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e
História Empresarial
no Brasil
Paulo Nassar
Abstract
The history of Public Relations shows a field where theory and practice are in cons-
tant evolution. This survey has the purpose of studying the relations between Public
Relations, Organizational Communication and Business History, having established
the assumption that the overlapping characterizes a new scope for Public Relations.
A quantitative survey was conducted with 119 organizations with the purpose of tes-
ting the assumptions related to the connections between these fields, which enabled
establishing theoretical and professional characteristics that are inherent to the detec-
ted links and confirming the assumption proposed.
KEYWORDS : PUBLIC RELATIONS • ORGANIZATIONAL COMMUNICATION • BUSINESS HISTORY •
BUSINESS MEMORY • PROFESSIONAL MARKET • PUBLIC RELATIONS AND ORGANIZATION COM -
MUNICATION RESEARCH
Resumen
La historia de las Relaciones Públicas muestra un campo en el que la teoría y la prác-
tica están en constante evolución. La presente investigación tiene como objeto de es-
tudio los vínculos entre Relaciones Públicas, Comunicación Organizacional e Historia
Empresarial, y como hipótesis el hecho de que esas imbricaciones se configuran como
un nuevo alcance para las Relaciones Públicas. Se realizó una investigación cuantitati-
va con 119 organizaciones con el objetivo de probar las hipótesis vinculadas a las co-
nexiones entre esos campos, que ha permitido establecer características teóricas y pro-
fesionales inherentes a las vinculaciones detectadas y comprobar la hipótesis propuesta.
PALABRAS CLAVE : RELACIONES PÚBLICAS • COMUNICACIÓN ORGANIZACIONAL • HISTORIA EM -
PRESARIAL • MEMORIA EMPRESARIAL • MERCADO PROFESIONAL • INVESTIGACIÓN EN RELA -
CIONES PÚBLICAS Y COMUNICACIÓN ORGANIZACIONAL
E
sta pesquisa integra a tese de doutorado Relações Públicas e História Empresarial
no Brasil: estudo de uma nova abrangência para o campo das Relações Públicas, apre-
sentada à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-
USP) e defendida em 24 de agosto de 2006. A tese é composta de quatro capítulos: 1.
Relações Públicas: idéias e perspectivas; 2. Relações Públicas: comentários sobre a sua
trajetória no Brasil e novas perspectivas; 3. A construção da História e da Memória
Empresarial como atividade de Relações Públicas; 4. Pesquisa sobre projetos de História
Empresarial nas empresas brasileiras. Os capítulos 1, 2 e 3 da tese fazem uma revisão
bibliográfica dos campos das Relações Públicas e da História Empresarial. O projeto
contou com o patrocínio da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial
(Aberje) e foi orientado pela Profa. Dra. Margarida Maria Krohling Kunsch.
As empresas genuinamente brasileiras se interessam por sua história ou isto seria an-
tes uma preocupação de empresas de capital estrangeiro? Que motivações teriam le-
vado ou poderiam levar as empresas a se valerem de sua história? As que já institucio-
nalizaram programas ou ações tendem a torná-los permanentes? Seus programas
estão voltados para reforçar nos públicos estratégicos o sentimento de pertencimen-
to a elas e como ferramentas de gestão do conhecimento?
Algumas dessas questões foram por nós expressas na forma de hipóteses a serem
comprovadas, esclarecidas ou até mesmo refutadas. A principal era que os campos das
Relações Públicas e de Comunicação Organizacional ocupam um espaço estratégico
no trabalho de construção da memória organizacional nas empresas brasileiras líde-
res em seus segmentos de atuação. Entre as hipóteses secundárias, estava a de que os
trabalhos de História Empresarial desenvolvidos no campo das Relações Públicas, pa-
ra lá de simples ações comemorativas, tendem a se constituir em programas perma-
nentes, como ferramentas de gestão do conhecimento. Outra hipótese era que a pre-
servação da história talvez não representasse uma opção ou uma prática de empresas
de origem genuinamente brasileira.
