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Estudo Comparativo entre Ensaio de Carga Dinâmica e Carga

Estática de Projeto : Estudo de Caso


Wandemyr Mata dos Santos Filho, MSc
Departamento de Engenharia Civil - UNAMA – Universidade da Amazônia AlphaGeo Fundações
Ltda– Belém, Pará, Brasil

João Franco Filho


Engenheiro Civil – Universidade da Amazônia – Belém, Pará, Brasil

Bárbara Caluff Rodrigues


Engenheiro Civil – Universidade da Amazônia – Belém, Pará, Brasil

RESUMO: Através de Prova de Carga Dinâmica, foram analisadas 5 (cinco) estacas pré- moldadas
em perfil metálico de um edifício residencial de 29 pavimentos na cidade de Belém/PA, executadas
em solo bastante heterogêneo, constituído basicamente de argila silto arenosa e areia silto argilosa,
sendo o primeiro material predominante no perfil geotécnico. Os resultados obtidos nas Provas de
Carga Dinâmica foram confrontados com a capacidade de carga estática de projeto obtida através de
métodos Semi–Empíricos de previsão capacidade de carga e também com resultados obtidos em
formulações dinâmicas.
PALAVRAS-CHAVE: Perfil metálico, Prova de Carga Dinâmica, Análise de dados.

1 INTRODUÇÃO um fator que leva muitos engenheiros a optarem


pelas estacas metálicas, uma vez que é possível
Com o passar dos anos e fomentado pelo avanço a fabricação da estrutura em paralelo com a
da tecnologia, as edificações estão se tornando execução das obras de fundação, montagem e
cada vez maiores e mais dispendiosas, inclusive concretagem de lajes. O processo de cravação é
sendo feitas em terrenos de baixa qualidade. Para simples, rápido e extremamente eficiente, além
que tais construções permaneçam estáveis são de que há vantagem no peso das peças, que por
necessárias fundações competentes e leves, o serem leves e terem comprimento padrão
que aumentou a procura por fundações facilitam a logística e armazenamento.
metálicas. Há casos também em que pequenas A cidade de Belém por ser uma área de
edificações necessitam de fundações profundas formação geológica sedimentar, encontra-se em
por situarem-se em área de solos de baixa sua maior parte sob uma grande camada de
resistência. As estacas metálicas são ideias para material argiloso, caracterizando solo de baixa
quase todos os tipos de solo, uma vez que se resistência (SALAME, 2006). Devido a este
adequam a viabilidade de cada terreno. fato, existem muitos casos de construções de
(VÁRIOS AUTORES, 1998). pequeno porte, até mesmo casas, que necessitam
Embora o custo de estacas metálicas ainda de fundações profundas. A estaca metálica pré-
seja relativamente alto comparado com os outros moldada é uma alternativa geotécnica que vem
tipos de estacas, em várias situações o uso se sendo bastante utilizada afim de solucionar esse
torna economicamente viável pois é possível contratempo no centro de Belém.
atender várias fases da construção além de Atualmente já podemos observar uma grande
permitir cravação fácil, de baixa vibração, evolução nas estruturas metálicas. Máquinas
trabalhando bem à flexão e não apresentando foram aperfeiçoadas através da utilização de
problemas maiores quanto à manipulação, controles numéricos e computadores. Os nossos
transporte, emendas ou cortes. (VÁRIOS aços estruturais evoluíram, as opções de
AUTORES, 1998). composição e resistência aumentaram. A nossa
A redução do tempo de construção também é tecnologia de solda e os parafusos de alta
resistência atingiram os maiores índices de empreendimento é provida de 4 (quatro)
qualidade, comparáveis aos padrões sondagens SPT. As estacas selecionadas pelo
internacionais. (ANDRADE, 1999). Atualmente projetista e consultor da fundação para a
muitos engenheiros estão começando a se realização das Provas de Carga Dinâmicas
dedicar às estruturas metálicas, pois já uma estavam situadas entre as prospecções SP-03 e
consciência técnica disposta a enfrentar a SP-04. As sondagens SPT SP-03 e SP-04
construção metálica de edifícios de andares atingiram as profundidades de 41,45 metros e
múltiplos (para edifícios industriais não existem 40,45 metros, respectivamente. Ambas as
mais dúvidas a respeito). investigações apresentaram um perfil geotécnico
Com o avanço das técnicas de execução de constituído em sua maior parte por argila silto
fundações e devido ao grau de responsabilidade arenosa de cor cinza, com camadas intervalares
de certas obras, tornou-se essencial uma de areia siltosa em profundidades variadas. Os
melhoria nas técnicas de monitoração, visando a estudos geotécnicos foram concluídos, em uma
obtenção de informações melhores e mais camada de areia silto argilosa de cor cinza.
precisas durante as cravações, possibilitando um
controle mais adequado às novas necessidades.
O controle de campo da capacidade de carga
pode ser realizado através de provas de carga
estáticas, controle pela “nega”, controle pelo
repique e o controle por instrumentação
dinâmica. Nesse contexto, o monitoramento e o
controle de fundações profundas através do uso
de um adequado sistema de instrumentação,
aquisição e interpretação de dados,
desempenham um papel fundamental na
avaliação do comportamento destas estruturas,
notavelmente durante a fase de execução. O
Ensaio de Carregamento Dinâmico (ECD),
baseado na análise de cravação de estacas através
de instrumentação e fundamentado na teoria da
equação da onda (Smith, 1960), objetiva
determinar a capacidade de carga da interação
estaca-solo. Fornece informações a respeito da
integridade da estaca, do deslocamento máximo
e das tensões máximas de compressão e de tração
durante o golpe, dentre outros subsídios.
A evolução dos equipamentos eletrônicos de Figura 1 - Sondagem SP-03 – folha 01
medição e dos computadores digitais fez com Fonte: WS Geotecnia
que as monitorações ganhassem muito em
precisão e agilidade, permitindo que modelos
complexos para a representação do
comportamento da estaca e do solo durante a
cravação fossem adotados.

