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MORFOSINTAXE

Processos de formação
1 [ 203537 ].

“SUS” é uma palavra formada pelo processo de:


a) Abreviação.
b) Conversão.
c) Recomposição.
d) Parassíntese.
e) Hibridismo.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Chegada do Perseverance abre caminho para retorno de amostras de Marte

Agora que o rover Perseverance está seguro e saudável na superfície de Marte, vários
grupos de trabalho espalhados pelo mundo podem respirar aliviados e pensar nos passos
futuros do programa de exploração marciana -que vai agora focar seus esforços no cobiçado
retorno de amostras de volta à Terra. A missão atual é um primeiro passo crucial. Afinal,
cabe ao Percy, como foi apelidado o jipe, fazer o escrutínio e a escolha das rochas
(comandado por cientistas na Terra, claro) que serão acondicionadas por ele em pequenos
tubos lacrados e ultrarresistentes e depois deixadas, juntas, em algum canto da superfície de
Marte. Ele terá vários anos para fazer isso durante a exploração da cratera Jezero, um dos
locais mais promissores para a busca de evidências de vida pregressa marciana.
Mas e aí, o que vem depois? Nasa e ESA, respectivamente agências espaciais
americana e europeia, já trabalham conjuntamente nos próximos passos, que envolvem pelo
menos mais dois, e possivelmente três, lançamentos diferentes afim de trazer de volta o
cobiçado material. Ainda faltam definições, mas trabalhos 20 preliminares sugerem a
seguinte sequência.
Em 2026, parte um módulo de pouso com um pequeno foguete, de menos de três
metros, instalado a bordo. Projetada e construída pela Nasa, a nave pousaria próximo ao
local onde desceu o Perseverance. E aí, talvez partindo do próprio módulo, talvez enviado
num lançamento à parte, 1um pequeno rover produzido pela ESA encontraria as amostras e
as instalaria no interior do foguete. 2Em paralelo, em 2026 ou 2027, um orbitador com
propulsão elétrica, outra contribuição da ESA, partiria da Terra e se instalaria em órbita ao
redor de Marte. Em meados de 2029, 3o foguete seria disparado (o primeiro lançamento
feito de outro planeta!), colocando a cápsula com as amostras em órbita marciana. Lá ela se
acoplaria ao orbitador europeu, que por sua vez traria o conteúdo de volta à Terra, em 2031.
4
A empreitada toda custaria cerca de US$ 5 bilhões, sem contar os US$ 2,7 bilhões
empenhados na missão do Perseverance. 5A recompensa, contudo, teria valor
incomensurável. 6Cientistas já tiveram a chance de analisar algumas amostras de Marte -
meteoritos provenientes do planeta vermelho -, mas nunca com a chance de escolher quais
rochas, conhecendo o contexto geológico de onde elas partiram. E 7amostras trazidas de
volta continuam a render novos resultados por décadas, conforme equipamentos mais
sofisticados surgem para estudá-las. Não à toa, as amostras trazidas pelo programa Apollo,
que levou humanos à Lua entre 1969 e 1972, continuam sendo estudadas até hoje. Ademais,
é fundamental demonstrar a capacidade de trazer uma pequena carga de Marte antes que
se ambicione trazer uma grande carga - como humanos - em uma futura missão tripulada.

Nogueira, S. "Chegada do Perseverance abre caminho para retorno de amostras de Marte".


Folha de São Paulo. 21.2.2021, Disponível em: https://bit.Iv/3bZL69q/.Adaptado

2 [ 203094 ]. No fragmento "Ainda faltam definições, mas trabalhos preliminares sugerem a


seguinte sequência.", as duas palavras que apresentam o mesmo radical (cognatas) são:
a) "faltam" e "definições".
b) "trabalhos" e "preliminares".
c) "sugerem" e "seguinte".
d) "faltam" e "sugerem".
e) "seguinte" e "sequência".

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:


Que coisa mais jeca!

Do capiau de Lobato ao cafona urbano de hoje, palavra mudou com o país

1
É bem raro que um personagem literário tenha tanta projeção cultural que seu
nome acabe por virar substantivo comum de ampla circulação, verbete em todos os
dicionários. Aconteceu com o Jeca Tatu, criado há pouco mais de cem anos pelo escritor
paulista Monteiro Lobato (1882-1948). O Houaiss define assim o brasileirismo jeca-tatu,
substantivo masculino: "habitante do 2interior brasileiro, especialmente da região centro-sul,
de hábitos rudimentares, morador da zona rural". Ou seja, jecatatu é sinônimo de caipira,
matuto, equivalência que o dicionário também registra. Curiosamente, é só no verbete jeca,
forma reduzida de jeca-tatu, que o lexicógrafo aponta o escancarado caráter pejorativo da
palavra. O termo caipira pode ser depreciativo, mas também aparece em contextos neutros
e até de valorização da cultura rural. Jeca não: é ofensivo sempre. Mesmo quando o ator e
cineasta Amácio Mazzaropi (1912-1981) fez dele um herói simpático e de grande sucesso, o
riso que sua comédia buscava era baseado na superioridade do espectador sobre aquele
capiau ridiculamente simplório, que envergonhava os próprios filhos, ainda que fosse
honesto e de bom coração. A negatividade vem de berço. Quando lançou o personagem do
Jeca Tatu em 1914, em artigo para O Estado de S. Paulo 3intitulado "Uma velha praga",
Lobato o apresentava como síntese dos defeitos que, na sua experiência de fazendeiro cheio
de sonhos frustrados de modernização, condenavam o matuto brasileiro – e o país com ele –
ao atraso eterno. Preguiçoso, ignorante, 4abúlico, triste, nessa primeira encarnação o Jeca
(corruptela de Zeca) é uma espécie de aberração responsável por todas as suas próprias
desgraças aos olhos urbanos do escritor elitista. Só que o autor nunca parou de retocar o
personagem. Em pouco tempo tinha transformado o Jeca numa vítima da 5incompetência do
Estado, que lhe negava saneamento, remédios e educação. O personagem começou a
ganhar contornos construtivos. Nessa fase o 6astuto Lobato chegou a lhe arranjar um
emprego de garoto-propaganda do Biotônico Fontoura, elixir vendido como capaz de curar
os jecas de sua jequice. No fim da vida do escritor, uma intervenção mais claramente política
mudou tanto o caipira, agora retratado como explorado pelos donos da terra, que ele
precisou mudar de nome. Assim surgiu o personagem Zé Brasil, camponês dotado de
consciência de classe. De modo significativo, não fez um milésimo do sucesso do Jeca.
Ocorre que a criatura já havia declarado sua 7independência do criador. Morto Lobato, novas
transformações estavam por vir tanto para o Jeca, o personagem, quanto para jeca, a
palavra. 8O já citado Mazzaropi se encarregou da primeira, mas é a outra que 9interessa mais
de perto à coluna. Se a 10incrível 11inserção cultural alcançada pelo caipira de Lobato só pode
ser entendida no contexto de um país que, na primeira metade do século passado, ainda era
maciçamente rural, o Brasil de urbanização velocíssima das décadas seguintes reservou
novos papéis para o termo jeca. Hoje é mais comum vê-lo usado como adjetivo para
qualificar o "que revela mau gosto, falta de refinamento; cafona, ridículo" (Houaiss). Abusar
de palavras em inglês é jeca. Humilhar porteiros e garçons é jeca demais. Usar faixa
presidencial em solenidades que não a exigem, haja jequice! Não há dúvida de que vivemos
o momento mais jeca de nossa história.

Rodrigues, S. "Que coisa mais jeca! Do capiau de Lobato ao cafona urbano de hoje, palavra
mudou com o país". Folha de São Paulo. 24.10.2019. Disponível em: https://bit.ly/2NxyLzK/.
Adaptado.

3 [ 203104 ]. O prefixo negativo "in-", encontrado na palavra "incompetência" (ref. 5), é


utilizado com o mesmo significado nas seguintes palavras do texto:
a) "interior" (ref. 2) e "incrível" (ref. 10).
b) "intitulado" (ref. 3) e "interior" (ref. 2).
c) "intitulado" (ref. 3) e "independência" (ref. 7).
d) "independência" (ref. 7) e "incrível" (ref. 10).
e) "inserção" (ref. 11) e "interessa" (ref. 9).

4 [ 203102 ]. "É bem raro que um personagem literário tenha tanta projeção cultural que
seu nome acabe por virar substantivo comum de ampla circulação, verbete em todos os
dicionários" (ref. 1). A transformação de substantivo próprio em comum é um processo
conhecido como:
a) Derivação regressiva.
b) Conversão.
c) Composição por aglutinação.
d) Mudança fonológica.
e) Recomposição.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Fernando Pessoa (1888-1935) foi um dos mais importantes poetas da literatura portuguesa.
Criou uma obra de natureza filosófica sobre a consciência e as suas mais profundas
inquietações existenciais. Expressou uma personalidade estética multifacetada por meio dos
heterônimos, os quais consistiam em várias identidades que detinham biografia e
características psicológicas distintas: Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Bernardo Soares e Álvaro
de Campos, um engenheiro naval, a quem se deve a “Ode triunfal”. Esse heterônimo
apresenta uma personalidade estética marcada pelas concepções futuristas e pela intenção
de assimilar ao eu lírico a realidade exterior, considerada em suas manifestações mais
prosaicas, ao mesmo tempo em que aquele se projeta no mundo.

ODE TRIUNFAL

1
À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, 2fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.

3
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria 4fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
5
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!

Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical –


Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força –
Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro,
Porque o presente é todo o passado e todo o futuro
6
E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das luzes eléctricas
Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão,
E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinquenta,
Átomos que hão-de ir ter febre para o cérebro do Ésquilo do século cem,
7
Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos e por estes volantes,
Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando,
Fazendo-me um acesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma.

Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!


8
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
9
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões
10
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!

Fraternidade com todas as dinâmicas!


Promíscua fúria de ser parte-agente
Do rodar férreo e cosmopolita
Dos comboios estrênuos,
Da faina transportadora-de-cargas dos navios,
Do giro lúbrico e lento dos guindastes,
Do tumulto disciplinado das fábricas,
E do quase-silêncio 11ciciante e monótono das correias de transmissão!

12
Horas europeias, produtoras, entaladas
Entre maquinismos e afazeres úteis!
Grandes cidades paradas nos cafés,
Nos cafés – oásis de inutilidades ruidosas
Onde se cristalizam e se precipitam
13
Os rumores e os gestos do 14Útil
E as rodas, e as rodas-dentadas e as chumaceiras do 15Progressivo!
16
Nova Minerva sem-alma dos cais e das gares!
Novos entusiasmos de estatura do Momento!

PESSOA, Fernando. Poesias de Álvaro de Campos. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993), p. 144
(texto adaptado).

5 [ 203400 ]. Leia atentamente o trecho abaixo do texto:

Fraternidade com todas as dinâmicas!


Promíscua fúria de ser parte-agente
Do rodar férreo e cosmopolita
Dos comboios estrênuos,
Da faina transportadora-de-cargas dos navios,
Do giro lúbrico e lento dos guindastes,
Do tumulto disciplinado das fábricas,
E do quase-silêncio ciciante e monótono das correias de transmissão!

As palavras em destaque “parte-agente” e “quase-silêncio” são neologismos criados pelo


poeta, construídos a partir de:
a) intensificação.
b) justaposição.
c) reduplicação.
d) hibridismo.
e) abreviação.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia a cena inicial da comédia O noviço, de Martins Pena.

AMBRÓSIO: No mundo a fortuna é para quem sabe adquiri-la. Pintam-na cega... Que
simplicidade! Cego é aquele que não tem inteligência para vê-la e a alcançar. Todo homem
pode ser rico, se atinar com o verdadeiro caminho da fortuna. Vontade forte, perseverança e
pertinácia são poderosos auxiliares. Qual o homem que, resolvido a empregar todos os
meios, não consegue enriquecer-se? Em mim se vê o exemplo. Há oito anos, era eu pobre e
miserável, e hoje sou rico, e mais ainda serei. O como não importa; no bom resultado está o
mérito... Mas um dia pode tudo mudar. Oh, que temo eu? Se em algum tempo tiver de
responder pelos meus atos, o ouro justificar-me-á e serei limpo de culpa. As leis criminais
fizeram-se para os pobres...

(Martins Pena. Comédias (1844-1845), 2007.)

6 [ 203884 ]. Um vocábulo também pode ser formado quando passa de uma classe
gramatical a outra, sem a modificação de sua forma. É o que se denomina derivação
imprópria. Na fala de Ambrósio, constitui exemplo de derivação imprópria o vocábulo
sublinhado em
a) “O como não importa”.
b) “Mas um dia pode tudo mudar”.
c) “No mundo a fortuna é para quem sabe adquiri-la”.
d) “Pintam-na cega”.
e) “Em mim se vê o exemplo”.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia a crônica “Caso de justiceiro”, de Carlos Drummond de Andrade.

Mercadinho é imagem de confusão organizada. Todos comprando tudo ao mesmo


tempo em corredores estreitos, carrinhos e pirâmides de coisas se comprimindo,
apalpamento, cheiração e análise visual de gêneros pelas madamas, e, a dominar o vozerio,
o metralhar contínuo das registradoras. Um olho invisível, múltiplo e implacável, controla os
menores movimentos da freguesia, devassa o mistério de bolsas e bolsos, quem sabe se até
o pensamento. Parece o caos; contudo nada escapa à fiscalização. Aquela velhinha
estrangeira, por exemplo, foi desmascarada.
– A senhora não pagou a dúzia de ovos quebrados.
– Paguei.
Antes que o leitor suponha ter a velhinha quebrado uma dúzia de ovos, explico que
eles estão à venda assim mesmo, trincados. Por isso são mais baratos, e muita gente os
prefere; casca é embalagem. A senhora ia pagar a dúzia de ovos perfeitos, comprada depois;
mas e os quebrados, que ela comprara antes?
A velhinha se zanga e xinga em ótimo português-carioca o rapaz da caixa. O qual lhe
responde boas, no mesmo idioma, frisando que gringo nenhum viria lá de sua terra da peste
para dar prejuízo no Brasil, que ele estava ali para defender nosso torrão contra piratas da
estranja. A mulher, fula de indignação, foi perdendo a voz. Caixeiros acorreram, tomando
posição em defesa da pátria ultrajada na pessoa do colega; entre eles, alguns portugueses. A
freguesia fez bolo. O mercadinho parou.
Eis que irrompe o tarzã de calção de banho ainda rorejante e berra para o caixa:
– Para com isso, que eu não conheço essa dona mas vê-se pela cara que é distinta.
– Distinta? Roubou cem cruzeiros à casa e insultou a gente feito uma danada.
– Roubou coisa nenhuma, e o que ela disse de você eu não ouvi mas subscrevo. O
que você é, é um calhorda e quer fazer média com o patrão à custa de uma pobre mulher.
O outro ia revidar à altura, mas o tarzã não era de cinema, era de verdade, o que
aliás não escapou à percepção de nenhum dos presentes. De modo que enquanto uns
socorriam a velhinha, que desmaiava, outros passavam a apoiá-la moralmente, querendo
arrebentar aquela joça. O partido nacionalista acoelhou-se. Foram tratando de cerrar as
portas, para evitar a repetição de Caxias. Quem estava lá dentro que morresse de calor;
enquanto não viessem a radiopatrulha e a ambulância, a questão dos ovos ficava em
suspenso.
– Ah, é? – disse o vingador. – Pois eu pago os cem cruzeiros pelos ovos mas você tem
de engolir a nota.
Tirou-a do bolso do calção, fez uma bolinha, puxou para baixo, com dedos de ferro, o
queixo do caixa, e meteu-lhe o dinheiro na boca.
Assistência deslumbrada, em silêncio admiracional. Não é todos os dias que se vê
engolir dinheiro. O caixa começou a mastigar, branco, nauseado, engasgado.
Uma voz veio do setor de ovos:
– Ela não roubou mesmo não! Olha o dinheiro embaixo do pacote!
Outras vozes se altearam: “Engole mais os outros cem!” “Os ovos também!” “Salafra”
“Isso!” “Aquilo!”.
A onda era tamanha que o tarzã, instrumento da justiça divina, teve de restabelecer
o equilíbrio.
– Espera aí. Este aqui já pagou. Agora vocês é que vão engolir tudo, se maltratarem
este rapaz.

(Carlos Drummond de Andrade. Cadeira de balanço, 2020.)


7 [ 205170 ]. A derivação regressiva ocorre quando, a partir de um vocábulo com sufixo real
ou suposto, formamos um novo vocábulo por meio da eliminação do referido sufixo.
Verifica-se um exemplo de derivação regressiva no seguinte trecho:
a) “Por isso são mais baratos, e muita gente os prefere” (4º parágrafo)
b) “Não é todos os dias que se vê engolir dinheiro” (13º parágrafo)
c) “ele estava ali para defender nosso torrão contra piratas da estranja” (5º parágrafo)
d) “Todos comprando tudo ao mesmo tempo em corredores estreitos” (1º parágrafo)
e) “eu pago os cem cruzeiros pelos ovos mas você tem de engolir a nota” (11º parágrafo)

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o trecho inicial de uma crônica de Machado de Assis, publicada originalmente em
17.07.1892.

Um dia desta semana, farto de vendavais, naufrágios, boatos, mentiras, polêmicas,


farto de ver como se descompõem os homens, acionistas e diretores, importadores e
industriais, farto de mim, de ti, de todos, de um tumulto sem vida, de um silêncio sem
quietação, peguei de uma página de anúncios, e disse comigo:
– Eia, passemos em revista as procuras e ofertas, caixeiros desempregados, pianos,
magnésias, sabonetes, oficiais de barbeiro, casas para alugar, amas de leite, cobradores,
coqueluche, hipotecas, professores, tosses crônicas...
E o meu espírito, estendendo e juntando as mãos e os braços, como fazem os
nadadores, que caem do alto, mergulhou por uma coluna abaixo. Quando voltou à tona,
trazia entre os dedos esta pérola:
“Uma viúva interessante, distinta, de boa família e independente de meios, deseja
encontrar por esposo um homem de meia-idade, sério, instruído, e também com meios de
vida, que esteja como ela cansado de viver só; resposta por carta ao escritório desta folha,
com as iniciais M.R...., anunciando, a fim de ser procurada essa carta.”
Gentil viúva, eu não sou o homem que procuras, mas desejava ver-te, ou, quando
menos, possuir o teu retrato, porque tu não és qualquer pessoa, tu vales alguma coisa mais
que o comum das mulheres. Ai de quem está só! dizem as sagradas letras, mas não foi a
religião que te inspirou esse anúncio. Nem motivo teológico, nem metafísico. Positivo
também não, porque o positivismo é infenso às segundas núpcias. Que foi então, senão a
triste, longa e aborrecida experiência? Não queres amar; estás cansada de viver só.
E a cláusula de ser o esposo outro aborrecido, farto de solidão, mostra que tu não
queres enganar, nem sacrificar ninguém. Ficam desde já excluídos os sonhadores, os que
amem o mistério e procurem justamente esta ocasião de comprar um bilhete na loteria da
vida. Que não pedes um diálogo de amor, é claro, desde que impões a cláusula da meia-
idade, zona em que as paixões arrefecem, onde as flores vão perdendo a cor purpúrea e o
viço eterno. Não há de ser um náufrago, à espera de uma tábua de salvação, pois que exiges
que também possua. E há de ser instruído, para encher com as coisas do espírito as longas
noites do coração, e contar (sem as mãos presas) a tomada de Constantinopla.
Viúva dos meus pecados, quem és tu que sabes tanto? O teu anúncio lembra a carta
de certo capitão da guarda de Nero. Rico, interessante, aborrecido, como tu, escreveu um
dia ao grave Sêneca, perguntando-lhe como se havia de curar do tédio que sentia, e
explicava-se por figura: “Não é a tempestade que me aflige, é o enjoo do mar”. Viúva minha,
o que tu queres realmente, não é um marido, é um remédio contra o enjoo. Vês que a
travessia ainda é longa – porque a tua idade está entre trinta e dois e trinta e oito anos –, o
mar é agitado, o navio joga muito; precisas de um preparado para matar esse mal cruel e
indefinível. Não te contentas com o remédio de Sêneca, que era justamente a solidão, “a
vida retirada, em que a alma acha todo o seu sossego”. Tu já provaste esse preparado; não
te fez nada. Tentas outro; mas queres menos um companheiro que uma companhia.

(Machado de Assis. Crônicas escolhidas, 2013.)

8 [ 205785 ]. O prefixo “in-” que compõe a palavra “indefinível” (7º parágrafo) tem o
mesmo sentido do prefixo da palavra:
a) contramão.
b) interconectado.
c) metafísico.
d) anormal.
e) transnacional.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o soneto de Luís de Camões.

A fermosura desta fresca serra


e a sombra dos verdes castanheiros,
o manso caminhar destes ribeiros,
donde toda a tristeza se desterra;

o rouco som do mar, a estranha1 terra,


o esconder do sol pelos outeiros2,
o recolher dos gados derradeiros,
das nuvens pelo ar a branda guerra;

enfim, tudo o que a rara natureza


com tanta variedade nos of’rece,
me está, se não te vejo, magoando.

Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;


sem ti, perpetuamente estou passando,
nas mores alegrias, mor tristeza.

(Luís de Camões. Sonetos, 2001.)

1
estranha: rara, que não é comum, que não é vulgar.
2
outeiros: montes.

9 [ 205794 ]. Um vocábulo também pode ser formado quando passa de uma classe
gramatical a outra, sem qualquer modificação de sua forma. Tal processo de formação de
palavras é denominado derivação imprópria. Observa-se um exemplo de derivação
imprópria no verso:
a) “donde toda a tristeza se desterra;” (1ª estrofe)
b) “o manso caminhar destes ribeiros,” (1ª estrofe)
c) “o rouco som do mar, a estranha terra,” (2ª estrofe)
d) “das nuvens pelo ar a branda guerra;” (2ª estrofe)
e) “sem ti, perpetuamente estou passando,” (4ª estrofe)

10 [ 201258 ].

A palavra “viralizar” é
a) um verbo impessoal de 1ª conjugação.
b) uma analogia para “espalhar “fake news”.
c) um sinônimo de “se dar ao contágio de uma doença”.
d) um neologismo formado por sufixação.
e) um estrangeirismo derivado da língua inglesa.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o trecho do conto-prefácio “Hipotrélico”, que integra o livro Tutameia, de João
Guimarães Rosa.

Há o hipotrélico. O termo é novo, de impesquisada origem e ainda sem definição que


lhe apanhe em todas as pétalas o significado. Sabe-se, só, que vem do bom português. Para
a prática, tome-se hipotrélico querendo dizer: antipodático, sengraçante imprizido; ou,
talvez, vice-dito: indivíduo pedante, importuno agudo, falto de respeito para com a opinião
alheia. Sob mais que, tratando-se de palavra inventada, e, como adiante se verá, embirrando
o hipotrélico em não tolerar neologismos, começa ele por se negar nominalmente a própria
existência.
Somos todos, neste ponto, um tento ou cento hipotrélicos? Salvo o excepto, um
neologismo contunde, confunde, quase ofende. Perspica-nos a inércia que soneja em cada
canto do espírito, e que se refestela com os bons hábitos estadados. Se é que um não se
assuste: saia todo-o-mundo a empinar vocábulos seus, e aonde é que se vai dar com a língua
tida e herdada? Assenta-nos bem à modéstia achar que o novo não valerá o velho; ajusta-se
à melhor prudência relegar o progresso no passado. [...]
Já outro, contudo, respeitável, é o caso – enfim – de “hipotrélico”, motivo e base
desta fábula diversa, e que vem do bom português. O bom português, homem-de-bem e
muitíssimo inteligente, mas que, quando ou quando, neologizava, segundo suas
necessidades íntimas.
Ora, pois, numa roda, dizia ele, de algum sicrano, terceiro, ausente:
– E ele é muito hiputrélico...
Ao que, o indesejável maçante, não se contendo, emitiu o veto:
– Olhe, meu amigo, essa palavra não existe.
Parou o bom português, a olhá-lo, seu tanto perplexo:
– Como?!... Ora... Pois se eu a estou a dizer?
– É. Mas não existe.
Aí, o bom português, ainda meio enfigadado, mas no tom já feliz de descoberta, e
apontando para o outro, peremptório:
– O senhor também é hiputrélico...
E ficou havendo.

(Tutameia, 1979.)

11 [ 197338 ]. “Aí, o bom português, ainda meio enfigadado, mas no tom já feliz de
descoberta, e apontando para o outro, peremptório:
– O senhor também é hiputrélico...” (11º e 12º parágrafos)

Considerando o contexto, o termo sublinhado pode ser substituído, sem prejuízo para o
sentido do texto, por:
a) debochado.
b) contrariado.
c) distraído.
d) atrapalhado.
e) admirado.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o trecho do romance Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa.

Sei que estou contando errado, pelos altos. Desemendo. Mas não é por disfarçar, não
pense. De grave, na lei do comum, disse ao senhor quase tudo. Não crio receio. O senhor é
homem de pensar o dos outros como sendo o seu, não é criatura de pôr denúncia. E meus
feitos já revogaram, prescrição dita. Tenho meu respeito firmado. Agora, sou anta
empoçada, ninguém me caça. Da vida pouco me resta – só o deo-gratias; e o troco. Bobeia.
Na feira de São João Branco, um homem andava falando: – “A pátria não pode nada com a
velhice...” Discordo. A pátria é dos velhos, mais. Era um homem maluco, os dedos cheios de
anéis velhos sem valor, as pedras retiradas – ele dizia: aqueles todos anéis davam até
choque elétrico... Não. Eu estou contando assim, porque é o meu jeito de contar. Guerras e
batalhas? Isso é como jogo de baralho, verte, reverte. Os revoltosos depois passaram por
aqui, soldados de Prestes, vinham de Goiás, reclamavam posse de todos os animais de sela.
Sei que deram fogo, na barra do Urucuia, em São Romão, aonde aportou um vapor do
Governo, cheio de tropas da Bahia. Muitos anos adiante, um roceiro vai lavrar um pau,
encontra balas cravadas. O que vale, são outras coisas. A lembrança da vida da gente se
guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho
que nem não misturam. Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa
importância. De cada vivimento que eu real tive, de alegria forte ou pesar, cada vez daquela
hoje vejo que eu era como se fosse diferente pessoa. Sucedido desgovernado. Assim eu
acho, assim é que eu conto. [...] Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente
do que outras, de recente data. O senhor mesmo sabe.

(Grande sertão: veredas, 2015.)

12 [ 197435 ]. Para a formação do neologismo “vivimento”, o narrador recorreu ao mesmo


processo de formação de palavras observado em
a) “desemendo”.
b) “velhice”.
c) “denúncia”.
d) “reverte”.
e) “adiante”.

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:


POBREZA MENSTRUAL NO BRASIL: DESIGUALDADES E VIOLAÇÕES DE DIREITOS

1
Pobreza menstrual é um conceito que reúne em duas palavras um fenômeno
complexo, 2transdisciplinar e 3multidimensional, vivenciado por meninas e mulheres devido
à falta de acesso a recursos, infraestrutura e conhecimento para que tenham plena
capacidade de cuidar da sua menstruação. 4É recorrente o total desconhecimento do
assunto ou, quando existe algum conhecimento, há a percepção de que este é um problema
distante da realidade brasileira. Imagina-se que a pobreza menstrual atinja apenas países
que, no senso comum, seriam muito pobres ou mais díspares em termos de desigualdade de
gênero que o Brasil. Já para o cenário brasileiro, com esforço, eventualmente lembramos da
situação de mulheres encarceradas, mas não se observa a situação de meninas brasileiras
que vivem em condições de pobreza e vulnerabilidade mesmo nas grandes metrópoles,
privadas de acesso a serviços de saneamento, recursos para a higiene e até mesmo do
conhecimento sobre o próprio corpo.
O desconhecimento sobre o cuidado da saúde menstrual pode afetar mesmo as
pessoas que não estão em situação de pobreza. Elas podem enfrentar a falta de produtos
para a adequada higiene menstrual por considerarmos o absorvente como um produto
supérfluo ou ainda porque, em geral, meninas de 10 a 19 anos não decidem sobre a
alocação do orçamento da família, sobrando pouca ou nenhuma renda para ser utilizada
para esse fim, i.e., a compra de produtos e insumos que ajudem a garantir a dignidade
menstrual.
5
Além disso, não falar sobre a menstruação já é um jeito de falar sobre ela. 6A
omissão demonstra preconceitos perpetuados no dia a dia. 7Não nomear a menstruação
usando no lugar eufemismos como “estar naqueles dias”, “estar de chico”, “regras”, significa
tornar invisível um fenômeno fisiológico e recorrente, além de alimentar mitos e tabus
8
extremamente danosos às mulheres, meninas e pessoas que menstruam de maneira geral.
São muitas imposições culturais a partir do momento que uma pessoa menstrua pela
primeira vez. Diz-se que ela “agora é mulher”, ordena-se que “feche as pernas” e se
comporte como “mocinha”, não reconhecendo que essas meninas ainda são crianças e não
deveriam ser expostas a crenças tão limitadoras e restritivas, expondo-as a tabus e
sentimentos de vergonha. Esse processo de 9envergonhamento pode restringir a
participação em atividades esportivas, bem como limitar as brincadeiras e a convivência com
seus amigos, atos simples e tão importantes para o desenvolvimento da criatividade,
coordenação motora, percepção espacial, socialização, entre outras competências
importantes.
10
É evidente que entraves para acessar direitos menstruais representam barreiras ao
completo desenvolvimento do potencial das pessoas que menstruam. Por isso, é
fundamental que se investigue mais profundamente o tamanho do impacto econômico na
vida delas, que pode gerar reflexos ao longo da vida adulta. Faz-se urgente entender, ainda,
a importância das perdas econômicas (ou não ganhos) implicadas, não só para elas como
para toda a sociedade. Além das questões econômicas, garantir a dignidade menstrual vai ao
encontro da garantia dos direitos sexuais e reprodutivos, sendo também uma maneira de
assegurar o direito à autonomia corporal e à autodeterminação para as meninas, meninos
trans e pessoas não binárias que menstruam. A privação desses direitos como caracterizada
pela pobreza menstrual é, portanto, um problema multidimensional que exige uma
abordagem multidisciplinar visando solucionar os problemas decorrentes da não garantia
dos direitos humanos. Não é possível pensar em direitos menstruais sem considerar as
múltiplas realidades no Brasil. É preciso uma abordagem interseccional da questão,
considerando diversidades raciais e territoriais, entre outras, a fim de enfrentar o problema
e elaborar soluções adequadas. Não estamos tratando de categorias homogêneas e a
visibilidade da interação entre distintos marcadores evidencia uma profunda desigualdade
no acesso às condições mínimas para o cuidado menstrual.
Assim, esta publicação é motivada pelo contraste entre o impacto negativo gerado
pela pobreza menstrual, com reflexos tanto para o desenvolvimento e bem-estar das
meninas, mulheres e 11menstruantes de forma geral, principalmente as mais vulneráveis,
como para a sociedade, em comparação à escassez de dados que visam analisar o fenômeno
e de trabalhos científicos que analisam este problema, suas interações e consequências. O
contraste entre a precariedade menstrual e a escassez de dados se mostra ainda mais
preocupante se associado ao alarmante cenário brasileiro, que aponta para o fato de que
cerca de 13,6 milhões de habitantes (cerca de 6,5% da população) vivem em condições de
extrema pobreza, ou seja, sobrevivendo com menos de U$ 1,90 por dia (o equivalente a R$
151,00 por mês segundo cotação vigente em 2019) e cerca de 51,5 milhões de pessoas estão
abaixo da linha de pobreza (1 a cada 4 brasileiros vivendo com menos de R$ 436,00 ao mês).
12
A necessidade de enfrentamento da pobreza e redução das 13desigualdades incorpora
urgência ao tratamento do problema da pobreza menstrual e seu impacto nas futuras
gerações.
Além dos efeitos intergeracionais de não garantir o direito à dignidade menstrual das
meninas, há um impacto econômico imediato gerado pela falta de políticas públicas
adequadas, que respondam à pobreza menstrual agora, enquanto as meninas, meninos
trans e pessoas não binárias vivenciam sua adolescência, um momento decisivo para o seu
desenvolvimento. A negligência de necessidades menstruais resulta em problemas que
poderiam ser evitáveis, desde alergias/irritações até aqueles que podem resultar em óbitos,
como a síndrome do choque tóxico. O investimento adequado na saúde menstrual pode
prevenir tais problemas. Além disso, a falta de acesso aos direitos menstruais pode resultar
ainda em sofrimentos emocionais que dificultam o desenvolvimento do pleno potencial das
pessoas que menstruam.

Relatório da UNICEF/2021) Disponível em:


https://www.unicef.org/brazil/media/14456/file/dignidade-menstrual_relatorio-unicef-
unfpa_maio2021.pdf Acesso em 28 de maio de 2021.

13 [ 202646 ]. Sobre o processo de formação de palavras, é correto afirmar que na palavra


a) “extremamente” (ref. 8) ocorre derivação prefixal.
b) “envergonhamento” (ref. 9) ocorre derivação parassintética.
c) “menstruantes” (ref. 11) ocorre composição por justaposição.
d) “desigualdades” (ref. 13) ocorre composição por aglutinação.

14 [ 202640 ]. As palavras “transdisciplinar” (ref. 2) e “multidimensional” (ref. 3) significam,


respectivamente, no texto,
a) integração de diferentes áreas para objetivo comum e singularidade.
b) atravessamento de conhecimentos e unicidade de vozes.
c) diálogo entre diversos campos de saber e pluralidade.
d) restrição a um campo disciplinar e complexidade de ações.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Padrão de beleza: mutante, mas sempre ao nosso redor

Fomos ensinadas a agradar e a nos preocupar com a opinião alheia, a nos comportar
de determinada maneira, a nos vestir com roupas específicas, ter um tipo de cabelo e por aí
vai.
Quando não seguimos a cartilha, algumas pessoas se sentem no direito de fazer
1
comentários ou brincadeiras sobre nossas características físicas sem ninguém ter pedido
uma opinião. 2Ao longo dos anos, isso vai se internalizando em nós. Passamos a ver como
problema algo que nem era uma questão, dando poder a palavras destrutivas.
Bom, nós sabemos que mesmo racionalizando tudo isso, muitas vezes nos pegamos
inseguras por não apresentarmos 3um conjunto de traços que satisfaçam essas expectativas.
4
Por muito tempo, fomos ensinadas a agir dessa maneira. 5Quando não somos
magras o suficiente ou temos estrias, nos culpamos e seguimos em busca de melhorar a
todo custo. 6Entender essa dinâmica é o primeiro passo para construir uma mudança real e
significativa em nossas vidas.
7
Se antes os grandes culpados eram os ensaios fotográficos e as campanhas
publicitárias estampados nas revistas femininas, 8hoje somos bombardeadas por centenas
de imagens. Facebook, Instagram e Pinterest estão aí para mostrar padrões de beleza
corporal a todo o momento. Ou seja, o padrão de beleza imposto pela mídia agora também
é encontrado nas redes sociais. Uma das maiores problemáticas desse ambiente é que,
mesmo dando preferência para seguir pessoas conhecidas, ainda há uma tentativa
constante, por parte de todas nós, de mostrarmos uma existência maravilhosa.
São fotos e mais fotos de pessoas malhando loucamente, sem estrias ou sinais de
celulite. E pensamos: por que não eu? 9Esse momento pode ser o mais perigoso porque gera
muitas frustrações.
10
Está tudo bem você querer perder uns quilinhos ou seguir um estilo mais saudável,
desde que seja uma escolha sua e com acompanhamento médico. E esse é o X da questão.
Muitas vezes, queremos alcançar níveis surreais de magreza ou definição que não têm nada
a ver com a gente.
11
Começamos a perseguir uma vida que vemos em nosso feed, mas cujos bastidores
não conhecemos. 12Gastamos nosso salário em procedimentos estéticos, dietas e para quê?
13
Muitas vezes, apenas para chegar a alguma meta difícil de ser alcançada e que não
combina com o nosso estilo de vida e valores pessoais. [...]
Se o seu ritmo é acordar mais cedo, correr, voltar para a casa, comer uma tapioca e
se arrumar para o trabalho, ótimo. Se você não é fã de uma rotina regrada, gosta da sua
alimentação do jeito que ela é, tudo certo também. E se um dia você acordar e quiser mudar
tudo, não tem nenhum problema!
14
Sabemos que estamos falando de um assunto delicado. No entanto, insistimos:
escolha cuidar de você, da sua saúde mental e da sua qualidade de vida em primeiro lugar. E
vamos nos apoiar nesta caminhada, dando um passo por vez, cada uma no seu ritmo. Vamos
juntas, no agora ou no futuro, dizer: 15amo meu corpo do jeitinho que ele é.

Texto adaptado. Disponível em https://www.pantys.com.br/blogs/pantys/padrao-de-beleza-


mutante-mas-sempre-ao-nosso-redor Acesso em 28 de maio de 2021.
15 [ 202653 ]. O uso dos diminutivos destacados em “Está tudo bem você querer perder
uns quilinhos” (ref. 10) e “amo meu corpo do jeitinho que ele é” (ref. 15) indica
a) exagero acerca da temática da ditadura do emagrecimento.
b) depreciação das questões sobre a relação peso e corpo.
c) ampliação de algo em relação ao seu tamanho normal.
d) afetividade para dar alguma leveza ao assunto.
Gabarito:

Resposta da questão 1:
[A]

Embora a abreviação faça parte do contexto da formação das palavras, trata-se de uma
forma reduzida da palavra até o limite em que não haja prejuízo ao entendimento, como
acontece em moto, pneu ou cine, por exemplo, e não como em SUS. Neste caso trata-se de
uma sigla, já que apresenta três letras iniciais de palavras com significado independente. No
entanto, por descarte das outras opções apresentadas, assinale-se [A] como correta.

Resposta da questão 2:
[E]

É correta a opção [E], pois a palavra “seguinte” (seguir+-nte) deriva do verbo latino sequere e
“sequência” (ação ou efeito de seguir, seguimento), do lat. sequentia/ae, ou seja, ambas
apresentam o mesmo radical: seque.

Resposta da questão 3:
[D]

O prefixo “in-“ encontrado na palavra "incompetência" com sentido negativo, não faz parte
das palavras “interior”, “intitulado”, “inserção” e “interessa”, das opções [A], [B], [C] e [E],
encontrando-se apenas nas palavras “independência" (ref. 7) e "incrível" (ref. 10)
mencionadas na opção [D].

Resposta da questão 4:
[B]

A transformação de substantivo próprio em comum é um processo conhecido como


derivação imprópria ou conversão, citada em [B].

Ex: Oliveira, sobrenome,substantivo próprio e oliveira, árvore,substantivo comum, ou


Damasco, nome de cidade, substantivo próprio e damasco, tipo de tecido, substantivo
comum.
Resposta da questão 5:
[B]

“parte-agente” é formada pela justaposição das palavras “parte” e “agente”.


“quase-silêncio” é formada pela justaposição das palavras “quase” e “silêncio”.

Resposta da questão 6:
[A]

É correta a opção [A], pois, na frase “O como não importa”, o vocábulo “como”, que exerce,
normalmente, função morfológica de advérbio ou conjunção , é usado como substantivo por
estar antecedido pelo artigo definido “o”.

Resposta da questão 7:
[C]

O exemplo de derivação regressiva, que se forma pela redução do tamanho da palavra


inicial, ocorre na frase da opção [C] com o termo “estranja”, palavra derivada de estrangeiro,
interpretada como um conjunto de países de onde não somos naturais.

Resposta da questão 8:
[D]

Em [A], o prefixo "contra-" tem sentido de oposição, em [B], "inter-" apresenta noção de
ação recíproca, em [C], "meta-", de algo que transcende, em [E], "trans-", de além de.
Apenas em [D], o prefixo "a-" adquire significado de negação como "in-" que compõe a
palavra “indefinível”.

Resposta da questão 9:
[B]

Acontece derivação imprópria na frase da opção [B], pois o vocábulo “caminhar”,


originalmente pertencente à classe de verbo, exerce função morfológica de substantivo pela
presença do artigo definido e do adjetivo que o antecedem: “o manso caminhar destes
ribeiros”.

Resposta da questão 10:


[D]

Trata-se de um neologismo formado por sufixação pelo acréscimo do sufixo -izar ao adjetivo
viral, por sua vez derivado do substantivo vírus o que, por semelhança à sua alta
transmissibilidade, empresta noção semântica de grande republicação nas redes sociais ao
termo “viralizar”. Assim, é correta a opção [D].

Resposta da questão 11:


[B]

É correta a opção [B], pois o termo ”enfigadado” resulta do radical fígado, órgão que, desde
a medicina antiga, está relacionado às emoções e cujas doenças podem desencadear mau
humor, distúrbios de personalidade e comportamento rude ou agressividade.

Resposta da questão 12:


[B]

É correta a opção [B], pois o termo “vivimento” resulta de derivação sufixal do adjetivo vivo,
como “velhice”, do adjetivo velho.

Resposta da questão 13:


[B]

Em [B], vemos a palavra “envergonhamento”, termo formado por desenvolvimento:


Primeiro, a palavra primitiva “vergonha” deriva o verbo “envergonhar”, por meio de
derivação parassintética (acréscimo de sufixo e prefixo simultaneamente). Depois, ao verbo
“envergonhar” é anexado mais um sufixo (-mento), formando a palavra
“envergonhamento”. Assim, se resgatarmos a palavra primitiva para obter o processo de
formação, veremos que há derivação parassintética ao longo do processo.

Resposta da questão 14:


[C]

A palavra “transdisciplinar” tem como prefixo “trans”, que traz a ideia de cruzamento.
Assim, algo transdisciplinar seria algo que cruzasse diferentes disciplinas, ou, como visto em
[C], um “diálogo entre diversos campos de saber”. A palavra “multidimensional”, ao
apresentar o prefixo “multi”, indica uma multiplicidade de dimensões, podendo, portanto,
significar “pluralidade”.

Resposta da questão 15:


[D]

Ao valer-se de diminutivos, a autora demonstra certa afetividade, como se estivesse falando


mais intimamente com a leitora, como se fosse uma amiga. Assim, acaba dando maior leveza
ao assunto.

Verbo
1 [ 206239 ]. São exemplos de verbos irregulares, exceto:
a) Restrinjo a passagem de alunos por aqui a partir de hoje.
b) Quando tinha três anos, já media um metro.
c) Todos os anos, ela me dava um presente
d) Minha mãe faz bolos deliciosos.
e) Nós pedimos uma pizza.

2 [ 204380 ]. Assinale a frase em que todos os termos destacados estão CORRETAMENTE


empregados.
a) Desta vez, os guardas inteviram rapidamente e conteram os arruaceiros a tempo.
b) Ambrósio e sua irmã mal haviam chegado em casa quando perceberam que a irmã caçula
havia escolhido um mau momento para contar aos pais que iria viajar com os amigos, mas
todos se acalmaram ao descobrir que era mais uma de suas frequentes brincadeiras.
c) Quando tu vires aqui em casa, é preciso que vire à direita quando vires o prédio da
prefeitura.
d) Os trabalhadores da limpeza pública decidiram fazer uma paralização para reinvindicar
redução na jornada de trabalho; caso não sejam atendidos, pretendem ajuizar um
mandado de segurança.
3 [ 197169 ]. Assinale a alternativa cujo texto está de acordo com as normas da língua
escrita padrão.
a) Com um circuito seletivo, o autódromo Spa Francorchamps é encarado como um grande
desafio pelos pilotos, que podem tirar o máximo de proveito de seus carros. Todavia,
esperam-se grandes emoções, pois há perspectiva de chuva no horário da corrida.
b) A Polícia Federal investiga os empresários que ajudaram os doleiros a fugir para a Bolívia e
Paraguai. A polícia desses países não puderam prender eles porque o Brasil não fez um
pedido formal.
c) A cantora Anitta passou um cortado ontem. Tipo quando um fã se aproximou e teve um
love affair com a lady revelado para quem quisesse ver.
d) – Para que mentir tanto se tu sabe que eu eu sei que tu não gosta de mim?

4 [ 203261 ]. Assinale a opção em que todas as formas verbais destacadas foram


empregadas corretamente.
a) O sertanejo preveu a seca e proveu a casa de mantimentos.
b) Todos os citados requiserarn os pedidos e ativeram-se aos detalhes.
c) O juiz queria que reouvéssemos todos os processos trazidos ontem.
d) Credes em Deus e apiedai-vos dos irmãos.
e) Eu me precavenho todas as vezes que saio de casa.

5 [ 197171 ]. Assinale a frase em que ocorre uma forma verbal inadequada a contextos
formais, especialmente na escrita.
a) Se os empresários da rede hoteleira quiserem, alguns parlamentares estarão dispostos a
interpor recursos contra o projeto de regulação ambiental em áreas costeiras.
b) Ainda que fosse muito tarde para iniciar a obra, se houvesse vontade política em melhorar
a qualidade da água na baía norte, ainda haveria recursos para esse empreendimento.
c) Os servidores da prefeitura municipal de Curitiba só aprovam o acordo se o prefeito
retirar a proposta de reforma administrativa, suspender os vetos à lei de implantação da
carreira e repor as perdas salariais de 2018.
d) Quando ele reteve uma parcela do q ue nos devia, o judiciário interveio imediatamente.

6 [ 203095 ].
No segundo quadrinho, ao se substituir a conjunção "quando" pela conjunção "se", o texto
do balão assumiria a seguinte forma:
a) Se eu tiver vinte e um anos, a vida se abriria para mim! Eu seria um homem! Uma pessoa
real! Eu seria um indivíduo!
b) Se eu tivesse vinte e um anos, a vida se abrirá para mim! Eu vou ser um homem! Uma
pessoa real! Eu vou ser um indivíduo!
c) Se eu vou ter vinte e um anos, a vida se abriria para mim! Eu seria um homem! Uma
pessoa real! Eu seria um indivíduo!
d) Se eu tivesse vinte e um anos, a vida se abriria para mim! Eu seria um homem! Uma
pessoa real! Eu seria um indivíduo!
e) Se eu tivesse vinte e um anos, a vida se abrirá para mim! Eu serei um homem! Uma
pessoa real! Eu serei um indivíduo!

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Chegada do Perseverance abre caminho para retorno de amostras de Marte

Agora que o rover Perseverance está seguro e saudável na superfície de Marte, vários
grupos de trabalho espalhados pelo mundo podem respirar aliviados e pensar nos passos
futuros do programa de exploração marciana -que vai agora focar seus esforços no cobiçado
retorno de amostras de volta à Terra. A missão atual é um primeiro passo crucial. Afinal,
cabe ao Percy, como foi apelidado o jipe, fazer o escrutínio e a escolha das rochas
(comandado por cientistas na Terra, claro) que serão acondicionadas por ele em pequenos
tubos lacrados e ultrarresistentes e depois deixadas, juntas, em algum canto da superfície de
Marte. Ele terá vários anos para fazer isso durante a exploração da cratera Jezero, um dos
locais mais promissores para a busca de evidências de vida pregressa marciana.
Mas e aí, o que vem depois? Nasa e ESA, respectivamente agências espaciais
americana e europeia, já trabalham conjuntamente nos próximos passos, que envolvem pelo
menos mais dois, e possivelmente três, lançamentos diferentes afim de trazer de volta o
cobiçado material. Ainda faltam definições, mas trabalhos 20 preliminares sugerem a
seguinte sequência.
Em 2026, parte um módulo de pouso com um pequeno foguete, de menos de três
metros, instalado a bordo. Projetada e construída pela Nasa, a nave pousaria próximo ao
local onde desceu o Perseverance. E aí, talvez partindo do próprio módulo, talvez enviado
num lançamento à parte, 1um pequeno rover produzido pela ESA encontraria as amostras e
as instalaria no interior do foguete. 2Em paralelo, em 2026 ou 2027, um orbitador com
propulsão elétrica, outra contribuição da ESA, partiria da Terra e se instalaria em órbita ao
redor de Marte. Em meados de 2029, 3o foguete seria disparado (o primeiro lançamento
feito de outro planeta!), colocando a cápsula com as amostras em órbita marciana. Lá ela se
acoplaria ao orbitador europeu, que por sua vez traria o conteúdo de volta à Terra, em 2031.
4
A empreitada toda custaria cerca de US$ 5 bilhões, sem contar os US$ 2,7 bilhões
empenhados na missão do Perseverance. 5A recompensa, contudo, teria valor
incomensurável. 6Cientistas já tiveram a chance de analisar algumas amostras de Marte -
meteoritos provenientes do planeta vermelho -, mas nunca com a chance de escolher quais
rochas, conhecendo o contexto geológico de onde elas partiram. E 7amostras trazidas de
volta continuam a render novos resultados por décadas, conforme equipamentos mais
sofisticados surgem para estudá-las. Não à toa, as amostras trazidas pelo programa Apollo,
que levou humanos à Lua entre 1969 e 1972, continuam sendo estudadas até hoje. Ademais,
é fundamental demonstrar a capacidade de trazer uma pequena carga de Marte antes que
se ambicione trazer uma grande carga - como humanos - em uma futura missão tripulada.

Nogueira, S. "Chegada do Perseverance abre caminho para retorno de amostras de Marte".


Folha de São Paulo. 21.2.2021, Disponível em: https://bit.Iv/3bZL69q/.Adaptado

7 [ 203091 ]. Ao relatar o que se almeja em Marte a partir de 2026, nota-se que o tempo
verbal utilizado (ref. 2) para exprimir valor condicional é o
a) presente do indicativo.
b) futuro do pretérito do indicativo.
c) futuro do presente do indicativo.
d) futuro do subjuntivo.
e) pretérito imperfeito do subjuntivo.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o trecho inicial da crônica “Está aberta a sessão do júri”, de Graciliano Ramos, publicada
originalmente em 1943.

O Dr. França, Juiz de Direito numa cidadezinha sertaneja, andava em meio século,
tinha gravidade imensa, verbo escasso, bigodes, colarinhos, sapatos e ideias de pontas muito
finas. Vestia-se ordinariamente de preto, exigia que todos na justiça procedessem da mesma
forma – e chegou a mandar retirar-se do Tribunal um jurado inconveniente, de roupa clara,
ordenar-lhe que voltasse razoável e fúnebre, para não prejudicar a decência do veredicto.
Não via, não sorria. Quando parava numa esquina, as cavaqueiras dos vadios
gelavam. Ao afastar-se, mexia as pernas matematicamente, os passos mediam setenta
centímetros, exatos, apesar de barrocas1 e degraus. A espinha não se curvava, embora
descesse ladeiras, as mãos e os braços executavam os movimentos indispensáveis, as duas
rugas horizontais da testa não se aprofundavam nem se desfaziam.
Na sua biblioteca digna e sábia, volumes bojudos, tratados majestosos, severos na
encadernação negra semelhante à do proprietário, empertigavam-se – e nenhum ousava
deitar-se, inclinar-se, quebrar o alinhamento rigoroso.
Dr. França levantava-se às sete horas e recolhia-se à meia-noite, fizesse frio ou calor,
almoçava ao meio-dia e jantava às cinco, ouvia missa aos domingos, comungava de seis em
seis meses, pagava o aluguel da casa no dia 30 ou no dia 31, entendia-se com a mulher,
parcimonioso, na linguagem usada nas sentenças, linguagem arrevesada e arcaica das
ordenações. Nunca julgou oportuno modificar esses hábitos salutares.
Não amou nem odiou. Contudo exaltou a virtude, emanação das existências calmas,
e condenou o crime, infeliz consequência da paixão.
Se atentássemos nas palavras emitidas por via oral, poderíamos afirmar que o Dr.
França não pensava. Vistos os autos, etc., perceberíamos entretanto que ele pensava com
alguma frequência. Apenas o pensamento de Dr. França não seguia a marcha dos
pensamentos comuns. Operava, se não nos enganamos, deste modo: “considerando isto,
considerando isso, considerando aquilo, considerando ainda mais isto, considerando porém
aquilo, concluo.” Tudo se formulava em obediência às regras – e era impossível qualquer
desvio.
Dr. França possuía um espírito, sem dúvida, espírito redigido com circunlóquios,
dividido em capítulos, títulos, artigos e parágrafos. E o que se distanciava desses parágrafos,
artigos, títulos e capítulos não o comovia, porque Dr. França está livre dos tormentos da
imaginação.

(Graciliano Ramos. Viventes das Alagoas, 1976.)

1
barroca: monte de terra ou de barro.

8 [ 203981 ]. Expressa sentido hipotético a forma verbal sublinhada em:


a) “Dr. França possuía um espírito, sem dúvida, espírito redigido com circunlóquios, dividido
em capítulos, títulos, artigos e parágrafos.” (7º parágrafo)
b) “Ao afastar-se, mexia as pernas matematicamente, os passos mediam setenta
centímetros, exatos, apesar de barrocas e degraus.” (2º parágrafo)
c) “Vistos os autos, etc., perceberíamos entretanto que ele pensava com alguma
frequência.” (6º parágrafo)
d) “Tudo se formulava em obediência às regras – e era impossível qualquer desvio.” (6º
parágrafo)
e) “Nunca julgou oportuno modificar esses hábitos salutares.” (4º parágrafo)

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Condenado a ser livre
Almir Freitas

Entre a concepção de autonomia política e a noção de livre-arbítrio, a liberdade


sempre ocupou papel central na filosofia. Mas foi no século XX, destacada no então recente
1
arcabouço existencialista, que ela chegou à cultura mais geral, expressa não apenas nas
obras teóricas de Jean-Paul Sartre (1905-1980), mas também nos seus romances e peças de
teatro. Dali em diante, naquele mundo que emergia das ruínas da Segunda Guerra Mundial e
2
ensaiava uma era de intelectuais-celebridades, ganharia ares pop.
Foi na Paris de 1945, em um auditório com cadeiras 3disputadas a tapa, que Sartre
afirmou, na conferência O Existencialismo é um Humanismo, que o homem estava
“condenado a ser livre”, ideia antes apresentada em O Ser e o Nada (1943). Entre a obra
filosófica e a conferência, outra frase sua, “o inferno são os outros”, havia causado sensação,
na estreia da peça Entre Quatro Paredes, em 1944, ainda com o país ocupado pelos nazistas.
A liberdade, então, era tudo o que os franceses consideravam distante.
Em linhas gerais, a concepção sartreana da liberdade assentava-se no 4pressuposto
de que o ser humano é a única criatura para quem a existência (existir) é anterior à essência
(ser). Quer dizer: o nosso destino não é 5______ pela natureza – muito menos, ele assinala,
pela “inteligência divina”. “O que significa dizer que a existência precede a essência?”,
pergunta. 6“Significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e
que só depois se define. O homem é não apenas como ele se concebe, mas como ele quer
que seja, como ele se concebe depois da existência, como ele se deseja após este impulso
para a existência.7” (Não, a psicanálise não orna muito bem com esse tipo de pensamento.)
O ser humano, 8frisa Sartre, define-se pelo que faz, o que ele projeta ser, por suas
escolhas. Daí em diante, é preciso falar em consequências – tanto dessa ideia 9basilar quanto
da própria liberdade 10avassaladora que ela anuncia. Em primeiro lugar, ela incorre no fato
de que cada um de nós é total e integralmente responsável não apenas por nossos atos, mas
também por aquilo que somos. O que se desdobra em outras e mais profundas
consequências.
Em um mundo sem Deus e sem natureza humana, o homem é plenamente
responsável não apenas por si, mas também por todos os homens. Diz Sartre, “Não há dos
nossos atos um sequer que, ao criar o homem que desejamos ser, não crie ao mesmo tempo
uma imagem do homem como julgamos que deve ser”.
Tratava-se, também, de rebater as acusações de que o existencialismo incitava as
pessoas ao “imobilismo”. Era bem o contrário: a ideia de que as escolhas individuais estavam
conectadas à escolha de uma imagem da humanidade seria fundamental para a ideia de
engajamento que 11marcaria toda a obra e a trajetória de Sartre.
Na vida pessoal, Sartre também personificou o exercício radical dessa liberdade
individual, com sua distinção entre amores “contingentes” e amores “necessários”. Ninguém
12
ignora, por exemplo, que a relação aberta com Simone de Beauvoir, mais a opção militante
de não ter filhos, era uma projeção de um 13ideário de humanidade que contribuiu em muito
para os fundamentos da contracultura e da revolução sexual. Mas eram escolhas que não
estavam isentas de impasses, contradições e até certa crueldade. Ninguém falou que seria
fácil.
A ideia de que a liberdade é um peso não foi inventada por Sartre – ela já tinha sido
enunciada 14______. Na formulação da ideia de livre-arbítrio, no século V, Santo Agostinho
deixou clara a responsabilidade que recai sobre o homem. Na política, o francês Étienne de
La Boétie havia, no século XVI, apontado o dedo para o conforto da “servidão voluntária”
como a razão da opressão dos Estados. Em Homem e Super-Homem (1903), Bernard Shaw já
tinha dito com todas as letras: “Liberdade significa responsabilidade. É por isso que tanta
gente tem medo dela.” Até o nosso senso comum 15(cristão) diz que é por aí mesmo.
Com Sartre e seu existencialismo16, entretanto, o 17______ é completo. A angústia da
responsabilidade é acompanhada do desamparo pelo peso adicional da ausência de Deus. E
do desespero: isto é, pela ausência de esperança do homem de que sua escolha é a correta.
Não há18, diz o filósofo, uma moral geral 19______ se guiar.
Pessimismo? Jean-Paul jura que fala de otimismo quando, ao aceitar que a vida não
tem sentido nenhum a priori, cabe a nós inventá-lo, pela ação. Em São Genet, Ator e Mártir
(1952), ensaio sobre a vida do escritor marginal Jean Genet, Sartre 20ilustrará esse modelo
existencialista. Foi nesse texto caudaloso, exagerado como era de hábito, que cunhou outra
frase que ficou famosa, síntese e legado para quem a condenação à liberdade significava
viver plenamente. “O importante”, escreveu, “não é aquilo que se fez do homem, mas aquilo
que ele faz daquilo que fizeram dele.”

Disponível em: http://bravo.vc/seasons/s05e01. Acesso em: 13 jul. 2021. (Adaptado.)

9 [ 204715 ]. É correto afirmar que a forma verbal


a) ensaiava (ref. 2) denota uma ação passada concluída por completo em um momento
pontual.
b) frisa (ref. 8) é empregada para reforçar o carácter imperativo da ação.
c) marcaria (ref. 11) designa ação posterior ao tempo verbal predominante no parágrafo.
d) ignora (ref. 12) atribui vivacidade a um fato ocorrido no passado.
e) ilustrará (ref. 20) expressa uma forma polida de marcar o presente.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o ensaio “Império reverso”, de Eduardo Giannetti.

Império reverso – O filósofo grego Diógenes fez da autossuficiência e do controle das


paixões os valores centrais de sua vida: um casaco, uma mochila e uma cisterna de argila no
interior da qual pernoitava eram suas únicas posses. Intrigado com relatos sobre essa
estranha figura, o imperador Alexandre Magno resolveu conferir de perto. Foi até ele e
propôs: “Sou o homem mais poderoso do mundo, peça-me o que desejar e lhe atenderei.”
Diógenes [...] não titubeou: “O senhor teria a delicadeza de afastar-se um pouco? Sua
sombra está bloqueando o meu banho de sol.” O filósofo e o imperador são casos extremos,
mas ambos ilustram a tese socrática de que, entre os mortais, o mais próximo dos deuses
em felicidade é aquele que de menor número de coisas carece. Alexandre, ex-pupilo e
depois mecenas de Aristóteles, aprendeu a lição. Quando um cortesão zombou do morador
da cisterna por ter “desperdiçado” a oferta que lhe caíra do céu, o imperador rebateu: “Pois
saiba então você que, se eu não fosse Alexandre, eu teria desejado ser Diógenes.” Os
extremos se tocam. – “Querei só o que podeis”, pondera o padre Antônio Vieira, “e sereis
omnipotentes.”

(Eduardo Giannetti. Trópicos utópicos, 2016.)

10 [ 204778 ]. Ao se transpor o trecho “Foi até ele e propôs: ‘Sou o homem mais poderoso
do mundo, peça-me o que desejar e lhe atenderei.’” para o discurso indireto, os termos
sublinhados assumem as formas:
a) pedisse e atenderia.
b) pedia e atendia.
c) pediria e atenderia.
d) pedisse e atendesse.
e) pediria e atendesse.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Consumismo: impactos para o bolso e para o planeta
Carlos Eduardo Costa

1
Há vários anos, a sociedade moderna tem sido rotulada como a sociedade do
consumo. A grande questão, na verdade, é que 2temos assistido à consolidação de uma
sociedade consumista. E esse é o grande problema.
3
Em uma sociedade de consumo, 4as pessoas adquirem produtos e serviços
necessários para sua vida. Consumismo, ao contrário, é o ato de comprar produtos e
serviços sem necessidade e consciência. É compulsivo e descontrolado. 5Não basta se vestir,
é preciso acompanhar todas as tendências da moda. Não é suficiente o conforto
proporcionado por alguns produtos tecnológicos, é necessário possuir os últimos
lançamentos. Numa sociedade consumista, o consumidor é permanentemente incentivado a
adquirir novos produtos.
6
E essa onda consumista traz graves consequências para a nossa sociedade. No plano
individual, 7um 8grande número de pessoas se encontra em uma situação de endividamento
extremo estimulado pelo desejo de consumo. (...).
9
Já no plano coletivo, é o nosso planeta que sofre com o consumismo. 10O meio
ambiente é diretamente afetado, pois o consumo desenfreado e o desperdício, muitas vezes
causado pela falta de conhecimento, requerem o uso de mais matérias-primas, e,
consequentemente, também geram grande quantidade de resíduos. 11Por causa disso, os
ambientalistas acreditam que 12o nosso planeta está gravemente doente, 13e 14alguns dos
sintomas já são sentidos e estão piorando as condições de vida na Terra, como, por exemplo,
o aquecimento global. (...)

(Disponível em: https://www.campograndenews.com.br/artigos/consumismo-impactos-


para-o-bolso-e-para-o-planeta. Acesso em 13/03/2021)

11 [ 201757 ]. Considerando a construção de vozes verbais, analise os itens a seguir e


assinale aquele em que a alteração proposta está INCORRETA:
a) “Há vários anos, a sociedade moderna tem sido rotulada como a sociedade do consumo.”
(ref. 1) Há vários anos, rotula-se a sociedade moderna como a sociedade do consumo.
b) “Em uma sociedade de consumo, as pessoas adquirem produtos e serviços necessários
para sua vida.” (ref. 3) Em uma sociedade de consumo, adquirem-se produtos e
serviços necessários para a vida.
c) “Não basta se vestir, é preciso acompanhar todas as tendências da moda.” (ref. 5) Não
basta se vestir, todas as tendências da moda têm de ser acompanhadas.
d) “...e alguns dos sintomas já são sentidos e estão piorando as condições de vida na
Terra...” (ref. 13) ...e já se sente alguns dos sintomas e estão piorando as condições de
vida na Terra...

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Direito e avesso
Rachel de Queiroz

Conheci uma moça que escondia como um crime certa feia cicatriz de queimadura
que tinha no corpo. De pequena a mãe lhe ensinara a ocultar aquela marca de fogo e nem
sei que impulso de desabafo levou-a a me falar nela; e creio que logo se arrependeu, pois
me obrigou a jurar que jamais repetiria a alguém o seu segredo. Se agora o conto é porque a
moça é morta e a sua cicatriz já estará em nada, levada com o resto pelas águas de março,
que levam tudo.
Lembrou-me isso ao escutar outra moça, também vaidosa e bonita, que discorria
perante várias pessoas a respeito de uma deformação congênita que ela, moça, tem no
coração. Falava daquilo com mal disfarçado orgulho, como se ter coração defeituoso fosse
uma distinção aristocrática que se ganha de nascença e não está ao alcance de qualquer um.
E aí saí pensando em como as pessoas são estranhas. Qualquer deformação, por mais
mínima, sendo em parte visível do nosso corpo, a gente a combate, a disfarça, oculta como
um vício feio. Este senhor, por exemplo, que nos explica, abundantemente, ser vítima de
divertículos (excrescências em forma de apêndice que apareceram no seu duodeno), teria o
mesmo gosto em gabar-se da anomalia se em lugar dos divertículos tivesse lobinhos
pendurados no nariz? Nunca vi ninguém expor com orgulho a sua mão de seis dedos, a sua
orelha malformada; mas a má formação interna é marca de originalidade, que se descreve
aos outros com evidente orgulho.
Doença interna só se esconde por medo da morte – isto é, por medo de que, a
notícia se espalhando, chegue a morte mais depressa. Não sendo por isso, quem tem um
sopro no coração se gaba dele como de falar japonês.
Parece que o principal impedimento é o estético. Pois se todos gostam de se
distinguir da multidão, nem que seja por uma anomalia, fazem ao mesmo tempo questão de
que essa anomalia não seja visivelmente deformante. Ter o coração do lado direito é uma
glória, mas um braço menor que o outro é uma tragédia. Alguém com os dois olhos límpidos
pode gostar de épater uma roda de conversa, explicando que não enxerga coisíssima
nenhuma por um daqueles límpidos olhos, e permitira mesmo que os circunstantes curiosos
lhe examinem o olho cego e constatem de perto que realmente não se nota diferença
nenhuma com o olho são. Mas tivesse aquela pessoa o olho que não enxerga coalhado pela
gota-serena, jamais se referiria ao defeito em público; e, caso o fizesse, por excentricidade
de temperamento sarcástico ou masoquista, os circunstantes bem-educados se sentiriam na
obrigação de desviar a vista e mudar de assunto.
Mulheres discutem com prazer seus casos ginecológicos; uma diz abertamente que já
não tem um ovário, outra, que o médico lhe diagnosticou um útero infantil. Mas, se ela
tivesse um pé infantil, ou seios senis. será que os declararia com a mesma complacência?
Antigamente havia as doenças secretas, que só se nomeavam em segredo ou sob
pseudônimo. De um tísico, por exemplo, se dizia que estava “fraco do peito”; e talvez tal
reserva nascesse do medo do contágio, que todo mundo tinha. Mas dos malucos também se
dizia que “estavam nervosos” e do câncer ainda hoje se faz mistério – e nem câncer e nem
doidice pegam.
Não somos todos mesmo muito estranhos? Gostamos de ser diferentes – contanto
que a diferença não se veja. O bastante para chamar atenção, mas não tanto que pareça
feio.

Fonte: O melhor da crônica brasileira,1/ Ferreira Guillar... [et al.]. 5a ed. Rio de Janeiro: José
Olympio, 2007.

Vocabulário:
épater: impressionar

Com base no texto, responda.

12 [ 202294 ]. Assinale a opção em que a oração NÃO se encontra na voz passiva.


a) [...] uma distinção aristocrática que se ganha de nascença e não está ao alcance de
qualquer um.
b) [...] mas a má formação interna é marca de originalidade, que se descreve aos outros com
evidente orgulho.
c) Antigamente havia as doenças secretas, que só se nomeavam em segredo ou sob
pseudônimo.
d) Falava daquilo com mal disfarçado orgulho, como se ter coração defeituoso fosse uma
distinção aristocrática [...].
e) [...] e constatem de perto que realmente não se nota diferença nenhuma com o olho são.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Árvores do planeta serão menos longevas: fenômeno impacta estoques naturais de CO 2

Mesmo crescendo mais rápido, as árvores de florestas de todo o planeta passaram a


ter uma vida mais curta, fenômeno que impacta diretamente a vida na Terra. Menos
árvores, mais gás carbônico na atmosfera. Altas concentrações de dióxido de carbono levam
ao aumento do efeito-estufa, elevação da temperatura, derretimento das calotas de gelo,
elevação dos níveis oceânicos e mudanças nos padrões de chuvas, entre outras
consequências. As causas podem estar associadas à baixa disponibilidade de água e ao
aumento da temperatura terrestre.
Para chegar a esses resultados, pesquisadores dos Departamentos de Botânica e de
Ecologia, do Instituto de Biociências (IB) da USP, em conjunto com colegas de universidades
da Inglaterra, Alemanha e Chile, fizeram análise de dados de praticamente todos os biomas
terrestres e trazem informações mais detalhadas sobre a floresta amazônica. "A redução na
longevidade das árvores significa que o carbono ficará menos tempo estocado nos troncos.
Quando elas morrem, liberam CO2 de volta para a atmosfera, tornando o ciclo do carbono
mais dinâmico, reduzindo potencialmente a quantidade de carbono nas florestas tropicais",
explica o biólogo Giuliano Locosselli. O estudo analisou dados de florestas do mundo inteiro
e nessas análises 1foi encontrado um valor crítico de temperatura 25 média anual, que é o de
25,4 °C, acima do qual a longevidade das árvores tropicais diminui drasticamente. Na
floresta amazônica, por exemplo, estudos mais recentes mostram que a temperatura
ambiente vem se mantendo acima dessa medida já há algumas décadas. Já a floresta do
Congo, na África Central, a segunda maior floresta tropical do mundo, terá temperatura
acima dessa medida até 2050. 2Há evidências científicas recentes do aumento da
mortalidade naquela região que não haviam sido observadas ao longo de décadas.

Ferreira, I. "Árvores do planeta serão menos longevas: fenômeno impacta estoques naturais
de CO2". Jornal da USP (Ciências ambientais). 15/12/2020. Disponível em:
https://bit.ly/3scu3WY/. Adaptado.

13 [ 203074 ]. Assinale a alternativa que corresponde à transposição correta do fragmento


"foi encontrado um valor crítico de temperatura média anual" (ref. 1) para a voz passiva
sintética.
a) Encontrou-se um valor crítico de temperatura média anual.
b) Encontraram um valor crítico de temperatura média anual.
c) Tinha sido encontrado um valor crítico de temperatura média anual.
d) Encontrariam um valor crítico de temperatura média anual.
e) Encontraram-se um valor crítico de temperatura média anual.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


O menino do alto Eliane Brum Leandro Siqueira dos Santos nunca havia reparado que
nascera numa cidade partida. Perdeu a inocência no instante da descoberta. Quando 1os
doutores disseram que nada mais poderiam fazer por ele, o pai arranjou uma porta velha,
bichada, e sobre ela deitou o filho. Com a ajuda de parentes, dos vizinhos, do povo de cima,
2
carregou-o até o alto de seu destino. Pela primeira vez o menino decifrou o precipício de
sua vida. Pela primeira vez sentiu medo do barranco, das pedras, das cicatrizes escalavradas
na terra. O menino percebeu naquele exato momento que 3havia nascido com todas as
pontes dinamitadas. Quando compreendeu, começou a envelhecer. 4Até a voz mudou. (...)
5
Quando se mergulha no coma, o corpo dorme. Os membros, 6as articulações desmaiam
como se perdessem a vida. Para que 7não se cristalizem no lugar errado, 8é preciso que um
fisioterapeuta movimente os pés, as mãos, dia após dia. Não fizeram com o menino do alto.
9
Selaram seu destino com a displicência com que a planície trata a cidade de cima. 10Não foi
o acidente que roubou a liberdade do menino. 11Não foi o traumatismo craniano que
retorceu seus pés. Foi crime.

Fragmento. BRUM, Eliane. O menino do alto. In: ______. A vida que ninguém vê. Porto
Alegre: Arquipélago 2006. p. 72 e 73.

14 [ 203533 ]. Na voz passiva sintética, a oração sublinhada em “...é preciso que um


fisioterapeuta movimente os pés, as mãos, dia após dia” (ref. 8) teria a seguinte estrutura,
de acordo com a norma padrão:
a) Se movimente os pés, as mãos, dia após dia.
b) Se movimentem os pés, as mãos, dia após dia.
c) Sejam movimentados os pés, as mãos, dia após dia.
d) Estejam movimentados os pés, as mãos, dia após dia.
e) Fossem movimentados os pés, as mãos, dia após dia.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia a crônica “Caso de justiceiro”, de Carlos Drummond de Andrade.

