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2011
Impresso no Brasil
A Eleanor Coelho,
pelo seu apoio e estímulo.
G. I. Gurdjieff
Agradecimentos
Introdução ao Eneagrama
O legado de Georges Ivanovich Gurdjieff . .................................31
Parte I
Centro Físico ou Motor (Tipos 8, 9 e 1) . ......................................75
Parte II
Centro Emocional (Tipos 2, 3 e 4) . ............................................153
Medo: o Traço Principal, ou como uma espada pode virar uma ben-
gala branca, segundo Woody Allen. Ambivalência: extrema covardia
ou extrema ousadia; Os filhos do casal ambivalência-medo;O Tipo 6
e o Tipo de Sentimento Introvertido de Jung; Como surgiu o Traço
Principal; Errar por medo do erro ou “Por que estão me castigan-
do?”; O mundo oculto: motivo de rejeição e de atração; Iniciando
o processo de mudanças positivas; Observando seus parceiros 5
e 7; Imaginação consciente: percebendo as “78 faces” da realida-
de; Conquistando a virtude da coragem e desenvolvendo uma “fé
consciente”; O valor da fé consciente.
O Tipo 7: O eu que projeta . .........................................................293
Palavras Finais
O Eneagrama positivo e a possível evolução humana ...............321
*
Sociólogo e professor adjunto da Universidade de Brasília – UnB. Foi funcionário
internacional das Nações Unidas, lotado na CEPAL, em Santiago, Chile, e no ILPES, no
México. Assessor da OECD, em Paris. “Visiting Scholar” no Peace Research Institute,
Oslo, Noruega, 1968, com publicações em revistas locais especializadas.
Introduziu o estudo da Psicologia dos Eneatipos no Brasil no princípio dos anos 80.
Discípulo de Claudio Naranjo desde então. Ensina à luz do Eneagrama nas principais
capitais brasileiras desde 1992. Já ministrou cursos na Austrália, Chile, México, Colômbia
e Itália e participou de Congressos Internacionais na Espanha, França e Estados Unidos.
Membro da equipe internacional de terapeutas da Escola SAT, organiza e coordena suas
atividades no Brasil como representante de Claudio Naranjo. Fundador e diretor do Ins-
tituto EneaSAT do Brasil é membro fundador e Presidente da IEA Brasil - International
Enneagram Association.
Como ler, aplicar e tirar
maior proveito deste livro
Antes de ensinar como utilizar melhor este livro devo advertir que,
para compreender realmente o Eneagrama, não basta ler um ou vá-
rios livros sobre o assunto. É fundamental participar de um ou vários
workshops vivenciais, compartilhar e trocar experiências com pessoas
que possuam o mesmo Traço Principal (Tipo), ouvir o que pessoas com
outros Tipos/Traços Principais dizem a respeito de si mesmas.
Sem vivência é impossível sentir e compreender toda a força e sabe-
doria que esta ferramenta possui.
Se você está lendo sobre o assunto pela primeira vez, aconselho ler
este livro da seguinte maneira:
É muito provável que após a leitura desses Tipos escolhidos, você terá
mais certeza sobre qual é o seu Traço ou Tipo Principal. Reflita sobre
seu Tipo e decida o que, em seu caso, você deveria começar a trabalhar
e observar para aprimorar sua personalidade.
28 Khristian Paterhan C.
1
As quais tive a oportunidade de aprender vivencialmente desde os 15 anos de idade
Entre elas a Filosofia Vedanta Advaita, uma das principais linhas filosóficas da India,
o Budismo, sistema psicofilosófico pelo qual Gurdjieff tinha uma especial simpatia, e
o Hermetismo, filosofia milenar de origem egípcia, especialmente difundida na Europa
durante a Idade Média e cujas origens estão relacionadas com as lendas ancestrais de
Thot-Hermes.
34 Khristian Paterhan C.
2
J.G.Bennet foi um notável discípulo de Gurdjieff nos Estados Unidos. Escreveu várias
obras sobre o sistema filosófico conhecido como “Quarto Caminho” e uma sobre o
Eneagrama, publicada no Brasil pela Editora Pensamento sob o título: O Eneagrama:
um estudo pormenorizado do Eneagrama usado por Gurdjieff.
Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 35
Ele declarou:
3
Inspirado nesses e outros dados e nos Relatos de Belzebu a seu neto de Gurdjieff, escrevi
uma obra de ficção que trata, dentre outras coisas, da provável origem extra-terrestre
do Eneagrama, que foi publicada sob o título “Apocalipse 21: Uma Visão do Bem Que
Está Por Vir” (Quartet Editora).
Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 37
tradições orais, por exemplo, Gurdjieff sustenta que este símbolo “não
é objeto de uma tradição oral”.
Quando discute as origens do Eneagrama Gurdjieff ensina:
Figura 1
42 Khristian Paterhan C.
1/7 = 0, 142857...
2/7 = 0, 285714...
3/7 = 0, 428571...
4/7 = 0, 571428...
5/7 = 0, 714285...
6/7 = 0, 857142...
7/7 = 0, 999999... = 1
Figura 2
8 1
7 2
5 4
Figura 3
Figura 4
Centro Motor
ou Centro do Movimento
9
8 1
7 2
Centro Centro
Intelectual 6 3 Emocional
5 4
Você pode observar como, para cada Centro, existe uma manifestação
eneagramática “tripla” e um correspondente vértice do triângulo central.
Os números associados ao Centro Motor são: 8, 9 e 1; os associados ao
Centro Emocional são 2, 3 e 4; e, finalmente, os associados ao Centro
Intelectual são 5, 6 e 7.
A localização dos Centros como se vê no gráfico não é aleatória. Obe-
dece a uma ordem exata, revelada por Gurdjieff a seus alunos e que foi
preservada por Ouspensky no Capítulo IX da obra citada. Não tratarei
deste tema aqui por sua complexidade e porque só costumo falar sobre
ele com quem já tem um certo tempo de prática com o Eneagrama.
Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 47
Figura 5
Centro
do Movimento
Pé esquerdo Pé direito
HCI HCD
(Centro Intelectual) (Centro Emocional)
Figura 6
Centro Motor
Seres Humanos do Grupo número Um de Gurdjieff
Tipos Eneagramáticos 8, 9 e 1
9
8 1
7 2
Centro Centro
6 3
Intelectual Emocional
5 4
4
Sobre o “7 Princípios Herméticos” consultar minha obra Iniciação e Autoconhecimento:
Um Guia para o seu Despertar Espiritual.
Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 53
Figura 7
9. Círculo Interno
da Humanidade
8. Seres humanos do Grupo Quatro (em desenvolvimento da cons- 1. Seres humanos dos Grupos Um, Dois e Três. – Níveis físico,
ciência de si). Os três centros inferiores iniciam o processo emocional e intelectual em desequilíbrio. Visão parcial e sub-
de equlíbrio. Necessidade de superesforços para jetiva da realidade e do mundo. Tipos Eneagramá-
manter o processo em andamento. ticos não trabalhados. Traços Principais são
desconhecidos e dominam suas manifes-
tações egóicas (Humanidade mecânica
de Gurdjieff).
5. Seres humanos do Grupo Cinco. Maior desenvolvimento da 4. Seres humanos que desejam conhecer a si mesmos e iniciam
consciência de si e iniciando o desenvolvimento da consciência processos de autoconhecimento e de elevação de seus níveis de
objetiva. Três Centros em equilíbrio. Iniciam Atualização dos Cen- consciência subjetiva, através de leituras, métodos de auto-ajuda,
tros Superiores. terapias, análises de diversas linhas, métodos e sistemas diversos;
por meio de instituições e/ou grupos místicos, fraternais, religiosos,
esotéricos, sectários etc, de acordo com o Grupo humano a que
pertencem e a seus Traços Principais. Grandes riscos de erros e
desvios no processo.
54 Khristian Paterhan C.
1. Qual é o Grupo (Um, Dois ou Três) ao qual pertenço como ser hu-
mano no nível “mecânico”.
1. O Esquecimento de Si Mesmo
2. A Consideração Interna
3. A Identificação
Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 57
9
Figura 8 8 1
Grupo Um dos seres humanos /
Centro Motor ou do Movimento /
Tipos 8, 9 e 1.
Figura 9
4
Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 59
Figura 10
SOBRE A IDENTIFICAÇÃO:
5
Do livro Fragmentos de um ensinamento desconhecido, de Ouspensky.
66 Khristian Paterhan C.
“outros eus” que fazem parte dos nossos mapas eneagramáticos? Por
acaso temos um “eu” que sofre “tolamente”?
Temos um “eu” que não sabe amar? Temos um “eu” protelador?
Um “eu” vaidoso? Um “eu” moralista? Um “eu” medroso? Ao mesmo
tempo, e sabendo que para cada Traço ou Defeito Principal existe uma
Virtude, um Poder em potencial que podemos desenvolver e atualizar,
devemos concluir necessariamente que a conquista da Virtude por trás
dos nossos Traços Principais nos permitirá desenvolver positivamente
o potencial de todos os demais “eus” dos nossos mapas eneagramá-
ticos. Ainda mais, talvez, atualmente alguns desses “eus” sejam já os
nossos “aliados” psicológicos e só devemos nos tornar conscientes de
suas “presenças”. A questão dos “eus” na psicofilosofia de Gurdjieff é
fundamental, já que, a grande conquista interior passa necessariamente
pelo controle, transmutação (ou até a “morte” de alguns deles) e governo
de todos os pequenos “eus” por um único “Eu”, permanente, reflexivo
e consciente. Isto é o que torna “indivíduo” (sem divisões interiores)
aquele que conquista a “máscara” ou personalidade. Enquanto o Traço
Principal não for conquistado, o comando da “personalidade” ficará
a cargo de um “falso eu” e de todos os que a ele estão atrelados. Só o
profundo conhecimento de si mesmo poderá devolver o comando da
personalidade ao “verdadeiro Eu”. Não vou me estender mais aqui sobre
este assunto, que trato com mais profundidade na minha obra Iniciação
e autoconhecimento.
