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Cop y right © 2012 by The M cGraw-Hill Comp anies, Inc. All rights reserved.
Diretor editorial: Pascoal Soto
Editora executiva: M aria João Costa
Assessores editoriais: Bruno Fiuza e Raquel M aldonado
Tradutor: Alice Klesck
Prep aração de texto: Beatriz Sarlo
Revisão de texto: Breno Barreto
Designer de cap a: Ideias com p eso
Editoração eletrônica: Abreus’Sy stem
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
W264q Wartzman, Rick
O que Drucker faria agora?: soluções p ara os mais duros desafios, segundo o p ai da administração moderna / Rick Wartzman;
[organização Raquel M aldonado ; coordenação M aria João Costa ; tradução Alice Klesck ]. São Paulo : Ley a, 2013.
336 p . : 23cm
Tradução de: What would Drucker do now?
ISBN 9788580447064
1. Drucker, Peter Ferdinand, 1909-2005. 2. Administração
3. Finanças. I. Título.
13-1455. CDD: 658
CDU: 005
2013
Todos os direitos desta edição reservados a
TEXTO EDITORES LTDA.
[Uma editora do Grup o Ley a]
Rua Desembargador Paulo Passaláqua, 86
01248-010 – Pacaembu – São Paulo – SP – Brasil
www.ley a.com.br
Para Randye, porque eu te amo loucamente
A pesar do título deste livro, não tenho a menor ideia do que Peter
Drucker faria. A verdade é que ninguém tem. Charles Handy, filósofo social
britânico, frisou que Drucker “deleita-se em surpreendê-lo”. O escritor
Jeffrey Krames mencionou que Drucker tinha uma inclinação para arranjar
“ideias contra-intuitivas”, enquanto um de seus ex-alunos de doutorado
explicou da seguinte forma: ele era “frequentemente imprevisível e quase
sempre provocador e original”.
Apesar disso, há quase quatro anos, escrevo a coluna on-line “The
Drucker Difference”, para a Bloomberg Businessweek (ex-BusinessWeek),
com o intuito de oferecer uma ideia de como Drucker talvez reagisse a
questões atualmente predominantes nas manchetes.
Dizer que tem sido um privilégio extrair de seus 39 livros e inúmeros
artigos de jornais e revistas seria pouco. Adoro elaborar “The Drucker
Difference” no que passei a considerar uma tentativa quinzenal de alcançar
algum tipo de união mental com uma das maiores mentes do século XXI.
Tenho que confessar, no entanto, que assumi a coluna um tanto
relutantemente. Logo que me tornei diretor do Drucker Institute, em 2007,
depois de uma carreira de vinte anos como repórter e editor do The Wall
Street Journal e do Los Angeles Times, escrevi uma matéria sobre
especulação, na BusinessWeek, a respeito do que Drucker poderia ter achado
da inundação de recalls de produtos chineses, como tintas contendo chumbo
e outros perigos. Francamente, fiz isso porque, à época, não tinha certeza do
que minha nova função envolvia; escrever era o que eu me sentia apto a
fazer.
No final das contas, o texto foi um sucesso. Atraiu mais olhares do que
qualquer outro no website da BusinessWeek naquele fim de semana e evocou
uma série de respostas interessantes. Claramente, as visões de Drucker ou as
minhas, ou, mais precisamente, essa combinação de nós dois, repercutiu
entre os leitores.
Na semana seguinte, John Byrne, então editor executivo da BusinessWeek,
me perguntou se eu gostaria de contribuir com uma coluna regular, baseada
nos ensinamentos de Drucker. “Certamente”, eu lhe disse. Afinal, isso foi um
golpe súbito. O que mais eu diria?
Porém, por dentro, eu estava incrivelmente nervoso. Minha mente, se não
meu coração, estava acelerada: por quanto tempo eu poderia levar o bico
adiante? Será que Drucker (que faleceu em 2005, pouco antes de fazer 96
anos) realmente tinha suficiente a dizer sobre assuntos contemporâneos?
Pareceria estranho intermediar um cara morto?
Quase cem colunas depois – e com a ajuda e o apoio de duas editoras
maravilhosas, Patricia O’Connell e Rebecca Reisner –, fico feliz em relatar
que todos os meus temores foram deixados de lado há muito tempo. Eu não
somente consegui manter a coluna “The Drucker Difference”, como tive a
chance de utilizá-la para cobrir uma quantidade extraordinária de assuntos.
Abordei o colapso da Lehman Brothers; o resgate federal da General
Motors; os problemas de aderência com o acelerador da Toyota; e a
inovação na Apple, Google, Wikia e Sony. Mas também pude escrever sobre
o movimento de voluntariado e serviço, as complexidades raciais nos
Estados Unidos, o custo elevado do ensino superior, o plano de assistência
médica do presidente Obama, as mulheres em seu local de trabalho, o papel
da espiritualidade no emprego e até sobre música, arte e beisebol.
O motivo dessa abrangência é simples: a vastidão e a profundidade do
conjunto da obra de Drucker são nada menos que notáveis. Muito além de um
pensador de administração, Drucker habitou e ajudou a moldar “o mundo de
ideias”, como Warren Bennis descreveu. Ele acrescenta que, se isso não for
com efeito apreciado, “corremos o risco de posicionar Drucker num contexto
excessivamente estreito e intelectual e iremos fracassar em fazer jus à sua
contribuição ímpar”.
De fato, por conta do escopo de Drucker – e as 10 mil páginas que ele
deixou – eu realmente pude compor todas aquelas colunas sem usar a mesma
citação duas vezes. (Tudo bem, eu bobeei uma vez e descobri mais tarde que
tinha acidentalmente duplicado uma citação.) Drucker tinha tantos insights a
compartilhar que não há necessidade de me repetir.
Quanto a recorrer de forma tão pesada ao trabalho de uma pessoa falecida,
isso não tem nada de estranho. Há três razões pra isso. Primeira, a escrita de
Drucker é tão fundamental – ele foi, conforme a BusinessWeek declarou, “o
homem que inventou a administração” – que seu trabalho possui uma
qualidade eterna. Kenneth Wilson, cientista e reformador educacional
ganhador do Prêmio Nobel, uma vez me disse que o que Newton foi para a
matemática, Darwin para a biologia e Einstein para a física, Drucker foi
para o nosso entendimento de organização e sociedade.
Segunda, Drucker enxergava tão longe que estamos apenas começando a
ter uma noção de muitos dos temas sobre os quais ele escreveu, até o fim da
vida, incluindo o que significa – sob muitos pontos de vista – viver numa era
de conhecimento.
Terceira, há a minha própria forte ligação com Drucker. Acima de tudo,
nossos valores estão em sincronia. Além disso, embora ele tivesse inúmeros
papéis, incluindo o de professor e consultor, ele se considerava um escritor,
em primeiro lugar; essa é uma identidade que compartilho.
Devo mencionar que nunca tive a chance de conhecer Drucker. Mas, como
você pode imaginar, eu me sinto como se o tivesse conhecido. Por meio de
suas palavras, ele certamente me ensinou mais do que qualquer outra pessoa.
É claro que não estou sozinho ao expressar esse sentimento. “Uma grande
parcela de instituições produtivas ao redor do mundo é liderada por homens
e mulheres que consideram Drucker seu guia intelectual, se não seu mentor
pessoal”, frisou T. George Harris, ex-editor da Harvard Business Review.
Ele igualmente inspirou novas gerações de estudantes que o veem como
exemplo. Como certa vez colocado por Gary Hamel e C.K. Prahalad:
Drucker “tem sido um farol, guia infalível, iluminando o caminho em direção
às questões administrativas de amanhã”. Espero que “The Drucker
Difference” esteja ajudando a manter viva essa luz e a fazê-la brilhar com
um pouquinho mais de intensidade.
CAPÍTULO 1
Administração como uma disciplina
Peter Drucker: eterno, onipresente
A grande ideia
Quantas pessoas você pode listar cujas ideias – e ideais – estavam sendo
discutidas em 1939, 1969, 1999 e, certamente, serão em 2039? Da mesma
forma, quantas pessoas você pode citar cuja consultoria foi solicitada e
seguida (em níveis variados) tanto por Jack Welch, diretor executivo da
General Electric, quanto por Cesar Chavez, líder da União dos
Trabalhadores Agrícolas? Quantos têm crédito por inspirar uma organização
como a Girl Scouts, enquanto auxilia um gigante financeiro como Edward
Jones?
O extraordinário poder de permanência de Drucker e seu vasto alcance
abrangem vários fatores: a profundidade e amplitude de seus insights, uma
habilidade incomum de antever o futuro e um estilo de prosa claro como a
água da montanha.
Porém, talvez, mais que tudo, ele ainda permaneça altamente relevante,
dois anos após sua morte, aos 95 anos, porque repetidamente nos lembrou
que a administração responsável não tem a ver com jargões. Não tem a ver
com modismos. No final das contas, não tem a ver com novos produtos nem
com engordar o lucro final (embora ele julgasse essas coisas importantes).
Em vez disso, tem muito mais a ver com princípios fundamentais, uma
filosofia que cresceu diretamente a partir da experiência de Drucker como
um jovem escritor que havia testemunhado o surgimento da Alemanha nazista
(que, no início dos anos 1930, bania e queimava o trabalho nativo da
Áustria).
Drucker escreveu que administração, em seu âmago, “lida com pessoas,
seus valores, crescimento e desenvolvimento – o que a torna uma disciplina
da área de humanas. Portanto, ela afeta e impacta a estrutura social e a
comunidade. De fato, como todos aprenderam quem tem trabalhado com
gestores de todos os tipos de instituições de todos os tipos, por muitos anos,
a administração está profundamente envolvida em interesses morais – a
natureza humana, o bem e o mal”.
A cada duas semanas, essa coluna se empenhará em ligar os ensinamentos
de Drucker aos acontecimentos dos noticiários. E, de tempo em tempo,
também irá apresentar as visões mais recentes de estudiosos e praticantes
que foram fortemente influenciados por Drucker. O que não falta por aí é
esse pessoal, desde o presidente executivo da Procter & Gamble, A.G.
Lafley, até Jim Collins, autor campeão de vendas, que em seu livro Built to
Last: Successful Habits of Visionary Companies [Feito para durar: hábitos
de sucesso de empresas visionárias] disse que a obra poderia ter sido
intitulada Drucker estava certo.
O segundo fator que torna Yunus tão eficaz é que, mesmo havendo muito mais
que uma menção de idealismo em sua iniciativa, ele conscientemente tenta
“evitar as filosofias grandiosas e assumir uma abordagem pragmática”. Com
essa finalidade, o Grameen respalda suas ações em uma profunda análise de
mercado, estimula seus empregados, busca ativamente as informações dadas
pelos clientes e continuamente melhora seus produtos e serviços.
Isso, é claro, é clássico de Drucker. Apesar do “romance da invenção e
inovação”, Drucker advertiu que “flashes de genialidades” não chegam
muito longe. O que leva um negócio adiante é “o trabalho duro, organizado e
determinado”.
Veja você mesmo. Dê uma olhada no novo livro de Yunus e, se ainda não
leu, olhe o primeiro: Banker to the Poor. Eles não são apenas inspiradores,
são altamente informativos – fantásticos estudos de casos sobre a maneira de
administrar um negócio da maneira correta. Ou seja, da maneira Drucker.
31 de janeiro de 2008
Pensamento abrangente
A arte de ouvir
Porém, o que eu mais percebi foi que Handy nem sempre domina os
holofotes. Ele frequentemente se retirava por um tempo para discretamente
observar a interação de outros à sua volta, no papel de espectador,
exatamente como Drucker adorava fazer. E quando Handy se via no centro de
uma conversa, ele não apenas respondia a perguntas; ele também as fazia,
muitas.
Certamente, Drucker teria aplaudido. “Muitos se acham maravilhosos
porque falam bem”, ele frisou, certa vez. “Eles não percebem que ser
maravilhoso com as pessoas significa ser um bom ouvinte.”
No entanto, não fui arrebatado apenas pela habilidade que Handy possui
de abrir amplamente os seus olhos e ouvidos. Foi o fato de voltá-los para o
maior número possível de direções, na direção dos acadêmicos, executivos
corporativos, os que são ativos no setor social e, mais avidamente, na dos
artistas de todos os tipos.
“Você precisa sair de sua própria caixa”, diz o homem de 75 anos, cuja
recém-lançada autobiografia, Myself and Other More Important Matters
(Eu mesmo e outras questões mais importantes) traça sua carreira como
executivo da Shell, cofundador da London Business School, oficial da Igreja
Inglesa, locutor de rádio e autor de best-sellers. “Caso contrário, você deixa
de ser criativo.”
Ampliando perspectivas
Com essa finalidade, Handy e sua esposa, uma fotógrafa com quem ele
frequentemente trabalha, seguem uma porção de regras quando viajam. Uma
delas é usarem transporte público sempre que possível; isso serve como uma
ótima janela para a cultura cotidiana. Outra é que eles sempre organizam um
encontro com um grupo de meia dúzia, ou trinta e poucas pessoas, para que
possam ter sua visão do cenário local e, como diz Liz, “ouvir seus sonhos”.
Fica claro o motivo pelo qual essa forma de imersão na civilização é do
interesse de alguém que se descreve como “filósofo social”, como Handy.
Também deveria ser claro para todos nós, em nível pessoal, por que nos
beneficiamos de ver mais do mundo. Porém, o que pode ser menos óbvio é
também a necessidade de ampliação das perspectivas das instituições –
sejam públicas, privadas ou filantrópicas.
O primeiro passo, claro, é que os dirigentes do negócio saiam de trás de
suas mesas e observem. Não há atalhos. Como Drucker percebeu, há mais de
40 anos, “aqueles que decidem precisam de informação organizada para
formar sua opinião. Eles precisam de relatos e números. Mas, a menos que
construam sua opinião ao redor da exposição à realidade – a menos que se
disciplinem para sair e olhar – estão fadados a um dogmatismo estéril”.
Enxergando além das fronteiras tradicionais
O passo seguinte é ser inteligente quanto à direção para onde olhar. Como
identificado por Drucker, isso frequentemente exige um olhar para locais não
tão familiares. Ao longo do anos 1800, até a primeira metade de 1900, ele
escreveu em Management Challenges for the 21st Century, “pode ter sido
subestimado o fato de que a tecnologia fora do próprio setor não tinha
impacto algum, ou tinha impacto mínimo, no setor. Agora, a suposição do
ponto de partida é que a tecnologia mais provável a causar o maior impacto
numa companhia e num setor é a tecnologia fora de seu próprio campo”.
Handy vai ainda mais longe, alertando que as empresas devem pesquisar
além de suas fronteiras tradicionais para melhor entenderem não apenas a
tecnologia, mas um número incontável de práticas e processos. Digamos que,
por exemplo, um fabricante precise de uma equipe de talento para um projeto
que terminará após um período breve. A sugestão de Handy: providencie
uma visita a um dos estúdios de Hollywood. Eles sempre gerenciam
trabalhos temporários de alta qualidade.
Protegido dedicado
Algumas epifanias
A lguns anos atrás, logo depois que fui contratado como diretor do
Drucker Institute, um dos meus colegas, membro da comissão de diretores,
me entregou um pequeno texto que ele descreveu como “pedra angular” do
trabalho de Peter Drucker e me disse para prestar muita atenção ao que
dizia.
Era o prefácio da edição de 1973 de Management: Tasks,
Responsibilities, Practices. Drucker havia intitulado a composição de “A
alternativa à tirania”.
Eu li algumas vezes, depois mandei um bilhete de gratidão a Bob Buford,
pioneiro da TV a cabo, empresário social, escritor e amigo querido de
Drucker, agradecendo por ele ter compartilhado o texto comigo.
Mas a verdade é que eu realmente não reconheci seu verdadeiro teor até
essa semana, quando a tempestade irrompeu sobre a American International
Group (AIG).
Deixe-me ser claro: não estou insinuando que estamos todos prestes a cair
nas garras de algum remanescente do stalinismo do século XXI. Deixe-me
ser igualmente claro em relação ao que a AIG fez, ao “fazer todas as apostas
inescrupulosas”, na bolha armazenada, conforme dito por Bem Bernanke,
presidente do Fed (Sistema de Reservas Federais), e a distribuição desses
“pagamentos retidos” ultrajantes, não pode ser apoiado de forma alguma.
E estou certo de que Drucker teria se sentido da mesma forma. “Fico
horrorizado pela ganância do executivo de hoje”, ele declarou, em 2000,
referindo-se aos que estão mais interessados em ganhos de curto-prazo “do
que na construção de negócios sustentáveis”.
No entanto, eu acho que Drucker não sentiria apenas aversão à conduta da
AIG; ele também lançaria um olhar nervoso às reações diante daquilo.
Realmente, o fato de que tantos têm protestado para que o governo anule,
unilateralmente, os contratos que cobrem esses bônus da AIG (por serem
uma insanidade); que o deputado Barney Frank (do Partido Democrata do
Massachusetts), o presidente da House Financial Services Committee
(Comitê Financeiro) declarou que nós deveríamos “esquecer sobre a questão
legal por um segundo”; que guardas armados foram colocados nos
escritórios da AIG, em decorrência das ameaças de morte; que um senador
americano (Charles Grassey, Partido Republicano, de Iowa) convocou os
executivos da AIG a “pedirem demissão ou se suicidarem”, tudo isso é o
cerne do que Drucker estava dizendo. Quando os administradores são
irresponsáveis, quando grandes empresas desmoronam, nós, como uma
sociedade, nos vemos diante de reações imprevisíveis e, às vezes, extremas.
“Crise de crença”
Ação e aplicações
A administração “lida com ação e aplicação; e seu teste são seus resultados.
Isso a transforma numa tecnologia”, Drucker explicou em The New Realities.
“Mas gestão também lida com pessoas, seus valores, crescimento e
desenvolvimento – e isso a torna uma disciplina na área de humanas... A
gestão é, portanto, o que a tradição costumava chamar de ‘arte liberal’:
‘arte’ porque é a prática e aplicação; ‘liberal’ porque ela lida com os
fundamentos do conhecimento, do autoconhecimento, da sabedoria e da
liderança.
Prosseguiu Drucker: “Gestores recorrem a todo conhecimento e insights
das ciências humanas e sociais – da psicologia e filosofia, economia e
história, ciências físicas e éticas.”
O fato de tantas corporações e outras instituições terem perdido essa visão
é algo dolorosamente óbvio hoje em dia. Isso não quer dizer que se mais
presidentes e reguladores tivessem meramente estudado os alertas de
Aristóteles sobre “a aquisição ilimitada da riqueza”, ou digerido o Little
Dorrit, de Dickens, a crise financeira ou o escândalo Madoff teriam sido
evitados. Mas parar para pensar nessa sabedoria não teria feito mal.
Não é que as pessoas tenham parado de escrever; segundo uma estimativa,
um novo livro de ficção é publicado nos EUA a cada trinta minutos. Também
não é que as pessoas tenham parado de ler (embora cada vez mais gente
esteja fazendo isso online). O The National Endowment of the Arts publicou
uma pesquisa, no último janeiro, mostrando que pela primeira vez, em mais
de 25 anos, os adultos americanos estão consumindo mais literatura.
O X da questão
O que também foi deixado claro pelo Squaw Valley, essa semana, é que o
trabalho de valor nunca vem com facilidade. “Não acredito em gênios”,
declarou, numa noite dessas, a escritora Dorothy Allison, autora dos best-
sellers Bastard Out of Carolina e Cavedweller. Com isso, ela implorou a
todos que estavam tentando ter seu primeiro livro publicado que
continuassem lapidando o manuscrito – por 19 esboços, se necessário fosse
– até ficar simplesmente certo.
Gestores poderiam se beneficiar do mesmo conselho básico. “Homens
brilhantes”, frisou Drucker, “são muitas vezes surpreendentemente vãos; eles
deixam de perceber que o insight brilhante, em si, não é uma realização.
Eles nunca aprenderam que aqueles insights só se tornam efetivos através de
trabalho duro e sistemático”.
