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Fundamentos do
diagnóstico bucal e biópsias
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INTRODUÇÃO O exame clínico engloba basicamente a
anamnese e o exame físico. Didaticamente, a
A plenitude de atuação de um profissional primeira etapa é a anamnese, termo que vem
de saúde depende profundamente de sua do grego anamnésis e significa ¨recordação,
capacidade de estabelecer diagnósticos. A reminiscência¨. O exame anamnético inclui
palavra diagnóstico tem origem grega, formada basicamente os elementos do quadro 1.
pelas palavras ¨dia¨ que significa ¨através¨, e
¨gignósko¨ que significa ¨conhecer, saber¨. Quadro 1:
Dessa forma, destaca-se que o profissional identificação do paciente;
precisa de conhecimentos para chegar ao queixa principal;
Anamnese
história da doença atual (HDA);
diagnóstico de uma doença, bem como
história médica pregressa e revisão de
entender e executar corretamente as
sistemas;
ferramentas do exame clínico, além de dominar
hábitos de vida, antecedentes familiares e
a capacidade de execução e interpretação de
condições sócio-econômico-culturais.
exames complementares. O objetivo de tal
Quadro 1. Estruturas fundamentais da anamnese.
capítulo é abordar, de maneira didática e
sucinta, as facetas da Estomatologia que
envolvem o diagnóstico das doenças bucais Identificação do paciente.
mais frequentes na prática clínica. Cáries,
gengivites, periodontites e periapicopatias não É o primeiro contato entre o profissional e o
serão abordadas nesse capítulo, pois exigem paciente. O intuito é registrar dados sócio-
textos específicos para atingir a amplitude demográficos, que permitam um perfil
necessária ao estudo delas. Ao final da leitura, individual e coletivo do paciente. Além disso,
o leitor deverá estar familiarizado com as deve-se aqui construir um relacionamento de
doenças bucais comumente biopsiadas e com a respeito e confiança. Dá-se primariamente pelo
realização de biópsias e citologia esfoliativa. registro de nome, endereço e telefone. Dados
como sexo, idade, cor da pele, estado civil,
profissão e procedência, também fazem parte
FUNDAMENTOS DA ANAMNESE da identificação e, por sua vez, já podem ter
grande valia para o raciocínio diagnóstico.
A base do diagnóstico bucal é o exame Exemplos da utilidade desses dados no
clínico e a capacidade de interpretá-lo em diagnóstico podem ser vistos no caso da
conjunto com exames complementares, que displasia óssea periapical, que é típica do sexo
muitas vezes são necessários, tais como feminino e da cor melanoderma (NEVILLE et. al.,
exames de imagens (radiografias, tomografias, 2009). Da mesma forma acontece com várias
etc); sorológicos (hemograma, coagulograma, outras doenças, reconhecidas por atingirem
sorologias específicas para doenças virais, determinados perfis de pacientes a partir dos
autoimunes, etc); além de exames citológicos e resultados de estudos epidemiológicos
histopatológicos (BORAKS, 2001). Antigamente consistentes. Outros exemplos incluem as
dizia-se que um profissional habilidoso no doenças advindas de um risco ocupacional,
raciocínio diagnóstico tinha um bom ¨olho como a gengivite por intoxicação crônica pelo
clínico¨. O sucesso da atuação do profissional mercúrio, que pode ocorrer em certos
de saúde depende do desenvolvimento desse trabalhadores metalúrgicos; o conhecimento
¨olho clínico¨, que se baseia no de procedência para o diagnóstico de infecções
desenvolvimento de sua capacidade de virais, fúngicas e bacterianas de pessoas que
raciocínio diagnóstico durante a realização do passaram por áreas endêmicas ou epidêmicas
exame clínico, identificando a necessidade dos para determinadas doenças. Coletadas
exames complementares e finalmente cuidadosamente as informações que
interpretando todo os achados, chegando-se identificam o paciente, dar-se-á início a outras
dessa feita, ao diagnóstico. etapas do exame anamnético que exigem
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maiores habilidades do profissional Quadro 2:
examinador, o qual agora assume uma posição cenário que marcou o início dos sintomas,
de busca consciente de informações que vão possíveis agentes causais;
simultaneamente alimentando ou afastando duração e características dos sintomas
(intensidade, frequência, o que aumenta ou
hipóteses ou possibilidades de diagnóstico que
HDA
atenua os sintomas);
vão surgindo com o raciocínio diagnóstico do
características de evolução (ex.: lesão
profissional. Tal etapa começa na queixa
aumentou? Sintomas aumentaram? Tomou
principal. medicamentos?);
situação atual.
Tópicos importantes da história da doença anterior.
Queixa principal.
