paulo: ed.
Aleph, 2009. 240 p.
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LIMA JR, Arnaud S; HETKOWSKI, Tânia Maria. Educação e contemporaneidade: por uma
abordagem histórico-antropológica da tecnologia e da práxis humana como fundamento dos
processos formativos e educacionais. Educação e contemporaneidade: desafios para a
pesquisa e a pós-graduação. LIMA JR, Arnaud S; HETKOWSKI, Tânia Maria (orgs). 1. ed.
Rio de Janeiro: ed. Quartet, 2006. 256 p.
LIMA JR, Arnaud S. de. Tecnologias Inteligentes e Educação: currículo hipertextual. Rio de
Janeiro: Quartet, 2005.
MACEDO, Roberto Sidnei; GALEFFI, Dante; PIMENTEL, Álamo. Um rigor outro. Sobre a
questão da qualidade na pesquisa qualitativa - Educação e Ciências Antropossociais. 1. Ed.
Salvador: ed. Edufba, 2009. 173 p.
MATTAR, João. Youtube na Educação: O uso de vídeos em Ead. São Paulo: 2009.11p.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências. 3. ed. – São Paulo: Cortez,
2005.
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