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TERCEIROS
Este é um trabalho académico que pode ser utilizado por terceiros desde que respeitadas as
regras e boas práticas internacionalmente aceites, no que concerne aos direitos de autor e
direitos conexos.
Assim, o presente trabalho pode ser utilizado nos termos previstos na licença abaixo indicada.
Caso o utilizador necessite de permissão para poder fazer um uso do trabalho em condições
não previstas no licenciamento indicado, deverá contactar o autor, através do RepositóriUM da
Universidade do Minho.
Atribuição
CC BY
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/
ii
AGRADECIMENTOS
Tendo chegado à etapa final deste curso, queria deixar alguns agradecimentos:
iii
DECLARAÇÃO DE INTEGRIDADE
Declaro ter atuado com integridade na elaboração do presente trabalho académico e confirmo
que não recorri à prática de plágio nem a qualquer forma de utilização indevida ou falsificação
de informações ou resultados em nenhuma das etapas conducente à sua elaboração.
Mais declaro que conheço e que respeitei o Código de Conduta Ética da Universidade do
Minho.
iv
Estratégias para desenvolver a velocidade de execução na guitarra desde os
primeiros anos de estudo
RESUMO
v
Strategies for the development of speed in guitar playing from the first years of
practice
ABSTRACT
The current report was the culmination of a one-year professional internship, part of a Master’s
Degree on Musical Teaching, held at Academia de Música de Vilar do Paraíso during the
academic year of 2017/2018, in the disciplinary groups of Classical Guitar and Ensemble
Class. The intervention project was applied to ten students, and intended to verify the evolution
and development of their speed in guitar playing, after a period of practice of certain technical
exercises.
Before the intervention process, an interview to guitar teachers of various music styles was
held, on the problem of speed. During the classes, strategies were applied in order to increase
the speed of the students on the guitar, trying also to instill the pleasure of practicing
technique for the improvement of specific musical interpretation aspects. To evaluate the
results of this investigation, students had to go through a Velocity Test – which measured the
maximum speed at which the students could play a scale – before and after a period of
practice.
The results were very positive, with a significant increase of the speed between the two tests,
as well as an increased motivation and interest in practicing the technique of the instrument. It
was also noticeable an increased comfort in scales execution among students, as well as an
increased confidence and enthusiasm in their execution.
vi
Índice
AGRADECIMENTOS............................................................................................................... iii
RESUMO ............................................................................................................................... v
ABSTRACT ............................................................................................................................ vi
PREÂMBULO ......................................................................................................................... 1
WEBGRAFIA .........................................................................................................................52
Anexo 1 - Guião de Estratégias .........................................................................................54
Anexo 2 - Exercícios propostos aos alunos ........................................................................55
Anexo 3 - Questionário final aos alunos ............................................................................60
viii
Índice de Tabelas
Índice de Figuras
ix
Índice de Anexos
x
PREÂMBULO
1
CAPÍTULO I: ENQUANDRAMENTO TEÓRICO
De uma forma geral, o conceito de velocidade está intimamente relacionado com o tempo -
medida arbitrária da duração das coisas - e é sinónimo de rapidez, celeridade ou qualidade do
que é veloz1.
Numa obra musical, a velocidade é representada pelos conceitos de “andamento”, “tempo” ou
“pulsação”, que indica a cadência ou velocidade dos “tempos”. O andamento de uma obra
musical vem normalmente indicado no início da partitura. Esse andamento é medido numa
unidade métrica denominada BPM2 (beats per minute ou batidas por minuto), que indicam a
quantidade de “pulsações” (beats) que “cabem” num minuto. Assim, uma obra com um
andamento de 60 BPM será interpretada a uma velocidade de 60 pulsações por minuto, isto é,
ocorrerá uma pulsação a cada segundo. O metrónomo será o aparelho medidor dos BPM na
música. No entanto, os compositores nem sempre definem um valor absoluto do andamento,
em BPM, nas suas obras. É bastante comum a indicação do andamento com recurso a termos,
geralmente em língua italiana, que sugerem um valor aproximado do mesmo. Por exemplo,
adagio sugere um andamento lento, andante um andamento médio e allegro um andamento
rápido.
No meio musical, é bastante comum a escolha de repertório tecnicamente difícil por parte de
certos intérpretes, seja por gosto pessoal, pelo desafio que representa interpretar obras de
virtuosismo instrumental, ou pelo desejo de demonstrar um domínio pleno do instrumento (os
chamados “virtuosos”). Muitas vezes, a dificuldade técnica de determinada obra advém
precisamente do seu andamento rápido, o que exige do intérprete uma grande velocidade de
execução. Traça-se assim um paralelismo entre a velocidade musical de uma obra –
andamento – e a velocidade de execução instrumental, por parte do músico, exigido pelo
carácter da própria obra. Neste sentido, uma definição de velocidade do ponto de vista da
execução instrumental será mais adequada para o nosso estudo.
1
Disponível em: https://www.priberam.pt/dlpo/velocidade
2
Os BPM são também utilizados para medir os batimentos cardíacos – pulsação –, sendo por este motivo comum o uso do
conceito de “pulsação musical” quando nos queremos referir à “sensação”, mais abstrata, do andamento da obra.
2
Segundo Fauconnier (1978), citado por Vianna (s.d., p.1), e referindo-se à biomecânica
humana, a velocidade é “a qualidade física, particular do músculo e das coordenações
neuromusculares que permite a execução de uma sucessão rápida de gestos que, em seu
encadeamento, constituem uma só e mesma ação, de uma intensidade máxima e de uma
duração breve ou muito breve”.
Estendendo o conceito à música, a velocidade de execução será a capacidade de executar
sucessões rápidas de movimentos aplicados ao instrumento. Por outras palavras, é a
capacidade de tocar rápido uma sucessão de notas musicais. Essa velocidade é muitas vezes
apreciada pelos ouvintes de música, que associam essa característica a um certo virtuosismo
do instrumentista, ainda que velocidade não seja sinónimo de virtuosismo. Por outro lado, é
muito comum o desejo, por parte de muitos músicos, de desenvolver a velocidade de execução,
e usar essa ferramenta técnica para se destacarem de outros músicos.
Mas como se poderá desenvolver a velocidade de execução na guitarra? Quais os aspetos a ter
em consideração para que tal ocorra?
3
1.2. Desenvolvendo a velocidade de execução
3
Traduzível para português como “explosões de velocidade”.
4
1.2.1. Scott Tennant
Segundo Scott Tennant (1995), há quatro elementos que devem ser trabalhados para o
desenvolvimento da velocidade de execução: a velocidade da mão direita só, a sincronização
das duas mãos, as mudanças de corda (passar de uma corda para outra adjacente) e a
conjugação destes elementos.