Representa o motivo que levou o paciente ao O profissional deve ficar atento caso
consultório. Geralmente é coletada a partir de perceba que as informações satisfaçam uma
uma pergunta aberta ¨no que posso ajudá-lo hipótese de diagnóstico feita mentalmente
(a)? O que incomoda? ¨. Preconiza-se que seja enquanto se ouve o paciente, assim podendo
anotada no prontuário a resposta que o enriquecer o questionário para descartar ou
paciente lhe der com as próprias palavras dele, alimentar tal hipótese, porém com muito
dessa forma, usa-se as aspas ¨estou com uma cuidado para não sugestionar um sintoma ou
bolinha na gengiva¨. A queixa principal confundir a história. O direcionamento do
geralmente representa um sinal ou um sintoma questionário será inicialmente centrado em
da doença em questão. Algumas vezes o sintomas, comparando-os com o grupo de
paciente pode enumerar várias situações e, doenças que os apresentam, assim
então, o profissional deve perguntar o que mais aproximando-se do diagnóstico. A formulação
o incomoda no momento, pois a queixa do questionário poderá ser também
principal deve ser uma anotação sucinta. A direcionada por eventuais características físicas
partir da queixa principal, segue-se para o da doença apresentada, onde o profissional
registro da história da doença atual. supõe mentalmente que seja determinada
doença e, então, averigua se existem
características que são condizentes a ela. Dessa
História da doença atual (HDA).
forma, observa-se que pode existir uma
dinâmica de vai e volta entre exame
É também conhecida como história da moléstia
anamnético e exame físico. Um exemplo de tal
atual e pode ser a ¨chave mestra¨ para o
situação é facilmente notado nos casos de
diagnóstico. Tal etapa da anamnese é
herpes labial recorrente, onde o profissional
aperfeiçoada à medida que o dentista adquire
percebe fisicamente as características da lesão,
conhecimento e experiência. Representa um
considera mentalmente a hipótese de
registro cronológico e detalhado do motivo que
diagnóstico e, então, poderá questionar sobre o
levou o paciente a procurar assistência médica,
pródromo, ou seja, os sintomas típicos que
desde o seu início até a data atual. Quando se
geralmente antecedem a manifestação de uma
trata de uma doença bucal, é especialmente
doença e que são notórios nos casos de herpes
importante questionar o paciente buscando um
labial recorrente. Para ter essa habilidade, o
possível evento desencadeante da lesão, há
profissional deve conhecer minimamente às
quanto tempo estão presentes os sinais ou
doenças mais frequentes da prática clínica
sintomas relatados, e como esses sinais ou
odontológica, que ainda serão abordadas.
sintomas estão evoluindo.
O esquema do quadro 2 pode ser utilizado na História médica pregressa e revisão de sistemas.
tentativa inicial de organizar informações e
buscar dados que auxiliem o profissional no seu A história médica pregressa e revisão de
raciocínio diagnóstico. sistemas representam em conjunto uma etapa
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da anamnese em que se questiona ao paciente órgãos ou uso de medicamentos, é importante
sobre seus antecedentes médicos, como as que se faça uma revisão ¨da cabeça aos pés¨ do
doenças das quais já tratou ou está em paciente, de forma sistemática, com perguntas
tratamento e, ainda, se existem sintomas ou genéricas sobre cada sistema:
alterações em outros órgãos. As eventuais
possibilidades de diagnóstico, que foram ¨como estão seus olhos e visão?¨
pensadas pelo examinador com as informações ¨seu intestino funciona regularmente?¨
obtidas nas etapas anteriores do exame clínico, ¨percebeu mudanças no peso, disposição ou
poderão proporcionar uma indagação alimentação?¨
minuciosa de algum aspecto específico da vida
médica pregressa do paciente. Outra boa forma Caso haja alguma resposta indicativa de
de iniciar essa etapa é questionando se o alterações, perguntas mais específicas deverão
paciente toma algum medicamento diário e se ser elaboradas. Nessa fase, uma alteração
está em algum tipo de tratamento médico. Em menosprezada pelo paciente pode ser
caso de resposta negativa, pode-se continuar a descoberta e até útil no raciocínio diagnóstico
indagação perguntando-se quando foi sua da lesão bucal ou, ainda, nas orientações
última consulta médica e os motivos dela. Por necessárias aos cuidados gerais do paciente. O
outro lado, em caso de resposta positiva, pede- quadro 3 faz uma relação de elementos
se para o paciente esclarecer qual a doença e essenciais desse exame.
quais os medicamentos ele toma. Muitos
medicamentos são corriqueiros devido à
frequência de algumas doenças sistêmicas, de Hábitos de vida.
modo que o profissional acaba se habituando
Os hábitos de vida constituem parte sequencial
com a nomenclatura de algumas drogas, suas
fundamental do exame anamnético. É crucial o
indicações e, principalmente, suas eventuais
cirurgião-dentista questionar e registrar o
interferências com a prática odontológica.
tabagismo e o etilismo, bem como a frequência
Entre os efeitos comuns de medicações,
e a quantidade aproximadas de uso diário
destaca-se a xerostomia, que pode ser
dessas drogas ou outras que o paciente relatar.
provocada por anti-hipertensivos, anti-
O uso de determinados cremes dentais,
depressivos, hipoglicemiantes, dentre outros.
chicletes, chás, poderão auxiliar no diagnóstico
Por isso, sempre que necessário, o profissional
de doenças como gengivites plasmocitárias e
deverá consultar o bulário dos medicamentos.
reações liquenoides por exemplo.
