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Título: Iceman
Título Original: Koud Kunstje
Autor: Koen de Jong e Wim Hof
Traduzido do inglês por Maria José Serpa e José Bernardino
Revisão: Paulo Sampaio e Rita Marques
Capa: Rui Rosa
Fotografia de capa: Enahm Hof
ISBN: 9789892341842
Ele nada calmamente durante 15 minutos. Este tipo é louco, pensei para
comigo. Mas também me intriga. Quem é ele?
Ainda na Internet. Hof explica que 80 por cento do que ele faz está
relacionado com a respiração. O quê? Há 15 anos que ando a fazer
exercícios de respiração e até escrevi um livro sobre respiração, mas era
impossível nadar debaixo do gelo e não ficar congelado.
O que é que Hof faz com a respiração que lhe permite ir mais longe do
que qualquer outra pessoa? Queria mesmo fazer-lhe esta pergunta
pessoalmente. Por isso, envio-lhe um e-mail através do site
www.innerfire.nl. Nenhuma resposta. Envio-lhe outro. Sem resposta.
Envio-lhe mais um, desta vez menciono Verademing, o livro sobre
respiração que escrevi em conjunto com Bram Bakker. Nada de respostas.
Mas, ao fim de seis tentativas, finalmente um e-mail. É de Enahm Hof, o
filho de Wim. “Isto está um frenesim e há muitas pessoas que querem falar
com ele”, explica. “E estão a fazer estudos no Centro Médico da
Universidade de Radboud, que ocupam imenso tempo.”
As suas proezas não são um fim em si mesmo. Ele quer mostrar o que o
corpo humano é capaz de fazer. Não apenas o seu corpo, mas o de todos.
Incluindo o seu e o meu. Wim nunca adoece. E, para muitas pessoas, os
seus métodos funcionam muito melhor do que os remédios. Mas, até há
pouco tempo, não se percebia bem como funcionavam. Agora temos boas
notícias. O segredo que Wim conhece há décadas foi recentemente
confirmado pela ciência.
Koen de Jong
INTRODUÇÃO
Qualquer pessoa pode levantar a mão direita e coçar o nariz com o dedo
indicador, mas ninguém pode, por exemplo, lutar contra bactérias que
foram injetadas num braço. Hof consegue fazer isso. Ele consegue
influenciar e controlar o seu sistema nervoso autónomo*. É o sistema
nervoso autónomo que regula funções como a temperatura corporal, o
ritmo cardíaco, a pressão arterial e a respiração, e determina a dilatação ou
a contração de vasos sanguíneos. Por outras palavras, tudo o que acontece
no corpo sem que estejamos cientes disso.
As pessoas “normais” não conseguem controlar isso. É por essa razão
que se chama “sistema nervoso autónomo”; tudo acontece
automaticamente. O facto de Hof poder controlar as suas funções
autónomas tem sido visto como uma maravilha médica. Mas Hof vê isso de
forma diferente: ele está convencido de que todos são, em teoria, capazes
de influenciar o seu próprio sistema nervoso autónomo.
Hof também tem críticos que não são céticos, mas cínicos, e chamam-no
de charlatão. Porém, quando o ceticismo se transforma em cinismo,
podemos deixar de ver o que funciona e o que é possível. Assim, leiam este
livro com ceticismo, mas com cuidado para não serem demasiado cínicos.
Antes de começarmos o capítulo sobre treino no frio, vamos analisar
Wim Hof. Quem é este homem que pode ir mais longe do que a maior parte
das pessoas?
WIM HOF
Já que Wim Hof desenvolveu o método que batizou com o seu nome,
queremos falar-vos sobre ele. Assim, podem ficar conhecer um pouco o
homem, o que o fez decidir procurar o frio e tornar-se cada vez mais radical
nessa busca, antes de começarem a trabalhar com o MWH.
Sittard
Wim Hof nasceu em Sittard, uma cidade do sul da Holanda, em 1959.
Tinha sete irmãos e duas irmãs. Nasceu no corredor do hospital. Depois de
a sua mãe ter dado à luz o seu irmão gémeo, André, ninguém percebeu que
uma segunda criança estava a caminho. Quando os médicos se foram
embora, a sua mãe recomeçou a sentir contrações.
Sendo católica, a sua mãe rezou para que o segundo filho também
nascesse saudável e, se assim fosse, a criança viria a ser um missionário. A
mãe de Wim contava esta história regularmente e ele acreditou que as
circunstâncias do seu nascimento e a força da sua mãe tiveram uma grande
influência sobre si nos seus anos de infância.
Hof tem um fascínio pelo frio desde uma idade muito precoce. Numa
noite gelada de inverno, quando tinha sete anos, um vizinho encontrou-o na
neve. Hof tinha saído da cama, sentindo-se fortemente atraído pela
paisagem branca. Saiu para a rua e adormeceu na neve. Se o vizinho não o
tivesse descoberto, provavelmente teria congelado.
Quando era jovem, Hof não se sentia apenas atraído pelo frio. Também
adorava livros. Aos nove anos, já lia livros sobre religiões exóticas, ioga e
meditação. O seu interesse foi despertado pelo seu irmão mais velho, que
passara vários meses à boleia pelo Médio e Extremo Oriente e voltara com
histórias estranhas e maravilhosas. Há 40 anos, uma jornada destas pela
Turquia, Irão, Paquistão e Índia ainda estava envolta em mistério.
O seu irmão mudara não só por dentro, mas também na aparência. O
cabelo e as roupas tornavam-no conspícuo. Wim olhou para o irmão e
sentiu uma enorme atração por terras distantes e religiões estranhas.
Também notou uma energia e uma alegria no irmão que despertaram a sua
curiosidade.
A biblioteca local tinha livros sobre hinduísmo e budismo e, embora
ainda fosse muito jovem, Hof aprendeu a meditar através desses livros.
Quando ia à missa, na igreja católica em Sittard, concentrava-se na
respiração, em vez de prestar atenção à celebração. Aprendeu ioga sozinho
através do livro Ioga – Imortalidade e Liberdade, de Mircea Eliade. Nessa
altura, tinha apenas dez anos e ia à escola com uma relutância saudável.
Era conhecido como um jovem independente, inteligente e alegre.
Aos 17 anos, Wim decidiu deixar a escola e viajar para a Índia. Queria
encontrar um professor que soubesse o que é realmente importante na vida.
Estava à procura de uma compreensão espiritual mais profunda.
Após essa descoberta, Hof não permaneceu na Índia por mais tempo.
Adorava o país, o clima e as pessoas, mas sentiu saudades da Holanda e
decidiu voltar. Nesse momento, não sabia o que ia fazer, mas a lição da
água gelada marcara-o profundamente. Sabia que tinha de fazer alguma
coisa com isso.
Amesterdão
Em 1979, quando tinha 20 anos, Hof foi viver para um edifício ocupado em
Amesterdão. Através de um dos amigos do seu irmão, conseguiu um lugar
no De Wielingen, um antigo orfanato, onde morava com outros 90
ocupantes. Levava uma vida ascética, comendo pouco e praticando ioga. O
seu estilo de vida era muito diferente do dos alunos hippies com quem
partilhava o edifício, já que estes consumiam LSD, fumavam canábis e
comiam bolo espacial para alcançar um estado místico.
Ao fim de um ano, Olaya ficou com saudades de casa e voltou para junto
da sua família, que morava no norte de Espanha. Hof queria ver mais do
mundo e foi de bicicleta com o irmão gémeo até ao Senegal.
Após essa iluminada viagem de bicicleta, Hof voltou para a Índia. Desta
vez, não procurava iogues, mas o poder da natureza. Treinou o corpo e a
mente em circunstâncias extremas. Por vezes, passava vários dias a grandes
alturas, com temperaturas inferiores a 2° C,
sem levar comida. Descobriu uma nova maneira de sobreviver ao frio
extremo: controlar a sua própria respiração. Com exercícios de respiração,
conseguia transformar o medo do frio e a experiência negativa numa
poderosa forma de energia. Olhou para o corpo de uma maneira nova e
para a respiração como um instrumento importante. Foi aí que aprendeu os
seus exercícios de respiração.
Olaya
Antes de Hof partir para a Índia pela segunda vez, voltou a Amesterdão.
Sentia falta de Olaya e encontraram-se novamente na cidade. Depois de
dois anos de intervalo, o amor entre eles era tão forte como sempre.
Casaram-se e, em 1983, tiveram um filho, Enahm. Os pais orgulhosos
alugaram uma casa e tiveram mais duas filhas, Isabelle (1985) e Laura
(1986).
