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Banca Examinadora:
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AGRADECIMENTOS:
Aos professores Dra. Sandra Lencioni e Dr. Nelson Hideiki Nozoe, pelas críticas,
sugestões e possibilidades de encaminhamento para a continuidade do trabalho, apresentadas
por ocasião do exame de qualificação e ao Prof. Dr. Wilson do Nascimento Barbosa pela
hospitalidade intelectual proporcionada nesta minha estada na FFLCH.
Na Universidade Municipal de São Caetano do Sul - IMES, aos meus colegas do curso
de Economia, em particular ao professores Fabiana Rita Dessoti Pinto, Francisco Rosza
Fúncia, Ivan do Prado Silva e Marlene Cardia Laviola, sempre dispostos a debaterem temas
vinculados às problemáticas da História Econômica brasileira. Aos funcionários da Biblioteca
Central, aqui representados pela bibliotecária Cláudia Conceição Bueno dos Santos, sempre
compreensivos com os atrasos na devolução de vários livros utilizados na elaboração deste
trabalho e, também, sempre dispostos a possibilitar o encontro e o acesso a algumas
importantes fontes de pesquisa.
Não poderia deixar de agradecer, também, aos meus amigos e colegas de ofício: Luiz
Carlos Seixas, Odair da Cruz Paiva, Valdir Mazzei, Maria Fernanda Marques Antunes, Maria
Rosa Dória Ribeiro, Muryatan Santana Barbosa, Silvia De Bernardinis, Murilo Leal Neto,
6
Luis Fernando de Freitas Camargo e José Antonio da Costa Fernandes pela preocupação
constante em separar e indicar textos e materiais que favorecessem o desenvolvimento de
aspectos presentes nesta tese, mas, sobretudo, pelas constantes discussões que me levaram,
cada vez mais, a aprofundar o interesse nos assuntos relativos às nossas problemáticas
históricas e sociais e nas questões que envolvem a produção do conhecimento nas áreas das
Ciências Humanas e Sociais.
RESUMO
ABSTRACT
This thesis argue the national market integration, that happened in the first government
of Vargas (1930-1945), with great factor to the construction of economic structure of
industrial base, that allowed the Brazilian economic into a time of great development and
economic growth. In this process, the focus is on the work of the population displacement.
Even If they didn’t achieve their objectives that were proposed, the politics related to
the population displacement that started in the first government of Vargas, allowed the
constitution of the bases that was going to be used, in spite of the characteristics relatively
different, the significative economic development realized after the war.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 13
Parte I
O NOVO PADRÃO DE DESLOCAMENTOS POPULACIONAIS E A INTEGRAÇÃO
DO MERCADO ...................................................................................................................... 31
Parte II
PRINCÍPIOS DE UMA POLÍTICA RELATIVA AOS DESLOCAMENTOS
POPULACIONAIS................................................................................................................. 69
Parte III
POLÍTICAS MIGRATÓRIAS DESENVOLVIMENTO E NOVO PADRÃO DE
ACUMULAÇÃO DE CAPITAL ........................................................................................ 110
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................205
BIBLIOGRAFIA:.................................................................................................................214
ANEXOS:...............................................................................................................................221
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem por objetivo estudar os deslocamentos populacionais como
importante elemento dos processos de integração e de ampliação do mercado brasileiro, a
partir de 1930, no Primeiro Governo Vargas (1930-1945), bem como as políticas relativas ao
controle e direção desses deslocamentos populacionais, formuladas e encampadas pelo
governo brasileiro, no sentido de favorecer a objetivos evidentes, como os de possibilitar a
construção de uma nova estrutura capitalista no Brasil, baseada no mercado interno e na
industrialização.
De fato, foi a partir da década de 1930, mais precisamente a partir do ano de 1933, que
a economia brasileira ingressou em uma etapa de desenvolvimento. Etapa marcada pelo
avanço da industrialização, sustentada pela ampliação do mercado interno, por sua integração
1
Os conceitos de efeitos de propulsão e de efeitos regressivos encontram-se desenvolvidos em MYRDAL,
Gunnar. Teoria econômica e regiões subdesenvolvidas. 2 ed. São Paulo: Saga, 1968, cap. 2. Segundo Paul
Singer, os conceitos de efeitos propulsores e regressivos “referem-se ao movimento das atividades produtivas”
ao passo que os conceitos de fatores de expulsão e atração “se referem aos movimentos de seres humanos”. Ver
SINGER, Paul. Migrações internas: considerações teóricas sobre o seu estudo. In: Economia Política da
urbanização. 13 ed. São Paulo: Brasiliense, 1995, p. 39. Embora os conceitos de efeitos propulsores e
regressivos e de fatores de expulsão e atração sejam diferentes, eles não são antagônicos e para os efeitos desse
estudo encontram-se imbricados.
15
e por um forte intervencionismo estatal. Tal afirmação encontra-se respaldada por uma ampla
gama de análises acerca da História Econômica brasileira.
QUADRO 1
CRESCIMENTO DO PIB PER CAPITA NO BRASIL – 1920-1984
1920 = 100
Em nossa análise, o fator que deve ser investigado, como explicativo para esse
fenômeno na economia brasileira, é o da construção de um mercado para a sua produção, que
começou a ser alcançado, entre outros fatores, com a conquista e a integração de novas áreas,
através da expansão das fronteiras econômicas. Tal processo foi impulsionado pelo
desenvolvimento industrial, desencadeado no pós 1930.
2
Ver TAVARES, Maria da Conceição. Da substituição de Importações ao capitalismo financeiro. 4 ed. Rio
de Janeiro: Zahar, 1979, p. 59.
16
Pode-se objetar que as abordagens de tais autores referem-se a países centrais, não se
adequando, portanto, à análise da realidade brasileira. Segundo Schumpeter, o acesso aos
novos mercados seria fruto da ação de um agente muito específico, o empreendedor privado e
o mercado referido por Rosa Luxemburgo seria o mercado externo de regiões mundiais ainda
não totalmente integradas ao desenvolvimento capitalista, uma vez que suas observações
relacionam-se ao fenômeno do imperialismo.
Por outro lado, muito já se discorreu sobre caráter empreendedor do Estado brasileiro,
que seria responsável por inovações que impulsionaram o processo de acumulação industrial5.
No que diz respeito aos processos expansionistas do capitalismo, em busca de mercados, a
tese de que os processos internos de conquista dos enormes fundos territoriais brasileiros,
quase intocados ao mercado capitalista, constituíram-se em sucedâneos para o avanço externo
das potências centrais capitalistas já é bastante aceita 6. Do mesmo modo, já se aceita,
também, a idéia de que a política de avanço das fronteiras no Brasil, objetivando a
coincidência entre fronteiras política e econômica, implementada no pós 1930, converteu-se,
como afirmava Vargas, no “nosso imperialismo” 7.
3
Ver SCHUMPETER, Joseph Alois. Teoria do desenvolvimento econômico. São Paulo: Nova Cultural, 1988,
cap. 2. Nesta parte o autor afirma quando trata dos fatores desencadeadores de longos ciclos de desenvolvimento
econômico: [...] Abertura de um novo mercado, ou seja, de um mercado que o ramo particular da
indústria de transformação do país em questão não tenha ainda entrado, quer esse mercado tenha existido
antes ou não (grifo nosso).
4
Ver LUXEMBURGO, Rosa. A acumulação do capital. São Paulo: Nova Cultural, 1989.
5
Em relação a isso, este autor afirma o seguinte: “[...] O Estado passa a desempenhar funções complementares e
inovadoras em praticamente todos os setores da economia nacional. [...]É assim que se diversificam as
atividades na indústria, agricultura, comércio e banco.[...] Dinamizam-se as migrações internas em todas as
direções – campo-cidade, campo-campo, cidade-cidade, região-região, etc. – em conformidade com as
exigências e tendências do mercado”. Ver IANNI, Octávio. Estado e capitalismo. 2 ed., rev. e amp. São Paulo:
Brasiliense, 1988, p. 249/250.
6
Ver DINIZ Filho, Luís Lopes. Território e destino nacional: ideologias geográficas e políticas territoriais
no Estado Novo (1937-1945). Universidade de São Paulo: FFLCH (Dissertação de Mestrado em Geografia
Humana), 1993, cap. 4 e COSTA, Julio Cesar Zorzenon. Política colonizadora, industrialização,
desenvolvimento regional e o Núcleo Colonial Barão de Antonina (1930-1944). Universidade de São Paulo:
FFLCH (Dissertação de Mestrado em História Econômica), 2000, cap. 2.
7
VARGAS, Getúlio. Diretrizes Políticas do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 194(?), p. 285
17
9
Ver NASCIMENTO, Benedicto Heloiz. A ordem nacionalista brasileira. São Paulo: Humanitas, 2002, p. 28
e 29.
10
Ver FONSECA, Pedro Cezar Dutra da. Vargas: o capitalismo em construção. São Paulo: Brasiliense, 1987,
p. 183 a 187.
19
Procurou-se, para tal fim, discutir, num primeiro momento, a idéia de que o alcance do
desenvolvimento econômico brasileiro somente se tornou possível com o início do
rompimento com a tradicional divisão internacional do trabalho que fixava a economia
brasileira como exportadora de produtos primários e importadora de produtos
industrializados. Assim, a entrada do Brasil numa etapa de desenvolvimento econômico foi
induzida por um processo de industrialização que se apoiou em seu mercado interno, já que as
possibilidades oferecidas pelo mercado externo, como fator de desenvolvimento econômico,
eram limitadas.
11
Segundo PAIVA, Odair da Cruz. Brasileiros na hospedaria de imigrantes: a migração para o estado de
São Paulo (1888-1993). São Paulo: Memorial dos imigrantes, 2001, p. 25.
20
12
Ver CANO, Wilson. O Brasil e a nova (des)ordem mundial. Rio de Janeiro: Campus, 1995, 1º. capítulo
21
estrutura capitalista de base industrial, sustentada pelo mercado interno e, também, de que as
ações do governo instituído pela Revolução de 1930, principalmente no período do Estado
Novo, procuraram, intencionalmente, favorecer esse processo.
Ora, se pressupomos que no período compreendido por este trabalho ocorreu o inicio
de uma mudança estrutural no capitalismo brasileiro; que essa mudança necessitava ser
apoiada no mercado interno; que esse mercado interno precisava ser integrado; e que essa
integração passava pelo povoamento e pela inserção de novas áreas nos circuitos econômicos;
consequentemente pressupomos, também, que o desencadeamento dessa nova situação
implicou em mudanças nas características que os deslocamentos populacionais haviam
conhecido até então.
13
Tais atitudes não eram exclusividade dos grupos mais diretamente ligados aos interesses industrialistas. Foram
assumidas, também, por segmentos importantes do setor agrícola e exportador devido à dependência econômica
das políticas de proteção aos preços dos produtos agrícolas praticada pelo governo. Ver SOLA, Lourdes. O
golpe de 1937 e o Estado Novo. In: MOTA, Carlos Guilherme. Brasil em perspectiva. 20 ed. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2001, p. 262.
23
Estado se fortalecesse e assim pudesse tomar algumas medidas que julgavam necessárias e
que não podiam ser tomadas diretamente por elas próprias, em virtude de suas debilidades.
Apoiaram o fortalecimento paulatino do executivo em busca de proteção, favorecimentos ou
patrocínios14 .
O início da retirada do apoio ao governo, pela fração ligada aos interesses industriais,
permitiu, por outro lado, que as frações descontentes – geralmente identificadas com o capital
14
Esta análise encontra-se desenvolvida, de maneira bastante interessante, em SOLA, Lourdes. op. cit, p. 264.
15
Ver NASCIMENTO. op. cit. p. 28 a 31 e SOLA, Lourdes. op. cit. p. 266 a 277.
24
Nesse sentido, o período que vai de meados de 1943 a 1945 foi de lenta desintegração
do regime, o que levou, inclusive, a uma mudança de orientação por parte do governo que
buscou maior aproximação com os trabalhadores urbanos, na procura de apoio político, o que
levou a um aprofundamento de suas características personalistas 16. Essa alternativa provocou
maior desgaste do Governo em relação aos grupos dominantes que passaram a criticar os
excessos de estatismo e a intensificar as manobras para sua retirada do poder.
Esse também foi o período em que a vitória dos aliados, ao lado de quem o Brasil
combateu na Segunda Grande Guerra, passou a ser evidente e no qual, também, os efeitos
econômicos do conflito, tais como racionamento e inflação, passaram a ser mais sentidos. O
desgaste político, provocado pela deterioração do ambiente econômico e pela vitória militar
de alguns países organizados politicamente em democracias de estilo liberal frente a regimes
considerados totalitários, além da pressão exercida pelos americanos, impactou a opinião
pública urbana e ampliou o isolamento do regime ditatorial. Dessa maneira, o regime foi
derrubado em outubro de 1945.
O processo descrito é um dos elementos que devemos levar em conta na avaliação das
propostas e das ações levadas a cabo no primeiro Governo Vargas, no campo econômico.
Enquanto algumas medidas encaminhadas pelo governo chegaram a se realizar, outras não se
materializaram ou tiveram um desenvolvimento bastante incipiente e várias permaneceram
inconclusas. Isto se deve, em parte, ao tempo de duração do governo, que apesar de extenso
para os padrões políticos ocidentais, foi curto para a realização de ações e propostas bastante
ambiciosas no campo econômico. Os recursos financeiros, apesar de terem se concentrado em
escala nacional foram, em virtude do ambiente crítico da economia e do pequeno grau de
desenvolvimento da acumulação capitalista do país, escassos e limitados para os projetos que
visavam financiar. Em suma, muitos dos projetos que o regime procurava implantar eram de
difícil execução dentro do tempo de duração que o próprio regime conheceu.
Mas, talvez, o mais importante é que as concepções que norteavam o grupo dirigente,
fortemente influenciadas pelo positivismo, conduziam o país ao início de um processo de
reconstrução por meio de um Estado centralizador e autoritário. Isto levava à crença de uma
16
Ver CORSI, Francisco Luís. Política econômica e nacionalismo no Estado Novo. In SUZIGAN, Wilson;
SZMRECSANYI, Tamás (orgs.). História econômica do Brasil contemporâneo. 2 ed. rev. São Paulo:
Edusp/Hucitec/Imprensa Oficial, 2002, p. 14 e 15.
25
A própria concepção de que o Estado era criador da nação e de uma sociedade que se
basearia nos princípios do organicismo social levava à idéia de um futuro administrado, com a
possibilidade de controle das contradições sociais. Isto, no entanto, não foi assimilado pelas
diferentes classes que compunham a sociedade brasileira e a realidade histórica acabou por se
revelar muito mais complexa. O Estado, apesar de todo o desenvolvimento de seu
aparelhamento ideológico e da ampliação da capacidade de intervenção, não conseguiu
controlar a realidade social.
É fato que o Estado foi chamado para minimizar os conflitos entre as classes sociais.
Disso decorreu a aparência de relativa autonomia frente às diferentes frações das classes
dominantes e a procura de sua legitimidade junto aos trabalhadores, principalmente os
urbanos. Entretanto, a partir do momento em que os conflitos entre os grupos dominantes
começaram a ser melhor equacionados e as bases para o ulterior desenvolvimento capitalista
começaram a se estabelecer, passou a ocorrer um interesse na amenização do estatismo.
Novas formas de dominação puderam, então, se rearticular num regime de democracia
burguesa em moldes mais liberais.
Assim, o período do primeiro governo Vargas deve ser entendido como importante
interregno no processo de constituição de um capitalismo de novo tipo, de bases urbanas e
industriais, no Brasil. As políticas levadas a efeito por esse governo não devem ser avaliadas,
apenas, no que foi realizado no período de existência do próprio governo, mas principalmente
naquilo que estabeleceu como base para o posterior desenvolvimento do país.
Por isso, o Estado, por meio de seu programa oficial de colonização, se preocupou
com a região Oeste, onde, historicamente, as marchas pioneiras conduzidas pela cafeicultura
não haviam chegado com grande intensidade; preocupava-se, também, com áreas
consideradas intocadas na parte norte da atual região Nordeste e com áreas limítrofes da
Amazônia ou razoavelmente próximas às capitais daquela região19.
17
Ver GRAHAM, Douglas. Algumas considerações econômicas para a política migratória no meio
brasileiro. In: Migrações internas no Brasil. Rio de Janeiro: IPEA/INPES, 1971. p. 22/23
18
GRAHAM, Douglas. op. cit., p. 23
19
Por isso a proposta inicial das CANs visava à instalação de 7 colônias situadas, nos Estados de Goiás, Mato
Grosso, Maranhão, Piauí, Amazonas, Pará e Paraná.
27
Como representantes do primeiro caso, teremos as regiões que passavam por acelerado
crescimento urbano e industrial, exemplo específico de São Paulo, e das regiões que
necessitavam ser povoadas e incorporadas à economia nacional, exemplificadas pelo Oeste.
No segundo caso, o exemplo concreto se relaciona ao atual Nordeste, principalmente, em sua
parte sul, região considerada cronicamente atrasada 21.
20
Os termos região sujeito e região objeto foram utilizados por Vargas, para explicar a forma de relação e
integração entre o centro-sul industrializado e o Oeste brasileiro, em entrevista concedida à imprensa em 19 de
fevereiro de 1938. Ver Diretrizes da nova política do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 194(?), p, 125.
21
Ver PAIVA, Odair da Cruz. Caminhos cruzados: a migração para São Paulo e os dilemas da construção do
Brasil moderno. Universidade de São Paulo: FFLCH (Tese de Doutorado em História Social), 2000, p. 176/194.
Para esse autor tal visão acerca da região nordeste era estimulada pela construção de uma imagem do Nordeste
28
Tal objetivo tem por suposição a idéia de que a análise das características dos
deslocamentos populacionais e das políticas relativas ao assunto impressas pelo governo pode
revelar o aprofundamento da subsunção dos movimentos migratórios ao desenvolvimento de
um novo padrão de acumulação urbano-industrial. A dinâmica da acumulação capitalista
urbana e industrial passou a subordinar as novas relações de trabalho no campo - introduzidas
nas regiões de avanço da fronteira econômica e nas novas atividades agrícolas, que ganharam
impulso em virtude da mudança na função da produção primária - e a reestruturação do
mercado de trabalho urbano.
como uma região “portadora de características culturais, sociais e econômicas negativas”, fortemente afetada
por flagelos naturais como a seca e na qual a “única saída para aquelas populações afetadas era a migração”.
22
Segundo Douglas Graham, a partir dos anos de 1950, a colonização do Oeste passou a se basear na grande
propriedade rural em detrimento da pequena propriedade. Ver GRAHAM, Douglas. op. cit. p. 25
23
MORAES, Antonio Carlos Robert de. Ideologias geográficas. 3 ed. São Paulo: Hucitec, 1996, p. 107.
29
pertencentes a uma classe social: “a primeira e a mais atingida pelos processos de migração é
a que vive do trabalho e que, portanto, não possui, ou já possuiu, direito de propriedade
24
sobre o solo” .
24
SINGER, Paul. Migrações internas: considerações teóricas sobre o seu estudo. In: Economia política da
urbanização. 13 ed. São Paulo: Brasiliense, 1995, p. 51.
30
Parte I
O NOVO PADRÃO DE DESLOCAMENTOS POPULACIONAIS E A INTEGRAÇÃO
DO MERCADO
32
Seção 1
Este novo panorama da economia brasileira permitiu a sua entrada em uma longa fase
expansiva, com taxas de crescimento muito maiores que as alcançadas por qualquer país
latino-americano ou mesmo da maioria das economias centrais27.
25
Ver SINGER, Paul. Dinâmica populacional e desenvolvimento. São Paulo: Hucitec, 1976, p. 28 e 29.
26
IANNI, Octávio. Estado e capitalismo. 2 ed., rev e amp. São Paulo: Brasiliense, 1989, p. 45 e 46.
27
Ver RANGEL, Ignácio. Crescimento, ciclos e tecnologia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982, p. 20
e TAVARES, Maria da Conceição. op. cit. p. 59.
33
Embora a indústria tenha sido fortemente estimulada pela acumulação de capital que
ocorria no complexo exportador cafeeiro, a mesma ainda encontrava-se subordinada ao
capital cafeeiro. Essa proeminência do complexo cafeeiro nos processos de acumulação de
capital, por sua vez, condicionava a existência de um padrão de deslocamentos populacionais
que também se alterou com a emergência do desenvolvimento industrial, cujo centro se
localizou em São Paulo no pós 1930.
28
A utilização de imigrantes como parte de uma política comercial de favorecimento às indústrias nacionais teve
em G. F. List um dos seus principais propugnadores. Ver NASCIMENTO, Benedicto. op. cit. p. 29
34
29
Ver CASTRO, Antonio Barros de. 7 ensaios sobre a economia brasileira. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 1968, vol. 1, introdução.
35
Esses esforços foram bem sucedidos. Em finais do século XIX e no início do século
XX, o mercado mundial de produtos manufaturados era monopolizado por um pequeno
número de países industrializados, liderados pela Inglaterra e secundados por outros países
que conseguiram se engajar rapidamente nas transformações estruturais de suas economias,
rumo à industrialização30.
Isso implica afirmar que a única alternativa possível para que uma economia
subdesenvolvida, como a brasileira, alcançasse o desenvolvimento econômico seria a de um
processo de industrialização que tivesse por base o seu próprio mercado.
Por outro lado, muito já se conhece a respeito da insuficiência dos mercados externos
para promover o desenvolvimento de economias primário-exportadoras. Essa insuficiência é,
basicamente, explicada pela conjugação de alguns fatores. Primeiramente, devido à pequena
diversificação econômica, a rigidez na oferta de mercadorias torna o comércio internacional
desses países refém de uma pequena gama de produtos que necessitam de constantes
aumentos de volume de vendas para compensar ou contrabalançar o montante despendido
com importações de manufaturados. Além disso, o caráter reflexo de suas economias, que
dependem do comportamento de mercados externos, sofrendo com suas oscilações, e sobre as
quais a capacidade de interferência é reduzida, impede um controle totalmente nacional sobre
a atividade econômica. Por último, a contínua deterioração dos termos de intercâmbio
provoca a apropriação do excedente econômico pelas economias centrais e industrializadas.
30
Como exemplo podemos citar alguns países europeus - França, Alemanha e Itália -, os Estados Unidos e o
Japão. É importante ressaltar que o desenvolvimento desses países não se baseou em um único modelo, pelo
contrário, explicitou a existência de diferentes vias para a consolidação do capitalismo. Ver CASTRO, Antonio
Barros de. Op. cit. introdução e MOORE Jr. Barrington. Origens sociais da ditadura e da democracia. São
Paulo: Martins Fontes, 1983, prefácio.
36
Foi isso que se sucedeu. A grande alteração da estrutura econômica brasileira foi o
“deslocamento de seu centro dinâmico” para o mercado interno. Mercado esse que, devido a
uma série de fatores internos e externos, tornou-se praticamente cativo de uma produção
manufatureira de bens de consumo produzida nacionalmente e que se concentrava
principalmente em São Paulo. Como já disse Wilson Cano:
31
CANO, Wilson. Desequilíbrios regionais e concentração industrial no Brasil: 1930-1970. São Paulo:
Global / Campinas: Editora da Unicamp, 1985, p. 64.
32
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Publifolha, 2000, cap. XXXII.
37
brasileiro passou, a partir desse período, por uma decisiva reestruturação que se notabilizou
pela sua maior capacidade de intervenção e de articulação de medidas econômicas. Essas
novas características do Estado brasileiro, sem sombra de dúvidas, pavimentaram o percurso
para o desenvolvimento econômico, via o estabelecimento de condições para a defesa,
ampliação e integração do mercado interno. Como veremos mais adiante, tais intervenções
também se relacionaram ao estabelecimento de políticas relativas aos deslocamentos
populacionais, que naquele momento já adquiriam novas características, procurando dirigi-los
e controlá-los para o alcance de objetivos prévia e claramente definidos.
38
Do ponto de vista econômico, que é o que nos interessa mais diretamente neste
trabalho, as transformações conhecidas pelo Estado relacionam-se com as novas
características assumidas pelo desenvolvimento econômico brasileiro que passaram a se
assentar sobre o mercado interno e a indústria, como seus centros dinâmicos. É importante
lembrar que se a maior ênfase no mercado interno como fator dinâmico da economia
brasileira passou a exigir uma maior centralização de poderes na esfera federal de governo, a
recíproca também é verdadeira, ou seja, a centralização do Estado nacional brasileiro foi
fundamental para que esse mercado interno se consolidasse, unificasse e ampliasse. É o que
procuraremos demonstrar.
livre, encaminhado nos processos paralelos de abolição e de imigração, que ocorreu de forma
concomitante à ascensão de São Paulo como importante pólo econômico nacional, a partir do
avanço da economia cafeeira ao oeste paulista; a acelerada urbanização da cidade do Rio de
Janeiro, para qual contribuíram os capitais que se ligavam à prática do tráfico de escravos,
liberados após a proibição do mesmo em 1850; e a ascensão dos militares como expressão
política no Brasil, a partir da Guerra do Paraguai.
Esses dois grupos, que se unificaram pelo interesse comum em derrubar a Monarquia,
tinham objetivos distintos no que tange à organização do Estado Brasileiro. Os Militares, em
sua grande maioria, influenciados pela doutrina positivista, preconizavam um Estado
centralizado, enquanto a burguesia cafeeira, acompanhada por outras oligarquias
exportadoras, cujos interesses econômicos encontravam-se no mercado externo, propunha um
estado hiper federativo, com forte autonomia às diferentes unidades da federação para que
essas pudessem estabelecer seus contatos econômicos com o exterior.
É possível afirmar que, além da maior capacidade e habilidade política dos setores
oligárquico-exportadores, a estrutura fortemente descentralizada e hierarquizada da República
Velha expressou, com grande coerência, as características econômicas do país. O processo de
transição do trabalho escravo para o trabalho livre, da forma como ocorreu, isto é, de maneira
33
Ver CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. 3 ed. São
Paulo: Companhia das Letras, p. 32.
40
Sem querer reforçar uma abordagem de cunho economicista, uma vez que outros
aspectos relevantes devem ser considerados35, podemos afirmar que os aspectos acima
indicados se refletiram na organização do Estado republicano. Durante as primeiras décadas
do século XX, o Estado brasileiro comportou-se como uma República de hegemonias
regionais, bem ao estilo compartimentado da economia nacional. A ausência de maior
intercâmbio entre as regiões favoreceu o estabelecimento de um pacto oligárquico de poder,
constantemente negociado entre lideranças políticas que tinham em sua base acordos
regionais e locais.
34
SOUZA, Maria do Carmo Campello de. O processo político-partidário na Primeira República. In: MOTA,
Carlos Guilherme. Brasil em perspectiva. 20 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001, p. 164.
35
Os aspectos técnicos, financeiros, políticos também exerceram fortes influências na dificuldade de
centralização de poder no Brasil. Ver BALAN, Jorge (org.). Centro e Periferia no desenvolvimento brasileiro.
Rio de Janeiro: Difel, p. 15.
41
poderosa economicamente que logrou a direção da esfera federal de poder. Era a oligarquia
cafeeira, que mesmo cedendo poderes às oligarquias regionais e locais, quem dirigia o Estado
brasileiro.
Com essa articulação política e com a construção de sólidas bases de apoio em níveis
regionais e locais, a burguesia cafeeira e as oligarquias regionais e locais associadas puderam,
no início da República, neutralizar as forças políticas centralizadoras e constituir um modelo
de Estado fortemente coerente com seus interesses vinculados ao mercado externo.
Tal estrutura estatal, embora bastante coerente com o quadro econômico brasileiro,
revelou-se limitada para expressar o caráter cada vez mais complexo da sociedade brasileira.
O crescimento do setor econômico externo provocou a expansão do mercado interno para lhe
dar suporte. Esse setor interno, desde cedo, passou a ter uma base social e territorial urbana e
começou a assumir características modernas, com novos agentes sociais e políticos, como a
classe média e o proletariado.
Os novos agentes sociais eram os que mais sentiam os efeitos das práticas de
socialização dos prejuízos que se desdobravam, como efeito colateral, das políticas de
valorização cafeeira, instituídas desde 1906. O aumento constante dos produtos importados,
as dificuldades de transporte e habitação em metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro que
cresciam aceleradamente, e os problemas de abastecimento eram muitos mais sentidos pelos
novos sujeitos sociais urbanos. A ausência de uma institucionalidade voltada a receber e a
encaminhar as suas reivindicações de forma mais direta tornaram esses grupos,
principalmente as classes médias, um público cativo às pregações tenentistas que, embora
pouco substanciais, ao se expressarem no binômio Justiça e Representação, indicavam que a
mudança das estruturas estatais, ou pelo menos dos homens na política, era um dos meios
disponíveis para a superação dos dilemas urbanos enfrentados.
A isso devem ser somadas outras situações decorrentes das vicissitudes do jogo
político da Primeira República, que deram origem importantes dissidências no seio do próprio
grupo oligárquico. Tais dissidências foram provocadas, primeiramente, pela consolidação, no
PRP, de uma burocracia partidária pouco permeável à influência de alguns setores ligados aos
36
próprios interesses cafeeiros . Posteriormente, pela resistência da oligarquia paulista em
permitir uma maior participação de outras oligarquias estaduais, como a gaúcha, que
pretendiam exercer maior influência na política nacional e, também, pela decisão do Governo
Federal de não promover o tradicional rodízio oligárquico entre paulistas e mineiros nas
eleições de 1930. Tais fatos levaram a várias fraturas nos grupos politicamente dominantes e
explicam o surgimento do Partido Democrático em São Paulo, em 1926, e a aliança entre a
oligarquia gaúcha e o Partido Republicano Mineiro, logo após a imposição de Júlio Prestes,
como candidato presidencial, por Washington Luís.
36
Esse é principalmente o caso da chamada juventude cafeeira que reclamava do fechamento de espaços para a
ocupação de cargos na estrutura partidária e no aparelho de Estado.
37
NEGRI, Barjas. Concentração e desconcentração industrial em São Paulo (1880 -1990). Campinas:
Editora da Unicamp, 1996, p.33.
43
Nesse sentido, é que podemos afirmar que a revolução de 1930, ou pelo menos o
espaço aberto pelo movimento em questão, representa uma resposta à situação anteriormente
descrita.
38
. NEGRI, Barjas. op. cit., p.33.
44
Como uma recuperação de monta na demanda pelo café no mercado internacional não
era esperada no curto prazo, tal fato acabou por demonstrar os limites do mercado externo
como agente indutor do processo de acumulação de capital. O que significa dizer que o
capitalismo primário-exportador já se aproximava de uma situação de esgotamento no que
concerne às suas possibilidades de induzir ao desenvolvimento, ou até mesmo ao crescimento,
econômico no Brasil.
De acordo com visão de mundo das frações agrário-mercantis que dirigiam o país à
época, alheio a essa questão, Washington Luís ainda procurou aprofundar uma política
monetária restritiva, recusou-se a acatar os reclamos dos grupos ligados aos interesses
cafeeiros. Tal fato que normalmente é utilizado para explicar o seu empenho em impor a
candidatura Julio Prestes, em detrimento da candidatura mineira de Antonio Carlos de
Andrada, rompendo com o rodízio tradicional de oligarquias, amplificou os efeitos da crise
39
Segundo NEGRI, Barjas. op. cit. p. 31 e FONSECA, Pedro Cezar Dutra da Fonseca. op. cit. p.150
40
FURTADO, Celso. op. cit. p. 186
41
Some-se a isso as plantações recordes de café no biênio 1927-1928, que fariam prever uma safra recorde nos
anos de 1932 e 1933, momentos que seriam os mais graves da fase depressiva. Ver FURTADO, Celso. op. cit. p.
199 e FONSECA, Pedro Cezar Dutra da Fonseca. op. cit. p.151
42
Ver FURTADO, Celso. op. cit. p.199 e FONSECA, Pedro Cezar Dutra da Fonseca. op. cit. p.151
45
Por outro lado, a eclosão da crise internacional passou a ser cada vez mais creditada às
práticas políticas e econômicas liberais dominantes até então, tanto no que respeita às ações
concretas dos governos quanto no que se refere ás teorias econômicas vigentes. Tais questões
que se tornarão mais visíveis durante o desenrolar da década de 1930, refletiram-se no Brasil,
à época, numa expectativa de uma resposta mais decisiva do governo frente à gravidade da
situação. Uma ação nesse sentido, com maior ênfase interventora, todavia, não era algo que se
colocava na tradição política brasileira, marcada por forte liberalismo. Assim, a emergência
de uma nova estrutura estatal, que apresentasse maior capacidade de intervenção, passou a ser
aceita por uma ampla parcela da sociedade. Essas concepções, já anteriormente difundidas
pela intelectualidade modernista, foram sendo incorporadas pelas classes médias urbanas, que
passaram, com isso, a ampliar as suas posturas cada vez mais simpáticas a um desenlace de
força que pusesse fim à antiga situação.
Desta maneira, a Revolução de 1930 não encerra em si mesma o seu significado. não
deve ser entendida apenas em seu aspecto episódico. Representou um momento chave na
História do país ao estabelecer-se como convergência de uma série de questões estruturais e
conjunturais que se aceleraram com o desencadeamento das eleições presidenciais num
momento de eclosão de uma crise econômica mundial de fortíssima intensidade. Notabilizou-
se, muito mais, pelas transformações que desencadeou do que pela perspectiva imediata de
seus protagonistas. Como afirma Otávio Ianni:
“No entanto, ocorreu a Revolução em 1930. [...] como os donos do poder não
tiveram a flexibilidade indispensável à adoção progressiva de inovações, deu-se a
revolução. [...] antes que houvessem amadurecido internamente as condições
estruturais, revolucionários atônitos tomaram o poder de um presidente atônito.
Sem programa definido, salvo os vagos ideais de democratização de algumas
instituições. [...].Mas os acontecimentos históricos são irreversíveis. [...] o processo
revolucionário foi ganhando novas dimensões com o correr do tempo. Explicitaram
suas virtualidades também ao nível econômico-social, bem como no âmbito do
aparelho estatal. Pouco a pouco tornou-se o que não era de inicio. Adquiriu o
caráter de uma revolução burguesa definida, apesar de não sê-lo inicialmente [...].
46
É certo, contudo, que a Revolução de 1930 não representou o total deslocamento das
antigas oligarquias das instâncias de poder nem representou a transferência automática de
poder a uma burguesia industrial. A ascensão de novos grupos com interesses diversos e,
portanto, de forças políticas heterogêneas no comando do aparelho de Estado levou a que não
se constituísse uma nova hegemonia que substituísse a anterior. Nesse sentido, o Estado se
tornou palco de disputas, ou de compromissos, entre diferentes projetos de desenvolvimento
para o país e, por isso, assumiu um papel importante no que se refere ao processo de
desenvolvimento e de constituição de um novo padrão de acumulação capitalista.
“[...] É indubitável que entre os aspectos mais consensuais das análises está o
reconhecimento da ampliação das tarefas do Estado no campo econômico. A
extensão e o aprofundamento do intervencionismo evidenciam-se na
burocratização, racionalização e centralização da tomada de decisões, tendo como
pólo impulsionador o governo federal. Estas vão facilitando mudanças –
econômicas, políticas e sociais – que se constituem verdadeiro processo de
transformação capitalista” 44.
O fato de o Estado se aparelhar para dar conta de um complexo processo de
conciliação entre forças políticas heterogêneas que expressavam interesses diversos não
significa, no entanto, que o mesmo pode ser caracterizado como neutro. É evidente que nesse
processo os grupos ligados aos interesses voltados à indústria e ao mercado interno foram
conquistando várias vitórias. De tal maneira é possível afirmar que nesse processo o Estado
passou, cada vez mais, a refletir o interesse desses grupos e a encaminhar, com certa
intencionalidade, um processo de industrialização.
Pretende-se dizer com isso que o Estado brasileiro ampliou suas esferas de ação para
dar curso a um processo de industrialização centrado nas indústrias que se concentravam
43
IANNI, Octávio. Estado e capitalismo. 2 ed. rev. e amp. São Paulo: Brasiliense, 1989, p. 123 e 124.
44
FONSECA, Pedro Cezar Dutra da. op. cit. , p. 183
47
naquele momento na região centro sul, mais precisamente em São Paulo. Como já foi dito, é
evidente que tal processo tinha, necessariamente, que se basear no mercado interno nacional.
Assim, o processo de integração e ampliação do mercado interno nacional, inclusive o
mercado de trabalho, foi um dos principais objetos de intervenção estatal no período.
45
NEGRI, Barjas. op. cit., p. 63. a citação presente no trecho de texto acima é de CANO, Wilson.
Desequilíbrios regionais e concentração industrial no Brasil: 1930 -1970. São Paulo: Global / Campinas:
Editora da Unicamp, 1985, p. 185.
48
Seção 3
A centralização e o intervencionismo
O paulatino processo de centralização e de intervencionismo estatal que se tornou
bastante visível no pós 1930 teve por base uma série de necessidades imediatas, tais como: a
de responder rapidamente à crise econômica e diminuir a sua intensidade; a de acolher novos
grupos sociais no aparelho de Estado; a de pacificar o país após um conflito armado de
grandes proporções; a de responder a problemas de ordem política, como o Movimento
paulista, e “natural”, como a seca nordestina, ambos de 1932; e, até mesmo, a de alcançar
maior legitimidade política46. Entendemos, contudo, que o fator fundamental, quiçá o mais
importante, tenha sido o objetivo de impulsionar um novo tipo de desenvolvimento no Brasil,
calcado na industrialização e no mercado interno.
“... a política de defesa do setor cafeeiro nos anos da grande depressão concretiza-
se num verdadeiro programa de fomento da renda nacional. Praticou-se no Brasil,
inconscientemente, uma política anticíclica de maior amplitude que a que se tenha
sequer preconizado em qualquer dos países industrializados. [...] Explica-se, assim,
que já em 1933 tenha recomeçado a crescer a renda nacional no Brasil [...]. O
impulso de que necessitava a economia para crescer já havia sido recuperado.