Por velocidade da mão direita, o autor entende a capacidade de tocar uma série sucessiva de
notas rapidamente, defendendo a necessidade de se treinar speed bursts. Tennant (1995,
p.62) define este conceito como o ato de executar alternadamente, com o dedo indicador e
médio, uma série de notas longas e uma série mais curta de notas rápidas. Barceló (2001,
p.47), no seu livro Adestramento técnico para guitarristas, aborda um conceito semelhante,
afirmando que “a rápida execução de poucas notas com um breve descanso posterior é ideal
para o desenvolvimento da velocidade”. Contudo, a mão direita não está limitada a movimentos
realizados unicamente pelos dedos indicador e médio e muito menos à execução de linhas
melódicas ou escalas. Muitas vezes, a dificuldade em tocar rápido uma determinada frase
musical prende-se com a necessidade de atacar diferentes cordas com diferentes combinações
de dedos, e por vezes em simultâneo. Por outro lado, a mão direita representa todo um
mecanismo de produção sonora – é esta que ataca as cordas, fazendo-as vibrar – e tem que
realizar um grande leque de movimentos, sendo por isso importante ser alvo de uma maior
atenção. É por isso essencial para o desenvolvimento da velocidade da mão direita a realização
de exercícios variados que impliquem um maior número de movimentos para se obter uma
maior rapidez na execução dos diferentes recursos musicais (como por exemplo escalas,
arpejos, trémulos ou rasgueados).
O treino de rasgueados é também considerado uma ótima forma de desenvolver a velocidade
da mão direita. O rasgueado, recurso musical geralmente associado a guitarristas de flamenco,
é caracterizado por sucessões de “golpes” nas cordas realizados pelos dedos da mão direita. A
particularidade desta “técnica” é que os “golpes” são realizados com movimentos de extensão
dos dedos (abrir a mão), e de flexão (fechar a mão), ao contrário das escalas, por exemplo, em
que o ataque das cordas é realizado exclusivamente com movimentos de flexão dos dedos. De
5
acordo com Barceló (2001), “quando se praticam rasgueados intervêm músculos geralmente
pouco usados, como os extensores, que podem ajudar o regresso expedito dos mesmos à
atitude normal de ataque, ou seja, a ter mais agilidade. Não é por acaso que depois de usar
rasgueados funcionam melhor as escalas, os trémulos e os arpejos”.
4
A parte do braço da guitarra sobre a qual são pressionadas as cordas.
6
1.2.1.3. As mudanças de corda
As mudanças de corda, nomeadamente com alternância dos dedos indicador e médio, são
também alvo de muita atenção, pois implicam uma rápida adaptação da mão direita a cada
corda. A principal dificuldade desta técnica é executar uma mudança de corda com o dedo que
está mais distante da corda alvo – por exemplo, usar o dedo indicador para passar para uma
corda de inferior numeração à atacada anteriormente pelo dedo médio, ou usar o dedo médio
para passar para uma corda de numeração superior à que imediatamente antes tinha tocado o
indicador – movimentos estes que são, de certa forma, menos naturais. Por outras palavras, se
um guitarrista depois de executar duas notas sucessivas numa só corda, tiver de mudar de
corda num movimento melódico descendente, optará normalmente por começar com o médio,
seguido do dedo indicador, ficando assim com o dedo médio novamente disponível e mais
próximo para atacar a corda imediatamente abaixo da anterior, realizando um movimento mais
confortável. No entanto, na execução de escalas, por exemplo, muitas vezes o guitarrista não
tem outra opção senão realizar três notas por corda. Neste caso, ainda que possa começar
com a combinação indicador-médio-indicador, ficando com o médio livre para atacar a corda
imediatamente abaixo (no caso de movimentos descendentes), na mudança de corda seguinte
irá ter inevitavelmente que usar o indicador. Aqui reside a dificuldade, pois o dedo indicador irá
encontrar-se mais afastado da corda seguinte, realizando assim um movimento menos
espontâneo.
7
1.2.1.4. Conjugação da velocidade da mão direita, sincronização das duas mãos, e mudanças
de corda
Finalmente, Tennant (1995) afirma que devem ser realizados exercícios de forma a treinar
simultaneamente os três elementos supracitados. Esses exercícios assumem quase sempre a
forma de escalas musicais. De facto, tanto Scott Tennant como outros autores de métodos para
guitarra aconselham a realização de escalas como veículo essencial para o desenvolvimento da
destreza e da velocidade de execução dos guitarristas. Para a execução correta das escalas –
com clareza sonora e rigor rítmico – é necessária uma grande atenção à mão direita (que
realiza os movimentos necessários à produção do som), à sincronização de ambas as mãos
(pois as notas de uma escala são um produto da combinação dos movimentos da mão direita e
esquerda), e às mudanças de corda (que permitem a distribuição das notas da escala musical
pelas diferentes cordas da guitarra).
8
1.2.2. A importância da economia de movimento
Simon Powis (2006) aborda o problema da velocidade sob outra perspetiva. Segundo o autor,
um dos pontos mais importantes para o desenvolvimento da velocidade de execução é a
economia de movimento. De acordo com o autor, deve ser empregue o mínimo esforço possível
em cada gesto, evitando o desperdício de energia, promovendo a eficiência e prevenindo o
cansaço muscular. Chang (2009) aborda a mesma questão da economia de movimento,
introduzindo o conceito um pouco ambíguo de “relaxamento”, significando este nada mais que
o relaxamento dos músculos desnecessários à execução de determinado movimento (pp. 39-
40). Para o autor, este é o elemento mais importante para a obtenção de velocidade na
execução de um instrumento musical, sendo no entanto algo difícil de se conseguir, pois o
simples facto de executar exercícios repetidos num instrumento coloca o músico num estado de
stress que muitas vezes passa despercebido. Neste sentido, Chang (2009) aconselha a prática
dos exercícios com pouco volume sonoro - piano - , e com consciência corporal, descobrindo e
eliminando tensões musculares desnecessárias, regularizando a respiração, e permitindo o
corpo funcionar normalmente, de forma a reduzir o stress e o cansaço físico.
Powis (2006) aconselha igualmente o instrumentista a “vigiar” o seu corpo, durante a execução
instrumental, evitando a realização de movimentos involuntários que podem prejudicar a
performance. Bater o pé para marcar a pulsação, fazer pressão involuntária com os dentes ou
inclinar o corpo para a frente numa passagem mais difícil são movimentos que, de acordo com
o autor, impedem o instrumentista de realizar os movimentos necessários à execução musical
de forma mais relaxada. É por isso necessário que o músico aprenda a controlar o seu corpo,
ativando apenas os músculos necessários à prática instrumental e libertando os restantes
músculos de tensão, conseguindo assim um maior domínio da sua técnica.