Enfim, o modo gurdjieffiano de mostrar o Eneagrama dos Traços
Principais apontava, na minha opinião, na direção da descoberta de todos
os nossos “problemas internos”, de todos os 9 “eus” e seus “subtipos”,
com o objetivo de que o conhecimento de si mesmo fosse “completo”,
ou seja, que nossos Eneagramas internos se tornassem conhecidos para
nós mesmos. Então, conhecer o Traço Principal é importante, não apenas
como uma classificação, não apenas para repetir como “papagaio” “sou
4”, “sou 7” ou “sou 3 com asa 2”, como ouço por aí de pessoas para
as quais o Eneagrama se tornou mais uma “armadilha” que só aumenta
seu grau de “sono”. Quando nos tornamos conscientes de nosso Traço
Principal e conscientes dos demais “eus” que habitam nosso complexo
68 Khristian Paterhan C.
Figura 11
Núcleo Núcleo
da “consideração interna” 5 4 da “identificação”
Os que vivem só pelo mental. Isolados da realidade. Os que apre- Os que sofrem “totalmente”
endem mas não compreendem (O sofredor original invejoso)
(O avarento e solitário pensador). Os sofredores “inconscientes”.
Parte I
8 1
Tipos 8, 9 e 1
O Tipo 8
O eu
que confronta
Lealdade e proteção:
algo valioso que se pode cobrar
ter limites e sabem que não vão parar de conquistar novos territórios e
ainda que nunca nenhuma dessas conquistas será tida como a última.
Ao invés do “castelo mental” no qual Tipos 5 desejam refugiar-se, e ao
invés do “território limitado da sua própria ordem” que Tipos 1 tentam
preservar, os Tipos 8 decidem que o único modo de enfrentar o mundo é
criando uma ilimitada zona de poder pessoal, na qual eles se sintam com
o controle absoluto e permanente. Sentem, instintivamente, que nunca
deverão parar de estender-se e crescer. Descrevendo esse estado de perma-
nente ambição num momento de total entusiasmo com respeito ao fato
de sentir-se “maior que o mundo”, um dos nossos alunos escreveu:
“Minha máscara não me dá limites, posso ocupar qualquer espaço
que eu quiser.”
Qualquer Tipo 8 poderia dizer o mesmo, e nesta frase o Traço Prin-
cipal manifesta toda a sua potência.
O traço principal:
o excesso e a luxúria aumentam a agressividade
Para uma síntese do exposto até aqui, diríamos que em tudo o que
Tipos 8 fazem, querem e dizem, existe excesso ou se procura o excesso:
excesso de brigas, excesso de controle, necessidade excessiva de infor-
mação e dados, excesso de cobrança, ambição excessiva de um “espaço”
ilimitado a se conquistar. O excesso é o “grande calo” dos Tipos 8. Eles
querem tudo em demasia. O Dicionário Aurélio define o excesso como
“aquilo que excede ou ultrapassa o permitido, o legal, o normal” e
atrela a palavra à violência: cometer excessos é uma forma de violência,
de agressão, contra si mesmo e contra os outros. O excesso implica um
descontentamento permanente para este Tipo Eneagramático, existe uma
possibilidade muito grande (tinha que ser muito grande, não é ?) de nunca
sentir-se satisfeito. Portanto, possui uma capacidade para frustrar-se com
mais facilidade que os outros Tipos Eneagramáticos, excetuando-se os
Tipos 4. Assim como Tipos 4 acham que a felicidade parece fugir deles
a cada instante e sofrem pelo que falta no presente, os Tipos 8 jamais
86 Khristian Paterhan C.
sem perder as emoções, isso tem me ajudado muito. Mas ainda tenho
algumas situações, que se repetem muito, (nas quais) a raiva visceral
toma conta totalmente. Eu sinto isso fisicamente, parece que um furacão
toma conta de mim. Se eu não deixar sair, a sensação é que vou explodir
e aí eu explodo.”
“(...) Se por acaso a raiva que sinto é injusta por não haver cul-
pa na pessoa de quem estou sentindo a raiva, eu vou a ela e peço
desculpas.”
Insensibilidade e poder
O eu
que espera
“A outro (Gurdjieff) disse que seu traço (principal) era que ele não
existia de modo algum.
– Compreenda – disse Gurdjieff – eu não o vejo. Isto não quer dizer
que você seja sempre assim. Mas, quando é como agora, não existe
de modo algum.”
Gurdjieff citado por Ouspensky em
Fragmentos de um Ensinamento Desconhecido
100 Khristian Paterhan C.
Acho que todos vocês, meus queridos 9, vão concordar comigo: Tom
Jobim foi o melhor dos Tipos 9 que nasceu neste belo país! Quando
vim viver neste paraíso terreno e comecei a ver Tom Jobim na TV, “ao
vivo”, cantando desse jeito tão amigo, tão íntimo, simplesmente, me
tornei mais um dos seus milhões de fãs! Gravei uma de suas últimas
entrevistas-reportagens-ecológicas, realizadas pela TV Bandeirantes, em
que ele falava da Mata Atlântica, dos pássaros, da natureza que tanto
amava. Ouvir seus papos descontraídos na TV era muito agradável.
Quando soube da sua morte, foi como se perdesse um amigo muito
querido. Com certeza, esse foi o sentimento de milhões de brasileiros e
estrangeiros que o amavam por sua simplicidade e bonomia.
Atrevo-me a dizer que Tom Jobim se enquadra, perfeitamente, na
descrição do Tipo 9 “sadio” que Riso faz em seu Tipos de Personalidad
- El Eneagrama para descubrirse a si mismo: “(...) indivíduo dono de si
mesmo (...) autônomo e realizado: equânime e satisfeito. Profundamente
receptivo e pouco coibido, emocionalmente estável e pacífico. Otimista,
apaziguador, apoiador dos demais, paciente, bonachão, modesto, uma
pessoa genuinamente agradável.”
Pode-se perceber facilmente todas essas características em Tom Jobim
na longa entrevista que deu ao jornalista Walter da Silva, numa manhã
ensolarada de novembro de 1994 na sua casa do Jardim Botânico no
Rio. A longa entrevista (“48 laudas, 67.258 caracteres”, segundo o re-
pórter) foi publicada numa “edição histórica” da revista Qualis e dela
pincei algumas respostas que confirmam o Tipo Eneagramático “sadio”
mencionado. Vejamos o que o excelente jornalista escreveu sobre este
popular brasileiro:
“Ele não era uma pessoa que se entrevistasse, mas sim alguém com
quem se poderia ficar ali conversando ao sabor de seus pensamentos de
multidirecionalidade (...)”; “(...) pude notar seus gestos largos e vagaro-
samente generosos (...) as mãos eloquentes mantendo os braços sempre
abertos reforçavam o calor da hospitalidade dos agradáveis momentos
Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 101
ir “pra fazer a América e tal”? Claro que não! Mas um 9 pode, mais
ainda quando está realizado. Outro aspecto do seu Tipo aparece quando
fala sobre as perdas das suas composições. O jornalista lhe pergunta:
“Você, que compôs mais de 400 músicas...” Ele não o deixa terminar e
responde: “Dizem, dizem... Pelo menos umas cem se perderam. Que eu
saiba, aí no arquivo talvez só tenham umas trezentas. Você vai perdendo
no avião, vai perdendo...”
Outra de 9 no Tom é esta. Quando responde à pergunta: “Falando
sobre a bossa nova, um assunto inevitável, o que é que você guarda desse
período?”, responde: “Ah, sei lá. É tanta coisa. Eu acho que é tudo isso
aí que você disse (rindo). Mas de porre a gente não se lembra de quase
nada, né, tá tudo meio apagado (...)” Após falar da bossa nova, volta a
falar da imprensa, do seu amigo João Gilberto a quem acha “bastante”
introvertido. Então, o jornalista aproveita o “gancho” e lhe pergunta:
“Você é uma pessoa extrovertida, né?” e ele responde: “Talvez, por
força das circunstâncias. Porque quando era garoto, eu gostava de subir
numa árvore e ficar quieto lá em cima. Gostava de subir no telhado...
Tinha um pouco um caráter meditativo. E hoje em dia, naturalmente,
tudo isso foi bagunçado (...) hoje em dia inclusive tá difícil trabalhar
porque é entrevista o tempo todo, né?” Quando o jornalista comenta que
“você já produziu muita coisa e escreveu a história da música popular
brasileira...”, Tom o interrompe novamente e diz: “Exato, eu acho que
já posso parar, né?” Logo a pergunta inevitável: “O que você espera da
tua vida e qual o teu plano para o futuro?” Sua resposta é: “Descansar,
comprar uma bengala, uns óculos novos (rindo) pra poder ver as moças
de uma distância oficial.” Falando sobre sua absoluta falta de ambição e
demonstrando seu desinteresse pela fama e o sucesso que já possuía diz:
“(...) o que move é que tem essas músicas bonitas, né, que foram feitas
e foram movidas pelo amor. Ninguém pensou em dinheiro e nada disso
(...) eu achei que isso não ia sair de Ipanema, achei que isso ia chegar
em Copacabana.” O jornalista, então, lhe pergunta: “Vocês não tinham
pretensão de ‘vamos atingir São Paulo e as outras capitais?’” E ele res-
ponde como todo Tipo 9 faria: “Não, nada disso. ‘Vamos atingir São
Paulo’, essa conversa já me dá uma preguiça. ‘Vamos fazer os Estados
Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 103
Quando alguém nos diz que alguma coisa foi adiada, postergada, pro-
telada, esquecida, etc. sabemos que provavelmente esta coisa não estava
pronta, não foi concluída porque alguém “esqueceu” de terminá-la, não
foi considerada como algo “importante a realizar”. Todos nós sofremos
desta “doença do amanhã”, só que os Tipos 9 a sofrem “principalmente”.
Repetidas vezes e sobre diversas ações, projetos, tarefas e necessidades,
em qualquer nível, ouvimos dizer “amanhã vou continuar”, “amanhã
farei”, “amanhã sim, começarei a...” O problema é que essa “protela-
ção” pode voltar a ocorrer “amanhã”. Por isso a “observação” deste
“efeito” do Traço Principal é muito valiosa não só para os Tipos 9, mas
para todos nós.
