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1 auréola, resplendor...
cabelo chegava até os ombros, tão negro como a mais escura noite,
igual a seus olhos que nesse momento a observavam com uma mescla
de fascinação e algo mais que ela não soube decifrar, o que um demônio
fazia justo aqui? E pior ainda, o que queria vindo até ela? Sabia que
eram criaturas desumanas, incapazes de sentir algo bom.
Começou a se afastar, tinha que voltar a seu devido lugar o mais
rápido possível, se soubessem que ela tinha saído e ainda falado com
ele, certamente seria castigada da pior maneira.
— Não vou te machucar. — Disse ele se aproximando lentamente.
— Você é um demônio.
Ele ficou a olhando um momento, como se tivesse surpreso por
escutá-la falar, mas em pouco tempo se recuperou.
— E você é bastante observadora, — Falou com um sorriso que
conseguiu cativá-la apesar de tudo.
— O que você quer? — perguntou desconfiada.
— Só queria te ver de perto. — Respondeu encolhendo os ombros.
— Está me espiando a muito tempo?
— Poderia dizer que a séculos.
Ylahiah não estava segura que ele falava verdade, embora no céu,
o tempo era relativo, sabia que a palavra séculos para outros podia
significar um período muito prolongado.
— Não te entendo, — disse enquanto dava um passo atrás.
— Você se senta durante horas vendo o mundo, enquanto isso eu
olho para você.
— Por que? — perguntou enquanto continuava se afastando.
— Por que não? — Devolveu a pergunta deixando escapar um
sorriso.
Ylahiah teve medo de que ele quisesse levá-la ao inferno, estava a
ponto de desaparecer quando ele falou de novo.
— Por favor, não vá, prometo que não quero te machucar.
— Por que acreditaria nas promessas de um demônio? Vocês são
seres que vivem para enganar.
— Você sabe disso porque foi o que te disseram ou por
experiência? Quantos demônios te enganaram? — perguntou
inclinando a cabeça e dando um olhar compreensivo.
— Não vou cair nos seus jogos, se afaste!
— Se você quer tanto ir por que não vai? Eu não estou te
segurando.
Verdade, não estava, entretanto, havia algo que a mantinha ali,
queria continuar conversando.
— Não, me diga o que você quer.
— Saber seu nome.
— E por que eu te diria.
— Você faz muitas perguntas, mas vamos fazer um trato, —
propôs dando um sorriso.
— Não sabe que não se faz tratos com o demônio?
— Talvez com os outros, mas comigo você está segura. Meu nome
é Makhale, e o seu?
“Makhale”, repetiu o nome mentalmente, significava destruição e
guerra.
— Ylahiah. — Não entendeu porque ela estava dizendo, mas não
pareceu que isso faria algum mal.
— Ylahiah, — disse ele em um sussurro. — Eu gosto, é um nome
lindo... Como você. — Ele disse a olhando diretamente nos olhos, e isso
fez com que um calafrio percorresse as costas dela, como não estava
muito familiarizada aos sentimentos, não soube decifrar o que era.
— Tenho que ir. — Disse disposta a desaparecer.
— Você vai voltar? — Perguntou com voz esperançosa. Ela decidiu
não responder, era melhor não, mas justo no momento em que se
virava, escutou dizer: — Vou te esperar aqui.
De volta a seu lar e mais tranqüila, Ylahiah se questionou o que
tinha acontecido. Não só desobedeceu indo à terra, como tinha tido
uma conversa com um demônio. Seu castigo se a descobrissem seria
enorme, ela não tinha se permitido aventurar no mundo dos humanos,
mas tinha se deixado levar por sua curiosidade.
Nos dias seguintes, escondida, observava Makhale enquanto a
esperava no mesmo lugar, como tinha prometido. Ela não quis voltar
para baixo, não queria se arriscar a receber um castigo, mais algo a
empurrava para lá, era mais forte que ela, queria simplesmente
esquecê-lo, mas não podia. Cada dia na mesma hora sabia que ele
estaria ali esperando.
