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ISSN: 1981-6324
marcomachado@brjb.com.br
Universidade Iguaçu
Brasil
ESTEROIDES ANABÓLICOS
ANDROGÊNICOS NÃO INDUZEM
HIPERTROFIA MUSCULAR EM
RATOS JOVENS EUGONADAIS
SUBMETIDOS A TREINAMENTO
INTERVALADO DE ALTA
INTENSIDADE EM ESTEIRA
ROLANTE
ANABOLIC ANDROGENIC STEROIDS DO NOT INDUCE MUSCLE HYPERTROPHY IN
RESUMO
ROBERT-PIRES, C. M.; DE AGOSTINI, G. G.; SALVINI, T.; BALDISSSERA, V.; PEREZ, S. E. A. Esteroides
anabólicos androgênicos não induzem hipertrofia muscular em ratos jovens eugonadais submetidos a
treinamento intervalado de alta intensidade em esteira rolante. Brazilian Journal of Biomotricity. v. 7, n. 2, p.
100-108, 2013. Esteroides anabólicos androgênicos (EAA) têm sido amplamente utilizados com finalidades
de melhora de performance desportiva, assim como para aumento pronunciado da massa muscular. No
entanto, os estudos com humanos e animais ainda não apontam de forma consistente para esse efeito
miotrófico e de aumento de força por parte dos EAA. O presente estudo foi conduzido com o objetivo de
verificar o efeito da administração de EAA sobre a área das fibras do músculo sóleo de ratos jovens,
submetidos ou não ao treinamento físico. Ratos Wistar foram divididos em quatro grupos experimentais:
sedentários controle (SC), sedentários+EAA (SE), treinados controle (TC) e treinados+EAA (TE). O
protocolo de treinamento consistiu de 12 semanas de corrida intervalada em esteira rolante, com velocidade
de 30m/min., 20% de inclinação e sobrecarga de 20% do peso corporal, 5 dias/semana. A droga utilizada foi
o decanoato de nandrolona (Deca-Durabolin), em doses de 5 mg/Kg/semana, num total de 9 injeções
intramusculares. Não houve diferenças significativas nos valores médios das áreas das fibras do músculo
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sóleo entre os quatro grupos experimentais. Apesar do exercício não ter promovido hipertrofia, a
administração de EAA em doses suprafisiológicas também não foi eficaz para induzir hipertrofia adicional no
grupo TE. Da mesma forma, o grupo SE não apresentou diferença significativa em relação ao grupo SC.
Estes resultados sugerem que EAA não induzem hipertrofia em músculos sóleo de ratos jovens,
provavelmente em função do perfil de treinamento adotado, bem como pela natureza diferenciada da
sensibilidade dos diferentes músculos esqueléticos aos andrógenos.
ABSTRACT
ROBERT- PIRES, C. M.; DE AGOSTINI, G. G.; SALVINI, T.; BALDISSSERA, V.; PEREZ, S. E. A. Anabolic
androgenic steroids do not induce muscle hypertrophy in eugonadal young rats. Brazilian Journal of
Biomotricity. v. 7, n. 2, p. 100-108, 2013. Anabolic androgenic steroids (AAS) have been widely used for
purposes of improved sports performance, as well as a pronounced increase in muscle mass. However,
studies with humans and animals do not show consistently this myotrophic and increased force effect by
AAS. This study was conducted in order to verify the effect of AAS administration on the area of the fibers of
the soleus muscle of young rats, treated or not with physical training. Wistar rats were divided into four
groups: sedentary control (SC), sedentary + EAA (SE), trained control (TC) and trained + EAA (TE). The
training protocol consisted of 12 weeks of running intervals on a treadmill at a speed of 30m/min., 20%
incline and overhead of 20% of body weight, 5 days / week. The drug used was nandrolone decanoate
(Deca Durabolin-) at doses of 5 mg / kg / week, for a total of nine intramuscular injections. No significant
differences in mean areas of fibers of the soleus muscle among the four experimental groups. Despite the
exercise not promoted hypertrophy, AAS administration in supraphysiological doses also was not effective in
inducing hypertrophy additional group TE. Similarly, the SE group showed no significant difference
compared to the SC group. These results suggest that AAS does not induce hypertrophy in soleus muscles
of young rats, probably due to the profile of training adopted as well as the differentiated nature of the
sensitivity of different muscles to androgens.
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suprafisiológicas de EAA. Esses resultados são corroborados pelo estudo de Cunha et al. (2006),
os quais também não observaram hipertrofia adicional no músculo sóleo de ratos treinados em
exercícios de alta intensidade (saltos em meio líquido com sobrecarga) e tratados com EAA.
