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Patologias das Fundações

Prof. Eng. Clever Roberto Nascimento

• NOVEMBRO / 2014
Patologia das Fundações
Investigação do Subsolo
Causas mais frequentes de problemas de fundações.
a) Ausência de investigações
• 80% dos casos de mau desempenho de obras pequenas e medias
b) Investigação insuficiente
• numero insuficiente de sondagens ou de ensaios (área extensa ou subsolo variado)
• profundidade de investigação insuficiente
• propriedade de comportamento não determinada por necessitar de ensaios especiais
(expansibilidade, colapsividade)
• situações com grande variação de propriedades
c) Investigação falha
• erro na localização do sitio (local)
• procedimentos indevidos ou ensaio não padronizado
• equipamento com defeito ou fora de especificação
• procedimentos fraudulentos
• ensaios de campo-laboratorio ( representatividade )
d) Interpretação inadequada dos dados de investigação
• adoção de valores não representativos ou ausência de identificação de problemas
• podem provocar desempenho inadequado das fundações
e) Casos especiais
• influencia da vegetação ( raízes )
• colapsividade
Problemas envolvendo o desconhecimento do comportamento real das fundações
- adoção de sistemas de fundações diferentes na mesma estrutura, em razão das características de
variação de cargas, variação de profundidade de camadas resistentes do subsolo, sem separação por
junta de comportamento ou avaliação da compatibilidade de recalques em diferentes fundações.
- obtenção de correlações com ensaios de penetração, de valores de capacidade de carga de
fundações profundas sem observar números limites de atrito lateral e resistência de ponta.
- adoção de fundações profundas para cargas da estrutura e pavilhões, com presença de aterros
compactados assentes sobre camadas compressíveis.
- desconhecimento do mecanismo de mobilização da resistência de ponta que necessita de
deslocamento proporcional ao diâmetro das estacas escavadas de grande seção (recalques
diferenciais).
- níveis muito desiguais de carregamento numa mesma estrutura, com mesmo tipo de fundação
(recalques diferenciais).
- uso de fundações de comportamento diferenciado (ex. estacas no entorno do silo e sapatas no
centro).
Problemas envolvendo a estrutura de fundação
- erro na determinação das cargas atuantes nas fundações.
- fundação projetada apenas para a carga final atuante (ex. pre-moldadas podem ocorrer esforços
críticos na montagem).
- erros decorrentes da indicação apenas de cargas máximas em casos de fundações em estacas com
solicitações de compressão e momentos atuantes (ex. reservatório metálico cheio - vazio).
- erros de dimensionamento de elementos estruturais das fundações como vigas de equilíbrio,
estacas com cargas horizontais, etc.
- armaduras de estacas tracionadas calculadas sem verificar a fissuração.
- uso de emendas padrões em estacas metálicas sem verificar a tração.
- adoção de solução estrutural na qual os esforços horizontais não são equilibrados pelas fundações.
- uso de armaduras muito densas causando dificuldades construtivas (recobrimento e integridade).
- ausência de exame da situação como construído ( excentricidades, etc.).
Problemas envolvendo as especificações construtivas
- fundações diretas ( pela ausência de indicação precisa):
* cota de assentamento.
* tipo e característica do solo a ser encontrado.
* ordem de execução (cotas diferentes).
* tensões admissíveis adotadas sem a devida identificação das condições a serem satisfeitas pelo
material da base.
* características do concreto.
* recobrimento das armaduras.
- fundações profundas - pela ausência de indicação
* profundidade mínima de projeto.
* peso mínimo ou característica do martelo de cravação.
* tensões características dos materiais das estacas.
* detalhamento de emendas.
* exigência do controle de comportamento de estacas.
* proteção contra a erosão.
Execução-falhas
- Fundações superficiais
a) Envolvendo o solo
