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brasíli a médi c a
A RTIGO E SPECIAL
RESUMO
PALAVRAS-CHAVE
Anamnese; Relações Médico-Paciente; História Clínica.
patia significa colocar-se no lugar xa principal, geralmente, é o sinto- para a sua família e para o seu tra-
do outro e sua essência reside no ma ou sinal-chave para o diagnós- balho.
acurado entendimento dos senti- tico, em torno da(o) qual giram to-
mentos da outra pessoa, na capaci- das as informações complementa- QUALIDADES DO MÉDICO PARA FAZER
dade de entender mais claramente res da história clínica. A queixa prin- UMA BOA HISTÓRIA
o significado da doença para o do- cipal é, pois, a informação sobera- Para obter uma história clínica,
ente3. A boa relação médico-paci- na, à qual se segue o chamado cor- além de saber ouvir e de ganhar a
ente melhora a qualidade do aten- tejo clínico, constituído por todos os confiança do doente, o historiador
dimento, promove a satisfação do demais sintomas e sinais. É possí- deverá reunir três qualidades essen-
cliente, afeta positivamente o segui- vel que, após completados a anam- ciais.
mento, permitindo cuidados efetivos nese e o exame físico, o médico
e satisfatórios14,25. A boa relação venha a concluir pela existência de Em primeiro lugar, deve ter a
médico-paciente estabelece, por- um outro sinal, ou até mesmo de um perspicácia de um DETETIVE, na
tanto, a plena confiança, colabora- sintoma, mais importante do que tarefa de reunir o maior número de
ção e adesão interessada do paci- aquele relatado como principal. pistas diagnósticas, representadas
ente às condutas diagnósticas e te- Contudo, o clínico não pode abso- pelos sintomas e pelos sinais, e
rapêuticas, facilitando o processo de lutamente ignorar nem menospre- estudá-las em profundidade, disse-
cura, objetivo do mister médico. zar aquilo a que o paciente empresta cando-as em todos os itens cabíveis
importância capital, ao relatar a sua de investigação. Depois, pela reu-
A anamnese não é somente bá- doença. Deve-se sempre ter em nião de todos os indícios levanta-
sica para o raciocínio clínico mas, mente que a queixa principal é a do dos, ordenando-os como peças de
constitui, mesmo, início de trata- paciente, e não a do médico. um quebra-cabeça das quais deve
mento5,7,10,14. A chave terapêutica conhecer todos os detalhes, ângu-
pela qual a excelente comunicação A seguir, inquire-se sobre a “His- los e arestas, poderá então ter a vi-
médica pode curar o mal-estar e ou tória da Doença Atual” propriamen- são geral do quadro clínico e a for-
a doença está na redução da de- te dita. Dentro da anamnese, é a mulação diagnóstica. Em histórias
pressão e da ansiedade14, presen- história clínica o elemento funda- muito longas, com vários anos de
tes em mais de 35% dos pacientes mental para a formulação da hipó- duração, há de ter-se o cuidado de
que procuram os consultórios27. A tese diagnóstica ou, até mesmo, em não se perder em um verdadeiro
anamnese exerce um efeito psico- muitos casos, do diagnóstico exato. mar de informações prestadas,
lógico positivo sobre a recuperação Aqui, em verdade, é o paciente muitas vezes colaterais, irrelevantes
do paciente, “uma relação terapêu- quem irá dizer, ao médico, qual é o ou inúteis, capazes de confundir e
tica”23, a ponto de Balint & Novell1 seu diagnóstico. É claro que ele desviar o rumo do relato da doença
afirmarem que “quando o doente não irá nomear explicitamente o básica para caminhos acessórios,
não se sente melhor depois da con- seu mal mas, como toda doença distanciando-se e perdendo-se a
sulta ao médico, é porque este é um se manifesta sob a forma de si- objetividade da história principal.
