Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Palavras-chave:
1. Escolas paroquiais 2. Métodos de alfabetização 3. Missão Oeste do Brasil
1. INTRODUÇÃO
2. METODOLOGIA
Ressalta-se que foi realizado um estudo acerca da história de uma instituição escolar, a
Escola Simonton, partindo de sua criação, organização, até as características da prática
pedagógica, os professores, os alunos, sua relação com a Igreja Presbiteriana e com a comunidade
unaiense. De acordo com Gatti Junior e Oliveira (2002, p.74):
Ainda nesse sentido, Magalhães (1996?) enfatiza que o estudo de uma instituição é um
processo de investigação onde se cruzam informações de várias naturezas: orais, arquivísticas,
museológicas, arquitetônicas, fontes originais e fontes secundárias e um manancial de informação
cuja exploração e utilização carecem de uma cuidadosa vigilância hermenêutica. Um vaivém
esclarecido entre a memória e o arquivo.
O estudo da história das instituições possibilita a compreensão do passado e o
conhecimento dos fatos que ficam omitidos, quando se considera apenas as informações
transcritas nos documentos. É necessário conferir sentido à existência da instituição.
A memória libera sentimentos poderosos, contudo, para o pesquisador, elas podem ser tão
ameaçadoras quanto importantes, por isso exige cuidado especial na análise das respostas para
agrupar as histórias relatadas. A ligação entre a análise teórica e a história oral pode permitir
novas hipóteses, transferindo o centro das atenções dos livros para as pessoas. (MEIHY, 1996)
Foram entrevistados ex-professoras, ex-alunos, ex-diretoras, membros da igreja e
fundadores da Escola Simonton. A Sra. Elinete W. P. Miller, que ajudou Martha Little na
supervisão das escolas paroquiais na região de Unaí, Brasília, Goiás, atual estado de Tocantins e
Pará também participou da pesquisa. Uma das ex-diretoras, a Sra. Odete Bontempo mora
atualmente no Paraná, mas também respondeu as perguntas enviadas a ela por sedex.
As informações obtidas foram analisadas qualitativamente e são relacionadas de acordo
com a trajetória da instituição em foco. No decorrer da pesquisa foram encontradas, fotografias e
documentos pessoais das ex-professoras que contribuíram de forma significativa para o
desenvolvimento da pesquisa.
Nas pesquisas realizadas anteriormente por Leite e Ribeiro (2002) , Leite (2005) e Ribeiro
(2005) fica evidente a presença da linha escolanovista na organização didático-pedagógica das
escolas paroquiais. A presença do pragmatismo norte-americano e a utilização de métodos globais
de alfabetização intensificam-se a partir de 1948 com a chegada de Martha Litlle ao IBEL, ela
ficou responsável pelo curso de formação de professoras rurais. E em 1954 tornou-se supervisora
de todas as escolas paroquiais mantidas pela Missão Oeste do Brasil:
Sua formação e experiência profissional nos moldes da Escola Nova aliados à formação de
professoras rurais no IBEL, permitiu:
[...] um trabalho junto com as professoras e junto com elas foi construindo uma
nova metodologia de ensino, mais participativa, com atividades mais concretas e
adequadas à realidade. A seleção de conteúdos dos currículos e a metodologia foi
sendo discutida em cada escola. O sistema de avaliação onde o trabalho do aluno
não era somente valorizado durante as provas, mas durante todo o processo de
ensino e de aprendizagem. (MILLER, 2004, p. 02).
O crescimento das escolas e o surgimento de outras levou Martha Litlle aos Estados
Unidos para um curso de aperfeiçoamento pedagógico na Universidade de Geórgia, seu objetivo
era aprender novos métodos de ensino e avaliação, formou-se em 1965. Para aprender mais sobre
a educação no Brasil, freqüentou os cursos oferecidos pelo Estado de Minas Gerais e pesquisou a
bibliografia dos educadores brasileiros. E, para aperfeiçoar a formação das professoras formadas
pelo IBEL,
D. Frances era de fina educação. Possuía carteira de motorista, fato que causou
grande espanto. Dentro das acanhadas limitações do meio, isto era “fora de
série”. Onde já se viu mulher guiar carro? Era o que constantemente se ouvia.
Mesmo os de mentalidade mais esclarecida, acorriam às portas e janelas, só para
vê-la passar dirigindo. Uma inédita cena para aqueles longínquos dias.
Cardoso (2010) relata que quando o Reverendo Sloop chegou à cidade, ele fez um mapa
geográfico e comprou lotes em lugares estratégicos. No centro da cidade construiu a igreja
presbiteriana e mais duas casas. Também comprou lote no bairro Cachoeira que mais tarde foi
vendido e o dinheiro, divido entre a Missão e a igreja de Unaí.
