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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

FACULDADE DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS E LETRAS DO SERTÃO CENTRAL –


FECLESC

ANTONIO ELANO SOUSA BARBOSA

O AQUECIMENTO GLOBAL E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Quixadá – Ceará
2023
ANTONIO ELANO SOUSA BARBOSA

O AQUECIMENTO GLOBAL E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Licenciatura em Química da
Faculdade de Educação Ciências e Letras do
Sertão Central da Universidade Estadual do
Ceará, como requisito parcial para a obtenção
do grau de licenciado em Química.

Orientação: Renato Eugenio Oliveira Diniz.

Quixadá – Ceará
2023
ANTONIO ELANO SOUSA BARBOSA

O AQUECIMENTO GLOBAL E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Licenciatura Plena em Química da
Faculdade de Educação Ciências e Letras do
Sertão Central da Universidade Estadual do
Ceará, como requisito parcial para a obtenção
do grau de licenciado em Química.

Aprovado em: 06 de novembro de 2023.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Me. Renato Eugenio Oliveira Diniz


Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central – FECLESC
Universidade Estadual do Ceará – UECE

Prof. Manuel Bandeira dos Santos Neto


Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central – FECLESC
Universidade Estadual do Ceará – UECE

Prof. Mickaely Romão Viana Carneiro


Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central – FECLESC
Universidade Estadual do Ceará – UECE
A Deus por ter me dado forças, por ter me
dado saúde e coragem para conseguir
vencer cada obstáculos. A determinação,
foco, insistência e muita fé, só tenho que
lhe agradecer, pois se cheguei até aqui foi
graças as tuas mãos que me guiaram.
A toda minha família, que sempre esteve
presente desde o início.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente gostaria de agradecer a Deus pela força que me deu e


determinação para concluir esse trabalho. Agradeço ao meu orientador Prof.
Me. Renato Eugenio por aceitar conduzir o meu trabalho de pesquisa.
Quero agradece a minha família que sempre me apoio em todas as decisões,
me incentivando a sempre continua lutado pelo meu sonho. E nunca desistir.

Quero agradece aos amigos que me acompanharam por esse trajetória


dentro da universidade, pelo conhecimento trocado e pelo afeto e carinho de
todos.
“Que os vossos esforços desafiem as
impossibilidades, lembrai-vos de que as
grandes coisas do homem foram
conquistadas do que parecia impossível”.
(Charles Chaplin)
RESUMO

Os cientistas estão observando as mudanças no clima da Terra em todas as


regiões e em todo o sistema climático, de acordo com o último relatório do Painel
Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC), divulgado atualmente.
Muitas das alterações observadas no clima não têm precedentes – como a subida
contínua do nível do mar – são irreversíveis ao longo de centenas a milhares de
anos O efeito estufa é um mecanismo natural, onde o calor é retido próximo à
superfície da Terra por “gases de efeito estufa”. O relatório mostra que as emissões
de gases com efeito de estufa provenientes das atividades humanas são
responsáveis por aproximadamente 1,1°C de aquecimento desde 1850-1900 e
conclui que, em média, ao longo dos próximos 20 anos, a temperatura global deverá
atingir ou exceder 1,5°C de aquecimento. O fenômeno do rápido aquecimento global
- com suas demandas por ajustes de grande escala - geralmente é considerado o
nosso mais importante problema ambiental mundial, embora efeitos positivos e
negativos possam estar associados a qualquer aumento significativo na média da
temperatura global. Esse fenômeno, no entanto, tem sido agravado pela ação
antrópica, que tem elevado as emissões de gases de efeito estufa à atmosfera,
provocando alterações climáticas em todo o planeta. Essa grande concentração de
gases dificulta que o calor seja devolvido ao espaço, aumentando,
consequentemente, as temperaturas. Por conseguinte, serão discutidos os
mecanismos naturais envolvidos no efeito estufa, os gases envolvidos e o
agravamento desse fenômeno que geralmente é denominado de efeito estufa
intensificado. Serão abordadas algumas características sobre o sistema climático,
suas variações, suas mudanças causadas por forças externas e a dinâmica desses
sistemas que dependem de muitos fatores. E, por fim, estão descritos os efeitos
modificadores do clima dos aerossóis.

Palavras-chave: Efeito estufa. Aquecimento Global. Variações Climáticas.


Poluição.
ABSTRACT

Scientists are observing changes in Earth's climate across all regions and across the
climate system, according to the latest Intergovernmental Panel on Climate Change
(IPCC) report, released today. Many of the unprecedented changes observed in
climate – such as the continuous rise in sea levels – are irreversible over hundreds to
thousands of years. The greenhouse effect is a natural mechanism where heat is
trapped near the Earth's surface by “gases greenhouse effect”. The report shows that
greenhouse gas emissions from human activities are responsible for approximately
1.1°C of warming since 1850-1900 and concludes that, on average, over the next 20
years, global temperatures are expected to reach or exceed 1.5°C of warming. The
phenomenon of rapid global warming - with its demands for large-scale adjustments -
is generally considered our most important global environmental problem, although
both positive and negative effects can be associated with any significant increase in
average global temperatures. This phenomenon, however, has been aggravated by
human action, which has increased greenhouse gas emissions into the atmosphere,
causing climate change across the planet. This large concentration of gases makes it
difficult for heat to be returned to space, consequently increasing temperatures.
Therefore, the natural mechanisms involved in the greenhouse effect, the gases
involved and the worsening of this phenomenon, which is generally called the
intensified greenhouse effect, will be discussed. Some characteristics of the climate
system will be addressed, its variations, its changes caused by external forces and
the dynamics of these systems that depend on many factors. And finally, the climate-
modifying effects of aerosols are described.

Keywords: Greenhouse effect. Global warming. Climate Variations. Pollution.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Visão esquemática dos componentes do sistema climático


global (negrito), seus processos e interações (setas finas) e
alguns aspectos que pode mudar (setas grossas).................... 23
Figura 2 – Composição porcentual em volume da mistura total dos
gases presentes na atmosfera..................................................... 24
Figura 3 – O balanço energético anual e médio global............................... 29
Figura 4 – O Espectro das radiações eletromagnéticas provenientes do
Sol................................................................................................... 33
Figura 5 – As características de uma onda e suas relações....................... 34
Figura 6 – Distribuições dos comprimentos de onda (em diferentes
escalas) para a luz emitida pelo Sol (curva tracejada) e pela
luz refletida pela superfície da Terra e troposfera (curva
sólida)............................................................................................. 35
Figura 7 - (a) Reconstrução das mudanças na média anual global das
temperaturas de superfície, relativas para as médias de 1961-
1990. (b) Temperaturas médias globais - continente e
oceano. (c) Temperatura linear das tendências que cobrem
os períodos de 25, 50, 100 e 150 anos até
2005............................... 38
Figura 8 - O efeito estufa: saída do IR absorvido pelos gases de efeito
de estufa são reemitidos (lado esquerdo do diagrama) ou
convertidos em calor (lado direito).............................................. 41
Figura 9 - Os dois tipos de vibrações dentro das moléculas. O
alongamento da ligação (a) é ilustrado para uma molécula
diatômica XY. A variável R representa o valor médio da
distância X – Y. (b) a vibração de deformação angular é
mostrada para uma molécula triatômica XYZ. O ângulo XYZ
médio é indicado por .................................................................. 43
Figura 10 - O espectro de absorção do infravermelho para o dióxido de
carbono. A escala para o comprimento de onda é linear
quando expresso em números de onda, que possuem
unidades de cm-1; número de onda = 10.000 / comprimento
de onda em
nm.................................................................................... 46
Figura 11 - Intensidade medida experimentalmente (curva em negrito) de
luz infravermelha térmica deixando a superfície da Terra à
baixa atmosfera (acima do deserto do Saara) comparado
com a intensidade teórica (curva verde) que seria esperado
sem absorção pelos gases de efeito estufa da
atmosfera................ 47
Figura 12 - O histórico da variação de concentração de dióxido de
carbono na atmosfera. O encarte mostra a tendência com
sazonal flutuações, em tempos recentes.................................... 48
Figura 13 - Produção de óxido nitroso como subproduto durante o ciclo
biológica do nitrogênio................................................................. 56
Figura 14 - Interação de luz solar com as partículas atmosféricas em
suspensão. (a) Modos de interação. (b) Ilustração do efeito
indireto de produzir aumento da reflexão por pequenas gotas
de água quando comparadas com gotas maiores, mas com o
mesmo volume total...................................................................... 66
Figura 15 - A quantidade da luz do sol refletida ao espaço, pelo
mecanismo direto de aerossóis antropogênicos, em W.m -2
da superfície da
Terra......................................................................... 68
Figura 16 - Contribuições ao aquecimento e resfriamento global em
2005 produzida por vários fatores, expressos em
percentagens do total do aquecimento
antropogênico........................................... 63
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Abundâncias pré-industriais (1750) e do ano de1998 de


gases de efeito estufa e a força radiativa devido à mudança
nas composições. As proporções de mistura de volume
para CO2 estão em ppm, para CH4 e N2O em ppb, e para o
restante. em
ppt........................................................................................... 32
Tabela 2 - Alguns Coeficientes de Reflexão (albedos, α s) para a
radiação solar em diferentes superfícies (α s = 1, reflexão
total).............................................................................................. 36
Tabela 3 - Os quatro períodos e suas taxas de aquecimento................... 39
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 14
2 INTRODUÇÃO AO SISTEMA CLIMÁTICO....................................................... 19
2.1 Tempo e
Clima................................................................................................... 19
2.2 O Sistema
Climático.......................................................................................... 21
2.3 Variações Climáticas Naturais......................................................................... 27
3 O EFEITO ESTUFA.................................................................................. 33
3.1 A Fonte de Energia da Terra.................................................................. 33
3.2 Tendências Históricas da Temperatura Global................................... 36
3.3 Emissões de energia da Terra e o efeito
estufa................................... 39
3.4 Vibrações moleculares: absorção de energia por gases de efeito
estufa....................................................................................................... 42
3.5 Dióxido de carbono: absorção de luz infravermelha.......................... 45
3.6 Dióxido de carbono: concentrações do passado e tendências de
emissão................................................................................................... 48
3.7 Vapor de água......................................................................................... 50
3.8 Metano: Absorção e sumidouros.......................................................... 51
3.9 Óxido nitroso.......................................................................................... 55
3.10 CFCs e seus substitutos........................................................................ 58
3.11 Hexafluoreto de enxofre......................................................................... 59
3.12 Ozônio Troposférico............................................................................... 59
4 OS EFEITOS MODIFICADORES DO CLIMA DOS AEROSSÓIS........... 61
4.1 A interação da luz com as
partículas.................................................... 61
4.2 Aerossóis e o aquecimento global....................................................... 65
4.3 O aquecimento global atual................................................................... 67
5 CONCLUSÃO........................................................................................... 69
REFERÊNCIAS……………………………………………………………….. 74
14

1 INTRODUÇÃO

Os cientistas estão observando as mudanças no clima da Terra em todas as


regiões e em todo o sistema climático, de acordo com o último relatório do Painel
Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC), divulgado atualmente.
Muitas das alterações observadas no clima não têm precedentes em milhares,
senão centenas de milhares de anos, e algumas das alterações já desencadeadas –
como a subida contínua do nível do mar – são irreversíveis ao longo de centenas a
milhares de anos (IPCC .
Contudo, reduções fortes e sustentadas nas emissões de dióxido de carbono
(CO2) e outros gases com efeito de estufa limitariam as alterações climáticas.
Embora os benefícios para a qualidade do ar são sentidas mais rapidamente, poderá
levar de 20 a 30 anos para que as temperaturas globais se estabilizem, de acordo
com o relatório do Grupo de Trabalho I do IPCC, Mudanças Climáticas 2021: a Base
da Ciência Física, aprovado na sexta-feira por 195 governos membros do IPCC. ,
por meio de uma sessão virtual de aprovação realizada durante duas semanas,
começando em 26 de julho de 2023. O relatório do Grupo de Trabalho I é a primeira
parte do Sexto Relatório de Avaliação (AR6) do IPCC, que foi concluído em 2022.
“Este relatório reflete esforços extraordinários em circunstâncias excepcionais”,
disse Hoesung Lee, Presidente do IPCC.
“As inovações contidas neste relatório e os avanços na ciência climática que
ele reflete, proporcionam um contributo inestimável para as negociações climáticas e
para a tomada de decisões.” Com o aquecimento tornando-se mais rápido, o
relatório fornece novas estimativas sobre as probabilidades de ultrapassar o nível de
aquecimento global de 1,5°C nas próximas décadas e conclui que, a menos que
haja reduções imediatas, rápidas e em grande escala nas emissões de gases com
efeito de estufa, limitando o aquecimento a perto de 1,5°C ou mesmo 2°C estarão
fora do alcance.
O relatório mostra que as emissões de gases com efeito de estufa
provenientes das atividades humanas são responsáveis por aproximadamente 1,1°C
de aquecimento desde 1850-1900 e conclui que, em média, ao longo dos próximos
20 anos, a temperatura global deverá atingir ou exceder 1,5°C de aquecimento.
Esta avaliação baseia-se em conjuntos de dados observacionais melhorados
para avaliar o aquecimento histórico, bem como no progresso na compreensão
15

científica da resposta do sistema climático às emissões de gases com efeito de


estufa causadas pelo homem. “Este relatório é uma verificação da realidade”, disse
a copresidente do Grupo de Trabalho I do IPCC, Valérie Masson-Delmotte.
“Temos agora uma imagem muito mais clara do clima passado, presente e
futuro, o que é essencial para compreender para onde estamos indo, o que pode ser
feito e como podemos nos preparar.” Cada região enfrenta mudanças crescentes
Muitas características das alterações climáticas dependem directamente do nível de
aquecimento global, mas o que as pessoas vivenciam é muitas vezes muito
diferente da média global.
Por exemplo, o aquecimento da terra é maior do que a média global e é duas
vezes mais elevado no Ártico. “As alterações climáticas já estão afetando todas as
regiões da Terra, de múltiplas maneiras. As mudanças que vivenciamos aumentarão
com o aquecimento adicional”, disse o copresidente do Grupo de Trabalho I do
IPCC, Panmao Zhai.
O relatório prevê que nas próximas décadas as alterações climáticas
aumentarão em todas as regiões. Para 1,5°C de aquecimento global, haverá ondas
de calor crescentes, estações quentes mais longas e estações frias mais curtas. A
2°C de aquecimento global, os extremos de calor atingiriam mais frequentemente
limiares críticos de tolerância para a agricultura e a saúde, mostra o relatório.
Mas não se trata apenas de temperatura. As alterações climáticas estão
trazendo múltiplas mudanças diferentes em diferentes regiões – que irão aumentar
com o aumento do aquecimento. Estas incluem alterações na umidade e na seca,
nos ventos, na neve e no gelo, nas zonas costeiras e nos oceanos. Por exemplo: as
alterações climáticas estão intensificand o ciclo da água.
Isto traz chuvas mais intensas e inundações associadas, bem como secas
mais intensas em muitas regiões. As alterações climáticas estão mudando os
padrões de precipitação. Em altas latitudes, a precipitação provavelmente
aumentará, enquanto se prevê que diminua em grandes partes das regiões
subtropicais. São esperadas mudanças na precipitação das monções, que variam de
acordo com a região.
As zonas costeiras registarão uma subida contínua do nível do mar ao longo
do século XXI, contribuindo para inundações costeiras mais frequentes e graves em
zonas baixas e para a erosão costeira. Eventos extremos do nível do mar que
anteriormente ocorriam uma vez em 100 anos poderão acontecer todos os anos até
16

