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PENSANDO O PROCESSO DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL: contribuições

para o projeto

Isabella da Paixão Alves

RESUMO: Este é um trabalho apresentado à disciplina de Seminário de Pesquisa,


ministrada pelo professor Alexandre Aranha, como pré-requisito para a
integralização da mesma. Tem por objetivo refletir sobre as contribuições da
disciplina no projeto de pesquisa. Num primeiro momento é feita uma breve
contextualização da relação entre Serviço Social e Pesquisa. Num segundo
momento realiza-se uma modesta reflexão sobre a análise qualitativa, bem como a
análise documental combinada à entrevista como método factível para execução da
pesquisa. Respeitando número de páginas pertinentes, essas reflexões são breves.
Alguns dos textos indicados pelo docente dão sustentação às reflexões, bem como
os debates em aula.
Palavras-chave: pesquisa; serviço social; análise documental; entrevista.

1 SERVIÇO SOCIAL E PESQUISA

A pesquisa está conectada com a dimensão investigativa na postura e no


exercício profissional do Assistente Social, sendo parte constitutiva e constituinte da
prática profissional. “É constitutiva e constituinte porque faz parte da natureza da
profissão e aparece e se desenvolve socialmente, ao desvendar a complexidade do
real e nele buscar as possibilidades de intervenção.” (BOURGUIGNON, 2007, p.49).
Fraga (2010) defende a atitude investigativa de assistentes sociais, em contraponto
com a ideia de uma profissão tida como interventiva, pragmática e de fazer imediato.
Dessa maneira, para Bourguignon (2007) uma importante particularidade na
pesquisa em Serviço Social é a busca por dar respostas às necessidades individuais
e coletivas. Logo, a centralidade está nos sujeitos da pesquisa. Desta forma, Fraga
(2010) reitera a importância de pesquisas realizadas a partir de realidades concretas
e não pesquisas apenas descritivas, mas sim pesquisas com utilidade social. Ao que
Bourguignon (2007) destaca como perspectiva ontológica dos sujeitos e não apenas
como estratégia de pesquisa e salienta a importância das pesquisas qualitativa e
quantitativa, pois revelam os sujeitos em suas dimensões concretas. Lara (2007)
pondera que a pesquisa deve partir da objetividade social, que só pode ser
compreendida através do rigor metodológico e científico, não devendo se sustentar
em mera curiosidade ou incômodo do pesquisador.

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2 ANÁLISE QUALITATIVA, PESQUISA DOCUMENTAL E ENTREVISTA:
contribuições para o projeto

Na pesquisa social lidamos, diferente das ciências exatas, com “seres que
sentem, pensam, agem e reagem” (GIL, 1995, p.5), assim, os sujeitos da pesquisa
social são “muito mais variáveis e complexos” (MINAYO; SANCHES, 1993, p.241).
Somada a essa especificidade da pesquisa na área social, o pesquisador também
não pode lidar com a pesquisa de maneira neutra, pois é também um ator envolvido
no fenômeno que pesquisa, tendo suas inclinações e envolvimento com o objeto de
estudo. Isso não quer dizer que não seja possível fazer pesquisa social com
qualidade, seriedade e objetividade.
Com o apoio da disciplina e o avançar das discussões sob orientação de
dissertação, seguem reflexões acerca dos instrumentos aplicáveis para alcançar os
objetivos propostos no projeto.
A análise qualitativa pode contribuir substancialmente com a proposta do
projeto pensado uma vez que “(...) adequa-se a aprofundar a complexidade de
fenômenos, fatos e processos particulares e específicos de grupos mais ou menos
delimitados em extensão e capazes de serem abrangidos intensamente.” (MINAYO;
SANCHES. 1993, p. 247).
Parte-se da pesquisa bibliográfica baseada em livros e artigos para construir
teoricamente a discussão do conceito de família, conforme o ideário burguês,
seguindo para a análise de como a Política de Saúde vai incorporar os conceitos de
família ao longo dos anos. A ideia central é tentar compreender as ações de
responsabilização de famílias realizadas pelos serviços de saúde da atenção
primária na relação com os usuários. Consistindo, assim, numa proposta de
pesquisa explicativa, trabalhando com dados anteriores e reportando dados da
realidade para o ambiente científico.
Inicialmente, avalia-se a possibilidade de realizar uma análise documental dos
encaminhamentos realizados pela Atenção Primária à Saúde aos Conselhos
Tutelares do município de Belo Horizonte. A pesquisa documental se assemelha,
segundo Gil (1995) à pesquisa bibliográfica, difere no fato de que essa modalidade
de pesquisa se debruça sobre documentos, em primeira mão, que ainda não tiveram
nenhum tipo de tratamento analítico. Esses documentos que pretende-se acessar

