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Interpretação - Uma questão recorrente é por que Chapeuzinho dá trela ao lobo? "Ela
é uma criança com a ingenuidade de quem não sabe sobre o sexo. Ela pode não
saber que jogo está sendo jogado, mas é inegável seu interesse em participar",
escrevem os autores de Fadas no Divã. Esse caminho interpretativo leva ao campo
minado da sexualidade infantil. Segundo Freud, nossas primeiras experiências sexuais
são encobertas por uma espécie de amnésia que vai até os 6 ou 8 anos. A história
teria sobrevivido por usar símbolos que nos fazem pensar nessa questão. Ou seja: o
conto não fala apenas sobre o perigo do desconhecido, mas sobre a perda da
inocência.
Para maiores - No sexo, há adultos que agem como uma menina diante de um lobo.
"Quando a vida lhes impõe um papel sexual, vão oferecer o que têm: sua ingenuidade.
Ser uma assustada Chapeuzinho é até onde vai a sexualidade de quem não quer
saber nada do assunto", escreve o casal Corso.
Branca de Neve
Versão consagrada Sentenciada à morte por ser mais bela que a madrasta, Branca
escapa e é acolhida por 7 anões. Mas a megera não sossega: disfarçada de bruxa,
encontra a rival e lhe dá uma maçã envenenada. A jovem entra em coma, mas o beijo
de um príncipe lhe devolve a vida. A madrasta é punida com a morte.
Patinho Feio
Para maiores - Alguns carregam o "complexo de patinho feio" para além da infância,
achando-se eternamente rejeitados e deslocados. Especula-se inclusive que Andersen
tenha feito o conto refletindo seus problemas de auto-estima.
João e o Pé de Feijão
Versão consagrada - Em vez de vender uma vaca como sua mãe pediu, João topa
com um açougueiro/engenheiro genético e troca a mimosa por feijões mágicos. Leva
um esporro, mas as sementes crescem até o céu, onde João encontra um gigante, de
quem rouba vários tesouros. Durante perseguição ao meliante, o grandão cai lá de
cima e morre. João e a mãe vivem ricos e felizes para sempre.
Outra história - Na primeira versão (1807), João sobe aos céus para vingar o pai, um
cavaleiro morto pelo gigante.
Para maiores - Há caçulas que passam a vida tratando irmãos mais velhos como
gigantes – para o bem e para o mal.
O Príncipe Sapo
Outra história A versão original não tem beijo: o sapo se transforma após ser jogado
na parede.
Cinderela
Outra história - Há versões em que as irmãs invejosas são cegadas por aves amigas
de Cinderela.
Interpretação - Na superfície temos a fantasia dos adolescentes de que a sua vida não
pode ser a real: existe um destino melhor, que lhe pertence e que lhe foi roubado,
simbolizado na história pelo príncipe. "Essa história permite uma empatia imediata de
qualquer filho, já que cada um se sentirá demasiado injustiçado e exigido, assim como
pouco amado. Acreditamos que daí provém seu sucesso", escrevem Diana e Mário
Corso. "Onde houver irmãos, haverá desigualdade de fato ou a suposição de que ela
existe." Como costuma acontecer, a figura materna é multifacetada: é a mãe bondosa
que foi, a madrasta exigente e a fada que inspira sonhos. Quanto àquele sapatinho,
sim, ele pode ser interpretado como um traço de fetichismo, uma dica precoce de que
alguns elementos podem valer muito no jogo da sedução.