Mas no caso dos Tipos 9, o problema não é somente esse e sim um
mais profundo que completa e motiva este “Traço Principal.”
me dava uma ‘identidade’ que não possuía. No papel era ‘mais realista
que o rei’ e embora nunca chegasse cedo ao escritório – certamente um
sinal da ‘Preguiça’ a me dizer que aquele papel nada tinha a ver comigo
– era capaz de passar dois ou três dias diretos sem dormir, trabalhando,
se as circunstâncias assim o exigiam, não tirar férias, tudo em prol da
chamada ‘honra da firma’ (...) Na medida em que minha identidade esta-
va inteiramente amalgamada com um papel, eu não podia me relacionar
com tranquilidade, de igual para igual com as pessoas que ocupavam
outros papéis. As pessoas eram superiores ou inferiores (...) Isto me fazia
falhar sempre que tinha uma negociação a fazer com um ‘superior’ (...)
se não contasse com o apoio de algum companheiro, me acovardava e
era malsucedido ou simplesmente postergava ou depreciava a entrevista
(...) Em seguida, a pressão social e do cônjuge me faziam retornar ao
desempenho do papel (...)”
Simplesmente, ele não existia para si mesmo, para suas necessidades,
enfim, tudo era porque tinha se casado, porque tinha que trabalhar e
ganhar dinheiro, porque deve ser um executivo bom, porque, tudo era
apenas um “papel” que demonstrava um forte “movimento negativo
contra a seta ao Ponto 3 do Eneagrama. É disto que se trata o “Traço
Principal”.
Esquecimento de si mesmo:
eis a causa do traço principal!
A ideia de “evitar problemas” tem a ver com uma redução das pró-
prias necessidades e um abandono do que teria que ser cobrado e/ou
priorizado nos seus relacionamentos pessoais e profissionais.
112 Khristian Paterhan C.
Lembrança de si mesmo:
aprendendo a amar a si mesmo
O eu
que ordena
G. I. Gurdjieff
Todos rimos muito quando foi lida esta parte. Rir é importante. Quero
que neste trabalho de observação que você fará de si mesmo, tenha sem-
pre em mente a necessidade de realizá-lo com alegria. Os antigos sábios
vedantinos costumavam exigir, como uma das mais importantes virtudes
do discípulo que deseja conhecer a si mesmo, a alegria. Eles baseavam
este pedido no fato de que se alguém procura atingir níveis superiores
de consciência e está disposto a caminhar em direção à iluminação, não
pode realizar esse maravilhoso trabalho com sinais de seriedade e rigidez.
No caminho à união com o Ser, só se pode estar contente. Portanto, tente
não levar-se muito a sério nesta busca maravilhosa. Aprendendo a rir de
si mesmo, talvez você possa compreender que o trabalho de conquistar
a si mesmo se tornará tão mais cheio de satisfações quanto maior for o
prazer com que o consiga realizar. Não pense que para unir-se ao Espírito
você precisa ser tão sério e tão severo consigo mesmo, que a alegria não
tenha lugar no seu Sendero. Espero que tenha compreendido a mensagem
Número 1! Agora, vamos começar a “pisar nos seus calos”, como diria
Gurdjieff. Prepare-se!
O próprio “território”
contrarie seus planos, propostas, objetivos (ainda que tais ameaças sejam
apenas modos diferentes e positivos de ver as coisas), será enfrentado
com raiva. Essa raiva se manifestará como crítica, como severidade, como
teimosia, como rigidez. “A Máscara 1 demonstra com muita nitidez
a forma rígida, esquematizada de me relacionar com a vida. Quando
me deparo com os percalços do caminho, tão naturais e possíveis, fico
irado!”, reconhece um aluno. Tudo o que se oponha à ordem deverá ser
destruído com argumentos irônicos, com demonstrações de suficiência
que, logicamente, deverão ser as mais perfeitas possíveis, porque não é
bom que as outras pessoas enxerguem a precariedade de suas “perfei-
ções”. O ressentimento estará pronto para aparecer junto à raiva quando
não se atinge o esperado. Veja, em seguida, como um dos nossos alunos
descobre esta questão em si mesmo:
“Me identifiquei com o Tipo 1 por meio das frases chaves ‘tenho que’
e ‘você deveria’... Por dentro estou sempre dizendo ‘Eu tenho que...’ e
‘Você deveria’. Isso gera uma raiva contra mim mesmo por não corres-
ponder às exigências que me autoimponho e contra os outros por não
agirem conforme o meu ‘código interno’. Essa raiva se tornou um com-
plicador maior já que sinto que tentei desde pequeno ser perfeito...”
O severo acusador interno o sagaz cobrador e vigilante dos limites, o
astuto e impiedoso crítico interno, estará sempre presente e será sempre
protegido pela RAIVA. Essa raiva terá sempre justificativa. Então será fácil
criticar ou menosprezar os outros, será fácil apontar os erros alheios,
sim, você sabe como fazer isso de um modo... perfeito, porque você sabe
como fazer isto com você! Por outro lado, a raiva e o ressentimento são
cúmplices quando se julga os outros segundo os rígidos padrões internos.
Vejamos isto no depoimento de um pai Número 1 que decide dar “uma
lição” a uma de suas filhas:
“Entrei no quarto de minhas filhas e encontrei muita desordem
(brinquedos espalhados por todos os cantos do quarto)... Exacerbou-se
a raiva que nutria há muito tempo em relação à filha mais nova pelo
seu desleixo e descaso com os estudos. Fui tomado de grande ira. Juntei
todos os seus ‘ídolos’ (brinquedos) e atirei-os ao lixo (não é admissível
que alguém que já possua certa compreensão possa gastar seu tempo e
134 Khristian Paterhan C.
Rigidez interna/externa
Temos até o momento uma visão (sabemos que ainda não é muito
perfeita) de certos fatores nucleares que se ligam entre si e que vão de-
finindo com mais precisão a Máscara 1: A criação da própria ordem e
do próprio “território” cujos limites protegem o mundo quase perfeito
que se pretende manter em constante aperfeiçoamento (expressão dis-
farçada da insegurança adquirida) provocam o surgimento dos estados
de “raiva/ressentimento/rigidez”, como consequência da percepção de
que essa “perfeição” deve ser mantida “porque deve ser mantida” e do
fato de que não pode ser abandonada sob o risco de ficar sem “chão”.
Então, como escapar dessa prisão? Quantas necessidades começam a
ser abafadas nela? Como sair dessas regras e normas sem que ninguém
perceba? Como escapar das próprias limitações sem que outros saibam
que você não é tão perfeito (a) assim? Como deixar de cobrar dos outros
sem raiva, sem ressentimento e sem angústia? Como permitir-se determi-
nadas vivências “proibidas”, “fora da ordem”? É comum constatar nos
nossos workshops o fato de que muitos Tipos 1 têm que comportar-se
em relação a certas questões como se fossem os protagonistas desses
famosos romances que mostram seres humanos de dupla personalidade.
Você sabe: Belle de Jour, De Bar em Bar, Dr. Jekill e Mr. Hyde. Sim,
sabemos que não é bem assim com todos eles, porém o que não pode
ser aceito como parte da “ordem e do território” será vivido disfarça-
damente, será vivido por um outro “eu”, que terá certas licenças, certas
vantagens que Tipos 1 acham inconfessáveis. De fato, algumas são o
claro exemplo da pesada carga de repressão que algumas dessas licenças
carregam. Certa senhora, que participou de um dos nossos workshops,
confessou o seguinte:
“Fui com um grupo fazer um trabalho terapêutico por uma semana.
Fiquei muito excitada com os preparativos, principalmente porque o
grupo era novo e ninguém se conhecia. Lembro-me perfeitamente da
felicidade e da sensação de liberdade que tive logo que o avião levantou
138 Khristian Paterhan C.
A divisão interna
qual aceitava tudo o que na sua vida familiar era intolerável. Quando
esse outro lado é descoberto... tudo acaba para ele...(Não deixe isso
acontecer com você, no caso de se parecer com este personagem!) É
hora de mudar! Analise o conceito de CONCILIAÇÃO no capítulo corres-
pondente ao Tipo 9 e determine-se a construir uma ponte entre seus
aparentemente irreconciliáveis extremos.
Uma de nossas alunas definiu esta procura de uma visão mais ampla,
serena, tolerante e abrangente da realidade como um de seus principais
esforços na busca da conciliação interior: “O Tipo 1 deve cultivar a tole-
rância, a esperança... não colocar todas as coisas dentro de um formato.
Deixar as coisas e as pessoas serem como são, sem querer mudar nada e
ninguém. Tentar ver o outro lado da questão – em todas as questões – e
ter a certeza que ‘o frio pode ser quente’ num outro nível...”
Para encerrar esta parte, penso que será valioso refletir nas palavras
de Laura, uma de nossas alunas Tipo 1 sobre seus esforços em direção
à Serenidade:
Centro Emocional
Tipos 2, 3 e 4
O Tipo 2
O eu
que ama
Observando a máscara 2:
a sutileza do orgulho
muito consciente para que não caia nestes extremos, tão frequentemente
usados pelos Tipos 2 para atrair atenção e amor. Os Tipos 2 adoram
que lhes falem frases tais como: “Não, você não é tão ruim assim, não
se castigue tanto!” Faz parte deles a capacidade de sentir orgulho, seu
“pecado capital”, até quando conseguem ser reconhecidos como “tão
humildes”, o que eles certamente não são (poderia acrescentar “em ab-
soluto” só para alegrar a certos Tipos 2 que gostam dos extremos). Com
esta advertência, iniciaremos o processo de auto-observação, mediante
alguns depoimentos que nos mostram como surge a Máscara 2. Uma
de nossas alunas, Marta, descreveu o que pode ser um exemplo muito
apropriado da infância típica de alguns Tipos 2 com estas palavras: “Eu
sempre me senti uma criança muito amada, desde que eu desse a cada
adulto o que ele queria receber...”
André, outro aluno, afirma: “Acho que bem cedo aprendi que,
agradando aos outros, eu recebia o que mais queria: o amor das
pessoas.”
