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O incrível sonho de Ventura

Era uma vez um rapaz chamado Ventura, um jovem pobre, caricato e desprovido de beleza
facial e muito irrisório. Tinha apenas 11 anos de idade e uma altura que acompanhava os
eucaliptos. Eeèee!! Era muito alto. Um pacato social daqueles que o destino lhe tirara de uma
funesta lamuria. O tipo de jovem que todos meneavam a cabeça dizendo: Ai Senhor Deus de
Jacó, Deus de Abraão, o Senhor que libertou o seu povo Israelita agravado nas mãos do vil
Faraó do Egito, tenha compaixão desse menino rapaz! Ventura vivia numa pequena vila
denominada Obnóxio. Em Obnóxio não há luz, não há água potável nem um pouco da cultura
ocidental. Todas as pessoas acordam as 4 horas da manha muito cedo para digladiar o campo,
local onde Ventura não se identificava pela sua insólita maneira de sonhar.

—‘‘Um dia irei viver na cidade’’, era assim a cortês saudação da mais alta miserável
esperança de Ventura todos os seus miseráveis dias que a vida lhe abria um amanhecer de luz
brilhante encoberta por detrás de uma frondosa arvore de mangueira de folhas esverdeadas
que se encaixava perfeitamente com a esperança sufocada do jovem rapaz pelas agruras da
vida que lhe viu nascer.

— Que diabo entrou na cabeça dele? Indagavam os moradores que de olhos carnudos
sincopavam pela mais estranha maneira de sonhar daquele pobre menino. Murmuravam as
senhoras na estrada a caminho do rio. O feiticeiro que lhe feitiçou, Este, hahahahahaha…. não
come sal nem mesmo peida. Riram-se, e mais uma vez, ridicularizaram-no.

Por incrível que pareça, aquele menino não ligava para oque aquelas senhoras lhe falavam,
mesmo os bajuladores que lhe motivavam por ironia. Os indígenas escutavam o jovem
balbuciando nas suas mais solenes inclinações. —Um dia irei me urbanizar! Um dia irei a
cidade! Farei coisas maiores que até me verão na televisão. Riu-se amargamente até os
ventres doerem. Olharam-se a multidão e outra vez irrompeu-se um forte gracejo. Que
televisão! Que sonho! Sonhe, desde que não venha o fiscal exigir-lhe uma multa nisso...
Despediram-lhe as esperanças. De ombros retesados recobrou o ânimo e não deixou nenhuma
esperança naufragar nas zombarias dos seus amigos e vizinhos.
–Que nada! Exclamou Ventura. Vocês vão ver, um dia eu sairei daqui. Falava ele segurando
uma enxada que o espreguiçava cada vez mais. Insistiu mais, citando Calvino, "somos salvos
só pela fé, mas a fé que salva não está só".

Diferente da comunidade, Ventura conhecia as letras do alfabeto europeu e conseguia


juntar já na sua idade algumas palavras que faziam sentido. E a cada papel que lhe cruzava a
vista, tomava-o e saudando-lhe procurava entender e dar-lhe o sentido em forma de leitura
gaguejosa. Na sua mais fúnebre leitura, riam-se as multidões pelas palavras que da sua boca
saiam com uma voz em soluço. Quanto mais lia, mais bajulavam os amigos. Este palhaço,
veremos! Quer chegar ao céu a pé. Nunca ouvimos. E para piorar, é daqueles que sofreram
uma afasia na cabeça. Coitado!

— Ate filho do senhor Eusébio, aquele que è o comerciante mais rico da nossa vila
não conseguiu chegar na cidade nem pelo menos ultimar a 6ª classe. Agora você, um cão sem
teto vai conseguir chegar na cidade? Exclamou Muteduwa, a filha do régulo da vila que
acabava de voltar da cidade, no meio da multidão de amigos zombadores. Mas mesmo assim,
Ventura continuou firme nos seus sonhos inabaláveis e não desistiu sequer por um piscar de
olho.

Os dias se passavam. E as meninas e meninos apegavam-se mais a enxada cultivando


o campo e contraindo casamentos prematuros o que lhes levava a não conseguirem terminar a
7ª classe sem antes ter um bebé para cuidar. Já para Ventura, este, a pobreza e a falta de
beleza ajudaram-lhe a concluir o ensino primário porque para além da falta de condições
básicas para comprar um lencinho para por torado e melado de amendoim, também lhe faltava
uma beleza para atrair as meninas da sua idade.