É, portanto, perfeitamente claro que a recuperação da economia brasileira, que se
manifesta a partir de 1933, não se deve a nenhum fator externo e sim à política de
fomento seguida inconscientemente no país e que era um subproduto da defesa
dos interesses cafeeiros..”47
Esta interpretação é corroborada, ainda, por outras que afirmam que o governo
procurava praticar, de início, políticas econômicas ortodoxas, que só foram abandonadas
devido às crises do ano de 1932 – movimento constitucionalista paulista e a grande seca
nordestina; que o governo não representava interesses industrialistas, pelo contrário, estava
voltado a atender os interesses dos setores exportadores e que mudanças nesses
46
Ver FONSECA, Pedro Cezar Dutra da. op. cit., p.187 e NASCIMENTO, Benedicto Heloiz. op. cit., p. 26
47
FURTADO, Celso. Op. cit., p. 205 e 206
49
“Enfim, até meados dos anos 30, a política econômica do governo brasileiro,
particularmente a política econômica externa, não expressava um projeto
industrializante. Mudanças nesse sentido só seriam observadas, de forma mais
nítida, a partir de 1935, quando por um lado, aprofundaram-se a disputas entre os
blocos imperialistas e, por outro, as profundas transformações econômicas e sociais
em curso na sociedade brasileira se fizeram mais visíveis. A partir desse momento,
nota-se a necessidade de o Brasil desenvolver suas indústrias”51.
Para Francisco de Oliveira, o Estado brasileiro, a partir do momento que nos ocupa,
foi “capturado” por uma burguesia industrial, “levando-o a implementar sistematicamente
48
SUZIGAN, Wilson; VILLELA, Annibal V. Política do governo e crescimento da economia brasileira
(1889-1945). Rio de Janeiro: IPEA, 1973, p. 47 e 51
49
CORSI, Francisco Luiz. Estado Novo: política externa e projeto nacional. São Paulo: UNESP/FAPESP,
2000, p. 38
50
CORSI, Francisco Luiz . op. cit., p. 44 e 45
51
CORSI, Francisco Luiz . op. cit., p. 49
50
Uma crítica mais direta àquelas concepções anteriores pode ser observada em Pedro
Cezar Dutra da Fonseca55. Esse autor defende a intencionalidade da política industrializante
conduzida pelo Estado no pós 1930, a partir da análise das instituições criadas no período.
Afirma que a não identificação dessa intencionalidade, pelas interpretações que vêm o
desenvolvimento industrial como subproduto ou reflexo inconsciente e imediato da política de
proteção ao setor cafeeiro e que enfatizam a prática de políticas econômicas ortodoxas pelo
Governo Vargas56, deve-se ao fato de que essas teses enfocam a política instrumental do
52
OLIVEIRA, Francisco. Elegia para uma re(li)gião: Sudene, Nordeste, planejamento e conflito de classes. 4
ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985, p. 83
53
SANTOS, Theotônio dos. Evolução Histórica do Brasil: da Colônia à crise da “Nova República”. Petrópolis:
Vozes, 1995, p. 50.
54
SANTOS, Theotônio dos. op. cit., 51.
55
FONSECA, Pedro Cezar Dutra da. Sobre a intencionalidade da política industrializante do Brasil na
década de 1930. Revista de Economia Política, volume 23, no. 1 (89), janeiro-março de 2003. São Paulo:
Editora 34, p. 133 a 148.
56
Em seu texto, o autor comenta as interpretações de Celso Furtado. Entretanto, suas observações podem
também ser dirigidas a outros autores, uma vez que o mesmo critica a tentativa de se compreender a ação do
Estado por meio, apenas, de políticas instrumentais (políticas cambiais, monetárias e fiscais), que são políticas
próprias e inerentes a objetivos imediatos de estabilização econômica e, por isso, não são as mais apropriadas
para se perceber intencionalidades que se realizam no longo prazo.
51
governo (políticas cambiais, monetárias e fiscais) e que tais políticas não são as mais
apropriadas para se perceber intencionalidades:
Afirma que várias leis, órgãos, ministérios institutos que visavam ao longo prazo
tinham por fim, direta ou indiretamente, o favorecimento consciente da industrialização no
país:
“[...] a industrialização brasileira na década de 1930 não pode ser reduzida a mero
subproduto da defesa dos interesses cafeeiros, ou da política de valorização do café.
Ao centrar-se nas políticas econômicas instrumentais – monetária, cambial e fiscal
– Furtado não explorou a ação estatal em um sentido mais amplo, englobando a
criação e/ou alteração de leis, códigos, órgãos ministérios, regulamentação de
relações de propriedade, enfim, toda uma rede que pressupõe regras, normas e
comportamentos que passaram a caracterizar toda uma época, em fim, instituições,
que revelam a consciência e a intencionalidade do governo de direcionar a
economia para o mercado interno, sob a liderança do setor industria" 59.
Assim, embora existam correntes que compreenderam o período inicial do primeiro
governo Vargas como um período no qual não havia um claro projeto e uma tendência
industrializante, é possível, inversamente, notar a existência de uma outra tradição de
pensamento, que observa nesse governo a preocupação em reorientar a economia e dar curso,
57
FONSECA, Pedro Cesar Dutra da. op. cit. , p. 134
58
FONSECA, Pedro Cesar Dutra da. op. cit. , p. 135
59
FONSECA, Pedro Cesar Dutra da. op. cit. , p. 147
52
Se é verdade, como foi dito anteriormente, que a Revolução de 1930, não representou
um movimento classista de tomada do poder por parte da Burguesia Industrial, isso não quer
dizer que a mesma se alijou do processo após a definição do resultado do conflito armado. A
inexistência de uma clara hegemonia política entre as classes e frações de classes gerou uma
situação na qual o Estado passou a ser um palco de disputas entre diferentes grupos, que
expressavam diferentes modelos de desenvolvimento para o país60.
Por isso, a tendência industrializante, que o Estado passou a encampar não quer dizer
que o mesmo assumiu características clarividentes e todo-poderosas. As disputas e os
conflitos de interesses que se estabeleceram no seu interior impuseram a necessidade de que
as medidas a serem tomadas fossem constantemente negociadas e regulamentadas. Disso
decorreu, a necessidade, também, de seu maior aparelhamento mediante a criação de
instâncias burocráticas voltadas a administrar interesses conflitantes.
60
Ver DRAIBE, Sônia Mirian. Rumos e metamorfoses: as alternativas de industrialização no Brasil, 1930-
1960. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985, p. 50.
61
Como exemplo disso podemos indicar a organização do empresariado industrial em uma série de associações e
a participação de lideranças industriais em diferentes instancias de poder e governamentais. Stanley Stein
observa que, já em 1.931, os industriais Jorge Street e Manuel Guilherme da Silveira ocuparam importantes
cargos no governo: no Banco do Brasil e na Divisão de Indústria do Ministério do Trabalho, respectivamente.
Ver STEIN, Stanley. Origens e evolução das indústrias têxteis no Brasil - 1850/1950. Rio de Janeiro:
Campus, 1979, p. 140.
53
“Getúlio tinha um projeto nacional. Um projeto nítido, claro, que foi colocado no
programa da Aliança Liberal, em textos manuscritos deles e que até hoje não foram
divulgados. Estavam num caderno introdutório do diário que nos convencionamos
não divulgar para não tirar a unidade do diário. Nesses textos, ele coloca muito
62
Ver CAMARGO, Aspásia A. A questão agrária: crise de poder e reformas de base (1930-1964), In
FAUSTO, Bóris (org.). História geral da civilização brasileira. Rio de Janeiro: Difel, 1981, t. III, vol. 3, p.
128.
54
Seção 4
Assim, se consideramos o momento que nos ocupa como o momento em que o país dá
um salto em direção ao desenvolvimento, contando, para tal com o efetivo apoio do Estado,
devemos considerar, também, que a integração e a ampliação do seu mercado interno se
colocavam como necessidades precípuas. Essas são, portanto, tarefas fundamentais que
orientaram parcelas importantes das ações do governo Vargas no processo de reorganização
institucional e definição dos seus métodos de intervenção.
mão-de-obra não precisava ser altamente qualificada e nem o investimento inicial de capital
era grande.
67
VARGAS, Getúlio. Diretrizes. op. cit., p. 285.
58
Outro aspecto relevante, foi o fato da agricultura aprofundar a sua importância como
produtora de gêneros alimentícios e de primeira necessidade para o abastecimento das
populações urbanas e de matérias-primas para as indústrias68.
68
Tal situação já ocorria no modelo precedente, mas, a partir desse momento, tais preocupações aumentaram, e
em muito, de intensidade.
59
Nos três lustros do 1º. Governo Vargas, foram criados 37 órgãos ligados aos objetivos
de intervir e coordenar a atividade econômica no país. Alguns desses órgãos estiveram
voltados a algum ramo específico da economia, enquanto outros procuravam coordenar
diferentes atividades e ramos econômicos, tais como a agricultura e a indústria, incentivando a
69
formação de indústrias naturais . Embora não se cogitasse, ainda, na prática, de um
planejamento econômico, verificamos que já existia na época a preocupação em induzir e
dirigir setores econômicos para além das forças de mercado e coordenar esforços no sentido
de se alcançar objetivos determinados.
Uma rápida observação nesses órgãos criados pode nos mostrar isso:
QUADRO 2
INSTITUIÇÕES, VOLTADAS A FOMENTAR O DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO,
CRIADAS NO 1º. GOVERNO VARGAS
69
FONSECA, Pedro Cesar Dutra da. Sobre a intencionalidade .op. cit. , p. 144. Segundo esse autor, indústrias
naturais era o outro nome dado à época ao que conhecemos hoje, também, por agroindústrias.
60
1945
37 Superintendência da Moeda e do Crédito - SUMOC
Fontes: FONSECA, Pedro Cezar Dutra da. Vargas: o capitalismo em construção. São
Paulo: Brasiliense, 1987, p.144 e NASCIMENTO, Benedicto Heloiz. A ordem nacionalista
brasileira. São Paulo: Humanitas, 2002, p. 84-94.
Como é possível perceber desde o seu início, o governo procurou criar organismos
voltados a intervir nas atividades e assuntos econômicos, embora o número tenha aumentado
significativamente após 1937. A maioria dos órgãos criados voltava-se a apoiar o
desenvolvimento econômico calcado no mercado interno e na produção industrial substitutiva
de importações ou mesmo a criar as bases para um desenvolvimento industrial ulterior mais
vigoroso. Mesmo aqueles mais específicos e ligados ao setor primário não visavam a um
retorno à situação anterior, articulavam-se às novas funções atribuídas a esse setor: o
abastecimento interno das cidades e das indústrias, em franco crescimento, e à exportação
visando à obtenção de divisas necessárias para a criação, ou manutenção, da capacidade de
importação de máquinas e equipamentos. A preocupação com a defesa do mercado e da
produção nacionais também é patente em vários destes organismos.
Alguns dos órgãos mais importantes do período, que aparentemente não se vinculavam
à defesa de um desenvolvimento econômico baseado na produção e no mercado internos,
assumiam algumas atribuições que favoreciam o alcance desses objetivos. Estes são os casos
do CFCE e do DASP. O primeiro devido à sua preocupação em discutir problemas relativos
às trocas internacionais, em promover o aumento das exportações e do consumo interno da
produção nacional, definia medidas protecionistas a serem tomadas. O segundo, ao procurar
criar uma burocracia estatal de âmbito nacional, que superasse as influencias oligárquicas na
gestão do Estado, aprofundando o caráter técnico na administração pública, acabou,
juntamente com suas filiais estaduais conhecidas por “daspinhos”, por centralizar a estrutura
administrativa, facilitando a superação de barreiras interestaduais, anteriormente existentes.
Por outro lado, podem ser observados órgãos voltados a defender a integridade
territorial brasileira e a estabelecer políticas de ocupação desse território por meios da
migração e da colonização, tais como o CIC e a Fundação Brasil Central, sem os quais não
seria possível realizar a ampliação do mercado interno brasileiro.
Os mesmo princípios que nortearam a criação dos vários órgãos governamentais acima
indicados estiveram presentes na definição de uma série de instrumentos legais. Já no início
do governo provisório, os estados sofreram intervenção federal, os impostos interestaduais
62
70
FONSECA, Pedro Cezar Dutra da. op. cit., p.141.Segundo este autor, tal tratado concedeu vantagens à entrada
desses produtos agrícolas brasileiros no mercado norte-americano em troca de uma redução de 20% a 60% nas
tarifas de importação sobre máquinas, equipamentos e matérias-primas industriais norte-americanos. Embora
essa iniciativa tenha sido objeto de críticas por parte de alguns industriais brasileiros, ao permitir a entrada de
alguns bens de consumo, para o autor, ela privilegiou a importação de bens de capital e intermediários
necessários ao desenvolvimento industrial brasileiro e, por isso, demonstrou efetivamente a intenção
governamental em aprofundar a industrialização.
71
CORSI, Francisco Luiz. Estado Novo... op. cit., p. 54
72
VARGAS, Getúlio. Diretrizes... op. cit., p.
63
Nesses termos, muito mais que necessidade prática, frente ao contexto de crise
econômica ou que uma conseqüência não intencional das políticas de combate à mesma, o
desenvolvimento econômico, calcado no mercado interno, configurou-se como uma ideologia.
De tal forma, que grupos intelectuais e políticos defensores desses princípios passaram a
gozar de enorme prestígio, a exercer influências no aparelho de Estado e a encontrar
receptividade na difusão de suas idéias, principalmente durante o Estado Novo, por meio dos
instrumentos de divulgação instituídos pelo DIP74.
73
Ver FONSECA, Pedro Cezar Dutra da. op. cit., p. 142 e 143
74
Exemplos nesse sentido podem ser encontrados nas revistas Cultura Política e Ciência Política, bem como na
influência que muitos intelectuais exerceram sobre vários ministérios, principalmente sobre o Ministério da
Educação. Ver SCHWARTZMAN, Simon et al. Tempos de Capanema. Rio de Janeiro: Paz e Terra; São Paulo:
Edusp, 1984, apêndice.
64
Seção 5
Dessa maneira, criou-se uma visão de que a modernização do campo brasileiro deveria
ser resultado de uma ação externa, preferencialmente levada a cabo por um governo forte e
interventor, por meio de medidas técnicas, ou seja, por medidas que permitissem “a
76
intervenção das instituições urbanas” sobre a problemática do campo, no sentido de sua
dinamização.
75
É interessante notar que as regiões do Vale do Ribeira e do Sudoeste Paulista que haviam ficado à margem da
marcha pioneira do café eram denominadas por técnicos da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo
como “Amazônia Paulista”. A própria denominação dessas regiões vinculadas a elementos naturais ou cardeais,
em oposição às outras regiões do estado cuja denominação ficou vinculada às companhias ferroviárias (como por
exemplo: Paulista, Alta Paulista, Mogiana) que as integraram economicamente, nos dá a dimensão de seu
relativo atraso.
76
MARTINS, José de Souza. Capitalismo... op. cit, 1975, p. 4
66
“[...] Um governo forte era tacitamente esperado e, quando concretizado, foi bem
aceito por amplos setores da intelectualidade. [...] Tal ambiência cultural
possibilita que, na segunda metade dos anos 30, sob a Égide do Estado, se leve às
últimas conseqüências a ideologia organicista e antiliberal que, forte na tradição
brasileira, desde os anos 20 vinha se radicalizando pela crise da ordem oligárquica
e pelas críticas ao caráter excludente do liberalismo consagrado pela constituição
de 1891. [...] cria – à esquerda e à direita – enorme consenso entre a
intelectualidade quanto à necessidade de unificação do país, além de radicalizar a
perspectiva de que somente o Estado, sobrepondo-se ao particularismo, ao
clientelismo e ao caráter “clânico” da sociedade, poderia realizar a construção da
nação e a modernização da sociedade (ainda que em algumas versões como o
integralismo, a construção da nação se fizesse numa obra contrária à
modernização)” 77.
Um aspecto, entretanto, permanecia “em aberto”: os trabalhadores rurais brasileiros
encontravam-se muito marcado por visões pejorativas. Eram, principalmente o pequeno
proprietário e o posseiro, identificados com aspectos negativos da cultura caipira, como
pessoas que se contentavam em viver em uma economia de subsistência, cultivando a terra
com técnicas extremamente rudimentares, próximas das influências indígenas78. Eram
portanto, considerados como indisciplinados, arcaicos e incapazes de produzir para o
mercado.
77
LAHUERTA, Milton. Os intelectuais e os anos 20: moderno, modernista, modernização. In: COSTA,
Wilma Peres da e LORENZO, Helena Carvalho de (orgs.). A década de 1920 e as origens do Brasil moderno.
São Paulo: UNESP/FAPESP, 1997, p. 100 e 101.
78
Tal visão se encontra expressa nas análises feitas por WAIBEL, Leo. Capítulos de Geografia Tropical. Rio
de Janeiro: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia, 1979, p. 260.
67
“A marcha para Oeste, com seu projeto de implantar colônias agrícolas com
trabalhadores nacionais, vai por esta razão, dar-se por tarefa discipliná-los e
educá-los para o trabalho. [...]Somente saneado e educado poderia o trabalhador
nacional cumprir as grandiosas tarefas civilizatórias a que estava
destinado.[...]Mas tal objetivo dependia de um projeto centralizado, racionalizado,
científico, que submeteria à tutela do Estado a trajetória – migratória e moral - do
trabalhador feito colono”79.
A construção do novo homem rural, mais produtivo e disciplinado ao trabalho era,
portanto algo que para se realizar dependia da interferência e da planificação, que só poderia
ocorrer pela intervenção das concepções de mundo urbanas. Aspecto esse que ressalta a
afirmação de que, nesse momento, estávamos enfrentando um processo de construção de uma
nova ordem capitalista, cujo “lócus” da acumulação se deslocava do campo para as cidades.
Segundo Martins80, esse processo reflete a necessidade de fazer com que o mundo
rural converta-se em produtor e consumidor de mercadorias, ou seja, de inseri-lo como parte
constituinte do mercado nacional, mesmo que em tal processo, a produção rural assuma uma
característica fortemente extensiva, aspecto favorecido pelos enormes fundos territoriais
brasileiros:
79
VAINER, Carlos B. Estado e migrações no Brasil: anotações para uma História das políticas migratórias in
Travessia: revista do migrante. no. 36, janeiro-abril, 2000.
80
MARTINS, José de Souza. Capitalismo...op. cit, p. 5
81
MARTINS, José de Souza. Capitalismo... op. cit p. 5 e 6
68
82
. FONSECA, Pedro Cezar Dutra da. op. cit., p. 184 e 185
69
Parte II
Princípios de uma política relativa aos deslocamentos populacionais
70
Não é possível afirmar que, em seus momentos iniciais, o novo governo já tivesse uma
política claramente definida em relação aos deslocamentos populacionais. Objetivamente,
antes mesmo de qualquer medida oficial, a realidade econômica do momento já havia
começado a provocar mudanças significativas nas características dos movimentos
populacionais. A crise do capitalismo primário-exportador e o início da consolidação de uma
nova estrutura capitalista no Brasil, com a emergência de um novo padrão de acumulação
centrado na industrialização e no mercado interno, implicou mudanças nas dinâmicas
populacionais que podem denotar a introdução dos movimentos migratórios em uma nova
fase83. Essa nova fase se constituiu como uma nova modalidade de deslocamentos
populacionais, que começava a atender as novas atividades e regiões dinâmicas da economia
nacional, bem como as novas áreas que passariam a se integrar, sob sua influência, nos
processos de reprodução econômica.
83
PAIVA, Odair da Cruz. Brasileiros...op. cit., p. 31
71
avançava a fronteira econômica. Nesse caso, o trabalhador nacional também passava a ser o
elemento numericamente majoritário.
O que vai pautar a ação do Estatal no período é a opção por tomar uma série de
medidas que procuravam controlar e dirigir os movimentos populacionais a objetivos voltados
para a busca do desenvolvimento econômico. A política relacionada aos deslocamentos
populacionais foi, assim, sendo construída de forma paulatina. Para a sua formulação
contribuíram uma série de elementos que foram se tornando mais claros a partir da
identificação crescente das necessidades da economia brasileira em desenvolvimento e,
também, dos vários diagnósticos acerca da realidade brasileira efetuados pelo próprio governo
e por intelectuais que o apoiavam, debatendo e indicando medidas a serem tomadas.
Seção 1
O Brasil, no entanto, era à época uma nação irregularmente povoada, com fracos
vínculos regionais e pequenos estímulos integradores. Dessa maneira, o potencial
representado pela generosa extensão territorial brasileira não era plenamente aproveitado
como fator de construção e ampliação de um mercado interno verdadeiramente nacional, tanto
no que respeita à circulação e ao consumo de mercadorias quanto no que se refere ao
aproveitamento de suas riquezas naturais. Era urgente, pois, que as vastas dimensões
consideradas vazias desse território fossem ocupadas e integradas aos circuitos econômicos.
Por outro lado, na visão do núcleo do poder, bem como para um grande número de
técnicos e intelectuais que apoiavam o governo, a integridade do território brasileiro
encontrava-se ameaçada. Essa ameaça era considerada como o resultado de heranças do
84
CANO, Wilson. Op. cit., p. 29.
74
converter-se em elementos de apoio para que essa expansão se realizasse sobre o território
nacional, favorecendo sua fragmentação. Devemos lembrar que as nações com fortes
tendências expansionistas, Alemanha, Itália e Japão, eram aquelas que possuíam tradicionais
comunidades de imigrantes no Brasil e que, na época, existiam ações políticas desses países
sobre os imigrantes aqui estabelecidos87. Segundo, porque a manutenção dos hábitos de
consumo havia feito desses núcleos homogêneos de imigrantes um mercado cativo para as
mercadorias de seus países de origem, dificultando assim a inserção ativa desses núcleos no
mercado nacional 88.
87
Ver NASCIMENTO, Benedicto Heloiz. op. cit., p. 31
88
Esse foi, inclusive, um dos motivos que animaram a formulação e a implementação, na segunda metade do
século XIX e início do século XX, de uma verdadeira política de transferência populacional por parte de alguns
países europeus, como a Itália e a Alemanha. Ver IANNI, Constantino. Homens Sem Paz. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1974, cap. 1 e NASCIMENTO, Benedicto Heloiz, op. cit, p. 27/ 30. É verdade
também que algumas indústrias surgiram no Brasil procurando produzir sucedâneos para produtos importados
pelas colônias de imigrantes e que no momento a importação encontrava-se dificultada, mas a prática de
consumo de produtos industriais estrangeiros por imigrantes e seus descendentes continuava a preocupar o
governo.
76
Política que passaram a ser publicadas pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), a
partir de 1941.
89
Isto pode se exemplificado a partir da série de textos, elaborada por Arthur Heil Neiva, versando sobre a
História dos movimentos imigratórios no Brasil.
77
na sua manutenção ao território nacional. Para ele, a própria natureza conspirava para que
essa área se separasse do território brasileiro, já que o seu relevo e a corrente das águas a
empurravam diretamente à região do Prata90. Após a algumas interessantes experiências de
ocupação realizadas durante a colônia, por meio do bandeirismo, na extração mineral, tal
região havia adentrado o século XX, com o permanente problema de sua integração ao
território nacional.
Segundo o autor, três fatores históricos haviam sido responsáveis por tal fato: a
regressão da ocupação após a primeira experiência bandeirante, em virtude da falência da
mineração; a sua posterior ocupação por uma atividade econômica pecuarista que implicava
forte dispersão humana, em agrupamentos rarefeitos e nômades e dava origem à edificação de
uma forma de organização política localista expressa por um regime municipal de pouca
articulação política e econômica com outras regiões; a sua ocupação posterior por meio da
colonização efetuada por estrangeiros em grandes propriedades. Assim, o grande problema
para a incorporação dessa área ao território nacional esteve, desde cedo, ligado às atividades
econômicas que haviam sido desenvolvidas e ao fator humano91.
90
Devemos lembrar que, a partir do início da década de 1930, a histórica rivalidade com a Argentina ganhou
grande intensidade, a ponto de se constituir como um dos principais problemas territoriais do período, uma vez
que a Argentina implementava uma política de fortalecimento de suas forças armadas e de ampliação das
influências sobre os países vizinhos. Ver CORSI, Francisco Luiz. op. cit., p. 54
91
SODRÉ, Nelson Werneck. Fronteira. In Cultura Política. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa e
Propaganda. Ano 1, Número 2, abril de 1941, p. 25/26.
92
SODRÉ, Nelson Werneck. op. cit., p. 26
78
Se estes eram “os problemas da grande propriedade pastoril” 95, sua solução poderia
se dar pela introdução da agricultura. Essa introdução se deu, entretanto, posteriormente, pela
grande propriedade em mãos estrangeiras, a partir de movimentos imigratórios e
colonizadores, apenas aparentemente, voltados a assegurar a posse dessas regiões. Nesse caso,
a situação se agravou:
“Se a grande propriedade de srs. nacionais foi uma espécie de mal necessário,
oriunda da formação e da conquista de terras que, no passado, tenderam sempre a
fugir ao todo nacional, a grande propriedade estrangeira soma, a esses males, o de
suas origens espúrias, o de seu caráter estático, o de seu “anti-nacionalismo
precípuo” 96.
O autor critica a colonização baseada na propriedade e em elementos estrangeiros, pois
estes:
93
SODRÉ, Nelson Werneck. op. cit., p. 26/27
94
SODRÉ, Nelson Werneck. op. cit., p. 27
95
SODRÉ, Nelson Werneck. op. cit., p. 27
96
SODRÉ, Nelson Werneck. op. cit.,p. 27
97
SODRÉ, Nelson Werneck. op. cit., p. 28/29
79
98
SODRÉ, Nelson Werneck. op. cit., p. 29
99
SODRÉ, Nelson Werneck. op. cit., p. 29/30
100
Esse Decreto-Lei trata do encaminhamento e da fixação de trabalhadores nacionais nas regiões de fronteira
101
SODRÉ, Nelson Werneck. op. cit, p.30. Devemos lembrar que a produção possível em pequenas propriedades,
que seriam a maioria na região, destinar-se-ia à produção familiar e ao abastecimento interno e que essa região
possuía relativa proximidade do local onde foi instalada a CAN do Paraná, a CAN General Osório, que
conservou o caráter de uma colônia militar.
80
familiar, a posse efetiva por trabalhadores nacionais e a sua fixação. Segundo o autor, a
“tarefa nacionalizadora teria sido iniciada” 102.
Se a análise do texto de Werneck foi prolongada, isto se deve à clareza com que
demonstra como a preocupação com a integridade do território brasileiro se constituiu numa
das bases da elaboração de novas políticas e de novas práticas relativas aos processos de
deslocamento populacional no pós 1930. O texto possibilita a percepção de como a
integridade do território era considerada um elemento fundamental para o estabelecimento de
um modelo de desenvolvimento calcado no mercado interno; permite perceber, também,
como, na visão do autor, a integridade territorial encontrava-se ameaçada pelas práticas
políticas, econômicas e migratórias do pré 1930 e como, essas avaliações se articularam numa
política colonizadora e migratória, que tinha por fim precípuo, dar curso a uma tarefa que se
considerava nacionalizadora e modernizadora.
É importante lembrar que, apesar de ter sido publicado em 1941, o texto em questão
procura compreender o processo de constituição de aspectos importantes da política
migratória do governo Vargas, estabelecendo justificativas históricas para a sua
implementação. Devemos acrescentar, ainda, que tal texto foi publicado numa revista que se
comportava como um porta-voz das visões governamentais, dando-lhe, por isso um caráter
quase oficial.
102
SODRÉ, Nelson Werneck. op. cit., p. 30
81
“O Estado moderno combate os quistos étnicos e outra coisa não fez a bandeira
contra o quisto negro dos Palmares e contra o quisto vermelho do recôncavo.
Falamos em nacionalização das fronteiras, mas estamos apenas repetindo o gesto
dos nossos maiores que marcaram as fronteiras geográficas dentro dos quais se
processaria o nosso destino de povo e de nação”104.
103
RICARDO, Cassiano. Estado Novo e seu sentido bandeirante. In Cultura Política. Rio de Janeiro:
Departamento de Imprensa e Propaganda. Ano 1, Número 1, março de 1941, p. 128.
104
RICARDO, Cassiano. op. cit., p. 131
105
Segundo Moniz Bandeira, em 1938, o embaixador brasileiro em Berlim, Moniz de Aragão, chegou a
denunciar um plano alemão visando separar os três estados brasileiros do sul e colocá-los sobre o seu domínio.
Os elementos desencadeadores de tal ação seriam os imigrantes que viviam em colônias homogêneas nesses três
82
combate aos quilombolas e na assimilação dos índios, indica que, apesar do forte
nacionalismo aparente, a integridade nacional não estaria vinculada a um tipo qualquer de
sociedade. Não se cogitava a construção de formas societárias alternativas ou de
características comunitárias. Apesar da defesa do intervencionismo estatal e da crítica ao
estrangeiro, o que se evidencia é o compromisso com uma integração nacional de caráter
capitalista. O anti-liberalismo e o anti-estrangeirismo não distanciam o pensamento
autoritário, em geral - e o de Cassiano Ricardo, em particular - da defesa de uma ordem
capitalista, o que se pretendia é a construção de um capitalismo nacional, ou, pelo menos, de
um capitalismo que fosse dinamizado internamente.
Além disso, devemos lembrar que Cassiano Ricardo era paulista e a maior parte da sua
atuação intelectual e política esteve baseada em São Paulo106, por isso é legítimo supor que a
idealização e a apologia em relação às bandeiras estivessem ligadas a outros aspectos menos
perceptíveis, tais quais a defesa de uma integração nacional liderada por São Paulo com a
conseqüente garantia de mercado para as indústrias que ali estavam se concentrando. A
própria idéia de realização do “nosso imperialismo interno” evidencia e reforça a idéia de
conquista territorial, ou seja, a visão de que a incorporação e a permanência da parte situada a
oeste do território brasileiro dependeriam do avanço paulista. Assim, a integração dessa área
seria garantida, pois, pela sua inserção no mercado brasileiro como consumidora das
manufaturas paulistas e como fornecedora de gêneros agrícolas e matérias-primas para São
Paulo, daí a defesa intransigente que faz da ocupação dessa região com base na pequena
propriedade.
estados. Ver: BANDEIRA, Moniz. O milagre alemão e o desenvolvimento do Brasil. São Paulo: Ensaio, 1994,
p. 46.
106
Cassiano Ricardo foi o Diretor da seção paulista do DIP durante um período importante do Estado Novo
107
VELHO, Guilherme Otavio.
83
É verdade, todavia, que existem interpretações que afirmam que Ricardo não estava
comprometido com a defesa do desenvolvimento industrial no Brasil, e que o mesmo
preconizava, como modelo para o Brasil, uma sociedade agrícola baseada na existência de
pequenas propriedades, o que o caracterizava como um agrarista moderado. É o que
encontramos, por exemplo, em Diniz Filho:
São Paulo seria a faixa de onde sairiam os estímulos integradores pelo fato de ser a
região produtora de manufaturas e consumidora da produção agrícola e das matérias-primas
108
DINIZ FILHO, Luiz Lopes. op. cit., p. 119
109
LENHARO, Alcir. A conquista do corpo geográfico do país. Campinas: Unicamp. Capítulo não publicado
de: A sacralização da política. Campinas: Papirus. 1986. p. 93/95.
84
produzidas no oeste, ou seja, seria a região ativa da economia nacional, onde se processava o
desenvolvimento industrial e que, por isso, não possuía excedentes populacionais. O Oeste,
inversamente, ao ser povoado e integrado economicamente, converter-se-ia numa região
produtoras de gêneros agrícolas e de matérias-primas e consumidora de manufaturas. O
Nordeste fecharia o círculo, ao contribuir para esse esforço integrador, com os seus
excedentes populacionais, originários de sua economia adormecida, baseada em latifúndios
praticamente “auto-suficientes”. Uma economia pouco adequada à modernização, à
industrialização e à absorção de mão-de-obra e, portanto, geradora de excedentes
populacionais.
110
RICARDO, Cassiano. op. cit, p. 131 e 132.
85
Podemos entender, assim, que o retorno ao passado por Ricardo não se limitou a uma
mera mitificação das bandeiras e do papel de São Paulo na História do país, mas à defesa de
uma nova ordem econômica, política e social que para se desenvolver necessitaria da
constante conquista de mercados, o que implicaria a constante preocupação com a integridade
do nosso território. Por outro lado somente a uniformização capitalista, induzida pelo núcleo
mais dinâmico do país, poderia assegurar a manutenção dessa integridade nacional, contra as
tendências dissolventes. Isso, por sua vez, impôs ao Estado a necessidade de conduzir uma
política relativa aos deslocamentos populacionais consoante com os novos tempos, nos quais
a ameaça de quistos estrangeiros estivesse superada e que se voltasse, por meio de elementos
nacionais, a se produzir para o consumo interno. Como afirmou Lenharo:
111
LENHARO, Alcir. op. cit., p. 99/100. As partes entre aspas são citações de discursos de Vargas, extraídos de
NEIVA, Arthur Hehl. Getúlio Vargas e o problema da imigração e colonização. In: Revista de Imigração e
Colonização, 3(1): abril 1942, p. 50 e VARGAS, Getúlio. A Nova política do Brasil, volume V, Rio de Janeiro:
José Olympio Editores, 1938, p. 124
86
Seção 2
112
Discurso, de improviso, realizado, em 08 de agosto de 1940. In VARGAS, Getúlio. Diretrizes... op. cit., p.
284 e 285
87
viviam entregues à sua própria sorte, à morbidez, longe dos benefícios da civilização e
desenvolvendo hábitos distantes da disciplina do trabalho produtivo.
Era, também, nesses espaços que vingavam as condições para a reprodução de práticas
autonomistas e municipalistas, distantes da autoridade central, que davam vazão a poderes
locais. Situação claramente representada pelas imagens de feudalismo improdutivo113 e
personalista, desintegrado da vida econômica do país. Em relação a isso, Vargas veiculou uma
de suas afirmações mais contundentes e radicais acerca da realidade agrária do país, ainda
quando candidato pela Aliança Liberal:
“Em não poucas das regiões mais próprias para a agricultura, impera ainda o
latifúndio, causa comum do desamparo em que vive, geralmente, o proletariado
rural, reduzido à condição de escravo da gleba. Nessas regiões, seria conveniente,
para os seus possuidores e para a coletividade, subdividir a terra, a fim de colonizá-
la, fazendo-se concessões de lotes a estrangeiros, como a nacionais, a preços
módicos, mediante pagamento a prestações, além do fornecimento de máquinas
agrícolas, mudas e sementes”114.
Nesse sentido, além da aplicação de importantes medidas educacionais e culturais115, a
construção da nacionalidade também deveria passar por uma solução de caráter econômico:
era preciso integrar o país, articular as diferentes zonas despovoadas e desconectadas do
circuito econômico com as regiões dinâmicas do país. Tal avaliação deixa evidente que havia,
por parte das autoridades e dos intelectuais que apoiavam o regime, uma clara compreensão
acerca da capacidade de uniformização imposta pelo avanço do capitalismo construído
internamente e estendido às mais diferentes regiões, por meio do “nosso imperialismo”.
Tais aspectos vão estabelecer conexões com a formulação de políticas relacionadas aos
deslocamentos populacionais, na medida em que para se alcançar tais objetivos, era
113
Essa é uma imagem particularmente bastante utilizada por Oliveira Vianna para caracterizar o caráter
localista das grandes latifúndios brasileiros e a existência de um forte poder local nos mesmos.
114
VARGAS, Getúlio. Diretrizes... op. cit., p. 297.
115
Ver VARGAS, Getúlio Diretrizes... op. cit., p. 311 a 343. Esses assuntos encontram-se analisados de
maneira bastante interessante em: SCHWARTZMANN, Simon; BOMENY, Helena Maria Bousquet; COSTA,
Vanda Maria Ribeiro. Tempos de Capanema. Rio de Janeiro: Paz e Terra; São Paulo: Edusp, 1984.
88
“[...] Atender à sorte de centenas de milhares de brasileiros que vivem nos sertões
sem instrução, sem higiene, mal alimentados e mal vestidos, tendo contacto com os
agentes do poder público, apenas através dos impostos extorsivos que pagam.
É preciso grupá-los, instituindo colônias agrícolas; investi-los na propriedade da
terra, fornecendo-lhes os instrumentos de trabalho, o transporte fácil para a venda
da produção excedente às necessidades do seu sustento; despertar-lhe, em suma, o
interesse, incutindo-lhes hábitos de atividade e economia. Tal é a valorização
básica, essa sim, que nos cumpre iniciar quanto antes a valorização do capital
89
humano, por isso que a medida da utilidade social do homem é dada pela sua
capacidade de produção” 116.
A ação do Estado, e do expansionismo induzido por ele, no processo de construção da
nacionalidade também é ressaltado por Cassiano Ricardo ao atribuir, à Marcha para o Oeste, o
sentido de uma reedição da epopéia bandeirante. Segundo o autor, as bandeiras se constituem
no fator genético da nacionalidade brasileira e legitimador do Estado forte, centralizador e
interventor, já que as bandeiras, baseando-se nos princípio da “Democracia Racial e Social”,
conseguiram articular todos os elementos constituintes da sociedade brasileira – o negro, o
índio e o branco – no esforço de conquista e construção do país. Entretanto, apesar da
colaboração entre as três raças , as bandeira não eram destituídas de comando, pois haviam se
configurado no “Estado larvar brasileiro” justamente pelo fato de terem unido o comando do
branco, a mobilidade do índio e a força de trabalho do negro.
118
VARGAS, Getúlio. Diretrizes da nova política do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 194(?), p.
180.
119
LENHARO, Alcir. op. cit., p. 98.
120
SIMONSEN, Roberto. A indústria em face da Economia Nacional. p. 27/28.
91
121
citação extraída de LENHARO, Alcir. op. cit., p. 108
122
Ver FONSECA, Pedro César Dutra. op. cit., p. 236.
92
Tudo demonstra que a defesa de povoamento do interior do país, por meio da pequena
propriedade, ordenada e supervisionada pelo Estado, era um projeto de expansão do mercado
para o interior do país, que incorporava o objetivo de padronização das relações de produção,
já que a anexação das regiões de sertão à fronteira econômica desencadearia o surgimento de
novas frentes pioneiras. Dessa forma, a ação colonizadora estatal teria como função a
introdução de novas regiões aos processos econômicos, transformado os trabalhadores e
pequenos proprietários em produtores e consumidores de mercadorias.
Até então, o Oeste caracterizava-se por ser, em sua maioria, uma zona de expansão, ou
seja, seu sujeito típico era o posseiro. Elemento que poderia ser fruto dos excedentes
populacionais que haviam se originado na faixa situada aquém da fronteira econômica e que
poderia, também, eventualmente, produzir excedentes. Contudo, o que caracterizava a região
oeste como uma frente de expansão é o fato de que as relações sociais não se encontravam
determinadas pela produção para o mercado, a apropriação da terra não se fazia como
empreendimento econômico. Seria um caso de uso privado de terras devolutas, mas que não
se relacionava em termos de mercado com a economia nacional.
