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O CICLO PAULINO

A JORNADA
EMOBUSCA DE UMA
CICLO PAULINO
TEOLOGIA RELEVANTE

Aula 1
Aula 48
1822de
demarço de de
Fevereiro 2021
2022

YAGO
Aula MARTINS
ministrada por
Pedro Pamplona

Transcrição: Pedro Antunes Revisão e adaptação: Débora Oliveira


Transcrição: Júlia Costa | Revisão e adaptação: Alana Lins | Diagramação: Loanny Costa
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O CICLO PAULINO

Aula 48
O ciclo paulino
Para que serve tudo o que nós temos aprendido até aqui ? Nós ouvimos
aulas, mensagens e conteúdos profundos, algumas aulas inteligentes.
Algumas aulas desta escola são muito melhores do que disciplinas
inteiras que eu tive no meu seminário teológico. Eu fiz faculdade de
teologia e temos algumas aulas aqui em um nível, ou às vezes maior
do que o que eu estudei no meu mestrado em teologia. Em uma
linguagem extremamente fácil e simples, mas com profundidade,
clareza, elegância que só nosso time de professores pode dar. Eu fico
absolutamente feliz em coordenar uma escola onde eu sou o pior
professor. Geralmente me pedem para aparecer na Escola, mas vocês
deveriam ficar tristes quando eu venho dar aula aqui na escola, porque
nosso time é um time simplesmente inigualável. E eu sou muito grato
a Deus por isso. São pessoas com um trabalho muito bom. Gente com
mestrado em teologia, como o Pedro Pamplona. Gente que dá aula de
grego há muitos anos e com muita profundidade como o Guilherme
Nunes. Especialistas em suas áreas. Gostaríamos de poder trazer mais
gente para poder dar aula aqui. Nós temos sido muito gratos a Deus
pela confiança e pelo carinho de vocês no que nós temos fornecido.
Ótimo! Mas você tem ouvido e aprendido isso tudo para quê,
no fim das contas? Você dirá que é para glorificar o nome de Deus,
para edificar a sua fé e para entender mais sobre o Senhor. Mas, no
sentido prático, o que nós fazemos com isso tudo? Eu quero motivá-
lo a pensar, hoje, em plantação de igreja. Quero motivá-lo a pensar
sobre todo esse conteúdo que você tem aprendido aqui na Escola de
Teologia para ser usado para o benefício de outras pessoas, ser usado
para propagar o reino de Deus e para que a igreja do Senhor prevaleça
como coluna e baluarte da verdade. Quero tratar com vocês sobre o
ciclo paulino de Hesselgrave.
O ciclo paulino vem do livro Plantar igrejas: um guia para missões
nacionais e transculturais de David J. Hesselgrave. É um livro
clássico que guia muito o processo de pensar missões no mundo até
hoje. A edição que eu tenho foi publicada pela Edições Vida Nova
no ano de 1984, de 38 anos atrás. Este é um livro extremamente
necessário. É nesse livro que Hesselgrave apresenta o que ele chama
de ciclo paulino. O ciclo paulino é uma metodologia de se pensar a

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plantação de igrejas a partir do livro de Atos. E nisso, não estamos


apenas falando de uma metodologia, mas de uma teologia de como
uma igreja nasce, cresce e se desenvolve. Igrejas não existem apenas
para crescer, igrejas existem para se multiplicar. Nós imaginamos
uma igreja saudável quando elas crescem, quando compramos um
sistema de som novo, quando conseguimos construir uma salina para
as crianças, quando tem um aumento no número de membros, quando
a receita aumenta, quando chamamos um pastor novo, mas isso não
representa toda a saúde da igreja. Nós podemos imaginar a saúde de
uma igreja com a qualidade das aulas de escola bíblica, com a força
da pregação no culto, ou com a frequência dos cultos de oração, mas
isso também não é tudo que diz se uma igreja é saudável ou não. Uma
igreja saudável é uma igreja que cresce e se multiplica, é uma igreja
que vai além de si. Eu quero apresentar o ciclo paulino em 10 fases,
que são apresentadas ao longo do livro e eu resumirei tudo o que o
livro fala sobre o ciclo paulino, desenvolvendo-o.
O ciclo paulino tem 10 fases: (1) Os missionários são comissionados;
(2) o auditório é contatado; (3) O evangelho é comunicado; (4) os
ouvintes são convertidos; (5) os crentes são congregados; (6) a
fé é confirmada; (7) os líderes são consagrados; (8) os crentes são
recomendados; (9) os relacionamentos são continuados; (10) igrejas
missionárias são convocadas; (1) os missionários são comissionados…
E você tem esse ciclo infinito de crescimento de um igreja.
É basicamente uma forma de tratar como uma igreja cresce e se
desenvolve. Todas as nossas igrejas deveriam estar vivendo o ciclo
paulino. Toda igreja deveria estar crescendo e desenvolvendo todo esse
processo, para que essa igreja possa construir novas comunidades. Isso
é o que acontece quando uma igreja está firmada na pessoa do Espírito
Santo. Um dos grandes pontos do ciclo paulino é que o Espírito Santo
é o diretor Divino do empreendimento missionário. Isto está em Atos
13:2,52, nós iremos olhar muito para o livro de Atos: “E, servindo eles
ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a
Saulo para a obra a que os tenho chamado”(Atos 13:2). Foi o Espírito
Santo quem chamou esses homens enquanto eles estavam em oração
para a obra missionária. No versículo 52 do mesmo capítulo, nós
lemos o seguinte: “Os discípulos, porém, transbordavam de alegria e
do Espírito Santo.”
Uma igreja que vive no ciclo paulino, que vive olhando para fora e
cresce, não simplesmente em seu templo, mas em novas igrejas filhas
é uma igreja que vive no Espírito Santo. Se uma igreja não vive no
Espírito Santo, essa igreja vai ter muita dificuldade de viver missões.

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Igrejas sem o Espírito são igrejas por si mesmas.