9
1.2.3. O “controlo” consciente
“Todo exercício deve ser estudado muito lentamente, e uma vez dominado
pode acelerar-se, mas nunca a um tempo que impeça o controlo dos
movimentos”7
Carlevaro (1979) alerta igualmente para a necessidade de um estudo consciente e focado dos
exercícios, estudos e obras, para que tudo aconteça de forma natural, precisa e sem esforço.
De acordo com o autor, o estudo da técnica deve implicar uma total consciência do movimento
dos dedos, havendo sempre um ponto de partida na mente, sendo essencial a absoluta
concentração e análise de todo o movimento. Defende ainda que não existe um
desenvolvimento técnico eficiente sem um constante esforço intelectual por parte do aluno. Por
sua vez, Pujol (1956) afirma que a técnica não deve constituir um fim, mas uma forma eficaz e
necessária para chegar à perfeição da arte. Divide ainda a técnica em dois tipos: uma
habilidosa e aparente que dá a impressão de “fazer” e outra firme e verdadeira que “faz
5
Capacidade de regulação do funcionamento dos nossos movimentos. É sinónimo de percepção, verificação e autodomínio.
6
Tennant, Scott ( 1995). Pumping Nylon, The Classical Guitarrist’s technique handbook. New York: Alfred Music. “Control is
more importante than speed (...) Speed is something we use towards a musical end”.
7
Carlevaro, Abel (1979). Escuela de la guitarra. Exposición de la teoria instrumental. Buenos Aires: BarryEditorial.“Todo
ejercicio debe estudiarse muy lentamente, y una vez dominado puede acelerarse, pero nunca a un tiempo que impida el control
de los movimentos”.
10
realmente”. O autor também atribui grande importância à forma como se estuda para se
conseguir resultados, e diz que o seu primeiro conselho a qualquer iniciante é “aprender a
estudar”. O estudo é, segundo o autor, o segredo de uma boa técnica, e a qualidade deste é
mais importante que a quantidade, a assiduidade mais importante que a insistência e a reflexão
mais importante que a obstinação. O aluno não deve estudar de forma automática pensando
que a quantidade de horas resolve tudo. É necessária atenção e deverá sempre vigiar-se o
aspeto instrumental, musical e artístico de toda a execução.
11
CAPÍTULO II: INTERVENÇÃO - PRÁTICA PEDAGÓGICA
Introdução
12
2.1 O Projeto de Investigação
Após uma primeira fase de observação das aulas do meu professor cooperante, e após toda a
recolha de dados sobre a escola de estágio, a classe de guitarra e os alunos observados e
participantes do meu projeto de intervenção, procedi a outros tipos de recolha de dados sobre a
temática do desenvolvimento da velocidade de execução na guitarra: o diálogo com colegas e
professores de guitarra, com a comunidade educativa da AMVP e com os professores orientador
e cooperante; a contínua consulta bibliográfica, uma entrevista pré-intervenção a professores de
diferentes estilos de guitarra (2.3.), um teste aos alunos, a que dei o nome de Teste de
Velocidade (2.4.1.), e ainda um inquérito final aos alunos (3.2.), apresentado no capítulo III de
pós-intervenção.
13
2.2 Caracterização da escola
A Academia de Música de Vilar do Paraíso é uma escola de ensino vocacional artístico, fundada
em 1979. Com autonomia pedagógica desde 2007, leciona cursos oficiais de música e de
dança nos regimes integrado, articulado, supletivo e livre, desde o pré-escolar até ao nível
secundário. Em 2003 criou ainda o curso livre de teatro musical, inédito em Portugal. No ano
de 2015 iniciou o curso de jazz e música moderna no nível secundário, nos regimes livre e
oficial.
Desde a sua fundação a Academia tem sido pedagogicamente orientada no sentido de, através
de uma interação ativa e criativa, possibilitar a formação dos cursos oficiais em vigor e dotar os
seus alunos de competências para as exigências da sociedade e do mercado de trabalho atual.
As preocupações dominantes são a qualidade do seu ensino e a manutenção de vários grupos
instrumentais, corais, de dança e de teatro. A Academia é uma das escolas de onde têm saído
mais alunos para seguir a carreira artística, motivo de orgulho pelo facto de alguns hoje serem
profissionais reconhecidos nacional e internacionalmente.
14
2.2.2. A classe de guitarra
Podemos dizer que a disciplina de guitarra goza de um certo estatuto de destaque nesta
academia de música, desde logo evidenciado pelo número elevado de alunos (mais de cem) mas
também pelo excelente trabalho desenvolvido pelos professores que levaram a que a Orquestra
de Guitarras principal obtivesse diversos prémios internacionais. A Orquestra tem ainda no seu
currículo quatro trabalhos discográficos onde interpretam brilhantemente obras de grandes
compositores do mundo da guitarra clássica.
As disciplinas de guitarra e de classe conjunto, orquestras de guitarras, são lecionadas por seis
professores, cinco dos quais tiveram parte da sua formação na Academia de Música de Vilar do
Paraíso. São eles Paulo Andrade, meu professor cooperante, Augusto Pacheco, Ana Silva, Firmino
Gomes, Gonçalo Morais e José Pinto.
De destacar que a Academia conta este ano letivo com 107 alunos de guitarra, sendo que 8
frequentam o regime supletivo, 46 o integrado, 9 o articulado, 40 a iniciação e 4 o pré-escolar.
A classe do meu professor cooperante, o professor Paulo Andrade, é constituída por 17 alunos,
sendo que 11 frequentam o regime integrado, 1 o regime supletivo, 2 o regime articulado e 3 a
iniciação. Conta ainda com uma turma de 7 alunos onde desenvolve o trabalho de classe de
conjunto – Orquestra de guitarras.
A classe é bastante homogénea, com um ou dois destaques para alunos mais dotados, o que
mostra o trabalho consistente que está a ser feito com a mesma. O tipo de aulas que tenho
observado são bastante completas e abarcam um leque de pedagogias que vão desde técnicas
de motivação, apelo à calma e controlo emocional, auxilio no estudo, preocupação com a
postura e movimentos adequados, a temas como o desenvolvimento auditivo, desenvolvimento
da capacidade de autocrítica e autoavaliação e expressividade musical.
15
2.3. Entrevista a professores de guitarra
Com o objetivo de recolher dados mais práticos para a investigação, realizei uma entrevista a
professores de guitarra de vários géneros musicais, com o propósito de verificar se os
professores utilizavam estratégias para o desenvolvimento da velocidade de execução dos alunos,
e em caso afirmativo, tomar conhecimento das mesmas, e também com o objetivo de recolher
estratégias fora do contexto dos métodos comummente usados.
