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No interior de cada ser humano, habitam

em perfeita harmonia um anjo e um demônio,


depende só de nós mesmos decidir qual
deles permitiremos nos governar.
Alexy não é o típico herói que luta para
salvar à humanidade, depois de tudo, tem suas
próprias batalhas para lutar. Para ele não existe
nada mais do que sua busca por vingança,
aquela que perseguiu durante séculos, até que
apareceu ela, um anjo em meio a escuridão.
Abandonada por seus pais e criada em lares
adotivos, Alana viu o pior do mundo. Naquela
noite, quando ingressou em um caótico e
barulhento bar de motoqueiros, só procurava
uma oportunidade. Então encontrou ele, era a
mistura perfeita entre sexy e sombrio, tudo nele
gritava perigo, mas ela estava disposta a se
perder.
Um mundo de luzes e sombras, onde todos
têm um pouco de anjo e de demônio.
PRÓLOGO
O Início

No princípio dos tempos, antes mesmo do surgimento da terra,


Deus criou os Anjos, criaturas celestiais cujo propósito estava
vinculado a humanidade; seu trabalho consistia em conhecer os
desejos do eterno e fazer cumprir sua vontade. Entre eles, alguns se
destacavam, possuíam uma personalidade e encanto que arrebatava a
admiração das hostes do céu; só Deus estava a cima. Mas então, um
dia, tudo mudou, não é incomum para aqueles que são dotados de uma
beleza excepcional buscar ser admirado pelos outros. Foi assim quando
desejou ocupar o lugar de quem o tinha criado e dado poder, quis ele
ser quem dominasse os céus e a terra, se opondo ativamente a todos
os planos de Deus.
“Perfeito foi em todos seus Caminhos desde dia em que foi criado,
até que se achou em você a maldade.” Desta maneira, foi expulso do
céu, entretanto, não terminou tudo ali, ele queria mais, queria o poder,
queria dominar o mundo. Procurando a essência de todo o sombrio, a
miséria, a vingança, a destruição e a maldade, criou seu próprio
exército para começar a eterna luta entre o bem e o mal.
Ylahiah era um anjo de luz cuja missão consistia em levar as
almas dos mortos até seu lugar de paz. Apesar de seu trabalho, amava
observar aos humanos, pois quando estavam mortos, só eram espíritos
com os quais não podia interagir. Pareciam criaturas fascinantes e
algumas vezes queria ser como os Anjos guardiões, que podiam estar
perto deles. Passava horas encantada vendo como estes seres viviam
seu dia a dia, e estava tão concentrada nisso que nunca se deu conta
do olhar que recebia dos confins do inferno.
Makhale era um demônio da destruição e da guerra, entretanto,
quando podia se afastar de seus trabalhos, se dedicava a observá-la.
Ela era a criatura mais formosa que já tinha visto, com seu cabelo tão
loiro que quase parecia branco, a pele pálida e esses olhos de uma
estranha cor violeta, um resplendor de luz a envolvia e parecia brilhar,
esperava todos os dias ela aparecer, sabia que sempre fazia. Do seu
lugar no céu, ela se sentava e olhava a terra. Ele não entendia o que
via nessas criaturas inferiores e fracas que eram os humanos, mas aí
estava ela os olhando durante horas, como se fossem algo digno de
observar. Fazia muito tempo que ele não perdia o seu tempo com isso,
a única que merecia sua inteira atenção era o anjo, o ser de luz que
sabia que nunca ia poder alcançar, pois não tinha acesso ao lugar que
ela vivia.
Ylahiah se encontrava escondida atrás de uma árvore, sabia que
tinha desobedecido as regras ao se aventurar na terra, mas sua
curiosidade por essas criaturas tinha sido maior que seu sentido
comum, assim, sem que ninguém a visse, se esgueirou para observá-
los mais de perto, e isso era o que estava fazendo nesse momento. De
uma distância prudente onde não pudessem notar sua presença,
tomava nota de cada coisa que acontecia a seu redor, de tudo menos
de quem se aproximava muito devagar, sem fazer um só ruído. Não foi
até que escutou uma voz que percebeu de que não estava só.
— O que você vê de tão atrativo neles? — Essas palavras a fizeram
dar um pulo e se virar rapidamente. Tinha conseguido se esconder dos
humanos, mas aquela voz... Não podia ser um deles, como comprovou
quando se encontrou de frente com um ser alto, vestido com uma
túnica negra. Não sabia o que dizer, estava totalmente paralisada, ele
tinha um halo1 escuro que só podia significar que era um demônio. Seu

1 auréola, resplendor...
cabelo chegava até os ombros, tão negro como a mais escura noite,
igual a seus olhos que nesse momento a observavam com uma mescla
de fascinação e algo mais que ela não soube decifrar, o que um demônio
fazia justo aqui? E pior ainda, o que queria vindo até ela? Sabia que
eram criaturas desumanas, incapazes de sentir algo bom.
Começou a se afastar, tinha que voltar a seu devido lugar o mais
rápido possível, se soubessem que ela tinha saído e ainda falado com
ele, certamente seria castigada da pior maneira.
— Não vou te machucar. — Disse ele se aproximando lentamente.
— Você é um demônio.
Ele ficou a olhando um momento, como se tivesse surpreso por
escutá-la falar, mas em pouco tempo se recuperou.
— E você é bastante observadora, — Falou com um sorriso que
conseguiu cativá-la apesar de tudo.
— O que você quer? — perguntou desconfiada.
— Só queria te ver de perto. — Respondeu encolhendo os ombros.
— Está me espiando a muito tempo?
— Poderia dizer que a séculos.
Ylahiah não estava segura que ele falava verdade, embora no céu,
o tempo era relativo, sabia que a palavra séculos para outros podia
significar um período muito prolongado.
— Não te entendo, — disse enquanto dava um passo atrás.
— Você se senta durante horas vendo o mundo, enquanto isso eu
olho para você.
— Por que? — perguntou enquanto continuava se afastando.
— Por que não? — Devolveu a pergunta deixando escapar um
sorriso.
Ylahiah teve medo de que ele quisesse levá-la ao inferno, estava a
ponto de desaparecer quando ele falou de novo.
— Por favor, não vá, prometo que não quero te machucar.
— Por que acreditaria nas promessas de um demônio? Vocês são
seres que vivem para enganar.
— Você sabe disso porque foi o que te disseram ou por
experiência? Quantos demônios te enganaram? — perguntou
inclinando a cabeça e dando um olhar compreensivo.
— Não vou cair nos seus jogos, se afaste!
— Se você quer tanto ir por que não vai? Eu não estou te
segurando.
Verdade, não estava, entretanto, havia algo que a mantinha ali,
queria continuar conversando.
— Não, me diga o que você quer.
— Saber seu nome.
— E por que eu te diria.
— Você faz muitas perguntas, mas vamos fazer um trato, —
propôs dando um sorriso.
— Não sabe que não se faz tratos com o demônio?
— Talvez com os outros, mas comigo você está segura. Meu nome
é Makhale, e o seu?
“Makhale”, repetiu o nome mentalmente, significava destruição e
guerra.
— Ylahiah. — Não entendeu porque ela estava dizendo, mas não
pareceu que isso faria algum mal.
— Ylahiah, — disse ele em um sussurro. — Eu gosto, é um nome
lindo... Como você. — Ele disse a olhando diretamente nos olhos, e isso
fez com que um calafrio percorresse as costas dela, como não estava
muito familiarizada aos sentimentos, não soube decifrar o que era.
— Tenho que ir. — Disse disposta a desaparecer.
— Você vai voltar? — Perguntou com voz esperançosa. Ela decidiu
não responder, era melhor não, mas justo no momento em que se
virava, escutou dizer: — Vou te esperar aqui.
De volta a seu lar e mais tranqüila, Ylahiah se questionou o que
tinha acontecido. Não só desobedeceu indo à terra, como tinha tido
uma conversa com um demônio. Seu castigo se a descobrissem seria
enorme, ela não tinha se permitido aventurar no mundo dos humanos,
mas tinha se deixado levar por sua curiosidade.
Nos dias seguintes, escondida, observava Makhale enquanto a
esperava no mesmo lugar, como tinha prometido. Ela não quis voltar
para baixo, não queria se arriscar a receber um castigo, mais algo a
empurrava para lá, era mais forte que ela, queria simplesmente
esquecê-lo, mas não podia. Cada dia na mesma hora sabia que ele
estaria ali esperando.
Algo em seu coração se agitava cada vez que o olhava. Recordou
quando ele disse que a séculos a observava e se perguntou se ele se
sentia igual a ela nesse momento. Depois de um tempo pensando nisso,
tomou a decisão de descer, seria só para dizer que não a esperasse
mais, isso não era nada de mais não é mesmo? Depois de se convencer
de que faria por bondade, olhou a seu redor para assegurar que
ninguém estava olhando. Finalmente, fechou os olhos e se materializou
na terra, justo no momento que ele estava saindo. Ele ficou surpreso
de vê-la, mas logo abriu um grande sorriso.
— Até que enfim você veio.
Ylahiah o observou por um momento, algo nele fazia se sentir
diferente, mas sabia que não deveria, era uma desobediência, não
podia voltar a vê-lo.
— Só vim para te dizer que não continue me esperando.
— E como sabia que eu te esperava? Não me diga que esteve me
espiando?
— Não te espiei, só foi curiosidade.
— Fico feliz em saber que desperto sua curiosidade.
Ela não podia deixar de olhá-lo, algo a prendia e intrigava.
— Eu... Só queria te dizer isso, agora tenho que ir. — Estava indo
embora quando ele a pegou pela mão. Nunca havia sentido aquela
sensação, foi bastante estranha, uma espécie de corrente elétrica
percorreu seu braço.
— Não vá, — disse sem soltá-la, e ela ficou paralisada sem saber
o que fazer, podia simplesmente ir, mas ele exercia uma espécie de
poder sobre ela, e seu coração acelerou quando a olhou diretamente
nos olhos. — Fica só mais um pouco, por favor. — Enquanto falava
aproximou sua boca até quase tocar sua orelha, seus batimentos
cardíacos aceleraram e um estranho sentimento se apoderou dela, teve
medo, pois pensou que o demônio estava usando algum truque. — Não
tenha medo, não te farei mal, — disse como se tivesse lendo seus
pensamentos.
— Por que quer que fique? — perguntou com voz trêmula.
— Porque levou séculos para poder te ver de perto, — respondeu
olhando nos seus olhos. Então fez o impensável, aproximou seus lábios
aos dela e a beijou. A princípio, Ylahiah ficou paralisada sem
compreender o que acontecia, não era algo que já tinha
experimentando, entretanto, a sensação era tão agradável que se
deixou levar, sentiu a língua de Makhale entrar em sua boca, e isto, foi
longe de desagradável, fez que algo acontecesse em seu interior. Ele a
abraçou para aproximá-la mais, e ela permitiu. Instintivamente,
levantou os braços para rodear seu pescoço e seus peitos ficaram
esmagados contra o duro torso do homem que parecia devorá-la
enquanto acariciava suas costas.
— Não sabe o quanto desejei isto, — disse ele com seus lábios
ainda nos de Ylahiah. Ela se deixou levar pela sensação mais
maravilhosa que havia sentido, se perguntou se isso a levaria a
perdição, mas no fundo de seu coração soube que não importava.
Makhale começou a beijar seu pescoço e, muito devagar, baixou
a manga de sua túnica para deixar descoberto um de seus seios, se
inclinou e tomou seu mamilo na boca. Ela tinha visto às mães humanas
fazerem isso quando alimentavam seus bebês, mas soube em seguida
que a situação era totalmente diferente, isto não era nada maternal,
era carnal. Gemeu, aproximando mais seu peito na boca de Makhale;
reconheceu em seguida o desejo, um sentimento que, embora até o
momento era desconhecido, podia sentir em cada fibra de sua pele.
Enquanto seguia sugando seu mamilo, ele começou uma lenta carícia
por seu quadril ao mesmo tempo que levantava sua túnica para ter
acesso a sua parte mais sagrada; por um momento, ela congelou.
— Calma, não te farei mal, só sinta o que te ofereço.
Sem estar segura de estar fazendo o correto, simplesmente se
deixou levar, separou suas pernas e permitiu que ele levasse sua mão
até seu centro. Sentiu um de seus dedos entrando lentamente nela e
estremeceu, prendeu-se a ele porque sentia que seus joelhos não a
sustentariam durante muito tempo e deixou que a explorasse até que
algo explodiu em seu interior. Quando por fim recuperou a compostura,
ele a estava olhando fixamente, de uma forma que ela não
compreendia, então um lento sorriso se estendeu por seus lábios e a
beijou novamente.
A partir desse momento, seus encontros se tornaram mais
freqüentes, cada vez seus beijos e carícias foram mais longe. Aquele
dia, Ylahiah decidiu que daria um pouco do prazer que ele lhe dava,
assim, quando começaram a se beijar e se acariciar, foi ela quem
introduziu a mão sob a túnica de Makhale para tomar sua grossa
ereção, o acariciando devagar o viu fechar os olhos enquanto deixava
sair um suspiro de satisfação. Soube que estava fazendo bem e
aumentou a velocidade, aproximou sua boca a dele para beijá-lo
enquanto continuava com suas carícias. De repente, ele ficou tenso,
segurando fortemente com seus braços, enquanto um suave e quente
líquido escorria pela mão de Ylahiah. Ela se sentiu feliz de poder
satisfazê-lo da forma em que ele fazia com ela.
— Acredito que chegou o momento, — disse ele uns minutos
depois, de frente para ela; suas palavras soaram confusas a seus
ouvidos.
— O momento do que? — perguntou ela de forma inocente.
— De te tomar, de por fim estar em seu interior, de te fazer minha
de forma definitiva. — Ela inclinou a cabeça sem compreender, ele a
tinha tomado muitas vezes, tinha bebido de seus peitos e sua mão a
tinha acariciado de todas as formas, acaso havia algo mais? Ele
pareceu se dar conta de sua confusão e tratou de acalmá-la.
— Não tenha medo, não te farei mal, nunca o faria, te amo muito.
— Seu coração se inflou com essas palavras, ela conhecia o amor
fraternal, de onde vinha era muito comum, mas este tipo de amor era
diferente, era algo que a fazia sentir especial, e soube que ela também
o amava dessa forma, assim estava disposta a tudo. Deixou que ele a
despisse completamente e logo viu se despir também, era tão formoso,
uma criatura digna de se apreciar. A beleza para eles não significava
nada, entretanto, não podia deixar de olhar Makhale e pensar em quão
magnífico era, gloriosamente nu. Ele se inclinou e estendeu sua túnica
no chão, logo lançou um olhar convidativo. Sem pensar, ela caminhou
até estar a seu lado, ele a ajudou a deitar e logo baixou a cabeça e
começou um lento beijo, enquanto suas mãos percorriam o corpo do
Ylahiah. Ela se perdeu totalmente nas sensações até que o sentiu se
acomodar no meio de suas pernas, sua ereção apertou contra seu
centro e separou suas pernas para lhe permitir o acesso. Muito
lentamente ele entrou nela, a enchendo completamente, lhe
demonstrando que havia mais do que tinham feito até esse momento,
lhe dando um prazer inimaginável. Seus movimentos foram lentos ao
princípio e depois mais rápidos, a levando ao ápice, enquanto ela
gritava seu nome.
Quando retornou ao lugar que chamava lar, foi convocada pelo
ser supremo. Em todos os séculos que tinha de vida, poucas vezes
esteve em sua presença, e sabia que só eram chamados por dois
motivos, porque tinham uma missão ou porque tinham infringido a lei
e receberiam um castigo. Quando as portas se abriram e permitiram
passar, um brilho cegador encheu o lugar, logo o viu, parecia feito da
mais pura luz, para um ser angelical estava com um rosto
entristecedor. Ele a olhava com uma mescla de pesar e decepção, e em
seguida soube que estava ali porque tinham descoberto seu segredo.
— Se aproxime, Ylahiah. — disse a voz que tinha um tom
indefinível, era poderoso e ao mesmo tempo tranqüilizador. Ela
caminhou devagar e, quando considerou que estava o suficientemente
perto, parou com a cabeça baixa.
— Durante séculos você seguiu o Caminho e cumpriu sua missão,
não houve em você maldade nem nenhum outro sentimento corrupto,
mas decidiu desobedecer, se corromper. — Se sentiu envergonhada, ela
não era melhor que aqueles que também tinham seguido o Caminho
do mal, embora suas razões fossem menos indignas a seu modo de ver.
— Por isso, será castigada. — Essa palavra deu muito medo, sabia o
que significavam os castigos, só esperava poder sobreviver o suficiente
ao seu para poder ao menos se despedir do homem que tanto amava.
— Será enviada à terra, onde viverá pelo resto de seus dias, sem sua
divindade, seu dom de luz será arrebatado de você, estará condenada
a viver nas trevas, tanto você como sua descendência. — Cada palavra
caiu sobre ela como uma grande pedra que a esmagava, lágrimas que
nunca soube que podia derramar escorregaram por suas bochechas.
Assentiu sem dizer nada, mas o ser supremo teve compaixão dela. —
Que o amor que te guiou a desobedecer a te sirva para agüentar seu
castigo. — Levantou a cabeça para perguntar a que se referia, mas de
repente se viu de pé em meio de um nada, girou ao redor tentando ver
onde estava, mas tudo era de cor branca. Então, como se se tratasse
de uma revelação, compreendeu, não estava em meio de um nada,
simplesmente não podia ver o lugar onde se encontrava. Escutou de
novo as palavras “estará condenada a viver nas trevas”; um novo
sentimento veio a ela, um mais forte que os outros que tinha
experimentado: o terror, sentiu terror de não saber o que aconteceria,
terror de estar perdida. Caiu de joelhos e se abraçou enquanto chorava
desconsolada. De repente, uma mão cálida e muito conhecida posou
em seu ombro e a atraiu até um peito duro que a consolou.
— Fica tranqüila, meu amor, eu estarei contigo, dedicarei minha
vida a cuidar de você. — Ele disse enquanto dava suaves beijos sobre
seu rosto.
E assim foi, o amor de Makhale se converteu no sustento de
Ylahiah, ele foi seus olhos quando os seus não tinham mais luz.

Algum tempo depois, em um afastado castelo, em algum lugar


desconhecido para todos, se escutavam os gritos de uma mulher que
se encontrava em trabalho de parto. Makhale estava em frente a sua
amada enquanto a ajudava a trazer seu filho ao mundo. Várias horas
depois por fim nasceu o pequeno, com uma pele limpa e suave, tão
delicado como qualquer criatura que acaba de nascer, mas então abriu
os olhos, uma profunda cor vermelha. Foi assim que nasceu uma raça
conhecida como os Demonials, seres metade anjo e metade demônio,
capazes de irradiar a mais potente luz ou de abraçar a mais absoluta
escuridão.
1
ALEXY

Biertan, Rumania, 1504

— Olhe, mãe, posso voar! — gritei enquanto corria pelo campo


agitando os braços. Ela me olhou com seus bonitos olhos marrons
cheios de amor e sorriu enquanto seguia trabalhando em suas flores.
Amava as rosas que tinha em seu jardim, eram de uma cor vermelha
intensa que pareciam brilhar à luz da lua cheia, o vento agitava seu
cabelo tão negro como o meu. Nesse dia vestia um singelo vestido de
cor vermelha como o de suas rosas. Aí, em meio de suas roseiras,
parecia se fundir com a paisagem como se elas fossem uma parte de si
mesma; cada vez que a olhava pensava que era a mulher mais linda
que existia na terra.
Vivíamos em uma pequena cabana de madeira, nos separando de
qualquer pessoa. Minha mãe tinha proibido de me aproximar das
pessoas e sabia que ali não éramos bem-vindos porque pensavam que
havia algo de errado conosco. Em meus dez anos não entendia muito
bem por que, mas mesmo assim obedecia. Tampouco compreendia por
que só podíamos sair durante a noite, até que um dia, de tanto insistir,
me permitiu isso e foi tal minha decepção quando comprovei os
motivos, que nunca mais quis fazê-lo. À luz do sol, meus olhos se
nublavam totalmente e a única coisa que via era sombras brancas.
Perguntei por que acontecia isso, e ela, com um sorriso triste,
respondeu que estávamos malditos, que por isso não nos permitia ver
o sol. Quando disse “nós”, pensei que se referia só a ela e a mim, além
disso, ficava confuso com isso de ser maldito, a palavra não tinha
nenhum significado para mim, mas um tempo depois compreendi que
não se tratava só de nos dois, haviam mais que eram iguais a nós.
Deixei de correr e me aproximei para ajudá-la com suas flores, ela
beijou minha cabeça e, com muita delicadeza, começou a cortar
algumas e às pôr em uma cesta. Sempre fazia isso para decorar a casa,
eu gostava do aroma doce e agradável que ficava o interior de nosso
humilde lar. De repente, o ambiente mudou, um vento muito frio
começou a soprar e minha mãe ficou nervosa.
— Alexy, entre na casa, agora. — Em sua voz havia um tom de
urgência que fez que me alarmasse.
— O que está acontecendo, mãe? — perguntei começando a sentir
medo.
— Não pergunte, corra.
Em seguida obedeci e corri para casa com ela me seguindo; as
flores ficaram esquecidas em algum lugar. Quando estávamos dentro,
trancou à porta e nos levou para um canto, fez que me abaixasse e se
acomodou a meu lado enquanto me abraçava. Escutei-a falar em uma
lingua desconhecida, era como se estivesse fazendo uma espécie de
oração. Então o caos começou, um forte ruído se escutou e a porta
explodiu em mil pedaços. Então apareceu uma figura sinistra, vestido
todo de negro, seu cabelo comprido se agitava com o vento, mas o que
mais me impressionou foi ver que seus pés não tocavam o piso, estava
levitando. Uma risada malvada brotou de seus lábios, de sua frente se
sobressaíam uns chifres e seus olhos brilhantes tinham uma cor
vermelha. Eu estava apavorado enquanto me agarrava mais a minha
mãe.
— Mãe, quem é ele?
— Shhh, tranqüilo, meu menino, não tenha medo, — disse e
continuou com suas palavras estranhas.
— Suas orações não te ajudarão, Lenuta. — Escutei o estranho
dizer o nome de minha mãe; ela o ignorou e seguiu orando.
De repente, uma forte ventania começou a atirar todas as coisas
da casa, os pratos caíam de suas prateleiras, a mesa e cadeiras voavam
por todos os lados, a madeira rangia como se fosse cair a qualquer
momento. Enquanto isso, eu só podia observar com pânico, olhei até a
entrada e vi a figura que se aproximava rapidamente a nós, seus pés
seguiam sem tocar o piso, era mais como se voasse. Quando chegou a
nosso lado, pegou a minha mãe pelo cabelo e a separou de mim, ela
lançou um grito de terror e soube que tinha tanto medo como eu.
— Mãe, não, a deixe. — Ele me olhou me mostrando largos dentes,
e logo me dei conta de que as mãos com as que sustentava a minha
mãe se converteram em garras. Eu chorava tratando de chegar nele,
mas era apenas um menino e ele, mais forte que eu; sem sequer se
mover, me lançou contra uma das paredes.
— Por favor, não faça mal a meu menino, — pediu ela em meio ao
pranto. A criatura soltou uma forte gargalhada que pareceu saída do
inferno.
— É tola, Lenuta, pensou que se esconderia de mim?
— Nos deixe em paz. — Me surpreendeu ver que os olhos de minha
mãe brilharam e adquiriram uma cor vermelha, seu corpo começou a
mudar e então ela também adquiriu garras e chifres como a criatura,
mas além disso tinha umas asas de cor negra. Nunca tinha visto algo
assim, não entendia o que estava acontecendo. Atacou à criatura com
uma de suas garras, e este a soltou. Ela grunhiu e se lançou sobre ele
de novo, mas a criatura era mais rápida, assim que a apanhou rodeou
seu pescoço com um braço; mas minha mãe não deixava de lutar.
— Vai pagar por ter me desafiado. — Ele disse enquanto ela
travava de alcançá-lo. Vi inclinar a cabeça e morder o braço de seu
captor até tirar sangre, ele grunhiu de dor, entretanto, não a liberou.
— Vê, menino? — disse se dirigindo a mim. — Olhe e aprenda o que
faço com os traidores.
— Não lhe faça mal, ele também é seu filho! — escutei o que disse
minha mãe, “seu filho?”. Eu era filho do monstro, nunca tinha
conhecido meu pai, ela nunca o tinha mencionado.
— E acredita que me importo e que isso vai evitar de matá-lo
também? Não tenho coração e você sabe.
— Maldito, apodrecerá no inferno.
As gargalhadas ressonaram em todo o lugar.
— Se esquece que vivo lá?
Tomei forças e levantei para tratar de ajudá-la; ele seguia
segurando seu pescoço enquanto a levantava no ar. Quando estava
perto, avancei em suas costas, tratei de mordê-lo e arranhá-lo, tinha
que salvar minha mãe.
— Pobre menino, não é mais que um mosquito e acha que pode
me conter.
De repente, girou com uma rapidez que me surpreendeu e cravou
suas largas garras em meu estômago; caí ao chão enquanto escutava
a minha mãe gritar.
— Não, meu menino, não — sua voz soava desesperada.
Obriguei-me a manter os olhos abertos, mas teria desejado não
ter feito, o monstro me lançou um sorriso e, com uma só patada, cortou
a cabeça da mulher que mais amava no mundo, que tinha me dado a
vida e cuidado de mim. Seu corpo sem vida caiu de lado enquanto
sangue que se misturava com o meu alagavam o piso. Sua cabeça ficou
perto de mim, com os olhos abertos, parecia como se me estivesse me
olhando. As lágrimas molhavam meu rosto, em minha mente pedi
perdão por não ser mais forte e te-la salvado.
— Me procure quando for um homem de verdade. — Me disse o
assassino e, logo, sem mais, desapareceu de minha vista. Fiquei ali,
chorando, enquanto esperava que a morte me levasse com ela.