ao final deste século. Um maior aquecimento amplificará o degelo do permafrost e a


perda da cobertura de neve sazonal, o derretimento dos glaciares e das camadas de
gelo e a perda do gelo marinho do Ártico no Verão.
As alterações nos oceanos, incluindo o aquecimento, as ondas de calor
marinhas mais frequentes, a acidificação dos oceanos e a redução dos níveis de
oxigénio, têm sido claramente associadas à influência humana. Estas mudanças
afectam tanto os ecossistemas oceânicos como as pessoas que deles dependem, e
continuarão pelo menos durante o resto deste século. Para as cidades, alguns
aspectos das alterações climáticas podem ser amplificados, incluindo o calor (uma
vez que as áreas urbanas são geralmente mais quentes do que os seus arredores),
as inundações causadas por fortes precipitações e a subida do nível do mar nas
cidades costeiras.
Muitas pessoas pensam no aquecimento global e nas mudanças
climáticas como sinônimos, mas os cientistas preferem usar "mudança climática" ao
descrever as mudanças complexas que agora afetam o tempo e os sistemas
climáticos de nosso planeta. A mudança climática abrange não apenas o aumento
da temperatura média, mas também eventos climáticos extremos, mudanças nas
populações e habitats da vida selvagem, aumento do nível do mar e uma série de
outros impactos. Todas essas mudanças estão surgindo à medida que os humanos
continuam a adicionar gases de efeito estufa que retêm o calor na atmosfera
(HARRISON, 1991).
Os cientistas documentam esses impactos das mudanças climáticas: O
gelo está derretendo em todo o mundo, especialmente nos pólos da Terra. Isso
inclui geleiras de montanha, mantos de gelo cobrindo a Antártica Ocidental, a
Groenlândia e o gelo do mar Ártico. No Parque Nacional das Geleiras de Montana, o
número de geleiras diminuiu para menos de 30, de mais de 150 em 1910. Muito
desse gelo derretido contribui para a elevação do nível do mar. Os níveis globais do
mar estão subindo 3,2 milímetros por ano, e o aumento está ocorrendo em um ritmo
mais rápido nos últimos anos (IPCC 2021, 2021).
O Efeito Estufa é um mecanismo natural, onde o calor é retido próximo à
superfície da Terra por “gases de efeito estufa”. Esses gases que aquecem a
atmosfera e a superfície, podem ser vistos como um cobertor enrolado em volta da
Terra. Os gases de efeito estufa incluem dióxido de carbono, metano, óxidos
nitrosos e vapor de água. Os gases de efeito estufa surgem naturalmente e fazem
17

parte da composição de nossa atmosfera. Esse fenômeno natural faz com que a
temperatura média do planeta fique em torno de +15°C. Se não houvesse essa
retenção de calor ocasionada por esses gases, a temperatura média global seria de
-18°C, e nosso planeta seria completamente congelado, impedindo que a vida, como
conhecemos, pudesse desenvolver (MANAHAN, 2000).
Atualmente, é frequente encontrar nas mídias, assuntos que discutem e
relatam a previsão de que o efeito estufa afetará significativamente o clima em todo
o mundo no futuro. Os termos: efeito estufa intensificado e aquecimento global têm
significados comuns, e simplesmente significam que a média das temperaturas
globais do ar aumentam vários graus como resultado do acúmulo de dióxido de
carbono e outros gases de efeito estufa na atmosfera.
Na verdade, a maioria dos cientistas atmosféricos acredita que esse
aquecimento global já está em andamento há algum tempo e é em grande parte
responsável pelo aumento da temperatura do ar de cerca de dois terços de um grau
Celsius que vem ocorrendo desde 1860 (MANAHAN, 2000).
O fenômeno do rápido aquecimento global - com suas demandas por
ajustes de grande escala - geralmente é considerado o nosso mais importante
problema ambiental mundial, embora efeitos positivos e negativos possam estar
associados a qualquer aumento significativo na média da temperatura global. Ao
contrário da destruição do ozônio estratosférico, que se manifestou de forma
espetacular na forma do buraco na camada de ozônio, o fenômeno do aquecimento
global, devido ao efeito estufa, ainda não foi observado de uma forma que convença
a todos de sua existência (BAIRD, CANN, 2012).
Ninguém atualmente tem certeza da extensão ou do nível de futuros
aumentos de temperatura, nem é provável que previsões confiáveis para regiões
individuais estarão sempre disponíveis em antecipação dos eventos em questão. Se
os modelos atuais da atmosfera são corretos, no entanto, um aquecimento
significativo ocorrerá nas próximas décadas. Isto é importante para que entendamos
os fatores que estão impulsionando este aumento para que podemos, se quisermos,
tomar medidas para evitar catástrofes potenciais causadas por mudanças climáticas
rápidas no futuro.
Esse fenômeno, no entanto, tem sido agravado pela ação antrópica, que
tem elevado as emissões de gases de efeito estufa à atmosfera, provocando
alterações climáticas em todo o planeta. Essa grande concentração de gases
18

dificulta que o calor seja devolvido ao espaço, aumentando, consequentemente, as


temperaturas do planeta (MANAHAN, 2000).
Por conseguinte, serão discutidos os mecanismos naturais envolvidos no
efeito estufa, os gases envolvidos e o agravamento desse fenômeno que geralmente
é denominado de efeito estufa intensificado. Serão abordadas algumas
características sobre o sistema climático, suas variações, suas mudanças causadas por
forças externas e a dinâmica desses sistemas que dependem de muitos fatores. Por fim
estão discutidos os efeitos modificadores do clima dos aerossóis (MANAHAN, 2000).
19

2 INTRODUÇÃO AO SISTEMA CLIMÁTICO

2.1 Tempo e Clima

As mudanças do tempo e o clima têm uma profunda influência sobre a


vida na Terra. Estes fenômenos fazem parte da experiência diária dos seres
humanos e são essenciais para sua qualidade de vida, refletindo tanto na produção
de alimentos, quanto no seu bem-estar ou saúde. E mais do que antes, as
preocupações com as variações climáticas induzidas pelo homem têm sido
discutidas intensamente, dada as mudanças radicais do clima e de suas
periodicidades que estão sendo claramente observadas atualmente.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
(Intergovernmental Panel on Climate Change, IPCC), foi estabelecida pela
Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela UNEP (United Nations Environment
Programme) com a finalidade de acessar informações técnicas, científicas e
socioeconômicas relevantes para a compreensão das mudanças climáticas, seus
impactos potenciais e as opções para a adaptação e a mitigação mundial, e tem
finalizado atualmente no Relatório elaborado da 48 a Sessão do IPCC, em Incheon,
República da Coreia, em 6 de outubro de 2018. Nesse relatório, assim como nos
outros anteriormente publicados, existem evidências científicas que as atividades
humanas já estão influenciando o clima do planeta (IPCC 2021, 2021).
Se desejarmos compreender, detectar e eventualmente predizer a
influência sobre o clima da Terra, devemos também compreender o sistema que
determina esse clima e os processos que ocasionam as variações climáticas. Nesse
capítulo, as informações relatadas aqui foram extraídas e compiladas de alguns
desses relatórios publicados pelo IPCC (IPCC 2021, 2021).
Geralmente os termos tempo e clima são sempre definidos de maneira
não muito clara e desencontrados. O tempo, como nós o conhecemos, é um estado
flutuante da atmosfera que nos circunda, caracterizado pela temperatura, vento,
chuvas, nuvens e outros elementos. Esse tempo é o resultado das variações da
dinâmica do sistema atmosférico, como por exemplo, as variações de pressões com
suas frentes associadas, precipitações e ciclones tropicais. São sempre limitadas as
20

previsões dessas variações de tempo; sistemas convectivos em mesoescala são


geralmente previstos em períodos de horas somente; cartas sinóticas na escala de
ciclones podem ser estabelecidas em períodos de dias a uma semana. Além de uma
semana ou duas, as previsões baseadas nesses sistemas são impraticáveis (IPCC
2021, 2021).
O clima refere-se às variações médias do tempo de uma determinada
área que ocorre dentro de certo período. A climatologia clássica fornece a
classificação e a descrição dos vários regimes climáticos encontrados na Terra. O
clima varia de lugar para lugar, depende da latitude, da distância do mar, da
presença ou não de vegetação, montanhas e outros fatores geográficos
(MANAHAN, 2000).
O clima varia também com o tempo decorrido: de estação para estação,
de ano a ano, década a década ou em escalas de tempo muito maiores, como por
exemplo, as Eras glaciais. Variações médias, estatisticamente significantes do
estado do clima ou de suas variabilidades, tipicamente persistentes por décadas ou
mais, são chamadas de “variações climáticas” (BAIRD, CANN, 2012).
As variações climáticas e suas mudanças causadas por forças externas
podem ser parcialmente preditas, particularmente sobre escalas espaciais
continentais ou globais. As atividades humanas que atuam como variações
climáticas induzidas pelo homem, tais como a emissão de gases intensificadores do
efeito estufa ou do uso da terra, podem ser parcialmente previstas, também.
Contudo, a habilidade para atualmente fazer estas previsões é limitada, pois não
podemos prever com exatidão as mudanças da população, da economia e do
desenvolvimento tecnológico, assim como de outras características relevantes das
atividades humanas futuras. Na prática, podemos apenas depender dos cenários
cuidadosamente construídos do comportamento humano e determinar as projeções
climáticas com base em tais cenários.
O conhecimento tradicional do tempo e do clima está focalizado naquelas
variáveis que afetam diariamente nossa vida de forma mais direta: as temperaturas
média, máxima e mínima, o vento próximo à superfície da Terra, a precipitação em
suas várias formas, a umidade, tipo e quantidade de nuvens e a radiação solar.
Estas são as variáveis observadas periodicamente por muitas estações
meteorológicas em torno do globo (BAIRD, CANN, 2012).
21

Contudo, estas variáveis são apenas partes do que realmente


determinam o tempo e o clima. A dinâmica dos sistemas climáticos depende
também da estrutura vertical da atmosfera, da influência do terreno, do oceano e de
muitos outros fatores que não são percebidos ou notados pelos seres humanos. O
clima é determinado pela circulação atmosférica e por suas interações com as
correntes oceânicas de larga escala e com a terra caracterizada por suas
peculiaridades, tais como o albedo (fração de luz solar refletida pela superfície
terrestre), a vegetação e a umidade do solo. O clima da Terra como um todo,
depende desses fatores que influenciam o balanço das radiações (incidentes e
refletidas), como por exemplo, a composição atmosférica, a radiação solar ou
erupções vulcânicas. Para compreender o clima de nosso planeta e suas variações
e tentar possivelmente predizer as mudanças climáticas provocadas pelas atividades
humanas, deve-se levar em conta todos esses fatores e componentes que
determinam tal clima (BAIRD, CANN, 2012).
Devemos entender o sistema climático como um sistema complexo
consistindo em vários componentes, incluindo:
 a dinâmica e a composição da atmosfera,
 o oceano,
 as coberturas de gelo e neve,
 a superfície terrestre e suas características,
 as muitas interações mútuas entre eles, e a grande variedade de
processos biológicos, físicos e químicos que tomam lugar dentro e
entre tais componentes.
O termo clima, interpretado sob muitos aspectos, refere-se ao estado do
sistema climático como um todo, incluindo as descrições estatísticas de suas
variações (BAIRD, CANN, 2012).

2.2 O Sistema Climático

O sistema climático, como definido no Relatório do IPCC (IPCC 2021,


2021), é um sistema interativo consistindo em cinco componentes principais: a
atmosfera, a hidrosfera, a criosfera, a superfície seca da Terra (litosfera) e a
biosfera, forçados ou influenciados por vários mecanismos de forças externas, onde
22

o mais importante é o Sol (ver Figura 1). O efeito direto das atividades humanas
sobre o sistema climático também é considerado uma força externa.
A atmosfera é a parte mais instável do sistema, e onde se observam as
mudanças mais rápidas e mais frequentes. Sua composição, que sofre mudanças
com a evolução do planeta, é de central importância no problema relacionado ao
aquecimento global, e destacado no relatório do IPCC (IPCC 2021, 2021).
A atmosfera seca da Terra é composta por 78,08% de nitrogênio, N 2,
20,95% de oxigênio, O2, e argônio, Ar, com 0,93% (% em volume da mistura total).
Estes gases possuem interações limitadas com a radiação solar incidente
e não interagem com a radiação infravermelha emitida pela Terra. Contudo, outros
gases presentes na atmosfera, em concentrações muito baixas (gases traços), tais
como: dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O) e ozônio (O3),
absorvem essa radiação infravermelha emitida da Terra de volta ao espaço (BAIRD,
CANN, 2012).
Esses gases traços são chamados de gases de efeito estufa, e com uma
concentração total em volume de menos de 0,1%, participam ativamente no balanço
energético da Terra. Além desses, existe ainda o vapor de água (H 2Ovapor), que é
também considerado como um “gás” de efeito estufa. Sua concentração em volume
é altamente variável, mas é tipicamente considerada em torno de 1% (Figura 2).
23

Figura 1 - Visão esquemática dos componentes do sistema climático


global (negrito), seus processos e interações (setas finas) e alguns aspectos
que pode mudar (setas grossas)

Fonte: IPCC 2021 (2021). Adaptado pelo autor.


24

Figura 2 – Composição porcentual em volume da mistura total dos gases


presentes na atmosfera

Fonte: SSCADDA (2021). Adaptado pelo autor.