mau médico”. Essa melhora, por nais e de sintomas, ele o irá dizê- Essa é uma característica de paci-
mais momentânea que seja, corres- lo nas entrelinhas da história. Ca- entes hipocondríacos mas, também,
ponde ao estabelecimento de uma berá ao médico ouvinte a con- ocorre freqüentemente com paci-
relação de confiança entre o médi- catenação e a interpretação cor- entes da área rural, devido ao pou-
co e o paciente, que começa a ser retas dos fatos, valendo-se dos co contacto com os profissionais de
alicerçada na entrevista médica. seus conhecimentos clínicos. saúde, ou por falta destes ou por
falta de oportunidades para consul-
AS ETAPAS DA ANAMNESE A anamnese é complementada tas, os quais, quando se vêem dian-
Com a finalidade de clareza nas pelos “Antecedentes Fisiológicos, te do médico, parecem querer con-
informações e de estabelecer uma Familiares, Epidemiológicos, Pato- tar tudo o que já sentiram, tudo o
ordem na exposição dos diferentes lógicos e Sociais”, que investigam que estão sentindo e, até mesmo,
fatos informados, é de praxe desen- fatos pretéritos ou presentes da vida previdentemente, tudo o que têm
volver-se a anamnese por etapas. do paciente, precursores da enfer- mêdo de virem a sentir.
midade, ou a sua ligação com a do-
A anamnese começa com a ença atual. Além disso, os antece- A segunda qualidade do bom
“Queixa Principal” do paciente, o dentes permitem descobrir o signi- historiador clínico é a de ser um bom
motivo principal que o trouxe à pro- ficado orgânico, psíquico e social REDATOR, tendo a capacidade de
cura dos cuidados médicos. A quei- que a doença traz para o paciente, ordenar todos os fatos em ordem
lam demais, outros que se escon- cupação entre educadores e pes- ção diagnóstica e na conduta clíni-
dem sob um mutismo inviolável, quisadores em ensino médico, que ca, nas discussões em visitas, ses-
outros evasivos, tímidos, melancó- chamam a atenção para a urgente sões clínicas e sessões anátomo-
licos, emotivos, paranóicos, manía- necessidade de programas de trei- clínicas;
cos, histéricos e, até, hostis diante namento dentro do currículo da 5) maior interesse das escolas
do médico e das ações médicas. A Residência em Medicina interna, a médicas em prover adequado nú-
abordagem e o estilo da entrevista fim de assegurar que a proficiên- mero de professores clínicos peri-
irão variar em cada caso, devendo- cia nessas habilidades seja conti- tos no ensino da anamnese, dotados
se acomodá-los aos diferentes es- nuamente objetivada e avalia- de interesse e entusiasmo naturais
tilos de pacientes. No entanto, em da9,12,24,26,28. Em nosso meio, em- para ensiná-la à beira do leito;
todas as situações, entrará em ação bora ainda não avaliada quantitati- 6) incluir a apreciação da for-
o preparo profissional, a formação vamente, observa-se uma perda mação semiológica, de habilidades
ética, a habilidade do interrogador, gradual da riqueza e da precisão das anamnésicas e da capacidade de
a boa relação médico-paciente e, informações obtidas na anamnese, correlacionar a sintomatologia na
sobretudo, o dom da verdadeira no transcorrer da graduação, após construção diagnóstica, dos candi-
vocação. O paciente deve ser esti- concluída a disciplina de Semiologia, datos em concursos de seleção para
mulado à colaboração espontânea durante as fases de Internato e de pós-graduação e, principalmente,
e encorajado a falar livremente. É Residência Médica. A perícia na para a docência em Medicina;
expressamente vedado ao médico arte de efetuar uma história deta- 7) encorajar a pesquisa sobre a
o engodo, a ameaça, a chantagem, lhada e completa passa a ser vista, utilidade da anamnese no diagnós-
a coação ou qualquer outro método desdenhosamente, como exigência tico, na terapêutica e na satisfação
agressivo para obter a informação exagerada que o professor deva do paciente com a consulta médica.
