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Do original: 28 Business Thinkers Who Changed the World
Tradução autorizada do idioma inglês da edição publicada por Kogan Page Limited
Copyright © 2011, by Rhymer Rigby
ISBN 978-85-352-5632-1
Edição original: ISBN: 978-0-7494-6239-0
Nota: Muito zelo e técnica foram empregados na edição desta obra. No entanto, podem ocorrer erros de digitação,
impressão ou dúvida conceitual. Em qualquer das hipóteses, solicitamos a comunicação ao nosso Serviço de
Atendimento ao Cliente, para que possamos esclarecer ou encaminhar a questão.
Nem a editora nem o autor assumem qualquer responsabilidade por eventuais danos ou perdas a pessoas
ou bens, originados do uso desta publicação.
CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
Capítulo 12 Oprah 85
Fontes 207
Índice 209
Introdução
O que torna alguém um
desbravador da gestão?
Estados Unidos. Durante quase cem anos, esse país abrigou a maior concen-
tração de riqueza e talento empreendedor da história. Se este livro fosse publi-
cado em 1911, provavelmente seria dominado por personagens britânicos. Por
outro lado, se for publicado daqui a cem anos, empresários indianos e chineses
certamente ocuparão o maior número de lugares da lista.
Há outra razão também: talvez a natureza do capitalismo anglo-saxão, que
levou os Estados Unidos a produzirem tantas pessoas influentes. Nesses mol-
des, o capitalismo tem dois atributos dignos de nota. Primeiro, é um modelo
para vencedores, que tende a produzir figuras heroicas de alta visibilidade,
veneradas principalmente porque representam, até certo ponto, o sonho capi-
talista americano. Lugares como Europa e Japão também têm empreendedo-
res que causaram grande influência, mas tendem a ser bem mais comedidos,
com uma cultura muito mais contemporizadora e colegial (vale ressaltar que o
Reino Unido situa-se no meio-termo). O segundo atributo é que o capitalismo
americano também provocou verdadeiras revoluções, especialmente quando
comparado ao sistema japonês. Paradigmas antigos morrem rapidamente e
novos surgem em seu lugar, e essa dinâmica tende a produzir figuras heroicas.
Esses fatores podem ser pontos fortes e fracos, mas esse tipo de capitalismo
tende a produzir mais líderes iconoclásticos que suas variações.
Se já é difícil listar desbravadores por suas ações, que dirá tentar especificar
seus atributos. Por exemplo, é de se esperar que, para ser uma grande mente da
gestão, é preciso ser excepcionalmente inteligente. Sem dúvida, alguns deles o
são, em especial em setores mais intrincados. A dupla do Google, Bill Gates
e Steve Jobs é, indubitavelmente, dotada de inteligência brilhante. Contudo,
esse não é um pré-requisito. O antigo clichê segundo o qual muitas atividades
comerciais não são nenhum bicho de sete cabeças tem um bom fundo de ver-
dade. Em muitos setores, há pessoas de extremo sucesso, provavelmente dota-
das de grande “inteligência emocional”, mas que não podem ser consideradas
de grande destaque intelectual. Como Sir Martin Sorrell diz: “Gestão não é
neurocirurgia, certo?” (Rigby, 2004).
O mesmo se pode dizer de história de vida. É tentador pensar que os Ro-
ckefeller de nosso tempo surgiram tranquilamente de plataformas douradas
ou trilharam um caminho de pedras para sair da mais profunda pobreza. Às
vezes, isso acontece. Oprah Winfrey foi criada em condições muito difíceis no
interior sulista dos Estados Unidos, e há outros na lista deste livro que, como
diz o ditado, “nasceram em berço de ouro”. Mas também há muitos oriundos
4 28 mentes que mudaram o mundo
é Ray Kroc, que não foi quem teve a ideia original do restaurante, não abriu
a empresa, tampouco aplicou o modelo Henry Ford ao segmento de restau-
rantes de serviço rápido. Contudo, Kroc tinha uma ambição e uma visão que
faltavam aos irmãos McDonald (os fundadores da rede de fast food). Foi isso,
não um nome sugestivo ou um sistema fantástico, que tornou um punhado
de restaurantes na Califórnia uma das marcas mais reconhecidas no mundo.
Como diz o ex-CEO da Marks & Spencer, Sir Richard Greenbury, esse tipo
de mente obstinada não pode ser fabricada: “Você nasce assim ou não – são
coisas que fazem parte do caráter da pessoa.” Talvez também exista outro fator
comum a todos esses gênios – o apetite pelo risco. Quase todos os grandes
cérebros da gestão – em especial os dotados de uma veia altamente empreen-
dedora – gostam de assumir riscos de um jeito que os demais detestam.
Embora talvez necessárias, essas condições não são exclusivas. Em termos
de fatores externos, existe o timing, o ambiente de negócios, o “estar no lu-
gar certo, na hora certa”, entre uma série de outros quesitos. Personalidade,
habilidades pessoais e políticas certamente ajudam, ao passo que certa rigidez
também não mata ninguém. Uma mentalidade contestatória não é um mal, e
assim por diante. Há um ingrediente muito importante, como Gerry Robin-
son certa vez me disse: “É preciso ter sorte – todo mundo precisa de um pouco
de sorte.”
Embora muitas vezes de modo bastante discreto, a sorte não perde sua
importância só porque os estudiosos da administração gostam de pensar nessa
disciplina como uma ciência real. No entanto, um pouco de sorte é crucial.
Warren Buffett observou, de modo memorável, que, se tivesse nascido no
Peru ou em Bangladesh, não passaria de um agricultor de subsistência. Mesmo
quem foi criado em condições confortáveis, geralmente teve a sorte de apostar
no setor certo, na hora certa, em algum momento da vida. Além disso, somos
responsáveis pela própria sorte. Robinson diz que “a maioria das pessoas de
muito sucesso é extremamente dedicada ao que faz”. Na verdade, é de se ima-
ginar que, apesar de toda a modéstia populista de Buffett, se ele tivesse de ser
um agricultor no Peru ou em Bangladesh, não ficaria muito tempo como tal.
Estou dizendo que você não pode aprender nada com essas pessoas? Claro
que não. A história da gestão ilumina o presente e o caminho para o futuro.
A evolução de muitas dessas pessoas está vinculada à história do século XX;
por exemplo, Grove e Soros escaparam do Holocausto e fizeram uma nova
vida nos Estados Unidos. Além disso, visto que as grandes empresas causavam
6 28 mentes que mudaram o mundo
impacto cada vez maior no cotidiano das pessoas, é interessante analisar como
esses expoentes refletiram e influenciaram a transformação do mundo.
Na esfera prática, as grandes mentes da gestão têm muito a ensinar. Para
quem deseja ser mais inovador, não é má ideia imitar alguns aspectos do com-
portamento da dupla do Google. Para quem quer aprender sobre publicidade
e construção de marca, não existe modelo melhor do que Richard Branson.
E, para qualquer pessoa ansiosa por estabelecer um negócio com responsabi-
lidade social, um bom ponto de partida pode ser ler a respeito de Anita Rod
dick. Entretanto, você não aprenderá como ser qualquer um deles. Aliás, isso é
quase tão certo quanto a propensão de detentores de MBA ao sucesso, mas os
diplomas não os tornam, necessariamente, desbravadores da gestão. Pode-se
ensinar muitas coisas às pessoas, mas é impossível ensiná-las a ser alguém além
de si mesmas.
É isso aí. Trabalhar com afinco, assumir riscos, encontrar as circunstân-
cias certas e contar com uma pitada de sorte, entre alguns outros itens, são os
ingredientes da receita de um empreendedor de sucesso. Esse é o segredo e a
essência do negócio. Se você tem esse dom, provavelmente já sabe disso ou age
de maneira não premeditada. Do contrário, não se censure por isso. Você é
apenas alguém equilibrado e bem-sucedido pelos parâmetros normais.
O’Rourke, PJ (1987) The deep thoughts of Lee Iacocca (resenha), in Give War a
Chance, pp 145–50
Peston, Robert (2009) The Entrepreneur’s Wound, BBC Radio 4, 30 de outubro
Rigby, R (2004) Naked ambition and how to get it, in Management Today [Online]
http://www.managementtoday.co.uk/news/450123/Naked-ambition
Capítulo 1
Steve Jobs
motivos talvez não causassem surpresas: Jobs era brilhante e inspirador, mas
podia ser temperamental e inconstante, e a empresa estava se tornando mais
burocrática e corporativa à medida que crescia.
Assim, Jobs saiu da Apple para fundar a NeXT, uma empresa de informá-
tica da qual, fora dos círculos geek, quase ninguém se lembra. Para ser justo,
seu produto, o Cubo NeXT, era maravilhoso e tecnologicamente avançado –
talvez avançado demais. Mas o problema principal era sua faixa de preço – a
considerável quantia de US$6.500. Como resultado, as vendas do Cubo foram
medíocres. Nesse meio-tempo, Jobs estava interessado em outras coisas tam-
bém. Em 1986, ele comprou a Pixar, de George Lucas, por US$10 milhões.
Em 1995, a Pixar lançou Toy Story, e depois veio sua oferta pública inicial –
a participação de Jobs valia US$585 milhões. Mas foi difícil não ficar com a
sensação de que a Apple e Jobs eram como uma grande banda de rock cujo
difícil porém brilhante vocalista havia saído em busca de projetos solo. Eles
estavam muito bem separados, mas nada se comparava ao que eram quando
estavam juntos.
A Apple foi bem até meados dos anos 1990, quando o preço de suas ações
teve uma queda acentuada. Em 1996, Jobs vendeu a NeXT para a Apple
por US$430 milhões, montante pago em ações. A empresa teve prejuízos de
US$816 milhões naquele ano. Até 1997, muitos previam seu fim. Em um bom
exemplo da visão de muitos, em julho daquele ano a Newsweek publicou um
artigo com a seguinte manchete: “Uma morte em espiral: depois de anos de
declínio, a Apple precisa de uma estratégia – e de um salvador.” O salvador era
o brilhante e difícil cofundador da empresa.
Jobs retornou à Apple e colocou o pessoal da NeXT em cargos importan-
tes. E embora, comercialmente falando, a NeXT deixasse um pouco a desejar,
sua influência sobre a Apple – e no mundo da informática como um todo – era
significativa. Em primeiro lugar, a NeXT representava um grande salto em
termos de interfaces gráficas. Em segundo lugar, na NeXT, Jobs havia criado
uma cultura que ele sentia ser a resposta a uma burocracia sufocante. Logo
após retornar, Jobs tornou-se o CEO interino; dois anos mais tarde, assumiu
a posição em caráter permanente.
Com Jobs de volta na posição de líder, a empresa tornou-se focada e lu-
crativa novamente. Ele abandonou uma série de projetos, como o Newton
Handheld, e concentrou-se no iMac. Também começou o processo de di-
versificação que tornou a Apple não só uma empresa de eletrônicos para o
10 28 mentes que mudaram o mundo
Mac. E embora Jobs tenha dito que “a inovação é o que distingue líderes de
seus seguidores”, a Apple não foi a criadora de nenhum de seus produtos. Do
Xerox Alto ao iPod e ao iPhone, alguma outra pessoa sempre foi a primeira.
De fato, se você tiver de resumir a estratégia da empresa, seria a “segunda
brilhante” em vez de criadora genuína.
Para que não soe como crítica, pois não é, o título do livro de 2004, Fast
Second: How smart companies bypass radical innovation to enter and dominate
new markets (O ligeiro vice-campeão: como empresas inteligentes contornam a ino-
vação para ingressar em novos mercados e dominá-los, numa tradução livre) diz
tudo. Aqueles que mergulham primeiro, muitas vezes não conseguem colher
os frutos do novo mercado que adentraram. É melhor ser o segundo quando já
se aprendeu com os erros do concorrente. A quem possa interessar, o primeiro
MP3 player foi o MPMan F10, da coreana SaeHan Information Systems.
Chegou em 1998, três anos antes do iPod, e outros o seguiram. Mas, com
interfaces difíceis e natureza complicada, os novos gadgets* pareciam feitos
somente para geeks. O iPod, por sua vez, era fácil de usar e, como resultado,
dominou o mercado. Seis anos mais tarde, o iPhone repetiu o feito, embora
em um mercado muito mais maduro. A Apple fez algo maravilhosamente
funcional e fácil de usar.
A genialidade da Apple está na interface com o cliente e não nos elementos
básicos. Jobs sabia que as pessoas querem aparelhos lindos e muito fáceis de
usar. A maioria não liga para compatibilidade (como no caso do iPhone) ou
indicadores de desempenho bruto (como no caso dos processadores do Mac)
ou até mesmo para a qualidade de som (o iPod provavelmente não é a escolha
de um geek aficionado por música). O público se importa com o famoso look
and feel (algo como aspecto e sensação de uso, numa tradução bastante livre) –
e o brilhantismo da Apple nesse quesito ganhou não só legiões de clientes fiéis,
mas também verdadeiros fãs dispostos a pagar preços salgados. O fenômeno é
tipificado pelo estereótipo do “fanboi” da Apple, um devoto servil da empresa
e seus produtos, muito bem resumido numa falsa entrevista no Onion, site hu-
morístico, no qual um fanboi diz: “Compro qualquer coisa que seja brilhante
e feita pela Apple.”
* Nota da Editora: Gíria tecnológica para um equipamento prático e útil que possui um propó-
sito e função específicos.
12 28 mentes que mudaram o mundo
Aguilar, Quinn (2010) Do you know Steve Jobs?, Silicon Valley Curious, 20 de junho
no site da Apple em www.apple.com
Appleyard, Bryan (2009) Steve Jobs: the man who polished Apple, Times, 16 de
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Booth, Cathy, Jackson, David S and Marchant, Valerie (1997) Steve’s job: restart
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Elkind, Peter (2008) The trouble with Steve Jobs, Fortune, 5 de março
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top, Financial Times, 22 de dezembro.
Capítulo 2
Richard Branson
Branson nasceu em 1950 perto de Guildford, em Surrey. Seu pai era advo-
gado, seguindo uma tradição familiar, e sua mãe fora dançarina e comissária
de bordo na América do Sul. Ele não se sobressaiu na escola – e a razão disso,
como descobriu mais tarde, foi a dislexia – mas era bom atleta e, com a ajuda
de um curso preparatório, conseguiu entrar na Stowe, famosa escola indepen-
dente. Desde cedo, já mostrava tino para o empreendedorismo e, aos 16 anos,
lançou uma revista chamada Student enquanto ainda estava no colégio (antes
disso, tentou alguns empreendimentos sem muito sucesso, que incluíam cria-
ção de periquitos e cultivo de árvores de Natal). Branson dirigiu a revista por
mais três anos, e a circulação alcançou 100 mil exemplares.
Em 1969, Branson publicou um anúncio na revista para vender discos pelo
correio com desconto. Diante da indústria de discos da época – um mercado
fechado em que gravadoras e lojas conspiravam para engrossar o lucro –, a
resposta ao anúncio de Branson foi enorme. O único problema era que ele não
tinha nenhum estoque, mas acabou encontrando uma loja que lhe forneceu os
discos. Branson concluiu que discos eram muito mais lucrativos que revistas
e, assim, fechou a revista Student. Esse foi o começo de sua operação musical
com pedidos feitos pelo correio. Aliás, acredita-se que o nome Virgin tenha
sido ideia de um funcionário, numa alusão ao fato de serem todos novatos no
negócio – nada a ver com a crença popular de que o nome tenha alguma liga-
ção com as Ilhas Virgens.
Nesse meio-tempo, a namorada de Branson ficou grávida, e os dois tiveram
muita dificuldade para encontrar ajuda e aconselhamento. O bebê foi abortado
e, chocado com a falta de apoio, Branson montou o Student Advisory Centre
para ajudar jovens com problemas, como gravidez indesejada e uso abusivo
de drogas. Todas essas atividades deram a ele uma boa imagem pública e, em
1971, aos 20 anos de idade, já tinha causado furor considerável. Foi tema de
um documentário da BBC, que apresentava, entre outras coisas, uma sequên-
cia ligeiramente surreal de Branson andando à beira de um rio, mastigando
uma semente de capim e falando sobre a dificuldade que ele e a namorada
tiveram quando passaram pelo aborto. Contudo, até então, sua vida de jovem
girava em torno de seus empreendimentos e viagens.
Os primeiros anos da Virgin foram bem difíceis. A empresa pagava mui-
tos impostos e, às vezes, seus funcionários fingiam que não havia ninguém lá
quando os cobradores batiam à porta. No final dos anos 1970 – sobretudo por
causa de uma greve nos correios –, Branson decidiu que precisava de instalações
Richard Branson 15
* Nota da Tradutora: Arthur Daley era personagem de uma tragicomédia transmitida na In-
glaterra de 1979 a 1994, que retratava o submundo do crime. Arthur Daley era um ambicioso
social, totalmente inescrupuloso, e seu objetivo era ganhar dinheiro de qualquer forma, legal-
mente ou não.
16 28 mentes que mudaram o mundo
Ele comentou que estava cheio dos investidores da cidade, donos de uma visão
imediatista, mas vale dizer que a recíproca também era verdadeira – muitos
deles também estavam cansados de Branson.
Nos anos 1990 aconteceu a mesma coisa: livros, vodca e refrigerante, rádio,
serviços para noivas, trens, cosméticos, academias de ginástica e celulares –
tudo chamava a atenção de Branson. Em 1992, ele teve de vender a Virgin
Music para a EMI a fim de socorrer sua companhia aérea; disse que chorou
quando o negócio foi finalizado, já que a Virgin Music fora seu primeiro negó-
cio. Branson também tentou ganhar a operação da Loteria Nacional do Reino
Unido, prometendo que todos os lucros iriam para caridade, mas perdeu para
o consórcio Camelot. Nesse meio-tempo, entre a quebra de recorde com o
Virgin Atlantic Challenger II e muita publicidade, os empreendimentos conti-
nuavam a todo vapor, indo do mar para o ar. Em 1991, atravessou o Pacífico
num balão, quebrando o recorde. De 1995 a 1998, tentou várias circum-na
vegações pelo mundo em um balão, mas sua equipe perdeu o prêmio para
o Breitling Orbiter 3, em 1999. Como prêmio de consolação, tornou-se Sir
Richard Branson na lista de honrarias no ano-novo do milênio.
O início do novo século não foi nada calmo e, embora nessa época Branson
estivesse com 50 anos, a marca registrada de sua cabeleira loura e barba ainda
estava lá. A Virgin lançou a Virgin Blue, uma companhia aérea australiana de
baixo custo; Branson vendeu as megalojas da Grã-Bretanha e da Irlanda; lan-
çou a Virgin Fuel, uma empresa de produção de combustível limpo, seguindo
seu crescente interesse em resolver problemas ambientais, e a lista não tem
fim. Mas alguns empreendimentos se destacaram. Primeiro, a Virgin Money,
seu grupo de serviços financeiros, chegou muito perto de comprar o proble-
mático banco do Reino Unido, o Northern Rock. Acabou não comprando, e
o Rock permaneceu sob a guarda estatal do Reino Unido. O segundo tema
que o levou a aparecer nas manchetes foi a Virgin Galactic, empreendimento
voltado para viagens espaciais de turistas, que atualmente aceita reservas e leva
absolutamente a sério a proposta. Por fim, em 2007, ele e Al Gore criaram o
Virgin Earth Challenge Prize para combater o aquecimento global – o prêmio
vai para a primeira pessoa ou grupo que apresentar uma forma de limpar um
bilhão de tonelada de CO2 da atmosfera anualmente durante 10 anos.
O que Branson tem feito de forma consistente é personificar a marca Vir-
gin. Naturalmente, existem muitas outras pessoas que incorporam suas marcas
– Steve Jobs, Warren Buffett e a mais recente, que me vem à mente, Anita
Richard Branson 17
Roddick –, mas Branson é diferente porque, em todos esses casos, existe uma
espécie de produto principal, sejam eletrônicos pessoais, investimentos ou cos-
méticos. Com Branson, o produto é secundário. A marca Virgin pode ser
estampada em qualquer coisa, em preservativos, vodcas, telefones celulares ou
aviões. Às vezes funciona; outras, não. Mas é preciso tentar, porém quando as
coisas não funcionam as pessoas raramente vão contra Branson.
Até mesmo os fatos que geram publicidade – que podem parecer ridículos
em outra pessoa menos à vontade com sua celebridade – agregam à marca, pois
são inteiramente consistentes com a figura de Branson. Você pode até argu-
mentar que a vida toda de Branson parece ser um golpe publicitário, mas isso
realmente não o diminui. Talvez seja porque ele parece divertir-se muito, não
importa o que esteja fazendo. Em 2009, Robert Peston, jornalista da BBC,
citou algo como “as feridas do empreendedor”, ou seja, a infância desagradável
ou experiência traumática que torna muitas pessoas bem-sucedidas, mas que
as torna eternas insatisfeitas. Branson é exatamente o oposto. Sem dúvida, um
homem hiperativo e obstinado, mas que parece agir assim porque realmente
se diverte.
Mesmo com todo o amor de Branson pela publicidade, há uma área em que
essa notória figura pública é bem privada. Quem verifica os assuntos financei-
ros de Branson quase sempre aprende alguma coisa. O livro Branson, do famo-
so jornalista investigativo Tom Bower, pinta um quadro de um homem que
costuma navegar muito próximo do vento e cujo grupo tem, com frequência,
se defrontado com uma possibilidade muito real de insolvência. A pergunta
que muitos fazem é: quais das empresas de Branson realmente dão lucro (e
quais delas são subsidiadas pelas coirmãs lucrativas)? De fato, as contas das
empresas pertencentes ao grupo Virgin têm, muitas vezes, demonstrado que
muito pouco se ganha fora da empresa aérea. Talvez por essa razão Branson
goste de manter fechado o capital das empresas, e não porque os investidores
sejam chatos ou sem imaginação. Bower retrata Branson como uma pessoa
que não tem vergonha de sua autopromoção, um operador sagaz e um homem
cujo maior talento é separar banqueiros de suas fortunas.
Os infindáveis feitos de Branson podem também estar começando a dar
sinais de cansaço. Em 2008, a revista Economist percebeu que agora Bran-
son passa muito pouco tempo em sua terra natal: “No princípio, os britânicos
tinham Sir Richard no coração por causa de sua imagem rebelde, mas mui-
tos estão começando a ficar cansados da excessiva autopromoção. Talvez os
18 28 mentes que mudaram o mundo
americanos aplaudam sua ousadia.” Pode ser que haja alguma verdade nisso
tudo, mas ainda é muito cedo para dizer que Branson já era. Ele fez 60 anos
em 2010, mas aparenta 15 anos a menos e parece muito improvável que vá
envelhecer passivamente.