Para definir o universo de pesquisa, utilizamos como base a edição especial da Revista
Exame1 relativa ao ano 2005, sobre as 500 maiores e melhores empresas do Brasil. Procedemos
a um sorteio sistemático, com salto a cada cinco nomes da listagem dessa publicação,
na qual as empresas estão classificadas por ordem de faturamento. Isto resultou em
um quadro de cem empresas a serem pesquisadas.
1 Revista quinzenal de negócios sobre economia, finanças, gestão, tecnologia, marketing e carreira,
da Editora Abril S.A. Anualmente, ela publica o guia Maiores e Melhores, escolhendo, com base
em uma série de critérios econômico-financeiros, as empresas que, no ano anterior, foram desta-
que no país e nas suas diferentes regiões geográficas. A edição de 2005 era a 33a. da série.
2 Valor 1000 é um anuário das maiores empresas do país, por setores e regiões, publicado pelo jor-
nal Valor Econômico, de economia, negócios e finanças, editado pela empresa Valor Econômico S.A..
posição da equipe; formação dos profissionais envolvidos; públicos que têm acesso ao
programa; envolvimento da alta gestão; relação entre História Empresarial e planeja-
mento; comprometimento das empresas com a história.
A meta original foi ultrapassada, tendo-se obtido um retorno de 119 empresas atuan-
tes no Brasil. Foi estabelecido um compromisso com os entrevistados no sentido de
compartilhar com eles as informações após a conclusão da pesquisa, o que certamen-
te contribuiu para motivá-los a nos responder, já que se tratava de um estudo inédi-
to. Este primeiro momento já sinalizava de alguma forma o interesse que o tema da
história desperta no segmento empresarial.
3 Escala nominal é a escala usada para classificar pessoas (sexo, classe socioeconômica, orientação
no tempo etc.), identificar grupos etc.. Escala de avaliação verbal é a que se baseia em relatos
orais. Escala Likert é uma escala composta por um número determinado de proposições, geral-
mente com cinco a sete possibilidades de respostas, variando desde discordo totalmente até con-
cordo totalmente. Conforme o site wikipedia.org/wiki/Likert, ela tem este nome de Rensis Likert,
que, em 1932, publicou uma matéria descrevendo seu uso.
vam o nosso trabalho, para o que levamos em conta o alerta feito por Lopes (2001, p.
125), de que é necessário procurar contornar “a mera acumulação de dados e a eru-
dição estéril”. Os principais resultados são registrados na seqüência.
Tabela 1
TOTAL INDÚSTRIA COMÉRCIO SERVIÇOS
Base NA 119 68 10 41
% 100,0 100,0 100,0 100,0
NA – número absoluto
As empresas eram das mais distintas origens, com predominância das brasileiras
(55,5%). As européias somavam 20,7% e eram procedentes dos seguintes países:
Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Holanda, Inglaterra, Luxemburgo, Itália e Suécia.
As de origem nos Estados Unidos representavam 15,1%. Na categoria “outros”, tota-
lizando 8,7% da amostra, incluíam-se organizações que têm suas matrizes em países
como Bermudas, Canadá, Coréia, Japão e México, além de empresas de capital mul-
tinacional (Brasil-Bélgica, França-Espanha-Luxemburgo, Brasil-Espanha e Portugal-
Espanha).