São Francisco, Estados Unidos, 2016

Abri os olhos e olhei para o teto, não era um pesadelo, nós não os
tínhamos, era uma maldita lembrança que se reproduzia uma e outra
vez. Apertei os lençóis, levantando da cama caminhei nú até a janela;
lá fora, o céu seguia escuro. Olhei até a estufa iluminada por luzes
artificiais, era a única coisa que tinha para recordar a minha mãe, ali
tinha centenas de rosas vermelhas plantadas, aquelas que cuidava
zelosamente porque sempre a imaginava em meio a elas; às vezes
fechava meus olhos e a via dançar com os braços abertos em meio das
roseiras. Procurei o relógio e vi que eram nove da noite. “Hora de
acordar”, pensei. Tomei um banho e logo procurei em meu armário uma
calça de couro e uma camiseta preta. Calcei minhas botas de combate
e amarrei meu cabelo em uma trança, saindo do meu quarto caminhei
pelo comprido corredor. Às vezes me perguntava o que tinha me levado
a comprar esse lugar, era tão grande e silencioso que estava seguro de
que, se deixasse cair uma agulha, faria um ruído ensurdecedor ao se
chocar com o piso. Meu irmão tinha insistido para que me mudasse,
mas já era suficiente o ruído do bar. Em ocasiões, quando estava lá
sentia saudades do silêncio, isso sem contar que queria estar só, era
uma espécie de segurança. Saí e me encontrei com o Balaur, meu cão
rottweiler e acariciei sua cabeça quando passei por seu lado e esperei
que entrasse antes de fechar a porta, peguei minha motocicleta e fui
até o clube, deixando para trás meu doce e sombrio lar.
Era uma antiga casa de estilo vitoriano, nos subúrbios da cidade,
que tinha sido construída no século XVIII, estava rodeada de altos
muros de pedra que me davam a privacidade que necessitava, assim
ninguém suspeitaria que havia algo diferente comigo. Certamente, se
tivesse vizinhos, teriam se dado conta de que não tinha trocado uma
palavra nos últimos cinqüenta anos que estive vivendo ali. Deixei que
o vento acariciasse meu rosto enquanto me aproximava de meu
destino, esse dia seria mais um procurando Razvan. Levei séculos
planejando minha vingança, mas o filho de puta era bastante
escorregadio, embora isso não me importasse; se tinha que ir ao inferno
por ele, iria.
Cheguei uns minutos depois, o clube era nosso lugar de encontro,
fazíamos isso a vários anos. Tarek, Marcus e eu fomos uma equipe, os
três perseguíamos a mesma meta, a morte do Razvan, a vingança por
nos haver roubado tudo. Decidimos que este prédio seria uma boa idéia
para passar desapercebidos. Dei o nome de Rosa por minha mãe, não
que este sítio de perdição lhe fizesse muita justiça. Caminhei em meio
a bêbados, drogados e mulheres mau vestidas, que se afastavam a meu
passo; se tivesse sido crente, talvez me sentiria como Moisés, que
apartou as águas do mar Vermelho para fazer passar um montão de
gente. Cheguei até a mesa onde nos sentávamos sempre, e eles já me
esperavam. Essa gente sabia que éramos perigosos, ninguém ousava
se aproximar de nós a menos que procurassem a morte.
— O que temos para hoje? — perguntei, me sentando. Tarek me
olhou com seu eterno sorriso, enquanto Marcus apenas levantou a
cabeça, não estava acostumado a falar muito e nós preferíamos deixá-
lo só, não queríamos despertar sua ira, às vezes não a controlava e não
queríamos merda pulverizando por todos lados; se não fosse pelas
poucas vezes que o tínhamos escutado falar, teríamos jurado que era
mudo.
— Raven está de tocaia, espero que nos tenha algo mais tarde —
respondeu Tarek e deu um gole no seu uísque; ainda não entendia por
que seguia tomando esse lixo, não era como se pudesse se embebedar
ou algo assim.
— Bem, vamos esperar então. — Ia dizer algo mais, mas esqueci
assim que
levantei a cabeça e topei com um pequeno anjo. Ela brilhava no
meio da escuridão, caminhava atrás de Cassy, uma das mulheres que
trabalhavam no bar. Olhava para todos lados como se estivesse
perdida, uma aura de inocência a envolvia. Ri de quão contraditória
resultava a situação: um anjo em uma guarida de demônios. Parecia
um coelho assustado; se soubesse a pobre onde se colocou…
2
ALANA

Caminhava rapidamente ao lado de Cassy, estava muito nervosa,


necessitava deste trabalho desesperadamente. Por um momento,
reparei em sua roupa e me perguntei em que classe de lugar
trabalhava, essa noite estava com um vestido muito curto de couro
preto e umas botas com salto de agulha que chegavam acima de seus
joelhos. Embora ela tinha me assegurado que não se dedicava à
prostituição, sua roupa me fazia duvidar. De todos os modos, supunha-
se que meu trabalho seria de limpeza, assim por esse lado estava
tranqüila, mas em todo caso decidi pôr uma roupa que deixasse claro
que eu não faria nada mais do que limpar. Vesti uns jeans, converse
vermelhos e uma camiseta branca com um estampado de uma caveira
com olhos em forma de coração, meu comprido cabelo que sempre
estava em duas tranças estava penteado em um rabo-de-cavalo; não
queria parecer infantil e que não me levassem a sério. Apesar de ter só
dezoito anos, me considerava uma adulta responsável. Na minha idade
já tinha visto muitas coisas. Suspirei e pensei em Abby, queria ajudá-
la a sair desse lugar, mas ainda faltavam uns meses para cumprir a
maioridade, só esperava que as coisas não se estivessem muito feias
para ela, odiava imaginar que Logan se aproveitasse e a fizesse fazer
algo. Muitas vezes tentou nos prostituir com seus asquerosos amigos;
algumas das garotas não puderam evitar e terminaram vendidas a
esses desgraçados. Abby e eu nos arrumamos para nos manter fora,
uma dessas vezes em que Logan nos pediu que fôssemos carinhosas
com seus amigos o ameaçamos cortar suas bolas enquanto dormia e,
logo, incendiar sua maldita casa se nos obrigasse a dormir com algum
desses desprezíveis. Depois disso dormíamos com uma faca debaixo de
nosso travesseiro, embora isso não nos salvou de ter que nos vestir com
roupa inclusive mais curta que a de Cassy, nos maquiar como putas e
ter que os servir doses quando apareciam em suas festas. Só de
recordar as vezes que, enquanto estávamos descuidadas servindo,
senti a mão de algum deles penetrar debaixo de minha saia fazia que
meu estômago se revolvesse. Quando tentavam algo mais, nos
defendíamo como podíamos, Abby tinha experiência nisso, sua mãe
tinha sido uma prostituta, assim tinha visto muitos homens
desagradáveis, inclusive uma vez um deles tinha lhe feito mal. Ela
ainda tinha pesadelos e odiava que a tocassem, por isso, ter que se
aproximar de um montão de bêbados desesperados para se aproveitar
de nós era um trabalho mais difícil para ela.
— Lembre que não deve ficar nervosa diante do dono, é um tipo
duro e difícil de convencer. Se te ver assustada, não te vai contratar.
Suas palavras me tiraram de meus escuros pensamentos e, é
obvio, não ajudavam em nada para que me sentisse melhor. Ela sempre
falava de seu chefe como um tipo complicado, quase como se o temesse,
só esperava que não fosse igual ao desgraçado do Logan.
— Não se preocupe, vou me sair bem, já sabe que preciso do
emprego e não posso me dar o luxo de me dispensarem.
Cassy e eu tínhamos nos conhecido em um dos muitos orfanatos
onde estive durante toda minha vida, ela era quatro anos mais velha
que eu, assim tinha saído desse inferno muito antes de mim. Assim
que cumpri a maioridade, também pude sair, e Cassy era a única
pessoa que conhecia, assim recorri a sua ajuda; nunca conheci meus
pais, só sei que foram um par de drogados que me abandonaram
quando nasci.
— Já sabe, não o olhe fixamente, odeia que fiquem olhando, e não
fale mais do que o necessário. Por último, mantenha afastada da
Saskia, pode ser uma cadela quando quer.
— E quem é essa?
— É só a aventura do chefe, mas isso faz que acredite ser a
proprietária do lugar, só espero que se aborreça com ela logo, é uma
verdadeira filha de puta.
Fiquei pensando no que me dizia, o tipo na verdade deveria ser
um homem bastante desagradável por todas as descrições que tinha
me dado, embora também notei em sua voz certo ressentimento pela
tal Saskia. Será que Cassy estava com ciúmes dela?
Chegamos e, por um momento, fiquei parada na porta observando
tudo a meu redor, havia inúmeras motos, alguns homens vestidos de
couro e com tatuagens estavam espalhados por aí. Devia pedir mais
especificações a minha amiga sobre seu lugar de trabalho, este parecia
o típico bar de motoqueiros, desses que vemos nos filmes onde o álcool
e as drogas vão de um lado a outro como se fossem doces e água. Em
um letreiro grande com luzes de néon se podia ler CLUBE DA ROSA.
Um nome bastante singular para um lugar freqüentado por um montão
de tipos rudes vestidos com roupas negras e múltiplas tatuagens, cuja
expressão gritava problemas; acho que esse nome era uma espécie de
brincadeira. Sequei as palmas das mãos em minha roupa e segui
minha amiga para o interior, era escuro e o aroma de licor e tabaco
tomavam o ambiente, o que fazia quase impossível respirar, como
suportavam? Cassy se deteve um momento para inspecionar o lugar,
certamente procurando seu chefe. Ao final pareceu encontrá-lo
não sei como, porque era bastante difícil distinguir algo em meio
da escuridão, ou talvez ela já estava acostumada. Se ajeitou em seu
vestido e com suas mãos levantou mais seus peitos, quase os tirando
de seu decote; de novo, algo me fez suspeitar que havia algum tipo de
interesse dela por seu chefe. Seguiu caminhando comigo atrás.
Durante o trajeto, observei que havia outras mulheres vestidas com
roupas de couro que deixavam pouco à imaginação, algumas dançavam
só com uma pequena tanga sobre uma barra enquanto os homens
assobiavam. Estava tão distraída observando tudo que estive a ponto
de me chocar com minha companheira quando ela parou em frente a
uma mesa. Devagar, parei a seu lado, não sabia o que esperava
encontrar, mas definitivamente não era o que vi. Na mesa, estavam três
homens, cada um mais intimidante que o outro. Da minha posição não
podia calcular sua estatura, mas poderia assegurar que estavam perto
dos dois metros. Olhei um por um tentando decifrar qual seria o temido
chefe. Um era muito loiro, com o cabelo quase branco, parecia um deus
nórdico, com seus olhos de um azul translúcido e, embora tinhesse um
grande sorriso, algo me disse que era perigoso. O seguinte me deu medo
assim que seu olhar encontrou o meu, tinha uns olhos cor avelã que
olhavam como se quisesse arrancar minha alma, mas não era isso o
que o fazia intimidante, eram as feias cicatrizes que desfiguravam o
lado esquerdo de seu rosto. Finalmente encontrei o outro, ele era a
mistura perfeita entre o sombrio e o sexy, seus olhos negros como a
asa de um corvo me observavam interrogativos, pude notar que seu
cabelo estava em uma trança que chegava até sua cintura, estava
vestido completamente de negro e por debaixo das mangas de sua
camiseta e em seu pescoço se podiam apreciar algumas tatuagens.
Fiquei o olhando embriagada, nunca em minha vida tinha visto um
homem como ele, tampouco tive muitas oportunidades, mas estava
segura de que não era comum encontrar alguém assim e em seguida
pensei em algum ser mitológico.
— Senhor Moldoveanu, — disse Cassy se dirigindo ao deus
sombrio, — esta é minha amiga Alana, a que comentei que poderia ser
boa para o posto da limpeza.
— Nunca me disse que era uma menina, isto é um bar, não um
jardim de infância. — respondeu sem tirar seu olhar do meu, sua voz
era quase hipnótica e com um forte sotaque que não soube distinguir.
— Sei que Alana pode parecer jovem, mas asseguro que é maior
de idade.
— Não!
Seu “não” firme me fez sentir desesperançada, fazia um mês que
estava procurando trabalho em todos lugares e nenhuma vez tinha tido
sorte.
— Por favor, senhor, juro que não vou causar problemas, posso
fazer o que for, limpar o piso, os banheiros, o que você queira. De
verdade necessito muito este emprego, — intervi tratando de convencê-
lo.
— Disse não.
Nesse momento entendi ao que se referia minha amiga quando
assegurou que era um tipo duro e difícil de convencer; acabei de perder
minha última oportunidade, teria que seguir tentando por outro lado.
Baixei minha cabeça, desanimada, esse medo tinha sido meu dia de
sorte.
— Entendo, agradeço muito. — Olhei a minha amiga, que me deu
um gesto de desculpa, e me dispus a sair dali. Dizer foi mais fácil que
fazer, a multidão que lava o clube fazia complicada essa tarefa. Estava
a ponto de chegar à porta quando senti um forte puxão em meu braço.
Me virei para me encontrar com um tipo gordo e calvo que cheirava a
álcool, além disso, estava sujo e com seu cabelo gorduroso.
— Por que tão só, preciosa? Vem, vamos nos divertir.
— Não, me solte, me deixe em paz — tentei escapar, mas o tipo
parecia ter grilhões no lugar de mãos.
— Não resista ou vai piorar.
— Por favor, me deixe ir. — Começei a me assustar, ninguém
parecia se dar conta do que estava acontecendo ou, melhor, não se
importavam. O tipo me arrastou a um lugar escuro. Meu coração estava
acelerado, tentei lutar, o arranhei e dei tapas, mas o homem estava tão
bêbado ou tão drogado que nem sequer notou, essa era a desvantagem
de ser pequena, não causava nenhum dano, meu um metro e cinqüenta
e cinco não estava a meu favor. Eu estava com muito medo. Sem sequer
me dar tempo de reagir, me prendeu contra uma parede; o golpe foi tão
forte que por um momento senti que não podia respirar. O tipo tentou
me beijar e, como pude, afastei meu rosto, meu estômago se revirando,
eu ia vomitar. Não entendia por que ninguém estava me ajudando, que
especie de clube era esse onde uma mulher era violada em meio de uma
multidão e ninguém fazia nada para detê-lo? Comecei a gritar pedindo
ajuda, mas estava segura de que em meio a música alta era impossível
que alguém me escutasse. De repente, o ar voltou para meus pulmões,
então me dei conta de que tinha sido afastado de mim, respirei
fortemente enquanto levantava a cabeça para ver que meu salvador era
nada mais e nada menos que o deus sombrio. Não sei se senti medo ou
alívio ao ver como retorcia o braço de meu captor até que fez um som
que estive segura de que era de osso quebrando, coisa que confirmei
um momento depois quando vi que estava pendurado de uma forma
estranha e que este parecia que ia sair da pele. O homem se retorcia e
gritava de dor, pedindo clemência, mas não havia no deus sombrio o
mínimo indício de piedade. Nesse momento me pareceu sinistro. Logo,
pôs sua bota sobre a garganta do tipo no chão e começou a exercer
pressão; estava convencida de que ia acabar com sua vida sem
importar que o lugar estivesse cheio de gente que poderia vê-lo, era
como se matar fosse algo que fazia regularmente.
— Senhor, — falei o mais forte que pude para que pudesse me
escutar em meio ao barulho, mas minha voz se perdeu por culpa da
música. Mesmo assim, ele me escutou, seu olhar se encontrou com o
meu e me pareceu que seus olhos negros tinham trocado para um tom
de vermelho, mas em seguida desviou a atenção a sua presa e soube
que em meio da escuridão e as luzes de néon tinha me confundido; era
impossível que a alguém trocasse a cor de olhos dessa forma.
Entretanto, havia nele um ar assassino, e isso eu não estava
imaginando. — Por favor, — Disse tentando que entendesse que não
queria que matasse esse homem, não valia a pena sujar as mãos. Sem
dizer nada, me pegou em seus braços e se aproximou para falar com o
loiro que o acompanhava antes.
— Se encarregue dele.
Seu amigo assentiu sem dizer nada mais, não sabia a que isso se
referia, mas preferi não perguntar, a resposta me dava medo.
Estando em seus braços, pude constatar que efetivamente era um
tipo enorme, maior que a maioria dos homens que estavam aqui.
Entrou em um escuro corredor no qual era impossível ver alguma coisa,
mas ele parecia conhecê-lo muito bem porque em nenhum momento
titubeou enquanto caminhava. Me sentia com frio, era assustador, a
única luz saía por debaixo das portas fechadas que se encontravam em
ambos os lados. Me pergutava por que haveriam tantas salas nesse
lugar, de algumas saíam ruídos similares a gemidos. Ao final, abriu
uma porta que dava a um escritório, muito contrário a tudo lá fora,
estava bastante ordenado. Me sentou em um sofá de couro e se afastou
para retornar com um copo de água, peguei com mãos tremendo e bebi
tudo.
— Não devia vir aqui, este não é um lugar para uma menina como
você. —Me disse em tom de recriminação.
— Sinto muito, senhor, eu só vim porque precisava do emprego,
na verdade não sabia que tipo de clube era este, Cassy não me explicou
isso.
— Por que precisa trabalhar? Por um acaso seus pais não podem
te manter?
— Eu não tenho ninguém.
— Onde está sua família?
— Não sei, nunca os conheci, fui criada em um orfanato, mas faz
um mês e meio que completei dezoito, assim tive que sair. Por isso
estou procurando emprego. Cassy me recebeu em sua casa, mas ela
não pode arcar com todos os gastos. — Ele ficou me olhando por um
momento, isso estava me deixando nervosa.
— Sabe organizar documentos?
— Não estou muito segura de como fazê-lo, mas prometo que
posso aprender.
— Está bem, pode trabalhar aqui, mas me escute bem, nunca,
nenhuma vez deve sair deste escritório, está claro? — À medida que
falava ia se aproximando de mim, até que seus olhos estavam a
centímetros dos meus. Fiquei perdida neles durante um momento,
havia algo em seu olhar que escapava de minha compreensão, uma
mistura entre luz e escuridão, até que ele rompeu a conexão.
— Claro, senhor, prometo que vou fazer tudo o que você me peça,
não vai se arrepender.
— Alexy.
— Perdão?
— Meu nome é Alexy, pode deixar de me chamar de senhor.
Achei estranho que me pedisse que o chamasse por seu nome
quando minha amiga sempre se dirigia a ele como o Senhor
Moldoveanu, nunca a tinha escutado dizer seu nome, embora,
pensando bem, chamar de Senhor era bastante estranho, já que não
aparentava ter mais de trinta anos.
— Entendo, Se... Alexy.
Vi se aproximar de uma estante para pegar uma série de
documentos que logo me estendeu.
— São faturas, deve as ordenar por data.
Me animei um pouco, até o ponto de quase esquecer que fazia
alguns minutos que o tinha visto quase matar um homem.
— Claro, não se preocupe, dou minha palavra de que não vai ter
queixa de mim.
Sem me dizer nada mais, se afastou para se sentar em sua
escrivaninha. Eu decidi que era mais cômodo ficar no chão, assim que
me sentei com as pernas cruzadas e as costas apoiadas na poltrona.
Comecei a fazer meu trabalho, podia sentir seu olhar cravado em mim,
mas supus que só estava vigiando se estava fazendo bem, assim
comecei a cantar uma canção para me esquecer de sua presença,
embora isso era algo impossível de fazer, sua aura enchia todo o lugar.
3
ALEXY