Mercadinho é imagem de confusão organizada. Todos comprando tudo ao mesmo


tempo em corredores estreitos, carrinhos e pirâmides de coisas se comprimindo,
apalpamento, cheiração e análise visual de gêneros pelas madamas, e, a dominar o vozerio,
o metralhar contínuo das registradoras. Um olho invisível, múltiplo e implacável, controla os
menores movimentos da freguesia, devassa o mistério de bolsas e bolsos, quem sabe se até
o pensamento. Parece o caos; contudo nada escapa à fiscalização. Aquela velhinha
estrangeira, por exemplo, foi desmascarada.
– A senhora não pagou a dúzia de ovos quebrados.
– Paguei.
Antes que o leitor suponha ter a velhinha quebrado uma dúzia de ovos, explico que
eles estão à venda assim mesmo, trincados. Por isso são mais baratos, e muita gente os
prefere; casca é embalagem. A senhora ia pagar a dúzia de ovos perfeitos, comprada depois;
mas e os quebrados, que ela comprara antes?
A velhinha se zanga e xinga em ótimo português-carioca o rapaz da caixa. O qual lhe
responde boas, no mesmo idioma, frisando que gringo nenhum viria lá de sua terra da peste
para dar prejuízo no Brasil, que ele estava ali para defender nosso torrão contra piratas da
estranja. A mulher, fula de indignação, foi perdendo a voz. Caixeiros acorreram, tomando
posição em defesa da pátria ultrajada na pessoa do colega; entre eles, alguns portugueses. A
freguesia fez bolo. O mercadinho parou.
Eis que irrompe o tarzã de calção de banho ainda rorejante e berra para o caixa:
– Para com isso, que eu não conheço essa dona mas vê-se pela cara que é distinta.
– Distinta? Roubou cem cruzeiros à casa e insultou a gente feito uma danada.
– Roubou coisa nenhuma, e o que ela disse de você eu não ouvi mas subscrevo. O
que você é, é um calhorda e quer fazer média com o patrão à custa de uma pobre mulher.
O outro ia revidar à altura, mas o tarzã não era de cinema, era de verdade, o que
aliás não escapou à percepção de nenhum dos presentes. De modo que enquanto uns
socorriam a velhinha, que desmaiava, outros passavam a apoiá-la moralmente, querendo
arrebentar aquela joça. O partido nacionalista acoelhou-se. Foram tratando de cerrar as
portas, para evitar a repetição de Caxias. Quem estava lá dentro que morresse de calor;
enquanto não viessem a radiopatrulha e a ambulância, a questão dos ovos ficava em
suspenso.
– Ah, é? – disse o vingador. – Pois eu pago os cem cruzeiros pelos ovos mas você tem
de engolir a nota.
Tirou-a do bolso do calção, fez uma bolinha, puxou para baixo, com dedos de ferro, o
queixo do caixa, e meteu-lhe o dinheiro na boca.
Assistência deslumbrada, em silêncio admiracional. Não é todos os dias que se vê
engolir dinheiro. O caixa começou a mastigar, branco, nauseado, engasgado.
Uma voz veio do setor de ovos:
– Ela não roubou mesmo não! Olha o dinheiro embaixo do pacote!
Outras vozes se altearam: “Engole mais os outros cem!” “Os ovos também!” “Salafra”
“Isso!” “Aquilo!”.
A onda era tamanha que o tarzã, instrumento da justiça divina, teve de restabelecer
o equilíbrio.
– Espera aí. Este aqui já pagou. Agora vocês é que vão engolir tudo, se maltratarem
este rapaz.

(Carlos Drummond de Andrade. Cadeira de balanço, 2020.)


15 [ 205169 ]. “Agora vocês é que vão engolir tudo, se maltratarem este rapaz.” (18º
parágrafo)

A forma verbal resultante da transposição do trecho sublinhado para a voz passiva é:


a) maltratariam.
b) fosse maltratado.
c) maltratassem.
d) for maltratado.
e) seria maltratado.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o trecho do drama Macário, de Álvares de Azevedo.

MACÁRIO (chega à janela): Ó mulher da casa! olá! ó de casa!


UMA VOZ (de fora): Senhor!
MACÁRIO: Desate a mala de meu burro e tragam-ma aqui...
A VOZ: O burro?
MACÁRIO: A mala, burro!
A VOZ: A mala com o burro?
MACÁRIO: Amarra a mala nas tuas costas e amarra o burro na cerca.
A VOZ: O senhor é o moço que chegou primeiro?
MACÁRIO: Sim. Mas vai ver o burro.
A VOZ: Um moço que parece estudante?
MACÁRIO: Sim. Mas anda com a mala.
A VOZ: Mas como hei de ir buscar a mala? Quer que vá a pé?
MACÁRIO: Esse diabo é doido! Vai a pé, ou monta numa vassoura como tua mãe!
A VOZ: Descanse, moço. O burro há de aparecer. Quando madrugar iremos procurar.
OUTRA VOZ: Havia de ir pelo caminho do Nhô Quito. Eu conheço o burro...
MACÁRIO: E minha mala?
A VOZ: Não vê? Está chovendo a potes!...
MACÁRIO (fecha a janela): Malditos! (atira com uma cadeira no chão)
O DESCONHECIDO: Que tendes, companheiro?
MACÁRIO: Não vedes? O burro fugiu...
O DESCONHECIDO: Não será quebrando cadeiras que o chamareis...
MACÁRIO: Porém a raiva...
O DESCONHECIDO: A mala não pareceu-me muito cheia. Senti alguma coisa sacolejar dentro.
Alguma garrafa de vinho?
MACÁRIO: Não! não! mil vezes não! Não concebeis, uma perda imensa, irreparável... era o
meu cachimbo...
O DESCONHECIDO: Fumais?
MACÁRIO: Perguntai de que serve o tinteiro sem tinta, a viola sem cordas, o copo sem vinho,
a noite sem mulher – não me pergunteis se fumo!
O DESCONHECIDO (dá-lhe um cachimbo): Eis aí um cachimbo primoroso.
[...]
MACÁRIO: E vós?
O DESCONHECIDO: Não vos importeis comigo. (tira outro cachimbo e fuma)
MACÁRIO: Sois um perfeito companheiro de viagem. Vosso nome?
O DESCONHECIDO: Perguntei-vos o vosso?
MACÁRIO: O caso é que é preciso que eu pergunte primeiro. Pois eu sou um estudante.
Vadio ou estudioso, talentoso ou estúpido, pouco importa. Duas palavras só: amo o fumo e
odeio o Direito Romano. Amo as mulheres e odeio o romantismo.
O DESCONHECIDO: Tocai! Sois um digno rapaz. (apertam a mão)
MACÁRIO: Gosto mais de uma garrafa de vinho que de um poema, mais de um beijo que do
soneto mais harmonioso. Quanto ao canto dos passarinhos, ao luar sonolento, às noites
límpidas, acho isso sumamente insípido. Os passarinhos sabem só uma cantiga. O luar é
sempre o mesmo. Esse mundo é monótono a fazer morrer de sono.
O DESCONHECIDO: E a poesia?
MACÁRIO: Enquanto era a moeda de ouro que corria só pela mão do rico, ia muito bem.
Hoje trocou-se em moeda de cobre; não há mendigo, nem caixeiro de taverna que não
tenha esse vintém azinhavrado1. Entendeis-me?
O DESCONHECIDO: Entendo. A poesia, de popular tornou- se vulgar e comum. Antigamente
faziam-na para o povo; hoje o povo fá-la... para ninguém...
(Álvares de Azevedo. Macário/Noite na taverna, 2002.)

1
azinhavrado: coberto de azinhavre (camada de cor verde que se forma na superfície dos
objetos de cobre ou latão, resultante da corrosão destes quando expostos ao ar úmido).

16 [ 203970 ]. “MACÁRIO: Desate a mala de meu burro e tragam-ma aqui...”

Na oração em que está inserido, o termo sublinhado é um verbo que pede


a) objeto direto, expresso pelo vocábulo “mala”, e objeto indireto, expresso pelo vocábulo
“ma”.
b) apenas objeto indireto, expresso pelo vocábulo “ma”.
c) apenas objeto direto, expresso pelo vocábulo “ma”.
d) objeto direto, expresso pelo vocábulo “burro”, e objeto indireto, expresso pelo vocábulo
“ma”.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


A cobertura de gelo da Terra está encolhendo

1
A camada de gelo que cobre a Terra diminuiu, em média, 87 mil quilômetros quadrados
(km2) por ano, de 1979 a 2016, possivelmente em decorrência das mudanças climáticas. A
redução anual foi equivalente à da área do lago Superior, na fronteira entre o Canadá e os
Estados Unidos. 2A estimativa resulta de análises da equipe do físico e geógrafo Xiaoqing
Peng, da Universidade de Lanzhou, na China. O encolhimento ocorreu principalmente no
Hemisfério Norte. A cobertura de gelo na região registrou uma perda anual média de 102 mil
km2. 3Essa diminuição foi ligeiramente compensada pelo aumento de 14 mil km2 por ano na
camada de gelo do Hemisfério Sul no mesmo período (Earth’s Future, 16 de maio). Essa
expansão se deu principalmente no gelo marinho no mar de Ross, ao redor da Antártica,
devido a alterações no padrão de vento e correntes oceânicas. 4A cobertura de gelo da Terra
é importante porque reflete a luz do Sol, ajudando a resfriar o planeta.
REVISTA PESQUISA FAPESP - AGOSTO DE 2021 | ANO 22, N. 306. Captado de
https://revistapesquisa.fapesp.br/a-cobertura-de-gelo-da-terra-esta-encolhendo. Acesso em
16 de agosto de 2021. (Texto adaptado.)

17 [ 205594 ]. Atente para a relação dos termos em destaque, nos trechos a seguir, com a
classificação apresentada:

I. “A camada de gelo que cobre a Terra diminuiu, em média, 87 mil quilômetros quadrados
(km2) por ano de 1979 a 2016” (ref. 1) – VERBO TRANSITIVO INDIRETO
II. “A estimativa resulta de análises da equipe do físico e geógrafo Xiaoqing Peng” (ref. 2) –
VERBO INTRANSITIVO
III. “Essa diminuição foi ligeiramente compensada pelo aumento de 14 mil km2 por ano na
camada de gelo do Hemisfério Sul no mesmo período” (ref. 3) – VERBO DE LIGAÇÃO
IV. “A cobertura de gelo da Terra é importante porque reflete a luz do Sol” (ref. 4) – VERBO
DE LIGAÇÃO

Está correto o que consta nos itens


a) I e II apenas.
b) II, III e IV apenas.
c) III e IV apenas.
d) I, II, III e IV.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o trecho do poema “Amor feinho”, de Adélia Prado.

Eu quero amor feinho.


Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero amor feinho.

(Bagagem, 2011.)

18 [ 198595 ]. “Eu quero amor feinho.”

O verbo sublinhado é transitivo direto, assim como o verbo sublinhado em:


a) “Amor feinho não olha um pro outro.”
b) “não teologa mais.”
c) “Uma vez encontrado é igual fé,”
d) “Amor feinho é bom porque não fica velho.”
e) “Planta beijo de três cores ao redor da casa”

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


19 [ 194875 ]. Observe o segundo quadrinho do texto.

Oração 1 – Porque não cuida da sua vida?... Guri!


Oração 2 – Estou cuidando!

Sabendo que o verbo “cuidar”, no sentido em que aparece no texto, é transitivo indireto, é
CORRETO afirmar que, na oração 2, o verbo utilizado
a) também é transitivo indireto, levando em conta que uma parte da Oração 2 está oculta.
b) é intransitivo, ou seja, não necessita de complemento verbal.
c) é transitivo direto, já que não exige preposição.
d) é, ao mesmo tempo, transitivo direto e indireto, pois aceita qualquer tipo de
complemento verbal.
e) pode variar a transitividade dependendo da oração apresentada no 3º quadrinho.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o trecho inicial do conto “A doida”, de Carlos Drummond de Andrade, para responder
à(s) questão(ões) a seguir.

A doida habitava um chalé no centro do jardim maltratado. E a rua descia para o


córrego, onde os meninos costumavam banhar-se. Era só aquele chalezinho, à esquerda,
entre o barranco e um chão abandonado; à direita, o muro de um grande quintal. E na rua,
tornada maior pelo silêncio, o burro que pastava. Rua cheia de capim, pedras soltas, num
declive áspero. Onde estava o fiscal, que não mandava capiná-la?
Os três garotos desceram manhã cedo, para o banho e a pega de passarinho. Só com
essa intenção. Mas era bom passar pela casa da doida e provocá-la. As mães diziam o
contrário: que era horroroso, poucos pecados seriam maiores. Dos doidos devemos ter
piedade, porque eles não gozam dos benefícios com que nós, os sãos, fomos aquinhoados.
Não explicavam bem quais fossem esses benefícios, ou explicavam demais, e restava a
impressão de que eram todos privilégios de gente adulta, como fazer visitas, receber cartas,
entrar para irmandades. E isso não comovia ninguém. A loucura parecia antes erro do que
miséria. E os três sentiam-se inclinados a 1lapidar a doida, isolada e agreste no seu jardim.
Como era mesmo a cara da doida, poucos poderiam dizê-lo. Não aparecia de frente e
de corpo inteiro, como as outras pessoas, conversando na calma. Só o busto, recortado
numa das janelas da frente, as mãos magras, ameaçando. Os cabelos, brancos e
desgrenhados. E a boca inflamada, soltando xingamentos, pragas, numa voz rouca. Eram
palavras da Bíblia misturadas a termos populares, dos quais alguns pareciam escabrosos, e
todos fortíssimos na sua cólera.
Sabia-se confusamente que a doida tinha sido moça igual às outras no seu tempo
remoto (contava mais de sessenta anos, e loucura e idade, juntas, lhe lavraram o corpo).
Corria, com variantes, a história de que fora noiva de um fazendeiro, e o casamento uma
festa estrondosa; mas na própria noite de núpcias o homem a repudiara, Deus sabe por que
razão. O marido ergueu-se terrível e empurrou-a, no calor do bate-boca; ela rolou escada
abaixo, foi quebrando ossos, arrebentando-se. Os dois nunca mais se veriam. Já outros
contavam que o pai, não o marido, a expulsara, e esclareciam que certa manhã o velho
sentira um amargo diferente no café, ele que tinha dinheiro grosso e estava custando a
morrer – mas nos 2racontos antigos abusava-se de veneno. De qualquer modo, as pessoas
grandes não contavam a história direito, e os meninos deformavam o conto. Repudiada por
todos, ela se fechou naquele chalé do caminho do córrego, e acabou perdendo o juízo.
Perdera antes todas as relações. Ninguém tinha ânimo de visitá-la. O padeiro mal jogava o
pão na caixa de madeira, à entrada, e eclipsava-se. Diziam que nessa caixa uns primos
generosos mandavam pôr, à noite, provisões e roupas, embora oficialmente a ruptura com a
família se mantivesse inalterável. Às vezes uma preta velha arriscava-se a entrar, com seu
cachimbo e sua paciência educada no cativeiro, e lá ficava dois ou três meses, cozinhando.
Por fim a doida enxotava-a. E, afinal, empregada nenhuma queria servi-la. Ir viver com a
doida, pedir a bênção à doida, jantar em casa da doida, passaram a ser, na cidade,
expressões de castigo e símbolos de 3irrisão.
Vinte anos de uma tal existência, e a legenda está feita. Quarenta, e não há mudá-la.
O sentimento de que a doida carregava uma culpa, que sua própria doidice era uma falta
grave, uma coisa aberrante, instalou-se no espírito das crianças. E assim, gerações sucessivas
de moleques passavam pela porta, fixavam cuidadosamente a vidraça e lascavam uma
pedra. A princípio, como justa penalidade. Depois, por prazer. Finalmente, e já havia muito
tempo, por hábito. Como a doida respondesse sempre furiosa, criara-se na mente infantil a
ideia de um equilíbrio por compensação, que afogava o remorso.
Em vão os pais censuravam tal procedimento. Quando meninos, os pais daqueles três
tinham feito o mesmo, com relação à mesma doida, ou a outras. Pessoas sensíveis
lamentavam o fato, sugeriam que se desse um jeito para internar a doida. Mas como? O
hospício era longe, os parentes não se interessavam. E daí – explicava-se ao forasteiro que
porventura estranhasse a situação – toda cidade tem seus doidos; quase que toda família os
tem. Quando se tornam ferozes, são trancados no sótão; fora disto, circulam pacificamente
pelas ruas, se querem fazê-lo, ou não, se preferem ficar em casa. E doido é quem Deus quis
que ficasse doido... Respeitemos sua vontade. Não há remédio para loucura; nunca nenhum
doido se curou, que a cidade soubesse; e a cidade sabe bastante, ao passo que livros
mentem.

(Contos de aprendiz, 2012.)

1
lapidar: apedrejar.
2
raconto: relato, narrativa.
3
irrisão: zombaria.

20 [ 184817 ]. Em “Não aparecia de frente e de corpo inteiro, como as outras pessoas,


conversando na calma” (3º parágrafo), o termo sublinhado é um verbo
a) de ligação.
b) transitivo direto e indireto.
c) transitivo direto.
d) intransitivo.
e) transitivo indireto.
Gabarito:

Resposta da questão 1:
[A]

[A] Correta: apesar de existir uma alternância entre “g” e “j” no verbo “restringir”, é uma
alternância fonética e, portanto, não representa irregularidade.
[B] Incorreta: o verbo “medir” apresenta irregularidades, entre elas, a forma da primeira
pessoa do singular do presente do indicativo “meço”.
[C] Incorreta: o verbo “dar” apresenta irregularidades, entre elas, toda a conjugação no
pretérito mais-que-perfeito do indicativo.
[D] Incorreta: o verbo “fazer” apresenta irregularidades, entre elas, toda a conjugação no
pretérito perfeito do indicativo.
[E] Incorreta: o verbo “pedir” apresenta algumas irregularidades, entre elas, a forma da
primeira pessoa do singular no presente do indicativo “peço”.

Resposta da questão 2:
[B]

A seguir, aponta-se a correção com as formas adequadas para cada alternativa:


[A] intervieram e contiveram.
[C] vieres e vires.
[D] paralisação e reivindicar.

Resposta da questão 3:
[A]

Em [B], vemos o uso inadequado do pronome pessoal do caso reto “eles”, devendo ser
substituído pelo oblíquo correspondente “os” para ficar de acordo com as normas da língua
escrita padrão. Assim, teríamos a forma “prendê-los”.
Em [C], vemos o uso de gírias, típicas da linguagem coloquial, como “tipo”.
Em [D], a conjugação dos verbos cujo sujeito é “tu” não está obedecendo às regras de
concordância. Assim, teríamos que substituí-los por “sabes” e “gostas”.
Resposta da questão 4:
[C]

[A] Incorreta: o correto seria “O sertanejo previu a seca e proveu a casa de mantimentos”.
[B] Incorreta: o correto seria “Todos os citados requereram os pedidos e ativeram-se aos
detalhes”.
[D] Incorreta: o correto seria “Crede em Deus e apiedai-vos dos irmãos”.
[E] Incorreta: o verbo “precaver” não apresenta conjugação no presente do indicativo para a
primeira pessoa. Assim, a forma “precavenho” está incorreta.

Resposta da questão 5:
[C]

Em [C], vemos uma série de verbos no futuro do subjuntivo (retirar, suspender e repor), mas,
o verbo “repor” representa uma forma inadequada ao contexto formal, já que o futuro do
subjuntivo desse verbo é irregular: “repuser”.

Resposta da questão 6:
[D]

Ao usar a conjunção condicional “se” para iniciar uma oração subordinada adverbial em
que se expressa uma hipótese ou condição necessária para que se realize ou não a ação
principal, o verbo deve estar no pretérito imperfeito do subjuntivo e os das orações do
período, no futuro do pretérito do indicativo. Assim, é correta a opção [D]: “Se eu tivesse
vinte e um anos, a vida se abriria para mim! Eu seria um homem! Uma pessoa real! Eu seria
um indivíduo!”.

Resposta da questão 7:
[B]

No segmento “Em paralelo, em 2026 ou 2027, um orbitador com propulsão elétrica, outra
contribuição da ESA, partiria da Terra e se instalaria em órbita ao redor de Marte...” o tempo
verbal utilizado (ref. 2) para exprimir valor condicional é o futuro do pretérito do indicativo,
como transcrito em [B].
Resposta da questão 8:
[C]

Nas alternativas [A], [B], [D] e [E], vemos os verbos flexionados nos pretéritos (imperfeito em
[A], [B] e [D] e perfeito em [E]), indicando acontecimentos passados. Em [C], com o uso do
futuro do pretérito, vemos um sentido hipotético: algo que poderia vir a acontecer no
futuro, caso uma condição se realizasse no passado.

Resposta da questão 9:
[C]

[A] Incorreta: o pretérito imperfeito da forma “ensaiava”, na verdade, denota uma ação que
se prolonga no passado e não algo concluído e pontual, como o pretérito perfeito.
[B] Incorreta: “frisa” está no presente do modo indicativo e, assim, é empregado para
reforçar a certeza sobre algo que foi afirmado.
[D] Incorreta: “ignora” está no presente do modo indicativo e, assim, reforça o aspecto
presente e atual da ação verbal.
[E] Incorreta: “ilustrará” está no futuro do presente, marcando, portanto, o futuro.

Resposta da questão 10:


[A]

Na transposição do trecho “Sou o homem mais poderoso do mundo, peça-me o que desejar
e lhe atenderei.’” para o discurso indireto, a frase teria a seguinte configuração: ele disse
que era o homem mais poderoso do mundo, mandou que lhe pedisse o que desejasse que ele
o atenderia. Assim, os verbos sublinhados, no imperativo afirmativo e futuro do presente do
indicativo do discurso direto seriam substituídos pelo imperfeito do subjuntivo e futuro do
pretérito do indicativo, respectivamente, conforme transcrito em [A].

Resposta da questão 11:


[D]

Na alternativa [D], os dois verbos se referem aos sintomas: os sintomas são sentidos e os
sintomas estão piorando. Assim, a transposição precisa respeitar isso, o que não ocorre: em
“já se sente alguns dos sintomas e estão piorando as condições de vida na Terra”, os verbos
passam a se referir a termos distintos. Além disso, existe um problema de concordância, já
que o verbo “sente” deveria estar no plural, por se referir a “sintomas”.

Resposta da questão 12:


[D]

Apenas em [D], a palavra “se”, que consta em todas as demais alternativas, não é pronome
apassivador, presente nas orações em voz passiva sintética. No segmento “como se ter
coração defeituoso fosse uma distinção aristocrática”, o termo “se” é partícula expletiva ou
de realce, já que não exerce função sintática e pode ser retirado da frase sem prejuízo
semântico.

Resposta da questão 13:


[A]

A transposição do fragmento “foi encontrado um valor crítico de temperatura média anual”


para a voz passiva sintética, cuja composição deve apresentar verbo, pronome “se” e sujeito
paciente, teria a seguinte configuração: “Encontrou-se um valor crítico de temperatura
média anual”, respeitando o tempo verbal, pretérito perfeito do indicativo, da oração
original. Assim, é correta a opção [A].

Resposta da questão 14:


[B]

A voz passiva sintética é composta apenas pelo verbo, pronome apassivador “se” e sujeito
paciente com o verbo concordando com ele. Assim, a oração “um fisioterapeuta movimente
os pés, as mãos, dia após dia” teria a seguinte configuração: “Se movimentem os pés, as
mãos, dia após dia”, como transcrito em [B].

Resposta da questão 15:


[D]
Na transposição da voz ativa para a passiva, objeto direto da voz ativa passa a sujeito da
passiva analítica e o sujeito , a agente da passiva com verbo no futuro do subjuntivo, fazendo
a respectiva concordância com o sujeito: se este rapaz for maltratado (por vocês). Assim, é
correta a opção [D].

Resposta da questão 16:


[E]

O vocábulo “ma” expressa tanto o objeto direto quanto indireto, já que é resultado da fusão
do pronome “a” (que assume a função de objeto direto, referindo-se a “mala”) com o
pronome “me” (que assume a função de objeto indireto, referindo-se ao próprio falante). O
verbo “trazer”, portanto, pede objeto direto e indireto (quem traz, traz algo a alguém).

Resposta da questão 17:


[C]

[I] Incorreta: um verbo transitivo indireto é aquele que necessita de objeto indireto, isto é,
complemento introduzido por preposição. O verbo “diminuir” não necessita de nenhum
objeto indireto, ele apresenta somente objeto direto: “87 mil quilômetros quadrados”.
Dessa forma, ele atua como transitivo direto no enunciado apresentado.
[II] Incorreta: um verso intransitivo é aquele que não apresenta complemento, o que não é o
caso do verbo “resulta”, já que algo resulta DE ALGO. Dessa forma, o verbo deveria ser
classificado como transitivo indireto, com o objeto indireto “de análises da equipe do físico e
geógrafo Xiaoqing Peng”.

Resposta da questão 18:


[E]

Apenas em [E], a frase apresenta verbo transitivo direto. Em [A], [B], [C] e [D], o verbo é
intransitivo, intransitivo, de ligação e de ligação, respectivamente.

Resposta da questão 19:


[A]
Na segunda oração, o verbo “cuidar” aparece na forma de uma locução verbal “estou
cuidando”. Assim, vemos que o verbo principal é o mesmo, mantendo a transitividade
indireta, ainda que parte da oração esteja oculta (“da minha vida”).

Resposta da questão 20:


[D]

Trata-se de um verbo de ação intransitivo, pois não está acompanhado de complementos,


objeto direto ou indireto, que antecede os adjuntos adverbiais de modo: “de frente e de
corpo inteiro”. Assim, é correta a opção [D].
Concordâncias verbal e nominal
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
E a indústria de alimentos na pandemia?

O editorial da edição de 10 de junho do British Medical Journal, assinado por


professores da Queen Mary University of London, na Inglaterra, propõe uma reflexão tão
interessante que vale provocá-la entre nós, aqui também: a pandemia de Covid-19 deveria
tornar ainda mais urgente o combate à outra pandemia, a de obesidade.
O excesso de peso, por si só, já é um fator de risco importante para o agravamento
da infecção pelo Sars-CoV 2, como lembram os autores. A probabilidade de uma pessoa com
obesidade severa morrer de Covid-19 chega a ser 27% maior do que a de indivíduos com
obesidade grau 1, isto é, com um índice de massa corporal entre 30 e 34,9 quilos por metro
quadrado, de acordo com a plataforma de registros OpenSAFELY.
O editorial cita uma série de outros dados e possíveis razões para a associação entre
a má evolução de certos casos de Covid-19 e a obesidade. No entanto, o que mais destaca é
o ambiente obesogênico que o novo coronavírus encontrou no planeta.
Nos Estados Unidos e no Reino Unido, para citar dois exemplos, entre 65% e 70% da
população apresentam um peso maior do que o recomendado para o bem da saúde. E,
assim, os autores apontam o dedo para a indústria de alimentos que, em sua opinião, em
todo o globo não parou de promover produtos ultraprocessados, com muito açúcar, uma
quantidade excessiva de sódio e gorduras além da conta.
A crítica do editorial é mesmo cortante: “Fica claro que a indústria de alimentos
divide a culpa não apenas pela pandemia de obesidade como pelos casos mais graves de
Covid-19 e suas consequências devastadoras”, está escrito.
E os autores cobram medidas, lembrando que o confinamento exigido pela Covid-19
aparentemente piorou o estado nutricional das pessoas, em parte pela falta de acesso a
alimentos frescos, em outra parte porque o pânico fez muita gente estocar itens
ultraprocessados em casa, já que esses costumam ter maior vida de prateleira, inclusive na
despensa.
Mas o que deixou os autores realmente desconfortáveis foram as ações de
marketing de algumas marcas nesses tempos desafiadores. Todas, claro, querendo
demonstrar o seu envolvimento com iniciativas de responsabilidade social, mas dando tiros
que, para olhos mais atentos, decididamente saíram pela culatra. Por exemplo, quando uma
indústria bem popular na Inglaterra distribuiu nada menos do que meio milhão de calóricos
donuts para profissionais na linha de frente do National Health Service britânico.
A impressão é de que as indústrias de alimentos verdadeiramente preocupadas com
a população, cada vez mais acometida pela obesidade, deveriam aproveitar a crise atual
para botar a mão na consciência, parar de promover itens pouco saudáveis e reformular boa
parte do seu portfólio. As mortes por Covid-19 dão a pista de que essa é a maior causa que
elas poderiam abraçar no momento.

Fonte: Adaptado de https://abeso.org.br/e-a-industria-de-alimentos-na-pandemia.


Publicado em 30 de junho de 2020. Acessado em 09 Mar 21.

GLOSSÁRIO: O termo “ambiente obesogênico” foi criado pelo professor de Bioengenharia


da Universidade da Califórnia, nos EUA, Bruce Blumberg. Segundo ele, são os
Obesogênicos os responsáveis por contribuir no ganho de peso sem que o indivíduo tenha
consciência de que está engordando.

1 [ 202903 ]. No trecho “Nos Estados Unidos e no Reino Unido, para citar dois exemplos,
entre 65% e 70% da população apresentam um peso maior do que o recomendado para o
bem da saúde.”, o verbo em destaque concorda com
a) o percentual 65% e 70%.
b) o sujeito composto Estados Unidos e Reino Unido.
c) o adjunto adnominal da população.
d) o substantivo próprio plural Estados Unidos.
e) o aposto constituído pela expressão plural dois exemplos.

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:


A feminização da medicina no Brasil

O mundo assiste à progressiva diminuição nas diferenças de gênero, com a remoção


de barreiras que impedem as mulheres de ter o mesmo acesso que os homens à educação,
às oportunidades de trabalho e aos benefícios sociais. No Brasil, em paralelo à crescente
predominância feminina na população, registram-se o crescimento da escolaridade feminina
e a maior presença das mulheres nos diversos setores da atividade econômica.
Essas mudanças das últimas décadas também se refletem na presença cada vez
maior de mulheres na medicina brasileira. Tal transformação poderá constituir-se em
elemento estruturante da evolução da profissão, com consequências nas práticas médicas e
na qualidade da sua assistência. O crescimento da participação feminina na profissão fica
evidente na evolução do número de mulheres que entram no mercado de trabalho.
Segundo pesquisas, os homens predominam nas especialidades cirúrgicas e naquelas
que atendem urgências, como a ortopedia. A ideia de que há necessidade de mais força e
resistência física, maior disponibilidade de tempo, assim como compatibilização entre as
práticas profissionais e a vida familiar são os principais motivos que afastam as mulheres de
determinadas especialidades. Nesse sentido, a opção das médicas brasileiras tem sido pelas
especialidades básicas, como pediatria e ginecologia/obstetrícia.
Na perspectiva bioética, mulheres e homens podem divergir na maneira de perceber
problemas no exercício profissional da medicina. A “ética do cuidado”, relacionada à atuação
das mulheres, e a “ética da justiça”, à dos homens, permitem uma reflexão bioética que
considere a oposição entre valores humanos e afetivos, supostamente mais “femininos”, e
valores científicos e racionais, que seriam mais “masculinos”.
Portanto, essa diversidade revela que a feminização da medicina requererá novas
análises bioéticas que possam contribuir para a compreensão da dimensão dinâmica do
fenômeno.

SCHEFFER, M.C.; CASSENOTE, A.J.F. Revista Bioética, v. 21, n. 2, 2013. Disponível em:
<https://revistabioetica.cfm.org.br>. Acesso em: 13 ago. 2021. Adaptado.

2 [ 203307 ]. De acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, a concordância nominal


está correta em:
a) A aproximação de homens e mulheres nas organizações e o reconhecimento dessa nova
tendência em nossa sociedade precisam ser aceitas sem restrições.
b) A presença de mulheres em posições de liderança e o lucro das empresas, atualmente,
são pretendidas pelas companhias.
c) O objetivo da realização profissional e a capacidade de atender a inúmeras funções têm
sido buscados pelas mulheres com muita frequência.
d) O comando da mulher nas empresas e sua inserção em cargos antes ocupados somente
pelos homens devem ser consideradas de grande valor.
e) O trabalho integral fora de casa e as tarefas domésticas devem ser reconhecidas porque
constituem o obstáculo que sobrecarrega as mulheres.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


3 [ 185613 ]. Na frase: Mas, com o tempo, algumas coisas acabaram se invertendo.

Se colocássemos a palavra sublinhada no singular, quantas outras sofreriam alteração?


a) Uma.
b) Duas.
c) Três.
d) Quatro.

4 [ 167757 ]. Assinale a alternativa em que a palavra em destaque está empregada de


forma CORRETA na frase considerando-se a norma padrão escrita.
a) Frederico recebeu uma carta com as fotos anexa.
b) Elas mesmas assumiram a culpa e pagaram o prejuízo.
c) Os alunos mesmo disseram à professora que queriam ler mais um livro.
d) Todos os formandos estavam quite com a mensalidade da formatura.
e) O acidente foi grave. O motorista ficou com o braço e a perna quebradas.

5 [ 168580 ]. Assinale a opção em que há uma transgressão às normas de Concordância


(nominal ou verbal):
a) Já passava do meio-dia e meia, quando muitas competições já tinham sido iniciadas.
b) Valor de bens de candidatos à Prefeitura da Capital superam o declarado à Justiça
Eleitoral.
c) Segundo a defesa, é necessário existência de crime de responsabilidade.
d) Fizeram críticas meio exageradas ao desempenho da política externa.
e) Após confrontos, uso de “burquíni”, mistura de burca com biquíni, é proibido em 12
cidades francesas.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


A(s) questão(ões) a seguir está(ão) relacionada(s) ao texto abaixo.

Muita gente que ouve a expressão “políticas linguísticas” pela primeira vez pensa em
1
algo solene, formal, oficial, em leis e portarias, em autoridades oficiais, e pode ficar se
perguntando o que seriam leis sobre línguas. De fato, há leis sobre línguas, mas as 2políticas
linguísticas também podem ser menos 3formais – e nem passar por leis propriamente ditas.
Em quase todos os casos, figuram no cotidiano, 4pois envolvem não só a gestão da
linguagem, mas também as práticas de linguagem, e as crenças e valores que circulam a
respeito 5delas. Tome, por exemplo, a situação do 6cidadão das classes confortáveis
brasileiras, que quer que a escola ensine a norma culta da língua portuguesa. 7Ele folga em
saber que se vai exigir isso dos candidatos às vagas para o ensino superior, mas nem sempre
observa ou exige o mesmo padrão culto, por exemplo, na ata de condomínio, que ele aprova
como está, 8desapegada da ortografia e das regras de concordância verbais e nominais
9
preconizadas pela gramática normativa. Ele acha ótimo que a escola dos filhos faça
10
baterias de exercícios para fixar as normas ortográficas, mas pouco se incomoda com os
problemas de redação nos enunciados das tarefas dirigidas às crianças ou nos textos de
comunicação da escola dirigidos à comunidade escolar. Essas são políticas linguísticas.
11
Afinal, onde há gente, há grupos de pessoas que falam línguas. Em cada um desses grupos,
há decisões, 12tácitas ou explícitas, sobre como proceder, sobre o que é aceitável ou não, e
por aí afora. Vamos chamar essas escolhas – 13assim como 14as discussões que levam até
15
elas e as ações que delas resultam – de políticas. Esses grupos, pequenos ou grandes, de
pessoas tratam com outros grupos, que por sua vez usam línguas e têm as suas políticas
internas. Vivendo imersos em linguagem e tendo constantemente que lidar com outros
indivíduos e outros grupos mediante o uso da linguagem, não surpreende que os recursos de
linguagem lá pelas tantas se tornem, eles próprios, tema de política e objetos de políticas
explícitas. Como 16esses recursos podem ou devem se apresentar? Que funções eles podem
ou devem ter? Quem pode ou deve ter acesso a 17eles? Muito do que fazemos, 18portanto,
diz respeito às políticas linguísticas.

Adaptado de: GARCEZ, P. M.; SCHULZ, L. Do que tratam as políticas linguísticas.


ReVEL, v. 14, n. 26, 2016.
6 [ 169404 ]. Se a expressão políticas linguísticas (ref. 2) fosse para o singular, quantas
outras alterações seriam necessárias no período para manter-se a concordância?
a) 1.
b) 2.
c) 3.
d) 4.
e) 5.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o texto a seguir para responder à(s) questão(ões).

O acesso 1à Educação é o ponto de partida


Mozart Neves

A Educação tem resultados profundos e abrangentes no desenvolvimento de uma


sociedade: contribui para o crescimento econômico do país, para a promoção da igualdade e
bem-estar social, e também tem impactos decisivos na vida de cada um. Um deles, por
exemplo, é na própria renda do trabalhador. Uma análise feita __________ alguns anos pelo
economista Marcelo Neri mostrou que, a cada ano a mais de estudo, o brasileiro ganha 15%
a mais de salário. Além disso, o estudo também mostrou que quem completou o Ensino
Fundamental tem 35% a mais de chances de ocupação que um analfabeto. Esse número
sobe para 122% na comparação com alguém que tenha o Ensino Médio e 387% com Ensino
Superior.
Diante disso, o direito do acesso 2à Educação é o ponto de partida na formação de
uma pessoa e, consequentemente, no desenvolvimento e prosperidade de uma nação. 3Não
obstante os avanços alcançados pelo Brasil nas duas últimas décadas4, 5ainda 6há
7
importantes desafios a superarmos no que tange esse direito. Se 8por um lado conseguimos
universalizar o atendimento escolar no Ensino Fundamental, temos 9ainda, por outro lado,
2,8 milhões de crianças e jovens de 4 a 17 anos fora da escola. Isso corresponde ______ um
país do tamanho do Uruguai. O desafio, em termos de acesso, é a universalização da Pré-
Escola (crianças de 4 e 5 anos) e do Ensino Médio (jovens de 15 a 17 anos).
Há outro desafio em jogo10: o de como motivar 5,3 milhões de jovens de 18 a 25
anos que nem estudam e nem trabalham, a chamada 11“geração nem-nem”, para trazê-12los
de volta __________ escola e, posteriormente, 13incluí-los no mundo do trabalho. Isso é
essencial para um país que passa por um bônus demográfico que se completará, 14segundo
os especialistas, em 2025. O país, para seu crescimento econômico e sua sustentabilidade,
não poderá abrir mão de nenhum de seus jovens.
No Ensino Superior, o 15desafio não é menor. O Brasil tem apenas 17% de jovens de
18 a 24 anos matriculados nesse nível de ensino. Em conformidade com o Plano Nacional de
Educação (PNE), o país precisará dobrar esse percentual nos próximos dez anos, ou seja,
chegar __________ 33%. Para se ter uma ideia da complexidade dessa meta, esse era o
percentual previsto no PNE que se concluiu em 2010. Isso exige – sem que haja perda de
qualidade com essa expansão – que a educação básica melhore significativamente, tanto em
acesso como em qualidade, tomando como referência os atuais índices de aprendizagem
escolar.
O acesso 16à Educação é, 17portanto, ainda um desafio e, caso seja efetivado com
qualidade, poderá contribuir decisivamente para que o país 18reduza o enorme hiato que
separa o seu desenvolvimento econômico, medido pelo seu Produto Interno Bruto – PIB (o
Brasil é o 7º PIB mundial) e o seu desenvolvimento social, medido pelo seu Índice de
Desenvolvimento Humano – IDH (o Brasil ocupa a 75ª posição no ranking mundial). Somente
quando o país alinhar 19esses índices nas melhores posições do ranking mundial, teremos de
fato um Brasil com menos desigualdade e menos pobreza. Para que isso aconteça, não se
conhece nada melhor do que a Educação.

Disponível em: <http://istoe.com.br/o-acesso-educacao-e-o-ponto-de-partida/>.


Acesso em: 20 mar. 2017)

7 [ 171483 ]. Se a palavra desafio (referência 15) fosse flexionada no plural, quantas mais
alterações seriam necessárias na frase para manter a correção sintática?
a) Uma.
b) Duas.
c) Três.
d) Quatro.

8 [ 162059 ]. Complete as lacunas das frases a seguir.

1. O empresário desistiu da compra depois de ter sido informado de que naquele terreno já
__________ várias invasões.
2. Com o forte vento da noite passada, __________ algumas frutas maduras.
3. Não __________ projetos prontos, apenas esboços mal acabados de desejos sem
planejamento.
4. Em geral, __________ muitos problemas com um simples sorriso.
5. Na passeata dos trabalhadores, __________ protestos contra a corrupção.
6. É necessário um esforço de todos para que sempre se __________ continuamente as
melhorias, acima de tudo pensando no desenvolvimento sustentável.

Considerando a concordância verbal, a alternativa correta é:


a) aconteceram – caiu – existem – resolve-se – deverão haver
b) aconteceu – caíram – existem – resolve-se – deverá haver
c) aconteceram – caíram – existem – resolvem-se – deverá haver – busquem
d) aconteceram – caíram – existe – resolve-se – deverá haver

9 [ 204378 ]. Assinale a frase que está escrita em conformidade com as normas da língua
portuguesa padrão.
a) “Independentemente do rótulo a mim atribuído, permaneço à disposição do meu país e
da medicina, entendendo que não há nada mais libertador do que a ética, a justiça e a
verdade.”
b) “Como pode o cara tem menos de 1% do capital que tem no exterior e esse valor que está
em paraíso fiscal é inferior ao valor que ele importa na semana e ainda tem gente que
considera isso crime.”
c) “Aí lá vem de novo o senhor do Tempo, aquele que é senhor da razão, sempre com a
filhinha, a dona Verdade, dar na boca dos animais que não enxergaram isso a dois anos,
isto é, o que os médicos brasileiros vêm fazendo.”
d) “Aqui no Brasil, essa raça de cachorro não pode voar, pois eles tem problemas
respiratórios que em altitude pode gerar complicações.”

10 [ 204214 ]. Quanto à concordância verbal, assinale a alternativa que contém a sequência


que completa, correta e respectivamente, as lacunas do texto abaixo.

Caros cidadãos:
Amanhã um grupo __________ (passar) nas ruas deste bairro arrecadando roupas para as
vítimas da última tempestade. A maioria das peças __________ (dever) ser para adultos;
apenas 10% das roupas __________ (ir) para crianças de 2 a 7 anos. _________ (Haver)
muitos pedidos de cobertores, por isso podem doar esse item também.
A Associação de Bairro agradece a todos!
a) passará - deverá - irão - Houve
b) passará - deverão - irá - Houve
c) passarão - deverão - irá - Houveram
d) passarão - deverá - irão - Houveram

11 [ 206235 ]. Observe:

“O bom escritor sabe que elementos como a coerência e a coesão são indispensáveis para a
inteligibilidade dos textos escritos, bem como o respeito às normas gramaticais.”

Se o termo escritor fosse colocado no plural, quantas outras alterações seriam necessárias
para manter a correção da frase?
a) Duas.
b) Três.
c) Quatro.
d) Uma.
e) Cinco.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


O que nos torna pouco competitivos?

Renato Rozental

Lamentar a morte de mais de meio milhão de brasileiros por covid-19 é pouco. Esta é uma
discussão de resposta muito clara, quase óbvia. 1Se tivéssemos capacidade interna,
poderíamos ter suprido parte das necessidades do mercado e reduzido o impacto da
pandemia no sistema de saúde em tempo hábil. O quadro de calamidade é resultado de
décadas de políticas de incentivo 2___ mera reprodução em vez de estímulo 3___
capacitação profissional e ao domínio do processo produtivo.
Começar reproduzindo (‘copiando’) não é um problema. 4Basta lembrar 5da história
do nylon, fibra têxtil sintética patenteada pela empresa norte-americana DuPont em 1935 e
6
usada para provocar a indústria japonesa e fazê-la exportar menos seda. A resposta
japonesa foi 7contundente e imediata: ‘copiar’ o processo de manufatura e produzir nylon 6
meses após a desfeita. Atualmente, a China domina o mercado mundial de nylon, seguida
por 8Estados Unidos, Japão e Tigres Asiáticos. 9Os chineses perceberam que, na era
tecnológica, “o caminho mais curto para crescer é apostar em três frentes: inovação,
inovação e inovação”.
10
Nesse contexto, 11pergunto: qual é o perfil da nossa indústria farmacêutica?
12
Produzimos genéricos… até hoje. 13Mas a política 14de ‘genéricos’ tem como fragilidade o
fato de incluir apenas medicamentos cujas patentes já tenham expirado. 15O problema do
conhecimento tecnológico insuficiente e a dificuldade do nosso país em evoluir de ‘copiar’
para ‘inovar’ precisa ser tratado com prioridade e sem demagogia para romper o ciclo
vicioso da dependência tecnológica e trazer um diferencial competitivo.
O projeto de cranioplastia, reparo craniano extenso, pode ilustrar tanto a inovação
estimulada pela demanda como os entraves burocráticos ao desenvolvimento do produto.
Pelo lado clínico, 16___ cirurgias de reconstrução do crânio após remoção da calota craniana
envolvem um alto custo, incluindo a malha de titânio e porcelanato usada atualmente,
totalizando um gasto entre R$ 120 mil e R$ 200 mil por paciente, o que torna sua realização
no Sistema Único de Saúde (SUS) economicamente inviável. 17A cranioplastia faz-se
necessária não somente por razões estéticas – o que, por si só, já justificaria o procedimento
–, mas também para assegurar que o cérebro do paciente fique mais protegido e com
melhor irrigação sanguínea, resultando em melhoras cognitivas e comportamentais e
facilitando 18___ reintrodução do indivíduo na sociedade. 19No momento, infelizmente, a
implantação de próteses cranianas é realizada pelo SUS somente mediante doação ou após
sentença judicial, considerando que o paciente corre risco de vida.
Nossa equipe desenvolveu uma solução utilizando uma prótese de
polimetilmetacrilato (PMMA) confeccionada durante o período da cirurgia, com resultados
semelhantes 20e até superiores aos das próteses de titânio e porcelanato disponíveis, mas
com custo cerca de 20 vezes menor que o praticado no mercado, tornando o tratamento,
em teoria, viável e acessível à rede SUS. Estamos confiantes nos resultados das próteses
feitas de PMMA, na análise dos custos e na adequabilidade do produto para o mercado.
A ciência translacional não é algo que possa se embutir no sistema por decreto.
21
Grandes organizações, públicas e privadas, estão amarradas nas suas próprias burocracias,
o que dificulta o processo criativo e de inovação. No contexto da inovação em saúde,
precisamos inserir formas de gestão flexíveis, ágeis, que envolvam tomadas de decisão
descentralizadas, permitindo a responsabilização de todos os atores envolvidos, de modo a
ampliar os espaços de criatividade e de ousadia na busca e na implementação de soluções.
22
O que não dá para aceitar é continuar 23___ andar com o ‘freio de mão puxado’ e na
contramão do desenvolvimento sustentável.
24
Por fim, a dicotomia entre público e privado já deveria ter sido ultrapassada. A
saúde é direito de todos e dever do Estado. 25Quem trabalha com inovação quer ver o
produto funcionando no mercado global. 26Certa vez, em 1995, tive a oportunidade de ouvir
de Eric Kandel (Universidade Columbia), Rodolfo Llinás (Universidade de Nova York) e
Torsten Wiesel (Universidade Rockfeller) uma previsão sobre o cenário de concessões nos
Institutos Nacionais da Saúde (NIH) em 2015-2020: “quem não desenvolvesse uma ‘pílula’
para a sociedade como resultado do seu projeto de pesquisa estaria fora do pool”. Tal visão
está se tornando uma realidade global. 27Pessoalmente, acredito que um dos compromissos
mais preciosos que temos com a nossa população é o de proporcionar hoje, e não amanhã,
uma solução para que todos possam ser atendidos a tempo e desfrutem de boa qualidade
de vida.

(ROZENTAL, Renato. O que nos torna pouco competitivos? [Centro de Desenvolvimento


Tecnológico em Saúde. Fundação Oswaldo Cruz e Instituto de Ciências Biomédicas.
Universidade Federal do Rio de Janeiro]. Matéria publicada em Ciência Hoje de 20 de agosto
de 2021. Disponível em: https://cienciahoje.org.br/artigo/o-que-nos-torna-pouco-
competitivos/. Acesso em 18 de setembro de 2021). Texto adaptado para esta prova.

12 [ 204052 ]. Assinale a alternativa correta, considerando aspectos gramaticais que se


encontram a serviço da construção semântica do texto:
a) Na sentença “Mas a política de ‘genéricos’ tem como fragilidade o fato de incluir apenas
medicamentos cujas patentes já tenham expirado.” (ref. 13), o pronome adjetivo “cujas”
concorda com “patentes”, mas refere-se a “medicamentos”.
b) Na sentença “... usada para provocar a indústria japonesa e fazê-la exportar menos seda.”
(ref. 6), o pronome “la” retoma indústria japonesa, evitando uma repetição.
c) No trecho “Por fim, a dicotomia entre público e privado já deveria ter sido ultrapassada.”
(ref. 24), há um problema de concordância verbal, na medida em que o verbo “deveria” –
segundo padrões morfossintáticos que regem a norma culta da língua – teria de estar no
plural para concordar com “público e privado”.
d) No período “Grandes organizações, públicas e privadas, estão amarradas nas suas
próprias burocracias, o que dificulta o processo criativo e de inovação” (ref. 21), a
conjunção integrante “que” está relacionada ao verbo “dificulta”, na medida em que inicia
uma oração adjetiva.
e) No trecho “Pessoalmente, acredito que um dos compromissos mais preciosos que temos
com a nossa população é o de proporcionar hoje, e não amanhã, uma solução para que
todos possam ser atendidos a tempo e desfrutem de boa qualidade de vida.” (ref. 27), a
expressão “a tempo” poderia ser grafada com “h” [“há”] , já que diz respeito ao verbo
haver e a tempo decorrido.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Um universo sem fim

Fomos alfabetizados para poder ler tudo o que quisermos. Descobrir o que os outros
pensam ou pensaram, saber o que já aconteceu e o que pode vir a acontecer. Entender
melhor o mundo em que vivemos e imaginar como poderia ser melhor do que é. Um
universo sem fim espera por nós nos livros. Basta abri-los e deixar-nos levar pelas palavras,
que se encadeiam nas folhas finas. [...]
Os miseráveis, do romancista francês Victor Hugo, foi publicado, pela primeira vez, na
França, em 1862. Transformou-se logo em grande sucesso. Foi traduzido para diversas
línguas. Percorreu o mundo. É uma história com forte cunho social, mas o enredo, em que
um ex-prisioneiro é perseguido sem tréguas por um inspetor fanático, tem fortes elementos
de trama policial.
Jean Valjean, o herói, foi condenado a trabalho forçado por roubar um pão para a
família faminta. Cumpriu pena. Mesmo assim, para fugir de seu perseguidor e se reabilitar,
precisou trocar de identidade. Sob disfarce, tornou-se um grande empresário. Promoveu o
desenvolvimento da cidade, ajudou a todos que precisavam dele.
Mas Javert, o policial, não desistia de lhe seguir os rastros. Vivia no encalço de Jean
Valjean. Criava espertas armadilhas para que a verdadeira identidade do ex-condenado fosse
revelada. [...] A sucessão dos acontecimentos e as difíceis circunstâncias vividas pelas
personagens levantam questões sobre lei, justiça e solidariedade.
Acima de tudo, Os miseráveis mostra como uma pessoa pode se transformar graças à
ação de outra. No caso, a mudança ocorre quando um homem injustiçado recebe de alguém
compreensão e generosidade. História de fugas, trapaças e armadilhas, esta também é uma
história de amor entre jovens. Aqui são relatados interesses e atitudes muito mesquinhos,
mas também grandes gestos de desprendimento e bondade.

CADEMARTORI, Lígia. In. HUGO, Victor. Os miseráveis. Tradução e adaptação de Walcyr


Carrasco. São Paulo: FTD, 2001. (Coleção Literatura em minha casa; v. 4). Adaptado do texto
de apresentação.

13 [ 204933 ]. Na construção dos textos, não é necessário explicitar, sempre, todos os


elementos ou informações. Quem fala (ou escreve) espera que o ouvinte ou leitor faça uso
de inferências e pistas gramaticais, para identificar aquele elemento ausente no texto e
certas opções sintáticas. Utilize os seus conhecimentos sobre a língua e mostre que você
entendeu o texto, assinalando a única alternativa que NÃO identifica corretamente o
elemento ausente entre colchetes.
a) [Nós] Fomos alfabetizados para poder ler tudo o que quisermos.
b) [A obra] Os miseráveis, do romancista francês Victor Hugo, foi publicado (...).
c) [O romance] É uma história com forte cunho social (...).
d) Sob disfarce, [Jean Valjean] tornou-se um grande empresário.
e) Aqui [em Os miseráveis] são relatados interesses (...) muito mesquinhos (...).

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


A pandemia, o sentido da vida e a política — 12/05

1
A pandemia, o isolamento e o medo põem questões que vão mais além das relativas
a como levar uma vida “normal”, por produzirem indagações sobre o próprio sentido da
vida.
2
Em situações normais, as pessoas estão preocupadas com as atividades profissionais
e domésticas, tal 3como acontecem no dia a dia. 4Preocupações básicas são as que regem
este tipo de condição: 5a renda, a escola das crianças, a sociabilidade profissional e a
familiar, o amor, a amizade, o ir às compras. 6Já em situações como esta que estamos
vivendo, as preocupações são de outra ordem: 7a doença, o medo da morte, a possível falta
de mantimentos, a manutenção do emprego, a redução da renda, o isolamento, a pergunta
pelo amanhã.
Uma analogia possível é com a condição de 8guerra. 9Nesta, a saída abrupta da
normalidade é imediatamente sentida: a existência humana é mostrada em sua fragilidade,
a emergência toma conta do dia a dia. A morte abrupta surge para cada um como uma
realidade, seja ela militar, seja civil. 10No entanto, os sentimentos e emoções daí resultantes
não são necessariamente os mesmos, pois as pessoas não se isolam, mas vêm a cumprir uma
função social junto ao Estado, sob a forma da defesa da pátria. 11A morte ganha, nesse
aspecto, sentido.
A 12morte é uma questão existencial primeira da condição humana, 13essa que coloca
o homem diante do nada, do limite da condição humana. Ela é o horizonte de cada um, por
mais que pensemos nela ou não. A significação da morte no fim da vida faz com que as
pessoas se preparem para isso, tanto individual quanto familiarmente. Retiram-se
progressivamente, planejam pelo testamento a sucessão dos bens, acostumam-se à ideia.
Alguns recorrem à religião, acreditando em outra vida. No caso de a morte acontecer numa
guerra, ela adquire a significação de que o indivíduo é membro de uma comunidade, sendo
assim compreendida pelo Estado e pelos seus próximos. No momento, porém, em que a
redução do ciclo natural se dá sob a forma de uma doença coletiva, é como se o sem sentido
ganhasse a forma do absurdo.
Uma significação que surge no contexto de pandemia é a de a pessoa sentir-se
abandonada pela vida, abandonada por aqueles que com ela conviviam, salvo os que
terminam compartilhando a mesma reclusão. 14Uma expressão do abandono é a solitude e a
introspecção. 15O mundo torna-se uma ameaça. Há formas de mitigação, como o telefone e
as redes sociais, que tornam viável um modo de substituição da presença física. Mas há algo
aqui que faz enorme diferença: a presença física do outro, o olhar, o toque, a expressão
física do sentimento. O beijo e o abraço desaparecem.
16
As pessoas reclusas sentem necessidade dos seus. Algumas ficam mais vulneráveis
por viverem sozinhas, outras se agrupam em seus núcleos familiares mais próximos, em
todo caso o seu número deve ser necessariamente reduzido. Outras que vivem na miséria
têm esses sentimentos ainda mais potencializados. 17O contato presencial das pessoas, para
além desses núcleos, é rompido. Em seu lugar surgem outros instrumentos de comunicação,
as redes sociais obtendo aí protagonismo maior. 18Acontece, 19contudo, que 20a comunicação
virtual entre as pessoas passa a ser mediada por outro tipo de comunicação, a social/digital,
que se faz por notícias e informações.
Do ponto de vista da informação, tudo vale nas redes sociais, notícias verídicas como
falsas. As redes podem, 22assim, tornar-se instrumentos poderosos de desinformação,
21

divulgando o que se denomina fakenews, tendo como objetivo aumentar a insegurança das
pessoas, tornando-as ainda mais vulneráveis. O descontrole pode adquirir uma conotação
política, alheia à saúde pública.
23
A faceta política do medo da morte e do abandono consiste numa presença maior
do Estado como provedor da segurança perdida, enquanto possível solução de uma morte
prematura e do abandono. 24Numa situação de epidemia, as pessoas tendem a pedir a
intervenção do Estado, fornecendo-lhes condições de existência. Na guerra, o Estado toma a
decisão de atacar outro país ou de se defender; na epidemia, a sociedade é atacada por um
inimigo invisível, sem que o Estado nada tenha podido fazer.
O 25coronavírus, nova versão, é um inimigo que se expande, se infiltra e ameaça a
vida de cada um. 26Desconhece fronteiras e não aceita nenhum controle estatal. Não tem
medo de nada, 27embora faça medo a todos. 28Tem a forma do invisível, que só é sentido
quando toma conta do corpo das pessoas. 29Palavras não têm sobre ele nenhum efeito,
apenas medidas concretas.
30
Eis por que discursos demagógicos não têm sobre ele nenhum efeito, tampouco
sobre os cidadãos, que sentem a sua ameaça próxima. Leem e escutam sobre o número
crescente de mortos, de infectados, e se perguntam se não serão eles os próximos. 31Não
podem, evidentemente, compreender que se possa tratar de uma “histeria”, de uma
“fantasia”, pois a presença do inimigo invisível é real. Discursos técnicos, sensatos, de
combate à doença tomam o lugar da demagogia, por serem eficazes nesta luta, os cidadãos
podendo neles se reconhecer.

(ROSENFIELD, Denis Lerrer. A pandemia, o sentido da vida e a política. Publicado em O


Estado de S. Paulo de 30 de março de 2020. Disponível
em:https://opiniao.estadao.com.br/noticias/espaco-aberto,a-pandemia-o-sentido-da-vida-e-
a-politica,70003252502). Acesso em 30 de março de 2020.

14 [ 200595 ]. Analise as seguintes afirmações, considerando elementos que organizam a


sintaxe do texto, e marque a alternativa correta:
a) No enunciado “A pandemia, o isolamento e o medo põem questões que vão mais além
das relativas a como levar uma vida ‘normal’, por produzirem indagações sobre o próprio
sentido da vida” (ref. 1), o verbo “põem” concorda com o sujeito “a pandemia, o
isolamento e o medo”; já o verbo “produzirem” concorda com o sujeito “indagações”.
b) No enunciado “No entanto, os sentimentos e emoções daí resultantes não são
necessariamente os mesmos, pois as pessoas não se isolam, mas vêm a cumprir uma
função social junto ao Estado, sob a forma da defesa da pátria.” (ref. 10), a expressão “os
mesmos” é sujeito, pois retoma “os sentimentos e emoções”.
c) No enunciado “a renda, a escola das crianças, a sociabilidade profissional e a familiar, o
amor, a amizade, o ir às compras.” (ref. 5), o acento indicativo de crase justifica-se em
função de o verbo “ir” pedir a preposição “a” e o substantivo “compras” pedir o artigo
feminino “as”.
d) No enunciado “Tem a forma do invisível, que só é sentido quando toma conta do corpo
das pessoas. Palavras não têm sobre ele nenhum efeito, apenas medidas concretas.” (ref.
28), o verbo “tem” não é acentuado porque se refere ao sujeito simples “coronavírus (ref.
25); o “têm” está acentuado, pois se refere ao sujeito composto “palavras” (ref. 29).
e) No enunciado “O contato presencial das pessoas, para além desses núcleos, é rompido.”
(ref. 17), o verbo “é” está mal empregado, pois deveria estar no plural, já que concorda
com a locução “das pessoas”.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Quarto de Despejo – Diário de uma Favelada
Carolina Maria de Jesus

17 DE MAIO Levantei nervosa. Com vontade de morrer. 1Já que os pobres estão mal
colocados, para que viver? 2Será que os pobres de outro país sofrem igual aos pobres do
Brasil? 3Eu estava 4discontente que até cheguei a brigar com o meu filho José Carlos sem
motivo...
... 5Chegou um caminhão aqui na favela. O motorista e o seu ajudante jogam umas
latas. É linguiça enlatada. Penso: é assim que fazem esses comerciantes insaciaveis. Ficam
esperando os preços subir na ganancia de ganhar mais. E quando apodrece jogam para os
corvos e os infelizes favelados.
6
Não houve briga. 7Eu até estou achando 8isso aqui monotono. Vejo as crianças abrir
as latas de linguiça e exclamar satisfeitas:
_ Hum! Tá gostosa!
A Dona Alice deu-me uma para experimentar. 9Mas a lata está estufada. Já está
podre.

Trecho disponível em: JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo – diário de uma favelada.
São Paulo: Ática, 2001.

15 [ 193801 ]. Considerando a norma culta da língua portuguesa, observa-se um desvio


quanto à flexão verbal em
a) “Vejo as crianças abrir as latas e exclamar satisfeitas.”
b) “A Dona Alice deu-me uma para experimentar.”
c) “O motorista e o seu ajudante jogam umas latas.”
d) “É assim que fazem esses comerciantes insaciáveis.”
e) “Mas a lata está estufada.”

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


São Paulo – Os olhos do Brasil e do mundo se voltam para a maior floresta tropical e
maior reserva de biodiversidade da Terra. Milhares de mensagens de alerta em diferentes
línguas circulam nas redes sociais com a hashtag #PrayForAmazonia. A razão não poderia ser
pior: a Amazônia arde em chamas.
O bioma é o mais afetado pela maior onda de incêndios florestais no Brasil em sete
anos. Não há novidade no fenômeno em si. A Amazônia sempre sofreu com queimadas
ligadas à exploração de terra. Mas como isso chegou tão longe?
Segundo dados do Inpe, o número de focos de incêndio florestal aumentou 83%
entre janeiro e agosto de 2019 na comparação com o mesmo período de 2018. Desde 1º de
janeiro até a terça-feira [20.08.2019] foram contabilizados 74.155 focos, alta de 84% em
relação ao mesmo período do ano passado. É o número mais alto desde que os registros
começaram, em 2013. A última grande onda é de 2016, com 66.622 focos de queimadas
nesse período.
Combinado a períodos de seca severa, o desmatamento e a prática de queimadas
podem gerar um saldo final incendiário. O que causa estranheza aos especialistas nos
eventos de 2019, porém, é que a seca não se mostra tão severa como nos anos anteriores e
tampouco houve eventos climáticos extremos, como o El Niño, que justifiquem um aumento
considerável nos focos de incêndio. Além disso, os tempos de seca mais severos ocorrem
geralmente no mês de setembro. Ou seja: a mão do homem pesou, e muito, para a alta
neste ano.

(Vanessa Barbosa. “Inferno na floresta: o que sabemos sobre os incêndios na Amazônia”.


https://exame.abril.com.br, 23.08.2019. Adaptado.)

16 [ 194106 ]. Assinale a alternativa que atende à norma-padrão de concordância verbal.


a) O Brasil e o mundo põe-se a olhar com preocupação para a maior floresta tropical do
planeta, que as queimadas afetou.
b) Grande parte dos prejuízos à biodiversidade decorrem da combinação de períodos de
seca severa com o desmatamento e queimadas.
c) Não se vê novidades quando se fala em queimadas na Amazônia, já que elas ocorrem com
frequência na região.
d) Dados do Inpe sugerem que, nos últimos anos, têm havido aumento expressivo no
número de focos de incêndio florestal.
e) Em sete anos, a onda de incêndios florestais no Brasil foram maiores, deixando a
Amazônia arder em chamas.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Da sua janela, ponto 1culminante da Travessa das Acácias, o Prof. Clarimundo 2viaja o
3
olhar pela paisagem. No pátio de D. Veva um cachorro magro fuça na lata do lixo. Mais no
fundo, um pomar com 4bergamoteiras e 5laranjeiras pontilhadas de frutos dum amarelo de
gemada. Quintais e telhados, fachadas cinzentas com a boca aberta das janelas. Na frente da
sapataria do Fiorello, dois homens conversam em voz 6alta. A fileira das acácias se estende
rua afora. As sombras são dum violeta profundo. O céu está 7levemente enfumaçado e a luz
do sol é de um amarelo oleoso e fluido. Vem de outras ruas a trovoada dos bondes atenuada
pela distância. Grasnar de buzinas. Num trecho do Guaíba que se avista longe, entre duas
paredes caiadas, passa um veleiro.
Para Clarimundo tudo é novidade. Esta hora é uma espécie de parêntese que ele
abre em sua vida interior, para contemplar o mundo chamado real. E ele verifica, com
divertida surpresa, que continuam a existir 8os cães e as latas de lixo, apesar de Einstein. O
sol brilha e os veleiros passam sobre as águas, 9não obstante Aristóteles. 10Seus olhos
contemplam a paisagem com a alegria meio inibida 11duma criança que, vendo-se de repente
solta num bazar de brinquedos maravilhosos, não quer no primeiro momento acreditar no
12
testemunho de seus próprios olhos.
Clarimundo debruça-se 13à janela... Então tudo isto existia antes, 14enquanto ele
passava 15_____ horas 16_____ voltas com números e teorias e 17cogitações, tudo isto tinha
realidade? (Este pensamento é de todas as tardes à mesma hora: mas a surpresa é sempre
nova.) 17E 18depois, quando ele voltar para os livros, para as aulas, para dentro de si mesmo,
a vida ali fora continuará assim, sem o menor hiato, sem o menor colapso?
Um galo canta num quintal. Roupas brancas se balouçam ao vento, pendentes de
cordas. Clarimundo ali está como um deus onipresente que 19tudo vê e ouve. A impressão
que 20_____ causam aquelas cenas domésticas 21_____ levam a pensar no seu livro.
A sua obra... Agora ele já não enxerga mais a paisagem. O mundo objetivo se
22
esvaeceu 23misteriosamente. Os olhos do professor estão fitos na fachada amarela da casa
fronteira, 24mas o que ele vê agora são as suas próprias teorias e ideias. Imagina o livro já
impresso... Sorri, exterior e 25interiormente. O leitor (a palavra leitor corresponde, na mente
de Clarimundo, à imagem dum homem debruçado sobre um livro aberto: e esse homem –
extraordinário! – é sempre o sapateiro Fiorello) – o leitor vai se ver diante dum assunto
inédito, diferente,
original.

Adaptado de: VERISSIMO. Erico. Caminhos Cruzados. 26. ed. Porto Alegre/Rio de Janeiro:
Editora Globo, 1982. p. 57-58.

17 [ 192312 ]. Se a expressão duma criança (ref. 11) fosse substituída por de crianças,
quantas outras palavras, no segmento que vai da referência 10 ao final do parágrafo,
deveriam sofrer alterações para fins de concordância?
a) Uma.
b) Duas.
c) Três.
d) Quatro.
e) Cinco.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Por trás da “boa aparência”: o racismo em números no mercado.

“Precisa-se de moça de boa aparência para auxiliar de dentista. Rua Boa Vista, 11,
primeiro andar.” 1O 2anúncio publicado no Estado de São Paulo, em junho de 1914, 3contém
uma expressão de uso bastante comum até 2006, quando foi proibida por 4viés
discriminatório. Para 70% dos brasileiros, 5“boa aparência” não é apenas um código para
cabelos lisos e pele clara, é um sintoma da discriminação racial ainda presente no 6país em
que mais da metade da população se autodeclara negra.
“Precisamos refletir sobre o significado da compreensão de que vivemos em um país
racialmente harmônico, que ainda está presente em nosso imaginário. Pela noção de
democracia racial, dizemos que o racismo não existe e, se a população negra vive em
desvantagem social, é porque não se esforçou o suficiente”, explica Giselle dos Anjos Santos,
doutoranda em História Social pela USP e consultora do Centro de Estudos das Relações de
Trabalho e Desigualdades (CEERT), organização pioneira na promoção da equidade racial e
de gênero no mercado de trabalho no Brasil.
Na 7área de recrutamento e seleção por quase uma década, a ex-recrutadora Marion
Caruso vivenciou de perto as 8inconsistências entre discurso e prática relacionadas __1__
aceitação racial dentro do mercado de trabalho. “Me pediam que não enviasse pessoas
negras para as vagas porque tinham ‘cara de empregadinha’”. Com demandas como __2__
que Marion recebia, não é difícil imaginar por que a expectativa de que o Brasil alcance
__3__ igualdade racial no mercado de trabalho é de 150 anos, 9segundo uma pesquisa
realizada pelo Instituto Ethos em 2016.
Os números não param de alarmar. 10Ainda de acordo com o Ethos, embora 54% da
população brasileira seja negra, eles ocupam apenas 5% dos cargos de liderança nas maiores
empresas do país. Quando se fala em mulheres pretas e pardas em altos cargos de chefia,
esse índice chega a menos de 1%. O espaço para homens e mulheres negros vai se
11
afunilando conforme os cargos vão ficando cada vez mais altos: na base da pirâmide
12
corporativa, os aprendizes negros chegam a ultrapassar os brancos.
Giselle explica que, ao longo da história, a sociedade brasileira se construiu nas bases
do racismo. Daí a desigualdade e falta de oportunidades. “Todos os indicadores sociais
refletem __4__ desigualdades colocadas”, explica a estudiosa. A mulher negra tem 50% mais
chances de estar desempregada do que qualquer outro grupo da nossa sociedade. 13É
fundamental que pensemos em ações afirmativas que venham no sentido de superar as
desigualdades históricas.”
Mesmo que o número de estudantes negros nas universidades federais tenha
triplicado na última década, garantindo a qualificação necessária para as vagas, a consultora
e pesquisadora alerta que as barreiras começam muito antes do 14recrutamento. “Existe
uma lógica de rede de informação e contato. Quando perguntados nos censos desenvolvidos
pelo CEERT em diferentes instituições como ficaram sabendo de determinada vaga, os
profissionais brancos respondem que souberam por parentes e amigos. 15A realidade é
diferente para pessoas negras, cujos familiares geralmente trabalharam a vida toda no setor
informal.” [...]

Publicado em 23/08/19, por Nayara Fernandes, no portal de notícias R7. Disponível em:
<https://noticias.r7.com/economia/por-tras-da-boa-aparencia-o-racismo-em-numeros-no-
mercado-23082019>. Acesso em: 25 ago. 2019 (Texto adaptado para fins didáticos).

18 [ 194571 ]. Se o período “O anúncio publicado no Estado de São Paulo, em junho de


1914, contém uma expressão de uso bastante comum até 2006, quando foi proibida por viés
discriminatório”. (referência 1), fosse passado para o plural, sem alteração de sentido, qual
das reformulações abaixo estaria correta?
a) Os anúncios publicados no Estado de São Paulo, em junho de 1914 contêm expressões de
usos bastantes comuns até 2006, quando foram proibidas por vieses discriminatórios.
b) Os anúncios publicados no Estado de São Paulo, em junho de 1914, contêm expressões de
uso bastante comum até 2006, quando foram proibidas por viés discriminatório.
c) Os anúncios publicados no Estado de São Paulo, em junho de 1914, contém expressões de
uso bastante comum até 2006, quando foram proibidas por vieses discriminatórios.
d) Os anúncios publicados no Estado de São Paulo, em junho de 1914, contém expressões de
uso bastante comum até 2006, quando foram proibidas por viés discriminatório.

19 [ 204377 ]. Analise as frases a seguir quanto à concordância verbal.

I. Para que se tenha boas safras, deve-se plantar boas sementes e torcer para que hajam
chuvas suficientes.
II. Fomos nós quem fez o trabalho de coleta dos dados que se incluíram no relatório.
III. Sobre essas diferentes interpretações, verificou-se duas tendências de ordem ideológica:
existe pessoas que acredita nas vacinas e existe pessoas que as defende.
IV. Erros de cálculo pode haver quanto ao percentual de habitantes imunizados e, por isso,
serão refeitas as planilhas.
V. Deviam ser duas horas da manhã quando chegaram em casa os adolescentes.
VI. Durante a assembleia da ONU, realizou-se, no final da tarde, algumas eleições para
diversos órgãos que compõe o organograma da instituição.