2 IDENTIFICAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO
DOS SOLOS

2.1.3 – Investigação geotécnica da área estudada

A área de estudo e destinada ao


Figura 2 - Sondagem SP-03 – folha 02
Fonte: WS Geotecnia

3 METODOLOGIA APILCADA

Foram realizadas 5 (cinco) provas de carga


dinâmica, escolhidas pelo projetista e consultor
da fundação, a Figura A mostra a localização das
estacas nos seus respectivos blocos de
coroamento. As estacas eram compostas de 4
(quatro) perfis metálicos (fabricação GERDAU),
sendo o primeiro a ser cravado do tipo HP 310 x
79,0 e os demais HP 310 x 93,0. O objetivo
principal da realização dos ensaios foi a
verificação da capacidade de carga e integridade
das mesmas. A capacidade de carga de projeto
das estacas era de 1900 kN.

Figura 4 - Imagem do Edf. Ville Trois

A construção que será realizada na área de


estudo trata-se de uma estrutura de concreto
armado convencional, constituída por pilares,
vigas e lajes e um total de 29 pavimentos. A
fundação da torre do empreendimento foi
executada com estacas pré- moldadas metálicas.
O projeto possuía um total de 89 (oitenta e
nove) estacas, com profundidade estimada de 42
Figura 3 - Área de estudo Fonte: google maps a 48 metros, sendo elas de três tipos:
• 4 estacas com perfil W 200x35,9 para suportar
até 50 tf; • 7 estacas com perfil HP 310x79,0 para estaca, tomando como partida o nível do terreno
suportar até 140 tf; • 78 estacas com 1 perfil HP (N.T.).
310x79,0 e 3 perfis HP 310x93,0 para suportar Em seguida, a instrumentação era conectada
até 190 tf. por meio de cabos a um analisador de cravação
A figura a seguir mostra simplificadamente o de estacas (Pile Driving Analyser – PDA) do
projeto de fundação da torre. modelo PAX, fabricado pela Pile Dynamics Inc.
(PDI). A figura 8 mostra o equipamento utilizado
sendo manuseado.

