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Cuidado farmacêutico
em doenças endócrinas
MÓDULO 1
Semiologia e fisiologia
endócrina e
fisiopatologia/farmacoterapia
dos distúrbios da tireoide
Autores:
Mariana Martins Gonzaga do Nascimento
Este estudo dirigido tem como objetivo apontar aquilo que é mais relevante entre os conhecimentos
sobre a Semiologia e fisiologia endócrina e fisiopatologia/farmacoterapia dos distúrbios da tireoide e
seu manejo enquanto farmacêutico clínico. Por isso, ao final desse módulo, após assistir a aula,
proceder com a leitura da presente apostila e das leituras complementares, você deverá ser capaz de
responder as questões a seguir:
1) Quais são as glândulas e tecidos que contituem o sistema endócrino? Quais as suas funções e
hormônios correspondentes?
2) Quais são os principais sinais e sintomas relacionados às doenças endócrinas?
3) Explique a fisiologia do hormônio da tireoide.
4) O que é o hipotireoidismo? Descreva as suas causas, sinais e sintomas.
5) Quais são as perguntas que devem ser feitas ao paciente com suspeita de hipotireoidismo?
6) O que é o hipertireoidismo? Descreva as suas causas, sinais e sintomas.
7) E a tireotoxicose, o que é? Quais as diferenças e semelhanças entre ela e o hipertireoidismo?
8) Quais são as perguntas que devem ser feitas ao paciente com suspeita de hipertireoidismo?
9) Qual a farmacoterapia de escolha para hipotireoidismo? Quais são os parâmetros de
efetividade e de segurança que devem ser observados e monitorados durante o tratamento?
10) Orientações para o paciente sobre uso correto da levotiroxina são importantes para
tratamento adequado do hipotereoidismo. Quais são essas?
11) Quais os principais medicamentos usados na farmacoterapia do hipertireoidismo?
12) Em relação ao hipertireoidismo, além da farmacoterapia, quais outros tratamentos estão
disponíveis? Quais são as suas vantagens e desvantagens?
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Durante o curso, disciplinas essenciais para o cuidado ao paciente estarão entrelaçadas no conteúdo,
destacando-se: a semiologia, a fisiologia, a patologia e a farmacoterapia. Iniciamos o presente
módulo pela abordagem da semiologia.
Semiologia é a ciência geral dos signos ou sinais. Estuda todos os fenômenos culturais como se
fossem sistemas de signos (ex.: imagens, gestos, vestuários, ritos, etc.) e propõe sistemas de
significação. A semiologia clínica, por sua vez, é o estudo do conjunto de sinais e sintomas com a
finalidade de se realizar o diagnóstico ou diagnósticos clínicos. Neste âmbito é importante destacar
as diferenças entre sinais e sintomas:
A semiologia clínica é aplicada durante a anamnese, que é a entrevista clínica que visa a obtenção de
informações pertinentes às condições que levaram o paciente a procurar o atendimento, de forma
organizada e reprodutível. Em nosso âmbito, a anamnese farmacêutica, seria o procedimento de
coleta de dados sobre o paciente, realizada pelo farmacêutico por meio de entrevista, com a
finalidade de conhecer sua história de saúde, elaborar o perfil farmacoterapêutico e identificar suas
necessidades relacionadas à saúde.
A anamnese farmacêutica deve se iniciar com o devido acolhimento do paciente, que, alinhado com
sua percepção interdisciplinar, seria um processo construtivo que implica na responsabilização do
trabalhador e da equipe pelo paciente, desde sua chegada até a sua saída do estabelecimento de
saúde. O destaque proposital da palavra “responsabilização”, tem como objetivo estabelecer que o
farmacêutico, assim como a equipe, é responsável pelo paciente, sua vida e suas necessidades em
saúde. O farmacêutico deve, então, ouvir a queixa do paciente, considerar suas preocupações e
angústias, utilizando escuta qualificada que possibilite analisar a demanda, colocar os limites
necessários, garantir atenção integral, resolutiva e responsável.