Tendo tido uma formação em Rock e sendo também professor de guitarra elétrica, acabo por
traçar paralelismos entre os dois tipos de instrumento, guitarra elétrica e guitarra clássica. Apesar
das claras diferenças de design, som, abordagem técnica, e dos diferentes géneros musicais
normalmente associados a estes dois instrumentos, há inegáveis semelhanças, como o número
de cordas, a afinação, as medidas do braço e do corpo ou mesmo a posição e movimentos da
mão esquerda. Isto torna possível o intercâmbio de técnicas de execução instrumental por parte
dos guitarristas de guitarra clássica e elétrica, fazendo com que possam munir-se de mais
recursos expressivos, ter mais opções técnicas ou mesmo poder destacar-se da “concorrência”.
O mesmo acontece se falarmos de estilos musicais e compararmos a guitarra clássica e a
guitarra flamenca, por exemplo. Dois mundos aparentemente muito diferentes na sonoridade
musical, recursos técnicos e expressivos usados, postura do guitarrista e colocação da mão
direita, no entanto tão semelhantes na forma básica de atacar as cordas. Não será interessante
um músico de guitarra clássica poder recorrer a técnicas de rasgueado da música flamenca e
seu efeito expressivo para alargar o seu leque de opções na hora da interpretação musical? Não
será interessante um músico de Rock poder usar técnicas de contraponto, na guitarra elétrica,
comummente usados pelos guitarristas de música erudita? É por isso interessante que haja uma
partilha e fusão de conhecimento técnico e específico por parte dos músicos e professores de
diferentes guitarras, estilos musicais ou com abordagens diferentes a esses mesmo
instrumentos.
Este conceito de “intercâmbio” é abordado por Barceló (2001, p.11), que afirma:
16
género ou estilo músico-instrumental; cada instrumentista deverá reconhecer o
trabalho que pode realizar com as duas mãos e selecionar a variedade de técnicas
adequadas e necessárias para aplicar as suas ideias musicais e também para
comunicar, e transmitir os seus conhecimentos com claridade, no caso de dedicar-
se à docência.”
Por acreditar nos benefícios de um ensino “completo”, onde coexistem ideias e metodologias que
vão desde a música erudita à música popular, decidi então entrevistar quatro professores de
guitarra de vários géneros musicais, o que me permitiu ter uma visão mais abrangente do uso de
estratégias para desenvolver velocidade de execução na guitarra. Acima de tudo procurei
estratégias que pudessem ser aplicadas facilmente por alunos de vários níveis, mas que não
consistissem apenas no estudo de exercícios específicos. Procurava ideias que não constassem
necessariamente nos “livros” e que pudessem ajudar qualquer músico a desenvolver a sua
velocidade.
Foram entrevistados um professor de Guitarra Clássica (professor A), Jazz (professor B),
Flamenco (professor C) e Rock (professor D).
A entrevista consistiu em apenas três perguntas. Segue-se o conteúdo das mesmas, assim
como um resumo das respostas obtidas:
17
2 - Quais são essas estratégias?
O Professor A (Guitarra Clássica) apresentou estratégias como: estudar por secções (pequenas
frases ou compassos), tocar lento para sentir todo o movimento envolvido no exercício, fazer
exercícios para desenvolver a musculatura das mãos, fazer uso do metrónomo, trabalhar
técnicas como trémulo, rasgueados e ligados.
O Professor D (Rock) falou em exercícios para a mão direita como palhetada alternada, padrões
de dedos na mão esquerda, estudar com metrónomo, estudar por secções, e estudar lento.
18
2.3.1. Análise da entrevista
Apesar das diferenças nos métodos e estratégias de ensino dos professores entrevistados,
essencialmente fruto da variedade de géneros musicais que abordam, vislumbram-se vários
pontos em comum.
O uso do metrónomo como instrumento de auxílio ao estudo parece ser determinante para
trabalhar a velocidade de execução. Mais ainda quando falamos em velocidade sustentada pelo
rigor rítmico que se pretende com este tipo de trabalho. O click do metrónomo facilita a noção de
tempo e sua subdivisão, o que ajuda na percepção que o aluno tem sobre a sua precisão de
movimentos.
Estudar por secções ou frases ou debruçar-se sobre determinado compasso ou célula rítmica são
também estratégias usadas por vários professores. Permite um maior foco sobre o objeto
estudado, por exemplo um ou dois compassos do trecho musical, para além de permitir repeti-lo
mais vezes. Outra estratégia comum a vários professores para desenvolver a velocidade dos seus
alunos é, curiosamente, “obrigá-los” a tocar lento. Os professores defendem que o estudo em
andamento lento facilita a percepção dos movimentos e a compreensão do ritmo, condições
essenciais para se executar rápido.
Compreensivelmente, após entrevistar professores de géneros musicais diferentes, encontrei
estratégias “exclusivas” de cada um, o que não quer dizer que os outros professores não as
usem, apenas não as referiram no contexto da entrevista. Chamaram-me à atenção duas
estratégias em específico, usadas pelo Professor A) e pelo professor C), pelo simples facto de se
focarem numa dimensão mais física da execução instrumental: realizar um aquecimento dos
músculos antes da prática instrumental, e fortalecê-los com exercícios específicos. Como já foi
discutido neste trabalho, o trabalho da musculatura promove o aumento de fibras musculares e
consequentes terminações nervosas que comunicam com o cérebro, permitindo movimentos
mais controlados e ágeis (Zunín, 2014).
Após a análise da entrevista, decidi discutir as diferentes estratégias que acabara de resumir com
o meu professor cooperante e vários colegas professores de guitarra clássica. Este input teve um
peso importante, juntamente com a leitura bibliográfica, na elaboração de um guião de
estratégias de estudo, que será apresentado no tópico seguinte.
19
2.4. Intervenção pedagógica – Práticas educativas desenvolvidas
20
2.4.1. O Teste de Velocidade
O intervalo temporal entre estas duas medições foi de aproximadamente 6 semanas. Nesse
período os alunos assumiram o compromisso de estudar regularmente os exercícios propostos.
O teste foi realizado exatamente da mesma forma nos dois momentos.
A realização deste teste teve dois objetivos. O primeiro foi verificar se o estudo de exercícios
técnicos poderia ter uma influência no desenvolvimento da velocidade de execução dos alunos. O
segundo objetivo foi aumentar os níveis de motivação dos alunos para o estudo dos exercícios
propostos (o facto dos alunos saberem que realizariam dois testes no espaço de seis semanas
para verificar se haveria um aumento da sua velocidade de execução, poderia ser um fator
motivador para estudarem os exercícios no espaço temporal entre ambos os testes).
Para aferir a eficácia das estratégias aplicadas, aplicou-se o teste num grupo experimental
(constituído pelos alunos que iriam trabalhar os exercícios de incrementação de velocidade) e
num grupo de controlo (formado por alunos com os quais não foram trabalhados quaisquer
exercícios nem discutidas as estratégias para o desenvolvimento da velocidade).
