Você está na página 1de 5

Engenharia Civil

Análise comparativa de sistemas verticais



de estabilização e a influência do efeito P-∆
no dimensionamento de edifícios de
andares múltiplos em aço
Aline Tabarelli
Engenheira Civil pela UFSM/RS - E-mail: atabarelli@bol.com.br

Ernani Carlos de Araújo


Professor D.Sc., Departamento de Engenharia Civil, Escola de Minas/UFOP - E-mail: ecar@em.ufop.br

José Antônio Soares Prestes


Engenheiro especializado em estruturas metálicas

Resumo Abstract
Nesse trabalho apresenta-se um estudo comparati- This paper compares rigid-frame vertical bracing
vo entre os sistemas de estabilizações verticais em pórti- systems against “K” or “X” truss systems, according to
cos rígidos e os sistemas em treliças em ‘K’ e em ‘X’. A height variation. The adopted models used were based
eficiência estrutural é analisada através do relacionamen- on technical information from a standard project.
to entre o número de pavimentos com os deslocamentos Structural efficiency was analyzed by comparison of the
horizontais, esforços solicitantes e os perfis adotados no ratio of the number of pavements to their horizontal
dimensionamento dos modelos. Nos sistemas rígidos, os dislocation, structural strain and perfiles adopted in
esforços solicitantes e os deslocamentos horizontais são dimension models. In the rigid-frame vertical bracing
maiores do que nos sistemas contraventados. Nesse caso, systems, structural strain and horizontal dislocation
leva-se a estruturas mais pesadas e, portanto, menos eco- were greater than in the truss systems. The rigid-frame
nômicas. A partir de 24 pavimentos, para se garantirem vertical bracing system also requires more steel,
deslocamentos aceitáveis nos modelos rígidos, a rigidez providing for a heavy, less economic structure. After 24
necessária do sistema fica impraticável. Usaram-se as te- floors, the rigid-frame vertical bracing system becomes
orias linear e não-linear (Efeito P-∆) para análise compa- impractible, since at this point it no longer meets
rativa dos modelos adotados. Nesse contexto, verificou- acceptable dislocation standards. For structural
se que a análise não-linear é fundamental para os mode- calculations, comparisons between the linear and non-
los com maior número de pavimentos, pois proporciona linear analysis (P-∆ effect) were used. It was concluded
resultados de esforços e deslocamentos mais coerentes. that non-linear analysis should be considered in the
design of buildings, particularly those very tall, since it
Palavras-chaves: Contraventamentos, pórticos rígidos,
indicates true strain and major structural displacement.
treliças, edifícios, aço.
This paper proves that there are advantages in using
the truss systems for multiple-story buildings and that it
is necessary to analyse the P-∆ effect for more efficient
building design.
Keywords: Bracing, trusses, frames, building, steel.

Artigo recebido em 12/07/2002 e aprovado em 05/11/2002.

REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 55(4): 251-255, out. dez. 2002 251
1. Introdução bulares e os sistemas com núcleo rígido mentos foi baseada na variação da ação
em concreto ou em aço. do vento com a altura, da influência das
Com a globalização da economia, a proporções e forma da edificação e da
automação industrial, as informatizações variação do coeficiente de arrasto no cál-
dos procedimentos de projetos de enge- 2. Materiais e Métodos culo do vento segundo a Norma Brasi-
nharia e com o atual déficit habitacional, Projeto Arquitetônico leira NBR 6123/90. Escolheram-se, para
o mercado das estruturas metálicas vem análises, os modelos de 8, 16, 24, 36 e 48
crescendo. Para que as estruturas tor- Utilizou-se um projeto arquitetôni-
pavimentos.
nem-se competitivas, deve-se buscar a co padrão baseado no Edifício Piemonte
melhor solução que atenda as condições (Prestes,2000). Esse edifício possui 8 pa- As Figuras 1, 2 e 3 mostram os mo-
de segurança e de economia. O projeto vimentos com dimensões de 62.83m de delos rígidos, treliçado em 'K' e em 'X'
de menor custo é o mais atraente e é o comprimento, 15m de largura e 3.3m de para o modelo de 8 pavimentos.Os de-
que melhor compete com outros materi- altura de piso a piso. A estabilidade mais modelos representam a mesma con-
ais e com as novas tecnologias constru- transversal da obra foi garantida por meio figuração, apenas variando a altura. Para
tivas, desde que alie as condições de de quatro pórticos rígidos e a longitudi- o modelo rígido, a estrutura foi gerada
eficiência e segurança. Diversos fatores nal, por meio de um pórtico contraventa- com nós rígidos, ou seja, engastados e,
influenciam o custo final da estrutura em do em delta na região dos elevadores. para os modelos treliçados, as colunas
aço. Entre eles, salientam-se a seleção foram geradas contínuas e só as vigas e
Como a estabilização transversal é
do sistema estrutural; o projeto dos ele- as diagonais foram adotadas birrotuladas.
a mais crítica, devido às características
mentos individuais; o projeto e o deta- geométricas do projeto, optou-se pela Os modelos foram dimensionados
lhamento das ligações; o processo de análise do sistema somente nessa dire- como vigas-colunas, ou seja, à flexão e à
fabricação e o sistema de montagem; as ção. Os pórticos analisados foram os compressão, apesar de os modelos con-
especificações para fabricação e monta- centrais, por serem os mais rígidos e re- traventados possuírem suas ligações
gem e os sistemas de proteção ao fogo e presentarem a situação mais crítica, pois rotuladas e, em teoria, não liberarem mo-
à corrosão (Bellei, 1998). Dentro da sele- absorvem as maiores ações devido ao mentos; na prática, as ligações não po-
ção do sistema estrutural adequado, Ta- vento. Considerou-se a estrutura simé- dem ser consideradas totalmente engas-
ranath (1988) afirma que a eficiência des- trica para evitar análises dos efeitos da tadas e totalmente rotuladas, portanto
se sistema está relacionada ao consumo torção na edificação. os dois modelos liberam, em suas liga-
de aço. O consumo de aço extra está re- ções, os dois esforços.
lacionado com a parcela de peso total da
estrutura necessária ao enrijecimento, Modelos Estruturais
para resistir às cargas laterais, ou seja, Cargas estruturais
Para os sistemas de estabilizações
com o sistema vertical de estabilização.
verticais, adotaram-se modelos rígidos, As Tabelas 1 e 2 mostram as cargas
Os sistemas de estabilizações da em treliças (em 'K' e em 'X') para alturas estruturais usadas no dimensionamento
edificações ou contraventamentos ga- váriadas. A escolha do número de pavi- da estrutura para os vários modelos.
rantem a rigidez da estrutura quanto à
solicitação de cargas horizontais ou ex- V15 V16 N25 N26 N27

centricidade vertical. Tanto para edifíci- P38 P39 P40 330


N22 N23 N24
os de cobertura quanto para edifícios de V13 V14

múltiplos andares, essa rigidez é obtida P35 P36 P37 330


V11 V12 N19 N20 N21
através de, no mínimo, três planos verti-
330
cais não simultaneamente paralelos. As P32 P33 P34
N16 N17 N18
V9 V10
lajes moldadas "in loco" podem ser con-
330
sideradas sistemas de contraventamen- P29
V7
P30
V8
P31
N13 N14 N15
26 40
to horizontal porque formam um diafrag-
P26 P27 P28 330
ma rígido. No entanto, as lajes pré-mol- V5 V6 N10 N11 N12

dadas e as metálicas (Steel Deck) devem 330


P23 P24 P25
ser usadas com precaução, quando se V3 V4 N7 N8 N9

pretende que este mesmo efeito seja atin- P20 P21 P22 330
N4 N5 N6
gido. Os sistemas de contraventamen- V1 V2

tos verticais podem ser obtidos através P17 P18 P19 330
N1 N2 N3
de vários tipos de modelos, como, por
750 750
exemplos: os sistemas em pórticos rígi- 1500

dos, os sistemas em pórticos treliçados,


os sistemas treliçados com a adição de
Figura 1 - Modelo Rígido para 8 pavimentos, onde P representa pilar ou coluna,V = viga
uma treliça em balanço, os sistemas tu- e N = número de nós.

