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(PARTE 2)
Índice
Ilustração de Capa
Ilustrações Coloridas
Créditos Tradução
Capítulo 01: O Segredo do Prodígio (Parte 01)
Capítulo 02: O Segredo do Prodígio (Parte 02)
História Paralela: Sylphiette (Parte 03)
Capítulo 03: O Noivo Insensível (Parte 01)
Capítulo 04: O Noivo Insensível (Parte 02)
Capítulo 05: A Máscara Branca (Parte 01)
Capítulo 06: A Máscara Branca (Parte 02)
História Paralela: Sylphiette (Parte 04)
Capítulo 07: Um Dia na Universidade de Magia
Capítulo 08: Sem Noção, Mas Perceptivo
Capítulo 09: Chuva na Floresta (Parte 01)
Capítulo 10: Chuva na Floresta (Parte 02)
Capítulo 11: O Empurrão Final
História Paralela: Sylphiette (Parte 00)
Capítulo Extra: A Ira do Cão Louco
Ilustração de Capa
Ilustrações Coloridas
MUSHOKU TENSEI
- Isekai Ittara Honki Dasu - Vol. 09
Rifujin na Magonote
Ilustrações por Shirotaka
Retirado do site:
Cliff ficou sem palavras. Rudeus Greyrat. Era um nome que ele
jogou em um canto sombrio da sua mente, desde aquele dia em que
foi rejeitado por Eris. Nunca poderia esperar ouvir isso novamente
em um lugar desses, dito por um homem que acabara por respeitar.
Era meio difícil dizer exatamente quem foi que começou com a
briga. Cliff era um jovem de língua afiada, e falou com elas com
clara arrogância. Naquela época Linia e Pursena estavam menos
agressivas que o normal, mas ainda não se dispunham a deixar um
primeiranista falar de um jeito desses com elas. Cliff não lembrava
direito nem do que disse para provocá-las. Mas lembrava muito bem
da luta em si. Ele tentou lançar um feitiço de nível Avançado;
Pursena disparou uma magia de nível Iniciante bem rápido,
interrompendo seu encantamento e restringindo os seus
movimentos. Linia então se aproximou e bateu nele até dizer chega.
Logo após essa derrota pública, Cliff retirou-se para seu quarto
para chorar sozinho. Ele disse a si mesmo que a luta não foi justa.
Afinal, esteve em desvantagem numérica. Não tinha realmente
perdido.
Mas alguns dias depois, soube que outro estudante chamado Fitz
havia derrotado Linia e Pursena em um instante. E essa notícia foi
um verdadeiro choque.
Isso normalmente seria muito doloroso para Cliff admitir. Mas, por
alguma razão, logo se viu capaz de aceitar os fatos. Talvez fosse
por já conhecer Zanoba e por ter sido derrotado por Linia e Pursena.
Podia admitir, pelo menos para si mesmo, que este Rudeus estava
destinado a coisas maiores do que ele.
— Certo, Mestre.
— Tudo bem.
— Sinto muito…
Não importa com quanta gentileza eu falava com Julie, ela
sempre revelava medo no olhar ao me encarar. Pelo visto, eu a
intimidava.
— Mas eu…
— Coloque uma meia na boca. Que tal você ir comprar carne pra
gente?
— Não vou deixar que uma garotinha como você faça essas
coisas. Por que não vou no seu lugar?
— Meow?!
— Com quem você pensa que está falando desse jeito, criança?
— Porra…
Linia e Pursena voltaram aos seus lugares, parecendo bastante
mal-humoradas.
✦✦✦✦✦✦✦
— Hã? Bem, claro. Mas não ensinam isso aqui, sabe? Nada fora
Encantamento, acho. Não tenho certeza se encontraremos alguém
que saiba sobre o tipo de coisa que estamos pesquisando…
— Bem, não custa nada dar ao menos uma olhada e ver o que
consegue encontrar.
— Tch…
— Olha, uh… Senhor Greyrat. Isso não tem nada a ver com
você, certo?
Caras como esse amavam falar essa frase. Sim, sim. Isso não
era da minha conta. Eu sabia disso mesmo antes de enfiar o meu
nariz.
— Não sei o que aconteceu, mas seis contra um não é uma luta
justa.
Com isso, ele se virou e foi embora, indo para trás do prédio. Os
outros cinco o seguiram. Talvez tivessem uma pequena base de
operações estabelecida lá atrás ou coisa do tipo.
—…
Sério, a maioria das minhas interações com esse cara foram bem
desagradáveis. Sempre que esbarrávamos um no outro, ele era
abertamente hostil comigo. Provavelmente diria algo como “Não
pedi a sua ajuda!” e depois sairia em fúria.
No dia seguinte, Cliff me pediu para falar com ele atrás do prédio
da nossa escola.
Ele estava irritado. Eu não fazia ideia do motivo, mas isso estava
na cara. Parecia que poderia acabar em violência, então ativei meu
Olho da Previsão de antemão e analisei os arredores com cuidado.
Eu também tinha uma boa quantidade de mana reunida em minha
mão direita esperando para ser usada.
— Er, claro…
Uh, então, aqui está o meu problema. Outro dia, meu colega de
classe Cliff Grimoire confidenciou-me seu amor por Elinalise e
perguntou se eu poderia apresentá-los.
Ela também diz que possui vários filhos… embora nunca tenha
me contado muitos detalhes sobre a atual localização deles. Para
ser honesto, eu costumava me perguntar se a elfa só não os
abandonou na beira da estrada ou os vendeu para comerciantes de
escravos. Em algum momento, ela explicou que os cria até que
estejam prontos para se tornarem independentes, seja lá o que isso
signifique. Pelo visto, ficar grávida é algo relativamente raro para
Elinalise.
Acho que até posso entender o apelo nisso. Joguei muitos jogos
pornográficos com o tema de “treinamento” nos velhos tempos. Não
é querendo tirar uma conclusão precipitada, mas é quase certo que
o Cliff ainda é virgem. Elinalise provavelmente ficaria muito feliz ao
levá-lo para a cama.
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— Um amigo…?
— Isso mesmo.
Hm…? Eu disse que era uma mulher? Será que a coisa sobre a
Princesa Ariel levou Fitz a pensar dessa forma? Realmente não
importava, já que Elinalise era uma mulher mesmo, mas…
— Hmmm…
Depois de algum tempo de silêncio, Fitz falou mais uma vez, sua
voz soou como um murmúrio baixo.
✦✦✦✦✦✦✦
— O que seria?
Continuei:
— Decidi não lhe dizer o que penso dela. Não é porque estou
tentando te enganar ou algo assim. Só acho que você precisa
conhecê-la pessoalmente, conversar com ela e então tomar as suas
decisões.
— Bem, eu não pertenço à Igreja Millis, então não sei o que você
espera de seus casamenteiros. Só não venha gritando comigo se eu
fizer isso errado.
— Ah, por favor. Rudeus, você sabe como eu sou. Por que traria
um garotinho ingênuo como aquele para me conhecer? Você devia
sentir vergonha de si mesmo.