O objetivo da utilização do grupo de controlo foi perceber se haveria uma diferença significativa
no desenvolvimento da velocidade de execução entre um grupo que realiza um trabalho
específico para esse fim – grupo experimental – e um grupo que não realiza qualquer trabalho
específico para o desenvolvimento da velocidade.
As tabelas seguintes indicam os alunos que fizeram parte do grupo experimental e do grupo de
controlo, bem como a escala musical que executaram. Os alunos das aulas individuais aparecem
representados por letras (A,B,C,E,F,G,H e J) e os alunos da classe de conjunto representados
com números (1,2,3,4,5,6 e 7).
21
O Grupo Experimental foi formado por três alunos individuais (C, E e F) e pelos sete alunos da
Classe de Conjunto. O Grupo de Controlo foi formado por cinco alunos individuais (A, B, G, H, J).
C 2º Dó maior (2 oitavas)
E 5º Dó maior (2 oitavas)
2 CC Dó maior (2 oitavas)
3 CC Dó maior (2 oitavas)
4 CC Dó maior (2 oitavas)
5 CC Dó maior (2 oitavas)
6 CC Dó maior (2 oitavas)
7 CC Dó maior (2 oitavas)
A 2º Fá maior (2oitavas)
B 1º Fá maior (1 oitava)
G 3º Dó maior (2 oitavas)
H 3º Dó maior (2 oitavas)
J 7º Dó maior (2 oitavas)
22
A escala escolhida para a realização do teste foi a escala de Dó Maior (2 oitavas), pelo simples
facto de ser uma escala bem conhecida por todos. No entanto, três dos alunos não conheciam
esta escala, pelo que optei por deixá-los realizar o teste com escalas que estavam a trabalhar nas
suas aulas, para não prejudicar a performance.
1 - Os alunos começaram por realizar um aquecimento, executando várias vezes a escala que
iriam utilizar no teste.
2 - Seguidamente foi adicionado o metrónomo ao andamento que os alunos consideraram
confortável, isto é, ao andamento a que conseguiriam executar a escala de forma controlada,
relaxada e abaixo das suas capacidades máximas.
3 - O próximo passo foi incrementar gradualmente o andamento e verificar qual o valor a que os
alunos começavam a perder o controlo da execução (notas falhadas, ritmo irregular, dificuldade
em manter o andamento).
4 - De seguida, voltou-se a diminuir o andamento ligeiramente, encontrando-se o valor a que os
alunos conseguiam executar a escala no limite das suas capacidades (velocidade máxima de
execução), mas de forma limpa (com as notas certas, sem ruídos indesejáveis e com rigor
rítmico ao longo de toda a escala).
No caso dos alunos mais avançados, as escalas foram executadas em semicolcheias, estando o
metrónomo a marcar a semínima. Com os alunos mais novos (aluno A, B e F), devido a
apresentarem uma menor velocidade de execução da escala, optei por colocar o metrónomo a
marcar a colcheia. No entanto, na apresentação dos resultados, recalculei os valores do
andamento.
Os resultados obtidos pelos dois grupos em ambos os testes estão representados nas tabelas 9 e
10, no tópico “3.1. Resultados Obtidos – Teste de Velocidade” do terceiro capítulo.
23
2.4.2. Guião de Estratégias de Estudo
Segue a lista de estratégias que figuram no guião, bem como uma breve nota explicativa de cada
uma:
24
Fazer exercícios físicos para o desenvolvimento da musculatura dos braços e
mãos. Como foi referido, uma musculatura bem trabalhada, permite movimentos mais
controlados e ágeis. (Zunín, 2014)
25
1234,1234,1234...), permitindo um trabalho mais minucioso.
26
2.4.3. Exercícios técnicos
Com base na bibliografia pesquisada no decorrer do estágio, decidi criar exercícios com o intuito
de desenvolver a velocidade de execução dos alunos (anexo 2). A decisão de usar exercícios da
minha autoria em detrimento dos exercícios que constam nos métodos para guitarra analisados,
prende-se com o facto de considerar que estes últimos apresentam alguma dificuldade na sua
leitura e execução, o que poderia, logo à partida, desmotivar os alunos e comprometer o seu
empenho. Assim, desenvolvi exercícios mais simples para poder aplicá-los a todos os alunos,
inclusivé aos menos avançados.
2.5.1. Exercício 1
Figura 1 - Exercício 1
O primeiro exercício é a escala de Dó maior (2 oitavas). Foi a escala usada para a realização
dos testes. Os alunos executaram a escala usando alternadamente os dedos indicador e médio
da mão direita. A escolha do ritmo apresentado nesta escala faz com que todos os primeiros
graus da escala – nota Dó – ocupem convenientemente o primeiro tempo de cada compasso,
tornando a sua execução mais simples.
27
2.5.2. Exercício 2
Figura 2 - Exercício 2
O segundo exercício foi baseado em vários exercícios similares contidos nos métodos analisados
para a realização deste trabalho. A rápida execução de poucas notas curtas seguidas de um
breve descanso é uma forma ideal para desenvolver a velocidade de execução. A ideia é similar
às séries de sprints realizados pelos atletas de velocidade. Há um grande foco de energia
concentrado num espaço temporal curto, realizando um pequeno número de movimentos
rápidos, seguidos de um relaxamento e recuperação para uma próxima série. É um tipo de
exercício bastante usado pelos guitarristas de flamenco.
28
2.5.3. Exercício 3
Figura 3 - Exercício 3
Este exercício de ligados baseia-se na escala de Mi frígio dominante. Grande parte das notas são
executas sem o ataque da mão direita nas cordas, ficando todo o trabalho a cargo da mão
esquerda (ligados). Deste modo, em movimentos ascendentes (das notas graves para as agudas),
a mão esquerda tem que calcar as cordas com energia para que as notas se façam ouvir,
mesmo sem o ataque da mão direita. Nos movimentos descendentes (das notas agudas para as
graves) os próprios dedos da mão esquerda “beliscam” a corda, simulando o ataque da mão
direita. Este tipo de trabalho é ideal para o desenvolvimento da musculatura da mão esquerda.
29
2.5.4. Exercício 4
Figura 4 - Exercício 4
Este é um exercício de rasgueados, técnica usada pelos guitarristas de flamenco, que consiste
em golpear as cordas com movimentos de extensão e flexão dos dedos da mão direita. Os
rasgueados são uma forma muito interessante para desenvolver a velocidade da mão direita pois
requerem a utilização de músculos geralmente pouco usados. Os músculos extensores dos
dedos. Um maior equilíbrio entre os músculos flexores e extensores é essencial para uma maior
agilidade.