É muito atrativo para uma igreja focar todas as energias em si e no
crescimento do seu próprio nome e da sua própria placa, da sua própria
receita e das suas próprias atividades. Se você estiver em um ambiente
denominacional, plantar novas igrejas dará algum benefício para a sede,
mas normalmente quando você planta igrejas independentes, como
geralmente acontece em modelos congregacionais Batistas, não existe
nenhum benefício pessoal. Nada beneficia igrejas que plantam novas
igrejas no sentido humano, você está perdendo parte da receita. Parte
dos irmãos estão indo para lá. Ao invés de crescer o próprio império,
você cresce para os lados e acaba alcançando outras comunidades. Por
isso que o Espírito Santo é necessário. Ele é aquele que motiva e guia
a obra missionária. O Espírito é o instrumento de Deus para converter
os perdidos. Sem o Espírito Santo os perdidos não são convertidos,
logo, sem o Espírito Santo o trabalho missionário é vão. O principal
interessado na conversão dos perdidos é Deus. Deus usa seu Espírito
para motivar a igreja em direção a esta obra e este serviço.
Se o Espírito Santo é o diretor Divino do empreendimento missionário,
a oração é a atmosfera do empreendimento missionário. Em Atos 13:1-
4 nós vemos a igreja orando: “Havia na igreja de Antioquia profetas
e mestres: Barnabé, Simeão, por sobrenome Níger, Lúcio de Cirene,
Manaém, colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo. E, servindo eles ao
Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé
e Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando, e orando,
e impondo sobre eles as mãos, os despediram. Enviados, pois, pelo
Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre.”
A oração era o ambiente da obra missionária. Uma igreja que não ora
é uma igreja que não tem estrutura espiritual. Uma igreja que não ora
é uma igreja que nunca vai querer perder um dos seus pastores para a
obra missionária, por uma outra congregação, para um outro ambiente.
Uma igreja que não ora é uma igreja que não consegue olhar para fora.
Uma igreja que não ora é uma igreja que não está vivendo de acordo
com os valores do reino. Uma vez que não ora, como ela será calibrada
pelo sabor da espiritualidade para que Deus leve a igreja para além de
si, para que outras pessoas possam ouvir a mensagem do evangelho.
“Yago, minha igreja não planta igreja. Minha igreja não é missionária.
Minha igreja não tem feito nada além de encher os próprios portões”.
A pergunta é: a sua igreja está orando? Existe real interesse em oração
naquela comunidade? Porque a oração é que vai calibrar os corações
para que o evangelho cresça ali dentro e para além daqueles que estão

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ali dentro. É fundamental que uma igreja ore quando tem sido uma
igreja que tem falhado em missões.
As Escrituras também são alicerce dessa obra. Se você olhar em Atos
15:1-5, verá o seguinte: “Alguns indivíduos que desceram da Judéia
ensinavam aos irmãos: Se não vos circuncidardes segundo o costume
de Moisés, não podeis ser salvos. Tendo havido, da parte de Paulo
e Barnabé, contenda e não pequena discussão com eles, resolveram
que esses dois e alguns outros dentre eles subissem a Jerusalém, aos
apóstolos e presbíteros, com respeito a esta questão. Enviados, pois, e
até certo ponto acompanhados pela igreja, atravessaram as províncias
da Fenícia e Samaria e, narrando a conversão dos gentios, causaram
grande alegria a todos os irmãos. Tendo eles chegado a Jerusalém,
foram bem-recebidos pela igreja, pelos apóstolos e pelos presbíteros
e relataram tudo o que Deus fez com eles. Insurgiram-se, entretanto,
alguns da seita dos fariseus que haviam crido, dizendo: É necessário
circuncidá-los e determinar-lhes que observem a lei de Moisés.”
Nós temos um ambiente de debate teológico muito intenso. Há
uma controvérsia acerca dos costumes de Moisés e eles vão procurar
os apóstolos para ajudá-los a definir o que Deus espera deles em termos
teológicos e bíblicos. A pregação do evangelho, não é um trabalho
pouco teológico. Pregar o evangelho, plantar novas igrejas, falar a
novos convertidos, não é um trabalho que cobra pouco conhecimento
de Deus. Você precisa conhecer Deus se você está interessado em
fazer algo realmente importante na vida das pessoas.
Somos muito preguiçosos às vezes. Achamos que a obra
missionária vai acontecer simplesmente por repetirmos frases
feitas. “Jesus te ama”, “creia no evangelho”, “Deus tem um plano
maravilhoso na sua vida”. Mas não é só isso. Você precisa saber
responder teologicamente as demandas que surgem, saber responder
teologicamente responder a partir da Palavra de Deus sobre as questões
que vão se manifestando ali. Sem a Palavra de Deus servindo com
um instrumento necessário para a transformação daqueles que ouvem,
você não tem um trabalho missionário real. Um trabalho missionário
real é um trabalho que consegue lidar com as demandas. Muitos dos
problemas que nós temos em missões vêm de pregadores que não são
teologicamente preparados para lidar com as demandas teológicas
daquele povo. Em Atos, surgiu uma contenda sobre guardar a lei de
Moisés e eles não se preocuparam sobre o que é mais conveniente, eles
se preocuparam com a Palavra. Com a Escritura, com a Palavra, eles
ouviram dos apóstolos que eram os baluartes fundadores da igreja.
“O que é o certo e o que é o errado?” Eles olharam para a Escritura.