A maioria dos Tipos 2 tem estas lembranças da infância: agradar
aos outros para receber amor. Para alguns essa lembrança é positiva;
para outros, nem tanto. Existe algo de semelhante nas infâncias dos
Tipos 1, 2 e 3: a percepção de poder receber algo em troca de algo que
parece ser o mais valioso: em troca de ordem e bom comportamento
(Tipo 1), em troca de carinho e amor (Tipo 2) ou em troca de bons
resultados (Tipos 3). A necessidade de amor e carinho toma nos Tipos
2 muitas formas, porém todas se resumem numa frase de tremendo
conteúdo psicológico e de extraordinárias consequências: a necessidade
de ser sempre para ou de agir sempre para... e nunca ser ou agir para
ou por si mesma (o). Ou seja, a falta de equilíbrio entre dar e receber
e a falta de discernimento para saber quando dar, sem querer bancar
o onipotente doador (a). Vamos analisar esta questão do ser para com
maior detenção.
Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 159
orgulho “sabe” se disfarçar ao ponto de, muitas vezes, não ser nem
percebido. Na ideia de poder dar-se aos outros, existe um sentimento de
onipotência que alguns Tipos 2 definem como um “sentimento de poder”
ou, nas palavras de um deles: “a gente se sente capaz de fazer qualquer
coisa pelos demais”. Reflita no seguinte depoimento: “Nada para mim
parecia impossível, tanto que às vezes cheguei a manipular amizades,
nessa tentativa de mostrar que os outros são estreitos, incapazes e tal-
vez um pouco covardes. Amizades pessoais, geralmente femininas, têm
sido notoriamente influenciadas pelo meu Tipo 2 sem limites, a ponto
de eu ajudá-las a tomar decisões difíceis, que sem mim não poderiam
ter tomado, e até aqui enquanto escrevo me deparo na teia de aranha
de minha personalidade que, novamente, influencia meus pensamentos
sobre meu poder de manipulação...”
A consideração interna, não podemos esquecer, é um outro modo
de manifestar este orgulho, na medida em que, “os outros”, são os que
deveriam saber como reagir, como tratá-los da maneira certa. Outra
coisa que devemos observar é que este orgulho provoca uma forte ne-
cessidade emocional de evitar qualquer rejeição, até porque alguns Tipos
2 acham que sabem o que as pessoas necessitam ou esperam deles. Esta
aparente certeza (um fruto sutil do orgulho e da consideração interna)
tem como consequência o que está expresso nas seguintes palavras de
Inês, uma aluna Tipo 2:
“... o que fiz a vida inteira foi agir sempre de acordo com o que as
pessoas esperavam de mim para não ser nunca rejeitada”.
Muitas vezes, Tipos 2 descobrem tarde o fato de terem vivido ape-
nas em função de outros, esquecidos totalmente de si mesmos (veja
a semelhança com o Tipo 9) e com a sensação de ter perdido muito
tempo. Esta questão de precisar satisfazer, agradar, e viver para os ou-
tros esconde outra face dos Tipos 2 que lhe convidamos a considerar
reflexivamente.
Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 163
O “ser para” faz com que muitos Tipos 2 (e/ou Tipos 1 e 3 nos quais
a influência dos Tipos 2 se torna marcante) tenham o sentimento de serem
criaturas especiais, sensíveis e capazes de dar-se sem limites aos “outros”.
Existe um sentimento de orgulho por serem tão amorosos e dadivosos
até o ponto de acreditarem serem os únicos capazes de compreender as
necessidades alheias:
“Quando ajudo alguém, e gosto muito de fazê-lo, é como se estivesse
fazendo um grande feito, é como se dissesse para mim mesmo: Viu?, sou
capaz até de ajudar qualquer pessoa, inclusive quem é inferior social-
mente. Até na pretensa humildade bate o orgulho. Considero-me uma
pessoa ótima, que sofre com o sofrimento das pessoas, com muito amor
164 Khristian Paterhan C.
e carinho para dar, choro quando vejo crianças na rua, mas sinto e ajo
como se fosse a única pessoa no mundo a agir dessa forma... É muito
difícil admitir e assumir tudo isso, principalmente quando se vive em
função dos outros, para agradar, para receber atenção especial, e quando
isso não ocorre é uma grande frustração, pois gosto de ser considerada
importante e acho até que me amo...”
Walter um dos nossos alunos escreveu algo que revela esta “sensibi-
lidade” especial para a importância do relacionamento com os outros:
“Acho que bem cedo aprendi que agradando aos outros eu recebia o
que mais queria: o amor das pessoas. E assim foi que sempre evitei, de
todas as formas, machucar, ferir, desagradar as outras pessoas. Parece
que ao machucar alguém, eu me machucava muito mais profundamente.
Às vezes, sentia que a ferida em mim tinha sido tão grande, que, de al-
guma maneira, eu procurava o mais imediatamente possível compensar
aquele estrago.”
Movimentos de 2 a 8 e de 2 a 4:
aprimorando a observação de si mesmo – (ver figura na página 334)
meio do qual sentimos nosso real valor. Não precisamos que alguém
de fora nos dê valor; precisamos, sim, apenas compartilhá-lo sem co-
branças. A equanimidade é esse estado no qual posso ser para os outros
sem deixar de estar e ser para mim mesmo, sem necessitar me perder de
mim mesmo. O estado no qual já não se precisa pedir amor. Ele chega,
porque apenas se deixa de cobrá-lo.
O inesquecível Mestre Osho em Meditação: A arte do êxtase diz a
respeito:
“Se alguém pede amor, não obterá amor, porque o simples fato de pe-
dir torna-o pouco amorável, torna-o antipático. No simples fato de pedir,
faz-se uma barreira. Ninguém pode amar-te se estiveres pedindo amor.
Ninguém pode amar-te! Só podes ser amado quando não pedes amor. O
simples fato de ‘não pedir’ torna-te belo, torna-te relaxado...”
O eu
que compete
Na sua obra Relatos de Belzebu a seu neto, Gurdjieff faz uma descri-
ção muito engraçada dos Estados Unidos (o país mais Tipo 3 do mundo),
destacando como, desde a infância, as crianças norte-americanas são
programadas para entrar nos dollar business e que quando cada uma
delas chega à idade adulta, “o impulso dominante de sua febril existência
é a fúria de fazer dólares e o amor a esses mesmos dólares”, e por isso
“cada um deles se ocupa sempre de ‘negócios de dólares’, e de vários
ao mesmo tempo”. Ele também nos lembra o arraigado hábito dos
norte-americanos de utilizar a publicidade “com o fim de oferecer da
parte deles, em todo o planeta, uma imagem que em nada corresponde
à realidade”, razão pela qual se transformaram, ao longo dos anos,
“em seres tão virtuosos na arte da publicidade”, que possuem o poder
de convencer-nos de que “uma mosca é um elefante, e fazem isto tão
frequentemente, que, nos dias de hoje, se a gente encontra um verdadeiro
elefante americano, tem que ‘lembrar-se de si mesmo com todo seu ser’
para não ter a impressão de que é uma simples mosca”.
comuns, mas o que ela gosta mesmo é disso: agitação, muito trabalho e
várias atividades ao mesmo tempo. Workaholic encarnada.
Quase no final do artigo outras “amostras” do Tipo 3 da grande
Cláudia: “...os olhos da atriz não deixam de espiar as possibilidades
de levar seu trabalho para além das fronteiras... ‘Estamos tentando ir a
Portugal... os americanos (de novo os americanos!) também já ficaram
muito aguçados com a proposta do show. Estamos estudando...’, des-
pista. Os business de Cláudia Raia na época eram administrados pelo
pessoal de sua empresa, a Raia Produções Artísticas, que empregava cerca
de vinte pessoas sob o comando, é claro, dela própria. ‘Tenho uma veia
empresarial muito forte’...” Possuidora de uma forte influência do Ponto
2 do Eneagrama ela atrai naturalmente as pessoas e também o sucesso.
Todos os brasileiros, com certeza, esperam que essa sua performática
vida de artista nos brinde sempre com ótimos espetáculos.
Sim, pode parecer muito forte, porém por trás destas palavras se esconde
a chave que permitirá a qualquer Tipo 3 iniciar a observação de si mesmo.
Quando os possuidores desta máscara participam dos nossos workshops
sobre o Eneagrama, a gente percebe quão ansiosos estão para conhecer-se,
quão ansiosos estão para ter uma experiência interior. A falta de atenção aos
seus mundos internos os leva a procurar com ansiedade e paixão a resposta
a todas as suas “inquietudes espirituais”. Realmente, querem saber mais
sobre si, porque sentem que dentro deles mesmos está o que suas atividades
externas nunca lhes proporcionarão. Durante o transcurso dos workshops,
percebem que gostariam de ter mais tempo para si mesmos, que não são
capazes de se abrir emocionalmente com os entes queridos, que não conse-
guem desfazer-se de seus papéis de grandes desempenhadores nem quando
fazem o amor, e que compulsivamente cobram de seus filhos o sucesso, por
que: a) eles o conseguiram e porque inconscientemente não desejam que
seus filhos provoquem comentários do tipo: “os filhos de fulana (o) não
são bem-sucedidos”; b) ou porque acham que além do “sucesso” não existe
outra razão válida pela qual lutar nesta nossa breve existência.
Este temor não apenas tem a ver com o anseio normal que todo pai e
mãe têm, mas também esconde uma egoísta necessidade de passar para
os outros a imagem de um outro sucesso: “os filhos devem ter suces-
so porque eu tive sucesso, devem ser trabalhadores performáticos,
estudantes destacados, porque assim conseguirei fazer com que a imagem
Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 183
Tudo o que se possa fazer “para fora”, para ser admirado, implica
o esquecimento de si mesmo, de suas necessidades emocionais, de suas
necessidades de contato mais íntimo e autêntico com os outros e até
consigo mesmo. Este esquecimento faz parte do movimento ao Ponto 9
do Eneagrama. Também é típica deste Tipo Eneagramático a dificuldade
para meditar, para estar consigo mesmo, para entrar no mundo interno.
Certo Tipo 3 me revelava um dia como havia sentido um verdadeiro
desassossego e incômodo para meditar durante apenas 20 minutos.
