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Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais /CETEC
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Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais/CETEC t>·<)t-}S
Governo do Estado de Minas Gerais /Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia

Volume 1:
Estudo das oleaginosas
nativa~s de Minas Gerais

Relatório final de projeto


Convênio STI-MIC/CETEC

Belo Horizonte
1983
DIRETORIA DE PROGRAMAS E PROJETOS DIRETORIA DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO TECNOLOGICO
PROGRAMA ENERGIA SUPERINTENDENCIA DE APOIO TECNICO
PROJETO ENOV SETOR DE TECNOLOGIA QUfXICA

Coordenador do Programa: Roberto Pucci Rettore


Coordenador do Projeto: Hêrbert :.tartins

Equipe Técnica:
°Hérbert Martins - Químico
Lincoln Cambra ia Teixeira - Técnico~Químico
Arnô Hartins de Oliveira - Técnico-Químico
José Luit Fonscc3 Duarte - Estagiário
Marilene Marques Costa - Estagiária
Maria Feliei.i R.5.C.García - Auxili<lT' Administrativo

662.756
F98lp FUNDAÇí\O CENTRO TEOOLOGlCO DE MINAS GERAIS.
Programa Energia. Produção de combustíveis
líquidos a partir de óleos vegetais. Relató-
rio final. Belo Horizonte, 1983. 2v.

Conteúdo: - v.l. Estudo das oleaginosas nati


vas em Minas Gerais. v. 2. Transesterifica -
ção de óleos vegetais.

Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais/CETEC


Av. José Cândido da Silveira, 2000 / Horto
Telefone: PABX (031)461-7933 / Telex: 1031 / Caixa Postal 2306
30000 - Belo Horizonte - MG
índice

1. INTRODUÇÃO 5
2. MACAOBA 23
2.1. Descrição Botânica 25
2.2. Distribuição e Ocorrência da Palmeira em Minas
Gerais 26
2.3. Utilidades da Palmeira 3S
2.4. Aspectos da Cultura 37
2.5. Composição do Fruto 39
2.6. Aproveitamento Industrial do Coco Macaúba 61
3. PINH.1\o-MANSO 70
3.1. Descrição Botânica 74
3.2. Distribuição do Pinhão-Manso em Minas Gerais 78
3.3. Aspectos Gerais da Cultura 79
3.4. Utilização e Aproveitamento Industrial do
Pinhão-Manso 85
3.5. Composição do Fruto 87

4. INDAIÁ 96
4.1. Descrição Botânica 97
4.2. Distribuição Geográfica em Minas Gerais 101
4.3. Utilização e Aproveitamento Econômico do Indaiá . 107
4.4 .. Aspectos da Cultura 110
4.5. Composição do Fruto 1~3

4.6. Sub-produtos da Extração 126


5. BURITI 129
5.1. Descrição Botânica 131
5.2. Distribuição e Ocorrência da Palmeira em Minas
Gerais 133
5.3. Aproveitamento Econômico do Buriti 135
5.4. Aspectos da Cultura 140
5.5. Composição do Fruto· 142
6. PIQUI 154
6.1. Des~rição Botânica do Ginero Caryocar 157
6.2. Caracteres Botânicos das Espécies Mais Comuns 157
6.3. Dispersão Geográfica do Piqui em Minas Gerais 159
6.4. Aproveitamento Econômico do Piqui 164
6.5. Aspectos Gerais da Cultura 167
6.6. Composição do Fruto 171
7. MAMONA 187
7.1. Descrição Botânica 189
7.2. Produção Nacional de Mamona 191
7.3. Aspectos da Cultura 195
7.4. Seleção de Variedades 197
7.5. Tratos Culturais 201
7.6. Aproveitamento Econômico do Oleo de Mamona 206
7.7. Composição do Fruto 212
8. OUTRAS OLEAGINOSAS 223
8.1. Babaçu 223
8.2. Cotieira 227
8.3. Tingui 233
9. BIBLIOGRAFIA 241
Apresentaçao

No elenco de alternativas energéticas obtidas a partir da


biomassa, os óleos vegetais constituem uma das fontes
promissoras ã produção de carburantes líquiuos para uso em
motores do ciclo diesel.

Os problemas surgidos no suprimento internacional dos


combustíveis fósseis, "fizeram intensificar os estudos sobre os
óleos vegetais, principalmente nos países importadores de
petróleo, como o Brasil.

A Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais, desde 1980, vem


desenvolvendo trabalhos nessa área. O presente relatório, em
dois volumes, é o resultado de alguns" desses estudos
preliminares, em cuja execução se contou com o aporte de
recursos financeiros da Secretaria de Tecnologia Industrial do
Ministério da Indústria e do Comércio.

Esslls estudos" contemplaram o levantamento dos aspectos


marcantes das espécies oleaginosas nativas no Estado de Minas
Gerais e a transformação dos óleos extraídos por alcoólise ou
transesterifica~ão, propiciando ao CETEC partir agora, para a
implantação de unidade-piloto para a produção experimental de"
combustível
"
substituto
. do diesel.

L_:,.- L.
MILTON DE LIMA FILHO
Pres idente dOa
Fundação Centro Tec ológico de Minas Gerais
1.
Introducao
, .
Para atender às necessidades de uma civilização industrial cada
vez mais exigente, o aumento do consuIr.:> de combustíveis fósseis,
especialmente o petróleo, é de tal dimensão, que suas reservas
poderão esgotar-se nos próximos 50-100 anos, caso se mantenham
as atuais taxas de crescimento.

No entanto, além da escassez. outra causa contribui para agravar


a crise energética de nossos dias - é o modelo tecnológico alie
nigena, baseado. quase que exclusivamente, no emprego de e,nergia
oriunda dos combustíveis fósseis.

Explica-se que tal modelo foi gerado em países desenvolvidos,si


tuados em zonas temperadas. onde a taxa solarimétrica e outras
razões, inclusive políticas, não recomendavam o uso da energia
solar direta ou fotossintética,

o imperativo tecnológico atual, sobretudo no Brasil, dirige-se


no sentido de otimização do uso das fontes energéticas disponí-
veis, promovendo-se ao mesmo tempo o desenvolvimento de formas
não convencionais de energia.

A ne~essidade da substituição gradual do petróleo, como conseqUê~


cia da crise, impõe ao País a busca urgente de sucedâneos, pre-
ferentemente renováveis, para seus derivados de maior consumo:
gasolina, diesel e óleo combustível.

Inicialmente, a ação governamental orientou sua poiítica visan-


do substituir gasolina por etanol a ser produzido, em grande es
cala, a partir da cana; mandioca ou madeira.

05
Por outro lado, o setor industrial vem experimentando uma série
de procedimentos para diminuir o consumo de óleo combustível.
Além da adoção de medidas de conservação de energia, o uso de
fontes alternativas, tais como bagaço de cana, lenha, carvão ou
biogás, procura-se estimular o emprego de carvão mineral encon-
trado, abundantemente, no sul do Brasil, A utilização do alca -
trão, subproduto da pirólise da madeira, é outra possibilidade
de impacto para economia do óleo combustível.

Em 1985, caso· o País venha apresentar os índices de crescimento


previstos, nosso consumo de óleo diesel será em torno de 25 mi-
lhões de m3 , Assim sendo, torna-se evidente que o emprego de
óleos vegetais como alternativa energética, além de minimizar a
dependência externa dos combustíveis fósseis, trará consequên -
cias sócio-econâmicas bastante favoráveis, sobretudo nas régiões
mais carentes,

Entre os diversos produtos naturais fixadores da energia solar,


os glicerídeos, ou óleos vegetais, constituem a fonte renovável
mais promissora à obtenção de combustíveis líquidos. Além do al
to poder calorífico, os óleos vegetais detêm qualidades comumen
te não encontradas em outras formas alternativas de combustíve~
como seja a ausência de enxofre na mistura de glicerídeos cuj a prod~
ção industrial, por outro lado, não gera substâncias danosas ao
meio ambiente. A tecnologia de sua produção n0 País está ampla-
mente dominada, como resultado de longa experiência no setor e
existência de um diversificado parque industrial de equipamen -
tos e de processamento de oleaginosas. Esses fatores vêm cont:~
buindo para o aprimoramento e atual estágio de progresso da in-
dustria de óleos vegetais que já surge como uma das atividades
mais importantes na economia global do País.

Embora os custos de produção e de transformação, calculados com


base em culturas oleaginosas tradicionais de ciclo anual, sejam
atualmente desfavoráveis em relação aos derivados de petróleo ,
não há duvida de que os 61eos vegetais extraídos de culturas pe
renes, pouco ou ainda não exploradas no País, poderão represen-

06
tar uma possibilidade interessante na substituição parcial ou
total das frações mais leves do petróleo, principalmente o óleo
diesel. Ademais, sua produção maciça irá resultar em grandes b~
nefícios sociais decorrentes do alto índice de geração de empr~
go por unidade de capital investido.

Na hipótese de um cenário .de emergência, determinado por causas


externas - guerra ou embargo. ou a longo prazo, com a exaustão
das reservas existentes de petróleo, a produção de óleos vege-
tais para fins energéticos deverá. efetivamente. constituir-se
·na solução natural e na opção mais viável entre o elenco das m~
didas para minimizar a escassez do diesel e do óleo combustível.

Embora as mudanças introduzidas na estrutura do refino, através


do craqueamento catalítico dos resíduos de vácuo, possam certa-
mente resultar no acréscimo de produção do óleo diesel, o qua-
dro das necessidades energéticas do País até 1990 mostra uma
tendência nitidamente crescente para a participação do diesel
no consumo global, contrastando com a redução na demanda de ga-
solina e óleos combustíveis, cuja substituição vem sendo gradu-
almente assegurada pelo álcool, carvão ou bagaço de cana.

Por isso, a ação do Governo dirigiu seus esforços no sentido de


incrementar a oferta de óleos vegetais, cuja produção excedente
será destinada, a curto prazo, a substituir parcialmente o óleo
diesel consumido no País, seja em mistura ou, isoladamente, na
forma de derivados etílicos, conforme parece recomendar os cstu
dos mais recentes.

o Modelo Energético Brasileiro, elaborado por ação do Ministé -


rio das Minas e Energia, preconiza a diversificação das fontes
energéticas nacionais e sua máxima utilização de modo a atender
ao programa d~ racionalização dos derivados de petróleo. q ref~
rido documento enfatiza ainda o uso regional dessas fontes, evl
tando-se os altos custos devidos ao transporte. ·Tendo em vista
as recomendações e as linhas de trabalho sugeridas no Modelo

07
Energético Brasileiro, que dá destaque especial ao emprego da
biomassa, a agricultura e silvicultura deverão desempenhar ou-
tra função, ou seja aumentar a oferta de produtos agrícolas e
florestais para uso exclusIvamente energéticos, sem deixar de
desempenhar o papel tradicional de fornecedor de alimentos e de
matéria-prima para a exportação.

o Programa Nacional de 6leos Vegetais para Fins Carburantes ela


borado:pela Comissão Nacional de Energia, através da Resolução
n 9 007, de 22 de outubro de 1980, prevê para 1985 uma oferta a-
dicional de 1,9 milhões de. m3 de óleos vegetais, sendo que até
o final da década a demanda deverá ser da ordem de 10 mi-
3
.lhões de' m .

Para sustentar a crescente demanda de óleos vegetais para fins


energéticos até 1990, a referida Comissão estuda a adoçâo de
uma 'série de medidas, entre as quais sobressai a ocupação das
áreas agricult~veis nos períodos 'de entressafra por' culturas de
ciclo anual, por exemplo, girassol, colza e amendoim, resultan-
do em acréscimos significativos da oferta de óleos vegetais,sem
necessidade de expandir a fronteira agrícola e de modo que venha
gerar um excedente bem acima das necessidades internas de ali -
mentação.

Por essa via, expande-se a oferta de óleos vegetais até 1985


aos níveis da produção estabelecida pela CNE sobretudo com o
plan~io, conforme se disse, de colza, girassol e amendoim numa
área global nã~ superior a 2 milhões de hectares, além do apr~ -
veitamento de excedentes de soja ou de espécies perenes,especia!
mente palmaceas, como o babaçu e o dendê.

Outra medida de impacto é o incentivo ao extrativismo de espé-


cies nativas para aproveitamento das imensas reservas naturais
de palmaceas existentes nas diversas regiões do País. O estímu-
lo à implantação racional do dendê, espécie oleaginosa de alto
rendimento agrícola, para atingir uma área de 250 mil hectares

08
até 1985, irá propiciar o pleno desenvolvimento e a rápida ex-
pansão da cultura no Brasil.

Outras oleaginosas promissoras, tendo em vista o alto rendimen-


to energético por unidade de área cultivada, incluem o abacate,
o pinhão-manso, o indaiá-rásteiro e a macaúba. O emprego energ~
tico de espécies como o abacate está sujeito, no entanto, a al-
gumas limitações que se originam principalmente do aspecto saz~
nal da cultura, falta de maturidade uniforme dos frutos e de
sua rápida deterioração.

As culturas de oleaginosas perenes com elevada produtividade


agrícola, superior a 3000 Kg de óleo por hectare-ano. apresen-
tam ciclo produtivo de modo geral a partir dos 3 anos, prazo re
lativamente alto se comparado com as espécies de ciclo anual
tais como a coI za, o girassol e a soja. No entanto, o baixo re~
dimento agrícola destas últimas culturas, notadamente a soja, e
os excessivos custos de sua produção, favorecem a introdução r~
cional das espécies perenes que, além do mais, podem utilizar
solos menos férteis ou se desenvolverem em áreas não competiti-
vas com a agricultura de sobrevivência.

A economicidade dos óleos vegetais com os derivados do petróleo


irá depender não somente da seleção de especies oleaginosas com
maior produtividade de óleo por hectare-ano mas também do nível
de complexidade de seu processamento industrial, procurando-se
evitar operações desnecessárias, como desodorização ou clarifi-
cação, do modo como se realiza na indústria de óleos comesúveis.

Além das culturas de ciclo'anual mencionadas, a implantação in-


tens i va de outras espécies que possuam aI to teor de óleo. por
exemplo, a macaiíba (4,0-6,0 t/ha), o pinhão-manso (1,5-4,0 t/h3)
e o indaiá-rasteiro (1,5-3,0 t/ha) deverá resultar em queda tio
custo de produção do óleo vegetal para fins carburantes.

09
A macaúba (Acrocomia sclerocarpa Mart.), encontrada abundante-
mente em Minas Gerais, desenvolve-se bem nos solos de cerrado e
vegeta, mesmo ap~ as queimadas anuais. Sua frutificação ocorre
normalmente apoo 5 anos de idade com um rendimento médio anual
de 4 cachos por palmeira, cada um dos quais pode produzir 12-
15 Kg de cocos. Em algumas regiões de solos mais férteis encon-
tram-se palmeiras até com oito e dez cachos.

Outro aspecto importante para a redução de custos e o aproveit~


mento integral dos subprodutos obtidos nas diversas fases do
processamento industrial da matéria-prima oleaginosa. Além da
torta ou farelo, destinada ao balanceamento de ração animal, o
tocoferol, presente notadamente no dendê e na macaúba, tem lar-
go emprego na indústria farmacêutica. O endocarpo, de elevado
poder calorífico; encontrado especialmente nos frutos de palmá-
ceas, representa uma opção alternativa' para uso direto em caldci
ras ou como matéria-prima destinada à produção de coque metalúr
gico.

Mas tendo em vista os elevados preços internacionais dos óleos


vegetais, cuja relação de custo com o diesel é atualmente 2 a
3 vezes maior, a ação governamental poderá alterar alguns dos
objetivos básicos iniciais definidos no programa' de óleos vege-
t~is, por exemplo o emprego de formulações óleo vegetal - óleo
diesel, destinando-se, em contrapartida, a oferta excedente de
óleos vegetais para exportação e mantendo-se um estoque estraté
gico determinado para atender as situações de um cenário de en~r
gência até o momento em que os preços do barril de petróleo al-
cancem níveis de competitividade com os óleos vegetais.

Nesse caso, há o receio de que a expansão de áreas agricultáveis


para aumentar a oferta de óleos vegetais possa acarretar a dimi
nuição na demanda de alimentos básicos com acréscimo de preços
ou aumento de importações dela decorrentes.

10
No entanto, as perspectivas, a curto prazo, de utilização dos
óleos vegetais como combustível líquido nos próprios locais de
produçio sio bastante promissoras. Como consequ6ncia, isto viri
reduzir, substancialmente, os custos do combustível, comparado
aos derivados do petróleo, uma vez que as despesas com transpo!
te seria pouco significativas.

Segundo um sistema cooperativista, a instalação de mini-usinas


para extração de óleos vegetais ensejari o suprimento das nece~
sidades energéticas em diesel ou óleo combustível nas comunida-
des rurais, com as vantagens advindas de seu menor custo e da
ampliação de mão-de-obra local, refletindo favoravelmente sobre
a política de fixaçio do homem ao campo.

o emprego direto de óleos vegetais em motores de combustão in-


terna, apesar de experimentado desde o advento do motor diesel,
ainda hoje e sujeito a muitas discussões e controvérsias.

As primeiras alusões a respeito de sua eficiência como combusti


vel vêm do início do século, quando um motor-diesel foi aciona-
do com óleo de amendoim durante a Exposição Universal de Paris.

Out~os ensaios de utilização de óleos vegetais em motores diesel


foram realizados em diversos países, sobretudo no período que
vai de 1920 a 1940. Na década de 20, o então Congo Belga empre-
gou óleo de dendê para operar motores Ruston, não se verifican
do anormalidade alguma em seu funcionamento, apesar de o consu-
mo específico ter sido aproximadamente 30% a mais que o diesel.

Um caso de experi6ncia particularmente interessante, tendo em


vista o seu carater de longa duração, ocorreu durante a constru
ção do porto de Abidjan, Costa do Marfim, quando motores diesel
de 40 a 800 CV de potência foram operados satisfatoriamente com
óleo de dendê.

11
Também na !ndia; em 1940, foram realizadas experiências com cer
ca de uma dezena de óleos vegetais, cuja utilização nos motores
diesel, em testes de curta e média duração, atê períodos de 50
horas, demonstrou a maior formação de resíduos de carbono, prin
cipalmente nos bicos injet~res. Exceto o óleo de algodão, os d~
mais óleos apresentaram maior consumo específico em relação ao
óleo diesel.

Em 1949, o Instituto de Pesquisas de dleos e Oleaginosas da


França concluia, após a realização de testes em motores-diesel
de 4 cilindros, que o óleo de pinhão-manso (Jatropha curcas) se
prestava muito bem como combustível para tais motores e que as
potências desenvolvidas eram aproximadamente iguais, quer se
usasse óleo diesel ou óleo de pinhão.

No Brasil, as pesquisas foram desenvolvidas principalmente no


Instituto Nacional de Tecnologia, no Instituto de 6leos do l·linis
tério da Agricultura e no Instituto de Tecnologia Industrial de
Minas Gerais. Neste último, em 1950, registram-se os estudos
realizados sobre o uso dos óleos de ouricuri, ~amona e algodão
em motores-diesel de 6 cilindros. Os testes de desempenho, rea-
lizados em estrada no percurso Rio-Belo Horizonte-Recife, mostr~
ram que o consumo específico com óleo de algodão foi menor com-
parado ao observado com o diesel. O exame dos motores, ao final
do teste de estrada, revelou a ocorrência de resíduos de carvão,
emborá em quantidades que não impediu o bom funcionamento dos
motores. O maior problema foi a necessidade do pré-aquecimento
dos óleos para a partida inicial, principalmente quando se uti-
lizou óleo de ouricur~de estrutura química predominantemente
saturada.

Com o índice de cetano e poder calorífico bastan~e próximos aos


valores do diesel, as diferenças maiores ent!e suas propriedades
físico-químicas referem-se ã viscosidade, ao ponto de nóvoa e ã
taxa do resíduo de carbono.

12
o emprego do óleo de girassol ou soja para movimentar máquinas
agrícolas tem sido experimentado com relativo sucesso em alguns
países, como em Zimbabwe e Ãfrica do Sul. O funcionamento dos
tratares ê eficiente em períodos até 100 horas, não se observa!!.
do efeitos adversos significativos.

Os ensaios comparativos com óleo diesel e óleos vegetais reali-


zados em centros de pesquisas e por fabricantes de motores no
Brasil demonstram. em geral, que as potências desenvolvidas são
aproximadamente iguais, enquanto o consumo específico é maior
quando se usam óleos vegetais. Com o óleo vegetal a partida a
frio é mais difícil exigindo-se o pré-aquecimento do óleo. Fato
mais grave ê a formação de depósitos de carbono ao redor dos b~
cos injetores que impede a perfeita atomização do jato de com -
bustível e conseqUente diminuição da potência do motor. Observe-
se que tais pontos desfavoráveis poderão ser progressivamente
reduzidos ou até mesmo eliminados medtante aperfeiçoamento ou
adequação dos motores.

Tendo em vista os problemas mencionados, a medida mais recomen-


dável, a curto prazo, será o uso de misturas diesel-óleo vege -
tal 70:30. As conclusões levantadas nos diversos testes realiza
dos com essas misturas mostram que o desempenho dos motores e
praticamente o mesmo com o diesel puro, não ocorrendo maiores
dificuldades, excetn a formação dos resíduos de carbono pouco
significativa. O uso de formulações diesel-soja ou diesel-gira~
sol 70:30 em motores com sistema de injeção tipo pré-câmara mo~
tra desempenho sa tisfa tório, comparável ao verificado com diesel.

No entanto, são necessáríos estudos complementares para a iden-


tificação de problemas 'ocasionados com o uso prolongado dos óleos
vegetais em motores diesel e para encontrar: soluçôes práticas
quanto ã viscosidade 'ou à produção de resíduos dé carvão c resi
nas nos bicos injetores.

13
Para solucionar os inconvenientes do uso direto de óleos vege-
tais nos motores diesel, estudos iniciados na Bélgica em 1940
foram desenvolvidos visando ã produção, em escala semi-industrial,
da mistura de ésteres etílicos, a partir do óleo de dendê, para
utilização direta em motores diesel. O processo industrial nao
apresentou dificuldades técnicas, sendo muito baixo o consumo
energético para a sua obtenção (1).

Os testes de desempenho em motores diesel de 4 cilindros. feitos


em laboratório e também em estrada, num percurso de 20000 Km
demonstraram finalmente a viabilidade do uso da mistura de éste
res como combustível típo diesel, chegando mesmo· a suplantar em
efic~ência os óleos derivados do petróleo.

Na mesma época, a França, através do Instituto de Pesquisas de


óleos e Oleaginosas também implantava uma usina-piloto nos arre
dores de Paris para produzi~ a mesma mistura de ésteres, a par-
tir do óleo de dendê (2),

Os testes foram feitos em motores diesel de 4 cilindros, tipo


MB 205, e comprovaram os resultados obtidos na Bélgica - tanto
o rendimento dos motores como o consumo do combustivel foram
praticamente idênticos, quer utilizando óleo diesel ou a mistu-
ra de ésteres, sem que para isso se fizesse qualquer modifica-
ção nos motores. Os ensaios revelaram ainda que os motores po-
dem operar por longos períodos sem formação dos depositas de
carbono nos anéis e bicos injetores. Além do índice de cetano e
viscosidade, também o poder calorífico da mistura de ésteres é
comparável ao observado no óleo diesel.

As perspectivas favoráveis, a médio prazo, de utilização de


óleos vegetais como fonte promissora de combustíveis líquidos
tipo diesel, através do processo de transesterificação, vêm sen
do atualmente apresentadas na literatura ciéntífica, como resu!
tado de pesquisas recentes em diversos países, que sugerem a
mistura de ésteres corno sendo a melhor alternativa de subs ti tuição do
óleo diesel.

. 14
Os problemas de redução na vida útil do lubrificante nos moto-
res de injeção direta, quando se utiliza o óleo transesterifica
do, estão relacionados com o grau de insaturação dos ésteres e
presença do ácido linoléico como grupo lateral nos glicerídeos,
sendo que os óleos saturados dão melhores resultados. Daí ser
imprescindível a avaliação de um grande numero de óleos, para
que não se defina a inviabilidade do combustível etanolisado
através de resultados obtidos com emprego. por exemplo. de óleo
de soja esterificado. cuja composição elevada em ácido linoléi-
co certamente não o recomendaria como padrão de referência.

Mais recentemente. um grupo de empresas fabricantes de motores


no Brasil divulgou os resultados dos testes de desempenho real!.
zados em veículos com motores diesel ~nVM de 130 CV num percurso
de 130000 Km sem apresentar quaisquer problemas mecânicos, sen-
do o consumo da mistura combustível de ésteres praticamente o
mesmo observado em suas versões similares movidas a óleo diesel.
Os problemas da diluição do lubrificante puderam ser contornadffi
através de pequenas adaptações nos bicos injetores. com o que
se permitiu melhor pulverização e em consequência combustão
mais completa do combustive1. Desse modo foi possível a troca
do óleo lubrificante no mesmo prazo especificado para o óleo
diesel.

A piró1ise de óleos vegetais, que resulta numa mistura de hidra


carbonetos C5 -C 25 , é outra possibilidade bastante promissora p~
ra a obtenção de combustíveis liquidas.

Essa técnica, atua1mente sujeita a exaustivos estudos em inúme-


ros centros de pesquisa no 'Brasil, foi desenvolvida principal-
mente a partir de 1920 por Kobayashi e Mailhe: ambos utilizaram
uma série de catalizadores, tais como CaO, MgO, ZnC1 2 e BaC1 2
os quais eram misturados aos óleos antes do ~ratamento térmico
a 400-4509C. A mistura resultante pode ser destilada e separa-
da em frações análogas asobtidas no fracionamento do petróleo
natural, ou seja queTotene~ gasolina, óleo diesel e óleos pesa-
dos (3).

15
As considerações ora apresentadas revelam nitidamente a enorme
potencialidade e relevância do emprego de" óleos vegetais como
sucedâneos do óleo diesel. Embora sua produção seja atualmente
mais onerosa e insuficiente para atender. a curto prazo. às di-
retrizes estabelecidas no Pró-óleo. o País dispõe de recursos
múltiplos e suficientes para permitir a expansão rápida da ofer
ta de sementes e frutos oleaginosos. inclusive explorando a ca-
pacidade instalada da indústrii de óleos vegetais. cuja ociosi-
dade atual no setor de extração é estimada em torno de 8 milhõ6
de toneladas de grãos. Além de disponibilidade de mão-de-obra.
a imensa fronteiraagr!cola representada pelo cerrado. cujas
condições edafoclimáticas são favoráveis· ao cultivo. em larga
"escala. de espécies oleaginosas di versas .. certamente dará garan
tia plena de sucesso do programa.

Por isso. os esforços devem concentrar-se principalmente nas anã


lises economicas de modo a definir a competitividade dos custos
de produção. na seleção adequada de oleaginosas mais produtivas
e no aprimoramento tecnológico dos processos de extração e tr~~
formação dos óleos vegetais. Aliás. ~ EMBRAPA. através do Pro-
grama de Pesquisa de Energia já desenvolve estudos preliminares
acerca
. do manejo agrícola
.
de diversas oleaginosas. visando
" . à
caracterização e definição dos respectivos balanços energéticos.

Independentemente da forma mais recomendável de emprego dos


óleos vegetais nos motores de combustão interna. seja"em mistu-
ra C0m o diesel ou modificados. via esterificação ou pirólise,
"os res!duos calorlficos da extração podem representar opções in
teressantes para a redução dos gastos de óleo combustível em
muitas atividades industriais.

Juntamente com outros resfduos da extração. recomenda-se o apr~


veitamento integral do endocarpo de alguns frutos oleaginosos •
presente em altos rendimentos na macaúba e indaiá-rasteiro.como
insumo destinado ã queima direta nas caldeiras ou sua carboniz~
ção para a produção de carvão coquificável de alta pureza.

16
Dada as grandes quantidades excedentes de biomassa residual na
etapa de extração, o seu aproveitamento implicará na redução dos
custos finais do ólflQ vegetal.

No caso de o governo adotar a linha da esterificação dos óleos


vegetais, e dependendo da extensão do programa de substituição
do.diesel por óleos vegetáis, a produção excedente de glicerin~,
obtida no curso da etanólise em rendimentos de 10~ sobre o peso
do óleo, longe de constituir um problema, dada as enormes quan-
tidades, poderá vir a ser nova e importante alternativa para a
economia do óleo combustível.

De acordo com a meta de 1,9 x 10 6 m3 de óleos vegetais, estabe-


lecida no Pró-óleo para 1985, e supondo sua transformação na
m:Lstura de ésteres, pode-se prever uma produção de glicerina em
torno de 150 mil toneladas o que representa aproximadamente o
consumo atual dos Estados Unidos. Para o final da década, as
estimativas seriam da ordem de 300 mil toneladas acarretando ex
cedentes consideráveis de glicerina não aproveitáveis para o
mercado internacional. No entanto, é possível que toda essa pr~
dução venha a ser utilizada pelo mercado nacional de 61eos com-
bustíveis e de insumos energéticos já que o poder calorífico in
fer~or da glicerina, em torno de 3800 Kcal/Kg, lhe confere valor

combustível comparável ao da lenha.

Embora sejam inúmeras as aplicações industriais da glicerina


principalmente na manufatura de drogas, cosméticos, uretanos
resinas alquídicas, celofane e explosivos, a demanda internaci~
nal do produto não é superior a 600 mil toneladas anuais. Entre
tanto, as perspectivas de seu emprego como anti-congelante, ao
invés do etilenoglicol, devem promover futuramente no substan-
cial acréscimo do mercado de glicerina. Não se pode desprezar,
por outro lado, que os excedentes do. produto, tendo em vista a
eventual utilização dos derivados transesterificados no progra-
ma de substituição do 61eo diesel, poderão gerar um caminho no-
vo às pesquisas de sua transformação em inúmeros intermediários

17
químicos de largo emprego industrial, os quais são obtidosatual
mente a partir de derivados do petróleo.

Considerando os esquemas de refino do petróleo bruto, com o era


queamento dos resíduos' de fundo de' barril, ou sem o craqueamen-
to, e na hipótese de configurar-se a produção excedente de óleos
vegetais em 1,8 x 106 t para 1985, conforme meta preconizada no
Pró-óleo para mistura com o óleo diesel, o quadro da estrutura
de consumo de energia primária, representada apenas pelo diesel
e óleo combustível, ficará distribuido naquele ano segundo os
números discriminados na Tabela 01.

Tabela 01 - Distribuição de Energia Primária para 1985

Produção Fonte Al- produ1ão Fonte Al-


Insumo llimanda (PerfH ternativa Saldo Perfi m:J ternativa Saldo
atual dificado

Oleo diesel 21,3 14,6 1,5 -5,2 19,8 1,5. O


OIro combus tNeJ 25,3 16,8 17,0 +8,5 6,3 17,0 -2,0

Fonte: PETROBRÁS

Desde que a oferta adicional de óleos vegetais deverá originar


apenas das culturas de soja, girassol, colza e amendoim, não se
espera o aproveitamento dos resíduos da extração como insumos
energéticos para geração de vapor, tendo em vista a destinação
mais nobre da torta protéica no mercado de produtos alimentício~

Na outra hipótese, estando definido em 1985 o uso da mistura de


6
és teres nos motores de ciclo diesel ~ o processamento de 1,8)(10 t
de óleos vegetais por etanólise irá propiciar uma produção de
cerca de 180 mil toneladas de glicerina para. ser colocada ã dis
posição do mercado internacional.

18
Para 1990, cuja demanda de energia primária é indicada na Tabela 2,
prevê-se uma produção de óleos vegetais para fins energéticos
6
da ordem de 10xlO t,valor equivalente a cerca de 30\ das neces-
sidades de óleo diesel no Pars.

Tabela 02 - Dr.manda de Energia Primâria no Brasil

(x10 6t)
Ano 6leo Diesel 6leo Combustível

1985 21,3 25,3


1988 26,3 29,4
1990 30,2 32,3

Esta oferta adicional de óleos vegetais advirá de culturas per~


nes e de excedentes oriundos dos plantios de colza, girass~ e
soja. A Tabela 3 mostra hipoteticamente a área necessária ao
desenvolvimento de espécies oleaginosas promissoras de modo a
gerar a produção estimada pelo Governo no final da década.

Tabela 03 - Cultivos de Referência - Dados Estimativos

Oleaginosas Área Plantada Localização Produção Estlmadà


até 1990 (ha) de 6leo (xlO t)
Dendê 650000 Amazonas, Parâ 2,84
Macaúba 800000 Hirtas Gerais, ('oiãs 2,10
Pinh ão -Iuil.lls o 800000 Rahia,Minas Gerais 3,19
Indaiá-rasteiro SOOOOO ElliIta,Minas Gerais 0,47
Colza,Girassol Excedentes Região Sul 1,52
e Soja

19
Após a queima de parte dos resfduos da extração para geraçao de
vapor necessário aos processos, inclusive etanólise, a disponi-
bilidade final dos insumos energéticos excedentes é bastante
significativa.

Na hipótese mais conservadora de utilização de óleos vegetais


apenas em mistura com o dfesel, pôrtanto sem processamento de
ésteres, o estabelecimento da área agrícola de 2750000 ha a ser
distribuida nas diversas regiões do País, para desenvolvimento
das espécies mais produtivas, irá propiciar além da produção de
o 6 ~" 6." (.0-
10,12 xolO t de oleos vegetais, cerca de 13.9 x 10 t anua~s de
biomassa residual excedente, sobretudo endocarpo calorífico
cor~espondendo a 4,6 x 106 t de óleo conwustfvel-equivalente, o
que representa 14,2\ do consumo nacional projetado para o final
da. década.

Embora a opção pelo processo de pirólise :implique na diversifi-


cação e acréscimo da produção de insumos para queima direta em
caldeiras. deve-se ressaltar o maior dispêndio de energia o no
cra.que~mento térmico dos óleos vegetais c~jo procedimento resul
ta também na diminuição da oferta de diesel alternativo por
unidade de peso de óleo vegetal processado. Segundo esta técnic~
os ~endimentos chegam a ser 4 vezes inferiores aos obtidos na
transesterificação, conforme dados obtidos por Mensier (3).

Na hipótese de substituição global do óleo diesel deriv~do do


petróleo por óleosovegetais transesterificados em 1990. haverá
necessidade do plantio das espécies produtivas, referidas na
o
Tabela 3, numa área aproxi.mada de 9600000 ha, superior. portan-
to, a. área de soja plantada atua1mente no País e que "foi de
8192000 ha, no período de 1981/1982. Nesse caso, a disponibili-
dade de insumos residuais para geração de vapor aumenta para
6 ~ ...
16,1 x 10 tode oleo combust~vel-cqui.valente o que corresponde
a 49,8\ da demanda prevista de óleo combustível no Pafs, ~l 199U

20
Com a implantação e o gradual desenvolvimento agrícola das espé
eies oleaginosas mais produtivas, como dendê, macaúba e pinhão-
-manso, uma fração da produçao global de óleos vegetais poderá
eventualmente ser destinada a substítuir determinados tipos de
6leo combustÍvel de empregq maís nobre, tais como o BTE e o OC-~
ambos de custo mais elevado, para consumo próximo as áreas de
produção.

21
2.
Macaúba
A macaúba pertence ao grupo das palmeiras do genero Acrocomia. ,
Famflia Palmae. Sub-Fam~lia Ceroxylinae, Tribo Bactrini, englo-
bando
. . de is espêcies. cuja distribuição estende-se do 1-1ê-
cerca
xico à.Argentina, embora sl~ocorrênciaseja mais abundante nas
Antilhas, Costa Rica, Paraguai e .Brasil;

Segundo Bondar C 4). que considera algumas das denominações co-


mO ·sinonímtas. são reconhecidas .apenas IS .espécies; das quais
. 10 sao encontradas no Brasil.
'. .
No Paraguai. o mbocaiâ ou coquito, denominações vulgares da
Acrocomia totai 1-1art., forma extensos adensamentos naturais, s9-
bretudo nas zonas central e norte do PaIs, onde se estima uma
população superior a.6 milhões de palmeiras espalhadas numa área
em torno de 300 mil hectares (5).

Do ponto de vista' econômico, o mbocaiá. como ê mais conhecido no


Paraguai. representa a mais importante palmeira do País, sendo
que'em 1971 as exportações do óleo de mbocaiá foram da ordem de
8000 tIa. Nos últimos anos, em ~azão dos altos preços do óleo de
babaçu, importadores brasileiros vêm demonstrando crescente in-
teresse na aquisição do óleo de amêndoas do mbocaiâ para fins
cosméticos. Essa nova perspectiva econêmica que tem, na verdade.
contribuido para a expansão da indústrta de óleos no Paraguai •
Vem beneficiando em contrapartida alguns setores fabricantes de
equipamentos no Brasil. cujas vendas e assistência técnica àque
le País têm aumentado significativamente nos anos recentes.

Embóra a presença da macaúba seja verificada cm quase todas as


regiões
. do território brasileiro.. os povoamentos naturais mais
densos da pa~meira loca1:rzam-se em 1-línas Gerais. Goiás e .nos e.::
tados do Mato Grosso, notadamente nis áreas menos colonizadas.

23
Novaes (6), em 1~S2, assinala também a ocorrência nativa da
macaúba em quase todos os municrpios de são Paulo, principalme~
te nas regiões circunvizinhas a Mogi-Guassu, Barretos, Franca e
Ri,beirão Preto. onde ar aparecia com maior incidência. No enta~
to, essas reserv~s da p~lmeira foram depois praticamente extin-
tas para dar lugar aos plantios sistemáticos de café.

No Amazonas e Pará, a macaüõa ê encontrada segundo cognominações


diferentes - moca'á, macuji ou bacaiüva, estendendo-se sua oco~
rência aos estados do Nordeste, especialmente Parafba e Pernam-
buco, onde recebem a denominaçao vulgar de macaíba.

Mas é em Minas Gerais onde se verificam as maiores concentrações


da macaúba, cuja população distribui-se predominantemente em
três microregiões do Estado - Abaetê, Jaboticatubas e Brasília
de Minas.

Dentro do gênero. a Acrocomia sclerocarpl é a palmeira de maior


disp~rsão n~ PaÍs, constituindo-se na espécie mais típica entre
as palmâceas de Minas Gerais. No entanto, por ter sido a primei
l'a denominação do gêne'ro, que foi introduzido por Martius em 1824,
essa variedade tem sido freqUentemente associada a outras espé-
cies sem sofrer contestações.

As razões que se alegam para as eventuais dificuldades de iden-


tificação botânica da palmeira estão relacionadas com i carên -
cia ou pouca disponibilidade de material representativo nos he~
bários. Daí, ocasionalmente. confundir-se até mesmo as varieda-
des mais disseminadas do PaÍs,' ~. sclerocarpa e 1':.' ·intumcscens,
que segundo Arens ( 7) possivelmente' são espécies polimorfas.

AléTI\ da diversificação de espécies, a dispersão de sua ocorrên-


cia em quase ,todas as regiões do PaÍs resultou na multiplicida-
de de denominações vulgares da palmeira, embora todas sej(llll su-
bordimulas ao gênero Acrocomia (Quadro 01),

24
A sinonímia estrangeira é também vasta: coyol (Costa Rica, Pan~
má), Corozo(Venezuela), Catey (República Dominicana), Mbocaiá
ou Coquito (Paraguai, Argentina).

Quad-r:0 01 .,. Distribuição do Gênero Acrocomia no Brasil (8)

Classificação Nome Vulgar Ocorrência

A.sclerocarpa Mart. };lacaúba,Coco de Catarro Minas Gerais, ~lato


Coco baboso Grosso, Para. Goiás,
Rio de Janeiro
A. intumescens Drude Nacafba,Palmeira Bani- Pernambuco, Paraíba,
guda, ~~acuj á, !v!acaúba Pará. Rio de Janeiro
A. glaucopnylla Drude Bacaiúba, Bacaiaúba, Ma Amazonas, Goiás e ~1a
cujâ. Bocaiílva to Grosso.
A. mokayayba Barb.Rodr. Bocaiúva, Macajaíba, lo-lato Grosso
!'lbocaiúva
A. odorata. Barb.Rodr. Bocaiúva dos Pantanais Hato Grosso
A. rilicrocarpa Barb.Rodr. ~lbocaiã, lo~cujá,l\llcaju~ Amazonas
ba
u_ - M"
A. eriocantha Bar. Rodr, NUCa]• a-.-.1 rIm, u_~, •
"lVcaIuua, Amazonas
MucaJâ -
A. wa1laceana D1ude lobcajá, Mucoja Para. Amazonas
A. totai !vlart ~.lbocaiá Sul do Brasil, Para-
guai, Argentina

2.1- Descrição Botânica (6,9)

A palmeira possui o estipe ereto e cilíndrico, de 30 a 40 cm de


·diâmetro, podendo atingir at~ 15 m de altura; dotada em quase
toda a extensio do tronco, de cicatrizes foliares anulares ~is­
tantes entre 'si 10 cm; ápice coroado. por 20-30 folhas alongadas,
crespas e simuladas. de 3-5 m de comj)l'imento, com a bainha, pe-
cíolo e raque cobertos de espinhos agudrssimos, fortes e escuro~
medindo até 10 cm de comprimento; copa rala e aberta com as 10-

25
lhas inferiores arqueadas; inflorescência cm espadice, de 50-
80 cm de comprimento, pendente, protegida por espata de acúleos
castanhos; folíolos, em numer~ de 70 a 80, lon?o-acuminadas,fl~
xíveis e verdes na face superior, flores monôicas de coloração
amarelo-claro; fruto e drupa globosa, esféricos ou ligeirame~te
achatados, de 3,5 - 5,0 cm"de diâmetro; casca, ou epicarpo, ver
de"amarelado, duro mas quebradiço; polpa ou mesocarpo amarelo
ou esbranquiçado, comestível, fibroso e mucilaginoso. sabor ad~
cicado, rico em glicerfdeos; endocarpo, fortemente aderido i
polpa fibrosa, parede óssea enegrecida; albúmen ou amêndoa olea
ginosa, comestível; a árvore é robusta de considerável desenvo!
vimento radicular, bastante resistente _as secas e as queimadas,

AlgUmas espécies, como a A. sclerocarna Mart,. não disp6em de


espinhos ao longo do estipe, exceto próximo i coroa, enquanto
em outras. os espinhos, arranjados circularmente ao redor do
tronco, podem cobrir toda a su~ extensâo, da base i coroa da
palmeira (Foto 01). Outro aspecto a ser considerado, refere-se_
as dimens6es do fruto, que sofrem variaçoes conforme a espêcie
ou variedade. Enquanto OS frutos do mbocaiâ '(~. totai }lart.)não
excedem a 3,6 cm de diâmetro, os cocos da~. sclerocarpa apre -
sentam dimensoes bem maiores, com o diâmetro_médio superior a
4,0 cm, sendo que algumas variedades existentes em Betim (M,G,)
dão frutos cujos diâmetros sao maiores de 5.0 cm.

Segundo Bondar, a macafba do Nordeste, Acrocomia intumescens


Drude, 6 a 6nica do gênero quo tom o caule ancipitado ou boju-
do, na sua parte mediana. Esta esnécie não se confunde com as
demais.