Sentei em minha escrivaninha observando à pequena criatura


loira com os olhos da cor que deveria ter o céu; isso eu supus, já que
nunca tinha visto, só na televisão. Sentada ao estilo índiano,
cantarolava enquanto ordenava os papéis. Não era necessário que
fizesse, sempre tinha uma ordem estrita para tudo, mas, senti a
necessidade de ajudá-la, embora algo me dizia que a menina me traria
muitos problemas. Ouvi passos e em seguida soube que se tratava de
Saskia; uma das vantagens de nossa espécie era que tínhamos a
capacidade de escutar algo a uma distância considerável, isso tinha
sido o que o ajudou a ouvir os gritos da garota enquanto pedia ajuda.
Tinha dado a ordem ao Tarek de se encarregar do filha da puta, fiz
porque apesar de seu eterno sorriso e rostinho de bom menino, meu
companheiro podia ser um verdadeiro demônio sanguinário. Já vi
muitas vezes despedaçar seus oponentes sem apagar seu sorriso
alegre, era o único que podia sorrir enquanto lhe arrancava as tripas.
Os passos estavam cada vez mais perto, sabia por que vinha, a cadela
me deixava farto, acreditava ser minha proprietária só porque permitia
me dar um boquete de vez em quando. A porta se abriu com grande
estrondo, assim era ela, sempre tão teatral. Vi a menina saltar e olhar
assombrada para Saskia, sabia o que via: uma mulher chamativa, com
seu metro oitenta e cinco de estatura, figura curvilínea, cabelo loiro
muito curto e olhos verdes. Era a beleza personificada, vestia shorts
curtos de couro vermelho e um top negro que apenas cobria os seios,
seus sapatos muito altos só ajudavam para que fosse mais chamativa,
mas isso só era uma aparência, pois tinha o coração tão negro como
sua alma. Era desumana e não se importava de passar por cima de
quem fosse para conseguir o que queria. Ainda não compreendia como
não passou totalmente para o lado escuro, embora sabia que não
estava muito longe disso.
— Escutei que ordenou ao Tarek se desfazer de um cliente. —
Maldita mulher, por que não media suas palavras?
— Não te interessa o que eu faço.
— Aham, vejo que tem um novo mascote, — disse se aproximando
da pequena, que a olhava com uma mescla de admiração e medo. —
Posso provar? — perguntou levantando o queixo.
A garota se afastou rapidamente, mostrando um certo receio. Vê-
la pôr suas mãos em cima dela me enfureceu. Me esquecendo de
ocultar minha velocidade, levantei de minha cadeira e, antes que ela
pudesse reagir, a tinha contra a parede, apertando seu pescoço. Sabia
que assim não ia matar, mas ao menos ia aprender que comigo não se
joga. Deixei que visse meus olhos vermelhos que demonstravam minha
fúria, essa era outra de nossas características, nascíamos com uma cor
de olhos definidos, mas isso podia trocar de acordo a nosso estado de
ânimo.
— Me escute bem, não se atreva a voltar a tocá-la porque então
vou ser obrigado a ordenar ao Tarek que também se encarregue de
você, isso se eu mesmo não fizer isso.
— Não farei, — Falou com dificuldade. Assim que a soltei, passou
a mão pelo pescoço, lançando um olhar de ódio a Alana e saiu com a
mesma rapidez com que tinha vindo.
Tinha que me controlar, era a primeira vez que perdia a paciência
em frente de um humano. Respirei fundo tratando de me acalmar, para
que meus olhos retornassem à normalidade. Me virei devagar e vi que
a jovem continuava no chão presenciando a cena com os olhos muito
abertos; um momento depois pareceu recuperar a compostura.
— Sua namorada é intimidante, agora entendo por que Cassy me
advertiu para me manter afastada dela. Mas, a que ela se referia com
me provar? Não me entenda mal, ela é bonita, mas eu não gosto de
mulheres. Além disso, como fez isso de se levantar tão rápido?
— Fala muito, pequena. — Ela baixou a cabeça, envergonhada.
— Lamento, estou acostumada a falar mais quando fico nervosa.
Prometo que vou tentar me manter calada.
— Não me incomoda que fale. — E era verdade, por alguma razão,
eu gostava de escutá-la, tinha uma voz angelical, era uma lástima que
a pobre tivesse caído em um antro de demônios. De novo, ela levantou
sua cabeça e sorriu, era uma criatura fascinante.
Alguns minutos depois passos diferentes se aproximaram de meu
escritório, a porta se abriu, era Tarek, que só me fez um ligeiro gesto e
soube que era o momento de começar nosso verdadeiro trabalho. Fiquei
de pé e peguei minha jaqueta de couro que estava na cadeira, caminhei
até a porta e, antes de sair, parei. Sabia que ela seguia todos meus
movimentos com o olhar, assim me virei para ficar de frente.
— Não saia daqui em nenhum momento, Cameron te trará algo
de comer.
— Quem é Cameron? — Perguntou.
— É o encarregado daqui.
— Entendo, não se preocupe, não sairei daqui.
— Mas se lembre, se me desobedecer, terá muitos problemas. —
Dei a volta e saí.
Teclei o código de segurança da porta, não queria Saskia entrando
aqui enquanto eu não estivesse, quem sabia do que a cadela era capaz.
— Como assim? — perguntou Tarek, me tirando de meus
pensamentos.
— Não sei do que está falando, só dei o trabalho. — Falei de
maneira despreocupada.
— E esse trabalho será na sua cama? — Tarek era muito direto,
geralmente dizia o que pensava, nunca tinha me incomodado até esse
momento.
— Você é um imbecil, não viu que é apenas uma menina?
— Uma menina muito bonita, que deixou Saskia com ciúmes.
Estou certo de que terá problemas com ela, acredita que a fará sua
mulher.
— Ela que vá à merda, não é meu problema se não sabe a
diferença entre transar e casar; obviamente para mim, é só sexo.
— Veremos, amigo, agora vamos que Marcus está nos esperando.
Raven nos disse que está para chegar um grande carregamento.
— Sim, só me dê um momento, tenho que encarregar algo a
Cameron.
Fui até onde se encontrava e, assim que me viu se aproximou.
— Algum problema? Vi Saskia sair muito furiosa, — perguntou.
— Saskia que se foda. Agora quero que leve algo de comer à garota
que está trabalhando em meu escritório.
— A última vez que soube isto era um bar, não um restaurante.
— Deixa de ser imbecil e faça o que mandei.
— Como quiser, chefe, posso dar uma olhada na mercadoria? —
perguntou me dando um grande sorriso. Cameron era meu irmão mais
novo, por isso permitia fazer algumas gracinhas, embora às vezes
queria torcer seu pescoço. Tinha encontrado ele ainda menino, perdido
e quase morrendo de fome; e cuidado dele, embora para mim ele era
mais como um filho, ele seguia insistindo que nunca me trataria como
um pai, porque seria ridículo chamar de pai a um cara que parecia ter
sua idade, assim aceitei o papel de irmão mais velho.
— Se quer ficar sem olhos, pode tentar, e se assegure de que
Saskia não entre lá enquanto não estou, ou chutarei seu traseiro.
— Que agressivo, já entendi, é toda sua, e pela cadela não se
preocupe, a manterei controlada, embora continuo pensando que faria
um favor a todos se se livrasse da puta de uma vez.
— Vou pensar.
Me virei para sair sem dizer mais nada, confiava nele e sabia que
não se aproximaria da garota mais que o necessário.
Saímos pelos fundos como sempre fazíamos. Marcus, com seu
semblante sempre sério, só nos fez um pequeno gesto, e nos três
subimos em nossas Harleys. Mais a frente, Raven nos aguardava, ele
tinha sido o último a se unir ao grupo. O tipo era todo misterioso,
ninguém sabia de onde veio. Simplesmente, um dia apareceu no bar e,
depois de ser posto a prova e saber que era de confiança, permitimos
que nos ajudasse em nossa tarefa. Logo depois já era considerado um
irmão. Nesse momento, como sempre, vestia seus habituais jeans
desgastados e camiseta sem mangas, que deixavam a mostra seus
braços totalmente cobertos de tatuagens. Tinha vários piercings em seu
nariz e lábios, e alargadores no lóbulo de suas orelhas, entretanto, o
mais chamativo do sujeito era seu cabelo, totalmente raspado dos lados
e com uma enorme crista de cor verde brilhante.
— O que aconteceu? — perguntei assim que estávamos a seu lado,
a uma distância segura de quem descarregavam as caixas que
sabíamos que continham armas.
— Não muito, já faz uns quinze minutos que estão descarregando,
parece que Razvan está tentado armar a todos os humanos da cidade,
pela quantidade de caixas que descarregaram.
O filho de puta se encarregava da venda de armas e do
narcotráfico, e eu me perguntava se algum de seus compradores sabia
que literalmente estavam fazendo negócios com o demônio.
Observamos durante uns minutos aos cinco demônios que carregavam
caixas como se fossem formigas, seus olhos totalmente negros
mostrava sua alma negra entregue à escuridão. Uma alta figura que se
encontrava separada deles chamou minha atenção.
— Conhece o sujeito que está lá? O de traje, — perguntei
mostrando o lugar.
— É Aidan McKenna, não pude obter muita informação sobre ele,
só que é escocês e que se dedica a negócios imobiliários. Aparentemente
é só um milionário a mais, mas parece que a noite gosta de se converter
no cão mulherengo do Razvan.
Tinha escutado falar de McKenna, mas nunca o tinha visto
pessoalmente, o que me surpreendia era vê-lo envolvido com o
submundo.
— Não parece estranho que Razvan use um só homem para cuidar
de seu carregamento? — perguntou Tarek.
— Pode ser que esteja nos subestimando, — respondi — É melhor
colocarmos mãos à obra, que comece a festa. — Disse, e os outros se
prepararam para o que vinha. Todos nos tiramos nossas jaquetas e
camisetas, era um hábito que tínhamos aprendido lá atrás, soubemos
que nossas asas e a roupa não eram uma boa combinação. Assim logo
depois de muitas camisas destruídas, começamos a tirá-la antes de
alguma batalha, ou simplesmente trazíamos uma de reserva se por
acaso não desse tempo de tirá-las.
Nos aproximamos mais, tratando de que não nos vissem,
tínhamos que pegá-los de surpresa; embora fossem só cinco deles, não
queríamos correr nenhum risco.
— Podemos acabar com todos, mas quero McKenna vivo, ele tem
que nos levar onde se esconde o rato do Razvan.
Em poucos segundos, todos tomamos nossa forma Demonials e
nos lançamos ao ataque. Os demônios, assim que nos viram, ficaram
em alerta; um forte aroma de enxofre se estendeu no ambiente, o que
nos indicou que estavam trocando de forma também. Na aparência,
eram similares a nós, só que eles não possuíam as asas, isso indicava
que se entregaram totalmente ao mal e que tinham renunciado a sua
parte angelical. Os cinco correram em nossa direção, entretanto, me
dei conta de que McKenna permaneceu afastado, sem se envolver. O
primeiro me atacou, mas fui mais rápido, cravei as garras em seu braço
e o desprendi de seu corpo. Gritou de dor, mas de novo se virou para
me atacar. Pela extremidade do olho vi o Tarek lutando com um
enquanto outro se aproximava por suas costas, estava a ponto de gritar
quando vi Marcus cortar sua cabeça. Me foquei de novo em meu
atacante. Permiti que se aproximasse e, quando se lançou em meu
pescoço, dei a volta e cortei sua cabeça por trás. Nesse momento senti
uma dor aguda em meu braço. Quando olhei em outra direção, quase
não tive tempo de me afastar antes que as garras de outro demônio
passassem roçando em meu rosto, me inclinei e enterrei uma de
minhas garras em seu abdômen enquanto levantava a outra e a
enterrava debaixo de sua mandíbula. Ele soltou um forte chiado e
retrocedeu, o que me deu tempo de decapitá-lo.
De repente, tudo ficou em silêncio, olhei a meu redor para ver que
meus amigos tinham acabado com os outros. Tarek sorria enquanto
punha sua bota sobre o corpo de um dos demônios; Marcus
simplesmente observava sem nenhuma expressão. Procurei Raven e o
vi mais afastado se misturando a escuridão, pouco a pouco
recuperamos a forma humana.
— O safado da McKenna desapareceu, nem sequer se envolveu na
briga, um momento estava aí e no seguinte sumiu como que por magia.
— disse confuso.
— Não se preocupe, teremos tempo de tratar com ele. Agora é
melhor terminar com isso e sair daqui.
Concordaram e atiramos os corpos decapitados no barco onde
estava o carregamento de armas, cada um de nós estendeu a mão sobre
eles e logo começaram a queimar. Raven trouxe um pote com gasolina
e lançou sobre as chamas, nos afastamos e a nossas costas se escutou
uma forte explosão. Um dia a mais sem capturar Razvan. Ao menos
tínhamos destruído um de seus carregamentos. Fazíamos isto com
freqüência, rastreávamos suas cargas e atacávamos e destruíamos.
— Vai para o bar? — perguntou Tarek quando subimos nas
motos.
Assenti, claro que iria, algo me chamava até a garota loira que
tinha deixado em meu escritório.
— Então, talvez, deveria se cuidar antes, — Me disse mostrando
meu braço ferido.
Até esse momento tinha esquecido completamente e amaldiçoei
quando vi o feio corte que sangrava profundamente.
— Não tenho tempo para isso. — Rasguei minha camiseta e
envolvi uma grossa tira sobre a ferida, me limparia quando estivesse
seguro de que o pequeno anjo estava bem. A ferida curaria sozinha,
mas sabia por experiência que demoraria algumas horas.
— Certamente a garota se assustará de te ver sangrando.
Odiava quando Tarek ficava razoável, especialmente porque quase
sempre acertava, tomei a decisão de ir para casa e ligar para Cam,
pediria que a acompanhasse quando fosse sua hora de ir. Me despedi
de meus irmãos e conduzi minha moto pelas escuras ruas da cidade.
4
ALANA

Se passava das duas da manhã quando decidi que meu trabalho


estava terminado, parecia que o chefe não ia voltar, não sabia mais o
que fazer; ordenar documentos não me levou muito tempo, era algo
muito fácil. Me perguntava por que precisava de alguém para fazer um
trabalho que podia fazer ele mesmo. Enfim, não era meu problema,
além disso, precisava do dinheiro que ia me pagar, assim não me
preocuparia com isso. A porta estava fechada e não tinha idéia de como
abri-la, talvez se esqueceram que eu estava aqui. Comecei a me
preocupar ao pensar que todos se foram do bar e que me deixaram, não
sei se Cassy se deu conta de que tinha ficado trabalhando, pois não
tive tempo de avisar.
Estava perdida em meus pensamentos, procurando uma maneira
de sair, quando a porta se abriu e entrou Cameron, o menino que horas
antes havia me trazido comida, era bastante simpático, aparentava uns
e vinte e cinco anos, mesmo assim, tinha um caráter um tanto infantil,
especialmente para alguém que trabalhava rodeado de tipos rudes.
— Olá, garota loira, — disse me piscando um olho, esperava
sinceramente que não quisesse paquerar comigo, embora fosse muito
bonito, não me inspirava nada romântico.
— Olá, estava pensando que tinham me esquecido aqui.
— Sinto muito, estava um pouco ocupado no bar, mas escapei por
um momento para saber se posso te oferecer algo.
— Poderia me deixar ir para casa.
Olhou por um momento, franzindo o cenho.
— Sinto muito, mas meu irmão não disse que podia te deixar ir.
— Seu irmão? — perguntei confusa.
— Sim, Alexy, lembra? — Me disse com um sorriso.
— Não seja tolo, claro que lembro. — Olhei durante um momento
procurando as semelhaças entre eles. Embora ambos tinham o cabelo
de cor negra, os olhos do Alexy eram escuros e os do Cameron, de um
verde intenso; os dois eram muito altos para o normal, estava segura
que mediam perto de dois metros; tinham personalidades totalmente
diferentes, enquanto Alexy era sério, Cameron sorria o tempo todo.
Com certeza, cada um tinha saído com traços de um de seus pais, por
isso não se pareciam.
— Qual sua altura? — perguntei curiosa.
Ele arqueou uma sobrancelha como se não esperasse minha
pergunta e sorriu.
— Dois metros. — respondeu e soou orgulhoso.
Viu, estava certa, era muito provável que isso de ser muito bonitos
e altos era genético, mas então pensei nos dois amigos que estavam na
mesa, eles também eram realmente atrativos apesar da feia cicatriz que
um deles tinha na face. Além disso, estava certa de que suas estaturas
eram iguais as do Alexy e o Cameron; não, definitivamente não era algo
genético.
— Vocês são tão altos.
— Na verdade, Alexy é uns três ou quatro centímetros mais alto
que eu, mas isso é suficiente para que sempre se exalte e me chame de
pequeno. — Abri a boca e fechei sem saber o que dizer. — Na verdade,
não somos irmãos de sangue, sou algo como seu irmão adotivo. —
continuou explicando.
Certamente os meninos tinham crescido em algum lugar onde os
gigantes fossem normais.
— Entendo. Voltando para o assunto de ir embora, não acredito
que o incomode que eu vá, meu trabalho já está terminado.
Pensou um momento até que finalmente assentiu.
— Está bem, não acredito que haja problema que vá, mas me
deixe ir pedir a alguém que se encarregue do bar para poder te
acompanhar a sua casa.
— Não é necessário que me acompanhe.
— Olhe, nisso não vou discutir, meu irmão foi enfático que tinha
que cuidar de você. E e o que Alexy diz, você faz. Te garanto que não
vai querer contraria-lo.
Olhei franzindo o cenho, o que dizia não tinha sentido para mim,
Alexy só tinha me contratado para um trabalho, não tinha que se
converter em meu salvador.
— De verdade, não tem que me acompanhar, posso ir com Cassy
já que, moro na sua casa.
Me olhou durante um momento e encolheu os ombros, caminhei
a seu lado e saímos do escritório. No escuro corredor minha curiosidade
venceu.
— O que tem nessas salas? — perguntei muito intrigada.
— Te garanto que não quer saber.
— Sinto muito, não queria ser intrometida, só fiquei curiosa que
haja tantas. Escutei gemidos.
— São para que os clientes se divirtam, se você me entende.
Mas não entendia, sua resposta era ainda mais confusa. Ia
perguntar de novo quando uma das portas se abriu e a luz penetrou
no corredor, vi sair um homem vestido com calças e um colete de couro,
seus braços estavam cheios de tatuagens e em sua cabeça totalmente
raspada havia uma forma de olho na parte de trás; em sua mão, estava
o que parecia ser uma correia, e esta estava atada a um colar que uma
garota tinha no pescoço. Arregalei os olhos com a cena, ela caminhou
atrás dele, com a cabeça baixa, como se se tratasse de um mascote.
Não tinha saído totalmente da minha perplexidade quando vi se
aproximar de três pessoas, dois homens e uma mulher. Ela ficou em
meio deles e se alternava para beijá-los; enquanto um levantava seu
Top e acariciava seus peitos, o outro introduziu sua mão nos curtos
shorts da garota.
— A isso me referia em divertimento. — comentou Cameron.
— Seu irmão usa estas salas para se divertir? E compartilha as
garotas com seus amigos? — Me peguei perguntando antes de poder
deter minha língua. Ele riu e me senti tranqüila de ver que não
incomodava com minha pergunta.
— Não, meu irmão não se diverte muito dessa forma, passa muito
tempo com Saskia, apesar dela ser uma cadela, duvido que deixasse
pôr um colar desses. Quanto a seus amigos, estou seguro pra caralho
de que Tarek prefere cortar suas bolas antes de permitir que Saskia
encoste um dedo ou qualquer outra parte de sua anatomia nele, e
Marcus, não estou muito seguro de que o sujeito faça sexo, está muito
ocupado grunhindo e assustando a todo mundo. Diabos, nem sequer
pode se olhar em um espelho sem grunhir, não há uma só pessoa no
bar que não se assuste pra caralho com ele.
Não pude evitar de rir com suas palavras, de verdade eu gostava
do menino, apesar de seus jeans desgastados, camiseta preta
estampada com o que parecia ser um demônio e as tatuagens em seus
braços. Ele não era rude como outros, tinha um caráter afável que não
encaixava nesse lugar.
— Nós temos salas privadas aqui, mas estão atrás dessa porta que
está ao final do corredor. Estas são só para os clientes. Às vezes, meu
irmão fica aí, mas normalmente vai para sua casa. Outros a usam de
forma ocasional, especialmente Tarek, esse sim gosta muito de se
divertir.
Quando terminou sua explicação nos encontrávamos de novo no
bar e mais uma vez, me veio o aroma de fumaça e licor, parecia
inclusive pior a essa hora de quando tinha chego.. Cameron me
acompanhou à saída e justo nesse momento vi Cassy. Dei tchau a meu
acompanhante e corri para alcançá-la.
— Cassy. — gritei para que me escutasse.
Ela parou e me olhou por cima do ombro; por alguma razão
parecia brava.
— Até que enfim saiu, parece que o chefe te manteve muito
ocupada — disse em tom de recriminação.
— Na verdade fiquei várias horas sem fazer nada, mas estive
trancada no escritório até que Cameron foi abrir.
— E onde ele estava? — Pareceu realmente interessada quando
perguntou pelo chefe.
— Saiu pouco depois que me deu instruções sobre o que tinha
que fazer e não retornou.
— Não posso acreditar que tenha te levado para trabalhar com ele
em seu escritório, sabe quantas das meninas que trabalham no bar
queriam ter essa oportunidade?
— Não.
— O que disse para que te contratasse? Não me diga que usou
essa tática da garota órfã e fodida.
Sua atitude começou a me incomodar.
— Não entendo qual é seu problema, você mesma me trouxe para
este lugar.
— Claro, mas não para ficar com Alexy, mais de um ano
trabalhando aqui e nem uma vez se dignou me olhar, e então chega
você com sua cara de mosca morta e consegue trabalhar junto a ele.
— Deixe de me insultar, Cassy, eu não tenho cara de mosca
morta. Olhe para mim e para você, acredita que tenho mais chances
com ele que você? É obvio que me contratou porque sentiu pena.
Por um momento pareceu envergonhada; estava claro para mim,
ela estava apaixonada por seu chefe.
— Sinto muito, não devia me comportar assim. É verdade, ele só
deve te ver como uma menina.
Suas palavras, ao invés de me acalmar, fizeram que me sentisse
pior.
Fizemos o resto do caminho para a sua casa em silêncio. Assim
que chegamos, ela se fechou em seu quarto, e eu decidi tomar um
banho, pus meu pijama e me recostei no sofá onde dormia. Não
conseguia pegar no sono, pois cada vez que fechava os olhos o rosto de
Alexy aparecia em minha cabeça. Me xinguei, não podia me permitir
ter ilusões com ele, pois estaria tanto ou mais perdida que Cassy. Nesse
momento, a porta se abriu e uma figura apareceu. Me assustei
pensando que se tratava de um intruso, mas então reconheci Dan, o
namorado da minha amiga, que entrou cambaleando e a tropeços foi
até o quarto dela. Escutei a porta fechar com um forte ruído e, uns
minutos depois, murmúrios. Finalmente, começaram os gemidos e
gritos próprios do sexo. Tampei as orelhas com meu travesseiro,
tratando de afastar o som que fazia a cama ao se chocar com a parede;
o ruim do apartamento de Cassy é que era tão pequeno e as paredes
tão finas que se podia escutar cada coisa, incluindo as palavras sujas
que Dan lhe dizia.
Acordei cedo, tinha conseguido dormir três horas, dei voltas no
estreito sofá até que por fim me dei por vencida e me levantei. Preparei
café e me sentei para ler um livro que tinha pedido emprestado na
biblioteca; ao meio-dia fiz algo para comer. Minha amiga e seu
namorado não saíram de seu quarto, deixei o livro e decidi sair e dar
uma volta até que fosse hora de retornar ao trabalho. Estava indo
quando a porta se abriu, Cassy saiu com uma camiseta e a tanga que
usava para dormir e Dan estava todo vestido, nenhum reparou em mim
enquanto se dirigiram à cozinha.
— Fez algo para comer? — perguntou ela.
Assenti apontando para o prato que tinha deixado sobre a mesa.
— Isto dá apenas para mim, — grunhiu Dan, bravo, enquanto
tomava o prato e começava devorar o que eu tinha deixado. Ela se virou
e se serviu uma taça de café.
— Preciso que me dê um pouco de dinheiro. — Escutei que dizia
a minha amiga enquanto fazia uma pausa com a colher no ar.
— Sabe que não tenho dinheiro todo o tempo, Dan, no bar ainda
não nos pagaram.
— Não me venha com essa merda, Cassy, eu sei muito bem que
se deita com alguns dos clientes e que eles te dão dinheiro em troca,
não esqueça como nos conhecemos e quanto te paguei na primeira
noite.
Fiquei ali, de pé, escutando a conversa sem me atrever a me mover
para sair, embora ela seguia dizendo que não era prostituta as palavras
de seu namorado davam muito o que pensar.
—Não seja um bastardo, Dan, sou eu que abre as pernas para
eles, não será você que vai desfrutar do que consigo.
Cada vez me surpreendia mais com minha amiga, ela não era
nada como a garota que conheci no orfanato.
— Não se meta comigo, puta, não acredite que vou esquentar sua
cama de graça.
— É um fodido imbecil! — gritou ela jogando o conteúdo da taça
em seu rosto, ele se levantou enfurecido e a empurrou contra a mesa,
levantou o braço e deu uma forte bofetada, então decidi intervir, me
aproximei dele e segurei seu braço quando levantava para golpeá-la
novamente.
— Já basta! A deixe em paz. — Era um tipo grande e eu não era
pário para ele, me sacudiu como um mosquito e me lançou contra o
refrigerador.
— Alana, não se meta nisto, — me disse Cassy.
— Par de cadelas estúpidas, — ele cuspiu e saiu feito um furacão.
— Tem que deixar ele, ele não é bom. — Disse tentando fazê-la ver
a razão.
— E você tem que deixar de se colocar onde não te chamaram.
Fiquei alí parada, enquanto ela se fechava de novo em seu quarto,
e deixei cair os ombros me sentindo derrotada; as coisas nunca seriam
calmas. Procurei minha bolsa e retomei meu plano inicial de dar um
passeio, precisava me afastar do problema em que estava se tornando
minha vida.
Passei toda a tarde dando voltas sem querer retornar ao
apartamento, até que me dei conta de que já era hora de ir para o
trabalho. Entrei no bar sentindo um pouco de temor, o lugar me
intimidava. Enquanto estive fechada no escritório do Alexy, foi fácil me
esquecer dos bêbados e das mulheres quase nuas, mas nesse momento
a realidade me golpeava forte. Andei rápido em meio a multidão,
rezando que não aparecesse ninguém interessado em colocar a mão em
mim. Quando por fim passei o bar, senti um alívio percorrer minha
espinha. Cameron estava ali atendendo os clientes e justo nesse
instante levantou a cabeça e seu olhar se encontrou com o meu, me
deu um sorriso e continuou com seu trabalho. Eu segui caminhando
até o corredor, algo tinha mudado, tudo estava completamente
iluminado; foi um alívio. Quando cheguei junto à porta, chamei
esperando que o ruído da música não impedisse o som, mas ela se
abriu e me encontrei olhando um peito coberto por uma camisa preta
apertada que ressaltava grandes músculos. Levantei a cabeça e aí
estava ele. Fiquei o olhando embevecida, seu cabelo estava solto e pude
observa-lo, era completamente liso, nenhum só fio se levantava de
forma desordenada e chegava até sua cintura. Quis levantar a mão e
tocá-lo para ver se era tão suave como parecia, mas coloquei em meu
bolso tratando de parecer normal, não queria que me visse como a
garota tola que se sentia atraída por um homem mais velho que estava
longe de meu alcance; além disso, certamente, já tinha suficiente com
Cassy obcecada com ele.
— Olá. — Saudei com o que pretendia ser um sorriso.
Ele simplesmente assentiu e ficou de lado para me deixar passar.
— Bonito penteado, — disse com seu forte aceno quando entrei.
Merda! Tinha que deixar de fazer as tranças, estava acostumada
a me pentear assim porque era mais cômodo, mas sabia que me fazia
parecer infantil. Nunca tive ninguém que me ajudasse com meu cabelo,
assim sempre ia pela rota mais fácil. Abby estava acostumada a brincar
e me dizer que me via como Laura, a pequena menina da pradaria; não
estava segura a que se referia, pois nunca tive tempo para ver desenhos
animados.
— Lamento, Cassy sempre diz que devo deixar de me pentear com
se estivesse no jardim de infância. — Levei as mãos nas tranças para
as desfazer; essas não eram realmente as palavras de minha amiga, era
assim: “ Tem que parar de se pentear como se estivesse na porra do
jardim de infância”, mas não considerei necessário mencionar as
palavras desagradáveis.
— Deixa, — Falou tomando minha mão para evitar que
continuasse com minha tarefa. Algumas tolas borboletas revoaram em
meu estômago por seu toque, e ficamos assim por um momento, sem
dizer nada, até que pareceu se dar conta de que continuava me tocando
e se afastou.
— Era a sério quando disse que estava bonito.
— Obrigada... Suponho. — Respondi encolhendo os ombros.
— Vou ao bar. — De novo retornou a sua posição séria. — Sobre
a escrivaninha estão todas as faturas que precisam ser ordenadas hoje.
Em um momento mandarei Cameron para ver se precisa de algo.
Assenti e fiquei olhando enquanto saía.
Passadas duas horas, meu estômago grunhiu de fome; eram dez
da noite e não tinha comido nada desde de manhã. Deixei o que estava
fazendo e saí para procurar um refresco, esperava que Alexy não se
incomodasse, tinha ficado de enviar ao Cameron, mas ele ainda não
tinha vindo. Ao fechar a porta, o ruído proveniente do bar me envolveu,
alguma banda ruidosa soava a todo volume. Quando cheguei ao final
do corredor, parei e o procurei com o olhar; me senti como se o estivesse
perseguindo, mas não podia evitar. Um momento depois por fim o
encontrei, estava sentado em uma mesa com seus amigos. Estavam
acompanhados de outro sujeito que parecia que tinha saído do mesmo
mundo dos gigantes, vestia uma camiseta sem mangas que destacavam
seus grandes músculos, seus braços e pescoço estavam totalmente
coberto de tatuagens, além disso tinha vários piercings em seu rosto.
Seu cabelo era outra história, estava raspado dos lados e uma enorme
crista de cor verde sobressaía de sua cabeça; por trás desse aspecto de
menino punky se escondia um olhar frio. Fiquei ali os observando, os
quatro formavam um quadro fascinante, e me dava conta de que as
pessoas a seu redor também os observavam; as mulheres, com desejo,
e os homens, com receio. Até que vi Saskia se aproximar, estava em
um vestido negro tão curto e tão decotado que deixava pouco à
imaginação, e uns sapatos tão altos que suas pernas pareciam mais
compridas do que eram. Se inclinou quase pondo seus peitos na cara
do Alexy, então ele a pôs em seu colo, ela riu e o beijou. Pareciam
perfeitos, ambos possuíam uma beleza que não parecia deste mundo,
certamente mais de uma pessoa teria sonhos excitantes depois de ver
essa cena.
— Certeza que está sonhando que é você que está sentada em seu
colo.
Escutei a voz de Cassy e me virei para encontrá-la atrás de mim.
Embora falasse comigo, seus olhos estavam fixos na cena que se
desenvolvia na mesa. Estava a ponto de dizer que parecia que era ela
quem fantasiava estar perto dele, mas decidi não tocar mais no
assunto, no fundo, sabia que doía vê-los assim.
— Não estava sonhando com nada, embora não acredite, tenho os
pés na terra e estou complemente convencida de que não há espaço
para mim aí, só pensava que eles ficam bem juntos.
— Não diga estupidez, Saskia não é mais que uma puta que se
acha, ele não está realmente interessado nela, só serve para abrir as
pernas, e isso poderia ter com qualquer uma.
Decidi ficar em silêncio, eu não estava tão segura de que isso
estava certo, mas não valia a pena discutir. Me segurei e fui em busca
de meu refresco para poder retornar ao trabalho. Saudei Cameron, que
me respondeu com sua habitual amabilidade; era bom ver alguém
amável depois de ser tratada com amargura pela minha amiga. Logo
depois de me passar o que pedi, dei uma última olhada na mesa do
Alexy, finalmente me virei e sai. Passei ao lado de Cassy, que pareceu
não se dar conta de minha presença, pois estava bastante ocupada
assassinando a Saskia com seu olhar. Apesar de não ter sido muito
agradável comigo ultimamente, senti pena por ela, sempre procurou
ser aceita, o problema era que sempre procurou no lugar errado, e tinha
certeza de que seu amor por nosso chefe também não traria nada de
bom.
5
ALEXY