252 REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 55(4): 251-255, out. dez. 2002
V53 V54 V55 V56 N39 N40 N41 N42 N43 Para todos os modelos, as cargas
P22 D85 D86 P23 D87 D88 P24 330
de vento foram calculadas segundo a
N36
V49 V50 V51 V52 N34 N35 N37 N38
norma NBR6123/90 e as cargas da casa
P19 D81 D82 P20 D83 D84 P21 330 de máquinas e do reservatório de água
N31
V45 V46 V47 V48 N29 N30 N32 N33
foram consideradas nos nós da cobertu-
P16 D77 D78 P17 D79 D80 P18 330 ra, sendo, no nó central, adotado 50%
N26
V41 V42 V43 V44 N24 N25 N27 N28
da carga total e, nos nós de extremidade,
P13 D73 D74 P14 D75 D76 P15
N21
330 25%, mantendo, assim, a simetria.
V37 V38 V39 V40 N19 N20 N22 N23
26 40

P10 D69 D70 P11 D71 D72 P12 330


V33 V34 V35 V36 N14 N15
N16
N17 N18 Análise linear e não linear
330
P7 D65 D66 P8 D67 D68 P9
N9 N10
N11
N12 N13
Para o cálculo de esforços e dimen-
V29 V30 V31 V32
sionamentos da estrutura, foram utiliza-
330
P4 D61 D62 P5 D63 D64 P6
N4 N5
N6
N7 N8
dos os softwares GT STRUDL (25), Des-
V25 V26 V27 V28
met (2.05) para a análise linear (Tabarelli,
P1 P2 P3 330
D57 D58 D59 D60
N1
N2
N3
2002). Para o cálculo do efeito P-∆, no
750 750
dimensionamento estrutural, usou-se o
1500 método da norma canadense do Canadi-
Figura 2 - Modelo Contraventado em Delta para 8 pavimentos, onde P representa pilar an Institute of Steel Construction (CISC), o
ou coluna, V = viga, D = diagonal e N = número de nós. qual representa o método da carga fictí-
cia com apenas uma iteração (Eq.1). A
N39 N40 N41 N42 N43
V53 V54 V55 V56
Norma Brasileira NBR 8800/86 apresenta
P22
D72
P23
D64
P24
N36
330 esse método em uma versão mais traba-
N34 N35 N37 N38
V49 V50 V51 V52
lhosa, sugerindo várias iterações para
D71
P19
D63
P20 P21 330 se chegar no mesmo resultado proposto
V45 V46 V47 V48 N29 N30 N31 N32 N33
pela Norma Canadense.
D70 D62
P16 P17 P18 330
N26
N24 N25 N27 N28
V41 V42 V43 V44
1
D61 D69
330
Ví =
P13 P14 P15
1 1

ΣPi (∆ i +1 − ∆ i )
V37 V38 V39 V40 N19 N20 N21 N22 N23
26 40
D68 D60
ΣVi Eq. 1
P10 P11 P12 330
V33 V34 V35 V36 N14 N15
N16
N17 N18 hi
Na Equação (1), ΣPi é o somatório
D67
P7
D59
P8 P9 330
N9 N11 N13
das forças verticais no andar; ΣVi é o
V29 V30 V31 V32 N10 N12

D66 D58
P4 P5 P6 330
N4 N5 N6 N7 N8
somatório das forças horizontais no an-
dar; ∆ é o deslocamento de primeira or-
V25 V26 V27 V28

D57 D65
P1 P2 P3 330
N1 N2 N3
dem dos pavimentos e i é o pavimento
750 750
em que se está trabalhando.
1500

Figura 3 - Modelo Contraventado em 'X' para 8 pavimentos, onde P representa pilar ou


coluna, V = viga, D = diagonal e N = número de nós.
3. Resultados
Os Gráficos de 1 a 5 comparam os
Tabela 1 - Carga de Nó (kN). resultados obtidos após o dimensiona-
mento de todos os modelos. O Gráfico 1
Carga Permanente Sobrecarga
foi gerado com os resultados do modelo
Nós Centrais - Piso 31.78 10 rígido, mas a mesma relação ocorre para
Nós Externos - Piso 66.05 52 os modelos contraventados. Para os mo-
delos rígidos, pela análise não linear, a
Nós Centrais - Cobertura 9.5 3.75
diferença nos deslocamentos e, portan-
Nós Externos - Cobertura 49.5 9.375 to, nos esforços (Gráfico 2) é mais ex-
pressiva do que nos contraventados,
Tabela 2 - Carga nas Barras (kN/m). quando comparada pelo mesmo tipo de
análise. Os esforços máximos normais, o
Carga Permanente Sobrecarga cortante e o momento fletor, para os mo-
Piso 19.304 15.20 delos, são maiores na análise não linear,
muitas vezes invalidando os resulta-
Cobertura 14.44 5.70

REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 55(4): 251-255, out. dez. 2002 253
dos encontrados na análise linear, mas
somente o gráfico do momento fletor
máximo é mostrado, por ser este o es-
forço nas barras determinante para os
cálculos.
O modelo rígido possui desloca-
mentos maiores que os modelos contra-
ventados, por isso é chamado de pórti-
co deslocável.

4. Conclusões
1. O sistema rígido, quando comparado Gráfico 1 - Número de Pavimentos X Deslocamento - por análise linear e não linear -
com o sistema contraventado, está modelo rígido.
sujeito a maiores esforços solicitan-
tes e deslocamentos horizontais, le-
vando-se a um consumo maior de aço.
2. Durante o processo de dimensiona-
mento, verificou-se que, na medida em
que se aumenta a altura do edifício, o
aumento da rigidez para modelos rígi-
dos ocorre com o aumento da rigidez
das vigas e, para os modelos contra-
ventados, com o aumento da rigidez
das diagonais.
3. Quando foram comparados os mode-
los de carga de vento concentrada nos Gráfico 2 - Momento Fletor Máximo X Número de Pavimentos - por análise linear e não
linear - modelo rígido.
nós e os modelos com carga de vento
linearmente distribuída na estrutura,
este último modelo apresentou esfor-
ços e deslocamentos maiores. Isso
significa que o modelo de vento line-
armente distribuído é mais crítico e
mais real.
4. Na medida em que se aumenta a altura
da edificação, os modelos rígidos tor-
nam-se incompatíveis com a prática,
pois, os perfis dimensionados ficam
fora dos limites aceitáveis.
5. O modelo contraventado em Delta é
Gráfico 3 - Momento Fletor Máximo X Número de Pavimentos - para os vários modelos.
mais leve que o modelo em X por apre-
sentar um terceiro apoio na viga; as-
sim, reduzem-se os esforços e o peso
da estrutura.
6. No dimensionamento de edifícios de
andares múltiplos, principalmente os
mais altos, a análise não linear (efeito
P-∆) é a mais indicada, já que os seus
esforços e deslocamentos são maio-
res do que os obtidos pela análise li-
near. Portanto uma estrutura dimensi-
onada em análise linear muitas vezes
não estará dentro dos limites daque-
les da análise não linear. Gráfico 4 - Número de Pavimentos X Deslocamento - para os vários modelos.

254 REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 55(4): 251-255, out. dez. 2002
parados com os cálculos de análise
não linear realizados pelo Método dos
Elementos Finitos através do progra-
ma computacional Ansys (5.6).[Taba-
relli, 2002].

Referências
Bibliográficas
[1] PRESTES, J. A. S. Edifício Piemonte.
Revista da Escola de Minas, v.53, n.13,
p.175-180, 2000.
[2] BELLEI, I. H. Edifícios industriais em aço
- projeto e cálculo, São Paulo: Pini, 1988.
489 p.
[3] TARANATH, B. S. Structural analysis and
design of tall buildings, New York: Mac
Graw - Hill, 1988. 739 p.
[4] TABARELLI, A. Análise comparativa de
sistemas verticais de estabilização e a
Gráfico 5 - Consumo de Aço para os vários modelos. influência do efeito P-∆ no dimensiona-
mento de edifícios de andares múlptiplos
em aço. Universidade Federal de Ouro
7. Por exigir apenas uma iteração, o Mé- pela NBR 8800/86. Os resultados obti- Preto, 2002. 139p. (Dissertação de
todo Canadense de análise do efeito dos pelo método da carga fictícia apre- Mestrado).
P-∆ é mais simples do que o utilizado sentam um erro de 3%, quando com-

A Rem sabe o quanto VOCÊ é importante.

REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 55(4): 251-255, out. dez. 2002 255

Você também pode gostar