Você está na página 1de 196

3º CICLO DE ESTUDOS

PSICOLOGIA

Psicopatologia em Crianças e Jovens


Portugueses em Acolhimento
Residencial
Joana Campos Nunes Pereira

D
2020
PSICOPATOLOGIA EM CRIANÇAS E JOVENS PORTUGUESES EM

ACOLHIMENTO RESIDENCIAL

Joana Campos Nunes Pereira

2020

Tese apresentada na Faculdade de Psicologia e de


Ciências da Educação da Universidade do Porto
para a obtenção do grau de Doutor em Psicologia,
sob a orientação da Professora Doutora Maria
Adelina Acciaiuoli Faria Barbosa Ducharne e sob
a co-orientação do Professor Doutor Pedro Miguel
Brito da Silva Dias.
FINANCIAMENTO

Este trabalho foi financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT)
através de uma bolsa de doutoramento (PD/BD/114267/2016).
AVISOS LEGAIS

O conteúdo desta dissertação reflete as perspetivas, o trabalho e as interpretações


do autor no momento da sua entrega. Esta dissertação pode conter incorreções, tanto
conceptuais como metodológicas, que podem ter sido identificadas em momento
posterior ao da sua entrega. Por conseguinte, qualquer utilização dos seus conteúdos deve
ser exercida com cautela.
Ao entregar esta dissertação, o autor declara que a mesma é resultante do seu
próprio trabalho, contém contributos originais e são reconhecidas todas as fontes
utilizadas, encontrando-se tais fontes devidamente citadas no corpo do texto e
identificadas na seção de referências. O autor declara, ainda, que não divulga na presente
dissertação quaisquer conteúdos cuja reprodução esteja vedada por direitos de autor ou
de propriedade industrial.
RESUMO

Em Portugal existem cerca de 7000 crianças que crescem numa casa de Acolhimento
Residencial (AR). Diversos estudos têm concluído que o índice de problemas de saúde
mental é superior em crianças acolhidas relativamente à população geral. Os fatores de
risco para as problemáticas observadas estão relacionados não só com o contexto familiar
prévio ao acolhimento, mas também com características individuais e variáveis
contextuais das próprias casas de AR. O presente estudo pretendeu enriquecer os
conhecimentos existentes acerca do ajustamento psicológico das crianças que vivem em
AR, através da realização de um estudo com uma amostra nacional e representativa desta
população. Foram objetivos deste estudo conhecer a prevalência dos problemas
emocionais e comportamentais de crianças em AR, comparando com uma amostra
normativa da população portuguesa; analisar o desenvolvimento de vocabulário das
crianças de idade pré-escolar; explorar diferenças de sintomatologia apresentadas pelas
crianças face a variáveis individuais e contextuais; analisar as competências psicossociais
das crianças, comparando também com uma amostra normativa da população portuguesa
– caracterizando assim as necessidades de saúde mental das crianças que vivem em AR
em Portugal. Os resultados globais do estudo mostraram que as crianças em AR
apresentam índices mais elevados de problemas de ajustamento psicológico, quando
comparado com as crianças que vivem com a sua família. Especificamente, nas crianças
de idade pré-escolar foi notório o atraso ao nível do desenvolvimento da linguagem. As
competências psicossociais, a presença de irmãos na mesma casa de AR, a promoção de
uma ampla rede de suporte social para cada criança, o estabelecimento de relações
significativas entre adultos e criança e a manutenção das relações familiares, bem como
a promoção da formação dos profissionais que compõem as equipas das respetivas casas,
parecem ser fatores preponderantes para a promoção da saúde mental nesta população
específica. Este trabalho levanta reflexões acerca das boas práticas ao nível da saúde
mental junto das crianças acolhidas em Portugal e suscita pistas para investigações
futuras.

Palavras-chave: Acolhimento Residencial; Ajustamento Psicológico; Crianças; Bateria


ASEBA
ABSTRACT

In Portugal, there are about 7000 children growing up in Residential Care (AR) centres.
Multiple studies have concluded that the rate of mental health problems is higher in
children in RC when compared to the general population. The risk factors accounting for
the observed behaviour problems are related to the birth family, the child’s individual
characteristics and RC contextual variables. The present study resorted to a national and
representative sample of RC centres and aims at enriching existing knowledge on the
psychological adjustment of children living in RC. The specific goals of this study are to:
(1) identify the prevalence of emotional and behavioural problems of children in RC, in
comparison with a Portuguese normative sample; (2) analyse the vocabulary development
of preschool-aged children in RC; (3) explore differences in symptoms presented by
children in relation to individual and contextual variables; (4) analyse the children’s
psychosocial skills, by comparing them with a Portuguese normative sample and, thus,
characterize the mental health needs of children living in RC in Portugal. The overall
findings of the study showed that children in RC have higher rates of psychological
adjustment problems when compared to children living with their families. Specifically,
preschool-aged children in RC presented a noticeable delay in language development.
Psychosocial skills, the presence of siblings in the same RC unit, a wide social support
network, the establishment of meaningful relationships between adults and children and
the maintenance of family relationships, as well as the training of the RC staff, seem to
be relevant factors for the promotion of mental health in this specific population. This
work provides evidence informing on RC mental health good practices and raises
questions for future research.

Key words: Residential Care; Psychological Adjustment; Mental Health, Looked-after


Children; ASEBA
RÉSUMÉ

Au Portugal, il existe environ 7000 enfants qui grandissent au sein d’un Foyer de
l’Enfance, c’est à dire, en institution d’accueil. La conclusion de plusieurs études est que
la prévalence de problèmes de santé mentale est supérieure chez les enfants accueillis par
rapport à la population générale. Les facteurs de risque concernant les problématiques
observées sont en relation non seulement avec le contexte familial préalable à l’accueil,
mais également avec les caractéristiques individuelles de l’enfant et contextuelles des
foyers d’accueil. La présente étude a le but d’enrichir les connaissances actuelles
concernant le bien-être psychologique des enfants qui vivent en institution d’accueil,
utilisant un échantillon national et représentatif de cette population. Les objectifs de cette
étude ont été de connaître la prévalence de problèmes émotionnels et comportementaux
des enfants en foyers d’accueil, en comparaison avec un échantillon général de la
population portugaise; analyser le développement du vocabulaire des enfants d’âge
préscolaire; explorer les différences de symptomatologie présentées par les enfants en
fonction de variables individuelles et contextuelles; analyser les compétences
psychosociales des enfants, également en comparaison avec un échantillon de la
population portugaise – en caractérisant ainsi les nécessités de santé mentale des enfants
qui vivent en foyer d’accueil au Portugal. Les résultats globaux de l’étude ont établi que
les enfants en foyers d’accueil présentent des taux plus élevés de problèmes d’adaptation
psychologique lorsque comparés aux enfants qui vivent avec leur famille.
Spécifiquement, concernant les enfants d’âge préscolaire a été notoire le retard au niveau
du développement du langage. Les compétences psychosociales, la présence de fratrie
dans le même foyer d’accueil, la promotion d’un large réseau de support social pour
chaque enfant, l’établissement de relations significatives entre adultes et enfant et
l’entretien de relations familiales, de même que le développement de la formation des
professionnels qui composent l’équipe des foyers d’accueil respectifs, semblent être des
facteurs prépondérants pour l’avancement de la santé mentale chez cette population
spécifique. Ce travail appelle des réflexions au sujet des bonnes pratiques au niveau de la
santé mentale auprès des enfants accueillis au Portugal et apporte des pistes pour de
futures recherches.

Mots-clef: Accueil Institutionnel; Bien-être psychologique; Santé-Mentale ; Enfants;


Batterie ASEBA
LISTA DE ABREVIATURAS

AR Acolhimento Residencial

ARQUA-P Sistema de Avaliação Compreensiva da Qualidade do Acolhimento


Residencial Português

ASEBA Achenbach System of Empirically Based Assessment (Sistema de


Avaliação Empiricamente Validado)

CBCL 1 ½ - 5 Child Behavior Checklist For Ages 1½-5 (Questionário de


Comportamento da Criança para idades entre 1 ½ e 5 anos)

CBCL 6 - 18 Child Behavior Checklist For Ages 6-18 (Questionário de


Comportamentos da Criança para Idades entre 6 e 18 anos)

C-TRF Caregiver-Teacher Report Form for Ages (Questionário de


Comportamento da Criança para Educadores, Cuidadores e
Auxiliares Educativos)

EQAR Estudo da Qualidade do Acolhimento Residencial

FPCEUP Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade


do Porto

ISS, IP Instituto da Segurança Social, Instituto Público

LDS Language Development Survey (Questionário de Desenvolvimento


da Linguagem)

PE Problemas de Externalização

PI Problemas de Internalizaçao
PIP Pedido de Informação Prévio

RC Residential Care

TP Total de Problemas

TRF Teacher Report Form For Ages (Questionário de Comportamentos da


Criança para Professores)

YSR Youth Self-Report For Ages (Questionário de Autoavaliação para


Jovens)
AGRADECIMENTOS

Que este espaço de agradecimentos seja de facto sentido na sua plenitude por todos
os que partilharam comigo toda esta caminhada de desenvolvimento e crescimento
intelectual e emocional.

À minha Orientadora, Professora Doutora Maria Adelina Barbosa-Ducharne, pelo


acompanhamento rigoroso, motivador, encorajador e próximo ao longo de todo este
caminho. Obrigada, pelo desafio constante e por me fazer acreditar que tudo isto seria
possível “ao acreditar mais em mim do que eu própria”.

Ao meu Coorientador, Professor Doutor Pedro Dias, pela cooperação e pela


disponibilidade para refletir e partilhar o seu conhecimento. Obrigada pelo seu
entusiasmo e estimulação promovidos ao nível do conhecimento académico.

Às Entidades Tutelares, a todas as entidades parceiras e a todas as Casas de


Acolhimento que participaram neste estudo, já que sem a sua disponibilidade a
concretização deste projeto não teria sido possível.

A todas as crianças e cuidadores com quem nos cruzamos ao longo destes cinco
anos, pelas suas histórias e partilhas, que deram ainda maior motivação para continuar
esta jornada.

À Dr.ª Helena Simões, pelas suas palavras sempre tão oportunas e ponderadas e
pela partilha de reflexões que enriqueceram este percurso.

Ao Doutor Juiz Paulo Guerra pela forma, simultaneamente, poética e realista de


olhar as problemáticas inerentes ao acolhimento e por me ter ensinado a importância “de
subirmos ao nível das crianças” para as compreendermos na sua plenitude.

À Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto


e à Fundação para a Ciência e Tecnologia, por terem proporcionado as condições
necessárias à realização deste trabalho.

Ao Grupo de Investigação e Intervenção em Acolhimento e Adoção pelas


partilhas e por todo o acompanhamento que uma grande equipa proporciona.

Ao EQAR, e particularmente à Sónia Rodrigues, por me ter integrado desde o


início neste projeto apaixonante e por me fazer também apaixonar por esta área.
Ao meu “Querido Gang”, Ana Catarina Flores, Leonor Faria, Mariana Leal, Rita
Ribeiro e Sofia Carvalho, pela cumplicidade, pelas partilhas, pelos desabafos, pelos
sorrisos, pelas gargalhadas e pelas lágrimas, pelas viagens de Norte a Sul do país, pelas
aventuras, pelas noites perdidas (ou ganhas) em conversas e muitas risadas, por todas as
descompensações saudáveis, por cada café ou colherada de McFlurry, por me fazerem
querer ir convosco até ao fim do mundo… Obrigada pelo carinho, por terem estado e por
continuarem a estar sempre presentes na minha Vida!

Aos meu Pais um agradecimento especial, pela aceitação incondicional, pelo


apoio e compreensão inestimáveis, pelo constante encorajamento e pelas críticas
construtivas. Pela sua constante presença.

Ao Vitor, por tudo o que representas na minha Vida, por teres tornado todo este
processo mais leve e mais fácil. Por acreditares em mim e em Nós!

Aos meus dois Pequenos e Grandes Amores, Francisco e Vasco!!


ÍNDICE

Capítulo I – Saúde Mental das Crianças em Acolhimento Residencial ........................ 2


Acolhimento Residencial e a exigência da Qualidade .................................................. 3
Saúde Mental em Acolhimento Residencial ................................................................. 9
Boas Práticas em Saúde Mental em Acolhimento Residencial .................................. 19
Capítulo II - Método ...................................................................................................... 27
Método ........................................................................................................................ 27
Participantes ................................................................................................................ 28
Crianças de Idade Pré-Escolar................................................................................. 28
Crianças de Idade Escolar ....................................................................................... 29
Cuidadores ............................................................................................................... 30
Educadores em Jardim Infantil ................................................................................ 30
Professores .............................................................................................................. 30
Instrumentos................................................................................................................ 31
Bateria ASEBA ....................................................................................................... 31
Pedido de Informação Prévio .................................................................................. 37
Ficha Sociodemográfica para Educador e Professor ............................................... 37
Procedimentos ............................................................................................................. 37
Capítulo III – Estudos Empiricos ................................................................................. 40
Artigo 1: Saúde Mental de Crianças e Adolescentes Portugueses em Acolhimento
Residencial ................................................................................................................. 43
Resumo .................................................................................................................... 44
Abstract ................................................................................................................... 45
Résumé .................................................................................................................... 46
Introdução................................................................................................................ 47
Método .................................................................................................................... 50
Resultados ............................................................................................................... 54
Discussão................................................................................................................. 59
Conclusões .............................................................................................................. 61
Implicações para a prática ....................................................................................... 62
Artigo 2: Psychological Adjustment and Language Development of Young
Children in Residential Care ................................................................................... 64
Resumo .................................................................................................................... 65
Abstract ................................................................................................................... 66
Method .................................................................................................................... 69
Results ..................................................................................................................... 72
Discussion ............................................................................................................... 77
Study limitations ..................................................................................................... 79
Conclusions and implications for practice .............................................................. 79
Artigo 3: Emotional and Behavioral Problems and Psychosocial Skills in
Adolescents in Residential Care .............................................................................. 81
Abstract ................................................................................................................... 82
Method .................................................................................................................... 85
Results ..................................................................................................................... 88
Discussion ............................................................................................................... 93
Limitations .............................................................................................................. 95
Conclusions and Implications for Practice .............................................................. 96
Artigo 4: Ajustamento Psicológico de Jovens em Acolhimento Residencial: Uma
Abordagem de Multi-informantes ........................................................................... 97
Resumo .................................................................................................................... 98
Introdução................................................................................................................ 99
Método .................................................................................................................. 102
Resultados ............................................................................................................. 105
Discussão............................................................................................................... 113
Artigo 5: Caracterização das necessidades de saúde mental das crianças em
Acolhimento Residencial ........................................................................................ 116
Resumo .................................................................................................................. 117
Introdução.............................................................................................................. 118
Método .................................................................................................................. 122
Resultados ............................................................................................................. 124
Discussão e Implicações para a Prática ................................................................. 127
Conclusão .............................................................................................................. 130
Capítulo IV – Discussão Integradora ......................................................................... 132
Discussão Integradora ............................................................................................... 133
Limitações e Pistas para Investigações Futuras ........................................................ 138
Conclusões ................................................................................................................ 139
Pistas para Intervenção ............................................................................................. 140
Referências Bibliográficas .......................................................................................... 142
ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Consistência Interna das escalas da Bateria ASEBA para o período Pré-Escolar
........................................................................................................................................ 35
Tabela 2 - Consistência Interna das escalas da Bateria ASEBA para o período Escolar
........................................................................................................................................ 36

ARTIGO 1

Tabela 1 - Dados Sociodemográficos dos adolescentes ................................................ 51


Tabela 2 - Alphas de Cronbach para a Amostra de Aferição e para a Amostra do Estudo
de AR .............................................................................................................................. 52
Tabela 3 - Cotações das Escalas da Bateria ASEBA de acordo com os pontos de corte,
em percentagem .............................................................................................................. 55
Tabela 4 - Correlações entre as Variáveis relativas a Problemas e Variáveis Individuais
........................................................................................................................................ 56
Tabela 5 - Análises de diferenças de médias das variáveis relativas a Problemas, em
função da Tipologia e da Dimensão da casa (ANOVA univariada)............................... 57
Tabela 6 - Análises de diferenças entre as variáveis de Problemas em função dos
Informadores (ANOVA de medidas repetidas) .............................................................. 58

ARTIGO 2

Table 1 - The ASEBA Battery Scales scores according to the cut-off points, in percentage
........................................................................................................................................ 72
Table 2 - Scores of the average number of words according to the cut-off points, in
percentage ....................................................................................................................... 73
Table 3 - Differences regarding psychological adjustment and language development,
associated to the child’s gender, the presence of siblings in the same RC centre and
preschool integration (t tests for independent samples) ................................................. 75
Table 4 - Differences regarding psychological adjustment and language development,
associated to the size of the RC centre (univariate ANOVA's) ...................................... 76
Table 5 - Correlations between the Problem Scales and the Average Number of Words
and Individual and Contextual Variables ....................................................................... 77

ARTIGO 3

Table 1 - Internal consistency in YSR scales (Cronbach’ Alpha) ................................. 87


Table 2 - Sample differences in Self-report measures ................................................... 88
Table 3 - Gender differences in self-report measures .................................................... 90
Table 4 - Correlations between self-report measures .................................................... 92
ARTIGO 4

Tabela 1 - Matriz de Correlações Multitraço – Multimétodo para os Problemas de


Internalização das Crianças segundo os Três Informantes ........................................... 105
Tabela 2 - Validade Convergente/Divergente por Constructo e Pares de Informantes para
os Problemas e Internalização ...................................................................................... 106
Tabela 3 - Matriz de Correlações Multitraço – Multimétodo para os Problemas das
Crianças segundo os Três Informantes ......................................................................... 107
Tabela 4 - Validade Convergente/Divergente por Constructo e Pares de Informantes para
os Problemas de Externalização ................................................................................... 107
Tabela 5 - Matriz de Correlações Multitraço – Multimétodo para o Total de Problemas
das Crianças segundo os Três Informantes................................................................... 109
Tabela 6 - Validade Convergente/Divergente por Constructo e Pares de Informantes para
o Total de Problemas .................................................................................................... 110
Tabela 7 - Diferenças entre os Três Informantes relativamente ao Total de Problemas
...................................................................................................................................... 112

ARTIGO 5

Tabela 1 - Alphas de Cronbach para a Amostra Normativa e para a Amostra de AR 123


Tabela 2 - Diferenças entre a Amostra Normativa e a Amostra de AR ...................... 124
Tabela 3 - Cotações das Escalas da Bateria ASEBA de acordo com os pontos de corte,
em percentagem ............................................................................................................ 125
Tabela 4 - Correlações entre as Três Medidas de Sintomatologia e as Variáveis em análise
...................................................................................................................................... 126
ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Representação esquemática do modelo de mediação simples ...................... 58


INTRODUÇÃO

A família é o contexto privilegiado para o desenvolvimento das crianças (Herrera,


2018). Porém, quando este sistema não consegue corresponder às exigências e
necessidades da criança e/ou coloca em risco a sua integridade física ou psicológica,
impõe-se a sua retirada e a aplicação de uma medida de promoção dos direitos e proteção
da criança (LPCJP, artigo 3º). De entre as medidas de colocação extrafamiliar, surge o
Acolhimento Residencial (AR) como mais frequente em Portugal, representando 97.2%
do total de colocações. Dados relativos a 2018, indicam que em Portugal existiam 7032
crianças em AR, das quais 6118 em AR generalista, com ligeiro predomínio de crianças
do sexo masculino (53%) e uma maior representatividade das idades a partir dos 12 anos
(70%) (ISS,IP, 2019).
Apesar de alguns estudos evidenciarem os aspetos positivos que esta medida
poderá ter para as crianças provenientes de contextos familiares disfuncionais (e.g.
Knorth et al., 2008), a maioria dos estudos tem apontado o AR como sendo um fator de
risco para o desenvolvimento das crianças, nomeadamente a nível físico, neurobiológico,
social, comportamental e emocional (e.g. Berens & Nelson, 2015). Este impacto é
particularmente evidente ao nível da saúde mental, já que são vários os estudos que têm
evidenciado que as crianças que vivem em AR apresentam um maior índice de problemas
de saúde mental quando comparadas com crianças que vivem com a sua família (e.g.
Águila-Otero et al., 2018).
A especificidade da história e condições de vida das crianças que vivem em AR,
impõe a necessidade de conhecer o panorama atual relativo aos problemas de saúde
mental existentes nesta população. A nível internacional são poucos os estudos sobre o
ajustamento psicológico das crianças em AR, uma vez que os estudos de prevalência se
têm focado mais em crianças que vivem com os seus pais biológicos (Schmid et al., 2008).
Esta lacuna é ainda mais evidente no que diz respeito ao contexto português (e.g. Mota
& Matos, 2008). Esta dissertação tem assim como grande objetivo conhecer o
(des)ajustamento psicológico das crianças que vivem em AR em Portugal. Com o intuito
de evitar a repetição de criança/jovem, irá ser utilizado o termo “criança” com o mesmo
significado que é dado na Convenção dos Direitos da Criança (menor de 18 anos de
idade).

XXI
Neste sentido, o primeiro capítulo é dedicado ao enquadramento teórico do
estudo. Desta forma, pretendeu-se fazer uma revisão da literatura relativamente aos
conceitos principais deste estudo, bem como explicitar as suas principais conclusões e o
estado atual da investigação. Começaremos por apresentar o estado de arte relativamente
ao AR em Portugal, ajustamento psicológico das crianças acolhidas e boas práticas ao
nível da prevenção de problemas de ajustamento psicológico e promoção de saúde mental
em AR.

No segundo capítulo pretendeu-se definir os objetivos da investigação assim


como a forma como estes foram operacionalizados. Nesta secção descreveu-se a amostra
total dos participantes. Uma vez que se optou por apresentar a tese por artigos científicos
submetidos a publicação e publicados, e dada a necessidade de se fazer uma disseminação
de resultados imediata à medida que os dados iam sendo recolhidos, os artigos tiveram
como base diferentes amostras e estas serão descritas em cada um deles respetivamente.
Descreveram-se ainda neste capítulo os instrumentos e os procedimentos utilizados ao
longo do estudo.

O terceiro capítulo foca-se nos resultados obtidos no estudo. Em primeiro lugar


serão apresentados os resultados provenientes do estudo piloto desta investigação e que
visa analisar o ajustamento psicológico de crianças que vivem em AR; explorar as
diferenças da sintomatologia associadas ao género da criança, bem como à dimensão da
casa de AR; explorar as correlações existentes entre medidas de sintomatologia e
variáveis individuais e contextuais; e analisar diferenças entre o relato dos diferentes
informadores. Em segundo lugar, serão apresentados os resultados relativos ao
ajustamento psicológico e desenvolvimento da linguagem de uma amostra de crianças
acolhidas de idade pré-escolar comparativamente a uma amostra normativa nacional de
crianças da mesma faixa etária. Em terceiro lugar, serão apresentados os resultados
relativos ao ajustamento psicológico e competências psicossociais de crianças de idade
escolar comparativamente com uma amostra normativa nacional de crianças da mesma
faixa etária. Em quarto lugar, serão apresentados os resultados relativos ao ajustamento
psicológico recorrendo-se a uma abordagem multi-informante (i.e. cuidador de
referência, professor e jovem), analisando a perspetiva de cada informante e explorando
as diferenças entre elas. Em quinto lugar, serão apresentados os resultados relativos ao
ajustamento psicológico das crianças pertencentes à amostra nacional do estudo, sendo

XXII
possível desta forma obter uma caracterização do estado atual da saúde mental desta
população.

Por último, no quarto capítulo desta dissertação pretende-se fazer uma síntese
dos principais resultados obtidos assim como uma discussão integradora dos mesmos.
Serão ainda apresentadas as limitações do estudo, pistas para a investigação futura, as
principais conclusões, bem como algumas pistas para a intervenção.

A presente dissertação foi escrita com base nas orientações da 7ª Edição das
Normas da American Psychological Association (American Psychological Association
[APA], 2020).

XXIII
Capítulo I

Saúde Mental das Crianças em Acolhimento Residencial

2
Acolhimento Residencial e a exigência da Qualidade

A família é o contexto privilegiado para o desenvolvimento das crianças,


apresentando um papel vital no seu desenvolvimento holístico e ajustamento psicossocial
(Krishnaswami & Kuttappan, 2019). Contudo, é também no seio familiar onde ocorrem
a maioria dos casos de abuso e negligência perpetrados às crianças, sendo que quando tal
acontece o Sistema coloca em ação soluções capazes de proteger a criança (Herrera, 2018;
Pereda et al., 2014).
O Acolhimento Residencial (AR) é uma medida de promoção dos direitos e de
proteção que visa colocar a criança aos cuidados de uma entidade que disponha de
instalações e equipamento permanente e de uma equipa que garanta os cuidados
adequados às suas necessidades e proporcione condições que permitam a sua educação,
bem-estar e desenvolvimento integral (art.º 2 da LPCJP). O AR emerge, assim, como uma
forma alternativa de prestação de cuidados para crianças que experienciaram
acontecimentos de vida adversos tais como a orfandade, os maus-tratos e a negligência
ou abandono parental (Pereira et al., 2010).
Estima-se que a nível mundial existam entre 3.18 a 9.42 milhões de crianças em
AR (Desmond et al., 2020). Apesar de nos últimos 10 anos, Portugal ter reduzido cerca
de 15% o número de acolhimentos, o processo de institucionalização de crianças
continuou a aumentar face ao número de crianças que têm como medida o acolhimento
familiar, distanciando-se assim do panorama dos países desenvolvidos (Delgado et al.,
2018; Delgado & Gersão, 2018). Apesar de a medida de AR ter um peso considerável no
Sistema de Proteção em Portugal, existe ainda pouca investigação com esta população
(Mota & Matos, 2008).
Em Portugal, existem cerca de 7032 crianças em AR, sendo Lisboa (n=1315) e
Porto (n=1136) os distritos com mais acolhimentos. 51.5% (n=3153) são do sexo
masculino, sendo que a maioria das crianças em AR (70%) tem 12 ou mais anos de idade.
Destas crianças, 53% apresentam sinais de desajustamento psicológico e destas apenas
30% possuem um problema de saúde mental diagnosticado. O motivo mais prevalente
que levou à retirada destas crianças à sua família foi a negligência parental (71.6%) e em
média o tempo de acolhimento é de 4 anos (ISS, IP, 2019). Tal como corroborado por
Leloux-Opmeer e colaboradores (2016), as crianças que vivem em AR caracterizam-se
essencialmente por serem do sexo masculino, terem idade escolar e apresentarem
problemas cognitivos e problemas emocionais e comportamentais severos. Os contextos

3
familiares destas crianças caracterizam-se por serem disfuncionais, tendo a sua vida sido
pautada, na maioria dos casos, por histórias de abuso e negligência.

Mesmo que o AR disponha de condições favoráveis e estimuladoras para a


criança, o sistema torna-se incapaz de proporcionar o equivalente ao que uma família dá
a cada criança (Bronfenbrenner, 1979). Quando uma criança é acolhida, verifica-se a
fragilização dos laços afetivos que a criança tem com a sua família, bem como com a sua
comunidade de origem, exigindo uma adaptação a uma nova realidade com novas pessoas
(Gabatz et al., 2019).
As consequências da privação de cuidados parentais refletem-se a vários níveis,
nomeadamente no domínio físico e neurobiológico (atrasos e défices desenvolvimentais);
no domínio cognitivo (funções cognitivas e da linguagem); nos domínios socioemocional
e comportamental (perturbações emocionais e comportamentais e especialmente no
domínio da relação de vinculação, predispondo as crianças a perturbações graves da
vinculação (Baptista et al., 2019; Berens & Nelson, 2015; Chisholm, 1998; Pereira et al.,
2010; van IJzendoorn et al., 2020; Zeanah et al., 2005).
Apesar das consequências documentadas na literatura, é importante mencionar
que existe evidência da presença de resiliência nestas crianças, uma vez que são capazes
de adequar o seu comportamento social em função de uma interação mais sensível
(Crittenden, 1985; Siqueira & Dell’Aglio, 2010). Assim, pode afirmar-se que as
consequências não são lineares, tendo que se ter em consideração a plasticidade do
organismo humano, bem como as diferenças individuais e relacionais (Pereira et al.,
2010).

Neste sentido, apesar destas evidências, face às condições adversas do contexto


familiar prévio da criança, existem estudos que defendem os benefícios do AR a nível
social, emocional e comportamental, principalmente se decorrer num período de tempo
limitado e num contexto de qualidade (Knorth, et al., 2008; Siqueira & Dell`Aglio, 2006).
As crianças que integram casas de AR de qualidade conseguem obter melhores resultados
a nível educacional e oportunidades profissionais, do que se mantivessem num contexto
familiar disfuncional (Huefner et al., 2018).
As casas de AR variam consideravelmente no que diz respeito à sua dimensão,
estrutura, organização, abordagem de intervenção/ terapêutica e grupo de crianças que
acolhe em cada momento (Timonen-Kallio, 2019; Yslado-Méndez et al., 2019). O

4
conceito de qualidade em AR é entendido como a adequação dos recursos e serviços
prestados pelas casas de acolhimento às características e necessidades da população
acolhida (Rodrigues & Barbosa-Ducharne, 2017). Um AR de qualidade deverá não só
atender às necessidades básicas das crianças que acolhe, mas deverá também suprir as
suas necessidades emocionais e comportamentais, num movimento de reparação interna,
com base numa intervenção técnica e educativa adequadas (Valdeira & Faria, 2017),
pelos cuidadores (Ferreira et al., 2020). Para que seja terapêutico é necessário que se
baseie num modelo relacional centrado nos afetos e em vínculos seguros que irão
desempenhar um papel terapêutico, reparando os modelos de relação patológicos que
estas crianças internalizaram (Holden & Sellers, 2019; Valdeira & Faria, 2017). O
acolhimento deverá promover um contexto relacional afetivo e rico em experiências
interativas, tendo em consideração as características da criança e o perfil do adulto
cuidador (i.e. sensibilidade; disponibilidade emocional; responsividade), bem como,
deverá ter como objetivo a definição de um projeto de vida para a criança (Holden &
Sellers, 2019). Para garantir uma boa qualidade no AR, as casas não podem seguir padrões
despersonalizados, uniformes e desumanizados, sendo que não é a criança que se tem que
adaptar ao sistema, mas antes o sistema de acolhimento que deve ser flexível para
conseguir dar uma resposta eficaz a cada criança (Del Valle & Zurita, 2000; Gomes, 2010;
Huefner et al., 2018). As crianças que vivem em casas de AR que adotam um estilo
familiar apresentam resultados ao nível do desenvolvimento emocional mais positivos,
do que as crianças que vivem em casas de grandes dimensões, cujos serviços prestados
são despersonalizados (James, 2011; Leloux-Opmeer et al., 2018). Neste sentido, as casas
deverão ser de dimensão reduzida e deverão estar organizadas tendo em conta os direitos
e as necessidades das crianças, num contexto o mais próximo possível ao contexto
familiar (Cantweel et al., 2012).
Considerando a necessidade premente de promover um AR de qualidade deverão
ser tidos em conta alguns princípios: 1) individualidade (foco nas necessidades de cada
criança); 2) respeito pelos direitos da criança; 3) cobertura das necessidades básicas; 4)
educação (proporcionar o melhor recurso escolar, respeitando as capacidades de cada
criança); 5) saúde (proporcionar uma boa assistência de saúde e educação na área da
promoção da mesma); 6) normalização e integração social (proporcionar um ambiente
integrador); 7) autonomia e independência (proporcionar autonomia adequada à sua
capacidade e preparar para a independência); 8) segurança e proteção; 9) considerar a

5
criança como o foco da intervenção; 10) apoiar as famílias (integrando-as na intervenção)
(Del Valle & Zurita, 2000).
A promoção da qualidade das casas de AR é um aspeto primordial já que
influencia a qualidade da saúde emocional das crianças que lá vivem (Silva & Motta,
2018). Assim, dada a sua importância, torna-se crucial a supervisão das casas de AR, a
organização de programas formativos no âmbito da qualidade, a avaliação das casas de
maneira frequente (Erol et al., 2017) e a preparação dos cuidadores para um modelo
relacional centrado na segurança emocional.

Atualmente, o papel dos cuidadores das casas de AR é mais desafiante quando


comparado com o seu papel no passado, devido às necessidades complexas das crianças
acolhidas (Eenshuistra et al., 2019; McMillan, 2020; Steels & Simpson, 2017; Tavares-
Rodrigues et al., 2019).
As casas de AR têm a possibilidade de oferecer às crianças a construção de novos
vínculos com os cuidadores, permitindo a construção de novos relacionamentos afetivos
significativos, baseando a interação em modelos relacionais securizantes, que sejam
reparadores de experiências traumáticas (Dalbem & Dell’Aglio, 2008; Holden & Sellers,
2019; James & Roby, 2019), e que rompam com o ciclo de violência transgeracional
vivenciada pelas crianças (Gabatz et al., 2018). Para que esta relação aconteça, é essencial
que os cuidadores tenham acesso às informações e à história de vida da criança, que lhes
permitirá compreender os seus comportamentos e melhorar a sua intervenção (Kaur,
2019).
Neste sentido, os cuidadores podem ser figuras de vinculação alternativas quando
os pais estão temporariamente indisponíveis, sendo que, a formação destas relações
parece ser similar ao processo de formação de vinculação pais-criança (Schipper et al.,
2008). Embora os cuidadores tenham a seu cargo várias crianças, conseguem responder
aos pedidos em função da sua urgência, fazendo com que seja possível estabelecerem
vinculações seguras, visto que nestes casos, não só a qualidade, mas também a frequência
de cuidados positivos tem um papel importante no estabelecimento desta relação, assim
como a continuidade, a disponibilidade, a sensibilidade da resposta (Pinhel et al., 2009)
e a confiança (Swan et al., 2018).
Quando a criança apresenta uma vinculação segura com o cuidador,
independentemente de ter uma vinculação insegura com os pais, esta relação promove
uma melhor adaptação socioemocional face à ausência de vinculações seguras em todas

6
as relações da criança (Arsenault & Domene, 2018; Chesmore et al., 2017; Ferreira et al.,
2020; Oppenheim et al., 1988; Yslado-Méndez et al., 2019). As crianças que apresentam
uma vinculação insegura com o cuidador parecem ser mais vulneráveis a circunstâncias
de stress, gastam mais tempo nos cuidados diários (Belsky & Rovine, 1988),
provavelmente os cuidadores serão menos sensíveis às suas necessidades (Goossens &
van IJzendoorn, 1990; Schuengel et al., 2009) e as crianças tendem a apresentar mais
problemas emocionais e comportamentais (Yampolskaya et al., 2017). A ausência de um
cuidador de referência está fortemente relacionada com o surgimento de problemas de
isolamento social e/ou comportamentos sociais indiscriminados (Soares et al., 2014),
particularmente para crianças até aos três anos de idade (Erol et al., 2017).
Na maioria das casas de AR, as crianças experienciam poucas interações com os
cuidadores, devido ao facto de existir um elevado rácio criança-cuidador, fazendo com
que as poucas interações individuais existentes sejam de pobre qualidade, desprovidas de
estimulação social e emocional (Moretti & Torrecilla, 2019; Warner et al., 2017). Por
outro lado, a inconsistência dos cuidadores, diariamente e ao longo do tempo, devido ao
trabalho por turnos, afeta o desenvolvimento de relações afetivas seguras (Moretti &
Torrecilla, 2019; Swan et al., 2018; Warner et al., 2017), assim, como a produtividade do
cuidador (James, 2017).
Porém e apesar destes dados, aproximadamente metade das crianças que vivem
em casas de AR conseguem identificar pelo menos um membro da equipa de cuidadores
capaz de lhes dar sugestões e informações úteis que os ajudam a resolver algum problema
(Assouline & Attar-Schwarts, 2020). Algumas crianças conseguem ainda identificar
alguns cuidadores que se mostram disponíveis para fazerem atividades de lazer e
recreativas com elas (Kaur, 2019).
A forma como as crianças que vivem em AR são cuidadas tem um efeito profundo
no seu desenvolvimento com implicações para o futuro (Campbell et al., 2014; Holden &
Sellers, 2019; Sherr et al., 2017; Swan et al., 2018). Um fator que tem grande impacto na
vinculação criança-cuidador, bem como na disponibilidade emocional do cuidador, está
relacionado com o burnout sentido pelos cuidadores. Este tende a ser mais severo com a
presença de problemas de externalização, perturbação da personalidade antissocial e
abuso de substâncias por parte das crianças acolhidas (Del Valle et al., 2007; Mannuzza
et al., 1993). Salienta-se que a saúde mental dos cuidadores está associada ao bem-estar
das crianças (O’Connor et al., 2016). Neste sentido, torna-se importante prevenir o
burnout e os problemas de saúde mental dos cuidadores adotando estratégias de coping

7
tais como promover o suporte social e a discussão em grupo de pares (Proeschold-Bell et
al., 2019). Por outro lado, os cuidadores das casas de AR estão frequentemente expostos
a quebras de vínculos com as crianças, uma vez que estas num futuro mais ou menos
próximo acabam por sair da casa. Neste sentido, e considerando que este acontecimento
tem um grande impacto nos cuidadores, é de extrema importância apoiá-los e prestar
suporte emocional, para que consigam lidar com as separações e perdas de forma
adequada, preparando-se para novos vínculos (Gabatz et al., 2018).
Uma vez que muitas instituições privadas de AR assumem um papel caritativo,
um grande número de cuidadores não apresenta formação específica para promoverem
um desenvolvimento psicoafectivo intencional das crianças em AR (Eapen, 2009). A
formação para os cuidadores das casas de AR com objetivo de promover uma gestão
adequada dos comportamentos das crianças, a construção de interações mais positivas
com as mesmas e o desenvolvimento de técnicas de parentalidade positiva, que inclua a
gestão de dificuldades e de comportamentos desafiadores, parece ser essencial (Águila-
Otero et al., 2018; Barone et al., 2016; Epifânio & Gonçalves, 2017; Erol et al., 2017;
Gillen, 2018; Maltais et al., 2019; Sempik et al., 2008; Tavares-Rodrigues et al., 2019).
Assim, a qualidade de uma casa de AR está associada em grande medida com a equipa
de cuidadores, as suas qualificações, formação e experiência (Steels & Simpson, 2017).
É imprescindível que os cuidadores percebam que têm um papel determinante na vida
presente e futura destas crianças (Kaur, 2019; Wright et al., 2019).

Em suma, verifica-se que existe um elevado número de crianças que vivem em


AR. Face ao impacto que este tipo de vivência tem no desenvolvimento das crianças,
torna-se crucial que estes contextos respondam especificamente às suas verdadeiras
necessidades, no sentido de minimizar o impacto das experiências de vida adversas que
levaram ao acolhimento. Para isto, é necessário que os contextos de acolhimento sejam
de boa qualidade, quer a nível físico (i.e. providenciando todas as condições necessárias
para que uma criança se desenvolva de forma plena e integral), quer a nível humano (i.e.
apostando numa equipa de cuidadores devidamente formada e sensibilizada para as
craracterísitcas e necessidades desta população). É necessário um acolhimento de
qualidade que torne possível intervir ao nível da saúde mental destas crianças, já que é
uma área que apresenta grandes fragilidades.

8
Saúde Mental em Acolhimento Residencial

Historicamente, a psicologia tem focado nos sintomas e défices e tem definido


“bem-estar mental” como a ausência de psicopatologia. No entanto, bem-estar e
psicopatologia não são simplesmente opostos, mas pertencem a um mesmo continuum
(Keyes, 2006). Assim, a saúde mental deve ser vista como um estado complexo que
integra as dimensões do ajustamento psicológico positivas (bem-estar) e negativas
(psicopatologia) que se relacionam (Wang et al., 2011). Neste sentido, a existência de
problemas de ajustamento psicológico e reduzidos índices de bem-estar estão associados
a piores resultados (Magalhães & Calheiros, 2017).
A psicopatologia do desenvolvimento, de acordo com Sroufe e Rutter (1984),
estuda as origens e a evolução dos padrões individuais de inadaptação,
independentemente da idade de início, causas ou transformações comportamentais ou
evolução do padrão de desenvolvimento. Esta disciplina dá assim atenção a certas
trajetórias de vida dos indivíduos, na medida em que estas poderão, antes do aparecimento
da psicopatologia, significar fracassos adaptativos no desenvolvimento normativo, o que
em termos de probabilidadee, aumenta muito a possibilidade de vir a ser realizado um
diagnóstico de patologia (Cicchetti & Cohen, 2006). Poder-se-á concluir, deste modo, que
a psicopatologia do desenvolvimento não se cinge a uma caracterização da psicopatologia
ao longo da vida, antes vai mais longe e ambiciona ultrapassar este nível descritivo e
alcançar um nível mais processual e dimensional da compreensão das trajetórias de
desenvolvimento, quer este seja adaptativo ou não (Soares, 2009).
Uma abordagem multicultural da psicopatologia é indispensável, sobretudo porque
surge a necessidade de uma compreensão global da psicopatologia, de maneira a poder
elaborar de forma mais correta os critérios para cada um dos diagnósticos (Tackett &
Awong, 2008). Neste sentido, relativamente à avaliação psicológica existem duas
abordagens que devem ser consideradas: 1) abordagem categorial (i.e. os diagnósticos
são baseados em categorias); e 2) abordagem dimensional (i.e. mais empírica e
quantitativa que agrupa os problemas em síndromes) (Ferdinand, 2008). Assim, a
identificação de sinais de sintomatologia de problemas de saúde mental no âmbito de uma
abordagem dimensional da psicopatologia face a uma abordagem categorial é relevante
uma vez que a decisão de se intervir ou não somente a partir da presença de um
diagnóstico pode não ser desenvolvimentalmente adequada, dado que um quadro

9
subclínico pode ter uma evolução mais negativa e revestir-se de maior gravidade do que
um quadro clínico menos grave (Soares, 2009).
A psicopatologia nas crianças de idade pré-escolar tem recebido especial atenção
quer no âmbito clínico, quer no âmbito da investigação desde 1990 (Carter, 2010). São
vários os aspetos que podem influenciar a expressão da psicopatologia nas crianças, não
se resumindo esta expressão apenas à ausência ou presença de sintomatologia (Hudziak
et al., 2007). A psicopatologia na infância e na adolescência tem uma expressão muito
diferente da psicopatologia na idade adulta, já que a forma como a sintomatologia se
manifesta pode variar de acordo com o estádio desenvolvimental em que a criança se
encontra; é necessário ter em atenção o que pode ser considerado normativo e o que será
patológico, pois o limite por vezes é ténue (Hudziak et al., 2007).

Os problemas emocionais e comportamentais são muitas vezes referenciados


pelos clínicos de saúde mental da infância (Keenan & Wakschlag, 2000) constituindo
fatores de risco para o desenvolvimento de problemas mais severos. Estes problemas
surgem em crianças tão precocemente quanto os dois anos de idade, recebendo
diagnósticos comuns de perturbação mental (Egger & Angold, 2006). Os problemas
emocionais e comportamentais têm demonstrado serem estáveis ao longo do tempo,
sendo que quanto mais precoces forem estes problemas maior é a probabilidade de serem
estáveis (Alink et al., 2006; Krishnaswami & Kuttappan, 2019; Sonuga-Barke et al.,
2017). Esta estabilidade dos problemas de saúde mental é agravado pelo impacto que o
AR tem no desenvolvimento emocional das crianças (Turney & Wildeman, 2016),
dificultando a posterior passagem para a vida adulta e autónoma (Arsenault & Domene,
2018).
Os problemas emocionais e comportamentais na infância são considerados
questões de saúde pública significativas e têm sido associados a vários resultados
negativos, como o baixo rendimento escolar, baixa autoestima, delinquência juvenil,
comportamento criminal na idade adulta, diagnósticos psiquiátricos, agressão e violência
(Liu et al., 2005) e reduzida qualidade de vida (Gander et al., 2019).
As preocupações ao nível da saúde mental relacionam-se tanto com os problemas
de internalização como com os problemas de externalização (Orme & Buehler, 2001). A
Internalização engloba problemas que estão essencialmente relacionados com a criança,
caracterizando-se por uma sintomatologia de natureza emocional e subjetiva (e.g.
problemas emocionais, depressão, ansiedade, diminuição da autoestima) (Dias et al.,

10
2017). A Externalização contempla, principalmente, conflitos interpessoais (e.g.
problemas comportamentais, abuso de substâncias, comportamento desafiante e fugas)
(Dias et al., 2017). Os problemas de internalização geralmente são categorizados como
mais passivos, enquanto os problemas de externalização são caracterizados por serem
mais facilmente observáveis e ativos.
Embora os problemas de internalização e de externalização sejam
conceptualizados como distintos, um vasto campo da literatura derivado de investigações
longitudinais, verificou que os dois tipos de problemas se relacionam de forma muito
próxima e comummente coocorrem (Overbeek et al., 2006). Assim, os problemas de
internalização podem precipitar diretamente os problemas de externalização e vice-versa
(Drabick et al., 2010). Apesar de os problemas de externalização serem de mais fácil
observação e consequente deteção, são mais difíceis de gerir, dada a diversidade e a
severidade dos comportamentos (Ali et al., 2020).
As crianças que apresentam problemas de internalização e de externalização em
comorbilidade têm mais limitações, agravando a estabilidade dos problemas e
aumentando a probabilidade da utilização subsequente dos serviços de saúde mental
(Essex et al., 2009). Dado o potencial de continuidade destes problemas ao longo do ciclo
de vida, assim como os possíveis custos para a sociedade, os problemas de internalização
e de externalização deverão ser analisados cuidadosamente (White & Renk, 2012).
A especificidade da história e condições de vida das crianças que vivem em AR,
impõe a necessidade de conhecer o panorama atual relativo aos problemas de saúde
mental existentes nesta população. Para que os serviços de acolhimento sinalizem e
intervenham com estas crianças o mais precocemente possível, é essencial conhecer as
prevalências e as comorbilidades características deste tipo de população (Jozefiak et al.,
2016). A nível internacional são poucos os estudos sobre o ajustamento psicológico das
crianças em AR (Águila-Otero et al., 2018; Schmid et al., 2008) e em Portugal, apesar de
ser o país europeu com maior prevalência de doenças mentais, a informação disponível
quanto a à prevalência na população geral é escassa (Marques et al., 2011) e no que diz
respeito ao AR, ainda menor.

Batstra e colaboradores (2012) verificaram que a prevalência de diagnósticos de


problemas de saúde mental na infância tem vindo a aumentar de forma significativa,
representando cerca de 20% na população infantil. Vários estudos indicam que o índice
de prevalência de problemas de saúde mental é superior em crianças que se encontram

11
em AR quando comparados com crianças que vivem com a sua família (Águila-Otero et
al., 2018; Ali et al., 2020; Baptista et al., 2018; Erol et al., 2010; Erol et al., 2017;
Fernández-Daza & Fernández-Parra, 2017; Gearing et al., 2015; González-García et al.,
2017; Herrera, 2018; Janssens & Deboutte, 2009; Kjelsberg & Nygren, 2004; Lehmann
& Kayed, 2018; Li et al., 2019; Marinlovic & Backovic, 2007; Martín et al., 2017; Martín
et al., 2020; Pullmann et al., 2018; Randsalu & Laurell, 2017; Sainero, Del Valle, &
Bravo, 2015; Schmid et al., 2008; Turney & Wildeman, 2016; Vargas et al., 2017; Yoon
et al., 2019). As prevalências reportadas em diferentes estudos variam entre os 34% e os
86% (Bronsard et al., 2011; Janssens & Deboutte, 2009; Jozefiak et al., 2016; Oliván,
2002; Sempik et al., 2008; Simms et al., 2000).
As variações das prevalências dos problemas de saúde mental encontradas nos
diferentes estudos poderá estar intimamente relacionada com diferenças metodológicas e
de amostragem, bem como com a utilização de diferentes instrumentos de avaliação e os
critérios que têm sido utilizados para formular um diagnóstico (Schmid et al., 2008). Por
outro lado, estas variações estão também relacionadas com as diferenças culturais entre
os diversos países de cada estudo, bem como com os diferentes enquadramentos legais e
culturais (Jozefiak et al., 2016; Schmid et al., 2008). Estas prevalências tendem a ser mais
elevadas em determinados países, dependendo da aplicação que o Sistema de Proteção
faz relativamente a esta medida de colocação (González-García et al., 2017).
Sabe-se que as crianças do sexo feminino tendem a apresentar mais problemas de
saúde mental do que as crianças do sexo masculino, tanto na população normativa (Abad
et al., 2002), como em amostras de crianças em AR (Ali et al., 2020; Baker et al., 2007).
Da mesma forma, as crianças do sexo masculino e mais novas tendem a apresentar com
maior frequência problemas de externalização e as crianças do sexo feminino e as mais
velhas problemas de internalização (Ali et al., 2020; Conn et al., 2016; Erol et al., 2017;
Li et al., 2019; Mutiso et al., 2017). Por outro lado, enquanto os problemas de
internalização se relacionam mais com o tempo de acolhimento, os problemas de
externalização parecem relacionar-se mais com o sexo e com a idade das crianças (Li et
al., 2019).