Saskia se inclinou e me deu uma boa vista de seus peitos, logo se


acomodou em meu colo e moveu seu traseiro sobre meu pau, o que
conseguiu me deixar duro. Um momento depois separou as pernas e
me permitiu ver o que havia debaixo ou melhor, o que não havia, nunca
usava calcinha, o que me parecia perfeito porque economizava um
montão de esforço. Vi esboçar um sorriso safado e notei que Raven
também tinha uma boa visão de seu sexo nu. Assim que notou que o
tinha asanhado, fingiu olhar para outro lado; sabia que meu amigo
tinha uma espécie de amor pela minha amante e que, se não tinha feito
nenhum avanço, era por fidelidade a mim. Em qualquer momento teria
que tira-lo de sua miséria e dizer que realmente não me importava se
quisesse foder com ela, não era como se pretendesse apresentar uma
reclamação de propriedade ou algo. Nesse momento, Corine, uma das
bailarinas, passou por nosso lado e piscou para mim, tínhamos tido
uma aventura uma semana atrás. Devia lhe dar crédito, a garota dava
boas chupadas, entretanto, dois dias depois a encontrei de pernas
abertas com Tarek enquanto beijava a uma de suas companheiras.
Meu amigo me deu um de seus eternos sorrisos e me convidou a me
unir a seu menáge, convite que recusei amavelmente, não estava
particularmente interessado em ver essa parte da anatomia de meu
amigo que desaparecia dentro de Corine.
Saskia se moveu de novo, me retornando ao presente, sabia o que
queria e, embora estava seguro de que não se importaria se a colocasse
sobre a mesa e a fodesse diante de todo o bar e em frente aos meus
amigos, eu não estava disposto a me exibir tanto. Assim que fiquei de
pé a arrastei pelo corredor. Passei pela porta de meu escritório; por um
momento minha mente voou até o anjo que se encontrava lá dentro,
mas apaguei os pensamentos rapidamente. Chegamos ao final, abri a
porta que conduzia às salas privadas e descemos pelas escadas até o
porão onde estavam os alojamentos de meus irmãos. Eu estava
acostumado a ficar ali de vez em quando, mas realmente preferia a
solidão de meu lar, embora conservasse minha casa de ocasiões como
esta, nunca permitiria a Saskia ir a minha casa, a imaginava se
apoderando do lugar como se este a pertencesse e não a queria
poluindo o sítio que era uma espécie de santuário para mim. Abri a
porta e antes de inclusive estar fechada, já a tinha contra a parede,
subi seu vestido até a cintura e rapidamente me desfiz de minhas
calças para me enterrar nela, que gemeu com a força em minhas
investidas.
— Eu adoro quando fica rude e selvagem. — Sussurrou em meu
ouvido, e era precisamente, assim como me sentia nesse momento,
totalmente selvagem. Empurrei com força várias vezes até que a senti
gozar enquanto mordia meu ombro; um momento depois, a segui,
gritando.

Fingia trabalhar, mas na verdade tinha o olhar posto nela, que


nesse momento estava pondo em uma pasta as ordens dos pedidos que
fazíamos para o bar enquanto cantarolava uma canção. A observei
atentamente, vestia uns jeans, camiseta sem mangas branca, e umas
botas vermelhas, seu cabelo estava em duas tranças e isto fazia que se
parecesse realmente como um anjo. Meu corpo começou a reagir, tratei
de acomodar o volume que estava se formando em minhas calças e me
senti um pervertido por me excitar com uma menina. No último mês
que estava trabalhando comigo, cada dia se tornava mais difícil estar
perto dela, fantasiava freqüentemente a tendo nua e podendo saborear
cada canto de seu corpo. Algumas vezes, sem poder evitar, tinha me
masturbado imaginando que era sua boca rodeando meu pau. Quão
doente poderia ser isso? Chateado comigo mesmo pelo rumo que
estavam tomando meus pensamentos, tratei de me concentrar de novo
em meu trabalho, mas sua doce voz dificultava minha tarefa.
— Alana. — Minha voz soou um pouco mais rude do que queria.
Ela se virou e me olhou com um sorriso.
— Saia, — Foi a única coisa que pude dizer enquanto tratava de
controlar a vontade de fazer exatamente o contrário e, em lugar de
mandar que saísse, despi-la e tomá-la aqui mesmo.
— Quer que te traga alguma coisa? — perguntou
— Não quero nada, só saia, vá ajudar Cameron no bar, o que seja,
mas quero você fora daqui agora mesmo. — Sua expressão mudou e
soube que tinha percebido meu mau humor.
— Entendo, já vou. — Deixou os recibos sobre a mesa que estava
a seu lado e saiu, fechando a porta.
Me recostei em minha cadeira e soltei um longo suspiro. Nesse
momento, a porta se abriu de novo e, pensando que ela tinha retornado
por algo, me virei, mas quem encontrei foi Saskia que me olhava com o
desejo refletido em seus olhos; era a solução a meus problemas. Por
alguma razão, ela parecia saber qual era o momento indicado para fazer
sua aparição.
— Vem aqui. — Não fui amável, não era necessário, ela sempre
estava disposta. Caminhou movendo os quadris dessa forma sensual
que deixava os homens loucos, vestia uma saia minúscula e um
pequeno top que mal cobria seus mamilos. Quando chegou a meu lado
empurrei minha cadeira para lhe dar espaço.
— Se ajoelhe, — Exigi. Saskia se ajoelhou e começou a desabotoar
minha braguilha para liberar meu pau que clamava por atenção.
Quando conseguiu, me olhou de maneira sugestiva e, sem mais, o levou
a boca e começou a chupar e lamber. Fechei meus olhos tratando de
afastar os pensamentos sobre o anjo que acabava de jogar de meu
escritório, mas seu rosto era o único que vinha a minha mente, era ela
quem imaginava ajoelhada, me dando esse boquete. A boca perita de
Saskia seguia me devorando enquanto acariciava minhas bolas, a tirei
da cabeça e me empurrei mais profundo em sua garganta, movi meus
quadris entrando e saindo dela. Escutei-a gemer e segui bombeando
mais rápido até que já não pude suportar mais e explodi; senti o jorro
que saiu e encheu sua boca. Abri os olhos e a vi saboreá-lo, me deu
uma última lambida e logo se levantou para se sentar em minha
escrivaninha com as pernas abertas. Debaixo da pequena saia não
tinha roupa íntima, levou a mão nas costas para desabotoar o
prendedor e deixá-lo cair no chão em um claro convite, lambeu seu
dedo e o passou por seu sexo. Levantei rapidamente e, separando mais
as suas pernas, me enterrei profundamente nela, a fazendo gritar. Não
fui suave, nunca era, nossos encontros não eram, não havia nada
romântico neles. Tentou me beijar, mas levantei meu rosto, não queria
seus beijos nesse momento, assim mordeu meu pescoço com força, me
fazendo sangrar. Soube que era uma espécie de vingança por ter
negado seu beijo, mas não me importou, tudo o que queria era me
libertar, tratava de não olhá-la porque não era seu rosto o que queria
ver. Saí de dentro dela e a virei para penetrá-la por trás, ela estendeu
seus braços sobre a escrivaninha e seus peitos ficaram esmagados
contra ela. Segui com minhas rápidas investidas enquanto a escutava
ofegar com seus braços apoiados na superfície plana, movia seu
traseiro acompanhando meus movimentos e, um minuto depois, seu
grito retumbou por todo o lugar. Empurrei um pouco mais até chegar
a minha liberação, em seguida me retirei e fui ao banheiro para me
limpar, lavei as mãos e o rosto e, quando me olhei no espelho, me dei
conta de que ao invés de alívio o que tinha era um sentimento de
traição.
Quando retornei, ela permanecia no mesmo lugar, ainda meio
nua, sua saia estava em sua cintura e seu top estava no piso onde o
tinha deixado cair antes. Gostava muito de se exibir, por isso usava tão
pouca roupa, ficava fascinada de ver como os homens a admiravam e
giravam a cabeça quando passava por seu lado reclamando um pouco
de sua atenção.
— O que acha se repetirmos? — perguntou com um sorriso
perigoso. Ia responder que não estava interessado quando a porta se
abriu.
— Alexy, trouxe… — As palavras de Alana ficaram no ar assim
que viu a mulher comodamente sentada e muito nua em minha
escrivaninha, que exalava uma expressão de triunfo.
— O que é, mascote, quer se unir a nós? — perguntou acariciando
seus peitos. Alana ficou vermelha e baixou a cabeça.
— Lamento ter interrompido. — Disse e saiu rapidamente. Nesse
momento, ira ferveu dentro de mim.
— Me escute bem, Saskia, nunca volte a chama-la de mascote.
Agora se vista e saia daqui.
— Não sei o que é o que acontece com essa cadela humana, mas
desde que chegou, se comporta como um maricas com ela.
— O que acontece não é problema seu, não pense que porque
transamos de vez em quando tem direito sobre mim.
Ela me olhou com ódio e, sem se incomodar em pôr sua roupa ou
o que se supunha que era, saiu, quase trombando com Tarek, Marcus
e Raven que chegavam nesse momento. Este último lhe deu um olhar
bastante surpreso parando em seus peitos nus. Ela os empurrou e
passou por todos furiosa.
— Cara, agora a cadela pensa em subir e dançar nua sobre a barra
também? — perguntou Tarek com um sorriso malicioso.
Neguei e, sem dizer nada, saí para procurar Alana. Cheguei ao bar
e encontrei Cam atendendo a vários clientes, chamei sua atenção e ele
se aproximou enquanto limpava as mãos em seu avental.
— Onde está Alana?
— Não sei, faz um tempo disse que ia te levar algo de comer, voltou
e não disse nada, deixou o que te tinha levado e saiu.
— Maldição, deixou que saísse sozinha a esta hora? — perguntei
com raiva.
— O que queria que fizesse, que dissesse para esperar terminar
de transar com a cadela de sua amante para que possa ir deixá-la em
sua casa?
Olhei meu irmão com fúria, tratando de não torcer seu pescoço,
mas tive que reconhecer que ele tinha razão. Agarrei a ponte do nariz
tentando me acalmar, sai para pegar minha motocicleta e seguir Alana;
era tarde e ela era uma garota muito inocente para estar só nas ruas.
— Suponho que agora entendo o que aconteceu quando a doce
Alana saiu daqui correndo como se tivesse visto um demônio. Bom,
essa não seria a expressão correta tendo em conta que tecnicamente
viu um ou dois no caso, — escutei Tarek quando passei por seu lado.
Resmunguei e o ouvi rir nas minhas costas, o sujeito podia ser uma
dor no traseiro quando queria, era uma sorte que o visse como um
irmão, se não, há muito tempo teria matado.
Conduzi devagar até que por fim a ver. Caminhava lento, com a
cabeça baixa, suas largas tranças caíam para o lado, o que a fazia
parecer ainda mais inocente. Parei a moto e me baixei para alcançá-la.
— Alana! —Seu corpo parou mas não se virou para me olhar. —
Me deixe te levar para a sua casa, não é bom que ande sozinha.
— Não se incomode, senhor, não é necessário, posso me cuidar.
— Sua voz soava rouca, como se estivesse chorando, além disso, me
dei conta de que me estava chamando “senhor”; a formalidade só me
dizia que estava realmente zangada.
— Não diga tolices, vamos.
Continuou teimosa sem querer se mover de onde estava e, até me
dando as costas, quis segurá-la em meus braços, mas estava seguro de
que, depois de ter visto a Saskia nua em meu escritório e saber
exatamente o que estava acontecendo, recusaria.
— Já disse que não preciso de sua ajuda. — Agora soava brava, e
isso me pareceu melhor, não queria vê-la triste. — Por que não volta
com sua namorada? Certamente não estará muito contente de que a
tenha deixado só para vir me buscar. — Em sua voz havia algo que se
parecia muito com ciúmes, e isso fez que algo dentro de mim se
revirasse, era um tolo, mas eu gostava que estivesse ciumenta porque
isso significava que sentia algo por mim, embora já tinha suspeitado
pela forma em que me olhava; ela era muito transparente para esconder
seus sentimentos, entretanto, atribuí a um amor de adolescente.
— Saskia não é minha namorada, — Nesse momento, se virou e
em seus olhos havia recriminação.
— Ah, não? Então você anda pelo mundo fazendo amor com
mulheres que não são suas namoradas?
Sem poder evitar soltei uma gargalhada, o que tinha feito com ela
não podia chamar “fazer amor”.
— E, além disso, ri de mim?
Tratei de me acalmar para não ferir seus sentimentos, era óbvio
que ela associava o sexo com o amor.
— Me escute, pequena, os adultos…
— Ohh, já basta. — Cortou antes que eu terminasse. — Pode
deixar de me tratar como uma menina estúpida, eu sou adulta se por
acaso não percebeu.
Pelo menos estava voltando a ficar brava.
— O que ia dizer é que não é necessário ter uma relação com a
pessoa para que haja sexo. — Me fulminou com o olhar e, continuou
caminhando.
— Alana, se não subir na moto, vou ter que te levar a força.
— Só o que me faltava, além de promíscuo, seqüestrador. — Falou
sem perceber. De novo ri e me aproximei para tomá-la em meus braços.
— Serei o que você quiser, mas vou te levar para casa. — Pesava
tão pouco que não foi difícil carregá-la.
— Me solte, não sou nenhuma boneca de pano para ser carregada.
— Então seja uma boa menina e suba.
— Não me chame de menina.
Seus lindos olhos pareciam que jogavam faíscas e tive vontade de
beijá-la. Sacudi minha cabeça tratando de recuperar a compostura,
certamente estava enlouquecendo, tinha que estar para me sentir
atraído por uma criatura que estava saindo da puberdade. Cruzou os
braços e se negou a falar até que chegamos à porta de sua casa. Assim
que parei a motocicleta, saiu correndo, sem esperar que a ajudasse.
Um momento depois, havia desparecido pelas portas do velho edifício
onde vivia com Cassy, e eu esperei até que vi as luzes do segundo andar
acender e retornei ao bar.
6
ALANA