30
2.5.5. Exercício 5
Figura 5 - Exercício 5
Este exercício foi usado para desenvolver a mão esquerda e a sincronização dos movimentos de
ambas as mãos. Serve também para desenvolver a velocidade da mão direita, no entanto,
aconselhei uma digitação da mão direita que distribuísse as notas por um maior número de
dedos (ao contrário dos exercícios 1 e 2, em que aconselhei a utilização da combinação indicador
e médio), conseguindo-se assim uma maior velocidade no ataque das notas, com relativa
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facilidade para a mão direita. Deste modo, a mão esquerda tem que realizar movimentos
bastante rápidos para “acompanhar” a velocidade imprimida pela mão direita.
2.5.6. Exercício 6
Figura 6 - Exercício 6
32
O exercício 6 caracteriza-se por uma sequência de arpejos bastante simples. É uma forma
bastante prática para se obter velocidade e controlo da mão direita. Neste caso a mão esquerda
realiza pouquíssimos movimentos, assumindo uma posição mais estática. Enquanto esta calca as
cordas formando um acorde, a mão direita realiza movimentos rápidos, arpejando esses mesmos
acordes. Este tipo de exercício é bom para trabalhar o controlo e regularidade rítmica da mão
direita pois, sendo relativamente fácil arpejar com velocidade, é necessário controlo para manter
as semicolcheias bem executadas.
2.5.7. Exercício 7
Figura 7 - Exercício 7
33
2.5. Aulas lecionadas
Apliquei a minha proposta de trabalho a três alunos em aulas individuais, e à classe de conjunto
(Orquestra de Guitarras). A escolha dos alunos para as aulas individuais baseou-se nos bons
níveis de motivação destes e nas suas rotinas de estudo. Procurei alunos com estas
características devido ao carácter bastante prático da minha intervenção pedagógica, que
implicou um elevado compromisso dos mesmos para com o plano de estudo proposto. As
estratégias para o desenvolvimento da velocidade de execução foram trabalhadas e testadas com
os alunos apresentados no ponto seguinte, que formaram parte do que chamei de grupo
“experimental”. Para fins de comparação, foram também dadas duas aulas, com o mesmo teor,
a um grupo de alunos que constituíram o grupo de “controlo”, com os quais não foram utilizadas
as mesmas estratégias.
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2.5.1. Alunos intervenientes
Aluno F
Aluno C
Aluna E
A Aluna E frequenta o 5º grau em regime integrado, e é uma aluna exemplar, confiante e calma.
Responde muito bem ao que lhe é pedido, sem entrar em stress. A sua técnica é bastante coesa
embora se encontre no “limite” para a confortável execução do repertório que está a estudar.
Uma das minhas grandes motivações com este trabalho sempre foi a oportunidade de ajudar os
alunos a ultrapassar obstáculos como passagens difíceis, células rítmicas algo complexas,
35
passagens rápidas, entre outras exigências de muitas obras musicais.
36
2.5.2. Aulas individuais (M11) – Grupo Experimental
AULA Nº1
Escola: Academia de Música de Vilar do Paraíso Objetivos: Discussão sobre estratégias para
desenvolver a velocidade de execução.
Disciplina: Guitarra (M11)
Realização de exercícios técnicos.
Nível: Iniciação III, 2ºgrau, 5ºgrau
Medição da velocidade máxima de execução de uma
Data: 19/04/2018
escala musical (1ºteste).
Duração: 45 minutos
Recursos: Guitarra, guião com estratégias para
desenvolver a velocidade de execução, folha de
exercícios técnicos, metrónomo.
A aula nº1 foi aplicada aos alunos C, E, e F. Apesar de serem alunos de diferentes níveis, optei
por não diferenciar o trabalho desenvolvido com cada um devido ao carácter da própria aula. A
mesma incidiu, essencialmente, no trabalho dos exercícios que criei, sendo que estes não
apresentam grande dificuldade de leitura ou execução. Mesmo o aluno menos avançado
(iniciação III), devido à sua elevada inteligência e talento, não teve qualquer dificuldade em
realizar os exercícios propostos.
Iniciei a aula com uma breve conversa com os alunos sobre a velocidade de execução, em que
abordei temas como a grande velocidade de conceituados guitarristas bem como a importância
da realização de exercícios técnicos para o desenvolvimento da mesma. Fiz também uma
pequena demonstração, executando algumas passagens rápidas na guitarra, com o objetivo de
motivar os alunos.
Seguidamente, discuti com os alunos as estratégias mencionadas no guião, exemplificando e
dando oportunidade para que experimentassem algumas. Todos os alunos mencionaram que já
tinham conhecimento de várias estratégias discutidas, o que não foi uma surpresa, visto que são
prática comum na aprendizagem do instrumento.
A terceira parte da aula foi dedicada ao trabalho dos exercícios técnicos. Expliquei como estes
37
deveriam ser treinados, com a exemplificação dos movimentos a serem realizados. Optei por
exemplificar os exercícios para que os alunos os pudessem assimilar mais rapidamente. Foi
pedido aos alunos que estudassem regularmente os exercícios propostos até à data da aula nº2.
Finalmente, foi realizado o 1ºteste. Os alunos tocaram a escala de dó maior (2 oitavas), com
auxílio do metrónomo, e foi verificado o andamento máximo ao qual conseguiram executar a
escala, sem erros e com rigor rítmico. Os resultados do teste serão apresentados no tópico
seguinte.
AULA Nº2
Duração: 25 minutos
Recursos: Guitarra, metrónomo, inquérito.
A aula nº2 foi aplicada aos alunos C, E, e F. Entre a aula nº1 e a aula nº2 os alunos tiveram 7
semanas para praticar os exercícios propostos.
Iniciei a aula com a realização de um inquérito aos alunos (anexo 3) para verificar se realizaram o
trabalho proposto, para saber se se sentiam mais confortáveis na realização da escala, bem
como para perceber o impacto que toda a experiência teve ao nível da sua motivação.
Seguidamente, após um breve aquecimento, realizou-se o 2ºteste, nos mesmos trâmites do
1ºteste.
Por fim, conversei com os alunos sobre a experiência.
38
2.5.3. Aulas de Classe de Conjunto (M32) - Grupo Experimental
AULA Nº1
Escola: Academia de Música de Vilar do Paraíso Objetivos: Discussão sobre estratégias para
desenvolver a velocidade de execução.
Disciplina: Classe de conjunto (M32)
Realização de exercícios técnicos.
Nível: 2ºgrau, 3ºgrau e 5ºgrau
Medição da velocidade máxima de execução de uma
Data: 20/04/2018
escala musical (1ºteste).
A aula nº1 foi aplicada à Classe de Conjunto num formato idêntico ao utilizado nas aulas
individuais. Iniciei a aula com uma discussão sobre as diferentes estratégias para desenvolver a
velocidade de execução, contidas num guião que lhes foi entregue no início da aula. Os alunos já
estavam familiarizados com a maior parte das estratégias, o que tornou a discussão interessante.