Finalmente, e o mais importante, são os livros. Enquanto eu estava
sentado, ouvindo Allison, Dagoberto Gilb, Lynn Freed e outros lerem suas
mais recentes narrativas, fui lembrando do quanto a literatura pode iluminar
um assunto que está no coração da administração: a condição humana. “A
cada verão, eu releio – e tenho feito isso há vários anos – os romancistas
principais”, Drucker escreveu a um amigo, em 1997. Dentre os quais,
segundo ele, estavam Austen, Thackeray, Trollope e George Eliot. “Nunca
leio livros de gestão”, acrescentou. “Eles só corrompem o estilo.”
Eu consigo pensar, é claro, em pelo menos um escritor sobre gestão cujo
trabalho se qualifica como uma grande exceção.
7 de agosto de 2009
Refletindo sobre Prahalad
Refletindo sobre Drucker
Drucker Destilado
“Atitude predisposta”
Valores compartilhados
F requentemente diziam que Peter Drucker era economista. Ele não era.
Ele às vezes se referia à teoria econômica, junto com a história, sociologia,
filosofia, teologia, arte e literatura, à medida que lapidava seus princípios de
gestão. E ele admirava, particularmente, o economista austríaco Joseph
Schumpeter, com seu conceito empresarial de “destruição criativa”.
“Está ficando cada vez mais claro”, escreveu Drucker, em 1983, “que é
Schumpeter quem irá moldar o pensamento e informar as questões sobre a
política econômica para o resto desse século, se não pelos próximos 30 ou
50 anos”.
Mas Drucker, que tinha doutorado em direito internacional, não conseguia
evitar zombar dos praticantes da ciência sinistra por muitas vezes estarem
lamentavelmente desinformados. “Em toda a história”, Drucker disse uma
vez, “não houve um economista sequer que precisasse se preocupar de onde
vinha a próxima refeição”.
De bem-sucedido a presunçoso
Contudo, segundo Drucker, é num nível bem mais profundo que a religião
tem uma influência positiva no mundo do trabalho e também no mundo como
um todo. “A sociedade precisa se voltar aos valores espirituais, não para
contrabalançar o material, mas para torná-lo inteiramente produtivo”,
Drucker escreveu em seu livro Landmarks of Tomorrow, de 1957. “Por mais
remota que seja a percepção para a humanidade, hoje existe a promessa da
abundância material ou, pelo menos, da suficiência material.”
“A humanidade precisa voltar aos valores espirituais, pois ela precisa de
compaixão”, continua Drucker. “Ela precisa da experiência profunda do Tu e
Eu, que somos um, algo que todas as religiões elevadas compartilham.”
Levar tais ideias ao escritório pode ser difícil, é claro. Alguns, sentindo-
se ofendidos, sem dúvida irão recuar, fugir. “Os americanos estão cada vez
mais concentrados no lado oposto do espectro religioso – os altamente
religiosos de um lado e os reconhecidamente leigos do outro”, comentam
Robert Putnam e David Campbell no novo livro American Grace. (Eu sou
um judeu semi-observador que está se esforçando para dar o grande salto do
puro raciocínio para a fé verdadeira.)
A Influência de Kierkegaard
Quanto a Drucker, ele foi criado num lar austríaco, onde, segundo descreveu,
“o protestantismo luterano... era tão ‘liberal’ que consistia em pouco mais
que uma árvore no Natal e cantatas de Bach na Páscoa”. Ainda jovem, ele
ficou profundamente comovido pelo livro Fear and Trembling, do filósofo
religioso dinamarquês Soren Kierkagaard. Após lê-lo, Drucker determinou:
“Minha vida teria que ter uma dimensão existencial que transcendesse a
sociedade.” Quando ficou mais velho, ele se tornou membro praticante da
Igreja Anglicana, embora expressasse consideração pela mega igreja
pastoral, que ele identificou como “certamente o mais importante fenômeno
social” dos Estados Unidos no fim do século XX.
Ele nunca foi de chamar atenção para a própria espiritualidade. Mas
muitos a veem como um forte viés em seu trabalho. A “sabedoria prática” de
Drucker e seu inabalável “ímpeto pelo propósito moral” estão
“profundamente enraizados na fé cristã”, conclui Timo Meynhardt, diretor
executivo do Centro de Liderança e Valores Sociais, da Universidade de St.
Gallen, na Suíça, numa matéria publicada no começo deste ano.
Talvez não haja maior evidência disso do que a forma como Drucker
prestava aconselhamento às empresas quanto ao tratamento de seus
funcionários, isto é, como bens de imenso valor. Grandes empresas
“precisam oferecer oportunidades iguais de progresso”, Drucker escreveu
em Concept of the Corporation. “Isso é simplesmente a exigência
tradicional pela justiça, uma consequência do conceito cristão de dignidade
humana.”
É preciso notar que todas essas ofertas são relativamente fáceis de prover
quando praticamente tudo parece estar indo tão bem e o panorama financeiro
é tão radiante. Mas se a ostentação da Google tropeçar – como aconteceu
com inúmeras outras firmas que pareciam invencíveis –, seu compromisso
com todas essas áreas certamente será testado.
Ao longo do tempo, o próprio Drucker abriu mão da visão de “planta
comunitária”, tristemente convencido de que a maioria das empresas estava
acostumada com o resultado final e nada mais. Também se tornou mais
difícil promover o paradigma de “empresa-comunidade” com a estabilidade
de empregos nos EUA e o crescimento em outros lugares. Ao final da década
de 1980, ele começou a olhar na direção do setor não lucrativo, como um
setor que “dá às pessoas um senso comunitário, dando propósito e direção”.
Talvez ele tenha abandonado cedo demais o modelo de local de trabalho
como instituição social. Mas, também, quem poderia imaginar que a empresa
de pensamento mais avançado em 2007 seria tão ousada em adotar um
conceito que Drucker tinha concebido havia mais de meio século?
25 de outubro de 2007
A Toyota perdeu o jeito?
Deslizes de qualidade
Nos últimos meses, a Toyota tem sido acometida por uma série de
problemas, incluindo a partida de vários altos executivos de sua unidade
norte-americana; queda nas vendas (embora tenha havido uma retomada, em
outubro); e a condenação dos ambientalistas, que desafiaram o compromisso
da empresa quanto a lutar contra o aquecimento global.
O mais sério tem sido o aumento das preocupações quanto à
confiabilidade dos veículos Toyota. Em outubro, a Consumer Reports disse
que a qualidade sofre um deslize tão ruim que a publicação iria parar de
fornecer o selo de aprovação automática aos modelos novos ou
redesenhados da Toyota. Uma série de recalls relevantes, nos últimos anos,
também manchou a linha de produção da Toyota, invejada pelo mundo todo.
A Toyota minimizou vários de seus problemas, argumentando que à
medida que prossegue se expandindo e prosperando, mais e mais pessoas se
apressam em criticá-la. “O prego que está mais alto é o que toma a
martelada”, um porta-voz da companhia disse recentemente a um repórter,
mencionando um antigo provérbio japonês.
Sem dúvida, existe verdade nisso. Mas, não se enganem: a questão é sobre
a qualidade inferior, e não rir da desgraça alheia.
Progresso contínuo
A o me sentar para trabalhar nesta coluna, não pude deixar de sentir que
estava emprestando minha voz ao coro que diz “a Wikia é uma droga”.
Afinal, a ferramenta de busca da internet lançada este mês por Jimmy Wales,
cofundador da Wikipedia, não parecia estar fazendo muito para ressaltar a
existência da minha organização, a Drucker Institute.
Quando digitei nosso nome no campo de busca, cheguei razoavelmente
perto: o primeiro resultado que apareceu foi o website de nossa filiada, a
Peter F. Drucker & Masatoshi Ito Graduate School of Management. Mas
nosso próprio site não estava em lugar algum à vista.
Depois de passar pelos 100 primeiros registros, incluindo links errados,
indicando uma empresa de joias, um grupo de fãs de palavras-cruzadas do
Canadá, o violinista Eugene Drucker e a Câmara de Comércio da Península
de Virginia – sem ver www.druckerinstitute.com, eu desisti. (Em contraste,
no Google estávamos em nosso local habitual: o primeiro.) “A busca da
Wikia é uma completa decepção”, exclamava a manchete do
TechCrunch.com. Na SearchEngineLand.com, a crítica era igualmente seca,
caracterizando a Wikia como uma “porcaria”.
Ainda assim, não posso deixar de pensar que o homem cujas ideias meu
instituto leva adiante, Peter Drucker, teria adorado o que Wales está
tentando: fazer com que as pessoas tenham um papel mais atuante e o
computador, menos, quando se trata de interpretar a informação e espalhar o
conhecimento.
Muito tempo antes que alguém sequer vislumbrasse, isso Drucker reconheceu
que nós estávamos em meio a uma transformação histórica. Ele chegou a
chamar a era em que nós tínhamos ingressado de “sociedade pós-
capitalismo” – uma era na qual o trabalho, a terra e o capital são menos
importantes, e “os principais produtores de riqueza passaram a ser a
informação e o conhecimento”. Os ocupantes desse novo mundo são, é claro,
“os trabalhadores com conhecimento” – um termo que Drucker cunhou em
1959.
Mas nem sempre Drucker esteve tão apaixonado pela forma como o
conhecimento estava sendo cultivado. Uma coisa é certa: ele mencionou que
a tecnologia da informação estava excessivamente focada na “T”
(tecnologia), ou seja, na coleta, armazenagem, transmissão e apresentação
dos dados, sem foco suficiente na natureza da “I” (informação). Segundo ele
disse, “Qual é o significado da informação? Qual o seu propósito”?
O que nos leva a essas questões, ele escreve em Management Challenges
for the 21st Century, em 1999, não é “mais dados, mais tecnologia, mais
velocidade”. O necessário é recuar e descobrir que tipo de informação
ajudaria mais a executar a tarefa da hora – uma determinação na qual as
criaturas vivas tenham uma vantagem clara sobre os cálculos frios.
Uma coletânea dos estudos de casos escritos por Drucker e atualizada por
meu colega da Claremont Graduate University, Joe Maciariello, cita a fusão
do Citibank e da Travelers – uma transação iniciada por Sandy Weill,
presidente da Travelers – como exemplo de como isso pode ser feito da
maneira certa. Na época, o Citibank desfrutava de uma forte presença global.
A Travelers, por sua vez, ostentava um esplêndido portfólio de produtos e
serviços financeiros.
“O que a Travelers viu como possibilidade de contribuição própria”,
explicaram Drucker e Maciariello, “era aumentar enormemente o volume de
negócios que o soberbo sistema de distribuição mundial do Citibank poderia
vender por um custo mínimo, ou sem custo algum”.
Então, o que a Microsoft poderia prover se acabasse conseguindo
arrematar o Yahoo? Alguns analistas dizem que muito. Imran Khan, do
JPMorgan Securities, frisou, por exemplo, que o alcance internacional da
Microsoft poderia ser algo. “Se você olhar para o Yahoo”, diz ele, “vê que
ele é muito forte nos Estados Unidos, mas não tão forte fora do país, ao
passo que a Microsoft tem uma posição mais forte no mercado europeu”.
No entanto, a maioria dos observadores aponta para os benefícios que o
Yahoo traria à Microsoft, não o contrário. Entre eles: uma parcela das
receitas proveniente de propaganda online que é mais que o dobro da receita
do MSN, da Microsoft; ofertas que o Yahoo já fez online, divulgando teorias
de leilão e extração de dados; e, como Jeffrey Rayport, da empresa de
consultoria Marketspace, colocou, “características com o tipo de sex appeal
que a Microsoft, em si, jamais alcançaria”.
Treinando e promovendo
Capitalizando a sinceridade
Superando a média
Um dos erros mais comuns dos gestores é colocar uma boa pessoa numa
função errada. Afinal, notou Drucker, “não existe alguém infalível ao julgar
os outros, ao menos não deste lado dos Portões Perolados”. Drucker dizia
que quando alguém comete um deslize, cabe ao chefe dizer: “Não tenho
interesse em culpar aquela pessoa, nenhum interesse em evocar o ‘Princípio
de Peter’ (obra considerada um clássico na área de gestão empresarial) ou
de reclamar. Eu cometi um erro.”
No fim, Drucker dizia que sucesso não é estar certo o tempo todo. Em vez
disso, escreveu ele, em seu clássico de 1973, Management: Tasks,
Responsabilities, Practices, o desempenho tem que ser avaliado em termos
mais semelhantes à superação da média. (Talvez uma forma ainda mais
competente de ver a coisa seja por meio de estatísticas do futebol: às vezes,
você faz um gol, ou dois, às vezes, faz muitos. Mas, outras vezes, você chuta
pra fora. Talvez até na cara do gol.)
Sob o ponto de vista de Drucker, não acertar sempre não é inaceitável; faz
parte do requisito para que uma empresa seja de excelência. “Uma
administração que não define o desempenho como a superação da média é
uma administração que confunde conformismo com realização, confunde a
ausência de fraquezas com a existência de pontos fortes”, disse.
Desempenhos distintos
Batizando a missão
Tudo começa com uma missão. Drucker citou, por exemplo, a Sears
Roebuck, que “nos anos durante e seguintes à Primeira Guerra Mundial
definiu sua missão como a de ser o comprador informado para a família
americana. Uma década depois, Marks e Spencer, na Grã-Bretanha,
definiram sua missão como a de ser o agente da mudança na sociedade
britânica ao se tornarem o primeiro varejista de primeira classe”.
A Mervyns, lançada em San Lorenzo, Califórnia, em 1949, já teve sua
atraente visão própria do que deveria ser: uma loja que proveria produtos de
alta qualidade, por um bom valor, preenchendo um nicho entre a Sears e a
Montogery Ward, que ficavam na ponta mais baixa do mercado, e a ponta
mais elegante, dos clientes de classe A.
Durante as décadas de 1950 e 60, a Mervyns prosperou com essa fórmula,
mesmo diante da forte concorrência com a J.C. Penney e outros. Em 1971, a
empresa abriu capital público e logo ostentava dúzias de lojas, com uma
receita de milhões de dólares. Sete anos depois, Dayton Hudson (agora da
Target) adquiriu a Mervyns e levou-a até o Arizona, Louisiana, Novo
México, Oklahoma, Oregon e Washington. Em 1983, a Mervyns abriu sua
centésima loja. (Agora, tem 177.)
Mas, ao longo de todo esse tempo, a teoria básica do negócio manteve-se
firme; na verdade, a Mervyns continua a se vender como “protótipo mediano
da loja de departamentos”.
O problema é que, ao seu redor, as coisas mudaram. Cada vez mais
concorrentes irromperam no espaço que a Mervyns confortavelmente
ocupava – a Kohl’s, de forma mais proeminente. Enquanto isso, a ideia de
“mediano” já tinha se embaçado, já que as lojas consideradas de camadas
inferiores começaram a vender produtos mais modernos e marcas de
designers. “Não existe mais o mediano”, diz o consultor de varejo George
Whalin. “Não existe.”
Sob circunstâncias tão desafiadoras, o que deve ter se tornado a teoria de
mercado da Mervyns?
Por conta desse arranjo, os empregados também trabalham menos horas. Mas
eles são incentivados a não ficarem ociosos. A Yuhan-Kimberly paga para
que eles tenham aulas e melhorem suas habilidades técnicas e conhecimentos
gerais (através de aulas de chinês, por exemplo). É tudo baseado na filosofia
de aprendizado de vida, o que D.J. Lee, presidente da Yuhan-Kimberley,
chama de “fonte de competitividade e crescimento sustentável” da empresa.
“Tudo se resume ao que Peter Drucker repetidamente escreveu – não ver
as pessoas apenas como dentes numa roda,” diz Edward Gordon, autor de
The 2010 Meltdown: Solving the Impending Jobs Crisis, que recomenda a
“abordagem contra-intuitiva” da Yuhan-Kimberly.
O resultado é que, ao prover um equilíbrio entre trabalho e vida pessoal
mais saudável, dando às pessoas a oportunidade de melhorar suas
habilidades continuamente, dando outros passos para criar uma cultura de
equipe autodirigida, a Yuhan-Kimberly tem visto aumentar a satisfação
profissional de seus 1.700 funcionários. Como tem acontecido com a
produtividade (junto com a parcela de mercado e a receita), que cresceu
tanto, os salários dos trabalhadores também aumentaram consideravelmente.
Enquanto isso, Moon ajudou a montar o New Paradigm Center, uma
instituição custeada pelo governo que está ensinando outras empresas
coreanas a atuarem como a Yuhan-Kimberly.
Essa fórmula não dá certo para todos; implementá-la envolve custos reais
e, consequentemente, riscos reais. Além disso, não há como evitar o fato de
que, durante a recessão, as demissões são fatais, independentemente do que é
tentado. Até mesmo Drucker, que tanto admirava a indústria japonesa por seu
compromisso com o emprego vitalício, reconheceu que esse ideal tendia a se
romper em meio às pressões da globalização.
Mas o que a Yuhan-Kimberly nos lembra é que cortar milhares de
empregos não precisa ser necessariamente a reação automática de uma
economia fraca. Quando as coisas parecem mais sombrias, é hora de inovar,
não de simplesmente eliminar.
5 de dezembro de 2008
Pergunte “Pra quê?” antes de “Quem?”
Especialização efetiva
E mbora seja pura coincidência que a Ford Motor, única grande fabricante
de carros de Detroit que não está pedindo ajuda ao Tio Sam, faça um carro
chamado Focus, é difícil deixar passar o simbolismo. Peter Drucker
certamente teria achado engraçado.
Drucker também não se surpreenderia que as concorrentes da Ford,
Chrysler e General Motors, agora se vissem em dificuldade para se manter
vivas. Ele teve críticas a dizer a respeito das duas empresas ao longo dos
anos. Como já mencionei, Drucker acreditava que, pelo menos desde os anos
1940, quando ele estudou a GM pela primeira vez, seus executivos mais
altos resistiram à mudança de planos e políticas há muito praticados –
embora o mundo ao redor deles tivesse mudado. Resultado: uma empresa
que teve uma dificuldade tremenda de avançar, como uma Chevy atolada na
lama.
A força-tarefa do setor automotivo do presidente Barack Obama focou na
mesma fraqueza quando repreendeu a GM por estar “lenta demais” na
execução do que é necessário para dar uma reviravolta. Mas há outra parte
da força-tarefa com a qual Drucker também teria concordado, pois esta
enfatiza um princípio que ele via como essencial para a boa administração
(embora seja infringido, repetidamente): Não se estique demais. A “GM”,
dizia o comitê da Casa Branca, “reteve um número excessivo de placas de
nomes nas portas, nomes não rentáveis, que macularam suas marcas,
distraíram sua equipe diretora do foco, exigindo dólares escassos no
mercado e representando uma demora na percepção do consumidor, na
parcela e margem de mercado”.
Para Drucker, uma das coisas mais importantes que qualquer instituição
pode fazer é adotar o que ele chamava de “abordagem do rifle”, abstendo-se
“do atravancamento de produtos”. “Os resultados econômicos”, escreveu
ele, “exigem que os gestores concentrem seus esforços em um número menor
de produtos, linha de produtos, serviços, consumidores, mercados, canais de
distribuição, usuários etc., que produzirão maior quantidade de receita”.
Abandonando esses produtos
Concentração é a chave
“A humanidade”, prosseguiu Drucker, “é, de fato, capaz de fazer uma
incrível diversidade de coisas; a humanidade é ‘uma ferramenta
multifuncional’. Mas a forma de aplicar produtivamente a maior abrangência
humana é trazer à luz o grande número de habilidades individuais numa
tarefa. É a concentração na qual todas as habilidades estão focadas numa
única realização”.
A revista Time pode ter intitulado os jovens de hoje como “a geração
multifuncional”, com sua aparente habilidade de fazer o dever de casa,
papear online e ouvir seus iPods, simultaneamente, mas Drucker (um homem
que escreveu 39 livros, lecionou e deu consultoria) evitava assiduamente ser
desviado da atividade principal em curso.
Ele até mantinha uma pilha de cartões previamente impressos com
respostas prontas, permitindo que ele declinasse as distrações potenciais de
forma educada, porém firme e rapidamente. “O Sr. Peter F. Drucker agradece
seu gentil interesse”, diziam os cartões, “mas está incapacitado de endossar
ou revisar livros, manuscritos, ou propostas; de participações em rádio e
televisão; de ingressar em quadros ou painéis de qualquer tipo”, etc., etc.