Devido aos gases de efeito estufa absorverem a radiação infravermelha


emitida pela superfície da Terra e espalharem estas radiações em várias direções,
esses gases tendem a aumentar o calor da superfície da Terra. Vapores de água,
CO2 e O3 também absorvem radiações solares de curtos comprimentos de onda (ver
Capítulo 3 para mais detalhes).
A hidrosfera é o componente que engloba todas as superfícies líquidas e
águas subterrâneas, tais como: os rios, lagos, aquíferos e as águas salinas dos
mares e oceanos. As águas doces que escorrem da terra para o oceano na forma de
rios, influenciam a composição do oceano e as suas correntes (BAIRD, CANN,
2012).
Os oceanos cobrem aproximadamente 70% da superfície do planeta. Eles
armazenam e transportam grandes quantidades de energia e dissolvem e
armazenam também, grandes quantidades de dióxido de carbono. A circulação
desses oceanos, impelida pelos ventos e pelos contrastes de densidade causados
pelos gradientes salinos e térmicos (conhecida como circulação termohalina), é
muito mais lenta que a circulação atmosférica.
25

Devido à grande inércia térmica dos oceanos, eles controlam uma vasta e
forte mudança de temperatura, e funcionam, tanto como um regulador do clima da
Terra, quanto uma fonte da variabilidade climática natural, particularmente em
longas escalas de tempo (BAIRD, CANN, 2012).
A criosfera, incluindo as placas de gelo da Groenlândia e Antártida, os
glaciares continentais, áreas de neve, mares gelados e permafrost, tem sua
importância no sistema climático, devido à alta refletividade (albedo) da radiação
solar por esses tipos de superfícies, de sua baixa condutividade térmica, de sua
grande inércia térmica e, especialmente, de sua crítica participação em direcionar a
circulação de águas profundas dos oceanos. Pelo fato de as placas de gelo
armazenarem grandes quantidades de água, a variações do volume dessas placas
são fontes potenciais das variações do nível do mar (BAIRD, CANN, 2012).
As vegetações e tipos de solos existentes na superfície da terra controlam
como a energia recebida do sol é retornada para a atmosfera. Uma parte dessa
radiação retorna na forma de ondas de longos comprimentos de onda, aquecendo a
atmosfera quando essa superfície também se aquece; a outra parte serve para
evaporar a água, tanto do solo quanto das folhas das plantas e de sistemas
aquáticos, levando vapor de água para a atmosfera.
Por causa dessa evaporação da umidade da superfície exigir energia,
essa umidade tem uma forte influência sobre a temperatura dessa superfície. A
textura da superfície da terra (determinada pela topografia e pela vegetação)
influencia dinamicamente a atmosfera quando o vento sopra sobre esta superfície.
Ventos também espalham partículas de poeira da superfície para a atmosfera; essas
partículas suspensas interagem com a radiação atmosférica (BAIRD, CANN, 2012).
As biosferas marinha e terrestre têm o principal impacto sobre a
composição atmosférica. A biota influencia a absorção e a emissão dos gases de
efeito estufa. Através dos processos fotossintéticos, tanto as plantas terrestres
(especialmente as florestas) quanto as plantas marinhas, armazenam quantidades
significantes de carbono a partir do dióxido de carbono (fixação do carbono).
Portanto, a biosfera tem uma participação central no ciclo do carbono, assim como
no balanço de concentração de muitos outros gases, tais como metano e óxido
nitroso. Outras emissões na biosfera incluem também os compostos orgânicos
voláteis (COV’s ou VOC’s) que causam efeitos importantes sobre a química
26

atmosférica, sobre a formação de aerossóis e, consequentemente, sobre o clima


(BAIRD, CANN, 2012).
O mecanismo de fixação do carbono e da dinâmica dos gases traços é
influenciado pelo clima, e algum ganho ou retorno (feedback) pode ocorrer entre
essas mudanças climáticas e as concentrações de gases traços. A influência do
clima sobre a biosfera pode ser analisada através das informações preservadas em
fósseis, anéis de caules de árvores, polens e outros, tanto que muito do que
sabemos do passado vêm de tais indicadores bióticos.
Muitos processos interativos ocorrem dentre os vários componentes do
sistema climático, numa grande área e numa larga escala de tempo, tornando o
sistema extremamente complexo. Embora os componentes do sistema climático
sejam muito diferentes em suas composições, propriedades físicas e químicas,
estrutura e comportamento, eles estão todos ligados através de fluxos de massa, de
calor e de momentum: todos os subsistemas são abertos e inter-relacionados
(BAIRD, CANN, 2012).
Como um exemplo, a atmosfera e os oceanos são fortemente acoplados
e intercambiáveis, e dentre vários, o vapor de água e o calor envolvido na
evaporação. Essa é a parte do ciclo hidrológico responsável pela condensação,
formação de nuvens, precipitações, drenagem e suprimentos de energia para os
sistemas do tempo. Por outro lado, a precipitação tem influência na salinidade, na
distribuição e na circulação termohalina.
A atmosfera e o oceano também se interagem; por exemplo, além de
outros gases, o dióxido de carbono mantém um balanço: dissolve-se na água das
calotas polares que submergem em águas profundas, move-se através de correntes
submarinas, e depois se libera quando essas correntes frias emergem em águas
relativamente mornas próximas ao equador (BAIRD, CANN, 2012).
Alguns outros exemplos: a água de mares congelados dificulta as trocas
entre atmosfera e oceanos; a biosfera influencia na concentração de CO 2 através da
respiração e da fotossíntese, que por sua vez são influenciados pela variação
climática. A biosfera também afeta a entrada de vapor de água na atmosfera
através da evapotranspiração, e do balanço radiativo da atmosfera através da
quantidade de luz solar refletida de volta ao espaço (albedo).
De maneira geral, esses são alguns exemplos de uma lista
virtualmente complexa de interações, algumas das quais são pouco conhecidas ou
27

talvez desconhecidas. No próximo capítulo, informações mais detalhadas são


discutidas, concentrando-se principalmente nos aspectos químicos do aquecimento
global. O importante é se lembrar que qualquer mudança, natural ou antropogênica,
nos componentes do sistema climático e nas suas interações, ou nas forças
externas atuantes nesse sistema, podem resultar numa variação climática. As
próximas seções descritas a seguir apresentam vários aspectos das variações
climáticas naturais, e da influência humana sobre o sistema climático (MOLION,
1992).

2.3 Variações Climáticas Naturais

A força principal de energia que dirige o sistema climático é a radiação


proveniente do Sol. Aproximadamente, a metade dessas radiações
eletromagnéticas apresenta comprimentos de onda situadas no intervalo da luz
visível (350 a 800 nm). A outra metade apresenta comprimentos de onda situadas
na região do infravermelho (IR) e, numa parcela menor, ondas situadas na região do
ultravioleta (UV) do espectro eletromagnético. Cada metro quadrado da superfície
esférica da Terra, nas mais altas regiões da atmosfera, recebe em média por ano
342 Watts de radiação solar; 31% dessa radiação é imediatamente refletida de volta
ao espaço pelas nuvens, pela atmosfera e pela superfície terrestre. O restante, 235
Wm-2, é parcialmente absorvida pela atmosfera, mas a maioria (168 Wm -2) incide
sobre a superfície (oceano e terras secas) e a aquece (Figura 3) (BAIRD, CANN,
2012).
A superfície aquecida retorna esse calor para a atmosfera, parcialmente
como radiação infravermelha e, parcialmente como calor sensível e como vapor de
água, que libera posteriormente esse calor ao se condensar nas camadas altas e
frias da atmosfera. Essa troca de energia entre a superfície e a atmosfera mantém a
temperatura média global, observada atualmente, em 14 oC, diminuindo rapidamente
com a altitude até atingir uma temperatura média de - 58oC no topo da troposfera.
Para um clima estável, o balanço deve ser atingido entre a radiação solar
incidente e a radiação emitida pelo sistema climático. Portanto, esse mesmo sistema
climático deverá irradiar em média ao espaço, 235 Wm-2 (Figura 3).
Os detalhes desse balanço de energia podem ser observados na Figura
3; no lado esquerda dessa Figura está mostrado o que acontece com a radiação
28

solar incidente; no lado direito, como a atmosfera emite a radiação infravermelha


para fora. Para a Terra irradiar 235 Wm -2, ela deveria emitir efetivamente se
estivesse a uma temperatura de -19 oC, com radiações típicas da região
infravermelha do espectro. Essa temperatura é 33oC mais baixa que a temperatura
média da superfície da Terra que é de 14oC (SARMIENTO, GRUBER, 2002).
Para compreender como isso acontece, devemos levar em conta como as
radiações infravermelhas emergentes da superfície são absorvidas pela atmosfera.
Como mencionado anteriormente, a atmosfera contém alguns gases traços que
absorvem a radiação infravermelha emitida são os tão chamados gases de efeito
estufa.
A absorção de radiação IR por esses gases provoca uma reemissão
dessa radiação, espalhando-a para todos os lados, inclusive de volta para baixo.
Então, os gases de efeito estufa aprisionam o calor dentro da atmosfera. Esse
mecanismo é chamado de efeito estufa natural ou apenas de efeito estufa. O
resultado ocorre pela transferência da radiação infravermelha de camadas
aquecidas próximas à superfície, para as camadas mais frias das altas altitudes. A
radiação infravermelha é efetivamente irradiada para o espaço, a uma altitude na
qual a temperatura está por volta de -19 oC, num balanço com a radiação incidente.
Essa temperatura efetiva de -19oC corresponde a latitudes média de
aproximadamente 5 km. Note que é essencial para o efeito estufa natural ocorrer se
a atmosfera inferior não tiver uma temperatura constante (isoterma), mas diminuir
com a altura (SARMIENTO, GRUBER, 2002).
As nuvens também participam do balanço de energia global, em
particular, do efeito estufa natural. Elas não só absorvem (aquecem o ambiente)
como refletem a radiação solar, tendendo a esfriar o sistema climático. O ganho
líquido médio desse efeito é de ligeiramente esfriar o ambiente; mas isso é
altamente variável, o efeito depende do tipo de nuvens, da altura nas quais se
encontram e das propriedades ópticas das mesmas. Esta introdução do balanço de
energia global e do efeito estufa natural é discutida inteiramente em termos globais e
radiativos. Uma visão mais detalhada é mostrada no próximo capítulo (Capítulo 3).

Figura 3 – O balanço energético anual e médio global

Radiação Radiação Radiação


Solar infravermelha
Solar de volta ao
Refletida
espaço

Refletida por
nuvens,
29

Fonte: IPCC 2021 (2021).

Num estado climático em equilíbrio, o balanço líquido da radiação média


global no topo da atmosfera é zero. Uma variação, tanto da radiação solar quanto da
radiação infravermelha, irá modificar o balanço líquido da radiação média; esse
desequilíbrio é chamado de “forças radiativas” (radiative forcing), ou forças externas
que influenciam o balanço global da radiação (STOKER, SEAGER, 1981)
Na prática, para o propósito desse trabalho, o topo da troposfera (a
tropopausa) é considerado aqui como o topo da atmosfera, pois a estratosfera
(região situada logo acima da troposfera) ajusta-se em torno de meses com as
variações do balanço radiativo, enquanto o sistema troposfera-superfície ajusta-se
muito mais lentamente, devido principalmente a grande inércia térmica dos oceanos.
O termo: força radiativa ou “radiative forcing” foi empregado nos relatórios
de IPCC (IPCC, 2023) para denotar uma perturbação imposta externamente no
orçamento radiativo global do sistema climático da Terra. Tal perturbação pode ser
causada pelas mudanças seculares nas concentrações das espécies ativas que
interagem com a radiação (por exemplo, CO2, O3, aerossóis), pela variação da
radiação solar incidente sobre o planeta, ou outras mudanças que afetam a radiação
absorvida pela superfície (por exemplo, mudanças nas propriedades refletivas da
superfície) (MANAHAN, 2000).
Esse desequilíbrio no balanço da radiação tem o potencial de modificar os
parâmetros climáticos, resultando em novo estado de equilíbrio do sistema climático.
Em particular, o relatório do IPCC de 2008, usa a seguinte definição para as forças
radiativas do sistema climático:
“A força radiativa do sistema superfície-troposfera, devido às perturbações
internas ou na introdução de um agente (digamos, numa mudança nas
concentrações dos gases de efeito estufa) é o resultado líquido final
(negativo ou positivo) da variação da radiação (solar e infravermelha; em
Wm-2) na tropopausa, APÓS se permitir que as temperaturas estratosféricas
reajustem o equilíbrio radiativo, mas com as temperaturas da superfície e
da troposfera mantidas fixas e com seus valores não perturbados” (IPCC,
2023).

No contexto da mudança climática, o termo “força” está restrito no


balanço da radiação do sistema superfície-estratosfera imposta por fatores externos,
30

sem mudanças na dinâmica estratosfera, sem qualquer feedback da superfície e da


troposfera em operação, (isto é, sem efeito secundário induzido por mudanças no
movimento troposférico ou de seus estados termodinâmicos), e sem variações
induzidas dinamicamente na quantidade e distribuição de água atmosférica (em
suas formas: sólida, líquida e vapor). O IPCC tem focalizado a influência dessas
forças no período pré-industrial (1750) e no presente (1990 a 2000). Um outro
período de interesse é o compreendido entre 1980 e 2000, nesses anos foi possível
uma cobertura global do sistema climático usando monitoramento por satélite
(Tabela 1). (MANAHAN, 2000).
O primeiro relatório do IPCC de 1990, considerava a existência de muitos
agentes que podiam causar as mudanças climáticas observáveis hoje, e que
incluíam: os gases de efeito estufa, aerossóis troposféricos, o uso da terra, a
radiação solar e os aerossóis estratosféricos provenientes das erupções vulcânicas,
e ainda, estimava quantitativamente as forças radiativas dos gases de efeito estufa
desde o período pré-industrial. Em 1992, o IPCC considera a importância das forças
radiativas devido aos aerossóis de sulfato, de origem antropogênica, às perdas de
ozônio estratosférico e ao acréscimo do ozônio troposférico (BAIRD, CANN, 2012).
Para os gases de efeito estufa (CO 2, CH4, N2O e halocarbonos), seus
longos tempo de vida e suas distribuições espaciais bastante uniformes, é possível
obter de observações acuradas, um bom conhecimento de suas propriedades
radiativas, e é suficiente para resultar numa estimativa razoavelmente exata dessas
forças radiativas. Contudo, para espécies com curto tempo de vida, notavelmente
aerossóis, as observações devem ser feitas numa região espacial bem abrangente e
em longos períodos de tempo. Tais observações ainda não são possíveis. Portanto,
essas estimativas são baseadas em modelos de simulação em distribuições
tridimensionais. Esses modelos possuem incertezas na computação das forças
radiantes por serem bastante sensíveis às distribuições espaço-tempo das
concentrações atmosféricas e às composições químicas dessas espécies.
O comportamento do sistema climático, seus componentes e suas
interações, podem ser estudadas e simuladas usando ferramentas conhecidas como
modelos climáticos. Esses modelos são designados principalmente para estudar os
processos climáticos e a variabilidade climática natural, e para a projetar respostas
das forças externas induzidas pelo homem no clima (BAIRD, CANN, 2012).
31

O núcleo desses modelos complexos atmosféricos e oceânicos são


chamados Modelos de Circulação Geral (Atmospheric General Circulation Models,
AGCMs, and Ocean General Circulation Models, OGCMs, em inglês) é baseado nas
leis físicas que descrevem a dinâmica da atmosfera e do oceano, expressas em
equações matemáticas. Tais equações são não-lineares e são resolvidas
numericamente por técnicas matemáticas bem estabelecidas (BAIRD, CANN, 2012).

Tabela 1 - Abundâncias pré-industriais (1750) e do ano de1998 de gases de


efeito estufa e a força radiativa devido à mudança nas composições. As
proporções de mistura de volume para CO2 estão em ppm, para CH4 e N2O em
ppb, e para o restante. em ppt.
32

Fonte: IPCC (2023).

3 O EFEITO ESTUFA

3.1 A Fonte de Energia da Terra


33

A superfície e a atmosfera da Terra são mantidas quentes quase


exclusivamente pela energia do Sol, que irradia energia como luz (ou radiações
eletromagnéticas) de muitas frequências ou comprimentos de onda, e que são
absorvidas por espécies químicas e emitidas na forma de calor. Essa gama de
radiações compreendem o espectro eletromagnético (Figura 4).
Uma relação entre frequência e comprimento de ondas, mostra-se
inversamente proporcional. Quanto maior o comprimento da onda (distância entre os
dois picos da onda), menor a frequência da onda ( = c / , onde c é a constante da
velocidade da luz,  é o comprimento de onda e  é a frequência da onda em ciclos
por segundo ou hertz).
A relação Einstein-Planck E = h mostra que quanto maior a frequência
da onda, maior a sua energia. Então, por exemplo, quanto mais à esquerda do
espectro (Figura 4), maiores são as frequências e energias e menores os
comprimentos das ondas eletromagnéticas. A altura da onda, ou a sua intensidade é
denominada de amplitude da onda, A (Figura 5).

Figura 4 – O Espectro das radiações eletromagnéticas provenientes do Sol

Fonte: UNIVERSORACIONALISTA (2021).

Figura 5 – As características de uma onda e suas relações


34

Fonte: Elaborada pelo autor.

