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Intoxicação por metais pesados

1. Introdução
• Metais são elementos químicos eletropositivos,
sólidos, brilhantes e bons condutores de calor e
eletricidade.
1. Introdução
• O uso de metais representou um grande avanço
tecnológico para a humanidade

http://pt.wikipedia.org/wiki/Idade_dos_Metais
http://www.historiadetudo.com/ida de-metais-2.jpg
1. Introdução

• Atualmente usados para a confecção de tintas,


baterias secas e automotivas, praguicidas e
antifúngicos.
• Eletrônicos: Nos EUA 2 milhões de toneladas
de lixo eletrônico por ano
• Apresentam alta reatividade com outros
grupamentos químicos, baixa taxa de excreção
e capacidade de acumularem-se no
organismo.
http://www.detoxificationforthebody.com/2013/02/24/recogniz ing- heavy-metal-poisoining-symptoms/heavy-metal-sources/
O boto-cinza ingere animais
que já têm no organismo
acúmulo de mercúrio

Boto-cinza mostra a concentração de mercúrio na costa fluminense, reportagem


publicada no jornal Correio do Brasil em 19 de maio de 2009.
• Principal fonte de exposição é pela via oral (ingestão de
água e alimentos contaminados).

- Ocorrência de intoxicação por metais pesados em


animais está também relacionada à presença de metais
pesados em produtos veterinários (medicamentos, ração
com fungicidas)
Intoxicação pelo chumbo

http://www.oldjunk.co.uk/product_image.php?imageid=679
Intoxicação por chumbo
• Metal mais antigo usado pelo homem
• Roma antiga: chumbo era usado para a construção
de aquedutos, fundição de moedas, e para conferir
sabor adocicado ao vinho, intoxicando as pessoas
que o bebiam (saturnismo).

http://1.bp.blogspot.com
Produtos chineses – casos 2007

Image courtesy Scott Olson/Getty Images


A Mattel recolheu milhões de brinquedos feitos na China por
causa da tinta à base de chumbo, inclusive este cão que foi
vendido junto com conjuntos da Barbie

http://saude.hsw.uol.com.br/chumbo-toxico- china .htm


Intoxicação por chumbo
• Animais se intoxicam ao
lamber as paredes da baia
pintadas com tinta a base de
chumbo ou ao lamber baterias
automotivas que, após seu
uso, são abandonadas em
propriedades.
Intoxicação por chumbo
Toxicocinética
Absorção
• ocorre por todas as vias, embora a principal seja a oral.

Fatores que interferem na absorção


Estado físico e químico do metal
- Chumbo metálico e sua forma sulfídica são pouco
absorvidos
- Solubilidade do sal ingerido (sais de acetato e fosfato
são mais facilmente absorvidos pelo TGI).
Intoxicação por chumbo
Toxicocinética
Fatores que interferem na absorção
Idade dos animais
• Animais mais jovens absorvem maiores quantidades
de chumbo que os adultos.

• Em humanos adultos, 5 a 15% do chumbo ingerido é


absorvido no TGI, enquanto nas crianças essa
absorção pode ultrapassar os 50%
Intoxicação por chumbo
Toxicocinética
Fatores que interferem na absorção
Deficiências nutricionais
• Deficiência de cálcio na dieta pode aumentar a
absorção de chumbo no TGI.

• Cálcio e chumbo competem entre si para serem


absorvidos pelo TGI, de maneira que a diminuição de
Ca+2 na dieta favorece a absorção do chumbo.
Intoxicação por chumbo
Toxicocinética
Distribuição
• Hemácias (90%)

• Ossos (chumbo pode se acumular e ser liberado


gradativamente para a corrente sanguínea,
provocando uma reintoxicação).

• Tecidos moles (cérebro, rins e fígado)


Intoxicação por chumbo
Toxicocinética
Distribuição
• Chumbo atravessa com facilidade a barreira cérebro-
sangue, principalmente em animais jovens, e a
barreira placentária, causando teratogênese no feto.