— Sério?
— Você sabe sobre a minha maldição, não sabe? Não posso ter
uma relação exclusiva com ninguém. Isso não dá certo.
— Tem certeza disso? Se eu fizer isso ele não vai ficar ressentido
com você?
— Agradeço.
Com o fim de nossa pequena reunião, Elinalise se voltou para
Cliff. Ela era alguns centímetros mais alta do que ele. Cliff era, na
verdade, meio baixinho. Formariam um casal um pouco incomum…
não que isso me importasse, no caso de se darem bem. Só de ficar
na sala já estava começando a ser doloroso.
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— Hm? Ah, Rudeus! Mais uma vez, obrigado pelo outro dia! —
Cliff tentou se levantar para uma saudação, mas, graças à mulher
em seu colo, foi forçado a se contentar com um aceno de cabeça
em agradecimento.
Ceeeeerto. Mas por quê? Isso com certeza não era como deveria
acontecer…
— Elinalise…
— Cliff…
Era isso que Cliff queria? Ser esse cara? O cara dos “beijos na
sala de aula”? Senti que ele precisava repensar o assunto. Elinalise
estava dizendo todas as coisas corretas, mas não pude deixar de
sentir que ela o mantinha por perto como um lanchinho a tira colo. O
amor é cego ou o quê?
Linia era a única que parecia estar incomodada. Ela estava com
uma carranca irritada. Me aproximei para falar primeiro com ela.
— Qual, Linia?
Essa claramente não era uma ideia na qual Linia havia pensado
muito, mas me vi tentado a fazer um pequeno experimento.
— Nós não íamos espalhar isso por aí, Chefe. Sério. E foi a Linia
quem falou sobre a salsicha. Às vezes ela é bem idiota.
— Mew?!
— Está tudo bem, sério. Não estou tentando manter isso como
um segredo nem nada assim.
— É-é! Quem liga se você é impotente, Chefe? Não é como se
fôssemos pensar menos de você! Mew!
— Hmm…
Mas ele não estava acenando para mim. Eu sabia muito bem
disso. Estava acenando para Fitz, um dos ajudantes da Princesa .
Nos últimos meses Rudy tinha ficado muito amigo de Fitz. Ele pedia
todo tipo de conselho, e Fitz foi gradualmente conquistando a sua
confiança e amizade.
Tentando não me sentir muito triste com esse fato, fui atrás da
Princesa assim que ela saiu pelo corredor.
Capítulo 03:
O Noivo Insensível (Parte 01)
Passou meio ano desde que me matriculei na Universidade de
Magia de Ranoa. Era outono – a época da colheita. Nos Territórios
Nortenhos o outono nunca durava muito, mas era uma época muito
importante do ano, quando os alimentos eram preparados, colhidos
e armazenados para o doloroso inverno que chegaria. Existiam
alguns festivais que eram realizados em diferentes aldeias e
cidades.
— Mestre, você não acha que está na hora de iniciar uma nova
criação?
— Hm, então tá. Por que não faço uma estatueta do Wyrm
Vermelho para você, hein Julie?
— Zanoba, você deveria ser meu aluno, certo? Que tal se você
me ajudar a fazer isso?
Sério, esta vida não era ruim. Ultimamente eu não estava nas
melhores das minhas condições, mas pelo menos estabeleci uma
rotina decente. Minhas aulas de magia Divina e de Barreira de nível
Iniciante terminariam em breve, e eu tinha que decidir o que fazer
depois. Talvez Desintoxicação de nível Intermediário? Até o
momento eu tinha me saído bem com os feitiços de nível Iniciante.
Não parecia haver necessidade de aprender qualquer coisa mais
avançada do que isso.
Claro, eu estava livre para não ir para nenhum tipo de aula nova.
No lugar disso, poderia só passar mais tempo na biblioteca.
Comecei a sentir que havia chegado a um gargalo ao pesquisar o
Incidente de Deslocamento, mas poderia ser interessante tentar
aprender mais idiomas. Se eu seguisse por esse caminho, poderia
tentar pedir para o Cliff me ensinar magia Divina enquanto… Mas,
nos últimos tempos, ele passava o tempo todo com Elinalise.
Provavelmente seria melhor deixá-los sozinhos por algum tempo. Eu
não queria me tornar um estorvo.
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E então, de repente, as coisas não estavam mais tão pacíficas.
— Uhm…
— De fato!
Gaah…
— Espere aí!
Mas, para a minha surpresa, meu novo amigo peludo deu um
pulo, subiu vários metros acima da minha cabeça e pousou bem à
minha frente com um baque poderoso. O cara saltou igual um
mecha de Junta Reversa. Ele poderia ser como um Dragoon bem
sólido.
Certo, eu não tenho nada a ver com isso… Sou um mago, não
um espadachim…
— Então… à batalha!
— Atoleiro.
— Canhão de Pedra.
Ser o número um era tão importante assim para eles? O que era
isso, uma tribo cheia de Starscreams?
Pelo jeito das coisas, tinham até elaborado uma ordem para me
desafiar. Um cara tentou entrar no meio do caminho e gritaram com
ele por “cortar a fila”. Talvez fosse mais uma daquelas traduções do
povo-fera ou coisa do tipo.
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Algumas horas depois, na caída da noite, Fitz também apareceu
na biblioteca. Seu olhar era um pouco reprovador.
— Espera, o quê?
— Isso não faz sentido algum. Você não é o líder da tribo Doldia
nem nada. Quem se importa se uma vez você as derrotou em uma
luta? Isso não significa que tem o direito de entregá-las como
prêmios para algum estranho qualquer.
— Então, no final das contas, vou ter que duelar com eles…?
— Isso provavelmente seria o melhor.
— Rudeus… Por favor, não me diga que você vai aceitar esse
duelo.
— Eh? Você ficou curioso, hein? Hmm. — Por algum motivo, Fitz
parecia insatisfeito comigo. Ele tinha me feito um discurso sobre
aceitar duelos com outras garotas no outro dia, então…
— Ah, por favor. Por que você não cuida disso sozinho, Rudeus?
Não acho que você precisa da nossa ajuda.
A voz de Fitz, por algum motivo, não estava muito amigável. Falei
algo que o aborreceu? Espera… ele talvez estivesse pensando no
que aconteceu durante o meu exame de entrada. Alegou que a
minha vitória não o incomodava, mas se eu começasse a fugir de
lutas como essas, as pessoas poderiam pensar que ele perdeu para
um covarde. Isso não seria nada bom para a sua reputação.
— Então tá bom. Pelo bem do seu bom nome, Mestre Fitz, irei
massacrar todos eles.
Era a espadachim que eu tinha visto antes. Ela tinha sido pego
no meio da confusão? Ou talveeeeeeez… estava o tempo todo
caidinha por mim?
— Bwahahahaha!
— Te desafio a um duelo!