Algo em seu coração se agitava cada vez que o olhava. Recordou
quando ele disse que a séculos a observava e se perguntou se ele se
sentia igual a ela nesse momento. Depois de um tempo pensando nisso,
tomou a decisão de descer, seria só para dizer que não a esperasse
mais, isso não era nada de mais não é mesmo? Depois de se convencer
de que faria por bondade, olhou a seu redor para assegurar que
ninguém estava olhando. Finalmente, fechou os olhos e se materializou
na terra, justo no momento que ele estava saindo. Ele ficou surpreso
de vê-la, mas logo abriu um grande sorriso.
— Até que enfim você veio.
Ylahiah o observou por um momento, algo nele fazia se sentir
diferente, mas sabia que não deveria, era uma desobediência, não
podia voltar a vê-lo.
— Só vim para te dizer que não continue me esperando.
— E como sabia que eu te esperava? Não me diga que esteve me
espiando?
— Não te espiei, só foi curiosidade.
— Fico feliz em saber que desperto sua curiosidade.
Ela não podia deixar de olhá-lo, algo a prendia e intrigava.
— Eu... Só queria te dizer isso, agora tenho que ir. — Estava indo
embora quando ele a pegou pela mão. Nunca havia sentido aquela
sensação, foi bastante estranha, uma espécie de corrente elétrica
percorreu seu braço.
— Não vá, — disse sem soltá-la, e ela ficou paralisada sem saber
o que fazer, podia simplesmente ir, mas ele exercia uma espécie de
poder sobre ela, e seu coração acelerou quando a olhou diretamente
nos olhos. — Fica só mais um pouco, por favor. — Enquanto falava
aproximou sua boca até quase tocar sua orelha, seus batimentos
cardíacos aceleraram e um estranho sentimento se apoderou dela, teve
medo, pois pensou que o demônio estava usando algum truque. — Não
tenha medo, não te farei mal, — disse como se tivesse lendo seus
pensamentos.
— Por que quer que fique? — perguntou com voz trêmula.
— Porque levou séculos para poder te ver de perto, — respondeu
olhando nos seus olhos. Então fez o impensável, aproximou seus lábios
aos dela e a beijou. A princípio, Ylahiah ficou paralisada sem
compreender o que acontecia, não era algo que já tinha
experimentando, entretanto, a sensação era tão agradável que se
deixou levar, sentiu a língua de Makhale entrar em sua boca, e isto, foi
longe de desagradável, fez que algo acontecesse em seu interior. Ele a
abraçou para aproximá-la mais, e ela permitiu. Instintivamente,
levantou os braços para rodear seu pescoço e seus peitos ficaram
esmagados contra o duro torso do homem que parecia devorá-la
enquanto acariciava suas costas.
— Não sabe o quanto desejei isto, — disse ele com seus lábios
ainda nos de Ylahiah. Ela se deixou levar pela sensação mais
maravilhosa que havia sentido, se perguntou se isso a levaria a
perdição, mas no fundo de seu coração soube que não importava.
Makhale começou a beijar seu pescoço e, muito devagar, baixou
a manga de sua túnica para deixar descoberto um de seus seios, se
inclinou e tomou seu mamilo na boca. Ela tinha visto às mães humanas
fazerem isso quando alimentavam seus bebês, mas soube em seguida
que a situação era totalmente diferente, isto não era nada maternal,
era carnal. Gemeu, aproximando mais seu peito na boca de Makhale;
reconheceu em seguida o desejo, um sentimento que, embora até o
momento era desconhecido, podia sentir em cada fibra de sua pele.
Enquanto seguia sugando seu mamilo, ele começou uma lenta carícia
por seu quadril ao mesmo tempo que levantava sua túnica para ter
acesso a sua parte mais sagrada; por um momento, ela congelou.
— Calma, não te farei mal, só sinta o que te ofereço.
Sem estar segura de estar fazendo o correto, simplesmente se
deixou levar, separou suas pernas e permitiu que ele levasse sua mão
até seu centro. Sentiu um de seus dedos entrando lentamente nela e
estremeceu, prendeu-se a ele porque sentia que seus joelhos não a
sustentariam durante muito tempo e deixou que a explorasse até que
algo explodiu em seu interior. Quando por fim recuperou a compostura,
ele a estava olhando fixamente, de uma forma que ela não
compreendia, então um lento sorriso se estendeu por seus lábios e a
beijou novamente.