Hof estava feliz, mas ainda não tinha assentado e procurava novos
desafios, o que o levou a fazer escalada com frequência. Um dia, escalou
uma rocha íngreme usando apenas uma corda de cânhamo, um pequeno
martelo e alguns pitons. Olaya ficou furiosa por ele estar disposto a arriscar
a vida a escalar dessa forma, quando eles tinham três crianças. Hof tinha
uma vontade incontrolável de escalar, mas também sentia o peso da
responsabilidade para com a mulher e os filhos.
Ele estava em contacto com Olaya, mas nunca conseguia antecipar a sua
disposição. Por vezes, ela passava três ou quatro meses com o marido e os
filhos e, depois, ficava três ou quatro meses em casa dos pais. No verão,
Wim trabalhava como líder de grupo em escaladas e os seis ficavam na
casa dos pais de Olaya em Pamplona.
Innerfire
As crianças cresceram e Hof procurou outros desafios. As suas técnicas de
respiração, o ioga e o treino no frio deram-lhe uma força enorme, e ele
gostava de partilhá-la com os outros. A comunicação social tinha-o debaixo
de olho e, encorajado pela atenção e pelo efeito que tinha noutras pessoas,
Wim quebrou recordes atrás de recordes. Tomou o mais longo banho em
gelo, trepou montanhas geladas apenas de calções, correu uma maratona na
Lapónia com -30 oC e nadou centenas de metros debaixo do gelo.
Cada vez mais pessoas estão a usar as técnicas de Wim Hof, incluindo o
ator holandês Theo Maassen, o antigo Ministro das Finanças Gerrit Zalm,
desportistas, pessoas com reumatismo e com a doença de Crohn,
psiquiatras, cardiologistas e especialistas de medicina interna. Também
várias empresas contactam Hof para se sentar em banhos gelados com
centenas de gestores ao mesmo tempo.
Atualmente, um número crescente de investigadores está a estudar o
MWH no Centro Médico da Universidade de Radboud, no Centro Médico
de Amesterdão e nas Universidades de Boston e Nova Iorque.
Porquê?
Wim Hof
Habituámo-nos a isso.
Uma das consequências dos seus muitos anos de treino é que Hof tem
muita gordura castanha. Esta gordura é uma espécie de tecido que liberta
energia diretamente, gerando calor. Os recém-nascidos têm muita gordura
castanha para se poderem aquecer rapidamente num ambiente frio. Ao fim
de nove meses, resta pouca gordura castanha no corpo e esta vai
diminuindo todos os anos, talvez por causa do uso de roupas ou cobertores.
Os adultos em sociedades ocidentais não têm quase nenhuma gordura
castanha.
Mas parece que o tecido adiposo castanho* consegue ser ativado pelo
frio (segundo Marken-Lichtenbeld et al., 2011). Torna-se ativo quando
chega aos 18 oC; os ácidos gordos são ativados de forma a manter o corpo
na temperatura certa. Quanto mais a temperatura baixa, mais o tecido
adiposo castanho é ativado. Devido à sua gordura castanha, Hof produz
mais 35 por cento de calor corporal num quarto a 11 oC do que num quarto
à temperatura ambiente normal. A sua temperatura corporal aumenta 50
por cento, enquanto os jovens adultos (apenas) produzem mais 20 por cento
de calor na mesma temperatura.
As pessoas que têm um peso superior à média (que se deve sempre a
gordura branca) e treinam no frio ensinam o corpo a transformar a gordura
branca – através da gordura castanha – em combustível.
***
Ao início, Egberts tinha muitas reservas. Era demasiado bom para ser
verdade. Afinal, é um frísio com os pés assentes na terra e um advogado
muito referenciado: a racionalidade é que domina. Apesar disso, não
conseguiu conter o entusiasmo com os resultados do treino e convenceu a
mãe, que tomava medicamentos para a hipertensão arterial, a tomar duches
frios... Como Egberts contou, com um rasgado sorriso na cara, após um
mês, ela já não tinha sintomas e pôde parar de tomar a medicação.
Duches frios
Tome um duche quente, como sempre fez. Então, com a água ainda quente,
comece a fazer exercícios de respiração. Inspire e expire lentamente.
Inspire fundo e expire de forma calma e lentamente. Continue cerca de um
minuto – faça entre seis e dez respirações. Depois, passe para a água fria.
Naturalmente, vai começar a respirar mais rápido e vai sentir um choque
com o frio. O truque é respirar calmamente outra vez. Controle a respiração
no duche frio. Quando conseguir ter a respiração sob controlo, vai sentir o
frio de forma diferente. Se tiver dificuldades em passar imediatamente para
a água fria, faça-o em dois ou três passos. Pode também começar por
molhar só os pés com a água fria, depois as mãos e os braços, e, aos
poucos, o corpo todo.
Porque é que as mãos ficam quentes quando estão dentro de água gelada?
Duches frios e um balde de água com gelo são excelentes exercícios para
começar. Recomendamos que o faça durante um mês. Depois desse
período, podem continuar com o treino no frio. No inverno, podem ir nadar.
Não seria fantástico se, dentro de alguns anos, as pessoas começassem a
nadar juntas nos canais de Amesterdão durante o inverno? Enquanto estava
a escrever este livro, fiquei de tal forma entusiasmado pelo treino no frio
que fui nadar no canal Admiralengracht em Amesterdão em dezembro,
durante uma leve geada. Após alguns mergulhos, comecei a ter cada vez
mais reações das pessoas. Metade delas estava curiosa e tivemos conversas
fascinantes sobre o frio, saúde e doenças. Outros pensaram que eu era
louco e deveria ser protegido de mim próprio. Alguém chamou a polícia e
tive de explicar porque é que estava a nadar no canal. Depois de ter
explicado que estava a escrever este livro sobre treino no frio, deixaram-me
ir para casa para me aquecer. Isto só mostra como esta prática é nova e
incomum. Muitos dos meus amigos pensaram que era estúpido nadar no
canal, porque a água estava suja, mas eu achava que não seria assim tão
mau. Afinal, a princesa Máxima também chegou a nadar nos canais durante
o Amsterdam City Swim, para angariar fundos para a investigação sobre
doenças raras; em 2014, foi a esclerose lateral amiotrófica (ELA). Se
deixaram a princesa (agora rainha) nadar no canal, então, não poderia ser
assim tão perigoso.
Resumo:
> A exposição ao frio melhora a circulação;
> A exposição ao frio ativa o tecido adiposo castanho;
> A exposição ao frio ativa a produção de glóbulos brancos;
> Faça você mesmo: tome duches frios;
> Faça você mesmo: ponha as mãos e os pés dentro de um balde de água
gelada.
RESPIRAÇÃO
Wim Hof
A maior parte das pessoas respira 13, 15, 17, 20 e até mesmo 22 ou mais
vezes por minuto. Mesmo quando estão sentadas tranquilamente numa
cadeira, a ler um livro. Basta ter uma frequência respiratória* entre as seis
e as dez vezes por minuto. Se respirarmos mais do que isso é prejudicial?
Respiração calma
Tanto quanto sabemos, ainda não foi estudado, mas suspeitamos de que
muitas pessoas que sofrem de distúrbios de ansiedade têm uma frequência
respiratória demasiado elevada em situações de descanso.
A respiração e o cérebro
O neocórtex* é a parte do cérebro que distingue os humanos dos animais.
“Neo” significa “novo”, em latim, e, em termos evolucionários, o
neocórtex é a parte mais jovem do cérebro. Utilizamo-lo para analisar e
calcular, e é lá que reside o sentido de linguagem. Mas também é a parte do
cérebro que permite que nos preocupemos com o que se vai passar daqui a
duas semanas e que fiquemos irritados com qualquer coisa que tenha
acontecido no passado.
O cérebro humano
Um neocórtex demasiado estimulado pode fazer-nos respirar mais
depressa, mas também podemos usá-lo para desacelerar a respiração.
A técnica tumo
Tumo combina a respiração com a visualização. Faz-se uma inspiração
profunda e expira-se lentamente. Ao mesmo tempo que fazem esta
respiração, os praticantes visualizam chamas para conseguirem aumentar a
temperatura corporal. Concentram-se na experiência e não na fé e, por isso,
também aceitam a ciência. Na revista científica PLOS ONE, foi publicado
um estudo da Universidade Nacional de Singapura sobre freiras que
praticam a meditação tumo. Verificaram que as freiras conseguiam gerar
calor corporal, aumentando a temperatura até 38,3 oC, num ambiente de -25
o
C. Também conseguiam secar com o corpo as vestes molhadas em que que
tinham sido envolvidas.