Assim sendo, o presente estudo tem como objetivo, verificar o efeito da administração de
esteroides anabólicos androgênicos (EAA) sobre a área das fibras do músculo soleo de ratos
jovens, submetidos ou não ao treinamento físico de corrida intervalada.
MATERIAIS E MÉTODOS
Animais
Foram utilizados vinte e sete ratos Wistar, machos, jovens, com peso médio inicial de 150
gramas, provenientes do Biotério Central da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Os
ratos foram agrupados e mantidos em biotério, em caixas plásticas específicas, com acesso a
água e alimentos em padrão ad libitum.
Planejamento experimental
Os animais foram divididos aleatoriamente em quatro grupos, cada grupo contendo sete
animais, com a seguinte disposição:
Grupo 1- sem exercício e sem esteroide (SC - sedentário controle)
Grupo 2- sem exercício e com esteroide (SE - sedentário + esteroide)
Grupo 3- com exercício e sem esteroide (TC- treinado controle)
Grupo 4- com exercício e com esteroide (TE - treinado + esteroide)
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Retirada e congelamento dos músculos
Os animais foram sacrificados por meio de decapitação, posicionados em uma mesa
operatória em decúbito dorsal, com as patas presas e mantidas em extensão, para posterior
retirada do músculo sóleo da pata direita de cada animal. Posteriormente, os músculos sóleos
foram fixados nas regiões tendinosas por meio de pequenas agulhas, a um pedaço de fígado
bovino, o qual foi pré-fixado por várias semanas em formol a 10%, lavado durante vinte e quatro
horas em água corrente e mantido, posteriormente, em solução salina no refrigerador. Em
seguida, os músculos, juntamente com o fígado, foram congelados em isopentano pré-congelado
em nitrogênio líquido e conservados em vasilhas plásticas em um freezer a -56o. centígrados.
RESULTADOS
Avaliação do peso corporal
A Tabela 1 contém a média e desvio padrão do peso dos animais no início e no final do
período de 12 semanas de experimento.
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Tabela 1- Grupos com média e desvio padrão do peso corporal dos animais
O peso corporal dos animais não apresentou diferenças significativas no início do experimento e
os ganhos de peso entre os animais nos diversos grupos também não diferiu significativamente
durante o período experimental, conforme análises estatísticas de variância (ANOVA) e teste-t de
Student.
A área média das fibras do músculo sóleo não apresentou diferenças significativas em nenhuma
das análises estatísticas aplicadas. O grupo TE apresentou os menores valores médios, porém,
essa diferença também não se revelou estatisticamente significativa.
DISCUSSÃO
Um fato inicial a ser considerado é a ausência de diferenças significativas na evolução do peso
corporal dos animais tratados em comparação aos não tratados com EAA. Esperava-se maior
ganho de peso nos grupos tratados, devido ao suposto efeito miotrófico (discutido adiante) e à
maior retenção hídrica causada pela terapia com doses suprafisiológicas de decanoato de
nandrolona (WILSON e GRIFFIN, 1985). Esse efeito tem sido evidenciado em humanos
(LICHTENBELT, 2004). Esse resultado está de acordo com o estudo de Saborido et al. (1993) e
com a posição do ACSM (1984), que atesta que a maioria dos estudos em animais com função
testicular normal, não apresenta aumento do peso corporal, ou apresenta aumentos muito
modestos. Poder-se-ia esperar maiores repercussões do exercício sobre o compartimento de
massa gorda (YOSHIOKA et al., 2001) e, consequentemente, peso corporal, porém, o teor de
tecido adiposo não foi controlado no presente estudo. Por outro lado, a literatura aponta para o
fato de que períodos prolongados sob terapia com altas doses de EAA podem afetar
negativamente o ganho de peso (MAX e RANCE, 1984; BAUMAN, RICHERSON e BRITT, 1988).