Appleyard, Bryan (1986) Record maker with no flip side, Times, 30 de outubro
Blackhurst, Chris (1998) At the court of King Richard, Management Today, 1o de
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Bower, Tom (2000) Branson, Fourth Estate, Londres
Branson, Richard (1998) Perdendo minha virgindade, São Paulo: Editora de Cultura,
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Branson, Richard (2009) Business Stripped Bare: Adventures of a Global Entrepreneur
Brown, Mick (1986) Profile of Richard Branson, Sunday Times, 8 de junho
Moore, Martha T (1995) Rash, brash Branson has Virgin soaring, USA Today, 5 de
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Peston, Robert (2009) The Entrepreneur’s Wound, BBC Radio 4, 30 de outubro
Specter, Michael (2007) A modern knight, Australian Women’s Weekly, 31 de agosto
Capítulo 3
Warren Buffett
Então, há alguma coisa ruim para se falar sobre Buffett? Bem, ele cometeu
alguns erros crassos mas, em muitos casos, como ocorreu com as companhias
aéreas americanas nos anos 1990, sua disposição para esperar anos significou a
recuperação das ações. O culto a Buffett, a literatura devocional que ele inspira
e seus tantos seguidores com olhos vidrados podem irritar um pouco. Mas é
difícil achar muita coisa para não gostar nesse homem modesto e admiravel-
mente honesto. Ele pratica exatamente o que prega. Paga para si mesmo um
salário de US$100 mil por ano, uma quantia pequena em um país onde CEOs
de muito menos sucesso costumam definir seus salários anuais em milhões. O
magnata come hambúrgueres e toma Coca-Cola, dirige um carro velho e vive
numa casa em Omaha, adquirida em 1957 por US$31.500, embora tenha uma
casa de praia em Laguna Beach que vale cerca de US$4 milhões. Em 1989,
comprou um jato particular ao qual deu o nome de Indefensible, fazendo troça
de si mesmo, visto que ele já criticou duramente os excessos dos CEOs em
áreas como os transportes.
Ainda assim, a imagem de um homem que não foi afetado pela riqueza
apesar de ter sido a maior fortuna do mundo é, em grande parte, verdadeira.
As pessoas que lhe enviam ideias de negócios que não foram solicitadas ge-
ralmente recebem respostas atenciosas e respeitosas. Há inúmeras histórias
sobre como ele nunca fez o tipo “você sabe com quem está falando?”; jornalis-
tas que chamam seu assistente pessoal para uma entrevista, às vezes, acabam
falando como o próprio Buffett, pois ele sempre atende as próprias chamadas
telefônicas.
Já na casa dos 80 anos, Buffett disse que está procurando um sucessor, e
os rumores são de que poderia ser Ajit Jain, a principal pessoa das operações
de resseguro da Berkshire, a quem Buffett descreveu com sendo um “supe-
rastro”. Seguindo fielmente sua filosofia – e seu desdém aberto por fortunas
herdadas –, Buffett não deixará toda a sua herança material para os filhos.
Em várias ocasiões, ele declarou que quem cresce com uma grande fortuna é
membro do “clube dos espermatozoides sortudos” e completou: “Quero dar
para meus filhos apenas o suficiente para que eles sintam que podem fazer
qualquer coisa, mas não muito, de maneira que eles não pensem que não
precisam fazer nada.” Quanto à sua vasta fortuna, em 2006 ele anunciou que
daria 85% de sua participação na Berkshire Hathaway para a caridade e que
cinco sextos disso irão para a Bill & Melinda Gates Foundation, que tem
como foco assistência médica, pobreza e educação (Buffett e os Gates são
24 28 mentes que mudaram o mundo
Minha sorte foi acentuada pelo fato de eu viver num sistema de mercado que às
vezes produz resultados distorcidos, mas que, no geral, serve muito bem ao nosso
país. Trabalhei em uma economia que recompensa com uma medalha alguém que
poupa a vida de outros num campo de batalha, recompensa um grande professor
com bilhetes de obrigado dos pais, ao mesmo tempo em que recompensa os que
conseguem detectar uma anomalia de mercado de títulos de valores com somas
que alcançam bilhões. Em resumo, a distribuição que o destino faz dos méritos é
descontroladamente caprichosa.
Ele acredita que dar uma grande parcela de sua fortuna é a melhor maneira
de compensar toda a grande sorte que teve.
2001 foi a mesma coisa – a Amazon disse que iria cortar sua força de traba-
lho, houve mais rumores e mais especulação de que a empresa seria também
outra vítima pontocom; comediantes faziam piadas sobre a Amazon.bomba e
Amazon.frita. Nada disso fez Bezos perder o controle, e o mais perto que ele
chegou de verdadeiramente reconhecer que talvez o desempenho não estivesse
de acordo com os planos foi em sua carta aos acionistas de 2001 na qual de-
clarou: “Caramba, foi um ano terrível.” E de fato foi: a Amazon tinha perdido
US$1,4 bilhão.
Eu me lembro de entrevistar Jeff Bezos mais ou menos nessa época. Em
termos jornalísticos, foi o meu melhor momento. Estava um calor absurdo – o
dia mais quente da história de Londres – e eu decidi que seria uma boa fazer
a entrevista de bermudas, pois esse era o traje do mundo das pontocom. Não
tenho certeza do que Bezos realmente achou disso, e ele fez algumas piadas.
Não foi uma das melhores entrevistas – eu estava convencido de que ele viria
com uma porção de clichês corporativos quando, na verdade, deveria admitir
que a Amazon nunca seria um negócio lucrativo. Hoje, é claro, percebo que
Bezos estava dizendo que acreditava firmemente na empresa e que a convicção
de que a Amazon fracassara estava completamente errada. Além disso, eu não
era o cara mais inteligente da sala. Desse modo, mais uma vez, o que se pode
esperar de alguém que aparece para entrevistar o homem do ano da Time de
bermudas?
Mas havia muita pressão agora e Bezos tinha de fazer alguma coisa. Diante
disso, ele disse que a empresa daria lucro até o final do ano. No início de 2002,
a empresa registrou um pequeno, pequeníssimo, lucro para o quarto trimestre
de 2001, superando as expectativas de todos. Registrou seu primeiro lucro
anual no começo de 2004, referente ao ano de 2003, sete anos depois de sua
criação. Isso se resumiu a saudáveis US$125 milhões. Parecia que Jeff Bezos,
o empresário de longo prazo da pontocom, estava certo o tempo todo. Ele
desdenhou os céticos e os franco-atiradores, venceu as dificuldades e construiu
a maior rede de varejo dentre todos eles. Hoje em dia, a única varejista dos
Estados Unidos que supera a Amazon em termos de capitalização de mercado
é o Walmart. No Reino Unido, em 2009, foi eleita a terceira rede de varejo
favorita do país (pela Verdict Research), atrás apenas de John Lewis e Ikea.
Uma vez que provou ser um negócio viável, a Amazon continuou avançan-
do e inovando. Comprou o site chinês Joyo.com em 2004 e o renomeou para
Amazon.cn em 2007. Além disso, a Amazon se expandiu para toda categoria
Jeff Bezos 29
Havia duas coisas: os indicadores dos negócios e o preço das ações. Depois da
explosão das bolhas, os preços das ações caíram, mas os indicadores continuaram
a melhorar. Tivemos algumas críticas muito duras durante esse tempo, mas sem-
pre notamos que nossos mais ferrenhos críticos estavam entre os nossos melhores
clientes. Ter uma equipe totalmente focada no desenvolvimento de produtos torna
você mais resiliente contra a opinião alheia.
Vale a pena lembrar também que, por mais que fosse uma voz de otimismo
no momento da explosão, Bezos foi uma voz de moderação sóbria durante os
piores excessos do boom. Um mantra que ele vivia repetindo para seu pessoal
era: “Não se sintam 30% mais espertos porque a ação está 30% mais alta este
mês, pois vocês vão se sentir 30% mais burros quando elas caírem.” Ele tam-
bém disse: “Uma das diferenças entre fundadores/empreendedores e gerentes
financeiros é que os fundadores/empreendedores são teimosos sobre a visão do
negócio e continuam a trabalhar nos detalhes. O segredo de ser um empreen-
dedor é saber quando ser teimoso e quando ser flexível. Para mim, o segredo é
ser teimoso sobre grandes coisas.”
Contudo, Bezos não é um empreendedor nos moldes de Branson. Em
várias ocasiões, ele disse que não tem nenhum desejo em particular de fun-
dar outra empresa. Entretanto, ele tem outros interesses – e um deles é em
viagens espaciais que, sem dúvida, é o mais atual hobby dos homens ricos do
novo século. Em 2005, Bezos anunciou o Blue Origin, um projeto para colo-
car passageiros pagantes no espaço. Em 2010, sua venda de dois milhões de
ações da Amazon (que o deixou com meros 92 milhões) levou a especulações
de que, talvez, ele estivesse apressando as atividades nessa esfera. Mesmo
que seja um simples hobby, tendo Bezos por trás disso é bom ficarmos de
olho no espaço.
Jeff Bezos 31
mil. Eles montaram uma oficina numa garagem alugada e a legalizaram como
Google Technology Inc. O domínio google.com foi registrado em setembro
de 1997, e a empresa foi incorporada após um ano. Pouco tempo depois, eles
contrataram seu primeiro funcionário, Craig Silverstein, que ainda é o dire-
tor de tecnologia. Em uma entrevista em 2008 para o The Times (Londres),
Silverstein disse: “Sempre imaginei que seríamos uma empresa de 80 a 100
pessoas.” Atualmente, contam com mais de 20 mil empregados. No final de
seu primeiro ano, a PC World a citou, honrosamente, como o melhor meca-
nismo de busca. Era o início do que viria a ser uma ascensão notável – de uma
empresa da qual poucos haviam ouvido falar para um colosso global em menos
de uma década.
Mas o que a dupla do Google fez de tão diferente? Certamente não foram
os primeiros. De fato, se olharmos em retrospecto para a lista de mecanismos
de busca (Excite, Ask Jeeves, Lycos – que hoje não passam de sombras pálidas
do que um dia foram), o Google era um participante tardio que oferecia aos
usuários algum diferencial. Primeiro, classificou as páginas de modo diferente.
Outros mecanismos de busca classificavam o número de vezes que o termo
pesquisado apareceria na página em questão, enquanto o Google reconheceu
que páginas importantes tinham maior probabilidade de estar vinculadas por
outras páginas, e seu algoritmo PageRank conseguiu analisar isso. Disseram
que os resultados eram mais parecidos com a maneira como uma pessoa atri-
buiria importância a uma página. Em uma entrevista dada em 2001 à revista
Businessweek, Page disse que “ao conversar com todos os CEOs das empresas
de busca – que, na verdade, começavam a se transformar em portais –, perce-
bemos que, em termos comerciais, ninguém iria desenvolver mecanismos de
busca. Eles disseram: ‘Bem, de fato, nós não nos importamos com mecanis-
mos de busca.’ Foi então que percebemos que havia uma enorme oportunidade
de negócio e que ninguém mais queria trabalhar nisso”.
O segundo grande diferencial do Google era a simplicidade de sua página.
Numa era em que muitos mecanismos de busca e portais adotavam uma abor-
dagem de miscelânea para suas páginas iniciais, o Google era o exercício do
minimalismo. Era – com sempre foi – essencialmente uma caixa de pesquisa,
a palavra Google e o fundo em branco. Tudo isso cativou os usuários, mas não
trazia nenhuma receita.
As diferenças entre o Google e as empresas pontocom mais comuns não se
limitou à experiência do usuário e à tecnologia. Sua terceira grande diferença
A dupla do Google (Sergey Brin e Larry Page) 35
tempo depois, alteraram o slogan para “evil scale” (balança do mal), publicado
no site do Google no menu Informações Corporativas (Corporate information
no site em inglês).
A oferta pública inicial levantou US$1,67 bilhão e tornou muitos funcioná-
rios milionários – mas, embora a empresa esteja listada na bolsa, Page e Brin
retêm a participação acionária majoritária, que lhes confere o controle final. E,
depois da IPO bem-sucedida, certamente o Google não deitou nos louros ou
permaneceu “apenas” como um mecanismo de busca.
O Google é um negócio altamente lucrativo, que controla mais de dois
terços do mercado de publicidade on-line, o que lhe permitiu continuar com
um plano de jogo bem incomum. Basicamente, a organização passou grande
parte dos últimos sete ou oito anos lançando produtos brilhantes, inovadores e
bem elaborados, e depois oferecendo-os gratuitamente.
O mais conhecido deles é o Gmail, seu serviço de e-mail, que se mostrou
tão popular e foi tão bem recebido (muito por causa da qualidade de seu de-
sign), que revolucionou o uso do correio eletrônico sem vínculo com o pro-
vedor de acesso à internet. A aceitação foi tão grande que algumas empresas,
como a Rentokil, trocaram seus sistemas corporativos pelo Gmail (IT Pro, 13
de outubro de 2009). De novo, o Google foi um participante tardio no mer-
cado. Seus principais concorrentes são o Hotmail, que funciona desde 1996 e
foi comprado pela Microsoft em 1997, e o Yahoo Mail, que surgiu em 1997.
O Gmail não havia aparecido até 2004. Apesar de tudo, conseguiu um pro-
gresso impressionante no mercado. O Hotmail tem 360 milhões de usuários;
o Yahoo, 284 milhões, e Gmail, 173 milhões.
Vale lembrar que o Gmail é amplamente visto como o serviço de e-mail
gratuito mais moderno e descolado do que seus rivais. É verdade que, recente-
mente, o Hotmail passou por uma reformulação e, de acordo com o blog Tech
do New York Times (18 de maio de 2010), o layout do Hotmail foi modificado
para ficar mais parecido com o Gmail. Nos Estados Unidos, o Hotmail tem
um pequeno “problema de percepção”, como observou o vice-presidente da
Microsoft, Chris Jones. As pessoas percebem que o Hotmail está atolado de
spam, tem baixa capacidade de armazenamento, carece de um monte de re-
cursos e é, basicamente, um serviço de e-mail do passado. “Isso, em parte, é
porque o Hotmail está no mercado há algum tempo”, disse Jones, celebrando
o Hotmail como o primeiro serviço de e-mail da Web a alcançar grande su-
cesso. “Nos últimos tempos, o Gmail está em primeiro lugar com uma grande
A dupla do Google (Sergey Brin e Larry Page) 37
tecnologia, “o grande perdedor desta semana (...) foi a Microsoft. Ela nem
sequer faz parte do jogo. Ela não tem nada. Nenhum aparelho interessante, as
vendas estão fracas, e a base de usuários diminui a cada dia. A irrelevância da
Microsoft é fato consumado”.
A empresa está incomodando os maiores players do setor de tecnologia de
duas outras maneiras. O Google passou muito cedo (em 2006) para a arena
de aplicativos on-line, que são versões reduzidas de programas como o Word
e só precisam de um navegador para rodar – na prática, o Google oferece uma
versão rudimentar do Office on-line. É importante salientar que o Google
Apps, mesmo em seu formato empresarial pago, não corresponde à funciona-
lidade do MS Office, mas vale observar que a grande maioria dos usuários do
Office não precisa de todos os recursos da versão completa. Além disso, em
meados de 2009, a Microsoft lançou uma versão on-line gratuita do Office.
Na verdade, a maioria dos produtos Google segue os dois caminhos. Quan-
do lançado de modo pioneiro, é brilhante e inovador; se lançado mais tarde,
faz o então líder parecer pesado e insuficiente para atender às necessidades dos
usuários. Muitas pessoas atribuem isso à cultura corporativa. O Google é am-
plamente reconhecido por ter uma força de trabalho apaixonada pelo que faz e
com um espírito corporativo que incentiva a inovação. A empresa é famosa por
permitir que seus engenheiros passem 20% do tempo estudando os projetos de
seu interesse. Muito disso tudo provém do fato de os fundadores da empresa
terem uma forte convicção na aplicação criativa de novas tecnologias.
É claro que nem tudo que o Google toca vira ouro. O Google Video Player
teve uma morte tranquila em 2007 (a empresa comprou o YouTube). Houve
também o Google Orkut, uma tentativa bem fraca da empresa de ingressar na
seara das redes sociais, e o Google Answers, que está bem longe de alcançar o
mesmo grau de sucesso de seu equivalente da Yahoo. Mas se compararmos es-
ses fracassos com sucessos como Gmail, Google Earth, Google Maps, Google
Apps, Chrome, e assim por diante, eles parecem um preço muito pequeno a
se pagar. Entretanto, pode-se argumentar que o Google age como um desin-
centivo para outras empresas inovadoras, pois qualquer coisa que se desenvolva
on-line será, em algum momento, superada por um trabalho do Google. Nessa
linha de raciocínio, o melhor que se há de fazer é esperar que o Google ou
outro gigante do setor lhe faça uma oferta de compra.
O enorme sucesso do Google tem visto um aumento no controle de suas
atividades pelos cães de guarda da concorrência, que também se queixam de
A dupla do Google (Sergey Brin e Larry Page) 39
época, a maioria das pessoas de negócios não estava muito preocupada com
questões éticas. Não exatamente porque fossem insensíveis (embora existissem
muitas pessoas desse tipo na Inglaterra de Thatcher). Era porque naqueles dias
essa questão não fazia parte da pauta das empresas; elas não se importavam
porque não tinham consciência da questão. É óbvio que havia um movimento
em favor do verde naquela época, mas esse movimento era, em grande parte,
contra o mundo dos negócios. A genialidade de Roddick foi tornar a ética uma
proposição crucial e usar a empresa como uma força em favor do bem.
Anita Perilli nasceu no dia 23 de outubro de 1942 em um abrigo antibom-
bas em Littlehampton, West Sussex, cidade localizada na costa sul da Ingla-
terra – a Body Shop ainda mantém seus escritórios centrais lá. Era filha de
imigrantes italianos, e a única outra família de italianos da cidade era consti-
tuída de primos de Anita. Conforme ela dizia, isso a tornava uma estranha – e
ela se sentia atraída por outros estranhos e rebeldes (http://www.anitaroddick.
com). James Dean era um herói, e Anita afirmava que desenvolveu um precoce
sentimento de indignação: “[Esse sentimento] despertou com a leitura de um
livro sobre o Holocausto quando eu tinha 10 anos.”
Como muitos imigrantes italianos naquela época, seus pais dirigiam um
café. Quando Anita estava com 8 anos, seus pais se divorciaram e a mãe se
casou com um primo do ex-marido, Henry. Na verdade, Henry era o verda-
deiro pai de Anita, pois sua mãe tivera um caso amoroso com ele durante o
casamento. Conforme Anita afirmou, ela se sentiu muito satisfeita com essa
virada dos acontecimentos. Tragicamente, um ano e meio depois que eles se
casaram, Henry veio a falecer.
Após cursar a escola secundária, Roddick recebeu treinamento como pro-
fessora e passou um ano em um kibutz em Israel. Depois disso viajou para vá-
rias regiões distantes, como as ilhas do Pacífico Sul e a África do Sul, de onde
foi expulsa por ter participado de uma noite de jazz em um clube de negros.
Esse ponto talvez tenha representado o primeiro sinal do que estava por vir.
Ela dizia que viajar a ajudara a desenvolver sua consciência social, embora seja
razoável perguntar quantas mulheres jovens na década de 1960 tinham uma
consciência social bem desenvolvida. Quando Anita retornou ao Reino Unido,
a mãe a apresentou a um escocês chamado Gordon Roddick. “Nossa empatia
foi instantânea.” E, de fato, foi: ela se mudou para o apartamento dele cinco
dias depois de se conhecerem, e eles viveram quase 40 anos juntos, até a morte
de Anita.
Anita Roddick 49
Aos 26 anos, Anita deu à luz sua primeira filha, Justine; dois anos mais
tarde, nascia Sam (que seguiu livremente as pegadas da mãe, abrindo uma
sofisticada sex shop ética no distrito de Covent Garden, Londres, onde os
produtos mais vendidos incluíam vibradores de madeira certificada). Anita e
Gordon casaram-se em 1970, quando ela estava esperando Sam, e abriram um
restaurante e, a seguir, um hotel.
É notório que a Body Shop nasceu por força da necessidade. Em 1976,
Gordon Roddick decidiu empreender uma jornada a cavalo de Buenos Ai-
res a Washington, DC (abandonou a expedição quando seu cavalo caiu em
uma vala). Antes de partir, ajudou a mulher a contratar um empréstimo no
valor de £4 mil; a ideia era que ela começaria um negócio para se sustentar
e sustentar as filhas. Anita declarou que, na época, não tinha a menor ideia
sobre o que as vendas a varejo envolviam, mas tinha uma “rica experiência”,
adquirida em suas viagens. Havia testemunhado pessoalmente os rituais de
beleza e os produtos usados pelas mulheres nas sociedades pré-industriais
que ainda existiam em grande número nas décadas de 1960 e 1970, e fora
influenciada pelo fato de ter crescido na Inglaterra dos tempos de guerra e
pós-guerra, e vivenciado o racionamento e a austeridade, quando tudo era
reutilizado. Anita abriu uma loja na pitoresca Lanes, em Brighton, em 1976,
vendendo uma gama bastante limitada de produtos que fabricava em casa.
Quando o marido retornou de sua expedição, 11 meses mais tarde, ela já
tinha aberto uma segunda loja.
Existe certa confusão sobre o quão ética e ecologicamente correta era a
Body Shop no início de suas operações, mas parece bastante claro que os pro-
dutos sempre foram naturais e que Roddick era profundamente contra a rea-
lização de testes com animais – vale lembrar que esse tipo de preocupação era
quase inexistente no fim dos anos 1970. No entanto, não há dúvidas de que
os clientes de Roddick amavam seus produtos simples e testados sem cruelda-
de. Em 1978, a empresa abriu seu primeiro ponto de vendas no exterior (um
quiosque em Bruxelas) e, até os anos 1980, a rede tornou-se um importante
ícone do comércio britânico, embora curiosamente estivesse fora de sincronia
com as características da Inglaterra de Thatcher.