Na década de 1960 Sloop foi para o estado do Amazonas e foi substituído pelo Reverendo
Jessé Chagas que trabalhou por dois anos na cidade, sendo substituído em 1965 pelo Reverendo
Adão Bontempo. Bontempo veio de Campinas para Unaí juntamente com sua esposa Odete
Rodrigues Bontempo. O seu trabalho foi dar seqüência ao que havia sido iniciado por Stevão
Sloop. A Igreja Presbiteriana e a Escola Simonton eram sustentadas pela WBM. Quando a igreja
teve condições de se manter sozinha tornou-se independente, e foi organizada no ano de 1971
sendo denominada Igreja Presbiteriana de Unaí.
A Escola Simonton foi criada simultaneamente à Igreja Presbiteriana, por volta do ano de
1950, ambas subsidiadas pela Missão Oeste do Brasil. A escola recebeu este nome em
homenagem a Ashabel Green Simonton, primeiro missionário presbiteriano a chegar ao Rio de
Janeiro em 1859. No início as condições eram precárias:
A instituição criada pelos missionários não tinha interesses financeiros, para ajudar com o
pagamento de funcionários e materiais de limpeza, era cobrada uma taxa anual dos alunos que era
somada à verba liberada pelos missionários para a manutenção da escola. Cardoso (2010, p. 3)
enfatiza que: “O objetivo da escola era alfabetizar os crentes, e sua filosofia era dar apoio a quem
quisesse aproveitar o que a missão tinha de melhor.”
Em 1967, começou a funcionar uma extensão da Escola Simonton na fazenda Mamoneira.
Não havia salas de aula, as crianças com os pés descalços estudavam sentadas em banco de
madeira debaixo de uma árvore, o quadro ficava no chão.
Em Unaí, o primeiro diretor da Escola Simonton foi Estevão Sloop, depois Adão
Bontempo e Odete Bontempo, mais tarde a Sra. Marcília Cândida Bastos.
Os trabalhos realizados pela Escola estavam bem à frente do seu tempo já nos anos de
1950. Tanto no que diz respeito aos métodos de ensino, quanto em questões trabalhistas. De
acordo com Cardoso (2010), as professoras trabalhavam de carteira assinada. O registro era feito
em Campinas pela Missão Presbiteriana do Brasil. Em 1973 foi feito a baixa, para no mesmo ano
registrar no nome da Igreja Presbiteriana de Unaí. A baixa definitiva na CTPS das professoras foi
feita no início dos anos 1980.
A Tabela 01 refere-se ao número de alunos matriculados por ano na Escola Simonton:
Descrito na tabela 03, o ano de 1961 e 1965 no item que se refere à profissão com curso
superior, cita-se: dentistas, oficiais de justiça e delegado. Nos itens outros, cita-se a profissão de
comerciante, pedreiro, pintor e doméstica. O ano de 1971, no item que se refere às profissões com
curso superior: há professor, escrivão, dentista, promotor, farmacêutico e advogado. E o item
outros, se refere a fotografo, telégrafo, militar e motorista.
Com a análise torna-se evidente a credibilidade e prestígio que a Escola conquistou entre a
população, quando o público atendido passou de trabalhadores braçais para profissionais liberais.
Tabela 04: Religião dos pais dos alunos da Escola Simonton
Unaí/MG – 1961 -1971
Ano Católico Presbiteriano Outras Total
1961 74 30 05 109
1962 125 62 00 187
1963 107 30 02 139
1964 40 41 02 83
1965 89 26 17 132
1966 117 56 07 180
1967 42 15 04 61
1968 104 23 10 137
1969 146 18 02 166
1970 143 33 02 178
1971 146 28 03 177
Fonte: Livro de Matrículas da Escola Simonton.
No que se refere à religião a tabela 04 explicita que apesar de a escola ser presbiteriana,
dos 1372 alunos matriculados, 1133 eram católicos, o que mostra que a escola não fazia exclusão
de alunos por serem de outra religião. Apenas no ano de 1964 o número de presbiterianos foi
maior que o de católicos. Além dos Católicos e Presbiterianos, havia também alunos que
pertenciam às igrejas Batista, Congregação Cristã e ao Espiritismo. Muitos pais não informaram a
religião.
Os alunos da quarta e quinta série, participavam de formaturas que a escola realizava.
Cardoso (2010, p. 4) relata que “Toda formatura a dona Martha vinha com caixas de bíblia e dava
uma a cada um. Era uma coisa bem preparada mesmo, top de linha. Com aparato de formatura de
faculdade naquele tempo... mas o pessoal era mal arrumado, com pé no chão.”