Wim Hof tem trabalhado muito com estas técnicas, fora do contexto
oriental, e não pensa em termos de iluminação. Interessa-lhe a ideia de que
a vajrayana é uma religião baseada não em fé mas na experiência, algo que
ultrapassa a crença. Todas as explicações podem ser validadas através da
experiência pessoal.
Repita 30 vezes.
Glândula pineal
A glândula pineal
Depois destes exercícios, muitas pessoas experimentam uma forma mais
expansiva de consciência. Provavelmente isso acontece porque a atividade
mitocondrial das células cerebrais liberta mais químicos nas glândulas
pituitária e pineal. A glândula pineal* (epífise neural) é muito importante
para determinar o estado de espírito; produz por exemplo, melatonina*,
uma hormona que desempenha um papel importante nos ritmos de sono e
reprodutivo. Acreditamos que, como o MWH, a glândula pineal recebe
mais oxigénio para que o corpo gere muito mais oxigénio. Isto explica
porque é que os exercícios funcionam tão bem no combate ao jet lag,
problemas de sono e depressão.
Resumo:
> Muitas pessoas respiram demasiado depressa e mais profundamente do
que o necessário;
> Uma frequência respiratória irregular está relacionada com vários
problemas de saúde;
> Os exercícios de respiração afetam a atividade cerebral;
> Há exercícios que podemos usar para relaxar;
> O MWH utiliza a respiração para aceder à glândula pineal;
> O oxigénio ativa a expulsão de substâncias nocivas;
> O dióxido de carbono abre os vasos sanguíneos.
1 Também conhecida como meditação g-tumo ou tummo. (N. do E.)
EMPENHO
Um dia passado com Wim Hof vai dar-vos a motivação suficiente. O seu
entusiasmo e experiência vão incentivar-vos a começar a praticar o seu
método. Não tem nada que ver com as formas de alteração de
comportamento da programação neurolinguística, mas apenas com um
enorme entusiasmo que parece vir das profundezas da alma.
Para vos motivar a tomar duches frios e a experimentar fazer exercícios
de respiração, vamos apresentar um exemplo fantástico daquilo que o
corpo é capaz, se se empenharem mesmo a sério.
Correr uma maratona em tronco
nu no Círculo Polar Ártico
Wim Hof sujeitou-se a um desafio extremo para mostrar que o empenho
e conseguir controlar a mente são mais importantes do que o treino físico:
correu uma maratona no Círculo Polar Ártico. Este foi o teste mais difícil
que alguma vez fez.
Na Finlândia
Hof chegou à Finlândia seis dias antes da maratona. Estava frio, até
mesmo pelos padrões finlandeses. No dia anterior à maratona, preparou-se
uma vez mais no frio extremo, ao nadar várias dezenas de metros debaixo
do gelo. Os médicos que o examinaram no local não conseguiram
compreender: a sua frequência cardíaca, pressão arterial e saturação de
oxigénio* permaneciam idênticas antes e após o exercício.
Depois de correr duas horas, estava tudo bem. Sentia as pernas pesadas,
mas o ritmo era constante. Tinha já corrido metade dos 42 195 metros. Aos
30 quilómetros, porém, depois de pouco mais de três horas a correr,
começou a sentir fadiga. Estava claramente cansado e a sofrer com o frio.
A sua segunda mulher, Caroline, estava à sua frente num carro, com a
equipa de filmagem e um médico. Estava preocupada porque a situação
podia tornar-se perigosa. Mas Hof continuava a corrida, mesmo quando ao
fim de 37 quilómetros teve de começar a andar. Ao fim de cinco horas e 25
minutos, Hof tinha feito o impossível: correra uma maratona no Círculo
Polar Ártico, com temperaturas extremas, em tronco nu, e sem nenhum
treino específico de maratona.
Monte Kilimanjaro
Hof meteu na cabeça a ideia de escalar o Kilimanjaro com um grupo de
pessoas. O Kilimanjaro é um monte com 5895 metros, na Tanzânia, e é
muito popular entre os alpinistas e viajantes. Alpinistas experientes
conseguem chegar ao cume em seis dias.
Naturalmente, todas estas pessoas sabiam que tinham uma doença, mas
não se viam a si próprias como doentes. Fizeram questão de reforçar
continuamente essa ideia, e isso prova que é uma parte importante de um
empenho total. “Claro que tenho uma doença”, diz Mathijs Storm, “mas
também sou o Mathijs que quer (e consegue) fazer todo o tipo de coisas.”
Kilimanjaro 2015
Em janeiro de 2015, Hof voltou ao Kilimanjaro com um novo grupo.
Desta vez, o objetivo era chegar ao cume em 36 horas. Hof queria mostrar
novamente que as pessoas conseguem fazer muito mais do que pensam. Os
exercícios do MWH provaram dar resultado: 15 dos 19 participantes
conseguiram chegar ao cume em tronco nu.
O grupo não chegou ao topo do pico Uhuru, mas ficou pelo ponto
Gilman, na orla da cratera, a uma altitude de 5685 metros. O grupo
escolheu a segurança acima dos seus egos, e no ponto Gilman um dos
elementos pediu a companheira em casamento.
Andar descalço
Um número surpreendente de pessoas que pratica o MWH começou a
andar descalça. Ao fim de dez entrevistas, deu para perceber que oito dos
dez entrevistados tinham começado a andar descalços, o que não podia ser
coincidência. Hof não presta muita atenção a isso, mas também anda
frequentemente descalço.
Porquê?
Muitas pessoas consideram que andar descalço é saudável. Quando
começamos a prestar atenção a esse facto, verificamos que muitas pessoas
correm descalças e que esse assunto aparece frequentemente em jornais e
revistas. Os artigos referem maioritariamente que andar descalço fortalece
os músculos dos pés (músculos que não são muito usados quando usamos
sapatos) e a estrutura óssea. Os pés contêm 20 mil extremidades nervosas.
Parece um número exagerado e explica porque é que os pés são tão
sensíveis. Pousar lentamente o pé pode ser muito agradável e confortável, e
para algumas pessoas é equivalente a uma massagem. Quando estamos
descalços, também andamos de forma diferente, colocando mais peso na
ponta dos pés.
Ligação à Terra
Aqueles que defendem que se deve andar descalço referem que a ligação
à Terra (entrar em contacto com o campo elétrico da Terra) é benéfica para
a saúde. A Terra tem uma carga negativa, enquanto o ar está carregado de
iões positivos. A quantidade de iões positivos tem aumentado muito em
anos recentes com o uso generalizado de aparelhos de rádio, televisões,
telemóveis e comunicações sem fios. Este excesso pode perturbar o
equilíbrio positivo e negativo.
Alimentação
Muitas das pessoas que começam a aplicar o Método Wim Hof também
começam a comer de forma diferente. Wim raramente toma o pequeno-
almoço e não almoça. Só come de noite, e tudo o que lhe apetecer. Um dos
primeiros a estudar os hábitos de Hof foi Jack Egberts, o advogado de
Leeuwaarden que conhecemos no capítulo sobre treino no frio. Analisamos
aqui mais de perto o seu trabalho de detetive, porque os seus resultados
mostram paralelismos com o MWH. É algo simples de fazer, mas lida com
o cerne de muitas doenças relacionadas com a prosperidade.
Wim Hof
Começaram por estudar Hof como indivíduo. Ele diz que consegue
influenciar o sistema nervoso autónomo* e o sistema imunitário*. Isso é
extraordinário e vai contra tudo o que os médicos aprendem quando
estudam medicina.
Avanço científico
Os resultados laboratoriais confirmaram que depois de fazer um breve
treino segundo o MWH, os doze homens eram capazes de influenciar o
sistema nervoso autónomo. Foi a primeira vez que algo deste género foi
demonstrado cientificamente.