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Missões são bem feitas, feitas direito, quando a Escritura dá base para
aquilo que é feito. E, claro, a igreja é quem agencia a obra missionária.
A Igreja é a principal agência missionária que existe: “Então,
pareceu bem aos apóstolos e aos presbíteros, com toda a igreja,
tendo elegido homens dentre eles, enviá-los, juntamente com Paulo
e Barnabé, a Antioquia: foram Judas, chamado Barsabás, e Silas,
homens notáveis entre os irmãos” (Atos 15:22).
Quem trabalha para a obra missionária? Aqueles que a igreja
escolheu. Como os irmãos foram levantados para levar esse evangelho
para longe? Aqueles que a igreja levantou. É a igreja quem decide,
ela quem envia, é a igreja que é instrumento e agência para levar
essa mensagem para os perdidos. Se a igreja é a agente, baseada nas
Escrituras, em atmosfera de oração e cheia do Espírito Santo, logo, esse
é um trabalho nosso de estar cada vez mais cheios do Espírito, cada
vez mais rodeados de oração, cada vez mais alicerçados na Escritura,
cada vez mais relacionados com a igreja, para que nós possamos viver
e praticar cada uma dessas coisas.
Vamos para os prazos do ciclo paulino. Hesselgrave oferece
uma perspectiva de prazos. Eu não gosto muito disso. É um dos pontos
que menos me atraiu, mas como ele coloca isso, eu também o farei e
conversamos a respeito. Hesselgrave oferece um cronograma.
O comissionamento de missionários deve demorar três meses
de planejamento e análise da área alvo onde a igreja deve ser plantada.
Na experiência missionária dele, esse é um tempo razoável. Talvez
em outras experiências missionárias esse tempo pode mudar. É bom
ter prazos para realizar projetos? Naquilo que depende de nós, talvez.
Naquilo que depende de nós é possível que prazos sejam úteis em
termos organizacionais. Tentamos planejar e analisar a área alvo
levantando pessoas, tentamos dar um prazo para isso. Três meses para
ter uma equipe, um local, saber quem é aquele povo e irmos lá tentar
plantar uma igreja.
A segunda fase de mais de três meses são os pontos 2 e 3: (2)
Contatar o auditório e (3) comunicar o evangelho. Hesselgrave fala
que isso deve durar três meses também, seus contatos iniciais devem
ser feitos. Aqui é interessante, porque depende de nós. Contatar o
auditório e pregar o evangelho em três meses, também é um prazo
razoável, segundo Hesselgrave.
Então, ele fala de mais três meses, onde os ouvintes são
convertidos e congregados. Aqui eu já começo a encrencar com

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Hesselgrave. O tempo que demora para os ouvintes serem convertidos


não depende de nós e da nossa capacidade de pregação da nossa
capacidade e do nosso querer, depende de Deus. Então, eu não posso
colocar prazos no que depende da atuação do Espírito Santo. Como ele
pode dizer que em três meses os ouvintes serão convertidos e então eu
vou poder congregar esses crentes? Eu não posso dizer isso. Talvez eu
faça um trabalho de pregação e tenha pouquíssimas conversões. Ao
ponto de eu não ter crentes congregados ainda nos novos três meses
que ele apresenta aqui.
Ele fala da fé sendo confirmada e os líderes serem consagrados e
ele coloca nisso o prazo de seis meses. Aqui nós temos questões de
serviço, uma liderança emergindo, uma organização da igreja e essa
organização sendo levada a efeito. É interessante ele colocar isso
em seis meses, desde a conversão e fé confirmada até eles serem
consagrados a partir desses irmãos, pois é um prazo que depende muito
de quantas pessoas que se convertem vão ter tino para a liderança. Às
vezes, demora mais para conseguir ter líderes consagrados na igreja.
Agora, seis meses para conseguir preparar as primeiras lideranças,
talvez seja um prazo razoável, a partir do momento em que você já tem
convertidos. Eles são convertidos, nós precisamos de líderes naquele
local, nós não temos líderes externos para poder fazer isso, vamos ter
que levantar líderes alí. Seis meses para levantar líderes, dependendo
da compreensão da fé dessas pessoas, talvez seja um pouco apressado,
mas pode ser um prazo interessante para calcular. Se não há, em seis
meses, pessoas que possam servir com liderança na comunidade, ou
mesmo lideranças mais simples, isso mostra que há um problema a
ser resolvido. Se você não leva esses seis meses a ferro e fogo, pelo
menos você tem um prazo razoável para ir calibrando o trabalho que
você está desenvolvendo na igreja.
Logo teremos, em seguida, um trabalho de um ano. Este é o
trabalho dos crentes serem recomendados. É a ideia de ter um lugar
de reunião e organização permanente, quando a liderança missionária
é retirada e forem embora. Aqui falando principalmente de igrejas em
outras culturas, em outros povos É sempre importante que
alguém que vem de outra cultura para aquela igreja não fique para
sempre desde que o povo possa administrar aquele lugar. Isso deve
durar o prazo de um ano para administrar tudo e ir embora.
Em seguida, um período que não possui prazo, onde os
relacionamentos são continuados, outras igrejas parceiras serem
convocadas e, então, novos missionários são comissionados para levar
o evangelho aos perdidos. É um processo que para o Hesselgrave deve