Na verdade, o “segredo” de gente que “faz tantas coisas”, segundo
Drucker, está no fato de os fazerem um a um. “Corretamente, consideramos
um truque de circo quando alguém mantém dez bolas no ar”, ele escreveu.
“No entanto, até o malabarista só faz isso por 10 minutos. Se ele tivesse que
ficar fazendo por mais tempo, logo derrubaria todas as bolas.”
Ou, talvez, levaria sua empresa ao precipício.
3 de abril de 2009
Uma empresa é mais que o seu presidente
Franqueza e confiança
Isso não significa que você deva ser cínico ou insincero na forma como você
se relaciona com os que estão no escritório com vista. A chave para
administrar as pessoas para quem você trabalha, assim como aquelas que
trabalham para você, é construir relacionamentos baseados em franqueza e
confiança – e, como parte desse processo, reconhecer que todos têm seus
pontos fortes e fracos, e suas idiossincrasias.
“Chefes não são um título no cronograma da empresa, nem uma ‘função’”,
frisou Drucker. “Eles são indivíduos e têm o direito de fazer seu trabalho da
forma que fazem. E é incumbência das pessoas que trabalham com eles
observá-los para descobrir como eles trabalham e se adaptarem à forma
como chefes são eficazes.”
Se seu chefe é mais de leitura, por exemplo, dê-lhe seus relatórios por
escrito. Se ele for mais de ouvir, aproxime-se dele para conversar.
Embora Drucker tenha começado a escrever sobre a administração do
chefe há mais de 50 anos, esse é um assunto que tem ressonância específica
hoje. Drucker notou que quanto mais as instituições se tornam guiadas pelo
conhecimento, mais provável se torna que um supervisor não tenha de fato
desempenhado muitas das tarefas especializadas para as quais seus
subordinados foram contratados.
Dessa forma, a interação que se desenvolve “é bem mais parecida com a que
existe entre o maestro de uma orquestra e os instrumentistas, do que o
relacionamento tradicional entre superior e subordinados”, Drucker
escreveu, em seu livro de 1999, intitulado Management Challenges for the
21st Century. “O superior de uma instituição que emprega trabalhadores
com conhecimento não pode fazer o trabalho de um subordinado, um maestro
assim como são pode tocar a tuba.”
Por outro lado, os que estão nos degraus abaixo detêm mais poder do que
imaginam. “Da mesma forma que uma orquestra pode sabotar o maestro mais
hábil”, disse Drucker, “uma instituição de conhecimento pode facilmente
sabotar até o mais hábil, que dirá um superior despótico”.
Mas seja cauteloso antes de fazê-lo. Descobrir como administrar – em
lugar de prejudicar – o chefe muito provavelmente será de seu interesse
pessoal. Afinal, como Drucker assinalou, uma das formas mais garantidas de
passar adiante é “trabalhar para um chefe que vai chegar a outros lugares”.
10 de julho de 2009
Inovação não é somente para os iniciantes
Saltando à frente
Shapiro, seu sócio Bryan Cantrill e uma pequena equipe são os cérebros por
trás de uma família de sistemas de armazenagem de dados – a 7000 line –
que a Sun apresentou ano passado. O sistema esbanja capacidade, um “app
incrível” que usa gráfico em tempo real, para que os clientes possam
observar e entender o que o sistema de armazenagem está fazendo, e um
modelo de precificação que aparentemente detona a concorrência. Eu mesmo
sou mais para Luddite do que tecnológico, mas posso lhe dizer que as
avaliações da crítica têm sido muito fortes, louvando a velocidade,
simplicidade e baixo custo dos produtos.
Então, como uma instituição consegue surgir com uma dessas? Primeiro,
tem que ter foco na “administração de visão na oportunidade”, escreveu
Drucker. Isso parece simples, frisou ele, mas, em vez de fazer isso, a maioria
das empresas passa grande parte do tempo se concentrando nos problemas. E
não dá pra acertar na mosca se você nem se dá ao trabalho de olhar para o
alvo.
Na Sun, Shapiro e Cantrill tomaram uma decisão consciente de caçar a
oportunidade. Engenheiros altamente competentes e amigos próximos, desde
a época em que estudaram na Universidade de Brown, os dois passaram uma
década trabalhando no sistema de operação Solaris da Sun. Alguns anos
atrás, eles se dedicaram a inserir a Sun numa área que a empresa
tradicionalmente não dominava: a elaboração de utensílios com funções
especiais. Isso se opõe aos servidores de funções gerais, cuja tecnologia
interna tem sido explorada por outras empresas, transformando-a em
produtos rentáveis, deixando a Sun com relativamente pouco a mostrar, por
toda sua proeza de alta tecnologia. (Foi essa vulnerabilidade que ajudou a
levar a Sun aos braços da Oracle, que agora aguarda para concluir sua
aquisição da companhia, no valor de 7,4 bilhões de dólares.)
Shapiro e Cantrill finalmente estabeleceram a armazenagem de dados
como um campo particularmente abundante a ser explorado. Mas a dupla não
ficou simplesmente trancada em um laboratório, pesquisando o estágio atual
da tecnologia de armazenagem, sonhando em melhorá-la. Em vez disso, eles
passaram muito tempo atuando como pesquisadores de mercado, caindo na
estrada e falando com potenciais clientes sobre o que estavam procurando –
um passo crucial, segundo Drucker.
“Porque a inovação é tanto conceitual quanto perceptiva, os futuros
inovadores precisam sair e olhar, perguntar e ouvir”, Drucker escreveu.
“Inovadores bem-sucedidos usam tanto o lado direito quanto o lado
esquerdo de seus cérebros. Eles decifram, analiticamente, o que a inovação
tem de ser... Depois, saem para olhar usuários potenciais e estudar suas
expectativas, seus valores e necessidades.”
O espaço certo
O que Shapiro e Cantrill perceberam com esse exercício foi o fato de terem
que elaborar um “produto revolucionário” – não apenas uma versão
incrementada do que já havia disponível. Por conta da dificuldade e do
gasto, os clientes não iriam simplesmente descartar suas soluções de
armazenagem de dados, a menos que a Sun surgisse com algo muito superior.
“Nós tínhamos que custar metade do preço e ter o dobro da velocidade”,
conta Shapiro.
O problema era que Shapiro não conseguia descobrir como criar algo
assim dentro dos limites da Sun. Não era por falta de talento. Ele conta que a
preocupação era com o fato de que “em grandes instituições, as formas que
as pessoas têm de solucionar os problemas são limitadas pelos horizontes
que elas veem”.
Shapiro também receava que seu projeto, cuja natureza exigia recorrer aos
recursos de partes diferentes da Sun, abriria caminho para brigas políticas
internas com vários vice-presidentes da companhia baseados em Santa Clara
(Califórnia), competindo pelo controle.
Drucker certamente teria compreendido os receios de Shapiro. “O
empreendedorismo, o novo, tem que ser organizado separadamente do
antigo, daquilo que já existe”, disse ele. “Independentemente do que já tenha
sido experimentado – e nós temos tentado todo mecanismo concebido, ao
longo dos últimos 30 ou 40 anos –, unidades existentes têm sido constatadas
como capazes de expansão, modificação e adaptação do que já existe. O
novo pertence a outro lugar.”
No caso da Sun, o outro lugar fica no centro da cidade de São Francisco,
onde Shapiro e Cantrill – com todo o apoio da cúpula da Sun – montaram
uma organização separada, dentro de um prédio antigo. Batizada de
Fishworks (o “fish”, ou peixe, representa a integração completa do software
e hardware), o empreendimento teve permissão para prosseguir em segredo.
Drucker receava que computadores não fossem incrivelmente bons para essa
função. A informação que eles emitem “tende a focar muito nas informações
internas”, explicou ele, “e não nas fontes externas e no que os clientes
contam”. Enquanto a Netflix, a Amazon, o Google e outros deram grandes
passos ao longo da última década para entrar na cabeça do consumidor, a
maior parte das empresas com lojas de rua precisam descobrir como utilizar
suas redes de tecnologia da informação para um propósito semelhante.
Pois, independentemente de ter ou não seu negócio online, a máxima de
Drucker se mantém verdadeira: “É lá que estão os resultados. Dentro de uma
instituição, estão somente os centros de custos.” O que nos leva ao terceiro
princípio apresentado pela Netflix: Uma disposição audaciosa de se abrir,
de maneira geral, ao lado de fora.
Isso parece bem mais fácil do que é. Afinal, “é o lado interno da empresa
o mais visível ao executivo”, observou Drucker. “É o lado interno que é
instantâneo pra ele. Seus relacionamentos e contatos, seus problemas e
desafios, suas turbulências e fofocas chegam até ele, tocam-lhe. A menos que
ele faça um esforço especial para ganhar acesso direto à realidade externa,
ele se tornará cada vez mais focado no interior.”
Ganhando tração
Ainda assim, cada vez mais, algumas das empresas de melhor desempenho
estão caindo no que Drucker chamava de “tendência degenerativa”. IBM,
Hewlett-Packard, Procter & Gamble e outras estão engajadas em pesquisas
de colaboração e inovação aberta. Conforme descreveu Scott Cook,
cofundador da Intuit, a empresa está delineando caminhos para que os
clientes, funcionários, prospectos de venda e até aqueles que não têm
qualquer vínculo com a empresa “doem seu tempo, energia e expertise para
facilitar a vida de nossos clientes”. Um exemplo: uma “comunidade de
perguntas e respostas”, que está inserida no produto de software TurboTax
da Intuit, que oferece aos usuários um fórum para descobrir e compartilhar
informações uns com os outros.
Enquanto isso, o modelo de prêmio também está ganhando tração na arena
corporativa, assim como o setor social. A X Prize Foundation, por exemplo,
está prometendo recompensas de oito dígitos para aqueles que conseguirem
dar grandes saltos na exploração de espaços particulares, genomas e
veículos de energia alternativa. E sites como o InnoCentive permitem que as
empresas postem desafios em desenvolvimento de produtos, ou ciência
aplicada, depois organizem para que gente de fora dispute o dinheiro, ou
outros deleites, enquanto tentam solucioná-los. A Netflix, por sua vez, já está
abanando outro prêmio monetário para os que conseguirem criar um
algoritmo que utilize informações demográficas e históricos de locação para
prever o gosto dos usuários que não tenham avaliado filme algum.
Mas o que todo gestor precisa manter em mente é que você não precisa
promover um concurso para espelhar o compromisso que a Netflix possui na
obtenção de resultados, mas precisa ter atenção com o cliente e avidez para
ir além dos próprios muros para descobrir e cultivar o melhor raciocínio de
qualquer lugar.
Fazendo essas coisas todo santo dia, seu negócio será um verdadeiro
vencedor.
2 de outubro de 2009
Tirando a Toyota da marcha a ré
Reviravolta a caminho
As dificuldades da Toyota não são novas. Há dois anos, esta coluna abordou
os problemas que se avolumavam na companhia e sugeriu que os executivos
fossem cautelosos em diminuírem a pressa de se tornarem o maior fabricante
automotivo mundial.
Mas agora não é hora de mais acúmulo. Algumas pessoas se deleitam em
atacar a Toyota, quase na mesma intensidade que dilaceraram Tiger Woods.
(Um blogueiro postou na web uma música chamada “My Toyota”, cantada
com a mesma melodia do antigo sucesso do The Knack, “My Sharona”: Você
vai parar? / Está correndo muito / que passeio assustador, sempre
acelerando.)
Melhor e mais instrutivo é focar na forma como o presidente da Toyota,
Akio Toyoda, filho de Shoichiro, e sua equipe estão tentando arquitetar uma
reviravolta. Não surpreende vermos alguns pensamentos semelhantes aos de
Drucker na abordagem deles.
No último outubro, Akio falou à imprensa, em Tóquio. O que chamou mais
atenção foram suas afirmativas de que a Toyota estava à beira da
“irrelevância ou morte” e “buscava alcançar a salvação” – uma
demonstração pública de penitência extraordinária, mesmo pelos padrões
japoneses.
Paixão enfraquecida
Porém, creio que Drucker teria focado o comentário menos hiperbólico que
Toyoda fez quanto aos consumidores estarem demonstrando uma falta de
entusiasmo com os produtos da empresa, mesmo em seu mercado doméstico.
“Eles dizem que os jovens estão se afastando dos carros”, disse Toyoda.
“Mas certamente fomos nós, os fabricantes automotivos, que abandonamos
nossa paixão pelos carros.”
Para combater isso, Toyoda – um “louco por carros” assumido, que foi
qualificado para correr profissionalmente – tem empurrado sua companhia
para oferecer mais automóveis que sejam “divertidos e empolgantes de
dirigir”. Isso pode soar como pura frivolidade. Mas, para a Toyota, que há
muito fez da qualidade e confiabilidade suas únicas marcas registradas, isso
não é nada menos que uma mudança no que Drucker denominava “a teoria do
negócio”.
“Todo negócio, na verdade, toda instituição, funciona baseada numa
determinada teoria, ou seja, num conjunto de suposições concernentes ao
ambiente externo (clientes, mercados, canais de distribuição, concorrentes) e
um conjunto de suposições abrangendo o ambiente interno (competências
essenciais, tecnologia, produtos, processos)”, escreveu Drucker. “Essas
suposições geralmente são encaradas como as Escrituras Sagradas pela
empresa e seus executivos. Nelas, se baseiam suas decisões, ações e
comportamento. Quanto mais tempo funciona essa teoria de negócio, mais
ela permeia a empresa.
Cumprindo a missão
Um chip interno
Possibilidades de avanço
Porém, por mais interessado que fosse no conceito, Drucker reconhecia que
terceirizar não deixava de ter suas ciladas. Mais sério que tudo, ele alertou,
eram as “repercussões sociais significativas” que resultariam “se um grande
número de pessoas deixasse de trabalhar para a instituição onde, de fato,
trabalhavam”.
Além disso, Drucker previa perigos para a companhia em si. É claro que
muitas instituições se tornam um tanto sofisticadas no gerenciamento de seus
fornecedores. Mas muitos outros ainda veem a terceirização como um
instrumento basicamente para corte de custos – uma perspectiva limitada que
Drucker chamava de “ilusão”.
Drucker dizia que o verdadeiro objetivo de uma empresa é ressaltar sua
efetividade, não tentar baixar os custos. (Ele sustentava que uma ação
terceirizada bem executada pode até aumentar os custos.)
Com essa finalidade, acrescentou ele, a pergunta predominante para os
executivos é: “Aonde pertencem essas atividades?” Do lado de dentro dos
muros da empresa? Ou fora de suas portas? Ou devem ser reorganizadas
como parte de uma ação conjunta, ou algum outro tipo de aliança?
A resposta nem sempre é tão óbvia. Para ilustrar esse ponto, Drucker citou
um alto fabricante de bens de consumo. Por um tempo, a companhia presumiu
que quanto mais produzia, melhor. Porém, com uma análise mais minuciosa,
ela decidiu terceirizar sua montagem final a uma série de fornecedores. Ao
mesmo tempo, Drucker contou, a empresa passou a ter mais controle sobre
outros aspectos de suas operações, delegando combinações básicas
internamente, para alcançar uma qualidade mais alta.
A lição em tudo isso: estrutura deve seguir estratégia. Ou, como a Apple
demonstrou, a última coisa que você quer fazer é terceirizar somente porque
isso vai lhe poupar um dinheirinho a curto prazo – para depois deixar os
chips caírem onde quiserem.
5 de fevereiro de 2010
O desafio administrativo da Toyota
Estabelecendo valores
Esse problema não está restrito aos empregos nas fábricas; os trabalhadores
com conhecimento estão igualmente sofrendo. No fim do mês passado, um
executivo sênior do Bank of New York Mellon, em Londres, processou a
firma, entre outras coisas, pela alegação do volume excessivo de trabalho.
Ele havia anteriormente reclamado com seu empregador, afirmando,
“estamos todos trabalhando com uma dificuldade insuportável”.
A segunda dimensão de uma pessoa no trabalho é psicológica. “O trabalho
é uma extensão da personalidade”, escreveu Drucker. “É uma realização. É
uma das formas que a pessoa tem de definir a si mesma.”
De forma reveladora, talvez, um trabalhador da Hon Hai, de 19 anos, que
saltou de uma janela do quinto andar de um centro de treinamento para a
morte na semana passada deixou um bilhete dizendo que havia “perdido a
confiança” no futuro e estava convencido de que aquilo que um dia havia
esperado realizar no trabalho “estava muito além do que podia ser
alcançado”.
Embora a reação desse jovem tenha sido obviamente extrema, a
dificuldade de encontrar significado e realização no emprego não é tão
incomum. No começo deste ano, o Conference Board relatou que somente
45% dos americanos entrevistados estão felizes com seus empregos, bem
menos que os 67% em 1987 – um deslize a longo prazo que a empresa de
pesquisa disse ser “um alerta para os empregadores”.
A terceira dimensão de trabalho, segundo Drucker, é a viabilização de um
senso comunitário. Ele escreveu que, mesmo nos casos em que as pessoas
tenham atividades externas, o local de trabalho é onde elas encontram muito
de seu “companheirismo” e “identificação coletiva”.
No caso da Hon Hai, alguns observadores mencionaram que a companhia
cresceu com tanta rapidez, com cerca de 400 mil trabalhadores em seu
extenso complexo de Longhua, que tem sido difícil estabelecer esses laços
sociais. Um boletim de notícias de Pequim citou um ex-funcionário dizendo:
a fábrica “é grande demais. Quando eu ia e voltava a pé para o trabalho... eu
me sentia terrivelmente solitário”.
Como fomentar o senso comunitário?
O primeiro tem a ver com o cliente. Cloninger tem sido vastamente elogiada
por incentivar as meninas no movimento de escoteiras a demonstrar empatia
pelos outros e abraçar a diversidade. Seus esforços com a voz têm
proporcionado uma admiração ainda maior das jovens que se veem
marginalizadas da massa.
“Eu tenho pensado muito em nosso trabalho com as meninas que são
diferentes, de alguma maneira”, explica Cloninger. “Isso é o mais próximo
que cheguei de realmente entender como deve ser”, incluindo a forma
estigmatizada como algumas devem se sentir.
A mensagem para os gestores de toda parte: não há melhor forma de
conduzir uma pesquisa de clientes do que realmente experimentar o que o
cliente faz. No caso de Cloninger, embora a oportunidade tenha surgido do
infortúnio de uma doença, outros podem ser proativos quanto a isso. Drucker
apontou, por exemplo, que Gustav Mahler, maestro de orquestra do século
XIX, costumava solicitar aos seus músicos que sentassem na plateia para que
pudessem ouvir como soava a música na frente do palco. De forma
semelhante, Drucker disse: “Os melhores administradores hospitalares que
eu conheço se internam uma vez por ano como pacientes.”
A segunda lição de Cloninger refere-se a dar poder às pessoas. Por conta
de seu estado, ela precisou recorrer mais do que nunca aos seus colegas.
Isso fez com que ela descobrisse pontos fortes em alguns funcionários, que
nunca tinham tido a chance de brilhar.
Claro que um sistema que para tudo não cura tudo, como a Toyota
dolorosamente descobriu. Mas é igualmente verdade que qualquer instituição
com excesso de controle concentrado no topo tende a falhar. Conforme
Drucker observou, “antigamente, o ‘chefe’ fazia uma proclamação ou emitia
uma ordem ‘aos meus trabalhadores’. Depois de 1900, ele passou a se
endereçar cada vez mais ‘aos nossos colegas funcionários’. No entanto, esse
é o objetivo”.
Então, se eles realmente tinham autoridade para interromper, por que
ninguém na perfuradora Deepwater Horizon interveio, antes que fosse tarde
demais? Com base nas provas que surgiram até agora, parece que algumas
pessoas talvez tenham tentado soar o alarme, porém, alguém de escalão mais
alto fez pouco caso. Em outros casos, parece que os trabalhadores da BP e
da Transocean se sentiram sob uma terrível pressão de economizar tempo e
dinheiro, apesar das alegações feitas pelas empresas quanto à segurança
sempre vir primeiro. Algumas pessoas até insinuaram que eles recearam
perder o emprego por fazer alarde – uma situação que Drucker teria
considerado especialmente perigosa.
