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Categoria: Arquivo X.

Conto: 24 Horas e um X.
Autor: Renato Alonso Azevedo.
E-mail: renatoalaz@uol.com.br
21:00.12

Necrotério da Unidade Contra Terrorismo da CIA


Nina Myers estava em grandes dificuldades. Não conseguia explicar o que estava acontecendo
com aquele cadáver. Na verdade, nem sabia se queria...
- Jack, finalmente, exclamou ela.
Seu colega Jack Bauer entrou apressadamente no necrotério, cumprimentando-a. Parecia por
sua expressão que não dormia há dias.
- A nova diretora, Winfrey Voghan, me chamou há vinte minutos, dizendo para vir encontrá-la
aqui.
Notava-se que ele estava mau-humorado. Mal tivera tempo de descansar, depois da recente
crise envolvendo a tentativa de assassinato contra o senador Palmer. Sem contar o pavor que
experimentara pelo fato de sua família haver sido envolvida. Nina, perdendo alguns momentos para
lançar ao colega um olhar cheio de carinho, logo retomou o assunto que os trouxera ali:
- Este sujeito chegou há duas horas, trazido por pessoal da NSA (Agência Nacional de
Segurança). Afirmam que era suspeito de ligações com grupos terroristas, e que resistiu a prisão.
- O que são essas feridas?
Jack percebeu na hora os estranhos ferimentos do morto. Ainda acrescentou:
- Parecem resultado de exposição a radiação...
- Só que nunca vimos feridas como essas, disse Nina. E isso não é a parte mais intrigante. Já
coloquei Milo para trabalhar na identificação, deve estar de volta em alguns minutos.
Jack percebeu que ela hesitava, e teve que perguntar:
- Nina, sabe de mais alguma coisa?
Ela olhou fundo nos olhos do colega. Já haviam passado por muita coisa juntos, e era evidente a
confiança que tinham um no outro. O legista disse que já tinha terminado, e foi saindo. Assim que se
viram a sós, Nina apanhou um instrumento pontiagudo, virou a cabeça do morto para o lado, e disse:
- Não me peça para explicar, Jack, eu mesma não tenho a menor idéia do que você está a ponto
de ver...
Sem mais, ela pressionou a base do crânio do cadáver, de onde saiu um líquido negro,
semelhante a petróleo.
Jack ficou olhando para aquilo sem entender. Já havia visto muita coisa em seus anos de
trabalho para a CIA, mas nada como aquela substância. Perguntou:
- O que é isso?
Nina deixava patente que também ela estava perplexa:
- Não sabemos. Uma análise preliminar no laboratório não foi capaz de identificar essa coisa,
esse óleo... Disseram, depois de muito coçar a cabeça, que é algo completamente desconhecido.
- Isso não está cheirando bem...
Jack aproximou o rosto, sem conseguir sentir qualquer cheiro, e estava a ponto de tocar no óleo
para testar sua consistência, quando Milo chegou correndo:
- Encontrei, encontrei!
O rapaz entregou nas mãos de Nina uma pasta, onde estavam algumas folhas recentemente
impressas, enquanto foi falando:
- Esse cara é, ou era, Ibrahin Al-Abud, e o material que consegui na NSA diz que trabalhou para
a Inteligência Iraquiana por vários anos. Sua ficha diz que demitiu-se há três anos, mas na verdade
manteve o vínculo com seus patrões.
- Trabalhou como contato de vários grupos terroristas, como o Hamas e a Al-Qaeda, continuou
Nina. Aparentemente, entrou nos EUA sob nome falso, e era procurado por terrorismo havia meses.
- Descobriu o que a NSA queria com ele, perguntou Jack.
Milo disse que nada específico. O agente ainda acrescentou:
- Estas podem ser cicatrizes por exposição a radiação...
Nina olhou para Jack, depois para a ficha, e respondeu:
- Mas se ele estava, ao que isso parece indicar, trabalhando em um atentado com arma nuclear,
por que matá-lo? Poderia revelar informações. E por que a NSA só nos deu isso?
- Há mais uma coisa, disse Milo.
Pegou a pasta, passou por várias páginas, e finalmente a abriu na página final. Era a ficha de
outra pessoa. Passou o material para Jack, enquanto dizia:
- Lembram do Mason, que foi recentemente incorporado a UCT depois de anos no FBI?
Os dois não entendiam muito bem o que aquilo tinha a ver com o assunto, e Jack perguntou:
- Sim, Milo. Aliás, acredito que ele não teve muito tempo para se integrar, não sei se seria de
grande ajuda agora...
- Não é isso! Eu estava conversando outro dia com ele, sabe, coisa normal, trabalho anterior e
tal, quando ele mencionou um cara que conheceu no FBI, de uma unidade que investiga fenômenos
estranhos. Mason brincou dizendo que era um cara meio doido, que falava muito de conspirações e
extraterrestres...
Nina tomou a pasta de Jack e leu:
- Fox Mulder, demitido há alguns meses pelo diretor Kersh devido a interferência em uma
investigação em uma plataforma no Golfo do México. Foi agente especial, especialista em crimes
violentos, psicólogo, esteve por sete anos a frente dos Arquivos-X... Milo, o que isso tem a ver com
nosso amigo deitado ali?
O rapaz estava visivelmente incomodado com tudo aquilo. Depois de hesitar um pouco,
respondeu:
- Leia até o final...
Nina leu, acompanhada por Jack. Quando chegaram ao fim, olharam espantados para Milo, que
disse:
- O tal óleo negro, segundo as alegações desse Mulder, é um vírus alienígena que domina suas
vítimas humanas. Pesquisei a respeito, e encontrei diversos outros casos em que o ex-agente Mulder,
mais sua parceira Dana Scully, tiveram contato com essa substância.
Nina e Jack examinaram novamente as informações, e por fim pediram a Milo que encontrasse
tudo que pudesse a respeito.
- E, Milo, disse Jack. Quero também que procure números de telefone e endereços, tanto de
Mulder quanto de sua parceira, Scully, não é?
- Ela ainda trabalha para o FBI, estando junto aos agentes John Doggett e Monica Reyes a frente
dos Arquivos-X.
- Ótimo, respondeu Jack.
- Vai colocar um civil nessa investigação, Jack?
Nina sempre fora mais apegada aos protocolos que Jack mas sabia que, quando ele quebrava
as regras, era por um bom motivo. A um olhar do parceiro, acabou concordando.
- Antes de tudo, Milo, quero um meio de contatar Fox Mulder, depressa, disse Jack.
Quando ele saiu, ambos ainda ficaram um tempo observando o morto. Aquele estranho óleo
negro havia parado de escorrer de seu crânio. Pelo que estava escrito no relatório obtido por Milo,
parecia inerte como o que motivou a última investigação de Mulder.