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3 O PROCESSO DE EXAME CLÍNICO
O exame clínico deve seguir algumas etapas essenciais, conforme detalhado na figura a seguir, que
devem ser desenvolvidas conforme a habilidade individual:
Exame setorial
e avaliação de
sinais e Identificação
sintomas
específicos
Avaliação de
sinais e Avaliação da
sintomas gerais queixa principal
e exame geral
Avaliação do
Avaliação da
histórico
história da
pessoal e
moléstia atual
familiar
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procedência: cidade ou local de onde está vindo no momento ou nos últimos meses e
anos;
naturalidade: local aonde nasceu;
residência: local aonde reside;
profissão e ocupação: pode sinalizar situações de risco no ambiente de trabalho;
perfil socioeconômico: permite identificação e avaliação de vulnerabilidades e
determinantes sociais em saúde.
A queixa principal (QP) é o motivo que leva o paciente à consulta, seja por demanda espontânea ou
encaminhamento. Geralmente, ela orienta a atenção ao sistema acometido e deve prover um
registro curto por parte do farmacêutico, usando, se possível, as palavras do próprio paciente
(registrado com a sigla “SIC”, que representa “segundo informações colhidas” ou, do latim SICUT
”exatamente dessa forma”). Na avaliação da QP, deve-se proceder com a avaliação dos seguintes
fatores descritos na figura a seguir:
A caracterização do sinal ou sintoma referido na QP (ex.: dor, tosse) variará de acordo com o que é
esperado para tal na literatura, e, mais uma vez, dependerá dos conhecimentos semiológicos e
clínicos prévios do farmacêutico. Tais dados detalhados deverão ser colhidos e relatados em texto
um pouco mais extenso para a história da moléstia atual (HMA), também denominada história da
doença atual (HDA), que deve trazer a descrição da evolução da queixa principal, com apresentação
de dados acerca de como e quando a queixa e sinas/sintomas associados se iniciaram, como
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variaram ao longo do tempo, sua característica, intensidade, agravantes e sinais e sintomas
associados.
Na avaliação da história médica pregressa (HMP), história familiar (HF) e história pessoal e social
(HPS), deve-se avaliar e documentar todos os problemas de saúde e todos os medicamentos
utilizados. Além disso, alguns fatores devem sempre ser questionados como: estado de gestação,
hábitos de vida, histórico de cirurgias e histórico familiar de doenças. Para doenças cardiovasculares,
o histórico familiar, principalmente de primeiro grau, com hipertensão, diabetes ou histórico de
doenças coronarianas, aneurisma ou acidente vascular cerebral (AVC) são especialmente relevantes.
Alguns sinais e sintomas gerais devem sempre ser avaliados em todos os pacientes nos quais
procede-se com o exame clínico. Destacamos alguns deles:
avaliação da presença e histórico de febre;
presença de sudorese e calafrios;
alterações no apetite;
presença de fraqueza e fadiga;
presença de tristeza e ansiedade;
padrão de sono.
O exame geral quantitativo e qualitativo permite a avaliação de sinais e sintomas gerais
inespecíficos, mas relevantes para caracterização do quadro clínico. Alguns parâmetros serão
abordados na seção de sinais e sintomas relacionados ao sistema cardiovasculares neste módulo e
também nos módulos a seguir.
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4 FISIOLOGIA, SINAIS E SINTOMAS RELACIONADOS AO SISTEMA ENDÓCRINO
O sistema endócrino é constituído por inúmeras glândulas, tecidos e órgãos que regulam múltiplas
funções do organismo por meio da produção e secreção de mensageiros químicos. Esses
mensageiros são classificados em vários tipos distintos: neurotransmissores, hormônios endócrinos,
neuroendócrinos e citocinas. Os hormônios são liberados pelas glândulas ou células especializadas,
distribuídos na corrente sanguínea e se ligam aos receptores das células alvo. Alguns hormônios
afetam muitos tipos diferentes de células, como o hormônio do crescimento (GH); enquanto que
outros são tecido-específicos como o hormônio adrenocorticotrópico (ACTH), que estimula
especificamente o córtex adrenal, fazendo com que ele secrete hormônios adrenocorticais.
A secreção e duração da ação dos hormônios varia enormemente entre eles. Alguns, como a
epinefrina, são secretados e exercem sua ação em segundos. Outros, como a tiroxina (T4) e o GH,
terão seu efeito máximo após meses da sua secreção.
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Quadro 1 - Glândulas endócrinas, hormônios e suas funções
Glândula/
Hormônios Principais funções
tecido
Estimula a secreção de hormônio liberador de tireotropina e
Hormônio liberador de tireotropina
prolactina.
Hormônio liberador de corticotropina Causa liberação de hormônio adrenocorticotrópico.