Em 1984, a Body Shop foi inscrita no mercado londrino de títulos não
negociados em bolsas de valores (o segmento júnior do mercado de ações,
que foi suplantado pela AIM). No ano seguinte, a empresa passou a operar
plenamente nas bolsas de valores. O fato de a Body Shop ter se tornado uma
50 28 mentes que mudaram o mundo
empresa de capital aberto foi um rude despertar para Roddick. Conforme ela
afirmou mais tarde: “Eu nunca deveria ter transformado a Body Shop em uma
empresa de capital aberto, mas como poderia saber disso naquela época?” Era
muito simples: sua ideia de uma empresa com múltiplos resultados finais e
múltiplos stakeholders estava cerca de 15 anos à frente de seu tempo, e a City
estava interessada apenas em uma coisa: nos verdadeiros resultados. Anita se
desentendeu com seu CEO, Patrick Gournay; nos Estados Unidos, a empresa
enfrentava uma batalha, e a experiência fez Anita experimentar um profundo
sentimento de falta de confiança na empresa, no mundo corporativo e nos
jornalistas da área econômica. No entanto, as ações da empresa apresentavam
bom desempenho e, em 1990, a Body Shop foi avaliada em £800 milhões,
fazendo de Anita a quarta mulher mais rica do Reino Unido, com 30% das
ações da empresa.
Mas o mais interessante era o engajamento de Roddick. Em 1985, ela
envolveu a empresa na luta pela salvação das baleias; em 1989, empenhou-se
em salvar as florestas tropicais e, em 1990, fez uma campanha contra os tes-
tes com animais. A empresa coletou assinaturas para campanhas em defesa
dos direitos humanos. Em vez de comprar produtos como manteiga de cacau
e nozes brasileiras nos mercados de commodities, Roddick ia se encontrar
com os plantadores em lugares como América Central, Índia e Amazônia, e
negociava diretamente com eles, garantindo que obtivessem um preço mais
razoável para suas mercadorias. Em 1986, a Body Shop lançou seu primeiro
bem de consumo, um massageador para os pés, produzido por um forne-
cedor da região sul da Índia. Em 1990, foram estabelecidas a Body Shop
Foundation e a revista Big Issue, que proporciona uma fonte de renda para
pessoas sem teto – esses foram seus primeiros projetos. Sabe-se que a Body
Shop nunca teve um departamento de marketing; com Anita Roddick na
direção, há uma boa razão para que ela nunca tenha realmente precisado
de um. Estivesse ela lutando contra as multinacionais, esposando a filosofia
feminista ou envolvendo-se nos tumultos da WTO em 1999, Anita sempre
atraiu a atenção do público.
Mas a década de 1990 foi menos compassiva com a Body Shop. Os Ro-
ddicks continuavam a lutar com a City e afirmavam que teriam privatizado
a empresa novamente se tivessem condições para tal. As características que
transformaram Anita no grande retrato da marca não a ajudaram a conquistar
pessoas de dinheiro, e, como muitas outras empresas, a Body Shop descobriu
Anita Roddick 51
que para uma empresa pequena é fácil angariar simpatia, porém é muito mais
difícil quando se trata de uma multinacional. As críticas não partiam apenas
do público conservador; em 1994, o jornalista Jon Entine escreveu um incri-
minador artigo sobre a Body Shop na revista Business Ethics, e havia muitos
outros inclinados a fazer críticas semelhantes.
Se fizermos um retrospecto, isso talvez pareça um pouco injusto. É verdade
que nem sempre a empresa foi fiel às suas sublimes aspirações, mas é também
verdade que, de modo geral, ela estava tentando fazer a coisa certa; mas se
uma empresa se propõe a adotar uma política ecologicamente correta, a mais
ínfima infração não passará despercebida. Foram cometidos erros, mas mui-
tos ocorreram porque a empresa estava desbravando um caminho, em vez de
seguir um caminho já trilhado, e, conforme observou Roddick, a Body Shop
estabelecera padrões muito mais altos do que a maioria das empresas. Um
exemplo do tipo de desentendimento que a empresa teve com seus detratores
pode ser constatado no artigo de Jon Entine publicado no Daily Mail. Etine
dizia:
Pela primeira e única vez tive permissão para lhe fazer uma pergunta. Citei uma
versão de seu discurso, feito em 1993, no qual ela incitava a um boicote da China.
“Honestamente, como é possível sugerir um boicote quando a Body Shop adqui-
re dezenas de produtos da China? De acordo com organizações que se pautam
pelo comércio justo, você pessoalmente descartou solicitações para procurar fontes
mais éticas.” Ela me lançou um olhar duro. “Você não entende, não é? Eu estava
falando sobre o modo como as empresas devem agir, não sobre o modo como nós
agimos. Minha tarefa é inspirar. Mas temos uma maldita de uma empresa para
administrar.”
cabeça.” Ele acreditava que tivera uma visão do futuro, e nesse futuro haveria
um McDonald’s em cada cruzamento movimentado.
No dia seguinte, Kroc descreveu sua visão aos dois irmãos, mas eles não
se mostraram muito interessados. Já haviam tentado expandir o negócio ven-
dendo algumas franquias, mas em síntese a empresa estava lhes proporcio-
nando uma vida muito confortável e não viam necessidade de trabalhar mais.
Entretanto, Kroc confiava em sua intuição e, apelando para seus poderes de
persuasão coroados por anos de experiência como vendedor, conseguiu con-
vencer a dupla a lhe conceder direitos exclusivos para a venda de seu modelo.
Kroc venderia as franquias por US$950. Além disso, receberia 19% das vendas
brutas de cada franquia, dos quais 0,5% seria destinado aos dois irmãos. Kroc
abriu seu primeiro McDonald’s perto de Chicago para servir como modelo e
como propaganda para possíveis franqueados.
É interessante observar que muitas pessoas supõem que Kroc tenha sido o
mentor da ideia original do McDonald’s, mas vimos que não foi esse o caso – o
conceito e grande parte do modelo inicial foram criados pela dupla de irmãos.
Contudo, é absolutamente correto enxergar Kroc e não a dupla como o indi-
víduo por trás do McDonald’s. Sem Kroc, provavelmente o McDonald’s teria
sido outra pequena cadeia de restaurantes (hoje provavelmente extinta) da qual
quase ninguém ouviu falar.
O que Kroc tinha – e faltava à dupla de irmãos – era a energia para trans-
formar uma pequena empresa em um colosso que se expandiria ao redor do
mundo. Na verdade, Kroc é, possivelmente, o exemplo mais verdadeiro do
truísmo empresarial, ou seja, de que ter uma boa ideia não é suficiente. É tam-
bém a personificação da famosa frase de Edison: “A genialidade é composta
de 1% de inspiração e 99% de transpiração.” No caso do McDonald’s, a dupla
de irmãos forneceu esse 1%. Uma das razões da extraordinária energia de Kroc
talvez tenha sido que, em 1955, ele não tinha nenhum plano B; embora os
multiprocessadores tenham lhe proporcionado uma boa receita, obviamente
ele não estava ficando mais novo. O McDonald’s era, na verdade, sua última
cartada.
Kroc era adepto da regulamentação e da uniformidade, e enxergava nesses
elementos a chave do êxito; assim, empenhou-se em aperfeiçoar o modelo
idealizado pela dupla de irmãos. Tudo era padronizado, dos hambúrgueres às
batatas fritas e milkshakes, descendo a detalhes como os 3mm (no caso da es-
pessura do hambúrguer, por exemplo). Em vez de implantar um treinamento
58 28 mentes que mudaram o mundo
o filé de peixe, o Egg McMuffin e mesmo o tradicional Big Mac, foram in-
ventados por franqueados individuais. No entender de Kroc, toda vez que ele
vendia uma franquia do McDonald’s, dava início a uma relação comercial de
longa duração.
De acordo com essa descrição, parece que Kroc estava trilhando um rápido
caminho em direção ao sucesso. Mas, na verdade, ele tinha um problema sério.
A despeito dos números polpudos em termos de crescimento, naquela época a
empresa não apresentava bom desempenho financeiro. Os termos do negócio
que Kroc havia contratado com os irmãos McDonald’s não o favoreciam e sig-
nificavam que, embora a empresa tivesse apresentado um polpudo faturamen-
to no início da década de 1960, os ganhos de Kroc eram praticamente nulos.
Pior ainda, a obsessão de Kroc estava se chocando com a indiferença dos dois
irmãos. Kroc queria muito comprar a parte pertencente à dupla, pois sentia
que a abordagem deles representava um obstáculo para a marca.
A salvação de Kroc a longo prazo surgiu na figura de um advogado muito
esperto, Harry J. Sonneborn, que propôs uma solução elegante: a empresa
deveria se tornar proprietária das franquias. Em 1956, foi fundada a Franchise
Realty Corporation. A ideia era que essa empresa compraria os locais e depois
os alugaria aos franqueados. Estes pagariam à empresa-mãe uma taxa ou uma
porcentagem de seu faturamento, o que fosse maior. Foi uma jogada de mes-
tre, e mais tarde Kroc creditaria a Sonneborn a responsabilidade pela virada
experimentada pela empresa. Conforme mencionado no livro McDonald’s: a
verdadeira história do sucesso (de autoria de John Love, publicado no Brasil em
1996), “o que transformou o McDonald’s em uma máquina de fabricar dinhei-
ro não teve nada a ver com Ray Kroc ou com os irmãos McDonald, nem mes-
mo com a popularidade dos hambúrgueres, batatas fritas e milkshakes servidos
no restaurante. Na realidade, o McDonald’s ganhou dinheiro com imóveis e
com uma fórmula pouco conhecida desenvolvida por Harry J. Sonneborn”. Na
verdade, embora Kroc nunca tenha concordado com esse ponto de vista, certa
vez Sonneborn disse a um grupo de investidores que o McDonald’s era, em es-
sência, uma empresa que atuava no ramo imobiliário: “A única razão pela qual
vendemos hambúrgueres a US$0,15 é que eles representam o maior provedor
da receita da qual nossos inquilinos podem tirar o aluguel que nos pagam.”
Porém, embora no frigir dos ovos a Franchise Realty tenha socorrido Kroc,
seriam precisos alguns anos para que ele superasse aquela difícil situação. Em
1961, um ano particularmente amargo para Kroc, seu casamento terminou em
60 28 mentes que mudaram o mundo
divórcio, e sua mulher, na época com 39 anos, alegou que a empresa ocupava
todo o espaço na vida do marido. Além disso, após conceder aos empregados
valiosos lotes de ações porque não conseguia arcar com os altos salários, Kroc
foi obrigado a abrir mão de outros 22% do capital acionário como garantia de
um empréstimo.
Mas mesmo isso tudo não foi suficiente. Ele faria qualquer coisa para se
livrar dos fundadores que o mantinham acorrentado e que muitas vezes pare-
ciam estar trabalhando para minar o que ele havia construído. Por fim, eles
chegaram a um acordo. Os irmãos exigiam US$1 milhão livre de impostos
para cada um, o que correspondia a US$2,7 milhões; Kroc conseguiu levantar
o dinheiro, porém à custa de um grande ônus. Embora em retrospecto tenha
sido um negócio terrível para os McDonald’s, na época Kroc achava que pa-
gara um preço alto demais. As partes também se desentenderam em relação
ao restaurante original – se deveria ou não ser incluído no negócio. Por fim, os
irmãos ficaram com ele, mas foram obrigados a mudar o nome, e o restaurante
passou a se chamar “The Big M”. Kroc abriu um McDonald’s do outro lado
da rua, obrigando o “The Big M” a fechar as portas.
Finalmente, Kroc tinha o negócio que desejava. Em meados da década de
1960, a empresa contava com centenas de pontos de venda espalhados pelo
território americano e, em 1965, transformou-se em empresa de capital aber-
to, o que lhe forneceu o capital para se expandir em um mercado florescente,
porém cada vez mais competitivo. Passou também a atuar na área de publi-
cidade, e em pouco tempo estava fazendo anúncios nacionais, que custavam
muito caro, mas eram bastante eficazes. Ronald McDonald, que apareceu pela
primeira vez no início da década de 1960, foi imitado por uma série de outros
personagens, incluindo Grimace, Mayor McCheese e Hamburglar; de todos
eles, somente Ronald existe até hoje.
Na década de 1970, o McDonald’s se transformou na maior cadeia de fast
food dos Estados Unidos, e em 1971 abriu lojas na Alemanha e no Japão. Em
1977, abriu sua primeira loja em Londres. Kroc tornou-se uma figura de des-
taque no cenário nacional, comprou o time de beisebol San Francisco Padres
e tinha encontros com presidentes. A empresa começou a ser criticada tanto
por aqueles que se preocupavam com as falhas nutricionais observadas nos
alimentos do McDonald’s como pelos que se preocupavam com a mudança
ocorrida nos Estados Unidos, que passara de uma economia de fabricação para
uma economia fornecedora de serviços.
Ray Kroc 61
Contudo, nada disso preocupava Kroc. Ele praticamente não fora influen-
ciado pela riqueza e pelo poder que esta lhe proporcionava fora da esfera dos
Arcos Dourados. Resistiu também à tentação de se aburguesar. Abriu mão do
cargo de CEO em 1968, embora tenha continuado profundamente envolvido
– às vezes de modo obsessivo – com a organização até sua morte em 1984, aos
81 anos.
Por ocasião de sua morte, a empresa tinha vendido cerca de 50 bilhões de
hambúrgueres e era uma das maiores organizações americanas; seu valor era
de aproximadamente US$4 bilhões, mas a influência exercida por Kroc no
mundo todo representou muito mais do que isso. Na verdade, se quisermos
citar uma empresa que incorpora um grande número das mudanças econômi-
cas que tiveram lugar na segunda metade do século XX poderíamos mencionar
o McDonald’s. Mais que isso, a organização modificou a maneira como os
americanos se alimentam, o modo como trabalham, e modificou também a
paisagem americana; poderíamos dizer que modificou até mesmo a aparên-
cia física dos americanos. Poucas mentes da gestão causaram um impacto tão
grande fora do mundo dos negócios.
da circulação dos jornais e das receitas provenientes dos anúncios; outro fator
foi o crescimento da internet porque, enquanto antigamente os jornais lu-
crativos subsidiavam as televisões via satélite, hoje acontece o contrário. Ele
teve também diversos embates com a nova economia. Um dos mais notáveis
ocorreu em 2005, quando adquiriu o site MySpace por US$580 milhões. Ini-
cialmente, essa aquisição pareceu um perspicaz passo em direção à nova mídia,
pois as receitas advindas dos anúncios pareciam atraentes. Mas o sucesso do
Facebook nos últimos anos fez muitas pessoas acharem que Murdoch adquirira
um site decadente. Esse fato e suas recentes desavenças com o Google (ele e os
executivos da News Corp repetidamente descreviam esse dispositivo de busca
como um “parasita” que se beneficiava do conteúdo criado por outros) levaram
alguns a sugerir que Murdoch não compreendia a internet e que essas eram
atitudes de um homem velho que estava vendo seu império desmoronar.
Mesmo seus lucrativos jornais não mais eram o que haviam sido no passado.
No início da década de 1990, o jornal The Sun costumava se gabar (e muitos
acreditavam) de que tinha o poder de dar uma guinada nas eleições do Reino
Unido, e, exatamente quando o jornal estava no auge de sua belicosidade, sua
influência atingiu o ápice. Em 1992, o jornal apoiou claramente os Tories
nas eleições gerais do Reino Unido (golpeando o Partido Trabalhista), e mais
tarde um editorial do jornal publicou a seguinte declaração: “Foi a sabedoria
do The Sun que ganhou as eleições.” Em poucos anos, a circulação do jornal
estava um pouco abaixo dos cinco milhões. Atualmente, esse número está um
pouco acima dos três milhões. Nas últimas eleições gerais do Reino Unido, o
partido apoiado pelo jornal que, esperava-se, venceria por ampla maioria, fez
uma coalizão com os democratas liberais, atitude bastante reveladora.
Mas existem outras boas razões para não considerar Murdoch uma “carta
fora do baralho”. Sua mais recente e significativa aquisição nos Estados Uni-
dos foi o The Wall Street Journal, em 2007. Muitos receavam que ele destruiria
um dos poucos jornais sérios e bem-sucedidos ainda existentes no país, mas,
surpreendentemente, parece que Murdoch o revigorou. Na verdade, o co-
mentarista da mídia do Reino Unido, Roy Greenslade (Time, 28 de junho de
2007) escreveu o seguinte: “Parece que para seu jornal sério Murdoch adotou
uma abordagem que não inclui grandes intervenções, enquanto se compraz
intrometendo-se em seus tabloides.” O The Wall Street Journal é uma verda-
deira joia da coroa de Murdoch, pela qual ele pagou um preço alto demais. No
entanto, talvez agora ele esteja de olho no The New York Times, provavelmente
68 28 mentes que mudaram o mundo
o jornal mais influente do mundo e a prova final para um homem que é visto
como um filisteu. Um artigo da revista New York Magazine publicado no início
de 2010 dizia: “Alguns dizem que a obsessão de Murdoch pelo Times lembra
Ahab (antigo rei de Israel).” Conforme declarou um ex-executivo sênior da
News Corp, “[Comprar o The Wall Street Journal] foi o pior negócio que ele
fez na vida, uma real insensatez. Ele não tinha nenhuma justificativa para fazer
essa aquisição – fez porque quis” (Sherman, 2010).
Aqueles que pensam que a idade diminuirá o apetite de Murdoch por ne-
gócios e pela ampliação de seu império deveriam olhar para o passado, que
serviria como orientação para o futuro; parece provável que a única coisa que
o deterá é a morte ou uma doença que o leve à morte. Ele é o arquétipo do
magnata para quem o suficiente nunca é bastante. Trata-se da necessidade de
estar sempre pronto para o próximo passo e o próximo negócio.
Fazendo uma comparação com as atividades de Murdoch nos Estados Uni-
dos, o que está acontecendo do outro lado do Atlântico também é interessante,
talvez mais interessante ainda. A tática mais recente adotada por Murdoch
tinha o objetivo de abordar o problema que a internet causou aos mercados
de jornais no mundo todo, particularmente nos Estados Unidos e no Reino
Unido. Como os títulos ao redor do mundo vêm lutando com o problema
relacionado à redução das receitas provenientes de anúncios conjugado ao fato
de que os jornais estão abrindo mão de seu conteúdo – que é lido na internet
livremente e sem nenhum ônus –, recentemente Murdoch começou a cobrar
pelos títulos mais procurados pelo público.
A partir de junho de 2010, o The Times e o The Sunday Times (dois dos jor-
nais “de qualidade” do Reino Unido mais conhecidos e mais lidos) começaram
a cobrar dos leitores pelo conteúdo on-line. Esse é um passo extremamente
ousado, pois os únicos jornais que até hoje tiveram êxito ao adotar essa política
foram o The Financial Times e o The Wall Street Journal, e ambos podem ser
considerados casos especiais (as notícias financeiras fazem parte de uma área
especializada e, muitas vezes, as empresas não se importam em pagar pela
assinatura). Mas com o The Times, Murdoch está competindo com três outros
jornais de qualidade existentes no Reino Unido (e possivelmente com o Daily
Mail) que oferecem um produto muito semelhante gratuitamente. Ele está
apostando que aonde for, outros também irão. Se Murdoch estiver certo, o
homem que foi punido por muitos por ter provocado a ruína de vários jornais
ao longo dos anos talvez se transforme no redentor daqueles que o criticaram.
Rupert Murdoch 69
existentes. Pouco tempo depois, Drucker percebeu que precisava deixar a Ale-
manha, e mudou-se para o Reino Unido.
Encontrou trabalho como analista financeiro em Londres e, enquanto
morou no Reino Unido, assistiu a palestras de John Maynard Keynes, em
Cambridge. Isso lhe permitiu fazer uma importante constatação: a de que, en-
quanto os economistas estavam interessados no comportamento das moedas,
commodities e outras coisas do tipo, ele estava interessado na maneira como
as pessoas agiam. Drucker não gostava muito de Londres; achava que a cidade
era antiquada e fazia lembrar Viena. Em 1937, mudou-se para os Estados
Unidos para atuar como correspondente para um grupo de jornais.
Em 1939, Drucker publicou seu primeiro livro, O fim do homem econômico:
as origens do totalitarismo. Três anos mais tarde ingressou no Bennington Col-
lege, Vermont, como professor de Política e Filosofia. Em 1943 publicou seu
segundo livro, O futuro do homem industrial. Com essa obra atraiu a atenção
da General Motors (GM), que o convidou para passar dois anos estudando a
empresa. A GM abriu suas portas para Drucker, que tinha acesso irrestrito do
chão de fábrica à sala da diretoria. Quando Drucker sugeriu que poderia escre-
ver um livro sobre gestão, seus patrocinadores na GM ficaram surpresos, pois
não acreditavam que alguém o leria. Um deles disse: “Não conheço ninguém
que possa estar interessado em um livro sobre gestão.” O livro que Drucker
escreveu nessa época, O conceito da corporação, foi seu trampolim para a fama.
Introduziu muitos conceitos novos, sendo os dois mais importantes a delega-
ção de responsabilidades e trabalhadores do conhecimento. Com o primeiro,
o modelo de comando e controle começava a parecer ultrapassado; a descen-
tralização estava se difundindo, e Drucker era o homem certo para articular
a maneira como ela funcionaria, bem como a maneira de liberar membros
individuais do quadro de pessoal. Com a última providência ele previa a mu-
dança do trabalho pesado para o trabalho intelectual nas economias avançadas
do Ocidente. O livro se tornou um best-seller, embora o então presidente
da GM, Alfred Sloan, o abominasse, a ponto de se recusar a reconhecer sua
existência.
Em 1950, Drucker tornou-se professor de Gestão na Faculdade de Ad-
ministração da Universidade de Nova York e, em 1954, publicou a obra The
Practice of Management. O livro estabeleceu seus preceitos mais conhecidos:
O que nossa empresa é? Quem é nosso cliente? O que nosso cliente entende
por valor? Credita-se também a esse livro o fato de ter introduzido o conceito
74 28 mentes que mudaram o mundo
Essa sua atitude poderia ser vista como o início de um desencanto com os
gestores, desencanto este que aumentou no final de sua vida. À medida que a
remuneração dos executivos aumentava e a ideia de que a empresa deveria ter
outro propósito além de produzir lucros diminuía, Drucker tornava-se cada vez
mais desiludido. Acreditava que os gestores de má qualidade recebiam remune-
ração excessiva, pois abriam seu caminho brutalmente através da exploração da
força de trabalho. Ele sempre achara que os gestores eram verdadeiros heróis,
mas agora os criticava, e eles não mais gostavam de ouvir o que Drucker dizia.
Essa foi provavelmente a razão pela qual, no hipercapitalismo do final da
década de 1990 e início da década seguinte, alguns começaram a rejeitar Dru-
cker, considerando-o um homem cujo tempo já se fora. Em 1997, ele declarou:
“Na próxima virada econômica haverá uma explosão de amargura e desprezo
contra os líderes que ganham milhões.” Até certo ponto, estava certo – houve
uma explosão de amargura e desprezo, embora ele não tenha previsto quão im-
precisa e mal direcionada essa tempestade seria. No entanto, a crise fez mui-
tos que tinham dúvidas perceberem que Drucker, não os CEOs, estava certo.