Neste sentido, para prevenir problemas futuros é importante tomar conhecimento


dos fatores de risco. Acresce que os fatores de risco não são independentes uns dos outros.
Tem sido demonstrado que o número de fatores de risco é o principal preditor do
desenvolvimento da criança, tornando-se essencial identificar os fatores de risco tão

12
precocemente quanto possível para prevenir ou alterar os mecanismos causais negativos
para o ajustamento na criança (Appleyard et al., 2005; Raviv et al., 2010).
Apesar de o AR ser percecionado como um fator de risco para o desenvolvimento
das crianças (Álvares & Lobato, 2013; Barone et al., 2016; Dell’Aglio & Hutz, 2004; van
IJzendoorn et al., 2020), é importante salientar que este não conduz necessariamente a
psicopatologia, uma vez que depende de diferentes variáveis que influenciarão uma
melhor ou pior adaptação da criança à casa de AR (Zurita & Del Valle, 2005).
São vários os fatores que influenciam e que tornam as manifestações sintomáticas
diferentes. Todos estes fatores devem ser tidos em consideração no estudo dos problemas
de saúde mental observados, nomeadamente: idade; nível de desenvolvimento;
vinculação prévia entre a criança e os progenitores; experiências prévias; perceção da
causa da separação; preparação da criança para a separação; mensagem recebida pela
criança no momento da separação; condições do ambiente familiar; condições do
ambiente da casa de AR; duração do acolhimento; cuidados diferenciados em AR;
temperamento, personalidade (Zurita & Del Valle, 2005; Pinhel et al., 2009) e rácio
cuidador-criança (Pereira et al., 2010).
As consequências a longo-prazo para estas crianças, dependem da severidade,
cronicidade e duração de cada um dos fatores de risco presentes nas suas vidas (Erol et
al., 2017; Humphreys et al., 2018). No entanto, sabe-se que as crianças que vivem em AR
experienciam acontecimentos de vida stressantes com maior frequência e com maior
severidade quando comparadas com as crianças que vivem com a sua família (Wendt et
al., 2019).
A vulnerabilidade destas crianças encontra-se fortemente associada às
experiências de abuso e de negligência no contexto familiar que antecederam o
acolhimento (Águila-Otero et al., 2018; Baldwin et al., 2019; Baptista et al., 2018; Erol
et al., 2017; Randsalu & Laurell, 2017; Vargas et al., 2017; Yoon et al., 2019; Zhang et
al., 2019). Por outro lado, estão também associadas a características do próprio contexto
familiar de onde são provenientes como o abuso de substâncias psicoativas por parte das
figuras parentais, ausência de suporte social, baixo nível socioeconómico (Águila-Otero
et al., 2018), reduzida escolaridade (Wendt et al., 2019), dificuldades de aprendizagem e
reduzida integração na comunidade (Baldwin et al., 2019).
A investigação tem demonstrado que quanto mais precoce for o acolhimento, mais
severas são as consequências ao nível do atraso desenvolvimental e dos problemas de
saúde mental, nomeadamente sintomas depressivos e comportamentos agressivos

13
(Hermenau et al., 2014), uma vez que os primeiros anos de vida de uma criança são os
mais sensíveis (Moretti & Torrecilla, 2019), provocando alterações ao nível do genoma e
dos mecanismos moleculares cerebrais (Naumova et al., 2019). Salienta-se também que
quanto maior for o tempo de acolhimento, maiores são as consequências ao nível do
desenvolvimento emocional das crianças (Bakermans-Kranenburg et al., 2011; Moretti &
Torrecilla, 2019; Naumova et al., 2019; Silva et al., 2019; Wright et al., 2019).
Cerca de 19% das crianças que se encontram em AR já transitaram por três ou
mais casas de acolhimento (Chesmore et al., 2017; Fernandez, 2008; González-García et
al., 2017; Polnay & Ward, 2000). Esta consecutiva mudança de casa de AR e as repetidas
quebras na rede de suporte das crianças, tendem a piorar o seu prognóstico, devido aos
efeitos prejudiciais da perda das figuras de vinculação no desenvolvimento psicossocial
(Arsenault & Domene, 2018; Fernandez, 2008; Schmid et al., 2008). A perceção que a
criança tem do acolhimento encontra-se intimamente relacionada com a
presença/ausência de problemas de saúde mental (Magalhães et al., 2016). A
estigmatização e as atitudes negativas a que estas crianças estão sujeitas, oriundas dos
seus pares ou da comunidade onde vivem, tem também um impacto adverso na
emergência de problemas emocionais e comportamentais (Erol et al., 2017). Existe um
impacto negativo na saúde mental das crianças quando estas percecionam que os seus
direitos não estão a ser respeitados (Magalhães et al., 2016).
O facto de as crianças, muitas vezes se encontrarem acolhidas em casas
deslocalizadas do seu distrito de origem, constitui um fator de risco para problemas
desenvolvimentais, uma vez que este afastamento poderá agudizar as sequelas
decorrentes das necessidades e características presentes nestas idades pela dificuldade em
manter o contacto com figuras significativas (ISS, IP, 2015). As crianças que se
encontram acolhidas e que não têm um contacto frequente com a sua família apresentam
maiores índices de problemas de saúde mental (Sainero, Bravo, & Del Valle, 2015).
A nível social, estas crianças tendem a ter uma maior dificuldade em controlar
cognitivamente as suas emoções, manifestando maior labilidade, instabilidade afetiva e
reações mais agressivas e inapropriadas para a idade (Resende et al., 2019). A sua
autoestima e autoconfiança são também abaladas, levando a comparações desfavoráveis
relativamente aos seus pares, a maior suscetibilidade à manipulaão (já que não acreditam
nos seus próprios recursos e capacidades), e menor competência social (Resende et al.,
2019).

14
Para além do próprio impacto do AR no desenvolvimento das crianças é
importante não descurar o processo de vitimização secundária e da polivitimização a que
estão expostas. A vitimização secundária que se relaciona com o próprio processo
judicial, tem consequências na saúde mental das crianças acolhidas evocando sentimentos
de insegurança e culpabilidade, agravados pelo processo de institucionalização (Ribeiro,
2009). A polivitimização diz respeito a crianças que retiradas das suas famílias de origem,
têm elevada probabilidade de vir a sofrer de múltiplas formas de violência (Segura et al.,
2015), constituindo-se como um potencial preditor de sintomas clínicos nas crianças
(Segura et al., 2017).

Segundo Maia e Williams (2005) os fatores de proteção alteram a resposta pessoal


face a um fator de risco emergente. Os fatores de proteção podem ser divididos em três
classes: características da criança (e.g. autonomia, autoestima, etc.); características da
família (e.g. afetividade, concordância, etc.); e apoio individual ou institucional (e.g.
suporte social, suporte médico e psicológico, etc.).
Neste sentido, torna-se importante salvaguardar alguns dos principais fatores
protetores, tais como uma prestação de cuidados físicos de qualidade; a preocupação para
individualizar os cuidados e as rotinas; a existência de materiais apropriados ao
desenvolvimento das crianças; e a capacidade de as casas de acolhimento promoverem a
criação de boas experiências relacionais e continuadas no tempo (Pinhel et al., 2009). A
qualidade dos cuidados prestados está assim positivamente relacionada com a saúde
mental das crianças (Li et al., 2019).
A presença de irmãos na mesma casa de acolhimento parece ser um fator protetor
para o desenvolvimento de problemas de saúde mental, apesar de esta experiência ser
vivenciada na mesma como um evento traumático (Álvares & Lobato, 2013; Mutiso et
al., 2017; Rodrigues et al., 2019).
A escola tem também sido identificada como um importante fator protetor, dada
a sua componente educativa, socializadora e de integração na comunidade (Arsenault &
Domene, 2018; Calcing & Benetti, 2014; Erol et al., 2017; González-García et al., 2017;
Li et al., 2019; Randsalu & Laurell, 2017). Paralelamente, o envolvimento das crianças
em atividades extracurriculares é promotor de saúde mental, potenciando o seu
desenvolvimento da autonomia e socialização (Arsenault & Domene, 2018).
Perante um ambiente de AR promotor de relações interpessoais positivas, os sinais
de dificuldades emocionais podem diminuir (Epifânio & Gonçalves, 2017; Siqueira &

15
Dell`Aglio, 2006). Por outro lado, as casas de AR ao funcionarem como uma rede de
apoio social mais próxima desempenham um importante papel no desenvolvimento das
crianças. Simultaneamente o contacto com pares na mesma situação de vida permite a
partilha de sentimentos positivos e negativos e apoio mútuo (Siqueira & Dell`Aglio,
2006).
A par destes fatores, o apoio social promovido pela própria casa de AR, bem como
a convivência com pares e com a família, parece minimizar o impacto da experiência de
acolhimento, auxiliando a criança a viver esta fase da sua vida com menos sofrimento
(Arsenault & Domene, 2018; Erol et al., 2017; Ferreira et al., 2020; Maltais et al., 2019;
Roche, 2019; Rodrigues et al., 2014; Yazawa et al., 2019; Yubero et al., 2019). Por este
facto, o envolvimento da família em todo o percurso da criança (desde a sua retirada até
à reunificação familiar) é fundamental, exceto nos casos em que esta participação coloque
em causa a integridade da criança (Delgado et al., 2018; Gillen, 2018). Um envolvimento
próximo da família prediz resultados positivos da intervenção com a criança, ao nível
comportamental e académico (Arsenault & Domene, 2018; Huefner et al., 2015). Estas
melhorias estão associadas ao facto de as crianças e as famílias ficarem mais motivadas
para trabalhar no sentido de uma reunificação familiar mais breve (Huefner et al., 2015).
Assim, torna-se essencial envolver a família no máximo de atividades planeadas pela casa
de AR, no sentido de estimular esta proximidade (Huefner et al., 2015).
A sensibilidade, a construção de relações estáveis e acolhimentos seguros são
também considerados fatores protetores importantes para o desenvolvimento das crianças
(Arsenault & Domene, 2018; Erol et al., 2017; Swan et al., 2018), particularmente com
os cuidadores (Roche, 2019), visto que vinculações seguras estão associadas a uma maior
estabilidade ao nível da saúde mental (Yazawa et al., 2019).

A maior parte dos técnicos de saúde mental reconhece a necessidade de recorrer


a mais do que um informador, uma vez que não só existirá mais do que uma perspetiva
acerca do problema, mas também será obtida mais informação acerca do funcionamento
da criança nos diferentes contextos onde está integrada (Achenbach et al., 2005). O
conjunto da informação obtida, a partir do relato de mais do que um informador de
diferentes contextos, é mais fiável e completo (Hudziak et al., 2007).
Os problemas de internalização apresentam um menor acordo entre informantes,
uma vez que as crianças geralmente os experienciam quando estão sozinhas, tendo menor
probabilidade de os manifestar em todos os contextos (Kugler et al., 2013). Apesar de

16
esta dificuldade ser mais evidente na identificação dos problemas de internalização (por
não serem tão facilmente observáveis pelos cuidadores), verifica-se também ao nível dos
problemas de externalização, pelo facto de os cuidadores assumirem que lidar com
problemas de comportamento disruptivo ou agressivo faz parte das suas funções,
normalizando este tipo de problemáticas (González-García et al., 2017; Martín et al.,
2020).
São várias as características dos informadores e das próprias crianças que poderão
ter influência na forma como reconhecem e percebem o problema (Achenbach, 2006). O
grau de acordo entre os informadores tende a ser mais elevado quando os informadores
se encontram no mesmo contexto, uma vez que as crianças tendem a exibir
comportamentos semelhantes nos mesmos contextos (Kugler et al., 2013).
No que diz respeito à idade, quanto menor for a faixa etária das crianças
(Achenbach et al., 1987; Kugler et al., 2013) avaliadas, particularmente se se situar entre
os 6 e os 11 anos de idade (Stanger & Lewis, 1993), maior parecem ser os níveis de acordo
entre os informadores. A idade da criança parece ser um fator que tem impacto no grau
de acordo, uma vez que em idades menores as crianças se encontram mais dependentes e
consequentemente mais próximas dos adultos (Achenbach et al., 1987; Kugler et al.,
2013).
O género feminino parece também estar a associado a níveis mais elevados de
acordo (Kugler et al., 2013), na medida em que se tem verificado maior acordo entre
cuidadores/professores e crianças do sexo feminino do que crianças do sexo masculino
(Deng et al., 2004).
Paralelamente, a identificação de sintomas psicopatológicos varia, em larga
medida, em função das características do próprio informador (Dirks et al., 2011), assim
como das suas experiências prévias, sensibilidade para o reconhecimento da
sintomatologia (Kugler et al., 2013), bem como a motivação para o preenchimento do
questionário (Tarren-Sweeney et al., 2004). O não reconhecimento de sintomatologia
psicológica por um informador poderá dever-se ao facto de existir uma maior
preocupação com as questões físicas do que com as psicológicas; de procurar auxílio
apenas para as queixas somáticas; de a taxa de sucesso no tratamento de problemas
somáticos ser mais elevada do que nos problemas psicológicos; e de avaliar as queixas
somáticas como socialmente mais aceitáveis para a procura de ajuda (Weiss et al., 2009).
Os fatores relacionais têm também impacto no nível de acordo, sendo que quando
se verifica uma vinculação segura entre a criança e o cuidador, parecem existir menos

17
discrepâncias (Cooley et al., 2015; Ehrlich et al., 2011). Por outro lado, quanto maior for
a duração da relação cuidador-criança, maior será o acordo (Gearing et al., 2015). A
identificação de sintomatologia pelos cuidadores está dependente do tempo que o
cuidador conhece a criança, uma vez que quanto maior for este tempo, maior será a
capacidade do cuidador para interpretar estes sinais (Tarren-Sweeney et al., 2004).
A severidade da sintomatologia relacionada com o trauma parece também ter
impacto no grau de acordo entre informadores (Anderson & Seita, 2006). Assim, após
uma situação traumática, as crianças tendem a exibir comportamentos que variam entre o
isolamento extremo até ao comportamento agressivo. O aumento da severidade da
sintomatologia faz aumentar a frequência e a severidade dos problemas emocionais e
comportamentais nos vários contextos onde a criança está inserida, fazendo com que o
acordo seja mais elevado (Anderson & Seita, 2006; Kugler et al., 2013).
É a combinação de todos estes fatores que influenciam a avaliação e o nível de
acordo entre os informadores (Rosenthal & Curiel, 2006).

Como é possível observar, as crianças que vivem em contextos de acolhimento


apresentam maiores índices de problemas de ajustamento psicológico, face às crianças
que vivem com as suas famílias de origem. Considerando que os problemas emocionais
e comportamentais presentes na infância podem ser fatores de risco para problemas de
saúde mental mais severos na idade adulta, torna-se crucial intervir o mais precoce
possível. Esta intervenção em AR deverá basear-se na promoção dos fatores de proteção
da saúde mental, e, pelo contrário, deverá reduzir, e sempre que possível anular, os fatores
de risco destes mesmos problemas. A intervenção que é realizada com cada criança deve
ser baseada em práticas empiricamente validadas e contextualmente específicas, já que
esta população apresenta idiossincrasias que não podem, em momento algum, serem
descuradas.

18
Boas Práticas em Saúde Mental em Acolhimento Residencial

Devido às elevadas taxas de problemas de saúde mental, as crianças que vivem


em AR caracterizam-se pelas necessidades complexas e únicas às quais urge dar uma
resposta (Ellerman, 2007; Elliott et al., 2017; Jamora et al., 2009; Lehmann & Kayed,
2018; Thompson et al., 2017), que seja precoce, sistemática e de proximidade (Bruskas,
2008). Devido à sua complexidade, é necessária a cooperação e coordenação entre
diferentes serviços especializados (Lehmann & Kayed, 2018; Tavares-Rodrigues et al.,
2019) e equipas multidisciplinares (Diniz et al., 2018), constituindo-se assim um desafio
para as casas de AR (Frederico et al., 2017).
Torna-se essencial fortalecer a cooperação entre os diferentes profissionais (i.e.
psiquiatra, psicólogo, assistente social e cuidadores) promovendo a continuidade dos
cuidados também na casa de AR e evitando repetidas quebras na intervenção (Harwick et
al., 2017; Schmid et al., 2008). É de particular relevância o papel assumido pelo psicólogo
nas casas de AR por desempenhar funções variadas, nomeadamente, uma avaliação
cuidada da criança e da sua família, prestação de suporte à equipa de cuidadores da casa,
intervenção próxima com a família, auxiliando-a a desenvolver os seus recursos e
potencialidades (Diniz et al., 2018). Por outro lado, torna-se essencial sensibilizar os
profissionais que trabalham com estas crianças para a importância do estabelecimento de
uma aliança terapêutica com a criança, que permita envolvê-la ao longo de todo o
processo, comprometê-la e motivá-la, evitando assim a rejeição/abandono por parte das
crianças destes processos terapêuticos (González-García et al., 2017). Por vezes, o facto
de a responsabilidade relativa ao bem-estar das crianças se encontrar fragmentada e
envolver várias entidades (i.e. Estado, entidades tutelares, casas de AR, profissionais de
saúde) dificulta a integração da informação, por não estar clara a divisão de
responsabilidades (Mensah et al., 2019).
O acesso aos cuidados de saúde mental deveria ser uma prioridade no âmbito da
intervenção com as crianças em AR. Este acesso pode ser descrito em três níveis distintos:
1) avaliação da saúde mental realizada no momento do acolhimento por profissionais com
formação especializada; 2) acesso a serviços especializados para o diagnóstico e
intervenção; 3) acesso a residências terapêuticas quando a gravidade das situações assim
o exige (Associação Portuguesa de Psiquiatria da Infância e da Adolescência [APPIA],
2005; Lehmann & Kayed, 2018).

19
Uma vez que vários estudos apontam para o facto de as crianças em AR
apresentarem maiores índices de problemas de saúde mental do que as que residem com
a sua família de origem, torna-se essencial levar a cabo uma avaliação cuidada no
momento de admissão da criança em AR assim como em momentos posteriores (Schmid
et al., 2008). Uma cuidadosa avaliação do nível desenvolvimental e história clínica são
uma parte também importante da avaliação inicial, e apresenta uma relevância particular
para intervir nas necessidades educativas, consistentemente demonstradas por estas
crianças (Randsalu & Laurell, 2017; Vinnerljung, 1998).
Um número significativo de casos clínicos não parece ser atempadamente
diagnosticado e é negligenciada a necessidade de um apoio específico (Conn et al., 2016;
Janssens & Deboutte, 2009; Randsalu & Laurell, 2017; Sainero, Del Valle, & Bravo,
2015). A deteção de problemas de saúde mental e o encaminhamento para serviços
especializados dependem em grande medida da sensibilidade e conhecimentos
apresentados por estes profissionais (Sainero, Del Valle, & Bravo, 2015). Neste sentido
é de grande importância o investimento em formação para os técnicos no âmbito da
avaliação e deteção de problemas de saúde mental, principalmente no que respeita a
problemas de internalização (Lehmann & Kayed, 2018; Jozefiak et al., 2016; Sainero,
Del Valle, & Bravo, 2015; Schmid et al., 2008; Steels & Simpson, 2017). Estes
conhecimentos deverão ser incorporados no quotidiano dos cuidadores, garantindo uma
atenção particular a possíveis sinais e sintomas de problemas de saúde mental, para um
mais rápido encaminhamento para as respostas da comunidade (Lehmann & Kayed,
2018).
A implementação de instrumentos de avaliação de screening nas casas de AR
facilitaria a avaliação e a deteção de problemáticas, possibilitando a construção de planos
de intervenção individualizados para cada criança (Baldwin et al., 2019; Baptista et al.,
2018; Conn et al., 2016; González-García et al., 2017; Grisso & Underwood, 2002; Julião,
2019; Krishnaswami & Kuttappan, 2019; Sainero, Del Valle, & Bravo, 2015; Stevens et
al., 2019; Yampolskaya et al., 2017). Os instrumentos de screening são desenhados para
maximizar a capacidade de identificar as necessidades de saúde mental das crianças,
caracterizando-se por serem instrumentos de tamanho relativamente reduzido e de fácil
preenchimento (Pullmann et al., 2018). Estes procedimentos permitem envolver os
cuidadores ativamente neste processo de avaliação, analisando as suas perspetivas, nos
diferentes contextos de vida da criança (Pullmann et al., 2018). É importante não descurar
uma avaliação da saúde mental cuidada, recorrendo a diferentes informadores e

20
encaminhar para os serviços mais adequados caso seja necessário (Águila-Otero et al.,
2018; Calcing & Benetti, 2014; English & English, 1999; Lehmann & Kayed, 2018;
Pullmann et al., 2018). A Bateria ASEBA (Achenbach & Rescorla, 2000; Achenbach &
Rescorla, 2001; Achenbach et al., 2014) é o instrumento de avaliação mais utilizado para
fazer esta avaliação, por ser multidimensional e multi-informante (Martín et al., 2020).

Segundo Damião da Silva (2004) 80% das crianças que se encontram em AR


beneficiariam de acompanhamento psicológico e de outros apoios específicos com vista
à promoção de um melhor desenvolvimento global. As crianças que apresentam algum
tipo de problema de saúde física ou queixas somáticas, ou que apresentam problemas de
externalização (Ali et al., 2020) apresentam maior probabilidade de terem um
acompanhamento adequado, levando a uma exacerbação de sintomas por falta de
acompanhamento (Chesmore et al., 2017; Conn et al., 2016; González-García et al., 2017;
Mutiso et al., 2017). Assim, é possível afirmar que o tipo de problema manifestado pelas
crianças tem impacto no encaminhamento para a respetiva intervenção (Conn et al.,2016).
As informações sobre as condições de saúde são muitas vezes difíceis de ser obtidas
quando a criança integra a casa de AR. Por outro lado, a mudança de casa de AR é
particularmente comum para as crianças que apresentam problemas psiquiátricos,
tendendo a impedir o progresso terapêutico (Vinnerljung et al., 2001). Os profissionais
também por vezes contribuem para esta negligência institucional, porque apresentam uma
pobre formação no âmbito da saúde mental e das necessidades específicas desta
população (Hjern & Vinnerljung, 2002).
Alguns estudos têm demonstrado que as crianças em AR muitas vezes não
recebem os cuidados de saúde e médicos de que necessitam (Simms et al., 2000) por ser
difícil encontrar serviços especializados que respondam às suas necessidades específicas
(Pimentel et al., 2015). A ausência de alternativas que respondam a estas necessidades
específicas das crianças, e a morosidade dos processos potenciam o surgimento de
consequências negativas para o sucesso da intervenção (Ainsworth & Hansen, 2005;
Julião, 2019; Martín et al., 2017; Yampolskaya et al., 2017). Para isto, seria essencial que
dentro do sistema de proteção existissem respostas terapêuticas meticulosamente
desenhadas e supervisionadas, com vista ao tratamento, à promoção da educação,
socialização e apoio a crianças que apresentam problemas emocionais e
comportamentais, em colaboração com os vários agentes educativos (i.e. cuidadores,
família da criança, comunidade envolvente) (Lehmann & Kayed, 2018; Whittaker et al.,

21
2016). As unidades de saúde mental da infância deverão ter uma constante preocupação
em compreender de forma alargada o modo como as crianças estão envolvidas no
contexto e como se desenvolvem no mesmo para que a compreensão do problema em
causa seja o mais completo possível (Silva & Motta, 2018; Zeanah, 2000).
Deverão ser tidas em conta as diferentes opções terapêuticas optando pelas que se
revistam de maior adequação, nomeadamente, procedimentos de diagnóstico, intervenção
psicológica continuada, psicoeducação para os cuidadores e medicação. A par de todo
este trabalho são de extrema importância os cuidados que se deverão ter para evitar a
solução rápida traduzida na administração exagerada de psicofármacos às crianças (Pires
& Martins, 2019). Devido aos elevados níveis de problemas de saúde mental destas
crianças em particular, torna-se evidente o processo de “polypharmacy” que consiste na
combinação de diferentes psicofármacos (Brüggemann et al., 2008). Zito e colaboradores
(2008) concluíram que o uso de psicofármacos nas crianças em acolhimento é duas a três
vezes mais elevado quando comparado com a população geral. No mesmo seguimento,
Pires e Martins (2019) verificaram que cerca de metade das crianças em AR utiliza pelo
menos dois psicofármacos diferentes. O impacto da medicação nas crianças pode ser
observado a curto e a longo prazo, influenciando diversas áreas das suas vidas,
nomeadamente na autoestima, autodeterminação e capacidade de se relacionar com os
outros (Pires & Martins, 2019). Por outro lado, o uso de medicação legitima a
incapacidade da criança para se autorregular, desresponsabilizando-a pelas suas
consequências. Torna-se assim, fundamental, que exista uma monitorização cuidada do
tipo de medicação administrada a estas crianças, ponderando as consequências inerentes,
nunca substituindo um acompanhamento psicológico ajustado às suas necessidades
(Huefner et al., 2017; Pires & Martins, 2019).
O recurso frequente aos psicofármacos poderá relacionar-se também com a
dificuldade sentida pelas casas de AR em encontrar respostas adequadas ao nível da saúde
mental (Pires & Martins, 2019). Torna-se fundamental criar oportunidades terapêuticas
(i.e. intervenções psicoterapêuticas e psicoeducativas) em cooperação entre a casa de AR
e a própria criança por forma a evitar admissões em internamentos psiquiátricos. Esta
aproximação dos profissionais às casas promove a diminuição e a redução do medo da
estigmatização da criança (Schmid et al., 2008). A combinação de diferentes modalidades
de intervenção (psicoterapêutica, socioeducativa e psicofarmacológica) permite obter
uma maior eficácia face às intervenções monomodais (Pires & Martins, 2019).

22
Clausen e colaboradores (1998), bem como Taussig & Culhane (2010) alertam
para a importância da psicoterapia e treino de competências emocionais e sociais, bem
como as intervenções em grupo, que contemple a frequência em atividades terapêuticas
ajustadas às necessidades das crianças, nomeadamente adaptadas aos traços de
personalidade evidenciados pelas mesmas (Habersaat et al., 2018).
A intervenção deve ser focada na atribuição de competências, para que as crianças
consigam gerir e lidar com os desafios do seu quotidiano (Holden et al., 2010; Whittaker
et al., 2016). Torna-se fundamental desenvolver com as crianças acolhidas programas de
prevenção que se baseiem sobretudo no desenvolvimento de competências de resolução
de problemas, reconstrução cognitiva e prevenção de abuso de substâncias. Estes
programas requerem uma avaliação cuidada das necessidades de cada criança, que seja
consistente com o seu contexto cultural e que propicie a integração ao nível das políticas
sociais e da saúde psicossocial (Erol et al., 2010).
Silva e Motta (2018) defendem a importância de se promover espaços de diálogo
e de reflexão para a expressão livre das crianças, que vá de encontro aos seus interesses,
com o objetivo de as ajudar a atribuír significado e sentido às próprias vidas. É por isso
fundamental que os profissionais das casas de AR reconheçam e encorajem a
comunicação livre das crianças (Franklin & Goff, 2019). A participação ativa das crianças
é vista como uma oportunidade de melhorar as politicas sociais, assim como de melhorar
os serviços que as afetam, já que não existe nenhum interveniente que viva a experiência
tal como elas, sendo por isso consideradas informadores-chave (Li et al., 2019; Roche,
2019).
É fundamental promover uma rede de suporte social, formal e informal, uma vez
que esta parece ter um papel positivo no bem-estar das crianças (Ferreira et al., 2020).
Para promover a saúde mental das crianças acolhidas, é essencial a promoção de laços
afetivos entre as crianças acolhidas e as suas famílias (Abaid et al., 2009; Calcing &
Benetti, 2014; Chesmore et al., 2017; Gillen, 2018), bem como a promoção de
vinculações seguras com os cuidadores e relações de suporte (Magalhães & Calheiros,
2017; Warner et al., 2017). Uma intervenção baseada na resiliência através da relação
pais-criança parece ser mais eficaz na recuperação do trauma (Erol et al., 2017; Gillen,
2018), desde o planeamento até à intervenção, para que o retorno à família ocorra com
sucesso. Neste sentido, é importante que os cuidadores consigam identificar a qualidade
da relação da criança com os pais, bem como a sua principal figura de vinculação,
promovendo mais visitas e momentos de convívio com essa figura (Yazawa et al., 2019).

23
As relações afetivas e as vinculações que a criança vai construindo são centrais para o
desenvolvimento de competências sociais e emocionais, bem como para que consiga
atribuir significado à sua vida.
Neste sentido, salienta-se a necessidade de as casas de AR basearem as suas
práticas em princípios e modelos empiricamente validados (Holden et al., 2010; James,
2017; Thompson et al., 2017; Whittaker, 2017), que se revelem eficazes para alcançar os
resultados com esta população, que sejam replicáveis e generalizáveis, com uma
definição clara de procedimentos e protocolos de intervenção (James et al., 2017;
Whittaker, 2017; Whittaker et al., 2016). Considerando esta necessidade torna-se
premente o desenvolvimento de relações de colaboração entre a investigação e a prática,
que permitam levar a cabo investigações rigorosas, cujos resultados sejam vertidos em
práticas e estratégias diretas para o contexto de AR (Thompson et al., 2017). No sentido
de facilitar a sua aplicação, estas práticas deverão estar devidamente descritas em
manuais, após serem testadas devidamente nos contextos de acolhimento (James et al.,
2017). Para a implementação destas práticas empiricamente validadas é necessário que
as casas de AR tenham em conta diferentes aspetos, como a recetividade, sensibilidade e
características da equipa de cuidadores, bem como aspetos mais organizacionais da
própria casa (James et al., 2017).
Torna-se crucial a utilização de programas de promoção da saúde mental, que
visem promover os fatores de proteção e a redução dos fatores de risco inerentes a cada
criança. Um exemplo de um programa de promoção de saúde mental ajustada às
necessidades específicas das crianças em AR é o programa “Chapéu de Chuva” que
procura intervir ao nível da qualidade de vida, competências pessoais e sociais, através
de intervenções em grupo, individual e indireta (junto dos diferentes agentes educativos)
e que se centra no empoderamento da criança (Pimentel et al., 2015).
A intervenção com esta população deverá ir também a um nível mais profundo,
na medida em que toda a intervenção, bem como o próprio acolhimento deverá ser
sensível ao trauma (i.e. Trauma-Informed Care; Barbosa-Ducharne & Soares, in press).
Neste âmbito, é necessário que todos os cuidadores estabelecem relações seguras e de
confiança com as crianças, com o intuito de minimar o impacto das experiências de vida
adversas, promovendo a resiliência e a reparação/recuperação da própria criança (Bunting
et al., 2019). Um exemplo de um programa sensível ao trauma é o CARE (Children and
Residential Experiences) que se baseia na premissa de que as casas de AR podem
aumentar o bem-estar das crianças acolhidas, caso apoiem devidamente a equipa de

24
cuidadores, promovendo um ambiente organizacional positivo, orientando as suas
práticas para o melhor interesse da criança (Anglin, 2002).
A adoção de múltiplas estratégias representa uma solução mais eficaz para
responder às diferentes necessidades das crianças acolhidas, tornando a intervenção mais
complexa e abrangente (Maltais et al., 2019).

No sentido de melhorar a saúde, o sistema nacional de saúde deveria estar


direcionado para a prevenção e para a promoção de comportamentos saudáveis, ao invés
de estar focado no processo curativo (Julião, 2019). O foco nos resultados positivos
alcançados pelas crianças constitui um importante passo para identificar e promover
objetivos numa intervenção de promoção de saúde mental (Humphreys et al., 2018).
Como forma de prevenir o aparecimento e o desenvolvimento de problemas
emocionais comportamentais nas crianças em AR, a APPIA (2005) sugere as seguintes
recomendações: 1) reconhecimento da necessidade das crianças terem acesso aos serviços
de saúde mental; 2) garantir a prioridade no acesso a estes serviços a crianças que se
encontrem em maior vulnerabilidade social; 3) assegurar que a saúde mental integre o
projeto de vida de cada criança; 4) assegurar uma intervenção integrada que abranja as
áreas da Saúde, Segurança Social e Justiça; 5) promover junto das equipas técnicas e
educativas, formação em saúde mental; 6) construir uma rede de serviços de saúde mental
devidamente preparados e que seja de fácil acesso às crianças e às suas famílias; 7) criar
uma unidade residencial de acolhimento para os casos que necessitam de
acompanhamento mais próximo ao nível da saúde mental; 8) constituir uma comissão
permanente que permita monitorizar e avaliar o cumprimento de todas as recomendações
ao nível da saúde mental.
No sentido de criar contextos promotores de saúde mental destacam-se a criação
de contextos securizantes e de elevada qualidade (Erol et al., 2010; Magalhães &
Calheiros, 2017). Para se cumprir este objetivo torna-se necessário avaliar e organizar o
sistema de cada casa de AR, providenciar formação a todos os cuidadores, e monitorizar
e manter padrões de qualidade elevada ao nível de conduta e suporte. A par da formação
aos cuidadores, torna-se essencial que as casas de AR partilhem e explicitem os modelos
teóricos subjacentes à sua intervenção com as crianças, para que estes se tornem mais
capazes de descrever, explicar, predizer e adotar estratégias que permitam uma
intervenção adequada e intencional (Halvorsen, 2018; Maltais et al., 2019). Cada casa de
AR poderá adotar várias teorias que se complementem e que sejam relevantes para a área

25
específica que desejam trabalhar, tornando-se assim uma ferramenta útil, nomeadamente,
Teoria da Vinculação, Empowerment, Resiliência, Trauma e Teoria Narrativa (Frederico
et al., 2017; Halvorsen, 2018).
Paralelamente, torna-se crucial promover os direitos das crianças acolhidas,
promovendo desta forma o seu bem-estar, tornando-as vozes ativas no seu próprio
processo de acolhimento. Porém, os seus direitos deverão ser promovidos não só pelos
cuidadores, mas também por todos os intervenientes da comunidade (i.e. professores,
profissionais de saúde, etc.) (Erol et al., 2010).

Concluindo, torna-se imperioso que a intervenção com as crianças que vivem em


contextos de AR seja baseada em práticas empiricamente validadas e que sejam sensíveis
ao trauma. Para isto, é necessária uma boa colaboração entre profissionais, uma boa
formação no âmbito da saúde mental, para que todos os cuidadores estejam atentos e
sensíveis aos pequenos sinais e sintomas das crianças para que dessa forma se dê início a
uma avaliação cuidada, multidimensional e multi-informante para posterior
encaminhamento para a respetiva intervenção o mais precoce possível. A intervenção
deve integrar diferentes modalidades consoante as necessidades apresentadas
especificamente por cada criança e deve ser continuada no tempo. Isto significa que para
além dos profissionais envolvidos na intervenção, esta deve ser comunicada e explicitada
aos restantes cuidadores para que todas as práticas no quotidiano com as crianças sejam
intencionais e permitam esta continuidade de cuidados.
É neste âmbito que surge o presente estudo que visa suprir uma lacuna existente
ao nível da investigação nacional e que diz respeito ao conhecimento do panorama geral
do (des)ajustamento psicológico das crianças que vivem em AR, mas também contribuir
para a investigação internacional desta área. Ao contribuir para o aumento do
conhecimento quer ao nível das prevalências dos problemas emocionais e
comportamentais desta população, bem como dos seus recursos (i.e. competências
psicossociais), quer explorando as suas relações com diferentes variáveis individuais da
própria criança e contextuais, torna possível pensar em pistas para a intervenção com
estas crianças, constituindo boas práticas em AR.

26
ESTUDO EMPÍRICO

Capítulo II

Método
Método

O presente estudo visa enriquecer os conhecimentos existentes acerca da saúde


mental das crianças e jovens que vivem em AR em Portugal, na medida em que é ainda
escassa a investigação nacional relativamente ao estado da saúde mental das crianças que
vivem em AR, particularmente usando dados de uma amostra nacional (Marques et al.,
2011; Mota & Matos, 2008).

Nesta linha, definiram-se os seguintes objetivos específicos:


1. Analisar a prevalência de problemas emocionais e comportamentais nas
crianças em AR em Portugal;
2. Comparar a prevalência dos problemas emocionais e comportamentais nas
crianças em AR com uma amostra normativa da população portuguesa;
3. Explorar as diferenças da sintomatologia apresentada pelas crianças
associadas a variáveis individuais (e.g. género, idade, presença de irmãos
na mesma casa de AR, motivo do acolhimento, apoios recebidos) e
variáveis contextuais (e.g. dimensão e tipologia da casa);
4. Analisar as competências psicossociais presentes nas crianças que vivem
em AR;
5. Comparar as competências psicossociais presentes nas crianças que vivem
em AR com uma amostra normativa da população portuguesa;
6. Analisar o desenvolvimento de vocabulário nas crianças que vivem em
AR;
7. Comparar o desenvolvimento da linguagem nas crianças que vivem em
AR com uma amostra normativa da população portuguesa;
8. Explorar o grau de (des)acordo entre informadores relativamente ao
ajustamento psicológico;
9. Caracterizar as necessidades de saúde mental das crianças que vivem em
AR.

27
Participantes

A amostra deste estudo é uma amostra nacional constituída por 1222 crianças de
90 casas de acolhimento em Portugal, as quais constituem uma amostra representativa
nacional do universo de casas de acolhimento existentes em Portugal1. Para a realização
das diferentes análises a amostra das crianças em acolhimento participantes foi dividida
em crianças de idade pré-escolar (18 meses – 5 anos) e crianças de idade escolar (6 – 18
anos).

Crianças de Idade Pré-Escolar:


Esta amostra é constituída por 119 crianças, das quais 70 (58.8%) são do sexo
feminino. As idades variam entre os 18 meses e os 5 anos de idade, sendo que a média é
de 42.23 meses (DP = 15.42). Noventa e três (78.2%) crianças tinham irmãos. Destas, 53
(57%) estavam acolhidas na mesma casa e 40 (43%) estavam acolhidos em casas de AR
diferentes. Oitenta e sete crianças (73.1%) estavam integradas na escola em jardim-de-
infância. Dezassete (16.5%) crianças foram caracterizadas como pertencentes a uma
minoria étnica e 18 (16.5%) foram identificadas por terem dificuldades ao nível da
comunicação. Quarenta e sete crianças (39.5%) estavam a receber algum tipo de apoio
(e.g. psicologia, pedopsiquiatria, intervenção precoce). Destas, 16 (38.1%) estavam a ser
acompanhadas em Psicologia. No que diz respeito ao seu Projeto de Vida, apenas 75
crianças (63%) tinham um Projeto de Vida definido. Destas, os Projetos de Vida eram a
adoção (N = 47, 63%), a reintegração na família nuclear (N = 25, 33%) e a reintegração
na família alargada (N = 3, 4%).
No que diz respeito aos motivos de acolhimento das crianças, os mais frequentes
foram a negligência (N = 82, 68.9%) e comportamentos desviantes por parte dos pais (N
= 14, 11.8%). Estas crianças estavam acolhidas, em média, há 19.52 meses (DP = 15.90,
Min = 2, Max = 70), sendo que 79 crianças (66.9%) tinham tido um acolhimento prévio,
com uma duração média de 2.78 meses (DP = 6.83, Min = 0, Max = 44).

1
Trata-se de uma amostra aleatória estratificada representativa de Casas de Acolhimento
generalista, definida em função de duas características essenciais, a dimensão e o caracter
segregado ou misto em termos de sexo das crianças. A amostra final integra, em número
proporcional, casas de acolhimento das cinco entidades tutelares nacionais, a saber, ISS,IP;
ISRAM, ISSA, SCML e CPL,IP e mantém a proporcionalidade relativamente à distinção em CAT
e LIJ. Mais detalhes acerca da constituição da amostra de casas de AR são apresentados na secção
de Procedimentos do capítulo sobre o Método (p. 37).
28
Relativamente à tipologia das casas onde estas crianças estavam acolhidas 113
(95%) estavam em casas mistas e 6 (5%) estavam em casas femininas. Quanto à sua
dimensão, 21 (17.6%) estavam acolhidas em casas pequenas (acolhendo até 12 crianças),
81 (68.1%) em casas médias (acolhendo entre 13 a 24 crianças) e 17 (14.3%) em casas
grandes (acolhendo mais do que 25 crianças). Destas crianças, 25 (21%) encontravam-se
deslocalizadas, ou seja, a casa de AR onde estavam integradas ficava a uma distância de
25 km ou mais da sua casa de origem.

Crianças de Idade Escolar:


Esta amostra é constituída por 1103 crianças, das quais 612 (55.5%) são do sexo
masculino. As idades variam entre os 6 e os 18 anos de idade, sendo que a média é de
13.93 anos (DP = 3.12). Novecentas e sessenta e duas (87.2%) crianças tinham irmãos,
sendo que 354 (36.8%) estavam acolhidos na mesma casa, 180 (18.7%) estavam
acolhidos em casas de AR diferentes e 428 (44.5%) estavam com a família de origem ou
alargada ou eram independentes. Mil e oitenta e oito crianças (98.6%) estavam integradas
na escola e 15 (1.4%) encontravam-se já inseridas no mercado de trabalho. Cento e vinte
e três (13.3%) crianças foram caracterizadas como pertencentes a uma minoria étnica,
310 (28.5%) foram identificadas por terem dificuldades ao nível da comunicação e 219
(19.9%) por consumirem substâncias. Oitocentas e sete crianças (73.2%) estavam a
receber algum tipo de apoio. Destas, 572 (51.9%) estavam a ser acompanhados em
Psicologia e 282 (25.6%) estavam a ter acompanhamento pedopsiquiátrico. No que diz
respeito ao seu Projeto de Vida, apenas 696 crianças (63.1%) tinham um Projeto de Vida
definido. Destas, 289 crianças (41.5%) tinham como projeto a reintegração na família
nuclear, 278 (39.9%) crianças a autonomização e somente 29 crianças (4.2%) tinham
como projeto de vida a adoção.
No que diz respeito aos motivos de acolhimento, para 724 crianças (65.6%) foi a
negligência e para 148 crianças (13.4%) os maus tratos. Estas crianças estavam acolhidas,
em média, há 46.95 meses (DP = 59.90, Min = 2, Max = 294), sendo que 353 crianças
(32%) já tinham tido pelo menos um acolhimento prévio, com uma duração média de
6.16 meses (DP = 19.54, Min = 0, Max = 192).
Relativamente à tipologia das casas onde estas crianças estavam acolhidas, 397
(36%) estavam em casas mistas, 383 (34.7%) estavam em casas masculinas e 323 (29.3%)
estavam em casas femininas. Quanto à sua dimensão, 221 (20%) estavam acolhidas em

29
casas pequenas, 474 (43%) em casas médias e 408 (37%) em casas grandes. Destas
crianças, 442 (48.1%) encontravam-se deslocalizadas da sua casa de origem.

Cuidadores:
Participaram neste estudo 996 cuidadores com idades entre os 20 e os 80 anos (M
= 38.99, DP = 9.18), dos quais 702 (70.5%) eram do sexo feminino. Em média estavam
a trabalhar na casa de AR há 94.42 meses, aproximadamente 8 anos (DP = 83.08, Min =
0, Max = 840) e tinham em média 105 meses de experiência de trabalho total em AR,
aproximadamente 9 anos, (DP = 84.90, Min = 0, Max = 444).
Dos cuidadores, 474 (47.6%) pertenciam à Equipa Técnica, 518 (52%) à Equipa
Educativa e 4 (0.4%) eram outros colaboradores da casa. Quanto à sua escolaridade, 500
(50.2%) possuíam licenciatura, 224 (22.5%) tinham o Ensino Secundário concluído, 130
(13.1%) possuíam apenas o 1º Ciclo do Ensino Básico, 70 (7%) tinham o 3º Ciclo do
Ensino Básico, 68 (6.8%) tinham mestrado e 4 (0.4%) tinham o 2º Ciclo do Ensino
Básico.

Educadores em Jardim Infantil:


Participaram também 58 educadores com idades compreendidas entre os 26 e os
61 anos (M = 45.77, DP = 9.32), dos quais 52 (89.7%) eram do sexo feminino.
Relativamente às habilitações académicas, 37 (64%) dos educadores possuíam
licenciatura, 20 (34.5%) tinham mestrado e apenas 1 (1.5%) possuía doutoramento.
Os educadores participantes referiam conhecer a criança em média há 11.46 meses
(DP = 9.56, Min = 2, Max = 48), sendo que 27 (46.6%) disseram conhecer muito bem a
criança, 29 (50%) disseram que a conheciam razoavelmente e 2 (3.4%) consideravam não
conhecer bem a criança.

Professores:
Participaram também 563 professores com idades compreendidas entre os 29 e os
65 anos (M = 46.63, DP = 7.46), dos quais 402 eram do sexo feminino (71.4%),
Relativamente às habilitações académicas, 394 (70%) dos professores possuíam
licenciatura, 161 (28.6%) tinham mestrado e apenas 8 (1.4%) possuía doutoramento.
Estes professores referiam conhecer a criança em média há 12.57 meses (DP =
12.24, Min = 2, Max = 120), sendo que 61 (10.8%) disseram conhecer muito bem a

30
criança, 360 (64%) disseram que a conheciam razoavelmente e 142 (25.2%)
consideravam não conhecer bem a criança.

Instrumentos

Bateria ASEBA
Este estudo utilizou como instrumento principal a Bateria ASEBA - Sistema de
Avaliação Empiricamente Validado para o Período Pré-Escolar e Escolar (Achenbach et
al., 2014). Os questionários da Bateria ASEBA permitem que os clínicos e investigadores
em saúde mental avaliem os problemas emocionais e comportamentais em crianças com
idades compreendidas entre os 18 meses e os 18 anos. Para além da avaliação dos
sintomas e síndromes psicopatológicos, são avaliadas também as competências
psicossociais em crianças, a partir do relato de diferentes informadores. Pelo facto de
estes questionários possuírem mais de 80 itens em comum, é possível efetuar a
comparação e explorar o acordo entre informantes.
A Bateria ASEBA é composta por cinco questionários: dois para crianças em
idade pré-escolar (18 meses - 5 anos) - Questionário de Comportamento da Criança para
idades entre 1 ½ e 5 anos (CBCL 1½-5) e Questionário de Comportamento da Criança
para Educadores, Cuidadores e Auxiliares Educativos (C-TRF) - e três para crianças em
idade escolar (6-18 anos) - Questionário de Comportamentos da Criança para Idades entre
6 e 18 anos (CBCL); Questionário de Comportamentos da Criança para Professores
(TRF); e Questionário de Autoavaliação para Jovens (YSR).

De seguida são apresentados os questionários para o período pré-escolar:


Questionário de Comportamento da Criança para idades entre 1 ½ e 5 anos
(Child Behavior Checklist For Ages 1½-5 – CBCL 1½ - 5): É um questionário composto
por 99 itens com questões estruturadas e 3 questões abertas que permite conhecer a
perceção dos pais ou outros informadores que convivam com a criança em contexto
familiar, sobre os seus comportamentos, problemas e competências. Ao informador, é
solicitado que classifique os 99 itens, relativamente aos dois últimos meses, de acordo
com uma escala de Likert de três pontos: 0 se a afirmação não for verdadeira, 1 se a
afirmação for de alguma forma ou algumas vezes verdadeira e 2 se a afirmação for muito
verdadeira ou frequentemente verdadeira. Esta escala de Likert é comum a todos os

31
questionários, e por este motivo não é referida novamente. Em vários itens são solicitadas
descrições dos problemas referidos. Adicionalmente, o item 100 requer que o informador
escreva sobre outros problemas que não tenham sido previamente listados.

Questionário de Comportamento da Criança para Educadores, Cuidadores e


Auxiliares Educativos (Caregiver-Teacher Report Form for Ages 1½-5 – C-TRF 1½ - 5):
Este questionário deve ser preenchido pelos educadores de infância, professores,
auxiliares educativos ou outras pessoas que observem a criança em grupos de pelo menos
quatro crianças. Este questionário requer informação demográfica sobre a criança, qual o
papel do informador junto da mesma (i.e. educador de infância, auxiliar de educação,
etc.), o quão bem a conhece e em que contexto a observa. A C-TRF apresenta muitos
itens comuns à CBCL 1½-5, porém, substitui os itens relacionados com o contexto
familiar por itens específicos do contexto pré-escolar. Os itens que integram a C-TRF
descrevem tipos específicos de problemas comportamentais, emocionais e sociais que
caracterizam crianças no período pré-escolar. Este questionário possui 99 itens com
questões estruturadas, e refere-se a comportamentos apresentados pela criança nos
últimos 2 meses.

Os problemas emocionais e comportamentais avaliados por estes questionários


podem ser agrupados em síndromes (i.e. conjunto de problemas que tendem a ocorrer em
simultâneo): Reatividade Emocional, Ansiedade/Depressão, Queixas Somáticas,
Isolamento, Problemas de Sono, Problemas de Atenção, Comportamento Agressivo.
Estas síndromes, por sua vez, são agrupadas em duas escalas mais amplas: Internalização
(da qual fazem parte: Reatividade Emocional, Ansiedade/Depressão, Queixas Somáticas
e Isolamento) e Externalização (da qual fazem parte: Problemas de Atenção e
Comportamento Agressivo). É ainda possível calcular o Total de Problemas.
Adicionalmente a estas escalas, é possível ainda a obtenção de escalas baseadas no
sistema de diagnóstico formal Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
(DSM-5; APA, 2013): Problemas Afetivos, Problemas de Ansiedade, Problemas Globais
do Desenvolvimento, Problemas de Défice de Atenção / Hiperatividade e Problemas de
Oposição.