A questão era saber se isso poderia ser aplicado a pessoas que sofrem de
doenças inflamatórias. Pickkers ainda tinha muitas reservas em relação à
resposta. Referia que os níveis de adrenalina dos homens treinados eram
promissores, e o facto de este grupo conseguir ter níveis de adrenalina mais
altos do que um praticante de bungee jumping revelava muito. O nível de
adrenalina é muito importante, porque sabemos que a adrenalina reprime o
processo inflamatório. O stress crónico é mau para a saúde, mas o stress
agudo e controlado é um remédio do próprio corpo. Há uma grande
variedade de fármacos apenas com o propósito de reprimir o mecanismo
inflamatório. Estes fármacos, dos quais a prednisona* é um dos exemplos
mais conhecidos, têm todos a desvantagem de apresentarem muitos efeitos
secundários severos. A adrenalina é uma alternativa natural e mais
saudável produzida pelo corpo. Além disso, como explica Pickkers, já é
uma sorte se os fármacos tiverem uma eficácia de 20 por cento, enquanto
este grupo atingiu uma eficácia de 50 por cento usando apenas a
adrenalina.
A ponta do icebergue
Os resultados da investigação foram publicados em revistas como a
Nature e a PNAS. Depois da publicação, Wim esperava uma erupção de
entusiasmo. As possibilidades deste método tinham sido cientificamente
comprovadas. Porém, para sua surpresa e desapontamento, as revelações
foram alvo de pouca atenção. Os colunistas e o público em geral não
perceberam imediatamente o seu potencial, e os resultados da investigação
foram anunciados um dia antes do Festival Eurovisão da Canção, que
parece ter sido um assunto mais interessante.
A questão é saber porque é que Wim Hof não reage desta forma e como é
que consegue estar dentro de água gelada durante tanto tempo sem
arrefecer significativamente.
Qual é o segredo?
É neste ponto que entra em cena a respiração. Usando a técnica especial
de respiração de Wim Hof, o pH sobe até 7.7, o que desativa os recetores
de dor. Se entrarmos em água fria depois de fazer esse exercício de
respiração, não vamos sentir dor, pânico ou stress, porque a resposta à dor
no cérebro não está ativada.
Mas o que é que podemos afirmar com certeza sobre o impacto dos
exercícios de respiração e do frio em doenças sérias? Dizer que não
podemos afirmar nada não nos parece correto, porque se temos este
conhecimento, sentimos o dever de o divulgar. Mas ser demasiado otimista
também não nos parece correto, porque não queremos dar às pessoas uma
falsa esperança. Além disso, não sabemos exatamente como é que o
processo funciona.
Agora que sabe o que é que o Método Wim Hof implica e o que é que a
ciência pensa dele, a próxima questão é, evidentemente, quem é que pode
beneficiar? Já mencionámos algumas doenças, como o reumatismo, a
obesidade e a doença de Lyme. Em que doenças é que vale a pena
experimentar o MWH?
Pessoas saudáveis
Ninguém no seu perfeito juízo iria tomar duches frios para continuar
saudável. Porque é que nos ralaríamos em não ficar doentes se estamos de
perfeita saúde? Se estamos de boa saúde, não nos preocupamos com
doenças, mesmo quando existe a possibilidade de virmos a ficar doentes.
Atletas
O campeão holandês de skate, Sven Kramer, toma um banho gelado
depois de cada sessão de treino intensivo para recuperar mais rapidamente.
Depois de um treino intensivo ou de uma corrida, os músculos de um atleta
produzem substâncias como o lactato*, que podem permanecer no corpo
durante muito tempo. Os atletas precisam de se livrar do excesso de lactato
o mais depressa possível, para poderem começar novamente o treino
intensivo sem mais pausas. O exercício físico exigente também causa
danos microscópicos nos músculos, pelo que se descansarmos o suficiente,
esse dano é reparado e o corpo torna-se mais forte. Este processo tem o
nome de sobrecompensação. A hidroterapia (como tomar um banho
gelado) acelera o processamento de resíduos no corpo. Primeiro, os vasos
sanguíneos fecham e, quando saímos do banho gelado, a circulação torna-
se mais eficiente. A investigação sobre os efeitos do banho frio ou a
alternância entre banhos quentes e frios mostra que os músculos dos atletas
estão menos rígidos no dia seguinte.
Pressão arterial
O coração bombeia o sangue através das artérias, o que gera pressão nos
vasos sanguíneos. Se esta pressão sobe demasiado, o risco de doenças
cardiovasculares aumenta. Os médicos medem dois valores quando testam
a pressão arterial: o valor máximo (sistólico) e o valor mínimo (diastólico).
A pressão arterial é expressa na relação entre estes dois níveis; é
considerada normal se estiver entre o nível sistólico de 120 mm/Hg
(milímetros de mercúrio) e o nível diastólico de 80 mm/Hg.
As pessoas com elevada pressão arterial normalmente têm poucos
sintomas, mas a continuada pressão sobre os vasos sanguíneos pode causar
danos nos órgãos, não só nos músculos do coração e nas artérias, mas
também nos olhos, rins e cérebro.
O nível sistólico é o mais variável e é especialmente suscetível ao stress.
A pressão diastólica é uma boa indicação do risco de doenças
cardiovasculares. Se está acima dos 95 mm/Hg, os médicos vão receitar um
tratamento e avisar o paciente, por exemplo, para deixar de fumar, comer
de forma mais saudável, perder peso, praticar pelo menos meia hora de
atividade física por dia e aprender a lidar com o stress. Se isso não ajudar, o
passo seguinte é receitar medicamentos.
É uma pena os médicos não incluírem a exposição ao frio nas suas
recomendações. Como vimos no capítulo sobre treino no frio, podemos
treinar os vasos sanguíneos quando os expomos ao frio. Os vasos
sanguíneos contraem-se como reação ao frio para garantir o fluxo de
sangue até aos órgãos vitais e distendem-se novamente quando o corpo
aquece. Podemos treiná-los obrigando-os a fechar e abrir.
Para quem tem pressão arterial alta, vale a pena experimentar isto. Claro
que devem começar por tomar duches frios e não ir logo para banhos de
gelo. A mãe de Jack Egberts recuperou assim (como também vimos no
capítulo do treino no frio): depois de tomar duches frios durante um mês,
foi ao médico e decidiram que já não era preciso tomar a medicação.
Cancro
O facto de estarmos a falar sobre cancro neste livro deve-se às ideias de
Capel sobre o NF-kB, descritas no capítulo anterior. É evidentemente
delicado falar sobre cancro num livro de Wim Hof sobre a importância do
treino no frio e dos exercícios de respiração. Como disse um amigo meu de
forma sucinta: “Estás a escrever um livro com Wim Hof? Esse não é o tipo
que diz que é capaz de curar o cancro apenas com exercícios de respiração
e duches frios?”
Wim nunca disse que era capaz de curar o cancro. Ele nunca diria isso.
Apesar disso, o meu amigo não fica à vontade quando ouve o nome de
Wim Hof. Ouvimos frequentemente reações deste tipo – pessoas que
julgam que Wim dá falsas esperanças.
Wim Hof diz que não pode curar o cancro, mas o astronauta e físico
Wubbo Ockels, que sofria de cancro renal, começou a nadar na água fria
dos canais de Amesterdão depois de passar uma semana com Hof. René
Gude, o galardoado filósofo holandês (diagnosticado com cancro ósseo)
começou a fazer os exercícios de respiração de Wim Hof. E o jornalista
Mark Bos (diagnosticado com cancro da próstata) tem um “assento gelado”
no seu barracão, uma espécie de banheira de madeira onde se pode sentar
numa temperatura constante de 1 oC.
Gelder perguntou-lhe se tinha medo. “Da morte? Não. Tive uma vida
ótima, fantástica, mas é terrível para Joos e para as crianças. Isso é o que
preocupa mais a minha alma...”
Bos tenta ver o seu cancro como um companheiro, que estará sempre
consigo. Apesar disso, o seu derradeiro desejo é curar-se. O treino no frio e
os exercícios de respiração têm um papel importante na sua tentativa de se
manter fisicamente apto e o mais positivo possível, vivendo de forma
saudável. Depois do primeiro treino com Wim Hof, estava muito
entusiasmado com os resultados. Tinha mais energia e o seu humor esteve
muito positivo durante muitos dias, por isso, decidiu continuar. Foi para a
Polónia durante uma semana para treinar no frio, nas montanhas, e fez
exercícios de respiração mais de uma hora por dia. Os resultados eram
promissores. Fez exames no hospital e ouviu boas notícias: para surpresa
dos médicos, os sinais de cancro nos ossos tinham desaparecido.
Bos nunca acreditou que o MWH o podia curar. Mas reparou que lhe
dava mais energia, e isso permitia-lhe viver de forma mais positiva e mais
ativa.