Outro cuidado importante se dá com relação ao
uso dos bisfosfonatos, que são utilizados para o
tratamento de diversas alterações ósseas e que Antecedentes familiares.
podem aumentar o risco de osteonecrose pós-
exodontia ou manipulações cirúrgicas. Outro O conhecimento de antecedentes familiares
efeito impactante na clínica odontológica dá-se pode ser a base do diagnóstico das doenças
pelo uso contínuo de alguns tipos de bucais, dado o caráter hereditário de inúmeras
anticonvulsivantes, imunossupressores e anti- delas. É o caso, por exemplo, de uma
hipertensivos, que podem provocar o quadro periodontite severa num paciente que possua
conhecido como hiperplasia gengival parentes diabéticos e que não sabe ainda se
medicamentosa, onde todo o tecido gengival também desenvolveu tal condição. Outras
torna-se aumentado de volume. Aplicativos de situações incluem alguns distúrbios de
smartphones que contém bulas podem ser desenvolvimento da região bucomaxilofacial,
úteis em uma interpretação da História Médica como hipodontias, hiperdontias, amelogênese
Pregressa. imperfeita e outras, além de alterações
sindrômicas, até a susceptibilidade para o
Até mesmo quando o paciente não relata desenvolvimento de doenças benignas e
nenhuma doença sistêmica, sintoma em outros doenças malignas.
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Caracterização sócio-econômico-cultural. FUNDAMENTOS DO EXAME FÍSICO
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pressionados e percutidos em busca de cervicais profundos ou cadeia jugulo-
alterações de sensibilidade, assim como a carotídea (profundamente próximos à
região de ATM, músculos faciais, glândulas extensão do bordo posterior do esterno-
salivares maiores (GOLDEN; HOOLEY, 1994). Os cleidomastoideo, drenam tonsila palatina,
exames de ATM, musculatura facial e demais língua, orofaringe e glândulas salivares);
estruturas poderão ser complementados com
manobras específicas de semiotécnica que não cervicais posteriores (bordo anterior do
fazem parte do escopo desse texto, pois trapézio, drenam traqueia, laringe, couro
tratam-se de conteúdos específicos que cabeludo e linfa de cadeias cervicais
envolvem o volume de livros completos para profundas);
abordagem detalhada. Entretanto, parte supraclaviculares (margeam a clavícula,
fundamental do exame extra-bucal é a drenam além de cabeça e pescoço, aferentes
palpação das cadeias ganglionares crânio- linfáticos de membro superior, parede do
cervicais, principalmente aquelas que drenam tórax e mama);
estruturas bucais. O exame é realizado com
pressão digital sobre áreas específicas e deve cadeia occipital (abaixo da protuberância
abordar, como um exame, as cadeias: occipital externa, drenam a parte posterior do
couro cabeludo, pavilhão externo e orelha
pós-auriculares ou mastoideos (lateralmente interna).
sobre o processo mastoide e drenam couro
cabeludo, pavilhão externo e orelha interna); Linfonodos normais, dificilmente são
pré-auriculares ou parotídeos (ao nível da identificados à palpação, apresentando-se
glândula parótida e drenam a porção superior como grânulos diminutos, macios e indolores.
da face e a região temporal); Linfonodos inflamados são mais evidentes ao
exame clínico, geralmente doloroso ao toque,
tonsilares (abaixo do ângulo mandibular macios, lisos, móveis à manipulação e
drenam o 1/3 posterior da língua, da tonsila apresentam aparecimento rápido e tempo de
palatina e orofaringe, incluem um linfonodo duração fugaz. Já os linfonodos tumorais são
chamado júgulo-digástrico, volumoso e indolores, com consistência firme, superfície
facilmente palpável na região, principalmente irregular, fixos à palpação e apresentam tempo
e amigdalites e faringites); de duração prolongado.
submandibulares (face interna de corpo da
mandíbula, drenam a orofaringe, mucosas Exame intrabucal.
mastigatórias e livres ipsilaterais, porção
lateral da língua, lateral de nariz, lábio No exame intrabucal, todas as estruturas serão
superior e lábio inferior, e cadeia de nódulos analisadas com detalhes, independentemente
submentuais); de fazerem parte da queixa do paciente, pois
essa é uma prática imprescindível para
submentuais (bordo do mento em região dos
diagnóstico precoce de inúmeras doenças. Para
ventres divergentes do digástrico, drenam o
contemplar o exame de todas as estruturas,
assoalho bucal, a gengiva, o lábio inferior e
recomenda-se a adoção de uma sequência
parte mediana da língua);
sistemática para exame, como a sugerida:
cervicais superficiais ou esternocleidomas-
1. lábios;
toideos, que envolve a porção mastoidea do
2. fundo de vestíbulo e mucosas alveolares;
esternocleidomastoideo, drenam orofaringe,
3. assoalho bucal e face interna da mandíbula;
cavidade bucal e glândulas salivares;
4. mucosas jugais direita e esquerda;
cervicais anteriores (anteriormente ao 5. língua;
esternocleidomastoideo, drenam orofaringe, 6. palatos;
cavidade bucal e glândulas salivares); 7. pilares amigdalianos, úvula e orofaringe;
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8. rebordos alveolares; LESÕES FUNDAMENTAIS
9. dentes e tecidos periodontais.
As lesões fundamentais são conhecidas
As estruturas serão avaliadas a fim de como lesões elementares, e representam
confirmar as normalidades e variações de terminologias clínicas que denotam aspectos
normalidade, sempre tomando como exames morfológicos das doenças de mucosa e pele,
de rotina a inspeção e a palpação. Ao encontrar úteis na caracterização física da lesão após o
uma alteração da normalidade, o clínico poderá registro da localização e número de lesões. É
retomar para uma anamnese dirigida, executar um grupo de termos que não representam
manobras semiotécnicas específicas ou ainda diagnósticos específicos de uma doença, mas se
solicitar exames complementares. no exame físico o clínico consegue alocar a
doença em análise dentro de algumas das
opções morfológicas de lesões fundamentais,
estará certamente filtrando possibilidades de
diagnóstico, ou seja, formulando hipóteses de
diagnóstico que se enquadram dentro dos
variados tipos de lesões fundamentais. As
lesões fundamentais, ou o glossário de termos
clínicos, incluem as opções esquematizadas na
figura 2.
