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RECUPERAÇÃO DE RESERVATÓRIO APOIADO COM PROTENSÃO EXTERNA

Article · October 2005

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Christian Donin
University of Santa Cruz do Sul
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- ABPE -

RECUPERAÇÃO DE RESERVATÓRIO APOIADO COM PROTENSÃO


EXTERNA

Jorge Martins Sarkis


sarkis_engenharia@yahoo.com.br

Paulo Jorge Sarkis


gabinete@adm.ufsm.br

Christian Donin
cdonin@smail.ufsm.br

Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia - Departamento de Estruturas e Construção Civil.
Telefone (55) 3220 8144 - Prédio 07, Cidade Universitária, Camobi, Santa Maria, RS, Brasil - CEP 97105-900.

Resumo
Trata-se de reservatório apoiado, com capacidade de 5,5 mil metros cúbicos, com
forma, em planta, aproximadamente trapezoidal, localizado na cidade de Santa Maria.
O reservatório apresentou, um histórico de sucessivas patologias manifestadas por
grandes fissuras com importantes perdas de água tratada. Nas sucessivas intervenções cada
elemento do reservatório (paredes e laje de fundo) foi recuperado com protensão externa.
Nesta seqüência de recuperação o reservatório resultou com todas as paredes e laje
de fundo protendidas.
No trabalho são apresentados os exames e análises realizadas, o diagnóstico final e o
projeto de recuperação aplicado em cada fase da manifestação patológica. A ausência de
armaduras horizontais, para resistir ao esforço de tração direta produzido pelo empuxo
d'água foi sempre a origem das diversas patologias.
Como este reservatório é fundamental para manutenção do abastecimento de água na
cidade, as soluções adotadas em cada fase, tiveram sempre em conta abreviar o período de
interdição de uso.
Esta preocupação com a manutenção do abastecimento d'água na cidade foi a origem
da adoção de soluções que consideravam sempre a rapidez de execução e a possibilidade
de intervenção futura caso outras patologias potenciais, mas ainda não manifestas, viessem
a ocorrer.

Palavras-Chave: Reservatório, Concreto, Patologia, Recuperação, Protensão.

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Congresso de Pontes e Estruturas - ABPE 50 Anos

Abstract
This paper is about a tank over continuous footing, with capacity for 5.5 thousand
cubic meters, with an approximately trapezoidal form, in plant, situated in the city of
Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brazil.
The tank presented past history of successive pathologies manifested by greats
cracks with important losses of treated water. In the successive interventions, each element
of the tank (walls and slab footing) was recuperated with external prestressing.
In this repairing sequence, the tank walls and its slab footing received a prestressing
treatment.
This paper presents the exams and analyses that were carried out, the final diagnosis
and the recuperation plan implemented in each phase of the pathologic manifestation. The
absence of horizontal reinforcement to resist the direct traction effort produced by the
water pushing has always originated all the various pathologies.
Since this tank is fundamental for the maintenance of the city water supply, the
adopted solutions in each phase have always taken into consideration the abbreviation of
the time of interdiction of use.
This concern with the maintenance of the city water supply determined solutions
that always considered the speed of execution and the possibility of future intervention in
case other potential pathologies, yet not manifested, came to occur.

Keywords: Tank, Concrete, pathologies, recovery, prestressing

1. INTRODUÇÃO
A obra é um reservatório, em concreto armado, inicialmente semi-enterrado,
posteriormente, devido às escavações em sua periferia, transformado em apoiado no solo.
As figuras 1 e 2 indicam as formas originais do reservatório com planta baixa quase
trapezoidal, devido à forma curva da parede sul que corresponde à base maior do trapézio e
corte genérico das paredes.

Figura 1 – Planta esquemática do reservatório

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Congresso de Pontes e Estruturas - ABPE 50 Anos

O volume útil é de 5,5 mil metros cúbicos destinados ao abastecimento de água tratada,
constituindo-se no elemento fundamental do sistema de abastecimento da cidade de Santa
Maria, com mais de 200 mil habitantes.
A laje de fundo e as paredes de todas as faces apresentam secção variável com aumento
da espessura na ligação entre paredes e das paredes com a laje de fundo.
A cobertura do reservatório é formada por lajes e conjunto ortogonal de vigas apoiadas
sobre pilares internos e nas paredes da periferia.
O reservatório foi construído em 1970.
As primeiras patologias foram constatadas no início da utilização, com fissuras
verticais, aproximadamente no terço da altura, na parede cilíndrica sul.
A segunda ocorrência foi no ano de 1990 com fissura vertical nos dois terços inferiores
da altura da parede plana leste.