21:07.43
Jack bateu o telefone, acrescentando alguns impropérios, quando Nina entrou em seu escritório.
Ela disse:
- O que foi?
- Tentei obter mais alguma informação com contatos na NSA, mas todos alegam a mesma coisa.
Desconhecem Ibrahin Al-Abud, e qualquer ligação dele com terrorismo.
Nina sentou-se sobre a mesa, e reparou que Jack ficou olhando por alguns momentos para uma
foto dele, acompanhado de Teri e Kim. Pousou a mão sobre seu ombro, e disse:
- Fizemos nova revista nas roupas que Al-Abud usava quando o trouxeram, e encontramos um
papel com um nome, Alfred Penington.
Jack esfregou o rosto com ambas as mãos, e perguntou:
- O que sabemos sobre esse cara?
- Milo fez uma nova pesquisa. Penington é cientista, astrônomo de Harvard, Phd, autor de
diversos livros. Embarcou hoje mesmo, há cerca de uma hora, em um vôo para Washington.
Aquilo ficava mais estranho a cada minuto. Jack perguntou:
- Por que um terrorista teria o nome de um astrônomo no bolso? Há algo relacionado a
astronomia ocorrendo em Washington?
Nina respondeu que ainda não haviam descoberto nada. Milo ainda trabalhava naquilo. Ela ainda
ficou em silêncio por alguns momentos, quando disse:
- Estava estudando a ficha de nossos amigos do FBI, e diz que a agente Scully é médica, e
sempre foi a encarregada das autópsias no Arquivo-X.
- Está dizendo que deveríamos chamá-la para examinar o corpo de Ibrahin? Ela está do outro
lado do país, Nina!
Nina deu de ombros, saiu andando e parou defronte a ampla janela de vidro. Lá embaixo, as
pessoas que faziam o plantão na UCT.
- Não temos muito com o que trabalhar, Jack, respondeu ela por fim. Até agora não entendo por
que a NSA nos trouxe esse sujeito. Os agentes nem se identificaram, só mostraram as credenciais!
Algo está acontecendo, e parece que não querem que descubramos!
Jack também se levantou e ficou ao lado de Nina, enquanto respondia:
- Se fosse assim, por que nos trazer esse corpo? E qual a ligação de Penington?
Trocaram olhares, e decidiram num instante qual seria a linha de atuação dali em diante. Nina
desceu, e Milo entregou-lhe outra pasta, muito fina, com todos os dados dos agentes Scully, Doggett e
Reyes, e mais o telefone e endereço do ex-agente Mulder.
Dali a poucos minutos descia Jack, que recebeu a pasta de Nina. Também levou tudo que
sabiam sobre o caso. Ele teria cerca de meia hora para chegar ao aeroporto e pegar seu vôo com
destino a Washington.

02:50.08

Em algum lugar de Los Angeles, o adolescente Fred estava ainda navegando pela internet.
Estava conectado, como de costume, há horas, o que sempre era motivo de brigas com os pais.
Enquanto navegava por diversos sites, mantinha várias janelas abertas em seu navegador. E
uma delas, subitamente, começou a piscar na barra inferior do monitor. Ele logo reconheceu qual
programa era aquele, e mais do que depressa a abriu, entusiasmado.
Conhecia um pouco sobre os gráficos que via na tela. Bem no meio do diagrama tridimensional
havia, bem destacado, um pico de onda. Sobre tudo, uma mensagem piscava:
POSSÍVEL DETECÇÃO.
Ele ficou extasiado, pois mesmo em seus dezesseis anos sabia quais profundos significados
havia naquela mensagem. Seu telefone tocou na mesma hora. Atendeu, era Ted, outro amigo. Eufórico,
ele lhe descreveu exatamente a mesma coisa que Fred vira em seu computador. Acrescentou que
outros colegas por todo o país já haviam ligado, confirmando a mesma coisa.
Subitamente, a tela apagou-se. Ambos gritaram ao mesmo tempo. Fred digitou rapidamente
vários comandos, e descobriu assustado que algo ou alguém estava acessando via internet o HD,
limpando tudo que fosse relacionado aquele programa. Não conseguiu desconectar, e tomou a única
decisão possível. Simplesmente puxou o fio que ligava o computador a rede.
Voltou ao telefone. Depois de gritar o nome do amigo várias vezes, Ted voltou ao telefone. Não
havia tido tanta sorte quando Fred, pois tudo relacionado ao programa e a detecção havia sido
apagado. Este fez mais um diagnóstico, e verificou que não perdera todos os dados.
Ted quando informado disso, mencionou que um amigo de Washington, Victor, conhecia os
editores de um jornal que poderiam se interessar por tais dados. Fred perguntou o nome da publicação,
ao que o amigo respondeu:
- Pistoleiro Solitário!

06:04.32

Mulder acordou com o telefone tocando insistentemente. Pensou em deixar a secretária atender,
quando os toques pararam. Aliviado, recostou-se na cama para voltar a dormir.
Subitamente, os toques continuaram. Lembrou-se de Scully, e também de William. Amaldiçoou-
se por deixá-los sozinhos, deveria ter ficado lá ao invés de voltar a seu apartamento.
Finalmente, decidiu atender:
- Alô, é Mulder.
- Agente especial Fox Mulder, do FBI?
Mulder não reconheceu a voz do homem do outro lado da linha. Entretanto, havia na mesma um
quê de urgência que o deixou alarmado. Perguntou:
- Sim, é Mulder, mas não faço mais parte do FBI.
O outro ainda aguardou mais alguns segundos, e respondeu:
- Sim, desculpe...
- Do que se trata? Quem está falando?
Mulder já estava ficando impaciente, quando finalmente o outro falou:
- Senhor Mulder, o senhor não me conhece. Sou o agente federal Jack Bauer, da Unidade Contra
Terrorismo da CIA.
Aquilo definitivamente não estava nos planos de Mulder para aquela sexta-feira. Terminou de
acordar de pronto, sentou-se na cama e perguntou:
- O que deseja, agente Bauer? E, por favor, me chame só de Mulder.
- No processo de investigação sobre o corpo de um suspeito que nos chegou ontem a noite,
acabamos por encontrar seu nome, Mulder. Gostaria que nos encontrássemos o mais rápido possível.
- Do que se trata?
Jack hesitou por um momento, falando depois com voz decidida:
- Não posso falar pelo telefone. Estou saindo agora do aeroporto com um carro alugado, e tenho
seu endereço. Posso encontrá-lo em frente ao mesmo?
Havia um sentido de urgência na voz daquele homem, e do pouco que havia dito Mulder já tirava
suas conclusões. Procurando deixar de lado por hora o fato de o homem ter dito ser da CIA, respondeu:
- Estarei esperando.
O outro agradeceu e desligou. Mulder ainda pensou se valeria a pena alertar Scully, mas de
qualquer forma levaria seu celular.