Além disso, ele era coerente com o próprio discurso e, a despeito da riqueza
que seu trabalho lhe proporcionou, tinha pouco tempo para dedicar a coisas
materiais. Aqueles que frequentavam sua casa comentavam que ele levava uma
vida bastante modesta. Drucker faleceu em 2005 de causas naturais, pouco
antes de completar 96 anos. Continuou a trabalhar e a publicar trabalhos até o
final da vida – na verdade, seu último livro foi publicado após sua morte.
Naturalmente, Drucker não era perfeito. Simon Caulkin (2005), na épo-
ca editor administrativo do jornal The Observer, escreveu no obituário de
Drucker:
Outras críticas consideradas justas por muitos incluem o fato de que Dru-
cker era muito melhor quando se tratava de organizações de grande porte do
que quando o assunto girava em torno de empresas pequenas, a ponto de pra-
ticamente ignorá-las, e que a gestão baseada em objetivos foi, em essência,
abandonada. Porém, comparadas ao legado que ele deixou, essas são falhas
insignificantes. Drucker foi a primeira e a maior mente da gestão e um verda-
deiro intelectual, e poderia ter obtido êxito nas mais diversas áreas. Em 1996,
o jornal McKinsey Quarterly escreveu: “Peter Drucker é o único guru diante do
qual os outros gurus se ajoelham.” E isso continua a ser verdade. Conforme
afirmou a revista The Economist em 2009, “a razão mais importante pela qual
as pessoas reverenciam Drucker até hoje é que seus escritos continuam extre-
mamente relevantes”.
lenda que o jovem Ingvar, como quase todo adolescente, era um tanto pre-
guiçoso e não gostava de acordar cedo para ordenhar as vacas; isso o levou
a explorar outras formas de ganhar a vida. Seu primeiro negócio envolvia a
venda de fósforos. Ele percebeu que, se adquirisse o material no atacado, em
Estocolmo, poderia vendê-lo a seus vizinhos por um preço considerado baixo
e ainda assim auferir um bom lucro. Logo passou a vender canetas, lápis, arti-
gos para decoração e outros itens correlatos. Em 1943, quando estava com 17
anos, seu pai o presenteou com uma quantia em dinheiro como recompensa
por seu bom desempenho escolar e ele usou o dinheiro para fundar uma em-
presa à qual deu o nome de IKEA – nome inventado com base em suas pró-
prias iniciais, no nome da fazenda e no nome do vilarejo próximo, Agunnaryd.
A primeira linha de produtos vendidos pela empresa consistia em pequenos
bens de consumo.
Em 1946, Kamprad publicou seu primeiro anúncio em um jornal (sobre
canetas esferográficas) e, em 1948, construiu seu primeiro armazém, um gal-
pão na fazenda da família. As mercadorias eram entregues pelo caminhão que
transportava o leite da região. Os móveis fabricados localmente começaram a
ser vendidos em 1948 e, em 1951, surgiu o hoje tradicional catálogo. Na época,
o catálogo era fornecido gratuitamente aos consumidores, e isso acontece até
hoje. A empresa abriu um salão de exposições em 1953 e, em 1955, começou
a projetar seu próprio mobiliário – isso ocorreu em resposta aos concorrentes
que pressionavam os fornecedores para que boicotassem a IKEA. Um ano
mais tarde, o primeiro dos artigos de fácil montagem fornecidos em módulos,
a mesa Lovet, chegou ao mercado. O conceito de automontagem surgiu por
acaso – um trabalhador removeu as pernas da mesa para colocá-la dentro do
carro e o móvel não sofreu nenhum dano. Em 1958, a primeira loja foi aberta
na cidade de Almhult, numa instalação que ocupava 6.700m2, sendo a maior
loja de móveis da Suécia. Dois anos mais tarde, a empresa abriu seu primeiro
restaurante dentro de uma loja, servindo sua principal marca registrada fora
do setor moveleiro: almôndegas. Em 1965, abriu uma loja com 31.000m2 em
Estocolmo; logo surgiu um depósito self-service.
Ao longo das décadas de 1970 e 1980, a empresa se expandiu por toda
a Europa. Em 1985, abriu sua primeira loja na Filadélfia e, em 1987, insta
lou-se também no Reino Unido. A fórmula tem sido um retumbante sucesso
– em 2008, a organização contava com 253 lojas controladas diretamente, e
o número de compradores anuais passava de meio bilhão. Kamprad deixou a
Ingvar Kamprad 79
Essa fidelidade ao conceito “faça você mesmo” é a razão pela qual podemos
comprar uma xícara de café por um preço bastante baixo, e basta analisar as
vendas da IKEA para constatar que a maioria das pessoas se sente mais feliz
em pagar menos por menos. A tiragem do catálogo da IKEA, que já atingiu
centenas de milhões, ultrapassa a da Bíblia. O nome IKEA é tão popular que,
durante a inauguração de uma loja na região norte de Londres em 2005, cinco
pessoas foram hospitalizadas devido ao tumulto que ocorreu quando as por-
tas da loja foram abertas. Um ano antes, quando uma loja na Arábia Saudita
ofereceu vouchers concedendo um crédito no valor de US$150, duas pessoas
morreram na desenfreada corrida para entrar na loja. É claro que esse tipo de
frenesi pode ocorrer em qualquer lugar – e muitas vezes já foram testemunha-
dos em lojas que vendem artigos da Apple – quando uma empresa que é con-
siderada cult lança novos produtos. Existem também outras lojas que vendem
móveis modernos com foco no projeto, como a Habitat, sediada no Reino
Unido. Mas tanto a Apple como a Habitat produzem mercadorias direciona-
das à classe média, enquanto os produtos IKEA são acessíveis a um número
muito maior de consumidores; na verdade, a empresa vende até mesmo casas
pré-fabricadas.
No entanto, a IKEA não está isenta de críticas. Alguns dizem que a versão
democratizada do estilo da empresa não representa, de forma nenhuma, um
estilo e que a empresa oferece um projeto equivalente ao do fast food. Em
artigo publicado no jornal The Times (30 de maio de 2010), o crítico de proje-
tos Stephen Bayley afirmou: “A IKEA globalizou uma versão deselegante da
cultura que a alimentou.” E acrescentou que os projetos da empresa eram me-
díocres. Muitas pessoas reclamam que a IKEA ampliou o conceito de móveis
Ingvar Kamprad 81
descartáveis: quando uma pessoa muda de casa acha que não vale a pena levar
os móveis que possui, pois provavelmente durariam pouco. Embora a empresa
esteja na vanguarda em termos de projeto, muitas pessoas detestam suas lojas
e dizem que se assemelham a “grandes caixas” que, pintadas de azul e amarelo,
são responsáveis por uma das estruturas mais feias e menos harmoniosas já
vistas em uma paisagem. Dizem ainda que, como todo varejista localizado fora
do perímetro urbano, estimula a dependência do carro e destrói os pequenos
negócios.
E há também outras acusações. Em várias ocasiões, a cadeia de forneci-
mento da empresa já foi alvo de críticas, e seus detratores argumentam que,
basicamente, o baixo preço das mesas e estantes é conseguido em detrimento
do meio ambiente e à custa do trabalho de cidadãos do Terceiro Mundo. Em
2009, a empresa foi incluída no Sweatshop Hall of Fame (lista de empresas
que pagam baixos salários e oferecem más condições de trabalho aos funcio-
nários) pelo Fórum Internacional sobre Direitos Trabalhistas. A organização
tomou providências para abordar essas questões, mas muitos ainda dizem que
a IKEA merece as críticas que recebe e que sua falta de transparência torna
difícil dizer se ela está ou não abordando as questões da forma como deveria.
Contudo, a maior das críticas diz respeito a sua complicada estrutura, cuja
definição em si é nebulosa. O grupo IKEA é de propriedade da Stichting
INGKA Foundation, um truste holandês que reúne instituições de caridade
que, segundo a revista The Economist, em 2006 foi avaliado em US$36 bilhões;
isso o tornaria o maior truste do mundo entre os outros do mesmo tipo, maior
até mesmo que a Bill & Melinda Gates Foundation. Contudo, suas doações
a diferenciam da filantropia clara da Gates Foundation no sentido de que as
doações feitas pela Stichting INGKA Foundation são irrisórias se comparadas
a seus bens e sua receita. De maneira ainda mais confusa, a marca registrada e
a marca comercial IKEA são de propriedade da Inter IKEA Systems – outra
empresa holandesa –, e o imbróglio vai por aí afora; várias empresas holding
estão ligadas a trustes no Caribe, cujos beneficiários não precisam ser reve-
lados. Não é surpreendente que a IKEA se recuse a tocar nesse assunto. Em
2006, a revista The Economist escreveu:
Kamprad disse que uma das razões pelas quais ele preferiu não abrir o capi-
tal da empresa foi porque não queria se sentir responsável por pessoas de fora.
E ele não estava brincando.
Existem muitos outros esqueletos pessoais em seu armário. Em 1994, um
jornal sueco revelou que, entre os 16 e os 25 anos, Kamprad esteve envolvido
com um grupo sueco da extrema direita e que era amigo do líder do movimen-
to, Per Engdahl, simpatizante do nazismo, a ponto de tê-lo convidado para
seu primeiro casamento. Kamprad escreveu uma carta a todos os seus empre-
gados dizendo que aquilo havia sido um erro da juventude, e a família IKEA o
perdoou. E disse ainda: “Poucas pessoas cometeram tantos erros na vida como
eu.” Alguns sugeriram que sua imagem de frugal homem do povo também
talvez não seja exatamente o que parece. Kamprad é dono de um vinhedo e de
uma mansão na Suíça, onde mora sem pagar impostos. Na verdade, a despeito
de toda a conversa sobre a parcimônia dos escandinavos, há muito a IKEA
deixou de ser uma empresa sueca. Talvez o fato mais extraordinário sobre esse
homem sui generis seja que ele é alcoólatra confesso, embora de tempos em
tempos pare de beber para dar um descanso ao fígado e aos rins, e afirme que
tem esse problema sob controle. Ele diz: “Passo por um período de desinto-
xicação três vezes por ano. Meu problema começou quando visitei a Polônia
na década de 1960 para comprar materiais. Era quase obrigatório tomar uma
vodca com nossos contatos.” Ele diz que não tem planos de parar de beber
porque “beber é um dos prazeres da vida”.
Apesar de tudo, comparado a muitos gestores corporativos inexpressivos
de hoje, Kamprad é, sem dúvida, fascinante; e não há dúvida também de que
seu pessoal tem grande afeição por ele e pela extraordinária empresa que ele
construiu. O que acontecerá quando o homem que representa a personalida-
de da IKEA se for ainda é uma incógnita. Kamprad declarou que uma das
razões por trás da complexa estrutura acionária da empresa é evitar que se
formem feudos da família: “Paguei muito dinheiro para proteger o que cons-
truí. Só espero que esse dinheiro tenha sido bem gasto” (The Independent, 23
de julho de 2000).
Ingvar Kamprad 83
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Página deixada intencionalmente em branco
Capítulo 12
Oprah
É preciso ter um ponto de partida e escolhemos o talk show, pois esse foi o
caminho pelo qual Oprah Winfrey conquistou fama e fortuna. Mas ela é
muito mais que isso. Provavelmente, Oprah é a mulher mais poderosa dos
Estados Unidos ou até mesmo do planeta. Sua influência pode moldar as elei-
ções do país mais poderoso do mundo; seu talk show é o mais conhecido e o
que tem a maior audiência jamais registrada. Oprah é produtora e empresária
de um vasto império. De acordo com a revista Forbes, é a afro-americana mais
rica do mundo e, em determinada época, foi a única pessoa negra bilionária. E
mesmo com tudo isso, é absolutamente acessível; seu programa é visto todos
os dias por milhões de telespectadores e ela tem grande empatia com pessoas
comuns (às vezes seu público chega às lágrimas).
Nascida no Mississippi em 1954, é filha de uma adolescente solteira e de
um soldado, e cresceu em meio à pobreza e a privações, comuns no sul do país
naquela época. Seus pais se separaram logo depois que ela nasceu, e Oprah
conta que, quando criança, usava vestidos feitos de sacos e tinha baratas como
animais de estimação. Era realmente muito inteligente, pois antes dos 3 anos
aprendeu a ler com a avó. Quando estava com 6 anos, as circunstâncias, que já
eram ruins, tornaram-se ainda piores: ela e a mãe mudaram-se para um subúr-
bio pobre de Milwaukee. Lá, Oprah foi estuprada por um primo e por um tio,
e fugiu de casa aos 13 anos. Aos 14 ficou grávida, mas a criança morreu logo
após o nascimento.
Talvez de forma surpreendente, a sorte de Oprah mudou quando ela foi
morar com o pai, Vernon Winfrey, que acreditava na educação e na disciplina.
86 28 mentes que mudaram o mundo
que ainda está na casa dos 50 anos. Conforme observado por John Friedman
no site MarketWatch, “creio que Oprah tenha sonhos mais ousados do que
apenas ganhar outro bilhão de dólares”.
Estados Unidos, que era a parte mais desenvolvida do país, duas tendências
estavam se tornando populares. Uma era representada pelas lojas self-service
e a outra por lojas que ofereciam descontos, ou seja, adotavam a seguinte filo-
sofia: “Se a pilha estiver alta, venda barato.” Walton viajou pelo país para ver
como uma loja self-service funcionava e logo abriu a primeira loja desse tipo,
uma Ben Franklin, em sua área. É interessante observar que, embora Walton
fosse um dos primeiros a botar fé no sistema de autoatendimento, era a favor
de bons serviços. Um de seus famosos ditados, conhecido como “regra dos três
metros”, é que você deve dizer “Como posso ajudá-lo?” a qualquer cliente que
esteja no máximo a três metros de distância.
Walton estava também bastante interessado no sistema de descontos, já
amplamente adotado nas áreas metropolitanas do leste desenvolvido, e tinha
a convicção de que o sistema poderia funcionar em mercados rurais menores,
como o dele. Até então, essas áreas haviam sido ignoradas pelos grandes vare-
jistas, que achavam que as populações rurais eram pequenas demais e espalha-
das demais para que valesse a pena levá-las em consideração. Mas Walton ti-
nha uma crença diferente. Achava que se os descontos fossem compensadores,
todos esses clientes dispersos encontrariam o caminho até sua loja.
O problema era que a administração da Ben Franklin não compartilhava
o mesmo ponto de vista. Walton viajou até o escritório central da empresa,
que ficava em Chicago, apenas para ouvir que a administração não estava in-
teressada. Mas se sua visita a Windy City (apelido de Chicago) pouco fez para
persuadir os líderes da empresa, fez muito para reforçar a crença de Walton
de que ele estava certo. Enquanto estava em Chicago, visitou um dos pon-
tos de venda da cadeia Kmarts (outra grande cadeia americana de lojas que
ofereciam descontos) e isso o convenceu de que, mesmo sem o apoio de Ben
Franklin, estabelecer lojas desse tipo era o caminho a seguir. Assim, em 1962,
quando Walton estava no meio da casa dos 40, o Walmart propriamente dito
finalmente passou a existir. A primeira loja Walmart foi aberta em Rogers,
Arkansas. Por fim, Walton estava trilhando seu caminho.
Walton era adepto da filosofia “o comércio não é uma ciência inacessível”.
Suas famosas 10 regras para construir uma empresa (veja a relação adiante) re-
presentam, basicamente, o bom-senso. E esse foi o modelo que ele seguiu. Na
década seguinte, concentrou-se na área geográfica que conhecia e naquilo que
conhecia. O crescimento foi deliberado, não particularmente rápido, e se limi-
tou ao Arkansas e aos estados vizinhos. Foi dada ênfase nos relacionamentos
Sam Walton 97
Fez experiências com novos tipos de lojas, como depósitos para membros do
Sam’s Club (clube de compras do Grupo Walmart) e Supercenters.
Walton foi um homem que sempre enxergou mais além. Enquanto outros
varejistas disputavam as áreas metropolitanas, ele se concentrava em lugares
nos quais ninguém mais estava interessado, mas que eram de fácil acesso de
carro. Nesse sentido, ele poderia ser considerado o pai das compras fora da
cidade. Como Ray Kroc, farejava novos locais no ar, geralmente descobrindo
o melhor lugar para instalar suas novas lojas, depois comprando um pedaço de
terra do respectivo agricultor.
A despeito disso tudo, continuou a ser um homem simples, e esperava que
seu pessoal também fosse assim. Os escritórios de seus gestores eram simples,
sem nenhuma ostentação; poderiam ser considerados espartanos, o que in-
cluía a alta administração. E isso merece aplausos. Outras facetas da cultura
da empresa talvez sejam um pouco estranhas. Existe um “grito de guerra” da
empresa para os iniciantes:
Me dê um W!
Me dê um A!
Me dê um L!
Me dê um M!
Me dê um A!
Me dê um R!
Me dê um T!
De quem é o Walmart?
O Walmart é meu!
E o site do Walmart avisa: “Não fique surpreso se você ouvir nossos co-
laboradores recitando esse verso com entusiasmo na loja Walmart que você
frequenta.” Se isso parece um pouco inquietante, há muito mais abaixo da
superfície. O enorme êxito alcançado pela empresa causou muito escrutínio, e
muitos não gostaram do que veio à tona.
Sam Walton 99
Um artigo publicado pelo jornal The New York Times em 2005 é um bom
exemplo do tipo de acusação levantada contra o Walmart por seus detratores:
“Um memorando interno enviado ao conselho diretor do Walmart propõe
inúmeras formas de conter os gastos com assistência médica e outros benefí-
cios e, ao mesmo tempo, tenta minimizar os danos causados à reputação do
varejista. Entre as recomendações estão contratar um número maior de em-
pregados com carga horária semanal menor e desencorajar as pessoas que têm
problemas de saúde a trabalharem no Walmart.”
Além disso, embora a empresa alardeie seus preços baixos (onde mais você
compra uma calça Levi’s por menos de US$20?) e se identifique com as fa-
mílias trabalhadoras, muitos a veem como uma organização que intimida seus
fornecedores, particularmente em economias nas quais os salários são baixos.
E se ela está estimulando práticas trabalhistas duvidosas em outros países, em
seu país de origem é o grande vilão, expulsando do mercado as empresas pe-
quenas. Dizem os críticos que, quando é aberta uma loja Walmart, os centros
de compras das redondezas morrem e que, embora o Walmart com seus preços
baixos se retrate como amiga dos cidadãos da classe média, na verdade des-
trói a economia local e empobrece os membros da classe média. A empresa é
também doentiamente contra os sindicatos. Segundo os críticos, após levar
em consideração todos os fatores, na verdade o Walmart explora as pessoas
simples, e a única família americana que realmente se beneficia são os Waltons
que, a despeito de sua tão difundida imagem simples, estão entre as pessoas
mais ricas do mundo.
Talvez consciente de que tinha um problema de imagem, o Walmart em-
preendeu grande parte de sua expansão internacional sob outros nomes; no
Reino Unido, por exemplo, os consumidores fazem compras na Asda. Nesse
meio-tempo, mais precisamente em 2006, a empresa se retirou da Alemanha a
um custo de US$1 bilhão, e já havia saído da Coreia antes, no mesmo ano. Os
comentaristas disseram que grande parte da razão era que a cultura da empresa
não se adaptou muito bem nesses países e que os liberais alemães achavam suas
práticas excessivamente conservadoras e, particularmente na área trabalhista,
inaceitáveis.
Porém, embora não seja possível garantir que o Walmart conseguirá repe-
tir no resto do mundo o sucesso que fez nos Estados Unidos, sem dúvida as
lojas de Sam Walton exerceram tanta influência que mudaram a demografia
de um continente. E talvez seja também uma marca de seu êxito o fato de que
100 28 mentes que mudaram o mundo
os filhos de Sam Walton estejam entre as 10 pessoas mais ricas dos Estados
Unidos. Apenas Bill Gates, Warren Buffett e Larry Ellison são mais ricos.
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Walmart, Samuel Moore Walton, biografia, walmartstores.com
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Capítulo 14
Mary Kay Ash
e desempenhavam suas funções. Assim como muitas de suas ideias, seu perfil
e como ela o usava parecem mais em consonância com o início do século XXI
do que com a metade do século XX. Como uma iconoclasta, tinha amigos
que variavam de Laura Bush, Fannie Flagg, autora de Tomates verdes fritos, a
membros do time de futebol Dallas Cowboys. Para que você não pense que
ela se importava mais com o estilo do que com o conteúdo, vale mencionar
que seu pessoal a amava de verdade. Quando ela morreu, seus funcionários e
ex-funcionários formaram filas diante de seu caixão para lhe prestar homena-
gens, muitos chorando copiosamente. Eles admiravam seu desprendimento e
comentavam como ela havia mudado a vida deles. Para muitos, era como se
tivessem perdido um membro da família. Em geral, as primeiras palavras do
elogio eram: “Nós a adorávamos...”
Mary Kay, batizada Mary Kathryn Wagner, nasceu em 1918 em Hot
Wells, Texas, estação de veraneio que atualmente está sendo engolida pela
expansão da área urbana de Houston. Seus pais eram donos de um hotel-
restaurante de classe média. Quando Ash estava com 7 anos, o pai contraiu
tuberculose e passou a morar em um sanatório. A mãe vendeu o negócio e
a família mudou-se para Houston. Sua mãe trabalhava em um restaurante
em turnos de 14 horas e Ash ajudava nos serviços domésticos, cozinhando e
limpando a casa. A despeito das difíceis circunstâncias, a mãe exerceu uma
influência positiva sobre Mary Kay. Mesmo com a pesada jornada de trabalho,
encontrava tempo para incentivar a filha, dizendo-lhe constantemente que ela
poderia fazer qualquer coisa, desde que tivesse determinação. Ash costumava
mencionar isso como a fonte de sua autoconfiança: “As palavras de minha mãe
se transformaram no tema de minha infância e me acompanharam ao longo
de toda a minha vida.”
Ash era boa aluna, mas as circunstâncias não permitiram que ela cursasse
uma faculdade. Em 1935, casou-se com Ben Rogers, que era frentista, cantava
em uma banda local e trabalhava em uma rádio. O casal teve três filhos, mas
o casamento não durou muito. Ash declarou que desmoronou depois que Ro-
gers foi servir o exército. O casal se divorciou quando ele voltou da Segunda
Guerra Mundial. Ash afirmou que esse foi o pior período de sua vida, acres-
centando: “Eu me sentia um completo fracasso como mulher.” Além disso,
tinha três filhos para sustentar sozinha.
