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9º Seminário de Engenharia de Fundações Especiais e Geotecnia

3ª Feira da Industria de Fundações e Geotecnia


SEFE 9 – 4 a 6 de junho de 2019, São Paulo, Brasil
ABEF

Criatividade para Enfrentar Condições de Contorno Restritivas em


Escavações Urbanas
Wilson José Alves Borges
Sócio Gerente, Milititsky Consultoria Geotécnica - Engenheiros Associados S/S, Porto Alegre-RS, Brasil,
wilson@milititsky.com.br

RESUMO: O trabalho apresenta um caso de obra de grande escavação em perímetro urbano em que foram
utilizados diversos tipos de solução de contenções e demonstra como condições de contorno muitas vezes
são mais importantes na escolha da alternativa a ser adotada do que a própria condição do solo existente no
local em si. Em uma única obra foram adotadas soluções em parede diafragma atirantada, escoramentos
metálicos, bermas estabilizadoras e execução invertida (Top Down), situação na qual nos aprofundaremos
mais no trabalho. Serão analisadas as repercussões de cada uma das soluções adotadas tanto nas questões
geotécnicas, quanto estruturais e de execução em obra, comentando suas dificuldades e as soluções adota-
das. Conclui-se que, além da correta determinação das solicitações e adequado cálculo de todos os elemen-
tos de contenção envolvidos, uma boa especificação de cada uma das etapas construtivas, com a minuciosa
indicação de todos os detalhes a serem considerados, é fundamental e preponderante para se atingir o êxito
desejado na solução de problemas em escavações urbanas com condições de contorno restritivas. Isso deve
ser garantido através de acompanhamento permanente pelo projetista, que conhece todas as premissas con-
sideradas na concepção das soluções adotadas e as implicações de eventuais ajustes necessários durante a
execução.

PALAVRAS-CHAVE: escavações, contenções, Top Down, parede diafragma, tirantes.

ABSTRACT: This work presents a case of large excavation work in urban perimeter in which several types
of retaining solutions were used and demonstrate how boundary conditions are often more important in
choosing the alternative to be adopted than the condition of the existing soil in the site itself. In a single site,
solutions were adopted in diaphragm wall, steel shoring, stabilizing berms and inverted execution (Top
Down), situation which we will explore more in the work. The repercussions of each of the solutions adopt-
ed in geotechnical, structural and on-site work will be analyzed, commenting on their difficulties and the
solutions adopted. It is concluded that, in addition to the correct determination of the earth pressures and
proper calculation of all the retaining elements involved, a good specification of each of the constructive
stages, with the detailed indication of all the steps to be considered, is fundamental and preponderant in
order to achieve the desired success in the solution of problems in urban excavations with restrictive bound-
ary conditions. This can be achieved through continuous monitoring by the designer, who knows all the
assumptions considered in the design of the solutions adopted and the implications of any necessary adjust-
ments during the execution.

KEYWORDS: excavation, retaining, Top Down, diaphragm wall, anchors.


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1 INTRODUÇÃO

A obra objeto deste trabalho localiza-se em Porto Alegre – RS e é composta de uma Torre Comercial,
uma Torre Residencial e um Edifício Garagem nos fundos do terreno, onde se localizam as contenções que
serão descritas e analisadas.

1.1 O solo
O solo existente no local é constituído de espessos horizontes de solos residuais de granito, o que é
típico dessa região em que a cota original do terreno é mais alta. O perfil de solo pode ser descrito pela pre-
sença de uma camada madura de solo residual, não demonstrando nenhum sinal da macroestrutura da rocha
matriz (horizonte B), sobre uma camada de solo residual jovem (horizonte C), onde é notada a herança da
complexidade da rocha existente logo abaixo. O processo de intemperismo progride a partir da superfície e
dá origem a um perfil razoavelmente heterogêneo, com resistências aumentando com a profundidade, espe-
cialmente dentro da camada de solo residual jovem.
Visto que várias das sondagens SPT realizadas no local não atingiram a cota de implantação do em-
preendimento, foram realizadas sondagens rotativas, que revelaram a presença de rocha granítica, extrema-
mente alterada, em fragmentos, a extremamente fraturada, cor cinza e amarela variadas, também melhorando
de qualidade com a profundidade.

1.2 Os desafios
As contenções dessa obra apresentam uma ampla gama de situações diferentes a serem resolvidas com
distintas alternativas, que variam tanto em modalidade quanto em complexidade (ver Figura 1).
Para facilitar o entendimento espacial do problema, as diversas regiões de contenções do Edifício
Garagem serão referidas da mesma forma em que eram vistas de dentro da obra durante sua execução.
O projeto arquitetônico previa a implantação do subsolo na cota 38,54, o que resultava em alturas de
contenções variáveis, de 3 a 13 m.