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No capítulo seguinte serão abordadas as exame clínico, sempre de diâmetro menor ou
doenças mais frequentes na prática clínica, e igual a 5 mm, enquanto que lesões maiores
será possível visualizar na prática a aplicação de serão chamadas de bolha. As vesículas e bolhas
lesões fundamentais, pois nesse capítulo, poderão ser intra-epiteliais, sub-epiteliais ou
diferentes doenças estão agrupadas segundo a intra-conjuntivas, porém essas diferenças só
lesão fundamental que as caracterizam. Mas podem ser vistas em nível microscópico (no
primeiramente, vamos expor com detalhe o exame histopatológico). Já as pústulas são
que significa cada terminologia adotada dentro vesículas ou bolhas que exibem conteúdo
de lesões fundamentais. purulento em vez de límpido (Fig. 3).
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de duas semanas ou crônicas quando persistem ajudar no raciocínio diagnóstico. À palpação
por mais de duas semanas). Em casos registra-se ocorrências de sintomatologia,
específicos, os termos fissuras ou fendas drenagem de conteúdo ou alterações de cor e
podem ser usados para caracterizar as úlceras volume. A fixação das lesões às estruturas
que possuem formatos estreitos e alongados; vizinhas também é avaliada. Lesões que
crostas para as úlceras em região seca como os apresentam fixação aos tecidos subjacentes
lábios, que deixam um aspecto de uma ¨casca¨ indicam comportamento infiltrativo, invasivo,
devido ao ressecamento da fibrina que recobre sugerindo características de malignidade.
a úlcera.
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por seu paciente, estando apto a buscar opções BIÓPSIAS
de diagnóstico em livros-textos de patologia
bucal ou até artigos científicos e, assim, avaliar O termo ¨biópsia¨ representa o conjunto de
o caso e a necessidade de outros exames diversos procedimentos cirúrgicos realizados
complementares sorológicos e histopatológicos para investigação e elucidação diagnóstica em
um paciente vivo. A palavra vem do grego bio
(¨vida¨) e opsia (¨ver¨). ¨Ver a vida¨ no
microscópio é adequado para a investigação de
lesões que acometem o organismo humano.
Ora, a prática de remover cirurgicamente
lesões do corpo humano para observá-las no
microscópio remonta tempos muito antigos e é
prática comum nas ciências médicas. Apesar
disso, na Odontologia tal prática ainda é uma
ilustre desconhecida da maioria dos clínicos, o
que é realmente uma pena, pois a análise
microscópica é o método de diagnóstico tipo
¨padrão ouro¨ para muitas lesões! Em vista da
diversidade das doenças que acometem o
complexo maxilofacial, que serão discutidas no
capítulo seguinte, mostra-se ideal que todo
dentista realize biópsia em sua prática clínica
(CALLE, 1986).
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investigada, pois a literatura científica também cirúrgicos frente ao envolvimento de estruturas
é taxativa em declarar que toda lesão de anatômicas nobres, que podem colocar em
origem obscura presente em cavidade bucal risco a vida do paciente. Tais situações sempre
deve ser biopsiada (CALLE, 1986). Inclui-se como devem ser avaliadas com critério por uma
indicações de biópsia: lesão inflamatória que equipe de profissionais em casos delicados.
não respondeu ao tratamento local; alterações Outras situações colocam em ¨cheque¨ a
hiperqueratóticas persistentes; tumefações realização de biópsia: processos infecciosos
palpáveis visíveis ou sobrepostas por tecido agudos; problemas de coagulação e tumores
normal; lesões que interferem na função local; vasculares. Vale também lembrar que está
lesões ósseas sem identificação e persistentes; contra-indicada a biópsia para doenças em que
qualquer lesão que possua as características de os aspectos clínicos são patognomônicos, ou
malignidade, como: eritroplasia, sangramento, seja, aspectos que são praticamente exclusivos
endurecimento, crescimento rápido, ulceração de uma entidade diagnóstica e não indicam a
e fixação aos tecidos periféricos (SHULMAN et. necessidade de exames complementares. Além
al., 2004). Por que é dito isso? A possibilidade disso, em lesões onde um fator irritativo local é
de câncer bucal não é algo improvável. O evidente deve-se remover tal fator e aguardar
carcinoma de células escamosas ou duas semanas, e somente biopsiar caso não
espinocelular é o tumor maligno mais comum haja resolução do quadro.
que acomete a boca e um problema de saúde
pública mundial, representando cerca de 50% As biópsias podem ser do tipo excisional e
dos tumores malignos em alguns países incisional. Diz-se que uma biópsia é excisional
asiáticos. Além disso, há inúmeras doenças quando se remove completamente a lesão em
bucais que representam manifestações de questão através do procedimento cirúrgico. Já a
doenças sistêmicas (muitas ainda não foram biópsia incisional é caracterizada pela remoção
identificadas no paciente), bem como doenças de apenas fragmento (s) da lesão (Fig. 5). Como
infecciosas e doenças que podem comprometer tomar a decisão entre um ou outro tipo de
a saúde bucal (MARCUCCI, 2005). biópsia? Responder essa pergunta implica na
decisão clínica a partir de critérios, como
Apesar de ser mandatório investigar toda e tamanho e extensão da lesão; sua localização;
qualquer lesão através de biópsia dentro dos experiência e prática clínica do cirurgião-
parâmetros citados, tem-se que considerar dentista. Entretanto, sempre que for possível,
certas condições que podem contraindicar a deve-se compreender que a remoção total da
conduta. As condições médicas de saúde geral lesão é preferível, pois, em alguns casos, o
do paciente podem impedir sua realização. procedimento de biópsia do tipo excisional já
Doenças sistêmicas crônicas não controladas resultará no tratamento de uma lesão, cujo
como Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus tratamento é sua remoção total.