Era necessário transformá-la em uma frente pioneira, numa região em que a posse da
terra fosse substituída pela propriedade privada da mesma e em que a terra fosse comprada,
obrigando o pequeno proprietário a dispor de sua produção no mercado. A aquisição de um
lote significaria o estabelecimento de um empreendimento econômico.
123
MARTINS, José de Souza. Op. cit., p. 47.
93
124
OLIVEIRA, Beneval. As populações brasileiras e seus movimentos. In Cultura Política. Rio de Janeiro:
Departamento de Imprensa e Propaganda. Ano 3, Número 33, outubro de 1943, p. 73.
94
125
VARGAS, Getúlio. Entrevista à imprensa a 19 de fevereiro e 22 de abril de 1938. In Diretrizes...op. cit., p.
125.
126
FURTADO, Celso. op. cit., capítulos VIII a XII.
95
Isso porque, a ocupação das áreas vazias do interior brasileiro, por um novo tipo de
trabalhador rural, produtor e consumidor de mercadorias, originário das áreas historicamente
estagnadas e que possibilitavam a geração de excedentes populacionais, estabeleceu relações
de complementaridade entre as regiões brasileiras, sustentadas nos ritmos e nos graus
diferentes de desenvolvimento econômico.
127
O aprofundamento dessa questão pode ser encontrado em OLIVEIRA, Francisco. Crítica à razão dualista.
Petrópolis: Vozes, 1981.
128
BESCOW, Gabriela Carames. A construção do homem rural: intelectualidade e diagnósticos sobre a a
nacionalidade brasileira. Disponível em www.nead.gov.br/tmp/encontro/cdrom/gt/6/Gabriela_Beskow.pdf .,
p. 10. Acessado em 15/01/2007, 15:30 h.
129
SILVA, José Graziano. A modernização dolorosa - Estrutura agrária, fronteira agrícola e trabalhadores rurais
no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. Extraído de BESCOW, Gabriela Carames. op. cit., p. 9.
96
“Há noventa anos passados chegava no vale do Itajaí a primeira colônia dos
povoadores alemães. Decerto, no meio de imensas florestas, foram deixados ao
abandono. Abateram a mata, lavraram a terra, lançaram a semente, construíram
suas casas, formaram as lavouras e ergueram o edifício de sua prosperidade. Dir-
se-á que custaram muito a assimilar-se à sociedade nacional, a falar a nossa
língua. Mas a culpa não foi deles, a culpa foi dos governos que os deixaram
97
130
VARGAS, Getulio. Relatório da comissão de nacionalização ao Ministro Capanema. Outubro de 1940.
Arquivo Lourenço Filho, FGV / CPDOC, p. 6. citação extraída de SCHWARTZMAN, p. 157/158
131
Ver NASCIMENTO, Benedicto Heloiz. op. cit., p. 31.
132
Esse foi, inclusive, um dos motivos que animaram a formulação e a implementação, na segunda metade do
século XIX e início do século XX, de uma verdadeira política de transferência populacional por parte de alguns
países europeus, como a Itália e a Alemanha. Ver IANNI, Constantino. Homens Sem Paz. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1974, cap. 1 e NASCIMENTO, Benedicto Heloiz, op. cit, p. 27/ 30
98
133
Processo da Secretaria da Agricultura número 6866 de 24/5/1938. Citação extraída de PAIVA, Odair da Cruz.
P, 41.
134
No ano de 1938, a Alemanha se colcou como o primeiro lugar no comércio internacional brasileiro.
135
SCHWARTZMAN, Simon et al. op. cit., p. 168.
99
Embora o temor em relação aos alemães fosse o mais disseminado, havia também
avaliações negativas contra a imigração japonesa considerada de difícil assimilação. Os
japoneses, segundo interpretações correntes, apresentavam hábitos completamente distantes
dos brasileiros. Devido à sua cultura oriental e à sua disciplina, mostravam-se avesso a uma
maior abertura em relação à sociedade brasileira. Tal avaliação ganhava maior amplitude em
virtude dos japoneses insistirem na utilização de livros produzidos no Japão na educação de
seus descendentes e realizarem constantes embarques de membros de sua colônia para cursos
no Japão136. As características físicas dos japoneses, dominantes em casos raros de
miscigenação, eram outros elementos considerados perigosos, pois ameaçavam a morfologia
brasileira:
136
SCHWARTZMAN, Simon et al. op. cit., p. 150
137
. Relatório da comissão de nacionalização ao Ministro Capanema. Outubro de 1940. Arquivo Lourenço Filho,
FGV / CPDOC, p. 6. citação extraída de SCHWARTZMAN, Simon et al. op. cit., p. 150
138
Exemplo disso foi o famoso caso da obrigatoriedade, em 1942, da mudança de denominações de organizações
esportivas cujo nome era “Palestra Itália”. Casos dos atuais clubes Palmeiras e Cruzeiro, em São Paulo e Belo
Horizonte, respectivamente.
100
Ao mesmo tempo, esses países possuíam um grande excedente populacional. que não
podiam ser absorvidos pelas conquistas coloniais. Como possuíam extensões territoriais
medianas, onde praticamente não existiam “vazios demográficos”, os excedentes
populacionais também não puderam ser utilizados em processos internos de conquista, pois os
seus territórios já estavam completamente integrados à atividade econômica.
139
VARGAS, Getúlio. Entrevista à imprensa em 10 de novembro de 1938. In Diretrizes...op. cit., p. 292.
101
A grande crise iniciada em 1929, cuja eclosão foi bastante associada ao Liberalismo,
aprofundou tais concepções e culminou, na Alemanha, com a ascensão do nazismo. Assim, no
início da década de 1930, houve um novo acirramento dos conflitos interimperialistas, com a
emergência e a consolidação de regimes antiliberais, nacionalistas, expansionistas e
militaristas que pregavam abertamente a expansão territorial como forma de ampliar as suas
102
áreas de influência e com isso conquistar a liderança internacional. Exemplos disso podem ser
encontrados na disposição italiana de alcançar possessões na África e na disposição alemã de
reconquistar o seu espaço vital na Europa. O Japão, por seu turno, também apontava para
avanços no sudeste asiático e no Pacífico.
É verdade que houve uma diminuição no número de imigrantes oriundos desses países
na década de 1930140. Entretanto, de acordo com a avaliação do governo brasileiro tal situação
não eliminou o interesse em se continuar utilizando os imigrantes como possibilidade de
construção de espaços políticos e econômicos extraterritoriais. Pelo contrário, avaliava-se que
o novo contexto havia redimensionado tal prática dando-lhe um novo caráter, quiçá, mais
agressivo. Segundo o governo brasileiro, os imigrantes, e seus descendentes, passaram, então,
a ser potencialmente encarados, pelos governos desses países, como potenciais instrumentos
de expansão sobre o território brasileiro. Tal situação se tornou muito mais preocupante
quando se observou a inevitabilidade do conflito mundial, o estabelecimento de alianças entre
esses países e se tornaram mais evidentes com as notícias sobre um projeto nazista de se criar
uma Alemanha Antártica, a partir das colônias do sul do Brasil.
140
Essa diminuição era muito maior entre os imigrantes italianos e menos evidente em relação aos imigrantes
alemães.
103
colônias aqui instaladas, que possuíam um histórico de lealdade nacional aos seus países de
origem, justificavam a adoção de medidas voltadas a estabelecer um forte controle sobre os
estrangeiros.
“O que ela (a Alemanha) cobiça é a imensa riqueza natural brasileira. A sua posse
resolveria completamente todos os problemas que a sua política de militarismo
econômico origina. A conquista por assalto não seria uma política prática, mas o
domínio efetivo dos recursos brasileiros poderia ser obtido infiltrando-se no Brasil
como um “aliado ideológico”, para, por essa forma, converter o Brasil num vassalo
econômico e político da Alemanha. As possibilidades econômicas brasileiras são
tão ilimitadas que o domínio delas pela Alemanha significaria uma realização
rápida do objetivo expansionista da hegemonia germânica através do mundo. Em
resumo, este é o escopo das ambições germânicas no Brasil”141.
Assim, a prática e a ideologia nazi-fascistas, também, eram consideradas, tais como o
bolchevismo, como concepções internacionalistas, estranhas à realidade nacional e que, por
isso, ameaçavam a construção de um projeto de desenvolvimento capitalista nacionalista no
Brasil.
Era inconcebível, por isso, que os imigrantes estrangeiros continuassem a ter o papel
ativo e preponderante que haviam tido até então nos movimentos migratórios no Brasil. Era
temeroso que os mesmos continuassem a ser o elemento numericamente preponderante nos
processos de conquista e de colonização das novas áreas que seriam integradas ao mercado
nacional, pois isso implicava um possível favorecimento ao expansionismo externo e,
portanto, em riscos à integridade territorial brasileira.
Era temeroso, também, que continuassem a ter forte peso sobre o proletariado urbano,
uma vez que, embora ainda pequena, a combatividade operária era atribuída à sua
contaminação por ideologias estranhas como o bolchevismo e o anarquismo, personificadas
nos estrangeiros. Essa questão adquire maior importância se relembrarmos que, no momento
que nos ocupa, a formação de um mercado de trabalho urbano, abundante, que não exercesse
pressões sobre a taxa de salários, também se colocava como adequada e fundamental para o
desenvolvimento. Não é de se estranhar, portanto, que se pensasse em substituir, na formação
141
HANLOCH, Ernesto. In: Arquivo Gustavo Capanema, 18 de maio de 1939, p. 6 e 7. Pasta I-11, série g.
citação extraída de SCHWARTZMAN, Simon et al. op. cit., p. 169
104
Essa opção pelo trabalhador nacional é compreensível por uma série de elementos
apontados anteriormente, além da preocupação em se manter a integridade territorial
brasileira, de se construir a nacionalidade e de se afastar o perigo estrangeiro, a valorização do
trabalhador nacional nos processos relativos aos deslocamentos populacionais também se
relaciona com o modelo de sociedade que se procurava alcançar naquele momento e o tipo de
Estado que deveria dirigir esse processo.
A emergência desse Estado de novo tipo no Brasil foi fortemente influenciado por
concepções teóricas que, originárias de uma vertente do modernismo, eram encampadas por
105
vários pensadores conhecidos como “capitalistas autoritários”. Esses pensadores, embora com
diferentes influências e nuances, concordavam com o fortalecimento do Estado Nacional, com
a eliminação dos poderes locais e com a supremacia do executivo frente aos outros poderes, o
que, por sua vez, fazia com que também defendessem a adoção de medidas técnicas em
substituição às medidas políticas, uma vez que essas expressariam interesses de parcelas da
sociedade e não da sociedade como um todo142. Assumiam a defesa da ordem capitalista,
como se observa no trecho abaixo:
Nesse sentido, o ponto de união entre os diferentes indivíduos e grupos sociais seria a
Nação, como afirmava Azevedo Amaral: “no organismo social todos os indivíduos e grupos
sociais estão integrados com ele como parte integrante que são da coletividade nacional” 144.
Assim, a difusão da ideologia nacionalista era o fator que tornaria possível chamar a harmonia
e a unidade social em prol do desenvolvimento, afastando todo tipo de concepções e práticas
que enfatizassem a divisão e a luta entre os diferentes segmentos sociais.
142
ver FONSECA, Pedro Cezar Dutra da. op. cit., p. 191
143
FONSECA, Pedro Cezar Dutra da. op. cit., p. 192
144
AMARAL, Azevedo. O Estado autoritário e realidade nacional. Rio de Janeiro: José Olympio, 1938, p.
285
106
145
VARGAS , Getúlio. Diretrizes, op. cit. p 223/224
107
Tais fatos seriam fundamentais para que a organização operária pudesse ser controlada
e deixasse de representar uma ameaça ao desenvolvimento de um capitalismo industrial
nacional. Isso associado ao processo de formação de um mercado urbano de trabalho super
abundante representaria a possibilidade de rebaixamento da taxa de salários, fator altamente
estimulante para o desenvolvimento da cumulação industrial.
Do ponto de vista dos trabalhadores rurais, era necessário que, nas experiências
colonizadoras, o trabalhador brasileiro também absorvesse o conhecimento e a disciplina dos
146
VARGAS , Getúlio. Diretrizes, op. cit. p, p. 228/229
147
IANNI, Octávio. A formação do Estado populista na América Latina. São Paulo: Ática, 1989, p. 9
108
estrangeiros, por isso, ao relatar uma experiência colonizadora que ocorria no sudoeste
paulista, o Boletim do SIC afirmava:
“O colono irrigante (sic) precisa ser moldado, trabalhado, formado nas minúcias de
qualidades morais e nos conhecimentos técnicos para a nova vida. O posto deve ser
a verdadeira escola profissional agrícola, o quartel da disciplina do trabalho e a
igreja da formação espiritual capaz de transformar o elemento inútil – flagelado –
em célula produtiva – colono irrigante”149.
As escolas profissionais, a ideologia do trabalho, o combate à malandragem e a
introdução da carteira de trabalho seriam a versão urbana da formação desse novo trabalhador
brasileiro.
148
A colonização oficial em São Paulo e o Núcleo Colonial Barão de Antonina. In Boletim do SIC, São
Paulo, outubro de 1940, p. 16.
149
DUQUE, José Guimarães. O fomento da produção agrícola. In Boletim do IFOCS. Vol. II, n. 2, 1939.
109
Tal situação não deixou de ser uma novidade, já que no modelo anterior os
movimentos migratórios para as regiões dinâmicas da economia brasileira, basearam-se, em
sua maioria, na atração de imigrantes originários de países que passavam por processos
rápidos de desenvolvimento. Este foi o caso de países como a Itália e o Japão, cujos
imigrantes aqui chegaram em grande número, respectivamente, em finais do século XIX e nas
primeiras décadas do século XX. Isso demonstra que o mercado mundial de trabalho formou-
se mais rapidamente que o mercado de trabalho no Brasil. A escassez de mão-de-obra nas
áreas dinâmicas no processo de formação do capitalismo primário-exportador brasileiro pôde
ser suprida com o excedente populacional estrangeiro.
Isso não se deveu à escassez populacional no Brasil, mas, sobretudo, ao fato de que a
liberação da mão-de-obra brasileira, necessitaria de gastos e, até mesmo de esforços, muito
maiores do que aquele necessário para o uso mão-de-obra disponível em outros países. A
mão-de-obra nacional não se encontrava totalmente liberada, pois, além do fato do processo
de abolição ter sido longo, lento e descontínuo, os homens livres pobres, não se encontravam
totalmente disponíveis no mercado. Permaneciam vinculados à produção de subsistência ou
atrelados aos grandes latifundiários151.
Dessa maneira, a sua arregimentação só poderia ser feita com o concurso dos grandes
proprietários de terras das regiões estagnadas, o que, obviamente, não lhes era interessante,
pois enfraqueceria os seus poderes políticos e sociais locais, ou por meio de problemas
naturais, como a ocorrência de secas152. Além disso, outro fator que obstava a utilização dos
trabalhadores nacionais na formação do mercado de trabalho era a sua dispersão espacial, que
dificultava a sua arregimentação. Devemos lembrar as dificuldades de comunicação e as
distâncias existentes entre as regiões do país
153
Ver PAIVA, Odair da Cruz, op. cit., p. 88
111
Parte III
POLÍTICAS MIGRATÓRIAS, DESENVOLVIMENTO E NOVO PADRÃO DE
ACUMULAÇÃO DE CAPITAL
112
Seção 1
154
Ver MORAES, Antonio Carlos Robert de. Ideologias geográficas. 3 ed. São Paulo: Hucitec, 1996, p. 94
155
O exemplo dessa iniciativa na província de São Paulo é o Núcleo de Santo Amaro criado em 1829.
156
Duas questões demonstram de maneira exemplar essa preocupação: a promulgação da lei de proibição do
tráfico de escravos, a Lei Eusébio de Queiroz, logo seguida pela lei de Terras. Outras iniciativas, ocorridas no
mesmo ano, também são vinculadas a essa problemática, tais como a Reestruturação da Guarda Nacional e a
113
Os processos acima descritos denotam que o Estado nunca esteve ausente das questões
relativas ao deslocamento populacional, embora tivesse, em diferentes momentos e espaços,
preocupações distintas. Inicialmente, as preocupações vinculavam-se à ocupação e
povoamento de partes do território, principalmente das mais conflitantes no que concerne às
disputas de limites nacionais como é o caso específico do Sul, depois se vinculou à
problemática da mão-de-obra, já que no caso paulista, a busca da imigração só pode ser
compreendida em sua relação com o desenvolvimento da economia cafeeira.
O que singulariza o período que nos ocupa em relação aos anteriores decorre de alguns
fatores, como os abaixo discriminados:
introdução do Código Comercial. Ver SCHWARCZ, Lilia. As barbas do Imperador. São Paulo: Companhia
das Letras, 1998, p. 102.
157
Dois textos bastante interessantes, pois detalhados em relação a essa questão são MARTINS, José de. O
cativeiro da terra. 2 ed. São Paulo: Ciências Humanas, 1981, 1ª. Parte, cap. II e SZMERCSANYI, Tamás.
Pequena História da agricultura no Brasil. São Paulo: Contexto, 1998, cap. 3.
158
Ver GADELHA, Regina Maria D’ Aquino Fonseca. Os núcleos coloniais e a acumulação cafeeira (1895 -
1920): contribuição ao estudo da colonização. (Tese de Doutoramento). São Paulo: Universidade de São Paulo,
1982, p. 134 - 157.
114
159
Os itens 3 e 4 podem ser evidenciados no fato de que de 1830 a 1920, o governo Federal lançou poucos
instrumentos legais relacionados à imigração. Em 1921 vai introduzir o decreto 4.247, que não possuia nenhuma
medida restritiva ao desembarque e à fixação de imigrantes. Entretanto, no primeiro Governo Vargas, no espaço
de 15 anos foram apresentados 13 decretos ou decretos leis voltados à questão do desembarque, permanência e
trabalho dos imigrantes. Todos eles, embora variando de intensidade, com aspectos restritivos. Ver: Relatório
do Conselho de Imigração e Colonização referente a 1945. Revista de Imigração e Colonização, Ano VII, no.
1, março de 1946, p. 11.
115
A entrada dos deslocamentos populacionais em uma nova fase, no período que nos
ocupa, e que já se prenunciava no período imediatamente anterior, é, objetivamente, resultado
do processo complexo e contraditório de desenvolvimento do capitalismo brasileiro no
chamado período de “crescimento para fora” que permitiu a emergência de um novo padrão
de acumulação capitalista a partir do início da recuperação da economia brasileira, após o
impacto da grande crise mundial. A emergência desse novo padrão de desenvolvimento
encontra-se na base da entrada da economia brasileira numa longa fase de crescimento.
160
Nesse momento já é sensível a diminuição do fluxo tradicional de imigrantes originários da Europa
Mediterrânica.
161
Região situada no eixo Campinas - Ribeirão Preto. Devido ao caráter histórico das fronteiras e das
localizações baseadas nos pontos cardeais, essa região é atualmente a região Nordeste do Estado.
162
Ver HOLANDA FILHO, Sérgio Buarque de; GRAHAM, Douglas H. op. cit., p. 61 e PAIVA, Odair da Cruz.
op. cit., p. 15
167
Ver ALBUQUERQUE, Rui H. P. L. de . Capital comercial, indústria têxtil e produção agrícola: as
relações de produção na cotonicultura paulista, 1920-1950. São Paulo: Hucitec; Brasília: CNPq, 1983, p. 173
116
Como a expansão cafeeira foi muito mais provocada pela oferta de terras e mão-de-
obra do que pelo aumento da procura internacional, o resultado foi uma crise crônica de
superprodução, que iniciada em 1896, se estendeu, com algumas oscilações, pelas quatro
primeiras décadas do século XX.
164
Os conceitos de crescimento e de desenvolvimento econômico são diferentes. O primeiro indica apenas as
alterações de ordem quantitativa, já o segundo expressa as alterações qualitativas de uma economia, enfatizando
a diversificação de atividades econômicas e a supremacia da produção industrial sobre os outros setores
econômicos.
165
Ver: CANO, Wilson. Raízes da concentração industrial em São Paulo. Rio de Janeiro: Difel, 1977, cap. I
166
Voltado, nesse momento, principalmente a atração de trabalhadores estrangeiros.
167
Ver FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Publifolha, 2000, p. 191/192
117
Essa situação tem o seu limite colocado pela crise internacional, iniciada em 1929, que
impediu a continuidade dos fluxos de créditos internacionais que financiavam a retenção da
produção excedente. Isso resultou na impossibilidade de se permanecer represando os
enormes estoques retidos, que, a partir desse momento, invadiram o mercado, provocando
uma enorme queda nos preços internacionais do café. Segundo Furtado, a baixa, entre
setembro de 1929 e setembro de 1931, foi de 22,5 centavos de dólar para 8 centavos de dólar
por libra/peso, respectivamente169.
O Brasil, ao optar por uma política de defesa interna da renda, mediante práticas
econômicas heterodoxas170, logo superou a crise, apresentando um índice de crescimento
superior a vários países.
A integração do mercado interno brasileiro iria atender alguns requisitos básicos para
o processo de acumulação: por um lado garantiria a manutenção da oferta de matérias-primas
para as indústrias e de alimentos para a população urbana; por outro, levaria outras regiões do
país a tornarem-se consumidoras das mercadorias industriais produzidas internamente,
principalmente em São Paulo.
168
FURTADO, Celso. op. cit., p. 194
169
FURTADO, Celso. op. cit., p. 200
170
A expressão dessa política foi a compra do excedente de produção, por meio da criação de créditos internos, e
sua destruição, o que evitou que o equilíbrio entre a oferta e a procura do café fosse alcançada pelos mecanismos
de mercado, que teriam provocado o abandono, puro e simples, das plantações, com o conseqüente aumento do
desemprego. Tal atitude impediu que os efeitos da crise do setor cafeeiro se multiplicassem pelos setores por ele
influenciados.
118
fator capaz de reorientar a economia e, com isso, gerar uma longa fase de crescimento na
economia brasileira.
Isso se fez com a superação das barreiras que dificultavam a unificação do mercado
nacional, inclusive a do mercado de trabalho. Ora, tal situação coloca em questão os
deslocamentos populacionais como um elemento fundamental do novo padrão de acumulação
urbano-industrial que conhecia um forte impulso no momento.
171
NEGRI, Barjas. op. cit., p. 29 a 33
172
O complexo econômico açucareiro nordestino, apesar da crise crônica que se abateu sobre o mesmo desde o
ultimo quartel do séc. XVII, permaneceu com a capacidade de se reproduzir econômica e populacionalmente
119
refletiu-se, assim, no próprio mercado de trabalho. Não é, coincidência, portanto, que, no final
da década de 1920, quando ocorreu a diminuição da oferta de imigrantes tradicionais para o
complexo cafeeiro, a chegada de brasileiros de outras regiões tenha se tornado mais
importante173. É que malgrado a ainda incompleta integração do mercado nacional, a
produção paulista, tanto a industrial quanto a agrícola, já havia alcançado destaque e ocupado
significativas parcelas de mercado de outras regiões. Some-se a isso o fato de que a década de
1920 foi testemunha da falência de outros complexos econômicos, como o da borracha no
norte país, o que impediu que o mesmo “disputasse” mão-de-obra com São Paulo. Tais
acontecimentos ampliaram o fluxo de migrantes para o Centro-Sul do país.
mesmo sem aumento significativo da renda. Porém, tal situação significou a preponderância da propriedade da
terra sobre a posse do capital na definição das hierarquias econômicas e sociais. Assim, as relações sociais
encontraram-se por muito tempo baseadas em critérios fortemente personificados e tradicionais, o que concorreu
para o seu enrijecimento, dificultando a formação de um mercado de trabalho, mesmo por ocasião da crise do
escravismo. Para um maior aprofundamento no complexo econômico açucareiro nordestino e suas tendências
estruturais e dinâmicas de desenvolvimento ver FURTADO, Celso, op. cit., cap. XII.
173
Ver CANO, Wilson, op. cit. p. 48
174
Estes são os casos, já mencionados, do Norte do Paraná – região típica de avanço da fronteira, no pós 1930 - e
do interior paulista – onde, em algumas regiões, a cotonicultura substituiu a produção cafeeira em crise ou, no
caso de regiões que passaram a ser incorporadas à atividade econômica, tornou-se a responsável pelo avanço das
frentes pioneiras.
120
Podemos com isso afirmar que a supremacia de um centro dinâmico, que comandava a
integração do mercado brasileiro, permitiu o início da constituição de um mercado de trabalho
verdadeiramente nacional, que pudesse se reproduzir endogenamente sem ter que recorrer a
acréscimos externos. Tal fato apresenta coerências com o modelo de desenvolvimento que se
procurava implantar no momento e que se baseava numa concepção organicista de sociedade,
que deveria se organizar sob os princípios da paz social, com fortes colorações nacionalistas.
Isso se torna evidente já nas primeiras preocupações que surgem por parte de
elementos do novo governo, de alguns segmentos sociais e de alguns intelectuais ao tratarem
do assunto mercado de trabalho. Essas preocupações se manifestaram, primeiramente, sob
dois ângulos: o problema dos “sem-trabalho” e a rediscussão sobre o papel dos imigrantes nas
sociedade brasileira.
Em São Paulo, por exemplo, onde a situação se expressava num grau de tensão
bastante forte, muitos desempregados ou subempregados eram identificados como base de
sustentação de lideranças que buscavam dirigir os processos políticos no sentido de uma
maior radicalidade nas mudanças institucionais. Tais interpretações acirravam a mobilização
de setores da elite paulista que começava a apresentar descontentamentos em relação aos
rumos do movimento de 1930, na medida em que, além de não terem sido alçados ao
175
Este é o caso da Região Nordeste, na qual o processo de desenvolvimento industrial concentrado em São
Paulo provocou uma aceleração na desestruturação de seus complexos econômicos regionais.
121
176
Num primeiro momento o maior receio da mobilização popular estava focada na Liderança de Miguel Costa e
seu grupo político a LR (Legião Revolucionária), transformada, em seguida, em PPP (Partido Popular Paulista),
que eram a linha de frente da pregação radical tenentista em São Paulo. Ver BORGES, Vavy Pacheco.
Tenentismo e revolução brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1992, cap. 1. Posteriormente, após o movimento de
1932, tal receio passou a incorporar, não apenas em São Paulo, as duas organizações mais polarizadas
politicamente, ou seja ANL (Aliança Nacional Libertadora) e AIB (Ação Integralista Brasileira).
177
Ver PAIVA, Odair da Cruz. Colonização e (des)povoamento. São Paulo: Pulsar, 2002, p. 36-44
122
178
Hospedaria dos Imigrantes. Processo no. 20 de 26 de fevereiro de 1931.
179
Ver NEVES, Frederico de Castro. Getúlio e a seca: políticas emergenciais na era Vargas. Revista
Brasileira de História. São Paulo: ANPUH/Humanitas Publicações, vol. 21, no. 40, 2001
180
NEVES, Frederico de Castro. op. cit., p. 109
181
NEVES, Frederico de Castro. op. cit., p. 120
123
participação e à liderança dos mesmos nos movimentos operários e políticos, houve uma
retomada das discussões de caráter eugênico, simultâneas às cogitações da existência de certo
risco da desnacionalização da sociedade e da cultura brasileiras, devido à existência, em solo
brasileiro, dos chamados enquistamentos étnicos.
Por outro lado, a entrada de novas nacionalidades, diferentes das tradicionais oriundas
da Europa do Norte e Mediterrânica, durante as primeiras décadas do século XX, levou a um
acirramento de posições eugênicas no início dos anos de 1930, pois muitas dessas
nacionalidades foram consideradas inassimiláveis e/ou pouco produtivas para o trabalho
agrícola, o que ampliava, ainda mais, o crescimento desordenado da população e do mercado
de trabalho urbanos.
Desta forma, passou-se a exigir uma maior seletividade em relação aos imigrantes
estrangeiros. Um artigo, publicado no jornal “Diário Popular”, em 11 de abril de 1933,
demonstra de forma direta as preocupações acima destacadas. Nele, o articulista afirma:
182
Diário Popular de 11/04/1933, apud: PAIVA, Odair da Cruz. Colonização..., op. cit., p 37
124
desencadeasse pressões no sentido de uma ameaça à ordem social. Tal fato explica, ainda, a
mudança de orientação em relação ao assunto migratório com o início da concessão de
prioridade ao trabalhador brasileiro, nos processos de redimensionamento do mercado urbano
de trabalho e de deslocamento populacional. Esse aspecto foi ganhando maior dimensão à
medida que as preocupações com os enquistamentos étnicos foram se amplificando.
183
Este núcleo colonial, localizado na região sudoeste do Estado de São Paulo foi criado em 16/07/1930, mas só
foi instalado efetivamente no primeiro semestre de 1931.
184
Ver PAIVA, Odair da Cruz. Colonização...op. cit, p. 46-53
185
PAIVA, Odair da Cruz. Colonização...op. cit, p. 53
186
ver a integra deste decreto nos anexos.
125
Esse decreto também impõe, em seu artigo 3º, a obrigatoriedade das empresas terem,
no mínimo, dois terços de trabalhadores brasileiros e, em seu artigo 4º., a obrigatoriedade de
apresentação de desempregados nacionais e estrangeiros em delegacias do trabalho ou de
polícia para verem a possibilidade de encaminhamento a trabalhos agrícolas. Em relação a
esse decreto, assim comentou Paulo Poppe, técnico do Ministério do Trabalho, Indústria e
Comércio:
187
POPEE, Paulo. Leis imigratórias. Boletim do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. No. 3,
novembro de 1934, p. 240.
188
ver a integra deste decreto nos anexos
189
ver a integra deste decreto nos anexos
126
Além dos decretos acima, como exemplos, podemos indicar que nesse ano de 1934, na
assembléia constituinte, fortes debates acerca da problemática da imigração e dos riscos
190
Na verdade, os instrumentos legais aos quais o autor de refere são Decretos e não Decretos-Lei
191
VAINER, Carlos B. Estado e migrações no Brasil: anotações para uma História das políticas
imigratórias. In: Travessia. CEM (Centro de Estudos migratórios), no.36, janeiro-abril de 2000, p. 20
127
Outros aspectos interessantes presentes no Decreto-Lei 406 é que ele impedia, pelo
seu artigo 39, a criação de Núcleos Coloniais de uma única nacionalidade estrangeira,
determinava, no primeiro parágrafo do artigo 40 que seria mantido um mínimo de trinta por
cento (30%) de brasileiros e o máximo de vinte e cinco por cento (25 %) de cada
nacionalidade estrangeira e que na falta de brasileiros, este mínimo, mediante autorização do
Conselho de Imigração e Colonização, poderia ser substituído por portugueses e impedia, pelo
artigo 42, que qualquer núcleo, centro ou colônia, ou estabelecimento de comércio ou
indústria ou associação neles existentes, pudesse ter denominação em idioma estrangeiro.
192
Ver PAIVA, Odair da Cruz. Caminhos cruzados... op. cit., p. 92 – 98.
193
Citado por SCHWARTZMAN, Simon et al. op. cit., p.152.
128
O decreto de criação das CANs, por sua vez, é bastante claro em dizer, em seu
primeiro artigo, que essas colônias agrícolas nacionais destinavam-se prioritariamente a
receber e fixar trabalhadores brasileiros reconhecidamente pobres e, excepcionalmente,
trabalhadores estrangeiros qualificados.
O fato dos anos finais da década de 1930 e os iniciais da década de 1940 terem sido o
momento de consolidação de uma política voltada a favorecer uma nova modalidade de
acumulação sustentada pela industrialização pode ser explicada pela maturação das condições
objetivas para que tal processo ocorresse. Por um lado, o governo federal havia,
indubitavelmente, enfeixado fortes poderes após a deflagração do Golpe de novembro de
1937 que instaurou o Estado Novo. Por outro lado, podemos afirmar que, nesse momento, a
percepção da importância do papel da indústria no crescimento da economia já era
perceptível: a mesma, que ampliou a sua concentração em São Paulo, crescia a taxas médias
anuais superiores a 11% e os lideres industriais haviam conseguido alcançar forte influência
junto ao governo e à burocracia estatal.
Nesse momento, também, já era possível avaliar com maior grau de confiabilidade o
resultado de algumas experiências colonizadoras que, mesmo tendo sido, em alguns casos,
propostas anteriormente a 1930, foram efetivadas nos início da década. Algumas dessas
experiências voltaram-se à tentativa incorporar economicamente regiões consideradas
adormecidas do sul e sudoeste paulista, como é o caso do Núcleo Colonial Barão de Antonina,
e revelaram-se, apesar de seu caráter espacialmente limitado, como bastante adequadas ao
favorecimento da industrialização que se desenvolvia em São Paulo. Gerou um pequeno
incremento no mercado local, anteriormente vinculado à economia de subsistência e,
194
PAIVA, Odair da Cruz. Caminhos cruzados...op. cit. p. 116.
130
Seção 2
Neste sentido, num primeiro momento, apoiadas pelas autarquias, pelas agências e
institutos de fomento à produção que foram surgindo como resultado da ação mais consistente
195
FONSECA, Pedro Cezar Dutra da. op. cit., p. 184.
132
do Estado sobre a economia, várias tentativas foram feitas, como, por exemplo, as de
substituição do café pelas frutas de mesa196 e pelo mate. No entanto, aproveitando a
conjuntura favorável, pois essa se apoiava na política de proteção aos preços praticada pelo
governo norte-americano197, foi o algodão quem logrou um grande salto de produção e
converteu-se em um dos principais elementos da agricultura e da pauta de exportações
brasileiras. Como podemos observar pelos quadros abaixo:
QUADRO 3
PRODUÇÃO DO ALGODÃO NO BRASIL – EM PLUMA (T)
ANO PRODUÇÃO ANO PRODUÇÃO ANO PRODUÇÃO
1929(1) 124.842 1935 296.306 1941 503.120
1930 126.445 1936 349.853 1942 376.954
1931 101.652 1937 405.024 1943 496.695
1932 76.400 1938 436.628 1944 610.002
1933 147.684 1939 428.523 1945 362.660
1934 284.504 1940 468.695 1946 315.934
Fonte: ALBUQUERQUE, Rui H. P. L. de. Capital Comercial, Indústria Têxtil e Produção Agrícola. São
Paulo: Hucitec/CNPq, 1982, p. 173
(1) Fonte: NOSSO SÉCULO. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. XVIII
QUADRO 4
EXPORTAÇÃO BRASILEIRA DE ALGODÃO – EM PLUMA (T)
ANO EXPORTAÇÃO ANO EXPORTAÇÃO ANO EXPORTAÇÃO
O algodão, por sua vez, apresentava outros fatores favoráveis à expansão de sua
cultura. Era também importante matéria prima para as indústrias de alimentos, na produção de
óleos comestíveis, margarina e ração animal, e por excelência, a matéria prima da indústria
têxtil. Ele, ainda, converter-se-á em apoio fundamental do comércio externo brasileiro ao
196
PRADO JR., Caio. História Econômica do Brasil. 21 ed. São Paulo: Brasiliense, 1986, p. 292.
197
PRADO JR., Caio. op. cit., p. 293.
133
sustentar o comércio de compensação com a Alemanha198. Esse país tinha dificuldade em ser
abastecido de algodão pela produção norte-americana por lhe faltarem divisas.
Um destaque aqui deve ser dado ao 5o distrito, que nessa época era parte da zona nova
de avanço da marcha pioneira, para onde já se percebia a movimentação da produção
algodoeira em meados da década de 1920 e era servida pela companhia de Estrada de Ferro
Sorocabana:
198
Outras mercadorias eram “trocadas” com a Alemanha nesse comércio de compensação, tais como couro,
borracha, carnes, frutas, café, mas a primazia cabia, sem dúvida, ao algodão.
199
NASCIMENTO, Benedicto Heloiz. op. cit., p, 116.
134
cresceram 40%. Esta ‘marcha para o Oeste’, que já vinha da década anterior,
apoiou-se, um pouco no café (...) e principalmente no algodão, que em 1937-38 já
200
estava ocupando mais de 500.000 hectares” .
Por outro lado, o algodão não se limitou a influenciar na forma de ocupação
econômica e no desenvolvimento de uma nova atividade em algumas regiões do Estado de
São Paulo. Impactou, também, na mudança de relações de trabalho na própria agricultura.
O fato de que o algodão não foi responsável por uma mudança na estrutura agrária
paulista, com a democratização do acesso à terra, não pode, contudo, obscurecer a questão de
que esta era uma cultura que tornava possível o estabelecimento de pequenas propriedades ou
de formas de produção baseadas na exploração de pequenas áreas.
200
Ver ALBUQUERQUE, Rui H. P. L. De. Capital comercial, indústria têxtil e produção agrícola. São
Paulo: Hucitec/CNPq , 1982 p, 149/151.
201
MONBEIG, 1984. Pierre. Pioneiros e fazendeiros de São Paulo. 2 ed. São Paulo: Pólis/Hucitec, 1.994., p,
281/283
202
Ver: ALBUQUERQUE, Rui H. P. L. de . op. cit., caps. III e IV.
135
Essa política obedeceu, segundo Odair da Cruz Paiva203, a dois momentos bastante
precisos: um primeiro momento em que se configurou com a participação de empresas
privadas que faziam a seleção e o encaminhamento de trabalhadores nacionais para São
203
PAIVA, Odair da Cruz. Caminhos cruzados.. op. cit., p. 87
136
Paulo. Tal prática se estendeu até 1939, quando foi substituída pela criação da Inspetoria dos
Trabalhadores Migrantes (ITM). Esse segundo momento representou a efetiva estatização dos
processos de atração migratória para o esforço de desenvolvimento centrado em São Paulo.
Tal ação foi complementada pela utilização das dependências da Hospedaria dos
Imigrantes para a acomodação dos trabalhadores que passaram a ser dirigidos a São Paulo. É
importante lembrar que a Hospedaria apresentava características interessantes para a recepção
e distribuição dos trabalhadores: situava-se na confluência de duas importantes ferrovias que
ligavam São Paulo ao litoral (a São Paulo Railway) e ao Rio de Janeiro (a Central do Brasil);
possuía, também, uma estação própria, que a ligava com as outras ferrovias que se dirigiam ao
interior do Estado; encontrava-se a poucos metros de distância da Estação Roosevelt, que
ficou conhecida posteriormente, pela grande quantidade de migrantes ali desembarcada, como
Estação do Norte; possuía um setor de colocações que triava e encaminhava trabalhadores às
fazendas que os solicitavam.