Hormônio liberador do hormônio do
Causa liberação do hormônio do crescimento.
crescimento
Hipotálamo
Hormônio inibidor do hormônio do
Inibe a liberação do hormônio do crescimento.
crescimento (somatostatina)
Causa liberação de hormônio luteinizante e hormônio folículo-
Hormônio liberador de gonadotropinas
estimulante.
Dopamina ou fator inibidor da prolactina Inibe a liberação de prolactina.
Estimula a síntese proteica e o crescimento global da maioria
Hormônio do crescimento
das células e tecidos.
Estimula a síntese e a secreção dos hormônios da tireoide
Hormônio liberador de tireotropina
(tiroxina e tri-iodotironina).
Estimula a síntese e a secreção de hormônios adrenocorticais
Hormônio adrenocorticotrópico
(cortisol, androgênios e aldosterona).
Hipófise
Promove o desenvolvimento das mamas femininas e a secreção
anterior Prolactina
de leite.
Causa crescimento de folículos nos ovários e maturação de
Hormônio folículoestimulante
espermatozoides nas células de Sertoli dos testículos.
Estimula a síntese de testosterona nas células de Leydig dos
Hormônio luteinizante testículos; estimula a ovulação, a formação de corpo lúteo e a
síntese de estrogênio e progesterona nos ovários.
Aumenta a reabsorção de água pelos rins e causa
Hipófise Hormônio antidiurético
vasoconstrição e aumento da pressão arterial.
posterior
Ocitocina Estimula a ejeção de leite das mamas e contrações uterinas.
Aumentam as taxas de reações químicas na maioria das células,
Tiroxina (T4) e triiodotironina (T3)
elevando, assim, a taxa metabólica corporal.
Tireoide
Promove a deposição de cálcio nos ossos e diminui a
Calcitonina
concentração do íon cálcio do líquido extracelular.
Tem múltiplas funções metabólicas para o controle do
Cortisol metabolismo de proteínas, carboidratos e gorduras; também
Córtex
tem efeitos anti-inflamatórios.
adrenal
Aumenta a reabsorção de sódio renal, a secreção de potássio e
Aldosterona
a secreção do íon hidrogênio.
Medula
Norepinefrina, epinefrina Mesmos efeitos que a estimulação simpática.
adrenal
Promove a entrada de glicose em muitas células, controlando o
Insulina (células β)
metabolismo dos carboidratos.
Pâncreas
Aumenta a síntese e a liberação de glicose do fígado para os
Glucagon (células α)
líquidos corporais.
Controla a concentração do íon cálcio no soro por aumento da
Paratireoide Paratormônio absorção de cálcio pelo intestino e pelos rins e liberação de
cálcio dos ossos.
Promovem o desenvolvimento do sistema reprodutor
Testículos Testosterona
masculino e as características sexuais secundárias masculinas.
Promovem o crescimento e o desenvolvimento do sistema
Estrógenos reprodutor feminino, das mamas femininas e das características
sexuais secundárias femininas.
Ovários
Estimula a secreção de “leite uterino” pelas glândulas
Progesterona endometriais uterinas e promove desenvolvimento do aparelho
secretor das mamas.
Fonte: adaptado de Hall (2017).
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Os hormônios podem também ser classificados por sua estrutura química em:
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5 ANATOMIA E FISIOLOGIA DA TIREOIDE
A glândula tireoide é uma estrutura única, com forma semelhante à da letra “H” ou a uma borboleta,
uma vez que é constituída por dois lobos laterais unidos por uma estreita porção de tecido,
denominada istmo. A tireoide se situa na base do pescoço, imediatamente abaixo da laringe e
anterior à traqueia (cada lobo lateral ocupa um dos lados da traqueia). O lobo piramidal, um
pequeno prolongamento na parte superior da tireoide, pode estar ausente. Em condições normais,
embora se encontre em um nível muito superficial, a tireoide não é palpável.
Fonte: www.msdmanuals.com
Cada lobo da glândula tireoide é constituído por vários lobos menores, e cada um deles, por lóbulos
compostos de até 40 células foliculares agrupadas. Cada folículo é formado por uma única camada
de células epiteliais, cujo interior é ocupado por uma substância, denominada coloide, que é
composto principalmente de um complexo de glicoproteína-iodo denominado tireoglobulina.