podem ser enquadradas nessa situação. Por
isso, sempre é oportuno solicitar de seu A técnica anestésica preferível para a
paciente previamente à biopsia alguns exames realização de procedimentos de biópsias da
complementares básicos, são eles: hemograma região oral e maxilofacial envolvem bloqueios
completo, coagulograma completo e glicemia regionais, pois, o liquido anestésico injetado
em jejum. Tais exames, além de trazerem diretamente sobre a lesão pode gerar artefatos
informações sobre o quadro sistêmico geral do de hemorragia e formação de fendas no tecido
paciente (e.g. anemia, infecções), podem conjuntivo, além de vacuolizações que poderão
auxiliar na interpretação de diagnósticos de prejudicar a análise da amostra em nível
algumas doenças bucais e também favorecem o microscópico pelo patologista bucal. A
reconhecimento de eventuais riscos cirúrgicos literatura recomenda, que: se bloqueios a
e pós-cirúrgicos, como nos casos de alterações distância não forem possíveis, a anestesia
do coagulograma e da glicemia. Ainda, temos infiltrativa deve ser do tipo perilesional, com
que considerar os riscos desses procedimentos pelo menos 4 infiltrações circundando a região
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a ser biopsiada, a uma distância mínima de 3 a Conceitos sobre a técnica cirúrgica de biópsia.
4 milímetros da lesão ou região de incisão.
Para a execução de uma biópsia em mucosa
VOCÊ SABIA QUE: bucal usualmente utiliza-se uma bandeja básica
de instrumentais, que deverá ser modificada e
personalizada com outros instrumentais a
A Academia Americana de Patologia Oral e depender do planejamento cirúrgico e
Maxilofacial recomenda que todo tecido preferência do profissional, considerando
previsibilidade de intercorrências, de maneira
anormal retirado da cavidade bucal deve ser
que outros instrumentais estejam acessíveis
avaliado preferencialmente por um patologista para suas resoluções.
bucal? Leve em consideração tal recomendação
todas as vezes que realizar procedimentos de Uma bandeja básica de instrumentais para
biópsia inclui: seringa Carpule; agulha e tubetes
biopsia em seus pacientes. Procure um
de anestésico local odontológico; lâminas de
patologista bucal em sua cidade para enviar o bisturi; descolador de periósteo n. 9; tesoura
material coletado! Metzenbaum; pinça de tecido de Adson
(¨dente-de-rato¨); pinça universitária; pinça
hemostática curva; pinça de campo; afastador
de Minnesota ou de Austin; pinça porta-agulha;
fio de sutura; ponta de aspiração e um pacote
de gaze. Ainda quanto aos instrumentais
utilizados em biópsias, há de se abordar
algumas considerações importantes que visam
a minimizar o risco de obtenção de espécimes
inadequadas. O uso de pinça dente-de-rato é
comum, porém não se deve estirar o fragmento
ou manipular com pressão excessiva durante
sua remoção. Ele deve ser dito para pinças
anatômicas convencionais que, se utilizadas
com pressão, provocam esmagamento do
tecido, prejudicando a análise microscópica
adequada. Não adianta biopsiar um tecido que
Fig. 5. Aspectos orientadores para uma biópsia não seja satisfatório para análise, seja em
incisional adequada. Primeiramente, perceba a tamanho, seja em qualidade (por exemplo,
indicação de biópsia incisional dada à extensão cheio de artefatos provocados por manipulação
da doença (figura superior esquerda). Nas descuidada do tecido).
figuras esquemáticas do canto inferior
esquerdo nota-se o perfil de incisão e a Em casos de biópsia incisional, recomenda-
profundidade, que corresponde à introdução se que o formato de corte deva ser em forma
de aproximadamente a metade de uma lâmina elíptica no sentido horizontal e em forma de
15. Prefere-se maior profundidade do que cunha no sentido vertical (Fig. 5). O fragmento
extensão. Nos quadros da direita veja o não deve ser menor que 5mm em
resultado de sutura e, abaixo, o formato do profundidade ou extensão. Se possível,
fragmento removido, com profundidade aumentar a extensão para área que envolva
adequada para observar-se o epitélio e margem sadia para lesões em forma de úlcera,
conjuntivo, assim possibilitando diagnóstico da mácula ou placa. O uso de bisturi circular
doença. As imagens representam um caso de (¨punch¨) em biópsias de cavidade bucal tem
penfigoide das membranas mucosas (note o ganhado a preferência de alguns profissionais
descolamento entre epitélio e conjuntivo). no dia a dia clínico, principalmente para lesões
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em forma de placa ou, ainda, em lesões
extensas, especialmente útil em lesões de
palato, mucosa jugal, língua e assoalho bucal,
mas podendo também ser utilizada em lesões
de rebordo e lábio, como mostrados nas figuras
6 e 7. O bisturi faz corte a partir do seu giro,
proporcionando um fragmento em forma de
cilindro. Seu uso faz-se concomitante ao de
uma tesoura de ponta curva ou lâmina de
bisturi utilizadas para a secção da base do
espécime que permanece aderida após o corte
Fig. 7. Biópsia incisional com uso de bisturi punch
com o ¨punch¨. No mercado existem vários esterilizável. Nessa imagem nota-se claramente que
tipos com diferentes diâmetros de corte e o tecido obtido tem forma de cilindro, livre de
profundidade, havendo opções descartáveis e esmagamentos ou outros artefatos cirúrgicos.
permanentes. (imagem gentilmente cedida pelo Dr. Alexandre
Vieira Fernandes).