Tendo em conta as circunstâncias, sente-se ótimo. Corre, faz exercícios
de respiração e treino no frio todos os dias. Em vez de ficar deitado na
cama com cancro da próstata, vive a vida ao máximo. Tem uma nova
namorada, viaja muito e fez um documentário sobre a sua doença, a sua
missão e as suas experiências. Chama-se Retour hemel, um bilhete de ida e
volta para o céu.
Será que Bos tem algum conselho para quem sofre de cancro?
“Não”, diz Bos, “não para pessoas que sofrem de cancro. A minha
história é um exemplo de como podemos melhorar pessoalmente as nossas
circunstâncias de vida, mas tenho alguns conselhos para os médicos que
nos tratam: deveriam descartar os protocolos e guias que seguem e mostrar
mais interesse na forma como as pessoas que fazem o seu próprio caminho
conseguem progredir e melhorar.”
Inflamação
Conforme descrevemos no capítulo sobre ciência, é interessante olhar
para o que acontece no caso de doenças em que a inflamação tem um papel
preponderante. Pickkers descobriu que Wim Hof é capaz de controlar as
proteínas inflamatórias. O que é que isto pode significar para as pessoas
que tomam medicamentos anti-inflamatórios? Como já disse antes, os
elementos do grupo de Hof que foram testados eram saudáveis. Assim, não
sabemos nada sobre os efeitos do MWH em pessoas que estejam doentes.
Não sabemos se as pessoas que tomam medicamentos anti-inflamatórios
poderiam beneficiar dele, mas está provado que as pessoas são capazes de
controlar as suas proteínas inflamatórias, por isso, também é possível que
isso seja aplicável às que tomam medicamentos para controlar a
inflamação. A medicação não é sempre bem-sucedida e pode ter efeitos
secundários severos.
Os quatro principais tipos de anti-inflamatórios são os seguintes:
> Anticorpos que atuam sobre uma proteína específica e inibem a parte
da inflamação à qual a proteína está ligada. Um exemplo de um
anticorpo é o anti-TNF-α;
Reumatismo
O reumatismo é um nome coletivo para mais de uma centena de doenças.
As mais conhecidas são a artrite reumatoide, a osteoporose, a fibromialgia,
a gota e a doença de Bechterew. Quando os médicos falam de reumatismo,
normalmente estão a referir-se à artrite reumatoide. Trata-se de uma
inflamação das articulações, cuja causa ainda não é conhecida. A
Associação Americana do Reumatismo usa os seguintes critérios para
qualificar a artrite reumatoide (cinco dos sintomas seguintes têm de
persistir durante, pelo menos, seis semanas):
***
Marianne Peper
Entrevistei Marianne Peper na sua casa, em Deurne. Antes de
começarmos a entrevista, ela quis mostrar-me uma coisa. Foi buscar um
saco plástico e tirou de lá dez caixas, que pôs em cima da mesa.
Correspondiam aos medicamentos abaixo enumerados.
> Omeprazole 40 mg
> Prednisolona 20 mg
> Levocetirizina 5 mg
> Naproxeno 250 mg
> Plaquenil 200 mg;
> Clonidina 0,025 mg
> Meloxicam
> Diclofenaco
> Ventolin
> Paracetamol
> Seretide
Disse-me que o seu pai morreu por tomar prednisona. Quando era
criança, costumava ir ver a equipa de futebol FC Twente e cantavam juntos
a música One Day We’ll Be Champions. Quando isso finalmente aconteceu
(o FC Twente ganhou a liga em 2010), o pai já tinha falecido. A sua morte
prematura ainda perturba Marianne e ela associa os medicamentos não à
ideia de melhorar, mas à morte do seu pai. Os medicamentos apenas
combatem os sintomas, por isso, em outubro de 2013, decidiu deixar de
tomar a medicação. Depois de parar, passou muito mal durante um mês e
meio. Tomava comprimidos para dormir, porque, de outro modo, não
conseguiria aguentar.
Nessa altura, ela viu Wim Hof na televisão. Intuitivamente, pensou que
ele a poderia ajudar. Hof disse que nós somos capazes de muito mais do
que pensamos. Marianne quis saber mais e Wim foi à sua casa para lhe
explicar os exercícios de respiração.
Parece demasiado bom para ser verdade, mas Marianne insiste que isso
exigiu muito trabalho. Faz exercícios de respiração todos os dias e toma um
banho gelado pelo menos duas vezes por semana. Se não o fizer, a dor
volta imediatamente. Apesar disso, está satisfeita.
***
Doença de Crohn
Também temos uma história excecional para contar sobre a doença de
Crohn. A doença de Crohn é uma doença crónica que atinge o estômago e
os intestinos, afetando cerca de 20 mil pessoas na Holanda. Atinge,
sobretudo, o intestino grosso e o intestino delgado. A inflamação reduz a
absorção de alguns nutrientes no intestino delgado, o que leva à perda de
peso e a uma nutrição deficitária. Também provoca fadiga e uma ampla
variedade de problemas de saúde não especificados. A inflamação causa
igualmente danos permanentes na parede intestinal, o que provoca perda de
sangue.
Os problemas não estão relacionados apenas com os intestinos. As
pessoas com doença de Crohn também têm dores nas articulações e
doenças de pele. Por vezes, há secções do intestino que têm de ser
removidas para manter a doença sob controlo.
***
Mas ao fim de dois anos, começou a remoer num assunto: será que
estava limitar-se mais do que devia? Claro que a doença de Crohn é a
doença de Crohn, mas há muitas formas de ganhar mais energia, mesmo
tendo uma inflamação crónica nos intestinos. Começou a ler livros sobre
respiração, desporto e nutrição. E começou a meditar. Na sua missão de
obter mais conhecimento e informação, encontrou o site de Wim Hof e viu
alguns vídeos.
Ficou imediatamente entusiasmado com os benefícios dos exercícios de
respiração, mas julgava que o treino no frio de Wim Hof não dava para ele.
Mais de um ano depois, o cunhado disse-lhe que Wim só comia uma vez
por dia , o que o levou a visitar novamente o site de Wim – talvez uma
inflamação crónica dos intestinos pudesse ser aliviada comendo menos.
Storm leu no site que havia investigações médicas que sugeriam
cautelosamente que Wim podia influenciar o sistema imunitário com o seu
método. Storm ficou fascinado.
Mais tarde, Storm percebeu que não podia parar de fazer os exercícios.
Sentia-se com tanta energia que se deixou levar pelo entusiasmo e começou
a exagerar: a trabalhar mais e a renovar a casa. Também dedicou mais
atenção à sua mulher, que estava nos últimos meses de gravidez. Tinha
menos tempo para fazer os exercícios e a inflamação começou a agravar-se.
A doença de Crohn estava de volta, mas havia agora uma grande diferença
desde que tinha sido diagnosticada em 2008. Nessa altura, Storm estava
contente por ter descoberto uma explicação para os seus problemas de
saúde: era oficialmente um paciente com doença de Crohn. Agora, estava
contente porque sabia o que tinha de fazer, porque sabia como combater a
doença: voltar a fazer o treino de Hof.
Depressão
Sabemos bem que as pessoas com doenças autoimunes sofrem de reações
inflamatórias persistentes, que atacam os tecidos. Porém, em 1980, o
imunologista Hemmo Drexhage reparou em algo notável: distúrbios
comportamentais como o autismo e a esquizofrenia eram
surpreendentemente comuns em pessoas com doenças autoimunes.
Ocorreu a Drexhage que as respostas inflamatórias persistentes poderiam
afetar também o cérebro. Inicialmente, as suas ideias não foram bem
aceites por psiquiatras, mas hoje em dia estão a começar a levar esta teoria
cada vez mais a sério.
Asma
Tal como os elevados níveis de inflamação desempenham um papel
importante no reumatismo e na doença de Crohn, e talvez também na
depressão, um epitélio inflamado (a camada de células que cobre as vias
respiratórias) também é importante no que respeita à asma.
Konstantin Buteyko, o médico e cientista ucraniano já mencionado no
capítulo sobre a respiração, afirma: “Sem respiração profunda não há
asma.” Temos uma noção clara do que acontece no corpo durante um
ataque de asma, mas os médicos ainda não sabem porque é que temos esses
ataques.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, existem entre 100 e
150 milhões de pessoas com asma em todo o mundo. Na Holanda, o registo
oficial é de 430 mil pessoas. Atualmente, em casos de asma, procura-se,
maioritariamente, tratar os sintomas: fármacos como o salbutamol
garantem que os pacientes têm um rápido acesso a ar, mas não resolvem o
problema.
