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CURSO

INTENSIVO
PARA RESIDÊNCIAS

PSICOLOGIA

NEUROPSICOLOGIA E
PSICOFARMACOLOGIA
PROFESSORAS
Roberta Ferreira Takei Ângelo Souza Lobo
Possui graduação em psicologia pela Uni- Especialista em Psicologia Hospitalar pelo
versidade Federal da Bahia (UFBA). Mes- Programa Multiprofissional em Neuro-
tre e Doutora em Psicologia do Desenvol- logia, do Hospital Geral Roberto Santos.
vimento pelo Programa de Pós-graduação Especialista em Saúde Pública, pela Facul-
em Psicologia (POSPSI/UFBA). Possui for- dade de Filosofia Ciências e letras de Can-
mação em Psicanálise, atendendo princi- deias. Graduado em Pscologia pela Univer-
palmente crianças e adolescentes em con- sidade Federal da Bahia. Experiência de
texto clínico. Professora de Psicologia em estágio em Neuropsicologia no Instituto
algumas instituições de ensino privado da Luso Cubano de Neurologia - Porto, Por-
cidade de Salvador. Também ministra cur- tugal e em Saúde Mental no Hospital Julia-
sos e seminários livres sobre atendimento no Moreira - Salvador, Bahia. Experiência
infantil e temas em Psicanálise. Autora do profissional em Hospital geral, Centro de
blog Freudisplica. Referência da Assistencia social - CRAS.
Atualmente exerce Consultoria Clínica e
Ambiental.

ORGANIZADORA
Ana Vanessa de Medeiros Neves
Graduada em Psicologia pela Escola Bahia-
na de Medicina e Saúde Pública. Possui
Mestrado em Psicologia pela Universidade
Federal da Bahia, com ênfase em Desenvol-
vimento Humano. Especialista em Terapia
de Base Analítica pela Associação Paulista
de Psicologia Analítica. Possui formação em
Terapia Comunitária Integrativa pela Uni-
versidade Federal do Ceará. Concursada do
Ministério da Saúde, atuando desde 2010 na
área de saúde do servidor. Mentora, profes-
sora e autora para concursos e residências
em diversas disciplinas nas áreas da Psico-
logia e Saúde Pública. Fundadora da Editora
Concursos PSI e Coordenadora do Núcleo
de Psicologia da Editora Sanar.
2020 ©
Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos à Editora Sanar Ltda. pela Lei nº 9.610,
de 19 de Fevereiro de 1998. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume ou qualquer parte deste
livro, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, gravação, fotocópia
ou outros), essas proibições aplicam-se também à editoração da obra, bem como às suas características
gráficas, sem permissão expressa da Editora.

Título | Intensivo para residências em Psicologia: Neuropsicologia e


Psicofarmacologia
Editor | Fernanda Fernandes
Projeto gráfico e diagramação| Fabrício Sawczen
Capa | Fabrício Sawczen
Revisor Ortográfico | Karen Duarte
Conselho Editorial | Caio Vinicius Menezes Nunes
Paulo Costa Lima
Sandra de Quadros Uzêda
Silvio José Albergaria da Silva

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Tuxped Serviços Editoriais (São Paulo-SP)

L799in Lobo, Angelo.


Intensivo para residências em Psicologia: Neuropsicologia e Psicofarmacologia / Angelo
Lobo e Roberta Takei. - 1. ed. - Salvador, BA : Editora Sanar, 2020.
90 p.; il..
E-Book: PDF.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-65-87930-08-4
1. Neuropsicologia. 2. Medicina. 3. Psicologia. 4. Psicofarmacologia. 5. Residencia. I. Assunto.
II. Título. III. Lobo, Angelo. IV. Takei, Roberta.

CDD 150
CDU 159.9
ÍNDICE PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO
1. Psicologia.
2. Psicologia.
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário Pedro Anizio Gomes CRB-8 8846

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
LOBO, Angelo; TAKEI, Roberta. Intensivo para residências em Psicologia: Neuropsicologia e psico-
farmacologia. 1. ed. Salvador, BA: Editora Sanar, 2020. EBook (PDF). ISBN 978-65-87930-08-4

Editora Sanar S.A


R. Alceu Amoroso Lima, 172 - Salvador Office &
Pool, 3ro Andar - Caminho das Árvores
CEP 41820-770, Salvador - BA
Tel.: 0800 337 6262
atendimento@sanar.com
www.sanarsaude.com
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Estrutura do neurônio
Figura 2. Tipos básicos de neurônio.
Figura 3. Os três neurônios fundamentais.
Figura 4. Unidades Funcionais de Luria.
Figura 5. Anatomia do cérebro.
Figura 6. O sistema Límbico.
Figura 7. Os três grandes circuitos envolvidos na neurofisiologia da atenção.
Figura 8. Cannon-Bard: O sistema nervoso no processamento das emoções.
Figura 9. O Circuito de Papez.
Figura 10. O Sistema Reticular ativador SARA.
Figura 11. Tipos de Funções executivas
Figura 12. As funções do sistema executivo.
Figura 13. Estrutura dos sistemas de memória. Memória de longa duração.
Figura 14. Etapas da formação de novas informações.
Figura 15. Os tipos de afasias.
Figura 16. Etapas da Avaliação Neuropsicológica.
Figura 17. Os dois tipos de AVCs.
Figura 18. Classificação dos Transtornos Bipolares
Figura 19. Classificação dos transtornos depressivos
Figura 20. Classificação dos Transtornos de ansiedade.
Figura 21. Principais sintomas da Esquizofrenia.
Figura 22. Sintomas positivos e negativos da esquizofrenia.
Figura 23. Principais sintomas extrapiramidais.
Figura 24. Sintomas do TDAH e sua localização no córtex pré-frontal.

LISTA DE TABELAS
Tabela 1. As cinco redes de larga escala de Mesulam (2000).
Tabela 2. Os componentes das Funções Executivas.
Tabela 3. Os componentes de representação da linguagem envolvem.
Tabela 4. Diferenças do TDAH em adultos versus crianças e adolescentes.
Tabela 5. Incidência de dependência por substância.
SUMÁRIO
Apresentação..................................................................................... 6

Fundamentos teóricos..................................................................... 8

1. Aspectos históricos do uso tradicional da neuropsicologia.... 8


2. Neurociências e processos básicos............................................ 23
3. Avaliação Neuropsicológica - ANP.............................................. 46
4. Psicofarmacologia........................................................................ 59

Gabarito.............................................................................................. 86
Referências........................................................................................ 87
APRESENTAÇÃO
Olá, futuro (a) residente!
Sejam bem vindos a nossa aula sobre Neuropsicologia e Psicofarmacolo-
gia. Este é um assunto bastante cobrado nas provas de residência, o con-
teúdo estudado aqui vai te ajudar a responder inúmeras questões, pois
costuma aparecer de diferentes formas nos concursos. Ela está presente
tanto quando o tema tratado é a Psicologia clínica, quanto hospitalar,
Psicopatologia, Desenvolvimento Humano, ou ainda, em questões que
abordam especificamente os conceitos das Neurociências.

Nossa aula está dividida em dois grandes módulos: Neuropsicologia e Psi-


cofarmacologia, onde traremos as principais concepções teóricas sobre
essas especialidades de forma direta e assertiva, partindo das bases ana-
tômicas e funcionais do sistema nervoso: o Neurônio e o Sistema límbico;
discutiremos sobre as Neurociências e os processos básicos; faremos
uma breve introdução aos fundamentos da Avaliação Neuropsicológica,
além de um esboço sobre suas aplicações na área hospitalar. No módu-
lo seguinte conversaremos sobre os fundamentos da Psicofarmacologia
destacando a ação dos neurotransmissores, os principais psicofármacos
com seus respectivos tratamentos e aplicações nas mais variadas condi-
ções psíquicas.

Aqui você poderá reforçar seu conhecimento sobre os pontos mais impor-
tantes dessa área tão cobrada nas provas, a partir de uma leitura fácil e
com dicas pra você ter sucesso nas provas. No decorrer do texto, também
é possível testar seu aprendizado fazendo as questões de provas anterio-
res e assistindo a pocket vídeos, com os conteúdos que precisam estar
fixados em sua memória.
Ah, no final do curso ainda tem uma super revisão de todos os conteúdos
em uma videoaula, além de questões comentadas de provas anteriores.

Vamos começar?

Clique no ícone para assistir


a apresentação gravada.

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FUNDAMENTOS TEÓRICOS

1. ASPECTOS HISTÓRICOS DO USO


TRADICIONAL DA NEUROPSICOLOGIA
Podemos dizer que as preocupações com o estabelecimento de relações
entre o cérebro e o comportamento são muito antigas. Encontram-se
descrições com esse tipo de enfoque em papiros do antigo Egito data-
dos de 3500 a.C. Outros indícios são encontrados na cultura Asteca, em
crânios de pessoas submetidas a trepanação, feita de maneira precisa e
coerente, de forma a não deixar dúvida quanto à existência de um aspecto
racional por trás das cirurgias.

De acordo com Camargo, Bolognani e Zucollo (2014) a ideia de que haveria


uma relação entre os fenômenos mentais e comportamentais e o fun-
cionamento do cérebro permeou o conhecimento e as práticas médicas
em muitas épocas. Porém, desapareceu sob o peso da influência de vários
tipos de crenças, o que repercutiu na visão sobre os fenômenos mentais,
bem como na prática e no tratamento das doenças ao longo do tempo.

Já durante o século XX, indiscutivelmente, uma das maiores contribuições


na Neuropsicologia foi dada por Alexander Luria, que partindo de uma
base clínica e experimental, examinou pacientes com lesões cerebrais
adquiridas na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). E com isso, Luria for-
neceu as linhas orientadoras para a neuropsicologia, norteando a prática
clínica de milhares de pessoas pelo mundo, inclusive no Brasil.

Para que possamos adentrar neste universo multidisciplinar que é a Neu-


ropsicologia, vamos relembrar agora alguns aspectos básicos do Siste-
ma nervoso.

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1.1. NEUROANATOMIA BÁSICA PARA
NEUROPSICÓLOGOS

As diferentes regiões do sistema nervoso central contribuem para toda


a coordenação do comportamento e da cognição, que são os objetos de
interesse da neuropsicologia, mas é no cérebro que se encontram os prin-
cipais grupamentos neuronais e circuitos envolvidos nessa mediação.

1.2. O NEURÔNIO E SUAS FUNÇÕES

O Neurônio é a célula nervosa que, juntamente com as células da neuró-


glia (células não neuronais do SNC que proporcionam suporte e nutrição
aos neurônios) formam o tecido nervoso. Este tecido é responsável pela
condução do impulso nervoso e possui a capacidade de responder aos es-
tímulos do meio como a luz e o calor.

Figura 1. Estrutura do neurônio


Soma (corpo celular)

Axônio

Dendrito

Cone axonal

Célula pré-sináptica
Mielina

Sinapse

Neuro-
transmissor

Terminal axonal

Célula pós-sináptica

Fonte: Google fotos.

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O neurônio é considerado a unidade básica da estrutura tanto do cére-
bro quanto do sistema nervoso. Ele é formado por um corpo celular de-
nominado pericário, é daí que partem os prolongamentos, acomodando
o núcleo do neurônio; os dendritos que são prolongamentos numerosos
responsáveis por receber os estímulos do ambiente, as células epiteliais
sensoriais e outros neurônios; e o axônio, um prolongamento único con-
dutor dos impulsos nervosos à outras células, como as musculares, glan-
dulares ou mesmo outros neurônios.

O número, o comprimento e o modo de ramificação dos prolongamen-


tos do pericário são a base morfológica que nos permite classificar os
neurônios em multipolares, bipolares ou pseudo-unipolares.

Os neurônios multipolares apresentam mais de dois prolongamentos


partindo de seu pericário, sendo um deles o axônio e os demais dendri-
tos. Já os bipolares possuem apenas dois prolongamentos, um axônio
e um dendrito. Nos neurônios pseudo-unipolares há apenas um único
prolongamento saindo do pericário, porém ele se bifurca em dois novos
prolongamentos, um indo em direção à alguma estrutura periférica e o
outro para o sistema nervoso central.

Figura 2. Tipos básicos de neurônio.

Bipolar Unipolar Multipolar Célula


(Interneurônio) (Neurônio Sensorial) (Motoneurônio) Piramidal

Fonte: Google fotos.

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Quanto às funções, nós podemos classificar os neurônios em...
• Receptores ou sensitivos: São os neurônios que reagem a estímulos
exteriores e que despertam a reação a esses estímulos, se necessário.
• Neurônios Motores ou efetuadores: Este tipo de neurônio tem a fun-
ção de transmitir o sinal desde o sistema nervoso central ao órgão efe-
tor (que se move), para que este realize a ação que foi ordenada pelo
encéfalo ou pela medula espinhal.
• Neurônios Associativos ou Conectores ou Interneurônios: Transmi-
tem o sinal desde os neurónios sensitivos ao sistema nervoso central.
Liga também neurônios motores entre si.

Figura 3. Os três neurônios fundamentais.

Motor Sensorial Interneurônio

Fonte: Autoria própria.

Os Neurônios se comunicam através das Sinapses...

Sinapses nervosas são os pontos onde as extremidades de neurônios vizi-


nhos se encontram e essa relação é mediada pelos neurotransmissores.
A sinapse é uma estrutura formada por: membrana pré-sináptica, fenda
sináptica e membrana pós sináptica.

As sinapses ocorrem no “contato” das terminações nervosas chamadas


axônios, usualmente com os dendritos de outro neurônio, mas pode ha-
ver contato com o corpo celular e mesmo com outros axônios.

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A literatura aponta a existência de dois tipos de sinapses neuronais: as
sinapses químicas e as sinapses elétricas.

As Sinapses Químicas constituem a maioria das sinapses presentes no


sistema nervoso. Ela ocorre numa fenda sináptica presente entre o axô-
nio do neurônio que está transmitindo a informação (neurônio pré-sináp-
tico) e o neurônio que receberá uma descarga de neurotransmissores, o
receptor (neurônio pós-sináptico).