2.2- Distribuiçio e OcorrSncia da Palmeira cm Ninas Gerais

Os estudos referentes ao zonemnento preliminar dos maciços natu


ria de macaGba em Ninas Gerais foram desenvolvidos em trSs re-
gi6es do Estado:

26
Foto 1 Acrocomia totai
Posadas, Argentina

Foto 2 A. sclerocarpa
Formações nativas em Santa Luzia, M.G.
27
Foto 3 Formações Espontâneas de Macaúba
Jaboticatubas, M.G.

Foto 4 Resistência dos Palmares às Queimadas


Jaboticatubas, M.G.

28
Região de Belo Horizonte

A pesquisa local nas !ireas vizinhas da Grande Belo Horizonte re


velou a existência de densos povoamentos de macaúba em Betim
Igarapé, Santa Luzia, Esmeraklas, Jaboticatubas e arredores da
Serra do Cipa. As informações coletadas junto às saboarias ali
existemes, ou obtidas de moradores locais, prevêem nessa região
um potencial anual de pelo menos 20 mil toneladas de frutos. AI
gumas experiências de cultivo racional dâ macaúba, embora em e~
cala pouco significativa, foram realizadas em Jaboticatubas e
na Serra do Cipo por 2 saboarias locais, através do transplante
direto de pas nativos, com 6 meses de idade, para as iro as de
,teste, segundo espaçamento de 6 x 8 m aproximadamente. Outros
municfpios pr6ximos de Belo Horizonte. tais como Baldim, Santa-
na do Riacho e Taquaraçu de ~,linas, possuem adensamentos da pal-
meira onde se estima uma disponibilidade anual superior a 10 mil
toneladas de frutos.

Em Jaboticatubas, a preser.vação dos cocais, mesmo aqueles 'pcrten


centes a particulares, esti regulada'pelo Decreto-Lei Municipal
n~ 13, de 20 de maio de 1939, que proibe o desbaste das palmei-

ras sem o prévio consentimento da Prefeitura local,

A partir do levantamento local" realizado nas âreas de maior in


d:dência da palmeira, foram constatadas em B., tim e Igarapé a,
presença de dois tipos diferentes do coqueiro, pos~ivellllente va-
ried~des polimorfas, os quais foram idenLificados pelas difere~

ças evidentes ,de coloraçio e dimens3es de seus frutos. Enqu~nto


os frutos do primeiro tipo são verde-amarelados, ligeiramente
achatados, como os de Jaboticatubas, mas de peso maior, cercide
45g, a outra esp8cie produz cocos de cor cinza, quase esféricos,
de dimens8es bem maiores e podendo pesar cada fruto atS 80 g.
Alam disso, a polpa de seus frutos aprescllta coloraçio ligcira-
,mente amarelad~muito difercnte, portanto, da tonalidade Dlura~
jada COlllumente verificada no mcsocarpo dos frutos da mncaGba,üs
~olos calciireos e mais fértcis de Betim e Igarap':: refletem-se na

29
ffla~or exuberância de suas formaçoes nativas, com um Indice de
p~od~t~vidade ag~rcola superior ao observado nos povoamentos na-
turais de Santa Luzia e Jaboticatubas, cujos frutos s~o de meno-
res dimensoes e de peso em torno de 40 g,

Regiã,o de Abaete

De solos heterogéneos,
.
sobretudo
.
os cambissolos distróficos, la-
tos solos vermelho escuro e vermelho amarelo,
.
os municJ:pios minei-
ros de Abaeté, Tiros, são Gotardo e Hatutina, caracterizam-se p~
la ocorrência abundante de densas formaçoes de macaúba, certame~
te as maiores do Estado, cujo potencial pode atrngir números su-
periores a 60 mil toneladas anuais de cocos, As concentraçóes da
palmeira, nessa região de forte influência .agropastoril, foram
calculadas em 100, 50 e 25 pis por hectare. Tendo em vista a ca~
paciciade de regeneração da palmeira, a explo~ação racional e sus
tentada desses povoamentos na.tivos, de forma a comportar não mais
de 100 palmeiras por hectare, implicaria no dupl~ aproveitamento
de solo já que a área se prestaria ai.nda a outras finalidades, tais
como pastagens ou cultivo de plantios intercalares.

o levantamento preliminar dos mac;Lços nativo~ da )Ilacaúba na região


de Brasflia de Minas, de tipologia de cerrado, mostrou a presen-
ça de adensamentos da palmeira prBximos à sede do município e e~
tendendo-se a ocorrência a outras áreas, em manchas esparsas e
descontínuas, principalmente em direção a Coração de. Jesus, cuja
disponibilidade anual de frutos foi estimada em pelo menos 10 mil
toneladas. Embora a maioria dos solos da área pesquisada seja da
classe areia quartzosa, a existência do Latossolo Ve,'melho Escuro
Eutrófico, eXatamento onde ê maior a incidência da palmeira, evi-
dencia a correlação existente entre produtividade agrtcola e [er-
til;Lda.de do solo.

30
A adaptação da macaúba nos solos de cerrado,
. ,
freqUentemente
.
su-
,eltos a grandes osci~aç5es climiticas e pluviom6trlcas, para
sustentar os mesmos níveis de produtividade verificados nos so-
los mais privilegiados, vai depender naturalmente da utilização
de práticas agronômicas di~igidas com enfase na preparação c cor
reçâo do solo.

Na irea de Abaeté, Tiros e Sao Gotardo depara~se a miúde com pal


, "

meiras. cu,a produção estende-se ininterruptamente du~ante cerca


de 6 meses, fornecendo em méd:l:a 70 a 80 quilos de cocos. dos quais
se obtêm em torno de 14 a 16 Kg de óleo por árvore. Esses índices,
embora'determinados de pés espontâneos, não diferem muito dos v~
lores observados nos plantios tecnificados de dendê, sabidamente
, ' ,

uma cultura exigente de técnicas agrícolas


. complexas e pormenor! ,~

zadas, sem as quais os baixos rendimentos de óleo tornam a expl,9-


raçâo industrial economicamente pouco atrativa.

o início do ciclo produtivo da pa:tmelra ocon'e


, . ,
apos 4 ou 5 Ilnos
do plantio, prolongando-se por unI período cuj a longevidade ainda
nao pode ser precisada.

Mas para que a exploração da macaúba num esquema agrícola atinja


o êxito desejado, torna-se indispensável o conhecimento pleno dos
aspectos fundamentais da cultura, como densidade ótima do palme!
ral, climatologia, fatores genéticos ou caracterização de gonót!
pos diferentes, todos diretamente influentes na produtividade a-
grícola da palmeira.

Diferentemente do dende, cuja produtivldade agrícola depende de


condições cdafoclimâticas oem definidas, cm que a temperatura eo
regime de chuvas nio sio sujeitas a 'variaç5es desproporcionadas,
somente encontradas em áreas privllegiadas do norte do País, a
macaúba. vegeta nas regiões de alt:í tude ent;re .500 e 1000 )1\ com í!!
dices pluviomêtricos infer:l.orcs fi 1500 mm e temperatura oscilan-
do na faixa de l5-35?C.

31
Mapa 01 - Dis tribuição l,cogrãfica da ~lacaúba em ~linas Gerais

••• ••• 42· .,. 40·

Monte AlUI --+-115·



Jonuório o
o8urlli~
• Rio Pardo da Minos

• Jonoübo
• $60 Francisco


BonfiM;:ol1s
SOo Rom~oCt

.eCC/DeÔO de Jesus
• Alrncn:1ro

• JeQ.uilinllonh"

de !l,~ir)os
• • Monlt's CloroS

Minos Novos
PirO;loro(' •
• Novo Cruzeiro

JOO(! PinheIro
• lIomorondiba
• oTcôfilo Otool

Ouro Verde. de ~"i"':l$



• COrinl0

• CurveJo
fi GuonMlcs

11---------- __ mO)

Dom
Poroopeho

.
·e • Jo!l>lJico[u!J(ls
Oespocl'lo
• t'l'\Yl'lroidos •

~
.. Corulingo
• BElO HORIZONTE:
l~arOí>e' _ _ _ _ _ _ _ _ _----'-_..l..- -l-----l

32
As observações de campo sobre as formações nativas e homogêneas
da palmeira. como as verificadas em Igarapê, Tiros e Brasília
de Minas. demonstraram a incidência média de 4 cachos por pó e
300-500 frutos por cacho, a despeito de esses maciços espontâ -
neos não exigirem o emprego de qualquer prática agrícola. e ló-
gico presumir. portanto, que mediante a introdução de pequenos
melhoramentos agrícolas, obter-se-iam maiores rendimentos nas
populações da palmeira já existentes no Estado.

A racionalização dos plantios espontâneos de macaúba, segundo


espaçamentos variáveis, nas áreas mais densamente povoadas, po-
derá proporcionar os índices de 'produtividade indicados na Tabe
·la 04, pressupondo-se que 'os frutos processados sejam do tipo B
(peso 40 g, teor de óleo 22,3~).

Tabela 04 - Produtividade Agrícola da Macaúba

Rendimento de 61eo (Kg/ha)


Palmeiras por Hectare
Hipótese A Hipótese B
100 1470 - 1840 1840 - 2300
123 1808 - 2263 2264 - 2829
156 2293' - 2870 2870 - 3588
216 3175 - 3974 3974 - 4968
Fonte: CETEC
Hipótese A: 4 cachos/palmeira. 400-500 frutos/cacho
Hipótese B: 5 ~achos/palmeira. 400-500 frutos/cacho

Conforme se observa. a faixa de produtividade anual da palmeira


macaúba, cultivada em espaçamentos diversos e sujeita a trato
agrícola pode variar de 1,47 a 4,97 t de óleo por hectare, índi
ces somente atingidos por poucas espécies, como o dendê, o pi-
nhão-manso e o coco-da-baía.

33
As perspec'tivas de aU)llento do rendimento de óleo por unidade de
área cultivada a nIveis superiores aos mencionados, embora devam
ser vistas com certa cautela, não podem todavia, ser desprezadas
já que os estudos genéticos da espécie ainda estão por fazer; a
formaçâo de banco de germoplasmas e o emprego de práticas agrí-
colas mais desenvolvidas podem efetivamente consagrar a macaúba
entre as oleaginosas mais promissoras.

As observações levantadas nas três regiões pesquisadas, através


de informações colhidas junto aos moradores dessas localidades
·ou durante as visitas realizadas às saboarias, revelam que a
disponibilidade média de cocos, diretamente comercializados às
usinas ou processados 'artesanalmente nas fazendas para diversos
fins, não chega a ser superior a 3 mil toneladas anuais. Essa
oferta de matéria-prima oleaginosa é pouco significativa se co~
parada com o potencial produtivo de frutos ohtidos nos adensa1lE'!!.
tos da palmeira existentes no Estado, atualmente estimado entre
100 m:l.l a 150 mil ton.eladas anuais de cocos, o que representa
cerca de 20 mil a 30 mil toneladas de óleo.

As vantagens advindas do cultivo da macaúba, além da obtenção de


insumos energéticos ou alimentícios em rendimentos pouco vistos
em outras espécies vegetais, residem ainda no possível aproveE~
menta dos espaços desocupados entre as palmeiras com plantios i~
tercalares de outras oleaginosas, como pinhão-manso ou mamona
ou de culturas para fins alimen.tÍcios. Outra possibilidade atr~
tiva seria destinar essas áreas livres para pastagens, o que ex!
giria, contudo, a introdução prévia de sistemas de captaçno dos
frutos, como redes ou cestos, posicionados no tronco da palmei-
ra, a 1,5 ou 2,0 m do solo, de modo·a impedir o consumo dos fru
tos recém-caídos pelo gado e outros animais.

34
Conforme foi observado nas três microregiões visitadas, a dis-
tribuição da macaúba é bastante variável, dependendo do grau
de utilização agrícola do terreno, ou da fertilidade do solo.Os
maiores adensamentos da palmeira estão nos locais mais sujeitos
ao manejo agrícola.

A densa ocupação do solo por vegetação diferente é outro fator


limitante ao crescimento da macaúba, sendo poucos os pés que
conseguem sobreviver nessas formações. Além do mais, as possibi
1 idades de germinação da semente são maiores nos terrenos· cul ti-.
vados e isentos de plantas invasoras e que possam competir com
a palmeira.

Constatou-se, além disso, nas áreas de maior concentração da


palmeira, a predominância dos cocais nas encostas elevadas e
partes mais altas, enquanto nas baixadas a densidade de palmei-
ras foi sempre pouco expressiva.

2.3 Utilidades da Palmeira

o valor economico representado pela macaúba pode ser avaliado em


função das amplas possibilidades de seu aproveitamento integraL
O estipe ê frequentemente utilizado no meio rural na confecção
de calhas, moirões, ou ripas e caibros para a construção civil.

As folhas sao empregadas como forrageiras aos animais (6), mor


mente nos perlodos de seca, ou matéria-prima na obtenção de fi-
bras destinadas ã produção de linhas, cordas e redes. Do pecío-
lo das folhas, depois de separado em tiras, sao feitos cestos,
balaios e chapéus.

Os espinhos, duros e resistentes, prestam-se. como alfinetes pa-


ra rendeiras, que também utilizam o endocarpo na confecção dos
bilros. Atê mesmo as flores da palmeira têm emprego na decoração
das árvores de Nltal (6):

35
Além do palmito, muito consumido pelos moradores das reg~oes de
grande incidência da palmeira. obtém-se do cerne do estipe uma
fécula nutritiva que, co'zinhada e fermentada, produz um vinho
bastante apreciado nos países da Amériêa Central.

M~s na verdade são os frutos da macaúba o produto economicamen-


te,mais representativo da'palmeira. A polpa do coco, adocicada
e suavemente aromática, muito apreciada pelas crianças, é tam-
bém consumida em'sua forma natural pelos ruminantes, como os b,9,
vinos, que ingerem todo o fruto, que ê expelido despolpado atr~
vês do tubo digestivo, seja pelo bucho ou pelos intestinos, cu-
jo meio favorece, conforme se acredita, a germinação da semente
e constitui uma forma efetiva de disseminação da palmeira.

Como ração animal, a polpa oleosa tem maior emprego na engorda


de sulnos, aliás uma prática intensamente difundida nas fazen-
das com cocais, fato que efetivamente tem contribui do para a
preservação dos adensamentos da palmeira em Minas Gerais.

Ta,nto o' óleo de polpa como o de amêndoas têm bom mercado na in-
dústri~ de sabões, podendo ambos, no entanto, serem usados para
consumo hUmano, desde que haja seleção de frutos, recém colhi-
dos e nao deteriorados.

o farelo da amêndoa, subproduto da extração do óleo, tem consi


derável valor nutritivo pelo seu alto teor de proteína, o que
leva seu emprego como componente de raçoes animais balanceadas.

o endocarpo duro tem sido empregado ín natura como insumo ener-


gético, nas regiões de maior ocorrê~cia da macaúba, para consu-
mo doméstico nos fogões de lenha ou em escala industrial para a
produção de carvão.

36
2.4- Aspectos da Cultura

Segundo Pio Cor~ea (101 a expansão vegetativa da macaubeira é rã


pida. chegando a crescer 1 metro por ano até atingir o tamanho
normal.
. A frutificação pode ocorrer mesmo antes da palmeira atin-
gir seu desenvolvimento completo, em geral aos 6 anos, Dependen-
do das condições locais de solo e.clima é possível a frutificação'
plena aos 4 anos de idade.

De ponto de vista do rendimento e disponibilidade do fruto no Bra


sil, torna-se diffcil uma estimativa da produção anual do coco
macaúba em razão de uma série de fatores, principalmente a varia
ção no rendimento de fruto por palmeira. De fato, a idade da pla~
ta, as condições edafo climáticas e a ocorrência de queimadaa a-
nuais podem influir na safra.

Conforme se observou em algumas áreas agricultáveis, ou de solos


mais férteis, a macaúba pode produzir atê'S cachos por pé com o
número de frutos por panícula variando de 400 a 500. Esses índi-
ces são bastante maiores aos observados em .. terras de menor uso
ag~ícola, ou em palmeiras ;idosas ou mais jovens, cuja produção
média não é superior a 4 cachos por pé.

De fato, foi verificada, especiaJ.mente na área de Jaboticatuba.s,


a ocorrência, entre os cocais, de pês pouco produtivos, com 2 ou
3 cach~s pouco desenvolvidos. Nos locais de maior densidade, po-
de-se estimar uma 1J\êdia de 4 cachos por palmeira, cada cacho apr!:.
sentando uma média de 400 frutos.

Em estado nativo, o rendimento a.grfcola. da palmeira sofre oscil~


ções, às vezes observadas numa mesma unidade de área. decorrent~
de quei1J\adas, condições edificas, clima, vegetação invasora e ou
tros fatores '.

37
De modo geral, uma mesma palmeira exibe produção decrescente a
cada ciclo de 3 anos, isto é. boa produção no IV ano, regular
no 29 ano, produção inferior no 3' ano, e retornando a bom ren-
dimento no ano subseqUente. Talvez. um esgotamento da palmeira
num perIodo de grande produção determine essas variações, ncces
s~tando a planta de algum tempo para elaborar ou absorver do so
10 os elementos essenciais para uma nova safra abundante.

Não há a menor dúvida de que as queimadas têm influência posit!


va no aumento de produção da palmeira, pois deixando de produzn
no ano da queima, a safra torna-se opulenta no ano subseqUente.
Segundo Pinto (11), a macaúba é bastante resistente ao fogo,po~
suindo acentuado poder de regeneração natural, mesmo quando mui
to atingida.

Com o terreno limpo, sem competição da vegetação invasora, e do


tado de uma reserva adicional de nutrientes, oriundos da carbo-
nização da matêria orginica, os pés remanescentes encontram co~
dições propícias de desenvolvimento vegemtivo, refletindo-se no
acrêscimo da produção e na disseminação de novas palmeiras ao
longo da queimada.

A macaúba possui o sistema reticular que pode atingir grandes


profundidades, de onde capta a água ou os nutrientes do solo
parte dos quais pode ter sido até ali carreada de plantios cul-
tivados em áreas adjacentes aos cocais.

Para fomentar o desenvolvimento agrícola da macaúba no Brasil ,


a açao governamental tião deve apenas facilitar a disponibilida-
de dos recursos financeiros; ela deve estender-se ã extensão e
pesquisa rural, visando ao melhoramento genético das variDdade~
ã adaptação de espécies de menor porte, a criação de banco de
germoplasmas. e à racionalização dos fatores de produção •.

38
Dada a importância dessa oleaginosa perene, deve-se incentivara
seu melhoramento através da enxertía, o que determinará possivel
mente a produção mais regular e mais uniforme, com o que se ga-
rantirá o abastecimento das fábricas.

Na implantação dos cultivos intensivos da macaúba, segundo esp~


çamentos de 6~6, 6x8 e 6xl0 m, um hectare poderá comportar em
torno de 320, 240 e 200 palmeiras, respectivamente, a um custo
certamente comparável ao calculado nos reflorestamentos de euc~
lipto. O plantio de outras espécíes oleaginosas, pinhão-manso ,
amendoim, mamona, assim como lavoura intercalada de subsist~
cia - milho, feijão, batata,etc, assegurará a redução dos cust~
finais do produto por unidade de área plantada.

2.5 Composição do Fruto

O coco macaúba ~. sclerocarpa Mart.) é uma drupa esférica. li-


geiramente achatada, com o diâmetro maior variando entre 3,0 a
4,5 cm para os frutos verde-amarelados, enquanto os de coloração
parda, de polpa esbranquiçada, medem em torno de 5,0 cm de diâ-
metro, podendo, eventualmente, medir até 6,0 cm de diâmetro.

O fruto constitui-se do epicarpo, ou casca externa, duro e que-


bradiço, impregnado, se o coco está maduro, com cerca de 10% de
óleo, cuja cor levemente esverdeada provêm das xantofilas; do m~
socarpo, ou polpa, oleoso e fibroso, de coloração Bmarelo-alar~
jada, devido i presença do caroteno, nos frutos mais comuns, e
amarelo-esbranquiçada nos çocos pardos de maior tamanho; do en-
docarpo escuro e duro que envolve uma ou duas am6ndoas, também
oleaginosa.s .

Na maturação, e enquanto o fruto está ainda preso ao cacho, D


polpa ê fortemente aderida a casca externa e ao endocarpo. Após
a queda do coco, um espaço livre vai se desenvolvendo entre a
polpa e a casca externa, conseqU6ncia da redução gradual da umi

39
dade no fruto, o ~ue posteriormente facilita a exclusao da cas-
ca • A u~idade está distribuída desigualmente pelas diferentes
partes do fruto, sendo menor na amêndoa e maior na polpa e na
casca.

Tanto a composiçao do fruto, como o teor de óleo na polpa e na


amêndoa,
..
conforme dados de. publicações técnicas, são bastante
discrepantes, resultado nio tanto da origem dos frutos, mas de-
correntes do .grau diferente de umidade e de maturidade dos fru-
tos submetidos à análise.

Para se obter resultados confiáveis nas análises de composlçao


do fruto ê indispensável: antes de tudo. a utilizaçao de cocos
frescos e recém-colhidos. A análise processada em vários l?tes
de cocos maduros coletados de pés diferentes nas áreas de Jabo-
ticatubas e Esmeraldas •. permitiu classificar. conforme se vê nas
Tabelas OS, 06 e 07, três tipos de cocos em função de seus peso~
com os quais se estabeleceu a composição média do coco macaúba.

Tabela 05 - Composição do Coco Macaúba


Fruto Tipo B - Peso Médio do Fruto Fresco: 46,0 g
Origem: Esmeraldas - MG

Peso do Lote de ('.ocos (gJ Composiçao l~dia do Coco tBase Seca) (%)
Lote
C~9 de. Cocos) Base Omida Base Seca Casca Polpa Endocarpo Jimêmloa
20 (7) 320,.86 217,25 23,8 36,4 31,7 8,1
21 (7) 336,30 220,20 25,7 37.3 29.7 7,3
22 (8) 356,42 239,95 24.4 40.1 28,4 7,1
23 (8) 348,53 225,80 26,1 39,3 28,0 6.6
24 (7) 318,54 225,68 21,8 42,8 28,3 7,2
25 (7) 343,86 222,70 25,2 38,0 29,5 7,4
26 (8) 359,88 253,58 22,0 43,4 27,6 7.0

Fonte: CETEC

40
Tabela 06 - Composição do Coco Macaúba
Frutos Tipo C - Peso Médio do Fruto Fresco: 66,0 g
Orígem: Esmeraldas - MG

Lote Peso do Lote de Cocos (g) Co~osição ~€dia do Coco (Base Seca)(~
(N9 de Cocos) Base Omida Base Seca Casca Polpa Endocarpo Amêndoa
27 (3) 199,24 130,40 26,3 41.4 23,4 4,9
28 (4) 247,60 167,30 22,5 45,7 24,7 7,1
29 (6) 375.53 241,16 22,9 46,1 24,5 6,5 .
30 (6) 390,16 271,20 21,0 51,0 22.2 5,8
31 (6) 405,20 251,49 23,1 46,4 24,1 6,4
32 (6) 411,40 269,50 22,1 47.9 23,9 6.1
33 .( 7) 459,60 289,10 21,8 47,7 24,2 6,3
Fonte: CETEC

Tabela 07· - Composíção do Coco Macaúba


Frutos Tipo A - Peso Médio do Fruto Fresco: 40,0 g
Origem: Jaboticatubas - MG

Lote de 10 Peso do Lote (g) Composição ~~dia do Coco (Base Seca)(t)


cocos Base Omida Base Seca Casca Polpa Endocarpo Amêndoa
01 385,3 245,0 18.2 34,6 40,7 6,5
02 388,3 246,3 16,0 35.4 41.4 7,2
03 417,7 279,3 17,9 37,1 38,2 6.8
04 402,0 253,0 20,9 35,7 37,5 5.9
05 379,3 250.0 19,1 35,2 39,4 6,3
06 375,3 247,3 19,9 33,6 39.4 7,1
07 398,7 260,7 20,5 33,0 39,8 6,7
08 436,0 272 .0 19,8 32,8 40.5 6,9
09 433,0 248,3 18,8 31,6 43,1 6.5
10 417,0 284,6 18,2 36,2 39.3 6,3
11 385,0 248.3 20,6 35,9 35.1\ 6,7
12 387,3 239,0 19,9 31,1 42.6 6,4
13 381,3 238,3 20,7 35,4 .36,9 7.0
14 413,0 263,0 21,1 34,2 37.9 6,8
15 416,3 257.7 20,3 31,9 . 41,8 6,0
16 401,3 243,0 20,6 37,0 37,1 5.3
17 389,0 248,7 20,1 32,7 40,2 7,0
18 407.0 255 ..3 21,2 34,9 37,3 Ú. ()
1:l 434,0 275,0 22,3 33,2 37,6 6,9
Fonte: CEmC

41
A relação polpa-endocarpo para os diversos tipos de frutos, re~
pectivamente, 0,87 : 1,37 : 2,00, determinada com base nos dados
de composição média do coco macaúba, indicados na Tabela 08,mo~
tra a maior participação da polpa oleosa nos frutos do tipo C,
ao contrário dos frutos do tipo A, de menor peso, em que a par-
cela devida ao endocarpo ê mais representativa.

Tabela 08 - Composição e Teor de Oleo do Coco Macaúba - Base Seca

Componente Composição Hédiá do Coco (%) Teor de Oleo (%)


Tipo A Tipo B Tipo C Tioo A Tipo B Tipo C

Casca 19,8 24,1 22,0 6,5 ·9,8 5,3


Polpa 34,3 39,6 48,0 59,8 69,9 55,9
Endocarpo 39,3 29,0 23,9 - - -
Amêndoa 6,6 7,3 6,1 55.6 58,0 55,2

Fonte: CETEC

A extração das diversas partes do coco macaúba com hexano, medi


ante a utilização de todos os l?tes de frutos classificados, re
vela que enquanto os rendimentos de Bleo na casca e na amêndoa
Tabela 08 não sofrem grandes oscilações, conforme o tipo de fr~
to a~alisado, os teores de óleo na polpa fibrosa dos cocos do
tipo B, calculados
. em torno de 70% sobre o peso do mesocarpo .se-
co, são substancialmente mais elevados que os valores observa -
dos para os frutos dos tipos A e C, inferiores a 60%.

Na Tabela 09 são apresentados os dados quantitativos finais, re


ferentes i umidade média e aos rendimentos de Bleo em seu esta-
do natural ou isento de umidade.

42
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Foto 5 Coco Macaúba


Origem: Esmeraldas

Foto 6 Componentes de Coco Macaúba

44
Tabela 09 - Dados Quantitativos do Coco Macaúba

Características Tipo A Tipo B Tipo C

Peso médio do fruto (g) 40,0 46,0 66,0


Umidade média en 36,5 33,0 34,7
Teor de óleo/fruto fresco (%) 16,2 22,9. 20,8
Teor de óleo/fruto seco (%) 25,5 34,3 31,4

Fonte: CETEC

Os indices de produtividade, conforme se observa, sio maiores


nos frutos coletados em regí5es de solos mais firteis ou sUJe1-
tas ao manejo agrícola, verificando-se baixos rendimentos de
óleo nos frutos oriundos de Jaboticatubas. Por outro lado, os
dados da Tabela O~ indicam a estreita correlação existente entre
o grau de umidade presente no coco e o teor de óleo determinado
nos diferentes tipos de frutos.

A análise das caracterfsticas físico-químicas dos óleos obtidos


do coco macaúba mostra que, a despeito das diferenças em suas
propriedades, o óleo da casca tem a mesma identidade do óleo ex
traído da polpa,.sendo uma parte deste absorvido na superfície
porosa do epicarpo. Desse modo, e exposto â ação da luz solar ,
os glicerideos retidos na casca sofrem reações de r~dicais li\TC~
sobretudo nos centros ativos clô grupo linoléico, cuja estrutura
favorece e induz as reações fotolíticas. Conforme se v5 nos da-
dos da Tabela 10, o teor de ácido linQléico na mistura prepara-
da por hidrólise do óleo da casca é inferior ao valor observado
no óleo de pólpa, resultando também cm men.or índice de ioilo.

45
Tabela 10 - Características Físico-Químicas dos 01eos de Pa1múceas

Características 1-1acaúba Dendê Babaçú


Físico-Químicas Casca Polpa -'\mêndoa Polpa Amêndoa Amêndoa
Teor de ácidos graxos 0,8-1,2 0,3-1,0 0,2-0,7 0.2 0,6 0,2
livres
(ácido oleico, ~)
Densidade 25 9 /25 9 C (g/cm3) 0,9194 0,9256 0,9176 0,9118 0,9184 0,9153
índice de Refração (25 9 C) - 1,4662 - - - 1,4562
índice de Saponificação 194 192 221 197 248 249
índice de Iodo (Wijs) 78 84 20 98 14-22 16
Poder Calorífico (Kca1/Kg) 9380 9370 8520 9460 8790 8950
Superior
Viscosidade a 37.8 9 C (cSt) 42,5 46,4 35,2 43,0 - 36,5
Insaponificáveis (~) 0,6 0,4 0,1 1,6 0,8 0,8
Indice de Peróxido (mEq/g)
Ponto de Solidificação (9C)
14,3
14,8
8,0
16,0 24,5
9,4 18,3
15,0
-
23,8
10,0
26,5
Peso molecular médio (croma-
tografia gasosa) 859 866 710 S51 706 698

CorAS'lM 3,5 3,0 1,0 1,0 0,5 0,5


Cinzas (%) 0,04 0,01 <0,01 0,01 - 0,03
CHN (%)
Carbono 75,92 76,03 75,08 77,20 - 74,76
Hidrogênio
Oxigênio
11,63
12,45
11 ,51 11,65 11,72
12,46 13,27 10,88
-
-
11 ,57
13,67

Fonte: CETEC

46
Tabela 11 - Oleo de Palmâceas
Composição em Ácidos Graxos (")

Macaúba (Frutos Tipo B) Dendê Babacu


Ácidos Graxos
Casca Polpa Amêndoa Polpa Amêndoa Amêndoa

Ácido Caprilico 6,2 2,7 6,8


Ácido Câprico 5,3 7,0 6,3
Ácido Lâurico 43,6 . 46,9 41,0
Ácido MiTÍstico 8,5 1,1 14,1 16,2
Ácido Palmítico 24,6 18,7 5,3 39,7 8,8 9,4
Ácido Palm:l.toleico 6,2 4,0 - 0,3 - -
Ácido Esteârico 5,1 2,8 2,4 4,5 1,3 3,4
Ácido Oleico 51,5 53,4 25,5 43,5 18,5 14,2
Ácido Linoleico 11 ,3 17,7 3,3 10,9 0,7 2,5
Ãcido Lino1ênico 1,3 1,5 - - - -
Ácido Saturados 29,7 21,S 71.,2 45,3 80,8 83,3
Ácido Insaturados 70,3 78,5 28,8 54,4 19,2 16,7

Fonte; CETEC

A comparação
. .
dos dados analíticos nas Tabelas .10 e 11 para os dife
-
rentes óleos de palmâceas permite identificar o acentuado grau
de insaturação do óleo obtido da polpa de macaúba, cuja compos!
ção e~ âcidos graxos, determinada por cromatografia em fase ga-
sosa, o consagr~ certamente entre os óleos de alta qualidade p~
ra fins comestíveis, principalmente em razão do baixo "teor de
âcido linolênico. Os glicerídeos do óleo da polpa de dendê, ao
contrârio, apresentam distribuição quase equitativa entre os
grupos insaturados e saturados, fato que não recomenda seu em~~
go alimentício, como óleo tipo salada, pois se tornam parcia1mm
te solidificados nas temperaturas de-refrigeradores, a menos qtC
se processe a ".\vinterização" do óleo bruto, que permite remover
os glicerídeos saturados de ponto de fusão relativamente altos.

47
Figura 01 - 'Análise po~ Cromatog~afia Gasosa - Oleo da Casca de ~ncaúba
o . ....... , ...
o ,i
*
I -I
PK TIME AREA ARfA ~
j ;
1T 6.12 3852956 25.43 0----'
2T 6.99 878600 5.80 '----.
~ .. --....
3T .. 10.13 735308 4.85 r--
4T
5r- 14.30
12.05 7809156
1638320
51.53
. 10.81
.-
~

61 18.35 238848 1.58


'", TOTAL 15153188 100.00
o

-.

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o

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• I i I i 11: j ! i I ! ~ ! f, ;i
48
Figura 02 - Anâlise por Cromatografia Gasosa - Óleo da Polpa de ~bcaw)a
~
..
~g ! !
PK * TIME AREA AREA % .

p-+:.
lT 6.07 308534Q 18.63 I- Cll --<-----I
2T 6.97 325220 1.96
31 10.22 1266796 7.65
, 4T 12.12 8788104 53.05 ! :
! I
5T
6T
14.47
18.42
2880840
219232"
17.39
1.32
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'cr---r-"'r--=+:='='!=~'-
-+-~,-- -1--4
! i -~ - , ,
I I ,
;-
~~
A coloração amarela-alaranjada, por vezes bastante intensa, do
óleo da polpa de "macaúba ê devida ã presença de carotenõides,e~
pecialmente os Isómeros a e ~, conforme determinação feita por
cromatografia de sílica gel em camada fina.

Além do emprego tradicional. em escala industrial, pelas saboa-


rias situadas nas regiões de maior concentração da palmeira em
Minas Gerais, ou processado artesanalmente, segundo técnicas ba~
tante rudimentares, por moradores ou fazendeiros locais na fabrl
cação de sabão caseiro, o óleo de polpa poderâ ter aplicação d~
versificada em setores mais especificamente industriais: trefi-
laria, siderurgia, ou nos processos de laminação a frio, sob fo~
ma de emulsão em âgua.

Outras utilizações potenciais do óleo da polpa de macaúba, sobr~


tudo visando ao aproveitamento do óleo de elevada acidez, estão
relacionadas com os processos de flotação na separação de miné-
rios diversos.

Quanto ao óleo de amêndoas da macaúba, sua riqueza em ácido láu


rico é uma garantia de seu valor económico no mercado disputado
" " "
dos óleos saturados, tais como os de babaçu, coco-da-baia e de~
dê, cuja oferta se destina quase exclusivamente à fabricação de
margarina e sabonetes.

Contrariamente ao que se observa com a polpa, as amêndoas do c~


co m~caúba podem ser armazenadas durante longos períodos de tem
po, sem ocasionar sUa deterioração, desde que condicionados ~m
ambiente adequadamente seco.

O óleo extraído das amêndoas tem aroma característico, de colo-


ração branca incolor a ligeiramente amarelada; mas "se solidifi-
ca a temperaturas inferiores a 2ü 9 C.

A comparação de suas características físico-químicas com os de-


mais óleos saturados (Tabela 11) mostra para o óleo de amêndoas
da macaúba o maior índice de iodo, conseqUência do teor mais

SI
elevado de ácidos graxos insaturados presentes na cadeia lateral
da mistura de glicerIdeos, relativamente ao que se verifica nos
óleos de babaçu e de palmiste.

Tendo em vista as diretrizes do Programa Nacional de óleos veg~


tais para fins carburantes, a exploração industrial do coco ma-
caúba em grande escala deve dirigir-se ao aproveitamento global
do óleo de polpa visando ã produção da mistura combustível para
motores do ciclo diesel, enquanto o ôleo
. de amêndoas,
.
dado os
elevados preços no mercado nacional, deve orientar-se para ou-
tros fins, entre os quais o alimentar.

'Para o objetivo mencionado, ou seja, a produção da mistura de


êsteres para ser'empregada como combustivel líquido, torna~se
indispensável o controle da acidez do óleo no fruto, logo após
sua colheita, evitando-se a ação prolongada da flora criptogâmi
ca, cujas enzimas lipol~ticas hidrolizam os gl±cerídeos em áci-
dos graxas.

Certo é que'os frutos da macaúba, coletados dlretamente do sol~


apresentam quase sempre uma contaminação interna por flora mi-
crobiana variada e que atinge a polpa do fruto. seja pela rupt~
ra do epicarpo durante sua queda ao chao, seja pelo pedúnculo
do coco.

A microflora, representada em grande parte por fungos,' conforme


comprovaram os estudos de Linardi (12), contém microorganismos
lipolíticos que.atuam sobre a mistura de glicerídeos da polpa'do
coco macaúba. O isolamento foi efetuado na superfície dos frutos
descascados, naturalmente contaminados, coletados na área de Ja-
boticatubus. O ginero dos microorgunismos se identificou através
de exame microscópicos da morfologia dos órgãos rep'rodutores, oe
tidos por cul turu em 1âmina, tes tundo-se cada cepa indi vi dual qt1a~
to à sua atividade lipásica.

S2
Entre as 6 cepas isoladas e identi;ficadas, conforme se indica na
Tabela 12, apenas uma (Aspergillus sp F) apresentou forte ativi
dade lipãsica, sendo os fungos miceliais os que constituem a
maior parte dos contaminantes do coco macaúba. "

Tabela 12 - Atividade Lipãsica dos Microorganismos Isolados 'do


Coco :l-1acaúba

Microorga- Crescimen Halo Cor do Halo Desenvolvimen Gênero


nismo Iso- to do He to do Halo
lado
A .. + + O O O Aspergillus sp
B + ... + O O O Aspergillus sp
C + O O O Aspergillus sp
D + O O O Pullularia sp
E + .. .. . Azul claro Lento Penicillium
F . .. .. .. . .. Amarelo Rápido Aspergillus

Fonte: Linardi e NicoU (12)

Entre as prãticas testadas para a"preservação dos frutos ainda


no campo, a fumigação dos cocos com solução diluída de formoll%
torna"inativa a microflora contaminante, procedimento que mant~n
o índice de acidez de ôleo de polpa a níveis aceit~veis.

Apôs o recebimento na usina da matéria-prima oleaginosa, sUJel-


ta i esterilizaçio prévia" os cocos sio despolpados; a seguir,
a massa obtida deve ser submetida a tratamento térmico rápido ,
SO-1109C, com vapor vivo, cujo processamento reduz a umidade da
polpa para valores inferiores a 10%; finalmente,' armazena-se a
massa oleosa em ambiente seco.

53
As Tabelas 13 e 14 mostram as variações na acidez do óleo de pol.
pa, em tempos variados e sob condições diferentes, obtido de f~
tos maduros e recém-colhidos, os quais foram classificados em 17
lotes 'de 10 frutos, dos quais 7 lotes foram suj ei tos a es terili-
zação por fumigação com formal a l~.

Tabela 13 - Desenvolvimento da Acidez nos Frutos da Macaúba


Cocos Esterilizados Logo Após a Colheita Com Jatos
de Formal l~

Lote de Cocos Condições de Período (dia) Teor de Ácidos


Es toca2"em Livres (Ac. OleicoH
1 A O 0,4
2 B 14 1,3
3 B 28 3,4
4 C 02 0,2
5 C 07 4,0
6 C 21 9,0
7 D 07 0,4
8 D 14 1,1
. .9
10
D
D
21
28
1,0
0,8
Fonte: GETEe

Condições: A - Coleta e Aná'lise Imediata


B - Ar ambiente
C - Estufa a 60 9 C
D - Atmosfera de Formal H

Os dados apo~tados na Tabela 13 revelam que a acidez dos .frutos


permanece inalterável durante o perrodo analisado, ou seja até
28 dias após a coleta dos cocos, sempre que forem condicionados
em atmosfera de formal 1~, pOIS ,em taís condições, a polpa nao

54
sofre a açao da microflora. De outro mo-do, ocorrerão variações
na acidez do óleo extrafdo da polpa, principalmente se os fruIDs
forem mantidos em estufa a 60 9 C, enquanto expostos ao ar as alt~
rações são pouco significativas, o que comprova a eficiência da
fumigação prévia dos fruto? na estabilidade do óleo da polpa.

Por outro la0.o, no caso de frutos não esterilizados no campo,as


variações na acidez do óleo de polpa são mais acentuadas, confor
me se pode verificar na Tabela 14, com o teor de ácidos graxos
livres dos frutos, mantidos ao ar ambiente, podendo atingir ín-
dices superiores a 30~ num período de 1 mês.

Tabela 14 - Desenvolvimento da Acidez nos Frutos da Macaúba Sem


Prévia Esterilização

Lote de Cocos Condições de Período (dta) Teor de Ácidos


Estocagem Livres (Ac. üleico) %

11 B 16 13,1
12 B 3Q 30,4
13 B 32 35,9
14 D 14 1,0
15 D 18 1,8
16 D 48 2,2
17 D 55 6,8

Fonte: CEIEC

o efeito do acréscimo maior da acidez, quando os frutos perman~


ceram em estufa a G09C por longos períodos de tempo, explica-se
pela formação de reações de decomposição térmica através da ru~
tura de ligações oxigênio-carbono ( sp 3). segundo o seBuinte me-
canismo que tende a liberar ácidos graxos.

55
o
II'

CH 2 -O-C-R

I ~
rn'"
CH-O-C-R ) CH +

o
II

rL-o-2-R
/
CH-O-C-R
H

.No entanto, a aplicação de calor a S09C aos frutos da macaúba ,


em períodos de tempo inferiores a 30 minutos, mantendo-os em se
guida em ambiente seco, permite preservar a 'baixa acidez do óleo
de polpa.

A Tabela 15 demonstra que a ação térmica sobre o óleo de polpa


é bastante considerável, sobretudo no grupo linoléico do glic~
rfdeo,cuja relação é diminui da de 17,7 para 1,0 no período de
35 dias,

Tabela 15 - Auto-Oxidação do óleo da Polpa de Macaúba por Efe~ .


to da Temperatura

Composição em Ácidos Graxas (~)


Fruto Fresco Em e:;tufa 60 9C Em e:;tufa 60 9C
25 dIas 35 dIas
Ácido Oleico 53,4 33,5 29,5
Ácido Linolêico 17,7 5,4 1,0
Ácidos Insaturada; 77,5. 55,6 50,6
Ácidos Saturados 22,5 44,4 49,4

Fonte: GETEC

56
Como resíduos de ext ração, a torta da amêndoa, de aI to teor pro-
téico, ~onstitui matéria-prima excelente para balanceamento de
rações destinadas ao consumo animal.

A Tabela 16 elaborada com base nas análises químicas realizadas


sobre as diferentes tortas residuais, mostra de forma inequívo-
ca o valor protéico da torta de amêndoa, enquanto as demais,po-
bres de proteína e bastante fibrosas, deverão ser utilizaôas co
mo insumo calorífico para as caldei ras.

Tabela 16 - Análise Química das Tortas Residuais do Coco ~~caúba


Dados em Porcentagem

Contribuintes Casca Polpa Endocarpo Amêndo:l

Cinzas 2,8 6,5 1,1 5,1


ExU'ativos 5,5 3,0 7,3 5,5
Proteína 2,5 8,5 2,0 50,1
Fibra 55,8 37,3 42,S 34,1
Lignina 29,S 7,9 34,0 10,2
Açúcares - J g, 7 - -
-
Fonte: C1J'ITIC

Dcs1;acam-se ainda dos dados da Tabela 16 , os altos teores de


açúcares e lig~ina presentes, .respecti vamente, na polpa e no
endocarpo do coco macaúba.