Abri a porta e fiquei apoiada nela um momento tratando de


recuperar a compostura.
Senti vontade de dar cabeçadas na parede, podia ser mais
estúpida? Certamente, Alexy estava rindo de mim, de onde diabos tinha
tirado isso de que tinha que ser namorado da Saskia para dormir com
ela? Deveria estar pensando que eu sou uma burra inocente. O sexo
não era nada estranho para mim, Dan aparecia cada vez que tinha
vontade e, pelos ruídos que se escutavam no quarto de Cassy, era certo
que não estavam dormindo, isso sem contar com que alguns dias ela
trazia algum cliente do bar, mas estava tão zangada que não pensei no
que dizia. Acendi a luz e decidi que era melhor dormir, embora não
queria fechar os olhos e recordar a imagem da Saskia nua sobre a
escrivaninha de Alexy, especialmente porque queria que fosse eu com
ele, embora, por outro lado, eu nua sobre sua escrivaninha, no lugar
de sensual, seria ridícula. Decidi esquecer o assunto, não era meu
problema o que ele fazia, estava sendo patética, estava parecendo com
minha amiga mais do que queria.
Na manhã seguinte levantei cedo, fui ao quarto de Cassy e sua
cama continuava feita, como se não tivesse vindo dormir, coisa que não
importou, já que estava me acostumando que ela saísse com algum
bêbado do bar que chamasse sua atenção. Decidi limpar um pouco,
sua roupa suja estava jogada por toda parte, a ordem não era uma de
suas qualidades. Passei a metade do dia limpando e minha amiga ainda
não tinha dado sinais de vida, não tínhamos nada na cozinha, de modo
que tinha que ir comprar um pouco de comida. Peguei minha bolsa e
uma jaqueta e saí rumo ao supermercado que estava a três ruas.
Depois de comprar o que era preciso entrei sem reparar na figura
recostada no velho sofá até que ele falou.
— Até que enfim apareceu alguém.
Me assustei e quase deixei cair as sacolas que trazia nas mãos.
Me virei rapidamente para me encontrar com Dan, o namorado de
Cassy ou o que mais se parecia a um. O sujeito me desagradava
totalmente, não entendia por que ela continuava com ele se o homem
a agredia e lhe tirava dinheiro. Como sempre, estava vestido com uns
de seus velhos jeans sujos e uma camiseta sem mangas com um
estampado de caveira. Em um de seus braços tinha uma tatuagem em
forma de serpente que formava um espiral do ombro até o pulso, uma
barba de três dias cobria seu rosto e seus olhos estavam vermelhos,
sinal de que estava bêbado ou drogado, com ele era difícil saber em que
estado se encontrava.
— Cassy não está. — Falei enquanto colocava as compras sobre o
balcão.
— Acha que sou estúpido e não percebi? Faz meia hora que estou
aqui esperando.
Queria dizer que parecia mais um perdedor do que estupido, mas
decidi guardar minha opinião para mim mesma.
— Então o que faz aqui se sabe que ela não está? — perguntei
começando a tirar as compras e as guardar nas gavetas.
— Preciso de um pouco de dinheiro, — disse como se não fosse
nada, e eu senti vontade de socar ele.
— Então seria bom que trabalhase.
Escutei suspirar como se só a idéia de procurar um trabalho
causasse urticária, se deitou no sofá e pegou o controle da tv para
colocar em uma partida de futebol. Realmente não entendia o que
acontecia com minha amiga e seus homens, sabia que o tinha
conhecido seis meses atrás, no bar. Segundo ela, Dan era uma besta
na cama e era isso o que atraía nele. Me perguntava se esse era um
requisito tão necessário para que ficasse com uma pessoa tão
desagradável. Olhei o relógio e já eram quase seis e trinta da tarde,
comecei a me preocupar, ela nunca demorava tanto, especialmente
porque às oito tínhamos que ir ao trabalho.
— Me traga uma cerveja. — ordenou o convidado não desejado, e
decidi ignorá-lo, primeiro porque não tinha comprado cervejas e
segundo, porque não era sua empregada.
— Não escutou? Disse para trazer uma cerveja.
— Claro que te escutei, mas um, não sou sua empregada e dois,
aqui não é um bar sendo assim por que não vai embora? — Sua
presença começava a me inquietar, não me sentia segura estando só
com ele. O vi levantar do sofá com um olhar assassino.
— Você é uma pequena cadela desobediente. Acredito que
precisse de alguém que te ensine boas maneiras. — Começou a
caminhar até mim, o medo me tomou, Dan media pelo menos um metro
e oitenta, era intimidante. Fiquei atrás da mesa enquanto pensava em
como me defender se decidise me bater.
— Creio que não será você que vai me ensinar isso, já que tem as
maneiras de um porco. — disse enquanto colocava uma cadeira em seu
caminho e continuei me afastando.
— Você vai ver tudo o que este porco tem para te ensinar quando
me colocar entre suas pernas, puta.
Suas palavras fizeram que meu coração acelerasse e que meu
estômago revisasse; só de pensar em em sua mão em cima de mim me
dava nojo.
— Não se atreva a se aproximar de mim porque sou capaz de te
matar. — Um enorme sorriso se estendeu por seu rosto.
— Eu gosto de seu fogo, isso vai ser mais divertido que pensei,
morro de vontade de provar esse seu doce traseiro. Na primeira vez que
te vi sabia que te provaria na primeira oportunidade.
Tudo o que saía de sua boca era ainda mais desagradável, nunca
em minha vida tinha conhecido um ser mais repugnante.
— Você é nojento, me da ânsia.
Ignorou minhas palavras e continuou avançando como um
predador que encurrala a presa.
— Se comporta como uma virgem, mais me diga, você é virgem?
Isso seria o melhor, nunca provei uma virgem, todas as que se
encontram por aí não são mais que umas putas, igual a Cassy, que já
deve ter perdido a conta de quantos entaram em suas pernas.
Ignorei seus comentários ofensivos, peguei outra cadeira e a
empurrei em sua direção e me virei para correr até a porta. Escutei
lançar uma maldição e estava a ponto de alcançar a porta quando seu
corpo bateu contra o meu, o que nos fez cair. Como pude, me libertei
dele e engatinhei até chegar ao lado do sofá. Quando me apoiei para
tentar me levantar, Dan me alcançou. Dessa vez, fiquei com as costas
no chão, e ele se acomodou pondo todo seu peso sobre mim. Ergui a
mão e arranhei sua face, seus olhos mostraram uma fúria assassina.
— Filha da puta, fique quieta de uma maldita vez! — Disse me
dando uma forte bofetada; a dor se estendeu por todo meu rosto e fez
que minhas lágrimas brotassem. Ele segurou minhas mãos com uma
das suas e as sustentou por cima da minha cabeça, enquanto com sua
mão livre arrancava os botões da minha blusa. Não podia acreditar no
que estava acontecendo, era a segunda vez em menos de um mês que
tentavam me violar; rezei para que Cassy chegasse.
— Não, não me toque. — Gritei tentando me libertar, quando
acariciou meus peitos se inclinou e deu uma forte dentada em cima de
um deles, a dor me fez chorar mais forte, então a mão com a que me
estava acariciando se deslocou até minha boca, separou minhas pernas
e se esfregou contra mim. Comecei a chorar histérica enquanto lutava
para respirar, já que sua grande mão me impedia disso. Nesse
momento, a porta se abriu e escutei a voz de minha amiga, senti um
grande alívio.
— Que merda está acontecendo aqui? — Dan se separou de mim
com toda tranquilidade como se não estivesse acontecendo nada, e eu
rapidamente fechei minha blusa tratando de me cobrir. — Perguntei o
que está acontecendo. — Em seu olhar havia recriminação, mas não
estava dirigido a seu namorado, que tinha se jogado no sofá
tranqüilamente, era para mim.
— O que queria? Como você não chegava logo, sua amiga e eu
decidimos nos divertir um pouco.
Olhei sem dar crédito a seu cinismo.
— Você é um maldito, — disse e olhei para a minha amiga. —
Cassy, não é isso, ele estava a ponto de me estrupar.
— Ah, sim? Pois não escutei você gritar pedindo ajuda.
A olhei como se tratasse de uma estranha, ela era minha amiga e
me conhecia, como podia duvidar do que estava dizendo?
— Não gritei porque ele estava cobrindo minha boca para me
impedir que o fizesse. Você me conhece, somos amigas.
— Não, acreditei te conhecer, mas na primeira oportunidade que
teve, foi se oferecer para o meu homem.
Então, a fúria me invadiu, isso era muito.
— Acha que estou tão desesperada para querer me deitar com um
porco como esse? Olha para ele, — disse apontando em sua direção. —
Ele não faz mais que se aproveitar de você, é um perdedor, além de ser
um maldito pervertido. — Pela segunda vez essa noite, fui esbofeteada,
desta vez, por minha amiga.
— Saia da minha casa agora, não quero você aqui. — Passou pelo
meu lado quase me atropelando e foi sentar com seu namorado, que
em seguida a pegou no pescoço e a beijou.
Nesse momento, mais que por mim, senti por ela. Sem dizer nada
mais, fui ao pequeno armário que guardava os poucos pertences que
possuía, peguei minha mochila e sai. Retornaria para pegar minhas
coisas, quando eles não estivessem.
Caminhei durante um tempo até que me dei conta de que estava
chegando ao bar, ainda faltava um pouco para que começasse meu
horário trabalho, mas não tinha outro lugar aonde ir, Cassy e Abby
eram as únicas amigas que tinha e esta última ainda continuava no
inferno que era o orfanato Fazia frio, assim puxei mais minha blusa
tentando de me cobrir. Um ruído vindo de um beco me assustou e
estava quase gritando até que vi um enorme rato correr para se
esconder atrás de um contêiner de lixo, puxei o ar para me acalmar,
mas isso não ajudou, assim comecei a chorar de novo. Estava tão
distraída que não reparei na figura alta que se encontrava na minha
frente até que quase me choquei com ele. Quando levantei a cabeça,
meu coração começou a pulsar rapidamente, Marcus me olhava com
uma expressão incompreensível, o lado de sua cara desfigurada estava
quase oculta pelas sombras, enquanto que o outro ficava plenamente
iluminado pela luz da rua; o vendo assim era um homem muito
atraente.
— Quem te atacou?
Não soube o que me surpreendeu mais, que se deu conta disso ou
que estivesse falando comigo, nunca tinha escutado sua voz, poderia
jurar que era mudo. Tentei responder, mas as palavras não saíam de
minha boca, ele sempre me deixava intimidada; se fosse sincera,
deveria reconhecer que tinha um pouco de medo. Ele esperou um
momento e, quando viu que não respondia, fez algo inesperado, se
inclinou e me tomou em seus braços. Tratei de dizer que não era
necessário, mas se negou a escutar.
— Alexy não vai ficar contente com isto, — disse mais para si
mesmo que para mim, entrou pelo beco que dava na parte traseira do
bar, abriu a porta sem me soltar e caminhou pelo corredor até o
escritório do Alexy. Ele estava com Tarek e, quando viu Marcus entrar
comigo em seus braços, apareceu um sinal de alarme em seus olhos.
— O que aconteceu? — perguntou se aproximando e me tomando
dele, me sentia como uma boneca que levam de um lado a outro,
Caminhou até o sofá, se sentou e me acomodou em seus joelhos.
— Não sei, a vi quando vinha caminhando pela calçada e me dei
conta de que estava machucada, além disso, sua roupa está rasgada,
— Respondeu Marcus.
Queria dizer que era mais fácil se me perguntassem isso, mas se
eu falasse começaria a chorar de novo.
— Alana, pequena, me diga o que aconteceu. — A ordem saiu de
um modo tão doce que então sim me derramei, apoiei a cabeça em seu
peito e comecei a chorar. Ele me abraçou e, pela primeira vez em muito
tempo, me senti segura. — Fique tranqüila, está tudo bem, só me diga
quem te atacou.
— Dan, — Foi a única coisa que consegui dizer, senti seus braços
se esticar a meu redor e sua seguinte pergunta saiu mais como um
grunhido.
— Dan é seu namorado? — Neguei sem afastar meu rosto de seu
peito, me sentia bem em estar assim. Seu corpo se relaxou de novo. —
Quem é Dan?
— É o namorado de Cassy, hoje foi procura-la e ela não estava.
Ele... Ele —tentei dizer, mas ao recordar o horrível episódio, o ataque
de pranto voltou.
— Te estuprou? — Perguntou.
— Não, ele tentou, me tocou, mas ela chegou a tempo, disse que
eu que quis isso, ela acreditou e me expulsou da sua casa.
— Eu vou matá-lo. — Ví a mesma fúria assassina da primeira vez
que estive no bar e aquele bêbado me atacou. — Me diga onde está a
ferida. Posso sentir o cheiro de sangue.
Pensei em dizer que só era o golpe no rosto, mas nesse momento
recordei a dentada que tinha no peito. Sem pensar, levei minha mão
onde sentia uma dor palpitante. Quando viu meu gesto, tirou minha
mão e abriu minha blusa, tentei impedir mas me empurrou com força.
— Fica quieta, quero ver se é grave.
Olhei para Tarek e Marcus envergonhada que estivessem vendo
meus seios, mas respirei tranqüila quando me dei conta de que ambos
se viraram e olhavam para outro lado.
— Filho da puta.
Virei novamente com as palavras de Alexy e o encontrei com o
olhar fixo na feia dentada que estava sobre meu seio direito; um
pequeno rastro de sangue tinha manchado minha blusa. Nesse
momento, me dei conta de que ele havia dito que podia sentir cheiro de
sangue o que me pareceu algo estranho, mas imediatamente esqueci,
pois senti sua mão acariciar a zona machucada com muita delicadeza.
Começou a me tirar a blusa e tratei de protestar.
— Não vou te fazer nada.
Confiava em suas palavras, assim deixei que me tirasse isso, ele
tirou sua camiseta, e colocou em mim, com muito cuidado, me deixou
no sofá.
— Quer que me encarregue dele? — Perguntou Tarek. Meus olhos
se abriram e minhas mãos começaram a tremer.
— Não, eu mesmo farei. — Em seus olhos havia um brilho escuro
que me deu calafrios. — Cuidem dela. — Foi tudo o que disse antes de
pegar sua jaqueta e caminhar para a porta.
— Alexy. — Me levantei e corri até chegar a seu lado para tentar
impedi-lo. — O que vai fazer? — perguntei temendo a resposta, Dan era
um porco, mas não queria que sujasse as mãos com ele.
— Não se preocupe, pequena, esse filho da puta nunca mais te
fará mal. —Se inclinou e beijou minha testa, saiu sem me dar tempo
de dizer mais alguma coisa.
Me virei e vi Tarek me olhando com um gesto tranqüilizador e
Marcus com o cenho franzido. Me lembrei que não tinha o agradecido,
o via menos intimidante nesse momento, ele tinha se preocupado
comigo e me ajudado. Caminhei até onde estava e dei um pequeno
abraço.
— Obrigada por tudo que fez por mim. — Quando levantei a
cabeça, ele tinha uma expressão de assombro, como se minha pequena
amostra de afeto o incomodasse. Sem dizer nada, se afastou e saiu,
então escutei Tarek rir.
7
ALEXY

Subí na minha motocicleta e acelerei, estava tão enfurecido que


me espantou que ainda estivesse com aparência humana. Cheguei ao
velho edifício em tempo recorde, fui para a parte de trás, que era em
uma rua solitária e escura, havia um par de sujeitos se drogando, mais
sumiram assim que me viram. Nesse momento, permiti que meu corpo
se transformasse, minhas garras cresceram e senti minhas asas se
desdobrarem, a dor habitual em minha testa pelo crescimento de meus
chifres fez sua aparição. Uma vez que tinha minha aparência de
Demonials procurei uma janela para poder entrar. A casa estava
iluminada e pude ver o desgraçado na cama, coberto até a cintura com
um lençol de cor azul, o ambiente cheirava a sexo e suor. Cassy
caminhava de um lado a outro vestida só com um curto short e um top.
Enquanto conversavam, fiquei escutando o que diziam e esperando que
ela saísse, não queria ter que matá-la também se me visse.
— Não posso acreditar que esteve a ponto de foder Alana, —
escutei recriminar seu namorado enquanto ficava diante do espelho
para revisar sua maquiagem.
— Já te disse que ela se ofereceu, a cadela me provocou, o que
queria que fizesse? Sou homem.
Meus dentes chiaram, o tipo ia morrer lenta e dolorosamente.
— Então por que ela disse que você estava tentando a estrupar?
— perguntou se inclinando para aplicar mais lápis labial.
— Você acreditou? Sabia que você ia se importar com ela.
Minha paciência estava acabando, estava a ponto de transpassar
o limite entre o bem e o mal, se a garota não saísse logo, ia ter que
acompanhar ao bastardo em seu passeio para o inferno.
— Não me importo, mas você também não e inocente, na primeira
oportunidade, se jogou sobre ela. Realmente não sei o que os homens
vêem nela, sua cara de menina boa sempre os conquista, como fez com
o Alexy, meu Alexy. — A última parte disse em voz tão baixa que o
humano não escutou, entretanto, eu sim.
Neguei com a cabeça incapaz de acreditar que continuasse tendo
sentimentos românticos comigo. Um ano atrás, quando ela tinha
começado a trabalhar no bar, um dia, de repente, entrou em meu
escritório, de forma muito sorrateira e começou a se despir esperando
que tivéssemos sexo. Naquele momento a recusei, embora Cassy fosse
uma mulher bastante atrativa, também era humana, e em toda minha
existência nunca tinha me interessado nas mulheres humanas, pois
para mim não eram mais que criaturas débeis a quem não importava
dar atenção.
Por fim, a vi terminar de se vestir, se aproximar do bastardo e dar
um beijo de despedida. Esperei até que a escutei caminhar na rua, para
fazer minha entrada. O sujeito começava a fechar os olhos quando
saltei no meio do quarto, o ruído fez que abrisse os olhos novamente e,
assim que me viu, uma expressão de terror apareceu neles. Sorri de
forma malévola, e ele se arrastou até a cabeceira tentando se defender.
— Agora está com medo, humano? — Sabia que minha aparência
era aterrorizante e nunca tinha me sentido tão bem com isso como
nesse instante.
— Por favor, não me faça nada, — suplicou levantando as mãos
como escudo.
— Não vou ter compaixão de você, vai pagar por ter posto suas
mãos sujas em meu anjo.
— Eu não sei quem é seu maldito anjo e juro como o inferno que
não a toquei, juro.
Em menos de um suspiro estava em sua frente.
— É sujo e covarde. — O homem me olhou com pânico e
desmaiou. Não soube se ria ou se ficava mais irritado, era forte como
uma menina pequena, era um maricas covarde.
O peguei pelos ombros e me elevei no ar; em poucos segundos
estava em um prado afastado, não queria testemunhas. O soltei e caiu
ao chão como um saco de batatas, esperei paciente que despertasse e,
quando por fim o fez, pareceu desorientado, mas então me viu e um
gesto de reconhecimento apareceu em seu rosto. Engatinhou pela
grama tratando de fugir como um rato assustado, e eu, rapidamente,
me pus frente a ele que, apavorado, foi na direção contrária de novo e
se encontrou frente a mim. Uma mancha apareceu em suas calças e
soube que se mijou. Decidi que era muito patético e não suportaria
muita dor. Assim fiz rápido, estendi minhas garras e, com um rápido
movimento, as enterrei em seu abdômen e o cortei de um lado a outro.
Um grito de dor escapou de seus lábios enquanto levava a mão a
barriga, o líquido vermelho começou a escorrer entre seus dedos, seus
intestinos quase saíam pela ferida, seus olhos perderam o brilho
enquanto um último fôlego abandonava seu corpo.
Não senti pena nem remorso, era bom que alguns sentimentos
não fossem parte de nossa natureza; a única que conseguia despertar
algo nobre em mim era meu pequeno anjo, assim mataria qualquer um
que a machucasse. Passei minha mão por cima do corpo do humano e
este começou a arder em chamas, teria gostado de deixa-lo aí como o
verme sujo que era, mas a polícia o encontraria e não podia arriscar
que Alana soubesse o que fiz.
Depois de tudo feito, peguei minha moto e voltei para o bar.
Quando cheguei, corri para meu escritório, abri a porta e encontrei
Tarek sentando, lendo algum dos estranhos livros que gostava, com
imagens de chicotes e algemas. Preferia não perguntar sobre os gostos
de meu amigo, assim procurei com o olhar Alana e um suspiro saiu de
mim quando a vi encolhida enquanto dormia no sofá.
— Obrigado por cuidar dela, — disse a meu amigo. Ele assentiu,
ficou de pé e saiu. Me aproximei dela devagar e a observei durante um
momento, era tão pequena e tão frágil, qualquer coisa podia machucá-
la. Me abaixei e acariciei sua bochecha, era tão suave como a mais fina
porcelana. Nesse momento, ela abriu os olhos e em seguida se sentou,
alarmada.
— Está tudo bem? — perguntou pondo suas pequenas mãos em
meu rosto. Esse simples gesto conseguiu me deixar mais duro que
qualquer outra coisa, além da sensação ardente que me invadiu. —
Estava muito preocupada, Dan é uma má pessoa, não queria que te
machucasse.
Sua inocência me fez sorrir, se soubesse que o tal Dan não teve
nenhuma chance.
— Estou bem, pequena, não tem com que se preocupar.
— E como está Dan? Você bateu muito nele?
Beijei sua testa e fiquei de pé e lhe dando as costas.
— Digamos que Dan se foi da cidade e não terá que vê-lo nunca
mais. — Escutei ela suspirar, como se se sentisse tranqüila.
— Isso é bom, não só porque não terei que vê-lo, mas também
porque é ruim para Cassy, assim ela não terá que o suportar mais.
Queria dizer que não pensasse tanto em sua amiga, que não tinha
nenhuma consideração por ela, mas preferi ficar em silêncio. A porta
se abriu e Cameron apontou a cabeça.
— Posso entrar? — Assenti e o vi titubear, logo se aproximou de
Alana rapidamente e a abraçou. — Tarek me disse o que aconteceu,
pequena. Você está bem?
Vi a preocupação em seu rosto, sabia que Cam sentia um carinho
especial por ela, não do tipo romântico, mas sim como um irmão.
Embora era só outra garota que trabalhava no bar, também era óbvio
que ela era mais vulnerável e mais inocente que as demais, todas as
mulheres que trabalhavam aqui eram de nossa raça, exceto Cassy que
contratei para manter as aparências e agora Alana, talvez por isso o
desejo de todos por protegê-la
— Estou bem, —respondeu com um sorriso enquanto o abraçava
de novo.
Observei um momento, pensando que talvez meu irmão fosse bom
para ela, mas o só pensamento deles dois juntos fez que meu estômago
se contrair com ciúmes; era estúpido estar com ciúmes do meu irmão.
— Cassy trouxe isto para você, — disse passando uma pequena
mala. — Sei que ela te expulsou de sua casa e quero que saiba que
pode ficar comigo se quiser.
—Não! — minha explosão surpreendeu a ambos, que pareciam ter
esquecido minha presença. — Ela ficará comigo.
Meu irmão me lançou um sorriso e soube que tinha caido em sua
armadilha, o filho da puta só estava me provocado, sabia que eu não
permitiria que ela ficasse com ele, especialmente porque morava no
bar. Fulminei-o com o olhar, e encolheu os ombros fingindo inocência.
— Eu não quero incomodar, — Comentou me causando pena.
Antes que eu pudesse responder, Cam se adiantou e o fez por
mim.
— Não se preocupe, pequena, a casa de meu irmão é
suficientemente grande para que nem note sua presença, não é
verdade, Alexy? — perguntou, me desafiando a contradizê-lo, e eu
apertei meus lábios.
— É obvio, não vai incomodar, — respondi prometendo a meu
irmão com o olhar que causaria muita dor.
Um momento depois, saímos em busca da minha motocicleta,
estava muito nervoso de levá-la comigo, vê-la no bar todos os dias já
era bastante complicado para que também tivesse que compartilhar
com ela a casa, mas não ia voltar atrás, tinha prometido protegê-la e o
faria, talvez minhas razões não fosse tão nobres como as do Cameron,
mas tentaria fazer sem cair na tentação de tocá-la.
— Espera, — me disse quando ia arrancar. — Esqueci minha
bolsa.
— Quer que a traga para você?
— Não precisa, vou rápido.
Levantou e correu de novo à entrada. Enquanto a observava,
escutei os passos que se aproximavam e soube de quem se tratava
inclusive antes de falar.
— Então vai levá-la com você, — falou Cassy cruzando os braços.
— O que eu pretendo fazer com Alana não é seu assunto.
— Claro que é. Faz tempo que me despreza, mas agora se
comporta como se ela fosse importante. Me diga, o que tem ela que a
faz tão especial? Primeiro, meu namorado se joga a seus braços. —
Senti a fúria crescer de novo quando mencionou o desgraçado. — E
agora você a leva contigo.
— Seu namorado não se lançou em seus braços, ele tentou
estrupá-la.
— Isso que ela te disse? Eu estava lá, eu ví, ela estava
desfrutando.
— Talvez teve a impressão equivocada, — rebati seu argumento
ao limite de minha paciência.
— Com Alana não se tem a impressão equivocada. Não deixe que
te engane, não é a primeira vez que se faz a vítima com algum homem,
é assim como consegue seus amantes.
— Olhei-a perplexo. — Te surpreendeu? Acaso pensou que era a
inocente virgem?
Suas palavras estavam me afetando mais do que afetaram alguma
vez. Imaginei meu doce anjo nos braços de não um, mas sim de muitos
homens. Ela era muito doce, muito delicada e certamente não tinha
estado na cama desses homens por gosto, sabia que sua vida tinha sido
complicada, provavelmente tinham se aproveitado disso para tirar dela
o que queriam e desprezá-la.
— Não se engane, Cassy, eu não estou tentando me colocar entre
suas pernas, a ajudo porque me dá vontade e ponto, não pretendo
conseguir nada em troca. — Sua expressão se transformou em uma de
fúria e se afastou de novo, fazendo soar seus saltos no asfalto. Fiquei
apertando a direção até quase quebrar, malditos homens que se
atreveram a tocar a minha pequena, se só soubesse quem foi, os
mataria um por um sem o menor rastro de piedade.
— Voltei — gritou Alana enquanto corria até mim com um sorriso.
Quando estava a meu lado, me inclinei e rocei sua bochecha com
o dorso de minha mão.
— Nunca mais terá que fazer nada que não queira. — prometi. Por
um momento, pareceu confusa, mas logo assentiu e subiu atrás de
mim, rodeou minha cintura com seus pequenos braços e encostou o
rosto nas minhas costas. Soube que seria uma longa viagem quando
com esse simples gesto senti minha ereção crescer dentro de minhas
calças.
8
ALANA