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durar a partir de dois anos e três meses. Talvez seja um ciclo de três,
quatro anos para uma igreja que nasceu já plantar outra igreja. É uma
visão bem interessante em termos de prazo. Na minha opinião, um
ciclo bem rítmico, mas você não pode levar a ferro e fogo nenhum
desses prazos aqui.
Mas como é esse ciclo paulino? No quarto slide temos o primeiro
momento do ciclo paulino, onde os missionários são comissionados.
Pensando em uma igreja que já existe, nós precisamos antes de tudo,
comissionar missionários. Fazemos isso levantando missionários em
nossa igreja. Nós lemos em Atos 13:1-4 que o Espírito Santo levanta
alguns missionários. Em Atos 15:39, nós temos outro momento onde
isso acontece: “Houve entre eles tal desavença, que vieram a separar-
se. Então, Barnabé, levando consigo a Marcos, navegou para Chipre.”
Aqui foi outro momento onde a obra missionária se estabelece por causa
de confusão também, quando Paulo e Barnabé entram em conflito.
“Mas Paulo, tendo escolhido a Silas, partiu encomendado pelos
irmãos à graça do Senhor. E passou pela Síria e Cilícia, confirmando
as igrejas” (Atos 15:40-41).
Nós temos missionários levantados. Às vezes em situações
conflituosas, às vezes em situações mais tranquilas como em Atos 13
e o Espírito Santo levando as pessoas ao serviço missionário.
Como comissionamos missionários? Primeiro, selecionando
missionários. Quem na comunidade, na igreja, talvez tenha talento
para isso, tenha interesse, tenha vontade, tino de levar o evangelho
a quem precisa? As pessoas às vezes acham que têm um chamado
missionário, mas quem decide se você realmente tem? É só você no seu
coração? No fim das contas, quem ajuda você a definir se você tem ou
não um chamado missionário é a sua igreja. É a igreja quem decide se
você tem um chamado missionário ou não. Então, é fundamental que
a igreja selecione aqueles que possam ter um chamado missionário. A
igreja tem que reconhecer esses missionários para que possam levar o
evangelho aqueles que precisam. É preciso de oração por essas pessoas.
É em um ambiente de oração e encorajamento onde isso funciona.
Pessoas precisam ser encorajadas e pastoreadas. No meu segundo
livro da série Grande comissão, chamado Faça discípulos ou morra
tentando, falamos bastante sobre esse tipo de cuidado missionário.
Deve haver oração e encorajamento. Deve haver treinamento.
Aqui na Escola de Teologia, você tem um ambiente de treinamento
Teológico. Missionários podem estar aqui treinando. Nós temos a
Academia de Missionários também, temos o Teologia Descomplicada,

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o Simplificando o Grego Bíblico, vários ambientes onde você pode


treinar como outros pastores e várias outras formas de ser treinado
para o ministério missionário. E deve haver o sustento. Não há como
os homens levarem a mensagem do Evangelho a outros povos se eles
tiverem que trabalhar, de sol a sol, de domingo a domingo para poder
sobreviver.
Pergunta: Se uma pessoa vai por conta própria a outro país e começa
a pregar por lá, seria errado?
Resposta: Depende, se eu sou um cristão que fui enviado a trabalho ou
a estudo para outro país e nesse processo eu prego o evangelho tudo
bem. Mas o normal é que se há um trabalho e um serviço de plantação
de igreja, que haja a participação de uma igreja mãe, para te dar todo o
suporte e cuidado nesse processo, tanto para se proteger de si mesmo,
de algum erro pessoal, quanto para lhe encorajar, pastorear, sustentar,
para você não ter que perder todo o seu tempo tentando sobreviver e um
tempo que você poderia estar usando para levar o evangelho aqueles
que estão precisando naquele país. Existem histórias de pessoas que
foram sozinhas levar o evangelho a outros povos, há histórias muito
boas, mas algumas muito ruins e Deus usa esse tipo de coisa. Mas o
caminho normal, natural é que você vá em parceria com a sua própria
comunidade.
Primeiro passo, missionários são comissionados. Temos uma
igreja, onde estão os missionários, pessoas que possam assumir essa
função? Uma vez que o missionário é comissionado, então, o auditório
tem que ser contatado. Iremos plantar uma igreja em algum lugar,
então vamos atrás desse auditório para que seja contatado para que
possam receber a participação das igrejas.
“Mas eles, atravessando de Perge para a Antioquia da Pisídia,
indo num sábado à sinagoga, assentaram-se. Depois da leitura da lei
e dos profetas, os chefes da sinagoga mandaram dizer-lhes: Irmãos,
se tendes alguma palavra de exortação para o povo, dizei-a. Paulo,
levantando-se e fazendo com a mão sinal de silêncio, disse: Varões
israelitas e vós outros que também temeis a Deus, ouvi.” (Atos 13:14-
16)
Uma vez que você levanta missionários, o primeiro papel é
estar naquele ambiente de evangelismo. É importante que haja contato
com a comunidade. Às vezes, o missionário se muda e vai passar a viver
naquela cultura. O primeiro passo dele não será levar o evangelho, mas
conhecer as pessoas. Saber quem elas são, entender a cultura, saber o

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que está acontecendo. Senão, há o risco de queimarmos etapas e não


entendermos exatamente como pregar uma mensagem do evangelho
que faça sentido para aquelas pessoas.
Há uma história que se conta no ambiente de missiologia de
um jovem missionário que fez teologia em um seminário, chegou
em alguma cultura nova e, então, começou a sair pregando. O pastor
daquela comunidade lhe disse que ensinaria como era a cultura daquela
localidade, mas ele disse “não, aprendi tudo no seminário”. Ele vai
em uma loja, compra uma roupa típica da região, compra um grande
tambor, vai para a praça e começa a tocá-lo, cantando hinos e tentando
pregar o evangelho. As pessoas passam e, então, cospem nele. Elas
dão uma surra nele e ele fica sem entender. O pastor mais velho, então,
o chama e lhe diz: “Você comprou a roupa da tribo inimiga e tocou
toques de guerra no tambor”.
Muitas vezes, por não entendermos, por não sabermos,
acabamos por fazer coisas que, na verdade, atrapalham a pregação do
Evangelho, mais do que ajudam. É fundamental que entendamos que
se nós estamos indo a povos, e nem sempre a povos distantes, mas a
comunidades próximas à nossa. Nós precisamos entender para onde
estamos indo. Às vezes, a região é dominada pelo tráfico. Temos que
entender qual a milícia que cuida daquilo, quem manda e desmanda,
onde entrar e sair. Você precisa entender com cuidado o ambiente onde
você está, para que você saiba quais são os pecados e as questões,
quais são as dores, os medos, qual a linguagem, a cultura, os signos.
Quais são as muitas teias de significado que dão sentido aquelas
relações sociais e fazem parte da compreensão da realidade daqueles
que estão ali vivendo aquela cultura e que devem ser alcançadas pela
pregação do evangelho. Por isso que há um contato de cortesia. Você
se aproxima da comunidade. Há um contato evangelístico seletivo.
Você vai em lugares onde parecem ser mais abertos e passa a ter
um contato evangelístico mais generalizado, em seguida começa a
oferecer estudos bíblicos. Vai na casa das pessoas dando estudos
bíblicos, então, com o tempo começa a falar com um número maior de
pessoas. Isso é fundamental.
“Em Icônio, Paulo e Barnabé entraram juntos na sinagoga
judaica e falaram de tal modo, que veio a crer grande multidão, tanto
de judeus como de gregos” (Atos 14:1).
“Quis Paulo que ele fosse em sua companhia e, por isso,
circuncidou-o por causa dos judeus daqueles lugares; pois todos
sabiam que seu pai era grego. Ao passar pelas cidades, entregavam aos