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Fig. 8. ¨Técnica popular¨ utilizada para biopsiar um
nódulo em mucosa jugal. Observe a facilidade de
estabilização para realização de exérese da lesão.
Fig. 10. Mucocele em lábio inferior em seu aspecto
inicial, após remoção de todas glândulas salivares
menores locais e imagens histopatológicas da lesão.
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diagnóstica a biópsia que consiste na remoção
de 3 a 5 glândulas salivares menores do lábio
inferior. O procedimento é simples e faz-se
através de anestesia por bloqueio de nervo
mentoniano e incisão de 1 a 2 centímetros em
mucosa labial de aparência normal paralela à
vermelhão do lábio. Após a incisão, uma
eversão labial permitirá a visualização dos
lóbulos correspondentes a cada glândula
menor, que então devem ser cuidadosamente
pinçados e dissecados com o bisturi ou tesoura. Fig. 12. Área demarcada envolvendo úlcera em lesão
Tal procedimento tem sido constantemente eritroleucoplásica, onde fora realizada biopsia
utilizado por dentistas na investigação dessa incisional. O exame histopatológico acabou
doença que provoca hipossalivação, xerostomia revelando um carcinoma de células escamosas.
e secura nos olhos, mais comum em mulheres
acima de 45 anos. O procedimento também
tem sido solicitado por reumatologistas, que
são os médicos aos quais os pacientes devem A biópsia intra-óssea demanda habilidades
ser encaminhados em casos de confirmação cirúrgicas com relação à necessidade de
dos achados da síndrome de Sjögren nas retalhos, conforme visto em capítulos
glândulas salivares removidas. anteriores. As incisões Interpapilares, com ou
sem uso de relaxantes, são as mais
interessantes para uso corriqueiro (técnica de
Em casos de lesões precursoras ou envelope, Neumann e incisão de Neumann
potencialmente malignas, que são discutidas no modificada). Na figura 13, demonstra-se um
capítulo a seguir, aconselha-se sempre que caso de biópsia incisional intra-óssea em que se
possível a biópsia excisional, visto que são utilizou incisão interpapilar para acesso ao
lesões que podem transformar-se em câncer. tecido duro. Na figura 14, vê-se uma biópsia
Na impossibilidade de executar-se tal escolha, o excisional que, pelas dificuldades impostas pelo
clínico deve então considerar regiões onde uso do aparelho ortodôntico, não foi realizada
clinicamente exista maior risco de um processo a referida técnica. Após incisão e exposição da
maligno já estar instalado. As zonas de escolha superfície óssea, o acesso à lesão é facilitado
devem sempre recair em regiões de com uso de broca esférica número 6, sob
heterogeneidade de cor (branco e vermelho), irrigação contínua de soro fisiológico 0,9%,
heterogeneidade de superfície (áreas rugosas e executando-se um desgaste ósseo controlado
com fendas) e áreas endurecidas (Fig. 12). Em até que se perceba uma mudança de aparência
lesões que apresentam mais de uma região no tecido que indica a proximidade da lesão. O
com essas características, deve-se remover cuidado é dado para que não se criem
espécimes de múltiplos locais dessas lesões, perfurações na área lesional com a broca. Um
sempre respeitando os parâmetros mínimos de cinzel pode ser utilizado para finalizar o acesso
margens mínimas de 4 a 5 milímetros e e criar a janela óssea necessária à biópsia, seja
profundidade semelhante. Se existirem locais incisional ou excisional, a depender do
de ulceração, deve-se remover sempre tecido planejamento e do tamanho da lesão em que
saudável adjunto à zona de úlcera. se busca o diagnóstico. Vale salientar que em
alguns casos a lesão pode ser acessada sem uso
Quando às lesões ulceradas com suspeita de de broca, pois muitas vezes ela acomete a
carcinoma espinocelular, recomenda-se a superfície óssea, o que pode ser previsto ao
remoção que inclua 4 a 5 milímetros de exame de palpação da região ou pelo exame
margens de tecido saudável e profundidade radiográfico e, no mais tardar, após o
semelhante. rebatimento do tecido mole durante o acesso.