De suas características irradiantes, o Sol se comporta como um corpo


negro, ou seja, um objeto que é 100% eficiente na emissão e absorção de luz. O
comprimento de onda, máx, em micrômetros, em que a emissão máxima de energia
ocorre por um corpo negro radiante diminui inversamente com o aumento de
temperatura T, em Kelvin, de acordo com a relação (BAIRD, CANN, 2012):

máx = 2,897/T Equação (1)

Considerando a superfície do Sol, de onde a estrela emite luz, a


temperatura é de aproximadamente 5800 K, e, a partir da equação acima, resulta

num pico máximo (máx) de cerca de 0,50 µm, um comprimento de onda que se
encontra na região visível do espectro (e corresponde à luz verde). Na verdade, a
produção solar máxima observada (ver a porção tracejada da curva na Figura 6)
ocorre na faixa de luz visível, ou seja, aquele de comprimentos de onda entre 0,40
µm e 0,75 µm.
35

Figura 6 – Distribuições dos comprimentos de onda (em diferentes escalas)


para a luz emitida pelo Sol (curva tracejada) e pela luz refletida pela superfície
da Terra e troposfera (curva sólida)

Fonte: BAIRD e CANN (2012)

A Terra recebe também a luz infravermelha (IR – “infrared”) na região de


0,75 µm - 4 µm do Sol, logo após o final da região da luz visível (750 nm ou 0,75 µm,
aproximadamente). Da energia recebida no topo da atmosfera da Terra, um pouco
mais da metade do total é infravermelho (IR) e a maior parte do restante é luz visível
(VIS). Na extremidade oposta do espectro de comprimento de onda visível e de IR,
encontra-se a luz ultravioleta (UV), que tem comprimentos de onda menores que 0,4
µm (ou < 400 nm), e é um componente menor da luz solar (BAIRD, CANN, 2012).
Da entrada total de luz solar de todos os comprimentos de onda que
incidem sobre a superfície da Terra, cerca de 50% são absorvidos em sua superfície
por corpos d'água, solo, vegetação, edifícios etc. Outros 20% da luz que entram, são
absorvidos pela água gotículas no ar (principalmente na forma de nuvens) e por
gases moleculares – o componente UV é quase totalmente absorvido pelo ozônio
estratosférico, O3, e oxigênio diatômico, O2, e o IR pelo dióxido de carbono, CO 2 e,
principalmente, pelo vapor d'água. Uma pequena quantidade de luz solar é
absorvida por partículas suspensas de fuligem preta ou materiais particulados
(BAIRD, CANN, 2012).
36

Os 30% restantes da luz solar que incide sobre a Terra são refletidos de
volta para o espaço por nuvens, partículas suspensas, gelo, neve, areia e outros
corpos refletores, sem ser absorvido. A fração da luz solar refletida de volta para o
espaço por um objeto é chamado de albedo, que, portanto, é em média, cerca de
0,30 para a Terra.
No geral, as nuvens são boas refletoras, com albedos que variam de 0,4 a
0,8. A neve e o gelo também são superfícies altamente refletivas para a luz visível
(albedos altos), ao passo que o solo descoberto e os corpos d'água são refletores
precários (albedos baixos) (Tabela 2).

Tabela 2 – Alguns Coeficientes de Reflexão (albedos, α s) para a radiação solar


em diferentes superfícies (αs = 1, reflexão total)
Tipo de Superfície Albedo Tipo de Superfície Albedo
Grama 0,24 -0,26 Floresta coníferas 0,05 – 0,15
Trigo 0,16 – 0,26 Floresta tropical 0,12 – 0,14
Cevada 0,23 Neve fresca 0,75 – 0,95
Milho 0,18 – 0,22 Neve antiga 0,40 – 0,70
Batata 0,19 Solo úmido escuro 0,08
Cana de açúcar 0,15 Solo seco escuro 0,13
Algodão 0,21 Solo úmido claro 0,10
Tundra 0,15 – 0,20 Solo seco claro 0,18
Pastagem tropical 0,17 – 0,19 Areia seca 0,35
Floresta decídua 0,10 – 0,20 Áreas urbanas 0,10 – 0,27
Fonte: LMA (2021).

Assim, o derretimento do gelo marinho nas regiões polares, que


transforma a água no estado líquido, aumenta grandemente a fração da luz solar
absorvida, diminuindo o albedo da Terra, de forma geral. Plantar árvores em
florestas cobertas de neve reduz o albedo de superfície e pode realmente contribuir
para o aquecimento global.

3.2 Tendências Históricas da Temperatura Global

As tendências na temperatura média da superfície nos últimos 2.000


anos, conforme registrado durante a maior parte desse período, a partir de
37

evidências indiretas, como anéis de crescimento de árvores, é mostrado na Figura


7(a). (O período medieval quente no início do milênio foi aparentemente restrito à
região do Atlântico Norte, por isso não é muito evidente no gráfico global.) Observa-
se a consistência para a baixa tendência da temperatura até o início da Revolução
Industrial (WORREST et al., 1990)
O aquecimento do clima durante o século XX é totalmente contrastante
com a tendência de resfriamento gradual nos 900 anos anteriores do milênio,
produzindo uma curva em forma de L para o gráfico de temperatura na Figura 7(a).
As tendências da temperatura média da superfície global nos últimos século e meio
são ilustrados em detalhes na Figura 6(b). A temperatura do ar não aumentou
continuamente ao longo do século XX. Uma significativa tendência de aquecimento
ocorreu no período de 1910-1940, devido principalmente à falta de atividade
vulcânica e um ligeiro aumento na intensidade da luz solar. Este período foi seguido
por algum resfriamento nas próximas três décadas, devido principalmente aos
aerossóis resultantes do aumento da atividade vulcânica WORREST et al., 1990).
As décadas que se sucederam, por sua vez, mostram um período de
aquecimento de 1970 até o presente, e que até agora atingiu cerca de 0,6 °C; isso é
atribuído quase inteiramente a influências antropogênicas, conforme mencionado
nesse capítulo. O período de 2000-2010 foi o mais quente, pelo menos desde 1850,
quando os registros instrumentais começaram a serem feitos. Os anos mais quentes
já registrados (até 2010) foram 2005 e 2010 (IPCC 2021, 2021).
Que a taxa de aquecimento aumentou no último século e meio é evidente
e ilustrado pelas quatro linhas na Figura 6(c), que correspondem às linhas retas
lineares, traçadas através das variações de temperatura da Figura 7(b) por vários
períodos, terminando em 2005. Os quatro períodos e suas taxas de aquecimento
estão mostrados na Tabela 3.
38

Figura 7 (a) Reconstrução das mudanças na média anual global das


temperaturas de superfície, relativas para as médias de 1961-1990. (b)
Temperaturas médias globais - continente e oceano. (c) Temperatura linear das
tendências que cobrem os períodos de 25, 50, 100 e 150 anos até 2005.

Fontes: (a) MANN e JONES (2003) (b) MANAHAN (2000) (c) SOLOMON (2007)
39

Tabela 3 - Os quatro períodos e suas taxas de aquecimento


Intervalo do Período Taxa de Aquecimento,
Período
(em anos) por décadas (em °C)
1856 - 2005 150 0,045
1906 - 2005 100 0,074
1956 - 2005 50 0,128
1981 - 2005 25 0,177
Fonte: BAIRD e CANN (2012)

3.3 Emissões de energia da Terra e o efeito estufa

Como qualquer corpo quente, a Terra emite energia; na verdade, a


quantidade de energia que o planeta absorve e a quantidade que ele libera para o
espaço deve ser igual a longo prazo para que sua temperatura permaneça nivelada.
(Atualmente o planeta está absorvendo um pouco mais do que emitindo, aquecendo
o ar e os oceanos.) A energia emitida (veja a linha sólida da curva na Figura 6) não é
nem visível nem luz ultravioleta, porque a Terra não é quente o suficiente para emitir
luz nessas regiões (IPCC 2021, 2021).
Já que a temperatura da Terra na superfície é de aproximadamente 300
K, então de acordo com a equação (1) citada anteriormente, e se a Terra agisse
como um corpo negro, seu comprimento de onda de emissão máxima (máx) seria
cerca de 10 m. Na verdade, a emissão da Terra atinge o pico naquela região, mais
exatamente em cerca de 13 m, e consiste em luz infravermelha tendo comprimentos
de onda começando em cerca de 5 m e se estendendo, embora fracamente, além
50 m (Figura 6, curva sólida). A faixa de 5 a 100 m é chamada de região
infravermelha térmica, uma vez que essa energia é uma forma de calor, o mesmo
tipo de calor que uma panela de ferro aquecida irradiaria (IPCC 2021, 2021).
A luz infravermelha é emitida tanto na superfície da Terra quanto por sua
atmosfera, embora em diferentes quantidades e em diferentes altitudes desde a
emissão, visto que a taxa de emissão é muito sensível à temperatura: em geral,
quanto mais quente o corpo, mais energia ele emite por segundo. A taxa de
liberação de energia como luz por um o corpo negro aumenta em proporção à quarta
potência de sua temperatura em Kelvin
taxa de liberação de energia = k.T4
40

onde k é uma constante de proporcionalidade. Assim, dobrando sua temperatura


absoluta, aumenta dezesseis vezes (24) a taxa na qual um corpo libera energia. Mais
realisticamente, para as condições contemporâneas de superfície do planeta Terra,
um grau de aumento da temperatura, aumentaria a taxa de liberação de energia em
1,3% (BAIRD, CNN, 2012).
Alguns gases no ar absorvem luz infravermelha térmica - embora apenas
em determinados comprimentos de onda - embora a radiação IR emitido da
superfície do planeta e da atmosfera, nem todas escapam diretamente para o
espaço. Quase instantaneamente após sua absorção por gases atmosféricos, como
CO2, o fóton IR pode ser reemitido (BAIRD, CNN, 2012).
Alternativamente, a energia absorvida pode ser rapidamente redistribuída
como calor entre as moléculas, que colidem com a molécula absorvente, e pode
eventualmente ser reemitidos como IR por eles. Tanto reemitido imediatamente pela
molécula absorvente inicial, quanto posteriormente por outras na área, a direção do
fóton é completamente aleatória (Figura 8). Consequentemente, algumas dessas
radiações no IR térmico é redirecionado de volta para a superfície da Terra e é
reabsorvido lá ou no ar acima dele. Na verdade, a atmosfera é bastante opaca ao
infravermelho, em contraste com sua quase transparência à luz do sol (BAIRD,
CNN, 2012).
Ao absorver fótons de infravermelho e redistribuir a energia como calor
para o ambiente pelas moléculas, a temperatura do ar na região da molécula
absorvente aumenta. No entanto, esta massa de ar não se aquece sem limites, pois
suas moléculas capturam mais e mais da luz infravermelha de saída, porque há um
fenômeno oposto que evita tal catástrofe (BAIRD, CNN, 2012).
Como explicado acima, a taxa de emissão de energia aumenta com a
temperatura, então as moléculas que compartilharam o excesso de energia, emitem
cada vez mais energia na forma de luz infravermelha à medida que aquecem (Figura
8). As gotas de água e o vapor nas nuvens também é muito eficaz na absorção da
luz infravermelha emitida abaixo deles. A temperatura no topo das nuvens é
bastante fria em relação ao ar abaixo deles, então as nuvens não irradiam tanta
energia quanto absorvem. No geral, as temperaturas do ar aumentam apenas o
suficiente para restabelecer a igualdade planetária entre energia que entra e a que
sai.
41

O fenômeno de interceptação da radiação IR de saída por constituintes


atmosféricos e a sua dissipação como calor, que aumenta a temperatura da
atmosfera (conforme ilustrado na Figura 8) é chamada de efeito estufa. Isto é
responsável pela temperatura média da superfície da Terra e do ar perto de ser
cerca de 15°C em vez de cerca de -18°C, essa temperatura muito baixa seria a
média global, se não houvesse gases que absorvem IR na atmosfera. A superfície é
tão aquecida por este mecanismo indireto quanto pela energia solar que absorve
diretamente! O próprio fato de nosso planeta não ser totalmente coberto por uma
camada espessa de gelo é devido ao funcionamento natural do efeito estufa, que
vem acontecendo há bilhões de anos (BAIRD, CNN, 2012).

Figura 8 - O efeito estufa: saída do IR absorvido pelos gases de efeito de estufa


são reemitidos (lado esquerdo do diagrama) ou convertidos em calor (lado
direito).

Fonte: BAIRD e CANN (2012). Adaptada pelo autor.

A atmosfera funciona da mesma forma que um cobertor, retendo dentro


de sua região imediata parte do calor liberado por um corpo e, assim, aumentando a
temperatura local. O fenômeno que preocupa o meio ambiente cientistas é que
aumentar a concentração de gases-traço no ar que absorvem luz infravermelha
42

térmica (acumulando mais cobertores, por assim dizer) resultaria na absorção e


conversão em calor de um ainda maior da fração da energia infravermelha térmica
de saída do que ocorre atualmente, e aumentaria assim a temperatura média da
superfície bem além de 15 ° C (IPCC 2021, 2021).
Este fenômeno às vezes é chamado de efeito estufa intensificado (ou
aquecimento global artificial) para distinguir seus efeitos do efeito estufa natural. Os
gases atmosféricos que no passado produziram a maior parte do aquecimento do
efeito estufa são vapor d'água (responsáveis por cerca de dois terços do efeito) e
dióxido de carbono (responsável por cerca de um quarto).
Na verdade, a ausência de vapor d'água e de nuvens, no ar seco de
áreas desérticas, leva a baixas temperaturas noturnas, uma vez que tão pouco do IR
de saída é redirecionado de volta para a superfície, mesmo que as temperaturas
diurnas sejam bastante elevados por conta da absorção direta de energia solar pela
superfície. Mais familiar para as pessoas que vivem em climas temperados, é o frio
intenso no ar de inverno em dias e noites sem nuvens. Noites com céu nublado
geralmente são mais quentes do que as noites sem nuvens, porque elas irradiam
novamente o infravermelho que absorveram das emissões da superfície (BAIRD,
CNN, 2012).

3.4 Vibrações moleculares: absorção de energia por gases de efeito estufa

É mais provável que a luz seja absorvida por uma molécula quando sua
frequência corresponde quase exatamente à frequência do movimento interno
dentro do molécula. Para frequências na região do infravermelho, o código interno
desses movimentos relevantes são as vibrações dos átomos da molécula em
relação uns aos outros.
O movimento vibracional mais simples em uma molécula é o movimento
oscilatório de dois átomos ligados X e Y um em relação ao outro. Neste movimento,
chamado de vibração de alongamento da ligação, a distância de X a Y aumenta
além de seu valor médio R, então retorna para R, e então contrai a um valor menor
e, finalmente, retorna a R, conforme ilustrado na Figura 9(a). Esse movimento
oscilatório ocorre em todas as ligações de todas as moléculas sob todas as
condições de temperatura, mesmo em condições de temperatura zero.
43

Um grande número de tais ciclos vibracionais ocorrem a cada segundo


(cerca de 1013). A frequência exata do movimento oscilatório depende principalmente
do tipo de ligação - ou seja, se é simples, dupla ou tripla - e sobre a identidade dos
dois átomos envolvidos. Para muitos tipos de ligações, por exemplo, para a ligação
C-H no metano e a ligação O-H na água, o alongamento a frequência não se
enquadra na região do infravermelho térmico. A frequências de alongamento das
ligações carbono-flúor, no entanto, ocorre dentro do sistema térmico e no alcance do
infravermelho (4 a 50 m) e, portanto, quaisquer moléculas na atmosfera com as
ligações C-F absorvem a luz infravermelha térmica e realçam o estufa efeito (BAIRD,
CNN, 2012).
O outro tipo relevante de vibração é uma oscilação na distância entre dois
átomos X e Z ligados a um átomo comum Y, mas não ligados um ao outro. Esse
movimento altera o ângulo de ligação XYZ e de seu valor médio , e é chamado de
vibração de deformação angular (Figura 9(b)).