A partir desse momento, seus encontros se tornaram mais
freqüentes, cada vez seus beijos e carícias foram mais longe. Aquele
dia, Ylahiah decidiu que daria um pouco do prazer que ele lhe dava,
assim, quando começaram a se beijar e se acariciar, foi ela quem
introduziu a mão sob a túnica de Makhale para tomar sua grossa
ereção, o acariciando devagar o viu fechar os olhos enquanto deixava
sair um suspiro de satisfação. Soube que estava fazendo bem e
aumentou a velocidade, aproximou sua boca a dele para beijá-lo
enquanto continuava com suas carícias. De repente, ele ficou tenso,
segurando fortemente com seus braços, enquanto um suave e quente
líquido escorria pela mão de Ylahiah. Ela se sentiu feliz de poder
satisfazê-lo da forma em que ele fazia com ela.
— Acredito que chegou o momento, — disse ele uns minutos
depois, de frente para ela; suas palavras soaram confusas a seus
ouvidos.
— O momento do que? — perguntou ela de forma inocente.
— De te tomar, de por fim estar em seu interior, de te fazer minha
de forma definitiva. — Ela inclinou a cabeça sem compreender, ele a
tinha tomado muitas vezes, tinha bebido de seus peitos e sua mão a
tinha acariciado de todas as formas, acaso havia algo mais? Ele
pareceu se dar conta de sua confusão e tratou de acalmá-la.
— Não tenha medo, não te farei mal, nunca o faria, te amo muito.
— Seu coração se inflou com essas palavras, ela conhecia o amor
fraternal, de onde vinha era muito comum, mas este tipo de amor era
diferente, era algo que a fazia sentir especial, e soube que ela também
o amava dessa forma, assim estava disposta a tudo. Deixou que ele a
despisse completamente e logo viu se despir também, era tão formoso,
uma criatura digna de se apreciar. A beleza para eles não significava
nada, entretanto, não podia deixar de olhar Makhale e pensar em quão
magnífico era, gloriosamente nu. Ele se inclinou e estendeu sua túnica
no chão, logo lançou um olhar convidativo. Sem pensar, ela caminhou
até estar a seu lado, ele a ajudou a deitar e logo baixou a cabeça e
começou um lento beijo, enquanto suas mãos percorriam o corpo do
Ylahiah. Ela se perdeu totalmente nas sensações até que o sentiu se
acomodar no meio de suas pernas, sua ereção apertou contra seu
centro e separou suas pernas para lhe permitir o acesso. Muito
lentamente ele entrou nela, a enchendo completamente, lhe
demonstrando que havia mais do que tinham feito até esse momento,
lhe dando um prazer inimaginável. Seus movimentos foram lentos ao
princípio e depois mais rápidos, a levando ao ápice, enquanto ela
gritava seu nome.
Quando retornou ao lugar que chamava lar, foi convocada pelo
ser supremo. Em todos os séculos que tinha de vida, poucas vezes
esteve em sua presença, e sabia que só eram chamados por dois
motivos, porque tinham uma missão ou porque tinham infringido a lei
e receberiam um castigo. Quando as portas se abriram e permitiram
passar, um brilho cegador encheu o lugar, logo o viu, parecia feito da
mais pura luz, para um ser angelical estava com um rosto
entristecedor. Ele a olhava com uma mescla de pesar e decepção, e em
seguida soube que estava ali porque tinham descoberto seu segredo.
— Se aproxime, Ylahiah. — disse a voz que tinha um tom
indefinível, era poderoso e ao mesmo tempo tranqüilizador. Ela
caminhou devagar e, quando considerou que estava o suficientemente
perto, parou com a cabeça baixa.
— Durante séculos você seguiu o Caminho e cumpriu sua missão,
não houve em você maldade nem nenhum outro sentimento corrupto,
mas decidiu desobedecer, se corromper. — Se sentiu envergonhada, ela
não era melhor que aqueles que também tinham seguido o Caminho
do mal, embora suas razões fossem menos indignas a seu modo de ver.