Quase a totalidade (87,4%) das empresas tinha um quadro de mais de 1.000 emprega-
dos. Em 49,5% das empresas, esse número ficava entre 1.000 e 5.000; em 37,8%, aci-
ma de 5.000. Vale observar que, apesar de as empresas do segmento produtivo terem
Base NA 119 68 10 41
% 100,0 100,0 100,0 100,0
De 101 a 500 NA 4 2 - 2
% 3,4 2,9 - 4,9
De 501 a 1.000 NA 11 6 23
Funcionários
De 1.001 a 5.000 NA 59 38 4 17
% 49,6 55,9 40,0 41,5
Acima de 5.000 NA 45 22 4 19
% 37,8 32,4 40,0 46,3
NA – número absoluto
40
31,9
27,7 25,2
30 ■ Até 25 anos
15,1 ■ De 26 a 50 anos
20
■ De 51 a 80 anos
10 ■ Mais de 80 anos
49,6
50
37
40 ■ Programa estruturado
30 ■ Ações eventuais
13,4 ■ Não existe programa
20
10
0
29,1
30
25 21,4 23,3 ■ Até 3 anos
20 ■ De 4 a 5 anos
14,6
15 11,7 ■ De 6 a 10 anos
10 ■ Mais de 10 anos
5 ■ Não sabe
0
100
85,1
81,2 ■ Fotografias
80 ■ Documentos
60 ■ Depoimentos
50,5
■ Publicações/vídeos
40 30,7 ■ Medalhas/troféus
20
15,8 13,9 ■ Objetos antigos
5 ■ Outros
0
Quando questionados sobre a origem dos depoimentos, 89,6% dos entrevistados in-
dicaram os relatos de antigos funcionários como fonte principal, de acordo com o grá-
fico 5. Esta informação sinaliza a importância da história oral, que vem carregada de
sentimentos e emoções, emprestando à história da empresa um valor que vai além de
sua atividade estritamente econômica.
100 89,6
■ Funcionários antigos
80 ■ Funcionários atuais
60 ■ Comunidade
47,9
■ Fundador/acionista
40 ■ Diretores
22,9 20,8
20
16,7 14,6 ■ Clientes
10,5
■ Outros
0
Registrou-se também uma relação entre o tempo de existência das empresas e a co-
leta de depoimentos de funcionários. A tabela 4 indica que, quanto mais antiga a em-
presa, mais os funcionários antigos são ouvidos na reconstituição de sua história.
70 67,4
60,6 ■ Livros
60 ■ Vídeos
50 45,5 ■ Exposições
42,4
36,4 ■ Internet
40
30,3 ■ Eventos
30 23,2 ■ Museu fixo/itinerante
20,2
20 17,2 ■ Revistas
10 ■ Centro cultural
■ Outros
0
Vale um comentário sobre “outros produtos”, que no gráfico 6 somam 67,4% das men-
ções feitas pelos entrevistados. Incluem-se aí CD-ROMs, galerias, memorial perma-
nente, intranet, folders, murais, banco de dados, acervo de fotos e peças, áudio, pales-
tras, publicações, brindes, manuais, DVDs, ações sociais, biblioteca, selo comemorativo,
atlas, cursos e álbuns como alguns exemplos. Isso pode indicar que as empresas vêm
buscando meios alternativos para registrar e divulgar sua história.
78,6
80
■ Comunicação/RP
60
■ Marketing
40 ■ Recursos Humanos
22,6 ■ Comitê misto
20 10,7
3,6 6 ■ Outros
0
Das empresas do segmento industrial, 70,9% dos entrevistados apontaram como pre-
ferencial o trabalho realizado conjuntamente por equipe interna e externa. No caso
das prestadoras de serviços, esse índice era de 66,7%.
É interessante notar que, até mesmo nas empresas que mantinham um programa de
História Empresarial estruturado, predominavam as equipes que trabalhavam em
conjunto (81,4%), o que sugere uma necessidade de se dispor de profissionais espe-
cializados. No caso das empresas que realizam ações eventuais, esse percentual era me-
nor (56,8%), como se pode conferir na tabela 6.