Curiosamente, o treinamento imposto aos ratos não promoveu hipertrofia, tendo em vista a
ausência de diferenças significativas na área do músculo sóleo entre os grupos SC e TC. Apesar
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de constar de uma intensidade alta, acima do limiar anaeróbio em ratos (PILIS et al.,1993), talvez
não tenha sido adequado em termos de sobrecarga mecânica (tensional) para desencadear a
resposta de hipertrofia miofibrilar, mesmo com adoção de peso adicional no dorso dos animais e
inclinação da esteira. Diversos autores têm admitido que a resposta hipertrófica é diretamente
dependente do nível de tensão gerado pela fibra muscular, a qual acarretaria alguns microtraumas
e conseqüente expressão de fatores locais de crescimento celular (dos quais o IGF-1 parece ser o
mais importante), que por sua vez, sinalizariam para o aumento da síntese proteica e hipertrofia
miofibrilar, em um processo mediado pela ativação das células satélites (ADAMS e HADDAD,
1996; GOLDISPINK, 1999; VIERCK et al., 2000). Gollnick et al. (1981), no entanto, observaram
hipertrofia em músculos sóleo e plantar de ratos submetidos a protocolo em esteira de intensidade
e volume semelhantes ao presente estudo. Esses animais, entretanto, previamente ao período de
início do protocolo de treinamento, sofreram a ablação do tibial anterior, fato que promoveu uma
hipertrofia prévia nesses músculos. Isso pode ter exercido alguma influência sobre o efeito
miotrófico do protocolo de treinamento, em oposição ao presente estudo. Similarmente, Cunha et
al. (2006) observaram hipertrofia induzida somente pelo treinamento, em protocolo de saltos em
submersão, com níveis de intensidade superiores ao presente estudo. Dessa forma,
provavelmente, o protocolo de treinamento adotado não consistiu do mais adequado para
promover hipertrofia miofibrilar.
O fato dos grupos TC e TE não apresentarem diferenças significativas, demonstra a ausência de
ação miotrófica adicional dos EAA, pois, se esta ação estivesse presente, muito provavelmente o
grupo TE exibiria um nível maior de hipertrofia. Kochakian (1975) adverte para o fato de haver
diferenças inter-espécies na sensibilidade dos vários grupos musculares aos EAA (em ratos, os
músculos mais sensíveis parecem ser o elevador do ânus, o bulbocavernoso e o
semimembranoso e, em humanos, os músculos do tronco, como trapézio e deltoide (WILSON,
1988); e Prezant et al. (1997) argumentam que os efeitos positivos sobre a síntese proteica
ocorrem somente quando os níveis iniciais de testosterona são baixos, como em animais
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investigação. Os animais deste estudo foram tratados com dieta ad libitum, entretanto, a ração
oferecida não teve nenhum tipo de manipulação específica no intuito de aumentar o teor de
proteína; e os mesmos também não tinham, obviamente, prática prévia de treinamento de alta
intensidade.
A dose de EAA utilizada no presente estudo (5 mg/Kg) está de acordo com os padrões
suprafisiológicos adotados por usuários de EAA, atletas e não atletas. Os relatos na literatura
apontam padrões específicos de uso de decanoato de nandrolona da ordem de 100 a 400
mg/semana (SANTOS, 2003) por esses usuários. Da mesma forma, os vários estudos com
animais experimentais têm utilizado doses semelhantes às adotadas no presente estudo (TINGUS
e CARLSEN, 1993; BISSCHOP et al., 1997; CAMARGO FILHO et al., 2006; CUNHA et al., 2006).
A terapia com EAA adotada, entretanto, não simulou o processo de “empilhamento” de EAA
normalmente adotado por usuários de EAA.
Finalmente, o período do presente estudo pode ter influenciado o teor de resposta muscular, uma
vez que períodos longos de exposição a altas doses de EAA podem promover o fenômeno de
down-regulation de receptores de andrógenos no citosol (MAX e RANCE , 1984), assim como,
interferir com o próprio ganho de peso corporal total.
O reduzido número de animais pode ter influenciado na distorção de alguns resultados.
APLICAÇÕES PRÁTICAS
Os resultados do presente estudo não confirmam as hipóteses de usuários de EAA em relação
aos potenciais efeitos hipertróficos destas drogas. No entanto, o (ab)uso de EAA em academias,
bem como por atletas, vem crescendo vertiginosamente. A inconsistência dos estudos científicos
em relação aos efeitos hipertróficos dos EAA deveria ser motivo de maior reflexão por parte de
atletas e não atletas no tocante à opção em favor do uso de EAA, notadamente em função da
CONCLUSÃO
EAA parecem não induzir hipertrofia adicional em músculo sóleo de ratos jovens com função
testicular normal. Outros músculos podem responder de forma diferenciada. O protocolo de
treinamento não foi adequado para promover hipertrofia, no entanto, os EAA não parecem facilitar
o desencadeamento dos processos hipertróficos musculares. Outros estudos com músculos
diferentes e dosagens variadas necessitam ser realizados para melhor elucidar esta questão. Da
mesma forma, é preciso que estudos com animais procurem maior nível de aproximação com a
realidade de treinamento e de terapia com EAA por parte de usuários atletas e não atletas, sob
pena de não conseguir responder às grandes questões que cercam o tema.
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