Muitos deles percebem que estão “representando um papel” que, ainda
que os outros achem bom, faz com que sintam uma espécie de irrealidade
ou falta de sentido, que às vezes os deixa com a estranha sensação de
estar vivendo “superficialmente”. Vaidade e mentira são os principais
“desvios” a serem observados pelos possuidores desta máscara. Apenas
184 Khristian Paterhan C.
uma sociedade tida como ilusória, fútil e falsa. No Brasil, certo tipo
de mercado esotérico procura preencher esse vazio interior de diversas
maneiras. Certa vez, no jornal O Globo apareceu a foto de um vidente
famoso, que posava do lado de uma das representantes da high society
local. Embaixo, o jornalista informava que este senhor é extremamente
requisitado pelas damas da sociedade brasileira. Na TV, ele anunciava
um serviço telefônico, por meio do qual se prometiam conselhos dos
“melhores videntes” do Brasil. Esclareço que não pretendo julgar este ou
outro tipo de atividades ditas “esotéricas”, mas provocar uma reflexão:
numa sociedade em que tudo pode ser comprado, em que as pessoas
vivem das aparências e motivadas a esquecer o “Ser” em troca do “Ter”,
corre-se o risco de gerar humanos subdesenvolvidos, fracos e pobres no
que diz respeito a seus mundos internos. Vivemos num mundo em que
a pobreza interior daqueles que externamente parecem ter “tudo para
ser felizes” é tão assustadora quanto a pobreza objetiva dos favelados
e miseráveis deste país e do mundo. Realmente, o desenvolvimento hu-
mano é urgente em nossos dias. Tomara que o Brasil seja o arauto ante
as nações desse necessário equilíbrio entre o mundo interno e o mundo
externo, e não apenas uma cópia desse seu Tio Patinhas bem-sucedido
do Norte e que, ultimamente, não anda bem das pernas, certo? Apa-
rências enganam...!
alguém vai fazer isso por mim”, “Quem é bom fica, quem não é dança”,
“Não estou jogando para me divertir, mas para ser rico”, “Não sei se
existe um valor que me bastaria. Quanto mais se tem, mais se quer”,
“Poderia viajar quantas vezes quisesse para fora do Brasil, mas não dá
para ficar muito tempo sem estar a par das flutuações do mercado”, “Se
eu chegar aos 30 anos com 1 milhão de dólares e tiver sociedade no
banco, direi que a primeira etapa foi vencida”, “Quero crescer dentro
do banco” e outras pérolas do tipo. Na matéria, a repórter Mônica
Weinberg descreve (consciente ou inconscientemente) esse mundo Tipo
3 em que tantos pretendem apenas “crescer dentro do banco” e ter “um
milhão de dólares”. Entre os entrevistados, a jornalista destaca um sujeito
que, segundo ela, é “bem-sucedido demais para quem mal faz 30 anos,
embora traga o rosto riscado por rugas precoces”. Entre os sinais de
sucesso dos candidatos ao chamado “exclusivo mundo dos melhores e
bem-sucedidos” estão carros de 37 mil dólares, férias em Nova York (!!)
todos os anos (oh, my God! como é que pode com todo esse maravilhoso
Brasil tão perto!), livros “educativos” tais como O covil dos ladrões,
história do megainvestidor norte-americano Michael Milken, punido
por suas próprias espertezas no mercado financeiro; e Barbarian at the
gates, os bastidores de uma operação entre três ex-sócios da Nabisco. O
quê? Gostou?... Não, não sei; no artigo não se mencionam as editoras.
Sobre gravatas, as mais badaladas no momento são as francesas Hermès
ou a inglesa Tie Rack, claro! Bom, por aí vai essa reportagem dos nossos
novos dollars-men made in Brazil.
Alguns Tipos 3 sentem bem cedo a importância da boa imagem. Ter
uma boa imagem e passar aos outros boas impressões leva-os a rejeitar
aqueles que são, “cinzas” demais, “pouco espertos” ou “pouco brilhan-
tes”, ou “humildes demais”, especialmente se essas pessoas têm algum
tipo de relacionamento com eles.
Falando sobre a influência de seus pais na sua existência, Elza, uma
aluna Tipo 3 reconhece este fato: “De um modo geral, aceitei suas
influências no que elas me pareciam boas para alcançar na vida o que
eu julgava que me interessava. Assim, por exemplo, a postura social de
meu pai era de uma humildade absurda. Apesar de ser um engenheiro de
Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 195
aprender a sentir. Não é fácil para eles, porque, acostumados a viver para
o externo, acostumados a mostrar-se bem-sucedidos em tudo, os Tipos 3
fazem de qualquer trabalho interno uma espécie de prova de capacidade ou
de uma nova oportunidade para mostrar-se como os melhores.
É comum ouvir deles que na terapia tal ou qual, ou na análise, ou
nas dinâmicas de grupo, eles manifestam-se de acordo com as expecta-
tivas do terapeuta, analista ou psicólogo ao qual estão tentando abrir
seus mundos internos sem conseguir o resultado principal, ou seja, uma
genuína transformação. O efeito “camaleão” toma conta do processo,
como Elizabeth nos revela neste depoimento:
“Quando fazia terapia eu conseguia me antecipar às expectativas do
psicólogo, aprendia e lia sobre as técnicas psicológicas usadas por ele e me
adiantava ao que ele tinha para me falar. Eu me sentia até mais capaz do que
ele e logo abandonava essa terapia, sem ter conseguido abrir meu mundo
interior. Em cada terapia eu me comportava dessa maneira e parecia que
sempre conseguia mostrar-me como a melhor em cada uma delas, porém
sentia que ainda não conseguia superar meus obstáculos interiores.”
É importante compreender que as mudanças positivas a serem de-
senvolvidas importam e são valiosas apenas porque você precisa delas.
Não haverá mudanças positivas se você não ficar entregue ao trabalho
interior. Não existe nada que você deva demonstrar para os outros além de
sentimentos autênticos. Você deverá aprender que também vale pelo que é,
e não apenas pelo que você faz. Porém, para atingir este valioso resultado,
é necessário ser verdadeiro. Sim, verdadeiro, primeiro com você mesmo e
logo, como consequência natural, verdadeiro para com os outros.
só Deus, não mais”. Sim, tudo acontece para estes três Tipos no mundo
interno e na sua relação com o ser. Quando a máscara da mentira está
presente, os Tipos 3 agem esquecendo-se de si mesmos, deixando de
sentir, adiando o que é mais importante. Esse é o “movimento” negativo
ao Ponto 9 do triângulo. Quando esse estado de abandono de si mesmo
se afirma no falso ouro dos “ótimos resultados”, o medo de perder essas
fantasiosas fontes de segurança ilusória leva os Tipos 3 a experimentar os
aspectos negativos do “movimento” ao ponto 6. Resultado: impossível
parar (volta ao Ponto 3), é necessário continuar a correr atrás do sucesso,
do triunfo, da carreira, do posto elevado, do alto cargo. Ainda sentindo
a terrível sensação de estar esquecendo-se de si mesmos (Tipo 9) e das
necessidades internas daqueles que compartilham suas vidas pessoais,
os Tipos 3 decidem comportar-se como se não tivessem medo do vazio
existencial, como se os desafios externos fossem uma espécie de droga
que os pode manter sem sentir a dor de estar longe de si mesmos. Neste
aspecto há algo do chamado contrafóbico dos Tipos 6. Observar esse
movimento interno nos seus aspectos negativos é fundamental para o
resgate do verdadeiro no Tipo 3. Observar como a imagem que um Tipo
3 projeta de si mesmo consegue (e isto é algo apavorante para aquele
que se dá conta a tempo) substituir o seu verdadeiro Eu.
Quando Tipos 3 decidem trabalhar em si mesmos e lembrar-se de si
mesmos, pequenas mudanças tornam-se extremamente valiosas. Ima-
ginemos um Tipo 3 com uma sincera capacidade de observação de si.
Talvez perceba que não precisa adiar determinadas ações ou vivências
relacionadas com ele ou seus seres queridos (movimento positivo ao
Ponto 9) até o momento em que esteja com “menos trabalho” porque
ele descobre que ter sempre algo para fazer, ter sempre “muito tempo
ocupado”, faz parte de sua “mentira”, então aparece a “coragem”
verdadeira (movimento ao Ponto 6) para comportar-se de um modo
inédito, para atrever-se a sentir determinadas experiências sem temor. A
distinção entre fazer por temor, ou seja, ir contra a seta eneagramática,
fazer porque se não fizer pode perder algo, ser desconsiderado pelos
outros ou perder sua qualidade de “melhor entre os melhores”, leva o
Tipo 3 ao esquecimento de si mesmo, de suas verdadeiras necessidades
Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 201
Parece até título desses filmes em série, certo? É bom rir, para poder
relaxar e quebrar ou, pelo menos, começar a quebrar algo daquilo que
está cristalizado no coração. Não tente se defender agora, eu sei que você
sente. Com frequência vejo os Tipos 3 quase chorando. Alguns declaram
que não podem. Alguns se fazem de engraçados e tentam, em tom de
brincadeira, dizer coisas que não sabem expressar emocionalmente. Às
vezes são tão desajeitados no momento de mostrar sentimentos ou de
querer agradar os outros que provocam o efeito contrário. Lembro aqui
como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), Tipo 3, fazia
esforços para mostrar-se irritado ou contrariado com relação a qualquer
questão política que precisava de uma “reação enérgica” durante o seu
governo. Simplesmente, ele até hoje não consegue!
Arnaldo Jabor, a quem admiro, expressou bem-humorado, este
aspecto da psique de FHC, escrevendo no Segundo Caderno do jornal
O Globo de 30 de abril de 1996 uma espécie de chamado ao despertar
das emoções do ex-presidente sob o título: “O Presidente deita no divã
do psicanalista”. No subtítulo, esta frase: “Sem reformar seu mundo
interior, FHC não conseguirá fazer as reformas do Estado.” Após uma
entusiasmada sessão de análise que termina com uma terrível advertência
profética (“Do contrário, você vai ser o Gorbatchov latino e vai dar o
poder para algum bêbado louco!”), Jabor, descreve o esperado e catártico
resultado: “...o presidente se ergueu do divã e gritou: – ‘Seus idiotas...
seus cascas de ferida, seus sujos, mequetrefes, nefelibatas!’..., o doutor
entusiasmado grita: ‘– Isso, Fernando!...’ e o presidente totalmente
autêntico, emocionalmente falando, continua desabafando: ‘– Eu... eu
sou o presidente desta joça... Meu povo! as reformas são as seguintes...