Começou a estudar Medicina na Universidade de Houston. Trabalhava
como secretária e conseguiu um emprego de meio período na Stanley Home
Mary Kay Ash 103
Products (SHP), empresa que vendia artigos de uso doméstico, como vassou-
ras e escovas de dentes. Atribui-se a essa empresa a origem dos chás de ven-
das (sendo os mais famosos as reuniões Tupperware). Ash participou de uma
convenção da SHP em Dallas que mudou sua vida. Nesse evento, a empresa
organizou um concurso para eleger a Rainha de Vendas e Ash conquistou
uma boa posição. No ano seguinte, foi eleita Rainha de Vendas. Passou a fazer
tanto sucesso, que deixou a diretoria da SHP irritada e, para cortar suas asas,
eles a transferiram para Dallas.
Em 1952, passou a trabalhar em uma empresa de vendas diretas, a World
Gifts. E o padrão se repetiu: em seu primeiro ano estava ganhando mais de
US$1 mil por mês, o equivalente a cerca de US$8 mil hoje e quatro vezes
mais que a média nacional. Mas a discriminação que ela enfrentara na SHP se
repetiu. Ash permaneceu na World Gifts por 11 anos e deixou a empresa por
uma série de razões. Uma delas foi que queria escrever um livro sobre negócios
com base em suas experiências, dirigido às mulheres. Outra foi que ela estava
cansada de ser preterida em favor de colegas do sexo masculino menos qua-
lificados. O site da empresa afirma que a última gota foi quando um homem
que fora contratado como seu assistente e por ela treinado foi promovido em
detrimento dela, passando a ganhar o dobro do que Ash ganhava na época.
Mais tarde ela diria:
Naquela ocasião aprendi que, enquanto os homens não acreditassem que as mu-
lheres eram capazes de fazer qualquer coisa, elas jamais teriam uma chance. Eu
sabia que me haviam sido negadas oportunidades de realizar meu pleno potencial
pelo fato de eu ser mulher. Esse não era um mero sentimento de autopiedade,
pois eu conhecia pessoalmente muitas mulheres que haviam sofrido injustiças
semelhantes.
O obituário de Mary Kay publicado pelo jornal New York Times menciona
que ela teria dito o seguinte a um amigo:
Em 1963, as forças sociais que hoje apoiam a igualdade financeira e jurídica das
mulheres não eram bem aceitas pela opinião pública. Mas havia uma empresa
que daria às mulheres todas as oportunidades que eu nunca tive. Não acredito que
Deus quisesse um mundo no qual a mulher teria de trabalhar 14 horas por dia
para sustentar a família, conforme fez minha mãe. Acho que Ele utilizou minha
empresa como veículo para dar uma chance às mulheres.
AP/Houston Chronicle (2010) Mary Kay Ash, cosmetics giant dead at age 83, 23 de
novembro
AP/St Louis Post-Dispatch, Cosmetics empire was started to offer women opportuni-
ties; company grew from sales force of 11 to 750,000 in 37 countries
Bodor, Jim, ‘We all loved her’: local associates recall legacy of Mary Kay Ash, Tele-
gram & Gazette, Worcester, MA
Dallas Morning News
Detroit Free Press (2001) Obituary, 23 de novembro
Gross, Daniel (1996) Forbes Greatest Business Stories of All Time, pp 232–45
Site de tributo a Mary Kay, marykaytribute.com
Site de tributo a Mary Kay, biografia, www.marykay.com
Nemy, Enid (2001) Mary Kay Ash, builder of a beauty empire, dies at 83, New York
Times, 24 de novembro
Capítulo 15
Bill Gates
Por mais estranho que pareça, talvez devido exatamente à sua generosi-
dade, nem Gates nem sua empresa têm a afeição do público, disputada por
seus dois rivais, a Apple e o Google. Na verdade, enquanto a comunidade
de tecnologia espera ansiosamente pelos lançamentos da Apple e do Google,
sua relação com a Microsoft é mais de ódio do que de amor. Os geeks pare-
cem fazer grandes esforços para depreciar os produtos da MS e estão sempre
procurando defeitos neles. Na opinião da empresa, o propósito das críticas é
diminuir a concorrência. As práticas monopolistas da MS permitem que ela
ofereça produtos caros, com preços exagerados e tecnologia mediana, mas os
consumidores não têm outra escolha senão comprá-los, pois mais de 90% dos
computadores rodam com software da Microsoft. De acordo com essa linha de
raciocínio, quando uma oportunidade real aparece, a MS esmaga os concor-
rentes. E não se trata apenas dos consumidores. A Microsoft vem sendo alvo
de muitas críticas por parte de governos – em geral porque é vista como uma
empresa anticompetitiva e monopolista.
Embora as pessoas raramente desgostem de Bill Gates como pessoa, não
há dúvida de que a centelha de Steve Jobs (ou de Richard Branson) falta a Bill.
Ele é um homem rico, porém não é carismático. Contudo, a despeito do que
pensem da MS, as pessoas continuam comprando seus produtos e a empresa
representa uma grande força (mesmo que não muito amada) no mundo da
tecnologia e dos negócios.
Gates nasceu em 1955 em Seattle, Washington. Sua família era rica e ele
teve uma infância confortável. O pai era um advogado bem-sucedido, enquan-
to a mãe ocupava um cargo influente em uma organização sem fins lucrativos,
a United Way. Dizia-se que provavelmente William H. Gates III seguiria
os passos do pai. Gates mostrou sinais de sua inteligência precocemente e os
pais o matricularam em um colégio caro, o Lakeside School. Lá conheceu
Paul Allen, dois anos mais velho que ele, e os dois ficaram fascinados com o
teletipo da escola que, na verdade, não passava de um computador bastante ru-
dimentar. Aos 17 anos, Gates já vendera seu primeiro software (um programa
mostrando uma tabela de horários para sua escola) e recebeu US$4.200 pelo
trabalho.
Uma precoce proeza acadêmica foi uma prova das coisas que o futuro reser-
vava. No SAT – teste de conhecimento exigido para entrar em curso superior
nos Estados Unidos, cuja nota máxima era 1.600 – Gates alcançou 1.590 e foi
estudar na Universidade de Harvard. Lá fez amizade com Steve Ballmer, um
Bill Gates 109
colega que anos mais tarde iria sucedê-lo como CEO da Microsoft. No final
de 1974, Allen, que deixara a universidade e trabalhava como programador da
Honeywell em Boston, leu um artigo na revista Popular Electronics sobre um
microcomputador denominado Altair, um dos primeiros do mundo. Vendi-
do por US$350, estava ao alcance das pessoas comuns. A MITS, fabricante
desse computador, sediada no Novo México, estava convidando os leitores da
Popular Electronics para desenvolverem uma linguagem de programação para
ela. Gates e Allen contataram a MITS e disseram que tinham desenvolvido
uma versão do Basic (a primeira linguagem de programação fácil de usar). Na
verdade, eles não tinham desenvolvido essa linguagem, mas como a empresa
demonstrou interesse a dupla superou todas as dificuldades e fez sua afirmativa
se tornar verdadeira. Quando apresentaram o software para a MITS no Novo
México, a empresa ficou tão satisfeita que fez de Allen seu vice-presidente.
Nessa época, Gates afastou-se temporariamente da universidade, juntou-
-se a Allen no Novo México e a dupla passou a chamar seu empreendimento
conjunto de Micro-Soft. Gates retornou a Harvard pouco tempo depois, mas
acabou deixando a universidade definitivamente no final de 1976. Nesse ano,
eles registraram a marca Microsoft, tornaram-se independentes da MITS e
começaram a contratar mão de obra. No fim de 1978, a receita da empre-
sa ultrapassava US$1 milhão. No início de 1979, transferiram a matriz para
Washington, que ficava perto da terra natal dos sócios. Em 1980, Steve Ball-
mer passou a ocupar o cargo de gerente administrativo.
Em 1980, a IBM pediu a Gates para fornecer um intérprete do Basic para o
computador que pretendiam lançar, o PC da IBM, que é o avô de praticamen-
te todos os computadores comuns da atualidade. A IBM precisava também de
um sistema operacional e, depois que as discussões com outra empresa abor-
taram, a Microsoft concordou em fornecer o que a IBM queria. Para tanto, a
MS licenciou um sistema operacional denominado 86-DOS, escrito por Tim
Paterson da Seattle Computer Products. Para ser usado nos equipamentos da
IBM, o sistema foi rebatizado como PC-DOS. Mais tarde, a Microsoft viria a
adquiri-lo por inteiro. Foi a essa altura que a MS deu uma guinada inteligente
e superou completamente a IBM. Na verdade, a negociação da MS causou
impacto desastroso na IBM como um todo e resultou em uma das grandes
mudanças de poder no setor, que passou das mãos dos fabricantes de hardware
para os desenvolvedores de software. Há quem diga que essa foi apenas mais
uma das grandes mudanças do setor.
110 28 mentes que mudaram o mundo
P ara aqueles que estiverem interessados, a primeira coisa que David Ogilvy
escreveu como profissional ainda está disponível na Web. Começa com o
recôndito título Theory and practice of selling the Aga cooker, escrito em 1935,
quando ele tinha cerca de 25 anos e trabalhava como vendedor em uma tradi-
cional empresa do Reino Unido que atuava no ramo de fogões. Naturalmente,
como o artigo foi escrito há muitos anos, está repleto de ridículos erros machistas
que são, ao mesmo tempo, divertidos. Ainda assim é uma leitura persuasiva e
convincente, mesmo 75 anos depois que o artigo foi publicado, e inclui linhas
memoráveis. Eis um exemplo: “O bom vendedor alia a tenacidade de um buldo-
gue à delicadeza de um spaniel.” Certa vez a revista Fortune publicou a seguinte
frase sobre o trabalho: “O melhor manual de vendas já escrito.”
Grande parte dos anúncios modernos baseia-se nos ensinamentos de Da-
vid Ogilvy e em seus conceitos. Muitos logotipos, slogans e símbolos de mar-
cas devem sua existência a Ogilvy e à agência por ele fundada. Entretanto,
estava longe de ser um publicitário típico. Em um setor famoso por sua rudeza
e cinismo, ele demonstrava um comportamento completamente oposto. Na
verdade, sua maior percepção foi entender que os consumidores podiam ser
inteligentes e não deviam ser tratados como um bando de idiotas. Ele desde-
nhava a ideia de que a publicidade era uma espécie de arte criativa, e era franco
a respeito de seu trabalho como vendedor. (Dizia: “Se o produto não vende é
porque carece de criatividade” e “Não considero a propaganda um entreteni-
mento ou uma forma de arte, mas um meio de informação”.) No entanto, seus
anúncios diziam respeito a ideias, e ele criou um número incontável deles (mas
116 28 mentes que mudaram o mundo
nunca se entendeu muito bem com a televisão). Ogilvy era instruído, tinha
vasta cultura, era vivaz e sagaz. Na verdade, raramente abria a boca sem que
dela saísse alguma piada.
Uma de suas mais famosas citações (e ele era bastante afeito a elas) era: “O
consumidor não é um retardado mental, é sua esposa.” Outros grandes ditados
seus: “Jamais publique um anúncio que você não gostaria que fosse visto por
sua família” e “Diga a verdade, mas torne-a fascinante”. Era também famoso
por usar os produtos que anunciava, fossem eles Rolls Royces ou camisas. Des-
crevia esse comportamento como “boas maneiras elementares”. Até mesmo
abria mão de contas quando sentia que deixara de acreditar no produto.
David Ogilvy nasceu em West Horsley, não muito distante de Londres,
em 1911. O pai era corretor de ações cujos negócios tinham sido seriamente
afetados pela retração econômica da década de 1920. Em consequência disso,
a criação de Ogilvy talvez possa ser mais bem caracterizada por uma pobreza
relativa. Ele frequentou a St. Cyprian’s School, Eastbourne, e gozava de um
desconto nas mensalidades antes de ganhar uma bolsa de estudos da Faculda-
de de Fettes, Edimburgo (a mesma escola frequentada por Tony Blair), aos 13
anos. Mais tarde, em 1929, ganhou uma bolsa de estudos para a Universidade
de Oxford, onde foi estudar história na Christ Church University. Contudo,
a vida de estudante não lhe agradava. Ele descreveu a si mesmo como “fracas-
sado” e depois de certo tempo foi convidado a deixar a faculdade por ser pre-
guiçoso. Mais tarde ele descreveu esse episódio como “o verdadeiro fracasso da
minha vida”. Em 1931, mudou-se para Paris, onde conseguiu um emprego no
Hotel Majestic, que durou um ano. Dizia que o emprego lhe ensinara discipli-
na e administração, e também o momento certo para mudar de emprego. “Se
eu tivesse continuado naquele emprego teria enfrentado anos de um salário
aviltante, pressão perversa e perpétua exaustão.”
Assim, Ogilvy voltou para a Inglaterra, onde começou a vender o fogão
Aga de porta em porta. Era, segundo consta, excelente vendedor. Essa quali-
dade foi observada pelo centro de operações da Aga e, em 1935, a direção da
empresa lhe pediu que escrevesse um manual de instruções para os outros ven-
dedores. O irmão de Ogilvy, que trabalhava no setor de publicidade da Mather
& Crowther, leu o manual e ficou impressionado. Essa foi a primeira grande
sacada de Ogilvy. Seu irmão mostrou o manual aos colegas, e o resultado foi
que Ogilvy recebeu uma proposta para ocupar o cargo de Executivo de Contas.
Ogilvy mostrou um vislumbre de sua genialidade quando lhe pagaram apenas
David Ogilvy 117
tempo tão curto”, acrescentando que a agência era “tão competente que conse-
guir clientes era como pescar em um barril”.
Talvez em virtude de sua vaidade, alguns diziam que sua maior criação era
ele mesmo. Contudo, conforme diziam também, sua imodéstia tinha razão
de ser. Era um escritor extremamente perspicaz, e combinava os modos e a
excentricidade britânica à disposição dos americanos para o trabalho e tinha
aversão ao orgulho que sentia de seu empreendimento. Sua aparência física era
marcante – alto e ruivo, vestia-se com estilo e fumava cachimbo. Diante de
tudo isso, seria um ego exagerado uma coisa tão ruim? No início da década de
1960, Ogilvy decidiu escrever um livro. Era um manual dirigido àqueles que
estavam se iniciando no ramo. Com seu dom para inventar títulos sugestivos,
ele deu ao livro o título Confissões de um homem de propaganda. Com sua prosa
ligeira e o nome sugestivo, o livro atingiu um público que ia muito além da
Madison Avenue. A tiragem inicial foi de 5 mil cópias, mas até hoje vendeu
mais de um milhão de cópias e ainda é considerado leitura obrigatória para os
que trabalham no setor. Escreveu dois outros livros.
Trinta e três anos após fundar sua agência, ele escreveu o seguinte memo-
rando a outro diretor:
Será que alguma agência contratará este homem? Ele tem 38 anos e está desem-
pregado. Não terminou a faculdade. Já foi cozinheiro, vendedor, diplomata e
agricultor. Não entende nada de marketing e nunca escreveu sequer um anúncio.
Confessa que está interessado na carreira de publicitário (aos 38 anos!) e disposto
a trabalhar ganhando US$5 mil por ano. Duvido que alguma agência americana o
contrate. Contudo, uma agência londrina o contratou. Três anos mais tarde, ele se
tornou o mais famoso redator de anúncios do mundo e na hora apropriada fundou
uma das 10 maiores agências de propaganda do mundo. Moral da história: às vezes
vale a pena uma agência ser imaginativa e não hortodoxa em suas contratações.
presidente não executivo, posição que ocupou por três anos. Um ano depois
Ogilvy declarou: “Quando Sorrell tentou encampar nossa empresa, tive von-
tade de matá-lo. Mas era contra a lei. Eu gostaria de tê-lo conhecido 40 anos
atrás. Mas hoje gosto muito dele.” Ogilvy disse que enviara a Sorrell a única
carta de desculpas que escrevera na vida, e diz-se que mais tarde ele a pregou
na parede de seu escritório.
David Ogilvy faleceu no dia 21 de julho de 1999 em sua casa na França.
Morreu antes de sua terceira esposa, Herta Lans, e do filho, David Fairfield
Ogilvy, de seu primeiro casamento. Mas seu nome sobreviveu no nome da
agência por ele fundada e em sua enorme influência sobre a propaganda. Além
disso, graças ao show da televisão Mad Men e a seu foco naquele período de
formação, pode-se dizer que o interesse por Ogilvy renasceu nos dois últimos
anos.
Segundo muitos relatos, Whitman era uma chefe para quem valia a pena
trabalhar e, segundo contam, além de cumprir suas obrigações, ela fazia o
máximo para ajudar seu pessoal. Também era muito elogiada porque ganhava
um salário relativamente modesto, embora deva ser observado que ela detém
1,9% do capital acionário da empresa, o que a torna uma das poucas mulheres
bilionárias do mundo que venceram pelo próprio esforço.
O eBay foi fundado por um francês com ascendência iraniana, Pierre Omi-
dyar. Aos 6 anos, ele se mudou com os pais para os Estados Unidos e logo
mostrou interesse por computadores. Após estudar ciência da computação,
passou a trabalhar na Claris, uma subsidiária da Apple, antes de se tornar em-
presário na área de tecnologia e, com um sócio, fundar sua própria empresa.
Em 1995, aos 28 anos, ele teve a ideia do eBay e escreveu o código original
durante o feriado prolongado em comemoração ao Dia do Trabalho nos Esta-
dos Unidos. Lançou o site em 1995 com o sugestivo nome de “Auction Web”.
No início, Omidyar pretendia registrar o site com o domínio Echobay.com,
mas o nome já havia sido registrado por uma empresa de mineração local.
Diante disso, optou por eBay.com, sua segunda escolha. O Auction Web era
tão pequeno que representava apenas uma parte do site pessoal de Omidyar,
que hospedava, entre outras coisas, uma página de informações sobre o vírus
Ebola.
É errado pensar que o eBay foi fundado para ajudar a noiva de Omidyar
a trocar porta-balas Pez, mas esse foi um estratagema publicitário concebido
em 1997. O fato é que Omidyar fundou o site porque estava interessado na
ideia de um mercado global. A primeira venda do Auction Web – na verdade,
Omidyar estava apenas testando seu site – foi um apontador a laser quebrado,
vendido por US$14,83. Omidyar ficou tão surpreso que ligou para o compra-
dor para explicar que o objeto não funcionava. Então ele descobriu, estarreci-
do, que encontrara um homem que colecionava apontadores a laser quebrados.
No início, o site não cobrava nenhuma taxa, mas depois passou a cobrar para
contrabalançar seus custos de hospedagem. A estrutura de cobrança era muito
simples: 35 centavos para listar o produto e um pequeno percentual sobre o
preço final alcançado na venda.
Em 1995, Omidyar contratou seu primeiro funcionário para ajudá-lo com
as operações rotineiras do site. Seis meses após o lançamento, o eBay já era
lucrativo, feito notável em um ambiente de negócios no qual muitas vezes a
lucratividade parecia uma miragem imprecisa. No ano seguinte, ele contratou
Meg Whitman 125
Jeff Skoll e deixou seu emprego diurno. Skoll foi o autor do plano de negócios
que resultaria no rápido crescimento inicial da empresa. Em 1996, o site hos-
pedava 200 mil leilões e a receita mensal montava a US$10 mil. Em janeiro
de 1997, o número relativo aos leilões era de dois milhões. No mesmo ano,
o nome Auction Web foi abandonado, a empresa foi rebatizada com o nome
eBay e tiveram início as famosas pontuações com estrelas. No final do ano, o
total das vendas montou a US$95 milhões e o site tinha 341 mil usuários. A
grande oportunidade chegara, e o site precisava de um CEO profissional com
longa experiência.
Antes de Meg Whitman ingressar no eBay, sua história era o exemplo típi-
co da vida de uma profissional bem-sucedida da classe média alta. Ela nasceu
em 1956 no condado de Oyster Bay, Long Island, no estado de Nova York,
e era a mais jovem de três irmãos, tendo crescido em Cold Spring Harbor.
O pai administrava uma instituição de empréstimos e ela cresceu cercada de
conforto – na mesma área em que é ambientada a obra de Scott Fitzgerald, O
grande Gatsby. Os Whitmans se relacionavam com os brâmanes de Boston, os
WASPs (White, Anglo-Saxon and Protestant – Protestantes Anglo-Saxões
Brancos), a elite da cidade. Whitman frequentou as melhoras escolas locais e
era aluna excelente, destacando-se também nos esportes. Em 1973, ingressou
na Universidade de Princeton, onde pretendia estudar Medicina. Como não
era muito boa em química, acabou graduando-se em Economia e depois foi
para a Faculdade de Administração de Harvard. Seu grupo de colegas era for-
mado por jovens ilustres, alguns dos quais ingressaram na PepsiCo, na Staples
e na Bolsa de Valores de Nova York ocupando cargos executivos. Nessa época,
ela conheceu um estudante de Medicina que se tornou seu esposo, três anos
mais tarde.
Após obter o MBA, ela ingressou na Procter & Gamble, na divisão de
estabelecimento de marcas para o consumidor. Esse emprego não durou mui-
to, pois o marido fora convidado para fazer residência em neurocirurgia na
Universidade da Califórnia. Ela conseguiu um emprego na empresa de con-
sultoria Bain & Co, contratada por Mitt Romney, que, embora republicano
e mórmon, mais tarde se tornaria governador de Massachusetts (de 2003 a
2007) e rival do presidente nas eleições de 2008. Ela ficou oito anos na Bain e
depois trabalhou em várias empresas, exercendo diversas funções, entre elas a
de consultora. Tornou-se mãe e ocupou também um cargo sênior na área de
marketing na Disney.
126 28 mentes que mudaram o mundo
eBay
Ao longo dos anos, o eBay vem comercializando os mais disparatados produtos, como
um jato de combate Hornet F/A-18 (a chamada “compre-o agora por US$9 milhões”
não emplacou), uma das Ilhas Virgens americanas, uma tuneladora, a placa original de
Hollywood e uma cidade da Califórnia. Embora essas coisas possam parecer brincadeira,
muitas organizações, de governos a empresas, acharam o site uma forma eficaz de se
desfazer de artigos de difícil troca.
O site tem também um lado bastante fútil e é excelente para publicidade no estilo
dos tabloides. Entre os itens que já foram vendidos, podemos citar um único floquinho de
milho, uma couve de Bruxelas e um sanduíche de queijo grelhado comido pela metade
ostentando uma imagem da Virgem Maria. Provando que um alcance global significa um
mercado global de babacas, o sanduíche alcançou US$28 mil. Até mesmo várias jovens
já tentaram leiloar sua virgindade no eBay.