Questionário de Desenvolvimento da Linguagem (Language Development Survey


– LDS): É um questionário de autorrelato administrado aos cuidadores de crianças entre

32
os 18 e os 35 meses de idade, que tem como objetivo avaliar o nível de desenvolvimento
da linguagem da criança. O LDS permite obter informação adicional dos possíveis fatores
de risco para o atraso na linguagem (e.g. nascimento prematuro, baixo peso à nascença,
infeções nos ouvidos, diferentes línguas faladas em casa). O questionário providencia
duas medidas do desenvolvimento da linguagem: 1) o tamanho médio das frases que
combinam múltiplas palavras; 2) o número de palavras que a criança diz de forma
espontânea que deriva de uma lista 310 palavras.

De seguida são apresentados os questionários para o período escolar:


Questionário de Comportamentos da Criança para Idades entre 6 e 18 anos
(Child Behavior Checklist For Ages 6-18 – CBCL 6-18): É um questionário composto
por 112 itens com questões estruturadas relativas a problemas, comportamentos e
competências, além de 3 questões abertas, que permitem conhecer a perceção geral dos
pais ou outros informadores que convivem com a criança em contexto familiar. Os itens
que integram o questionário descrevem tipos específicos de problemas comportamentais,
emocionais e sociais que caracterizam crianças no período escolar.

Questionário de Comportamentos da Criança para Professores (Teacher Report


Form For Ages 6-18 – TRF): É um questionário constituído por 112 itens com questões
estruturadas que descrevem tipos específicos de problemas comportamentais, emocionais
e sociais que caracterizam crianças no período escolar, bem como competências. Dos 112
itens da TRF, 97 têm congéneres na CBCL. O questionário deve ser entregue aos
professores, auxiliares educativos ou outras pessoas que observem o funcionamento da
criança na escola, a fim de que estes o preencham na íntegra, pontuando os
comportamentos apresentados pela criança nos últimos 2 meses.

Questionário de Autoavaliação para Jovens (Youth Self-Report For Ages 11-18


– YSR): É constituído por 112 itens com questões estruturadas relativas aos problemas e
3 questões abertas que permitem conhecer a perceção da própria criança, com idades
compreendidas entre os 11 e os 18 anos, sobre os seus comportamentos, problemas e
competências. As questões abertas solicitam informação sobre doenças, dificuldades e
preocupações, bem como sobre o que melhor o descreve. Adicionalmente, este
questionário integra informação sociodemográfica e itens de competências.

33
À semelhança dos questionários relativos ao período pré-escolar, também estes
são agrupados em síndromes: Ansiedade/ Depressão, Isolamento/ Depressão, Queixas
Somáticas, Problemas Sociais, Problemas de Pensamento, Problemas de Atenção,
Comportamento Delinquente e Comportamento Agressivo. Estas síndromes podem ainda
ser agrupadas em duas escalas mais amplas: Internalização (Ansiedade/Depressão,
Isolamento/Depressão, Queixas Somáticas) e Externalização (Comportamento
Delinquente e Comportamento Agressivo). As escalas orientadas para o DSM-5 são as
seguintes: Problemas Afetivos, Problemas de Ansiedade, Problemas Somáticos,
Problemas de Défice de Atenção / Hiperatividade, Problemas de Oposição e Desafio,
Problemas de Comportamento. As escalas de competências dividem-se em três grandes
áreas: Atividades (quantidade e qualidade da participação da criança em desportos, outras
atividades recreativas, emprego e tarefas); Social (classificações na participação em
organizações, número de amigos próximos, número de contactos semanais com os
amigos, o quão bem a criança se dá com os outros, e o quão bem a criança se diverte e
trabalha sozinha); e Escola (classificações relativas ao rendimento académico, benefício
de serviços de ensino especial, retenções e outros problemas escolares).

A Bateria ASEBA (Achenbach et al., 2014) é o instrumento de avaliação mais


utilizado para fazer uma avaliação rigorosa e completa, por ser multidimensional e multi-
informante (Dias et al., 2017; Martín et al., 2020), sendo amplamente utilizado em AR.
Os cuidadores de AR tendem a reportar problemas emocionais e comportamentais das
crianças de forma semelhante aos pais biológicos, tornando-se, por isso informantes
essenciais no contexto de AR (e.g. Armsden et al., 2000).
A Bateria ASEBA (Achenbach et al., 2014) encontra-se devidamente adaptada e
aferida para a população portuguesa, tendo obtido bons índices ao nível da validade e
fidelidade. Os índices de consistência interna obtidos no presente estudo são apresentados
na Tabela 1 para as escalas relativas ao período pré-escolar e na Tabela 2 para as relativas
ao período escolar. Como é possível observar os alphas obtidos variaram entre um
mínimo de .447 e um máximo de .970 para as escalas do período pré-escolar e variaram
entre um mínimo de .376 e um máximo de .965 para as escalas do período escolar,
apresentando por isso, um bom índice de consistência interna.

34
Tabela 1

Consistência Interna das escalas da Bateria ASEBA para o período Pré-Escolar

CBCL 1½-5 C-TRF


α α
Escalas de síndromes
Reatividade Emocional .736 .746
Ansiedade/Depressão .649 .826
Queixas Somáticas .555 .508
Isolamento .669 .796
Problemas de Sono .609 NA
Prolemas de Atenção .697 .916
Comportamento Agressivo .908 .952
Outras Escalas
Internalização .848 .905
Externalização .898 .960
Total de Problemas .930 .970
Outros Problemas .732 .875
Escalas orientadas para o DSM
Problemas Afetivos .447 .773
Problemas de Ansiedade .640 .714
Problemas Globais do Desenvolvimento .732 .821
Problemas de Défice de Atenção / Hiperatividade .767 .921
Problemas de Oposição .827 .882
NA - Não aplicável

35
Tabela 2

Consistência Interna das escalas da Bateria ASEBA para o período Escolar

CBCL 6-18 TRF YSR


α α α
Escalas de síndromes
Ansiedade/Depressão .785 .772 .831
Isolamento/Depressão .749 .779 .627
Queixas Somáticas .718 .603 .802
Problemas Sociais .763 .768 .755
Problemas de Pensamento .756 .738 .811
Problemas de Atenção .832 .933 .737
Comportamento Delinquente .894 .870 .816
Comportamento Agressivo .930 .953 .854
Outras Escalas
Internalização .854 .833 .898
Externalização .943 .956 .900
Total de Problemas .955 .965 .959
Outros Problemas .621 .376 .592
Escalas orientadas para o DSM
Problemas Afetivos .748 .719 .816
Problemas de Ansiedade .589 .519 .579
Problemas Somáticos .676 .608 .769
Problemas de Défice de Atenção /
.837 .928 .721
Hiperatividade
Problemas de Oposição e Desafio .860 .900 .623
Problemas de Comportamento .911 .916 .845
Escalas de Competências
Atividades .926 NA .942
Social .569 NA .467
Académico .865 .927 .822
Nota. NA - Não aplicável

36
Pedido de Informação Prévio
O PIP faz parte do ARQUA-P: Sistema de Avaliação Compreensiva da Qualidade
do Acolhimento Residencial Português (Rodrigues et al., 2015) que é um sistema de
avaliação compreensiva do acolhimento residencial, que se encontra devidamente
traduzido e adaptado à realidade Portuguesa.
O Pedido de Informação Prévio (PIP) possibilitou a recolha de informação
sociodemográfica (e.g. data de nascimento, idade, sexo, grau de escolaridade), relativa a
dados de saúde (e.g. tipos de apoio técnico/médico especializado) e familiares das
crianças em AR (e.g. existência de acolhimento anterior, tempo de acolhimento e motivos
da institucionalização). O PIP também permitiu a recolha de dados para a caracterização
das casas de AR onde se encontravam acolhidas as crianças participantes e respetivos
cuidadores.

Ficha Sociodemográfica para Educador e Professor


Os dados sociodemográficos relativos aos educadores e professores foram
recolhidos a partir de uma ficha sociodemográfica que possibilitou a recolha de
informação pessoal (e.g. sexo, idade) e profissional (e.g. habilitações académicas, tempo
na função, disciplina lecionada).

Procedimentos

A amostra do presente estudo é uma amostra aleatória, estratificada, representativa


do sistema de AR português constituída por 90 casas de AR. O desenvolvimento de um
algoritmo garantiu a constituição de uma amostra aleatória e representativa do sistema de
AR nacional, a partir de duas variáveis essenciais de caracterização das casas de
acolhimento, i.e., a dimensão e a tipologia, mantendo a proporcionalidade de Centros de
Acolhimento Temporário e de Lares de Infância e Juventude existentes no momento da
seleção da amostra (345 instituições no final de 2011), das cinco tutelas nacionais (i.e.
ISS, IP, Casa Pia de Lisboa, Instituto Publico, Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, ISS
da Região Autónoma da Madeira e ISS Açores/Direção Regional da Segurança Social
dos Açores). Assim, criaram-se 9 categorias cada uma com 10 casas de AR (e.g. 10 casas
grandes e mistas; 10 casas grandes e masculinas, 10 casas grandes e femininas, 10 casas
médias e mistas, etc.). O algoritmo permitiu ainda proceder à substituição das casas que

37
não aceitaram participar sem comprometer a representatividade dos diferentes critérios
pré-definidos. Relativamente à amostra inicial, 18 casas (20%) não aceitaram participar,
sendo que 9 (50%) eram casas grandes masculinas, 6 (33%) eram casas grandes
femininas, 2 (11%) eram casas médias femininas e 1 (6%) era casa grande mista. É de
salientar que todas as casas contactadas de pequena dimensão e todas as casas mistas
(com a exceção de uma que era grande) aceitaram colaborar no estudo.
Estabeleceram-se formalmente protocolos entre a Faculdade de Psicologia e
Ciências da Educação da Universidade do Porto, as cinco tutelas nacionais, a
Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade, a União das Misericórdias
Portuguesas e a Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e
Jovens viabilizando a concretização deste projeto. Adicionalmente, foi dado um parecer
positivo pela Comissão de Ética da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da
Universidade do Porto relativamente aos procedimentos de recolha e tratamento de dados,
assegurando que todos os princípios éticos e deontológicos estiveram assegurados.

Cada casa de AR selecionada foi convidada a participar na investigação, sendo


explicitados os objetivos do estudo, bem como a autonomia do mesmo relativamente à
respetiva entidade tutelar. Foi enviada uma Declaração de Consentimento Informado para
que o Diretor(a) Técnico(a) e Presidente da Direção assinassem devidamente e tomassem
conhecimento de todas as condições do estudo (e.g. permanência dos investigadores na
casa de AR, consulta de documentos internos e recolha de informação relevante, gravação
de imagens das instalações, realização de entrevistas, administração de questionários e
confidencialidade da informação tal como está estipulado no artigo 66º da Lei 147/1999).
Independentemente da declaração de consentimento informado à participação no estudo
da casa de AR, cada cuidador e criança eram questionados individualmente acerca da sua
vontade em colaborar, já que a sua participação também era estritamente voluntária.
Com o intuito de salvaguardar o anonimato da casa, bem como das crianças e
cuidadores, foram criados códigos. A chave de códigos, ou seja, a correspondência entre
o nome dos participantes e do respetivo código, era da responsabilidade do(a) Diretor(a)
Técnico(a) de cada casa, tendo os investigadores acesso à mesma apenas no(s) dia(s) da
visita.
Numa perspetiva de responsabilidade social, foi realizado para cada casa um
relatório da avaliação realizada, constituindo uma ferramenta de trabalho e de reflexão

38
para todos os cuidadores, com o objetivo de promover a qualidade dos serviços prestados
pela casa.
A recolha dos dados que integram esta dissertação de Doutoramento ocorreu no
contexto do estudo mais alargado, o estudo EQAR - Estudo de avaliação da qualidade do
sistema de acolhimento residencial português. Assim, para melhor compreensão dos
procedimentos de recolha de dados, iremos proceder à descrição dos procedimentos
gerais do estudo EQAR. As visitas às casas de AR participantes foram realizadas por pelo
menos 3 investigadores devidamente formados no Sistema ARQUA-P, entre março de
2013 e maio de 2019, e tiveram a duração entre um a dois dias dependendo da dimensão
da casa (i.e. casas pequenas eram visitadas pelo menos num dia, casas médias e grandes
eram visitadas em pelo menos dois dias).
A visita a cada casa iniciava com visita guiada às instalações, seguida da entrevista
com o diretor(a) técnico(a) e entrevista com a Direção, entrevistas individuais com as
crianças a partir dos 6 anos, com todos os cuidadores e administração dos questionários
e provas psicológicas às crianças, análise documental, convivência dos investigadores na
instituição (i.e. participação nos momentos de refeição e de lazer). Foram ainda realizadas
entrevistas com os técnicos de acompanhamento na entidade tutelar nas instalações da
entidade tutelar.
Para ser considerada válida, foi estabelecida uma percentagem mínima de
entrevistas a crianças a ser realizadas em função da dimensão da casa. Assim em casas
pequenas foram entrevistas pelo menos 70% das crianças, em casas médias foram
entrevistadas pelo menos 45% e em casas grandes, pelo menos 30%. Ao longo das
entrevistas, cada investigador teve a preocupação de adequar a sua linguagem ao nível
desenvolvimental e de compreensão de cada participante.
Relativamente aos questionários, estes eram também identificados com o código
de cada criança com o intuito de salvaguardar o seu anonimato. Os questionários de
autorrelato dos jovens foram preenchidos em grupo, num dos dias da visita na casa. Os
questionários dos cuidadores e dos educadores/professores foram deixados com o(a)
diretor(a) técnico(a) devidamente preparados. Os questionários dos cuidadores continham
o código da criança e o código do cuidador responsável por responder àquele questionário
em particular. Os questionários dos professores foram deixados com o código da criança
para que o(a) diretor(a) técnico(a) posteriormente pudesse proceder à sua distribuição e
recolha nas escolas. Os questionários dos cuidadores e dos professores foram
posteriormente remetidos pelo correio para o grupo de investigação.

39
No final de cada visita o grupo de investigadores reunia para fazer a análise de
toda a informação recolhida e posterior avaliação da qualidade da casa, tendo por
referência os standards internacionais da qualidade.

Importa salientar que a preocupação de divulgação contínua e atempada dos


resultados junto da comunidade científica levou à redação de cinco artigos científicos em
momentos diferentes do processo de recolha de dados e, como tal, recorrendo a diferentes
grupos de participantes. No capítulo que se segue, são apresentados os diferentes artigos
científicos e para cada um, são descritos os participantes respetivos, bem como os
procedimentos específicos de tratamento e análise de dados.

40
Capítulo III

Estudos Empíricos
Neste Capítulo III são apresentados os diferentes estudos empíricos, em formato
de artigos científicos publicados ou submetidos para publicação.

O primeiro artigo – Saúde mental de crianças e adolescentes portugueses em


acolhimento residencial – é um estudo exploratório que teve como principal objetivo
conhecer as prevalências dos problemas emocionais e comportamentais, bem como a sua
relação com diferentes variáveis individuais e contextuais numa amostra de crianças até
aos 18 anos. O segundo artigo – Psychological adjustment and language development of
young children in residential care – pretendeu analisar as necessidades emocionais e
desenvolvimentais, especificamente ao nível da linguagem, de crianças de idade pré-
escolar que se encontram em acolhimento, reforçando a importância de se encontrarem
alternativas familiares para estas crianças em particular. O terceiro artigo – Emotional
and behavioral problems and psychosocial skills in adolescents in residential care – teve
como principal objetivo focar-se na voz da criança e conhecer a sua perceção
relativamente não só aos problemas de ajustamento psicológico, mas também
relativamente às suas competências psicossociais e de que forma estas se relacionam. O
quarto artigo – Ajustamento psicológico de jovens em acolhimento residencial: Uma
abordagem de multi-informantes – pretendeu ser inovador ao incluir três infomantes (ao
invés de dois tal como é comummente observado na literatura) para analisar a
convergência e divergência dos mesmos relativamente ao ajustamento psicológico das
crianças. Por último, o quinto artigo – Caracterização das necessidades de saúde mental
das crianças em acolhimento residencial – visa dar a conhecer o panorama a nível
nacional do ajustamento psicológico das crianças que estão em AR.

As referências bibliográficas citadas em cada um dos artigos serão apresentadas


em conjunto com todas as referências utilizadas ao longo da Dissertação, na última secção
– Referências Bibliográficas.

42
Artigo 1: Saúde Mental de Crianças e Adolescentes Portugueses em
Acolhimento Residencial

Artigo publicado: Campos, J., Barbosa-Ducharne, M., Dias, P., & Rodrigues, S. (2019).
Saúde mental de crianças e adolescentes portugueses em acolhimento residencial.
Configurações, 23, 105-122. https//doi.org/10.4000/configuracoes.7116

43
Resumo

Saúde Mental de Crianças e Adolescentes Portugueses em Acolhimento Residencial


Em Portugal existem mais de 8000 crianças em Acolhimento Residencial (AR). Neste
estudo participaram 77 crianças em AR (63,6% rapazes). Através da Bateria ASEBA foi
possível observar que os participantes apresentaram níveis clínicos de problemas de saúde
mental (maioritariamente as raparigas). Estes estão relacionados com o motivo de
acolhimento e com o tipo de apoio recebido. A dimensão da casa medeia a relação entre
a sintomatologia e o número de apoios recebidos. Estes resultados apelam à necessidade
de instituir procedimentos de avaliação psicológica no momento de admissão da criança,
sensibilizar os profissionais das casas de AR para estes sinais e sintomas e implementar
programas de prevenção e promoção da saúde mental.

Palavras-chave: Acolhimento residencial, problemas de internalização, problemas de


externalização, total de problemas, bateria ASEBA.

44
Abstract

Mental Health Problems of Portuguese Children in Residential Care


In Portugal there are more than 8,000 children in Residential Care (RC). Seventy-seven
children in RC (63.6% boys) participated in this study. Using the ASEBA Battery it was
possible to observe that the participants presented clinical levels of mental health
problems (mainly the girls), which were related to the reasons of being in care and the
kind of support received. The RC centre’s dimension mediated the relationship between
the amount of support and the child’s symptomatology. These results reinforce the need
to provide psychological assessment procedures at the moment when the child enters care,
to sensitize RC professionals for these signs and symptoms, and to implement programs
for the prevention and promotion of mental health.

Keywords: Residential care, internalizing problems, externalizing problems, total


problems, ASEBA Battery.

45
Résumé

Santé Mentale d’Enfants en Accueil Institutionnel


Il existe au Portugal plus de 8000 enfants en Accueil Institutionnel (AI). Ont participé à
cette étude 77 enfants en AI (63,6% garçons). Utilisant la Batterie ASEBA il a été possible
d'observer que les participants présentaient des niveaux cliniques de problèmes de santé
mentale (surtout les filles). Ceux-ci sont liés au motif de la mise en accueil et au type
d’appui reçu. La dimension du centre d’accueil est médiateur du rapport entre la
symptomatologie et le nombre d’appuis. Ces résultats renforcent le besoin d'instituer des
procédures d'évaluation psychologique au moment de l'admission de l'enfant, de
sensibiliser les professionnels de l’AI à ces symptômes et mettre en œuvre des
programmes de prévention et de promotion de la santé mentale.

Mots-clés: Accueil institutionnel, problèmes d’internalisation, problèmes d’


externalisation, total de problèmes, ASEBA.

46
Introdução

A psicopatologia do desenvolvimento (Sroufe e Rutter, 1984) conceptualiza a


saúde mental de forma compreensiva, considerando o estudo das origens e evolução dos
padrões individuais de inadaptação, independentemente da idade de início, causas ou
transformações comportamentais ou padrão de desenvolvimento. Em todos os períodos
do ciclo de vida existem vulnerabilidades e forças, nos quais o processo desenvolvimental
poderá ter subjacente uma alteração não adaptativa. Assim, a identificação de sinais de
sintomatologia de problemas de saúde mental no âmbito de uma abordagem dimensional
da psicopatologia face a uma abordagem categorial é relevante uma vez que a decisão de
se intervir ou não somente a partir da presença de um diagnóstico pode não ser
desenvolvimentalmente adequada, dado que um quadro subclínico pode ter uma evolução
mais negativa e revestir-se de maior gravidade que um quadro clínico menos grave
(Soares, 2009).
O Acolhimento Residencial (AR) é uma medida de promoção dos direitos e de
proteção que visa colocar a criança aos cuidados de uma entidade que disponha de
instalações e equipamento permanente e de uma equipa técnica que garanta os cuidados
adequados às suas necessidades e proporcione condições que permitam a sua educação,
bem-estar e desenvolvimento integral (art.º49 LCPCJ com redação dada pela Lei
142/2015). Dados de 2016, indicam que em Portugal existem cerca de 7203 crianças em
AR generalista, com ligeiro predomínio de crianças do sexo masculino (51,9%) e uma
maior representatividade das idades compreendidas entre os 12 e os 20 anos (68.1%) face
às idades entre os 0 e os 11 anos (31.9%) (ISS,IP, 2017).
A especificidade da história e condições de vida das crianças que vivem em AR,
impõe a necessidade de conhecer o panorama atual relativo aos problemas de saúde
mental existentes nesta população. A nível internacional são poucos os estudos sobre o
ajustamento psicológico das crianças em AR, uma vez que os estudos de prevalência se
têm focado mais em crianças que vivem com os seus pais biológicos (Schmid, Goldbeck,
Nutzel, e Fegert, 2008). Esta lacuna é ainda mais evidente no que diz respeito ao contexto
português.
Antes do AR, muitas crianças passaram por experiências de privação, abuso e
negligência parental. Estas experiências expõem as crianças a situações negativas para o
seu desenvolvimento, favorecendo o aparecimento de perturbações mentais (Pereira et
al., 2010). Quando estas crianças, para além das experiências negativas, têm pais com

47
padrões de consumo de substâncias ou problemas de saúde mental, ficam expostas a
riscos biológicos e psicológicos acrescidos (Turk, Graham, e Verhulst, 1999). A estes
fatores de risco, acresce o impacto que o AR tem para a criança (Richardson e Joughin,
2000).
Os fatores de risco não são independentes uns dos outros, sendo o número destes
fatores o preditor mais importante para o desenvolvimento da criança (Appleyard,
Egeland, van Dulmen, e Sroufe, 2005). Paralelamente, as manifestações sintomáticas
diferem consoante a idade, nível de desenvolvimento, temperamento e personalidade,
vinculação entre a criança e os pais, experiências prévias, perceção da causa da separação,
preparação da criança para a separação, condições do ambiente familiar, condições do
ambiente da casa de AR, duração do acolhimento e cuidados diferenciados em AR (Bravo
e Del Valle, 2009). Apesar de o AR ser um fator de risco para o desenvolvimento das
crianças, note-se que este não conduz necessariamente a psicopatologia, uma vez que
depende de muitas variáveis que influenciarão a adaptação da criança à casa de AR
(Siqueira e Dell’Aglio, 2006).
As casas de AR variam quanto à qualidade e atenção que dispensam
individualmente a cada criança (Fernández-Daza e Fernandéz-Parra, 2012). Smyke,
Zeanah, Fox, Nelson, e Guthrie (2010) desenvolveram um estudo neurobiológico sobre a
atenção dispensada em AR, e concluíram que o ambiente institucional influencia o
desenvolvimento do cérebro e pode causar deterioração cognitiva e défices sociais. Este
facto aliado às privações físicas e emocionais podem explicar as taxas elevadas de
problemas psicossociais (Rutter, 2000), e de problemas de internalização e de
externalização (Simsek, Erol, Oztop, e Munir, 2007) nesta população.
Os problemas emocionais e comportamentais emergem precocemente, têm
demonstrado serem estáveis ao longo do tempo (Alink et al., 2006) e são muitas vezes
referenciados pelos clínicos de saúde mental da infância (Keenan e Wakschlag, 2000).
Vários estudos indicam que o índice de prevalência destes problemas é superior em
crianças que se encontram em AR quando comparados com crianças que vivem com a
sua família (Calcing e Benetti, 2014; Gearing, Schwalbe, MacKenzie, e Ibrahim, 2015;
Jozefiak et al., 2016; Schmid et al., 2008). Estes problemas tendem a piorar durante o
primeiro ano de AR (Hjern e Vinnerljung, 2002) e são tendencialmente superiores nas
crianças do sexo feminino (Baker, Archer, e Curtis, 2007).
Um número significativo de casos clínicos não é atempadamente diagnosticado e
é negligenciada a necessidade de um apoio específico (Janssens e Deboutte, 2009). A

48
deteção de problemas de saúde mental e o encaminhamento para serviços especializados
depende em grande medida da sensibilidade e conhecimentos apresentados pelos
profissionais das casas de AR (Del Valle, López, e Bravo, 2007; Sainero, del Valle, e
Bravo, 2015). Esta sensibilidade está em grande medida associada ao tipo de relação que
é estabelecida com a própria criança, sendo que quanto mais estreita for, mais atento e
disponível estará o profissional para detetar precocemente estes sinais (Ehrlich, Cassidy,
e Dykas, 2011), o que pode ser facilitado nas casas de pequena dimensão onde o rácio de
criança-cuidadores é mais adequado.
A avaliação psicológica de crianças deve ser realizada junto de vários
informadores e em diferentes contextos (Verona, Javdani, e Sprague, 2011). Pereira e
colaboradores (2010) identificaram alguns fatores que se associam com o (des) acordo
entre os informadores, nomeadamente, tempo de acolhimento, rácio cuidador/criança,
rotatividade do cuidador, tempo de interação individual com a criança, bem como
características da relação com o cuidador. Os professores são também uma importante
fonte de informação, uma vez que as crianças passam grande parte do seu tempo na escola
(Anderson e Seita, 2006; Berg-Nielsen, Solheim, Belsky, e Wichstrom, 2012). No que
concerne à diferença do relato entre os informadores, os estudos têm apontado que as
crianças referem mais sintomatologia do que qualquer outro informador (Erol, Simsek, e
Munir, 2010) e os professores são os que reportam menos sintomatologia, uma vez que
no geral não têm formação específica que permita identificar sinais de problemas de saúde
mental (Kugler et al., 2013).
Em Portugal o acompanhamento ao nível da saúde mental em AR é composto pelo
acompanhamento psicológico e/ou acompanhamento pedopsiquiátrico, sendo que cada
criança pode usufruir de mais do que um apoio em simultâneo. No ano de 2016, verificou
se o acompanhamento regular de 3892 crianças e adolescentes e 967 casos de
acompanhamento irregular (ISS,IP 2017). O aumento do número de adolescentes em
contextos de AR faz com que seja prioritária a adequação e a implementação de uma
intervenção cada vez mais diferenciada, baseada em modelos de intervenção terapêuticos,
que correspondam às suas fragilidades emocionais (ISS,IP 2017).
Este estudo exploratório pretende analisar a saúde mental das crianças e jovens
portugueses em AR, sendo que para evitar a repetição de criança/ jovem, irá ser utilizado
o termo “criança” com o mesmo significado que é dado na Convenção das Nações Unidas
sobre os Direitos da Criança (menor de 18 anos de idade). O presente estudo visa analisar
as cotações dos Problemas de Internalização (PI), Externalização (PE) e Total de

49
Problemas (TP) de crianças que se encontram em AR, através de diferentes informadores
(i.e. cuidadores, professores e a própria criança), tendo por base os pontos de corte
normativos para a população em idade escolar portuguesa (aferição da Bateria ASEBA
em Portugal, Achenbach et al., 2014). Pretende-se também explorar diferenças de
sintomatologia associadas ao género da criança, bem como à dimensão da casa de AR
(pequena, média e grande). Serão igualmente exploradas as correlações existentes entres
as três medidas de sintomatologia (PI, PE e TP) e variáveis como idade, presença de
irmãos na casa, motivo de acolhimento e apoios existentes. É ainda objetivo verificar se
existem diferenças entre o relato dos três informadores relativamente às medidas PI, PE
e TP. Com base na literatura foram formuladas as seguintes hipóteses: 1) as crianças que
se encontram em AR apresentam cotações mais elevadas ao nível dos PI, PE e TP quando
comparados com a população normativa; 2) as crianças do sexo feminino apresentam
níveis mais elevados de PI, PE e TP; 3) as crianças mais velhas ou que têm irmãos na
mesma casa de AR tendem a apresentar menos PI, PE e TP; 4) as crianças que vivem em
casas de grande dimensão tendem a apresentar mais PI, PE e TP.

Método

Participantes
No estudo participaram 77 crianças com idades compreendidas entre os 7 e os 18
anos (M=14.71, DP=3.19), dos quais 49 eram do sexo masculino (63.6%) integradas em
seis casas de AR em cinco distritos diferentes de Portugal. O tempo de acolhimento variou
entre 1 e 167 meses (M=30.89, DP=31.01). 96.1% das crianças (N=74) já tinham tido
acolhimentos anteriores com uma duração variável entre 0 a 60 meses (M=7.76,
DP=13.49).
Relativamente à tipologia das casas, 2 casas eram mistas e 4 segregadas (3
masculinas e 1 feminina). 43 Participantes estavam em casas masculinas, 12 participantes
estavam em casas mistas e 22 participantes estavam em casas femininas. Quanto à sua
dimensão, 3 casas eram pequenas (acolhendo até 12 crianças), 2 casas eram médias
(acolhendo entre 13 a 24 crianças) e 1 casa da amostra era grande (acolhendo mais do que
25 crianças). No que diz respeito à distribuição dos participantes pela dimensão da casa:
27 encontravam-se em casas médias, 26 em casas grandes e 24 em casas pequenas. O
número médio de crianças acolhidas nas casas era de 26.40 (DP=14.89) variando de 10 a
46 crianças.

50
A Tabela 1 apresenta dados de caracterização das crianças.

Tabela 1

Dados Sociodemográficos dos adolescentes

Dados Sociodemográficos N %
6 – 11 anos 11 14.3
Faixa Etária
12 – 18 anos 66 85.7
Presença de Sim 59 76.6
irmãos na mesma
Não 18 23.4
casa de AR
1 44 57.1
Número total de 2 24 31.2
motivos do AR 3 7 9.1
4 2 2.6
Negligência 42 54.5
Comportamentos Desviantes 20 26.0
Motivos do AR
Aproximação Familiar 17 22.1
Outros (e.g. Maus Tratos, Baixo NSE…) 42 54.6
Sim 42 54.5
Presença de Apoio
Não 35 45.5
0 29 37.7
1 32 41.6
Número total de
2 11 14.3
apoios recebidos
3 3 3.9
>4 2 2.6
Apoio Psicológico 32 64
Apoios Pedopsiquiatria 14 28
Outros (e.g. NEE, Neurologia…) 42 73.5

Instrumentos
Para avaliar a sintomatologia das crianças foram utilizados os três questionários
que compõem a Bateria ASEBA para a idade escolar (Achenbach et al., 2014): Child
Behavior Checklist for ages 6–18 (CBCL 6–18); Teacher Report Form for ages 6–18
(TRF 6-18) e Youth Self Report for ages 11–18 (YSR 11–18) permitindo obter a
frequência de problemas emocionais e comportamentais, através da descrição de 112
comportamentos a partir do relato de cuidadores e professores e crianças, respetivamente.
A Bateria ASEBA (Achenbach et al., 2014) encontra-se devidamente adaptada e aferida

51
para a população portuguesa, tendo obtido bons índices ao nível da validade e fidelidade.
Os índices de consistência interna obtidos no presente estudo foram excelentes (Tabela
2).

Tabela 2

Alphas de Cronbach para a Amostra de Aferição e para a Amostra do Estudo de AR

CBCL TRF YSR


Amostra Amostra Amostra Amostra Amostra Amostra
Aferição Estudo AR Aferição Estudo AR Aferição Estudo AR
α α α α α α
PI .845 .861 .829 .887 .840 .906
PE .876 .942 .910 .946 .851 .921
TP .957 .952 .946 .970 .929 .967

O Pedido de Informação Prévio (PIP) foi usado para a recolha de informação


sociodemográfica (e.g. data de nascimento, sexo); informação relativa a dados de saúde
(e.g. tipos de apoio especializado) e familiares das crianças em AR (e.g. acolhimentos
prévios, tempo de acolhimento e motivos do AR). O PIP faz parte do ARQUA-P: Sistema
de Avaliação Compreensiva da Qualidade do Acolhimento Residencial Português©
(Rodrigues, Barbosa-Ducharne, e Del Valle, 2015), que se encontra traduzido e adaptado
à realidade Portuguesa.

Procedimento
Os procedimentos de investigação foram aprovados pela Comissão de Ética da
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP)
encontrando-se assegurados todos os princípios éticos, deontológicos e legais
necessários. Previamente à visita a cada casa de AR, foi solicitada à Direção a assinatura
de uma Declaração de Consentimento Informado autorizando a recolha de dados.
Adicionalmente a todos os participantes (i.e. cuidadores e crianças) foi explicado os
objetivos e os procedimentos do estudo, assegurando a confidencialidade e o anonimato
das fontes de informação, através do uso de códigos, e sublinhado o carácter voluntário
da sua participação. Esta explicação foi feita pelo investigador numa linguagem adequada
à idade desenvolvimental e nível de escolaridade do participante, antes de se iniciar a
respetiva recolha de dados. O investigador só deu início à recolha de dados, após o seu
consentimento explícito.
52
A recolha de dados realizou-se numa visita a cada casa de AR tendo os
questionários para as crianças com idade igual ou superior a 11 anos sido administrados
presencialmente e os questionários dos cuidadores e dos professores deixados a cargo do
Diretor Técnico para serem posteriormente preenchidos e remetidos à equipa de
investigação.
Os dados foram analisados recorrendo ao software estatístico IBM SPSS (versão
23). Num primeiro momento foram analisadas as frequências dos PI, PE e TP da amostra
deste estudo exploratório em comparação com as frequências obtidas para os mesmos
problemas numa amostra normativa e representativa da população portuguesa
(Achenbach et al., 2014). Testes t para amostras independentes foram realizados para
analisar as diferenças associadas ao sexo das crianças, relativamente a PI, PE e TP a partir
dos três informadores. Posteriormente as variáveis presença de irmãos na mesma casa de
AR, negligência como motivo de AR, os apoios de pedopsiquiatria e psicologia, foram
transformadas em variáveis dummy para possibilitar o cálculo de correlações com os PI,
PE e TP reportados pelos diferentes informadores. Foram ainda realizadas ANOVA’s
univariadas para analisar as diferenças entre a dimensão e tipologia das casas de AR
relativamente às três escalas analisadas e ANOVA’s de medidas repetidas para analisar
as diferenças entre o relato dos três informadores relativamente aos PI, PE e TP. Com o
intuito de avaliar os efeitos diretos e indiretos de uma variável mediadora foi utilizado o
método bootstrapping. Para este efeito foi utilizado o PROCESS (Hayes, 2013) que
calcula os efeitos da variável independente no mediador (caminho a), os efeitos do
mediador sobre a variável dependente (caminho b) e efeitos diretos (caminho c ') da
variável independente no dependente. O efeito total da variável independente na
dependente (efeitos indiretos + efeito direto = c) deve ser significativo. O método
bootstrapping estima os efeitos indiretos totais e específicos da variável independente
sobre a variável dependente através do mediador. A mediação é demonstrada quando o
efeito indireto é significativo e os intervalos de confiança não atravessam o zero,
indicando que ele é significativamente diferente de zero em p <.05. Um efeito total
indireto significativo indica que a variável independente influencia a variável dependente
através do mediador.
Os efeitos reportados são medidas não estandardizadas. O poder da análise de
mediação foi testado através do G*Power (F tests – Linear multiple regression; Fixed
model R2 increase; N=77, p<.050, três preditores) revelando um excelente poder
estatístico (0.98) para detetar um tamanho de efeito médio (f2 = .22).

53
Resultados

Os resultados são apresentados pela ordem dos objetivos formulados. Em primeiro


lugar são apresentadas as cotações dos PI, PE e TP, segundo os diferentes informadores
(i.e. cuidadores, professores e crianças) através dos respetivos questionários da Bateria
ASEBA (i.e. CBCL, TRF e YSR), tendo por base os pontos de corte normativos para a
população em idade escolar portuguesa.
Os resultados padronizados obtidos a partir da Bateria ASEBA (notas T) são
interpretados considerando três níveis de severidade: normativo, borderline e clínico. Para
as três escalas analisadas são considerados os seguintes pontos de corte: os valores
normativos correspondem a notas T inferiores a 60; os valores borderline correspondem
a notas T que variam entre 60 e 63; os valores clínicos correspondem a notas T superiores
a 63. Os valores do intervalo normativo revelam situações que não são problemáticas; os
valores do intervalo borderline indicam a existência de situações que merecem atenção
clínica e uma exploração adicional no processo de avaliação; e os valores do intervalo
clínico revelam dificuldades de ajustamento psicológico.
Na Tabela 3 apresentam-se as frequências de cada um dos níveis de severidade,
por medida e por informador, com os valores obtidos no estudo de normalização da
Bateria ASEBA para a população em idade escolar portuguesa.
A análise das cotações obtidas, tendo por base os pontos de corte, demonstra que
foi classificada como casos borderline ou clínicos uma percentagem elevada de crianças
(Tabela 3), indicando a presença de problemas psicológicos e de comportamentos
desajustados que podem apontar para a existência de sinais de sintomatologia
psicopatológica, corroborando a hipótese formulada. A análise das frequências das
cotações clínicas permite constatar que em todas as escalas esta percentagem ultrapassa
os 26.0%, atingindo os 48.3% para o TP segundo os professores.
A prevalência de sintomas de desajustamento psicológico dos participantes neste
estudo fica patente na escala TP de cada um dos informadores, onde o somatório das
percentagens de crianças com cotações borderline e clínico ascende aos 54.6% na CBCL,
58.6% na TRF e 47.5% na YSR.

54
Tabela 3

Cotações das Escalas da Bateria ASEBA de acordo com os pontos de corte, em


percentagem

Nível Normativo Nível Borderline Nível Clínico


Amostra Amostra Amostra Amostra Amostra Amostra
Aferição Estudo AR Aferição Estudo AR Aferição Estudo AR
CBCL
PI 73.8% 63.6% 10.6% 10.4% 15.5% 26.0%
PE 85.8% 53.2% 7.5% 14.3% 6.7% 32.5%
TP 78.4% 45.5% 11.6% 26.0% 10.0% 28.6%
TRF
PI 83.1% 42.9% 9.9% 10.7% 7.1% 46.4%
PE 85.5% 44.8% 7.4% 10.3% 7.1% 44.9%
TP 85.2% 41.4% 8.0% 10.3% 6.8% 48.3%
YSR
PI 81.0% 52.5% 10.7% 18.6% 8.3% 28.8%
PE 85.5% 47.5% 8.4% 22.0% 6.2% 30.5%
TP 86.1% 52.5% 9.0% 15.3% 4.9% 32.2%

A análise de diferenças associadas ao género para as três variáveis, PI, PE e TP,


segundo os três informadores. Com estas análises é possível observar a existência de
diferenças estatisticamente significativas entre géneros para os PI da CBCL (Feminino:
M=12.51, DP=6.12, Masculino: M=7.82, DP=6.94, t(75)=2.97, p=.004, d=0.72, IC a 95%
[1.55, 7.83]), PI da YSR (Feminino: M=22.93, DP=9.83, Masculino: M=15.23,
DP=10.52, t(75)=2.79, p=.007, d=0.76, IC a 95% [2.17, 13.24]) e TP da CBCL
(Feminino: M=44.77, DP=24.66, Masculino: M=32.76, DP=23.27, t(75)=2.13, p=036,
d=0.50, IC a 95% [0.78, 23.22]) apresentando o género feminino médias mais elevadas.
A Tabela 4 apresenta as correlações entres as três medidas de sintomatologia e as
variáveis individuais em análise.
Nos PE e TP da CBCL correlacionam negativa e significativamente com a idade,
demonstrando que, à medida que a idade dos participantes aumenta, os problemas de
ajustamento psicológico tendem a diminuir.
O motivo de acolhimento – negligência - encontra-se positivamente
correlacionado com os PI reportados pelos cuidadores evidenciando que as experiências
de negligência da criança está relacionada com os problemas de ajustamento.
Relativamente aos apoios, é possível verificar que quanto mais PE e TP reportados
pelos cuidadores e pelas crianças, maior é o encaminhamento para serviços de

55
pedopsiquiatria, embora ao nível da psicologia não se tenham observado correlações
estatisticamente significativas.

Tabela 4

Correlações entre as Variáveis relativas a Problemas e Variáveis Individuais

Problemas de Problemas de Total de


Internalização Externalização Problemas
r r r
CBCL TRF YSR CBCL TRF YSR CBCL TRF YSR
V. Individuais
Idade -.140 -.268 -.165 -.261* -.067 -.160 -.329** -.284 -.196
Presença de
-.043 .298 -.020 -.009 .157 -.170 .074 .257 -.209
Irmãos (rpb)
Motivo (rpb)
Negligência .355** .109 .103 -.066 .000 -.167 .188 .127 .064
Apoios (rpb)
Pedopsiquiatria .176 .071 .114 .313* .218 .354* .411** .284 .356*
Psicologia -.258 -.039 -.035 -.133 .000 -.088 -.168 -.039 -.069
Nota. *p < .05; **p < .01

A Tabela 5 apresenta os resultados das análises de diferenças de médias entre as


escalas de problemas, reportadas pelos três informadores, em função da dimensão das
casas.
Verificaram-se diferenças estatisticamente significativas nos PI, nos PE e no TP
reportados pelos cuidadores sendo que através do Post Hoc Scheffe se observou que as
crianças acolhidas em casas pequenas ou médias apresentam índices mais elevados de
problemas do que as crianças acolhidas em casas grandes. É também possível observar
que existem diferenças significativas nos PI e no TP reportados pelas crianças, sendo que
as que estão acolhidas em casas médias apresentam índices mais elevados de problemas
do que as que estão acolhidas em casas grandes.

56
Tabela 5

Análises de diferenças de médias das variáveis relativas a Problemas, em função da


Tipologia e da Dimensão da casa (ANOVA univariada)

Tipologia das Casas


Mista (M) Feminina (SF) Masculina (SM)
M (DP) M (DP) M (DP) F df ηp2 Dif. Pares
PI CBCL 13.87 (5.67) 11.70 (6.30) 7.21 (6.85) 6.57** 2.74 .15 M-SM, SF-SM
PI TRF 13.15 (8.57) 10.07 (9.19) 9.73 (6.46) 0.42 2.26 .03 -
PI YSR 26.00 (5.66) 22.98 (10.07) 14.82 (10.36) 4.87* 2.56 .15 SF-SM
PE CBCL 20.15 (7.93) 14.48 (14.72) 10.88 (10.34) 3.22* 2.74 .08 M-SM
PE TRF 9.29 (8.64) 10.38 (10.45) 12.85 (14.42) 0.22 2.26 .02 -
PE YSR 25.00 (11.31) 19.43 (11.59) 15.66 (10.96) 1.24 2.56 .04 -
TP CBCL 56.64 (15.09) 40.68 (25.42) 29.86 (22.77) 6.96** 2.74 .16 M-SM
TP TRF 48.09 (33.66) 40.23 (33.79) 42.83 (32.04) 0.12 2.26 .01 -
TP YSR 86.70 (32.10) 69.95 (31.55) 51.95 (33.99) 2.60 2.56 .09 -
Dimensão das Casas
Pequena (P) Média (M) Grande (G)
M (DP) M (DP) M (DP) F df ηp2 Dif. Pares
PI CBCL 12.42 (6.01) 12.21 (6.43) 4.07 (5.06) 16.95*** 2.74 .31 P-G, M-G
PI TRF 11.43 (7.49) 9.79 (8.86) 7.79 (4.33) 0.29 1.27 .01 -
PI YSR 18.82 (12.19) 23.24 (9.71) 12.27 (8.34) 6.98** 2.56 .20 M-G
PE CBCL 17.94 (9.30) 15.29 (13.67) 7.12 (9.19) 6.68** 2.74 .15 P-G, M-G
PE TRF 11.96 (12.32) 9.73 (10.27) 8.14 (5.20) 0.27 1.27 .01 -
PE YSR 16.59 (12.18) 19.91 (11.43) 15.07 (10.37) 1.07 2.56 .04 -
TP CBCL 49.96 (15.37) 43.89 (24.66) 18.26 (19.27) 17.50*** 2.74 .32 P-G, M-G
TP TRF 46.27 (32.36) 39.04 (32.65) 17.03 (12.23) 0.36 1.27 .01 -
TP YSR 60.68 (39.36) 71.47 (31.21) 46.39 (29.72) 3.23* 2.56 .11 M-G
Nota. *p < .05; **p < .01; ***p < .001

Com o intuito de se perceber este resultado (casas de menor dimensão estão


associadas a maior níveis de sintomatologia nas crianças) foi realizada uma análise de
mediação. Considerando que o número de apoios recebidos depende da sintomatologia
manifestada pela criança, foi considerada como variável mediadora a dimensão da casa,
baseado no racional que casas que acolhem um menor número de crianças apresentam
um rácio crianças-cuidador adequado e suscetível de estabelecerem uma relação de maior
proximidade com as crianças encaminhando para um maior número de apoios, fazendo
com que estas casas integrem crianças com mais problemáticas.

57
Figura 1

Representação esquemática do modelo de mediação simples

Dimensão da Casa

VM

a b

Sintomatologia manifestada pelas Número de apoios recebidos pela


crianças e adolescentes criança e adolescente
c’
VI VD

O efeito total da sintomatologia manifestada pelas crianças no número de apoios


recebidos é significativo (c=0.02, p<.001). Para além do efeito direto observado entre
estas duas variáveis (c’=0.01, p=.034), observa-se também um efeito significativo
indireto através da variável dimensão da casa (ab=0.01), porque os intervalos de
confiança não cruzam o zero (IC a 95% [0.012, 0.013]). Quanto maiores os níveis de
sintomatologia manifestada pelas crianças, menor é a dimensão da casa (a=-0.36, p<.001),
e quanto menor for a dimensão da casa, maior o número de apoios prestados às crianças
(b=-0.02, p=.043). Este modelo explica 18% da variância observada, R²=.18, F(1.75) =
16.19, p<.001. O tamanho do efeito da mediação é de R²=.13.
A Tabela 6 apresenta os resultados das análises de comparação de médias dos
problemas, em função dos três tipos de informadores.

Tabela 6

Análises de diferenças entre as variáveis de Problemas em função dos Informadores


(ANOVA de medidas repetidas)

Cuidadores Professores Jovens


(CBCL) (TRF) (YSR)
M (DP) M (DP) M (DP) F df ηp2 Dif. Pares
YSR-CBCL,
PI 12.30 (5.76) 9.96 (8.21) 20.97 (12.87) 10.99*** 2.38 .37
YSR-TRF
PE 12.14 (8.76) 10.23 (10.11) 17.01 (12.31) 4.41** 2.38 .19 YSR-TRF
YSR-CBCL,
TP 39.96 (18.56) 39.00 (31.64) 63.29 (39.10) 2.38* 2.38 .25
YSR-TRF
Nota. *p < .05; **p < .01; ***p < .001

58
Na Tabela 6 é possível observar a existência de diferenças estatisticamente
significativas nos PI, PE e TP em função do informador, sendo que através do Post Hoc
de Gabriel observa-se que as crianças reportam índices mais elevados de problemas do
que os restantes informadores.