Figura 9 - Os dois tipos de vibrações dentro das moléculas. O alongamento da


ligação (a) é ilustrado para uma molécula diatômica XY. A variável R
representa o valor médio da distância X – Y. (b) a vibração de deformação
angular é mostrada para uma molécula triatômica XYZ. O ângulo XYZ médio é
indicado por .

Fonte: BAIRD e CANN (2012). Adaptada pelo autor.

Todas as moléculas contendo três ou mais átomos possuem vibrações de


deformação. O ciclo oscilatório de ligação, o aumento do ângulo seguido por uma
diminuição e, em seguida, outro aumento, etc., é ilustrado na Figura 9(b). As
44

frequências de muitos tipos de vibrações de deformação, na maioria das moléculas


orgânicas, ocorre na região do infravermelho térmico. Se a luz infravermelha for
absorvida por uma molécula durante uma vibração, deve haver uma diferença na
posição da molécula entre seus centro de carga positiva - ou de seus núcleos - e o
centro de carga negativa - a de sua “nuvem” de elétrons - em algum ponto durante o
movimento (SOLOMON, 2007).
Dito de forma mais resumida, a fim de absorver a luz IR, a molécula deve
ter um momento de dipolo durante algum estágio da vibração. Tecnicamente, deve
ser uma mudança na magnitude do momento de dipolo durante a vibração, que é
mais ou menos garantido caso haja um momento de dipolo diferente de zero em
qualquer ponto da vibração. Os centros de carga coincidem em átomos livres e (por
definição) em moléculas diatômicas homonucleares como O2 e N2, então essas
moléculas têm momentos dipolares iguais a zero em todos os momentos de sua
vibração de alongamento (SOLOMON, 2007).
Assim, o gás argônio, Ar, o gás nitrogênio diatômico, N 2 e o oxigênio
diatômico, O2, não absorvem luz infravermelha. Para o dióxido de carbono, durante o
movimento vibratório em que tanto os comprimentos de ligação CO aumentam e
diminuem simultaneamente, ou seja, de forma síncrona, não há qualquer diferença
de posição entre os centros de cargas positivo e negativo, uma vez que ambos se
encontram precisamente no núcleo central deste molécula. Consequentemente,
durante esta vibração, chamada de alongamento simétrico, a molécula não
consegue absorver luz infravermelha (SOLOMON, 2007).
No entanto, na vibração antissimétrica do CO2, a contração de uma
ligação CO ocorre quando a outra está expandindo, ou vice-versa, de modo que
durante o movimento os centros de carga não mais necessariamente coincidem.
Consequentemente, a luz IR nesta frequência de vibração pode ser absorvida já
que, em alguns pontos da vibração, a molécula tem um momento de dipolo.

Da mesma forma, a vibração de flexão ou deformação angular, em uma


molécula de CO2, na qual os três átomos partem de uma geometria colinear, existe
uma vibração que pode absorver luz IR nessa frequência, uma vez que os centros
de carga positiva e negativa não coincidem quando a molécula é não linear.
45

Moléculas com três ou mais átomos geralmente têm algumas vibrações que
absorvem IR, pois mesmo que sua forma média seja altamente simétrica com um
momento de dipolo zero, eles sofrem algumas vibrações que reduzem essa simetria
e produzem um momento de dipolo diferente de zero.
Por exemplo, as moléculas de CH4 têm um estrutura que é exatamente
tetraédrica e, portanto, resulta num momento de dipolo médio igual a zero, porque
as polaridades das ligações C-H se cancelam exatamente nesta geometria. O dipolo
zero é mantido durante a vibração em que todas as quatro ligações se estendem ou
contraem simultaneamente. No entanto, durante os movimentos de vibração em
que alguns dos vínculos se estendem enquanto outros se contraem, e aqueles em
que alguns ângulos de ligação H-C-H tornam-se maiores do que tetraédricos
enquanto outras tornam-se menores, a molécula tem um momento de dipolo
diferente de zero. Moléculas de CH 4 passando por tais vibrações assimétricas pode
absorver infravermelho luz (BAIRD, CANN, 2012).

3.5 Dióxido de carbono: absorção de luz infravermelha

Como afirmado anteriormente, a absorção de luz por uma molécula


ocorre de forma mais eficiente quando as frequências da luz e de uma de suas
vibrações combinam quase exatamente. No entanto, radiação de frequência um
pouco mais baixa ou um pouco mais alta do que a vibração é absorvida por uma
coleção de moléculas.
Esta capacidade das moléculas de absorver luz infravermelha em uma
pequena faixa de frequências ao invés de apenas em uma única frequência ocorre
porque não é apenas a energia associada à vibração que muda quando um fóton
infravermelho é absorvido; há também uma mudança na energia associada à
rotação (decaimento) da molécula sobre seus eixos internos. Esta energia rotacional
de uma molécula pode ser ligeiramente aumentada ou ligeiramente diminuída
quando a luz infravermelha é absorvida para aumentar sua energia vibracional
(BAIRD, CANN, 2012).
Consequentemente, a absorção de fótons ocorre em frequências
ligeiramente mais altas ou mais baixas do que aquela correspondete à vibração.
Geralmente, a tendência de absorção de um gás cai conforme a frequência da luz
fica cada vez mais longe em qualquer direção da frequência vibracional. O espectro
46

de absorção de dióxido de carbono em uma parte do intervalo do infravermelho é


mostrado na Figura 10.
Para o CO2, a absorção máxima de luz em uma faixa de infravermelho
térmico ocorre em um comprimento de onda de 15,0 µm, o que corresponde a uma
frequência de 2.1013 ciclos por segundo (Hertz). A absorção ocorre nesta frequência
particular, uma vez que corresponde a de uma das vibrações de uma molécula de
CO2, ou seja, a vibração de deformação angular O-C-O. O dióxido de carbono
também absorve fortemente a luz IR com um comprimento de onda de 4,26 µm, que
corresponde à frequência de 7.1013 ciclos por segundo (Hertz) da vibração de
estiramento antissimétrico O-C-O (BAIRD, CANN, 2012).

Figura 10 - O espectro de absorção do infravermelho para o dióxido de


carbono. A escala para o comprimento de onda é linear quando expresso em
números de onda, que possuem unidades de cm-1; número de onda = 10.000 /
comprimento de onda em nm

Fonte: Adaptado de SCHWARTZ (1994)


47

As moléculas de dióxido de carbono que agora estão presentes no ar


coletivamente, absorvem cerca da metade da luz infravermelha térmica emergente
da Terra, com comprimentos de onda na região de 14 a 16 µm, juntamente com uma
porção considerável disso nas regiões de 12 a 14 µm e 16 a 18 µm. É por causa da
absorção de CO2 que na Figura 11 a curva em negrito, que representa a quantidade
de luz infravermelha que realmente escapa de nossa atmosfera, cai tão
abruptamente em torno de 15 µm; a separação vertical entre as curvas verde e em
negrito é proporcional à quantidade de IR de um determinado comprimento de onda
que está sendo absorvida em vez de escapar (BAIRD, CANN, 2012).

Figura 11 - Intensidade medida experimentalmente (curva em negrito) de luz


infravermelha térmica deixando a superfície da Terra à baixa atmosfera (acima
do deserto do Saara) comparado com a intensidade teórica (curva verde) que
seria esperado sem absorção pelos gases de efeito estufa da atmosfera.

Fonte: Adaptado de NESBIT (1991).


48

Aumentar ainda mais a concentração de CO 2 na atmosfera irá prevenir


mais do IR restante escapando, especialmente no "ombro" das regiões em torno de
15 µm, portanto, aquecerão ainda mais o ar. (Embora o dióxido de carbono também
absorva luz infravermelha em 4,3 µm devido à vibração de estiramento
antissimétrico, há pouca energia emitida da Terra neste comprimento de onda
(consulte a Figura 6, e, portanto, essa absorção potencial não é muito importante).

3.6 Dióxido de carbono: concentrações do passado e tendências de emissão

As medidas de ar aprisionado em amostras de gelo da Antártica indicam


que a concentração atmosférica de dióxido de carbono nos tempos pré-industriais
(isto é, antes de 1750) era de cerca de 280 ppm. A concentração aumentou quase
40%, para 390 ppm, em 2010. Um gráfico do aumento na concentração anual de
CO2 na atmosfera ao longo do tempo é mostrada na Figura 12 (IPCC 2021, 2021).

Figura 12 - O histórico da variação de concentração de dióxido de carbono na


atmosfera. O encarte mostra a tendência com sazonal flutuações, em tempos
recentes.
49

Fonte: SARMIENTO e GRUBER (2002).

A Figura 12 mostra detalhes do aumento nos últimos tempos. No período


de 1975 a 2000, a concentração cresceu em uma taxa média anual de cerca de
0,4%, ou 1,6 ppm - quase o dobro da taxa dos anos 1960. A taxa de aumento na
primeira década do século XXI aumentou para cerca de 2,0 ppm anualmente.
As flutuações sazonais nas concentrações de CO 2 (ver encarte na Figura
11) são devidas ao surto de crescimento da vegetação na primavera e no verão, que
remove o CO2 do ar, e o ciclo da decomposição da vegetação no outono e inverno,
que aumenta bastante. Em particular, grandes quantidades de CO 2 são extraídas do
ar a cada primavera e verão pelo processo de fotossíntese das plantas:

O termo CH2O polimérico usado para o produto, nesta equação,


representa a fibra vegetal, normalmente a celulose, que dá à madeira sua massa e
volume. O CO2 “capturado”ou fixado pelo processo fotossintético não está mais livre
para funcionar como um gás de efeito estufa - ou como qualquer gás - enquanto é
embalado nesta forma polímérica (BAIRD, CANN, 2012).
O carbono que fica preso nessa forma é chamado de carbono fixo. No
entanto, a decomposição biológica desse material vegetal, o reverso da reação, que
ocorre principalmente no outono e inverno, libera o carbono retirado para dióxido de
carbono. As flutuações globais de dióxido de carbono seguem as estações do
Hemisfério Norte, uma vez que há muito mais massa de terra - e, portanto, muito
mais vegetação quando em comparação com o hemisfério sul. Um aumento
considerável nas contribuições antropogênicas para o aumento da concentração de
dióxido de carbono no ar é devido à combustão de combustíveis fósseis -
principalmente carvão, petróleo e gás natural - que foram formados eras atrás,
quando a matéria vegetal e animal era coberta por depósitos geológicos antes que
pudesse ser decomposto pela oxidação do ar (BAIRD, CANN, 2012).
Uma quantidade significativa de dióxido de carbono é adicionada à
atmosfera quando as florestas são derrubadas e a madeira queimada, a fim de
fornecer terra para uso agrícola. Este tipo de atividade ocorreu em grande escala em
clima temperado de zonas climáticas, em séculos passados (considere o imenso
50

desmatamento que acompanhou a colonização dos Estados Unidos e do sul do


Canadá), mas agora mudou amplamente para os trópicos (BAIRD, CANN, 2012).
Atualmente, ocorre um desmatamento desenfreado no Brasil, e envolve
tanto floresta tropical quanto a floresta úmida decídua, mas a taxa anual de
desmatamento em uma base percentual é na verdade maior no Sudeste Asiático e
na América Central do que na América do Sul (MANN, JONES, 2003).
No geral, o desmatamento é responsável por cerca de um quarto da
liberação anual de origem antropogênica de CO 2, e os outros três quartos originados
principalmente na combustão de combustíveis fósseis. Apesar das operações da
colheita florestal, a quantidade total de carbono contido nas florestas do Hemisfério
Norte (incluindo seus solos) está aumentando, e na década de 1980 o incremento
anual aproximadamente igualou as diminuições no carbono armazenado na Ásia e
nas Américas do Sul e Central (MARTINS, ANDRADE, 2002).

3.7 Vapor de água

As moléculas de água, sempre abundantes no ar, absorvem a luz


infravermelha térmica através sua vibração de deformação angular H-O-H; o pico no
espectro para esta absorção ocorre a cerca de 6,3 µm. Como consequência, quase
todas as relativamente pequenas quantidades de IR emergentes, na região de 5,5-
7,5 µm é interceptada pelo vapor de água (consulte a Figura 10). As vibrações de
estiramento simétricas e antissimétricas da água ocorre próximas uma da outra, a
2,7 µm e 2,8 µm, ambas fora da região de infravermelho térmico. Considerando a
energia rotacional das moléculas de água, sem qualquer mudança na energia
vibracional, absorve o IR térmico de comprimento de onda de 18 µm ou mais
(BAIRD, CANN, 2012).
Na verdade, a água é o o gás de efeito estufa mais importante na
atmosfera da Terra, no sentido de que ele produz mais efeito estufa do que qualquer
outro gás, embora, se considerar especificamente a molécula, é um absorvedor de
infravermelho menos eficiente do que o CO2.
Embora as atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis,
produzam água como produto, a concentração de vapor de água no ar é
determinada principalmente pela temperatura e por outros aspectos do clima.
51

Praticamente todas as moléculas de H 2O na troposfera ocorre da evaporação de


água líquida e sólida da superfície da Terra e das nuvens (BAIRD, CANN, 2012).
A taxa em que a água evapora e a quantidade máxima de vapor de água
que uma massa de ar pode conter, aumentam acentuadamente com o aumento da
temperatura. Na verdade, a pressão de vapor de equilíbrio da água líquida aumenta
exponencialmente com a temperatura. O aumento na temperatura do ar que é
causada por aumentos na concentração de outros gases de efeito estufa, e por
outros fatores de aquecimento global, aquece o água da superfície e do gelo, e
assim faz com que ocorra mais evaporação (BAIRD, CANN, 2012).
Na verdade, o conteúdo atmosférico médio de vapor de água aumentou
desde a década de 1980. O consequente aumento na concentração de vapor de
água ocasionado pelo aquecimento global, devido ao aumento de CO 2 e etc., produz
uma quantidade de aquecimento global devido a H2O(vapor) que é comparável em
magnitude ao valor original combinado, devido aos outros gases de efeito estufa,
porque o vapor d'água é um gás de efeito estufa. Este comportamento da água é um
exemplo do fenômeno geral chamado feedback positivo. Uma vez que surge como
um efeito indireto de aumentar os níveis de outros gases, e uma vez que não está
sob nosso controle ou um fator de iniciação no processo, o incremento de
aquecimento devido à água é geralmente incorporado sem comentários adicionais
sobre os efeitos diretos de aquecimento dos outros gases (SCHWARTZ, 1994) .
Consequentemente, a água geralmente não é listada explicitamente entre
os gases cujo aumento das concentrações aumentam o efeito estufa. A água na
forma de gotículas líquidas nas nuvens também absorve o infravermelho térmico. No
entanto, as nuvens também refletem alguma luz solar que chega, tanto UV quanto
visível, de volta ao espaço. Ainda não está claro se a cobertura adicional de nuvens
produziu uma contribuição líquida negativa para o aquecimento global TANIMOTO,
SOARES, 2000).