Ciúmes? Sério? Não era como se eu tivesse feito nada com ela,
certo? Por que ele estaria com raiva de mim? Foi por causa daquela
piada que fiz sobre querer fazer com ela? Mas aquilo não tinha
significado nenhum. E ela até me recusou porque tinha um noivo…
que seria esse cara. Certo.
— Aprecio isso.
— Bwaaahahahahahaha!
— Deixe comigo!
— Ah! Zanoba!
Olhei para as botas que Fitz parecia estar sempre usando. Nem
tinha percebido que elas eram de natureza mágica. Sua capa
também devia ser encantada, não? Ele nunca a tirava, mesmo
quando estava bem quente.
— Hah… hah… Ah, eles. Sim, são… uh, espera. Foi mal, isso é
segredo… — Fitz riu baixinho e sorriu embaraçado.
Afinal, por que esse cara tinha que parecer tão fofo enquanto ria?
Ele estava fazendo algo de estranho com meus batimentos
cardíacos.
Isso significava que ele não iria me matar? Não, fazer suposições
não seria seguro. Esse cara parecia ser descuidado o suficiente
para acidentalmente destruir a minha cabeça, assumindo que
qualquer um com muita mana poderia levar um ou dois golpes.
— Hein…?
— Por que você está tão surpreso, garoto? Ah, entendi. Você já
está testando o Olho Demoníaco que a Kishirika te deu, certo? Foi
mal, mas essas coisas não funcionam comigo. — Badigadi deixou
um suspiro de orgulho escapar ao anunciar isso sem qualquer
cerimônia.
— Sua Majestade…
— O Deus Dragão? Você quer dizer Orsted? Você lutou com ele
e sobreviveu?
—…
— Muito bem!
— Whooo…
Velocidade: Máxima.
— Excelente! Me acerte!
— Hein…?
Hã? Ele disse que era imortal, não disse? Ele disse que eu podia
acertar o meu melhor golpe!
Devagar, com medo, me virei para mais uma vez olhar Badigadi.
— Bwahahahaha! Eu REVIVI!
— Uh…
Bem, tanto faz. Se ele diz que eu ganhei, então devo ter
ganhado.
— Eu ganheeeeeei!
Seu… mentiroso…
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Ele não tinha muito a me dizer. Parecia que não tinha certeza
nem do que estava acontecendo. O Rei Demônio apareceu do nada,
vagou por aí nocauteando alguns alunos e homens-fera, me
desafiou para um duelo, permitiu que eu reivindicasse a vitória e
depois me nocauteou. Isso era tudo o que tínhamos, e não era o
bastante para dar sentido à situação. Ainda assim, parecia que
ninguém que Badigadi nocauteou tinha realmente morrido devido
aos ferimentos. Era suposto que ele era um cara pacífico por
natureza, então isso talvez fazia sentido.
— Ele só deixou que eu treinasse com ele, isso foi tudo. — Meu
feitiço havia quebrado sua aura, é verdade. Mas ele nem mesmo
tentou fugir ou se defender. E dado o fato de que poderia se
regenerar completamente quando derrotado, eu não poderia
derrotá-lo em uma batalha real.
— Sim, sabia. Mas ele estava ficando com a tribo Ogro… e disse
que ficaria lá por algum tempo, então eu deveria vir sozinha.
Demônios como ele tendem a não prestar muita atenção na
passagem do tempo, sabe? Achei que ele ficaria lá por pelo menos
mais uma década, e só passaram dois anos desde que nos
separamos…
Balancei a cabeça.
— O feitiço mais forte? Mas foi o mesmo que você usou contra
mim no teste, não? Era uma versão melhorada?
— Ah, sinto muito por isso. Você deve estar cansado, certo? Eu
não queria te atrapalhar. Vá descansar um pouco.
Me deitei e relaxei.
✦✦✦✦✦✦✦
Ainda assim, toda essa diversão não iria causar problemas para
os estudos de Cliff? Eu não iria me intrometer, é claro. A vida era
dele, e ele poderia viver como quisesse. Na verdade, eu estava com
inveja. Só um pouquinho.
— Bwahahahahaha!
— Uh, oi, Goliade. Queria falar com você sobre o que aconteceu
no meu primeiro dia aqui…
— Ei, Chefe. Por que não deixa por isso mesmo, mew? A
Goliade não queria te irritar, sabe. Poderia deixar essa passar, por
nós? Precisamos cuidar das outras garotas do povo fera.
— Não façam nada com ela, por favor. Não quero sair fazendo
inimigos por aí sem qualquer motivo.
— Ela está certa, sabe. Você derrotou o Fitz, Chefe, então pode
conquistar a escola quando quiser.
— Você pode fazer o que quiser, mew. Bem… Acho que você na
verdade não poderia fazer muita coisa com as garotas… aah, já sei!
Poderíamos te trazer um par de calcinhas de todas as garotas dos
dormitórios no começo de cada ano!
— Boa ideia. O Chefe adora calcinhas, tanto que até guarda uma
no quarto dele, certo? Ele ficaria super feliz.
— N-não, eu não…
Então, mais uma vez, havia algumas garotas bem fofinhas que
às vezes apareciam andando pelo campus. Mas a maioria delas
nem era do meu tipo. Sinceramente… Não recusaria um par da
Linia e da Pursena. As duas tinham um cheiro ligeiramente
almiscarado, mas no final das contas, ainda eram garotas sexy. E o
cheiro da pele delas, de perto, também não era nada ruim.
Ainda assim… certo! Fitz. Fitz não gostaria que eu fizesse esse
tipo de coisa. Ou seja, fora de questão. Aqui vamos nós. O assunto
finalmente foi resolvido! Não voltarei a ser tentado. Sai, Satanás…
Confiança, hein? Era essa a causa verdadeira por trás dos meus
probleminhas? Isso, na verdade, parecia algo plausível. Perdi a
minha luta contra Orsted, fui dispensado pela Eris e depois ainda
estraguei as coisas com a Sara. Não consegui encontrar nenhuma
maneira de usar as minhas forças com eficácia e acabei
mergulhando no medo. Um pouco de confiança talvez fosse mesmo
o que eu precisava para superar esse obstáculo. E então, uma
chance de recuperar um pouco disso caiu no meu colo. Afinal,
estavam todos com medo de mim.
Só para tirar uma prova, tentei andar por um corredor lotado com
Linia e Pursena logo atrás de mim. A massa de corpos
magicamente se separou na minha frente.
✦✦✦✦✦✦✦
Então, mais uma vez, talvez fosse assim que as coisas eram. Eu
não tinha encontrado nenhum mago especializado em Invocação
durante meu tempo como aventureiro. Parecia possível que não
existissem muitos deles. Ou isso talvez fosse como Barreira e magia
Divina, que tinha todo o conhecimento monopolizado por algum país
específico.
— Ooh! Sério?!
— Então… quem é?
Mas quando ouvi Fitz falar o nome de Silente, logo decidi que a
hora havia chegado.