As Sinapses Elétricas são junções muito estreitas entre dois neurônios.


Estas junções comunicantes são constituídas por proteínas chamadas de
conéxons, que permitem uma continuidade entre as células e dispensa,
em grande medida, o uso de neurotransmissores.

O neurônio é considerado a unidade básica do cérebro e Sistema Ner-


voso!

1.3. ESTRUTURA E DIVISÃO DO CÓRTEX CEREBRAL

O córtex cerebral é visto de forma macro como uma camada de substân-


cia cinzenta que reveste todo o cérebro. Este, no caso da espécie humana,
tem sua superfície marcada por sulcos e giros. Anatomicamente, o córtex
cerebral costuma ser fracionado em regiões, denominadas lobos, a saber:
o frontal, parietal, temporal, occipital e lobo da ínsula.

Durante muito tempo discutiu-se a existência de localizações funcionais


no córtex cerebral: os Localizacionistas postulavam a existência de cen-
tros específicos para diferentes funções, enquanto os holistas/globalis-
tas, por sua vez, afirmavam a ideia de em uma equipotencialidade entre as
diferentes regiões corticais.

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Luria propôs ainda na década de 40, a existência de duas unidades fun-
cionais no córtex cerebral: uma receptora e outra executora.

A unidade receptora é a que seria encarregada de receber, analisar e ar-


mazenar a informação. Nela podem ser encontradas áreas que se ocupam,
por exemplo, da visão, audição e somestesia.

Já a unidade executora se encarregaria de programar, coordenar e ve-


rificar as ações do indivíduo, sobretudo as ações conscientes. Nela se
encontram as áreas que lidam diretamente com a motricidade.

Ao propor a existência dessas duas unidades Luria destacou que elas se


organizam de forma hierárquica, em áreas classificadas como primárias,
secundárias e terciárias.

Figura 4. Unidades Funcionais de Luria.

3a UF
2a UF

1a UF

Fonte: Google fotos.

No caso da unidade receptora, as áreas primárias são aquelas que rece-


bem as projeções das diferentes modalidades sensoriais e realizam uma
primeira análise da informação, que será posteriormente trabalhada e
integrada nas áreas secundárias.

A área secundária fica responsável por preparar os programas motores


posteriormente encaminhados à região primária.

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A área terciária, por sua vez, coordena o trabalho dos diferentes analisa-
dores e produz esquemas simbólicos em nível de complexidade acima das
modalidades sensoriais, que sustentam a atividade cognitiva mais sofis-
ticada.

Neste momento vamos destacar para vocês algumas áreas cerebrais e


suas funções dentro do Sistema Nervoso...

Figura 5. Anatomia do cérebro.

Vista Lateral Vista Superior

Anterior Posterior Anterior

Lobo Frontal Posterior

Lobo Parietal
Hemisfério Hemisfério
Lobo Occipital Esquerdo Direito

Lobo Temporal

Fonte: Google fotos.

A área temporoparietal está encarregada de manter a integração de in-


formações sensoriais – o que é importante, por exemplo, para a compu-
tação da linguagem, uma de suas funções. Esta área tem uma maturação
tardia e atinge a plenitude do seu funcionamento somente depois da pri-
meira década de vida.

Do ponto de vista funcional, essa região está relacionada com a praxia, a lin-
guagem, a integração e o planejamento visuomotor e a atenção espacial.

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Na porção inferior do lobo parietal, detecta-se a presença dos chamados
“neurônios espelho”, que são encontrados também na região pré-motora.
Esses neurônios tem a característica de disparar impulsos quando o indi-
víduo executa uma ação e também quando a mesma ação é observada em
outras pessoas.

A área pré-frontal coordena a ligação entre as áreas de associação sen-


soriais e as áreas límbicas e, portanto, entre as informações do mundo
externo e os processos emocionais e motivacionais, sendo então, muito
importante para a sobrevivência do organismo e para a regulação do com-
portamento (MESULAM, 2000).

A porção do córtex dorsolateral coordena a memória operacional, que se


relaciona com a atenção sustentada e tem o envolvimento também do
córtex parietal. A porção do córtex orbitofrontal analisa a significância
dos estímulos sensoriais, identificando aqueles ligados a uma gratifica-
ção e é importante para o controle inibitório do comportamento. Já a área
pré-frontal medial lida com a atenção interna e a tomada de decisão.

1.4. O SISTEMA LÍMBICO

As áreas límbicas estão nas faces medial e inferior do cérebro, forman-


do um anel em torno das estruturas do diencéfalo e do tronco encefálico.
Esse anel cortical é tradicionalmente conhecido como lobo límbico (limbo
= borda). Ao longo do século XX verificou-se que a maioria das suas fun-
ções estavam relacionadas com as emoções, a aprendizagem, a memó-
ria e o controle visceral.

Os componentes cerebrais associados ao Sistema Límbico são: o Tronco


Cerebral, o Hipotálamo, o Tálamo, a Área Pré-frontal e o Rinencéfalo (Sis-
tema Olfativo).

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Figura 6. O sistema Límbico.

Fornix Epífise
Corpo caloso

COMPONENTES DO
CÉREBRO
COMPONENTES
DO DIENCÉFALO Cíngulo
Grupo anterior de Giro para-hipocampal
núcleos talâmicos
Hipocampo
Hipotálamo
Corpo mamilar

Amígdala

Fonte: Google fotos.

O Hipocampo tem relações com o controle das emoções e sabe-se que a


lesão bilateral do hipocampo acarreta uma amnésia anterógrada global,
indicando que a formação hipocampal é muito importante para o proces-
samento da memória declarativa.

• A porção posterior estaria envolvida com os processos cognitivos de


aprendizagem e memória, particularmente aqueles associados a nave-
gação, exploração do ambiente e locomoção.
• A porção anterior faz parte dos circuitos do lobo temporal envolvidos
com a emoção e o comportamento motivado.

O Tálamo apresenta suas funções relacionadas à transmissão de sinais


motores e sensitivos para o córtex, além da regulação da consciência,
sono e estado de alerta.

O Hipotálamo apresenta funções muito numerosas e importantes, ele tem


um papel regulador sobre o sistema nervoso autônomo e o sistema endó-
crino, além de controlar vários processos motivacionais importantes para
a sobrevivência do indivíduo e da espécie, como a fome, a sede e o sexo.

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Já a região do Tronco cerebral é responsável pelas reações emocionais,
mas apenas respostas reflexas de alguns vertebrados, como répteis e an-
fíbios. É importante assinalar que participam não só dos mecanismos de
alerta, vitais para a sobrevivência, mas também da manutenção do ciclo
vigília-sono.

A área pré-frontal não faz parte do Lobo límbico tradicional, mas suas
intensas conexões com o tálamo, amígdala e outras áreas sub-corticais
explicam o importante papel que desempenha na expressão dos estados
afetivos.

O Rinencéfalo não é uma estrutura anatômica delimitada, mas relaciona-


se às porções de cada hemisfério cerebral responsáveis pela recepção,
condução e integração das sensações olfatórias.

Não confundam! O lobo límbico somado as estruturas a ele interligadas


é que constituem o Sistema Límbico!

Fazem parte do lobo límbico a região do septo, o giro do cíngulo, o giro


para-hipocampal, o hipocampo, parte da ínsula e da amígdala, o polo tem-
poral e, ainda, as porções medial e orbital da área pré-frontal.

A amígdala cerebral, ou núcleo amigdaloide, situa-se no interior do lobo


temporal, a frente e acima do hipocampo. A amígdala tem sido implicada
na coordenação das respostas emocionais (principalmente as aversivas,
como o medo) e na regulação do comportamento agressivo, ela estaria
envolvida nos mecanismos de recompensa e suas implicações na motiva-
ção. Ela participa também de processos cognitivos, como a atenção, a
percepção e a memória.

Lesões na amígdala, ou sua desconexão, provocam uma dissociação en-


tre os processos sensoriais e emocionais. Este quadro é característico na

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chamada Síndrome de Kluver e Bucy, que é consequência da descone-
xão entre a amigdala e o córtex temporal. De maneira geral, a amígdala
participa de circuitos em que ocorre uma interação entre as informações
vindas do meio externo e meio interno.

A Ínsula tem conexões recíprocas com outras estruturas límbicas. Ela


recebe e processa informações visceroceptivas (sensações intestinais,
respiratórias e cardiovasculares).

Assim, podemos perceber que na insula há uma relação com o toque sen-
sual e a estimulação sexual, as cócegas e as sensações térmicas. Ela par-
ticipa também da percepção da dor e seus componentes emocionais. A
ínsula parece integrar as informações viscerais e do sistema nervoso
autônomo com as funções emocionais e motivacionais.

A ínsula também está envolvida nos processos conscientes ocasionados


pelo uso de drogas psicoativas, isso porque ela recebe inervação dopami-
nérgica, possivelmente envolvida na mediação da gratificação proporcio-
nada pelo uso dessas substâncias.

O Giro do cíngulo circunda o corpo caloso (cingulum = cinto). Nele se en-


contram:
• A região anterior que está intimamente ligada com o córtex pré-fron-
tal medial; implicada no processamento da dor, da atenção e, ainda, na
seleção de ações motoras ligadas a motivação.
• A região posterior que participa no processamento visuoespacial e
tem conexões com o córtex pré-frontal dorsolateral.
• Já a região retroesplenial tem sido relacionada com a memória e man-
tém conexões com o lobo temporal medial (hipocampo) e o córtex pré-
-frontal dorsolateral. Lesões cingulares podem provocar apatia, mu-
tismo e mudanças da personalidade.

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A região do Giro Parahipocampal desempenha um papel importante na
codificação e recuperação de memória.

O Polo temporal recebe informações sensoriais olfatórias, gustativas


e relacionadas com a visão e a audição. Além disso, parece ter papel na
integração límbica/sensorial, participando do processamento emocional
nas interações sociais.

Graças aos estudos sobre o hipocampo, hoje sabe-se que durante toda a
vida novos neurônios (Neurogênese) são formados no sistema nervoso
central depois do nascimento, contrariando um antigo dogma neurobioló-
gico (FUENTES et al., 2014). Os pesquisadores também se dedicaram ao
conceito de Plasticidade cerebral que é a capacidade adaptativa do SNC,
ou seja, sua habilidade para modificar sua organização estrutural própria
e funcionamento.

Neurogênese e Plasticidade cerebral são conceitos chaves para as Neu-


rovibes!

ACERTE O ALVO!
O Sistema Límbico está diretamente relacionado com
as emoções.

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Aula sobre Sistema límbico
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01. “Durante mais de um século”, escrevem na revista Neuron o


neurocientista John Gabrieli e seus colegas do MIT (Massachu-
setts Institute of Technology, em Boston), “compreender o cé-
rebro humano dependeu de danos neurológicos ocorridos de
maneira natural, ou das consequências imprevistas da neuroci-
rurgia”. Graças a esse tipo de caso, alguns muito famosos entre
os neurologistas, foi possível determinar o papel essencial para a
linguagem que tem o córtex pré-frontal esquerdo (a célebre área
de Broca), por exemplo, ou as regiões envolvidas no comporta-
mento social, a tomada de decisões ou a construção de novas
memórias. Disponível em: <https://brasil.elpais.com>. Acesso
em: 10 out. 2018, com adaptações. Com base no exposto e nos co-
nhecimentos correlatos, julgue os itens a seguir. O sistema límbi-
co é responsável pelo controle emocional e de comportamentos
sociais na espécie humana.
🅐 Certo.
🅑 Errado.

Clique aqui para ver o


gabarito da questão.

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1.5. O MODELO DAS REDES NEUROCOGNITIVAS E O
CÓRTEX CEREBRAL

O conceito de que existem áreas corticais especializadas ou dedicadas a


funções especificas, como a linguagem, a atenção ou a memória, vem sen-
do cada vez mais criticado e substituído pelo modelo das redes nervosas
dedicadas.

Segundo Mesulam (2000), pelo menos cinco redes de larga escala pode-
riam ser identificadas. Elas estão no quadro a seguir.

Tabela 1. As cinco redes de larga escala de Mesulam

1. Uma para atenção espacial, com epicentros nos córtices parietal, pré-frontal e giro do cíngulo,
com predominância a direita;

2. Uma para linguagem com epicentros frontal (área de Broca) e temporoparietal (área de Werni-
cke), com predominância a esquerda;

3. Uma para memória e emoção, com epicentros no hipocampo e amigdala;

4. Uma para funções executivas, com epicentros nas regiões pré-frontais;

5. Uma para identificação de faces e objetos, com epicentros no lobo temporal inferior e polo tem-
poral.

Fonte: Mesulam, 2000.

Mais recentemente, o uso das técnicas de neuroimagem veio demons-


trar a existência de uma rede denominada “rede cerebral padrão” (brain’s
default network), a qual envolve estruturas como o córtex pré-frontal me-
dial, o giro do cíngulo posterior e o lobo temporal medial.

Segundo Fuentes et al. (2014) a cognição, seguramente, é um fenômeno


derivado do funcionamento dos circuitos neurais. Ela deriva de um pro-
cessamento que ocorre em um grande número de elementos nervosos
interconectados de forma complexa.

O conceito de Redes neurais permite superar a antiga oposição entre os


Localizacionistas e os Holistas/Globalistas.

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ANOTAÇÕES

22
2. NEUROCIÊNCIAS E PROCESSOS
BÁSICOS
Agora que relembramos os princípios da anatomia do sistema nervoso,
vamos conversar um pouco sobre as suas funções? Quais são suas rela-
ções e qual a importância de cada uma delas em nosso cotidiano. Vamos
lá? Estudaremos a Percepção, Atenção, Emoções, Funções executivas,
Memória e Linguagem.

2.1. PERCEPÇÃO

Por percepção, entende-se a tomada de consciência, pelo indivíduo, do


estímulo sensorial. Nessa linha de raciocínio, podemos definir a percep-
ção como a tomada de conhecimento sensorial de objetos ou de fatos ex-
teriores mais ou menos complexos (DALGALARRONDO, 2019).