204
PAIVA, Odair da Cruz. Caminhos cruzados. .op. cit,, p. 92
137
É interessante observar, por outro lado, que duas das empresas contratadas pelo
governo paulista para a introdução de trabalhadores migrantes em São Paulo, não se
encontravam distantes de interesses ligados à indústria ou à produção de matérias-primas
voltadas às indústrias, embora, num primeiro momento, o destino dos trabalhadores fosse o
trabalho agrícola.
A outra companhia, a Cia Itaquerê, foi criada, em 1924, por Nhonhô Magalhães,
considerado como um dos precursores da agroindústria paulista e que esteve na origem na
formação de um setor industrial voltado a produzir máquinas de beneficiamento de algodão e
implementos agrícolas em Matão, região de Araraquara.
205
GONÇALVES, José Sidnei. A Agricultura paulista: a ação estatal na construção da modernidade. IN: São
Paulo em perspectiva: o agrário paulista. Revista da Fundação SEADE, vol. 7, no. 3, julho/setembro de 1993,
p. 102.
206
GONÇALVES, José Sidnei. op. cit., p. 103
138
207
Para tal ver: GONÇALVES, José Sidnei. op. cit. e DULLEY, Richard Domingues. Políticas Estaduais para
a agricultura: São Paulo, 1930-1980. São Paulo: IEA, 1995 (Coleção Estudos Agrícolas, 3)
208
O primeiro foi interventor em São Paulo entre abril de 1938 e junho de 1941, enquanto o segundo esteve à
frente do Ministério da Agricultura entre novembro de 1937 e junho de 1941, quando substituiu Adhemar de
Barros na interventoria paulista
209
Não é por acaso, portanto, que o rio São Francisco é sempre lembrado como o rio da integração nacional.
Nesse caso, comportou-se como o rio da Integração do mercado nacional de trabalho. Em artigo para o Boletim
do SIC, Honório de Silos ao procura explicar os fatores de transferência de trabalhadores baianos para São Paulo
relaciona tal processo ao Rio São Francisco: “A Bahia tem apenas 8,37 (hab/km2) e, no entanto, é o Estado que
sofre o maior desfalque. Culpa, talvez, do São Francisco que leva a Pirapora os que sonham viver melhor e se
aventuram a São Paulo”. Ver SILOS, Honório de. Sampauleiros. Boletim do SIC, no. 3, março de 1941, p. 181.
139
Tal situação pode ser evidenciada pelos quadros e afirmações abaixo, pois
demonstram o maior dinamismo da produção industrial frente à agricultura e o crescimento da
produção agrícola voltada ao abastecimento interno:
210
Ver FONSECA, Pedro Cezar Dutra da. op. cit., p. 184-185
141
QUADRO 5
TAXAS MÉDIAS DE CRESCIMENTO DA ECONOMIA
1920-1945
QUADRO 6
VALOR DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA – PRINCIPAIS CULTURAS
“ nesse período (de 1930 ao fim da II Guerra Mundial) o referencial de preços dos
produtos agrícolas ao agricultor era dado pelo mercado, exceto nos casos do café e
da cana-de-açúcar. Para compensar as flutuações desses preços. Os agricultores
desfrutavam de uma série de condições favoráveis: a possibilidade de redução de
custos operacionais, seja pela manutenção do relativo baixo nível dos salários,
devido à facilidade existentes para o constante crescimento da oferta de mão-de-
obra, seja pela não obrigatoriedade de pagamento em dinheiro dos salários, via
211
SUZIGAN, Wilson; VILELA, Aníbal V. Política do governo e crescimento da economia brasileira (1889
- 1945). Rio de Janeiro: IPEA/INPES, p. 180. Vemos nos dados acima que a participação da indústria na
economia mais que dobrou no período. A importância setorial da indústria continuaria a aumentar em virtude do
seu crescimento muito mais acelerado em comparação com a agricultura.
212
Fonte: SUZIGAN, Wilson; VILELA, Aníbal V. op. cit., p. 189-190. Todos esses produtos, embora com
redução no ínicio dos anos de 1930 tiveram, com exceção do milho e do feijão, crescimento de sua produção na
agricultura paulista. Conf. NEGRI, Barjas. op. cit., p. 74
213
HOLANDA FILHO, Sérgio Buarque de; GRAHAM, Douglas H. op. cit., p. 61
143
Talvez mais importante que tudo isso seja o fato de que não há garantias de que esses
trabalhadores atraídos, inicialmente, para o trabalho agrícola tenham permanecido no meio
rural. Aliás, é bem plausível que isso não tenha ocorrido. É possível que a experiência de
atração de trabalhadores nacionais tenha reproduzido o que ocorreu com os estrangeiros na
virada dos séculos XIX e XX, quando muitos trabalhadores após um estágio inicial em
fazendas do interior passaram, na seqüência, a dirigir-se aos centros urbanos.
Neste sentido, o trabalho de Odair da Cruz Paiva nos é bastante revelador, pois ele
demonstra que a documentação é omissa em relação aos migrantes nacionais após a sua
chegada em São Paulo. Demonstra, ainda, por uma série de entrevistas realizadas com alguns
migrantes que se empregaram na indústria Nitroquímica, localizada em São Miguel Paulista,
que boa parte dele conheceu a trajetória de primeiro se empregar em fazendas do interior para
depois se fixar em atividades industriais em São Paulo. Aliás, afirma, por meio da analise da
dinâmica populacional do Estado, que havia uma grande instabilidade na fixação do migrante
no interior paulista, o que se refletiu numa importante mobilidade da mão-de-obra e que o seu
destino, em boa parte, foram as regiões mais industrializadas do Estado, concluindo que a
dinâmica migratória do período não deve ser considerada apenas na vertente rural-rural, mas,
também, no sentido rural-urbano:
“Percebemos que algumas regiões cuja evolução percentual [da população] foi
bastante significativa – à exceção de Bauru e Araçatuba – foram aquelas mais
próximas à Capital, como a Grande São Paulo, Santos e Campinas; regiões que
tradicionalmente concentram boa parte do processo de industrialização no Estado.
A questão da mobilidade da mão-de-obra migrante inserida no campo vem reforçar
nosso argumento sobre a dinâmica do processo migratório que, em nosso ponto de
vista, tinha dois aspectos interrelacionados: num primeiro momento ele porta uma
dinâmica rural-rural e em seguida, na saturação ou na inviabilidade da
continuidade no campo, estes trabalhadores migram para a cidade”215.
Outro elemento, a ser considerado nessa mesma direção, é ao aumento populacional
significativo da Cidade de São Paulo, que passou de 570.000 habitantes em 1920, para
887.000 em 1930, 1.347.000 em 1940 e 2.227.560 em 1950. E na própria cidade de São Paulo
é bastante significativo observar que o crescimento populacional explosivo de bairros e
distritos até hoje identificados como local de estabelecimentos de migrantes, tais como São
Miguel Paulista, Guaianases, Santo Amaro, Tucuruvi, Freguesia do Ó, Casa Verde. A
214
DULLEY, Richard Domingues. op. cit. P. 79
215
PAIVA, Odair da Cruz. Caminhos cruzados...op. cit., p.149/150
144
população dessas áreas cresceu entre 150% e 450% no período situado entre 1940 e 1950,
sendo que os crescimentos mais expressivos, ocorreram em São Miguel Paulista, à época um
distrito do Município de São Paulo, e na Casa Verde.
Assim, podemos concluir que boa parte da população migrante, embora tenha
adentrado ao Estado para o trabalho agrícola, deslocou-se em seqüência para os centros
urbanos, principalmente São Paulo, engrossando o contingente de trabalhadores urbanos.
Sabemos, também, que a maior oferta de trabalhadores no mercado de trabalho urbano é um
fator decisivo para a diminuição da taxa de salários pagos na indústria, o que contribui
decisivamente para acelerar o seu processo de acumulação.
216
PAIVA, Odair da Cruz. Caminhos cruzados...op. cit., p. 247.
145
217
Ver FURTADO, Celso. op. cit. cap. XXX
218
Esse processo não ocorreu na economia da borracha em virtude da utilização do transporte fluvial e,
principalmente, pelo aviamento como forma dominante das relações de produção, o que implicou na
permanência da dependência pessoal entre os seringueiros e os seus agenciadores, inibindo, portanto, o
desenvolvimento de relações de características mais marcantemente capitalistas e a construção de um mercado
de maiores proporções.
219
Ver SILVA, Sérgio. op. cit. cap. 3
220
Ver CANO, Wilson. op. cit., p. 62-63 e NEGRI, Barjas. op. cit. p. 34
147
Assim foi, objetivamente, no período que nos ocupa que a necessidade de integração
do mercado nacional, inclusive o de trabalho, respondeu pelos processos de avanço da
fronteira econômica, conduzindo a novas formas de integração num espaço econômico muito
mais amplo, de características nacionais. As constantes afirmações de Vargas, ressaltando a
necessidade de superação do “arquipélago econômico” brasileiro, constituem-se como uma de
suas mais importantes evidências.
221
Embora tenha utilizado trabalhadores nacionais, esses foram numericamente inferiores aos estrangeiros
durante todo o período em que ela se comportou como a economia mais dinâmica do país, tal quadro somente
começou a se alterar em finais da década de 1920. Ver CANO, Wilson. op. cit., p. 49 e PAIVA, Odair da Cruz.
Brasileiros...op.cit., p.16
222
VARGAS, Getúlio. Discurso proferido em 18 de novembro de 1938. Diretrizes...op. cit., p. 131-132.
223
VARGAS, Getúlio. Diretrizes.. op. cit.; p. 282-283 e 299. Entrevista concedida à imprensa em 10 de
novembro de 1939.
148
Coloniais. Após a criação dos Núcleos Coloniais Boa Vista, Conde de Parnaíba , Martinho
Prado Jr. e Visconde de Indaiatuba (todos localizados em regiões de tradicional produção
cafeeira), em 1911, se estabeleceu na Secretaria da Agricultura paulista um debate a respeito
da real conveniência de se manter a criação de Núcleos Coloniais no Estado224. Ao mesmo
tempo, dizia-se que a criação de novos núcleos coloniais deveria ficar a cargo da iniciativa
privada, com o Estado afastando-se ou reduzindo, em muito, a sua participação nesse
processo.
224
PAIVA, Odair da Cruz. Colonização...op. cit., p. 49 e COSTA, Julio César Zorzenon. Política colonizadora,
industrialização e desenvolvimento regional e o Núcleo Colonial Barão de Antonina. . Universidade de São
Paulo: FFLCH (Dissertação de Mestrado em História Econômica), 2000, p. 6-8.
225
Dos Núcleos Coloniais citados, somente o Núcleo Colonial Barão de Antonina atingiu em seu processo de
efetivação as característica próprias de um Núcleo Colonial, a instalação dos outros não prosperou, ou foram
abandonados, com é o caso do Núcleo Colonial Carlos de Campos, que não consta da relação oficial da
Secretaria (ver Anexos), ou não evoluíram no sentido de se configurar como um Núcleo Colonial, podendo ser
mais bem classificados como áreas de colonização, que possuem uma infra-estrutura material e humana mais
simples.
226
Ver GADELHA, Regina Maria D’ Aquino Fonseca. op. cit., p. 134
227
Ver MONBEIG, Pierre. Pioneiros e fazendeiros de São Paulo. 2 ed. São Paulo: Polis/Hucitec, 1994, p. 161
e FERLINI, Vera Lúcia Amaral; FILLIPINI, Elizabeth. Os núcleos coloniais em perspectiva historiográfica.
In: Revista Brasileira de História, São Paulo: Marco Zero, nos. 25/26, 1993, p. 121.
149
Podemos inferir com isso, que houve, no período que nos ocupa, uma reorientação e
uma evidente definição a respeito do papel da colonização. Essa nova orientação se expressou
por meio de uma espécie de “divisão do trabalho colonizador”. As áreas que pudessem ser
inseridas de maneira “espontânea” nos circuitos econômicos, seguindo dinâmica própria do
capital privado, e que conseguissem atrair um contingente de trabalhadores e/ou pequenos
proprietários já “disciplinados” para uma produção agrícola de excedentes, poderiam, e
deveriam, ser objetos de uma colonização privada. As áreas consideradas adormecidas e não
interessantes à inversão privada de capitais, e para as quais seriam dirigidos os trabalhadores
menos disciplinados para uma produção para o mercado, deveriam ficar a cargo de programas
oficiais de colonização. Por isso, a colonização oficial, durante o período, foi se tornando,
paulatinamente, resultado de propostas e ações planificadas, com alto grau de controle sobre
os colonos, processo esse que chegará ao seu auge com a criação das Colônias Agrícolas
Nacionais, em 1943.
O novo papel assumido pela colonização baseada na pequena produção agrícola pôde
se vincular ao novo tipo de desenvolvimento que se procurava implementar no país, já que o
desenvolvimento industrial, estimulado endogenamente, passou a necessitar de ampliações
constantes do mercado interno. Na medida do possível, as mais diferentes regiões deveriam
ser introduzidas no processo econômico. Era necessário, portanto, integrar aos circuitos do
228
CAMARGO, Aspásia Alcântara. A Questão agrária: crise de poder e reformas de base (1930-1964). In:
FAUSTO, Boris (org.). História geral da civilização brasileira. Rio de Janeiro: Difel, 1981, p. 134.
150
229
CORSI, Francisco Luiz. Política econômica e nacionalismo no Estado Novo. In: SUZIGAN, Wilson;
SZMRECSÁNYI, Tamás (orgs.). História econômica do Brasil contemporâneo. 2 ed rev. São Paulo:
Hucitec/ABPHE/Edusp/Imprensa Oficial, 2002. p, 6.
230
VARGAS, Getulio. Diretrizes...op. cit., p, 285
151
231
MONBEIG, Pierre. op. cit., p, 214.
232
O Norte do Paraná já havia sido resultado de ocupação pelo avanço das frentes pioneiras do café, na década
de 1920, principalmente em sua parte Leste. Ocupação baseada na grande propriedade cafeicultora. Não é desta
que se procura tratar no trabalho. Este procura enfocar a região que ficou conhecida como “Novo Norte”, melhor
identificado pelo desenvolvimento de municípios hoje bastante importantes como Londrina e Maringá, que se
caracterizaram, em suas origens, pelo estabelecimento de pequenas e médias propriedades, produtoras de café.
233
MONBEIG, Pierre. Op. cit. P, 207
152
A organização das propriedades, tanto no que diz respeito à sua localização e à sua
aquisição pelos colonos, quanto ao sistema produtivo, que envolvia a constituição de redes de
produção, distribuição, circulação e consumo, demonstra a existência de uma planificação do
processo de ocupação demográfica e produtiva da região.
A venda dos lotes foi financiada. Para garantir o pagamento das prestações, o colono
recebia orientação e acompanhamento técnico durante as primeiras plantações. Os lotes eram
interligados por meio de estradas de rodagem que também procuravam ligá-los aos
patrimônios235 e às cidades menores que distavam não mais do que 18 km uns dos outros.
Esses, por sua vez, interligavam-se a centros urbanos maiores, que foram planejados como
pólos regionais, e estavam situados a uma distância aproximada de 100 km. Tais pólos teriam
fácil acesso ao transporte ferroviário e seriam servidos de estradas que os ligariam
diretamente ao Estado de São Paulo e, daí, com a capital paulista 236.
“Graças a essa rede, que era excepcional não só pela densidade, mas também pela
quantidade, não existe um lote sequer que não tenha articulação por um bom
caminho e não há um só colono muito afastado de um centro comercial. [...] O
sistema rodoviário do Norte do Paraná foi concebido de maneira a facilitar as
relações entre os sítios e as cidades e do campo com as casas de comércio e as
estações ferroviárias. Sua amplitude e sua qualidade são um bom exemplo de ação
dos loteadores para proteger o pioneiro contra o isolamento e para amparar a
economia totalmente orientada para o comércio” 237.
O tamanho das propriedades variava de acordo com a proximidade dos patrimônios ou
das cidades. As mais próximas, voltadas a atender o mercado local tinham extensão de
aproximadamente três alqueires. As mais distantes, que produziam para o mercado paulista ou
para a exportação, embora pudessem variar de tamanho, tinham, em média 20 alqueires238.
234
Para tal, ver: AUGUSTO, Maria Helena Oliva. Intervencionismo estatal e ideologia desenvolvimentista.
São Paulo: Símbolo, 1977, pp. 36 a 40 e JARRETA, Maria Helena. Contribuição para a análise de um espaço
norte paranaense: a área colonizada pela Companhia de Terras do Norte do Paraná. São Paulo:
Associação dos Geógrafos Brasileiros (Anais do 4o. Congresso da AGB), julho de 1984, pp. 83 a 93
235
Segundo Ana Maria Chiarotti de Almeida, os patrimônios “são pequenos núcleos populacionais planejados e
implantados pela CTNP, onde se localizavam a igreja, a escola, o salão de festas, o campo de futebol, o campo
de bocha, a escola, a venda e a máquina de beneficiamento de cereais. Circundados pelos sítios, além de
constituírem espaços para as atividades lúdico-religiosas dos habitantes rurais, cumpriam a função de
intermediar as relações sócio-econômicas entre campo e cidade”. Ver ALMEIDA, Ana Maria Chiarotti de. A
morada do vale, sociabilidade e representações: um estudo sobre as famílias pioneiras do Heimtal.
Londrina: Editora UEL, 1997, p. 43.
236
ALMEIDA, Ana Maria Chiarotti de. op cit., p. 94.
237
MONBEIG, Pierre, p. 232
238
ALMEIDA, Ana Maria Chiarotti de. op. cit., p. 95.
153
A opção pela pequena propriedade é normalmente explicada pelo fato de que esse era
o melhor meio de se garantir o rápido povoamento e o suprimento de mão-de-obra, uma vez
que se acreditava que as condições econômicas do período, marcadas pela forte crise,
impediam que os mesmos fossem alcançados pelo regime de grandes propriedades. Também,
pelo interesse de se estabelecer uma atividade econômica regional com alto grau de
dinamismo próprio, que possibilitasse o consumo de mercadorias e serviços oferecidos por
empresas criadas pela própria companhia colonizadora, como é o caso das já citadas
companhias: a usina hidrelétrica e a fábrica de cimento. Mas, é importante destacarmos o que
afirma Maria Helena Oliva Augusto:
“O café alcançou o Paraná num momento em que já não se encontrava nele a base
da acumulação capitalista no Brasil; entretanto, persistia na cafeicultura uma fonte
de recursos essencial para a capitalização de um outro setor – o industrial – que
havia assumido a dominância. [...] No momento em que se intensifica no estado (do
Paraná) a cafeicultura, ao setor exportador – apoiado no café – ainda cabia
importante função no sentido de propiciar divisas para a industrialização que se
expandia” 241.
239
a passagem citada é de MARTINS, José de Souza. Frente pioneira: contribuição para uma caracterização
sociológica. Estudos Históricos, no. 10. Departamento de Educação, Faculdade de Filosofia Ciências e Letras
de Marília, 1971.
240
AUGUSTO, Maria Helena Oliva. op. cit., p. 38-39.
241
AUGUSTO, Maria Helena Oliva. op. cit., op. cit., p. 39.
154
242
AUGUSTO, Maria Helena Oliva e JARRETA, Maria Helena, op. cit. 34
243
GRAHAM, Douglas. Algumas considerações econômicas para a política migratória no meio brasileiro.
In: Migrações internas no Brasil. Rio de Janeiro: IPEA/INPES, Monografia no. 5, 1971, p, 23 - 25.
244
GRAHAM, Douglas. op. cit., p. 23
155
Não se pense, contudo, que as razões para esse explosivo processo de transformação
capitalista e de crescimento econômico, bem como o aparente sucesso na atividade
colonizadora reside no simples fato de que essa experiência originou-se de uma iniciativa
privada. Essas se encontram, sobretudo, no fato de que a iniciativa privada pôde incorporar
um processo que já se encontrava em curso pela própria dinâmica do desenvolvimento
capitalista. Não se tratou de um empreendimento privado com objetivo de introduzir a região
nos processos de desenvolvimento, mas o seu contrário, o de capturar para o capital uma
oportunidade de inversão em atividades imobiliárias, agrícolas e comerciais de uma região
que se tornava atraente para o investimento privado e que seguia os influxos da economia
dominante no período, a paulista. Era uma área que se anexava ao processo de expansão
paulista que, naquele momento, já era marcado pelo desenvolvimento industrial. Foi
incorporada como área subordinada, mas integrante do desenvolvimento econômico que se
processava de maneira centralizada em São Paulo.
A justificativa oficial para a venda de terras do Norte do Paraná à CTNP foi o objetivo
de se evitar a posse ilegal das terras. Entretanto, a CTNP não encontrou a terra tão vazia como
se afirmava, ela era, embora pouco densamente, ocupada, por posseiros, safristas e por
população indígenas. Personagens esses que impuseram alguns problemas que tiveram, de
uma maneira ou outra, que ser resolvidos para não impedirem o desenvolvimento da atividade
colonizadora..
245
ALMEIDA, Ana Maria Chiarotti de. op. cit., p. 22
246
AUGUSTO, Maria Helena Oliva. op. cit., p. 40
156
247
ALMEIDA, Ana Maria Chiarotti de. op. cit., p. 25 e 26
157
Estado, as autoridades políticas e econômicas sempre aludiam ao fato de que a maior parte do
excedente econômico norte paranaense era desviado e apropriado pela economia e pelos
grupos empresariais paulistas. Tratava-se, segundo essas autoridades, de mudar o sentido
dessa integração econômica, fazendo com que a economia do norte do Estado viesse a
“beneficiar” a economia paranaense248. Nessa avaliação, o Norte do Paraná era entendido
como uma região periférica ao desenvolvimento econômico paulista.
Mas, é importante, nesse aspecto, ressaltar, ainda, de acordo com Maria Helena Oliva
Augusto, para além de uma incorporação periférica, puramente espacial, é preciso reconhecer
que o caráter subordinado da economia norte paranaense aos influxos econômicos paulistas
representou a sua incorporação por uma atividade econômica agrícola e por os pequenos
proprietários que estavam se subordinando ao processo de acumulação industrial, que tinha
São Paulo como seu centro dinâmico.
248
Ver AUGUSTO, Maria Helena Oliva. op. cit., p. 42.
249
GRAHAM, Douglas; HOLANDA Filho. op. cit., p. 72.
158
tornado um modelo a ser perseguido, numa vertente oficial, na colonização de outras áreas do
território nacional.
Esse papel reservado ao Estado como elemento dinamizador do interior brasileiro fica
evidenciado na afirmação expressa em um artigo do Professor João Villas-Boas, publicado na
Revista Ciência Política:
“Que representa, porém todo esse esforço progressista, limitado a tão minguados
recursos financeiros, diante da vastidão do Estado e das distâncias consideráveis
que medeiam entre os agrupamentos de população reduzida.
Como a grande maioria dos Estados brasileiros, Mato-Grosso não pode atender às
necessidades dos seus habitantes, nem promover o próprio desenvolvimento com a
exploração das suas fabulosas riquezas naturais, utilizando-se apenas dos seus
exíguos recursos orçamentários.
Só a União poderá fazê-lo. E é o que já está fazendo, desde o momento em que o Sr.
Presidente da República, numa visão superior dos mais vitais interesses do Brasil,
traçou o programa de realizações práticas, que sintetizou na fórmula – “Marcha
para o Oeste”250 .
Como veremos esse processo não apresentou os mesmos resultados da atividade
colonizadora empreendida no Norte do Paraná, pois a incorporação da região não conheceu a
mesma velocidade e não alcançou os objetivos que, segundo João Vilas-Boas, no mesmo
artigo, haviam sido anunciados por Vargas:
250
VILLAS-BOAS, João. O sertão e a política construtiva do presidente Getulio Vargas. In: Revista Ciência
Política. Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Ciência Política/DIP, no. 5, 1941, p.26.
159
Tal situação teria sido amenizada pela ação posterior do governo imperial em fortificar
a região; mas, apesar da aparente segurança da região possibilitada pela presença militar, a
situação econômica do Norte Mato-grossense permaneceu em estado de letargia: “Toda a
região do Norte e do Centro do Estado definha”. Tal situação contrastava com a pujança do
sul do Estado que se beneficiou de seu contato econômico com São Paulo durante as duas
primeiras décadas do século XX: “Em contraposição o Sul entra numa fase de franca
prosperidade. O intercâmbio com o Estado de São Paulo, facilitado pela Noroeste, atrai para
ali uma população heterogênea de comerciantes, agricultores, artesões e aventureiros de
toda a casta” 252.
Segundo esse mesmo autor, o surto desenvolvimentista no Sul do Mato Grosso, havia
possibilitado inclusive um aumento da segurança na fronteira paraguaia, às custas, no entanto,
de um maior descuido com a segurança na fronteira boliviana253. Esse breve surto econômico
e povoador do Sul, todavia, refluiu no período coincidente com o termino da primeira Grande
251
Discurso de Vargas no dia primeiro de maio de 1941. Citado por VILLAS-BOAS, João. Idem, p. 28.
252
VILLAS-BOAS, João. op. cit., p. 23
253
É interessante observar que a região fronteiriça com a Bolívia havia sido o local de exílio de uma parte
significativa de combatentes da Antiga Coluna Miguel Costa - Prestes.
160
Guerra, fazendo com que todo o Estado entrasse novamente “no ritmo monótono da sua vida
regular”254. Assim, na conclusão do referido autor, a defesa militar não seria suficiente para
assegurar a presença do Estado no território Nacional; era necessário, pois, cuidar de sua
defesa econômica.
Ainda segundo o autor, isto só começara a ocorrer com a ascensão de Vargas, que teria
alcançado o mérito de superar os “golpes profundos de retardamento, em conseqüência das
lutas partidárias,... [que] perturbavam o comércio, sacrificavam indústrias, arrasavam
propriedades e despovoavam cidades” 255. A ação do governo teria começado com um plano
de transportes para a região e teria sido coroada, logo após a chegada do Estado Novo, com o
estabelecimento de um importante plano povoador e colonizador baseado em pequenas
propriedades256.
Percebe-se, por meio da avaliação acima resumida, que a colonização oficial no Oeste
brasileiro inscrevia-se numa preocupação relativa à segurança nacional e à possibilidade de
enfrentamento dos riscos de desmembramento dessa região do território brasileiro. Tais
riscos, contudo, só seriam verdadeiramente solucionados se a referida região se integrasse de
forma mais efetiva à atividade econômica nacional. A colonização baseada na pequena
propriedade seria o fator que asseguraria a manutenção dessa parte do território, superando os
custos e a ineficiência de uma defesa apenas militar.Infere-se que a colonização não teria
apenas o efeito de assegurar a manutenção de parte significativa, de aproximadamente 1/5 do
território brasileiro, mas seria elemento fundamental para o desenvolvimento do mercado
interno nacional e para a exploração de sua riqueza natural, o que serviria de alavanca para o
desenvolvimento industrial, fim real de toda ação integradora da região.
O autor inicia, este artigo, criticando o liberalismo como doutrina elaborada pelos
países centrais, para justificar a sua expansão imperialista e como elemento de sustentação de
254
VILLAS-BOAS, João. op. cit.,, p. 24
255
VILLAS-BOAS, João. op. cit.,, p. 24
256
VILLAS-BOAS, João. op. cit.,, p. 29
161
uma Democracia fictícia e formal, que havia se instalado no Brasil, no período anterior a
1930. Em seguida defende o regime instaurado no pós 1930, principalmente com a instalação
do Estado Novo, como uma Democracia realista e funcional.
Seguindo esse percurso, o autor afirma que esse regime e o seu chefe se
caracterizavam por expressar um verdadeiro nacionalismo, cuja meta era superar a ação da
finança internacional que impedia o alcance de “soluções dos problemas sociais que, por sua
vez, só podem ter soluções nacionais condicionadas às particularidades geográficas, étnicas,
257
históricas econômicas de cada povo” . Segundo o autor, a única solução possível
encontrava-se “na defesa autárquica das nações, consultando, não os desígnios desumanos
da finança internacional, mas os interesses legitimamente brasileiros” 258.
257
MENEZES, Djacir. O nacionalismo político no pensamento do Presidente Vargas. In: Revista Ciência
Política. Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Ciência Política/DIP, no. 5, 1941 p. 63
258
MENEZES, Djacir. op. cit.,, p. 64
259
MENEZES, Djacir. op. cit., p. 65
260
MENEZES, Djacir. op. cit., p. 65
261
MENEZES, Djacir. op. cit., p.66
162
“O velho chavão, que o acacianismo nacional repercutiu para nos convencer de que
o “Brasil é um país essencialmente agrícola”, foi forjado pelas nações
industrializadas, que estavam interessadas no nosso agrarismo eterno. Elas
exportaram para nós seus artigos maquinofaturados e levaram nossa matéria
prima, beneficiando-se, ainda por cima, com o mecanismo parasitário de uma
política de padrão ouro desangradora da nossa economia. Ainda nos escravisaram
habilmente a teorias que exprimem interesses alheios e não os nossos. A título de
ciência, se impuzeram doutrinas contrárias aos interesses nacionais, realejados nas
escolas superiores, onde formaram elites afeitas às sutilezas da especulação
juriforme, mas alheias, frequentemente, à gravidade dos problemas econômicos,
encarados com a facilidade literária da oratória parlamentar”262.
262
MENEZES, Djacir. op. cit., p. 66
163
263
BRANCO, R. P. Castelo. A unidade brasileira e suas causas determinantes. In: Revista Cultura Política.
Rio de Janeiro: DIP, abril de 1941, ano 1, no. 2 p. 90.
264
LENHARO, Alcir. A conquista do corpo geográfico... op. cit. , p. 97
164
“Mas, antes que o progresso técnico se irradiasse por todo o território, o Brasil
continuaria marcado por uma profunda heterogeneidade, expressa na existência do
que Vargas denominou de “regiões geo-economicas”. Até o dia em que o Brasil
pudesse finalmente constituir “um corpo econômico homogêneo”, O Estado deveria
ajustar suas prioridades segundo as características de cada região, tal como segue:
“no centro, a carência de transportes, o aproveitamento das vias fluviais, os meios
de acesso às riquezas do sub-solo, serão as prioridades dominantes, conjugadas
com os esforços para acelerar o povoamento. No Norte, o reagrupamento das
populações, o combate às endemias, a valorização e industrialização dos produtos
nativos, com a melhoria das comunicações e transportes, constituirão núcleo do
esforço geral da União, dos Estados e Municipalidades. No Nordeste, onde já são
vultosas inversões de dinheiro publico em obras de fixação da população, é preciso
prosseguir nos rumos traçados – açudagem, irrigação, estradas e policultura. No
sul, onde se acham localizadas as maiores lavouras e cerca de 80% das indústrias,
persistiremos na obra encetada, de apoio aos empreendimentos produtivos” 266.
Nesse sentido, o processo de integração econômica do Oeste serviria como base de
apoio para o desenvolvimento industrial paulista, mesmo que se cogitasse, no futuro, uma
possível desconcentração dessa atividade. Tal consideração pode ser pertinente, se atentarmos
que ela reflete uma postura bastante presente na concepção de mundo e de sociedade,
influenciada, entre outras tendências, pelo Positivismo que impregnava Vargas, ou seja, a
idéia de que todo processo deve seguir etapas bem definidas.
265
DINIZ FILHO, Luís Lopes. op. cit., p. 91.
266
DINIZ FILHO, Luís Lopes. op. cit.,, p. 91.
165
A relação com o ocorrido nos Estados Unidos, no século XIX, é bastante interessante e
realmente apresenta razoáveis similitudes com o que se pretendia alcançar no Brasil,
ressalvando, evidentemente, que lá o avanço das fronteiras econômicas rumo ao oeste serviu,
de acordo com a tradicional tese de Turner269, como fator legitimador da democracia liberal e
aqui, ao contrário, era utilizado para justificar e legitimar o regime autoritário270.
267
LENHARO, Alcir. op. cit., p. 98
268
PAIVA, Odair da Cruz. Colonização....op.cit., p. 34
269
Ver VELHO, Otavio Guilherme. Capitalismo autoritário e campesinato. São Paulo: Difel, 1976, cap. 1.
270
VELHO, Otavio Guilherme. op. cit., cap. 1.. Ver também: RICARDO, Cassiano. Marcha para o Oeste. 4 ed.
Rio de janeiro: José Olympio, 1970 e LENHARO, Alcir. Sacralização da Política. Campinas: Papirus, 1986
166
Pode-se argumentar que uma intervenção na estrutura fundiária era algo que fugia às
possibilidades do período, pois corresponderia a uma espécie de suicídio político, na medida
em que, com tal atitude, o governo desencadearia fortes pressões dos grupos dominantes do
271
MOORE, Barrington. Origens sociais da ditadura e da democracia. São Paulo: Matins Fontes, 1983,
p.116-119.
272
Ver citação na página 152 desta tese. Mesmo esses esforços eram considerados insuficientes por autoridades
locais como fator de fixação populacional. Odair da Cruz Paiva apresenta, em seu trabalho, uma série de
telegramas enviados por prefeitos nordestinos reclamando da demora em se concluir obras de combate à seca.
Nesses telegramas, os prefeitos são enfáticos em afirmar que a não realização de tais obras acarretava como
conseqüência a fuga de população e a formação de um enorme contingente de retirantes.
167
Nordeste, num momento em que precisava constituir bases de apoio. Essa questão, contudo,
explicita o fato de que a política migratória, que foi se elaborando, apresentava um caráter
refinado no que se refere à idéia de política como administração de conflitos e interesses, com
o propósito de alcançar objetivos definidos.
“Enquanto o sul, com a imigração intensiva, enveredava por estradas novas em sua
civilização [...] o norte se conservava fiel ao bloco original [...] no Setentrião todos
os elementos culturais gravitaram em torno de Salvador e Recife cuja influencia se
irradiava avassaladora, favorecendo a unidade espiritual, ao contrário do sul. [...]
Isolado do contato externo, exceção feita da influência espiritual francesa, recebida
mais ou menos indiretamente, o nortista elaborou uma mentalidade muito mais
nativista e una.
Deste modo, segregado de qualquer corrente migratória ponderável, isento de
fatores estranhos que perturbassem a elaboração de sua sólida unidade e
conservando, na formação racial, unicamente os elementos primitivos, o nortista é,
em geral, um brasileiro de várias gerações, por todos os costados, radicalmente
nativista [...]. E graças a isto, cabe sem dúvida, a ele, ou mais precisamente, ao
nordestino, o grande papel de guardião da unidade brasileira
[...] Animados desta extraordinária força centrífuga, os nordestinos desempenham,
modernamente, o papel que os bandeirantes desempenharam no passado, em
relação à unidade nacional, espalhados pelo Brasil como uma teia defensora contra
168
273
BRANCO, R. P. Castelo. Imigração e nacionalismo. In: Cultura Política. Rio de Janeiro: DIP, Ano II, no.
15, maio de 1942, p. 28 -30.
274
VARGAS, Getúlio. A nova política do Brasil...op. cit., vol. 1, p. 28.
169
275
A colonização oficial em São Paulo e o Núcleo Colonial Barão de Antonina. Boletim do SIC. São Paulo,
no. 2, outubro de 1940, p. 13
276
A colonização oficial em São Paulo e o Núcleo Colonial Barão de Antonina. Boletim do SIC. São Paulo,
outubro de 1940, p. 16
277
Nome de um filme a respeito do NCBA, produzido pelo DPDC (Departamento de Produção e Difusão
Cultural), antecessor do DIP, em 1938.
278
PAIVA, Odair da Cruz. Colonização...op. cit., p. 79-80.
171
QUADRO 7
PREÇO MÉDIO DO ALGODÃO – Bruto por Arroba em Cr$
Ano Preço Médio por Preço Médio por Proporção do Preço Médio por Arroba do NCBA
Arroba – NCBA Arroba - Est. de em relação ao Preço Médio por Arroba do estado
(1) S. Paulo (2) de S. Paulo.
279
Ver COSTA, Julio César Zorzenon. op. cit., p. 140-141.
172
O Decreto-Lei 2.009, por sua vez, reitera princípios formulados nos instrumentos
legais, acerca da colonização e da assimilação dos estrangeiros, instaurados em 1938. Além
de reforçar o direito de inspeção, pelo governo federal, de qualquer núcleo colonial, seja ele
privado ou oficial, explicita as condições para a localização dos núcleos, para a sua
organização produtiva e administrativa e também para a aquisição dos lotes e para a
concessão de favores aos colonos. Em relação a esse último aspecto, reafirma o Decreto
3.010 de 20 de agosto de 1938, ao dispor que “serão cassados os favores estabelecidos neste
decreto aos colonos, que nos núcleos coloniais transgredirem ou deixarem de cumprir” as
suas disposições. O Decreto 3.010 é o que regulamenta o Decreto-Lei 406 de 04 de maio de
1938, que versa sobre a entrada de estrangeiros no Brasil. O Decreto 3.010, entre as suas
várias disposições, apresenta um de seus títulos voltado à questão da concentração dos
estrangeiros e de sua assimilação.
Nesta parte o texto dispunha, no artigo 165, que nenhum núcleo colonial poderia ser
constituído por estrangeiros de uma só nacionalidade; que o Governo Federal, por meio da
DTC, fiscalizaria os núcleos coloniais estaduais, municipais e, até mesmo particulares; que
essa fiscalização seria exercida com o objetivo de impedir a criação de núcleos coloniais com
estrangeiros de uma só nacionalidade, de evitar que neles ocorresse a preponderância ou
concentração de estrangeiros de uma nacionalidade e de evitar, ainda, que os colonos
estrangeiros deixassem, nos primeiros quatro anos, a profissão com a qual foram admitidos no
país. Previa, em seu artigo 166, que em qualquer núcleo colonial fosse mantido um mínimo de
30 % de brasileiros natos e um máximo de 25 % de estrangeiros de cada nacionalidade; que
280
O Decreto-Lei de criação das CANs faz várias referencias ao Decreto-Lei que dá nova organização aos
núcleos coloniais, tais como em seu primeiro artigo, indicando as CANs como uma outra possibilidade de
colonização e no artigo 16 que trata sobre os lotes urbanos e rurais. Os artigos que tratam das condições para a
criação das colônias, das áreas dos lotes, das benfeitorias, dos auxílios aos colonos, bem como dos fatores que
poderiam levar à sua reclusão reproduzem, de forma praticamente literal, os artigos do Decreto-Lei anterior.