Durante a síntese de hormônios tireoideanos, o iodo liga-se a essas moléculas de tireoglobulina. Já as
células C parafoliculares secretam calcitonina, reguladora da homeostasia mineral óssea.
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O iodo ingerido na dieta é reduzido a iodeto no trato gastrointestinal e absorvido no intestino
delgado. Na corrente sanguínea, o iodeto é bombeado para dentro das células foliculares por
simporte de Na/I, onde, por sua vez, é oxidado para formar os resíduos de monoiodotirosina (MIT) e
di-iodotirosina (DIT). A combinação desses resíduos dá origem à tiroxina (T4) e tri-iodotironina (T3):
dois resíduos de di-iodotirosina são acoplados para formar T4; uma monoiodotironina e uma di-
iodotirosina são acopladas para formar T3.
Uma absorção diária de 150 a 200 µg de iodeto da dieta é suficiente para formar quantidades
normais de hormônios na tireoide, que são então liberados na circulação em diferentes proporções
(T4 - 90%; T3 - 10%). Como o T3 é a forma mais ativa do hormônio, o T4 é convertido na corrente
sanguínea em T3 para uma ação fisiológica mais representativa. O T4, entretanto, tem meia-vida
plasmática de cerca de 6 dias, enquanto que o T3, de apenas 1 dia.
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6 HIPOTIREOIDISMO
A diminuição da produção e secreção dos hormônios tireoidianos pela glândula tiroide é conhecida
como hipotireoidismo. Trata-se de uma síndrome clínica que acomete, em sua maioria, mulheres e
adultos e se torna mais frequente com o avanço da idade. Em países com ingesta adequada de iodo,
como o Brasil, a prevalência de hipotiroidismo varia entre 1 e 2%, mas pode aumentar para até 7%
na faixa etária de 85 a 89 anos.
De maneira geral, as causas de hipotireoidismo (Quadro 3) podem ser classificadas de acordo com a
origem do problema. Correspondendo a 99% dos casos, é denominado hipotireoidismo primário,
quando a disfunção tem origem na própria tireoide, ocorrendo a perda permanente ou destruição da
glândula por processos como destruição autoimune ou dano por radiação.
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Quadro 3 - Causas do hipotireoidismo
Primário Central (secundário/terciário)
Resposta crônica autoimune (tireoidite de
Insuficiência e/ou disfunção hipotalâmica
Hashimoto)
Disfunção hipofisária
Deficiência ou excesso de iodo na dieta
(macroadenoma e/ou apoplexia)
Iatrogênico: radioiodo ou cirurgia (geralmente para Resistência ao hormônio liberador de
tratar hipertireoidismo, bócio ou câncer de hormônio estimulante da tireoide (TSH) ou
tireoide) tireotropina
Genética (incluindo variações que causam Induzido por medicamentos (dopamina ou
hipotireoidismo congênito) somatostatinas, por exemplo)
Induzido por medicamentos que interferem com a
síntese/liberação de hormônios tireoidianos
(medicamentos antitireoidianos, amiodarona, iodo,
lítio, contrastes iodados, interferon alfa, sunitinibe,
sorafenibe, valproato de sódio)
Tireoidite transitória: pós-parto (infecção viral)
Infiltração tireoidiana: infecciosa, maligna (tireoide
primária ou metastática) e outras doenças
autoimunes, como sarcoidose e amiloidose
Fonte: adaptado de Taylor et al. (2018); Kronenberg et al. (2016).
Além disso, de acordo com o grau da disfunção tireoidiana, o hipotireoidismo primário pode ser
dividido em hipotireoidismo subclínico e hipotireoidismo declarado. Na primeira situação, a falência
da glândula é mínima, ocorrendo uma discreta diminuição dos hormônios tireoidianos, embora suas
concentrações se situem dentro da faixa de normalidade; no entanto, devido à elevada sensibilidade
hipofisária, ocorre elevação de TSH, na presença de tiroxina livre sérica normal (T4) e concentrações
de triiodotironina (T3). Já no hipotireoidismo declarado, existe uma diminuição mais acentuada da
produção hormonal pela tireoide, com consequente redução dos hormônios tireoidianos (abaixo da
faixa de normalidade) e elevação de TSH.