Figura 2 – Corte simplificado de uma parede e laje

A terceira ocorrência foi no ano de 1997 com reaparecimento das fissuras na parede
leste e também fissuras novas na parede leste.
A quarta ocorrência foram fissuras verticais nos dois terços inferiores das paredes sul e
norte.
E finalmente, a quinta ocorrência foram fissuras na laje de fundo.

2. FISSURAS NA PAREDE CURVA


Estas fissuras se manifestaram nos primeiros meses de uso do reservatório e foram
objeto de análise em 1978, SARKIS P.J.(1978).
Na ocasião foram analisadas as condições consideradas no projeto da parede curva,
onde ocorreu a patologia.
Verificou-se que a condição de projeto das paredes era de engaste na laje de fundo, sem
consideração do efeito de membrana da casca cilíndrica. Desta forma as tensões horizontais
de tração resultante do efeito de membrana, da parede cilíndrica não foram consideradas.
Como este esforço, no caso de parede cilíndrica engastada na laje de fundo, é hiperestático e a
totalidade da carga já estava equilibrada pelo engastamento na laje de fundo, considerou-se
desnecessário reforçar a parede. Foram feitas correções apenas para preenchimento das
fissuras e impermeabilização do reservatório.

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Congresso de Pontes e Estruturas - ABPE 50 Anos

Figura 4 – Tensões de tração na parede


curva engastada na base

Figura 3 – Foto fissura na parede sul

A figura 3 mostra as fissuras verticais nesta parede que se desenvolviam no terço central
da altura. A figura 4 mostra os diagramas das tensões horizontais de tração aplicando-se à
geometria do reservatório o formulário proposto por MONTOYA (1979), para uma parede
cilíndrica engastada na base. Verifica-se a perfeita concordância entre a região de maior
tração e as fissuras ocorridas.

3. TRINCAS NA PAREDE LESTE


Vinte anos depois de colocado em uso, o reservatório apresentou uma trinca vertical nos
dois terços inferiores da parede leste. A perda de água tratada era muito intensa.
A ocorrência se deu depois de um período extremamente prolongado de chuvas, com os
solos saturados de umidade.
O exame interno do reservatório identificou que as trincas na parede eram prolongadas
pela laje de fundo, resultando num deslizamento da parede sul.
O exame do projeto da parede indicou a insuficiência de armadura horizontal para
resistir aos esforços de tração resultantes do empuxo d'água nas paredes adjacentes. O exame
detalhado de todo o projeto mostrou que esta insuficiência era generalizada. Nem as paredes
nem a laje de fundo tinham armadura suficiente para resistir aos esforços de tração
horizontais.

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Congresso de Pontes e Estruturas - ABPE 50 Anos

Figura 5 – Esquema das fissuras

O diagnóstico apontou para o fato de que o sistema se mantinha equilibrado graças à


ação do solo. Em três faces do reservatório havia um aterro considerável que equilibrava o
empuxo horizontal impedindo o escorregamento da base das paredes. Na quarta face, a parede
sul, o aterro era mínimo e junto com o atrito da base da parede com o solo foi suficiente para
manter o equilíbrio do empuxo horizontal por vários anos. Porém, após um período
extremamente longo de chuvas, as condições do solo se alteraram e a parede sul escorregou
produzindo a fissura na parede leste e na laje de fundo.

Figura 6 – Foto da Parede leste

Embora, já nesta fase, o processo de recuperação mais indicado fosse a protensão das
paredes, optou-se por produzir um esforço externo de contenção na base da parede sul
evitando o escorregamento da mesma. Desta forma o reservatório sofreria breve interrupção
de uso. Para protensão das paredes seria necessária uma interrupção mais prolongada.