Eu sou o que manda, eu sou o pau na mesa, o chefe desta pátria que
nos pariu!’ O entusiasmo catártico é grande e incontenível e o analista
grita: ‘– Dá-lhe, garoto!... isto é... presidente!’”
Achei simplesmente genial porque, é o que sempre se cobrou de
FHC! Realmente, ele deveria ter seguido os conselhos de Jabor para
aprender a desabafar, reagir e defender seus triunfos quando necessário
Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 205
O eu
que idealiza
G. I. Gurdjieff
210 Khristian Paterhan C.
vida e sua obra essa inveja – tristeza eneagramática, que o leva a fixar
como meta o anseio utópico de provocar uma reação catártica ante essa
constante destruição ecológica. Ele foi testemunha de terríveis perdas
e quer evitar outra grande perda. Ele sabe por dolorosa experiência e
com total certeza que esse espírito destrutivo acompanha desde sempre
seus semelhantes. Luta contra inimigos invencíveis, com uma força que
todo Tipo 4 manifesta diante dos obstáculos que ele enfrenta quando
procura aqueles objetivos nos quais fundamenta sua futura felicidade.
Quanto mais incerteza do fruto, mais sofrimento, mais sensação de
falta, mais mensagens do tipo: “Está vendo, eu não falei que ninguém
compreende!?”
A perda do paraíso
ateliê que ele instalara, a céu aberto, em Cata Branca, Minas Gerais:
“Revoltado e angustiado como um personagem de Camus, lembrando
fisicamente Van Gogh, travava, naquele cenário, uma luta insólita contra
as convenções da pintura.” Sim, tipos 4 sentem-se e muitas vezes atuam
como seres especiais, originais, sempre revoltados pela incapacidade
dos outros de enxergar o realmente valioso, o importante, que existiu
no passado ou que poderia existir no futuro. Essa fixação relacionada
com o sentir o que outros não percebem, leva Krajcberg a justificar, por
exemplo, sua não participação no movimento neorrealista dizendo: “Eu
gostava da insolência dos artistas do Novo Realismo, que lutavam con-
tra o abstracionismo, mas, na verdade, eu pertenço à minoria que cedo
percebeu a importância da natureza para o futuro dos homens.”
7
Verso que podemos traduzir mais ou menos assim: “Se para todas as coisas existe fim
e medida e última vez e esquecimento, quem nos poderá dizer de quem nesta casa pela
última vez nos despedimos?”
Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 221
esses fatores que nos tornam diferentes dos outros e que são valiosos
pelo fato de serem únicos e irrepetíveis, terminamos achando que não
existem razões para sermos felizes sendo como somos. Então, falta algo
que os outros parecem possuir. Portanto, Tipos 4 não podem ser felizes no
presente. A tristeza se instala. O sentimento de falta e de perda se alicerça
e a máscara começa a consolidar-se. Quando analisado, o depoimento
nos mostra outras questões eneagramáticas de importância:
Podemos constatar, por exemplo, um forte movimento contra a seta
ao Ponto 1 Eneagramático, quando Helio nos revela: “Passei a cultivar
um ódio violento por ele [seu irmão], que fez com que eu o denunciasse
a meus pais quando fazia algo errado, só para vê-lo castigado.” A raiva
vingativa se faz presente denunciando as imperfeições que ninguém vê
no irmão, uma típica atitude da Primeira Máscara: Vejam, ele não é tão
bom, não é perfeito, acusa o irmão.
Diferentemente de Caim, nosso exemplo não assassinou seu irmão,
nem física nem psicologicamente, tendo superado há muito esse conflito
– “felizmente resgatamos nossos sentimentos fraternos anos mais tarde”
–, provocado por um dos erros mais comuns cometidos pelos pais de
todo o mundo: manifestar preferências exageradas por um dos filhos
ou por alguns filhos, esquecendo que as necessidades de consideração
e amor são iguais para todos e que quando não são levadas em conta,
podem provocar profundas feridas psicológicas que às vezes nunca
cicatrizam, provocando diversas reações negativas que dificultam a exis-
tência harmoniosa desses seres humanos. Vejamos qual foi a estratégia
de Helio para superar sua aparente inferioridade: A percepção errada de
que algo externo é a causa da felicidade do irmão (ele não usa óculos,
ele tem cabelos louros e olhos azuis, ele é mais forte, etc.) faz com que
ele procure uma forma externa de destacar-se perante os outros, para
ser considerado e admirado. A influência do Ponto 3 do Eneagrama e o
movimento ao Ponto 2 “colaboram” para essa descoberta.
Se externamente não pode ser melhor que ele, deve existir algum meio
pelo qual ele consiga destacar-se. Assim, Helio descobre o que o pode aju-
dar a ser considerado pelos outros como valioso: “Destaquei-me sobretudo
pela habilidade na escrita. Os elogios que recebi por minhas redações, no
224 Khristian Paterhan C.
tão cheio de surpresas que não podemos deixar que empanem a beleza da
vida’. Ora! Só o cotidiano do número 4 pode ser tão cheio de surpresas
amargas, de perdas dolorosas, de traições inacreditáveis.”
Basta examinar esta parte do extenso depoimento entregue por
esta gentil mulher, para constatarmos o que chamamos de “sofrimento
inconsciente”. Suas palavras veementes têm o objetivo inconsciente de
mostrar-se direta ou indiretamente como a pessoa mais sofredora: “de-
sabei ao dar de cara com o número 4...”; ...”foi tão forte o impacto que
não consegui conter a emoção, etc.”... “passada e repassada por tantas
provas”. Inconscientemente ela reconhece seu “teatro do sofrimento”,
embora o rejeite: “soluços dignos de uma peça shakespeariana”, “fazer
teatro só se for como ator profissional ou amadorístico (este último
esclarecimento é simplesmente fantástico). O confronto com a máscara
provoca nela uma necessidade de justificar seus sofrimentos inconscientes
da seguinte maneira:
“... Como posso evitar que o impacto com as surpresas desagradáveis
tornem minha vida um mar de lágrimas?” Ela mesma pretende dar a
resposta, a qual, como sempre, de modo veemente, trágico e exagerado
com que alguns Tipos 4 permeiam todas as suas ações e descobertas e
que, logicamente, é uma das causas dos seus sofrimentos inúteis:
“Preparando meu instrumento para refletir à luz, aguçando meus
sentidos para a obtenção do autocontrole e a canalização consciente
de minhas forças, de minha vontade para objetivos anteriormente
priorizados como mais importantes a serem realizados nesse ínfimo
espaço-tempo de que dispomos nessa etapa de vida... é termos o controle
sereno da vida... Em sincronia com a Magnificência da Força Criadora
do Cosmos, a qual devemos nos render e aceitar os desígnios dos quais
desconhecemos as causas.”
Talvez você seja desses Tipos 4 que conseguem perceber a tempo
quais as falhas desse “jogo” do “teatro do sofrimento”. Caso contrá-
rio, vale a pena refletir sobre quais foram as “falhas” que nosso aluno
descobriu nessa atitude “masoquista” perante a existência, e que hoje
parece ter superado o bastante para transformar-se num “exemplar” 4,
mais equânime:
Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 229
dar voltas pela sensibilidade...”. Num outro trecho indaga: “por que
essa enorme atração por máscaras pela vida afora? Em minha poesia há
tantos tipos, tantas máscaras que uma pintora chegou a pintar inúmeros
quadros baseados nos meus poemas...” e se descobre justamente num
desses quadros em que “o Pierrô tirou a máscara e a Colombina conti-
nuou seu jogo mascarada”. Ela descreve assim sua descoberta: “Um dia,
refletindo sobre a beleza do quadro, fiquei chocada ao certificar-me de
que aquela Colombina era eu. Então enumerei todas as máscaras usadas
no decorrer da vida e fiquei atônita ao constatar como, nos poemas, lá
estavam descritos certinhos os papéis assumidos. Percorreu-me um frio
pela coluna! Afinal, quem era eu?”
Esse viver assumindo outros papéis, renegando a si mesma, criando
um “personagem”, botando uma máscara, além de ser em si uma causa
de sofrimento, vai gerar outras reações negativas. É um sofrimento que
pode chegar a ser somatizado. Nossa aluna percebe que essa repressão
do seu modo de ter, ser e sentir “... Levou-me a um estado emocional
tal que comecei a somatizar minha dor pela pele, pelo pâncreas e depois
pelo coração...” Uma reação semelhante vai acontecer com nosso aluno:
“Aos 17 anos passei a sofrer de uma enxaqueca miserável, que não me
abandonava e me provocava insônia e a sensação de estar enlouquecen-
do... Meu pai me levou ao médico e ficou evidente que eu precisava de
ajuda, de um tratamento terapêutico. Precisei tomar calmantes pesados
para conseguir dormir.”
É necessário assinalar aqui que a somatização do sofrimento incons-
ciente manifesta-se em todos os Tipos Eneagramáticos, sendo que, para
Tipos 4 e Tipos 6, essa somatização pode ser muito mais severa e/ou
desastrosa, razão pela qual estes tipos e os tipos ligados diretamente pelo
movimento da seta eneagramática (Tipos 1 e 2 para o caso do Ponto 4
e Tipos 9 e 3 para os casos ligados ao Ponto 6), devem tentar realizar
um trabalho mais profundo a respeito.
Espero que você, querido (a) leitor (a), Tipo 4 ou não, reflita nas suas
próprias formas inúteis de sofrimento e tome as medidas necessárias para
que não dominem de tal maneira sua existência a ponto de convertê-lo
(a) numa vítima de si mesmo (a).
Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 231
“Como eu sabia que meu pai não tinha dinheiro para o tratamento,
mas que se sacrificaria por mim, tomei a decisão de fingir que estava
bom. Joguei o vidro de calmantes pela janela e até hoje, 29 anos depois,
Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 235
nunca mais coloquei em minha boca algo semelhante. Pela primeira vez
em minha vida, decidi não mais apoiar-me em fantasias, nem em gozos
teatrais masoquistas, nem em qualquer muleta externa. Resolvi cami-
nhar pelas próprias pernas, usando minhas próprias forças, enfrentando
sozinho meus próprios fantasmas. Creio que foi minha primeira grande
atitude saudável perante a existência, a primeira grande conquista de
autonomia. E comecei a melhorar.”