Total Programas
estruturados Ações eventuais
■ Relações públicas
24,5
25 ■ Jornalista
19,6 ■ Marketing
20 ■ Administrador
13,9 ■ Historiador
15 11,8
■ Biblioteconomia
10 7,8
6,9 5,9 5,9 ■ Outros
4,9
5 ■ Grupo
■ Não sabe
0
35 32,4
■ Historiador
30
■ Jornalista
25 ■ Publicitário
20 17,6 ■ Comunicações/RP
15 12,2 ■ Marketing
10,9
9,7 9,5 ■ Outros
10
5,4 ■ Grupo
5 2,7 ■ Não sabe
0
■ Funcionários
100 89
■ Comunidade
80 ■ Clientes
51 ■ Fornecedores
60
■ Imprensa
40 ■ Familiares
23
17 15 14 ■ Estudantes
20 12
8
2 ■ Outros
0 ■ Não sabe
A pesquisa realizada nos permitiu tirar algumas conclusões que responderam a inda-
gações que tínhamos em mente e, por outro lado, confirmaram, esclareceram ou des-
caracterizaram parcialmente as hipóteses que havíamos formulado.
1. A pesquisa realizada sinalizou que a área de História Empresarial está se estru-
turando nas maiores organizações do país. Como estas lançam tendências de
gestão e Comunicação, espera-se que, no médio prazo, a valorização da História
Empresarial passe a ser reconhecida por outros segmentos.
2. Os campos das Relações Públicas e da Comunicação Corporativa estão amplian-
do seus espaços nas organizações, sendo a História Empresarial mais uma área
de atividade. De acordo com os dados coletados e sinalizados no gráfico 8, vê-
se que, nas empresas entrevistadas, 24,5% dos profissionais responsáveis por pro-
jetos de História Empresarial eram graduados em Relações Públicas. Além de
mobilizar profissionais de Relações Públicas e Comunicação, estes programas
trazem para a esfera privada profissionais mais ligados à prática pública de res-
gate e manutenção histórica – os historiadores.
3. A História Empresarial configura-se como um novo campo de atividades para
os profissionais de Relações Públicas, pois serão eles, como estrategistas, que
Bibliografia
AAKER, David A.; KUMAR, V.; DAY, George S.. Pesquisa de marketing. São Paulo: Atlas, 2001.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002.
LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. Pesquisa em comunicação: formulação de um modelo metodológico. São
Paulo: Loyola, 1990.
MATTAR, Fauze N. Pesquisa de marketing. Edição compacta. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2000.
ANEXO
QUESTIONÁRIO
Hipótese principal
Os campos das Relações Públicas e de Comunicação Organizacional ocupam um espaço estratégi-
co no trabalho de construção da memória organizacional nas empresas brasileiras líderes em seus
segmentos de atuação.
1 Comunicação
2. Relações Públicas
3. Marketing
4. Recursos Humanos
5. Presidência
6. Comitê de várias áreas
7. Outra área. Qual?
8. Não sei
Analisando as frases que vou citar, qual delas melhor reflete a experiência que esta empresa
tem com o programa de memória empresarial?
Hipóteses secundárias
Os trabalhos de História Empresarial desenvolvidos no campo das Relações Públicas, para lá de sim-
ples ações comemorativas, tendem a se constituir em programas permanentes, como ferramentas
de gestão do conhecimento.
A preservação da história talvez não representasse uma opção ou uma prática de empresas de ori-
gem genuinamente brasileira.
1. Funcionários da empresa
2. Familiares dos funcionários
3. Clientes
4. Fornecedores
5. Imprensa
6. Público geral/comunidade
7. Não sabe/Não respondeu
8. Outros. Quais?
Vou citar algumas frases e gostaria de saber se você concorda ou discorda totalmente ou par-
cialmente:
1. O sucesso do programa
de memória depende
do apoio da alta gestão
2. O programa de memória
deve ser restrito aos
funcionários da empresa
3. Memória empresarial
é uma moda que
vai passar
4. As empresas fazem
projeto de memória para
usar como instrumento
de Marketing
5. Preservar a memória
das empresas é uma ação
de responsabilidade social
6. Os acervos de memórias
empresariais deveriam
ser patrimônio público
7. A memória das empresas
só é importante nos
momentos de celebração
8. Trabalhos de História
Empresarial não necessitam
ter compromisso com
a autenticidade dos fatos
9. O conhecimento da
história pode ser útil no
planejamento dos negócios
10. Os programas de memória
demonstram o comprometimento
das empresas com o país