Figura 5: Projeto simplificado de fundação da torre. Fonte:


CBM – Construtora Bruno Mileo Figura 7: Instrumentação concluída

Foram realizadas 5 (cinco) provas de carga


dinâmica, escolhidas pelo projetista e consultor
da fundação, a Figura 6 mostra a localização das
estacas nos seus respectivos blocos de
coroamento. As estacas eram compostas de 4
(quatro) perfis metálicos (fabricação GERDAU),
sendo o primeiro a ser cravado do tipo HP 310 x
79,0 e os demais HP 310 x 93,0. O objetivo
principal da realização dos ensaios foi a
verificação da capacidade de carga e integridade
das mesmas. A capacidade de carga de projeto
das estacas era de 1900 kN.
Figura 8: PDA sendo manuseado

Para a realização das Provas de Carga Dinâmica


foi utilizado um bate – estaca de queda livre com
plataforma sobre rolos, semelhante ao utilizado
para a cravação das estacas, o mesmo possui
martelo de 29 kN. Como sistema de
amortecimento, o capacete metálico do bate –
estaca possuía cepo de madeira com 20 cm.. As
Provas de Carga Dinâmicas foram realizadas
com energia crescente, ou seja, a altura de queda
do martelo era aumentada a cada golpe que o
mesmo aplicava sobre a estaca. A tabela 1
apresenta alguns dados referentes à realização
dos perfis metálicos.

Figura 6: Localização das estacas ensaiadas Fonte: CBM –


Construtora Bruno Mileo Tabela 1. Dados referentes à realização das provas de
A figura 7 demonstra o posicionamento da carga dinâmica
instrumentação nos “prolongamentos” de cada
4 APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS

4.1 – Dados Obtidos pelo Método CAPWAP


Figura 10: Curva Resistência x Deslocamento de todas as
estacas ensaiadas
Durante a realização das Provas de Carga
Dinâmica, o PDA processa os dados obtidos 4.2 - Simulação de Prova de Carga Estátiva
através da instrumentação no fuste da estaca,
porém o Jc (fator de amortecimento dinâmico do O método de análise CAPWAP é capaz de
solo) utilizado durante o ensaio foi arbitrário. Os simular prova de carga estática,
dados obtidos foram analisados pelo método consequentemente elaborando uma curva carga
CAPWAP, onde o Jc foi reajustado, chegando a x recalque. Nas figura 11 é apresentada a
resistências máximas mobilizadas mais simulação de uma das estacas ensaiadas,
coerentes. A tabela 2, mostra os dados obtidos já correspondente a estaca P08-54. A linha
analisado pelo método CAPWAP para o caso da contínua representa o comportamento da região
estaca P08-54. onde houve a instrumentação no fuste da estaca,
enquanto que a linha tracejada representa o
Tabela 1. Dados da estaca P08-54
comportamento da ponta da estaca.
O método de análise CAPWAP calcula a
carga e o recalque resultante no topo para cada
carga incremental na ponta. Considerando a
elasticidade do solo, da estaca, velocidade de
deslocamento da estaca nula em relação ao solo.
Através dos dados obtidos pelo PDA e Após um período de repouso após a cravação, o
analisados pelo método CAPWAP, é possível comportamento registrado pode ser diferente,
determinar as curvas de resistência mobilizada uma vez que a simulação é feita no momento do
(RMX) versus o deslocamento máximo de cada ensaio.
golpe (DMX). A figura 9 representa a curva
RMX x DMX da estaca ensaiada P08-54, e a
figura 10 apresenta todas as curvas juntas.