* fundações assentes em solos de diferentes comportamentos.
* substituição do solo por material não apropriado e sem compactação.
* sapatas executadas em cotas diferentes.
* sapatas em cotas superiores a canalizações (escavações e vazamentos)
b) Envolvendo o elemento estrutural da fundação
* qualidade inadequada do concreto.
* ausência de regularização com concreto magro do fundo da cava da fundação.
* execução de fundação com dimensões e geometria incorretas.
* presença de água na cava durante a concretagem (qualidade e integridade).
* adensamento deficiente e vibração inadequada do concreto ( degradação, colapso ).
* estrangulamento de seção de pilares enterrados.
* armaduras mal posicionadas ou insuficientes.
* junta de dilatação mal executada.
- Fundações profundas
a) Problemas genéricos
* erros de locação.
* erros e desvios de execução (caso de obstruções).
* erros de diâmetro ou lado do elemento.
* substituição no canteiro da estaca projetada por elementos equivalentes.
* inclinação final executada em desacordo com o projeto.
* falta de limpeza da cabeça da estaca para vinculação ao bloco.
* ausência ou posição incorreta de armadura de fretagem.
* características do concreto inadequadas
b) Estacas cravadas
* falta de energia de cravação.
* excesso de energia de cravação.
* levantamento de elementos já cravados pela execução de novas estacas.
* falsa nega (devido a excesso de poro-presao) - recravar apos 24 horas.
* flexão dos elementos cravados.
* elevação da poro pressão - ruptura de taludes próximos.
c) Estacas de madeira
* material inadequado (diâmetro, resistência e durabilidade).
* falta de proteção na cabeça da estaca.
* danos na ponta da estaca.
* emendas inadequadas.
d) Metálicas - concreto
* problemas de soldagem;
* elementos muito esbeltos;
* elementos muito esbeltos em solos moles;
* presença de obstruções;
* estacas cravadas de baixa resistência;
* danos no manuseio da estaca;
* estacas armadas inadequadas;
* estacas muito esbeltas e longas;
* uso de emendas inadequadas;
* estrangulamento do fuste na etapa de concretagem (solos moles);
* base alargada menor;
* descontinuidade do fuste (coluna de concreto dentro do tubo);
* danos nas estacas vizinhas;
* baixa resistência estrutural do concreto;
e) Estacas escavadas
* problemas de integridade e continuidade;
* traço inadequado do concreto;
* concreto já em inicio de pega - demora para concretar;
* armadura densa ou mal posicionada;
* limpeza inadequada da base;
* presença de água na perfuração por ocasião da concretagem;
* desmoronamento das paredes;
* variação de diâmetro em solos moles;
* água sob pressão - concretagem complicada;
* integridade do fuste (solo ou vazios no concreto);
* pratica de executar vários furos antes de concretar (desmoronamento);
* mistura inadequada do concreto.
f) Tubuloes
* material da base não compatível com a tensão de projeto;
* dimensões e geometria incorretas;
* estabilidade do solo;
* presença de água;
* mau adensamento do concreto;
* armaduras mal posicionadas ou insuficientes;
* qualidade inadequada do concreto;
* ausência da armadura de fretagem;
* integridade da base ou do fuste.
Eventos pós-conclusâo da fundação
a) Carregamento próprio da superestrutura
* alteração no uso da edificação (elevação ou alteração de cargas)
* ampliações e modificações não previstas no projeto
b) Movimento da massa de solo
* alteração de uso de terrenos vizinhos (nova construção ou estocagem
de materiais pesados próximo a divisa);
* execução de grandes escavações próximo a construção;
* escavações não protegidas junto a divisa ou escavações internas a obra (instabilidade);
* instabilidade de taludes;
* rompimento de canalizações enterradas;
* oscilações não previstas de nível de água;
* extravasamento de grandes coberturas (calhas) -saturação de solos colapsáveis;
* rebaixamento do nível de água;
* escavação ou solapamento;
* ação de animais ou do homem (escavações indevidas).
c) Vibrações ou choques
* equipamentos industriais;
* compactação vibratória dinâmica.

