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MEDICINA HIPOCRÁTICA

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HIPÓCRATES converteu a Medicina Antiga do misticismo mágico-religioso em Ciência,
desenvolvendo a inspeção e a observação do paciente, o registro fidedigno das histórias clínicas e
promovendo a primeira diferenciação sistemática das enfermidades. O modelo hipocrático
concentrava-se no diagnóstico e no prognóstico das doenças, faltando ao mesmo um sistema
terapêutico bem estruturado, utilizando, na maioria das vezes, medidas higiênicas como as dietas, o
epouso, os exercícios, os banhos e as massagens; empregava também ventosas, medicamentos
eméticos e purgativos, com o intuito de expulsar a matéria doentia (materia peccans) do organismo.

Entre as inúmeras contribuições à Medicina, HIPÓCRATES demonstrou que a doença é um


processo natural, sendo seus sintomas reações do organismo à enfermidade, atribuindo ao médico o
papel de ajudar as forças defensivas naturais do organismo (vis medicatrix naturae).
Acreditando no poder da força vital orgânica (vis medicatrix naturae) em restabelecer a saúde
perdida, associado à deficiência de uma terapêutica específica que pudesse estimular este princípio
vital no sentido da cura, os médicos hipocráticos limitavam-se a afastar os impedimentos à
recuperação da saúde, dando ao corpo toda a ajuda possível através do repouso e das dietas. Com
isto, pelo menos, impedia-se que os doentes fossem submetidos aos tratamentos mal concebidos e
venenosos daquela época, que matavam mais do que curavam: primo non nocere.

Embasado no modelo vitalista hipocrático, que atribui à causa das doenças uma alteração da força
vital imaterial, surgirá, após dois mil anos, um modelo terapêutico de estímulo à forca vital curativa,
chamado Homeopatia.

Apesar de atribuir à força vital ou vis medicatrix naturae um poder limitado no combate às doenças,
por ser "ignorante e não instruída" (diferenciando-a do poder inteligente, alma ou espírito), a atitude
terapêutica dos médicos hipocráticos limitava-se a auxiliar a natureza nos seus poderes curativos. A
capacidade reativa do organismo era representada pela physis.

Entendamos esta physis hipocrática ou força natural de cura como o poder fisiológico que governa
as funções orgânicas' Por ser instintiva, irracional e inconsciente, não é capaz de solucionar todos os
problemas orgânicos, necessitando, em muitos casos, receber a orientação inteligente do médico.

Quanto ao princípio da semelhança (similia similibus) propriamente dito, este era usado dentro da
terapêutica hipocrática com o intuito de auxiliar e regular o trabalho da natureza (vis medicatrix
naturae), pois os sinais e sintomas observados na doença representavam o esforço da reação vital
orgânica em direção à cura.

Dos Lugares nos Homens -, o autor faz a importante admissão de que, embora a norma geral de
tratamento seja contraria contrariis, em alguns casos a norma oposta similia similibus curantur
também resulta boa.
Como ilustração da última, declara que as mesmas substâncias que causam estrangúria, tosse,
vômitos e diarréia curarão essas doenças. A água quente - ele diz - que, quando ingerida, geralmente
excita o vômito, algumas vezes também faz com que esse vômito se interrompa pela remoção da
causa. O tratamento que aconselha para a mania de suicídio é uma ilustração do princípio
homeopático: 'Faça o paciente ingerir - diz o escritor - uma bebida feita com a raiz da mandrágora,
em dose bem menor do que a que induziria à mania'. Muito curiosamente, em alguma de suas
descrições de patologias, o escritor também antecipou o que foi uma insistência especial de
Hahnemann, saber: que não pode existir alguma coisa como doença local, pois, se mínima parte do
corpo sofre, o seu sofrimento é comunicado à toda estrutura. O autor do trabalho De Morbis
Popularibus, que supostamente seria o grande Hipócrates, tem a seguinte fórmula homeopática:
'Dolor dobrem solvit', equivalente ao adágio popular, 'uma dor cura a outra'. A mesma máxima é
repetida nos Aforismos (sec.II, § 46), onde se diz: 'Se ocorrem duas dores ao mesmo tempo, mas
não na mesma parte do corpo, a mais forte enfraquece a mais fraca'.
Para mostrar o conhecimento parcial que ele tinha dessa lei, mais alguns exemplos de Hipócrates
podem ser citados. 'O estômago frio - diz ele nos Aforismos - deleita-se com as coisas frias'. No
mesmo livro (Aforismos, sec. V, § 17), afirma que a água fria causa convulsões, tétano, rigidez e
contratura; e em outra parte, que a aplicação de água fria no tétano restabelecerá o calor natural
(sec. V, § 21). Outra vez: as coisas frias, como a neve e o gelo causam hemorragias (sec. V, § 24),
mas a água fria pode ser usada para a cura de hemorragias (sec. V, § 23). No livro De Internis
Affectionibus, diz: quando no verão, depois de uma longa caminhada, a hidropsia é produzida pela
ingestão inadvertida de água estagnada ou água de chuva, o melhor remédio será o próprio paciente
beber bastante dessa mesma água, pois isto causará um aumento das fezes e da urina. No livro De
Morbo Sacro, ele fala da epilepsia: 'Muitas delas são curáveis pelos meios semelhantes àqueles
pelos quais foram produzidas' (Adam's Hzppocrates). A carta de Demócrito a Hipócrates, na coleção
apócrifa chamada de Epístolàs de Hipócrates, contém uma passagem que reconhece o princípio
homeopático. É como se segue: 'O heléboro, fornecido a uma pessoa com juízo, espalha escuridão
na mente, mas, habitualmente, traz grande benefício ao louco'." (DUDGEON, 1994, pp. 9, 10).