Discussão

O AR caracteriza-se por ser um contexto de vida que torna algumas crianças mais
vulneráveis e suscetíveis a problemas emocionais e comportamentais. Os resultados do
presente estudo corroboram outros que concluíram que estas crianças tendem a apresentar
níveis mais elevados de PI, PE e TP quando comparadas com crianças que vivem com a
sua família (e.g. Gearing et al., 2015). Os resultados encontrados apontam a presença de
problemas, que podem indiciar psicopatologia numa incidência superior à normativa.
Os resultados das análises que exploraram as relações entre os PI, PE e TP com
as variáveis sociodemográficas, apontaram a inexistência de correlações estatisticamente
significativas com os resultados reportados pelos professores. Segundo Berg-Nielsen e
colaboradores (2012) a sensibilidade para identificarem problemas emocionais e
comportamentais nos alunos está diretamente relacionada com a quantidade de tempo que
conhecem a criança e com a sua experiência prévia. Por outro lado, Ehrlich e
colaboradores (2011) concluíram que os fatores relacionais têm também impacto no nível
de acordo, sendo que quando a relação é próxima se verifica um maior conhecimento por
parte do informador.
As análises apresentadas relativamente ao sexo são convergentes com Baker e
colaboradores (2007) evidenciando que as crianças do sexo feminino apresentam níveis
mais elevados de psicopatologia e de problemas comportamentais do que os rapazes,
indiciando um maior grau de desajustamento psicológico. Este resultado reforça a
necessidade de ser dada uma atenção especial às necessidades específicas das raparigas
em AR.
Relativamente à idade dos participantes os dados apresentados corroboram o que
Hjern e Vinnerljung (2002) concluíram no seu estudo ao demonstrar que os problemas de
ajustamento psicológico tendem a diminuir com o aumento da idade da criança.
A presença de irmãos na casa de AR não apresentou correlações significativas
com os indicadores de sintomatologia, o contrário do citado na investigação que refere
que a presença de irmãos diminui a probabilidade de se desenvolverem PI, funcionando

59
como um fator protetor e preventivo na sintomatologia (Álvares e Lobato, 2013). A
reduzida percentagem de crianças com irmãos na mesma casa de AR poderá ter
condicionado os resultados obtidos. Por outro lado, poderá não ser a simples presença de
irmãos na casa que contribui para o melhor ajustamento psicológico das crianças,
importando conhecer a possibilidade e tempo de contacto que os irmãos têm oportunidade
de viver no contexto de AR e, sobretudo, se em cada casa é proporcionada a verdadeira
vivência de uma relação fraterna entre irmãos, com partilha de espaços e atividades, para
além do grupo de outras crianças da casa.
Erol e colaboradores (2010) defendem que os motivos que levaram uma criança
ao AR, nomeadamente negligência, constitui um grave fator de risco para o
desenvolvimento intelectual e emocional das crianças, com posterior repercussão na
idade adulta, o que é apontado pelos resultados do presente estudo que relacionam a
negligência com os problemas de ajustamento das crianças. No entanto, é importante
salientar que estes acontecimentos não determinam definitivamente a trajetória de vida
de uma criança, uma vez que esta pode ser mais ou menos adaptativa consoante a
perspetiva de resiliência presente e trabalhada com a criança (Siqueira e Dell’Aglio,
2006).
Neste estudo foi possível concluir que existe um maior encaminhamento para
serviços de pedopsiquiatria do que psicologia. Este facto parece revelar a maior
importância atribuída pelos cuidadores a soluções farmacológicas, dado o seu efeito
rápido na diminuição da expressão sintomatológica. No entanto, sabe-se que para uma
intervenção adequada e completa torna-se fundamental que as crianças sejam
encaminhadas para os serviços de psicologia, não restringindo a intervenção ao nível
psicofarmacológico (Erol et al., 2010).
No que concerne a variável contextual, esta tem que ser lida de forma cautelosa
dada a amostra específica das casas de AR do estudo. Relativamente à dimensão da casa
de AR seria esperado observar menos problemas de ajustamento psicológico em casas de
menor dimensão (Bravo e Del Valle, 2009). Os resultados do presente estudo podem
entender-se pelo facto de as casas de AR de menor dimensão mostrarem disponibilidade
para acolher crianças que nem sempre encontram resposta noutras casas, dadas as suas
características pessoais, história de vida e a gravidade dos problemas que vivenciaram
previamente ao acolhimento. Esse facto poderá estar a contribuir para aumentar a
proporção de crianças com dificuldades significativas nestas casas. Por outro lado, tal
como foi possível verificar pela análise de mediação, o número de apoios prestados pela

60
casa está relacionado com a sintomatologia apresentada pelas crianças, sendo que esta
relação é mediada pela dimensão da casa, mostrando que casas com menos crianças
prestam um maior número de apoios, fazendo com que estas casas acolham crianças com
mais problemas de saúde mental.
Por último, neste estudo foi possível observar a existência de diferenças
significativas entre o relato dos diferentes informadores. Este resultado corrobora
diferentes estudos que indicam que as crianças tendem a reportar maiores índices de
problemas de saúde mental (Erol et al., 2010) do que os restantes informadores,
particularmente os professores (Anderson e Seita, 2006). Se por um lado os professores
não têm formação específica que lhes permita identificar sinais de problemas de saúde
mental nos alunos, por outro lado tendem a ser mais sensíveis aos problemas de
comportamento que afetam o ambiente da sala de aula, nomeadamente os PE (Kugler et
al., 2013). No geral, os cuidadores e os professores tendem a reportar índices mais
elevados de PE por se tratar de comportamentos que são facilmente observáveis e que
interferem nos contextos onde a criança está inserida, solicitando uma maior atenção por
parte dos adultos (Kugler et al., 2013). Estes resultados sublinham assim a importância
de se recorrer a diferentes informadores (Achenbach et al., 2005).

Conclusões

O presente estudo apresenta a mais-valia de considerar as diferentes vozes dos


diversos intervenientes do contexto de acolhimento residencial (Erol et al., 2010), acerca
do ajustamento psicológico das crianças em AR. Adicionalmente, os resultados
provenientes deste estudo mostram a pertinência de se realizar uma investigação mais
abrangente sobre a saúde mental das crianças do sistema de AR português, já que este se
trata de um estudo exploratório com uma amostra de dimensão reduzida. Neste sentido,
salienta-se a necessidade de dar continuidade a este estudo, devendo ser recolhidos dados
junto de um maior número de participantes, de diferentes idades, pertencentes a casas de
AR de diferentes tipologias, permitindo a realização de análises estatísticas mais
sofisticadas que contribuam para uma avaliação mais abrangente, compreensiva e
ecológica do sistema de AR português e para uma maior validade externa.
Apesar do seu carácter inovador, este estudo apresenta como principal limitação
o facto de o procedimento de amostragem ser de conveniência, limitando a
representatividade das conclusões relativamente ao sistema de AR português, mas

61
salientando a premência da condução de um estudo nacional de identificação de sinais e
sintomas de problemas de saúde mental, a nível nacional, em crianças em AR. Por outro
lado, este estudo, por ser um estudo exploratório apresenta também como limitação a
reduzida dimensão da amostra o que implica uma leitura cautelosa dos dados, uma vez
que estes poderão estar a ser condicionados por este facto, não permitindo uma
generalização dos mesmos. Contudo é de salientar que quando comparado com outros
estudos internacionais do mesmo âmbito, verifica-se que as amostras utilizadas são
semelhantes ou até mesmo de menor dimensão (e.g. Álvares e Lobato, 2013; Calcing e
Benetti, 2014) e que esta limitação foi tida em conta nas análises efetuadas. Por outro
lado, o teste do poder da análise de mediação para esta amostra, revelou um poder
estatístico excelente (cf. “Procedimento”). Outra limitação inerente à administração dos
questionários é a desejabilidade social característica nas respostas a medidas de
autorrelato, que poderá ser minimizada através da realização de entrevistas estruturadas
e estandardizadas realizadas por investigadores (Jozefiak et al., 2016).
Do presente estudo piloto sobressaíram alguns dados relevantes, que se podem
constituir como pistas para a prática: a existência da presença de sintomatologia
psicopatológica nas crianças participantes e a sua relação quer com variáveis da sua
história de vida (e.g. negligência prévia), quer com variáveis relativas às casas que os
acolhem (a saber, a dimensão e tipologia), impondo a reflexão sobre algumas implicações
para a prática profissional em AR.

Implicações para a prática

A presença de níveis elevados de problemas emocionais e comportamentais, bem


como de comorbilidades, faz aumentar os custos em serviços de saúde gastos pelas casas
de AR (Schmid et al., 2008). Nesta perspetiva de custo-benefício social e económico, os
profissionais devem preocupar-se com o ajustamento psicológico das crianças acolhidas,
uma vez que se assume que estes problemas venham a ter impacto na saúde mental na
idade adulta (Jozefiak et al., 2016). Torna-se fundamental instituir procedimentos de
avaliação psicológica no momento de admissão da criança na casa por forma a possibilitar
o encaminhamento para serviços especializados de que necessitem. A par desta avaliação,
é fundamental que haja uma monitorização constante da evolução de cada criança,
percebendo desta forma se os apoios que estão a ser prestados estão a surtir os efeitos
desejados, bem como perceber a sua evolução. A utilização de instrumentos

62
estandardizados de autorrelato providencia aos técnicos de saúde mental ferramentas de
trabalho eficazes, pouco dispendiosas e que permitem situar a criança considerando os
parâmetros normativos para a população em geral (Erol et al., 2010). A Bateria ASEBA
revela-se particularmente útil como instrumento de rastreio, uma vez que recorre a
diferentes informadores possibilitando fazer uma avaliação mais abrangente e ecológica
da criança (Achenbach et al., 2014).
Os profissionais das casas de AR devem ser devidamente sensibilizados para os
sinais e sintomas de problemas de saúde mental nesta população. Programas de prevenção
e de intervenção baseados na evidência requerem uma cuidadosa avaliação das
necessidades das crianças, para que estas sejam culturalmente apropriadas (Jozefiak et
al., 2016).
A colaboração entre os profissionais de saúde mental, os cuidadores e as crianças,
deve ser próxima e fluída para promover uma intervenção continuada, nas várias áreas
importantes (e.g. psicoterapia ou intervenção farmacológica), diminuindo, assim, a
probabilidade de a criança ter que vir a integrar respostas específicas ao nível da
psiquiatria (e.g. internamento hospitalar), bem como, diminuir o estigma associado a esta
população (Schmid et al., 2008).
Reconhecendo qualidade em AR como a adequação dos recursos e serviços
prestados pelas casas de acolhimento às características e necessidades da população
acolhida, é fundamental a identificação das necessidades de saúde mental como
necessidade prioritária, legitimando-se a inclusão de medidas de saúde mental na
operacionalização da avaliação da qualidade do AR.
Torna-se imperioso transformar os contextos de acolhimento em ambientes de
qualidade e seguros para as crianças, que respondam a todas as suas necessidades o que
requer grande investimento na formação dos cuidadores, capacitando-os para lidar com
crianças com níveis elevados de desajustamento psicológico. Neste âmbito afigura-se
urgente a implementação de um modelo terapêutico nas casas de acolhimento que as
configure em ambientes que respeitem integralmente os Direitos da Criança e promovam
o seu bem-estar pleno.

63
Artigo 2: Psychological Adjustment and Language Development of
Young Children in Residential Care

Artigo publicado: Campos, J., Barbosa-Ducharne, M., & Dias, P. (2020). Psychological
adjustment and language development of young children in residential care. Análise
Psicológica, 1(38), 75-86. https//doi.org/10.14417/ap.1731
Resumo

Ajustamento psicológico e desenvolvimento da linguagem de crianças em acolhimento


residencial
Em Portugal, 98% das crianças com menos de três anos de idade retiradas das suas
famílias de nascimento vivem em casas de Acolhimento Residencial (AR). A colocação
precoce de crianças em AR pode afetar drasticamente seu desenvolvimento. Este estudo
tem como objetivo: identificar a frequência de Problemas de Internalização,
Externalização e Total de Problemas, bem como o número médio de palavras utilizadas
por crianças em AR; comparar a frequência dos problemas e o vocabulário destas crianças
com a amostra normativa da população Portuguesa que permitiu a validação e a aferição
da Bateria ASEBA em Portugal; analisar as diferenças entre as crianças em AR de acordo
com o sexo, integração pré-escolar, presença de irmãos na mesma casa de AR e o tamanho
da própria casa de AR e explorar as correlações entre as medidas de ajustamento
psicológico e o desenvolvimento da linguagem e as variáveis sociodemográficas.
Participaram neste estudo cento e dezasseis crianças portuguesas (56,9% do sexo
feminino) com idades compreendidas entre os 0 e os 71 meses (menores de 6 anos). Os
dados foram recolhidos através da bateria ASEBA. Os resultados mostraram que estas
crianças apresentaram um maior nível de vulnerabilidade em relação ao ajustamento
psicológico e ao desenvolvimento da linguagem, quando comparadas com as crianças que
vivem com as suas famílias, principalmente aquelas separadas dos seus irmãos e que
vivem num contexto fechado que não proporcione experiências de contacto com outras
crianças externas ao AR. Estes resultados reforçam a importância de se privilegiar a
medida do acolhimento familiar (ao invés do AR), particularmente nesta faixa etária, para
que as crianças tenham oportunidade de se desenvolver num contexto familiar normativo.

Palavras-chave: Ajustamento psicológico; Desenvolvimento da linguagem; Bateria


ASEBA; Crianças; Acolhimento residencial

65
Abstract

Psychological adjustment and language development of young children in residential


care
In Portugal, 98% children under the age of three removed from their birth families are
living in Residential Care (RC) centres. The early placement of children in RC can
dramatically affect their development. This study aims to: identify the frequency of
internalizing, externalizing and total problems, as well as the average number of words
used by young children in RC; compare the frequency of these children’s problems and
their vocabulary to a Portuguese normative sample that allowed for the validation and
standardization of the ASEBA Battery in Portugal; analyse differences among the
children in RC according to gender, preschool integration, presence of siblings in the
same RC centre, and the size of the RC centre itself and explore the correlations between
the adjustment measures and language development and sociodemographic variables.
One hundred and sixteen Portuguese children (56.9% female) ranging from 0 to 71
months (under 6 years) participated in this study. Data were collected using the ASEBA
Battery. Results showed that these children presented a higher level of vulnerability
regarding psychological adjustment and language development, when compared to
children living within families, especially those separated from their siblings and living
in a context which was not able to provide enough contact with other children. These
findings highlight the importance of adopting measures such as family foster care (instead
of RC), especially at this age, in order to give these children the chance of living in a
normative and family context.

Keywords: Psychological adjustment; Language development; ASEBA Battery; Young


children; Residential care.

66
The early years of the child’s lif are crucial for his/her development, since the
greater plasticity of the brain in this phase favours the promotion of its potentialities
(Willrich, Azevedo, & Fernandes, 2009). This is also enhanced by the appropriateness of
the experiences provided to the child (Johnston, 2009; Nóbrega & Minervino, 2011).
Some risk factors, such as biological (e.g., developmental disorders) and contextual (e.g.,
residential care) ones may jeopardize the child’s development (Nascimento & Piassão,
2010).
Longitudinal studies have shown that early placement in Residential Care (RC),
during the first six months of the child’s life, dramatically affects emotional, cognitive,
social and neuropsychological development (Misquiatti, Nakaguma, Brito, & Olivati,
2015; Zeanah et al., 2009), with possibly irreversible consequences (Cavalcante,
Magalhães, & Pontes, 2007). Therefore, RC may be a risk factor, especially when
caregivers are poorly skilled; when there is an inadequate child/caregiver ratio; when the
physical space is overcrowded; and when there are little opportunities of experiencing an
adequate stimulation (Nascimento & Piassão, 2010). However, the consequences may be
curtailed by factors such as improved RC quality, shorter stays, and the presence of
siblings in the RC centre (Álvares & Lobato, 2013), as well as post-institutionalization
contexts (Bronfenbenner, 1996).
Studies analysing the impact of placement of preschool aged children in RC are
scarce (Cardona, Manes, Escobar, López, & Ibáñez, 2012; Misquiatti et al., 2015),
particularly the ones aiming to consider behavioural and emotional problems (Egger &
Angold, 2006) since clinical professionals’ attention is often focused on the aggressive,
hyperactive, challenging, anxious, volatile, disruptive, inflexible or inattentive
behaviours. Due to the scarcity of research, this study sought to focus on a sample of
preschool children (under the age of 6) to react to this pressing need. Nevertheless, these
behaviours are very common in children’s development (Wakschlag et al., 2007) and tend
to stabilise over time, particularly when manifested early (Alink et al., 2006). Screening
these problems during the first two years of life allows for early intervention and the
prevention of other more severe troubles.
Studies have shown that there is a higher incidence of health problems in children
living in RC when compared to children living with families (Maclean, 2003). A high
index of Externalization Problems and Total Problems reported by caregivers through
CBCL (Achenbach & Rescorla, 2000) in children aged 3 to 5 has been identified

67
(Marcovitch et al., 1997). Beckett and colleagues (2002) concluded that the length of stay
in RC was positively correlated with the amount of problems shown by the children.
Maclean (2003) found that the experience of RC placement in children aged under
2 increased the likelihood of showing behavioural problems, namely, eating disorders,
unhealthy peer relationships, short attention span and stereotypical behaviours. Repeated
movements (e.g., rocking) reflect a strategy of self-relaxation or the child’s attempt to
self-stimulate when alone. Children who live in RC centres often remain in their baby
cots or play alone on the floor, which leads to inadequate motor and cognitive stimulation
(Loman, Wiik, Frenn, Pollak, & Gunnar, 2009).
The delay in cognitive, motor and language developments is frequent in children
placed in RC (Cardona et al., 2012; Dozier, Stovall, Albus, & Bates, 2001; Loman et al.,
2009; Maclean, 2003; Manso, 2003; Nóbrega & Minervino, 2011; Otieno, Nduati,
Musoke, & Wasunna, 1999). Language development is an extremely complex process
which is affected by the environment where the child is, by the social relationships
established and by the child’s individual characteristics (Sheridan, Dury, McLaughlin, &
Almas, 2010). Language delay refers to semantic and phonological verbal fluency
(Cardona et al., 2012) and Misquiatti and colleagues (2015) concluded that children in
RC centres use fewer words than their peers in normative samples. Manso (2003) reported
that children in RC presented verbal immaturity with vocabulary (i.e. word definition),
verbal memory (i.e. repetition of sentences after hearing), verbal fluency (i.e. expressive
language speed) difficulties and inability to match words and meanings (i.e. opposite
words).
Zeanah and colleagues (2003) and Misquiatti et al. (2015) considered that
irreparable damage regarding language development was strongly related to the
experience of separation and loss of significant figures. Other factors that are closely
related to language development damage are the caregiver’s poor education and lack of
preparation to stimulate the child (Morais, Leitão, Koller, & Campos, 2004; Scarr &
Eisenberg, 1993); the child’s difficulty to build an affective and longterm relationship
with a caregiver, due to staff turnover and practices of collective care, characterized by
impersonality (Nóbrega & Minervino, 2011; Zeanah et al., 2003) and the lack of
opportunities of social interaction and active participation in adult-child conversations
(Borges & Salomão, 2003). Children who have responsive and empathic caregivers, who
frequently interact with them, have more exploratory behaviours, healthier relationships
with peers, as well as better developmental outcomes (Scarr & Eisenberg, 1993).

68
Language developmental delays also seem to be related to the length of stay in
RC, since the longer the child remains in the RC centre, the worse the developmental
outcomes are (Loman et al., 2009; Nóbrega & Minervino, 2011). These delays occur
mainly when the services provided are institutional and do not respect the individual
characteristics of the child (Sigal, Perry, Rossignol, & Ouimet, 2003). Furthermore, the
earlier the child’s placement in RC, the greater the probability of delaying language
development (Nóbrega & Minervino, 2011; Sigal et al., 2003).
Portuguese children removed from their families are almost always placed in RC
centres. Despite the Portuguese Law defining that children up to the age of 6 should be
placed in foster families (art. 46th LPCJP [Law for the Protection of Children and
Youngsters in Danger]), recent statistical data show that 98.5% of children under 3
removed from their birth families are placed in RC centres (ISS, IP, 2018). In order to
minimize the impact of institutionalization, it is essential to ensure the child’s right to live
within a family (Delgado, 2010; Silva & Aquino, 2005), as well as attend preschool so
that the child can enjoy stimulating and normalizing experiences (Lordelo, 2002).
Therefore, the aims of this study are: 1) to identify the frequency of internalizing,
externalizing and total problems, as well as the average number of words used by young
Portuguese children in RC; 2) to compare the frequency of these children’s problems and
their vocabulary to the Portuguese ASEBA normative sample that allowed for the
validation and standardization of the ASEBA Battery in Portugal (Achenbach et al.,
2014); 3) to analyse the differences related to psychological adjustment and language
development among the children in RC according to gender, preschool integration,
presence of siblings in the same RC centre, the size of the RC centre itself and
child/caregiver ratio and 4) to explore the correlations between the adjustment measures
and language development and the child’s individual variables, such as age, reason for
placement and length of past/present institutionalization.

Method

Participants
One hundred and sixteen children (56.9% female) aged 0 to 71 months
participated in this study (M=38.04, SD=18.72). These children were living in 17 RC
centres in nine districts of Portugal, for 18.63 months on average (SD=13.79, ranging
from 1 to 57). Some of these children had already been in other RC centres for 1 to 44

69
months (M=2.53, SD=6.55). The main reasons that had led to the children’s placement in
RC were parental neglect (n=78, 67.2%) and lack of alternative family care (n=23,
19.8%). Most of these children (n=89, 76.7%) had siblings, however, only 44.8% of these
were living together in the same RC centre. Only 36 children (31.0%) were attending a
crèche or kindergarten, and the remaining ones (69.0%) spent most of their time at the
RC centre.
One hundred and ten participants (94.8%) were living in gender mixed centres and
six participants (5.2%) were living in female RC centres. Furthermore, 69.0% children
(n=80) were living in medium sized centres (ranging from 13 to 24 children), 17.2%
(n=20) were living in large sized centres (over 25 children) and 13.8% (n=16) were living
in small sized centres (up to 12 children). There was no statistically significant
relationship between the type of centre regarding gender segregation and size, χ2
(2)=2.85, p=.241. In all the RC centres there were children of different ages, ranging from
0 months to 19 years, and there was no centre specially for children under five. In general,
the child/caregiver ratio presented an average of 1.30 (SD=0.39), ranging between 0.70 e
2.67.
The normative sample used for comparison is the national representative sample
that allowed for the validation and standardization of the ASEBA Battery in Portugal
(Achenbach et al., 2014), and was defined following a stratified random sampling
method, which considered the distribution of the Portuguese population by region, gender
and age. This sample is made up of 750 children (52.1% male), aged 0 to 71 (M=42.50,
SD=12.93), living with at least one parent.

Instruments and measures


In order to evaluate the psychological adjustment of children, the Child Behavior
Checklist for ages 1½-5 (CBCL 1½-5) of the ASEBA Battery for preschool (Achenbach
et al., 2014) was used. This questionnaire was filled in by the referral caregivers of
children aged 18 months to 5 years old, in accordance to the frequency by which these
children expressed 100 different behaviours and skills, and thus, allowing for the
identification of emotional and behavioural problems.
The development of the children’s language was evaluated using the Language
Development Survey (LDS) of the ASEBA Battery for preschool (Achenbach et al.,
2014). This questionnaire was given to the referral caregivers of children aged 18 to 35

70
months and allowed for the identification of the developmental level of the children’s
language in accordance to a list of 310 words, amongst the first learnt by most children.
The ASEBA Battery (Achenbach et al., 2014) is an instrument that was duly
adapted to the Portuguese population and obtained good validity and reliability rates. The
Cronbach’sAlpha figures obtained in the present study ranged from .865 for Internalizing
Problems to .997 for the number of words, whereas in the ASEBA Battery sample the
respective figures varied from .834 to .998.
The children’s individual variables were collected using the Previous Information
Survey (PIP) included in the ARQUA-P: A Comprehensive Evaluation System for
Residential Care in Portugal (Rodrigues, Barbosa-Ducharne, & Del Valle, 2015). PIP
allows for the collection of sociodemographic information (e.g., date of birth, age, gender,
schooling, length of placement, reasons for institutionalization and previous placements);
health data (e.g., medical needs) and information on the family of the children living in
the RC centre.

Procedures
Research procedures were approved by the Ethics Committee of the University
and all necessary ethical, deontological and legal requirements were assured. Prior to
visiting each participating RC centre, a Declaration of Informed Consent for the collection
of data was signed by the Director. Participation was strictly voluntary and the use of
codes safeguarded the anonymity of the participants. The inclusion criteria for children
were as follows: aged 71 months or less and being at the RC centre for at least 2 months.
The sample consisted of all children who met these inclusion criteria, with a minimum of
70% of children in small RC centres, 40% in medium RC centres and 30% in large RC
centres.

Data analyses
Data were analysed using the statistical software IBM SPSS – version 23 (IBM
Corp, 2014). The frequencies of Internalizing, Externalizing and Total Problems and the
number of words used by the children were compared to the normative and representative
sample of the Portuguese population (Achenbach et al., 2014). T tests for independent
samples and univariate ANOVA’s were conducted to explore differences related to
Internalizing, Externalizing, Total Problems and Language Development according to
gender, the presence of siblings in the same RC centre, external school attendance and

71
the RC centre size. Pearson correlations were performed between the Internalizing,
Externalizing, Total Problems and Language Development variables and the child’s
individual and the RC’s contextual variables. Finally, a simple linear regression analysis
was performed considering the variables that obtained a statistically significant Pearson
correlation, in order to predict the variance of the dependent variable based on an
independent variable.

Results

The results are presented following the study’s objectives. Internalizing,


Externalizing and Total Problems results are given first, in reference to the normative cut-
off points for a Portuguese preschool population. The standardized results obtained from
the ASEBA Battery (T-scores) were read considering three levels of severity: normative,
borderline and clinical levels. For the three scales which were analysed (Internalizing
Problems, Externalizing Problems and Total Problems), the following cut-off points were
considered: the normative scores corresponded to T-scores under 65; borderline scores
corresponded to T-scores ranging from 65 to 69; clinical ones corresponded to T-scores
above 69. A normative level means that situations are not problematic; a borderline level
indicates the existence of situations that deserve clinical attention and further evaluation;
and a clinical level reveals difficulties of psychological adjustment. Table 1 shows the
frequencies of each severity level, by scale, for both the study sample and the normative
Portuguese preschool population.

Table 1

The ASEBA Battery Scales scores according to the cut-off points, in percentage

Normative level Borderline level Clinical level


National Study National Study National Study
sample sample sample sample sample sample
CBCL
Internalization
82.6% 83.5% 10% 7.8% 7.4% 8.7%
Problems
Externalization
90.3% 80.0% 4.9% 11.3% 4.9% 8.7%
Problems
Total Problems 87.2% 85.2% 6.8% 8.7% 6.0% 6.1%

72
The analysis of the scores obtained in the three problem scales, by reference to
cut-off points, showed that a high percentage of children were classified as borderline or
clinical cases. This result indicated psychological problems and maladaptive behaviours
pointing to signals of psychopathological symptoms. The analysis of the frequencies, as
recommended by Achenbach and Rescorla (2000), showed that the sample of the present
study presented higher scores at the clinical level and lower scores at the normative one,
when compared to the representative sample of the Portuguese population, reinforcing
the incidence of symptomatology of emotional and behavioural problems. The prevalence
of symptoms of psychological maladjustment in the participants of this study was evident
in the Total Problem scale, where the sum of the percentages of children with borderline
and clinical scores amounted to 14.8%. Despite these figures, it is possible to observe that
a significant percentage of children living in RC present a normative psychological
adjustment similar to the representative sample of the Portuguese population.
Table 2 shows the scores of the mean number of words spoken by the children
spontaneously, according to the caregivers, based on the normative cut-off points for the
Portuguese preschool aged population. The results were read considering two levels of
severity: normative and clinical levels. The cut-off points differ according to gender
(female and male), as well as age group (18-23 months, 24-29 months, 30-35 months). A
percentile ≤15 suggests delay in language development.

Table 2

Scores of the average number of words according to the cut-off points, in percentage

Normative level Clinical level


National sample Study sample National sample Study sample
18-23 months
Female 89.4% 37.5% 10.6% 62.5%
Male 92.7% 50.0% 7.3% 50.0%
24-29 months
Female 74.8% 70.0% 25.2% 30.0%
Male 80.5% 20.0% 19.5% 80.0%
30-35 months
Female 52.8% 33.3% 47.2% 66.7%
Male 53.7% 60.0% 46.3% 40.0%

73
The analysis of the frequencies showed that there was a large percentage of
children at the clinical level, ranging from 30% to 80%. The sample of the present study
presented higher scores at the clinical level and lower scores at the normative one, when
compared to the representative sample of the Portuguese population, highlighting a
language development delay in children living in RC centres.
There were no statistically significant differences in the scores of Internalizing
(Portuguese population: M=8.89, SD=6.04; study sample: M=8.23, SD=6.17; t(114)=-
1.14, p=.257, 95% CI [-1.79, 0.48]), Externalizing (Portuguese population: M=11.63,
SD=6.78; study sample: M=12.03, SD=8.51; t(114)=0.51, p=.611, 95% CI [-1.17, 1.98])
and Total Problems (Portuguese population: M=31.89, SD=17.12; study sample:
M=29.21, SD=17.55; t(114)=-1.64, p=.104, 95% CI [-5.92, 0.56]), between the study
sample and the representative sample of the Portuguese population. However, in terms of
the number of words spoken by children spontaneously, the differences between the
representative sample of the Portuguese population (M=0.55, SD=0.34) and the study
sample (M=0.38, SD=0.33) were statistically significant, t(75)=2.94, p=.006, d=0.51,
95% CI [-0.29, -0.05].
The existence of differences regarding psychological adjustment and language
development associated to the child’s gender, the presence of siblings in the same RC
centre, preschool integration (Table 3) and the size of the RC centre (Table 4) were
analysed. Out of all these variables, only the presence of siblings in the RC centre
determined differences between the groups.
Children who did not have siblings in the same RC centre presented more
Internalizing, Externalizing and Total Problems than children living with their siblings.
The mean number of words of children who did not have siblings in the same RC was
significantly lower than the mean number of words of children with siblings in the same
RC centre. Children who were able to attend a kindergarten outside the RC centre had
lower rates of Externalizing Problems and spontaneously used a higher mean number of
words than children who did not attend external preschool. These results indicate that the
presence of siblings in the same RC centre and the child’s preschool attendance seem to
be protective factors to emotional and behavioural problems as well as to the child’s
development. Regarding the size of the RC centre, there were statistically significant
differences among children in terms of the mean number of words spontaneously used,
and the Post Hoc Scheffe test showed that the children housed in large or medium RC
centres had an average number of words higher than those in small RC centres.

74
Table 3

Differences regarding psychological adjustment and language development, associated


to the child’s gender, the presence of siblings in the same RC centre and preschool
integration (t tests for independent samples)

Female Male
(N = 66) (N = 49)
Mean (SD) Mean (SD) t p 95% CI d
Internalizing
7.86 (5.87) 8.73 (6.58) -0.75 .456 [-3.18; 1.44] -0.14
Problems
Externalizing
11.12 (7.50) 13.27 (9.65) -1.34 .183 [-5.31; 1.02] -0.25
Problems
Total Problems 27.08 (16.72) 32.08 (18.39) -1.52 .131 [-11.53; 1.51] -0.28
Mean number of
0.59 (0.38) 0.54 (0.36) 0.61 .544 [-0.12; 0.23] 0.14
words
Presence of Absence of
siblings siblings
(N = 63) (N = 52)
Mean (SD) Mean (SD) t p 95% CI d
Internalizing
6.59 (5.06) 10.23 (6.82) -3.29 .001 [-5.84; -1.45] -0.61
Problems
Externalizing
9.81 (7.31) 14.73 (9.13) -3.21 .002 [-7.96; -1.88] -0.59
Problems
Total Problems 24.14 (14.71) 35.35 (18.66) -3.58 .001 [-17.41; -5.00] -0.66
Mean number of
0.68 (0.32) 0.46 (0.39) -2.70 .009 [-0.38; -0.06] -0.62
words
Preschool No preschool
integration integration
(N = 78) (N = 37)
Mean (SD) Mean (SD) t p 95% CI d
Internalizing
7.81 (5.91) 8.44 (6.31) -0.51 .614 [-3.07; 1.82] -0.10
Problems
Externalizing
9.57 (7.21) 13.21 (8.87) -2.18 .032 [-6.95; -0.33] -0.45
Problems
Total Problems 25.43 (17.05) 31.00 (17.61) -1.60 .112 [-12.46; -1.33] -0.32

75
Mean number of
0.69 (0.34) 0.33 (0.34) 4.48 .000 [-0.52; -0.20] 1.06
words

Table 4

Differences regarding psychological adjustment and language development, associated


to the size of the RC centre (univariate ANOVA's)

Small (S) Medium (M) Large (L)


Mean (SD) Mean (SD) Mean (SD) F Df ηp2 Dif. Pairs
Internalizing
8.94 (6.80) 8.10 (5.96) 8.14 (6.24) 0.12 2.11 .00 -
Problems
Externalizing 10.72
12.75 (8.85) 13.55 (9.49) 1.41 2.11 .03 -
Problems (7.54)
Total 27.49
30.88 (16.90) 30.90 (17.27) 0.54 2.11 .01 -
Problems (18.07)
Mean
number of 0.38 (0.41) 0.62 (0.35) 0.59 (0.36) 1.90** 2.74 .05 L-S, M-S
words
Note. **p < .01

Table 5 presents the matrix of correlations between psychological adjustment


measures and language development and individual and contextual variables, such as age,
reason for placement (neglect and lack of alternative family care), length of placement,
previous placements and caregiver-child ratio. The mean number of words spoken by the
children is positively and significantly correlated with age, showing the increase of lexical
fields with the child’s age. Regarding the reasons for placement, the lack of alternative
family care was positively and significantly correlated with Internalizing, Externalizing
and Total Problems. It, thus, reinforced the impact that the child’s previous life experience
seems to have on his/her adjustment and development. The contextual variables (length
of placement, previous placements and caregiver-child ratio) did not present significant
correlations with the scales analysed.

76
Table 5

Correlations between the Problem Scales and the Average Number of Words and
Individual and Contextual Variables

Internalizing Externalizing Total Average number


Problems Problems Problems of words
Child’s Individual
Variables
Age .088 .171 .148 .639**
Reason for
placement(rpb)
Neglect -.051 .033 -.037 .014
Lack of alternative
.188* .242** .223* .135
family care
Contextual Variables
Length of placement -.045 -.013 -.005 .111
Previous placements -.020 .003 -.003 -.161
Caregiver/child ratio .139 .113 .139 .104
Note. *p < .05; **p < .01

The simple linear regression analyses which were performed showed that the lack
of alternative family care explained approximately 4% of the variance of Internalizing
Problems [R2=.035; F(1.11)=4.13, p=.044], 6% of Externalizing Problems [R2=.059;
F(1.11)=7.03, p=.009] and 5% of Total Problems [R2=.050; F(1.11)=5.94, p=.016]. The
age of the child explained 41% of the variance of the average number of words [R2=.408;
F(1.75)=51.63, p=.000].

Discussion

Children in RC are more vulnerable and predisposed to emotional and behavioural


problems. The results of the present study conclude that children in RC tend to have
higher levels of Internalizing, Externalizing and Total Problems when compared to
children living with their families (e.g., Beckett et al., 2002; Maclean, 2003; Marcovitch
et al., 1997) and indicated a higher prevalence of psychopathology.

77
Regarding the mean number of words, the results of the current study agree with
previous research indicating that children in RC show a greater language delay when
compared to children living with their families (e.g., Cardona et al., 2012; Manso, 2003;
Misquiatti et al., 2015). This may be because of the caregivers’poor preparation to
adequately stimulate the child’s development (e.g., Morais et al., 2004; Scarr &
Eisenberg, 1993), the difficulty of the child to build an affective and lasting relationship
with a caregiver (e.g., Nóbrega & Minervino, 2011; Zeanah et al., 2003), as well as the
few opportunities children have to socially interact (e.g., Borges & Salomão, 2003), since
most of them are not attending preschool settings, often staying in RC centres without
any organized or structured activity (e.g., Loman et al., 2009).
The presence of siblings in the RC centres determined statistically significant
differences, reinforcing that the placement of siblings together works as a protective and
preventive factor and a promoter in the child’s development (Álvares & Lobato, 2013).
The differences between children attending and not attending external preschool contexts
were expected, since kindergarten is a privileged context for language development (e.g.,
Lordelo, 2002). However, this assumption is only valid if the preschool includes concrete,
innovative and specific activities aimed at the adequate stimulation of children (e.g.,
Cavalcante, Magalhães, & Pontes, 2009). Thus, it is essential to closely supervise the
children’s caregivers in order to understand the type of work that is being carried out and
the impact it is having on the child’s development.
The reason leading to the child’s placement in RC – lack of alternative family care
– was positively and significantly correlated with the psychological adjustment measures,
emphasizing the impact of previous experiences on the child’s adjustment and
development (e.g., Misquiatti et al., 2015; Zeanah et al., 2009). Furthermore, these results
are in agreement with previous studies (Miskiatti et al., 2015; Zeanah et al., 2003)
showing the relationships between psychological maladjustment and separation from
attachment figures, namely the family. Thus, in order to minimize the impairment, it is
essential to ensure that the child has family living opportunities, either with his/her birth
family or with a foster family (Silva & Aquino, 2005).
As for the size of the RC centres, only statistically significant differences in the
average number level of words were found, showing that medium and large houses
promote further language development. This result can be understood as a many children
of different ages in the RC centre are able to stimulate further communication skills in
preschool children. However, the simple presence of other children may not always have

78
a strong potential for stimulation, since this depends on the quality and quantity of
positive interactions. Large RC centres can provide impersonal care services which do
not respect the idiosyncratic characteristics of each child (Sigal et al., 2003).

Study limitations

There were some limitations to the study, such as, the fact that the sample was of
convenience, limiting the representativeness of the conclusions regarding the Portuguese
RC system, but stressing the urgency of conducting a national study to identify signs and
symptoms of mental health problems in children in RC. Another limitation is related to
using only one data time point, which merely allows for a picture of how the children
were doing at the time of data collection, and, thus, the problems that were identified did
not reflect static characteristics of the children. Nevertheless, findings highlight specific
needs of children under 6 placed in RC.

Conclusions and implications for practice

The current study is relevant because it pays attention to the specific needs of
preschool children in RC, who have been neglected by child protection research. The
results show that the placement of children in an institution at an early age may be an
important risk factor for the child’s psychological adjustment and development. These
results emphasized the greater vulnerability of the children living in RC when compared
to children growing up in normative conditions. Children placed separately from their
siblings and in a closed context that does not provide participation and contact
experiences outside the RC centre are particularly vulnerable. Family interactions
constitute the opportunity that children need to develop in a harmonious way, to their full
potential and catch up from previous negative experiences. Results also reinforce the
current Legislation which defines that priority should be given to family foster care, in
particular for children up to six years of age.
Family foster care consists in placing the child in a selected family providing
appropriate care for his/her needs, well-being and education (art. 46th LPCJP). It is
essential to evaluate, select and train foster families and closely support and supervise
them throughout the foster care process (Delgado, 2010). These families establish
normative developmental contexts and provide the children with experiences adjusted to

79
their characteristics and needs as well as the opportunity to maintain affective, secure and
protective relationships, promoting self-regulation and allowing them to internalize rules
and adjust patterns of behaviour that respond to their needs.
Early screening of the child’s specific difficulties and needs is critical for
appropriate recovery from early adversity, requiring the awareness of the RC caregivers
in relation to the child’s expected behaviour at a certain stage of development and the
presence of psychopathological symptomatology (Nascimento & Piassão, 2010). The use
of standardized instruments can give professionals efficient and inexpensive tools for
early screening. The ASEBA Battery is particularly useful as a screening instrument,
since it resorts to multiple informants for a more comprehensive and ecological
assessment of the child, providing early diagnosis and intervention (Achenbach et al.,
2014).

80
Artigo 3: Emotional and Behavioral Problems and Psychosocial Skills in
Adolescents in Residential Care

Artigo publicado: Campos, J., Barbosa-Ducharne, M., Dias, P., Rodrigues, S., Martins, A., &
Leal, M. (2019). Emotional and behavioral problems and psychosocial skills
in adolescents in residential care. Child and Adolescent Social Work Journal, 36, 237–246.
https//doi.org/10.1007/s10560-018-0594-9
Abstract

Emotional and behavioral problems and psychosocial skills in adolescents in residential


care
Research suggests that mental health problems in adolescents in residential care (RC) are more
prevalent than for youth in the community, and that psychosocial competencies are protective
factors of mental health. This study compared adolescents in RC in Portugal, with a Portuguese
community sample on the incidence of mental health problems and psychosocial skills,
explored gender differences and the relationships between mental health problems and
psychosocial competencies. Four hundred and forty-three adolescents in RC participated.
Results showed that the RC adolescents had higher levels of mental health problems lower
academic achievement, a poorer social support network, but were more involved in sports and
hobbies, household chores than the adolescents in the normative sample. Gender differences
were observed. Psychosocial skills were negatively correlated with mental health problems.
These findings indicate an urgent need in Portugal for early screening of mental health problems
and socio-cognitive interventions for youth in RC.

Keywords Residential care · Emotional and behavioral problems · Psychosocial skills ·


ASEBA battery · Adolescents · Portugal

82
Children and adolescents who cannot grow up with their parents for whatever reason
are an especially vulnerable group (Fernández-Daza & Fernández-Parra, 2012). In Portugal,
most children and adolescents removed from their birth families are placed in residential care
(RC), accounting for 6553 children, according to 2017 data (National Institute for Social
Security (ISS, IP), 2018).
RC is a context within the Child Protection System where a child is placed in an
institution with the appropriate facilities and permanent professional staff who can ensure
suitable care for the needs of emotionally and behaviorally troubled children, allowing for their
education, wellbeing and overall development (article 49, Law for the Protection of Children
and Youth in Danger [LPCJP], latest review Law 142/2015). Different RC contexts provide
different levels of care and individualized attention to each child’s needs (Fernández-Daza &
Fernández Parra, 2012). Many RC contexts attend to a child’s basic needs, but frequently ignore
their emotional ones (Eapen, 2009). In a neurobiological study on the impact of the lack of
attention given to children in RC, Smyke, Zeanah, Fox, Nelson, and Guthrie (2010) concluded
that institutionalization influences the development of the child’s brain, accounting for
cognitive and social deficits. Physical and emotional deprivation suffered by children in RC
can result in high rates of psychosocial (Álvares & Lobato, 2013; Reijneveld, Brugman,
Verhulst, & Verloove-Vanhorick, 2005; Rutter, 2000) and internalization/externalization
problems (Simsek, Erol, Oztop, & Munir, 2007).
Risks associated with RC and the early adversity resulting in the removal from the birth
family, such as high levels of harsh parental punishment, maltreatment, family stress
(Campbell, Shaw, & Gilliom, 2000) and parental negligence (Mäntymaa et al., 2012) are
interrelated and cumulative (Gutman, Sameroff, & Cole, 2003). Research has shown that the
total number of these risk factors is the most important predictor of the child’s development
(Appleyard, Egeland, van Dulmen, & Sroufe, 2005).
In fact, RC has been considered a risk factor for potentially having a negative impact on
childrens’ psychological development, behavior, and mental health (Rutter, 2000). Several
studies have shown the higher prevalence of mental health problems in adolescents in RC, when
compared to those living in a family context (Erol, Simsek, & Munir, 2010; Gearing, Schwalbe,
MacKenzie, Brewer, & Ibrahim, 2015; Janssens & Deboutte, 2009; Kjelsberg & Nygren, 2004;
Marinlovic & Backovic, 2007; Schmid, Goldbeck, Nuetzel, & Fegert, 2008). Mental health
problems’ prevalence data reported in different studies range from 43 to 86% (Bronsard et al.,
2011; Janssens & Deboutte, 2009; Jozefiak et al., 2016; Oliván, 2002; Sempik, Ward, & Darker,
2008; Simms, Dubowitz, & Szilagyi, 2000). Furthermore, girls tend to show more mental health

83
problems when compared to boys, both in RC (Baker, Archer, & Curtis, 2007) and normative
samples (Abad, Forns, & Gómez, 2002). Moreover, research (Behen, Helder, Rothermel,
Solomon, & Chugani, 2008; Fernández-Daza & Fernández-Parra, 2012) has shown that
adolescents in RC present lower academic achievement, although a recent study (Huefner,
Ringle, Thompson, & Wilson, 2018) has concluded that adolescents who were behind grade
level when placed in RC and facing significant academic challenges, experienced significant
gains during their stay in the program (at least 6 months).
Considering that psychosocial skills are protective factors influencing the impact of
mental health problems on one’s individual functioning (Achenbach, Dumenci, & Rescorla,
2002; Broberg et al., 2001; Marinlovic & Backovic, 2007), it is essential to identify and focus
on their development in RC youth. Psychosocial skills are acquired in different life contexts
promoting different strategies and behaviors, which are developed when coping with positive
and negative experiences (Ison-Zintilini & Morelato-Giménez, 2008). Positive psychosocial
skills allow for the promotion of healthier cognitive and emotional behaviors (Ison-Zintilini &
Morelato-Giménez, 2008) and are often associated with hobbies outside an academic context
(Sãfvenbom & Sandahl, 2000). In the current study, psychosocial skills will be scored using the
ASEBA battery (Achenbach & Rescorla, 2001), which includes different activities (e.g. sports,
hobbies and household chores) and social skills (e.g. relationships with friends, siblings,
parents, and other significant adults as well as participation in other groups).
Regarding overall activities, adolescents in RC seem to get involved in more sports,
hobbies and household or community chores than those in normative samples and report being
more able to perform them (Fernández-Daza & Fernández-Parra, 2012). Hobbies promote
opportunities to try, fail and search for alternatives, experience satisfaction, freedom and
autonomy (Larson & Kleiber, 1993) and a integration in the community which is very important
for adolescents in RC (Sãfvenbom & Sandahl, 2000). When considering social skills, social
support networks for adolescents in RC are often reduced and going into an institution might
result in the disruption of previous, important social ties (Bravo & del Valle, 2003). Prosocial
behavior development plays a critical role in self-confidence, cognitive and emotional self-
regulation and general social wellbeing (Ison-Zintilini & Morelato Giménez, 2008; Sandoval,
Lemos, & Vallejo, 2006). Some studies (e.g. Eapen, 2009; Simms et al., 2000) have concluded
that children in RC show deficits in social competence. This may be due to the problems and
challenges they faced prior to being removed from their family homes, or that RC might present
fewer opportunities to establish and maintain close and personal relationships, mainly because
of the logistics of the RC center, namely, large groups of children with the same care giver

84
(Erickson, Crosnoe, & Dornbusch, 2000; Marinlovic & Backovic, 2007). As adolescents in RC
do not frequently have the opportunity to relate to significant adults, they tend to have a higher
number of peers and peer groups become more relevant (Bravo & del Valle, 2003).
Considering the high number of children in RC in Portugal and the high incidence of
emotional and behavioral problems in this population reported in international research (e.g.
Erol et al., 2010; Gearing et al., 2015; Janssens & Deboutte, 2009; Kjelsberg & Nygren, 2004;
Marinlovic & Backovic, 2007; Schmid et al., 2008), as well as the scarcity of data on the skills
of Portuguese adolescents in RC, the goals of this study are to: (1) compare adolescents in RC
to a national normative sample regarding emotional and behavioral problems and psychosocial
skills (participation in activities, social and family contact and academic performance); (2)
identify differences associated to gender in adolescents in RC regarding emotional and
behavioral problems and psychosocial skills; (3) explore the existing relationships between
emotional and behavioral problems and psychosocial skills in adolescents in RC.

Method

Participants
Four hundred and forty-three adolescents (50.1% female), aged 11–18 (M = 15.42, SD
= 2.33), participated in this study. They had been placed in 45 Portuguese RC centers for an
average of 39 months (SD = 38.92, ranging from 1 to 192 months). Some of them (n=172,
38.8%) had previously already been placed in other RC centers ranging from 1 to 154 months
(M = 8.07, SD = 21.39).
The participating adolescents were in RC due to: negligence (n = 195, 44%), lack of
parental supervision (n= 103, 23.2%), abuse (n = 54, 12.2%), deviant parental behavior (n = 42,
9.5%) and domestic violence (n = 27, 6.1%). Three hundred and ninety-six (89.4%) of them
had one or more siblings, but only 28.2% had been placed in the same center.
A hundred and fifty-one participants were in centers just for boys, 151 were in
institutions for girls and 141 in mixed-gender RC centers. Two hundred and twenty-two were
in large centers (with over 24 adolescents), 161 were in medium sized homes (13 to 24
adolescents) and 60 of them were in smaller centers (up to 12 adolescents). There was no
association between the gender type and the size of the center, χ2 (4) = 3.79, p = .435.
The normative sample used for comparison is the national representative sample that
allowed for the validation and standardization of the ASEBA battery in Portugal (Achenbach
et al., 2014), and was defined following a stratified random sampling method, which considered

85
the distribution of the Portuguese population by country region, gender and age. This sample is
made up of 1466 adolescents (51.3% female), aged 11–18 (M = 14.33, SD = 2.22), living with
at least one birth parent.

Instruments and Measures


The Youth Self-Report (YSR; Achenbach et al., 2014) is a tool designed to be completed
by adolescents who are 11–18 years old, allowing for the assessment of their own psychosocial
competencies and emotional and behavioral problems in a standardized format (social
competence and problem scales). Reliability and validity studies have shown the YSR to be a
useful and effective instrument for studying emotional and behavioral problems in young
people.
The YSR is, therefore, a screening tool for the identification of adolescents with
behavioral or emotional problems, which are potential predictors of different levels of clinical
disorders. It is composed of two sections: the first one corresponds to emotional and behavioral
problems, which constitute two broadband behavior syndromes, termed internalizing and
externalizing; the second section includes a social competence scale exploring social activities
(sports, hobbies, household chores), social interests (participation in clubs, number of close
friends and familiar contact), and academic achievement. Table 1 presents the reliability
Cronbach’s alpha values of all the YSR scales obtained in the standardization of the ASEBA
battery for Portugal, as well as the reliability Cronbach’s alpha values of the scales in the present
study.
Sociodemographic data were collected using PIP (Pedido de Informação Prévio [Initial
Information Request]). This is part of the Portuguese Comprehensive Assessment System of
Residential Care Quality (ARQUA-P, Rodrigues, Barbosa-Ducharne, & Del Valle, 2015) and
permits collecting data related to the children and youth in care, such as date of birth, age,
gender, schooling, health, medical care, family members, time in care, age at placement, reasons
for placement.