06:44.27
Depois que Mulder entrou no carro, Bauer dirigiu por algumas quadras e parou em uma viela
pouco movimentada. Desligou o motor, e olhou para seu acompanhante.
Para Jack, aquele sujeito não parecia louco. Examinava os dados que constavam do arquivo
com atenção, seu olhar deixando patente que não era a primeira vez que se deparava com aquilo.
- Disse que esse corpo é de um iraquiano suspeito de terrorismo?
Jack não estava muito seguro quanto a colocar Mulder naquilo, afinal o mesmo não era mais um
agente do governo. Acabou concordando com um aceno de cabeça, antes de perguntar:
- Já viu esse tipo de ferida antes? Minha colega disse que são incomuns, mas têm semelhança
com queimaduras por radiação.
Mulder olhou de novo para as fotos, e suas últimas dúvidas se dissiparam. Olhou para o agente
Bauer. Só o fato de o mesmo estar ali, dividindo aquelas informações com ele, mostrava que Jack não
ligava muito para regras. Mulder esforçou-se para não sorrir, reconhecendo seu próprio comportamento
quando ainda dentro do FBI. Respondeu:
- Há cerca de cinco anos, um de nossos informantes, Max Fennigan, morreu em um desastre
aéreo junto com os outros passageiros que o acompanhavam. Descobrimos evidências da participação
de uma nave no caso.
- Está me dizendo que um ovni abateu esse avião?
Jack não conseguiu evitar um ar incrédulo. Como se fosse a coisa mais corriqueira do mundo,
Mulder foi explicando:
- O ovni interceptou o avião, pois Fennigan era um abduzido. Ele foi tirado do avião em pleno
vôo, enquanto ambas as naves estavam dentro do que achamos, era um campo de energia. Foi quando
apareceu um jato militar e derrubou o ovni, causando a queda do avião.
Custava a Bauer acreditar naquilo, mas Mulder falava com absoluta convicção. Perguntou:
- Encontraram provas disso?
- Apenas evidências indiretas. Provas concretas nunca foram o forte do Arquivo-X, agente Bauer.
Mas o que interessa aqui é que Max, da mesma forma que uma amiga dele que contatamos durante a
investigação, apresentava cicatrizes idênticas a de seu amigo aqui.
Jack tentou unir os pontos. A familiaridade de Mulder com aquele assunto o assombrava, mais
até do que o insólito do mesmo. Perguntou:
- E o que causou essas cicatrizes?
- Uma fonte de força alienígena, baseada em um tipo desconhecido de reação nuclear. No caso
de Fennigan, a mesma parecia danificada, razão porque vazava radiação.
Antes que Jack pudesse falar, Mulder perguntou:
- De que forma esse cadáver chegou até vocês, agente Bauer?
Jack olhou para ele, depois voltou-se para frente, esfregando o rosto com as mãos. Aquilo estava
ficando cada vez mais estranho. Voltou a ser assaltado pelas dúvidas. Por várias vezes já estivera por
um fio na agência, mas no fundo sabia que nunca deixaria de agir da mesma forma.
E havia algo em Mulder. Por mais esquisito que pudesse parecer, Bauer sentiu que poderia
confiar nele.
- Pouco sabemos nesse sentido, Mulder, respondeu. Os homens da NSA que o trouxeram não se
identificaram, apenas exibiram as insígnias de seu departamento. Em todo caso, não teriam nos
procurado se não se tratasse de questão iminente, de uma ameaça terrorista real. Algo está para
acontecer.
Fez uma pausa, e perguntou:
- Acredita mesmo que esse homem nas fotos, da mesma forma que seu amigo, esteve em
contato com uma fonte de força alienígena?
Mulder olhou para o lado, observando os arredores. Parecia meditar por um instante. Finalmente,
respondeu:
- É tudo que os dados que me mostrou, agente Bauer, permitem que eu conclua. O que mais
descobriram?
- Em suas roupas, foi encontrado o nome do doutor Alfred Penington. Ele...
- É um astrônomo, um dos maiores especialistas em radiotelescópios do mundo, interrompeu
Mulder. Também é um grande crítico do SETI.
- O que é isso?
- É a sigla para Procura Por Inteligência Extraterrestre. Os cientistas, há anos, ouvem o universo
tentando localizar uma fonte emissora de sinais de rádio que possa ser identificada como outra
civilização. Até agora, aparentemente, sem sucesso.
Jack perguntou a seguir sobre o óleo negro, ao que Mulder disse tudo que sabia. A forma como
controlava a pessoa infectada. A maneira como saltava de uma pessoa a outra. O perigoso e mortal jato
de radiação, e por fim a estranha mutação com que se defrontaram há três anos, que fazia crescer uma
entidade biológica extraterrestre no interior de um corpo humano, digerindo-o no processo.
- Mais provavelmente, estamos enfrentando a primeira variedade.
Mulder falava com tranquilidade. Jack sentia-se zonzo. Aquele homem falava de conspirações,
alienígenas, invasão do mundo, como se fossem coisas corriqueiras. Depois de uns dois minutos de
silêncio, durante os quais tentou digerir as informações, Bauer ia dizer algo, quando o celular de Mulder
tocou:
- Com licença... Alô, é Mulder.
- Mulder, é Frohike.
Mulder olhou para Bauer, e respondeu:
- Meu velho, agora não posso dar-lhe muita atenção...
- Mulder, você tem que vir aqui, disse Frohike em tom enfático. Algo está acontecendo! Já ouviu
falar do doutor Penington?
Algo acendeu-se no espírito de Mulder. Não acreditava em coincidências, e definitivamente
aquela não era uma. Respondeu:
- Doutor Alfred Penington?
- Esse mesmo! Ele está em Washington, para participar de uma conferência do SETI. Estamos
trabalhando desde a madrugada, pois...
- Espere, Frohike, vamos já para aí!
Frohike ainda gritou, tentando encontrar Mulder, mas o telefone foi desligado. Só restava esperar.
Virou-se para Langly e Byers, dizendo:
- Mulder está vindo.

07:24.05

Os três, depois de muita espera, finalmente viram pelos monitores Mulder bater a porta de seu
escritório, acompanhado por um cara loiro que nunca tinham visto antes. Pela câmera especial, viram
que ambos carregavam armas e celulares.
- Mulder, quem é o sujeito com você? Sabia que ele está armado?
Byers, que parecia o mais “certinho” e normal deles, na verdade era o mais ardente defensor de
seus ideais, e certamente o mais paranóico. Mulder, impaciente, responde:
- Vocês querem fazer o favor de abrir?
- Não até sabermos quem é esse cara, disse Langly tentando fazer uma voz ameaçadora.
Jack olhou para cima e percebeu a câmera. Também impaciente, apanhou sua credencial,
mostrou-a, e disse:
- Sou o agente Jack Bauer da UCT...
- Unidade Contra Terrorismo, perguntou Frohike.
- Querem abrir a porta?
Mulder já começava a chutar a porta, quando finalmente permitiram que entrassem. Entraram, e
Jack olhou em torno abismado, para a imensa quantidade de equipamentos especiais, e certamente
muito caros, guardados nas prateleiras. Depois, parou nas figuras dos “três malucos”, sem conseguir
evitar um sorriso irônico.
- Está rindo de quê, seu loiro aguado?
Frohike, como sempre acontecia nessas eventualidades, sempre parecia o mais disposto a
arrumar encrenca. Mulder, achando a maior graça, pediu:
- Rapazes, vamos trabalhar? O que têm para nós?
Frohike, ainda olhando torto, reuniu-se aos três amigos, que não estavam satisfeitos em ter
alguém da CIA lá dentro. Jack aproveitou que eles se adiantaram, e perguntou baixinho a Mulder:
- São esses aqueles informantes que descreveu?
- Calma, agente Bauer, podem ser meio estranhos e doidos, mas são de confiança, sempre
ajudaram muito!
Finalmente, Langly organizou os dados na tela do computador, e começou a explicar:
- O programa SETI é uma escuta, usando radiotelescópios, que os cientistas estão fazendo das
estrelas de nossa redondeza na Galáxia, para tentar localizar outras civilizações...
- Já sabemos disso, Langly, interrompeu Mulder.
- Tudo bem, prosseguiu Byers. Infelizmente, os meios de que o SETI dispõe são limitados. Falta-
lhe potência em computação para analisar todos os dados captados. A análise dos mesmos tem sido
muito lenta, sendo uma das causas da aparente escassez de resultados. Por isso foi criado o programa
Setiathome, que usuários da internet podem baixar da rede, e que aproveita o tempo ocioso de micros
domésticos para fazer essa análise, ajudando o SETI.
Frohike prosseguiu:
- Aconteceu que hoje de madrugada fomos acordados pelo telefonema de um de nossos
informantes, dizendo que vários conhecidos que têm esse programa perceberam o aviso de possível
detecção. No entanto, pouco depois os dados começaram a ser apagados.
- Como, apagados, perguntou Bauer.
- Algo, ou alguém, prosseguiu Langly, através da rede, apagava todos os dados da possível
detecção. Esse mesmo alguém impedia qualquer tentativa de desconexão, mas felizmente um de
nossos informantes puxou o fio, passando depois os dados para nós.
Os Pistoleiros mostraram na tela o resultado, enquanto Byers ia explicando:
- Todo esse plano no gráfico é o que os cientistas chamam de barulho de fundo. As estrelas são
fontes emissoras naturais de rádio, bem como planetas como Júpiter. O que eles procuram no SETI é
exatamente um sinal como esse, que no gráfico se apresente como um pico. Teoricamente, se uma
civilização extraterrestre quisesse nos contatar, faria todos os esforços para que seu sinal fosse bem
diferente do ruído de fundo.
- E onde o nome de Alfred Penington se encaixa nisso, perguntou Mulder.
- Quando soubemos disso, respondeu Frohike, procuramos qualquer notícia sobre o SETI, e
adivinhe...
Mulder leu na tela o texto que Frohike acabara de abrir, e por fim disse:
- Haverá hoje a noite uma conferência do SETI, aqui mesmo em Washington? Qual será o tema?
- Não sabemos, disse Byers. Aliás, nem mesmo convites foram despachados para a imprensa
ainda. Encontramos esse horário das 21 horas por acaso.
Bauer estava ainda mais confuso. Por que terroristas estaria conspirando contra um astrônomo
do SETI, se é que poderia chegar a essa conclusão? Teriam mesmo em seu poder uma fonte de força
extraterrestre como alegava Mulder? E o que uma possível detecção de inteligência alienígena tinha a
ver com tudo isso?
Mulder, ao contrário, e seguindo fielmente o que Scully sempre disse a seu respeito, tirou logo
um mundo de conclusões daquele amontoado de informações aparentemente contraditórias:
- É isso, só pode ser!
- O que, perguntou Jack.
- Não está querendo dizer..., disse Langly parando em meio a frase.
Mulder olhou para os demais, e depois disse:
- Não percebem? O SETI teve sucesso! Detectaram um sinal de rádio de uma civilização
extraterrestre! A reunião foi marcada para o anúncio da descoberta, e a imprensa ainda não foi
chamada porque ainda estão analisando os dados!
- Mas por que estariam apagando os dados, perguntou Bauer.
- Não são eles, agente Bauer. São os que não querem que a verdade, que círculos sigilosos
dentro do governo já conhecem há muito tempo, seja revelada. Para isso, estão usando o tal árabe e
seu grupo, pretendem realizar um atentado!
- Uma conspiração?
Bauer não acreditava no que estava ouvindo. Entretanto, lembrava-se muito bem de como
pessoas em posição de poder faziam qualquer coisa que consolidasse mais ainda esse poder. Ele
mesmo já enfrentara algumas conspirações. Aquela seria apenas um pouco mais elaborada...
- E sobre Penington, perguntou.
Fez-se silêncio, e a seguir Byers respondeu:
- Ele é talvez a maior autoridade mundial em radiotelescópios. Mesmo sendo crítico do SETI, sua
presença seria essencial para que dúvidas quanto a detecção fossem sanadas.
Mulder já estava satisfeito, e pediu que os Pistoleiros fizessem uma análise acurada dos dados
que dispunham. Queria saber se o possível sinal continha uma mensagem. Também pediu para
tentarem determinar de onde provinha.
Bauer ainda perguntou a Mulder sobre a tal fonte de força alienígena, mas nesse momento seu
celular tocou. Quase ao mesmo tempo, o de Mulder também.