Enquanto a sensação seria considerada um fenômeno passivo, estímulos


físicos (luz, som, pressão) ou químicos atuam sobre sistemas de recepção
do organismo. A percepção seria um fenômeno ativo, o sistema nervoso
e a mente do sujeito constroem um percepto por meio da síntese dos es-
tímulos sensoriais, confrontados com experiências passadas registradas
na memória e com o contexto sociocultural em que vive o indivíduo e que
atribui significado às experiências.

Para compreender melhor essa habilidade cognitiva, observamos um fe-


nômeno envolvido na percepção dos objetos que é a constância percep-
tiva. De acordo com Berns (2002) a constância perceptiva é a capacidade
de compreender um objeto em diferentes tamanhos, que é a percepção
de constância de tamanho (conforme a distância que se tem do mesmo) e
posições, que é a percepção de constância de forma (diferentes ângulos

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de visão). Ou seja, em pessoas sem deficiência ocorre a percepção de que
mesmo com distância dos objetos ele permanecem com suas caracterís-
ticas próprias.

Assim, a constância perceptiva é um complexo ato de aprendizado, mas


que é naturalmente adquirida nos primeiros meses de vida. Em uma pes-
soa com deficiência visual, a falta de constância perceptiva traz a cada
novo ângulo a percepção de um novo objeto, ocorrendo que representa-
ção e realidade não têm conexão.

Deste modo, durante o desenvolvimento, os indivíduos podem apresen-


tar distúrbios da percepção. Um exemplo clássico é ‘Ataxia ocular’ ou
ótica, que representa uma dificuldade do paciente em apontar ou tocar
objetos no campo visual. A ataxia óptica pode ser causada por lesões no
córtex parietal posterior e é normalmente parte integrante da Síndrome
de Balint.

ACERTE O ALVO!
O desenvolvimento Neurocognitivo costuma ser bastan-
te cobrado em provas!

2.2. ATENÇÃO

A atenção é explicada na literatura a partir de diferentes modelos. De ma-


neira geral, essa função é definida como um sistema complexo que possi-
bilita ao indivíduo filtrar informações relevantes, por um período limitado.

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Quando pensamos em atenção, precisamos ter alguns cuidados. O primei-
ro deles é a necessidade de se investigar diferentes fatores que podem
influenciar o exame dessa complexa função, como, por exemplo, cansaço,
sonolência, uso de substâncias psicoativas e álcool, dentre outros.

Outro cuidado que precisamos considerar é que os níveis atencionais va-


riam ao longo dos dias e, frequentemente, ao longo de um mesmo dia: o
desempenho deficitário numa avaliação em um momento isolado não ne-
cessariamente implica comprometimento significativo dessa função.

Dito isso!!! Podemos dizer que “de todas as funções cognitivas, a atenção
é, provavelmente, aquela que mais frequentemente se torna comprome-
tida em casos de lesões cerebrais, independentemente de sua localiza-
ção”. Ela também pode ser a única expressão de lesões mais sutis, como
no caso dos traumatismos cranioencefálicos (TCEs) leves; além de fre-
quentemente ocorrer em indivíduos com doenças cerebrovasculares e
diferentes tipos de demências (COUTINHO; MATTOS E ABREU, 2018).

A atenção também, frequentemente, se encontra comprometida em


transtornos como esquizofrenia, dislexia e os transtornos abrangentes
(invasivos) do desenvolvimento.

A atenção apresenta algumas características bem peculiares, tais


como...
• Seletividade: Consiste na seleção de parte dos estímulos disponíveis
para processamento enquanto se mantém os demais “suspensos”. Essa
capacidade é importante para não se processar tudo aquilo que nos é
apresentado nos campos visual ou auditivo, havendo, portanto, a ne-
cessidade de direcionar o foco para os estímulos relevantes. Imagina
você absorver toda as informações que entra em contato todos os dias
nos Jornais, internet, TVs e cia!

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• Alternância: Corresponde à capacidade de alternar entre um estímulo
ou conjunto de estímulos e outro, ou entre um tipo de tarefa e outra,
sucessivamente. Por exemplo. Quando montamos um móvel em casa,
podemos alternar a tarefa entre a leitura do manual e a montagem.
• Divisão: Corresponde à capacidade de focar em dois estímulos distin-
tos simultaneamente. Por exemplo: entender o que o professor está di-
zendo enquanto você lê o quadro e faz anotações!
• Sustentação: Corresponde à capacidade de manter o foco atentivo em
uma determinada atividade por um tempo mais prolongado com o mes-
mo padrão de consistência. Estudar com foco para uma prova, mesmo
em ambiente com ruídos.

Entretanto na grande maioria de tarefas que exigem atenção, mais de um


aspecto estão presentes, além de, naturalmente, haver participação de
outras funções cognitivas como percepção visual ou linguagem.

2.2.1. NEUROFISIOLOGIA DA ATENÇÃO


Existem três grandes circuitos envolvidos na neurofisiologia da atenção:

Figura 7. Os três grandes circuitos envolvidos na neurofisiologia da atenção.

Rede de Atenção Rede de


Rede Executiva
Visual Vigilância

Fonte: Autoria Própria.

1. O primeiro deles é a Rede de Atenção Visual, assimétrica (com domi-


nância à direita).
2. O segundo circuito envolvido é a Rede Executiva, uma vez que a aten-
ção mudou para um novo foco e o conteúdo visual foi “transmitido”, a
rede executiva entra em funcionamento, trazendo o estímulo para a
“consciência”.

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3. O terceiro circuito é a Rede de Vigilância, responsável pela manuten-
ção do estado de alerta.

Para a avaliação da atenção, muitos testes podem ser utilizados, a seguir


destacamos alguns instrumentos que podem auxiliar numa avaliação.
• Stroop: Este teste é reconhecido como uma prova de seletividade da
atenção, em uma tarefa que envolve também controle inibitório.
• TAVIS-3: Consiste em um teste computadorizado para avaliação da
atenção.
• CPT-II: Trata-se de uma tarefa computadorizada de longa duração na
qual o examinando deve reagir a estímulos transitórios que aparecem
no centro da tela.
• Atenção Concentrada (AC): Consiste em uma tarefa de lápis e papel na
qual o examinando deve marcar o estímulo alvo dentre diversos outros
estímulos distratores.

02. A atenção consciente possui três funções básicas: detecção


de sinais, atenção seletiva e atenção dividida.
🅐 Certo.
🅑 Errado.

Clique aqui para ver o


gabarito da questão.

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2.3. EMOÇÕES

Há muito tempo a humanidade se preocupa com as bases biológicas das


emoções. Apesar de estarmos longe de um quadro bem definido, cada vez
mais as neurociências obtêm dados indicando o envolvimento de deter-
minadas estruturas cerebrais na gênese das emoções.

Podemos pensar as Emoções como fenômenos psicofisiológicos de cur-


ta duração que representam maneiras eficientes de adaptação às de-
mandas ambientais. Psicologicamente, as emoções alteram a atenção,
modificam o comportamento pelo grau de relevância do estimulo e ati-
vam aspectos associados na memória. Fisiologicamente, as emoções ra-
pidamente desencadeiam respostas biológicas, como expressão facial,
tônus muscular, tom de voz e atividade endócrina e do sistema nervoso
autônomo, para adequar o meio interno a resposta efetiva. As emoções
servem para estabelecer nossa posição ante o meio, de aproximação a
determinadas pessoas, objetos, ações e ideias e de evitamento a outros.

Acredita-se que o ser humano apresente seis emoções básicas: alegria,


tristeza, medo, surpresa, raiva e nojo. Para uma melhor compreensão so-
bre as emoções vamos destacar a importância de três teorias: A Teoria de
Cannon-Bard, a teoria da ativação de Lindsey e a teoria de Papez.

2.3.1. PRINCIPAIS TEORIAS NEUROFISIOLÓGICAS DAS EMOÇÕES


No final do século XIX, começaram a surgir estudos mais aprofundados e
sistemáticos dos processos cerebrais envolvidos nas emoções. Pesqui-
sadores como William James (1884), Walter Cannon e Philip Bard (1929),
James Papez (1937) e Paul MacLean (1949) e Lindsey (1951), com base em
dados da clínica ou pesquisa com animais, começaram a elaborar teorias
apontando determinadas estruturas cerebrais como participantes dos
processos emocionais. A seguir estão as principais teorias!!!

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2.3.2. A TEORIA DE CANNON-BARD
Sobre a teoria de Cannon e Bard, podemos dizer que esses pesquisadores
realizaram um detalhado estudo utilizando lesões cerebrais com o objeti-
vo de definir quais áreas do cérebro eram necessárias para a expressão
da raiva. Produziram lesões cada vez maiores, iniciando pelo córtex até
estruturas mais caudais e perceberam que na ausência do hipotálamo, os
animais expressavam fragmentos de atividade emocional, e respondiam
apenas a estímulos muito dolorosos e intensos. Exibiam as respostas
emocionais de maneira desconexa, não ocorrendo todas ao mesmo tem-
po. Tais descobertas sugeriram a Bard e Cannon que o hipotálamo era o
centro emocional do cérebro.

2.3.3. AS VIAS CEREBRAIS DA EMOÇÃO SEGUNDO CANNON E BARD

Figura 8. Cannon-Bard: O sistema nervoso no processamento das emoções.

1. CÓRTEX
ESTÍMULO HIPOTÁLAMO
2. CNA EMOÇÃO
Fonte: Autoria Própria.

Os estímulos externos, processados pelo tálamo são enviados ao córtex


cerebral e ao hipotálamo. O hipotálamo, por sua vez, envia mensagens
aos músculos e órgãos do corpo e ao córtex. A interação das mensagens
no córtex para assimilação do estímulo e de seu significado emocional
resulta na experiência consciente da emoção (sentimentos). As reações
somáticas e emocionais acontecem paralelamente.

2.3.4. A TEORIA NEUROFISIOLÓGICA DE PAPEZ


James Papez, propôs uma das teorias mais abrangentes sobre os circui-
tos das emoções no cérebro. Papez, observando as consequências de
danos no córtex medial humano e pesquisando o papel do hipotálamo no
controle das reações emocionais em animais, elaborou uma teoria asso-

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ciando a experiência subjetiva das emoções à ativação de um circuito de
conexões entre o hipotálamo e o córtex medial.

Figura 9. O Circuito de Papez.

Sentimento

Córtex sensorial Giro do cíngulo


3 2

Hipocampo Tálamo anterior


4 1

Tálamo Hipotálamo

Estímulo Resposta
sensorial corporal

Fonte: Google fotos.

Papez, porém, propôs a ideia de que as mensagens sensoriais provindas


do corpo se dividem no tálamo em dois fluxos: o fluxo de pensamentos e
o fluxo de sentimentos.

O fluxo de pensamentos consiste das informações sensoriais através


das vias talâmicas até as regiões do neocórtex. Através deste fluxo as
sensações são transformadas em percepções, pensamentos e lembran-
ças.

O fluxo de sentimentos também incluía a transmissão sensorial para o


tálamo, mas nessa etapa as informações são transmitidas ao hipotálamo,
possibilitando a geração das reações corporais características das emo-
ções.

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2.3.5. TEORIA DE ATIVAÇÃO DE LINDSEY
Esta teoria procura explicar as reações emocionais através de uma ativa-
ção cortical seletiva. Essa ativação seria originada no Sistema Ativador
Reticular Ascendente (SARA), aonde os impulsos somáticos e viscerais
que chegam ao SNC seriam integrados e distribuídos ao hipotálamo, de
onde estimulariam o centro encefálico das reações de despertar, e tam-
bém ao sistema talâmico difuso, através do qual atuariam o córtex.

Figura 10. O Sistema Reticular ativador SARA.

SARA

Cerebelo

Impulsos visuais

FORMAÇÃO Tronco
Impulsos auditivos
RETICULAR Encefálico
Medula

Vias ascendentes Vias descendentes

Fonte: Google fotos.

Quando as aferências desse sistema são baixas, o organismo está rela-


xado e atividade elétrica do cérebro assemelha-se a do sono, ao aumen-
tar essa aferência, o organismo alerta-se e orienta-se em direção ao esti-
mulo: a atividade elétrica, então assemelha-se a do despertar.

Lindsey aceitou o hipotálamo como sede primária na organização da ex-


pressão emocional, com a ressalva de que a substância reticular deve ser
ativada para que qualquer expressão emocional se torne significativa.

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ACERTE O ALVO!
As principais teorias neurofisiológicas das emoções são
cobradas em diversas provas de residência.

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neurofisiológicas das
emoções clicando no ícone
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03. São teorias neurofisiológicas das emoções: teoria de Cannon-


Bard, teoria da ativação de Lindsey e teoria de Papez.
🅐 Certo.
🅑 Errado.

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2.4. FUNÇÕES EXECUTIVAS

As funções executivas consistem em um “conjunto de processos cogniti-


vos que, de forma integrada, permitem ao indivíduo direcionar comporta-
mentos a metas, avaliar eficiência e a adequação desses comportamen-
tos, abandonar estratégias ineficazes em prol de outras mais eficientes
e, desse modo, resolver problemas imediatos, de médio e de longo prazo”
(MALLOY-DINIZ, 2018).

A própria definição de FEs já apresenta o quão importante é como valor


adaptativo para o indivíduo, facilitando também o “gerenciamento” em re-
lação a outras habilidades cognitivas, como se fossem o maestro de uma
orquestra. Diversos processos cognitivos têm sido apontados como inte-
grantes das FEs, tais como planejamento, controle inibitório, tomada de
decisões, flexibilidade cognitiva, memória operacional, atenção, cate-
gorização, fluência, criatividade e tomada de decisão.

Os lobos frontais servem de base para o Sistema Atencional Supervisor


que suporta vários processos mentais. Esses processos auxiliam na defi-
nição de metas, geração, seleção e inibição de esquemas: memória de
trabalho, monitoramento, geração espontânea de esquemas, inibição/
rejeição de esquemas, realização de intenções postergadas, etc.

