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Dimensionamento de Fundações por Tubulões

Prof. Eng. Clever Roberto Nascimento

• SETEMBRO / 2012
DIMENSIONAMENTO DE FUNDAÇÕES POR TUBULÕES

De acordo com a Norma NBR6122, Tubulão é o elemento de fundação direta,


profunda, cilíndrico, em concreto e em que, pelo menos na sua etapa final, há descida
de operário. Pode ser feito a céu aberto ou sob ar comprimido (pneumático) e ter ou
não base alargada. Pode ser executado com ou sem revestimento, podendo este ser de
aço ou de concreto. No caso de revestimento de aço (camisa metálica), este poderá ser
perdido ou recuperado.

Quando o terreno é formado por uma camada superficial de baixa capacidade


de carga (5 a 10m), apoiada sobre uma camada de alta capacidade de carga, adota-se
previamente a fundação do tipo Tubulão.

Os Tubulões são indicados onde são necessárias fundações com alta capacidade
de cargas (superiores a 50 Tf) podendo ser executados acima do nível do lençol
freático (escavação a céu aberto e do tipo Chicago) ou até abaixo do nível de água
(ambientes submersos), nos casos em que é possível bombear a água ( do tipo Grow )
ou utilizar ar comprimido.

As bases alargadas dos tubulões devem ser dimensionadas de maneira a evitar


alturas de base superiores a 2 m. Em casos excepcionais, devidamente justificados,
admitem-se alturas maiores. A forma da base, normalmente, é circular, embora no
caso de fundação de divisa ou de superposição de bases de tubulões próximos, se
adote a falsa elipse constituída por um retângulo e dois semicírculos, superposto a
uma base reta de no mínimo 20 cm de altura (rodapé).

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Deve-se evitar que entre o término da execução do alargamento da base de um
tubulão e sua concretagem decorra tempo superior a 24 h. De qualquer modo, sempre
que a concretagem não for feita imediatamente após o término do alargamento e sua
inspeção, nova inspeção deve ser feita por ocasião da concretagem, limpando-se
cuidadosamente o fundo da base e removendo-se a camada eventualmente amolecida
pela exposição ao tempo ou por águas de infiltração.
Quando previstas cotas variáveis de assentamento entre tubulões próximos, a
execução deve ser iniciada pelos tubulões mais profundos, passando-se a seguir para
os mais rasos.
Deve-se evitar trabalho simultâneo em bases alargadas em tubulões cuja
distância, de centro a centro, seja inferior a duas vezes o diâmetro da maior base. Esta
indicação é válida seja quanto à escavação seja quanto à concretagem, sendo
especialmente importante quando se tratar de fundações executadas sob ar
comprimido. Esta exigência visa impedir o desmoronamento de bases abertas ou
danos a concreto recém-lançado.
O dimensionamento estrutural do fuste ( 60cm ≤ Ø Fuste ≤ 150cm ) , é feito
como o de uma peça de concreto simples, apenas com armadura de fretagem. Quanto
ao coeficiente de minoração γc do concreto, este deve ser tomado igual a 1,6 para
tubulão a céu aberto e 1,5 para tubulão revestido tendo em vista as condições de
concretagem do tubulão; além disso multiplicamos a resistência característica do
concreto pelo coeficiente 0,85 para levar em conta a diferença entre os resultados de
ensaios rápidos de laboratório e a resistência sob a ação de cargas de longa duração.
A sua concretagem é feita simplesmente lançando o concreto da superfície,
através de tromba (funil) com comprimento do tubo do funil não inferior a cinco
vezes seu diâmetro interno. É desaconselhável o uso de vibrador em tubulões não
revestidos e por esta razão o concreto deve ter plasticidade adequada.