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ficam sob responsabilidade de uma referência técnica nas Gerências de Atenção à
Saúde responsável por tais demandas. Contudo, por não existir uma uniformização
desse arquivo enquanto processo de trabalho entre as nove regionais em que se
divide o território do município, tais dados podem estar defasados a depender da
forma como a referência técnica trata e arquiva tais encaminhamentos.
Ademais, com base nas discussões das aulas, e com a orientação, avança-se
no entendimento da importância de compreender como e quais as concepções de
família guiam as intervenções profissionais na saúde e não apenas o entendimento
de quais as principais motivações de profissionais ao notificar os Conselhos
Tutelares de Belo Horizonte. Dessa forma, busca-se complementar a primeira
proposta que seria unicamente de análise documental com uma combinação de
métodos. Assim, as entrevistas semi-estruturadas com assistentes sociais da
atenção primária à saúde ajudam a compreender melhor o fenômeno que se propõe
a estudar no projeto. A considerar a importância de compreender as concepções de
família que guiam as ações da saúde, nesse sentido, a entrevista mostrou-se
interessante para acessar tais informações. O acesso aos documentos produzidos
por tais profissionais pode, inclusive, auxiliar na construção e condução das
perguntas pertinentes a serem feitas aos entrevistados.
Segundo Gil (1995) a entrevista é uma técnica em que se formulam perguntas
pertinentes a serem respondidas pelo investigado, representando nada menos do
que uma forma de interação social onde uma parte busca acessar informações e a
outra se dispõe a fornecê-las. Parece bastante adequada se considerarmos que as
informações que buscamos acessar na pesquisa tem ligação direta com o que os
profissionais “(...) sabem, crêem, esperam, sentem ou desejam, pretendem fazer,
fazem ou fizeram, bem como acerca das suas explicações ou razões a respeito das
coisas precedentes” (SELLTIZ et al. APUD GIL. 1995. p.109).
Por se tratar de pesquisa com seres humanos, para a sua realização, o
projeto deverá ser submetido ao comitê de ética pertinente.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Seres sociais buscam soluções para questões práticas e, por isso, um


problema de pesquisa é uma questão que existe na realidade concreta e que chama

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a atenção do pesquisador exatamente por este motivo. Transpor tais inquietações e
concatená-las para uma pesquisa de qualidade impõe o uso de métodos e
instrumentos adequados para buscar as respostas possíveis, coadunando ou não
com as hipóteses iniciais.
Nesse sentido, a disciplina de seminário contribui substancialmente, pois
compreender as formas de fazer pesquisa; desde o debate da dimensão mais
ontológica do conhecimento, até a compreensão pormenorizada da construção de
um projeto de pesquisa, metodologia, instrumentos e sua execução; foi essencial no
avanço dos rumos da pesquisa que culminará na dissertação de mestrado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOURGUIGNON, J.A. A Particularidade Histórica da Pesquisa em Serviço


Social. In: Revista Katálysis. Florianópolis, V.10, N. Esp., P. 46-54, 2007. Disponível
em:https://periodicos.ufsc.br/index.php/katalysis/article/view/S1414-49802007000300
005. Acesso em 16/02/2022.

FRAGA, C. K. A Atitude Investigativa no Trabalho do Assistente Social. In:


Revista Serviço Social e Sociedade. São Paulo, N. 101, P. 40 - 64, Jan/Mar. 2010.
Disponível em:
https://drive.google.com/file/d/1KhpEy58Ov5an9Ij7IY5GHPjD5FrJrnyl/view?usp=shar
ing. Acesso em 17/02/2022.

GIL, A.C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo, Atlas, 1995.
DIsponível em:
https://ayanrafael.files.wordpress.com/2011/08/gil-a-c-mc3a9todos-e-tc3a9cnicas-de-
pesquisa-social.pdf. Acesso em 20/02/2022.

LARA, R. Pesquisa e Serviço Social - da concepção burguesa de ciência social à


perspectiva ontológica. In: Revista Katálysis. Florianópolis, V.10, N. Esp., P. 73-82,
2007. Disponível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/katalysis/article/view/S1414-49802007000300008
. Acesso em 16/02/2022.

MINAYO, M. C; SANCHES, O. Quantitativo-Qualitativo: oposição ou


complementaridade? Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 9 (3), p. 239-262,
jul/set, 1993. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/csp/a/Bgpmz7T7cNv8K9Hg4J9fJDb/?format=pdf&lang=pt.
Acesso em 19/02/2022.

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