Buteyko afirma que descobriu a verdadeira causa da asma: trata-se de
uma resposta (frequentemente inconsciente) à hiperventilação crónica. Se
sofremos de hiperventilação crónica, o corpo perde demasiado dióxido de
carbono (ver o capítulo sobre respiração), o que é lesivo, visto que o
dióxido de carbono desempenha um papel importante num grande número
de processos corporais, incluindo a absorção de oxigénio pelos músculos e
órgãos.
Artrite
Desde 2013, a artrite tem também vindo a ser relacionada com a
inflamação. A artrite é uma doença progressiva, com ocorrência de erosão
da cartilagem entre as articulações de forma faseada, provocando dor e
rigidez. Cerca de 1,2 milhões de pessoas na Holanda sofrem de alguma
forma de artrite. O tratamento atual inclui a prescrição de analgésicos e, se
for muito grave, a substituição da articulação. Durante muito tempo,
pensou-se que a artrite era uma doença da própria cartilagem, causada pelo
desgaste das articulações, o que parece estar relacionado com o facto de a
doença ocorrer em pessoas mais velhas ou obesas, cujas articulações dos
joelhos são sujeitas a uma maior pressão, devido ao excesso de peso.
Parece plausível, mas as pessoas obesas também têm frequentemente artrite
nas mãos, algo que não pode ser explicado pela pressão do excesso de
peso.
Diabetes de tipo II
Existem dois tipos principais de diabetes.
Obesidade
Há cada vez mais provas sobre a ligação entre a obesidade e a
inflamação. Em 2013, uma investigação realizada em Brisbane, na
Austrália, mostrou que as pessoas obesas têm um nível anormal da proteína
inflamatória PAR2 nos tecidos gordos abdominais. Esta investigação,
publicada no The FASEB Journal, foi conduzida pelo Dr. David P. Fairlie.
Fairlie realizou testes em ratos e seres humanos obesos, e os resultados
mostraram dados novos sobre a ligação entre a inflamação e a obesidade. O
nível da proteína PAR2 aumentou nas superfícies de células imunitárias
humanas através de uma dieta com ácidos gordos. Os ratos obesos que
foram alimentados com muito açúcar e gordura tinham elevados níveis de
PAR2, mas se lhes fosse dado oralmente um fármaco que inibisse a PAR2,
a inflamação causada pela proteína seria bloqueada. O mesmo se aplicava
aos outros efeitos negativos de uma dieta rica em açúcar e gordura.
Fadiga
A teoria de Stans van der Poel, uma antiga assistente laboratorial de
função pulmonar, também é relevante para a nossa análise dos sistemas de
energia do corpo. No seu livro Chronische Vermoeidheid Nooit Meer
(Acabar com a Fadiga Crónica), escreve que nutrientes como gorduras,
proteínas e hidratos de carbono são consumidos a nível celular, uma vez
que esta energia é exigida por todos os músculos e órgãos, quer estejam a
ser usados ou em descanso.
Este processo de consumo requer combustível e oxigénio, como uma
fornalha comum. O oxigénio está no ar que é inspirado e absorvido pelos
pulmões, sendo distribuído pelo sangue por todas as células nos músculos e
órgãos.
> Gordura;
> Glicose (aeróbica);
> Glicólise (anaeróbica);
> Fosfato de creatina (FC);
> ATP livre.
E, sim, recebi mesmo algumas reações que gostaria de partilhar. Não são
sobre doenças graves e não as validei com médicos, mas vêm de
praticantes entusiásticos do MWH. Uma vez que os exercícios de
respiração e treino no frio não são medicamentos caros e não têm efeitos
secundários graves, podem tentar fazê-los sozinhos.
Varizes
Os vasos sanguíneos que apresentam uma cor entre azul e roxo e se veem
através da pele são designados por varizes. Podem ser pequenos capilares
ou grandes veias inchadas visíveis como protuberâncias. Não se sabe ao
certo porque é que as varizes se desenvolvem, mas pode dever-se a uma
série de fatores.
O coração bombeia sangue através das artérias para todas as partes do
corpo, e o sangue volta ao coração através das veias. Se exercermos tensão
sobre os músculos da barriga da perna, os vasos sanguíneos nessa área vão
ser pressionados conjuntamente. Existem válvulas das veias nas pernas, por
isso, o sangue não consegue fluir para baixo e é pressionado para cima na
direção do coração. É possível que o sangue das pernas não volte ao
coração de forma correta. Ao acumular-se nas veias, a pressão aumenta, as
veias dilatam e as válvulas já não fecham devidamente. As válvulas que
não funcionam bem impedem o sangue de subir, o que significa que mais
sangue se acumula nas veias e estas dilatam ainda mais. As hemorroidas
também são varizes, mas localizadas em torno do ânus.
Ler um livro pode ser fácil, mas seria uma pena se este conhecimento
permanecesse num nível intelectual e não fosse colocado em prática. Já
vimos que tipo de benefícios pode ter ao empenhar-se a sério nos
exercícios de respiração e treino no frio.
Repita 30 vezes
Na última repetição, expire completamente, depois inspire
profundamente e expire outra vez devagar. Depois aguarde.
Inspire profundamente e expire devagar sem exercer pressão. Ao não
expirar de forma completa, está a deixar um resíduo de ar nos pulmões.
Depois de repetir 30 vezes, retenha a respiração e espere até ao momento
em que sentir necessidade de inspirar novamente. Faça este exercício até
sentir um formigueiro, a cabeça atordoada ou entorpecimento.
Duche frio
Tome um duche quente, como sempre. Depois, quando a água ainda
estiver quente, comece a fazer exercícios de respiração. Inspire e expire
lentamente. Repita algumas vezes e depois passe para água fria. Tente
continuar a respirar calmamente. Permaneça debaixo do chuveiro um
minuto. Na segunda semana, passe para os dois minutos. Na terceira
semana, faça o mesmo, uma vez, durante três minutos. Na quarta semana,
tome um duche de cinco minutos, uma vez, sem tomar o duche quente
antes.
Pode também submergir as mãos e os pés em água gelada uma vez por
semana, para obter efeitos benéficos. Encha um balde com água gelada e
com pedaços de gelo ou cubos de gelo. Se não tiver congelador, pode
comprar gelo num supermercado. Ponha as mãos dentro da água gelada
durante dois minutos e depois faça o mesmo com os pés.
“Vai nadar?”, pergunta uma voz. Olho em volta e vejo um homem com
um cachecol a tapar a boca, um chapéu de inverno e uma grossa capa de
chuva, que me olha de forma perplexa.
“Não é bem nadar,” respondo-lhe. “Vou entrar na água e ficar lá durante
uns quatro ou cinco minutos e depois saio.”
O homem olha para mim com os olhos arregalados. “Isso é muito
perigoso. Sabe como está frio?”
Sei perfeitamente, porque tinha medido a temperatura nessa tarde.
“Quatro graus,” respondo.
O homem não fica tranquilo e não quer ler no jornal do dia seguinte que
morreu um homem de hipotermia no Admiralengracht, por isso fica à
espera. A minha explicação sobre Wim Hof, a escrita deste livro e o treino
no frio não o convencem completamente, mas despertam-lhe a curiosidade.
Pergunta-me se me pode filmar. Acedo ao pedido e mergulho no canal.
Após um ou dois minutos, o homem está entusiasmado. Estou a satisfeito
a nadar e a falar-lhe sobre vasos sanguíneos e os efeitos benéficos do frio.
E tudo de borla. Entusiasmado, o homem chama o irmão. Acenando os
braços, ele diz-lhe que há alguém a nadar no canal e que deveria vir ver.
Está muito frio, a nevar, e está a alguém a nadar no canal. Enquanto saía do
canal e vestia calmamente a minha t-shirt, o irmão veio ter connosco. Estou
encharcado, e com o vento gelado e cortante, começo a sentir frio. Quero ir
para casa, mas os irmãos continuam a fazer-me perguntas. Como é isto
possível? Porque é que estou a fazer isto? Deveriam eles experimentar?
Quem pode tirar partido disto? Toda a gente pode fazê-lo? Vou
respondendo às perguntas, na medida dos meus conhecimentos, porque
queria satisfazer a sua curiosidade entusiástica. Os homens foram-se
embora dizendo que querem mesmo ler o livro quando sair. Mas, neste
momento, ainda faltariam alguns meses.
Vou para casa, aqueço-me com uma chávena de chá e compreendo como
o trabalho de Wim Hof é positivo e gratificante, ao apresentar os benefícios
do frio a pessoas curiosas.