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O dimensionamento de fundação por tubulões deve obedecer ao critério de que
o centro de gravidade da área do fuste e da área da base do tubulão deve coincidir
com o ponto de aplicação da carga do pilar. De uma forma geral, basta um tubulão
para transferir a carga do pilar para o terreno de apoio.
Serão admitidos desvios de locação de no maximo, 10% da dimensão do
diâmetro do fuste do tubulão, para valores maiores deverá ser retificado o fuste.
O desaprumo máximo é de 1 %, ou seja, 1cm por m de tubulão.
Tubulões totalmente enterrados dispensam a verificação da segurança à
flambagem, exceto para solos compressivos e aterros.
O diâmetro da base deve ser limitado a 4,0 m.
Para pilares no alinhamento frontal da edificação, permite-se o avanço máximo
de 1,0m ou 2/3 da largura do passeio ( conforme código de obras do município ) para
o fuste e bloco de coroamento. Quanto à base do tubulão, não há limitação por estar a
grande profundidade.
O peso próprio do tubulão não é considerado nos cálculos do dimensionamento,
pois na determinação da taxa de trabalho do solo à cota de apoio, supõe-se que a
resistência lateral ao longo do fuste seja igual ao peso próprio do tubulão.
A Taxa de trabalho é definida como: σs = Nspt - 1 ( Kgf/cm2 )

1- Tipos de Tubulões :

São classificados de acordo com o processo construtivo:


A céu aberto: escavados manualmente com ou sem escoramento lateral;
Mecânicos: executados pela cravação de camisa metálica, escavando-se seu
interior;
Pneumáticos: escavados manualmente abaixo de nível freático com o auxílio da
aplicação de uma contra-pressão.

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1.1 - Tubulão Isolado - Circular

Quando o tubulão não estiver na divisa ou


próximo a outro tubulão em que as dimensões
da base alargada se toquem, ou ainda quando
no alinhamento frontal do lote sua dimensão
do fuste e bloco de coroamento não ultrapasse
a medida máxima permitida sobre a calçada
(ver código obras municipal ).

1.2 - Tubulão em Falsa Elipse

Nas situações onde não se pode executar o


tubulão isolado.
Quando dois pilares estão próximos e suas
bases alargadas se tocam, podemos ter uma
delas em falsa elipse ou ambas.
Condição econômica 0,5 b ≤ x ≤ 1,5 b
Na situação especifica de pilar na divisa a
excentricidade será combatida com viga

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1.3 - Tubulão na divisa

O pilar da divisa deve apoiar sobre tubulão em falsa elipse e estar ligado a outro
tubulão central isolado por uma viga de equilíbrio ( alavanca ). O alivio no pilar
central será considerado pela metade assim como nos casos de sapatas de divisa.

2- Dimensionamento de Tubulões :

A área da base do tubulão é calculada da maneira análoga a para fundações rasas do


tipo sapatas, sendo que tanto o peso próprio do tubulão quanto o atrito lateral entre o
fuste e o terreno são desprezados.

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2.1. Tubulão para Pilar Central Isolado:

Calculo da área da base:

O diâmetro da mesma será dada por:

Calculo do diâmetro do fuste Ø fuste (d da figura) :


A área do fuste é calculada analogamente a um pilar cuja seção de ferro seja nula:

sendo: γf = 1,4 e γc = 1,5 tubulão revestido


γc = 1,6 tubulão não revestido
2,09 × P × γc
A formula acima pode ser escrita de maneira simplificada: Ø fuste ≥
fck

O angulo α para a base alargada, no caso de tubulões a céu aberto, adota-se α = 60°.
Assim para o calculo da altura, o valor de H será :

O volume da base pode ser calculado, de maneira aproximada, como sendo a soma do
volume de um cilindro com 20 cm de altura e um “tronco” de cone com altura (H – 20
cm), ou seja:

em que V será obtido em metros cúbicos (m3), entrando-se com Ab (área da base) e
Af (área do fuste) em metros quadrados (m2).

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Tabela – Cálculo de altura, volume do alargamento de base (v1) e volume total
da base (v2) (unidades em cm e m3)
Ø fuste

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2.2. Tubulão para Pilares centrais próximos:

Não se deve de forma alguma associar a fundação de dois ou mais pilares com um
único tubulão. Então se dois ou mais pilares estão próximos, de tal forma que
impossibilite a execução de bases circulares por causa da superposição de áreas, o
alargamento da base de um ou ambos os tubulões é feito na forma de falsa elipse.
Entretanto, é obvio que nesse caso não há excentricidade e os tubulões trabalham
independentes.
1 – Primeiramente se calcula as bases para pilares isolados:

4 × P1 4 × P2
DB1 = DB2 = P1 < P2 ( Tf )
π × σs π × σs
Se ( DB1 + DB2 ) / 2 < L ( distancia entre pilares ) OK !
Se ( DB1 + DB2 ) / 2 > L ( distancia entre pilares ) Não passa como circulares !
2 – Se não passar devemos calcular a de menor carga como base circular e a de maior
carga como falsa elipse. Sabendo que r = D/2 Temos: rb2 < L – rb1
Área do tubulão 2  Sb2 = P2/ σs
Calculo de X  Xb2 = Sb2 - π . rb2²
2 . rb2
Verificar a condição econômica rb2 ≤ Xb2 ≤ 3 rb2
Se a verificação for observada, então estão dimensionados os tubulões, faltando
apenas dimensionar o Ø fuste e Altura da Base ( H ) conforme 2.1.