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Descobri o paradeiro de Silente com o Vice-Diretor Jenius, não
tive problema algum. A escola lhe havia concedido um laboratório,
um que consistia de três enormes salas nos fundos do terceiro
andar do prédio de pesquisas principal. Silente passava quase todo
o tempo por lá, só saindo em ocasiões muito raras.
— Entre…
— Gyaaaaaaaaaaaaah!
Tudo que consegui fazer foi fugir. E corri, e corri e corri. Eu não
fazia a menor ideia de para onde estava indo.
Corri para ainda mais longe, desesperado e sem jeito. Até que
tropecei e caí. Tropecei igualzinho um bêbado.
— Aheee!
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Alguém estava suavemente acariciando a minha cabeça. Isso
era, por algum motivo, muito reconfortante. Parecia quase que as
mãos estavam emitindo algum tipo de energia curativa.
Aliás, eu não sabia nem onde estava. Era óbvio que não se
tratava do meu quarto nos dormitórios… ou mesmo os dormitórios,
aliás. Entretanto, eu já conhecia o lugar. Havia camas formando
uma fila atrás de Fitz…
— Gaaaah!
Sim, ela também estava presente.
— Mas que rude. Afinal, por que você tem tanto medo de mim?
Da última vez eu salvei a sua vida, não foi? Ou… ah, espera. Você
estava quase morto, não estava? Então acho que não deve lembrar.
Ele não está aqui? Sério? Tipo, sério, sério? Não era como se ela
tivesse qualquer razão para mentir sobre isso, certo?
— Isso mesmo.
Em japonês.
Silente concordou.
Quinze anos se passaram desde aquele dia, mas ela não parecia
nada diferente. Isso era simplesmente bizarro. Ela não teria mudado
pelo menos um pouco em todo esse tempo?
Não… espera. Por que ela parecia não ter mudado nada? Se
tivesse reencarnado, deveria ter renascido em um corpo
completamente novo, assim como eu.
Senti que ela foi bem pontual com as suas perguntas, mas não
estava em forma de responder. Minha língua estava completamente
amarrada.
Já que ela revelou tudo isso para mim, também lhe contei a
minha história, explicando que renasci neste mundo ao invés de ser
transportado. Contei que morri em um acidente repentino, mas optei
por não dar todos os detalhes. Eu era muito feio na minha vida
anterior. Se ela lembrasse de como eu era, isso definitivamente não
ajudaria em nada quanto à sua opinião sobre mim. As aparências
importam, sabe?
Dito isso, parecia que eu poderia ter lidado com isso de um jeito
melhor. Se não tivesse saído correndo e gritando logo de cara, e
talvez tivesse lhe dito algo como “Vou ficar aqui, mas vou te ajudar a
encontrar um caminho de volta para casa”, ela poderia ter baixado
ao menos um pouco a guarda.
Ah, bem. Não adianta chorar pelo leite derramado.
— Não sei, mas não parece que foi ele quem me trouxe aqui…
Foi muito bom ela ter aprendido a língua e construído uma base
financeira sólida. Mas esses foram apenas trampolins para seu
verdadeiro objetivo: voltar ao mundo ao qual pertencia.
— Não sei os detalhes, mas parece que eles possuem uma rixa.
Além disso, ele disse que é melhor eliminar os apóstolos do Deus
Homem rapidamente, porque causam todos os tipos de problemas
se você os deixar à solta.
Eu poderia viver sem as pessoas me matando por rixas das
quais nem fazia parte. E, para constar, também não era o “apóstolo”
daquele cara. Eu basicamente estive seguindo as sugestões dele
por algum tempo, claro, mas nós só nos víamos uma vez por ano ou
até nem tanto assim. Nosso relacionamento não era nem tão
próximo.
— Ah… Entendi.
Por causa dessa atitude, nunca fez coisas que ela mesma não
usaria e também não as fornecia a outras pessoas. Para ser
honesto, isso me parecia meio frio. Tornar o mundo um pouco
melhor para todos não faria mal nenhum, certo?
Hm. O que isso diz sobre mim? Eu aprendi quase tudo que sabia
sobre magia com as pessoas deste mundo… Mas isso talvez não
importasse muito. Eu não estava tentando realizar nada
revolucionário como ela estava.
Interessante…
Isso tudo era bem impressionante. Quanto mais ela falava, mais
eu queria aprender. Mas antes que eu pudesse tocar no assunto,
Nanahoshi me desanimou.
— Certo.
— Para ser sincera, não suporto este mundo. Nada disso aqui
me parece real . A comida é horrível, o senso de moralidade é
bizarro e tudo é tão incrivelmente inconveniente. Eles nem têm
xampu por aqui, fala sério. E, o mais importante, todas as pessoas
de quem gosto estão no nosso mundo. Quero muito voltar para lá. E
quanto a você?
— Entendo. Você não tem uma família que deixou para trás ou
algo assim?
— Entendo. Suponho que você deve ter vivido uma vida boa e
longa…
Eu nunca tinha visto Fitz assim antes. Ele normalmente era tão
calmo. Mas, claro, seria difícil culpá-lo por perder o controle. Ele
perdeu todas as pessoas que amava naquele desastre. Após cinco
anos, devia já estar, de certa forma, aceitando toda a sua perda.
Mas isso não significava que pudesse ficar calmo quando
confrontado pela pessoa responsável por tudo.
O ponto principal era: ela não escolheu ser trazida para cá.
Alguém tomou essa decisão em seu lugar.
E, além disso, também tinham uma outra rixa, não? Ele podia só
ter culpado Orsted por ser o seu costume.
— Então por que você disse que aconteceu por sua causa?
— Bem, de certa forma, foi. E eu gostaria de esclarecer isso
agora mesmo. Eu não quero que ninguém use isso como desculpa
para depois ficar contra mim.
— Entendo…
✦✦✦✦✦✦✦
Silente acabou por ser uma garota. Isso, por si só, não foi uma
grande surpresa. Algumas das fontes da Princesa sugeriam que
esse poderia ser, de fato, o caso. Parando para pensar, muitas das
suas pequenas inovações eram coisas que qualquer mulher poderia
apreciar. Ela melhorou a nossa comida, as nossas roupas e o
sabonete que usávamos para limpar os nossos cabelos… uma vez
que percebessem que estava fazendo tudo por si mesma, fazia total
sentido.
Mas Silente era uma história diferente. Por alguma razão, ela era
especial para ele. Ela tinha um problema complicado com o qual
estava lutando, e ele queria ajudá-la. Isso provavelmente fazia parte
do motivo. Rudy gostava de ajudar as pessoas.
E não era eu que estava sentando lá, fato. Então, realmente não
poderia colocar isso para fora. Mas se ela iria reivindicar aquele
assento, queria que fizesse isso direito. Queria que primeiro
passasse muito e muito tempo com ele, e fizessem memórias
juntos. Ou isso, ou preferia que ela se afastasse. Assim, talvez
pudesse aceitar… o que quer que fosse.
— Uff…
Mesmo que Fitz deixasse a sua vida de uma vez por todas, Rudy
continuaria se saindo muito bem, seguindo em frente, assim como
sempre fez. Silente tomaria o meu lugar para ela. E talvez
acabassem passando o resto das suas vidas juntos.