Mas, para alguns, os sites de leilões on-line são um negócio muito sério e o eBay é,
decididamente, essa coisa pós-moderna – uma empresa que hospeda muitas centenas
de negócios. No final de 2010, o site registrava 127 tipos de negócios, com faturamento
acima de um milhão de libras só no Reino Unido.
128 28 mentes que mudaram o mundo
Brown, Erika (2007) What would Meg do? eBay’s Meg Whitman does things the
right way, Forbes Asia, 21 de maio
Dillon, Patrick (2004) Peerless leader: perceptive, adaptable, and remarkably low-key,
eBay chief executive Meg Whitman rides e-tail’s hottest segment – the global
garage sale called peer-to-peer, Christian Science Monitor, 10 de março
Holson, Laura M (1999) eBay’s Meg Whitman explores management, Web Style, 19
de maio
Sunday Times (2010) Profile: Meg Whitman, 13 de junho
Página deixada intencionalmente em branco
Capítulo 18
Mark Zuckerberg
Mais tarde, Zuckerberg foi estudar em Harvard. Seu interesse pela área
de programação aumentou, estendendo-se para a área de software para redes
sociais. Em 2003, criou o Facemash, movido por seu lado um tanto perverso
– que hoje parece ter sido amenizado por uma garota. O Facemash era basi-
camente uma versão doméstica do site Hot or Not (onde os usuários classi-
ficavam as fotos das pessoas com base em sua atração física). Para conseguir
essas fotos, Zuckerberg invadia a rede de Harvard e extraía fotos da carteira
de identidade dos alunos. O site era popular – tão popular que prejudicava os
servidores da universidade. Contudo, ao saberem do fato, as autoridades de
Harvard não acharam a menor graça. Fecharam o site, e Zuckerberg foi amea
çado de expulsão, da qual acabou se livrando.
Zuckerberg continuou burilando diferentes ideias em torno do tema e, no
início de 2004, o resultado de suas elucubrações foi o Facebook. Em apenas
duas semanas, metade dos alunos de Harvard havia se inscrito. No início, o
site era destinado apenas aos alunos de Harvard, mas em poucos meses passou
a aceitar estudantes de Stanford, Columbia e Yale. Pouco tempo depois, foi
aberto a toda a Ivy League (grupo de faculdades e universidades americanas de
altíssimo nível acadêmico) e a universidades de todo o continente americano.
Em 2005, a empresa comprou o nome de domínio Facebook por US$200 mil
e descartou o “The”. Várias escolas e algumas empresas se inscreveram e, em
2006, o site foi aberto para qualquer pessoa que tivesse mais de 13 anos. O trá-
fego explodiu. Em 2008, o site registrou a marca de 100 milhões de membros.
Em 2009, esse número saltou para 200 milhões, passando para 300 milhões no
mesmo ano. Em meados de 2010 havia ultrapassado meio bilhão.
Em setembro de 2009, a empresa declarou que saíra do vermelho. Grande
parte de sua receita provém de anúncios, incluindo uma negociação exclusiva
com a Microsoft, que detém 1,3% das ações da empresa (Zuckerberg detém
24%); uma fatia menor vem da receita de lembranças vendidas pelo Facebook
(recurso que permite que os membros troquem lembranças virtuais). A empre-
sa esperava fazer sua IPO em 2011, embora um recente relatório da Bloom-
berg afirme que 2012 é a data mais provável.
No entanto, mesmo sem a IPO, o site e seu fundador e CEO estão sem-
pre nas manchetes. O Facebook tem sido alvo de crescente tiroteio por parte
daqueles que se preocupam com a privacidade e com a liberdade do cida-
dão, bem como com a vasta quantidade de informações sobre seus membros
que o Facebook captura. Essas queixas se intensificaram em 2006, quando
Mark Zuckerberg 133
subsidiados pelo governo, estão entre os lugares mais inóspitos do mundo de-
senvolvido e não podem ser comparados, nem de longe, ao utópico conceito eu-
ropeu sobre habitação social. Quando Schultz tinha 6 anos, o pai, que trabalhava
como motorista de um serviço de reciclagem de fraldas, fraturou a bacia e, como
resultado, perdeu o emprego. Nos Estados Unidos da década de 1950, época
em que os direitos dos trabalhadores eram poucos e a rede de segurança social
quase inexistente, a ocorrência de um acidente desse tipo poderia significar que
a pessoa acidentada não teria condições de sustentar a família. Durante sua in-
fância e adolescência, a pobreza – muitas vezes brutal – teve profundo efeito
sobre Schultz. Certa vez ele disse: “A motivação que tenho é, de certa forma, o
medo do fracasso. Eu não queria continuar a viver daquele jeito. Queria tentar
construir uma empresa que não deixasse as pessoas desamparadas.”
Schultz seguiu um caminho projetado para sair da miséria. Tornou-se atleta
e se sobressaiu nos esportes, particularmente no futebol americano. Era zagueiro
do time da escola e ganhou uma bolsa para a Northern Michigan University.
Estudou comunicações, formando-se em 1975. Depois de formado, trabalhou
três anos na Xerox, no departamento de vendas e marketing. Em 1979, passou
a trabalhar na Hammarplast, empresa sueca fabricante de artigos domésticos,
ocupando o cargo de vice-presidente e gerente-geral. A Starbucks, naquela épo-
ca um varejista que trabalhava com café em grão, era cliente da Hammarplast e,
em 1981, Schultz visitou a Starbucks. Ficou impressionado com o que viu e, um
ano mais tarde, ingressou na empresa como diretor de marketing.
Em 1983, Schultz visitou a Itália, e a viagem o surpreendeu. O país abrigava
um número impressionante de bares que serviam café expresso – algo em torno
de 200 mil pontos – para um país que tinha menos de 60 milhões de habitan-
tes. Ele ficou bem impressionado com os elegantes italianos saboreando café
expresso ou cappuccino e com a forma como esses estabelecimentos funcionavam
– como verdadeiros points por onde as pessoas passavam, encontravam amigos
e batiam papo. Schultz achou que algo parecido poderia funcionar em Seattle.
Ao voltar, conseguiu persuadir os proprietários da Starbucks a abrirem um café
experimental que vendesse bebidas expressas. Eles assim o fizeram e a coisa fun-
cionou, mas Schultz não conseguiu convencê-los a levar a experiência adiante.
Ele acreditava suficientemente em sua ideia para deixar a empresa e encon-
trar um rival, a Il Giornale. Em 1987, os proprietários da Starbucks decidiram
vender a empresa, pois pretendiam se concentrar em outra marca – a Peet’s
Coffee & Tea (a empresa continua operando, embora com pouco menos de
Howard Schultz 137
200 pontos no varejo, ao passo que a Starbucks tem 17 mil). Schultz comprou
a Starbucks e iniciou sua trajetória. No final da década de 1980, a rede tinha 50
cafés na área de Seattle, e Schultz tentava levantar capital junto a investidores
locais para expandir o negócio. Logo percebeu que havia um obstáculo: para
atingir seu objetivo precisaria da força financeira de bancos mercantis.
Em 1991, Dan Levitan, que dirigia o escritório de Los Angeles da Wer-
theim Schroder & Co, foi convencido a fazer uma visita à Starbucks. Saiu de
lá mais sensibilizado do que com qualquer outro sentimento. Disse que a Star-
bucks “era mais um sonho que uma empresa” e, embora achasse a consideração
de Schultz por seu pessoal (opções de ações e assistência médica para todos)
uma atitude louvável, “foi uma espécie de reunião pro forma”.
Schultz, com seu poder de persuasão, conseguiu convencer Levitan que a
Starbucks era mais que um agradável café. Em seu livro Dedique-se de coração:
Starbucks Coofee (1998), Schultz diz: “Perguntei: ‘Você sabe qual é o proble-
ma de sua empresa? [banco de investimento]?’ Dan [Levitan] armou-se para
receber uma séria acusação ao setor de bancos de investimento. ‘Não, qual?’,
perguntou cautelosamente. ‘Não existem pessoas confiáveis’.”
Foi uma jogada ousada, mas valeu a pena. Levitan investiu uma parte de
seu próprio dinheiro na cadeia recém-criada. E o que foi também da máxima
importância, embarcou na ideia de Schultz. Um ano mais tarde, a empresa,
juntamente com a Alex, Brown & Sons, subscreveu a oferta pública inicial
(IPO) da Starbucks. Naquela época, as ações eram oferecidas a US$17 e a or-
ganização tinha 193 lojas. Isso permitiu que Schultz tivesse acesso ao dinheiro
de que precisava para realizar seu sonho: transformar a Starbucks de uma ca-
deia regional em uma rede internacional.
No decorrer da década de 1990, a Starbucks espalhou-se pelo país todo
e iniciou sua expansão pelo resto do mundo. Em 2000, tinha cerca de 3.500
cafés; em 2008, mais de 15 mil em 43 países.
Mas logo a empresa descobriu que, embora seja fácil ser pequena e sim-
pática, quando existe uma Starbucks em cada esquina as pessoas fazem uma
ideia completamente diferente de você. O produtor da série de televisão
Os Simpsons reconheceu isso logo cedo, em sua temporada de 1997/98, quando
a série apresentou um episódio no qual Bart coloca um piercing na orelha. Ao
caminhar pelo shopping, ele passa por várias Starbucks. Quando finalmente
chega à loja In and Out Piercing, o funcionário diz: “Bem, é melhor a gente
fazer logo. Dentro de pouco tempo este lugar será uma Starbucks.” Mais tarde,
138 28 mentes que mudaram o mundo
quando Bart faz uma tatuagem, ele sai do shopping e descobre que todas as
lojas são Starbucks.
Contudo, para fazer justiça a Schultz é preciso dizer que ele não abriu
mão de criar uma empresa que tratasse bem seu pessoal. A despeito de seu
porte gigantesco, a Starbucks continua a oferecer assistência médica a qual-
quer colaborador que trabalhe mais de 20 horas por semana. Seus funcionários
continuam a receber opções de ações, têm plano de pensão e inúmeros outros
benefícios, incluindo meio quilo de café por semana. No todo, é um pacote
bastante razoável, particularmente para o que é, em essência, um emprego
modesto no setor de serviços. Não é de admirar que muitos funcionários da
Starbucks adorem a empresa para a qual trabalham, e às vezes essa adoração
chega a parecer um culto. Em seu livro lançado em 2006, A estratégia Star-
bucks, Joseph Michelli conta a extraordinária história de um gerente regional
que diz: “Canto enquanto limpo os banheiros e faço outros tipos de limpeza.”
Conforme os funcionários dizem, eles se sentem comprometidos.
Schultz abdicou do cargo de CEO em 2000 e passou as rédeas a Orin Smith,
mas permaneceu como presidente. Enquanto Smith era responsável pelas ope-
rações rotineiras da Starbucks, ele decidiu fazer uma tentativa de dar vida nova
a um time profissional de basquete. Comprou o Seattle SuperSonics em 2001,
e a ideia era transformar o time em empresa. Mas a coisa não funcionou dessa
forma. Em 2006, ele vendeu a equipe para um consórcio de investidores, que a
transferiu para Oklahoma. Não é exagero dizer que muitos fãs do SuperSonics
em Seattle passaram a odiar Schultz por ele ter feito isso. Um colunista es-
portivo da ESPN escreveu o seguinte sobre a tentativa frustrada empreendida
por Schultz de transformar o time: “Ele ficou possesso, tornou-se amargo e
insanamente provocador, como uma criança petulante” (Hughes, 2006).
Mas se sua tentativa no campo esportivo não deu certo, pelo menos a Star-
bucks estava indo de vento em popa. De meados ao final de 2006, as ações da
Starbucks foram negociadas pouco abaixo de US$40. Na IPO, o preço das
ações foi de US$17. Sendo assim, houve cinco splits (veja a nota de rodapé
na página 110) de dois para um nas ações, representando um crescimento do
capital em torno de 7.500%. Mas a situação não durou muito. Em outubro
de 2006, a empresa, então com Jim Donald no comando, viu o preço de suas
ações declinar, o que se estenderia por dois anos, chegando a menos de US$8.
Estava claro que alguma coisa precisava ser feita. Em janeiro de 2008, Schultz
assumiu o cargo de CEO, declarando aos analistas: “Assim como fomos nós
Howard Schultz 139
que criamos esse problema, somos nós que vamos resolvê-lo.” Mas mesmo o
retorno de Schultz não foi uma solução imediata: o preço das ações só parou
de cair no final de 2008.
Foi um tempo difícil para as lojas porque, enquanto a sensação de bem-estar
e o luxo do dia a dia estavam em perfeita sintonia com os costumes do início
da década de 2000, eram totalmente incongruentes com as sombrias notícias
econômicas do final da década. Muitos começaram a achar que a marca era,
conforme publicado no jornal Financial Times (2010), “uma perfeita represen-
tação do excesso de superficialidade de uma era ultrapassada”. Mas havia outros
problemas. A indiscutível posição da empresa como um lugar para saborear um
excelente café estava sendo alvo de ataques, tanto por parte dos já mencionados
como dos que vêm a seguir. Sofisticadas cadeias iam em busca dos apreciado-
res do café gourmet que sempre torciam o nariz diante das ofertas da empresa.
Enquanto isso, organizações como o McDonald’s tinham constatado que as
margens relativas à bebida – mesmo um café de primeira linha – eram conside-
ráveis e que poderiam oferecer preços significativamente mais baixos que os da
Starbucks, servir um bom café e ainda assim ganhar dinheiro. O McDonald’s
passou a adotar essa política, e nunca a galhofa de que a Starbucks não passava
de um McDonald’s metido a besta pareceu tão afiada. Schultz, diga-se de pas-
sagem, tinha consciência disso. Em 2007, um de seus memorandos vazou com o
seguinte conteúdo: “Ao longo dos últimos 10 anos, a fim de crescer, desenvolver
e atingir a escala necessária para passar de menos de mil lojas para 13 mil ou
mais, tivemos de tomar uma série de decisões que, em retrospecto, levaram ao
enfraquecimento da experiência da Starbucks e ao que alguns poderiam chamar
de transformação da marca em uma commodity.”
A pergunta era: será que Schultz conseguirá restaurar a magia da expe
riência da Starbucks do início dos anos 2000? Com certeza ele queria. Algu-
mas frases extraídas dos memorandos que ele escreveu após retomar as rédeas
refletem a sensibilidade corporativa da marca da empresa:
a crítica à Starbucks que dói mais que qualquer outra é que seu café não é
tão bom assim e que é caro demais. Schultz pode ter se inspirado na cultu-
ra italiana em termos de café, mas se ele tentasse servir seu café no berço
do expresso as pessoas caçoariam dele. Outros colocam a coisa de forma
mais diplomática, observando que há pouco espaço para a empresa penetrar
no mercado italiano. Pesquisa realizada no Reino Unido pela publicação
Which?, em 2008, confirmou que a Starbucks ocupa uma posição inferior
entre as cadeias do país, e descreve seu café como de má qualidade e exces-
sivamente caro. Foi observado também que, em geral, suas bebidas são ricas
em calorias. Em resumo, conforme dito por um sarcástico blogueiro, o café
da Starbucks lembra mais um sorvete morno do que o tradicional expresso
italiano que o inspirou. A Starbucks talvez seja uma porta de entrada para o
café gourmet, mas está longe de ser o destino final.
Sem dúvida, a Starbucks continua a ser uma grande marca, mas agora
precisa amadurecer. Sua vantagem como pioneira se foi, e ela é assediada
por todos os lados por concorrentes muitas vezes mais espertos, que cobram
preços mais baixos ou ambas as coisas. Precisa conquistar novos clientes e
lidar com paladares mais refinados, sem se desviar de seu objetivo principal.
Em resumo, sua batalha é semelhante àquela enfrentada pelas grandes redes
de alimentos e bebidas, para a qual não há uma solução fácil. A Starbucks
enfrenta ainda outro desafio. Quer desesperadamente ser uma boa empresa,
e seu CEO acredita piamente que ela seja, mas nem todo mundo está con-
vencido disso. Vale lembrar que, quando se é muito grande, é extremamente
difícil ser bom também.
Mesmo assim, Schultz transformou um punhado de cafés localizados em
Seatlle em uma cadeia que abriu 17 mil pontos de venda (fazendo uma com-
paração, o McDonald’s tem mais de 31 mil) em pouco mais de 20 anos. Ele
conseguiu isso com base em valores e no engajamento dos funcionários, em-
bora muitos questionem a extensão de ambos. Seria interessante ver até onde
Schultz chegará. Atualmente, as ações da empresa estão valendo algo em
torno de US$25, preço muito melhor do que quando estavam em baixa, po-
rém ainda não o pico já atingido antes. Se Schultz conseguir que a empresa
reviva seus dias de glória, permaneça ética, lide com as exigências dos consu-
midores e sirva um excelente café, será merecedor dos entusiasmados elogios
– que chegam perto da idolatria – que recebe dos baristas da empresa.
142 28 mentes que mudaram o mundo
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Starbucks em www.starbucks.com
Capítulo 20
Jack Welch
trabalhava como CEO estava perto de mudar com a explosão das empresas
pontocom, a tragédia do 11 de setembro e, algum tempo depois, com a crise
financeira de 2007–2009. Em retrospecto, hoje o legado de Welch sem dúvida
se parece muito mais uma mistura heterogênea do que parecia na época. A re-
vista Fortune talvez o tenha eleito Gestor do Século um pouco prematuramen-
te. Embora não seja possível negar que Jack Welch foi um dos mais influentes
gestores do final do século XX, se isso foi uma coisa realmente positiva ou uma
mistura de bom e ruim é hoje uma pergunta pertinente.
Welch nasceu em 1935, em Peabody, Massachusetts, filho único temporão
de um maquinista de estrada de ferro e de uma dona de casa. Era uma criança
inteligente, e mais tarde diria que fora a mãe quem lhe instilara uma ferrenha
ambição. Estudou Engenharia na Universidade de Massachusetts e fez douto-
rado em Engenharia Química pela Universidade de Illinois. Em 1960, ingres-
sou na GE como engenheiro, ganhando US$10.500 por ano (equivalente hoje
a cerca de US$75 mil). Após seu primeiro ano, ofereceram-lhe um aumento
de US$1 mil, que Welch achou insatisfatório. Esse fato, aliado à sua crescente
impaciência com a morosidade burocrática da empresa, o fez pedir demissão.
A GE chegou a organizar uma festa de despedida, mas seu mentor, Reuben
Gutoff, dirigiu mais de 160km para jantar com ele e conseguiu convencê-lo a
mudar de ideia.
Welch permaneceu na GE, mas não incorporou o espírito da empresa,
principalmente por causa de seu radicalismo e impaciência com um conglome-
rado cujo progresso andava a passos de paquiderme. Às vezes, isso provocava
resultados desastrosos – em 1963, ele causou a explosão de uma fábrica de
plásticos –, mas, de modo geral, os resultados eram suficientemente bons para
assegurar que seus pontos fracos fossem relevados. Em 1969, passou a ocupar
o cargo de gerente-geral da divisão de plásticos. Ao assumir a posição, como
era típico dele, vangloriou-se de que seria capaz de quebrar todos os recordes,
embora esse tipo de bravata não fosse visto com bons olhos pela GE. Na ver-
dade, sua atitude de rebeldia e seu modo franco de falar estavam começando a
desagradar algumas pessoas da empresa. Mesmo assim, ele continuou a apre-
sentar bom desempenho e a crescer dentro da organização.
Tornou-se vice-presidente da GE em 1972. Em 1973, em uma análise de
desempenho, declarou que seu objetivo era tornar-se CEO. Em 1977, assu-
miu o controle da GE Credit Corporation como vice-presidente sênior. Em
1979, passou a ocupar o cargo de vice-presidente geral e, em 1981, finalmente
Jack Welch 145
realizou sua ambição de se tornar CEO da GE. Embora não haja dúvida de
que Welch tinha capacidade e energia para atingir seu objetivo, alguns se sur-
preenderam ao vê-lo naquela posição, pois muitos o consideravam sedento
demais para chegar ao topo em uma empresa que continuava a ser extrema-
mente burocrática e na qual não adiantava perturbar o equilíbrio. Entretanto,
isso era exatamente o que Welch queria fazer e, agora que era CEO, não havia
ninguém que pudesse detê-lo.
Vale observar que, quando assumiu o posto máximo, Welch não estava
assumindo a liderança de uma empresa em dificuldades, que precisasse de-
sesperadamente de uma cirurgia. A GE era lucrativa, e seu CEO anterior,
um sociável inglês chamado Reginald Jones, era muito admirado. Mas, onde
muitos enxergavam a continuidade dos lucros, Welch via uma empresa com
uma rígida hierarquia que precisava sofrer mudanças revolucionárias. O que
aconteceu depois serviu de material para a criação de uma lenda.
Ele começou a eliminar camadas da hierarquia da corporação como um
louco, abrindo o labirinto que era a burocracia da GE “a machadadas”. Vendeu
as subsidiárias que não apresentavam bom desempenho, informou às unidades
que elas teriam de ser as primeiras ou as segundas em seu mercado, e exigia o
crescimento dos lucros a cada trimestre. Abraçou um novo conceito de gestão,
e aqueles que o impressionavam eram generosamente premiados. Em 1981,
deu uma palestra intitulada “Como crescer rapidamente em uma economia
que apresenta crescimento lento”, que, diz-se com frequência, deu impulso
ao culto ao valor para o acionista. Talvez mais famosa tenha sido sua atitude
em relação ao desempenho individual. Ele era muito conhecido por ser incri-
velmente franco e até mesmo desagradável com seus gestores subordinados
no decorrer das análises. Queria realmente que eles incrementassem o jogo
e, com isso em mente, premiava generosamente os 20% melhores, que rece-
biam gratificações e opções de ações, enquanto todos os anos os 10% piores
eram despedidos. Esse não era um assunto sobre o qual Welch refletia muito.
Normalmente, sua argumentação a respeito dessa demissão de 10% da for-
ça de trabalho era que mantê-los na empresa seria mais cruel ainda: “Alguns
acham cruel e brutal demitir 10% de nosso pessoal, mas não é. É exatamente o
contrário. O que eu acho cruel e ‘falsa bondade’ é manter pessoas que não vão
crescer nem prosperar.”
Em sua autobiografia, Jack: definitivo (2001), ele diz que, no final de 1980,
quando assumiu o comando da empresa, a GE tinha 411 mil funcionários. No
146 28 mentes que mudaram o mundo
final de 1985, esse número tinha caído para 299 mil. Dos 112 mil que saíram,
cerca de um terço trabalhava em operações que haviam sido vendidas e dois
terços representavam um “enxugamento” das operações que continuaram a
existir. Na verdade, Welch comprazia-se tanto em reduzir a força de trabalho
que recebeu o apelido de Jack Nêutron, assim chamado porque, como a bomba
de nêutron, matava as pessoas mas deixava as construções de pé. Os funcio-
nários talvez não gostassem de seu novo chefe, mas os executivos de finanças
da corporação o admiravam. A capitalização de mercado da GE decolou e
Wall Street ficou deliciada. Depois de vender tantos negócios, a GE comprou
muitos também, aumentando ainda mais seu já gigantesco valor de mercado.