A casa de Alexy não era precisamente uma casa, parecia mais


uma mansão antiga. Entramos por um longo caminho com enormes
pinheiros que soltavam um agradável aroma, o ruído dos insetos
noturnos formava uma cativante melodia, ao longe podia escutar os
latidos de um cão e, quando nos estávamos frente à porta, estes soaram
dentro da casa. Alexy desceu primeiro e me deu a mão para me ajudar,
tomou minha pequena mala, pôs sua palma em minhas costas
enquanto me guiava. Quando abriu, me encontrei com um cão enorme
que me olhava curioso; instintivamente me afastei.
— Tranqüila, carinho, Balaur parece feroz, mas em realidade é
bastante amável.
A palavra me surpreendeu, mas não tive tempo de assimilar
quando o cão se aproximou e me cheirou enquanto eu tremia de medo
e me juntava mais ao Alexy.
— Olá, — disse com uma voz que pareceu mais um chiado.
O animal pareceu ver que eu não era tão importante e se afastou
a caminho de sua cama, que estava em um lado da enorme sala de
estar. Fiquei olhando com curiosidade; os tetos eram altos e no centro
estava um enorme abajur de aranha, a sala estava decorada de forma
singela e muito masculina, com móveis em tons negros, e uma grande
chaminé que ocupava a parede principal. Outra coisa eram as paredes
laterais onde penduravam quadros com pinturas de rosas vermelhas,
todas de diferentes formas, mas sempre as mesmas flores.
— Parece que você gosta das rosas, — comentei enquanto me
aproximava de uma que chamou minha atenção. Diferente das outras,
esta não era uma pintura, era uma fotografia.
— Me lembram da minha mãe, — disse nas minhas costas. —
Eram suas favoritas. — O tom de dor em sua voz me fez compreender
que ela já não estava mais aqui.
— Sua mãe, certamente, era uma mulher muito especial.
— Era.
Fiquei observando a foto sem saber mais o que dizer
— Vamos, te mostrarei seu quarto, — disse trocando o tom para
um mais formal.
Segui por um longo corredor onde havia várias portas e me
perguntei quantos quartos teria o lugar. Por fim parou frente a uma
porta, abriu e se afastou. Coloquei a cabeça pela porta insegura do que
encontraria, e meus olhos se abriram. Entrei devagar, era desse tipo de
quarto que se vêem nos filmes: as paredes estavam pintadas de uma
cor azul clara, uma cama grande com dossel ocupava o centro, a cada
lado havia uma pequena mesa de estilo rústico, junto à janela haviam
duas poltronas com estampas de flores azuis e uma mesa de madeira
estava entre elas; as portas do enorme closet e do banheiro eram da
cor branca.
— Nunca vi um quarto tão bonito, só nos filmes. — comentei
assombrada.
— Fico feliz que você goste, é seu a partir de agora.
— Quem mais dorme aqui? — perguntei de repente; era estranho,
esse lugar não podia estar simplesmente sem uso.
— Não dorme nem dormirá ninguém além você.
— Então não terei que compartilhá-lo com ninguém? — queria ter
certeza, ele negou. Mais feliz do que podia pensar que estaria depois de
um dia péssimo, me deixei cair na cama, de costas; era tão macia que
o colchão se afundou com meu peso. — Não posso acreditar, nunca tive
um quarto só para mim. No abrigo sempre dormia no mesmo quarto
com outras garotas e no apartamento de Cassy, dormia no sofá.
Ele se aproximou e ficou de pé me olhando.
— Agora tem um que é todo seu, pequena, pode fazer o que quiser
aqui. Descanse um momento e depois vá à cozinha, vou te preparar
algo de comer.
Levantei a cabeça para vê-lo enquanto saía e me deixava só.
Estava perdida por esse homem, não só tinha me salvado em várias
ocasiões, mas me deu mais do que podia sonhar; de novo recordei que
não tinha nenhuma chance com ele, só me via como uma menina pela
qual sentia dó. Ao menos deveria estar agradecida.
Levantei e caminhei até a janela, um pouco mais à frente podia
apreciar uma estufa totalmente iluminada, era de noite, mas estava
certa de que durante o dia o jardim seria majestoso. Abri o closet e
guardei meus poucos pertences, era um pouco cômico ver como usava
só uma gaveta, nunca teria tantas coisas para enchê-lo. Em menos de
um minuto, meus pertences estavam em seu lugar, assim decidi sair.
Quando abri a porta, apontei a cabeça no corredor para me encontrar
com o cão do outro lado, por um momento considerei a possibilidade
de entrar de novo, o animal me dava bastante medo, mas não queria
que Alexy se aborrecesse por ter medo de seu cão, assim logo depois de
fechar a porta, caminhei devagar tratando de não chamar a atenção do
cachorro. Entretanto, ele me notou, levantou sua cabeça e seus olhos
posaram em mim, fiquei paralisada esperando que me atacasse, mas
simplesmente voltou a dormir. Fiquei mais tranqüila e comecei a
caminhar novamente mas outra preocupação surgiu, a casa era
enorme e não tinha a mínima idéia de onde estava a cozinha, olhei para
os lados tentando descobrir sua localização, então vi a sala de jantar e
uma porta ao final. Bingo, tinha que ser aqui. Continuei meu percurso,
a sala era um lugar espaçoso, ocupada por uma larga mesa e doze
cadeiras. Para que Alexy queria tantas cadeiras se vivia só? De novo, o
homem era um mistério para mim. De um lado havia grandes janelas
e dali se via mais claramente a estufa; fiquei de pé ali, esperava ansiosa
a manhã para ir investigar mais.
— Só vou pedir que não abra as cortinas durante o dia. — Escutei
sua voz atrás de mim e me sobressaltei, me virei e tinha o olhar posto
além das janelas. — Tenho um problema em meus olhos e a luz do sol
me incomoda bastante, assim prefiro ter as janelas fechadas.
Isso era algo estranho, nunca tinha escutado que alguém tivesse
problemas com o sol, poderia simplesmente usar óculos escuros, mas
me abstive de mencionar.
— Entendo, não se preocupe.
— Pode percorrer a casa a seu desejo e ir aonde quiser, só não
abra as cortinas.
Assenti sem saber mais o que dizer.
Levou-me a cozinha, onde me serviu uma comida deliciosa e em
uma quantidade que nunca tinha visto. Não pude evitar pensar em
Abby e Kevin; no abrigo comíamos muito pouco e muitas vezes minha
amiga ficava sem o seu para que seu irmãozinho pudesse comer mais.
Me senti culpada, eu estava mais de dois meses fora e não a tinha visto
nenhuma só vez, inclusive, embora tenha prometido tira-la de lá assim
que pudesse, o problema era que não acreditava que pudesse conseguir
sua custódia e a do Kevin, e ainda faltavam alguns meses para Abby
fazer dezoito. Talvez algo em meu semblante me entregou porque
escutei Alexy perguntar:
— Está tudo bem? Parece preocupada com algo.
Levantei a cabeça e vi que me olhava diretamente, neguei sem
estar segura do que responder, nunca tinha falado de minha amiga e
seu irmão, que era também como meu irmão pequeno.
— Só pensava em minha amiga Abby e seu irmãozinho, eles
seguem no lar de acolhida e prometi que a ajudaria a sair de lá. O
problema é que não sei como, eles seguem sendo menores de idade.
— É muito jovem para ser responsável por dois meninos, não é?
— perguntou mechendo os vegetais que tinha em seu prato de forma
distraída.
— É verdade, em poucos meses ela completará a maioridade,
assim seríamos nós duas para cuidar do Kevin.
— Sim, por que não come e depois pensamos nisso? — propôs
com um sorriso tranqüilizador que fez meu estômago se agitar, quase
nunca o via sorrir e as poucas vezes que o fazia conseguia fazer que
minha cabeça desse voltas. Assenti sem dizer nada mais e continuamos
comendo em silêncio. Ao terminar, me ofereci para lavar os pratos e,
sem nada mais que fazer, me despedi e fui dormir.
Recostada na cama me sentia como uma princesa medieval,
nunca imaginei Alexy com um lar como este, ele parecia mais do tipo
de um apartamento pequeno, com pôsteres de bandas e algumas
caveiras, mas então ele sempre conseguia me desconcertar, quando
falava, parecia com uma pessoa muito mais velha que aparentava, era
como se tivesse uma alma velha. Não sabia muito sobre sua vida e
algumas vezes quis perguntar sobre seu sotaque porque ainda não
conseguia saber de onde era, mas ele não dava muita margem para ser
sua amiga, sempre havia uma distância autoimposta e eu
simplesmente me limitava a respeitá-la.
9
ALEXY

Eram duas da madrugada e continuava andando pela casa, saber


que Alana dormia a umas portas da minha me inquietava de uma forma
que nunca nada tinha feito. Escutei meu telefone tocar e me apressei
a responder.
— Temos problemas, — disse Tarek ao outro lado. — Cameron
está a caminho de sua casa. — Meus irmãos me conheciam bem e
sabiam que me preocuparia deixar a Alana só. — Nos vemos no distrito
Mission.
— Estou saindo.
Quando saía da casa, meu irmão estava chegando.
— Eu cuidarei dela. — me disse quando passei ao seu lado.
Assenti com a cabeça e sai. Acelerei para chegar o mais breve
possível, tomei a rota da rua vinte e quatro no oeste desde o Noe Valley
até a rua Mission no oeste; trinta minutos depois encontrei meus
irmãos. Tarek, Marcus e Raven estavam meio escondidos em um beco,
quando escutaram o rugido de meu motor, levantaram a cabeça em
minha direção. Levantei e fui até eles.
— O que aconteceu? — perguntei, esperava sinceramente que
fosse alguma pista que nos guiasse até o Razvan.
— Olhe isso. — Tarek apontou para os três corpos estendidos na
calçada, quase escondidos atrás de um contêiner de lixo.
Me aproximei para inspeciona-los de perto e lancei uma maldição,
seus olhos estavam abertos e tinham uma cor totalmente negra; os
cadáveres não tinham alma.
— Parece que algumas sanguessugas saíram para se alimentar
esta noite, —comentou Raven nas minhas costas. — A polícia terá
muito com o que lidar.
Todos estávamos de acordo. Normalmente, isto não era algo com
o que lutássemos, não nos dedicávamos a salvar ninguém, só
perseguíamos os lacaios do Razvan procurando chegar a ele.
— Certamente estão perto tratando de procurar mais presas, —
disse Tarek.
— É melhor se nos separarmos. — Enquanto falava já estava
rumo a minha motocicleta novamente. — Tarek, você e o Marcus vão
ao leste, Raven e eu iremos ao oeste.
Eles assentiram e cada um subiu na sua moto, nos separamos e
começamos a busca. Odiava os putos demônios, não é que me
importasse com os humanos, simplesmente não queria limpar seu lixo.
Conduzimos pelas ruas, deserta em sua maioria, a essa hora da
madrugada, poucos se aventuravam a estar fora. Parecia que não
teríamos êxito, mas então os vimos, três demônios observavam entre
as sombras, um grupo de garotas que caminhavam em sua direção,
inocentes do que esperava. Elas pareciam ter saído de alguma festa
porque riam e se abraçavam enquanto cantavam alguma canção
desafinada, suas vozes ecoavam no silêncio que reinava. Ficamos a
uma distância prudente, mas estava seguro de que os demônios
podiam nos escutar perfeitamente, assim me surpreendeu que não
viessem nos atacar.
— O que será que sentem? — perguntou Raven com seus olhos
fixos neles.
— Não sei que merda está falando, mas espero que não esteja
perguntando como é se alimentar dos humanos.
— Não é que queira me perder na maldade, é só que me causam
um pouco de curiosidade, — falou tratando de defender-se.
— Nem sequer quero pensar em como é se converter em um
maldito sanguessuga. — Comecei a caminhar em sua direção, as
garotas estavam bastante perto, a qualquer momento seriam atacadas
de surpresa. Escutei os passos de meu irmão me seguir, começava a
me preocupar com meu amigo, ultimamente não parecia estar muito
bem, algo nele estava mudado e não queria pensar que estava
considerando deixar de estar no lado bom.
Tirei minha camiseta e a depositei sobre o assento da motocicleta
enquanto via que as garotas chegavam ao lugar onde se encontravam
os três demônios. A princípio, elas se sobressaltaram, mas logo,
quando olhavam bem neles, esboçaram alguns sorrisos. Quis dar a
volta e as deixar, eram umas pequenas estúpidas, estavam em meio a
rua, de madrugada, e quando viam três tipos que pareciam bonitos, se
esqueciam do perigo e riam como tolas. Soube o momento em que os
demônios notaram nossa presença, em seguida se enrijeceram; as
garotas, por sua vez, viraram seu olhar deles e posaram em meu amigo
e eu. Assim que se encontraram com nossos torsos nus, lançaram
risada tolas e vi uma pôr seu cabelo atrás da orelha.
— Isso é algo chato, sabe? — escutei dizer Raven. Não perguntei
a que se referia, mas ele me esclareceu isso de todos os modos. — Não
entendo, os humanos podem ser imbecis. Olhe para nós, somos uns
tipos de mais de dois metros, meio nus e cheios de tatuagens, eu tenho
uma enorme crista verde e, mesmo assim, elas estão olhando como se
fosse uma parte suculenta de carne. Acredite em mim, se fosse elas e
nós dois aparecêssemos em seu caminho de madrugada, seguro como
a merda que estaria correndo na direção contrária.
Sabia o que elas viam, nenhum de nós era indiferente à beleza
que se concedia aos de nossa raça, depois de tudo, tínhamos uma parte
angelical que nos fazia ser atrativos a seus olhos.
— Saiam. — Ordenei quando estava perto. Por fim pareceram
recuperar a lucidez e saíram correndo, não pareciam ser mais velhas
que Alana, talvez universitárias em busca de diversão, e estiveram a
ponto de encontrar a morte.
— Como se atrevem a espantar nosso alimento? — A voz que falou
era mais um grunhido.
Cruzei os braços.
— Estou certo de que elas não queriam te alimentar da forma que
você esperava, não acredito que ser o jantar de sanguessugas estivesse
em seus planos. — Ambos grunhiram e me mostraram suas presas,
nesse momento, uma espessa baba de cor negra começou a sair de
suas bocas.
Abri as asas e fiquei de pé esperando que viessem para mim.
Quando o fizeram, aguardei até o último momento para me levantar do
chão e aterrissar atrás deles, então balancei uma de minhas garras e
consegui ferir um na costas. Grunhindo de dor, este se virou e me viu
com mais fúria que antes. Atrás de mim podia escutar a batalha que
estava tendo Raven. De novo me atacaram e, quando tentei me levantar
outra vez do piso, um deles foi suficientemente rápido para tomar um
de meus pés e, com muita força, me arrastou até me derrubar no chão;
senti a dor se estender por minhas asas e amaldiçoei. Alcancei suas
garras quando foi perto da minha cabeça, entretanto, o outro que
seguia sangrando se lançou sobre mim e senti uma forte dor no ombro
quando enterrou seus dentes em minha carne.
— Inferno fodido, é sério você me mordeu? — perguntei
levantando meu punho e o atingindo no rosto, quando este cambaleou
para trás, aproveitei para tomá-lo pelo cabelo e erguer enquanto
cortava sua cabeça. Enquanto isso, o outro me atacou novamente, me
levantei rapidamente e esquivei, suas garras apenas roçaram minha
pele. Mais furioso que nunca pela dor que estava me causando a
dentada, o ataquei com força e consegui derrubá-lo, fiquei sobre ele e,
antes que pudesse reagir, sua cabeça estava separada de seu corpo.
Suspirei e dei a volta para ver Raven caminhando até mim. Me
surpreendeu ver que trazia a cabeça de seu atacante na mão e, assim
que viu minha reação, um sorriso se estendeu por seu rosto.
— Só pensei deixar a cabeça bem longe se por acaso o filho da
puta tentasse se levantar e procurá-la.
Sabia que era uma brincadeira, assim encolhi os ombros.
Caminhamos até nossas motocicletas, tinha que chamar o
Marcus e o Tarek para ver como tinha ido sua caça.
— Maldição. — Rasguei minha camiseta para limpar o sangue de
meu braço onde tinha me mordido. — As malditas coisas agora também
mordem.
Raven riu, subimos e, antes de arrancar, o escutei falar.
— Sabe? Eu não estou pensando em me trasformar como eles. —
fiquei em silêncio esperando que falasse. — Simplesmente, às vezes
parece difícil lutar contra a escuridão.
Sabia o que queria dizer, todos conhecíamos nosso lado escuro;
embora não o mostrássemos, estava lá.
— Isso acontece com todos, é algo que faz parte de nós,
simplesmente tomamos a decisão de ser ou não.
— É verdade, só queria que soubesse. — Parecia envergonhado.
— Escuta, Raven, nós não vamos julgar por que se sente dessa
forma, depois de tudo, somos seus irmãos.
— Sei disso, — disse com um suspiro. — É só que... Eu não sei
como fazer essa coisa dos irmãos felizes que vocês têm.
— Pensei que se dava bem com o Cam. — Ele me olhou e logo
assentiu.
— Eu faço, Cam é meu melhor amigo, de certa forma, somos
iguais, nenhum de nós sabe de onde saímos, mas ao menos ele teve a
sorte de que o encontrasse e cuidasse dele, entretanto, eu não posso
dizer o mesmo, tive que fazer coisas não muito boas para me manter a
salvo.
— Todos em algum momento fizemos coisas das que não estamos
particularmente orgulhosos, te asseguro isso, mas era o que tínhamos
que fazer para sobreviver. Ninguém reprovará as decisões que tomou a
fim de se manter com vida.
— Tem razão, agora me sinto um pouco imbecil, não sei se sabe
ao que me refiro.
— Acredito saber. Talvez deveria ver o Marcus, passaram alguns
séculos e ele segue sem querer tirar a cabeça de seu traseiro, assim
estamos acostumados aos imbecis.
Tentei que soasse como brincadeira, Raven era um bom tipo
apesar do que acrediva. Ele nunca falava de seu passado, mas sabia
pelo Cameron que tinha tido que assassinar a sua amante humana e
ao irmão desta quando eles descobriram o que era e fizeram uma
armadilha para pega-lo em uma espécie de atrativo de circo, inclusive
tinham conseguido mantê-lo preso algum tempo, mas dois humanos
não eram páreos para ele.
10
ALANA

Me remechi inquieta, tinha tentado dormir, mas não consegui.