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Segundo Fuente et al. (2014) as funções executivas podem ser divididas
em dois grupos:

Figura 11. Tipos de Funções executivas

As funções executivas do tipo “fria” e as do tipo “quente”

As FEs Frias são caracterizadas por seus aspectos lógicos e abstratos.

As FEs Quentes têm um maior envolvimento nos aspectos emocionais,


motivacionais, análise de custo e benefício com base na história e na
interpretação pessoal.

Fonte: Autoria Própria.

• FEs Frias: A atenção e as funções executivas são monitoradas por três


sistemas neurais independentes – o sistema reticular ativador ascen-
dente, o sistema de projeções talâmicas difusas e o sistema tálamo-
-frontal. Enquanto os dois primeiros estão relacionados à manutenção
do tônus atencional e ao estado de alerta, este último está relacionado
ao controle atencional.
• FEs Quentes: A ativação de circuitos envolvendo a região pré-frontal
orbitofrontal e suas conexões com estruturas subcorticais ativa tam-
bém sensações corporais que atuam como sinalizadores no processo
de tomada de decisões.

O sistema executivo envolve três funções principais:

Figura 12. As funções do sistema executivo.

Memória de Mudança de Controle


trabalho cenário inibitório

Fonte: Autoria Própria.

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A memória operacional ou de trabalho é o componente das funções exe-
cutivas responsável pelo arquivamento temporário de informações, as
quais serão disponibilizadas para outros processos cognitivos.

O planejamento e solução de problemas consiste na capacidade de, a


partir de um objetivo definido, estabelecer a melhor maneira de alcançá-
-lo, levando em consideração a hierarquização, seus passos e a utilização
de instrumentos necessários para a conquista da meta.

O planejamento é um dos quatro principais componentes das Funções


Executivas e envolve:

Tabela 2. Os componentes das Funções Executivas.

Habilidade para estabelecer metas e intenções envolvendo motivação e


Volição autoconsciência.

Elaboração de um roteiro de ações para alcançar as metas a partir do uso


Planejamento de outras funções executivas como a capacidade de abstração, prospec-
ção, controle inibitório e atenção.

A transição da intenção e do plano para o comportamento em si é definida


Ação Proposital como a tradução de uma intenção ou plano em atividade.

Monitoração da ação proposital envolvendo autorregulação de seu


comportamento e a monitoração do desempenho efetivo, capacidade de
Desempenho
avaliar se um comportamento está apropriado para o alcance do objetivo
Efetivo traçado, bem como a flexibilidade e a capacidade de modificá-lo caso não
esteja sendo eficaz.

Fonte: Autoria Própria.

Categorização e flexibilidade cognitiva é a função executiva correspon-


dente à capacidade de o indivíduo organizar os elementos em categorias
que compartilham determinadas características e propriedades estru-
turadoras. Como exemplo, podemos citar tarefas onde o indivíduo deve
organizar uma série específica de estímulos em uma categoria comum a
todos (cão, gato, elefante e galinha como “animais”; carro, barco e moto
como “meios de transporte”, etc.).

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A Impulsividade – controle inibitório e tomada de decisões – é caracte-
rizada pela emissão de respostas imediatistas sem uma maior reflexão
das consequências de tais respostas em longo prazo.

De acordo com os pesquisadores, a impulsividade ocorre quando:


• Há mudanças no curso da ação sem que seja feito um julgamento cons-
ciente prévio;
• Ocorrem comportamentos impensados;
• Tendência a agir com menor nível de planejamento em comparação a
indivíduos com mesmo nível intelectual.

Muito testes neuropsicológicos podem ser utilizados para avaliação dos


aspectos motores e atencionais da impulsividade são eles o, Matching
Familiar Figures Task (MFFT) e o Teste das Trilhas; além do Teste de Se-
leção de Cartas de Wisconsin.

Sobre a Fluência verbal e comportamental podemos dizer que é um pro-


cesso executivo caracterizado pela capacidade do indivíduo de emitir uma
série de comportamentos dentro de uma estrutura de regras específica.
Ela pode ser dividida em um componente verbal e um não verbal.

A medida mais tradicional para a avaliação da fluência verbal é a produ-


ção de palavras sob as categorias semânticas e fonológicas. As principais
categorias semânticas utilizadas são “animais” e “partes do corpo” e “ali-
mentos”.

Se por um lado o uso dos testes neuropsicológicos não deve ser conside-
rado o único recurso na avaliação das FEs, por outro, essa etapa da avalia-
ção é de crucial importância, pois fornece medidas objetivas de tais fun-
ções e parâmetros comparativos do desempenho do paciente com seus
pares sociodemográficos.

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A avaliação das funções executivas deve incluir tarefas que envolvam
solução de situações conflitantes (Stroop), alternância mental de res-
postas à estímulos específicos (por exemplo, Trail Making) e testes que
envolvem controle e monitoramento da atenção durante longos períodos
de tempo (por exemplo, CPT-II). O Inventário de Comportamento Fron-
tal (FBI) também é um exemplo de roteiro estruturado para entrevista de
investigação de sintomas disexecutivos (feito com os cuidadores). Pode-
mos citar ainda o Teste da Torre de Londres, a Torre de Hanói e o Teste
dos Labirintos de Porteus.

2.5. MEMÓRIA

A memória envolve diversos processos de recepção, arquivamento e re-


cordação de informações. Trata-se de uma função multifacetada, envol-
vendo diversos mecanismos neurais e de fundamental importância para o
funcionamento do indivíduo. Como veremos a seguir, a memória pode ser
entendida através das suas múltiplas atribuições

Figura 13. Estrutura dos sistemas de memória. Memória de longa duração.

MEMÓRIA

MEMÓRIA DE LONGA DURAÇÃO MEMÓRIA OPERACIONAL

EXPLÍCITA IMPLÍCITA

EPISÓDICA SEMÂNTICA PRIMING PROCEDIMENTO EMOCIONAL APRENDIZAGEM CONDICIONADA

Fonte: Autoria Própria.

A Memória declarativa (explícita) é caracterizada pela capacidade de


arquivamento e recuperação consciente de informações relacionadas a
experiências vividas ou informações adquiridas pelo indivíduo. A memó-

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ria declarativa por sua vez, envolve dois sistemas adjacentes: a memória
episódica e a memória semântica.

A memória episódica está relacionada ao sistema de resgate de informa-


ções vivenciadas pelo sujeito. Por exemplo: eventos pessoais, casamento,
formaturas, término de um relacionamento).

O hipocampo é a principal estrutura envolvida no aprendizado de novas


informações que compreende as seguintes etapas:

Figura 14. Etapas da formação de novas informações.

Aquisição de Resgate do
Armazenamento
material material

Fonte: Autoria Própria.

2.5.1. MEMÓRIA SEMÂNTICA E SEUS ASPECTOS NEUROANATÔMICOS


A memória semântica foi definida como nossa enciclopédia mental, sen-
do responsável pela memória necessária para a linguagem. Ela é caracte-
rizada pela perda de dados contextuais temporais e espaciais. A memória
semântica também envolve relações com percepção e ação. Por exemplo,
o conhecimento que temos sobre determinado animal envolve suas ca-
racterísticas visuais, seu movimento, número de patas, presença de pe-
los, etc., enquanto o conhecimento de uma ferramenta envolve o uso que
se faz dela, o material de que é feita, etc.

Memória não declarativa (implícita) é aquela que nos permite adquirir


habilidades perceptomotoras ou cognitivas por meio da exposição re-
petida e atividades que seguem regras constantes, mas que não reque-
rem resgate e a habilidade consciente ou intencional da experiência.

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A avaliação neuropsicológica de um tipo de memória implícita, a pré-ati-
vação, em geral envolve identificar palavras, completar sentenças, com-
pletar palavras, solucionar anagramas e outras tarefas que envolvam
sobretudo o uso de dicas prévias ou de conhecimento prévio já automa-
tizado.

A Memória de Curto Prazo está relacionada a recuperação da informa-


ção, dentro de poucos segundos após a exposição e limitada a cerca de
quatro itens.

Já a Memória Operacional é um sistema de memória responsável pela


manutenção temporária e pela manipulação da informação, servindo
para que operações mentais sejam realizadas on-line.

De acordo com Abreu, Coutinho e Bueno (2014) o modelo multicompo-


nente, originalmente proposto por Baddeley e Hitch (1974), prediz que a
memória operacional é dividida em um sistema supervisor – o executivo
central – e dois sistemas escravos – a alça fonológica e seu equivalente
para material visuoespacial, o esboço visuoespacial.

Mais recentemente, foi acrescido um quarto componente ao modelo: o


retentor episódico (BADDELEY, 2000), que seria o responsável pela co-
nexão de informações da memória de longo prazo às informações de cur-
to prazo.

Memória prospectiva refere-se à capacidade de lembrar-se de executar


uma ação planejada para o futuro.

A avaliação da memória pode ser realizada com a utilização de instru-


mentos. O mais comum para memória operacional por exemplo é o Span
de dígitos da Bateria Wechsler; outros testes como o TEPIC – Teste Pic-
tórico de memória; com o teste de memória de reconhecimento TEM-R,

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lembrando que qualquer outro teste utilizado deve estar validado para a
população brasileira.

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sobre Memória clicando no
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Agora que usamos nossa memória para fixar este conteúdo, vamos nu-
tri-lo com um estudo sobre a Linguagem!

2.6. LINGUAGEM

Para Luria, a linguagem é um dos elementos organizadores mais impor-


tantes da atividade cerebral. A linguagem é uma habilidade cognitiva mui-
to importante para a socialização e a comunicação humana. Portanto,
os distúrbios de linguagem adquiridos geralmente interferem de forma
significativa nas habilidades comunicativas, sociais, laborais e de (re)
integração a sociedade.

A linguagem manifesta-se na forma de “compreensão” receptiva e de


decodificação do input linguístico (“compreensão verbal”), que inclui a
audição e a leitura, ou no aspecto de codificação expressiva e produção
output que inclui fala, escrita e sinalização. Os componentes de represen-
tação da linguagem envolvem o processamento nos seguintes níveis:

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Tabela 3. Os componentes de representação da linguagem envolvem.

Semântico Refere-se ao significado das palavras ou ideias veiculadas.

Compreende a natureza física da produção e da percepção dos sons da fala


Fonético humana.

Fonológico Corresponde os sons da fala (fonemas).

Morfológico Diz respeito as unidades de significado – palavras ou partes de uma palavra.

Envolve compreensão e produção de palavras. Léxico é o conjunto de pala-


Lexical vras em uma dada língua.

Refere-se às regras de estrutura das frases, as funções e as relações das


Sintático palavras em uma oração.

Pragmático Compreende o modo como a linguagem é usada e interpretada.

Integra a habilidade de reconhecer, compreender e produzir significado afe-


Prosódico tivo ou semântico com base na entonação, na ênfase e em padrões rítmicos
da fala.

Fonte: Autoria Própria.

No processo de reconhecimento e compreensão das palavras, em um mo-


delo interativo, a informação sensorial da palavra alvo (processamento
botton-up) ocorre simultaneamente com a informação contextual, que
envolve um processamento top-down (expectativas, contexto, memória
e atenção do ouvinte/leitor).

2.6.1. CONSIDERAÇÕES SOBRE AS BASES NEUROBIOLÓGICAS DA


LINGUAGEM
Os estudos de neuroimagem funcional com participantes neurologica-
mente saudáveis e com pacientes com dano neurológico têm destacado a
importância do hemisfério cerebral esquerdo (HE) para o processamen-
to da linguagem, tanto oral como escrita.

Historicamente, os estudos de Paul Broca e Carl Wernicke, ainda no sé-


culo XIX, relacionaram os déficits de linguagem dos pacientes aos casos
pós-lesão nas regiões frontal (Afasia de Broca) e temporal (Afasia de
Wernicke).

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Entretanto o hemisfério cerebral direito (HD) também tem um importante
papel no processamento da linguagem e da comunicação. O HD armazena
os aspectos prosódicos de produção da fala e os componentes lexicais de
reconhecimento visual das palavras. Em relação às habilidades comunica-
tivas que envolvem o HD, observa-se que esse hemisfério é responsável,
principalmente, pelas funções discursivas, pragmáticas, inferenciais, léxi-
co-semânticas e prosódicas.

2.6.2. ESTUDO SOBRE AS AFASIAS


A afasia é definida como a perda ou a deficiência da linguagem expres-
siva e/ou receptiva, provocada por um dano cerebral, geralmente no HE.
Dessa maneira, os pacientes podem apresentar afasia do tipo fluente (le-
sões posteriores) ou não fluente (lesões anteriores). Afasias fluentes
são caracterizadas por fala fluente e articulação relativamente normal,
mas dificuldades em compreensão verbal e repetição e presença de pa-
rafasias. Nas afasias não fluentes, a compreensão verbal é relativamente
preservada, mas há problemas na produção da linguagem e articulação.

Figura 15. Os tipos de afasias.

Afasias de Broca, transcortical motora,


Não Fluentes transcortical mista e global

Afasias de Wernicke, de condução, anômica e


Fluentes transcortical sensorial.

Fonte: Autoria Própria.

Afasia de Broca caracteriza-se por fala espontânea e repetição de sen-


tenças não fluentes, com anomias associadas à relativa preservação da
compreensão da linguagem.

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Afasia transcortical motora é identificada nos pacientes que apresen-
tam melhor desempenho na repetição de sentenças do que na linguagem
espontânea.

Afasia transcortical mista está relacionada a dificuldades em compreen-


der sentenças e em nomeação, mas com preservada capacidade de repe-
tição.

Afasia global compreensão mostra-se severamente prejudicada, poden-


do ser compreendidos apenas comandos simples.

Afasia de Wernicke caracteriza-se por linguagem expressiva espontânea


e repetição fluentes, mas desprovidas de sentido (jargão), além de com-
prometimento da compreensão de palavras, sentenças e conversação.

Afasia de condução é reconhecida por linguagem espontânea


relativamente fluente, adequada compreensão, mas dificuldade na
repetição.