Figura 1. Croqui esquemático das soluções de contenções adotadas na obra em planta

Com o objetivo de organizar as informações de forma mais clara, serão apresentados a seguir em for-
ma de tabelas os desafios e soluções adotados.
Na Tabela 1 são apresentados os desafios geotécnicos. Visto que a solução global de contenções nessa
região também requereu soluções diferenciadas na sua implementação construtiva e na concepção e deta-
lhamento da estrutura, são apresentados nas Tabelas 2 e 3 os respectivos desafios e soluções.
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Tabela 1. Desafios geotécnicos.


Desafio Solução
Divisa lateral esquerda: servidão (passagem de pe- Trecho mais baixo: parede diafragma + berma esta-
destres) com tubulação enterrada em nível variável bilizadora
entre a obra e o vizinho seguinte, prédio com subso- Trecho intermediário: parede diafragma + tirantes
lo provisórios
Trecho mais alto: parede diafragma + tirantes provi-
sórios + escoramento metálico na linha superior
Fundos: Desnível de 13 m com presença de nível Parede diafragma com tirantes provisórios + enrije-
d’água e estrutura descontínua, devido à existência cimento da estrutura transferindo momentos à fun-
de junta, tendo que receber todo o empuxo da con- dação com estacas funcionando à tração.
tenção
Divisa lateral direita: Desnível de 13 m e presença Parede diafragma + execução invertida (Top Down)
de nível d’água + tirantes não autorizados pelo vizi-
nho
Tabela 2. Desafios construtivos.
Desafio Solução
Acesso da máquina de estaqueamento ao platô supe- Execução de rampa do nível térreo ao nível do 3º
rior da berma estabilizadora para execução das fun- pavimento (nível Top Down) com inclinação aces-
dações naquele nível (3º pavimento). sível à máquina de execução de Estacas Raiz
Solda na emenda dos perfis metálicos usados como Os perfis foram depositados no platô do nível inicial
pilares provisórios na execução invertida (Top do Top Down com ajuda de um guindaste e foram
Down) montados cavaletes de apoio para que as talas pu-
dessem ser soldadas no local pelo profissional habi-
litado para a tarefa.
Colocação dos perfis H no tubo metálico (camisas) Estabelecimento de logística com um guindaste
da estaca raiz fazendo o içamento dos perfis já soldados para in-
trodução na camisa metálica da Estaca Raiz
Montagem da forma para execução da primeira laje Foi montada uma forma parcialmente escorada so-
no trecho de execução invertida (Top Down) bre torres e parcialmente escorada sobre o platô
inicial do Top Down, usando vigas sobre o talude
Colocação de armaduras sem emendas nas estacas Alteração de projeto, substituindo parte das armadu-
submetidas à tração após a desmobilização da grua ras originais por tirantes monobarra emendados com
luva, para possibilitar a utilização debaixo da laje
(pé direito duplo)
Tabela 3. Desafios estruturais.
Desafio Solução
Determinação dos esforços para as etapas construti- Cálculo para a configuração final para a determina-
vas e para a configuração final da estrutura ção da carga para as fundações. Cálculo só com o
peso próprio e parcela da carga acidental para a
determinação das fundações provisórias. Envoltória
dos carregamentos para o dimensionamento de lajes,
vigas e pilares.
Interferência das fundações provisórias com as ar- Detalhes especiais (consoles metálicos e armaduras
maduras de vigas e lajes. soldadas nos perfis metálicos da estaca central) para
contemplar as várias interferências que surgiram no
desenvolvimento do projeto.
Detalhamento dos blocos de fundação contemplando Em alguns casos foi preciso fazer as armaduras do
as estacas dos pilares provisórios. bloco de fundação abraçando as estacas, uma vez
que já estavam executadas.
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Neste trabalho será feito um aprofundamento na descrição e análise da solução mais complexa apre-
sentada na Tabela 1, ou seja, a execução invertida (Top Down) da divisa direita.

2 EXECUÇÃO INVERTIDA – TOP DOWN

Visto que o vizinho da lateral direita não forneceu autorização para a execução de tirantes provisórios
penetrando no seu terreno (obrigatório em Porto Alegre), foi necessário buscar alternativas para a solução
do problema de contenções que se apresentava nessa região da obra, utilizando experiência anterior e casos
disponíveis na literatura e eventos técnicos da área.
Após várias reuniões com o Cliente e o projetista estrutural, decidiu-se optar pela adoção do sistema
de execução invertida. Na medida em que a situação da obra não se enquadrava exatamente num caso clássi-
co de Top Down, várias adaptações tiveram que ser feitas para levar em consideração todas as peculiarida-
des da obra.

