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em Contos Infantis"
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Vanessa Pinheiro Soares da Silva
Resumo
O artigo "Desafiando Estereótipos: O Diabo e a Complexidade dos Personagens
Vilões em Contos Infantis" investigam a representação do Diabo no conto "Três
Cabelos de Ouro do Diabo" dos Irmãos Grimm, destacando nuances em sua
caracterização e suas interações com outros personagens. Ao questionar
estereótipos, a análise enfatiza a importância de uma abordagem mais sutil na
construção de personagens vilões, visando promover uma compreensão mais
profunda da moralidade para o público infantil.
Abstract
The article "Defying Stereotypes: The Devil and the Complexity of Villainous
Characters in Children's Tales" investigates the representation of the Devil in the tale
"Three Golden Hairs of the Devil" by the Brothers Grimm, highlighting nuances in his
characterization and his interactions with other characters. By questioning stereotypes,
the analysis emphasizes the importance of a more nuanced approach to the
construction of villainous characters, aiming to promote a deeper understanding of
morality for children.
Introdução
O artigo irá trabalhar o conto ‘’ Três Cabelos de Ouro do Diabo’’ uma história escrita
pelos Irmãos Grimm, conhecidos por seus contos que se popularizaram ao redor do
mundo. Nessa história vemos a estrutura comum da literatura infantil, onde existe um
herói protagonista que com toda sua astúcia e inteligência consegue driblar as
tentativas do vilão de impedir sua felicidade que sempre marca os fins dos contos.
Vanessa.vpss@gmail.com
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Nesse em específico iremos ver além do Imperador - vilão - o Diabo, uma criatura
caída do céu por castigo divino. Esse que já foi o anjo mais lindo do cosmo, ilustra
agora um cenário diferente, onde por sua vaidade se tornou um ‘’líder sombrio’’ e é
bastante usado em diversas obras literárias ao redor do mundo e também é ilustrado
nos contos infantis mais antigos com o estereótipo de alguém que sempre tem planos
para prejudicar as pessoas e ver o caos.
Essa resposta dada do Diabo a sua vó se referia a uma das queixas da população de
uma cidade a caminho do inferno, onde segundo a sentinela, existia uma árvore
grande no jardim do rei que antes dava frutos de ouro e agora estava tão seca que
nem folhas existiam mais. Outros questionamentos de problemas que assolam a
população também são respondidos pelo diabo no decorrer da história, o que reforça
a ideia de que ele só vive em função do mal e de prejudicar as pessoas, tendo isso
como sua diversão e alegria - já que o mesmo ri ao lembrar seus feitos.
Já o imperador é marcado com o padrão de ser o vilão que deseja a morte do mocinho
para que ele não seja feliz ou não tome seu posto em alguma situação, como vemos
em outros contos como a madrasta de João e Maria, a bruxa da Branca de Neve e
Bela Adormecida e também o Lobo Mal da Chapeuzinho Vermelho.
Só que como o esperado as tentativas acabam sendo frutadas já que o protagonista
consegue vencer os desafios como veremos a diante. Afinal, na estrutura de
literatura infantil temos esse cenário de tentativas para ensinar as crianças a
acreditar em si e se manter confiante da vitória.
Nesse caso o diabo entra como mais uma representação do mal, das ideias sobre
coisas ruins e tentações. De acordo com o Antigo Testamento na Bíblia Sagrada, Deus
foi o criador de tudo que conhecemos, incluindo tanto o bem quanto o mal, porém
precisava de algo parecido com ele, para que não fosse culpado por todos os
problemas da humanidade, surgindo assim o anjo caído também conhecido como
Satanás.
Pensar desse modo que fez com que “a literatura infantojuvenil fosse classificada
como um subgênero literário” (2013, p.4), explica o autor. Na sua visão, o mundo é
ainda muito polarizado, entre o bem vs o mal. “Se ela não se desprender do
maniqueísmo imperante, será sempre um subgênero” (MOURE,2013, p.3).
Quinze anos depois, o imperador, ao visitar a casa onde o jovem vive, descobre sua
verdadeira identidade. Com medo de que a profecia se concretize, ele envia o jovem
em uma missão para a própria morte onde carregava uma carta para a imperatriz com
o recado para que o portador da mensagem morresse. Durante a jornada, o líder dos
ladrões descobre o que o imperador armava e decide se vingar substituindo as
escritas para que casasse o filho da sorte com a princesa. Após o casamento, ao
retornar para o palácio o tirano fica furioso ao ver aquele plebeu casado com sua filha
e decide então enganá-lo mais uma vez.
O jovem enfrenta desafios sobrenaturais e sai com o destino de ir ao inferno buscar
três cabelos de ouro do Diabo, no trajeto o jovem recebe a missão de solucionar
enigmas que assolavam a população: como o enigma da fonte que jorrava vinho e
agora se encontra seca e a árvore de frutos de ouro que agora sequer tem folhas.