Nuvens sobre as regiões tropiciais são conhecidas por terem um efeito


líquido nulo sobre a temperatura, mas aquelas em latitudes do norte produzem um
efeito de resfriamento líquido, uma vez que sua capacidade de refletir a luz solar
supera sua capacidade de absorver IR. Assim, se as temperaturas do ar
aumentadas produzir mais deste último tipo de nuvem, a contribuição no
aquecimento global seria amortecido.
52

3.8 Metano: Absorção e sumidouros

Depois do dióxido de carbono e da água, o metano, CH 4, é o próximo


mais importante gás de efeito estufa. Uma molécula de metano contém quatro
ligações carbono-hidrogênio e é tetraédrico. Embora as vibrações de alongamento
da ligação C-H ocorram bem fora da região IR térmica, as vibrações de deformação
angular de ligação H-C-H absorvem em 7,7 µm, próximo à borda da janela de
infravermelho térmico; conseqüentemente o metano atmosférico absorve IR nesta
região.
Em contraste com a vida de um século de emissões de dióxido de
carbono, as moléculas de metano no ar têm uma vida útil média ligeiramente inferior
a uma década. O sumidouro dominante para o metano na atmosfera, responsável
por quase 90% de sua perda do ar, é a sua reação com moléculas de hidroxila, OH .,
um radical livre muito reativo presente no ar em pequena concentração (BAIRD,
CANN, 2012):
CH4 + OH.  CH3 + H2O
Esta reação é a primeira etapa de uma sequência que transforma o
metano em última instância para CO e depois para CO2.
CH4   CH2O   CO   CO2
Os outros dois sumidouros do gás metano são: sua reação com o solo e
sua perda para a estratosfera, para a qual uma pequena porcentagem das emissões
eventualmente aumenta (BAIRD, CANN, 2012).
O metano reage com OH, ou cloro atômico ou bromo, ou oxigênio atômico
excitado; a reação com o último produz radicais hidroxila e, eventualmente,
moléculas de água:
O* + CH4  OH + CH3
OH + CH4  H2O + CH3
O vapor de água estratosférico atua como um gás de efeito estufa
significativo. Cerca de um quarto do aquecimento global total causado pelo aumento
das emissões de metano não é provocado diretamente, mas sim devido a este efeito
na estratosfera, pela qual o conteúdo de água da região é aumentado. Devido a
diminuição dos níveis de ozônio e aumento dos níveis de dióxido de carbono, a
estratosfera passou por um resfriamento nas últimas décadas; o aumento do vapor
53

de água reduziu a quantidade deste resfriamento e, portanto, contribuiu para o


aquecimento da atmosfera em geral (IPCC 2021, 2021).
Por molécula, aumentar a quantidade de metano no ar causa um maior
efeito de aquecimento do que adicionar mais dióxido de carbono, uma vez que cada
molécula de CH4 tem muito mais probabilidade de absorver um fóton infravermelho
térmico que passa por ele do que uma molécula de CO2. O efeito do metano é
restrito à primeira ou àsduas décadas após seu lançamento, no entanto, porque é
altamente provável de ser oxidado durante este período. Quando considerado sobre
o século após sua emissão, um quilo de metano ainda é cerca de 23 vezes mais
eficaz em aumentar a temperatura do ar do que a mesma massa de dióxido de
carbono; a proporção é cerca de três vezes esse valor nos primeiros 20 anos. No
entanto, pelo fato do CO2 ter vida tão longa no ar, a sua concentração aumentou 80
vezes mais, e, por isso, o metano tem sido menos importante no aquecimento da
atmosfera. Até o momento, estima-se que o metano tenha produzido cerca de um
terço do aquecimento global assim como o dióxido de carbono (BAIRD, CANN,
2012).
Cerca de 70% das emissões atuais de metano são de origem
antropogênica e se originam de vários tipos de fontes diferentes, incluindo
produção de energia, agricultura e eliminação de resíduos. A maioria das fontes
naturais envolve plantas em decomposição, assim como algumas das emissões
antropogênicas.
A maior parte do metano produzido a partir da decomposição da
planta resulta do processo de decomposição anaeróbica, que é a
decomposição de matéria viva na ausência de ar, ou seja, sob condições de
falta de oxigênio.
Este processo converte a celulose (fórmula empírica aproximada CH 2O)
em metano e dióxido de carbono (BAIRD, CANN, 2012):
2 CH2O   CH4 CO2
A decomposição anaeróbica ocorre em grande escala, quando a
decomposição da planta é feita sob condições de alagamento, por exemplo,
tanto em pântanos naturais, como em pântanos artificiais, por exemplo, em
arrozais. As áreas úmidas são a maior fonte natural de emissões de metano,
embora as emissões dessas fonte diminuíram drasticamente nos últimos séculos, à
medida que os pântanos foram drenados. O enorme aumento na produção de arroz
54

durante o mesmo período presumivelmente levou a aumentos correspondentemente


grandes nas emissões de metano desta fonte (BAIRD, CANN, 2012).
A expansão das zonas úmidas, da inundação deliberada de terra
para produzir energia (hidrelétrica) adiciona emissões do gás ao total natural.
Reservatórios pequenos e profundos produzem e emitem muito menos metano do
que os rasos que contêm grandes volumes de inundação da biomassa, como as da
Amazônia brasileira, especialmente se as árvores não são removidas antes.
Na verdade, o efeito combinado do aquecimento global do metano e
dióxido de carbono produzidos por um grande reservatório raso criado para gerar
energia hidrelétrica pode, por muitos anos, ultrapassar o do dióxido de carbono que
teria sido emitida por uma usina a carvão para gerar a mesma quantidade de
energia elétrica. A energia hidrelétrica não é um forma de produção de energia com
emissão zero se a terra for inundada para criá-la (BAIRD, CANN, 2012).
A decomposição anaeróbica da matéria orgânica no lixo em aterros
sanitários (lixões) é outra fonte importante de emissões de metano para a
atmosfera. O desperdício de alimentos no aterro produz a maior quantidade de
metano. Em algumas comunidades, o metano dos aterros é coletado e queimado
para gerar calor, em vez de deixar escapar para o ar.
Embora a combustão do metano produza um número igual de moléculas
de dióxido de carbono, porque o efeito por molécula de CO 2 é muito menor do que
as moléculas de CH4, o efeito da emissão é, portanto, grandemente reduzido ao que
corresponde a a quantidade de CO 2 absorvida do ar quando a matéria vegetal foi
crescente (BAIRD, CANN, 2012).
A queima de biomassa, como florestas e pastagens em regiões
tropicais e áreas semitropicais, libera metano na ordem de cerca de 1% do
carbono consumido, junto com maiores quantidades de monóxido de carbono
(ambos os compostos são produtos de combustão incompleta - mal ventilada).
Animais ruminantes - incluindo gado, ovelhas e alguns animais
selvagens produzem grandes quantidades de metano como subproduto em
seus estômagos quando digerem a celulose em seus alimentos. Os animais
subsequentemente, emite o metano no ar por arrotos ou flatulência. A diminuição na
população de alguns animais selvagens emissores de metano (por exemplo,
búfalos) nos últimos séculos, foi muito excedido pelo enorme aumento da população
55

de bovinos e ovinos. O resultado líquido foi um grande aumento nas emissões de


metano de origem animal (BAIRD, CANN, 2012).
O metano é liberado no ar quando: os dutos de gás natural vazam;
quando o carvão é extraído e o CH4 preso dentro dele é liberado no ar; quando
os gases dissolvidos no petróleo bruto são liberados, ou de forma incompleta
ou queimados no ar;, quando o óleo é coletado ou refinado. Emissões dessas
fontes provavelmente se estabilizaram na última década.
Em resumo, existem seis diferentes fontes significativas de metano na
atmosfera, das quais as zonas úmidas naturais resultam na maior contribuição
(aproximadamente 25%) (BAIRD, CANN, 2012).
Provavelmente a importância atual relativa das cinco importantes fontes
antropogênicas de metano atmosférico seguem as seguintes prioridades (BAIRD,
CANN, 2012):
produção/distribuição de energia ~ pecuária de ruminantes >
produção de arroz ~ queima de biomassa ~ aterros

3.9 Óxido nitroso

Outro gás de efeito estufa significativo é o óxido nitroso, N 2O, “ou gás do
riso", e a estrutura molecular é preferencialmente a NNO linear, em vez da mais
simétrica, NON. Sua vibração de deformação angular absorve luz IR em uma banda
a 8,6 µm, ou seja, dentro da região da janela (Figura 5) e, além disso, uma de suas
vibrações de estiramento de ligação está centrado em 7,8 µm, no ombro da janela e
no mesmo comprimento de onda de uma das absorções de metano (IPCC 2021,
2021).
Por molécula liberada, o N2O é 206 vezes mais eficaz que o CO 2 em
causar um aumento imediato no aquecimento global e cerca de 114 vezes mais
eficaz quando a média é medida em mais de um século. Sua vida útil atmosférica é
de cerca de 120 anos. Como a do metano, a concentração atmosférica de óxido
nitroso era constante até cerca de 300 anos atrás. Começou então a aumentar, de
275 ppb (pré-industrial) em apenas 17% para 323 ppb (2010) (IPCC, 2023).
A taxa de crescimento anual na década de 1990 foi irregular, caindo no
início e depois aumentando, mas desde a virada do século retomou sua taxa de
crescimento linear anual de cerca de 0,7 ppb. As maiores quantidades de óxido
56

nitroso que se acumularam no ar desde tempos pré-industriais produziram cerca de


um terço da quantidade de aquecimento que o metano induziu. Cerca de 30-40%
das emissões de óxido nitroso, totalizando cerca de 6,7 teragramas (Tg), atualmente
surgem de fontes antropogênicas (BAIRD, CANN, 2012).
Em 1990 foi descoberto que o procedimento tradicional, usando ácido
nítrico, HNO3, para sintetizar o ácido adípico, matéria-prima no preparo do náilon,
resultou na formação e liberação de grandes quantidades de óxido nitroso. Desde
aquela época, o náilon e seus produtores instituíram um plano para eliminar as
emissões de N2O. A maior parte do suprimento natural de gás de óxido nitroso vem
de liberação pelos oceanos e processos que ocorrem nos solos, especialmente de
regiões tropicais (BAIRD, CANN, 2012).
O gás é um subproduto da desnitrificação biológica, que ocorre em
ambientes aeróbicos (ricos em oxigênio) e na nitrificação biológica, processo que
ocorre em ambientes anaeróbicos (pobres em oxigênio); a química de ambos Tais
processos são ilustrados na Figura 13. Na desnitrificação, o nitrogênio é totalmente
oxidado na forma de íon nitrato, NO 3- , e é reduzido principalmente para o nitrogênio,
N2 molecular (BAIRD, CANN, 2012).

Figura 13 - Produção de óxido nitroso como subproduto durante o ciclo


biológica do nitrogênio.
57

Fonte: BAIRD e CANN (2012). Adaptada pelo autor.

Na nitrificação, a redução do nitrogênio na forma de amônia ou o íon


amônio é oxidado principalmente em nitrito (NO 2- ) e íons nitrato. Quimicamente, a
existência do subproduto do óxido nitroso em ambos os processos é simples de
racionalizar: a nitrificação (oxidação) ocorre sob limitação de oxigênio e nessas
condições produzem algum N2O, que tem menos oxigênio do que o "pretendido" íon
nitrito e desnitrificação (redução) sob condições ricas em oxigênio produz algum
N2O, que tem mais oxigênio do que a molécula de nitrogênio “pretendida” (BAIRD,
CANN, 2012).
A nitrificação é mais importante do que a desnitrificação como fonte global
de N2O. Normalmente, cerca de 0,001 mol de óxido nitroso é emitido por mol de
nitrogênio oxidado, mas este valor aumenta substancialmente quando a amônia ou a
concentração de íon amônio é alta e relativamente pouco oxigênio está presente. No
geral, o aumento do uso de fertilizantes - tanto sintéticos quanto orgânicos - para fins
58

agrícolas provavelmente são responsáveis pela maioria dos efeitos antropogênicos


de emissões de óxido nitroso.
A decomposição do estrume produzido pelo gado sob condições
aeróbicas, incluindo seu uso como fertilizante, contribui significativamente para as
emissões de óxido nitroso; estrume produz muito pouco N 2O, se decomposto
anaerobicamente. Uma parte dos fertilizantes de nitrato e amônio usados na
agricultura, particularmente em áreas tropicais, é convertido de forma semelhante
(uma efeito, com certeza) em óxido nitroso e lançado no ar (BAIRD, CANN, 2012).
As florestas tropicais em áreas úmidas são provavelmente uma grande
fonte natural desse gás. Aparentemente, óxido nitroso liberado de novas pastagens
é particularmente significativo, anos após a queima de uma floresta. Ao mesmo
tempo, acreditava-se que a combustão de combustível fóssil liberava óxido nitroso
como um subproduto da combinação química do N2 e O2 no ar, mas essa crença foi
baseada em experimentos falhos.
Só quando o próprio combustível contém nitrogênio, assim como carvão e
biomassa (mas não gasolina ou gás natural), o N 2O se forma; aparentemente, o N 2
do ar não entra nesse processo. No entanto, parte do NO produzido a partir do N 2
atmosférico, durante a combustão do combustível em automóveis, é inevitavelmente
convertido em N2O, em vez de N2, e não é evitado nos conversores catalíticos de
três vias, atualmente em uso, e subsequentemente lançado no ar. Alguns dos
catalisadores mais novos desenvolvidos para uso em automóveis não sofrem com
essa falha de produção e ocorre a liberação de óxido nitroso durante sua operação.
Não há sumidouros para óxido nitroso na troposfera. Em vez disso, tudo
sobe eventualmente para a estratosfera, onde cada molécula absorve luz ultravioleta
e se decompõe, geralmente em N2 e oxigênio atômico, ou reage com o oxigênio
atômico (IPCC, 2023).

3.10 CFCs e seus substitutos

Compostos gasosos que consistem em moléculas com átomos de


carbono ligados exclusivamente para átomos de flúor e/ou cloro têm talvez os
maiores potenciais entre gases traços para induzir o aquecimento global, uma vez
que ambos são muito persistente e absorvem fortemente na região da janela
atmosférica de 8-13 µm. A absorção devido à vibração de estiramento da ligação C-
59

F é centrada em 9 µm. O alongamento de ligação C-Cl e várias vibrações no ângulo


de curvatura da ligação, envolvendo átomos de carbono ligados a halogênios
também ocorrem em frequências que estão dentro da região da janela (MANAHAN,
2000).
Os clorofluorocarbonos CFCl3 e CF2Cl2 já foram lançados na atmosfera
em grandes quantidades, nas últimas décadas, e possuem longos tempos de
residência, um termo definido como a quantidade média de tempo que uma de suas
moléculas existem no ar antes de serem removidas por um meio ou outro. Devido a
esta persistência, e à sua alta eficiência na absorção de infravermelho térmico na
região da janela, cada molécula de CFC tem o potencial de causar o a mesma
quantidade de aquecimento global que dezenas de milhares de moléculas de CO2.
O efeito líquido dos CFCs na temperatura global é pequeno, entretanto. O
aquecimento que os CFCs produzem pelo redirecionamento do infravermelho
térmico é parcialmente cancelado por um efeito separado, o resfriamento que
induzem na estratosfera devido à destruição do ozônio. No entanto, a diminuição do
ozônio da estratosfera permite que mais luz ultravioleta alcance a baixa atmosfera e
a superfície Os efeitos de resfriamento e aquecimento produzidos por CFCs ocorrem
em altitudes muito diferentes, portanto, seu efeito líquido na Terra o tempo pode ser
substancial.
Ironicamente, o uso de CFCs em freezers isolantes, geladeiras e ar
condicionados reduziram os requisitos de energia deste equipamento e assim
reduziu as emissões de CO2 resultantes da produção de eletricidade. A influência
dos CFCs no clima no futuro será reduzida como um resultado das exigências dos
Protocolos de Montreal, que proibiram ainda mais produção nos países
desenvolvidos após 1995.
A maioria das substituições de HCFC e HFC (CFCs mais hidrogenados)
para CFCs (com o notável exceção do HFC-143a) têm vida útil atmosférica mais
curta e absorvem com menor eficiência eficiente, no centro da região da janela
atmosférica e, portanto, com base de molécula por molécula, eles representam
menos ameaça do efeito estufa (LIPPMAN, 2021).
Contudo, se seus níveis de produção e liberação se tornarem altos nas
décadas futuras por causa da expansão da população mundial e do aumento da
riqueza, eles irão fazer contribuições significativas para o aquecimento global se eles
forem lançados no ar. Por esse motivo, muitas pessoas acham que essas
60

substâncias de reposição devem ser usadas apenas em sistemas fechados,


evitando que vazem para a atmosfera, e que devem ser recuperados do
equipamento antes de sua eventual eliminação (MANAHAN, 2000).
Na verdade, a prevenção da liberação crônica de gases de longa vida de
todos os tipos para a atmosfera, é um princípio agora aceito por muitos grupos
científicos, empresariais e governamentais. A liberação do refrigerante HFC-134a
das unidades de ar condicionado de carros modernos tem um impacto no
aquecimento global que é cerca de 4-5% do carbono dióxido emitido por eles
(MANAHAN, 2000).