Na Afasia anômica, a linguagem expressiva mostra-se fluente, com ade-


quada compreensão, repetição e articulação, mas dificuldade na evoca-
ção lexical, que ocorre geralmente na linguagem espontânea.

Na Afasia sensorial transcortical os pacientes mostram discurso fluen-


te, com dificuldade na compreensão, sendo observadas as parafasias se-
mânticas, dificuldades em encontrar palavras (anomias) e circunlóquios.

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2.6.3. AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM
As tarefas selecionadas para avaliar a linguagem oral e escrita geralmen-
te envolvem expressão (linguagem espontânea, linguagem automática,
nomeação, repetição) e compreensão, nos níveis de palavras, frases e dis-
curso. No Brasil os instrumentos mais usados foram o Teste de Nomeação
de Boston, o Teste de Fluência Verbal Semântica (Categoria Animais), o
Teste de Vocabulário por Imagens Peabody e o Token Test.

ACERTE O ALVO!
As funções neuropsicológicas costumam ser bastante
cobradas nas mais diversas provas específicas de Psi-
cologia.

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ANOTAÇÕES

45
3. AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA - ANP
O exame neuropsicológico é um procedimento de investigação clínica
cujo objetivo é esclarecer questões sobre os funcionamentos cognitivo,
comportamental e emocional de um paciente.

Assim a ANP trata-se da aplicação de técnicas de entrevistas, exames


quantitativos e qualitativos das habilidades que compõem a cognição,
abrangendo os processos que acabamos de discutir: a percepção, a aten-
ção, a memória, as emoções, as Funções executivas, a linguagem e tam-
bém o raciocínio.

Para a sua realização, são sugeridas algumas tarefas, um planejamento


cuidadosamente desenvolvido para acessar diferentes domínios cogniti-
vos. O Neuropsicólogo vai avaliar os fenômenos observados e sua relação
com a queixa principal, a história clínica, a evolução de sintomas, os
modelos neuropsicológicos sobre o funcionamento mental e o quadro
geral psicopatológico.

Segundo Malloy-Diniz et al. (2014) o exame neuropsicológico é um exame


clínico armado e, como qualquer exame clínico, compreende anamnese
abrangente e observação clínica do paciente.

A ideia de que não é objetivo do exame a identificação de centros funcio-


nais lesionados, tampouco a de casos de organicidade, é praticamente
um consenso entre os neuropsicólogos clínicos.

A clínica é sempre soberana e a definição de uma síndrome neurológica


clássica se dá pela observação de seus sinais e sintomas, sendo os resul-
tados dos diversos exames, apenas complementos. Nem sempre haverá
correspondência entre achados de imagem e consequências funcionais

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observadas; mais que isso: um grande número de síndromes é parcial na
prática clínica.

A avaliação propriamente dita, consiste em entrevista, observação com-


portamental, aplicação dos testes e das escalas.

3.1. OBJETIVOS DA AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA

A ANP ao mesmo tempo que apresenta um processo estruturado e com


padrões definidos, também apresenta um caráter singular, afinal, nin-
guém sai ileso de um encontro; cada avaliação será determinada por uma
demanda específica. Inicialmente para coletar informações realizamos a
entrevista que será realizada com perguntas que solicitem informações
pertinentes, bem como a bateria de tarefas e testes psicológicos serão
escolhidos com base na coleta inicial das informações.

Muitas são as contribuições que uma boa Avaliação Neuropsicológica


pode proporcionar aos indivíduos, às famílias e a toda a sociedade e, por
isso, o Neuropsicólogo recebe demandas de diversos setores e por di-
ferentes motivos. Dentre esses, podemos assinalar que a ANP contribui
para:
• Auxílio diagnóstico: Seja o que for que motiva o pedido, quando o exa-
me é solicitado para fornecer subsídios para a identificação e a delimi-
tação do quadro, a avaliação visa responder uma pergunta que tem a
ver com a origem, a natureza ou a dinâmica da condição em estudo.
• Prognóstico: Geralmente, ocorre dentro da prática hospitalar, mas
também pode dar-se após a alta em condições cronificadas. Certamen-
te, esse tipo de previsão tem a ver com a própria doença ou condição de
base da doença ou transtorno; e, quando há lesão, com o lugar, o tama-
nho e lado no qual se encontra, devendo, nesse caso, ser considerados
os efeitos à distância que ela provoca.

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• Orientação para o tratamento: Ao estabelecer a relação entre o com-
portamento e o substrato cerebral, a Avaliação Neuropsicológica não
só delimita áreas de disfunção, mas também estabelece as hierarquias
e a dinâmica dos transtornos em estudo.
• Auxílio para planejamento da reabilitação: Pacientes psiquiátricos,
neurológicos e neuropsiquiátricos podem apresentar déficits cogniti-
vos e instrumentais que repercutem na socialização. Por exemplo, pro-
blemas de memória ou de planejamento podem dificultar o desempe-
nho acadêmico, profissional e social e ser interpretados como falta de
empenho e desinteresse, sobrecarregando o paciente e familiares.
• Seleção de paciente para técnicas especiais: Esse é o caso quando se
cogita a indicação de tratamento cirúrgico para indivíduos epiléticos.
A análise fina de funções permite separar subgrupos de pacientes de
uma mesma patologia, possibilitando uma triagem especifica de sujei-
tos para um procedimento ou tratamento com medicamento.
• Perícia: Diferentemente de uma avaliação no contexto clínico, o obje-
tivo da perícia neuropsicológica não é apenas aferir se um indivíduo
apresenta ou não determinada condição ou transtorno e, elaborar uma
intervenção relevante, mas auxiliar a tomada de decisão dos profissio-
nais da área do direito em determinada questão legal.

ACERTE O ALVO!
Etapas da ANP: Planejamento, processo de avaliação, esco-
res dos testes, interpretação e comunicação dos resultados.

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Dica: O estudante precisa compreender a Avaliação Neuropsicológica de for-
ma abrangente tanto no contexto de Avaliação quanto da Reabilitação. “No
contexto clínico o objetivo principal é buscar a maior funcionalidade possível
que o paciente possa alcançar”.

3.2. QUAIS SÃO AS ETAPAS DA ANP?

É imprescindível realizar uma bela de uma Entrevista tranquila e abran-


gente com os familiares e, principalmente com os pacientes.

A entrevista não foge à regra das demais usadas em clínica médica, psi-
cológica ou em outras áreas da saúde. No fim da entrevista, devem ficar
claras as seguintes questões:
• “Por que o paciente foi encaminhado/qual o objetivo do exame?
• Qual a caracterização sociodemográfica do paciente?
• Como os sintomas surgiram e evoluíram até o momento do exame?
• Como foi o desenvolvimento do paciente no contexto acadêmico/pro-
fissional?
• Há algum diagnóstico neurológico/psiquiátrico prévio?
• Atualmente, como é a saúde geral do paciente?
• Quais as doenças que tem ou já teve?
• O paciente apresenta alguma limitação sensorial ou motora?
• O paciente usa psicoativos lícitos ou ilícitos?
• Quais as medicações usadas durante o exame?
• Quem observa os prejuízos do paciente e em quais contextos?
• Quais são as principais consequências dos sintomas para o paciente
nas diferentes áreas de sua vida?
• Há ganhos secundários relacionados ao quadro atual?
• Quem são os demais profissionais que atendem o paciente?

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• Quais são as hipóteses diagnósticas de outros profissionais que aten-
dem o caso e quais são seus alvos terapêuticos?
• Que exames já foram realizados e quais são seus resultados?
• Há história de doenças na família?
• Atualmente, qual é a rotina do paciente?
• No que ela mudou em relação à rotina anterior ao adoecimento?
• Qual a motivação do paciente para a realização do exame?”

Muitas vezes, a observação comportamental pode ser prejudicada pelo


contexto artificializado do exame. Assim, esse processo deve ser inicia-
do já na sala de espera, onde o paciente interage com outras pessoas de
forma mais próxima e naturalística. Quando possível, é importante reali-
zar uma observação do paciente na escola, no domicílio, isso fornece in-
formações cruciais sobre a relação entre queixas cognitivas e prejuízos
funcionais. A entrevista e a observação permitem uma boa formulação de
hipóteses que serão testadas em seguida.

Figura 16. Etapas da Avaliação Neuropsicológica.

Entrevista com paciente,


familiares e/ou outros
informantes Seleção e
aplicação
Hipótese a de testes e
ser testada escalas de
Observação do rastreio
comportamento do
paciente na consulta/
outros ambientes

Conceitualização clínica Teste de hipóteses


Etapa 1 Etapa 2

Integração de informações, inferências diagnósticas e planejamento de condutas.


Etapa 3

Fonte: Google fotos.

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Os testes são grandes aliados na prática do Neuropsicologia, porém, de-
vem ser corretamente escolhidos de acordo com hipóteses aventadas na
entrevista e coerentes com a observação comportamental, por isso não
devem ser aplicados de forma aleatória. Não é porque você os tem que
você deve aplicá-los, não é mesmo! É preciso selecionar tarefas que sejam
relevantes para as hipóteses. Ao escolher os instrumentos, o nível global
do paciente deve ser considerado.

Nem sempre os testes apresentam validade ecológica satisfatória. Por


isso, complementar dados obtidos com escalas de avaliação de sintomas
pode ser bastante útil. Entretanto, o paciente pode não ser um bom infor-
mante sobre seus sintomas. Escalas de autorrelato podem ter resulta-
dos comprometidos por: a) falta de insight; b) influência da necessidade
de aceitação social; c) ganhos secundários potenciais na existência de dé-
ficits.

Observação: Muitas vezes, o uso de escalas preenchidas por familiares


ou outras pessoas que convivem com o paciente pode ser de extrema uti-
lidade!

Após aplicação das testagens Neuropsicológicas podemos partir para a


Integração das informações que foram coletadas na parte inicial com os
resultados da testagem/rastreio de processos cognitivos, emocionais e
comportamentais, o que permite traçar inferências nosológicas, topográ-
ficas e funcionais.

Por fim, cumpre ressaltar que os procedimentos usados na ANP apresen-


tam limitações, como em qualquer modalidade de exame. Variáveis como
cansaço, fome, sono, falta de compreensão da tarefa, falta de empatia
com o examinador, podem mascarar o resultado dos testes!

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3.3. RELATÓRIO

O relatório de avaliação é o resultado final do processo, o fecho da avalia-


ção e a abertura das orientações para reabilitação. Deve incluir aspectos
descritivos (com ou sem dados numéricos) e a interpretação dos dados
obtidos. Esse é o meio de comunicação oficial, o documento que responde
à demanda e pode ter desdobramentos jurídicos.

A avaliação neuropsicológica, como qualquer exame, tem suas limitações,


não é uma ressonância magnética, portanto não “localiza” as lesões cere-
brais. As alterações cognitivas podem ser descritas e interpretadas com
base nos conhecimentos acumulados sobre as correlações entre funções
e áreas cerebrais. Por exemplo, alterações da capacidade de flexibilida-
de mental, englobadas nas funções executivas, são associadas às fun-
ções das áreas frontais.

Observação: Como já vimos, o relatório pode também subsidiar profissio-


nais de outras áreas nas decisões sobre retorno ao trabalho, uma interdi-
ção ou outra questão legal.

Para o paciente, em contrapartida, o importante é a entrevista devolutiva.


As alterações observadas devem ser traduzidas com exemplos das situa-
ções práticas. Tanto o paciente como o familiar precisam de orientações
e indicações para o acompanhamento futuro. Os termos técnicos dos
relatórios podem então ser explanados traduzidos e as dúvidas sanadas.

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3.4. NEUROPSICOLOGIA HOSPITALAR

Sobre a interface com a Psicologia Hospitalar podemos ressaltar que


as internações hospitalares ocorrem em situações de crise e represen-
tam, em algumas circunstâncias, um momento de perigo que é inerente
ao evento em si mesmo e às incertezas quanto a evolução. Porém, elas
também oferecem a oportunidade de prover aos indivíduos e famílias
uma abertura para lidar de forma apropriada com as dificuldades que um
processo de adoecimento acarreta. A intervenção de uma equipe de rea-
bilitação pode ser crucial na adesão ao tratamento agudo e pós-agudo,
promovendo:

• Informações para os profissionais sobre as condições cognitivas/emo-


cionais.
• Informações educativas para o paciente e sua família.
• Suporte psicológico.

No período que se segue a alta hospitalar, a equipe pode auxiliar na transi-


ção do hospital ao domicilio, oferecendo desde as primeiras orientações
de manejo do paciente a possíveis alterações no ambiente domiciliar, e
estender o atendimento, em um Programa de Reabilitação Neuropsico-
lógica realizada em sistema ambulatorial ou domiciliar.

A ANP vai mapear os déficits, os recursos e as estratégias que o pacien-


te está utilizando ou poderá desenvolver. Dessa forma, os dados obtidos
possibilitarão a escolha das metas, como, por exemplo, reparar os danos
ou contornar os déficits. Ela também vai propiciar a escolha dos métodos
que serão utilizados. Dependendo do mapeamento, opta-se por restaurar
a função perdida por meio de prática e treino, ou compensá-la com a
utilização de suportes externos, tais como agendas e alarmes, ou ainda,
otimizando funções residuais do hemisfério mais preservado.

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3.5. INTERNAÇÃO HOSPITALAR OCORRE NO
PERÍODO CRÍTICO!!!

Durante a sua residência você vai tratar de centenas de pacientes com


Acidente Vascular Cerebral, então é bom você ficar atento sobre o que ele
significa e acertar tudo em sua prova. É para isso que estamos aqui, não é?
Então vamos pensar um pouco sobre o AVC.

O Acidente Vascular Cerebral representa a maior taxa de mortalidade no


Brasil, em relação a outras doenças.

Segundo Miotto e Scaf (2017) as doenças cérebro vasculares (ou encéfa-


lovasculares), são alterações transitórias ou definitivas de áreas ence-
fálicas associadas a isquemia, ao sangramento ou ao processo patológico
de um ou mais vasos encefálicos.