Excreção
• Fezes, urina e outros fluidos orgânicos, como o leite.
Intoxicação por chumbo
Toxicodinâmica
• efeitos tóxicos do Pb+2 surgem principalmente nos
eritrócitos e no SNC.
• Liga-se de forma estável a grupamentos tiólicos
presentes em moléculas orgânicas (glutationa e
enzimas dependentes de zinco e cálcio, causando sua
inativação)
Eritrócitos

• diminuição da meia-vida dos eritrócitos deve-


se ao aumento da fragilidade mecânica das
membranas celulares, provocando a sua
ruptura precoce.
• O Pb+2 substitui o zinco na porção ativa da
enzima ácido delta-aminolevulínico
desidrogenase, inibindo-a, promovendo uma
diminuição da síntese de hemoglobina.
ALA -sintetase ALA –
desidrogenase

Ferroquelatase

Coproporfirinogê
nio
–oxidase

ALA – ÁCIDO DELTA AMINOLEVULÍNICO


http://ars.els-cdn.com/content/image/1-s2.0-S0048969704001950-gr1.gif
Intoxicação por chumbo
Toxicodinâmica
SNC
v íons Pb+2 ligam-se aos grupos sulfidrila (S-H) das
proteínas, interferindo com a formação da mielina.

v interfere com a neurotransmissão de acetilcolina,


dopamina, GABA e glutamato.
Intoxicação por chumbo
Toxicodinâmica
v íons Pb+2, ao competirem com o cálcio (componente
crítico de numerosas funções bioquímicas e
metabólicas), alteram várias funções cálcio-dependentes:

- bloqueia a entrada de cálcio para os terminais nervosos.

- inibe a Na+/ K+ -ATP-ase e Na+/ Ca+2- ATP-ase, afetando o


transporte pela membrana e inibindo a fosforilação
oxidativa mitocondrial.
Sinais clínicos

Intoxicação aguda
• Predominam
sintomatologia de
origem neurológica e
gástrica.
Sinais clínicos

Bovinos
• sintomas neurológicos: dificuldade de se manter em
estação, hiperestesia, cegueira parcial ou total,
nistagmo, opistótono, comportamento agressivo e
convulsões.
• Sintomas do TGI: salivação excessiva, atonia ruminal,
diarréia com fezes enegrecidas e fétidas.
Sinais clínicos

Equinos

ü Dispnéia, regurgitação e sufocação devido à


paralisia do nervo laringeo recorrente, anorexia, dor
abdominal, paralisia dos membros pélvicos e
torácicos, depressão e crises convulsivas.
Animais de companhia

• Sintomas neurológicos: apatia, ataxia, nistagmo,


opistótono e cegueira (alguns casos).

• Alterações no TGI: vômitos, anorexia, dor abdominal,


diarréia.

• Gatos podem apresentar ainda poliúria/polidipsia,


megaesôfago e disfagia.
Sinais clínicos de intoxicação crônica

• Ocorre raramente, quando o animal ingere água


contaminada por indústrias que eliminaram resíduos
de chumbo em reservatórios de água.

• Sintomas em bezerros: diminuição do crescimento,


isolamento e agressividade.

• Sintomas em ovinos: paralisia dos membros


posteriores e imunossupressão.
Achados de necrópsia

• Achados no SNC: edema, achatamento dos giros


cerebrais, congestão, petéquias e coloração
amarelada do córtex.

• TGI de ruminantes: presença de pedaços de chumbo


no retículo.

• Lesões micro do SNC: necrose neuronal,


degeneração de células de Purkinje, proliferação de
astrócitos e desmielinização de nervos periféricos.
Diagnóstico
• Anamnese detalhada, com histórico da evolução da
sintomatologia associada a presença de chumbo na
propriedade.
• Exames laboratoriais podem indicar a detecção de
chumbo nas fezes, urina, leite e principalmente
sangue.
• Avaliação da concentração do ácido delta
aminolevulínico (δ-ALA) na urina.
Linhas de deposição

http://manbir-online.com/diseases/lead.htm
Intoxicação por mercúrio

http://www.detoxificationforthebody.com/2013/02/24/recogniz ing- heavy-metal-poisoining-symptoms/madhatter/


http://24.media.tumblr.com/tumblr_m6t83iQqpr 1rptw4do1_500.jpg
Intoxicação por mercúrio
A doença de Minamata

Crianças com
Síndrome de
Minamata congênita
devido à exposição
intrauterina ao metil
mercúrio
Intoxicação por mercúrio

• Baía de Minamata, Japão, 1956: gatos começaram a


apresentar distúrbios neurológicos caracterizados por
tremores musculares, ataxia, alterações visuais, crises
convulsivas e mortes.

• Algum tempo depois, habitantes deste local começaram


a apresentar sintomas semelhantes.
Intoxicação por mercúrio

• Concluiu-se, posteriormente, que o agente causador


desta patologia era a presença de altas concentrações
de metilmercúrio nas águas da baía de Minamata,
oriunda de uma indústria produtora de acetoaldeído.