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Congresso de Pontes e Estruturas - ABPE 50 Anos

Figura 7 – Situação geral dos aterros

Foram determinados os esforços por unidade de largura da parede sul e projetados


tirantes ancorados no solo para resistir ao esforço horizontal. A foto da figura 8 mostra os
tirantes sendo executados.
Após a execução dos tirantes foram recuperadas as fissuras existentes e o reservatório
voltou a operação normal.

Figura 8 – Execução dos tirantes ancorados no solo

4. RESSURGIMENTO DE TRINCAS PAREDE LESTE


Em 1999, ou seja, nove anos depois da execução dos reforços com tirantes ancorados no
solo, a trinca na parede leste reapareceu. Desta vez acompanhada por uma fissura na parede
oeste, caracterizando mais nitidamente a separação do reservatório por escorregamento da
parede sul.
Novamente neste caso a patologia ressurgiu após um longo período de chuvas que
alterou as condições do solo. Só que desta vez o efeito da alteração do solo foi sobre as
condições de ancoragem dos tirantes no solo.

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Congresso de Pontes e Estruturas - ABPE 50 Anos

Figura 9 – Foto da trinca na parede oeste

Desta vez a opção de recuperação foi pela protensão das duas paredes atingidas pela
patologia, embora a revisão de projeto já indicasse insuficiência geral de armadura horizontal
para combater os esforços de tração produzidas pelo empuxo horizontal.

Figura 10 – Foto da protensão da parede oeste


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Congresso de Pontes e Estruturas - ABPE 50 Anos

Mais uma vez, a necessidade de diminuir o período fora de uso do reservatório foi
determinante na opção de protender apenas as paredes danificadas.
A fissuração possível da parede norte e da parede sul curva, seriam tratadas quando e se
a fissuração ocorresse.
O agravante neste caso é que para realizar a protensão das paredes leste e oeste foi
necessário remover o aterro que pressionava estas paredes, ajudando o equilíbrio dos esforços
horizontais na direção leste-oeste.
O esforço global de protensão foi calculado de modo a equilibrar, no mínimo, os
esforços produzidos pelo empuxo d'água. Como limite máximo adotou-se o critério de não
produzir tensões de compressão superior a 50% do fck histórico do reservatório.
A faixa entre o mínimo e o máximo era muito elástica. Desta forma adotou-se,
simplificadamente, a hipótese de uma perda de protensão de 25% que, em condições normais,
seria muito alta, levando em conta que a perda por retração num concreto muito velho é
praticamente nula, NBR 6118:2003.
A foto da figura 11 dá uma idéia do aterro removido das paredes leste e norte.

Figura 11 – Remoção do aterro para protensão das paredes leste e oeste

5. TRINCAS NAS PAREDES NORTE E SUL

Pouco tempo depois, em 2002, as paredes norte e sul, bem como a laje de fundo
apresentaram fissuras com perda d'água importante, figura 12.
Para protensão da parede sul os cabos projetados foram todos externos devido a
curvatura da parede, GUYON (1966). A parede norte, plana, foi protendida com cabos
externos e internos da mesma forma como tinham sido as paredes leste e oeste. Além das
injeções das fissuras, também foi feita injeção de argamassa no solo através de furos abertos
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Congresso de Pontes e Estruturas - ABPE 50 Anos

na laje de fundo. Desta forma procurou-se restabelecer a compacidade do solo que poderia ter
sido alterada pelos vazamentos ocorridos.
Embora a ausência de armadura atingisse a laje de fundo, novamente a questão de
abastecimento da cidade levou a buscar absorver a totalidade do esforço horizontal nas
paredes (norte e sul) a exemplo do que já havia sido feito em 1999 na outra direção com as
paredes leste e oeste.
Para o equilíbrio global, a laje de fundo funciona como rigidez infinita para
deformações no seu próprio plano, transferindo para as paredes o esforço horizontal total.