Cerca de 80% dos AVCs são do tipo isquêmico e 20% do tipo hemorrá-
gico. Entre os AVCi, em torno de 20% decorrem de oclusão de pequenas
artérias, 31% de trombose de grandes artérias de natureza arteroscleró-
tica, 32% de embolia artérioarterial ou cardiogênica e ainda há aqueles de
etiologia desconhecida (Criptogênica).

Figura 17. Os dois tipos de AVCs.

Isquêmico Hemorrágico

Fonte: Autoria Própria.

Em geral há comprometimento do fluxo sanguíneo em determinada re-


gião do encéfalo. Caso esse comprometimento seja permanente ocasio-
na a morte neuronal dessa região que fica sem suprimento sanguíneo e
consequentemente sem nutrientes e oxigênio.

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O AVCh é muitas vezes associado à ruptura a ao sangramento de peque-
nos vasos cerebrais e à ruptura de aneurismas cerebrais. O sangue pode
permanecer no parênquima (Hemorragia intraparenquimatosa) ou no es-
peço subaracnóideo (HSA) levando ao aumento da pressão intracraniana.
O AVCh pode resultar de diversas outras doenças (principalmente HAS -
hipertensão arterial).

O Ataque Isquêmico Transitório (AIT) refere-se a um distúrbio neuroló-


gico temporário, em geral com duração inferior a 24 horas, decorrente
de episódio isquêmico ou alteração temporária na irrigação sanguínea.
Cerca de 10% a 30% das pessoas acometidas com AIT apresentam AVC
posteriormente. Dentre as etiologias mais frequentes relacionadas ao
AVCi podemos citar:
• A doença arterial periférica oclusiva que consiste no bloqueio ou
estreitamento de uma artéria nas pernas (ou, raramente, nos braços),
geralmente devido a aterosclerose e resultando em diminuição do
fluxo sanguíneo.
• A Cardioembolia relaciona-se com diversos processos patológicos
cardíacos, entre os quais arritmias cardíacas (fibrilação atrial), car-
diomiopatias e tumores intracardíacos (MIOTTO E SCAF, 2017).
• Já na doença de pequenos vasos as pequenas artérias intracranianas
são afetadas e sua oclusão gera uma coisa chamada infartos lacunares,
seus principais fatores de risco incluem hipertensão arterial e diabetes.

A seleção de métodos para avaliação neuropsicológica do paciente ido-


so encontra grande sobreposição com os procedimentos adotados pela
avaliação psicológica tradicional. Indícios de fidedignidade (precisão e
estabilidade da medida), validade (adequação ao construto-alvo e capa-
cidade discriminativa) e bons dados normativos (estratificados por idade
e/ou escolaridade se necessário) dão maior segurança ao profissional na
prática clínica.

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No ambiente hospitalar, com uma alta dinâmica de atendimentos, utilizam
bastante alguns testes de rastreio para analisar os aspectos cognitivos,
sendo o MEEM – Mini Exame do Estado Mental, o mais utilizado.

3.6. NUNCA SE ESQUEÇAM DOS ASPECTOS ÉTICOS!!!

Para ficar por dentro dos testes psicológicos utilizados na ANP, visite o
site do Conselho Federal de Psicologia que criou o Sistema de avaliação
de testes psicológicos.

Observação: Todos os testes validados pelo SATEPSI podem ser utiliza-


dos durante a ANP, e a Resolução 09/2018 ampliou as possibilidades so-
bre a testagem psicológica; e a Resolução 06/2019 renovou os parâme-
tros sobre a redação de documentos originados na Avaliação.

ACERTE O ALVO!
As doenças neurológicas são muito cobradas nas provas
de residência. Aqui demos destaque ao AVC!

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Aula sobre Avaliação
neuropsicológica clicando
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04. A avaliação neuropsicológica tem sido utilizada desde a dé-
cada de 40 e pode ser bastante útil para auxílio no diagnóstico
de pacientes ambulatoriais e internados. Qual das alternativas
abaixo descreve sequencialmente os principais estágios da ava-
liação neuropsicológica?
🅐 Planejamento, seleção e interpretação dos testes e tabulação
dos resultados.
🅑 Seleção dos testes, processo de avaliação, tabulação dos re-
sultados e redação do relatório.
🅒 Planejamento, processo de avaliação, escores dos testes, in-
terpretação e comunicação dos resultados.
🅓 Determinação do motivo do encaminhamento, seleção dos
testes, avaliação e determinação do nível de dano ou disfunção
neurológica.

Clique aqui para ver o


gabarito da questão.

05. Comprometimento cognitivo é uma alteração comum no ido-


so. Qual o principal instrumento de rastreio das funções cogniti-
vas do idoso validado no Brasil?
🅐 Prova cognitiva de Leganés.
🅑 Mini exame do estado mental.
🅒 Escala de depressão geriátrica.
🅓 Bateria breve de rastreio cognitivo.

Clique aqui para ver o Acesse aqui o comentário das cinco


gabarito da questão. questões anteriores

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ANOTAÇÕES

58
4. PSICOFARMACOLOGIA

4.1. INTRODUÇÃO

Vimos nas aulas passadas que a neurociência guia o estudo das estrutu-
ras e do funcionamento de todo o nosso SNC, principalmente aquelas fun-
ções atribuídas ao cérebro. No entanto, algumas vezes esse sistema tão
organizado dá pane, e faz-se necessário apelar para o uso de substâncias
que “resolvam ou minimizem” estes problemas. A Psicofarmacologia atua
justamente nessa pane, e pode ser descrita como a área de compreensão
da ação dos fármacos sobre o cérebro, bem como o impacto das doenças
sobre o SNC e as consequências do uso de medicamentos psiquiátricos.

Os psicofármacos normalmente atuam enquanto simuladores da ação


dos neurotransmissores, buscando corrigir algum desequilíbrio eletro-
químico nesse sistema. Lembram que a transmissão neuronal nos seres
humanos ocorre prioritariamente a partir de sinapses eletroquímicas?
Pois bem, a parte química deste processo envolve justamente estas subs-
tâncias essenciais para todo o nosso funcionamento fisiológico: os neu-
rotransmissores.

Em função da ação provocada em conjunto com os neurotransmissores,


os psicofármacos podem ser classificados de uma forma geral em:
• Estimulantes do SNC.
• Depressores do SNC.
• Perturbadores do SNC.

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4.2. AÇÃO DOS NEUROTRANSMISSORES

Neurotransmissores são substâncias químicas produzidas pelos neurô-


nios cuja função é estimular e equilibrar os sinais entre os neurônios, ou
células nervosas e outras células do corpo. Podem ter função excitatória
ou inibitória para o neurônio, a partir de processos de despolarização ou
hiperpolarização da membrana neuronal. Em sua composição química,
podem ser classificados em seis famílias:
• Aminas biogênicas: grupo constituído pela acetilcolina, com
características que a diferem de todo o restante, e pelas monoaminas.
Estas ainda podem ser subdividas em catecolaminas, como dopamina,
noradrenalina e adrenalina, e indolaminas, como a serotonina e outros
derivados e a histamina.
• Aminoácidos: o grupo de aminoácidos neurotransmissores é
constituído por glutamato, GABA (ácido gama-aminobutírico), glicina,
aspartato dentre outros.
• Peptídeos: Exemplos desta classe são as substâncias opioides,
orexinas/hipocretinas, encefalinas, peptídeos de origem hipofisária,
NPY e substância P.
• Purinas: adenosina e ATP.
• Gases: NO (óxido nítrico) e CO (monóxido de carbono).
• Substâncias de origem lipídica: endocanabinoides, prostaglandinas
etc.

Dentro da psicofarmacologia, destacamos aqueles neurotransmissores


que exercem ações mais relevantes no SNC, e cuja alterações podem le-
var a processos psicopatológicos. Seriam eles: acetilcolina, dopamina,
noradrenalina, serotonina, GABA e glutamato. A seguir, veremos um breve
resumo da ação de cada um deles.

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4.2.1. ACETILCOLINA
A acetilcolina é formada nos neurônios colinérgicos a partir de dois pre-
cursores: colina e acetilcoenzima A (AcCoA). Sua interação com a enzima
de síntese colina acetiltransferase produz o neurotransmissor acetilco-
lina. A acetilcolina possui dois tipos de receptores: muscarínicos e nico-
tínicos. Os primeiros atuam ao nível pré-sináptico inibindo a liberação de
acetilcolina dos neurônios colinérgicos, enquanto seus antagonistas mus-
carínicos atuam ao bloquear essa inibição, aumentando acentuadamente
a liberação de acetilcolina. Já os receptores nicotínicos de acetilcolina po-
dem ter localização tanto pré quanto pós sináptica. A acetilcolina exerce
seus efeitos centrais por meio de uma ação agonista sobre os receptores
nicotínicos.

Dentre suas principais ações a acetilcolina desempenha papel central na


modulação de determinados processos cognitivos, especialmente apren-
dizagem e memória. Ainda do ponto de vista da saúde mental e neuroló-
gica, perturbações do sistema colinérgico se associam a quadros pato-
lógicos importantes, como as demências de Parkinson e Alzheimer, e a
Esquizofrenia.

4.2.2. DOPAMINA
A dopamina é encontrada principalmente nos gânglios da base, como nú-
cleo caudado e estriado, no sistema mesolímbico, na região do hipotála-
mo, hipófise e também na medula espinhal. Sua produção ocorre especi-
ficamente em duas áreas do sistema nervoso central: substância negra
e área tegumentar ventral. A dopamina é sintetizada através da ativação
da enzima tirosina hidroxilase, que converte o aminoácido tirosina em
L-DOPA, que por sua vez sofre descarboxilação e é transformada em do-
pamina, a qual é armazenada em vesículas.

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A dopamina atua diretamente no chamado sistema de recompensa do cé-
rebro. A ingestão de alimentos, prática de sexo e algumas drogas de abu-
so são estimulantes da liberação de dopamina em regiões como o núcleo
accumbens e córtex pré-frontal, o que vem a ser uma das bases de expli-
cação neuroquímica das adicções. Também está diretamente envolvida
em alguns transtornos do sistema nervoso central, como esquizofrenia,
doença de Parkinson, distúrbio do déficit de atenção, além de alguns
distúrbios endócrinos.

4.2.3. NORADRENALINA
A noradrenalina do sistema nervoso central provém da metabolização da
dopamina. O início da síntese de noradrenalina é idêntico à síntese da do-
pamina. Quando L-DOPA sofre descarboxilação e é biotransformada em
dopamina, sofre a ação da enzima β hidroxilase, convertendo a dopamina
em noradrenalina.

A noradrenalina é uma das monoaminas que mais influenciam o humor,


ansiedade, sono e alimentação. Também a ela se deve o controle do es-
tado de vigília e do estado de alerta, a regulação da pressão arterial e o
controle do humor. Está relacionado com a transmissão do sistema ner-
voso autônomo simpático. Sua diminuição pode estar associada com a
depressão.

4.2.4. SEROTONINA
A serotonina pode ser encontrada sobretudo no mesencéfalo, tálamo, hi-
potálamo e amígdala cerebral. Possui tanto ação excitatória quanto ini-
bitória. Sua síntese começa pelo aminoácido triptofano. Essa conversão
acontece em duas etapas: na primeira, uma enzima triptofano hidroxilase
converte triptofano em 5-hidroxi-triptofano; na segunda, a descarboxila-
se de aminoácidos aromáticos o converte em serotonina. Depois de sin-
tetizada, a serotonina é captada por vesículas sinápticas, por meio de um

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transportador de monoaminas, e ficam armazenadas até que ocorra um
estímulo capaz de liberá-las para serem utilizadas durante a neurotrans-
missão.

A diminuição da liberação de serotonina no sistema nervoso central está


associada a transtornos afetivos e de humor, como agressividade, de-
pressão e ansiedade. A serotonina também atua em processos de aluci-
nações e alterações comportamentais; tendo papel importante nos pro-
cessos de sono, vigília, desordens do humor, comportamento alimentar,
controle da transmissão sensória, regulação da temperatura corporal,
pressão arterial, ansiedade, transtornos obsessivos compulsivos, latên-
cia do sono e função sexual.

4.2.5. GABA
O GABA ou Ácido gama-aminobutírico, é o principal neurotransmissor
inibitório do cérebro, sendo sintetizado a partir do aminoácido glutama-
to por meio de ações da enzima ácido glutâmico descarboxilase. Ele está
presente no córtex cerebral, no cerebelo, sendo liberado por diversos in-
terneurônios localizados no cérebro e na medula espinhal.

As ações do GABA relacionam-se à coordenação dos movimentos. Me-


dicamentos que aumentam a atuação deste neurotransmissor inibitório
no sistema nervoso central são capazes de reduzir a ansiedade e produzir
relaxamento muscular, prevenindo a hipertonia. Também tem relação di-
reta com o controle da ansiedade. A relação entre o GABA e a ansiedade
evidencia-se no fato de que boa parte dos ansiolíticos conhecidos facili-
tam sua ação. Seu efeito ansiolítico seria fruto de alterações provocadas
em diversas estruturas do sistema límbico, inclusive a amigdala e o hipo-
campo.

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4.2.6. GLUTAMATO
O glutamato é sintetizado nas células gliais a partir da glutamina. Em
seguida, é transportado para as terminações nervosas e convertido em
glutamato pela glutaminase. É o principal receptor excitatório do Siste-
ma Nervoso Central, sendo extremamente importante para o desenvol-
vimento neural, plasticidade sináptica, aprendizado e memória. Também
se destaca a participação do glutamato na vigília, no controle motor e na
hiperalgesia.

Estudos já identificaram a associação entre o glutamato e doenças como


epilepsia, isquemia cerebral, tolerância e dependência a drogas, dor neu-
ropática, ansiedade e depressão. Também se associa a importante função
do glutamato no tratamento da esquizofrenia.

ACERTE O ALVO!
É importante compreender as funções desses principais
neurotransmissores para que a gente compreenda a
ação dos psicofármacos no SNC.