— Por isso, será castigada. — Essa palavra deu muito medo, sabia o
que significavam os castigos, só esperava poder sobreviver o suficiente
ao seu para poder ao menos se despedir do homem que tanto amava.
— Será enviada à terra, onde viverá pelo resto de seus dias, sem sua
divindade, seu dom de luz será arrebatado de você, estará condenada
a viver nas trevas, tanto você como sua descendência. — Cada palavra
caiu sobre ela como uma grande pedra que a esmagava, lágrimas que
nunca soube que podia derramar escorregaram por suas bochechas.
Assentiu sem dizer nada, mas o ser supremo teve compaixão dela. —
Que o amor que te guiou a desobedecer a te sirva para agüentar seu
castigo. — Levantou a cabeça para perguntar a que se referia, mas de
repente se viu de pé em meio de um nada, girou ao redor tentando ver
onde estava, mas tudo era de cor branca. Então, como se se tratasse
de uma revelação, compreendeu, não estava em meio de um nada,
simplesmente não podia ver o lugar onde se encontrava. Escutou de
novo as palavras “estará condenada a viver nas trevas”; um novo
sentimento veio a ela, um mais forte que os outros que tinha
experimentado: o terror, sentiu terror de não saber o que aconteceria,
terror de estar perdida. Caiu de joelhos e se abraçou enquanto chorava
desconsolada. De repente, uma mão cálida e muito conhecida posou
em seu ombro e a atraiu até um peito duro que a consolou.
— Fica tranqüila, meu amor, eu estarei contigo, dedicarei minha
vida a cuidar de você. — Ele disse enquanto dava suaves beijos sobre
seu rosto.
E assim foi, o amor de Makhale se converteu no sustento de
Ylahiah, ele foi seus olhos quando os seus não tinham mais luz.
Abri os olhos e olhei para o teto, não era um pesadelo, nós não os
tínhamos, era uma maldita lembrança que se reproduzia uma e outra
vez. Apertei os lençóis, levantando da cama caminhei nú até a janela;
lá fora, o céu seguia escuro. Olhei até a estufa iluminada por luzes
artificiais, era a única coisa que tinha para recordar a minha mãe, ali
tinha centenas de rosas vermelhas plantadas, aquelas que cuidava
zelosamente porque sempre a imaginava em meio a elas; às vezes
fechava meus olhos e a via dançar com os braços abertos em meio das
roseiras. Procurei o relógio e vi que eram nove da noite. “Hora de
acordar”, pensei. Tomei um banho e logo procurei em meu armário uma
calça de couro e uma camiseta preta. Calcei minhas botas de combate
e amarrei meu cabelo em uma trança, saindo do meu quarto caminhei
pelo comprido corredor. Às vezes me perguntava o que tinha me levado
a comprar esse lugar, era tão grande e silencioso que estava seguro de
que, se deixasse cair uma agulha, faria um ruído ensurdecedor ao se
chocar com o piso. Meu irmão tinha insistido para que me mudasse,
mas já era suficiente o ruído do bar. Em ocasiões, quando estava lá
sentia saudades do silêncio, isso sem contar que queria estar só, era
uma espécie de segurança. Saí e me encontrei com o Balaur, meu cão
rottweiler e acariciei sua cabeça quando passei por seu lado e esperei
que entrasse antes de fechar a porta, peguei minha motocicleta e fui
até o clube, deixando para trás meu doce e sombrio lar.
Era uma antiga casa de estilo vitoriano, nos subúrbios da cidade,
que tinha sido construída no século XVIII, estava rodeada de altos
muros de pedra que me davam a privacidade que necessitava, assim
ninguém suspeitaria que havia algo diferente comigo. Certamente, se
tivesse vizinhos, teriam se dado conta de que não tinha trocado uma
palavra nos últimos cinqüenta anos que estive vivendo ali. Deixei que
o vento acariciasse meu rosto enquanto me aproximava de meu
destino, esse dia seria mais um procurando Razvan. Levei séculos
planejando minha vingança, mas o filho de puta era bastante
escorregadio, embora isso não me importasse; se tinha que ir ao inferno
por ele, iria.
