Resenha: IV Colóquio de estudos em gestão de políticas públicas
Mesa 1: Perspectivas nos estudos sobre populações vulneráveis: considerações
teóricas, metodológicas e conceituais
Descrição: O objetivo dessa mesa é abordar diferentes desenhos de pesquisa
preocupados com desigualdades e políticas para populações vulneráveis. Além de discutir lentes analíticas recentes, em particular o uso de abordagens cognitivas e relacionais, a mesa propõe-se a discutir desafios metodológicos na construção dos desenhos de pesquisa, desde o ponto de vista da seleção dos casos até estratégias comparativas.
Participantes:
• Coordenação: Renata Bichir - PPG GPP EACH USP
• Kellen Gutierres - CEM • Priscila Vieira - Cebrap
A primeira mesa do evento trouxe o debate sobre as perspectivas nos estudos
sobre populações vulneráveis, a partir de considerações teóricas, metodológicas e conceituais. A professora Renata Bichir introduziu o tema salientando os desafios que se apresentam no estudo do tema, uma vez que a perspectiva metodológica é multidisciplinar e advém de campos como a ciência política, a assistência social e a sociologia. Portanto, também se faz importante na produção intelectual o recorte e definição precisos dos conceitos empregados pelos pesquisadores.
Após a fala inicial da professora Bichir, a pesquisadora Kellen Gutierres iniciou
sua fala contextualizando seu objeto de pesquisa, a relação entre os movimentos sociais, ativistas, partidos políticos e o governo na produção de políticas públicas. Segundo a pesquisadora, existe uma relação direta entre a ação dos movimentos sociais e as políticas públicas – o caso estudado por ela foi a criação do sistema único de assistência social (SUAS), cuja lei foi promulgada em 1998, mas a implementação só aconteceu em 2005. Sobre os aspectos metodológicos do trabalho, Gutierres argumentou que sua opção foi pela análise de trajetórias, com enfoque nas trajetórias profissionais dos atores envolvidos na militância da assistência social. Essa militância, segundo a pesquisadora, foi importante na aprovação do SUAS. Com esse trabalho, Gutierres disse ter entendido a relação entre o ativismo e o partido político, governista à época, e que, ainda que houvesse uma agenda comum dentro do partido para a criação do SUAS, existiam disputas internas por conta de visões diferentes das ativistas sobre o conteúdo da lei. Isso aconteceu pois, segundo seu relato, uma das questões básicas para os movimentos de assistência social já é um tema cujo debate é caro: a assistência social é uma política pública ou um direito? Para complementar seu trabalho com análise de trajetórias, a pesquisadora disse ter utilizado o arcabouço da abordagem cognitiva, especificamente o modelo de coalizão e defesa, no intento de olhar como as ideias constroem as políticas públicas.
A pesquisadora Priscila Vieira apresentou seu trabalho sobre as relações de
emprego num bairro da zona leste paulistana, e iniciou sua fala ressaltando a importância do recorte e delimitação conceitual. O trabalho de Priscila foi de comparar a narrativa governamental com as experiências individuas da região no período entre os anos de 2000 e 2010, para entender como a população pobre vê a si mesma e compreende as políticas públicas. Para tanto, a pesquisa utilizou-se de análise do material institucional e propaganda do governo, bem como pesquisas etnográficas junto à população.
Bichir a fala após a exposição de Priscila para falar sobre o desafio da
implementação de políticas públicas intersetoriais. A fala foi no sentido de entender uma melhor forma de pensar os arranjos institucionais existentes entre os atores para a produção de políticas públicas, salientando que muitas vezes os arranjos formais são distintos dos arranjos que se formam de maneira prática na implementação das políticas públicas – quais são as conexões e desconexões possíveis na teia institucional e relacional? Renata encerrou sua fala salientando a necessidade de um debate metodológico para ajudar os pesquisadores e encontrar as respostas para os questionamentos formulados.