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Fig. 13. Biópsia incisional de lesão intra-óssea de aspecto radiográfico misto, predominantemente radiolúcida e com
focos radiopacos. A hipótese foi de cisto odontogênico calcificante. Após incisão intrapapilar de canino a segundo
molar, foi rebatido um retalho total. A cortical óssea foi perfurada com cuidado até ser possível seu descolamento e
a criação de uma janela óssea. Após acesso à lesão, um fragmento foi removido e enviado para exame
histopatológico. O diagnóstico de cisto odontogênico calcificante foi confirmado. Uma nova intervenção posterior
foi realizada com objetivo de enucleação completa da lesão (FREITAS, 2006),
Fig. 14. Biópsia excisional de lesão radiograficamente diagnosticada como odontoma. Após abertura por incisão
semilunar com broca esférica, criou-se a loja cirúrgica e então removeu-se a lesão. Ela provocava impactação do
canino permanente, por isso o esse recebeu fio ortodôntico (que deve ser colado com botão ortodôntico caso haja
possibilidade), ficando o fio acessível ao ortodontista, que o tracionou lentamente até colocar o dente impactado
em função normal (imagem gentilmente cedida pelo Dr. Danilo Saletti França).
337
Exame de imagens. É importantíssimo que o clínico execute
uma punção diagnóstica antes de biopsiar
Apesar de ser um exame complementar, a lesões radiolúcidas amplas (Fig. 15), a fim de
interpretação de imagens é outra habilidade reconhecer o conteúdo da lesão, se sólido
extremamente importante no planejamento de (aspiração negativa ou sem aspiração) ou
biópsias intra-ósseas, principalmente com cística (aspiração do conteúdo da lesão na
relação à localização radiográfica da lesão, para seringa). O uso desse procedimento pode
o planejamento do acesso. fornecer ideias de diagnóstico diferencial das
lesões, com base nas características do
conteúdo cístico obtido, e até na ausência de
Punção aspirativa. conteúdo, em que o clínico então concluirá que
está diante de uma lesão sólida (KLINE, 1981).
Com auxílio de uma seringa e agulha de Tais características são descritas no capítulo a
grosso calibre, pode-se explorar lesões intra-
seguir, na seção de ¨lesões ósseas¨. Em caso de
ósseas para investigar o conteúdo de seu punções diagnósticas com aspiração de sangue
interior (se sólido ou líquido). Lesões com
vivo, deve-se abortar a biópsia e solicitar
conteúdo líquido e vermelho denotam a angiografia e avaliação, sob suspeita de
possibilidade de origem vascular, exigindo
malformação vascular intra-óssea, que deve ser
cautela para a realização da biópsia e preparo operada em centro cirúrgico devido ao risco de
do profissional para possíveis hemorragias.
hemorragia transoperatória.
Lesões centrais com conteúdo amarelo citrino
denotam a possibilidade de uma entidade
patológica de origem cística, enquanto que
Fixação dos fragmentos obtidos após biópsia.
lesões de conteúdo amarelado com aparência
semelhante a queijo cottage é sugestivo de A fixação é a operação que deve ser
queratocisto odontogênico. realizada imediatamente após a coleta de
material para análise, ou seja, imediatamente
após a biópsia o fragmento deverá ser
mergulhado em um agente fixador. O frasco
contendo o fixador deverá estar disponível na
sala de cirurgia. O formol, sob a concentração
de 4% de aldeído fórmico, ou 10% de solução
de formol, é o agente de melhor custo
benefício e é usado rotineiramente como
fixador de biópsias. Não é comercialmente
vendido, exceto para hospitais, universidades e
laboratórios, que então têm a função de
fornecê-lo aos profissionais cadastrados e que
realizam biópsias em sua prática clínica. O
agente fixador tem como objetivo conservar,
dentro do possível, a forma e a estrutura do
tecido removido, evitando a desintegração que
os tecidos sofrem quando são removidos,
mediada principalmente por enzimas
lisossomais. Além de preservar o tecido da
autólise, o fixador ainda deve causar o
Fig. 15. Lesão radiolúcida em maxila, deslocando endurecimento do tecido para permitir a
dente impactado. A punção revelou que a lesão é de secção em mínimas espessuras (<6µm),
natureza cística, com conteúdo fluido de aspecto desvitalizar ou desativar agentes infecciosos,
hemorrágico. estabilizar componentes teciduais e aumentar a
338
afinidade pelos corantes. Tais características Escamosas, e que estão em período de controle
são fundamentais para que o tecido esteja clínico, fazendo-se, assim, a citologia em áreas
adequado para uma análise microscópica. de onde o tumor foi removido. Sua grande
importância reside na simplicidade de aplicação
Deve-se ter como regra para boa fixação da técnica (não existe necessidade de elevada
uma combinação de solução de formol habilidade manual do clínico) aliada à sua não-
satisfatória, tempo e volume. A solução de invasividade. Basicamente, os procedimentos
formol satisfatória é aquela que está no prazo que são exigidos do clínico são colher as células
de validade. É aceitável o prazo de um mês superficiais da mucosa bucal através de
para a validade do formol diluído e reenvasado, instrumentais de raspagem; disseminá-las
fornecido pelo laboratório ou universidade. corretamente em lâmina histológica; aplicar
Com relação ao tempo, sabe-se que é agente fixador e armazená-las adequadamente
necessário um período de 24 a 48 horas para para envio ao laboratório de patologia bucal
que haja uma ligação completa do formol aos (PETERSON et. al., 1993).
tecidos e, assim, possa ser preservado para
uma análise histológica sem artefatos.
Portanto, uma biópsia não pode ser processada
no laboratório no mesmo dia em que foi
coletada. O volume de solução deverá ser de 15
a 20 vezes maior do que o volume da peça
removida, para que haja penetração suficiente
e para que se evite que o fixador seja diluído
pela água que está contida na peça.
