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AVALIAÇÃO E ANÁLISE DE DESLIZAMENTO DE MURO DE ARRIMO

PROVOCADO POR FALHA NO PROJETO EXECUTIVO: ESTUDO DE CASO

Autores: LUIZ ANTÔNIO MELGAÇO NUNES BRANCO, CHARLES FERREIRA DE OLIVEIRA,


KARINE ALMEIDA TAVARES

Introdução
Este trabalho visa identificar as manifestações patologias, suas origens e apresentar um diagnóstico de amplo espectro,
com soluções para mitigar e restaurar a integridade física e estrutural de um muro de arrimo que sofreu deslocamentos
em função de falhas no projeto e devido à movimentação do solo na base das fundações.
Sendo Souza e Ripper (1998), a cada dia acelera-se o crescimento da construção civil, o que provoca a necessidade de
inovações em todo mundo, proporcionado uma latente aceitação de riscos durante as construções. Estes ricos devem ser
aceitos dentro de certos limites, a evolução do desenvolvimento tecnológico passou a ganhar força com o aumento do
conhecimento sobre estruturas e materiais, em particular através do estudo e análise dos erros observados nas
deteriorações precoces e acidentes. Não obstante, devido às impreteríveis falhas involuntárias e imperícias pode-se
observar que várias estruturas, mesmo acompanhadas por profissionais qualificados, acabam por demonstrar
desempenho insatisfatório se comparadas às finalidades funcionais previstas na fase de projeto. É preciso entender que
a concepção de uma estrutura segura e durável requer medidas que garantam que a estrutura e os materiais utilizados
exerçam um satisfatório desempenho para se garantir a durabilidade e a vida útil da construção.
Este artigo apresenta o estudo sobre as manifestações patológicas provocadas por deslocamento de muro de flexão, no
qual foi realizado um estudo de caso sobre as possíveis causas e consequências provocadas pelo deslizamento da base
do muro de arrimo de concreto armado, ocasionado por falhas no projeto executivo e recalques provocados pela
acomodação do solo. Trata-se da análise de uma obra, em que os primeiros sintomas surgiram um ano após sua
conclusão, e se mostraram de grandes proporções com o aparecimento de fissuras e trincas ao longo da contenção e
próximo ao piso da edificação construída (Figura 1), culminando em um grande deslocamento do muro. Durante o
processo de diagnóstico, as sondagens do solo identificaram o solo como sedimentar, e demonstraram que este, na cota
de arrasamento da fundação, não tinha resistência suficiente para suportar as cargas atuantes sobre a contenção. Como
primeira ação de recuperação da estrutura foi realizada alteração no projeto, porém os resultados não foram alcançados.
Realizado o processo de anamnese e diagnóstico da obra, o prognostico mostrou que os fatores de segurança mínimos
exigidos pela norma da ABNT NBR 11682:2009 (estabilidade de encostas) para condição de deslizamento e
capacidade de carga da fundação de muro de arrimo não estavam sendo atendidos.
Como terapia, foram desenvolvidas três propostas para reestabelecer a estabilidade da obra e para elevar as forças
resistentes e o fator de segurança, optando por executar o reforço estrutural por meio de microestacas.