As tortas da casca e poJpa, além de sua importância como font.e


geradora de energia térmica e eJétrica, poderão contribuir de
modo efeti vo pa ra a fertili zuç ão dos campos cul ti vados de macaQ
ba, seja através das cinzas obtidas da carbonização dos resíduos
nas caldeiras, seja diretamentc pela aplicação da biomassa res!
dual excedente, representada pela torta da polpa e da casca,ter!
do cm vista a presença acentuada de elementos nutrientes esscn-

57
elals ao desenvolvimento vegetativo da palmeira, conforme reve
la a analise inorgànica de suas cinzas, a seguir:

Tabela 17 - Analise de Cinzas


Componentes Inorgânicos Principais
Dados em Porcentagem

Contribuintes Casca Polpa Endocarpo Amêndoa

P205 2,3 3,2 0,9 43,2


Si0 2 8,3 4 ,2 53,4 I ,9
Na 20 0,6 0,5 0,7 0,3
K20 50,6 49,4 25,9 28,9
CaO 5,1 7,1 6,5 9,4
MgO 7,0 11,6 2,7 17,0
Fe 20 3 2,7 - 2,5 -
S 1,5 1,7 1,3 -

Fonte: CETEC

Conforme se observa, as cinzas da torta da amôndoa caracterizam


-se pela ocorrência prcdominante de fósforo na sua composlçao
quImica, representando cerca de 2,20\ do peso do farelo. seco, o
que faz aumentar o valor nutritivo da torta da am-?ndoa.

Com referência aos excedentes de cndocarpo obtidos nas sahoarias


de Santa Luzia e Jaboticatubas, como subprodutos do processame~
to do coco macaúba, destiul.lm-se quasc exclusivamente ii produção
de carvão de alto teor de·carbono fixo. A t6cnica da carboniza-
-
- e, no entanto bastante rudimentar: a carga de cndocarpo e
çao
amontoada piramidalmente sobre o solo, queimada e imediatamente
após coberta com capim e terra. °
produto assim·preparado 6 en-
sacado e comercializado a setores sidcrGrgi~os da regiao de Be-
lo Horizonte.

58
Para avaliar o efeito do teor relativamente elevado de lignina
do endocarpo no rendimento de carvão e alcatrão foram homo gene i
zados lotes diferentes do ~oco inteiro, assim como de endoc~rpo
completamente isento de polpa fibrosa, retirando-se a seguir
9 Kg de cada amostra, através de quarteamentos sucessivos, para
experimentos com retorta ~létrica. Durante o perrodo da pir6li-
se, a taxa de aquecimento da retorta foi controlada por progra-
mador de temperatura acoplado a um termopar.

A Tabela 18 mostra os resultados obtidos em 2 experiências de


carbonizaçio, sob temperatura de 450'C, incluindo os rendimen-
tos em carvio, ácido pirolenhoso, alcatrão e gases nio conden-
sáveis, calculados sob base seca. Para efeito de comparação,são
incluidos os resultados computados para a carbonização do endo-
carpo do babaçu e da madeira, ambos realizados sob as mesmas con
diç5es do coco macafiba.

Tabela 18 - Carbonização de 9Kg de Material a 450 9 C a Taxa de


l'Cjmin

Hendimcnto E-'ll1 Helaçã,o ao Material Enfomado (Base Seca) %


Carvão Alcrltrão Pirolcnhoso Gases
-
Coco Macaúba (l) ';2,2 19,1 38,8 9,9
Endocarpo da (2) 35,7 19,5 35,0 9,8
Macaúba
Endocarpo do (3)
Babuçu 36,1 7,8 38,4 17,8
Madeira (4) 32,9 5,0 3R,7 23,4
Ponte: CETEC (13)
Umidade (1) 9,3%
(2) 9,2%
(3) 11.,5%
(4 ) 15,0%

59
A análise dos dados indica, segundo se poderia esperar, que os
rendimentos de carvão, a partir do endocarpo da macaúba ou do
babaçu, são superiores àqueles que ocorrem na madeira, como con
seqUência do.maior teor de lignina. Ressalte-se ainda que é bas
tante significativa a incidência da parcela devida ao alcatrão
insolúvel, em torno de 19,0~, contra aproximadamente 5~ obtidos
a partir da madeira.

A Tabela 19 revela a composição química dos gases nao condensá-


veis, determinada por cromatografia em fase gasosa, em experime~
tos de carbonização dos endocarpos do babaçu e da macaúba, co~
duzidos em diferentes temperaturas. Pode-se observar para ambos
materiais um aumento dos teores de H e CH 4 quando se eleva a
Z
temperatura de carbonização, verificando-se um comportamento i~
verso no que se refere aos teores de CO e CO 2 . Diferente do que
se observa com o coco babaçu, a carbonização do endocarpo da m~
caúba gera maiores quantidades de gases combustíveis por llnida-
de de peso de material enfornado.

Tabela 19 - Composição Química dos Gases Não CondensáveIs


Dados em Porcentagem

Temperatura de 11
2 Ltl
4 CO CZH6 CO Z
Carbonização (Q C) N B M B M B M TB M E

450 1,6 4,1 6,8 9,2 41,0 2'1,6 2,0 2,8 48,9 59,)
550 2,6 - 8,3 - 38,3 - 2,3 - 48,5 -
700 5,7 11,7 11,0 12,S 36,8 Z4,3 ' 2,2 2,7 44,4 48,8
- .EC (13)
l-onte: CL'[

M- Endocarpo da ~1acaúba
E- Endocarpo do Babaçu
2.6- Aproveitamento Industrial do Coco Mataúba

Em Minas Gerais, a exploração industrial do coco macaúba é limi-


tada aó aproveitamento parcial dos aglomerados nativ6s, próximos
a Belo Horizonte e Abaetê, por algumas saboarias que adquirem o
coco de fornecedores diversos. Tendo em vista a dispersão da ma- .
tér~a-prima, o sistema de coleta do fruto é oneroso e instável o
que restringe o pleno desenvolvimento das usinas que processam o
coco macauba.

Após maturaçao completa, o coco desprende-se do cacho caindo ao


solo, podendo acarretar então a ruptura da casca. Dessa maneira
a polpa do coco, exposta diretamente à atmosfera e umidade é sus
ceptivol ao ataque de fungos e bactérias, sofrendo a ação das en
zimas lipolíticas que hidrolisam os glicerídeos e os transformam
em ácidos graxas.

Tendo em vista a elevada acidez na mistura de glicerídeos, cons!


qUencia da deterioração do coco, o óleo de macauba tem destina -
ção exclusiva
.
para
.
a industria de sabões. No entanto, a implanta-
çao de Um sistema de coleta, eficiente e rápido, poderá expandir
o emprego do coco macaúba para outras finalidades mais nobres
tais como a produção de óleos comestíveis ou de combustíveis ti-
po diesel por transesterificação.

Ainda hoje, no entanto, por razões econêmicas, desconhecimellto


. tecnologico ou comodismo, as usinas de Minas Gerais têm processa
do o coco macaúba em estado deteriorado, após a sua fermentação
ao ar, Essa prática certamente,· facilita a extrusão da polpa do
caroço nas tradicionais despolpadeiras, o que não acontece com o
fruto fresco, cujas fibras na polpa são mais intensamente aderi-
da.s ao caroço.

Dessa forma, o óleo extl'atdo de frutos pubados ou fennentados


de forte cheiro rançoso, cont6m de 40 a 60' de icidos grUXOS li-
vres, que, embora niio se preste ao consumo humano, tem grande

61
aplicação na fabricação de sabões. De modo geral, os frutos da
macaúba são deixados amontoados ao ar, durante vários meses, an
tes de serem submetidos à extração nas prensas hidráulicas.

De modo a.obter-se um óleo cujas qualidades o tornem adequado


ao uso comestível ou para emprego em motores de combustão inte~.
na, os frutos da macaúba ~evem ser processados imediatamente
A

apos a coleta, assim como ocorre com os frutos do dendê.

Além da inexistência de um processo racional e rápido de cole ta


de frutos, a pouca familiaridade com o seu cultivo ou mesmo a
falta de interesse dos órgãos de pesquisa agrícola, ainda hoje
imperTam qualquer tentativa de racionalização de plantio da ma-
caúba ou de industrialização do óleo de polpa de baixa acidez.

Outro fatal' que desestimula o crescimento da indústria de óleo de


macaúba é a sazonalidade dos cocais nativos. cuja colheita de
frutos só acontece 5 meses ao ano, de dezembro a abril.

Em Minas Gerais, notaclamante nos municípios limítrofes a Belo


Horizonte, a colheita dos frutos é realizada por mulheTes e cri
anças, que se distribuem pelos campos: inicialmente, elas amon-
toam os cocos espalhados; depois, transporta-os em balaios aos
cargueiros ou carroças que, afinal os conduzem até as saboaria~
onde os vendem a pTCÇOS irrisórios.

O sistema de coleta terá de ser otimizado·para permitir o rápi-


do beneficiamento do cC'co e não da forma rudimentar atual, emi-
nentemente extrativista. Na produção artesanal de sabão de ma-
caúba, tão difundida Ilas áreas rurais de Santa Luzia e Jabotica
tubas, após a coleta dos frutos, estes são amontoados e cobertos
com capim ou palha, e .assim permanecem por perrodos de 10 a 20
dias, tempo mais que necess,ário para fermentar a polpa.

Em seguida, os cocos são quebradof< cm pilões ou monjolos e 1inal


mente submetidos ii cxtraçiio em prensas de madeira (Foto 07 )

62
Foto 7 Prensa Doméstica de Extração de 61eos
Santa Luzia, M.G.

63
mediante tração animal. Costuma-se, nessa operaçao, adicionar à
massa assim elaborada uma quantidade de água quente para facili
tar a extrusão do óleo.

Apôs sua decantação, o ôle~'ass~m obtido, em rendimentos nunca


acima de 10% do peso do f~uto fresco, apresenta acidez quase
sempre superi0r a 40%,

o processamento do coco macaúba apresenta algumas diflculdades,


comumente não encontradas em outra; espécies oleaginosas; devi~'
das à estrutura e composição do fruto. O transporte dos cocos
atê à usina deve ser feito o mais rapidamente possfvel e com
bastante cuidado para evitar a ruptura da casca, com que se ace
lera a fermentação e a liberaçao de ácidos graxas livres.

A tecnologia de beneficiamento deveri iniciar-se apôs o recebi-


mento da matéria-prima oleaginosa, quando esta é pesada na en-
trada da instalação industrial e remetida ao depósito que contrQ
la o fluxo de carga destinada ao processamento. A seguir os co-
cos são todos limpos para retirar impurezas como terra e outros
elementos nocivos por meio de peneiras vibratórias ou ar·compr:i
mido.

o tratamento dos fJ:utos por vapol: vivo a 100-120 9 é eLicaz para


esterllizi-los, com o que se impede sua furmentaçio e conseqUe~
te au~ento da acidez do 51eo. NeSSas condiçôes, a umidade do cQ
co é sensivelmente reduzida, podendo ocorrer, também, a coagu1il.
çio das albuminas e mucilagens, eventualmente presentes na pol-
pa do fruto, ~ que deve í~cilitar a extraçio posterior do óleo.

Após a esterilizaçao, os frutos são introduzldos no descascador


-despolpador,
.
onde u casca e R polpa se separam do. endocarpo
sendo ambos moídos ·no mC'smo equipamento. Expcl'imentos com um JH"Q
tõtipo idealizado pela Metalúrgica Benntti. localizada ell1' Rio
Branco-NG, demonstraram a efici6ncla do dospolpndor, que 6 aeio
nado por motor de 5 111', tehdo sido processado até 2 t de ("ocos
frescos por hora. A despolpadeira Benatti. conforme revelaram os
testes preliminares, desponta como solução para o aproveitamento
dos grandes
. macíços de macaúba em Minas Gerais
. com vistas
- ã pro
dução do óleo de polpa de baixa acidez.

Por sua vez, os caroços quê contêm a amêndoa, secos ao ar e in-


troduzidos em cilindros verticais, cm cuja superffcie inferior,
movida por ação de força centrífuga são projetados contra as p~
redes destes, afinal se quebram. A separação endocarpo-am~ndoa
ê realizada mediante o emprego de misturas de densidade interme
diária que faz flutuar a amêndoa.

A seguir, a massa, casca-polpa, ou a amêndoa, agora reduzida a


farelo por meio de moinhos, é submetida ã extrução em prensas hi
dráulicas, ou do tipo parafuso. Contudo, há necessidade de cen-
tri'fugar o óleo. obtido para eliminar as impurezas ou mucilagens,
eventualmente presentes. Dependendo da capacidade instalada da
usina, a torta residual, que contém cerca de lO~ de óleo, pode-
rá ser reextraÍda com solventes orgân~cos,

Entre
. os inconvenientes da extração
.
do coco macaúba em prensas
contínuas, admitindo-se o emprego em grande escala do óleo para
fins carburantes ou comesti:vei.s, inclueJ!1-seas perdas do óleo l'e
tido na torta residual, em torno de 8 a lO~ de seu peso, e apre
sença de mucilagcns, aI huminas, subs tâncias ami lâceus ou açúcares
na polpa do frutu, que dificultam os processos de lJUrificação do
produto final. Por isso, a tendência natural, mormente nas usi-
nas de maior capacidade instalada, será o emprego de unidades de
'extraçio por solventes orginlcos.

A caracterização de problemas e dlficuldades cOllcernentes ao aplu


veitamento industrial do coco macaúbn, calcados cm observações
feitas nas saboarias de Santa Luzia e Jaboticatu6as, sio descri-
tas a segu:l.r onde se inclui o elenco de sllgestõos visando no fo-
mento do extrativismo nutural de) coco macaúba cm moldes mais ra-

65
cionais, proporcionando um produto de maior qualidade, que pos-
sa, inclusive, ter destinaçao como insumo energético ou alimen-
tíd,o.

Problemas Sugestões
1. Oferta irregular dos eLevantamento do potencial e disponibilida
frutos à Usinas de de frutos nas áreas de amior incidêncIa
da palmeira.
• Elaboração de contratos de compra da mat~
ria-prilJk'"l junto a cooperativas ou particE.
lares a preços compensadores.
• Distribuição de centros coletores ao lon-
go dos adensamentos da palmeira.
"Padron:l:zação das técnicas de colheita do
coco.
2. Excessivo grau de dete- • Desenvolvimento de sistemas colotores do
rioração dos frutos co- fruto Crodes ou cestos) dispostos em cír-
mercializados e que re- culo no tronco da palmeira.
sultam na acidez eleva-
da do óleo de polpa • Fumi gação com produtos quími cos .
"Padronização das técnic.as de esteriliza-
ção e arnlazenagem da matéria-pTima.
----
3. Colheita de cachos com li Experimentos visando ao amadurecimento ar
frutos de maturidade nao t.:l.ficial do fruto at.ravés de tTatamento -
uniforme téJ1l\:l.co e por reagentes químicos.
4. Separação polpa-caroço \) Ut:l.li.zação da despolpadoi ra Benatti.
no fruto fresco recém co
lhido -

5. Quebra do endosperma sem o Aperfeiçoamento tecnológico dos atuais q~


danificar a am6ndoa bradares mecânicos.
• Desenvolvirent.o do 'novos protótipos.
--------~-----.......j---
6. Separação endocarpo-amê~ o Introdução ue tmidades separadoras por
do a gravi.dade. através de j atas de ar ou água.
7. Baixos rendimentos da ex C10timização. dos proC',c1jSOS extrativos por
t~ação - presagemou sohicirté~ orgíullcos.
• Desenvolvimento de unitlades menores tle ex
tração, desti.nadas às i.nstalações intlus--
triais de médio e pequeno porte.

66
Figura 04 - Fluxograma da Extração Industrial de 01co da Macaúba de A1 ta
Acidez para Produção de Sabão
Processamento Usual nas Saboarias de Santa Luzia e·Jaboticatubas

Coco Macaúba 1000 Kg/h

Polpa
~
Despolpador Caroço
520 Kg/h 480 Kg/h

Silo Silo

Quebrador
de .
Caroço

Amêndoa 80 Ka/h
Flotação Emlocarpo
400 l\g/h
Pb lpa 6lco
61 co 32% 50%
Cozinhador Cozinhador Torta Torta
Torta Óleo
01eo J.2% Olco
Prensa Prensa 12% Prensa <'"5% Carbonizaçõ(

. Óleo de amêndoa
'--
130 Kg/h

Decantação Decantaçõo

Filtração Filtração

Oleo de
Polpa Torta
Polpa 'J O1eo de
IImêndoa
Torta de
IIm3ndoa Carvuo
104 Kg/h 416 Kg7h 3fJ K"/h 4 KgJI~ 130 K~/h
Fonte: CETEC
67
Figura 05 - Processamento Industrial do Coco ~~caúba
Fluxograma e Balanço 'de Massa

Frutos Frescos
~ 10000 Kg

Vapor _____~Esterilização
t 8200 Kg

jDeSPOlPadeira I
l
I
ICasca da pOIP1
t sí9s Kg Caroço
Vapor
I
• CC'zinhador 2405 Kg
Que bradar
+ t
~rensagem Amêndoa

~ Secagem
1t
Pren sagem
4;11,8 Kg

+ t t
Oleo Brute Fibra Endocarpo Oleo Torta
1873 ,-i\g .
2367 Kg 1907 Kg 268 9 Ko LLO," Kg

Fonte: CETEC
3..
Pinhao·manso
o pinhão-manso, planta da família das Euforbiâceas, procede da
América do Sul, possivelmente originária do Brasíl, tendo sido
introduzida por navegadores portugueses, em fíns do séculO XVI II ,
nas I lhas de Cabo VerJe e em Guiné, de onde mais tarde foi disse~
minada pelo continente africano.

Atualmente, ê encontrada em quase todas as regloes intertropi-


cais, estendendo-se sua ocorr6ncia i Amêrica Central, India,Fi-
lipinas e Timor. até mesmo is zonas temperadas, em menor propo!
çao.

Em aI guns p"ises como Guiné, ~loçambique. Fil ipinas e I lhas do


Cabo Verde. o pinhão-manso é plantado freqUentemente associado
às culturas de subsistência, não obstante sua participação eco-
nêmica ser considerada modesta, senão desprezível. exceto em Ca
bo Verde, que em 1961 chegou a exportar cerca de 1000 toneladas
de sementes para Portugal.

A su" introdução nas·Ilhas atribui-se ao interesse dos portugue


ses em dar aproveitamento às terras inóspitas do Arquipêlago,c~
jos ,solos, de pouca fertilidade. dificilmente poderiam ser uti-
lizados para outras cultvras menos rústicas. Atê 1960, a purgte!:.
ra, como li ii denominada, ocupava uma área de 8000 ha. cerca ~
12~ da superfície total do Arquipélago. resultado do apoio da
administração local que sempre tncentivou a prática agrícola do
pinhD:o-manso .

Conheci,do no BrGlsil, desde épocas pré-colombianas, em vista de


suas virtudes tera,pêut:lcas, o pinhão-manso foi. assinalodo por
Francisco Antonio de Sampaio em sua obra intitulada "História
dos Reinos Vegetal, Animal e Hineral do Brasil. Pertencente ii Me
dicina", editada a primeira vez em ] 782. Tal. sua .rmportiincio
que o autor ilustrou a planta com desenho a bico de pena.

70
Por razões õbvias, o principal centro consumidor dos grãos de
pinhão-manso continua a ser Portugal, onde o óleo extraído das
sementes ê empregado na fabricação de sabão, aproveitando-se ai~
da a torta ou farelo como adubo orgânico de excelente qualidade.

Em outros
,
países da África,
,
mormente os de língua portuguesa,os
plantios de pinhão-manso desonvolvorron-se juntos ou próximos as
aldeias para serem utilizados como cerca viva. Os indigenas ti-
ram proveito das sementes para feitio de sabão artesanal ou pa-
ra extração de óleo, que se emprega na iluminação.

No Brasil, o pinhão-manso ocorre


, .
praticamente
. em todas as re-
giões, sempre de forma dispersa. adaptando-se em condições eda-
foclimáticas as mais variáveis, propagando-se sobretudo nos es-
tados do Nordeste, em Goiás e em Minas Gerais. De modo geral
cresce nos terrenos abandonados e não cultivados. não subsisti~
do porém nos locais de densa vegetação, com a qual dificilmente
consegue competir.

Em Minas Gerais é encontrado


. com mais freqUincia
..
no norte do Es-
tado e no Vale do Rio Jequitinhonha, geralmente em áreas isola-
das e mais afastadas de centros urbanos. Embora seja comprovada
a presença de pinhão-manso no estado nativo, a incidência maior
da planta ocorre nos plantios isolados, para uso como cerca vi-
va, ou cultivados, cm menor nGmero. como fonte de óleo para ob-
tenção de sabia ou para alimentar as candeias usadas na ilumina
ção. Enquanto alguns plantam o pinhão-manso para se servirem das
folhas e sementes como matôrla-prima medicin~l. os mais supert!
ciosos cultivam nos terreiros das casas um ou dois pês para afas
tal' o "mau olha,do",

Alem do Jat1'opha curcas, duas outras espécies do,gênero. a J.


pohliana (Pinhão-Bravo) e a'~ Jl?ss~pifolia O'inhao-roxo), cnco~
tram-se bastante disseminadas no País, ambas podendo represenwr
opções in te ressan tes coma fo rneccdores de grãos ole aginosos p;l1'a

71
fins carburantes. As duas espécies. assim como o pinhão-manso, 5 ao pouco
exigentes do tipo de solo, desenvolvendo-se cm condições climá
ticas diversas, crescendo espontaneamente nos terrenos âridos e
pedregosos e suportando longos períodos de estiagem.

o pinhão-roxo, cujas sementes sao de dimensões inferiores as do


pinhão-manso, ê uma variedade mais rústica e de maior distribui
ção no País. Sua ocorrência em Minas Gerais está associada tan-
to no estado nativo, junto à vegetação natural, com n qual con.,.
segue sobreviver, ou em plantios reduzidos, para uso como cerca
viva, ou mesmo como plantas ornamentais. cujas ramas são mescla
das de folhas verdes e avermelhadas.

o Quadro 02 a,~ro1a aS dive~sas espéc:i:es do gênero Jatropha encon


tradas no Brasil, iegundo levantamento procedido por Martius,di!
criminando-se as ireas de ocorrência.

No Brasil, o gênero é caracterizado por diversificada sinonímia


popular, às vezes trazendo certa confusio, abrangendo nomes tais
como pinhão, purguei~a. p:tnhâo. de purga, p:l:nhao do Paraguai, p~.
nhão de cerca, pinhão-bJ'avo. figo do inferno e outros menos CC'-
muns citados por Bondar.

Também ê vasta as denominações vulgares da planta nos países, co


mo "Plysic nut" (Inglaterra), Pourghere, Pignon de lnde. Pignon
de Barbarie, Noix Americaine (França) ou Zicilite (~éxico) entre
outras.

72
Quadro 02 - Distribuição do Gênero Jatropha no Brasil

Classificação Botânica NOIIle Vulgar Ocorrência

01. J. curcas Linn. Pínhão-manso,Pinhão-do- Estados do Nordeste .l,finas


Paraguaí,Pinhâo-de-Pur- Gerais,São Paulo, Goiás.
ga, etc.
02. J. isabelli Muell Rio Grande deo Sul
03. J. elliptica Mueel ~ünas Gerais (Paracatú),
Goiás .

04. J. mutabilis Baill Bahia (Cai ti tê) .


OS. J. peltata KunBl -MIa zonas

06. J. gossipifolia Pil1hão-roxo,mamonllUlu Bahia,Ninas Gorais,São Paulo,


Linn
Paraná
07. J. pohliana Nuell Pinhão-bravo Pelnambuco,Minas lerais,São
Paulo, Bahia
08. J. martius Tr Baill BWlia (Malllada)
09. J. muI tifida Linn Árvore-de-Bálsamo, Flor - Bwüa ,Rio de Janeiro ,Mato
-de-Coral Grosso

10. J. horrida ~juell

11. J. ferox ~fuell

12. J. vitiraI ia Jvluell Cans:mção Goiás ,BalJia ,Minas C""ruis


13. J. obtusifolia
Muell Bahia

14. J. hamosa Mucll Jvunas Cerais (J<'qui tinhonha)


15. :L.
phillacanBla B:Jhia.
MueIT
16. J. urcns ~lu.cll Cansançiío Minas l>orais, Rio de J anei TO,
l,o i iís

17. J. o11gan<11'a Muell Rio de J:mciro

73
3.1- Descrição Botânica

o pinhão-manso(Ja tropha curcas Linn.) é um arbusto pertencente ii


famílh das Euforbiáceas, sub-famf1ia PlatHobeae, cuja altura
média atinge 3,0 m, mas podendo alcançar até 5. m, ou mesmo mais,
em condições excepcionais. A medula, desenvolvida mas pouco re-
sistente, e também a ramificação lateral, de lenho liso e tenr~
é dotada de vasos lactÍferos, que se pxolongam até as raizes
nos quais circula uma seiva cáustica, de aspecto leitoso, que
emerge por simples arranhão na casca.

A planta possui raizes curtas e se despoja quase completamente


das folhas nos períodos de seca,' de modo geral entre junho e o~
tubro em o norte de Minas Gerais. Após as primeiras chuvas, fi~
da-se o repouso vegetativo com o rápido surgimento da brotação,

As folhas Suo verdes e brilhantes. largas, com 3 a 5 lóbulos mu


cronados, alternas, peciolad~s, cordiformes na base, glabras e
palminerviais. As nervuras são esbranquiçadas e salientes na
face inferior da limina folhear.

As flores monóicas são pequenas e amarelo-esverdeadas, dispostas


em cimeiras floridas e corimbiformes; as flores masculinas si-
tuam-se na extremidade da infloresc~ncia; seu cálice tem 5 p6t~
las oblongo-ovaladas, campanuladas e 8 a 10 estames, em 2 verti
cilos, monadelfos na base; filamentos exteriores quase lívres ,
.os interiores unidos; as flores femininas apresentam-se com pe-
dGnculo longo, não articulado, ao contrário das flores masculi-
nas, localizando-se nas ramificações, de patalas livres, oblongo
-obtusas, de 6mm x 2mm, inteiras, pilosas no interior; disco 5-
lobado, ovário glabro constituído de 3 carpelos, estilete curto,
unido na base, de três ramificações bígldas, três lóculos ou sa
cos polfnicos. Cada infloresc&nci~ em saco possuí lQ ou mais
frutos.

o fruto ô uma cápsula ovóide, achatada nas extrem.i:dades. do 1,8


-2,2 cm de iargura e 2,6-~,O cm do comprimento, base fruto S0C~

74
Foto 8 Pinhão-Manso
Ocorrência em Januâria, M.G.

Foto 9 Pinhão-Roxo
Ocorrência em Januâria, M.G.
7S
Foto la Pinhão-Manso
Frutos em Estágio de -Maturação

Foto 11 Pinhão-Manso
Frutos em Estado de Maturação

76
ou 2,O-d,0 cm de largura e 3,0-4,0 cm de comprimento. base fruto
fresco, carúncula pequena, tr~coca, cortâcea com 3 valvas locu-
licidas. O fruto, indeiscente, verde inicialmente, passa a ama-
relo, castanho e por fim preto, quando atinge o estado de matu-
raçao.

As sementes são oblonga,s e el~psôides, corte transversal subtri


angular, finamente rugosa; as sementes secas medem, conforme a-
nálises procedidas no CETEC em diversos lotes, ao redor de 1,5-
2,0 cm de comprimento e 1,0-1,3 cm de largura; tegumento rlJo ,
quebradiço, geralmente mais grosso na face central e nas extre-
midades; no lado interno do inv8lucro da semente existe uma pe-
lícula branca que cobre a amêndoa; albumen abundante, branco
oleaginoso, di vid:i:do em duas metades 11elo embrião, munido de
dois apêndices achatados, que constituem"as duas folhas germina
tivas iniciais; radícula curva, vigorosa, oblonga, quase sempre
rodeada pelas aurrculas dos cotilédones.

Jatropha pohliana (Pinhio-bravo)

Variedades: o molfssimo Muell. Arg.


~ subgrabla Muell. Arg .
• vel utina Fax e Iloffm

Encon trado em todo ,: nordes te brasileiro; arbus to lenhoso I folhas


longo-"]Jecioladas, orbiculares, p,llmatilobadas, pubescentes, de
bordas espinhosas; inflorescência em cimos; flores amarelo-esveE.
deadas com raias vermelhas; fruto deiscente em cápsula com 3 ló
culos, com 3 sementes elípticas, oleaginosas, de dimens5es iufe
riores is do pinhão-manso, "pesando cada semente cerca de 0.38g.

Jatropha gossypifolia Linn. (Picllio-~oxo)

Habita o nordeste e sudoeste do Brasil. Em Hinas GeraIs, Slla ocor


rência é na trva, sob revi. vellJo e pJ'opagando-se espon tlllle,lnlCnte jU!J.
to ii. vegetaçio natural, 5e11<10 encontrado em locais onde o pi.nhão

77
-manso nao prospera; arbusto mais frágil, de folhas glabras e
pecioladas, palm'ldas, lobadas, margens, cUiadas ou glandubí feras,
3-5 part'idas ou 3-5 lobadas, com segmentos ovadas, pontiagudos,
denticulados ou inteiros; as folhas recentes sio avermelhadas
flores violáceas, inflorescência em cimeiras, câpsula ovóide e
sub-globosa, Com 3 lóculos contendo 3 sementes oleaginosas, ta!!:
bêm de dimensões inferiores as do pinhio-manso; propriedades pt~
gativas mais intensas que o pinhao-manso.

3.2- Distribuiçio do Pinhio-Manso em Minas Gerais

o levantamento preliminar das zonas de incidência do pinhio-ma~


,so no Estado, realizado inicialmente por coleta de informações
junto aos órgãos de extensão e pesquisa agro-pecuária. e depois
mediante pesquisa de campo, ;l,nc1.usive contando com a partfcipa-
ção da EPAMIG, mostrou que as áreas potenciais de distribuição
da euforbiâcea abrangem as regiões entre os limites de latitude
14,5 - 20,0 9 e de longitude 40,2 - 45,0 9 , localizad~s, conforme
se vê no Mapa 02, no norte e nordeste de Ninas Gerais.

No entanto, a ocorrência do pinhão nessas regiões aparece apen~


de forma esporádica e dispers'a. não se verificando a presença de
adensamentos da euforbiácea em nenhuma das áreas pesquisadas.Em
algumas localidades pôde-se constatar a incidência maior do pi~
nhão-manso, sobretudo 'nas fazen'clns mais dist<"ntes. onde comume!!..
te seu plantio ê pra,ticado apenas para uso como cerca, em espaç.<:.
ment?s tão próximos que tornan\ bastante reduzidos os índices de
produtiv:i.dade.

Em alguns municíp:i:os mineiros, como Januâria, Brasflta de ~IiJlas,


Rio Pordo de Ninas, Santa Maria do Suaçui, V:i:Tgolândia. Rio "cE
melllo. Sabin6polis e Beril0, a ocorrincia da eutorbiâcea 8 mais
abundante. seja na forma nativa, seja cult.ivado como cercu viva
especialm,ente nas zonas de atividade pecuál':l::a. Em Riacho dil Cruz,
próximo a Januiria, onde o pi~lio-manso cresce com muito vigor

78
no seu estado espont~neo, sem quaisquer tratos agrfcolas, os pés
isolados. são bastante produtivos, conforme demonstraram as amos
tragens feitas ln locum, em fevereiro, em que se obtiveram ren-
dimentos médios de 6 Kg de sementes maduras por arbusto. perma-
necendo retidos na planta cerca de 30\ de frutos não maduros, o
que representa uma produção anual efctiva em torno de 8,6 Kg de
sementes.

No plantio da euforbiácea
. em espaçamento de 3x3"m, o que ~quiva-
le a uma população de cerca de 1180 pés por hectare, o rendimen
to anual de 81eo pode alcançar Indices entre 3,00 -4,00 t por hec
tare, ou até mais, dependendo d~ trato que se dá ao cultivo da
planta. "

Dada a enorme dispersRo do pinhão-manso nas áreas levantadas,s~


bre tudo nos municípios des tacadas no Mapa 02 , onde sua inci dência
é maior, torna-se praticamente inviável qualquer tentativa de
quantificar o potencial produtivo da euforbiácea no Estado.

Mas ressalte-se a cororelação existente entre o grau de incid&n-


cia do pinhão e o estágio de desenvolvimento da área de oco!rê~
cia, observando-se maior distribuição da euforbiácea nas local!
dades mais longínquas e menos habitadas em que a população, ca-
rente de toda a sorte de recurs9s, utiliza as fontes naturais
disponfveis, no caso especifico p~eservando, 0U mesmo disseminon
do, os plantios de pinhão para a produção de óleo destinado ã
iluminação ou ao fabrico de sabão para uso caseiro.

3.3- Aspectos Gerais da Cultura

o ciclo produtivo do Jatro])ha curcas é variável, conforme se


faça o plantio pOl' estacas ou por sementes. Segundo informações
obtidas nas ireas de incidência em Minas Gerais, a produção por
via vegetativa tem iniCIO após 10 meses, mas só atinge ~ pleni-
tude após 2 anos. /I. propagação P01' via seminal, por outro la<10,

79
Mapa 02 Distribuição da Ocorrência do Pi nhão-r-.1anso no Estado de Minas r.,cr~lis
r- ~6~ 4.!I~O-

- - -__1_:5°

.Ouritis ~ o Ri~O de Minas


e JonoLibo

+-1-'
Sõo R()mõo~ +'~++'
eo +,-t'+,-!-'
Bonfínopolis
de Minas -I~*+'+
. ~+.p+,

Minas NDVUS
o

Jooo F'i~hciro

"

Sf;o Goncufo

..
do r,boe16
e Corini0

.. Curvclo

Tiros
..
Ma1111i:;Q
o>
Soo Goiardo
t-
..
Poroopeba
..Baldim

.. Jabolicoluucs
Bom

'''j'''~ '.m~"'"
~ t.!Zjj> BELO HOHIZONTE
IJ~;rnp~ •

_ Ãreas de maior incidência -f-! Ãreos de ocorrénciu disperso

80
é mais demorada, mas esse processo tem a vantagem de gerar esp~
cies mais robustas. normalmente de cIclo vegetativo mais longo,
podendo atingir 100 anos de vida,

As sementes utilizadas na disseminaçao devem prOVIr de plantas


robustas e saud~veis, dotadas de boa produtividade. O sistema de
propagação em viveiros ê mais racional e deve ser o recomendad~
pois estando sujeita a melhores cuidados nos primeiros 2 anos
certamente irá a planta adquirir maior resistência e possuir me
lhor conformaçio.

As estacas utilizadas para a propagaçao por via vegetativa devem


ser extraídas de matrizes de boa origem, de até 2 anos de idade,-
de galhos lenhosos. sendo que os ramos mais próximos da base sio
os melhores para o fornecimento de estacas, selecionadas aquelas
de casca lisa c brilhante. de 40 a 50 cm de comprimento. O iní-
cio do ciclo produtivo, segundo informações levantadas nas áreas
de ocorrência, depende das dimensões da estaca plantada e das con
dições do trato, variando de 10 meses a 2 anos.

Conforme se observa nas Ilha,s de Cabo Verde, onde o pinhão-man-


so representa um "fatal' econômico, a planta vegeta desde o nível
do mar atê em altitudes superiores a 1000 m, adaptando-se tanto
nos terrenos de encosta, áridos, como em solos úmidos, embora as
melhores condições 00 crescimento da euforbiâcea ocorram nas aI
titud~s entre 600 e 800 m.

Não obstante SUa tolerância com respeito aos rigores da seca, o


nível de produtividade do pinhão-manso é bust<lnte afet<ldo pela
distribuição irregular de chuvas ou mesmo pela açio prolongada
de ventos na época da floraçao.

Diferen temen te das zonas cqua ton':a:i:s, onde o p:i:nlião-manso fI ore~


ce duas vezes por ano, em Hinas Ger<lis a colheita das sementes
ocorre apenas uma vez, pelo menos nas condições de desenvolvill1e!l:
to espontâneo da planta, embora a produção se Jistribua entre

81
. e julho, quando então o pinhão-manso entra em repouso v~
janeiro
.
get~tiyo, com perd~ das tolhas, até o início das chuvas em outu-
. # .

b~o, perlodo que começa nova brotaçao.

A maturação
. dos frutos é completa com
. o escurecimento das câpsu-
las; a colheita, segue-se L secagem ao ir. onde sio amontoados
p~~tica que provoca a deiscência espontânea dos frutos; depois
separam-se as sementes por mero de trilhadoras e peneiras.

o método mais prático e râpido de colheita dos frutos, ao contrE


rio do processo tradicional de catação manual, 8 fazendo vibrar
o pê do pinhão, a meia altura, o que provoca a queda apenas dos
frutos maduros. Neste caso. pode-se adaptar uma lona sobre o so-
lo para tornar a colheita mais simples, e leva-se, então, a car-
ga de frutos ao sol para a secagem.

Os rendimentos de sementes por }18 são variáveis conforme as con-


dições edafoclimâticas. regularidade pluviométrica e trato dUra~
te o cultivo. De acordo com os dados obtidos de plantios organí-
zados de pinhão-manso, desenvolvidos no Centro Experimental de
Ségou, na antiga África Ocidental Francesa, a produtividade da
cultura alcançava índices em torno de 8.000 Kg de sementes por
hectare (14).,

O aproveitamento dos resíduos da extração como adubo natural nos


própri()s planti,os da euforbiâcea, além de enTiquecer o terreno
de mat2r~a orgânica, irá incorporar ao solo quantidades pcentua-
das de nitrogênio, fósforo e potássio. presentes em indices ele-
vados na torta residual, contrihuindo para manter um nível de
produtividade mais regular da cultura e diminuindo o consumo dos
fertilizantes químicos.

A. adubação verde éom leguminosas ê outro procedim'cnto recomenda-


do para a fertili zação dos campos cul. ti vados 'com o pinhão-manso,

82
Foto 12 Pinhão-Manso: Repouso Vegetativo no
Período Junho-Outubro·

Foto 13 Pinhão-Manso: Após as chuvas de


Outubro/Novembro

83
pois, de modo geral, fornecem altos rendimentos por unidade de
área plantada, fixando o nitrogên:l:o atmosférico e transferindo
aos solos, por decomposição org~nica, os elementos nutrientes e~
senciais como fósforo. câlcí:o ou enxofre além do n·itrogênio. E~
tre as principais leguminosas, destaca-se a Crotolaria ~aulina
Sch.ranck,
. .
ou mucuna preta como vulgarmente ê conhecida, cuj à pro-
dução de massa seca por hectare atinge Índice ao redor de 7 tOI~
ladas anuais, as quais podem transferir ao solo cerca de 195 Kg
de nitrogên±o, 23 Kg de Pl 05 e 144 Kg de KlO por hectare.

A consorciação do plnhão-manso com culturas de ciclo anual é Otl


tra prática agrícola de grande alcance no êxito econômico da ~~l
!ura, proporcionando maior rentabilidade pelo uso intensivo do
solo. Tendo em vista as condições edafo climáticas das áreas de
maior aptidão ao cultivo do pinhão-manso, sugere-se a utiIizaç~
de plantios intercalares com o amendoim, que além de aumentar a
oferta de óleos vegetais por unidade de área, apresenta como ati
tras leguminosas, a vantagem de promover a fertilização dos so-
los.

Entre as pragas nocivas ao desenvolvimelÜo do pinhão-manso, que


não são multas, conseqUência da presença do látex cáustico nas
diversas partes da planta, incluem a Corynorhynchus radula, Stiphra
robusta Leitão, Retithrips syriacus Mayet, Pachycoris torridus
Scopoli e Sternocolaspis quatuordeci~ Costata.

As técnicas agronômicas empregadas na cultura da mamona podem


tambêm ser adaptadas aos pl~ntlos de pinhão-manso. ressalvando-
-se, no entanto·, que sendo este último bem mais .rústico e tole-
rante, certamente dispensará de maiores cuidados cuiturais. A
planta se adapta melhor. entretanto, e~ solos de boa consist811-
cia, pouco compactos para nã.o prejudicar o seu sistema radicular.

As perspecti VBS favoráveis da impla.ntação racional da cuI tUJa do


pinhüo-manso decol'rem nüo somente -dos baixos custos de sna pT(xl~
çao agr!cola, conforme se deve espel'ar diante das vantagens anua

84
ciadas, mas sobretudo porque ele poderá ocupar os solos pouco
fé~teis e arenosos, de modo geral inaptos à agricultura de sub-
sistência, proporcionando, dessa maneira, uma nova opção econô-
mica às regiões carentes do Pa~s.

Não há dúvida de que a cultura racional do pinhão-manso, desen-


vol vida com o emprego de melhores. técnicas, deverá cons titui r-se
entre as mais promissoras fontes de grãos oleaginosos para fins
carburantes. Além do alto fndice de produtividade, as maiores ia
cilidades de seu manejo agrÍcola e de colheita das sementes, com
'relação a outras espécies como palmáceas, tornam a cultura do
pinhão-manso bastante ~trativa e especialmente recomendada para
um programa de produção de óleos vegetais. Outros aspectos posi
tivos referem-se à possibilidade de armazenagem das sementes por
longos períodos de tempo, sem os inconvenientes da deterioração
do óleo por aumento da acidez livre, conforme acontece com os
frutos de dende ou de macaúba, ambos os quais devem ser proces-
sados o mais depressa possível.

As exper:iencias recentes com o pinhão-manso, a cargo de algumas


instituições agrIcolas
.
do Pafs, . cujos resultados ainda demandam
algum tempo, comprovam o ;interesse crescente no conhecimento a-
gronômico da cultura (151 Atualmente, em Minas Gerais, através
da EPAMIG, realiza~-se pesquisas da cultura em 4 estações expe-
rimentais, localizadas em regiões diferentes do Estado mediante
proJeto financiado pela FINEP, devendo constituir-se na base de
estudos vi.sando à scleção e ao aprtmoTamento ele vartedades mo.i s
produtivas.

3.4- Utilização e Aproveitamento Industrial do Pinhão-Manso

Nos países importadores, bas.i:camente Portugal e :França, a.s se-


mentes de pinhão-manso sofrem o mesmo tratamento industriul a
que sio submetidas as bagas de mamo na , Isto 6, cozimento prévio
e esmagamento subseqUente cm pTenSaS tipo "expeller". para extra

85
ção do óleo, que em seguida, é filtrado, centrifugado e clarif!
cada, resultando, afinal, um produto livre de impurezas.

A torta, que contém a:l:nda aproximadamente 8~ de óleo, é re~extrar


,

da, desta vez com solventes orgânicos, de modo geral hexano,sen-


-
do o farelo residual ensacádo para aproveitamento como fertilizan
te natural, tendo-se em vista os teores elevados de nitroginio ,
fósforo e potâssio.

o óleo de pinhão-manso, assim produzido, destina-se quase que


li fabricação de sabão, não obstante tenha sido empregado. duran
te a 2~ guerra mundial, nos países colonizados da África, cm Ha
dagascar e na então África Ocidental Francesa, como sucedâneo do
óleo 1ubri fican te ou como carburante, di retamen te nos motores de
ciclo diesel. Neste último emprego, os resultados foram conside
rados satisfatórios, comparáveis aos apresentados com óleo die-
sel derivado do petróleoCJ6).

Além de sua utilização na indústria textil, o óleo de pinhão-ma~


50, adicionado ao óleo de tungue em pl'oporções até 5%, constitui

matéria-prima para à fabricação de tintas de impressão ou de ve~


nizes, que são usados em revestimentos de lonas c de caixas con
dicion,a,doras.