86
Table 1

Internal consistency in YSR scales (Cronbach’ Alpha)

National sample Study sample


YSR Scales α α
Empirically based syndrome scales
Anxiety/ Depression (A/D) .738 .821
Withdrawal/ Depression (W/D) .605 .672
Somatic Complaints (SC) .706 .822
Social Problems (SP) .582 .768
Thought Problems (TP) .661 .807
Attention Problems (AP) .634 .735
Rule-Breaking Behavior (R-BB) .589 .827
Aggressive Behavior (AB) .791 .869
DSM-oriented scales
Affective Problems .683 .810
Anxiety Problems .546 .596
Somatic Problems .635 .805
Attention Deficit/Hyperactivity Problems .731 .715
Oppositional Defiant Problems .633 .670
Conduct Problems .733 .864
Other scales
Internalizing Problems (IP) .840 .902
Externalizing Problems (EP) .851 .911
Total Problems (TP) .929 .961
Activities scales .913 .951
Social scales .597 .672
Academic scale .765 .853

Procedures
The Ethic Committee of the University of Porto approved the study procedures, assuring
the respect of all research deontological and ethical principles. Prior to each data collection
visit, the RC center board was asked to sign an informed authorization statement of consent
allowing for participation in the study. Moreover, individual participation was strictly voluntary
and the use of study-specific codes ensured the anonymity of all the participants. The selection

87
criteria of the participants included: being over ten, no indication of communication problems
preventing being interviewed, having been placed in the RC center for at least 2 months. During
the interviews, each adolescent participant was questioned about his/her life in care and
specifically about the existence of a significant caregiver or adult with whom she/he had a close
relationship with in the RC center. After the interviews, the adolescents filled in the YSR.
Data were analyzed with IBM SPSS—version 23 software (IBM Corp, 2014). Student
T tests were used in the comparison analyses with normative data (Achenbach et al., 2014) and
Pearson correlations were used to explore existing relationships between the study variables.

Results

Comparison of Self-Report Measures and Normative Sample

Table 2

Sample differences in Self-report measures

National sample Study sample


(N = 1442) (N = 443)
Mean (SD) Mean (SD) t (442) p 95% CI d
Anxiety/ Depression 5.72 (3.70) 8.41 (5.17) 10.95 .000 [2.21; 3.17] -0.598
Withdrawal/ Depression 3.68 (2.44) 6.00 (3.13) 15.62 .000 [2.03; 2.62] -0.827
Somatic Complaints 3.08 (2.65) 5.41 (4.16) 11.78 .000 [1.94; 2.72] -0.668
Social Problems 2.50 (2.18) 5.11 (3.86) 14.21 .000 [2.25; 2.97] -0.833
Thought Problems 3.05 (2.84) 6.65 (4.82) 15.73 .000 [3.15; 4.05] -0.910
Attention Problems 4.46 (3.08) 7.02 (3.69) 14.63 .000 [2.22; 2.91] -0.753
Rule-Breaking Behavior 3.04 (2.69) 7.41 (5.27) 17.46 .000 [3.88; 4.87] -1.044
Aggressive Behavior 6.02 (4.20) 10.64 (6.58) 14.80 .000 [4.01; 5.24] -0.837
Affective Problems 3.71 (3.06) 7.98 (5.10) 17.63 .000 [3.80; 4.75] -1.015
Anxiety Problems 3.25 (1.97) 4.29 (2.39) 9.14 .000 [0.82; 1.26] -0.475
Somatic Problems 1.72 (1.84) 3.18 (3.09) 9.93 .000 [1.17; 1.75] -0.574
Attention Deficit/
4.07 (2.72) 5.78 (3.10) 11.64 .000 [1.42; 2.00] -0.586
Hyperactivity Problems
Oppositional Defiant
2.68 (1.76) 3.75 (2.26) 9.95 .000 [0.86; 1.28] -0.528
Problems
Conduct Problems 2.26 (2.51) 6.41 (5.36) 16.29 .000 [3.65; 4.65] -0.992
Internalizing Problems 12.48 (7.22) 19.82 (10.86) 14.23 .000 [6.33; 8.36] -0.796

88
Externalizing Problems 9.05 (6.18) 18.06 (10.99) 17.25 .000 [7.98; 10.03] -1.012
Total Problems 35.60 (18.89) 62.93 (32.06) 17.95 .000 [24.34; 30.33] -1.039
Number of sports 1.03 (1.28) 1.11 (0.05) -0.14 .888 [-0.11; 0.10] -0.088
Mean of participation in
2.00 (0.43) 2.12 (0.49) 2.17 .033 [0.01; 0.24] -0.260
sports
Mean of skills in sports 2.27 (0.39) 2.29 (0.42) 0.60 .551 [-0.07; 0.12] -0.049
Number of hobbies 1.11 (1.28) 1.27 (1.17) 2.90 .004 [0.05; 0.27] -0.130
Mean of participation in
2.23 (0.45) 2.38 (0.47) 3.27 .001 [0.06; 0.24] -0.326
hobbies
Mean of skills in hobbies 2.34 (0.42) 2.47 (0.39) 3.37 .001 [0.05; 0.21] -0.321
Number of chores 0.87 (1.15) 1.49 (1.16) 11.15 .000 [0.51; 0.72] -0.537
Mean chores’ quality 2.25 (0.47) 2.46 (0.44) 5.38 .000 [0.13; 0.29] -0.461
Number of clubs 0.39 (0.72) 0.33 (0.60) -2.12 .035 [-0.12; 0.01] 0.091
Mean of participation in
2.45 (0.50) 2.17 (0.55) -1.27 .261 [-0.86; 0.29] 0.533
clubs
Number of close friends 2.28 (0.79) 2.35 (0.72) 2.10 .036 [0.01; 0.14] -0.093
Frequency of contact
1.55 (0.64) 1.68 (0.47) 5.33 .000 [0.08; 0.18] -0.232
with friends
Behavior with brothers 1.17 (0.78) 0.75 (0.63) -13.54 .000 [-0.48; -0.36] 0.592
Behavior with parents 2.44 (0.59) 0.64 (0.48) -70.94 .000 [-1.85; -1.75] 3.347
Behavior with others 2.42 (0.62) 0.55 (0.50) -74.17 .000 [-1.92; -1.82] 3.320
Behavior alone 2.33 (0.64) 0.52 (0.50) -69.96 .000 [-1.86; -176] 3.152
Mean academic
2.19 (0.48) 1.99 (0.66) -3.96 .000 [-0.30; -0.10] 0.347
performance

Table 2 shows that for all YSR scales of emotional and behavioral problems, RC youth
were statistically different from the normative sample (p < .001). Adolescents in RC reported
more emotional and behavioral problems than their peers living in a family context. Significant
differences in most of the YSR psychosocial skills scales were also observed. On average,
adolescents in RC reported practicing sports for a longer time/greater frequency (but not more
sports nor being more skilled in sports), and also being more engaged and skilled in hobbies.
Regarding household chores, RC youth reported that they performed more chores and had more
commitments than did the normative sample.
Adolescents in RC reported less involvement in clubs than the normative sample, but
also reported having more close friends and spending more time with peers and less with
siblings, parents and other significant adults. Only 246 adolescents (55.5%) could name a
89
significant caregiver or adult with whom they had a close relationship. They also report being
less able to perform tasks on their own. Academically, at the time of evaluation, their
achievement is poorer than the normative sample.

Gender Differences in Self-Report Measures

Table 3

Gender differences in self-report measures

Female Male
(N = 222) (N = 221)
Mean (SD) Mean (SD) t (441) p 95% CI d
Anxiety/ Depression 9.66 (5.02) 7.16 (5.03) 5.23 .000 [1.56; 3.44] 0.598
Withdrawal/ Depression 6.48 (3.08) 5.53 (3.12) 3.23 .001 [0.37; 1.53] 0.306
Somatic Complaints 6.52 (4.13) 4.29 (3.90) 5.85 .000 [1.48; 2.98] 0.555
Social Problems 5.05 (3.69) 5.16 (4.04) -0.29 .772 [-0.83; 0.82] -0.028
Thought Problems 7.23 (4.65) 6.07 (4.92) 2.55 .011 [0.27; 2.05] 0.242
Attention Problems 7.44 (3.55) 6.60 (3.78) 2.40 .017 [0.15; 1.52] 0.229
Rule-Breaking Behavior 6.53 (4.78) 8.30 (5.59) -3.58 .000 [-2.74; -0.80] -0.340
Aggressive Behavior 10.92 (6.02) 10.37 (7.10) 0.88 .377 [-0.68; 1.78] 0.084
Affective Problems 8.88 (5.02) 7.08 (5.03) 3.76 .000 [0.86; 2.73] 0.358
Anxiety Problems 4.72 (2.35) 3.86 (2.36) 3.84 .000 [0.42; 1.30] 0.365
Somatic Problems 3.91 (3.08) 2.44 (2.94) 5.13 .000 [0.90; 2.03] 0.488
Attention Deficit/
5.96 (3.02) 5.60 (3.17) 1.22 .225 [-0.22; 0.94] 0.116
Hyperactivity Problems
Oppositional Defiant
3.87 (2.12) 3.63 (2.38) 1.11 .268 [-0.18; 0.66] 0.106
Problems
Conduct Problems 5.64 (4.72) 7.18 (5.85) -3.04 .002 [-2.53; -0.54] -0.290
Internalizing Problems 22.66 (10.36) 16.98 (10.62) 5.70 .000 [3.72; 7.64] 0.541
Externalizing Problems 17.45 (9.90) 18.67 (11.98) -1.16 .245 [-3.27; 0.84] -0.111
Total Problems 66.18 (28.99) 59.67 (34.62) 2.14 .033 [0.54; 12.47] 0.204
Number of sports 0.96 (1.12) 1.09 (1.08) -1.29 .197 [-0.34; 0.70] -0.118
Mean of participation in
2.07 (0.51) 2.18 (0.48) -0.93 .355 [-0.33; 012] -0.222
sports
Mean of skill in sports 2.30 (0.42) 2.30 (0.43) -0.09 .993 [-0.34; 0.07] 0
Number of hobbies 1.24 (1.20) 1.30 (1.14) -0.50 .618 [-0.27; 0.16] -0.051

90
Mean of participation in
2.38 (0.44) 2.38 (0.50) 0.49 .961 [-0.18; 0.19] 0
hobbies
Mean of skill in hobbies 2.45 (0.39) 2.49 (0.39) -0.44 .661 [-0.19; 0.12] -0.103
Number of chores 1.62 (1.14) 1.35 (1.17) 2.41 .017 [0.05; 0.48] 0.234
Mean chores quality 2.50 (0.42) 2.41 (0.46) 1.16 .248 [-0.06; 0.25] 0.204
Number of clubs 0.22 (0.49) 0.44 (0.68) -3.88 .000 [-0.33; -0.11] -0.371
Mean of participation in
2.00 (0.59) 2.20 (0.61) -0.30 .778 [-2.04; 1.64] 0
clubs
Number of close friends 2.25 (0.73) 2.46 (0.69) -2.92 .004 [-0.34; -0.07] -0.296
Frequency of contact
1.67 (0.47) 1.69 (0.47) -0.28 .779 [-0.11; 0.08] -0.043
with friends
Behavior with brothers 0.64 (0.64) 0.85 (0.60) -3.40 .001 [-0.33; -0.09] -0.339
Behavior with parents 0.55 (0.50) 0.71 (0.45) -3.14 .002 [-0.26; -0.06] -0.336
Behavior with others 0.49 (0.50) 0.61 (0.49) -2.38 .018 [-0.22; -0.02] -0.242

Behavior alone 0.47 (0.50) 0.57 (0.50) -1.93 .055 [-0.20; 0.01] -0.200
Mean academic
1.98 (0.61) 2.00 (0.72) -0.26 .798 [-0.23; 0.18] -0.030
performance

Table 3 shows gender differences in self-report measures on emotional and behavioral


problems in adolescents in RC. Female adolescents reported higher scores in
anxiety/depression, withdrawal/depression, somatic complaints, thought, attention, affective,
anxiety and somatic problems, as well as in internalizing problems and total problems variables.
Male adolescents had higher scores in oppositional defiant and conduct problems.
Regarding activities and psychosocial skills, there are some statistically significant
gender differences. Female adolescents perform more household chores whereas male
adolescents are involved in more clubs, have more close friends, more contacts with siblings,
parents and other significant adults, as well as reporting that they are more capable of
performing tasks on their own.

91
Correlations between Self-Report Problem Behaviors and Competence Measures

Table 4

Correlations between self-report measures

Sports Hobbies Chores Organizations Friends Brothers Parents Others Academic


YSR scales r r r r r r r r r

A/D -.050 -023 -.005 -.045 -.020 -.119* -.148** -.121* -.096
W/D -.060 -.001 .002 -.105* -.006 -.091 -.078 -.154** -.158*
SC -.071 -.019 -.040 -.054 -.039 -.087 -.111* -.178** -.083
SP -.059 -.025 -.091 -.045 .046 -.035 -.060 -.151** -.139
TP -.015 -.045 -.073 -.039 .021 -.093 -.130* -.091 -.099
AP -.083 -.055 -.057 -.038 -.008 -.058 -.151** -.139** -.287**
R-BB -.101* -.124** -.255** -.021 .105* -.039 -.117* .012 -.158*
AB -.092 -.087 -.192** -.047 .070 -.108* -.180** -.061 -.102
IP -.068 -.018 -.017 -.072 -.026 -.116* -.135* -.170** -.062
EP -.104* -.112* -.237** -.038 .092 -.084 -.163** -.030 -.137
TP -.079 -.061 -.129** -.043 .032 -.094 -.151** -.116* -.134

Note. * p < .05; ** p < .01

Table 4 shows Pearson correlations between variables related to self-report problem


behaviors and skills. The number of sports practiced and hobbies carried out by adolescents in
RC are negatively and significantly correlated to oppositional defiant behavior and
externalizing problems. The number of household chores is also negatively and significantly
correlated to oppositional defiant behavior, aggressive behavior, externalizing problems and
the total number of problems.
Regarding social activities, participation in clubs is negatively and significantly
correlated to withdrawal/depression, whereas the number of close friends is positively and
significantly correlated to oppositional defiant behavior. Contact with siblings is negatively and
significantly correlated with anxiety/depression, aggressive behavior and internalizing
problems. Interaction with parents is negatively and significantly correlated with most self-
report problem behaviors, namely, anxiety/depression, somatic complaints, thought and
attention problems, oppositional defiant behavior, aggressive behavior, internalizing and
externalizing problems, as well as the total number of problems. Contact with other significant
adults is negatively and significantly correlated to anxiety/depression, withdrawal/depression,

92
somatic complaints, social, attention and internalizing problems, as well as the total number of
problems. Academic achievement is negatively and significantly correlated to
withdrawal/depression, attention problems and oppositional defiant behavior.

Discussion

The findings of the current study support previous evidence that children and
adolescents in RC are dealing with more internalizing, externalizing and total problems than
children and adolescents living with their own families (e.g. Erol et al., 2010; Gearing et al.,
2015). Furthermore, adolescents in RC seem to be more involved in sports and hobbies, which
can be understood as RC centers are more available to engage them in after school activities in
the community (e.g. Fernández-Daza & Fernández-Parra, 2012). Moreover, adolescents in care
have more hobbies than those living with their own families. They, therefore, practice more
sports, read more and play more games (Sãfvenbom & Sandahl, 2000), potentially because RC
programs focus on promoting these activities as protective factors.
Adolescents in RC perform more household chores and think they do so better than
adolescents belonging to the normative sample, as found in Fernández-Daza and
FernándezParra (2012). Indeed, it appears that RC centers may give more responsibility to
adolescents in term of house-keeping than is typical for adolescents in the community. Thus,
the way RC is organized and structured seems to inhibit emotional and behavioral problems,
allowing adolescents to develop their own skills and interests (Marinlovic & Backovic, 2007).
Nevertheless, in order to maximize the opportunities for every child to get involved, it is
necessary for the center to carefully consider the individual interests of each and every child.
At a social level, the kind and quantity of social contacts indicates the weakness of the
social support network that adolescents have in RC (Eapen, 2009; Rutter, 2000). The present
data support Bravo and Del Valle’s study (2003) which concluded that adolescents in RC report
a higher number of close friends, since they overrate peer relationships due to the limitation of
the relationships with family members and the scarcity of individualized interactions with other
significant adults, regardless of the high number of adults within reach. It is worth noting that
this social network is certainly different from what they really need (Bravo & Del Valle, 2003).
Indeed, adolescence is a developmental period in which youngsters increasingly struggle for
autonomy. The lack of family support in adolescents in RC is evident when considering the
scarceness of contacts with parents and siblings. In the current study, although 89.4%
adolescents have siblings, only 28.2% are living in the same center. Most adolescents in care

93
lose touch with their brothers and sisters. Sibling relationships, as well as the family visits and
contacts, are important protective factors in preventing internalizing problems and mental
health symptoms (Álvares & Lobato, 2013). However, not all family contacts are equally
beneficial since contacts that have the greatest positive impact on adolescents are home visits
with an overnight stay (Huefner, Pick, Smith, Stevens, & Mason, 2015).
Adolescents in RC have less contact with significant adults, in general. Thus, the access
to a significant caregiver is of utmost importance. Each and every adolescent in care should
have a given significant caregiver, capable of playing a role in recovering from trauma and
promoting positive change (Bravo & Del Valle, 2003). In the present study, only half of the
participants were able to identify a significant care giver with whom they could establish a
close, trustworthy and meaningful relationship.
When living in RC, adolescents reported feeling less capable of performing tasks on
their own than did their normative peers. This can be understood considering their previous
traumatic experiences and/or their lack of privacy, seeing that they are constantly in the
company of others and do not have the chance of being on their own when solving problems.
Academically, adolescents in RC show a poorer achievement, as in Fernández-Daza and
Fernández-Parra (2012) who argue that this poor academic achievement is conditioned by
functional deficits associated to previous traumatic experiences and RC structural neglect.
Female adolescents showed higher levels of psychopathology and behavior problems
than male adolescents, as in Baker et al. (2007) who also reported less psychological adjustment
in girls in RC. This may imply that females in RC have special needs arising from greater
trauma histories (e.g., commercial sexual exploitation). Gender differences in emotional and
behavioral problems were also found in other studies explaining them as outcomes of
developmental differences between boys and girls. Girls mature physically sooner than boys
and are more focused in emotional experiences (Abad et al., 2002), but the maturation of the
parts of the brain dealing with executive functioning continues into the early 20 s. Not all RC
contexts favor the development of significant emotional experiences. As in the normative
sample, girls in RC tend to perform more household chores and boys seem to have more social
contacts, accounting for overall gender differences (Broberg et al., 2001).
The present study showed that having fewer mental health problems in adolescents was
associated with more involvement in sports, hobbies, and a better social network, just as is
found in other normative samples (e.g. Achenbach et al., 2002). Thus, female adolescents, who
are less involved in sports activities, tend to present more total problems and less psychosocial
skills than males. Indeed sports and hobbies are negatively correlated with oppositional defiant

94
behavior and externalizing problems, as these activities tend to promote higher levels of
resilience and decrease the probability of delinquent behaviors (Sãfvenbom & Sandahl, 2000).
More involvement in household chores is also negatively correlated with oppositional defiant
and aggressive behavior, externalizing problems, as well as the total number of problems. This
supports the view that adolescents involved in the RC center’s dynamics tend to show less
mental health symptoms, seeing that their perception of higher care quality works as a
protective factor.
Furthermore, adolescents who are more engaged in clubs in the community have more
socialization opportunities with peers and show less signs of withdrawal/depression. This may
be due to a healthier life style that is in fact closer to that of their peers in the community
(Fernández-Daza & Fernández-Parra, 2012). Conversely, the total number of friends is
positively correlated with oppositional defiant behavior. In order to understand this finding, it
is worth considering the kind of friends and peer groups of the adolescents in RC, since
Erickson et al. (2000) pointed out that adolescents with high levels of psychological
maladjustment tend to hang out with deviant groups. In order to be effective, RC programs need
to be aware of this dynamic and limit youths’ exposure to negative peer influence.
Psychosocial skills are protective factors promoting adjusted coping strategies to
emotional problems (Sandoval et al., 2006). Close contacts with siblings, parents and other
significant adults are negatively correlated with emotional and behavioral problems.
Accordingly, RC centers should promote regular family visits (especially overnight stays),
namely with parents and siblings (Huefner et al., 2015). A significant caregiver should also be
appointed to each child in care so as to support and establish an individualized relationship with
him/her (Bravo & Del Valle, 2003).

Limitations

There were several limitations in this study, such as, a possible bias associated with
social desirability inherent to selfreport measures. A multi-informant study, including
caregivers and teachers besides the adolescents themselves, would reduce this limitation. Still,
the present study is innovative, since it characterizes adolescents in RC according to their
emotional and behavioral problems as well as their skills and developmental opportunities. A
second limitation is related to using only one data time point, which merely allows for a picture
of how they are doing during their stay, and not how they are doing now relatively to the
problems they were experiencing when they were placed in RC. Nevertheless, this study is part

95
of a broader research on RC quality and data from children and adolescents in RC is critical to
an evaluation of the degree in which the resources and services provided by RC centers fit the
children and adolescents’ needs and characteristics. So, assessment of children’s needs and RC
services must be made simultaneously at a given moment.

Conclusions and Implications for Practice

The implementation of policies and practices to enhance RC quality is critical for the
promotion of the best development of children in care (Eapen, 2009). First and foremost, the
initial pre-service and subsequent in-service training of caregivers should promote skills to
create a healthy and safe environment for the child to grow up in. Caregivers should also be
able to promptly identify the children’s social and emotional needs. Lastly, RC centers should
mirror a family environment (family-style programming) by eliminating institutional structural
and functional characteristics. This involves particular attention to each child as an individual,
with needs, strengths and difficulties, life goals and interests (Eapen, 2009).
Overall, the findings of this study highlight the need of an early screening of socio-
cognitive deficits and strengths in children in care in order to allow for the implementation of
efficient socio-educational programs (Ison-Zintilini & Morelato-Giménez, 2008; Reijneveld et
al., 2005). The higher levels of challenges faced by girls entering RC likely indicates that they
are particularly vulnerable and deserve gender-specific interventions and attention.
A strong emphasis in recommending the promotion of socialization opportunities with
significant others (siblings, parents, relatives, care givers, peers) for children in RC appears to
be an important output of the current study, since these social interactions act as protective
factors for the child’s mental health. Having access to the community environment that
surrounds them and building a solid support network will enhance the child’s wellbeing,
psychological adjustment. RC contexts should be high quality, caring and safe environments.
Procedures to systematically assess RC quality must be implemented both internally and
externally ensuring the child’s best interests.

96
Artigo 4: Ajustamento Psicológico de Jovens em Acolhimento Residencial:
Uma Abordagem de Multi-informantes

Artigo: Campos, J., Barbosa-Ducharne, M., & Dias, P. (em submissão). Problemas de
internalização e externalização de crianças em acolhimento residencial: Uma abordagem de
multi-informantes.
Resumo

Problemas de Internalização e Externalização de Crianças em Acolhimento Residencial:


Uma Abordagem de Multi-informantes
Em Portugal existem 6118 crianças em Acolhimento Residencial (AR) generalista, das quais
70% têm 12 ou mais anos. São vários os estudos que indicam que o índice de prevalência de
problemas de saúde mental é superior em crianças que se encontram em AR quando
comparados com crianças que vivem com a sua família. Neste âmbito, torna-se essencial
realizar-se uma avaliação psicológica cuidada com recurso a mais do que um informante, para
ser possível a obtenção de mais informação acerca do funcionamento da criança nos diferentes
contextos onde está inserida. O objetivo principal deste estudo é explorar os Problemas de
Internalização (PI) e Problemas de Externalização (PE) numa amostra de crianças em AR,
utilizando uma abordagem multi-informante. Participaram 286 crianças, com idades
compreendidas entre os 11 e os 18 anos (M = 15.10, DP = 2.08), das quais 163 são do sexo
masculino (57%), bem como participaram os respetivos cuidadores de referência e os respetivos
professores. Os resultados mostraram que os informantes apresentaram pontuações mais
consistentes para subescalas de PE do que para outras dos PI. Por outro lado, as crianças
reportaram índices mais elevados de problemas do que os cuidadores e do que os professores,
sendo que estes índices incidem mais nos PI do que nos PE. Os cuidadores tendem a reportar
índices mais elevados de problemas do que os professores, sendo que o par de informantes que
obteve maior acordo foi cuidador-professor e os resultados menos convergentes envolveram o
relato das crianças. Estes resultados salientam a urgência de se investir em mais formação para
os professores e, particularmente, para os cuidadores ao nível do desenvolvimento e saúde
mental das crianças em AR permitindo uma melhor adequação da resposta às suas necessidades.

Palavras-chave: Problemas de internalização e externalização, Bateria ASEBA, crianças em


acolhimento residencial, multiinformantes, matriz multitraço-multimétodo, validade
convergente e divergente

98
Introdução

O Acolhimento Residencial (AR) é uma medida de promoção dos direitos e de proteção


que visa colocar a criança aos cuidados de uma entidade que disponha de instalações e
equipamento permanente e de uma equipa que garanta os cuidados adequados às suas
necessidades e proporcione condições que permitam a sua educação, bem-estar e
desenvolvimento integral (art.º49 Lei de Proteção de Crianças e Jovens [LPCJ]). Dados
relativos a 2018, indicam que em Portugal existiam 6118 crianças em AR generalista, com
idades compreendidas entre 0 e 24 anos, das quais 70% têm 12 ou mais anos (Instituto da
Segurança Social, Instituto Público [ISS, IP], 2019). Destas crianças, 1657 (27%) apresentam
problemas de comportamento e 252 (4.1%) apresentam um problema de saúde mental
clinicamente diagnosticado. É de salientar que estes problemas recaem sobretudo na faixa etária
entre os 15 e os 17 anos. Do total de crianças 1976 (32.3%) possuem acompanhamento
psicológico regular e 1280 (21%) têm acompanhamento pedopsiquiátrico regular (ISS, IP,
2019).
São vários os estudos que indicam que o índice de prevalência de problemas de saúde
mental é superior em crianças que se encontram em AR quando comparados com crianças que
vivem com a sua família (e.g. Gearing et al., 2015). Estes problemas de saúde mental incluem
Problemas de Internalização (PI; e.g. depressão, ansiedade, diminuição da autoestima) e
Problemas de Externalização (PE; e.g. abuso de substâncias, comportamento desafiante e fugas)
(Dias et al., 2017; Orme & Buehler, 2001). A comorbilidade entre os dois tipos de problemas é
muito comum, sendo que as crianças que apresentam elevados níveis de PI têm um risco mais
elevado de virem a apresentar PE (Lee & Bukowski, 2012).
Os PE tendem a obter maior acordo entre diferentes informantes devido ao facto de se
tratar de comportamentos que interferem no ambiente dos contextos onde a criança está
inserida, e como consequência licitam uma maior atenção por parte dos adultos (Kugler et al.,
2013; Tarren-Sweeney et al., 2004). Contrariamente, os PI apresentam menor acordo entre
informantes, uma vez que as crianças têm menor probabilidade de manifestarem estes
comportamentos em todos os contextos, experienciando-nos quando estão sozinhas sendo mais
difíceis de ser observados por outros (Kugler et al., 2013).
A maior parte dos técnicos de saúde mental reconhece a necessidade de se utilizar mais
do que um informante, uma vez que não só existirá mais do que uma perspetiva acerca do
problema, como será dada mais informação acerca do funcionamento da criança em diferentes
contextos (Achenbach et al., 2005). Quer os diferentes informantes partilhem perspetivas

99
convergentes ou divergentes, o recurso a múltiplos informadores é fundamental pois possibilita
a obtenção de informação mais fiável e completa essencial à compreensão dos sinais e sintomas,
alvo da intervenção (Achenbach, 2006).
Se a semelhança entre perspetivas de diferentes informadores evidencía a consistência
e/ou a inicidência dos comportamentos exibidos em diferentes contextos, as diferenças
encontradas podem ser explicadas pelo recurso a diferentes constructos, diferentes instrumentos
(e.g. SDQ, Bateria ASEBA) (Rodrigues et al., 2019), bem como à relação entre os diferentes
informantes (i.e. relatos apenas de cuidadores, crianças, ou professores) (Achenbach, 2006). O
recurso à Bateria ASEBA (Achenbach et al., 2014) tem sido apontado como uma mais-valia na
exploração das relações entre as perspetivas de diferentes informantes acerca do
comportamento da criança, na medida em que propõe um conjunto de questionários
consistentes que partilham uma percentagem importante de itens comuns (80 itens – 71%),
sensíveis às diferentes manifestações de comportamentos que podem ser indiciadores de
problemas de ajustamento psicológico. Por conseguinte, o pesente estudo visa explorar o
ajustamento psicológico de crianças que se encontram em AR, a partir da perspetiva de multi-
informantes com recurso aos três questionários que integram a Bateria ASEBA para a idade
escolar (Achenbach et al., 2014).

Múltiplos Informantes em AR
Quando as crianças se encontram em AR, os seus pais biológicos não estão o tempo
necessário com elas para que consigam preencher um questionário acerca delas que seja
totalmente fidedigno. Assim, nestes casos é utilizado o cuidador de referência da criança
(McElroy, 1995). O cuidador de referência é aquele adulto da casa de AR que está diariamente
com a criança, que cuida dela sendo capaz de observar os seus comportamentos e o seu
funcionamento emocional no dia-a-dia e as suas interações sociais (McElroy, 1995). Os
cuidadores tendem a reportar problemas emocionais e comportamentais das crianças de forma
semelhante aos pais biológicos, tornando-se, por isso informantes essenciais no contexto de AR
(Albrecht et al., 2001; Armsden et al., 2000; Tarren-Sweeney et al., 2004). É preciso, contudo,
atender ao facto de alguns cuidadores tenderem a subestimar (Strijker et al., 2011) ou a
sobrestimar (Kools, 1997) os problemas de saúde mental das crianças que se encontram em AR.
Os professores são também uma importante fonte de informação, uma vez que as
crianças passam grande parte do seu tempo na escola e estes agentes educativos estão capazes
de observar os seus comportamentos no contexto social e académico (Anderson & Seita, 2006).
Porém, em sala de aula, a maior parte dos professores não tem qualquer tipo de preparação para

100
identificar possíveis indícios de problemas de saúde mental, encontrando-se mais sensíveis aos
problemas de comportamento que afetam diretamente o ambiente da sala de aula (Grigorenko
et al., 2010; Youngstrom et al., 2000; Kugler et al., 2013). Neste sentido, a maior parte dos
alunos com PI não são devidamente sinalizados nas salas de aula, pois estes problemas não são
diretamente observáveis, ao passo que os PE são evidentes e fáceis de detetar (Achenbach &
Rescorla, 2001; Richardson et al., 2009). Por outro lado, segundo McAuley e Trew (2000) os
professores tendem a distinguir claramente as crianças que estão em AR e os seus pares, uma
vez que estes agentes educativos percecionam também que as crianças que estão em
acolhimento apresentam mais problemas comportamentais do que os seus pares. Esta distinção
deve-se à diferença dos níveis de problemas de comportamento e das competências
apresentadas pelos dois grupos, bem como às próprias diferenças ao nível das expectativas que
os professores manifestam face aos dois grupos.
Tal com acontece na população normativa, as crianças em AR tendem a relatar índices
mais elevados de problems do que qualquer outro informador (Erol et al., 2010; Martin et al.,
2004; Stanger & Lewis, 1993), reportando índices mais baixos de PE e níveis mais elevados de
PI (Martin et al., 2004).

Acordo entre Informantes


Vários estudos, com objetivo de examinar o grau de convergência de diferentes
informantes em relação a um mesmo sujeito, concluiram que existe um grau de convergência
pouco elevado, ainda que significativo, entre os diferentes informantes (Achenbach & Rescorla,
2001; Grigorenko et al., 2010; Reyes et al., 2011). Estudos que compararam os relatos das
crianças em acolhimento e dos cuidadores (Fernández-Daza & Fernández-Parra, 2012; McWey
et al., 2014; Sainero, del Valle, & Bravo, 2015; Strijker et al., 2011), através da Bateria ASEBA
(Achenbach & Rescorla, 2001), concluiram que o acordo entre estes informantes é superior
para os PE que para os PI. Porém, as crianças são os informantes que reportam mais problemas
em geral (Gearing et al., 2015). Por outro lado, Kugler e colaboradores (2013) verificaram que
o acordo entre cuidadores e professores tendia a ser globalmente baixo, variando entre um
acordo moderado para os PE e baixo para os PI, tendo os cuidadores atribuido pontuações mais
elevadas do que os professores. Tarren-Sweeney e colaboradores (2004) concluem que os
cuidadores apresentam uma maior sensibilidade, e consequente maior acordo com as crianças,
para identificarem PI nas crianças do que os professores.
Em suma, os estudos que analisam o grau de (des)acordo entre informantes no contexto
de AR são escassos, sendo esta escassez mais evidente quando se procura comparar os relatos

101
dos intervenientes dos principais contextos de vida, recorrendo quer ao próprio, quer ao
cuidador e ao professor (Kugler et al., 2013). Neste sentido, o objetivo principal deste estudo é
explorar os PI e PE numa amostra de crianças em AR, utilizando uma abordagem multi-
informante. A inclusão de três informantes (i.e. cuidador de referência, professor e criança), ao
invés de dois, é uma novidade na investigação em AR. Assim, os objetivos são: a) confirmar a
validade de constructo dos PI, PE e Total de Problemas (TP), explorando a validade
convergente e divergente e a variância do método partilhado através de uma matriz multitraço-
multimétodo (MTMM); b) analisar a perspetiva única de cada informante sobre PI, PE e TP das
crianças em AR; e c) explorar as diferenças entre pares de informantes. O presente estudo irá
utilizar o termo “criança” com o mesmo significado que é dado na Convenção das Nações
Unidas sobre os Direitos da Criança (menor de 18 anos de idade).

Método

Participantes
Neste estudo participaram 286 crianças, com idades compreendidas entre os 11 e os 18
anos (M = 15.10, DP = 2.08), das quais 163 do sexo masculino (57%), que estavam integrados
em 55 casas de acolhimento em Portugal há 38.76 meses em média (DP = 36.54, variando entre
1 e 193). 121 (42%) crianças acolhidas já tinham tido acolhimentos anteriores com uma duração
variável entre 1 a 156 meses (M = 9.55, DP = 21.17). O principal motivo que levou ao
acolhimento destas crianças foi a negligência (N = 150, 52.6%). Relativamente à tipologia das
casas, 115 (40.2%) participantes estavam em casas mistas, 93 (32.5%) participantes estavam
em casas segregadas masculinas e 78 (27.3%) participantes estavam em casas femininas.
Quanto à dimensão das casas, 149 (52.1%) encontravam-se em casas grandes (acolhendo mais
do que 25 crianças), 84 (29.4%) encontravam-se em casas médias (acolhendo entre 13 a 24
crianças) e 53 (18.5%) encontravam-se em casas pequenas (acolhendo até 12 crianças).
No que diz respeito aos cuidadores de referência, dos 286 participantes, com idades
compreendidas entre os 23 e os 61 anos (M = 40.01, DP = 9.89), 211 (71.8%) eram do sexo
feminino. 180 (62.8%) cuidadores possuíam formação de nível superior, sendo que 207 (72.4%)
pertenciam à Equipa Educativa e 79 (27.6%) pertenciam à Equipa Técnica.
Relativamente aos professores, dos 286 participantes com idades compreendidas entre
os 25 e os 63 anos (M = 47.49, DP = 7.79), dos quais 226 (79.1%) eram do sexo feminino. Os
professores referiam conhecer a criança há aproximadamente 13.33 meses em média (DP =
12.24), variando entre 2 e 72 meses.

102
Instrumentos
Para avaliar os PI, PE e TP das crianças foram utilizados os três questionários que
compõem a Bateria ASEBA para a idade escolar (Achenbach et al., 2014): Child Behavior
Checklist For Ages 6-18 (CBCL/6-18) para os cuidadores, Teacher Report Form For Ages 6-
18 (TRF) para os professores e Youth Self-Report For Ages 11-18 (YSR) para os jovens. Cada
informante é solicitado a atribuir uma pontuação (0 = “não é verdadeira” a 2 = “muito
verdadeira ou muitas vezes verdadeira”) relativamente a cada um dos problemas
comportamentais, emocionais e sociais apresentados, com base nos últimos seis meses. Pelo
facto de estes questionários possuírem mais de 80 itens em comum, é possível efetuar a
comparação e verificar o acordo entre informantes. Os itens agrupam-se em síndromes que por
sua vez se organizam em duas grandes escalas: PI (Ansiedade/Depressão,
Isolamento/Depressão e Queixas Somáticas) e PE (Comportamento Desafiante e
Comportamento Agressivo). O TP é o resultado do somatório destas duas grandes escalas (PI e
PE), assim como por mais quatro síndromes (Problemas de Sociais, Problemas de Pensamento,
Problemas de Atenção e Outros Problemas) que não se enquadram nos PI ou nos PE.
A Bateria ASEBA (Achenbach et al., 2014) encontra-se devidamente adaptada e aferida
para a população portuguesa, tendo obtido bons índices ao nível da validade e fidelidade,
variando entre .60 e .95 (cf. Tabelas 1, 3 e 5 – valores em itálico).
Os dados sociodemográficos foram recolhidos a partir Pedido de Informação Prévio
(PIP) do ARQUA-P: Sistema de Avaliação Compreensiva da Qualidade do Acolhimento
Residencial Português (Rodrigues et al., 2015), sistema de avaliação compreensiva do
acolhimento residencial, que se encontra devidamente traduzido e adaptado à realidade
Portuguesa. O PIP possibilita a recolha de informação sociodemográfica (e.g. data de
nascimento, idade, sexo, grau de escolaridade), relativa a dados de saúde (e.g. tipos de apoio
técnico/médico especializado) e familiares das crianças em AR (e.g. existência de acolhimento
anterior, tempo de acolhimento e motivos da institucionalização).

Procedimentos de seleção da amostra e recolha de dados


Este estudo é parte do estudo EQAR – Estudo nacional de avaliação da qualidade do
Acolhimento Residencial Português. Os procedimentos de investigação foram aprovados pela
Comissão de Ética da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do
Porto (FPCEUP) encontrando-se assegurados todos os requistos éticos, deontológicos e legais
à investigação nesta área. Previamente à visita a cada casa de AR participante, foi solicitada à
Direção a assinatura de uma Declaração de Consentimento Informado autorizando a recolha de

103
dados. A participação no estudo foi rigorosamente voluntária e o uso de códigos salvaguarda o
total anonimato dos participantes.
Os participantes neste estudo representam uma subamostra do estudo EQAR. Os
critérios de inclusão para as crianças deste estudoforam os seguintes: terem idade igual ou
superior a 11 anos e inferior a 19 anos; e estarem acolhidos na casa há pelo menos 2 meses. Por
conseguinte, representam 31% das crianças participantes do estudo EQAR, 39% dos cuidadores
e 62% dos professores. Não foi encontrada nenhuma diferença ao nível da caracterização entre
a subamostra do presente estudo e a amostra do EQAR.
A recolha de dados realizou-se numa visita a cada casa de AR e a duração variou entre
um ou dois dias (dependendo da dimensão da casa). Os questionários YSR foram administrados
na casa individualmente a cada criança e os questionários CBCL/6-18 e TRF foram deixados
na casa para preenchimento pelos cuidadores de referência e pelos professores de cada criança,
respetivamente, tendo sido posteriormente recolhidos.

Análise de Dados
Os dados foram analisados recorrendo ao software estatístico IBM SPSS - versão 23
(IBM Corp, 2014). Foi realizada uma matriz MTMM (Campbell & Fiske, 1959) usando
correlações bivariadas de Pearson para explorar a validade convergente e divergente do
conjunto de PI, PE e TP (traços/constructos), medidos por três informantes (métodos). A
Validade Convergente (VC) é fornecida pelas correlações entre o mesmo constructo - diferente
informante (same construct-different informant - SCDI), que devem ser altas e estatisticamente
significativas. Para ter VC, os valores médios das correlações de SCDI (entre constructos e
informantes) devem ser pelo menos maiores que os valores médios de correlações da validade
divergente. A Validade Divergente (VD) é fornecida por correlações entre diferente constructo
- diferente informante (diferente construct-different informant - DCDI). Para se obter a VD, a
percentagem de correlações de SCDI (VC) que excedem as correlações de DCDI (SCDI>
DCDI) deve ser de pelo menos 50%. Além disso, Campbell e Fiske (1959) sugeriram explorar
as correlações entre diferente constructo - mesmo informante (different construct-same
informant - DCSI), a fim de avaliar a variância do método partilhado (shared method variance
- SMV), que é uma restrição comum à VD. Para evitar a SMV, a percentagem de correlações
SCDI que excedem as correlações DCSI (SCDI> DCSI) não deve ser muito baixa, para garantir
a VD e o efeito mais forte de traço/constructo. As percentagens muito baixas são indicativas do
efeito de um método/informador.

104
Para avaliar as diferenças entre os informantes relativamente às escalas de problemas
emocionais e comportamentais foram realizadas análises de variância de medidas repetidas
(ANOVA). As análises foram conduzidas considerando a pontuação de cada informador para
o mesmo constructo como uma medida do mesmo fator intra-sujeitos com três níveis
(correspondendo a cada um dos três informantes). O eta quadrado parcial (ηp2) foi estimado
para todas as ANOVAs como medida do tamanho do efeito.

Resultados
Os resultados do presente estudo irão ser apresentados segundo a ordem dos objetivos
formulados.

Validade Convergente (VC):


Através da observação da Tabela 1 é possível concluir que todas as correlações
convergentes (correlações SCDI – figuras diagonais) relativas aos PI foram significativas para
todos os pares de informantes.

Tabela 1

Matriz de Correlações Multitraço – Multimétodo para os Problemas de Internalização das


Crianças segundo os Três Informantes
Cuidador de Referência (CR) Professor (P) Criança (C)
AD ID QS AD ID QS AD ID QS
AD .78
Cuidador

ID .52 .77
QS .23 .33 .74
AD .25 .07 .15 .76
Professor

ID .16 .33 .20 .48 .76


QS .16 .01 .31 .11 .29 .72
AD .22 .15 .18 .19 .09 .22 .81
Criança

ID .17 .19 .14 .12 .18 .15 .70 .68


QS .10 .11 .22 .17 .07 .28 .64 .49 .80

Nota. AD: Ansiedade/Depressão; ID: Isolamento/Depressão; QS: Queixas Somáticas.


Os números em itálico indicam os alphas de Cronbach. Os números nas diagonais representam as
correlações entre o mesmo constructo - diferentes informantes (validade convergente). Os números
dentro dos triângulos sólidos são as correlações entre diferentes constructos - diferentes informantes
(validade divergente geral). Os números dentro dos triângulos a tracejado são as correlações entre
diferentes constructos - mesmos informantes (componente de variância do método partilhado de
validade divergente). Os números a negrito são significativos com um nível p < .010 e os números a
negrito e sublinhado são significativos com um nível p < .001.

105
Tabela 2

Validade Convergente/Divergente por Constructo e Pares de Informantes para os Problemas


e Internalização

Média do
CR - P CR - C P-C Constructo
Ansiedade/Depressão SCDI (r) .25 .22 .19 .22
SCDI > DCDI (%) 100 100 83 94
SCDI > DCSI (%) 50 00 25 25
Isolamento/Depressão SCDI (r) .33 .19 .18 .23
SCDI > DCDI (%) 100 100 83 94
SCDI > DCSI (%) 25 00 00 08
Queixas Somáticas SCDI (r) .31 .22 .28 .27
SCDI > DCDI (%) 100 100 100 100
SCDI > DCSI (%) 75 00 25 33
Média por par de SCDI (r) .30 .21 .22 -
informador SCDI > DCDI (%) 100 100 89 -
SCDI > DCSI (%) 50 00 17 -

Nota. SCDI: mesmo constructo-diferente informador (validade convergente); r: correlação; DCDI:


diferente constructo-diferente informador (validade divergente geral); SCDI > DCDI: percentagem de
correlações mesmo constructo-diferente informador que excedem as correlações diferente constructo-
diferente informador; DCSI: diferente constructo-mesmo informador (SMV - componente da validade
divergente); SCDI > DCSI: percentagem de correlações mesmo constructo-diferente informador que
excedem as correlações diferente constructo-mesmo informador; DCDI e DCSI são duas medidas da
validade divergente.

Relativamente aos PI (cf. Tabela 2) o par de informantes cuidador de referência-


professor apresentou uma VC mais elevada (maior acordo .30) e o par cuidador de referência-
criança apresentou uma menor VC (.21): cuidador de referência-professor > professor-criança
> cuidador de referência-criança. A escala que obteve maior VC foi Queixas Somáticas
(correlação média = 0.27) e a mais baixa foi Ansiedade/Depressão (0.22): Queixas Somáticas
> Isolamento/Depressão > Ansiedade/Depressão.
Relativamente aos PE, tal como se pode observar na Tabela 3, verifica-se também que
todas as correlações convergentes foram altas e significativas para todos os pares de
informantes.

106
Tabela 3

Matriz de Correlações Multitraço – Multimétodo para os Problemas das Crianças segundo os


Três Informantes
Cuidador de Referência Professor Criança

CD CA CD CA CD CA

CD .86
Cuidado

CA .63 .92

CD .69 .40 .86


Professo

CA .46 .53 .71 .94

CD .42 .28 .47 .32 .84


Criança

CA .23 .35 .30 .32 .26 .87

Nota. CD: Comportamento Desafiante; CA: Comportamento Agressivo.


Os números em itálico indicam os alphas de Cronbach. Os números nas diagonais representam as
correlações entre o mesmo constructo - diferentes informantes (validade convergente). Os números
dentro dos triângulos sólidos são as correlações entre diferentes constructos - diferentes informantes
(validade divergente geral). Os números dentro dos triângulos a tracejado são as correlações entre
diferentes constructos - mesmos informantes (componente de variância do método partilhado de
validade divergente). Os números a negrito e sublinhado são significativos com um nível p < .001.

Tabela 4

Validade Convergente/Divergente por Constructo e Pares de Informantes para os Problemas


de Externalização

Média do
CR - P CR - C P–C Constructo
Comportamento SCDI (r) .69 .42 .47 .53
Desafiante SCDI > DCDI (%) 100 100 100 100
SCDI > DCSI (%) 50 50 50 50
Comportamento SCDI (r) .53 .35 .32 .40
Agressivo SCDI > DCDI (%) 100 100 50 83
SCDI > DCSI (%) 00 50 50 33
Média por par de SCDI (r) .61 .39 .40 -
informador SCDI > DCDI (%) 100 100 75 -
SCDI > DCSI (%) 25 50 50 -

107
Nota. SCDI: mesmo constructo-diferente informador (validade convergente); r: correlação; DCDI:
diferente constructo-diferente informador (validade divergente geral); SCDI > DCDI: percentagem de
correlações mesmo constructo-diferente informador que excedem as correlações diferente constructo-
diferente informador; DCSI: diferente constructo-mesmo informador (SMV - componente da validade
divergente); SCDI > DCSI: percentagem de correlações mesmo constructo-diferente informador que
excedem as correlações diferente constructo-mesmo informador; DCDI e DCSI são duas medidas da
validade divergente.

Para estes Problemas (vf. Tabela 4) foi também o par de informantes cuidador de
referência-professor que apresentou uma VC mais elevada (maior acordo .61) e o par cuidador
de referência-criança apresentou uma menor VC (.39): cuidador de referência-professor >
professor-criança > cuidador de referência-criança. A escala que obteve maior VC foi
Comportamento Desafiante (correlação média = 0.53) e a mais baixa foi Comportamento
Agressivo (0.40): Comportamento Desafiante > Comportamento Agressivo.
Por último, no que diz respeito ao TP, tal como pode ser observado na Tabela 5, verifica-
se também que todas as correlações convergentes foram significativas para todos os pares de
informantes.
Para o TP (cf. Tabela 6) foi também o par de informantes cuidador de referência-
professor que apresentou uma VC mais elevada (maior acordo .37) e o par professor-criança
apresentou uma menor VC (.24): cuidador de referência-professor > cuidador de referência-
criança > professor-criança. A escala que obteve maior VC foi PE (correlação média = 0.46) e
a mais baixa foi Outros Problemas (0.18): PE > Problemas de Atenção > Problemas de
Pensamento > Problemas Sociais > PI> Outros Problemas.