São CORRETAS as frases:


a) I – III – IV
b) II – III – VI
c) II – IV – V
d) I – V – VI

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:


A feminização da medicina no Brasil

O mundo assiste à progressiva diminuição nas diferenças de gênero, com a remoção


de barreiras que impedem as mulheres de ter o mesmo acesso que os homens à educação,
às oportunidades de trabalho e aos benefícios sociais. No Brasil, em paralelo à crescente
predominância feminina na população, registram-se o crescimento da escolaridade feminina
e a maior presença das mulheres nos diversos setores da atividade econômica.
Essas mudanças das últimas décadas também se refletem na presença cada vez
maior de mulheres na medicina brasileira. Tal transformação poderá constituir-se em
elemento estruturante da evolução da profissão, com consequências nas práticas médicas e
na qualidade da sua assistência. O crescimento da participação feminina na profissão fica
evidente na evolução do número de mulheres que entram no mercado de trabalho.
Segundo pesquisas, os homens predominam nas especialidades cirúrgicas e naquelas
que atendem urgências, como a ortopedia. A ideia de que há necessidade de mais força e
resistência física, maior disponibilidade de tempo, assim como compatibilização entre as
práticas profissionais e a vida familiar são os principais motivos que afastam as mulheres de
determinadas especialidades. Nesse sentido, a opção das médicas brasileiras tem sido pelas
especialidades básicas, como pediatria e ginecologia/obstetrícia.
Na perspectiva bioética, mulheres e homens podem divergir na maneira de perceber
problemas no exercício profissional da medicina. A “ética do cuidado”, relacionada à atuação
das mulheres, e a “ética da justiça”, à dos homens, permitem uma reflexão bioética que
considere a oposição entre valores humanos e afetivos, supostamente mais “femininos”, e
valores científicos e racionais, que seriam mais “masculinos”.
Portanto, essa diversidade revela que a feminização da medicina requererá novas
análises bioéticas que possam contribuir para a compreensão da dimensão dinâmica do
fenômeno.
SCHEFFER, M.C.; CASSENOTE, A.J.F. Revista Bioética, v. 21, n. 2, 2013. Disponível em:
<https://revistabioetica.cfm.org.br>. Acesso em: 13 ago. 2021. Adaptado.

20 [ 203309 ]. A forma verbal destacada atende às exigências de concordância de acordo


com a norma-padrão da língua portuguesa em:
a) No Brasil, encontram-se excelentes profissionais femininas em muitas áreas de atividade,
o que revela uma tendência mundial na atualidade.
b) Como as mulheres costumam cuidar dos filhos e da casa, precisam-se de leis que
garantam proteção para que sejam atendidas em suas necessidades.
c) Devido às mudanças sociais das últimas décadas, constata-se situações de conflito na vida
privada das famílias brasileiras porque a mulher deseja profissionalizar-se.
d) Com o objetivo de compreender o avanço da feminização da medicina, pesquisaram-se,
em várias regiões, a oportunidade de trabalho oferecida às mulheres.
e) Em diferentes fases da escolaridade, observa-se estudantes do sexo feminino cada vez
mais dedicadas, configurando-se uma modificação sociocultural significativa.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


No país da biodiversidade, faltam recursos para gerir os nossos parques

1
Quem já visitou 2algum 3parque brasileiro certamente se surpreendeu com 4tamanha
exuberância cênica 5desses locais. 6Não por acaso, 7nossos parques conservam uma rica
biodiversidade − uma das maiores do mundo − cuja excepcionalidade projetou algumas
8
dessas áreas ao patamar de patrimônio natural da humanidade. 9Enquanto a natureza nos
dá motivos de sobra para enaltecer nossos parques, 10a realidade de escassez e limitação de
recursos para a gestão e manutenção dessas áreas tem comprometido grande parte do seu
potencial gerador de desenvolvimento, saúde e bem-estar − para não mencionar a
vulnerabilidade a que sua fauna e flora ficam expostas.
11
Esse retrato de limitações foi capturado na edição recém-lançada da pesquisa
Diagnóstico de Uso Público em Parques Brasileiros: A Perspectiva da Gestão, produzida pelo
Instituto Semeia junto a equipes gestoras de 370 parques de todas as regiões, biomas e
níveis governamentais do país. 12O sinal de alerta dessa escassez foi declarado por 67% dos
respondentes, que afirmaram não contar com subsídios − humanos e financeiros −
necessários para a realização de suas atividades no parque.
13
Ainda de acordo com a pesquisa, grande parte (49%) das equipes que administram
essas áreas conta somente com até 10 funcionários, ao passo que 9% possuem apenas um
colaborador. Na prática, isso quer dizer que, no caso dos parques nacionais, há um único
responsável, em média, por quase 11 mil hectares − o que equivale a cerca de 11 mil campos
de futebol. 14Já na esfera estadual, seria um funcionário para, aproximadamente, 2 mil
hectares e, na municipal, um funcionário para 58 hectares.
15
Quando o assunto é a gestão financeira desses espaços, além da escassez de
recursos, o cenário é também de falta de informação: 40% dos respondentes declaram não
ter acesso aos dados orçamentários das unidades em que atuam. Entre os que têm acesso a
esses números, seja de forma parcial ou total, o valor médio do orçamento em 2019 para os
parques federais foi de R$ 790 mil, para os municipais, de R$ 800 mil, e os estaduais, R$ 9,6
milhões.
16
Para se ter uma ideia, o National Park Service (órgão norte-americano responsável
por 421 unidades distribuídas em 34 milhões de hectares) teve em 2019 um orçamento de
USD 2,4 bilhões. No mesmo ano, o orçamento do Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio) foi de USD 142,6 milhões (em reais, 791 milhões), para administrar
uma área cinco vezes maior (se considerarmos unidades de conservação terrestres e
marinhas).
17
Tudo isso se reflete nas condições de visitação e no uso público dos parques
brasileiros. 18Mais da metade declara não contar com infraestrutura básica para receber
visitantes − como banheiros e estacionamento, por exemplo. E, entre as unidades que
receberam visitantes em 2019 (79%), apenas 7% afirmam contar com uma estrutura que
garante plenamente as necessidades básicas de visitação, enquanto somente 11%
consideram que a manutenção das estruturas está em excelente estado.
19
Esses dados evidenciam uma triste contradição: 20se, por um lado, nossos parques
possuem belezas naturais únicas, equipes altamente qualificadas e experientes, além de um
potencial turístico promissor, por outro, tudo isso se arrefece com a precariedade observada
na implementação e manutenção das atividades de uso público na maioria deles. Basta
pensar que, em 2019, o Brasil foi listado pelo Fórum Econômico Mundial como 2º lugar em
recursos naturais, mas figura somente na 32ª colocação do ranking global de
competitividade turística.
21
Alcançar um patamar condizente à altura do nosso capital natural é mais do que
possível. 22Para isso, faz-se necessário fortalecer os órgãos gestores dessas áreas e avançar
numa agenda mais moderna, empreendedora e sustentável voltada à gestão desses espaços.
E, nesse sentido, as parcerias e concessões podem ser uma alternativa possível − já
experimentadas em alguns parques brasileiros internacionalmente reconhecidos como
Igraçu e Chapada dos Veadeiros, por exemplo − para apoiar as equipes gestoras a
potencializar a visitação, o turismo e a conservação. 23Afinal de contas, quanto mais os
brasileiros conhecerem o seu patrimônio natural, maior será a conscientização sobre o valor
e a necessidade de cuidar dessas áreas.
(HADDAD, Mariana (Coordenadora de Conhecimento do Instituto Semeia e responsável pela
pesquisa); REZENDE, Aline (Coordenadora de Comunicação do Instituto Semeia). No país da
biodiversidade, faltam recursos para gerir os nossos parques. Publicado em Exame de 27 de
abril de 2021. Disponível em: https://exame.com/blog/opiniao/no-pais-da-biodiversidade-
faltam-recursos-para-gerir-os-nossos-parques/. Acesso em 02 de maio de 2021). Texto
adaptado para esta prova.

21 [ 200888 ]. Assinale a alternativa correta em relação aos elementos que organizam a


sintaxe do texto:
a) No enunciado “Mais da metade declara não contar com infraestrutura básica para receber
visitantes – como banheiro e estacionamento, por exemplo”. (ref. 18), o verbo “declara”
concorda com o termo metade, mesmo a oração iniciando com a expressão quantitativa
“mais de”.
b) No enunciado “... a realidade de escassez e limitação de recursos para a gestão e
manutenção dessas áreas tem comprometido grande parte do seu potencial gerador de
desenvolvimento, saúde e bem-estar...” (ref. 10), o verbo “tem” deveria estar acentuado,
pois está no plural, uma vez que concorda com a expressão “gestão e manutenção dessas
áreas”.
c) No enunciado “Ainda de acordo com a pesquisa, grande parte (49%) das equipes que
administram essas áreas conta somente com até 10 funcionários, ao passo que 9%
possuem apenas um colaborador” (ref. 13), o verbo “conta” concorda com a expressão
“grande parte”, mas poderia estar no plural, mantendo um paralelismo sintático com o
verbo “administram”.
d) No enunciado “Alcançar um patamar condizente à altura do nosso capital natural é mais
do que possível” (ref. 21), o acento indicativo de crase justifica-se pelo fato de o verbo
“alcançar” exigir a preposição “a” e o substantivo “altura” admitir o artigo “a”.
e) No enunciado “O sinal de alerta dessa escassez de recursos foi declarado por 67% dos
respondentes, que afirmaram não contar com subsídios – humanos e financeiros –
necessários para a realização de suas atividades no parque” (ref. 12), poderíamos
substituir “para a” por “a” sem o acento indicativo de crase, uma vez que não temos na
oração um verbo que exija a preposição “a”.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Nunca imaginei um dia
Até alguns anos atrás, eu costumava dizer frases como “eu jamais vou fazer isso” ou
“nem morta eu faço aquilo”, limitando minhas possibilidades de descoberta e emoção. Não
é fácil libertar-se do manual de instruções que nos autoimpomos. Às vezes, leva-se uma vida
inteira, e nem assim conseguimos viabilizar esse projeto. Por sorte, minha ficha caiu há
tempo.
Começou quando iniciei um relacionamento com alguém completamente diferente
de mim, diferente a um ponto radical mesmo: ele, por si só, foi meu primeiro "nunca
imaginei um dia". Feitos para ficarem a dois planetas de distância um do outro. Mas o amor
não respeita a lógica, e eu, que sempre me senti tão confortável num mundo planejado
inaugurei a instabilidade emocional na minha vida. Prendi a respiração e dei um belo
mergulho.
A partir daí, comecei a fazer coisas que nunca havia feito. Mergulhar, aliás, foi uma
delas. Sempre respeitosa com o mar e chata para molhar os cabelos afundei em busca de
tartarugas gigantes e peixes coloridos no mar de Fernando de Noronha. Traumatizada com
cavalos (por causa de um equino que quase me levou ao chão quando eu tinha oito anos),
participei da minha primeira cavalgada depois dos 40, em São Francisco de Paula. Roqueira
convicta e avessa a pagode, assisti a um show do Zeca Pagodinho na Lapa. Para ver o
Ronaldo Fenômeno jogar ao vivo, me infiltrei na torcida do Olímpico num jogo entre Grêmio
e Corinthians, mesmo sendo colorada.
Meu paladar deixou de ser monótono: comecei a provar alimentos que nunca havia
provado antes. E muitas outras coisas vetadas por causa do "medo do ridículo" receberam
alvará de soltura. O ridículo deixou de existir na minha vida.
Não deixei de ser eu. Apenas abri o leque, me permitindo ser um “eu” mais amplo. E
sinto que é um caminho sem volta.
Um mês atrás participei de outro capítulo da série “Nunca imaginei um dia”. Viajei
numa excursão, eu que sempre rejeitei essa modalidade turística. Sigo preferindo viajar a
dois ou sozinha, mas foi uma experiência fascinante, ainda mais que a viagem não tinha
como destino um país do circuito Elizabeth Arden (Paris-Londres-Nova York), mas um país
africano, muçulmano e desértico. Aliás, o deserto de Atacama, no Chile, será meu provável
“nunca imaginei um dia” do próximo ano.
E agora cometi a loucura jamais pensada, a insanidade que nunca me permiti, o ato
que me faria merecer uma camisa-de-força: eu, que nunca me comovi com bichos de
estimação, adotei um gato de rua.
Pode colocar a culpa no espírito natalino: trouxe um bichano de três meses pra casa,
surpreendendo minhas filhas, que já haviam se acostumado com a ideia de ter uma mãe
sem coração. E o que mais me estarrece: estou apaixonada por ele.
Ainda há muitas experiências a conferir: fazer compras pela internet, andar num
balão, cozinhar dignamente, me tatuar, ler livros pelo kindle, viajar de navio e mais umas 400
coisas que nunca imaginei fazer um dia, mas que já não duvido. Pois tem essa também:
deixei de ser tão cética.
Já que é improvável que o próximo ano seja diferente de qualquer outro, que a
novidade sejamos nós.

Medeiros, Martha. Nunca Imaginei um dia. 2009. Disponível em:


http://alagoinhaipaumirim.blogspot.com/2009/12/nunca-imaginei-um-dia-martha-
medeiros.html. Acesso em: 10 fev. 2021.

22 [ 203253 ]. No que se refere à concordância verbal, analise as frases abaixo.

I. No próximo mês, vão fazer 10 anos que eu participei da minha primeira cavalgada depois
dos 40 anos de idade.
lI. Provavelmente, vão existir muitas outras experiências marcantes, tais como: me tatuar,
andar num balão, viajar de navio etc.
III. Com certeza, não foram as minhas duas filhas quem trouxe um pequeno bichano de três
meses para a nossa casa.
IV. Admite-se, na nossa família, pessoas muito aventureiras e abertas a novas e empolgantes
experiências de vida.

Está correto o que se afirma em


a) I, II, III e IV.
b) I, III e IV apenas.
c) II, III e IV apenas.
d) II e III apenas.
e) III e IV apenas.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Como o comportamento de manada explica adesão impensada aos ativismos políticos

O ativismo se expressa, sobretudo, através de movimentos coletivos. Mas essa


própria noção de coletividade pode ser uma pressão para pessoas participarem de um
movimento simplesmente para sentirem que fazem parte de algo: a chamada “mob
mentality” ou comportamento de manada é um instrumento político e uma arma para
promover a agenda de grupos específicos.
A teoria psicológica de “comportamento de manada” sugere que seres humanos têm
maior probabilidade de adotar determinados comportamentos porque seus amigos, colegas
de trabalho e vizinhos já o adotam. Basicamente, ninguém quer ser o primeiro ou o último a
fazer algo, mas sim estar seguro e inserido em um determinado grupo social.
“Se a questão é o que fazer com uma caixa de pipoca vazia em um cinema, com que
rapidez dirigir em um determinado trecho de rodovia ou como comer o frango em um
jantar, as ações das pessoas ao nosso redor serão importantes para definir nossa resposta”,
diz o psicólogo Robert Cialdini, autor de “Influência: A Psicologia da Persuasão”.
A mesma lógica se aplica a ideologias políticas: um estudo da Universidade da
Califórnia em Berkeley constatou que as pessoas tendem a alinhar suas opiniões políticas às
do grupo em que estão inseridas.
O experimento reuniu 63 pessoas de duas cidades do Colorado: o primeiro de
Boulder, um município com maioria de esquerda, enquanto o outro reunia pessoas de
Colorado Springs. Ambos os grupos discutiram aquecimento global, ações afirmativas e
união civil para casais do mesmo sexo.
Nas duas discussões, o principal efeito foi tornar os membros do grupo mais
extremos em suas opiniões, comparado ao que eram antes de começarem a conversar. Ou
seja: progressistas se tornaram mais progressistas nas três questões, enquanto
conservadores se tornaram mais conservadores.
“Todos queremos tomar decisões melhores. Estudos identificam os papéis benéficos
das estruturas de diversidade de pensamento, subgrupo e liderança plana na otimização de
ideias e resolução de problemas”, diz Zac Baynham-Herd, analista da prática de ciências
comportamentais da Ogilvy Consulting. “À medida que a atividade online cresce, o potencial
de proliferação de 'ovelhas negras' e ‘comportamento de manada’ também aumenta”,
acrescenta.

Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/como-o-comportamento-de-


manada-explica-adesao-impensada-aos-ativismos-politicos/>. Acesso em: 23 set. 2019.
Publicado em 22 set. 2019. [Fragmento adaptado].

23 [ 192374 ]. Considerando o texto, assinale a alternativa correta.


a) A frase “Ou seja: progressistas se tornaram mais progressistas nas três questões,
enquanto conservadores se tornaram mais conservadores” mantém o mesmo significado
se for reescrita da seguinte forma: “isso quer dizer que se os progressistas se tornaram
mais progressistas então os conservadores se tornaram mais conservadores”.
b) Em “[...] um estudo da Universidade da Califórnia em Berkeley constatou que as pessoas
tendem a alinhar suas opiniões políticas às do grupo em que estão inseridas”, o vocábulo
“às” é constituído pela combinação da preposição “a” mais o artigo definido “as”.
c) Em “A mesma lógica se aplica a ideologias políticas [...]”, faltou indicar a ocorrência de
crase em “à ideologias políticas”.
d) Em “[...] seres humanos têm maior probabilidade de adotar determinados
comportamentos porque seus amigos, colegas de trabalho e vizinhos já o adotam”, há um
erro de concordância nominal.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Precisamos falar sobre fake news

Minha mãe tem 74 anos e, como milhões de pessoas no mundo, faz uso frequente do
celular. É com ele que, conversando por voz ou por vídeo, diariamente, vence a distância e a
saudade dos netos e netas.
Mas, para ela, assim como para milhares e milhares de pessoas, o celular pode ser
também uma fonte de engano. De vez em quando, por acreditar no que chega por meio de
amigos no seu WhatsApp, me envia uma ou outra mensagem contendo uma fake news. A
última foi sobre um suposto problema com a vacina da gripe que, por um momento,
diferente de anos anteriores, a fez desistir de se vacinar.
Eu e minha mãe, como boa parte dos brasileiros, não nascemos na era digital. Nesta
sociedade somos os chamados migrantes e, como tais, a tecnologia nos gera um certo
estranhamento (e até constrangimento), embora nos fascine e facilite a vida.
Sejamos sinceros. Nada nem ninguém nos preparou para essas mudanças que
revolucionaram a comunicação. Pior: é difícil destrinchar o que é verdade em tempo de fake
news.
Um dos maiores estudos sobre a disseminação de notícias falsas na internet,
publicado ano passado na revista "Science", foi realizado pelo Instituto de Tecnologia de
Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, e concluiu que as notícias falsas
se espalham 70% mais rápido que as verdadeiras e alcançam muito mais gente.
Isso porque as fake news se valem de textos alarmistas, polêmicos, sensacionalistas,
com destaque para notícias atreladas a temas de saúde, seguidas de informações mentirosas
sobre tudo. Até pouco tempo atrás, a imprensa era a detentora do que chamamos de
produção de notícias. E os fatos obedeciam, a critérios de apuração e checagem.
O problema é que hoje mantemos essa mesma crença, quase que religiosa, junto a
mensagens das quais não Identificamos sequer a origem, boa parte delas disseminada em
redes sociais. Confia-se a ponto de compartilhar, sem questionar.
O impacto disso é preocupante. Partindo de pesquisas que mostram que notícias e
seus enquadramentos influenciam opiniões e constroem leituras da realidade, a
disseminação das notícias falsas tem criado versões alternativas do mundo, da História, das
Ciências "ao gosto do cliente", como dizem por aí.
Os problemas gerados estão em todos os campos. No âmbito familiar, por exemplo,
vai de pais que deixam de vacinar seus filhos a ponto de criar um grave problema de saúde
pública de impacto mundial. E passa por jovens vítimas de violência virtual e física.
No mundo corporativo, estabelecimentos comerciais fecham portas, profissionais
perdem suas reputações e produtos são desacreditados como resultado de uma foto
descontextualizada, uma Imagem alterada ou uma legenda falsa.
A democracia também se fragiliza. O processo democrático corre o risco de ter sua
força e credibilidade afetadas por boatos. Não há um estudo capaz de mensurar os danos
causados, mas iniciativas fragmentadas já sinalizam que ela está em risco.
Estamos em um novo momento cultural e social, que deve ser entendido para
encontrarmos um caminho seguro de convivência com as novas formas e ferramentas de
comunicação.
No Congresso Nacional, tramitam várias iniciativas nesse sentido, que precisam ser
amplamente debatidas, com a participação de especialistas e representantes da sociedade
civil.
O problema das fake news certamente passa pelo domínio das novas tecnologias,
com instrumentos de combate ao crime, mas, também, pela pedagogia do esclarecimento.
O que posso afirmar, é que, embora não saibamos ainda o antídoto que usaremos
contra a disseminação de notícias falsas em escala industrial, não passa pela cabeça de
ninguém aceitar a utilização de qualquer tipo de controle que não seja democrático.

D.A., O Globo, em 10 de julho de 2019.

24 [ 195708 ]. No que se refere às normas da concordância verbal, observe as proposições.


I. Contra a disseminação de notícias falsas, tramitam, no Congresso Nacional, inúmeras
iniciativas amplamente debatidas.
II. Nem o Congresso nem a justiça mensura os danos causados pelos boatos mentirosos e
enganadores ao mundo corporativo.
III. Durante multo tempo, acreditou-se, sem questionar, nos meios de comunicação de
massa, principalmente, nos jornais impressos.
IV. Hoje em dia, eu estou bem certo de que somos nós que devemos coibir a disseminação
de notícias falsas em escala industrial.

As proposições que estão de acordo com as normas de concordância verbal são:


a) I e II.
b) II e III.
c) I, III e IV.
d) III e IV.
e) II, III e IV.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


A antiga arte de contar histórias

1
Talvez não seja coisa de genoma, 2mas podemos garantir que contar e ouvir histórias
são coisas que fazem parte da natureza humana. Histórias, em primeiro lugar, representam
um 3antídoto contra a ansiedade em nós despertada pelas interrogações que todas as
culturas se fazem sobre o universo e sobre a existência. Para 4os povos ditos primitivos,
fenômenos naturais 5como a 6aurora, o crepúsculo, as chuvas 7envolvem um elemento de
mistério para o qual o mito é a resposta. Mito: na linguagem comum, o termo tem uma
8
conotação que às vezes envolve fama e mistério (o mito Greta Garbo é um exemplo
ilustrativo), mas, mais frequentemente, significa mentira, lorota; aliás, mitômano é um
mentiroso contumaz. Já os estudiosos do 9mito 10veem-no de forma diferente e muito mais
significativa. O mito é uma narrativa ficcional, sim, frequentemente envolvendo personagens
sobrenaturais, mas que, sendo estória, é vista como História, como algo que realmente
aconteceu num passado distante e que proporciona uma explicação para os fenômenos do
universo em que vivemos. Nesse sentido, o mito é diferente da história folclórica, 11_______
a fábula é um exemplo. 12Mito também não é lenda, que tende a preservar uma figura do
passado (um santo, um herói, um rei), um lugar, um acontecimento. Mas mitos, histórias
folclóricas, lendas – a ficção em geral – dão testemunho dessa paixão humana pela narrativa.
Falamos antes na ansiedade em relação ao universo, mas essa é 13apenas uma das
formas de nossa ansiedade. Existem outras, como a ansiedade da separação, que tem seu
início por volta dos seis meses e que se manifesta por uma reação de angústia quando a
criança tem de se separar dos pais, 14sobretudo da mãe. O quadro desaparece em torno dos
três anos, mas pode retornar à época de entrar na escola e acompanhar o adulto pela vida
toda. A ansiedade de separação manifesta-se sob forma de uma cena típica. É de noite; a
família já jantou, já viu um pouco de tevê. É então que o pai ou a mãe 15_______ para a
criança com o anúncio fatídico: está na hora de ir para cama. 16Está para nascer a criança que
receba com alegria essa notícia, que diga algo como: “Oba, finalmente chegou a hora de
dormir”. Mas todo pai e toda mãe sabem que existe um antídoto para a recusa da criança:
“17Se você for deitar agora, eu lhe conto uma história”. É uma proposta irrecusável. Detalhe:
18
se em vez de contar a história a mãe ou o pai ler a história, podemos ter certeza de que
naquele momento estará nascendo um futuro leitor ou leitora.
18
Há 19duas razões para que a criança se sinta confortada nessa situação. A primeira é
a presença “reasseguradora”, e a voz, do pai ou da mãe. A segunda é a própria história.
Histórias nos dão, se não a certeza, pelo menos a sensação de que as coisas no mundo fazem
sentido, que elas têm um começo, um meio e um final – geralmente um final feliz. 20Aliás,
para a criança, é mais importante o começo da narrativa, o clássico e excitante “era uma
vez” do que o “e aí viveram felizes para sempre”. O final tradicional é mais ou menos
previsível – e isso explica 21_______, no cinema, muitas pessoas levantam antes de o filme
acabar. Pela mesma razão a criança, não raro, adormece antes do final da narrativa.
E isso tudo nos 22leva à obra “Mil e uma noites”, essa coletânea maravilhosa que
atravessou os séculos e chegou até nós por meio de numerosas traduções para línguas
europeias. O início e o elo condutor da obra são bem conhecidos. Enfurecido pela
infidelidade de sua esposa, o rei Shahriyar manda matá-la e, convencido de que todas as
mulheres são pérfidas, ordena a seu vizir que lhe traga uma esposa nova a cada noite.
Casamentos relâmpagos, 23porque as coitadas são executadas ao amanhecer. 24Entra em
cena 25a própria filha do vizir, 26a astuta Scheherazade, que se voluntaria para o matrimônio.
É que ela tem um plano: manter o soberano em suspense com suas histórias, com o que vai
adiando sua execução. No final, e depois de dar à luz três filhos, ela convence o rei de sua
inocência. As histórias das “Mil e uma noites” começaram a ser coletadas por volta do ano
1000. O que explica seu sucesso 27ainda hoje, um milênio depois? Em primeiro lugar, as
próprias histórias, sempre interessantes. Mas há um elemento adicional e muito importante:
Scheherazade é a 28precursora de algo que, sob várias formas, representaria um sucesso
crescente: a narrativa seriada.
O primeiro impulso para isso foi a invenção da imprensa, que permitiu a existência do
livro, do jornal, da revista – do periódico, enfim. E o periódico, por sua vez, permitiu a
serialização da ficção, 29que chegou a seu auge no século 19, durante o qual muitos
escritores populares ganhavam a vida, e, às vezes, faziam fortuna, escrevendo para jornais,
revistas ou fascículos. Muitas das novelas de Charles Dickens foram publicadas dessa
maneira. Os fascículos, impressos em Londres, eram enviados através do oceano para os
Estados Unidos. 30Quando chegava o navio trazendo tais fascículos, multidões acorriam ao
porto: gente ansiosa por saber o que tinha acontecido com a Pequena Nell. No Brasil, o
gênero recebeu a denominação de folhetim e atraiu escritores do porte de um José de
Alencar. “O Guarani” estreou assim, coisa que é fácil de perceber na leitura do livro: os
capítulos são relativamente curtos, têm aproximadamente a mesma extensão e sempre
terminam com um suspense cujo evidente objetivo era fazer o leitor correr à banca no dia
seguinte para acompanhar as aventuras de Peri.
O cinema aproveitou a mesma fórmula nos chamados seriados, filmes de aventuras,
em geral de reduzido orçamento e que contavam sempre com três personagens: o mocinho,
a mocinha e o bandido. O malvado bandido colocava o mocinho ou a mocinha ou ambos em
situações de perigo – a mais clássica sendo aquela que mostra a heroína amarrada aos
trilhos da ferrovia, retorcendo-se desesperada, enquanto o trem se aproxima 31_______ toda
velocidade (no derradeiro segundo, o mocinho a salva). O seriado, em geral, tinha quinze
capítulos; cada capítulo era exibido na matinê de domingo, junto com os dois filmes
principais e desenhos. Exemplos famosos são “Os perigos de Nyoka” e “As aventuras de
Flash Gordon”.
Mas foi com a tevê que a serialização chegou a seu auge. E a forma mais popular são
as novelas. 32Essa forma televisiva atingiu o apogeu em 1978, quando a CBS levou ao ar
“Dallas”, que projetou Larry Hagman e que adicionou à trama o elemento de mistério:
“quem matou J.R.?” era a pergunta que todos os americanos se faziam. Seguiu-se uma
contrapartida brasileira: a morte de Odete Roitman era o grande mistério da novela “Vale
tudo”, de Gilberto Braga, exibida entre 1988 e 1989, com enorme sucesso.
Conclusão: as “Mil e uma noites” fizeram escola. Tivesse nascido no Brasil de agora,
Scheherazade arranjaria facilmente um emprego como escritora de novelas, ganhando um
bom salário. Dúvida: poderia ela 33prescindir da ameaça do ciumento sultão? Talvez sim, mas
nesse caso a pergunta se impõe: de onde tiraria inspiração para suas histórias? Disse Samuel
Johnson, intelectual inglês do século 18, que nada concentra mais a mente do que a certeza
de que se vai ser executado na manhã seguinte. A bela Scheherazade é uma prova disso.

Fonte: SCLIAR, Moacyr. Revista Cult, 13 fev. 2005. Disponível em:


https://revistacult.uol.com.br/home/a-antiga-arte-de-contar-historias/. Acesso em: 4 ago.
2019. (Parcial e adaptado.)

25 [ 200659 ]. Assinale a alternativa que completa, correta e respectivamente, as lacunas


no texto nas referências 11, 15, 21 e 31.
a) da qual, voltam-se, por que, à
b) na qual, voltam-se, porque, a
c) que, volta-se, porque, à
d) que, voltam-se, porquê, à
e) da qual, volta-se, por que, a

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o texto para responder à(s) questão(ões) a seguir.

MOVIMENTOS SOCIAIS: BREVE DEFINIÇÃO

Em linhas gerais, o conceito de movimento social se refere à ação coletiva de um


grupo organizado que objetiva alcançar mudanças sociais por meio do embate político,
conforme seus valores e ideologias, dentro de uma determinada sociedade e de um
contexto específicos, 1permeados por tensões sociais. Os movimentos sociais podem
objetivar a mudança, a transição ou mesmo a revolução de uma realidade hostil a certo
grupo ou classe social. Constroem uma identidade para a defesa de seus interesses, sejam
eles a luta por um algum ideal ou o questionamento de uma realidade que se caracterize
como impeditivo à realização de seus anseios. Tornam-se porta-vozes de um grupo de
pessoas que se encontra numa mesma situação, seja social, econômica, política, religiosa,
entre outras. Gianfranco Pasquino, em sua contribuição ao Dicionário de Política (2004),
organizado por ele, Norberto Bobbio e Nicolau Mateucci, 2afirma que os movimentos sociais
constituem tentativas – pautadas em valores comuns àqueles que compõem o grupo – de
definir formas de ação social para se alcançar determinados resultados.
Por outro lado, conforme aponta Alain Touraine, na obra Em defesa da Sociologia
(1976), para se compreender os movimentos sociais, mais do que pensar em valores e
crenças comuns para a ação social coletiva, seria necessário considerar as estruturas sociais
nas quais os movimentos se manifestam. Cada sociedade ou estrutura social 3teriam como
cenário um contexto histórico (ou historicidades) 4no qual, assim como também apontava
Karl Marx, estaria posto um conflito entre classes, terreno das relações sociais, a depender
dos modelos culturais, políticos e sociais. Assim, os movimentos sociais fariam explodir os
conflitos já postos pela estrutura social (geradora por si só da contradição entre as classes),
sendo uma ferramenta fundamental para a ação com fins de intervenção e mudança dessa
estrutura.
Dessa forma, para além das instituições democráticas como os partidos, as eleições e
o parlamento, a existência dos movimentos sociais 5é de fundamental importância para a
sociedade civil enquanto meio de manifestação e reivindicação. Podemos citar como alguns
exemplos de movimentos: o da causa operária, o movimento negro (contra racismo e
segregação racial), o movimento estudantil, o movimento de trabalhadores do campo, o
movimento feminista, os movimentos ambientalistas, os da luta contra a homofobia, os
separatistas, os movimentos marxista, socialista, comunista, entre outros. Alguns desses
movimentos possuem atuação centralizada em algumas regiões (como no caso de
movimentos separatistas na Europa). Outros, porém, com a expansão do processo de
globalização (tanto do ponto de vista econômico como cultural) e a disseminação de meios
de comunicação e veiculação da informação, rompem fronteiras geográficas em razão da
natureza de suas causas, ganhando adeptos por todo o mundo, a exemplo do Greenpeace,
movimento ambientalista de forte atuação internacional.
A existência de um movimento social requer uma organização muito bem
desenvolvida, o que demanda a mobilização de recursos e pessoas muito 6engajadas. Os
movimentos sociais não se limitam a manifestações públicas esporádicas, mas trata-se de
organizações que sistematicamente atuam para alcançar seus objetivos políticos, o que
significa haver uma luta constante e de longo prazo, dependendo da natureza da causa. Em
outras palavras, os movimentos sociais possuem uma ação organizada de caráter
permanente por uma determinada 7bandeira.

RIBEIRO, Paulo Silvino. Movimentos sociais: breve definição. Brasil Escola. Disponível em:
<https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/movimentos-sociais-breve-definicao.htm>.
Acesso em: 22 set. 2018 (adaptado).

26 [ 186002 ]. Analise alguns fragmentos do texto e marque a alternativa que contém uma
afirmação verdadeira sobre o fenômeno da concordância verbo-nominal presente em cada
um deles.
a) No trecho “Cada sociedade ou estrutura social teriam como cenário um contexto
histórico” (ref. 3 – segundo parágrafo), o verbo sublinhado poderia ser flexionado no
singular, já que a conjunção “ou” implica na ideia de exclusão de um dos núcleos nominais
do sujeito.
b) No trecho “afirma que os movimentos sociais constituem tentativas” (ref. 2 – primeiro
parágrafo), o verbo sublinhado concorda com um sujeito elíptico.
c) No trecho “o que demanda a mobilização de recursos e pessoas muito engajadas” (ref. 6 –
quarto parágrafo), o adjetivo sublinhado vai para o feminino plural, concordando com os
núcleos nominais “mobilização” e “pessoas”.
d) No trecho “a existência dos movimentos sociais é de fundamental importância para a
sociedade civil” (ref. 5 – terceiro parágrafo), o verbo admite o plural, concordando com o
adjunto adnominal “dos movimentos sociais”.
e) No trecho “dentro de uma determinada sociedade e de um contexto específicos,
permeados por tensões sociais” (ref. 1 – primeiro parágrafo), o adjetivo sublinhado vai
para o masculino plural, concordando com os núcleos nominais “sociedade” e “contexto”.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


A política e as políticas

Apesar da multiplicidade de facetas a que se aplica a palavra “política” ___ uma delas
goza de indiscutível unanimidade___ a referência ao poder político___ à esfera da política
institucional. Um deputado ou um órgão de administração pública são políticos para a
totalidade das pessoas. Todas as atividades 1associadas de algum modo à esfera institucional
política, e o espaço onde se realizam, também são políticos. Um comício é uma reunião
política e um partido é uma associação política, um indivíduo que questiona a ordem
institucional pode ser um preso político; as ações do governo, o discurso de um vereador, o
voto de um eleitor são políticos.
Mas há um outro conjunto em que a mesma palavra manifesta-se claramente de um
modo diverso. 2Quando se fala da política da Igreja, isto não se refere apenas às relações
entre a Igreja e as instituições políticas, mas à existência de uma política que se expressa na
Igreja em relação a certas questões como a miséria, a violência, etc. Do mesmo modo, a
política dos sindicatos não se refere unicamente à política sindical, desenvolvida pelo
governo para os sindicatos, mas às questões que dizem respeito à própria atividade do
sindicato em relação aos seus filiados e ao restante da sociedade. A política feminista não se
refere apenas ao Estado, mas aos homens e às mulheres em geral. As empresas 3têm
políticas para realizarem determinadas metas no relacionamento com outras empresas, ou
com os seus empregados. As pessoas, no seu relacionamento cotidiano, desenvolvem
políticas para alcançar seus objetivos nas relações de trabalho, de amor, ou de lazer; dizer
“Você precisa ser mais político” é completamente distinto de dizer “Você precisa se politizar
mais”, isto é, 4“precisa ocupar-se mais da esfera política institucional”.
[...] Não resta dúvida, porém, de que este segundo significado é muito mais vago e
impreciso do que o primeiro. A evolução histórica em relação ao gigantismo das Instituições
Políticas – o Estado onipresente – é acompanhada de uma politização geral da sociedade em
seus mínimos detalhes, por exigir um posicionamento diário frente ao Poder. 5Mas ao
mesmo tempo traz consigo a imposição de normas com que balizar a própria aplicação da
palavra política, procurando determinar o que é e o que não é “política”.
6
Desta forma, oculta-se ao eleitor o seu ser político, atribuindo-se esta qualidade
apenas ao eleito. 7Ou então atribui-se à pessoa um espaço e um tempo determinado para
que exerça uma atividade política, na hora das eleições, quando está na tribuna da Câmara
dos Deputados depois de ter sido eleita, quando senta no palácio para despachar com seus
secretários mesmo sem ter sido eleita. A própria delimitação rígida da política constitui,
portanto, um produto da história; e este é, sem dúvida, o principal motivo pelo qual não
basta ater-se a um significado geral da política, que apagaria todas as figuras com que se
apresentou em sua gênese.
Esta delimitação operada pelo nível institucional traz consigo alterações profundas na
esfera de valores associados à política. Uma conjuntura institucional insatisfatória, pela
corrupção ou pela violência, jamais dissociadas, reflete-se numa desmoralização da atividade
política – politicagem – que pode reverter em apatia e na procura de alternativas 8extra-
institucionais como a luta armada. Ao mesmo tempo, processa-se uma inversão na
valorização da atividade política na própria esfera institucional, em que ela deixa de ser um
direito, passando a ser apenas um dever e uma responsabilidade. Em outras palavras, à
Instituição passa despercebido que a sua é também uma política, assentada na sociedade
com uma proposta de participação, representação e direção. Por esta carência de visão de
relatividade, instaura-se um normativismo absoluto, ocultando-se assim sua natureza.
Interessa perceber que, apesar de haver um significado predominante, que se impõe
em determinadas situações, e que aparece como sendo a política, o que existe na verdade
são políticas.

MAAR, Leo Wolfgang. A política e as políticas. In: ____. O que é política. São Paulo: Abril
Cultural/Brasiliense, 1985. (fragmento)

27 [ 185631 ]. O verbo deve ser flexionado no plural se a expressão destacada for


pluralizada em:
a) Quando se fala da política da Igreja [...] (ref. 2).
b) [...] “precisa ocupar-se mais da esfera política institucional”. (ref. 4).
c) Desta forma, oculta-se ao eleitor o seu ser político [...] (ref. 6).
d) Ou então atribui-se à pessoa um espaço e um tempo determinado [...] (ref. 7).

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


AS CRÔNICAS DE NÁRNIA
Viagens ao fim do mundo, criaturas fantásticas e batalhas épicas entre o bem e o mal
– o que mais um leitor poderia querer de um livro? O livro que tem tudo isso é “O leão, a
feiticeira e o guarda-roupa”, escrito em 1949 por Clive Staples Lewis. Mas Lewis não parou
por aí. Seis outros livros vieram depois e, juntos, ficaram conhecidos como “As Crônicas de
Nárnia”.
Em um universo completamente mágico e original, C.S. Lewis conduz a terra de
Nárnia desde a sua criação até o seu fim em sete livros incríveis. “As Crônicas de Nárnia” é
um conjunto de histórias que abrangem diversas épocas dentro de um cenário repleto de
castelos, membros da realeza, guerreiros, criaturas fantásticas, feiticeiras e uma mitologia
bem extensa.
O autor buscou uma forma de elaborar a história da Bíblia em um contexto original e
inspirado no livro sagrado, de modo que até mesmo quem não concorda com os seus
preceitos e ensinamentos sinta interesse em iniciar a sua leitura. Além disso, há também
referências claras às mitologias grega e nórdica e aos contos de fada, além da inserção de
seres icônicos como o Papai Noel. Desde o Gênese ao Apocalipse, Nárnia vivencia muitos
períodos, nos quais questões muito diferentes são abordadas. Entretanto, há um elemento
comum em todos os livros: os papéis principais são dados a crianças. São esses pequenos
heróis que se descobrem grandes salvadores e se sentem no dever de lutar para proteger a
terra que tanto amam e que depende deles.
A oposição entre Aslam e Tash começa a ganhar força no decorrer da cronologia dos
livros, sempre camuflada em um contexto de conflitos por terras e guerras entre reinos. Em
“A Última Batalha”, é citado que Aslam remete ao bem e Tash, ao mal. Qualquer um que
estiver seguindo a um dos dois e praticar o bem estará, na verdade, seguindo a Aslam. Se for
o oposto, estará seguindo a Tash. Ambos são os contrastes de atitudes boas e ruins que
podem ser cometidas de acordo com o caráter, o comportamento e as escolhas de cada um.
No geral, os personagens de mais destaque em toda a obra são: Aslam, Digory Kirke,
Polly Plummer, A Feiticeira Branca, Pedro Pevensie, Susana Pevensie, Edmundo Pevensie,
Lucy Pevensie, Sr. Tumnus, Os Castores, Caspian X, Ripchip, Trumpkin, Shasta, Aravis,
Eustáquio Mísero, Jill Pole, Brejeiro, Rilian, Confuso, Manhoso, Tirian e Tash. Cada um possui
uma personalidade bastante distinta do outro e todos apresentam características que os
tornam originais e clássicos em uma obra que é considerada essencial na vida de uma
criança, mas que também pode ser apreciada por pessoas de qualquer faixa etária.

[...]

LIMA, Victor. Disponível em:<https://nomeumundo.com/2016/08/17/as-cronicas-de-


narnia/>. Acesso em: 09 maio 2019 (adaptado).
28 [ 187289 ]. Analise alguns fragmentos do texto e marque a alternativa que contém uma
afirmação VERDADEIRA.
a) Em “Viagens ao fim do mundo, criaturas fantásticas e batalhas épicas entre o bem e o mal
– o que mais um leitor poderia querer de um livro? O livro que tem tudo isso é [...]” (1º
parágrafo), o pronome destacado tem a função de retomar o trecho sublinhado.
b) Em “O livro que tem tudo isso é ‘O leão, a feiticeira e o guarda-roupa’, escrito em 1949
por Clive Staples Lewis.” (1º parágrafo), o emprego da vírgula, nas duas situações, se deve
à mesma razão: separa termos de uma mesma função sintática.
c) Em “‘As Crônicas de Nárnia’ é um conjunto de histórias que abrangem diversas épocas
[...]” (2º parágrafo), há inadequações na concordância das palavras em destaque.
Conforme a norma culta, deveria ser “são”, concordando com “Crônicas”, e “abrange”,
combinando com “conjunto”.
d) Em “São esses pequenos heróis que se descobrem grandes salvadores e se sentem no
dever de lutar para proteger a terra que tanto amam e que depende deles.” (3º
parágrafo), o sujeito das formas verbais sublinhadas é o mesmo, o que pode ser
comprovado pela adequada concordância verbal.
e) Em todo o quarto parágrafo, o autor focaliza o enredo de intrigas já anunciado no início
do texto – “[...] batalhas épicas entre o bem e o mal”. O emprego de palavras como
“oposição”, “conflitos” e “contrastes” comprova isso, embora, no quinto parágrafo, o
autor mostre que os personagens são semelhantes entre si.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


POR QUE TODO MUNDO NÃO FALA A MESMA LÍNGUA?

Porque as línguas foram surgindo nas várias regiões do mundo de forma independente.
Algumas têm a mesma origem, como o hindu, o sueco, o inglês e o português. Elas vieram de
uma grande língua comum, chamada proto-indo-europeu, que há milhares de anos era
falada na Ásia.

Esse idioma deu origem a quase todas as línguas ocidentais e algumas orientais. “Supõe-se
que o indo-europeu tenha sido uma língua só, que foi se diferenciando com o tempo”,
explica o professor de linguística Paulo Chagas de Souza, da Universidade de São Paulo.

É que as línguas são vivas – elas se transformam com o uso. Mesmo as que vieram de uma
raiz comum foram sendo modificadas pouco a pouco pela prática de cada grupo falante, que
seleciona os termos adequados ao seu ambiente e à sua cultura. Os esquimós, por exemplo,
criaram palavras capazes de descrever 40 tons de branco. Esses termos não fazem o menor
sentido para um povo que mora no deserto, concorda?

O Império Romano teve uma forte função na difusão e na construção de muitas das línguas
que são faladas hoje. Naquela época, na região de Roma, falava-se o latim, uma língua
derivada do proto-indo-europeu que floresceu na região do Lácio.

À medida que o império avançava, conquistando novos territórios, esse idioma foi sendo
imposto aos povos dominados, mas não sem sofrer influência das línguas locais, com
mudanças de pronúncia e enxertos de palavras.
Com o enfraquecimento do domínio dos césares, essas diferenças foram se intensificando e
construindo dialetos, que se transformaram em idiomas próprios. Foi assim que surgiu o
português, o italiano e o francês, por exemplo.

Hoje, são faladas 7.099 línguas ao redor do mundo, segundo o compêndio Ethnologue, um
livro que cataloga os idiomas do nosso planeta desde 1950. Mas a gente não ouve a maioria
delas: mais de 90% dessas línguas estão na boca de apenas 6% dos habitantes da Terra. O
restante da população mundial usa menos de 400 idiomas.

OLIVEIRA, Fábio. Por que todo mundo não fala a mesma língua? Disponível
em:http://super.abril.com.br/sociedade/por-que-todo-mundo-não-fala-a-mesma-lingua/
amp/>. Acesso em: 04 maio 2019.

29 [ 187303 ]. As afirmativas a seguir apresentam reflexões sobre a sintaxe de concordância


da língua portuguesa. Analise-as e marque a única que faz uma avaliação CORRETA sobre a
sintaxe de concordância do texto.
a) Em “Mas a gente não ouve a maioria delas” (7º parágrafo), o verbo foi registrado no
singular para concordar com a expressão “a gente”, continuaria, portanto, conjugado na
terceira pessoa do singular se o sujeito da frase fosse o pronome “nós”.
b) Em “Naquela época, na região de Roma, falava-se o latim” (4º parágrafo), o sujeito do
verbo “falar” é indeterminado e o “-se” é índice de indeterminação, por isso o verbo foi
corretamente conjugado na terceira pessoa do singular.
c) Em “esse idioma foi sendo imposto aos povos dominados” (5º parágrafo), a locução verbal
também poderia estar no plural para concordar com o referente “povos dominados”.
d) Em “Foi assim que surgiu o português, o italiano e o francês, por exemplo” (6º parágrafo),
houve um deslize na concordância, pois o sujeito da oração é composto (“o português, o
italiano e o francês”), e o verbo, deveria, portanto, estar no plural para estabelecer
concordância.
e) Em “há milhares de anos era falada na Ásia” (1º parágrafo), o verbo grifado está
conjugado de forma adequada, pois o verbo “haver” indicando tempo passado é
impessoal, não devendo ser pluralizado, portanto.

30 [ 178838 ]. Sobre concordância verbal e concordância nominal, assinale a afirmativa


correta.
a) Na frase “O governo brasileiro extinguiu a Renca (Reserva Nacional de Cobre e
Associados) para que possa ser melhor exploradas nessa área os recursos naturais e
outras fontes renováveis de energia”, a falta de concordância será sanada se a expressão
“os recursos naturais” for substituída por “jazidas minerais”.
b) Na frase “Os fatos apontados pelos órgãos de controle indicam que podem ter havido
irregularidades na gestão dos projetos financiados com recursos públicos”, todos os
verbos estão flexionados de acordo com a norma padrão da língua portuguesa.
c) A frase “Os ingredientes que encomendava era o mesmo semanalmente, razão por que
seria de imaginar que fosse suficiente para a fermentação de cinquenta litros de cerveja”
apresenta desvios da norma padrão quanto à concordância nominal, mas não há desvios
da norma padrão quanto à concordância verbal.
d) Na frase “Estima-se que, em Portugal, cerca de dois terços dos cães tenham sido
infectados com o parasita denominado Leishmania infantum nos últimos anos, embora
muitos deles não manifestem a doença”, os verbos “tenham” e “manifestem” concordam
com os respectivos sujeitos na terceira pessoa do plural.
Gabarito:

Resposta da questão 1:
[A]

O verbo “apresentam”, em destaque, concorda com o sujeito composto exposto


anteriormente, “entre 65% e 70% da população”. Ainda que o termo “população”, no
singular, faça parte do sujeito, os numerais 65% e 70% configuram-se como núcleos, motivo
pelo qual o verbo está conjugado na terceira pessoa do plural.

Resposta da questão 2:
[C]

Em todas as alternativas, vemos um sujeito composto por um núcleo feminino e um


masculino. De acordo com as regras gramaticais, nesses casos, a concordância é estabelecida
com a marca do masculino no plural. Assim, a única alternativa que respeita essa
concordância é a [C], já que todas as outras estão no feminino.

Resposta da questão 3:
[B]

O período ficaria: “Mas, com o tempo, alguma coisa acabou se invertendo”. Portanto, mais
duas palavras sofreriam alteração.

Resposta da questão 4:
[B]

[A] Incorreta: o correto seria “Frederico recebeu uma carta com as fotos anexas”.
[C] Incorreta: o correto seria “Os alunos mesmos disseram à professora que queriam ler mais
um livro.
[D] Incorreta: o correto seria “Todos os formandos estavam quites com a mensalidade da
formatura”.
[E] Incorreta: o correto seria “O motorista ficou com o braço e a perna quebrados”.
Resposta da questão 5:
[B]

Na alternativa [B], há uma transgressão às normas de concordância verbal. Considerando


que o verbo da oração (“superam”) deve concordar com o núcleo do sujeito (“valor”), ele
deveria estar no singular (“supera”). Assim, o correto seria: “Valor de bens de candidatos à
Prefeitura da Capital supera o declarado à Justiça Eleitoral”.

Resposta da questão 6:
[C]

No período em que a expressão aparece (“De fato, há leis sobre línguas, mas as políticas
linguísticas também podem ser menos formais – e nem passar por leis propriamente ditas”),
caso ela fosse para o singular, haveria 3 outras alterações, a saber: De fato, há leis sobre
línguas, mas a política linguística também pode ser menos formal – e nem passar por leis
propriamente ditas.
O artigo anterior ao substantivo seria afetado, assim como o verbo e o adjetivo.

Resposta da questão 7:
[C]

Caso passássemos a palavra “desafio”, da frase “No Ensino Superior, o desafio não é menor”,
para o plural, seria necessário fazer três alterações: “No Ensino Superior, os desafios não são
menores”.

Resposta da questão 8:
ANULADA

Questão anulada no gabarito oficial.

A alternativa correta seria a [C]. Contudo, a questão foi anulada certamente porque as
demais alternativas não possuem seis opções para as seis lacunas no texto. Exceto a
alternativa [C], que apresenta todas as seis opções, as outras apresentam cinco.
Resposta da questão 9:
[A]

Na alternativa [B], não há o uso da pontuação e, assim, o período fica em desconformidade


com as normas da língua portuguesa padrão. Em [C], pode-se apontar como exemplo de
desconformidade com as normas da língua padrão o uso do “a” ao invés do “há” para
denotar tempo decorrido: “há dois anos” seria a forma correta. Em [D], há problemas de
concordância: o verbo “ter” deveria estar no plural – têm – assim como o verbo “poder” –
“podem” -, já que ambos têm sujeito no plural (“eles” e “problemas respiratórios”,
respectivamente).

Resposta da questão 10:


[A]

O sujeito do verbo “passar” é simples e o seu núcleo é singular: “um grupo”. Assim, o verbo
deve se manter no singular (passará).
O sujeito do verbo “dever” é simples e o seu núcleo (“maioria”) é singular. Assim, o verbo
deve se manter no singular (deverá).
O sujeito do verbo “ir” é formado por expressão que contém porcentagem e, pela regra, o
verbo deve concordar com o substantivo que acompanha a porcentagem (“roupas”). Assim,
o verbo deve permanecer no plural (irão).
O verbo “haver” no sentido de “existir” é impessoal e, assim, deve permanecer no singular:
“houve”.

Resposta da questão 11:


[B]

Para resolver essa questão, é preciso observar quais palavras relacionam-se ao substantivo
“escritor”. Assim, é necessário olhar para os adjuntos adnominais, que se relacionam ao
substantivo e concordam com ele, e o verbo, já que “escritor” constitui núcleo do sujeito e,
portanto, o verbo deve concordar com ele. Dessa forma, temos as seguintes palavras: “O”,
“bom” e “sabe”. No plural, teríamos: “Os bons escritores sabem...”.

Resposta da questão 12:


[B]
Vemos que o pronome pessoal do caso oblíquo “la” está sendo usado para retomar o termo
“indústria japonesa”, já que é possível substituir o pronome em questão por esse termo,
mantendo o sentido: “e fazer a indústria japonesa exportar menos seda”. Mas, para evitar a
repetição, o pronome é utilizado.

Resposta da questão 13:


[B]

Em [B], não há identificação correta do elemento ausente, o que pode ser percebido pela
falta de concordância de gênero entre “A obra” (feminino) e “publicado” (masculino). Caso o
termo ausente fosse de fato “A obra”, o termo “publicado” teria que estar em concordância,
no feminino (“publicada”). Uma alternativa possível seria utilizar o termo “O livro”.

Resposta da questão 14:


[C]

[A] Incorreta: o verbo “produzirem” concorda com o sujeito oculto “A pandemia, o


isolamento e o medo”.
[B] Incorreta: “os mesmos” não é sujeito, e sim predicativo do sujeito.
[D] Incorreta: o verbo “tem” não é acentuado porque se refere ao sujeito oculto
“coronavírus”; o “têm” está acentuado, pois se refere ao sujeito simples “palavras”, que
está no plural.
[E] Incorreta: o verbo “é” concorda com o núcleo do sujeito, “contato”, que está no singular.

Resposta da questão 15:


[A]

[A] Incorreta: Como o núcleo do sujeito dos verbos “abrir” e “exclamar” está no plural
(“crianças”), é necessário flexionar os verbos também no plural: abrirem e exclamarem.

Resposta da questão 16:


[B]
Em [A], [C], [D] e [E], expressões deveriam ser substituídas para atender às regras de
concordância verbal: põem-se e afetaram, veem, tem havido e foi maior, respectivamente.
Apenas em [B], a frase atende à norma-padrão de concordância verbal.

Resposta da questão 17:


[B]

Se a expressão “duma criança” (ref. 11) fosse substituída por de crianças, duas outras
alterações deveriam ocorrer a fim de respeitar as normas-padrão de concordância: Seus
olhos contemplam a paisagem com a alegria meio inibida de crianças que, vendo-se de
repente soltas num bazar de brinquedos maravilhosos, não querem no primeiro momento
acreditar no testemunho de seus próprios olhos. Assim, é correta a opção [B].

Resposta da questão 18:


[B]

Para passar o período para o plural, é necessário pluralizar o sujeito e, assim, alterar os
outros termos do período que se relacionam a ele. Assim, temos “O anúncio” transformado
em “Os anúncios” e, consequentemente: publicado publicados; contém contêm;
expressão expressões; foi proibida foram proibidas. A expressão “de uso” não deve
ser pluralizada para “de uso”, pois ela atua como uma locução adjetiva. A palavra “bastante”
atua como advérbio de intensidade e, assim, também não deve ser pluralizada.

Resposta da questão 19:


[C]

[I] Incorreta: o verbo "haver" na acepção de “existir” é impessoal e, portanto, não deve ser
flexionado, permanecendo no singular “haja”.
[III] Incorreta: há vários problemas de concordância na alternativa. Como exemplo, pode-se
citar o verbo “existir”, que deveria ficar no plural, já que seu sujeito, “pessoas”, está no
plural: existem pessoas.
[VI] Incorreta: o verbo “realizar” deveria concordar com seu sujeito plural “algumas eleições”
e, assim, deveria estar na forma “realizaram”. Além disso, o verbo “compor” também
deveria estar no plural para concordar com “diversos órgãos”, assumindo a forma
“compõem”.
Resposta da questão 20:
[A]

Para responder a essa questão, é necessário avaliar se a partícula “se” constitui índice de
indeterminação do sujeito ou partícula apassivadora. Caso se trate de um verbo sem objeto
direto, temos índice de indeterminação do sujeito. Caso se trate de um verbo com objeto
direto, temos partícula apassivadora. No primeiro caso, as regras gramaticais colocam que
não há concordância, assim, o verbo deve permanecer no singular. No segundo caso, há
concordância com o sujeito e, assim, o verbo deve obedecer à mesma flexão do sujeito.
Assim, vemos que em [B], “se” é índica de indeterminação do sujeito e, portanto, o verbo
deve permanecer no singular: precisa-se.
Nas outras alternativas, “se” é partícula apassivadora e é preciso estabelecer a concordância.
Em [A], alternativa correta, o verbo deve permanecer no plural para concordar com o sujeito
“excelentes profissionais femininas”. Em [C], o verbo deveria estar no plural para concordar
com o sujeito “situações de conflito”. Em [D], o verbo deveria estar no singular para
concordar com o núcleo do sujeito “oportunidade”. Por fim, em [E], o verbo deveria estar no
plural para concordar com o núcleo do sujeito “estudantes”.

Resposta da questão 21:


[A]

As opções [B], [C], [D] e [E] são incorretas, pois


[B] o verbo “tem” deve permanecer no singular para concordar com o núcleo do sujeito,
“realidade”;
[C] o verbo “conta” poderia estar no plural, mas por outra razão que não a indicada: a
concordância pode ser feita tanto com o núcleo do sujeito (“grande”) e, então, ficaria no
singular, quanto com o substantivo após o núcleo (“equipes”) e, portanto, no plural.
[D] em “Alcançar um patamar condizente à altura do nosso capital natural é mais do que
possível” (ref. 21), o acento indicativo de crase justifica-se pelo fato de a preposição “a”
estar ligada ao adjetivo “condizente” e o substantivo “altura” admitir o artigo “a” (obs: a
regência do adjetivo “condizente”, segundo a norma culta, exige a preposição “com” e
não “a”, pelo que a frase deveria ter, originalmente, a seguinte redação: alcançar um
patamar condizente com a altura do nosso capital natural é mais do que possível).
[E] a substituição de “para” por “a” alteraria o sentido original, por transformar o agente da
passiva em objeto indireto (o sinal de alerta não teria sido declarado “por” 67% dos
respondentes, mas declarado “a” 67% dos respondentes).
Resposta da questão 22:
[D]

[I] Incorreta: o verbo “fazer” no sentido de tempo decorrido é impessoal. Dessa forma, a
locução verbal “vai fazer” deve permanecer no singular.
[IV] Incorreta: o verbo “admite-se” tem como sujeito “pessoas” e, assim, devem permanecer
no plural: “admitem-se”.

Resposta da questão 23:


[D]

As opções [A], [B] e [C] são incorretas, pois


[A] a nova frase apresentaria noção de condição, diferente da original, comparativa.
[B] o vocábulo “às” é formado por aglutinação da preposição “a” com o pronome oblíquo
“as”, referente a “as políticas”.
[C] a expressão “ideologias políticas” é usada no plural com sentido genérico, o que exclui a
possibilidade de acento grave para assinalar crase de preposição “a” e artigo “a”, em
infração de concordância com o substantivo “ideologias”.

Assim, é correta apenas [D], pois em “[...] seres humanos têm maior probabilidade de adotar
determinados comportamentos porque seus amigos, colegas de trabalho e vizinhos já o
adotam”, há um erro de concordância nominal pelo uso do pronome oblíquo no singular. O
correto seria: seres humanos têm maior probabilidade de adotar determinados
comportamentos porque seus amigos, colegas de trabalho e vizinhos já os adotam.

Resposta da questão 24:


[C]

[II] Incorreta: o verbo “mensura” deve estar no plural “mensuram”, já que temos um sujeito
composto.

Resposta da questão 25:


[E]
Na primeira ocorrência (ref. 11), o pronome relativo deve estar precedido da preposição
“de”, ligando “fábula” a “história folclórica”, anteriormente mencionada. Na segunda (ref.
15), o verbo deve apresentar-se no singular, pois a declaração contida no predicado é
atribuída a apenas um dos pais. Na terceira (ref. 31), por ter o mesmo significado de “razão”,
“motivo”, “causa”, a expressão deve ser escrita de forma separada. Finalmente (ref. 31), não
se usa crase antes de pronomes indefinidos. Assim, em sequência, as lacunas deveriam ser
preenchidas da seguinte forma: da qual, voltam-se, por que e a, conforme transcrito em [E].

Resposta da questão 26:


[E]

[A] Incorreta: a conjunção “ou” não implica exclusão dos núcleos do sujeito e, portanto, o
verbo deve permanecer no plural.
[B] Incorreta: o sujeito do verbo “afirma” não é elíptico, mas simples: “Gianfranco
Pasquino”.
[C] Incorreta: o adjetivo concorda apenas com o substantivo “pessoas”, caracterizando-o.
[D] Incorreta: o núcleo do sujeito é “existência”, que está no singular, dessa forma, o verbo
deve manter-se no singular.

Resposta da questão 27:


[D]

O verbo concorda com o sujeito e como somente na alternativa [D] a expressão sublinhada
constitui o sujeito da oração, o verbo deve ser flexionado no plural caso a expressão
destacada seja pluralizada.

Resposta da questão 28:


[A]

[B] Incorreta: no primeiro caso, a vírgula é usada para separar uma enumeração, já no
segundo, separa o aposto.
[C] Incorreta: como “As Crônicas de Nárnia” é o nome de um livro, deve-se manter o verbo
no singular “é”. Além disso, a palavra “abrangem” está concordando com “histórias”, por
isso, mantém-se no plural.
[D] Incorreta: o sujeito dos verbos “descobrem” e “amam” é “pequenos heróis”, já o sujeito
do verbo “depende” é “terra”.
[E] Incorreta: no quinto parágrafo o autor cita outros personagens e reforça que eles
possuem personalidades bastante distintas.

Resposta da questão 29:


[E]

[A] Incorreta: caso o sujeito fosse “nós”, o verbo deveria ser flexionado na primeira pessoa
do plural.
[B] Incorreta: o sujeito do verbo “falar” é “o latim”, já que a partícula “se” é apassivadora.
[C] Incorreta: a locução verbal deve concordar com a expressão “esse idioma”, que está no
singular.
[D] Incorreta: no caso, é possível manter o verbo no singular, estabelecendo a concordância
entre o primeiro termo da enumeração – que está no singular - e o verbo.

Resposta da questão 30:


[D]

[A] Incorreta: além dessa alteração, seria necessário alterar o verbo “possa” para “possam”.
[B] Incorreta: o verbo “podem” deveria estar no singular “pode”.
[C] Incorreta: vemos desvio de concordância verbal, pois o verbo “era” deveria estar no
plural “eram” para concordar com “os ingredientes”.
4 Regências verbal e nominal
1 [ 204212 ]. Assinale a alternativa que não está de acordo com a norma culta quanto à
regência dos nomes em destaque.
a) São poucas as funções a que esta jovem trabalhadora está apta.
b) O pai recriminava os hábitos culturais que a filha tinha admiração.
c) As críticas a que o chefe era sensível agora não o incomodam mais.
d) Os profissionais a quem ele tem desprezo fizeram com que ele perdesse o emprego.

2 [ 204379 ]. Assinale a frase CORRETA quanto à regência verbal e nominal.


a) Devido à essa questão, a inclusão do assunto relativamente a expansão da fábrica agora
não é pertinente sobre o tema.
b) A causa do atraso tem a ver tão somente com a aversão que ele sente por tarefas que lhe
exigem um certo esforço intelectual.
c) Recomendou-lhe, todavia, que não dissesse a seus pais o desamparo que o vira, para não
lhes deixar ainda mais constrangidos.
d) As universidades são organizações que você pode abandonar uma pesquisa sem ser
ostensivamente cobrado disso.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Um caso de burro
Machado de Assis

Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que
determinei logo de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na
pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá
vulgar, e porventura torpe. Releve a importância; os gostos não são iguais.
Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo
passadiço, ao pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio
para remanso de burros, donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois,
vimos (eu ia com um amigo), vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos
furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz
cabeceava, mais tão frouxamente, que parecia estar próximo do fim.
Diante do animal havia algum capim espalhado e uma lata com água. Logo, não foi
abandonado inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quem quer que seja que o
deixou na praça, com essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se o autor dela é
homem que leia crônicas, e acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não
comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em
campos mais largos e eternos. Meia dúzia de curiosos tinha parado ao pé do animal. Um
deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na
anca do burro para espertá-lo, então eu não sei conhecer meninos, porque ele não estava do
lado do pescoço, mas justamente do lado da anca. Diga-se a verdade; não o fez – ao menos
enquanto ali estive, que foram poucos minutos. Esses poucos minutos, porém, valeram por
uma hora ou duas. Se há justiça na Terra valerão por um século, tal foi a descoberta que me
pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos.
O que me pareceu, é que o burro fazia exame de consciência. Indiferente aos
curiosos, como ao capim e à água, tinha no olhar a expressão dos meditativos. Era um
trabalho interior e profundo. Este remoque popular: por pensar morreu um burro mostra
que o fenômeno foi mal entendido dos que a princípio o viram; o pensamento não é a causa
da morte, a morte é que o torna necessário. Quanto à matéria do pensamento, não há
dúvidas que é o exame da consciência. Agora, qual foi o exame da consciência daquele
burro, é o que presumo ter lido no escasso tempo que ali gastei. Sou outro Champollion,
porventura maior; não decifrei palavras escritas, mas ideias íntimas de criatura que não
podia exprimi-las verbalmente.
E diria o burro consigo:
“Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não
furtei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa. Em toda a minha
vida, se dei três coices, foi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e
de saber o destino do verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele
como linguagem. Ultimamente é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar
por ser costume velho, não com ideia de agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão.
Quando passei do tílburi ao bonde, houve algumas vezes homem morto ou pisado na rua,
mas a prova de que a culpa não era minha, é que nunca segui o cocheiro na fuga; deixava-
me estar aguardando autoridade.”
“Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de
haver pensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a
arruaças, a própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os
direitos do burro, tais direitos não existem. Nenhum golpe de estado foi dado em favor dele;
nenhuma coroa os obrigou. Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma forma de governo,
teve em conta os interesses da minha espécie. Qualquer que seja o regime, ronca o pau. O
pau é a minha instituição um pouco temperada pela teima que é, em resumo, o meu único
defeito. Quando não teimava, mordia o freio dando assim um bonito exemplo de submissão
e conformidade. Nunca perguntei por sóis nem chuvas; bastava sentir o freguês no tílburi ou
o apito do bonde, para sair logo. Até aqui os males que não fiz; vejamos os bens que
pratiquei.”
“A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o
namorado à casa da namorada – ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia
ao bonde podia mirar a moça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido
para longe de um credor importuno. Ensinei filosofia a muita gente, esta filosofia que
consiste na gravidade do porte e na quietação dos sentidos. Quando algum homem, desses
que chamam patuscos, queria fazer rir os amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que
me dessem tapas e punhadas na cara. Em fim…”
Não percebi o resto, e fui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente
da descoberta, não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia
morrer. A consideração, porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes
principais, fez-me ver que os que ficavam não seriam menos exemplares do que esse. Por
que se não investigará mais profundamente o moral do burro? Da abelha já se escreveu que
é superior ao homem, e da formiga também, coletivamente falando, isto é, que as suas
instituições políticas são superiores às nossas, mais racionais. Por que não sucederá o
mesmo ao burro, que é maior?
Sexta-feira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto.
Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a
infância, como a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim
passam os trabalhos deste mundo. Sem exagerar o mérito do finado, força é dizer que, se ele
não inventou a pólvora, também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste final de
século. Requiescat in pace.

3 [ 196640 ]. Assinale a opção em que o acento grave indicativo de crase NÃO é colocado
por uma situação de regência.
a) “Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que
determinei logo de começar por ela esta crônica.”
b) “Indiferente aos curiosos, co,o ao capim e à água, tinha no olhar a expressão dos
meditativos.”
c) “[...] levando depressa o tílburi e o namorado à casa da namorada.”
d) “[...] não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer.”
e) “Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de
haver pensado sequer na perturbação da paz pública.”

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


A última página

Todos lemos a nós e ao mundo à nossa volta para vislumbrar o que somos e onde
estamos. 1Lemos para compreender, ou para começar a compreender. Não podemos deixar
de ler. Ler, quase como respirar, é nossa função essencial.
2
Mesmo em sociedades que deixaram registros de sua passagem, a leitura precede a
3
escrita ; o futuro escritor deve ser capaz de reconhecer e decifrar o sistema de signos antes
de colocá-los no papel. 4Para a maioria das sociedades letradas – para o islã, para as
sociedades judaicas e cristãs como a minha, para os antigos maias, para as vastas culturas
budistas –, ler está no princípio do contrato social; aprender a ler foi meu rito de passagem.
5
Depois que aprendi a ler minhas letras, li de tudo: livros, 6mas também notícias,
anúncios, os títulos pequenos no verso da passagem do bonde, letras jogadas no lixo, jornais
velhos apanhados sob o banco do parque, grafites, a contracapa das revistas de outros
passageiros no ônibus. Quando fiquei sabendo que Cervantes, em seu apogeu à leitura, lia
“até os pedaços de papel rasgado na rua”, entendi exatamente que impulso o levava a isso.
Essa adoração ao livro 7(em pergaminho, em papel ou na tela) é um dos alicerces de uma
sociedade letrada.
A experiência veio a mim primeiramente por meio dos livros. Mais tarde, quando me
deparava com algum acontecimento, circunstância ou algo semelhante 8__________ 9sobre
o qual havia lido, isso me causava o 10sentimento um tanto surpreendente, 11mas
desapontador de déjà vu, 12porque imaginava que aquilo que estava acontecendo agora já
havia me acontecido em palavras, já havia sido nomeado.
Meus livros eram para mim transcrições ou glosas 13__________ outro Livro colossal.
Miguel de Unamuno, em um soneto, 14fala do tempo, 15cuja fonte está no futuro; minha vida
de leitor deu-me a mesma impressão de nadar contra a corrente, vivendo o que já tinha lido.
Tal como Platão, passei do conhecimento para seu objeto. Via mais realidade na ideia do que
na coisa. 16Era nos livros que eu encontrava o universo17: digerido, classificado, rotulado,
meditado, ainda assim formidável.
18
A leitura deu-me uma desculpa para a privacidade, ou talvez tenha dado um sentido
à privacidade que me foi imposta, 19uma vez que, durante a infância, depois que voltamos
para a Argentina, em 1955, vivi separado do resto da família, cuidado por uma babá em uma
seção separada da casa. 20Então, meu lugar favorito de leitura era o chão do meu quarto,
deitado de barriga para baixo, pés enganchados 21sob uma cadeira. Depois, tarde da noite,
minha cama tornou-se o lugar mais seguro e resguardado para ler 22__________ região
nebulosa entre a vigília e o sono.
O psicólogo James 23Hillman afirma que a 24pessoa que leu histórias ou 25para quem
leram 26histórias na infância “está em melhores condições e tem um 27prognóstico melhor do
que aquela 28à qual é preciso apresentar as histórias. [...] Chegar cedo na vida já é uma
perspectiva de vida”. Para Hillman, essas primeiras leituras tornam-se “algo vivido e por
meio 29do qual se vive, um modo que a alma tem de se encontrar na vida”. A essas leituras, e
por esse motivo, voltei repetidamente, 30e ainda volto.
Cada livro era um mundo em si mesmo e nele eu me refugiava. 31Embora eu
soubesse que era incapaz de inventar histórias como as que meus autores favoritos
escreviam, achava que minhas opiniões frequentemente coincidiam com as deles e 32(para
usar a frase de Montaigne) “Passei a seguir-lhes o rastro, murmurando: ‘Ouçam, ouçam’”.