MULDER E SCULLY:
- É Mulder.
- Mulder, sou eu.
Ele, por um momento, ficou entorpecido com aquela voz. Pensou em Scully, parecia que via seu
rosto diante de si, sentia o perfume de seus cabelos...
- Oi, Scully.
- Onde está, não o achei em casa.
- Estou no escritório dos Pistoleiros, o que foi?
Ela fez silêncio, depois prosseguiu:
- Doggett e Reyes me chamaram para fazer uma autópsia num corpo. Aparentemente, o mesmo
é o de um homem procurado por ligações com grupos terroristas.
Mais um corpo de terrorista? Aquela trama se enredava cada vez mais...
- E o que há de especial nisso?
Scully descreveu as feridas no mesmo, muito semelhantes as de Max Fennigan no caso que
investigaram há cinco anos. Exatamente a mesma coisa que acontecera no corpo cujas fotos Bauer lhe
havia mostrado!
- E como essa informação chegou a eles, Scully?
- Foram procurados por um homem da NSA, de nome Arthur Parker.
Scully também passou a Mulder um endereço e o nome do morto, Salim Salef. Ele disse que
manteria contato, e desligou.

BAUER E MYERS
- Alô, é Bauer.
- Jack, é Nina. Descobrimos finalmente quem enviou o corpo para nós. Lembra-se de Arthur
Parker?
Jack lembrava-se. Seria difícil esquecer. Quando ele entregou os nomes de agentes acusados
de receber propinas, o nome de Parker era o primeiro da lista. Entretanto, ele se aproveitou de brechas
jurídicas e nos regulamentos e pediu demissão, ficando livre do processo. Bauer não se surpreendeu
ao saber que ele agora trabalhava na NSA, era típico deles.
- Mais alguma coisa?
- Descobrimos que, além de Penington, outros cientistas, ligados ao SETI, estão hospedados em
Washington. Não sabemos ainda para quê. SETI é a sigla...
- Para Busca de Inteligência Extraterrestre, já sei.
- Encontrou o agente Mulder?
- Sim, mas lembre-se que ele não é mais do FBI. Estou com ele e alguns de seus informantes,
que descobriram mais alguns dados sobre o caso. Estamos analisando os mesmos.
- E encontramos também o endereço de Parker aí em Washington, no caso de querer fazer-lhe
uma visita.
- Ficaria encantado, pode falar.

Jack anotou, agradeceu e desligou. Voltou-se aos demais, dizendo:


- Meu pessoal em Los Angeles descobriu novos dados.
Mulder, interrompendo, perguntou:
- Eu o ouvi dizendo o nome de Arthur Parker?
- Sim, por que?
- Os agentes Doggett e Reyes, atualmente a frente dos Arquivos-X, acabaram de levar o corpo
de Salim Salef, procurado por terrorismo, para minha antiga parceira, Scully, autopsiar. O mesmo lhes
foi enviado por um sujeito da NSA de nome Arthur Parker...
Jack novamente esfregou o rosto com as mãos. Havia dormido um pouco durante a madrugada
no avião, mas já se sentia cansado. Aquela tensão, e a incerteza quanto ao caso, o atormentavam
profundamente. Ainda não tinha uma idéia muito clara da ameaça que enfrentava. Por fim, disse:
- Meu pessoal me passou o endereço dele aqui em Washington. Acho que vale uma visita.
A princípio Jack queria ir sozinho, mas Mulder fez questão de acompanhá-lo. Frohike e Byers
também se prontificaram, enquanto Langly ficaria ali analisando e decifrando os dados. Todos entraram
no carro alugado pelo agente, que logo desaparecia na estreita rua.

9:02.44

Jack entrou pela porta da frente do prédio de Parker, enquanto Mulder e os demais iam pelos
fundos. Era um prédio antigo, e o agente subiu depressa pelas escadas.
Chegou ao andar do ex-colega já de arma em punho. Sentia algo indefinível na situação, e não
queria correr qualquer risco. Caminhou lentamente pelo corredor, e estava a poucos passos da porta do
homem da NSA, quando subitamente a mesma abriu-se.
Parker saiu tranquilamente, e olhou direto para a direção em que estava Bauer. Ao mesmo tempo
que Jack lhe apontava a arma Parker, com um movimento rapidíssimo, tirou a sua:
- Não vai conseguir nada assim, Jack!
- É o que você pensa, Arthur. Abaixe a arma!
Cada um enfrentava o outro, imóveis, seus olhares em total contato, as armas apontadas. Parker
sorria nervosamente, e disse:
- Você é um idiota, Bauer! Não faz nem idéia do que está ocorrendo!
Jack torcia para que os companheiros não aparecessem nesse momento. Poderiam complicar
tudo:
- Quem sabe você devesse me revelar o que está acontecendo, Parker...
O outro estava visivelmente suando frio. O riso aumentou, e sua mão tremia. Bauer nunca vira
Parker assim. Teve certeza que algo realmente muito grave estava acontecendo. Seu oponente disse,
por fim:
- Você não sabe com quem está lidando... As consequências... Será o caos!
- Caos é o que gente como você provoca. Abaixe a arma!
O outro continuava apontando a pistola, tremendo todo, enquanto dizia:
- Caos total, Jack... Esses malditos cientistas... Não sabem o que podem provocar!
- O que uma descoberta do SETI pode provocar, Parker?
O outro riu mais alto. O tremor era nítido. Disse, ofegante:
- Você não sabe mesmo de nada, Jack...
Um tiro cortou sua fala. Bauer se protegeu instintivamente, enquanto Parker caía ao chão. Atrás
dele, um homem abaixava a arma e saía correndo. Jack teve uma reação rapidíssima, e gritou:
- Você aí, pare!
O outro virou as costas e saiu correndo. Bauer fez pontaria e disparou duas vezes. Acertou em
ambas, mas algo inacreditável aconteceu.
O outro continuou correndo, parecendo nem ter sentido os tiros. Um líquido estranho, que
parecia esverdeado, passou a escorrer dos ferimentos nas costas. Ele tomou impulso e atirou-se pela
janela do final do corredor, estilhaçando-a em pedaços.
Jack abaixou-se e checou Parker. Sangue saía de sua boca, ele tremia e balbuciava. Bauer
aproximou o ouvido e escutou seu último suspiro:
- A verdade... não pode... ser...
O agente nem precisou checar seu pulso. Levantou-se e correu até a janela. Do corredor
transversal, finalmente apareceram correndo Mulder, Frohike e Byers.
- O que houve, perguntou Mulder.
Jack não teve tempo de responder. Olhou para baixo pela janela, quando constatou outra coisa
muito estranha. Não havia ninguém lá embaixo, nem nas imediações.
- Como pôde...?
Bauer estava confuso. Detestava sentir-se assim, e sua confusão já durava desde a noite
anterior. Tinha certeza absoluta que um homem não poderia sobreviver a uma queda daquelas, do
sétimo andar. E muito menos se estivesse baleado nas costas.
- Agente Bauer...
A voz de Mulder o despertou. Jack caminhou, ainda confuso e cheio de perguntas, para junto
dele. Mulder estava agachado perto de uma mancha no carpete do corredor. Jack viu aquilo, e
novamente não entendeu.
Era como o carpete estivesse corroído.
- Não havia como você saber, agente Bauer... Já vi esse tipo de coisa. Eles parecem humanos,
mas não são...
Os Pistoleiros já se encarregavam de verificar o computador no apartamento de Parker.
Precisavam correr, pois a polícia poderia chegar a qualquer momento.
Em poucos minutos, Byers dava o veredito, depois de verificar o computador laptop de Parker:
- Não tem nada aqui. O HD foi apagado...