108
Tabela 5

Matriz de Correlações Multitraço – Multimétodo para o Total de Problemas das Crianças


segundo os Três Informantes

Cuidador de Referência Professor Criança


PI PE PS PP PA OP PI PE PS PP PA OP PI PE PS PP PA OP
.86
PI

PE .19 .93
Cuidador

PS .58 .51 .76

PP .61 .48 .61 .74

PA .47 .60 .65 .55 .83


.28
OP .53 .57 .51 .52 .60
.85
PI .29 .02 .10 .17 .06 .16

PE .21 .60 .26 .35 .49 .28 .37 .95


Professor

PS .19 .21 .29 .26 .24 .11 .60 .50 .77

PP .22 .19 .20 .34 .21 .08 .33 .57 .56 .78

PA .19 .35 .29 .28 .50 .19 .35 .81 .17 .49 .93
.15
OP .29 .23 .22 .27 .17 .54 .54 .46 .39 .49 .44
.23 .90
PI .24 .13 .27 .33 .17 .18 .08 .16 .17 .08 .11

PE .07 .37 .21 .21 .27 .20 .15 .39 .18 .20 .36 .28 .63 .92
Criança

PS .14 .15 .32 .30 .26 .29 .14 .11 .20 .16 .14 .09 .78 .65 .78

PP .10 .19 .17 .27 .17 .10 .16 .14 .12 .22 .19 .16 .76 .69 .66 .80

PA .09 .19 .18 .20 .27 .14 .18 .18 .12 .13 .24 .12 .68 .68 .62 .64 .77

OP .09 .20 .26 .24 .28 .23 .09 .20 .22 .19 .25 .14 .61 .66 .56 .58 .57 .61

Nota. PI: Problemas de Internalização; PE: Problemas de Extenalização; PS: Problemas Sociais; PP:
Problemas de Pensamento; PA: Problemas de Atenção; OP: Outros Problemas.
Os números em itálico indicam os alphas de Cronbach. Os números nas diagonais representam
as correlações entre o mesmo constructo - diferentes informantes (validade convergente). Os números
dentro dos triângulos sólidos são as correlações entre diferentes constructos - diferentes informantes
(validade divergente geral). Os números dentro dos triângulos a tracejado são as correlações entre
diferentes constructos - mesmos informantes (componente de variância do método partilhado de
validade divergente). Os números a negrito são significativos com um nível p < .010 e os números a
negrito e sublinhado são significativos com um nível p < .001.

109
Tabela 6

Validade Convergente/Divergente por Constructo e Pares de Informantes para o Total de


Problemas

Média do
CR - P CR - C P–C Constructo
Problemas de SCDI (r) .29 .24 .23 .25
Internalização SCDI > DCDI (%) 83 70 90 82
SCDI > DCSI (%) 30 10 00 13
Problemas de SCDI (r) .60 .37 .39 .46
Externalização SCDI > DCDI (%) 100 100 100 100
SCDI > DCSI (%) 80 10 10 33
Problemas Sociais SCDI (r) .29 .32 .20 .27
SCDI > DCDI (%) 83 97 80 88
SCDI > DCSI (%) 00 00 10 03
Problemas de SCDI (r) .34 .27 .22 .28
Pensamento SCDI > DCDI (%) 90 80 87 86
SCDI > DCSI (%) 10 00 00 03
Problemas de SCDI (r) .50 .27 .24 .33
Atenção SCDI > DCDI (%) 100 80 90 90
SCDI > DCSI (%) 50 00 10 20
Outros Problemas SCDI (r) .17 .23 .14 .18
SCDI > DCDI (%) 23 70 33 42
SCDI > DCSI (%) 10 00 00 .03
Média por par de SCDI (r) .37 .28 .24 -
informador SCDI > DCDI (%) 80 83 80 -
SCDI > DCSI (%) 30 15 05 -

Nota. SCDI: mesmo constructo-diferente informador (validade convergente); r: correlação; DCDI:


diferente constructo-diferente informador (validade divergente geral); SCDI > DCDI: percentagem de
correlações mesmo constructo-diferente informador que excedem as correlações diferente constructo-
diferente informador; DCSI: diferente constructo-mesmo informador (SMV - componente da validade
divergente); SCDI > DCSI: percentagem de correlações mesmo constructo-diferente informador que
excedem as correlações diferente constructo-mesmo informador; DCDI e DCSI são duas medidas da
validade divergente.

110
Validade Divergente (VD):
As correlações de VD gerais (DCDI) podem ser observadas nos triângulos sólidos, e a
SMV pode ser avaliada pelas correlações DCSI nos triângulos a tracejado, na Tabela 1 (PI), 3
(PE) e 5 (TP).
Em relação aos PI, e para todos os pares de informantes, a VD geral mais alta foi
encontrada para Queixas Somáticas (SCDI > DCDI = 100%, coluna de média do constructo,
Tabela 2) e a menor foi Ansiedade/Depressão e Isolamento/Depressão (ambas com SCDI>
DCDI = 94%). Assim, todos os PI apresentaram uma VD geral aceitável (SCDI> DCDI = acima
de 50%; Tabela 2). A SMV foi maior para Isolamento/Depressão (SCDI> DCSI = 8%) e menor
para Queixas Somáticas (SCDI> DCSI = 33%). Nos informantes e em todas os PI (Tabela 2),
a VD geral foi aceitável para todos os pares (acima de 50%) e maior para cuidador de referência-
professor e cuidador de referência-criança (ambos com SCDI> DCDI = 100%) e menor para
professor-criança (SCDI> DCDI = 89%). A SMV foi maior para cuidador de referência-criança
(SCDI> DCSI = 0%) e menor para cuidador de referência-professor (SCDI> DCSI = 50%).
No que concerne aos PE, e para todos os pares de informantes, a VD geral mais alta foi
encontrada para Comportamento Desafiante (SCDI > DCDI = 100%, Tabela 4) e a menor foi
Comportamento Agressivo (SCDI> DCDI = 83%). Assim, todos os PE apresentaram uma VD
geral aceitável (SCDI> DCDI = acima de 50%; Tabela 2). A SMV foi maior para
Comportamento Agressivo (SCDI> DCSI = 33%) e menor para Comportamento Desafiante
(SCDI> DCSI = 50%). Nos informantes e em todas os PE (Tabela 4), a VD geral foi aceitável
para todos os pares (acima de 50%) e maior para cuidador de referência-professor e cuidador
de referência-criança (ambos com SCDI> DCDI = 100%) e menor para professor-criança
(SCDI> DCDI = 75%). A SMV foi maior para cuidador de referência-professor (SCDI> DCSI
= 25%) e menor para cuidador de referência-criança e professor-criança (ambos com SCDI>
DCSI = 50%).
Para o TP, e para todos os pares de informantes, a VD geral mais alta foi encontrado
para os PE (SCDI > DCDI = 100%, Tabela 6) e a menor foi Outros Problemas (SCDI> DCDI
= 42%). Assim, todas as escalas do TP apresentaram uma VD geral (SCDI> DCDI = acima de
50%; Tabela 6), exceto a escala Outros Problemas, que não apresentou uma VD aceitável. A
SMV foi maior para Problemas Sociais, Problemas de Pensamento e Outros Problemas (todas
com SCDI> DCSI = 3%) e menor para PE (SCDI> DCSI = 33%). Nos informantes e em todas
as escalas do TP (Tabela 6), a VD geral foi aceitável para todos os pares (acima de 50%) e
maior para cuidador de referência-criança (SCDI> DCDI = 83%) e menor para cuidador de
referência-professor e professor-criança (ambas com SCDI> DCDI = 80%). A SMV foi maior

111
para professor-criança (SCDI> DCSI = 5%) e menor para cuidador de referência-professor
(SCDI> DCSI = 30%).
Em suma, estes resultados mostram a validade de constructo para todas as escalas
avaliadas, exceto para a escala Outros Problemas. A maior convergência foi observada para
cuidador de referência-professor e a menor para cuidador de referência-criança.

Perspetivas de múltiplos informantes: comparações entre informantes


Os resultados da ANOVA de medidas repetidas estão descritos na Tabela 7.
Foram encontradas diferenças significativas entre os informantes para todas as escalas.
As pontuações maiores e significativamente diferentes das crianças relatadas em relação às
classificações dos cuidadores de referência e professores foram praticamente consistentes em
todas as escalas de problemas, especialmente em relação às avaliações dos professores. Apenas
se destaca a escala Problemas de Atenção que obteve uma maior pontuação por parte dos
adultos, particularmente dos professores, comparativamente com as crianças.

Tabela 7

Diferenças entre os Três Informantes relativamente ao Total de Problemas

Cuidador de
Referência Professor (P) Criança (C)
(CR)
Constructos M(DP) M(DP) M(DP) F gl ηp2 Dif. Pares
Ansiedade/
4.62 (3.59) 3.96 (3.33) 8.26 (4.97) 119.26*** 2.57 .30 CR-P, CR-C, P-C
Depressão
Isolamento/
4.22 (3.06) 3.57 (3.02) 5.85 (3.14) 54.37*** 2.57 .16 CR-P, CR-C, P-C
Depressão
Queixas
1.81 (2.49) 0.80 (1.62) 5.31 (3.95) 250.07*** 2.57 .47 CR-P, CR-C, P-C
Somáticas
Comportamento
5.89 (5.28) 4.17 (4.47) 6.89 (5.25) 44.72*** 2.57 .14 CR-P, CR-C, P-C
Desafiante
Comportamento
8.65 (7.13) 7.31 (8.00) 10.00 (6.42) 16.53*** 2.57 .05 CR-P, CR-C, P-C
Agressivo
Problemas
3.64 (3.30) 2.22 (2.75) 5.32 (4.00) 81.29*** 2.57 .22 CR-P, CR-C, P-C
Sociais

112
Problemas de
2.40 (3.01) 1.19 (2.19) 6.49 (4.73) 236.73*** 2.57 .45 CR-P, CR-C, P-C
Pensamento
Problemas de
6.14 (4.05) 13.62 (10.17) 6.87 (3.82) 105.04*** 2.57 .34 CR-P, CR-C, P-C
Atenção
Outros
3.55 (2.93) 1.45 (1.63) 6.04 (3.29) 248.68*** 2.57 .23 CR-P, CR-C, P-C
Problemas
Problemas de
10.66 (7.26) 8.34 (6.31) 19.42 (10.44) 189.20*** 2.57 .40 CR-P, CR-C, P-C
Internalização
Problemas de
14.53 (11.23) 11.48 (11.62) 16.89 (10.94) 30.47*** 2.57 .10 CR-P, CR-C, P-C
Externalização
Total de
40.91 (24.59) 38.31 (28.04) 61.04 (31.93) 82.92*** 2.57 .23 CR-P, CR-C, P-C
Problemas
Nota. *** p < .001

Discussão

Com este estudo procurou-se explorar os PI, PE e TP numa amostra de crianças em AR,
utilizando uma abordagem multi-informante. Em primeiro lugar, foi possível confirmar-se a
validade global de constructo dos PI, PE e TP. As correlações convergentes obtidas para alguns
constructos e para alguns pares de informantes, apesar de significativas, por vezes foram fracas
ou médias, no entanto este resultado corrobora estudos anteriores que indicam que o acordo
entre diferentes informadores tende a ser globalmente baixo a moderado (Achenbach &
Rescorla, 2001; Grigorenko et al., 2010; Reyes et al., 2011). Ainda assim, pelo facto de estas
correlações serem mais fortes que as correlações divergentes, permite confirmar a validade de
constructo de todas as subescalas dos PI, PE e TP, excetuando a subescala “Outros Problemas”.
Foi notório que os informantes apresentaram pontuações mais consistentes para
determinadas subescalas de problemas emocionais e comportamentais do que para outras.
Assim, ao nível dos PI, a escala que obteve pontuações mais consistentes foi Queixas
Somáticas, ao nível dos PE foi a escala Comportamento Desafiante e ao nível dos TP foi PE,
corroborando os dados da literatura que demonstram que os PI são menos facilmente
observáveis e mais dependentes da interpretação dos outros do que os PE por serem claramente
objetivos e visíveis e por terem impacto no contexto onde o criança está inserida (Kugler et al.,
2013; Tarren-Sweeney et al., 2004). Encontrou-se ainda uma SMV forte em todas as escalas
analisadas, revelando importantes efeitos de método/informante nas avaliações (Campbell &

113
Fiske, 1959), reforçando a importância deste tipo de abordagem e apoiando o estudo das
diferenças entre os informantes.
No que concerne aos informantes, foi possível observar que as crianças reportam índices
mais elevados de problemas de comportamento do que os cuidadores e do que os professores,
sendo que estes índices incidem mais nos PI do que nos PE, corroborando diferentes estudos
(Erol et al., 2010; Martin et al., 2004; Stanger & Lewis, 1993).
Por outro lado, os cuidadores tendem a reportar índices mais elevados de problemas do
que os professores, parecendo indicar a sua maior sensibilidade para identificar sinais de mal-
estar nos jovens (Tarren-Sweeney et al., 2004).
Os professores foram o informante que relatou menos problemas de comportamento nas
crianças, o que é convergente com diversos estudos (Grigorenko et al., 2010; Youngstrom et
al., 2000; Kugler et al., 2013) que alertam para a ausência de formação específica e
sensibilidade dos professores para identificar sinais e sintomas de mal-estar nas crianças.
Assim, os professores, apenas tendem a reportar os problemas de afetam diretamente o contexto
de sala de aula (Achenbach & Rescorla, 2001; Richardson et al., 2009), nomeadamente os
Problemas de Atenção, tal como verificado neste estudo.
O par de informantes que obteve maior acordo foi cuidador-professor e os resultados
menos convergentes envolveram o relato das crianças. Se por um lado, os cuidadores
identificam mais problemas de comportamento do que os professores, tendendo a aproximar-
se mais dos níveis elevados de problemas reportados pelas crianças, por outro, o acordo mais
evidente foi entre cuidador-professor. Este facto poderá ser explicado pelas crianças tenderem
a reportar índices mais elevados de problemas emocionais e comportamentais do que os
restantes informadores (e.g. Erol et al., 2010; Gearing et al., 2015). Por outro lado, os
cuidadores e professores tendem a ter um maior acordo, uma vez que ambos estão mais
sensíveis aos problemas que perturbam o contexto onde a criança está inserida (casa ou escola),
ao invés de estarem sensíveis a problemas, que apesar de não afetarem diretamente o contexto
(e.g. isolamento, depressão, ansiedade) têm um impacto negativo na vida e no bem-estar da
criança. Este resultado é muito importante, uma vez que demonstra a falta de conhecimento dos
informantes relativamente à criança. É, aliás, particularmente saliente no que diz respeito aos
cuidadores, uma vez que indica que os adultos das casas de AR que estão diariamente com a
criança, o que permitiria uma observação atenta dos seus comportamentos (McElroy, 1995),
não parecem estar capazes de conhecer devidamente o seu funcionamento emocional. De
relembrar que os cuidadores participantes eram cuidadores de referência, os quais foram
indicados por cada criança como “o cuidador que melhor a conhecia”. Por conseguinte, este

114
desconhecimento por parte dos cuidadores tem implicações negativas importantes ao nível do
encaminhamento que fazem para os serviços de saúde mental, bem como ao nível da
intervenção que fazem na casa de AR com cada criança, já que esta deverá ser orientada para
as necessidades específicas de cada uma. Assim, salienta-se a urgência de se investir em mais
formação para os professores e, particularmente, para os cuidadores ao nível do
desenvolvimento e saúde mental das crianças em AR permitindo uma melhor adequação da
resposta às suas necessidades. Por outro lado, é importante garantir que o rácio cuidador-criança
seja adequado, por forma a permitir que o cuidador disponha de tempo suficiente para prestar
uma atenção individualizada a cada criança em acolhimento. A situação nacional do
acolhimento de crianças que, para sua própria proteção, têm que ser separadas do contexto
familiar de origem, colocando-as em instituições de cuidado coletivo, não apenas parece não
estar a constituir-se como a resposta de proteção que as crianças necessitam, como parecem
agir na perpetuação dos sinais e sintomas destas crianças, dado o desconhecimento que os
cuidadores de referencia evidenciaram relativamente às necessidades das crianças em
acolhimento. É urgente que sejam tomadas medidas de política nacional que permitam às casas
de AR se reorganizarem e qualificarem de modo a ajustar os seus recursos às necessidades das
crianças que aí são colocadas.
Apesar do possível viés da desejabilidade social associada aos questionários de
autorrelato, este estudo contribuiu aumentar os conhecimentos sobre os problemas de
comportamento e necessidades de saúde mental das crianças em AR, utilizando uma abordagem
multiinformante, dando voz às próprias crianças e conhecendo a perspetiva de todos os
intervenientes nos diferentes contextos de vida destas crianças. Os resultados obtidos não
apenas permitiram caracterizar de modo mais exaustivo e completo o funcionamento
psicológico das crianças em AR como, sobretudo, alertam para a urgência da introdução de
mudanças ao nível da organização das casas de acolhimento, dos processos de
acompanhamento das crianças e da formação dos profissionais, de modo a que as casas de AR
assumam uma função reparadora e terapêutica das experiências traumáticas que pautaram os
percursos das crianças previamente ao acolhimento. A verdadeira resposta protetora do AR
assim o exige.

115
Artigo 5: Caracterização das necessidades de saúde mental das crianças em
Acolhimento Residencial

Artigo: Campos, J., Barbosa-Ducharne, M., & Dias, P. (em submissão). Caracterização das
necessidades de saúde mental das crianças em Acolhimento Residencial.

116
Resumo

Caracterização das necessidades de saúde mental das crianças em Acolhimento Residencial


Em Portugal existem 6118 crianças em Acolhimento Residencial (AR) generalista. Apesar dos
números elevados em Portugal, existe ainda pouca investigação com esta população,
particularmente ao nível da saúde mental. Dada a importância de as casas irem ao encontro das
complexas exigências das crianças que vivem em AR, este estudo, pioneiro a nível nacional,
tem como principal objetivo caracterizar as necessidades de saúde mental desta população. Os
objetivos deste estudo são explorar as diferenças da sintomatologia entre a amostra normativa
portuguesa de crianças de idade escolar e a amostra de crianças que vivem em AR, bem como
explorar correlações existentes entre os problemas e variáveis como tempo de acolhimento,
formação dos cuidadores, metodologias de avaliação de problemas de saúde mental, apoios
prestados, proximidade afetiva com os cuidadores, presença de irmãos na casa, deslocalização
e relação com a família, e participação em desportos e passatempos. A amostra é constituída
por 886 crianças com idades compreendidas entre os 6 e os 18 anos, dos quais 539 eram do
sexo masculino (60.8%), integradas em 90 casas de AR de Portugal. Os resultados mostraram
que as crianças que estão em AR tendem a apresentar níveis mais elevados de problemas
quando comparados com as crianças que vivem com a sua família. Por outro lado, este estudo
revelou a importância de reduzir o tempo de AR ao estritamente necessário; aumentar a
formação dos cuidadores; a necessidade de se definir metodologias de avaliação psicológica;
urgência em se criarem relações de proximidade afetiva com os cuidadores, família e irmãos;
necessidade de se promoverem atividades desportivas e sociais. Estes resultados permitem
assim conhecer variáveis importantes e que deverão ser tidas em conta na adoção de boas
práticas em AR.

Palavras-chave: Problemas de internalização e externalização; Saúde mental; Crianças em


Acolhimento Residencial; Bateria ASEBA

117
Introdução

A família é o espaço natural e o contexto privilegiado para o desenvolvimento de uma


criança (Del Valle & Bravo, 2013; Krishnaswami & Kuttappan, 2019). Porém, quando as
crianças experienciam acontecimentos de vida adversos, que colocam em causa o seu bem-estar
e o seu desenvolvimento, o Estado coloca em ação alternativas capazes de proteger a criança
(Herrera, 2018), através da aplicação de uma medida de promoção dos direitos e proteção,
nomeadamente a colocação em Acolhimento Residencial (AR). O AR consiste numa medida
de promoção e proteção de colocação extrafamiliar que visa a retirada da criança do seu
contexto familiar de origem e a sua assignação ao cuidado de uma entidade com instalações e
equipamento permanente e uma equipa de profissionais que lhe garantam as respostas
adequadas às suas necessidades físicas, psicológicas, afetivas e relacionais e o exercício efetivo
dos seus direitos, que contribua para promover a sua integração num contexto seguro de cariz
sociofamiliar e lhe proporcione condições que permitam a sua educação, bem-estar e
desenvolvimento integral. Sublinha-se o relevo conferido na lei para que a casa de acolhimento
providencie uma resposta adequada às necessidades psíquicas e emocionais da criança (art.º 2
da LPCJP). Contudo, mesmo que o AR disponha de condições favoráveis e estimuladoras, o
sistema torna-se incapaz de proporcionar o equivalente ao que uma família proporciona a cada
criança (Bronfenbrenner, 1979).
Em Portugal, em 2018, existiam 7032 crianças em acolhimento, das quais 6118 em AR
generalista, sendo que 51.5% (N = 3153) são do sexo masculino e a maioria (70%) apresenta
uma idade igual ou superior a 12 anos. Destas crianças, 1657 (27%) apresentam problemas de
comportamento e 252 (4.1%) apresentam um problema de saúde mental clinicamente
diagnosticado. É de salientar que estes problemas recaem sobretudo na faixa etária entre os 15
e os 17 anos. Do total de crianças 1976 (32.3%) possuem acompanhamento psicológico regular
e 1280 (21%) têm acompanhamento pedopsiquiátrico regular (ISS, IP, 2019). Apesar destes
números elevados no Sistema de AR em Portugal, existe ainda pouca investigação com esta
população (Mota & Matos, 2008), tornando-se crucial perceber até que ponto os serviços
prestados pelas casas de acolhimento estão a responder de facto às necessidades específicas das
crianças (i.e. Qualidade em AR; Calheiros et al., 2011; Rodrigues & Barbosa-Ducharne, 2017),
particularmente ao nível da saúde mental.
Existem vários estudos que apontam para o facto de o índice de prevalência de
problemas de saúde mental ser superior em crianças que vivem em AR quando comparados
com crianças que vivem com a sua família (e.g. Águila-Otero et al., 2018; Baptista et al., 2018;

118
Martín et al., 2020; Ali et al., 2020; Pullmann et al., 2018; Yoon et al., 2019). Os problemas de
ajustamento psicológico observados constituem tanto Problemas de Internalização (e.g.
depressão, ansiedade, diminuição da autoestima) como Problemas de Externalização (e.g.
abuso de substâncias, comportamento desafiante e fugas) (Orme & Buehler, 2001). Torna-se
crucial perceber que variáveis poderão estar relacionadas com estes problemas, no sentido de
promover um contexto de maior qualidade que melhor responde às necessidades das crianças e
minimize as consequências ao nível da saúde mental.

A investigação tem vindo a demonstrar que quanto maior for o tempo de acolhimento,
maiores são as consequências ao nível do desenvolvimento emocional das crianças
(Bakermans-Kranenburg et al., 2011; Moretti & Torrecilla, 2019; Naumova et al., 2019; Silva
et al., 2019; van IJzendoorn et al., 2020; Wright et al., 2019). A estabilidade dos problemas de
saúde mental parece ser agravada pelo impacto que o AR tem no seu desenvolvimento
emocional (Turney & Wildeman, 2016). Assim, e tal como McCall e Groark (2015) defendem,
o tempo em AR deve ser limitado ao estritamente necessário, em especial para as crianças mais
novas.
Segundo Randsalu e Laurell (2017) existe um elevado número de casos clínicos que não
parecem ser diagnosticados atempadamente, fazendo com que não sejam encaminhados para
um apoio específico. Esta negligência ao nível da deteção de problemas de ajustamento
psicológico está relacionada tanto com défices ao nível da formação dos profissionais que
trabalham nas casas (Del Valle & Bravo, 2013; Mota & Matos, 2010; Sainero, Bravo, & Del
Valle, 2015), como com lacunas ao nível da estruturação de metodologias de avaliação
psicológica (Krishnaswami & Kuttappan, 2019; Randsalu & Laurell, 2017).
Relativamente à formação dos cuidadores, tal como Del Valle e colaboradres (2007)
referem, o número de cuidadores que possui uma formação específica e adequada às funções é
pouco significativo. As lacunas ao nível da formação fazem com que os profissionais não
estejam totalmente preparados para lidar com as exigências e com as necessidades específicas
das crianças (Del Valle & Bravo, 2013), comprometendo assim a função reabilitadora que o
AR deve ter (Mota & Matos, 2010). Neste sentido, reveste-se de grande importância o
investimento em formação contínua dos cuidadores, particularmente ao nível dos sinais e
sintomas de problemas de saúde mental, bem como ao nível da avaliação e deteção dos mesmos
(Lehmann & Kayed, 2018), para um encaminhamento célere para os apoios necessários.
Ao nível da estruturação das metodologias de deteção/avaliação dos problemas de saúde
mental, esta deverá estar bem definida e deve incluir uma avaliação cuidada no momento de

119
admissão da criança na casa (Schmid et al., 2008), englobando uma avaliação da história
familiar, desenvolvimental e clínica nos vários contextos de vida da criança (Randsalu &
Laurell, 2017). Esta estruturação da avaliação possibilitará a construção de planos de
intervenção individualizados a cada criança (Baldwin et al., 2019).
De forma geral, o encaminhamento que é feito destes casos são para especialidades
como a psicologia e/ou pedopsiquiatria. No entanto sabe-se que o recurso a psicofármacos é
muito elevado nas crianças que vivem em casas de acolhimento (Pires & Martins, 2019), sendo
duas a três vezes superior quando comparado com crianças que vivem com as suas famílias
(Zito et al., 2008). É fundamental que as crianças sejam encaminhadas para uma intervenção
adequada e completa a nível psicológico para que os resultados sejam mais estáveis e
duradouros (Erol et al., 2010). Assim, uma combinação de diferentes modalidades de
intervenção permite obter uma maior eficácia, face às intervenções monomodais (Pires &
Martins, 2019).
Para que o AR seja terapêutico é necessário que esteja alicerçado num modelo relacional
centrado nos afetos e vínculos seguros, pois são estes que promovem a reparação de modelos
de relação patológicos que estas crianças vivenciaram (Holden & Sellers, 2019; Oliveira et al.,
2015), estão associados a uma maior estabilidade ao nível da saúde mental (Yazawa et al.,
2019), constituindo por isso um fator protetor para as crianças (Arsenault & Domene, 2018;
Swan et al., 2018). Segundo Yunes e colcaboradores (2004) interações pouco sensíveis e
responsivas às necessidades emocionais das crianças, podem colocar em causa o seu
desenvolvimento. As casas de AR que seguem um modelo familiar proporcionam níveis mais
positivos no desenvolvimento emocional das crianças, do que casas de grandes dimensões, onde
os serviços prestados são despersonalizados não havendo espaço para os cuidadores
estabelecerem uma proximidade afetiva com as crianças (Cantweel et al., 2012; Leloux-Opmeer
et al., 2018).
Ainda no âmbito relacional e no seu impacto para a ajustamento psicológico das
crianças, é fundamental não descurar também o relacionamento com os irmãos e com a família
de origem, quando tal não é judicialmente impedido. A presença de irmãos na mesma casa
parece constituir-se como um fator protetor para o desenvolvimento de problemas de saúde
mental (Álvares & Lobato, 2013; Mota et al., 2017; Rodrigues et al., 2019). A presença de
irmãos num contexto desconhecido aumenta o sentimento de segurança e de estabilidade
emocional, acabando por ter um papel importante ao nível do desenvolvimento afetivo,
emocional e social (Barbosa-Ducharne et al., 2011). Por outro lado, a partilha de experiências

120
e o sentimento de pertença que contribuem para a manutenção de um sentimento de família,
tem efeitos positivos para o bem-estar das crianças (Mota et al., 2017).
No que diz respeito à família de origem, sabe-se que as crianças acolhidas com contacto
frequente com a sua família apresentam menores índices de problemas de saúde mental (Sainero
et al., 2015; Sen et al., 2008). Esta aproximação da família encontra-se intimamente relacionada
com a localização da casa de acolhimento, da distância a que está do domicílio familiar. Assim,
as crianças que se encontram acolhidas em casas deslocalizadas (i.e. a uma distância superior a
25 Km) apresentam um risco mais elevado de problemas de ajustamento psicológico, devido às
consequências nefastas que esse afastamento acarreta (e.g. redução do número de visitas, maior
dificuldade de envolver a família no quotidiano da criança).
As competências sociais trabalhadas com as crianças desempenham papel importante
ao nível da proteção de problemas de ajustamento psicológico (Sandoval et al., 2006). Estas
competências são estimuladas através das atividades promovidas pela casa, nomeadamente ao
nível de desporto e passatempos, conferindo a este um papel central. Assim, o desporto e os
passatempos das crianças parecem estar associados à promoção da autoestima, competências
de interação social e redução de sintomas depressivos (Matos et al., 2016); à promoção do bem-
estar e da resiliência e diminuição de comportamentos delinquentes; bem como ao
desenvolvimento da autonomia e à socialização das crianças (Arsenault & Domene, 2018).
Dada a escassez de estudos relativamente ao panorama nacional da saúde mental das
crianças que vivem em AR (Mota & Matos, 2008) e devido à importância de as casas irem ao
encontro destas complexas exigências, este estudo, pioneiro a nível nacional, tem como
principal objetivo caracterizar as necessidades de saúde mental das crianças que vivem em AR
em Portugal. São objetivos específicos: 1) explorar as diferenças da sintomatologia entre a
amostra normativa portuguesa de crianças de idade escolar (Achenbach et al., 2014) e a amostra
de crianças que vivem em AR; 2) analisar as cotações dos Problemas de Internalização,
Externalização e Total de Problemas destas duas amostras, tendo por base os pontos de corte
normativos; 3) explorar correlações existentes entre as três medidas de sintomatologia referidas
e variáveis como tempo de acolhimento, formação dos cuidadores, metodologias de
deteção/avaliação de problemas de saúde mental, apoios prestados (i.e. pedopsiquiatria e
psicologia), proximidade afetiva com os cuidadores, presença de irmãos na casa, deslocalização
e relação com a família, e participação em desportos e passatempos.

121
Método

Participantes
No estudo participaram 886 crianças com idades compreendidas entre os 6 e os 18 anos
(M=13.90, DP=3.10), dos quais 539 eram do sexo masculino (60.8%), integradas em 90 casas
de AR de Portugal. O tempo de acolhimento médio de acolhimento foi de cerca de 4 anos
(M=46.96, DP=60.09 meses) tendo variado entre 2 e 294 meses (24 anos e meio). Seiscentos e
quarenta e uma crianças (72.3%) estavam a receber algum tipo de apoio/ acompanhamento,
sendo os apoios mais prevalentes o apoio psicológico (N=461, 52.0%) e pedopsiquiatria
(N=245, 27.7%).
Os principais motivos de retirada destas crianças à sua família foram negligência
(N=606, 68.4%) e maus-tratos (N=114, 12.9%). Da amostra total, 382 crianças (43.1%)
encontravam-se deslocalizadas da casa da sua família de origem, ou seja, a casa de acolhimento
encontrava-se a uma distância de pelo menos 25 Km. 781 crianças (89.7%) tinham pelo menos
um irmão, sendo que apenas 277 (35.5%) estavam acolhidos em conjunto na mesma casa.
Relativamente à tipologia das casas, 354 participantes (40.0%) estavam em casas
masculinas, 301 participantes (34.0%) estavam em casas mistas e 231 participantes (26.1%)
estavam em casas femininas. Quanto à sua dimensão, 398 participantes (44.9%) encontravam-
se em casas pequenas (acolhendo até 12 crianças), 308 (34.8%) em casas médias (acolhendo
entre 13 a 24 crianças) e 180 (20.3%) em casas grandes (acolhendo mais do que 25 crianças).

Instrumentos
Para avaliar a sintomatologia das crianças foi utilizado o Questionário de
Comportamentos da Criança para Idades entre 6 e 18 anos (CBCL) composto por 112 itens com
questões estruturadas relativas a problemas, comportamentos e competências, além de 3
questões abertas, que permitem conhecer a perceção geral dos cuidadores que convivem com a
criança na casa de AR. A partir dos itens relativos aos problemas é possível analisar os
resultados em três grandes escalas: Internalização (Ansiedade/Depressão,
Isolamento/Depressão, Queixas Somáticas), Externalização (Comportamento Delinquente e
Comportamento Agressivo) e Total de Problemas. Para este estudo foram ainda utilizadas as
escalas de competências relativas às atividades desportivas e passatempos, bem como a escala
social relativa à relação que a criança mantém com a família. A Bateria ASEBA (Achenbach et
al., 2014) encontra-se devidamente adaptada e aferida para a população portuguesa, tendo

122
obtido bons índices ao nível da validade e fidelidade. Os índices de consistência interna obtidos
no presente estudo foram excelentes (Tabela 1).

Tabela 1

Alphas de Cronbach para a Amostra Normativa e para a Amostra de AR

Amostra Normativa Amostra de AR


α α
Problemas de Internalização .845 .854
Problemas de Externalização .876 .943
Total de Problemas .957 .955

O Pedido de Informação Prévio (PIP) do ARQUA-P: Sistema de Avaliação


Compreensiva da Qualidade do Acolhimento Residencial Português© (Rodrigues et al., 2015)
foi usado para a recolha de informação sociodemográfica, relativa a dados de saúde e familiares
das crianças em AR.

Procedimentos
O presente estudo faz parte de um estudo mais alargado – EQAR – estudo nacional de
avaliação da qualidade do AR. Os procedimentos de investigação foram aprovados pela
Comissão de Ética da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do
Porto (FPCEUP) respeitando todos os requisitos éticos, deontológicos e legais inerentes à
investigação com esta população. Previamente à visita a cada casa de AR, foi solicitada à
Direção a assinatura de uma Declaração de Consentimento Informado autorizando a recolha de
dados. Adicionalmente a todos os participantes foram explicados os objetivos e os
procedimentos do estudo, assegurando a confidencialidade e o anonimato das fontes de
informação, através do uso de códigos, e sublinhado o carácter voluntário da sua participação.
A recolha de dados realizou-se numa visita a cada casa de AR. Os questionários dos cuidadores
foram deixados a cargo do Diretor Técnico para serem posteriormente preenchidos e remetidos
à equipa de investigação.
Os dados foram analisados recorrendo ao software estatístico IBM SPSS (versão 26).
Num primeiro momento foram analisadas as diferenças de médias (Testes t para amostras
independentes) dos Problemas Internalização, Externalização e Total de Problemas entre
amostra deste estudo em comparação com as médias obtidas para os mesmos problemas numa

123
amostra normativa e representativa da população portuguesa (Achenbach et al., 2014).
Posteriormente, foram exploradas as frequências das três escalas de problemas entre as duas
amostras, tendo por base o ponto de corte para a amostra normativa. Finalmente, foram
realizadas correlações entre estas três escalas e variáveis como tempo de acolhimento, formação
dos cuidadores, metodologias de deteção/avaliação de problemas de saúde mental, apoios
prestados (i.e. pedopsiquiatria e psicologia), proximidade afetiva com os cuidadores, presença
de irmãos na casa, deslocalização e relação com a família, e participação em desportos e
passatempos.

Resultados

Os resultados serão apresentados pela ordem dos objetivos formulados para este estudo.
Em primeiro lugar são apresentadas as diferenças de médias para as três medidas de
sintomatologia (i.e. Problemas de Internalização, Problemas de Externalização e Total de
Problemas) entre a amostra normativa, que serviu de base à aferição da Bateria ASEBA para
Portugal (Achenbach et al., 2014) e a amostra do presente estudo.

Tabela 2

Diferenças entre a Amostra Normativa e a Amostra de AR

Amostra Amostra
Normativa AR
(N = 2551) (N = 886)
M (DP) M (DP) t p IC 95% d
Internalização 8.49 (6.27) 9.45 (6.89) 4.17 .000 [0.51; 1.42] -0.15
Externalização 5.80 (5.80) 15.09 (12.51) 22.08 .000 [8.46; 10.11] -0.95
Total de Problemas 24.33 (18.18) 39.62 (25.78) 17.64 .000 [13.59; 17.00] -0.69

Como é possível observar na Tabela 2 as três escalas analisadas apresentam diferenças


estatisticamente significativas (p < .000), demonstrando que as crianças que vivem em
contextos de AR apresentam índices mais elevados de problemas emocionais e
comportamentais do que as crianças que vivem com as suas famílias.
Em segundo lugar são apresentadas as cotações das três medidas de sintomatologia,
tendo por base os pontos de corte normativos para a população em idade escolar portuguesa.

124
Os resultados padronizados obtidos a partir da Bateria ASEBA (notas T) são interpretados
considerando três níveis de severidade: normativo, borderline e clínico. Para as três escalas
analisadas são considerados os seguintes pontos de corte: os valores normativos correspondem
a notas T inferiores a 60; os valores borderline correspondem a notas T que variam entre 60 e
63; os valores clínicos correspondem a notas T superiores a 63. Os valores do intervalo
normativo revelam situações que não são problemáticas; os valores do intervalo borderline
indicam a existência de situações que merecem atenção clínica e uma exploração adicional no
processo de avaliação; e os valores do intervalo clínico revelam dificuldades de ajustamento
psicológico.
Na Tabela 3 apresentam-se as frequências das três escalas para cada um dos níveis de
severidade, com os valores obtidos no estudo de aferição da Bateria ASEBA para a população
em idade escolar portuguesa.

Tabela 3

Cotações das Escalas da Bateria ASEBA de acordo com os pontos de corte, em percentagem

Nível Normativo Nível Borderline Nível Clínico


Amostra Amostra Amostra Amostra Amostra Amostra
Normativa AR Normativa AR Normativa AR
Internalização 73.8% 64.0% 10.6% 12.4% 15.5% 23.5%
Externalização 85.8% 52.8% 7.5% 14.9% 6.7% 32.3%
Total de Problemas 78.4% 55.8% 11.6% 15.0% 10.0% 29.2%

A análise das cotações obtidas, tendo por base os pontos de corte, demonstra que foi
classificada como casos borderline ou clínicos uma percentagem elevada de crianças (Tabela
3), indicando a presença de problemas psicológicos e de comportamentos desajustados que
podem apontar para a existência de sinais de sintomatologia psicopatológica. A prevalência de
sintomas de desajustamento psicológico dos participantes neste estudo fica patente na escala
Total de Problemas, onde o somatório das percentagens de crianças com cotações borderline e
clínico ascende aos 44.2%.
Em terceiro lugar, a Tabela 4 apresenta as correlações entres as três medidas de
sintomatologia e as variáveis em análise.

125
Tabela 4

Correlações entre as Três Medidas de Sintomatologia e as Variáveis em análise

Internalização Externalização Total Problemas


r p r p r p
Tempo em AR .113 .001 .088 .011 .124 .000
Formação dos Cuidadores .132 .000 .115 .001 .119 .000
Metodologias de Avaliação .112 .001 .041 .224 .106 .002
Pedopsiquiatria (rpb) .117 .003 .234 .000 .224 .000
Apoio: Psicologia (rpb) -.058 .148 -.070 .078 -.085 .033
Proximidade Afetiva -.034 .118 -.058 .016 -.056 .097
Presença de Irmãos (rpb) -.083 .014 -.146 .000 -.129 .000
Relação com Família -.152 .000 -.234 .000 -.254 .000
Deslocalização (rpb) .061 .014 .042 .011 .062 .012
Atividade: Deporto -.363 .007 -.244 .072 -.394 .003
Atividade: Passatempo -.231 .031 -.200 .063 -.272 .011

Tal como é possível observar as três medidas de sintomatologia encontram-se


correlacionadas de forma positiva e significativa ainda que fraca (Cohen, 1988) com a variável
tempo de acolhimento, indicando que quanto maior for a permanência da criança na casa, mais
problemas ela manifesta. De forma semelhante, as três escalas encontram-se correlacionadas
de forma positiva e significativa ainda que fraca (Cohen, 1988) com a formação dos cuidadores,
podendo indicar que cuidadores com formação mais elevada estão mais sensíveis à deteção de
mais problemas de ajustamento psicológico nas crianças. Os Problemas de Internalização e o
Total de Problemas encontram-se correlacionados de forma positiva e significativa ainda que
fraca (Cohen, 1988) com as metodologias de deteção e avaliação de problemas de saúde mental
– quanto mais estruturado e definido for este sistema de avaliação, mais sensível é aos
problemas das crianças. Relativamente aos apoios prestados pela casa: as três escalas
encontram-se correlacionadas de forma positiva e significativa ainda que fraca (Cohen, 1988)
com pedopsiquiatria, demonstrando que o encaminhamento para este apoio parece estar
associado a mais problemas; o Total de Problemas encontra-se correlacionado de forma
negativa e significativa ainda que fraca (Cohen, 1988) com psicologia, demonstrando que, pelo
contrário, o encaminhamento para este apoio parece estar associado a menos problemas.

126
Os Problemas de Externalização encontram-se correlacionados de forma negativa e
significativa ainda que fraca (Cohen, 1988) com a proximidade afetiva aos cuidadores, assim
como as três escalas avaliadas encontram-se correlacionadas de forma negativa e significativa
com a presença de irmãos na casa e com a relação com a família, revelando a importância que
estas relações têm no bem-estar e no ajustamento psicológico das crianças. No mesmo
encaminhamento, as três escalas encontram-se correlacionadas de forma positiva e significativa
ainda que fraca (Cohen, 1988) com a deslocalização, significando que quanto maior a distância
da casa onde a criança está acolhida ao domicílio da sua família de origem, maiores são os
índices de problemas observados.
Por fim, relativamente às atividades, os Problemas de Internalização e o Total e
Problemas encontram-se correlacionados de forma negativa e significativa de forma moderada
moderada (Cohen, 1988) com o Desporto e com os Passatempos, reforçando a sua importância
na vida das crianças.

Discussão e Implicações para a Prática

As casas de AR por mais qualidade que tenham, não substituem a vivência de uma
criança num contexto familiar, tornando-a mais suscetível de vir a ter problemas de ajustamento
psicológico.
No geral, foi possível observar que os resultados do presente estudo corroboram outras
investigações que concluíram que as crianças que estão em AR tendem a apresentar níveis mais
elevados de Problemas de Internalização, Externalização e Total de Problemas quando
comparados com as crianças que vivem com a sua família (e.g. Ali et al., 2020; Martín et al.,
2020), podendo indiciar uma incidência de psicopatologia superior à normativa. A análise das
cotações das três escalas pelos três níveis de severidade demonstra que nem todas as crianças
que se encontram acolhidas em Portugal apresentam as mesmas necessidades ao nível da saúde
mental. Urge refletir na adequação da medida de colocação do grupo de crianças que
apresentam níveis normativos nas três escalas de problemas, já que poderiam ser encaminhadas
para outras medidas, nomeadamente o Acolhimento Familiar. Por outro lado, importa também
refletir no impacto que o AR tem no grupo de crianças que apresentam níveis borderline e
clínicos, reforçando a necessidade de se repensar em contextos de acolhimento que respondam
diretamente a estas necessidades desenvolvimentais específicas. Assim, o desejável seria
criarem-se contextos de dimensão reduzida e especializada para uma minoria de crianças que
apresentem necessidades específicas de intervenção em grupo e que proporcionem respostas

127
terapêuticas com uma abordagem sensível ao trauma suscetível de as ajudar a ultrapassar as
dificuldades que estão a passar bem como sequelas das experiencias passadas.
Com as análises das correlações foi possível observar que quanto maior for o tempo de
acolhimento, maior são os índices de problemas apresentados pelas crianças. Este resultado
corrobora estudos anteriores que vão no mesmo sentido (McCall & Groark, 2015), reforçando
a importância de o acolhimento ser de caráter temporário, complementar a outras medidas, com
objetivos concretos que possibilitem a integração da criança num contexto familiar (i.e.
reintegração familiar ou acolhimento familiar).
Foi possível observar também que a formação dos cuidadores se encontra
correlacionada com um maior índice de problemas nas crianças, o que é convergente com a
literatura que diz que a formação dos cuidadores, particularmente ao nível da saúde mental,
contribui para que haja uma maior sensibilidade por parte da equipa a sinais e sintomas de
psicopatologia (Lehmann & Kayed, 2018; Sainero et al., 2015). No sentido de colmatar as
lacunas existentes a este nível (Del Valle et al., 2017; Mota & Matos, 2010), seria importante
criarem-se oportunidades de formação específica para todos os cuidadores que iniciam o seu
trabalho numa casa de AR, bem como formação contínua para todos os cuidadores, de caráter
prático e obrigatório, dando ferramentas e estratégias aos cuidadores para que consigam
compreender e interpretar os comportamentos das crianças, adequar a sua intervenção com elas,
intencionalizando as suas práticas.
Relativamente às metodologias de deteção e avaliação de problemas de saúde mental,
quanto mais estruturado e definido for este sistema de avaliação, mais sensível é aos problemas
das crianças particularmente aos Problemas de Internalização por serem mais difíceis de serem
observados pelos cuidadores (Baldwin et al., 2019; Randsalu & Laurell, 2017). Assim, torna-
se essencial construir metodologias de avaliação psicológica, que recorram a vários
informadores dos diferentes contextos de vida da criança, que permitam referenciar as crianças
em tempo útil para os apoios identificados como necessários, disponibilizando um
acompanhamento continuado, diário e individualizado por parte dos cuidadores que permita
este despiste de forma mais eficaz.
Quanto aos apoios prestados pela casa, os resultados do presente estudo corroboram o
estudo de Pires e Martins (2019) evidenciando que as crianças que são seguidas em
pedopsiquiatria apresentam mais problemas e as crianças que são encaminhadas para
psicologia, no geral, apresentam menos problemas, demonstrando a importância de uma
intervenção psicológica mais duradoura (Erol et al., 2010) ao invés do recurso a soluções
farmacológicas mais rápidas (Pires & Martins, 2019). O recurso excessivo a medicação nas

128
crianças acarreta consequências a curto e a longo prazo em diversas áreas da sua vida. Por outro
lado, o uso apenas de psicofármacos legitima e reforça a incapacidade da criança em
autorregular-se, desresponsabilizando-a do seu papel ao longo do processo (Pires & Martins,
2019). Assim, torna-se imperioso que dentro do sistema de proteção se criem respostas
terapêuticas desenhadas especificamente com vista à intervenção com crianças com problemas
emocionais e comportamentais.
As análises das correlações relativas às variáveis diretamente relacionadas com vínculos
afetivos, seja com os cuidadores, irmãos ou família, vão no mesmo sentido de estudos
anteriores, apontando a importância destas relações no bem-estar e no ajustamento psicológico
das crianças (e.g. Holden & Sellers, 2019; Rodrigues et al., 2019; Sainero et al., 2015). As casas
de AR devem ter como aspeto central o afeto e a promoção de relações estáveis e vinculações
seguras com os cuidadores, desempenhando assim um papel terapêutico e reparador de
experiências negativas do passado (Holden & Sellers, 2019). O acolhimento conjunto de irmãos
e o contacto com a família devem ser tidos em consideração já que são fatores protetores para
problemas de saúde mental (Rodrigues et al., 2019; Sainero et al., 2015). Porém, importa aqui
referir o peso que a casa tem nesta promoção de relações já que é a mesma que gere o tempo e
o tipo de contactos entre a criança e os irmãos/família, não bastando a simples presença/visita,
mas importando a qualidade das mesmas, ou seja se permite uma vivência verdadeiramente
fraterna, com a partilha de espaços e o envolvimento em atividades do quotidiano.
Corroborando estes resultados, também foi possível observar que quanto maior a
distância da casa onde a criança está acolhida ao domicílio da sua família de origem, maiores
são os índices de problemas observados (Sainero et al., 2015; Sen et al., 2008), visto que as
crianças em AR valorizam a manutenção do contacto com a família, bem como o seu
envolvimento nas atividades que dizem respeito à sua vida, podendo a distância ser um
impeditivo a este envolvimento direto e próximo.
Por fim, as atividades desportivas e passatempos estão associados a menos problemas
de ajustamento psicológico nas crianças, tal como verificado por Matos e colaboradores (2016).
Importa referir que apesar dos benefícios, estas atividades não deverão ser impostas pela casa,
mas antes, deverão ter em consideração os gostos, aptidões e interesses das crianças para que
estas se envolvam e beneficiem com as mesmas.

129
Conclusão

Este estudo reveste-se de grande importância dado seu caráter inovador, já que se trata
de um estudo com uma amostra nacional e representativa das crianças que vivem em AR. Com
este estudo foi possível retirar alguns aspetos importantes e que deverão ser tidos em conta na
adoção de boas práticas em AR.
Em primeiro lugar, importa reforçar a necessidade de haver uma maior aposta ao nível
das intervenções em meio natural de vida que evite a retirada das crianças da sua família de
origem. Considerando os resultados obtidos, torna-se crucial a construção de mais casas de AR
especializadas que permitam dar resposta a crianças com problemas emocionais e
comportamentais severos, cujas necessidades não estão a ser verdadeiramente respondidas nas
casas de AR generalista. Após se descartarem as intervenções no meio natural de vida e em
contexto familiar, nomeadamente o Acolhimento Familiar, representando assim o AR como a
única alternativa para uma criança em particular, este deverá ser de caráter temporário e com
objetivos muito específicos que permitam à criança o regresso a uma vida familiar positiva.
Por outro lado, é de ressaltar a importância de promover formação específica a toda a
equipa de cuidadores, de caráter obrigatório, dotando os cuidadores de ferramentas e estratégias
que ajudem a detetar precocemente sinais e sintomas de desasjustamento psicológico, que
permita interpretar e compreender o comportamento da criança e intencionalizar a sua
intervenção.
Torna-se crucial o investimento na definição de metodologias estruturadas de avaliação
psicológica de todas as crianças, não só no momento de admissão, como ao longo da sua estadia
na casa de AR, permitindo perceber a sua evolução. Esta avaliação deverá ocorrer junto de
diferentes informadores dos diferentes contextos onde a criança está inserida (i.e. casa, escola,
atividades extracurriculares) de forma a ser possível realizar uma avaliação abrangente. A este
nível destaca-se a Bateria ASEBA (Achenbach et al., 2014) que é um instrumento de triagem
que permite esta recolha de informação junto dos vários intervenientes.
Outro aspeto relevante é a possibilidade de a criança estabelecer relações afetivas com
os cuidadores das casas, bem como manter o convívio com os irmãos e a família. A qualidade
das casas está em grande medida associada à equipa de cuidadores, ao seu nível de formação e
capacidade de estabelecer vínculos afetivos com as crianças e como tal é imprescindível que a
equipa tenha consciência da sua importância na vida presente e futura destas crianças.
Relativamente aos irmãos, torna-se crucial que as casas passem a ser mistas (ao invés de serem
segregadas), com a possibilidade de acolherem crianças com idades heterogéneas para que seja

130
possível o acolhimento conjunto de irmãos. A casa tem um papel determinante na promoção da
relação entre a criança e a sua família, bem como no seu envolvimento ao longo do processo e
no quotidiano da criança.
Finalmente, torna-se imprescindível normalizar o mais possível a vida das crianças em
AR, possibilitando a sua participação em atividades desportivas ou passatempos que vão de
encontro com os seus gostos e interesses, possibilitando a promoção de competências pessoais
e sociais que funcionarão como fatores protetores da sua saúde mental.