Isso não estava indo nada bem. Mas o que eu deveria fazer?
— Uh, bem… Não acho que ficar em forma seja inútil, mas…
— Ooh.
— Bem, isso é estranho. Você não tem talento para isso, garoto!
— Mas por que você quer ficar ainda mais forte, garoto?
— Tipo o que?
— Sim? O que é?
— Não…
Meu novo cérebro não era nada ruim em lembrar das coisas,
mas isso ainda me parecia um trabalho bem difícil. Para ser
honesto, monges e sacerdotes pareciam nunca conseguir um
tempo. Não importa em que mundo estivessem, sempre tinham
cânticos tediosos para memorizar. Eu, pessoalmente, planejava só
carregar um livro com os encantamentos gravados.
Zanoba não tratava Julie como uma escrava, mesmo com ela
tecnicamente sendo. Ele a considerava uma jovem aprendiz na arte
de fazer estatuetas, nada mais, nada menos. Dito isso, ela
continuava sendo a sua subordinada, então não era raro ver ele
dando alguma ordem. O tratamento dado aos escravos variava
muito neste mundo, dependendo de onde estava e de quem era o
dono. Eu não tinha certeza se o tratamento de Zanoba era bom ou
ruim. Ele ao menos não agia como se ela estivesse abaixo dos
humanos.
Julie pegou uma caneca que Badi havia enchido até a borda com
a cerveja e começou a beber cada vez mais. Será que isso era
mesmo uma boa ideia? Ela ainda devia ser um pouco jovem demais
para isso, não? Digo, é claro que sempre poderíamos usar magia de
desintoxicação no caso de ela ficar muito bêbada, mas, mesmo
assim…
Então, mais uma vez, aos meus sete anos de idade eu já dava
umas bebericadas. Ser contra isso talvez fosse hipocrisia da minha
parte.
Neste dia, tirei algum tempo para tentar falar um pouco sobre a
combinação de magia de fogo e água para Linia. Para ser honesto,
isso me despertou alguns sentimentos de nostalgia. Comecei
tentando explicar o ciclo de evaporação, condensação e
precipitação, mas o conceito parecia só a confundir.
— Não é?
Seu sorriso era realmente poderoso. Fitz devia ter só uns treze
anos no momento, mas alguns anos depois, deveria se tornar um
verdadeiro arrasador de corações. Para ser honesto… ele era tão
fofo que, ultimamente, era difícil para mim não responder a ele por
instinto, assim como fazia com as garotas.
— Sim?
Fitz indicou o caminho à sua frente. Ele levava ao lugar onde fui
acusado de roubar roupas íntimas logo após me matricular na
universidade. Desde aquele dia, tive o cuidado de não vagar pelas
proximidades.
— Hehe. Não sei se é isso que aconteceria desta vez. Você ficou
meio popular pelo dormitório feminino, sabe?
— Tênis…?
Hm. Isso podia explicar a reação dela quando eu tentei dizer olá.
— Não. Digo, bem, a culpa é dela. Foi ela quem decidiu que você
era um cara ruim, e nem tinha motivos para isso. Ela talvez aprenda
algo com isso.
— Não acho que ela fez aquilo por mal. Tente não a incomodar
muito, certo? Eu agradeceria se também passasse essa mensagem
para Linia e Pursena.
Essa última parte pode não ser necessária. A última coisa que eu
precisava era que ela me enviasse uma calcinha como um símbolo
da sua gratidão.
— Hã? Uh, c-certo. Claro. Acho que isso faz o seu estilo… —
Tropeçando um pouco nas palavras, Fitz cobriu a boca com uma
das mãos. Ele estava tentando não rir? Talvez o rosto de cara legal
ainda precisasse de algum trabalho. As pessoas sempre me diziam
que meus sorrisos eram meio perturbadores, mas eu vinha tentando
o meu melhor para melhorá-los. — Então tá, Rudeus. Nos vemos
depois.
Não, não. Eu estava sendo rude com o Mestre Fitz. Ele só era
dedicado ao trabalho. Em qualquer caso, eu não poderia pedir que
ele abrisse mão de suas responsabilidades. Era uma pena que o
Mestre Fitz não pudesse ir, mas talvez fosse melhor assim. Parecia
que só Elinalise, Cliff e eu íamos nos encontrar com Soldat.
— Uh, vejamos…
— Objetos…?
Foi o Deus Homem quem me disse isso, não? Sim, parecia isso
mesmo. Acreditar na sua palavra me parecia seguro. Eu não
conseguia imaginar o que ele ganharia ao me contar uma mentira
dessas.
— Está tudo bem. Só saber que isso já foi feito é bem útil.
— Hm? O que uma bênção tem a ver com isso? — disse Cliff,
inclinando a cabeça com curiosidade.
Estranho. Parecia que nem estávamos falando sobre a mesma
coisa.
Isso era tudo informação dele, não era? Aquele cara precisava
parar de despejar conhecimento misterioso e obscuro em mim como
se isso não fosse nada.
— Hmm. Bem, se agora eu sou um novato, por que não ajo como
tal e carrego a sua bagagem para você?
— Sinto muito, mas é isso. Acho que hoje o líder está bem cheio
de energia.
— Ah, é?
— Podemos ir junto?
— Hm?
Fitz não disse que estaria protegendo Ariel? Não tem problemas
em os dois ficarem assim? Bem, tanto faz. Dizer pelo menos um oi
não custa nada…
— O qu… Rudeus?!
Luke se virou, seu rosto endurecendo diante do choque. O
homem, como sempre, parecia não gostar muito de mim. Eu estava
tentando o meu melhor para não ser um pé no saco, mas acho que
nos últimos tempos acabei por receber atenção demais. Isso
provavelmente era uma fonte de irritação para eles. Entretanto, tudo
com o que eu me importava mesmo era manter uma boa relação
com Fitz.
— Hm…?
Mas não pensei que fosse esse mesmo o caso, claro. Só que,
por alguma razão, o pensamento me fez estremecer.
Ele ainda não estava nem olhando para mim. Bem, não. Ele às
vezes me lançava alguns olhares, mas não eram exatamente
amigáveis. Eu poderia dizer que ele estava de testa franzida. Sua
linguagem corporal deixou muito claro que estava impaciente pela
minha partida. Às vezes posso até ser meio desatento, mas até eu
pude ver que ele estava me esnobando.
— Qual o problema? — perguntou Luke calmamente.
— Hein…?
Essa era a outra coisa, essa mesma. Por que ele estava agindo
assim? Tinha esnobado de mim há cinco minutos, mas agora
parecia totalmente relaxado e confiante.
Certo. Afinal, eu não tinha feito nada para que ele ficasse com
raiva. Essa me pareceu uma boa explicação. Vamos adotá-la.
Fitz coçou atrás das orelhas, envergonhado. Ele fazia esse gesto
o tempo todo, mas, ultimamente, meu coração disparava sempre
que isso acontecia. Afinal, por que uma pessoa tão adorável tinha
que ser um cara?