No Brasil, não hi rrgistro


,
de nenhuma experiincia
,
de benefitia-
menta 'industrial das sementes de pinhão-manso, sendo que o ;int~
resse ma,ior da planta reside na formação de cerca viva divisória
ou de proteção contra ventos e an:l:mais, pritica bastante difun-
dida nas fazendas e localidades distantes do Norte e Nordeste ~
Ninas Gerais.

Eventualmente, os moradores dessas irens colhem as sementes ma-


duras e delas extraem o óleo para fazer sabão ou'para iluminação
, '

das caSaS, cm candel as, cuj a combustão se Te'ali za sem produzi r


'fumaça nem odor. A extrnção case:l:ra do óleo requer, inicialmente

86
o es~agamento das sementes em monjolos ou p~lões; depo~s, coze-
-se a ~aSSa oleosa em água at; i fervura; separa-se, af~nal o
óleo cOm'e~prego de colher de pau.

Segundo se registra na literatura cientffica, o óleo de pinhão-


-manso já foi empregado no passado para a iluminação pública nas
zonas rurais do Rio de Janeiro e atê mesmo em Lisboa (17).

Outras aplicaçSes da euforbiâcea, sobretudo nas áreas pobres do


Jequitinhonha, devem-se ao efeito medicinal que apresentam cer-
tas partes da planta, tais como as folhas, que têm ação anti-si-
filítica,' e a seiva, que possui propriedades hemostáticas, isto
a, cura e cicatriza as feridas (18);- ou ainda as rafzes que apre
~entam atividade anti-leucêmica, conforme mostram estudos recen-
tes desenvolvidos no Japão,

o emprego medicinal das sementes do pinhlio-manso, especialmente


no tratamento de bovinos, baseia-se em sua ação purgativa bastan
te enérgica, que pode at; causar a mortc do animal, desde quc a
injestão de graos seja exagerada.

3.5- Composição do Fruto

A Taoela 20 indica os resultados das análises processadas em di-


versos lotes de SCfllcn tes de pinhão-mans'o, oriundas de Riacho da
Cruz, município de Januária, cujos rcndimentos médios de óleo re
presentam cerca de 38% do peso da semente seca.

As características físico-químicas do óleo de pinhão-manso estão


discriminadas na Tabela 21 onde se apontam, a título de compara-
ção, os resultados analíticos obtidos em laboratórios d:i.stintos.
Ressalve-se, porém, que as amostras possuem acidcz liV1'e variií -
veis c, portanto,
. .
podem acarretar diferenças cm suas prol'ricdnde~

R7
Tabela 20 - Composição do Fruto do Pinhão-Hanso

Partes Peso de 100 Unidades Umidade Teor de 6leo


(g) (g) (%) Base Seca (n
Fruto inteiro 86,7 100 11,0 28,1
Epicarpo 22,7 26,2 14,8 -
Semente 64,0 73,8 9,5 38,1
Casca
Albúmen
24,1 27,8 16,2 -
39,9 46,0 5,6 60,8

Fonte: CETEC

Tabela 21 - Análise físico-QuíllÜca do 61eo de Pinhão-H:mso

Características FíSico-Qullni Fontes de Análise


cas - CETEC nrr (]9) PORTU G\L (14 )
Teor em Ácidos Graxas Livres
(como ácido oleico, %) 0,96 6,70 4,20
llinsidade a 259C (g/cm3) 0,9Q69 0,9082 0,9205 (15 9C)
índice de Refração a 25 9C 1,4680 1,4728 (15 9 C)
fndice de Saponificação 189,0 167,0 190,0
índice de Iodo 97,0 109,6 98,0
Insaponificáveis (%) 1,1 2,9.
lndi ce de Peróxido 9,98
Ponto de Solidificação (9C) <-10,0 -13,0
Cor ASThl 1,0
Cinzas (%) <0,1
Poder Calorífico Superior
(Kcal/Kg) 9,350 9.380 9.169
Peso ~lolec\1lar ~lédio
(Cronk'ltografia gasosa) 866
Viscosidade a 37,8 9C (cSt) 31,5 27,3
OlN
•Carbono 76,89
.llidrogênio 11 ,44
.Oxigênio 11,67
Indice de lIidroxila 76,6

88
·.
Foto 14 Frutos do Pinhão-Manso

Foto IS Sementes do Pinhão-Manso

89
Embora o índice de iodo seja o mesmo do óleo da polpa de dendê,
indicativo, portanto, Para ambos, de uma estrutura química de
mesmo grau de ínsaturação, a diferença marcante entre os corre~
pondentes óleos resíde no baixo ponto de solidificação do óleo
de pinhão-manso, .inferior a lQ9C negativos, bastante diferente dos
valores atribuídos aos óleós de macaúba e de dendê, em torno de
l5 Q C positivos, aspecto que pode favorecer o emprego direto do
óleo de pinhão-manso, puro ou em mistura com diesel, nos motores
de combustão interna, mesmo nas regiões de clima temperado.

A Tabela 22 mostra os valores referentes li composição química em


ácidos graxos do óleo de pinhão-manso, determinados com b<lse na
análise por cromatografia em. fase gasosa. As diferenças verifi-
cadas entre os dados obtidos em laboratórios diversos são pouco
significativas; basicamente, representam modificações nos teores
.de ácido linoléico, cuja estrutura ê mais susceptível a altera-
ções químicas, dependendo da origem e do estado de conservação
das sementes,

Tabela 22 - Composição Quimica em Ácidos Graxos do 61eo de Pinhão


-Manso
Dados em Porcentagem

Pinhão-~lanso Pinhão-Bravo
Ácidos Graxos
CliTEC lNT (191 lNT (] 9)
Ácido Palnútico 14,3 ] 5,5 13,5
Ácido Palmito1cico 1,3 - -
Ácido Estcârico 5,1· 5,4 6,2
Ácido Oleico 41,1 44 2 22,9
Ácido Linoleico 38,1 34:9 57,4
Ácido Lino1ênico 0,2 - -
Ácido Saturados 19,4 20.9 19,7
Ácido lnsaturnuos 80,6 79,1 SO,3

90
Figura 06 Oleo de Pinhão-Manso

TU1\: AREA AREA %


1T 3.39 3588934 14.3
2T 3.~4 32(;267 1.3
3T 5.49 1279969 5.1
4T 6.49 10315047 41.1
5T 8.04 9562124 38.1
6T 10.01 50195 0.2

91
Conforme se vê, a acentuada incidência do grupo linoléico nas
molêculas individuais dos glicerídeos, que constituem o óleo de
pinhão-bravo, pode representar. no entanto. um ponto negativo
do uso da Jatropha pohliana 1·1uell , como fonte produtora de óleos
vegetais para fins carbura~tes, pois, como já se disse. a sua es
trutura favorece a formaçao de reações de polimerização o que
por isso, pod~ dificultar a sua queima completa na câmara de com
bus tão do motor.

Além das vantagens apresentadas, que certamente colocam o pinl~o


-manso entre as oleaginosas mais promissoràs, as variaçoes de
acidez nas sementes são pouco expressivas, mesmo nos períodos
longos de armazenamento. Com efeito, sementes condicionadas em
sacos, durante mais de I ano, por moradores de Riacho da Cruz
apresentaram acidez livre inferior a 6~. Por outro lado, a man~
tenção de grãos recém-coletados em dessecadorespor períodos até
6 meses não implica em alterações substanciais do grau de acidez
das amostras, cujo teor em ácidos graxas livres foi sempre infe
rior a 2~.

A preservação das sementes do pinhão-manso durante longos períQ


dos de tempo constitui, efetivamente, num dos aspectos mais fa-
voráveis
.
da euforbiicea,
.
o que resultará em menores custos de
sua produção agrícola, certamente bem inferiores aos de outras
culturas oleaginosa~, como dendi ou macaúba, cujos ~rutos são l~
pidamente deterioráveis, motivo por que se exige seu processame~
to no mâxiJllo 48 horas após a co le ta.

A auto-oxidação do óleo de pinhão-manso durante a estocagem po-


de, contudo, ser acclerado'por ação de calor, oxigénio ou traçffi
de metais pesados, e de seus cations, comumente p,resentes nos ma
teriais empregados na fahricaç ao dos tanques de armazenagem, o
que pode conduzir ao desenvolvimento de reaçõ~s laterais, como a
formação de aldeídos saturados, por exemplo, llexanal, heptanal
ou nonanal. ou de compostos corrosivos. Por tais razões, os es-
tudos prcliminnres devcln s'er conduzidos tambcm para nvaliur e

92
minimizar, talvez por adição de inibidores, os efeitos da auto-
oxidação dos óleos insaturados.

Sem considerar o pericarpio do fruto, cujo aproveitamento para


geração de vapor nas caldeiras ira. atender ãs necessidades ener
g6ticas na fase industrial'de processamento das sementes, a tor
ta residual, representada pela casca e albúmen da semente, tera
emprego direto como fertilizante de qualidade fmpar, tendo em
vista os índices elevados de nitrogênio, potassio e fósforo, em
quantidade pouco vistas em outros concentrados naturais.

Tabela 23 - Composição Química da Torta de Pinhão-Nanso


Dados em Porcentagem

Constituintes . Casca - . Albúmen Semente

Cinzas 8,40 6,73 7,36


l3xtrativos 2,60 24,41 16,19
Proteina 7,80 56,88 38,38
Fibra 53,52 4,33 22,88
Lign.ina 36,72 0.,63' .. 14·,23
Fonte: CETEC

No caso da separação da casca da semente durante a fase indus


trial, talvez seja mais conveniente usar a própria casca como
insumo calorífico, em vis ta do seu aI to teor de lignin<l (Tabe-
la 23 ) reservando-se a torta do albúmen e também as cinZas da
carboni zação lJara a fertil ização dos campos cultivados de pinh,:'io
-manso.

A Tabela 24 mostra os resultados obtidos na~ analises de elemen


tos inorgânicos presentes nas cinzas do fruto, e chamando a aten
ção para ~s teores bastante elevados de fósforo e potássio, além
da incidência, também significativa, de cálcio e magnésio. e1e-

93
mentos nut.~entes essenç~a~s para o bo~ desenvolvimento vegeta-
tivo da planta.

Tabela 24 - Análise Inorgânica das Cinzas


Dados em Porcentagem

Constituintes Torta de Semente Torta do Albúmen


Inorgânicos Integral

P205 30,6 44,2


Si0 2 '1,3 0.,2
Na20 1,3 0,4
K 0 31,5 32,5
2
CaO 11,5' 9,3
MgO 16,8 6,6.
Fon te: CETnC

Outra possibilidade se~ia aliviar a possível toxidez da torta e


utilizá-la para o balanceamento de rações animais, através de
técnicas a serem pesquisadas, tendo em vista o seu alto teor prQ
teico. No caso do pinhão, a torta reprosenta 39.2% se se consi-
derar a semente sem casca; ou 61,8% co~ semente integral.

A to~.ta obtida a partir do albúmen contém em torno de 57% de pro


telna bruta, acrescida de carboidratos, lipideos, sais minerais
e vitaminas. Ao lado do aspecto puramente quantitativo é impor-
tante que se atente para a qualidade da proteina, determinada
por sua composição em aminoácido$:, tornando-se a torta olítida do
albúmen, de baixo teo~ de fibra, de emprego potencial na ração
de monog6stricos, inclusive o homem.

94
4.
Indaiá
o inda iã é planta da famíl ia das Palmáceas, sub-família Ceroxylinae,
tribo Attaleini e gênero Attalea, o qual engloba cerca de 25 es-
pécies, sendo que 20 delas sio encontradas no ~rasil. A palmeir~
possivelmante'originária da América Meridional, ocorre desde o
sul do continente ã Colômbia, Ven~zuela e países da América Cen'
tra·l.

Na floresta tropical úmida da Amazônia brasileira, o gênero está


-representado por cerca de 5 espécies, todas de porte baixo e acau
lescentes, vegetando, de preferência, nos terrenos secos e areno
sos do Baixo Amazonas.

o gênero Attalea, que também incorpora palmeiras de porte alto,


está distribuído por quase todas as regiões do País, podendo ser
visto espontaneamente em formações vegetais as mais diversas
cerrado ou caatinga, ocupando áreas litorâneas e crescendo nas
encostas dos morros, nos campos ou em leitos de rios. Na verda-
de, seu grau de dispersão e a diversidade de espécies tornam bas
tante complexa a tarefa de quantificar o potenci~l nativo da paI
meira.

No gênero incluem-se espécies de porte aI to ou acaulescentes de


produtividade variável, podendo dar frutos de tamanhos diversos
e dotados de polpa oleífera ou amil~cea, mas todas elas, indis-
tintamente, produzem amêndoas, das quais se extrai um óleo de cem
posição químIca similar ao obtido do babaçu.

As espécies economicamente de maior interesse estio, no entanto,


disseminadas, sobretudo, no nordeste do País e em áreas do Brasil
Central, abrangendo Minas Gerais, Goiás e os estados do Mato Gros
soo Em Minas .Gerais algnmas espécies, rusticas e potencialmente
produtivas, são encontradas povoando: longas extensões de terras
pobres, secas e arenosas, de baixa fertilidade natural; cm áreas
do norte do Estado, onde, de modo geral, fatores climáticos ex-

96
cluem qualquer possibili~ade do p~antio económico de culturas de
ciclo anual.

No Estado, 05 palmares espontâneos do gênero Attalea sâo consti-


tuldos principalmente de~. compta e A. aleifera, ambas de por-
te alto. acima de 6m de altura, além das espécies acaulescentes
A. geraensis, ~' exigua e ~' borgosiana. Por vezes. estas últi-
mas formam concentrações relativamente densas noscerrados·do Jo
quitinhonha e Alto São Francisco.

Na verdade, a ocorrência abundante de palmeiras do gênero Atta-


lea em algumas zonas do Estado, sobretudo no Triângulo Mineiro e
na região norte-mineira, têm favorecido as populações locais,que
tiram provei to económico dos adensamentos espontâneos da planta,
seja extraindo óleo para cozinha ou comercializando as amêndoas
nos centros consumidores mais próximos.

Não obstante a sua notória rusticidade, principalmente das esp.§.


cies acaulescentes, a produtividade da palmeira depende, contu-
do, da conjugação de três fatores climáticos - temperatura.ins~
lação e pluviosidade, embora estes não devam dissociar-se das
caracteristicas dos solo~, como o nivel freático, que pode com-
pens,ar possiveis deficiências pI uviométricas.

o Quadro 03 indi ca as inúmeras espécies do gênero encontradas no


PaIs onde se mencionam também a 5 inonimia ampla da palmei ra e
a caracterização das áreas do ocorrências mais significativas.
Conforme se observa, as denominações vulgares da palloeira podem
ser comuns para espécies diferentes ou múltiplas para uma dada
espécie, o que comprova a diversidade e o grau de dispersão do
genero.

4.1- Descrição Botânica (20)

Ãrvores com caules conspicuamente marcados por estigmas navicu-


lar foliares, ou is vezes acaulescentes com o caule subterrSneo;

97
folhas longas acima de 1m. de comprimento, pinaticompostas, bai-
nha fol;i.ar pouco desenvolvida, pec~olo curto com margens fibro~
sas, pinas espaçadas regul?rmente no raque ou agregadas; plantas
monóicas com flores diclinas em cachos separados ou no mesmo c~
cho; espatas lenhosas fortemente sulcadas com ápice rostrado; es
pádice andrõgino ramificado, cada rama com muitas flores; flores
femininas grandes, protegidas por.2 brácteas com 3 sépalas conve
xas desiguais e 3 pétalas semelhantes; gineceu com um anel est~
micoidal circundando o ovário; "três carpelos soldados, estigmas
basicamente com 3 ramos estigmáticos e estilete pouco desenvolvi
dO; espádices masculinos multiramificadas, com flores masculinas
dísticas na raquila, ou irregularmente distribuídas com 3 sépalas
e 3 pétalas, sendo estas maiores do que as primeiras; estames 6-
15 em cada flor, anteras retas com tecas cónatas menores do que
as pétalas; f~utos com 1-5 sementes, possuindo exocarpo fibroso,
mesocarpo amiláceo ou oleaginoso, ocasionalmente pontuado com f~~
. xes esclerenquimáticos fibrosos; endocarpo lignificado bem desenvo!
vido, constituindo aproximadamente 50% da espessura do fruto,que
contém perianto persistente; anel estaminoidal expandindo com se
mentes que possuem endosperma homogéneo.

A chave de identificação das espécies do genero Attalea, de maior


incidência no estado é apresentada no trabalho de Tenório (20) ,
desenvolvido no CETEC, e segue a seguinte sistemática:

1. Plantas com caule na ma turi dade, medindo acima de 6m de altura


2, Mais de 10 estames em cada flor,
frutos com várias amêndoas A. compta
2. Menos de 10 estames cm cada for,
frutos com uma amendoa : A. oleifera

1. Plantas com caule subterrâneo


2. Pinas medianas agregadas .••.••..••.•. , ...••••• A. exígua
2. Pinas medianas espaçadas
3. Estames 9 , t, •• ", A. gcracnsis
3. Estames 6 , , '" A . borgcsiana

98
Foto 16 Atta1ea oleífera Foto 17 Frutos da Atta1ea oleífera

Foto 18 Formação Nativa da Atta1ea oleífera


Serra da Sapucaia - Jequitinhonha, M.G.

99
Quadro 03 ~ Classificação Botânica e Ocorrencia das Espécies
Attalea no Brasil (S)

Classificação Botânica Denominação Vulgar Área de Maior Ocorrência

Dl.A. acaulis Burret Piassava, Piaçaba,Pin- Bahia, Sergipe, Alagoas .


dóba
02.A. apoda Burret loli, Yoli Minas Gerais
03.A. borgesiana Bondar Pindoba, lndaiã-rastei- Bahia, Minas Gerais,
1'0

·04.A. burretiana Bondar Palmeira . Bahia


OS.A. ccrnpta Hart. Catolê, Pindoba, Palmei Minas Gerais, São Paulo,
rinha, Inajá, Indaiá -;- Rio de Janeiro, Bahia ,
Pindava, Tiú, Perinão, Goiás, Magoas, Pemam-
Búgue, Bandarra buco, Esp.Santo, Mara-
nhão, Piauí
06.A. concentrista Bondar Andaiá, Naiá Bahia
07.A. concianna (Bar.Rodr) Anajá, Inaiá, Perinão Maranhão
OS.A. dubia (Mart.) Burret Camarinha R.Gele. do Sul, S.Catari
na, Paraná, São Paulo -;
R. de Janeiro
09.A. exigua Drude lndaiâ-rasteiro, Indaiá Goiás, Mato Grosso, Mi-
-do-campo, Catolê, Pin- nas Gerais
doba
10.A. ferrugínea.Burret Curuá Amazônia
11.A~ funífera Mart. Piassava, Piaçava, Pia- Bahia (litoral), Norte
çaba do Esp.Santo; Mi.nas Ge-
rais
12.A.geraensis Barb. Rodr. Indaiâ-do-calllpo, Catolé Minas Gerais, Rio de
Janeiro
I3.A. hoehnci Burret Indaiá Mato Grosso, Acre
14.A. htnnilis Mart. Pindoba, Anajâ-mirim , Amazônia, Perncullbuco ,
Palmeirim, Pindcba, Ca- Sergipe, Bahia Esp.San
tolé, Indaiá, Palmoiri- to, R.de Janeiro, Silo -
nha Paulo
IS.A. indaia Drude Indaiâ Rio de Janeiro
16.A. lapidea Burret Bahia
17.A. monosperma Barb .Rodr . Cuniá-tinga, Curuâ-bra!1 Amazônia, Piauí
co, Nacupi, Curuií -
lS.A. oleifcra Barb. Rour. Cutole;, Indaiii, Pabnel- Mims Gorais, l'cmrunbu-
rim, l'alJuito-nmurgoso co, Alàgoas, Goiás
19.A. piassabossu Bondar I'iassahossu, Piaçabuçu Bahia
20 .A. pludobassu Bondar Pindoboçu, Pindobassu Bohia

J.OO
4.2- Distribuição Geográfica em Minas Gorais

05 estudos referentes aos levantan\entos das áreas de ocorrência ,


desenvolvidos a nível de pesquisa de campo, concentraram-se bas~
camente em localidades ao norte e nordeste do Estado, mas compl!
mentando-se o mapeamento com 05 dados minuciosos obtidos do pro-
jeto "Babaçu e Coqueiros Assemelhados de Minas Gerais", elabora-
do em 1982 pelo CETEC (20), que pormenorizou a incidência das es
pêcies em todas as regiões do Estado.

A espécie ~. exígua ocorre dispersamente em grande parte do nor


te do Estado, sobretudo no Vale do Rio de São Francisco, mas sua
presença, embora constante na vegetação típica do cerrado, ou dos
campos gerais, ê caracterizada por uma distribuição espacial ra-
refeita e diluída, ocupando preferivelmente as zonas mais secas,
sujeitas a estiagens prolongadas, de solos pobres e arenosos.

Em áreas mais ao norte de Januãria, onde a A. exígua ê designada


vulgarmente como catolé, a sua incidência ê mais acentuada," est~
do freqUentemente associada ao tucum(Astrocarium ~~~stre MartJ
ou co-habitando com a congênere A. borgesiana em locais próximos
a cursos d'água ou do veredas, como em São Joaquim, onde os pal-
mares são densos e homogéneos.

Embora seja um indivíduo rústico e bastante resistente às adver-


sidade~ climáticas ou mesmo predatórias, como o fogo ou o desba~
te, competindo e sobrevivendo bravamente junto à vegetação adja-
cente, a ~. exígua, ou catolê, apresenta, contudo, baixo rendi-
mento agrícola comparativamente a outras espécies acaulescentes.
No entanto, sua precocidad~ e seu maior grau de adaptação nas z~
nas semi-áridas do Estado constituem qualidades a serem explora-
das futuramente nos estudos genéticos visando li ~btenção de li-
nhagens mais resistentes e produtivas.

A existência de adensamentos da ~. borgesiana somente foi const~


tada nas áreas de influência do rio Pardo ou às margens do Rio

101
Areias, prôxim~s ã d~visa dos munic~pios de Januãria e de São
Francisco, onde a espécie ocorre com grande vitalidade e exube-
rância, apresentando!ndices expressivos de produtividade.

Os frutos do indaiá-rasteir?, denominação popular da'A.borgesiana,


são arredondados e apresentam coloração quase alaranj ada no estado de
maturação. Da polpa extrai-se um óleo de aroma agradável e rico
em substâncias caroten5ides, Os frutos pendem-se, quase ao nível
do solo, em 1-3 cachos, cada um destes agrupando cerca de 20 a
30 frutos, cujas dimensões e peso os tornam entre os maiores do
gênero.

Nas regiões do nordeste mineiro, a pesquisa local revelou a inci


dência de reservas naturais da A. oleífera, espécie de porte al-
to, em grandes extensões da Serra da Sapucaia, localizada no mu-
nicípio de Jequitinhonha, onde, no entanto, as palmeiras aprese~
tam baixos índices de produtividade, decorrentes com certeza, da
elevada densidade dos palmares. Outras'áreas de ocorrência da A.
oleífera foram registradas por Tenório (20) e abrangem os muni-
cípios mineiros de Abaetê, Capelinha, Itamarandiba Novo Cruzei-
ro, Itaipé e Malacacheta.

Segundo Tenório (20), a espécie A. geraensi~ ocorre numa ampla


faixa do Estad'O. que se estende do Jequitinhonha ao Noroeste e
Triângulo Mineiro; "parece em manchas dispersas e pouco signifi-
cativas como em Salinas, Taiobeil-as, Jequi tinhonha. Pirapora, Á-
gua Comprida, Uberaba, Bonfinópolis, Arinos, Unaí, Paracatu.

O levantamento conduzido por Tenório identificou também as áreas


de ocorrência da ~. compta: certamente a palmãcea de maior disse
minação no Estado. A espécie, de porte alto, prefere habitar os
locais de altitude entre 640 e 890m próximos, de modo geral, a
cursos d'água, onde a palmeira, via de regra, fo~ma extensos co-
cais.

102
A d~spersão da ~. compta abrange de modo especial as áreas do
Triângulo Mineiro e do Nordeste do Estado, distribuindo-se os
palmares em três regiôes principais (20):

I. Micro Região do Triângulo

Nas localidades do Triângulo Mineiro os cocais da A. compta


estão presentes em áreas ribeirinhas, notadamente próximas ao
rio Araguari e seus tributários, estendendo-se até aos munici
pios de Uberaba, Uberlândia e Araguari.

ILAlto Paranaíba, Nata da Corda, Três Marias

Nessa região, sobressaem grandes adensamentos da palmeira em


Monte Carmelb. Abadia dos Dourados e ·Douradoquara, os quais se
prolongam atê Presidente Olegário, sobretudo, no Vale do rio
do Peixe e seus afluentes, e atingem as imediações dos rios
Abaeté, Borrachudo e Indaiá, nos municípios de Morada Nova de
Minas, são Gonçalo do Abaetê, Tiros e Biquinhas.

III. Chapadões do Paracatu

A noroeste do Estado, mas não muito distante do Alto Paranaí-


ba, a incidência da palmeira é patente nas baixadas do rio do
Sono e seus trib\:tários, entre Buri tizeiro e João Pinheiro; e
a sul, próximo de Lagamar e Vazante. Nas zonas situadas maisa
noroeste, a ~. compta aparece disseminada em Arinos, Unaí ou
em Paracatu, junto ao vale do Córrego Rico, onde os povoamen-
tos naturais da palmeira são abundantes, relativamente denso~
e alcançam as zonas banhadas pelo córrego Logrador, em Santa
Fê de Minas.

Conforme observa Tenório (20), a dispersão da espécie A.


compta cm diferentes localidades do Estad~, mostrada no Mapa
03, de clima e condições pedológicas varindns, resultou cm
fenótipos cujas características revolam alterações, principal
mente na conformacão dos frutos.

103
Mapa 03 - Distribuição e Ocorrência do Gênero Atta1ea em Minas r,erais
• •0 .00 .7°
..01-------\-------+-------+-------+-------+----1

150~-----_+------+------+------T--ç::::s:;)

16o~-----+_-----+-----+---J,./

.Unoi

Bonfinôpotls ~ Minas

/7 0 1------...:-j-------I-------+----:--;)'
.Porocotu

Jooo P~nhelro ~

I.OI------:-~----_r-----t___j

• Coromondel

o PCllrocinio
.UuMow • Tiro$
I.Of-------'\

• Compinc Vêrd..

.Uberabo

104
Mapa 04 Distribuição e Ocorrência do Cênero Attalea em Minas Cerais·

Monle Azul
"c::---f·-------f------_WI5 0

• Suritis
• Rio Pardo de Minas
• Jonoübo

• • Almc~oro
• Jequi!inhonha

Bonfinopolis COrocõo de Jesus
de Minas • • Monles Claros

ÃIluOS Formosos
Minas Novos •

• Novo Cruzeiro

Jooo ~nheiro ~
Ilomorondiba
• eTeõfilo Otoni

Ouro Verde de Minos ~'---"'::::" __I-__ 18 0



• Corinla

• Curvelo
• Guonhões

(1"---------1--119°
Molulino

••
Poroopebo

Soo Golardo
• • Boldim

• Jobolicolubos

Esmeraldas
• • Coro!inllo
á!1/jlJ BELO HORIZONTE
IIlor01'80

lOS
Entre as espécies mencionadas, a ~. borgesiana, ou indaiã-raste!
ro, é a que oferece as melhores condições para o cultivo em esc!
la comercial. Alem da precocidade da planta cujo ciclo produti-
vo inicia-se entre Z e 3 anos, segundo afirmam os moradores de
São Joaquim, área de maior incidência do indaiá-rasteiro, a pal-
meira apresenta maiores rendimentos de óleo, comparados aos de,
outras especies do gênero.' Assina1e-se tambem que, a polpa da
fruto constitui u~a fonte de glicerídeos. Por outro lado, a esp~
cie se adapta perfeitamente às condições edafoclimáticas do nor-
te do Estado, sobretudo nas áreas adjacentes a são Joaquim onde
as terras são de baixa fertilidade e impróprias à prática da la-
voura tradicional de subsistência.

Na realidade, a exploração da cultura do indaiá-rasteiro pode f~


turamente representar uma nova opção econômica de aproveitamento
destes solos ociosos, e contribuir sobremaneira para aumentar a
oferta nacional de óleos vegetais.

A região entre Januária e São Francisco, a 434-44Zm de altitude,


limitada geograficamente pelos paralelos l5 0 Z0' e 15 0 60' de lat!
tude sul e os meridianos 44 0 Z0' e 44 0 50' de longitude oeste, on-
de se inclui a área de são Joaquim, detem as mais altas tempera-
turqs do Estado e, durante quase todo o ano, os valores médios
das máximas excedem a 35 0 C. A media anual de insolação'õ igual-,
mente alta, ao redor de Z860 h/ano, enquanto a umidade relativa
atinge índices entre 50 e 60% no inverno, e 75 a 80% no verão (Zl).

De acordo com a classificação de Koppen o clima da reglao se en-


quadra'no tipo BSIV, ou seja quente, seco com chuvas de verão. O
regime de precipitação, com um índice anual em torno de 8S0-116Onnn,
apresenta novembro-janeiro como os meses mais chuvosos, enquanto
junho-agosto são os mais secos. O coeficiente de variação anual
de precipitação pode alcançar, no entanto, a quase 40%, pcrcent!
gem reveladora, efetivamente, de região sujeita ii períodos de es
tiagens prolongadas,

106
Embora predominem os solos arenoquart40soS profundos, de textura
média, a região apresenta manchas tanto de solos aluviais eutró-
ficos associados a solos hidromórficos como de latossolo vermelho
amarelo distrófico.

Conforme está inserido no 2 9 Plano de Desenvolvimento Integrado


do Noroeste M~neiro (21), elaborado pelo CETEC em 1981, as áreas
circunvizinhas a são Joaquim são inaptas para culturas tradicio-
nais de ciclo curto e longo. mesmo nas condições de manejo dese~
volVido sem irrigação, o que tende a estimulaT portanto. o apr~
veitamento dessas terras com espécies perenes como o indaiá-ras-
teiro, que aí encontra ambiente ideal para o seu desenvolvimento.

4.3- Utilização e Aproveitamento Económico do Indaiá

A exploração dos palmares sub-espontâneos do gênero Attalea em


Minas Gerais ainda hoje ê conduzida de forma precária e irregula~
segundo um modelo tipicamente extrativista e pouco produtivo,mas
de cuja atividade a população local, habitante das áreas de maior
ocorrência da palmeira, tira algum proveito econômico.

As folhas do indaiã são comum ente usadas para a cobertura das ca


sas ou destinadas.à produção de fibra, a qual se presta muito bem
â confecção artesanal de redes, balaios, peneiras, cestos, estei
ras, bolsas ou chapéus. Mas, eventualmente, as 'folhas são utiliz~
das corno forragem para gado, sobretudo, nos períodos de seca pr~
longada.

As espécies altas são mais sujeitas ao corte predatório para ob


tenção do palmitu. de excepcional qualidade, cuja exploração, no
entanto, vem acarretando a dimiriuição gradativa ~os cocais nati-
vos, especialmente nas regiões do Alto Paran,íba.

Entrctantu são os frutos do indaiS o principal produto da plan-

107
ta e sua fonte de maior valor econômico, O fruto maduro de alg~
mas espécies, como a A. borgesiana, i, ocasiona~mente, procura-
do por crianças, que se alimentam da polpa adocicada e tênue do
coco, bem assim das amêndoas, alojadas no interior do caroço du
ro ou endocarpo.

O aproveitamento dos frutos visa basicamente ao valor oleífero


de suas amêndoas, cuja extraçao fornece um óleo incolor de com-
posição química semelhante ao do coco babaçu. A colheita dos co-
cos no campo i efetivada quase sempre por mulheres e crianças
que percorrem os cocais menos distantes, coletando os frutos ma-
duros e caídos ao solo e desprendidos do cacho' após a maturação.
Os cocós sao reunidos em cestos e transportados, geralmente, por
mulas atê junto aos locais de quebra manual do fruto, podendo uma
pessoa adulta extrair diariamente cerca de 5 Kg de amêndoas, em
média.

A mão-de-obra envolvida neSSes trabalhos é constituída, em geral,


por colonos ou pequenos sitiantes, alguns dos quais estão vincu-
lados ao proprietário dos cocais, ou ao comerciante local, que
adquire as amêndoas a preços baixos ou trocando-as por outr~s meE
cadorias. Alguns, mais autónomos, vendem a produção diretamente
ao mercado consumidor dos centros urbanos mais próximos, apesar
de a renda auferida nas transações de venda ser pouco expressiv~
representando apenas uma ativldade complementar à agricultura de
subsistência.

No entanto, cm algumas cidades, como Araguari e Montes Claros


que dispõem de instalações industriais para produção de óleos vE.
getais, os preços são mais 'compensadores, motivo que aumenta gr~
dualmente o interesse das populações rurais vizinhas para a colh~
ta sistemática das amêndoas do indaiá ou dos coqueiros assemelhados ,co-
mo o babaçu.

Além da comercializaçio das amêndoas, a população das ireas de ~


corrência do induiá tira pi'ovei to também da fabricação caseira do

108
óleo de ~êndo~ p~ra consumo doméstlco. No processo artesanal
os frutos, ã mane~r~ do coco babaçu, são quebrados no gume de um
machado virado para cima. Apôs a separação das amêndoas, estas
são aquecidas em fornos de barro, depois trituradas em moinhos de
rosca, tipo moedor de carne, operação que faz fluir óleo, sendo
este recolhido em latas. após ter sido filtrado em panos para re.
moção do farelo residual. -Em seguida, o óleo é introduzido em
grandes tacho's, aquecido em fogões de lenha e novamente filtrado,
procedimento suficiente para fornecer um óleo de boa qualidade
alimentícia. O farelo protéico é aproveitado na produção de bis-
coitos e doces caseiros ou, mais comumente, como ração para aves.

Além do caráter acentuadamente extrativista das atividades liga-


das ã .exploração dos cocais, que se reflete afinal na produção
irregular e inexpressiva de amêndoa~~ outros fatores, como a di~
tancia, ou as deficiências ao acesso de veículos nas áreas de
maior incidência da palmeira, inviabilizmn qualquer tentativa de
incrementar os níveis de produtividade, perdendo-se, por isso
grande parte da produção nativa.

Embora os cocais nativos do indaiâ não comportem atualmente a ex


ploração agrícola e industrial mais organizada da cultura, algu-
mas espécies acaulescentes, como a A. borgesiana, que produz óleo
. -
adicional na polpa amarela do fruto, poderão ser cultivadas em
grande escala nos solos arenoquartzosos das áreas próximas a São
Joaquim, cuja disponibilidade de terras desse tipo é superior a
320 mil hectares.

O plantio intensivo da ~. borgesiana, no entanto, irá exigir a


instalação de uma unidade industrial nas proximidades da área a-
grícola, pois o processamento dos frutos deve ser executado nas
primeiras 24 horas após á colheita, tendo em vista a râpida aci-
dificação do-óleo da polpa que o tor~a inadequado às aplicações
usuai's como óleo comestível ou como' sucedâneo do óleo di.esel.

As dificuldades inerentes i industrialização do indaiâ-rasteiro

109
deverão ser, entretanto, menos pronunciadas que a do coco babaçu,
devido à,constituição tênue da polpa de seu fruto, mais facilme~
te removida do endocarpo.

o campo de aplicação dos óleos de polpa e de amêndoa pode ser bem


amplo, não se limitando apenas ao simples aproveitamento como ó-
leo comestível ou para a produção de mp.rgarina. Seu emprego pode
ser diversificado para outras finalidades - na siderurgia, em sa
boarias, na indústria de detergentes ou mesmo em substituição ao
óleo diesel.

Entre os sub-produtos da extração, sobressaem o endocarpo calorf


fico, abundante em lignina, para a obtenção de carvão, ou para ser
, utilizado na alimentação de caldeiras a vapor e de gaseifiçadores.
Os raques, a casca e,a torta de polpa ,não obsta~te seu menor p~
der calorIfico, têm valor combustível e deverão ser empregados
preferentemente na geração de energia têrmica e eletrica da usi-
na de processamento. Os excedentes, bem como as cinzas resultan-
tes da carbonização, serão usados na fertilização dos cultivos;A
torta de amêndoa, por outro lado, tem boa aceitação no mercado de
farelos para ração animal em vista dos teores de proteína nela
contidos.

4.4- Aspectos da Cultura

Na selação do local para o plantio intensi~o da palmeira recomeª


da-se, preliminarmente, proceder à análise apurada das condições
ecológicas mais propícias ao desenvolvimento da planta, concen-
trando-se sobretudo nos fatores climáticos - temperatura , pluv~
sidade e insolação, considerados fundamentais para o bom ~xitoda
cultura.

De modo geral. as espEcies acaulescentes do gênero AttaJea adap-


tam-se bem nos solos arenosos, mas que sejam sujeitos i influên-
cia do lençol freático, em localidades próximas de cursos d'água,

110
ou em várzeas, em zonas de alta insolação cuja temperatura osci
le entre ZOOC e 35°C.

As caracter!sticas ffsicas do terreno não podem, no entanto,· ser


desprezadas· indicando-se os solos profundos e soltos pelo menos
até 1m de profundidade, com um nível mínimo de porosidade, pois
° sistema radicular fasciculado da palmeira é bastante sensível
~s terras especialmente compactas.

Uma vez definidas as zonas de maior aptidão ã cultura do indaiá,


âeterminadas naturalmente pelas condições climáticas mais favor~
veis, a potencialidade.de produção do coqueiro irá depender tan-
to do tipo genético das sementes utilizadas como das técnicas a-
gronómicas empregadas nos plantios da palmeira.

Para ativar o processo germinativo da semente, que pode ser ini-


bido por períodos relativamente longos, Tenório (20) recomenda o
corte do fruto na porção do tecido adaxial. As amêndoas devem ser
oriundas de cocos comprovadamente maduros, recém-colhidos. de pés
robustos e saudáveis, evitando-se as que forem danificadas na o-
peração de descascamento, bem como as sementes atrofiadas e mal
formadas,

A semeação pode ser conduzida em canteiros de terras férteis e


soltas, ricas de matéria orgânica, ou em sacos pretos de polieti
leno, procedendo-se depois a regas periódicas, de modo a manter
a necessária umidade, sobretudo no início do crescimento vegeta-
tivo at~ o momento em que as mudas possam ser levadas cm defini
tivo para o campo.

A nutrição da planta, atê a brotação das primeiras folhas, ê fei


ta is expensas das próprias reservas contidas no albGmen, sem
necessidade, ~ois, de recorrer-se i adubação. As causas mais us~
ais de perdas durante a gerntinação na sementeira devem-se sobre-
tudo ã quebra dos embriões durante o descascamento ou por even-
tuais ataques de fungos. As mudas com visIvel atrofia ou que a~~
sentam necroses nas folhas devem ser extirpadas.

111
.A implantação dos palmares deve restringir-se apenas às áreas de
superfície favorável, pois a ondulação com declives superiores a
5% ê altamente prejudicial ã cultura, uma vez que a palmeira re-
tira suas necessidades hídricas e nutricionais das camadas supe-
riores do solo.

No preparo do terreno a queima apresenta vantagens incontestáv~,


facilitando as operações de manejo agrícola, do controle às ervas
daninhas, do tratamento fitossanitário, enfim, dos serviços de
manutenção, não obstante, tal prática, que é combatida por muit~,
possa reduzir a fertilidade do solo.

Nesse caso, para compensar as deficiências de matéria-orgânica com as quei


madas, deve-se proceder ã cobertura do terreno cultivado com le-
guminosas, tais como a Pueraria ou a Centrosema, que além de pr~
moverem a fixação do nitro gênio ao solo, o protegem ainda contra
a erosão e contra os infestantes concorrentes da palmeira, sobr~
tudo de gramíneas, as quais representam uma séria ameaça ao ple-
no desenvolvimento da planta.

Os cachos da ~. borgesiana. em numero de 2 a 3 por palmeira, são


constituídos por frutos globosos, sustentados por um rígido pe-
dúnculo fibroso, de peso variável e que contém entre 20 a 30 fru
tos. Admitindo-se um peso médio de 150g para o coco, o rendimen-
to da planta pode os~i1ar entre 6,0 a 13,5 Kg de frutos ou cerca
de 0,6' a 1,4 Kg de óleo por palmeira. Em palmares cultivados se-
gundo espaçamentos de 3 x 3m, que contenha um mínimo'de 1200 pés
por hectare, os índices de produtividade anual deverão situar-se
entre 0,7 t e 1,7 t de óleo.

Conforme fol constatado pela pesquisa de campo, o simples balan-


çar do cacho provoca a queda dos frutos maduros que se desprendem
do pedúnculo do cacho. Outro cri tório para caracterizar o estado
de maturação é a coloração Dma~elo-alaranjad~ na base do fruto.

Apôs a colheita, os frutos'devem ser transportados ii usina de

112
processamento, situada nas imediações do -cocaI, para serem este-
rilizados, evitando~se, desse modo, a propagaçao da acidez por
açâo da flora criptogamica ou da umidade.

4.5- Composição do Fruto

o coco·ê constituído do epicarpo, de fgcil remoção no estado de


maturação, sendo impregnado pelas fibras da casca com cerca de
5% do óleo, cuja coloração amarelo-alaranjada ê devida ã presen-
ça conjunta de substâncias carotenóides e de terpenos, estes re~
ponsáveis, aliás, pelo odor agradável emanado do óleo bruto; do
mesocarpo, ou polpa, tambem fibroso, de sabor levemente adocica-
do, contendo em torno de 35% de óleo; do endocarpo, de alto poder
calorífico (4.770 Kcal/Kg), duro e compacto, no interior do qual
se encontram de 1 a 5 amêndoas oleaginosas. A umidade do coco ê
distribuída não uniformente entre as partes componentes de fru-
to, chegando a 50% na polpa, e a 15 ou 20% na amêndoa,

Diferentemente dos frutos de outras especies do gênero Attalea ,


ou do próprio babaçu', na A. borges iana a casca ou a polpa do co-
co maduro são facilmente removíveis do endocarpo. As dimensões,
o peso e o número de amêndoas por coco são indicados na Tabela 25
que expressa os valores médios obtidos de diversas amostragens to
madas na área de Sã~ Joaquim.

As análises procedidas em diversos lotes de cocos, imediatamente


após a coleta, permitiram identificar a existência de pelo menoS
2 fenótipos na área pesquisada, cujos frutos, conforme se obser-
va em os dados constantes das Tabelas 26e 27, diferem não só no
peso de seus frutos como na composi~ão da polpa e do endocarpo.

113
Foto 19 Atta1ea borgesiana
Januâria, M.G.

Foto 20 Attalea borgesiana


Januãria, M.G.

114
Foto 21 Atta1ea borgesiana
Januária, M.G.

Foto 22 Atta1ea borgesiana


Januaria, M.G.