173
Para esse fim, a criação das CANs incorporava, indubitavelmente, elementos presentes
nos instrumentos legais, que forjavam uma política relativa aos problemas migratórios, e nas
experiências colonizadoras coevas, tanto as de caráter privado, como oficial. Das colônias
oficiais, incorporava a centralização e a hierarquização burocrática, o controle administrativo
sobre os colonos, a produção em pequenas propriedades dirigidas ao abastecimento industrial
e urbano e a preocupação com a nacionalização da iniciativa. Questões como as referidas,
principalmente as três primeiras, em certa medida, encontravam-se presentes também nas
iniciativas particulares. Mas, destas, principalmente da que ocorria no Norte do Paraná, a
criação das CANs incorporou a preocupação com a formação de um grande complexo
colonizador voltado a transformar-se num espaço irradiador de desenvolvimento preenchendo
o vazio demográfico.
174
“[as CANs foram armadas como] “um rosário de colônias”, pontos avançados de
penetração, impulsionadores da “Marcha para o Oeste” e de conquista da
Amazônia. Do modo como foram planejadas, as colônias funcionariam como
cidades-indústrias lançadas no vazio. [...]A criação das colônias agrícolas
nacionais constitui um momento de uma escalada da política colonizadora, que
começou a ser pensada após a famosa proclamação da “marcha para o Oeste” 281”
Daí o caráter estratégico de sua localização e a preocupação em alcançar,
efetivamente, a conversão dos colonos a um novo tipo de relações sociais. Dentre as CANs
projetadas, pelo menos duas, as de Dourados, em Mato Grosso282, e a de Goiaz283, em Goiás,
“teriam o mercado paulista em mira”284. As outras, do Pará, Amazonas, Maranhão, Piauí e
Paraná visavam, mais diretamente incentivar o desenvolvimento local e regional, vinculando-
se aos mercados mais próximos, como os das capitais dos estados. Mesmo nessas CANs, no
entanto, a preocupação com a nova ordem capitalista em curso encontrava-se expressa no fato
de que o artigo 5 do Decreto-Lei dispunha o seguinte:
“Fixada a região onde a colônia deverá ser fundada, será projetada a sua futura
sede, escolhendo-se para isso a zona que oferecer melhores condições.
Parágrafo único. No projeto da sede serão observadas todas as regras urbanísticas,
visando a criação de um futura núcleo de civilização no interior do país”.
Dessa maneira, é lícito inferir que se os objetivos em relação às sedes das CANs eram
transformá-las em postos avançados de civilização e modernização no interior do país, isso
objetivaria, também, a transformação das mesmas em centros consumidores de mercadorias
industriais. Por isso, mesmo vinculando-se mais diretamente a uma economia regional, as
outras CANs, que não a do Mato Grosso e a de Goiás, também procuravam transformar o
interior do país em centros consumidores de mercadorias produzidas nas regiões
industrialmente mais dinâmicas do pais.
281
LENHARO, Alcir. A conquista do corpo geográfico...op.cit., p. 125.
282
A CAN de Dourados, criada pelo Decreto-lei 5941 de 28 de outubro de 1943, havia sido instalada, em
realidade, no recém criado Território Federal de Ponta-Porã. Tal território, criado juntamente com outros, pelo
Decreto-lei 5812 de 13 de setembro de 1943, tinha por objetivo garantir maior controle federal sobre as áreas de
fronteira. Isto mostra a relação existente entre colonização e garantia da segurança e da integridade territorial,
uma vez que a CAN de Dourados não deveria ter uma área inferior a 300.000 hectares. Tal território, entretanto,
teve existência efêmera, deixou de existir com a constituição de 1946.
283
A CAN goiana foi criada pelo Decreto no. 6.882 de 19 de fevereiro de 1941, no município de Goiaz.
Entretanto, tal CAN deu origem ao Município de Ceres.
284
LENHARO, Alcir. A conquista do corpo geográfico...op.cit., p. 122.
175
Por outro lado, estavam previstas em todas as CANs uma série de medidas destinadas
a amparar os colonos. Medidas essas que demonstram o esforço de padronização das relações
sociais e da atividade produtiva no interior das CANs. O artigo 6 em seu Decreto-Lei de
criação (3059/41) previa “a fundação de um aprendizado agrícola destinado a ministrar aos
filhos dos colonos instrução rural adequada, dotado de oficinas para trabalhos de ferro,
madeira, couro, etc., onde os colonos e seus filhos farão aprendizagem desses misteres
necessários ao homem rural”.
285
Este parece ser o caso das colônias do Pará e do Paraná, visto que a primeira se instalou em um local onde já
existia uma ocupação previa um pouco mais numerosa e a segunda onde haveria uma colônia militar de defesa
das fronteiras. No caso das colônias de Mato Grosso e Goiás, não há indicações de que no local haveria, nem
proximamente, o numero de famílias que as colônias procuravam atender, ou seja cerca de cinco mil. Devemos
lembrar que Dourados, quando foi transformado em Município, em 1935 tinha uma população de menos de
176
Assim, o artigo 24 determinava que fosse excluído do lote o colono que deixasse de
“cultivá-lo dentro dos prazos estabelecidos para cada colônia, salvo motivo de força maior,
devidamente comprovado, a juízo da administração da colônia”. Além disso, previa a
exclusão se o colono desvalorizasse “o lote, explorando matas sem o imediato aproveitamento
agrícola do solo e o respectivo reflorestamento, em desacordo com o plano previamente
aprovado” e se “por sua má conduta tornar-se elemento de perturbação para a colônia”.
Segundo Lenharo - citando o sr. José de Oliveira Marques, no seu relatório de visita
às colônias encaminhado ao Ministro da Agricultura - o conceito de má conduta incluía um
espectro razoavelmente amplo que iria desde a rebeldia da mentalidade nômade, avessa à
“disciplina aos hábitos de sedentaridade que a agricultura exige”, ao consumo de bebidas
alcoólicas. Em relação a esse fato, Lenharo observa que os estabelecimentos comerciais
possuíam licença para funcionamento em caráter precário e só poderiam funcionar até às 18
horas.
Pelo exposto, podemos observar que com a criação das CANs, O Estado objetivava
integrar as regiões onde elas se instalariam no esforço de formação de um mercado interno de
características nacionais. Para tal, além de planificar a sua localização numa perspectiva de
irradiação do desenvolvimento era necessário, em conjunto, forjar o elemento humano
viabilizador dessa empreitada. Daí, a preocupação em privilegiar o trabalhador nacional
“cidadãos brasileiros reconhecidamente pobres”, que seriam aqueles que se disporiam,
efetivamente, a migrar para uma nova área de avanço da fronteira, de pequeno interesse
econômico num primeiro momento.
Para tal, seria necessário também que se mantivessem abertos os fatores de oferta
desse trabalhador; daí decorre a manutenção dos fatores de repulsão no Nordeste brasileiro
por meio da estratégia de convivência da pequena propriedade com o latifúndio. Tal
diagnóstico partia da idéia de que a generosidade dos fundos territoriais permitiria a reforma
20.000 habitantes, dispersos em 21.250 km2 e que área total da colônia quando entrasse em pleno funcionamento
seria de menos de 10% dessa extensão territorial. É que a população do município de Ceres foi calculada em
19.000 em 2004.
177
da propriedade da terra sem uma reforma agrária, nos locais onde a grande propriedade se
encontrava estabelecida de longa data.
Assim, o trabalhador com tal perfil teria o mérito de assegurar a integração econômica
da região sem riscos à segurança nacional. Era um trabalhador menos influenciado por visões
estranhas à cultura brasileira e disponível a uma migração onde se pudesse vislumbrar acesso
à propriedade familiar e a melhores condições de vida. Seria um caso distinto do que estava
ocorrendo com o Norte do Paraná, que recebia pequenos proprietários portadores de uma
pequena poupança e interessados em utilizá-la na aquisição de pequenas propriedades. Essa
diferença foi ressaltada por Douglas Graham ao comparar as características dos trabalhadores
envolvidos nessas duas experiências de colonização
Apesar, ou talvez por causa de seus ambiciosos objetivos, durante o primeiro governo
Vargas, as CANs quase não saíram do papel, ou como afirmou Lenharo: “o Estado Novo não
conseguiu explorar como queria o investimento político que fizera sobre sua colonização na
Amazônia e no Oeste. Até 1945 os trabalhos pouco avançaram”287.
286
GRAHAM, Douglas. op. cit., p. 25. A referencia aos anos 1950 e 1960 em relação à migração para Goiás
deve-se ao fato de que a CAN goiana só foi instalada de maneira irregular, e passou a funcionar efetivamente,
num modelo já distante daquele que havia sido planejado, nos últimos anos da década de 1940. Ver a página
seguinte.
287
LENHARO, Alcir. op. cit. p. 132.
178
embora tenha sido encarada como colônia modelo e sobre a qual “a propaganda do Estado
Novo operou sem cessar” 288, somente teve a sua demarcação definitiva em 1948 e a de Goiás,
a primeira a ser criada por decreto, teve ocupação irregular e passou por constantes processos
de venda, transferência e alienação de terras. Ainda, ambas conheceram, a partir dos anos de
1950, um processo de concentração e especulação fundiária que provocaram a emergência de
grandes propriedades baseadas no trabalho assalariado.
Muitas razões podem ser evocadas para explicar o insucesso da colonização oficial do
Oeste, pelo menos no que respeita aos seus objetivos iniciais. A primeira, e a mais aparente, é
que esse programa se apresentava como algo muito superior às reais capacidades do Estado
brasileiro. A magnitude das distancias a serem vencidas e dos espaços a serem ocupados
impunha uma quantidade de recursos financeiros e, até mesmo humanos, superiores aos
existentes e eram inexeqüíveis em curto prazo.
Sobre esse tipo de avaliação, contudo, devemos ter em mente que o regime, quando da
formulação de suas políticas migratórias e colonizadoras, não vislumbrava a sua queda, em
1945. Como já foi dito, o Governo Vargas, principalmente após a instalação do Estado Novo,
imaginava a sua continuidade por um prazo historicamente dilatado. Por outro lado, e
relacionado a isso, o governo tinha clareza de que o alcance de resultados com a colonização
do Oeste só ocorreria em longo prazo:
“Na realidade, o período do Estado Novo constituiu apenas uma fase dentro de um
processo de reestruturação do espaço nacional que, iniciando-se por volta de 1930,
só chegou a atingir uma configuração mais integrada a partir de meados da década
de 1950.
Isto, porem, não implica que o Estado Novo tenha fracassado completamente na
execução de suas políticas territoriais, pois, apesar da grandiosidade dos objetivos
propostos, o regime estava consciente de que a transformação expressiva do
território só poderia ser alcançada a longo prazo. No que diz respeito às políticas
de colonização, Otávio Guilherme Velho considera que Getúlio Vargas dificilmente
poderia ter imaginado que seria possível povoar e explorar uma área tão grande
num curto período de tempo, apesar de seus discursos sugerirem o contrário. [...]
Com efeito, é preciso considerar que as políticas territoriais do Estado Novo não
poderiam chegar a uma reestruturação ampla do território nacional a curto e médio
prazo – aliás, deve-se notar que a ocupação plena do território não foi atingida
mesmo nos dias atuais” 289.
288
LENHARO, Alcir. op. cit. p. 132.
289
DINIZ FILHO, Luis Lopes. op. cit., p. 200-201
179
Outra razão que pode ser aventada para a não realização total dos propósitos da
colonização do Oeste é a de que aqueles espaços que se consideravam vazios, na realidade
não eram assim tão vazios. Embora com uma pequena densidade demográfica, o Oeste já se
encontrava atravessado por várias relações de propriedade que implicavam na permanência de
alguns interesses que, por isso, impuseram algumas resistências à sua ocupação nos moldes
em que esta era intentada.
Sem dúvida, a existência de tais interesses e os conflitos por eles originados teriam
capacidade de influenciar as características e atrasar os processos de instalação da
colonização. Nesse sentido, a razão para o insucesso das CANs parece ser mais profunda que
a anteriormente apresentada. Mostrava a permanência, no próprio aparelho de Estado, de
interesses de classes que este entendia haver superado, como construtor da harmonia do
organismo social que imaginava ser. Ou seja, o Estado mesmo com sua capacidade de
intervenção e a pretensão de, mediante suas práticas orientadas tecnicamente, superar os
interesses de classe, não conseguia impedir a continuidade de conflitos sociais, mesmo que
290
Segundo Lenharo, a Cia. Matte Larangeira contribuía com grande parte das rendas, ao mesmo tempo em que
adiantava empréstimos ao governo estadual. A companhia também havia sido responsável por obras de infra-
estrutura, tais como organização do transporte fluvial e abertura de trechos auxiliares de estrada de ferro. Por
isso, o seu papel na economia e colonização do estado era ressaltado por autoridades locais. Entretanto, a atitude
da companhia em utilizar a violência para a preservação de suas imensas posses, submeter os trabalhadores e,
principalmente, em exportar a sua matéria-prima para ser industrializada na Argentina eram focos constantes de
tensão com o Governo Federal, que tencionava intervir nos negócios da companhia, impedindo a renovação de
seus contratos e utilizando suas terras para a colonização.
291
LENHARO. op. cit, p. 136-137
180
Essa também parece ser a razão para que o programa encontrasse, também,
resistências por aqueles que viabilizariam a empreitada, ou seja, os trabalhadores. A
colonização da região Oeste não exerceu a atração que pretendia sobre o trabalhador
nordestino. A prática de uma pequena agricultura familiar, disciplinada e produtora para o
mercado não respondia exatamente aos seus interesses de mobilidade:
292
LENHARO. op. cit, p. 135/136
293
No período entre 1940 e 1950 a população do Estado de Goiás aumentou em 47,01% sendo menor apenas
que a do Estado do Maranhão e do Território de Rondônia. Em Mato Grosso, a taxa de migração no período foi
negativa, mas isso deve-se fundamentalmente, à desmobilização dos batalhões da borracha em 1945. No final da
década o movimento migratório para o Estado passou a aumentar e ganhou forte impulso no início dos anos de
1950.
181
294
DINIZ FILHO, Luis Lopes. op. cit., p. 202.
182
sim, como espaço eivado de contradições sobre o qual a ação do Estado não teve domínio
absoluto, seja pela inércia exercida pelos interesses da grande propriedade, seja pela visão dos
trabalhadores que para lá se objetivava encaminhar.
Coloca-se, dessa forma, em evidência outra razão, talvez a mais importante para que a
política de colonização do Oeste brasileiro, alinhavada pelas CANs, não fosse rapidamente
viabilizada. A tentativa de uniformização da região, tanto no que diz respeito àquilo que seria
produzido quanto das relações sociais que deveriam presidir essa produção, não foi
acompanhada na mesma intensidade pela participação e interesse direto do capital. Os
processos de desenvolvimento de um novo padrão de acumulação, de características urbano-
industriais, não precisaram capturar a região na mesma velocidade imaginada pelo governo,
ou pelo menos, durante o período de duração do governo. O Estado se antecipou à própria
295
Neste aspecto é interessante observar o que afirma Jacques Lambert acerca do excedente populacional
nordestino, o que se constitui, evidentemente, numa grande idealização: “O Nordeste é um centro de emigração
intensa, não o bastante para lhe diminuir a população, pois a fecundidade é lá tão grande que a pressão se
renova constantemente e está sempre superpovoado”. LAMBERT, Jacques. Os dois Brasis. 6 ed. São Paulo:
Nacional, 1970, p. 76.
183
Tal situação somente ocorreria, alguns anos depois, quando o processo de aceleração
da industrialização tornou imperativa a sua incorporação. Por isso, a sua efetiva incorporação
pôde esperar mais um pouco e os recursos humanos, necessários para a sua consecução no
momento que nos ocupa, puderam ser canalizados para outras necessidades mais urgentes,
tais como o abastecimento de mão-de-obra para os setores agrícola, industrial e de serviços
paulistas, que se encontravam em grande expansão e, durante o período da Segunda Guerra,
para a extração da borracha no Norte do País.
Mesmo assim, a ação do Governo Vargas, na colonização da região Oeste, não pode
ser considerada um caso fracassado ou que se desviou de seus objetivos iniciais. Com esse
programa, o Governo Vargas deixou bem claro o que desejava: um processo de povoamento
nacional do interior, baseado na pequena propriedade, que possibilitasse a sua ocupação com
segurança, favorecendo a manutenção da integridade territorial do país, e procurando
construir, por meio das potencialidades desse território, um amplo mercado nacional,
integrando aos processos econômicos. Em suma, procurou, não só, transformar a região em
produtora de mercadorias e consumidora cativa de produtos industriais brasileiros, mas
também impôs o necessário reconhecimento de que a ocupação e integração do interior seriam
fundamentais para a integração do mercado interno brasileiro e para o desenvolvimento da
produção industrial. Permitiu, dessa forma, o estabelecimento de uma das bases necessárias
para o avanço do desenvolvimento industrial do país.
Avaliação semelhante, de que tal política visava à construção das bases para o
desenvolvimento nacional, foi feita logo na seqüência do primeiro Vargas. O Sr. Renato
Barbosa, Cônsul-Geral do Brasil em Santiago do Chile, em um artigo da Revista de Imigração
e Colonização, publicada pelo CIC, em junho de 1946297, procura defender a política relativa
aos deslocamentos populacionais desenvolvida ao longo do Governo Vargas, pleiteando a sua
296
GRAHAM, Douglas. op. cit., p. 24. Graham faz essa afirmação em relação às tentativas de colonização de
Goiás na década de 1950. Entretanto, o processo analisado pelo autor é, em parte, desdobramento do processo
iniciado na década de 1940.
297
BARBOSA, Renato. Normas gerais sobre a migração, imigração e colonização. Revista de Imigração e
Colonização, Ano VII, no. 2, junho de 1946.
184
continuidade, num momento em que ela começava a sofrer uma série de modificações
importantes298.
Neste artigo, o autor começa demonstrando sua preocupação com um dos principais
problemas do período, que em sua opinião poderia diminuir o ritmo de crescimento industrial
alcançado pelo Brasil, ou seja, o aumento do custo de vida nos centros urbanos, atribuído ao
desequilíbrio entre o grande crescimento industrial e o menor crescimento da produção
agrícola, por isso advoga a realização da proposta colonizadora:
“O encarecimento do custo de vida nas grandes capitais não pode ser unicamente
atribuído aos custos do transporte. [...] só a imigração ou migração sob técnica
colonizadora poderia, se não desfazer, pelo menos atenuar esse desequilíbrio entre
produção agrícola e industrial”299.
Afirma, ainda, que tal intento estava sendo corretamente buscado pela política do
governo Vargas, expressa na Marcha para o Oeste: “O Brasil tem 80% de sua população na
faixa litorânea [...]. A sábia compreensão disso deu origem a um programa político sob o
título de ‘Marcha para o Oeste’, por isso que imensas e ricas terras estão a exigir de nós
ocupação e trabalho”300.
298
Essas modificações relacionam-se à diminuição das restrições sobre a entrada de estrangeiros, visando
estabelecer uma nova fase expansiva da imigração para o Brasil. Ver Relatório do Conselho de Imigração e
Colonização. Revista de Imigração e Colonização, Ano VII, no. 1, março de 1946.
299
BARBOSA, Renato. op. cit., p. 233.
300
BARBOSA, Renato. op. cit., p. 234.
185
301
BARBOSA, Renato. op. cit., p. 237.
186
Esse aspecto merece ser destacado, pois muito se fala acerca do caráter concentrado do
desenvolvimento econômico no Brasil, o que denotaria a exploração e o imperialismo da
região sudeste industrializada sobre as outras regiões agrícolas do país, mormente a região
nordeste que passou a se articular como uma nova região periférica do centro industrializado.
Esse discurso regionalista, entretanto, encobre a questão de que nem todos saíram perdendo
nesse processo de desenvolvimento industrial concentrado. Tal processo não atingiu, com a
mesma intensidade, toda a sociedade nordestina. Como afirmou Robert de Moraes:
302
MORAES, Antonio Carlos Robert de. Ideologias geográficas. 3 ed. São Paulo:Hucitec, 1996, p. 98-99.
187
303
MORAES, Antonio Carlos Robert de. op. cit., p. 101.
304
Alguns autores do período, como Oliveira Vianna, afirmavam a impossibilidade de luta de classes no Brasil
devido a abundancia de terras. Ver DINIZ FILHO, Luís Lopes. op. cit., p. 214.
305
PAIVA, Odair da Cruz. Caminhos cruzados... op. cit., p. 108-111
188
Seção 4:
306
Conforme NEGRI, Barjas. op. cit. p. 29
190
que essa continuasse disputando trabalhadores nacionais com as regiões dinamizadas pela
produção industrial.
307
HOLANDA FILHO, Sérgio Buarque de; GRAHAM, Douglas. op. cit., p. 61.
308
CHAUI, Marilena. Apontamentos para uma crítica da ação integralista brasileira. In: CHAUÍ, Marilena e
FRANCO, Maria Sílvia de Carvalho. Ideologia e mobilização popular. São Paulo/Rio de Janeiro: Cedec/Paz e
Terra, 1978, p. 20.
309
Ver página 114 desta tese
191
É verdade que o parágrafo único, desse mesmo artigo, previa exceções no caso da
inexistência de trabalhadores brasileiros natos, para o exercício de funções rigorosamente
técnicas. Mesmo nesses casos, a lei dispunha, entretanto, que deveriam ser privilegiados os
trabalhadores naturalizados e, somente, após esses, os estrangeiros. De todo modo, essa
mudança na proporção de empregados deveria ter a aquiescência do Ministério do Trabalho:
Por outro lado, o decreto previa, em seu artigo 4º, que os desempregados, brasileiros
ou estrangeiros, deveriam comparecer às delegacias de recenseamento do Ministério do
Trabalho ou, na ausência destas, às Delegacias de Polícia para verificação da tomada de
medidas convenientes acerca de sua ocupação, principalmente, em atividades agrícolas.
Por isso é interessante observar que o governo agia, nesse processo inicial de
nacionalização do mercado de trabalho urbano, com extrema cautela. Se por um lado, o
governo agia no sentido de amenizar a problemática do desemprego, impedindo o
desembarque de trabalhadores estrangeiros não qualificados e procurando dirigir os “sem-
trabalho” para o campo; por outro, o fato de permitir que, na ausência de brasileiros, as
atividades estritamente técnicas, necessárias à continuidade das atividades econômicas,
pudessem continuar a ser desempenhadas por trabalhadores estrangeiros, demonstra que o
governo também se precavia contra as pressões salariais originárias da falta de trabalhadores
especializados em setores específicos.
192
310
O movimento integralista era apoiado pela Itália e encontrava respaldo da Embaixada desse país para ações
no Brasil. Ver: SEINTEFUS, Ricardo. O Brasil vai à guerra: o processo do envolvimento brasileiro na Segunda
Guerra Mundial. 3 ed. Barueri, SP: Manole, 2003. p. 97-98
194
Entendia-se, assim, que a chegada de trabalhadores nacionais aos centros urbanos mais
dinâmicos da produção industrial teria como desdobramento um processo de desmobilização
trabalhista, aspecto bastante interessante para a continuidade da própria acumulação de
capital313.
313
Não quero afirmar com isso que estão corretas as avaliações de que o grau de mobilização e consciência de
classe dos trabalhadores brasileiros eram inferiores ao dos estrangeiros, aspecto esse, inclusive, que não é
objetivo desse trabalho e demandaria outros tipos de investigação. Pretendemos apenas afirmar que tal visão era
corrente na avaliação do governo e de muitos dos intelectuais que lhes davam apoio.
314
VARGAS, Getúlio. op. cit., p. 293. Discurso pronunciado em 31 de dezembro de 1940.
315
Embora os imigrantes italianos, identificados com a propaganda e a agitação fascista, também fossem alvos
da preocupação governamental, os mesmos eram considerados pelas autoridades policiais e militares como bem
196
daqueles que haviam sido dirigidos aos imigrantes considerados subversivos de esquerda. Não
se tratava, como é claro, de uma preocupação com o acirramento das relações trabalho-
capital, mas da ameaça que esses imigrantes poderiam representar à soberania nacional e à
integridade territorial brasileira.
Dois aspectos devem ser salientados em relação à introdução dessa nova preocupação
com os imigrantes estrangeiros. O primeiro é que eles explicitam e iniciam um enfrentamento
político do Brasil com os países do Eixo, principalmente a Alemanha. Segundo, é que eles
demonstram o interesse em utilizar a problemática dos imigrantes estrangeiros como fator de
difusão da ideologia nacionalista do Estado que, em plena elaboração desde os primeiros
momentos do primeiro governo Vargas, fortalece-se a partir de 1937.
A Alemanha, durante boa parte da década de 1930, era tida e imaginada por membros
do governo e por uma parte da intelectualidade que o apoiava como exemplo de modernidade,
embora, como já foi dito, havia uma grande preocupação com a dificuldade de assimilação de
seus imigrantes e descendentes e com a tendência em construirem “enquistamentos étnicos”.
Até o golpe de 1937, o relacionamento dos dois países era razoavelmente amistoso. Em 1935
menos organizados que os imigrantes e descendentes de origem alemã. Ver: SEINTEFUS, Ricardo. op. cit., p.
115.
316
SEINTEFUS, Ricardo. op. cit,, p. 30-32
317
PERAZZO, Priscila Ferreira. op. cit. p. 49-50
318
SEINTEFUS. Ricardo. op. cit, p. 109. Segundo o autor, em março de 1938 o embaixador alemão no Brasil,
passa a assumir a opinião de Fritz Plugge, cidadão alemão e membro do NSDAP (Partido Nacional-Socialista
Alemão do Trabalho), que aconselha Berlim a “separar o três estados do Sul do resto do Brasil”.
197
Tal fato permitiu que o país retomasse a uma posição pendular frente à Alemanha e os
Estados Unidos, o que seria de enorme importância para a manutenção de uma certa
neutralidade frente ao conflito militar que já se prenunciava, mas também para a estratégia de
encontrar parceiros estrangeiros para o financiamento do projeto siderúrgico. Isto demonstrou
que, embora tivessem um conteúdo político específico, as atitudes do governo brasileiro em
relação aos imigrantes do eixo, principalmente os alemães, e sua firmeza na condução da crise
diplomática frente às exigências alemãs, renderam boas perspectivas econômicas,
319
SEINTEFUS, Ricardo. op. cit, p. 21
320
SEINTEFUS, Ricardo. op. cit, p. 149.
198
Essa questão, contudo, não quer dizer que a ameaça não existia e que não era
compreendida pelo governo, o serviço secreto brasileiro sabia da existência de um projeto de
se utilizar os imigrantes e os descendentes alemães presentes no Brasil como possibilidade de
construção de uma “Alemanha Antártica” no Brasil321. Tal receio ampliou-se ainda mais por
ocasião dos processos de anexação da Áustria e Tchecoslováquia pelo regime nazista alemão.
Assim, embora o perigo alemão, como aponta a historiografia, estivesse sendo
superestimado322, era um fato que assumia certa concretude para a época,
Dessa maneira, devido à concepção de que a propaganda nazista teria muito mais
eficiência e agilidade se concentrando nas principais capitais e cidades do país, a política de
controle e de repressão aos imigrantes alemães, e italianos e japoneses em menor escala,
passou a ser desencadeada principalmente nos centros urbanos323. Assim, a política em
relação aos imigrantes e descendentes do eixo, no período pós 1938, acabou por provocar
impactos no mercado de trabalho urbano.
321
BANDEIRA, Moniz. Op. cit., p. 46-47.
322
O número de militantes ativos do NDASP no Brasil foi estimado em um número não superior a três mil,
porcentagem razoavelmente insignificante diante da colônia de origem alemã existente no país. Entretanto há
que se considerar que para um país com pequena tradição de organização política e que procurava naquele
momento congelar a participação política da sociedade, mesmo essa pequena porcentagem poderia ser
considerada expressiva.
323
PERAZZO, Priscila Ferreira. op. cit. p. 21.
199
após 1938, aqueles que eram considerados representantes de interesses de governos e firmas
estrangeiras, principalmente alemãs.
A mudança no perfil da força de trabalho urbana, na cidade de São Paulo, que era onde
se concentrava o processo de desenvolvimento industrial, pode ser demonstrada pelo quadro
abaixo:
QUADRO 8
BRASILEIROS E ESTRANGEIROS ENTRADOS NA CIDADE DE SÃO
PAULO – 1921/39
Anos Brasileiros Estrangeiros
1921 6.923 32.678
1922 7.354 31.281
1923 14.578 45.240
1924 12.076 56.065
1925 15.906 57.429
1926 19.366 76.796
1927 30.806 61.607
1928 55.431 40.847
1929 50.218 53.262
Total 212.658 455.205
1930 8.720 30.924
1931 10.174 16.216
1932 18.345 17.420
1933 30.330 33.680
1934 37.824 30.757
1935 50.849 21.131
1936 57.643 14.854
1937 74.085 12.384
1938 47.755 8.549
1939 100.139 12.207
Total 435.864 198.122
324
GRAHAM, Douglas; HOLANDA FILHO, Sérgio Buarque de op. cit., p. 57
200
Não é de se estranhar que a legislação trabalhista, apontada pelo governo, como uma
de suas maiores realizações, não tenha sido estendida ao campo. Isto é mais um elemento que
indica a existência e a fixação de graus desiguais de desenvolvimento entre diferentes regiões
e espaços, fator importante na determinação das condições de movimentação populacional de
trabalhadores 325.
325
PAIVA, Odair da Cruz. Caminhos cruzados...op. cit., p. 242
201
de trabalhadores. Tal fato é percebido pelo Sr. Péricles Melo Carvalho, que antes de exaltar a
ações governamentais do governo Vargas na implementação da Marcha para o Oeste,
demonstra preocupação com o papel da legislação trabalhista na atração de trabalhadores para
os centros urbanos:
326
CARVALHO, Péricles Melo. A concretização da “Marcha para o Oeste”. In: Cultura Política. Rio de
Janeiro: DIP, Ano I, no. 8, outubro de 1941, p. 18.
202
“Por menos que pareça e por mais trabalho que dê ao interessado, a carteira
profissional é um documento indispensável à proteção do trabalhador.
Elemento de qualificação civil e de habilitação profissional, a carteira profissional
representa também título originário para a colocação, para a inscrição sindical e,
ainda, um instrumento prático do contrato individual de trabalho.
A carteira, pelos lançamentos que recebe, configura a história de uma vida. Quem a
examina, logo verá se o portador é um temperamento aquietado ou versátil; se ama
a profissão escolhida ou ainda não encontrou a própria vocação; se andou de
fábrica em fábrica, como uma abelha, ou permaneceu no mesmo estabelecimento,
subindo a escala profissional. Pode ser um padrão de honra. Pode ser uma
advertência” 327
A carteira profissional, portanto, é a expressão de como a legislação trabalhista teve
uma grande importância na reorganização do mercado urbano de trabalho, na medida em que
era um instrumento de acesso a direitos não presentes no trabalho rural, dominado pelas
relações e pelos mecanismos de controle pessoal. Por essa via funcionava como elemento de
atração populacional; por outro lado, ao mesmo tempo, gerava a possibilidade de um controle
direto sobre o trabalhador, convertendo-se em fator de disciplinamento e de inculcação dos
princípios de obediência à ordem estabelecida. Atuando, pois, como fator de atração e de
disciplinamento a legislação trabalhista desempenhava um importante papel na reorganização
e nacionalização do mercado de trabalho urbano:
327
Alexandre Marcondes Filho. Apresentação da Carteira Profissional. Página 4 do documento.
203
vida civil do cidadão e sua vida profissional; o patrão ao anotar a data da dispensa
do trabalhador, também considerava sobre sua conduta e aptidões profissionais”
328
.
A legislação estava também voltada a legitimar o papel dos sindicatos como a forma
de representação dos trabalhadores e os sindicatos passaram a ser pelo decreto n. 19.770, de
19 de março de 1931, organismos tutelados pelo governo, de tal forma que passaram a ser
considerados elementos fundamentais na construção de relações solidárias entre as classes
sociais e o Estado.
Dessa maneira, ao tomar medidas iniciais visando evitar acirramentos da tensão social,
em virtude do desemprego provocado pela crise; ao procurar controlar e assimilar os
estrangeiros; ao buscar a criação de condições de atração de trabalhadores nacionais para o
trabalho nos centros urbanos; e, ainda, ao estabelecer elementos legais no objetivo de
controlar e disciplinar esse trabalhador nacional em construção, o governo procurou criar
condições para a formação de um mercado de trabalho urbano equilibrado. Um mercado de
trabalho que, ao mesmo tempo, não implicasse pressões demasiadas sobre a taxa de salários e
impedisse também, pela ampliação do número de desclassificados, um aviltamento no
consumo urbano, que, de outra maneira, obstaria a própria produção industrial.
328
LENHARO, Alcir. Sacralização da política... op. cit., p. 26
204
Nesse sentido, a última questão a ser enfrentada deveria ser a formação profissional
desse trabalhador urbano. Para tal, em consonância com o Ministério da Educação e entidade
empresariais, o governo instituirá, em 1942, uma ampla reforma na formação e na educação
técnica e industrial, com a introdução das Escolas Técnicas Federais e do Senai.
205
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização desses objetivos, num país como o Brasil, naquele contexto histórico, não
era uma tarefa de fácil consecução. Devemos lembrar que o Brasil, além de possuir um
território de dimensões continentais, se apresentava como uma economia compartimentada
em diferentes complexos econômicos regionais. Ao mesmo tempo, durante a década de 1930,
o país encontrava-se marcado por uma conjuntura econômica crítica e atravessado por crises e
polarizações políticas que indicavam um processo de redefinição da participação dos
diferentes segmentos sociais nas estrutura de poder.
A magnitude da empreitada a ser encaminhada influiu decisivamente na reestruturação
do Estado brasileiro. De um Estado de características liberal-oligárquicas, sustentado por
arranjos políticos de bases regionais e locais e, por isso, fortemente federalista, onde
dominavam as oligarquias dos Estados mais poderosos, passou-se a um processo de mudança
206
para um Estado centralizado, equipado por novas instâncias burocráticas que procuravam,
simultaneamente, administrar interesses divergentes e intervir mais diretamente nos assuntos
econômicos e sociais.
Vargas, mormente a partir de 1933 quando atividade industrial, que passou a crescer, até
1939, a uma taxa média de 11,25% , comandou a recuperação da economia brasileira.
Outra idéia, também presente neste trabalho, é a de que a passagem para uma estrutura
econômica sustentada na produção para o mercado interno e a integração desse mercado
foram os fatores que permitiram a entrada do Brasil numa longa fase de crescimento e
desenvolvimento econômicos. Tal vigor econômico (expresso no fato de que a economia
brasileira foi uma das que mais cresceram mundialmente, no período situado entre 1930 e
1980) por ter se baseado, contudo, na combinação de graus desiguais de desenvolvimento
entre as diferentes regiões, originando e aprofundando a reorganização da economia e do
espaço econômico brasileiros, processou-se de maneira a intensificar as distorções e os
chamados desequilíbrios regionais.
Além disso, e talvez mais importante, é que esse crescimento se deu pela subordinação
das novas atividades e das novas relações de trabalho, introduzidas na produção agrícola e nas
regiões de avanço da fronteira, aos processos de acumulação industrial que, naquele
momento, já se concentravam no Centro-Sul, principalmente em São Paulo. Isso, associado ao
processo de formação de um mercado de trabalho urbano de características nacionais e
condizentes com as novas exigências do novo modelo de desenvolvimento, significa dizer que
esse crescimento econômico se constituiu a partir, também, de novas formas de apropriação
do excedente econômico pelo capital industrial.
Por isso, a análise empreendida acerca dos elementos constituintes da política relativa
aos deslocamentos populacionais, bem de sua efetiva aplicação, revela que, malgrado a
preocupação com o desenvolvimento e com a garantia da soberania e da integridade
nacionais, o Governo Vargas, mesmo não representando diretamente os interesses
industrialistas, atuou de forma a favorecer o processo de acumulação do capital industrial.
329
O avanço da cotonicultura no interior paulista é um caso exemplar dessa situação.
209
Esse processo também esteve baseado em idéias e práticas opostas às defendidas pelo
Liberalismo econômico. Esse rompimento com o Liberalismo não significou, todavia, um
rompimento com o capitalismo. Assim, é possível perceber que se pretendeu construir no
Brasil uma estrutura econômica e social que é tradicionalmente denominada como
“capitalismo autoritário”. A superação do laissez-faire se deu, dessa maneira, com a
construção de uma ordem política social e econômica influenciada por visões próximas ao
Positivismo, com a necessária implantação de um modelo econômico e social baseado nos
princípios do organicismo social.
Podemos afirmar que o governo procurou aplicar vários desses propósitos no controle
e na direção dos movimentos populacionais. O governo permitiu e favoreceu a reintrodução e
a reorganização dos subsídios à atração de mão de obra para os centros mais dinâmicos da
211
Dessa forma, este trabalho procurou demonstrar que o governo Vargas possuía uma
forte intencionalidade em se utilizar os deslocamentos populacionais como ferramenta
importante no deslanche de um novo padrão de acumulação no Brasil. Procurou, ainda,
mostrar que esses deslocamentos populacionais, ao permitirem a integração do mercado
nacional, criaram as bases para a entrada da economia brasileira numa longa fase expansiva.
Devido, entretanto, ao fato ter beneficiado a aceleração da acumulação do capital industrial
que se concentrava no Centro-Sul, tal processo acabou por gerar e ampliar fortes distorções e
desequilíbrios na sociedade brasileira.
Por ter colaborado para aprofundar a desigualdade regional no país; por ter
vislumbrado o trabalhador migrante apenas como um instrumento da construção de uma nova
territorialidade e como parte de um corpo social, que deveria manter-se coeso e harmônico, as
políticas relativas aos processos de deslocamento populacional, implementadas no primeiro
Governo Vargas favoreceram, sem dúvida, a criação de novas formas de controle e de
exploração social desses trabalhadores.
Por isso, este trabalho também teve por objetivo o estabelecimento de uma
interlocução com a realidade brasileira contemporânea. Procurou, por meio da reflexão
histórica, reafirmar o principio de que um real e verdadeiro desenvolvimento deve basear-se
em nossas potencialidades internas, na defesa e na ampliação do mercado interno brasileiro.
