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Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

Centro de Ciências Sociais e Humanas (CCSH)


Departamento de Ciências Sociais (DCS)
Curso: Ciências Sociais - Licenciatura

1ª Avaliação Parcial – Prova – 10/05/2023 – Peso = 10,00

Discente: Cleiton Machado Nota: _______ (Valor total = 10,00)

OBSERVAÇÕES:
1. Critérios de avaliação: domínio do conteúdo, clareza na exposição das idéias, capacidade de
argumentação, domínio da ortografia e gramática.
2. A prova deverá ser enviada para o e-mail mari.sandalowski@ufsm.br, até o dia 11 de maio, às 23
horas e 59 minutos. O arquivo deverá estar identificado com o nome do discente e em formato pdf
(exemplo: mari-provametodos.pdf)

1. Discorra sobre os itens abaixo e indique dentre eles quais são aqueles relativos às
práticas de pesquisa nas ciências sociais e quais deles não correspondem às boas práticas de
pesquisa na área: (peso = 1,0)

(I) Nas ciências sociais, o conhecimento depende de uma relação empírica com o ator
social.
Uma das formas de pesquisar no campo das ciências sociais, está ligado a relação com ator
social, principalmente por ter conexão direta ao campo da experiência na formação de nossos
estudos, porém não deve ser apenas dependente dessa relação empírica. O estudo da sociedade
funda-se sobre a ideia de que a consciência dos atores não é suficiente para compreender tais
ações, é essa ruptura com o saber imediato, atrelado a noções do senso comum, que tenta
explicar o contexto social tal como ele é compartilhado por todos. Como cientistas sociais, deve-
se compreender que o objeto de estudo e o pesquisador são agentes sociais, é necessário ter em
mente que nosso objeto por si só fala, mas é necessário ter cuidado para não apenas estar fazendo
de percepções que já existem, tornando a pesquisa uma reprodução de coisas e não de fato
criando legitimidade a cientificidade do campo social.
Logo, nossa pesquisa será constituída de construções propositalmente, que se permite submeter a
interrogações sistemáticas e que se estabeleça contra o senso comum, considerando que essas
indagações são renováveis e não fixas. Para o autor Bourdieu, indica que além dessa ruptura, é
necessário ter a vigilância epistemológica em todo o processo de pesquisa, desde a construção do
objeto a ser estudado (principalmente para ter confusão com os objetos que o senso comum
produz), como também no tratamento metodológico da pesquisa, pois, “ o método por si só , não
gera nada”. (BOURDIEU, Pierre; CHAMBERON, Jean-Claude; PASSERON, Jean-
Claude)

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(II) A prática da pesquisa social mostra como dificilmente o objeto de pesquisa e sua
interpretação podem ser modificados pela interação entre o pesquisador e o ator social.

Muito pelo contrário, é importante o sociólogo ter a ideia que há de ter a construção controlada e
clara sobre seu distanciamento ou aproximação com o objeto a ser estudado, para que, não seja
apenas impostos aos sujeitos determinadas questões que não fazem parte da experiencias de seu
meio social, resultando em modificações na interpretação do pesquisador, por meio dessa
interação com o ator social. Assim, retoma a ideia de vigilância epistemológica, ter esse hábito
como pesquisador, auxiliando no entendimento que o objeto propriamente científico é consciente
e metodicamente construído, observando o que objeto está pedindo (método e técnica) e
querendo falar (fato social estudado).

(III) No âmbito da pesquisa social, os documentos são como importantes fontes de informação
acerca de um dado problema sociológico. A análise desses documentos envolve a
atividade de compreensão e interpretação por parte do pesquisador, de modo que se
estabeleça o que efetivamente os documentos mostram acerca da realidade.

(IV) Como a pesquisa quantitativa está baseada em técnicas consolidadas, sob a garantia do
instrumento matemático, ela interage fracamente com a pesquisa de orientação
qualitativa, que se baseia em técnicas discursivas e dialógicas.

Tanto o método, quanto a técnica quem vai pedir é próprio objeto, pois um dado é construído e
não apenas por meio de uma análise de documentos, mas pode ser por meio várias formas. O
método deve ser entendido que não é uma receita pronta, é importante levar em consideração as
particularidades do objeto, pois quem dá sentido a pesquisa é a pergunta (com a pesquisa ela vai
ou não ser respondida), estar atento também para não apenas ser uma simples soma de conceitos
e teoria, com isso é extremamente importante ter a reflexão sobre cada caso, não sendo possível
definir de forma antecipada os processos de pesquisas. Também ocorre com as técnicas
qualitativas e quantitativas, não existe uma melhor que a outra, mas cada uma delas possui seus
objetivos específicos para servir como ferramenta de pesquisa, servindo como modo de realizar
uma atividade de forma assertiva.