Figura 11: Simulação de Prova de Carga Estática da estaca


P08-54 Fonte: FUGRO IN SITU, 2012

4.3 - Gráfico de Nega X Deslocamento


Figura 9: Curva Resistência x Deslocamento da Estaca
P08-54
Durante a execução das Provas de Carga
Dinâmica com Energia Crescente, foi registrado
através do PDA (Pile Driving Analyzer) valores
de deslocamento máximo a cada golpe, também • Estudar o efeito set-up; • Redimensionar a
foram registrados medições de nega com a fundação com coeficiente de segurança
utilização de papel e caneta. A figura 12 reduzido.
apresenta todos os gráficos reunidos. Os quais Após análise dos dados obtidos em campo e
demonstram os valores de nega obtidos a cada analisado pelo método CAPWAP,
golpe versus os valores dos deslocamentos às seguintes conclusões foram obtidas:
máximos • Todos os resultados foram considerados
satisfatórios, comprovando a qualidade e
confiabilidade do estaqueamento;
• As cargas mobilizadas pela Prova de Carga
Dinâmica foram maiores que a carga estática de
projeto;
• Os gráficos de Força Medida e Força Calculada
obtiveram uma sobreposição satisfatória,
comprovando a eficiência dos métodos de
análise;
• O martelo de queda-livre utilizado mobilizou
cargas satisfatórias, porém as mesmas poderiam
ser mais elevadas caso o equipamento possuísse
Figura 12: Gráfico de Nega x Deslocamento de todas as um martelo maior;
estacas ensaiadas • Os gráficos de Nega x DMX mostraram que as
estacas com maior tempo de cravação
5 Considerações Finais possuem melhor correlação que as estacas de
cravação mais recentes;
Na figura 13, são feitas comparações entre a • Controles de cravação por nega e formulações
capacidade de carga estática de projeto obtida dinâmicas mostraram-se eficientes e confiáveis
através de métodos semi-empiricos, as neste estudo de caso;
formulações dinâmica de Janbu e • Através de todos os ensaios com energia
Dinamarqueses e as resistências máxima crescente analisado pelo método CAPWAP,
mobilizadas obtidas através do método conclui-se que a Prova de Carga Dinâmica é uma
CAPWAP. De todas as etacas ensaiadas boa opção para verificar o comportamento de
estacas;
• Devido a possibilidade apresentada pela NBR
6122/2010 da substituição de ensaios estáticos
por dinâmicos em sua maioria e perante os
resultados satisfatórios dos inúmeros estudos e
da vasta experiência nacional e internacional
acerca da comparação de Prova de Carga
Estática com Prova de Carga Dinâmica, esta
última vem sendo cada vez mais utilizada.
• Relação Custo x Beneficio melhor que da Prova
de Carga Estática, devido sua boa
Figura 13: Comparação entre resultados de todas as estacas produtividade e resultados conclusivos.
Com o término desta pesquisa, as seguintes REFERÊNCIAS
sugestões podem ser propostas para pesquisas
futuras, tais como: Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
• Realizar estudos aprofundados com os dados 6122 – Projeto e execução de Fundações. Rio
obtidos pela análise CAPWAP, detalhando a de Janeiro – RJ. 2010
mecânica das ondas e suas derivações;
Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
• Estudar a influência do pré-furo que foi 12131 –Estacas – Prova de Carga Estática –
executado em duas das cinco estacas ensaiadas;
Método de Ensaio. Rio de Janeiro – RJ. 2006. Janeiro
Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
13208 Estacas - Ensaio de Carregamento
Dinâmico. Rio de Janeiro – RJ. 2007
Avelino, Janaina Dias. (2006). Análise de
desempenho de estacas de fundação em um
terreno com presença de solos moles. Rio de
Janeiro. Dissertação de Mestrado.
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Fugro (Fugro in situ geotecnia – empresa de
fundação). Ensaio de prova de carga em
fundações – Prova de Carga Dinâmica
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http://www.fugroinsitu.com.br/servicos.php?
id=8> Acesso em 24 set. 2012
Gonçalves, Claudio; BERNARDES, George de
Paula; NEVES, Luis Fernando de Seixas
(2007). Estacas Pré-Fabricadas de Concreto:
Teoria e Prática. 1ª Edição/2007
Gonçalves, Sérgio Fernandes. Estudo do
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metálicas curtas em solo sedimentar.
Dissertação (Mestrado em Engenharia) –
Universidade Federal de Santa Maria, RS.
2008.
Hahichi, Waldemar ET AL. Fundações: teoria e
pratica. 2ª edição. São Paulo: PINI, 1998.
Herrera, Rodrigo; JONES, Lawrence E.; LAI,
Peter (2009). Driven Concrete Pile
Foundation Monitoring with Embedded Data
Collector System. Florida. International
Foundation Congress & Equipment EXPO.
Salame, Antônio Massoud; Alencar Júnior, Júlio
Augusto de. Fundações em Belém – PA:
práticas e mapeamentos. Belém: UNAMA,
2006. Monografia de Conclusão de Curso.
Schnaid, Fernando. Ensaios de campo e suas
aplicações à engenharia de fundações. São
Paulo: Oficina de Textos, 2000.
SOUSA, Cleocildo Aranha. (2010).
Contribuição do mapeamento geotécnico de
cidade de Belém-Pará. Belém. Trabalho de
Conclusão de Curso. Curso de Engenharia
Civil. Universidade da Amazônia.
Vários Autores. Fundações – Teoria e Prática.
Editora Pini, São Paulo, 1998.
Vieira, Silvio Heleno de Abreu. (2006). Controle
da cravação de estacas pré- moldadas:
avaliação de diagrama de cravação e fórmulas
dinâmicas. Rio de Janeiro. Dissertação de
Mestrado. Universidade Federal do Rio de

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