Após o término da 7ª classe, o jovem sonhador finalmente viajou a cidade. Luzes,


água potável, holofotes, decotes, músicas adulteradas, e todo tipo de felicidade oferecida
pelos urbanizados. Uau!, visitaram-lhes as enfileiradas listas de desejos. Mais uma
realização, menos uma anotação, sorriso para ali, um metro de saudação para la : alegrou-se o
jovem amador pela calorosa recepção que a cidade há muito lhe preparara.

Finalmente concretizaram-se as vozes ouvidas em papéis que ao longo dos anos perpetraram
zombarias nas ruas de Obnóxio. —As ruas em línguas ocidentais, manequins, aquelas mas
lindas pessoas nas lojas, com a melhor roupa de gala. Goderou-às, desejando ser semelhante
aos mesmos. Assistiu a televisão, em notícias, jogos, bonecos e todo tipo de entretenimento
oferecido nas Mídias. —Ijjiiiii!!!! Até nas estradas tem televisão! Quem costuma a assistir?
Perguntou Ventura ao jovem moço que lhe levara a conhecer os suntuosos palácios nas ruas
de París.

Olha para mim agora! Exclamou ele. Quem diria! Quando se sonha deve se esforçar para se
alcançar, nada cai do céu. Suspirou o jovem de regozijo e paz. Obrigadão meu Deus!

Dias passaram, e ventura continuou o seu caminho para o inalcançável. Matriculou na escola
mais próxima do bairro. Aquela que mesmo com os pés pelados ele poderia entrar no recinto
escolar. Na escola, Ventura fazia de tudo para ser popular. Cada dia apegava-se mais às
consultas científicas. Estudava de dia e nas noites de velas roubava o sono somente para sair e
aproveitar da luz do vizinho que permanecia acesa onde Ventura estudava a álgebra, a historia
do Egito, de África colonizada e independente das mãos opressiva do colono Europeu.
Também estudava a Química e a Física para pelo menos atrair os colegas que poderiam lhe
pagar bolos e brochuras na hora do recreio. Jovem de pobre vocabulário e doentia fluidez
linguística, optou por matematizar as horas que gravitacionalmente eram em função dos
objetivos e contrato pedagógico de modo determinado e altruísta, almejava alcançar o
inalcançável Evereste. Talvez as baduas e aftas no limiar dos lábios causassem um pouco de
desconforto fruto de uma fraca dieta alimentar, mas ventura olhava para o alvo e aspirava ver
tudo isto como sinal de um futuro brilhante.

—É a fé o guia ou você nunca pisou na igreja. Consolava-se o jovem nas suas noites de fogão
molhado. Com lábios secos e estômago órfão, se jogava na esteira a espera de Deus mandar
os ladrões dos pensamentos dos aflitos para apaziguar-lhe a alma enxugando as lágrimas para
o jovem dormir.

Assim se passavam os anos e as portas se abriam mais para ventura. A Fome tornou-se
o melhor companheiro de Ventura, mas os livros lhe apadrinharam o pensar, o agir assim
como o respirar. Deus dava-lhe cada vez mais poeiras para ele limpar o seu destino. Vocês
podem até não imaginar, mas as mais altas refeições começaram a se apresentar em sua mesa
mesmo sendo fruto de um jovem sofista em árdua faina.
Quatro anos se passaram, e as pessoas lá no vilarejo ainda murmuravam sobre o seu
desenvolvimento. Quando se cansar irá voltar! Depois de disputar o lixo com os cães,
certamente retornará como o filho pródigo. Riam-se felizes da vida espectando achegada
daquele moribundo sonhador que deixara o vilarejo de Obnóxio para imitar a vida das pessoas
que respiram. Aquelas pessoas que passavam bonitos e de cabelos arrumados inclusive o seu
linguajar evangelizado e urbanizado em machibombos, canteres e minibuses que passavam
nos caminhos de Obnóxio.

A mãe, a senhora Vilela, que era oleira, e o pai, o senhor Oweya, que tinha por
profissão a venda de carvão e capim, todos desafortunado mas crentes nos sonhos do filho.
Estes, de tudo faziam para a realização dos sonhos do seu anjinho considerado moribundo
sonhador. Esta família enlouquecida pelos sonhos platónicos do filho sacrificaram as suas
vidas, as suas machambas até o seu sono para trabalhar noites fatigantes na machamba dos
senhores da terra para lograr 300 mts para mantimento do filho na cidade que por sua vez
repartiria 150 mts para comprar 1 lata de milho, 50 mts carvão e 100 mts compararia
manhabra para a única refeição do jovem, aquela noturna para todo o santo mês. Tal qual
miséria vivida a família, tudo para custear as supostas dispendiosas despesas que cada vez
aumentavam o seu grau como o sol das doze no verão.