02. A Sociologia utiliza-se de vários métodos (dialético, hermenêutico, estatístico e positivo)


e técnicas científicas em suas investigações, na maioria das vezes usadas de modo
complementar e empregadas concomitantemente. Sobre os tipos de métodos possíveis de
serem utilizados na investigação social, indique os métodos que preenchem corretamente as
lacunas: (peso = 1,0)

O método DIALÉTICO considera todas as influências possíveis para compreender um


determinado recorte da realidade social. Já o método HERMENEUTICO consiste, como o

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próprio nome indica, em estudar os fenômenos sociais interpretativamente, pois “... baseia-se na
‘descrição’ da experiência dos sujeitos-atores que são considerados como parte do processo de
construção do conhecimento” (Introdução ao uso de métodos de pesquisa em ciência política, pg.
02). Outro método considerado importante é o _ESTATÍSTICO_, também conhecido como
quantitativo, e que busca comprovar as relações dos fenômenos entre si e obter generalizações
sobre sua natureza, ocorrência ou significado. Existe ainda o método POSITIVISTA, que se
propõe a analisar a realidade a partir da ênfase nas propriedades lógicas e formais.

03. “... Procura de critérios com equivalência funcional à tradição quantitativa. A pesquisa
qualitativa deve desenvolver seus próprios critérios e regras, se quiser demonstrar sua
autonomia como uma tradição de pesquisa. Isso não implica nem uma rígida competição
com os critérios existentes, nem a rejeição completa de qualquer critério, mas um ‘caminho
intermediário’. Esse caminho intermediário deve ser descoberto perguntando quais são as
funções dos critérios e regras tradicionais do método. A partir destas funções abstratas,
será possível construir e re-especificar critérios que são diferentes, em essência, da pesquisa
quantitativa mas que são equivalentes funcionais para os métodos qualitativos” (George
Gaskell e Marin Bauer, 2005: 480).

Indique quais são os equivalentes funcionas dos métodos qualitativos para as categorias de
amostra e construção da amostra. Discorra sobre as características e objetivos de cada um desses
equivalentes na pesquisa social: (peso = 1,0)

Na pesquisa social, o pesquisador normalmente procura fazer afirmações gerais, ultrapassando o


campo de simplesmente observações empíricas, logo, vem ao debate, a questão sobre
generalizações, muitas vezes, ele acaba generalizando resultados com base em determinados
achados, situações ou registros. Assim é necessário encontrar procedimentos técnicos e
elaborados para a amostra possua confiança em suas evidências. Assim os autores George
Garkell e Marin Bauer, trazem equivalências funcionais dos métodos qualitativos e quantitativos,
para categorias de amostra e construção de amostra, teremos como base duas, que estabelecem
estrutura na garantia de qualidade da pesquisa: a confiabilidade e a relevância.
A confiabilidade é aquela que faz o leitor, sentir “confiança” no resultado da pesquisa, de fato
representa a realidade e ultrapassam as linhas do objetivo do pesquisador, melhor dizendo, é o
resultado com veracidade e não falsificados diante dos objetivos da pesquisa, caminho trilhado
com: transparência. Já a relevância, está associada ao quanto a pesquisa faz a conexão da teoria
internamente ou externamente, em confronte ao senso comum, sem esquecer do quanto a
pesquisa vai ser útil e o grau de sua importância (não necessariamente possuir ambos no
resultado), o segredo está na surpresa do resultado, algo que tanto na pesquisa qualitativa e
quantitativa, vão fazer a diferença.