Em qualquer negócio em que o fluxo de informação é “circular, de baixo
pra cima e descendo outra vez” é capaz de “decisões e respostas rápidas”,
escreveu Drucker em The Frontiers of Management, seu livro de 1986. Mas
“essas vantagens serão obtidas apenas se houver entendimento, valores
compartilhados e, acima de tudo, respeito mútuo... É preciso haver uma
linguagem comum, uma união essencial comum” por toda a instituição.
Além disso, Drucker alertou que qualquer companhia onde o “controle
financeiro seja a única linguagem está fadada a ruir, no tumulto da Torre de
Babel”.
Robert Dudley, programado para assumir a função de Hayward como
presidente da BP, tem uma agenda cheia: tranquilizar os reguladores,
restaurar a confiança dos investidores e, mais importante, limpar o Golfo.
Mas ele é inteligente e vai colocar outra tarefa no topo da lista: garantir aos
seus trabalhadores que eles tenham poder – e responsabilidade – de evitar
um desastre, antes que ele aconteça, não apenas no papel.
30 de julho de 2010
O quebra-cabeça da
privacidade do Facebook
E m seu livro The Facebook Effect: The Inside Story of the Company
That Is Connecting the World (O efeito Facebook: a história interna da
empresa que está conectando o mundo), David Kirkpatrick descreve quando
Mark Zuckerberg estava começando a montar seu negócio de rede social: ele
passava os finais de semana lendo os trabalhos de Peter Drucker. Agora,
parece um bom momento para que Zuckerberg se assegure de que ele e toda
a sua equipe recapitulem as lições de Drucker sobre o cliente.
Em particular, o pessoal do Facebook deveria levar em consideração os
conceitos de Drucker quanto a articular as necessidades dos clientes diretos
(no caso do Facebook, são 500 milhões de usuários com determinadas
expectativas ao que diz respeito à privacidade) e apoiar os clientes
(anunciantes da empresa que estão ávidos para terem acesso e explorar ao
máximo os dados do cliente).
“O cliente direto nunca é o único, e satisfazer um cliente sem satisfazer
outros significa não ter desempenho”, disse Drucker. “Fica muito tentador
dizer que há mais de um cliente direto, porém, empresas eficazes resistem a
essa tentação e mantêm o foco – que é o cliente direto”.
Em nível básico, o Facebook claramente calculou como dar aos seus clientes
diretos o que eles procuram: uma forma de compartilhar mensagens, fotos,
vídeos e outras informações com grupos de amigos. Realmente, o fato de que
a cada 13 pessoas do planeta, agora, 1 está no Facebook atesta o poder
surpreendente do produto.
É uma inovação de que Drucker teria gostado, apesar de ter sido
totalmente tímido com o computador. “As pessoas precisam de uma
comunidade”, Drucker escreveu em Post-Capitalist Society, livro de 1993.
“Precisam disso, em particular, nas cidades grandes, nos bairros
residenciais afastados, onde mais e mais de nós estamos morando. Já não se
pode contar com vizinhos que compartilham os mesmos interesses, as
mesmas ocupações, a mesma ignorância, e que moram juntos no mesmo
mundo. Mesmo que haja uma ligação próxima, não se pode contar com a
família.”
Ao mesmo tempo, o Facebook também parece ser satisfatório a outros
clientes – os marqueteiros, em busca de veicularem anúncios aos que estão
online. Semana passada, numa entrevista à Bloomberg, Sheryl Sandberg,
diretora de operações do Facebook, se gabou contando que alguns dos
maiores anunciantes da empresa de Palo Alto (Califórnia) gastaram dez
vezes mais que no ano passado.
Porém, cada vez mais, as necessidades desses dois campos – usuários (que
participam gratuitamente do Facebook) e anunciantes (que pagam as contas)
– parecem estar entrando em conflito. Chegar ao equilíbrio ideal pode ser
capcioso para todos os tipos de empreendimento. Um hospital, por exemplo,
precisa decidir “se o paciente ou o médico é o cliente principal”, frisou
Drucker. E as organizações não-governamentais habitualmente se deparam
com um punhado de interesses rivais de “clientes”: dos financiadores,
voluntários e das pessoas que atendem.
No Facebook, a tensão começou a aumentar. Em maio, o The Wall Street
Journal relatou que quando alguém clicava em um anúncio, os dados
estavam sendo compartilhados com o anunciante que poderia potencialmente
revelar o nome, idade, cidade natal e ocupação do usuário, dependendo da
quantidade de informação pública que a pessoa revelasse em seu perfil.
Depois que a história vazou, o Facebook disse que estava ajustando a
situação, enquanto sustentava que sua política era jamais compartilhar
informação do usuário sem o consentimento da pessoa.
Porém, de forma mais genérica, defensores da privacidade enxergam um
padrão preocupante no comportamento do Facebook. Kurt Opsahl, advogado
sênior da Electronic Frontier Foundation, rastreou a política de privacidade
do Facebook desde o início do site, em 2005. E sua análise mostra, sem
questionamento, que o Facebook tem se transformado de um espaço
relativamente seguro para se comunicar “com um grupo de sua escolha” em
uma plataforma onde passou a ser cada vez mais difícil não colocar os
preços de sua vida na vitrine. Opsahl diz que, ao longo do caminho, a
empresa tem “lenta e concretamente se servido – e aos parceiros de negócios
e anunciantes – de cada vez mais informação sobre seus usuários”.
Zuckerberg insiste que há um limite que ele não irá ultrapassar. “Nós não
vendemos informação alguma” aos anunciantes “e jamais o faremos”, ele
disse ao entrevistador, no começo desse ano. Em outro debate, Zuckerberg
declarou que vender dados de usuários aos anunciantes é “a coisa mais
imbecil que poderíamos fazer... as pessoas só continuarão ali enquanto
confiarem na gente”.
No entanto, Zuckerberg também insinuou que as pessoas estão mais à
vontade em serem transparentes e, em seu turno, terem sua experiência online
usada para marketing “personalizado”. Talvez ele esteja preparando algo, e
se ele teve esse insight honestamente, tateando e compreendendo os valores
de seus principais clientes, então, o Facebook deve certamente prosseguir
nessa direção.
“A pergunta: o que os clientes valorizam? – o que satisfaz suas
necessidades, anseios e aspiração – é tão complicada que só pode ser
respondida pelos próprios clientes”, Drucker escreveu. “A liderança não
deve nem tentar adivinhar as respostas, mas deve sempre abordar os clientes
numa busca solidária por essas respostas”.
Mas há razões para o ceticismo. O Índice de Satisfação do Cliente
Americano deu notas muito baixas ao Facebook, em parte, por conta das
“preocupações com privacidade, toda comercialização e propaganda afeta a
experiência do cliente de forma adversa”. Mesmo os jovens – supostamente
os exibicionistas da rede – estão “longe de serem indiferentes e
despreocupados quanto às questões de privacidade”, segundo um estudo
recente realizado por dois pesquisadores da Harvard’s Center for Internet &
Society.
Desconfio que o verdadeiro ímpeto de transformar o Facebook em algo
além de uma casa de vidro vem dos clientes patrocinadores de Zuckerberg,
que o incitam a trair seus clientes diretos. E isso é algo que Drucker não
teria “curtido” nem um pouquinho.
13 de agosto de 2010
As regras de aliança
“Essas são todas ligações perigosas”, Drucker alertou em Managing for the
Future, seu livro de 1992. “Embora seu índice de fracasso nos primeiros
anos não seja mais alto que o dos novos empreendimentos ou aquisições,
elas tendem a ter problemas sérios – às vezes, fatais –, quando têm êxito.
Quando uma aliança é bem-sucedida, fica frequentemente visível que as
metas e objetivos dos sócios são incompatíveis. Cada sócio quer que a
‘criança’ se comporte de forma diferente agora que ‘está crescendo’...
Geralmente o que piora é a ausência de um mecanismo para resolver esses
desacordos. A essa altura, muitas vezes é tarde demais para recuperar a
saúde do negócio conjunto.”
O truque para fazer com que o casamento dê certo é seguir um punhado de
regras que Drucker descreveu. E, segundo se ouve, a Intel e a GE,
conscientemente ou não, estão seguindo esses princípios com atenção. (Isso
não é de surpreender; ambas as empresas têm Drucker no sangue. Ele deu
consultoria a Andy Grove, cofundador da Intel, e também auxiliou uma série
de diretores executivos da GE, começando nos anos 1950, com Ralph
Cordiner.)
As duas primeiras regras: “Antes da conclusão da aliança”, escreveu
Drucker, “todas as partes precisam repensar seus objetivos e os objetivos
‘da criança’”. Igualmente importante, disse ele “é antecipar o acordo quanto
à forma de administrar o empreendimento conjunto”.
Hormônios no comando
O efeito da recessão
Outro exemplo: no auge das lojas de departamento, nos anos 1970, como
mostrou Drucker, elas eram responsáveis por mais de um quarto das vendas
de varejo nos EUA. E, assim como no Burger King, os gestores desses
negócios tinham um senso bem apurado de quem eram seus compradores.
“Eles constantemente entrevistavam seus clientes, analisando e
pesquisando”, Drucker escreveu. “Mas não davam atenção aos 70% do
mercado que não eram clientes. Não viam motivo para dar.” Afinal, sua
suposição, que, na época, era totalmente válida, era que “a maioria das
pessoas que podiam fazer compras em lojas de departamento fazia”.
Mas o comportamento acabou mudando. “Pois para o grupo predominante
entre os baby boomers – mulheres de famílias de renda dupla e com
formação – não era o dinheiro que determinava o lugar onde faziam
compras”, explicou Drucker. “O tempo era o fator primordial, e essa geração
de mulheres não podia se dar ao luxo de passar seu tempo fazendo compras
em lojas de departamentos.” No entanto, os executivos do mundo das lojas
de departamento falharam em reconhecer isso, porque estavam se
concentrando unicamente em seus clientes, não nos não clientes. “Depois de
um tempo”, disse Drucker, “eles foram sabendo cada vez mais sobre menos”.
Avaliação sistemática
Categorias capciosas
Análise de crescimento
Uma vez que uma empresa classifica todos os seus produtos e serviços dessa
forma, a máquina de raio-X de Drucker pode ser ligada. É quando a empresa
pode prognosticar quando uma mudança crítica tem probabilidade de
acontecer (como o ganha-pão atual se transformar no ganha-pão de ontem).
Mas isso não vai acontecer automaticamente. Segundo Drucker, a chave é
garantir que todos os produtos sejam analisados em termos de “custos de
incrementos adicionais de crescimento”, o que irá ajudar a revelar onde eles
se posicionam, em termos de seu ciclo de vida. É um produto em ascensão?
Ou está prestes a entrar em declínio? E, se for o caso, com que velocidade
está destinado a cair?
No Bank of America, sua análise do que está pronto para crescer e o que
realmente não se encaixa mais levou a uma sequência de decisões
significativas ao longo dos últimos nove meses. A empresa descartou ou está
preparada para descartar uma lista de ativos, incluindo participações em
alguns bancos latino-americanos, uma operadora de seguros e uma carteira
de private equity.
Ao mesmo tempo, eles estão investindo numa nova linha de produtos que
irá reduzir o ônus com taxas de saques a descoberto, para seus clientes de
mercados de consumo em massa. Também está transferindo mais empregados
para locais onde seja importante cultivar relacionamentos mais profundos
com clientes – uma parte integral da estratégia de Moynihan, para a venda
compartilhada de produtos e serviços das áreas de varejo, corporativos e de
administração de bens de seus clientes.
Semana passada, Moynihan frisou, por exemplo, que os clientes mais
afluentes do banco mantêm 7 trilhões de dólares em investimentos em outras
instituições financeiras. Essa é uma grande soma que, se conduzida
corretamente, pode começar a migrar para o Merrill Lynch, comprado pelo
Bank of America, ano passado.
Ou, para colocar de outra forma, tendo uma visão de raio-X, Moynihan
pode muito bem estar em processo de transformação da Cinderela no ganha-
pão de amanhã.
24 de setembro de 2010
Churchill e Drucker: perfeitos juntos
Planos de ação
Reuniões produtivas
Ainda esta semana, por exemplo, nós decidimos refinar nosso empenho para
atrair leitores ao nosso blog, the Drucker Exchange, depois que uma
discussão quase espontânea irrompeu entre nós três; um colega de trabalho
ficou se coçando para falar e acabou entrando, levando nosso raciocínio
ainda mais longe. Para mim, como supervisor, a melhor parte foi o fato de
que meus dois funcionários tinham iniciado a conversa, e eu pude ouvi-los
primeiro – exatamente como Drucker prescrevera.
“Uma comunicação de cima para baixo não pode dar certo e não dá”,
declarou Drucker, em Management: Tasks, Responsibilities, Practices, seu
clássico de 1973. Ele acrescentou que as iniciativas vindas do alto só têm
uma chance de dar certo se “surgirem depois que uma comunicação de baixo
para cima tiver sido estabelecida com êxito”. Elas têm de ser uma “reação,
em vez de ação; resposta, em lugar de iniciativa”.
Em nosso pequeno núcleo de pesquisa baseado na universidade, os
debates desse gênero fazem parte do ofício. Porém, mesmo as maiores
empresas podem se beneficiar sendo imaginativas com seu espaço. No fim
dos anos 1990, quando Paul O’Neill era presidente da Alcoa, ele construiu
uma nova sede, com um imenso andar aberto. Os escritórios tradicionais
deram lugar a áreas de trabalho de 25 m2 – completas, com “portais de
passagem” – para a maioria dos empregados, incluindo O’Neill.
Os layouts típicos de escritórios, com sua inclinação ao status, “são uma
barreira para o conceito de colaboração e ‘colocam as pessoas em seus
lugares’ diariamente”, diz O’Neill. Uma hierarquia é “estabelecida pelo
acesso à luz do sol, ao volume de metros quadrados, à proximidade às
‘pessoas importantes’. Eu queria transmitir fisicamente a ideia de que ‘se
você trabalha ali, você é importante, porém, tão importante quanto qualquer
outro que trabalha aqui’”.
Satisfação do cliente
A mensagem é puro Drucker, com quem Bailey fez meia dúzia de aulas, na
Universidade Claremont Graduate, no começo dos anos 1980, quando o
Walkman ainda era o melhor dispositivo disponível. “O cliente define o
negócio”, Drucker escreveu em Management: Tasks, Responsibilities,
Practices, clássico de 1973. “Um negócio não é definido pelo nome da
empresa, estatutos ou artigos da instituição. Ele é definido pelo desejo que o
cliente satisfaz ao comprar um produto ou serviço.”
Por mais básico que esse conceito possa parecer, é algo que a Sony havia
negligenciado. Segundo Bailey, a companhia sempre teve a capacidade de
produzir produtos superiores, do ponto de vista da engenharia. “Muito do
que a Sony fez foi produzir coisas menores, mais velozes e de qualidade
superior”, ele explica. E por um bom tempo, isso foi o suficiente. A fórmula
deu combustível para o incrível crescimento da empresa no início da década
de 1990.
Porém, nos anos recentes, tanto a tecnologia quanto o mercado mudaram
drasticamente. Por exemplo, a qualidade das televisões hoje em dia é
geralmente tão boa que muitos progressos novos “nem são perceptíveis ao
olho humano”, conta Bailey. Concorrentes como a Vizio, que usa produtores
contratados na China para seus aparelhos de preço relativamente baixo,
estão se aproximando da Sony, em termos do que Bailey chama de
“specmanship”.
A superioridade do design da Sony – Bailey compara alguns produtos da
empresa a obras de arte – também derrapou. “Não é que a Sony tenha
piorado nisso”, diz ele. “Os outros melhoraram muito”, incluindo a Samsung
e a LG.
Mudança de cultura
Causando um estardalhaço
Vendendo a decisão
Porém, a pergunta mais difícil é: Com que eficácia Elop comunicou seu
raciocínio de antecipar a revelação do acordo com a Microsoft?
Drucker acreditava que um passo chave em qualquer decisão é alcançar
adesão suficiente dentro da empresa antes de seguir adiante. Ele acrescentou
que essa é uma lição que havia aprendido com os japoneses. “Assim que
começa o processo de tomada de decisão, e bem antes que a decisão seja
tomada, a administração japonesa vende a decisão”, explicou Drucker. “As
decisões japonesas não estão sendo tomadas por consenso; isso é uma falha
de tradução do termo japonês. A tradução correta seria algo como
‘entendimento comum’.”
Claro que existem limites práticos e legais do quanto cada líder pode dizer
aos grupos que estão na linha de frente de uma transação. Isso se mostra
particularmente verdadeiro numa instituição grande como a Nokia, que
possui mais de 130 mil pessoas em sua folha de pagamento. Mas a noção
geral – de que a liderança é, conforme as palavras de Drucker, “uma função
de marketing” e as instituições precisam olhar os empregados como um tipo
de cliente – é algo em que mais gestores precisam prestar atenção.
No caso dos japoneses, “todos que estão inclinados a serem afetados por
uma decisão – digamos, por uma joint venture com uma empresa Ocidental,
ou a aquisição de ações de um potencial distribuidor americano –, serão
solicitados a escrever o quanto tal decisão afetaria seu trabalho, função e
departamento”, frisou Drucker. “Ele é expressamente proibido de ter uma
opinião, recomendar ou fazer objeção à possível ação. Mas espera-se que
ele reflita atentamente. Em contrapartida, a administração sabe o
posicionamento de cada uma dessas pessoas. Então, a cúpula toma a decisão
de cima para baixo.”
A essa altura, todos já têm participação na nova direção da empresa. Cada
empregado é minuciosamente preparado para o que está por vir. “Não há
necessidade de vender a decisão, ela já foi vendida”, conclui Drucker.
Compartilhando a jornada
Isso também não deve ser uma iniciativa incompleta. Imagine uma grande
instituição criando um currículo de aprendizado vitalício que tenha o
respaldo de tanta energia, talento e força financeira como a elaboração de
uma bateria de novas fábricas. Imagine um programa de reciclagem tão
vigoroso e inovador que o sindicato jamais pudesse descartar como uma
concessão corporativa qualquer.
Em 1983, em um novo epílogo de Concept of the Corporation, Drucker
escreveu: “A GM pode, dentro de uma década, se desenvolver tornando-se
uma companhia verdadeiramente transnacional que integre mercados do
mundo desenvolvido e seu poder de compra com os recursos da mão de obra
do Terceiro Mundo.
“E, embora seja cedo demais para um palpite de como será o perfil da
mão de obra da GM”, acrescentou ele, “a linha de montagem, aquele símbolo
da indústria durante a primeira metade do século até 1990 ou 2000,
provavelmente terá sumido na história”.
Drucker obviamente estava ligeiramente enganado na cronologia. Mas não
há como negar que a tendência simplesmente está ali – mesmo para os que
gostam de fingir, como Alfred Sloan fez um dia.
30 de setembro de 2007
Drucker e as complexidades raciais
M uito antes que uma parte tão grande da nação ficasse obcecada com o
que estava sendo dito nos sermões das igrejas negras, nas manhãs de
domingo, Peter Drucker ia ouvir pessoalmente, de vez em quando.
Era o fim da década de 1930 e Drucker tinha acabado de chegar em Nova
York, fugindo dos nazistas. Sempre que calhava de passar um fim de semana
em Washington, Drucker relembrou anos depois, ele entrava sorrateiramente
na Rankin Chapel e ficava “abalado e comovido” por Howard Thurman, o
capelão da Universidade de Howard. Segundo Drucker, ele tinha um tipo de
voz que “chegava ao âmago do ser”.
A oratória de Thurman e os relacionamentos que Drucker fez com outros
intelectuais negros da época lhe deixaram uma impressão e tanto. Afinal, ele
sempre viu a importância da administração como algo que transcende a
arena corporativa e chega a todos os segmentos da sociedade.
De fato, Drucker achava a discriminação racial que permeava seu país
adotivo algo tão perturbador que uma vez recusou “a função acadêmica mais
atraente” que já teve em seu caminho – o cargo de reitor da Emory
University, em Atlanta. “O cargo foi-me oferecido no fim dos anos 1940,
quando o Sul ainda era inteiramente segregado, e eu tive que dizer não”,
relatou Drucker em sua autobiografia, intitulada Adventures of a Bystander.