11:16.16

Depois de uma nova visita ao QG dos Pistoleiros, de onde Jack fez uma ligação para Nina,
ordenando-lhe que cooperasse com a agente Scully, decidiram que a única coisa a fazer era seguir sua
outra pista, o endereço que Scully deu a Mulder.
Enfrentando o terrível trânsito de sexta em Washington, demoraram um bocado. Faltando ainda
alguns quarteirões, Bauer perguntou:
- Quer dizer que esses...
Ainda tinha dificuldades para aceitar, quanto mais acreditar. Era incrível demais, pensar que
“eles” estavam entre os humanos. Jack passou a mão pela boca enquanto dirigia o carro com a outra, e
terminou a pergunta:
- Esses caras, como o que baleei, são extraterrestres?
- Sim, agente Bauer, respondeu Mulder. Da mesma espécie que conspirou junto a um grupo
dentro do governo norte-americano, para preparar uma invasão.
- É o que estão fazendo agora?
Mulder olhou pela janela. Mesmo para ele, havia muitas variáveis, ainda não compreendia o
todo. Os dados que possuíam ainda eram insuficientes. Depois de uns segundos respondeu:
- Ainda acredito que possa haver participação de gente do governo...
- Dos mesmos homens?
Bauer parecia cada vez mais ansioso. Mulder balançou negativamente a cabeça, e completou:
- Esses homens, pelo que sabemos, estão todos mortos. Outras pessoas, entretanto, podem
estar colaborando, talvez até mesmo sem seu conhecimento... Ou eles mesmos podem estar infiltrados
no governo.
- Mas por que realizar um atentado contra uma reunião do SETI, perguntou Byers.
Mais uma vez, todos ficaram espantados com a capacidade de Mulder, que com apenas poucas
pistas já era capaz de desvendar toda uma trama. Ele respondeu:
- Talvez essa civilização que esteja nos contatando saiba como enfrentar os invasores... O
governo como sempre, não quer que a verdade seja conhecida. Desde Roswell, em 1947, estão até o
pescoço nisso, e ninguém quer um escândalo desse nas mãos. Os alienígenas que mudam de
aparência devem estar se aproveitando...
Jack ainda custava a acreditar, mas ao mesmo tempo, aquela trama maluca, que parecia saída
de uma produção de ficção científica, fazia sentido. De novo, relembrou das vezes em que ele próprio
desvendou tramas tão complexas e inconfessáveis como aquela.
Estaria Mulder certo?

11:32.10

Bauer entrou pelos fundos da loja que estava em nome de Salef e seus irmãos de arma em
punho, silenciosamente. Desta vez não quis que os companheiros se arriscassem. Foi andando por um
corredor, e parou diante de uma porta. Prestou atenção por um momento, mas julgou que estava tudo
silencioso.
Entrou, e percebeu que avaliou mal sua percepção. Uma mulher examinava vários itens daquele
depósito, e revelou-se tão surpreendida quanto Bauer. No tempo que Jack levou para reagir, ela já lhe
apontava a arma:
- Sou agente federal, solte a arma!
Bauer apontou-lhe a sua, gritando:
- Solte a arma1
Ficaram assim uns segundos. Ela era morena, muito bonita, vestia blazer e calça, e seu rosto
mostrava uma expressão decidida. Jack ia exigir novamente que ela largasse a arma, quando ouviu um
clique atrás de si, e uma voz de homem dizer:
- Agente federal, solte a arma!
Em inferioridade, decidiu cooperar. Abriu os braços, abaixou-se e colocou a arma no chão,
dizendo:
- Sou o agente federal Jack Bauer, vou apanhar minha credencial.
Nesse momento, Mulder chegou correndo. O homem ainda apontou a arma, mas depois a
abaixou, dizendo:
- Mulder, o que faz aqui?
Finalmente, o homem e a mulher conferiram a credencial de Bauer, que pediu:
- Agora, já que disseram ser agentes, posso ver suas credenciais?
O homem logo mostrou a sua, enquanto a mulher apanhava a dela e dizia:
- Agentes Reyes e Doggett, do FBI.
E, virando-se para Mulder, perguntou:
- Mulder, o que faz aqui?
Eles explicaram, e logo ajudavam nas buscas. Não encontraram nada, quando Mulder lembrou-
se dos Pistoleiros. Foi buscá-los no carro.
Logo Frohike, vestido com um macacão plástico e um capacete flexível sobre a cabeça,
analisava todo o lugar. Mulder cismou com o equipamento que ele usava, uma versão muito sofisticada
de contador geiger. Nunca soube como os Pistoleiros conseguiam pagar por todo o aparato
extremamente sofisticado, e caro, que abarrotava seu escritório.
Finalmente Frohike voltou, deixou o capacete pendendo atrás dos ombros, e disse:
- Tivemos sorte. Os níveis de radiação estão bem mais altos do que o normal, mas nosso tempo
de exposição não foi suficiente para causar dano.
Os demais se entreolharam, e Monica perguntou:
- O que está acontecendo? Se é mesmo uma fonte de força alienígena, como esses caras
conseguiram arrumar uma?
Doggett fez cara de quem não gostou nem um pouco, mas conteve-se. Como Jack, teimava em
duvidar, mas a descrença começava lentamente a ceder.
- Isso ainda não sei, respondeu Mulder. Disseram que Salef e os irmãos são proprietários dessa
loja, então onde eles estão?

13:20.50

Doggett e Reyes, devidamente protegidos por coletes a prova de balas, seguiram seus colegas
que usavam equipamento mais pesado, capacetes a prova de balas e fuzis automáticos. Andaram
rápida e silenciosamente pelo corredor do prédio onde os Salef moravam, prontos para tudo.
Chegaram diante da porta, e o líder da equipe olhou com ar de interrogação para Doggett. A um
sinal afirmativo do agente, outros dois componentes da equipe se aproximaram com um aríete,
derrubando a porta e dando passagem aos demais.
Sempre com as armas apontadas, vasculharam todo o apartamento, sem nada encontrar. Até
mesmo a armadilha explosiva que temiam não foi encontrada.