Fonte: MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. Trad. Pedro Maia Soares. São Paulo:
Companhia das Letras, 1997, p. 20-24. (Parcial e adaptado.)
4 [ 200721 ]. Assinale a alternativa que completa correta e respectivamente as lacunas nas
referências 8, 13 e 22.
a) àquele, daquele, aquela
b) aquele, aquele, àquela
c) àquele, daquele, naquela
d) àquilo, aquele, aquela
e) aquele, daquele, daquela

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


A redescoberta do eu

No pequeno conto “Perguntais-me como me tornei louco…”, o escritor e poeta Khalil


Gibran descreve a libertação de um homem das suas máscaras. Ele conta a 1trajetória do
protagonista, que acorda e vê 2que as sete máscaras que ele havia confeccionado e usado
durante a vida tinham sido roubadas. Desesperado, ele sai pelas ruas gritando “Ladrões,
ladrões, 3malditos ladrões”.
Um garoto em um telhado grita “É um louco!”, e o protagonista 4ao olhar para o
telhado recebe a luz do sol pela primeira vez em sua face nua. 5Em um transe, ele grita
“Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!”. E, 6assim, se torna um
louco.
Carl Gustav Jung, psiquiatra, psicoterapeuta e fundador da psicologia analítica, criou
o conceito de individuação. A individuação consiste 7__________ indivíduo alcançar sua
8
singularidade profunda. Segundo Jung, a individuação ocorre na meia idade, 9que para ele
se dava aos 30 anos, quando o homem, após construir sua vida de relações, volta-se para
seu mundo interno na busca do verdadeiro eu. Em 1875, Jung nasceu na Suíça. Gibran
nasceu oito anos depois, no Líbano. Aos 13 anos, Gibran mudou-se com a mãe e os irmãos
para os Estados Unidos. Assim, há poucas chances de que Jung tenha influenciado Gibran,
10
entretanto 11é provável 12que os dois tenham sido influenciados pelo Zeitgeist, ou espírito
da época. Uma época em que a sociedade ditava com enorme rigor como os indivíduos
deveriam se comportar.
Porém, mesmo hoje em uma sociedade mais liberal, vamos precisando construir
máscaras ao longo da vida. Ainda na infância, precisamos assumir 13__________ que nos
tornam aceitáveis para os colegas de escola. Na adolescência, precisamos nos adaptar aos
grupos 14__________ escolhemos pertencer. No trabalho, precisamos construir o eu
profissional. Precisamos assumir o papel de marido, esposa, companheiro ou companheira,
de pai ou mãe e, assim, vamos assumindo máscaras ao longo da vida.
15
Não sei se é possível viver com a face nua a que se referiu Gibran ou, como falava
Jung, o verdadeiro eu. A própria psicoterapia junguiana 16já não é tão 17ortodoxa nesse
sentido. Porém, 18quanto mais longa a nossa vida, mais difícil é conviver com as máscaras
construídas ao longo dela.
Toda mudança tem custos. Assim, é muito mais fácil deixar a vida no piloto
automático ou, como no ditado popular, “deixar tudo como está 19para ver como é que fica”.
Contudo, as mudanças também podem trazer grandes melhorias na vida daqueles 20que
decidem pagar o preço de mudar.
Quando a expectativa de vida era de 60 anos, a equação entre o preço de mudar e o
benefício que poderia ser colhido com a mudança tendia para a manutenção do status quo.
Só que agora, quando alguém olha para o seu próprio futuro, tem um horizonte muito mais
amplo. São muitos anos pela frente e o custo de viver sustentando uma persona que não lhe
cabe mais se torna muito elevado.
A nossa persona é a forma como queremos ser vistos pela sociedade, ela é a forma
como nos relacionamos com o coletivo e como o coletivo nos vê. Assim, não se trata de
mudar nossa essência ou aquilo que realmente somos. Mas se trata, sim, de se permitir ser
quem as personas velhas escondiam ou, como disse Gibran, é deixar o sol banhar a nossa
face nua.
21
Como não sou poeta, não tenho o sonho de que seja possível viver em sociedade
sem nenhuma máscara. Elas são necessárias, pois poucos suportam o preço da loucura.
Desse modo, não se trata de abandonar, 22mas sim de questionar nossos compromissos
morais, sociais e culturais de 23outrora.
Acredito que a maturidade nos mostre 24que é possível construir uma nova persona,
mais leve e sem tantos apegos a um passado 25__________ não queremos mais ter
compromissos.

Fonte: MACEDO JR, Jurandir Sell. A redescoberta do eu. Forbes, 12 nov. 2020. Disponível em:
<https://forbes.com.br/forbes-money/2020/11/jurandir-sell-macedo-jr-a-redescoberta-do-
eu/>. Acesso em: 12 jan. 2021. (Adaptado.)

5 [ 201008 ]. Assinale a alternativa que completa, correta e respectivamente, as lacunas nas


referências 7, 13, 14 e 25.
a) no, papeis, à que, em que
b) no, papeis, a que, que
c) em o, papéis, a que, com o qual
d) em o, papeis, à que, que
e) em o, papéis, à que, com o qual

6 [ 182027 ]. É verdade que na Alemanha (da mesma forma que em outros países
europeus) sempre existiram ressentimentos xenófobos e antissemitas, como também
grupos e partidos de extrema direita. Não são fenômenos novos. A novidade desses últimos
anos é o exibicionismo desavergonhado __________ são manifestadas em público essas
posturas desumanas, o desenfreio __________ se assedia e se fustiga nas ruas os que têm
aspecto, crenças e uma forma de amar diferentes dos da maioria. A novidade é o consenso
social __________ é tolerável dizer e o que deve continuar sendo intolerável.

(<https://brasil.elpais.com/brasil/2018/09/21/opinion/1537548764_065506.html?
id_externo_rsoc=FB_BR_CM>.)

Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas acima, na ordem em que


aparecem no texto.
a) com que – que – sob aquilo.
b) onde – quanto ao que – sob o que.
c) em que – que – sobre que.
d) com o qual – com o qual – sobre o que.

7 [ 178842 ]. Nas frases a seguir, preencha as lacunas com uma das preposições sugeridas
entre parênteses e depois assinale a alternativa com a sequência correta.

I. Nesse caso, é estranho que o Ministro do Meio Ambiente ignore as informações técnicas
__________ que detém a posse. (sobre, com, de)
II. De acordo com as fontes __________ as quais mantive contato ontem, a mudança na
legislação eleitoral não valerá para 2018. (com, perante, a)
III. Quando um homem __________ quem eu confiava me disse que havia uma solução para
isso, eu acreditei. (a, em, de)
IV. Logo cedo chegaram dois gaúchos pilchados e um vizinho meu recente, __________ cuja
procedência não me lembro. (em, de, sobre)
V. Ontem resolvi mandar uma carta à empresa __________ a qual o jornal fez uma longa
reportagem, publicada na semana passada. (com, perante, sobre)
a) sobre - a - de - de - com
b) de - com - em - de - sobre
c) sobre - perante - a - em - perante
d) com - perante - em - sobre - com

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Das vantagens de ser bobo

O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o
mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado
por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando.".
1
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de
sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia.
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão
sempre tão atentos _____i_____ espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e
estes os veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para
viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, 2o bobo é um Dostoievski.
_____ii_____ desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra
de um desconhecido para _____iii_____ compra de um ar refrigerado de segunda mão: 3ele
disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde
é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona.
Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o
conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de
ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranquilo, enquanto o esperto não
dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O
bobo não percebe que venceu.
Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada
de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo
a célebre frase: "Até tu, Brutus?".
Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!
Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse
sido esperto não teria morrido na cruz.
O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser
bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não
conseguem passar por bobos. 4Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos
ganham a vida. 5Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie.
Aliás não se importam que saibam que eles sabem.
Há lugares que facilitam mais _____iv_____ pessoas serem bobas (não confundir
bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah,
quantos perdem por não nascer em Minas!
Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase
impossível evitar o excesso de amor que o bobo provoca. É que só 6o bobo é capaz de
excesso de amor. E só o amor faz o bobo.

LISPECTOR, Clarice. Das vantagens de ser bobo. Disponível em:


http://www.revistapazes.com/das-vantagens-de-ser-bobo/. Acesso em 10 de maio de 2017.
Originalmente publicado no Jornal do Brasil em 12 de setembro de 1970.

8 [ 174575 ]. Marque a opção que completa corretamente os claros encontrados no texto,


abaixo destacados:

Os espertos estão sempre tão atentos _____(i)_____ espertezas alheias;

_____(ii)_____ desvantagem, obviamente;

confiou na palavra de um desconhecido para _____(iii)_____ compra de um ar refrigerado


de segunda mão;

Há lugares que facilitam mais _____(iv)_____ pessoas serem bobas.


a) às – Há – a – às
b) as – A – à – as
c) às – Há – a – as
d) às – A – a – às
e) as – A – à – às

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Só o homem entediado terá chance de salvação num futuro de smartphones
João Pereira Coutinho

1
Assisto a conferências e a moda não engana: metade da sala (no mínimo) está com a
cabeça enfiada em smartphones. Como seriam as conferências antigamente? O que fazia a
audiência enquanto alguém falava no palanque?
Provavelmente, escutava. Ou dormia. Ou dormia e escutava, em intervalos
saudáveis.
Hoje, ninguém dorme. Duvido que alguém escute. O smartphone é o inimigo do
tédio, ou da reflexão, proporcionando uma festa permanente.
Este seria o momento ideal para eu vestir a 2toga do moralista vulgar, lançando raios
homéricos sobre a 3nefasta tecnologia. A data, aliás, seria a mais apropriada: o iPhone
nasceu dez anos atrás e o dilúvio começou.
4
Infelizmente, não posso pregar. Eu também faço parte do clube que prefere o
smartphone ao velho e bom cochilo.
Especialistas diversos gostam de explicar a compulsão. 5É como uma droga, dizem
eles: quando 6espreitamos as mensagens, o e-mail, as redes sociais, procuramos uma
espécie de recompensa neurobiológica muito semelhante a um viciado.
7
O problema se agrava quando somos privados da nossa dose – e eu sei, o leitor
sabe, todos sabemos dessa miserável privação.
Tempos atrás, esqueci-me do celular em casa e parti em viagem. Quando dei conta
do estrago, uma inquietude foi crescendo com o passar das horas.
Ainda pensei em pedir ao companheiro do lado para me emprestar o smartphone
dele. Só para eu ler as minhas mensagens. Ou até, sei lá, as mensagens dele. Qualquer coisa
servia. 8Eu era como alguns alcoólatras que, na ausência de bebidas legais, começam a
despejar perfume pela goela.
Controlei-me. Telefonei para casa – de um telefone fixo, entenda – e pedi, com um
último fôlego, que me lessem as novidades. Nenhuma delas era urgente, sequer
interessante. Mas o corpo sossegou e mergulhou naquele estranho 9torpor que Thomas de
Quincey relatou nas suas "Confissões de um Comedor de 10Ópio". Como se chegou até aqui?
Verdade: o tédio sempre foi o grande terror dos homens modernos. 11Ter no bolso
um aparelho que garante distração permanente é a melhor forma de afastar o fantasma.
Acontece que o tédio tem as suas vantagens. O filósofo Mark Kingwell tem escrito
sobre a matéria (...) Só o tédio, escreve ele, é capaz de sinalizar a existência de um problema
entre nós e o mundo. O tédio é a "suspensão da suspensão" em que vivemos – uma forma
terapêutica, e até brutal, de olharmos para a realidade sem fugas. E de agirmos em
conformidade.
Quando abolimos o tédio, e o "dom da escuta" que só ele oferece, desaparece uma
parte da nossa humanidade – aquela parte que reflete, imagina ou cria. E que problematiza,
critica, propõe.
No futuro, não será apenas a audiência que estará mergulhada nas telas dos
smartphones. Também suspeito que os próprios conferencistas, privados de pensar e sem
nada para dizer, terão o mesmo comportamento.
12
Imagino um encontro de silêncios, onde todos os presentes estarão ausentes – e só
o homem entediado terá chance de salvação.

Disponível em
<http://www1.folha.uol.com.br/colunas/joaopereiracoutinho/2017/06/1897093-so-o-
homem-entediado-tera-chance-de-salvacao-num-futuro-de-smartphones.shtml>. Último
acesso em 06 de julho de 2017. (Adaptado).

VOCABULÁRIO:
2. Toga – traje preto e comprido, usado por advogados e por professores catedráticos e
doutorados em ocasiões especiais.
3. Nefasto – nocivo, prejudicial, perverso, trágico, mau.
6. Espreitar – espiar, olhar demorada e fixamente.
9. Torpor – indiferença ou apatia moral; indolência, prostração.
10. Ópio – narcótico, droga que provoca adormecimento.

9 [ 181576 ]. O autor do texto escreve sua crônica praticamente toda de acordo com a
norma padrão da Língua Portuguesa. Um exemplo claro é a regência do verbo assistir,
adequadamente aplicada na frase transcrita abaixo:

“Assisto a conferências e a moda não engana”. (ref. 1)

Marque a única opção que obedece à norma padrão quanto à regência verbal ou nominal
nas frases que seguem.
a) Consumidores preferem mais smartphones do que celulares convencionais.
b) Hoje todas as músicas que as pessoas gostam podem ser acessadas no celular, por
exemplo, pelo Spotify.
c) Os smartphones também são usados para assistir vídeos no Youtube.
d) O medo ao tédio leva muitas pessoas a se manterem conectadas todo o tempo em que
estão acordadas.
e) Hoje professores pedem constantemente a seus alunos que deixem o celular e participem
das aulas.

10 [ 169599 ]. De acordo com a norma-padrão da Língua Portuguesa e com a gramática


normativa e tradicional, quanto à regência nominal, assinale a alternativa incorreta.
a) A opinião pública se encheu de cólera contra a corte.
b) A hospedagem aos congressistas ficou a cargo do reitor.
c) Eliana é atenciosa com os colegas.
d) Lucas deixou o cachorro atado por um poste.
e) Antônio é leigo em astrofísica.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


ENGENHEIROS DA VITÓRIA
Solução de problemas na história

[...] Quando se fala na eficiência em conseguir equipamentos de combate e transferir


combatentes de A para B, os britânicos são campeões; certamente isso não foi por causa de
alguma inteligência especial, mas pela ampla experiência em organização e senso crítico
depois de enfrentar chances adversas em 1940, juntamente com a perspectiva de derrota.
Aqui a necessidade foi a mãe da invenção. Eles tinham que defender suas cidades,
transportar tropas até o Egito, apoiar os gregos, proteger as fronteiras da Índia, trazer os
Estados Unidos para a guerra e depois levar aquele imenso potencial americano para a área
da Europa. Era mais um problema a ser resolvido. Como foi possível fazer com que 2 milhões
de soldados americanos, depois de chegar às bases de Clyde, fossem para bases no sul da
Inglaterra preparando-se para o ataque à Normandia, quando a maior parte das ferrovias
britânicas estava ocupada em transportar vagões de carvão para as fábricas de ferro e aço
que não podiam parar de produzir?
Como se viu, uma organização composta por pessoas que cresceram decorando os
horários da estrada de ferro de Bradshaw como passatempo pode fazer isso, enquanto os
altos comandantes consideravam que tudo estava garantido porque confiavam na
capacidade de seus administradores de nível médio. Churchill acreditava que o melhor era
não se preocupar demais com os problemas, pois tudo se resolveria, isto é, uma maneira
havia de ser encontrada, passo a passo.
Há uma outra forma de pensar sobre essa história de soluções de problemas, e ela
vem de um exemplo bem contemporâneo. Em novembro de 2011, enquanto o genial 1líder
da Apple, Steve Jobs, recebia inúmeras homenagens póstumas, um artigo intrigante foi
publicado na revista New Yorker. 2Nele o autor, Malcom Gladwell, argumentava que Jobs
não era o inventor de uma máquina ou de uma ideia que mudou o mundo; poucos seres o
são (exceto talvez Leonardo da Vinci e Thomas Edison). Na verdade, seu brilhantismo estava
em adotar invenções alheias que não deram certo, a partir das quais construía, modificava e
fazia aperfeiçoamentos constantes. Para usar uma linguagem atual, ele era um tweaker, e
sua genialidade impulsionou como nunca o aumento de eficiência dos produtos de sua
companhia.
A história do sucesso de Steve Jobs, contudo, não era nova. A chegada da Revolução
Industrial do século XVIII na Grã-Bretanha – muito provavelmente a maior revolução para
explicar a ascensão do Ocidente – ocorreu porque o país possuía uma imensa coleção de
tweakers em sua cultura que encorajaram o progresso [...]
A história da evolução do tanque T-34 soviético, de um grande pedaço de metal mal
projetado e fraco para uma arma de guerra mortífera, segura e de grande mobilidade, não
foi uma história contínua de tweaking? Não foi esse também o caso do grande bombardeiro
americano, o B-29, que no início estava tão mergulhado em dificuldades que chegou a se
propor seu cancelamento até que as equipes da Boeing resolveram os problemas? E as
miraculosas histórias do P-51 Mustang, dos tanques de Percy Hobart e de um poderoso
sistema de radar tão pequeno que poderia ser inserido no nariz de um avião patrulha de
longa distância e virar a maré na Batalha do Atlântico? Depois que se unem os diversos
pedaços espalhados, tudo se encaixa. Mas todos esses projetos exigiram tempo e apoio.
3
Na verdade, os administradores de grandes companhias mundiais provavelmente se
surpreendam diante, digamos, do planejamento e orquestração do almirante Ramsay nos
cinco desembarques simultâneos no Dia D e gostariam de poder realizar um décimo do que
ele fez.
Em suma, a vitória em grandes guerras sempre requer organização superior, o que,
por sua vez, exige pessoas que possam dirigir essas organizações, não com um interesse
apenas moderado, mas da maneira mais competente possível e com estilo que permitirá às
pessoas de fora propor ideias novas na busca da vitória. Os chefes não podem fazer isso
tudo sozinhos, por mais que sejam criativos e dotados de energia. É necessário haver um
sistema de apoio, uma cultura de encorajamento, feedbacks eficientes, uma capacidade de
aprender com os revezes, uma habilidade de fazer as coisas acontecerem. E tudo isto tem de
ser feito de uma maneira que seja melhor do que aquela do inimigo. É assim que as guerras
são vencidas. [...]
O mesmo reconhecimento merecem, por certo, os militares de nível médio que
mudaram a Segunda Guerra Mundial, transformando as agressões do Eixo em 1942 em
avanços irreversíveis dos Aliados em 1943-44, e finalmente destruindo a Alemanha e o
Japão. É verdade, alguns desses indivíduos, armamentos e organizações são reconhecidos,
mas em geral de uma forma fragmentada e popularizada. É raro que esses fios isolados
sejam tecidos em conjunto para mostrar como os avanços afetaram as muitas campanhas,
fazendo a balança pender para o lado dos Aliados durante o conflito global. Mais raro ainda
é a compreensão de como o trabalho desses vários solucionadores de problemas também
precisa ser 4incluído numa importante “cultura do encorajamento” para garantir que simples
declarações e intenções estratégicas de grandes líderes se tornem realidade e não murchem
nas tempestades da guerra. Se isso é o que acontece, então vivemos com uma grande lacuna
em nossa compreensão de como a Segunda Guerra Mundial foi vencida em seus anos
cruciais.

KENNEDY, Paul. Engenheiros da Vitória: Os responsáveis pela reviravolta na Segunda Guerra


Mundial. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2014, p. 407- 428 (texto adaptado).

11 [ 203389 ]. Em relação ao uso dos pronomes relativos, marque a alternativa correta:


a) Os britânicos, cujos equipamentos de combate ainda se fala, foram pioneiros devido à
experiência da derrota em 1940.
b) O brilhantismo de Steve Jobs estava em adotar invenções alheias de quais componentes
elaborava aperfeiçoamentos constantes.
c) Os sistemas de apoio, aos quais algumas sociedades enfatizam como prioridade, podem
ajudar no enfrentamento de revezes coletivos.
d) Os solucionadores de problemas, sobre cujos feitos não há pesquisas mais aprofundadas,
incluem os militares de nível médio.
e) O planejamento e a orquestração do Almirante Ramsay, com o qual os administradores de
grandes companhias mundiais se encantaram, são apenas alguns dos feitos, dentre outros
similares.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o texto de Rubem Alves.

As coisas do mundo humano apresentam uma curiosa propriedade. Sabemos que


elas são diferentes daquelas que constituem a natureza. A existência da água e do ar, a
alternância entre o dia e a noite, a composição do ácido sulfúrico e o ponto de
congelamento da água em nada dependem da vontade do homem. Ainda que ele nunca
tivesse existido, a natureza estaria aí, passando muito bem, talvez melhor... Com a cultura as
coisas são diferentes. A transmissão da herança, os direitos sexuais dos homens e das
mulheres, atos que constituem crimes e os castigos que são aplicados, os adornos, o
dinheiro, a propriedade, a linguagem, a arte culinária – tudo isto surgiu da atividade dos
homens. Quando os homens desaparecerem, estas coisas desaparecerão também.
Aqui está a curiosa propriedade a que nos referimos: nós nos esquecemos de que as
coisas culturais foram inventadas e, por esta razão, elas aparecem aos nossos olhos como se
fossem naturais. Na gíria filosófico-sociológica este processo recebe o nome de reificação.
Seria mais fácil se falássemos em coisificação, pois é isto mesmo que a palavra quer dizer, já
que ela se deriva do latim res, rei, que quer dizer “coisa”. Isto acontece, em parte, porque as
crianças, ao nascerem, já encontram um mundo social pronto, tão pronto e tão sólido
quanto a natureza. Elas não viram este mundo saindo das mãos dos seus criadores, como se
fosse cerâmica recém-moldada nas mãos do oleiro. Além disto, as gerações mais velhas,
interessadas em preservar o mundo frágil por elas construído com tanto cuidado, tratam de
esconder dos mais novos, inconscientemente, a qualidade artificial (e precária) das coisas
que estão aí. Porque, caso contrário, os jovens poderiam começar a ter ideias perigosas... De
fato, se tudo o que constitui o mundo humano é artificial e convencional, então este mundo
pode ser abolido e refeito de outra forma. Mas quem se atreveria a pensar pensamentos
como este em relação a um mundo que tivesse a solidez das coisas naturais?

(O que é religião?, 1994. Adaptado.)

12 [ 204517 ]. “Aqui está a curiosa propriedade a que nos referimos” (2º parágrafo)

Mantendo o sentido original e a correção gramatical, o segmento sublinhado pode ser


substituído por:
a) sobre a qual mencionamos.
b) de que mencionamos.
c) com que mencionamos.
d) que mencionamos.
e) à qual mencionamos.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Quando pensamos em EXPERIÊNCIAS ESTUDANTIS NO EXTERIOR, automaticamente
relacionamos o tema aos melhores aspectos positivos possíveis, como a vivência na língua,
na cultura, na culinária, entre outros. Contudo, há outros aspectos relevantes – positivos e
negativos – que a atividade deseja também abordar. Somos seres humanos em construção e
interligados pela intensa globalização do século XXI. Assim, a escolha desse tema se dá pelo
desejo de acrescentar reflexões importantes ao cotidiano de nossos jovens estudantes.

Texto

Brasileira ganha bolsa para estudar em Harvard


Uma gonçalense de 18 anos é a única estudante brasileira aprovada para estudar na
Universidade de Harvard, nos EUA, este ano. E com bolsa integral.

Uma gonçalense de 18 anos é a única estudante brasileira aprovada para estudar na


Universidade de Harvard, no EUA, este ano. E com bolsa integral. A façanha de Flávia Medina
da Cunha é considerada tão especial que será tema de palestra de orientadores
educacionais, nesta quarta-feira de manhã (19 de agosto de 2009), no auditório do Colégio
Militar do Rio de Janeiro. Na mesma época dos exigentes exames para Harvard, ela passou
nos vestibulares da UFRJ, UFF e UERJ e na prova de admissão da Academia da Força Aérea
(AFÃ). "Estudei tantas horas que perdi a conta de quantas", confessa Flávia, que vai cursar
Engenharia Química. Ela já havia começado o curso na UFRJ.
Fã da obra de Machado de Assis, ela precisou se debruçar sobre livros especializados
na cultura norte-americana. Flávia obteve ainda 90% de bolsa na Universidade da
Pensilvânia. "Fiquei na lista de esperada Yale University, Duke University, Rice University e
Tufts", enumerou Flávia, cujos dois irmãos estudam na Escola Naval. Os pais, que são
professores, estão orgulhosos, mas não escondem a preocupação. "O coração está apertado,
mas ela é perseverante e carismática", conta a mãe, Gilza da Cunha, 57 anos. Em Harvard, a
estudante terá alojamento, refeição e receberá US$ 3mil (R$ 5,3 mil) por mês, além da
oportunidade de emprego no campus. Flávia embarca hoje à noite no voo 860 da United
Airlines. Na bagagem, a bandeira do Brasil e a medalha de Santo António. No coração, a
saudade de casa. "Não vou chorar", avisa Flávia. "Muita gente sonha em ir à Disney e realiza
o sonho. Por que não sonhar em aprimorar os conhecimentos no exterior?", lança o desafio
o gerente de pesquisas do escritório da Harvard no Brasil, Tomás Amorim. (...)

(Adaptado de https://www.mundovestibular.com.br/vestibular/noticias/brasileira-ganha-
bolsa-para-estudar-em-han/ard/. Acessado em: 02/09/2020)
13 [ 197107 ]. Em "Por outro lado, inicialmente eu achei difícil me adaptar à cultura
estadunidense", apesar de não ser um profissional da língua portuguesa, o autor do texto
utilizou a regência correta do verbo destacado.

Das alternativas a seguir, apenas uma delas segue a norma-padrão da língua. Assinale-a.
a) Já faz mais de dois meses que não paga a secretária.
b) Desde muito jovem, Solano namorava com várias meninas ao mesmo tempo.
c) A torcida não cansava de assistir os gols da seleção brasileira.
d) A traição implica sérios prejuízos para a relação.
e) Prefiro os sinceros ignorantes do que os falsos educados.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Epitáfio
Titãs (BRITO, Sérgio - adaptado)

Devia ter amado mais


Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer

Queria ter aceitado


As pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria
E a dor que traz no coração

O acaso vai me proteger


Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar

Devia ter complicado menos


Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos
Com problemas pequenos
Ter morrido de amor

Queria ter aceitado


A vida como ela é
A cada um cabe alegrias
E a tristeza que vier
[...]

Devia ter complicado menos


Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr

14 [ 203255 ]. Assinale a opção na qual a regência do verbo NÃO foi utilizada de acordo
com a modalidade padrão.
a) Eu, com certeza, queria ter errado mais e ter assistido mais ao sol nascer.
b) Eu preferia ter me arriscado mais do que ter essa dor profunda no coração.
c) Eu deveria ter desobedecido mais às regras e ter descomplicado mais a minha vida.
d) O acaso vai me perdoar e eu vou me esquecer de todas as minhas tristezas.
e) O acaso ensinará as crianças a se importarem menos com os pequenos problemas.

15 [ 192380 ]. Assinale a frase que está de acordo com as normas da língua escrita padrão.
a) Toda comunidade indígena, cujas aspirações e necessidades devem vincular-se as políticas
públicas, possui cultura própria, de que precisa ser respeitada.
b) Toda comunidade indígena, de cujas aspirações e necessidades devem vincular-se às
políticas públicas, possui cultura própria, a que precisa ser respeitada.
c) Toda comunidade indígena, a cujas aspirações e necessidades devem vincular-se às
políticas públicas, possui cultura própria, à qual precisa ser respeitada.
d) Toda comunidade indígena, a cujas aspirações e necessidades devem vincular-se as
políticas públicas, possui cultura própria, que precisa ser respeitada.

16 [ 195715 ]. Assinale a opção na qual a regência do verbo em destaque está de acordo


com a modalidade padrão.
a) Os criadores das fake news, em todo o mundo, não obedecem nenhuma regra que prime
pela ética e pelo respeito aos cidadãos.
b) Notícias, sejam elas de que natureza forem, tornam-se importantes e necessárias apenas
quando servem o bem comum.
c) Todos aspiramos a um mundo no qual a verdade, a transparência e o respeito estejam a
serviço da humanidade.
d) Pessoas que não pesquisam a origem das notícias pagam a altos preços quando acreditam
e divulgam fake news.
e) Não esqueça de conferir se as notícias que serão postadas em suas mídias contemplarão a
informação relevante e digna.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


A oposição passado/presente é essencial na aquisição da consciência do tempo. Não é um
dado natural, mas sim uma construção. Com efeito, o interesse do passado está em
esclarecer o presente. O processo da memória no homem faz intervir não só na ordenação de
vestígios, mas também na releitura desses vestígios.

(Jacques Le Goff)

Colecionar fotos é colecionar o mundo. As fotos são, de fato, experiência capturada,


e a câmera é o braço ideal da consciência, 2em sua disposição aquisitiva. 3Imagens
1

fotografadas não parecem manifestações a respeito do mundo, 4mas sim pedaços dele,
miniaturas da realidade que qualquer um pode fazer ou adquirir.
Fotos, que enfeixam o mundo, parecem solicitar que as enfeixemos também. São
afixadas em álbuns, emolduradas e expostas em mesas, pregadas em paredes, projetadas
como diapositivos. Por meio de fotos, 5cada família constrói uma crônica visual de si mesma
— um conjunto portátil de imagens que dá 6testemunho de sua coesão. Um álbum de fotos
de família é, em geral, um álbum sobre a família ampliada — e, muitas vezes, o que dela
resta.
7
Assim como 8as fotos dão às pessoas a posse imaginária de um passado irreal,
9
também as ajudam a tomar posse de um espaço 10em que se acham inseguras.

(SONTAG, Susan. Sobre fotografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. p. 14-5 e 19.
Texto adaptado.)

Vocabulário

Diapositivo: imagem positiva, estática e translúcida, de modo geral em película, e que se


pode projetar; imagem fotográfica.
Enfeixar: amarrar ou prender em feixe; colocar junto; ajuntar; reunir.

17 [ 191184 ]. Na oração “as fotos dão às pessoas a posse imaginária de um passado irreal”
(referência 8), o verbo apresenta uma regência equivalente à que ocorre em
a) “a câmera é o branco ideal da consciência.” (referência 1)
b) “Imagens fotografadas não parecem manifestações a respeito do mundo.” (referência 3)
c) “cada família constrói uma crônica visual de si mesma.” (referência 5)
d) “também as ajudam a tomar posse de um espaço.” (referência 9)
e) “em que se acham inseguras” (referência 10)

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o texto abaixo para responder à(s) questão(ões) a seguir.

Só o ensino superior salva

Sou do tipo que chora. Batizado, casamento*, mas principalmente formatura. Como
é bonita a chance e o cumprimento do estudo. Pra todo mundo, universal mesmo. 1Imagina
a oportunidade a quem só poderia se formar em escola pública. De arrepiar. Por isso
comemoro aqui o diploma de mais 423 alunos da URCA, a Universidade Regional do Cariri,
conforme leio no site “Miséria”, o jornal da minha aldeia universalíssima. A festa foi nesta
quinta (08/08) e haja 2orgulho na gente de pequenas cidades e da roça nos arredores da
Chapada do Araripe. São 12,5 mil alunos nesta escola mantida pelo governo cearense.
Sou do tipo que chora com o ensino público e gratuito e a chance para quem vem lá
do mato. Na formatura da 3URCA, haja primos, 4pense num povo metido, né, 5ave palavra,
que orgulho enquadrado na parede. Pense numa “balbúrdia”, 6esse povo “lá de nós”, como
na bendita 7linguagem caririense, 8formada em Artes Visuais, Biologia, Ciências Econômicas,
Ciências Sociais, Direito, Enfermagem, Educação Física, Engenharia de Produção, Física,
Geografia, História, Letras, Matemática, Pedagogia, Teatro e Tecnologia da Construção Civil.
Pense!
E mais orgulhosamente ainda 9vos digo: a URCA, segundo o Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 10viva o gênio Anísio Teixeira, tem a
menor taxa de evasão universitária do Brasil, apenas 4,47%. Como a turma dá valor ao
candeeiro iluminista sertões adentro. Choro um Orós inteiro e ainda derramo minhas
lágrimas no Jaguaribe, rio 11que constava nos meus livros didáticos como o “rio mais seco do
mundo”. 12Desculpa aí, hoje só 13venho 14com as grandezas.
Hoje, se eu pudesse, faria você também refletir com um discurso na linha do David
Foster Wallace (1962-2008). Aquela sua fala como paraninfo de uma turma de formandos
americanos do Kenyon College, em 2005, Gambier, Ohio. Ele escreveu uma singularíssima
fábula sobre — 15repare só! — dois peixinhos e a água. Recomendo a leitura. O texto está no
livro Ficando longe do fato de já estar meio que longe de 16tudo (Companhia das Letras).
De Ohio ao Cariri. Além da URCA, em 2013 conquistamos (nada é de graça) a UFCA, a
brava Universidade Federal do Cariri. 17Era um facho, uma fogueira, era um candeeiro, era
uma lamparina, era uma luminária a gás butano, fez-se a luz, pardon matriz iluminista,
perdão Paris, mas o mundo e o futuro 18será de um certo Cariri que peleja, aprende a
preservar e estuda, somos a própria ideia viva de Patrimônio Universal da Humanidade, só
falta o referendo da Unesco — escuto os mestres do Reizado ao fundo, que batuque afro-
indígena-futurista.
[...]
Só deixo o meu Cariri, no último pau-de-arara. Qual o quê, corri léguas rodoviárias,
rumo ao Recife, a bordo da viação Princesa do Agreste, ainda no comecinho dos anos 1980.
Espírito beatnik, por desejo e necessidade, deixei Juazeiro — onde morava —, o Crato de
nascença, a Santana (Sítio das Cobras) afetiva de infância e a Nova Olinda das primeiras
letras. Seria o primeiro representante do clã (risos rurais amarcodianos) dos Sá-Menezes-
Freire-Novais, família meio pernambucana meio cearense, a chegar ao ensino superior. Um
Xicobrás, diria, 100% escolha pública, do primário ao campus da UFPE. Hoje tenho uma
penca de primos a cada nova formatura, sem precisar sequer sair dos arredores de casa.
E pensar que não havia a 19ideia de universidade no meu terreiro. Nada disso do que
hoje comemoro com os formandos da URCA e UFCA. [...].
Só nos resta defender [...]. Sem sequer o direito ao 20VAR (olho no lance) da história.
21
jmmmmmmmmmmmkk kkll l çnçççlllçlxsp. Eita, desculpa, caro leitor, pela incompreensão
da escrita, é que minha filha Irene invadiu esta crônica — tentando ver a Pepa Pig — e
dedilhou involuntariamente estas mal-traçadas linhas. [...]

Texto adaptado de Xico Sá, publicado em 10 ago. 2019. Disponível em:


https://brasil.elpais.com/brasil/2019/08/10/opinion/1565450440_001442.html. Acesso em:
14 ago. 2019

* Os termos sublinhados neste texto representam hyperlinks no texto original publicado no


sítio eletrônico do jornal El País. Conforme o dicionário Michaelis, hyperlink é, “no contexto
da hipermídia e do hipertexto, endereço que aparece em destaque (geralmente sublinhado
ou apresentado em uma cor diferente) e que, a um clique no mouse, permite a conexão com
outro site”.

18 [ 194828 ]. Qual alternativa está correta quanto às sintaxes de concordância e de


regência?
a) O termo formada (referência 8) está flexionado no feminino singular para concordar com
linguagem (referência 7).
b) A expressão “com as grandezas” (referência 14) é o objeto indireto que complementa o
verbo transitivo indireto vir (referência 13).
c) O substantivo ideia (referência 19) possui adequadamente o complemento nominal
introduzido pela preposição de.
d) O verbo ser (referência 18) deveria ter sido flexionado no plural para concordar com o
sujeito composto.

19 [ 182526 ]. Leia:

I. Fábio aspirou o perfume das flores.


II. O candidato aspirava a tal vaga do processo seletivo.
Em função da regência do verbo “aspirar”, considerando a norma gramatical, marque a
alternativa correta.
a) As sentenças I e II estão corretas, porém, em II, é possível apagar a preposição “a”,
posposta ao verbo “aspirava”, mantendo a correção gramatical e o sentido do enunciado.
b) A sentença I está correta. A sentença II apresenta erro de regência percebido pela
presença da preposição “a”, indevidamente colocada após o verbo.
c) As sentenças I e II estão corretas. Ambas as regências do verbo “aspirar” estão de acordo
com a norma gramatical.
d) Somente a sentença II está correta. Houve erro de regência verbal na sentença I.

20 [ 187316 ]. Considerando que a transitividade verbal trata do tipo de relação que um


verbo estabelece com seu(s) complemento(s), analise o trecho em destaque e, em seguida,
assinale a alternativa cujo verbo sublinhado possui igual regência.

Chico Mendes não sobreviveu aos ataques sofridos.


a) O Brasil possui uma das principais fronteiras agrícolas do planeta.
b) Em geral, consumimos produtos contaminados.
c) Empresas indenizaram cerca de mil trabalhadores.
d) O ambientalista não cedeu aos constrangimentos.
e) O consumidor mais informado consome produtos orgânicos.
Gabarito:

Resposta da questão 1:
[B]

O substantivo “admiração” exige o uso da preposição “por”: quem tem admiração, tem
admiração por algo. Assim, a alternativa [B] deveria ser reescrita como “O pai recriminava os
hábitos culturais pelos quais a filha tinha admiração”.

Resposta da questão 2:
[B]

[A] Incorreta: há problemas em relação ao uso da crase. O correto seria: “devido a essa
questão” e “relativamente à expansão”.
[C] Incorreta: o verbo “deixar” é transitivo direto e, assim, seu complemento deveria
corresponder a um objeto direto e não indireto, como marcado pelo pronome “lhes”. O
correto seria: “para não os deixar”.
[D] Incorreta: é preciso inserir a preposição “em” antes do pronome relativo “que”, já que
ele retoma um lugar. O correto seria: “As universidades são organizações em que você...”

Resposta da questão 3:
[A]

Em [A], o acento grave indicativo de crase é utilizado para marcar uma locução adverbial de
tempo (“à tarde”).
Nas outras alternativas, o acento marca a regência: em [B], temos a regência do substantivo
“indiferente” (indiferente a algo); em [C], temos a regência do verbo levar (levar algo a
alguém); em [D], temos a regência do verbo furtar (furtar-se a algo); em [E], temos a
regência do verbo “passar” (passar a algo).

Resposta da questão 4:
[C]
Na primeira ocorrência, a crase da preposição “a”, exigida pelo adjetivo “semelhante”, e o
pronome demonstrativo aquele justifica o uso de acento grave: àquele. Na segunda, a
contração da preposição de com o pronome aquele dá origem a “daquele”. Na última, a
contração da preposição em com o pronome justifica o uso do termo “naquele”, remetendo
ao lugar mais seguro para a leitura. Assim, é correta a opção [C].

Resposta da questão 5:
[C]

Ao recuperar os períodos em que se encontram as referências, temos as seguintes


respostas:
A individuação consiste em o indivíduo alcançar sua 8singularidade profunda. – O verbo
“consiste” é regido pela preposição “em”.
Ainda na infância, precisamos assumir papéis que nos tornam aceitáveis para os colegas de
escola. – A palavra “papéis” é uma oxítona terminada em ditongo “éi” e, por isso, deve ser
acentuada.

Resposta da questão 6:
[D]

A primeira lacuna deve ser preenchida com os pronomes relativos “que” ou “o qual”
acompanhados da preposição “com” exigida para formação do adjunto adverbial de modo
da oração: o exibicionismo desavergonhado (com que) com o qual são manifestadas em
público essas posturas desumanas. Na segunda, acontece o mesmo processo com os
pronomes relativos “que” ou “o qual” e a preposição “com”: o desenfreio (com que) com o
qual se assedia. Como o substantivo “consenso” exige regência da preposição “sobre”, o
consenso social sobre o que é tolerável dizer, é correta apenas a opção [D].

Resposta da questão 7:
[B]

[I] quem detém a posse, detém a posse de algo.


[II] quem mantém contato, mantém contato com algo.
[III] quem confia, confia em alguém.
[IV] quem não se lembra, não se lembra de algo.
[V] quem faz uma longa crítica, faz uma longa crítica sobre algo.

Resposta da questão 8:
[C]

É correta a opção [C], pois os espaços em branco devem ser preenchidos, respectivamente,
com os termos “às”, “Há”, “a” e “as”. Na primeira ocorrência, o acento grave indica a crase
da preposição “a”, exigida pela regência do adjetivo “atentos”, com o artigo definido “as”
que precede o substantivo “espertezas”. Na segunda, o contexto exige que se aplique o
verbo haver com o sentido de existir, ou seja, “Há”. Na sequência, apenas o artigo “a” que
antecede o substantivo “compra” deve ser usado, pois a presença da preposição “para” já
eliminaria a possibilidade de ocorrência de qualquer outra. Finalmente, na última frase, o
termo “pessoas” constitui o sujeito da oração reduzida de infinitivo, “as pessoas serem
bobas”, não admitindo, portanto, preposição.

Resposta da questão 9:
[E]

[A] Incorreta: o correto seria “Consumidores preferem smartphones a celulares


convencionais.
[B] Incorreta: o correto seria “Hoje todas as músicas de que as pessoas gostam podem ser
acessadas no celular, por exemplo, pelo Spotify”.
[C] Incorreta: o correto seria “Os smartphones também são usados para assistir a vídeos no
Youtube.
[D] Incorreta: o correto seria “O medo do tédio leva muitas pessoas a se manterem
conectadas todo o tempo em que estão acordadas”.

Resposta da questão 10:


[D]

A alternativa [D] está incorreta, pois “atado” é regido pela preposição “a” e não pela
preposição “por”. Assim, o certo seria “Lucas deixou o cachorro atado a um poste”.

Resposta da questão 11:


[D]
[A] Incorreta: faltou a preposição antes do pronome “cujos”, já que o verbo “falar” exige a
preposição “sobre”. Dessa forma, o correto seria: “sobre cujos”.
[B] Incorreta: nesse caso, ao invés de utilizar o pronome “o qual”, seria necessário valer-se
do pronome “cujo”, já que existe uma relação de posse presente: são os componentes
das invenções alheias. Além disso, é exigida a preposição “em”, por conta do verbo
elaborar: elaborar aperfeiçoamentos constantes em componentes.
[C] Incorreta: não é exigida a preposição “a”, dessa forma, deve-se manter o pronome
relativo “os quais”.
[E] Incorreta: o mais adequado seria utilizar o pronome no plural, já que ele retoma “o
planejamento” e “a orquestração do Almirante Ramsay”. Dessa forma, teríamos “com os
quais”.

Resposta da questão 12:


[D]

O verbo “mencionar” é transitivo direto e, portanto, não apresenta objeto preposicionado.


Assim, a alternativa correta é a [D], em que não há preposição antecedendo o pronome
relativo “que”.

Resposta da questão 13:


[D]

[A] Incorreta: o correto seria “não paga à secretária”.


[B] Incorreta: o correto seria “namorava várias meninas”.
[C] Incorreta: o correto seria “assistir aos gols”.
[E] Incorreta: o correto seria “prefiro os sinceros ignorantes aos falsos educados”.

Resposta da questão 14:


[B]

O verbo “preferir” é regido pela preposição “a” e não “de”. Assim, em [B], é preciso fazer
essa alteração: “Eu preferia ter me arriscado mais a ter essa dor profunda no coração”.
Resposta da questão 15:
[D]

Em [A], [B] e [C], as frases apresentam desvios à norma culta da linguagem, pois

[A] é necessário o acento grave no vocábulo “as” para indicar a crase da preposição “a”
exigida pela regência do verbo vincular e o artigo definido “as”, ligado ao substantivo
“políticas”. Também a preposição “de” é inadequada porque antecede o sujeito da
oração, pronome relativo “que”, cujo referente é “cultura própria”.

[B] a preposição “de” que precede o pronome relativo “cujas” é inadequada, na medida em
que o objeto indireto do verbo vincular exige apenas a preposição “a”, corretamente
associada ao artigo “as” no sintagma “às”: “devem vincular-se às políticas públicas”.
Incorreto também o uso da preposição “a” por anteceder o sujeito da oração, pronome
relativo “que”, cujo referente é “cultura própria”.

[C] a preposição “a” é inadequada porque antecede o sujeito da oração, pronome relativo
“que”, cujo referente é “cultura própria”. O sintagma “à” está indevidamente assinalado
com acento grave, por pressupor crase de preposição com artigo na expressão que exerce
função de sujeito.

Assim, é correta apenas [D].

Resposta da questão 16:


[C]

[A] Incorreta: quem obedece, obedece a algo (a nenhuma regra).


[B] Incorreta: quem serve, serve a algo (ao bem comum).
[D] Incorreta: quem paga, paga algo (pagam altos preços).
[E] Incorreta: o correto seria “não se esqueça de conferir...”.

Resposta da questão 17:


[D]
O verbo “dar” é transitivo direto e indireto (que dá, dá algo a alguém), assim como o verbo
“ajudar” (quem ajuda, ajuda alguém a fazer algo).

Resposta da questão 18:


[D]

[A] Incorreta: o termo “formada” concorda com o termo “balbúrdia”.


[B] Incorreta: a expressão “com as grandezas” é adjunto adverbial.
[C] Incorreta: o substantivo “ideia” é determinado pelo adjunto adnominal “de
universidade”.

Resposta da questão 19:


[C]

[A] Incorreta. Apesar de as sentenças estarem corretas, em II não é possível suprimir a


preposição, uma vez que o sentido seria trocado (“inspirar, inalar”) e se perderia a
correção gramatical.
[B] Incorreta. Ambas estão corretas.
[C] Correta. Quando transitivo direto, o verbo é sinônimo de “inspirar, inalar”; quando
indireto, torna-se sinônimo de “desejar”.
[D] Incorreta. Ambas estão corretas.

Resposta da questão 20:


[D]

O verbo destacado é transitivo indireto, já que exige complemento indireto iniciado pela
preposição “a” (sobreviver a algo). O mesmo ocorre com o verbo da alternativa [D], “ceder”
(ceder a algo).

5 Crase
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Leia o texto abaixo para responder à(s) questão(ões) a seguir.
“[...] Alguns leitores ao lerem estas frases (poesia citada) não compreenderam logo. Creio
mesmo que é impossível compreender inteiramente à primeira leitura pensamentos assim
esquematizados sem uma certa prática.”
Mário de Andrade – Artista

1 [ 173310 ]. Assinale a opção em que o termo destacado deve ser acentuado, conforme
ocorre na expressão “à primeira leitura”.
a) Veio, finalmente, a primeira vitória de sua carreira.
b) Conheceram-se numa biblioteca: foi amor a primeira vista.
c) Não será a primeira e nem a segunda leitura que o convencerá.
d) Foi a primeira vez que viajei a Portugal, e já quero retornar.
e) Não peça informações a qualquer primeira pessoa que encontrar.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


A(s) questão(ões) a seguir estão relacionadas ao texto abaixo.

Quando a 1economia 2política clássica nasceu, no Reino Unido e na França, ao final do


século XVIII e início do século XIX, a questão da distribuição da renda já se encontrava no
centro de todas as análises. Estava claro que 3transformações radicais entraram em curso,
propelidas pelo crescimento 4demográfico sustentado – inédito até então – e pelo início do
êxodo rural e da Revolução Industrial. Quais seriam as consequências sociais dessas
mudanças?
Para Thomas Malthus, que 5publicou em 1798 seu Ensaio sobre o princípio da
população, não restava dúvida: a superpopulação era uma ameaça. Preocupava-se
especialmente com a situação dos franceses vésperas da Revolução de 1789,
quando havia miséria generalizada no campo. Na época, a França era 7de longe o país mais
6

populoso da Europa: por volta de 1700, já contava com mais de 20 milhões de habitantes,
enquanto o Reino Unido tinha pouco mais de 8 milhões de pessoas. A 8população francesa
se expandiu em ritmo crescente ao longo do século XVIII, aproximando-se dos 30 milhões.
Tudo leva a crer que esse 9dinamismo demográfico, desconhecido nos séculos anteriores,
contribuiu para a 10estagnação dos salários no campo e para o aumento dos rendimentos
associados à 11propriedade da terra, sendo, portanto, um dos fatores que levaram
Revolução Francesa. 12Para evitar que torvelinho 13similar vitimasse o Reino Unido, Malthus
argumentou que 14toda assistência aos 15pobres deveria ser suspensa de imediato e a taxa de
natalidade deveria ser severamente controlada.
Já David Ricardo, que publicou em 1817 os seus Princípios de economia política e
tributação, preocupava-se com a 16evolução do preço da terra. Se o crescimento da
população e, 17consequentemente, da produção agrícola se prolongasse, a terra tenderia a
se 18tornar escassa. De acordo com a lei da oferta e da procura, o preço do bem escasso – a
terra – deveria subir de modo contínuo. No limite, 19os donos da terra receberiam uma parte
cada vez mais significativa da renda nacional, e o 20restante da população, uma parte cada
vez mais reduzida, 21destruindo o equilíbrio social. De fato, 22o valor da terra permaneceu
alto por algum tempo, mas, ao longo de século XIX, caiu em relação outras formas
de riqueza, à medida que diminuía o peso da agricultura na renda das nações. 23Escrevendo
nos anos de 1810, Ricardo não poderia antever a importância que o progresso tecnológico e
o crescimento industrial teriam ao longo das décadas seguintes para a evolução da
distribuição da renda.

Adaptado de: PIKETTY, T. O Capital no Século XXI. Trad. de M. B. de Bolle. Rio de Janeiro:
Intrínseca, 2014. p.11-13.

2 [ 156347 ]. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas 1, 2 e 3, nesta


ordem.
a) às – à – a
b) as – à – a
c) às – à – à
d) às – a – à
e) as – a – a

3 [ 204217 ]. Quanto ao uso ou não do acento grave indicador de crase, assinale a


alternativa que preenche, correta e respectivamente, as lacunas do texto abaixo.

“Minha mãe, pessoa mais intransigente da casa, um dia acordou aberta _____ novas
experiências. Deixou de lado seu ponto de vista contrário _____ aquisição de animais
domésticos e achou que valeria _____ pena adotar um cão. Porém, quanto _____
passarinhos, jamais; queria-os livres para voarem rumo ______ liberdade.”
a) a - a - à - a - a
b) à - a - à - à - à
c) à - à - a - à - a
d) a - à - a - a - à

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


O que nos torna pouco competitivos?

Renato Rozental

Lamentar a morte de mais de meio milhão de brasileiros por covid-19 é pouco. Esta é uma
discussão de resposta muito clara, quase óbvia. 1Se tivéssemos capacidade interna,
poderíamos ter suprido parte das necessidades do mercado e reduzido o impacto da
pandemia no sistema de saúde em tempo hábil. O quadro de calamidade é resultado de
décadas de políticas de incentivo 2___ mera reprodução em vez de estímulo 3___
capacitação profissional e ao domínio do processo produtivo.
Começar reproduzindo (‘copiando’) não é um problema. 4Basta lembrar 5da história
do nylon, fibra têxtil sintética patenteada pela empresa norte-americana DuPont em 1935 e
6
usada para provocar a indústria japonesa e fazê-la exportar menos seda. A resposta
japonesa foi 7contundente e imediata: ‘copiar’ o processo de manufatura e produzir nylon 6
meses após a desfeita. Atualmente, a China domina o mercado mundial de nylon, seguida
por 8Estados Unidos, Japão e Tigres Asiáticos. 9Os chineses perceberam que, na era
tecnológica, “o caminho mais curto para crescer é apostar em três frentes: inovação,
inovação e inovação”.
10
Nesse contexto, 11pergunto: qual é o perfil da nossa indústria farmacêutica?
12
Produzimos genéricos… até hoje. 13Mas a política 14de ‘genéricos’ tem como fragilidade o
fato de incluir apenas medicamentos cujas patentes já tenham expirado. 15O problema do
conhecimento tecnológico insuficiente e a dificuldade do nosso país em evoluir de ‘copiar’
para ‘inovar’ precisa ser tratado com prioridade e sem demagogia para romper o ciclo
vicioso da dependência tecnológica e trazer um diferencial competitivo.
O projeto de cranioplastia, reparo craniano extenso, pode ilustrar tanto a inovação
estimulada pela demanda como os entraves burocráticos ao desenvolvimento do produto.
Pelo lado clínico, 16___ cirurgias de reconstrução do crânio após remoção da calota craniana
envolvem um alto custo, incluindo a malha de titânio e porcelanato usada atualmente,
totalizando um gasto entre R$ 120 mil e R$ 200 mil por paciente, o que torna sua realização
no Sistema Único de Saúde (SUS) economicamente inviável. 17A cranioplastia faz-se
necessária não somente por razões estéticas – o que, por si só, já justificaria o procedimento
–, mas também para assegurar que o cérebro do paciente fique mais protegido e com
melhor irrigação sanguínea, resultando em melhoras cognitivas e comportamentais e
facilitando 18___ reintrodução do indivíduo na sociedade. 19No momento, infelizmente, a
implantação de próteses cranianas é realizada pelo SUS somente mediante doação ou após
sentença judicial, considerando que o paciente corre risco de vida.
Nossa equipe desenvolveu uma solução utilizando uma prótese de
polimetilmetacrilato (PMMA) confeccionada durante o período da cirurgia, com resultados
semelhantes 20e até superiores aos das próteses de titânio e porcelanato disponíveis, mas
com custo cerca de 20 vezes menor que o praticado no mercado, tornando o tratamento,
em teoria, viável e acessível à rede SUS. Estamos confiantes nos resultados das próteses
feitas de PMMA, na análise dos custos e na adequabilidade do produto para o mercado.
A ciência translacional não é algo que possa se embutir no sistema por decreto.
21
Grandes organizações, públicas e privadas, estão amarradas nas suas próprias burocracias,
o que dificulta o processo criativo e de inovação. No contexto da inovação em saúde,
precisamos inserir formas de gestão flexíveis, ágeis, que envolvam tomadas de decisão
descentralizadas, permitindo a responsabilização de todos os atores envolvidos, de modo a
ampliar os espaços de criatividade e de ousadia na busca e na implementação de soluções.
22
O que não dá para aceitar é continuar 23___ andar com o ‘freio de mão puxado’ e na
contramão do desenvolvimento sustentável.
24
Por fim, a dicotomia entre público e privado já deveria ter sido ultrapassada. A
saúde é direito de todos e dever do Estado. 25Quem trabalha com inovação quer ver o
produto funcionando no mercado global. 26Certa vez, em 1995, tive a oportunidade de ouvir
de Eric Kandel (Universidade Columbia), Rodolfo Llinás (Universidade de Nova York) e
Torsten Wiesel (Universidade Rockfeller) uma previsão sobre o cenário de concessões nos
Institutos Nacionais da Saúde (NIH) em 2015-2020: “quem não desenvolvesse uma ‘pílula’
para a sociedade como resultado do seu projeto de pesquisa estaria fora do pool”. Tal visão
está se tornando uma realidade global. 27Pessoalmente, acredito que um dos compromissos
mais preciosos que temos com a nossa população é o de proporcionar hoje, e não amanhã,
uma solução para que todos possam ser atendidos a tempo e desfrutem de boa qualidade
de vida.

(ROZENTAL, Renato. O que nos torna pouco competitivos? [Centro de Desenvolvimento


Tecnológico em Saúde. Fundação Oswaldo Cruz e Instituto de Ciências Biomédicas.
Universidade Federal do Rio de Janeiro]. Matéria publicada em Ciência Hoje de 20 de agosto
de 2021. Disponível em: https://cienciahoje.org.br/artigo/o-que-nos-torna-pouco-
competitivos/. Acesso em 18 de setembro de 2021). Texto adaptado para esta prova.
4 [ 204050 ]. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas das referências
2, 3, 16, 18 e 23, nessa ordem.
a) à – à – as – a – a.
b) à – à – às – a – a.
c) à – à – às – à – a.
d) a – a – as – à – à.
e) a – a – as – à – a.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Um caso de burro
Machado de Assis

Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que
determinei logo de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na
pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá
vulgar, e porventura torpe. Releve a importância; os gostos não são iguais.
Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo
passadiço, ao pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio
para remanso de burros, donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois,
vimos (eu ia com um amigo), vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos
furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz
cabeceava, mais tão frouxamente, que parecia estar próximo do fim.
Diante do animal havia algum capim espalhado e uma lata com água. Logo, não foi
abandonado inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quem quer que seja que o
deixou na praça, com essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se o autor dela é
homem que leia crônicas, e acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não
comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em
campos mais largos e eternos. Meia dúzia de curiosos tinha parado ao pé do animal. Um
deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na
anca do burro para espertá-lo, então eu não sei conhecer meninos, porque ele não estava do
lado do pescoço, mas justamente do lado da anca. Diga-se a verdade; não o fez – ao menos
enquanto ali estive, que foram poucos minutos. Esses poucos minutos, porém, valeram por
uma hora ou duas. Se há justiça na Terra valerão por um século, tal foi a descoberta que me
pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos.
O que me pareceu, é que o burro fazia exame de consciência. Indiferente aos
curiosos, como ao capim e à água, tinha no olhar a expressão dos meditativos. Era um
trabalho interior e profundo. Este remoque popular: por pensar morreu um burro mostra
que o fenômeno foi mal entendido dos que a princípio o viram; o pensamento não é a causa
da morte, a morte é que o torna necessário. Quanto à matéria do pensamento, não há
dúvidas que é o exame da consciência. Agora, qual foi o exame da consciência daquele
burro, é o que presumo ter lido no escasso tempo que ali gastei. Sou outro Champollion,
porventura maior; não decifrei palavras escritas, mas ideias íntimas de criatura que não
podia exprimi-las verbalmente.
E diria o burro consigo:
“Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não
furtei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa. Em toda a minha
vida, se dei três coices, foi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e
de saber o destino do verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele
como linguagem. Ultimamente é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar
por ser costume velho, não com ideia de agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão.
Quando passei do tílburi ao bonde, houve algumas vezes homem morto ou pisado na rua,
mas a prova de que a culpa não era minha, é que nunca segui o cocheiro na fuga; deixava-
me estar aguardando autoridade.”
“Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de
haver pensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a
arruaças, a própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os
direitos do burro, tais direitos não existem. Nenhum golpe de estado foi dado em favor dele;
nenhuma coroa os obrigou. Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma forma de governo,
teve em conta os interesses da minha espécie. Qualquer que seja o regime, ronca o pau. O
pau é a minha instituição um pouco temperada pela teima que é, em resumo, o meu único
defeito. Quando não teimava, mordia o freio dando assim um bonito exemplo de submissão
e conformidade. Nunca perguntei por sóis nem chuvas; bastava sentir o freguês no tílburi ou
o apito do bonde, para sair logo. Até aqui os males que não fiz; vejamos os bens que
pratiquei.”
“A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o
namorado à casa da namorada – ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia
ao bonde podia mirar a moça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido
para longe de um credor importuno. Ensinei filosofia a muita gente, esta filosofia que
consiste na gravidade do porte e na quietação dos sentidos. Quando algum homem, desses
que chamam patuscos, queria fazer rir os amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que
me dessem tapas e punhadas na cara. Em fim…”
Não percebi o resto, e fui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente
da descoberta, não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia
morrer. A consideração, porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes
principais, fez-me ver que os que ficavam não seriam menos exemplares do que esse. Por
que se não investigará mais profundamente o moral do burro? Da abelha já se escreveu que
é superior ao homem, e da formiga também, coletivamente falando, isto é, que as suas
instituições políticas são superiores às nossas, mais racionais. Por que não sucederá o
mesmo ao burro, que é maior?
Sexta-feira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto.
Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a
infância, como a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim
passam os trabalhos deste mundo. Sem exagerar o mérito do finado, força é dizer que, se ele
não inventou a pólvora, também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste final de
século. Requiescat in pace.

5 [ 196640 ]. Assinale a opção em que o acento grave indicativo de crase NÃO é colocado
por uma situação de regência.
a) “Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que
determinei logo de começar por ela esta crônica.”
b) “Indiferente aos curiosos, co,o ao capim e à água, tinha no olhar a expressão dos
meditativos.”
c) “[...] levando depressa o tílburi e o namorado à casa da namorada.”
d) “[...] não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer.”
e) “Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de
haver pensado sequer na perturbação da paz pública.”

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


A ciência e a tecnologia como estratégia de desenvolvimento

Um dos principais motores do avanço da ciência é a curiosidade humana,


descompromissada de resultados concretos e livre de qualquer tipo de tutela ou orientação.
A produção científica movida apenas por essa curiosidade tem sido capaz de abrir novas
fronteiras do conhecimento, de nos tornar mais sábios e de, no longo prazo, gerar valor e
mais qualidade de vida para o ser humano.
Por meio dos seus métodos e instrumentos, a ciência nos permite analisar o mundo
ao redor e ver além do que os olhos podem enxergar. O empreendimento científico e
tecnológico do ser humano ao longo de sua história é o principal responsável por tudo que a
humanidade construiu até aqui, desde o domínio do fogo até a moderna ciência da
informação, passando pela domesticação dos animais, pelo surgimento da agricultura e da
indústria modernas e, é claro, pela espetacular melhora da qualidade de vida de toda a
humanidade no último século.
Apesar dos seus feitos extraordinários, a ciência enfrenta uma crise de legitimação
social no mundo todo. Existe uma descrença do cidadão comum no conhecimento técnico e
científico e, mais do que isso, um certo orgulho da própria ignorância sobre vários temas
complexos. Vários fenômenos sociais recentes, como o movimento antivacinação ou mesmo
a desconfiança sobre o aquecimento global, apesar de todas as evidências científicas em
contrário, são exemplos dessa descrença.
A relação entre ciência, tecnologia e sociedade é de extrema complexidade, sem
dúvida alguma. Ela passa por uma série de questões, tais como de que forma a ciência e as
novas tecnologias afetam a qualidade de vida das pessoas e como fazer com que seus efeitos
sejam os melhores possíveis? Como ampliar o acesso da população aos benefícios gerados
pelo conhecimento científico e tecnológico? Em que medida o progresso científico e
tecnológico contribui para mitigar ou aprofundar as desigualdades socioeconômicas? Essas
são questões cruciais para a ciência e a tecnologia nos dias de hoje.

Disponível em: <www.ipea.gov.br/cts/pt/central-de-conteudo/artigos/artigos/116-a-ciencia-


e-a-tecnologiacomo-estrategia-de-desenvolvimento>. Acesso em: 24 ago. 2020. Adaptado.

6 [ 197037 ]. O acento grave indicador de crase deve ser utilizado, de acordo com a norma-
padrão da Língua Portuguesa, na palavra destacada em:
a) As pesquisas médicas são essenciais devido a urgência de implantar medidas efetivas de
combate às pandemias.
b) O bom uso dos recursos digitais conduz as pessoas a novas formas de aprendizado
científico.
c) Os países vêm utilizando diversas tecnologias que aumentam a capacidade de ação do ser
humano.
d) A tecnologia tem contribuído com progressos significativos para a humanidade desde a
revolução industrial.
e) O primeiro passo para buscar a cura de uma nova doença é conhecer os seus agentes
causadores.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Nunca imaginei um dia
Até alguns anos atrás, eu costumava dizer frases como “eu jamais vou fazer isso” ou
“nem morta eu faço aquilo”, limitando minhas possibilidades de descoberta e emoção. Não
é fácil libertar-se do manual de instruções que nos autoimpomos. Às vezes, leva-se uma vida
inteira, e nem assim conseguimos viabilizar esse projeto. Por sorte, minha ficha caiu há
tempo.
Começou quando iniciei um relacionamento com alguém completamente diferente
de mim, diferente a um ponto radical mesmo: ele, por si só, foi meu primeiro "nunca
imaginei um dia". Feitos para ficarem a dois planetas de distância um do outro. Mas o amor
não respeita a lógica, e eu, que sempre me senti tão confortável num mundo planejado
inaugurei a instabilidade emocional na minha vida. Prendi a respiração e dei um belo
mergulho.
A partir daí, comecei a fazer coisas que nunca havia feito. Mergulhar, aliás, foi uma
delas. Sempre respeitosa com o mar e chata para molhar os cabelos afundei em busca de
tartarugas gigantes e peixes coloridos no mar de Fernando de Noronha. Traumatizada com
cavalos (por causa de um equino que quase me levou ao chão quando eu tinha oito anos),
participei da minha primeira cavalgada depois dos 40, em São Francisco de Paula. Roqueira
convicta e avessa a pagode, assisti a um show do Zeca Pagodinho na Lapa. Para ver o
Ronaldo Fenômeno jogar ao vivo, me infiltrei na torcida do Olímpico num jogo entre Grêmio
e Corinthians, mesmo sendo colorada.
Meu paladar deixou de ser monótono: comecei a provar alimentos que nunca havia
provado antes. E muitas outras coisas vetadas por causa do "medo do ridículo" receberam
alvará de soltura. O ridículo deixou de existir na minha vida.
Não deixei de ser eu. Apenas abri o leque, me permitindo ser um “eu” mais amplo. E
sinto que é um caminho sem volta.
Um mês atrás participei de outro capítulo da série “Nunca imaginei um dia”. Viajei
numa excursão, eu que sempre rejeitei essa modalidade turística. Sigo preferindo viajar a
dois ou sozinha, mas foi uma experiência fascinante, ainda mais que a viagem não tinha
como destino um país do circuito Elizabeth Arden (Paris-Londres-Nova York), mas um país
africano, muçulmano e desértico. Aliás, o deserto de Atacama, no Chile, será meu provável
“nunca imaginei um dia” do próximo ano.
E agora cometi a loucura jamais pensada, a insanidade que nunca me permiti, o ato
que me faria merecer uma camisa-de-força: eu, que nunca me comovi com bichos de
estimação, adotei um gato de rua.
Pode colocar a culpa no espírito natalino: trouxe um bichano de três meses pra casa,
surpreendendo minhas filhas, que já haviam se acostumado com a ideia de ter uma mãe
sem coração. E o que mais me estarrece: estou apaixonada por ele.
Ainda há muitas experiências a conferir: fazer compras pela internet, andar num
balão, cozinhar dignamente, me tatuar, ler livros pelo kindle, viajar de navio e mais umas 400
coisas que nunca imaginei fazer um dia, mas que já não duvido. Pois tem essa também:
deixei de ser tão cética.
Já que é improvável que o próximo ano seja diferente de qualquer outro, que a
novidade sejamos nós.

Medeiros, Martha. Nunca Imaginei um dia. 2009. Disponível em:


http://alagoinhaipaumirim.blogspot.com/2009/12/nunca-imaginei-um-dia-martha-
medeiros.html. Acesso em: 10 fev. 2021.

7 [ 203249 ]. Na frase "Assisti a um show do Zeca Pagodinho." (3º parágrafo), tem-se a


observância da norma padrão da língua. Em que opção tal fato também ocorre?
a) A cidade à qual fomos ficava no continente africano, a uma distância de poucos
quilômetros da capital.
b) Meus leitores fizeram referência à esta viagem ao Chile, mas também elogiaram minha
ida a Paris e a Londres.
c) Eu estava disposta à fazer coisas que nunca havia feito: andar à cavalo, ir à praia e, sem
dúvidas visitar a casa de Pablo Neruda.
d) A medida que o tempo passava, mais mudanças eu realizava, a fim de não deixar de
vivenciar novas experiências.
e) Minhas filhas não viam o gato delas desde à semana passada, quando viajamos; e, mesmo
à distância, sentiam muito a falta dele.

8 [ 192379 ]. Preencha os espaços em branco com Há, a, à, nessa ordem.

I. _____ dois anos não _____ visitava, mas sua mãe sempre esteve _____ espera.
II. _____ beira do precipício, _____ poucos arbustos _____ decorar a paisagem.
III. _____ quem quisesse ver, demonstrei que não _____ possibilidade de resolver _____
questão.
IV. _____ alguma chance, _____ custa de muito esforço, de obter _____ vaga pretendida.
V. _____ ao menos três maneiras de encaminhar isso _____ quem está _____ disposição
para ajudar.
As frases corretas, de acordo com a ordem proposta, são:
a) II - III - IV
b) I - V
c) I - III - IV
d) III - V

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


A Lenda da Manioca (lenda dos índios Tupis)

1
A filha do cacique da tribo deu à luz uma linda indiazinha. A tribo espantou-se:
– Como é branquinha esta criança!
E era mesmo. Perto dos outros curumins da taba, parecia um raiozinho de lua. Chamaram-na
Mani. Mani era linda, silenciosa e quieta. Comia pouco e pouco bebia. Os pais preocupavam-
se.
– Vá brincar, Mani, dizia o pai.
– Coma um pouco mais, dizia a mãe.
Mas a menina continuava quieta, cheia de sonhos na cabecinha. Mani parecia esconder um
mistério.
Uma bela manhã, não se levantou da rede. O pajé foi chamado. Deu ervas e bebidas à
menina. Mas não atinava com o que tinha Mani. Toda a tribo andava triste. Mas, deitada em
sua rede, Mani sorria, sem doença e sem dor.
E, sorrindo, Mani morreu. Os pais a enterraram dentro da própria oca. E regavam sua cova
todos os dias, como era costume entre os índios Tupis. Regavam com lágrimas de saudade.
Um dia, perceberam que do túmulo de Mani rompia uma plantinha verde e viçosa.
– Que planta será esta? Perguntaram, admirados. Ninguém a conhecia.
– É melhor deixá-la crescer, resolveram os índios.
E continuaram a regar o brotinho mimoso. A planta desconhecida crescia depressa. Poucas
luas se passaram e ela estava altinha, com um caule forte, que até fazia a terra se rachar em
torno.
– A terra parece fendida, comentou a mãe de Mani.
– Vamos cavar?
E foi o que fizeram. Cavaram pouco e, à flor da terra, viram umas raízes grossas e morenas,
quase da cor dos curumins, nome que dão aos meninos índios. Mas, sob a casquinha
marrom, lá estava a polpa branquinha, quase da cor de Mani. Da oca de terra de Mani surgia
uma nova planta!
– Vamos chamá-la Mani-oca, resolveram os índios.
2
– E, para não deixar que se perca, vamos transformar a planta em alimento!
Assim fizeram!
Depois, fincando outros ramos no chão, fizeram a primeira plantação de mandioca. E até
hoje entre os índios do Norte e Centro do Brasil é este um alimento muito importante. E, em
todo o Brasil, quem não gosta da plantinha misteriosa que surgiu na casa de Mani?

Adaptado de macvirtual.usp.br/mac/templates/jogo/lenda.asp/ Acessado em 10/10/19.