• Este evento foi um dos piores desastres ambientais


provocados por metais pesados, tanto para o meio
ambiente quanto para a espécie humana.
Intoxicação por mercúrio

A doença de Minamata
• É uma doença neurológica causada pela ingestão de
altas quantidades de peixes e frutos do mar
contaminados por metilmercúrio.

• Esta doença matou mais de 1400 pessoas e


contaminou mais de 20.000, além de muitos
indivíduos que expostos durante a vida uterina
desenvolveram teratogênese e doenças
neurológicas.
Características químicas do mercúrio

• Único metal que, em temperatura ambiente, apresenta-


se na forma líquida, tem sido usado para a fabricação de
termômetros e, nos garimpos, para separar o ouro.

• Pode ser encontrado na forma de compostos


organomercuriais, como o metilmercúrio, para a
fabricação de ácido acético, cloro e soda.
Toxicocinética

Absorção
• Depende do estado físico e químico do metal.

Mercúrio metálico
- Pouco absorvido pelo TGI
- Como possui alto ponto de ebulição, é usado por
garimpeiros para isolar o ouro, que se dá por meio
da formação de amálgama resultante da ligação do
ouro com o mercúrio.
Toxicocinética
Processo de queima do
amálgama de ouro e
mercúrio

• o amálgama é depois aquecido, o que permite a


evaporação do mercúrio e o isolamento do ouro.

• O vapor de mercúrio é prontamente absorvido pela


via pulmonar.
Toxicocinética

Sais de mercúrio e compostos organomercuriais


• Sais de Hg são pouco lipossolúveis e pouco
absorvidos pelo TGI (taxa de absorção de 2 a 10%).

• Estes sais podem, se inalados, ser rapidamente


absorvidos pelos alvéolos pulmonares.

• Compostos organomercuriais são altamente


lipossolúveis e são rapidamente absorvidos pelas
vias pulmonar, oral e cutânea.
Toxicocinética

Distribuição
• Compostos altamente lipossolúveis são
transportados por hemácias e proteínas plasmáticas
e atingem o SNC rapidamente.

• Os rins podem também pode acumular mercúrio,


principalmente os compostos mercuriais inorgânicos
presentes na forma Hg+2.

• Outros tecidos: pelo e cabelo.


Toxicocinética

Distribuição
• Atravessam com facilidade a barreira placentária,
distribuindo-se para todo o organismo fetal,
causando teratogênese.

• Como o mercúrio não é excretado pelo feto, ele


acaba se acumulando em altas concentrações,
provocando lesões no SNC.
Metabolização e excreção

• biotransformação hepática

• Excreção via renal e biliar

• Metilmercúrio passa por ciclo entero-hepático


Toxicodinâmica

• Liga-se covalentemente aos grupos sulfidrila das


diferentes enzimas celulares e nas mitocôndrias, o
que leva à interrupção do metabolismo e da função
celular.

• inativa várias enzimas, proteínas estruturais ou


processos de transporte e altera a permeabilidade
da membrana celular.
Sinais clínicos

Intoxicação aguda
• Sintomas respiratórios: dispnéia, tosse seca, febre,
podendo evoluir para pneumonite intersticial,
atelectasia, bronquiolite necrosante e hemorragia
pulmonar com epistaxe e edema pulmonar.

• Alterações digestivas: vômito e diarréia.


Sinais clínicos
Intoxicação aguda
• Alterações neurológicas: alterações visuais, de
tremores de membros, olhos, boca e língua, que vão
progredindo para todo o corpo.

• Sintomas de intoxicação em filhotes: alterações do


TGI devido à natureza corrosiva destes compostos,
promovendo sialorréia, náusea, hematemese e
diarréia sanguinolenta.
Sinais clínicos
Intoxicação crônica

• Compostos organomercuriais são os mais perigosos,


pois podem ser encontrados nas fontes de água de
bebida ou em grãos contaminados por fungicidas ou
outros herbicidas mercuriais de uso ilegal.
Sinais clínicos
Intoxicação crônica
• Sintomas estão relacionados às alterações do SNC e
dos rins.
- Sintomas neurológicos: ataxia, tremores de cabeça,
seguido por cegueira, surdez, irritabilidade,
depressão e crises convulsivas.

- Sintomas renais: proteinúria que pode evoluir para


insuficiência renal crônica.