131
Capítulo IV

Discussão Integradora
Discussão Integradora

O presente estudo carateriza-se pelo seu caráter inovador e pioneiro, já que é o


primeiro estudo em Portugal e com uma amostra representativa da população portuguesa
que vive em AR. Pretendeu-se com esta investigação dar resposta a lacunas existentes
quer ao nível do Sistema de Proteção em Portugal (Mota & Matos, 2008), quer a um nível
mais específico de caracterização da saúde mental desta população (e.g. Águila-Otero et
al., 2018; Marques et al., 2011).
Foi objetivo do estudo englobar todas as crianças que vivem em AR, com idades
compreendidas entre os 18 meses e os 18 anos; conhecer a prevalência dos problemas
emocionais e comportamentais, comparando com uma amostra normativa da população
portuguesa; analisar o desenvolvimento da linguagem das crianças de idade pré-escolar;
explorar diferenças de sintomatologia apresentadas pelas crianças face a variáveis
individuais e contextuais; analisar as competências psicossociais das crianças,
comparando também com uma amostra normativa da população portuguesa; analisar o
(des)acordo entre informadores relativamente ao ajustamento psicológico –
caracterizando assim as necessidades de saúde mental das crianças que vivem em AR em
Portugal. Esta discussão irá incluir todos os resultados obtidos, permitindo fazer uma
leitura integradora e compreensiva dos dados.
O contexto de AR torna algumas crianças mais vulneráveis a problemas
emocionais e comportamentais, devido aos desafios psicológicos inerentes da retirada à
sua família de origem, bem como à sua adaptação ao novo contexto de vida (Marinlovic
& Backovic, 2007). Em termos gerais, e tal como já referido em estudos anteriores (e.g.
Ali et al., 2020; Erol et al., 2010; Gearing et al., 2015; Martín et al., 2020), as crianças
que vivem em AR apresentam índices mais elevados de problemas de ajustamento
psicológico, quer ao nível da Internalização, quer ao nível da Externalização, podendo
indiciar psicopatologia numa incidência superior à normativa.
Relativamente às crianças de idade pré-escolar, foi também observada esta
tendência para haver uma maior incidência de problemas nas crianças que se encontram
acolhidas face às que vivem com a sua família, sendo estes resultados congruentes com
estudos prévios (e.g. Beckett et al., 2002; Maclean, 2003; Marcovitch et a., 1997). Porém,
nesta faixa etária em particular não se observaram diferenças significativas entre a
amostra do presente estudo e a população normativa, devido à normalização de alguns
sintomas por parte dos cuidadores, bem como devido à ausência de conhecimento

133
relativamente ao que é esperado para cada estádio de desenvolvimento (e.g. Wakschlag
et al., 2007). Para esta faixa etária, a par dos problemas emocionais e comportamentais,
foi possível observar que as crianças em AR apresentam um maior atraso ao nível do
desenvolvimento da linguagem relativamente às crianças da população normativa, o que
é convergente com outros estudos (e.g. Cardona et al., 2012; Manso, 2003; Misquiatti et
al., 2015). No mesmo seguimento, Baptista e colaboradores (2019) demonstraram que
mais de 20% das crianças em AR apresentam um atraso de desenvolvimento moderado a
severo a nível cognitivo, da linguagem e motor.
Os problemas de ajustamento psicológico parecem ser vivenciados de forma
diferentes entre crianças do sexo feminino e crianças do sexo masculino, sendo que as
primeiras tendem a apresentar mais problemas emocionais e comportamentais,
corroborando diferentes investigadores (e.g. Abade et al., 2002; Baker et al., 2007;
Rodrigues et al., 2019). Este resultado reforça a necessidade de ser dada uma especial
atenção às necessidades específicas e individualizadas das crianças do sexo feminino,
uma vez que muitas casas de AR em Portugal parecem não estar plenamente ajustadas às
suas necessidades (Rodrigues et al., 2019). Estas diferenças relativamente ao sexo não
foram observadas na amostra de crianças da idade pré-escolar.
Os problemas de saúde mental parecem estar relacionados com o motivo da
retirada da criança à sua família e duração do acolhimento. Assim, os problemas de
ajustamento psicológico e de desenvolvimento são potenciados pelas trajetórias de vida
desadaptativas e pelos acontecimentos de vida traumáticos pelos quais estas crianças
passaram, nomeadamente a ausência de retaguarda familiar na amostra de crianças de
idade pré-escolar e a negligência vivenciada pelas crianças em idade escolar, tal como foi
encontrado noutros estudos (e.g. Erol et al., 2010; Misquiatti et al 2015; Zeanah et al.,
2009). Relativamente à duração do acolhimento, quanto maior for, maior serão também
os índices de problemas apresentados pelas crianças (e.g. McCall & Groark, 2015). No
estudo de Baptista e colaboradores (2019) concluíram que após seis meses de a criança
integrar uma casa de AR as dificuldades manifestadas inicialmente mantinham-se, não se
observando nenhuma melhoria. Este resultado reforça a necessidade do AR ser de facto
uma medida de caráter temporário, complementar a outras medidas, com objetivos
concretos que possibilitem a integração da criança num contexto familiar (i.e.
reintegração familiar ou acolhimento familiar).
Relativamente à variável contextual da dimensão da casa de AR, seria expectável
que as crianças que vivem em casas de pequena dimensão apresentassem menores índices

134
de problemas (Bravo & Del Valle, 2009). Contudo, o que foi o observado no presente
estudo, tal como noutro estudo anterior (e.g. Rodigues et al., 2019), foi o inverso. Assim,
as crianças que vivem em casas de menor dimensão parecem apresentar índices mais
elevados de problemas de saúde mental, quer no nível borderline, quer no nível clínico.
Isto poderá estar relacionado com o facto de as entidades tutelares depositarem maior
confiança nas casas de menor dimensão, por estas apresentarem uma maior qualidade,
fazendo com que encaminhem para estas mesmas casas as crianças com problemáticas
mais severas (Rodrigues et al., 2019). Por outro lado, pelo facto de as casas terem menos
crianças, dá a possibilidade de os cuidadores dispensarem cuidados mais individualizados
a crianças com estas problemáticas, prestando mais atenção aos sinais e sintomas
manifestados, procedendo a um encaminhamento mais célere destes casos. Importa
refletir que se é notória esta diferença de cuidado entre casas de grande e de pequena
dimensão para as crianças com problemas de ajustamento psicológico, certamente
beneficiariam ainda mais, caso estivessem integradas em contextos familiares (i.e.
acolhimento familiar).
Como foi possível constatar, a questão da sensibilidade e da formação dos
cuidadores é fundamental para uma sinalização precoce das crianças com problemas de
saúde mental e o seu posterior encaminhamento para os apoios necessários (e.g. Lehmann
& Kayed, 2018; Sainero, Del Valle, & Bravo, 2015).
Paralelamente à formação, torna-se crucial que as casas de AR tenham
metodologias de deteção e avaliação de problemas de saúde mental definidas, uma vez
que quanto mais estruturado e definido for este sistema de avaliação, mais sensível é aos
problemas das crianças particularmente aos Problemas de Internalização por serem mais
difíceis de serem observados pelos cuidadores (Baldwin et al., 2019; Randsalu & Laurell,
2017).
É crucial que esta avaliação recorra a diferentes informadores que sejam
provenientes dos diferentes contextos de vida da criança (i.e. casa de AR, escola) para
que seja possível uma leitura mais ampla e global do ajustamento psicológico, visto que,
diferentes informadores estão sensíveis para diferentes problemáticas. Assim, no geral,
tende a haver um maior acordo entre os informadores ao nível dos Problemas de
Externalização comparativamente com os Problemas de Internalização, pelo facto de os
primeiros serem mais facilmente observados e apresentarem um maior impacto no
respetivo contexto (e.g. Kugler et al., 2013; Tarren-Sweeney et al., 2004). Por outro lado,
as crianças tendem a reportar índices mais elevados de problemas do que os restantes

135
informadores, particularmente ao nível dos Problemas de Internalização, tal como
corroborado por outros estudos (e.g. Erol et al., 2010; Martin et al., 2004; Stanger &
Lewis, 1993). Outro dado importante é que apesar de os cuidadores reportarem mais
problemas do que os professores, este par de informadores (i.e. cuidador-professor) é o
que apresenta maior acordo, pelo facto de ambos se centrarem mais nos Problemas de
Externalização. Este resultado manifesta assim a falta de conhecimento que os
informadores têm relativamente à criança (McElroy, 1995), tendo implicações negativas
para a sinalização e encaminhamento destas crianças. É possível que este facto seja
responsável pela grande maioria das crianças em AR, não receberem a estimulação
necessária para o seu desenvolvimento integral e aquisição de competências (Silva et al.,
2019).
No que diz respeito ao encaminhamento destas crianças para apoios
especializados, foi possível observar que estes se centram sobretudo nos serviços de
psicologia e pedopsiquiatria. Parece ser dado grande relevo às soluções farmacológicas,
devido o seu efeito rápido na diminuição da expressão sintomatológica. Contudo, para
que uma intervenção seja completa e eficaz é fundamental que as crianças sejam
encaminhadas para os serviços de psicologia, não restringindo a intervenção ao nível
psicofarmacológico (Erol et al., 2010).
Uma vez que a presença de competências psicossociais está associado a um menor
índice de problemas de saúde mental, tal como acontece nas amostras normativas (e.g.
Achenbach et al., 2002), reforça-se a necessidade de se estimular as crianças que vivem
em AR a este nível, quer através da promoção de oportunidades para participarem em
diferentes atividades (i.e. desporto, passatempos), quer através da promoção de uma
ampla rede de apoio social (i.e. cuidador de referência, grupo de amigos, contacto com
irmãos e familiares).
Ao nível das atividades, com o presente estudo foi possível observar que as
crianças em AR têm mais oportunidades de participarem em desportos e passatempos
comparativamente com as crianças que vivem com as suas famílias, devido à grande
abertura da comunidade para estabelecer protocolos institucionais (e.g. Fernández-Daza
& Fernández-Parra, 2012; Sãfvenbom & Sandahl, 2000). Pelo facto destas competências
se encontrarem correlacionadas negativamente com os Problemas de Externalização
(Matos et al., 2016), as casas de AR deverão motivar as crianças a participar em atividades
cada vez mais variadas e complexas e em relações mais ricas, que promovam

136
oportunidades de crescimento e de desenvolvimento (Holden et al., 2010; Whittaker et
al., 2016).
A nível social, as crianças que vivem em AR parecem ter uma rede de suporte
mais pobre do que as crianças que vivem com a sua família (Arteaga & Del Valle, 2003).
Porém, pelo facto da rede de suporte social pobre estar associada a mais índices de
problemas (e.g. Fernández-Daza & Fernández-Parra, 2012), particularmente os
Problemas de Internalização, faz com que seja fundamental a promoção destes contactos.
Assim, numa primeira instância foi possível perceber o impacto negativo da
ausência de adultos significativos na vida das crianças. Neste sentido, é fundamental que
os cuidadores das casas de AR promovam relações próximas e de confiança com a
criança, fundamentais ao seu desenvolvimento emocional (Arteaga & del Valle, 2003),
desempenhando um papel terapêutico e reparador (Holden & Sellers, 2019).
Por outro lado, o acolhimento conjunto de irmãos também revelou ser um aspeto
importante para um desenvolvimento mais saudável e psicologicamente mais ajustado.
Tal como reportado em vários estudos (e.g. Álvares & Lobato, 2013; Rodrigues et al.,
2019; Sainero, Del Valle, & Bravo, 2015) a presença de irmãos na mesma casa de AR
parece funcionar como uma fator protetor e preventivo da sintomatologia
psicopatológica. Também na amostra de crianças de idade pré-escolar se observou um
impacto positivo da presença de irmãos na mesma casa, quer ao nível do ajustamento
psicológico, quer ao nível do seu desenvolvimento (e.g. Álvares & Lobato, 2013).
Uma vez que a vivência familiar é insubstituível para uma criança, as relações
familiares são essenciais para um maior ajustamento psicológico e para um maior bem-
estar (e.g. Sainero, Del Valle, & Bravo, 2015; Sen et al., 2008). Assim torna-se essencial
que a casa de AR valorize a manutenção do contacto com a família, bem como o seu
envolvimento nas atividades que dizem respeito à vida da criança.
Com o intuito de minimizar o impacto do AR, torna-se essencial garantir que a
criança tenha oportunidade de experienciar uma vivência de tipo familiar, seja com a sua
família de nascimento, seja em acolhimento familiar (Silva & Aquino, 2005). No geral,
as crianças que vivem com a sua família (Wendt et al., 2019) ou que vivem em famílias
de acolhimento (Li et al., 2019) parecem estar mais satisfeitas consigo próprias do que as
crianças que vivem em AR, apresentando níveis mais elevados de ajustamento
psicológico. Este facto poderá estar relacionado com as características deste tipo de
cuidados: cuidadores estáveis, mais responsivos e cuidados mais individualizados (Li et
al., 2019).

137
Limitações e Pistas para Investigações Futuras

Apesar do contributo significativo para a investigação e prática em AR dos


resultados obtidos neste estudo, destacam-se algumas limitações que devem ser
consideradas numa apreciação final do estudo. Refere-se, nomeadamente, a
desejabilidade social característica dos questionários de autorrelato. Os instrumentos de
autorrelato permitem a livre expressão da perceção e dos julgamentos do informador,
contudo, as informações obtidas são limitadas ao que o informador consegue dizer sobre
si e sobre os outros e está dependente da sua capacidade cognitiva, motivação para
responder e do quão consciente está das suas características e comportamentos.
Por outro lado, recorreu-se apenas a dados quantitativos, não se tendo analisado
as respostas às perguntas abertas dos questionários que poderiam trazer informação
adicional. Dados qualitativos poderiam adicionar informação aos dados quantitativos e
contribuir para uma compreensão mais profunda dos resultados decorrentes da Bateria
ASEBA.
Uma outra limitação prende-se com o facto de não existir os questionários de
todos os informadores preenchidos para todas as crianças, fazendo com que o número
mais elevado de questionários corresponda aos que foram respondidos pelos cuidadores.
O facto de a recolha de dados estar situado num momento específico do tempo,
não permite compreender a complexidade e a evolução do ajustamento psicológico nas
crianças em AR.
Por último, os dados possuem potencial para serem tratados através de análises
estatísticas diversas e mais complexas.No futuro, e tendo em conta estas limitações, com
uma amostra nacional e representativa das crianças que vivem em AR poderão ser
conduzidas análises estatísticas mais complexas, bem como incluir variáveis que não
foram tidas em consideração no presente estudo. Será ainda de salientar a pertinência de
uma recolha de informação mais minuciosa ao nível da saúde mental, nomeadamente
quanto ao tipo e dosagem de medicação administrada a cada criança, duração, tipo de
intervenção, periodicidade da intervenção, entre outras. A este nível, e tendo em
consideração a sobrevalorização da intervenção farmacológica nesta população e tendo
em conta o seu impacto a curto e a longo prazo, seria interessante aprofundar este
conhecimento até mesmo através de um estudo longitudinal para perceber os seus efeitos.
Seria igualmente interessante a realização de um estudo longitudinal que
permitisse avaliar a criança em momentos distintos: momento inicial da admissão, ao

138
longo da sua estadia na casa e no final da intervenção, com o intuito de se perceber a
evolução da criança, bem como os determinantes reais do ajustamento psicológico. Neste
âmbito seria de todo o interesse avaliar a eficácia de diferentes modelos de intervenção
junto das crianças, percebendo o seu impacto e desta forma construir pistas e orientações
para boas práticas validadas empiricamente.
Por fim, sugere-se no futuro a realização de um levantamento de necessidades,
elaboração e validação de programas de intervenção ajustadas às necessidades de saúde
mental das crianças em AR.

Conclusões

De seguida serão enumerdas as principais conclusões da presente dissertação:


1. As crianças que vivem em AR apresentam índices mais elevados de problemas de
ajustamento psicológico do que as crianças que vivem com a sua família de
origem;
2. As crianças de idade pré-escolar apresentam um maior atraso ao nível do
desenvolvimento da linguagem face às crianças da população normativa;
3. As crianças do sexo feminino tendem a apresentar mais problemas emocionais e
comportamentais do que as crianças do sexo masculino;
4. Os problemas emocionais e comportamentais parecem ser potenciados pelas
trajetórias de vida desadaptativas e pelos acontecimentos de vida traumáticos;
5. Quanto maior for a duração do acolhimento maior são os índices dos problemas
apresentados pelas crianças;
6. A sensibilidade e a formação dos cuidadores é central para uma sinalização
precoce das crianças;
7. Casas de AR que tenham metodologias de avaliação psicológica definidas e
estruturadas parecem ser mais sensíveis à sintomatologia manifestada pelas
crianças;
8. É importante que a avaliação psicológica recorra a diferentes informadores,
provenientes dos diferentes contextos onde a criança está inserida;
9. Ao nível do acordo entre os diferentes informadores, este é maior para os
Probemas de Externalização do que para os Problemas de Internalização;
10. As crianças tendem a ser o informador que reporta mais probemas de ajustamento
psicológico, particularmente ao nível dos Problemas de Internalização;

139
11. O informador que parece ter menor conhecimento acerca da criança é o professor;
12. O encaminhamento que é feito para as crianças que apresentam problemas de
ajustamento psicológico é maioritariamente para psicologia e pedopsiquiatria;
13. As competências psicossoais das crianças parecem estar associadas a menores
índices de problemas (i.e. a participação em atividades da comunidade está
associado a menos Problemas de Externalização; uma rede ampla de suporte
social está associada a menos Problemas de Internalização);
14. O acolhimento conjunto de irmãos parece ser um fator protetor para o
desenvolvimento mais ajustado das crianças, assim como a manutenão do
contacto com a família de origem.

Pistas para Intervenção

Por último, partindo das principais conclusões deste estudo, serão elencadas
algumas pistas para a intervenção em AR.
1. Atender às necessidades específicas e individualizadas das crianças que vivem em
AR, particularmente as crianças do sexo feminino, procurando dar-lhes voz e
ouvi-las;
2. Reduzir o tempo de acolhimento ao estritamente necessário, encontrando
alternativas que possibilitem a integração da criança num contexto familiar (e.g.
acolhimento familiar) ou a integração num contexto de AR especializado de
qualidade que vá de encontro às suas necessidades;
3. Reduzir o número de crianças por casa de AR, uma vez que casas de menor
dimensão permitem uma prestação de cuidados mais individualizados;
4. Promover uma sensibilização e formação a todos os cuidadores a vários níveis:
qualidade no AR; saúde mental das crianças; conhecer o que é esperado em cada
estádio de desenvolvimento, evitando assim a normalização de algum tipo de
sintomatologia; acolhimento sensível ao trauma (compreender e interpretar os
sinais e sintomas do trauma, saber responder de forma intencional e empática, de
maneira a impedir a revitimização e pomover a recuperação da criança);
5. Definir metodologias de avaliação psicológica em diferentes momentos do
acolhimento;

140
6. Considerar a importância de uma avaliação psicológica multidimensional e multi-
informante, que possibilite uma leitura mais ampla e realista do ajustamento
psicológico das crianças;
7. Fazer um encaminhamento para diferentes especialidades mediante as reais
necessidades das crianças, salvaguardando a contintuidade dos cuidados e da
intervenção na casa, bem como uma boa cooperação e comunicação entre os
profissionais;
8. Promover competências psicossociais, através da implementação de programas,
da estimulaão à participação em diferentes atividades na comunidade e promoção
de uma ampla rede de suporte social;
9. Criação de relações estreitas e de confiança com os cuidadores e adultos
significativos;
10. Promover suporte e apoio aos cuidadores por forma a evitar situações de burnout
que prejudicam o seu desempenho profissional e pessoal com as crianças;
11. Promover um acolhimento conjunto de irmãos, evidenciando assim a importância
das casas de AR serem mistas;
12. Promover e estimular a manutenção do contacto entre as crianças com a sua
família (salvo impedimentos judiciais), bem como a sua participação e
envolvimento no seu quotidiano;
13. Implementar programas de promoção da saúde mental e prevenção de
psicopatologia nas casas de AR.

141
Referências Bibliográficas
Abad, J., Forns, M., & Gómez, J. (2002). Emotional and behavioral problems as measured
by the YSR gender and age differences in Spanish adolescents. European Journal
of Psychological Assessment, 18(2), 149-157. https://doi.org/10.1027//1015-
5759.18.2.149

Abaid, J. L., Dell’Aglio, D. D., & Koller, S. H. (2009). Preditores de sintomas depressivos
em crianças e adolescentes institucionalizados. Universitas Psychologica, 9(1),
203-216. https://doi.org/10.11144/Javeriana.upsy9-1.psdc

Achenbach, T. (2006). As others see us: Clinical and research implications of cross-
informant correlations for psychopathology. Psychological Science, 15(2), 94-99.
https://doi.org/10.1111/j.0963-7214.2006.00414.x

Achenbach, T., Dumenci, L., & Rescorla, L. (2002). Ten-year comparisons of problems
and competencies for national samples of youth: Self, parent, and teacher reports.
Journal of Emotional and Behavioral Disorders, 10(4), 194–203.
https://doi.org/10.1177/10634266020100040101.

Achenbach, T., Krukowski, R., Dumenci, L., & Ivanova, M. (2005). Assessment of adult
psychopathology: Meta-analyses and implications of cross-informant
correlations. Psychological Bulletin, 131(3), 361-382.
https://doi.org/10.1037/0033-2909.131.3.361

Achenbach, T. M., McConaughy, S. H., & Howell, C. T. (1987). Child/adolescent


behavioral and emotional problems: Implications of cross-informant correlations
for situational specificity. Psychological Bulletin, 101(2), 213.
https://doi.org/10.1037/0033-2909.101.2.213

Achenbach, T. M., & Rescorla, L. A. (2000). Manual for ASEBA preschool forms &
profiles. Research Center for Children, Youth & Families.

Achenbach, T. M., & Rescorla, L. A. (2001). Manual for the ASEBA school age forms &
profiles. Research Centre for Children, Youth, & Families.

Achenbach, T., Rescorla, L., Dias, P., Ramalho, V., Sousa Lima, V., Machado, B., &
Gonçalves, M. (2014). Manual do Sistema de Avaliação Empiricamente Validado
(ASEBA) para o Período Pré-Escolar e Escolar. Psiquilibrios Edições. ISBN 978-
989-83-3319-3

143
Águila-Otero, A., González-García, C., Bravo, A., Lázaro-Visa, S., & Del Valle, J. F.
(2018). Children and young people with intellectual disability in residential
childcare: Prevalence of mental health disorders and therapeutic interventions.
International Journal of Social Welfare, 27, 337-347.
https://doi.org/10.1111/ijsw.12351

Ainsworth, F., & Hansen, P. (2005). A dream come true – no more residential care. A
corrective note. International Journal of Social Welfare, 14, 195-199.
https://doi.org/10.1111/j.1468-2397.2005.00359.x

Albrecht, G., Veerman, J., Damen, H., & Kroes, G. (2001). The Child Behavior Checklist
for group care workers: A study regarding the factor structure. Journal of
Abnormal Psychology, 29(1), 83-89. https://doi.org/10.1023/a:1005255614039

Ali, S., Yildirim, M., Hussain, S., & Vostanis, P. (2020). Self-reported mental health
problems and post-traumatic growth among children in Pakistan care homes. Asia
Pacific Journal of Social Work and Development, 30(1), 62-76.
https://doi.org/10.1080/02185385.2019.1710726

Alink, L. R., Mesman, J., van Zeijl, J., Stolk, M. N., Juffer, F., Koot, H. M., Bakermans-
Kranenburg, M. J., & van Ijzendoorn, M. H. (2006). The early childhood
aggression curve: Development of physical aggression in 10- to 50-month-old
children. Child Development, 77, 954–966. https://doi.org/10.1111/j.1467-
8624.2006.00912.x.02

Álvares, A., & Lobato, G. (2013). Um estudo exploratório da incidência de sintomas


depressivos em crianças e adolescentes em acolhimento residencial. Temas em
Psicologia, 21(1), 151-164. https://doi.org/10.9788/TP2013.1-11

American Psychiatric Association (APA). (2013). Diagnostic and Statistical Manual of


Mental Disorders, Fifth Edition. American Psychiatric Association. ISBN: 978-
089-04-2555-8

American Psychological Association (APA). (2020). Publication Manual of the


American Psychological Association, Seventh Edition. APA Style. ISBN: 978-
143-38-3217-8

144
Anderson, G. R., & Seita, J. (2006). Family and social factors affecting youth in the child
welfare system. In N. B. Webb (Ed.), Working with traumatized youth in child
welfare (pp. 67-90). The Guilford Press. ISBN: 978-159-38-5224-5

Anglin, J. P. (2002). Pain, normality, and the struggle for congruence: Reinterpreting
residential care for children and youth. Haworth Press. ISBN: 978-078-90-2140-
3

Appleyard, K., Egeland, B., van Dulmen, M. H., & Sroufe, L. A. (2005). When more is
not better: The role of cumulative risk in child behavior outcomes. Journal of
Child Psychology and Psychiatry, 46, 235–245. https://doi.org/10.1111/j.1469-
7610.2004.00351.x

Armsden, G., Pecora, P., Payne, V., & Szatkiewicz, J. (2000). Children placed in long-
term foster care: An intake profile using the Child Behavior Checklist/4-18.
Journal of Emotional and Behavioral Disorders, 8(1), 49-64.
https://doi.org/10.1177/106342660000800106

Arsenault, C., & Domene, D. (2018). Promoting mental health: The experiences of youth
in residential care. Canadian Journal of Counselling and Psychotherapy, 52(1),
16-42. https://cjc-rcc.ucalgary.ca/article/view/61172

Associação Portuguesa de Psiquiatria da Infância e da Adolescência (APPIA). (2005).


Contributos para um diagnóstico e uma estratégia de intervenção integrada em
matéria de saúde mental da infância e da adolescência.
https://appia.com.pt/uploads/contributosparaumdiagnostico-2015-11-09-17-51-
50.pdf

Assouline, A., & Attar-Schwarts, S. (2020). Staff support and adolescent adjustment
difficulties: The moderating role of length of stay in the residential care setting.
Children and Youth Services Review, 110, 1-9.
https://doi.org/10.10167j.childyouth.2020.104761

Baker A. L., Archer M., & Curtis P. (2007). Youth characteristics associated with
behavioral and mental health problems during the transition to residential
treatment centers: The Odyssey Project population. Child Welfare League of
America, 86(6), 5-29. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/18456980/

145
Bakermans-Kranenburg, M. J., Steele, H., Zeanah, C. H., Muhamedrahimov, R. J.,
Vorria, P., Dobrova-Krol, N. A., Steele, M., van IJzendoorn, M. H., Juffer, F., &
Gunnar, M. R. (2011). Attachment and emotional development in institutional
care: Characteristics and catch up. Monographs of the Society for Research in
Child Development, 76(301), 62–91. https://doi.org/10.1111/j.1540-
5834.2011.00628.x

Baldwin, H., Biehal, N., Cusworth, L., Wade, J., Allgar, V., & Vostanis, P. (2019).
Disentangling the effect of out-of-home care on child mental health. Child Abuse
& Neglect, 88, 189-200. https://doi.org/10.1016/j.chiabu.2018.11.011

Baptista, J., Belskyc, J., Marques, S., Silva, J., Martins, C., & Soares, I. (2019). Early
family adversity, stability and consistency of institutional care and infant
cognitive, language and motor development across the first six months of
institutionalization. Infant Behavior and Development, 57, 1-10.
https://doi.org/10.1016/j.infbeh.2019.101387

Baptista, J., Silva, J., Marques, S., Martins, C., & Soares, I. (2018). Early maltreatment
and current quality of relational care predict socioemotional problems among
institutionalized infants and toddlers. Infant Mental Health Journal, 39(6), 1-10.
https://doi.org/10.10027imhj.21741

Barbosa-Ducharne, M., Guimarães, S. C., & Soares, J. (2011). Relação fraterna em


diferentes contextos: Família adoptiva, família convencional e acolhimento
institucional. In J. Lopes, P. Dias, I. Soares, & M.R.L. Xavier (Orgs.), Actas do
IV encontro sobre maus tratos, negligência e risco na infância e na adolescência
(pp. 57-62). ASAS.

Barbosa-Ducharne, M., & Soares, J. (in press). Resiliência em acolhimento residencial:


Acolhimento sensível ao trauma. In M. S. Oliveira, & C. S. Peixoto (Eds.),
Proteção e acolhimento residencial para crianças/jovens: Uma perspetiva
integrada e terapêutica. PACTOR.

Barone, L., Dellagiulia, A., & Lionetti, F. (2016). When the primary caregiver is missing:
Investigating proximal and distal variables involved in institutionalized children’s
adjustment. Child Abuse Review, 25, 454-468. https://doi.org/10.1002/car.2365

146
Batstra, L., Algra, M., Nieweg, E., Van Tol, D., Pijl, S., & Frances, A. (2012). Childhood
emotional and behavioral problems: Reducing overdiagnosis without risking
undertreatment. Developmental Medicine & Child Neurology, 54(6), 492-494.
https://doi.org/10.1111/j.1469-8749.2011.04176.x

Beckett, C., Bredenkamp, D., Castle, J., Groothues, C., O’Connor, T., Rutter, M., & The
English and Romanian Adoptees Study Team. (2002). Behavior problems
associated with institutional deprivation: A study of children adopted from
Romania. Journal of Developmental and Behavioral Pediatrics, 23, 297-303.
https://doi.org/10.1097/00004703-200210000-00001

Behen, M., Helder, E., Rothermel, R., Solomon, K., & Chugani, H. (2008). Incidence of
specific absolute neurocognitive impairment in globally intact children with
histories of early severe deprivation. Child Neuropsychology, 14(5), 453–469.
https://doi.org/10.1080/09297040802244136.

Belsky, J., & Rovine, M.J. (1988). Nonmaternal care in the first year of life and the
security of infant-parent attachment. Child Development, 59, 157-167.
https://doi.org/10.1111/14678624.ep10514136

Berens, A. E., & Nelson, C. A. (2015). The science of early adversity: Is there a role for
large institutions in the care of vulnerable children? The Lancet, 386, 388–398.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(14)61131-4

Berg-Nielsen, T., Solheim, E., Belsky, J., & Wichstrom, L. (2012). Preschoolers’
Psychosocial Problems: In the Eyes of the Beholder? Adding Teacher
Characteristics as Determinants of Discrepant Parent– Teacher Reports. Child

147
Psychiatry & Human Development, 43, 393-413. https://doi.org/10.1007/s10578-
011-0271-0

Borges, L., & Salomão, N. (2003). Aquisição da linguagem: Considerações da perspetiva


da interação social. Psicologia, Reflexão e Crítica, 16(2), 327-336.
https://doi.org/10.1590/S0102-79722003000200013

Bravo, A., & Del Valle, J. (2009). Crisis and review of residential child care. Its role in
child protection. Papeles del Psicólogo, 30(1), 42-52.
https://psycnet.apa.org/record/2009-22396-005

Bravo, B., & Del Valle, J. (2003). Las redes de apoyo social de los adolescentes acogidos
en residencias de protección. Un análisis comparativo com población normative.
Psicothema, 15(1), 136–142.
http://www.psicothema.com/psicothema.asp?id=1035

Broberg, A., Ekeroth, K., Gustafsson, P., Hansson, K., Hagglof, B., Ivarsson, T., &
Larsson, B. (2001). Self-reported competencies and problems among Swedish
adolescents: A normative study of the YSR. European Child & Adolescent
Psychiatry, 10, 186–193. https://doi.org/10.1007/s007870170025

Bronfenbrenner, U. (1979). The Ecology of human development: Experiments by nature


and design. Harvard University Press. ISBN: 978-067-42-2457-5

Bronfenbrenner, U. (1996). A ecologia do desenvolvimento humano: experimentos


naturais e planejados. Artmed. ISBN: 978-857-30-7173-3

Bronsard, G., Lançon, C., Loundou, A., Auquier, P., Rufo, M., & Siméoni, M. (2011).
Prevalence rate of DSM mental disorders among adolescents living in residential
group homes of the French Child Welfare System. Children and Youth Services
Review, 33(10), 1886-1890. https://doi.org/10.1016/j.childyouth.2011.05.014

Brüggemann, B. R., Elgeti, H., & Ziegenbein, M. (2008). Patterns of drug prescription in
a psychiatric outpatient care unit: The issue of polypharmacy. German Journal of
Psychiatry, 11, 1–6.
https://innovareacademics.in/journals/index.php/ajpcr/article/view/7843

148
Bruskas, D. (2008). Children in foster care: A vulnerable population at risk. Journal of
Child and Adolescent Psychiatric Nursing, 21, 70-77.
https://doi.org/10.1111/j.1744-6171.2008.00134.x

Bunting, L., Montgomery, L., Mooney, S., MacDonald, M., Coulter, S., Hayes, D.,
Davidson, G., & Forbes, T. (2019). Developing trauma informed practice in
Northern Ireland: Key messages. Queen’s University.

Calcing, J., & Benetti, S. (2014). Caracterização da saúde mental em crianças e


adolescentes em acolhimento residencial. Psico, 45(4), 559-567.
https://doi.org/10.15448/1980-8623.2014.4.13629

Calheiros, M., Lopes, D., & Patrício, J. N. (2011). Assessment of the needs of youth in
residential care: Development and validation of an instrument. Children and
Youth Services Review 33, 1930-1938.
https://doi.org/10.1016/j.childyouth.2011.05.020

Campbell, D. T., & Fiske, D. W. (1959). Convergent and discriminant validation by the
multitrait-multimethod matrix. Psychological Bulletin, 56, 81–105.
https://doi.org/10.1037/h0046016

Campbell, F., Conti, G., Heckman, J. J., Moon, S. H., Pinto, R., Pungello, E., & Pan, Y.
(2014). Early childhood investments substantially boost adult health. Science,
343, 1478–1485. https://doi.org/10.1126/science.1248429

Campbell, S. B., Shaw, D. S., & Gilliom, M. (2000). Early externalizing behavior
problems: Toddlers and preschoolers at risk for later maladjustment. Development
and Psychopathology, 12, 467–488.
https://doi.org/10.1017/S0954579400003114.

Cantweel, N., Davidson, J., Elsley, S., Milligan, I., & Quinn, N. (2012). Moving forward:
Implementing the guidelines for the alternative care of children. Centre for
Excellence for Looked After Children in Scotland. ISBN: 978-0-947649-91-3

Cardona, J., Manes, F., Escobar, J., López, J., & Ibáñez, A. (2012). Potential
consequences of abandonment in preschool-age: Neuropsychological findings in

149
institutionalized children. Behavioural Neurology, 25, 291-301.
https://doi.org/10.3233/BEN-2012-110205

Carter, A. (2010). The field of toddler/preschool mental health has arrived — On a global
scale. Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry, 49,
1181–1182. https://doi.org/10.1016/j.jaac.2010.09.006

Cavalcante, L., Magalhães, C., & Pontes, F. (2007). Institucionalização precoce e


prolongada de crianças: Discutindo aspetos decisivos para o desenvolvimento.
Aletheia, 25, 20-34.
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
03942007000100003

Cavalcante, L., Magalhães, C., & Pontes, F. (2009). Processos de saúde e doença entre
crianças institucionalizadas: Uma visão ecológica. Ciência & Saúde Coletiva, 14,
615-625. https://doi.org/10.1590/S1413-81232009000200030

Chesmore, A., Weiler, L., Trump, L., Landers, A., & Taussig, H. (2017). Maltreated
children in out-of-home care: The relation between attachment quality and
internalizing symptoms. Journal of Child and Family Studies, 26, 381-392.
https://doi.org/10.1007/s10826-016-0567-6

Chisholm, K. (1998). A three year follow-up of attachment and indiscriminate


friendliness in children adopted from Romanian orphanages. Child Development,
69(4), 1092-1106. https://doi.org/10.1111/j.1467-8624.1998.tb06162.x

Cicchetti, D., & Cohen, D. J. (2006). Developmental Psychopathology: Risk, disorder,


and adaptation. Wiley. ISBN: 978-047-15-3244-6

Clausen, J. M., Landsverk, J., Ganger, W., Chadwick, D., & Litrownik, A. (1998). Mental
health problems of children in foster care. Journal of Child and Family Studies, 7,
283-296. https://doi.org/10.1023/A:1022989411119

Cohen, J. (1988). Statistical power analysis for the behavioral sciences. Lawrence
Erlbaum Pub. ISBN: 978-080-58-0283-2

Conn, A., Szilagyi, M., Apert-Gillis, L., Baldwin, C., & Jee, S. (2016). Mental health
problems that mediate treatment utilization among children in foster care. Journal

150
of Child and Family Studies, 25, 969-978. https://doi.org/10.1007/s10826-015-
0276-6

Cooley, M., Wojciak, A., Farineau, H., & Mullis, A. (2015). The association between
perception of relationship with caregivers and behaviours of youth in foster care:
A child and caregiver perspective. Journal of Social Work Practice, 29(2), 205-
221. https://doi.org/10.1080/026505332014.933405

Crittenden, P. M. (1985). Maltreated infants: Vulnerability and resilience. Journal of


Child Psychology and Psychiatry, 26(1), 85-96. https://doi.org/10.1111/j.1469-
7610.1985.tb01630.x

Dalbem, J. X., & Dell’Aglio, D. D. (2008). Apego em adolescentes institucionalizadas:


Processos de resiliência na formação de novos vínculos afetivos. Psico, 39, 33-
40.
https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistapsico/article/view/1455

Damião da Silva, M. H. (2004). Crianças e jovens a cargo de instituições: Riscos


reversíveis e irreversíveis. In M. H. Damião da Silva, A. Castro Fonseca, L.
Alcoforado, M. M. Vilar, & M. C. Vieira (Eds). Crianças e jovens em risco: Da
investigação à intervenção (pp. 83-114). Almedina. ISBN: 978-972-40-2235-2

Del Valle, J. F., & Bravo, A. (2013). Current trends, figures and challenges in out of home
child care: An international comparative analysis. Psychosocial Intervention, 22,
251-257. https://doi.org/10.5093/in2013a28

Del Valle, J. F., López, M., & Bravo, A. (2007). Job stress and burnout in a sample of
residential child care workers in Spain. Psicothema, 19(4), 609-614.
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17959115/

Del Valle, J. F., & Zurita, J. F. (2000). El Acogimiento Residential en la Protección a la


Infancia. Ediciones Pirámide, S.A. ISBN: 978-84-368-1431-6

Delgado, P. (2010). O Acolhimento Familiar em Portugal: Conceitos, práticas e desafios.


Psicologia & Sociedade, 22(2), 336-344. https://doi.org/10.1590/S0102-
71822010000200014

Delgado, P., Carvalho, J., & Pinto, V. (2018). Tomada de decisão no sistema de proteção
das crianças e jovens: Um estudo comparativo entre as atitudes de profissionais e

151
de estudantes. Análise Psicológica, 3(36), 355-367.
https://doi.org/10.14417/ap.1432

Delgado, P., & Gersão, E. (2018). O acolhimento de crianças e jovens no novo quadro
legal. Novos discursos, novas práticas? Análise Social, 226(1), 112-134.
https://doi.org/10.31447/AS00032573.2018226.05

Dell’Aglio, D. D., & Hutz, C. S. (2004). Depressão e desempenho escolar em crianças e


adolescentes institucionalizados. Psicologia: Reflexão e Crítica, 17, 341-350.
https://doi.org/10.1590/S0102-79722004000300008

Deng, S., Liu, X., & Roosa, M. W. (2004). Agreement between parent and teacher reports
on behavioral problems among Chinese children. Journal of Developmental and
Behavioral Pediatrics, 25(6), 407-414. https://doi.org/10.1097/00004703-
200412000-00004

Desmond, C., Watt, K., Saha, A., Huang, J., & Lu, C. (2020). Prevalence and number of
children living in institutional care: Global, regional, and country estimates. The
Lancet Child & Adolescent Health, 6, 1-8. https://doi.org/10.1016/S2352-
4642(20)30022-5

Dias, P., Lima, V. S., Machado, B. C., Campos, J., & Carneiro, A. (2017). Bateria ASEBA
para os períodos pré-escolar e escolar. In M. Gonçalves, M. Simões, & L. S.
Almeida (Coords.), Psicologia Clínica e da Saúde: Instrumentos de Avaliação
(pp. 3-28). PACTOR. ISBN: 978-989-69-3064-6

Diniz, I., Assis, M., & Souza, M. (2018). Crianças institucionalizadas: Um olhar para o
desenvolvimento socioafetivo. Pretextos, 3(5), 261-285.
http://periodicos.pucminas.br/index.php/pretextos/article/view/15978

Dirks, M. A., Boyle, M. H., & Georgiades, K. (2011). Psychological symptoms in youth
and later socioeconomic functioning: Do associations vary by informant? Journal
of Clinical Child & Adolescent Psychology, 40(1), 10-22.
https://doi.org/10.1080/15374416.2011.533403

152
Dozier, M., Stovall, K., Albus, K., & Bates, J. (2001). Attachment for infants in foster
care: The role of caregiver state mind. Child Development, 72, 1467-1477.
https://doi.org/10.1111/1467-8624.00360

Drabick, D. A., Ollendick, T. H., & Bubier, J. L. (2010). Cooccurrence of ODD and
anxiety: Shared risk processes and evidence for a dual-pathway model. Clinical
Psychology: Science and Practice, 17(4), 307–318.
https://doi.org/10.1111/j.1468-2850.2010.01222.x

Eapen, D. J. (2009). Institutionalized children: The underprivileged. International


Journal of Nursing Practice, 15(5), 349-352. https://doi.org/10.1111/j.1440-
172X.2009.01785.x

Eenshuistra, A., Harder, A., & Knorth, E. (2019). One size does not fit all: A systematic
review of training outcomes on residential youth care professionals’ skills.
Children and Youth Services Review, 103, 135-147.
https://doi.org/10.1016/j.childyouth.2019/05.010

Egger, H. L., & Angold, A. (2006). Common emotional and behavioral disorders in
preschool children: Presentation, nosology, and epidemiology. Journal of Child
Psychology and Psychiatry, 47, 313–337. https://doi.org/10.1111/j.1469-
7610.2006.01618.x

Ehrlich, K. B., Cassidy, J., & Dykas, M. J. (2011). Reporter discrepancies among parents,
adolescents, and peers: Adolescent attachment and informant depressive
symptoms as explanatory factors. Child Development, 82(3), 999-1012.
https://doi.org/10.1111/j.1467-8624.2010.01530.x

Ellermann, C. R. (2007). Influences on the mental health of children placed in foster care.
Family and Community Health Supplement, 30, 23-32.
https://doi.org/10.1097/01.FCH.0000264878.50569.a3

Elliott, M., Staples. E., & Scourfield, J. (2017). The characteristics of children and young
people in residential care in Wales. Child Care in Practice, 24(3), 317-330.
https://doi.org/10.1080/13575279.2017.1319798

English, N., & English, L. (1999). A proactive approach to youth who run. Child Abuse
& Neglect, 23(7), 693-689. https://doi.org/10.1016/s0145-2134(99)00037-x

153
Epifânio, T., & Gonçalves, M. (2017). Crianças como sujeitos de direitos: Uma revisão
de literatura sobre crianças em situação de acolhimento institucional. Cadernos
Brasileiros de Terapia Ocupacional, 25(2), 373-386.
https://doi.org/10.4322/0104-4931.ctoAR0736

Erickson, K. G., Crosnoe, R., & Dornbusch, S. M. (2000). A social process model of
adolescent deviance: Combining social control and differential association
perspectives. Journal of Youth and Adolescence, 29, 395–425.
https://doi.org/10.1023/A:1005163724952

Erol, N., Simsek, Z., & Munir, K. (2010). Mental health reared in institutional care in
Turkey: Challenges and hope in the twenty-first century. European Child &
Adolescent Psychiatry, 19, 113-124. https://doi.org/10.1007/s00787-009-0047-2

Erol, N., Simsek, Z., Oskay, A., & Munir, K. (2017). Divergent developmental pathways
of children and adolescents reared in long-term residential protective care in
Turkey. Child Maltreatment in Residential Care, 241-267.
https://doi.org/10.1007/978-3-319-57990-0_12

Essex, M. J., Kraemer, H. C., Slattery, M. J., Burk, L. R., Boyce, W. T., Woodward, H.
R., & Kupfer, D. J. (2009). Screening for childhood mental health problems:
Outcomes and early identification. Journal of Child Psychology and Psychiatry
and Allied Disciplines, 50, 562–570. https://doi.org/10.1111/j.1469-
7610.2008.02015.x

Ferdinand, R. F. (2008). Validity of the CBCL / YSR DSM-IV scales Anxiety Problems
and Affective Problems. Erasmus, 22, 126-134.
https://doi.org/10.1016/j.janxdis.2007.01.008

Fernandez, E. (2008). Unravelling emotional, behavioural and educational outcomes in a


longitudinal study of children in Foster-Care. British Journal of Social Work, 38,
1283-1301. https://doi.org/10.1093/bjsw/bcm028

Fernández-Daza, M., & Fernández-Parra, A. (2017). Problemas de comportamiento,


problemas emocionales y de atención en niños y adolescentes que viven en
acogimiento residencial. Psychologia, 11(1), 57-70.
http://www.scielo.org.co/scielo.php?pid=S1900-
23862017000100057&script=sci_abstract&tlng=es

154
Ferreira, S., Magalhães, E., & Prioste, A. (2020). Social support and mental health of
young people in residential care: A qualitative study. Anuario de Psicología
Jurídica, 30, 29-34. https://doi.org/10.5093/apj2019a12

Franklin, A., & Goff, S. (2019). Listening and facilitating all forms of communication:
Disabled children and young people in residential care in England. Child Care in
Practice, 25(1), 99-111. https://doi.org/10.1080/13575279.2018.1521383

Frederico, M., Long, M., McNamara, P., McPherson, L., & Rose, R. (2017). Improving
outcomes for children in out-of-home care: The role of therapeutic foster care.
Child and Family Social Work, 22, 1064-1074. https://doi.org/10.1111/cfs.12326

Gabatz, R., Schwartz, E., & Milbrath, V. (2019). Perspectivas adotadas pelos cuidadores
na interação com a criança institucionalizada. Revista de enfermagem da UFSM,
9(18), 1-18. https://doi.org/10.5902/2179769228411

Gabatz, R., Schwartz, E., Milbrath, V., Carvalho, H., Lange, C., & Soares, M. (2018).
Formação e rompimento de vínculos entre cuidadores e crianças
institucionalizadas. Revista Brasileira de Enfermagem, 71(6), 2808-2816.
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0844

Gander, T., Boonmann, C., Fegert, J. M., Kölch, M., Schmeck, K., Di Gallo, A.,
Dölitzsch, C., & Schmid, M. (2019). Predictive factors for changes in quality of
life among children and adolescents in youth welfare institutions. Social
Psychiatry and Psychiatric Epidemiology, 54(12), 1575-1586.
https://doi.org/10.1007/s00127-019-01724-8.

Gearing, R. E., Schwalbe, C. S., MacKenzie, M. J., Brewer, K. B., & Ibrahim, R. W.
(2015). Assessment of adolescent mental health and behavioral problems in
institutional care: Discrepancies between staff-reported CBCL scores and
adolescent-reported YSR scores. Administration and Policy in Mental Health and
Mental Health Services Research, 42(3), 279-287.
https://doi.org/10.1007/s10488-014-0568-y

Gillen, P. (2018). Therapeutic residential care: Partnering with families for improved
outcomes. Child and Adolescent Behavior Letter, 34(9), 1-3.
https://doi.org/10.1002/cbl.30319

Gomes, I. (2010). Acreditar no Futuro. Texto Editores. ISBN: 978-972-47-4121-5


155
González-García, C., Bravo, A., Arruabarrena, I., Martín, E., Santos, I., & Del Valle, J.
F. (2017). Emotional and behavioral problems of children in residential care:
Sreenng detection and referrals to mental health services. Children and Youth
Services Review, 73, 100-106. https://doi.org/10.1016/j.childyouth.2016.12.011

Goossens, F. A., & van IJzendoorn, M. H. (1990). Quality of infants` attachments to


professional caregivers: Relation to infant-parent attachment and day-care
characteristics. Child Development, 61, 832-837. https://doi.org/10.1111/j.1467-
8624.1990.tb02825.x

Grigorenko, E., Geiser, C., Slobodskaya, H., & Francis, D. (2010). Cross-informant
symptoms from CBCL, TRF, and YSR: Trait and method variance in a normative
sample of Russian youths. Psychological Assessment, 22(4), 893-911.
https://doi.org/10.1037/a0020703

Grisso, T., & Underwood, L. A. (2002). Screening and assessing mental health and
substance use disorder in the juvenile justice system: A resource guide for
practitioners. The National Center for Mental Health and Juvenile Justice.
https://www.ncjrs.gov/pdffiles1/ojjdp/204956.pdf

Gutman, L. M., Sameroff, A. J., & Cole, R. (2003). Academic growth curve trajectories
from 1st grade to 12th grade: Effects of multiple social risk factors and preschool
child factors. Developmental Psychology, 39, 777–790.
https://doi.org/10.1037/0012-1649.39.4.777.