Era irônico como a primeira vez que dormia na cama mais cômoda que
tinha tido e não era capaz de fechar os olhos; certamente, meu corpo
era masoquista. Senti a garganta seca, ao final me dei por vencida e
decidi ir procurar um copo com água, não acreditava que Alexy se
incomodasse que o fizesse. Levantei e caminhei descalça, eu adorava o
tapete sob meus pés; no apartamento de Cassy, só havia piso, o frio me
impregnava até os ossos. Abri a porta devagar e tudo estava em
silêncio, nem sequer o cão se via por aí, embora já tinha deixado de
temer um pouco, não tinha me atacado antes, assim não acreditava
que o fizesse nesse momento. Dirigi-me à cozinha, mas ao passar pela
sala, escutei um ruído e caminhei até uma porta que se encontrava
ligeiramente aberta. Dei conta de que era uma espécie de sala de estar,
olhei na grande tela do televisor onde se viam imagens de zumbis e um
caçador que o perseguia. Era um pouco estranho que Alexy gostasse
de videogames, não se via como o tipo de homem que se interessasse
por essas coisas. De repente, escutei uma maldição e soube que essa
não era sua voz. Estava a ponto de ir quando vi Cameron levantar do
sofá e lançar o controle com força, o objeto ricocheteou e caiu no piso.
Parecia um menino fazendo uma birra e, quando se inclinou para
agarrá-lo, seu olhar se encontrou com o meu e um sorriso se estendeu
por seu rosto.
— Ouça, garota loira, estava me espiando? Já sei que me ama em
silencio e não se atreve a dizê-lo, mas não é necessário que fique aí só
suspirando por mim, vem jogar.
Ri sem poder evitá-lo, sabia que não falava sério, sempre me fazia
brincadeiras.
— Nunca joguei, —disse, abri mais a porta e caminhei até onde se
encontrava.
— Isso é maravilhoso, ou seja, eu, vou te ensinar todos os truques.
Uma hora depois quase era boa jogando, inclusive tinha ganho
uma vez.
Estávamos rindo quando de um momento a outro ficou sério.
— Assim, como terminou no bar? — perguntou sem que o
esperasse. Encolhi os ombros enquanto seguia matando zumbis.
— Bom, é simples, estava procurando emprego e Cassy me levou
lá.
— Posso saber o que aconteceu com sua família?
— Não sei, nunca conheci meus pais, minha mãe me abandonou
no hospital quando nasci. Simplesmente se foi e me deixou, nem sequer
sei seu nome.
Vi fazer uma careta.
— Sinto muito.
— Não se preocupe, não me afeta muito.
— Onde viveu depois?
— Em vários lugares, — disse e me divertiu o olhar de
consternação em seu rosto. — Logo depois de ser abandonada, me
levaram a um lar de acolhida, eles eram uma família boa. O senhor
Cage trabalhava enquanto a senhora ficava em casa com os meninos,
fomos três meninos órfãos que tinham a seu cargo, pois não tinham
tido filhos, assim nos cuidavam com muito amor. Vivi com eles até que
tive seis anos, quando o senhor Cage transladou a uma sucursal que
sua empresa tinha na Sudamérica. Como não podiam nos levar com
eles, entregaram de novo a serviços sociais, onde nos atribuíram novos
lares. Após esse passei por vários mais, vivi um ano com um casal que
se divorciou e já não puderam ficar comigo; outros não gostavam
porque me consideravam rebelde. Assim passei de um lugar a outro até
que finalmente, quando tinha nove, cheguei ao lar da Marga e o Logan.
— Fiquei em silêncio sem estar segura de querer continuar com a
história, esse tempo tinha sido o pior de minha vida, odiava recordar
tudo o que tinha haver com esse inferno.
— Então aí foi ruim, não é? — perguntou como se lesse meus
pensamentos. Traguei para passar o nó em minha garganta.
— Muito ruim, — respondi finalmente. — Quando cheguei lá, me
senti esperançosa, havia outras três garotas; duas tinham quase minha
idade e Cassy, que era uns anos mais velha, assim pensei que ia ter
amigas. Até certo ponto sim, naquele tempo, Cassy era amavel comigo,
embora não fomos de tudo amigas. O resto, nada foi como esperava,
Marga era viciada e Logan se encarregava de tudo enquanto sua mulher
passava deitada todo o dia se queixando de enfermidades que não
tinha.
— Logan era um verdadeiro doente, nos impediu de ir à escola,
em troca, nos mandava pedir dinheiro nas ruas. Se não trazíamos o
suficiente, nos batia. Cassy era a maior, assim ela não pedia dinheiro,
mas então, muitas vezes, a ví entrar no quarto do Logan, ele a tratava
de forma diferente de como fazia com as demais. Três anos depois de
estar ali por fim vi um pouco de luz quando chegou uma garota que
chamava Abigail, a quem sempre chamamos Abby. Ela e seu irmão
menor, Kevin, acabavam de ficar órfãos. A princípio, se mantinham
afastados, o menino era surdo, assim não se comunicava com ninguém
que não fosse sua irmã, e ela parecia não querer confraternizar com as
demais garotas. Finalmente, consegui que se abrisse para mim e nos
tornamos amigas; fomos inseparáveis, uma força conjunta para nos
defender dos ataques do Logan. Iamos bem até que ficamos maiores e
nossos corpos mudassem. Então, Logan deixou de nos obrigar a pedir
esmola, mas fez algo pior, levava seus amigos para casa e nos obrigava
a atendê-los. — Fiquei em silencio e fechei os olhos com as
desagradáveis lembranças.
— Diabos, ele as obrigou... — Cameron fez uma pausa como se
lhe custasse continuar a pergunta.
— A nos prostituir? — Terminei por ele, assentiu enquanto me
dava um olhar de compaixão. — Tentou, nos obrigou a usar roupas
muito curtas e muita maquiagem, eu tinha quinze anos e a Abby ainda
era mais nova. As outras duas garotas já estavam perto dos dezessete
e, depois então, Cassy saiu. A princípio, só nos fazia adotar o papel de
garçonetes, mas uma noite, um dos sujeitos se interessou em mim;
quando servia uma dose, me arrastou até seu colo e... — respirei fundo
querendo conter as náuseas que me causava recordar aquilo. Cam
levantou uma mão e brandamente a pôs em meu ombro querendo me
tranqüilizar; isto funcionou e me deu ânimo para seguir falando. —
Arrastou em seu colo e tocou meus peitos, tentou me beijar enquanto
colocava sua mão debaixo de minha saia. Nunca esquecerei seu
desagradável bafo, estive a ponto de vomitar em cima dele. Felizmente,
minha amiga Abby me ajudou, de alguma forma tinha conseguido
roubar uma faca da cozinha, pôs na garganta do homem e ameaçou
degola-lo, advertiu ao Logan que incendiaríamos o maldito lugar e
cortaríamos suas bolas enquanto dormia se nos obrigasse a ter sexo
com esses degenerados. Tinha que ter visto o olhar nos olhos do Logan,
ele de certa forma sabia que as ameaças de minha amiga não eram
infundadas, depois de tudo, ela tinha incendiado a casa de seu
padrasto e todos sabíamos. Desde esse momento sempre trazíamos a
faca; no dormitório, juntamos nossas camas e dormimos os três, ela
seu irmão e eu, e guardávamos nosso método de defesa debaixo do
travesseiro. As outras duas garotas não tiveram tanta sorte, elas não
foram o suficientemente valentes para resistir, assim terminaram como
prostitutas que Logan utilizava para conseguir dinheiro de seus
amigos.
— Filho da puta. — A irritação na voz de Cam me fez sentir
melhor, ao menos alguém se importava um pouco com o que eu tinha
passado. — Sinto muito, ninguém deveria passar por isso.
— Já não importa, agora faz parte do passado. — Querendo trocar
de assunto, decidi perguntar por sua vida. — E você? Onde estão seus
pais?
— Não tenho a mínima idéia, o único pai que conheço é Alexy, ele
cuidou de mim desde de sempre.
— Faz quanto que está com ele? — perguntei curiosa.
— Digamos que parecem séculos, ele me encontrou quando eu
tinha uns cinco ou seis anos e cuidou que mim.
Franzi o cenho com esta informação, Alexy não parecia ter mais
de quatro ou cinco anos que Cameron, assim devia ser um menino
quando o encontrou. Sem me dar conta expressei meus pensamentos
em voz alta. Cam se esticou como se tivesse cometido algum engano, e
eu estava a ponto de perguntar o que ocorria quando escutei um ligeiro
pigarro na porta. Me virei rapidamente para ver Alexy de pé, nos
olhando, me levantei e Cam a meu lado fez o mesmo. Seu semblante
estava sério e não soube o que dizer, até que vi o sangue que descia por
seu braço.
— Santo pai, está ferido. — Corri até chegar a seu lado, mas
quando levantei a mão para tocá-lo, se afastou.
— Estou bem, — disse, e me deixou ali me perguntando o que
tinha acontecido.
— Não deveríamos chamar um médico? — perguntei ao Cameron,
que parecia muito tranqüilo, como se não acabássemos de ver seu
irmão coberto de sangue.
— Não se preocupe, se disse que está bem, então está bem. Agora
é melhor que vá.
Quando começou a se dirigir para a porta, o parei.
— Espera, pensei que vivia aqui, — disse.
— O que? Por que pensaria que vivo aqui?
— Bom, devido a que te encontrei jogando às três da manhã.
— Na verdade, só vim cuidar de você. — Me deu um encolhimento
de ombros enquanto saia.
De novo estava mais confusa que nunca, todo o relacionado com
o Alexy, seu irmão e seus amigos era um completo mistério e começava
a me doer a cabeça.
Fiquei um momento indecisa sobre o que devia fazer, então
recordei o montão de sangue que tinha visto no braço do Alexy, e isso
me empurrou a correr pelo corredor, chamei a sua porta e esperei que
abrisse. Vários minutos depois por fim esta se abriu, abri a minha boca
quando o vi, parecia que acabava de sair da ducha, seu torso estava
nu e uma toalha pendurava de seus quadris, seu comprido cabelo
gotejava água e molhava o piso. Percorri suas tatuagens com o olhar e
fui baixando lentamente por seu peito e seu abdômen, onde se
marcavam seus abdominais, até que cheguei a borda da toalha. Ele fez
um som, e isto despertou de meu transe, levantei a cabeça e o olhei nos
olhos; minhas bochechas se voltaram a uma cor vermelha, nunca havia
me sentido tão envergonhada.
— Posso te ajudar em algo? — perguntou de forma seca, o que fez
que minha vergonha aumentasse.
— Sinto muito, não queria te incomodar, eu... Eu só queria saber
se precisa de algo, digo porque te vi sangrando, talvez alguma ajuda.
— falei gaguejando.
— Disse que estou bem, agora vá dormir. — Sem esperar que
pudesse dizer mais, fechou a porta diretamente na minha cara.
Um nó se formou no meu estômago, baixei a cabeça e caminhei
de novo para meu quarto.
Cai na cama, não deveria ter ido, sobretudo, não devia o comer
com os olhos, seguia fazendo estupidez cada vez que me encontrava
perto dele, continuava me comportando como uma boba. Tinha que
deixar de fazê-lo, ele só estava sendo amável ao permitir ficar em sua
casa e, falando disso, tinha que conseguir um lugar para ficar o mais
breve possível, não podia me aproveitar dele. Talvez seria bom pedir ao
Cam que me ajudasse, ele conhecia a cidade e saberia de algum lugar
decente que pudesse pagar. Não passou muito tempo quando escutei
que chamava a minha porta. Dando um comprido suspiro, me levantei
para ir abrir, desta vez, me assegurei de não agir como uma boba
apaixonada, assim fingi estar tranqüila, embora isso era mais fácil dizê-
lo, pois vestia umas calças de moletom e uma camiseta sem mangas,
seu cabelo estava solto; nunca o diria diretamente, mas eu adorava que
o deixasse assim, ficava mais sexy. Esperei que falasse, mas em seu
rosto não havia nenhuma expressão.
— Lamento ter sido grosseiro com você, — se desculpou.
Sem saber o que mais fazer, sorri e me encolhi os ombros como
se não me importasse.
— Está bem, não se preocupe, não devia te incomodar. — Vi
balançar a cabeça para trás como se se debatesse internamente sobre
algo.
— Ainda quer me ajudar? — perguntou, e me surpreendeu.
— Claro que sim, quer entrar ou vamos ao seu quarto? — Olhou
o interior como se não o conhecesse, coisa estranha, já que esta era
sua casa.
— Aqui está bem. — respondeu me olhando.
Fiquei de lado para permitir passar e, quando entrou, sua
presença parecia encher todo o lugar. Aspirei seu aroma e a alguma
outra fragrância amadeirada que já associava com ele, embora não
estava segura se era alguma colônia ou simplesmente cheirava assim
de forma natural. Caminhou até se sentar na beirada da cama e mordi
o lábio sem saber o que fazer. Quando me deu um olhar interrogatório,
fui ao banheiro para procurar algo com que pudesse limpar sua ferida.
Quando por fim encontrei algumas gazes e desinfetante, voltei para
encontrá-lo na mesma posição onde o tinha deixado.
— Já tenho tudo, — avisei e sentei a seu lado. Ele assentiu, e eu
me dispus a curá-lo quando vi sua ferida e meus olhos se abriram com
incredulidade. — É uma mordida isso? — perguntei sem poder
acreditar, tinha que ter sido mordido por um animal muito grande, pois
a pele estava rasgada, mas definitivamente podia ver as marcas de
dentes.
— Sim, algo assim — respondeu como se não fosse nada a
considerar.
— Mas…
— Alana, só limpe. — parecia ansioso por resolver o assunto.
Fiz meu trabalho em silêncio e não o vi fazer a mais mínima careta
de dor, embora sem dúvida isso tinha que doer como o inferno.
— Lamento. — Quando o escutei dizer aquilo, levantei a cabeça
pensando que de novo estava se desculpando por ter fechado a porta
em minha cara, mas em seguida me esclareceu. — Escutei o que contou
ao Cameron e lamento que tivesse que acontecer com você. — Baixei o
olhar, não tinha querido que se inteirasse daquilo, não sabia que
imagem tinha nesse momento em sua cabeça, mas supunha que não
era uma muito boa. — Não precisava mentir, sabe? — Olhei confunsa.
— Cassy me contou e quero que entenda que nada do que teve que
fazer foi sua culpa. — Vi apertar os punhos e, um pouco parecido a um
grunhido saiu de seus lábios.
— Eu não... — Não sabia o que dizer, pois não tinha idéia do que
se referia, não tinha mentido ao Cam.
— Não tem que sentir vergonha das ações de outros. — Assenti
me perguntando se talvez tinha febre e estava delirando, inclusive
coloquei a mão em sua testa, mas esta se encontrava fria. Quando abri
a boca para perguntar do que falava, me interrompeu. — Só esquece e
continue limpando. — Não dissemos nada mais e, uns minutos depois,
satisfeita com meu trabalho, cobri a ferida.
— Acredito que já está bom, espero que não se infecte.
— Não o fará, — disse soando muito seguro, me surpreendeu
quando sua mão roçou minha bochecha; era a primeira vez que me
tocava de forma carinhosa e não pude evitar que meu estômago se
contraísse. Sim, sabia que era um pouco psicótico só por isso, mas não
pude evitar. — Obrigado. —Então se inclinou para beijar minha testa.
Fiquei muda e sem dizer nada quando ficou de pé e saiu, o que
me deixou mais confusa que nunca.
11
ALEXY

A música estrondosa do bar começava a me incomodar, ou talvez


o que me incomodava era ver Alana sentada lá rindo com Cameron de
alguma de suas piadas, tinha que reconhecer que o menino possuía
certo encanto que cativava às mulheres. Imaginei o pequeno anjo se
apaixonando por meu irmão, e isso fez que minha fúria aflorasse,
apertei com força o copo até que senti o vidro explodir em minha mão.
— Pode parar de fazer isso? — grunhiu Tarek soando chateado.
— Não sei porque espera para reclamar a garota e nos tirar a todos
desse martírio de ter que te ver lançando adagas com seus olhos a seu
irmão porque a faz rir.
— Deixa de ser safado, não fale estupidez, ela é só uma menina.
— disse chiando os dentes.
— E você deixe de se comportar como um filho da puta, eu não
vejo nenhuma menina, a não ser a uma mulher tão boa como qualquer
outra. O que tem a fazer é colocá-la em sua cama e toma-la de todas
as formas possíveis, até que nenhum dos dois possa caminhar, assim
talvez deixe esse humor de merda que tem.
Fulminei a meu amigo com o olhar e me pus de pé disposto a
partir sua cara.
— Não se atreva a falar assim dela, — falei com os punhos
apertados, então ele se levantou e aproximou seu rosto do meu, seus
olhos estavam vermelhos.
— E você não me faça chutear a merda fora de você até que tire a
cabeça de seu traseiro. Reconhece de uma maldita vez, está obcecado
pela garota. Desde que chegou, se comporta como um maldito ogro, se
até Marcus, que parece uma besta selvagem a maior parte do tempo,
evita se aproximar de você.
Olhei o bar em busca de meu outro amigo e me dei conta de que,
realmente, não se via por nenhum lado, então olhei para Raven, que se
manteve em silêncio, mas fez um gesto de assentimento, dizendo que
estava de acordo. Empurrei a mesa com força e esta voou longe de onde
estávamos, alguns dos clientes se sobressaltaram e nos rodearam
preparados para presenciar o enfrentamento. Tarek se preparou para
a luta, e eu, de repente, me dei conta do que estava fazendo, estava
disposto a atacar a um de meus irmãos.
— Sinto muito, — disse e me afastei, passei pelo lado de Alana
sem dizer nada e me fechei em meu escritório, fechei a mão em um
punho e golpeei a parede com força; uma grande parte se desprendeu
como se só fosse feita de argila.
— Alexy.
Virei e aí estava ela, de pé, me olhando com seus grandes olhos,
seu cabelo, como de costume, recolhido em duas tranças. Cada vez que
a tinha perto algo dentro de mim se esquentava e me punha tão duro
como uma rocha.
— Está tudo bem? — perguntou olhando o desastre da parede.
— Acredito que havia um problema de umidade, mas mandarei
reparar. — A mentira era tola, mas felizmente ela não o questionou. —
Quer ir pra casa? —Seu rosto se iluminou quando escutou aquilo, como
se a palavra casa tivesse algum significado especial.
— Sim vamos, — disse com entusiasmo.

Estava no sofá fingindo ver a televisão, quando na realidade


estava vendo Alana ler um livro. Ela se encontrava sentada no chão
perto da chaminé, com os pés cruzados, tão absorta em sua leitura que
nem sequer se deu conta de que a olhava atentamente, fascinado, tinha
o cabelo solto e este brilhava com a luz que projetavam as chamas. As
palavras que Tarek havia me dito a noite anterior seguiam dando voltas
em minha cabeça, só de pensar em meu pequeno anjo nu em minha
cama, gritando meu nome enquanto me enterrava nela, fazia que meu
membro respondesse. Havia três semanas que estava vivendo comigo
e, embora tratava de não cruzar com ela a maior parte do tempo, havia
momentos como esse em que era impossível me afastar e simplesmente
me dedicava a observá-la em silêncio, e a acomodar o volume que se
formava em minhas calças.
Balaur começou a ladrar e escutei o som longínquo de um
automóvel que se aproximava. Uns minutos depois, uma porta se abriu
e se fechou com estrondo; soube, antes que chamassem no portão, que
se tratava da Saskia. Amaldiçoei e me levantei para mandá-la embora,
ela sabia muito bem que tinha proibido se aproximar de minha casa.
Alana deixou seu livro e ergueu a cabeça, certamente, alertada por
minhas maldições. Caminhei rápido e abri antes que tivesse tempo de
chamar. Aí se encontrava Saskia, vestida com um diminuto vestido
negro e um casaco com estampa de leopardo, seu cabelo curto tinha
um estilo despenteado; entrou sem que a convidasse, fazendo soar seus
saltos vermelhos no parqué.
— Saia, mascote, — ordenou se dirigindo a Alana, esta cruzou os
braços e a olhou de maneira desafiante. Pela primeira vez, vi o pequeno
anjo a enfrentar, sempre baixava a cabeça aterrorizada, e me senti
orgulhoso dela.
— Você pode parar de me chamar assim? Eu não ando por aí te
chamando de víbora. — Saskia avançou em sua direção e me pus na
frente para detê-la.
— Se acalme se não quiser perder a cabeça. — Captando a ameaça
implícita em minhas palavras, parou.
— Mande ela sair, quero falar contigo.
— Alana, pequena, vá para seu quarto, tenho que falar com a...
Víbora, — pedi arqueando uma sobrancelha em direção a recém
chegada. Ela ficou de pé e pegou seu livro, quando passou por nosso
lado, me olhou zangada.
— Odeio que me trate como uma menina, — reclamou e saiu.
— Pensei que não trazia suas amantes para casa — comentou
Saskia uma vez que ficamos a sós.
— Pode parar sua puta cena de ciúmes, sabe bem que comigo essa
merda não funciona.
— Não entendo por que a trouxe para viver contigo, nenhuma vez
me permitiu vir aqui, mas na primeira oportunidade, traz o maldito
mascote. O que queria, que fizesse companhia a seu cão?
Sem pensar a peguei pelo pescoço e a prendi contra a parede.
— Você me deixou farto, deixa de ser uma cadela e saia da minha
maldita casa. Quantas vezes tenho que te dizer que entre nós não há
nada mais que uma transa de vez em quando?
— Isso que sou para você, a puta que te chupa quando não tem
nada para ocupar seu tempo?
— Nunca te fiz promessas, sempre soube que para mim não
significava nada mais que sexo, pensei que deixei isso claro. — Soltei e
dei espaço para que fosse, mas a mulher era insistente.
— Eu pensei que podia ser diferente, — disse se aproximando de
mim. — Você sabe o que eu gosto e eu sei o que você gosta. — Enquanto
falava, sua mão acariciou minha virilha, se aproximou mais até que
senti sua língua em meu rosto e logo a levou até meus lábios. — Juntos
somos explosivos, ninguém me satisfaz na cama como você faz, por isso
estou disposta a aceitar tudo, não me importa se quer conservar o
mascote, até podemos compartilhá-la.
Sabia que ela não tinha problema em se deitar com mulheres e
homens, de fato, em um par de ocasiões, aceitei fazê-lo com ela e
alguma de suas pupilas como estava acostumado a chamar as
mulheres com as que tinha sexo de vez em quando, mas só imaginar
suas mãos sobre Alana meu estômago se revolveu.
— Não estou interessado, Saskia, nunca permitiria que a sujasse
com seu lixo.
— É um filho da puta, logo vai se aborrecer da maldita humana.
Um ser tão frágil que poderia se romper só com um suspiro não poderá
te agradar como eu faço, precisa de uma mulher de verdade.
— Fora de minha casa, é a última vez que digo isso e te advirto
que, se continuar enchendo o saco, estará fora de meu bar também.
Quando saiu por fim, soltei o ar que estava contendo, pelo menos
havia dito algo certo e era que Alana não poderia suportar minha
escuridão. Decidi ir procura-la, não queria que ficasse chateada por
tratá-la como uma menina, de alguma forma, eu gostava de vê-la
sempre feliz. Encontrei-a no terraço sentada, sustentando seus joelhos
com os braços, com o olhar perdido na noite. Aproximei-me e me
abaixei para estar a sua altura.
— Lamento que teve que presenciar essa cena.
— Já foi? — perguntou sem me olhar.
— Sim, vamos preparar algo de comer? — disse tratando de trocar
o tema e aliviar o ambiente.
— Escutei quando ela te disse que podiam me compartilhar. —
Isso me alarmou. — Acaso alguma vez fez isso? Teve sexo com mais de
uma pessoa de uma vez?
Fiquei tenso com suas perguntas, quanto mais tinha escutado?
— Que mais ouviu? — perguntei apertando meus punhos, se me
dizia que sabia que eu não era humano, ia ser o inferno. Me olhou com
surpresa.
— Só isso, esqueci minha caderneta e fui procurar, mas a ouvi te
dizer que podiam me compartilhar e me afastei. Então, vai responder
minha pergunta?
— Não vou falar com você sobre isso. — Fiquei de pé e me afastei.
— Por que não? Não sou mulher suficiente para que considere a
idéia de se deitar comigo?
— Basta, Alana! Quando vai entender que você é uma menina?
Eu gosto das mulheres de verdade. — Vi um gesto de dor em seu rosto
e tive vontade de chutar a mim mesmo, maldição, só queria protegê-la,
por que tinha que me pôr isso tão difícil?
— Entendo, — disse, baixou a cabeça e virou para sair. Senti
desejo de ajoelhar e pedir perdão por machucá-la, mas suas seguintes
palavras me enfureceram. — Talvez seja hora de ir e encontrar alguém
que me veja de outra forma.
Em menos de um segundo, a tinha rodeado com meus braços e
tinha ela apertada contra meu peito, era tão pequena que me dava
medo quebrá-la. Minha respiração se agitou por causa da ira, meus
olhos ficaram vermelhos e só queria o sangue de quem se atrevesse a
tocá-la.
— Não se atreva a sair desta casa — adverti me inclinando para
falar no seu ouvido. — E nem sequer pense em deixar que outro homem
coloque um só dedo em você, matarei a qualquer um que se atreva
inclusive a respirar em sua direção.
— Por que faz isto? — perguntou com voz entrecortada. — Diz que
não me quer, mas não deixa que eu vá, não entendo.
— Sou um demônio. — A soltei, me afastei e dei as costas. — Não
vê o esforço que faço para te proteger? Cada dia tenho que lutar com o
desejo de te levar para a minha cama para arrancar a sua roupa e me
enterrar tão profundo em você até fazer que se esqueça de tudo e só
pense no prazer que quero te dar. — Não me virei para olhá-la, sabia
que meus olhos continuavam vermelhos e não queria que visse. Escutei
seu coração acelerado e sua respiração agitada e soube que minhas
palavras tinham causado o efeito contrário; em lugar de assustá-la a
estava excitando.
— Por... Por que não faz? — sua voz foi apenas um sussurro.
— Porque merece algo melhor.
— Isso não é verdade. — Enquanto falava se aproximava, fechei
os olhos quando soube que ficaria de frente a mim, apoiou suas mãos
em meu peito e um calor percorreu todo meu corpo. — Você é bom e é
por isso que te amo.
Suas palavras foram como receber um murro, sem abrir os olhos,
a segurei nos ombros e a apertei.
— Não sabe o que está dizendo, você não me conhece, não sabe
nada de mim.
Tinha que me afastar, assim me dirigi ao ginásio, talvez golpear
algo me ajudaria.
12
ALANA