115
Tabela 25 - Características do Coco Indaiâ-Rasteiro (~.borgesiana Bondar)

Dimensões (cm) Porcentagem Peso (g) Porcentagem NCunero de Porcentagem


de frutos de frutos Amêndoas por <le frutos
(%) (%) coco (%)
5,0-5.5x~,P-7,5 1:7 O 100,0-140,0 30,0 4-5 65 O
6, 0:..6,,;;x6, 5-8, O 62,0 140,0-200, O 57,0 2-3 32,0
7,O-8,5x7,0-8,5 21,0 >200,0 13,0 1 3,0

Fonte: CETEC-

rabeIa 26 - Composição do Coco Indaiâ-Rasteiro (A.borgesiana Bondar)


Frutos tipo A - Peso Médio do Fruto Fresco: 140 180 g
Origem: São-Joaquim
. , Município de Januária - MG

Lote Peso do Lote (g) Composiçao Média do Fruto (%) - (Base Seca)
(3fruto~ Base Urnida Base Seca Casca Polpa Endocarpo Amendoa
01 427,8 320,2 7,2 32,2 48,9 11,6
02 473,6 319,7 8,6 29,0 52,0' 10,5
03 484,4 304,,5 7,1 3-5,3 47,6 10,0
04 442,0 300,3 7,0 35,9 46,5 10,6
05 507,2 318,1 6,0 33,9 53,5 6,6
06 519,0 306,1 6,6 32,4 53,2 7,8
07 508,4 341,2 6,2 30,6 53,8 '9,5
08 454,2 266,4 5,8 33,7 52,7 7,8
09 560,3 296,8 5,7 36,0 51,2 7,1
10 495,0 308,4 5,8' 31,1 54,1 8,5
11 532,6 277 ,5 7,2 32,2 ;;2,8 8,4
12 554,3 284,0 -6,2 36,3 51,1 6,5
6,9 33,6 51 9 7,5
~~~J
13 543,3
14 417,8 5,4 33,2 "
53,5 7,9
15 532,7 340,6 '5,9 30,1 53,5 10,6

Fonte: CETEC

Os resultados analíticos apresentados na Tabela 26 revelam dife


renças pronunciadas apenas no teor de amêndoas, cuja incidência
nos cocos pode, no entanto, variar de 1 a 5 sementes.

116
Tabela 27 - Composição do Coco Indaiâ-Rasteiro (A,borgesiMª Bondar)
Frutos Tipo B - Peso ~€dio do Fruto Fresco: 250-350g
Origem: são Joaquim, Município de Januâria - ~IG

Lote Peso do Lote (g) Composicão ~'édia do f'rllto (',) - Base Seca
0frutos) Base úmida Base Seca Casca Polpa Endocarpo Amêndoa
01 992,7 456,2 4,9 43,7 43,1 8,3
02 894,6 482,7 5,2 45,6 41,7 7,5
03 1018,0 445,7 5,0 43,7 43,7 7,6
'04 835,4 423,1 4,7 44,2 42,6 8,5
05 912,4 418,5 5,2 43,4 43,3 8,1
06 955,2 460,2 5,5 45,8 40,9 7,8
07 876,8 414,4 5,0 43,8 43,7 7,5
08 781,4 390,5 4,5 44,1 43,4 8,0
09 942,0 431,9 4,7 44,8 42,2 8,3
. 10 1035,0 472,6 5,2 42,8 44,1 7,4

Fonte: CETEC

A Tabela 28 indica os valores médios obtidos na análise de composição


dos 2 tipos do coco indaiá-rasteiro, incluindo os dados referen
tes ào rendimento de óleo em cada um dos componentes do ,fruto.

Tabela 28 - Composição Média do Fruto


Dados em Porcentagem

Componentes Composiçiío do Coco Teor de Cilco


Tipo A Tipo B
Casca 5,5 -7.,0 4,5- 5,5 5,0
Polpa 30,0-36,0 43,0-46,0 35,S
Endocarpo 48,0-56,0 41,0-44,0 -
Amêndoa 6,5-11,0 7,5- 8,5 65,2

Fonte; CETEC

117
Enquanto nos frutos do tipo A, de peso inferior a l80g, a rela-
ção polpa-endocarpo não chega a exceder 0,6 ,os fenótipos de
maior peso mostram uma relaçao quase duas vezes superior e que
resultará em maiores rendimentos de óleo comparativamente aos
cocos de menor peso, embora o teor ·de óleo seja equivalente em
ambos os tipos de cocos.

Na Tabela 29 sao a,pcilIltados os resultados finais da aníÍlist' qua~


titativa relativos ao peso e ao rendimento de óleo para os dois
tipos de fruto nas condições naturais, com umidade ou seco.

Tabela 29 - Dados Quantitativos do Indaiá-Rasteiro (6.borgesiana Rondar)

Características Fruto Tipo A Fruto Tipo R


Fresco Seco Fresco Seco
Peso Médio (g) 140 - 180 86,8-111 ,6 250 - 350 120 - 168
Umidade (%) 38 - 52 -
Teor de 61eo (%) 9,9 17. O 7,3 15,4

Fonte: CETEC

Com base nos vaIare: da Tabela 29. as estimativas de produção


anual ua mistura de óleos de indaiâ-rasteiro são da ordem de O)
a 1,7 t, admitindo-se, evidentemente, uma densidade de 1200 pal-
meiras por hectare e um rendimento entre 6,4 a 10,0 Kg de frutos
por planta.

A análise apurada das característi.cas físico-químicas dos óleos


do coco indaiã. obtidos por extrnção com hexano, evidencia, cOll
forme mostram os dados da Tabela 30 , o caráter químico predomi-
nantemellte insaturado do 6leo de polpa, ao c6ntrário do 61eo de
am~ndoa, cujo ponto de solidIficação e baixo índice de i6do o
o identificam entre os óleos salurados.

118
Tabela 30 - Características Físico-químicas do 61eo de Indaiá-Rasteiro

Características Físico-Químicas . d1eo de Polpa 61eo de Pmêndoa'


Teor de Ácidos Graxas Livres, ~' 1,1 0,2
(como ácido oleico)
I:ensidade a 25 9 (; (g/cm3) 0.,9118 0,9188
Indice de Refração a 25 9 C 1,4655 1,4548
!ndice de Saponificação 198,0 255,0
Indice de Iôdo (Wijs) 73,0 16,0
Insaponificáveis, ~ 0,13 0,50
Indice de Peróxido 5,96 2,96
Ponto de Solidificação (0C) 10,0 25,0
Cor ASThl 2,5 1,0
Cinzas, 'í 0,015 0,010
Poder Calorífico Superior (Kca1/Kg) 9270 9050
Peso lli1ecu1ar Médio 864 677
(por cromatografia gasosa)
Viscosidade a 37,8 9 C (cSt) 45,0 31,0
CHN
Carbono 72,3 74,4
Hidrogenio 10,9 11,4
Oxigenio 16,8 14,2
Indice de Hidroxi1a 81,1
Fonte: CETEe

A análise da composição química em ácidos graxos dos óleos por


cromatografia em fase gasosa confirma as premissas anteriores de
que a mistura de glicerídeos do óleo de polpa apresenta na rea1~
dade uma distribuição mais acentuada de derivados insaturados,em
contraposição ao óleo de amêndoa, de constituição tipicamente s~
turada, cuja incidência em ácido lâurico se compara i do óleo de
babaçu.

119
Tabela 31 - Composição Química em Ãcidos Graxos dos C5lcosExtraídos do
Indaiã-Rasteiro
Dados em Porcentagem

Indaiá-Rastciro Rabaçu
Ãcidos Graxas
.- Polna A."pndoa Amêndoa
Ãcido CaprfUco - 9,0 6,8
Ácido câprico - 10,0 6,3
Ácido Laurico - 44,2 41,0
Ácido Mtríst:tco - 11,9 16,2
Ácido Pa1mÍtíco 22,6 6,7 9,4
Ácido Palmitoleico - - -
Ácido Esteárico 7,5 2,9 3,4
Ácido Oleico 46,7 12,8 14,2
Ãcido Linoleico 21,0 2,0 2,5
Ãcido Linolênico 1,0 - -
Fonte: CETEC

Comparado ao óleo de babaçu, a mistura de glicerfdeos no óleo de


amêndoas de indaiá apresenta maior incidência de grupos laterais
de menor cadeia de átomos de carbono, predominando os derivados
de ácidos graxos COfu 8 a 12 átomos de carbono, em torno de 63'
contra 54' no óleo de babaçu. De fato, a participação mais acen-
tuada dos ácidos caprílico e cáprico na composição do óleo de in
daiá, relativamente ao óleo de babaçu, pode representar um crité
rio de distinção entro as espécies Attalea e Orbignya.

A Tabela 32 confronta os dados da cómposição química dos óleos ~


amêndo~s obtidos de espécies diferentes do gênc,:o Attalca com os
do coco babaçu. As espé des 6. compta, e 6. 01 elfera, conforme se
observa, mostram teores de ácidos caprflico e ácido ciprico ain-
da mais significativos. A presença de ácido oleico é, no entant~
bastante superior nos glic~rfdeos do óloo de babaçu obtido de
sementes coletadas cm Monto.lvânia,noroest.e do Estado, onde o coquei.ro viceja
com grwlde ex~)~rrmcia e produtividade.

120
Tabela 32 - Análise Cromatográfica dos Oleos de Amêndoa dos Gêneros Attalea
e Orbignya
Dados em Porcentagem

rndaIii Bnhnçu
Ácidos Graxos
A.borgesiana A.compta A.oleífera O.barbosiana
(.Januaria) (f1ouradoquara) TItamarandib<jl T~bntal v:mia)

Ácido Caprílico 9.,0 11,7 12,2 5,5


Ácido cãprico 10,0 10,1 9,6 6,2
Ácido Láurico 44,~ 43,7 45,4 41,5
Ácido Mi.nstico 11,9 10,5 11,5 12,0
Ácido Palmítico 6,7 6,5 6,2 8,4
Ácido Esteárico 2,9 2,7 3,1 3,0
Ácido 01éico 12,8 12,8 9,5 19,8
Ácido Lino1éico 2,0 2,0 2,5 3,4
Ácido; Saturados 85,2 85,2 88,0 76,8
Ácido; Insaturados 14,8 14,8 12,0 23)2

Fonte: CETEC

o coco indaiá-rasteiro, assim co~o outros frutos portadores de po1


pa oleaginosa, também é susceptível ã deteriorizaçao química ou
biológica, principalmente a partir da queda natural do fruto, qu~
do este, ao completar o período de maturação, se desprende do ca-
cho. O coco, exposto livremente ã ação direta da luz e das condi-
ções ambientais favorece o ataque químico. enquanto a microflora
promove a rapida acidificação do óleo por hidrólise enzímática.O~
tros agentes nocivos são os insetos e os animais roedores como a
cutia e o rato-da-campo, não obstante-sejam eles os principais res
ponsáveis pela dispersão da palmeira.

A Tabela 33 indica as variações de acidez livre do óleo de polpa


do lndaiâ-rasteiro, extraído de frutos maduros recém-colhiJos, os
quais foram armazenados sob diferentes condições, em períodos de
tempo variáveis.

121
122
Figura 08
- F"IlE:
1IIJ,
I IDI
"'~-"
o
I
-
±.

:. :: It-"- -Ifl-':::::::::-'t'-/-'-,-·----·--
::1=


Tabela 33 - Desenvolvimento da Acidez r,ivre no 6leo de Polpa do lndaiá

Lote de Cocos Condições de Esta PerIodo (dia) Teor de Ácidos Li-


cagem - vres ácido oleico
(%)

1 A O 1,2
2 A O 1,2
3 B la 2,2
4 B 18 3,8
5 B 25 5,3
6 B 28 7,2
7 B 42 10,2
8 B 49 15,0
9 C 07 1,2
la e 12 1,1
11 e 17 1,6
12 C 24 1,0
13 C 29 2,1
14 e 43 5,4
15 C 45 10,0
16 C 50 21,1

Fonte; CETEe "


Condições: A - eole~a e Análise Imediata
B Ar Ambiente
e - Atmosfera de Formal 1%

A interpretação dos resultados indicados na Tabela 33 mostra a


pouca estabilidade do óleo de polpa no fruto, pois decorridos
apenas la dias da colheita, os cocos. elubora man tidos em condições
mais propícius e menos naturais, tornam-se cada 'vez mais deteriQ.
rados, com aparecimento de bolores por toda "a superffcie do fru
" "

to, e num prazo de 28 dias, a acidez livre, expressa em ácido


oleico, já excede a 7'. rim atmosfera do formal a 1%, os frutos se

124
preservam por mais tempo: transcorridos 30 dias da coleta, a
acidez do óleo ainda ê inferior a 2,2~. No entanto, com a dimi~
nuição gradual da concentração de formaldeido na solução esteri
lizante, a polpa torna-se vulnerável à ação da flora criptogâmi
Ca e da umidade excessiva do meio, o que resulta finalmente no
aumento da acidez.

Conforme se pode constatar dos dados da Tabela 34 , as alterações


no gr~u de acide~ do óleo de polpa promovem modificações na co~
posição química da mistura de glicerídeos, refletindo-se com
maior intensidade sobre a cadeia lateral do ácido linolêico, cu
ja incidência sofre diminuição com o aumento da acidez livre.

Tabela 34 - Efeito da Acidez na Composição Química do 6leo de Polpa do


Indaiá-Rasteiro
Dados em Porcentagem

Ácidos Graxos Acidez Livre em Ácido oléico (~)

2,4 4,7 5,4 10,2


Ácido Palmítico 22,6 22,9 23,9 23,7
Ácido Esteárico 7,5 6,5 4,0 3,5
ÁCÍ<'lo Oleico 46,7 50,6 55,7 58,9
Ácido Linoleico 21,0 15,8 10,0 11,1
Ácido Lino1ênico 1,0 1,3 1,6 1 ,5

Fonte: CETEC

A prática mais eficiente para conservar a boa qualidade do fru-


to ê através da esterilização por choque térmico, a 80 0 - 110°C,
procedimento suficiente para inativar as enzimas 1ipo1íticas
reduzindo-se-, ao mesmo tempo, a umidáde do fruto. Os coco·s assim
tratados podem ser, em seguida, armazenados em ambiente seco, em cujas
condições a acidez 1ivie do 61eo se mantém, praticamente ioa1te
râvel, por prazos maís longos.

125
4.6- Sub-Produtos da Extração

Após a extração dos óleos de polpa e de amêndoas, os resíduos do


processamento somam em torno de 80~ do total da carga, dos qums
o endocarpo calorífico representa sozinho mais de 50~. As vanta-
gens de seu emprego direto para a geração de calor em caldeiras, .
fornos e gaseificadores decorrem de sua maior densidade aparen-
te, comparada ã ~a lenha, e do ,baixo teor de umidade, inferior a
15 %, o qU,e, afinal, resul ta no aumento do grau de eficiência da
combustão. Tais qualidades, aliás, recomendam ainda o uso do en
docarpo na alimentação de gasogêneos para motores.

A casca e a torta da polpa deverão ser aproveitadas como fonte


de energia têrmica e elétrica no processamento industrial do c~
co indaiá-rasteiro, destinando-se os excedentes da biomassa re-
sidual para a fertilização da área cultivada. Por outro lado, a
torta da amêndoa, em vista do teor de proteína bruta, conforme
indica a Tabela 35, terá emprego mais nobre no balanceamento de
raçoes animais.

Tabe la 35 - Composição Química dos Resíduos da Extração do Coco Indaiá


Dados em Porcentagem

Componentes Casca Polpa Endocarpo Amêndoa

Cinzas 2,0 2,5 0,9 4,9


Extrativos 1,2 2,1 '4,0 7,4
Proteína 6,9. 5,9 2,0 29,6
Fibra 44,3 41,8 57,9 16,8
Lignina 26,8 18,9 29,1 7 ,1
Carboidratos 63,1 70,6 64,0 51 :0
Fonte: CETnC

126
A Tabel.a 36 indica os resul, tados das análises das cinzas para os
diversos resíduos da extração. Entre os constituintes inorgâni-
cos principais destacam-se o potássio, presente nas cinzas da
casca e da polpa do fruto, enquanto na amêndoa o fósforo é o el~
mento predominante. A capacidade da planta em absorver do solo
arenoso os elementos nutrientes ·de que necessita, na forma de
silicatos soluveis, é mostrada pelo alto teor de sílica presente
no endocarpo do coco.

Tabela 36 - Análise Inorgânica das Cinzas


Dados em Porcentagem

Constituintes
Inorgânicos Casca Polpa Endocarpo Amêndoa

P 20 5 5,6 6,8 2,8 47,5


5i0 2 23,4 9.,6 57,7 0,3
Na 20 0,9. 1,1 0,3 0,3
K0 40,7 42,2 21,1 33,7
2
CaO 2,7 4,2 4,5 -
MgO 4,3 ·5,0 1,5 15,9
PbO 0,2 0,1 1,8 -
Pon te; CEIE C

127
5.
Buriti
o buriti é planta da família das Palmáceas, sub-famÍlia Lepido-
carinae, tribo Mauritiini e g6nero Mauritia. Segundo Bondar(4),
o g6nero compreende cerca de 17- esp€cíes, das quais 11 ocorrem no Brasil.

Do ponto de vista do aproveitamento e do potencial de utilizaçã~


as duas espécies mais .importantes sao a Mauri tia flexuosa L. e
a Mauritia vinffera Mart., sendo ambas, dentro do gênero, as de
maior disseminação no País, sobretudo na região amazônica, embo-
ra o buriti, designação vulgar da M, vinffera Mart., medre, tam-
bém, abundantemente em extensas áreas do Brasil Central, como
nos estados do Mato Grosso, Goiás, Bah.ia e Minas Gerais.

A outra espécie, o miri ti, denominação popular .d-a M. flexu~s a L.,


habita de preferência a Amazônia Equatorial, formando grandes a-
densamentos em zonas inter.iores do Brasil, Peru, Colômbia, Vene-
zuela e Guianas, estendendo-se sua ocorrência, no entanto, a paí-
ses da América Central.

Segundo Altman (22), os maiores buritizais da Amazônia localizam


-se na foz do rio Tocantins, nas proximidades de Cametá, além de
concentrações significativas da palmeira na ilha de Marajó, no
alto Rio Negro e nas areas' circ1!nvizinhas ao rio Solimões entre
as cidades de Coari e Tefê.

Os i~ensos povoamentos da palmeira distribuem-se de prefer6ncia


pelas várzeas, )?ântanos e brejos, não obstante possa também h11-
bitar os campos, mesmo em altitudes acima de 1000 m, porém vice
jando sempre em solos úmidos e ácidos, sujeitos ã influência de
lenço is e cursos d'água, onde é impraticável a agricultura tra-
diC:lonal.

Em Minas Gerais, o buriti, a mais nobre criaçao do reino vegetal


na nntureza tropical, no, dizer de Lund (23), compõe a paisagem
das veredas, formações fitogeogrâficas contornadas pelo cerrado,

129
caracterizadas pela intensa umidade de suas áreas, âs vezes pa~
tanosas e encharcadas com pequenos cursos d'âgua, ou com nascen
teso Os solos, ricos de humus, tornam a vegetação rasteira c ar
bôrea sempre verde, abrigo da fauna diversificada dos cerrados
do norte do Estado, sobretudo durante os períodos de seca prolon
gada, que ai encontra, com abundância, uma garantia para a sobre
vivência.

O porte ereto da planta, seguramente a mais alta das palmeiras


do Brasil, se realça pela sua copa majestosa, coroada de largas
°folhas, dispostas simetricamente em leque, impondo-lhe grandio-
sidade e beleza,

Além desta qualidade estética, as espec~es do gCnero Maur~tia a-


presentam valor utilitário raramente visto em outras plantas com
tal diversidade de aplicações que levou muitos historiadores co-
mo Rurn,boldt e Schomburgk, a descrever a palmeira como a "ânFore da
vida", o "saguzeiro da América" ou "a mais gloriosa de todas as palmeiras'.

De fato, as populações que habitam as zonas de incidência da pa:!:.


meira, de modo especial os indígenas e caboclos da Amazônia,dela
se servem para múltiplos propósitos e lhes garante parte de suas
necessidad~, sobretúdo alimentares.

Na região amazônica, oa palmeira recebe variadas denominações tais


como buritisan~. murichi, buri, boriti, carandaá-guassú, carandaí
-guassú, carandaí-assú, caranai, não obstante os nomes mais usua~
sejam buriti e miriti, designações or~ginârias do tupi que signi
ficam "árvore que emite líquido".

A sinonímia estrangeí.ra da palmeira nos países da bacia amazônio-


ca inclui designações como aguaje ou achual (Peru), murichi ou
moriche (Venezuela) e awara ou bache (Guiana Francesa).

130
Quadro 04 - Distribuição do Gênero Mauritia no Brasil

Classificação Botânica Denominação VUlgar Ocorrência

M. aculeata HBK CaranaÍ,Caraná,Candiá, Amazonas


Buritirana
M. amazônica Barb.Rod. Carana!,CararuI-i Amazonas (Rio Caranaí
Rio Negro)
M. annata Mart. Buriti Bravo,Buritirana, Piauí, Goiás ,Bahia .Minas
Bur:iti-mirim Gerais
M. carana Wall Muhi tínâmalú Amazonas (catingas)
M. flexuosa Lin." Muriti,Miriti,Buriti, Amazonas, Pará,Rio Bran-
~furiclli, Palmeira-ita, co
~breti, Buriti-do-brejo

M. gracilis Wall Carana! Amazonas (Rio Negro)


M. Huebneri Burret Caraná, Cahuáia Amazonas (Rio Ne gro)
M. limnophila Bar. Rod. Caraná-i Amazonas (Rio Caraná-i)
M. Martiana Sprece Carina, Ripa, 13uritizi Amazonas, Pará, Mato "
nho, Carandas in!lo , Ca:: Grosso
ranã, Caranaí
M. pumila Wall Caranaí-mirim Amazonas (Rio Negro)
M. vinífera Mart. Buriti, Carandaí-guass~ Pará, Goiás, Mato Grosso,
Bruti Bahia, Minas Gerais

5.1- Descriç~o Bot~nica

O buriti (M. "inifera Mart.) apresenta o espique ereto, liso, cl


líndrico até 50 cm de çiiâmetro, inerme e glabro, podendo atingir
até 50 m de altura; câpice coroado por 20-30 folhas grandes, de
limbo orbicular, de 3 a 6 m de comprimento, pinatifidas, flabell
formes, dispostas em leque; flores poligamas, amarelo-avermelha-
das, coriáceas, reunidas em espadices ramificados de 2-4 m de
comprimento; fruto drupa" elipsóide , estrob:tliformc, de 4-5 cm

131
Foto 23 Maurítia vinifera

Foto 24 Maurítia vinifera

132
de comp~imento. castélnho-avermelhado, globoso, revestido exter-
namente por escamas rômbicas. imbricadas e luzidias; polpa ala-
ranjada, mélis ou menos fibro~a, oleosa, de sabor levemente ado-
cicado. que envolve uma semente ovóide de consistência óssea.

Outra
. .
espêcie, freqUentemente associada ao buriti (M.
- vinífera
Mart.), ê o buriti-bravo (M~ armata Mart.), geralmente formando
grupos de la a 20 espiques flexuosos, de caule ereto, medindo
atê la m de altura, armado de fortes espinhos cônicos; folhas c~
lindrico-pecioladas, em número aproximado de 20, dispostas no á-
pice em leque, glaucas na página inferior e com segmentos linea-
res acuminados; espadice longo-pedunculado; fruto baga globosa,
de dimensões inferiores às do buriti, amarelo, contendo polpa co
mestível, de onde se extrai um suco leitoso adocicado.

5.2- Distribuição e Ocorrência da Palmeira em Minas Gerais

De vasta dispersão no Estado. o buriti (~. vinffera Mart.) prefe


re as altitudes superiores a 400 m, espalhando-se nas veredas e
nos terrenos alagadiços, resul tando. não raras vezes, em formações
densas e homogêneas de 200-500 palmeiras por hectare.

A pesquisa local empreendida em diversos pontos da região norte-


-mineira constatou ~ incidência abundante da· palmeira sobretudo
nos municípios de São Francisco. São Romão e Januária, onde as
veredas notadamente nas áreas mais próximas ã Serra das Araras ,
se apresentam em grandes maciços. via de regra ocupando os solos
de suaves depressões, e estendendo-se tais adensamentos como em
cinturões verdes, cuja extensão pode alcançar dezenas de quilõm~
tros.

As zonaS de maior ocorrência da palmeira abrangeili pelo menos 6


micro-regioes do Estado, localizadas sobretuoo cm áreas do Uruc~
ia, Caricllanha e Alto são Fr~ncisco como nas cabeceiras do rio
Cochá até o côrrego do Japão; no riacho do Gíbão e proximidades

133
d~ Serra da ~lexeira; no rio Cochá e seus tributários,.formados
pelos riachos
.
1mbiruçu,
. são Matias e Flexeiros; nas áreas circun -
·vizinhas ao rio Borrachudo e Carregos são Domingos, Catolé e Pa-
nela, incluindo-se ~s extensas veredas de Várzea Bonita e arred~
res do Côrrego Pindaibal; na Serra.das Araras e imediações dos
ribeirões Areia e Tabocas rio munic1pio de São Francisco; no muni
cípio de Formoso, em áreas limítrofes ao estado de Goiás; no mu-
nicípio de Pirapora, nas zonas vi zinhas â Serra do ~lorro Vermelho;
nas regiões banhadas pelo rio da Prata, no município de João Pi-
nheiro.

o traço comum e típico dessas formações subespontaneas refere-se


ao ~specto geomorfológico constituído por áreas d~ exsudação do
lençol freático quase sempre situadas em vales rasos, com verten
tes côncavas, arenosas, de relevo suave e preenchidos por argila
hidromôrfica.

Tendo em vista a escassa e restrita utilização econômica desses


terrenos, cujos solos ácidos e encharcados tornam inviável qual-
quer prática agro-pastoril mais intensiva, os buritizais não têm
sido alvos do desmatamento, embora 05 reflorestamentos com euca-
lipto em áreas contínuas venham acelerar a degradação ambiental
das veredas pela diminuição dos níveis de água, a ponto de sucum
bir a vegetação hidrófila (24).

Hã, ainda, a natural preocupaçao dos moradores locais em proteger


a palmeira, cientes, com certeza, do alto valor nutritivo de seus
frutos oleaginas os, os quai s também servem como ração para animais
diversos, principalmente aves e suinos.

A extensão mais representativa da incidênda do buri ti foi encon


trada na região de Várzea Bonita, próxima a São Joaquim, municí-
pio de Januária, e nas zonas de influência do rio Cochá, entre os
paralelos 14 0 30°, e 15 0 15' de latitude Sul ~ os meridianos 44 0 30'
e 45°10' de longitude oeste. No entanto, toda essaãrea, estimfl-·
da em 50000 ha de veredas. nio dispõe de infra-estrutura b&sica,

134
principalmente eletricidade e rodovias, para permitir, no momen
to, a exploração economica dos buritizais lá existentes,

Embora se tenha verificado a presença da palmeira apenas nos te!


renas úmidos e pantanosos, e possível que a germinação artificial
do buriti, seguida de tratds culturais, sobretudo nos primeiros
dois anos de vida, possa propiciar o desenvolvimento da planta
mesmo nos solos mais secos das áreas contínuas as veredas.

5.3- Aproveitamento Econômico do Buriti

De fato, não foi sem razão que o naturalista Rumboldt se referiu


ao buriti como a "árvore da vida", pois de quase tudo na palmei-
ra se tira proveito, e essa dâdiva da natureza tem sido, hã sécu
los, explorada
.
pelos indígenas e caboclos da Amazônia, que encon
-
tram na planta a satisfação para maior parte de suas necessidades.

Em que pese a diversidade de produtos elaborados a partir dos vá


rios segmentos
' .
da palmeira, o buriti não tem merecido um trat~n-
to exploratório intensivo e seu aproveitamento atual se restringe
aos tnteresses domésticos das populações locais e a atividades ar
tesanais que, embora lucrativas, se baseiam no extrativismo dos
povoamentos naturais existentes.

Além do baixo rendimento de óleo no fruto maduro, outros inconv~


nientes tornam inoperante qualquer tentativa de industrialização
do buriti em Minas Gerais, mesmo em pequena escala. Entres esses,
se inclui a localização pouco favorável dos adensamentos da pal-
meira, situados, de modo geral, nas zonas mais interiores do Es-
tado, de difícil acesso, desprovidas de infraestrutura rodoviárll4
Por out~o lado, tais povoamentos prosperam em áreas alagadas ou
pantanosaS, o que, certamente, cons tI. tui um sério obs tácul o às
operaçBes de colheita e de transporte do fruto.

No entanto, a despeito des$es problemas, a e~ploração industrial

135
Mapa OS Distribuição Geográfica do Buriti em Minas Cerais
46· 45· 43· 42· 40·

Mont, AriJI "I.:::::---t-------+-------!-!15·


o

eSuritis • Rio POlCo d. Minos


• JonQÜbo
São Francisco

• J\lmCFlCIrQ

o • Jc<tuitint-C'flha
Bonfinopolis Corocõo dI! Jesus
de Mino5- o
.. • Montes Cloros

--l---.j '1·
Minas Nows

• Novo Cru.u:iro

Jooo Pinheiro
• lIomorandiba
o "TecSfilo Oloni
Ouro Verde dI! Minos.
o
,,2'-..../.:.-.._....'::L--+_--I'8.
SôoGonçolo
do Abae-té'
• • Corinto

'Curveto
• Guanh6e!>
Tiros
o
MGhlfino
••
Poraopcho
o .90ldlm
Soo Gotordo
• Joboticolub(;ls

Esmeraldos
o .Corolintlo
fIl.{j) BELO HORIZONTE
loarQPlle

)36·
1

Foto 2S Mauritia vinifera


Veredas de Água Doce, Januária, M.G.

Foto 26 Mauritia armata (Buriti-Bravo)


Januária, M.G.

137
do buriti poderá apresentar economicidade caso o.empreendimento
seja integrado ·para ·prod~ztr não somente o óleo de polpa, mas
também aproveitar o caroço do fruto e extrair os pigmentos org~
nicos,· sobretudo·o ~-caroteno, presente em alto índice na polpa
do buri ti.

Entre os subprodutos da extraçao,·o caroço residual que represe~


ta até 50% do pes.o do fruto seco, constitui matéria-prima alter-
nativa à produção de botões típo jarina, embora os testes preli-
.minares desenvolvidos por Pesce não tenham logrado o êxito dese-
jado (25).

Outra possibilidade de aproveitamento do caroço está associada à


sua estrutura química, formada basicamente de glucomanose, cuja
hidrólise ácida, com HCl 5 ~, ou enzimática propicia a obtenç ão de
aÇúcares de 6 átomos de carbono, principalmente glicose e manose,
os quais, por sua vez, produzem etanol por fermentação.

A aplicação de incisões no Caule da palmeira faz fluir umà seiva


adocicada em rendimentos, segundo Pesce (25), de 8 a 10 litros
por árvore, cuja cristalização fornéce um açúcar amarelo, que co~
têm até 93% de sacarose. Após extraçao da seiva, as incisões de-
vem ,ser imediatamente reparadas com cimento para impedir o ataque
posterior de insetos ou de fungos cuja ação nociva pode· ocasionar
a morte da palmeira. Em alguns países da América Central, a sei-
va da !:!. vinÍ"fera é empregada na fabricação·de vinhos, o que a-
liás originou a designação botânica da espécie.

Também·do espique, ou tronco da planta, extrai-se uma fécula am~


lâcea, que os indígenas denominam ipurana, cuja qualidade e sabor
muito se assemelha ao sagu e à farinha de mandioca. Tal prática,
no entanto, exige o sacrifÍcio da palmeira, ju..<;tificiível só ·nas
formações mais densas ou por ocasião.do desbaste de pés improdu-
tivos. A produção artesanal da ipura~a requer, inicialmente, a
extração da medula no centro do tronco que, em seguida, ê tritu-
rad~ em pilões, A massa resultante, m~sturada cm igua, S filtra-

138
d& par& sepa~&~ & fibr& indesejável, sendo o &mido posterio~men­
te retir~do
. por. dec~ntação.

Depois, Já desprovido do broto terminal ou palmito, que represe~


ta outra excelente fonte alimentar do buriti, assim como da fécu
1& e demais fibras internas, o tronco oco se presta R construção
de canoas rústicas, de ripas e de calh~s.

As palmeiras .desbastadas e deíxadas em abandono ao ambiente nat.!:!,


ral, sem nenhum aproveitamento, se convertem logo em viveiros de
insetos, cujas larvas, principalmente do Rhy'nchophorus palmarum,
servem de alimento aos caboclos e indígenas da Amazônia.

As folh.as novas do buriti, de largo emprego na cobertura de casas,


sobretudo nas ã.reas ~e ocorrência da palmeira, fornecem fibras de
excepcional qualidade e de grande resistência, bastante usadas na
confecção de cordas, redes, bala;i.os, cestos e chapéus. Em algumns
regiões do norte do estado, notádamenté no municfpio de Januâri~
&s famos&s redes de buriti,'de grande beleza e durabilidade, são
um fator econômico para muitos artesãos cuja produção atende, de
modo geral,
.
ao mercado
. consumidor de Montes Claros e outros cen-
tros. Os longos peciolos foliais são aproveitados na obtenção do
méstica de ~ipas. esteios, gaiolas ou mesmo de sandálias.

De maior importância,
. -
os frutos
.
do buriti con~tituem a maior re-'
serva natural 'de pró-vitamina 'A. cujo teor atinge o expressivo
fndice de 300 mg por 100 g do óleo de polpa, equivalente a 500000
D.r. de vitamina A (26), muito superior ao observado nos óleos de
dendê e de piqui. A intensa coloração vermelha do óleo, que arrE
ta as substâncias carotenóides no processo de extração, favorece
seu emprego como um corante natural de excepcional valor nutriti
vo, dado os altos teores de vitamina A, podendo substituir os a-
diti vos Artificiais comumente ut:ili zados na indús tria de allmen-
tos.

Embora Pesce (2~ tenha, mencionad6 a produção caseira do óleo de

139
buriti em estados do norte do país, em Minas Gerais, o fruto do
bur!ti somente é explorado visando â obtenção da polpa seca, ou
saieta, da qual se prepara o doce de buriti, típico da região.

5.4- Aspectos da Cultura

Conforme foÍ, constatado por ocasião do levantamento das áreas de


ocorrência da palmeira no Estado, a cultura do buriti se desen-
volve satisfatoriamente nas zonas compreendidas entre os parale
10s 14 0 30'_16 0 00' de latitude sul e os meridianos 44 0 30'-46 0 00'
de longitude oeste, on4e se encontram grandes adensamentos, em
ótimas condições de vegetação e frutificação. Fora desses limi-
tes, pelo menos em Minas Gerais, o buriti se caracteriza pelo
baixo potencial produtivo. As altitudes correspondentes às áreas
principais de incidência variam entre 400m a 500m, faixa conside
rada ótima ao crescimento da planta.

As condições mais favoráveis ao desenvolvimento doburiti,foram,


no entant:o, somente encontradas nas baixadas, em áreas dotadas
de lençois d'âgua quase ã superfÍcie c~mo nas veredas ou em váE
zeas ,não tendo sido observado quaisquer formações naturais '__ ,da
palmeira em solos secos ou nas encostas de morros. Nas âreas de
maior incidência e onde os povoamentos se caracterizam pelo ele
vado~ndi.ce· de pr:odutividade, a média anual da temperatura exce
de a 309C.

A pesquisa de campo demonstrou a preferência do buriti pelos ter


renos de aluvião, planos e profundos, principalmente aqueles si-
tuados entre as elevações, onde o excesso de matéria orgânica alí
carreada representa um dos fatores de manutenção dos altos níveis
de produtividade da palmeira por períodos que podem superar 50
al),o s', segundo. ;l:nformam
. os moradores
. locais.

De modo geral, as formações naturais do buriti no norte do Esta-


do são relativamente densas, estabelecendo-se, em conseqUência

140
uma concorrênci~ indesejável ent~e as plantas a qual afeta o ren
dimento de frutos e promovendo maior crescimento do espique da
palmeira. Assim, a colheita dos frutos torna-se uma operação bas
'tante complexa e oneroSa" exigindo habilidade, destreza e mesmo
coragem por parte dos trepadores que, mediante o auxílio de cor-
das a,tadasao corpo, sobem até ao cimo do coqueiro, de onde ret~.
ra,os frutos maduros. Essé penoso' trabalho esgota em poucas horas
a capacidade física do colhedor, sendo quase impossível uma ativi
dade intensiva d~rante todo o dia. Além da baixa eficiência da
operação, outro inconvenIente é a possibilidade da colheita pre-
matura de frutos ainda em estado de maturação, desde que o cri-
tério de seleçâo baseia-se apenas na coloração mais escura do
fruto. Em palmeiras mais novas. a colheita pode ser efetivada com
o auxílio de varas ou bambús munidos de lâminas cortantes, adap-
tadas â extremidade superior.

Apôs a colheita, a pessoa encarregada desta ocupação deve execu-


tar os serviços de manutenção da palmeira. podando as folhas ve-
lhas e manchadas, eliminando os raques já desprovidos de frutos
ou t~lvez, aplicando defensivos para combate a insetos e fungos.

Em Minas Gerais, o período da colheita de buriti prolonga-se por


5 meses, a partir de outubro, sendo praticada a coleta apenas dos
frutos no solo, caídos.

Embora o processo de colheita após a queda natural do fruto pos-


sa parecer o procedimento mais simples, algumas desvantagens to~
nam essa prática desaconselhável no caso da exploração econômica
dos palmares, sobretudo porque a elevada umidade do fruto ou do
solo favorece o ataque da polpa oleosa pela flora microbiana,por
insetos, animais roedores e répteis.

De modo a assegurar
. bons l'endimentos . de frutos, os palmares nat!
-
vos de buri.ti devem ser submetidos a' uma série de tratos cul tura
.
is, por exemplo, a eliminação sistemática das folhas secas
-
que

141
prejudicam o desenvolvimento dos cachos; o desbaste dos cocais
demasiadamente densos, para dotá-los de melhores condições eco-
lógicas, mantendo viva apenas uma população máxima de 150 a 160
palmeiras por hectare; e a limpeza da vegetação espontânea con-
corrente ao redor dos coqueiros, para f'acrlitar os trabalhos de
colheita e de manutenção.

Simultaneamente, deve-se proceder ao estabelecimento de cultivos


novos, seja para ocupar os vazios existentes no povoamento nat~
ralou para ampliar e mesmo renovar a área agrícola. evitando-se
, ,

os terrenos alagadoS ou de difÍcil acesso, sempre que for possí


velo

5.5- Composição do Fruto

o fruto do buriti "CM: vinÍ;fe'ra Mart.) é uma drupa ovular. de p!':


so medio em torno de 40,0-45.0g. cujo diâmetro maior varia entre
5,0 e 6,Ocm. A drupa é'composta da casca externa, ou epicarpo
na f~rma de escamaS vermelho-castanhas. fortemente aderidas na
polpa do fruto fresco, mas que s,ao removfveis com relativa faci-
lidade no estado de plena maturação; a polpa fibrosa e oleosa
ou mesocarpo, tem coloração vermelho-alaranjada, em vista do a~
to teor d~ caroteno; o caroço esbranquiçado. extremamente duro.
, ,

lembra o marfim.

A discrepãncia entre os resultados analíticos apresentados na li-


teratura p~de ser atribuída li origem duvidosa dos frutos, que sen
do de espécies diferentes - ~: vihffera ou~. flexuosa, são por
vezes. classificados erroneamente como oriundos de uma única es-
pécie, o que -x:esu1 ta, afinal, em dados confli tantes. Outras fon-
tes de desvios são os diferentes graus de maturação ou de umida
de do fruto •.

A Tabela 37 define os Índices de composição média do fruto madu

142
ro, calculados com base na análise individual de diversos lotes
de buriti, imediatamente após a cole ta em áreas de São Joaquim,
município de Januária.

A análise dos dados analíticos evidencia o alto teor de umidade


do fruto, superior a 50\, o que, na verdade, constitui um dos
obs.tácu10s à exploração iridus tria1 do buri ti, uma vez que "a op~
ração de secagem não pode ser conduzida tão lentamente, por ex-
posição livre ao meio ambiente, face à deterioração rápida do
fruto.

Tabela 37 - Composição do Fruto do. Buri ti


Origem: São Joaquim, Januária

Péso do Lote (g) Composição ~~dia do Fruto (\) - Base Seca


Lote de 6
frutos
Bãse tlmida Base Seca Casca Polpa Amêndoa
01 236,8 118,2 23,6 26,0 50,4
02 240,4 117,8 28,4 30,0 41,6
03 262,4 139,9 22,9 27,1 49,9
04 218,5 98,1 "30,2 25,2 44,7
05 219,2 96,0 27,8 24,3 47,9
Op 209,5 9.1,6 29,4 22,8 47,8
07 220,8 109,7 24,6 28,2 47,3
08 203,6 100,2 27,2 29,4 43,4
09 212,9 104,3 25,2 28,9 45,9
10 231,5 116,4 25,0 27,9 . 47,1
11 201,1 92,S 28,0 26,7 45,3
12 255,5 128,5 23,1 24,8 53,1
13 250,0 138,5 24,2 27,3 48,5
14 249,0 127,0 24,8 30,8 44,4
15 236,5 122,7 26,1 31,8 42,0
16 210,6 91,6 30,3 33,S 36,2
17 200,6 84,3 29,S 32,2 38,3
18 230,9 100,7 29,9. 30,7 39,4

Fonte; GETEC

143
Por outro lado, a Tabela , elaborada com base nos números con~
tantes na Tabela 38, e nos dados quantitativos da extração do ó-
leo com hexano, mostra que a polpa oleaginosa do buriti represe~
ta menos de 1/3 do peso do fruto seco. A presença de óleo na ca~
cu do fruto deve-se ã sua aderéncia na polpa alaranjada, que não
ê removível completamente ria operação de descascamento manual.No
entanto, a separação do caroço e da polpa integral associada à
casca pode ser executada sem grandes dificuldades através de má-
quinas apropriadas e submetendo-se depois a massa oleosa ã expre~
são em prensas hidráulicas ou do tipo "expeller". Em seguida, a
torta residual, que ainda retém cerca de 8% de óleo, é tratada
cOm hexano para aumentar o rendimento final da extração.

Tabela 38 - Composição e Teor de Oleo do Fruto do Buriti


Base Seca - Dados em Porcentagem

Componentes Composição Teor de 6leo

Casca 23,0 - 30,0 6,0


Polpa 25,0 - 32,0 23,0
Caroço 38,0 - 50,0
Fonte: CETEC

Finalmente, sao apresentados na Tabela 39 os dados quantitativos


finais referentes ao peso, à umidade e ao teor de óleo no fruto
fresco ou no estado seco, que expressam o pouco potencial oleíf~
ro do buriti comparado com ,outras palmáceas oleaginosas, tais co
mo o dendê ou a macaúba. Segundo as. informações colhidas junto aos
moradores locais, os buritizais mais densos do norte de Hinas G~
rais comportam atê 200 palmeiras por hectare, com uma produção
em torno de 2000 a 5000 frutos por árvore, o'que resulta num ren
dimento de óleo em torno de (O,60-I,48t).

144
Tabela 39 - Dados Quantitativos do Fruto do Buriti

Fruto
características Fresco Seco

Peso Médio (g) 38,0 18,2


Umidade (%) 52,0
Teor de 6leo (%) 3,9 8,1

Fonte: CETEC

A análise das características físico-químicas do óleo de buriti,


que são discriminadas na Tabela 40 , permite identificar o'maior
índice de insaturação presente na cadeia lateral dos ácidos gr~
xos. Por outro lado, o grau 5,5 na escala de cores ASTM deve-se
ao alto teor de substâncias carotenoides, cujos rendimentos, em
torno de 300 mg por 100 g de óleo, consagram o buriti como a
mais rica reserva natural de vitamina A.

A composição química do oleo de polpa do buriii, determinada por