Material e métodos
Para se conhecer os problemas apresentados e sugerir solução para sanar definitivamente as falhas observadas, foram
analisados o levantamento topográfico da área, os boletins de sondagens e realizada as verificações das estabilidades do
ponto de vista geotécnico, no qual foi necessário a aferição matemática dos fatores de segurança.
Para avaliar e quantificar os desníveis dos muros realizou-se o monitoramento por meio de aferições e anotações das
movimentações observadas, conforme destacado na Figura 2.
Analisar as causas e apresentar possíveis propostas de solução.
Resultados e discussão
A analise de estabilidade global foi realizada por meio do programa SLOPE, esse analisa de forma bidimensional as
estabilidades de taludes e calcula o fator de segurança para rupturas circulares através da teoria de equilíbrio limite.
Segundo Demian e Braga (2015), o primeiro item analisado foi o levantamento topográfico, no qual se pretendia
identificar a cotas das curvas de nível e a locação dos muros de arrimos. Em seguida foram analisadas as sondagens,
em que se identificou uma sondagem realizada antes do início das obras e outra após as movimentações ocorridas nas
estruturas.
Foram realizadas as verificações das estabilidades do ponto de vista geotécnico, com objetivo de avaliar a capacidade
de carga da fundação, o tombamento e a deslizamento. Todos os cálculos forma realizados em função do muro de
maiores dimensões e altura, que consequentemente apresentou os maiores deslocamentos, em conformidade com a
ABNT NBR 11682:2009 foi utilizada nos cálculos uma carga acidental mínima de 20 kN/m² uniformemente
distribuída sobre a superfície do terreno superior à contenção, sendo realizados os cálculos dos empuxos passivo e
ativo. Ao se realizar a verificação ao tombamento observou-se que a razão entre os momentos resistente e o atuante
cumpria as exigências normativas de verificações, porém ao se realizar a verificação ao deslizamento identificou-se que
a razão entre as forças resistentes e atuantes não cumpria as exigências mínimas prevista em norma. Ao se verificar a
capacidade de carga da fundação contatou que a tensão admissível não era superior a tensão máxima, mostrando não
cumprimento das condições mínimas de segurança para capacidade de carga da fundação.
Contudo, foi necessária uma intervenção do local e realização de novos estudos, para que não houvesse
comprometimento das edificações e integridade da vizinhança, deve-se considerar a substituição do muro existente por
um novo muro, ou a implantação de vigas de aço ou concreto na área adjacente inferior ao muro que deverão ser
concretadas no solo, com profundidade, altura, diâmetro e espaçamento especificados em projeto, ou também projetar
alguns muros de gravidade acompanhando os muros de flexão já existente para servirem de apoio, e elevarem as forças
resistentes e o fator de segurança.

Conclusões
Após as análises de tombamento, deslizamento e capacidade da fundação, pode-se concluir que o muro de arrimo não
atendia aos fatores de segurança mínimos exigidos pela norma NBR 11682:2009 para condição de deslizamento e
capacidade de carga da fundação, pois houve algum equívoco no dimensionamento dos muros, ocasionados por mapa
topográfico não corresponder a real topografia da área exigindo alterações de projeto durante o andamento das obras.
As contas de boca das sondagens apresentavam elevações embasadas em ponto de referência não padronizado, o que
dificultou sua interpretação. Ausência de realização de sondagens na fundação dos muros de arrimos, impossibilitando
a identificação de material de baixa capacidade de carga. Falta de acompanhamento tecnológico na execução do aterro
para aferir o grau de compactação e o teor de umidade. Ausência de detalhamento das drenagens superficiais
contribuindo para o comprometimento dos muros devido à elevação do empuxo ativo se dada ao acúmulo de água.
Por fim houve a necessidade de execução de um reforço, por meio de microestacas, para evitar que a movimentação
dos muros comprometesse as estruturas do prédio e das construções adjacentes.

Agradecimentos
Ao professor Charles Ferreira de Oliveira grande parceiro e incentivador, pelas dicas apoio e conhecimento
compartilhado e por sempre incentivar e motivar de forma carinhosa atenciosa e dedicada.

Referências bibliográficas
ABNT NBR 11682, A. B. D. N. T. Estabilidade de encostas. Rio de Janeiro: ABNT, 2009. 33 p.

DEMIAN, M.; BRAGA, R. G. Laudo técnico realizado para o INSS sobre os problemas apresentados nos muros de arrimo da obra da Agência da Previdência
Social no muniicipo de São João da Ponte em Minas Gerais. AP&L Geotecnia, Fundações e Construções. São João da Ponte, p. 48. 2015.

SOUZA, V. C. M. D.; RIPPER, T. Patologia, recuperação e reforço de estruturas de concreto. 9ª ed. ed. São Paulo: Pini, v. 1, 1998. ISBN ISBN 8572660968. 262.

Figura 1. Trinca entre o piso e a construção – Fonte: os autores


Figura 2. Detalhe do desnível do muro e notas de monitoramento – Fonte: os autores

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