Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1. A semiologia
1.1. A semiologia é a disciplina médica que estuda como investigar, encontrar e
interpretar os sinais e sintomas com os quais as doenças manifestam-se no
paciente.
1.2. As doenças podem manifestar-se clinicamente com sinais e/ou com sintomas:
1.2.1. Os sinais são os achados objectivos, percebidos pelo clínico, mas que
também podem ser percebidos pelo paciente/familiares.
1.2.2. Os sintomas são manifestações subjectivas (que o doente sente),
identificadas pelo doente só e não detectáveis com o exame objectivo ou as
análises de laboratório.
1.2.3. Alguns sintomas podem ser simultaneamente sinais, ou seja, percebidos pelo
doente e observáveis pelo clínico. Exemplo: convulsões, sibilância,
emagrecimento.
1.3. O domínio de semiologia é essencial para o clínico porque é através da colheita dos
sinais e sintomas que vai chegar ao diagnóstico, e por isso é uma disciplina
propedêutica (formará a base para todas as disciplinas clínicas).
1.4. Quando não há acesso aos meios auxiliares diagnósticos, o clínico vai depender
unicamente da detecção de sinais e sintomas para chegar a uma hipótese
diagnóstica.
3. A história clínica
3.1. A história clínica refere-se ao conjunto das informações colhidas e constatações
detectadas pela observação objectiva do paciente. Pode ser dividida em 2 fases:
3.1.1. A anamnese
3.1.2. O exame físico (exame objectivo)
3.2. Nota, embora que em Moçambique, o termo “história clínica” geralmente refere ao
conjunto da anamnese e do exame físico, o mesmo termo pode ser usado como
sinónimo de anamnese. Mas neste contexto vamos considerar como o conjunto.
4. A anamnese
4.1. A anamnese é o resumo sistemático do relato/descrição que o paciente (e/ou
pessoas acompanhantes) faz sobre a doença actual, o passado, os antecedentes
familiares, e outros factores que podem influenciar o diagnóstico respondendo às
perguntas que o clínico lhe apresenta/faz.
4.2. A colheita da anamnese é feita através duma conversa com o paciente (por meio de
perguntas gerais e direccionadas) cujo conteúdo é resumido no processo clínico.
4.3. As finalidades da anamnese são:
4.3.1. Obter o maior número de informações necessárias sobre a queixa do
paciente para fazer o diagnóstico da sua condição patológica;
4.3.2. Estabelecer um relacionamento de confiança entre o clínico e o paciente;
4.3.3. Perceber como o paciente está a lidar com a sua condição;
4.3.4. Obter informações para apoiar no manejo do paciente (terapia, controlo de
uma situação crónica, educação em saúde, prevenção).
4.4. As informações recolhidas através da anamnese podem apoiar o clínico em fazer
logo um diagnóstico, ou podem orientar o enfoque do exame físico e requisição de
outras investigações necessárias para atingir o diagnóstico.
4.5. A recolha de uma anamnese compreende diferentes passos e precisa de
habilidades específicas. Tem componentes gerais e outros que variam dependendo
do:
4.5.1. Tipo de paciente (adulto, criança, adolescente, grávida, idoso etc.);
4.5.2. Queixa principal.
5. O exame físico
5.1. O exame físico (ou exame objectivo) é a pesquisa imediata e directa dos sinais de
doença que podem se apresentar no paciente. O clínico deve usar a vista, os
ouvidos, o tacto e o olfacto para identificar o que é normal ou anormal no corpo do
paciente.
5.2. A anamnese e o exame físico complementam-se no processo diagnóstico, ou seja,
um não substitui o outro.
5.3. Em geral, o exame físico segue a anamnese, que direcciona aonde enfocar a
atenção no exame físico sem deixar de observar todos os aparelhos.
5.4. Existem situações nas quais o exame físico precede a anamnese (p.ex. em
situações dum paciente inconsciente ou incapaz de comunicar-se).
6. Os sinais e sintomas
6.1. As doenças podem manifestar-se clinicamente com sinais e/ou sintomas. Os dois
são manifestações do mau funcionamento da fisiologia normal de um ou mais
aparelhos corporais.
1. Apresentar-se ao paciente.
2. Recolher as informações identificativas do paciente.
3. Recolher informações sobre a(s) queixa(s) principal(s).
4. Recolher as informações sobre a história da doença actual.
5. Recolher a história médica pregressa.
6. Recolher informações sobre a história familiar.
7. Recolher a história pessoal/social.
8. Fazer uma revisão de sistemas.
Essas informações devem ser sempre controladas em cada consulta e, se for o caso,
actualizadas. As informações identificativas incluem:
Nome;
Idade;
Sexo;
Cor (raça);
Estado civil;
Profissão (actual e anteriores);
Local de trabalho;
Naturalidade;
Residência.
Em geral, o exame físico segue a anamnese, que direcciona aonde enfocar a atenção
durante o exame físico sem deixar de observar todos os aparelhos.
Palpação com a mão espalmada usando toda a palma da mão para palpar o
abdómen.
Palpação com o dorso dos dedos ou da mão para avaliar a temperatura da pele.
2.5 Percussão: consiste no golpeamento leve de uma área a ser pesquisada. É baseada
nas vibrações causadas ao golpear um ponto qualquer do corpo. Seu objectivo é
delimitar órgãos e massas e detectar colecções de líquidos ou ar. Dependendo da
região e da natureza do tecido examinado, o som produzido tem características
próprias quanto a intensidade, timbre e tonalidade. Com a percussão, pode se avaliar o
som produzido e a resistência dos tecidos da região golpeada.