2.1 Concepção
A solução concebida considerou a execução de parede diafragma na divisa, tendo inicialmente sua
estabilidade garantida através de uma berma estabilizadora deixada junto à divisa direita à medida que a
escavação avançava no restante da obra.
Essa berma ocupava o espaço das duas linhas de pilares mais próximas à divisa direita, onde teve
então que ser adotada a execução invertida. Foi prevista a execução apenas da Estaca Raiz central de cada
bloco a partir do nível superior da berma para posteriormente executar o restante das fundações no nível
definitivo de implantação do subsolo. Essas estacas foram executadas com um perfil metálico central funci-
onando provisoriamente como pilar e sendo posteriormente envolvido pelo pilar definitivo de concreto ar-
mado.
Para facilitar a execução das estacas sob as lajes, tanto a parede diafragma quanto os perfis metálicos
dos pilares provisórios foram dimensionados para as cargas de um pé direito duplo.
Após a execução das lajes de um lado a outro da obra, o empuxo oriundo das contenções é transmiti-
do à estrutura e equilibrado pelo empuxo passivo desenvolvido na divisa oposta.

2.2 Dimensionamento
Para o dimensionamento da solução foram consideradas todas as etapas de execução, desde a escava-
ção e concretagem da parede diafragma até a execução completa da estrutura de concreto definitiva.
As situações críticas determinantes do dimensionamento foram a estabilidade da berma antes do iní-
cio do travamento na estrutura e a etapa na qual essa berma foi completamente removida para a execução
das fundações definitivas ao nível do subsolo, já com o travamento da estrutura ao nível do 2º pavimento.
Para a realização desses cálculos foram adotados valores característicos de solos de mesma origem em
Porto Alegre e de outras fontes disponíveis na literatura.
Para a verificação da segurança da etapa imediatamente anterior ao início do travamento na estrutura
foi feito o cálculo da estabilidade do talude existente, considerando também o desnível resultante no trecho
em balanço da parede diafragma, conforme Figura 2.
Para o dimensionamento das ferragens da parede diafragma foi utilizado o programa PLAXIS (ver
Figura 3) para a determinação dos momentos fletores, que foram balizados através de abordagens menos
refinadas como cálculo de empuxos pelos métodos clássicos. Foram consideradas as solicitações resultantes
em cada uma das etapas construtivas, e as armaduras foram calculadas para os momentos fletores máximos
no vão resultante na etapa de execução em que foi deixado pé-direito duplo para a execução das Estacas
Raiz sob a laje do 2º pavimento, por ter se revelado a situação mais crítica estruturalemente.
Visto que em alguns pontos o solo residual com elevada resistência ocorria somente abaixo da cota de
implantação da edificação, foi considerado um perfil homogêneo na determinação das solicitações da parede
diafragma e na verificação da estabilidade da berma.
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Figura 2. Cálculo da estabilidade da berma estabilizadora

Momentos
Fletores

Figura 3. Determinação dos deslocamentos horizontais e momentos fletores de cálculo pelo programa
PLAXIS