Habersaat, S., Ramain, J., Mantzouranis, G., Palix, J., Boonman, C., Fegert, J., Schmeck,
K., Perler, C., Schmid, M., & Urben, S. (2018). Substance-use disorders,
personality traits, and sex differences in institutionalized adolescents. The
American Journal of Drug and Alcohol Abuse, 1-9.
https://doi.org/10.1080/00952990.2018.1491587

Halvorsen, T. (2018). Poly-theorism in the field of residential child care. Scottish Journal
of Residential Child Care, 17(2), 1-27.
https://www.celcis.org/files/1315/2836/1135/2018_Vol_17_No_2_Halvorsen_T
_Poly-theorism.pdf

Harwick, R. M., Lindstrom, L., & Unruh, D. (2017). In their own words: Overcoming
barriers during the transition to adulthood for youth with disabilities who

156
experienced foster care. Children and Youth Services Review, 73, 338–346.
https://doi.org/10.1016/j.childyouth.2017.01.011

Hayes, A. (2013). An introduction to mediation, moderation, and conditional process


analysis: A regression based approach. The Guilford Press. ISBN: 978-146-25-
3465-4

Hermenau, K., Hecker, T., Elbert, T., & Ruf-Leuschner, M. (2014). Maltreatment and
mental health in institutional care – Comparing early and late institutionalized
children in Tanzania. Infant Mental Health Journal, 35(2), 102-110.
https://doi.org/10.1002/imhj.21440

Herrera, I. (2018). Infancia con necessidades de apoyo y fin del acogimiento residencial:
Estudio de casos de niños y niñas com diversidade funcional. Revista
Internacional de Trabajo Social y Bienestar, 7, 37-46.
https://revistas.um.es/azarbe/article/view/326481

Hjern, A., & Vinnerljung, B. (2002). Healthcare for children in foster and residential care.
Acta Paediatrica, 91, 1153-1154. https://doi.org/10.1111/j.1651-
2227.2002.tb00120.x

Holden, M., Izzo, C., Nunno, M., Smith, E., Endres, T., Holden, J., & Kuhn, F. (2010).
Children and residential experiences: A comprehensive strategy for implementing
a research-informed program model for residential care. Child Welfare, 89(2),
131-149. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/20857884/

Holden, M., & Sellers, D. (2019). An evidence-based program model for facilitating
therapeutic responses to pain-based behavior in residential care. International
Journal of Child, Youth and Family Studies, 10(2-3), 63–80.
https://doi.org/10.18357/ijcyfs102-3201918853

Hudziak, J., Achenbach, T., Althoff, R., & Pine, D. (2007). A dimensional approach to
developmental psychopathology. International Journal of Methods in Psychiatric
Research, 16, 16-24. https://doi.org/10.1002/mpr

Huefner, J., Pick, R., Smith, G., Stevens, A., & Mason, A. (2015). Parental involvement
in residential care: Distance, frequency of contact, and youth outcomes. Journal
of Child and Family Studies, 24, 1481-1489. https://doi.org/10.1007/s10826-014-
9953-0
157
Huefner, J., Ringle, J., Thompson, R., & Wilson, F. (2018) Economic evaluation of
residential length of stay and long-term outcomes. Residential Treatment for
Children & Youth, 35(3), 192-208.
https://doi.org/10.1080/0886571X.2018.1437375

Huefner, J., Smith, G., Ringle, J., Stevens, A., Mason, W., & Parra, G. (2017). Patterns
of psychotropic medication at admission for youth in residential care. Journal of
Child and Family Studies, 26, 317-328. https://doi.org/10.1007/s10826-016-
0548-9

Humphreys, K., Miron, D., McLaughlin, K., Sheridan, M., Nelson, C., Fox, N., & Zeanah,
C. (2018). Foster care promotes adaptive functioning in early adolescence among
children who experienced severe, early deprivation. Journal of Child Psychology
and Psychiatry, 59(7), 811-821. https://doi.org/10.111/jcpp.12865

IBM Corp. Released 2014. IBM SPSS statistics for windows, version 22.0. IBM Corp.

Instituto da Segurança Social, Instituto Público (ISS, IP). (2015). CASA 2014:
Caracterização Atual da Situação de Acolhimento das Crianças e Jovens. ISS,IP

Instituto da Segurança Social, Instituto Público (ISS, IP). (2017). CASA 2016:
Caracterização Atual da Situação de Acolhimento das Crianças e Jovens. ISS,
IP.

Instituto da Segurança Social, Instituto Público (ISS, IP). (2018). CASA 2017:
Caracterização Atual da Situação de Acolhimento das Crianças e Jovens. ISS,
IP.

Instituto da Segurança Social, Instituto Público (ISS, IP) (2019). CASA 2018: Relatório
de caracterização anual da situação do acolhimento das crianças e jovens. ISS,
IP.

Ison-Zintilini, M., & Morelato-Giménez, G. (2008). Habilidades sociocognitivas en niños


con conductas disruptivas y víctimas de maltrato. Universitas Psychologica, 7(2),
357–367. http://www.scielo.org.co/pdf/rups/v7n2/v7n2a05.pdf

James, S. (2011). What works in group care? A structures review of treatment models for
group homes and residential care. Children and Youth Services Review, 33,
308.321. https://doi.org/10.1016/j.childyouth.2010.03.014

158
James, S. (2017). Implementing evidence-based practice in Residential Care: How far
have we come? Residential Treatment for Children & Youth, 34(2), 155-175.
https://doi.org/10.1080/0886571X.2017.1332330

James, S., & Roby, J. (2019). Comparing reunified and residential care facility children's
wellbeing in Ghana: The role of hope. Children and Youth Services Review, 96,
316-325. https://doi.org/10.1016/j.childyouth.2018.12.001

James, S., Thompson, R., & Ringle, J. (2017). The implementation of evidence-based
practices in residential care: Outcomes, processes, and barriers. Journal of
Emotional and Behavioral Disorders, 25(1), 4-18.
https://doi.org/10.1177/1063426616687083

Jamora, M. S., Brylske, P. D., Martens, P., Braxton, D., Colantuoni, E., & Belcher, H. M.
(2009). Children in foster care: Adverse childhood experiences in psychiatric
diagnoses. Journal of Child & Adolescent Trauma, 2, 198-208.
https://doi.org/10.1080/19361520903120491

Janssens, A., & Deboutte, D. (2009). Screening for psychopathology in child welfare: the
Strengths and Difficulties Questionnaire (SDQ) compared with the Achenbach
System of Empirically Based Assessment (ASEBA). European Child &
Adolescent Psychiatry, 18, 691-700. https://doi.org/10.1007/s00787-009-0030-y

Johnston, M. (2009). Plasticity in the developing brain: Implications for rehabilitation.


Developmental Disabilities Research Reviews, 15, 94-101.
https://doi.org/10.1002/ddrr.64

Jozefiak, T., Kayed, N., Rimechaug, T., Wormdal, A., Brubakk, A., & Wichstram, L.
(2016). Prevalence and comorbidity of mental disorders among adolescents living
in residential youth care. European Child & Adolescent Psychiatry, 25, 33-47.
https://doi.org/10.1007/s00787-015-0700-x

Julião, C. (2019). Health promotion of children and young adults who live in residential
care institutions in Portugal. Child and Adolescent Social Work Journal, 36, 227-
235. https://doi.org/10.1007/s10560-019-00619-6

Kaur, M. (2019). Caregiver-child relationship in Residential Homes for children. Social


Work Chronicle, 8(1), 37-60.

159
https://search.proquest.com/openview/83075bb8441757f0132b17eb720d1fe5/1.
pdf?pq-origsite=gscholar&cbl=2030961

Keenan, K., & Wakschlag, S. (2000). More than the terrible twos: The nature and severity
of behavior problems in clinic-referred preschool children. Journal of Abnormal
Child Psychology, 28, 33-46. https://doi.org/10.1023/A:1005118000977

Keyes, C. (2006). Mental health in adolescence: Is America’s youth flourishing?


American Journal of Orthopsychiatry, 76, 395–402.
https://doi.org/10.1037/0002-9432.76.3.395

Kjelsberg, E., & Nygren, P. (2004). The prevalence of emotional and behavioural
problems in institutionalized childcare clients. Nordic Journal of Psychiatry, 58,
319-325. https://doi.org/10.1080/08039480410005846

Knorth, E. J., Harder, A. T., Zandberg, T., & Kendrick, A. J. (2008). Under one roof: A
review and selective meta-analysis on the outcomes of residential child and youth
care. Children and Youth Services Review, 30, 123-140.
https://doi.org/10.1016/j.childyouth.2007.09.001

Kools, S. (1997). Adolescent identity development in foster care. Family Relations, 46,
263-271. https://doi.org/10.2307/585124

Krishnaswami, U., & Kuttappan, S. (2019). Behavioral and emotional problems of


children under institutional care in Coimbatore district of Tamil Nadu. Indian
Journal of Community Health, 31(2), 273-278.
https://www.iapsmupuk.org/journal/index.php/IJCH/article/view/1068

Kugler, B. B., Burke, N. L., Bloom, M., Truax, T. V., Kaercher, L. B., & Storch, E. A.
(2013). Caregiver-teacher agreement on emotional and behavioral problems in
traumatized youth in residential treatment. Residential Treatment for Children &
Youth, 30, 151-167. https://doi.org/10.1080/0886571X.2013.813343

Larson, R., & Kleiber, D. (1993). Structured leisure as a context for the development of
attention during adolescence. Society and Leisure, 16, 77–98.
https://doi.org/10.1080/07053436.1993.10715443.

160
Lee, E., & Bukowski, W. (2012). Co-development of internalizing and externalizing
problem behaviors: Causal direction and common vulnerability. Journal of
Adolescence, 35, 713-729. https://doi.org/10.1016/j.adolescence.2011.10.008

Lehmann, S., & Kayed, N. (2018). Children placed in alternate care in Norway: A review
of mental health needs and current official measures to meet them. International
Journal of Social Welfare, 27, 364-371. https://doi.org/10.1111/ijsw.12323

Lei de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo (LPCJP), terceira revisão da Lei 147/99
de 8 de setembro, pela redação que lhe dá a Lei nº 164/2019 de 25 de outubro.

Leloux-Opmeer, H., Kuiper, C., Swaab, H., & Scholte, E. (2016). Characteristics of
children in Foster Care, Family-Style Group Care, and Residential Care: A
scoping review. Journal of Child and Family Studies, 25, 2357-2371.
https://doi.org/10.1007/s10826-016-0418-5

Leloux-Opmeer, H., Kuiper, C., Swaab, H., & Scholte, E. (2018). Similarities and
differences in the psychosocial development of children placed in different 24-h
settings. Journal of Child and Family Studies, 27, 1299-1310.
https://doi.org/10.1007/s10826-017-0955-6

Li, D., Chng, G., & Chu, C. (2019). Comparing long-term placement outcomes of
residential and family foster care: A meta-analysis. Trauma, Violence, & Abuse,
20(5), 653-664. https://doi.org/10.1177/1524838017726427

Liu, X., Tein, J. Y., Zhao, Z., & Sandler, I. N. (2005). Suicidality and correlates among
rural adolescents of China. Journal of Adolescent Health, 37, 443-451.
https://doi.org/10.1016/j.jadohealth.2004.08.027

Loman, M., Wiik, K., Frenn, K., Pollak, S., & Gunnar, M. (2009). Postinstitutionalized
children’s development: Growth, cognitive, and language outcomes. Journal of
Developmental & Behavioral Pediatrics, 30(5), 426-434.
https://doi.org/10.1097/DBP.0b013e3181b1fd08

Lordelo, E. (2002). Agora vá com a tia que a mamãe vem mais tarde: Creche como
contexto brasileiro de desenvolvimento. In E. R. Lordelo, A. M. A. Carvalho, &
S. H. Koller (Orgs.), Infância brasileira e contextos de desenvolvimento (pp. 77-
97). Casa do Psicólogo. ISBN: 978-857-39-6191-0

161
Maclean, K. (2003). The impact of institutionalization on child development.
Development and Psychopathology, 15, 853-884.
https://doi.org/10.1017.S0954579403000415

Magalhães, E., & Calheiros, M. (2017). A dual-factor model of mental health and social
support: Evidence with adolescents in residential care. Children and Youth
Services Review, 79, 442-449. https://doi.org/10.1016/j.childyouth.2017.06.041

Magalhães, E., Calheiros, M., & Costa, P. (2016). To be or not to be a rights holder: Direct
and indirect effects of perceived rights on psychological adjustment through group
identification in care. Children and Youth Services Review, 71, 110-118.
https://doi.org/10.1016/j.childyouth.2016.10.039

Maia, J. M., & Williams, L. C. (2005). Fatores de risco e fatores de proteção ao


desenvolvimento infantil: Uma revisão da área. Temas em Psicologia, 13(2), 91-
103. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
389X2005000200002

Maltais, C., Cyr, C., Parent, G., & Pascuzzo, K. (2019). Identifying effective interventions
for promoting parent engagement and family reunification for children in out-of-
home care: A series of meta-analyses. Child Abuse & Neglect, 88, 362-375.
https://doi.org/10.1016/j.chiabu.2018.12.009

Mannuzza, S., Klein, R. G., Bessler, A., & Malloy, P. (1993). Adult outcome of
hyperactive boys: Educational achievement, occupational rank, and psychiatric
status. Archives of General Psychiatry, 50, 565-576.
https://doi.org/10.1001/archpsyc.1993.01820190067007

Manso, J. (2003). Estudio sobre las repercusiones linguísticas del maltrato y abandono
emocional infantil. Revista de Logopedia, Foniatria y Audiologia, 23(4), 211-222.
https://doi.org/10.1016/S0214-4603(03)75764-7

Mäntymaa, M., Puura, K., Luoma, I., Latva, R., Salmelin, R., & Tamminen, T. (2012).
Predicting internalizing and externalizing problems at five years by child and
parental factors in infancy and toddlerhood. Child Psychiatry & Human
Development, 43, 153–170. https://doi.org/10.1007/s10578-011-0255-0.

Marcovitch, S., Goldberg, S., Gold, A., Washington, J., Wasson, C., Krekewich, K., &
Handley-Derry, M. (1997). Determinants of behavioral problems in Romanian
162
children adopted to Ontario. International Journal of Behavioral Development,
20, 17-31. https://doi.org/10.1080/016502597385414

Marinlovic, J., & Backovic, D. (2007). Relationship between type of placement and
competencies and problem behavior of adolescents in long-term foster care.
Children and Youth Services Review, 29, 216-225.
https://doi.org/10.1016/j.childyouth.2006.08.004

Marques, C., Torrado, M., Natário, A., & Proença, M. (2011). Rede de referenciação
hospitalar de psiquiatria da infância e da adolescência. Coordenação Nacional
para a Saúde Mental. https://www.sns.gov.pt/wp-content/uploads/2018/06/RRH-
Psiquiatria-da-Inf%C3%A2ncia-e-da-Adolesc%C3%AAncia-Para-CP.pdf

Martín, E., González-García, C., Del Valle, J. F., & Bravo, A. (2017). Therapeutic
residential care in Spain. Population treated and therapeutic coverage. Child &
Family Social Work, 1-7. https://doi.org/10.1111/cfs.12374

Martín, E., González-García, C., Del Valle, J. F., & Bravo, A. (2020). Detection of
behavioral and emotional disorders in residential child care: Using a multi-
informant approach. Children and Youth Services Review, 108, 1-6.
https://doi.org/10.1016/j.childyouth.2019.104588

Martin, J. L., Ford, C. B., Dyer-Friedman, J., Tang, J., & Huffman, L. C. (2004). Patterns
of agreement between parent and child ratings of emotional and behavioral
problems in an outpatient clinical setting: When children endorse more problems.
Journal of Developmental and Behavioral Pediatrics, 25(3), 150.
https://doi.org/10.1097/00004703-200406000-00002

Matos, M. G., Santos, A., Fauvelet, C., Marta, F., Evangelista, E., Ferreira, J., Moita, M.,
Conibear, T., & Mattila, M. (2016). O surf na promoção da saúde e bem-estar em
jovens em contexto de acolhimento: avaliação de uma intervenção. Revista de
Psicologia da Criança e do Adolescente, 7(1-2), 433-477.
http://revistas.lis.ulusiada.pt/index.php/rpca/article/view/2424

McAuley, C., & Trew, K. (2000). Children’s adjustment over time in foster care: Cross-
informant agreement, stability and placement disruption. British Journal of Social
Work, 30, 91-107. https://doi.org/10.1093/bjsw/30.1.91

163
McCall, R. B., & Groark, C. J. (2015). Research on Institutionalized Children:
Implications for International Child Welfare Practitioners and Policymakers.
International Perspectives in Psychology Research, Practice, Consultation, 4(2),
142–159. https://doi.org/10.1037/ipp0000033

McElroy, J. (1995). The primary caretaker model: A developmental model for the milieu
of children and adolescents. Journal of Child and Youth Care Work, 10, 116-129.

McMillan, N. (2020). Moral distress in Residential Child Care. Ethics and Social Welfare,
14(1), 52-64 https://doi.org/10.1080/17496535.2019.1709878

McWey, L., Cui, M., & Holtrop, K. (2014). Caregiver-adolescent dyadic disagreement
and problem behaviors of adolescents in the child welfare system. Journal of
Research on Adolescence, 25(1), 44-50. https://doi.org/10.1111/jora.12105

Mensah, T., Hjern, A., Hakanson, K., Johansson, P., Jonsson, A., Mattsson, T., Tranaeus,
S., Vinnerljung, B., Ostlunf, P., & Klingberg, G. (2019). Organisational models
of health services for children and adolescents in out-of-home care: Health
technology assessment. Acta Pediatrica, 109, 250-257.
https://doi.org/10.1111/apa.15002

Misquiatti, A., Nakaguma, P., Brito, M., & Olivati, A. (2015). Desempenho de
vocabulário em crianças pré-escolares institucionalizadas. Revista CEFAC, 17(3),
783-791. https://doi.org/10.1590/1982-0216201513814

Morais, N., Leitão, H., Koller, S., & Campos, H. (2004). Notas sobre a experiência de
vida num internato: Aspetos positivos e negativos para o desenvolvimento dos
internos. Psicologia em Estudo, 3, 379-387.
https://www.scielo.br/pdf/pe/v9n3/v9n3a05.pdf

Moretti, M., & Torrecilla, N. (2019). Development in institutionalized infants and


temporary shelter families: A bibliographic review. Interdisciplinaria, 36(2), 263-
281.

Mota, C., & Matos, P. (2008). Adolescência e institucionalização numa perspectiva de


vinculação. Psicologia & Sociedade, 20, 367–377. https://doi.org/10.1590/S0102-
71822008000300007

164
Mota, C. P., & Matos, P. M. (2010). Adolescentes institucionalizados: O papel das figuras
significativas na predição da assertividade, empatia e autocontrolo. Análise
Psicológica, 28(2), 245-254.
http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0870-
82312010000200001

Mota, C. P., Serra, L., Relva, I., & Fernandes, O. M. (2017). Do sibling relationships
protect adolescents in residential care and traditional families from developing
psychopathologies? Journal of Family Studies, 23(3), 260-277.
https://doi.org/10.1080/13229400.2015.1106333

Mutiso, V., Musyimi, C., Tele, A., & Ndetei, D. (2017). Epidemiological patterns and
correlates of mental disorders among orphans and vulnerable children under
institutional care. Social Psychiatry and Psychiatric Epidemiology, 52, 65-75.
https://doi.org/10.1007/s00127-016-1291-7

Nascimento, R., & Piassão, C. (2010). Avaliação e estimulação do desenvolvimento


neuropsicomotor em lactentes institucionalizados. Revista Neurociências, 18(4),
469-478. https://doi.org/10.34024/rnc.2010.v18.8447

Naumova O., Rychkov, S., Kornilov, S., Odintsova, V., Anikina, V., Solodunova, M.,
Arintcina, I., Shulova, M., Ovchinnikova, I., Burenkova, O., Zhukova, O.,
Muhamedrahimov, R., & Grigorenko, E. (2019). Effects of early social
deprivation on epigenetic statuses and adaptive behavior of young children: A
study based on a cohort of institutionalized infants and toddlers. PLoS ONE, 14(3),
1-29. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0214285

Nóbrega, J., & Minervino, C. (2011). Análise do nível de desenvolvimento da linguagem


em crianças abrigadas. Psicologia Argumento, 29(65), 219-226.
https://periodicos.pucpr.br/index.php/psicologiaargumento/article/view/20361

O'Connor, T. G., Monk, C., & Burke, A. S. (2016). Maternal affective illness in the
perinatal period and child development: Findings on developmental timing,
mechanisms, and intervention. Current Psychiatry Reports, 18(3), 1–5.
https://doi.org/10.1007/s11920-016-0660-y

165
Oliván, G. (2002). Maltreatment histories and mental health problems are common
among runaway adolescents in Spain. Acta Paediatrica, 91, 1274-1275.
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/12463337/

Oliveira, P. S., Fearon, M. R. P., Belsky, J., Fachada, I., & Soares, I. (2015). Quality of
institutional care and early childhood development. International Journal of
Behavioral Development, 39(2), 161–170.
https://doi.org/10.1177/0165025414552302

Oppenheim, D., Sagi, A., & Lamb, M. E. (1988). Infant-adult attachments on the Kibbutz
and their relation to socioemotional development four years later. Development
Psychology, 24(3), 427-434. https://doi.org/10.1037/0012-1649.24.3.427

Orme, J. G., & Buehler, C. (2001). Foster family characteristics and behavioral and
emotional problems of foster children: A narrative review. Family Relations: An
Interdisciplinary Journal of Applied Family Studies, 50(1), 3-15.
https://doi.org/10.1111/j.1741-3729.2001.00003.x

Otieno, P., Nduati, R., Musoke, R., & Wasunna, A. (1999). Growth and development of
abandoned babies in institutional care in Nairobi. East African Medical Journal,
76, 430-435. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/10520347/

Overbeek, G., Biesecker, G., Kerr, M., Stattin, H., Meeus, W., & Engels, R. (2006). Co-
occurrence of depressive moods and delinquency in early adolescence: The role
of failure expectations, manipulativeness, and social contexts. International
Journal of Behavioral Development, 50, 433–443.
https://doi.org/10.1177/0165025406071491

Pereda, N., Guilera, G., & Abad, J. (2014). Victimization and polyvictimization of
Spanish children and youth: Results from a community sample. Child Abuse &
Neglect, 38(4), 640–649. https://doi.org/10.1016/j.chiabu.2014.01.019

Pereira, M., Soares, I., Dias, P., Silva, J., Marques, S., & Baptista, J. (2010).
Desenvolvimento, psicopatologia e apego: Estudo exploratório com crianças
institucionalizadas e suas cuidadoras. Psicologia: Reflexão e Crítica, 23(2), 222-
231. https://doi.org/ 10.1590/S0102-79722010000200004

166
Pimentel, A., Antão, J., & Ramos, A. (2015). Avaliação de um programa de promoção da
saúde mental com crianças institucionalizadas. Psicologia em Revista, 21(2), 218-
234. https://doi.org/10.5752/P.1678-9523.2015v21n2p218

Pinhel, J., Torres, N., & Maia, J. (2009). Crianças institucionalizadas e crianças em meio
familiar de vida: Representações de vinculação e problemas de comportamento
associado. Análise Psicológica, 4(27), 509-521.
http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0870-
82312009000400006

Pires, J., & Martins, P. (2019). Saúde mental e utilização de psicofármacos em crianças e
jovens em regime de acolhimento residencial em Portugal – um estudo
exploratório. Configurações, 23, 123-137.
https://doi.org/10.4000/configuracoes.7165

Polnay, L., & Ward, H. (2000). Promoting the health of looked after children.
Government proposals demand leadership and a culture change. British Medical
Journal, 320, 661-662. https://doi.org/10.1136/bmj.320.7236.661

Proeschold-Bell, R., Molokwua, N., Keyes, C., Sohailc, M., Eagle, D., Parnell, H.,
Kinghornd, W., Amanya, C., Vann, V., Madang, I., Biru, B., Lewis, D., Dubie,
M., & Whetten, K. (2019). Caring and thriving: An international qualitative study
of caregivers of orphaned and vulnerable children and strategies to sustain positive
mental health. Children and Youth Services Review, 98, 143-153.
https://doi.org/10.1016/j.childyouth.2018.12.024

Pullmann, M., Jacobson, J., Parker, E., Cevasco, M., Uomoto, J., Putnam, B., Benshoof,
T., & Kerns, S. (2018). Tracing the pathway from mental health screening to
services for children and youth in foster care. Children and Youth Services Review,
89, 340-354. https://doi.org/10.1016/j.childyouth.2018.04.038

Randsalu, L., & Laurell, L. (2017). Children in out-of-home care are at high risk of
somatic, dental and mental ill health. Acta Paediatrica, 107(2), 301-306.
https://doi.org/10.1111/apa.14108

Raviv, T., Taussig, H. N., Culhane, S. E., & Garrido, E. F. (2010). Cumulative risk
exposure and mental health symptoms among maltreated youth placed in out-of-

167
home care. Child Abuse & Neglect, 34(10), 742–751.
https://doi.org/10.1016/j.chiabu.2010.02.011

Reijneveld, S., Brugman, E., Verhulst, F., & Verloove-Vanhorick, S. (2005). Area
deprivation and child psychosocial problems: A national cross-sectional study
among school-aged children. Social Psychiatry and Psychiatric Epidemiology, 40,
18–23. https://doi.org/10.1007/s00127-005-0850-0

Resende, A., Oliveira, L., & Franco, R. (2019). Crianças institucionalizadas e sintomas
depressivos por meio do Rorschach e do CDI. Psico, 50(3), 1-15.
https://doi.org/10.15448/1980-8623.2019.3.29666

Reyes, A. D. L., Youngstrom, E. A., Pabón, S. C., Youngstrom, J. K., C, N., & Reyes, A.
D. L. (2011). Internal Consistency and associated characteristics of Informant
Discrepancies in clinic referred Youths age 11 to 17 years Internal Consistency
and associated characteristics of Informant Discrepancies in clinic referred youths
age 11 to 17 years. Journal of Clinical Child & Adolescent Psychology, 40(1), 36-
53. https://doi.org/10.1080/15374416.2011.533402.

Ribeiro, C. (2009). A criança na justiça: Trajectórias e significados do processo judicial


de crianças vítimas de abuso sexual intrafamiliar. Almedina. ISBN: 978-972-40-
3787-5

Richardson, J., & Joughin, C. (2000). The mental health of looked after children. The
Dorset Press. ISBN: 978-190-12-4248-5

Richardson, M., Caldarella, P., Young, B., Young, E., & Young, R. (2009). Further
validation of the systematic screening for Behavior Disorders in middle and junior
High School. Psychology, 46(7), 605-615. https://doi.org/10.1002/pits

Roche, S. (2019). A scoping review of children's experiences of residential care settings


in the global South. Children and Youth Services Review, 105, 1-14.
https://doi.org/10.1016/j.childyouth.2019.104448

Rodrigues, L. A., Gava, L. L., Sarriera, J. C., & Dell’Aglio, D. D. (2014). Percepção de
preconceito e autoestima entre adolescentes em contexto familiar e em situação
de acolhimento institucional. Estudos e Pesquisas em Psicologia, 14(2), 389-407.
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/epp/v14n2/v14n2a02.pdf

168
Rodrigues, S., & Barbosa-Ducharne, M. (2017). Residential child and youth care in
Potugal: Current and the need for quality care assessment. In T. Islam & L. Fulcher
(Eds.), Residential child and youth care in a developing world: European
perspectives (pp. 356-366). The CYC-Net Press. ISBN: 978-192-82-1228-7

Rodrigues, S., Barbosa-Ducharne, M., & Del Valle, J. F. (2015). ARQUA-P: Sistema
Compreensivo de Avaliação da Qualidade do Acolhimento Residencial
Português©. Registo 2650/2015. Secretaria de Estado da Cultura, Inspeção-Geral
das Atividades Culturais - Direção de Serviços de Propriedade Intelectual.

Rodrigues, S., Barbosa-Ducharne, M., Del Valle, J. F., & Campos, J. (2019).
Psychological adjustment of adolescents in Residential Care: Comparative
analysis of Youth Self-Report / Strengths and Difficulties Questionnaire. Child
and Adolescent Social Work Journal, 36, 247-258.
https://doi.org/10.1007/s10560-019-00614-x

Rosenthal, J., & Curiel, H. (2006). Modeling behavioral problems of children in the child
welfare system: Caregiver, youth, and teacher perceptions. Children and Youth
Services Review, 28, 1391-1408.
https://doi.org/10.1016/j.childyouth.2006.02.007

Rutter, M. (2000). Children in substitute care: Some conceptual considerations and


research implications. Children and Youth Services Review, 22(9), 685–703.
https://doi.org/10.1016/S0190-7409(00)00116-X

Sainero, A., Bravo, A., & Del Valle, J. F. (2015). Examining needs and referrals to mental
health services for children in residential care in Spain: An empirical study in an
Autonomous Community. Journal of Emotional and Behavioral Disorders, 22(1),
16-26. https://doi.org/10.1177/1063426612470517

Sainero, A., Del Valle, J. F., & Bravo, A. (2015). Detección de problemas de salud mental
en un grupo especialmente vulnerable: niños y adolescentes en acogimiento
residencial. Anales de Psicología, 31(2), 472-480.
https://doi.org/10.6018/analesps.31.2.182051

Sãfvenbom, R., & Sandahl, D. (2000). Leisure for youth in residential care: An important
context for intervention. International Journal of Social Welfare, 9, 120–127.
https://doi.org/10.1111/1468-2397.00117

169
Sandoval, M., Lemos, S., & Vallejo, G. (2006). Self-reported compentencies and
problems in Spanish adolescents: A normative study of the YSR. Psicothema,
18(4), 804–809. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17296121/

Scarr, S., & Eisenberg, M. (1993). Child care research: Issues, perspectives, and results.
Annual Review of Psychology, 44, 613-644.
https://doi.org/10.1146/annurev.ps.44.020193.003145

Schipper, J. C., Tavecchio, L. W. C., & van IJzendoorn, M. H. (2008). Children`s


attachment relationships with day care caregivers: Associations with positive
caregiving and the child`s temperament. Social Development, 17(3), 454-470.
https://doi.org/10.1111/j.1467-9507.2007.00448.x

Schmid, M., Goldbeck, L., Nuetzel, J., & Fegert, J. (2008). Prevalence of mental disorders
among adolescents in German youth welfare institutions. Child and Adolescents
Psychiatry and Mental Health, 2(2), 1-8. https://doi.org/10.1186/1753-2000-2-2

Schuengel, C., Oosterman, M., & Sterkenburg, P. S. (2009). Children with disrupted
attachment histories: Interventions and psychophysiological indices of effects.
Child and Adolescent Psychiatry and Mental Health, 3(26), 1-10.
https://doi.org/10.1186/1753.2000-3-26

Segura, A., Pereda, N., Abad, J., & Guilera, G. (2015). Victimization and
polyvictimization among Spanish youth protected by the child welfare system.
Children and Youth Services Review, 59, 105–112.
https://doi.org/10.1016/j.childyouth.2015.10.011

Segura, A., Pereda, N., Guilera, G., & Álvarez-Lister, S. (2017). Poly-victimization and
mental health among adolescents in residential facilities in Spain. Child
Maltreatment in Residential Care, 149-168. https://doi.org/10.1007/978-3-319-
57990-0_7

Sempik, J., Ward, H., & Draker, I. (2008). Emotional and behavioural difficulties of
children and young people at entry into care. Clinical Child Psychology and
Psychiatry, 13(2), 221-233. https://doi.org/10.1177/1359104507088344

Sen, R., Kendrick, A., Milligan, I., & Hawthorn, M. (2008). Lessons learnt? Abuse in
residential child care in Scotland. Child & Family Social Work, 13(4), 411- 422.
https://doi.org/10.1111/j.1365-2206.2008.00566.x
170
Sheridan, M., Dury, S., McLaughlin, K., & Almas, A. (2010). Early institutionalization:
Neurobiological consequences and genetic modifiers. Neuropsychology Review,
20(4), 414-429. https://doi.org/10.1007/s11065-010-9152-8

Sherr, L., Roberts, K., & Gandhi, N. (2017). Child violence experiences in
institutionalized/orphanage care. Psychology, Health & Medicine, 22(1), 31-57.
https://doi.org/10.1080/13548506.2016.1271951

Sigal, J., Perry, J., Rossignol, M., & Ouimet, M. (2003). Unwanted infants: Psychological
and physical consequences of inadequate orphanage care 50 years later. American
Journal of Orthopsychiatry, 73, 3-12. https://doi.org/10.1037/0002-9432.73.1.3

Silva, C., & Motta, I. (2018). A importância do cuidado emocional em adolescentes de


instituições de acolhimento. Actas do 12º Congresso Nacional de Psicologia da
Saúde, 221-229.
https://repositorio.ispa.pt/bitstream/10400.12/6183/1/12CongNacSaude221.pdf

Silva, C., Sobrinho, C., Silva, M., Ferrari, A., Crocetta, T., Monteiro, C., Gonçalves, D.,
Fernani, L., & Dantas, M. (2019). Development and motor control of individuals
institutionalized in shelters. ConScientiae Saúde, 18(2), 199-207.
https://doi.org/10.5585/ConsSaude.v18n2.11020

Silva, E., & Aquino, L. (2005). Os abrigos para crianças e adolescentes e o direito à
convivência familiar e comunitária. Políticas Sociais - Acompanhamento e
Análise, 11, 186-193.
http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/4571/1/bps_n.11_ENSAIO3_abrig
os.pdf

Simms, M., Dubowitz, H., & Szilagyi, M. A. (2000). Health care needs of children in the
foster care system. Pediatrics, 106, 909-918.
https://doi.org/10.1542/peds.109.3.536

Simsek, Z., Erol, N., Oztop, D., & Munir, K. (2007). Prevalence and predictors of
emotional and behavioral problems reported by teachers among institutionally
reared children and adolescents in Turkish orphanages compared with community
controls. Children and Youth Services Review, 29(7), 883-899.
https://doi.org/10.1016/j.childyouth.2007.01.004

171
Siqueira, A. C., & Dell`Aglio, D. D. (2006). O impacto da institucionalização na infância
e na adolescência: Uma revisão de literatura. Psicologia & Sociedade, 18(1), 71-
80. https://doi.org/10.1590/S0102-71822006000100010

Siqueira, A. C., & Dell`Aglio, D. D. (2010). Crianças e adolescentes institucionalizados:


Desempenho escolar, satisfação de vida e rede de apoio social. Psicologia: Teoria
e Pesquisa, 26(3), 407-415. https://doi.org/10.1590/S0102-37722010000300003

Smyke, A., Zeanah, C., Fox, N., Nelson, C., & Guthrie, D. (2010). Placement in foster
care enhances quality of attachment among young institutionalized children. Child
Development, 81(1), 212– 223. https://doi.org/10.1111/j.1467-
8624.2009.01390.x.

Soares, I. (2009). Relações de Vinculação ao Longo do Desenvolvimento: Teoria e


Avaliação. Psiquilíbrios Edições. ISBN: 978-972-97-3884-5

Soares, I., Belsky, J., Oliveira, P., Silva, J., Marques, S., Baptista, J., & Martins, C.
(2014). Does early family risk and current quality of care predict indiscriminate
social behavior in institutionalized Portuguese children? Attachment & Human
Development, 16(2), 137-148. https://doi.org/10.1080/14616734.2013.869237

Sonuga-Barke, E., Kennedy, M., Kumsta, R., Knights, N., Golm, D., Rutter, M.,
Maughan, B., Schlotz, W., & Kreppner, J. (2017). Child-to-adult
neurodevelopmental and mental health trajectories after early life deprivation: the
young adult follow-up of the longitudinal English and Romanian Adoptees study.
The Lancet, 389, 1539-1548. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(17)30045-4

Sroufe, L. A., & Rutter, M. (1984). The domain of developmental psychopathology. Child
Development, 55, 17–29. https://doi.org/10.2307/1129832

Stanger, C., & Lewis, M. (1993). Agreement among parents, teachers and children on
externalizing and internalizing behavior problems. Journal of Clinical Child
Psychology, 22(1), 107-115. https://doi.org/10.1207/s15374424jccp2201_11

Steels, S., & Simpson, H. (2017). Perceptions of children in Residential Care Homes: A
critical review of the literature. British Journal of Social Work, 47, 1704-0722.
https://doi.org/10.1093/bjsw/bcx107

172
Stevens, A., Ho, K., Mason, A., & Chmelka, M. (2019). Using equipercentile equating to
link scores of the CBCL and SDQ in Residential Youth. Residential Treatment for
Children & Youth, 1-12. https://doi.org/10.1080/0886571X.2019.1704670

Strijker, J., van Oijen, S., & Knot-Dicksheit, J. (2011). Assessment of problem behavior
by foster parents and their foster children. Child and Family Social Work, 16, 93-
100. https://doi.org/10.1111/j.1365-2206.2010.00717.x

Swan, M., Holt, S., & Kirwan, G. (2018). ‘Who do I turn to if something really bad
happens?’ Key working and relationship-based practice in residential child care.
Journal of Social Work Practice, 32(4), 447-461.
https://doi.org/10.1080/02650533.2018.1503161

Tackett, J., & Awong, T. (2008). Thomas M. Achenbach and Leslie A. Rescorla,
Multicultural Understanding of Child and Adolescent Psychopathology:
Implications for Mental Health Assessment. Journal of Youth Adolescence, 37,
488-491. https://doi.org/10.1007/s10964-007-9229-8

Tarren-Sweeney, M. J., Hazell, P. L., & Carr, V. J. (2004). Are foster parents reliable
informants of children’s behavior problems? Child: Care, Health and
Development, 30(2), 167-175. https://doi.org/10.1111/j.1365-2214.2003.00407.x

Taussig, H. N., & Culhane, S. E. (2010). Impact of a mentoring and skills group program
on mental health outcomes for maltreated children in foster care. Archives of
Pediatrics & Adolescent Medicine, 164(8), 739-774.
https://doi.org/10.1001/archpediatrics.2010.124

Tavares-Rodrigues, A., González-García, C., Bravo, A., & Del Valle, J. F. (2019). Needs
assessment of youths in residential child care in Portugal. Revista de Psicología
Social, 34(2), 354-382. https://doi.org/10.1080/02134748.2019.1576325

Thompson, R., Hurley, K., Trout, A., Huefner, J., & Daly, D. (2017). Closing the research
to practice gap in therapeutic residential care: Service provider-university
partnerships focused on Evidence-Based Practice. Journal of Emotional and
Behavioral Disorders, 25(1), 46-56. https://doi.org/10.1177/1063426616686757

Timonen-Kallio, E. (2019). Interprofessional collaboration between residential child care


and mental care practitioners: a cross-country study in six European countries.

173
European Journal of Social Work, 22(6), 947-960.
https://doi.org/10.1080/13691457.2018.1441135

Turk, J., Graham, P., & Verhulst, F. (1999). Child psychiatry: A developmental approach.
Oxford University Press. ISBN: 978-019-26-2864-0

Turney, K., & Wildeman, C. (2016). Mental and pshysical health of children in foster
care. Pediatrics, 138(5), 1-11. https://doi.org/10.1542/peds.2016-1118

Valdeira, S., & Faria, C. (2017). Acolhimento terapêutico: O caminho. Revista de


Psicologia da Criança e do Adolescente, 8, 235-246.
http://revistas.lis.ulusiada.pt/index.php/rpca/article/view/2489

van IJzendoorn, M., Bakermans-Kranenburg, M. J., Duschinsky, R., Fox, N. A.,


Goldman, P. S., Gunnar, M. R., Johnson, D. E., Nelson, C. A., Reijman, S.,
Skinner, G. C. M., Zeanah, C. H., & Sonuga-Barke, E. J. S. (2020).
Institutionalisation and deinstitutionalisation of children 1: A systematic and
integrative review of evidence regarding effects on development. The Lancet
Psychiatry, 7, 703-720. https://doi.org/10.1016/S2215-0366(19)30399-2

Vargas, M., Martíneza-Montoro, J. I., Martínez, S., Fernández-López, L., Checa, A.,
Molina-Carballo, A., & Muñoz-Hoyos, A. (2017). Estudio de prevalência del
transtorno por déficit de atención e hiperactividad en niños en regime de
acogimiento residencial. Revista de Psiquiatría Infanto-Juvenil, 3, 332-350.
https://doi.org/10.31766/revpsij.v34n3a3

Verona, E., Javdani, S., & Sprague, J. (2011). Comparing factor structures of adolescent
psychopathology. Psychological Assessment, 23(2), 545-551.
https://doi.org/10.1037/a0022055

Vinnerljung, B. (1998). Schooling and education of foster children. Socialvetenskaplig


Tidskrift, 5, 58-80.

Vinnerljung, B., Sallnas, M., & Kyhle Westermark, P. (2001). Breakdown in placements
of adolescents in foster care. Stockholm: The National Board of Health and
Welfare/Centre for Evaluation of Social Services.

Wakschlag, L. S., Briggs-Gowan, M. J., Carter, A. S., Hill, C., Danis, B., Keenan, K.,
McCarthy, K. J., & Leventhal, B. L. (2007). A developmental framework for

174
distinguishing disruptive behavior from normative misbehavior in preschool
children. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 48, 976–987.
https://doi.org/10.1111=j.1469-7610.2007.01786.x

Wang, X., Zhang, D., & Wang, J. (2011). Dual-factor model of mental health: Surpass
the traditional mental health model. Psychology, 2(8), 767–772.
https://doi.org/10.4236/psych.2011.28117

Warner, H., McCall, R., Groark, C., Kim, K., Muhamedrahimov, R., Palmov, O., &
Nikiforova, N. (2017). Caregiver-child interaction, caregiver transitions, and
group size as mediators between intervention condition and attachment and
physical growth outcomes in institutionalized children. Infant Mental Health
Journal, 38(5), 645-657. https://doi.org/10.1002/imhj.21666

Weiss, B., Tram, J., Weisz, J., Rescorla, L., & Achenbach, T. (2009). Differential
symptom expression and somatization in Thai versus U.S. children. Journal of
Consulting and Clinical Psychology, 77(5), 987-992.
https://doi.org/10.1037/a0016779

Wendt, G., Costa, A., Poletto, M., Cassepp-Borges, V., Dellaglio, D., & Koller, S. (2019).
Stressful events, life satisfaction, and positive and negative affect in youth at risk.
Children and Youth Services Review, 102, 34-41.
https://doi.org/10.1016/j.childyouth.2019.04.028

White, R., & Renk, K. (2012). Externalizing Behavior Problems during Adolescence: An
ecological perspective. Journal of Child and Family Studies, 21, 158-171.
https://doi.org/10.1007/s10826-011-9459-y

Whittaker, J. (2017). Pathways to evidence-based practice in therapeutic residential care:


A commentary. Journal of Emotional and Behavioral Disorders, 25(1), 57-61.
https://doi.org/10.1177/1063426616686345

Whittaker, J., Holmes, L., Del Valle, J. F., Ainsworth, F., Andreassen, T., Anglin, J.,
Bellonci, C., Berridge, D., Bravo, A., Canali, C., Courtney, M., Currey, L., Daly,
D., Gilligan, R., Grietens, H., Harder, A., Holden, M., James, S., Kendrick, A., …
Zeira, A. (2016). Therapeutic residential care for children and youth: A consensus
statement of the international work group on therapeutic residential care.

175
Residential Treatment for Children & Youth, 33(2), 89-106.
https://doi.org/10.1080/0886571X.2016.1215755

Willrich, A., Azevedo, C., & Fernandes, J. (2009). Desenvolvimento motor na infância:
influência dos fatores de risco e programas de intervenção. Revista Neurociências,
17, 51-56. https://doi.org/10.34024/rnc.2009.v17.8604

Wright, A., Richard, S., Sosnowski, D., & Kliewer, W. (2019). Predictors of better
functioning among institutionalized youth: A systematic review. Journal of Child
and Family Studies, 28, 3245–3267. https://doi.org/10.1007/s10826-019-01527-0

Yampolskaya, S., Sharrock, P., Clark, C., & Hanson, A. (2017). Utilization of mental
health services and mental health status among children placed in out-of-home
care: A parallel process latent growth modeling approach. Child Psychiatry &
Human Development, 48, 728-740. https://doi.org/10.1007/s10578-016-0699-3

Yazawa, A., Takada, S., Suzuki, H., Fujisawa, T., & Tomoda, A. (2019). Association
between parental visitation and depressive symptoms among institutionalized
children in Japan: a cross-sectional study. BMC Psychiatry, 19(129), 1-9.
https://doi.org/10.1186/s12888-019-2111-x

Yoon, M., Cho, S., & Yoon, D. (2019). Child maltreatment and depressive
symptomatology among adolescents in out-of-home care: The mediating role of
self-esteem. Children and Youth Services Review, 101, 255-260.
https://doi.org/10.1016/j.childyouth.2019.04.015

Youngstrom, E., Loeber, R., & Stouthamer-Loeber, M. (2000). Patterns and correlates of
agreement between parent, teacher, and male adolescent ratings of externalizing
and internalizing problems. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 68(6),
1038-1050. https://doi.org/10.1037//0022-006x.68.6.1038

Yslado-Méndez, R., Villafuerte-Vicencio, M., Sánchez-Broncano, J., & Rosales-Mata, I.


(2019). Experiences in the institutionalization process and emotional intelligence
in children and adolescents: Differences according to sociodemographic variables.
Revista Costarricense de Psicología, 38(2), 179-204.
https://doi.org/10.22544/rcps.v38i02.04

Yubero, S., Navarro, R., Maldonado, M., Gutiérrez-Zornoza, M., Elche, M., & Larrañaga,
E. (2019). Bullying and psychological distress in a vulnerable group: Youth in
176
residential child care. Journal of Child and Family Studies, 28, 2618–2629.
https://doi.org/10.1007/s10826-019-01508-3

Yunes, M., Miranda, A., & Cuello, S. (2004). Um olhar ecológico para os riscos e as
oportunidades de desenvolvimento de crianças e adolescentes institucionalizados
In S. H. Koller (Ed.), Ecologia do desenvolvimento humano: pesquisa e
intervenções no Brasil (pp. 197-218). Casa do Psicólogo. ISBN: 979-857-39-
6388-4

Zeanah, C. H. (2000). Disturbances of attachment in young children adopted from


institutions. Journal of Developmental and Behavioral Pediatrics, 21, 230-236.
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/10883884/

Zeanah, C., Egger, H., Smyke, A., Nelson, C., Fox, N., Marshall, P., & Guthrie, D. (2009).
Institutional rearing and psychiatric disorders in Romanian preschool children.
American Journal of Psychiatry, 166(7), 777-785.
https://doi.org/10.1176/appi.ajp.2009.08091438

Zeanah, H., Nelson, C., Fox, N., Smyke, A., Marshall, P., Parker, S., & Koga, S. (2003).
Designing research to study the effects of institutionalization on brain and
behavioral development: The Bucharest Early Intervention Project. Development
and Psychopathology, 15, 885-907. https://doi.org/10.1017/s0954579403000452

Zeanah, C. H., Smyke, A. T., Koga, S. F., & Carlson, E. (2005). Attachment in
Institutionalized and Community in Children in Romania. Child Development,
76(5), 1015-1028. https://doi.org/10.1111/j.1467-8624.2005.00894.x

Zhang, Y., Cecil, C., Barker, E., Mori, S., & Lau, J. (2019). Dimensionality of early
adversity and associated Behavioral and Emotional Symptoms: Data from a
sample of Japanese institutionalized children and adolescents. Child Psychiatry &
Human Development, 50, 425–438. https://doi.org/10.1007/s10578-018-0850-4

Zito, J., Safer, D., Sai, D., Gardner, J., Thomas, D., Coombes, P., & Mendezlewis, M.
(2008). Psychotropic medication patterns among youth in foster care. Pediatrics,
121(1), 157-163. https://doi.org/10.1542/peds.2007-0212

Zurita, J. F., & Del Valle, J. F. (2005). Acogimiento residencial. In J. P. Ochotorena &
M. I. Madariaga (Eds.), Manual de protección infantil (pp. 409-470). Masson.
ISBN: 978-844-58-1046-0
177

Você também pode gostar