9 [ 193960 ]. No primeiro parágrafo, lê-se: “A filha do cacique da tribo deu à luz uma linda
indiazinha.” (ref. 1)

Sobre a ocorrência da crase, considere a afirmação correta quanto à expressão em destaque:


a) Não está apropriada a expressão, devendo ser alterada para: deu a luz a uma linda
indiazinha.
b) Não está apropriada a expressão, devendo ser grafada da seguinte forma: deu a luz à uma
linda indiazinha.
c) Não está apropriada a expressão, sendo necessário alterar para: deu à luz a uma linda
indiazinha.
d) Está apropriada a expressão, devendo-se manter a oração como está.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Direito e avesso
Rachel de Queiroz

Conheci uma moça que escondia como um crime certa feia cicatriz de queimadura
que tinha no corpo. De pequena a mãe lhe ensinara a ocultar aquela marca de fogo e nem
sei que impulso de desabafo levou-a a me falar nela; e creio que logo se arrependeu, pois
me obrigou a jurar que jamais repetiria a alguém o seu segredo. Se agora o conto é porque a
moça é morta e a sua cicatriz já estará em nada, levada com o resto pelas águas de março,
que levam tudo.
Lembrou-me isso ao escutar outra moça, também vaidosa e bonita, que discorria
perante várias pessoas a respeito de uma deformação congênita que ela, moça, tem no
coração. Falava daquilo com mal disfarçado orgulho, como se ter coração defeituoso fosse
uma distinção aristocrática que se ganha de nascença e não está ao alcance de qualquer um.
E aí saí pensando em como as pessoas são estranhas. Qualquer deformação, por mais
mínima, sendo em parte visível do nosso corpo, a gente a combate, a disfarça, oculta como
um vício feio. Este senhor, por exemplo, que nos explica, abundantemente, ser vítima de
divertículos (excrescências em forma de apêndice que apareceram no seu duodeno), teria o
mesmo gosto em gabar-se da anomalia se em lugar dos divertículos tivesse lobinhos
pendurados no nariz? Nunca vi ninguém expor com orgulho a sua mão de seis dedos, a sua
orelha malformada; mas a má formação interna é marca de originalidade, que se descreve
aos outros com evidente orgulho.
Doença interna só se esconde por medo da morte – isto é, por medo de que, a
notícia se espalhando, chegue a morte mais depressa. Não sendo por isso, quem tem um
sopro no coração se gaba dele como de falar japonês.
Parece que o principal impedimento é o estético. Pois se todos gostam de se
distinguir da multidão, nem que seja por uma anomalia, fazem ao mesmo tempo questão de
que essa anomalia não seja visivelmente deformante. Ter o coração do lado direito é uma
glória, mas um braço menor que o outro é uma tragédia. Alguém com os dois olhos límpidos
pode gostar de épater uma roda de conversa, explicando que não enxerga coisíssima
nenhuma por um daqueles límpidos olhos, e permitira mesmo que os circunstantes curiosos
lhe examinem o olho cego e constatem de perto que realmente não se nota diferença
nenhuma com o olho são. Mas tivesse aquela pessoa o olho que não enxerga coalhado pela
gota-serena, jamais se referiria ao defeito em público; e, caso o fizesse, por excentricidade
de temperamento sarcástico ou masoquista, os circunstantes bem-educados se sentiriam na
obrigação de desviar a vista e mudar de assunto.
Mulheres discutem com prazer seus casos ginecológicos; uma diz abertamente que já
não tem um ovário, outra, que o médico lhe diagnosticou um útero infantil. Mas, se ela
tivesse um pé infantil, ou seios senis. será que os declararia com a mesma complacência?
Antigamente havia as doenças secretas, que só se nomeavam em segredo ou sob
pseudônimo. De um tísico, por exemplo, se dizia que estava “fraco do peito”; e talvez tal
reserva nascesse do medo do contágio, que todo mundo tinha. Mas dos malucos também se
dizia que “estavam nervosos” e do câncer ainda hoje se faz mistério – e nem câncer e nem
doidice pegam.
Não somos todos mesmo muito estranhos? Gostamos de ser diferentes – contanto
que a diferença não se veja. O bastante para chamar atenção, mas não tanto que pareça
feio.
Fonte: O melhor da crônica brasileira,1/ Ferreira Guillar... [et al.]. 5a ed. Rio de Janeiro: José
Olympio, 2007.

Vocabulário:
épater: impressionar

Com base no texto, responda.

10 [ 202292 ]. [...] os circunstantes bem-educados se sentiriam na obrigação de desviar a


vista e mudar de assunto.

Tendo em vista outros empregos da expressão sublinhada, deve ocorrer o uso do acento
grave somente em:
a) Era maravilhosa a vista da janela daquele quarto.
b) Usar computador constantemente pode prejudicar a vista.
c) Quando será realizada a vista de prova?
d) Dói-me a vista esquerda.
e) A gasolina está no fim e não há um posto de combustível a vista.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Quando pensamos em EXPERIÊNCIAS ESTUDANTIS NO EXTERIOR, automaticamente
relacionamos o tema aos melhores aspectos positivos possíveis, como a vivência na língua,
na cultura, na culinária, entre outros. Contudo, há outros aspectos relevantes – positivos e
negativos – que a atividade deseja também abordar. Somos seres humanos em construção e
interligados pela intensa globalização do século XXI. Assim, a escolha desse tema se dá pelo
desejo de acrescentar reflexões importantes ao cotidiano de nossos jovens estudantes.

Texto

Brasileira ganha bolsa para estudar em Harvard


Uma gonçalense de 18 anos é a única estudante brasileira aprovada para estudar na
Universidade de Harvard, nos EUA, este ano. E com bolsa integral.

Uma gonçalense de 18 anos é a única estudante brasileira aprovada para estudar na


Universidade de Harvard, no EUA, este ano. E com bolsa integral. A façanha de Flávia Medina
da Cunha é considerada tão especial que será tema de palestra de orientadores
educacionais, nesta quarta-feira de manhã (19 de agosto de 2009), no auditório do Colégio
Militar do Rio de Janeiro. Na mesma época dos exigentes exames para Harvard, ela passou
nos vestibulares da UFRJ, UFF e UERJ e na prova de admissão da Academia da Força Aérea
(AFÃ). "Estudei tantas horas que perdi a conta de quantas", confessa Flávia, que vai cursar
Engenharia Química. Ela já havia começado o curso na UFRJ.
Fã da obra de Machado de Assis, ela precisou se debruçar sobre livros especializados
na cultura norte-americana. Flávia obteve ainda 90% de bolsa na Universidade da
Pensilvânia. "Fiquei na lista de esperada Yale University, Duke University, Rice University e
Tufts", enumerou Flávia, cujos dois irmãos estudam na Escola Naval. Os pais, que são
professores, estão orgulhosos, mas não escondem a preocupação. "O coração está apertado,
mas ela é perseverante e carismática", conta a mãe, Gilza da Cunha, 57 anos. Em Harvard, a
estudante terá alojamento, refeição e receberá US$ 3mil (R$ 5,3 mil) por mês, além da
oportunidade de emprego no campus. Flávia embarca hoje à noite no voo 860 da United
Airlines. Na bagagem, a bandeira do Brasil e a medalha de Santo António. No coração, a
saudade de casa. "Não vou chorar", avisa Flávia. "Muita gente sonha em ir à Disney e realiza
o sonho. Por que não sonhar em aprimorar os conhecimentos no exterior?", lança o desafio
o gerente de pesquisas do escritório da Harvard no Brasil, Tomás Amorim. (...)

(Adaptado de https://www.mundovestibular.com.br/vestibular/noticias/brasileira-ganha-
bolsa-para-estudar-em-han/ard/. Acessado em: 02/09/2020)

11 [ 197106 ]. No trecho "Muita gente sonha em ir à Disney e realiza o sonho", pode-se


afirmar que o emprego do sinal indicativo de crase encontra-se de acordo com a norma
gramatical.

A mesma afirmação só pode ser feita em relação a uma das alternativas a seguir. Assinale-a.
a) Irei à Santa Catarina aproveitar o sol.
b) Fui à Londres e visitei vários castelos.
c) Fui cedo à Madri e vi um belo jogo.
d) Não há como ir à Roma e não visitar o Papa.
e) Vou à Búzios das belas praias passar o feriado.

12 [ 192380 ]. Assinale a frase que está de acordo com as normas da língua escrita padrão.
a) Toda comunidade indígena, cujas aspirações e necessidades devem vincular-se as políticas
públicas, possui cultura própria, de que precisa ser respeitada.
b) Toda comunidade indígena, de cujas aspirações e necessidades devem vincular-se às
políticas públicas, possui cultura própria, a que precisa ser respeitada.
c) Toda comunidade indígena, a cujas aspirações e necessidades devem vincular-se às
políticas públicas, possui cultura própria, à qual precisa ser respeitada.
d) Toda comunidade indígena, a cujas aspirações e necessidades devem vincular-se as
políticas públicas, possui cultura própria, que precisa ser respeitada.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Como o comportamento de manada explica adesão impensada aos ativismos políticos

O ativismo se expressa, sobretudo, através de movimentos coletivos. Mas essa


própria noção de coletividade pode ser uma pressão para pessoas participarem de um
movimento simplesmente para sentirem que fazem parte de algo: a chamada “mob
mentality” ou comportamento de manada é um instrumento político e uma arma para
promover a agenda de grupos específicos.
A teoria psicológica de “comportamento de manada” sugere que seres humanos têm
maior probabilidade de adotar determinados comportamentos porque seus amigos, colegas
de trabalho e vizinhos já o adotam. Basicamente, ninguém quer ser o primeiro ou o último a
fazer algo, mas sim estar seguro e inserido em um determinado grupo social.
“Se a questão é o que fazer com uma caixa de pipoca vazia em um cinema, com que
rapidez dirigir em um determinado trecho de rodovia ou como comer o frango em um
jantar, as ações das pessoas ao nosso redor serão importantes para definir nossa resposta”,
diz o psicólogo Robert Cialdini, autor de “Influência: A Psicologia da Persuasão”.
A mesma lógica se aplica a ideologias políticas: um estudo da Universidade da
Califórnia em Berkeley constatou que as pessoas tendem a alinhar suas opiniões políticas às
do grupo em que estão inseridas.
O experimento reuniu 63 pessoas de duas cidades do Colorado: o primeiro de
Boulder, um município com maioria de esquerda, enquanto o outro reunia pessoas de
Colorado Springs. Ambos os grupos discutiram aquecimento global, ações afirmativas e
união civil para casais do mesmo sexo.
Nas duas discussões, o principal efeito foi tornar os membros do grupo mais
extremos em suas opiniões, comparado ao que eram antes de começarem a conversar. Ou
seja: progressistas se tornaram mais progressistas nas três questões, enquanto
conservadores se tornaram mais conservadores.
“Todos queremos tomar decisões melhores. Estudos identificam os papéis benéficos
das estruturas de diversidade de pensamento, subgrupo e liderança plana na otimização de
ideias e resolução de problemas”, diz Zac Baynham-Herd, analista da prática de ciências
comportamentais da Ogilvy Consulting. “À medida que a atividade online cresce, o potencial
de proliferação de 'ovelhas negras' e ‘comportamento de manada’ também aumenta”,
acrescenta.

Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/como-o-comportamento-de-


manada-explica-adesao-impensada-aos-ativismos-politicos/>. Acesso em: 23 set. 2019.
Publicado em 22 set. 2019. [Fragmento adaptado].

13 [ 192374 ]. Considerando o texto, assinale a alternativa correta.


a) A frase “Ou seja: progressistas se tornaram mais progressistas nas três questões,
enquanto conservadores se tornaram mais conservadores” mantém o mesmo significado
se for reescrita da seguinte forma: “isso quer dizer que se os progressistas se tornaram
mais progressistas então os conservadores se tornaram mais conservadores”.
b) Em “[...] um estudo da Universidade da Califórnia em Berkeley constatou que as pessoas
tendem a alinhar suas opiniões políticas às do grupo em que estão inseridas”, o vocábulo
“às” é constituído pela combinação da preposição “a” mais o artigo definido “as”.
c) Em “A mesma lógica se aplica a ideologias políticas [...]”, faltou indicar a ocorrência de
crase em “à ideologias políticas”.
d) Em “[...] seres humanos têm maior probabilidade de adotar determinados
comportamentos porque seus amigos, colegas de trabalho e vizinhos já o adotam”, há um
erro de concordância nominal.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Rap: uma linguagem dos guetos

Entre as vozes que se cruzam na cacofonia urbana da sociedade globalizada, há uma


que se sobressai pela sua radicalidade marginal: o rap. A moderna tradição negra dos guetos
norte-americanos é, hoje, cantada pelos jovens das periferias de todos os quadrantes do
globo. Mas diferentemente das estereotipias produzidas pela nação hegemônica e
difundidas em escala planetária, a cultura hip-hop costuma ser assimilada como uma fala
histórica essencialmente crítica por uma juventude com tão escassas vias de fuga ao sempre
igual. Quando, por exemplo, jovens de uma favela brasileira incorporam esta linguagem
tornada universal, por mais que a sua realidade seja diferente daquela dos marginalizados
do país de origem, a forma permanece associada a um conteúdo crítico – uma visão de
mundo subalterna e frequentemente subversiva.
1
O rap é hoje uma forma de expressão comunitária, por meio da qual se comunicam
e afirmam sua identidade habitantes dos morros e comunidades populares. /.../
O surgimento do movimento hip-hop nos remete ao contexto no qual estavam
inseridos os Estados Unidos dos anos 60 e 70, no auge da Guerra Fria. Foram anos de tensão
e muita agitação política. 2O descontentamento popular com a guerra do Vietnã somava-se à
pressão das comunidades negras segregadas, 3submetidas a leis similares às do apartheid
sul-africano. O clima de revolta e inconformismo tomava conta dos guetos negros.
/.../
Na trilha da agitação política ocorriam inovações culturais. Nos guetos, o que se
ouvia era o soul, que foi importante para a organização e conscientização daquela
população. /.../ No mesmo período surge uma variedade de outros ritmos, como o funk,
marcados por pancadas poderosas que causavam estranhamento aos brancos, letras que
invocavam a valorização da cultura negra e 4denunciavam as condições às quais eram
submetidas as populações dos guetos. O soul e o funk foram as bases musicais que
permitiram o surgimento do rap, que virá a ser um dos elementos do movimento hip-hop.
5
Por essa época ou um pouco antes, jovens negros já dançavam [o break] nas ruas ao
som do soul e do funk de uma forma inovadora, executando passos que lembravam ao
mesmo tempo uma luta e os movimentos de um robô. /.../
Finalmente, 6além da música e da dança, propagava-se pelos guetos, ainda, o hábito
de desenhar e escrever em muros e paredes. /.../ Nesse contexto de efervescência político-
cultural, grafiteiros, breakers e rappers começaram a se reunir para realizar eventos juntos,
7
afinal suas artes estavam relacionadas a uma experiência comum, a 8cultura de rua. /.../
9
Por volta de 1982, o rap chegou ao Brasil, fixando-se, sobretudo, em São Paulo. /.../
Nos últimos anos da década de 90, o rap brasileiro ultrapassou os limites da periferia
dos grandes centros e chegou à classe média. /.../ 10O rap de caráter mais comercial passou
então a ser amplamente difundido pelo país, ao mesmo tempo em que, em sua forma
marginal, a linguagem continuava a se desenvolver nos espaços populares.
Há que se destacar o caráter inovador do rap nacional, que reelabora, de forma
criadora, a partir de tradições populares brasileiras, a linguagem dos guetos norte-
americanos, mesclando o ritmo do Bronx a gêneros como o samba e a embolada.
/.../
Não se trata, no entanto, de idealizar o hip-hop como forma de conhecimento. 11O
movimento, seguramente, não é homogêneo: possui tendências mais ou menos politizadas,
mais ou menos engajadas e críticas. Há, por assim dizer, uma vertente cuja tônica é a
denúncia, a agitação e o protesto. Outra, espontânea, sem uma linha política coerente e
definida. 12E outra ainda, talvez hegemônica, já assimilada pelo mercado, que reproduz o
modelo de comportamento, aspirações e ideais dominantes (consumismo, individualismo e
exaltação da vida privada), como a maioria das canções ditas "de massa".

(COUTINHO, Eduardo Granja, ARAÚJO, Marianna. Rap: uma linguagem dos guetos. In: PAIVA,
Raquel, TUZZO, Simone Antoniaci (Orgs.). Comunidade, mídia e cidade: possibilidades
comunitárias na cidade hoje. Goiânia: FIC/UFG, 2014.)

14 [ 184164 ]. Assinale a alternativa em que a reescrita proposta NÃO está de acordo com a
norma padrão da Língua Portuguesa.
a) “O rap é hoje uma forma de expressão comunitária, por meio da qual se comunicam...”
(ref. 1) O rap é hoje uma forma de expressão comunitária, com à qual se comunicam.
b) “O descontentamento popular com a guerra do Vietnã somava-se à pressão das
comunidades negras...” (ref. 2 Ao descontentamento popular com a guerra do Vietnã
somava-se a pressão das comunidades negras.
c) “...submetidas a leis similares às do apartheid...” (ref. 3) ...submetidas a leis similares
àquelas do apartheid.
d) “...denunciavam as condições às quais eram submetidas as populações dos guetos.” (ref.
4) denunciavam as condições a que eram submetidas as populações dos guetos.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o texto abaixo para responder à(s) questão(ões) a seguir.

COMO A DESIGUALDADE PODE ESTAR IMPULSIONANDO AS SELFIES SENSUAIS


O que está por trás do fenômeno da selfie sexy? A obsessão online que vivemos hoje tem sido
vinculada à vaidade e até à opressão de gênero. Mas esse poderia ser também um
comportamento guiado pela economia

Uma imagem vale mais que mil palavras. Da mesma forma, parece que há mais por
trás das selfies do que pode parecer à primeira vista. A obsessão online que vivemos hoje
tem sido vinculada à vaidade e até à opressão de gênero. Mas poderia ser também um
comportamento guiado pela economia?
Asma Elbadawi é uma artista visual de origem inglesa e sudanesa. Ela acha que o
capitalismo moderno impulsiona as mulheres a se fotografarem como objetos de desejo.
Recentemente, ela postou uma selfie no Instagram com desenhos no rosto, lembrando as
marcas feitas em pacientes antes de uma cirurgia plástica. Elbadawi, ativista reconhecida
pelo empoderamento de jovens muçulmanas, afirma que sua intenção era usar a linguagem
de cartazes publicitários, criando uma mensagem irônica.
O trabalho de Elbadawi levanta uma questão interessante. Conquistas femininas
possibilitaram às mulheres denunciarem tudo que as objetifica, desde a cantada na rua até a
cultura machista do teste de fidelidade de programas de auditório. Apesar disso, a
disseminação das redes sociais faz com que sejamos bombardeados com imagens
sexualizadas de mulheres. Por quê?
Khandis Blake, psicóloga na Universidade de New South Wales, em Sydney, pesquisa
o que a sexualização das mulheres pode nos dizer sobre as sociedades. Segundo ela, as
selfies são geralmente tiradas como um sinal de discriminação de gênero. Ou seja, as
mulheres tiram selfies porque elas sentem que precisam parecer atraentes para os homens.
Mas, além disso, a última pesquisa de Blake encontrou um aspecto econômico. O
resultado é que o fenômeno da selfie sexy é mais prevalente em países educados e
desenvolvidos, afirma Blake. "São as mesmas sociedades que passaram décadas lutando
contra a objetificação sexual de mulheres e garotas - e que estão fazendo com que homens
poderosos expliquem seu comportamento em relação a mulheres".
Para entender essa aparente contradição, a equipe da psicóloga avaliou indicadores
econômicos e de gênero nesses países e descobriu que as mulheres são mais propensas a
investir tempo e esforço em tirar e postar selfies sexy em países onde a desigualdade
econômica está subindo.
Isso explicaria, segundo ela, por que os Estados Unidos, Reino Unido e Cingapura -
onde a desigualdade de renda está aumentando - estão entre os países mais viciados em
selfies, juntamente com um conjunto de países menos desenvolvidos mas muito desiguais -
como Brasil, México e Colômbia.

UCHOA, P. #Instaperfect: como a desigualdade pode estar impulsionando as selfies sensuais.


Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/geral-45416858>. Acesso em: 25 set.
2018 (adaptado).

15 [ 186022 ]. A propósito do uso do acento grave indicativo de crase no texto, avalie as


análises abaixo.

I. A expressão “à primeira vista” (1º parágrafo), recebe o acento grave por causa da regência
do verbo “parecer”, que exige complemento com a preposição “a”.
II. Em “A obsessão online que vivemos hoje tem sido vinculada à vaidade” (1º parágrafo), o
uso do acento grave indica a contração da preposição “a” exigida pela locução “tem sido
vinculada” e o artigo “a”, determinante do substantivo “vaidade”.
III. Na expressão “até à opressão de gênero” (1º parágrafo), o uso do acento grave é
facultativo, pois “até” já cumpre a função de preposição.
IV. No trecho “Conquistas femininas possibilitaram às mulheres denunciarem tudo que as
objetifica” (3º parágrafo), o uso do acento grave é obrigatório para indicar a junção da
preposição exigida pelo verbo “possibilitar” com o artigo “as”, que antecede o
substantivo “mulheres”.
V. Em “descobriu que as mulheres são mais propensas a investir” (6º parágrafo), o uso do
acento grave diante do substantivo “mulheres” é facultativo, pois a conjunção “que” já
cumpre a função de preposição.

Estão CORRETAS, apenas, as proposições


a) I, III e V.
b) I, II e III.
c) II, III e IV.
d) II, IV e V.
e) I, IV e V.
Gabarito:

Resposta da questão 1:
[B]

O “a” é acentuado em “à primeira leitura”, pois ele marca a união do artigo feminino “a”,
que antecede “primeira” e a preposição “a”. A mesma junção deve ocorrer em [B]: temos a
preposição “a”, introduzindo o adjunto que indica a forma como foi o amor, unida ao artigo
feminino “a”, que antecede “primeira”.
Nas alternativas [A], [C] e [D], não há preposição antecedendo “primeira”, somente o artigo.
Na alternativa [E], há preposição antecedendo “qualquer”, mas não há artigo definido
feminino, uma vez que “qualquer” é uma palavra invariável.

Resposta da questão 2:
[A]

A alternativa [B] está incorreta, pois na lacuna 1 ocorre crase na locução com o substantivo
feminino “vésperas”.
Já na alternativa [C] está incorretamente indicada a ocorrência de crase na lacuna 3, pois
nesse caso não há artigo.
Está errada a alternativa [D], porque na lacuna 2 o verbo “levar” demanda o uso da
preposição “a”, que, por vir antes de um substantivo feminino (“Revolução”) e
acompanhando o artigo feminino “a”, deve carregar o acento grave para indicar a ocorrência
de crase.
E a alternativa [E] está incorreta por trazer os mesmo equívocos presentes nas alternativas
[B] e [D].

Resposta da questão 3:
[D]

A crase ocorre quando há a junção do artigo feminino “a” com a preposição “a”. Dessa
forma, nesse exercício que só apresenta alternativas no singular (“a” ou “à”), a crase só pode
ocorrer quando anteceder palavras femininas no singular e precedidas pela preposição “a”.
Na primeira lacuna, ainda que tenhamos a preposição “a” (abertas a), temos uma palavra no
plural e, dessa forma, fica evidente que não há artigo feminino antecedendo-a. Portanto,
não há crase.
Na segunda lacuna, temos tanto a preposição “a” (contrário a) quanto o artigo feminino “a”
que precede a palavra feminina singular “aquisição”. Portanto, há crase.
Na terceira lacuna, temos o artigo feminino “a”, que antecede o substantivo feminino
“pena”, mas não temos a preposição “a”, já que o verbo “valer” não exige preposição.
Portanto, não há crase.
Na quarta lacuna, o substantivo é masculino e plural (passarinhos) e, dessa forma, não pode
haver crase, já que não há artigo feminino.
Por fim, na última lacuna, temos a junção da preposição “a” (rumo a) e do artigo feminino
“a” que determina a palavra feminina singular “liberdade”. Portanto, há crase.

Resposta da questão 4:
[A]

Na primeira lacuna, vemos a preposição “a”, por conta da regência nominal de “incentivo”
(incentivo a algo), e o artigo definido feminino “a”, que antecede a expressão “mera
reprodução”. Assim, há crase.
Na segunda lacuna, vemos novamente a preposição “a”, por conta da regência nominal de
“estímulo” (estímulo a algo), e o artigo definido feminino “a”, que antecede o substantivo
feminino “capacitação”.
Na terceira lacuna, há apenas o artigo feminino no plural (“as”), que determina o substantivo
“cirurgias”.
Na quarta lacuna, há apenas o artigo feminino no singular (“a”), que determina o substantivo
“reintrodução”.
Por fim, na última lacuna, vemos apenas a preposição “a” (quem continua, continua a fazer
algo).

Resposta da questão 5:
[A]

Em [A], o acento grave indicativo de crase é utilizado para marcar uma locução adverbial de
tempo (“à tarde”).
Nas outras alternativas, o acento marca a regência: em [B], temos a regência do substantivo
“indiferente” (indiferente a algo); em [C], temos a regência do verbo levar (levar algo a
alguém); em [D], temos a regência do verbo furtar (furtar-se a algo); em [E], temos a
regência do verbo “passar” (passar a algo).

Resposta da questão 6:
[A]

Em [A], vemos a palavra feminina “urgência”, que deve ser antecedida pelo artigo feminino
“a” e também pela preposição “a”, já que a palavra da qual ela completa o sentido é regida
por essa preposição (devido a algo). Assim, temos a junção do artigo feminino e da
preposição, o que resulta na crase.
Em [B], temos apenas a preposição “a”. Em [C], [D] e [E], temos apenas o artigo feminino
“a”. Por isso, não deve haver crase nessas alternativas.

Resposta da questão 7:
[A]

A alternativa [A] está correta e para que as outras se tornem corretas, devem ser reescritas:
[B] Meus leitores fizeram referência a esta viagem ao Chile, mas também elogiaram minha
ida a Paris e a Londres.
[C] Eu estava disposta a fazer coisas que nunca havia feito: andar a cavalo, ir à praia e, sem
dúvidas visitar a casa de Pablo Neruda.
[D] À medida que o tempo passava, mais mudanças eu realizava, a fim de não deixar de
vivenciar novas experiências.
[E] Minhas filhas não viam o gato delas desde a semana passada, quando viajamos; e,
mesmo à distância, sentiam muito a falta dele.

Resposta da questão 8:
[B]

É correta a opção [B], pois apenas as frases transcritas em [I] e [V] admitem a sequência Há,
a, à, respectivamente. Em [I], o verbo haver expressa noção de tempo na primeira lacuna, o
pronome oblíquo ”a” exerce função de objeto direto do verbo visitar na segunda e “à”,
aglutinação da preposição “a” e artigo definido “a”, faz parte da locução adverbial “à
espera”, na última. Em [V], de novo o verbo haver expressa noção de tempo na primeira
lacuna, a preposição “a” precede o objeto indireto do verbo encaminhar na segunda e “à”,
aglutinação da preposição “a” e artigo definido “a”, faz parte da locução adverbial “à
disposição”, na última.

As demais deveriam apresentar a seguinte configuração:


[II] À beira do precipício, há poucos arbustos a decorar a paisagem.
[III] A quem quisesse ver, demonstrei que não há possibilidade de resolver a questão.
[IV] Há alguma chance, à custa de muito esforço, de obter a vaga pretendida.

Resposta da questão 9:
[D]

Como vemos no trecho destacado, o objeto direto do verbo “dar” é “uma linda indiazinha”
e, assim, o objeto indireto é “luz”. Dessa forma, “luz” é regido pela preposição “a” e, por ser
substantivo feminino, é antecedido pelo artigo definido feminino “a”. Tem-se, assim, o uso
da crase.

Resposta da questão 10:


[E]

O uso do acento grave, indicador da crase da preposição “a” como o artigo “a”, ocorre
apenas na frase da opção [E], pois trata-se de uma locução adverbial feminina equivalente a
ao alcance da vista. Nas demais opções a palavra “vista” é substantivo feminino precedido
de artigo “a”: em [A] com o significado de panorama, em [B], de visão, em [C], de verificação
de autos de um processo e em [D], de globo ocular.

Resposta da questão 11:


[E]

Não se usa crase antes de nomes de cidades, já que estes não costumam ser antecedidos
pelo artigo feminino “a”. No entanto, quando o nome da cidade está ligado a alguma
característica, podemos ter o uso da crase, já que o artigo feminino pode precedê-lo,
especificando-o. É o que vemos em [E]: a Búzio das belas praias, e não uma Búzio qualquer.
Assim, temos a junção da preposição “a” com o artigo feminino “a”.
Resposta da questão 12:
[D]

Em [A], [B] e [C], as frases apresentam desvios à norma culta da linguagem, pois

[A] é necessário o acento grave no vocábulo “as” para indicar a crase da preposição “a”
exigida pela regência do verbo vincular e o artigo definido “as”, ligado ao substantivo
“políticas”. Também a preposição “de” é inadequada porque antecede o sujeito da
oração, pronome relativo “que”, cujo referente é “cultura própria”.

[B] a preposição “de” que precede o pronome relativo “cujas” é inadequada, na medida em
que o objeto indireto do verbo vincular exige apenas a preposição “a”, corretamente
associada ao artigo “as” no sintagma “às”: “devem vincular-se às políticas públicas”.
Incorreto também o uso da preposição “a” por anteceder o sujeito da oração, pronome
relativo “que”, cujo referente é “cultura própria”.

[C] a preposição “a” é inadequada porque antecede o sujeito da oração, pronome relativo
“que”, cujo referente é “cultura própria”. O sintagma “à” está indevidamente assinalado
com acento grave, por pressupor crase de preposição com artigo na expressão que exerce
função de sujeito.

Assim, é correta apenas [D].

Resposta da questão 13:


[D]

As opções [A], [B] e [C] são incorretas, pois


[A] a nova frase apresentaria noção de condição, diferente da original, comparativa.
[B] o vocábulo “às” é formado por aglutinação da preposição “a” com o pronome oblíquo
“as”, referente a “as políticas”.
[C] a expressão “ideologias políticas” é usada no plural com sentido genérico, o que exclui a
possibilidade de acento grave para assinalar crase de preposição “a” e artigo “a”, em
infração de concordância com o substantivo “ideologias”.
Assim, é correta apenas [D], pois em “[...] seres humanos têm maior probabilidade de adotar
determinados comportamentos porque seus amigos, colegas de trabalho e vizinhos já o
adotam”, há um erro de concordância nominal pelo uso do pronome oblíquo no singular. O
correto seria: seres humanos têm maior probabilidade de adotar determinados
comportamentos porque seus amigos, colegas de trabalho e vizinhos já os adotam.

Resposta da questão 14:


[A]

Em [A], o trecho pode ser reescrito com a expressão “com a qual”, no entanto, o “a” não
deve apresentar crase, já que isso indicaria que o verbo “comunicar” seria regido pelas
preposições “a” e “com”, o que não é verdadeiro: o verbo “comunicar”, nesse caso, é regido
somente pela preposição “com”.

Resposta da questão 15:


[C]

[I] Incorreta: a preposição “a” faz parte da expressão e não se relaciona à regência do verbo
“parecer”.
[V] Incorreta: não deve haver preposição antecedendo o termo “mulheres”, assim, não é
possível usar a crase nesse caso.

Coordenação e subordinação — 19-05


1 [ 205044 ]. As experiências concretistas não ficaram restritas à poesia, mas atingiram
diversas áreas da sociedade, entre elas a propaganda. Assim, muitas das características do
Movimento Concretista, recorrentes na poesia, também aparecem nas propagandas,
principalmente em anúncios publicitários atuais. Tais influências são facilmente percebidas,
por exemplo, no seguinte anúncio, de uma rede de academia brasileira.
Texto adaptado de informações coletadas em: CABRAL, Gladir da Silva e DAMAZIO, Lucas
Pereira. As influências do movimento concretista na linguagem publicitária. Disponível em:
https://periodicos.ufjf.br/index.php/lumina/article/view/21170/11513. Acesso em: 03 jun.
2021.

Analisando algumas relações lógico-semânticas presentes no texto, assinale a alternativa


CORRETA.
a) No trecho: "As experiências concretistas não ficaram restritas à poesia, mas atingiram
diversas áreas da sociedade", o termo destacado tem valor concessivo.
b) O trecho "Assim, muitas das características do Movimento Concretista, recorrentes na
poesia, também aparecem nas propagandas" é introduzido por um conectivo de valor
temporal.
c) No trecho: "Tais influências são facilmente percebidas", o segmento destacado se refere a
ideias subsequentes, que ainda vão ser colocadas no texto.
d) No anúncio, os enunciados que se iniciam por "Se você for..." indicam causalidade, e a
consequência aparece de maneira explícita: "suas amigas perdoam".
e) No último enunciado do anúncio ("Agora, experimente ser magra."), o conectivo "agora"
não tem valor temporal, mas indica uma mudança na linha argumentativa do texto.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Consoada
Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
Talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
- Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.

Manuel Bandeira - Opus 10.

2 [ 203078 ]. No verso "O meu dia foi bom, pode a noite descer." (v. 6), as duas orações
poderiam estar unidas, sem prejuízo de sentido, por uma conjunção:
a) conclusiva.
b) adversativa.
c) concessiva.
d) temporal.
e) condicional.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Cair e levantar

1
O temido tsunami das doenças mentais não parece ter vindo. 2Há muitos relatos de
aumento de procura por atendimento. Há estudos mostrando mais pessoas com sintomas
depressivos e ansiosos. Levantamentos apontando maior risco de transtornos mentais após
infecção pelo novo coronavírus. Tudo isso é verdade, mas nada que configure -pelo menos
até agora - uma epidemia, uma catástrofe dos moldes da própria covid-19.
Mas a pandemia de covid-19 afetou as pessoas de forma muito diferente.
Dependendo das condições socioeconômicas prévias, da possibilidade de manutenção do
emprego, da presença ou não de filhos presos em casa, do risco de adoecimento, o estresse
aumentou mais ou menos.
No Reino Unido, por exemplo, uma pesquisa que acompanhou pouco mais de duas
mil pessoas ao longo do ano passado mostrou que, apesar de um aumento de sintomas
depressivos e ansiosos na primeira semana da quarentena, os números foram piores entre
pessoas pobres, jovens e com crianças pequenas para cuidar. Ainda assim, deforma geral, a
tendência se reverteu ao longo do tempo: mais da metade das pessoas se recuperou com o
passar dos dias; perto de trinta por cento manteve sintomas moderados ou graves; e quase
uma em cada dez pessoas sentiu que estava melhor do que antes. A maioria das pessoas
apresenta um bom grau de resiliência.
Esse conceito pode ser traduzido como a capacidade de se adaptar diante de
traumas importantes, absorvendo o estresse e recuperando a possibilidade de funcionar
bem no dia a dia, sem sequelas relevantes. Há vários fatores associados à resiliência que não
podemos mudar, como traços de personalidade com baixa tendência a emoções negativas
ou carga genética sem riscos para depressão. Mas felizmente uma das variáveis mais
importantes pode ser modificada: a presença de suporte social. Sentir-se inserido numa rede
de amparo, saber que se tem com quem contar na adversidade, não ter a sensação de
isolamento, faz toda diferença diante de situações estressantes, ajudando-nos a absorver os
impactos e a retomar a vida.
3
Não são todas as pessoas que têm essa possibilidade, no entanto: a solidão é um
problema crescente no mundo todo, o que, aliado à necessidade de distanciamento físico,
tornou mais difícil para algumas pessoas contar com tal suporte. Ter consciência da
importância de tal fator, contudo, é essencial para criarmos uma comunidade mais
resiliente. Primeiro porque podemos todos nos preocupar mais com isso, não
negligenciando nossas próprias redes. Mas também porque as iniciativas de governos e
terceiro setor, por meio de ONGs, igrejas, associações, podem centrar esforços na
construção de novas redes e facilitar o ingresso nelas daqueles com necessidade. Com isso,
mais gente conseguirá fazer o caminho do estresse em direção à recuperação e à saúde, e
não o inverso.

Barros, D. M. de. "Cair e levantar". O Estado de S. Paulo. 18/02/2021. Disponível em:


https://bit.ly/20JUy7T/Adaptado.

3 [ 203088 ]. No fragmento "Não são todas as pessoas que têm essa possibilidade, no
entanto: a solidão é um problema crescente no mundo todo..." (ref. 3), a locução "no
entanto" estabelece uma relação de
a) contrariedade em relação ao fato de que muitas pessoas não se inserem em redes de
amparo.
b) condição em relação ao fato de que muitas pessoas sofrem com a sensação de
isolamento.
c) conclusão em relação ao fato de que muitas pessoas se estressam ao perderem o
emprego.
d) consequência em relação ao fato de que muitas pessoas têm filhos para cuidar.
e) explicação em relação ao fato de que muitas pessoas dependem da ajuda do governo, de
igrejas, associações e ONGs.

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:


ENGENHEIROS DA VITÓRIA
Solução de problemas na história

[...] Quando se fala na eficiência em conseguir equipamentos de combate e transferir


combatentes de A para B, os britânicos são campeões; certamente isso não foi por causa de
alguma inteligência especial, mas pela ampla experiência em organização e senso crítico
depois de enfrentar chances adversas em 1940, juntamente com a perspectiva de derrota.
Aqui a necessidade foi a mãe da invenção. Eles tinham que defender suas cidades,
transportar tropas até o Egito, apoiar os gregos, proteger as fronteiras da Índia, trazer os
Estados Unidos para a guerra e depois levar aquele imenso potencial americano para a área
da Europa. Era mais um problema a ser resolvido. Como foi possível fazer com que 2 milhões
de soldados americanos, depois de chegar às bases de Clyde, fossem para bases no sul da
Inglaterra preparando-se para o ataque à Normandia, quando a maior parte das ferrovias
britânicas estava ocupada em transportar vagões de carvão para as fábricas de ferro e aço
que não podiam parar de produzir?
Como se viu, uma organização composta por pessoas que cresceram decorando os
horários da estrada de ferro de Bradshaw como passatempo pode fazer isso, enquanto os
altos comandantes consideravam que tudo estava garantido porque confiavam na
capacidade de seus administradores de nível médio. Churchill acreditava que o melhor era
não se preocupar demais com os problemas, pois tudo se resolveria, isto é, uma maneira
havia de ser encontrada, passo a passo.
Há uma outra forma de pensar sobre essa história de soluções de problemas, e ela
vem de um exemplo bem contemporâneo. Em novembro de 2011, enquanto o genial 1líder
da Apple, Steve Jobs, recebia inúmeras homenagens póstumas, um artigo intrigante foi
publicado na revista New Yorker. 2Nele o autor, Malcom Gladwell, argumentava que Jobs
não era o inventor de uma máquina ou de uma ideia que mudou o mundo; poucos seres o
são (exceto talvez Leonardo da Vinci e Thomas Edison). Na verdade, seu brilhantismo estava
em adotar invenções alheias que não deram certo, a partir das quais construía, modificava e
fazia aperfeiçoamentos constantes. Para usar uma linguagem atual, ele era um tweaker, e
sua genialidade impulsionou como nunca o aumento de eficiência dos produtos de sua
companhia.
A história do sucesso de Steve Jobs, contudo, não era nova. A chegada da Revolução
Industrial do século XVIII na Grã-Bretanha – muito provavelmente a maior revolução para
explicar a ascensão do Ocidente – ocorreu porque o país possuía uma imensa coleção de
tweakers em sua cultura que encorajaram o progresso [...]
A história da evolução do tanque T-34 soviético, de um grande pedaço de metal mal
projetado e fraco para uma arma de guerra mortífera, segura e de grande mobilidade, não
foi uma história contínua de tweaking? Não foi esse também o caso do grande bombardeiro
americano, o B-29, que no início estava tão mergulhado em dificuldades que chegou a se
propor seu cancelamento até que as equipes da Boeing resolveram os problemas? E as
miraculosas histórias do P-51 Mustang, dos tanques de Percy Hobart e de um poderoso
sistema de radar tão pequeno que poderia ser inserido no nariz de um avião patrulha de
longa distância e virar a maré na Batalha do Atlântico? Depois que se unem os diversos
pedaços espalhados, tudo se encaixa. Mas todos esses projetos exigiram tempo e apoio.
3
Na verdade, os administradores de grandes companhias mundiais provavelmente se
surpreendam diante, digamos, do planejamento e orquestração do almirante Ramsay nos
cinco desembarques simultâneos no Dia D e gostariam de poder realizar um décimo do que
ele fez.
Em suma, a vitória em grandes guerras sempre requer organização superior, o que,
por sua vez, exige pessoas que possam dirigir essas organizações, não com um interesse
apenas moderado, mas da maneira mais competente possível e com estilo que permitirá às
pessoas de fora propor ideias novas na busca da vitória. Os chefes não podem fazer isso
tudo sozinhos, por mais que sejam criativos e dotados de energia. É necessário haver um
sistema de apoio, uma cultura de encorajamento, feedbacks eficientes, uma capacidade de
aprender com os revezes, uma habilidade de fazer as coisas acontecerem. E tudo isto tem de
ser feito de uma maneira que seja melhor do que aquela do inimigo. É assim que as guerras
são vencidas. [...]
O mesmo reconhecimento merecem, por certo, os militares de nível médio que
mudaram a Segunda Guerra Mundial, transformando as agressões do Eixo em 1942 em
avanços irreversíveis dos Aliados em 1943-44, e finalmente destruindo a Alemanha e o
Japão. É verdade, alguns desses indivíduos, armamentos e organizações são reconhecidos,
mas em geral de uma forma fragmentada e popularizada. É raro que esses fios isolados
sejam tecidos em conjunto para mostrar como os avanços afetaram as muitas campanhas,
fazendo a balança pender para o lado dos Aliados durante o conflito global. Mais raro ainda
é a compreensão de como o trabalho desses vários solucionadores de problemas também
precisa ser 4incluído numa importante “cultura do encorajamento” para garantir que simples
declarações e intenções estratégicas de grandes líderes se tornem realidade e não murchem
nas tempestades da guerra. Se isso é o que acontece, então vivemos com uma grande lacuna
em nossa compreensão de como a Segunda Guerra Mundial foi vencida em seus anos
cruciais.

KENNEDY, Paul. Engenheiros da Vitória: Os responsáveis pela reviravolta na Segunda Guerra


Mundial. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2014, p. 407- 428 (texto adaptado).

4 [ 203388 ]. Leia atentamente o excerto abaixo do texto:

“Na verdade, os administradores de grandes companhias mundiais provavelmente


apenas fiquem maravilhados diante, digamos, do planejamento e orquestração do almirante
Ramsay nos cincos desembarques simultâneos no Dia D e gostariam de poder realizar um
décimo do que ele fez.
Em suma, a vitória em grandes guerras sempre requer organização superior, o que,
por sua vez, exige pessoas que possam dirigir essas organizações, não com um interesse
apenas moderado, mas da maneira mais competente possível e com estilo que permitirá às
pessoas de fora propor ideias novas na busca da vitória”. (ref. 3)

A coesão refere-se aos mecanismos de encadeamento lógico-semântico do conteúdo


apresentado, que criam relações entre o que é dito, de modo a orientar o leitor na
construção do significado geral de um texto. Ela inclui os operadores argumentativos. Isso
posto, considera-se que a análise desses elementos em negrito no texto mostra que o
operador:
a) “na verdade” contesta argumentos que apoiam a ideia de que a inventividade prática na
guerra é reconhecida por profissionais do mundo dos negócios.
b) “digamos” estabelece o questionamento das razões que justificam o encantamento dos
admiradores das companhias mundiais.
c) “em suma” menciona sucessivamente quais são os aspectos que contribuem para uma
vitória na guerra.
d) “por sua vez” estabelece a contestação do papel dos dirigentes na obtenção das vitórias
militares na 2ª Guerra Mundial.
e) “mas” evidencia a especificação de outras qualidades dos dirigentes das operações
militares para obter êxito na guerra.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Leia o artigo “Pó de pirlimpimpim”, do neurocientista brasileiro Sidarta Ribeiro.

Alcançar o aprendizado instantâneo é um desejo poderoso, pois o cérebro sem


informação é pouco mais que estofo de macela1. Emília, a sabida boneca de Monteiro
Lobato, aprendeu a falar copiosamente após engolir uma pílula, adquirindo de supetão todo
o vocabulário dos seres humanos ao seu redor. No filme Matrix (1999), a ingestão de uma
pílula colorida faz o personagem Neo descobrir que todo o mundo em que sempre viveu não
passa de uma simulação chamada Matriz, dentro da qual é possível programar qualquer
coisa. Poucos instantes depois de se conectar a um computador, Neo desperta e profere
estupefato: “I know kung fu”.
Entretanto, na matriz cerebral das pessoas de carne e osso, vale o dito popular:
“Urubu, pra cantar, demora.” O aprendizado de comportamentos complexos é difícil e
demorado, pois requer a alteração massiva de conexões neuronais. Há consenso hoje em dia
de que o conteúdo dos nossos pensamentos deriva dos padrões de ativação de vastas redes
neuronais, impossibilitando a aquisição instantânea de memórias intrincadas.
Mas nem sempre foi assim. Há meio século, experimentos realizados na Universidade
de Michigan pareciam indicar que as planárias, vermes aquáticos passíveis de
condicionamento clássico, eram capazes de adquirir, mesmo sem treinamento, associações
estímulo-resposta por ingestão de um extrato de planárias já condicionadas. O resultado,
aparentemente revolucionário, sugeria que os substratos materiais da memória são
moléculas. Contudo, estudos posteriores demonstraram que a ingestão de planárias não
condicionadas também acelerava o aprendizado, revelando um efeito hormonal genérico,
independente do conteúdo das memórias presentes nas planárias ingeridas.
A ingestão de memórias é impossível porque elas são estados complexos de redes
neuronais, não um quantum de significado como a pílula da Emília. Por outro lado, é sim
possível acelerar a consolidação das memórias por meio da otimização de variáveis
fisiológicas envolvidas no processo. Uma linha de pesquisa importante diz respeito ao sono,
cujo benefício à consolidação de memórias já foi comprovado. Em 2006, pesquisadores
alemães publicaram um estudo sobre os efeitos mnemônicos da estimulação cerebral com
ondas lentas (0,75 Hz) aplicadas durante o sono por meio de um estimulador elétrico. Os
resultados mostraram que a estimulação de baixa frequência é suficiente para melhorar o
aprendizado de diferentes tarefas. Ao que parece, as oscilações lentas do sono são puro pó
de pirlimpimpim.

(Sidarta Ribeiro. Limiar: ciência e vida contemporânea, 2020.)


1
macela: planta herbácea cujas flores costumam ser usadas pela população como estofo de
travesseiros.

5 [ 203890 ]. Em “Contudo, estudos posteriores demonstraram que a ingestão de planárias


não condicionadas também acelerava o aprendizado” (3º parágrafo), o termo sublinhado
pode ser substituído, sem prejuízo para o sentido do texto, por:
a) Por conseguinte.
b) Inclusive.
c) Todavia.
d) Além disso.
e) Conquanto.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


O que nos torna pouco competitivos?

Renato Rozental

Lamentar a morte de mais de meio milhão de brasileiros por covid-19 é pouco. Esta é uma
discussão de resposta muito clara, quase óbvia. 1Se tivéssemos capacidade interna,
poderíamos ter suprido parte das necessidades do mercado e reduzido o impacto da
pandemia no sistema de saúde em tempo hábil. O quadro de calamidade é resultado de
décadas de políticas de incentivo 2___ mera reprodução em vez de estímulo 3___
capacitação profissional e ao domínio do processo produtivo.
Começar reproduzindo (‘copiando’) não é um problema. 4Basta lembrar 5da história
do nylon, fibra têxtil sintética patenteada pela empresa norte-americana DuPont em 1935 e
6
usada para provocar a indústria japonesa e fazê-la exportar menos seda. A resposta
japonesa foi 7contundente e imediata: ‘copiar’ o processo de manufatura e produzir nylon 6
meses após a desfeita. Atualmente, a China domina o mercado mundial de nylon, seguida
por 8Estados Unidos, Japão e Tigres Asiáticos. 9Os chineses perceberam que, na era
tecnológica, “o caminho mais curto para crescer é apostar em três frentes: inovação,
inovação e inovação”.
10
Nesse contexto, 11pergunto: qual é o perfil da nossa indústria farmacêutica?
12
Produzimos genéricos… até hoje. 13Mas a política 14de ‘genéricos’ tem como fragilidade o
fato de incluir apenas medicamentos cujas patentes já tenham expirado. 15O problema do
conhecimento tecnológico insuficiente e a dificuldade do nosso país em evoluir de ‘copiar’
para ‘inovar’ precisa ser tratado com prioridade e sem demagogia para romper o ciclo
vicioso da dependência tecnológica e trazer um diferencial competitivo.
O projeto de cranioplastia, reparo craniano extenso, pode ilustrar tanto a inovação
estimulada pela demanda como os entraves burocráticos ao desenvolvimento do produto.
Pelo lado clínico, 16___ cirurgias de reconstrução do crânio após remoção da calota craniana
envolvem um alto custo, incluindo a malha de titânio e porcelanato usada atualmente,
totalizando um gasto entre R$ 120 mil e R$ 200 mil por paciente, o que torna sua realização
no Sistema Único de Saúde (SUS) economicamente inviável. 17A cranioplastia faz-se
necessária não somente por razões estéticas – o que, por si só, já justificaria o procedimento
–, mas também para assegurar que o cérebro do paciente fique mais protegido e com
melhor irrigação sanguínea, resultando em melhoras cognitivas e comportamentais e
facilitando 18___ reintrodução do indivíduo na sociedade. 19No momento, infelizmente, a
implantação de próteses cranianas é realizada pelo SUS somente mediante doação ou após
sentença judicial, considerando que o paciente corre risco de vida.
Nossa equipe desenvolveu uma solução utilizando uma prótese de
polimetilmetacrilato (PMMA) confeccionada durante o período da cirurgia, com resultados
semelhantes 20e até superiores aos das próteses de titânio e porcelanato disponíveis, mas
com custo cerca de 20 vezes menor que o praticado no mercado, tornando o tratamento,
em teoria, viável e acessível à rede SUS. Estamos confiantes nos resultados das próteses
feitas de PMMA, na análise dos custos e na adequabilidade do produto para o mercado.
A ciência translacional não é algo que possa se embutir no sistema por decreto.
21
Grandes organizações, públicas e privadas, estão amarradas nas suas próprias burocracias,
o que dificulta o processo criativo e de inovação. No contexto da inovação em saúde,
precisamos inserir formas de gestão flexíveis, ágeis, que envolvam tomadas de decisão
descentralizadas, permitindo a responsabilização de todos os atores envolvidos, de modo a
ampliar os espaços de criatividade e de ousadia na busca e na implementação de soluções.
22
O que não dá para aceitar é continuar 23___ andar com o ‘freio de mão puxado’ e na
contramão do desenvolvimento sustentável.
24
Por fim, a dicotomia entre público e privado já deveria ter sido ultrapassada. A
saúde é direito de todos e dever do Estado. 25Quem trabalha com inovação quer ver o
produto funcionando no mercado global. 26Certa vez, em 1995, tive a oportunidade de ouvir
de Eric Kandel (Universidade Columbia), Rodolfo Llinás (Universidade de Nova York) e
Torsten Wiesel (Universidade Rockfeller) uma previsão sobre o cenário de concessões nos
Institutos Nacionais da Saúde (NIH) em 2015-2020: “quem não desenvolvesse uma ‘pílula’
para a sociedade como resultado do seu projeto de pesquisa estaria fora do pool”. Tal visão
está se tornando uma realidade global. 27Pessoalmente, acredito que um dos compromissos
mais preciosos que temos com a nossa população é o de proporcionar hoje, e não amanhã,
uma solução para que todos possam ser atendidos a tempo e desfrutem de boa qualidade
de vida.

(ROZENTAL, Renato. O que nos torna pouco competitivos? [Centro de Desenvolvimento


Tecnológico em Saúde. Fundação Oswaldo Cruz e Instituto de Ciências Biomédicas.
Universidade Federal do Rio de Janeiro]. Matéria publicada em Ciência Hoje de 20 de agosto
de 2021. Disponível em: https://cienciahoje.org.br/artigo/o-que-nos-torna-pouco-
competitivos/. Acesso em 18 de setembro de 2021). Texto adaptado para esta prova.

6 [ 204053 ]. Assinale a alternativa correta, considerando as relações de sentido construídas


por meio dos articuladores sintático-semânticos, no contexto em que foram empregados.
a) No período “Basta lembrar da história do nylon, fibra têxtil sintética patenteada pela
empresa norte-americana DuPont em 1935 e usada para provocar a indústria japonesa e
fazê-la exportar menos seda.” (ref. 4), temos uma ideia de finalidade na sua última oração.
b) No período “A cranioplastia faz-se necessária não somente por razões estéticas – o que,
por si só, já justificaria o procedimento –, mas também para assegurar que o cérebro do
paciente fique mais protegido...” (ref. 17), o nexo “mas também” constrói uma relação de
oposição, já que se tem a presença da conjunção adversativa “mas”, reforçada pelo
advérbio “também”.
c) No período “No momento, infelizmente, a implantação de próteses cranianas é realizada
pelo SUS somente mediante doação ou após sentença judicial, considerando que o
paciente corre risco de vida.” (ref. 19), o nexo “ou” traz uma ideia de inclusão,
evidenciando as duas condições que devem ser satisfeitas para a implantação de próteses
cranianas.
d) No período “Por fim, a dicotomia entre público e privado já deveria ter sido ultrapassada.”
(ref. 24), o nexo “por fim” constrói uma ideia de consequência final decorrente do fato de
o problema da saúde ser dever do estado.
e) No período “Se tivéssemos capacidade interna, poderíamos ter suprido parte das
necessidades do mercado e reduzido o impacto da pandemia no sistema de saúde em
tempo hábil.” (ref. 1), o nexo “se” constrói uma relação de hipótese em relação ao que
teria acontecido com a vida das pessoas.

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:


Disparidade na saúde: como a desigualdade social afeta o acesso à saúde
A desigualdade social é um fator debilitante em qualquer comunidade. E, assim como
afeta o padrão de vida das pessoas e a atenção dedicada aos cuidados mais básicos dos
indivíduos, ocorre uma disparidade na saúde que não pode ser ignorada.
1
O acesso à saúde é um problema que afeta não apenas os países em
desenvolvimento, mas nações tidas como superpotências. É o caso dos EUA, que já vêm
relatando estudos cujos prejuízos são calculados aos montes em decorrência da
desigualdade social.
Em 2011, um estudo foi conduzido e mostrou que os custos no setor teriam uma
economia anual de US$ 15,6 bilhões se não houvesse essa disparidade na saúde. Isso
ocorreu por conta da análise de que certas doenças (como diabetes, hipertensão, derrame,
entre outras) não afetariam as camadas mais carentes da sociedade se elas tivessem o
mesmo acesso à saúde do que os cidadãos com mais poder aquisitivo.
2
No Brasil não é diferente. O baixo investimento – apenas 10,7% do orçamento total
dos governos – no setor é um grande contraste com a necessidade de uso do sistema
público de saúde do país, o SUS.
Pesquisa aponta que sete em cada dez brasileiros usam o SUS, e o país ainda acumula
uma carência com cerca de 30 milhões de pessoas sem acesso à saúde.
3
Há, portanto, uma disparidade na saúde que pode e deve ser analisada com base
nos desafios, seus impactos e as soluções para reduzi-la gradualmente.

Fragmento. Disponível em: https://nexxto.com/disparidade-na-saude-como-a-desigualdade-


social-afeta-o-acesso-a-saude/ Acesso em: 25 out. 2021.

7 [ 203534 ]. “O acesso à saúde é um problema que afeta não apenas os países em


desenvolvimento, mas nações tidas como superpotências.” (ref. 1)

A relação que se estabelece entre os dois termos acima demarcados é de


a) adversidade.
b) condição.
c) adição.
d) finalidade.
e) consequência.

8 [ 203536 ]. Assinale a opção em que a substituição da conjunção “portanto” em “Há,


portanto, uma disparidade na saúde que pode e deve ser analisada com base nos desafios,
seus impactos e as soluções para reduzi-la gradualmente” (ref. 3) NÃO altera o sentido do
enunciado:
a) Há, no entanto, uma disparidade na saúde que pode e deve ser analisada com base nos
desafios, seus impactos e as soluções para reduzi-la gradualmente.
b) Há, além disso, uma disparidade na saúde que pode e deve ser analisada com base nos
desafios, seus impactos e as soluções para reduzi-la gradualmente.
c) Há, por conseguinte, uma disparidade na saúde que pode e deve ser analisada com base
nos desafios, seus impactos e as soluções para reduzi-la gradualmente.
d) Há, contudo, uma disparidade na saúde que pode e deve ser analisada com base nos
desafios, seus impactos e as soluções para reduzi-la gradualmente.
e) Há, apesar disso, uma disparidade na saúde que pode e deve ser analisada com base nos
desafios, seus impactos e as soluções para reduzi-la gradualmente.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

A arquitetura neoclássica é um estilo arquitetônico que promoveu, entre os séculos


XVIII e XIX, um retorno às formas da cultura greco-romana da Antiguidade. O neoclassicismo,
que englobou também a literatura, a escultura e a pintura, buscava fazer uma oposição ao
barroco e ao rococó, movimentos que privilegiavam o rebuscamento e a complexidade. Para
os arquitetos da época, era o momento de trazer de volta as características das arquiteturas
grega e romana, adequando-as à Idade Moderna.
O neoclassicismo coincide com a Revolução Francesa, ocorrida em 1789 e com a
Revolução Industrial, trazendo mudanças que tiveram como pano de fundo o Iluminismo,
movimento intelectual e filosófico que ficou conhecido como “século das luzes”. Com os
pensadores iluministas, o interesse pelas obras do passado foi reacendido. [...]
O Brasil possui alguns teatros-monumento que nos mostram o quanto o período
entre o século XIX e início do século XX foi importante para o desenvolvimento cultural do
país. Eles são prova do quanto a população da época desejava se parecer com a Europa,
principalmente com a França.
A cidade do Recife possui um teatro dessa época, motivo de muito orgulho para
todos os pernambucanos: o Teatro de Santa Isabel. Além de ser um dos mais bonitos teatros
do país, foi o primeiro e é até hoje o principal exemplo de arquitetura neoclássica de
Pernambuco. Ele também testemunhou boa parte da vida do Recife nesses quase dois
séculos de existência.
Durante sua história, o teatro foi usado para outros fins, não somente para
apresentações teatrais. Já no seu primeiro ano de funcionamento, em 1850, foi palco de
animados bailes de carnaval. Para que isso fosse possível, foi colocada uma grande estrutura
de madeira sobre a plateia na altura do palco. A técnica foi repetida durante a visita de D.
Pedro II, em 1859. O Teatro de Santa Isabel foi palco também de calorosos embates
literários. Curiosamente, alguns dos mais famosos ocorreram entre Castro Alves e Tobias
Barreto, na década de 1860, em defesa das atrizes Eugênia Câmara e Adelaide Amaral.
Dizem que eles eram grandes amigos até se envolverem com as duas. Daí em diante viraram
inimigos. [...]

Imagens e excertos coletados de: https://laart.art.br/blog/arquitetura-neoclassica e


https://www.borapralacomigo.com.br/2015/10/teatro-de-santa-isabel-recife.html. Acesso
em 16 ago. 2021. Adaptados.

9 [ 204877 ]. Releia o seguinte trecho do texto: “Durante sua história, o teatro foi usado
para outros fins, não somente para apresentações teatrais.”. Assinale a alternativa na qual o
sentido desse trecho foi alterado.
a) O teatro foi, durante sua história, usado tanto para apresentações teatrais quanto para
outros fins.
b) O teatro foi usado para outros fins durante sua história, excetuando-se as apresentações
teatrais.
c) Ao longo de sua história, o teatro não foi usado somente para apresentações teatrais, mas
também para outros fins.
d) No curso de sua história, para outros fins que não apenas as apresentações teatrais, o
teatro foi usado.
e) O teatro foi usado não somente para apresentações teatrais, mas igualmente para outros
fins, durante sua história.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Padre Júlio Lancellotti: “Não se humaniza a vida numa sociedade como a nossa sem
conflito”

Líder religioso, conhecido por seu trabalho com a população em situação de rua em São
Paulo, fala ao EL PAÍS sobre seus 35 anos de sacerdócio. Alvo de críticas da extrema direita,
ele voltou a sofrer ameaças durante a pandemia.

São oito horas da manhã de quinta-feira, 17 de setembro, e o padre Júlio Lancellotti (São
Paulo, 1948) veste jaleco branco, avental laranja, sandálias pretas, luvas de látex e uma
máscara respiratória rosa com filtro embutido. Há uma fila de centenas de pessoas para
tomar café da manhã no Núcleo de Convivência São Martinho de Lima, da prefeitura da
capital paulista, e é o religioso quem aponta um termômetro para a testa de cada uma delas.
Aos 71 anos, pertence ao grupo mais propenso a desenvolver complicações da covid-19, mas
nem uma pandemia tão longa e mortífera freou sua convivência diária com a população que
vive nas ruas de São Paulo.

Quando Cassiano, de 40 anos, se juntou à fila com o corpo sujo, as roupas rasgadas,
machucado na testa e olhar triste, Lancellotti não hesitou em se aproximar e tocar a cabeça
do homem com as duas mãos. “Nós vamos cuidar de você”, disse, com a voz suave. Quando
ele já estava sentado e comendo, o padre se aproximou de novo para saber o que havia
acontecido. Um abraço demorado cobriu, então, a cabeça do rapaz. Um carinho incomum
que fez com que ele chorasse. “Não são anjos ou demônios. Eu procuro ver os olhos deles...
Tem os que estão com raiva, tristes, solitários, alegres... Desses 40 anos, há quanto tempo
Cassiano não recebia um afeto?”, pergunta Lancellotti.

Sua quinta-feira começou como todos os dias, com uma missa na Igreja São Miguel Arcanjo,
da qual é pároco. Ali, no bairro da Mooca, zona leste de São Paulo, mantém há 35 anos um
compromisso constante com a população em situação de vulnerabilidade. Costumava servir
um café da manhã na própria igreja para cerca de 200 pessoas. Veio a pandemia e o número
praticamente triplicou. As atividades tiveram de ser transferidas, com o aval da Prefeitura,
para o centro comunitário a algumas quadras dali. “Eu não trabalho com morador de rua. Eu
convivo com eles. Porque dizer “trabalhar” parece que eles são objetos. É preciso olhar para
a vida de forma humana. Isso não é tarefa só para os religiosos. Mas eu não conseguiria viver
a dimensão religiosa sem humanizar a vida", explica. [...] Até hoje Lancellotti segue vivendo
na pequena casa, no bairro do Belém, que era de sua mãe, Wilma, que morreu em 2010, aos
88 anos.
Felipe Betim. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2020-09-20/padre-julio-
lancellotti-nao-se-humaniza-a-vida-numa-sociedade-como-a-nossa-sem-conflito.html Acesso
em: 02 ago. 2021. Excerto adaptado.

10 [ 204930 ]. Releia o trecho:

“‘Eu não trabalho com morador de rua. Eu convivo com eles. Porque dizer 'trabalhar' parece
que eles são objetos. É preciso olhar para a vida de forma humana. Isso não é tarefa só para
os religiosos. Mas eu não conseguiria viver a dimensão religiosa sem humanizar a vida’,
explica.” (3º parágrafo)

Considerando o trecho apresentado, assinale a alternativa CORRETA quanto ao emprego de


certos recursos da coesão e da pontuação.
a) Em: “Eu não trabalho com morador de rua. Eu convivo com eles.”, o emprego do pronome
“eles” (destacado) gera incoerência, visto que pretende substituir “morador de rua”.
b) Também no trecho anterior: “Eu não trabalho com morador de rua. Eu convivo com
eles.”, o emprego do ponto final para separar as orações é obrigatório, mas a vírgula é a
outra opção autorizada pelo uso mais formal da língua.
c) O trecho: “Eu não trabalho com morador de rua. Eu convivo com eles.” mantém o mesmo
sentido em: “Eu não trabalho com morador de rua, porque eu convivo com eles.”.
d) Em: “Isso não é tarefa só para os religiosos.”, o termo destacado retoma o segmento
“olhar para a vida de forma humana”.
e) Uma proposta de articulação que também atenderia os sentidos pretendidos entre os
períodos a seguir é: “Isso não é tarefa só para os religiosos, portanto eu não conseguiria
viver a dimensão religiosa sem humanizar a vida".

11 [ 204879 ]. “Desta maneira ir-lhes-ei ensinando as orações e doutrinando-os na Fé até


serem hábeis para o batismo. Todos estes que tratam conosco, dizem que querem ser como
nós, senão que não têm com que se cubram como nós, e este só inconveniente tem. Se
ouvem tanger a missa, já acodem e quando nos vêm fazer, tudo fazem, assentam-se de
giolos, batem nos peitos, levantam as mãos ao céu [...].”

NÓBREGA, Manuel da. Em defesa das almas indígenas. In: OLIVIERI, Antonio Carlos; VILLA,
Marco Antonio (Orgs.). Cronistas do Descobrimento. Série Bom Livro. São Paulo: Editora
Ática, 2000. p. 48. Excertos.
No texto, lemos: “Se ouvem tanger a missa, já acodem [...]”. Nesse trecho, identificamos
uma relação semântica de
a) causa.
b) oposição.
c) comparação.
d) conclusão.
e) tempo.

12 [ 204215 ]. Considere as orações subordinadas adverbiais nos versos seguintes.

“Ainda que eu falasse línguas,


as dos homens e dos anjos
se eu não tivesse amor,
seria como sino ruidoso
ou como címbalo estridente.”

Marque a alternativa que apresenta a classificação ausente no trecho.


a) causal
b) concessiva
c) condicional
d) comparativa

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Direito e avesso
Rachel de Queiroz

Conheci uma moça que escondia como um crime certa feia cicatriz de queimadura
que tinha no corpo. De pequena a mãe lhe ensinara a ocultar aquela marca de fogo e nem
sei que impulso de desabafo levou-a a me falar nela; e creio que logo se arrependeu, pois
me obrigou a jurar que jamais repetiria a alguém o seu segredo. Se agora o conto é porque a
moça é morta e a sua cicatriz já estará em nada, levada com o resto pelas águas de março,
que levam tudo.
Lembrou-me isso ao escutar outra moça, também vaidosa e bonita, que discorria
perante várias pessoas a respeito de uma deformação congênita que ela, moça, tem no
coração. Falava daquilo com mal disfarçado orgulho, como se ter coração defeituoso fosse
uma distinção aristocrática que se ganha de nascença e não está ao alcance de qualquer um.
E aí saí pensando em como as pessoas são estranhas. Qualquer deformação, por mais
mínima, sendo em parte visível do nosso corpo, a gente a combate, a disfarça, oculta como
um vício feio. Este senhor, por exemplo, que nos explica, abundantemente, ser vítima de
divertículos (excrescências em forma de apêndice que apareceram no seu duodeno), teria o
mesmo gosto em gabar-se da anomalia se em lugar dos divertículos tivesse lobinhos
pendurados no nariz? Nunca vi ninguém expor com orgulho a sua mão de seis dedos, a sua
orelha malformada; mas a má formação interna é marca de originalidade, que se descreve
aos outros com evidente orgulho.
Doença interna só se esconde por medo da morte – isto é, por medo de que, a
notícia se espalhando, chegue a morte mais depressa. Não sendo por isso, quem tem um
sopro no coração se gaba dele como de falar japonês.
Parece que o principal impedimento é o estético. Pois se todos gostam de se
distinguir da multidão, nem que seja por uma anomalia, fazem ao mesmo tempo questão de
que essa anomalia não seja visivelmente deformante. Ter o coração do lado direito é uma
glória, mas um braço menor que o outro é uma tragédia. Alguém com os dois olhos límpidos
pode gostar de épater uma roda de conversa, explicando que não enxerga coisíssima
nenhuma por um daqueles límpidos olhos, e permitira mesmo que os circunstantes curiosos
lhe examinem o olho cego e constatem de perto que realmente não se nota diferença
nenhuma com o olho são. Mas tivesse aquela pessoa o olho que não enxerga coalhado pela
gota-serena, jamais se referiria ao defeito em público; e, caso o fizesse, por excentricidade
de temperamento sarcástico ou masoquista, os circunstantes bem-educados se sentiriam na
obrigação de desviar a vista e mudar de assunto.
Mulheres discutem com prazer seus casos ginecológicos; uma diz abertamente que já
não tem um ovário, outra, que o médico lhe diagnosticou um útero infantil. Mas, se ela
tivesse um pé infantil, ou seios senis. será que os declararia com a mesma complacência?
Antigamente havia as doenças secretas, que só se nomeavam em segredo ou sob
pseudônimo. De um tísico, por exemplo, se dizia que estava “fraco do peito”; e talvez tal
reserva nascesse do medo do contágio, que todo mundo tinha. Mas dos malucos também se
dizia que “estavam nervosos” e do câncer ainda hoje se faz mistério – e nem câncer e nem
doidice pegam.
Não somos todos mesmo muito estranhos? Gostamos de ser diferentes – contanto
que a diferença não se veja. O bastante para chamar atenção, mas não tanto que pareça
feio.
Fonte: O melhor da crônica brasileira,1/ Ferreira Guillar... [et al.]. 5a ed. Rio de Janeiro: José
Olympio, 2007.

Vocabulário:
épater: impressionar

Com base no texto, responda.

13 [ 202293 ]. Assinale a opção em que a oração sublinhada NÃO apresenta uma


circunstância de condição.
a) Falava daquilo com mal disfarçado orgulho, como se ter coração defeituoso fosse uma
distinção aristocrática que se ganha de nascença e não está ao alcance de qualquer um.
b) Este senhor; por exemplo, que nos explica, abundantemente, ser vítima de divertículos
(excrescências em forma de apêndice que apareceram no seu duodeno), teria o mesmo
gosto em gabar-se da anomalia se em lugar dos divertículos tivesse lobinhos pendurados
no nariz?
c) Mas tivesse aquela pessoa o olho que não enxerga coalhado pela gota-serena, jamais se
referiria ao defeito em público [...].
d) Mas, se ela tivesse um pé infantil, ou seios senis, será que os declararia com a mesma
complacência?
e) [...] e, caso o fizesse, por excentricidade de temperamento sarcástico ou masoquista, os
circunstantes bem-educados se sentiriam na obrigação de desviar a vista e mudar de
assunto.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Meu ideal seria escrever...
Rubem Braga

Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que está
doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto que
chegasse a chorar e dissesse – "ai meu Deus, que história mais engraçada!". E então a
contasse para a cozinheira e telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; e
todos a quem ela contasse rissem muito e ficassem alegremente espantados de vê-la tão
alegre. Ah, que minha história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente,
vivo, em sua vida de moça reclusa, enlutada, doente. Que ela mesma ficasse admirada
ouvindo o próprio riso, e depois repetisse para si própria – "mas essa história é mesmo
muito engraçada!".
Que um casal que estivesse em casa mal-humorado, o marido bastante aborrecido
com a mulher, a mulher bastante irritada com o marido, que esse casal também fosse
atingido pela minha história. O marido a leria e começaria a rir, o que aumentaria a irritação
da mulher. Mas depois que esta, apesar de sua má vontade, tomasse conhecimento da
história, ela também risse muito, e ficassem os dois rindo sem poder olhar um para cara do
outro sem rir mais; e que um, ouvindo aquele riso do outro, se lembrasse do alegre tempo
de namoro, e reencontrassem os dois a alegria perdida de estarem juntos.
Que nas cadeias, nos hospitais, em todas as salas de espera a minha história chegasse
– e tão fascinante de graça, tão irresistível, tão colorida e tão pura que todos limpassem seu
coração com lágrimas de alegria; que o comissário do distrito, depois de ler minha história,
mandasse soltar aqueles bêbados e também aquelas pobres
mulheres colhidas na calçada e lhes dissesse – "por favor, se comportem, que diabo! Eu não
gosto de prender ninguém!" E que assim todos tratassem melhor seus empregados, seus
dependentes e seus semelhantes em alegre e espontânea homenagem à minha história.
E que ela aos poucos se espalhasse pelo mundo e fosse contada de mil maneiras, e
fosse atribuída a um persa, na Nigéria, a um australiano, em Dublin, a um japonês em
Chicago – mas que em todas as línguas ela guardasse a sua frescura, a sua pureza, o seu
encanto surpreendente; e que no fundo de uma aldeia da China, um chinês muito pobre,
muito sábio e muito velho dissesse: "Nunca ouvi uma história assim tão engraçada e tão boa
em toda a minha vida; valeu a pena ter vivido até hoje para ouvi-la; essa história não pode
ter sido inventada por nenhum homem, foi com certeza algum anjo tagarela que a contou
aos ouvidos de um santo que dormia, e que ele pensou que já estivesse morto; sim, deve ser
uma história do céu que se filtrou por acaso até nosso
conhecimento; é divina."
E quando todos me perguntassem – "mas de onde é que você tirou essa história?" –
eu responderia que ela não é minha, que eu a ouvi por acaso na rua, de um desconhecido
que a contava a outro desconhecido, e que por sinal começara a contar assim: "Ontem ouvi
um sujeito contar uma história..."
E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu inventei toda a minha
história em um só segundo, quando pensei na tristeza daquela moça que está doente, que
sempre está doente e sempre está de luto e sozinha naquela pequena casa cinzenta de meu
bairro.
Fonte: As cem melhores crônicas brasileiras/ Joaquim Ferreira dos Santos, organização e
introdução. - Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.

Com base no texto, responda às questões que se seguem.

14 [ 202304 ]. Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que
está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto
que chegasse a chorar [...].