Cheguei uns minutos depois, o clube era nosso lugar de encontro,
fazíamos isso a vários anos. Tarek, Marcus e eu fomos uma equipe, os
três perseguíamos a mesma meta, a morte do Razvan, a vingança por
nos haver roubado tudo. Decidimos que este prédio seria uma boa idéia
para passar desapercebidos. Dei o nome de Rosa por minha mãe, não
que este sítio de perdição lhe fizesse muita justiça. Caminhei em meio
a bêbados, drogados e mulheres mau vestidas, que se afastavam a meu
passo; se tivesse sido crente, talvez me sentiria como Moisés, que
apartou as águas do mar Vermelho para fazer passar um montão de
gente. Cheguei até a mesa onde nos sentávamos sempre, e eles já me
esperavam. Essa gente sabia que éramos perigosos, ninguém ousava
se aproximar de nós a menos que procurassem a morte.
— O que temos para hoje? — perguntei, me sentando. Tarek me
olhou com seu eterno sorriso, enquanto Marcus apenas levantou a
cabeça, não estava acostumado a falar muito e nós preferíamos deixá-
lo só, não queríamos despertar sua ira, às vezes não a controlava e não
queríamos merda pulverizando por todos lados; se não fosse pelas
poucas vezes que o tínhamos escutado falar, teríamos jurado que era
mudo.
— Raven está de tocaia, espero que nos tenha algo mais tarde —
respondeu Tarek e deu um gole no seu uísque; ainda não entendia por
que seguia tomando esse lixo, não era como se pudesse se embebedar
ou algo assim.
— Bem, vamos esperar então. — Ia dizer algo mais, mas esqueci
assim que
levantei a cabeça e topei com um pequeno anjo. Ela brilhava no
meio da escuridão, caminhava atrás de Cassy, uma das mulheres que
trabalhavam no bar. Olhava para todos lados como se estivesse
perdida, uma aura de inocência a envolvia. Ri de quão contraditória
resultava a situação: um anjo em uma guarida de demônios. Parecia
um coelho assustado; se soubesse a pobre onde se colocou…
2
ALANA
“Estarei no escritório.
Te amo.”
Saí da Cama e fui tomar um banho, deixei que a água caísse por
meu corpo, lavei meu cabelo e finalmente saí para me secar. Me
aproximei do espelho e o limpei, pois tinha ficado embaçado pelo vapor.
Enquanto secava, fiquei olhando para a cicatriz que estava no meu
peito, o R que tinha marcado Razvan. Tinham passado duas semanas
e nesse momento era só uma marca vermelha. Era um feio aviso do que
tínhamos que passar, muitas coisas tinham mudado; Cassy e a Saskia
estavam mortas; Cam já não era o mesmo esde a morte de Raven,
passava a maior parte do tempo em silêncio, só ajudando a reconstruir
o bar, poucas vezes falava e, embora tentássemos chegar a ele, não
estávamos conseguindo. E o pior de tudo era que Razvan estava em
algum lugar, escondido e esperando o momento certo para atacar.
Voltei ao quarto para me vestir e reparei na rosa que descansava
sobre a mesa de cabeceira, então uma idéia passou pela minha cabeça.
Com um sorriso e mais animada, me vesti rapidamente e corri pelo
corredor; bati na porta de Marcus.
— Olá, — saudei com um sorriso.
— Alexy não está com você. — disse no lugar de responder a
minha saudação, e olhou até o corredor.
— Não está, vim porque quero te pedir ajuda com algo, é uma
surpresa que quero dar a ele. — Sua expressão se suavizou quando me
escutou dizer aquilo. Marcus, apesar de seu aspecto sombrio, amava a
seus irmãos.
— Que tipo de surpresa estamos falando? — perguntou cruzando
os braços.
— Acho que preciso de um pouco do seu trabalho artístico, —
disse com um sorriso.
— Trabalho artístico?
— Sim, quero que faça uma tatuagem.