13:26.14

O celular de Bauer, que junto a Mulder aguardava perto das viaturas estacionadas, tocou.
Atendeu, e Doggett disse:
- Encontramos outros nomes de astrônomos, todos do SETI, em recortes de jornais, e também
planos para explosivos e caixas vazias de munição.
- Alguma radiação?
- Os detetores que temos não mostram nada.
Mulder, que conseguira ouvir a conversa, afastou-se. Estava pensativo. Bauer agradeceu e
desligou, olhando para o outro lado. Aquilo tornava-se mais complicado a cada nova pista, não fazia o
menor sentido.
15:00.53

No necrotério do FBI, Scully falava sobre suas descobertas. Para Mulder não havia nenhuma
novidade, mas os demais, especialmente Doggett e Bauer, ainda alimentavam dúvidas.
- E, finalmente, os dados passados por sua colega Myers, agente Bauer, permitiram que fosse
feita uma identificação positiva. A substância retirada do corpo de Al-Abud era o mesmo vírus que eu e
Mulder encontramos há alguns anos.
Scully falava com absoluta confiança e segurança. Jack meditou um pouco, e perguntou:
- E não encontrou nenhuma indicação de que o óleo tenha infectado Salim Salef?
- Não, nenhuma.
Doggett revelou outros dados que tinham descoberto. Encontraram o rascunho de uma
declaração, em que os irmãos de Salim, Osama e Hasemi diziam que a descoberta do SETI era contra
o que pregava sua religião, constituindo mais uma mentira imperialista americana.
- E descobrimos, ele prosseguiu, que da mesma forma que Al-Abud, os irmãos Salef também
serviram a inteligência de Bagdá. Participaram da elaboração de diversos atentados a bomba no
Oriente Médio, e há suspeita de que ajudaram nos ataques contra nossas embaixadas na África há
alguns anos.
Tudo aparentemente fazia sentido. O que não compreendiam era porque tanto esforço contra um
grupo de cientistas.
- Os irmãos estão neste país há anos, disse Bauer, e Al-Abud chegou poucos meses atrás. Como
poderiam já saber da descoberta do SETI?
Ninguém sabia. Nem tampouco porque atribuir importância tão grande a tal descoberta. Se fosse
mesmo outra civilização nos chamando, deveria estar tão longe que dificilmente haveria alguma
consequência prática para nosso mundo no momento em que isso fosse anunciado.
- E se realmente a mensagem já está sendo recebida há algum tempo, e já há pessoas que
sabem que a mesma traz alguma informação importante?
Todos olharam para Monica, mas o único que parecia entender a questão que levantou era
Mulder.
- É isso, disse ele.
Todos novamente olharam para ele, que prosseguiu:
- Já sabem que a mensagem contém algo importante, e querem evitar que tal informação chegue
ao público.
- Quem, Mulder, perguntou Doggett. Quem teria interesse em acobertar uma descoberta tão
importante?
Mulder virou-se, olhando para todos os detalhes do necrotério. O corpo de Salef já estava
coberto, depois que Scully mostrou o que descobrira. Doggett já ia repetir a pergunta, quando Mulder se
virou e disse:
- Todos aqueles, agente Doggett, que verão seus interesses prejudicados por essa descoberta.
- E irão usar a fonte de força alienígena como... uma bomba, perguntou Bauer.
Mulder fez que sim. Scully, que dividia a atenção entre a conversa e o noticiário da tv ligada em
uma mesa próxima, pediu silêncio e perguntou:
- Agente Doggett, onde mesmo era o endereço que encontrou no apartamento dos árabes?
Ele tirou novamente o papel do bolso, e disse:
- Avenida Northwood, Hotel América.
Scully nada disse. Apontou para a tv, apanhou o controle remoto e aumentou o volume. Uma
apresentadora do noticiário aparecia, e anunciava:
- E, finalmente, os cientistas do SETI reunidos em nossa capital marcaram uma coletiva de
imprensa, a ser realizada as 21 horas no Hotel América. Questionado, o chefe do programa SETI,
doutor Shostak, não quis dar declarações. Dentre os convidados, o professor Alfred Penington, um
severo crítico da busca por inteligência extraterrestre...

16:58.18

Em um apartamento alugado, duas quadras distante do Hotel América, três homens finalizavam
seus preparativos. Hasemi olhou para o irmão mais novo, Osama, e disse:
- Está na hora. Pela glória de Deus, vamos destruir os infiéis e sua ciência blasfema!
Virou as costas, indo a cozinha apanhar algum item que esquecera. Osama olhou para o outro
homem, que apenas confirmou com um leve aceno de cabeça.
Quando Hasemi voltou, o terceiro homem o agarrou com firmeza. Hasemi não entendia e tentou
se libertar, mas o outro era muito mais forte. Apavorado, viu quando suas feições mudaram, ficando
idêntico a um dos participantes da trama, Ibrahin Al-Abud. Voltou-se para frente, apavorado, e deu com
Osama olhando para ele sem qualquer expressão.
- Osama, o que está acontecendo?
Seu irmão não respondeu. O homem que segurava Hasemi obrigou-o a ajoelhar-se, enquanto
Osama se aproximava. Apavorado, Hasemi viu quando um estranho líquido negro começou a flutuar
nos olhos do irmão.
- O que é isso? Meu Deus, meu Deus!
O líquido transbordou dos olhos, narinas e boca de Osama, caindo sobre o rosto de Hasemi. O
terceiro homem o largou. O árabe debateu-se, tentou afastar a substância, mas sem sucesso. Logo o
óleo penetrava em seu corpo, e em menos de um minuto ele já se punha de pé.
O sósia de Al-Abud olhou para os dois, e todos se apressaram em finalizar os preparativos.

20:10.20

Doggett e Reyes entraram pela porta da frente do Hotel América, onde já uma multidão se
aglomerava. Conseguiram uma credencial para Frohike, enquanto Byers ficou na Kombi dos Pistoleiros
como apoio. Langly ainda trabalhava na mensagem no escritório dos Pistoleiros.
Bauer entrou com Mulder pela porta dos fundos. Apresentando a credencial da UCT e dizendo
que Mulder o acompanhava, entraram sem grande dificuldade.
- E como explica, perguntou Jack, que esses árabes tivessem em seu poder o endereço desta
conferência, ou coletiva, antes que fosse anunciado?
Mulder não parava de olhar pelos arredores, enquanto andavam em direção ao salão central.
Não parecia muito seguro quando respondeu:
- Agente Bauer, não tenho certeza. Para falar a verdade, tenho a impressão que estamos sendo
usados.
- E ainda não respondeu porque exatamente na conferência do SETI. Será que terroristas não
encontrariam alvos muito mais atraentes aqui mesmo em Washington?
Mulder viu a distância alguns conhecidos cientistas do SETI. Reconheceu Seth Shostak, o
principal líder do projeto, e a doutora Jill Tarter, que serviu de modelo para a personagem do romance
Contato, de Carl Sagan, que no filme de mesmo nome foi interpretada pela atriz Jodie Foster.
- Talvez pensassem, respondeu Mulder, que com o presidente em viagem pelo Oriente, como
agora, a segurança estivesse menos rigorosa na capital. E essa coletiva é o grande acontecimento na
cidade no fim de semana.
Bauer parecia incrédulo em explicação tão simples, e perguntou:
- Acredita nisso?
O olhar que Mulder lhe dirigiu provava que não. O antigo nome por trás do Arquivo-X
acrescentou:
- Como disse, alguém não quer que a informação chegue a público. Talvez até queiram abalar a
credibilidade do SETI. As respostas só podem estar na mensagem.
Continuaram andando, e chegaram ao salão principal, onde se daria a coletiva. Um grande
número de profissionais da imprensa já ocupava seus lugares, e mais chegavam a cada hora. Uma
coisa que Mulder disse era verdade, aquele era o grande acontecimento daqueles dias na cidade.

20:17.35

- Frohike, tudo bem com você?