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irmãos, para que as observassem, as decisões tomadas pelos apóstolos


e presbíteros de Jerusalém. Assim, as igrejas eram fortalecidas na fé
e, dia a dia, aumentavam em número” (Atos 16:3-5). Aqui nós vemos
um processo de contato e de aproximação para que o evangelho seja
pregado. Há com um cuidado cultural, um monte de detalhes para que
Timóteo não fosse um problema no relacionamento entre a pregação
do evangelho e aqueles discípulos que estavam pregando.
“No sábado, saímos da cidade para junto do rio, onde nos
pareceu haver um lugar de oração; e, assentando-nos, falamos às
mulheres que para ali tinham concorrido. Certa mulher, chamada
Lídia, da cidade de Tiatira, vendedora de púrpura, temente a Deus,
nos escutava; o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que
Paulo dizia. Depois de ser batizada, ela e toda a sua casa, nos rogou,
dizendo: Se julgais que eu sou fiel ao Senhor, entrai em minha casa e
aí ficai. E nos constrangeu a isso” (Atos 16:13-15).
Você tem um contato evangelístico, se aproxima de uma pessoa
que ouviu o evangelho, prega para o grupo. A pessoa te chama para
a casa dela, faz um ambiente de culto, já tem outras pessoas ouvindo
e, então, você tem um contato evangelístico mais generalizado nesse
ambiente com o auditório.
No terceiro momento, nós temos o evangelho comunicado.
Você já começa a entender melhor como contextualizar melhor a
mensagem, como mostra o evangelho de modo que seja respeitoso
ao público ali e comunique bem ao público que está ali. Comece a
determinar melhor qual será o método evangelístico que será aplicado,
como será feito, que material usar. Será culto campal? De porta em
porta? Vamos tentar criar eventos atrativos? Será ação social? Como
alcançaremos as pessoas? Selecione os veículos onde isso vai acontecer
e implemente um sistema de medição para poder calcular e entender
se aquilo que está sendo feito está tendo um bom resultado para a
glória de Deus ou não.
“‘O Deus deste povo de Israel escolheu nossos pais e exaltou
o povo durante sua peregrinação na terra do Egito, donde os tirou com
braço poderoso;” (Atos 13:17). Paulo em Antioquia segue explicando
o evangelho no Antigo Testamento, porque ele está falando para um
público completamente judaico. E falando a um público judaico ele
prega a partir do Antigo Testamento.
“Responderam-lhe: Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua
casa.” (Atos 16:31) Aqui na conversão do carcereiro, onde ele escuta

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uma pregação muito simples, muito rápida e muito breve.


Em Atos 17, a partir do versículo 16, nós temos Paulo em
Atenas, onde ele sobe no Areópago e prega a partir de ideário da
filosofia grega. Nós temos um Paulo que consegue entender seu
público e comunica muito bem àqueles que o ouvem de acordo com a
própria cultura daquele que o ouve.
É importantíssimo que sejamos capazes e preparados de pregar
o evangelho, de ensinar a Palavra de Deus a partir dos fenômenos
culturais que estão à nossa volta, a partir da cultura daqueles que nos
ouvem, a partir dos sistemas de crenças que já estão estabelecidos,
para que nós possamos, então, ter uma comunicação mais eficaz, para
que o evangelho possa fazer sentido para aqueles que nos ouvem. É
então que o evangelho começa a ser comunicado.
Esse auditório contatado e também a comunicação do evangelho
é um processo de três meses. Três meses levantando missionários, três
meses contatando o auditório e, então, pregando o evangelho naquela
comunidade.
Em seguida, entramos no próximo bloco de três meses,
segundo o Hesselgrave — os ouvintes convertidos. Complicado
falar de um prazo para isso. Mas é um tempo de confissão, decisão,
motivação e instrução. Na confissão, as pessoas confessam Jesus
como salvador de suas vidas, creem e manifestam a realidade de suas
crenças, decidem que seguirão, são cada vez mais motivadas por
aquela igreja a permanecerem nessa fé e são instruídas, como vemos
na grande comissão em Mateus 28:18-20 que diz que devemos ensiná-
los a guardar todas as coisas que Cristo tem ensinado. É importante
que haja um processo de instrução na pregação do evangelho para
aqueles que vão sendo convertidos. É o famoso discipulado. Pessoas
vão se convertendo e sendo discipuladas.
“Os gentios, ouvindo isto, regozijavam-se e glorificavam a
palavra do Senhor, e creram todos os que haviam sido destinados para
a vida eterna” (Atos 13:48). Eles glorificaram a Deus e se regozijaram,
porque ouviram a mensagem de Barnabé e de Paulo que os encorajava
a permanecer na fé. Era comum que Paulo voltasse às igrejas para
encorajar os crentes. No livro de Atos ele voltava às igrejas e ele dizia
que, por meio de muito sofrimento era necessário entrar no reino dos
céus. Paulo encorajava os irmãos e voltava para dar instruções. Todas
as epístolas paulinas, são de Paulo instruindo as igrejas, para que
aqueles homens cressem e permanecessem fiéis. No fim das contas é

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uma coisa que nunca acaba.