Vou para casa aquecer-me novamente com uma chávena de chá e percebo
como é difícil para Wim Hof lidar com céticos e pessoas que têm
problemas com as coisas especiais que ele faz.
Wim Hof
A quem deverei agradecer? A praticamente toda a gente. Os meus
agradecimentos vêm do meu interior, é a força que nos separa da
superficialidade. É um milagre a forma como a minha mensagem está a
espalhar-se por todo o mundo. Algo muito simples, mas, ao mesmo tempo,
muito forte. Acredite em si próprio e a natureza vai agradecer-lhe a si e aos
seus, a toda a gente e ao nosso belo planeta. Quero especialmente agradecer
a todos os que me apoiaram. Com a sua ajuda, vamos afastar ainda mais a
frieza da doença e a fraqueza.
Koen de Jong
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a todos os que me concederam
entrevistas para este livro. Agradeço especialmente a Mark Bos, Marianne
Peper, Mathijs Storm, Richard de Leth e Jack Egberts, pelas suas histórias
honestas e sinceras. O testemunho de Henk van den Bergh não foi incluído
neste livro, mas gostaria de lhe agradecer pelo seu entusiasmo altamente
motivante.
Sites
www.innerfire.nl
O site oficial de Wim e Enahm Hof tem todas as novidades sobre o
método Wim Hof, incluindo o que dizem os estudos científicos a propósito
do mesmo. Inclui também toda a informação sobre viagens, conferências e
workshops de Wim Hof.
www.wimhofmethod.com
Aqui pode encontrar um curso online de dez semanas, do MWH,
explicado passo a passo. Inclui vídeos e instruções sobre os exercícios de
respiração e treino no frio e, durante dez semanas, pode colocar questões
sobre as suas experiências.
www.coolchallenge.nl
(disponível apenas em holandês)
Neste site pode encontrar os resultados das pesquisas sobre os efeitos de
duches frios, conduzidas pelo Centro Médico Universitário de Amesterdão
em janeiro de 2015. Também inclui blogs atualizados e artigos de fundo
sobre os benefícios do treino no frio.
www.sportrusten.nl
(disponível apenas em holandês)
Aqui pode encontrar informação sobre exercícios de respiração para
fazer em descanso, com o objetivo de relaxar. Também pode fazer um teste
para saber qual é a sua frequência respiratória.
www.pubmed.com
Uma biblioteca online de vários estudos científicos, incluindo os
benefícios do frio, respiração e a variação da frequência cardíaca.
Livros
Verademing, Bram Bakker e Koen the Jong (Uitgeverij Lucht, 2009) (em
holandês).
Aorta
A aorta é a artéria principal do corpo. Começa no ventrículo esquerdo do
coração e estende-se ao longo da espinal medula até ao abdómen. Num
humano adulto, a aorta mede 2 a 3 centímetros de diâmetro e em descanso
transporta cerca de 5 litros de sangue por minuto.
Ashram
Ashram é o nome indiano para uma habitação comunal e espaço de
encontro para membros de grupos religiosos. É um termo habitualmente
utilizado no hinduísmo para se referir um local de aprendizagem religiosa,
como um mosteiro ou um espaço com significado religioso. Normalmente,
um ashram é também a residência de um homem sagrado. Está
tradicionalmente localizado longe de áreas de residência.
ATP
ATP significa trifosfato de adenosina, que desempenha um papel
essencial no corpo como fonte de energia química. A concentração de ATP
numa célula varia entre 1 e 10 milimolares. Uma pessoa que pese 70 quilos
usa cerca de 65 quilos de ATP por dia, enquanto a quantidade de ATP no
corpo a qualquer altura é apenas de 50 gramas, o chamado ATP livre. As
células produzem constantemente ATP.
Autodidata
Alguém que se ensina a si próprio através de estudo particular e sem
supervisão de um professor ou de uma instituição educativa. O termo é
especialmente usado para assuntos que necessitam de uma educação
substancial, como um curso universitário ou de nível equivalente.
Buteyko
Konstantin Buteyko (Ucrânia, 1923-2003) criou o método ao qual deu o
seu nome. Afirmou que a deficiência de dióxido de carbono nos alvéolos
causa lesões nos vasos sanguíneos (hipertensão) e nos brônquios (asma), o
que levou ao tratamento conhecido como o método Buteyko.
Capilares
Capilares são vasos sanguíneos ultrafinos.
Citocinas
Citocinas são moléculas que desempenham um papel no sistema
imunitário e ativam determinados recetores. Existem numa grande
variedade e são libertadas por diferentes células. Algumas são
constantemente produzidas, enquanto outras são libertadas apenas por
células ativadas durante uma resposta imunitária. A quantidade de citocinas
também varia, com algumas a trabalharem apenas localmente e outras por
todo o corpo.
Condicionamento
O condicionamento é uma forma de aprendizagem através da qual a
ligação de dois estímulos provoca uma mudança na resposta a um dos
estímulos. Foi descrito pela primeira vez pelo investigador russo Ivan
Pavlov. Enquanto estudava o processo digestivo dos cães, Pavlov descobriu
que eles começavam a salivar mesmo antes de lhes dar comida. Investigou
o fenómeno para descobrir se poderia ensinar os cães a salivar de forma
inconsciente e, para isso, tocou uma campainha cinco segundos antes de os
alimentar. Depois de o faze algumas vezes, reparou que os cães associavam
a campainha à alimentação. Começaram a salivar sempre que ouviam a
campainha, sem ser necessário haver comida.
Corticosteroides
Fármacos anti-inflamatórios semelhantes à hormona produzida pelo
corpo nas glândulas suprarrenais. São receitados para combater vários
problemas de saúde nas articulações causados pelo reumatismo. A
prednisona e a prednisolona são dois dos corticosteroides mais conhecidos.
Cortisol
O cortisol é conhecido como a hormona do stress, embora não seja a
única, e é libertado durante todas as formas de stress, tanto físico como
psicológico. O cortisol faz com que certas proteínas nos músculos se
partam, libertando aminoácidos através dos quais a glicose (energia) pode
ser gerada. Esta energia pode ser usada para equilibrar o corpo; num
momento de stress, são libertadas adrenalina e noradrenalina para tornar o
corpo mais alerta e preparado para “lutar ou fugir”. O cortisol garante que
esta energia perdida pode ser recuperada.
O cortisol é produzido nas glândulas suprarrenais e a quantidade
produzida segue um ritmo biológico, o que significa que não é o mesmo a
todos os momentos do dia. Quando o corpo acorda, é produzido em maior
quantidade, o que nos desperta o apetite.
Cromossomas
Um cromossoma é uma molécula de ADN que contém toda a informação
genética de um indivíduo. Todas as células contêm os mesmos
cromossomas. A informação genética está codificada sob a forma de
tranças de ADN. As partes do ADN que contêm esta informação chamam-
se genes. Os genes estão sempre no mesmo sítio no cromossoma em
indivíduos da mesma espécie.
Dieta Fast-5
Trata-se de uma “dieta” (re)descoberta pelo antigo médico da força aérea
Bert Herring. É um regime segundo o qual apenas se pode comer durante
um período de cinco horas por dia, permitindo ao sistema digestivo
descansar durante as horas restantes.
Dissimilação aeróbica
Dissimilação aeróbica refere-se à combustão de moléculas orgânicas,
normalmente glicose, que é uma fonte comum de energia para o organismo.
Durante o processo de dissimilação aeróbica da glicose, as moléculas da
glicose são completamente quebradas, formando dióxido de carbono e
moléculas de água.
Doença autoimune
Nas doenças autoimunes, o corpo ataca-se a si próprio e é a causa da sua
própria doença. Isto ocorre quando o sistema imunitário, cujo objetivo é
defender o corpo contra ameaças externas, produz por engano anticorpos
para atacar as suas próprias células e tecidos. Ficamos doentes porque o
corpo está a tentar proteger-nos de nós próprios.
Fatores de transcrição
Um fator de transcrição é uma proteína que se liga ao promotor de um
gene. Desta forma, essa proteína controla a taxa de transcrição.
Fosfato de creatina
O fosfato de creatina (FC) é parte do metabolismo anaeróbico. Trata-se
de um químico de elevado nível de energia que é armazenado nas células
dos músculos. O FC é produzido naturalmente no corpo e está presente em
alimentos como carne e peixe, garantindo que os músculos se contraem
quando nos começamos a mexer. Quando nos submetemos a uma atividade
física intensiva, o FC liberta energia de forma rápida através de uma reação
química em que o fosfato é separado. A energia é usada para contrair ainda
mais os músculos. Parte da creatina é libertada no sangue e depois é
expelida pelo corpo através da urina. O resto é absorvido pelos músculos,
através do fígado, para dotar o corpo de mais energia de reserva. Assim,
trata-se de um sistema autorregenerativo.