339
CE é uma técnica não agressiva e muito bem Gaze: utilizado para limpeza prévia das lâminas
aceita pelos pacientes. Prática comum na de vidro que receberão as células esfoliativas
clínica médica ginecológica, a citologia recolhidas com as espátulas ou microescovas.
esfoliativa tem sido de grande valor no
diagnóstico precoce de doenças malignas como Lápis: utilizado para identificação da lâmina
o carcinoma de cólon de útero e, desde sua (nome do paciente e quantidade de lâminas
utilização, a literatura tem relatado decréscimo com seus respectivos sítios de coleta).
em números de morte por conta da doença.
Clipe: utilizado para separar as lâminas em seus
Entretanto, a técnica também tem sido ilustre
recipientes.
desconhecida da maioria na prática
odontológica. Apesar de todas as vantagens, Spray fixador: produto comercializado em lojas
recomenda-se a CE apenas nos casos em que de material de laboratório de análises clínicas a
não está viável a realização da biópsia, pois base de álcool 95%, utilizado para a fixação das
essa última tem valor diagnóstico infinitamente células esfoliativas na lâmina de vidro de
superior ao da CE. Um dos pontos críticos da CE microscopia.
é a possibilidade de resultados falso-negativos:
quando o paciente possui a doença e o Recipiente: utilizado para armazenar as lâminas
resultado do exame atesta que não. Da mesma de vidro já devidamente identificadas e com as
forma, podem ocorrer falso-positivos: quando o células esfoliativas devidamente depositadas
paciente não possui a doença e o resultado do em sua superfície.
exame atesta que sim. Assim, a CE deve ser
sempre complementada pela biópsia em casos Soro fisiológico: utilizado para bochecho prévio
onde a CE não é compatível com os achados do paciente com objetivo de limpeza das
clínicos e, ainda, sempre que a CE indicar superfícies da cavidade bucal.
malignidade, pois a biópsia será o resultado
mais confiável para que o paciente siga para o
tratamento cirúrgico agressivo que se reserva à
1-Prepare seu paciente.
maioria dos casos de carcinoma bucal.
Já acomodado na cadeira odontológica, o
A CE não é indicada para investigação de
paciente deve ser instruído a realizar bochecho
lesões onde as alterações celulares estão em
de vinte segundos com soro fisiológico 0,9%
planos profundos, ou seja, abaixo do epitélio de
para remoção de debris presente na superfície
revestimento. As lesões epiteliais hiper-
da cavidade bucal.
queratóticas homogêneas também possuem
contra-indicação de vários autores, pois a
técnica classicamente se presta a analisar as
2-Prepare a lâmina.
células esfoliativas superficiais recolhidas e, em
tais casos, apenas células da camada superficial a) Limpeza: sujeiras na lâmina prejudicarão o
e queratose seriam observadas, sendo inútil patologista em sua análise do material
para o diagnóstico. recolhido e enviado para análise. Sugerimos o
uso de gaze estéril para a preparação prévia
das lâminas de vidro que serão usadas na CE.
Materiais necessários para a CE, sua utilidade
Como se faz isso? Pegue a gaze e a lâmina (uma
e o passo a passo para sua realização
em cada mão) e passe em sentido único por
Espátulas ou cito escovas: utilizado para todo o comprimento da lâmina com certa força
realizar a coleta das células esfoliativas. em suas duas faces, sempre observando
atentamente se existem resíduos grosseiros de
Lâmina de vidro (de microscopia): É nela que gordura ou poeira nela presentes e se vão
as células esfoliativas recolhidas devem ser sendo eliminados conforme você realiza os
depositadas. movimentos para limpeza.
340
b) Identificação: toda lâmina de vidro para 5-Fixar as células esfoliativas na lâmina de
microscopia possui uma parte em sua vidro de microscopia: com uma das mãos você
extremidade despolida adequada para segura a lâmina com material já devidamente
identificação através do uso de lápis. Você deve distribuído em sua superfície, com a outra mão
anotar nessa região dados como nome do você segura o spray fixador. Em uma distância
paciente e número de lâminas enviadas para de cerca de vinte centímetros um do outro,
análise. você borrifa o spray sobre a lâmina.
341
RG: Consistência.
Idade:
( )Flácida.
Sexo:
( )Borrachoide.
Etnia:
( )Fibrosa.
Profissão:
( )Dura.
Endereço:
Telefone:
Sintomatologia.
( )Assintomática.
Dados do profissional.
( )Dolorosa.
Nome:
( )Prurido.
Instituição:
( )Parestesia.
CRO: ( )Formigamento.
Endereço:
Telefone:
Aspectos radiográficos:
( )Radiolúcido.
Dados Clínicos.
( )Radiopaco.
Duração da lesão. ( )Misto.
Tamanho da lesão.
Localização da lesão. Hipótese diagnóstica: ....................................
( )Vesícula.
( )Biopsia excisional.
( )Bolha.
( )Úlcera.
( )Mácula. Fixador.
( )Formol.
Cor. ( )Álcool.
( )Outros.
( )Eritematosa.
( )Negra.
Observações........................................................
( )Branca.
.............................................................................
( )Amarela. .............................................................................
342
REFERÊNCIAS STANDRING, S.. Gray’s Anatomia: a base
anatômica da prática clínica. 40.ed. Rio de
BORAKS, S.. Diagnóstico bucal. 3.ed. São Paulo: Janeiro: Elsevier, 2010.
Artes Médicas, 2001.
343