Os ouvintes são convertidos e os crentes são congregados. Você
está pregando, as pessoas vão se convertendo, então, você começa a
ter horário de reuniões, um lugar de reuniões. Qual é o tamanho do
grupo? Como vão ser as participações?
É interessante que Hesselgrave coloca o local das reuniões
como algo depois das conversões. Ou seja, você não tem um culto
acontecendo ainda, onde as pessoas se congregam aos domingos.
Você tem um lugar onde você vai levar o evangelho e, então, com os
convertidos, você encontra um espaço de culto. Essa é uma forma de
ser feita, que Hesselgrave indica, mas não é a única forma de fazer.
Outra forma, é já ter um espaço de culto para começar e você já tem
um local de culto para congregar as pessoas à medida que elas vão se
convertendo. Isso tem um desafio de já ter um investimento financeiro.
Um aluguel, alguma coisa assim, ou alguém que mora na região e
pode oferecer ali um espaço para se congregar. Uma outra forma de
fazer é uma igreja mãe já começar uma igreja filha levando consigo
parte da sua membresia. Então você já tem uns 20 membros da sua
igreja que moram naquela região indo para aquela congregação e já se
reunindo naquele pequeno lugar e ali tem um lugar onde as pessoas vão
se converter. Congregar os crentes, no Hesselgrave, aparece na fase 5,
mas que tranquilamente poderia para ir para a fase 3, comunicação do
evangelho, o ambiente está contatado, você já tem um local de reunião
onde os crentes também serão congregados a partir dali.
“E, promovendo-lhes, em cada igreja, a eleição de presbíteros,
depois de orar com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem
haviam crido” (Atos 14:23). Nós temos esses irmãos aqui já
congregados e já levantando lideranças. Vemos eles juntos como
igreja se organizavam justamente para terem esses horários de reunião
e de culto e já levantando suas lideranças ali.
No sexto ponto, uma vez que os crentes são congregados,
agora a fé é confirmada. É o momento em que essa igreja consegue
ser igreja, se aprofundando cada vez mais no processo de ser igreja,
onde eles exercem mordomia, amando uns aos outros, servindo uns
aos outros, dando um bom testemunho. Tem um culto, adoração se
manifestando. É importante que a igreja plantada se desenvolva como
tal. Relacionamentos discipuladores guiando aquela comunidade onde
a fé deles uma vez mais se confirma.
“E, tendo anunciado o evangelho naquela cidade e feito muitos

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discípulos, voltaram para Listra, e Icônio, e Antioquia, fortalecendo


a alma dos discípulos, exortando-os a permanecer firmes na fé; e
mostrando que, através de muitas tribulações, nos importa entrar
no reino de Deus. E, promovendo-lhes, em cada igreja, a eleição de
presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram ao Senhor
em quem haviam crido”(Atos 14:21-23).
“E passou pela Síria e Cilícia, confirmando as igrejas”(Atos
15:41). Eles continuavam confirmando a fé daquelas comunidades,
através da instrução através do cuidado, para que aquelas igrejas
não minguassem. É muito comum que igrejas comecem e acabem,
se encerrem. É importante que as igrejas tenham vida útil enorme,
que elas durem para sempre, cresçam e sirvam seus bairros, países e
comunidades. E é importante que nesse processo haja tanto confirmação
quanto instrução a essas comunidades.
No sétimo ponto, nós temos líderes sendo definitivamente
consagrados. A igreja cresce, os irmãos se aprofundam na fé, eles
vão se aprofundando na compreensão do evangelho, vão pregando,
exercendo mordomia ajudando uns aos outros, desenvolvendo
ministérios e, então líderes, passam a ser consagrados.
“E, promovendo-lhes, em cada igreja, a eleição de presbíteros,
depois de orar com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem
haviam crido”(Atos 14:23). Consagração de líderes envolve disciplina
bíblica, organização permanente, e desenvolvimento de liderança.
A igreja tem que estar disciplinando a comunidade. Quem vive em
pecado não pode ser aceito na igreja. Quem vive sem arrependimento,
não pode ser deixado lá como se isso não significasse nada. A igreja
cresce em disciplina. Há pregação, e evangelismo. Há ambientes onde
lideranças podem se desenvolver, há uma organização na igreja com
ministério e estruturas e lideranças vão se desenvolvendo dentro disso
tudo com muito cuidado. É importante que uma igreja tenha cada vez
mais líderes crescendo.
Um pastor de uma igreja deve ser diferente do CEO de uma
empresa. Se eu tenho uma empresa e eu sou mandado embora, essa
empresa cai e se destrói, isso é bom para mim, eu era um funcionário
peça fundamental para aquela empresa. Eu não vou passar para
ninguém todos os segredos que eu tenho, todas as compreensões que
eu tenho sobre negócios. O que eu preciso é que as pessoas dependam
de mim.
Em um ambiente de igreja é diferente. Nesse ambiente você está

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sempre formando lideranças para além de você e pessoas tem todos