Frequência respiratória
Corresponde ao número de vezes que respiramos por minuto. Cada
respiração começa quando inspiramos e termina quando expiramos.
Glândula pineal
A glândula pineal, ou epífise neural, produz a hormona melatonina. Esta
hormona influencia diversas funções do corpo. Por exemplo, produzimos
melatonina quando não há luz solar suficiente e pode estar relacionada com
o nosso estado de espírito em estações diferentes. Precisamos de luz solar
(diurna) suficiente para produzir um nível adequado de melatonina, que é
libertada pela glândula pineal, se o nosso ritmo de sono for regular.
Glândula pituitária
Este importante órgão na cabeça é do tamanho de uma ervilha, com cerca
de 1 centímetro de diâmetro. Não pesa mais do que meia grama e está
localizada na cavidade na base do crânio. Numa situação de stress, a
glândula pituitária liberta uma hormona chamada corticotrofina, que
garante que a glândula suprarrenal produz cortisol. Durante esta resposta de
stress, a glândula pituitária é ativada pelo hipotálamo*. Esta interação,
chamada eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA), é uma resposta lenta ao
stress: demora cerca de 30 minutos até que o cortisol possa ser medido no
sangue.
Glicose
A glicose é uma das principais fontes de energia para o corpo humano.
Como não pode ser armazenada no corpo, é convertida em glicogénio, um
polímero de monómeros de glicose, e armazenada nos músculos e no
fígado (cerca de 100 gramas).
Hemoglobina
A hemoglobina é uma proteína presente no sangue de seres humanos e de
muitos outros animais. É a sua ligação ao oxigénio (oxiemoglobina) que dá
ao sangue a sua cor vermelha. A hemoglobina representa um terço da
composição dos glóbulos vermelhos e é responsável pelo transporte de
oxigénio e dióxido de carbono através do sangue.
Hipotálamo
O hipotálamo faz parte do sistema límbico no nosso cérebro. Controla o
sistema nervoso autónomo e desempenha um papel crucial na organização
das ações que garantem a sobrevivência do indivíduo e da espécie, como
comer, lutar, fugir e acasalar. Também é importante na regulação da
temperatura do corpo.
Lactato
O lactato é produzido nos músculos, cérebro e outros tecidos onde não
existe muito oxigénio. Os nutrientes são absorvidos no corpo e despendidos
nesses órgãos para fornecer energia. O oxigénio é necessário para uma boa
combustão. Se existir oxigénio suficiente disponível, pouco ou nenhum
lactato é produzido, mas se não existir oxigénio suficiente, o lactato é
produzido no processo de combustão, em vez de dióxido de carbono e
água. O lactato é, então, convertido em dióxido de carbono e água assim
que volta a estar disponível oxigénio suficiente. Porém, se este processo
levar demasiado tempo, o lactato fica acumulado no sangue, perturbando o
equilíbrio ácido/alcalino, o que causa o decréscimo do valor de pH e leva à
acidificação.
Melatonina
A melatonina é uma hormona produzida na glândula pineal a partir da
serotonina e libertada no sangue e no líquido cerebrospinal. A quantidade
libertada varia, dependendo da hora do dia. Em muitos animais, essa
hormona influencia os ritmos de vigília e sono e os ritmos reprodutivos.
Nos seres humanos, a produção natural de melatonina está diretamente
ligada à exposição à luz de certos recetores na retina. A exposição à luz
azul (da luz do sol ou luz artificial emitida por uma televisão ou monitor de
um computador) inibe a produção de melatonina. Se a exposição à luz
diminuir, a produção natural de melatonina sobe novamente. Para o corpo,
é um sinal para reduzir o nível de atividade e preparar-se para a noite.
Microgliócitos
Os microgliócitos são células presentes nos macrófagos do sistema
nervoso central. São pequenas células com um núcleo pequeno e o seu
citoplasma contém um elevado número de lisossomas e outras propriedades
que também se encontram noutros macrófagos. Estão presentes tanto na
matéria cinzenta como na matéria branca do sistema nervoso central.
Mitocôndrias
As mitocôndrias são a fonte de energia da célula. Ao fornecerem energia
às células, estabelece-se uma relação entre as necessidades energéticas da
célula e o número de mitocôndrias que esta contém.
Neocórtex
O neocórtex é a parte mais recentemente evoluída do cérebro. Os seres
humanos têm um neocórtex relativamente maior do que os outros
mamíferos. É aqui que reside o centro de linguagem, a capacidade de
pensar racionalmente e a capacidade analítica.
Plaquetas sanguíneas
As plaquetas sanguíneas (trombócitos) garantem a coagulação do sangue.
Se um vaso sanguíneo sofrer um dano, as plaquetas juntam-se à parede do
vaso, formando uma crosta que impede o sangue de continuar a fluir. As
pessoas com défice de plaquetas sanguíneas podem sofrer graves
hemorragias.
Plasma
O plasma inclui proteínas, minerais, gorduras e hormonas dissolvidas em
água, transportando os glóbulos através do corpo, e contém centenas de
tipos de proteínas, todos com diferentes funções. Por exemplo, a proteína
albumina absorve água, o que garante que o plasma se mantém dentro dos
vasos sanguíneos, em vez de passar para os tecidos. O plasma também
contém proteínas de coagulação que, juntamente com as plaquetas
sanguíneas, desempenha uma função importante no processo de coagulação
do sangue.
Prednisona
A prednisona é um fármaco anti-inflamatório.
PSA
O antigénio prostático específico é uma proteína geralmente presente no
sangue em pequenas quantidades, sendo produzida no tecido glandular da
próstata. Não é claro o motivo pelo qual os valores de PSA variam, mas é
provavelmente um indicador de atividade de certas partes do tecido da
próstata. Sabemos que os valores de PSA podem aumentar com a idade,
sem que isso signifique irregularidades na próstata.
Recetores
São proteínas que se encontram na membrana da célula ou do seu núcleo,
às quais uma molécula específica se pode unir. Os recetores podem receber
sinais de dentro ou de fora da célula e, quando uma molécula sinalizadora
se une a um recetor, este pode iniciar uma resposta celular. Quer as
substâncias endógenas, como os neurotransmissores, hormonas e citocinas,
quer as exógenas, como os antigénios e as feromonas, podem estimular
uma resposta celular deste género.
Saturação de oxigénio
Este valor indica a percentagem de hemoglobina ligada ao oxigénio no
sangue presente nas artérias. Normalmente, deve variar entre os 95 e os 100
por cento. A saturação de oxigénio refere-se apenas ao nível de oxigénio no
sangue, nas artérias; não se refere à renovação de ar nos pulmões ou à
expulsão de dióxido de carbono.
Sistema imunitário
É um mecanismo de defesa com o propósito de repelir intrusos e células
alteradas no corpo. O termo latino “immunis” significa “livre” e refere-se à
proteção contra intrusos. O sistema imunitário do corpo é uma resposta
imune que envolve organismos multicelulares, através da qual muitas
células e moléculas trabalham em conjunto para atacar intrusos. Além de
nos proteger de vírus, bactérias e parasitas, o sistema imunitário expele
desperdícios químicos ou cancerígenos e outras células doentes do corpo.
Sistema parassimpático
Esta parte do sistema nervoso está ligada ao relaxamento e, por esse
motivo, é apelidada de “pedal de travão” do corpo. Quando está ativa, a
frequência cardíaca é baixa e a respiração é calma. O sistema digestivo está
ativo e a circulação sanguínea é boa.
Sistema simpático
É a parte do sistema nervoso ligada à ação e, por essa razão, é conhecida
como o “acelerador” do corpo. Se estiver no controlo, é porque estamos em
modo de “luta ou fuga”, respiramos mais depressa, o sistema digestivo para
temporariamente e a nossa frequência cardíaca aumenta.
Telómeros
Um telómero é uma parte do ADN localizada na extremidade de um
cromossoma, que fica mais pequena de cada vez que a célula se divide. Os
telómeros protegem o ADN, porque, depois de se dividir 50 ou 60 vezes,
uma célula deixa de conseguir dividir-se pelo facto de o telómero ser
demasiado pequeno.
Obras
Investigação