✦✦✦✦✦✦✦
Isso não era diferente nos dias que eu não o via. Sempre que me
deparava com uma multidão de alunos, me descobria procurando
por ele.
Eu ainda meio que estava esperando que ele acabasse por ser
uma garota.
Jenius havia apoiado a história oficial, mas era óbvio que estava
sob pressão e pensou nisso por um tempo estranhamente longo.
Era difícil dizer se foi ou não sincero comigo. Claro, ele usou
automaticamente os pronomes “ele” e “dele” para Fitz, antes mesmo
de ouvir a minha pergunta… isso significava que me disse a
verdade?
Quero dormir com o Fitz. Quero fazer todo tipo de coisa com ele.
Quero provar. Quero tentar um pouco disso e um pouco daquilo…
bem, talvez isso esteja indo um pouco longe demais…
Assim que murmurei essas palavras para mim mesmo, uma mão
caiu no meu ombro. Me virei e olhei para cima, e me encontrei cara
a cara com Fitz.
— Aaaah!
Puta merda.
— Estou duro…
✦✦✦✦✦✦✦
Eu ainda não sabia o motivo exato por trás do seu despertar, mas
algo a respeito do Mestre Fitz era obviamente a chave para curar a
minha condição. O Deus Homem esteve o tempo todo certíssimo.
Passaram meses e eu não percebi, mas o remédio do qual
precisava esteve sempre disponível.
Certo, chega. Não adianta nada ficar pensando nisso. Fitz era um
homem e eu não faria nada com ele. Por enquanto era essa a minha
posição oficial.
Não tive nenhum contato com Fitz nesse tempo. Eu não correria
o risco de fazer nada suspeito, como tentar rastreá-lo. Não há nada
para ver aqui, oficial. Estava tudo como sempre.
— Você está disposto a fingir que não sabe de nada…? Por quê?
Bem, tanto faz. Se ela não queria se envolver com este mundo,
essa decisão era só sua. Eu não tinha direito algum de opinar a
respeito do assunto. Senti que tentar ser um pouco mais
extrovertido com ela não faria mal… mas a garota estava passando
todos os dias desenhando centenas de círculos mágicos sem parar.
Sugerir que devia reservar um pouco de energia para socializar
seria bem difícil.
— Tch…
— Sim? O que é?
Ele apertou a mão contra o peito. Era óbvio que diria algo
importante. Talvez algo sobre o seu gênero. Me preparei o melhor
que pude.
Ariel olhou para ele por um bom tempo. Mas ele não parecia
inclinado a falar, então ela continuou.
—…
—…
— O quê…?
— Muito bem. — Ariel sorriu para a sua amiga. Pela primeira vez,
não pareceu artificial. Este era o seu sorriso genuíno; um que
raramente usava. — Estou feliz por você finalmente dizer isso.
Persiga, em primeiro lugar, os seus próprios objetivos, Sylphie. Você
sempre pode retornar para me ajudar quando estiver preparada.
✦✦✦✦✦✦✦
O que poderia fazer para que ele lembrasse dela? Era essa a
questão crucial.
— Memórias?
Este devia ser o momento ideal para revelar a verdade até então
escondida… mas o bullying que sofreu na infância tinha deixado
uma impressão profunda em sua mente, e não tinha coragem de
fazer isso.
— Hmm, entendo…
— C-certo…
— Sylphie, você nos disse que queria ficar com Rudeus. Mas eu
gostaria de saber exatamente o que isso significa para você.
— Ahem.
— C-certo!
No caso de isso não ser o suficiente, Ariel escolheu insistir no
ponto principal.
— Dê tudo de si nisso.
Sylphie
— Você deseja retratar a minha noiva? Mas nem sabe como ela
é quando está crescida, garoto.
Havia também uma pessoa que sorria desse jeito na corte real –
um homem conhecido como Ministro Darius. Ele era o nosso inimigo
mortal e o responsável pela nossa expulsão do país. Mesmo o
sorriso dele parecendo com o de Rudy, nunca vacilei, desde quando
ele se voltou contra nós. Talvez fosse algo que fazia parte das
pessoas inteligentes.
— Olá, Rudeus.
— Ah! Olá, Mestre Fitz. — Quando chamei por ele, Rudy olhou
para mim com uma expressão satisfeita. Recentemente estive
agindo de um jeito meio estranho quando perto dele, mas não
parecia que estava desconfiando de mim ou coisa do tipo. Sério, às
vezes ele conseguia ser bem desatento.
— Se for para você, não vou recusar, Mestre Fitz. Bem, não vou,
a menos que seja completamente necessário.
Uau. Isso foi tão fofo, sério. Fez eu me sentir péssimo por
enganá-lo assim. Não conseguir contar sequer quem eu era já era
ruim o suficiente…
— Ahah. Entendi.
Uau. Esse é o nosso Rudy. Ele sabia isso de cabeça? Ainda bem
que dedicamos algum tempo para fazer uma pesquisa e escolher
uma planta que realmente existia.
Ah, uau, olha só ele brincando com palavras. Do que é que está
falando?!
Não foi isso que eu falei desde o começo? Bem, talvez não…
— Certo.
Rudy parecia por algum motivo meio triste. Pensando bem, ele
nunca me falou muito sobre o que aconteceu enquanto dava aulas
particulares a essa jovem senhora. Ele parecia não querer falar
sobre ela. Por tudo o que ouvi, ela parecia ser uma garota bem
violenta… ele talvez tivesse algumas memórias ruins daquele tempo
da sua vida.
Claro, essa não era a verdadeira razão para eu ter ficado com a
minha varinha por tanto tempo. Rudy me deu ela de presente, então
significava muito para mim. Era só um tipo comum de varinha. Mas
eu não poderia culpá-lo por não a reconhecer.
— Hmm…
— Parece que vai chover, Mestre Fitz — gritou Rudy para mim,
franzindo a testa.
Ah, merda!
— Ah, bom. Não há muito que possamos fazer agora que está
chovendo. Há uma caverna à frente, não é? Vamos nos abrigar
nela.
Você não deveria tirar tudo para secar? era a frase que eu tinha
em mente, mas me contive. Fitz podia alegar ser um jovem homem,
mas eu suspeitava que fosse na verdade uma garota escondendo a
sua verdadeira identidade. Tirar a roupa bem na minha frente podia
não ser uma opção. Mas esta era uma situação genuinamente
perigosa.
E agora? Hmm…
— Mestre Fitz.
—…
—…
Mas eu, por algum motivo, não estava ouvindo nada. Suas
roupas estavam molhadas, é claro, mas mesmo assim… tirá-las e
secá-las com um feitiço deveria produzir ao menos um indiciozinho
de som. Isso era realmente estranho. Ele tinha algum jeito de trocar
de roupa sem fazer barulho nenhum?
— Mestre Fitz!
— Espera.
—…
—…
Ele estava só… olhando para mim. Era como se ele quisesse
dizer algo. Mas o que era? O que ele estava tentando me dizer?