Se o tema da velocidade de execução já era um tema com potencial para motivar os alunos, num
contexto de grupo, onde notei um ligeiro espírito competitivo entre os alunos, ainda se tornou
mais motivador. A cada exemplo de passagem rápida que eu demonstrava, fosse uma escala,
um arpejo ou uma passagem melódica em legato, os alunos experimentavam, tentando mostrar
que também conseguem tocar rápido. Aproveitei este facto para alertar para a importância da
realização correta dos movimentos e da importância de tocar limpo – sem erros e com um ritmo
preciso.
De seguida, foram trabalhados os exercícios técnicos. Num contexto de grupo, foi determinante
optar por exemplificar todos os exercícios, evitando a necessidade da leitura dos mesmos. Seria
extremamente confuso ter sete guitarristas a ler ao mesmo tempo e levaria demasiado tempo até
estarem todos em sintonia. Assim, não levou muito tempo até que cada guitarrista já estivesse
com o exercício “nos dedos”. Em cada exercício, dei oportunidade a que os alunos
39
experimentassem individualmente a execução dos mesmos para que fosse mais fácil identificar
possíveis erros. Quando percebia que todos estavam a executar corretamente os exercícios,
tocávamos todos em conjunto. Isto foi bastante interessante porque, com a necessidade de
estarmos todos a tocar ao mesmo andamento, acabamos por simular a interpretação com ajuda
de metrónomo.
Finalmente, foi realizado o 1ºteste. Os alunos tocaram a escala de dó maior (2 oitavas), com
auxílio do metrónomo, e foi verificado o andamento máximo ao qual conseguiram executar a
escala, sem erros e com rigor rítmico. Mais uma vez, o facto de os alunos estarem em contexto
de grupo tornou esta experiência divertida e motivadora.
No final da aula pedi aos alunos para estudarem os exercícios regularmente até à data da aula
nº2, ao que se comprometeram a fazê-lo.
AULA Nº2
Iniciei a aula nº2 com a realização de um inquérito aos alunos (anexo 3) para verificar se
realizaram o trabalho proposto, para saber se se sentiam mais confortáveis na realização da
escala, bem como para perceber o impacto que toda a experiência teve ao nível da sua
motivação.
Seguidamente, após um breve aquecimento, realizou-se o teste final, nos mesmos trâmites do
1ºteste. Verificou-se o andamento máximo a que os alunos conseguissem executar a mesma
escala musical que fora executada no teste de diagnóstico. Os alunos estavam muito motivados
pois o teste final iria revelar se de facto estavam ou não mais rápidos.
Por fim, conversei com os alunos sobre a experiência.
40
2.5.4. Aulas do Grupo de controlo (M11)
AULA Nº1
Duração: 15 minutos
Esta aula foi aplicada aos alunos A, B, G, H e J. Foi uma aula muito curta que serviu apenas para
medir a velocidade máxima de execução de uma escala musical.
Comecei por referir que estes alunos iriam fazer parte do grupo de controlo, explicando-lhes o
teor da experiência que pretendia realizar.
Após um breve aquecimento, procedeu-se à medição do andamento máximo a que conseguiriam
executar a escala. Não foi realizado qualquer exercício nem foram discutidas quaisquer
estratégias para desenvolver a velocidade de execução. No final, apenas lhes pedi para irem
treinado a escala regularmente, sendo que lhes seria aplicado um teste final, dali a 6 semanas,
para aferir novamente a velocidade de execução da mesma escala.
41
Tabela 8 - Aulas do Grupo de Controlo - Aula nº2
AULA Nº2
Duração: 15 minutos
A aula nº2 do grupo de controlo serviu apenas para a realização do 2ºteste, nos mesmos trâmites
do primeiro, procedendo-se à verificação do andamento máximo a que os alunos conseguiriam
executar a mesma escala musical executada no 1ºteste.
Após um breve aquecimento, realizou-se o teste final.
No final da aula abordei com estes alunos a importância da realização de exercícios de técnica
para o desenvolvimento da sua destreza. Discutimos também algumas estratégias para o
desenvolvimento da velocidade de execução. Apesar destes alunos fazerem parte do grupo de
controlo, achei relevante, após a realização dos testes, abordar os temas que motivaram a
realização desta experiência, para que pudessem também eles aplicar as estratégias discutidas
no futuro.
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CAPÍTULO III – PÓS-INTERVENÇÃO
C 2º Dó (2 oitavas) 72 88 16
E 5º Dó (2 oitavas) 75 97 22
2 C.C Dó (2 oitavas) 60 72 12
3 C.C Dó (2 oitavas) 75 92 17
4 C.C Dó (2 oitavas) 74 92 18
5 C.C Dó (2 oitavas) 74 90 16
43
7 C.C Dó (2 oitavas) 85 100 15
A 2º Fá (2 oitavas) 29 40 11
B 1º Fá (1 oitava) 32 45 13
G 3º Dó (2 oitavas) 75 80 5
H 3º Dó (2 oitavas) 65 73 8
J 7º Dó (2 oitavas) 94 107 13
Média 59 69 10
44
3.2. Inquérito aos alunos
No final da minha intervenção pedagógica foi realizado um inquérito aos alunos do grupo
experimental (anexo 3) com o intuito de perceber o impacto que esta teve no seu estudo diário.
O inquérito, em formato de questionário fechado, foi composto por seis perguntas. Expliquei
cuidadosamente cada pergunta aos alunos para não haver interpretações incorretas. Segue-se
a lista de perguntas e uma breve análise dos resultados obtidos.
45
5. Achas que o que aprendeste poderá ser útil no teu percurso como
guitarrista?
Esta foi a única pergunta à qual obtive 100% de respostas positivas. Um dos grandes objetivos
da minha intervenção pedagógica foi abordar questões que pudessem ser úteis no percurso dos
alunos enquanto instrumentistas. Em conversa com o meu professor cooperante, este disse-me
que notou que os alunos vêm agora as escalas de outra forma. Tanto as escalas como os
exercícios foram percebidos como elementos potenciadores da técnica instrumental e bastante
úteis para a execução das obras.
46
3.3. Conclusões
Várias interpretações podem ser feitas com base nos resultados obtidos. A mais otimista é que
a realização dos exercícios técnicos realizados pelos alunos do grupo experimental, entre os
dois testes, assim como o conhecimento e a aplicação de estratégias especificas, contribuíram
para um maior aumento da velocidade de execução dos alunos, quando comparados com o
grupo de controlo. De facto, o grupo experimental viu a sua velocidade de execução da escala
incrementada em 20,7 BPM entre os dois testes, enquanto que o grupo de controlo apenas
apresentou um incremento de 10 BMP. No entanto outro fatores poderão ter tido influência. O
facto de terem realizado um trabalho específico com um professor diferente, pode ter feito com
que os alunos se sentissem mais motivados que os alunos do grupo de controlo. Estavam a
trabalhar com um objetivo claro e possuíam ferramentas para os ajudar a desenvolver a sua
velocidade de execução.
