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INSTITUTO MULTIDICIPLINAR

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO E SOCIEDADE

CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM GEOGRAFIA

DOCENTE: ANITA LOUREIRO

GEOGRAFIA CULTURAL

CENOGRAFIAS E CORPOGRAFIAS URBANAS


Um diálogo sobre as relações entre corpo e cidade

DISCENTES: ALINE HARRIS LOPES

DENNYS ALEF DA CUNHA

GLAUCO DA COSTA THEODORO

GLEICE KELLY PACHECO


Um diálogo sobre as relações entre corpo e cidade

O texto de Fabiana Dultra Britto1 e Paola Berenstein Jaccques2 trás


diversos conceitos, tanto da área da dança quanto da área da arquitetura-
urbana, que apresentam fundamental relevância ao exercício de
experimentação dos espaços das áreas urbanas e reflexões às práticas de
ocupação dos locais públicos por parte dos agentes envolvidos nesse
cotidiano.·.

Dentre tais conceitos podem-se destacar a diferenciação entre


cartografia, coreografia, corporalidade e corpografia, assim como, a cenografia
urbana, que serão aqui expostas de maneira pontual para fins didáticos, porém,
sem a intenção de simplificar a complexidade que suas relações envolvem.·.

A noção de cartografia (urbana) está relacionada a um mapa da cidade


construída e, muitas vezes, já apropriada e modificada por seus usuários, e
mostra a importância da utilização dos espaços pelas pessoas nas cidades.
Esta percepção parece ingênua diante do sistema urbano, porém, ressaltar que
existam corpos na cidade, retomará a humanização dos ambientes urbanos
que, por vezes, serão invisibilizados na abrangência da cidade por meio da
espetacularização da cenografia urbana que concebe a cidade como imagem
da cidade-logotipo ou cidade-outdoor, provocando o empobrecimento da
experiência urbana corporal, perceptiva, na contemporaneidade.

A coreografia remete-se à própria noção da dança onde estará


relacionada a um projeto de movimentação corporal, ou seja, um projeto para o
corpo (ou conjunto de corpos) realizar, o que implica, como no projeto urbano,
em desenho (ou notação), composição (ou roteiro) etc. Seria concebida como
uma forma de apropriação do espaço urbano.

A corporalidade pode ser entendida como a resultante dos processos

1 Crítica de dança, professora e coordenadora do PPG-Dança da UFBA.


2 Arquiteta-urbanista, professora de vice-coordenadora do PPG-AU/FAUFBA e pesquisadora do CNPq.
Coordenadora da equipe brasileira do acordo de cooperação CAPES-COFECUB “Territórios Urbanos e
Políticas Culturais”.
relacionais do corpo com outros corpos, ambientes e situações, do mesmo
tempo em que, é o que circunscreve as condições disponíveis no corpo para
formulação de uma dança. A corporalidade seria a relação dos corpos,
ambientes e situações do cotidiano da cidade·.

Por fim, a corpografia aparece como um tipo de cartografia realizada


pelo e no corpo, entendendo-se como memória urbana, mostrando o que, por
vezes, ficará ocultado no projeto original, assim como, as práticas de
apropriações do espaço urbano. O texto revela, ainda, que a cidade deixa de
ser somente uma cenografia no momento em que ela é vivida, onde os
espaços menos espetaculares são aqueles onde resistem as corpografias que
são resultados da experimentação e apropriação de seus espaços.

Uma contribuição da discussão de corpo para o debate da Geografia


Cultural pode se evidenciar na forma como o corpo ocupa, molda e utiliza a
cidade de formas/maneiras diferentes. Um exemplo bem simples que pode ser
usado foi um relato de um professor ao viajar para o Chile ele descreveu que
populares, desde pequenos, se utilizam do espaço urbano publico em sua
totalidade, como sentar-se ao chão desses espaços urbanos. Costume esse
não muito comum na nossa cultura (Sudeste) em que, as únicas pessoas que
utilizam o espaço urbano dessa forma são as pessoas em condição de rua.

Nós ainda utilizamos muito pouco da cidade como em saraus, shows,


manifestações ou até mesmo reuniões políticas. Precisamos debater mais
sobre a importância de se ocupar esses espaços, de viver a cidade, de não ter
medo de andar na cidade para que no futuro a cidade não se torne uma
cenografia urbana.

Relacionamos esse texto com territorialidade, um dos temas trabalhados


ao longo da disciplina de Geografia Cultural. Esse tema, dentro do texto, foi
entendido de duas formas distintas.

A primeira forma foi que em determinado local que você for da cidade,
pela corpografia urbana, você fará uma coreografia diferente. Um lugar que é
muito comum assaltos sua coreografia será rígida, com movimentos rápido,
apressados e sem muitos “detalhes”. Já em outro local da cidade mais calmo,
conhecido por você, sua coreografia irá mudar. Será mais calma,tranquila e
suave. Sua dança dependerá do local onde você se encontra.

Outra maneira entendia foi que a movimentação do corpo pela cidade


provoca uma nova forma de apropriação do espaço urbano, que nem sempre é
planejada. Mas acontece espontaneamente no cotidiano. Trilhas criadas sobre
canteiros ou áreas de várzea, por exemplo, são de construção constante em
espaço urbano com o “fim” de poupar tempo através de locais que não foram
pensados para integrar o espaço urbano ao deslocamento urbano, algo que é
comum se observado na arquitetura de algumas décadas atrás, como dito
sobre as cidades-logotipo, onde a arquitetura propõe, inicialmente, um visual
deslumbrante e de grande atração ao olhar, mas que renega a um segundo
plano a integração dos indivíduos no espaço urbano.

A crítica maior à esse tipo de cidade é que a espetacularização afasta a


população de se integrar nas ações pelo espaço urbano de forma mais natural,
afetando e até mesmo repelindo as interações homem-espaço através duma
artificialidade que faz refletir: que tipo de cidades/espaços urbanos/edificações
estão sendo propostas com as propostas urbanísticas atuais? Através de quais
critérios nossos arquitetos, engenheiros e urbanistas pensam através das
construções que projetam e de quais formas eles tais projetos devem ser
repensados para que as cidades parem de repelir os indivíduos e comece a
atrair seus moradores, turistas e transeuntes para que as interações com o
espaço ultrapasse o sentido da visão e que possa ser usado de forma prática,
especialmente vivida pela individualidade que usa a corporalidade no processo
de produção da corpografia de maneira mais orgânica e sensitiva.

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