8
O lendário “pai dos Sátiros” e “educador de Dioniso”, segundo nos ensina o saudoso
Prof. Junito Brandão no seu Dicionário mítico-etimológico (Edit. Vozes). Sugiro a leitura
do livro O nascimento da tragédia no qual F. Nietzsche comenta esta lenda.
9
Hoje a neurociência comprova o que Gurdjieff ensinava sobre o “sofrimento tolo”: o
cérebro se “vicia” (emotional adiction) em emoções negativas ou positivas, agradáveis
ou desagradáveis.
Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 237
Centro Intelectual
Tipos 5, 6 e 7
O Tipo 5
O eu
que pensa
Não, por favor, não quero invadir sua privacidade com esta
análise... O quê?..., Claro! Ora bolas! Tenho certeza de que você
tem que raciocinar sobre esta interessante tipologia antes
de emitir qualquer opinião...!
Desconfiança demais!
Somatizando o medo:
o desgaste do centro do movimento
A perigosa invasão:
um exemplo de mentalização negativa
que no final são ou deveriam ser seus próximos. Não deixe que os peri-
gos imaginários lhe provoquem a incapacidade de ver claramente todo
o bem que, com certeza, está a seu redor.
depois. Reparou? Este conselho também não serve, porque foi pensado.
Talvez a chave para o desenvolvimento harmonioso dos Tipos 5 esteja
na virtude a ser resgatada...
O eu
que imagina
“... Trinta por cento de correção monetária pelas paradas que topei.
Hay gobierno? Soy contra. No hay gobierno? Soy contra también. Mas
em armas eu não peguei não. Nem sei onde é que fica o gatilho de um
revólver. Meu negócio é acabar com as forças armadas. Vou apoiar outra
força armada? Mas na hora do pega pra capá, garotos, eu não dei no
pé não. Tão lembrados? Estão nada. Ninguém lembra porra nenhuma.
Eu sou daqueles que não foram embora. Bom, não estou criticando os
que se mandaram. Medo é medo – quem tem orifício anal sabe disso.
(Longa pausa.) Mas teve gente que se mandou muito cedo.”
Com certeza, a lembrança das vezes em que este provável Tipo 6 (com
forte movimento ao Ponto 9) sentiu seu “orifício anal” reagir diante do
medo, deve provocar nele algumas “longas pausas”. Para Tipos 6, os atos
contrafóbicos – aqueles nos quais foram obrigados a atuar com aparente
coragem apesar de seus medos – quando lembrados, devem provocar as
mesmas “longas pausas” que provocaram no nosso “valente” Millôr, que,
para não deixar dúvidas sobre sua tendência à paz (movimento contra
a seta ao 9) escreveu, consciente ou inconscientemente, naquele mesmo
dia na sua página, que ele é “um dos inventores do frescobol – o único
esporte com espírito esportivo. Até hoje ninguém inventou ganhadores,
nesse jogo”, portanto ninguém fica com medo de perder, certo?
As “longas pausas”, sentidas pelas “mensagens” do “orifício anal”
do jornalista, lembram a típica ambivalência com que Tipos 6 enfrentam
a realidade, ambivalência que os leva a temer tudo, como nos mostrou
nossa aluna no depoimento: “Medo de ser feliz; medo de ser infeliz. Medo
de me expor; medo de me isolar, medo de ir; medo de ficar, etc.” Enfim,
medo do medo, que pode levar a atitudes e condutas extremas, para se
expor ou para não se expor, ou, como confessa o nosso jornalista, para
ser “contra”, em qualquer caso. Millôr, como todo Tipo 6 “democráti-
co”, não gosta de autoritarismo e apesar de nunca ter pegado em arma,
“ousa” advertir que “meu negócio é acabar com as forças armadas” .
Ele revela que, “naqueles dias”, correu grandes riscos, e pede “correção
monetária” por tudo o que topou na época. Porém esses riscos ele sabe
que não foram “inteligentes”, nem foram assumidos por valentia. Ele
não é “valente”, ele não quer ser nem perdedor, nem ganhador, ou seja,
Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 277
ele apenas quer jogar uma partida de frescobol contra um “time da pe-
sada”, ao qual deverá convencer de que ele não quer ganhadores nem
perdedores, apenas “acabar com as Forças Armadas” (!?).
Sem dúvida, foram muitas “longas pausas”!
Esta última afirmação (“eu tinha medo até do que não era culpada”)
é muito importante. Tipos 6 temem o “deslize”, como afirma Claudio
Naranjo, portanto, se caracterizam por suas contínuas apreensões. Em
razão da ambivalência que os caracteriza, ao mesmo tempo em que
rejeitam o autoritarismo, se sentem menos inseguros quando conhecem
as “regras do jogo”, quando podem confiar numa autoridade ou quando
se coletivizam. Desta forma as possibilidades de “deslize” diminuem,
ainda que se sintam apreensivos e temerosos de não poder “cumprir”
essas “normas” e/ou “regras do jogo” sempre. A razão pela qual Tipos
6 sentem-se melhor quando estão trabalhando em grupos, quando fazem
parte de um “nós”, de um coletivo, está alicerçada em parte nesta procura
de não cometer erros. Se os erros são cometidos “no departamento, onde
nós trabalhamos”, então o risco de sofrer o castigo fica “repartido” e,
282 Khristian Paterhan C.
Imaginação consciente:
percebendo as “78 faces” da realidade
uma “visão interior” mais ampla. É como se, em vez de perceber apenas
25 graus da realidade, ele começasse a perceber 40, 60, 90, 180 graus...
até 360! Comece a controlar sua imaginação.
Quando uma cena mental aparecer para iniciar e/ou reforçar seu
medo, observe-a e mude-a por outra diferente e positiva! A imaginação
é uma de suas capacidades cerebrais mais valiosas.
Ela deve estar ao seu serviço. Por isso, não deixe que ela comande
sua vida!
O valor da fé consciente
O eu
que projeta
“Aos dois anos de idade, mais ou menos, nasceu o meu irmão. Creio
que fui deixada um pouco só, devido aos afazeres de minha mãe. Nesta
época morávamos afastados de outros familiares. Lembro-me que criei
amigos imaginários. As lembranças que tenho da infância são agradáveis,
porém eu não decidia nada, aceitava sempre. Também não pedia para
meus desejos serem realizados. Embora algumas vezes brincasse em
grupos, me sentia sempre só. Lembro-me de momentos felizes, estava só
e brincando com argila, ou em um pomar comendo frutas. Não sei bem,
mas é possível que meus pais não conversassem muito comigo.
Meu lar não era dos mais tranquilos, havia algumas divergências
entre meus pais. Mas sempre me senti amada, embora esse amor fosse
sem aconchego, no sentido de brincadeiras, de abraços, e de beijos, etc.
Lembro-me do grande prazer que sentia em contato com a natureza,
nesses momentos vejo-me sempre só. Foram esses os aspectos que deram
origem à minha máscara.”
Destaquei as frases em que nossa aluna menciona a sensação de
solidão, porque nelas está implícito o medo que deverá ser superado,
no caso dela, “criando amigos imaginários” para garantir sua alegria.
Este aspecto do uso positivo (em alguns casos até positivo demais) da
imaginação é extremamente importante para a “vida feliz” que Tipos 7
almejam obter. A imaginação se torna o meio pelo qual eles “planejarão”
o modo de obter o prazer em tudo e de qualquer jeito.
que no final convence a seu ingênuo comprador de que gato é tão bom
ou melhor que a própria lebre. Sendo assim, qual é o problema? De
alguma maneira, eles nos lembram o astuto Hermes, que roubou as
vacas de Apolo apenas para ser conduzido ao Olimpo e solicitar a seu
pai, Zeus, que o admitisse lá como um deus. O mito conta que Zeus
até gostou do jeito sem-vergonha do filho e lhe concedeu o que queria.
Conta a lenda que para roubar as vacas de seu meio irmão sem deixar
rastro, Hermes botou suas sandálias ao contrário para que suas pegadas
confundissem ainda mais o sábio Apolo. Apolo sempre caiu em todas
as peças que Hermes lhe pregou, e dessa forma Hermes sempre obteve
tudo o que queria. Com certeza, vocês, Tipos 7 que estão lendo esta
parte do livro vão ter um súbito desejo de conhecer um pouco mais
este astuto Hermes. Até o Mestre Jesus Cristo pregou que devíamos
ser “astutos como serpentes e humildes como pombas”, só que não se
deve exagerar e nem sempre é bom ultrapassar certos limites. Os Tipos
7 desejam sentir-se sempre livres para realizar e conseguir o que querem
de qualquer jeito. Por esta razão, frequentemente confundem liberdade
com libertinagem, com não compromisso, com “direito a abandonar”
sem dar explicações válidas. Há algo de semelhante entre a gula e a
libertinagem. A capacidade de obter o prazer e de sentir-se livre e com
direito a todo o prazer não é negativa. O negativo da situação tem a
ver com a procura “desnorteada” do prazer, com o “desespero” e com
a angústia de querer preencher o que Naranjo chama de “vazio ôntico”
deste Tipo Eneagramático. Ele nunca consegue e, nessa busca desespera-
da do prazer, desconhece a possibilidade de “saborear” até o final uma
única vivência porque sempre está querendo “desfrutar” uma outra. O
resultado desta gula eneagramática é a intemperança.
Pelo fato de querer sentir, viver, fazer “de tudo um pouco”, sem
limites, sem escolher, sem ficar preso a nada e com a pressa que carac-
teriza a gula, alguns Tipos 7 perdem a capacidade de concluir coisas
Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 305
uma criança. Neste último caso, sabemos que é porque a criança não
é séria com respeito a seus hábitos de alimentação. O mesmo ocorre
conosco (...) Ficar entregue à indulgência é dizer: ‘Tudo o que eu sou é
um potencial para o prazer. Quanto mais prazer exista, maior eu sou.’
Com certeza, ninguém pode levar isto a sério, e é por essa razão que
uma vida assim está alicerçada no autoengano.”
Poderíamos dizer que os Tipos 7 podem beber do vinho da vida sem
medida e terminar tão bêbados que a alegria inicial pode se transfor-
mar numa ressaca daquelas! Deve-se beber do vinho da existência com
moderação. Passar dos limites e correr muitos riscos é ficar aberto aos
“acidentes” que bêbados costumam sofrer com frequência.