O hipotireoidismo pode afetar todos os sistemas e órgãos humanos, e suas manifestações são, em
sua maior parte, independentes do distúrbio subjacente, apesar de se relacionarem ao grau de
deficiência do hormônio. Destaca-se, entretanto, que a presença de vários sinais e sintomas,
particularmente se de início recente, aumenta a probabilidade do diagnóstico. Os principais sinais e
sintomas relacionados ao hipotiroidismo encontram-se descritos no Quadro 4.
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Quadro 4 - Sinais e sintomas do hipotireoidismo
Pele e anexos: pele seca e fria, unhas quebradiças, queda de cabelos, edema palpebral.
Sistema gastrintestinal: constipação.
Sistema reprodutivo: distúrbios menstruais (podendo variar de amenorreia à menorragia),
anovulação, infertilidade, disfunção erétil, redução da libido.
Sistema cardiopulmonar: bradicardia, hipertensão arterial diastólica. Em alguns casos podem ser
encontradas dor anginosa, bulhas hipofonéticas, cardiomegalia (por derrame pericárdico), dispneia
e derrame pleural.
Sistema nervoso: parestesias, hiporreflexia, letargia, retardo no relaxamento do reflexo Aquileu,
síndrome do túnel do carpo.
Sistema musculoesquelético: fraqueza, câimbras musculares, mialgia, rigidez, astenia.
Outros: intolerância ao frio, ganho de peso, fraqueza, fadiga.
Em crianças: atraso do crescimento ou deficiência intelectual.
Fonte: adaptado de Kronenberg et al. (2016).
Em adultos, as manifestações típicas podem levar meses ou anos para aparecer. O desenvolvimento
gradual do estado do hipotireoidismo ocorre tanto pela lenta progressão da hipofunção tireoidiana
como pelas manifestações clínicas após a falência total da tireoide. Esse quadro gradual, entretanto,
não é observado quando a terapia de reposição é descontinuada em um paciente com
hipotireoidismo primário tratado ou quando a glândula tireoidiana de uma pessoa normal é retirada
cirurgicamente. Nesses pacientes, a manifestação do hipotireoidismo se apresenta em cerca de 6
semanas a 3 meses, e o mixedema é encontrado com maior frequência.
O termo mixedema, outrora usado como sinônimo do hipotireoidismo, refere-se ao quadro clínico de
redução na função energética e metabólica. O quadro é caracterizado, principalmente pela fácies
mixedematosa, na qual se observa edemas na face e nas pálpebras formando bolsas sob os olhos,
fisionomia apática, pele infiltrada, enoftalmia (retração anormal do olho em relação à órbita), e, às
vezes, língua protusa (macroglossia) (Figura 1A e 1B).
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Já o termo “coma mixedematoso” refere-se a uma consequência rara do hipotireoidismo
descompensado em estágios avançados que se manifesta por hipotermia, sinais e sintomas de
hipotireoidismo exacerbados e alterações sensoriais, que variam do delírio ao coma. O coma
mixedematoso se relaciona a taxas de mortalidade de 60 a 70% e exigem tratamento imediato e
intensivo.
Na prática clínica, é fundamental que o profissional esteja atento a algumas situações em que há
maior risco de desenvolvimento de hipotireoidismo: puérperas, mulheres acima de 35 anos,
pacientes com história prévia ou familiar de doença tireoidiana, pacientes submetidos à cirurgia de
tireoide, terapia prévia com iodo radioativo ou radiação externa no pescoço; diabetes tipo 1, história
pessoal ou familiar de doença autoimune, síndrome de Down e Turner, tratamento com lítio ou
amiodarona, depressão, dislipidemia e hiperprolactinemia.
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com T4 livre ainda dentro da faixa de normalidade. Deve-se suspeitar de insuficiência hipofisária
(hipotireoidismo central) em pacientes com níveis diminuídos de T4 livre associados a uma
concentração de TSH normal ou baixa.
A definição dos valores de referência (Tabela 1) ainda é um assunto de grande discussão. Mas sabe-
se que devem ser individualizados para populações específicas, incluindo as mulheres grávidas, com
valores diferentes para cada trimestre.
Hipotireoidismo primário
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7 HIPERTIREOIDISMO E TIREOTOXICOSE
A B
Figura 2A - Paciente com onicólise e 2B - Paciente com exoftalmia (hipertireoidismo). Fonte: Talley & O’Connor (2018).
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A tireotoxicose pode decorrer do uso de medicamento com o hormônio tiroxina (levotiroxina). Além
disso, o medicamento amiodarona, um antiarrítmico, contém grandes quantidades de iodo e pode
levar a tireotoxicose em até 12% dos pacientes em regiões com baixa ingesta de iodo.