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neurotransmissores
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4.3. PSICOFÁRMACOS E TRATAMENTO DE
TRANSTORNOS DE HUMOR

Os transtornos de humor englobam toda uma classe que vai do espectro


da depressão à mania (ou ambos). Assim, o humor varia da hipomania
à mania na parte superior, passando pela eutimia (ou humor normal) no
meio, até a distimia e a depressão na parte inferior. No DSM-V, os trans-
tornos de humor estão divididos entre Transtorno Bipolar e Transtornos
Depressivos.

Figura 18. Classificação dos Transtornos Bipolares


Transtornos relacionados

Transtorno Bipolar Tipo I


Transtorno Bipolar e

Transtorno Bipolar Tipo II

Transtorno Ciclotímico

Transtorno Bipolar Induzido por Substância/ Medicamento

Fonte: Autoria Própria.

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Figura 19. Classificação dos transtornos depressivos

Transtorno Disruptivo da Desregulação do Humor


Transtornos Depressivos

Transtorno Depressivo Maior

Distimia

Transtorno Disfórico Pré-menstrual

Transtorno Depressivo Induzido por Substância/ Medicamento

Fonte: Autoria Própria.

De uma maneira geral, quando falamos em transtornos de humor estamos


nos referindo basicamente à ação de três neurotransmissores considera-
dos monoaminas: a noradrenalina, a dopamina e a serotonina. Eles serão
a base de ação para os dois psicofármacos mais utilizados nesse contex-
to: os antidepressivos e os estabilizadores de humor.

A explicação mais tradicional sobre a etiologia biológica da depressão


propõe a hipótese de que ela se deva a uma deficiência desses neuro-
transmissores. A mania pode representar o processo oposto, devido a
um excesso deles. Inicialmente, havia diversos argumentos discutindo se
a deficiência mais importante era da noradrenalina ou de serotonina, en-
quanto a dopamina era relativamente desprezada. Hoje em dia, a teoria
monoaminérgica sugere que todo o sistema de neurotransmissão mono-
aminérgica de todas as três monoaminas pode estar disfuncional em vá-
rios circuitos cerebrais, com diferentes neurotransmissores envolvidos,
dependendo do perfil sintomatológico do paciente (STAHL, 2014).

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Dentre os principais psicofármacos utilizados para o tratamento de trans-
tornos de humor podemos destacar:
• Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (ISRS): promovem
inibição dos transportadores de serotonina (SERT), aumentando con-
sequentemente os níveis desse neurotransmissor. Estas substâncias
provocam um efeito farmacológico em cascata pelo qual os ISRS exer-
cem suas ações terapêuticas: desinibição potente, porém tardia, da li-
beração de serotonina em vias essenciais em todo o cérebro. Os efeitos
colaterais normalmente são causados pelas ações agudas da serotoni-
na sobre receptores indesejáveis em vias indesejáveis. Ex.: Fluoxetina,
Sertralina, Paroxetina, Fluvoxamina, Citalopram e Escitalopram.
• Inibidores da Recaptação de Serotonina e Noradrenalina (IRSN):
combinam a inibição do SERT com a inibição do transportador de nora-
drenalina (NET). Ex.: Venlafaxina, Desvenlafaxina, Duloxetina.
• Inibidores da Recaptação de Noradrenalina e Dopamina (IRND): com-
binam inibição de NET com a inibição do transportador de dopamina
(DAT). Pode ser usado também no tratamento de dependência de nico-
tina. Ex.: Bupropiona.
• Inibidores da Recaptação de Noradrenalina (IRN): promovem inibição
de NET. Ex.: Reboxetina.
• Antagonistas/Inibidores da Recaptação de Serotonina (AIRS): blo-
queiam os receptores 5HT2A, assim como a recaptação de serotonina.
Ex.: Trazodona e Nefazodona.
• Inibidores da Monoaminoxidase (IMAO): inibem irreversivelmente a
MAO (enzima monoamina oxidase), destruindo sua função para sem-
pre. Foram os primeiros antidepressivos clinicamente efetivos a serem
descobertos e também são agentes terapêuticos altamente efetivos
para determinados transtornos de ansiedade, como o transtorno de
pânico e a fobia social. Ex.: selegilina, fenelzina e isocarboxazida.

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• Antidepressivos Tricíclicos (ADT): conhecidos como antidepressivos
clássicos, bloqueiam a recaptação de noradrenalina e serotonina. São
assim designados em virtude de sua estrutura química, que contém três
anéis. Ex.: clomipramina, imipramina, amitriptilina, nortriptilina, protrip-
tilina, maprotilina, amoxapina, doxepina, desipramina e trimipramina.

ACERTE O ALVO!
Temos uma outra classe de psicofármacos importantes
no tratamento do transtorno bipolar, que são classica-
mente conhecidos como estabilizadores do humor. Den-
tre eles podemos destacar o lítio, alguns anticonvulsi-
vantes como Valproato, Carbamazepina, Lamotrigina,
Topiramato, e alguns antipsicóticos atípicos.

06. A neurociência comportamental estuda as bases biológicas


ou neuro-humorais do comportamento. Esse campo de estudo
tornou-se alvo de crescente interesse nos últimos anos à medi-
da que as descobertas em neurociências ganham cada vez maior
impacto. Podemos mesmo afirmar que certos ramos das neuro-
ciências como a neurobiologia das doenças mentais e as ciências
cognitivas não teriam chegado ao estágio de desenvolvimento
atual se não tivessem por base os conhecimentos atualmente
existentes das bases biológicas do comportamento. A raiz de
nossos processos mentais está na organização dos mecanismos
neurais a eles subjacentes, na forma que eles se imbricam para
determinar o que chamamos de funções mentais superiores.
Assim, com o avanço experimentado pelas neurociências nos
últimos anos, tem-se tornado possível discutir em termos cien-
tíficos os processos que nos permitem ver, ouvir, sentir, entre
outros. (BRANDÃO, ML. As bases biológicas do comportamento:
introdução à neurociência. São Paulo: EPU, 2004, p. 6, com adap-
tações.)

Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Neuropsicologia e Psicofarmacologia 68


Quanto ao exposto, julgue os itens a seguir. São psicofármacos
utilizados como estabilizadores do humor: lítio, ácido valproico
e carbamazepina.
🅐 Certo.
🅑 Errado.

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tratamento dos transtornos
de humor clicando no ícone
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4.4. PSICOFÁRMACOS E TRATAMENTO DE


ANSIEDADE

Os transtornos ansiosos figuram hoje dentre as maiores incidências no


campo da psicopatologia. A ansiedade é considerada uma reação emocio-
nal normal, diante de circunstâncias ameaçadoras. Algum nível de ansie-
dade inclusive é importante para a nossa sobrevivência enquanto espécie!
Muitas vezes, a ansiedade é acompanhada por alterações fisiológicas e
comportamentais similares às de medo. A classificação de um transtor-
no ansioso se dá então principalmente pelo caráter de desadaptação que

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este pode apresentar, a partir da duração, frequência e intensidade dos
seus sintomas.

De acordo com a classificação mais utilizada, que é a do Diagnostic and


Statistical Manual of Mental Disorder (DSM-V), os transtornos ansiosos
se classificam em:

Figura 20. Classificação dos Transtornos de ansiedade.

Transtorno de ansiedade de separação

Mutismo seletivo
Transtornos ansiosos

Fobia específica

Fobia social

Transtorno de pânico

Agorafobia

Transtorno de ansiedade generalizada

Transtorno de ansiedade induzido por substância/ medicamento

Fonte: Autoria Própria.

A principal base neurofisiológica que perpassa os sintomas de ansieda-


de e medo (comuns em todos os tipos) relaciona-se ao papel da amigda-
la nos circuitos do medo. A preocupação, segundo sintoma nuclear dos
transtornos ansiosos, está ligada ao funcionamento das alças corticoes-
triadotalamocorticais (CETC).

O GABA é um dos principais neurotransmissores envolvidos na ansieda-


de e na ação ansiolítica de muitos fármacos usados no tratamento dos
transtornos de ansiedade. Ele é o principal neurotransmissor inibitório do

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cérebro, que normalmente desempenha um papel regulador importante
na redução da atividade de numerosos neurônios, como os da amígdala
e os das alças CETC, reduzindo a neurotransmissão excitatória, que é
um importante marcador fisiológico da ansiedade. Essa neurotransmis-
são excitatória é devida a outros neurotransmissores envolvidos, como a
noradrenalina e a serotonina.

Dentre os principais psicofármacos utilizados para o tratamento da an-


siedade, podemos destacar:
• Barbitúricos: atualmente pouco utilizados, devido à intensidade de
sua ação de rebaixamento da consciência e aos riscos de provocarem
falência respiratória e cardiovascular. Os barbitúricos aumentam a
afinidade do receptor GABA-A pelo GABA, aumentando a duração da
abertura dos canais de cloreto ativados pelo GABA.
• Benzodiazepínicos: também se ligam ao seu receptor no complexo
GABA-A, mas os benzodiazepínicos potencializam os efeitos do GABA
aumentando o número de vezes que o canal abre. Mas sua ação é bem
mais controlada e menos intensa que a dos barbitúricos, podendo ainda
causar sonolência, confusão, amnésia e comprometimento da coorde-
nação. São ainda os principais ansiolíticos utilizados atualmente.

Em função de muitos dos sintomas ansiosos serem relacionados também


aos transtornos de humor (particularmente transtornos depressivos),
destacamos também o uso de antidepressivos no tratamento de trans-
tornos de ansiedade. Isso porque a serotonina é um neurotransmissor es-
sencial, que inerva a amígdala, bem como todos os elementos dos circui-
tos CETC, isto é, o córtex pré-frontal, o estriado e o tálamo.

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ACERTE O ALVO!
Nas provas, os transtornos de ansiedade podem tam-
bém ser chamados de transtornos de angústia.

07. O ácido γ-aminobutírico (GABA) é um dos neurotransmisso-


res essenciais envolvidos na ansiedade e na ação ansiolítica de
muitos fármacos usados no tratamento dos transtornos de an-
siedade.
🅐 Certo.
🅑 Errado.

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e tratamento de ansiedade
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4.5. PSICOFÁRMACOS E TRATAMENTO DE
TRANSTORNO DE SONO

O sono é um estado alterado de consciência normal que acontece diaria-


mente para fins de manutenção e homeostase do organismo. O sono tam-
bém é importante para diversas funções cerebrais, como aprendizado,
memória, e regulação de hormônios, o que torna o estado de vigília mais
eficaz. É quando estamos em sono profundo (o chamado sono REM) que o
hipocampo consolida os conteúdos aprendidos.

Os sintomas de transtornos do sono mais comuns encontram-se justa-


mente no espectro entre o sono e a vigília, e basicamente concentram-se
na sonolência e na insônia.

O mecanismo neurofisiológico do sono está ligado à dois sistemas: o de


neurotransmissores ascendentes do tronco encefálico regulam o sis-
tema de ativação cortical em um continuum uniforme; já os circuitos no
hipotálamo regulam o sono e a vigília de modo descontínuo, como um in-
terruptor de liga/desliga.

Dois neurotransmissores essenciais regulam o interruptor de sono/vigí-


lia: a histamina (ativando o estado de vigília) e o GABA (reduzindo o es-
tado de vigília). Além destes, outro hormônio bastante conhecido quando
falamos de sono é a melatonina. Ela é produzida na glândula pineal, e sua
secreção ocorre exclusivamente à noite (na ausência de luz).

A melatonina tem diversas ações sobre o organismo, desde ações imuno-


moduladoras, anti-inflamatórias, antioxidantes até a regulação de ritmos
biológicos. Quando ela é secretada ocorre aumento da sonolência e dimi-
nuição da temperatura corporal. Por isso vem sendo utilizada como trata-
mento na insônia. Os outros psicofármacos comumente utilizados neste
tipo de tratamento são conhecidos como hipnóticos.

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Uma droga hipnótica deve produzir sonolência, bem como estimular o
início e a manutenção de um estado de sono. Normalmente sua atuação
é no GABA, podendo variar quanto à mudança na arquitetura do sono (a
meia-vida que cada um desses psicofármacos possui). A meia-vida de-
termina tanto a duração do efeito do hipnótico na manutenção do sono,
quanto possíveis efeitos colaterais (como a sonolência durante o dia).
Principais hipnóticos utilizados no tratamento da insônia:
• Benzodiazepínicos.
• Moduladores alostéricos positivos (PAM)de GABA-A (ex.: Zolpidem).
• Hipnóticos melatoninérgicos.
• Hipnóticos serotoninérgicos (ex.: Trazodona).
• Anti-histamínicos.

08. O tratamento medicamentoso da insônia pode acontecer


pela administração de substâncias chamadas de hipnóticos.
🅐 Certo.
🅑 Errado.

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4.6. PSICOFÁRMACOS E TRATAMENTO DE


DEMÊNCIAS

Incluímos aqui enquanto demências aquelas doenças neurodegenerati-


vas que promovem o declínio geral das habilidades mentais, atingem de
alguma forma funções cognitivas e motoras a partir da morte neuronal
acelerada, diminuição das funções sinápticas e das atividades de deter-

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minadas áreas corticais. Aqui, trataremos especificamente das duas do-
enças com maior prevalência entre idosos: o Parkinson e o Alzheimer.

4.6.1. DOENÇA DE PARKINSON


A doença de Parkinson é um distúrbio degenerativo do movimento. Isso
significa que o paciente vai perdendo progressivamente a capacidade
global de controle dos mesmos (COSTA, 2017). Os principais sintomas da
doença são:
• Rigidez muscular.
• Tremor em repouso, principalmente dos membros superiores.
• Hipocinesia (movimento reduzido).
• Acinesia (sem movimento voluntário).
• Bradicinesia (lentidão de movimentos).
• Desequilíbrio postural.

A neurofisiologia da doença de Parkinson está relacionada à diminuição


dos níveis de dopamina nas regiões do corpo estriado e da substância
nigra. O tratamento da doença serve apenas para minimizar alguns sin-
tomas, principalmente os tremores, e concentram-se principalmente na
tentativa de regular a distribuição de dopamina nestas regiões. A levo-
dopa (L-DOPA) é o precursor metabólico da dopamina e o fármaco mais
eficaz e utilizado para o tratamento da doença.