Ao parafrasearmos a passagem acima, ocorreu uma substituição INCORRETA em:


a) Meu ideal seria escrever uma história muito engraçada de maneira que aquela moça que
está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto
que chegasse a chorar.
b) Meu ideal seria escrever unia história muito engraçada de sorte que aquela moça que
está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto
que chegasse a chorar.
c) Meu ideal sena escrever uma história muito engraçada de forma que aquela moça que
está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto
que chegasse a chorar.
d) Meu ideal seria escrever uma história muito engraçada enquanto que aquela moça que
está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto
que chegasse a chorar.
e) Meu ideal seria escrever uma história muito engraçada de modo que aquela moça que
está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto
que chegasse a chorar.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Árvores do planeta serão menos longevas: fenômeno impacta estoques naturais de CO 2

Mesmo crescendo mais rápido, as árvores de florestas de todo o planeta passaram a


ter uma vida mais curta, fenômeno que impacta diretamente a vida na Terra. Menos
árvores, mais gás carbônico na atmosfera. Altas concentrações de dióxido de carbono levam
ao aumento do efeito-estufa, elevação da temperatura, derretimento das calotas de gelo,
elevação dos níveis oceânicos e mudanças nos padrões de chuvas, entre outras
consequências. As causas podem estar associadas à baixa disponibilidade de água e ao
aumento da temperatura terrestre.
Para chegar a esses resultados, pesquisadores dos Departamentos de Botânica e de
Ecologia, do Instituto de Biociências (IB) da USP, em conjunto com colegas de universidades
da Inglaterra, Alemanha e Chile, fizeram análise de dados de praticamente todos os biomas
terrestres e trazem informações mais detalhadas sobre a floresta amazônica. "A redução na
longevidade das árvores significa que o carbono ficará menos tempo estocado nos troncos.
Quando elas morrem, liberam CO2 de volta para a atmosfera, tornando o ciclo do carbono
mais dinâmico, reduzindo potencialmente a quantidade de carbono nas florestas tropicais",
explica o biólogo Giuliano Locosselli. O estudo analisou dados de florestas do mundo inteiro
e nessas análises 1foi encontrado um valor crítico de temperatura 25 média anual, que é o de
25,4 °C, acima do qual a longevidade das árvores tropicais diminui drasticamente. Na
floresta amazônica, por exemplo, estudos mais recentes mostram que a temperatura
ambiente vem se mantendo acima dessa medida já há algumas décadas. Já a floresta do
Congo, na África Central, a segunda maior floresta tropical do mundo, terá temperatura
acima dessa medida até 2050. 2Há evidências científicas recentes do aumento da
mortalidade naquela região que não haviam sido observadas ao longo de décadas.

Ferreira, I. "Árvores do planeta serão menos longevas: fenômeno impacta estoques naturais
de CO2". Jornal da USP (Ciências ambientais). 15/12/2020. Disponível em:
https://bit.ly/3scu3WY/. Adaptado.

15 [ 203075 ]. No segundo parágrafo do texto, nas orações "Para chegar a esses


resultados(...)" e "(...) tornando o ciclo do carbono mais dinâmico (...)", há, respectivamente,
relações de
a) concessão e tempo.
b) causa e condição.
c) finalidade e concessão.
d) finalidade e consequência.
e) causa e contrariedade.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


16 [ 203085 ]. No fragmento "Não me detenhas, posto que resolvido estou a deixar este
lugar...", a locução "posto que" poderia ser substituída, sem prejuízo de sentido, por
a) "enquanto que".
b) "para que".
c) "uma vez que".
d) "se é que".
e) "a fim de que".

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:


ENGENHEIROS DA VITÓRIA
Solução de problemas na história

[...] Quando se fala na eficiência em conseguir equipamentos de combate e transferir


combatentes de A para B, os britânicos são campeões; certamente isso não foi por causa de
alguma inteligência especial, mas pela ampla experiência em organização e senso crítico
depois de enfrentar chances adversas em 1940, juntamente com a perspectiva de derrota.
Aqui a necessidade foi a mãe da invenção. Eles tinham que defender suas cidades,
transportar tropas até o Egito, apoiar os gregos, proteger as fronteiras da Índia, trazer os
Estados Unidos para a guerra e depois levar aquele imenso potencial americano para a área
da Europa. Era mais um problema a ser resolvido. Como foi possível fazer com que 2 milhões
de soldados americanos, depois de chegar às bases de Clyde, fossem para bases no sul da
Inglaterra preparando-se para o ataque à Normandia, quando a maior parte das ferrovias
britânicas estava ocupada em transportar vagões de carvão para as fábricas de ferro e aço
que não podiam parar de produzir?
Como se viu, uma organização composta por pessoas que cresceram decorando os
horários da estrada de ferro de Bradshaw como passatempo pode fazer isso, enquanto os
altos comandantes consideravam que tudo estava garantido porque confiavam na
capacidade de seus administradores de nível médio. Churchill acreditava que o melhor era
não se preocupar demais com os problemas, pois tudo se resolveria, isto é, uma maneira
havia de ser encontrada, passo a passo.
Há uma outra forma de pensar sobre essa história de soluções de problemas, e ela
vem de um exemplo bem contemporâneo. Em novembro de 2011, enquanto o genial 1líder
da Apple, Steve Jobs, recebia inúmeras homenagens póstumas, um artigo intrigante foi
publicado na revista New Yorker. 2Nele o autor, Malcom Gladwell, argumentava que Jobs
não era o inventor de uma máquina ou de uma ideia que mudou o mundo; poucos seres o
são (exceto talvez Leonardo da Vinci e Thomas Edison). Na verdade, seu brilhantismo estava
em adotar invenções alheias que não deram certo, a partir das quais construía, modificava e
fazia aperfeiçoamentos constantes. Para usar uma linguagem atual, ele era um tweaker, e
sua genialidade impulsionou como nunca o aumento de eficiência dos produtos de sua
companhia.
A história do sucesso de Steve Jobs, contudo, não era nova. A chegada da Revolução
Industrial do século XVIII na Grã-Bretanha – muito provavelmente a maior revolução para
explicar a ascensão do Ocidente – ocorreu porque o país possuía uma imensa coleção de
tweakers em sua cultura que encorajaram o progresso [...]
A história da evolução do tanque T-34 soviético, de um grande pedaço de metal mal
projetado e fraco para uma arma de guerra mortífera, segura e de grande mobilidade, não
foi uma história contínua de tweaking? Não foi esse também o caso do grande bombardeiro
americano, o B-29, que no início estava tão mergulhado em dificuldades que chegou a se
propor seu cancelamento até que as equipes da Boeing resolveram os problemas? E as
miraculosas histórias do P-51 Mustang, dos tanques de Percy Hobart e de um poderoso
sistema de radar tão pequeno que poderia ser inserido no nariz de um avião patrulha de
longa distância e virar a maré na Batalha do Atlântico? Depois que se unem os diversos
pedaços espalhados, tudo se encaixa. Mas todos esses projetos exigiram tempo e apoio.
3
Na verdade, os administradores de grandes companhias mundiais provavelmente se
surpreendam diante, digamos, do planejamento e orquestração do almirante Ramsay nos
cinco desembarques simultâneos no Dia D e gostariam de poder realizar um décimo do que
ele fez.
Em suma, a vitória em grandes guerras sempre requer organização superior, o que,
por sua vez, exige pessoas que possam dirigir essas organizações, não com um interesse
apenas moderado, mas da maneira mais competente possível e com estilo que permitirá às
pessoas de fora propor ideias novas na busca da vitória. Os chefes não podem fazer isso
tudo sozinhos, por mais que sejam criativos e dotados de energia. É necessário haver um
sistema de apoio, uma cultura de encorajamento, feedbacks eficientes, uma capacidade de
aprender com os revezes, uma habilidade de fazer as coisas acontecerem. E tudo isto tem de
ser feito de uma maneira que seja melhor do que aquela do inimigo. É assim que as guerras
são vencidas. [...]
O mesmo reconhecimento merecem, por certo, os militares de nível médio que
mudaram a Segunda Guerra Mundial, transformando as agressões do Eixo em 1942 em
avanços irreversíveis dos Aliados em 1943-44, e finalmente destruindo a Alemanha e o
Japão. É verdade, alguns desses indivíduos, armamentos e organizações são reconhecidos,
mas em geral de uma forma fragmentada e popularizada. É raro que esses fios isolados
sejam tecidos em conjunto para mostrar como os avanços afetaram as muitas campanhas,
fazendo a balança pender para o lado dos Aliados durante o conflito global. Mais raro ainda
é a compreensão de como o trabalho desses vários solucionadores de problemas também
precisa ser 4incluído numa importante “cultura do encorajamento” para garantir que simples
declarações e intenções estratégicas de grandes líderes se tornem realidade e não murchem
nas tempestades da guerra. Se isso é o que acontece, então vivemos com uma grande lacuna
em nossa compreensão de como a Segunda Guerra Mundial foi vencida em seus anos
cruciais.

KENNEDY, Paul. Engenheiros da Vitória: Os responsáveis pela reviravolta na Segunda Guerra


Mundial. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2014, p. 407- 428 (texto adaptado).

17 [ 203391 ]. Considerando o conectivo “QUE”, utilizado em “Nele, o autor, Malcon


Gladwel argumentava que Jobs não era o inventor de uma máquina ou de uma ideia [...]”
(ref. 2), é correto afirmar que:
a) é um pronome relativo.
b) é uma preposição.
c) é uma conjunção subordinativa.
d) é uma conjunção coordenativa.
e) é um pronome anafórico de coesão.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o artigo intitulado “Tempus fugit”, de Hélio Schwartsman.

Depois de nos privar de Plutão, que teve sua planetariedade cassada em 2006,
cientistas agora ameaçam bagunçar o tempo.
Pretendem eliminar os segundos bissextos ocasionalmente introduzidos no
calendário para fazer com que o tempo dos relógios atômicos (oficialmente, 1 segundo
equivale a 9.192.631.770 ciclos de radiação emitidos pelo césio-133) não se divorcie de vez
do tempo astronômico, em que o segundo vale 1/86.400 do dia.
Até os anos 60, a astronomia era a guardiã absoluta do tempo, mas aí descobrimos
que o planeta é pouco pontual: a velocidade da rotação terrestre atrasa um número variável
de milissegundos a cada ano.
Se os segundos corretivos forem de fato eliminados [...], o tempo se tornará mais
abstrato. Não dirá mais respeito à noite, ao dia, às estações e aos anos.
Os cientistas, é claro, têm suas razões. O problema é que nossos corações são
insensíveis a elas. O tempo encerra uma dimensão psicológica à qual não podemos escapar.
Nas “Confissões”, santo Agostinho vislumbrou o tamanho da encrenca: “Se nada
sobreviesse, não haveria tempo futuro, e se agora nada houvesse, não existiria o tempo
presente. De que modo existem aqueles dois tempos – o passado e o futuro –, se o passado
já não existe e o futuro ainda não veio? Quanto ao presente, se fosse sempre presente, e
não passasse
para o pretérito, já não seria tempo, mas eternidade.”
Não é por acaso que, além de Agostinho, vários filósofos se apressaram a concluir
que o tempo não passa de uma ilusão. Mesmo que ele seja uma realidade ontológica, como
querem os físicos, continua despertando perplexidades e até paixões.
Nem toda ciência, filosofia e poesia do mundo nos fazem deixar de lamentar o
passado e temer o futuro. Quem traduziu bem esse sentimento foi Virgílio: “Sed fugit
interea, fugit irreparabile tempus” (mas ele foge: foge irreparavelmente o tempo).
(Folha de S.Paulo, 20.01.2012.)

18 [ 203476 ]. “Mesmo que ele seja uma realidade ontológica, como querem os físicos,
continua despertando perplexidades e até paixões.” (7º parágrafo)

Considerada no contexto, a oração “Mesmo que ele seja uma realidade ontológica” expressa
ideia de
a) condição.
b) causa.
c) consequência.
d) comparação.
e) concessão.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o trecho do drama Macário, de Álvares de Azevedo.

MACÁRIO (chega à janela): Ó mulher da casa! olá! ó de casa!


UMA VOZ (de fora): Senhor!
MACÁRIO: Desate a mala de meu burro e tragam-ma aqui...
A VOZ: O burro?
MACÁRIO: A mala, burro!
A VOZ: A mala com o burro?
MACÁRIO: Amarra a mala nas tuas costas e amarra o burro na cerca.
A VOZ: O senhor é o moço que chegou primeiro?
MACÁRIO: Sim. Mas vai ver o burro.
A VOZ: Um moço que parece estudante?
MACÁRIO: Sim. Mas anda com a mala.
A VOZ: Mas como hei de ir buscar a mala? Quer que vá a pé?
MACÁRIO: Esse diabo é doido! Vai a pé, ou monta numa vassoura como tua mãe!
A VOZ: Descanse, moço. O burro há de aparecer. Quando madrugar iremos procurar.
OUTRA VOZ: Havia de ir pelo caminho do Nhô Quito. Eu conheço o burro...
MACÁRIO: E minha mala?
A VOZ: Não vê? Está chovendo a potes!...
MACÁRIO (fecha a janela): Malditos! (atira com uma cadeira no chão)
O DESCONHECIDO: Que tendes, companheiro?
MACÁRIO: Não vedes? O burro fugiu...
O DESCONHECIDO: Não será quebrando cadeiras que o chamareis...
MACÁRIO: Porém a raiva...
O DESCONHECIDO: A mala não pareceu-me muito cheia. Senti alguma coisa sacolejar dentro.
Alguma garrafa de vinho?
MACÁRIO: Não! não! mil vezes não! Não concebeis, uma perda imensa, irreparável... era o
meu cachimbo...
O DESCONHECIDO: Fumais?
MACÁRIO: Perguntai de que serve o tinteiro sem tinta, a viola sem cordas, o copo sem vinho,
a noite sem mulher – não me pergunteis se fumo!
O DESCONHECIDO (dá-lhe um cachimbo): Eis aí um cachimbo primoroso.
[...]
MACÁRIO: E vós?
O DESCONHECIDO: Não vos importeis comigo. (tira outro cachimbo e fuma)
MACÁRIO: Sois um perfeito companheiro de viagem. Vosso nome?
O DESCONHECIDO: Perguntei-vos o vosso?
MACÁRIO: O caso é que é preciso que eu pergunte primeiro. Pois eu sou um estudante.
Vadio ou estudioso, talentoso ou estúpido, pouco importa. Duas palavras só: amo o fumo e
odeio o Direito Romano. Amo as mulheres e odeio o romantismo.
O DESCONHECIDO: Tocai! Sois um digno rapaz. (apertam a mão)
MACÁRIO: Gosto mais de uma garrafa de vinho que de um poema, mais de um beijo que do
soneto mais harmonioso. Quanto ao canto dos passarinhos, ao luar sonolento, às noites
límpidas, acho isso sumamente insípido. Os passarinhos sabem só uma cantiga. O luar é
sempre o mesmo. Esse mundo é monótono a fazer morrer de sono.
O DESCONHECIDO: E a poesia?
MACÁRIO: Enquanto era a moeda de ouro que corria só pela mão do rico, ia muito bem.
Hoje trocou-se em moeda de cobre; não há mendigo, nem caixeiro de taverna que não
tenha esse vintém azinhavrado1. Entendeis-me?
O DESCONHECIDO: Entendo. A poesia, de popular tornou- se vulgar e comum. Antigamente
faziam-na para o povo; hoje o povo fá-la... para ninguém...

(Álvares de Azevedo. Macário/Noite na taverna, 2002.)

1
azinhavrado: coberto de azinhavre (camada de cor verde que se forma na superfície dos
objetos de cobre ou latão, resultante da corrosão destes quando expostos ao ar úmido).

19 [ 203968 ]. “Enquanto era a moeda de ouro que corria só pela mão do rico, ia muito
bem.”

Em relação à oração que o sucede, o trecho sublinhado expressa noção de


a) tempo.
b) comparação.
c) concessão.
d) causa.
e) condição.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o trecho do livro A solidão dos moribundos, do sociólogo alemão Norbert Elias.

Não mais consideramos um entretenimento de domingo assistir a enforcamentos,


esquartejamentos e suplícios na roda. Assistimos ao futebol, e não aos gladiadores na arena.
Se comparados aos da Antiguidade, nossa identificação com outras pessoas e nosso
compartilhamento de seus sofrimentos e morte aumentaram. Assistir a tigres e leões
famintos devorando pessoas vivas pedaço a pedaço, ou a gladiadores, por astúcia e engano,
mutuamente se ferindo e matando, dificilmente constituiria uma diversão para a qual nos
prepararíamos com o mesmo prazer que os senadores ou o povo romano. Tudo indica que
nenhum sentimento de identidade unia esses espectadores àqueles que, na arena, lutavam
por suas vidas. Como sabemos, os gladiadores saudavam o imperador ao entrar com as
palavras “Morituri te salutant” (Os que vão morrer te saúdam). Alguns dos imperadores sem
dúvida se acreditavam imortais. De todo modo, teria sido mais apropriado se os gladiadores
dissessem “Morituri moriturum salutant” (Os que vão morrer saúdam aquele que vai
morrer). Porém, numa sociedade em que tivesse sido possível dizer isso, provavelmente não
haveria gladiadores ou imperadores. A possibilidade de se dizer isso aos dominadores –
alguns dos quais mesmo hoje têm poder de vida e morte sobre um sem-número de seus
semelhantes – requer uma desmitologização da morte mais ampla do que a que temos hoje,
e uma consciência muito mais clara de que a espécie humana é uma comunidade de mortais
e de que as pessoas necessitadas só podem esperar ajuda de outras pessoas. O problema
social da morte é especialmente difícil de resolver porque os vivos acham difícil identificar-se
com os moribundos.
A morte é um problema dos vivos. Os mortos não têm problemas. Entre as muitas
criaturas que morrem na Terra, a morte constitui um problema só para os seres humanos.
Embora compartilhem o nascimento, a doença, a juventude, a maturidade, a velhice e a
morte com os animais, apenas eles, dentre todos os vivos, sabem que morrerão; apenas eles
podem prever seu próprio fim, estando cientes de que pode ocorrer a qualquer momento e
tomando precauções especiais – como indivíduos e como grupos – para proteger-se contra a
ameaça da aniquilação.

(A solidão dos moribundos, 2001.)

20 [ 203975 ]. Em “Embora compartilhem o nascimento, a doença, a juventude, a


maturidade, a velhice e a morte com os animais, apenas eles, dentre todos os vivos, sabem
que morrerão” (2º parágrafo), o termo sublinhado pode ser substituído, sem prejuízo para o
sentido do texto, por:
a) A menos que.
b) Mesmo que.
c) Desde que.
d) Uma vez que.
e) Contanto que.
Gabarito:

Resposta da questão 1:
[E]

[A] Incorreta: “mas” tem valor adversativo.


[B] Incorreta: “assim” é um conectivo de conclusão.
[C] Incorreta: na verdade, o termo destacado retoma as influências apresentadas
anteriormente.
[D] Incorreta: os enunciados que se iniciam pela conjunção “se” indicam uma possibilidade,
hipótese, o que é marcado também pelo uso do verbo no subjuntivo.

Resposta da questão 2:
[A]

No verso "O meu dia foi bom, pode a noite descer." (v. 6), as duas orações poderiam estar
unidas, sem prejuízo de sentido, por uma conjunção conclusiva: o meu dia foi bom, portanto
(logo) pode a noite descer.

Resposta da questão 3:
[A]

A expressão “no entanto” estabelece relação de contrariedade em relação ao fato


mencionado no penúltimo parágrafo sobre o fato de muitas pessoas inseridas em redes de
amparo ou grupos de apoio se sentirem mais aptas a resistirem a adversidades: “a solidão é
um problema crescente no mundo todo, o que, aliado à necessidade de distanciamento
físico, tornou mais difícil para algumas pessoas contar com tal suporte”. Assim, é correta a
opção [A].

Resposta da questão 4:
[E]

No trecho “não com um interesse apenas moderado, mas da maneira mais competente
possível e com estilo que permitirá às pessoas de fora propor ideias novas na busca da
vitória”, vemos que primeiro é apresentada uma qualidade dos dirigentes, que seria possuir
interesse na direção, e, em seguida, são apresentadas outras qualidades, destacando que
não é apenas uma direção executada com um interesse moderado, mas também de forma
competente (o máximo possível) e com estilo determinado. Assim, o “mas” serve para
marcar esse acréscimo de qualidades dos dirigentes, especificando, portanto, essas outras
qualidades.

Resposta da questão 5:
[C]

É correta a opção [C], pois a conjunção coordenativa que inicia o período, “contudo”,
apresenta noção de adversidade, como mas, porém ou todavia.

Resposta da questão 6:
[E]

[A] Incorreta: a última oração é introduzida pela conjunção “e”, indicando uma adição de
informação.
[B] Incorreta: a expressão “mas também”, na verdade, acrescenta uma ideia, funcionando
junto à expressão “não só”. Assim, é aditiva e não adversativa.
[C] Incorreta: na verdade, “ou” traz uma ideia de alternativa, indicando duas possibilidades
que podem motivar a realização da implantação de prótese.
[D] Incorreta: “por fim” introduz a última informação para elaborar a conclusão final do
texto.

Resposta da questão 7:
[C]

A expressão “não apenas (...) mas”, que estabelece relação entre “países em
desenvolvimento”, e “nações tidas como superpotências”, apresenta noção de adição, como
mencionado em [C].

Resposta da questão 8:
[C]
Nas opções [A], [D] e [E] as expressões sublinhadas apresentam valor adversativo, enquanto
que em [B] exprime noção aditiva. Assim, apenas em [C], a expressão “por conseguinte”
apresenta valor conclusivo, equivalente a “portanto” da frase do enunciado.

Resposta da questão 9:
[B]

O texto original apresenta a ideia de adição: de que o teatro foi utilizado para apresentações
teatrais E para outros fins. Assim, as alternativas devem preservar esse sentido de adição,
como ocorre em [A], por meio da expressão “tanto...quanto”, em [C], por meio da expressão
“não somente..., mas também”, em [D], por meio da expressão “que não apenas”, e em [E],
por meio da expressão “não somente..., mas igualmente”.
Em [B], por outro lado, por meio da expressão “excetuando-se”, há uma ideia de exclusão.

Resposta da questão 10:


[D]

[A] Incorreta: justamente por substituir o termo “morador de rua”, o pronome mantém o
trecho coeso.
[B] Incorreta: o emprego do ponto final não é obrigatório, já que elementos com mesma
função sintática devem ser separados por vírgula. No caso, são duas orações que
poderiam ser separadas por vírgula.
[C] Incorreta: o sentido é alterado pelo uso da conjunção “porque”, afinal, as duas orações
não estabelecem relação de explicação e sim de oposição.
[E] Incorreta: as conjunções “mas” (adversativa) e “portanto” (conclusiva) não são
equivalentes e, dessa forma, ao trocar uma por outra muda-se o sentido.

Resposta da questão 11:


[E]

No trecho, há uma relação de tempo, já que primeira oração indica o momento em que a
ação expressa na segunda oração (“acodem”) ocorre: o momento em que ouvem tanger a
missa. Assim, o trecho equivale a “Quando ouvem tanger a missa, já acodem”.

Resposta da questão 12:


[A]

A conjunção “ainda que” marca uma oração subordinada adverbial concessiva, a conjunção
“se” marca uma oração condicional e a conjunção “como” marca uma oração comparativa.
Dessa forma, está ausente a oração subordinada adverbial causal.

Resposta da questão 13:


[A]

Apenas em [A] a oração sublinhada não apresenta uma circunstância de condição, pois a
palavra “se” é partícula expletiva (não exerce função sintática e pode ser retirada da frase
sem prejuízo semântico). Em todas as demais opções, as frases sublinhadas apresentam
circunstância de condição: “se” como conjunção subordinativa condicional em [B] e [D] e
“caso” em [E], assim como o uso do pretérito imperfeito do subjuntivo em “tivesse” [C].

Resposta da questão 14:


[D]

A frase do enunciado é iniciada por duas orações que transmitem noção de consequência
entre si: “Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça...”. A
mesma circunstância acontece nas frases das opções [A], [B], [C] e [E] pelas expressões “de
maneira que aquela moça”, “de sorte que aquela moça”, “de forma que aquela moça” e “de
modo que aquela moça”, respectivamente. Apenas em [D], ocorre uma substituição
incorreta, pois a expressão “enquanto que” sugere contraste ou oposição.

Resposta da questão 15:


[D]

A oração subordinada reduzida de infinitivo, “Para chegar a esses resultados (...)”, apresenta
relação de finalidade relativamente à principal, enquanto que a subordinada reduzida de
gerúndio, “(...) tornando o ciclo de carbono mais dinâmico”, estabelece relação de
consequência com a principal.

Resposta da questão 16:


[C]

É correta a opção [C], pois a locução conjuntiva “posto que” apresenta relação causal
relativamente à oração principal, pelo que poderia ser substituída por visto que, já que,
dado que, uma vez que.

Resposta da questão 17:


[C]

O conectivo “que”, nesse caso, é uma conjunção subordinativa. Isso porque exerce o papel
de conectar uma oração subordinada substantiva objetiva direta à principal: QUEM
argumenta, argumenta ALGO. A função sintática do objeto direto, portanto, é preenchida
com a oração “que Jobs não era o inventor de uma máquina ou de uma ideia”, introduzida
pela conjunção subordinativa “que”.

Resposta da questão 18:


[E]

A conjunção “mesmo que” marca uma ideia de concessão em relação à oração principal
“continua despertando perplexidades e até paixões”. Ou seja, existe um contraste marcado
pela conjunção “mesmo que”, que equivale às conjunções “embora” ou “apesar de”.

Resposta da questão 19:


[A]

No trecho sublinhado, vemos a noção de tempo, demarcada pela conjunção “enquanto”: ela
marca o momento em que tudo ia bem.

Resposta da questão 20:


[B]

A conjunção “embora” é concessiva e pode ser substituída pela sua equivalente semântica
“mesmo que”.
Colocação pronominal
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Nunca imaginei um dia

Até alguns anos atrás, eu costumava dizer frases como “eu jamais vou fazer isso” ou
“nem morta eu faço aquilo”, limitando minhas possibilidades de descoberta e emoção. Não
é fácil libertar-se do manual de instruções que nos autoimpomos. Às vezes, leva-se uma vida
inteira, e nem assim conseguimos viabilizar esse projeto. Por sorte, minha ficha caiu há
tempo.
Começou quando iniciei um relacionamento com alguém completamente diferente
de mim, diferente a um ponto radical mesmo: ele, por si só, foi meu primeiro "nunca
imaginei um dia". Feitos para ficarem a dois planetas de distância um do outro. Mas o amor
não respeita a lógica, e eu, que sempre me senti tão confortável num mundo planejado
inaugurei a instabilidade emocional na minha vida. Prendi a respiração e dei um belo
mergulho.
A partir daí, comecei a fazer coisas que nunca havia feito. Mergulhar, aliás, foi uma
delas. Sempre respeitosa com o mar e chata para molhar os cabelos afundei em busca de
tartarugas gigantes e peixes coloridos no mar de Fernando de Noronha. Traumatizada com
cavalos (por causa de um equino que quase me levou ao chão quando eu tinha oito anos),
participei da minha primeira cavalgada depois dos 40, em São Francisco de Paula. Roqueira
convicta e avessa a pagode, assisti a um show do Zeca Pagodinho na Lapa. Para ver o
Ronaldo Fenômeno jogar ao vivo, me infiltrei na torcida do Olímpico num jogo entre Grêmio
e Corinthians, mesmo sendo colorada.
Meu paladar deixou de ser monótono: comecei a provar alimentos que nunca havia
provado antes. E muitas outras coisas vetadas por causa do "medo do ridículo" receberam
alvará de soltura. O ridículo deixou de existir na minha vida.
Não deixei de ser eu. Apenas abri o leque, me permitindo ser um “eu” mais amplo. E
sinto que é um caminho sem volta.
Um mês atrás participei de outro capítulo da série “Nunca imaginei um dia”. Viajei
numa excursão, eu que sempre rejeitei essa modalidade turística. Sigo preferindo viajar a
dois ou sozinha, mas foi uma experiência fascinante, ainda mais que a viagem não tinha
como destino um país do circuito Elizabeth Arden (Paris-Londres-Nova York), mas um país
africano, muçulmano e desértico. Aliás, o deserto de Atacama, no Chile, será meu provável
“nunca imaginei um dia” do próximo ano.
E agora cometi a loucura jamais pensada, a insanidade que nunca me permiti, o ato
que me faria merecer uma camisa-de-força: eu, que nunca me comovi com bichos de
estimação, adotei um gato de rua.
Pode colocar a culpa no espírito natalino: trouxe um bichano de três meses pra casa,
surpreendendo minhas filhas, que já haviam se acostumado com a ideia de ter uma mãe
sem coração. E o que mais me estarrece: estou apaixonada por ele.
Ainda há muitas experiências a conferir: fazer compras pela internet, andar num
balão, cozinhar dignamente, me tatuar, ler livros pelo kindle, viajar de navio e mais umas 400
coisas que nunca imaginei fazer um dia, mas que já não duvido. Pois tem essa também:
deixei de ser tão cética.
Já que é improvável que o próximo ano seja diferente de qualquer outro, que a
novidade sejamos nós.

Medeiros, Martha. Nunca Imaginei um dia. 2009. Disponível em:


http://alagoinhaipaumirim.blogspot.com/2009/12/nunca-imaginei-um-dia-martha-
medeiros.html. Acesso em: 10 fev. 2021.

1 [ 203251 ]. Em "[...] me permitindo ser um ‘eu’ mais amplo.” (5º parágrafo), há um desvio
da modalidade padrão da língua na colocação do pronome destacado. Em que opção isso
também ocorre?
a) Desde criança, eu sempre me senti bastante confortável com a minha vida.
b) Quero contar-lhes as principais e mais importantes mudanças de minha existência.
c) Assim resolvem-se as mudanças de vida: com muito sofrimento e com muita coragem!
d) Convidar-me-ão para falar sobre liberdade e mudança de vida no próximo Simpósio.
e) Em se tratando de mudanças, mergulhei de forma profunda nos meus sonhos e desejos.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Examine a tira de André Dahmer para responder à(s) questão(ões) a seguir.
2 [ 189924 ]. Constituem exemplos de linguagem formal e de linguagem coloquial,
respectivamente, as seguintes falas:
a) “Ah, estou morrendo de pena...” e “Ainda vou trabalhar a noite inteira no Iraque, meu
rapaz.”
b) “Me adianta essa, vai...” e “É cedo para mim.”
c) “O importante é trabalhar com o que a gente gosta.” e “Posso lhe dar um emprego bem
melhor...”
d) “É cedo para mim.” e “Posso lhe dar um emprego bem melhor...”
e) “Posso lhe dar um emprego bem melhor...” e “Me adianta essa, vai...”

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Precisamos falar sobre fake news

Minha mãe tem 74 anos e, como milhões de pessoas no mundo, faz uso frequente do
celular. É com ele que, conversando por voz ou por vídeo, diariamente, vence a distância e a
saudade dos netos e netas.
Mas, para ela, assim como para milhares e milhares de pessoas, o celular pode ser
também uma fonte de engano. De vez em quando, por acreditar no que chega por meio de
amigos no seu WhatsApp, me envia uma ou outra mensagem contendo uma fake news. A
última foi sobre um suposto problema com a vacina da gripe que, por um momento,
diferente de anos anteriores, a fez desistir de se vacinar.
Eu e minha mãe, como boa parte dos brasileiros, não nascemos na era digital. Nesta
sociedade somos os chamados migrantes e, como tais, a tecnologia nos gera um certo
estranhamento (e até constrangimento), embora nos fascine e facilite a vida.
Sejamos sinceros. Nada nem ninguém nos preparou para essas mudanças que
revolucionaram a comunicação. Pior: é difícil destrinchar o que é verdade em tempo de fake
news.
Um dos maiores estudos sobre a disseminação de notícias falsas na internet,
publicado ano passado na revista "Science", foi realizado pelo Instituto de Tecnologia de
Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, e concluiu que as notícias falsas
se espalham 70% mais rápido que as verdadeiras e alcançam muito mais gente.
Isso porque as fake news se valem de textos alarmistas, polêmicos, sensacionalistas,
com destaque para notícias atreladas a temas de saúde, seguidas de informações mentirosas
sobre tudo. Até pouco tempo atrás, a imprensa era a detentora do que chamamos de
produção de notícias. E os fatos obedeciam, a critérios de apuração e checagem.
O problema é que hoje mantemos essa mesma crença, quase que religiosa, junto a
mensagens das quais não Identificamos sequer a origem, boa parte delas disseminada em
redes sociais. Confia-se a ponto de compartilhar, sem questionar.
O impacto disso é preocupante. Partindo de pesquisas que mostram que notícias e
seus enquadramentos influenciam opiniões e constroem leituras da realidade, a
disseminação das notícias falsas tem criado versões alternativas do mundo, da História, das
Ciências "ao gosto do cliente", como dizem por aí.
Os problemas gerados estão em todos os campos. No âmbito familiar, por exemplo,
vai de pais que deixam de vacinar seus filhos a ponto de criar um grave problema de saúde
pública de impacto mundial. E passa por jovens vítimas de violência virtual e física.
No mundo corporativo, estabelecimentos comerciais fecham portas, profissionais
perdem suas reputações e produtos são desacreditados como resultado de uma foto
descontextualizada, uma Imagem alterada ou uma legenda falsa.
A democracia também se fragiliza. O processo democrático corre o risco de ter sua
força e credibilidade afetadas por boatos. Não há um estudo capaz de mensurar os danos
causados, mas iniciativas fragmentadas já sinalizam que ela está em risco.
Estamos em um novo momento cultural e social, que deve ser entendido para
encontrarmos um caminho seguro de convivência com as novas formas e ferramentas de
comunicação.
No Congresso Nacional, tramitam várias iniciativas nesse sentido, que precisam ser
amplamente debatidas, com a participação de especialistas e representantes da sociedade
civil.
O problema das fake news certamente passa pelo domínio das novas tecnologias,
com instrumentos de combate ao crime, mas, também, pela pedagogia do esclarecimento.
O que posso afirmar, é que, embora não saibamos ainda o antídoto que usaremos
contra a disseminação de notícias falsas em escala industrial, não passa pela cabeça de
ninguém aceitar a utilização de qualquer tipo de controle que não seja democrático.

D.A., O Globo, em 10 de julho de 2019.

3 [ 195710 ]. Em qual opção a colocação do pronome oblíquo NÃO está de acordo com a
modalidade padrão da língua?
a) Já me enviaram uma ou outra mensagem contendo notícias falsas ou mentirosas.
b) Se o mundo corporativo despreocupar-se com as fake news, fechará as portas para o
mercado.
c) Confia-se nas mensagens a ponto de compartilhá-las, sem questionar suas origens.
d) Atualmente, convivemos com uma tecnologia que nos fascina e facilita muito a vida.
e) Nada nem ninguém nos preparou para as mudanças tecnológicas que vivemos hoje.

4 [ 186105 ]. Observe os trechos abaixo e escolha aquele que mais se aproximar do padrão
formal da norma culta, considerando os aspectos gramaticais, semânticos e lexicais:
a) ao contrário dos meninos ricos que na maioria das vezes se perdem dentro de suas
próprias mansões, os meninos pobres do Brasil se perdem nas ruas a míngua e ignorados
muitas vezes por aqueles que tem o dever de acolhê-lo, com ele se envolver, se importar e
cuidar deles.
b) ao contrário dos meninos ricos que, na maioria das vezes se perdem dentro de suas
próprias mansões, os meninos pobres do Brasil se perdem nas ruas a míngua e ignorados
muitas vezes por aqueles que têm o dever de acolhê-lo, com ele se envolver, se importar e
cuidar.
c) ao contrário dos meninos ricos, que, na maioria das vezes, perdem-se dentro de suas
próprias mansões, os meninos pobres do Brasil se perdem nas ruas à míngua e são
ignorados, muitas vezes, por aqueles que têm o dever de acolhê-los, com eles se envolver
e cuidar deles.
d) ao contrário dos meninos ricos que, na maioria das vezes, se perdem dentro de suas
próprias mansões, os meninos pobres do Brasil se perdem nas ruas a míngua e são
ignorados, muitas vezes, por aqueles que tem o dever de acolhê-lo, com ele se envolver,
se importar e cuidar deles.

5 [ 183263 ]. Analise as duas frases abaixo:

I. Os ladrões estão roubando! Prendam-nos!


II. Somos os assaltantes! Prendam-nos!

Assinale a alternativa cuja descrição gramatical dos termos sublinhados está correta.
a) Em I, “nos” é pronome pessoal oblíquo da 1ª pessoa do plural. Em II, “nos” é pronome
pessoal oblíquo da 3ª pessoa do plural.
b) Ambos são pronomes pessoais oblíquos referentes à 1ª pessoa do plural.
c) Em I, “nos” é pronome reto da 3ª pessoa do plural. Em II, “nos” é pronome reto da 1ª
pessoa do plural.
d) Em I, “nos” é pronome pessoal oblíquo da 3ª pessoa do plural. Em II, “nos” é pronome
pessoal oblíquo da 1ª pessoa do plural.
e) Ambos são pronomes pessoais retos referentes à 1ª pessoa do plural.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


DE MAVIOSO ENCANTO

1
Eu vi um beija-flor.
2
De manhã reuni a família ao redor da mesa do café e disse: Gente, vou contar uma
coisa importante e vocês precisam acreditar em mim. Hoje, enquanto vocês dormiam, vi um
beija-flor no terraço.
Foi assim. 3Era de madrugada e acordei chamada pela sede. 4Mas o dia me pareceu
tão novo que parei de olhar. 5E de repente, lá estava ele tecendo entre as flores a rede de
seus voos. 6Um beija-flor de verdade em 1972, um beija-flor vivo numa cidade de 6 milhões
de habitantes.
Ficaram pasmos. 7Mas me amavam e acreditaram em mim. 8Minha filha pediu que o
descrevesse, pediu que o desenhasse e que o pintasse com todas as cores dos seus lápis.
Meu marido comoveu-se, eu era uma mulher que 9tinha visto um beija-flor, e era dele.
10
Beijou-me na testa. As domésticas foram convocadas para participar da alegria, mas,
pessoas de pouca fé, se entreolharam descrentes. As amigas às quais telefonamos me deram
parabéns; afinal, eram amigas. A novidade habitou minha casa.
A notícia correu. Verdade, Marina, que você viu um beija-flor? E eu modesta mas
banhada de graça, verdade. Ligaram do jornal. Alô, Marina, a que horas? Que cor? De que
tamanho? E você tem certeza? Alguém mais viu? Olha gente, não quero fazer declarações.
Sei que parece estranho, mas eu vi. A hora não sei bem, nem o tamanho, não medi. 11Sei que
era um beija-flor feito os de antigamente, com asas, bico, tudo. Um beija-flor de penas.
Fotos? Não tenho, não falei com ele.
12
Vieram ver o terraço, mediram tudo, controlaram os ventos, 13aspiraram as flores. E
chegaram à conclusão de que não, não era possível, nenhum beija-flor 14havia estado ali.

COLASANTI, Marina. Crônicas para jovens, 1ª ed. São Paulo: Global, 2012, pp. 23 e 24.

6 [ 182727 ]. Analise as proposições em relação à crônica De Mavioso Encanto, Marina


Colasanti e assinale (V) para verdadeira e (F) para falsa.

( ) Da leitura do período “Mas me amavam e acreditaram em mim” (ref. 7), infere-se que
os familiares, mesmo surpresos e duvidosos com a notícia, deixaram que o amor fosse
mais forte que a dúvida.
( ) Em “Mas me amavam” (ref. 7) e “Beijou-me na testa” (ref. 10), quanto à colocação
pronominal, têm-se próclise e ênclise, sequencialmente, porém, na segunda oração, o
pronome pode estar também proclítico e, mesmo assim, mantém-se a língua culta e a
correção gramatical.
( ) No período “Minha filha pediu que o descrevesse, pediu que o desenhasse e que o
pintasse com todas as cores” (ref. 8) as palavras destacadas são, sequencialmente, na
morfossintaxe, pronome pessoal/ objeto direto; pronome pessoal/ objeto direto;
pronome pessoal/ objeto direto e artigo definido/ adjunto adnominal.
( ) A estrutura “Sei que era um beija-flor feito os de antigamente” (ref. 11) revela que o
beija-flor, devido ao avanço da civilização, sofreu mutações e portanto diferente do
beija-flor conhecido em outra época.
( ) O verbo aspirar em “aspiraram as flores” (ref. 13), quanto à regência, classifica-se como
transitivo direto e o vocabulário flores, sintaticamente, é objeto direto. Substituindo-se
o objeto direto pelo pronome pessoal oblíquo tem-se: aspiraram-nas.
Assinale a alternativa correta, de cima para baixo.
a) F – F – F – V – V

b) V – V – F – V – F

c) F – F – V – V – V

d) V – F – F – F – V

e) V – F – V – F – V

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


O elefante

Fabrico um elefante
de meus poucos recursos.
Um tanto de madeira
tirado a velhos móveis
talvez lhe dê apoio.
E o encho de algodão,
de paina, de doçura.
A cola vai fixar
suas orelhas pensas.
A tromba se enovela,
é a parte mais feliz
de sua arquitetura.

Mas há também as presas,


dessa matéria pura
que não sei figurar.
Tão alva essa riqueza
a espojar-se nos circos
sem perda ou corrupção.
E há por fim os olhos,
onde se deposita
a parte do elefante
mais fluida e permanente,
alheia a toda fraude.

Eis o meu pobre elefante


pronto para sair
à procura de amigos
num mundo enfastiado
que já não crê em bichos
e duvida das coisas.
Ei-lo, massa imponente
e frágil, que se abana
e move lentamente
a pele costurada
onde há flores de pano
e nuvens, alusões
a um mundo mais poético
onde o amor reagrupa
as formas naturais.

Vai o meu elefante


pela rua povoada,
mas não o querem ver
nem mesmo para rir
da cauda que ameaça
deixá-lo ir sozinho.

É todo graça, embora


as pernas não ajudem
e seu ventre balofo
se arrisque a desabar
ao mais leve empurrão.
Mostra com elegância
sua mínima vida,
e não há cidade
alma que se disponha
a recolher em si
desse corpo sensível
a fugitiva imagem,
o passo desastrado
mas faminto e tocante.
Mas faminto de seres
e situações patéticas,
de encontros ao luar
no mais profundo oceano,
sob a raiz das árvores
ou no seio das conchas,
de luzes que não cegam
e brilham através
dos troncos mais espessos.
Esse passo que vai
sem esmagar as plantas
no campo de batalha,
à procura de sítios,
segredos, episódios
não contados em livro,
de que apenas o vento,
as folhas, a formiga
reconhecem o talhe,
mas que os homens ignoram,
pois só ousam mostrar-se
sob a paz das cortinas
à pálpebra cerrada.

E já tarde da noite
volta meu elefante,
mas volta fatigado,
as patas vacilantes
se desmancham no pó.
Ele não encontrou
o de que carecia,
o de que carecemos,
eu e meu elefante,
em que amo disfarçar-me.
Exausto de pesquisa,
caiu-lhe o vasto engenho
como simples papel.
A cola se dissolve
e todo o seu conteúdo
de perdão, de carícia,
de pluma, de algodão,
jorra sobre o tapete,
qual mito desmontado.
Amanhã recomeço.

ANDRADE, Carlos Drummond de. O ElefanteO. 9ª ed. - São Paulo: Editora Record, 1983.
7 [ 183649 ]. Observe os vocábulos destacados em negrito nos versos 39 a 44 do poema,
transcritos abaixo:

“Vai o meu elefante


pela rua povoada,
mas não o querem ver
nem mesmo para rir
da cauda que ameaça
deixá-lo ir sozinho.”

Sobre esses vocábulos, de acordo com a gramática normativa, considere as seguintes


afirmações:

I. o primeiro “o” é um artigo definido e o segundo é uma forma pronominal oblíqua, assim
como a forma “lo” em “deixá-lo”.
II. a colocação do segundo “o” junto ao advérbio de negação aproxima-se do registro mais
utilizado no português falado no Brasil.
III. “o” e “lo” nos versos “mas não o querem ver” e “deixá-lo ir sozinho” são formas
pronominais que garantem a coesão referencial anafórica.

Está(ão) correta(s) a(s) afirmação(ões)


a) I apenas.
b) III apenas.
c) I e II apenas.
d) I e III apenas.
e) II e III apenas.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


8 [ 185625 ]. Acerca do texto, nas orações: “se as eleições fossem ontem” e em “quem você
teria votado e se arrependido”, é INCORRETO afirmar que
a) a classificação gramatical do SE, respectivamente, é conjunção e pronome.
b) a conjunção SE poderia ser substituída, sem alteração de sentido, pelo nexo oracional
CASO.
c) o pronome SE é atraído pela conjunção E, havendo, portanto, uma ênclise.
d) a classificação do verbo utilizado na primeira oração é pretérito imperfeito do subjuntivo.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


MAIS QUE ORWELL, HUXLEY PREVIU NOSSO TEMPO
Hélio Gurovitz

Publicado em 1948, o livro 1984, de George Orwell, saltou para o topo da lista dos
mais vendidos (...) 1A distopia de Orwel, mesmo situada no futuro, tinha um endereço certo
em seu tempo: o stalinismo. (...) 2O mundo da “pós-verdade”, dos “fatos alternativos” e da
anestesia intelectual nas redes sociais mais parece outra distopia, publicada em 1932:
Admirável mundo novo, de Aldous Huxley.
3
Não se trata de uma tese nova. Ela foi levantada pela primeira vez em 1985, num
livreto do teórico da comunicação americano Neil Postman: Amusing ourselves to death
(4Nos divertindo até morrer), relembrado por seu filho Andrew em artigo recente no The
Guardian. “Na visão de Huxley, não é necessário nenhum Grande Irmão para despojar a
população de autonomia, maturidade ou história”, escreveu Postman. “Ela acabaria amando
sua opressão, adorando as tecnologias que destroem sua capacidade de pensar. Orwell
temia aqueles que proibiriam os livros. Huxley temia que não haveria motivo para proibir um
livro, pois não haveria ninguém que quisesse lê-los. Orwell temia aqueles que nos privariam
de informação. Huxley, aqueles que nos dariam tanta que seríamos reduzidos à passividade
e ao egoísmo. 5Orwell temia que a verdade fosse escondida de nós. Huxley, que fosse
afogada num mar de irrelevância.”
6
No futuro pintado por Huxley, (...) não há mães, pais ou casamentos. O sexo é livre.
A diversão está disponível na forma de jogos esportivos, cinema multissensorial e de uma
droga que garante o bem-estar sem efeito colateral: o soma. Restaram na Terra dez áreas
civilizadas e uns poucos territórios selvagens, onde 7grupos nativos ainda preservam
costumes e tradições primitivos, como família ou religião. “O mundo agora é estável”, diz um
líder civilizado. “As pessoas são felizes, têm o que desejam e nunca desejam o que não
podem ter. Sentem-se bem, estão em segurança; nunca adoecem; 8não têm medo da morte;
vivem na ditosa ignorância da paixão e da velhice; não se acham sobrecarregadas de pais e
mães; 9não têm esposas, nem filhos, nem amantes por quem possam sofrer emoções
violentas; são condicionadas de tal modo que praticamente não podem deixar de se portar
como devem. E se, por acaso, alguma coisa andar mal, há o soma.”
10
Para chegar à estabilidade absoluta, foi necessário abrir mão da arte e da ciência.
“A felicidade universal mantém as engrenagens em funcionamento regular; a verdade e a
beleza são incapazes de fazê-lo”, diz o líder. “Cada vez que as massas tomavam o poder
público, era a felicidade, mais que a verdade e a beleza, o que importava.” A verdade é
considerada uma ameaça; a ciência e a arte, perigos públicos. Mas não é necessário esforço
totalitário para controlá-las. Todos aceitam de bom grado, fazem “qualquer sacrifício em
troca de uma vida sossegada” e de sua dose diária de soma. “Não foi muito bom para a
verdade, sem dúvida. Mas foi excelente para a felicidade.”
No universo de Orwell, a população é controlada pela dor. No de Huxley, pelo prazer.
“Orwell temia que nossa ruína seria causada pelo que odiamos. Huxley, pelo que amamos”,
escreve Postman. Só precisa haver censura, diz ele, se os tiranos acreditam que o público
sabe a diferença entre discurso sério e entretenimento. (...) O alvo de Postman, em seu
tempo, era a televisão, que ele julgava ter imposto uma cultura fragmentada e superficial,
incapaz de manter com a verdade a relação reflexiva e racional da palavra impressa. 11O
computador só engatinhava, e Postman mal poderia prever como celulares, tablets e redes
sociais se tornariam – bem mais que a TV – o soma contemporâneo. Mas suas palavras
foram prescientes: “O que afligia a população em Admirável mundo novo não é que
estivessem rindo em vez de pensar, mas que não sabiam do que estavam rindo, nem tinham
parado de pensar”.

Adaptado, Revista Época nº 973 – 13 de fevereiro de 2017, p. 67.


Distopia = Pensamento, filosofia ou processo discursivo caracterizado pelo totalitarismo,
autoritarismo e opressivo controle da sociedade, representando a antítese de utopia.
(BECHARA, E. Dicionário da língua portuguesa. 1ª ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira,
2011, p. 533).

9 [ 172895 ]. Tendo como base o que prescreve a norma culta padrão da Língua
Portuguesa, assinale a alternativa cuja análise está correta.
a) “Nos divertindo até morrer” (ref. 4) apresenta uma colocação pronominal adequada, pois,
além de ser a tradução de um nome próprio, o gerúndio não admite ênclise.
b) Em “...grupos nativos ainda preservam costumes e tradições primitivos...” (ref. 7), o
adjetivo poderia estar no feminino para concordar com o último elemento, já que está
posposto a ele.
c) O termo sublinhado em “... não têm esposas, nem filhos, nem amantes por quem possam
sofrer...” (ref. 9) poderá ser substituído por os quais e não acarretará alteração sintática
nem semântica na sentença.
d) Em “... não têm medo da morte; vivem na ditosa ignorância da paixão e da velhice...” (ref.
8) os termos sublinhados exercem a mesma função sintática: adjuntos adnominais dos
substantivos a que se referem.

10 [ 166793 ]. dia 16 de outubro de 1983 - questão não pode ser adicionada no quizzes,
pelas múltiplas respostas.

Primeira noite decente. Sonhei com o consultório da Mary atravessado de papel


higiênico, 1grande confusão: seria quem? Analista, amiga ou namorada? Nenhuma das três?
Não quero agora computar as perdas. Perder é uma lenha. Lá fora está sol, quem
escreve deixa um testemunho. 2Reesquentando. Joguei fora algumas coisas já escritas
porque não era o testemunho que eu queria deixar. É outro. Outro agora. Acredite se puder.
Rejane por perto, acompanhando meus progressos. Peço a ela encarecidamente que 3me
faça o favor de lembrá-los. Eu mesma me exercito, mas que péssima memória! Notas,
Armando. A memória Fraca para os progressos! Chega desse lero, Poesia virá quando puder.
Por enquanto, Filho, é isso aí apenas. Saí ao sol onde tentei um do-in, 4me sinto exaurida.
5
Lembra que o diário era alimento cotidiano? Que importa a má fama depois que estamos
mortos? Importa tanto que 6abri a lata de lixo: quero outro testemunho. Diário não tem
graça, mas 7esquenta, pega-se de novo a caneta abandonada, e o interlocutor é
fundamental. Escrevo para você sim. 8Da cama do hospital. A lesma quando passa deixa um
rastro prateado.
Leiam se forem capazes.
CESAR, Ana Cristina. Poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2013, p. 309.

Com base na leitura e interpretação do texto e de acordo com a variedade padrão escrita da
língua portuguesa e com os componentes constitutivos do texto, é correto afirmar que:
01) o sinal de dois pontos em “grande confusão: seria quem?” (referência 1) e em “abri a
lata de lixo: quero outro testemunho” (referência 6) é usado, nos dois casos, para
introduzir uma retificação acerca do termo precedente.
02) em “me faça” (referência 3) e em “me sinto” (referência 4), a colocação pronominal
poderia ser alterada para “faça-me” e “sinto-me”, pois a ordem do pronome em relação
ao verbo é opcional nos dois casos.
04) as formas verbais “reesquentando” (referência 2) e “esquenta” (referência 7) são usadas
com sentido denotativo, em referência direta ao calor do sol.
08) as cinco perguntas presentes no texto (referências 1 e 5) produzem uma impressão de
colóquio, isto é, de conversa, ainda que seja uma fala de si para si em um texto escrito.
16) o excerto “Da cama do hospital. A lesma quando passa deixa um rastro prateado. Leiam
se forem capazes” (referência 8) constitui uma provocação de Ana Cristina Cesar para
que o leitor decifre a natureza do testemunho registrado.
32) a organização do texto obedece à natureza tradicional dos diários íntimos ao exigir um
interlocutor externo, alguém diferente da própria pessoa que os escreve.
64) marcas textuais presentes no texto e que o caracterizam como pertencente ao gênero
diário são: discurso em primeira pessoa, entrada de data, tom intimista e confessional.
Gabarito:

Resposta da questão 1:
[C]

Em [C], por conta da conjunção “assim”, o pronome “me” deveria vir anteposto ao verbo: se
resolvem.

Resposta da questão 2:
[E]

As frases transcritas em [E] constituem exemplos de linguagem formal e de linguagem


coloquial, respectivamente, já que a primeira obedece às normas da gramática normativa e a
segunda, “Me adianta essa, vai...”, pela situação de próclise do pronome em início de oração
é típica da fala do cotidiano.

Resposta da questão 3:
[B]

Em [B], deveria ter sido usada a próclise, já que temos a conjunção subordinativa “se”.

Resposta da questão 4:
[C]

A alternativa que respeita as regras formais da língua, considerando aspectos gramaticais,


semânticos e lexicais é a [C]. Alguns problemas encontrados nas outras alternativas podem
ser citados abaixo:
Em [A], por exemplo, falta a crase no “a” que antecede “míngua”, substantivo feminino
antecedido por preposição “a” e artigo feminino “a”.
Em [B], por exemplo, faltou isolar o termo “na maioria das vezes” por vírgulas, o que fez com
que o sujeito e predicado ficassem separados.
Em [D], por exemplo, não se respeitou a regra da colocação pronominal, que prevê que após
vírgulas, deve-se optar pela ênclise e não próclise (“perdem-se” e não “se perdem”).
Resposta da questão 5:
[D]

[A] Incorreto. Em I, “nos” é pronome pessoal oblíquo da 3ª pessoa do plural; o acréscimo de


“n” ocorre em função de o verbo terminar em som nasal. Já em II, “nos” é pronome
pessoal oblíquo da 1ª pessoa do plural.
[B] Incorreto. Em I, “nos” é pronome pessoal oblíquo da 3ª pessoa do plural; o acréscimo de
“n” ocorre em função de o verbo terminar em som nasal. Já em II, “nos” é pronome
pessoal oblíquo da 1ª pessoa do plural.
[C] Incorreto. Em I, “nos” é pronome pessoal oblíquo da 3ª pessoa do plural; o acréscimo de
“n” ocorre em função de o verbo terminar em som nasal. Já em II, “nos” é pronome
pessoal oblíquo da 1ª pessoa do plural.
[D] Correto.
[E] Incorreto. Em I, “nos” é pronome pessoal oblíquo da 3ª pessoa do plural; o acréscimo de
“n” ocorre em função de o verbo terminar em som nasal. Já em II, “nos” é pronome pessoal
oblíquo da 1ª pessoa do plural.

Resposta da questão 6:
[E]

2ª Falsa: Não se utiliza a próclise para iniciar períodos e, portanto, na segunda situação não é
possível o seu uso.
4ª Falsa: A estrutura apenas revela que hoje em dia é difícil encontrar beija-flores e que
antigamente isso era comum.

Resposta da questão 7:
[D]

Apenas o item II é incorreto, pois a situação de próclise do pronome no verso “mas não o
querem ver” decorre da atração por palavra negativa e não por característica do português
falado no Brasil. Assim, é correta a opção [D].

Resposta da questão 8:
[C]
[C] Incorreta: na ênclise, o pronome aparece depois do verbo e não antes (próclise).

Resposta da questão 9:
[B]

Estão incorretas as alternativas:


[A] “Nos divertindo até morrer” (ref. 4) é a tradução para o português do título do livro de
Neil Postman, Amusing ourselves to death. De acordo com a norma culta, o correto seria
o uso da ênclise, em vez da próclise, uma vez que o título é iniciado por verbo.
[C] A mudança ocasionaria alteração semântica na sentença. Em “... não têm esposas, nem
filhos, nem amantes por quem possam sofrer...” (ref. 9), o referente é “as pessoas”, e são
elas que sofrem pelos amantes. Com a troca de “por quem” por “os quais”, teríamos:
“nem amantes os quais possam sofrer”, ou seja, os amantes é que sofreriam.
[D] Em “... não têm medo da morte; vivem na ditosa ignorância da paixão e da velhice...”
(ref. 8) os termos sublinhados exercem a função de complementos nominais dos
substantivos a que se referem.

Resposta da questão 10:


08 + 16 + 64 = 88.

Estão incorretas as afirmativas:


[01] o sinal de dois pontos em “grande confusão: seria quem?” (referência 1) é usado para
esclarecer o termo antecedente [“confusão]. Em “abri a lata de lixo: quero outro
testemunho” (referência 6), o sinal de dois pontos é utilizado para justificar a oração
anterior [“abri a lata de lixo”].
[02] em “me faça” (referência 3), a ordem do pronome em relação ao verbo não pode ser
alterada sem gerar prejuízo à norma culta, pois o uso da próclise é obrigatório diante da
conjunção subordinativa “que”.
[04] as formas verbais “reesquentando” (referência 2) e “esquenta” (referência 7) são
usadas com sentido conotativo.
[32] a organização do texto não obedece à natureza tradicional dos diários íntimos, tanto
que desafia os interlocutores a compreendê-lo: “Leiam se forem capazes”.
PONTUAÇÃO
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Uma última gargalhada estrondosa. 1E depois, o silêncio. O palhaço jazia 2imóvel no chão.
3
Mas seu rosto continua sorrindo, para sempre. Porque a carreira original do Coringa era
para durar apenas 30 páginas. O tempo de envenenar Gotham, sequestrar 4Robin, enfiar um
par de sopapos na Homem-Morcego e disparar o primeiro “vou te matar” da sua relação. Na
briga final do Batman nº. 1, o “horripilante bufão”sofria um final digno de sua desumana
ironia: 5ao tropeçar, cravava sua própria adaga no peito. Assim decidiram e desenharam
6
seus pais, os artistas Bill Finger, Bob Kane e Jerry Robinson. Entretanto, o criminoso
mostrou, já em sua primeira aventura, um enorme talento para 7se rebelar contra a ordem
estabelecida. 8Seu carisma seduziu a editora DC Comics, que impôs o acréscimo de um
quadrinho. Já dentro da ambulância, vinha à tona “um dado desconcertante”. E então um
médico sentenciava: “Continua 9vivo. E vai sobreviver!”.

Tommaso Koch. “O Coringa completa 80 anos e na Espanha ganha duas HQs, que inspiram
debates filosóficos sobre a liberdade”, EI País. Junho/2020.

1 [ 196899 ]. As vírgulas em “E depois, o silêncio.” (ref. 1) e em “Mas seu rosto continua


sorrindo, para sempre.” (ref. 3) são usadas, respectivamente, com a mesma finalidade que
as vírgulas em
a) “Após a queda, tomaram mais cuidado.” e “Quanto mais espaço, mais liberdade.”.
b) “Aos estrangeiros, ofereceram iguanas.” e “Limpavam a casa, e preparávamos as
refeições.”.
c) “Colheram trigo e nós, algodão.” e “Eles se encontraram nas férias, mas não viajaram.”.
d) “Para meus amigos, o melhor.” e “Organizava tudo,cautelosamente.
e) “Viu o espetáculo, considerado o maior fenômeno de bilheteria.” e “‘Conheço muito
bem’, afirmou o rapaz.”.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


História das invenções

Dona Benta costumava receber livros novos, de ciências, de arte, de literatura. Era o
tipo da velhinha novidadeira. Bem dizia o compadre Teodorico: "Dona Benta parece velha,
mas não é, tem o espírito mais moço que o de jovens de vinte anos".
Assim foi que naquele bolorento mês de fevereiro, em que era impossível botar o
nariz fora de casa, de tanto que chovia, resolveu contar aos meninos um dos últimos livros
chegados.
– Tenho aqui um livro de Hendrik Van Loon – disse ela –, um sábio americano, autor
de coisas muito interessantes. Ele sai dos caminhos por onde todo mundo anda e fala das
ciências dum modo que tudo vira romance, de tão atrativo. Já li para vocês a geografia que
ele escreveu e agora 1vou ler este último livro – História das invenções do homem, o fazedor
de milagres.
Era um livro grosso, de capa preta, cheio de desenhos feitos pelo próprio autor.
2
Desenhos não muito bons, mas que serviam para acentuar suas ideias.
– E quando começa? – quis saber Narizinho.
– Hoje mesmo, no serão. Podemos começar logo depois do rádio.
– Comece, vovó! – disse Pedrinho. E Dona Benta começou.
3
– Este livro não é para crianças – disse ela; – mas se eu ler do meu modo, vocês
entenderão tudo. Não tenham receio de me interromperem com perguntas, sempre que
houver qualquer coisa obscura. Aqui está o prefácio...
– Que é prefácio? – perguntou Emília.
– São palavras explicativas que certos autores põem no começo do livro para
esclarecer os leitores sobre as suas intenções. O prefácio pode ser escrito pelo próprio autor
ou por outra pessoa qualquer. Neste prefácio o Senhor Van Loon diz que antigamente tudo
era muito simples...
– Tudo o quê? – interrompeu Pedrinho. – A explicação das coisas do mundo. A Terra
formava o centro do universo. O céu era uma abóbada de cristal azul onde à noite os anjos
abriam buraquinhos para espiar. Esses buraquinhos formavam as estrelas. Tudo muito
simples.
4
Mas depois as coisas se complicaram. Um sábio da Polônia, de nome Nicolau
Copérnico, publicou um livro no qual provava que a Terra não era fixa, pois girava em redor
do Sol, 5e as estrelas não eram brinquedinhos dos anjos, sim sóis imensos, em redor dos
quais giravam milhões de terras como a nossa.
Isso veio causar uma grande trapalhada nas ideias assentes, isto é, nas ideias que
estavam na cabeça de todo mundo – e por um triz não queimaram vivo a esse homem.
Afinal a sua ideia venceu e hoje ninguém pensa de outra maneira.
A astronomia, que é a ciência que estuda os astros, tomou um grande
desenvolvimento. Os astrônomos foram descobrindo coisas e mais coisas, chegando à
perfeição de medir a distância dum astro a outro, e pesar a massa desses astros. As
distâncias entre os astros eram tão grandes que as nossas medidas comuns se tornaram
insuficientes. Foi preciso criar medidas novas – medidas astronômicas.
– Por quê? – perguntou Narizinho. – Com o quilômetro a gente pode medir qualquer
distância. É só ir botando zeros e mais zeros.
6
– Parece, minha filha. As distâncias entre os astros são tamanhas que para medi-las
com quilômetros seria necessário usar carroçadas de zeros, de maneira que não haveria
papel que chegasse. E então os astrônomos inventaram o "metro astronômico", ou a
"unidade astronômica", que é como eles dizem. Essa unidade, esse metro tinha 92.900.000
milhas.
– Que colosso, vovó! Eu acho que fizeram um metro grande demais...
– Pois está muito enganada, minha filha. As distâncias entre a Terra e as novas
estrelas que com os modernos telescópios foram sendo descobertas, acabaram deixando
essa medida pequena. E então o astrônomo Michelson propôs outra medida: o ano-luz.
– Cáspite!
– Pois bem, isto que os astrônomos fizeram para os astros, outros homens de ciência
fizeram para o contrário dos astros, isto é, para as moléculas e átomos, que são coisinhas
infinitamente pequenas. Chegaram a medir átomos que têm o tamanhinho de uma
trilionésima parte de milímetro.
7
– Será possível? Um milímetro já é uma isca que a gente mal percebe...
– Ora, neste livro o Senhor Van Loon trata de mostrar como esse bichinho homem,
que já foi peludo e andava de quatro, chegou a desenvolver seu cérebro a ponto de medir a
distância entre os astros e a calcular o tamanho dos átomos.
– Como foi isso?
– Inventando coisas. O homem é um grande inventor de coisas, e a história do
homem na Terra não passa da história das suas invenções com todas as consequências que
elas trouxeram para a vida humana. É mais ou menos isto o que Van Loon diz neste prefácio.
Vamos agora ver o capítulo número 1.
– Depois da pipoca, vovó! – gritou Narizinho farejando o ar.
8
De fato: da cozinha vinha para a sala o cheiro das pipocas que Tia Nastácia estava
rebentando. Pipocas à noite foi coisa que nunca faltou no sítio de Dona Benta.

Adaptado de: LOBATO, Monteiro.


História das invenções. São Paulo, SP: Círculo do Livro.

2 [ 197086 ]. Analise atentamente: “e as estrelas não eram brinquedinhos dos anjos, sim
sóis
imensos” (ref. 5).

O uso da vírgula, no fragmento acima, vincula-se a determinado valor semântico. Tal valor
pode ser construído por meio de outro(s) sinal(is) de pontuação, a exemplo do que ocorre
em:
a) “– Parece, minha filha.” (ref. 6)
b) “De fato: da cozinha vinha para a sala o cheiro [...]” (ref. 8)
c) ”– Este livro não é para crianças – disse ela; – mas se eu ler [...]” (ref. 3)
d) “– Será possível? Um milímetro já é uma isca que a gente mal percebe...” (ref. 7)
e) “vou ler este último livro – História das invenções do homem, o fazedor de milagres.” (ref.
1)

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o poema de Fernando Pessoa.

Cruz na porta da tabacaria!


Quem morreu? O próprio Alves? Dou
Ao diabo o bem-’star que trazia.
Desde ontem a cidade mudou.

Quem era? Ora, era quem eu via.


Todos os dias o via. Estou
Agora sem essa monotonia.
Desde ontem a cidade mudou.

Ele era o dono da tabacaria.


Um ponto de referência de quem sou.
Eu passava ali de noite e de dia.
Desde ontem a cidade mudou.

Meu coração tem pouca alegria,


E isto diz que é morte aquilo onde estou.
Horror fechado da tabacaria!
Desde ontem a cidade mudou.

Mas ao menos a ele alguém o via,


Ele era fixo, eu, o que vou,
Se morrer, não falto, e ninguém diria:
Desde ontem a cidade mudou.

(Obra poética, 1997.)

3 [ 197648 ]. O eu lírico recorre a um sinal de pontuação para indicar a supressão de um


verbo em
a) “Ao diabo o bem-’star que trazia.” (1ª estrofe)
b) “Todos os dias o via. Estou” (2ª estrofe)
c) “Quem era? Ora, era quem eu via.” (2ª estrofe)
d) “Se morrer, não falto, e ninguém diria:” (5ª estrofe)
e) “Ele era fixo, eu, o que vou,” (5ª estrofe)

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


No país da biodiversidade, faltam recursos para gerir os nossos parques

1
Quem já visitou 2algum 3parque brasileiro certamente se surpreendeu com 4tamanha
exuberância cênica 5desses locais. 6Não por acaso, 7nossos parques conservam uma rica
biodiversidade − uma das maiores do mundo − cuja excepcionalidade projetou algumas
8
dessas áreas ao patamar de patrimônio natural da humanidade. 9Enquanto a natureza nos
dá motivos de sobra para enaltecer nossos parques, 10a realidade de escassez e limitação de
recursos para a gestão e manutenção dessas áreas tem comprometido grande parte do seu
potencial gerador de desenvolvimento, saúde e bem-estar − para não mencionar a
vulnerabilidade a que sua fauna e flora ficam expostas.
11
Esse retrato de limitações foi capturado na edição recém-lançada da pesquisa
Diagnóstico de Uso Público em Parques Brasileiros: A Perspectiva da Gestão, produzida pelo
Instituto Semeia junto a equipes gestoras de 370 parques de todas as regiões, biomas e
níveis governamentais do país. 12O sinal de alerta dessa escassez foi declarado por 67% dos
respondentes, que afirmaram não contar com subsídios − humanos e financeiros −
necessários para a realização de suas atividades no parque.
13
Ainda de acordo com a pesquisa, grande parte (49%) das equipes que administram
essas áreas conta somente com até 10 funcionários, ao passo que 9% possuem apenas um
colaborador. Na prática, isso quer dizer que, no caso dos parques nacionais, há um único
responsável, em média, por quase 11 mil hectares − o que equivale a cerca de 11 mil campos
de futebol. 14Já na esfera estadual, seria um funcionário para, aproximadamente, 2 mil
hectares e, na municipal, um funcionário para 58 hectares.
15
Quando o assunto é a gestão financeira desses espaços, além da escassez de
recursos, o cenário é também de falta de informação: 40% dos respondentes declaram não
ter acesso aos dados orçamentários das unidades em que atuam. Entre os que têm acesso a
esses números, seja de forma parcial ou total, o valor médio do orçamento em 2019 para os
parques federais foi de R$ 790 mil, para os municipais, de R$ 800 mil, e os estaduais, R$ 9,6
milhões.
16
Para se ter uma ideia, o National Park Service (órgão norte-americano responsável
por 421 unidades distribuídas em 34 milhões de hectares) teve em 2019 um orçamento de
USD 2,4 bilhões. No mesmo ano, o orçamento do Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio) foi de USD 142,6 milhões (em reais, 791 milhões), para administrar
uma área cinco vezes maior (se considerarmos unidades de conservação terrestres e
marinhas).
17
Tudo isso se reflete nas condições de visitação e no uso público dos parques
brasileiros. 18Mais da metade declara não contar com infraestrutura básica para receber
visitantes − como banheiros e estacionamento, por exemplo. E, entre as unidades que
receberam visitantes em 2019 (79%), apenas 7% afirmam contar com uma estrutura que
garante plenamente as necessidades básicas de visitação, enquanto somente 11%
consideram que a manutenção das estruturas está em excelente estado.
19
Esses dados evidenciam uma triste contradição: 20se, por um lado, nossos parques
possuem belezas naturais únicas, equipes altamente qualificadas e experientes, além de um
potencial turístico promissor, por outro, tudo isso se arrefece com a precariedade observada
na implementação e manutenção das atividades de uso público na maioria deles. Basta
pensar que, em 2019, o Brasil foi listado pelo Fórum Econômico Mundial como 2º lugar em
recursos naturais, mas figura somente na 32ª colocação do ranking global de
competitividade turística.
21
Alcançar um patamar condizente à altura do nosso capital natural é mais do que
possível. 22Para isso, faz-se necessário fortalecer os órgãos gestores dessas áreas e avançar
numa agenda mais moderna, empreendedora e sustentável voltada à gestão desses espaços.
E, nesse sentido, as parcerias e concessões podem ser uma alternativa possível − já
experimentadas em alguns parques brasileiros internacionalmente reconhecidos como
Igraçu e Chapada dos Veadeiros, por exemplo − para apoiar as equipes gestoras a
potencializar a visitação, o turismo e a conservação. 23Afinal de contas, quanto mais os
brasileiros conhecerem o seu patrimônio natural, maior será a conscientização sobre o valor
e a necessidade de cuidar dessas áreas.

(HADDAD, Mariana (Coordenadora de Conhecimento do Instituto Semeia e responsável pela


pesquisa); REZENDE, Aline (Coordenadora de Comunicação do Instituto Semeia). No país da
biodiversidade, faltam recursos para gerir os nossos parques. Publicado em Exame de 27 de
abril de 2021. Disponível em: https://exame.com/blog/opiniao/no-pais-da-biodiversidade-
faltam-recursos-para-gerir-os-nossos-parques/. Acesso em 02 de maio de 2021). Texto
adaptado para esta prova.

4 [ 200886 ]. Quanto ao emprego da pontuação, analise os casos a seguir, identificando-os


como verdadeiros (V) ou falsos (F).