As técnicas de percussão variam dependendo da região a ser examinada e serão
abordadas nas aulas específicas do exame físico de cada aparelho. Alguns exemplos
são:
Percussão directa: golpeando directamente a região alvo com as polpas dos dedos.
Exemplo: percussão de uma massa
Percussão com a borda ulnacubital da mão golpeando a região alvo. Exemplo: na
pesquisa de dor no exame dos rins.
Caso a queixa do paciente seja dor numa região particular do corpo, a palpação e a
percussão dessa área devem ser feitas após o exame das zonas adjacentes. Devem
ser feitas com cuidado para não exacerbar a dor ou causar uma contracção dos
músculos circunjacentes, que irá dificultar o exame.
2.6 Auscultação: consiste em ouvir os sons produzidos pelo corpo. Pode ser uma
auscultação directa, usando simplesmente a orelha, ou uma auscultação indirecta com
o auxílio de instrumentos (ex:estetoscópio).
Os estetoscópios são instrumentos que servem para canalizar e, em alguns casos,
amplificar os sons suaves. Existem vários tipos de estetoscópios: o clássico, o
cardiológico, o digital, e o estetoscópio obstétrico.
3.1. Avaliação do estado geral: é uma avaliação subjectiva baseada no conjunto de dados
exibidos pelo doente e interpretados de acordo com a experiência de cada clínico. Em
outras palavras, é o estado que o doente aparenta quando visto na sua totalidade.
O estado geral pode dar uma ideia de até que ponto a doença atingiu o organismo e
pode determinar o grau de urgência do caso. A descrição do estado geral pode ser:
Estado geral bom: o paciente aparentemente está bem, nem parece estar
doente ou ter problemas de saúde.
Estado geral regular/moderado: o paciente apresenta alterações mas
aparentemente está bastante bem.
Estado geral deteriorado/mau: o paciente parece estar sofrendo, apresenta
sinais significativos de um estado patológico.
Estado geral grave: o paciente parece muito doente, apresentando
alterações graves com risco de vida.
3.2. Avaliação do nível de consciência. É a avaliação de como o paciente está
percebendo o mundo exterior e a si mesmo. Essa percepção pode ser o resultado de
um conjunto de fenómenos psíquicos e físicos.
3.2.1. O paciente consciente é o paciente que percebe quem ele é, e está ciente do
espaço e tempo reais. Ele está acordado e responde adequadamente às
perguntas feitas pelo clínico durante a consulta.
3.2.2. De forma geral, alteração da consciência, é definida como uma alteração em
um ou mais dos seguintes aspectos: estado de vigília (percepção do mundo
exterior e de si), perceptividade ou a maneira de responder às perguntas (não
responde, responde de maneira confusa, apenas emite sons, responde com
movimentos), reactividade (capacidade de responder a estímulos internos ou
externos).
3.2.3. Existem vários graus de consciência, e os dois extremos são o estado de vigília
e o estado de coma. A definição e avaliação dos diferentes níveis de consciência
serão abordadas na aula do sistema neurológico e com mais detalhe na
disciplina de saúde mental.
3.3. Avaliação dos sinais vitais (Descritos na disciplina de enfermagem e primeiros
socorros)
Peso (
Altura (
Índice de Massa Corporal: é o indicador que avalia o estado de nutrição no
adulto
Tonicidade e trofismo muscular: a tonicidade é o estado de semi-contracção
do músculo e o trofismo é a massa do próprio músculo. Uma avaliação inicial
e superficial é feita através da inspecção de como o paciente anda, senta e
se movimenta. Uma avaliação mais detalhada é feita durante o exame físico
do aparelho muscular. (Aula 39)
Desenvolvimento físico (Descrição abaixo).
Pele e anexos (Descrição abaixo).
3.5. Avaliação da fala e linguagem. A avaliação da fala é feita durante a recolha da
anamnese, avaliando como o paciente comunica seus pensamentos e como ele
consegue elaborá-los.
As alterações mais comuns da fala e linguagem serão abordadas na aula de
semiologia do sistema neurológico.
4.1. Em geral, o exame físico segue a anamnese. A anamnese deve direccionar aonde
enfocar a atenção durante o exame físico, sem deixar de observar todos os aparelhos.
4.2. Após a avaliação dos sinais vitais, o exame físico pode ser dividido em duas etapas:
4.1.1. O exame físico geral ou ectoscopia, através do qual são obtidos dados gerais
e cujo objectivo é ter uma visão global do paciente (ver Aula 2).
4.1.2. O exame de todos os sistemas a partir da cabeça até aos pés, através do
qual são obtidos dados específicos de cada aparelho.
4.3. A sequência da avaliação dos aparelhos é a seguinte:
Cabeça e pescoço incluindo olhos, orelhas, olfacto, boca, orofaringe, tireóide, e
gânglios;
Pele e anexos (completando o exame iniciado no exame geral);
Sistema hemolinfopoiético (completando o exame iniciado no exame geral);
Tórax e mamas;
Aparelho respiratório;
Aparelho cardiovascular;
Abdómen, incluindo o aparelho digestivo e urinário;
Aparelho genital se o paciente é de sexo masculino;
Aparelho músculo-esquelético;
Sistema nervoso;
Sistema psíquico (completando o exame psíquico iniciado no exame geral);
Aparelho genital/reprodutivo em mulheres.
O clínico deve enfocar sua atenção no aparelho da queixa principal e avaliar os
detalhes de todos os sistemas possivelmente relacionados com esta queixa.