213
Procurou, contudo, também reafirmar que o verdadeiro desenvolvimento não pode se desligar
dos aspectos sociais que lhes são correlatos. Este trabalho buscou, enfim, refletir também a
idéia de desenvolvimento econômico e apontar que ele não é um fim que se encerra em si
mesmo, mas, também, um meio para assegurar o alcance de conquistas sociais.
214
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DUQUE, José Guimarães. O fomento da produção agrícola. In Boletim do IFOCS. Vol. II,
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ANEXOS
223
ADVERTÊNCIA
Informamos que os textos das normas deste sítio são digitados ou digitalizados, não sendo, portanto, "textos oficiais". São reproduções digitais de
textos originais, publicados sem atualização ou consolidação, úteis apenas para pesquisa.
Senado Federal
Subsecretaria de Informações
Limita a entrada, no território nacional, de passageiros estrangeiros de terceira classe, dispõe sobre
a localização e amparo de trabalhadores nacionais, e dá outras providências
Considerando que as condições financeiras em que a revolução encontrou o Brasil reclamam medidas
de emergência, capazes de, melhorando a situação, permitir o prosseguimento da sua obra renovadora e
reconstrutiva;
Considerando que uma das mais prementes preocupações da sociedade é a situação de desemprego
forçado de muitos trabalhadores, que, em grande número, afluiram para a Capital da República e para
outras cidades principais, no anseio de obter ocupação, criando sérios embaraços à pública administração,
que não tem meios prontos de acudir a tamanhas necessidades;
Considerando que somente a assistência pelo trabalho é recomendada para situações dessa natureza,
porquanto não vexa nem desmoraliza os socorros;
Considerando, tambem, que uma das causas do desemprego se encontra na entrada desordenada de
estrangeiros, que nem sempre trazem o concurso util de quaisquer capacidades, mas frequentemente
contribuem para aumento da desordem econômica e da insegurança social;
Considerando, ainda, que os recursos financeiros ordinários não permitem ao Governo praticar, por si
só, a aludida assistência;
DECRETA:
Art. 1º Fica, pelo prazo de um ano, a contar de 1 de janeiro de 1931, limitada a entrada, no território
nacional, de passageiros estrangeiros de terceira classe.
b) quando se tratar de estrangeiros cuja vinda tiver sido solicitada pelos interventores federais ao
Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, por exclusiva necessidade dos serviços agrícolas ou
atendendo aos "bilhetes de chamada" emitidas por parentes a famílias de agricultores com colocação
certa;
Art. 2º Salvo o disposto no artigo anterior, a nenhum estrangeiro que pretenda, vindo para o Brasil,
nele permanecer por mais de 30 dias, será permitida a entrada sem provar que possue, no mínimo, quantia
correspondente, em moeda nacional, a dois e três contos de réis, tratando-se, respectivamente, de
indivíduos até doze anos e maiores de doze anos de idade.
§ 2º À chegada do navio, deverão os estrangeiros declarar desde logo, às autoridades policiais, o tempo
de sua permanência e os fins que os trouxeram a este país.
Art. 3º Todos os indivíduos, empresas, associações, companhias e firmas comerciais, que explorem, ou
não, concessões do Governo federal ou dos Governos estaduais e municipais, ou que, com esses Governos
contratem quaisquer fornecimentos, serviços ou obras, ficam obrigadas a demonstrar perante o Ministério
do Trabalho, Indústria e Comércio, dentro do prazo de noventa dias, contados da data da publicação do
presente decreto, que ocupam, entre os seus empregados, de todas as categorias, dois terços, pelo menos,
de brasileiros natos.
Parágrafo único. Somente na falta, de brasileiros natos, e para serviços rigorosamente técnicos, a juizo
do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, poderá ser alterada aquela proporção, admitindo-se,
neste caso, brasileiros naturalizados, em primeiro lugar, e, depois, os estrangeiros.
§ 2º Ficam sujeitos às penas de que trata o art. 8º os indivíduos que, já estando empregados, fizerem
declarações falsas, com o intuito de conseguir melhoria de colocação.
Art. 5º Fica instituido, durante o exercício de 1931, um imposto de emergência, sobre os vencimentos
de todos os funcionários da União, civís e militares, quer sejam titulados, comissionados, contratados,
mensalistas ou diaristas, na proporção de 1/2 % (meio por cento) para os vencimentos, gratificações,
mensalidades ou salários até 500$0; 1 % (um por cento) para os de mais de 500$0 até 1:000$0 e 2 % (dois
por cento) para os de 1:000$0 para cima.
§ 2º O desconto das importâncias relativas ao imposto será consignado nas folhas de pagamento.
Art. 6º O produto do imposto, mensalmente descontado em cada repartição pagadora, será depositado,
em fundo especial, no Tesouro Nacional, à disposição do Ministério do Trabalho, Indústria e Comercio,
para ser empregado no serviço de localização de trabalhadores nacionais, em primeiro lugar, e de
estrangeiros já residentes no país; em segundo, na forma dos decretos ns. 9.081, de 3 de novembro, e
9.214, de 15 de dezembro de 1911, em quaisquer unidades da Federação, inclusive no Distrito Federal e
no Território do Acre.
Art. 7º Os auxílios até agora dados nos núcleos coloniais aos imigrantes agricultores passarão a ser
concedidos aos trabalhadores constituidos em família a que aludem os decretos ns. 9.081, de 3 de
novembro, e 9.214, de 15 de dezembro de 1911.
c) medicamentos e dieta gratuitamente, em caso de moléstia, durante o primeiro ano, a contar do dia
em que o imigrante chegar ao núcleo;
f) transporte gratuito em estradas de ferro e companhias de navegação, até à última estação ou porto de
destino;
g) transportes da estação da via férrea, porto marítimo ou fluvial, até à sede do núcleo;
h) fornecimento, por empréstimo, de instrumentos e máquinas agrícolas, para serem utilizados durante
os primeiros seis meses.
Art. 8º Nos regulamentos que o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio expedir para a execução
das medidas constantes deste decreto serão estabelecidas multas de 2:000$0 a 20:000$0 e prisão até 30
dias, conforme a natureza da infração.
§ 1º Das penas impostas haverá recurso, sem efeito suspensivo, dentro do prazo de sessenta dias, para o
ministro do Trabalho, Indústria e Comércio.
§ 2º Caso o pagamento das multas não se efetue amigavelmente, serão elas cobradas por executivo
fiscal.
§ 4º O produto das multas será incorporado ao fundo especial a que se refere o art. 6º para que tenha a
aplicação alí prevista.
226
GETULIO VARGAS.
Lindolfo Collor.
J. F. de Assis Brasil.
227
ADVERTÊNCIA
Informamos que os textos das normas deste sítio são digitados ou digitalizados, não sendo, portanto, "textos oficiais". São reproduções digitais de
textos originais, publicados sem atualização ou consolidação, úteis apenas para pesquisa.
Senado Federal
Subsecretaria de Informações
O Chefe do Govêrno Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil, na conformidade do art. 1º
do decreto número 19.398, de 11 de novembro de 1930; e
Considerando que ainda subsistem os motivos determinantes da expedição dos decretos ns. 19.482, de
12 de dezembro de 1930, 20.917, de 7 de janeiro de 1932, e 22.453, de 10 de fevereiro de 1933;
Considerando que tais decretos não constituíram legislação completa sôbre o assunto;
Considerando, por outro lado, que uma das mais prementes preocupações da sociedade é a situação de
desemprêgo forçado de muitos trabalhadores que, em grande número, afluíram para a Capital da
República e para outras cidades principais, na ânsia de obter ocupação, criando sérios embaraços à pública
administração, que não tem meios prontos de acudir a tamanhas necessidades;
Considerando, finalmente, que uma das causas do desemprêgo se encontra na entrada desordenada de
estrangeiros, que nem sempre trazem o concurso útil de quaisquer capacidades, mas freqüentemente
contribuem para o aumento da desordem econômica e da insegurança social;
Resolve:
Art. 2º Não será permitida a entrada de estrangeiro imigrante, sem distinção de sexo, estando em
alguma das condições seguintes:
I - Aleijado ou mutilado, salvo si tiver íntegra a capacidade geral de trabalho, admitida, porém, uma
redução desta até vinte por cento, tomando-se por base o gráu médio da tabela de incapacidade
para indenização de acidentes no trabalho, verificada nos moldes dos dispositivos legais sôbre o assunto;
II - Cego ou surdo-mudo;
IV- Portador de enfermidade incurável ou contagiosa grave, como lepra, tuberculose, tracoma,
228
V - Toxicômano;
VI - Que apresente lesão orgânica com insuficiência funcional, verificada conforme preceitua a
legislação em vigor;
IX - Que não prove o exercício de profissão lícita ou a posse de bens suficientes para se manter e às
pessoas que o acompanhem na sua dependência, feitas tais provas segundo os preceitos do regulamento
que será expedido para melhor execução da presente lei;
X - Analfabéto;
XIII - Já anteriormente expulso do Brasil, salvo si o ato de expulsão tiver sido revogado;
XIV - Condenado em outro país por crime de natureza que determine a sua extradição segundo a lei
brasileira.
§ 1º Para os efeitos da presente lei, considera-so imigrante todo estrangeiro que pretenda, vindo para o
Brasil, nêle permanecer por mais de trinta dias com o intuito da exercer a sua atividade em qualquer
profissão lícita e lucrativa que lhe assegure a subsistência própria e a dos que vivam sob sua dependência.
§ 3º A enumeração das condições constantes dêste artigo não exclue o reconhecimento de outras que se
verifique serem igualmente impeditivas da entrada de estrangeiro imigrante.
Art. 3º O desembarque de imigrantes por via marítima será permitido sómente pelos portos de Belém,
Recife, Salvador, Rio de Janeiro, Santos, São Francisco do Sul e Rio Grande e pelos que venham a ser
considerados, por fôrça de lei, portos de desembarque para imigrantes.
§ 1º A entrada de imigrantes por via terrestre, aérea ou fluvial será permitida pelos pontos de fronteiras
em que estiverem instaladas Inspetoria Federais de Imigração e seus postos de fiscalização, e obedecerá ás
mesmas exigências impostas á entrada por via marítima; mas aos nacionais dos países limítrofes que, por
essa fronteiras, queiram imigrar para o Brasil será permitida, mediante apresentação de carteira de
identidade, expedida por autoridade competente do país de origem, independentemente do "visto"
consular.
§ 2º A concessão de que trata a segunda parte do parágrafo anterior só vigorará no caso de aceitarem os
referidos países, para o mesmo fim, documento idêntico ou análogo, expedido por autoridades brasileiras.
§ 3º Nas estações de estrada de ferro e outros pontos de embarque, existentes nas fronteiras terrestres ou
fluviais, não é permitida a venda de bilhetes de passagem para o interior do país aos nacionais dos países
limítrofes que não tiverem o "visto" das Inspetorias Federais de Imigração lançado na respectiva carteira
de identidade.
por todos os meios ao seu alcance, a autenticidade dos documentos exigidos no regulamento a que se
refere o art. 2º, condição IX, exigindo também o atestado de vacinação antivariólica, antes de visá-lo, de
modo que se torne mais fácil aos consulados dos pontos de embarque, a aposição do "visto" regulamentar
no respectivo passaporte.
Art. 6º Não estão sujeito a fiscalização da Imigração, ficando subordinados apenas á da Saúde Pública e
da Polícia, os estrangeiros não imigrantes que se destinem ao Brasil.
Art. 8º O transporte dos imigrantes agricultores constituídos, ou não, em famílias, por vias férreas e
marítimas, até ao ponto do destino, correrá por conta do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio.
Art. 9º O transporte em estradas de ferro ou de rodagem, desde a estação da via férrea, pôrto marítimo
ou fluvial de desembarque, até ao núcleo colonial, ou localidade de destino, será facilitado pelos orgãos do
Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, si o núcleo estiver sob a administração federal, e à custa
dos Estados, emprêsa, associação ou interessados, em caso contrário.
Art. 10. Nenhuma empresa, associação ou companhia poderá promover a introdução de imigrantes no
país, sem prévia autorização do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, de conformidade com o
regulamento a que se refere a condição IX do art. 2º.
Art. 11. Qualquer estrangeiro que entre em território brasileiro, e não possua os documentos exigidos
pela presente lei e respectivo regulamento, será considerado clandestino.
Parágrafo único. Os clandestinos são passíveis de expulsão e serão processados de acôrdo com o
regulamento e as disposições penais em vigor.
Art. 12. Fica o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio autorizado a providenciar acêrca da
tradução da presente lei e respectivo regulamento nas línguas estrangeiras de maior divulgação, conforme
convier à administração pública.
GETULIO VARGAS.
______________
(*) Decreto n. 24.215, de 9 de maio de 1934. - Retificação publicada no Diario Oficial de 4 de agosto de
1934:
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ADVERTÊNCIA
Informamos que os textos das normas deste sítio são digitados ou digitalizados, não sendo, portanto, "textos oficiais". São reproduções digitais de
textos originais, publicados sem atualização ou consolidação, úteis apenas para pesquisa.
Senado Federal
Subsecretaria de Informações
O chefe do Govêrno Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil, de acôrdo com o art. 1º do
decreto n. 19.398, de 11 de novembro de 1930, e para melhor execução do de n. 24.215, de 9 de maio de
1934,
decreta:
Art. 1º Fica aprovado o regulamento que a êste acompanha, da entrada de estrangeiros em território
nacional, pelo Ministro de Estado dos Negócios do Trabalho, Indústria e Comércio.
Getulio Vargas
Oawaldo Aranha.
CAPÍTULO I
Art. 1º Para os efeitos do presente regulamento, considera-se imigrante todo estrangeiro que pretenda,
vindo para o Brasil, nêle permanecer por mais de trinta dias, com o intuito de exercer a sua atividade em
qualquer profissão lícita e, lucrativa que lhe assegure a subsistência própria a dos que vivam sob sua
dependência.
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I - Quando sua vinda tiver sido solicitada pelos Governos Estaduais ao Ministério do Trabalho,
Indústria e Comércio, para atender à exclusiva necessidade de serviços agrícolas.
II - Quando contratados por qualquer sociedade, emprêsa, associação ou proprietário de terras incultas,
sempre que seja provada, em relação às pessoas assim contratadas :
III - Quando venham a chamado de agricultor já domiciliado no país, semrpre que seja provado :
b) em relação à pessoa que os chama, a efetividade, sua profiessão e uma situação que permita
responder, em qualquer eventualidede, pelo repatriamento dos imigrantes que chamou;
Art. 3º Os imigrantes não agricultores, constituídos, ou não, em famílias, só poderão entrar em território
nacional si, além de não estarem compreendidos em algum dos incisos
CAPÍTULO II
Art. 5º São considerados estrangeiros não imigrantes, para os efeitos do presente regulamento, todos
aquêles que não estiverem compreendidos nas disposições do art. 2º, § 1º', do decreto n. 24.215, de 9 de
maio de 1934, e do art. dêste regulamento.
Art. 6º Os estrangeiros não imigrantes só poderão entrar em território nacional si, além de não estarem
incluídos em algum dos incisos III, IV, V, VIII, XI, XII, XIII e XIV do art. 2º do decreto n. 24.215, de 9
de maio de 1933, preecherem as condições dos incisos I, e suas alíneas a ou b, e II do art. 3º dêste
regulamento.
Art. 7º À entrada de estrangeiros não imigrantes no território nacional deverá preceder o processo de
"cartas de chamada", emitidas na forma do art. 14, e seus parágrafos, dêste regulamento.
Art. 8º Estão excetuados do processo de "cartas de chamada" de que trata o capítulo III os seguintes
estrangeiros não imigrantes :
de sua família;
b) domésticos a serviço das pessõas a que se refere a alínea anterior, desde que satisfaçam as exigências
do art. 23;
e) estrangeiros não imigrantes que procurem o nosso pais para fins de estudo, ensino, cultura científica,
literária ou artística, desde que satisfaçam as exigências do art. 26 ou do seu parágrafo único;
g) estrangeiros não imigrantes, e em trânsito, desembarcados para prosseguir viagem mais tarde, uma
vez satisfeitas as exigências do art. 28;
h) estranseiros não imigrantes que procurem o país para nêle aplicar capitais, desde que preencham as
exigèncias do art. 29.
Parágrafo único. Estão isentos de certas formalidades, embora não excetuados do processo de "cartas de
chamada", os estrangeiros não imigrantes que sejam artistas teatrais, concertistas, conferencistas,
circenses, pugilistas, lutadores, pelotários, ilusionistas e outros congêneres, desde que satiafaçam as
exigências do art. 30.
§ 1º Aceita a proposta, o interessado, emprêsa ou companhia deverá, perante a repartição referida nêste
artigo ou seus representantes legais nos Estados, declarar o número nacionalidade dos imigrantes e o
número de famílias por êles formadas e de pessoas avulsas que as acompanhem, e, bem as sim, satisfazer
as prescrições seguintes :
a) provar que se acha autorizada a funcionar no Brasil devidamente registada, tratando-se de companhia
ou sociedade anônima, de associação ou carporação qualquer;
c) especificar os trabalhos que aos imigrantes são oferecidos e as vantagens e obrigações recíprocas, nos
têrmos do inciso II, alinea a, do art. 2º;
d) provar que dispõe de recursos que lhe garantam levar a bom têrmo a introdução dos imigrantes;
e) exibir prova de propriedade, planta e localização das respectivas terras, tratando-se de proprietário de
terras incultas.
§ 3º Do têrmo de responsabilídade a que se refere o parágrafo anterior será extraída, em duas vias, uma
certidão, assinada pela autoridade competente do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio,
entregando-se a primeira via ao requerente, para ser apresentada á autoridade consular, que, á vista dêsses
documentos e preechidas as demais formalidadss legais, visará os respectivos passaportes, e enviando-se a
segunda Chefatura de Polícia do Estado em que estiver situado o ponto de desembarque.
§ 4º A autoridade policial competente, de posse da segunda via da certidão de que trata o parágrafo
anterior, procederá na
CAPÍULO III
§ 1º Pelos seus órgãos autorizados, o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio obterá a relação dos
imigrantes agricultores e respectivas familias que deverão embarcar, e enviará uma via dessa relação à
autoridade consular brasileira da região de procedência e outra ao Chefe de Polícia do Estado onde se dará
o desembarque, comunicando a êste, ao mesmo tempo, as localidades de destino.
§ 2º A autoridade consular brasileira, de posse da relação a que se refere o parágrafo anterior, agirá de
acôrdo com o que preceitua o art. 4º do decreto n. 24.215, de 9 de maio de 1934, sendo visados os
passaportes dos imigrantes pela autoridade consular brasileira do ponto de embarque, na forma das leis em
vigor.
I - Possuir meios de subsistência para sua manutenção, provada a posse na conformidade do art. 21, e
seu § 1º, do presente regulamento e arbitrada a importancia em :
a) 2:000$ (dois contos de réis), em moeda nacional, para os menores de 12 anos de idade; e,
II - Apresentar; além da prova do inciso I, pessôa idônea , que, mediante tèrmo, assinado perante a
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autoridade policial , competente, se responsabilize, durante cinco anos, pela sua , conduta, manutenção e
repatriamento (modelo n, 1 anexo).
forma do § 3º do art, 9º .
Art. 11. Os imigrantes agricultores introduzidos no país, conforme o artigo anterior, que procurarem, de
qualquer modo burlar o presente decreto e seu regulamento serão considerados clandestinos, podendo-se-
lhes aplicar a lei de expulsão .
Art. 12. Os pedidos de introdução em território brasileiro de imigrantes agricultores nos têrmos do
inciso III do art. 2º serão feitos, pelos interessados, ao Chefe de Policia, no Distrito Federal e nas capitais
dos Estados, e á autoridade policial local, no interior dos Estados.
a) com a prova de terem sido satisfeitas as exigências das alíneas a, b e c do inciso III do art. 2º;
b) com prova de que reside na localidade há mais de dois anos e está ocupado em mistéres agricolas.
§ 2º Nos Estados, a autoridade policial local remeterá o processo e o têrmo de responsabilidade, de que
tratam os parágrafos 2º e 3º do art. 10 ao respectivo Chefe de Polícia ou á autoridade por êle designada,
para decisão final.
§ 3º Deferido o pedido, expedir-se-á, em três vias, uma autorização de livre embarque e desembarque,
assinada pelo Chefe de Polícia ou autoridade por êle designada, contendo especificadamente (modêlo n. 2
anéxo) :
§ 4º A primeira e terceira vias da autorização de livre embarque e desembarque serão remetidas, pela
Chefatura de Polícia que a expedir, á repartição a que se refere o art. 10 ou seus representantes legais nos
Estados, afim de que, guardando em seu poder a terceira via, aponha seu "visto" na primeira.
I - A repartição a que se refere o art. 10 e seus representantes legais nos Estados poderão recusar o
"visto" a que alúde o presente parágrafo, devendo, porém, nêste caso, declarar expressamente no
documento o motivo da recusa.
,II - A primeira via, em qualquer caso, deverá ser de volvida á Chefatura de Poícia expedidora, para
ulterior entrega á parte interesada.
III - A segunda via será remetida, dirètamente, pela Chefatura de Polícia á delegacia de origem, derpois
de observadas as formalidades previstas neste parágrafo.
Art. 13 Os pedidos de introdução, em territóriò brasileiro, de imigrantes não agricultores, nos têrmos do
art. 3º dêste regulamento, serão feitos pelos interessados ao Chefe de Policia, na Distrito Federal e nas
capitais dos Estados e á autoridade policial local, no interior dos Estados.
a) sua qualidade de ascendente, descendente, ou das pessôas por êle chamadas, que poderão vir
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acompanhadas das respectivas familias, constituidas estas pelo cônjuge e filhos do casal;
c) o motivo da chamada;
e) a satiafação das exigêcias contidas nos incisos I e do art. 3º, na forma da art, 21, seus parágrafos e
alíneas, relação a tôdas as pessôas chamadas, sem exceção;
§ 2º O processo de "cartas de chamada" seguirá exatamente as normas fixadas nos §§ 2º a 4º do art. 12.
§ 4º A permanência, no pais, dos estrangeiros a que alúde o parágrafo anterior não poderá exceder do
prazo estipulado no contrato, que poderá, entretanto, ser prorrogado, dêsde que se comunique essa
prorrogação á autoridade policial competente.
a) seu parentesco com os estrangeiros por êle chamados (ascendentes ou descendentes, irmãos, tios ou
sobrinhos) ;
§ 3º Os estrangeiros radicados no país, por serem casados com brasileiras, ou terem filhos brasileiros ou
bens imóveis no Brasil, e aqueles que durante cinco anos ininterruptos tenham residido no Brasil, sem
nota que os desabone, serão, uma vez aprovada essa qualidade, dispensados das provas a que se refere o §
1º, alíneas a, b, c e e.
§ 5º O processo das "cartas de chamada" será o mesmo de que tratam os §§ 2º a 4º do art. 12,
diversificando, porém, quanto ao têrmo de livre embarque e desambarque, que será, extraído apenas em
duas vias, excluídas a remessa da terceira via e ao Ministério do Trabalho e a obrigatoriedade do
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Art. 7 A permanência de estrangeiros nas condiçõe do parágrafo anterior não poderá exceder do prazo
estabelecido nos contratos de locação de serviços artísticos, que poderão ser renovados, comunicada,
porém, a renovação á autoridade policial competente.
Art. 15. Os pedidos de autorização de livre embarque e desembarque, nos têrmos dos arts. 12 a 14,
deverão sempre concernir a uma só pessoa, salvo em se tratando de cônjuge e filhos da pessoa chamada.
CAPÍTULO IV
I. A prova a que se refere a alínea b do inciso II do artigo 2º será feita, perante a autoridade consular
brasileira na região de procedência, mediante atestado médico, na conformidade do art. 74 do
Regulamento de Passaportes, e, quando os imigrantes estiverem constituídos em famílias, por certidão de
idade dos respectivos membros aptos para o trabalho agricola.
II. A prova exigida pela alínea a, do § 1º do art. 10 será feita mediante a apresentação das seguintes
documentos: certidão do registro da emprêsa ou companhia requerente, certidão de so achar quite do
pagamentos dos respectivos impostos, certidão ou pública-forma do ato governamental que a autorizou a
funcionar e atestado, fornecido pela autoridade local, de que está em pleno funcionamento.
III. A prova a que se refere a alínea c do § 1º do art. 10 será feita mediante a apresentação de
instrumentos de contrato dè locação de serviços agrícolas para localidade certa e deteiminada do território
nacional onde devam os imigrantes exercer suas atividades pelo prazo mínimo de três anos, celebrado
entre o interessado, companhia ou emprêsa e o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio.
IV. A prova exigida pelas alíneas b, c e d será produzida da, maneira indicada no inciso anterior.
V. A exigência contida na alínea e do § 1º do art. 10 será satisfeito por meio de documento hábil que
prove domínio e posse da propriedade, planta a localízação das terras, pelas formas legais.
§ 4º A guia para o resgate do valor de saque emitido a favor de menores será expedida à vista de
documentos que provem :
a) a idade do menor;
c) si maior de 14 anos e não matriculado seguado a alínea anterior, estar exercendo um emprêgo ou
ofício, prova que será feita mediante apresentação da caderneta de férias, ou pelo modo que a legielação
estabelecer;
238
§ 5º Tratando-se de obtenção de guia para o resgate do valor de saque de imigrante maior de 65 anos,
deverá êste provar que vive exclusivamente a expensas do fiador, além de apresentar os documentos
exigidos pelas alineas a, c e d do § 2º dêste artigo.
§ 6º Nenhuma emprêsa de navegação efetuará a venda de passagens a imigrantes sem que nos
passaportes dêstes constem as anotações relativas ao saque a que se refere o § 1º dêste artigo, devidamente
feitas pelo consulado que os visar.
Art. 22. Os estrangeiros a que se refere o art. 8º, alínea a, do presente regulamento, provarão sua
condição pela simples apresentação do passaporte diplomático.
Art. 23. Os estrangeiros a que se refere o art. 8º, alínea b, deverão apresentar uma declaração escrita da
autoridade a cujo serviço se acham, responsabilizando-se por sua manutenção enquanto estiverem em
território brasileiro e pelo seu repatriamento no caso de virem a ser dispensados do serviço.
Art. 24 Os estrangeiros a que se refere a alínea c do artigo 8º, para a obtenção do "visto" no seu
passaporte, deverão apresentar à autoridade consular brasileira, no ponto de embarque, qualquer dos
seguintes documentos :
b) carta de banco declarando ser correntista e pessoa idônea, conhecida da respectiva gerência ou
diretoria;
c) carta de apresentação ou recomendação de qualquer entidade oficial de turismo, tais como Touring
Clubs, Automóve1 Clubs, Rotary Clubs, e associações congêneres;
d) carta oficial do jornal ou agremiação a que pertencerem, da qual constará, sem prejuízo do disposto
no § 1º dêste artigo, a qualidade e o fim a que vêm ao Brasil, e que substituirá o documento da alínea c,
quando se tratar de jornalistas, esportistas, enxadristas, jogador de bilhar e congêneres.
§ 1º Os documentos enumerados neste artigo devem declarar expressamente que a viagem do seu
portador ao Brasil tem o carater atribuído a alguma das classes previstas na, alínea c do art. 8º.
§ 2º A permanência, no Brasil, dos estrangeiros a que se refere a alínea c do art. 8º não deverá exceder
de noventa dias, contados da data do respectivo desembarque, podendo êsse prazo, entretanto, ser
prorrogado por periado igual, pela
Art. 17 A prova de parentesco será feita por meio de documentos oficiais, dos quais se possa inferir,
categoricamente, o parentesco alegado.
Art. 19 A prova de identidade, em qualquer caso, será feita mediante a apresentação de carteira de
identidade ou profissional, brasileira, civil ou militar.
Art. 20 A boa conduta será provada mediante a apresentação de qualquer dos seguintes documentos :
Art. 21 A prova de posse, exigida pelo inciso I do artigo 3º e pela alínea e do § 1º da art. 13 será
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§ 1º O estrangeiro deverá exibir à autoridade consular brasileira do ponto de embarque, por ocasião da
aposição do "visto" no respectivo passaporte, um saque, de caráter nominal, da quantia correspondente à
sua pessoa, emitido em duas vias, por estabelecimento bancário local, sôbre estabelecimento bancário no
Brasil,
I. Por ocasião do desembarque, a autoridade imigrátoria aporá, ao saque de que trata êste parágrafo, o
carimbo de "Resgate Condiciona!" estampado no modêlo anexo número 3.
II. É condição imprescindivel, para o resgate do valor do saque, a apresentação de uma guia, conforme o
modêlo anexo n. 5, expedida pela autoridade policial.
IV. O valor do saque será resgatado pessoalmente, ou pelo rapresentante legal do seu proprietário, em
caso de incapacidade civil.
§ 3º Tratando-se do caso de noiva, previsto no § 4º do art. 14, serão exigidas as provas das alíneas a, c e
d do parágrafo anterior, sendo a da alínea b substituída pela apresentação obrigatória da certidão de
casamento. autoridade policial competente, que, mediante a apresentação documento de que trata êste
artigo, fará, no passaporte, assinando-a, a declaração: "Prorrogado por .......... dias".
a) uma declaração do superior da ordem a que pertençam, da qual conste o motivo expresso da sua
vinda ao Brasil, si forem membros de congregação religiosa on missionários;
b) uma declaração, firmada por autoridade eclesiástica brasileira, da religião ou seita a que pertençam,
autorizando-os a vir exercer seu ministério em diocese ou província eclesiástica determinada do território
nacional, si forem sacerdotes.
Art. 26. Os estrangeiros compreendidos na alínea e do art. 8º deverão assinar, no consulado do ponto de
embarque, uma declaração, da qual conste o motivo a que vêm ao Brasil e o compromisso de exibir à
autoridade policial competente, no prazo de quinze dias, contados da data do desembarque, em documento
em que se confirme a sua declaração anterior, assinado pelo diretor da instituição a que vierem
recomendados.
Parágrafo único. Os estrangeiros, não imigrantes, que venham ao Brasil para organizar ou realizar
expedições ou excursões científicas pelo interior do país deverão satisfazer as exigências dêste decreto,
como incluídos na alínea e do art. 8º, e observar, para consecução do seu. objetivo, os dispositivos do
240
Art. 31 Os documentos que êste regulamento exige e forem apresentados às autoridades consulares
brasileiras nos pontos de embarque, serão por elas visados nos têrmos do art. 69 do Regulamento de
Passaportes, e entrêgues às partes, afim de serem oportunamente exibidos.
1º Farão parte integrante do passaporte os documentos a que alude êste artigo, devendo ser apresentados
às autoridades policiais competentes sempre que forem exigidos.
Art. 32 Os documentas apresentados no Brasil, para se obter uma autorização de livre embarque e
desembarque de estrangeiros devem estar revestidos de tôdas as formalidades legais, e acompanhados de
traducção, feita por intérprete comercial brasileiro, os que não forem escritos no idioma nacional.
Art. 33 No passaporte do estrangeiro, em todos os casos previstos no art. 8º, a autoridade consular
brasileira lancará o "visto" e aporá o carimbo estampado no modêlo anexo n. 4.
CAPÍTULO V
Art. 34. Os comandantes de vapores procedentes de qualquer pôrto estrangeiro ficam obrigados a
entregar cada uma das autoridades de visita a bordo, logo que o navio tenha fundeado, uma lista
organizada, segundo os modêlos anexos, ns. 6 a 8, contendo os nomes e prenomes, de todos os
passageiros que forem desembarcar no respectivo pôrto, seu sexo, idade, nacionalidade, profissão, grau de
parentesco com o chefe de familia que porventura acompanhem, religião, grau de instrução, localidade, e
país de sua última residência, pôrto de procedência e lugar de, destino, assim como a lista dos passageiros
em trânsito, de todas os classes.
§ 2º Além das listas a que se refere êste artigo, deverão os comandantes de navios apresentar às
autoridades policiais a lista nominal dos respectivos tripulantes, cujo número será declarado, por extenso,
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pela autoridade consular brasileira, ao lançar-lhe o "visto", não podendo dela constar, em hipótese alguma,
nomes de pessoas estranhas à tripulação.
Parágrafo único. Estando o estrangeiro em algumas das condições referidas neste artigo, farão as
autoridades sanitárias as declarações necessárias, ao lado do respectivo nome, tanto na lista de
passageiros, que fica em seu poder, como na primeira coluna de observações da lista destinada à
autoridade policial, a que se refere o § 1º do artigo anterior, lançando em ambas seu "visto".
Art. 36. As autoridades imigratórias verificarão, entre os estrangeiros a desembarcar, e pelo exame dos
documentos que trouxerem, quais os que se encontram nas condições das alíneas I e II do art. 2º dêste
regulamento, e lhes darão o destino conveniente, depois de fazê-los identificar.
§ 1º As anotações relativas aos serviços imigratórios, serão feitas, tanto na lista que ficar em poder das
respectivas autoridade, como na segunda coluna de observações da que se destina às autoridades policiais,
já visada pelas autoridades sanitárias, sendo esta última, depois de receber aquelas anotações, igualmente
visada pelas autoridades imigratórias, que a entregarão às autoridades policiais marítimas.
§ 2º A ficha de identificação será feita em duplicata e uma das vias se remeterá à Chefatura de Polícia
do Estado em que estiver situada a localidade ou núcleo colonial a que se destinem os imigrantes, afim de
que ela verifique, oportunamente, se se acham efetivamente localizados no ponto do seu destino,
cumprindo à mesma Chefatura comunicar, imediatamente à repartição competente do Ministério do
Trabalho. Indústria e Comércio, qualquer infração verificada, depois de tomar as providências exigíveis
no caso, de acôrdo com o presente; regulamento.
§ 4º Enquanto não estiver organizado o serviço de identificação a cargo das inspetorias federais de
imigração, a que se refere o parágrafo anterior; caberá ao Chefe de Polícia do Estado em que
desembarcarem os imigrantes destacar, para executá-lo junto às referidas inspetorias, funcionários do
respectivo gabinete de identificação.
§ 5º Nenhum imigrante poderá desembarcar sem que o respectivo passaporte tenha recebido o "visto"
das autoridades imigratórias de serviço a bordo, sendo indispensável essa formalidade para a retirada de
sua bagagem das repartições aduaneiras.
Art. 37. As autoridades policiais marítimas, de posse da lista visada pelas autoridades sanitárias o
imigratórias, tornarão efetivos os impedimentos nela, porventura, registados por essoutras autoridades.
§ 1º Os documentos dos estrangeiros incluídos no inciso III do art. 2º e no art. 3º serão examinados e
visados conjuntamente pelas autoridades imigratórias e policiais marítimas do ponto de desembarque.
Art. 38. Os documentos dos estrangeiros não imigrantes à que se refere o capítulo II dêste regulamento
serão examinados e visados pelas autoridades policiais marítimas do ponto de desembarque, cumprindo às
autoridades aduaneiras só entregar as respectivas bagagens, quando lhes for exibido o passaporte visado
por aqueloutras autoridades.
sanitárias e imigratórias.
§ 2º Os motivos dos impedimentos a que se refere o parágrafo anterior, tal como consta da lista que fica
em poder das autoridades policiais, serão por elas anotados nos passaportes dos estrangeiros impedidos.
Art. 39. Nenhum tripulante poderá desembarcar, sob pretesto algum, sem apresentação da respectiva
caderneta de identidade profissional, que ficará em poder da autoridade policial a bordo, até seu regresso.
CAPÍTULO VI
DAS PENALIDADES
Art. 40. O infrator de qualquer dispositivo do presente regulamento está sujeito à pena de repatriamento
ou à de, expulsão do território nacional.
§ 1º Não sendo resgatado dentro do prazo de 90 dias, contados da data do desembarque do imigrante, o
valor do saque a que se refere o § 1º do art. 21, o estabelecimento bancário contra o qual êste for sacado
fará o depósito judicial da respectiva quantia, nos têrmos da legislação em vigor e observado o § 2º dêste
artigo, com citação da autoridade que tiver expedido a autorização de livre embarque e desembarque, afim
de ser a mesma quantia levantada por quem de direito.
§ 3º Se ultimadas as diligências a que o parágrafo anterior alude, e pronto para se repatriar o estrangeiro,
conforme o art. 47, for, contudo, julgada procedente a defesa por êle promovida, a autoridade policial
autorizará o levantamento do depósito, e, na hipótese contrária, lançará mão dêste, para fazer face às
despesas de repatriamento.
Art. 41. As despesas efetuadas com o repatriamento ou a expulsão dos estrangeiros que infringirem o
presente regulamento depois de levantarem o valor do saque a que se refere o § 1º do art. 21 correrão por
conta do respectivo fiador, de acôrdo com o têrmo de responsabilidade por êste assinado.
Art. 42. O repatriamento ou a expulsão de estrangeiro que, viajando como tripulante, deserte de bordo
ou abandone o navio, permanecendo em território nacional, far-se-á por conta da empresa proprietária do
navio de cuja guarnição fazia êle parte.
Parágrafo único. A pena de repatriamento do estrangeiro que se achar nas condições dêste artigo
prescreverá no fim de um ano, contado da data da saída do navio do pôrto em que o tripulante o tenha
abandonado ou haja desertado.
Art. 43. As emprêsas de navegação que transportarem estrangeiros com infração de qualquer das
exigências dêste regulamento, emitirem bilhetes de passagem de ou para portos do território nacional que
não sejam os declarados no art. 3º do decreto n. 24.215, de 9 de maio de 1934, ou venderem passagens
sem que os estrangeiros hajam cumprido todas as exigências legais, ficam obrigadas a manter tais
passageiros a bordo e a reconduzi-los aos portos de procedência.
Parágrafo único. Em caso de reincidência, serão as emprêsas de que êste artigo trata passíveis da multa
do réis 2:000$000 (dois contos de réis) a 10:000$000 (dez contos de réis), imposta pelas autoridades
imigratórias no pôrto do Rio de Janeiro e nos Estados.
243
Art. 44. As multas em que incorrerem as emprêsas de navegação serão pagas no Tesouro Nacional, ou
nas suas Delegacias Fiscais e repartições aduaneiras, nos Estados, mediante guia das autoridades de
imigração.
Parágrafo único. Da decisão que impuser a multa haverá recurso para o Ministro do Trabalho, Industria
e Comércio, na, fórma do decreto n. 23.121, de 23 de novembro de 1932.