( ) No trecho "Quem já visitou algum parque brasileiro certamente se surpreendeu com


tamanha exuberância cênica desses locais" (ref. 1), deve-se empregar uma virgula após
“Quem já visitou algum parque brasileiro [,]” para fins de adequação à norma culta da
língua portuguesa.
( ) No trecho "Não por acaso, nossos parques conservam uma rica biodiversidade − uma
das maiores do mundo − cuja excepcionalidade projetou algumas dessas áreas ao
patamar de patrimônio natural da humanidade" (ref. 6), empregou-se travessão duplo
para substituir vírgulas e assinalar uma expressão intercalada.
( ) No trecho "Quando o assunto é a gestão financeira desses espaços, além da escassez de
recursos, o cenário é também de falta de informação: 40% dos respondentes declaram
não ter acesso aos dados orçamentários das unidades em que atuam" (ref. 15), os dois
pontos introduzem uma informação explicativa.
( ) O que justifica o emprego da vírgula, após a palavra "ideia", no fragmento "Para se ter
uma ideia, o National Park Service (órgão norte-americano responsável por 421
unidades distribuídas em 34 milhões de hectares) teve em 2019 um orçamento de USD
2,4 bilhões" (ref. 16) é a necessidade de separar orações que se caracterizam por
enumeração.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é


a) V – V – V – F.
b) V – F – V – F.
c) F – V – F – V.
d) F – V – V – V.
e) F – V – V – F.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Nunca imaginei um dia

Até alguns anos atrás, eu costumava dizer frases como “eu jamais vou fazer isso” ou
“nem morta eu faço aquilo”, limitando minhas possibilidades de descoberta e emoção. Não
é fácil libertar-se do manual de instruções que nos auto impomos. Às vezes, leva-se uma vida
inteira, e nem assim conseguimos viabilizar esse projeto. Por sorte, minha ficha caiu há
tempo.
Começou quando iniciei um relacionamento com alguém completamente diferente
de mim, diferente a um ponto radical mesmo: ele, por si só, foi meu primeiro "nunca
imaginei um dia". Feitos para ficarem a dois planetas de distância um do outro. Mas o amor
não respeita a lógica, e eu, que sempre me senti tão confortável num mundo planejado
inaugurei a instabilidade emocional na minha vida. Prendi a respiração e dei um belo
mergulho.
A partir daí, comecei a fazer coisas que nunca havia feito. Mergulhar, aliás, foi uma
delas. Sempre respeitosa com o mar e chata para molhar os cabelos afundei em busca de
tartarugas gigantes e peixes coloridos no mar de Fernando de Noronha. Traumatizada com
cavalos (por causa de um equino que quase me levou ao chão quando eu tinha oito anos),
participei da minha primeira cavalgada depois dos 40, em São Francisco de Paula. Roqueira
convicta e avessa a pagode, assisti a um show do Zeca Pagodinho na Lapa. Para ver o
Ronaldo Fenômeno jogar ao vivo, me infiltrei na torcida do Olímpico num jogo entre Grêmio
e Corinthians, mesmo sendo colorada.
Meu paladar deixou de ser monótono: comecei a provar alimentos que nunca havia
provado antes. E muitas outras coisas vetadas por causa do "medo do ridículo" receberam
alvará de soltura. O ridículo deixou de existir na minha vida.
Não deixei de ser eu. Apenas abri o leque, me permitindo ser um “eu” mais amplo. E
sinto que é um caminho sem volta.
Um mês atrás participei de outro capítulo da série “Nunca imaginei um dia”. Viajei
numa excursão, eu que sempre rejeitei essa modalidade turística. Sigo preferindo viajar a
dois ou sozinha, mas foi uma experiência fascinante, ainda mais que a viagem não tinha
como destino um país do circuito Elizabeth Arden (Paris-Londres-Nova York), mas um país
africano, muçulmano e desértico. Aliás, o deserto de Atacama, no Chile, será meu provável
“nunca imaginei um dia” do próximo ano.
E agora cometi a loucura jamais pensada, a insanidade que nunca me permiti, o ato
que me faria merecer uma camisa-de-força: eu, que nunca me comovi com bichos de
estimação, adotei um gato de rua.
Pode colocar a culpa no espírito natalino: trouxe um bichano de três meses pra casa,
surpreendendo minhas filhas, que já haviam se acostumado com a ideia de ter uma mãe
sem coração. E o que mais me estarrece: estou apaixonada por ele.
Ainda há muitas experiências a conferir: fazer compras pela internet, andar num
balão, cozinhar dignamente, me tatuar, ler livros pelo kindle, viajar de navio e mais umas 400
coisas que nunca imaginei fazer um dia, mas que já não duvido. Pois tem essa também:
deixei de ser tão cética.
Já que é improvável que o próximo ano seja diferente de qualquer outro, que a
novidade sejamos nós.

Medeiros, Martha. Nunca Imaginei um dia. 2009. Disponível em:


http://alagoinhaipaumirim.blogspot.com/2009/12/nunca-imaginei-um-dia-martha-
medeiros.html. Acesso em: 10 fev. 2021.
5 [ 203248 ]. Sobre pontuação é correto afirmar que
a) em “fazer compras pela internet, andar num balão, cozinhar dignamente, me tatuar, ler
livros pelo kindle, viajar de navio e mais umas 400 coisas que nunca imaginei fazer um dia,
mas que já não duvido.” (9º parágrafo), todas as vírgulas foram utilizadas para separar
palavras ou orações de mesma função sintática.
b) nos trechos “Até alguns anos atrás, eu costumava dizer frases como ‘eu jamais vou fazer
isso’ ou ‘nem morta eu faço aquilo’ [...]” (1º parágrafo) e “A partir daí, comecei a fazer
coisas que nunca havia feito.” (3º parágrafo), as vírgulas foram empregadas com a mesma
função.
c) nos trechos “Às vezes, leva-se uma vida inteira [...]” (1º parágrafo) e “Mergulhar, aliás, foi
uma delas.” (3º parágrafo), o emprego das vírgulas, utilizadas com a mesma função, é
facultativo.
d) nos trechos “[...] o deserto de Atacama, no Chile, será meu provável ‘nunca imaginei um
dia’ do próximo ano.” (6º parágrafo) e “[...] eu, que nunca me comovi com bichos de
estimação, adotei um gato de rua.” (7º parágrafo), as virgulas foram utilizadas para
demarcar a função de aposto.
e) no trecho “Pode colocar a culpa no espírito natalino: trouxe um bichano de três meses pra
casa, surpreendendo minhas filhas, que já haviam se acostumado com a ideia de ter uma
mãe sem coração.” (8º parágrafo), a vírgula depois de “filhas” configura desvio da norma
padrão da língua.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia a crônica “Inconfiáveis cupins”, de Moacyr Scliar, para responder à(s) questão(ões) a
seguir.

Havia um homem que odiava Van Gogh. Pintor desconhecido, pobre, atribuía todas
suas frustrações ao artista holandês. Enquanto existirem no mundo aqueles horríveis
girassóis, aquelas estrelas tumultuadas, aqueles ciprestes deformados, dizia, não poderei
jamais dar vazão ao meu instinto criador.
Decidiu mover uma guerra implacável, sem quartel, às telas de Van Gogh, onde quer
que estivessem. Começaria pelas mais próximas, as do Museu de Arte Moderna de São
Paulo.
Seu plano era de uma simplicidade diabólica. Não faria como outros destruidores de
telas que entram num museu armados de facas e atiram-se às obras, tentando destruí-las;
tais insanos não apenas não conseguem seu intento, como acabam na cadeia. Não, usaria
um método científico, recorrendo a aliados absolutamente insuspeitados: os cupins.
Deu-lhe muito trabalho, aquilo. Em primeiro lugar, era necessário treinar os cupins
para que atacassem as telas de Van Gogh. Para isso, recorreu a uma técnica pavloviana.
Reproduções das telas do artista, em tamanho natural, eram recobertas com uma solução
açucarada. Dessa forma, os insetos aprenderam a diferenciar tais obras de outras.
Mediante cruzamentos sucessivos, obteve um tipo de cupim que só queria comer
Van Gogh. Para ele era repulsivo, mas para os insetos era agradável, e isso era o que
importava.
Conseguiu introduzir os cupins no museu e ficou à espera do que aconteceria. Sua
decepção, contudo, foi enorme. Em vez de atacar as obras de arte, os cupins preferiram as
vigas de sustentação do prédio, feitas de madeira absolutamente vulgar. E por isso foram
detectados.
O homem ficou furioso. Nem nos cupins se pode confiar, foi a sua desconsolada
conclusão. É verdade que alguns insetos foram encontrados próximos a telas de Van Gogh.
Mas isso não lhe serviu de consolo. Suspeitava que os sádicos cupins estivessem querendo
apenas debochar dele. Cupins e Van Gogh, era tudo a mesma coisa.

(O imaginário cotidiano, 2002.)

6 [ 191286 ]. Tendo em vista a ordem inversa da frase, verifica-se o emprego de vírgula para
separar um termo que exerce a função de sujeito em:
a) “Deu-lhe muito trabalho, aquilo.” (4º parágrafo)
b) “Em vez de atacar as obras de arte, os cupins preferiram as vigas de sustentação do
prédio, feitas de madeira absolutamente vulgar.” (6º parágrafo)
c) “Para ele era repulsivo, mas para os insetos era agradável, e isso era o que importava.” (5º
parágrafo)
d) “Não, usaria um método científico, recorrendo a aliados absolutamente insuspeitados: os
cupins.” (3º parágrafo)
e) “Para isso, recorreu a uma técnica pavloviana.” (4º parágrafo)

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


O jogo do salário mínimo
[...] Em menos de trinta minutos, dois times centenários do futebol carioca,
Bonsucesso e Olaria, vão se enfrentar num jogo-treino, na preparação para a disputa da
segunda divisão do campeonato do Rio.
1
Na arena vazia, os jogadores vivem a desigualdade salarial do futebol brasileiro. Na
esperança de chegar a um clube grande, os 22 atletas em campo correm no estádio em troca
de um salário mínimo (998 reais) na carteira assinada – 2isso quando não há atraso no
pagamento. Juntos, ganham cerca de 22 mil reais – menos de 2% do salário mensal de uma
estrela como o atacante Gabriel Barbosa, o Gabigol, do Flamengo. Longe do 3glamour dos
estádios padrão Fifa, os 22 em campo no chamado Clássico da Leopoldina, 4em referência à
antiga linha de trem, são um retrato do precário mercado de trabalho da bola no Brasil.
Levantamento do antigo Ministério do Trabalho revela que a maioria (54%) dos
jogadores de futebol do país empregados em 2017 recebia até três salários mínimos (2.811
reais). Os dados constam da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) de 2017.
[...]
A estatística do antigo Ministério do Trabalho é o único levantamento que tenta
mapear os salários no futebol brasileiro. 5A CBF fazia uma pesquisa parecida, mas deixou de
publicar por causa das distorções criadas pelos contratos de direito de imagem. Segundo a
última edição do trabalho da entidade que comanda o futebol nacional, mais de 80% dos
jogadores de futebol ganhavam até 1 mil reais por mês em 2016. 6Sem citar nomes, a CBF
informou que apenas um jogador recebia mais de 500 mil reais, mas o número estava longe
da realidade, e o mesmo se pode dizer dos dados da RAIS. O salário em carteira é só uma
parte do que os atletas recebem, pois o principal vem dos direitos de imagem e patrocínios.
Mas essa é uma realidade dos clubes grandes. Em clubes como Bonsucesso e Olaria,
não há direitos de imagem, já que não há imagem a ser vendida. Os patrocinadores estão
mais para pequenos comerciantes locais do que para grandes financiadores do futebol.

(Sérgio Rangel. Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/o-jogo-do-salario-minimo/.


31/05/2019.)

7 [ 193919 ]. Acerca de aspectos relativos à pontuação, assinale a alternativa correta com


relação a alguns excertos do texto.
a) Se o segmento “na arena vazia” (ref. 1) for deslocado para o final do período, a vírgula não
poderá ser dispensada, em razão de aspectos gramaticais.
b) O travessão antes de “isso quando não há atraso no pagamento” (ref. 2) poderia ser
substituído por ponto final, sem prejuízo gramatical e do sentido básico do enunciado.
c) As vírgulas que isolam o segmento “em referência à antiga linha de trem” (ref. 4) são
opcionais.
d) No segmento “A CBF fazia uma pesquisa parecida, mas deixou de publicar...” (ref. 5), a
substituição do “mas” por “a qual” dispensaria a necessidade da vírgula.
e) Se o segmento “Sem citar nomes” (ref. 6) fosse deslocado para depois de “apenas um
jogador”, o uso de vírgula poderia ser dispensado.

8 [ 182033 ]. Assinale a alternativa corretamente pontuada.


a) A técnica de Mourou e Strickland criada em 1985, e conhecida como: amplificação de
pulso com varredura em frequência – CPA, por sua sigla em inglês, tornou-se muito
rapidamente a ferramenta-padrão para obter lasers de alta intensidade, utilizados, desde
então, em milhões de cirurgias do olho.
b) A técnica de Mourou e Strickland, criada em 1985, e conhecida como amplificação de
pulso com varredura em frequência (CPA, por sua sigla em inglês); tornou-se muito
rapidamente, a ferramenta-padrão para obter lasers de alta intensidade utilizados desde
então em milhões de cirurgias do olho.
c) A técnica de Mourou e Strickland criada em 1985 e conhecida como amplificação de pulso
com varredura em frequência, (CPA, por sua sigla em inglês), tornou-se muito
rapidamente a ferramenta-padrão, para obter lasers de alta intensidade utilizados desde
então, em milhões de cirurgias do olho.
d) A técnica de Mourou e Strickland, criada em 1985 e conhecida como amplificação de
pulso com varredura em frequência – CPA, por sua sigla em inglês – tornou-se muito
rapidamente, a ferramenta-padrão para: obter lasers de alta intensidade utilizados desde
então em milhões de cirurgias do olho.
e) A técnica de Mourou e Strickland, criada em 1985 e conhecida como amplificação de
pulso com varredura em frequência (CPA, por sua sigla em inglês), tornou-se muito
rapidamente a ferramenta-padrão para obter lasers de alta intensidade, utilizados desde
então em milhões de cirurgias do olho.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Passeio à Infância

Primeiro vamos lá embaixo no córrego; pegaremos dois pequenos carás dourados. E


como faz calor, veja, os lagostins saem da toca. Quer ir de batelão, na ilha, comer ingás? Ou
vamos ficar bestando nessa areia onde o sol dourado atravessa a água rasa? Não catemos
pedrinhas redondas para atiradeira, porque é urgente subir no morro; os sanhaços estão
bicando os cajus maduros. É janeiro, grande mês de janeiro!
Podemos cortar folhas de pita, ir para o outro lado do morro e descer escorregando
no capim até a beira do açude. Com dois paus de pita, faremos uma balsa, e, como o
carnaval é só no mês que vem, vamos apanhar tabatinga para fazer formas de máscaras. Ou
então vamos jogar bola-preta: do outro lado do jardim tem um pé de saboneteira.
Se quiser, vamos. Converta-se, bela mulher estranha, numa simples menina de
pernas magras e vamos passear nessa infância de uma terra longe. É verdade que jamais
comeu angu de fundo de panela?
Bem pouca coisa eu sei: mas tudo que sei lhe ensino. Estaremos debaixo da
goiabeira; eu cortarei uma forquilha com o canivete. Mas não consigo imaginá-la assim;
talvez se na praia ainda houver pitangueiras... Havia pitangueiras na praia? Tenho uma ideia
vaga de pitangueiras junto à praia. Iremos catar conchas cor-de-rosa e búzios crespos, ou
armar o alçapão junto do brejo para pegar papa-capim. Quer? Agora devem ser três horas
da tarde, as galinhas lá fora estão cacarejando de sono, você gosta de fruta-pão assada com
manteiga? Eu lhe vou aipim ainda quente com melado. Talvez você fosse como aquela
menina rica, de fora, que achou horrível nosso pobre doce de abóbora e coco.
Mas eu a levarei para a beira do ribeirão, na sombra fria do bambual; ali pescarei
piaus. Há rolinhas. Ou então ir descendo o rio numa canoa bem devagar e de repente dar
um galope na correnteza, passando rente às pedras, como se a canoa fosse um cavalo solto.
Ou nadar mar afora até não poder mais e depois virar e ficar olhando as nuvens brancas.
Bem pouca coisa eu sei; os outros meninos riram de mim porque cortei uma iba de assa-
peixe. Lembro-me que vi o ladrão morrer afogado com os soldados de canoa dando tiros, e
havia uma mulher do outro lado do rio gritando.
Mas como eu poderia, mulher estranha, convertê-la em menina para subir comigo
pela capoeira? Uma vez vi uma urutu junto de um tronco queimado; e me lembro de muitas
meninas. Tinha uma que para mim uma adoração. Ah, paixão da infância, paixão que não
amarga. Assim eu queria gostar de você, mulher estranha que ora venho conhecer, homem
maduro. Homem maduro, ido e vivido; mas quando a olhei, você estava distraída, meus
olhos eram outra vez daquele menino feio do segundo ano primário que quase não tinha
coragem de olhar a menina um pouco mais alta da ponta direita do banco.
Adoração de infância. Ao menos você conhece um passarinho chamado saíra? É um
passarinho miúdo: imagine uma saíra grande que de súbito aparecesse a um menino que só
tivesse visto coleiros e curiós, ou pobres cambaxirras. Imagine um arco-íris visto na mais
remota infância, sobre os morros e o rio. O menino da roça que pela primeira vez vê as algas
do mar se balançando sob a onda clara, junto da pedra.
Ardente da mais pura paixão de beleza é a adoração da infância. Na minha
adolescência você seria uma tortura. Quero levá-la para a meninice. Bem pouca coisa eu sei;
uma vez na fazenda rira: ele não sabe nem passar um barbicacho! Mas o que sei lhe ensino;
são pequenas coisas do mato e da água, são humildes coisas, e você é tão bela e estranha!
Inutilmente tento convertê-la em menina de pernas magras, o joelho ralado, um pouco de
lama seca do brejo no meio dos dedos dos pés.
Linda como a areia que a onda ondeou. Saíra grande! Na adolescência e torturaria;
mas sou um homem maduro. Ainda assim às vezes é como um bando de sanhaços bicando
os cajus de meu cajueiro, um cardume de peixes dourados avançando, saltando ao sol, na
piracema; um bambual com sombra fria, onde ouvi um silvo de cobra, e eu quisera tanto
dormir. Tanto dormir! Preciso de um sossego de beira de rio, com remanso, com cigarras.
Mas você é como se houvesse demasiadas cigarras cantando numa pobre tarde de homem.

Julho, 1945

Crônica extraída do livro 200 crônicas escolhidas, de Rubem Braga

9 [ 183845 ]. Assinale a opção em que, conforme a norma culta, NÃO é possível acrescentar
vírgula ao período.
a) Primeiro vamos lá embaixo (...).
b) Agora devem ser três horas da tarde (...).
c) Na minha adolescência você seria uma tortura.
d) Na adolescência me torturaria; mas sou um homem maduro.
e) Inutilmente tento convertê-la em menina de pernas magras (...).

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o excerto do “Sermão do bom ladrão”, de Antônio Vieira (1608-1697), para responder
à(s) questão(ões) a seguir.

Navegava Alexandre [Magno] em uma poderosa armada pelo Mar Eritreu a


conquistar a Índia; e como fosse trazido à sua presença um pirata, que por ali andava
roubando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de andar em tão mau ofício; porém
ele, que não era medroso nem lerdo, respondeu assim: “Basta, Senhor, que eu, porque
roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador?”.
Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz
os piratas, o roubar com muito, os Alexandres. Mas Sêneca, que sabia bem distinguir as
qualidades, e interpretar as significações, a uns e outros, definiu com o mesmo nome: [...] Se
o rei de Macedônia, ou qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata; o ladrão, o pirata e
o rei, todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome.
Quando li isto em Sêneca, não me admirei tanto de que um filósofo estoico se
atrevesse a escrever uma tal sentença em Roma, reinando nela Nero; o que mais me
admirou, e quase envergonhou, foi que os nossos oradores evangélicos em tempo de
príncipes católicos, ou para a emenda, ou para a cautela, não preguem a mesma doutrina.
Saibam estes eloquentes mudos que mais ofendem os reis com o que calam que com o que
disserem; porque a confiança com que isto se diz é sinal que lhes não toca, e que se não
podem ofender; e a cautela com que se cala é argumento de que se ofenderão, porque lhes
pode tocar. [...]
Suponho, finalmente, que os ladrões de que falo não são aqueles miseráveis, a quem
a pobreza e vileza de sua fortuna condenou a este gênero de vida, porque a mesma sua
miséria ou escusa ou alivia o seu pecado [...]. O ladrão que furta para comer não vai nem
leva ao Inferno: os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são os ladrões de maior
calibre e de mais alta esfera [...]. Não são só ladrões, diz o santo [São Basílio Magno], os que
cortam bolsas, ou espreitam os que se vão banhar, para lhes colher a roupa; os ladrões que
mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os
exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já
com manha, já com força, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um
homem, estes roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem
temor, nem perigo: os outros, se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam.

(Essencial, 2011.)

10 [ 175476 ]. Verifica-se o emprego de vírgula para indicar a elipse (supressão) do verbo


em:
a) “Basta, Senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais
em uma armada, sois imperador?” (1º parágrafo)
b) “O ladrão que furta para comer não vai nem leva ao Inferno: os que não só vão, mas
levam, de que eu trato, são os ladrões de maior calibre e de mais alta esfera [...].” (3º
parágrafo)
c) “O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os
piratas, o roubar com muito, os Alexandres.” (1º parágrafo)
d) “Se o rei de Macedônia, ou qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata; o ladrão, o
pirata e o rei, todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome.” (1º parágrafo)
e) “Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos: os outros furtam
debaixo do seu risco, estes sem temor, nem perigo: os outros, se furtam, são enforcados:
estes furtam e enforcam.” (3º parágrafo)
Gabarito:

Resposta da questão 1:
[D]

Em “E depois, o silêncio”, a vírgula isola o adjunto adverbial deslocado na oração com verbo
elíptico, o que acontece também em “Para meus amigos, o melhor.” Já no segmento “Mas
seu rosto continua sorrindo, para sempre”, a vírgula enfatiza o adjunto adverbial “para
sempre”, pela mesma razão que em “Organizava tudo, cautelosamente”. Assim, é correta a
opção [D].

Resposta da questão 2:
[C]

A vírgula é utilizada no trecho para demarcar a relação de semântica de adversidade,


oposição entre duas ideias: as estrelas serem brinquedos dos anjos e as estrelas serem sóis
imensos. O mesmo ocorre no trecho em [C]: o livro não é para crianças, mas com a leitura de
Dona Benta passa a ser acessível a elas.

Resposta da questão 3:
[E]

Em [E], vemos que a vírgula que segue o pronome “eu” marca a supressão do verbo “era”.
Assim, podemos ler o trecho como “eu era o que vou”.

Resposta da questão 4:
[E]

A primeira e quarta proposições são falsas, pois:


1ª – a oração subordinada adjetiva iniciada por “quem” exerce função de sujeito
relativamente à imediatamente posterior, a principal, da qual não deve ser separada por
vírgula;
4ª – a vírgula é necessária por se tratar de oração subordinada adverbial final anteposta à
sua principal.
Como as demais são verdadeiras, é correta a opção [E].

Resposta da questão 5:
[B]

Em [B], as vírgulas foram empregadas para separar a locução adverbial deslocada no início
da oração: “Até alguns anos atrás” e “A partir daí”.

Resposta da questão 6:
[A]

Tendo em vista a ordem inversa da frase, apenas em [A], o emprego de vírgula separa um
termo que exerce a função de sujeito. Na ordem direta, a frase adquire a seguinte forma:
aquilo deu-lhe muito trabalho (sujeito+verbo+objeto indireto+adjunto adverbial de
intensidade+objeto direto).

Resposta da questão 7:
[B]

As opções [A], [C], [D] e [E] são incorretas, pois


[A] se o adjunto adverbial “na arena vazia” (ref. 1) for deslocado para o final do período, a
vírgula poderá ser dispensada.
[C] O segmento “em referência à antiga linha de trem” constitui um aposto explicativo, pelo
que as vírgulas são obrigatórias.
[D] No segmento “A CBF fazia uma pesquisa parecida, mas deixou de publicar...” (ref. 5), a
substituição da conjunção adversativa “mas” pelo pronome relativo “a qual” obrigaria à
colocação de vírgula para demarcar a nova oração subordinada adjetiva explicativa.
[E] Se o adjunto adverbial “Sem citar nomes” (ref. 6) fosse deslocado para o meio do
período, seria obrigatório o uso de vírgulas.

Assim, é correta apenas [B].

Resposta da questão 8:
[E]

É correta a opção [E], pois o segmento “criada em 1985 e conhecida como amplificação de
pulso com varredura em frequência (CPA, por sua sigla em inglês)” constitui aposto
explicativo que deve ser isolado por vírgulas; a vírgula em “CPA, por sua sigla em inglês” é
justificada por se tratar de um esclarecimento da sigla e antes de “utilizados desde então em
milhões de cirurgias do olho”, por iniciar oração subordinada adjetiva reduzida de particípio.

Resposta da questão 9:
[D]

Na frase da opção [D], a colocação de vírgula depois da expressão adverbial “Na


adolescência” colocaria o pronome oblíquo “me” em situação de próclise em início de frase,
o que contraria as regras da gramática normativa.

Resposta da questão 10:


[C]

No último segmento da frase, “O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar
com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres.”, a vírgula assinala a
elipse do termo verbal “faz”: o roubar com muito faz os Alexandres. Assim, é correta a opção
[C].
LEITURA E INTERPRETAÇÃO
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Leia o texto abaixo e responda à(s) questão(ões) a seguir.

O lema da tropa

O destemido tenente, no seu primeiro dia como comandante de uma fração de tropa,
vendo que alguns de seus combatentes apresentavam medo e angústia diante da barbárie
da guerra, gritou, com firmeza, para inspirar seus homens a enfrentarem o grupamento
inimigo que se aproximava:
– Ou mato ou morro!
Ditas essas palavras, metade de seus homens fugiu para o mato e outra metade
fugiu para o morro.
1 [ 182532 ]. No texto acima, considerando os aspectos morfológicos da Língua Portuguesa,
a construção do humor se efetua, principalmente, pela
a) falta de capacidade linguística dos combatentes que, ao confundirem as palavras do
tenente, no contexto, atribuíram valores de advérbios aos verbos pronunciados pelo
tenente.
b) ausência de interpretação plausível por parte dos combatentes que, ao ouvirem as
palavras, confundem suas classes gramaticais, atribuindo a elas valores inadmissíveis na
Língua Portuguesa.
c) capacidade que os combatentes tiveram de interpretar as palavras pronunciadas,
confundindo verbos com substantivos, justificando, com isso, a vasta flexibilidade de
sentidos de uma língua em sua situação de uso.
d) capacidade de os combatentes trocarem, propositalmente, as classes morfológicas das
palavras pronunciadas pelo tenente, justificando o medo deles e a rigidez de significados e
inflexibilidade de sentidos de tais palavras.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Uma noite real no Museu Nacional

Gira coroa da majestade


samba de verdade, identidade cultural
Imperatriz é o relicário
no bicentenário do Museu Nacional

Onde a musa inspira a poesia


a cultura irradia o cantar da Imperatriz
é um palácio, emoldura a beleza
abrigou a realeza, patrimônio é raiz
que germinou e floresceu lá na colina
a obra-prima viu o meu Brasil nascer
no anoitecer dizem que tudo ganha vida

paisagem colorida deslumbrante de viver


bailam meteoros e planetas
dinossauros, borboletas
brilham os cristais
o canto da cigarra em sinfonia
relembrou aqueles dias que não voltarão jamais

À luz dourada do amanhecer


as princesas deixam o jardim
os portões se abrem pro lazer
pipas ganham ares
encontros populares
decretam que a Quinta é pra você

Samba de enredo da escola de samba Imperatriz Leopoldinense em 2018


Compositores: Jorge Arthur, Maninho do Ponto, Julinho Maestro, Marcio Pessi, Piu das
Casinhas

2 [ 183149 ]. O título do texto, “Uma noite real no Museu Nacional”, apresenta uma série
de recursos linguísticos e textuais frequentes em textos literários, como a rima, a
intertextualidade e a ambiguidade.

Considerando os versos do texto, o termo do título que foi empregado com sentido ambíguo
é
a) “noite”.
b) “real”.
c) “Museu”.
d) “Nacional”.

3 [ 180134 ]. Há uma pequena árvore na porta de um bar, todos passam e dão uma
beliscada na desprotegida árvore. Alguns arrancam folhas, alguns só puxam e outros, às
vezes, até arrancam um galho. O homem que vive na periferia é igual a essa pequena árvore,
todos passam por ele e arrancam-lhe algo de valor. A pequena árvore é protegida pelo dono
do bar, que põe em sua volta uma armação de madeira; assim, ela fica segura, mas sua
beleza é escondida. O homem que vive na periferia, quando resolve buscar o que lhe
roubaram, é posto atrás das grades pelo sistema. Tentam proteger a sociedade dele, mas
também escondem sua beleza.

FERRÉZ. Capão Pecado. São Paulo: Labortexto, 2000.

Tomada, isoladamente, a proposição “Tentam proteger a sociedade dele” poderia ser


considerada ambígua. Para explicitar o sentido que essa oração assume no contexto em que
foi empregada, a expressão “a sociedade dele” deve ser substituída por
a) a sociedade contra ele.
b) a sociedade para ele.
c) a sociedade com ele.
d) a sua sociedade.

4 [ 180138 ]. Em sua última viagem aos Estados Unidos como primeira-ministra, Margaret
Tatcher revelou a George Bush: “Antes de nomear um ministro, peço-lhe para decifrar um
enigma. A Geoffrey Howe, por exemplo, perguntei: Se é filho de seu pai e não é seu irmão,
quem é então? Geoffrey Howe respondeu: Sou eu. E lhe dei o cargo de chanceler”.
Impressionado, Bush resolveu testar o método com seu vice, Don Quayle. Propôs o mesmo
enigma. Quayle pediu um tempo para pensar. Depois, telefonou ansioso para Henry
Kissinger, que lhe ensinou:
– A resposta é “eu”.
Quayle voltou a Bush com ar de triunfo:
– A resposta é Kissinger.
Bush bradou, contrariado:
– Não, é Geoffrey Howe.

POSSENTI, Sírio. Os humores da língua: análises linguísticas de piadas. Campinas, SP:


Mercado de Letras, 1998.

A piada baseia-se na solução de um enigma. Depois de ser apresentado a um político inglês,


Geoffrey Howe, o enigma é apresentado aos políticos estadunidenses George Bush, Don
Quayle e Henry Kissinger. Do ponto de vista linguístico, o efeito humorístico dessa piada
deve-se ao fato de que a referência do pronome pessoal na resposta ao enigma é
interpretada equivocadamente por
a) Quayle e Bush.
b) Quayle e Kissinger.
c) Bush e Kissinger.
d) Bush, Quayle e Kissinger.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


REDES SOCIAIS E COLABORAÇÃO EXTREMA: O FIM DO SENSO CRÍTICO?
Eugênio Mira

Conectados. Essa palavra nunca fez tanto sentido quanto agora. 1Quando se discutia
no passado sobre como os homens agiriam com o advento da aldeia global (...) não se
imaginava o quanto esse processo seria rápido e devastador.
(...) quando McLuhan apresentou o termo, em 1968, 2ele sequer imaginaria que não
seria a televisão a grande responsável pela interligação mundial absoluta, e sim a internet,
que na época não passava de um projeto militar do governo dos Estados Unidos.
3
A internet mudou definitivamente a maneira como nos comunicamos e percebemos
o mundo. Graças a ela temos acesso a toda informação do mundo à distância de apenas um
toque de botão. 4E quando começaram a se popularizar as redes sociais, 5um admirável
mundo novo abriu-se ante nossos olhos. Uma ferramenta colaborativa extrema, que
possibilitaria o contato imediato com outras pessoas através de suas afinidades, fossem elas
políticas, religiosas ou mesmo geográficas. Projetos colaborativos, revoluções instantâneas...
6
Tudo seria maior e melhor quando as pessoas se alinhassem na órbita de seus ideais. 7O
tempo passou, e essa revolução não se instaurou.
Basta observar as figuras que surgem nos sites de humor e outros assemelhados.
Conhecidos como memes (termo cunhado pelo pesquisador Richard Dawkins, que
representaria para nossa memória o mesmo que os genes representam para o corpo, ou
seja, uma parcela mínima de informação), 8essas figuras surgiram com a intenção de
demonstrar, de maneira icônica, algum sentimento ou sensação. 9Ao fazer isso, a tendência
de ter uma reação diversa daquelas expressas pelas tirinhas é cada vez menor. Tudo fica
branco e preto. 10Ou se aceita a situação, ou revolta-se. Sem chance para o debate ou
questionamento.
(...)
A situação é ainda mais grave quando um dos poucos entes criativos restantes na
internet produz algum comentário curto, espirituoso ou reflexivo, a respeito de alguma
situação atual ou recente... Em minutos pipocam cópias da frase por todo lugar. 11Copia-se
sem o menor bom senso, sem créditos. Pensar e refletir, e depois falar, são coisas do
passado. O importante agora é 12copiar e colar, e depois partilhar. 13As redes sociais
desfraldaram um mundo completamente novo, e o uso que o homem fará dessas
ferramentas é o que dirá o nosso futuro cultural. 14Se enveredarmos pela partilha de ideias,
gestando-as em nossas mentes e depois as passando a outros, será uma estufa mundial a
produzir avanços incríveis em todos os campos de conhecimento. Se, no entanto, as redes
sociais se transformarem em uma rede neural de apoio à preguiça de pensar, a humanidade
estará fadada ao processo antinatural de regressão. O advento das redes sociais trouxe para
perto das pessoas comuns os amigos distantes, os ídolos e as ideias consumistas mais
arraigados, mas aparentemente está levando para longe algo muito mais humano e
essencial na vida em sociedade: o senso crítico. Será uma troca justa?

http://obviousmag.org/archives/2011/09/
redes_sociais_e_colaboracao_extrema_O_fim_do_senso_critico-.htm. Adaptado. Acesso
em: 21 fev 2017.

5 [ 172899 ]. Assinale a alternativa em que a mudança de lugar do vocábulo em destaque


NÃO provoca modificação no sentido da frase.
a) “Graças a ela temos acesso a toda informação do mundo (...)” Graças a ela temos
acesso à informação toda do mundo (...)
b) “...um admirável mundo novo abriu-se ante nossos olhos...” ...um admirável novo
mundo abriu-se ante nossos olhos...
c) “As redes sociais desfraldaram um mundo completamente novo...” As redes sociais
desfraldaram um mundo novo completamente...
d) “...trouxe para perto das pessoas comuns os amigos distantes...” ...trouxe para perto
das pessoas comuns os distantes amigos...

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Noruega como Modelo de Reabilitação de Criminosos

O Brasil é responsável por uma das mais altas taxas de reincidência criminal em todo
o mundo. No país, a taxa média de reincidência (amplamente admitida, mas nunca
comprovada empiricamente) é de mais ou menos 70%, ou seja, 7 em cada 10 criminosos
voltam a cometer algum tipo de crime após saírem da cadeia.
Alguns perguntariam "Por quê?". E eu pergunto: "Por que não?" O que esperar de
um sistema que propõe reabilitar e reinserir aqueles que cometerem algum tipo de crime,
mas nada oferece, para que essa situação realmente aconteça? Presídios em estado de
depredação total, pouquíssimos programas educacionais e laborais para os detentos,
praticamente nenhum incentivo cultural, e, ainda, uma sinistra cultura (mas que diverte
muitas pessoas) de que bandido bom é bandido morto (a vingança é uma festa, dizia
Nietzsche).
Situação contrária é encontrada na Noruega. Considerada pela ONU, em 2012, o
melhor país para se viver (1º no ranking do IDH) e, de acordo com levantamento feito pelo
Instituto Avante Brasil, o 8º país com a menor taxa de homicídios no mundo, lá o sistema
carcerário chega a reabilitar 80% dos criminosos, ou seja, apenas 2 em cada 10 presos
voltam a cometer crimes; é uma das menores taxas de reincidência do mundo. Em uma
prisão em Bastoy, chamada de ilha paradisíaca, essa reincidência é de cerca de 16% entre os
homicidas, estupradores e traficantes que por ali passaram. Os EUA chegam a registrar 60%
de reincidência e o Reino Unido, 50%. A média europeia é 50%.
A Noruega associa as baixas taxas de reincidência ao fato de ter seu sistema penal
pautado na reabilitação e não na punição por vingança ou retaliação do criminoso. A
reabilitação, nesse caso, não é uma opção, ela é obrigatória. Dessa forma, qualquer
criminoso poderá ser condenado à pena máxima prevista pela legislação do país (21 anos), e,
se o indivíduo não comprovar estar totalmente reabilitado para o convívio social, a pena
será prorrogada, em mais 5 anos, até que sua reintegração seja comprovada.
O presídio é um prédio, em meio a uma floresta, decorado com grafites e quadros
nos corredores, e no qual as celas não possuem grades, mas sim uma boa cama, banheiro
com vaso sanitário, chuveiro, toalhas brancas e porta, televisão de tela plana, mesa, cadeira
e armário, quadro para afixar papéis e fotos, além de geladeiras. Encontra-se lá uma ampla
biblioteca, ginásio de esportes, campo de futebol, chalés para os presos receberem os
familiares, estúdio de gravação de música e oficinas de trabalho. Nessas oficinas são
oferecidos cursos de formação profissional, cursos educacionais, e o trabalhador recebe uma
pequena remuneração. Para controlar o ócio, oferecer muitas atividades, de educação, de
trabalho e de lazer, é a estratégia.
A prisão é construída em blocos de oito celas cada (alguns dos presos, como
estupradores e pedófilos, ficam em blocos separados). Cada bloco tem sua cozinha. A
comida é fornecida pela prisão, mas é preparada pelos próprios detentos, que podem
comprar alimentos no mercado interno para abastecer seus refrigeradores.
Todos os responsáveis pelo cuidado dos detentos devem passar por no mínimo dois
anos de preparação para o cargo, em um curso superior, tendo como obrigação fundamental
mostrar respeito a todos que ali estão. Partem do pressuposto que, ao mostrarem respeito,
os outros também aprenderão a respeitar.
A diferença do sistema de execução penal norueguês em relação ao sistema da
maioria dos países, como o brasileiro, americano, inglês, é que ele é fundamentado na ideia
de que a prisão é a privação da liberdade, e pautado na reabilitação e não no tratamento
cruel e na vingança.
O detento, nesse modelo, é obrigado a mostrar progressos educacionais, laborais e
comportamentais, e, dessa forma, provar que pode ter o direito de exercer sua liberdade
novamente junto à sociedade.
A diferença entre os dois países (Noruega e Brasil) é a seguinte: enquanto lá os
presos saem e praticamente não cometem crimes, respeitando a população, aqui os presos
saem roubando e matando pessoas. Mas essas são consequências aparentemente
colaterais, porque a população manifesta muito mais prazer no massacre contra o preso
produzido dentro dos presídios (a vingança é uma festa, dizia Nietzsche).

LUIZ FLÁVIO GOMES, jurista, diretor-presidente do Instituto Avante Brasil e coeditor do


Portal atualidadesdodireito.com.br. Estou no blogdolfg.com.br.
** Colaborou Flávia Mestriner Botelho, socióloga e pesquisadora do Instituto Avante Brasil.
FONTE: Adaptado de http://institutoavantebrasil.com.br/noruega-como-modelo-de-
reabilitacao-de-criminosos/.
Acessado em 17 de março de 2017.

6 [ 174069 ]. "Mas essas são consequências aparentemente colaterais, porque a população


manifesta muito mais prazer no massacre contra o preso produzido dentro dos presídios ".

Há um trecho, dentro do período destacado acima, que provoca ambiguidade. Marque-o:


a) aparentemente colaterais
b) produzido dentro dos presídios
c) contra o preso
d) manifesta mais prazer
e) no massacre

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia este texto para responder à(s) questão(ões) a seguir.
Saudade de escrever

Apesar da concorrência (internet, celular), a carta continua firme e forte. Basta uma
folha de papel, selo, caneta e envelope para que uma pessoa do Rio Grande do Norte, por
exemplo, fique por dentro das fofocas registradas por um amigo em São Paulo, dois dias
depois. “Adoro receber cartas, fico super ansiosa para descobrir o que está escrito”, conta
Lívia Maria, de 9 anos. Mas ela admite que faz tempo que não escreve nenhuma cartinha.
“As últimas foram para a Angélica e para um dos programas do Gugu.”
Isabela, de 9 anos, lembra que, quando morava em Curitiba, no Paraná, trocava
correspondência com sua amiga Raquel, que vive em Belo Horizonte, Minas Gerais. “Eu
ficava sabendo das novidades e não gastava dinheiro com telefonemas.”
Já Amanda, de 10 anos, também gosta de receber cartinhas, mas prefere enviar e-
mails. “Atualmente estou conversando com meu primo que está nos Estados Unidos via
computador, já que a mensagem chega mais rápido e não pago interurbano.”

TOURRUCCO, Juliana. Saudade de escrever. O Estado de São Paulo, p.5, 25 jul.1998.


Suplemento infantil.

7 [ 176145 ]. O adjunto adverbial vem, normalmente, no final da frase, mas ele pode
aparecer em outra posição, basta que se indique esse deslocamento com a vírgula. A
colocação inadequada do adjunto adverbial, porém, poderá prejudicar a compreensão da
frase. É o que acontece na fala da Amanda, no texto. Das cinco reestruturações
apresentadas nas alternativas a seguir, uma continua com problema. Marque-a.
a) Atualmente, via computador, estou conversando com meu primo que está nos Estados
Unidos.
b) Atualmente estou, via computador, conversando com meu primo que está nos Estados
Unidos.
c) Atualmente estou conversando, via computador, com meu primo que está nos Estados
Unidos.
d) Atualmente estou conversando com meu primo, via computador, que está nos Estados
Unidos.
e) Via computador, atualmente estou conversando com meu primo que está nos Estados
Unidos.

8 [ 168581 ]. Em uma das frases ocorre uma ambiguidade ou duplo sentido. Identifique-a:
a) Ex-presidente recorreu ao Comitê da ONU acusando o juiz de violar seus direitos.
b) Sem placa orientadora, taxistas evitam corredor de ônibus, mesmo após liberação pela
Prefeitura.
c) “Pokémon Go” leva jogadores à caça em cemitérios e igrejas no Brasil.
d) Líderes governamentais com tensões e saias-justas na mala vão à China para o G20.
e) O ministro do STF afirmou que os integrantes do Ministério Público Federal devem “calçar
as sandálias da humildade”.

9 [ 164630 ]. Das manchetes de jornais abaixo, uma apresenta ambiguidade. Assinale-a:


a) Juro de banco público já se iguala ao de banco privado.
b) Objetos de neto de Chico Anysio que desapareceu são encontrados no Rio.
c) Brasil estuda ajuda privada a refugiados da Síria.
d) Estudo aponta que zika causa dano ao feto em qualquer fase da gravidez.
e) Cientistas japoneses descobrem bactéria que devora garrafa PET.

10 [ 150105 ]. As frases abaixo apresentam ambiguidade, ou dupla leitura, exceto uma.


Assinale-a:
a) Paternidade: o desafio para os pais que cuidam dos filhos sozinhos.
b) Ciências sem Fronteiras: verbas para estudantes atrasadas.
c) Dilma afirma que Petrobras é maior que seus problemas.
d) Mesmo sem revogar dogmas, Papa vira alvo dos conservadores.
e) Deputados insatisfeitos passaram a criticar abertamente erros do governo.

11 [ 162056 ]. Assinale a frase ambígua.


a) Depois de um ano de pesquisa e falando com outras mulheres sobre seus hábitos de
cuidados com a pele, Gizelle descobriu que o produto estava produzindo resultados reais.
b) Para participar das eleições municipais no dia 2 de outubro, os eleitores têm até hoje (4)
para tirar o primeiro título de eleitor, solicitar transferência de domicílio eleitoral e, no
caso de mudança de residência dentro do mesmo município, pedir a alteração de
endereço no título.
c) Depois de dois anos de estudo, a York Planet decidiu abrir a terceira filial situada na rua
Areia Fina, em Porto Alegre.
d) As saias com pontas e as jaquetas esportivas, chamadas bombers, retornaram à moda há
algumas temporadas e, pelo jeito, vão permanecer por mais tempo.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


A gota d’água

Apenas da água doce da Terra pode ser encontrada em locais de fácil acesso. Com o
aumento da população mundial, disputas pelo controle de recursos hídricos devem se
intensificar.

Uma das primeiras guerras da história aconteceu há mais de 4,5 mil anos, na
Suméria, região onde hoje se encontra o Iraque. Munidos de espadas, machados de bronze e
lanças, o exército da cidade-estado de Lagash avançou contra o rei de Umma, que desviou as
águas do Rio Tigre para construir um canal de irrigação. “Eannatum, líder de Lagash, foi para
a batalha e deixou 60 soldados mortos na margem do canal”, dizia uma inscrição encontrada
por arqueólogos. 3Assim, como outras civilizações que não tinham acesso a recursos hídricos
abundantes, a luta pela água era, literalmente, uma batalha de sobrevivência para os dois
povos.
Passados alguns milênios, os conflitos já não são resolvidos apenas pela força. 5Mas a
explosão populacional e a 1crescente demanda por infraestrutura e produção de bens
ampliaram ainda mais a necessidade por recursos naturais. A água doce, antes considerada
abundante em boa parte do mundo, se transformou num bem estratégico. Apesar de ocupar
dois terços da superfície terrestre, a água própria para consumo faz parte de uma fatia
mínima. De 1,2 bilhão de quilômetros cúbicos de água existentes no planeta, menos de
é potável – o que representa cerca de 35 milhões de quilômetros cúbicos. O problema é que
deste volume está disponível na forma de geleiras e camadas de neve e está
localizado em aquíferos subterrâneos. Ou seja, de água doce é encontrada em locais
de fácil acesso, como rios e lagos – o equivalente a 1,4 milhão de quilômetros cúbicos.
Como se não bastasse, essa pequenina porção é degradada a cada dia pela poluição
de rios e depósitos subterrâneos gerados pelo despejo de esgoto não tratado e resíduos
industriais. Um relatório divulgado em 2013, pelo Ministério de Recursos Hídricos da China,
indicava que dos lençóis freáticos de 118 cidades do país estavam poluídos. Com esse
cenário, o discurso de que a água poderá se transformar no petróleo do século 21 não é
simples conversa daquele tio alarmista. Como as fronteiras políticas não coincidem com os
limites geográficos das 261 bacias hidrográficas existentes no mundo, litígios pelo controle
da água tendem a aumentar. 2“A disputa pela água não gera necessariamente uma guerra.
Mas em regiões com um histórico beligerante, a redução e degradação dos recursos podem
virar um estopim para um conflito”, diz Vanessa Barbosa, autora do livro A Última Gota, da
Editora Planeta, 4que chega às livrarias em outubro. [...]

(Galileu, outubro de 2014.)

12 [ 138654 ]. Gota d'água

Já lhe dei meu corpo, minha alegria


Já estanquei meu sangue quando fervia
Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta
Pro desfecho da festa
Por favor
Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d'água

(Composição: Chico Buarque.)

O título dado ao texto A gota d’água é formado por uma frase nominal, as ideias são
condensadas em um pequeno número de palavras. Considerando o texto e a canção de
Chico Buarque, pode-se afirmar acerca da expressão gota d’água que
a) o efeito de sentido obtido na canção de Chico Buarque é oposto ao expresso através do
título A gota d’água.
b) em relação aos dois títulos apresentados, apenas o título da canção provoca um efeito
metafórico, já que se trata de um texto poético.
c) no texto, ocorre o emprego da ambiguidade como problema de construção, prejudicando
a clareza do título diante do conteúdo textual, o que não ocorre na canção Gota d’água.
d) no texto, ocorre o emprego da ambiguidade como recurso de construção, em que o
sentido da expressão gota d’água, no título, remete ao sentido empregado por Chico
Buarque e, simultaneamente, apresenta uma questão geopolítica preocupante.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Texto para a(s) questão(ões) a seguir

Eram tempos menos duros aqueles vividos na casa de Tia Vicentina, em Madureira,
subúrbio do Rio, onde Paulinho da Viola podia traçar, sem cerimônia, um prato de feijoada -
comilança que deu até samba, "No Pagode do Vavá". Mas como não é dado a saudades
(lembre-se: é o passado que vive nele, não o contrário), Paulinho aceitou de bom grado a
sugestão para que o jantar ocorresse em um dos mais requintados italianos do Rio. A
escolha pela alta gastronomia tem seu preço. Assim que o sambista chega à mesa redonda
ao lado da porta da cozinha, forma-se um círculo de garçons, com o maître à frente. [...]
Paulinho conta que cresceu comendo o trivial. Seu pai viveu 88 anos à base de arroz,
feijão, bife e batata frita. De vez em quando, feijoada. Massa, também. "Mas nada muito
sofisticado."
Com exceção de algumas dores de coluna, aos 70 anos, goza de plena saúde. O
músico credita sua boa forma ao estilo de vida, como se sabe, não dado a exageros e
grandes ansiedades.

T. Cardoso, Valor, 28/06/2013. Adaptado.

13 [ 139037 ]. Tendo em vista o contexto, pode ser lida em duplo sentido a palavra
sublinhada na seguinte frase do texto:
a) “Mas como não é dado a saudades”.
b) “Paulinho aceitou de bom grado a sugestão”.
c) “A escolha pela alta gastronomia tem seu preço”.
d) “forma-se um círculo de garçons, com o maître à frente”.
e) “O músico credita sua boa forma ao estilo de vida”.

14 [ 132253 ]. Examine o seguinte texto, extraído de uma matéria jornalística:


Segundo estudos da USP, por ano, 50 milhões de raios caem no país. Especialistas dizem que
numa tempestade a pessoa deve evitar lugares altos e abertos, como campos de futebol e
ficar sob árvores, dentro de mar ou piscina.
Folha de S. Paulo, 07/01/2012.

Tendo em vista sua finalidade comunicativa, pode-se apontar, nesse texto, o defeito da
a) ambiguidade.
b) redundância.
c) prolixidade.
d) inadequação léxica.
e) mistura de variedades linguísticas.

15 [ 126851 ]. Leia a piada e marque a alternativa correta:

O marido, ao chegar em casa, no final da noite, diz à mulher, que já estava deitada,
- Querida, eu quero amá-la.
A mulher, que está dormindo, com a voz embolada, responde:
A mala... ah! Não sei onde está, não. Use a mochila que está no maleiro do quarto de visitas.
- Não é isso, querida, hoje vou amar-te.
- Por mim, você pode ir até Júpiter, Saturno e até ao raio que o parta, desde que me deixe
dormir em paz...
a) A ambiguidade mostrada no texto se dá apenas no nível semântico.
b) A piada chama a atenção para o uso incorreto dos oblíquos.
c) O sentido do texto foi prejudicado pela fusão do uso de você e tu na pessoa do discurso.
d) A confusão do sentido se deu em razão do equívoco no uso dos oblíquos, pois o adequado
seria o termo “lhe”.
e) O humor da piada consiste no jogo fonético/semântico causado pelo uso dos pronomes
oblíquos.
Gabarito:

Resposta da questão 1:
[C]

[A] Incorreto. A intenção do enunciador foi mencionar verbos; os combatentes, no entanto,


compreenderam os termos como se fossem substantivos.
[B] Incorreto. Os valores interpretados pelos combatentes são plausíveis na Língua
Portuguesa, a ponto de compreenderem os verbos como se fossem substantivos.
[C] Correto. A ambiguidade gerada na situação retratada demonstra que a língua apresenta
flexibilidade, a ponto de os mesmos termos serem verbos para o enunciador e
substantivos para os destinatários.
[D] Incorreto. A troca não foi proposital; mesmo que fosse, tal ambiguidade indica a
flexibilidade de significados e sentidos dos termos.

Resposta da questão 2:
[B]

A palavra “real” pode ser compreendida tanto no sentido de verdadeiro, pertencente à


realidade, quanto no sentido de pertencente à realeza, sendo, portanto, ambígua.

Resposta da questão 3:
[A]

A proposição em destaque pode significar tanto que tentam proteger a sociedade


pertencente a ele quanto que a sociedade é protegida dele, ou seja, que ele representaria
uma ameaça a ela.
Dentro do contexto, vemos que a proposição “tentam proteger a sociedade dele” refere-se
ao fato de que o homem que vive na periferia é tomado como perigoso à sociedade e posto
atrás das grades pelo sistema. Dessa forma, tentariam deixar a sociedade protegida contra
ele.

Resposta da questão 4:
[A]
Quayle entende que, quando Henry Kissinger diz que a resposta é “eu”, ele está se referindo
a ele mesmo, e não ao Quayle. Ao responder para Bush, este também revela não ter
entendido a resolução do enigma, pois diz que a verdadeira resposta era “Geoffrey Howe”,
ou seja, ele não compreendeu que o “eu” era uma referência à própria pessoa a que se
apresenta o enigma e não ao Howe obrigatoriamente.

Resposta da questão 5:
[B]

Em [A], “Graças a ela temos acesso a toda informação do mundo (...)”, “toda” é pronome
indefinido, e apresenta sentido de “qualquer”. Já em “Graças a ela temos acesso à
informação toda do mundo (...)”, toda é adjetivo, e indica totalidade, completude.
Em [B], na frase, o adjetivo “novo” não apresenta significação diferente se anteposto ou
posposto ao substantivo “mundo”. No entanto, a construção “admirável mundo novo”
remete ao título da obra de Aldous Huxley, o que se perde com a mudança de ordem.
Em [C], “As redes sociais desfraldaram um mundo completamente novo...”, o advérbio
“completamente” está relacionado ao adjetivo “novo”. Com a mudança para “As redes
sociais desfraldaram um mundo novo completamente...”, o advérbio passa a relacionar-se a
“mundo novo”.
Na Língua Portuguesa, a expressão “amigo distante” é popularmente utilizada para indicar
amigos os quais quase não se vê, com os quais se tem pouco contato. Essa é uma possível
interpretação para “...trouxe para perto das pessoas comuns os amigos distantes...”, em [D].
Pode-se também depreender que se tratam de amigos fisicamente distantes. Com a
mudança para “...trouxe para perto das pessoas comuns os distantes amigos...”, a
interpretação pode ser também de amigos que se encontram a longa distância ou, em
sentido figurado, de amigos de personalidade fria, reservada.

Resposta da questão 6:
[B]

O trecho “produzido dentro dos presídios” possui ambiguidade sintática, já que pode fazer
referência tanto a “massacre contra o preso” quanto a apenas “o preso”.

Resposta da questão 7:
[D]
Em [D], ao deslocar o adjunto "via computador" para antes da explicação "que está nos
Estados Unidos", cria-se uma má interpretação, já que a oração "que está nos Estados
Unidos" deixa de se referir ao "primo" e passa a se referir ao "computador".

Resposta da questão 8:
[A]

Na frase “Ex-presidente recorreu ao Comitê da ONU acusando o juiz de violar seus direitos.”,
a ambiguidade ocorre quanto ao uso do pronome possessivo “seus”, que pode referir-se ao
ex-presidente, ao Comitê da ONU ou ao juiz.

Resposta da questão 9:
[B]

Apenas a alternativa [B] apresenta ambiguidade. O trecho “que desapareceu” pode fazer
referência a dois elementos diferentes: “neto” ou “Chico Anysio”.

Resposta da questão 10:


[D]

[A] Incorreta: Há ambiguidade na oração, pois o adjetivo “sozinhos” pode se referir tanto
aos “pais” quanto aos “filhos”.
[B] Incorreta: Há ambiguidade na oração, pois o adjetivo “atrasadas” pode se referir tanto às
“estudantes” quanto às “verbas”.
[C] Incorreta: Há ambiguidade na oração, pois o pronome possessivo “seu” pode se referir
tanto à “Petrobras” quanto à “Dilma”.
[D] Correta: Não há expressões na oração que possibilitem mais de uma leitura.
[E] Incorreta: Por exclusão, há ambiguidade na oração, uma vez que a locução adjetiva “do
governo” pode ser associada a “erros” e a “deputados”.

Resposta da questão 11:


ANULADA

Questão anulada no gabarito oficial.


A alternativa que poderia apresentar ambiguidade é a [C]. A interpretação que se pode fazer
é de que a York Planet decidiu abrir uma terceira filial na mesma rua, a Areia Fina, em Porto
Alegre. No entanto, o que parece ter sido a intenção foi dizer que a terceira filial, entre todas
as filiais da York Planet, seria aberta na rua Areia Fina. A questão pode ter sido anulada
porque não se trata, de fato, de uma ambiguidade, mas de um erro de pontuação que muda
o significado da frase.

Resposta da questão 12:


[D]

A expressão “a gota d’água”, figurativamente, indica elemento que faz com que algo ou
alguém ultrapasse o seu limite. No contexto, a expressão é ambígua, já que, por um lado, a
temática do texto aponta para uma interpretação literal; mas, ao mesmo tempo, a poluição
pode ser considerada “aquilo que vai além do limite” da questão, desse grave problema
geopolítico.

Resposta da questão 13:


[C]

A palavra “preço” pode ser interpretada, no contexto, como “valor em dinheiro a ser pago
por uma mercadoria ou serviço”. Paga-se caro pela alta gastronomia, já que se trata de uma
alimentação mais sofisticada. Também pode ser interpretada como consequência – a
punição ou a recompensa por algo. No caso, a consequência é Paulinho da Viola ver-se
cercado pelos garçons e o maître: “Assim que o sambista chega à mesa redonda ao lado da
porta da cozinha, forma-se um círculo de garçons, com o maître à frente”.

Resposta da questão 14:


[A]

[A] Correta. No trecho: ficar sob árvores, dentro do mar ou piscina (...) apresenta duplo
sentido: o primeiro e desejável é que se deve evitar ficar em determinados lugares de
risco, como sob árvores, piscinas... O segundo sentido e equivocado é que, em caso de
chuva, deve-se ficar sob árvores dentro do mar ou da piscina, logo, produzindo um
sentido inverso ao que se quer comunicar.
[B] A redundância consiste em se repetir o já dito ou em insistir no óbvio. Não há palavras
nem ideias redundantes no texto.
[C] Prolixidade consiste no uso exagerado de palavras para transmitir uma mensagem. Não
se encontra este vício de linguagem no texto em questão.
[D] O texto não apresenta inadequação léxica ou uso inadequado de palavras.
[E] Não há mistura de variedades linguísticas, trata-se de um texto informativo, escrito na
linguagem que lhe é cabível.

Resposta da questão 15:


[E]

O humor da piada se dá pelo não entendimento da esposa ao que diz o marido. “Eu quero
amá-la” é foneticamente semelhante a “Eu quero a mala”, como compreende a esposa. Do
mesmo modo, “hoje eu vou amar-te” é foneticamente idêntico a “hoje eu vou a Marte”.
Assim, a esposa interpreta o marido de modo, semanticamente, diferente do que ele
tentava comunicar.

SIGNIFICAÇÃO
1 [ 206232 ]. Leia a seguir os versos de João Cabral Melo Neto.

“Está apenas em que a terra


é por aqui mais macia;
está apenas no pavio,
ou melhor, na lamparina:”

O valor semântico correto para a expressão destacada (sublinhada) é de:


a) retificação.
b) valoração.
c) condição.
d) comparação.
e) contradição.

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:


O HOMEM CORDIAL
Marco A Rossi

É de 1936 o livro 1“Raízes do Brasil”, do historiador Sérgio Buarque de Holanda. 2Nele


está contida a ideia de 3“homem cordial”, 4uma das maiores contribuições já realizadas para
a compreensão do Brasil e dos brasileiros. 5O 6“homem cordial”, resultado de um
7
cruzamento entre a cultura colonial e o improviso de um país para sempre inacabado, é
afetuoso, interesseiro e autoritário; adora obter vantagens em tudo, detesta regras, vive em
busca de atalhos favoráveis; não vê problema no que faz de errado, 8embora seja raivoso na
hora de apontar os erros dos outros. Variação muito mal-humorada de um tipo único de
homo brasiliensis, 9o “homem cordial” é avesso ao esforço metódico e à concentração;
prefere o circunstancial, a moda do momento e o jeito mais rápido de conquistar aquilo que
deseja. Adepto do “curtir a vida adoidado”, o homo brasiliensis encarnado no “homem
cordial” sofre muito diante de compromissos que exijam dispêndio de energia e tempo – na
cultura humana do juro, opta sempre por curtir hoje e pagar amanhã, em vez de investir
agora para saborear depois por tempo indeterminado e mais tranquilo. 10A impessoalidade
no trato, as regras universais, a ética como parâmetro para a tomada de decisões, o antever
dos desdobramentos de sua ação sobre a vida e o planeta, o incentivo ao fortalecimento de
instituições públicas e sociais, 11nada disso agrada ao “homem cordial”, que não esconde
amar o familiarismo nas relações sociais, as regras particulares, a moral privada, o 12“salve-se
quem-puder”, o apelo a saídas pessoais diante de problemas e questões que são, de
superfície e de fundo, coletivas. Em 1936, Sérgio Buarque de Holanda apontava esses traços
culturais brasileiros como uma barreira intransponível para a democracia. 13E hoje? 14Creio
que a atualidade da ideia de “homem cordial” salta aos olhos de quem observa com
interesse o país. Resta saber o tamanho desse malfazejo espólio.

(Fonte: Marco A. Rossi. Acesso 10/01/2013 às 12:30 p.m


http://travessia21.blogspot.com.br/2013/01/o-homem-cordial.html.)

2 [ 201801 ]. De acordo com os conceitos expostos no texto sobre as características morais


do homem cordial, só NÃO se pode dizer que ele é um
a) lobo na pele de cordeiro.
b) santinho do pau oco.
c) gato vendido por lebre.
d) cão que ladra e não morde.
3 [ 201800 ]. Assinale a alternativa em que todos os adjetivos podem ser utilizados para
descrever o “homem cordial”, conforme é caracterizado no texto.
a) Oportunista, irresponsável e hipócrita.
b) Imediatista, precavido e egocêntrico.
c) Compenetrado, ardiloso e criativo.
d) Meticuloso, simpático e farrista.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Direito e avesso
Rachel de Queiroz

Conheci uma moça que escondia como um crime certa feia cicatriz de queimadura
que tinha no corpo. De pequena a mãe lhe ensinara a ocultar aquela marca de fogo e nem
sei que impulso de desabafo levou-a a me falar nela; e creio que logo se arrependeu, pois
me obrigou a jurar que jamais repetiria a alguém o seu segredo. Se agora o conto é porque a
moça é morta e a sua cicatriz já estará em nada, levada com o resto pelas águas de março,
que levam tudo.
Lembrou-me isso ao escutar outra moça, também vaidosa e bonita, que discorria
perante várias pessoas a respeito de uma deformação congênita que ela, moça, tem no
coração. Falava daquilo com mal disfarçado orgulho, como se ter coração defeituoso fosse
uma distinção aristocrática que se ganha de nascença e não está ao alcance de qualquer um.
E aí saí pensando em como as pessoas são estranhas. Qualquer deformação, por mais
mínima, sendo em parte visível do nosso corpo, a gente a combate, a disfarça, oculta como
um vício feio. Este senhor, por exemplo, que nos explica, abundantemente, ser vítima de
divertículos (excrescências em forma de apêndice que apareceram no seu duodeno), teria o
mesmo gosto em gabar-se da anomalia se em lugar dos divertículos tivesse lobinhos
pendurados no nariz? Nunca vi ninguém expor com orgulho a sua mão de seis dedos, a sua
orelha malformada; mas a má formação interna é marca de originalidade, que se descreve
aos outros com evidente orgulho.
Doença interna só se esconde por medo da morte – isto é, por medo de que, a
notícia se espalhando, chegue a morte mais depressa. Não sendo por isso, quem tem um
sopro no coração se gaba dele como de falar japonês.
Parece que o principal impedimento é o estético. Pois se todos gostam de se
distinguir da multidão, nem que seja por uma anomalia, fazem ao mesmo tempo questão de
que essa anomalia não seja visivelmente deformante. Ter o coração do lado direito é uma
glória, mas um braço menor que o outro é uma tragédia. Alguém com os dois olhos límpidos
pode gostar de épater uma roda de conversa, explicando que não enxerga coisíssima
nenhuma por um daqueles límpidos olhos, e permitira mesmo que os circunstantes curiosos
lhe examinem o olho cego e constatem de perto que realmente não se nota diferença
nenhuma com o olho são. Mas tivesse aquela pessoa o olho que não enxerga coalhado pela
gota-serena, jamais se referiria ao defeito em público; e, caso o fizesse, por excentricidade
de temperamento sarcástico ou masoquista, os circunstantes bem-educados se sentiriam na
obrigação de desviar a vista e mudar de assunto.
Mulheres discutem com prazer seus casos ginecológicos; uma diz abertamente que já
não tem um ovário, outra, que o médico lhe diagnosticou um útero infantil. Mas, se ela
tivesse um pé infantil, ou seios senis. será que os declararia com a mesma complacência?
Antigamente havia as doenças secretas, que só se nomeavam em segredo ou sob
pseudônimo. De um tísico, por exemplo, se dizia que estava “fraco do peito”; e talvez tal
reserva nascesse do medo do contágio, que todo mundo tinha. Mas dos malucos também se
dizia que “estavam nervosos” e do câncer ainda hoje se faz mistério – e nem câncer e nem
doidice pegam.
Não somos todos mesmo muito estranhos? Gostamos de ser diferentes – contanto
que a diferença não se veja. O bastante para chamar atenção, mas não tanto que pareça
feio.

Fonte: O melhor da crônica brasileira,1/ Ferreira Guillar... [et al.]. 5a ed. Rio de Janeiro: José
Olympio, 2007.

Vocabulário:
épater: impressionar

Com base no texto, responda.

4 [ 202286 ]. Assinale a opção em que se atribui ERRADAMENTE (entre parênteses) um


sentido ao termo sublinhado.
a) Este senhor, por exemplo, que nos explica, abundantemente, ser vítima de divertículos
(excrescências em forma de apêndice que apareceram no seu duodeno), teria o mesmo
gosto em gabar-se da anomalia [...]. (vangloriar-se)
b) Antigamente havia as doenças secretos, que só se nomeavam em segredo ou sob
pseudônimo. (apelido)
c) Mas, se ela tivesse um pé infantil, ou seios senis, será que os declararia com a mesma
complacência? (benevolência)
d) Mas, se ela tivesse um pé infantil, ou seios senis, será que os declararia com a mesma
complacência? (próprios da velhice)
e) [...] e permitirá mesmo que os circunstantes curiosos lhe examinem o olho cego e
constatem de perto que realmente não se nota diferença nenhuma com o olho são. (as
pessoas presentes)

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Consoada

Quando a Indesejada das gentes chegar


(Não sei se dura ou caroável),
Talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
- Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.

Manuel Bandeira - Opus 10.

5 [ 203077 ]. As palavras "consoada" (título), "caroável" (v.2) e "sortilégios" (v.7) poderiam


ser substituídas, sem prejuízo de sentido, respectivamente por:
a) "cantiga", "ruidosa", "destinos".
b) "ceia", "afável", "feitiços".
c) "refeição", "agressiva", "mistérios".
d) "balada", "triste", "malefícios".
e) "sopa", "maldosa", "encantos".
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Que coisa mais jeca!

Do capiau de Lobato ao cafona urbano de hoje, palavra mudou com o país

1
É bem raro que um personagem literário tenha tanta projeção cultural que seu
nome acabe por virar substantivo comum de ampla circulação, verbete em todos os
dicionários. Aconteceu com o Jeca Tatu, criado há pouco mais de cem anos pelo escritor
paulista Monteiro Lobato (1882-1948). O Houaiss define assim o brasileirismo jeca-tatu,
substantivo masculino: "habitante do 2interior brasileiro, especialmente da região centro-sul,
de hábitos rudimentares, morador da zona rural". Ou seja, jecatatu é sinônimo de caipira,
matuto, equivalência que o dicionário também registra. Curiosamente, é só no verbete jeca,
forma reduzida de jeca-tatu, que o lexicógrafo aponta o escancarado caráter pejorativo da
palavra. O termo caipira pode ser depreciativo, mas também aparece em contextos neutros
e até de valorização da cultura rural. Jeca não: é ofensivo sempre. Mesmo quando o ator e
cineasta Amácio Mazzaropi (1912-1981) fez dele um herói simpático e de grande sucesso, o
riso que sua comédia buscava era baseado na superioridade do espectador sobre aquele
capiau ridiculamente simplório, que envergonhava os próprios filhos, ainda que fosse
honesto e de bom coração. A negatividade vem de berço. Quando lançou o personagem do
Jeca Tatu em 1914, em artigo para O Estado de S. Paulo 3intitulado "Uma velha praga",
Lobato o apresentava como síntese dos defeitos que, na sua experiência de fazendeiro cheio
de sonhos frustrados de modernização, condenavam o matuto brasileiro – e o país com ele –
ao atraso eterno. Preguiçoso, ignorante, 4abúlico, triste, nessa primeira encarnação o Jeca
(corruptela de Zeca) é uma espécie de aberração responsável por todas as suas próprias
desgraças aos olhos urbanos do escritor elitista. Só que o autor nunca parou de retocar o
personagem. Em pouco tempo tinha transformado o Jeca numa vítima da 5incompetência do
Estado, que lhe negava saneamento, remédios e educação. O personagem começou a
ganhar contornos construtivos. Nessa fase o 6astuto Lobato chegou a lhe arranjar um
emprego de garoto-propaganda do Biotônico Fontoura, elixir vendido como capaz de curar
os jecas de sua jequice. No fim da vida do escritor, uma intervenção mais claramente política
mudou tanto o caipira, agora retratado como explorado pelos donos da terra, que ele
precisou mudar de nome. Assim surgiu o personagem Zé Brasil, camponês dotado de
consciência de classe. De modo significativo, não fez um milésimo do sucesso do Jeca.
Ocorre que a criatura já havia declarado sua 7independência do criador. Morto Lobato, novas
transformações estavam por vir tanto para o Jeca, o personagem, quanto para jeca, a
palavra. 8O já citado Mazzaropi se encarregou da primeira, mas é a outra que 9interessa mais
de perto à coluna. Se a 10incrível 11inserção cultural alcançada pelo caipira de Lobato só pode
ser entendida no contexto de um país que, na primeira metade do século passado, ainda era
maciçamente rural, o Brasil de urbanização velocíssima das décadas seguintes reservou
novos papéis para o termo jeca. Hoje é mais comum vê-lo usado como adjetivo para
qualificar o "que revela mau gosto, falta de refinamento; cafona, ridículo" (Houaiss). Abusar
de palavras em inglês é jeca. Humilhar porteiros e garçons é jeca demais. Usar faixa
presidencial em solenidades que não a exigem, haja jequice! Não há dúvida de que vivemos
o momento mais jeca de nossa história.

Rodrigues, S. "Que coisa mais jeca! Do capiau de Lobato ao cafona urbano de hoje, palavra
mudou com o país". Folha de São Paulo. 24.10.2019. Disponível em: https://bit.ly/2NxyLzK/.
Adaptado.

6 [ 203103 ]. No texto, podem ser consideradas sinônimos de "abúlico" (ref. 4) e "astuto"


(ref. 6), respectivamente, as palavras
a) "faminto" e "sagaz".
b) "apático" e "esperto".
c) "mentiroso" e "maldoso".
d) "honesto" e "sabido".
e) "simples" e "hábil".

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:


Fernando Pessoa (1888-1935) foi um dos mais importantes poetas da literatura portuguesa.
Criou uma obra de natureza filosófica sobre a consciência e as suas mais profundas
inquietações existenciais. Expressou uma personalidade estética multifacetada por meio dos
heterônimos, os quais consistiam em várias identidades que detinham biografia e
características psicológicas distintas: Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Bernardo Soares e Álvaro
de Campos, um engenheiro naval, a quem se deve a “Ode triunfal”. Esse heterônimo
apresenta uma personalidade estética marcada pelas concepções futuristas e pela intenção
de assimilar ao eu lírico a realidade exterior, considerada em suas manifestações mais
prosaicas, ao mesmo tempo em que aquele se projeta no mundo.