— Eu não consigo tirar isso sem ajuda. Faça isso por mim. — Do
que diabos ele estava falando?
— Bem, se você não consegue tirar, acho que terei que fazer
isso… — O que diabos eu estava falando?
— C-certo…
Não quero me repetir, mas era uma camisa branca. Como todo
mundo deve saber, as camisas dessa cor tendem a ficar
transparentes quando estão molhadas. Isso significava que eu podia
ver a roupa de baixo de Fitz – algo que parecia um sutiã esportivo,
para ser mais específico. E o conteúdo parecia ser… modesto. Mas
com o sutiã molhado firmemente agarrado à sua pele, não havia
como negar que estava mesmo ali. Fitz tinha um enchimento natural
do tipo que tende a cativar a mente masculina.
— Mestre Fitz…
— Vá em frente.
Eu já tinha feito algo assim, anos atrás. Eu devia ter uns cinco ou
seis anos, mas não me esqueci.
Mais uma vez estendi a mão para ela. E ela ainda estava com
aquelas luvas brancas e ensopadas nas mãos.
Mas, como foi que isso aconteceu? Tá bom, tá bom. Ela uma vez
enfiou a mão em um fogão e acabou se queimando. Lembro que me
perguntei se aquele acidente tinha algo a ver com o seu esforço
para aprender magia de fogo.
— Rudy…
Fitz não estava mais olhando nos meus olhos. Seu olhar estava
ligeiramente curvado, assim como uma parte diferente do meu
corpo. A tenda que eu tinha recém-armado continuava firme e forte.
Fitz realmente fazia milagres.
— Sim, Rudy?
— Sim…
— Eu finalmente… contei…
Seu corpo também tinha ficado macio. Ela era tão magra que
seria normal pensar que não possuía uma grama sequer de
gordura, mas quando a abraçava, parecia que estava envolvendo
uma nuvem com os braços. Será que usava um amaciante nos
banhos ou o quê?
— Eu sempre…
Mas Sylphie sabia o que ela queria dizer. Ela me olhou bem nos
olhos e disse o que queria.
— Eu sempre te amei.
Tudo o que pude fazer foi olhar para ela com uma surpresa
estúpida e inexpressiva.
E quanto a Sara? Não, as coisas não foram tão longe assim com
ela. Sério, eu não tinha tanta certeza sobre realmente amar Sara.
Eu com certeza gostava dela e tentei levá-la para a cama… mas
senti que “amor” não era a palavra certa para descrever o que
sentia.
Mas não era a hora para pensar nessas coisas. Neste momento
eu só precisava ter certeza de que não estragaria tudo de novo.
Ainda assim… isso significava que eu tinha que ter cuidado com
ela. Se estragasse tudo, as coisas podiam acabar iguais à última
vez. Eu nunca mais queria me sentir daquele jeito. Ter sido deixado
por Eris já tinha sido ruim o suficiente… e depois aquilo com a Sara.
Eu não poderia estragar tudo. Simplesmente não poderia.
— Isso não é culpa sua, Rudy. Meus seios são bem pequenos,
não são? Sei que não sou sexy nem nada…
— Ah, uh… certo, tá bom. Foi mal. Só fiquei meio para baixo.
Deus, eu simplesmente não consigo parar de estragar tudo.
Comecei a me curvar e desculpar por costume. Sempre que eu não
estava pensando direito, tinha a tendência de voltar a esse modo.
Sério? Foi a primeira vez que ouvi isso. Eris e Ruijerd se sentiam
da mesma forma? E quanto a Zanoba? Bem, eu tinha a tendência
de mais mandar nele do que qualquer outra coisa…
— Como desejar.
— Fala sério! Não pode dar uma folga ao menos com um como
desejar?
— Sinto muito por isso. Mas, sabe, se você tivesse me dito quem
era você, isso não teria demorado tanto assim.
— Sim. Devo confessar que ser amigo do Mestre Fitz não foi
nada ruim.
— Sério mesmo?
— Aham.
— Mas ela estava meio preocupada com isso tudo. Ela nunca
conseguiu descobrir quais eram os seus objetivos, ou no que estava
pensando. Acho que não faz ideia de que você só veio por causa do
seu, uh, problema.
— Aah?!
— Obrigado, Sylphie.
Não poderia dizer que saber disso me deixou muito feliz. No final
das contas, porém, foi só por Eris ter largado Rudy que nós
tínhamos nos reunido. Havia ao menos uma coisa boa nisso tudo.
— Sim… é claro!
Isso me fez muito feliz. Meu corpo parecia estar quase flutuando.
Nunca soube o que as pessoas queriam dizer quando mencionavam
“andar pelo ar”, mas agora entendia. Fui direto para a sala do
conselho estudantil para dar uma atualização do caso à Princesa
Ariel. Estava na hora do almoço, então era quase certeza de que ela
estaria por lá.
✦✦✦✦✦✦✦
— É mesmo? Então devo dizer que você não parece lá tão feliz.
— Ah, certo.
— Espera, o quê?
— L-Luke…?
— Sempre me perguntei por que ele parecia tão inseguro. Pobre
homem. Deve ter vindo aqui por puro desespero, sem nenhuma
ideia de onde buscar por ajuda…
Luke às vezes podia ser rude e até mesmo frívolo, mas quase
nunca respondia à Princesa Ariel. Às vezes dava alguns conselhos,
mas não era do tipo que rejeitava as opiniões de sua soberana tão
categoricamente assim. Eu, na verdade, não conseguia me lembrar
dele falando com ela com tanta firmeza assim em nenhum
momento.
— Sério?
— Depois disso, você diz que está com calor e desliza o vestido
pelo ombro…
— Ah…
— Um afrodisíaco?!
Nesse ponto, percebi que não tínhamos copos. Isso era meio
problemático, a menos que começássemos a tomar direto da
garrafa. Preciso voltar e pegar alguns?
— Sim. Não sei muito sobre bebidas, mas peguei algumas bem
caras.
— Hm? Ah, está tudo bem. Afinal, esta é uma ocasião especial.
— V-viva!
— Diluído… um pouco…?
— Hmm. Foi?
— Aham.
— O que é isso?
Ele revelou um sorriso meio triste. Era óbvio que não estava
sendo otimista. Provavelmente tinha tentado todo tipo de suposta
cura, mas nenhuma tinha funcionado. Ainda assim, tomou um gole
do frasco sem falar nada, engolindo dois terços do conteúdo de uma
só vez. Fiquei um pouco surpresa com a rapidez que ele engoliu
todo aquele líquido rosado com aparência perigosa só por eu ter
sugerido. E se fosse veneno ou algo assim?
Senti que eu estava ficando mais nervosa do que ele. Para ser
sincera, eu esperava que o álcool me desse um pouco mais de
coragem do que isso.
Espera, não. Essa era eu, não era? Que embaraçoso. Mas não
era culpa exatamente minha, era? Eu tinha tomado aquele
afrodisíaco e minha cabeça estava girando por causa da bebida.