Para a determinação do perfil metálico a ser utilizado como pilar provisório durante a execução inver-
tida foi realizado o cálculo do pilar propriamente dito e feita uma verificação de flambagem para a situação
de pé-direito duplo, considerando apenas as cargas atuantes nessa fase da obra, descontando a carga aciden-
tal dos carros do estacionamento e todas as demais cargas que iriam atuar somente na situação definitiva. O
objetivo da consideração dessas reduções era conseguir utilizar um perfil H da série 200 que pudesse ser
introduzido dentro de Estacas Raiz com diâmetros facilmente disponíveis no mercado regional.
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2.3 Execução
A seguir são descritas todas as etapas desenvolvidas na sistemática de execução invertida, discorrendo
sobre os detalhes a serem observados em cada uma delas.
1ª Etapa: Execução da parede diafragma. Nesta etapa foi executada a contenção propriamente dita,
composta por parede diafragma (seção 40 x 250 cm). Devido à existência de solos de alta resistência e in-
clusive rocha fraturada e alterada a partir de certa profundidade, a maioria das lamelas nesse trecho não
atingiu a cota de implantação do subsolo da obra, tendo que ser complementada quando a escavação chegou
ao nível de sua interrupção. Por motivos de segurança optou-se por não realizar nenhuma ação para apro-
fundar a escavação que pudesse resultar em choque ou vibração.
2ª Etapa: Escavação deixando berma com crista a 1,50 m abaixo do nível do vizinho e patamar de
trabalho de 12,00 m na cota 46,50 (figuras 4 e 5) e execução de uma Estaca Raiz φ40 (nominal) com 1 perfil
W200x71 no centro de cada um dos pilares P306, P307, P313, P314, P320, P321, P327, P328, P334 e P335
(1ª e 2ª linhas de pilares a partir da divisa). Ao contrário do que é usual em Estacas Raiz, a injeção não foi
levada até a superfície do terreno, todavia foi indicado em projeto que fosse feita a injeção até 2,00 m acima
do nível do subsolo para garantir a sanidade e integridade da argamassa até a cota de arrasamento da estaca.
Também foi preenchido com areia o espaço entre o perfil metálico e a parede da perfuração da Estaca Raiz
para evitar flambagem e facilitar a limpeza do perfil à medida que a escavação avançava e o mesmo era en-
volvido pelo pilar de concreto definitivo. Esta e todas as etapas subsequentes de escavação foram acompa-
nhadas da execução dos tirantes nos trechos B1, B2, B3 e B4 (junto à Rua Gen. Francisco de Paula Cidade),
pois a execução invertida foi projetada para garantir a estabilidade da contenção na divisa lateral direita, ao
passo que a estabilidade da cortina junto à rua somente seria garantida após a conclusão e atingimento da
resistência e rigidez adequadas da estrutura e das fundações definitivas nesse trecho.

Figura 4. Detalhe da 2ª Etapa extraído do projeto

Figura 5. Execução das Estacas Raiz centrais


dos blocos da região do Top Down

3ª Etapa: Execução de nova etapa de escavação (figuras 6 e 7) deixando berma até atingir a posição
para execução das fundações dos pilares P305, P312, P319, P326 e P333 (3ª linha de pilares a partir da divi-
sa). Desta forma ficou liberada toda a área em que a estrutura poderia ser executada de forma convencional
antes de se iniciar o processo de execução invertida propriamente dita. Na figura 7 apresentada abaixo já
podem ser vistos blocos de fundação executados nesse alinhamento de pilares.
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Figura 6. Detalhe da 3ª Etapa extraído do projeto Figura 7. Escavação adicional da berma e fundações
da 3ª linha a partir da divisa executadas

4ª Etapa: Execução da estrutura até o nível do 3º pavimento até o alinhamento dos pilares P305, P312,
P319, P326 e P333 (figuras 8 e 9).

Figura 8. Detalhe da 4ª Etapa extraído do projeto Figura 9. Estrutura do restante do prédio executada
até o nível do 3º pavimento

5ª Etapa: Execução da laje no nível do 3º pavimento até a divisa (figuras 10 e 11). Nesse momento a
estrutura responsável por começar a receber o empuxo das contenções já estava concluída.

Figura 10. Detalhe da 5ª Etapa extraído do projeto Figura 11. Laje do 3º pavimento até a divisa em
execução
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6ª Etapa: Execução da laje no nível do 4º pavimento até a divisa (figuras 12 e 13).

Figura 12. Detalhe da 6ª Etapa extraído do projeto

Figura 13. Laje do 4º pavimento executada até a


divisa

Esse foi o momento em que o aspecto visual da obra chamou mais atenção de todos os envolvidos e
daqueles que eventualmente visitaram a obra, pois a escavação junto ao trecho já executado de estrutura no
nível do subsolo dava a impressão de que se tratava de utilização dos perfis metálicos como pilares para um
pé-direito triplo. Na realidade, na medida em que os perfis metálicos ainda estavam embutidos na berma
constituída de materiais de alta resistência, a situação real era de pé-direito duplo.
7ª Etapa: Escavação parcial da berma e execução da laje do nível 44,37 (2º pavimento) até a divisa,
vinculando-se ao perfil metálico (figuras 14 e 15). Para que esta escavação fosse realizada foi necessário que
a estrutura já estivesse executada até o nível do 4º pavimento até a outra divisa lateral.
Antes de cada etapa de escavação, o projetista estrutural foi consultado para verificar se a estrutura já
apresentava resistência e rigidez capaz de receber os esforços adicionais de empuxos decorrentes da remo-
ção de mais uma parcela do solo da berma estabilizadora.