ODE TRIUNFAL

1
À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, 2fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.

3
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria 4fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
5
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!

Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical –


Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força –
Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro,
Porque o presente é todo o passado e todo o futuro
6
E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das luzes eléctricas
Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão,
E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinquenta,
Átomos que hão-de ir ter febre para o cérebro do Ésquilo do século cem,
7
Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos e por estes volantes,
Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando,
Fazendo-me um acesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma.

Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!


8
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
9
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões
10
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!

Fraternidade com todas as dinâmicas!


Promíscua fúria de ser parte-agente
Do rodar férreo e cosmopolita
Dos comboios estrênuos,
Da faina transportadora-de-cargas dos navios,
Do giro lúbrico e lento dos guindastes,
Do tumulto disciplinado das fábricas,
E do quase-silêncio 11ciciante e monótono das correias de transmissão!

12
Horas europeias, produtoras, entaladas
Entre maquinismos e afazeres úteis!
Grandes cidades paradas nos cafés,
Nos cafés – oásis de inutilidades ruidosas
Onde se cristalizam e se precipitam
13
Os rumores e os gestos do 14Útil
E as rodas, e as rodas-dentadas e as chumaceiras do 15Progressivo!
16
Nova Minerva sem-alma dos cais e das gares!
Novos entusiasmos de estatura do Momento!

PESSOA, Fernando. Poesias de Álvaro de Campos. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993), p. 144
(texto adaptado).

7 [ 203397 ]. “Ser completo como uma máquina!


Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!” (ref. 8)

Quanto ao segmento do texto apresentado, considere as seguintes afirmações:

I. No segmento em destaque, tomado por sensações vertiginosas, o poeta modernista


evidencia um sentimento de fascínio pelas máquinas, assim como o seu desejo de fusão e
integração.
II. Em consonância com uma estética romântica tardia, o vocábulo “flora” foi empregado no
intuito de postular uma possível reconversão do mundo das máquinas a uma natureza
pujante, então vilipendiada.
III. No verso “Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável” (ref. 10), a palavra
“estupenda” apresenta uma relação de sinonímia com o vocábulo “abundante”.

Está(ão) correta(s) a(s) assertiva(s):


a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e III, apenas.
e) II e III, apenas.

8 [ 203395 ]. Assinale a alternativa em que a substituição da palavra ciciante (ref. 11)


acarretaria uma inversão de sentido:
a) tonitruante.
b) sussurrante.
c) sibilante.
d) discordante.
e) dissonante.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia a crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada originalmente em 1902.

Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já tardava. O Rio de Janeiro não pode
passar muito tempo sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre para nos impelir
ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já se não adormecem as crianças com histórias de fadas
e de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de cinquenta anos, este era um povo de
beatos [...]. [...] Os tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco dessa primitiva
credulidade. Inventar um fantasma é ainda um magnífico recurso para quem quer levar a
bom termo qualquer grossa patifaria. As almas simples vão propagando o terror, e, sob a
capa e a salvaguarda desse temor, os patifes vão rejubilando.
O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi. Começou a surgir vagamente, sem
espalhafato, pelo pacato bairro – como um fantasma de grande e louvável modéstia. E tão
esbatido1 passava o seu vulto na treva, tão sutilmente deslizava ao longo das casas
adormecidas – que as primeiras pessoas que o viram não puderam em consciência dizer se
era duende macho ou duende fêmea. [...] O fantasma não falava – naturalmente por saber
de longa data que pela boca é que morrem os peixes e os fantasmas... Também, ninguém
lhe falava – não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode um homem ter nascido
num século de luzes e de descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos estafados
seios da Revolução Francesa, e não acreditar nem em Deus nem no Diabo – e, apesar disso,
sentir a voz presa na garganta, quando encontra na rua, a desoras2, uma avantesma3...
Assim, um profundo mistério cercava a existência do lobisomem de Catumbi –
quando começaram de aparecer vestígios assinalados de sua passagem, não já pelas ruas,
mas pelo interior das casas. Não vades agora crer que se tenham sumido, por exemplo, as
hóstias consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados do cemitério de S.
Francisco de Paula tenham achado alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai de
família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela falta... da própria alma. Nada disso. Os
fenômenos eram outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela outra as galinhas,
daquela outra as joias... E a polícia, finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem,
para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe, andava acumulando novos pecados
sobre os pecados antigos, e dando-se à prática de excessos menos merecedores de
exorcismos que de cadeia.
Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente munida de bentinhos5 e de
revólveres, de amuletos e de sabres, assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um jornal,
dando conta da diligência, disse que o delegado achou dentro da casa sinistra – um velho
pardieiro6 que fica no topo de uma ladeira íngreme – alguns objetos singulares que pareciam
instrumentos “pertencentes a gatunos”. E acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam
espavoridos, tentando apagar as velas acesas que os sitiantes7 empunhavam”.
Esta nota de morcegos deve ser um chique romântico do noticiarista. No fundo da
alma de todo o repórter há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos, que correm, já
nem há morcegos. Esses feios quirópteros, esses medonhos ratos alados, companheiros
clássicos do terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de Catumbi. Os animais,
que esvoaçavam espavoridos, eram sem dúvida os frangões roubados aos quintais das
casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu tempo passou.
(Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.)

1
esbatido: de tom pálido.
2
a desoras: muito tarde.
3
avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro.
4
folha: periódico diário, jornal.
5
bentinho: objeto de devoção contendo orações escritas.
6
pardieiro: prédio velho ou arruinado.
7
sitiante: policial.

9 [ 203879 ]. Em “Vamos lá! nestes tempos, que correm, já nem há morcegos” (5º
parágrafo), o termo sublinhado está empregado na mesma acepção do termo sublinhado em
a) “ela correu um risco desnecessário”.
b) “a notícia corria por toda a cidade”.
c) “a manhã corria especialmente tranquila”.
d) “segundo corria, ela seria facilmente eleita”.
e) “um arrepio correu-lhe pela espinha”.

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:


Leia o artigo “Pó de pirlimpimpim”, do neurocientista brasileiro Sidarta Ribeiro.

Alcançar o aprendizado instantâneo é um desejo poderoso, pois o cérebro sem


informação é pouco mais que estofo de macela1. Emília, a sabida boneca de Monteiro
Lobato, aprendeu a falar copiosamente após engolir uma pílula, adquirindo de supetão todo
o vocabulário dos seres humanos ao seu redor. No filme Matrix (1999), a ingestão de uma
pílula colorida faz o personagem Neo descobrir que todo o mundo em que sempre viveu não
passa de uma simulação chamada Matriz, dentro da qual é possível programar qualquer
coisa. Poucos instantes depois de se conectar a um computador, Neo desperta e profere
estupefato: “I know kung fu”.
Entretanto, na matriz cerebral das pessoas de carne e osso, vale o dito popular:
“Urubu, pra cantar, demora.” O aprendizado de comportamentos complexos é difícil e
demorado, pois requer a alteração massiva de conexões neuronais. Há consenso hoje em dia
de que o conteúdo dos nossos pensamentos deriva dos padrões de ativação de vastas redes
neuronais, impossibilitando a aquisição instantânea de memórias intrincadas.
Mas nem sempre foi assim. Há meio século, experimentos realizados na Universidade
de Michigan pareciam indicar que as planárias, vermes aquáticos passíveis de
condicionamento clássico, eram capazes de adquirir, mesmo sem treinamento, associações
estímulo-resposta por ingestão de um extrato de planárias já condicionadas. O resultado,
aparentemente revolucionário, sugeria que os substratos materiais da memória são
moléculas. Contudo, estudos posteriores demonstraram que a ingestão de planárias não
condicionadas também acelerava o aprendizado, revelando um efeito hormonal genérico,
independente do conteúdo das memórias presentes nas planárias ingeridas.
A ingestão de memórias é impossível porque elas são estados complexos de redes
neuronais, não um quantum de significado como a pílula da Emília. Por outro lado, é sim
possível acelerar a consolidação das memórias por meio da otimização de variáveis
fisiológicas envolvidas no processo. Uma linha de pesquisa importante diz respeito ao sono,
cujo benefício à consolidação de memórias já foi comprovado. Em 2006, pesquisadores
alemães publicaram um estudo sobre os efeitos mnemônicos da estimulação cerebral com
ondas lentas (0,75 Hz) aplicadas durante o sono por meio de um estimulador elétrico. Os
resultados mostraram que a estimulação de baixa frequência é suficiente para melhorar o
aprendizado de diferentes tarefas. Ao que parece, as oscilações lentas do sono são puro pó
de pirlimpimpim.

(Sidarta Ribeiro. Limiar: ciência e vida contemporânea, 2020.)

1
macela: planta herbácea cujas flores costumam ser usadas pela população como estofo de
travesseiros.

10 [ 203889 ]. Em “Ao que parece, as oscilações lentas do sono são puro pó de


pirlimpimpim” (4º parágrafo), o autor caracteriza as “oscilações lentas do sono” como um
processo
a) imaginário.
b) estéril.
c) indefinido.
d) complexo.
e) produtivo.

11 [ 203886 ]. Por se tratar de um artigo de divulgação científica (e não um artigo científico


propriamente), predomina no texto uma linguagem
a) técnica.
b) acessível.
c) informal.
d) figurada.
e) hermética.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


A escrita faz de tal modo parte de nossa civilização que poderia servir de definição dela
própria. A história da humanidade se divide em duas imensas eras: antes e a partir da
escrita. Talvez venha o dia de uma terceira era – depois da escrita. Vivemos os séculos da
civilização escrita. Todas as nossas sociedades baseiam-se no escrito. A lei escrita substitui a
lei oral, o contrato escrito substitui a convenção verbal, a religião escrita se seguiu à tradição
lendária. E sobretudo não existe história que não se funde sobre textos.

Charles Higounet. A história da escrita. Adaptado.

12 [ 204613 ]. A locução conjuntiva “de tal modo…que” e o advérbio “sobretudo”,


respectivamente, expressam noção de:
a) conformidade e dúvida.
b) consequência e realce.
c) condição e negação.
d) consequência e negação.
e) condição e realce.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Condenado a ser livre
Almir Freitas
Entre a concepção de autonomia política e a noção de livre-arbítrio, a liberdade
sempre ocupou papel central na filosofia. Mas foi no século XX, destacada no então recente
1
arcabouço existencialista, que ela chegou à cultura mais geral, expressa não apenas nas
obras teóricas de Jean-Paul Sartre (1905-1980), mas também nos seus romances e peças de
teatro. Dali em diante, naquele mundo que emergia das ruínas da Segunda Guerra Mundial e
2
ensaiava uma era de intelectuais-celebridades, ganharia ares pop.
Foi na Paris de 1945, em um auditório com cadeiras 3disputadas a tapa, que Sartre
afirmou, na conferência O Existencialismo é um Humanismo, que o homem estava
“condenado a ser livre”, ideia antes apresentada em O Ser e o Nada (1943). Entre a obra
filosófica e a conferência, outra frase sua, “o inferno são os outros”, havia causado sensação,
na estreia da peça Entre Quatro Paredes, em 1944, ainda com o país ocupado pelos nazistas.
A liberdade, então, era tudo o que os franceses consideravam distante.
Em linhas gerais, a concepção sartreana da liberdade assentava-se no 4pressuposto
de que o ser humano é a única criatura para quem a existência (existir) é anterior à essência
(ser). Quer dizer: o nosso destino não é 5______ pela natureza – muito menos, ele assinala,
pela “inteligência divina”. “O que significa dizer que a existência precede a essência?”,
pergunta. 6“Significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e
que só depois se define. O homem é não apenas como ele se concebe, mas como ele quer
que seja, como ele se concebe depois da existência, como ele se deseja após este impulso
para a existência.7” (Não, a psicanálise não orna muito bem com esse tipo de pensamento.)
O ser humano, 8frisa Sartre, define-se pelo que faz, o que ele projeta ser, por suas
escolhas. Daí em diante, é preciso falar em consequências – tanto dessa ideia 9basilar quanto
da própria liberdade 10avassaladora que ela anuncia. Em primeiro lugar, ela incorre no fato
de que cada um de nós é total e integralmente responsável não apenas por nossos atos, mas
também por aquilo que somos. O que se desdobra em outras e mais profundas
consequências.
Em um mundo sem Deus e sem natureza humana, o homem é plenamente
responsável não apenas por si, mas também por todos os homens. Diz Sartre, “Não há dos
nossos atos um sequer que, ao criar o homem que desejamos ser, não crie ao mesmo tempo
uma imagem do homem como julgamos que deve ser”.
Tratava-se, também, de rebater as acusações de que o existencialismo incitava as
pessoas ao “imobilismo”. Era bem o contrário: a ideia de que as escolhas individuais estavam
conectadas à escolha de uma imagem da humanidade seria fundamental para a ideia de
engajamento que 11marcaria toda a obra e a trajetória de Sartre.
Na vida pessoal, Sartre também personificou o exercício radical dessa liberdade
individual, com sua distinção entre amores “contingentes” e amores “necessários”. Ninguém
12
ignora, por exemplo, que a relação aberta com Simone de Beauvoir, mais a opção militante
de não ter filhos, era uma projeção de um 13ideário de humanidade que contribuiu em muito
para os fundamentos da contracultura e da revolução sexual. Mas eram escolhas que não
estavam isentas de impasses, contradições e até certa crueldade. Ninguém falou que seria
fácil.
A ideia de que a liberdade é um peso não foi inventada por Sartre – ela já tinha sido
enunciada 14______. Na formulação da ideia de livre-arbítrio, no século V, Santo Agostinho
deixou clara a responsabilidade que recai sobre o homem. Na política, o francês Étienne de
La Boétie havia, no século XVI, apontado o dedo para o conforto da “servidão voluntária”
como a razão da opressão dos Estados. Em Homem e Super-Homem (1903), Bernard Shaw já
tinha dito com todas as letras: “Liberdade significa responsabilidade. É por isso que tanta
gente tem medo dela.” Até o nosso senso comum 15(cristão) diz que é por aí mesmo.
Com Sartre e seu existencialismo16, entretanto, o 17______ é completo. A angústia da
responsabilidade é acompanhada do desamparo pelo peso adicional da ausência de Deus. E
do desespero: isto é, pela ausência de esperança do homem de que sua escolha é a correta.
Não há18, diz o filósofo, uma moral geral 19______ se guiar.
Pessimismo? Jean-Paul jura que fala de otimismo quando, ao aceitar que a vida não
tem sentido nenhum a priori, cabe a nós inventá-lo, pela ação. Em São Genet, Ator e Mártir
(1952), ensaio sobre a vida do escritor marginal Jean Genet, Sartre 20ilustrará esse modelo
existencialista. Foi nesse texto caudaloso, exagerado como era de hábito, que cunhou outra
frase que ficou famosa, síntese e legado para quem a condenação à liberdade significava
viver plenamente. “O importante”, escreveu, “não é aquilo que se fez do homem, mas aquilo
que ele faz daquilo que fizeram dele.”

Disponível em: http://bravo.vc/seasons/s05e01. Acesso em: 13 jul. 2021. (Adaptado.)

13 [ 204714 ]. A sinonímia mais aproximada, considerando o sentido de uso no texto, é


mantida pela substituição de
a) arcabouço (ref. 1) por envergadura.
b) pressuposto (ref. 4) por objetivo.
c) basilar (ref. 9) por fundamental.
d) avassaladora (ref. 10) por opressora.
e) ideário (ref. 13) por imaginário.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o ensaio “Império reverso”, de Eduardo Giannetti.
Império reverso – O filósofo grego Diógenes fez da autossuficiência e do controle das
paixões os valores centrais de sua vida: um casaco, uma mochila e uma cisterna de argila no
interior da qual pernoitava eram suas únicas posses. Intrigado com relatos sobre essa
estranha figura, o imperador Alexandre Magno resolveu conferir de perto. Foi até ele e
propôs: “Sou o homem mais poderoso do mundo, peça-me o que desejar e lhe atenderei.”
Diógenes [...] não titubeou: “O senhor teria a delicadeza de afastar-se um pouco? Sua
sombra está bloqueando o meu banho de sol.” O filósofo e o imperador são casos extremos,
mas ambos ilustram a tese socrática de que, entre os mortais, o mais próximo dos deuses
em felicidade é aquele que de menor número de coisas carece. Alexandre, ex-pupilo e
depois mecenas de Aristóteles, aprendeu a lição. Quando um cortesão zombou do morador
da cisterna por ter “desperdiçado” a oferta que lhe caíra do céu, o imperador rebateu: “Pois
saiba então você que, se eu não fosse Alexandre, eu teria desejado ser Diógenes.” Os
extremos se tocam. – “Querei só o que podeis”, pondera o padre Antônio Vieira, “e sereis
omnipotentes.”

(Eduardo Giannetti. Trópicos utópicos, 2016.)

14 [ 204776 ]. Depreende-se do ensaio uma crítica, sobretudo,


a) à insensibilidade.
b) à intemperança.
c) à passividade.
d) à volubilidade.
e) à intolerância.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o trecho inicial de uma crônica de Machado de Assis, publicada originalmente em
17.07.1892.

Um dia desta semana, farto de vendavais, naufrágios, boatos, mentiras, polêmicas,


farto de ver como se descompõem os homens, acionistas e diretores, importadores e
industriais, farto de mim, de ti, de todos, de um tumulto sem vida, de um silêncio sem
quietação, peguei de uma página de anúncios, e disse comigo:
– Eia, passemos em revista as procuras e ofertas, caixeiros desempregados, pianos,
magnésias, sabonetes, oficiais de barbeiro, casas para alugar, amas de leite, cobradores,
coqueluche, hipotecas, professores, tosses crônicas...
E o meu espírito, estendendo e juntando as mãos e os braços, como fazem os
nadadores, que caem do alto, mergulhou por uma coluna abaixo. Quando voltou à tona,
trazia entre os dedos esta pérola:
“Uma viúva interessante, distinta, de boa família e independente de meios, deseja
encontrar por esposo um homem de meia-idade, sério, instruído, e também com meios de
vida, que esteja como ela cansado de viver só; resposta por carta ao escritório desta folha,
com as iniciais M.R...., anunciando, a fim de ser procurada essa carta.”
Gentil viúva, eu não sou o homem que procuras, mas desejava ver-te, ou, quando
menos, possuir o teu retrato, porque tu não és qualquer pessoa, tu vales alguma coisa mais
que o comum das mulheres. Ai de quem está só! dizem as sagradas letras, mas não foi a
religião que te inspirou esse anúncio. Nem motivo teológico, nem metafísico. Positivo
também não, porque o positivismo é infenso às segundas núpcias. Que foi então, senão a
triste, longa e aborrecida experiência? Não queres amar; estás cansada de viver só.
E a cláusula de ser o esposo outro aborrecido, farto de solidão, mostra que tu não
queres enganar, nem sacrificar ninguém. Ficam desde já excluídos os sonhadores, os que
amem o mistério e procurem justamente esta ocasião de comprar um bilhete na loteria da
vida. Que não pedes um diálogo de amor, é claro, desde que impões a cláusula da meia-
idade, zona em que as paixões arrefecem, onde as flores vão perdendo a cor purpúrea e o
viço eterno. Não há de ser um náufrago, à espera de uma tábua de salvação, pois que exiges
que também possua. E há de ser instruído, para encher com as coisas do espírito as longas
noites do coração, e contar (sem as mãos presas) a tomada de Constantinopla.
Viúva dos meus pecados, quem és tu que sabes tanto? O teu anúncio lembra a carta
de certo capitão da guarda de Nero. Rico, interessante, aborrecido, como tu, escreveu um
dia ao grave Sêneca, perguntando-lhe como se havia de curar do tédio que sentia, e
explicava-se por figura: “Não é a tempestade que me aflige, é o enjoo do mar”. Viúva minha,
o que tu queres realmente, não é um marido, é um remédio contra o enjoo. Vês que a
travessia ainda é longa – porque a tua idade está entre trinta e dois e trinta e oito anos –, o
mar é agitado, o navio joga muito; precisas de um preparado para matar esse mal cruel e
indefinível. Não te contentas com o remédio de Sêneca, que era justamente a solidão, “a
vida retirada, em que a alma acha todo o seu sossego”. Tu já provaste esse preparado; não
te fez nada. Tentas outro; mas queres menos um companheiro que uma companhia.

(Machado de Assis. Crônicas escolhidas, 2013.)


15 [ 205782 ]. No sexto parágrafo, por “náufrago, à espera de uma tábua de salvação”
deve-se entender um homem
a) pobre.
b) preguiçoso.
c) religioso.
d) melancólico.
e) egoísta.
Gabarito:

Resposta da questão 1:
[A]

A expressão “ou melhor” retifica aquilo que foi dito anteriormente, apresentando, em
seguida, um jeito mais adequado de se dizer. Assim, o eu lírico retifica o uso da palavra
“pavio”, substituindo-a por “lamparina”.

Resposta da questão 2:
[D]

As opções [A], [B] e [C] apresentam conceitos expostos no texto como característicos do
homem cordial: esconde a sua verdadeira índole negativa, revela-se como pessoa hipócrita e
simula que tem algo de valor quando o que oferece é falsificado ou de qualidade duvidosa.
Assim, é correta a opção [D], pois, segundo o autor, as características negativas do homem
cordial prejudicam a sociedade e o exercício da democracia, ou seja, é tudo menos cão que
ladra e não morde.
Resposta da questão 3:
[A]

O texto define o “homem cordial” como um


ser desprovido de qualquer virtude ou
comportamento moral e ético. Assim, [A] é a
única opção que menciona três
características negativas de Marco Rossi
sobre o cidadão brasileiro, cujos valores
culturais já haviam sido considerados por
Sergio Buarque de Hollanda, em 1936, como
incompatíveis para o exercício da
democracia.

Resposta da questão 4:
[B]

A opção [B] atribui erradamente um sentido ao termo “pseudônimo”, nome não original e
usado com a intenção de ocultar o verdadeiro, diferente de apelido, também chamado de
cognome ou alcunha.
Resposta da questão 5:
[B]

As palavras "consoada" (título), "caroável" (v.2) e "sortilégios" (v.7) poderiam ser


substituídas, sem prejuízo de sentido e respectivamente, por ceia da noite de Natal, amável
ou afável e encantamentos ou feitiços. Assim, é correta a opção [B].

Resposta da questão 6:
[B]

Os termos "abúlico" (ref. 4) e "astuto" (ref. 6) têm semelhança semântica com “apático”
(com perda da vontade, sem iniciativa ou capacidade de escolher) e “esperto” (que percebe
e compreende as coisas com facilidade), como mencionado em [B].

Resposta da questão 7:
[A]

[II] Incorreta: na verdade, a palavra “flora” faz referência às próprias máquinas, indicando,
assim, que são belas como a flora.
[III] Incorreta: a palavra “estupenda” tem sentido de “admirável”, “incrível”, e não de
“abundante”.

Resposta da questão 8:
[A]

“ciciante” tem a ver com um som baixo, pouco perceptível, sendo similar à “sussurrante”,
“sibilante”, “discordante” e “dissonante”. “tonitruante”, por outro lado, tem sentido de algo
muito ruidoso, que faz muito barulho e, assim, tem sentido inverso da palavra “ciciante”.

Resposta da questão 9:
[C]
O verbo correr da frase do enunciado está empregado no sentido de transcorrer ou decorrer,
como na frase da opção [C]: “a manhã corria especialmente tranquila”.

Resposta da questão 10:


[E]

Se a estimulação de baixa frequência durante o sono melhora o aprendizado, é possível


deduzir que esse processo é produtivo, como transcrito em [E].

Resposta da questão 11:


[B]

Enquanto que, em um artigo científico, predomina a função de linguagem referencial através


de mensagem direta e objetiva, o artigo de divulgação científica tem como finalidade
principal “popularizar a ciência”, ou seja, difundir o conhecimento científico com uma
linguagem mais acessível ao leitor leigo. Assim, é correta a opção [B].

Resposta da questão 12:


[B]

A locução conjuntiva “de tal modo que” expressa noção de consequência relativamente à
oração principal, “A escrita faz parte de nossa civilização”, e o advérbio “sobretudo” enfatiza
a ideia exposta no último período, “não existe história que não se funde sobre textos”.
Assim, é correta a opção [B].

Resposta da questão 13:


[C]

[A] Incorreta: “arcabouço” tem sentido de teoria, concepção, referindo-se a toda a bagagem
teórica do existencialismo.
[B] Incorreta: “pressuposto” tem sentido de algo que é suposto antecipadamente, ou seja,
de onde se parte, e não com qual objetivo.
[D] Incorreta: algo “avassalador” é algo que chega com muita intensidade e que por vezes
pode ser opressora, mas, no caso do texto, não é esse o sentido mais adequado:
pretende-se dizer que é uma liberdade enorme, que pode abalar.
[E] Incorreta: “ideário”, no texto, refere-se às ideias de humanidade, a um conjunto de
pensamentos sobre a humanidade, e não a um imaginário ou fabulação.

Resposta da questão 14:


[B]

O texto apresenta um relato sobre a forma de vida de Diógenes que fez da pobreza extrema
uma virtude, buscando a autossuficiência através de uma vida natural que não dependesse
do supérfluo da civilização. Assim, o ensaio produz um efeito critico à falta de moderação, à
intemperança, como se afirma em [B].

Resposta da questão 15:


[A]

No excerto alegórico “Não há de ser um náufrago, à espera de uma tábua de salvação, pois
que exiges que também possua”, o termo “náufrago” funciona como metáfora de “pobre”,
indivíduo sem posses que veria no casamento uma possibilidade de ascender socialmente.
Assim, é correta a opção [A].

FIGURAS DE LINGUAGEM
1 [ 203080 ].
Tendo como objetivo aumentar o estoque de sangue do HEMORIO, a campanha publicitária
faz uso dos seguintes recursos linguísticos:
a) intertextualidade e prosopopeia.
b) ambiguidade e paradoxo.
c) neologia e polissíndeto.
d) ambiguidade e paronímia.
e) intertextualidade e polissemia.

2 [ 205786 ]. Examine o meme criado a partir de uma cena famosa do filme O sétimo selo,
do cineasta sueco Ingmar Bergman.
Para obter seu efeito de humor, o meme explora os recursos expressivos:
a) eufemismo e antítese.
b) personificação e ironia.
c) personificação e antítese.
d) hipérbole e ambiguidade.
e) eufemismo e ironia.

3 [ 204213 ]. Assinale a alternativa cuja classificação da figura de linguagem está incorreta.


a) Eis que era cristalina e vibrante, / Eis-me turvo e triste. (antítese)
b) A empregada enxuga as porcelanas cuidadosamente, pois não quer quebrar uma peça
sequer. (metonímia)
c) Fora da casa, só silêncio, um grande silêncio, e o vento ficou esperando, amarrado na
soleira da porta. (prosopopeia)
d) Juliano agora é funcionário da limpeza pública. Está muito feliz com o novo emprego na
Prefeitura de Lindópolis. (metáfora)

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Direito e avesso
Rachel de Queiroz

Conheci uma moça que escondia como um crime certa feia cicatriz de queimadura
que tinha no corpo. De pequena a mãe lhe ensinara a ocultar aquela marca de fogo e nem
sei que impulso de desabafo levou-a a me falar nela; e creio que logo se arrependeu, pois
me obrigou a jurar que jamais repetiria a alguém o seu segredo. Se agora o conto é porque a
moça é morta e a sua cicatriz já estará em nada, levada com o resto pelas águas de março,
que levam tudo.
Lembrou-me isso ao escutar outra moça, também vaidosa e bonita, que discorria
perante várias pessoas a respeito de uma deformação congênita que ela, moça, tem no
coração. Falava daquilo com mal disfarçado orgulho, como se ter coração defeituoso fosse
uma distinção aristocrática que se ganha de nascença e não está ao alcance de qualquer um.
E aí saí pensando em como as pessoas são estranhas. Qualquer deformação, por mais
mínima, sendo em parte visível do nosso corpo, a gente a combate, a disfarça, oculta como
um vício feio. Este senhor, por exemplo, que nos explica, abundantemente, ser vítima de
divertículos (excrescências em forma de apêndice que apareceram no seu duodeno), teria o
mesmo gosto em gabar-se da anomalia se em lugar dos divertículos tivesse lobinhos
pendurados no nariz? Nunca vi ninguém expor com orgulho a sua mão de seis dedos, a sua
orelha malformada; mas a má formação interna é marca de originalidade, que se descreve
aos outros com evidente orgulho.
Doença interna só se esconde por medo da morte – isto é, por medo de que, a
notícia se espalhando, chegue a morte mais depressa. Não sendo por isso, quem tem um
sopro no coração se gaba dele como de falar japonês.
Parece que o principal impedimento é o estético. Pois se todos gostam de se
distinguir da multidão, nem que seja por uma anomalia, fazem ao mesmo tempo questão de
que essa anomalia não seja visivelmente deformante. Ter o coração do lado direito é uma
glória, mas um braço menor que o outro é uma tragédia. Alguém com os dois olhos límpidos
pode gostar de épater uma roda de conversa, explicando que não enxerga coisíssima
nenhuma por um daqueles límpidos olhos, e permitira mesmo que os circunstantes curiosos
lhe examinem o olho cego e constatem de perto que realmente não se nota diferença
nenhuma com o olho são. Mas tivesse aquela pessoa o olho que não enxerga coalhado pela
gota-serena, jamais se referiria ao defeito em público; e, caso o fizesse, por excentricidade
de temperamento sarcástico ou masoquista, os circunstantes bem-educados se sentiriam na
obrigação de desviar a vista e mudar de assunto.
Mulheres discutem com prazer seus casos ginecológicos; uma diz abertamente que já
não tem um ovário, outra, que o médico lhe diagnosticou um útero infantil. Mas, se ela
tivesse um pé infantil, ou seios senis. será que os declararia com a mesma complacência?
Antigamente havia as doenças secretas, que só se nomeavam em segredo ou sob
pseudônimo. De um tísico, por exemplo, se dizia que estava “fraco do peito”; e talvez tal
reserva nascesse do medo do contágio, que todo mundo tinha. Mas dos malucos também se
dizia que “estavam nervosos” e do câncer ainda hoje se faz mistério – e nem câncer e nem
doidice pegam.
Não somos todos mesmo muito estranhos? Gostamos de ser diferentes – contanto
que a diferença não se veja. O bastante para chamar atenção, mas não tanto que pareça
feio.
Fonte: O melhor da crônica brasileira,1/ Ferreira Guillar... [et al.]. 5a ed. Rio de Janeiro: José
Olympio, 2007.

Vocabulário:
épater: impressionar

Com base no texto, responda.

4 [ 202291 ]. O eufemismo como figura de linguagem se encontra na opção:


a) [...] uma moça que escondia como um crime certa feia cicatriz de queimadura que tinha
no corpo.
b) Falava daquilo com mal disfarçado orgulho, como se ter coração defeituoso fosse uma
distinção aristocrática [...].
c) Este senhor, por exemplo, que nos explica, abundantemente, ser vítima de divertículos
(excrescências em forma de apêndice que apareceram no seu duodeno).
d) Não sendo por isso, quem tem um sopro no coração se gaba dele como de falar japonês.
e) De um tísico, por exemplo, se dizia que estava "fraco do peito"; e talvez tal reserva
nascesse do medo do contágio, que todo mundo tinha.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Meu ideal seria escrever...
Rubem Braga

Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que está
doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto que
chegasse a chorar e dissesse – "ai meu Deus, que história mais engraçada!". E então a
contasse para a cozinheira e telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; e
todos a quem ela contasse rissem muito e ficassem alegremente espantados de vê-la tão
alegre. Ah, que minha história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente,
vivo, em sua vida de moça reclusa, enlutada, doente. Que ela mesma ficasse admirada
ouvindo o próprio riso, e depois repetisse para si própria – "mas essa história é mesmo
muito engraçada!".
Que um casal que estivesse em casa mal-humorado, o marido bastante aborrecido
com a mulher, a mulher bastante irritada com o marido, que esse casal também fosse
atingido pela minha história. O marido a leria e começaria a rir, o que aumentaria a irritação
da mulher. Mas depois que esta, apesar de sua má vontade, tomasse conhecimento da
história, ela também risse muito, e ficassem os dois rindo sem poder olhar um para cara do
outro sem rir mais; e que um, ouvindo aquele riso do outro, se lembrasse do alegre tempo
de namoro, e reencontrassem os dois a alegria perdida de estarem juntos.
Que nas cadeias, nos hospitais, em todas as salas de espera a minha história chegasse
– e tão fascinante de graça, tão irresistível, tão colorida e tão pura que todos limpassem seu
coração com lágrimas de alegria; que o comissário do distrito, depois de ler minha história,
mandasse soltar aqueles bêbados e também aquelas pobres
mulheres colhidas na calçada e lhes dissesse – "por favor, se comportem, que diabo! Eu não
gosto de prender ninguém!" E que assim todos tratassem melhor seus empregados, seus
dependentes e seus semelhantes em alegre e espontânea homenagem à minha história.
E que ela aos poucos se espalhasse pelo mundo e fosse contada de mil maneiras, e
fosse atribuída a um persa, na Nigéria, a um australiano, em Dublin, a um japonês em
Chicago – mas que em todas as línguas ela guardasse a sua frescura, a sua pureza, o seu
encanto surpreendente; e que no fundo de uma aldeia da China, um chinês muito pobre,
muito sábio e muito velho dissesse: "Nunca ouvi uma história assim tão engraçada e tão boa
em toda a minha vida; valeu a pena ter vivido até hoje para ouvi-la; essa história não pode
ter sido inventada por nenhum homem, foi com certeza algum anjo tagarela que a contou
aos ouvidos de um santo que dormia, e que ele pensou que já estivesse morto; sim, deve ser
uma história do céu que se filtrou por acaso até nosso
conhecimento; é divina."
E quando todos me perguntassem – "mas de onde é que você tirou essa história?" –
eu responderia que ela não é minha, que eu a ouvi por acaso na rua, de um desconhecido
que a contava a outro desconhecido, e que por sinal começara a contar assim: "Ontem ouvi
um sujeito contar uma história..."
E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu inventei toda a minha
história em um só segundo, quando pensei na tristeza daquela moça que está doente, que
sempre está doente e sempre está de luto e sozinha naquela pequena casa cinzenta de meu
bairro.

Fonte: As cem melhores crônicas brasileiras/ Joaquim Ferreira dos Santos, organização e
introdução. - Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.
Com base no texto, responda às questões que se seguem.

5 [ 202303 ]. O cronista emprega a linguagem conotativa em vários momentos da narrativa.


Assinale a alternativa em que isso NÃO ocorre.
a) [...] que todos limpassem seu coração com lágrimas de alegria [...].
b) [...] que esse casal também fosse atingido pela minha história [...].
c) – mas que em todas as línguas ela guardasse a sua frescura [...].
d) [...] um chinês muito pobre, muito sábio e muito velho dissesse [...].
e) Ah, que minha história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente, vivo, em
sua vida de moça reclusa, enlutada, doente.

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:


Fernando Pessoa (1888-1935) foi um dos mais importantes poetas da literatura portuguesa.
Criou uma obra de natureza filosófica sobre a consciência e as suas mais profundas
inquietações existenciais. Expressou uma personalidade estética multifacetada por meio dos
heterônimos, os quais consistiam em várias identidades que detinham biografia e
características psicológicas distintas: Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Bernardo Soares e Álvaro
de Campos, um engenheiro naval, a quem se deve a “Ode triunfal”. Esse heterônimo
apresenta uma personalidade estética marcada pelas concepções futuristas e pela intenção
de assimilar ao eu lírico a realidade exterior, considerada em suas manifestações mais
prosaicas, ao mesmo tempo em que aquele se projeta no mundo.

ODE TRIUNFAL

1
À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, 2fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.

3
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria 4fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
5
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!

Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical –


Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força –
Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro,
Porque o presente é todo o passado e todo o futuro
6
E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das luzes eléctricas
Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão,
E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinquenta,
Átomos que hão-de ir ter febre para o cérebro do Ésquilo do século cem,
7
Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos e por estes volantes,
Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando,
Fazendo-me um acesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma.

Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!


8
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
9
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões
10
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!

Fraternidade com todas as dinâmicas!


Promíscua fúria de ser parte-agente
Do rodar férreo e cosmopolita
Dos comboios estrênuos,
Da faina transportadora-de-cargas dos navios,
Do giro lúbrico e lento dos guindastes,
Do tumulto disciplinado das fábricas,
E do quase-silêncio 11ciciante e monótono das correias de transmissão!

12
Horas europeias, produtoras, entaladas
Entre maquinismos e afazeres úteis!
Grandes cidades paradas nos cafés,
Nos cafés – oásis de inutilidades ruidosas
Onde se cristalizam e se precipitam
13
Os rumores e os gestos do 14Útil
E as rodas, e as rodas-dentadas e as chumaceiras do 15Progressivo!
16
Nova Minerva sem-alma dos cais e das gares!
Novos entusiasmos de estatura do Momento!

PESSOA, Fernando. Poesias de Álvaro de Campos. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993), p. 144
(texto adaptado).

6 [ 203393 ]. Considere o excerto abaixo do texto:

“À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica


Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.” (ref. 1)

I. Nos versos acima, constata-se a utilização recorrente da figura de linguagem do quiasmo,


no intuito de enfatizar sentidos e de obter assonâncias.
II. No verso “À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica...” o poeta se refere
aos procedimentos usados para elaborar seus versos.
III. O vocábulo “fera” (ref. 2) é um substantivo que exprime a ideia de eficiência e excelência
no desempenho de uma atividade.

Está(ão) correta(s) a(s) assertiva(s):


a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) I e III, apenas.

7 [ 203394 ]. Considere o excerto abaixo do texto:

“Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!


Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!” (ref. 3)

À luz da gramática normativa, considere as seguintes afirmações:

I. No trecho “Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!”, são usadas a antonomásia e a


onomatopeia, para sugerir a ideia de uma comunicação do eu lírico com as máquinas.
II. O vocábulo “fora (ref. 4) é uma expressão modificadora que denota uma circunstância de
lugar.
III. Os pontos de exclamação são empregados com a finalidade de exprimir o estado
emocional de surpresa do poeta.

Está(ão) correta(s) a(s) assertiva(s):


a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) II e III, apenas.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Lima Barreto (1881-1922) viveu em um período de intensas transformações sociais no País,
marcado pela abolição da escravatura (1888), advento da ordem republicana (1889) e
urbanização crescente. Filho de pais negros (o pai era tipógrafo e a mãe, professora), Lima
Barreto abordou principalmente os temas e os personagens típicos dos subúrbios cariocas,
cruzando os limites da realidade e da ficção. Nessa perspectiva, o conto A nova Califórnia,
publicado em 1916, faz uma alusão à Corrida do ouro, nos Estados Unidos, da primeira
metade do século XIX, para condenar ironicamente a ganância e a busca do enriquecimento
fácil.

Sinopse do conto
Raimundo Flamel, um químico, chega à pequena cidade de Tubiacanga, no Rio de Janeiro.
Anos depois, ele encontra uma fórmula secreta capaz de transformar ossos humanos em
ouro, o que transformaria profundamente a cidade, até então, ordeira e tranquila. Depois de
revelar a sua descoberta, Flamel some misteriosamente. A partir daí, o cemitério é
profanado, ocorrendo vários roubos de cadáveres.

A NOVA CALIFÓRNIA

Ninguém sabia donde viera aquele homem. O agente do Correio pudera apenas
informar que acudia ao nome de Raimundo Flamel, pois assim era subscrita a
correspondência que recebia. E era grande. Quase diariamente, o carteiro lá ia a um dos
extremos da cidade, onde morava o desconhecido, sopesando um maço alentado de cartas
vindas do mundo inteiro, grossas revistas em línguas arrevesadas, livros, pacotes...
Quando Fabrício, o pedreiro, voltou de um serviço em casa do novo habitante, todos
na venda perguntaram-lhe que trabalho lhe tinha sido determinado.
– Vou fazer um forno, disse o preto, na sala de jantar.
Imaginem o espanto da pequena cidade de Tubiacanga, ao saber de tão extravagante
construção: um forno na sala de jantar! E, pelos dias seguintes, Fabrício pôde contar que vira
balões de vidros, facas sem corte, copos como os da farmácia – um rol de coisas esquisitas a
se mostrarem pelas mesas e prateleiras como utensílios de uma bateria de cozinha em que o
próprio diabo cozinhasse. O alarme se fez na vila. Para uns, os mais adiantados, era um
fabricante de moeda falsa; para outros, os crentes e simples, um tipo que tinha parte com o
tinhoso.
Chico da Tirana, o carreiro, quando passava em frente da casa do homem misterioso,
ao lado do carro a chiar, e olhava a chaminé da sala de jantar a fumegar, não deixava de
persignar-se e rezar um “credo” em voz baixa; e, não fora a intervenção do farmacêutico, o
subdelegado teria ido dar um cerco à casa daquele indivíduo suspeito, que inquietava a
imaginação de toda uma população.
Tomando em consideração as informações de Fabrício, o boticário Bastos concluíra
que o desconhecido devia ser um sábio, um grande químico, refugiado ali para mais
sossegadamente levar avante os seus trabalhos científicos.
Homem formado e respeitado na cidade, vereador, médico também, porque o
doutor Jerônimo não gostava de receitar e se fizera sócio da farmácia para mais em paz
viver, a opinião de Bastos levou tranquilidade a todas as consciências e fez com que a
população cercasse de uma silenciosa admiração a pessoa do grande químico, que viera
habitar a cidade.
De tarde, se o viam a passear pela margem do Tubiacanga, sentando-se aqui e ali,
olhando perdidamente as águas claras do riacho, cismando diante da penetrante melancolia
do crepúsculo, todos se descobriam e não era raro que às “boas noites” acrescentassem
“doutor”. E tocava muito o coração daquela gente a profunda simpatia com que ele tratava
as crianças, a maneira pela qual as contemplava, parecendo apiedar-se de que elas tivessem
nascido para sofrer e morrer.
Na verdade, era de ver-se, sob a doçura suave da tarde, a bondade de Messias com
que ele afagava aquelas crianças pretas, tão lisas de pele e tão tristes de modos,
mergulhadas no seu cativeiro moral, e também as brancas, de pele baça, gretada e áspera,
vivendo amparadas na necessária caquexia dos trópicos.
Por vezes, vinha-lhe vontade de pensar qual a razão de ter Bernardin de Saint-Pierre
gasto toda a sua ternura com Paulo e Virgínia e esquecer-se dos escravos que os cercavam...
Em poucos dias a admiração pelo sábio era quase geral, e não o era unicamente
porque havia alguém que não tinha em grande conta os méritos do novo habitante. Capitão
Pelino, mestre-escola e redator da Gazeta de Tubiacanga, órgão local e filiado ao partido
situacionista, embirrava com o sábio. “Vocês hão de ver, dizia ele, quem é esse tipo... Um
caloteiro, um aventureiro ou talvez um ladrão fugido do Rio.”
A sua opinião em nada se baseava, ou antes, baseava-se no seu oculto despeito
vendo na terra um rival para a fama de sábio de que gozava. Não que Pelino fosse químico,
longe disso; mas era sábio, era gramático. Ninguém escrevia em Tubiacanga que não levasse
bordoada do capitão Pelino, e mesmo quando se falava em algum homem notável lá no Rio,
ele não deixava de dizer: “Não há dúvida! O homem tem talento, mas escreve: ‘um outro’,
‘de resto’...”. E contraía os lábios como se tivesse engolido alguma coisa amarga.
Toda a vila de Tubiacanga acostumou-se a respeitar o solene Pelino, que corrigia e
emendava as maiores glórias nacionais. Um sábio...
1
Ao entardecer, depois de ler um pouco o Sotero, o Cândido de Figueiredo ou o
Castro Lopes, e de ter passado mais uma vez a tintura nos cabelos, o velho mestre-escola
saía vagarosamente de casa, muito abotoado no seu paletó de brim mineiro, e encaminhava-
se para a botica do Bastos a dar dois dedos de prosa. 2Conversar é um modo de dizer,
porque era Pelino avaro de palavras, limitando-se tão somente a ouvir. Quando, porém, dos
lábios de alguém escapava a menor incorreção de linguagem, intervinha e emendava. “Eu
asseguro, dizia o agente do Correio, que...” Por aí, o mestre-escola intervinha com
mansuetude evangélica: “Não diga ‘asseguro’, senhor Bernardes; em português é garanto”.
E a conversa continuava depois da emenda, para ser de novo interrompida por uma
outra. Por essas e outras, houve muitos palestradores que se afastaram, mas Pelino,
indiferente, seguro dos seus deveres, continuava o seu apostolado de vernaculismo. A
chegada do sábio veio distraí-lo um pouco da sua missão. Todo o seu esforço voltava-se
agora para combater aquele rival, que surgia tão inopinadamente.
Foram vãs as suas palavras e a sua eloquência: não só Raimundo Flamel pagava em
dia as suas contas, como era generoso – pai da pobreza – e o farmacêutico vira numa revista
de específicos seu nome citado como químico de valor.

BARRETO, Lima. A nova Califórnia e outros contos. São Paulo: Unesp, 2012, p. 11-23 (texto
adaptado).

8 [ 203402 ]. Entre os recursos semânticos utilizados no texto para a obtenção de


diferentes efeitos de sentidos, assinale a opção correta relacionada à classificação da figura
de linguagem encontrada no trecho abaixo:

“[...] Ao entardecer, depois de ler um pouco o Sotero”. (ref. 1)

a) anáfora
b) metonímia
c) paronomásia
d) metáfora
e) personificação

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o artigo intitulado “Tempus fugit”, de Hélio Schwartsman.

Depois de nos privar de Plutão, que teve sua planetariedade cassada em 2006,
cientistas agora ameaçam bagunçar o tempo.
Pretendem eliminar os segundos bissextos ocasionalmente introduzidos no
calendário para fazer com que o tempo dos relógios atômicos (oficialmente, 1 segundo
equivale a 9.192.631.770 ciclos de radiação emitidos pelo césio-133) não se divorcie de vez
do tempo astronômico, em que o segundo vale 1/86.400 do dia.
Até os anos 60, a astronomia era a guardiã absoluta do tempo, mas aí descobrimos
que o planeta é pouco pontual: a velocidade da rotação terrestre atrasa um número variável
de milissegundos a cada ano.
Se os segundos corretivos forem de fato eliminados [...], o tempo se tornará mais
abstrato. Não dirá mais respeito à noite, ao dia, às estações e aos anos.
Os cientistas, é claro, têm suas razões. O problema é que nossos corações são
insensíveis a elas. O tempo encerra uma dimensão psicológica à qual não podemos escapar.
Nas “Confissões”, santo Agostinho vislumbrou o tamanho da encrenca: “Se nada
sobreviesse, não haveria tempo futuro, e se agora nada houvesse, não existiria o tempo
presente. De que modo existem aqueles dois tempos – o passado e o futuro –, se o passado
já não existe e o futuro ainda não veio? Quanto ao presente, se fosse sempre presente, e
não passasse
para o pretérito, já não seria tempo, mas eternidade.”
Não é por acaso que, além de Agostinho, vários filósofos se apressaram a concluir
que o tempo não passa de uma ilusão. Mesmo que ele seja uma realidade ontológica, como
querem os físicos, continua despertando perplexidades e até paixões.
Nem toda ciência, filosofia e poesia do mundo nos fazem deixar de lamentar o
passado e temer o futuro. Quem traduziu bem esse sentimento foi Virgílio: “Sed fugit
interea, fugit irreparabile tempus” (mas ele foge: foge irreparavelmente o tempo).

(Folha de S.Paulo, 20.01.2012.)

9 [ 203475 ]. No texto, está empregado em sentido figurado o seguinte termo:


a) “descobrimos” (3º parágrafo)
b) “divorcie” (2º parágrafo)
c) “eliminar” (2º parágrafo)
d) “atrasa” (3º parágrafo)
e) “encerra” (5º parágrafo)

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia a crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada originalmente em 1902.

Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já tardava. O Rio de Janeiro não pode
passar muito tempo sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre para nos impelir
ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já se não adormecem as crianças com histórias de fadas
e de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de cinquenta anos, este era um povo de
beatos [...]. [...] Os tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco dessa primitiva
credulidade. Inventar um fantasma é ainda um magnífico recurso para quem quer levar a
bom termo qualquer grossa patifaria. As almas simples vão propagando o terror, e, sob a
capa e a salvaguarda desse temor, os patifes vão rejubilando.
O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi. Começou a surgir vagamente, sem
espalhafato, pelo pacato bairro – como um fantasma de grande e louvável modéstia. E tão
esbatido1 passava o seu vulto na treva, tão sutilmente deslizava ao longo das casas
adormecidas – que as primeiras pessoas que o viram não puderam em consciência dizer se
era duende macho ou duende fêmea. [...] O fantasma não falava – naturalmente por saber
de longa data que pela boca é que morrem os peixes e os fantasmas... Também, ninguém
lhe falava – não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode um homem ter nascido
num século de luzes e de descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos estafados
seios da Revolução Francesa, e não acreditar nem em Deus nem no Diabo – e, apesar disso,
sentir a voz presa na garganta, quando encontra na rua, a desoras2, uma avantesma3...
Assim, um profundo mistério cercava a existência do lobisomem de Catumbi –
quando começaram de aparecer vestígios assinalados de sua passagem, não já pelas ruas,
mas pelo interior das casas. Não vades agora crer que se tenham sumido, por exemplo, as
hóstias consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados do cemitério de S.
Francisco de Paula tenham achado alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai de
família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela falta... da própria alma. Nada disso. Os
fenômenos eram outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela outra as galinhas,
daquela outra as joias... E a polícia, finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem,
para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe, andava acumulando novos pecados
sobre os pecados antigos, e dando-se à prática de excessos menos merecedores de
exorcismos que de cadeia.
Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente munida de bentinhos5 e de
revólveres, de amuletos e de sabres, assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um jornal,
dando conta da diligência, disse que o delegado achou dentro da casa sinistra – um velho
pardieiro6 que fica no topo de uma ladeira íngreme – alguns objetos singulares que pareciam
instrumentos “pertencentes a gatunos”. E acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam
espavoridos, tentando apagar as velas acesas que os sitiantes7 empunhavam”.
Esta nota de morcegos deve ser um chique romântico do noticiarista. No fundo da
alma de todo o repórter há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos, que correm, já
nem há morcegos. Esses feios quirópteros, esses medonhos ratos alados, companheiros
clássicos do terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de Catumbi. Os animais,
que esvoaçavam espavoridos, eram sem dúvida os frangões roubados aos quintais das
casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu tempo passou.

(Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.)

1
esbatido: de tom pálido.
2
a desoras: muito tarde.
3
avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro.
4
folha: periódico diário, jornal.
5
bentinho: objeto de devoção contendo orações escritas.
6
pardieiro: prédio velho ou arruinado.
7
sitiante: policial.

10 [ 203878 ]. Em “o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe,


andava acumulando novos pecados sobre os pecados antigos, e dando-se à prática de
excessos menos merecedores de exorcismos que de cadeia” (3º parágrafo), o trecho
sublinhado constitui um exemplo de
a) sinestesia.
b) paradoxo.
c) pleonasmo.
d) hipérbole.
e) eufemismo.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o trecho inicial da crônica “Está aberta a sessão do júri”, de Graciliano Ramos, publicada
originalmente em 1943.

O Dr. França, Juiz de Direito numa cidadezinha sertaneja, andava em meio século,
tinha gravidade imensa, verbo escasso, bigodes, colarinhos, sapatos e ideias de pontas muito
finas. Vestia-se ordinariamente de preto, exigia que todos na justiça procedessem da mesma
forma – e chegou a mandar retirar-se do Tribunal um jurado inconveniente, de roupa clara,
ordenar-lhe que voltasse razoável e fúnebre, para não prejudicar a decência do veredicto.
Não via, não sorria. Quando parava numa esquina, as cavaqueiras dos vadios
gelavam. Ao afastar-se, mexia as pernas matematicamente, os passos mediam setenta
centímetros, exatos, apesar de barrocas1 e degraus. A espinha não se curvava, embora
descesse ladeiras, as mãos e os braços executavam os movimentos indispensáveis, as duas
rugas horizontais da testa não se aprofundavam nem se desfaziam.
Na sua biblioteca digna e sábia, volumes bojudos, tratados majestosos, severos na
encadernação negra semelhante à do proprietário, empertigavam-se – e nenhum ousava
deitar-se, inclinar-se, quebrar o alinhamento rigoroso.
Dr. França levantava-se às sete horas e recolhia-se à meia-noite, fizesse frio ou calor,
almoçava ao meio-dia e jantava às cinco, ouvia missa aos domingos, comungava de seis em
seis meses, pagava o aluguel da casa no dia 30 ou no dia 31, entendia-se com a mulher,
parcimonioso, na linguagem usada nas sentenças, linguagem arrevesada e arcaica das
ordenações. Nunca julgou oportuno modificar esses hábitos salutares.
Não amou nem odiou. Contudo exaltou a virtude, emanação das existências calmas,
e condenou o crime, infeliz consequência da paixão.
Se atentássemos nas palavras emitidas por via oral, poderíamos afirmar que o Dr.
França não pensava. Vistos os autos, etc., perceberíamos entretanto que ele pensava com
alguma frequência. Apenas o pensamento de Dr. França não seguia a marcha dos
pensamentos comuns. Operava, se não nos enganamos, deste modo: “considerando isto,
considerando isso, considerando aquilo, considerando ainda mais isto, considerando porém
aquilo, concluo.” Tudo se formulava em obediência às regras – e era impossível qualquer
desvio.
Dr. França possuía um espírito, sem dúvida, espírito redigido com circunlóquios,
dividido em capítulos, títulos, artigos e parágrafos. E o que se distanciava desses parágrafos,
artigos, títulos e capítulos não o comovia, porque Dr. França está livre dos tormentos da
imaginação.

(Graciliano Ramos. Viventes das Alagoas, 1976.)


1
barroca: monte de terra ou de barro.

11 [ 203980 ]. O cronista recorre à personificação no seguinte trecho:


a) “Na sua biblioteca digna e sábia, volumes bojudos, tratados majestosos, severos na
encadernação negra semelhante à do proprietário, empertigavam-se – e nenhum ousava
deitar-se, inclinar-se, quebrar o alinhamento rigoroso.” (3º parágrafo)
b) “A espinha não se curvava, embora descesse ladeiras, as mãos e os braços executavam os
movimentos indispensáveis, as duas rugas horizontais da testa não se aprofundavam nem
se desfaziam.” (2º parágrafo)
c) “Ao afastar-se, mexia as pernas matematicamente, os passos mediam setenta
centímetros, exatos, apesar de barrocas e degraus.” (2º parágrafo)
d) “E o que se distanciava desses parágrafos, artigos, títulos e capítulos não o comovia,
porque Dr. França está livre dos tormentos da imaginação.” (7º parágrafo)
e) “Vestia-se ordinariamente de preto, exigia que todos na justiça procedessem da mesma
forma – e chegou a mandar retirar-se do Tribunal um jurado inconveniente, de roupa
clara, ordenar-lhe que voltasse razoável e fúnebre, para não prejudicar a decência do
veredicto.” (1º parágrafo)

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o poema “Cristais”, de Cruz e Sousa.

Cristais

Mais claro e fino do que as finas pratas


O som da tua voz deliciava...
Na dolência velada das sonatas
Como um perfume a tudo perfumava.

Era um som feito luz, eram volatas


Em lânguida espiral que iluminava,
Brancas sonoridades de cascatas...
Tanta harmonia melancolizava.
Filtros sutis de melodias, de ondas
De cantos voluptuosos como rondas
De silfos leves, sensuais, lascivos...

Como que anseios invisíveis, mudos,


Da brancura das sedas e veludos,
Das virgindades, dos pudores vivos.

(Obra completa: poesia, 2008.)

12 [ 204509 ]. No poema, o autor faz uso, sobretudo,


a) da sinestesia.
b) da ironia.
c) da hipérbole.
d) do paradoxo.
e) do eufemismo.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia a crônica “Caso de justiceiro”, de Carlos Drummond de Andrade.

Mercadinho é imagem de confusão organizada. Todos comprando tudo ao mesmo


tempo em corredores estreitos, carrinhos e pirâmides de coisas se comprimindo,
apalpamento, cheiração e análise visual de gêneros pelas madamas, e, a dominar o vozerio,
o metralhar contínuo das registradoras. Um olho invisível, múltiplo e implacável, controla os
menores movimentos da freguesia, devassa o mistério de bolsas e bolsos, quem sabe se até
o pensamento. Parece o caos; contudo nada escapa à fiscalização. Aquela velhinha
estrangeira, por exemplo, foi desmascarada.
– A senhora não pagou a dúzia de ovos quebrados.
– Paguei.
Antes que o leitor suponha ter a velhinha quebrado uma dúzia de ovos, explico que
eles estão à venda assim mesmo, trincados. Por isso são mais baratos, e muita gente os
prefere; casca é embalagem. A senhora ia pagar a dúzia de ovos perfeitos, comprada depois;
mas e os quebrados, que ela comprara antes?
A velhinha se zanga e xinga em ótimo português-carioca o rapaz da caixa. O qual lhe
responde boas, no mesmo idioma, frisando que gringo nenhum viria lá de sua terra da peste
para dar prejuízo no Brasil, que ele estava ali para defender nosso torrão contra piratas da
estranja. A mulher, fula de indignação, foi perdendo a voz. Caixeiros acorreram, tomando
posição em defesa da pátria ultrajada na pessoa do colega; entre eles, alguns portugueses. A
freguesia fez bolo. O mercadinho parou.
Eis que irrompe o tarzã de calção de banho ainda rorejante e berra para o caixa:
– Para com isso, que eu não conheço essa dona mas vê-se pela cara que é distinta.
– Distinta? Roubou cem cruzeiros à casa e insultou a gente feito uma danada.
– Roubou coisa nenhuma, e o que ela disse de você eu não ouvi mas subscrevo. O
que você é, é um calhorda e quer fazer média com o patrão à custa de uma pobre mulher.
O outro ia revidar à altura, mas o tarzã não era de cinema, era de verdade, o que
aliás não escapou à percepção de nenhum dos presentes. De modo que enquanto uns
socorriam a velhinha, que desmaiava, outros passavam a apoiá-la moralmente, querendo
arrebentar aquela joça. O partido nacionalista acoelhou-se. Foram tratando de cerrar as
portas, para evitar a repetição de Caxias. Quem estava lá dentro que morresse de calor;
enquanto não viessem a radiopatrulha e a ambulância, a questão dos ovos ficava em
suspenso.
– Ah, é? – disse o vingador. – Pois eu pago os cem cruzeiros pelos ovos mas você tem
de engolir a nota.
Tirou-a do bolso do calção, fez uma bolinha, puxou para baixo, com dedos de ferro, o
queixo do caixa, e meteu-lhe o dinheiro na boca.
Assistência deslumbrada, em silêncio admiracional. Não é todos os dias que se vê
engolir dinheiro. O caixa começou a mastigar, branco, nauseado, engasgado.
Uma voz veio do setor de ovos:
– Ela não roubou mesmo não! Olha o dinheiro embaixo do pacote!
Outras vozes se altearam: “Engole mais os outros cem!” “Os ovos também!” “Salafra”
“Isso!” “Aquilo!”.
A onda era tamanha que o tarzã, instrumento da justiça divina, teve de restabelecer
o equilíbrio.
– Espera aí. Este aqui já pagou. Agora vocês é que vão engolir tudo, se maltratarem
este rapaz.
(Carlos Drummond de Andrade. Cadeira de balanço, 2020.)

13 [ 205167 ]. Observa-se um paradoxo entre os termos que compõem a seguinte


expressão:
a) “assistência deslumbrada” (13º parágrafo)
b) “pátria ultrajada” (5º parágrafo)
c) “olho invisível” (1º parágrafo)
d) “análise visual” (1º parágrafo)
e) “confusão organizada” (1º parágrafo)

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


O LEGADO FEMININO NAS OLIMPÍADAS DE TÓQUIO

Definitivamente, as mulheres deixaram sua marca nas Olimpíadas de Tóquio, que se


encerram neste domingo. Elas se destacaram desde a abertura dos Jogos, com a escolha da
japonesa Naomi Osaka, uma tenista negra, para acender a pira olímpica, em uma edição
com participação recorde de atletas femininas: 48,8% do total.
1
Essas atletas, das mais diferentes nacionalidades, não só encantaram o mundo com
suas conquistas históricas e quebras de recordes, como também jogaram luz sobre as
discriminações, preconceitos e o sexismo ao qual ainda hoje muitas delas são submetidas,
seja no esporte ou em tantas outras áreas.

2
GAROTAS DOURADAS
As atletas brasileiras, em especial, voltam para a casa podendo comemorar o maior
número de pódios em uma única edição dos jogos, desde que a nadadora Maria Lenk entrou
para a história nacional como a 1ª mulher brasileira a participar de uma Olimpíada em 1932.
Uma trajetória que começou com a dança da nossa ‘Fadinha do Skate’? A
maranhense Rayssa Leal, de apenas 13 anos de idade, a mais jovem atleta brasileira a subir
no pódio olímpico até hoje. Garantiu a prata no ‘skate street’, uma das novas modalidades
olímpicas que fizeram sua estreia em Tóquio.
Em seguida, veio Rebeca Andrade, 1ª ginasta brasileira a ganhar uma medalha
olímpica. Na verdade, ela fez história em dose dupla: com 1 medalha de ouro no salto e
outra prata no individual geral. O que lhe garantiu o merecido convite para ser a porta-
bandeira do Brasil no encerramento dos Jogos de Tóquio.
Como ficar indiferente ao ouro olímpico de Ana Marcela Cunha na maratona aquática
ou da dupla Martine Grael e Kahena Kunze, amigas de infância e, agora, bicampeãs olímpicas
na classe 49er FX da vela?
Cabe ainda uma reverência à seleção feminina de vôlei, que conseguiu chegar à final,
a despeito do baque sofrido com a perda de uma de suas principais jogadoras, flagrada em
exame antidoping na reta final da disputa. Aplausos também à garra de Beatriz Ferreira na
busca de um ouro inédito para o boxe feminino.
3
Medalhistas essas que ajudaram o Brasil a ter, em Tóquio, o seu melhor
desempenho em Olimpíadas, superando as 19 conquistadas no Rio de Janeiro em 2016.
Das 21 medalhas trazidas na bagagem de volta para casa, 9 foram conquistadas por
elas, refletindo o equilíbrio entre homens e mulheres na composição da delegação brasileira
que desembarcou este ano no Japão.

MUITO ALÉM DA PARIDADE


Mas a pauta levantada pelas atletas femininas desta edição olímpica foi muito além
da bem-vinda paridade de gênero, que será adotada a partir dos Jogos de Paris em 2024.
A ginasta norte-americana Simone Biles, por exemplo, chegou ao Japão em busca de um
recorde de 6 medalhas de ouro, o que a tornaria a atleta olímpica mais bem-sucedida de
todos os tempos. Acabou voltando para os Estados Unidos com uma prata e um bronze, o
suficiente para se consagrar como a mulher negra mais vitoriosa da história olímpica da
ginástica artística.
Fora da arena olímpica, Biles ainda deflagrou o debate mundial sobre a saúde mental
de atletas de alto rendimento. Isso, após ela abandonar parte das provas que disputaria e
expor publicamente que estava lidando com twisties, uma espécie de bloqueio mental que
desorienta atletas em movimentos que desafiam a gravidade.

PROTESTO CONTRA O SEXISMO


Já a equipe de ginastas da Alemanha marcou posição com a opção das atletas de usar
macacões até o tornozelo em vez dos tradicionais collants, em protesto contra a
sexualização da ginástica artística feminina.
4
Um posicionamento político que reforça a discussão aberta, durante o último
campeonato europeu de handebol, sobre como o sexismo se reflete no controle dos
uniformes de atletas. Na ocasião, a equipe feminina da Noruega foi multada em 1,5 mil
euros ao trocar o biquíni pelo short, permitido apenas para homens, na modalidade de
praia.
MÃES OLÍMPICAS
A meio-fundista queniana Faith Kipyegon foi outra a fazer história em Tóquio, ao
vencer a prova dos 1.500 metros feminino e bater o recorde olímpico que resistia desde os
Jogos de Seul, em 1988. E de quebra, ainda deu uma resposta dourada àqueles que ela se
afastou por 1 ano das pistas, em 2017, para ser mãe.
Um enredo parecido com o enfrentado por Allyson Felix, que conquistou sua 10ª
medalha em Tóquio e se igualou a Carl Lewis como a maior medalhista olímpica do atletismo
dos Estados Unidos. Ela já havia ultrapassado a marca do ex-velocista jamaicano Usain Bolt,
em 2019, e se tornado a maior medalhista da história em Campeonatos Mundiais, apenas 10
meses após o nascimento da filha.
Aliás, quando engravidou da filha, Felix indignou-se quando seus patrocinadores
propuseram a redução de 70% dos seus ganhos. Não só expôs publicamente a discriminação
contra atletas grávidas e mães, como liderou uma campanha nos Estados Unidos, que
aboliram contratos deste tipo no país. Fica assim a lição dessas maravilhosas mulheres
olímpicas, que nos remetem a imagens incríveis como a protagonizada pela atleta holandesa
Sifan Hassan, que caiu, se levantou e venceu uma eliminatória para a prova dos 1.500 m do
atletismo feminino.

VASCONCELOS, ADRIANA. O LEGADO FEMININO NAS OLIMPÍADAS DE TÓQUIO. Disponível


em https://www.poder360.com.br/opiniao/olimpiada/o-legado-feminino-nas-olimpiadas-
de-toquio-escreve-adriana-vasconcelos. Acesso em 16 de agosto de 2021. (Texto adaptado.)

14 [ 205590 ]. Na expressão “GAROTAS DOURADAS” (ref. 2), a palavra destacada é exemplo


de
a) hipérbole.
b) catacrese.
c) sinestesia.
d) metáfora.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o soneto de Luís de Camões.

A fermosura desta fresca serra


e a sombra dos verdes castanheiros,
o manso caminhar destes ribeiros,
donde toda a tristeza se desterra;

o rouco som do mar, a estranha1 terra,


o esconder do sol pelos outeiros2,
o recolher dos gados derradeiros,
das nuvens pelo ar a branda guerra;

enfim, tudo o que a rara natureza


com tanta variedade nos of’rece,
me está, se não te vejo, magoando.

Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;


sem ti, perpetuamente estou passando,
nas mores alegrias, mor tristeza.

(Luís de Camões. Sonetos, 2001.)

1
estranha: rara, que não é comum, que não é vulgar.
2
outeiros: montes.

15 [ 205793 ]. O eu lírico recorre a uma expressão paradoxal no verso:


a) “donde toda a tristeza se desterra;” (1ª estrofe)
b) “Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;” (4ª estrofe)
c) “A fermosura desta fresca serra” (1ª estrofe)
d) “o esconder do sol pelos outeiros,” (2ª estrofe)
e) “das nuvens pelo ar a branda guerra;” (2ª estrofe)
Gabarito:

Resposta da questão 1:
[E]

A campanha publicitária faz uso da intertextualidade com a conhecida marchinha de


Carnaval “Ó abre alas que eu quero passar”, de Chiquinha Gonzaga, e da multiplicidade de
sentidos da expressão “sangue bom”, que tanto pode aludir ao líquido corporal que circula
nas veias e artérias como designar, em gíria carioca, uma pessoa legal, que tem
um bom coração. Assim, é correta a opção [E].

Resposta da questão 2:
[B]

A representação da morte como ser humano e a resposta debochada que dá ao homem que
lhe perguntava se estava ali por causa dele (trad. - “Não, por causa das plantas que estão no
interior da sua casa”) revela que o meme explora os recursos expressivos da personificação e
da ironia, como transcrito em [B].

Resposta da questão 3:
[D]

A metáfora é caracterizada por uma comparação implícita entre dois elementos. No trecho
em [D], não vemos nenhuma metáfora, vemos apenas a caracterização de Juliano como
funcionário da limpeza pública e a apresentação de seu estado de felicidade com o novo
emprego.

Resposta da questão 4:
[E]

Ao substituir a palavra “tísico” por “fraco do peito” na frase transcrita em [E], o autor vale-se
de um eufemismo, figura de linguagem que usa termos mais agradáveis para suavizar uma
expressão. Assim, é correta a opção [E]..

Resposta da questão 5:
[D]

As expressões “limpassem seu coração com lágrimas”, “fosse atingido”, “guardasse a sua
frescura” e “como um raio de sol” das opções [A], [B], [C] e [E] apresentam valor conotativo,
o que não ocorre em [D].

Resposta da questão 6:
[A]

[I] Correta: o quiasmo é construído a partir da repetição e inversão de estruturas (formadas


por palavras). Assim, repete-se a mesma estrutura de uma frase em outra, alterando
apenas a ordem. É isso que se observa, por exemplo, com o trecho “para a beleza disto”,
que aparece no final do 3º verso e, em seguida, no início do 4º, constituindo um quiasmo.
[II] Incorreta: na verdade, o eu lírico apenas caracteriza as circunstâncias de sua escrita, sem
se referir a procedimentos usados na elaboração de seus versos.
[III] Incorreta: na verdade, a palavra “fera” tem sentido de ferocidade, sensação motivada
pelas máquinas que serão descritas ao longo do poema e que têm a mesma postura
“feroz” e “selvagem” do eu lírico na sua escrita.

Resposta da questão 7:
[B]

[I] Incorreta: há a figura da onomatopeia em “r-r-r-r-r-r”, mas não há a figura da


antonomásia no trecho.
[III] Incorreta: os pontos de exclamação são utilizados para indicar a admiração e
encantamento do eu lírico.

Resposta da questão 8:
[B]

No trecho, vemos uma metonímia, figura de linguagem caracterizada pela substituição de


um termo por outro a partir de uma relação de contiguidade. No caso, temos a substituição
da obra lida pela figura do autor. Em “depois de ler um pouco o Sotero”, a obra é substituída
pelo seu autor “Sotero”.
Resposta da questão 9:
[B]

A palavra “divorcie” está no sentido figurado, já que seu sentido literal seria “separação de
um casal” e, no texto, ela é usada apenas com o sentido de separação: “com que o tempo
dos relógios atômicos [...] não se divorcie de vez do tempo astronômico”. Ou seja, foi feita
uma analogia entre o divórcio de um casal e a separação do tempo dos relógios e o tempo
astronômico, como se a ligação entre esses dois tempos formasse, antes, um casal, uma
dupla indissociável.

Resposta da questão 10:


[E]

É correta a opção [E], pois, ao caracterizar os furtos de um ladrão como excessos


merecedores de cadeia, o cronista faz uso de um eufemismo, figura de linguagem que
emprega termos mais agradáveis para suavizar uma expressão.

Resposta da questão 11:


[A]

Em [A], vemos o uso da personificação em “biblioteca digna e sábia” e em “tratados


majestosos, severos”, já que aos objetos (biblioteca e tratados) são atribuídas características
humanas (digno, sábio, majestoso e severo).

Resposta da questão 12:


[A]

A sinestesia é uma figura de linguagem caracterizada pela mistura de diferentes sensações.


Assim, vemos que o autor faz uso da sinestesia na construção de diversas imagens poéticas,
como, por exemplo, “Era um som feito luz” e “Brancas sonoridades de cascatas”. Nelas,
vemos uma mistura entre os sentidos auditivo e visual.

Resposta da questão 13:


[E]
A expressão “confusão organizada”, transcrita em [E], configura um paradoxo, raciocínio
aparentemente lógico, mas que contém contradições em sua estrutura, pois a significação
semântica de “confusão” se opõe ao conceito de organização.

Resposta da questão 14:


[D]

Na expressão, vemos uma comparação implícita, já que as garotas não são de fato douradas
e sim comparáveis ao ouro que recebem pelo seu sucesso e performance nos esportes.
Dessa forma, temos uma metáfora.

Resposta da questão 15:


[E]

A expressão “branda guerra” no verso da opção [E] constitui um paradoxo, figura de


pensamento que contraria os princípios lógicos que costumam orientar o pensamento
humano.
PONTUAÇÃO
LEITURA – INTERPRETAÇÃO
FIGURAS DE LIGUAGEM

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