A repercussão Obama
Conhecimento e trabalho
Esse caminho – tão tentador, mas, no final das contas, tão tênue – ajuda a
explicar o motivo pelo qual o atual status econômico dos negros representa
apenas 56% em relação ao dos brancos, segundo a National Urban League.
“O economicamente racional para o jovem negro nos Estados Unidos pós-
guerra não era permanecer na escola e aprender; era deixar a escola o mais
cedo possível e arranjar um dos empregos que havia de sobra na produção
em massa”, Drucker conclui. “Como resultado, no aspecto quantitativo, a
queda do trabalhador industrial golpeou os negros do país de maneira
desproporcionalmente difícil e, pior ainda, no aspecto qualitativo. Isso
enfraqueceu o que havia de exemplo mais potente na comunidade negra
americana: o trabalhador industrial bem pago, com emprego estável, plano
de saúde e uma aposentadoria garantida – ainda que sem possuir habilidade
ou muita formação.”
A solução óbvia é melhorar as oportunidades educacionais de alto nível
para as crianças negras e igualmente para os adultos. Mas, novamente, o
passado complicou o presente. Nas décadas de 1950 e 60, as escolas foram
integradas – um ato que Drucker estimou profundamente. “A discriminação
racial tinha de ser corrigida, tinha de ser eliminada”, disse ele. Mas, ao fazê-
lo, muitas escolas acabaram “colocando os fins sociais à frente do objetivo
de aprender”, Drucker escreveu em Post-Capitalist Society, de 1993. O
resultado foi que o sistema educacional, que tinha sido programado para
ajudar, acabou sendo minado para muitas das próprias crianças.
O caminho à frente, Drucker rogou, é criar uma nova cultura “na qual as
crianças menos privilegiadas aprendam porque isso é esperado delas,
exigido delas” – um grito de esperança, se é que ela algum dia existiu.
27 de março de 2008
Alavancando os pontos fortes
dos deficientes
Diversidade humana
“Os disléxicos possuem uma empatia extraordinária”, ele explicou. “Talvez
os disléxicos sejam tão solidários porque, quando criança, muitos de nós nos
acostumamos a não ter ninguém que nos ouvisse. Eles sofrem e captam o
sofrimento dos outros. Esse era o caso comigo. Para lidar com aquilo, eu
passei a ser um bom ouvinte.” Anos depois, Orfalea percebeu que isso o
transformava em alguém raramente sintonizado para “entender e atender as
necessidades emocionais dos clientes e funcionários”.
Kaufman acredita que as empresas podem colher outros benefícios em
admitir e adiantar as carreiras de deficientes. Uma coisa é certa, essa
abordagem pode prover “a diversidade humana” que Drucker acreditava ser
vital para o bem-estar de toda instituição.
Além disso, contratar deficientes pode gerar lealdade dos clientes entre os
amigos e parentes do funcionário – mercado potencialmente imenso quando
se leva em conta que das 70 milhões de famílias nos EUA, mais de 20
milhões possuem ao menos um membro com uma deficiência. As posições
dos deficientes constituem um mercado enorme, ostentando mais de 1 trilhão
de dólares de renda agregada anual.
O resultado final, segundo Kaufman, é que, se uma empresa aprende a
valorizar o deficiente, isso pode “afetar os resultados” de uma forma
positiva e, ao mesmo tempo, “pode ter um verdadeiro impacto social” –
dupla favorita de Drucker.
Vistos dessa forma, os deficientes não são uma responsabilidade; são uma
oportunidade.
Mas, na verdade, não há panaceia alguma. “O negócio que é bom para minha
artrite”, disse Drucker, “não me ajudaria em nada com uma perna quebrada,
mesmo sendo na mesma área”.
Isso é notoriamente “psicologia de Maria vai com as outras”, como
Drucker chamava, o que contribuiu com a crise em que estamos atolados
agora. Em vez de enfrentar, diligentemente, as perguntas que Drucker sugeriu
– O que estamos fazendo é viável? Isso se adéqua à realidade? –, muitos
executivos dos bancos ignoraram os riscos, com o maior prazer, e
mergulharam na fossa do crédito subprime. A razão disso era óbvia: parecia
uma forma de enriquecimento rápido. E, além disso, todo mundo estava
fazendo.
Bem, todo mundo, não. William Taylor, coautor do livro Maverick at
Work, recentemente frisou que o banco online ING Direct “conseguiu evitar a
marcha de todos de sua área” ao manter “os financiamentos hipotecários
simples, em lugar de instrumentos exóticos que pareciam bons demais para
serem verdade (e eram)”. Segundo Taylor, o ING gerou 100 mil hipotecas no
valor de 26 bilhões de dólares, enquanto teve 15 meras execuções
hipotecárias.
Arkadi Kuhlmann, presidente e presidente do conselho do ING Direct, se
orgulha em ter recusado, construindo seu negócio em serviços baratos e
básicos, com alta taxa de juros. Ainda assim, ele admitiu a Taylor que, às
vezes, seguir a multidão tem uma atração. “Toda pessoa que tenta fazer uma
inovação real será tentada pelo dinheiro a ganância, aceitação, estar no
miolo do agito”, disse Kuhlmann. “Mas, no fundo”, explicou ele, “há uma
diferença fundamental: eu sei por que estou aqui. Eu quero fazer uma
diferença”.
Segundo a visão de Taylor – e Drucker certamente teria concordado –,
essa é uma das coisas mais importantes e corajosas que um gestor pode
fazer: “resistir à inovação que ocorre em sua área, quando essa inovação,
independentemente do quão popular se torne com seus concorrentes, vai
contra seu ponto de vista de longo prazo.”
Então, o que um administrador deve fazer em meio a uma economia frágil?
Dê uma boa e séria olhada em sua empresa e no contexto de sua missão – e
na de ninguém mais –, decida o que está pronto para ser buscado e o que faz
sentido abandonar. No fim, você talvez pegue a esquerda, talvez, a direita.
Talvez fique apenas parado.
“Nove vezes, em cada dez”, disse Drucker, “quando você faz o
diagnóstico, você não prossegue na transação. Apenas espera” – e deixa
passar o trem de Maria vai com as outras.
Salvação do setor automobilístico:
o que Drucker teria dito
Lições do algodão
“Mas para onde irão os meeiros, que totalizam entre 5 e 8 milhões, e o que
irão fazer?”, Drucker prosseguiu. “E quanto à malha social e econômica do
Sul, da qual eles servem de base? Certamente, um desalojamento súbito dos
meeiros seria uma catástrofe social e política, não somente para o Sul, mas
também para o país inteiro.”
No entanto, Drucker reconheceu que tentar impedir o caminho da máquina
– e o caminho do futuro – implementando algum tipo de diretriz industrial
“resultaria numa catástrofe ainda maior; a cada ano, o ajuste se tornará mais
difícil, o status quo, menos sustentável”.
A analogia entre algodão e carros está longe de ser perfeita. Mas não há
como fugir da mesma conclusão dolorosa: dar uma escora a um grupo de
empresas que não conseguem competir sozinhas só irá retardar o inevitável e
dificultar a adaptação mais adiante.
O relacionamento de Drucker com a indústria automobilística foi longo e
ocasionalmente adverso. Na verdade, suas palavras de alerta sobre o Sul do
Algodão foram escritas como parte de seu livro de 1946, Concept of the
Corporation, que, antes de mais nada, tratava-se de um estudo da fabricante
automotiva mais problemática de hoje, a General Motors.
Economia de conhecimento
A Brand Velocity talvez seja uma das empresas mais inteligentes da qual
você já ouviu falar. Jack Bergstrand, que antes supervisionava o
departamento de tecnologia da informação na Coca-Cola, lançou uma
empresa de consultoria, há cinco anos, com um objetivo que vai além de
ganhar dinheiro. Ele quis adotar o que Peter Drucker identificou como o
maior desafio ímpar de nosso tempo: incrementar a produtividade do
trabalhador com conhecimento.
“A mais importante e, de fato, verdadeiramente excepcional contribuição
da administração no século XX foi o aumento em 50% da produtividade do
trabalhador manual na atividade manufaturada”, declarou Drucker, em 1999.
“A mais importante contribuição que a administração precisa fazer no século
XXI é igualmente aumentar a produtividade do trabalhador com
conhecimento e do trabalho de conhecimento.”
Mas descobrir como aumentar o rendimento daqueles que utilizam seu
cérebro mais que seus músculos – um grupo que agora é responsável por ao
menos um quarto, talvez metade, de todos os empregados dos EUA e outras
nações desenvolvidas – não é moleza. Muitas instituições, mesmo as que são
engajadas em trabalho de conhecimento, continuam a recorrer a processos
quem vêm diretamente dos princípios oriundos do “gerenciamento
científico” de Frederick Taylor, no começo de 1900.
É uma combinação terrível. “O sistema oculto que tornou o trabalho
manual bem-sucedido é exatamente o mesmo sistema que reprime nossa
capacidade de seguir adiante com mais velocidade na Era do
Conhecimento”, escreveu Bergstrand em seu livro recém-publicado,
intitulado Reinvent Your Enterprise (revelação: Bergstrand está doando
parte das vendas de seu livro ao Drucker Institute, organização de pesquisa,
sem fins lucrativos, que eu administro). Na verdade, as diferenças entre a
manufatura antiga e o trabalho de conhecimento são totais: o trabalho manual
é altamente visível; o trabalho de conhecimento é basicamente invisível –
ele acontece entre as duas orelhas de uma pessoa. O trabalho manual á
altamente especializado; o trabalho de conhecimento é, conforme observa
Bergstrand, muito mais “holístico”.
O trabalho manual tende a ser estável; o trabalho de conhecimento é
eternamente mutável. O trabalho manual enfoca as respostas certas; o
trabalho de conhecimento visa perguntas certas. O trabalho manual envolve
muita estrutura, com relativamente poucas decisões; o trabalho de
conhecimento enfatiza menos estrutura e mais decisões.
Mas isso não quer dizer que não há estrutura numa firma como a Brand
Velocity. Longe disso. Bergstrand e seus colegas pegaram “uma folha de
papel em branco”, segundo suas palavras, e metodicamente refletiram sobre
tudo que eles fazem: como, onde e sob quais circunstâncias eles fazem
reuniões; como compram equipamento, desde PCs até clipes de papel; como
compensam os funcionários; e muito mais.
A Brand Velocity fica em Atlanta, mas, de certa forma, isso é uma ilusão.
A empresa não tem bens fixos. Sua sede é pouco mais de um endereço de
correspondência, com um espaço de 20 m2 que eles alugam para guardar
documentos importantes.
Quando alguém da Brand Velocity se reúne com um cliente – a empresa
presta consultoria a gigantescos projetos de tecnologia da informação – por
algumas horas, eles alugam uma sala de reuniões da Regus, que administra
uma série de elegantes centros de negócios pelo mundo afora. Muitos dos
que são acompanhados ao lugar pela recepcionista até a sala de reuniões
nem imaginam que não estão num escritório da Brand Velocity. Bergstrand
chama isso de ambiente “tradicionalmente virtual”.
A ideia intrínseca ali – e o mesmo é verdadeiro para a folha de
pagamentos, assuntos legais e armazenagem de dados, todos terceirizados –
é que, em vez de possuir e administrar prédios, a Brand Velocity pode se
concentrar naquilo que faz bem. Não ter um escritório central também dá aos
trabalhadores com conhecimento a mobilidade e flexibilidade que eles
desejam. Muitos da Brand Velocity trabalham de casa.
Eles também lidam com os fornecedores de maneira incomum.
Trimestralmente, os 10 funcionários da Brand Velocity recebem 6 mil
dólares cada para comprarem o que precisam, desde novos computadores
até canetas. Se gastarem mais, sai do bolso deles. Se gastarem menos, ficam
com a diferença como parte de sua renda (não se pode deixar de imaginar se
John Train teria comprado um cesto de lixo de 1.400 dólares sob essas
circunstâncias). Além de reduzir a papelada – na Brand Velocity, só se faz
quatro relatórios de despesas anuais – a finalidade é dar aos trabalhadores
exatamente as ferramentas de que precisam para fazer seus trabalhos. Você
atua melhor de um computador PC, mas eu prefiro um Mac? Sem problema.
Cada um de nós tem o que quer, e a empresa não fica com dificuldades (e
pagando uma fortuna) de padronizar tudo.
A Brand Velocity oferece aos empregados um salário base. Mas grande
parte da remuneração deles é determinada por um sistema de pontos, com
pontos ganhos por três – e somente três – coisas: a venda de trabalho
excelente, a apresentação de trabalho excelente e o recrutamento e
desenvolvimento de grandes talentos. Bergstrand conta que, sob essa
organização, “trabalhadores de conhecimento altamente produtivos não
precisam ser sócios para serem compensados como se fossem. Ao mesmo
tempo, o pessoal mais sênior não tem a garantia das maiores compensações”.
Isso é mais que uma teoria. Embora ele seja o presidente, o próprio
Bergstrand nem sempre é o que ganha mais grana.
Se tudo isso parece ser ligeiramente despreocupado, não é. Bergstrand e
sua equipe são rigorosos na forma como fazem quase tudo, incluindo a
tomada de decisões. Para qualquer projeto, eles solicitam muita informação
da empresa, mas não deixam dúvida quanto a quem cabe a decisão final.
Então, essa pessoa age – e age rapidamente.
Conclusão: a Brand Velocity é rentável e está crescendo. Ela alega que
seus custos são 20% menores do que a média do setor. E, particularmente,
afirma que apresenta aos clientes os mesmos resultados de alta qualidade
que eles teriam de empresas de consultoria muito maiores – porém, em
metade do tempo e com menos da metade de pessoal, o que resulta numa
economia imensa para o cliente.
A verdadeira pergunta é o quanto a Brand Velocity pode crescer. Uma
coisa é fazer isso com o porte atual da empresa, e outra, bem diferente, com
uma equipe de milhares.
Bergstrand diz que tendo gerado cerca de 15 milhões de dólares em
negócios, até agora, a Brand Velocity está pronta para ir além do estágio
“protótipo”. Ele contratou altos executivos de grandes instituições – entre as
quais, a Kimberly-Clark e a Ernst & Young – de modo que, ao testar os
inúmeros conceitos produtivos dos trabalhadores de conhecimento, a Brand
Velocity “pôde fatorar, diante da necessidade de dividir em escalões”.
O empenho certamente merece observação. Se a Brand Velocity prosperar
– e ensinar os outros, ao longo do caminho – os resultados não serão nada
menos que revolucionários.
1 de maio de 2009
Japão: repensando o emprego vitalício
Potencial gerencial
Defasagem na remuneração
De qualquer forma, o que sabemos, com certeza, é que os salários de muitos
trabalhadores de serviços continuam terrivelmente defasados – e isso é o
que mais preocupava Drucker. Na verdade, com a classificação das
empresas de serviços aumentando rapidamente, ele alertou quanto “à
possibilidade de tensões sociais inigualadas, desde as primeiras décadas da
Revolução Industrial”.
O setor de serviços é variado e vasto. Hoje, nos EUA, mais de 80% dos
empregos estão no setor de serviços; na Coreia, esse número se encontra em
cerca de 70%. Drucker, por sua vez, tendia a dividir esse universo gigante
em duas categorias distintas: funções de trabalho de conhecimento e funções
sem capacitação, ou semicapacitadas.
É claro que o primeiro grupo está relativamente em boa forma –
principalmente aqueles que têm sido capazes de obter altos níveis de
formação. Nos EUA, por exemplo, os que possuem diploma universitário
ganham, em média, dois terços a mais do que aqueles que não concluíram o
segundo grau, segundo o Goldman Sachs Global Market Institute. E aqueles
que possuem graduação profissional ostentam rendas quase duas vezes
maiores que os que só têm diploma de faculdade.
Mas os sem capacitação, ou semicapacitados – zeladores e garçonetes,
vendedores de varejo e atendentes em casas de repouso –, estão numa
situação muito mais difícil. “Em sua posição social”, Drucker escreveu, em
1991, num artigo da Harvard Business Review, “essas pessoas são
comparáveis aos proletários de anos atrás: aqueles quase sem
escolaridade... massas que irromperam nas cidades industriais e invadiram
suas fábricas”.
Agora, a questão é com que rapidez alguma dessas coisas pode realmente
acontecer, numa escala grande o suficiente para diminuir o vácuo entre os
trabalhadores de conhecimento e seus primos sem capacitação, prestadores
de serviços.
“Até mesmo nas sociedades mais estabelecidas e estáveis, as pessoas
serão deixadas para trás na mudança para o trabalho de conhecimento”,
Drucker reconheceu. “É preciso uma geração ou duas até que a sociedade e
sua população consigam alcançar as mudanças radicais na composição da
mão de obra e demandas por habilidades técnicas e conhecimento. Leva
algum tempo – a melhor parte de uma geração, a julgar pela experiência
histórica – até que os trabalhadores de serviços possam ser elevados o
suficiente para provê-los com um meio de vida padrão da ‘classe-média’.”
Tudo isso dá a entender que, além do tipo de investimento que os coreanos
estão tentando, ou os tipos de técnicas administrativas que Drucker defendia,
as nações talvez precisem de algo mais se esperam elevar a sorte daqueles
nas funções de serviços: um pouquinho de paciência.
19 de março de 2010
Quando a aposentadoria
não é uma opção
“Mudança tectônica”
A Bluestone faz uma projeção mostrando que quase metade das deficiências
de mão de obra (2,4 milhões de empregos) serão em quatro campos:
educação, assistência médica, governo e setor sem fins lucrativos. Todos
esses podem prover particularmente o que os baby boomers estão buscando:
não apenas uma chance de se manter ativos, mas também de dar uma
contribuição significativa.
Mais de uma década atrás, Drucker detectou um desejo crescente entre os
trabalhadores de conhecimento de alcançarem algum propósito social
durante a segunda metade de suas vidas. “Essas pessoas possuem
habilidades substanciais”, Drucker escreveu. “Elas sabem trabalhar.
Precisam de uma comunidade... Também precisam de renda. Mas, acima de
tudo, precisam do desafio.”
Para ajudá-los, ano passado, a Civic Ventures lançou um programa no qual
os executivos do Vale do Silício recebem bolsas de estudos complementares
em áreas não lucrativas. A ideia é não somente levar a essas organizações a
expertise tão necessária em marketing, finanças e recursos humanos, mas
também fazer com que o executivo se prepare para sua eventual transição a
uma “carreira repetida” no setor social.
A ironia, claro, é que toda essa atividade e insight por parte da Civic
Ventures e da RAND chega em meio a um mercado de trabalho brutalmente
enfraquecido, principalmente para os que têm 55 anos ou mais. Mês passado,
a Pew Fiscal Analysis Iniciative relatou que cerca de 30% dos que estão
nessa faixa etária já estão desempregados há um ano ou mais. “Outra geração
de trabalhadores americanos, ao menos um número significativo deles, está
sendo forçada a se aposentar mais cedo que o esperado pela queda da
economia”, observou o escritor economista David Warsh, no começo dessa
semana.
Mas as instituições inteligentes estão cientes de que toda queda é
invariavelmente seguida por uma ascensão. E a próxima será conduzida por
uma porção de gente de meia-idade envelhecendo.
21 de maio de 2010
O plano de aprendizado
misto do Wal-Mart
Aprendizado no emprego
Promessa da internet
Mas, ao menos nos termos dessa recente iniciativa educacional, eu acho que
Drucker estaria aberto à abordagem do Wal-Mart. Para começar, ele
provavelmente teria gostado da decisão do Wal-Mart de se conectar à
American Public, instituição de ensino online da West Virginia, em lugar de
outro parceiro acadêmico mais conhecido.
Drucker nunca ligou muito para o requinte exibido pelas faculdades e
universidades de elite e via o ensino pela Internet como tremendamente
promissor. “A faculdade não sobreviverá como uma instituição residencial”,
Drucker previu no fim dos anos 90. “As edificações atuais são totalmente
desnecessárias.” Na própria pesquisa do Wal-mart, sobre empregados, mais
de dois terços disseram à companhia que preferiam uma universidade online
a um campus tradicional.