Diversos distúrbios também podem levar ao hipertireoidismo, como inflamações na glândula tireoide
(tireoidite), que geralmente são autoimunes ou pós-virais; e o bócio. Entretanto, a doença de Graves
é a causa de hipotiroidismo mais comum.
A doença de Graves caracteriza-se pela produção de um autoanticorco IgG específico para o receptor
de TSH. Esse anticorpo atua como agonista, ativando o receptor de TSH e, portanto, estimulando de
forma contínua a síntese e liberação de hormônios tireoideanos, sem ativação do feedback negativo.
Na doença de Graves, geralmente é identificado hipertireoidismo, aumento difuso da tireoide,
exoftalmia, e, menos comumente, mixedema pré-tibial (lesões cutâneas com aspecto de placas
brilhantes, vermelho-acastanhadas e rugosas na face anterolateral da perna).
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8 FARMACOTERAPIA DO HIPOTIREOIDISMO E HIPERTIREOIDISMO
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As seguintes orientações devem ser fornecidas ao paciente quanto ao tratamento com levotiroxina:
Sempre é importante reforçar essas orientações sobre o uso correto do medicamento, pois valores
aumentados de TSH podem ser consequência da não adesão ao tratamento ou de seu uso de forma
inadequada. Ademais, o uso de anticonvulsivantes, rifampicina e sertralina podem aumentar o
metabolismo da levotiroxina, reduzindo sua efetividade, devendo o manejo desse tipo de interação
ser individualizado. Caso os valores de TSH permaneçam elevados mesmo com o uso adequado e
após manejo de interação, é preciso reajustar a dose (Quadro 6).
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Quadro 7 - Tratamento para hipertireoidismo na doença de Graves
Tratamento Dose/posologia Vantagens Desvantagens Monitoramento Comentários
Medicamentos antitireoidianos
Via oral
Baixo risco de Tratamento inicial para casos graves
hipotireoidismo
Propiluracil
75-150 mg
permanente Adesão difícil Artrite, lúpus, anemia aplásica, ou como preparação pré-operatória.
de 6/6 horas trombocitopenia, hepatite aguda. Preferível na gestação e
Possível remissão amamentação.
devido ao efeito
imune
Outros agentes
Exantema, febre, rinite, conjuntivite,
edema glândula salivares, ginecomastia,
Utilizado principalmente antes da
Consegue inibir a liberação de iodismo (gosto metálico e sensação de
Iodeto de Melhora dos sintomas cirurgia, para que o paciente entre em
120-400 mg hormônios por pouco tempo (1 queimação na boca e garganta,
potássio em até uma semana. um estado de produção normalizada de
a 2 semanas) hipersensibilidade nos dentes e gengivas,
hormônios da tireoide.
sintomas de resfriado, desconforto gástrico
e diarreia).
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Quadro 7 - Tratamento para hipertireoidismo na doença de Graves
Tratamento Dose/posologia Vantagens Desvantagens Monitoramento Comentários
Hipotireoidismo
permanente.
Pode haver piora na
Ablação oftalmopatia.
Cura do
radioativa da
_______ hipertireoidismo. Gravidez deve ser evitada Oftalmopatia em fumantes. É o melhor tratamento para nódulos
tireoide (iodo
Baixo custo.
por 6-12 meses. Hipotireoidismo secundário à ablação. tóxicos e bócio tóxico multinodular.
radiotivo - I¹³¹) Não amamentar.
Risco potencial pequeno de
exacerbação da
hipertireoidismo.
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REFERÊNCIAS
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Metab., v. 57, n. 3, p. 193-204, 2013.
DIPIRO, J. T. et al. Pharmacotherapy: A Pathophysiologic approach. 11ª edição. New York: McGraw-
Hill, 2020.
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GUSSO, G.; LOPES, J. M. C.; DIAS, L. C. Tratado de Medicina de Família e Comunidade: princípios,
formação e prática. 2a edição. Porto Alegre: Artmed, 2018.
PORTO, C. C.; PORTO, A. L. Semiologia médica. 7ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.
TALLEY, N. J.; O’CONNOR, S. Talley and O’Connor’s Clinical Examination - A systematic guide to
physical diagnosis. 8ª edição. Sydney: Elsevier, 2018.
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