Art. 45. Não será permitido a qualquer estabelecimento bancário, sob pena de multa de 10:000$000
(dez contos de réis) em cada caso, elevada ao dôbro nas reincidências, o pagamento do saque de que trata
o § 1º do art. 21 sem a apresentação da guia policial a que se refere o inciso II do mesmo parágrafo, à qual
ficará em poder do aludido estabelecimento, para justificar o resgate do saque.
Parágrafo único. A multa a que se refere o presente artigo será cobrada executivamente pela Fazenda
Nacional, bastando para início do respectivo processo a comunicação do fato pela autoridade policial
competente, e, escriturada no Tesouro Nacional, ao qual será recolhida, à conta do Ministério da Justiça e
Negócios Interiores, servirá, para o custeio das despesas de repatriamento do estrangeiro, se da parte do
fiador dêste se verificar insolvência.
Art. 46. A pena de repatriamento se cominará ao estrangeiro que a Justiça brasileira, durante o primeiro
ano de sua permanência em território nacional, condenar por crime infamante.
Art. 47. O repatriamento do estrangeiro infrator de alguma das disposições do decreto n. 24.815, de 9
de maio de 1934, ou dêste regulamento será, ordenado pelo chefe de Policia do Distrito Federal ou de
qualquer dos Estados, por despacho nos autos do processo da "carta de chamada", sendo concedido o
prazo de dez dias ao infrator, depois de preso e identificado, para a defesa a que allude o § 3º do art. 40 do
presente regulamento.
CAPÍTULO VII
Art. 48. Os processos de introdução de imigrantes agricultores obedecendo aos têrmos do inciso I do
art. 2º dêste regulamento ficam isentos de quaisquer custas e emolumentos.
Art. 49. Estão sujeitos às taxas do Regulamento do Sêlo Federal os processos do introdução de
estrangeiros feita nos têrmos do inciso II do art. 2º, sendo o têrmo de responsabilidade assinado na
repartição competente do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio e selado proporcionalmente.
§ 1º Para os fins dêste artigo, fica arbitrado o valor do têrmo de responsabilidade por pessoa, em
2:000$000 (dois contos de réis), ou 3:000$000 (três contos de réis), conforme o estrangeiro chamado seja
menor ou maior de 12 anos.
Art. 50. Os processos de introdução de estrangeiros cujas categorias não se achem referidas nos arts. 48
e 49 estão sujeitas não só ao sêlo federal proporcional ao valor da responsabilidade, fixado na forma do §
1º do art. 49, mas também nos regimentos de custas dos Estados onde tiverem andamento.
Parágrafo único. As vias da autorização de livre embarque e desembarque estão isentas de qualquer sêlo
ou emolumento, bem como os respectivos "vistos".
244
CAPÍTULO VIII
Art. 51. Só as emprêsas de navegação autorizadas pelo Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio
poderão efetuar o desembarque de imigrantes em portos nacionais, se abertos ao tráfego internacional de
imigração, conforme o art. 3º do decreto n. 24.215, de 9 de maio de 1934.
Art. 52. As emprêsas que houverem obtido a autorização na forma do artigo anterior, são obrigadas :
b) a avisar, por escrito, com a antecedencia de dois dias às autoridades imigratórias, nos diversos portos,
a data da chegada dos respectivos vapores, sob pena de poderem ser compelidas a conservar os
estrangeiros a bordo até vinte e quatro horas após a chegada do navio.
Parágrafo único. Na classificação a que se refere a alinea a dêste artigo, qualquer classe intermediaria
abaixo da primeira e, bem assim, a classe única serão sempre consideradas, respectivamente, como
segunda e terceira classes.
Art. 53. Para fins estatísticos, deverão as emprêsas de navegação entregar às autoridades imigratórias,
no dia da saída dos seus vapores, a lista minuciosa dos passàgeiros embarcados com destino a portos do
exterior.
Art. 54. Os tripulantes de navios estrangeiros, dando baixa do serviço, poderão desembarcar em portos
nacionais, como imigrantes não agricultores, observado o que dispõe o art. 3º dêste regulamento.
Capítulo IX
Disposições gerais
Art. 55. Os casos omissos no presente regulamento serão resolvidos, se se tratar de estrangeiros
imigrantes, por despacho, irrecorrível do ministro do Trabalho, Indústria e Comércio, e se interessarem a
estrangeiros não imigrantes, por despacho do chefe de Polícia do Distrito Federal ou do Estado em que
ocorrem, cabendo á parte, nesta última hipóteses, recorrer para o ministro da Justiça e Negócios
Interiores, cuja decisão será definitiva.
Art. 56. As repartições federais e estaduais a que incumba a execução de disposições do decreto n.
24.215, de 9 de maio de 1934, e deste regulamento organizarão, dentro dos seus moldes administrativos,
os serviços necessários para o seu fiel cumprimento.
Art. 57. Serão reconhecidos como válidos, pelo prazo de 60 (sessenta) dias, contados da data da
publicação dêste regulamento, os "vistos'" lançados anteriormente à mesma publicação, pelas autoridades
245
Art. 58. Todo o estrangeiro que, residindo no território nacional, dele se ausentar por prazo não superior
a um ano, contado da data da publicação do presente regulamento, estará isento de qualquer formalidade
ou exigência neste consignada para o "visto" consular no passaporte, por ocasião do seu regresso, uma vez
que, do "visto" policial de saída, a que se referem os arts. 48 e 51 do regulamento de passaportes, conste a
declaração de que tenciona voltar ao Brasil no aludido prazo.
Parágrafo único. Para obter a declaração referida no final dêste artigo o interessado deverá apresentar á
autoridade policial encarregada de visar o passaporte :
ADVERTÊNCIA
Informamos que os textos das normas deste sítio são digitados ou digitalizados, não sendo, portanto, "textos oficiais". São reproduções digitais de
textos originais, publicados sem atualização ou consolidação, úteis apenas para pesquisa.
Senado Federal
Subsecretaria de Informações
O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o art. 180 da Constituição,
decreta:
Art. 1º. Os estrangeiros fixados no território nacional e os que nele se acham em carater temporário
não podem exercer qualquer atividade de natureza política nem imiscuir-se, direta ou indiretamente, nos
negócios públicos do país.
2 - Exercer ação individual junto a compatriotas no sentido de, mediante promessa de vantagens, ou
ameaça de prejuízo ou constrangimento de qualquer natureza, obter adesões a idéias ou programas de
partidos políticos do país de origem.
Essa proibição será estendida, a critério do ministro da Justiça e Negócios Interiores, a quaisquer sinais
exteriores de filiação política, ainda que não constantes de disposições legais ou estatutárias.
4 - Organizar desfiles, passeatas, comícios e reuniões de qualquer natureza, e qualquer seja o número
de participantes, com os fins a que se referem os incisos ns. 1 e 2.
5 - Com o mesmo objetivo manter jornais, revistas ou outras publicações, estampar artigos e
comentários na imprensa, conceder entrevistas; fazer conferências, discursos, alocuções, diretamente ou
por meio de telecomunicação, empregar qualquer outra forma de publicidade e difusão.
247
Parágrafo único. Excetuam-se da proibição contida no inciso 3º as bandeiras que sejam reconhecidas
como símbolos de nações estrangeiras.
Art. 3º. E' lícito aos estrangeiros associarem-se para fins culturais, beneficentes ou de assistência,
filiarem-se a clubes e quaisquer outros estabelecimentos com o mesmo objeto, bem assim reunirem-se
para comemorar suas datas nacionais ou acontecimentos de significação patriótica.
§ 1º. Não poderão tais entidades receber, a qualquer título, sub-venções, contribuições ou auxílios de
governos estrangeiros, ou de entidades ou pessoas domiciliadas no exterior.
§ 2º. As reuniões autorizadas neste artigo não serão levadas a efeito sem prévio licenciamento e
localização pelas autoridades policiais.
Art. 4º. As proibições contidas nos artigos anteriores alcançam as escolas e outros estabelecimentos
educativos mantidos por estrangeiros ou brasileiros, e por sociedades de qualquer natureza, fim,
nacionalidade e domicílio.
Parágrafo único. Fica-lhes, contudo, ressalvado o direito ao uso de uniforme escolar e às reuniões para
aulas e outros fins de ordem didática.
Art. 5º. Das entidades a que se refere o art. 3º não podem no entanto fazer parte brasileiros, natos ou
naturalizados, e ainda que filhos de estrangeiros.
Os que infringirem o disposto neste artigo perderão, ipso facto, os cargos públicos que possuirem e
ficarão inhabilitados, pelo prazo de cinco anos, para exercer cargo dessa natureza, alem de incorrerem nas
penas constantes da primeira parte do art. 10.
Art. 6º. As entidades referidas nos arts. 3º e 4º não poderão funcionar sem licença especial e registo
concedido pelo Ministério da Justiça e Negócios Interiores, na forma do decreto-lei n. 59, de 11 de
dezembro de 1937, e do regulamento aprovado pelo decreto n. 2.229, de 30 de dezembro de 1937, cujas
disposições lhes são aplicáveis.
Art. 7º As entidades, cujo funcionamento é proibido no art. 2º, ficam dissolvidas na data da publicação
desta lei, sendo-lhes concedido o prazo de trinta dias para o encerramento de quaisquer negócios e
operações.
Art. 8º. O Ministro da Justiça e Negócios Interiores poderá ordenar a interdição das sedes e de todos os
locais em que se exerçam as atividades que ficam vedadas por esta lei, bem como, a qualquer momento,
vetar a realização de reuniões, conferências, discursos e comentários, e o emprego de qualquer meio de
propaganda ou difusão, desde que os considere infringentes das disposições desta lei. Pelo mesmo motivo,
poderá suspender, temporária ou definitivamente, quaisquer jornais, revistas e outras publicações, e fechar
as respectivas oficinas gráficas.
Parágrafo único. Nos Estados e no Território do Acre, a faculdade conferida neste artigo poderá ser
delegada, ainda que por via telegráfica, aos respectivos governos.
Art. 9º. O Ministério da Justiça e Negócios Interiores exercerá fiscalização permanente sobre as
entidades mencionadas nesta lei. Para esse fim, o Ministro de Estado designará, dentro dos quadros do
Ministério, os funcionários que se fizerem necessários, podendo delegar essa atribuição, nos Estados e no
Território do Acre, a funcionários indicados pelos respectivos governos.
Esses funcionários exercerão gratuitamente a fiscalização, sendo-lhes apenas abonadas diárias e ajudas
de custo, fixadas pelo Ministro e a critério deste.
248
Art. 10. Os que infringirem as prescrições desta lei incorrerão nas penas constantes do art. 6º do
decreto-lei n. 37, de 2 de dezembro de 1937, ou serão passíveis de expulsão, a juízo do governo.
Parágrafo único. As penalidades cominadas neste artigo aplicam-se aos diretores das sociedades,
companhias, clubes e outros estabelecimentos compreendidos nas proibições desta lei, bem como a
quaisquer responsáveis pelos mesmos, seus sócios, contribuintes ou não, e empregados remunerados ou
gratuitos.
Art. 11. Esta lei entrará em vigor na data em que for publicada, e o seu texto será remetido, para este
fim, aos governos dos Estados e do Território do Acre; revogadas as disposições em contrário.
Getulio Vargas.
Francisco Campos.
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ADVERTÊNCIA
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textos originais, publicados sem atualização ou consolidação, úteis apenas para pesquisa.
Senado Federal
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O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o artigo 180 da Constituição,
decreta:
CAPÍTULO I
DA ENTRADA DE ESTRANGEIROS
III - que apresentem afecção nervosa ou mental de qualquer natureza. verificada na forma do
regulamento, alcoolistas ou toxicomanos;
VI - menores de 18 anos e maiores de 60, que viajarem sós, salvo as exceções previstas no
regulamento;
VII - que não provem o exercício de profissão lícita ou a posse de bens suficientes para manter-se e às
pessoas que os acompanhem na sua dependência;
VIII - de conduta manifestamente nociva à ordem pública, è segurança nacional ou à estrutura das
instituições;
X - condenados em outro país por crime de natureza que determine sua extradição, segundo a lei
250
brasileira;
Art. 2º - O Governo Federal reserva-se o direito de limitar ou suspender, por motivos econômicos ou
sociais, a entrada de indivíduos de determinadas raças ou origens, ouvido o Conselho de Imigração e
Colonização.
Art. 5º - As autoridades brasileiras do país ou região de procedência dos estrangeiros, antes de apor o
visto nos passaportes, deverão verificar, por todos os meios ao seu alcance, as condições de legalidade e
autenticidade dos documentos exigidos por esta lei e respectivos regulamentos.
Parágrafo unico - Os atestados relativos às condições físicas e de saúde dos estrangeiros, serão
passados por médicos de confiança dos consulados.
Art. 7º - O visto é válido pelo prazo de noventa (90) dias contados da data de sua aposição, podendo
ser prorrogado por igual prazo, desde que a quota respectiva não esteja esgotada.
Art. 8º - Todo estrangeiro receberá do Consulado ao qual couber a concessão do visto um documento
que reúna os dados referentes ao portador, contendo: nome, sobrenome, filiação, nacionalidade, lugar e
data do nascimento e profissão.
a) por via marítima, unicamente pelos portos de Belem, Recife, Salvador, Rio de Janeiro, Santos, São
Francisco do Sul ou Florianópolis e Rio Grande;
b) por via terrestre, fluvial ou aérea, nos pontos onde houver Inspetorias Federais de Imigração ou
posto do Departamento de Imigração.
CAPÍTULO II
251
CLASSIFICAÇÃO DE ESTRANGEIROS
Art. 10 - Os estrangeiros que desejarem entrar no território nacional serão classificados em duas
categorias, conforme pretendam vir em carater permanente ou temporário.
Art. 11 - São considerados como vindos em carater permanente os que tencionem permanecer no
território nacional por prazo superior a seis (6) meses.
Parágrafo único - Os estrangeiros classificados neste artigo, poderão tornar permanente sua estada no
território nacional, satisfeitas as exigências que forem estabelecidas no regulamento da presente lei.
Art. 13 - O desembarque dos estrangeiros em trânsito que tenham de demorar no país mais de uma
semana, só será permitido se apresentarem à autoridade consular brasileira, para o visto, o passaporte já
legalizado pela autoridade consular do país a que se destinam. Quando a demora for inferior a esse prazo,
o visto será dispensado.
CAPÍTULO III
QUÓTAS DE ENTRADA
§ 5º - Quando a quota de uma nacionalidade não alcançar tres mil (3,000) pessoas, o Conselho de
Imigração e Colonização poderá elevá-la até esse limite.
b) a estrangeira casada com Brasileiro ou viúva de brasileiro, ainda que apátrida, e o estrangeiro casado
com brasileira, quando esta vier com paasaporte brasileiro, e respectivos filhos menores;
c) os menores de um ano;
d) os estrangeiros domiciliados no tarritório nacional, que dele se ausentarem por prazo não superior a
dois (2), anos, contados da data do visto de retorno na forma do art. 43.
Art. 16. Oitenta por cento (80 %) de cada quota serão destinados a estrangeiros agricultores ou
técnicos de indústrias rurais.
Art. 17. O agricultor ou técnico de indústria rural não podera abandonar a profissão durante o período
de quatro (4) anos consecutivos, contados da data do seu desembarque, salvo autorização do Conselho.
Art. 18. Quando entender conveniente as necessidades econômicas do País, o Conselho de Imigração e
Colonização poderá permitir que o saldo das quotas seja aproveitado na introdução de agricultores de
nacionalidade, cuja quota já se tenha esgotado.
Parágrafo único. A disposição contida neste artigo aplica se aos tratados bilaterais celebrados com os
países de imigração.
CAPÍTULO IV
TRATADOS BILATERAIS
Art. 19. A União celebrará tratados bilaterais de imigração e colonização com o fim de atrair para o
País o nele fixar trabalhadores agrícolas.
§ 1º Os governos dos Estados poderão propor ao Governo Federal a celebração desses tratados, ficando
responsáveis perante a União pelas obrigações decorrentes dos mesmos.
§ 2º Ao Conselho de Imigração e Colonização caberá proceder aos estudos prévios para a celebração
desses tratados, emitindo parecer fundamentado.
CAPÍTULO V
DA FISCALIZAÇÃO
Art. 20. A visita a bordo, para o efeito da fiscalização e desembarque de passageiros, será feita
conjuntamente pelas autoridades da Saúde Pública, da Imigração e da Polícia. A esta última caberá, opor
seus próprios impedimentos e os requisitados pelas duas primeiras, incumbindo-lhe tambem torná-los
efetivos.
Art. 21. Cabe à Polícia levantar os impedimentos ao desembarque de passageiros, sendo que os
requisitados pela Saúde a Imigração não serão levantados sem prévio consentimento das respectivas
autoridades.
Art. 22. Dentro do limite da quota, não havendo prejuízo à saúde pública ou à segurança nacional, e
para a fim de legalização de documentos, poderá a Polícia autorizar, excepcionalmente, o desembarque de
estrangeiros, mediante caução em dinheiro, correspondente ao preço da passagem de volta.
Parágrafo único. Findo o prazo concedido pela Polícia e não satisfeitas as exigências, será o estrangeiro
253
Art. 23. Durante a visita das autoridades competentes, fica o navio interdictado a outros visitantes,
excetuados os representantes diplomáticos ou consulares e autoridades.
Art. 25. Será impedida a entrada do estrangeiro que não houver satisfeito os requisitos desta lei e do
seu regulamento.
Art. 26. A fiscalização do estrangeiro após sua entrada compete à Polícia, salvo os casos de
competência do Conselho de Imigração e Colonização, que serão por ele mesmo solucionados.
CAPÍTULO VI
IDENTIFICAÇÃO E REGISTRO
Art. 27. Os estrangeiros destinados ao território nacional não poderão desembarcar ou transpor as
fronteiras senão depois de identificados pelo Departamento de Imigração, segundo as normas que o
regulamento desta lei estabelecer, excetuados os restantes do art. 12.
Art. 28. Dentro do prazo de trinta (30 ) dias, contados da data de seu desembarque, o estrangeiro
deverá apresentar-se, para registro, à autoridade policial do lugar de destino.
§ 1º Durante o prazo de quatro (4) anos, contados da data do desembarque ou entrada no território
nacional, qualquer mudança de trabalho, emprego ou domicílio importará novo registro perante a
autoridade policial, que dará ciência devida ao Conselho de Imigração e Colonização.
§ 2º Se não houver mudança de trabalho ou emprego, o registro será apenas revalidado anualmente, até
que se esgote o prazo.
Art. 29. Nenhum estrangeiro poderá permanecer por mais de seis (6) meses no território nacional, sem
obter a carteira de identidade fornecida pelos serviços policiais de identificação.
Parágrafo único. A. carteira não poderá ser fornecida sem exibição dos passaportes dos estrangeiros,
visados pelas autoridades imigratórias. comprovando sua permanência legal no País, nos termos da
legislação vigente na época de sua entrada.
Art. 30. Ficam dispensados das exigências relativas ao registro os estrangeiros a que se refere o art. 12,
letra a
Art. 31. Os estrangeiros do sexo masculino, maiores de dezoito (18) anos, atualmente residentes no
Brasil, terão o prazo de um ano para o cumprimento do disposto no art. 28.
254
Art. 32. Os serviços de identificação civil ou militar do País enviarão ao Departamento de Imigração e
à Polícia Civil do Distrito Federal cópia de todas as individuais dactiloscópicas de estrangeiros.
Art. 33. Os empregadores farão constar do livro de registro dos empregados, se forem estrangeiros,
além do outras informações que o regulamento desta lei estabelecer:
Art. 34. Nenhum estrangeiro admitido em carater temporário poderá empregar-se no Pais, ressalvado o
caso da letra c do art. 12.
O admitido como agricultor ou técnico de indústrias rurais não poderá empregar-se em zona urbana
antes de decorrido o prazo de quatro (4) anos a que se refere o art. 17
Parágrafo único. Para os fins deste artigo, todo estrangeiro apresentará ao empregador seu passaporte,
visado pelo Departamento de Imigração.
Art. 35. As repartições públicas federais, estaduais e municipais, institutos e caixas de aposentadoria e
pensões e congêneres, antes da decisão final dos requerimentos de licenças comerciais, registro do
comércio, alvarás, carteiras profissionais, concessões, favores e análogos, exigirão que os estrangeiros
provem entrada e permanência regular.
CAPÍTULO VII
HOSPEDAGEM E ENCAMINHAMENTO
Art. 37. Nenhumo serviço será prestado ao estrangeiro, na ocasião da sua entrada, por qualquer
sociedade, empresa ou particular, sem prévia autorização do Departamento de Imigração.
Art. 38. Sómente depois da inspeção pelo Departamento de Imigração poderão os Estados, sociedades,
empresas e particulares, prestar aos estrangeiros serviços de hospedagem, encaminhamento e quaisquer
outros.
Quando se tratar de estrangeiros vindos espontaneamente ou introduzidos pelo Governo Federal, o seu
transporte, bem como o das respectivas bagagens, poderá correr por conta da União, dos Estados ou dos
particulares. A estes últimos e aos Estados caberá esse encargo quando a introdução for por eles
promovida.
CAPÍTULO VIII
CONCENTRAÇÃO E ASSIMILAÇÃO
Art. 39. Nenhum núcleo colonial, centro agrícola ou Colônia, será constituída por estrangeiro de uma
só nacionalidade.
§ 1º Em cada núcleo ou centro oficial ou particular, será mantido um mínimo de trinta por cento (30%)
de brasileiros e o máximo de vinte e cinco por cento (25 %) de cada nacionalidade estrangeira. Na falta de
brasileiros, este mínimo, mediante autorização do Conselho de Imigração e Colonização, poderá ser
suprido por estrangeiros, de preferência portugueses.
Art. 41. Nos núcleos, centros ou colônias, quaisquer escalas, oficiais ou particulares, serão sempre
regidas por brasileiros natos.
Parágrafo único. Nos núcleos, centros ou colônias é obrigatório o estabelecimento de escolas primárias
em número suficiente, computadas as mesmas no plano de colonização.
Art. 42. Nenhum núcleo, centro ou colônia, ou estabelecimento de comércio ou indústria ou associação
neles existentes, poderá ter denominação em idioma estrangeiro.
CAPÍTULO IX
VISTO DE RETORNO
Art. 43. O estrangeiro que tenha entrado no Brasil legalmente em carater permanente, e que dele se
ausentar por prazo não superior a um ano, poderá regressar mediante simples autorização da Polícia,
constante de documento especial na forma do regulamento.
§ 1º A validade desse visto de retorno poderá ser prorrogada por mais de um ano pela autoridade
consular.
§ 2º A prova de entrada legal para os efeitos deste artigo será feita pelo passaporte e, na falta deste,
mediante certidão do Departamento de Imigração, sem prejuízo das sindicâncias julgadas necessárias.
Art. 44. Voltando o estrangeiro ao país, o documento será arrecadado pela Polícia Marítima.
Parágrafo único. Em casos especiais, previstos no regulamento, o documento não será arrecadado
senão depois de findo o prazo nele fixado.
CAPÍTULO X
Art. 45. Os Estados, sociedades, empresas e particulares que pretenderem introduzir estrangeiros,
solicitarão licença prévia ao Conselho de Imigração e Colonização, declarando:
§ 1º As sociedades, empresas ou particulares provarão ainda que se acham registrados na forma da lei e
dispõem de recursos financeiros.
256
Em qualquer caso serão apresentados os contratos de locação de serviço, dispensadas destas exigências
as companhias de colonização, que provarão, no entanto, o cumprimento do disposto no decreto-lei n. 58,
de 10 de dezembro de 1937.
Art. 46. Concedida a licença, será a mesma registrada e comunicada, para os devidos fins, ao
Ministério das Relações Exteriores.
Art. 47. O Departamento de Imigração podera manter, junto às autoridades consulares, funcionários
técnicos para cooperar in loco no serviço de selecionamento.
Parágrafo único. Para o mesmo fim os Estados, sociedades, empresas ou particulares, autorizados na
forma do art. 45 poderão manter no exterior agentes ou prepostos de nacionalidade brasileira e acreditados
na Departamento de Imigração.
CAPÍTULO XI
EMPRESAS DE NAVEGAÇÃO
1) a lista nominal, visada pela autoridade consular brasileira, dos estrangeiros destinados a cada um dos
portos nacionais;
2) a lista dos passageiros embarcados nos portos nacionais com destino ao exterior;
3) a lista nominal da equipagem, visada pelo Consul brasileiro, dela não podendo constar pessoas
estranhas.
257
Art. 50. Nenhuma empresa venderá passagens a estrangeiros destinados ao Brasil sem que estes
apresentem, visados pela autoridade consular brasileira, os passaportes e fichas consulares de qualificação
exigidos por esta lei e seu regulamento.
Art. 52. Os comandantes de embarcações que transgredirem as disposições desta lei e seu regulamento
ficam sujeitos às penalidades e multa constantes da capítulo 13.
Parágrafo único. As embarcações, com seus acessórios, constituirão garantia das multas.
Art. 53. Os capitães dos portos, mediante requisição do Departamento de Imigração, impedirão a saída
dos navios que, transportando estrangeiros, tiverem questões pendentes por infração das disposições
legais e regulamentares.
CAPÍTULO XII
Art. 55. Fica instituído no Departamento de Imigração, para os fins de fiscalização de suas relações
com os operários urbanos e rurais, o registro das agências e sub-agências de companhias de navegação e
agências particulares de colocação.
Art. 56. O registro dos estabelecimentos já existentes deverá ser requerido dentro do prazo de seis (6)
meses a contar da data da publicação da presente lei, e o daqueles que forem instalados posteriormente,
antes de iniciadas suas operações.
Art. 58. As operações de câmbio só poderão ser efetuadas por bancos e casas bancárias.
Parágrafo único. As atuais casas de câmbio cessarão seu funcionamento até 31 de dezembro do
corrente ano.
Art. 59. A venda de passagens para viagens aéreas, marítimas ou terrestres só poderá ser efetuada
pelas respectivas companhias, armadores, agentes, consignatários, e pelas agências autorizadas pelo
Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, na forma desta lei.
Parágrafo único. Estas agências não poderão funcionar com menos de duzentos e cincoenta contos de
réis (250:000$000) de capital realizado e com depósito de cem contos de réis (100:000$000) no Tesouro
Nacional, em moeda corrente ou apólices da dívida pública federal.
Art. 60. s companhias de navegação e agências particulares de colocação, que tiverem quaisquer
pretensões junto aos poderes públicos federais, estaduais ou municipais, deverão provar o implemento de
todas as obrigações desta lei e do seu regulamento.
CAPÍTULO XIII
PENALIDADES
Art. 62. As sociedades de qualquer espécie e firmas comerciais que incidirem no disposto na letra b
será cancelado o respectivo registro ou autorização para funcionar, sem prejuizo das penalidades a que
ficam sujeitos seus administradores.
Art. 63. Os nacionais incursos na alinea b do art. 61 serão punidos com pena de prisão celular de 2 a 4
anos.
Art. 64. A Polícia promoverá a imediata retirada do país do estrangeiro que exceder o prazo de sua
etada legal conforme as letras a, b, e c do art. 12, salvo os casos previstos no parágrafo único do referido
259
artigo.
Parágrafo único. O prazo concedido ao estrangeiro para a sua retirada não poderá exceder de quinze
(15) dias improrrogáveis a partir da data de notificação. Pena de expulsão.
Art. 65. Ao estrangeiro entrado nos termos da letra a do artigo 12, é vedado o exercício de qualquer
atividade remunerada no país. Pena prisão celular de seis (6) mêses a um (1) ano e expulsão.
Parágrafo único. Ficam sujeitos à multa de um conto de réis a dez contos de réis (Rs. 1:000$000 a
10:000$000), todos quantos empregarem em seus serviços os estrangeiros a que se refere este artigo.
Art. 66. O estrangeiro agricultor ou técnico de indústria rural que exerça profissão estranha à sua
categoria, dentro do prazo de quatro (4) anos, a contar da data de seu embarque, perderá o direito de
permanência, procedendo-se à sua retirada na forma do art. 64.
Art. 67. O empregador estabelecido em zona urbana, que admitir empregado estrangeiro sem a
exibição de passaporte visado pelo Departamento de Imigação, fica sujeito à multa de quinhentos mil réis
a dois contos de réis (Rs. 500$000 a 2:000$000), e ao dobro na reincidência.
Art. 68. O funcionário público que deixar de cumprir ou fazer cumprir as disposições desta lei e seu
regulamento, é passivel de pena de suspensão até trinta (30) dias, dobrada na reincidência, em caso de
culpa e demissão havendo dólo, sem prejuizo da responsabilidade criminal.
Art. 69. As companhias de transporte, firmas comerciais ou particulares, que transgredirem esta lei e
seu regulamento, ficam sujeitas à multa de quinhentos mil réis a cinco contos de réis (500$000 a
5:000$000), dobrada na reincidência.
Art. 70. As multas serão impostas pelo Diretor do Departamento de Imigração e seus representantes
legais, com recurso, sem efeito suspensivo, e interposto dentro de quinze (15) dias, para o Conselho de
Imigração e Colonização.
CAPÍTULO XIV
SELO DE IMIGRAÇÃO
Art. 71. Fica criado o selo de imigração, que será cobrado na forma da tabela anexa.
Art. 72. Os encargos criados para a União pela execução desta lei serão custeados pela receita oriunda
das seguintes fontes:
a) selo de imigração;
d) prestações pagas pelos colonos nos núcleos, centros e colônias mantidos pela União.
CAPÍTULO XV
Art. 73. Fica creado o Conselho de Imigração e Colonização, constituido de sete (7) membros
nomeados pelo Presidente da República, que dentre êles designará o presidente e os seus substitutos nas
faltas e impedimentos.
Art. 74. Os Governos dos Estados poderão designar observadores junto ao Conselho.
Art. 75. A falta a tres (3) sessões consecutivas ou a dez (10) interpoladas durante o ano importará
renúncia.
c) julgar os recursos interpostos dos atos praticados pelas autoridades incumbidas da execução desta
lei;
e) decidir a respeito dos pedidos das empresas, associações, companhias e particulares que pretendam
introduzir estrangeiros.
Art. 77. O Conselho de Imigração e Colonização reunir-se-á ordinariamente, uma vez por semana, e
extraordinariamente, sempre que se tornar necessário ou quando convocado pelo presidente.
Art. 78. Para as deliberações do Conselho é necessária a presença, pelo menos, de quatro (4) membros,
sendo as resoluções tomadas por maioria de votos.
Art. 79. Os observadores poderão discutir os assuntos, não tendo, porém, direito ao voto.
Art. 81. Cada membro do Conselho de Imigração e Colonização perceberá, a título de representação, a
importância de cem mil réis (100$000) por sessão a que comparecer.
CAPÍTULO XVI
Art. 83. Todo estrangeiro deverá apresentar à autoridade policial competente, quando exigida, prova
261
Art. 84. Os estrangeiros que se encontrarem irregularmente no território nacional por ocasião da
publicação do regulamento da presente lei, poderão legalizar sua permanência dentro do prazo
improrrogavel de 120 dias, satisfeitas as exigências desta lei e do seu regulamento.
Art. 85. Em todas as escolas rurais do pais, o ensino de qualquer matéria será ministrada em português,
sem prejuízo do eventual emprego do método direto no ensino das línguas vivas.
§ 1º As escolas a que se refere este artigo serão sempre regidas por brasileiros natos.
§ 5º Nas escolas para estrangeiros adultos serão ensinadas noções sobre as instituições políticas do
país.
Art. 86. Nas zonas rurais do país não será permitida a publicação de livros, revistas ou jornais em
línguas estrangeira, sem permissão do Conselho de Imigração e Colonização.
Art. 87. A publicação de quaisquer livros, folhetos, revistas, jornais e boletins em língua estrangeira
fica sujeita à autorização e registro prévio no Ministério da Justiça.
Art. 88. As polícias estadoais e a do Distrito Federal organizarão dentro de seus quadros, um serviço
destinado a cumprir o disposto ao art. 29 desta lei.
Art. 89. As atribuições conferidas à polícia quanto à fiscalização de entrada de estrangeiros serão
exercidas, no Distrito Federal, pela Polícia Civil do Distrito Federal, e, nos Estados, pelas polícias locais,
enquanto não for federalizada a Polícia Marítima, Aérea e de Fronteiras, na forma da Constituição.
Art. 90. O Governo expedirá dentro de sesenta (60) dias os regulamentos necessários à execução desta
lei. Enquanto não foram baixados esses regulamentos caberá ao diretor de imigração desolver os casos
omissos, excetuados os que se refiram ao desembarque e à fixação de estrangeiros, que ficarão a cargo,
respectivamente, da Polícia e do Serviço de Colonização.
Art. 91. A União organizará o plano de exploração econômica da Amazônia e sua colonização, de
preferência com elementos nacionais.
Art. 92. O Governo abrirá os necessários créditos para a execução desta lei e de seu regulamento.
Getulio Vargas.
Francisco Campos.
262
A. de Souza Costa.
Oswaldo Aranha.
Eurico G. Dutra.
Henrique A. Guilhem.
Fernando Costa.
Gustavo Capanema.
Valdemar Falcão.
1) Visto consular em passaporte de estrangeiros que se destinam ao Brasil, por pessoa - 200$000, ouro.
8) Alteração da classificação nos termos do art. 12, parágrafo único - 1:000$000 papel.
9) Licença para a publicação de livros e boletins em língua estrangeira, por edição - 100$000 papel.
10. Licença para a publicação de jornais e revistas em língua estrangeira, por ano - 500$000 papel.
Observações:
1) O selo a que se referem os incisos 1 e 7 será cobrado nas Consulados. O dos incisos 2, 3, 4 e 8 no
Departamento de Imigração; e o dos incisos 5 e 6 na Polícia, e o dos incisos 9 e 10 no Ministério da
Justiça;
3) A prorrogação do visto, a que se refere o inciso 1, nos termos do art. 7, importa pagamento de novo
selo.
264
ADVERTÊNCIA
Informamos que os textos das normas deste sítio são digitados ou digitalizados, não sendo, portanto, "textos oficiais". São reproduções digitais de
textos originais, publicados sem atualização ou consolidação, úteis apenas para pesquisa.
Senado Federal
Subsecretaria de Informações
Regulamenta o decreto-lei n.406, de 4 de maio de 1938, que dispõe sobre a entrada de estrangeiros
no território nacional
O Presidente da República, usando da atribuição que lhe conferem o art. 74, letra a, da Constituição e o
art. 90 do decreto-lei n. 406, de 4 de maio de 1938,
decreta:
Art. 1º Este regulamento dispõe sobre a entrada e a permanência de estrangeiros no território nacional,
sua distribuição e assimilação e o fomento do trabalho agrícola. Em sua aplicação ter-se-à em vista
preservar a constituição étnica do Brasil, suas formas políticas e seus interesses econômicos e culturais.
Art. 3º A quota a que se refere o artigo anterior corresponde à dois por cento (2%) do número de
estrangeiros da mesma nacionalidade que entrarem no país, com o mesmo carater, no periodo de 1º de
Janeiro de 1884 a 31 de dezembro de 1933.
Art. 4º Quando a quota de uma nacionalidade não atingir três (3.000) pessoas; o Conselho de
Imigração e Colonização (C; I. C.) deverá elevá-la até esse limite.
Art. 5º Poderá igualmente o C. I. C. permitir que o saldo real anual das quotas não utilizadas por uma
nacionalidade seja aproveitado em favor de agricultores de outra nacionalidade cuja quota real já se tenha
esgotado.
§ 1º Nas decisões que tomar com fundamento neste artigo, o Conselho terá em vista a necessidade de
assegurar a integridade étnica, social, econômica e moral da Nação.
§ 2º Entende-se por saldo real a diferença entre a quota calculada na forma do art. 3º (quota real) e a
parte dessa quota que tiver sido utilizada.
Art. 6º A critério do C. I. C., os saldos reais anuais das quotas poderão, outrossim, ser transferidos para
o ano seguinte, em benefício do respectivo país, quando este tiver necessidade de aproveitá-los; vedada a
transferência e o acúmulo de saldo de mais de um triênio.
265
CONCENTRAÇÃO E ASSIMILAÇÃO
Art. 165. Nenhum núcleo colonial será constituído por estrangeiros de uma só nacionalidade.
§ 1º O Governo Federal, por intermédio da D. T. C., fiscalizará os núcleos coloniais, fundados pelos
Estados, Municípios, empresas ou particulares, gozem ou não os seus fundadores de auxílio oficial.
a) evitar que sejam creados núcleos coloniais com estrangeiros de uma só nacionalidade;
c) evitar que o colono estrangeiro deixe, nos primeiros quatro anos, a profissão para a qual foi admitido
no país, salvo autorização do Conselho de Imigração e Colonização.
Art. 166. Afim de evitar a concentração de estrangeiros em núcleos coloniais, emancipados ou não,
fundados quer pela União, quer pelos Estados ou Municípios, quer por empresas ou particulares, a D.T.C.
velará para que seja mantido um mínimo de 30 % de brasileiros natos e um máximo de 25 % de
estrangeiros de cada nacionalidade.
§ 2º Nenhum colono poderá tomar posse do lote sem apresentar prova de que está inscrito no Registro
de Estrangeiros.
§ 3º Para os colonos já localizados será exigida a prova de registro perante a autoridade policial.
§ 4º Nos atuais núcleos coloniais, fundados pela União, Estados, Municípios, empresas ou particulares,
e cujas percentagens não satisfaçam os limites mínimo de 30 % para brasileiros e máximo de 25 % para
cada nacionalidade estrangeira, as transferências só serão permitidas desde que não contrariem este
dispositivo.
§ 5º Para cômputo, dessas percentagens serão considerados os maiores de 12 anos, de ambos os sexos.
Art. 167 Semestralmente a D.T.C. enviará ao Conselho de Imigração e Colonização uma relação dos
estrangeiros que se localizarem nos núcleos coloniais.
Art. 168. Nos núcleos coloniais quaisquer escolas, oficiais ou particulares, serão sempre regidas por
brasileiros natos, e neles é obrigatório o estabelecimento de escolas primárias em número suficiente,
computadas as mesmas no plano de colonização.
Parágrafo único. No provimento do cargo de professor primário exigida do candidato a prova, por
266
documento habil, da qualidade de brasileiro nato, alem dos demais documentos legais.
Art. 169. Nenhum núcleo colonial ou estabelecimento de comércio ou indústria ou associação nele
existente poderá ter denominação em idioma estrangeiro.