No entanto, eu acredito que o mais intrigante para Drucker teria sido esse
conceito de casar o treinamento corporativo e as rotinas normais de trabalho
com uma instrução mais formal, da American Public.
O Wal-Mart diz que a vantagem de ter os empregados acumulando créditos
em assuntos como gerenciamento de inventário de varejo e relações com
clientes, estando no trabalho, é que isso irá colocá-los “no caminho mais
veloz para a obtenção do diploma de nível superior, reduzindo seu tempo na
sala de aula e tornando o custo geral mais viável”.
Mas isso é fugir ao ponto principal. Se o trabalho do curso e o trabalho
habitual estão integrados de uma forma inteligente e refletida, um reforça o
outro, ajudando os empregados do Wal-Mart a aprenderem ambos, de um
jeito novo.
Ainda assim, mesmo com toda sua cautela, Drucker teria sido arrebatado
pelo texto escrito por um jovem economista chamado Florian Ramseger, que
afirma que “nós estamos no degrau da frente de uma nova era”, devido ao
advento da “computação em nuvem”. Esse é o sistema baseado na internet,
no qual recursos compartilhados, software e informação são providos sob
demanda a dispositivos, de forma bem semelhante à eletricidade que
atravessa um circuito. De fato, assim como Ramseger vê as coisas, é uma era
que o próprio Drucker ajudou a definir.
“A computação em nuvem tem um grande potencial para posicionar os três
principais elementos da sociedade de conhecimento de Drucker”, escreveu
Ramseger, de 29 anos, um alemão que acabou de ingressar no Fórum
Econômico de Genebra como analista de pesquisa. Sua redação sobre o tema
foi recentemente escolhida como a vencedora no Desafio Peter Drucker,
concurso que atraiu mais de 200 inscrições do mundo inteiro; os
participantes não podiam ter mais de 35 anos. (A competição foi patrocinada
pela Drucker Society of Austria, afiliada do Drucker Institute, administrado
por mim.)
Segundo Ramseger, o primeiro elemento é enfatizado pela conectividade.
Isso é crucial porque numa sociedade de conhecimento, os trabalhadores
tendem a assumir tarefas altamente especializadas. Mas, “apenas por si”,
segundo Drucker explicou em Managing in a Time of Great Change, de
1995, esse “conhecimento especializado não resulta em performance”. Para
produzir resultados expressivos, grupos de pessoas ostentando áreas
diferentes de expertise precisam se reunir frequentemente e contribuir para
uma meta comum. Conforme Ramseger escreve, a computação em nuvem
promete tornar isso cada vez mais fácil, porque irá “criar muitas plataformas
novas de troca para que os trabalhadores de conhecimento se engajem”.
Fugindo ao sentido
E m meados dos anos 40, com Peter Drucker prestando consultoria sobre
relações com os funcionários, Charlie Wilson, presidente da General
Motors, ficou convencido de que o fabricante automotivo precisava de uma
nova abordagem para lidar com seus trabalhadores. Ele projetou uma versão
antecipada dos “círculos de qualidade”, nos quais, segundo Drucker, o
pessoal comum poderia se “identificar com o produto e a empresa”, assim
como “seria responsável pela qualidade e desempenho”.
A iniciativa nem sequer engrenou a primeira marcha. Para a maior parte
dos executivos da GM, o plano “representava a abdicação das
responsabilidades gerenciais”, Drucker recordou mais tarde. Drucker disse
que o UAW (United Auto Workers ou Sindicato dos Trabalhadores
Automotivos) também se manteve em “violenta oposição” ao conceito – por
motivo bem parecido. Walter Reuther, presidente do sindicato, não queria
seus membros desempenhando o que ele via como função de um gerente. Na
verdade, acrescentou Drucker, Reuther era desconfiado de qualquer coisa
que criasse um “centro de interesse comum entre empregador e empregado”.
Não pude deixar de me lembrar da determinação de Reuther, esta semana,
quando li a respeito do espírito bem mais colaborador de Bob King, atual
presidente da UAW. King – que este ano enfrenta negociações com a GM,
Ford e Chrysler e também está decidido a organizar os trabalhadores nas
fábricas americanas de empresas estrangeiras, incluindo a Toyota e a
Volkswagen – parece o inverso de Reuther.
“Estamos realmente comprometidos com o sucesso das companhias onde
representamos os trabalhadores”, King declarou, numa entrevista para a
Bloomberg News. Em outro ponto, ele defendeu a participação de seus
membros em conselhos corporativos, dizendo: “Quanto mais expressiva a
voz dos trabalhadores, em todos os aspectos de seu emprego, mais sucesso o
empregador terá.”
Parceria na missão do empregador
S e há uma coisa sobre a qual você pode ter certeza é que Peter Drucker
não aprovava toda a reclamação dos homens de negócios quanto à incerteza.
Eles estão dirigindo sua lamúria primordialmente ao governo federal,
como ilustrado numa entrevista que ouvi, semana passada, na Rádio Pública,
com Andrew Liveris, diretor executivo da Dow Chemical. Comentando
pouco antes o discurso do Presidente Barack Obama ao sindicato, Liveris
contou uma ladainha de preocupações que muitos diretores executivos
americanos expressaram nos últimos meses.
“Ora, eu não tenho apenas impostos altos; tenho impostos incertos”, disse
ele. “Nesse momento, tenho mais regulamentações infundadas, sem base
científica, sem base de dados, vindo em minha direção. Na verdade, eu nem
sei quanto serão os meus custos nos próximos cinco anos. Então, estou aqui
esperando pela reforma regulatória, e o governo, é claro, agora está
engajado nisso – assistência médica e a incerteza que ronda o orçamento da
saúde, e o que vai acabar acontecendo ali. A política da energia – temos
muitas incertezas no sistema regulatório da energia. Quero dizer, eu consigo
seguir em frente, mas isso é meia dúzia.”
Não que Drucker não fosse sentir nenhuma empatia. “O governo moderno
se tornou ingovernável”, Drucker afirmou em The Age of Discontinuity, seu
livro de 1968, tocando em um assunto do qual ele nunca se distanciou com o
passar das décadas. “Hoje em dia, não há governo que ainda alegue controle
sobre sua burocracia e de suas inúmeras representações.”
Mas Drucker também acreditava que no grande panorama das coisas, a
influência do governo tende a ser relativamente menor. (A menos, eu
suponho, que você seja um contratante federal, e seu cliente principal seja o
Tio Sam.) Forças fora da arena pública agem como os principais condutores
das mais profundas mudanças moldando nosso mundo, incluindo a contínua
transição para a era do conhecimento.
“A futilidade da política”
“Se este século prova algo, é a futilidade da política”, Drucker escreveu, em
1994. “Foram as transformações sociais, como correntes oceânicas
profundas, por baixo das superfícies tormentosas do mar, que tiveram o
efeito de fato permanente. Elas, e não toda a violência da superfície política,
transformaram não apenas a sociedade, mas também a economia, a
comunidade e o sistema governamental no qual vivemos”. Drucker
acrescentou que “os acontecimentos políticos que viram manchetes de
jornais” permaneceriam nesse papel inferior, adentrando boa parte do século
XXI.
No entanto, além de tudo isso, existe outra razão mais fundamental para
parar de reclamar: a incerteza é simplesmente parte do negócio. Os
executivos precisam administrar a incerteza, não ficar choramingando a
respeito dela.
Na verdade, desde que a economia mudou da agricultura para a
manufatura, a incerteza passou a fazer parte da equação. “O agricultor sabia
que, se não tivesse uma espiga de milho quando a nevasca chegasse, ele não
teria mais espiga alguma naquele ano”, Drucker escreveu em seu livro de
1950, The New Society. “O fazendeiro sabia que, se suas ovelhas não
parissem na primavera, ele não conseguiria reabastecer seu rebanho. Mas na
produção industrial não se pode prever, com certeza alguma, quando um
produto ou serviço terá sucesso. Se terá ou não sucesso, nós chamamos de
‘risco inerente’; mas, se ele terá sucesso em um, cinco ou vinte anos, isso é
uma ‘incerteza’.”
Mais de 50 anos depois, com o grosso dos empregos de operários
substituídos pelo trabalho de conhecimento e serviços, a quantidade de
nebulosidade que os administradores enfrentam só aumentou.
“A incerteza na economia, sociedade, política – se tornou tão grande a
ponto de ser fútil, se não contraproducente, o tipo de planejamento que a
maioria das empresas ainda pratica: prognósticos baseados em
probabilidades”, Drucker escreveu em Managing in a Time of Great
Change, seu livro de 1995.
Então, o que deve fazer um executivo desnorteado?
A primeira responsabilidade
A regulamentação é a chave
Obviamente arriscado
Pura ganância
P eter Drucker não tinha muitas coisas boas a dizer sobre aqueles de Wall
Street, e a certa altura os comparou a “camponeses balcânicos que roubavam
as ovelhas uns dos outros”.
Devido à magnitude da última crise que assolou a Fannie Mae, Freddie
Mac, American International Group, Lehman Brothers e seus amigos, só se
pode imaginar que tipo de analogia sarcástica ele usaria hoje.
Ou talvez ele tivesse apenas dito: “Eu falei”.
Afinal, tantos dos problemas que assolaram esses gigantes dos setores de
bancos de investimentos, hipotecas e seguros – e que ameçam “minar a
segurança financeira de todos nós’, como o Presidente George W. Bush
colocou – vêm de um tolo desprezo pelas lições mais fundamentais que
Drucker ensinou sobre risco, escopo e responsabilidade.
Alguns preferem complicar as coisas, particularmente agora que a
administração Bush anunciou um pacote de auxílio de 700 bilhões de
dólares. De fato, há uma tentação, em certos setores, de embromar o que
aconteceu aqui – mascarar os erros administrativos básicos que foram a raiz
desse desastre, apontando os entremeios intricados das negociações de
crédito, “venda a descoberto” e outros enigmas.
Porém, como Drucker sabia tão bem, nada disso é muito complexo: se você
faz muitas apostas perigosas – e juntar sua fortuna sobre um alicerce de
critérios patéticos e uma montanha de dívidas não é nada senão perigoso –
você vai acabar ficando sem sorte.
“Não importa o quanto o apostador seja astuto”, afirmou Drucker, “as leis
da probabilidade garantem que ele vai perder tudo que ganhou e muito
mais”. Ele escreveu essas palavras nos anos 90, conforme um grupo
diferente de instituições que um dia haviam sido ilustres – Barings, Bankers
Trust, Yamaichi Securities – foram derrubadas por sua negligência.
Drucker frisou que o alto escalão administrativo professou estar chocado
por algumas atividades realizadas nessas empresas, e não seria surpresa se
ouvíssemos conversas semelhantes dessa vez – principalmente se as pessoas
acabarem indo parar na cadeia. Foi relatado que o FBI abriu mais de duas
dúzias de sindicâncias sobre possíveis fraudes ligadas ao colapso
financeiro, incluindo investigações na Fannie Mae, Freddie Mac, AIG e
Lehman.
Mas Drucker não engolia que os altos executivos fossem cegos diante do
comportamento evidente de seus funcionários, uma década atrás, e ele não
iria engolir agora. “Em primeiro lugar”, ele escreveu, “coincidências têm
limite. Uma sequência de falências como essa não pode ser taxada de
‘exceção’. Elas denotam falhas no sistema”.
A altura da prudência?
Richard Fuld, que presidiu a queda da Lehman, disse ao conselho que todas
as suas decisões “foram prudentes e apropriadas”, dada a informação que
ele tinha na época. No entanto, se for verdade, isso indica que sua
organização está mal equipada para prover-lhe as informações necessárias –
isso, em si, já é um colapso gerencial horrendo.
“A frase folclórica de Harry Truman dizendo ‘aqui se assume o que se faz’
ainda é uma boa definição de liderança”, Drucker escreveu em seu clássico
de 1967, The Effective Executive. Willumstad e Fuld debocharam do padrão
da responsabilidade.
Entretanto, os funcionários públicos também não têm mostrado qualidades
de liderança. “A primeira função de um líder é fazer soar a trombeta em alto
e bom som”, escreveu Drucker. “A liderança eficaz – e, novamente, isso é
uma sabedoria muito antiga – não é baseada no fato de ser esperto; é baseada
no fato de ser consistente.”
Mas clareza e consistência têm estado ausentes da reação do governo à
crise. Em princípio, a Administração Bush passou maus bocados para
explicar porque um plano de resgate de 700 bilhões de dólares não era
simplesmente um salvamento com o dinheiro dos pagadores de impostos às
companhias responsáveis pela catástrofe. E o tempo todo o esforço do
governo parecia incerto e casual, como se eles não soubessem exatamente
que notas a trombeta deveria entoar. Em determinado ponto, por exemplo, os
funcionários do Tesouro depreciaram a ideia de o governo assumir a
participação dos bancos nacionais. Depois, eles reverteram o rumo e
anunciaram, na terça-feira, que iriam investir 250 bilhões de dólares no
setor.
Essa ação ajudou a estimular o revigoramento, depois que as ações tinham
sido completamente arruinadas, na semana anterior. Mas ainda veremos se o
plano do governo sequer está focado nas coisas certas. Depois de tudo, é
bem possível que isso possa ter êxito escorando o sistema bancário, em
curto prazo, enquanto omite a garantia de que outro colapso financeiro não
irá se materializar mais adiante.
Uma das questões mais sérias, que não foi abordada adequadamente, por
exemplo, é expedir uma ordem que obrigue as instituições financeiras a
divulgarem precisamente que tipo de risco elas enfrentam hoje e mais à
frente.
“Houve muitas tentativas indiferentes de melhorar isso, ao longo dos anos,
a maioria delas conduzida pelas grandes perdas de crédito, ou nas
operações, preocupações com a estabilidade sistêmica ou danos aos
clientes”, escreveu Erik Banks, veterano da Merrill Lynch, em seu livro
perturbadoramente premonitório, lançado em 2004, intitulado The Failure of
Wall Street. “Quando alguma coisa ruim acontece, os reguladores pedem
mais informações sobre os riscos, os bancos as providenciam, por um
tempo, ninguém acha particularmente útil, porque é tudo expresso em termos
evasivos, e nada é, de fato, transmitido, depois aquilo é enterrado de forma
ilegível nas observações de rodapé; os reguladores, clientes e investidores
se esquecem, e tudo volta ao status quo, até a próxima explosão.”
Dessa vez, teremos que fazer melhor – mas isso exige líderes que tenham
coragem para tratar não apenas da atual calamidade, mas também de suas
causas ocultas, incluindo a falta de transparência.
Expandindo fronteiras
Realmente, a forma como Drucker via uma das tarefas mais importantes de
um líder é formular cuidadosamente o que ele ou ela espera realizar a cada
grande decisão. “Que objetivos a decisão precisa alcançar?”, Drucker
escreveu. “Quais são as metas mínimas que ela precisa obter? Que
condições ela precisa atender?”
Drucker indicou que na ciência, essas são conhecidas como “condições
limite”. E não alcançá-las pode ser terrível. “Uma decisão que não satisfaz
as condições limite”, afirmou Drucker, “é pior do que a que define
erroneamente o problema.”
Ele relatou que o Presidente Roosevelt expandiu suas próprias condições
limite depois de um “súbito colapso econômico”, entre o verão de 1932 e a
primavera de 1933. Antes, Roosevelt tinha buscado uma política de
recuperação relativamente conservadora. Mas, quando a situação se
deteriorou, sua meta passou a ser necessariamente não apenas a recuperação,
mas a reforma abrangente.
Esse é um caminho que seríamos sábios em seguir novamente. A questão
é: haverá alguém para nos prover a liderança e conduzir até lá?
14 de outubro 2008
10 lições de administração obtidas da
morte do Lehman
Drucker viu a chegada dessa bagunça muito tempo atrás. Numa matéria que
ele escreveu em 1999, “Financial Services: Innovate or Die”, ele franzia o
rosto para o tipo de transação que causou tantos danos à reputação da
Goldman e, mais importante, à economia mundial. Desde os anos 70,
escreveu ele, “as únicas inovações” nos bancos “têm sido uns derivativos
‘científicos’ quaisquer.
“Mas esses instrumentos financeiros não são elaborados para prover um
serviço ao cliente”, prosseguiu Drucker. “São feitos para tornar as
especulações do operador mais rentáveis e, simultaneamente, menos
arriscadas – certamente, uma transgressão às leis básicas de risco e
improváveis de dar certo. Na verdade, elas não têm mais probabilidade de
dar certo do que o sistema científico do jogador inveterado, apostando em
Monte Carlo ou Las Vegas.”
É claro que a tendência de inflar o lucro final próprio sem criar qualquer
coisa de valor real (um bem, um emprego, um ganho na produtividade) não
contaminou apenas Wall Street. Em inúmeros setores, muitos executivos
agora depositam mais tempo e energia na engenharia financeira do que na
engenharia de produtos.
Drucker, por sua vez, não era ingênuo quanto às altas finanças. Ele
compreendia inteiramente que os negócios precisam se engajar em
transações de hedging (cobertura) e opções comerciais de preços voláteis ou
moedas flutuantes. “Riscos de operações cambiais estrangeiras”, disse
Drucker, “transformam os gestores mais tradicionais em especuladores”.
Mas isso não é a mesma coisa que um banco operando por conta própria,
uma prática que pode rapidamente transformar os que eram tradicionalmente
clientes principais da instituição em considerações secundárias. “Eu
acredito que os bancos devem ser bancos servindo aos clientes”, escreveu
Vikram Pandit, diretor executivo do Citigroup, numa carta recente ao
Presidente Obama, numa declaração que, em dia e época diferentes, teria
sido tão comicamente óbvia quanto a cor do cavalo branco de George
Washington.
Paul Volcker, ex-Presidente do Conselho do Federal Reserve, que vem
tentando erguer um muro entre os bancos que se mantêm fazendo depósitos e
os que querem fazer apostas arriscadas para vantagem própria, comentou,
não faz muito tempo, que somente uma inovação financeira foi digna de
alguma atenção nos últimos 20 anos. E não são os CDOs (collaterized debt
obligations, ou obrigações de débito colateral) o núcleo do escândalo da
Goldman. E sim os caixas eletrônicos. “Isso realmente ajuda as pessoas e é
uma conveniência real”, disse Volcker. “Quantas outras inovações, que
tenham sido tão importantes para o individuo, você pode citar?”
A observação de Volcker foi meio que um gracejo, mas Drucker
certamente teria apreciado o sentimento. Em seu texto de 1999, ele explicava
que em duas ou três décadas após a Segunda Guerra Mundial, um fluxo
contínuo de inovações emanava do setor bancário, incluindo o Eurodollar, o
Eurobond, o primeiro fundo de pensão e o cartão de crédito.
Ele também enfatizou o trabalho pioneiro de Walter Wriston, do Citibank,
que, como Drucker descreveu, “imediatamente mudou sua companhia, que
deixou de ser um banco americano, com filiais estrangeiras, e passou a ser
um banco global, com múltiplas sedes”. Drucker disse que o insight
subsequente de Wriston, “de que o que interressa ao ‘banco não é o dinheiro;
é a informação’, criou o que eu chamaria de ‘teoria do negócio’ para o setor
de serviços financeiros”.
Como a última parte de seu comentário deixa claro, Drucker nunca foi
particularmente sentimental sobre tudo isso. Ele não estava interessado em
fomentar amizades; estava, como sempre, tentando enfatizar a performance.
“Sentimentos afetuosos e palavras agradáveis não têm significado, na
verdade, são uma fachada para comportamentos patifes, se não houver
nenhuma realização naquilo que é, no fim das contas, um relacionamento
focado no trabalho, na tarefa”, Drucker alertou em The Effective Executive,
seu clássico de 1967. “Por outro lado, uma palavra áspera ocasional não irá
conturbar um relacionamento que produz resultados e realizações, por tudo
que envolve.”
No entanto, Ducker sabia que, um dia após o outro, manter um senso de
decoro é um ingrediente importante em qualquer empreendimento bem
administrado. “Maus modos”, disse ele, “esfolam as pessoas, deixam
cicatrizes permanentes”.