É claro que a empresa tinha pontos negativos. A fim de obter margens de lucro
ainda mais altas, os gestores reduziram algumas áreas, como P&D, e passa-
ram a assumir um número menor de riscos. Havia também o custo humano,
mas, enquanto a GE obtinha grande êxito nas fanfarronas décadas de 1980 e
1990, essas questões eram educadamente ignoradas por aqueles que realmente
contavam.
Em pouco tempo, Welch passou a ser o mais comentado e imitado gestor
dos Estados Unidos. O fato de que ele era extremamente atraente, popular e
merecedor de citações sem dúvida ajudava, mas havia também muitas outras
coisas concretas. Em seu setor, a GE tornou-se a maior e mais admirada em-
presa do mundo. Na verdade, às vezes era possível observar que fora criado um
culto em torno da figura de Welch, tão fervorosos e isentos de senso crítico
eram seus admiradores.
Perto do final de seu mandato, Welch ganhava extraordinários US$4 mi-
lhões por ano. Seu pacote de aposentadoria foi generoso o suficiente para sus-
citar muitos comentários, mas ele não se incomodou. Era um super-homem
(mais idoso) e merecia isso. Inclusive negociou um valor de US$7,1 milhões
por suas memórias, soma extraordinária para um homem que não fora presi-
dente do país (em 2004, Clinton conseguiu entre US$10 e US$12 milhões por
sua autobiografia).
Após o extenso e demorado processo de seleção do sucessor de Welch,
que deixou o cargo no final de 2000, Jeffrey Immelt foi escolhido e continua
na posição até hoje. Talvez muita coisa tenha mudado na GE, mas a longa
permanência de seu principal executivo parece não ter se repetido. Depois
da GE, Welch escreveu vários livros, alimentava uma popular coluna em um
jornal, dirigiu sua própria empresa e trabalhou como consultor de várias outras
Jack Welch 147
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Capítulo 21
Michael Dell
Dell nasceu em 1965 em uma família de classe média. O pai era médico, e a
mãe, corretora da bolsa. Eles moravam em Nova York, mas no início da déca-
da de 1960 mudaram-se para Houston em busca de uma vida mais tranquila.
Quando criança, Dell já demonstrava um precoce talento empresarial. Aos 12
anos, ganhou US$2 mil criando seu próprio leilão de selos e anunciando-o em
uma publicação dirigida a colecionadores. Ele declarou que isso o ensinou a
importância de eliminar os intermediários. Aos 16 anos, conseguiu um empre-
go de verão para vender assinaturas do jornal Houston Post. Coletando infor-
mações sobre quem adquiria as assinaturas, ele constatou que teria uma chance
muito maior de vendê-las a recém-casados e a pessoas que haviam acabado de
se mudar. Pagava a amigos para procurarem essas pessoas e enviava cartas a
elas. Naquele ano, ganhou US$18 mil, que gastou em uma BMW nova.
A história de Dell começa realmente quando ele entrou na faculdade. Esse
foi o início de uma lenda empresarial, pois uma das maiores empresas de com-
putação do mundo nasceu no dormitório de uma faculdade. Em 1983, aos 18
anos, Dell era calouro da Universidade do Texas, em Austin, e frequentava
cursos preparatórios de Medicina. Desde a juventude, demonstrou interesse
por computadores. Os PCs da IBM estavam começando a se tornar o padrão
e tinham um design bastante modular. Dell constatou que poderia adquirir
componentes avulsos junto a varejistas locais, acrescentá-los aos computadores
da IBM e vender o produto incrementado, ou seja, máquinas personalizadas,
com boa lucratividade. Em pouco tempo ganhou uma pequena fortuna. Em
1984, criou uma empresa chamada PCs Limited, sediada em seu quarto de
estudante.
A razão pela qual o negócio funcionou tão bem foi que, naquela época, os
varejistas tinham de encomendar junto à IBM quotas de PCs e de componen-
tes, e quase sempre ficavam com excesso de estoque que vendiam para Dell de
bom grado. Ele então os vendia diretamente por meio de anúncios em jornais
e revistas, o que lhe permitia cobrar um preço menor que o dos varejistas. Seus
pais não aprovavam essa sua atividade, pois receavam que ela prejudicasse seus
estudos. Dell então lhes fez uma promessa: se a empresa começasse a ter difi-
culdades, retomaria os estudos. No entanto, em pouco tempo estava faturando
cerca de US$80 mil por mês, e nunca mais retornou à faculdade. Em vez
disso, tomou emprestado da família US$300 mil para expandir seu negócio.
Em 1985, a empresa lançou sua primeira máquina, o Turbo PC. A PCs Li-
mited já mostrava sinais da empresa que viria a ser – anunciava na imprensa e
Michael Dell 153
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Sunday Times/Calgary Herald (2003) Computer tycoon lives in fear, 5 de janeiro
Vanity Fair, Michael Dell
Página deixada intencionalmente em branco
Capítulo 22
Tom Peters!
T om Peters é louco? Muitas pessoas acham que sim – talvez até ele mesmo.
Eis outras perguntas mais sérias: Ele faz algum bem? É realmente um des-
bravador da gestão? Por que é tão bem-sucedido? Por que é tão popular? Estas
são boas perguntas e resumem as indagações que precisamos fazer sobre esse
extraordinário fenômeno chamado Tom Peters.
Em uma era em que todos – de empresas de descarte de lixo, consultoria a
subcomitês locais do governo – estão em busca da “excelência”, é fácil esquecer
que aquilo que hoje é um dos maiores de todos os clichês sobre administração
foi, em grande parte, responsabilidade de um único homem. Em um mundo
no qual grande parte das livrarias tem seções inteiras dedicadas a esse híbrido
particularmente moderno – o livro de autoajuda –, vale a pena lembrar que
apenas uma geração atrás esse setor praticamente não inexistia. Em uma cul-
tura na qual todos reconhecem (mesmo que desprezem) o valor e a utilidade
da fama, é estranho pensar no que um consultor em gestão (justo da McKinsey
& Co!) fez no início da década de 1980. Com certeza, nenhum guru da gestão
usou o ponto de exclamação da maneira como Peters fez.
No final de 1982, o livro Vencendo a crise, de autoria de Tom Peters e Ro-
bert Waterman, foi publicado e mudou para sempre o modo como os gurus da
gestão eram vistos. O que antes era um tranquilo setor artesanal, de repente
passou a ser o centro das atenções. O livro Vencendo a crise foi, independente-
mente do critério utilizado, um incrível best-seller, e vendeu cerca de 3 milhões
de exemplares nos quatro primeiros anos. Tornou o nome de um de seus auto-
res conhecido por todos e transformou Tom Peters em celebridade. Contudo,
158 28 mentes que mudaram o mundo
Tempos depois, Peters diria que nem ele nem seu parceiro no livro se deram conta da
necessidade de ser ágil e da crescente importância da globalização.
Em meados daqueles anos decadentes, enquanto Michael Jackson estava nas pa-
radas da MTV, o Senhor Peters atingia rapidamente o status de um astro do rock
na indústria multimilionária dos gurus que ele criara quase sozinho (...). Mas o
Senhor Peters provou ser mais que um simples escritor. Praticamente da noite para
o dia, despontou como um verdadeiro artista, à altura de Elvis. De acordo com sua
própria estimativa, em 1985 ele ministrou mais de 150 de suas ruidosas palestras,
que mais lembravam um serviço religioso de renovação carismática, às vezes mi-
nistradas no mesmo dia em duas cidades diferentes. No final da década, ele estava
cobrando US$50 mil por palestra, argumentando que seu status era incontestável,
pois era o maior guru de todos os tempos.
Peters era uma verdadeira máquina. O livro Excelência acima de tudo foi
seguido das obras Prosperando no caos, Rompendo as barreiras da administração,
A busca do uau! e Seminário de Tom Peters: tempos loucos exigem organizações
malucas. Todos os livros eram diretos e óbvios, e continham uma espécie de
populismo barato – e todos vendiam a mancheias. No total, desde 1982, ele
escreveu 14 livros, o que, para muitos, seria o trabalho de uma vida. Contudo,
Peters foi mais além: tinha uma programação incrivelmente caótica de pales-
tras e aparições pelas quais recebia quantias inimagináveis para a maioria dos
consultores.
Na década de 1990, muitas pessoas começaram a dizer que, embora no
passado talvez estivesse certo em alguns pontos, Peters tinha (para usar uma
expressão da qual ele gostava) ficado maluco. Como seria possível um homem
com esse tipo de energia infantil, cujas declarações eram tão disparatadas, ser
levado a sério – particularmente quando, na maioria das vezes, ele parecia estar
equivocado? Mas em vez de contestar essas críticas, Peters frequentemente
concordava com elas. Eis como ele descrevia a si próprio: “Um governante da
162 28 mentes que mudaram o mundo
Eu digo às pessoas: “Você fez um mau negócio gastando dinheiro para me ouvir
falar. Não tenho absolutamente nada para dizer. Apenas vou lembrá-lo daquilo
que você já sabia aos 22 anos, mas que acabou se esquecendo no calor da batalha.
Você teria de ser um daqueles pregadores da televisão que acreditam que vão traba-
lhar com um grupo de 500 pessoas e mudará a vida delas. Para início de conversa,
a maioria dos espectadores acredita com você. Ninguém paga £1.000 [por cabeça]
para ouvir alguém que considera um imbecil.”
Tom Peters! 163
Em 1988, Semler publicou seu primeiro livro, Virando a própria mesa. Vendeu
45 mil exemplares em três meses. O livro não fazia elogios às instituições indus-
triais brasileiras e à sabedoria convencional: atestava que as empresas brasileiras
eram conservadoras, concebidas para atender aos próprios interesses e que min-
guariam e morreriam quando o país abrisse suas portas para a concorrência es-
trangeira. Depois, ele deu uma entrevista para a revista Veja e criticou, mais uma
vez, as instituições empresariais. Como o Financial Times declarou, “tudo isso
poderia não passar de um capricho de criança mimada, se não fosse pelo sucesso
estrondoso de Semler como homem de negócios”. De fato, todos aqueles que
rezavam para que esse arrogante industrial caísse de cara no chão ficariam muito
desapontados: em 1980, as vendas da Semco foram de US$4 milhões. Em 1987,
chegaram a US$39 milhões. O crescimento foi, por qualquer ponto de vista, im-
pressionante, e pelos padrões brasileiros foi mais do que surpreendente. Além do
mais, a empresa diversificara de uma simples base para dúzias de áreas.
A história da Semco ficou ainda mais estranha – em 1993, a empresa tinha
somente 200 pessoas na folha de pagamento. O resto estava indiretamente
empregado, fosse como consultores, gerindo seus próprios negócios dentro
da empresa ou como autônomos e, muitas vezes, trabalhando a distância.
Semler passou de enfant terrible para homem admirado pelas instituições e com
o qual todos queriam aprender algo. Foi votado como o homem de negócios
brasileiro do ano em 1990 e em 1992. A empresa foi tida como o negócio de
reengenharia mais bem-sucedido no mundo; seu sucesso é ainda mais notável
ao se considerar a situação da economia brasileira, que experimentara uma
hiperinflação no início dos anos 1990.
Ricardo Semler 169
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Página deixada intencionalmente em branco
Capítulo 24
Herb Kelleher
Isso pode ser uma surpresa para o leitor não americano, mas, até pouco
tempo atrás, ela era a maior empresa de aviação do mundo em volume de pas-
sageiros. Além disso, embora nenhuma de suas aeronaves viaje além dos Esta-
dos Unidos e Canadá, a Southwest Airlines opera mais de 3.200 voos por dia
e costuma receber as notas mais altas nas pesquisas de satisfação dos clientes.
Em um mundo onde as aerolinhas enfrentam dificuldades e acabam saindo do
mercado, o balanço patrimonial da Southwest demonstra sua sustentada boa
saúde financeira. É interessante notar que a maior empresa de transporte aéreo
internacional (usando o indicador de passageiros) é a Ryanair, cujo modelo de
negócios é extremamente parecido com o da Southwest (veja o quadro a se-
guir). Um fenômeno do setor foi batizado de “efeito Southwest”, pois em cada
aeroporto que a companhia opera, a concorrência provoca redução das tarifas,
melhoria do serviço e aumento do tráfego.
Ryanair
pela Fortune. Kelleher sempre sustentou que ser uma boa companhia para se
trabalhar nada mais é que uma forma inteligente de defender seus interesses
próprios. Em 2003, ele explicou que “os funcionários vêm em primeiro lugar
e, se forem tratados do jeito certo, tratarão o mundo pelo mesmo critério. Os
clientes usarão os produtos da empresa novamente, o que deixará os acionistas
felizes.” Na verdade, a Southwest é um bom lugar para trabalhar e, além da
cordialidade de Kelleher, paga generosos salários, em um setor conhecido por
fazer exatamente o contrário. A empresa também faz questão de contratar
pessoas com bom senso de humor.
Em 1999, Kelleher recebeu um diagnóstico de câncer de próstata, mas con-
tinuou trabalhando durante todo o tratamento, alcançando a cura. Em 2001,
deixou o cargo de CEO, mas manteve-se como presidente do conselho. Em
2008, aos 71 anos, abdicou da função após presidir sua 31a reunião geral anual.
No entanto, permanecerá como funcionário da empresa até 2013, com um
salário de US$400 mil ao ano e diz que faz tudo o que lhe pedem.
Excentricidades à parte, sem dúvida o teste definitivo de uma empresa é
ver se ela dá lucro. Doidos que ganham dinheiro são rebeldes geniais, ao passo
que desmiolados que só geram prejuízos não passam de loucos. Por esse parâ-
metro, Kelleher e a Southwest demonstram um desempenho extraordinário.
Em 2010, a empresa manteve-se lucrativa pelo 37o ano consecutivo. Em qual-
quer outro setor, isso já seria um feito impressionante, mas na aviação beira o
impossível, especialmente diante das dificuldades impostas pela recente crise
financeira e após as radicais mudanças ocorridas em decorrência do 11 de Se-
tembro. O valor das ações da Southwest disparou entre o fim dos anos 1980
e início dos 2000 e, mesmo diante de todas as tribulações, não sofreu tanto
quanto se poderia esperar.
Contudo, a Southwest não deixa de ser alvo de críticas, e pagou multas
pesadas em 2008 por falhas de segurança e manutenção. Em 2009, um avião
teve de fazer um pouso de emergência em West Virginia quando um bura-
co do tamanho de uma bola de futebol abriu-se na fuselagem, provocando a
despressurização da cabine de passageiros. Em 2010, num incidente menos
grave, o cineasta Kevin Smith desceu a lenha na companhia quando ela o
recusou como passageiro por ser gordo demais para caber nos assentos das
aeronaves. No entanto, o consenso tende muito aos comentários que um de
seus funcionários publicou na Amazon sobre o livro Nuts!: as soluções criativas
da Southwest Airlines para o sucesso pessoal e nos negócios:
Herb Kelleher 179
Já li muitas resenhas sobre como este livro é “piegas”. Talvez digam isso porque não
conseguem acreditar que uma empresa tão boa assim possa existir... Posso dizer,
sem medo de errar, que o livro NÃO é exagerado! O estilo de bem-estar enfatizado
repetidamente ao longo do livro é uma realidade. As pessoas se preocupam umas
com as outras. Todos os dias (como mostra o livro) todos se sentem valorizados, e
esse reconhecimento faz todos quererem trabalhar com mais afinco e inteligência,
promovendo o crescimento da LUV [Southwest Airlines Co].
Bird, J B (2003) An entrepreneur for all seasons, McCombs School of Business Magazi-
ne, edição de primavera/verão
Freiberg, Kevin e Freiberg, Jackie Nuts!: as soluções criativas da Southwest Airlines para
o sucesso pessoal e nos negócios, São Paulo: Manole, 2000
Kelly, Brad (2008) He gave Southwest its wings, Investor’s Business Daily, 8 de
fevereiro
Koenig, David (2008) Kelleher steps down as Southwest Airlines chairman; he and
client started business; employees give emotional send off, Associated Press, 22 de
maio
Labich, Kenneth (1994) Is Herb Kelleher America’s best CEO?, Fortune, 2 de maio
Site da Southwest website, www.southwest.com
WATS (IATA)
Página deixada intencionalmente em branco
Capítulo 25
Andy Grove
boa dose de empowerment – como outros tantos chefes geniais, Grove delega-
va. Com o passar dos anos 1980, a empresa percebia que seus microprocessa-
dores saíam dos escritórios para as residências.
Grove tornou-se CEO em 1987. O mercado de microprocessadores conti-
nuava em desenvolvimento, e a velocidade das mudanças aumentou exponen-
cialmente. Cada vez que lançava um novo produto, a Intel logo começava a
pensar no próximo, pois em pouco tempo o lançamento se tornaria o padrão
e, como consequência, o preço cairia. De mais a mais, embora a Intel fosse
líder do mercado, havia concorrentes o suficiente para mantê-la sempre alerta.
Um dos aforismos mais conhecidos de Grove (que também foi o título de um
de seus best-sellers) é Só os paranoicos sobrevivem, e é fácil ver de onde saiu o
ditado em um mercado em que a desconfiança tornou-se hábito.
Em 1989, a Intel começou a desenvolver o microprocessador Pentium,
o sucessor dos antigos 386 e 486, que moviam a maioria dos computadores
do mundo. É interessante notar que escolheram o nome Pentium, em vez de
586, porque a justiça determinou que números não poderiam virar marcas
registradas. A empresa enfrentou dificuldades na recessão do início dos anos
1990, e Grove, o eterno capataz, determinou que todos os funcionários de-
veriam trabalhar 50 horas semanais pelo mesmo salário. Em 1993, as coisas
começaram a melhorar, o Pentium foi lançado com o tipo de alarde mais
comum em novos modelos de carro ou no último CD de pop stars, talvez
numa indicação do quão dominante os computadores haviam se tornado. A
empresa gastou um montante colossal em marketing (quantia inédita para
uma empresa que, essencialmente, fabricava componentes) e lançou o famo-
so jingle “Intel inside”.
Tudo parecia ótimo, mas no ano seguinte Grove cometeria seu maior erro,
e seu microprocessador carro-chefe causou-lhe as maiores dores de cabeça de
sua careira. Em 1994, Thomas Nicely, professor de Matemática da Lynchburg
College, descobriu um defeito de ponto flutuante no Pentium P5. Grove res-
pondeu primeiro como engenheiro, ressaltando que a falha praticamente não
afetaria ninguém. Na época, ele disse: “Se você souber onde cairá um meteoro,
poderá ir lá e pegá-lo.” A resposta não caiu nada bem para as legiões de usuá
rios domésticos e, pouco tempo depois, ele admitiu não ter entendido que
lidar com consumidores era tão diferente de tratar com pessoas que entendiam
como os componentes eletrônicos funcionam. Por fim, a empresa ofereceu a
troca dos processadores sem custo adicional. A crise acabou custando US$500
Andy Grove 185
milhões, mas, mesmo assim, todos concordam que a atitude assertiva de Gro-
ve fez bem à imagem da empresa.
Fora isso, os anos 1990 foram muito bons para a Intel, pois consolidaram
sua liderança de mercado, e o preço das ações decolou. Grove publicou seu
best-seller Só os paranoicos sobrevivem em 1996, e a combinação de um atraente
gênio gerencial da indústria de tecnologia com o seu lado pé no chão fez de
Grove uma das superestrelas da gestão de meados ao fim dos anos 1990. No
entanto, seu assombroso sucesso como alto tecnocrata estava prestes a sofrer
um revés em virtude de sua saúde. Em 1995, Grove recebeu o diagnóstico de
câncer de próstata, mas não fez o menor segredo disso. Na verdade, em maio
de 1996, foi capa da revista Fortune com a manchete “Enfrentando o câncer de
próstata”. Na matéria, ele escreveu o seguinte:
Minha secretária colocou o rosto no vidro da sala de reuniões e pude ver nos olhos
dela que acabara de receber a ligação que estava esperando. Pedi licença e saí ra-
pidamente da sala. Quando fechei a porta, ela confirmou que meu urologista me
aguardava ao telefone e eu saí correndo para o meu escritório.
Ele foi direto ao ponto: “Andy, você tem um tumor predominantemente do lado
direito, mas que já avançou um pouco para a esquerda. É um tumor moderada-
mente agressivo.” O lado relativamente bom é que “há poucas chances de o tumor
espalhar-se”. A conversa foi absolutamente franca, como se estivéssemos conver-
sando sobre resultados laboratoriais para concluir se eu tinha uma faringite.
No entanto, meu problema não era uma faringite, mas um câncer de próstata.
do conselho. Em 2005, abriu mão também dessa função e hoje detém o título
de conselheiro sênior.
Para um homem que venceu tantos obstáculos, a história de Grove tem um
desfecho triste. Em 1999, ele percebeu um tremor na mão. Depois de sobre-
viver a todo tipo de mazela – da escarlatina e nazistas ao câncer de próstata
–, agora Grove estava com doença de Parkinson. Na época, manteve silêncio,
mas acabou revelando a doença na sua autobiografia em 2006. “Não queria
virar um garoto-propaganda por outra doença. Estava cansado de ser a refe-
rência quando se tratava de câncer de próstata.” E acrescenta: “O câncer, você
não vê. Já essa coisa faz a gente parecer um velho e sou um sujeito vaidoso.”
Isto posto, ele combate esse mal exatamente com o mesmo vigor com que lu-
tou contra o câncer. Além disso, como ainda falta muito tempo para a doença
piorar, se alguém tem alguma chance de se recuperar da doença de Parkinson,
essa pessoa é Andy Grove.
Quanto à Intel, como aconteceu com muitas empresas de tecnologia, o va-
lor de suas ações nunca mais recuperou os picos alcançados nos anos de glória
do boom das empresas pontocom, mas a empresa manteve sua participação de
mercado, que continua parecida com a que desfrutava no início dos anos 1980.
Mesmo agora, a despeito da forte e mantida concorrência, a Intel é número
um em todos os principais mercados onde atua e seus microprocessadores con-
tinuam ditando o ritmo das mudanças tecnológicas.