cromatografia em fase gasosa, veio corroborar a maior particip~
ção dos ácidos insaturados, como componentes principais na cade1a
lateral dos glicerídeos, sobretúdo os derivados do ácido oleico,
que representam mais de 80% da mistura total, conforme mostram
os dados da Tabela 41

A título de comparação, a Tabela 41 insere ainda dados referen-


tes ã composição química do óleo de oliva, de,duas procedências.
cujo teor em ácidos graxos mostra a estreita correlação existe~
te entre os óleos, sobretudo quanto ã riqueza em ácido olejco, o
que vem atestar a boa qualidade nutricional do óleo de buriti.

145
Foto 27 Frutos do Buriti

, ,
Foto 28 Componentes do Fruto

146
Tabela 40 - Análise Físico-QUÍmica do 6leo de Buriti

Características F{sico-Químicas Clleo de polpa

·Teor de Ácidos Graxas Livres U,32


(como ácido oleico, %)
.Densidade a 2s 9 C (g/cm 3 ) 0,9123
.Indice de Refração a 2s 9 C 1,4553
.Indice de Saponificação 190
.Indice de Iodo (Wijs) 72,4
.Insaponificãveis (%) 1,2
.Indice de Peróxido . 3,95
.Ponto de Solidificação '(9C) <-5, O
.Cor A5TM 5,5
.Poder CalorIfico Superior (Kcal/Kg) 9256
.Peso Molecular Médio
(por cromatografia gasosa) 870
• Viscosidade a 37,S9C (cSt) 35,0
·.CHN
Carbono 77 ,1
Hidrogénio 2,7
Oxigênio 20,2
.Indice de Hidroxila 17,6

Fonte: CETEC

Tabela 41 - Composição Quimica em Ácidos Graxas


Dados em Porcentagem

Ácidos Graxas Clleo de Polpa dleo de Oliva


rip R"ri "i F.s~anh~ Portu<Tal Ar<Tcntina
Ácido Pa1mítico 16,3 8,7 13,2 12,1
Ácido Palmito1eico 0,4 0,8 2,3 1,3
Ácido Esteârico 1,3 0,4 1,6 0,5
Ácido 01eico 79,2 76, '7 74,3 69,2
Ácido Lino1éíco 1,4 11,0 7,1 16, O
Ácido Lino1êníco 1,3 1,8 1,1 0,8
Ácido Saturados 17,7 9,1 14,8 12,6
Ácido Insaturados 82,3 90,9 85,2 87,4
F'Dnte: CETEC

147
Figu~a09 - Oleo de Polpa de Buriti
..
o
o
...
- +IV
INJ. ·8
CD
o FILE: '1 lD' 1
PK
. 1
* TINE:·
4.67
RRE:R
844695
RRE:R 7-
J7.76
2 7.71 114812 2.48
3P S.87 3687220 77.52
4T 10.91 118588 . 2.32
TOTRL 4756515 188.138
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]48
No entanto, em que pese 'o valor o~ganolépttco do õleo de burit~
o baixo rendimento oleífero do fruto, que não ultrapassa a 4% s~
bre o peso da drupa fresca, e a excessiva umidade da polpa torn~
na verdade, multo pouco atrativa sua exploração industrial~Outro
grave inconveniente refereMse à necessidade do imediato processa
mento dos, frutos, logo apôs' a colheita, tendo em vista a rápida
deterioração da polpa pela flora crIptogãmica, cujas enzimas hi-
drolisam os glicerÍdeos aumentando, como consequência, a acidez
livre do óleo.

Tal como ocorre com a macaúba, os frutos do buriti não apresen-


tam maturação uniforme e sua queda ao solo quase sempre resulta
na ruptura parcial da casca que expõe livremente a polpa oleosa
ao meio ambiente -.ã umidade natural e ao ar, condições estas
que favorecem as alterações químicas e biologicas na polpa do
fruto.

A Tabela 42 indica as modificações observadas no grau de acidez


livre do óleo da polpa, obtido de lotes de frutos maduros, os
quais foram mantidos sob condições artificiais diversas, duran-
te períodos de tempo variáveis.

Segundo os dados da Tabela 42 revelam, o tratamento


. térmico
. dos
frutos a 60 9 C mantém os índices de acidez quase. inalteráveis, en
.
quanto em atmosfera 3e formol a 1% o aumento da acidez é mais p~
-
nunciauo. A esterilização do fruto a 80-1l0 9 C, além de promover
a queda abrupta da umidade atê Índices Inferiores a 10\, torna
inativas as lipases eventualmente presentes na polpa oleosa, pe.!
mitindo, a seguir, a estocagem dos frutos em ambiente seco por
longos períodos de tempo, sem que ocorram alterações no grau de
acidez livre do oleo.

149
Tabela 42 - Desenvolvimento da Acidez L~vre nos Frutos do Buriti

Lote de Frutos Condições de Esta Período (dia) Teor de Ácidos Gra-


cagem - xos Livres
(ácido oléico. %)
1 A O 1,9
2 A O 1,2
3 A O '1,0
4 B 4 '1,9
5 B 7 '3,0
6 B 14 11,7
7 B 28 21,2
8 C 4 3,0
9 C 7 2,3
10 C 14 2,9
11 C 21 2,1
12 D 4 2,0
13 D 7 3,9
14 D 14 3,7
15 D 21 3,7
16 D 28 5,7

Fonte: CETEC
Condições: A - Coleta de Análise Imediata
B - Ar Ambiente
C - Estufa a 60 g C
D - Atmosfera de Formal a 1%

No curso do processo extrativo, além do óleo de polpa, obtém-se


grande quantidade de biomassa residual. aparentemente de pouco
o~ nénhum valor econômico, mas 'cujO aproveitamento como insumo
calorífico em cilldeira'i a vapor. para geração de energia têrmi'ca
ou elétrica. poderá contribuir na redução dos custos de produção
do óleo, sobretudo se a usina vier também a processar as substãn-.
cias carotenóides presentes na polpa do fruto. De aI ta densid'a-
. de aparente, o caroço do buriti. de poder calorxfico em torno de
4600 Kcal/Kg. pode representar uma opção interessante para a a1~
mentação de gasogênios.

150 .
Os dados da Tabela 43, por outro lado, evidenciam o baixo teor
protéico da torta da polpa de buriti como do seu caroço, sobre~
saindo neste a incidência acentuada de carboidratos que, segun-
do Pesce (25), podem representar a manocelulosa, cuja hidrólise
ácida, ou enzimática, produz glicose e manose, ambos os quais
cons ti tuem matéria-prima para ob t.enção de etanol por fermentação.'

Tabela 43 - Análise Química dos Resíduos da Extração


Dados em Porcentagem

Constituintes Polpa Caroço

Cinzas 3.6 2;4


Extrativos 19,1 2,0
Proteina 3,9 8,0
Fibra 26,9 28,1
Lignina 11,6 6,4
Açúcares 1,5 - .
Carboidratos 60.3 81,2
Fonte: CETEC

Outra opção ao aproveitamento da polpa residual, além de consti-


tuir-se
. em insumo calorífico para geração de vapor no próprio pro
-
cessamentó industrial do fruto, seria destinar o excedente na adu
bação da cultura da palmeira, de modo a suprir parcialmente as
necessidades de nutrientes como o potássio e o cálcio, que sao
os elementos inorginicos predominantes na polpa do buriti,confo!
me mostram os dados da Tabela44.

151
Tabela 44 - Análise Inorgânica das Cinzas' da Torta de Buri,ti
Dados em Porcentagem

Constituintes Inorgânicos Polpa Caroço

P Z0 5 '4,3 15,4
SiO Z 6,7 0,9
NaZO 1,0 1,Z
KZO 36,1 39,8
CaO 16,7 11,7
MgO 5,3 6,9
MnO 2,9 2,3

Fonte: CETEC

152
6.
Piqui
o piqui e uma planta arbôrea da família Caryocuraceae, gênero
Caryocar L., englobando ce:ca de 20 especies, das quais .11 foram
estudadas e classificadas por Martius, No Brasil, OCorrem pelo
menos 8 espécies do gênero Carrocar, a maioria de porte alto e
compondo a vegetação da floresta amazônica, inclusive estenden-
do-se seu habitat natural aos países limftrofes, principalmente
Peru, Suriname e Guianas. Não obstante, a existência de algumas
especies do piqui na América Central, o centro de dispersão da
oleaginosa foi com certeza'a Amazônia,

Etimologicamente, piqui ou pequia, origina-se do tupi (py-casca,


qui-espinho) significando casca espinhosa, certamente em virtu-
de do caroço do fruto ser revestido internamente por finos espl
nhos.

Na região amazonica, os piquizeiros adquirem tal estatura que


sua~ arvores chegam a rivalizar com outras de porte agigantado,
_. . . ~ ~

podendo o tronco de algumas especies do genero Caryocar alcançar


3,5 m de diâmetro e uma altura que atinge até 50 m segundo rel~
ta A. Ribeiro (27). Certas areas da mata são tão densamente po-
voadas da oleaginosa que os indígenas as designam de piquiatuba
ou seja, flóresta d~ piquiã.

No Brasil,
.
o piqui distribui-se desde a sua area de maior ocor-
.
rência no Para e no Amazonas, aos estados do Nordeste e estende~
do-se ainda aos estados do Mato Grosso, Goias, Minas Gerais,São
Paulo e norte do Parana,

Embora muitas especies do gênero Caryocar possam habitar em re-


g~oes diferentes do País, fora dos limites da floresta tropical
úmida da Amazônia, apenas duas gozam de maior importânc~a - a C.
coriaceum Wittm., encontrada nos campos do Nordeste e a C.
brasiliense Camb., considerada entre as especies, a de maior

154
incidência no Brasil Central, e constituindo-se mesmo em espé-
cies típica da paisagem florística dos cerrados de Minas Gerais.

Apesar do desmatamento contínuo dos cerrados mineiros, notadmre~


te na região norte do Estado, onde a ação de firmas re flores tadoras de
eucalipto vêm praticamente 'extinguindo a espécie nas áreas explQ
radas, o piquizeiro goza de natural proteção por parte da popu-
lação rural, que usufrue da planta, aproveitando os frutos como
fonte alimentícia durante 4 a 5 meses ao ano.

Felizmente algumas administraç6es municipais. cientes do alto v~


lor nutricional do fruto, sobretudo pela sua riqueza em substân-
cias carotenóides, têm empreendido louváveis esforços visando à
preservação dos piquizeiros, o que, de certa forma. contribui pa
ra atenuar os problemas locais de saúde pública decorrentes de
uma dieta alimentar pouco consistente de proteinas e principalme~
te de vitamina A.

Na verdade, o C; 'bíásiliénse Camb., pela sua comprovada adaptação


nos campos de cerrado do Brasil Central. crescendo e prosperando
em terrenos de baixa' qualidade, de modo geral impróprios à agri-
cultura de subsistência, poderá constituir-se numa opção de aprQ
veitamento industrial da nova fronteira agrícola. representada
pelos cerrados. para aumentar a oferta de óleos vegetais.

A primeira tentativa de plantio racional do piqui foi conduzida


na Malásia em 1920, graças aos trab~lhos pioneiros dos ingleses
Wickhan e Cadman (28) que, a exemplo da seringueira. também le-
varam para a ex-col6nia grandes quantidades de sementes do Cary~
car villosum coletadas no Brasil em áreas do estado do Pará.

Embo~a a denominação mais vulgar do fruto seja pequi, ou piquino


sudeste, e pequiâ, ou piquiâ no nordeste do Brasil. a planta, ou
seu fruto, apresenta uma ampla sin~nf]1üa pop~lar com nomes tais
como noz de surava, pequiâ-ête. pequi banana, pequiâ amarelo, ir
vore da manteiga, piquiâ laranja, piquiá rana de peixe. tatajoni~

155 .
e piqúiâ rana da várzea.

o Quadro 05 destaca as espécies do gênero mais comuns, as 11 pri


meiras citadas por Martius na "Flora Brasiliense" (8).

Quadro 05 - Distribuição e Classificação Botânica ·das Espécies Comuns do


Gênero Caryocar

Classificação Botânica Denominação Vulgar Ocorrência

C.brasiliense Camb. Piqui, Pequi ,Piquirana ,Pe- Piauí, Ceará ,Minas Gerais,
qui Banana, Pequiá-ête Goiâs,Bahia
C.vil1osum Pers. Pequeâ,Pequiâ,Pequi,Petiá Ceará,Bahia,Pará a Amazo
" nas, Pará. . -
C.nuciferum L. Pequiâ amare10,Árvore da Amazonas,Ceará
Manteiga
C.crenatum Wittm, Pequi ou Pequiâ Goiás,Piauí,Ceará
f.g1abrum Pers. Piquiâ larrolja,Piquiâ ra Amazonas, Pará ,Pernambuco,
na de pe:ixe,Tatajombá,PI' Ceará
quiaran~ -
C.barbinerve Miq. Pequ:l: ou P:l:qu:l:,Pequi-me- Bahia,Espírito SroltO
rindiba
~.gracile Wittm. Pequiá-rana AI to Amazonas
C.amygda1iferum Mutis. Amazonas, GUirolas
C. coreaceum Wi ttm, Ceará,Espírito Santo,
Piauí, Goiás.
C.cuneatum Wittm. Goiás
Ç,.intennedium Wittm.
C.microcarpum Ducke Piquiá rrola da várzea
C,tomentoslun Wi11d. Suari Guirolas

156 .
6.1- Descrição Botânica do Gênero Caryocar (8,29)

(a) Folhas - alternas ou opos tas, com folíolos ovais, 3 di gi tadas ou


ternadas, um tanto coriáceas, inteiras, serreadas, dente adas ou
crenadas, glabras ou pubescentes, com 2-4 estípulas caducas;

(b) Flores - grandes e amarelas, reunida:; em cachos terminais; he-


teroclamídeas, hermafroditas, actinomorfas, sépalas 5-6 ligadas
pela base, persistentes e imbricadas; pétalas 5-6 livres. leverne~
te aderentes, imbricadas e caducas; estames vermelhos adelfos na
base em anelou em 5 feixes; anteras pequenas, ovais, dorsi ou
basifixas, introrsas, 2 tecas; filetes filiformes, os inferiores
·retos e os exteriores ondulados ou curvos; ovário livre, supero,
de 4-8-20 locular; óvulos solitários por lóculo; estiletes. 4-8-
2Q com estigmas curtos;

(c) Frutos - drupa com mesocarpo oleífero, indeiscente, endocarpo


lenhoso e separando-se em muitos carpfdeos; semente grossa, ren~
forme ou plana, delgada, embrião com hipocótile forte carnoso ou
comprido; endosperma pouco ou nulo.

6.2- Caracteres Botânicos das Espécies Mais Comuns

. Caryocar nUciferum L. (29)

Árvore até 25 m de altura; flores grandes; frutos arredondados


de 12 a 15 cm de diâmetro; endocarpo lenhoso com 8 mm de espes-
sura, internamente liso; sementes reniformes com amêndoa branca
e rica em óleo; espécie capaz de produzir até 7000 drupas por
pé, equivalente a 20 litros de óleo incolor.

157
• Caryocar villosum Pers. (30)

Espécie de porte atê 40 m de altura, cujo tronco na base chega a


atingir 3 m de diâmetro; ramos tortuosos e grossos, folhagem den
sa; - casca com 2 cm de espessura, rugosa e pers istente; folhas tri-
folioladas; folíolos sésseis ou q~ase, entre ovais e oblongos,a--
cuminados, de base arredondada, sempre mais ou menos pilosos,ccm
a margem denleada ou subintegra, sem barba nas axilas das nervu-
ras; pecíolo 6-9 cm, piloso; não há estipulas; inflorescência ter
_minaI com flores amarelo-pálidas, algo pubérulas; corola precoc~
mente decídua e numerosas; estames, até 5 cm de comprimento, en-
rolados nos botões; fruto drupâceo de 5-8 cm de diâmetro, com pe
ricarpo castanho-acinzentado, carnoso, encerrando de I a 4 caro-
ços,

• Caryocar barbinerve ~1:iq. (30)

Árvore grande e grossa, atingindo atê 30 m de altura cujo diâmetro


do tronco na base mede em torno de 2,50m; casca dura; pardo-aveE
melhada, superficialmente rimosa e com placas; folhas trifoliola
da, opostas e decussadas; folíolos oblongo-acuminados, obtusos ou
arredondados na base, crenados nas margens, membranáceos, gIaaros
mas.com as axilas das nervuras, na página inferior, providas de
pêlos barbados, exceto na planta jovem; pecíolo até 12 cm; race-
mo terminal com as flores reunidas na ponta; pedúnculo 15-20 cm;
;Uores magnas; pétalas coriáceas, glabras; estames numerosos ,com
longos fi.letes capiláceos; fruto drupáceo, endocarpo lenhoso, ne
gro, provido de espinhos grossos e longos de 10-15 mm de compri-
mento; semente oleaginosa comestível.

158
• Caryocar brasiliense Camb (31)

Espécie de menor porte, até 15 m de altura nos cerrados de M~nas


Gerais; folhas opostas, trifoliadas, pubescentes, crenadas e
ovais de 14 x lD cm; flores brancas e grandes, de 5 cm ~e diâme-
tro, estames infinitos, 4 estiletes, ovârio de 4 lojas, e rara-
mente desenvolvendo semente nos 4 carpelos; fruto drupâceo que,
em estado de maturação, cai ao solo, fendendo-se o pericarpo e
expondo 1 a 4 caroços amarelos, cujo mesocarpo, rico em óleo, vi
taminas e proteínas, envolve o endocarpo e a amêndoa branca.

ó.3- Dispersão Geográfica do Piqui em Minas Gerais

Conforme demonstrou a pesquisa local nas diferentes regiões do


Estado, a incidência do f."b'ras"ili:ense Camb. 'ê quase uma constan-
te nos cerrados mineiros, configurando-se D piquizeiro num indi-
víduo típico perfeitamente adaptado as condições ecológicas do
meio,vegetando e frutificando satisf~toriamente em grandes exten
sões do noroeste, norte e nordes te de' Ninas· Gerais.

Na verdade, a paisagem florÍst~ca dos cerrados, ou das caatingas


do norte do Estado, mostra quase sempre a silhueta inconfundível
do piquizeiro, com seus galhos tortuosos, sobressaindo da veget~
ção seca pela imponência de seu porte e constituindo-se em elemen
to vital à pr~servação da fauna silvestre.

Não obstante, a ocorrência do piqui possa abranger uma faixa am-


pla dos cerrados, distribuindo-se por todo o noroeste e nordeste
do Estado, sua presença é. de modo geral, restrita a peqwnus mmr
chas descontínuas, embora se tenha constatada a existência de con
centrações mais densas da oleaginosa em áreas distantes dos cen-
tros urbanos, ou em zonas de baixa densidade demográfica, que,
, ,

por isso, se mantiveram intactas e salvas do desmatamento preda-


tório.

159
Foto 29 Piquizeiro
Mirabe1a, M.G.

Foto 30 Piquizeiro
Mirabe1a, M.G.

160
o interesse incomum demonstrado pela população rural em preser-
var incólumes os plquizeiro; espontãneos decorre ;obretud~ do
valor intrínseco de seus frutos, que representam não somente uma
reserva alimentícia natural para consumo' doméstico mas também uma
fonte extra de divisas aos .habitantes locais que, nos períodos
de safra, comercializam os excedenres da produção para os centros
urbanos mais ?róximos.

Embora o levantamento das zonas de incidência do pi qui não tenha


contemplado a pesquisa local de toda a ã~ea de cerrados do Esta-
do, aS informações preliminares obtidas, através dos escritórios
~egionais da EMATER ou diretamente junto as prefeituras munici-
pais das principais cidades visitadas, foram suficientemente co~
fiáveis· para ~eterminar as regiões consideradas de maior concen-
.tração da espécie.

Conforme indicado
" .
no Mapa 06, os povoamentos espontaneos da espé
-
cie em Minas Gerais assumem maior vulto nas seguintes regiões:J~
nuária-Bonito-São Joaquim-Pandeiros, Montalvania-Juvenília. São
Francisco-Serra das Araras, Mirabela-Coração de Jesus-Lontra,Pi-
"

rapora-Jequitai-virzea da Palma, Taiobeiras-Rio Pardo de Minas ,


Paraopeba-Curvelo-Corinto.

Em que pese a ocorrência abundante do piqui em algumas das áreas


assina.ladas no Napa 06, tais adensamentos não comportam, no ,en-
tanto, a exploração industrial dos frutos, limitando-se o seu
aproveitamento, a nív~l de extrativismo, para consumo doméstico
das populações locais e destinando-se os excedentes da produção
aos centros urbanos mais próximos. onde são comercializados.

A maior exuberância dos piquizeiros"encontrados em Januária-São


'.
Joaquim-Bonito, sob~etudo entre esta localidade ~ o córrego são
Domingos, pode ser devida ao excessivo númerQ de cursos d'água,
de várzeas e de veredas alÍ existentes, o que certamente influi
no maior desenvolvimento de seus frutos e até mesmo, conforme se
verificou pela análise química, no maior teor de polpa oleosa

161
Mapa 06 Distribuição Geográfica do Piqui em Minas Gerais

Monte Azul
,::---j-------1---:-------+-t15 0

~Buritis
• Ria Pordo de Minas
• Jonoolba
~

· .
Bonfinopolls
• do Minos
• • • Montes Cloros

Minas Novas
• Jequifinhonho

(----.-+---1110


.-Novo Cruzeiro

Jooo Pinheiro
• lIamoroneliOO
• • Teõfilo Otoni

São Gon~olo
cio Aboeté


• • Corinto

• Curvelo


• Guanl\ões
Tiros
• tt"--------+-...J19"
Motutino

••
PorOopebO

Soo Gotorclo
• • Bolelim

o Jobo1icalubos

• Corotinl/O
~ BELO HORIZONTE
!lIor ope.

162
~e1at~vamente
a frutos de outras·procedgncias.
. ' . " .

A ~egião'de Mirabela-Coração de Jesus-Lontra. tradicional forne-


cedora de frutos e do óleo de piqut ao mercado consumidor de Mon
tes Claros, contém grandes adensamentos da espécie e em algumas
áreas próximas aO leito da rodovia Montes 'C1aros-Januãria, prin-
cipalmente ent~e os Km 60 e Km 100, foi possível contar até 40
árvores
. por. hectare. Outras concentrações significativas de Piqui
foram observadas
. no nordeste
,
do Estado, nos municípios de Taiobei
'TaS e Rio Pardo de Minas; e no noroeste, junto ,aos vales dos rios
Pandeiros e Carinhanha.

Exceto as terraS banhadas pelos rios Carinhanha e Cochá, próximas


a Montalvânia, formadas na maioria por associações de solos eu-
tróficos do tipo Podzólico Vermelho Escuro e Areias.Quartzosas ,
as demais regiões de' maior incidência do piqui em Minas Gerais
são constitu~da.s por solos arenoquartzosos profundos de baixa fe~
ti1idade natural, mas cujo relev~ plano ou suave ondulado nio o-
ferece quaisquer restrições li mecanização. ,

A avaliação do potencial madeireiro na área do noroeste do Esta-


do, compreendido entre os paralelos 15 0 30' e 19 0 30' de latitude
sul e os ~eridianos 4501~' e 4703~1 de longitude oeste, executa-
. "

da pelo CETEC (21) em 1980, atestou o alto grau de disseminaçio


do piqui, considerada uma das e~pêcies domin?ntes na coberturave
getal do cerradão.

Conforme foi c~nstatado pela pesquisa de campo, o piqui represe~


ta também um elemento típico entre as espécies arbóreas da flora
catingícola do norte do Estado, sobretudo nas áreas providas de
reserva.s hídricas naturais, como nos limites próximos aos córre-
gos Panela e são Domingos, no município de Januãria, onde os pi-
quizeiros
.
apresentam
. altos fndices de produtividade.

163
A dispersão da planta., bem menos expresslva, nos campos de c~r­
~ados de Sete Lagoas, Paraopeba e Cordisburgo parece ser o resu~
tado do desmatamento gradual dessas áreas para a formação de pa~
tagens, preservando-se, porém, os exemplares remanescentes da es
pécie, apenas para o sombreamento do gado.

A exploração florestal dos cerrados para a produção de carvão a


siderurgia, seja.pelo desbaste predatório da própria vegetação
natural para obtenção de lenha, seja através dos reflorestamentos
.intensivos com eucalipto. atualmente atingindo grandes extensões
do norte e do nordeste do Estado, representa na verdade um sé-
rio risco à preservação da espécie. A devas tação dos piqui zei ros
nativos, por ação de firmas reflorestadoras, especialmente no m~
nicípio de Januária, constitui hoje uma sombria realidade, pode~
do causar impactos imprevisíveis ã sobrevivência da fauna silve~
tre, que enconn~na planta ou no seu ambiente, as fontes essen-
ciais de alimento.

Por outro lado, a extinção dos piquizeiros deixará os moradores


locais desprovidos de seu alimento natural. cuja riqueza em sub~
tancias carotenóides lhes asseguram as necessidades de vitamina
A, durante, pelo menos, 4 meses ao ano.

6.4- Aproveitamento Econômico do Piqui

A importância utilitária e econômica das espécies do gênero


Caryocar não se limita apenas à qualidade de sua madeira, extrem~
mente resistente, mas também ao valor intrínsico dos frutos que
constituem uma excepcional reserva alimentícia natural, fonte de
vitaminas e de lipídeos, ã disposição das populações carentes do
i.nterior.

A madeira goza de grande prestxgio na região amazênica pela sua


dure.za, sendo praticamente imputrescrvcl e, por :l:sso, de aplica-
ção diversificada. na marcenar:l:a. e carpintaria, utilizada. sobre-

164
tudo, nos casos em ~ue se exigem durabilidade dos materiais, co-
mo na fabricação de estacas, pilares,
,
moirões,
,
dormentes, pilões,
rodas de carro e, de modo mats amplo, na indústria civil e naval.

A casca, como também as fOlhas, contêm altos teores de taninos e


constituem matéria-prima aconfecção da tinta de escrever e de
outras tinturJ.s.

o extrato etanólico das folhas, conforme comprovaram os ensaios


farmacológicos, apresentou atividade anti-tumor, tendo sido iso-
lados por cromatografia em coluna de sílica gel o ácido oleanól~
co, friedelina e friedelan-3-ol, além do ~-sitosterol, estigmas-
terol, l}-amirilla e ãcído elágico, estes obtidos apôs hidrólise E
cida do extrato alcoólico (32).

As flores do piquizeiro são um atrativo especial ao veado-campe~


ro das gerais do norte do Estado, que as procuram ã noite caidas
ao solo, no período entre agosto e dezemBro, quando então os ca-
çadores praticam a "espera", aguardando a presa, ocul tos em re-
des de dormir armadas nos galhos mais altos do piquizeiro.

Entretanto, são os caroços amarelos, encontrados no interior do


fruto maduro, o produto mais significativo da planta, sobretudo,
po~ representar um dos poucos recursos alimentares da gente sub-

nutrida mo~adora das áreas de ocorrência do piqui. De fato, o


consumo doméstico do piqui constitui já uma tradição bastante a~
tiga, definitivamente incorporada ao hábito alimentar dessa pop~
lação, que durante 4 meses do ano, na época da safra, tem ã sua
disposição um alimento nat~ral de incomparável riqueza em eleme~
tos nutri tivos, principalmente lípídeos e vitamina A, e enri quece~
do uma dieta pouco saudável, ~ base'de arroz, feijão e farinha
de mandioca.

Embora a polpa amarela. possa ser consumida no estado-natural, os


moradores
. locais usam com freqUência cozinhar o caroço por intei_.
ro, isola.damente, ou em misturil, com arroz ou outros ingredientes,

165
para confcrir-lhes sabor e chetro especiais. A polpa oleosa é
ingerida . com ccrto cuidado pa,ra
. não .
expor os finos espinhos ade-
~idos ao endocarpo, que podem ocastonalmente ferir a língua. O
caroço .residual .encerra internamente uma amêndoa branca e ale agi--
nosa, também comestível e muito nutritiva, cujo sabor dão-lhe um
valor econômico semelhante às melhores amêndoas importadas.

Do ponto de vista alimentlcio, a importância da polpa e da amên-


doa do piqui, pode ser avaliada pelo número de calorias forneci-
das por 100 g do óleo correspondente, em torno de 9"30 calorias ,
o que atesta a sua superioridade relativamente aos óleos de alg~
dão, oliva, soja e amendoim (26)~ todos os quais apresentam um
índice inferior, ao redor de 900 calorias. Por outro lado, a pr~
sença no óleo da polpa de teores elevados de riboflavina, Qe tia
mina e especialmente. de provi tamina .A, .que pode a tingi r até
100.000 U.I. (2~, demonstram a alta qualidade nutricional repr~
sentada pela polpa de piqui.

Aliás, ambos os óleos, além de seu emprego comum.para fins comes-


tíveis, ou mesmo como lubrificante e.combustível para iluminação
nas zonas rurais mais interiores, têm outras aplicações mais no-
bres, como na indústria farmacêutica, onde se produzem alguns for
tificantes preparados à base do óleo de amêndoas, como a "Emulsão
de Piqui" ou o "Vitanóleo (29).

A extração dos óleos de polpa e de amêndoa aiDda hoje é conduzi-o


da apenas de forma artesanal, principalmente nas regiões de maior
concentração da espécie, como em Coração de Jesus e Mirabcla, m~
nicípios limítrofes do norte do Estado. Nessas regiões, por oca-
sião da colheita, entre dezembro e março, estabelece-se um inten
so e movimentado comércio de frutos e amêndoas, e também do óleo
de polpa, cuj a produção em sua quase totalidade destina-se ao mer-
cado de Montes Claros, onde é distribuida para corisumo dom6sti-
co ou adquirida pelas indústrias de licor de piqui que, por sua
vez, revendem o óleo residual, após processamento do licor, para
a produção de sabão ou de preparados farmacêuticos.

166
A produção
. . ,
ca,seirl1, do óleo de polpa, aindfl hoje uma at~v~dade tra-
.
dicional dos moradores
, ,
dessas localidades, ê conduzida segundo
técnicas bastante rudimentares, primeiro retirando-se manualmente
a polpa do c~~oço e depois submetendo a massa amarela à maceraçao
em pilões de madeira para facilitar a extrusão do õleo. Em segu~
da,. 'a pasta oleosa resultante é deixada em água, à temperatura
de ebuUçao. atê que todo ,o dleo venha sobrenadar à superfície
sendo então retirado por meio de colheres de pau e filtrado, logo
a seguir, em sacos de linhagem, O óleo, assim extraído, ê secado
ao calor do fogo, depois transferido para garrafas de 600 mI, e
'finalmente encaminhado ao mercado de Brasília de Minas e de Mon-
tes Cla~os, pa~a ser v~ndido a preços três a quatro vezes super~
Ores ao dos õleos comestíveis tradicionais.
Pe mo~o
a facilitar a extração subsequente da amêndoa, a carga
~esidual de ca~oço despolpado é mantida durante alguns dias em
exposição ao sol para secagem, quando então se processa ao corte
do endocarpo com instrumentos cortantes.

6,5- ·Aspectos Gerais da Cultura


A ~nexistência
de plantios tecnificados de piquino Estado e urna
p~odução sazonal baseada no extrativismo natural, ainda insufic~
ente para justificar uma exploração industrial dos frutos, são
os p~incipais entraves que desestimulam o desenvolvimento da cu!
tura em Minas Gerais. De início, torna-se absolutamente 'essencial
promove~ estudos preliminares em ensaios de campo para avaliar o

grau de domestificação da espécie, ,ascondições ótimas de germin~


ção e de desenvolvimento vegetativo, manejo agrícola, esteriliza
ção, armazenagem e processamento dos frutos.
O piquizeiro é encontrado na região dos cerrados mineiros em al-
titudes variáveis entre 4QO a 800 m, distribuindo-se numa faixa
ampla a noroeste, norte e nordeste do Estado, de clima entre o
tropical
. ,
Gmido' de savanas com inverno e o quente seco com .chuvas
de verao, cujos valores de temperatura média oscilam entre 20 9 Ce
28 9 C, O regime de precipitação, da ordem de 800 mm anuais. apre-

167
Foto 31 Comércio de Piqui
Mirabe1a, M.G.

168
senta uma va~iação unimodal, sendo novemb~o-janeiro ·0 perfodo JUais·
chuvoso e junho-agosto o perrodo mais seco. A configuraçãô da umi
dade é bastante diversa, em torno de 75 á 80~ durante o verão cam
do para 50 -60~ no inverno.

Quanto aos solos predominam os arenoquartzosos profundos mescla-


dos com latossolos vermelho-escuro eutrófico, de baixa fertilid~
de natural, pouco providos de matêria orgânica, e de'pH ácido v~
riável entre 4.5 a 5,5, inconvenientes que podem ser superados
por medidas corretivas. Os solos são, no entanto, bem drenados,
de boa permeabilidade, cuja topografia favorece a mecanização da
lavoura.

Enquanto o porte das árvores nm cerrados de São Paulo varia bas-


tante, atingindo até 5 m de altura, ou um pouco mais (33), em M~
nas Gerais, no norte e no nordeste, conforme mostrou a pesquisa
de campo, o piqui alcança em média entre 8 e 12 m, mas com alguns
pês podendo chegar a 15 m.

Os primeiros cultivos racionais do piqui foram desenvolvidos· na


Malásia em 1920, por semeação do matrizes brasileiras de espécie
c. villosum, obtidas no Pará por colonizadores ingleses.

A germinação das sementes foi conduzida em cestinhas, mantidos em


viveiros durante cerca de 5 meses no fim dos quais se realizou o
plantio definitivo das mudas no campo. Apôs 3 anos, as plantas já
mediam 6 m de altura, iniciando-se a frutificação aos 5 anos de
idade, e aos 8 anos as árvores já atingiam 12 m de altura e uma
grande safra de frutos,

As informações de Lane (2S), a respeito dessa experiência pione~


ra dos britânicos, revelam que na fase inicial do desenvolvimen-
to vegetativo, logo em seguida à germinação, houve necessidade de
maiores tratos culturais, inclusive, sendo indispensável a rega
constante das mudas, sem o que a planta não sobrevivla.

169
Os estudos realizados por Hertnger (31) mostraram que as sementes
estratificadas, ou seja ltvres das partes envoltórias do endoca~
po, germinam mais rapidamente, corroborando, por outro lado, as
observações apresentadas por Lane de que o crescimento inicial
da planta só é possível, s~ mantidas as mudas sob regime de irri
gação, dispensando~se desses cuidados. no entanto, somente após
o primeiro ou segundo ano. Segundo Heringer, um inibidor de cres
cimento pode estar presente no caroço, controlando a germinação,
que só se efetiva em condições ecológicas propícias à planta, o
que, talve z, expl ique a :incidência rara de plantas j avens mesmo
nas áreas de grande ocorrência do piqui, fato que foi constatado
também na pesq~isa de campo empreendido pelo CETEC.

Além de Laboriau (34) e de Válio (35), também Barradas (33) con~


tatou a capacidade de germinação de'piqui nas condições naturais
do cerrado, chegando mesmo a identificar, no campo, plântulas com
resíduos de endocarpo.

Outros fatores que podem refletir na escassa ocorrência de plan-


tas jovens nas áreas de cerrado d:izem respeito ao ataque das se-
mentes desprotegidas no período pré-germinação por insetos e anl
mais diversos, à deter:ioração microbiana da semente e aos baixos
índices de precipitaçâo sobretudo por ocasião do início vegetat~
yo da planta, que é particularmente sensível às deficiências de
umidade. Na florest~ tropical úmida, no entanto, a germinação o-
corre bem mais facilmente, conforme se depreende pelo número ex-
cessivo de mudinhas que se desenvolvem próximas aos piquizeiros.

O sistema radicular inic:ial da planta, segundo Heringer (31), é


fascicular e nesse sentido'difere das espécies típicas dos solos
áridos,cujo axôfito descendente dirige~se no lençol ~eâtico.

No curso
. da pesquisa do campo, em áreas do norte
'
do Estado, as
informações coletadas junto is populações locais não descartam a
Rossibllidade de que a dispersão da espécie possa ser processada

170
através dos inúmeros roedores, parte íntegrante do ecossistcma,c~
mo o rato-da-campo, a pre~ e a p~ca, os q~ais, na época da safra,
são vistos freqUentemente
.
próximos
. aos piquizeiros à procura de
irutos caídos no solo.

Embora a fecundação da espécie possa ocorrer por interferência de·


insetos diversos, especialmente abelhas do gênero Trigona ou d~
pissaros, e até mesmo por ação fto vento, Barradas (33) esclarece
que a planta pode ser susceptível ã auto-fecundação.

A exploração agrícola do piqui nas áreas sabidamente de maior o-


corrência da planta deve ser conduzida, preenchendo-se os vazios
CO!l1 mudas produzidas em viveiros, de modo a obter-se uma densid~

de em torno de 100-150 pés por hectare. A formação de pastagens


com gramÍneas entre os espaçamentos adotados para a cultura do
.piqui além de ensejar o duplo aproveitamento do terreno, contri-
bui para a conservação dos solos e dá a estes maior grau de umi-
dade,

Segundo os moradores que comercializam os frutos de piqui,~u ár-


vore fornece em média cerca de 2000 frutos, mas este rendimento
está sujeito, no entanto, a variaç6~s, por vezes, bruscas, haven
do apos de safra abundante e anos de produção escassa, irregula-
ridade decorrente, conforme se acredita, de diferenças climâtic~
sobretudo, por ocasião do período pôs-floração.

6.6- Composição do Fruto

o piqut Cf.brasiliense Camb.) é uma drupa constituída de tênue


casca externa, verde acinzentada. de um mesocarpo pouco fibroso e
rico em taninos, que envolve 1 a 4 caroços de coloração amarela,
cujo número determina a forma do fruto, de esférico, no caso de
conter 1 caroço, a lobulado, se o fruto possui mais de 2 caroços,
os quais são facilmente removidos do mesocarpo, apôs seu omadure-

171
cimento completo, mas aderidos fortemente à polpa, antes da mat~
raçao.

o peso' do fruto varia bastante, dependendo da origem, do tipo de


solo e também das condições cltm~ticas. diferenças que podem ser
acentuadas até mesmo em áreas contfnuas de uma dada micro-regiã~
conforme se observou com os frutos oriundos de Bonito-São Domin-
gos. em Januiria, 'cujas dimensões e peso são maiores aos coleta-
dos em municípios limftrofes como ~Iirabela ou Brasília de Minas.
E possível que o excessivo número de cursos d'água e de veredas,
'que compõem a paisagem da região aquém de Bonito. em Januâria
tenha influência posit~va na produtividade individual das plilllt~
ali existentes.

o Caroço do piqui, por sua vez, ê revestido externamente por uma


polpa oleosa, cuja coloração amarela é devida a presença de sub~
tâncias carotenôides. Sob a polpa localiza-se o endocarpo prop~
mente dito, duro e lenhoso, dentro do qual se aloja a am&ndoa
branca oleaginosa. Os espinhos, finos e pretos. estão dispostos
em grupo no interior do endocarpo. apontados em direção à polpa
amarela. e constituem. na verdade, um obstáculo à extração manual
da amêndoa.

Maiores desproporções foram observadas com frutos colhidos por


Barradas na região de Cajurú. estado de São Paulo, cuja análise
ponderaI indicou pesos médios oscilando entre 40 e 80 g (33).po~
tanto, bastante inferior aos de Januiria ou Nirabela. no nortada
Minas Gerais, conforme se depreende pelos dados da Tabela 45.En-
quanto nestes o caroço fresco pesa em média entre 25 a 6S g, os
fenótipos de Cajurú dão caroços de peso compreendido entre S e
20 g.

172
Foto 32 Frutos do Caryocar brasiliense
Mirabela, M.G.

Foto 33 Piqui
Mirabela, M.G.

173
Foto 34 Componentes do Fruto'

Foto 3S Caroço Oleaginoso do Piqui

174
Tabela 45 Composição do Fruto de Piqui
Origem: Lontra, Januaria

Lote de 10 Peso do Lote (g) Con~osição ~€dia do Fruto - Base Seca (%)
frutos Base úmida Base Seca Casca Polua Endocaroo Amêndoa
01 2088,0 507,0 44,3 24,1 24,8 6,8
02 1245,0 284,0 46,9 29,1 18,0 6,0
03 2056;0 633,0 58,0 16,2 20,7 5,1
04 1322,0 276,0 55,3 24,1 15,2 5,5
05 1975,0 401,0 46,6 23,6 24,4 5,4
06 1062,0 264,0 42,2 28,1 24,3 5,4
07 1078,0 528,0 46,4 21,3 25,3 7,1
08 1091,0 243,0 49,S 23.7 .22,5 '4,4
09 1243, O 326,0 56,2 18,2 19,1 6,5

Fonte: CETEC

ATabel~ 46 apresenta os dados referentes à composição méàia do


fruto~ proveniente de formaç5es espontâneas situadas entre Nirabe
la e Januâria, atê as cercanías do Côrrego São Domingos. Para que
não pairem dúvidas quanto à sinonimia adotada aos componentes do
piqui, a casca constitui. a parte'do fruto sem 0 caroço, enquanto.
a polpa, o endocarpo e a amêndoa são as partes integrantes do ca-
roço.

Os resultados das analises em diversos lotes de frutos indicam que


o caroço amarelo representa aproximadamente metade do peso do fr~
to, sendo a polpa do caroço a fonte principal de glicerídeos, pa!
ticipando sozinha com maís de 75% do rendimento total de óleo.

175
Tabela 46 - Composição e Teor de Oleo do Piqui - Base Seca
Dados em Porcentagem

" Componentes Composição Teor de Clleo

Casca 42,0 58,0 2,0


Polpa. 16,0 - 30,0 62,0
Endocarpo 15,0 - 26,0 15,8
Amêndoa "5,0- 7,0 54,8

Fonte: CETEC

A presença de óleo no endocarpo do caroço, conforme mostra a Ta-


bela 46, ê o resultado de sua aderência à polpa oleosa, que nao
é cOmpletamente removida do endocarpo, mesmo numa operação manual