Apesar de reconhecer e empregar o princípio dos semelhantes, HIPÓCRATES também utilizava o


princípio dos contrários (contraria contrariis), base da terapêutica médica atual.
No tratado Dos lugares no homem, citado anteriormente, encontramos o ensinamento de que
"convém sempre tratar, ou pelos contrários, ou pelos semelhantes, qualquer que seja o mal e de
onde venha (si hoc quidem omnibusidem issetpolleretve, omnibus sisteretur, quare cum sic non
habeat, quoedam contra riis iisquoe morbum) acerunt, curanda sunt, quoedam iis similibus quoe
morbum adxerunt)".
Segundo nos relata BOYD (1994), apoiando-se num estudo de Hugo Schulz, HIPÓCRATES não
assumia nenhuma linha específica de tratamento, utilizando-se do principio dos contrários para
tratar os sintomas ou transtornos molestos da enfermidade e do princípio dos semelhantes para tratar
a doença em si.

O princípio da Similitude na Idade Média


ERASISTRATO – Como principal expoente e fundador da medicina empírica, observando os
princípios hipocráticos, dedicou-se à pesquisa baseada na observação pessoal dos fenômenos,
tornando-se um investigador hábil, livre de preconceitos e avesso a qualquer dogmatismo
doutrinário.

Desta forma, ERASISTRATO considerava a força vital hipocrática "como uma espécie de espírito
vital, ligeiro, que enchia as veias", aproximando-se da concepção ocidental atual do papel do
oxigénio na fisiologia interna e da concepção oriental hindú deprâna, como uma força vital captada
através da respiração. Utilizando os métodos hipocráticos de tratamento, "rechaçou a alopatia e
utilizou métodos- homeopáticos, medicamentos suaves e diluídos". Assim sendo, o princípio da
similitude assumiu destaque na sua prática terapêutica, adicionando-se a esta o princípio das doses
infinitesimais, que veremos ser utilizado como prática vigente na Homeopatia do século XIX.

Afastando-se dos pressupostos dogmáticos, os seguidores da Escola dos Empíricos utilizavam-se


essencialmente dos conceitos hipocráticos, abandonando a medicina especulativa e fundamentando-
se na experiência prática como base para se adquirir o conhecimento da arte médica. Isto aplicava-
se desde a prática terapêutica até o estudo farmacológico dos efeitos das drogas.

Na Medicina Árabe
No auge da medicina árabe, Ab Bakr Muhammad ibn Zakariâ, conhecido como RHAZES (865-925
d.C.), foi um dos autores médicos que mais se destacou, escrevendo mais de duzentos livros de
medicina, filosofia, religião, matemática e astronomia. Após estudar medicina na escola de Bagdá,
assumiu a prática médica no Hospital de Raj em Tabaristan (perto de Teerã), região da Pérsia em
que nascera, retornando mais tarde para Bagdá onde assumiu grande reputação.

Hipocrático no verdadeiro sentido do termo, adverso a todo tipo de especulação e charlatanismo,


RHAZES destaca a importância da vis medicatrix naturae ou força vital, dizendo que "os remédios
que esgotam a força vital dos pacientes devem ser evitados". Atribui à febre um papel benigno nas
reações do organismo, que se esforça para expulsar a enfermidade. Além disto, no tratamento das
doenças, defende o uso de medidas higiênicas e da administração de um único medicamento
simples por vez. Exalta a importância da relação médico-paciente na arte de curar, fato este
ignorado pela escola empírica, quando supervalorizava as drogas que curavam as enfermidades
experimentalmente.
Nos mosteiros Medievais

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