Talvez até literalmente. Mês passado, a Joint Commission, uma entidade
de certificação para a indústria americana de assistência de saúde,
determinou que 15 mil hospitais, casas de repouso, laboratórios e outras
instituições implementassem padrões discriminados do que consideravam
conduta pessoal “aceitável e inaceitável” e estabelecessem “um processo
formal” para gerenciar a situação quando as regras forem infringidas.
“Líderes do setor de assistência de saúde e cuidadores sabem, há anos,
que comportamentos ameaçadores e turbulentos são um problema sério”,
disse a comissão. “Rompantes verbais, atitudes condescendentes, a recusa na
participação de tarefas designadas e ameaças físicas geram o fracasso do
trabalho em equipe, da comunicação e colaboração necessária para a
realização de cuidados com o paciente.”
Civilidade é crucial
Não é somente o pessoal da área médica que precisa desse lembrete. Um
estudo lançado ano passado, baseado numa pesquisa feita com mais de 54
mil empregados de 179 instituições da Austrália e Nova Zelândia, descobriu
que um em cada cinco empregados passa por um incidente de rudeza uma vez
ao mês.
As pessoas que excluem os colegas de trabalho das situações, os
interrompem quando eles estão falando, fazem observações depreciativas,
ocultam informações e menosprezam as ideias alheias podem ter “um grande
impacto no engajamento dos funcionários”, disse Barbara Griffin, psicóloga
organizacional da University of Western Sydney e coautora de um estudo,
quando este foi lançado. Ela disse que na verdade, esse tipo de atmosfera
pode muito bem determinar “se você permanece numa instituição, fala
positivamente sobre seu emprego ou se esforça ainda mais. Isso também
pode causar angústia psicológica e prejuízos à saúde física”.
Por mais que isso pareça sensato, muitos administradores falham na
percepção do quanto a civilidade é crucial. “Gente inteligente,
principalmente os jovens inteligentes, deixam de compreender isso”,
escreveu Drucker. “Se a análise mostra que o trabalho brilhante de alguém
falha repetidamente assim que a cooperação de outros é solicitada, isso
provavelmente indica uma falta de cortesia – ou seja, falta de boas
maneiras.”
Isso, é claro, vai minando não apenas a instituição, mas o indivíduo. Em seu
aclamado livro What Got You Here Won’t Get You There: How Successful
People Become Even More Successful, o consultor executivo (e colega
colunista da BusinessWeek.com) Marshall Goldsmith indica que “as
habilidades pessoais”, mais que a inteligência, ou os talentos técnicos,
frequentemente “fazem a diferença no quanto você consegue ascender” em
sua carreira.
Entre os desafios do comportamento interpessoal que Goldsmith diz que
muitos de nós precisamos nos esforçar para superar: falar quando estamos
zangados, ser excessivamente negativos, dar desculpas, reclamar o crédito
não merecido, não ser bom ouvinte e “falhar na demonstração de gratidão –
forma mais básica de falta de educação”.
E, com isso, resta apenas mais uma coisa a dizer: obrigado pela leitura.
14 de agosto de 2008
Colocando uma tampa na
remuneração do presidente
O teste do espelho
P erto do fim de sua longa vida, quando Peter Drucker foi solicitado a
listar suas maiores contribuições, ele apontou sua visão pioneira de que a
administração se estendia além do reino dos negócios, para “se tornar o
órgão norteador de todas as instituições da sociedade moderna”. Ele também
observou, sem adornos ou falsa modéstia: “eu instituí o estudo da
administração como uma disciplina, em seu próprio direito”.
Depois, ele acrescentou isso: “Enfoquei essa disciplina nas pessoas e no
poder; nos valores, na estrutura e constituição; e, acima de tudo, em
responsabilidades.” Para dar uma ênfase a mais, ele datilografou a última
parte em letras maiúsculas.
Essa semana, eu pensei na lista de Drucker quando o Presidente Barack
Obama citou a palavra com R em seu discurso inaugural, que foi, por sua
vez, sublime e sóbrio. “O que de nós é solicitado agora”, declarou ele, “é
uma nova era de responsabilidade”.
Liderança ética
Mas o que são esses “deveres a nós mesmos, à nossa nação e ao mundo”,
dos quais Obama nos pediu para “lançar mão, alegremente”? O que
realmente pode ser esperado que façamos numa época em que, como o
próprio presidente colocou, “nossa economia está muito enfraquecida, lares
e empregos foram perdidos, empresas foram fechadas”? Como cada um de
nós pode fornecer ajuda, do nosso jeito, para o bem comum?
Parte da resposta é o chamado de Obama ao serviço e voluntariado, uma
força que Drucker também via como uma “contracorrente poderosa” em
relação à “decadência e dissolução da família e comunidade e perda de
valores” nos Estados Unidos.
Porém, para Drucker, havia algo ainda mais fundamental quanto à noção de
responsabilidade. Isso começa com o reconhecimento de que, ao longo dos
últimos 150 anos, nós nos tornamos uma sociedade de grandes instituições.
E, quando essas instituições não são administradas de forma eficaz e
conduzidas eticamente, a sociedade sofre como um todo.
Questões previstas
Hoje em dia, quem pode duvidar disso? O que é bom para a General Motors
pode ser bom para o país, mas a consequência natural é certamente
verdadeira: quando as coisas vão mal na GM (ou no Citigroup ou na Fannie
Mae), é ruim para todos nós.
“O desempenho econômico é a responsabilidade primordial de uma
empresa”, escreveu Drucker. “Na verdade, uma empresa que não apresenta
resultados pelo menos equivalentes ao custo de seu capital é irresponsável;
ela desperdiça os recursos da sociedade. A performance econômica é a base
sem a qual uma empresa não pode desempenhar nenhuma outra
responsabilidade, não pode ser um bom empregador, um bom cidadão, um
bom vizinho. Mas a performance não é a única responsabilidade de uma
empresa... Toda empresa precisa assumir inteira responsabilidade por seu
impacto nos empregados, no meio ambiente, nos clientes e naqueles com
quem tiver contato. Isso é responsabilidade social.”
Ademais, não pode fazer isso depois do fato. Drucker explicou que “é
dever da instituição olhar à frente e analisar quais de seus impactos tendem a
se tornar problemas sociais. Em seguida, é dever da empresa tentar prever
esses efeitos colaterais indesejados”.
Administração atenta
Por mais importante que seja a confiança, ela não é fácil de ser estabelecida.
Leva um tempo, motivo pelo qual Drucker recomendava às empresas que não
forçassem alguém recém-contratado a um trabalho muito importante. Mesmo
que essa pessoa seja altamente qualificada, ele ou ela ainda não terão
ganhado a confiança de seus colegas de trabalho.
Drucker escreveu: “Como observou o grande Duque de Marlborough,
predecessor de Winston Churchill, há mais de três séculos, ‘O problema
básico na coalizão de guerra é que é preciso confiar a vitória, se não a
própria vida, a um comandante que se conhece pela reputação, em lugar da
performance’. Na instituição, assim como no exército, sem o conhecimento
pessoal construído ao longo de um período de tempo, não pode haver
confiança, nem comunicação eficaz.”
Mas como se ganha a confiança sendo um administrador?
Segundo o ponto de vista de Drucker, é crucial ser capaz de colocar o ego
de lado e fazer o que for melhor para a empresa. “Os líderes que trabalham
com mais eficácia nunca dizem ‘eu’”, frisou ele. “E isso não é porque eles
treinaram para não dizer ‘eu’. Eles não pensam ‘eu’. Pensam ‘nós’; eles
pensam ‘equipe’. Há uma identificação (frequentemente, bem inconsciente)
com a tarefa e com o grupo. Isso é o que gera confiança, que possibilita a
realização da tarefa.”
Ainda assim, a grande maneira de se ganhar confiança é simplesmente
sendo consistente – fazer o que você diz que irá fazer, agir de maneiras que
estejam em linha com o que você diz acreditar, desenvolver projetos que
estejam em harmonia com a missão e os valores da empresa. “Confiança
significa que você sabe o que esperar das pessoas”, declarou Drucker.
“Confiança é entendimento mútuo. Não amor recíproco, nem mesmo respeito
mútuo. Previsibilidade.”
A hipocrisia provavelmente não ocuparia um lugar muito alto nas listas de
maiores equívocos cometidos pelos administradores. Mas deveria. Seus
colegas estão observando atentamente. Pode acreditar.
16 de outubro de 2009
Os executivos estão errados em
desvalorizar os valores
A McKinsey & Co. lançou, esta semana, uma pesquisa sobre “liderança
durante e depois da crise”. No entanto, se Peter Drucker pudesse analisar a
pesquisa, eu creio que ele a teria achado um tanto reveladora em termos de
como nós nos metemos nessa encrenca.
Quando perguntados sobre as habilidades organizacionais mais relevantes
para o desempenho da administração corporativa, os 763 executivos que
responderam – representando um leque de regiões, setores e funções –
escolheram duas, mais que quaisquer outras. A primeira foi “liderança”, que
foi descrita como a facilidade de “moldar e inspirar as ações para os
outros”. A segunda foi “direção”, ou “capacidade de articular o rumo da
companhia e como chegar lá” de forma alinhada.
Enquanto isso, lá no fim da lista, estava a habilidade de “fomentar um
entendimento compartilhado de valores”. Meros 8% dos que responderam
citaram isso como um valor crucial, comparados aos 49% que optaram por
liderança e 46%, por direção. Ademais, os participantes da pesquisa
indicaram que reforçar valores compartilhados se tornou menos vital desde
o início da crise econômica, enquanto as outras duas qualidades se tornaram
mais significantes.
Para Drucker, esses números certamente teriam sido preocupantes. Da
forma como ele via as coisas, qualquer empresa precisa demonstrar
realização em três áreas importantes para ser bem-sucedida: geração “de
resultados diretos”, “o desenvolvimento de gente para o amanhã” e “a
construção de valores”. Se um negócio é “privado de qualquer dessas três
áreas, ele claramente vai decair e morrer”, Drucker alertou em The Effective
Executive, seu clássico de 1967.
Liderança e valores
É claro que é tentador descartar qualquer discussão sobre valores como puro
mingau – aquele troço empapado escrito nos relatórios de responsabilidade
social corporativa e proferido nos banquetes de premiações anuais da
companhia. Mas isso é uma má interpretação do significado de valores. Lá
no fundo, todo empregado sabe o que a empresa representa. E, a menos que
represente as coisas certas, é terrivelmente fácil para as pessoas se
desviarem.
“Hoje em dia, ouvimos muita conversa sobre a ‘cultura’ de uma
instituição”, Drucker mencionou, numa matéria para a Harvard Business
Review, em 1988. “Mas o que realmente queremos dizer com isso é o
compromisso na empresa com alguns objetivos e valores em comum. Sem
compromisso, não há empreendimento; há apenas uma máfia. A função da
administração é pensar, programar e exemplificar esses objetivos, valores e
metas.”
Talvez a descoberta mais estranha da McKinsey, seja a sugestão de que
prover liderança, de alguma forma, está separada da promoção de valores.
Na verdade, os dois estão atrelados – são a hélice dupla do DNA de
qualquer corporação.
Conforme Drucker escreveu: “A liderança é exemplo. O líder é visível;
ele representa a instituição. Pode ser totalmente anônimo no instante em que
deixa o escritório e entra em seu carro para ir pra casa. Porém, dentro da
empresa, ele ou ela são visíveis, e isso não é verdade apenas para empresas
pequenas ou locais; é igualmente verdadeiro para as grandes, nacionais,
mundiais... Não importa se o restante da empresa não representa; o líder não
somente representa quem somos, mas, acima de tudo, o que sabemos que
devemos ser.”
O que explica muito sobre tantos bancos terem demonstrado um grau tão
grande de negligência no colapso financeiro. Num relatório deste ano,
falando de lições sobre governança corporativa recolhidas da crise, a
Organisation for Enomic Co-operation and Development citou “distinção no
topo” como grande parte do problema. Olhando as soluções, a OECD
enfatizou padrões convocando diretores não apenas a aprovarem os
objetivos estratégicos de um banco, mas também seus “valores
corporativos”, e a garantir que sejam “comunicados claramente” por toda a
instituição.
Para toda empresa, uma opção
A responsabilidade máxima
Mas foi ainda mais cedo, em 1954, com The Practice of Management, que
Drucker começou a argumentar que cumprir a missão de uma corporação, e
ajudar a transformar a sociedade positivamente, não era apenas compatível,
mas também mutuamente fortalecedor. “É de responsabilidade da
administração fazer o que for verdadeiramente bom para o público, tornar-se
o próprio objetivo da empresa”, ele escreveu.
Drucker não via isso como algum exercício quixotesco. Na verdade, ele
acreditava ser essencial que uma combinação entre o ganho público e
privado se tornasse um aspecto comum da vida corporativa. “Nisso está o
verdadeiro significado da ‘Revolução Americana’ do século XXI,” declarou
Drucker. “Que um número cada vez maior de nossas administrações assuma
como sua a responsabilidade de realizar esse novo princípio em suas ações
diárias, é nossa esperança para o futuro de nosso país e sociedade, e talvez
para o futuro da sociedade Ocidental, toda.
“Para assegurar que essa afirmação não seja só de boca, mas se torne um
fato”, prosseguiu ele, “a mais importante, a responsabilidade máxima da
gestão é: com ela mesma, com a empresa, com nossos herdeiros, nossa
sociedade e nosso modo de vida”.
Engajamento fajuto
Criação de cliente
Nada disso teria surpreendido Drucker. Embora fosse mais conhecido por
prestar consultoria a altos executivos de grandes corporações, o pai da
administração moderna aconselhou inúmeras instituições do setor social,
como Girl Scouts, forçando-as a lutar com as mesmas questões fundamentais
que todo empreendimento – sem fins lucrativos ou não – deve confrontar:
Qual é a sua missão? Quem é seu cliente? O que seu cliente vale? Quais são
nossos resultados? Qual é o nosso plano?
Drucker, como todos nós, via a importância de dar uma mão ao que ela
chamava de “uma América turbulenta e em mudança veloz” – onde os
economistas calculam que até um terço da população não ganha o suficiente
para cobrir suas necessidades básicas. Mas conforme Drucker foi chegando
ao fim da vida, ele ficou convencido de que esse salto na participação no
voluntariado não estava sendo conduzido pelas exigências dos
desamparados. “O principal motivo para essa elevação”, escreveu ele num
livro para administradores de instituições não lucrativas, publicado em
1999, “é a busca pela comunidade, pelo compromisso e pela contribuição.
“Quando converso com voluntários, eu pergunto, repetidamente: ‘Por que
você está disposto a dar todo esse tempo, se já trabalha duro?’ E
repetidamente recebo a mesma resposta, ‘Porque aqui, eu sei o que estou
fazendo. Aqui, eu contribuo. Aqui, faço parte da comunidade.’”
Drucker uma vez disse ter grandes esperanças de que as pessoas
encontrassem satisfação em pertencer às suas fábricas e escritórios. Mas
esse ideal, segundo Drucker explicou em seu livro de 1993, intitulado Post-
Capitalist Society, “nunca se enraizou”. Então, enquanto a maioria dos
voluntários é, segundo ele observou, “bem-educada, rica, ocupada” e “gosta
de seu emprego”, essas pessoas também anseiam por algum tipo de meio
para dar vazão que lhes dê “orgulho cívico”.
Capitalismo criativo
“Nós podemos fazer com que as forças do mercado trabalhem melhor para
os pobres”, disse Bill Gate, presidente do conselho da Microsoft, a um
grupo de formandos de Harvard, “se desenvolvermos um capitalismo mais
criativo” – com o qual seja possível “gerar lucro, ou, ao menos, um meio de
vida, servindo pessoas que estejam sofrendo injustiças”.
Por outro lado, os grupos de organizações sem fins lucrativos estão
explodindo. Há cerca de 1,5 milhão de organizações desse tipo nos EUA, um
aumento de 1 milhão, ou mais, desde uma década atrás, segundo o relato do
National Center for Charitable Statistics, do Urban Institute. Com o
crescimento, veio a oportunidade – e não apenas para os voluntários. Uma
análise deste ano, realizada pelo Johns Hopkins Center para a Civil Society
Studies, descobriu que entre 2002 e 2004, a mão de obra paga nas
organizações sem fins lucrativos cresceu mais de 5%, enquanto o índice
geral de empregos teve uma ligeira queda no mesmo período.
Nada é “garantido”
Outra regra do que não fazer para o presidente eleito: “nunca aposte em algo
garantido”, Drucker escreveu. “O tiro sempre sai pela culatra.” Drucker
relembrou que nenhum presidente desfrutou de um mandato mais popular do
que Franklin Roosevelt, a caminho de seu segundo turno. De fato, ela tinha
“todos os motivos para acreditar que seus planos de ‘empacotar’ a Suprema
Corte e, dessa forma, remover o último obstáculo para as reformas do New
Deal (um programa implementado nos EUA entre 1933 e 1937 sob o governo
de Roosevelt, com o objetivo de recuperar e reformar a economia norte-
americana) seria um tiro certeiro. No entanto, sua ação imediatamente teve
um revés – “tanto que”, Drucker comentou, “ele nunca mais conseguiu
recuperar o controle do Congresso”.
O discurso benevolente da vitória, feito por Obama, no qual ele se dirige
ao outro partido e expressa “uma medida de humildade e determinação para
curar as divisas que impediram nosso progresso” foi um primeiro passo bom
e importante. Conforme ele prossegue em frente, nos meses por vir, ele
precisa continuar no mesmo rumo, tanto das palavras, como das ações.
O que mais Obama não deve fazer? “Um presidente eficaz”, escreveu
Drucker, “precisa dizer não à tentação de micro gerenciamento”. O
paradigma mais promissor, disse ele, talvez seja o gabinete de Franklin
Delano Roosevelt, onde “9 de 10 membros (todos, exceto o Secretário de
Estado) eram o que se poderia chamar agora de tecnocratas – especialistas
competentes numa área”. “Eu que decido”, Drucker citou as palavras de
Roosevelt, “depois entrego a tarefa a um membro do gabinete e o deixo em
paz”.
Em contraste, mencionou Drucker, tentar ter um único chefe de equipe da
Casa Branca como lanceiro para liquidar os maiores problemas de uma
administração “nunca funcionou” muito bem. Tampouco, disse ele, aquele
modelo clintoniano de trazer para dentro da sala “dúzias e dúzias de
secretárias, subsecretárias, secretárias assistentes, assistentes especiais e
assim por diante”. Isso acaba transformando o mais alto nível de governo
“numa perpétua reunião em massa”.
Porém, de todas as coisas que o presidente não deve fazer, Drucker deixou
pouca dúvida: ele jamais pode presumir que um governo pode – e nem deve
tentar – resolver tudo que está errado.
Ineficácia governamental
“Há provas de sobra de que o governo é grande mais que forte; que é gordo
e flácido, em vez de poderoso; que custa um bocado, mas não realiza muito”,
Drucker escreveu, 40 anos atrás, em The Age of Discontinuity. Três décadas
depois, num artigo no The Atlantic, a avaliação franca de Drucker não tinha
mudado muito: “Os governos de todos os lugares – nos Estados Unidos, no
Reino Unido, Alemanha, na ex-União Soviética – se provaram incapazes de
administrar a comunidade e a sociedade.”
Mas Drucker não apenas soltou a língua. Ele também ofereceu sua porção
de prescrições. Entre elas: cultivar “o hábito de progresso contínuo” nos
departamentos federais e instituir “testes de desempenho”, nos quais a
performance de vários órgãos seriam comparadas anualmente, “com o
melhor se tornando padrão a ser seguido por todos nos anos seguinte”.
Mas, segundo Drucker via, a coisa que o governo mais precisa fazer é
parar de fazer. “O propósito do governo é tomar decisões fundamentais e
torná-las eficazes”, declarou Drucker. “O propósito do governo é focar nas
energias políticas da sociedade. É representar as questões. É apresentar
opções básicas. Em outras palavras, o propósito do governo é governar.
“Isso, conforme aprendemos em outras instituições, é incompatível com
‘fazer’. Qualquer tentativa de combinar o governo com ‘fazer’, em grande
escala, paralisa a capacidade de tomada de decisão. Qualquer tentativa de
ter órgãos fazendo tomada de decisão significa um ‘fazer’ muito fraco. Eles
não são preparados para isso...”