As professoras da Escola Simonton tiveram que fazer cursos de magistério para dar aulas
em escolas estaduais ou municipais, porque o curso que elas faziam pelo IBEL não foi
reconhecido pelo Ministério da Educação.
8. METODOLOGIA DE ENSINO
A metodologia de ensino da escola Simonton era comum às outras escolas fundadas pela
missão, e era adaptada à realidade do lugar. De acordo com o relatório enviando por Martha Little
(2004), a partir da suas visitas, eram diagnosticadas as necessidades para melhoria das escolas, a
qualidade do ensino ou para obter materiais mais adequados.
Nas palavras de Miller (2010, p. 2) Litlle:
Era um quadro que a gente dobrava e ele ficava bem pequeno. E quando abria
ele abria as partes e ficava grande. Todo de flanela. E tinha todas as figuras
bonitas com flanelinha atrás. E podia trocar as figuras também e colar na
flanela. À medida que ia contando a historia, passava as flanelas e surgiam os
desenhos. (XAVIER, 2010, p. 2)
Também havia a utilização da música como estratégia didática. Tudo o que era ensinado,
era transformado em música. A maioria das letras das músicas da Escola Simonton eram criadas
pela professora Elza Moura. Ela procurava encaixar as matérias trabalhadas, como os numerais, as
letras do alfabeto, moral e cívica, higiene e discriminação auditiva e noção de tempo musical. No
IBEL as professoras rurais aprendiam noções de música.
Uma vez que existia unidade nas atividades desenvolvidas nas escolas da Missão, acredita-
se que o material de alfabetização foi utilizado nas escolas de Minas Gerais e Goiás. Quanto ao
método de alfabetização Miller (2010, p. 5) descreve:
Uma parte do Método era chamado Global, onde as crianças iniciavam com a
história. Entender o sentido da história, depois as sentenças, palavras e letras.
Quando ensinávamos as letras trabalhávamos o Método Fonético. Estávamos
iniciando o Método Paulo Freire. Era dada muita importância ao raciocínio e ao
entendimento do texto. Esses Métodos estavam sendo introduzidos no Brasil e
adaptados à realidade brasileira pelo Centro Aperfeiçoamento de Professores João
Pinheiro. Paulo Freire estava despontando como uma grande esperança para a
educação brasileira e com um Método Brasileiro.
Nas pesquisas realizadas anteriormente Leite e Ribeiro (2002), Leite (2005) e Ribeiro
(2005) citam apenas o método global de alfabetização, como método das escolas paroquiais
presbiterianas. De acordo com suas investigações, tratava-se não apenas da influência norte-
americana, como também do contexto educacional mineiro da época de implantação do modelo
escolanovista.
Uma das preocupações de Martha Litlle foi o de seguir o programa Curricular de Minas
Gerais. Contudo a “prática pedagógica dos professores baseava-se na técnica e no pragmatismo,
sendo esta a linha pedagógica norte-americana”. (RIBEIRO, 2005, p. 167).
Nas entrevistas realizadas por Leite e Ribeiro (2002) e Ribeiro (2005), com professoras
das escolas da WBM em Patos de Minas e Lagamar, são citados os livros didáticos utilizados: no
período preparatório (pré-escolar) a Cartilha Sodré de Benedicta Stahl Sodré, no primeiro ano o
Livro da Lili de Anita Fonseca e no segundo ano O Livro de Violeta (1940), de João Lúcio. Este
autor também produziu os livros: O Livro de Elza do 3º ano e O Livro de Ildeu do 4º ano. Mas não
foram citados pelas professoras rurais. Todos esses livros eram livros adotados pelo Estado de
Minas Gerais.
Nesse sentido, havia a utilização do Método Sintético (Soletração) mediante o uso da
Cartilha Sodré e do Método Analítico.
Em Unaí, tem-se a utilização dos métodos Sintético (Fônico) e Analítico. A seguir será
feita a análise do material didático elaborado por Martha Litlle: atividades de “Iniciação à leitura:
período preparatório” e “Leitura Fonética”.
8.1 INICIAÇÃO À LEITURA: PERÍODO PREPARATÓRIO
Este material elaborado por Martha Litlle refere-se ao primeiro mês de atividades do 1º
ano. Não consta a data de elaboração do material. Na introdução (folha 1) Litlle instrui as
professoras a:
1. Experiências com números: trabalho concreto (contar objetos, comparar objetos, contar);
2. Histórias:
3. Hora de conversa ou hora de novidades: dever ser realizada todos os dias pois desenvolve a
auto-expressão; prepara para a composição oral e escrita; desenvolve o vocabulário, a memória e a
capacidade de relatar eventos na ordem certa;
4. Escrita: exercícios rítmicos todos os dias para controlar a musculatura, letra manuscrita. A
professora deve ter a letra perfeita para que os alunos possam imitar. “A perfeição se consegue
treinando.” (Litlle, s.d., p.2, a - grifos da autora).