Por outro lado, a incidência de óleo na casca externa do fruto de
corre da partição entre os glicerfdeos da polpa e os componcnt~
químicos polares da casca, possivelmente os taninos.

Na Tabela 47 , são mostrados os dados quantitativos finais, refe


rentes ao peso e ao teor de óleo, computados para o fruto, incl~
siv~ caroço, no estado natural, com umidade, ou isento de umida-

de.

Com base nas estimativas feitas pelos moradores de Mirabcla-Lon-


tra, que calculam uma média de 2000 frutos por árvore, o rendimen
to de óleo por hectare de área cultivada, que comporte atê 100
pês, irá variar entre 1 a 2 toneladas anuais.

176
Tabela 47 - Dados Quantitativos do Piqui

Características Fruto Caroço


Fresco Seco Fresco Seco
Peso Nédio (g) 110-220 27,2-54,4 25,0-55,0 12,4-22,7
Umidade (%) 75,3 - 50,5 -
Teor de (jleo (%) 5,4 22,2 20,4 41,2
Fonte: CETEC

Dependendo do trato agrÍcola, essa produtividade pode alcançar ,


no entanto, índices mais elevados.

As características físico-químicas dos óleos de polpa e de amen-


o doa do piqui. obtidos por extração com hexano, demonstram a simi
lar identidade entre eles, exceto a presença acentuada de carot~
nôides no óleo de polpa, conferindo-o, por isso, coloração forte
mente amarela. O Índice de iodo do óleo de amêndoa é, no entanto,
pouco maior no óleo de polpa, apresentando este um menor grau de
insaturação, ao contrário do que se oqserva, de modo geral, com
os óleos extraídos de amêndoas, em cuja composição predominam os
glicerídeos derivados de ácidos graxas saturados,

A Tabela 49 indica a composição química em ácidos graxas dos óleos.


de casca, de polpa e de amêndoas, determinada por cromatografia
em fase gasosa. Conforme se verifica, os óleos são quimicamente
análogos no que concerne à distribuição de glicerídeos, e o maior
índice de iôdo no óleo de amêndoas resulta evidentemente do teor
mais elevado de icido linoleico comparado ao Bleo de polpa, já
que a participação do ácido 01e1co é quase equivalente cm ambos
os óleos.

177
Tabela 48 - Dados Analíticos do dleo de Piqui

Características Físico-Químicas dleo de Polpa dIca de Amêndoa

Teor de Ácidos Graxas Livres, \


(como ácido oleico) 0,5 0,1
Densidade a 25?'C (g/çm3) 0,9102 0,8840 (u 499C)
Indice de Rcfração a 25 9C '1,4638 :1,4610
índice de Saponificação 202 203
índice de Iodo (Wijs) 53,5 54,6
Insaponificáveis, \ 1,3 0,8
índice de Peróxido 1,26 1,12
Ponto de Solidificação (9C) 26,0 33,0
CorAS1M 2,0 1,0
. Cinzas, \ <0,01 <0,01
Poder Calorífico Superior (Kcal/Kg) 9329. 9380
Peso M:Jlecular M3dio 852 834
(por cromatografia gasosa)
Viscosidade a 37,8 9C (cSt) 47,0 40,0
OIN
Carbono 73,10 72,22
, Hidrogênio 10,73 10,94
OxigêpJo 16,17 16;69
índice de Hidroxila 45,6 '-
Fonte; CETEC

A análfse cromatográfica revela, por ,outro lado, o carãter menos


insaturado dos óleos produzidos por frutos do Caryoc~ villosum
Pers., embora a baixa incidência de ácido linoléico no óleo de
polpa dessa espécie possa originar-se da haixa qualidade da amo~
tra analisada~ cuja acidez livre acusou índices superiorei a 2'.

Na exploração industrial do piqui. o processamento do fruto deve


rá realizar-se °
ma.is rapidamente possível, no miixin\o 48 horas.

178
Tabela 49 - Composição Química em Ácidos Graxos dos Oleos
Extraídos do Piqui
Dados em Porcentagem

Áci.dos Graxos Caryocar brasiliense Camb. C. villoslllll Pers.


. .. ...... - Casca· . . Polpa"
,
Amêndoa:. Polpa Amêndoa
,

-
Ácido PalmÍtico 34,0 34,4. 32,0 42,2 38,4
Ácido Palmito1eico 1,6 ·2,1 ·1,3 2,6 2,7
Ácido Esteârico 3,7 1,8 2,1 1,5 1,4
ÁcidoOleico 54,3 57,4 56,3 52,5 52,1
Ácido Linoleico 4,2 ' . 2,8 7,2 0,8 4,9..
Ácj.do Linolênico 1,8 1,0 0,3 0,4 0,4
Ácida; Sàtur~dos 37,7 36,2 34,1 43,7 39,8
Ácida;·Insaturádos 62 ,,3 63,8 .. 65,9 56,3 60,2

Fonte: CETEC

após a colheita, com o que se evitam os riscos de deterioração da


polpa amarela por ação da umidade ou da flora microbiana, que de
compõem os· glicerídeos em ácidos graxas, tornando o óleo extraí-
do i~próprio ã alimentação e também inadequado ao uso como maté-
ria-prima ã produção de ésteres etílicos para fins carburantes.

A queda natural do fruto, no estado de maturação completa, repr~


. . . . ~

senta certamente, um dos problemas serlos a ser enfrentado nos


cultivos intensivos da espécie, pois, chocando-se ao solo, o fr~
to, normalmente, se rompe, expondo o caroço .ole aginoso ii umidade
e ao ar, favorecendo, como consequência, a s·ua decomposição quí-
mica ou biológica.

A Tabela 50 evidencia as alterações S,ofridas no grau de ad de z li.


vre do óleo de polpa, extraido de caroços recém-colhidos e nao 5U
jeitos i esterilização prévia, quando estes são submetidos a uma
série de condições artificiáis, em perfodos de tempo variávels.

179
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Figura 12 - 01eo de Amêndoa de Piqui

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182
Tabela 50 - Desenvolvimento da Acidez Livre na Polpa do. Piqui

Lote de .Caroços Condições de Esto- Período (dia) Teor de Ácidos


capem Livres (Ácido
Oleico) %

1 A O 0,6
2 B 3 0,4
.
3 B 10 1,1
4 B 15 2,6
5 B 20 4,8
6 C 3 0,8
7 C 7 3,0
8 C 10 4,0
9 C 20 6,0
10 D .7 0,8
11 D 14 1,2
12 D 21 0,9
Fonte: CETEC
Condições: A - Coleta e Análise Imediata
B- Ar ambiente
C- Atmosfera de Formol 1%
D- Estufa a 105 9 C por 1 hora,
e deixado em ambiente seco

A análise dos dados revela, no entanto, um fato anômalo que se


relaciona ao maior desenvolvimento da acidez nos frutos condici~
nados em atmosfera de formal 1%, descartando, pois, a exclusivi-
dade de um mecanismo baseado unicamente na hidrólise enzimática
por ação de lipascs. g possível, então, que a decomposição do gl!
cerideo obedeça a um mecanismo essencialmente químico de hidróli-
se espontânea. auto-catalítica, que ê favorecida, no caso específi
co do caroço de piqui, por um meio cüja umidade excede aSO%.

183
A esterilização do caroço
. se processa
. satisfatoriamente por tra-
tamento térmico, a S09-l109C, faixa de temperatura suficiente p~
ra tornar inativas as enzimas lipolÍticas, eventualmente presen-
tes, eliminando-se, ao mesmo tempo, a excessiva umidade da polpa
de piqui.

Os caroços,
.
assim es terilizados,
. a seguir;
. armazenados
.
em ambie;l
te seco. mantêm inalteráveis a acidez do óleo de polpa. a níveis
inferiores a l~. ao contrário do que se observa com caroços fre~
cos. dotados de umidade natural. cuja acidez livre ê gradualmente
aumentada nas condições do meio ambiente.

Entre os resíduos·obtidos no curso do processo extrativo. a tor-


ta da amêndoa constitui uma excepcional fonte de vitaminas e, s~
bretudo, de proteína bruta, com um expressivo índice de 60~ (Ta-
o bela 51 ) calculado sobre o peso do farelo seco, e superando ,nes
te particular, outras tortas de alto teor protéico. como soja
gergelim e girassol.

Tabela 51 - Análise Química das Tortas Residuais do Piqui


Dados em Porcentagem

Constituinte Casca Polpa Endocarpo Amêndoa


Cinzas 3,2 1,7 1,1 10,0
Extrativos 30,3 22,S 7,2 12,9
Proteina 5,4 9,5 5,S 59,9
Fibra 20,9 26,3 47,2 4,4
Lignina 13,2 11,2 36,2 7,7
Açúcares 3,1 2,2 0,8 -
Carboidratos 37,1 37,S 37,9 :12. s
Fonte: mruc

184
Conforme indicam os númerOS da Tabela 51 , os extrativos da cas-
ca do fruto representam cerca de 30~ do peso do resfduo seco, e
consistem essencialmente de taninos do grupo do ácido elâgico
de largo emprego na indústria de couros.

A torta da polpa, e especialmente o endocarpo lenhoso. de alto


poder calorifico. em torno' de 537Ú Kcal/Kg, tUm valor combustI-
velo Ambos podem ser aproveitadoscomo fonte de energia térmica e
elétrica para a energetizaçio dos processos extrativos ou de ou-
tros setores da indústria.

Além de sua utilizaçãO'para ~in~ combustíveis, os excedentes da


biomassa residual, inclusive as cinzas da carbonização, poderão
ser empregados na fertilização dos próprios campos cultivados de
piqui. provendo o solo de elementos nutrientes essenciais como
. potássio, fósforo e magnésio, os quais são encontrados em altos
teores sobretudo na torta da polpa, conforme se depreende pelos
dados da Tabela 52.

Tabela 52 - Análise de Cinzas

Constituinte Casca Polpa Endocarpo Amêndoa


P 20 5 6.8 14,8 8.6 .49,9
8i0 2 4,5 0,8 6,7 2 ,2
NaZO 0,5 0,9 1,1 0,2
KZQ 49,4 45,8 36,1 2Z,7
CaO 7,2 9,5 '6, O 5,5
MgO 8,6 11,3 7,6 18, O
8 - 1,2 5,4 -
Fo 20 3 - - 1,1 -
Fonte: CETnC

185
7.
Mamona
A mamo na é um arbusto herbáceo da família das Euforbiáceas, sub-
família Crotonoideae, tribo Acalypheae, subtribo Ricinae. e gene-
1'0 Ricinus, do qual apenas existe a espécie communis.

Embora. se desconheça ainda de onde é originária a mamo na , paira~


do dúvidas quanto à sua procedência, Ásia ou a África, certo e
que o cultivo da mamo na já era explorado no antigo Egito, pelo
menos há 4000 anos, a julgar pela idade presumível dos túmulos e
gípcios, em alguns dos quais foram encontradas suas sementes
além de outros objetos.

A primeira referência bibliográfica da mamona está contida no


livro de Jonas, que a.ela se referiu como .Kikajon ou Kiki cm e-
gípcio. Por outro lado, alguns filósofos gregos menei ona rom em
seus escritos o emprego da mamona no Egito para iluminação ou na
produção de unguentos. No sSculo XIII, a cuforbi5ceo era cultiva
da na Europa sobretudo na Espanha, c ·exis tem c i taçôes de sun ocor
rência, em épocas remotas, na China e n~ Ilha de Jnvn.

A discutida origem da plan~a tem fundadas razões pois além de ter


sido cultivada em épocas tão l0J.lgíquas, difíceis de serem preci-
sadas, a diversificação de um grande número é3 variedades, disse.
minadas atualmente tanto na África como na Ásia, descartou qual-
quer.possibilidade cm estabelecer a procedincia efetiva da mamo-
na.

Tendo cm vista a facilidade de sua propagação e de adaptaç~o em


diferentes condições climáticas, a mamo na logo ocupou todo o coo
tinente africano, daí espalhando-se por outros países, sendo h~
je encontrada até mesmo em regiões em que se acreditaria imprat!
cável seu desenvolvimento, como no norte dos Estados Unidos c nn
Esc6cia, nio obstante os ~endimentos culturais sejam mais eleva-
dos nas áreas tropicais.

187
Quanto ã produção mundial de bagas de mamoria, que aumentou cerca
de 40\ no período de 1977-1979, propiciando um montante de 927
mil toneladas, o·Brasil ocupa a liderança, participando com 40~
deste total, aproximadamente, e apresentando índices de produti-
vidade, ao redor de 925 Kg/ha, somente inferiores aos obtidos na
Tailândia, o quinto maior produtor mundial, cerca de 1070 Kg/ha.

A planta ê cultivada em quase todas as regioes do Brasil, espec~


almente na Bahia e no Paranâ, que respondem juntos com 7S~ da
produção nacional, segundo dados de 1980. No entanto, o acrésci-
mo de 58840 t no período 1977-1979, com um índice de aumento em
torno de 26%, não acompanhou o desempenho verificado na produção
.mundial de bagas de mamona. Neste período, a maior safra no País
foi çbtida em 1979, cerca de 325 mil toneladas, colhida numa 5rea
de 375 mil hectares, aparecendo o Paraná com o maior índic~ de
produtividade, 1700 Kg/ha, enquanto na Bahia, principal produto~
os rendimentos em 1980 nao foram superiores a 450 Kg/ha.

A ampliaçâo do mercado do óleo de mamona para fi~s industriais nos


últimos anos está a exigir, evidentemente, que se aumente a arca
de plantio no País, e assim consolidar sua posição de maior pro-
dutor mundial.

A julgar-se pelo aumento de produção de mamona em Minas Gerais ,


em torno de 120% de grãos no pe~iodo de 1977-1980, o Estado pode.
rá brevemente contribuir com maior participação na oferta de óleo
de m~mona, sobretudo pela perspectivas de acréscimo substancial
da área plantada,
.
agora com o emprego de técnicas agrícolas mais
.
avançadas, na região do Vale do Gorutuba, próximo a Montes Claros,
onde se instalou recentemente uma grande empresa produtora de
óleo de mamona.

188
7.1- Descrição Botânica (36)

Plantas arbustivas, glabras. freqUentemente guarnecidas de polvi-


lho ceroso, folhas grandes, alternas, longamente pecioládas, pel
tadas, palmatifendidas, 7-11 lobadas, dentadas - inflorescincias
quase paniculadas, androgínicas, terminais ou através de uma sé-
rie de rebentos simpodiais numa posição lateral desordenada; fl~
res monóicas, dispondo-se superiormente as femininas e inferior-
mente as masculirias ~om cálice 3-$ partido; estames indefinidos.
compactos, densos, poliadelfos, filetes repetidamente ramificados,
·anteras biloculares, separadas, introrsas, quase esféricas. Flo-
res femininas com cálice muito débil, caduco, ovário triloculad~
estilete mais ou menos curto, estigmas bifendidos, raramente in-
divisas ,afastados, peniformes. Cápsulas abrindo-se em três cocas.
bivalves, lisas ou aculeadas. Sementes ovaladas, carunculadas ,
marmoreadas, com tegumento crustáceo e albúmen carnudo. (a) Esta
tura e Porte: Estatura muito variável podendo atingir 5 a 6 m em
climas e solos propícios, quando se trata de uma forma alta, ou
a custo excedendo 1 m de altura nas formas mais pequenas. Como a
estatura, varia também na mamona o seu porte, que pode ser forte
ou frágil, erecto ou pendente. O grande n ümero das suas formas rea
ge de maneira diferente is condiç6es edafoclimiticas a que estio
sujeitas, mostrando-nos uma escala infindável de aptid6es e de
reações às condiç6es que se lhes deparam. (b) Caule Principal e
Ramos Novos: No caule principal, sempre com o aspecto encortiça-
do, de entrenôs muito curtos e nós pouco aparentes, apenas são
perceptíveis as cicatrizes das folhas, que tendem a unir-se e a
tornar-se dificilmente visíveis. Nio se notam diferenças nftidas
nas diversas variedades. Totalmente diferente é o caso dos ramos
novos, que acusam, sobretudo os mais' jovens, diferenças notáveis,
embora atenuando-se com a idade. As diferenças verificadas nos
ramos novos são, como se disse, notáveis: podem ser verdes ou
purpúreos, b~ilhantes ou baços, podem estar ou não estar revest~
dos de polvilho e podem ter todos es~es caracteres atenuados; po
dem apresentar ainda coloraç6es interm6dias, polvilhos diferen -
tes coloridos, etc. Portanto, a diferenciação no aspecto dos ra-

189
mos novos, como veremos mais tarde, tem bastante importância na
caracterização das variedades, pois e um dos pontos de pàrtida
para essa caracterização. Os ramos novos podem apresentar ainda
glândulas nectariferas, nas proximidades da base do pecíolo da
folha, dispondo-se em fiadas, mais.ou menos ligadas e mais ou
menos numerosas. (c) Folhas: São grandes, chegam a ter 60 cm de
comprimento, glabras. verdes ou purpúreas, a.lternas, quase sem-
pre peltadas e palmatifendidas, palmatilobadas ou palmatipnrti ~
das, com 7-11 lobos, estes ovados, oblongos a ovadolanceolndos
ou lineares, agudos ou acumlnados na extremidade; as nervuras p~
dem ser verdes, amarelas, rosadas ou purpúreas. Os pecíolps ati~
gem 60 cm de comprimento; com glândulas (néctares extraflorais )
mais ou menos numerosas e desenvolvidas, de diferentes coloraçoo~
amarelas, purpúreas e de ambas as cores, normalmente situadas na
base do limbo e a diferentes distâncias desta. As estípulas sao
grandes, ovadas. (d) Inflorescência: As inflorescências são ca-
chos compostos androgínicos, terminais ou aparentemente laterais,
em resultado do crescimento simpodial dos ramos; as ramificações
do cacho inserem-se alternadamente, apresentando brácteas trian-
gulares, membranosas, marcescentes, acompanhadas, cada uma. de
glândulas estipulares, que também existem ou não, espalhadus pe-
lo eixo. Às vezes, ao meio da inflorescência, aparecem ramifica-
ções nas quais a flor terminal 6 feminina e ~s outras masculina~
outras vezes aparecem flores henmifrodi tas, principalmente a flor
terminal da cacho; I'lcontece ainda a inflorescência ter a flor te!.
minaI ~asculina ou apenas flores masculinas. (e) Bot6es Florais
Masculinos: De grande interesse para a classificação, para o que
se atende à forma, à cor e ã existência ou não existência de
polvilho. Podem ser verdes, glaucos, purpfireo5 ou arroxeados
globosos, subglobosos ou cônicos mais ou menos acuminados. (f)
FIares Masculinas; Estão colocaóas inferiormente no cacho. Pedi··
celas articula.dos, cálice membranoso tetra ou pentâmero, com co-
rola nula. Estames indefinidos num recepticulo plano-convexo cm
fascículos distintos, muitas vezes dicot6micDs na parte SUperio~
antora.s amarelas, hiloculare5, didimoglobosas, dorsif1xas, 100g1
tudinalmente deiscentes. (g) Flores Femininas: Estio colocadas

190
na parte superior da inflorescincia. Corola nuia, cilice tri ou
pentâmero, muito freqUentemente espatáceo-fendido, muito caduco
- Ovirio triloculado, os lóculos do ovário uniovulados (o lóculo
anterior com brâctea), quase sempre revestidos exteriormente de
emergências aculeares; três estiletes unidos na parte inferior,
cada um com um estigma mais ou menos bifendido, plumoso, de modo
geral colorido de amarelo, rosado o vermelho. (h) Inflorescência
Frutificada: Apresenta formas e aspectos mui to di versos, dependon
do do número do cápsulas formadas, da sua disposição ao longo do
eixo, coloração e aculeado das mesmas, comprimonto dos pedúncu -
los, etc. (i) Fruto: O fruto ê uma cápsula tdcoca, raramente I,
2, 4 ou 5 cocas, abrindo-se em cocas bivalves, subglobosa, elip-
sóide ou oblonga, de cor verde, vermelho-vivo, purpúrea ou tons
intermédios; a cápsula pode estar ou não revestida de polvilho e
a superfície apresentar-se coberta de emergências, de acúleos o~
menos vezes, inerme. Acúleos mais ou menos compridos, rígidos ou
flácidos, erectos ou nio erectos, mais ou menos grossos, c6nicos,
com ou sem polvilho, de base longa ou es trei ta; di spastos maisou
menos densamente, terminam sempre por uma unha. (j) Semente: Li-
sa, ovóide, com carúncula, a face dorsal geralmente convexa, a
face ventral achatada, constituída por duas superfícies planas
concorrentes na linha média longitudinal, que representa a liga-
ção com o rafe. O tegumento é coriáceo, espesso, duro, diversa,..
mente colorido. O albúmen é abundante e oleoso; os cotilédones
grandes, largos, ch~tos e a radicula pequena.

7.2- Produção Nacional de Mamona

No Brasil, a mamona ê cultivada na maioria dos estados, cobrindo


uma área aproximada de 425 mil hectares que se distribuem princ!
palmente na região Nordeste do Pais, onde se destacam como prin-
cipais produtores a Hall ia, Ceará e Pernambuco.

Conforme se verifica dos dados constantes nu Tabela 53, que llIOS-


t)'a. os valores da. produção, nacional cm 1977 e cm 1980, a Halll a é

191
o principal fornecedor de sementes, participando com quase 46'
do total produzido no País, seguindo-se o Paraná com cerca de
291.

Tabela 53 - PrOdtlçÜo Regional de Bagas de Mamona

:Area Cultivada (ha) Proc1uçiio ue bagas(t) Rendimento (Kg/ha)


Estado
1977 ]980 1977 1980 1977 1980.
Bahia H2.000 288.000 120.700 129.600 850 450
Paraná 17.400 48.716 27.666 82.622 1. 590 1.696
São Paulo 18.100 27.148 27.000 32.578 1.491 1.200
Ceará 30.000 24.000 18.000 12.000 600 500
Pernambuco 30.948 30.329 17.826 8.070 ·575 26(\
MDtaS GeTais 3.453 6.464 2.678 5.919 755 916
I
Fonte: Anuário Estatístico do Brasil (37)

Pode-se veTificaT 0 acentuado crescimento do cultivo da mamonano


Paraná que, no período de 1977-1980, registrou um aumento em tO!
no de 200\ na produção de bagas, enquanto em olltros Estados tra-
dicionalmente produtores como o Ceará e Pernambuco. a oferta de
sementes vem acusando quedas acentuadas, conseqUência certamente
das adversidades climáticas por 'que passam aqueles estados nos
últimos 5 anos.

Nas demais regiões, sobretudo no Sudeste e Sul do Brasil. as co~


dições ambientais são mais propícias ao desenvolvilnento da cult~
ra, pois a regularidade de chuvas, principalmente durante o '·c:1-
elo vegetativo da mamona, garante um nível de pTodutividade uni-
f:orme, e quase sempl'e seu cultivo ó conduzido, em escala inclus -
triol, com a utilizaçio d~ técnicas agron6micas mais avançadas ,
propi ci ando, como sucede no Paraná, l'cntlimcn tos subs talleia} mente
mais altos do que se obtêm cm outras áreas do País.

192
Além dos problemas decorrentes de fatores climáticos que prejudi
cam sensivelmente a cultura da mamona, subsiste ainda nos estudos
do Nordeste o tipo de lavoura rústica dos pequenos produtores ,
calcado, via de regra, na aus~ncia de tratos intensivos e, no ca
so especifico da mamona, sua exploração sc desenvolve, de modo
geral, em consorciação com lavouras de subsist~ncia, em áreas de
dimensões reéluzidas e segundo um esquema ni tidamente famili ar
sem a utilizaçio de trabalho assalariado, Neste sistema agrlcol~
as culturas de mamona são comumente heterogêneas, seja cm razão
da diversificação de variedades plantadas, seja pela desorganiz~
'ção dos plantios, realizados as vezes em épocas diferentes, o
que redunda negativamCJ,lte em sua produtividade.

As espectativas são de que, em futuro próximo, este qundro nega-


tivo da cultura da mamona, nos estados produtores do Nordeste
possa ser radicalmente modificado, através da racionaliznç:áo dos
cultivos ora existentes e da utilização de hfbridos,

Con:f;orme se vê na Carta de Aptidão Hacroclimâtica da cultura de


mamona em Minas Gera}s, o Estado dispõe de grandes extensões de
terra, dotadas das condiçôes edafoclimáticas propícias ao desen-
volvi,n\Cnto da euforbiâcea, inclusive 'abrangendo as áreas mais ca
rentes do Norte e do Nordeste do Estado, ainda consideradas de
pouca expressão agrícola. Apesar disso, a p<l1:ti~i.pação pe ~linas
Ge~ais no quadro nacional i pouco significativa, n60 representa~
do mais de 2,1% da. produção global de sementes, quase toda coJ)-
cen trada na região VI -Noroes te do Estado (Tabe la S4) ,

Os dados da Tabela S4indicam que os rendimentos de sementes por


unida.de de área cultivada são baixos ~ inferiores a 1000 Kgjha
havendo predominância ele cultivares de porte aI to, os qunÍs pos-
s ibil i tam a consorciação do plantio da mamona com o de mil ho, cCE.
tamentc permiti.ndo o m6ximo aproveitamento da ire a agrIcola dis-
ponlvel, mas aca.rrentando. por outro: lado, quedas nos índices de
produtividade da. mamona.

193
Fi.gura 13 - Aptidão l-olacroclimãtica para a Cultura de Mamana (38)

• •0 4T7_o -=4';'5:..· 4,.,,3'-o -=4~I'-O----__,[4

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APTA- C<lfl(jjCÕ.' t?t"mi:l'O.8
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CO' Ta<19~
~ Oll "Ormn
INAPTA-Cor&nc"kJti'rl'l\lto
./ou el(,ilno hídrico
Tc" TOl'tlp9rafJta midio anual (Oe)
002 Deti;i6ntb ttid;lClO Ufau:.f{ml'll}

194
Tabela 54 - Produção de Bagas de M'lJIlonas por ~1icro-Região em r.!inas Gerais

IÁrea Plantada (11<1) Produção (t) Rendimento (t/ha)


Região
'977 'OQI\ 1977 1980 1977 1980
.
VI - Noroeste 3.357 6.302 2.544 5.793 758 919
VII- Jequitinhonha 180 160 131 124 728 775

Minas Gerais 3.543 6.464 2.673 5.919 756 916

Fonte: ,EPAMIG (39)

7.3- Aspectos da Cultura

Embora seja ~ons:lderada planta tipicamente tropical. a m:lmona po-


de ser cultivada em conc1iç6es climiticas as mais diversas, at€
mesmo nas zonas temperadas, Mas, nessas regi6es, os plantios só
podem ser conduzidos com variedades precoces, de ciclo vegetati-
vo inferior a 180 dias, evitando-se os períodos frios, de modo
geral de baixa incidência solar, jií que a mamona propicia os me-
lhores rendimentos de óleo na faixa entre 20 e 30 9 C, sofrendo
por outro lado, quedas sensíveis de produtividade em temperatu -
ras inferiores a l59C.

Outro fator que concúrre, favoravelmente, para o aumento do ren-


diluento da cultura é a regularidade de chuvas durante o ciclo v~
getativo da planta, que requer precipitações anuais de 750 a
1200 mm, distribuídas ao longo de 5 a 6 meses, seguindo-se um p~
riodo de seca a fim de promover
.
a . maturação dos frutos. O exces-
so de umidade, por outro lD~o., ocasiona a morte da planta na eta
pa inicial de. seu ~rescimentoi com efeito igualmente drástico nu
fase de frutificaçio, pois acarreta quedas substa~ciais nos índ!
ces de produtividade agrícola e também dimi nl1i o teor de óleo das
sementes.

195
Foto 36 Mamona (Ricinus communis)

Foto 37 Mamona
Frutos em Estado de Maturação

196
Assim, para assegurar um bom desempenho dos plantios de Illamona ,
devem ser evitados, além das grandes altitudes, os locais sujei-
tos a inundações constantes que acabam por saturar os solos de
umidade. Por outro lado, os climas excessivamente quentes ou ca-
racterizados por constantes precipitações de chuva, em níveis a-
cima de 1500 mm anuais, sao também bastante prejudicinis ii cult~
ra da mamona, pois em que pese o maior desenvolvimento vegetati-
vo da planta, a produção de frutos por planta torna-se sensivel-
mente reduzido.

Encontrada com freqU~ncla cm terrenos baldids e abandonados,eres


cendo aDI vários tipos de solo, a 'mamona; no entanto, tem sua pr~
dutividade intimamente relacionada com o grau de fertilização da
área plantada, sendo Jllesmo exigente quanto aos nutrientes, abso.!.
vendo-os até de camadas mais profundas do solo, graças ao seu e-
:Clciente sistema radicular volumoso. Por isso, a mamona deve ser
cultivada., de preferência, nos terrenos de razoável fertilidade
natural ou que possa~ responder is técnlcas de co~reção ou do
adubaçã Q •

Os solos mai s adequados ii cul tura da T>lamona devem se,c nccessari a


mente profundos, soltos; permeáveis, férteis, de acidez prêxima
ii: neutralização e de exposição favorável, evitando-se, sempre que
possível·, os terrenos de textura niui to argilosa ou acentuadamen-
te arenosos. OS S010S sílico-argilosos ou argilo-ca1cáreos estão
inclui;dos entre os melhores tipos, aliãs, onde se verificam as
mais altas taxas de produtividade agrfcola da mamona.

7.4- Seleção de Variedades

A diversidade de tantas form,"ts distintos do Ricinus con!!!!.uJlis de-


corre seguramente da antiguidade ela planta, conhecida desde os
primórdios da civili<.açâo, que se di.sseminando, ao' longo do telll-
1'0, em regiões geograficamente distin'cas, de cli.mas os mais cliver
sos, foi originando outras. vilri.cdades, que se muI tiplica ram os

197
pontaneamente, graças ao polimorfismo genético bastante pronun-
ciado da espécie, e advindo um número de formas, que ultrapassam
hoje a casa do milllar. Na verdade, tal propagaçio ,heterog5nea da
mamona normalmente dificulta os trabalhos de seleçao da molhor
variedade a ser cultivada, tamanho é o número de formas com apti:.
dões e exigências culturais ou produtividade,

o es tudo sistemá tico do Ri cinus 'c'ommUhis L., conforme a descri-


çao de Carvalho C36). que abrange cerca de 500 tipos de espécie
reunidos no Jardim e ~luseu Agrfcola do Ultramar de Lisboa, per-
'mitiu elaborar, com base na classificação de ~fuller-Arg., o se-
guinte quadro analftico das variedades, sub-variedades e formas.

Quauro 06 - Classificaçao Analítica das Variedades de 'Ridrtus cónVl\unis


segun<3o Carvalho (36)

Variedades Número de Sub-Variedades Número de Formas

Macrocarpus 2 7
Bailundensis P. Cout
Vasconcellosli 2 9
Mega,lospcrmus Mull 4 7
Rugdsus 4 19
Inermis Jacq.
Lividus Jacq. 2
Armatus Andr. I
L~ucocarpusBertol.
Badius Reichb. ' I
Benguelensis Mull I
Reichcnbachianus Mull
Amblyocalyx Mull I
Genui,-us Mull 3 2
Africanus Mull 2 1
Brasiliensis Mull 1
Uridulatus Bess
Specl.osus Burro
Rheedianus Mull
Microcarpus Mull 9 2

]98
As perspectivas de melhoramento genético da mamona no Brasil têm
sido promovidas desde 1930., graças ao esforço pioneiro do Institu-
to Agronômico de Campinas que inicialmente concentrou seus estu-
dos na obtenção de cultivares produtivos, de porte baixo,que pro
porcionassem não apenas o incremento dos rendimentos econâmicos
da cultura, mas também :facilitando as operações de colheita dos
frutos, comumente dispendiosa e grandes absorvedores de rniio-de-
-obra. Através de sucessivas hidridizações e meticulosa análise
das numerosaS progênies resultantes, e astudadas por diversas g!
rações em ensaios ~omparativos, aquele Instituto pôde obter vá-
rias linhagens de considerável valor comercial, destacando-se as
cultivares IAC-38, Campinas e Guarani que apresentam as seguintes
~ .
caracteTl.stl.cas:
.

• IAC-38 - Cultivar de porte anao, inferior a 1,SOm; de boa


resistência contra as pragas e doenças: ciclo v.<:
getativo de 190-210 dias; produtividade média de
1500-2000 Kg/ha; 411 de 6leo nas sementes; fru-
tos semideiscentes; virias colheitas.

Campinas-Rcsul tante do cruzamento entre as Cu] tivares "Ci


ma.rron". de frutos incleiscentes, e a IAC-38, de
frutos sCrni-deiscentes; de porto médio, 1,60
1,80.m; ciclo vegetativo de 150-18U dias: frutos
ind~iscent~s; produtividade média 1700 - 2200 Kg
lha; 46% de 61eo nas sementes; uma s6 colheita.

Guarani - Cultivar de maior potencial produtivo, resu1t;m-


do de hibrid.izações entre a Campinas c a Preta;
frutos .indeiscentes porte mSdio; ciclo vegetati-
vo de 180 dias; 48~ de 6100 nas sementes; uma 56
colheita.

/I. Empresa de Pesquisa Agro-Pecuária de Hinos· Gerais (ErA~lIG), tIo.::


de 1973, VCll\ desenvolvendo estuuos compnrativos cm ma.i.s de 3D
cultivares, em ensaios conduz.idos cm solos do tipo aluvial eut1'6

199
fico no Distrito Agro-Industrial de Jaíba, município de Manga
Considerando-se os dados da produçio m6dia de sementes e outras
características agronômicas estudadas, tais como ciclo vegetati-
vo, rusticidade, estatura, indeiscência dos frutos e resistência
is pragas e doenças, pôde-se finalmente definir as cultivares
que melhor atendem is condiçôes cdafoclimáticas do Norte do Est~
do, sendo a Campinas a de maior produtividade por unidade de árffi
plantada (Tabela 55).

Tabela 55 - Avaliação de Cultivares de ~1amona para a Regiio Norte de Minas


Gilrais

Cult.ivares Produtividade (Kg/ha)


Semen tes Oleo
Campinas 3421 1677
IAC-38 3114 1537
Guaran:t 3084 1544
TMV-3 2672 1376
IIC-8 2635 1353
8ipea1-20 2599 1179
8ipeol-24 2590 1232
81peal-7 2352 1J44
8ipea1-2l 2313 1064
8ipeal-26 2089 1001
Bhagia 2059 1032
8ipea,1-25 2050 949
Aruma 1926 1017
Fonte: EPAMIG/CETEC (40)

Os ensaios oxperimeniais de Távora et aI (41), realizados cm 1973


em diversos mun icipi os do Coará, demonstrarOlJ\ o mo lhor desempenho
das cultivares IAC 38 o Amarela de Trocê, cujos indices m6dios de
produtividade atingiram 1102 e 1214 Kg/hn, rcspectivaUlcnte.

200
Enquanto em são Paulo ou no Paraná predominam eis plantios com
cultivares de porte baixo, no Nordeste ainda se cultivam as varl
eelades arbóreas, que chegam a alcançar atê Sm, sendo que o maior
inconveniente reside na maturaçíio irregular dos frutos e também
em sua :tndeiscênci'a, obr:tgando a real i zação de várias colhe i tas
por safra.

o acentuado grau de heterogeneidade da cuI tura de mamona foi cons


tatado na Bahia através dos estudos da Associação de Fomento a
Lavoura Oleaginosa em 1970, que consignou a incidência de pelo
menos 90 formas d:tferentes de semente, com predomin3ncia das cul
tivares Preta, Maringá e Coty (41).

A literatura especializada tem mencionado a existência de culti-


vares bastante produtivas e de ciclo vegetativo mais longo, po-
dendo fornecer rendimentos atê 4000 Kg/ha ou mesmo 8000 Kg/ha
conforme se registraram em campos experimentais dos Estados Uni--
dos.

Parece evidente, no entanto, que a orientação seguida na seleçio


das cultivares mais indicadas depende das características locais,
sendo possível que a lllelhor forma para dada, região não se adapte
bem is condiç6es edafoclimáticas de outra.

7.5- Tratos Culturais

Não obstunte tratar-se de planta de grande rusticidade e muitore


sistente is adversidades climáticas, adaptando-se e crescendo e~
pontaneamente em diferentc$ tipos de solos. a mamona 5, no enta~
to, bastante exigente com respeito DOS nutrientes essenciais.TIla
s6 proporciono bons resultados agrícolas cm terrenos de textura
médio. bem estruturados e de boa fertilidade.

No caso de solo comprovadamente pobre ou esgotado por outros cu!


ti,Vos, anteri,ormente realizados, ns deficiências de elementos

201
nutrientes devem ser supridas pela adição de fertilizantes e man
tendo-se toda a massa verde desbravada no próprio terreno, que é
complementado da matéria orgânica necessária, mediante a utiliz~
ção de esterco bovino e de resíduos agrícolas eventualmente dis-
poníveis. Outra possibilidade, de grande eficiência, é o aprovei
tamento da torta, obtida na extração industrial do óleo de mamo-
na, cujos teores elevados de NPK a recomendam como adubo de exc~
lente .. qualidade. Contudo, a exagerada adubação orgânica da. terre-
no pode acarretar o acentuada desenvolvimento vegetativo da plan
ta, resultando, como consequência, menores rendimentos de frutos
por unidade de área cultivada.

De modo geral, a mamona ê cultivada no Paraná ou em são Paulo em


rotação com outras culturas, prática que visa, basi~amente, man-
ter a fertilidade do terreno. Tal procedimento resulta ainda ·na
reduçao da demanda de adubos químicos, aprovei tando-se a mq.mona
dos nutrientes residuais de culturas anteriores,

Embora o ciclo vegetativo da mamona seja relati.V<!lllente longo,suas


necessidades nutricionais são maiores no período de floração o
durante a maturação, ocasiões em que a planta precisa encontrar
no 5010 os nutrientes em suas formas assimiláveis, principalmen-
te o nitrogênio, cuja adição ao terreno só deve realizar-se par-
celadamente.

As dosagens de NPK, segundo recomendação da EPA~UG (42.), sao va-


riáveis, conform.e o tipo e a textura do solo, devendo apresentar,
~o entanto, uma composição químlca aproximada de 40-100 Kg/ha.N,
40-160 Kg/ha P 0 5 e 15-60 Kg/ha K20.
2

Nos cu1 ti vos de mamana conduzidos em esca.1 a i ndustd aI, além dos
cuidados normais de fCTti1izaçio do solo ou de seleçio da varie-
dade mais produtiva 6u que melhor se adapte as condiç6es locais,
deve-se atentar para'l boa preparação do terreno com a efeti vação
de~adncens profundas, de modo a permitir e a facilitar o desen-
volvimento do sistema radicular da planta e resguardando o plun-
tio das contigênclas de secas prolongadas.

202
o consórcio da mamona em cultivo com plantas de porte rasteiro e
de ciclo vegetativo curto tem sido praticado com freqUência no
País, especialmente nos estados do Nordeste, recomendando-se co-
mo culturas intercalares as leguminosas fixadoras de nitrogênio,
·sobretudo ;j;eij ão, soja ou amendoim, que propiciam uma produção a
bundante de massa verde residual a ser .depois incorporada ao so-.
lo '. De acordo com dados oficiais,· 40 % da mamona produzida em Pc!:
nambuco e no Ceará são cul t:l.vadas segundo essa t2cnica, pri.nci.p:;!
mente em ·consórcio com lavoura de subsistênc:l.a. por exemplo de
fei.jão e mand:l,oca.

No entanto, o emprego de culturas :l.ntercalares deve restringir~e


apenas às pequenas explorações, em que os tratos agronômicos são,
via de regra, exercidos manualmente, enquanto nas grandes e médias
plantações de mamo na , por absoluta necessidade de mecanização,to~
na-se inviável a consorciação.

Ressalte-se, porém, que a mamona não deve ser cultivada pcrmane~


temente na· mesma área agrrcola, tendo em vista as suas caractG-
risticas de planta esgotante, aconselhando-se, por isso, a rota-
ção da cultura com outras espécies de exigências nutricionais di.
ferentes, Nos plantios da Rússia, segundo Adam (43), os melhores
rendimentos da mamona obtêm-se quando sua cultura se segue â do
ame;doim, da cevada ou do·gergelim; não se reco~endR a rotD~ão
com o milho, que resulta em baixos índices de produtividade,

A propagação da cultura realiza-se per sementeira, no local defi


nitivo, após a preparação do terreno e no inicio das chuvas. De
modo a assegurar a germinação mais rápida e uniforme das semen -
tes, recomenda-se a sua imersão em igua por 24 horas, um dia an-
tes de se processar a semeação no campo. Em Minas Gerais, a me-
lhor época do plant.io de mamona ê entre outubro e novembro, de-
vendo-se evitar outros períodos, sob pena de ocasionar baixos reE:
dimcntos da cultura, em conseqU~ncia de eventuais déficits ou C!
cessos hidricos que normalment~ prejudicam a floração e frutifi-
cação da planta.

203
Quanto aos espaçamentos mais indicados aos plantios da mamona,os
estudos concentram-se sobretudo nas varie.dades de porte anão ,que
são cons ideradas as nlelhores opçoes para a exploração· econômica
da cultura, devido ao seu potencial produtivo e â maior facilid~
de de mecanização, embora as recomendações seguintes, apresenta-
das pela EPAmG (44), abranjam também .as varied.udes de porte mé-
dio e do tipo arbóreo:

. porte ·anão 0,50-1,00 m entre plantas


1,00-1,50 m entre fi] eiras
. porte médio 0,80-1,20 m entre plantas
·1,50 -1,75 m entre fileiras
porte alto 1,50-2,00 m entre plantas
2,00-2,50 m entre fileir?s

Embora seja planta resistente ao ataque de insetos e fungos, co~


forme se observa pela natural resistência da planta encontrada
em estado espontãneo ou subespontineo, os plantios de exploração
comercial são ocasionalmente atacados por pragas e doenças. Assi
nale-se todavia, que no sistema de rotação bem dist.ribuido a