Obama, por sua vez, parece ter abraçado essa filosofia. Não faz qualquer
sentido forçar “uma era de não governança”, disse ele ao The New York
Times, no verão passado. “O que precisamos trazer à pauta é o fim da era de
um governo impassível e ineficiente, de pensamento a curto prazo, para que
prepare o trabalho, a estrutura, os alicerces, para que o mercado opere de
forma eficaz e para que cada um dos indivíduos possa se conectar com esse
mercado e ser bem-sucedido dentro dele.” No fim, o caminho mais seguro
para o “Sim, nós podemos” será o presidente dizer, às vezes, “Não, receio
que eu não possa”.
7 de novembro de 2008
Resolvendo o enigma do sistema de saúde
O alvoroço dessa semana quanto à Casa Branca estar pronta para desistir
de um plano de assistência pública como parte da reforma da saúde, serve de
janela panorâmica para o toma lá dá cá da política de governo. Mas também
é uma janela com vista para o que Peter Drucker chamava de “elementos da
tomada de decisão”.
Nesse sentido, a discussão em D.C. é instrutiva para qualquer líder
encarregado de tomar uma decisão difícil. Invariavelmente, em algum
momento, ele ou ela será forçado a dar um passo a que muita gente
instintivamente resiste: compromisso.
“O líder estipula as metas, estabelece as prioridades e mantém os
critérios”, Drucker escreveu em seu livro de 1992, Managing for the
Future. No entanto, ele também “assume compromissos, é claro; os líderes
eficazes são, de fato, dolorosamente cientes de que não possuem controle do
universo.
“Porém, antes de assumir um compromisso”, acrescentou, “o líder eficaz
pensou criteriosamente se o compromisso que está assumindo com a
restrição da realidade – que pode envolver problemas políticos,
econômicos, financeiros ou de pessoas – compatível com sua missão e metas
ou se o desvia delas”.
Voltando à trilha da campanha, há muitos meses que o presidente Barack
Obama tomou a decisão fundamental de seguir a passos largos na direção da
tentativa de rever o setor de saúde nacional. Ao fazê-lo, ele pareceu seguir
um balizador da consultoria de Drucker, relativo a uma das perguntas mais
cruciais que qualquer executivo deve fazer: “A decisão é realmente
necessária?”
Afinal, como Drucker indicou, “uma alternativa é sempre a alternativa de
não fazer nada”. E esse é precisamente o caminho a ser tomado “se a
condição, embora irritante, não tenha importância ou tenda a não fazer muita
diferença”.
No entanto, nesse caso, a inércia não era uma possibilidade – não com os
custos da saúde explodindo e mais de 45 milhões de americanos sem
cobertura e quase 15 mil perdendo a cobertura diariamente, segundo as
estimativas.
Mas agora chegou o que o próprio presidente descreveu como “a parte
difícil”. Esse é o estágio inevitável, observou Drucker, quando “fica
subitamente óbvio que a decisão não será agradável, nem popular, nem será
fácil”.
O que dificulta ainda mais para Obama é o fato de estarem espalhando
mentiras sobre suas crenças: que ele favorece o “socialismo”, “painéis de
morte” para os idosos e outras bobagens. Por mais insano que isso possa
parecer, o presidente deve ser extremamente cauteloso na forma como ele e
seus suplentes o rechaçam, para que não sufoquem detalhes legítimos da
reforma.
Evitando a grandiosidade
“Para que uma nova ideia seja bem-sucedida, ela precisa primeiro sair do
quadro-negro e ir além da análise de mercado ou do grupo de estudos”,
explica Pollard, um cliente de consultoria e amigo próximo de Drucker. “É
importante começar – iniciar o atendimento a alguns clientes para aprender
com a aplicação prática de uma ideia. Ideias podem ser estudadas e
analisadas, até que sejam exauridas. Se algo é digno de ser feito, será digno
de ser feito com pouco valor, para começar, para aprender com a
experiência.”
É claro que aprender verdadeiramente com a experiência exige um
empenho real. Drucker enfatizava que cada novo empreendimento precisa
ser elaborado desde o começo, com ferramentas cuidadosamente analisadas
para a sinalização quando algo sair dos trilhos e o sucesso parecer
improvável.
Ao mesmo tempo, ele deixou claro que tais avaliações não podem se
tornar excessivamente focadas no que está quebrado. “O primeiro objetivo”,
Drucker escreveu, “é descobrir o que estamos fazendo bem, pois sempre se
pode prosseguir fazendo mais daquilo, mesmo quando não temos a menor
ideia do motivo de estarmos nos saindo bem numa determinada área”.
Em seu texto, Gawande defende o progresso através da experimentação e
erro, traçando como uma série de programas piloto americanos no setor
agrícola revolucionaram a agricultura no começo do século XX. “O que
parecia uma bagunça, acabou tendo coerência como um todo”, relata
Gawande. “O governo nunca assumiu a agricultura, mas também não a
deixou de lado. Ele moldou um círculo de experimentos, aprendizado e
incentivo para agricultores, por todo o país”. Resultado: os preços dos
alimentos caíram, e a produtividade e qualidade dispararam.
Drucker, por sua vez, abordou a história de forma semelhante. Ele concluiu
que as partes do programa do presidente Franklin D. Roosevelt que foram
pior – incluindo, por exemplo, a National Recovery Administration –
começaram com conceitos excessivamente ambiciosos que se espelharam
pelo país. Em contraste, disse Drucker, “não é coincidência que praticamente
todos os programas de êxito tenham sido previamente testados em
experimentações de pequeno porte, em estados e cidades, durante os 20 anos
anteriores – em Wisconsin, na cidade de Nova York, ou outros lugares, no
Estado de Nova York, ou por uma das administrações reformistas de
Chicago.
Drucker certamente entendia os limites do governo federal e teria insistido
em que a implementação efetiva desses programas piloto e quaisquer
programas adicionais fosse deixada, sempre que possível, a cargo dos
órgãos locais, das organizações não lucrativas e das empresas. Como dizem,
o Tio Sam fica mais no leme do que no remo.
No entanto, é interessante que Drucker também tenha discernido as
sementes do que Gawande tenha acabado de escrever, comentando, numa
entrevista de 1996: “O esboço de um novo sistema de assistência médica
americano está lentamente emergindo de literalmente centenas de
experimentos locais.”
Se a reforma da saúde for aprovada pela lei, e mais desses projetos piloto
chegarem a florescer, talvez possamos ouvir um lema diferente – e mais
animador – vindo de Washington: “É pequeno demais para fracassar.”
8 de janeiro de 2010
Encarando o estrago de frente
Predomínio da negação
Um mês e pouco depois, ele ganhou as manchetes, por ter feito exatamente
isso. Em vez de tentar enfeitar o pavão do censo de Detroit, inchando o
orgulho da cidade e maximizando o financiamento federal – tática que muitos
municípios adotam – o prefeito falou abertamente sobre a necessidade de
abraçar uma cidade bem menor e mais magra.
“As questões transformadoras precisam ser abordadas”, Bing me disse,
citando a hemorragia contínua dos trabalhadores de fábricas, que Detroit
vem testemunhando há tantos anos. “É difícil para as pessoas lidarem com o
fato de que aqueles empregos se foram e não vão voltar. Nós temos que nos
preparar para algo muito diferente.”
Claro que esse é o verdadeiro truque: não apenas ter coragem para lutar
contra os desafios mais assustadores, mas também possuir a visão e
habilidade de transformar a situação em algo positivo. Conforme Drucker
afirmou, “uma época de turbulência é também uma ótima oportunidade para
aqueles que compreendem, aceitam e exploram essas novas realidades”.
No caso de Detroit, isso significa enxugar as coisas antes de construí-las
novamente. Bing, que herdou um déficit de mais de 300 milhões de dólares
quando assumiu a prefeitura, em maio de 2009, chegou a um acordo com o
conselho municipal, mês passado, para um orçamento de 3 bilhões, que
inclui um corte de gastos de mais de 100 milhões.
Consertando as escolas
As complexidades da precificação
Confiando no cliente
“A precificação guiada pelo custo é a razão pela qual não existe uma
indústria de eletrônicos de consumo, disse Drucker. Ela tinha a tecnologia e
os produtos. Mas ela atuava sobre a precificação conduzida pelo custo – e
os japoneses praticavam o custo guiado pelo preço.”
O que o Radiohead fez foi levar as coisas a um nível ainda mais
sofisticado. Realmente, a banda abraçou a ideia radical de “precificação
baseada no valor”: cobrar do consumidor o que você acredita que eles estão
dispostos a pagar, dados os benefícios que lhes são oferecidos. No mercado
business-to-business, em particular, isso significa estabelecer preços
diferentes para clientes diferentes pelo mesmo produto, baseado em seu
valor, para cada um.
Desde que o plano de precificação do Radiohead se espalhou, no começo
deste mês, as reações têm variado de confusas à quase paralisia, com alguns
prevendo que a abordagem da banda de deixar por conta do pessoal iria
ajudar a acelerar a morte das grandes gravadoras. (O Radiohead
recentemente encerrou seu relacionamento com a gigante EMI.)
Estou longe de me convencer de que o lançamento desse único álbum vai
levar à ruína da indústria fonográfica. Mas numa coisa eu aposto: deve
ajudar a banda a enfatizar seu próprio lucro final.
Um atrativo do show
Bavasi, no entanto, achou que o MBO era perfeito para o time de beisebol,
em parte, porque os objetivos eram inequívocos. “É um negócio de fatores
absolutos”, ele me disse. “É ganha-perde, tacada-fora. Não há meio termos.
Não tem talvez.” E assim, ele elaborou um plano estratégico de operação de
450 páginas baseado no MBO e cobriu cada departamento dos Indians.
Drucker fez leves ajustes, aconselhando Bavasi a tornar os objetivos mais
qualitativos e menos quantitativos, conforme ele passava de áreas como
venda de ingressos ao clube em si. Prender o técnico a um determinado
número de vitórias, Bavasi explica, “seria fazer muita pressão em todo
mundo”. Em vez disso, Drucker sugeriu que os Indians se concentrassem em
montar o tipo certo de equipe técnica que acabaria levando a mais vitórias.
Com essa finalidade, ele motivou Bavasi e seu círculo interno – o técnico
dos Indians, o gerente geral e o diretor de pessoal – a pensarem não somente
em esmerar as habilidades físicas do grupo, mas em cuidar também do
desenvolvimento intelectual e emocional. Com a orientação de Drucker,
Bavasi mandou vir um técnico que falasse espanhol e pudesse se identificar
com os jovens jogadores latinos. Ele se assegurou de que um dos técnicos
fosse afetuoso, em quem os jogadores pudessem se apoiar, enquanto outro
era mais do tipo durão, para lhes dar uma bronca ocasional. “Ele nos
lembrou que se administrássemos o aspecto humano”, conta Bavasi, “isso
levaria à produtividade no campo”.
Drucker (que cobrava 5 mil dólares por dia) não era uma presença constante.
Ele estava lecionando na Califórnia, na época, e encontrava Bavasi e os
garotos somente quando eles viajavam para Anaheim para jogar contra os
Angels. Ele também não fez nenhuma determinação. Na maior parte do
tempo, conta Bavasi, “ele dava a consultoria inquirindo, fazendo rodadas de
perguntas, e nossas respostas começaram a revelar novas maneiras de
abordar velhos problemas”.
Drucker também era “um mestre”, relembra Bavasi, “na elaboração de
discussões sobre alguns jogadores difíceis de administrar”. Entre eles,
estava o lançador Ernie Camacho, que tinha uma propensão para jogar uma
temporada brilhante, seguida por outra terrível.
“Bem”, disse Drucker, “olhando seu histórico estatístico, nós podemos
concluir que ele tem uma personalidade regressiva. Vemos muito isso no
meio dos melhores programadores de computação. Eles recebem uma missão
muito complexa e escrevem um código brilhante. A tarefa seguinte sai
medíocre, às vezes, um desastre. Então, eles escrevem algo brilhante. Sobe e
desce. Liga e desliga. Exatamente como seu lançador”.
O Ás da virada
Técnicos demais
Conflito de lealdades
Mas, a menos que fique claro de quem é o papel, pode dar confusão. Para
ser bem-sucedida, qualquer organização “tem de ser transparente”, explicou
Drucker. “As pessoas precisam saber e têm que entender a estrutura na qual
devem trabalhar. Isso soa óbvio – mas é frequentemente infringido na
maioria das instituições (até nas Forças Armadas).
A situação mais difícil, acrescentou ele, é quando as pessoas se sentem
puxadas em duas direções diferentes, como os boxeadores se sentiram. “É
um princípio muito antigo das relações humanas que ninguém deva ser
colocado num conflito de lealdades”, afirmou Drucker, “e ter mais de um
‘mestre’ gera esse conflito”.
No entanto, Drucker reconheceu que essa rigidez não é o caminho correto
– e é aqui que os dirigentes da equipe americana de boxe (e certamente
muitos outros administradores) poderiam reconsiderar sua abordagem e
lucrar com isso.
Organize a flexibilidade
Coordenação capciosa
Não surpreende que uma organização como a Southwest tivesse uma forte
afinidade com o trabalho de Drucker. Ele, que via “a administração como
uma arte liberal”, temperava seus livros e artigos com referências à música.
“A chave para a grandeza” em qualquer instituição, escreveu Drucker, em um
ensaio de 2002 para a Harvard Business Review, “é buscar o potencial das
pessoas e dedicar tempo para desenvolvê-lo... Para montar uma orquestra de
renome mundial, é preciso ensaiar as mesmas passagens da sinfonia
repetidamente, até que a primeira clarineta entoe como o maestro a ouve.
Esse processo também é o que faz com que um diretor de pesquisa de um
laboratório industrial tenha sucesso”.
Drucker particularmente estimava Giuseppe Verdi, o compositor italiano
do século XIX, pelo tremendo impacto que lhe causou. No final da década
de 1920, Drucker vivia em Hamburgo, onde trabalhava como estagiário
numa empresa de exportação de algodão. Toda semana, ele fugia do tédio do
trabalho, indo à ópera, e foi lá que ouviu “Falstaff”, de Verdi. “Fui
totalmente arrebatado por aquilo”, relembrou Drucker.
Porém, o que mais o impressionou foi quando ele descobriu, mais tarde,
que a obra-prima de Verdi – “com sua alegria e deleite pela vida, sua
incrível vitalidade”, como Drucker descrevia – tinha sido escrita por um
homem de 80 anos. “Minha vida inteira, como músico”, declarou Verdi, “eu
tenho lutado pela perfeição. Ela sempre me escapou. Eu certamente tinha a
obrigação de tentar mais uma vez”. Drucker disse que essas palavras de
Verdi se tornaram sua “estrela guia” e o ajudaram a inspirá-lo a escrever até
noventa e poucos anos.
Ninguém é imune
De sua parte, von der Schmidt conta que a escrita de Drucker lhe deu um
meio de avaliar as duras escolhas artísticas entre abraçar a nova música ou
manter as composições clássicas. “Realmente tem de haver um equilíbrio
entre a continuidade e a mudança”, conta von der Schmidt, apontando para
um dos temas centrais de Drucker.
Em 2007, a Southwest contratou Michael Millar, que recebeu seu
doutorado na Claremont Graduate University, onde estudou performance
musical e administração artística. Nessa última, seus professores incluíram
ninguém menos que Peter Drucker.
Karlin e von der Schmidt já eram conhecidos de Drucker quando Millar
chegou, mas ele garantiu que a ênfase de Drucker na missão, clientes,
resultados e planejamento tinha sido incrustada mais profundamente na
organização. Ninguém é imune. “Isso faz com que todos – até os músicos –
sejam mais eficazes no que fazem”, conta Millar, diretor de desenvolvimento
da Southwest e trombonista.
Cacofonia onipresente
O conselho de Keough para qualquer líder: cesse aquilo que está fazendo de
vez em quando e pense um pouco a respeito. “Tempo para pensar não é um
luxo”, diz ele. “É uma necessidade... A menos que alguém pare para pensar,
é fácil cometer os mesmos erros, repetidamente.”
Isso não é simplesmente uma questão de foco. Como eu mencionei
previamente nesta coluna, Drucker era um grande defensor de que se faça
uma coisa de cada vez e de fazê-la bem feita. Mas ele também acreditava em
não fazer, para ter tempo de simples contemplação. “Depois da ação eficaz,
reflita em paz”, disse Drucker. “Da reflexão tranquila virá uma ação ainda
mais eficaz.”
Esse foi um tema que surgiu várias vezes na semana passada, durante a
comemoração do centenário de Drucker. No tom principal de seu discurso,
Jim Collins incitou as pessoas – principalmente os jovens – a “desligarem
seus dispositivos eletrônicos”, abrirem “espaço em branco em suas agendas”
e aproveitarem esses “intervalos gloriosos de quietude”. E durante sua
apresentação do filósofo social britânico Charles Handy, Kai Ryssdal, do
programa Marketplace, da rádio pública, mencionou um esquema que Handy
uma vez teve: substituir seu próprio “Pensamentos de Hoje”, na BBC, com
um “Intervalo silencioso do dia”.
O conceito de Handy, como Ryssdal recordou, era dar aos ouvintes dois
minutos, durante os quais eles poderiam pensar em silêncio, antes de voltar
“ao tumulto da vida cotidiana”. Os produtores de Handy cortaram a ideia,
reconhecendo, conforme Ryssdal mencionou, que “dois minutos de silêncio
completo não é um ótimo programa de rádio”.
No entanto, é excelente administração.
13 de novembro de 2009
Beisebol japonês e
revelações de administração
História de administração
Na história de Iwasaki, uma aluna chamada Minami Kawashima
inesperadamente se torna a gerente do time de beisebol da escola de segundo
grau Hodokubo – uma posição que, no Japão é em parte de assistente da sede
do clube e em parte de cuidadora do time. Quando assume o emprego, ela
não sabe muito sobre a função, nem sobre os jogadores com quem terá que
trabalhar.
Porém, ela rapidamente percebe que eles são um bando de atletas atuando
abaixo da média, apesar de talentosos, são desmotivados e não
desempenham um papel à altura.
Então, um dia, Minami depara com uma versão de Management: Tasks,
Responsibilities, Practices, clássico de Drucker, de 1973. Ela o devora e
começa a entrar em ação. Entre os primeiros passos de Minami: deixar
claros os objetivos, exatamente como Drucker prescreveu. “Objetivos não
são destino; são direção”, escreveu Drucker. “Objetivos não são ordens; são
compromissos. Eles não determinam o futuro; eles são os meios de mobilizar
os recursos e energia do negócio para a elaboração do futuro.”
No caso de Minami, sua grande meta era que o time de Hodokubo
ganhasse a taça de beisebol de escolas japonesas de segundo grau, o
Campeonato Nacional Koshien. Para chegar lá, ela abraça alguns dos
princípios básicos de Drucker, todos expressos nos títulos dos capítulos do
livro: “Minami aborda o Marketing”, “Minami tenta guiar os pontos fortes
das pessoas”, “Minami aplica a inovação”, “Minami pensa no que é
integridade”.
Clientes principais
Senso de comunidade
Iwasaki sugere que a popularidade de seu livro pode refletir uma mudança
na cultura japonesa. Depois de um período no qual as pessoas se tornaram
“espalhadas por toda parte” e “perderam o senso de comunidade”, ele
acredita que um espírito colaborador possa estar voltando à voga. “Há sinais
de pessoas querendo trabalhar juntas”, diz Iwasaki. “Nesse contexto, as
palavras de Drucker são realmente assimiladas.”
Por mais maluco que tudo isso possa parecer, Drucker muito
provavelmente teria gostado do livro de Iwasaki. Ele adorava o Japão e,
durante muitos anos, teve um relacionamento bem próximo com as principais
companhias japonesas. Ele também adorava beisebol. Em meados dos anos
1980, Drucker prestou consultoria aos Cleveland Indians e ajudou a
revitalizar o time, em grandes dificuldades, naquela época.
Através das façanhas de Minami Kawashima, Iwasaki colocou as duas
peças juntas, uma jogada dupla literária.
13 de abril de 2010
SOBRE O AUTOR