5. Preparação para a leitura: mover os olhos da esquerda para a direita, contar objetos ou
pessoas em fila, olhar gravuras em série, traçar uma linha seguindo pontilhados, perceber
semelhanças e diferenças entre os objetos e gravuras (tamanho, forma, cores), discriminação
visual e auditiva.
6. Desenho: espontâneo. Devia ser usado todos os dias. Algumas vezes a professora deve fazer
um desenho no quadro para que os alunos copiem (capacidade de observar e copiar). Os desenhos
das crianças devem ser colocados na parede.
7. Outras atividades importantes: dramatização, gravuras, cânticos, excursões, trabalhos
manuais (modelagem, recortes, colagem, alinhavo, dobraduras, etc.), poesias, jogos e manuseio de
livros pelo prazer de manuseá-los.
1. A vida na escola e no lar (11 aulas) – todas as aulas iniciam-se com o ensino Bíblico.
Trabalha-se ainda com noção de tempo, relógio, calendário, ginástica.
Tópico da primeira aula: diferenças entre o lar e a escola; canto “Entrando em nossa
escola”; roda de conversa; dramatização simples de cenas familiares; desenho livre, recreio,
história com gravuras “Os três porquinhos”, preparação para a escrita (lllll), contagem com
músicas, discriminação visual.
Além do culto no início das aulas a questão religiosa e moral faz-se presente nos textos,
poesias, músicas e histórias:
A MERENDA DE ROSINHA (Helena Pinto Vieira)
São três bolinhos de milho
Que tem para merendar.
Mas como é boa a menina
A Rosinha já vai dar,
Um para seu irmãozinho,
E outro para um pastorzinho,
Que vê ao longe, a tocar
Os carneiros do rebanho
Que por ali vão pastar. (LITLLE, s.d., p. 18, a - grifos da autora)
2. Nossos animais de estimação (11 aulas) – todas as aulas iniciam-se com o ensino Bíblico.
Martha Litlle justifica esta unidade “pelas inúmeras oportunidades que oferece de
satisfazer a curiosidade natural das crianças” (Litlle, s.d., p. 22 a). Segundo ela há meninos que
tratam os animais com carinho e cuidado, outros são cruéis para com os bichinhos.
Litlle sugere que cada dia uma criança leve um animal para a aula. A professora a partir
disso trabalha produção de cartazes, desenho, recorte e colagem, histórias, poesias, conjuntos, faz
excursões com os alunos para conhecer outros animais e recorda a história de Noé.
No penúltimo dia de aula os alunos apresentam em auditório para os pais as poesias,
músicas, dramatizações das unidades trabalhadas. Um aluno é convidado para dizer o que
aprendeu. No vigésimo segundo dia fazem um teste. Litlle (s.d., p. 35 a) orienta: “Preparar as
crianças dizendo que vão fazer um exercício interessante (não chamar de teste nem prova).” O
teste era individual e servia para mostrar a maturidade e a prontidão da criança para a leitura.
Aqueles que não se saíam bem no teste continuavam com os exercícios de prontidão.
1. Cartões-chave: mostram a letra e ilustram seu som com a figura que começa com aquele som.
2. Cartões de gravura: usados no ensino de um som e na recordação dos sons;
3. Cartões de letra do alfabeto: para recordar as letras;
4. Cartões de palavra: treinar o uso dos sons conhecidos e “descobrir” palavras novas;
5. Cartazes de experiência: feitos durante a aula para mostrar a relação entre língua falada e a
língua escrita e para dar o prazer de “ler” uma história.
6. Faixas de sentenças: correspondem aos Cartazes de Experiências ou Leitura;
7. Cartazes de leitura: satisfazem o desejo de ler e desenvolvem as habilidades essenciais na
leitura e estabelecem bons hábitos;
8. Trenzinho do alfabeto: familiarizar as crianças com as letras de forma agradável, recordar e
mostrar a ordem alfabética.
Ênfase na relação som/letra, trabalhada mediante músicas, histórias e poesias. Divisão das
palavras em sílabas, produção de pequenos textos, cópia do quadro. Sequência das lições: cartão-
letra, cartão-chave (letra e desenho), cartão gravura, cartão palavra, atividades escritas, divisão das
palavras em sílabas, cartão sentença.
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entrevistas