Se afastou como se minhas palavras tivessem veneno.
— Esquece, Alexy me matará se colocar uma mão em cima de
você.
— Por favor, eu só... Só quero cobrir isto, — roguei baixando um
pouco minha camiseta para mostrar a marca. Vi fazer uma careta,
jogou a cabeça para trás e suspirou.
— Está bem, vamos fazer. — Entrou no seu quarto e o segui.
Nunca o tinha visto, mas era um lugar bastante agradável. Nas
paredes tinham alguns desenhos que estava segura de que ele tinha
feito. Havia um em especial, uma mulher e uma garota mais jovem que
vestiam roupas que pareciam de outro século. Era em branco e preto,
assim não podia saber a cor de seus olhos, mas algo me dizia que eram
da mesma cor que os do Marcus. Então lembrei que Alexy havia dito
que sua mãe e irmã tinham sido assassinadas.
— Tem alguma idéia em mente para o desenho? — perguntou
afastando minha atenção do desenho.
— Sim, tenho uma idéia muito boa.
Três horas depois, o trabalho estava terminado, me olhei no
espelho para apreciar minha nova tatuagem e gritei de emoção. Corri
para abraçar Marcus, que me devolveu com um sorriso; era a primeira
vez que via sorrindo. Talvez não só Tarek necessitasse de uma garota
que o amasse, certamente, em algum lugar, havia uma para Marcus
também. Agradeci e fui procurar Alexy. Encontrei-o sentado atrás de
sua escrivaninha, com várias faturas espalhadas por todos lados. Sabia
que a reconstrução do bar estava gerando muitos gastos e ainda tinha
a casa. Entrei sem bater e, quando me viu, seu rosto se iluminou.
Caminhei até chegar a seu lado, e ele empurrou a cadeira para me
permitir sentar em seu colo.
— As coisas estão muito complicadas? — perguntei e dei um
suave beijo.
— Não se preocupe, não é nada que não possamos solucionar.
Parecia otimista, e isso afastou um pouco minha preocupação,
assim de novo me foquei na razão que havia me trazido aqui, desci de
suas pernas enquanto ele me observava com curiosidade.
— Tenho uma surpresa para você, — contei entusiasmada pelo
que ia mostrar.
— Sério? Acredito que eu gosto de surpresas.
— Pois esta você gostará mais. — Enquanto falava, comecei a tirar
a blusa, tirei lentamente para evitar me machucar, já que a zona seguia
um pouco dolorida. Quando tirei completamente, deixei cair no chão e
fiquei esperando sua reação. No momento em que seus olhos chegaram
a minha tatuagem, se abriram amplamente. — Você gostou? — Minha
voz soava nervosa.
— Vem aqui, — me ordenou sem nenhuma expressão que me
fizesse pensar se gostava ou não. Assim que me aproximei novamente,
me sentou em seu colo enquanto brandamente riscava a superfície das
rosas vermelhas que subiam por meu peito até meu ombro e
terminavam nas costas. — São lindas, — disse finalmente, o que me
fez dar um suspiro de alívio.
— Marcus as fez para mim. — Sua frente se enrugou.
— Está dizendo que meu irmão viu seus peitos nus enquanto fazia
a tatuagem?
— Isso é a únicoa coisa que te preocupa?
— Bom, sim, um pouco.
Neguei sem poder acreditar que sentisse ciúmes de algum de seus
irmãos.
— Pode ficar tranqüilo, ele não viu meus peitos, eu só baixei a alça
da blusa para que fizesse. — Sua atenção voltou de novo para as rosas.
— Ele fez um trabalho maravilhoso.
— Sim, e o melhor de tudo é que já não tenho a marca do Razvan
em meu corpo.
Sua boca capturou a minha, rodeei seu pescoço com meus braços
enquanto nos beijávamos.
Senti sua mão acariciar meus peitos nus, logo me levantou para
me sentar e me permitir sentir sua ereção. Eram estes momentos onde
sentia que éramos invencíveis, que nada podia nos tocar nem sequer o
mal de nossos inimigos.
EPÍLOGO
Alexy