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04. Na ciência, os dados do mundo real precisam ser sistemática e cuidadosamente
coletados, para que os procedimentos possam ser confirmados. Isso implica que a prática
da ciência, ou a pesquisa científica, dependa da conformidade a algumas regras. Em
Ciências Sociais, podem se sintetizar essas regras em dois modelos distintos de coleta e
análise de dados: quantitativo e qualitativo. A respeito da característica dessas duas
abordagens de pesquisa discorra sobre os alcances e limites de cada uma delas (peso = 1,0)

Na pesquisa em ciências sociais, pode-se encontrar dois modelos distintos de análise de dados: o
quantitativo e o qualitativo.
Na pesquisa quantitativa temos como característica de seu método a forma de coleta e
tratamentos dos dados, será obtido por meio de um conjunto de informações que possam atribuir
comparação, tendo como um mesmo conjunto observações. Nesse método a comparação é de
extrema importância, também pode lidar com predição, conseguir identificar perfis e tendencias.
Suas fontes de dados podem ser primárias (dados delineados pelo pesquisador ou grupo) ou
secundárias (registros estatísticos, documentos pessoais, comunicação). A precisão dos dados
não é garantia de certificação de uma boa interpretação sociológica, dependendo do seu contexto
que está sendo elaborado, para os cientistas sociais não uma simples coleta de dados, mas são
eles que criam os dados, o maior exemplo é até ausência de respostas em questionários, procurar
entender em que momento aquilo está sendo constituído.
Na pesquisa qualitativa, pode-se partir da ideia da dificuldade do pesquisador de ciências sociais,
isolar os fenômenos para realizar um experimento, considerando que nosso objeto de estudo é
dotado de intencionalidades (ação), pessoas, que por momentos podem até ter suas condutas
alteradas, com a presença do observador em seu meio. Diferente do que ocorre nas ciências
naturais que estabelece a relação sujeito-objeto, nas ciências sociais teremos, sujeito-sujeito.
Nessa ideia que se pode conhecer os próprios limites da pesquisa qualitativa, compreender que
suas técnicas compreendendo o conhecimento parcial (não do todo).
Ambas possuem suas particularidades e vão dialogar com objeto de que acordo com aquilo que o
pesquisador tem como pergunta de seu trabalho de pesquisa, não cabe, delimitar qual a melhor,
pois as duas possuem suas especificidades.

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05. O gráfico a seguir apresenta dados do IBGE sobre a ocupação em trabalhos formais,
segundo o sexo, de 2005 a 2015. (peso = 1,0)

Considerando os gráficos apresentados no gráfico, disserte sobre as questões a seguir:


I. De 2005 a 2015, a taxa de ocupação feminina em trabalhos formais aumentou mais
do que a masculina, resultando na redução da diferença ao longo do período.
II. Ano após ano, houve crescimento da taxa de ocupação em trabalho formal de ambos
os sexos.
III. A taxa de ocupação feminina em 2005 apresentava uma diferença de 4,3 pontos
percentuais com relação à taxa masculina, enquanto, em 2008, a diferença foi de
4,8 pontos percentuais.
IV. Durante o período apresentado, houve crescimento exponencial da taxa de ocupação
em trabalho formal.
No gráfico e nas questões expostas para a interpretação da pesquisa, é válido primeiramente
compreender que parte de dados gráficos com suas legendas, e seus dados via de número. Vou
tentar compreender cada uma delas.
I- De 2005 a 2009 houve um crescimento, mas não podendo ser compreendido como maior
que a masculina, apenas de 2009 a 2013 houve de fato um crescimento real na taxa de
ocupação de trabalho forma de ocupação feminina, resultando na redução na
diferença no período todo.

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II- Na taxa de ocupação masculina de 2005 a 2013 houve um crescimento considerável, já de
2013 a 2015 ocorre uma estabilidade diante desses índices. Já na ocupação de
trabalho feminina de 2005 a 2013 há um crescimento bem significativo, mas em 2014
a índice reduz novamente, elevando a diferença diante da masculina, concluindo em
2015 o crescimento novamente, acarretando a aproximação dos dados.
III- Exatamente, ambos os dados procedem, explicando do quanto os índices de trabalho
formal sobre questões de gêneros acabam de fato representando um problema social.
IV- Não houve crescimento exponencial, pois teve oscilações de 2005 a 2015.