A pergunta soou no fone que Melvin usava no ouvido. Respondeu baixinho:
- Tudo, Byers, só o que me aborrece é você perguntando isso a cada cinco minutos!
- Procedimento de rotina. Você tem que circular mais, tentar localizar os suspeitos.
Frohike usava uma micro-câmera embutida nos óculos, transmitindo as imagens para o furgão.
Serviu-se de mais uma taça de champanhe, que estava sendo servido antes que começasse a coletiva,
e voltou a circular. Cumprimentou um e outro personagem, apenas para se misturar. A distância, trocou
um olhar com Mulder, que ao lado de Bauer, também faziam uma vigilância discreta.
- Frohike, pare! Aquele cara, está vendo? Quase na sua frente, a uns oito metros!
Melvin olhou na direção indicada, mas não conseguiu identificar ninguém. Byers voltou a falar em
tom insistente:
- O cara de terno marrom! É o sujeito das fotos do agente Bauer!
- Quem? Ibrahin Al-Abud? Byers, ele está morto!
- Então como está aí?
Frohike sentiu um estalo, procurou aproximar-se de Mulder, enquanto dizia para Byers:
- Não é Al-Abud... é o cara que atirou em Parker.
- O... alienígena? Frohike? Frohike!
Byers desesperou-se quando a imagem sumiu. O alcance do transmissor de imagens não era
muito grande.
- Ou alguma interferência... Radiação... Radiação!
Byers amaldiçoou ter que ficar ali. Não sabia o que fazer. Se Frohike não respondesse, iria entrar
no hotel o mais rápido possível.

20:19.54

- Mulder, Mulder!
Era difícil gritar cochichando, mas Frohike finalmente chamou a atenção do amigo. Desvencilhou-
se de alguns transeuntes, agarrou o braço de Mulder, e disse:
- Aquele cara... de terno marrom... Está vendo?
Mulder viu. Imediatamente soube quem era.
- Agente Bauer...
Apontou na direção do suspeito. Jack ficou espantado, e balbuciou alguma coisa, mas Mulder
disse:
- Encontramos o assassino de Parker.
Rapidamente foram a seu encalço. O sujeito deve ter percebido, pois foi abrindo caminho entre a
multidão, afastando-se deles.

20:21.35

Osama foi primeiro localizado por Monica. Ele aproveitou que não havia muita gente no corredor
e saiu correndo. Ela falou para dentro do microfone em sua lapela:
- Atenção, está indo em sua direção, equipe dois. Agente Doggett, onde está você?
Depois de um pequeno chiado, Monica ouviu a voz do parceiro:
- Mulder, Frohike e Bauer estão seguindo um cara que se parece com Al-Abud. Estou com a
equipe um, e localizamos Hasemi.
Os agentes correram para alcançar Osama. Monica os acompanhava de longe. O árabe já havia
chegado a uma região deserta do hotel, e agora corria desabaladamente.
- Pare, FBI, gritaram.
Ele virou uma curva do corredor, quando os agentes viram uma fortíssima luz inundar o lugar.
Monica gritou:
- Parem, fiquem onde estão!
Logo tudo voltou ao normal, e a claridade sumiu tão rapidamente quando apareceu. Os homens
avançaram cuidadosamente, e quando os primeiros chegaram a curva do corredor, pararam para que
os colegas os alcançassem.
Quando finalmente encontraram Osama, ele estava morto. Seu corpo apresentava terríveis
queimaduras por radiação. Entretanto, quando uma equipe chegou com equipamento próprio poucos
minutos depois, não encontraram qualquer sinal da mesma.

20:28.55

- Para onde ele foi?


Bauer estava furioso. Perseguiram o suspeito por quase todo o térreo do hotel, e agora ele havia
sumido. Ele ainda checou atrás de várias portas, quando Mulder disse:
- Esqueça, agente Bauer, não adianta.
- Ele veio para cá, vocês também viram!
Frohike dividia com eles a decepção, mas nada havia a fazer. Lembrou-se de Byers, que deveria
estar desesperado, apanhou o celular e afastou-se para chamar o amigo.
Mulder olhou em torno. Compreendia o desapontamento de Jack, mas sabia por experiência
própria que não havia nada a fazer.
- Esse sujeito pode imitar a aparência de qualquer pessoa, agente Bauer. Acho que queria nos
tirar do salão. Deve estar longe agora.
Seu celular tocou no momento que já ficavam alarmados diante da constatação de Mulder. Este
atendeu, era Doggett:
- Mulder, encontramos Hasemi. Lembra dos corpos na plataforma petrolífera há algumas
semanas?
- Está queimado por radiação, não é? Era de se esperar, agente Doggett. E o outro?
- Monica e nossa outra equipe o localizaram nas mesmas condições.
Doggett garantiu que outras duas equipes estavam com tudo sob controle na sala de
conferências. A outra linha de Mulder tocou, ele pediu licença e atendeu.
- É melhor vocês virem para cá, disse Scully.

20:32.15

- Senhoras e senhores da imprensa, convidados, nossa intenção ao organizar esta coletiva era
anunciar, por certo, algo bem diferente do que estou prestes a revelar.
Seth Shostak parecia um tanto conformado, mas manteve sempre o sorriso nos lábios. Sua
colega, Jill Tarter, prosseguiu:
- Há cerca de oito dias, um alarme soou em nossas instalações de Arecibo, Porto Rico. Não vou
cansá-los com monótonos dados técnicos. O alarme, nada mais nada menos, dava conta de uma
possível detecção.
Murmúrios de estupefação tomaram o auditório. Mulder e seus companheiros também
acompanhavam a coletiva. Nada havia sido encontrado que denunciasse que no hotel houvesse armas,
explosivos, ou qualquer material a ser usado em um atentado. Tampouco encontraram algo nos corpos.
E ele sabia muito bem o que os astrônomos iriam dizer.
- Por dias, prosseguiu Shostak, analisamos os dados, mantendo-os ao mesmo tempo em total
sigilo. Não poderíamos permitir que notícias errôneas fossem liberadas. Tudo indicava que os sinais
provinham de uma civilização alienígena nos contatando.
Os cientistas falaram resumidamente sobre o tipo de análise que fora realizada. Entretanto, foi
apenas quando outro nome da ciência chegou a capital que a verdade, de acordo com os cientistas, foi
descoberta.
- Com a colaboração do doutor Alfred Penington, aqui presente, trabalhando em conjunto com
nossa equipe, finalmente descobrimos a verdade. O que parecia uma autêntica mensagem alienígena
na verdade revelou-se como um sinal natural, emitido por uma estrela na constelação de Lira. Esse
sinal foi muito alterado quando passou por uma nebulosa que se interpunha no caminho do sinal até a
Terra, de tal forma que, a primeira vista, o mesmo parecia um sinal artificial.
Alguns repórteres cobraram explicações acerca do conhecido programa Setiathome, do qual
muitos usuários passaram a semana queixando-se. Tarter respondeu:
- Infelizmente, descobrimos um bug não previsto no programa, que causa perda de dados. Em
poucos dias, uma nova versão estará disponível para download no site do SETI.
Penington também falou. Disse que aquela discussão fora muito produtiva, e que a seriedade e
nobres propósitos do programa SETI o haviam conquistado. Terminou dizendo:
- A partir desse excelente trabalho, meu ponto de vista foi substancialmente modificado. De agora
em diante, serei um grande defensor do SETI, a busca por inteligência extraterrestre. É uma questão
importante e vital demais para ser ignorada. É óbvio que não estamos sozinhos, e poder provar isso é
um desafio ao qual vale muito a pena se dedicar. Dentro em breve, talvez aconteça outra conferência
onde a grande descoberta possa finalmente ser revelada.
Ninguém reparou em uma moça, que usava credencial de repórter, deixando o salão. Ela passou
pela saída sem problemas, caminhando em direção a um carro estacionado. Olhou mais uma vez para
o hotel, e um brilho branco-azulado muito intenso reluziu por um momento em seus olhos.
Um homem sentou-se por fim ao volante. O carro foi ligado e avançou, desaparecendo em meio
ao trânsito.