os saberes, segredos e capacidades que sejam possíveis para que o
evangelho cresça naquela comunidade. Desenvolvimento de liderança
é uma das principais funções de um pastor. Lideranças precisam
ser desenvolvidas para que cresçam e se desenvolvam para além da
própria comunidade.
É triste que seja tão comum que pastores não consigam passar para
mais ninguém seus conhecimentos e capacidades, seus interesses,
suas visões. É importante que pastores não sejam lobos solitários, que
para manterem seus salários e sua vida naquela comunidade ele possa
ser a única fonte de conhecimento e todos dependam dele para que a
igreja funcione. Pastores precisam formar novas lideranças. Precisam
chamar pessoas para perto, para poder ensinar, receber gente em casa
para poder transmitir as verdades do evangelho de novo, e de novo e
mais uma vez. Uma igreja que cresce é uma igreja onde líderes passam
a ser consagrados. Esse é um período que Hesselgrave coloca em de
seis meses, mas eu não levaria isso de forma alguma a ferro e fogo.
O oitavo ponto de Hesselgrave é quando os crentes são recomendados.
Você tem uma continuação de ministério, uma transição de liderança,
então há a retirada do pastor plantador. Uma visão bem tradicional
de plantação de igreja que o pastor plantador vai plantar mas ele não
ficará alí como pastor daquela igreja, porque se ele for de outra cultura,
se não for daquela comunidade, daquele estado, daquele país, é muito
provável que ele não consiga contextualizar o evangelho de uma
forma a respeitar muito bem aqueles que estão na própria comunidade.
É muito fácil o evangelismo virar um tipo de paternalismo, um tipo
de imperialismo, um tipo de domínio mesmo. Logo, é importante que
lideranças locais cresçam cada vez mais.
Pensando em plantações de igrejas transculturais, deve haver a retirada
do pastor plantador. Um americano vem pregar no Brasil, plantar
uma igreja no Brasil, um brasileiro pregar o evangelho na África, em
algum momento naquelas igrejas um africano tem que assumir aquela
igreja. Um brasileiro tem que assumir uma igreja brasileira. Porque
é fundamental que haja cultura local sendo desenvolvida. Isso está
relacionado à transição de liderança. Uma liderança externa deve dar
lugar a uma liderança autóctone. O termo técnico na missiologia e na
antropologia é este, ou seja, da própria cultura, daquele povo. Uma
liderança autóctone é fundamental para as igrejas que são plantadas.
O pastor plantador terá que ir embora. O ministério tem que continuar.
Assim os crentes são recomendados.

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Em Atos 14:23 nós vemos que em cada igreja houve eleição de


presbíteros, cada membro recebia um presbítero local de dentro da
comunidade. Os apóstolos saiam e iam para outro lugar. Eles não se
fixaram nas igrejas que plantavam.
“Tendo-se retirado do cárcere, dirigiram-se para a casa de Lídia e,
vendo os irmãos, os confortaram. Então, partiram”(Atos 16:40). Eles
entenderam que era hora de ir embora. Até porque o missionário não
é pastor necessariamente. Quando ele planta igreja e ele termina o
trabalho missionário, ele tem que começar outro trabalho missionário
e aquela igreja que ficou continuará recebendo trabalho pastoral.
Então, no slide 12, os relacionamentos são continuados. “Alguns dias
depois, disse Paulo a Barnabé: Voltemos, agora, para visitar os irmãos
por todas as cidades nas quais anunciamos a palavra do Senhor, para
ver como passam”(Atos 15:36).
“Havendo passado ali algum tempo, saiu, atravessando sucessivamente
a região da Galácia e Frígia, confirmando todos os discípulos” (Atos
18:23).
Deve haver um relacionamento com a igreja missionária. Nem
sempre existe relação de autoridade e submissão, mas existe um tipo
de amizade. Existe um relacionamento de igreja para igreja, então a
igreja tem que ter amizade com outras igrejas se ela quiser ser útil
para a sua região e no seu bairro. É importante que haja um esforço
horizontal, entre igrejas parceiras, plantando novas igrejas e, então,
um relacionamento entre a igreja e a missão. Deve haver agências
missionárias que sejam parceiras das igrejas para que missionários
sejam enviados.
Nossa igreja tem um missionário que estará viajando para a Guiana
Inglesa. Ele já deveria ter ido, por conta da pandemia, o processo
foi atrapalhado, mas em breve ele partirá. Ele é um missionário da
Missões Multiculturais Maranata, além de pastor em nossa igreja.
Esse relacionamento entre missão e igrejas ajuda muito para que
outras igrejas participem desse projeto e contribuam financeiramente
para sustentar uma família em uma região com pouquíssimos crentes
e muitos muçulmanos que precisam ouvir a verdade do evangelho.
Relacionamentos são continuados. E, por último, as igrejas missionárias
são convocadas. Elas entendem a missão e participam da missão.
“E dali navegaram para Antioquia, onde tinham sido recomendados
à graça de Deus para a obra que haviam já cumprido. Ali chegados,
reunida a igreja, relataram quantas coisas fizera Deus com eles e

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como abrira aos gentios a porta da fé” (Atos 14:26-27). Você tem
igrejas recebendo o testemunho dos missionários e ela mesma acaba
sendo encorajada para levar a mensagem do evangelho. Uma vez que
uma igreja é plantada e é cheia do Evangelho, essa igreja transmite
o interesse pela pregação do evangelho para outras igrejas também.
Essas parcerias entre igrejas são fundamentais para que a obra do
evangelho possa se propagar cada vez mais longe e ir a cada vez mais
gente.
Então, novamente o primeiro ponto, novos missionários são
convocados. Você tem essas parcerias , cuidados e relações, então
missionários saem e crescem ali dentro para alcançar um número
cada vez maior de pessoas. Este é o famoso ciclo paulino de David
Hesselgrave. Esta é uma forma muito eficaz e inteligente de plantar
igrejas.
Vamos concluir a aula considerando o que nós vimos até aqui. Em que
fase do ciclo paulino a sua igreja está. A maioria de nós está sabe onde?
Em nenhuma. A maioria de nós está simplesmente parado, engordando
com pregações do evangelho. Você vai no Youtube e adora assistir
vídeos de teologia. Você vai no instagram e fica acompanhando páginas
de masculinidade e feminilidade bíblica, sobre jovens, sobre pureza,
ou qualquer tema que você preferir acerca da fé e do cristianismo.
Compra livros, assina a Escola de Teologia, você está aprendendo
muitas coisas e você usa isso para quê? Discutir com seus colegas.
Você usa isso para debater em grupos de WhatsApp. Você usa isso
para ficar reclamando de coisas no Twitter ou no Facebook. Será que
foi para isso que Deus nos colocou no mundo? Seja sincero. Olhe
para a sua vida. O que você está fazendo com todo o conhecimento
bíblico que você tem? Você está aqui em um curso de teologia, em
uma comunidade de treinamento teológico, com aulas avançadíssimas
e isso é para quê?
No último dia você vai chegar diante de Deus e dizer: “Senhor, eis aqui
minha trend do Twitter. Aqui está, Senhor! Estudei e aprendi. Veja meu
textão no Facebook. Veja meu Reels do Instagram. Dediquei minha
vida ao conhecimento do Senhor e vivi como um grande degustador de
Teologia. Provando diz: ‘Falta uma pitada de calvinismo aqui… Falta
uma palha de ortodoxia… Não foi pressuposicionalista o bastante na
sua apologética’”? Você absolutamente não tem nada para fazer com
aquilo que você recebe. Você simplesmente acumula tesouros na terra.
Já parou para pensar que acumular tesouros na terra não fala só sobre
dinheiro? Fala também de tudo o que você valoriza aqui e onde está
o teu tesouro está aí também o seu coração. Então, teu tesouro está na