Isso significava que a culpa não era minha.
Mas não parei por aí, é claro. Levei uma mão até os seus seios e
apertei.
— Hyaah! O q… Rudy! — Sylphie se encolheu de surpresa e me
lançou um olhar de protesto. Entretanto, não se afastou de mim.
Seu rosto ficou vermelho, mas ela me deixou continuar.
O peito dela era bem modesto. Não havia muito o que apertar.
Ainda assim, definitivamente havia uma suavidade bem distinta
envolvida pela minha palma. Por um momento, vi a imagem
fantasmagórica de um velho me levantando o polegar e gritando
algumas sábias palavras “Todos os seios são iguais!” para mim.
— Estou curado.
— Mas…
— Ru…
Ela parecia ser uma elfa. Algo nela meio que me lembrava o meu
pai. Seu rosto era elegante e digno; parecia com uma rainha, ou
talvez uma nobre abastada. E estava se prendendo ao Rudy. Ele
parecia um pouco irritado com o comportamento dela, mas não
reclamou ou a afastou.
Huh…? Huh?
— Ah… huh?
Assim que me permiti pensar isso, meu destino foi selado. Meus
óculos escuros não iam a lugar algum. E se eu revelasse o meu
rosto, dissesse o meu nome e ele ainda dissesse “Sinto muito, quem
é você mesmo?”
Nunca nem tinha ouvido falar. Devia ser algum feitiço secreto e
obscuro, transmitido entre os membros de alguma tribo específica
ou algo assim. Eu duvidava que alguém mais na Universidade
reconheceria o nome.
Rudy é incrível…
— Hein?
E então fiquei ainda mais confusa do que antes. Rudy não estava
fazendo sentido algum. Eu não tive chance contra ele, e ele devia
saber disso. Mas do que é que estava falando? Totalmente
perplexa, apertei a sua mão assim que a ofereceu para mim. Não
parecia a mão de um mago – estava mais para a de um
espadachim. Havia calos onde bolhas se formaram e se romperam.
Rudy já devia ter passado mais tempo com uma espada na mão do
que até mesmo o Luke. E não era nem um espadachim.
Mas ele continuou falando coisas que não faziam muito sentido.
Assim que ele saiu, mais uma vez lembrei que não fui
reconhecida. Tive que me esconder um pouco para chorar.
— Ah!
— Só um pouco de pesquisa.
— Sobre o quê?
— O Incidente de Deslocamento.
— O Continente Demônio?!
— Sim. Demorei três anos para voltar para casa. Toda a minha
família já foi encontrada, mas ainda há uma pessoa que está
perdida. Esta parece ser uma boa oportunidade para fazer algumas
pesquisas.
— Isso mesmo.
— Ah, claro. Você deveria ler um livro escrito por Animus sobre
teletransporte, chamado Uma Consideração Exploratória sobre
Teletransportação em Labirintos. É de não ficção criativa, mas é fácil
de ler.
— Huh?
Por acaso olhei para a estrada e vi algo que me fez piscar de
surpresa. Havia um estudante do sexo masculino caminhando pela
calçada, embora o sol já tivesse se posto.
Ah…
— Não acabei de dizer que ele não fez nada de errado? Chega.
Agora solte a mão dele.
— S-senhor… Fitz?
✦✦✦✦✦✦✦
— Wargh…
Um adulto, huh…?
Era algo com que sonhei por anos, isso para não incluir os
detalhes e cenários. Mas agora era realidade. Quanto mais eu me
lembrava da noite anterior, mais queria apertar o travesseiro contra
o meu peito e rolar na cama dando chutinhos, com uma mistura de
vergonha e êxtase.
Gah…
Agh! Pare!
— Bom dia, Rudy. — Quando falei com ele, uma clara expressão
de alívio se espalhou por seu rosto. Cerca de dois segundos depois,
ele estendeu a mão para mim e agarrou os meus seios. — Hyaah! O
q… Rudy!
De nada.
Eris era uma jovem de dezessete anos que causava terror nos
corações de todos que encontrava – um cachorro louco conhecido
por ferir cruelmente qualquer um que a irritasse. Ela tinha chegado
ao lugar há dois anos, acompanhada por sua professora, a Rei da
Espada Ghislaine.
— Raaaaah!
— O qu…?!
— Pois é.
— Comecem!
As espadas se encontraram.
Quase na mesma hora, Eris foi enviada voando pelo ar. Seu
corpo bateu nas portas de entrada do Salão Efêmero e continuou
voando, caindo em uma enorme pilha de neve lá do lado de fora.
— Esplêndido!
— Surpreendente!
— Esplêndido, Mestre!
Os Santos da Espada ao seu redor elogiaram a sua habilidade
fervorosamente. Este não era o poder da espada. Foi a sua própria
aura de batalha esmagadora que fez Eris sair voando. Todos
acreditavam que a intrusa descarada devia estar morta.
— Ugh… guh…!
— Mas Mestre…
Dias Atuais
Eris não era nada além de um cão selvagem vagando pelas ruas.
Quando sua espada não estava à altura da tarefa, ela atacava com
os punhos, feito uma criança birrenta. Tal comportamento era
indigno de qualquer aluno de seu estilo, que dirá então de um Santo
da Espada. Essa era a verdadeira opinião de Nina a respeito do
assunto, e ela a compartilhava livremente com quem quisesse ouvir.
Aos olhos dos outros, Eris e Nina eram rivais. Mas, no que dizia
respeito a Eris, Nina não valia nem o pensamento.
— Hmph. Você já fez alguma coisa fora treinar? Desse jeito vai
continuar virgem até morrer, tenho certeza. É uma pena que a sua
espada não possa te aquecer à noite!
Essas eram as grandes palavras de alguém que não tinha
experiência nenhuma. Mas Nina as escolheu com cuidado, já que
com certeza teriam a magoado. Ela assumiu que teriam os mesmos
efeitos sobre Eris.
— O-o que?
— O quê?! Você não pode estar falando sério! Quem foi? Quem
é que dormiria com você?! — Incapaz de disfarçar o seu choque,
Nina pressionou Eris por detalhes, seu tom de voz perturbado.
A única defesa que lhe restava era negar toda a existência desse
sujeito.
— Você… Você está muito cheia de si, Eris! O Pai diz que o
Deus Dragão é protegido por algum tipo de Aura Dracônica
Sagrada. Um feitiço comum não iria sequer arranhá-lo! Você
inventou isso. Este homem nem existe, não é? Admita agora, antes
que você realmente se envergonhe!
— Hoho! Para que é que serve essa fila, amigos? Por acaso é
algum festival?!
— Esta é a fila para aqueles que desejam desafiar Rudeus
Greyrat para um duelo!
Mas quando chegou lá, e viu Eris brandindo sua espada, sempre
focada, Nina sentiu algo. Algo que nunca antes tinha sentido.
✦✦✦✦✦✦✦
Aliás…
[←1]
Meus agradecimentos ao grupo Tsundoku Traduções.