06. Em seu livro Ofício de Sociólogo, Pierre Bourdieu (et al) faz uma crítica à dissociação
entre método, teoria e operações de pesquisa, ressaltando que o objeto de estudo das
Ciências Sociais possui particularidades, dentre as quais se destacam a “vigilância
epistemológica” e o “habitus de sociólogo”. Explique como o respectivo autor define estes
enunciados e qual a sua importância para a prática das ciências Sociais: (peso = 1,0)

Para Bourdieu, a vigilância epistemológica, parte particularmente sob a separação entre a


opinião comum e o discurso científico, ela deve estar presente em todo o processo de pesquisa,
na construção do objeto de estudo, que muitas vezes é confundido com os objetos que são
gerados pelo próprio comum. Serve também para reflexão, com intuito de evitar a contaminação
do processo produtivo da pesquisa cientifica com pré-noções. O “habitus” de sociólogo, é uma
ferramenta de forma interpretativa da realidade no contexto de uma sociologia, procurando
dissolver os limites do individuo e sociedade, incluindo todas as representações sobre si e sobre
o real, seus sistemas de práticas em que a pessoas se inclui. Tais habitus, não deixam de ser
esquemas em partes controlador e transponíveis (interiorização dos princípios teóricos das
ciências sociais).

07. Levando em consideração os textos indicados, discorra sobre: (peso = 1,0)


a) as diferenças entre pesquisas com seres humanos e pesquisas em seres humanos;
b) os dilemas éticos em relação à pesquisa de campo nas ciências sociais.

Sobre as diferenças de pesquisa com seres humanos e a pesquisa em seres humanos, se


estabelece na primeira o sujeito é colocado na condição de cobaia e na segunda, é o ator social
assumindo seu papel ativo na pesquisa. Assim nas ciências sociais, a pesquisa não vai ser
definitiva e clara, ocorre a redefinição sempre pós seu contato com o campo de pesquisa.
Além desse entendimento o pesquisador deve conter consigo uma série de valores e princípios
éticos que a própria pesquisa vai exigir, a própria reflexão metodológica. Com entendimento que
ética parte de definições ligadas á ação humana (seja ela moral, legal ou ética), o pesquisador

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deve ter nítido que seu objeto é compartilhado (vida social), há linguagem, e argumentação, com
ênfase na interpretação (compreender o porquê dos processos).

08. Defina uma temática para o seu estudo exploratório, respondendo as questões abaixo:
a) Escolha um problema social para dar início ao seu estudo exploratório. Justifique o motivo
da escolha e a importância social: (peso = 1,5)

Tema: Regulação das mídias digitais e seus impactos sociais – Por tratar de um assunto que
tenho buscado aproximação, a sociologia digital, acredito que possa ser explorado e buscar
estabelecer a influência de algoritmos nas redes sociais atualmente, como ele tem se
estabelecido desde o campo político e social, resultando em espaço para divulgação de
inverdades (fake news) e indicando que aqui no Brasil a internet tem se tornado um campo
sem lei.

b). Delimite sua problemática científica, preenchendo as lacunas do enunciado abaixo, a partir
do problema social indicado acima. (peso = 1,5)

* Minha pesquisa insere-se na área de SOCIOLOGIA e eu vou pesquisar com a análise de


dados gerados nas plataformas digitais e com base teórica de autores da área porque eu
gostaria de saber os impactos nas esferas política e social, para que eu possa explicar como
tem ocorrido e se de fato a regulação hoje conseguiria “controlar” tais impactos existente nas
mídias digitais.

Bibliografia:

BOURDIEU, Pierre; CHAMBERON, Jean-Claude; PASSERON, Jean-Claude. A profissão do


Sociólogo: Metodologia da pesquisa sociológica. Ed. Vozes, 2005. (Parte I e II)

BAUER, Martin; GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um
manual prático. Petrópolis: Ed. Vozes, 2005, 4ª ed. (Cap. 18 e 19: Falácias na interpretação de
dados históricos e sociais; Para uma prestação de contas pública: além da amostra, da
fidedignidade e da validade).

BABBIE, Earl. Métodos de Pesquisa de Survey. Belo Horizonte: UFMG, 2005. Capítulo 19 – A
ética na pesquisa de survey.

OLIVEIRA, L. R. C. Pesquisa em versus Pesquisas com seres humanos. In: Víctora, C.;
OLIVEN, R. G.; MACIEL, M. E.; ORO, A. P. (Orgs.). Antropologia e Ética: O debate atual no
Brasil. Niterói: EdUFF, 2004.

ALONSO, Angela. Métodos qualitativos de pesquisa: uma introdução. In: CEBRAP. Métodos de
pesquisa em Ciências Sociais: Bloco Qualitativo. SescSP/CEBRAP: São Paulo, 2016, pp. 8-23

LIMA, Márcia. Introdução aos métodos quantitativos em Ciências Sociais. Ler da pg. 10 à 29

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