Figura 12 – Foto fissura na parede sul

Figura 13 – Fotos da protensão na parede sul

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6. A PROTENSÃO DA LAJE DE FUNDO


O reservatório sofreu vários tipos de acompanhamento, ao longo dos anos, com medidas
de deformação (nivelamento), acompanhamento de fissuras etc. A partir de 1999 foram
instalados poços de observação de lençol freático. Através do exame periódico da água destes
poços e análise das mesmas foram detectados vazamentos de água tratada pela laje de fundo.
Para evitar possíveis solapamentos da base e a própria perda de água tratada decidiu-se
pela protensão também da laje de fundo.
A geometria desta laje não era muito favorável para disposição dos cabos, pois
apresentava seção variável obtida através da inclinação da superfície superior da
laje,conforme ilustra a figura 2, SARKIS J.M.(2004).
Novamente, a abertura de canaletas para acomodar os cabos nos trechos de seção
variável, tornaria os trabalhos muito demorados com a necessária interrupção no
abastecimento d'água ou pelo menos a sua precarização.
Como forma acelerar os trabalhos ligados às paredes decidiu-se pela execução de uma
nova laje, com protensão nas duas direções, conforme mostra a figura 14.

Figura 14 – Distribuição dos cabos de protensão da laje de fundo

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As fotos das figuras 15, 16 e 17 ilustram esta última e derradeira fase de recuperação
deste reservatório.

Figura 15 – Fotos da execução da nervura para ancoragem dos cabos de protensão

Figura 16 – Fotos da distribuição das armaduras ativas e passivas na laje

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Figura 17 – Foto da protensão da laje de fundo

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÃO

O aspecto principal a resgatar deste caso é a dificuldade de escolha e aplicação dos


melhores processos e procedimentos de análise de uma patologia e processo de recuperação.
Na primeira intervenção, ocorrida poucos anos após a conclusão da obra, a análise do
projeto limitou-se à busca do diagnóstico para a sintomatologia apresentada. No caso as
fissuras da parede circular que foram corretamente atribuídas a não consideração do esforço
de membrana, hiperestático, no caso da parede circular engastada na base. Não foi feita uma
análise global de todo o projeto que poderia ter identificado a insuficiência de armadura
horizontal da laje de fundo e das paredes para resistir ao esforço de tração produzido pelo
empuxo d'água.
Na segunda intervenção, o problema foi prontamente constatado. Entretanto preferiu-se
a adoção de um procedimento menos convencional como seria a protensão das paredes.
Preferiu-se ancorar, com esforço externo ao reservatório, a face do mesmo que apresentava
deslizamento.
O processo apresentava a inequívoca condição do menor tempo de interdição do
reservatório. Esta condição sempre representou um fator de grande peso na tomada de
decisões devido ao verdadeiro caos que a interrupção de uso do reservatório causava na vida
da cidade.
Entretanto, os tirantes ancorados no solo são um processo que estão muito sujeito à
alteração das condições do solo.

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Congresso de Pontes e Estruturas - ABPE 50 Anos

Com o reaparecimento do problema a solução convencional acabou sendo adotada, nas


paredes leste e oeste, inicialmente.
Aqui também cabe o questionamento se o correto não seria adotar de vez a solução para
as outras paredes norte e sul, que ainda não haviam apresentado sintomatologia, mas já
haviam sido diagnosticadas como deficientes em armadura.
Novamente deve-se levar em conta que o tempo de interdição do reservatório seria
praticamente o dobro. Por outro lado a manifestação do problema na outra direção não
apresentava risco de se produzir com ruptura brusca e geral. O fenômeno se repetiria da
mesma forma como ocorreram nas paredes leste e oeste. Portanto a decisão tomada não
acarretava riscos de mortes.
O fator imponderável a ser analisado é se o desgaste do proprietário da obra junto a
população seria menor se a interrupção tivesse se dado por um período extremamente
prolongado em uma única vez ou como ocorreu com interrupções menores e mais numerosas,
espaçadas por vários anos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] ABNT, NBR 6118:2003, Projeto de estruturas de concreto – Procedimento, 2003.

[2] GUYON, Y.. Construction em Béton Prècontraint. Editions Eyrolles, 1966.

[3] MONTOYA, P. J., et al.. Hormigón Armado. Editorial Gustavo Gili, 1979.

[4] SARKIS, P. J.. Relatório de consultoria para CORSAN. 1978.

[5] SARKIS, J. M.. Relatório de consultoria – Reservatório R I – Reforço das Paredes


Leste / Oeste. 1997.

[6] SARKIS, J. M.. Relatório de consultoria estrutural para CORSAN. 2004.

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