ação das pragas é pouco significativa.

o Quadro 07 descrevo as principais doenças já identificadas om


cultivos de mamona no País, indicando-se os sintomas co'rrespon -
dentes e a forma de combate ou prevençao (45).

Entre as prugas mais comuns, reconhecidamente prejudiciais ao d~


sonvolvimento da mamon~, i~cluem-se a lagarta-rosca (Agrotis Sp),
o perceve j o-verde (Ne·zara"i ridul a) ,. o iícaro-raj ado (Te trun)'chus
urticae), além de outras lagartas e de' cigarrinhus de inci.dência
menos comum (46). A incorporação ao terreno da tOl'ta de mamona co
mo adubo orgãnico, diminui o ataque dos insetos do solo uos pla~
tios de mamona, conforme registra alguns autores (47).

204
Quadro 07 - Doenças da Mamona (45)

Doença Sintomas Combate e Prevenção

.Murcha Fusarium Amarelecimento e queda .Elbninação das plantas


(Fusarium·oxyspórum) das folhas ;enegrecimento contaminadas
f.ricini Wr da parte interior do le- .Emprego de variedades re
Ilho; manchas pardo-cscu- sistentes
ras na haste .Dotação da cultura com ou
tros plantios

. Mojo Cinzento do Cacho


(Bot rytis x.i cini
Deterioraçãocon~leta da .Eliminação das
inflol~scência;apodreci- contamInadas
plant;'ls
Godofrcy) monto das sementes .Eliminação dos pés cspon
tâneos e sub-espontiineos
próximos ã área cultiva-
da
.Tratamento das sementes
com solução de fOl1nol a
2~

.Murcha Bacteriana Mlrchamento 111 folhagem Eliminação das plantas ..


(Pscudomonas solanacea- e queda das folhas;mmrl1a~ contaminadas
.lJJJi!Sjiiillir verde-claras ,desbotadas, .Rotação da cultura com
nas fo1lJas ;apodrecimento plantios antecedentes de
das raizes ;cnegrecímento cana ou de sorgo
~a parte interior do leru10

l-
.~ÚL,cha Bacteriana ~bnchas aguadas nas foll1$.. Eliminação das plantas
cotiledonares das mudinh~ contaminadas
novas; infecçoes· intensaS I . Emprego de variedades
com o amarelecimento . da resistentes
planta c desfo1JlanJcnto pro
maturo;os frutos e os ra':-
cinos florais podem ser a
tacados I

205
7;6- Aproveitamento Econômico do 6leo de Mamona

Coru~cidodesde épocas remotas, o Ricinus communis L. desponta


como uma das mais importantes oleaginosas cultiváveis, sobretudo
pela enorme diversidade de aplicações industriais do óleo de ma-
mona, seu produto principal, já empregado na antiguidade como
combustível para iluminação em candieL,'os, Segundo registram al-
guns historiadores, era componente na preparação de misturas usa
das pelos antigos egípcios para a mumificação de cadáveres.

Embora a importância' originai d(»ól<i:~,::de~ iJ.Jamona es te j a vinculada


apenas ao seu '~so para fins m~dicinai'~:';:'pois até 60 ano". atriís
somente se exploravam as qualidades purgativas do óleo e, cm me-
nor grau, utilizado em forma de geléia ou pomada para controle
da natalidade, em alguns países da Âsia predomina atualmente o
seu emprego como óleo essencialmente industrial, cuja demanda a-
tende a um mercado amplo e diversificado.As aplicações, abrangem
seguramente mais de uma centena de l.tens, desde a fabricação de
sl1bões, xampus ou cremes faciàis ao consumo mais'extensivo como
lubrificante ou matéria-prima necessâria ã produção de resinas.,
o '

plásticos e intermediârios quínücos diversos.

Com o advento da crise d~ petróleo, ou diante das perspectivas


sombrias de esgotamento gradual. das fontes de combustíveis fós-
seis nos próximos 50 anos(48), vem crescendo ultimamente o inte-'
rosse mundial em ampliar ainda mais o' campo de aplicações do óleo
de mamona, ou de sous derivados, como sucedineos dos lubrifican-
tes minerais. As cspectativas de novas opções utilitárias do re-
ferido óleo são animadoras e sogundo as previsões do Ministério
das Relações Exterioros, o aumento da demanda mundial do óleo bru
to será duplicado até 1987.

Enquanto nos Estados Unidos a indGstria de tintas e revestimen-


tos protetivos 6 responsivol por' cerca de 45' do consumo interno
de 6100 de mR~ona (49), no Brasil a maior participaçio cabe ao

206
mercado de fluídos hidriulicos, cujo consumo global do 61eo re-
presenta mais de SOl da produção nacional não exportada (Tabela
56).

Tabela 56 - Distribuição da Demanda Interna de ~Iamona em 1977

61eo bruto Quantidade Participação Emprego Industrial


ou transformado (t) percentual (I)
-
61eo bruto 14000 52,5 Fluídos Hidriulicos
61eo bruto 3000 11,3 Cosméticos
Dehidratado 2400 9,0 Secativos
61eo bruto ZOOO 7,5 Indí~stria Açucareira
Hidrolisado e 1560, 5,8
Jlidrogenado Graxas, Lubrificantes
Hidrogenado 1200 4,5 Ceras Domésticas e Industriais
Dehidratado e 600 2,3 Tintas e Resinas
oxidado
Outros 1890 7,1 Lubrificantes sulfatados, PIas
tificantes, Tratamento <le Cou'=-
ros, etc

Fonte: CEPED (50 )

Outras aplicações não mencionadas na Tabela 56, mas praticadas


sobretudo nos países desenvolvidos, importadores do óleo de mam~
na, englobam, por exemplo a sua utilização na produção de, pesti-
cidas, de resinas alquídicas, de emulsificantes, de revestimentffi
plásticos para finalidades diversas, ,de ácidos graxos, de esmal-
tes protetores, de tintas de impressno e de escrever, de colas,.
de corantes, de filmes fotográficos e empregado ainda pela indfis
tria tõxtil nos processos de branqueamento e tingimento d~ fios
e tecidos.

Atualmente, o seu emprego como lubrificante tem sido amplnll\cnte

Z07
difundido sobretudo em algumas situações específicas em que OS
óleos minerais tornam-se menos eficientes. Tal é o caso de certos
equipamentos, como mancais ou engrenagens sujeitas a esfriamento
a água, determinando, portanto, a necessidade de lubrificação com
óleo de mamona, cujo grupo hidroxílico no derivado ricineJéico
lhe confere alta capacidade de ader~ncia as superfícies umedeci-
das. Além de seu baixo ponto de solidificação. em torno de 30 9 C
negativos, outras qualidades do óleo de mamona, tais como resis-
tência ao escoamento e· viscosidade elevada, o recomendam também
como lubrificante de turbinas de aeronaves ou de veículos autom~
tores que operam em regiões geladas. Suas características físico
-químicas favorecim, por outro lado, a sua utilizaçio como fluí-
do para freios hidrâulicos de veículos, não atacando a borracha,
metais ou plásticos, sendo que esta aplicação do óleo de mamona
é a mais importante no Brasil.

Nos Estados Unidos cresce cada vez mais a demanda do óleo de ma-
mona na indústria de tintas e vernizes, que sozinha responde por
mais de 45~ do consumo interno do óleo. Outra at~vidade em expa~
são naquele País, que utiliza grandes quantidades de óleo de ma-
mona, é a indústria de espumas de poliuretana, cujo produto, de
textura leve e resistente, é especialmente indicado para amorte-
cedores contra choques e Vibrações.

Entre nós procura-se estimular ó emprego do óleo de mamona em prQ


cessos de usinagem; corte, laminação e em trefilaria. Tendo em
vist~ seu elevado ponto de inflamação, próximo de 245 9 C, o óleo
é particularmente indicado em operações específicas em que são cE.
volvidos grandes esforços mecânicos c que gerem altas temperatu-
raS.

Essa diversificação de aplicações do óleo de mamona está eviden-


temente relacionada tOm sua composiçiio química. predominando na
mistura os glicerídeos que contêm o grupo ricinoléico. A e5trut~
ra do ácido ricinolêi.co Jlossui 18 átomos de carbono e diíere dos
outros ácidos graxos por localizar uma hidroxila no carbono-12

208
de sua cadela, e pox: >lpx:esentax: uma dupla l;lgação ds entre os
carbonos 9 e la.

Ta;ls caracter!sticas estruturais e funcionais nao somente confe-


rem ao óleo de mamona algumas de suas propriedades ;lntrfnsecas ,
COJl\O a elevada viscosidade ou a sua miscibilidade em álcool, mas.
tamb~m ativam a molacula tornando~a acessível a muitas reuçoes
~ .
qU;I.ml.cas •

o Quadro 08 esquematiza suscintamente as principais transformações


químicas do óleo de mamoria, as quais o conduzem a produtos de lar
go emprego em diversos.setores industriais, destacando-se a piró-
lise t€rmica ou catalítica e as reaçães de hidrogenaçio e de dehi·
d:r:atação.

No craqueamento térmico a 4S0-S00 9 C,o ácido ricinoléico e fragmen


tado nos compostos heptaldeido e ácido undeci1enico,. constituin-
do-se este último na maté'ria-prima básica à produção do rilsan,um
monômero amino-ácido, a partir do qual ê preparado o nylon 11. E~
te polímero ê de uso bastante diversificado. principalmente nas
indústrias de automotores e de componentes elétricos, em virtude
de sua beleza, resistência
. .
física e estabilidade frente a reagen-
tes químicos, sendo utilizado, por exemplo, na fabricação de cai-
XaS ~e baterias, de revestimentos para motores el€tricos, derc-
servatórios para óleos ou de co~pon~ntes de equipamento's da· iüdús
t~ia bélgica. O heptaldeido, por outro lado, é comumente emprega-
do na indústria de perfumes ou como aditivo cromático em produtos
alimendcios.

Com referência ao tratamento alcalino do ricinoleato de metila a


180-2QQ~C, em que se utiliza igual número de moles de NaOH obtém-
-se, a16m da metilhexilcetona, o 5cidolO~hidroxidecan5ico, outro
importante lnsumo quxmico. destinado.à produção de tipos especiais
de polÍmeros de cadeia grande.

209
Quadro OS - Transformações Químicas do Oleo de ~Iamona

,
OH
Ql -O-Ç;-(Ql ) Ql=OI-Of -Of-(OI ) 01
I Z à 2 7 Z Z5 3
Olcos comestíveis, ~( HC~-C-cR
ceras, etc
I 'O . glicerfdcos do óleo de mnmona
Ql -O-C-R
Z "

l~letanol-NaO!l
O
45~C

ácido hidroxies· .1.HZ ... 9H . -HZO


tcárico 013(OIZ) SCHGJZ-CH=CH-(CH Z) 7CO ZCH 3 +)
Z.H 0+ ) 113°
3
óleo de hidrata
do

I.Fusão Alcalina
ZSO-Z75~C 180-Z00 9C
NaOH,
ác. undecilênico heptaldeldo NaOH, 2 moles 1 mal·

111.\1'

1 peróxidos

CH 3 (CH Z) s~H}13 m3(0I2)S~CH3


OH
álcool caprílico °
metiJ.hexilcetona
+
+
,IZ(GIZ) SCO z[[

ácido sebácico
OH
ácido 10-hidroxideca
nóico

Nylon 11

Z10
Se a Teação é conduzida a 250-275 9 C, usando-se neste caso dois
moles de NaOH para cada mal de ricinoleato de metila, os prod~
tos são o álcool caprílico e o ácido sebácico, do qual os éste-
res de octila, de baixo ponto de congelação, são especialmente
recomendados como lubrificantes específicos de aviões a jato.

Os processos de hidrogenaçao catalítica e de d ehidratação do óleo


de mamona, ou de seus derivados, propiciam a geração de muitos
importantes produtos de mercado diversi;ficado e facilmente assi-
milável. Entre os inúmeros compostos obtidos através de reações
de hidrogenação, total ou parcial, destaca-se a tri-12-hidroxio~
tadecanoina)de consumo abundante na indústria de graxas e ceras
polidoras. Por outro lado, a dehidratação do óleo de mamona, ou
do ácido ~icinoléico, por ação de catalisadores ácidos, conduz
ao aumento do grau de insaturação do composto pela formflçao .de
urna dupla ligação adicional em posição conjugada, resultando num
produto secativo comparável aos óleos de tungue ou de linhaça.

Embora o óleo de mamona seja o produto economicamente mais repre


sentativo da cultura, outras partes da planta podem eventualmen-
te se~ aproveitadaS para diversas finalidades. As folhas são, às
vezes, ministradas, segundo doses controláveis, às rações do ga-
do leiteiro para ativar a secreção lâtica (51). Tanto o caule co
ma as folhas apresentam propriedades inseticidas, e deixados no
terreno, após a colheita dos frutos, evitam a proliferação de in
setas 'do solo. As flores são melíferas e muito procuradas pelas
abelhas. Alguns autores (52) mencionam o emprego natural das fo-
lhas como alimento do bicho da seda, Attacus ricin~ ou Philosa~fu
ricini, cuja larva é explorada somente na Síria e na fndia mas
que pode ser adaptada a outras regiões.

A torta residual, obtida como sub-produto no processamento indu.::.


trial das sementes de mamona, apesar do alto teor prot6ico, uno
é utilizada nas raç6es de animais, em razão aa exist5ncia de co~
ponelltes t6xicos preseutes no farelo. Embora algumas tentativas
com êxito tenham sido feitns p:ll'n ,n iSU:l ~detoxicaçno, o seu uso co-

211
mo alimento para ruminantes nao se generalizou industrialmente.

No entanto, a torta da mamona tem sido aproveitada mais intensa-


mente como adubo orgânico, em virtude de apresentar altos teores
de nitrogSnio e de elementos nutrientes essenciais como o f6sfo-
1'0 e o potássio. Além do màis, sua incorporação ao solo tende a
repelir as pragas nocivas da lavoura.

7.7- Composição do Fruto

Com base nas determinações analíticas procedi.das em diversos lo-


tes de frutos coletados na região de Januária, onde a mamona é
explorada quase exclusivamente no estado sub-espontâneo, a casca
externa representou cerca de 35% do peso do fruto, enquanto a
composição da semente mostra uma reJação de tegumento/albúmen que
varia de 22,0/78,0 a 27,0/73,0.

A Tabela 57 engloba Os dados do rendimento médio de 6leo obtidos


em sementes.· produzidas po r vari. edades cul ti'lladas em solos do tipo
aluvial eutrófico na fazenda Experimental da EPAMIG no Jaíba, m~
nicípio de Hanga. Entre as diversas cultivares destaca-se a de
porte anão, denominada aruma, de procedSncia indiana, cujo teor
de óleo excedeu a 52' do peso da iemente. As cultivares naciomis
IAC-38, Campinas e Guarani. com rendimentos de 6J.oo proxlmos a
50', são, no entanto, indicados de preferSncia para as condições
edafo climáticas da região norte do Estado.

o óleo de mamona é classU'icado, no mercado internacional, por


tipos de n?s I e 3, cujas especificações devem obedecer aos limi
tes estabelecidos na Tabela 58 . Enqunnto o óleo n? 1 50 obtém
por prensagem a frio para ser destinado a fins medicinais, o ó~o
n' 3, de qualidade inferior, é produzido. mediante técnico seme-
lhante, nms a quente, em prensas do tipo "cxi)C,J.lcr" c submctendo
-se a torta, em seguida, a extraçio com solventes organicos. O
61eo é viscoso, insolúvel .em ácido acético mas solúvel em etanol,

212
em todas as proporções, o que o distingue rapidamente dos demais
óleos vegetais.

Tabela 57 - Rendimento de dleo em Sementes de Mamona

Cultivar Peso de 100 Umidade Teor de Cileo


semen tes (g) O) (%)

rAC-38 48,1 4,6 49,4


Campinas 48,3 A,6 49,0
Guarani 46,6 °4 ,6 50,1
Vermelha 50,4 °S, O 4S, 2
V-S 66,0 5,2 48,1
Azeitona 76,2 °4,8 49,2
Amarela de Irccê 73,9 °4 ,9 50,7
TMV-3 42,4 °4 ,9 51,5
HC-S 22,1 4,6 51,3
Bhagia 20,5 4,9 50,1
Aruma 16,7 °4,8 52,8
Sipe aI 3 41,7 5,2 49, O
Sipeal 4 52,6 5,4 48,5
Sip e a1 5 62,1 5,1 50,1
Sipea1 7 47,2 °4,8 48,6
Sipea1 13 66,3 4,7 50,8
Sipca1 14 36,8 4,9 48,7
Sipeul 15 48,9. 5,0 46,9
Sipcal 20 45,5 4,9 45,40
Sipeal 21 47,S 5 ,1 46,0
Sipeal 22 5;1,3 5,3 47,2
Sipea1 24 44,4 5,2 47,6
Sipeal 25 45,7 4,8 46,3
Sipea l 26
o 46,5 4,9 47,9

fonte; CETEC/EPAMIG (40)

213
MV- • A

Foto 38 Cultivares de Mamana

214.
Tabela 58 - Especificações do 6leo de Hamona Comercial

Propriedade 61eo n? .J ('\leo n? 3

Cor Gardner 1-2 5-6


Indice de Acide z 2-3 5-8
Densidade Específica 0,9570 - 0,9610 0,9570 - 0,9610
a 25?C(g/an3)
Viscosidade a 25?C(St) 6~5-8,5 '6,5-8,5
Indice de Iodo 82-88 80.,.88
Indice de Hidroxi1a 160-168 158-168
Indice de Saponificação 179-185 177-182

Fonte: Naughton (53)

A Tabela 59 dis:rimina
.
as principais
. características físico-quími-
cas do óleo de mamona não refinado, obtido por prensagem a frio
de sementes da variedade preta, co1etadas na região de Januáría.
Pode-se constatar as diferenças marcantes, relativamente aos ou-
tros óleos vegetais, no que concerne à densidade, ã viscosidade
e. ao índice de hídroxila. Embora a elevada viscosidade do óleo
de mamona seja um ponto favorável para justificar seu emprego cQ
mo lubrificante, por outro lado, ela representa um grave inconVQ
n~ente para sua utilização direta, como carburante, nos motores
de combustão interna,

A preservação das qualidades orlg1nais do óleo pode ser mantida


nas sementes por longos períodos de tempo, podendo estender-se
até 6 meses ou mais, desde que llrmazenadas adequadamente em ambi
ente seco, com umidade até 20~, em cujas condições a aci dez livre
no óleo é quase sempre inferior a 2~.

A anál is'e da composição do õl('o de nj<lmona em ácidos graxas. de-


terminada por cromatografia gasosa, revela a incid~ncia predomi-
nante do ácido ricinoléico. que representa sozinho quaso 90\ da

215
mistura de ácidos graxos. A participação significativa desse hi
droxi-áçiJo, de IS átomos de carbono, na estrutura química dos
glicerídeos do óleo de mamona ocasiona, evidentemente, as suas
propriedades anômalas como, por exemplo, a e levada viscos idade ou
a miscibilidadc do óleo em etanol.'

Tabela 59. - Parâmetros Analíticos do 6leo de Mamona

Fontes de Análise
Características Físico-Químicas
'CETEC .. lNT (54) Xl\BREGAS (55)
Teor em Ácidos Graxos l,i vres
(como ácido oleico, %1 0,12 0,40 3,70
Densidade específica a 25 9C(g/cm3) '0,9.578 0,9602 (20 9C) 0,9600 (20 9 C)
fndicc de Refraçào a 29. 9C 1,4773 1,4776(20 9 C)
fndice de Saponificação 187 175-183 182
!ndice de Iodo 85 84 88,S
Teor de Insaponificáveis (il '0,51 0,40
fndice de Peróxido 1,9.8
Ponto de Solidificação (9C) 10 -21
Cor ASTh1 1 '0,5
Poder Calorífico Superior, Kcal/kg 8913 8940
Peso Molecular Médio
(por cromatografia gasosa} 924
Viscosidade a 37,S9C(cS~1 285 285,7 915 (20 9 C)
ClfN._.
OXlgemo 15,31
Car50no 73,97
Hidrogênio 10.72
fndice de Hidróxila 156,6 155,7

Fonte: CE'l1iC

216
A Tabela 60 compara os resultados das análises cromatográficas
processadas em óleos obtidos de diversas cultivares. mostrando.
ao mesmo tempo a regularidade entre os dados computados para as
diferentes amostras. exceto a existência de 5 picos adicionais
no cromatograma correspondente i cultivar aruma.

Alim'do óleo. que constitui o principal produto, a torta residu-


al. obtida no processamento industrial das sementes de mamona
representa um importante insumo natural. de grande aplicação na
agricultura como adubo orgânico. cm virtude de sua riqueza em
nitrogênio. fósforo e potássio, cujo poder fertilizante é bastan
te superior ao do esterco de bovinos.

Não obstante a torta de mamona possa constituir-se em fonte de


proteína bruta, conforme se depreende dos dados de sua composição
química. apresentada na Tabela 6J., a existência de componentes
tóxicos a ela agregados tornam-na imprópria i alimentação animaL

Tabela 6.[ - Composição Química da Torta de Mamona (Base Seca)


Dados em Porcentagem

Componentes Fontes de Analise


CETEC Referência ( 49 ) Vivacqu:l (56 )

Cinzas 5,59 5.54 5.88


Extrativos 6,40 - -
Proteina 39,60 39,00 38.82
Fibra 29,88, 27,23 25,88
Carboidratos* 18,53 28,32 28,24

* Calculado por diferença

217
Tabela 60 - 61eo de Mamona
Origem: Fazenda EPAMIG, Jaiba - M.G.
Composição do 61eo em Ácidos Graxas (%)

Variedade Ácido Palmí-jÃcido Esteá Ácido Olei- .I'\cido Lino- Ácido Ácido Lino Ácido Di- Ácido Rici-
tico rico - co léico Araquídico lênico - Hidróxi- noléico
Esteârico
IAC-38 1,35 O,~Z 3,52 5,13 1,00 Traços 0,37 87,72
Campinas 1,01 0,85 3,88 4,77 0,92 Traços - 88,57
Guarani 1,01 0,91 3,87 4,85 1,01 Traços 0,28 88,06
Vermelha 1,19 1,01 3,93 5,06 0,99 Traços 0,26 87,57
V-5 1,36 1,06 3.86 5,77 1,10 Traços 0,43 86,42
Azeitona 1,41 1,03 5,04 6,23 1,27 Traços Traços 85,02
Amarela de 1,44 0,97 4,60 6,09 1,31 Traços 0,36 85,22
Irecê
lN\'-3 1,10 1,09 3,33 4,90 0,80 Traços 0,18 88,58
HC-S 1,13 1,30 4,08 4,94 0,88 Traços 0,14' 88,52
BHAGiA 1,24 1,28 4,43 5,14 0,95 Traços 0,32 86,63
Aruma* 1,52 1,58 3,68 2,89 0,45 0,39 0,76 87,47
Sipeal 3 1,41 1,04 4,56 6,10 1,35 Traços 0,55 84,99
Sipea1 4
Sipea1 5
1,19
1,29
0,95
0,99
3,71
4,12
5,61
5,55
1,27
1,22
Traços
Traços
-
-
87,27
86,83
Sipeal 7 1,02 0,79 3,42 4,73 0,94 Traços 0,39 88,70
Sipeal 13 1,38 0,86 3,64 5,32 0,97 Traços 0,31 87,52
Sipeal 14 . 1,24 0,96 3,87 5,42 1,17 Traços 0,46 86,90
Sipeal 15 1,25 0,97 4,63 6,18 1,46 Traços 0,35 85,16
Sipea1 20 1,26 0,90 3,61 5,04 1,04 0,26 Traços 87,90
Sipeal 21 1,29 0,90 3,42 4,97 0,93 Traços Traços 88,50
Sipeal 22 1,20 0,91 3,35 5,05 0,96 Traços 0,36 88,23
Sipeal 24 1,18 0,85 3,32 4,89 0,97 Traços 0,27 88,51
Sipeal 25 1,22 0,87 3,41 4,91 0,94 Traços 0,49 88,17
Sipeal 26 1.16 0,83 3.49 4,85 1,02 Traços 0,53 88,12
OÔS.: * 5 picos adicionals no cl~matograma entre 2,0 e 15 minutos (tempo de retençao Fonte: CETEC
totalizando 1,27%
2:00 - 0,10% / 3:36 - 0,22% / 6:34 - 0,16% / 10:78 - 0,50% / 14:91 - 0,29%
As tentativas de aproveitamento da torta residual, mesmo na pre-
paraçio de formulaç5es de raçio para animais, esbarram principa!
mente em dificuldades de ordem econômica, pois o custo do trata-
mento ·industrial da torta para remoçio dos princípios t6xicos in
viabiliza a comercialização do concentrado, por falta de competi
t~vidade com outros farelos proteicos.

Ademais·, a comp6sição
.
da torta . em ami~oicidos revela baixos teo-
res de metionina e de lisina, o que em consequência, faz diminuir
o seu valor nutricional. Por essas raz6es, e sobretudo pelo po~r
fert~lizante da torta de mamona CTabela 62), esta ê destinada q~
se excl us i vamente para. uso· como· adubo orgâni co.

Tabela 62 - Anilise Inorgânica das Cinzas


Dados em Porcentagem

Constituintes Torta da Semente Torta do AlbGmen


Inorgânicos I n.t.e.g.ra.1.

P 0S
2
3l;SO 40,81
5i0 13,06
2
Na 0 0,28 0,26
2
K 0
2
18,07 21,06
CaO 13,12 19,94
MgO 13,00 14,67
A1 2 0 3 3,23
F.e 203 1,90

Fonte: CBTBC

Entre
.
os componentes t6xicos isolados. por Kuniiz (57) e Wal~er(57)
incluem-se a ricina, uma toxialbumina an510ga is toxinas hilctcria
nas, responsivel pela forte toxicidade das sementes, a ricinaler-.
gina, um complexo proteina-polissacatfdeo de atividade alerg&nic~

220
e a ricina, um alca16ide moderadamente. tóxico, todos presentes
nas sementes de mamona.

A detoxicação pode ser processada mediante o tratamento dq torta


com vapor. d'água
.
a 110 g e, ou por imersio em água ligeiramente a-
cidulada, ii temperatura de ebulição. De 19.56 a 1958, uma empresa.
bra.sileira produtora de óleo de mamona realizou uma série de es-
tudos,visando avaliar a qualidade nutricional do "Lex Proteico" ,
obtido da torta de mamona detoxicada, através de experimentos co~
duzidos e~ grupos de ratos alimentados por quantidades progress!
vas de 0,5 a 10 g do produto por quilo de peso vivo. Enquanto a
simples injes tão de 2 .g da torta de mamana nao detoxicada causa-
va a morte rápida dos ratos ,'a alimentação com o ·"Lex Pro.teico "
não produzia qualquer sinal de intoxicação nos animais.

Posterior~ente, os testes estenderam-se a outros monog;stricos e


depois para rUminant~s, ocorrendo problemas de intoxicaç~o grave
. .
apenas em aves domésticas que foram alimentadas com rações que
continham teores superiores a 15% do "Lex Proteico".

As pesquisas mais meticulosas t~m mostrado, no entanto, que a


torta de mamona detoxicada é imprópria ii alimentação de suínos ,
.
e mesmo de bovinos, cuja ração só deve incorporar
.
até 20% do co~
centrado detoxicado, em mistura com outras forragens e nutras,
tortas, para compensar as deficiências em . metionina e lisina.

221
· . 8.
Outras oleaginosas
Além das'espécies estudadas, outras oleaginosas perenes, nativas'
em Minas Gerais, poderio constituir-se em fontes adicionais, ii
produção de óleos vegetais, tais como o babaçu (Orbygnia barhosiamj),
a cotieira (Joannesia princeps), o tingui (Magonia pubescens), o
tucum (Astrocaryum campestre), o cabeçudo (Cocos capitata) ou o
cansanção (Cnidosculus oligandrus). O dbacate (Persea R!:atissima)
e a jojoba (Simmondsia chinensis), por outro lado, já despertamo
interesse de 'empresários na região mineira do Polígono das secas,
de cujos projetas agro-industriais que se pretendem desenvolver,
alguns dizem respeito à implantação de cultivos intensivos dess~
referidas espécies oleaginosas para posterior beneficiamento in-
dustriaL

Entre as culturas de ciclo anual, o girassol, o amendoim e o geI


gelim oferecem boas perspectivas de desenvolvimento em quase to-
das as regiões do Estado, principalmente no Noroeste e Triângulo
Mineiro, que apresentam condições edafoclimâticas, bastante favo-
,

râveis a tais espécies, com possibilidades, incJusive, de propo~


cionar até dois cultivos anuais.

A exploração em escala industrial de espécies frutíferas, em fa-


se de desenvolvimento na área mineira envolvida pela SUDBNE, co-
mo manga e maracujá,poderá constituir fonte suplementar de 61eo,
através do aproveitamento dos caroços ou sementes.

8.1- Babaçu

Segundo levantamento recente do CETBC (20 ), os adensamentos de


babaçu, considerados significativos, localizam-se ~a região nor-
te do, Estado e ocupam uma superfície de 7268 ha, distribuída pe-
los municípios de Januária. Jequi taí e São Romão. No primeiro des
tes, onde os babuçuais se concentram às margens do Córrego ~lacaQ
bas numa área em torno de 5 mil hectares, a expJ Drnçõo dos cocais

223
poderá proporcionar uma oferta anual de 1 mil toneladas de óleo. Ten
do em vi~ta os baixos rendimentos de~oleo da cultura. a economi
cidade do empreendimento, no entanto, depende do aproveitamento
integral do coco, exigindo-se o processamento de outras partes,
como o endocarpo calorífico. destinado à obtenção de carvão. e
o mesocarpo, do qual se pode extrair o amido - matéria-prima a
fabricação do etanol, num esquema como o apresentado no Quadro O~.

As características físico-químicas do óleo de babaçu sao indica


das na Tabela 63 , enquanto a Figura 15 identifica a composição
química do óleo em que predominam os glicerídeos do ácido láuri
·co.

Tabela 63 Dados Analíticos do dleo de Babaçu

Características Físico-Químicas dIca de Amêndoa


de Baba u
Densidade a 25 9 C (g/cm 3 ) 0,9153
Indice de Refração a 25 9 C 1,4562
Indice de Saponificação 249
Indice de Iodo (Wijs) 16,3
l'ndi ce de Acide z 0,30
l'ndice de Peróxido 10,0
Peso Molecular Médio 698
(po~ cromatografia gasosa)

Poder Calorífico Superior (Kcal/Kg) 8950


Viscosidade a 37,8 9 C (cSt) 36,5
Indice de Hidroxila 19,7
Teor de Insaponificáveis (t) 0,8
Teor de Cinzas (t) 0,03
Ponto de Solidificaçio (9C) 26,5
Fonte: CEme

224
Quadro 09- Aproveitallcnto Industricl do Cbco Sabaçu
Loçn:1íqade ; Januária. ~línas Gernis
Área; 5000 ha
Coco Babaçu

25000 t/ano

I.

Epicarpo Mesocarpo EndocilrpO Amêndoa


5125 t 5525 t: 14500 t 1750 t

CaT\'ÜO Ácido l'\cido


Ativado Gases AlcQ:triio· .Fibra Amido Carvão Gases PirolenhQ- Alc8;trão <heo Farelo
Pirolenho
50 50

000 t nOt 1248.8t, 156,3t 1800t 3825t 4640t. 3~~St 5800t 725t 1050t 700 t

Álcool .,
'- .,-_-' "\ .... h........_ _- - J1 r-'--
r
..J1.Jr

.._ _~--II
1[ '-----'r-'-------......-- -J-_--i..~-_'I"
"' ,Ir
,I. r • ,
'------t>. Caldeinl Álcool1>bt9r ,Ir
Alimento
indústria Qvímica Dnergio para O 1'1"0 CCS$ amêj)t9 6100 Ú100 Combustível
J:ltanolis~
do

Diesel
1050 t
Figura 15 - Oleo de Babaçu

_:t:l==::j::1=t~=tf-=-.-==:.t=_=t-_==_t~.==:I=I-----===I==t=ggf<: .. I _.l---L_.L......J._..L---l_...l---"'---I
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- , - -
.=.:: - - ':--:.:: : _...._--
-- ~._- ... - - - • •- . - -
-- -- .
f - - - l - ..
o n --«) I-
Acido Caprí'1ico (C ) 6,a-
,
a
::: ·1-==·-
-0"_0:: -.- .--
- ::- :.....::: ·-I::=::
-0t== -1=--::--:'.~ ..:
· - 1 - --'J::-: •
Acido cáprico (C 10 ) 6, 3 ~I
Acido Láurico (C 12 ) 41, O =1
.: '0 :.==1-== ==-r::::-
-_ ---1·- ' - 1 -
.0- o: -.--··i.--:---t---1--'
- ~
.:_ ..
Acido Mirístico (C14 ) 16,2 ~1
-- ,. 1 . -.· :.-=-: · - -.... _-- ._Q<:"
::\:!==::j::=11==~==+=:::j==::j.::::;::j==+:::;:=1=:.0~ Acido Pa1rnítico (C ) 9,4_j
~--~ 16
: o _ _ o
Acido Esteárico (C ) 3,4 ~
1a
: 1-= lO' .-. :Acido 01eico (C-la) 14,2 ~
-

j;==_=_' -
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~=~~.==~I~===~:~~i:J =1~~~~§1=I~~
'_._.1:= --: -. -.ç=:= .:-=: =:1;; ~'§_":I: . . ~ :=E _~ ==:I~ =:L
-o

226
8.2- Cotieira

A cotieira, ou andâ-açú, é arvore frondosa, de porte elegante,c~


, ,

ja altura pode atingir até 15 m ou mais,' sendo por isso utiliza-


da com freqUência no sombreamento de pastagens. Seus frutos são
do tipo cápsula e apresentam o pericarpo espesso e indeisccnte ,
até 12 cm de diâmetro, no interior do qual se alojam 2 a 3 seme~,
tes ovóides as quais encerram cerca de 35\ de óleo semi-secativo.
Além do emprego combustivel da casca do fruto, esta fornece um
liquido que contêm o princJ:p:l:o a tivo chamada "Johanesina", de
ação cicatrizante e anti-diarréica, conforme cita Cândido (58).
'As sementes e o óleo são purgativos e como tais recomendados na
proporção de lQ a 12 g,por pessoa adulta.
, ,

A distribuição geográfica da cotieira estende-se desde as áreas


úmidas da Floresta Pluvial próximas a Itaborai e Angra dos Reis
até ao sul da Bahia, norte do Espirito Santo e sudeste de Minas
Gerais, no Vale do Rio Doce. Segundo Corrêa (59), a espécie é a-
daptavel em solos fracos e seu cultivo é pouco exigente de maio~
res tratos. A sinonímia da espécie, além de cotieira, inclui de-
nominações tais como andá-açú, boIeira, indâ-assú, purga de gen-
tio, purga de paulista, frutade cutia. fruta de arara e coco de
purga.

As informações coletadas por Cândido e Gomes (58 ) indicam que o


período de floração da espécie pode ocorrer entre maio e novembro,
sendo que a frutificação abrange 6 meses no ano, de janeiro a j~
lho.

Os plantios da cotiei ra nos campos experimentais da Uni vers idad.e


federal de Viçosa (58) evidenciaram 6 acentuado desenvolvimento
vegetativo da espécie, que aos 4 anos jã atinge 7 m de altura. Em
Coronel Pacheco, M.G., .um módulo de 5 anos apresentou indivíduos
com aI tura até 11 m (60).

Segundo informam Cândido e Gomes (58), a cotieira ii de fácil pr~

227
propagação, resultado do alto pode~ germinativo das sementes,em-
bora nos plantios tecnificados se recomende a conservação das
mesmas em câmaras frias atê à sua semeadura.

Os estudos agronômicos da espécie têm sido acompanhados em Viço-


sa (58), como em Florestal: através da Central de Ensino e Desen
- -
volvimento Agrário (CEDAF), onde os cultivos ocupam uma área de
40 hectares (61). Por outro lado, a companhia Vale do Rio Doce,
desde 1975, vem promovendo o reflorestamento com cotieira -em
suas reservas de Linhares, no Espírito Santo.
- -

Os dados anallticos de composição do fruto, apresentados na Tabe


la 64 , indicam rendimentos emtorno de 7,2% de óleo sobre o peso
do fruto seco, o que faz prever uma produção anual de 9,4 Kg por
árvore ou 2,6 t por hectare. Nesse CasO, admite-se uma produtivi
dade de 130 Kg de frutos por pê e uma população de 275 árvores
por hectare conforme estimativas levantadas pela CEDAF (61).

Tabela 64 Dados de Composição da Cotieira

Características Composição

Peso Médio do Fruto 50 g


Casca -Externa 79,3%
Semente 20, n
Casca 36,7%
Albúmen 63,3%
Teor de dleo/Albúmen ($ase Seca) S4, 6 %
Teor de dleo/Semente (Base-Seca) 34,6%
Teor de dleo/Fruto
.. . . .
"
(Base Seca)
. . . . . . .. . . 7,2%

Fonte: CETEC

228
Foto 39 Cultivo da Cotieira
CEDAF - Florestal, M.G.

Foto 40 Fruto da Cotieira

229
A análise dos parâmetros ftsico~qurmicos do óleo de cotieira pe~
mi te caracteriza~, confo~me se pôde observar dos dados da Tabela
65 , o grau
.
predom:i:nantemente
.
insaturado da mistura de glicerídeos,
cujo índice de iodo, ao redor de 125, revela a presença de um
sistema poliinsaturado.
.
Por.outro
. lado, a composição do .óleo em
ácidos graxos, determinada por cromatografia gasosa (Figura 16 )
evidencia a ocorrência de glicerrdeos derivados do ácido linoléi
co, os quais representam mais de 70~ da mistura.

Tendo em vista os elevados teores de glicerídeos do ácido linoléi


co, o que, aliás, confere valor secativo ao óleo de cotieira, o
emprego da mistura correspondente de êsteres etílicos como carb~
rante
.
deverá
. ser
.. precedido de estudos visando preservar a cstabi
-
lidade química do óleo nas condições de armazenamento prolongado
ou durante a sua combustão nos motores, de modo a inibir possí-
veis reaçoes de auto-oxidação ou de polimerização.

Tabela 65 Dados Analíticos do 61eo de Cotieira

Características,Písico-Químicas .. . .61eo .de Cotieira


Teor de Ácidos Graxos Livres, ~ (como ácido oleico) 0,1
DenSidade a 25 9 C, g/cm3 0,9276
Indice de Refração a 259C 1,4738
Índice de Saponificação 197,0
Indice de Iodo (Wijs) 125,2
Insaponificáveis, ~ 0,33~
Indice <w Peróxido ).6,2
Ponto de Solidificação 9C ',,-1,0
Cor ASTM 1,0
Poder Calorífico Superior, KCal/Kg 9280
Peso ~blccular Médio (por crollk"lfografia gasosa) 873
Viscosidade a 37,8 9 C 25,8
CHN
Carbono 75,83
Hi.drogênio 10,68
Oxigênio 13,49
!ndice de Hidroxila 12,0

Fonte: CETEC

230
Conforme
.
;i.ndicall\ os dados das Tabelas 66 e 67 , a torta . residu-
aI do albúmen rep~esenta excepcional fonte de nitrogênio e de
elementos nutrientes; po~ isso, seu aproveitamento integral como
fert;i.lizante
. natural impl;i.cará, certamente, na redução do custo
. ' .
final de p!oduçao do óleo de cotieira.

Tabela 66 Análise Qu!mica dos Resíduos da Extração


Dados em Porcentagem

................... '.' - , .

Constituintes .....To.rta. do. Albúmen


Ci.nzas 5,3
Extrativos 13,9
Proteína 51,7
l'ibra 7,8
Lignina .......... '1.,2.

l'onte: CETEC

Tabela 67 Análise de Cinzas


Dados em Porcentagem

C.ons.tituintes .Ino.rgânicos Cinzas. da Torta do Albúmen


P205 37,1
Na 0 0,3
2
K2°
CaO
20,1
27,6
);lgO 14,4

l'onte: CETEC

231
Figura 16 - O1eo de Cotieira

l'
RREA flRER 7-
130708 1.04
931286 7.38
448400 3.58
1806020 14.32
8215140 73.06
12488. , ,
.18
68040 .55
12613074 lfJfJ.Ol

232
8.3- Tingui

Arvore d~ ~amrlia d~s Sapindâceas. em média de 6 m de altura,fl~


res odorantes ~marelo-esve~deadas, dispostas em panículas. Os
frutos, cast~nho-avermelhados, volumosos, encerram muitas semen-
tes.

A planta ~ bastante disseminada no noroeste de Minas Gerais.pri~


cipalmente nos municípios de Brasília de Minas, São Francisco
são João da Ponte, Januâria e Manga.

As popuh.ções das ârea~ de incidência do tingui o utilizam na


indústria caseira, e de maneira rudimentar, para a fabricação de
sabão caseiro.

Das cascas das raizes


.
ou do próprio
. . caule se extraem, por infusão
em .água, princípios
. tóxicos dos quais se servem os moradores 10-
cais para ~ealizar'a tinguijada, isto ê, para a pescaria coleti-
va, por envenenamento dos peixes. que. então. sobem ã tona e aí
são facilmente apanhados.

Na região., considera-se o Ungui a lenha de melhol- qualidade por


sua combustão fácil e boa formação de brasas duráveis de poucas
cini~s.

Enquanto os dados analíticos das Tabelas 68 e 69 expressam qua~


titativamente as partes constituintes do tingui. cansanção, coco
cabeçudo e tucum. a Tabela 70 . indica os resultados da análise cro
matográfica dos diversos óleos correspondentes, cujos cromatogra-
mas são mostrados nas F:i.guras 17 e '18 . Finalmente. a Tabela 71
identifica algumas das características físico-químicas do óleo de
tingui.

233
Foto 41 Tingui
Monta1vânia, M.G.

Foto 42 Fruto do Tingui

234
Foto 43 Componentes do Fruto do Tingui

Foto 44 Semente do Tingui

235
Tabela 68 Dados de Co~pos~ç~o

.. , , .
. ,Cal'acte:1'Ís.tic.as.. , ~ .. '. :'.. ,·Tiri.gui '. . ...Cansanção
Peso de 100 sementes' (g) 155,7
Peso Médio da Semente (gl 1,6
Casca (~) . 37,0 50,0
Albumen m 63,0 50,0
Urli.dade m .
9 ,Q 5,5
Torta (~1 48,4 54,3
, Oleo .(%) .. , ,.,', , .42,6. . , .... .40,2

Fonte: GETEC

Tabela 69 Anâ1~se da Composiçao

Caracte,rí.st.i..cas. , .... , ..Cabeçu,do ..Tucum


pes o de 10.0 Frutos (g) 1067,0 1697,0
Peso Nédio do Fruto (g) .10,7 17,0
Casca/Mesocarpo C%) 77,0 19,0
Endocarpo (%) 17,4 70,3
Amêndoa (%) 5,6 10,7
UlIidade Total (~) 1,9,2 30,2
Teor de Olco/Fruto Fresco (%) . 9, o. 1,7
,Teor.de ,Oleo/Fruto .Seco.(%) .. ' , .11,2, .. ' 2,5

Fonte: CETEC.

236
Tabela 70 Composição Qurmica em Acidos Graxos
Dados em Porcentagem

Cansanção. ..... ·Cabecudo


Ac;ido Graxos Tin~i .... TuCLUn
. . . . . .. . .... ... . . . . .. .. .. , ....... ....... . .
Polpa Amêndoa
Acido Caprôico ·5,3 -
Acido Caprílico 11,7 1,4 8,8
Ácido Câprico , "7,8 - 9,0
Ácido Láurico 43,6 2,4 45,3
Ácido MirIstico 15,6 3,0 10,9
Ácido Pa1núti.co 7,1 13,5 6,Q 24,1 5,8
Ácido Pa1mito1eico
Ácido Esteârico
6,7
1,0
-6,8 -
3,4
1,5
1,3
"-
4,7
Ácido Oleico 47,7 17,4 9,2 39,5 12,2
Ácido Linoleico 5,8 61,6 2,6 18,8 3,4
Ácido Araquídico 9,3 - - -
Ácido Lino1ênico 11,4 0,8 2,7
Ácido Behênico 5,2 -
Ácido ErU~ico
Ácido..Lignocêrico
3,5
2,5
-
. ... "" ......
" .......... " " .... " " " "" . ....

Fonte: CETEC

237
Tabela 71 Dados Anal~t~cos do Oleo de Tingui

Carac.te~hticas. Fisico.~.Qtirmicas.. , 6leo de Tingui

Teor. de Ácidos Graxas (c.omó ácido oleico,~) 0,4


. 3
Densidade a 25VC (g/cm ) 0,8449
Indice de Refraçao a 25VC 1,4650
fndice de Sapontíicaçio 220
lndice de Iodo CWijsl 65,7
Indice de Peróxido 6,9
Pon to de Névoa CV C) 15,0
Viscosidade a .37.'8~C .CcS.tl, . 41,0

Fonte: CETEC

238
:
-- -- _.-
lHJ +111
FlU: 1 aI' ~
I- PK1
2P
*
4TII1E:'
7 RRE:R
. 5 1966432
RRE:R :(
7.86
3 5. S2 1137B16 7.98
4P 1~·72 6436974 59.21
5P 13'~; 787116 4.96
BP 15'63 1453484 18.28

-- rorÍlL 115M936
<248558
18.58
99.9S

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2T 10,'28 1473820 6,77==:=: ....,a
3T 11.78 3782440 17 , 37 ==.=.:..:! 00
4P 15,25 13408131 61,57=
5T 18,62 1&9088 O.78;;===:
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