Figura 14. Detalhe da 7ª Etapa extraído do projeto


Figura 15. Laje do 2º pavimento executada até a
divisa

8ª Etapa: Escavação do restante da berma e execução das fundações definitivas dos pilares P306,
P307, P313, P314, P320, P321, P327, P328, P334 (englobando pilares P343 e P345) e P335 (1ª e 2ª linhas
de pilares a partir da divisa), como pode ser visto nas figuras 16 e 17.
Nessa etapa, o trabalho numa situação com altura disponível limitada requereu uma adaptação do
equipamento de execução das estacas, o que foi facilmente resolvido pela empresa executante.
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Foi necessária também uma adaptação do projeto das armaduras das estacas submetidas à tração, de-
vido à desmobilização da grua da obra. Originalmente estava prevista a utilização de armaduras sem emen-
das, que seriam içadas pela grua e colocadas na sua posição através de aberturas deixadas nas lajes junto aos
pilares. Com a desmobilização da grua esta sistemática foi substituída pela utilização de tirantes monobarra
com emendas por luva.

Figura 16. Detalhe da 8ª Etapa extraído do projeto Figura 17. Execução das Estacas Raiz da fundação
definitiva com exposição do trecho das
estacas raiz onde os perfis metálicos fo-
ram embutidos

9ª Etapa: Execução dos blocos, pilares e laje (figuras 18 e 19) até o nível 41,50 (Térreo). Visto que a
estaca central de todos os blocos dessa região já havia sido previamente executada, a ferragem dos blocos
necessitou ser adaptada, pois os feixes de armadura não podiam passar pelo centro do bloco.

Figura 18. Detalhe da 9ª Etapa extraído do projeto Figura 19. Laje do nível 41,50 (Térreo) executada
até a divisa

Figura 20. Obra concluída. Na foto o piso visível corresponde ao nível Térreo.
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Após a execução da laje do Térreo ficou concluída a execução invertida (Top Down) existente nesse
trecho da obra. Na sequência dos trabalhos a laje do Térreo foi executada em toda a periferia que unia os 3
prédios do empreendimento (Residencial, Comercial e Garagem), resultando na situação apresentada na
Figura 20.

3 CONCLUSÕES

Ao final dos trabalhos, a execução desta obra utilizando um método pouco usual, apesar de todas as
dificuldades enfrentadas, encheu de satisfação todos os envolvidos devido ao sucesso obtido e à aprendiza-
gem decorrente da solução de cada desafio surgido durante todo o processo. Foi garantida a segurança, esta-
bilidade e impactos mínimos na vizinhança, objetivos a serem alcançados em todas as obras de grandes es-
cavações em perímetro urbano.

AGRADECIMENTOS

Ao Engº Jarbas Milititsky, sócio, colega, exemplo, amigo e mestre por mais de 30 anos, que proporci-
onou todo o meu aprendizado na área de geotecnia.
À MELNCIK EVEN por ter encampado o desafio de utilização pela primeira vez desse método não
convencional, em particular ao Arqº Ivan Zanette, responsável pela condução dos trabalhos em obra.
Ao Engº Carlos Moraes, da VANTEC, pela parceria nas soluções que envolviam questões estruturais.
Ao Engº André Dias, da GERDAU, pela colaboração na solução de questões relacionadas ao uso de
perfis metálicos na execução invertida (Top Down).
Aos colegas de trabalho Engª Débora Fonseca Alves e Engº Matheus Miotto Rizzon pelo auxílio na
elaboração do presente trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Clayton, C.R.I.; Milititsky, J.; Woods, R.I. (1993) – Earth Pressure and Earth-Retaining Structures, Blackie
Academic and Professional, 2nd Ed., London, UK.
Falconi, F. F.; Zaclis, E.; Corrêa, C. N.; Rocha, L. M. B. (2000). Adaptação do método construtivo de uma
estrutura de contenção de 15 m de altura sobre tubulões, executada de forma invertida. Seminário de
Engenharia de Fundações Especiais e Geotecnia, SEFE - 4 ed, São Paulo.
Gaba, A.R.; Simpson, B.; Powrie, W.; Beadman, D.R. - Embedded retaining walls – guidance for economic
design - CIRIA C580 – 2003, London, England.
Hong Kong Government (1991). Review of design methods for excavations. Publication 1/90, Hong Kong:
Geotechnical Control Office.
Milititsky, J – Grandes escavações em perímetro urbano, Oficina de Textos, 2016
Schnaid, F. e Odebrecht, E. (2012) “Ensaios de campo e suas aplicações à engenharia de fundações: 2ª
edição” Oficina de Textos
Schnaid, F.; Reffatti, M.E.; Consoli, N.C.& Milititsky, J. - Numerical simulation of a tieback diaphragm
wall in residual soil. Proceedings of the 12th Panamerican Conference on Soil Mechanics and Geotech-
nical Engineering, vol. 2, 2003, pp. 2027-2034.

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