Por outro lado da cena, estavam os vizinhos que faziam parlamentos e células para
escarnecer a loucura daquela miserável família. A cada cerimônia, a sentada no bar em no
centros de venda de estupefacientes (toda e qualquer droga: bebidas e drogas como o tabaco,
cigarro…) cafeteavam e lanchavam a única novidade, "A família que quer se Urbanizar",
abriam-se fileiras de dentes pulverizados com mulala. Olhavam a miséria e viam as pessoas a
verdadeira pobreza feito carne em cada membro daquela pobre família. Logo visitavam-se de
humores, motivo de gracejo e alegria efêmera que se lhes roubavam os rostos pálidos e
sedentos de cuidados urbanos.

Os dias se passaram, Deus nunca foi padrasto, estes versos são gírias populares num
país democrata e cristão como aquele onde Ventura vivia. Subiram as qualidades e
finalmente, todos os escarnecedores procuravam entrevistar o jovem. Ele não tinha passado na
televisão, mas as palavras suaves e com esmero refletiam uma cidadania de caráter e um alto
vigor argumentativo próprio dos ocidentais.
Ventura engrenou na universidade onde cursou ensino de línguas europeias das quais
compunham os seus sonhos. Pés limpos, o vestir esfarrapado foi substituído pelo modelo
europeu. O cheio de Catinga foi substituído pelo agradável aroma de INUKA. Já não
comunicava-se na língua dos XIGONDOS de Obnóxio. Agora, a sua boca destilava palavras
adornadas na língua do colono do país e do colono vizinho. Miríades vinham escutar a sua
sabedoria e maravilhavam-se pela cidadania encarnada naquele corpo daquele jovem educado,
culto e de alta classe, aparentemente.

—Lá se vai a vida cheia de mistérios, se culpava a comunidade de tanta admiração. Olhavam
o jovem realizado e banhavam-se de lágrimas de emoção. E no píncaro da vida viam-se-lhes
correndo as horas numa maratona como Rally Dakar. Apagou-lhes de vista a extenuante
caminhada cheio de suor. Na verdade, atrás de um homem sucedido há retrato de um agro
sofrimento esculpido pelas conquistas - vociferava lá no fundo da sua varanda, um velho
acendendo o seu cigarro marca GT para afagar a tenebrosa labuta pela míngua do pão.

A historia não para por ai, ventura finalmente conseguiu um emprego e com os trocos
que ganhava já conseguia sustentar a sua família e seus próprios desejos carnais. Já conseguia
comer do suor dele. E, a partir do seu suor, pessoas encontravam conforto, morada e maná,
pão do dia-a-dia que o Senhor, Jeová, Deus de Israel mandava cair do céu para lhes servir de
sustento.

Como se diz no adagio popular: Chega o dinheiro, chega a fama, e ressuscita o


orgulho que a muito dormia na tumba fria da pobreza e penúria, mas para Ventura aconteceu
o contrario. Ele tinha aprendido os princípios éticos la na igreja e aprendeu que deveria amar
os seus inimigos e não pagar o mal pelo mal, mas sempre vencer o mal pelo bem para que o
mundo possa ver o amor de Deus tatuado nas pessoas.

Agora aquelas tias bajuladoras começaram a aproximar-se dele e, chamando-lhe de


mano, lhes davam algumas frutas que os deuses de Obnóxio reservavam para o povo ainda
tirar da terra que já não produzia mais como antes. Agora já não lhe chamavam com aqueles
nomes feios. Mas Ventura continuou sendo um menino crescido e educado que a todos que
lhe mostravam uma prateleira enfileirada de dentes montados num sorriso falso para lhes
pedir dinheiro ou qualquer favor ele ajudava sem mostrar um pingo de critica ou mesmo
esfregar nas suas caras todo o desprezo e vergonha que causaram a aquele pobre jovem
sonhador.

Não sei como vos dizer, tudo que posso afirmar agora é, Ventura goza da melhor vida
possível e ao lado de uma família saudável e urbanizada e muito interessado profundamente
sagradas verdades divinas. E na ultima vez que com ele me avistei apenas me disse: Viver é
dirigir uma orquestra, olhe para os objectivos e deixe o público comentar, mas você olhe
somente no que planificou e deixe Deus aprimorar nos detalhes.

Gete Bastante Basílio, in contos de um sonho distante.

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