- Pode ocorrer imunossupressão.


Achados de necrópsia

• Exposição a sais de mercúrio por via oral: presença


de maciças áreas de necrose nas mucosas esofágica e
gástrica.

• Exposição crônica aos organomercuriais: presença de


degeneração neural e axonal de nervos periféricos e
necrose do epitélio dos túbulos contorcidos
proximais.
Achados de necrópsia

• Fetos abortados: alterações significativas do


SNC, como aumento do tamanho dos
ventrículos e do cerebelo.

• Na microscopia óptica, pode-se verificar a


hipoplasia da camada granular do cerebelo.
Diagnóstico

• Baseia-se no histórico e na observação da evolução da


sintomatologia, da presença de fontes contaminantes
próximas à água de beber e da qualidade dos grãos
oferecidos aos animais.

• Exames laboratorias para detectar a presença de


mercúrio no sangue ou urina.

• A amostra de sangue deve estar heparinizada, para evitar


a hemólise, enquanto que a urina deve estar a uma
temperatura de 4° C, para evitar volatilização do
mercúrio em temperatura ambiente.
Arsênio

• Conhecido desde os tempos da


Grécia Antiga, o termo arsênio quer
dizer pigmento dourado.

• Foi usado como medicamento para


os mais diversos tratamentos, como
dermatites, estomatites e sífilis.

• É um semimetal, pois possui


características químicas de não-
metais e propriedades físicas de
metais.
Toxicocinética

• Absorção: via TGI

• Biotransformação: reação de metilação no fígado, com a


formação de compostos menos tóxicos, como o
monometil arsênio e o dimetil arsênio.

• Excreção: rins (principal), bile e leite

• Intoxicação crônica: As pode se acumular no fígado, rins,


pulmões, coração, musculatura esquelética e SNC.
Toxicodinâmica
• As formas tóxicas de arsênio são o As+3 e o As+5 ( As+3
mais tóxico do que o As+5).

• As+3 liga-se covalentemente a enzimas sulfidrílicas,


entre elas a piruvato-desidrogenase, inibindo a
síntese de acetil-CoA e de ATP.

• As+5 compete com o fosfato em várias reações


químicas, como a fosforilação oxidativa, diminuindo
a síntese do ATP.
Toxicodinâmica

• Arsênio pode promover a formação de


espécies reativas de oxigênio, afetando o DNA,
favorecendo o aparecimento de neoplasias
Sinais clínicos
Intoxicação aguda
• Sintomas no TGI: vômitos (com exceção de equinos e
ruminantes), diarréia sanguinolenta, desidratação, dor
abdominal, anorexia e perda de peso.

• Sintomas neurológicos: neuropatia periférica, alterações


nervosas e crises convulsivas.

• Sintoma cardíaco: arritmias

• Exame de sangue: anemia normocrômica e normocítica e


leucopenia.
Intoxicação crônica
• Intoxicação ocorre através da ingestão
de água contaminada.
• sinais: perda de peso, anemia,
hiperqueratose e hiperpigmentação,
arritmias, neuropatias periféricas e
alterações neurológicas.
Neuropatia periférica
Achados de necrópsia

Intoxicação aguda
• Lesões macro: irritação e edema da mucosa do TGI,
com presença de vesiculações e edemas e, às vezes,
hepatomegalia.

• Lesões micro: lesões axonais, com perda de mielina


nos nervos periféricos e proliferação de células de
Schwann
Intoxicação crônica

• Lesões macro: ascite e esteatose hepática

• Lesões micro: necrose centrolobular e cirrose


hepática, alterações histológicas em nervos
periféricos, vasculite e depressão da medula
óssea.
Diagnóstico

• como os sintomas da intoxicação são inespecíficos, é


necessário realizar exames laboratoriais para
detectar a presença de arsênio no sangue, urina e
pelo de animais suspeitos.
Tratamento
• Primeira providência: estabilizar os sinais vitais,
realizando um tratamento de suporte.

• No caso da via de exposição ser a oral, deve-se realizar a


lavagem gástrica ou o uso de catárticos, para diminuir a
absorção do toxicante e acelerar a sua eliminação.

• A seguir, recomenda-se o uso de quelantes, que, ao se


ligarem ao toxicante, impedem a ligação da molécula do
toxicante às enzimas do organismo e aumentam a sua
excreção.
Tratamento
http://www.medicalinsider.com/images/mercurycartoon.jpg

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