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Se a condição econômica não for verificada, faz-se ambos os tubulões com base em
formato falsa elipse.
1- rb1 + rb2 = L e rb1/ rb2 = P1 / P2 resolvendo temos rb1 e rb2
2- Calculamos as áreas SB1 = P1 / σs e SB2 = P2 / σs
3 – Calcular Xb1 = Sb1 - π . rb1² e Xb2 = Sb2 - π . rb2²
2 . rb1 2 . rb2
4 – Verificar a condição econômica rb1 ≤ Xb1 ≤ 3 rb1 e rb2 ≤ Xb2 ≤ 3 rb2
Se verificada a condição, está dimensionado as bases dos tubulões, as alturas H e os
diâmetros dos fustes são calculados conforme 2.1.

Caso tenhamos 2 pilares tão próximos que não seja possível a solução fazendo ambas
as bases em formato falsa elipse, pois não se verifica a condição X ≤ 3 rb, para uma
ou ambas as bases dos tubulões, então procedemos como a seguir:

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1- Dimensionar inicialmente os dois tubulões como isolados e obtemos rb1 e rb2.
2 – Resolver as equações: e1 + e2 = rb1 + rb2 – L e e1 / e2 = P1 / P2
e calcular e1 e e2
3 – Calcular as reações R1 e R2 (reais) com as seguintes equações:
∑ Fv=0 R1 + R2 = P1 + P2 ∑ M(R2)=0 R1= P1.( L+e2) + P2 . e2
L + e1 + e2
4 – Calcular as áreas dos tubulões: Sb1 = R1 / σs e Sb2 = R2 / σs
5 - Calcular rb1 e rb2 resolvendo as equações: rb1 + rb2 ≤ L + e1 + e2
rb1 / rb2 = R1 / R2
6 – Calcular Xb1 = Sb1 - π . rb1² e Xb2 = Sb2 - π . rb2²
2 . rb1 2 . rb2
7 – Verificar a condição econômica: rb1 ≤ xb1 ≤ 3rb1 e rb2 ≤ xb2 ≤ 3rb2
Se a verificação for observada, então estão dimensionados os tubulões, faltando
apenas dimensionar o Ø fuste e Altura da Base ( H ) conforme 2.1.
8 – O apoio dos pilares P1 e P2 será na viga de equilíbrio entre os tubulões.

2.3. Tubulão para Pilares no alinhamento frontal:


Neste caso permite-se o avanço máximo de 1,0 m ou 2/3 da largura do passeio ( ver
código de obras do município ) do fuste e do bloco de coroamento. Quanto a base do
tubulão, não tem limitação por estar a grande profundidade.

2.3. Tubulão para Pilares na Divisa:

∑ Fv = 0 R1 + R2 = P1 + P2

∑ M2 = 0 R1 = P1 . L
L–e

e = r – b1/2 – f

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Não se pode avançar além da divisa, nem com os elementos superficiais do tubulão.
Dessa forma, ficamos impossibilitados de dimensionar o tubulão como pilar central
isolado, ou seja, fazer com que o C.G. do fuste e da base alargada coincida com o
C.G. do pilar. Logo haverá uma excentricidade que deve ser combatida “ amarrando”
o pilar de divisa num pilar central isolado, através de viga alavanca.
Roteiro de calculo:
1 – Adotar: R1a = 1,2 P1
2 – Calcular a área da base: Sb1a = R1a / σs
3 – Determinar r1a Sb1a = π . r1a² + 2 r1a . X1