desejada. A Medicina é, antes de fazer, exclusivamente, ao aprendiz
tudo, uma ciência de relações hu- iniciante. No entanto, a revaloriza- CONCLUSÃO
manas: todo o processo de curar ção da anamnese está sendo con- O exercício do verdadeiro mis-
pode admitir-se como resultante de siderada o movimento mais impor- ter da Medicina exige, no momen-
uma perfeita comunicação entre o tante, no momento atual, para que to, um retorno à intensificação da
paciente e o médico. se possa recuperar o prestígio da prática de normas mais médicas,
profissão médica18. Diversas estra- realmente dirigidas ao bem-estar
Outras situações clínicas ainda tégias para a revigoração da práti- total daquele que sofre, dentro da
mais complexas tornam mais difícil ca da semiologia, em nosso meio, visão integral do ser humano. As
a obtenção da anamnese e a defini- têm sido propostas15. Com referên- escolas médicas têm a responsabi-
ção da doença atual13: existência de cia específica à anamnese, no âm- lidade inalienável de exigir e vigiar
mais de uma doença, doenças crôni- bito do curso de Medicina, devem a manutenção de um melhor ensi-
cas recurrentes, complicações de ser enfatizados os seguintes pontos: no da anamnese. Não se pode con-
uma doença pré-existente, complica- 1) melhor estruturação e atua- ceber que em países ricos, dotados
ções do tratamento, etc. Na maioria lização do ensino teórico e prático de maiores recursos técnicos, a
das vezes, essas dificuldades são di- da anamnese, inclusive com a utili- classe médica esteja mais engajada
rimidas através da investigação ob- zação dos recursos modernos da na maior valorização da anamnese
jetiva dos antecedentes e pela defini- multimídia e de laboratório de habi- e da boa relação médico-paciente,
ção das associações mórbidas pre- lidades; enquanto médicos dos chamados
sentes, no decorrer da entrevista. 2) maior tempo destinado ao países em desenvolvimento estejam
aperfeiçoamento da obtenção da solicitando, cada vez mais, dis-
Contudo, talvez a maior de to- história, durante o treinamento clí- pendiosos exames laboratoriais,
das as dificuldades hoje enfrentada nico-semiológico; em detrimento da Semiologia. A
pelos médicos para uma necessá- 3) manutenção da continuidade anamnese é, ainda hoje, o elemen-
ria boa anamnese tem sido o des- de ensino e avaliação, primordial- to mais importante da clínica para
leixo no ensino da Semiologia na mente prática, da habilidade na en- o estabelecimento da relação mé-
Faculdade de Medicina e a falta de trevista médica e da competência dico-paciente, do diagnóstico e das
consolidação da base do conheci- de interação médico-paciente, du- condutas terapêuticas que irão de-
mento semiológico, ao longo do pe- rante o Internato e a Residência terminar a cura ou o alívio do pade-
ríodo de graduação e pós-gradua- Médica; cente. Trata-se de um ato de co-
ção6,15,24. Nos Estados Unidos, o 4) maior empenho na valoriza- municação, que exige do médico a
assunto é motivo de grande preo- ção da história clínica, na formula- qualidade primordial de um bom ou-
Abstract
bsbm
brasíliamédica LISTENING TO THE PATIENT: THE ANAMNESIS IN CLINIC DIAGNOSIS
JOÃO BARBERINO SANTOS
More important than physical cation, indispensable for proper medical schools regarding se-
examination and laboratory tests, clinical management. Medical miotechnical training. We
medical interview is crucial to interview is carried out in stages, should give greater attention to
diagnosis, as well as to establishing so that the information collected the goals and methods of
medical procedures which will is organized. Obtaining a good semiology taught in our medical
benefit patients. In and of itself, history requires specific skills and schools today.
medical interview is therapeutically a solid ethical stance on the part
and psicologically beneficial, of the interviewer. Among the KEY-WORDS
contributing to patients recovery. It difficulties that physicans must Diagnosis; Physician-Patient
is also the best way to establish a face today, an important place is Relations; Medical History
healthy doctor-patient communi- occupied by the lax attitude of Taking.