Para terminar, pode ser interessante observar que, pelos padrões do Vale do
Silício e do que Grove alcançou, sua fortuna é relativamente modesta e pode
ser avaliada em centenas de milhões, em vez de bilhões. Na verdade, durante
toda a sua vida, foi conhecido como um homem que se abstém das armadilhas
normais das megafortunas dos CEOs – aviões, mansões projetadas por arqui-
tetos famosos, ilhas, e assim por diante. Como disse uma vez ao Wall Street
Journal: “Há quem se esforce para garantir que as pessoas sempre saibam o
que se faz. O oposto é achar que, como ninguém nunca leva 100% do crédito,
então tanto faz. Fazer alarde das realizações pode levar os outros a achá-lo um
imbecil. Eu me inclino ao segundo ponto de vista.”
Andy Grove 187
era capitalista praticante desde meados dos anos 1980. Ele conhecia o valor
dos títulos e se ligou a esquemas para comprá-los em grandes lotes. Sua grande
chance veio em 1995, quando encontrou Boris Berezovsky, que o apresentou
para o círculo interno do poder russo e a Yeltsin.
Em seguida, veio sua jogada mais importante. Em meados da década de
1990, a Rússia estava quase falida e a administração de Yeltsin estava cam-
baleante. A solução, como então pessoas como Berezovsky já sabiam, era
vender ativos estatais para os “oligarcas” a preços baixíssimos e usar o quid
pro quo (recompensa) para manter o governo solvente. Yeltsin – e os oligar-
cas – também queriam evitar um retorno ao governo comunista, primeiro
porque ficariam fora do poder, depois porque seus bens seriam rapidamente
reestatizados. Reunindo uma série de empresas de vida curta, por pouco
mais de US$100 milhões, Berezovsky e Abramovich compraram a compa-
nhia de petróleo Sibneft, que valia mais de US$2,5 bilhões. Como muitos
outros participantes, Abramovich admite que os ativos foram vendidos por
uma bagatela, mas alegou que o motivo foram os riscos (incluindo o de um
retorno ao comunismo) elevados demais. Essa pode ser uma explicação não
muito convincente.
Em seguida, voltou suas atenções para a indústria de alumínio. Esse perío-
do específico foi chamado de “guerra do alumínio”, da qual Abramovich saiu
triunfante e ileso. Em 1996, ele era tão rico que havia se tornado muito próxi-
mo de Yeltsin e foi convidado a se mudar para um apartamento no Kremlin.
Abramovich tinha um talento que Berezovsky não tinha. Ele era encan-
tador e diplomático. Fez amigos, enquanto seu ex-mentor fez inimigos. Em
1999, Putin assumiu o poder, e pouco depois Berezovsky deixou o país, após
ter entrado em conflito com o novo presidente autoritário, apesar de tê-lo aju-
dado a chegar ao poder. Contudo, enquanto Berezovsky antagonizou o novo
regime, Abramovich foi mais receptivo. Ele e Putin encontraram interesses
em comum e Abramovich se tornou a pessoa que o povo começava a chamar
de “oligarca disfarçado” e “oligarca de lugar nenhum”.
Em 1999, Abramovich entrou na política, tornando-se governador de uma
região congelada e desolada do extremo oriente russo chamada Chukotka,
quase do tamanho da Alemanha, com uma população de pouco mais de 50
mil habitantes. Na verdade, a única coisa que a área tinha de vantagem eram
imensas reservas de petróleo, gás e minerais (quase totalmente inexploradas).
Em 2005, ele foi nomeado para um segundo mandato, que durou até 2008.
192 28 mentes que mudaram o mundo
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Financial Times, 7 de dezembro.
Conradi, Peter and Lewis, William (2003) The tsar of SW6, Sunday Times, 6 de
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Vander Weyer, Martin (2004) The winner of Russia’s free-for-all, Sunday Telegraph,
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Página deixada intencionalmente em branco
Capítulo 27
George Soros
* Nota da Tradutora: Investidor que tem bom acesso a determinada empresa e recebe informa-
ções antes que estas se tornem conhecidas do mercado.
196 28 mentes que mudaram o mundo
invejável, em uma cidade próspera, com rica vida cultural e intelectual. Apesar
disso, Soros dizia que seu pai não acreditava que as coisas fossem exatamente
como pareciam. Ele fora combatente capturado e preso na Rússia durante a
Primeira Guerra, e a experiência aguçou-lhe a sensação de mau agouro que,
algum tempo depois, mostrou-se presciente.
Em 1944, os nazistas chegaram a Budapeste. Soros disse: “Meu pai estava
mais do que preparado. Ele sabia o que fazer.” A família se separou, e o pai
de Soros pagou um alto funcionário do Ministério da Agricultura para levá-lo
em sua fuga. Mais tarde, Soros descreveria isso como “uma incrível aventura,
nos moldes do filme Caçadores da arca perdida”. Acrescentou também que a
fuga foi a base para algumas de suas divagações filosóficas que surgiriam no
futuro.
O estratagema do pai de Soros funcionou e a família sobreviveu. Dizem
que George teve um envolvimento precoce com finanças durante o caos do
pós-guerra, comerciando ouro e joias enquanto a hiperinflação tomava conta.
Em 1946, a União Soviética começou a assumir o controle da Hungria.
Enquanto participava de uma conferência sobre esperanto, Soros desertou.
Em 1947, emigrou para a Inglaterra, onde trabalhou como carregador na fer-
roviária e garçom enquanto estudava na London School of Economics (LSE).
Nesse período, adquiriu grande interesse pelo trabalho do filósofo Karl Po-
pper, que lhe causou forte impressão. Aprofundou-se nas ideias de Popper,
escreveu vários ensaios para ele, sonhando com a ideia de tornar-se acadêmi-
co, e chegou até a escrever uma tese chamada “The burden of consciousness”
(“O fardo da consciência”). Soros formou-se em 1952, mas suas tentativas de
tornar-se filósofo não deram em nada e, quando deu por si, estava envolvido
na área de finanças. Ingressou no Singer & Friedlander, um banco de investi-
mentos, onde trabalhou no setor de arbitragem, principalmente de ouro.
Em 1956, Soros emigrou para os Estados Unidos e arrumou um emprego
na FM Mayer como analista e árbitro de transações, trabalhando com títulos
e valores mobiliários da Europa, normalmente fora do radar da maioria dos
americanos. Em 1988, Stanley Druckenmiller, braço direito de Soros, disse
que “as coisas que George fazia 35 anos atrás só entraram em voga na úl-
tima década por aqui”. O próprio Soros comentou: “Como ninguém sabia
coisa alguma sobre títulos europeus no início dos anos 1960, eu podia atribuir
qualquer ganho que quisesse às empresas europeias que seguia.” A carreira de
Soros decolou. Em 1959, ingressou na Wertheim & Co e, em 1961, ganhou
George Soros 197
* Nota da Editora: Mecanismo europeu de taxas de câmbio, um sistema criado para reduzir a
volatilidade das taxas de câmbio na Europa.
198 28 mentes que mudaram o mundo
Soros nada mais fez que uma profecia autorrealizável. Quando veio a público
que Soros e outros especuladores vendiam libras a descoberto, foi apenas uma
questão de tempo para o colapso da moeda. Os lucros de Soros foram pagos
pelos cidadãos do Reino Unido – algo em torno de £12 per capita.
Depois disso, Soros foi seguido com avidez ainda maior por aficionados
em investimentos, dando continuidade à sua trajetória fora do comum. Por
outro lado, ele também teve seus deslizes. Em 1998, perdeu US$2 bilhões na
crise financeira da Rússia. Curiosamente, essa era uma área que ele pensava
conhecer muito de perto, e acreditava que os russos haviam feito uma transição
bem-sucedida do capitalismo gângster para o do tipo mais normal. Estava er-
rado e perdeu a aposta. Mais tarde, ele diria que fora enganado por sua crença
na Rússia. Atualmente, a única coisa que diz sobre o assunto é: “Não vou falar
sobre a Rússia, pois não quero investir por lá.”
Também errou no timing em relação ao estouro da bolha pontocom. Apos-
tou que as ações das empresas de tecnologia cairiam e agiu com um ano de
antecedência, perdendo US$700 milhões. Em março de 2000, voltou a apostar
em ações que caíram e totalizou prejuízos na marca de US$3 bilhões. A essa
altura, anunciou sua aposentadoria efetiva do Quantum. A despeito desses
problemas, Soros teve uma trajetória impressionante. Se você tivesse investido
US$1 mil no Quantum Fund, quando inaugurado em 1970, em 2000 teria ga-
nho o equivalente a US$4 milhões, ou seja, um aumento anual de 32% durante
três décadas – um histórico de tirar o fôlego.
Naturalmente, um homem como Soros jamais se aposentaria tranquilamen-
te para cuidar de roseiras, e o magnata ingressou numa segunda carreira, que
não era filosofia. Tornou-se um filantropo diligente do fim dos anos 1970 em
diante, com interesse especial no Leste Europeu, tendo trabalhado com afinco
para promover a democracia nos antigos países comunistas. No geral, Soros
doou cerca de US$6 bilhões a inúmeras causas e, atualmente, depois que Gates
e Buffett doaram enormes quantias, ele é o quarto maior filantropo de todos os
tempos (o terceiro é Li Ka-shing). Ele disse: “Não gosto de tentar encontrar
maneiras de gastar grandes montantes, acho essa uma tarefa desagradável, que
requer muito esforço e não dá a menor satisfação. Desse modo, fazer doações
(em vez de torrar dinheiro) é algo realmente gratificante para mim.” Ele tam-
bém se tornou oponente declarado da administração Bush, tendo feito várias
declarações, como “o Presidente Bush está colocando nossa segurança em jogo,
ferindo nossos interesses vitais e enfraquecendo os valores americanos”.
George Soros 199
Bates, Daniel (2010) Billionaire financier George Soros hands $100m gift to U.S.
human rights group, Daily Mail, 8 de setembro
Clark, Neil (2003) The billionaire trader has become Eastern Europe’s uncrowned
king and the prophet of ‘the open society’. But open to what?, New Statesman, 2
de junho
Deutschman, Alan (2001) George Soros, Salon, 27 de março
Ellis, Charles D (2001) Wall Street People, vol 2, Wiley, Hoboken, NJ
Forbes (2010) The world’s billionaires, 10 de março
Freeland, Chrystia (2009) The credit crunch according to Soros, Financial Times, 30
de janeiro
200 28 mentes que mudaram o mundo
N o final da década que viu o iPod varrer tudo o que existiu antes dele e se
tornar tão popular a ponto de ser mais comum dizer iPod do que MP3
player, vale a pena lembrar que já passamos por isso antes. Em 1979, a Sony
lançou o Walkman, que foi o primeiro toca-fitas estéreo portátil em massa
do mercado. O Walkman tornou-se uma sensação e mudou a maneira como
ouvíamos música. Assim como o iPod, dominou completamente o mercado e
em todos os sentidos foi o antecessor do iPod.
Também foi um indicador do imenso poder global da gigante japonesa
Sony no setor de eletrônicos, que nos anos 1980 (assim como hoje) era fabri-
cante de eletrônicos para consumidores com foco na classe alta do mercado
de massa. Hoje em dia, logicamente, a Sony é uma das melhores empresas de
equipamentos eletrônicos para consumidores, porém seu mercado está mais
maduro e há vários concorrentes que fabricam produtos semelhantes. No en-
tanto, nos anos 1980, ela era muito mais. A empresa e seu famoso cofundador,
Akio Morita, também eram símbolos do sucesso econômico do Japão pós-
guerra, do compromisso com a qualidade e a ameaça econômica que isso pa-
recia significar para os Estados Unidos. De fato, se substituirmos o Japão pela
China, o Walkman pelo iPod e 1980 por 2010, isso não parece tão distante.
Ao mesmo tempo em que Morita personificou a economia japonesa do
pós-guerra, para muitos estrangeiros ele também foi uma espécie de indisci-
plinado dentro do Japão, um país completamente conformista que mostrou ao
mundo a expressão “o prego que se destaca é martelado”. Morita normalmente
nadava contra a maré e desafiava a sabedoria convencional. Também foi um
202 28 mentes que mudaram o mundo
socializou-se com empresários dos Estados Unidos e, em outro fato raro na-
quela época, falava muito bem inglês.
A surpreendente trajetória da empresa em inovação continuou, apesar de
ter tomado uma decisão muito ruim no final dos anos 1970. A Sony havia
desenvolvido os gravadores de vídeo em 1965, embora não tivesse lançado
seu Betamax para uso doméstico até 1975. No entanto, recusou-se a licenciar
a tecnologia para os demais fabricantes. Isso levou um grupo de empresas ja-
ponesas a desenvolver o VHS, que acabou arrasando o Betamax, um sistema
que muitos achavam tecnicamente superior, levando-o ao esquecimento. No
entanto, a Sony logo deu a volta por cima. Em 1979, desenvolveu o que foi in-
discutivelmente seu produto mais famoso – o Walkman. Uma vez mais muitos
duvidavam, enquanto Morita defendia a ideia. A Sony produziu um estéreo
que permitia que as pessoas se desligassem do mundo onde quer que estives-
sem – um aparelho tão perfeito para a década egoísta que alcançou o número
de 230 milhões de unidades vendidas.
Até os anos 1980, a Sony tinha fábricas no mundo inteiro. No início da
década, a empresa, junto com a Philips, desenvolveu o CD que, por volta
de 1990, assinou definitivamente o atestado de morte do LP. O uso do CD
foi ampliado posteriormente como uma mídia gravável para computadores. A
Sony lançou a primeira filmadora para consumidores. No final da década, fez
algo que seria visto como uma grande mancada ao adquirir a Columbia & Tri-
Star Pictures (acredita-se que tenha pagado muito caro). No entanto, tornou-
se uma das maiores gravadoras do mundo. As inovações também continuaram
– fez parte do DVD Consortium, inventou o MiniDisc (que foi um grande
sucesso na Ásia, mas nunca completamente aceito no Ocidente), e surgiu o
primeiro PlayStation. Por várias razões, durante grande parte da década de
1990 a Sony foi a marca mais conhecida nos Estados Unidos.
Porém, os anos 1990 seriam o fim da linha para Morita. Com quase 70
anos, deixando um impressionante legado para trás, ele finalmente havia sido
engolido pelo establishment industrial japonês com o qual sempre mantivera
uma relação muito irascível. Tornou-se presidente da Keidanren, a organiza-
ção de negócios mais influente do país, mas em 1993, durante uma partida de
tênis, teve um acidente vascular cerebral. Em 1994, quando a Sony anunciou
seu fiasco em Hollywood, ele renunciou como presidente. Apesar da reabili-
tação, seu estado piorou e, em 1999, Morita faleceu aos 78 anos de idade de
pneumonia em um hospital de Tóquio. Pouco antes da sua morte, a revista
Akio Morita 205
Time o colocou entre um dos gênios mais influentes no mundo dos negócios
do século XX. O ex-presidente da empresa, Nobuyuki Idei, disse: “Não é exa-
gero dizer que ele foi a cara do Japão.”
Esse talvez tenha sido o aspecto mais contraditório de Morita. Muitos no
Japão já diziam que ele talvez fosse mais feliz no Ocidente do que era em seu
próprio país. Ele não parecia japonês. Em um país onde até hoje a ostentação é
malvista, ele tinha helicóptero e jato corporativo, era um esportista ávido, saía
com celebridades e apareceu em uma propaganda da Amex. Tinha a temeri-
dade de criticar a cultura de negócios do Japão, dizendo que era muito isolada.
Até mesmo convocou seu país a abrir o mercado de arroz.
De forma interessante, seu filho disse que tudo isso era apenas uma fa-
chada, e outros sugeriam que, na verdade, ele sentia um profundo incômodo
em ser considerado a cara do Japão para os estrangeiros. Diz-se que essa “ati-
tude” era uma reação aos efeitos psicológicos e ao complexo de inferioridade
nacional que uma geração de japoneses sofreu após perder a Segunda Guer-
ra Mundial. Qualquer que seja o caso, os estrangeiros com certeza gostaram
disso: compraram produtos da Sony o suficiente para torná-la uma gigante
global, e as atividades internacionais de Morita lhe renderam reconhecimento
internacional. Ele recebeu o prêmio Albert Medal da RSA (Royal Society of
Arts) no Reino Unido, a French Légion d’Honneur e vários outros prêmios
de dezenas de países.
BBC
Businessweek
Economist
Financial Times
Forbes
Fortune (especialmente a lista dos ricos e dos bilionários)
Guardian
New York Times
Observer
Sunday Telegraph
Sunday Times
Telegraph
Time
Times
Wall Street Journal
Wikipedia
Página deixada intencionalmente em branco
Índice
Apple 7-12, 37-38, 80, 108, 112, 113, Bayley, S 80-81, 120
155, 181, veja também Jobs, Steve Beatty, J 72, veja também Drucker, Peter
como anti-Microsoft 12 Bechtolsheim, A 34
e comando de mercados 11 Beirne, D 126
e John Sculley 10 Bennett, A 63
e Safari 37 Berezovsky, Boris 191
fanboi 12 Berkshire Hathaway 19, 21-24, veja
iMac 9 também Buffett, Warren
iPad 10, 29, 113 relatório anual (2002) 22
iPhone 10, 11, 12, 38, 112, 113 Berners-Lee, Sir Tim 2, 4, 41-46
iPod 10, 11, 12, 112, 201 coloca o primeiro site da Web
iTunes 29 on-line 43-44
Lisa 8 como defensor da neutralidade da
Macintosh 9, 10 rede 45
participação de mercado (2010) 29 como membro do CERN 43
processa a Microsoft 110 e Robert Cailliau 43
segundo no índice S&P 500 (2010) 11 escreve o software Enquire 43
Ash, Mary Kay 1, 4, 101-106 estabelece a World Wide Web
abre a Beauty by Mary Kay 103-105 Consortium (W3C) 44
e a cor rosa 101, 105 lança a World Wide Web
estabelece seminários corporativos Foundation 45
104-105 primeira fase da vida e educação de
fãs de 102 42-43
filosofia de 105-106 torna-se professor de Ciência da
GM produz Cadillacs cor-de-rosa Computação 45
para 105 Bezos, Jeff 25-31, 41
listada na Bolsa de Valores de Nova como a pessoa do ano da revista Time
York 105 (1999) 27
primeira fase da vida e educação de e o projeto Blue Origin de viagens
102-103 espaciais 30
sucesso inicial de 103 funda a Amazon.com. 25, 27 veja
Australian Food News 140 também Amazon.com
Australian Women’s Weekly 88 lança livraria on-line (1995) 27
primeira fase da vida e educação de
Bain & Co. 125 25-26
Ballmer, Steve 109, veja também Gates, sobre a sobrevivência da Amazon 30
Bill e Microsoft vende 2 milhões de ações da Amazon
como CEO da Microsoft 112 (2010) 30
Índice 211
Grove, Andy 5, 7, 25, 71, 181-187, veja conceito de pré-montagem (faça você
também Intel mesmo) 78
chega a Nova York 182 críticas da 80-81
como CEO da Intel 184 estrutura de propriedade da
doenças de 184-186 81-82
escreve sobre seu câncer na Fortune expansão da 78
184-185 incorporações
ingressa na Fairchild Semiconductor Ben & Jerry’s pela Unilever 52
182-183 Cadbury pela Kraft 52
na Intel 182-186 Green & Black’s pela Cadbury 52
nomeado Homem do Ano (1997) Prosperando no caos 161
pela revista Time 185 The theory and practice of selling
primeira fase da vida e educação de the Aga cooker 115, veja também
181-182 Ogilvy, David
Guardian 170 Independent sobre Ingvar Kamprad 82
sobre Abramovich (2004) 192 Intel 181-186
Guerrera, F 147 chips de memória 181, 183
desenvolve o chip Pentium 184
Hanauer, N 27, veja também Bezos, e a campanha Operation Crush
Jeff 183-184
Handy, C 165 e consequente crise 184
Harrigan, K 162-163 e IBM 183
Helú, C S 107 participação de mercado 186
Hewitt, Ogilvy, Benson & Mather, veja promove a própria reestruturação
Ogilvy, David (1975) 183
Hewlett Packard 154-155 International Investor 197
Hewlett, B 7 internet
Hotmail 36-37, 112, veja também e Arpanet 42
Microsoft primeira mensagem transmitida via
Hughes, F 138 42
Human Rights Watch 195
Jack: definitivo 145, veja também Welch,
Iacocca: A Biography 2 Jack
IBM 109-111, veja também Microsoft Jackson, M 88-89
como fabricante de hardware 110 Jacobs, J 88, 90, veja também Winfrey,
e Intel 183 Oprah
IKEA 78-81 Japão 3, 27, 28, 60, 74, 161, 169, 184
catálogo 80 veja também Morita, Akio e Sony
Índice 215
Jobs, Steve 3, 7-12, 17, 25, 108, 112, compra restaurante dos irmãos
155, 181 McDonald 60
compra a Pixar 9 compra time de beisebol 60
funda a Apple com Steve Wozniak 8, conhece os McDonalds/adquire
veja também Apple funda a franquias 56-57
NeXT 9 despotismo de 106
ingressa no Homebrew Computer e o relacionamento com os
Club 8 franqueados 58-59
nascimento e adoção de 7-8 obstinação e visão de 57-58
saúde de 12 primeira fase da vida e educação de
55-56
Kamprad, Ingvar 1, 77-83
cria a IKEA 78, veja também IKEA Labich, K 178
e Leading by Design: The IKEA story Lamont, N 197
79-80 Leading by Design: The IKEA story
frugalidade e ética no trabalho de 79 79-80
personalidade/vida pessoal de 79-80, legislação, Estados Unidos 127
82 Lei Nacional de Proteção à Criança
primeira fase da vida e educação de (1993) 89
77-78 Levitan, D 137-138
torna-se anunciante no INGKA subscreve a oferta pública inicial
Holdings 78-79 (IPO) da Starbucks 137-138
Keegan, V 170 e Wertheim Schroder & Co 137
Kelleher, Herb 173-179, veja também Levy, G 192
Southwest Airlines Levy, S 30
e a confiança na equipe 178 Linux 37, 113, 155
funda a Southwest Airlines 176
primeira fase da vida e educação de Major, J 197
175-176 marca Virgin 13-15, 17
Keynes, J M 73 flutuação de 1986 da 16
Kroc, Ray 1, 5, 55-61, 93, 95, 98, Branson retorna 16
104, 123, 135-136, veja também os primeiros anos da 15
McDonald’s marcas Virgin
abre o primeiro McDonald’s 57 Atlantic 15-16
assume o cargo de CEO 61 companhia aérea Blue (australiana)
comercializa “multiprocessadores” 16
56 Fuel 16
como inovador 58 Galactic 16
216 28 mentes que mudaram o mundo