Por outro lado, é um facto que todos os alunos, de ambos os grupos, aumentaram a sua
velocidade de execução da escala entre os dois testes realizados. Um dos motivos poderá ter
sido o facto do teste final ter ocorrido numa altura em que os alunos estavam a realizar as suas
provas de instrumento, estando num maior momento de “forma”. Por outro lado, o simples
facto dos alunos estudarem a escala, mesmo não estudando outros exercícios, poderá ter sido
suficiente para desenvolverem a velocidade de execução da mesma. De qualquer modo, uma
diferença de 10,7 BPM entre o incremento de velocidade do grupo experimental e o grupo de
controlo não é negligenciável.
47
4. Reflexão final
Iniciei este projeto com o objetivo de transmitir aos alunos conhecimento e ferramentas úteis
para o seu percurso como guitarristas. Queria desenvolver algo prático e motivador para
promover o seu empenho e gosto pelo instrumento.
O tema da velocidade sempre me fascinou e desde muito cedo fui deslumbrado pela técnica de
guitarristas como Yngwie Malmsteen, um virtuoso da guitarra elétrica, ou Paco de Lucia, um
mestre do flamenco. Perguntava-me como era possível tocarem tão rápido mas de forma tão
expressiva. Como disse Malmsteen, numa entrevista: “A velocidade a que se toca não tem
importância em si. Se você prestar atenção ao que eu toco, a minha música é muito mais do
que só velocidade. Tocar rápido, mas sem valor musical, não tem sentido. Paganini é um
exemplo de rapidez, mas cheia de sentido. O mais importante é o valor musical.”8
Como guitarrista de guitarra elétrica e guitarra clássica, procurei sempre formas para
desenvolver a minha velocidade, fosse com o recurso a métodos, vídeos instrutivos ou com
trocas de ideias com amigos músicos. No entanto, a forma menos rigorosa com que abordei o
problema da velocidade, sem grande objetividade e rigor nos processos, fez com que
desvalorizasse questões importantes como a postura, relaxamento, economia de movimento ou
precisão rítmica, tendo sido obrigado a corrigir posteriormente alguns problemas na minha
execução instrumental. Hoje, como professor de guitarra, tento sempre incutir aos alunos um
certo rigor no estudo para que possam evitar o aparecimento de problemas que depois têm que
ser solucionados.
Quando decidi abordar o problema da velocidade de execução dos alunos de guitarra, foi muito
claro para mim que teria que ter um certo cuidado com a forma como iria abordar tal questão.
Queria oferecer ferramentas úteis para promover a velocidade de execução mas sempre com a
música em mente. Alertei várias vezes ao longo do estudo que a velocidade, por si só, é
irrelevante se não a aplicarmos de forma musical, isto é, com precisão rítmica, com um som
cuidado e com controlo da dinâmica.
Os meus objetivos com este projeto foram:
8
Daniel Buarque (2015) Entrevista a Yngwie Malmsteen. UOL. Disponível em:
https://musica.uol.com.br/noticias/redacao/2015/04/08/velocidade-nao-e-o-que-importa-diz-virtuoso-da-guitarra-yngwie-
malmsteen.htm?cmpid=copiaecola
48
Ajudar os alunos a desenvolver a sua velocidade de execução.
Ajudar os alunos a usar essa velocidade de forma relaxada e musical.
Alertar para a importância da realização de um trabalho mais técnico (realização de
exercícios) para um melhor controlo dos movimentos.
Motivar os alunos para o estudo diário da técnica, já que é muitas vezes visto como um
trabalho mais “maçador”.
49
O facto dos alunos do grupo experimental terem visto a sua velocidade de execução da
escala aumentar significativamente tornou claro a importância de um trabalho
específico da técnica.
A realização dos testes de velocidade trouxe uma motivação notória por parte da
grande maioria dos alunos.
Seria, no entanto, presunçoso não admitir que o projeto teve os seu pontos fracos. O
desenvolvimento da velocidade de execução implica um estudo diário e focado e não será
apenas em 6 semanas que tal acontece. Por outro lado, a realização de testes altamente
rigorosos e fidedignos implicaria um controlo de variáveis que não foi possível no contexto deste
estágio. É certo que num curto espaço de tempo, o andamento a que os alunos conseguiram
executar a escala aumentou. Mas terá sido devido ao estudo dos exercícios propostos? Acredito
que todo um conjunto de fatores terá tido influência, como o fator motivacional, o facto dos
alunos terem realizado o segundo teste numa fase de exames, estando num maior momento de
“forma”, ou o simples estudo da escala em questão. De qualquer modo, penso que todos os
alunos perceberam a importância de um estudo com objetivos claros para a obtenção de
resultados satisfatórios.
Finalizo este trabalho com a sensação de dever cumprido pelo simples facto de ter conseguido
manter os alunos motivados. A música e a execução instrumental é algo inegavelmente belo
quando todos os seus elementos se conjugam em harmonia. Para que tal aconteça, é
importante um bom estudo e automatização da técnica do instrumento, para que nos
momentos de performance o aluno a possa deixar fluir, e focar-se tranquilamente na
musicalidade e expressividade da performance.
50
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Barceló, Ricardo (1995). La digitación guitarrística. – recursos poco usuales. Madrid: Real
Musical.
Barceló, Ricardo (2001). Adestramento técnico para guitarristas. Madrid: Real Musical.
Barceló, Ricardo (2010). Del violín a la guitarra: influencias en la técnica, escritura, organologia
y expresión. Revista da Sociedad Española de la Guitarra, nº 5, dezembro.
Brouwer, Leo (1992). Scale per chitarra, Metodologia dello studio. Milano: Ricordi.
Cardoso, Jorge (1974). Ciencia y método de la guitarra. San José: Editorial de la Universidad de
Costa Rica.
Noad, Frederick. M. (1977). Solo guitar playing book 2. New York: Schirmer Books.
Pujol, Emilio (1956). Escuela razonada de la guitarra vol. 1 e 2. Buenos Aires: Ricordi
Americana.
Pujol, Emilio (1954). Escuela razonada de la guitarra vol. 3. Buenos Aires: Ricordi Americana.
Tennant, Scott (1995). Pumping Nylon, The Classical Guitarrist’s technique handbook. New
York: Alfred Music.
Zunín, Gustavo (2014). Método científico para o ensino da música. Lulu.com Editorial.
51
WEBGRAFIA
52
ANEXOS
53
Anexo 1 - Guião de Estratégias
54
Anexo 2 - Exercícios propostos aos alunos
55
56
57
58
59
Anexo 3 - Questionário final aos alunos
Resultados
60
61
62
63
64
65
66
67
68
69
70