20:40.10

Todos se reuniram na Kombi dos Pistoleiros. Bauer, apesar de desapontado, sentiu-se aliviado
por tudo não ter passado de alarme falso.
- Não foi alarme falso, agente Bauer.
- Por que diz isso, Mulder, perguntou Doggett.
Todos olharam para Mulder, que respondeu:
- Acabei de falar com Langly. Ele conseguiu decifrar parte do sinal. O mesmo é disposto em
várias camadas, vamos dizer assim...
- Como é descrito no romance de Carl Sagan, perguntou Monica.
- Sim, mas aparentemente é mais simples que aquele, continuou Mulder. Langly encontrou
diversos números, uma grande série deles, e o que parece uma parte muito pequena de um diagrama
na última camada.
- Uma máquina, perguntou Doggett.
Mulder disse que não sabia. Nesse momento, o celular de Jack tocou, e ele pediu licença para
atender. Mulder prosseguiu:
- Isso foi tudo uma armação desde o princípio, para distrair-nos enquanto eles realizavam o que
queriam.
- E o que poderia ser, perguntou Scully.
- Langly disse que há uma camada extra na mensagem, pelo menos na parte muito pequena que
chegou até os Pistoleiros. Necessita de uma chave para ser decifrada.
- E está dizendo que eles realizaram essa coletiva para acobertar tudo? E quem pode ter se
apoderado da chave, então? E a tal fonte de força alienígena?
Mulder respondeu que foi usada apenas para provocar as feridas nos corpos. Doggett, claro, não
se convenceu, Monica parecia entender, enquanto Scully, como sempre nutria dúvidas.
- E por que, perguntou ela enquanto afastava uma mecha do cabelo, os demais cientistas não se
manifestaram contra a explicação de Penington? Percebi que muitos não concordavam com a mesma.
Mulder, um tanto hipnotizado pelo gesto de Scully, respondeu por fim:
- Ele é talvez o maior especialista em radioastronomia do mundo, Scully. Autor de dezenas de
livros, tem uma credibilidade fantástica. E isso é algo que os cientistas prezam muito. Jamais iriam
contra uma declaração de Penington assim, arriscando com isso suas carreiras, verba para pesquisa e
presença em eventos, congressos e coquetéis. Nem todos se conformariam em trabalhar no porão...
Bauer voltou com uma expressão abatida. Depois de alguns instantes disse:
- Era Nina Myers, minha colega na UCT. Disse que nossa chefe foi assassinada a tiros no
estacionamento do prédio da unidade.
Todos ficaram assombrados. Bauer, ao longo da investigação, havia transmitido todos os dados
para Nina, que os repassava a chefe, Winfrey Voghan. Esta, por sua vez, ordenou a Myers que
destruísse todas as outras cópias.
- O mais estranho, continuou Bauer, foi quando Nina mencionou algo estranho que encontraram.
Um toco de cigarros Morley ao lado do carro, e Voghan não fuma...
Mulder e Scully se entreolharam, com nítido espanto. Mas logo se descontraíram, pois não havia
mais nada a fazer. Jack disse que não havia qualquer pista do atirador.
- Afinal, por que tudo isso, perguntou Bauer.
Todos fizeram silêncio, e finalmente Mulder respondeu:
- Acredito que há realmente algo na mensagem. Algo que nem os homens do governo que
controlam a verdade, nem os colonizadores alienígenas, esperavam.
O silêncio se manteve, e Mulder voltou a falar:
- Não deve ser o mesmo tipo de alienígenas que nos enviou esse sinal. Acredito que seja outra
civilização. Para perturbar os invasores a esse ponto, deve ser alguém que eles temem. Acho que é
uma mensagem de paz, nos mostrando como resistir... Como resistir ao futuro...
Doggett decididamente não acreditou muito, e aceitou o convite de Monica para uma carona.
Despediu-se, falando que encontraria Scully no trabalho. Os Pistoleiros logo embarcaram na van,
pedindo para manterem contato.
Bauer ainda fez mais uma ligação do celular, pedindo para confirmar seu vôo. Felizmente, havia
uma reserva no avião das 22 horas para Los Angeles.
- E agora, ele perguntou.
- Agora, agente Bauer, vamos prosseguir na busca. A verdade está lá fora, e é bom ver que ainda
podemos contar com gente como você.
Apertaram-se as mãos, e Jack cumprimentou Scully também.
- Espero que nos vejamos de novo, agente Bauer.
Ele sorriu mais uma vez para o casal, entrou no carro e afastou-se. Scully passou seu braço pelo
de Mulder, enquanto caminhavam para seu carro, perguntando:
- Mulder, acredita mesmo no que disse? Alienígenas amistosos nos contataram, e mandaram
instruções para resistirmos aos colonizadores?
Mulder fez que sim, e entrou no carro em silêncio. Depois que Scully deu partida e passava em
meio ao tráfego, ele acrescentou:
- Eles conseguiram acobertar essa informação mais uma vez, mas duvido que consigam
controlar várias estações de radiotelescópios domésticas, que estão cada vez mais sendo construídas.
Em breve, tenho certeza que essa mensagem será revelada de uma forma que eles não possam mais
negar.
Scully sorriu para ele. Ainda havia uma parte dela que relutava em aceitar, mas havia aprendido
a ver a verdade aos olhos de Mulder.
Aqueles olhos tão lindos, aliás, ela pensou com um risinho.

Dois dias depois, o doutor Alfred Penington chegava de noite em casa, depois de um dia inteiro
de reuniões. Entrou, fechou a porta, e sobressaltou-se com o homem que emergiu das sombras. Disse:
- Você!? O que quer?
- Saber se nosso acordo ainda está de pé, doutor, e verificar seus progressos.
Os dois homens caminharam até o escritório de Penington. Este sentou-se a sua mesa, apontou
para uma pilha de papéis em um canto, e disse:
- É informação técnica completamente desconhecida, senhor, e muito mais do que poderíamos
imaginar. Quase se pode afirmar que é a famosa Enciclopédia Galática, de que tanto falavam meus
colegas radioastrônomos.
- Quanto tempo para ser inteiramente decifrada?
A voz sombria daquele homem o arrepiava. Penington sentia, mesmo não sendo religioso, que o
que estava fazendo era bem próximo de um pacto com o diabo.
- Ninguém pode precisar isso. Trabalhar na decifração de uma mensagem alienígena com um
grupo tão pequeno certamente não é fácil, nem mesmo com a garantia de que o radiotelescópio orbital
secreto conseguirá captá-la em sua totalidade.
Depois de vários dias, a mensagem ainda era transmitida. Outros satélites militares secretos
estavam embaralhando as frequências específicas em que era transmitida, para evitar que alguém na
Terra captasse o sinal.
- Porém, nada disso é garantia, dizia Penington, de que a informação não possa vazar. Até
mesmo com um radiotelescópio caseiro seria possível captar trechos da mensagem, sabe muito bem
que nossa cobertura não é total.
O homem nada disse. Penington se arrepiava cada vez mais, tremendo a olhos vistos.
Acrescentou:
- E nem mesmo podemos garantir que meus colegas do SETI sejam iludidos pela farsa para
sempre. Mais cedo ou mais tarde, a informação vai emergir.
O homem soltou mais baforadas de seu cigarro, para desgosto de Penington. Apagou o cigarro
no cinzeiro sobre a mesa, e foi saindo. Quando já havia passado da porta do escritório, respondeu:
- Meu caro doutor, nada disso importa. Tudo está sendo arranjado. O importante é que os dados
continuem sendo analisados. Manterei contato...
Penington ouviu um motor de carro ser ligado lá fora e afastar-se, logo desaparecendo na
distância. Uma parte dele estava eufórica com a descoberta, mas bem em seu íntimo começava a nutrir
sérias dúvidas quanto aquele projeto. Entretanto, sabia que para sua própria segurança, deveria
continuar colaborando. Aqueles homens pareciam muito ansiosos, e ele apenas desconfiava da
revolução que estava em curso.
Por mais de uma vez, viu-se diante de alguns dos subordinados daquele estranho, que diziam
que aquilo era muito importante. “Resistir ao futuro”, ele ouvia sempre.
Apanhou o cinzeiro e foi até a cozinha, jogando as cinzas e o toco no triturador de lixo. No último
pedaço que viu, estava escrito a marca do cigarro.
Morley.
F I M

Renato A. Azevedo, 4 de maio de 2002

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Autor: Renato A. Azevedo.
E-mail: renatoalaz@uol.com.br

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