Além disso, ele lida com situações de salvar da escravidão um barqueiro condenado
a atravessar pessoas eternamente. No entanto, com a ajuda da avó do diabo, ele
finalmente consegue chegar ao objetivo:
‘’ Se meu neto o encontrar aqui – disse ela -, vai ficar tão furioso que vai
querer matá-lo no mesmo instante e comê-lo assado no jantar. Por isso
preciso escondê-lo. Assim a velha transformou o Filho da Sorte numa
formiguinha e o escondeu nas dobras de sua saia.’’ p.61 Histórias da
Carochinha, 3ª edição 1996.
A avó coloca seu neto a dormir e ao fazer carinho arranca cada fio por vez, em cada
puxada nos cabelos o Diabo acordava irritado com sua vó que logo dizia ter tido um
pesadelo onde uma fonte estava seca, uma árvore morta e um rapaz aprisionado com
um trabalho infeliz.
É aí que percebemos que esse pobre diabo tão cansado foi o culpado dos males que
assolam a população que mora a caminho do inferno:
Assim foi respondido a última pergunta que faltava, e dali o jovem sairia com a solução
dos problemas e os cabelos de ouro, voltando ao palácio e sendo recebido com amor
por sua esposa e muita curiosidade do seu sogro que se mantém ambicioso. Agora o
tirano decide ir atrás de mais ouro no inferno, o que ele não sabia é que no caminho
existia um barqueiro, já velho conhecido do seu genro que deixou nas mãos do
imperador a missão de viver para sempre naquele emprego, atravessando as almas
e perdidos. Dizem que até hoje ele está cumprindo essa missão eterna, enquanto o
filho da sorte viveu feliz seus anos de vida com sua princesa.
Esse conto infantil nos traz diversas referências do mundo adulto, desde o abandono
da criança no rio como foi feito com Moisés na Bíblia, como outras histórias da
literatura que não são voltadas aos pequenos.
Na travessia ao caminho do inferno, podemos associar o barqueiro à Caronte, um
barqueiro que na mitologia carregava as almas para o mundo dos mortos. Esse já foi
ilustrado outras vezes na literatura, como; A Divina Comédia e Auto da Barca do
Inferno.
Auto da Barca trata sobre morte e o julgamento moral do que é certo e errado, assim
podemos compreender que a literatura mesmo que não seja mais voltada para o
público infantil tem esse papel educador e informativo.
Além dessas o Diabo foi citado em diversas histórias inclusive mais contos infantis, o
que para pessoas que não entendem o contexto em que foram criadas podem se
espantar com o título das narrações como em ‘’ Carvões para a lareira do Diabo’’.
Na literatura portuguesa, encontramos o Diabo protagonizando: O auto da barca do
inferno, de Gil Vicente; o conto “O senhor diabo”, de Eça de Queirós; o conto “A hora
do diabo”, de Fernando Pessoa; e o romance O evangelho segundo Jesus Cristo, de
José Saramago. Na literatura brasileira, citamos as mais conhecidas: Macário, de
Álvares de Azevedo, e Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa.
Aqui vemos o temido Diabo perdendo seus cabelos preciosos, sendo enrolado por
sua própria vó, perdendo para um humano de espécie que ele tanto tem aversão e no
fim ainda ajuda um jovem rapaz a mudar de vida e ter sucesso.
Considerações Finais
Nessa análise compreendemos a importância da Literatura Infantil e a necessidade
de representar o mal nesse tipo de história. Vemos também que o Diabo é um
personagem importante e que ilustra situações desde o primeiro livro da humanidade.
Podemos descobrir com a análise que além do estereotipo de vilão existe outro lado,
além de que sua representação traz consigo uma cultura antiga e popular.
O mais importante nesse objeto de estudo é destruir a imagem demoníaca e trazê-lo
como um personagem construtor e educativo. Além de que ele não se trata apenas
de um ser que consegue tudo que quer, se tornando cômico e trazendo o conselho
que é a base para esse gênero literário; o bem sempre vence.
Se tornando algo mais vulgar e popular, de alcance das crianças e dos adultos, vemos
que o Diabo é ‘’pop’’ e fundamental para a literatura desde o Antigo Testamento.
Crescemos muitas vezes com a ideia de que o mal não deve ser comentado, que não
se fala do Diabo, que isso e aquilo são coisas erradas e podemos acabar perdendo
histórias como essa que de certa forma enriquecem e nos trazem conhecimento.
Pensamos também que o mesmo se faz presente em outras histórias, no dia a dia e
em coisas que não citamos, mas ele resiste no estereotipo do mal, das coisas ruins,
nos ensinamentos e é fundamental para ensinamentos moralizantes apesar de
acharmos o contrário.
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Assim aprendemos que o bem se ensina exemplificando o mal, que o temido deve ser
comentado e que a cultura e os ensinamentos antigos resistem desde a época
medieval até os dias de hoje.
A representação do diabo e sua exploração em contos infantojuvenis evidenciaram
que o cenário literário serviu como plataforma para a expressão de uma classe
econômica em ascensão, que ocupava diversos setores da sociedade
contemporânea. No entanto, a resiliência e a longevidade dessa literatura estão mais
intrinsecamente ligados à cultura popular e à memória coletiva do que a um projeto
ideológico de poder.
Referências