4.6.2. MAL DE ALZHEIMER


É a demência com maior incidência, com 1 em cada 85 pessoas acometi-
das no mundo (STAHL, 2014). Os sintomas começam com perda progres-
siva da memória, especificamente a memória recente no estágio inicial.
Com a progressão da doença, compromete-se também a memória de
longo prazo, além das funções cognitivas. Também ocorrem distúrbios

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comportamentais, como agressividade, irritabilidade, hiperatividade e
depressão, e em casos avançados podem aparecer sintomas psicóticos,
apatia, lentificação da marcha e do discurso, dificuldade de concentração,
perda de peso e insônia.

A principal teoria atual para a base biológica da doença de Alzheimer


gira em torno da formação de placas amiloides tóxicas, que acabam por
destruir os neurônios por todo o cérebro. Essa falência neuronal ocorre
em regiões como hipocampo e no prosencéfalo basal. Ocorre também
o encolhimento cerebral, sendo que a destruição neuronal acontece em
diferentes neurônios, porém de forma acentuada em neurônios colinér-
gicos.

A base do tratamento dos sintomas da demência de Alzheimer está no au-


mento da disponibilidade do neurotransmissor acetilcolina. Os psicofár-
macos normalmente são inibidores da colinesterase (enzimas responsá-
veis pela metabolização da acetilcolina). No entanto muitos deles causam
efeitos colaterais, principalmente gastrointestinais. Um dos tratamentos
mais utilizados atualmente é a rivastigmina. Esse fármaco já está dispo-
nível em forma de adesivo, o que facilita o uso por parte do paciente.

4.7. PSICOFÁRMACOS E TRATAMENTO DE


ESQUIZOFRENIA

A esquizofrenia é a doença psicótica mais comum e mais conhecida. Ge-


ralmente tem início ainda na adolescência e segue no decorrer da vida
com episódios agudos, podendo se tornar uma doença crônica. De acordo
com o DSM-V, os principais sintomas que caracterizam a Esquizofrenia
são:

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Figura 21. Principais sintomas da Esquizofrenia.

Delírios

Sintomas Alucinações
negativos

Esquizofrenia

Comportamento
desorganizado Discurso
ou catatônico desorganizado

Fonte: Autoria Própria.

Figura 22. Sintomas positivos e negativos da esquizofrenia.

Sintomas positivos Sintomas negativos

Apatia
Delírios Anedonia
Alucinações Embotamento cognitivo
Disforia neuroléptica
Fonte: Stahl, 2014.

Existem diferentes áreas do cérebro envolvidas nos sintomas da esqui-


zofrenia, por isso é importante a alocação de dimensões específicas dos
sintomas a áreas cerebrais específicas. De modo mais específico, cada
paciente tem sintomas e respostas próprios à medicação, e por isso o
tipo de sintomas predominantes e a localização dos mesmos pode ajudar
no diagnóstico e tratamento.

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A hipótese dopaminérgica é a principal explicação para os sintomas da
esquizofrenia. A via dopaminérgica mesolímbica projeta-se dos corpos
celulares dopaminérgicos na área tegmental ventral do tronco encefáli-
co até o nucleus accumbens no estriado ventral. Acredita-se que essa via
desempenhe um importante papel em vários comportamentos emocio-
nais, inclusive os sintomas positivos da psicose, como delírios e alucina-
ções. O papel da dopamina também foi corroborado ao se perceber que
antagonistas dopaminérgicos são eficazes em controlar os sintomas da
esquizofrenia

4.7.1. ANTIPSICÓTICOS TÍPICOS


Os primeiros psicofármacos utilizados no tratamento da esquizofrenia
são conhecidos como antipsicóticos tradicionais, típicos ou de primeira
geração. A clorpromazina, inicialmente utilizada como anti-histamínico
surtiu efeitos antipsicóticos quando testado em pacientes esquizofrê-
nicos na década de 50. A propriedade farmacológica essencial de todos
os neurolépticos (outro nome dado a esses antipsicóticos por sua ação
de lentificação dos movimentos) com propriedades antipsicóticas era
sua capacidade de bloquear os receptores de dopamina D2, reduzindo
assim os sintomas psicóticos positivos. Outro antipsicótico tradicional
bastante conhecido é o haloperidol.

O grande problema desses psicofármacos é que sua ação de bloqueio


ocorre em todo o cérebro, provocando uma série de efeitos colaterais
indesejados, que incluem a diminuição da estimulação dos sistemas de
recompensa do cérebro. Os pacientes ficam apáticos, com anedonia e fal-
ta de motivação, apresentando um quadro semelhante aos sintomas ne-
gativos da esquizofrenia. Além disso, esse bloqueio pode provocar vários
distúrbios do movimento, que se assemelham ao Parkinson. Em função
disso, estes remédios têm sido cada vez mais substituídos pelos chama-
dos antipsicóticos atípicos.

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4.7.2. ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS
Uma segunda geração de antipsicóticos foi desenvolvida a partir da ten-
tativa de minimizar os sintomas extrapiramidais dos antipsicóticos típi-
cos. Os antipsicóticos atípicos atuam como antagonistas da serotonina-
-dopamina, com antagonismo simultâneo dos receptores de serotonina
5HT2A que acompanha o antagonismo de D2.

Alguns exemplos, como a risperidona, clozapina, sulpirida, olanzapina,


são os psicofármacos mais utilizados na tentativa de controlar os princi-
pais sintomas positivos e negativos da esquizofrenia, e minimizar os sin-
tomas extrapiramidais, que estão resumidos na figura abaixo:

Figura 23. Principais sintomas extrapiramidais.

Acinesia Acatisia Discinesia

Distonia Parkisonismo Agitação

Fonte: Stahl, 2014.

ACERTE O ALVO!
Os psicofármacos típicos atuam nos sintomas positivos,
enquanto os psicofármacos atípicos atuam tanto nos sin-
tomas positivos quanto nos negativos da esquizofrenia.

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09. A clorpromazina e o haloperidol são exemplos de antipsicóti-
cos convencionais, ou de primeira geração.
🅐 Certo.
🅑 Errado.

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4.8. PSICOFÁRMACOS E TRATAMENTO DO TDAH

O Transtorno de Déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) distingue-


-se por uma tríade de sintomas, que inclusive determina sua classificação
em subtipos: desatenção, hiperatividade e impulsividade. Este conjunto
de sintomas está relacionado ao funcionamento alterado do córtex pré-
-frontal.

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Figura 24. Sintomas do TDAH e sua localização no córtex pré-frontal.

Córtex
dorso
lateral Córtex Sintomas de impulsividade
Córtex orbito-frontal
cingulado Sintomas de hiperatividade
anterior
dorsal Atenção seletiva

Córtex motor
pré-frontal Resolução de problemas

Fonte: Adaptado de Stahl (2014).

Observa-se que os pacientes portadores de TDAH normalmente têm di-


ficuldades de ativar adequadamente as áreas do córtex pré-frontal em
resposta a tarefas cognitivas de atenção e função executiva. Os estudos
mostram que os neurotransmissores relacionados a esse impedimento
seriam a dopamina e da noradrenalina. Tanto a deficiência quanto a li-
beração excessiva desses dois neurotransmissores podem desencadear
sintomas do TDAH.

O tratamento do TDAH deve ser feito a partir do critério de sintomas pre-


dominantes, e também se diferencia com relação a adultos e crianças,
como mostra a tabela abaixo.

Tabela 4. Diferenças do TDAH em adultos versus crianças e adolescentes.

Crianças e adolescentes Adultos (acima de 18 anos)

Prevalência de 7 a 8% Prevalência de 4 a 5%

Fácil de diagnosticar Difícil de diagnosticar

Diagnosticado por pediatras, psiquiatras e Diagnosticado por psiquiatras de adultos, pro-


psicólogos de crianças fissionais de saúde mental/médicos de adultos

Altos níveis de identificação e tratamento: > Baixos níveis de identificação e tratamento: <
50% dos casos tratados 20% dos casos tratados

Fonte: Adaptado de Stahl (2014).

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Continuaação Tabela 4. Diferenças do TDAH em adultos versus crianças e
adolescentes.

Crianças e adolescentes Adultos (acima de 18 anos)

Prescrição de estimulantes de primeira e se- Não estimulantes frequentemente prescritos


gunda linhas como primeira linha

Dois terços do uso de estimulantes em indiví-


Um terço do uso de estimulantes a partir dos
duos com menos de 18 anos; a maior parte com
18 anos
menos de 13 anos

Um terço do uso de atomoxetina em indivíduos


Dois terços do uso de atomoxetina a partir dos
com menos de 18 anos; a maior parte com mais
18 anos de idade
de 12 anos

Fonte: Adaptado de Stahl (2014).

Dentre os principais psicofármacos utilizados no tratamento de TDAH


podemos destacar:
• Metilfenidato: é um estimulante dos receptores alfa e beta-adrenér-
gicos, promovendo o bloqueio os transportadores de NA e de DA (NAT
e DAT) e a liberação de dopamina e noradrenalina. Ex.: Ritalina.
• Anfetamina: também é um estimulante que assim como o metilfenida-
to também bloqueia os transportadores de NA e de DA (NAT e DAT), po-
rém de outro modo. Usada em altas doses, não estão ligadas a qualquer
ação terapêutica no TDAH, porém a reforço, recompensa, euforia e uso
abusivo contínuo.
• Atomoxetina: é um inibidor seletivo da recaptação da noradrenalina.
Apresenta possíveis vantagens no tratamento de adultos que apresen-
tam estresse crônico e comorbidades.

ACERTE O ALVO!
Existem enormes polêmicas quanto ao uso indiscrimina-
do da ritalina, não por sua ineficácia, mas principalmen-
te pela complexidade do diagnóstico do TDAH.

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10. Não há indícios clínicos e experimentais de que o metilfenida-
to possua características estimulantes, sendo esse um dos fato-
res que circunda a polêmica do uso de ritalina.
🅐 Certo.
🅑 Errado.

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gabarito da questão. questões anteriores

4.9. ABUSO DE OUTRAS SUBSTÂNCIAS (ÁLCOOL E


DROGAS ILÍCITAS)

A dependência química consiste em um conjunto de sinais e sintomas in-


dicativos da perda de controle do uso de uma substância e suas conse-
quências adversas. O DSM-V descreve que os transtornos relacionados
a substâncias abrangem 10 classes distintas de drogas: álcool; cafeína;
Cannabis; alucinógenos (com categorias distintas para fenciclidina [ou
arilciclo-hexilaminas de ação similar] e outros alucinógenos); inalantes;
opioides; sedativos, hipnóticos e ansiolíticos; estimulantes (substâncias
tipo anfetamina, cocaína e outros estimulantes); tabaco; e outras subs-
tâncias (ou substâncias desconhecidas). O mesmo também divide esses
transtornos em dois grandes grupos: o transtorno por uso de substân-
cias e transtornos induzidos por substâncias.

Curso Intensivo para Residências | Psicologia | Neuropsicologia e Psicofarmacologia 83


A dependência química é caracterizada pela presença de 3 ou mais dos
sintomas no período de pelo menos 12 meses (COSTA, 2017):
• Desejo persistente pela substância (craving).
• Dificuldade em descontinuar ou controlar o uso da substância.
• Gasto excessivo de tempo em atividades necessárias para obtenção
da substância, uso desta ou recuperação de seus efeitos.
• Redução ou abandono de atividades importantes em prol do uso da
substância.
• Persistência no uso da substância apesar das consequências danosas.
• Tolerância caracterizada pela redução dos efeitos, motivada pela uti-
lização repetida da mesma quantidade da substância, ou necessidade
de doses maiores da substância para obtenção dos efeitos desejados.
• Síndrome de abstinência ou necessidade do uso da substância para evi-
tar o aparecimento dessa síndrome.

Todas as substâncias que podem levar à adição aumentam a dopamina


(DA) no estriado ventral, também denominado nucleus accumbens. Já fa-
lamos anteriormente que o cérebro possui um sistema de recompensa,
a via mesolímbica, composta de neurônios dopaminérgicos. O efeito das
diversas substâncias psicotrópicas de uso abusivo também consiste em
provocar liberação de dopamina pela via mesolímbica, frequentemente
de maneira mais explosiva e mais prazerosa do que aquela ocorrida natu-
ralmente. Algumas substâncias tendem a provocar maior adicção dos que
outras, como podemos ver no quadro abaixo:

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Tabela 5. Incidência de dependência por substância.

Probabilidade de desenvolver dependência quando o in-


Substância
divíduo experimenta a substância, pelo menos, uma vez

Tabaco 32%

Heroína 23%

Cocaína 17%

Álcool 15%

Estimulantes 11%

Ansiolíticos 9%

Cannabis 9%

Analgésicos 8%

Inalantes 4%

Fonte: Adaptado de Stahl (2014).

ACERTE O ALVO!
Em função da variedade de efeitos que provocam no
SNC, o tratamento psicofarmacológico das adicções é
bastante variado e deve ser acompanhado de tratamen-
to psicológico e psicossocial.

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GABARITO: Questões Comentadas
(1-5)

01 CERTO
02 CERTO
03 CERTO
04 3
05 2
Questões Comentadas
06 CERTO (6-10)
07 CERTO
08 CERTO
09 CERTO
10 ERRADO

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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

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logia da aprendizagem e memória. In: FUENTES, D. et al. Neuropsico-
logia: Teoria e Prática. 2. ed. Porto Alegre: Artmed Editora, 2014.
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Mestrado. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
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FUENTES, D. et al. Neuropsicologia: Teoria e Prática. 2. ed. Porto Ale-
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11. COUTINHO, G.; MATTOS. P.; ABREU, N. Atenção. In: MALLOY-DINIZ, L.
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ta de Humanidades, Tecnologia e Cultura, v. 5, n. 1, p. 15, 2016.
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17. MALLOY-DINIZ. L. F.; MATTOS, P.; ABREU, N.; FUENTES, D. O Exame
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