Sb1a
fazendo X1 = 2 r1a ( condição econômica r < X < 3r )  r1a =
π +4
4 – Adotar r1 ( real ) = r1a
5 – Calcular e (real ): e = r1 – ( b1/2 ) – f
6 – Calcular a reação R1 (real ): R1 = R1 = P1 . L
L–e
7 – Calcular Sb1 ( real ): Sb1 = R1 / σs
8 – Calcular x1: X1 = Sb1 - π . r1²
2 . r1
9 – Verificar a condição econômica r1 < X1 < 3r1
2,09 × R1 × γc
10 – Calcular o Ø fuste Ø fuste =
fck

11 – Calcular a altura da base ( H ): Hbase = 0,866 ( 2r1 + x1 – Øfuste )


12 – Calcular o alivio ∆ = R1 – P1
13 – Calcular o pilar central isolado considerando metade do alivio.
Obs : para pilares de divisas opostas fazer o mesmo procedimento, considerando
R1=P1 e R2=P2. Não há alivio e é necessário a viga alavanca de P1 a P2.

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3 - Dimensionamento da armadura de Fretagem ( Asf )
 a  Nd  b  Nd
Asfa = 0,3 × 1 − 0  × Asfb = 0,3 × 1 − 0  × onde Nd = γ P
 A  fyd  B  fyd

Pouco usual, para pilares com pequenas cargas, que nascem direto no fuste do
tubulão.
4 - Bloco de Coroamento ou de transição
A ligação entre pilares e tubulões é feita através de blocos de coroamento ou de
transição. Na figura 1, as tensões do pilar se desviam para o tubulão. Em função da
mudança da trajetória das tensões, surgem, no bloco, tensões de tração e de
compressão no plano horizontal. A segurança estrutural do elemento estará garantida
se forem verificados os seguintes itens:
esmagamento do concreto por compressão excessiva na região de contato da carga e
fendilhamento devido às tensões transversais de tração ao longo da altura.
Os blocos de coroamento têm também a função de absorver os momentos produzidos
por forças horizontais, excentricidade e outras solicitações (Caputo. H.P., 1973).
É obrigatório o uso de lastro de concreto magro com espessura não inferior a 5 cm
para a execução do bloco de coroamento de estaca ou tubulão. No caso de estacas de
concreto ou madeira e tubulões, o topo desta camada deve ficar 5 cm abaixo do topo
acabado da estaca ou tubulão.

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4.1. CALCULO DA ALTURA ( H)
Na base do pilar, considera-se uma distribuição uniforme das tensões.
Para que se possa considerar uma distribuição uniforme no topo do tubulão, o bloco
deve ter uma altura mínima. Esta altura mínima decorre do fato de que a região da
perturbação no fluxo de tensões é limitada, segundo o princípio de Saint Venant.
Deste modo, a altura efetiva (He) é dada pela expressão:

onde:
A é a dimensão do tubulão e Ao a dimensão do pilar na direção onde se deseja
calcular a tensão de tração.
Obs.: Devemos lembrar que, para que a armadura do pilar possa estar devidamente
ancorada no bloco, então: He ≥ Comprimento de ancoragem das barras do pilar
(lb) + cobrimento
H = He + 0,10 cm ( região do tubulão dentro do bloco )
B

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4.2. CALCULO DA DIMENSÃO ( B)
Se Ø fuste > ℓ (pilar)  B ≥ Ø do Fuste do tubulão + 30cm
Se Ø fuste < ℓ (pilar)  B ≥ dimensão ℓ do pilar + 10 cm
Obs: o bloco terá dimensões B x B x H, conforme condições acima.
4.3. ESFORÇOS DE TRAÇÃO E CÁLCULO DAS ARMADURAS
Os esforços são calculados através das expressões:

σtd ≤ 14 Kgf/cm2

As = área dos estribos horizontais ( adotar 5 estribos )

Para os estribos verticais temos:

1,2 Nd
Act = Asv = 0,008 × Act
0,85 × fcd + 0,008 × fyd

4.3. CALCULO DA ARMADURA DE LIGAÇÃO FUSTE x BLOCO


Para a armadura de ligação recomenda-se na prática adotar As mim para o fuste, por
ser considerado pilar sem armação.
As min. = 0,2% Ac e usar estribo 6.3mm c/ 30 circular ou cintado.
A armadura de transição deve ter comprimento mínimo de 2,0 m.
Para a seção circular ( como nos pilares ) usar no mínimo 6 Ø

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