Art. 170. Para cumprimento dos dispositivos a que se refere este capítulo, os Estados, Municípios,
empresas e particulares são localizar aqueles que procurem a lavoura, especificados a capacidade de
colonização e o Índice de concentração;
267
ADVERTÊNCIA
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Senado Federal
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O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o art. 180 da Constituição,
DECRETA:
Art. 1º Fica criada, no Ministério da Educação e Saúde, a Comissão Nacional de Ensino Primário, que
se comporá de sete membros, escolhidos pelo Presidente da República, dentre pessoas notoriamente
versadas em matéria de ensino primário e consagradas ao seu estudo, ao seu ensino ou à sua propagação.
b) definir a ação a ser exercida pelo Governo Federal e pelos governos estaduais e municipais para o
fim de nacionalizar integralmente o ensino primário de todos os núcleos de população de origem
estrangeira;
c) caraterizar a diferenciação que deve ser dada ao ensino primário das cidades e das zanas rurais;
d) estudar a estrutura a ser dada ao currículo primário bem como as diretrizes que devam presidir a
elaboração dos programas do ensino primário;
e) opinar sobre as condições em que deve ser dado nas escolas primárias o ensino religioso;
f) indicar em que termos deve ser entendida a questão da obrigatoriedade do ensino primário;
g) estudar a questão da gratuidade do ensino primário, opinando sobre as contribuições com que as
pessoas menos necessitadas são obrigadas a concorrer para as caixas escolares, bem como sobre o destino
a ser dado ao produto destas contribuições;
Art. 3º A Comissão Nacional de Ensino Primário escolherá o seu presidente, o qual lhe dirigirá os
268
trabalhos, como delegado do Ministro da Educação e Saude, nas sessões a que este não comparecer.
Art. 4º A Comissão Nacional de Ensino Primário terá carater permanente e se reunirá obrigatoriamente
pelo menos uma vez em cada mês.
Parágrafo único. Até que, a juizo do Ministro da Educação e Saude, estejam concluídos os trabalhos de
preliminar definição de todos os pontos consignados nos itens do art. 2 desta lei, reunir-se-á a Comissão
Nacional de Ensino Primário duas vezes por semana quando menos.
Art. 5º Aos membros da Comissão Nacional de Ensino Primário, si residentes no Distrito Federal, se
pagarão diárias de trinta mil réis. Aos que residirem fora do Distrito Federal serão pagas diárias de cem
mil réis, além de ajudas de custo equivalentes aos preços das passagens.
Parágrafo único. Aos membros que forem funcionários públicos, não serão contadas, para nenhum
efeito, as faltas que derem ao seu serviço, por motivo de comparecimento aos trabalhos da Comissão
Nacional de Ensino Primário,
Art. 6º O Ministro da Educação e Saúde designará um dos funcionários efetivos do seu Ministério para
executar o expediente da Secretaria da Comissão Nacional de Ensino Primário.
Art. 7º O dia das sessões, a duração delas e a ordem de seus trabalhos constituirão matéria regimental.
Art. 8º As despesas decorrentes da execução desta lei, no corrente exercício, correrão por conta dos
recursos constantes da sub-consignação 41 da verba 3 do vigente orçamento do Ministério da Educação e
Saude.
Art. 9º Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação, ficando revogadas as disposições em
contrário.
GETULIO VARGAS
Gustavo Capanema.
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ADVERTÊNCIA
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textos originais, publicados sem atualização ou consolidação, úteis apenas para pesquisa.
Senado Federal
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O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o art. 180 da Constituição Federal, e
Considerando que são complexas e exigem a cooperação de vários orgãos da administração pública as
medidas capazes de promover a assimilação dos colonos de origem estrangeira e a completa
nacionalização dos filhos de estrangeiros, medidas constantes dos decretos-lei n. 383, de 18 de abril de
1938, n. 406, de 4 de maio de 1938, n. 639, de 20 de agosto de 1938, n. 868, de 18 de novembro de 1938 e
decreto n. 3.010, de 20 de agosto de 1938;
DECRETA:
Art. 1º As medidas tendentes a promover a assimilação dos alienígenas, constantes dos decretos-lei n.
383, de 18 de abril de 1938, e seu regulamento; n. 406, de 4 de maio de 1938; completado pelo de n. 639 e
regulamentado pelo de n. 3.010, ambos de 20 de agosto de 1938; e decreto-lei n. 868, de 18 de novembro
de 1938, serão dirigidas e centralizadas pelo Conselho de Imigração e Colonização, que designará para
essa função especial um de seus vice-presidentes.
GETULIO VARGAS.
Francisco Campos.
A. de Souza Costa.
Eurico G. Dutra.
Henrique A Guilhem.
270
Oswaldo Aranha.
Fernando Costa.
Gustavo Capanema.
Waldemar Falcão.
271
ADVERTÊNCIA
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Dispõe sobre as concessões de terras e vias de comunicação na faixa da fronteira, bem como sobre
as indústrias aí situadas
O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o artigo 180 da Constituição,
decreta:
Art. 2º As terras públicas compreendidas nos primeiros trinta quilômetros contados da linha da
fronteira serão divididas em lotes a serem distribuídos nas condições e de acordo com as restrições do
Decreto-Lei n. 893, de 26 de novembro de 1938.
Parágrafo único. Essa distribuição incumbe ao Ministério da Agricultura, que para esse efeito
organizará um plano de loteamento e colonização.
a) a praças de pret que tenham tido baixa das fileiras do Exército e da Marinha, ou das polícias
militares;
Art. 4º Os lotes a que se refere o art. 2º só poderão ser concedidos a chefes de família que satisfaçam
as seguintes condições:
Art. 5º As terras não poderão ser transferidas, a título oneroso ou gratuito, a quem não satisfaça as
mesmas condições.
Art. 6º Em qualquer caso, é indispensável que os beneficiados fixem residência nas terras e aí se
272
Art. 7º Caducará ainda a concessão sempre que de qualquer modo se verificar o desvirtuamento do seu
objetivo.
b) o aproveitamento racional e imediato das terras, que não deverão constituir latifundios inexplorados
ou deficientemente explorados;
d) que o ensino de qualquer matéria seja dado em lingua brasileira, e que nenhuma lingua estrangeira
seja ensinada a menores de 14 anos;
Art. 9º Quando a concessão for dada a empresas, na organização destas serão observadas, ainda, as
condições do art. 13.
Art. 10. Na distribuição de lotes de terras a que se refere esta lei, ter-se-à em vista a preferência
absoluta para os brasileiros que, não sendo proprietários rurais ou urbanos, se acharem na posse efetiva de
trecho de terra até dez hectares, e efetivamente o cultivem. A concessão do lote será, neste caso, gratuita,
e feita administrativamente, não dependendo de sentença declaratória.
Art. 11. Nenhuma concessão de terras na faixa da fronteira compreenderá mais de dois mil hectares.
Parágrafo único. Para os efeitos deste artigo consideram-se uma só unidade as concessões feitas a
indivíduos da mesma família (até o 4º grau, consangüíneos ou afins), ou a empresas que contem e
administradores comuns.
Art. 12. Nenhuma concessão relativa a vias de comunicação, dentro da mesma faixa, se efetivará sem
prévia audiência do Conselho de Segurança Nacional.
Art. 13. Apreciando a conveniência da concessão, do ponto de vista da segurança e defesa da Nação, o
Conselho exigirá ainda:
a) que a administração da empresa esteja confiada a brasileiros natos, ou naturalizados ha mais de dez
anos;
c) que o quadro do pessoal da empresa seja formado pelo menos de 2/3 de brasileiros natos, ou
naturalizados ha mais de dez anos;
d) que a proporção estabelecida na alínea anterior seja observada com referência ao número de
273
e) que da administração faça parte um representante do Governo Federal, com direito de livre exame
sobre os negócios e de veto a qualquer decisão, cabendo recurso para o Presidente da República.
Art. 14. Toda empresa industrial que se localize na faixa da fronteira (art. 1º), ou nela exerça sua
atividade principal, deverá ter na administração e no quadro de empregados 2/3, pelo menos, de
brasileiros.
Parágrafo único. O Conselho de Segurança Nacional poderá, contudo, exigir que para determinadas
indústrias, a seu critério sejam observadas as condições do artigo anterior.
Art. 15. As empresas de serviços públicos deverão observar, nos seus quadros de administradores e
empregados, o disposto no artigo 13.
Art. 16. Deverá ser brasileiro mais de metade do capital das empresas alcançadas pelas disposições
desta lei. Pena de interdição do seu funcionamento.
§ 1º Si dentro de seis meses não se tiverem efetuado as transferências de ações que forem necessárias
para a redução do capital estrangeiro à proporção deste artigo, a administração da empresa promoverá a
venda das mesmas, por ordem da numeração respectiva, e depositará em juízo o que for apurado em
dinheiro, deduzidas as despesas.
§ 2º A venda será feita em bolsa, quando a ação tiver cotação oficial; caso contrário, em leilão público.
Art. 17. As empresas agrícolas e industriais que se acham em atividade na faixa da fronteira deverão
adaptar-se as exigências desta lei.
Parágrafo único. O disposto neste artigo estende-se às quedas d'água já aproveitadas industrialmente a
10 de novembro de 1937.
Art. 18. Dentro da faixa da fronteira, referida no art. 1º, é verdade impressão ou a circulação de
jornais, revistas, anuários, boletins e outras publicações periódicas em língua estrangeira. Pena de
apreensão dos exemplares e fechamento da tipografia e prisão celular do responsáveis por um a três
meses.
Art. 19. As concessões de terras até agora feitas pelo governos estaduais ou municipais na faixa da
fronteira ficam sujeitas à revisão por uma comissão especial que para esse efeito será nomeada pelo
Presidente da República. Até que este as confirme é vedada qualquer negociação sobre as mesmas.
Getulio Vargas
F. Negrão de Lima
A. de Souza Costa
Eurico G. Dutra
274
Henrique A. Guilhem
C. de Freitas Valle
Fernando Costa
Gustavo Capanema
Waldemar Falcão
275
ADVERTÊNCIA
Informamos que os textos das normas deste sítio são digitados ou digitalizados, não sendo, portanto, "textos oficiais". São reproduções digitais de
textos originais, publicados sem atualização ou consolidação, úteis apenas para pesquisa.
Senado Federal
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O Presidente da República, usando das atribuições que lhe confere o artigo 180 da Constituição.
decreta:
Artigo 1º Núcleo Colonial é uma reunião de lotes medidos e e demarcados, formando um grupo de
pequenas propriedades rurais.
a) pela União ;
Artigo 4º Os núcleos coloniais serão estabelecidos em zonas rurais, desde que reunam as seguintes
condições :
b) constituição física e composição natural que representem os tipos principais de terras apropriadas às
culturas da região;
c) localização em ponto próximo de centro de população servida por estrada de ferro, rodovia ou
companhia de navegação;
d) salubridade;
e) existência de cursos permanentes dágua ou sistema de acudagem para irrigação e outros mistéres
276
agricolas;
f) área nunca inferior a mil hectares de terras de culturas ou cultiváveis, salvo casos especiais em que
seja conveniente o aproveitamento de terras da União.
Paragrafo único. Nenhum núcleo colonial poderá ser estabelecido sem que tenha sido demarcado no
todo ou na parte destinada à divisão em lotes.
Parágrafo único. A fundação de núcleos coloniais federais será feita por decreto.
Artigo 6º Si a posição e importância do núcleo exigirem a formação de uma sede, será reservada, para
isso, área suficiente, bem situada, na parte mais plana da zona e que preencha as condições necessárias de
salubridade, realizando-se o preparo local e as construçõea e obras indispensaveis, de acordo com o
projeto aprovado pelo diretor da Divisão de Terras e Colonização. (D. T. C.)
Parágrafo único. A sede será o ponto de convergência das principais estradas do núcleo. No caso de já
existir, em terras onde se leve a efeito a fundação de um núcleo colonial, povoação que satisfaça as
exigências constantes deste Decreto será a mesma considerada como sede do núcleo.
Artigo 7º Os núcleos coloniais, além das casas destinadas à, residência do pesaoal técnico,
administrativo e operário e de trabalhadores, terão :
b) escolas para ensino rural, de acordo com os programas estabelecidos pela Superintendência do
Ensino Àgricola;
Artigo 8º Além do que refere o artigo anterior, o núcleo colonial poderá manter ;
c) postos meteoro-agrários;
d) animais de trabalho;
e) máquinas, instrumentos e utensílios agrícolas, sementes, adubos, inseticidas e fungicidas, para venda
aos colonos, pelo preço do custo.
Art. 9º Fundado o núcleo colonial, a D. T. C. entrará em acordo com o governo da localidade para ser
277
a) em que existirem riquesas naturais exploraveis ou quedas d'agua utilizaveis em beneficio coletivo;
b) que não possuirem condições essenciais para serem habitados, podendo, neste caso, ser
oportunamente aproveitados ou ahenados.
Art. 11. Satisfeitas as exigências previstas no art. 23 e a legislação de entrada de estrangeiras, os lotes
rurais dos núcleos coloniais serão distribuidos individuaimente a:
b) estrangeiros agricultores.
Art. 12., O Governo Federal entrará em acordo com os do Estado e Município em que se encontre
situado o núcleo colonial, no sentido de ficarem isentos os concessionárioa de lotes rurais, durante os
cinco primeiros anos de sua localização no núcleo, de todos os impostos e taxas, que incidam ou venham
incidir sobre seus lotes, culturas, veiculos destinados ao seu transporte e instalação de beneficiamento de
seus produtos, inclusive o imposto territorial para os lotes rurais integralmente pagos.
Art. 13. O produto da venda dos lotes, nas nucleos coloniais da União, pertencerá ao Governo Federai
e constituirá o fundo especial a que se refere o art. 72 do Decreto-lei n. 406, de 4 de maio de 1938.
a) rurais, destinados à lavoura e criação, cujo limite variara entre 10 e 50 hectares, salvo casos
especiais, devidamente justificados e
b) urbanos, situados na sede do núcleo, destinados a formar a futura povoação, tendo a sua frente
voltada para ruas e praças e com uma área maxima de 3.000 metros quadrados, salvo se destinados a fins
especiais.
Art. 15. Os lotes serão vendidos mediante pagamento a vista ou a prazo, na forma prevista no art. 22 e
seus parágrafos.
Art. 16. Os lotes urbanos serão vendidos ao possuidor de lote rural mantido bem cultivado ou
beneficiado e ao estrangeiro ou nacional que, dispondo de recursos, se obrigue a construir imediatamente
a casa para residência, estabelecimenta de comércio, indústria ou oficina de trabalho, de acordo com a
planta aprovada pela administração do núcleo.
§ 1º Os lotes urbanos serão cercados pelo adquirente, pelo menos na frente, voltada para ruas e praças,
de acordo com o sistema de cercas aprovado pela administração do núcleo.
§ 2° Dentro do prazo máximo de seis meses, a partir da data da expedição do título provisório de
propriedade, deverá o adquirente de lote urbano satisfazer a exigência do parágrafo anterior e concluir a
construção da respectiva casa, estabelecendo-se multas de 100$0 a 500$0 pela falta de cumprimento
dessas obrigações.
§ 3º Para garantia das obrigações estabelecidas nos parágrafos anteriores, será expedido o titulo
278
provisório de propriedade, o qual será substituido pelo definitivo, depois de satisfeitas as referidas
obricações.
$ 4º Ao adquirente de lote urbano caberá a conservação das ruas e praças da sede, bem como a limpeza
das valas que existirem no lote,
§ 5º Quando o lote urbano for pretendido por mais de uma pessoa, será posto em concorrência
administrativa e adjudicado a quem maiores vantagens oferecer.
Art. 17. O preço de venda será estabelecido, por uma comissão de avaliação, composta de três
funcionários designados pelo diretor da D. T, C., para cada grupo de lotes componentes do núcleo
coloniai, antes de sua distribuição a colonos, por proposta da D. T. C. e aprovação do Ministro de Estado,
observados os seguintes fatores:
c) vias de comunicação;
d) salubridade;
g) florestas;
§ 1º Tal preço poderá ser alterado periodicamente, de acordo com o valor das terras.
§ 2º Ao preço do lote será adicionado, quando houver, o valor venal de casas, bemfeitorias e culturas,
salvo quando estas,já pertencerem ao respectivo concessionário, que terá preferência para a aquisição do
lote que ocupar.
§ 3º O valor venal, referido no parágrafo anterior, será avaliado de acordo com as instruções baixadas
pela D. T. C., lavrando-se o respectivo termo.
§ 4º O ocupante de casa, já habitada por terceiro, poderá requerer, dentro do prazo de 30 dias, vistoria
para nova avaliação.
§ 5º As culturas e bemfeitoriaa, existentes no lote a ser vendido, serão avaliadas pelo menor preço
local, pela administração do núcleo, com aprovação do diretor da D. T. C. preco que será adicionado ao
valor do lote.
279
Art. 18. É permitido ao côlono adquirir, a prazo, segundo lote rural, de preferência contíguo ou
próximo, desde que obtenha o título definitivo do primeiro e tenha desenvolvido a cultura ou
beneficiamento do mesmo, a juizo do Diretor do D.T.C.
Art. 19. Enquanto dever ao núcleo, o ocupante do lote não poderá, sem prévia autorização, vender,
hipotecar, transferir, alugar, dar em anticrese, permutar ou alienar, de qualquer modo, direta ou
indiretamente o lote, a casa e as benfeitorias, ficando vedado aos notários e escrivães passar escrituras e
procurações de qualquer natureza, desde que os concessionários não exibam o respectivo titulo definitivo
de propriedade.
§ 1° Enquanto dever ao núcleo não poderá o colono, sem prévin autorização, dispôr de benfeitorias,
matas ou quaisquer bens no lote existentes.
§ 2º Os atos referidos neste artigo e seu parágrafo 1º serão reguralos em instruções especiais baixadas
pelo Diretor da D.T.C.
Art. 20. Ao colono, a partir de um ano após a sua localização no núcleo, caberá a limpeza das valas e
valetas, até dois metros, inclusive, de largura e a conservação das estradas de rodagem e caminhos, com
menos de sete metros úteis de plataforma, que atravessarem as respectivas terras.
Art. 21. Nos núcleos coloniais poderão ser mantidos armazens ou depósitos de gêneros alimentíeios e
outros, de primeira necessidade, para garantia do abastecimento da população, a preços módicos, por meio
de cooperativas.
Art. 22. Os preços dos lotes, com ou sem casa, quando comprados a prazo, bem como quaisquer
auxílios, quando não sejam remuneração de trabalho ou classificados como gratuitos, constarão de
cadernetas entregues ao devedor, organizadas em forma de conta corrente, e constituirão débito dos
colonos levado à conta do chefe da família.
§ 1º A amortização do débito do concessionário do lote rural ou urbano será feita em dez prestações
iguais e anuais, vencendo-se a primeira no último dia do terceiro ano e a última no fim do décimo
segundo ano de seu estabelecimento. Em falta de pagamento, cobrar-se-á o juro de mora à razão de 5 %
ao ano sobre as prestações vencidas, não sendo permitido atrazo superior a dois anos, quando se fará a
cobrança executiva, na forma da legislação em vigor, a juizo da D.T.C.
§ 2º O concessionário de lote, que solver seus débitos antecipadamente, ter á direito á bonificação,
calculada à razão de 1 % ao mês se o respectivo prazo for inferior a um ano; e no caso de ser igual ou
superior a um ano o prazo do vencimento, ou a venda se efetuar à vista, o desconto será de 12 % sobre a
soma a ser paga na ocasião.
§ 3º Até o pagamento da primeira prestação anual, o colono será considerado ocupante do lote a título
precário.
a) quem, sendo maior de 18 anos, não for proprietário rural na região em que estiver localizado o
núcleo colonial;
b) quem se comprometer a passar a residir com sua família no lote rural que 1he for concedido;
d) quem, satifazendo as condições exigidas pelas letras a, b e c não exercer função pública, quer, quer
280
Parágrafo único. Serão respeitadas as concessões já outorgadas, bem como aquelas que decorrerem das
legalizações e regularizações previstas no Decreto-lei n. 893, de 26 de novembro de 1938.
Art. 24. Aos colonos adquirentes de lotes serão expedidos os seguintes títulos :
b) definitivo, ou de propriedade do lote, que será expedido depois de haver o concessionário liquidado
integralmente a sua dívida, quer seja o lote adquirido à vista ou à prazo, ou quando nas condições
expressas no art. 30.
Art. 25. O título de propriedade do lote urbano será conferido quando o respectivo adquirente houver
satisfeito todas as exigências deste Decreto.
Art. 26. Os títulos provisórios e difinitivos serão passados pela D.T.C., de acordo com os elementos
técnicos as existentes.
§ 1º Do título provisório passado ao adquirente de lote deverão constar o preço total do lote e as
principais condições para obtenção do título definitivo.
§ 2º No verso do talão do título definitivo, tanto do lote rural como do urbano, serão anotados os
números e as datas dos recibos de pagamento, o nome e a sede da estação fiscal arrecadadora, designação
do livro e folha de escrituração do núcleo, onde foram lançados os pagamentos, bem como um esboço do
lote extraído da planta do núcleo, com indicação dos azimutes verdadeiros e comprimento dos lados do
polígono de divisas.
§ 3° Quando ocorrerem os casos previstos no art. 30, serão os mesmos anotados, igualmente, no verso
do talão do título.
§ 4° As anotações referidas nos parágrafos anteriores serão assinadas pelo funcionário encarregado da
escrituração da dívida colonial e visadas pelos chefes de secção.
Art. 27. Os pagamentos de lotes, Casas e benfeitorias serão feitos na estação arrecadadora mais
próxima do núcleo, mediante guia do administrador ou zelador do núcleo na qual será marcado o prazo
máximo de quinze dias para o recolhimento da importância respectiva.
§ 1º Os recibos expedidos pela estação arrecadadora serão registrados em livro próprio, no núcleo,
designando-se o nome de quem efetuou o pagamento, importâncias pagas, discriminadamente, número e
data dos recibos. nome e sede da estação arrecadadora.
b) trabalho a salário ou empreitada, em obras ou serviços do núcleo, durante o primeiro ano a partir do
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§ 1º Após o primeiro ano, os fornecimentos especificados nas allineas d e e poderão ser feitos medianta
pagamento ou levados à, conta corrente do colono até o limite estabelecido pelo Diretor da D.T.C.
§ 2º Os colonos que derem grande desenvolvimento ás culturas dos lotes, a,juizo da administração, si
estrangeiros, poderão ser creditados do valor correspondente às passagens pagas do exterior para o Brasil,
e si nacionais, poderão receber reprodutores ou máquinas agricolas. a juizo do Ministro.
Art. 29. Serão cassadas os favores estabelecidos neste decreto aos colonos que nos núcleos coloniais
transgredirem ou deixarem de cumprir as disposições do Decreto n. 3.010 na fórma de seu artigo 265.
Art. 30. Falecenrdo o chefe da famflia, em cujo nome houver sido expedido o titulo provisório de
propriedade. o lote passará aos herdeiros ou legatários, nas mesmas condições em que fôra possuido.
Parágrafo único. Si o núcleo ainda não estiver emancipado, a transferência será feita
administrativamente, por ordem oficial, sem iptervençãon judiciária.
Art. 31. Qualquer débito que, por ventura, haja contraido com o núcleo o chefe da familia que falecer.
deixando viuva e orfãos. Será considerado extinto, salvo o proveniente da compra do lote, casa e
benfeitorias a prezo.
Art. 32. Si o lote, casa e benfeitorias tiverem sido comprados a prazo e falecer o adquirente. deixando
pagas. pelo menos, 3 prestações, serão dispensadas. em favor da viuva e orfãos. as demais prestações
ainda não vencidas, expedindo-se título definitiva de propriedade.
Paragrafo único. A requerimento dos herdeiros dos concessionários de lotes. depois da verificada a
extrema pobreza, poderá o Ministro relevar a dívida total contraida, pela aquisição do lote, casa e
benfeitorias, determinando a expedição do titulo definitivo.
Art. 33. Será excluido do lote em que estiver localizado, o colono que :
a) deixar de cultivar o seu lote por espaco de três meses, salvo motivo de força maior, a juizo da
administração do núcleo;
b) deixar de cultivar a área mínima dentro do prazo máximo, estabelecido pela administração, de
acordo com as propostas aprovadas pelo Diretor da D.T.C., salvo justa causa, reconhecida pela
administração.
e) desvalorizar o lote, explorando matas sem o imediato aproveitamento agrícola do sólo e o respectivo
reflorestamento, de acordo com o plano previamente aprovado, bem como deixar de cumprir as
exigências constantes do artigo 20.
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§ 1º. a exclusão, por motivo das alineas c, b e c, deste artigo, será feita depois de intimado o colono e
de praceder-se vistoria no lote, de que se lavrará um termo.
§ 3°. Cabe ao diretor da D.T.C., de acordo com os documentos comprobatórios, autorizar a expulsão
do colono, com recurso ao Ministro de Estado.
§ 4°. Autorizada a expulsão será o colono notificado administrativamente para, no prazo de dez dias, a
partir da notificação, desocupar o lote respectivo. Si não fôr encontrado o colono, depois de procurado em
dois dias consecutivos, será feita a notificação por edital publicado no "Diário Oficial", com o mesmo
prazo de dez dias.
§ 5º. Si, decorrido o prazo estabelecido no parágrafo anterior, não fôr o lote desocupado pelo colono, a
União reocupá-lo-á adminiatrativamente, caso a situação do colono seja a prevista no § 3º do artigo 22. Si,
porém, o colono já honver pago, pelo menos, a primeira prestação anual a que se refere o § 1º do artigo
22, a União promoverá judicialmente a reintegração de posse do respectivo lote, para o que o Ministério
da Agricultura enviará à Procuradoria da República da competente Região os documentos comprobatórios
que instruirão o pedido de reintegração e dispensarão a sua justificação prévia.
§ 6°. Ao colono que fôr oxcluido caberá tão sómente a restituição das importâncias que haja recolhido
aos cofres públicos, como pagamento. parcial ou total, das terras. casas e outras benfeitorias.
§ 7º. Do ato da exclusão do colono e da execução da respectiva decisão não caberá ação possessória,
aplicando-se este dispositivo aos processos em curso em quaisquer instâncias e fases.
Art. 34. Será considerado abandonado o lote rural cujo concessionário deigar da cultivá-lo. na fórma
estipulada neste decreto.
As benfeitoriae existentes nos lotes revertidos á União, salvo caso de expulsão, serão avaliadas por
uma comissão técnica, designada pelo Diretor da D.T.C., procedendo-se á respectiva venda em
concorrência administrativa aprovada pelo Diretor da D.T.C.
§ 2º. Do produto da venda dos lotes e benfeitorias em concorrência, entregar-se-á aos concessionários o
que exceder da importância de sua dívida.
Art. 35. A partir dos pontos marginais de estradas de rodagem, em tráfego ou em construção, ou de
rios em que houver navegação, podem ser estabelecidaa linhas coloniais.
Parágrafo único. A linha colonial a que se refere este artigo é uma estrada de rodagem ladeada de lotes,
medidos e demarcados, seguidamente, ou próximos uns dos outros.
Art. 36. As linhas coloniais deverão estar situadas em zonas que satisfaçam as condições exigidas para
os núcleos.
Art. 37. A emancipação do núcleo colonial será declarada pelo Governo, quando houver sido expedido
a todos os concessionários de lotes os títulos definitivos de propriedade ou antes, si conveniente.
decreto.
Art. 38. Emancipado o núcleo, poderá o Governo ceder, à cooperativa agrícola organizada entre os
colonos do núcleo, as instalaçães, instrumentos, máquinas agrícola, animais de trabalho, reprodutores e
material dispensavel.
Art. 39, Emancipado o núcleo, ficará este integrado na vida autônoma do respectivo município.
Art. 40. Os lotes vagos nos núcleos emancipados serão vendidos separada ou englobadamente, em
concorrência administrativa, bem como as terras que forem requeridas e que estiverem por medir e
demarcar, sendo as condições de venda estipuladas pelo Ministro.
Art. 41. Aos colonos do núcleo emancipado e que se encontrem em dia com as prestações de seus lotes
será concedida uma redução sobre as prestações restantes, desde que pagas de uma só vez, nas condicões
seguintes :
Parágrafo único. Os prazos a que se refere este artigo são contados da data do ato da emancipação.
Art. 42. Quaisquer edifícios disponiveis e existentes em núcleos que forem emancipados poderão ser
utilizados pelos Estados ou Municípios, com prévia autorização do Ministro de Estado, ou vendidos em
concorrência pública.
Art. 43. Emancipado o núcleo, ficará o mesmo a cargo de um zelador e dos trabalhadores estritamente
neeessários ao cumprimento das obrigações que 1hes forem determinadas pela D. T. C., inclusive a
cobranca da divida colonial.
Art. 44. Havendo terras devolutas no núcleo emancipado, o Governo poderá, guando entender
conveniente, mandar dividi-las em lotes, promovendo para isso os necessários meios.
Art. 46. Os casos omissos deste decreto serão resolvidos por portaria baixada pelo Ministro de Estado.
Art. 47. O presente decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogando-se todas as leis e
disposições em contrário.
Getulio Vargas.
Fernando Costa.
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ADVERTÊNCIA
Informamos que os textos das normas deste sítio são digitados ou digitalizados, não sendo, portanto, "textos oficiais". São reproduções digitais de
textos originais, publicados sem atualização ou consolidação, úteis apenas para pesquisa.
Senado Federal
Subsecretaria de Informações
O Presidente da República, usando da atribuição que Ihe confere o Art. 180 da Constituição,
decreta:
Art. 1º Alem dos núcleos coloniais a que se refere o decreto-lei nº 2.009, de 9 de fevereiro de 1940, o
Governo Federal, em colaboração com os Governos estaduais e municipais e todos os órgãos da
administração pública federal e por intermédio do Ministério da Agricultura, promoverá a fundação e
instalação de grandes Colônias Agrícolas Nacionais, as quais serão destinadas a receber e fixar, como
proprietários rurais, cidadãos brasileiros reconhecidamente pobres que revelem aptidão para os trabalhos
agrícolas e, excepcionalmente, agricultores qualificados estrangeiros.
Parágrafo único. Todas as despesas decorrentes da fundação, instalação e manutenção das colônias,
inclusive construção e conservação das vias principais de acesso, serão custeadas pela União, dentro dos
créditos que forem destinados a esse fim.
Art. 2º As colônias serão criadas por decreto executivo e fundadas em grandes glebas de terras que
deverão reunir as seguintes condições:
Art. 3º Na escolha da região para a fundação da colônia, ter-se-á em vista a existência de quedas dágua
para a produção de energia hidroelétrica.
Art. 4º Escolhida a região para a colônia, proceder-se-á à elaboração do plano geral de colonização e
orçamento dos respectivos trabalhos, os quais deverão ser submetidos à aprovação do Presidente da
República.
§ 2º Tratando-se de regiões de florestas naturais, em cada lote será mantida uma reserva florestal não
inferior a 25 % da sua área total.
§ 3º Sempre que possivel será mantida uma grande reserva florestal típica da região, em torno da
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colônia.
§ 4º Na elaboração do plano geral de colonização, serão respeitadas as belezas naturais da região, bem
como cuidar-se-á da proteção à sua flora e fauna.
Art. 5º Fixada a região onde a colônia deverá ser fundada, será projetada a sua futura sede,
escolhendo-se para isso a zona que melhores condições oferecer.
Parágrafo único. No projeto da sede serão observadas todas as regras urbanísticas, visando a criação de
um futuro núcleo de civilização no interior do pais.
Art. 6º Na sede da colônia será fundado um aprendizado agrícola destinado a ministrar aos filhos dos
colonos instrução rural adequada, dotado de oficinas para trabalhos de ferro, madeira, couro, etc., onde os
colonos e seus filhos farão aprendizagem desses misteres necessários ao homem rural.
Parágrafo único. Poderão ser instituídos cursos rápidos, para menores e para adultos com carater
eminentemente prático.
Art. 7º Serão mantidos postos de monta com reprodutores selecionados; instalação para
beneficiamento dos produtos agrícolas florestais, agrícolas e de origem animal.
Art. 8º Serão mantidas ainda escolas primárias para alfabetização de todas as crianças em idade
escolar.
Art. 10. Em cada lote será construída pequena casa para residência do colono e sua família, do tipo
mais conveniente à região.
Art. 11. Aprovado o plano geral de colonização e executados os respectivos trabalhos, será organizada
a relação dos candidatos aos lotes, dando-se preferência, na distribuição, aos elementos locais e dentre
estes os de prole numerosa assim considerados os chefes de família que tenham, no mínimo, cinco filhos
menores que vivam sob a sua dependência.
Art. 12. Os lotes casas e quaisquer bemfeitorias nele existentes, serão concedidos gratuitamente,
observadas as seguintes condições:
a) o colono terá, o domínio útil do lote, nele residindo e recebendo, para a sua exploração agrícola,
sementes e material agrário mais urgente;
c) findo o prazo a que, se refere o item anterior e preenchidas as demais condições constantes deste
decreto-lei, o colono receberá em plena propriedade o lote a casa e o material agrícola em seu poder,
independentemente de qualquer pagamento.
Art. 13. Aos colonos serão facultados os seguintes auxílios, a partir da data de sua localização no
núcleo:
1) trabalho a salário ou empreitada em obras ou serviços da colônia, pelo menos durante o primeiro
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ano;
Art. 14. Na região em que for fundada a colônia, os lotes em que estiverem riquezas naturais
exploráveis ou quedas dágua utilizáveis em benefício coletivo, não serão concedidos.
Art. 15. Na área em que for fundada a colônia, transferida por qualquer título ao domínio da União, os
Estados e Municípios não poderão praticar atos que importem na cobrança de impostos e taxas sobre o
lote, culturas veículos destinados ao transporte de colono e o de sua produção, instalação para
beneficiamento dos produtos agropecuários, bem como sobre o valor da terra, enquanto a colônia não
houver sido emancipada.
Art. 16. Os lotes serão rurais e urbanos, segundo a definição do Art. 14 do decreto-lei 2.009, de 9 de
fevereiro de 1940.
Art. 17. Os lotes urbanos serão concedidos gratuitamente ou vendidos mediante condições
estabelecidas para cada colônia e submetidas à aprovação do Presidente da República.
Art. 18. até a expedição do título definitivo de propriedade o ocupante do lote não poderá vender,
hipotecar, transferir, alugar, dar em anticrese, permutar ou alienar, de qualquer modo, direta ou
indiretamente, o lote, a casa e as bemfeitorias, ficando vedado aos escrivães passar escrituras e
procurações de qualquer natureza, desde que os concessionários não exibam o respectivo título definitivo
de propriedade.
Art. 19. ao colono, a partir de um ano da sua localização na colônia, caberá a limpeza das valas e
valetas, até dois metros, inclusive, de largura e a conservação das estradas de rodagem e caminhos, com
menos de sete metros de plataforma, que atravessarem as referidas terras.
Art. 20. Os lotes rurais serão concedidos a cidadãos brasileiros maiores de 18 anos, que não forem
proprietários rurais e reconhecidamente pobres, desde que revelem aptidão para os trabalhos da
agricultura e se comprometam a residir no lote que lhes for concedido.
§ 1º Excepcionalmente, poderão ser concedidos lotes a agricultores estrangeiros qualificados que, por
seus conhecimentos especiais dos trabalhos agrícolas, possam servir como exemplo e estímulo aos
nacionais.
§ 2º E' vedada a concessão de lotes a quem quer que exerça função pública federal, estadual no
municipal.
Art. 21. Os títulos definitivos de propriedade serão passados pela Divisão de Terras e Colonização,
deles constando os elementos indispensáveis à sua individuação, e serão assinados pelo Presidente da
República.
Art. 22. No caso de falecimento do chefe de família ocupante de lote, este passará aos herdeiros ou
legatários, nas mesmas condições em que fora possuído.
Art. 23. Qualquer débito que, porventura, haja contraído o chefe de família que falecer, deixando viuva
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a) deixar de cultivá-lo dentro dos prazos estabelecidos para cada colônia, salvo motivo de força maior,
devidamente comprovado, à juizo da administração da colônia;
b) desvalorizar o lote, explorando matas sem o imediato aproveitamento agrícola do solo e o respectivo
reflorestamento, em desacordo com o plano previamente aprovado;
§ 1º A exclusão por motivo das alíneas a e b, deste artigo, será feita depois de intimado o colono e de
proceder-se à vistoria no lote, de que se lavrará o termo.
§ 4º Autorizada a exclusão, será o colono notificado administrativamente para, no prazo de dez (10)
dias, a partir da notificação, desocupar o lote respectivo. Não sendo encontrado depois de procurado dois
dias consecutivos, será feita a notificação por edital publicado no Diário Oficial e em jornal editado na
região, mais próxima com o mesmo prazo de dez dias.
§ 5º Se decorrido o prazo estabelecido no parágrafo anterior, não for o lote desocupado pelo colono, a
União reocupa-lo-á administrativamente.
Art. 25. Ao colono excluído nenhuma indenização caberá pelas benfeitorias acaso existentes no lote.
Art. 26. A emancipação da colônia será declarada pelo Governo, mediante decreto executivo, quando
houver sido expedido a todos os concessionários de lotes os títulos definitivos de propriedade, ou antes, se
conveniente.
Art. 27. Emancipada a colônia, o Governo cederá à cooperativa organizada pelos colonos, as
instalações, máquinas agrícolas, animais de trabalho e reprodutores nela existentes.
Art. 28. A concessão dos remanescentes das colônias emancipadas será regulada por instruções
baixadas pelo Ministro da Agricultura.
Art. 29. Os edifícios existentes na sede das colônias emancipadas poderão ser transferidos para os
Estados ou Municípios, mediante prévio acordo com o Governo da União. ou vendidos em concorrência
pública.
Art. 30. Emancipada a Colônia, a cooperativa nela existente tomará a seu cargo o estipêndio do
agrônomo encarregado da assistência técnica aos colonos.
Art. 31. As Colônias Agrícolas Nacionais, fundadas em observância às disposições deste decreto-lei,
serão administradas por agrônomos de reconhecida capacidade profissional e reputação ilibada, nomeados
em comissão, com o vencimento que for fixado.
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GETULIO VARGAS.
F. Negrão de Lima.
A. de Souza Costa.
Eurico G. Dutra.
Henrique A. Guilhem.
Oswaldo Aranha.
Fernando Costa.
Gustavo Capanema.
Waldemar Falcão.
J. P. Salgado Filho.
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