RECALQUES
Os recalques são deformações do solo, com conseqüentes deslocamentos dos apoios da estrutura. Os
recalques de fundações podem causar prejuízos à boa utilização da obra, como também ameaçar a
estabilidade da construção.
Os efeitos dos recalques nas estruturas podem ser classificados em 3 grupos.

a ) Danos estruturais ➭ são os danos causados à estrutura propriamente dita (pilares, vigas e lajes).

b ) Danos arquitetônicos ➭ são os danos causados à estética da construção, tais como trincas em

paredes e acabamentos, rupturas de painéis de vidro ou mármore, etc.

c ) Danos funcionais ➭ são os causados à utilização da estrutura com refluxo ou ruptura de esgotos e

galerias, emperramento das portas e janelas, desgaste excessivo de elevadores (desaprumo da


estrutura), etc.
Os recalques totais das fundações diretas são obtidos pela soma do recalque imediato, recalque de
adensamento e recalque ao longo do tempo (ou compressão secundaria).
A equação geral de cálculo dos recalques de uma fundação pode ser expressa por:
S = Si + Sa + Scs onde:
S = recalque total
Si ou Se = recalque imediato (Si) ou recalque elástico (Se)
Sa = recalque por adensamento
Scs = recalque por compressão secundária
O recalque imediato é proveniente das deformações com mudança de forma, sem diminuição de
volume do solo. Ocorre simultaneamente com aplicação da ação. A grandeza desses recalques é
estimada com base na teoria da elasticidade; por exemplo: os solos arenosos, que em virtude da alta
permeabilidade, a água flui tão rapidamente que a expulsão de água dos poros é praticamente
instantânea. Portanto, as fundações em areias recalcam quase imediatamente à aplicação da força.
O recalque de adensamento resulta da expulsão gradual de água e de ar dos vazios do solo e ocorre
lentamente com o decorrer do tempo; por exemplo: os solos argilosos, submetidos a carregamentos
permanentes, onde os recalques se processam lentamente face à pequena permeabilidade destes
solos.
Os recalques uniformes ocorrem quando as fundações sofrem recalques iguais em toda extensão da
obra.
CAUSAS DE RECALQUES

• Rebaixamento do Lençol Freático ➭ caso haja presença de solo compressível no subsolo, ocorre

aumento das pressões geostáticas nessa camada, independente da aplicação de carregamentos


externos.

• Solos Colapsíveis ➭ solos de elevadas porosidades, quando entram em contato com a água, ocorre

a destruição da cimentação intergranular, resultando um colapso súbito deste solo.

• Escavações em áreas adjacentes à fundação ➭ mesmo com paredes ancoradas, podem ocorrer

movimentos, ocasionando recalques nas edificações vizinhas.

• Vibrações ➭ oriundas da operação de equipamentos como: bate-estacas, roloscompactadores

vibratórios, tráfego viário etc.


• Escavação de Túneis – qualquer que seja o método de execução, ocorrerão recalques da superfície
do terreno.
Já quando os recalques são desiguais, são ditos recalques diferenciais.

Fig. 01 – Recalque diferencial


As principais causas dos recalques diferenciais são:
a). superposição dos campos de pressões de construções vizinhas;
b). grande concentração de pressões no centro das edificações submetidas a ações aproximadamente
distribuídas;
c). distribuição irregular das ações da edificação;
d). diferentes tipos de fundação em um mesmo edifício;
e). variação de espessura ou de propriedades das camadas do solo que condicionam os recalques;
f). fundações assentes em cotas diferentes.
Em geral, não são os recalques uniformes que prejudicam a estrutura e sim os diferenciais, por
provocar solicitações adicionais na estrutura, podendo comprometer a estabilidade da obra. No
entanto, quando os recalques uniformes começam a ultrapassar um certo limite e, dependendo do
tipo de construção, a utilização da mesma pode ficar bastante prejudicada.
Os recalques diferenciais evidenciam-se por desnivelamentos do terreno e consequentemente da
estrutura, desaprumos e fissuras na estrutura.