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teologia, mas é uma teologia que se tornou tão morta, tão vazia, tão
inútil, que não te move em direção a ninguém.
Deixe-me dar uma profecia aqui. Não sou profeta nem filho de um.
Mas todo movimento reformado vai morrer se não se converter em um
movimento de plantação de igrejas. Todo esse movimento de teologia
na internet, de ressurgimento das doutrinas da graça, de blogs, de canais
no YouTube, tudo isso vai acabar e vão voltar a ser aqueles pequenos
grupinho, altamente sectários e escondido que alcançam pouquíssimas
pessoas se não se converterem. Vão acabar se essa massa de jovens
cheios de vontade de debater teologia, que brigam todos os dias contra
a heresia da vez, não se converterem em plantar igreja, em encontrar
bairros carente, encontrar locais sem pregação do evangelho, encontrar
os povos que ainda não conheceram a Cristo e, então essas pessoas que
são extremamente preparadas intelectualmente, se tornarem também
preparadas ministerialmente para poderem levar o evangelho a quem
precisa realmente, levar o evangelho aqueles que estão padecendo. A
internet já tem bastante teologia, tem bastante curso, bastante vlog,
bastante vídeo no YouTube. Nada disso é um problema. Eu faço essas
coisas. Mas se o nosso coração não estiver posto em começar novas
igrejas, em plantar novas comunidades e alcançar os perdidos, nós nos
tornamos sommeliers da fé.
Já viu um sommelier de vinho? Vai a um restaurante caro, pede um
vinho caríssimo, de centenas de reais, às vezes milhares, coloca o
vinho na taça. Balança a taça e a põe contra a luz, cheira, leva à boca,
bochecha o vinho e cospe o vinho!
Percebe que somos nós? Somos pessoas que sentamos no computador,
ouvimos teologia, aprendemos a Palavra de Deus, decoramos assuntos
teológicos, debatemos sobre várias interpretações, compartilhamos
coisas da Escritura e não deixamos que nada “desça” para transformar
quem nós somos. Sabe porque eu sei que somos assim? Porque
ninguém à nossa volta é transformado, porque quando o evangelho
começa a trabalhar dentro de um homem, o evangelho nunca termina
seu trabalho naquele homem. Ele sempre continua para além daquele
homem. Se o evangelho está trabalhando em você, ele está trabalhando
para além de você. Se o evangelho está te mudando, ele está mudando
quem está perto de você, porque você não consegue manter esse
evangelho enclausurado no seu corpo, ele avança para além de você
porque o evangelho foi feito para ser transmitido para o outro. Você o
recebe e você o transmite.
Diante de tanta necessidade, diante de tanta gente perdida, que ainda

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não ouviu a mensagem do evangelho, de tanta esquina vazia, de


tanta gente dormindo na praça, tanta gente pescando para sobreviver
e buscando o mínimo de recursos para poder sobreviver. Pessoas na
cultura que nem sabem o que é o evangelho. Em um ambiente onde
tantas pessoas presumem algo sobre religião, com tantos falsos mestres,
com tantos mentirosos, no meio disso tudo, nós nos contentarmos
com teologia como se fossemos meros intelectuais, ou estudiosos de
gabinete que enchem a cabeça, aprendendo as coisas, conversando
um pouco a respeito, no fim das contas, dormimos de suspensórios
com charuto na boca, como se fôssemos puritanos perdidos do século
XVII, XVIII, como se estivéssemos tentando ficar um pouquinho
mais inteligentes para a glória de Deus. Não que seja errado estudar,
mas é um desperdício, quando o nosso estudo não gera nada além
de nós. Quando só estudamos para cultivarmos a nós mesmos, para
aprendizado pessoal, para dizer que leu a bíblia o ano inteiro e não
estamos colocando nada disso em prática realmente e fazendo com
que nosso estudo tenha utilidade para trazer descrentes à fé, para
fundar igrejas saudáveis, para que aqueles presos debaixo da mentiras
do engano de seitas por aí possam encontrar um lugar sólido e bíblico
para congregar. Tantas cidades no nosso país. Tanta necessidade, tão
grande a seara da internet, cheia de possíveis obreiros ocupados demais
brigando sobre progressismo no Twitter, sobre pautas identitárias
em redes sociais. Discutindo e analisando pregações e pregadores.
Fazemos resenhas de livros, conversamos sobre assuntos profundos.
É ótimo que tudo isso exista. Triste é se só isso existir, se isso não nos
mover para as coisas reais.
O que nós vimos na aula de hoje é um grande incentivo para que, na
sua igreja você pare e analise que fase do ciclo paulino vocês estão e
se não estiverem em nenhum. que haja um choque de realidade. Para
que vocês possam comissionar missionários e levantar lideranças,
sustentá-las e então enviar o nome de Cristo a quem mais precisa nesse
mundo.
Pergunta: Há outros livros que ajudam e complementam essas
informações dados nesta aula?
Resposta: Sobre metodologia de plantação de igrejas existem alguns
livros, eu gosto do Plantar igrejas é para os fracos de Mike McKinley,
mas ainda outro muito bom da Edições Vida Nova que se chama O
plantador de igrejas: o homem a mensagem e a missão.

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