A aluna já citada reconhece sua “gula” em relação às suas atividades e os
problemas: “Procuro trabalhar muito, até mesmo me sobrecarregando. Pela
‘gula’, julgo ser capaz de realizar tarefas além das minhas forças. O ‘fazer’
excessivo leva-me muitas vezes a uma situação de conflito, fico muitas vezes
sem discernir o que realmente é o mais importante no momento. Isto tem
relação com uma dificuldade de priorizar os assuntos, as realizações, enfim
os afazeres (...) Tenho pressa, porque necessito desempenhar muitos papéis e
muitas funções (...) Tenho sempre o que fazer, devido a muitos interesses. Por
isso há sempre afazeres pendentes, a nível concreto e abstrato. O tempo e o
espaço são problemáticos para mim. A questão dos limites é difícil; quando
me dedico a algo, esqueço assuntos também relevantes.”
Alguns Tipos 7 percebem os riscos da gula e da intemperança bastan-
te cedo, o que lhes permite transformar-se em bons gourmets, ou seja,
desfrutam o melhor da vida e “bebem dos seus melhores vinhos” com
a moderação e o refinamento que lhes permitem obter sucesso, prazer e
alegria verdadeiras. Outros menos conscientes são literalmente destruídos
pela “gula” e a intemperança que se manifestam em suas experiências
profissionais e/ou pessoais.
Os Tipos 7 deveriam refletir num velho ensinamento hermético que
recomenda a nós, seres humanos, sermos conhecedores profundos da
“Arte de Viver”. O Arcano Maior da Temperança no Tarô de Aleister
Crowley esconde justamente esse antigo segredo que conseguimos
conhecer quando emoções e pensamentos estão em equilibrada relação e
Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 307
Saber que mesmo as coisas não estando perfeitas podem ser realizadas.
Curiosamente, depois de cada etapa ‘vencida’ eu me sinto leve, como se ti-
vesse vencido um demônio interno, um fantasma, eu me sinto capaz (...)”
Acho desnecessário mais comentários a respeito, concorda? Observe
como se dá em você o movimento ao Ponto 1 e leia o capítulo referente
a essa “Máscara” Eneagramática, para maior compreensão.
O Eneagrama positivo
e a possível evolução humana
Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 323
A importância da observação
e da lembrança de si
certo? Às vezes você diz: “eu não gostaria de ser tão sentimental”, ou,
“acho que fui muito duro com meu filho”, ou, “gostaria de ser menos
agressivo”. Às vezes, você percebe que está atuando emocionalmente
de um modo inadequado, acha que não consegue conter certas reações
emocionais “desagradáveis”, enfim, você acha que deveria fazer algumas
mudanças “emocionais” e que isso seria muito bom. Especialistas de
áreas alternativas, psicólogos, analistas, orientadores, psicoterapeutas e
outros profissionais, podem ajudá-lo nessas observações relativas ao seu
“Centro Emocional”. Práticas de autocontrole e autoajuda também são
valiosas. Porém, pelo fato de não se lembrar de si mesmo, você “esquece”
de praticar o que esses especialistas e métodos lhe indicam e você volta
a ter todas essas reações “emocionais” desagradáveis não conseguindo
modificá-las. Emoções ruins que perturbam você ou seus seres queridos,
amigos ou colegas, são difíceis de conquistar. Nós nos damos conta de
que é necessário mudar, porém, não lembramos disso no momento certo.
Finalmente, você pode, às vezes, observar seu Centro Intelectual, seus
“estados mentais”, seus pensamentos, certo? Às vezes você diz: “eu não
gostaria de pensar essas coisas”, ou, “por que imagino tantas besteiras?”,
ou diz, “gostaria de ter um pensamento mais positivo”, “mudar alguns
modos de pensar seria bom para mim”, “gostaria de controlar minha
mente” e assim por diante. Novamente existem apoios externos que
podem lhe ajudar nessa procura do domínio mental: métodos diversos
de controle mental, técnicas de desenvolvimento das suas faculdades de
concentração, memória, imaginação criativa, meditação, etc. Mas você
volta a pensar negativamente, volta a ser controlado por sua imaginação.
Você esquece que pode modificar o que tinha observado, por si mesmo,
ou com a ajuda dos profissionais e técnicas adequadas.
Tanto esquecer observar quanto esquecer o que essas observações feitas
no Centro Físico, Emocional e Mental implicam em termos de mudanças
ou cuidados, levam a um forte esquecimento de si mesmo, e sabemos que
o esquecimento de si mesmo é um dos fatores eneagramáticos nucleares,
correspondente ao Ponto 9 do triângulo equilátero, o qual se relaciona
justamente com o Centro Físico ou Centro do Movimento, que é o único
Centro capaz de estar sempre “presente” e é somente no presente que
Eneagrama – um caminho para seu sucesso individual e profissional 325
tudo aquilo que você quer e poderia modificar está acontecendo. Mas
você não lembra de si mesmo, e lembrar-se de si mesmo tem a ver com o
desenvolvimento dos seus Centros Intelectual e Emocional.
Você só pode lembrar aquilo que compreende e ama. Aquilo que você
não compreende, você esquece, ou se torna um conhecimento morto,
sem efeitos na sua vida. Aquilo que você não ama não tem importância
real para você, passa sem deixar rastro, é fácil de esquecer. A maioria
das pessoas “entende” que deve realizar mudanças em si mesmas, mas
poucas o “compreendem”. Vou dar um exemplo do que estou afirman-
do: um indivíduo fuma há muito tempo e ele começa um dia a observar
que isso lhe faz mal. Porém esquece e continua fumando. Um dia lê um
artigo sobre os perigos do fumo. Ele concorda com os dados que nesse
artigo aparecem. Mas continua fumando. Ele é uma pessoa inteligente,
mas não consegue compreender que “o cigarro é prejudicial à saúde”,
apesar de essa frase aparecer em cada maço de cigarros que ele compra.
Ele mente a si mesmo (Ponto Nuclear 3 do Eneagrama) e diz que nada
vai acontecer, que isso são bobagens, e se “identifica” com o cigarro
dizendo coisas como: “o cigarro me acalma”, “com o cigarro consigo
pensar melhor”, “nada como um cigarro para eliminar a tensão”, “fumar
é charmoso”, etc., ou seja, ele se autoengana, atribuindo ao cigarro “vir-
tudes” que não possui. Ele, na verdade, entende, mas não compreende,
porque esquece o valor de seu corpo e não se ama. Seu intelecto sabe,
mas ele não consegue realizar o que de vez em quando lembra, ou seja,
“acho que deveria parar de fumar”. Somente a “compreensão” poderá
modificar esse quadro, ou um repentino “choque” na sua saúde, talvez
o início de um câncer pulmonar. Então ele não conseguirá “esquecer”
que deve mudar, ele valorizará seu corpo, ele se arrependerá de não ter
conseguido “amar a si mesmo”. Porém, às vezes, é tarde demais para
modificar os resultados de seus esquecimentos. Compreender é o processo
que provoca as mudanças reais que fazem com que o observado seja lem-
brado. Compreender não nos permite mentir nem para nós mesmos nem
para os outros. Compreender é ter atingido a lembrança de si mesmo,
a consideração do que realmente acontece e não do que “achamos” ou
“imaginamos” ou “supomos” (Ponto Nuclear 6 no Eneagrama).
326 Khristian Paterhan C.
Lembrança de si mesmo
Amor
Reta Ação / Paz
Inocência / Sensibilidade 9
Justiça / Poder interior /
Não violência Serenidade / Moral objetiva
8 1 Perfeição verdadeira / Flexibilidade
Humildade/
Equilíbrio / Liberdade Doação consciente/
Satisfação / Justo Meio / 7 2 Fraternidade/
Plenitude / Perseverança Colaboração/
Amizade
desinteressada
Consideração 6 3 Desidentificação
externa Esperança / Verdade /
Fé / Coragem / Controle Autenticidade /
imaginativo / Ver a Realização / Honestidade
realidade tal qualela é
5 4
Desapego / Compreensão Equanimidade / Sofrimento consciente
Doação verdadeira / Estar e sentir no “presente” /
Tolerância / Mente Holística Contentamento
Gráfico das Virtudes e Poderes, pesquisados por Ichazo e outros, que se escondem por trás de cada Traço ou
Defeito Principal, destacando os três que Gurdjieff ensinava como fundamentais: o Amor Consciente, relacionado
com a Lembrança de si mesmo, a Fé Consciente, relacionada com a Consideração Externa, e a Esperança
Consciente, relacionada com a Desidentificação. De autoria de Khristian Paterhan-1997
330 Khristian Paterhan C.
Qualquer que seja seu Traço ou Defeito Principal, você perceberá que
todos os seus demais defeitos se ordenam de acordo com ele, manifes-
tando-se com maior ou menor força em relação a ele. Ao mesmo tempo,
isso significa que, quando iniciamos o processo de autoconhecimento,
trabalhando acima do nosso particular Traço Principal, todos os demais
começam a ser superados, devido à dinâmica e à inter-relação matemática
existente no Eneagrama, presente no movimento externo relacionado
com a dízima periódica 0,142857142857.... e com o movimento no
triângulo equilátero 9,6,3,9,6,3, 9...
Lembre que todos os Tipos e Traços estão presentes em você e que a
sequência e o movimento eneagramático começam a partir da sua posição
no Eneagrama, relacionada com seu Traço ou Defeito Principal.
Referências
Bibliográficas
Sobre as Leis ou Princípios Herméticos
Gurdjieff, G.I. Gurdjieff fala a seus alunos. São Paulo: Pensamento, 1993.
____. Relatos de Belcebú a su nieto. Buenos Aires: Hachette, 1976.
____. La vida es real solo cuando “Yo Soy”. Málaga: Sirio, 1995.
Ouspensky, P. D. Fragmentos de um ensinamento desconhecido. São Paulo:
Pensamento, 1989.
____. El Cuarto Camino. Buenos Aires: Kier, 1987
Speeth, Kathleen Riordan. O trabalho de Gurdjieff. São Paulo: Cultrix, 1989.
Sobre o Eneagrama