Fig. 02 – Exemplos de efeitos dos recalques nas estruturas


RECALQUES LIMITES (BJERRUM – 1963)

Tab. 01 - Recalque diferencial específico δ / l .

As medidas (relativas ao solo ou às estruturas) a serem tomadas, visando minimizar os efeitos dos
recalques, dependem da destinação da obra e do tipo da estrutura a serem adotados.
As estruturas metálicas suportam melhor os efeitos dos recalques que as estrutura de concreto,
enquanto as hiperestáticas são mais sensíveis que as isostáticas; portanto, prevendo uma construção
suficientemente rígida, pode-se minimizar os efeitos dos recalques diferenciais.
No caso de solo compressível, pode-se reduzir a um mínimo os recalques, retirando por escavação
um peso de terra que se substitui pelo peso da construção.
INTERAÇÃO SOLO - ESTRUTURA
O comportamento real de uma estrutura apoiada sobre o solo envolve um processo interativo que
começa com a fase de construção, passa por um período de ajustamento de tensões e esforços
solicitantes na estrutura e no solo, e termina com um estado de equilíbrio. O projetista não pode
ignorar este comportamento, para que se possa estimar a magnitude dos recalques, adotar soluções
estruturais e então avaliar o mérito da fundação escolhida.
A conclusão de que uma estrutura pode acomodar os recalques previstos, necessita de uma larga
experiência do projetista. No entanto, critérios baseados em situações similares na prática podem ser
adotados.
A análise da interação solo-estrutura é de grande complexidade e está intimamente relacionada com
a utilização de métodos numéricos, pois os cálculos de interação só se tornaram praticamente
possíveis com os computadores.
Em algumas circunstâncias, onde a estrutura não tem poder de acomodação, para os recalques
diferenciais previstos pelo cálculo geotécnico convencional, a estrutura pode ser projetada como
isostática (podendo acomodar os deslocamentos sem provocar solicitações internas), introduzindo-se
rótulas que permitam deslocamentos relativos sem, no entanto, causar prejuízos estéticos, de
durabilidade e de desempenho.
COEFICIENTES DE SEGURANÇA
Os coeficientes de segurança buscam refletir as incertezas quanto às ações e às resistências,
respectivamente majorando e minorando estes valores. Incertezas essas ligadas aos próprios
fenômenos naturais aos quais as obras devem resistir (por exemplo, as incertezas hidrológicas ou
meteorológicas), outras vezes devidas à insuficiência de informações (por exemplo, bolsões de solo
mole ou até vazios subterrâneos que podem não ser detectados por sondagens de reconhecimento
programadas e executadas dentro da melhor técnica vigente).
De acordo com HACHICH [1996], uma estrutura é considerada segura quando puder suportar as
ações que a solicita durante a sua vida útil sem ser impedida, quer permanentemente, quer
temporariamente, de desempenhar funções para as quais foi concebida.
Denomina-se estado limite qualquer condição que impeça a estrutura de desempenhar essas funções.
Os estados limites últimos correspondem ao esgotamento da capacidade portante da estrutura, por
exemplo, esgotamento da capacidade de carga de uma sapata. Os estados-limites de utilização
correspondem a situações em que a estrutura deixa de satisfazer a requisitos funcionais de recalques
excessivos ou durabilidade.
Tendo em vista que os dados básicos necessários para o projeto e execução de uma fundação
provêm de fontes as mais diversas, a escolha do coeficiente de segurança é de grande
responsabilidade. A tabela a seguir resume os principais fatores a considerar.
O quadro a seguir fornece uma idéia geral a respeito de limites de recalques totais e diferenciais para
os casos específicos:

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