3.11 Hexafluoreto de enxofre

O hexafluoreto de enxofre, SF6, é um gás de efeito estufa pouco


conhecido. Tem algum importância, no entanto, uma vez que é um bom absorvedor
de IR térmico - 23.900 vezes maior do que o CO 2 no potencial de aquecimento
global - e similar aos outros compostos totalmente fluorados, é muito duradouro na
atmosfera (3200 anos). É usado por concessionárias de energia elétrica e na
indústria de semicondutores como um gás isolante.
Anteriormente, era ventilado para o ar durante a manutenção de rotina de
equipamentos, mas agora é reciclado. Atualmente, a concentração atmosférica é de
7,0 ppt (em 2010); seu nível tem aumentado linearmente desde 2006 a uma taxa
significativamente maior do que os aumentos constantes observados na década
anterior MARTINS, ANDRADE, 2002).

3.12 Ozônio Troposférico

Como o metano e o óxido nitroso, o ozônio troposférico, O 3, é um gás de


estufa "natural", mas que tem um tempo de residência troposférico curto. Embora a
molécula de ozônio seja homonuclear, em sua estrutura curvada, os oxigênios não
são equivalente aos átomos de oxigênio terminais e, conseqüentemente as ligações
O-O são um tanto polares (KIRCHOFF, PEREIRA, 1989).
Por esse motivo, o momento de dipolo das moléculas de O 3 mudam
durante a vibração de estiramento simétrico, que ocorre na região da janela
atmosférica entre 9 e 10 µm, e as moléculas podem absorver esta luz infravermelha.
61

A depressão na região da janela da saída do infravermelho térmico, é próxima de 9


µm (Figura 11) e é devido à absorção pela vibração em moléculas de ozônio
atmosféricas.
A vibração de deformação angular do ozônio ocorre a 14,2 µm, próximo
do CO2 e, portanto, não contribui muito para o aumento do efeito estufa, uma vez
que o dióxido de carbono atmosférico já remove muito da luz de saída nesta
frequência. A vibração de alongamento antissimétrico do O3 ocorre a 5,7 µm, onde
há muito pouca IR de saída. O ozônio é formado na troposfera como resultado de
poluição de usinas de energia e veículos motorizados, de incêndios florestais e
queima de biomassa, bem como de processos naturais (KIRCHOFF, PEREIRA,
1989).
Como resultado dessas atividades antropogênicas, os níveis de ozônio na
troposfera provavelmente aumentou desde os tempos pré-industriais. A melhor
estimativa, é que aproximadamente 10% do aumento do potencial de aquecimento
global da atmosfera resulta do aumenta no ozônio troposférico, embora este valor
seja muito incerto. A quantidade de IR térmico absorvido pelo ozônio estratosférico
provavelmente caiu ligeiramente devido ao seu declínio recente nessa região da
atmosfera (KIRCHOFF, PEREIRA, 1989).

4 OS EFEITOS MODIFICADORES DO CLIMA DOS AEROSSÓIS

A negligência inicial dos cientistas quanto aos efeitos das partículas de


aerossol na atmosfera, especificamente cristais de gelo na estratosfera, levaram a
um grande subestimação da quantidade de ozônio que seria destruída pelo cloro. Da
62

mesma forma, a negligência dos aerossóis levou a previsões enganosas sobre o


extensão do aquecimento global que deveria ser esperada (SCHIRMER, 2004).
Agora, percebe-se que os aerossóis compensam e, ainda, mascaram
uma fração significativa do aumento de temperatura atmosférico que teria ocorrido
de outra forma, devido às emissão de gases de efeito estufa antropogênica. Os tipos
de partículas de maior importância neste contexto são aqueles expulsos por
poderosas erupções vulcânicas na atmosfera superior, e aqueles produzidos por
processos industriais e emitidos na baixa troposfera (SCHIRMER, 2004) .
Para entender como os aerossóis podem afetar o aquecimento global, é
necessário entender como eles interagem com a luz.

4.1 A interação da luz com as partículas

Todos os sólidos e líquidos - incluindo partículas atmosféricas - têm


alguma habilidade para refletir a luz. As partículas atmosféricas podem refletir a luz
solar que é incidida, com a conseqüência de que parte dela é direcionado de volta
para o espaço e assim é posteriormente indisponível a para absorção na superfície
(consulte a Figura 14(a)).
As partículas também pode refletir a luz infravermelha de saída, com a
consequência que parte dela é redirecionado de volta para a superfície, em vez de
escapar para a atmosfera. O redirecionamento da luz por uma partícula é às vezes
chamado de espalhamento; uma reflexão para trás, chamada de
"retroespalhamento" HOUGHTON, 1995).
Como mencionado anteriormente, a fração da luz solar refletida por uma
superfície é chamada de albedo. Por exemplo, os albedos da neve fresca e das
superfícies superiores de muitos as nuvens estão próximas da unidade uma vez que
são altamente reflexivas, enquanto o albedo para solo descoberto é apenas cerca de
0,1 (consulte a Tabela 2) (BAIRD, CANN, 2012).
Figura 14 - Interação de luz solar com as partículas atmosféricas em
suspensão. (a) Modos de interação. (b) Ilustração do efeito indireto de produzir
aumento da reflexão por pequenas gotas de água quando comparadas com
gotas maiores, mas com o mesmo volume total.
63

Fonte: BAIRD e CANN (2012). Adaptada pelo autor.

Certos tipos de partículas suspensas no ar refletem um pouco da luz do


sol que brilha sobre eles de volta ao espaço e, portanto, tem um valor de albedo
significativo. Este reflexo da luz solar pelo aerossol resfria a massa de ar e a
superfície abaixo dela, uma vez que nenhuma das radiações eletromagnéticas
refletidas é subsequentemente absorvida e depois convertida em calor (BAIRD,
CANN, 2012).
Alguns tipos de partículas de aerossol podem absorver certos
comprimentos de onda de luz (Figura 14(a)). Uma vez absorvida, a energia
associada à luz é rapidamente convertido em calor, que é então compartilhada com
as moléculas de ar do ambiente circundante, e como resultado de suas colisões com
as partículas aquecidas.
Assim, a absorção da luz por uma partícula leva imediatamente ao
aquecimento do ar circundante. A absorção da luz solar, com consequente
aquecimento, é significativo apenas para partículas de cor escura, como aquelas
compostas principalmente por fuligem, freqüentemente chamada de carbono negro,
e de partículas de cinzas de vulcões (BAIRD, CANN, 2012).
64

A contribuição do carbono negro para o aquecimento global só foi


recentemente compreendida e, de fato, foi excedido em magnitude no passado, que
era considerada apenas os gases de efeito estufa. Como outros aerossóis, o tempo
de vida das partículas de carbono negro é bastante curto - semanas, em vez de
anos.
No entanto, a fuligem escura ainda exerce seus efeitos quando cai na
neve, e consequentemente, pode ser responsável, em parte, pela quantidade
invulgarmente grande de aquecimento observado nas regiões árticas. A emissão de
carbono negro para a atmosfera é maior nos países em desenvolvimento, onde a
combustão incompleta de carvão e biomassa é generalizada (BAIRD, CANN, 2012).
Seu efeito global é aumentar a temperatura do ar por sua absorção de luz
solar, com a subsequente exportação deste ar troposférico aquecido para outras
áreas. No entanto, seu efeito local pode ser de resfriamento, uma vez que bloqueia a
luz solar, impedindo de alcançar a superfície. Os efeitos do carbono negro no clima
local podem ser substanciais, aumento da seca em algumas áreas e inundações em
outras. Contudo, pesquisas recentes indicam que a importância relativa do carbono
negro na adição ao aquecimento global diminuiu em muitas áreas nas últimas
décadas.
O gás dióxido de enxofre predominantemente liberado como poluente da
queima de combustíveis fósseis - especialmente carvão - e da fundição de metais
não ferrosos cria um aerossol de sulfato. Aerossóis de sulfato puro não absorvem a
luz do sol, uma vez que nenhum de seus constituintes - água, ácido sulfúrico, e seus
sais de amônio - absorvem luz no visível ou nas regiões de UV-A. Os aerossóis de
sulfato não são particularmente eficazes na captura de saída das emissões
infravermelhas térmicas. Somente se aerossóis de sulfato troposférico incorporarem
alguma fuligem será significativa a absorção da luz solar por essas partículas
(BAIRD, CANN, 2012).
No geral, no entanto, aerossóis ricos em sulfato antropogênico produzidos
em abundância - especialmente no hemisfério norte - reflete a luz do sol de volta ao
espaço com muito mais eficácia do que absorvê-lo, então eles aumentam o albedo
médio da Terra. Como resultado, menos luz solar está disponível para ser absorvido
e convertido em calor na baixa troposfera e na superfície. Assim, o efeito direto
líquido dos aerossóis de sulfato - ou seja, por reflexão de luz solar pelas próprias
partículas - é para resfriar o ar próximo ao nível do solo e assim, para compensar
65

parte do aquecimento global induzido pelos gases de efeito estufa (ALTWICKER et


al., 1999).
Além do efeito direto dos aerossóis de sulfato em refletir a luz solar,
existem efeitos indiretos que surgem porque as partículas de sulfato atuam como
núcleos para a formação de pequenas gotas de água.
• Essas pequenas gotículas são mais eficazes na retroespalhamento da
luz do que são aquelas que tem uma massa igual de outras maiores (veja a Figura
14(b)).
• Além disso, pequenas gotículas são menos propensas a se aglutinarem
em gotas de chuva, então seus nuvens têm vida mais longa do que o esperado e,
portanto, podem refletir luz solar por períodos mais longos.

Ambos os efeitos indiretos resultam em mais luz solar sendo refletida de


volta para espaço, resfriando assim a superfície da Terra. Além disso, as “nuvens
atmosféricas marrom”, conhecidas como smog troposférico, que são formadas por
partículas de aerossóis geradas fotoquimiciamente, reduz a força das chuvas de
monções sobre a Índia e a Ásia (ÁLVARES et al., 2002).
Essas monções em determinada região e secas em outros lugares, são
influenciados pela distribuição não uniforme dos aerossóis atmosféricos. Um
exemplo dramático de curto prazo dos efeitos dos aerossóis atmosféricos sobre o
clima ocorreu como consequência da erupção maciça de substâncias na troposfera
e estratosfera pelo vulcão do Monte Pinatubo nas Filipinas em 1991 (HARRISON,
1991).
Inicialmente, a estratosfera inferior era aquecida devido ao efeito
dominante das grandes partículas de cinza vulcânica, que absorveu parte da luz
solar que entrava e subsequentemente converteu em calor pela interceptação do
infravermelho que saiu da superfície. Devido ao seu tamanho relativamente grande,
as partículas de cinza não permaneceram muito tempo na estratosfera (BAIRD,
CANN, 2012).
O efeito de longo prazo da erupção do Pinatubo nas temperaturas do ar,
ao nível do solo, foi a de uma diminuição significativa. O aerossol estratosférico que
permaneceu suspenso após alguns meses foi formado pela oxidação dos 30 milhões
de toneladas de SO2 que o vulcão lançou diretamente nas partes inferiores desta
região. O aerossol de sulfato permaneceu lá por vários anos, durante os quais
66

refletiu com eficiência a luz do sol de volta ao espaço. Uma inspeção da Figura 7(b)
indica uma queda na temperatura média global da superfície de cerca de 0,2°C em
1992 e 1993, aparentemente devido a esse "resfriamento vulcânico" (BAIRD, CANN,
2012).
Muitas regiões, incluindo a América do Norte, teve vários verões frios no
início 1990 devido a este efeito. Por causa da sedimentação gradual do aerossol, a
Terra voltou às temperaturas de 1990–1991 em 1995.

4.2 Aerossóis e o aquecimento global

O efeito de resfriamento do aerossol de sulfato está concentrado quase


inteiramente em no hemisfério norte porque a maior parte da atividade industrial
ocorre naquela metade do globo, então é lá que ocorre a maioria das emissões. O
tempo de vida relativamente curto de tais aerossóis de sulfato impede sua
propagação para o Hemisfério sul; consequentemente, a concentração de partículas
de sulfato é muito mais alta no hemisfério norte. O tempo de vida curto útil das
partículas de sulfato pode ser entendida considerando os processos de sua remoção
do ar (BAIRD, CANN, 2012).
O diâmetro médio das partículas do aerossol de sulfato troposférico é de
cerca de 0,4 µm e sua altitude média é de cerca de meio quilômetro. Para partículas
deste tamanho nesta altitude, o tempo de vida atmosférico esperado antes do
estabelecimento gravitacional na superfície pode levar vários anos.
No entanto, as gotículas de aerossol de sulfato também são removidas de
forma eficiente pela chuva, sua real a vida na baixa troposfera é da ordem de dias,
em vez de anos. Presumivelmente, a tendência na produção antropogênica de
aerossol de sulfato seguiu aproximadamente o padrão de emissões de SO 2. A
quantidade de luz solar que foi refletida no espaço por esses aerossóis em
diferentes partes do mundo no final do século XX, é ilustrado pelos contornos do
mapa da Figura 15 (BAIRD, CANN, 2012).
A maior parte do aerossol produzido antropogenicamente na América do
Norte está centrada acima do Vale de Ohio (USA) e reflete diretamente a luz do sol
principalmente acima dessa área. Efeitos iguais ou ainda maiores são observados
ao longo do sul da Europa e partes da China.
67

Na verdade, de acordo com alguns cálculos, o efeito de resfriamento dos


aerossóis supera o efeito de aquecimento devido a gases de efeito estufa para
algumas regiões nessas áreas.
Não está claro como a quantidade de aerossol de sulfato troposférico
mudará no futuro. Emissões de dióxido de enxofre da produção de energia na
América Norte e na Europa Ocidental estão agora mais rigidamente controladas, a
fim de combater a chuva ácida. No entanto, as concentrações antropogênicas de
aerossol sulfato, sobre o sul da Europa e partes da Rússia e China são
consideravelmente maiores do que os valores máximos atuais na América do Norte
e não serão afetados por controles legislativos em algumas dessas regiões (BAIRD,
CANN, 2012).
A única fonte de energia doméstica substancial, atualmente disponível
para a China para sua rápida industrialização é o carvão, então as emissões de SO 2
desta fonte e da Índia podem muito bem continuar a aumentar.

FIGURA 15 - A quantidade da luz do sol refletida ao espaço, pelo mecanismo


direto de aerossóis antropogênicos, em W.m-2 da superfície da Terra.

Fonte: HOUGHTON et al. (1995)


68

Aerossóis também resultam da oxidação do gás dimetil sulfeto, ou sulfeto


de dimetila (DMS), (CH3)2S, que é produzido pelo fitoplâncton marinho e
posteriormente liberado no ar sobre os oceanos. Uma vez na troposfera, o DMS
sofre oxidação, e parte dele para SO 2, que pode oxidar em ácido sulfúrico, e parte
para ácido metanossulfônico, CH3SO3H (BAIRD, CANN, 2012).
Ambos os ácidos formam partículas de aerossol, que por sua vez levam à
formação de gotículas de água e, portanto, de nuvens sobre os oceanos. As
partículas e gotículas desviam a luz que chegam do sol. Alguns cientistas acreditam
que ocorrerão aumento das emissões de sulfeto de dimetila pelos oceanos quando a
água do mar aquece como resultado do aumento do efeito estufa e que esse
feedback negativo vai moderar o aquecimento global (BAIRD, CANN, 2012).
Embora o aerossol de sulfato tenha uma vida útil curta, novos
suprimentos deles são formados constantemente a partir da poluição de dióxido de
enxofre que se derrama no atmosfera diariamente. Consequentemente, há uma
quantidade de estado estacionário do aerossol na troposfera; as emissões de
dióxido de enxofre continuam adiando todos os efeitos do aquecimento global
induzido pelo aumento das concentrações dos gases de efeito estufa (BAIRD,
CANN, 2012).

4.3 O aquecimento global atual

As melhores estimativas de aquecimento ou resfriamento global, a partir


de 2005, decorrentes do vários fatores são resumidos pelos gráficos de barras na
Figura 15; o efeito de cada fator é expresso como uma porcentagem do efeito
antropogênico total.
O ordem dos gases de efeito estufa em termos da quantidade de
aquecimento extra que eles ter produzido é:
CO2 > CH4 > O3 > CFCs > N2O
O valor porcentuais da Figura 15 para CFCs inclui o resfriamento da
estratosfera induzida por sua destruição do ozônio, e que para o metano inclui o
aquecimento da estratosfera produzido a partir do vapor de água adicional formado
lá por sua decomposição (BOUBEL et al., 1994).
O albedo de superfície rotulado como resfriamento é o resultado líquido
de resfriamento devido a mudanças no uso da terra menos o aquecimento
69

decorrente de a deposição de fuligem preta que absorve a luz solar na neve e no


gelo. No geral, o resfriamento de aerossóis antropogênicos atualmente cancela
cerca de 40% do aquecimento líquido de todos os gases de efeito estufa
(COLBECK, FARMAN, 1990).
No entanto, efeito do aerossol - que é a soma do efeito direto e dos
efeitos indiretos que afetam o albedo da nuvem – tem, de long,e a maior incerteza
de qualquer um dos fatores na Figura 16. Há algumas evidências de que o nível de
aerossol de sulfato na atmosfera diminuiu gradualmente na década de 1990 e início
de 2000, e foi responsável para o aquecimento global maior do que o esperado
observado naquele período (BAIRD, CANN, 2012).
Emissões de gases de efeito estufa de aviões viajando por longas
distâncias na troposfera são particularmente eficazes na promoção do aquecimento
global. Eles emite, no ar de baixa densidade em que voam, o dióxido de carbono e o
vapor de água que resulta da combustão de seu combustível compostos por
hidrocarbonetos. Pelo fato da temperatura do ar da região ser muito baixa, o IR
absorvido por CO2 e H2O é improvável de ser reemitido, mas em vez disso, aquece
o ar circundante e, portanto, aumenta o efeito estufa (BAIRD, CANN, 2012).

Figura 16 - Contribuições ao aquecimento e resfriamento global em 2005


produzida por vários fatores, expressos em percentagens do total do
aquecimento antropogênico.
70

Fonte: IPCC 2021, 2021

5 CONCLUSÃO

As alterações climáticas são a maior ameaça existencial do nosso planeta. Se


não limitarmos as emissões de gases com efeito de estufa provenientes da queima
de combustíveis fósseis, as consequências do aumento das temperaturas globais
incluem o colapso maciço das colheitas e da pesca, o desaparecimento de centenas
de milhares de espécies e a inabitabilidade de comunidades inteiras. Embora estes
resultados possam ainda ser evitáveis, as alterações climáticas já estão a causar
sofrimento e morte. Desde incêndios florestais violentos e tempestades intensas, os
seus efeitos agravantes podem ser sentidos hoje, fora das nossas próprias janelas.
Compreender estes impactos pode ajudar-nos a preparar-nos para o que está
aqui, o que é evitável e o que ainda está por vir, e a preparar e proteger melhor
todas as comunidades. Embora todos sejam ou venham a ser afetados pelas
71

alterações climáticas, aqueles que vivem nos países mais pobres do mundo – que
menos contribuíram para o problema – são os mais vulneráveis ao clima.
São os que têm menos recursos financeiros para responder às crises ou para
se adaptarem e dependem estreitamente de um mundo natural saudável e próspero
para obter alimentos e rendimentos. Da mesma forma, nos Estados Unidos, na
maioria das vezes são as comunidades de baixos rendimentos e as comunidades de
cor que estão na linha da frente dos impactos climáticos. E porque as alterações
climáticas e o aumento da desigualdade são crises interligadas, os decisores devem
tomar medidas para combater ambas – e todos nós devemos lutar pela justiça
climática. Aqui está o que você precisa saber sobre o que estamos enfrentando.
À medida que as temperaturas globais sobem, ocorrem mudanças
generalizadas nos sistemas climáticos, tornando eventos como secas, furacões e
inundações mais intensos e imprevisíveis. Eventos climáticos extremos que podem
ter ocorrido apenas uma vez na vida dos nossos avós estão se tornando mais
comuns na nossa época. No entanto, nem todos os locais sofrerão os mesmos
efeitos: as alterações climáticas podem causar secas graves numa região, ao
mesmo tempo que aumentam a probabilidade de inundações noutra.
O planeta já aqueceu 1,1 graus Celsius desde o início da era pré-industrial,
há 250 anos. E os cientistas alertam que poderá atingir o pior cenário de 4 graus
Celsius até 2100, se não conseguirmos combater as causas das alterações
climáticas – nomeadamente, a queima de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e
gás) (IPCC, 2023).
Esta mudança na temperatura média global – aparentemente pequena, mas
consequente e crescente – significa que, em cada verão, é provável que
experimentemos ondas de calor cada vez mais sufocantes. Até mesmo os
meteorologistas locais estão a começar a associar séries de dias recordes a novas
tendências a longo prazo, que são especialmente problemáticas em regiões onde as
infra-estruturas e as habitações não foram construídas tendo em mente a
intensificação do calor. E as ondas de calor não são apenas desconfortáveis: são a
principal causa de mortes relacionadas com o clima nos Estados Unidos (IPCC,
2023).
As temperaturas mais altas aumentam a taxa de evaporação da água do ar,
levando a secas mais severas e generalizadas. As alterações climáticas já
empurraram o oeste americano para uma grave “megaseca” – o período de 22 anos
72

mais seco registado em pelo menos 1.200 anos –, reduzindo o abastecimento de


água potável, murchando as colheitas e tornando as florestas mais susceptíveis a
infestações de insectos. A seca também pode criar um ciclo de feedback positivo no
qual o solo mais seco e menos cobertura vegetal causam uma evaporação ainda
mais rápida (IPCC, 2023).
Este clima mais seco e quente também cria condições que alimentam
temporadas de incêndios florestais mais violentas – com incêndios que se espalham
mais rapidamente e queimam por mais tempo – colocando em risco milhões de
vidas e casas adicionais. O número de grandes incêndios florestais duplicou entre
1984 e 2015 no oeste dos Estados Unidos. E só na Califórnia, a área anual
queimada por incêndios florestais aumentou 500% entre 1972 e 2018 (IPCC, 2023).
O ar mais quente também retém mais umidade, tornando os ciclones tropicais
mais úmidos, mais fortes e mais capazes de se intensificar rapidamente. No último
relatório do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC), os
cientistas descobriram que a precipitação diária durante eventos de precipitação
extrema aumentaria cerca de 7% por cada grau Celsius de aquecimento global,
aumentando os perigos de inundações. A frequência de furacões severos de
categoria 4 e 5 também deverá aumentar. Em 2017, o furacão Harvey, uma
tempestade devastadora de categoria 4, despejou um recorde de 275 trilhões de
libras de chuva e resultou em dezenas de mortes na área de Houston (IPCC, 2023).
Dos pólos aos trópicos, as alterações climáticas estão a perturbar os
ecossistemas. Mesmo uma mudança aparentemente ligeira na temperatura pode
causar mudanças dramáticas que repercutem nas cadeias alimentares e no
ambiente.
Os efeitos das alterações climáticas são mais evidentes nas regiões mais frias
do mundo – os pólos. O Ártico está a aquecer duas vezes mais rapidamente do que
qualquer outro lugar da Terra, levando ao rápido derretimento dos glaciares e dos
mantos de gelo polares, onde está armazenada uma enorme quantidade de água. À
medida que o gelo marinho derrete, as águas oceânicas mais escuras que absorvem
mais luz solar ficam expostas, criando um ciclo de feedback positivo que acelera a
fusão (IPCC, 2023).
Os cientistas estão observando as mudanças no clima da Terra em todas as
regiões e em todo o sistema climático, de acordo com o último relatório do Painel
Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC), divulgado atualmente.
73

Muitas das alterações observadas no clima não têm precedentes em milhares,


senão centenas de milhares de anos, e algumas das alterações já desencadeadas –
como a subida contínua do nível do mar – são irreversíveis ao longo de centenas a
milhares de anos (IPCC, 2023).
Contudo, reduções fortes e sustentadas nas emissões de dióxido de carbono
(CO2) e outros gases com efeito de estufa limitariam as alterações climáticas.
Embora os benefícios para a qualidade do ar são sentidas mais rapidamente, poderá
levar de 20 a 30 anos para que as temperaturas globais se estabilizem, de acordo
com o relatório do Grupo de Trabalho I do IPCC, Mudanças Climáticas 2021: a Base
da Ciência Física, aprovado na sexta-feira por 195 governos membros do IPCC, por
meio de uma sessão virtual de aprovação realizada durante duas semanas,
começando em 26 de julho de 2023. O relatório do Grupo de Trabalho I é a primeira
parte do Sexto Relatório de Avaliação (AR6) do IPCC, que foi concluído em 2022.
“Este relatório reflete esforços extraordinários em circunstâncias excepcionais”,
disse Hoesung Lee, Presidente do IPCC (IPCC, 2023).
“As inovações contidas neste relatório e os avanços na ciência climática que
ele reflete, proporcionam um contributo inestimável para as negociações climáticas e
para a tomada de decisões.” Com o aquecimento tornando-se mais rápido, o
relatório fornece novas estimativas sobre as probabilidades de ultrapassar o nível de
aquecimento global de 1,5°C nas próximas décadas e conclui que, a menos que
haja reduções imediatas, rápidas e em grande escala nas emissões de gases com
efeito de estufa, limitando o aquecimento a perto de 1,5°C ou mesmo 2°C estarão
fora do alcance.
O relatório mostra que as emissões de gases com efeito de estufa
provenientes das atividades humanas são responsáveis por aproximadamente 1,1°C
de aquecimento desde 1850-1900 e conclui que, em média, ao longo dos próximos
20 anos, a temperatura global deverá atingir ou exceder 1,5°C de aquecimento
(IPCC, 2023).
Esta avaliação baseia-se em conjuntos de dados observacionais melhorados
para avaliar o aquecimento histórico, bem como no progresso na compreensão
científica da resposta do sistema climático às emissões de gases com efeito de
estufa causadas pelo homem. “Este relatório é uma verificação da realidade”, disse
a copresidente do Grupo de Trabalho I do IPCC, Valérie Masson-Delmotte (IPCC,
2023).
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“Temos agora uma imagem muito mais clara do clima passado, presente e
futuro, o que é essencial para compreender para onde estamos indo, o que pode ser
feito e como podemos nos preparar.” Cada região enfrenta mudanças crescentes
Muitas características das alterações climáticas dependem directamente do nível de
aquecimento global, mas o que as pessoas vivenciam é muitas vezes muito
diferente da média global (IPCC, 2023).
Por exemplo, o aquecimento da terra é maior do que a média global e é duas
vezes mais elevado no Ártico. “As alterações climáticas já estão afetando todas as
regiões da Terra, de múltiplas maneiras. As mudanças que vivenciamos aumentarão
com o aquecimento adicional”, disse o copresidente do Grupo de Trabalho I do
IPCC, Panmao Zhai (IPCC, 2023).
O relatório prevê que nas próximas décadas as alterações climáticas
aumentarão em todas as regiões. Para 1,5°C de aquecimento global, haverá ondas
de calor crescentes, estações quentes mais longas e estações frias mais curtas. A
2°C de aquecimento global, os extremos de calor atingiriam mais frequentemente
limiares críticos de tolerância para a agricultura e a saúde, mostra o relatório (IPCC,
2023).
Mas não se trata apenas de temperatura. As alterações climáticas estão
trazendo múltiplas mudanças diferentes em diferentes regiões – que irão aumentar
com o aumento do aquecimento. Estas incluem alterações na umidade e na seca,
nos ventos, na neve e no gelo, nas zonas costeiras e nos oceanos. Por exemplo: as
alterações climáticas estão intensificand o ciclo da água (IPCC, 2023).
Isto traz chuvas mais intensas e inundações associadas, bem como secas
mais intensas em muitas regiões. As alterações climáticas estão mudando os
padrões de precipitação. Em altas latitudes, a precipitação provavelmente
aumentará, enquanto se prevê que diminua em grandes partes das regiões
subtropicais. São esperadas mudanças na precipitação das monções, que variam de
acordo com a região.
As zonas costeiras registarão uma subida contínua do nível do mar ao longo
do século XXI, contribuindo para inundações costeiras mais frequentes e graves em
zonas baixas e para a erosão costeira. Eventos extremos do nível do mar que
anteriormente ocorriam uma vez em 100 anos poderão acontecer todos os anos até
ao final deste século. Um maior aquecimento amplificará o degelo do permafrost e a
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perda da cobertura de neve sazonal, o derretimento dos glaciares e das camadas de


gelo e a perda do gelo marinho do Ártico no Verão.
As alterações nos oceanos, incluindo o aquecimento, as ondas de calor
marinhas mais frequentes, a acidificação dos oceanos e a redução dos níveis de
oxigénio, têm sido claramente associadas à influência humana. Estas mudanças
afectam tanto os ecossistemas oceânicos como as pessoas que deles dependem, e
continuarão pelo menos durante o resto deste século. Para as cidades, alguns
aspectos das alterações climáticas podem ser amplificados, incluindo o calor (uma
vez que as áreas urbanas são geralmente mais quentes do que os seus arredores),
as inundações causadas por fortes precipitações e a subida do nível do mar nas
cidades costeiras.

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