Me senti humilhada, havia dito que o amava e me recusou. É obvio


que o faria, o que esperava? Eu não chegava nem aos pés da
malditamente perfeita Saskia, a mulher era linda, enquanto que eu era
só uma menina. Não é que me considerasse assim, mas outros o
faziam, incluído Alexy, e sua opinião era a que mais me importava; fui
uma estúpida ao pensar que poderia sentir algo por mim mais que
compaixão. Em algum momento acabaria minha estupidez? Ninguém
tinha me querido nunca, nem sequer minha própria mãe, que me teve
durante nove meses em seu ventre. O que me fazia pensar que ele me
quisesse? Me sentindo derrotada, fui para meu querto, tinha tomado a
decisão de abandonar sua casa, era o melhor, não podia olhar para ele
sem sentir vergonha. Empacotei as poucas coisas que tinha em minha
mochila e saí tratando de não fazer ruído, mas por alguma razão que
não compreendia, ele sempre parecia escutar tudo, embora estivesse
muito longe. Quando abri a porta, o ar gélido da tarde golpeou meu
rosto, logo anoiteceria e o inverno se aproximava. Esfreguei meus
braços tentando me aquecer, Balaur levantou a cabeça e me olhou, nas
semanas que fiquei vivendo aqui, realmente tinha chegado a lhe fazer
carinho, fomos bons amigos; acariciei-o como despedida, ao menos
alguém sentiria saudades. Caminhei o comprido trajeto até o portão
principal, nunca entenderia por que alguém se empenhava em viver
longe de tudo, teria uma longa caminhada até a estrada para poder
conseguir uma carona que me levasse a cidade. Quando por fim saí dos
limites da mansão, comecei a caminhar pensando no que ia fazer, a
única pessoa que conhecia que podia pedir ajuda era Cassy, mas ela
não aceitou muito bem que fosse viver com Alexy, depois disso me
tratava como se fosse sua pior inimiga. Minhas opções eram nulas
nesse momento, o sol começou a se esconder e me preocupei, a estrada
estaria escura, não havia mais casas perto e tampouco nenhuma luz.
Acelerei o passo querendo chegar o mais breve possível à via principal,
ao menos havia lua cheia e isso me ajudava a ver melhor o caminho.
De repente, senti um vento frio e as árvores a meu lado começaram a
balançar como se aproximasse uma forte tormenta. Olhei ao céu, mas
este seguia limpo e a lua brilhava em todo seu esplendor. Minha pele
se arrepiou e meu coração se acelerou, tive um péssimo
pressentimento, por isso caminhei mais rápido, mas então uma espécie
de sombra passou voando a meu lado. Um segundo depois, uma alta
figura se materializou na minha frente e deixei escapar um grito, não
estava acostumada a acreditar em fantasmas ou aparições, mas sem
dúvida minha mente não estava me ajudando. Olhei sentindo muito
medo, era tão alto como Alexy, se vestia todo de negro e tinha uma
larga capa que se movia ao compasso do vento. Seu rosto não mostrava
nenhuma expressão, mas, mesmo assim, era terrível, seus olhos a
simples vista pareciam completamente negros, inclusive a parte que
deveria ser branca, mas então pensei que se devia à escuridão da noite.
— Daqui posso sentir seu medo, — disse, me surpreendendo, sua
voz não soava humana, era mais como se se tratasse de um eco.
Entendendo que estava em perigo me virei para correr, mas quase me
choquei com ele. — Pobre menina humana, pensa que tem alguma
chance?
— Quem é você? O que quer de mim? — Me chamou de humana,
o que me confirmou minhas suspeitas de que ele era algo mais.
— O que quero? — perguntou, me rodeou como uma fera que joga
com sua presa e mostrou um sorriso sinistro. — O que está disposta a
me dar em troca de que te permita viver? Quer que façamos um trato?
Não estava segura do que dizer, o medo tinha me paralisado e
estava convencida de que não poderia correr mais de dois passos sem
que me alcançasse. Sentia-me uma estúpida por ter saído da segurança
da casa, queria que o homem que amava me visse como uma adulta,
entretanto, à primeira oportunidade, me comportava como uma
adolescente rebelde.
— Eu não faço tratos com desconhecidos — disse ao fim, tratando
de parecer valente.
Um enorme sorriso se estendeu por seu rosto e pude ver que tinha
presas, era um vampiro? Era a única coisa que pensei.
— Então terá que ser pelo jeito difícel.
Se aproximou mais, e eu retrocedi até quase me chocar com uma
árvore. Seus olhos adquiriram uma cor vermelha e de sua frente
brotaram chifres. O terror me invadiu. Uma grande mão com largas
garras rodeou meu pescoço e me cortou a pele e, em um momento,
senti meus pés se erguerem quando me levantou do chão. Comecei a
espernear tentando me libertar, o ar começou a abandonar meus
pulmões e fiz esforço para respirar, mas a pressão que exercia em meu
pescoço me impedia. Segurei a seu braço tentando de me soltar, mas
era como querer abrir um grilhão de aço.
— Diga, humana, me entregue sua alma de forma voluntária e te
concederei uma morte rápida e sem dor.
Minha mente começava a deixar de funcionar, entretanto,
compreendi que queria minha alma, acaso não era de sangue do que
se alimentavam esses seres? Minha cabeça começou a dar voltas e
soube que em qualquer momento perderia o sentido, ia morrer. De
repente, escutei um uivo aterrorizante, a criatura que estava me
sustentando lançou um chiado e me soltou; caí no chão e tossi. Estava
enjoada, mas isso não impediu que visse a cena que se desenvolvia
frente a mim: a criatura que tinha me atacado estava parada frente a
alguém que grunhia, seus olhos vermelhos brilhavam e umas largas
garras saíam de suas mãos, enquanto mostrava as presas, que a estas
alturas já não estava segura de que fossem de um vampiro. Virei um
pouco para ver quem tinha me salvado e quase infartei, frente a ele se
encontrava Alexy, sabia que era ele, mas não era ele realmente, tinha
umas garras iguais às da criatura. Da minha posição, não podia ver
seus olhos, mas estava segura de que eram de uma cor vermelha. Algo
mais chamou minha atenção, diferente da criatura, das costas do Alexy
se sobressaíam umas asas de cor negra, estas se estenderam e me
tamparam a vista, assim que me inclinei para observar o que acontecia.
Começou uma luta e a única coisa que fui capaz de fazer foi pregar
minhas costas à árvore como se isto pudesse me esconder do inferno
que se formou frente a meus olhos. Me senti uma suicida quando
levantei a cabeça para ver o que estava acontecendo; a criatura lançou
um patada que cortou o ombro do Alexy, mas este, em um rápido
movimento, cravou suas garras em seu estômago. Pensei que era o final
quando o vi se afastar sangrando, entretanto, não parecia moribundo,
voltou para o ataquei e, esta vez, Alexy o esquivou elevando do chão,
então, em um giro tão rápido que quase escapou de minha vista, o vi
levantar o braço. Quis cobrir meus olhos para não ver o que ia
acontecer, mas estava paralisada; com um só movimento Alexy cortou
a cabeça da criatura, que voou pelo ar para cair a uns metros de mim.
Comecei a gritar aterrorizada.
— Alana, fica tranquila, — escutava sua voz, mas só podia pensar
em suas garras e a facilidade com a que tinha arrancado a cabeça de
seu adversário. Senti terríveis náuseas e me inclinei para vomitar. —
Alana, carinho, me olhe, sou eu.
— Você... Ele. — As palavras se negavam a sair.
— Tranqüila, não te farei mal, só me deixe te ajudar. — Esticou
sua mão até mim, as garras tinham desaparecido e estava coberta de
sangue, por isso fiz uma careta e me afastei. — Merda, sinto muito. —
Começou a se limpar em sua calça, mas a mancha vermelha não saia.
— Por favor, me olhe, tenho que te levar para casa, — me disse se
ajoelhando na minha frente.
Levantei a cabeça e me certifiquei de que seus olhos de novo
tinham seu tom negro normal, os chifres e as asas se foram; outra vez
era ele, além de que estava me olhando com preocupação.
— Você é como ele. — Não era uma pergunta.
Ele ficou quieto um momento e, finalmente, respondeu:
— Sim sou, mas a diferença é que eu nunca te machucaria.
Sabia que era verdade, até esse momento só tinha sido bom
comigo, tinha me recolhido da rua e levado a sua casa quando não
tinha onde ir, tinha cuidado de mim todo esse tempo e sabia que,
apesar de tudo, podia confiar nele. estiquei meus braços e permiti que
me carregasse. Levantou-me e começou a caminhar de volta a sua casa.
Permanecemos em silêncio todo o caminho, queria perguntar o que era
essa criatura, mas não me atrevia a abrir a boca, temia muito a
resposta.
Quando chegamos, me levou diretamente ao quarto e, devagar,
me colocou no chão e se afastou, parecia que não sabia o que dizer.
Finalmente, sem falar, me deu as costas e saiu. Fiquei ali tremendo,
tudo o que tinha visto parecia tirado de algum pesadelo, a diferença era
que estava muito acordada. Sentei no chão e abracei meus joelhos, as
imagens vividas se repetiam uma e outra vez, fechava os olhos e a única
coisa que via era a cabeça da estranha criatura rodando pelo chão. Uns
minutos depois saí de meu estupor, precisava saber o que tinha
acontecido. Engatinhei até a cama e me apoiando fiquei de pé, me olhei
e vi minha roupa cheia de terra. Decidi tomar um banho, mas então
me dei conta de que minha mochila não estava aqui. Genial, tinha
perdido minhas poucas posses. Como se tivesse lido meu pensamento,
nesse momento, a porta se abriu de novo e Alexy apareceu trazendo na
mão uma de suas camisetas.
— Toma, use isto enquanto conseguimos sua roupa de novo, —
Falou colocando sobre a cama, seu olhar nunca se encontrou com o
meu.
— Obrigada. — Disse em um sussurro, mas sabia que tinha me
escutado perfeitamente. Depois de um ligeiro assentimento, saiu de
novo. Meus joelhos ainda seguiam tremendo, peguei a camiseta e me
dirigi ao banheiro, tirei a roupa rapidamente e fui para a ducha. Deixei
que a água quente levasse toda a sujeira que me cobria, lavei meu
cabelo. Fiz tudo rapidamente, queria sair daí o mais breve possível. Me
sequei e procurei a camiseta, então me dei conta de que não tinha mais
roupa íntima, suspirei e sem outra opção fiquei assim; felizmente a
camiseta chegava até meus joelhos, assim não deixava ver nada.
Voltei para o quarto e procurei um pente na gaveta, sentei na
cama e me penteei devagar, pensando como era que nunca tinha me
dado conta de que Alexy era diferente. Mas então recordei pequenos
detalhes que tinha perdido: todas as janelas da casa tinham vidros
escuros e nunca se abriam durante o dia; nas três semanas que vivi
aqui, nunca o tinha visto sair ao jardim com a luz do sol; quando tinha
que cuidar das rosas da estufa, sempre fazia de noite. Isso deveria ter
sido sinais para mim, mas estava tão fascinada com ele e como era
bonito; tinha sido uma completa ingênua.
Tomei uma respiração profunda e caminhei até a porta, girei a
maçaneta e, por um instante, repensei em sair, mas sabia que tinha
que enfrentá-lo, não podia ficar no escuro eternamente. Abri e coloquei
a cabeça no corredor, tudo estava em silêncio, meus joelhos
começaram a tremer de novo, caminhei devagar esperando topar com
o Alexy em qualquer momento, mas para minha decepção, não o
encontrei por nenhum lado. Procurei no ginásio onde sabia que
passava grande parte do tempo, mas não o achei. Finalmente, decidi ir
a seu quarto, retornei pelo corredor, pois este se localizava ao final, na
parte mais afastada da casa, chamei, mas não me respondeu.
— Alexy? Posso entrar? — Perguntei enquanto girava a maçaneta
e entreabri um pouco. — Alexy? — Só me respondeu o silêncio, abri
mais e me fixei no lugar, nunca tinha entrado aí, tudo era de cores
escuras, inclusive os lençóis de seda negra. Observei tudo com
curiosidade, uma grande cama ocupava o centro, as janelas estavam
cobertas também com cortinas negras, o que acentuava minha idéia de
que ele e o sol não tinham muito boa relação, a pergunta era por que?
Dei uma volta pelo amplo quarto, ao fundo havia uma estante que
chamou minha atenção, ao me aproximar, pude ver uma coleção de
pequenos anjos, de todas as formas. Nunca teria ocorrido pensar que
gostasse ou que fosse religioso, mas de novo ele se convertia em um
enigma para mim. Estiquei a mão e peguei um com curiosidade, mas
estive a ponto de deixá-lo cair quando me dei conta de que, embora
tinha asas de anjo, também tinha chifres e olhos vermelhos como os de
um demônio e, em lugar de mãos, tinha garras. Era igual a como vi
Alexy quando lutava com a criatura que me atacou, seria alguma
brincadeira? Com cuidado, depositei a figura em seu lugar. Caminhei
até a janela me perguntando onde poderia ter ido e então o vi, estava
de pé, de costas para mim, olhando para a estufa, sem camisa e com
uma calça preta, seu comprido cabelo ondeava com o vento. Até a essa
distância se via imponente, meu coração começou a pulsar
rapidamente, como acontecia sempre que o via. Nesse momento me dei
conta de que era muito perfeito para ser humano; em realidade, era
uma espécie de ser mitológico. Durante vários minutos o contemplei
maravilhada. Por fim, decidi que era hora de enfrentá-lo, assim me
afastei da janela e saí de seu quarto rumo ao jardim. Aqui fora fazia
frio, quando dei o primeiro passo sobre a grama, senti a umidade
produzida pelo orvalho. Segui caminhando e parei a uns metros dele,
vacilei pensando se me aproximava mais ou não, não estava segura do
que dizer, mas então não foi necessário falar.
— Não deveria estar descalça e sem agasalho, faz frio, — me disse
sem se virar.
Não me surpreendeu que soubesse disso, nesse momento, nada
poderia me surpreender. O vento agitou seu cabelo e deixou
descobertas suas costas coberta totalmente por um grupo de tatuagens
que subiam por seus ombros e se estendiam até seus braços.
— Eu... Queria falar contigo. — minha voz saiu insegura.
Permanecemos em silencio durante um tempo, simplesmente
escutando o som do vento balançando as folhas das árvores;
finalmente, falou.
— Descobri o que sou quando tinha dez anos e vi a minha mãe
morrer. —Meu coração se apertou quando o escutei dizer aquilo, eu
nunca tinha conhecido meus pais e não podia entender o que era para
um menino ver a morte de algum deles. Avancei os metros que faltavam
até chegar a seu lado, ele se virou e olhou nos meus olhos. Eu tive que
levantar muito a cabeça para olhá-lo, já que apenas chegava a seu
peito. — Vem, sente-se, quero te contar tudo isso — convidou
mostrando o banco que estava a seu lado.
Me aproximei e estiquei minha camiseta antes de me sentar ao
recordar que não tinha nada por baixo; quando o fiz, ele se acomodou
a meu lado, com o olhar de novo enfocado na estufa, como se custasse
me olhar. Esperei que falasse, escutei tomar uma pausa e, quando o
olhei, tinha os olhos fechados, então começou a falar, parecia que seu
corpo estava presente, mas sua mente tinha viajado muito longe.
— Foi no ano de mil quinhentos e quatro.
— Espera! — Detive-o antes que continuasse. — Que ano disse?
— Estava segura de que não tinha escutado direito.
— Disse “mil quinhentos e quatro”, pequena.
Abri muito os olhos e tratei de dizer algo, mas as palavras se
negavam a sair de minha boca e fiz contas rapidamente.
— Não, é impossível, você não pode... — Me olhou com um sorriso
e soube em seguida que não estava mentindo.
— Sim, sim posso, tenho quinhentos e vinte e dois anos. — Abri
a boca incrédula, definitivamente, ninguém acreditaria que tinha mais
de trinta. — Agora pensa que sou uma espécie de antigüidade, não é?
— Quis que sua pergunta tivesse um tom de brincadeira, mas no fundo
pude notar a dúvida.
— Eu me atreveria a dizer que esta muito bem conservado, —
disse tratando de aliviar a situação, entretanto, ainda não podia
acreditar.
— Agora entende? — interrogou de maneira solene. — Tem dezoito
anos, é quase uma bebê comparada a mim, isso e acrescente que sou
um monstro e terá a resposta de por que não sou bom para você.
— Não, você não é um monstro — afirmei de forma veemente. Ele
assentiu e continuou falando sem dar maior importância a minhas
palavras.
— Vivia com minha mãe em uma pequena cabana, em um povo
chamado Biertan, na região central da Romênia. — Por fim sabia, nesse
instante compreendi por que me resultava estranho seu acento. —
Nossa casa estava afastada do povoado, pois as pessoas que viviam ali
sentiam certa aversão por nós, assim nunca nos aventurávamos muito
longe de nosso lar. Minha mãe cultivava verduras e hortaliças e
tínhamos alguns animais para nos alimentar, desse modo vivíamos
tranqüilamente sem incomodar e nem que nos incomodassem. A
princípio, não sabia que era assim, só que os habitantes do povo nos
odiavam porque nos consideravam aberrações e não podíamos sair à
luz do sol.
— É um vampiro? — perguntei, interrompendo e um leve sorriso
se estendeu por seus lábios.
— Não, pequena, não sou um vampiro, essas criaturas só existem
nas lendas.
— Não leve a mal, mas se não o tivesse visto com meus próprios
olhos, também teria pensado que é um mito.
Nesse momento virou o rosto e me olhou.
— Ponto para você, embora realmente nos chamamos Demonials.
— Nunca tinha escutado essa palavra.
— É como um demônio? — interroguei então.
— Pode se dizer que somos demônios, mas também, anjos.
Realmente somos uma combinação de ambos, se diz que milhares de
anos atrás, um anjo e um demônio se apaixonaram e do fruto desse
amor nasceu uma criatura que era metade anjo e metade demônio,
assim foi que nasceu nossa raça.
— Cara, isso é fascinante, jamais soube nada sobre uma raça
chamada Demonials.
— Não, nenhum ser humano escutou devido a que permanecemos
ocultos durante séculos, só nos misturamos com os humanos quando
é necessário. Muitos de nós vivemos afastados, alguns ainda o fazem.
Mas voltando para o tema. — De novo afastou seu olhar e me senti
vazia, algo em mim vibrava cada vez que me via refletida em seus olhos.
— Uma noite enquanto brincava no prado e minha mãe cortava rosas,
algo mudou.
Escutei atentamente como me relatasse a história e a forma como
tinha morrido sua progenitora e senti vontade de abraçá-lo e fazer que
sumisse toda a dor que se refletia em sua voz ao falar dela; imaginei a
um Alexy de dez anos, só e perdido. Tentei levantar a mão para tocá-
lo, mas meus músculos se negaram a se mover e minhas mãos
permaneceram em seu lugar. Simplesmente, fiquei ali, absorvendo
suas palavras, enquanto deixava que ele tirasse tudo aquilo que
guardava em seu coração.
— Esperei durante horas que a morte me levasse com ela, mas
então aconteceu justamente o contrário; enquanto o corpo de minha
mãe se convertia em um montão se cinzas negras, o meu simplesmente
começou a curar. Passei os seguintes dias aterrorizado, temendo que a
criatura retornasse, assim que um dia tomei a decisão de fugir, guardei
tudo o que pude em um saco de tecido e saí do que sempre tinha sido
meu lar. Quando caminhava através do bosque, chorava porque sentia
que estava abandonando a minha mãe, embora dela não ficasse nada.
Durante o dia permanecia escondido, a razão pela que não saio à luz é
porque nos deixa cegos. Dizem que, quando o anjo de quem provimos
foi castigada por amar um demônio, a amaldiçoou e a sua
descendência, e é por esta razão que não podemos ver durante o dia.
Nesse instante, me senti assustada, nunca teria imaginado algo
como isso, não conseguia compreender o que seria viver sempre nas
trevas.
— Isso quer dizer que nenhuma vez viu a luz? — perguntei
fechando os olhos e imaginando como era para ele.
— Não, nunca a vi — respondeu em voz baixa.
De novo me senti mal, eu me queixei sempre de minha vida, mas
nesse momento compreendia que esta não era nada comparada com a
do Alexy.
— Passados uns dias topei com uma velha cabana, parecia
abandonada. Quando me aproximei para procurar refúgio, vi que não
estava abandonada, e seu ocupante sabia quem ou o que eu era. Iorghu
era um ancião cego, mas tinha alguns poderes, ele sabia mais de minha
raça do que qualquer ser humano deveria saber, ele me ensinou o que
era e me ajudou a enfrentá-lo. Estivemos juntos por dez anos, até que
morreu e tive que continuar por minha conta. Então começou minha
busca ao monstro que tinha acabado com a vida de minha mãe.
Durante muitos anos tentei sem êxito, até que por fim uma pista me
levou ao Nusfjord, um povo pesqueiro na Noruega. Infelizmente,
cheguei muito tarde, só o que encontrei foi destruição, Razvan tinha
arrasado com os poucos Demonials que viviam ocultos entre a
população. A família do Tarek foi assassinada, seus dois filhos
pequenos e sua esposa grávida, e nele encontrei um novo aliado e
amigo, e juntos continuamos nossa busca. Cinqüenta anos depois,
tínhamos percorrido quase a metade do mundo sem êxito, então uma
nova pista nos levou a Birbury, Inglaterra. Soubemos que na zona rural
do povo vivia um grupo, mas de novo foi tarde; quando chegamos ao
lugar, só encontramos as cinzas, tudo tinha sido destruído e queimado,
os poucos sobreviventes tinham fugido. Estávamos a ponto de partir
quando nos demos conta de que havia alguém ferido; encontramos
Marcus debaixo dos escombros do que tinha sido sua casa, estava
muito ferido e a metade de seu corpo se queimou com o incêndio.
Levamos conosco e o ajudamos, a princípio não falava, só grunhia cada
vez que nos aproximávamos dele, nem sequer queria recuperar sua
forma humana. Só soubemos sobre sua tragédia muito tempo depois,
quando por fim decidiu contar isso tudo. Razvan e seus aliados
violaram e assassinaram a sua mãe e irmã enquanto ele observava
impotente.
— Entendo que esse monstro assassinou a sua mãe como uma
espécie de vingança, mas por que o fez com as famílias do Tarek e o
Marcus? — Não conseguia compreender tal grau de maldade.
— Razvan tinha uma idéia retorcida de formar um exército com
os melhores guerreiros, naquele tempo Tarek era conhecido por ser um
implacável mercenário, nenhum homem que enfrentasse ele saía vivo
da batalha, Marcus por sua parte era frio e calculista, ganhava suas
brigas mais por sua inteligência em dirigir a seu adversário que pela
força, Razvan ansiava estas qualidades, as via como uma vantagem
para seus propósitos, mas quando eles não quiseram se unir a ele e se
converterem em umas sanguessugas sem alma que tem que alimentar-
se das almas humanas, sua forma de se vingar foi lhes tirar o que mais
amavam.
Tudo o que estava contando era dilacerador, pensei no Tarek, que
sempre sorria, e imaginei o que tanto custaria mostrar esse sorriso.
Também pensei no Marcus, sempre calado, suas cicatrizes eram só um
aviso pequena do que tinha sofrido, sua verdadeira dor continuava
profundamente metida em sua alma. E então estava Alexy, aquele
menino assustado e ferido. Inclinei e tomei sua mão para lhe dar um
suave apertão, talvez ele não me amasse como eu o amava, mas isso
não significava que não pudesse ser sua amiga. O olhei nos olhos e o
que vi neles me confundiu, um momento estava me observando e no
seguinte sua boca estava na minha, quis me beliscar para ver se estava
sonhando, tinha desejado tantas vezes que me beijasse que temi que
tudo fosse produto de minha imaginação, mas seus lábios quentes
eram muito reais, me incentivou a abrir mais os meus e introduziu sua
língua. Tomei seu rosto com minhas mãos para impedir que se
afastasse, não queria que aquilo acabasse, mas ele não estava
interessado em parar, em troca, me levantou e me acomodou sobre seu
colo. De repente recordei que não estava com nada debaixo da camiseta
e senti vergonha, mas seu beijo e suas mãos acariciando minhas costas
fizeram que esquecesse, e uma delas começou a deslizar por minha
perna até chegar a meu traseiro.
— Maldição, pequena, me vai matar.
Me afastei pensando que estava chateado, mas em seus olhos
havia tanto desejo que me surpreendeu ser eu que causasse esse efeito
nele. Me puxou para continuar o beijo, sentia meu sexo pressionando
contra sua ereção, queria tirar sua calça e senti-lo pele contra pele. De
repente ficou de pé, fez que rodeasse seus quadris com minhas pernas;
nessa posição, sentia o roçar em meu centro enquanto caminhava,
estava cada vez mais excitada. Andou pelo corredor e, ao invés de parar
no meu quarto, seguiu até o seu, abriu a porta e a fechou com um
chute, avançou até a cama e me depositou nela. O movimento fez que
a camiseta se levantasse e me deixasse exposta, instintivamente
estiquei as mãos para me cobrir.
— Não faça isso, — disse assim que se deu conta de minhas
intenções. — Não se cubra, não se esconda de mim nunca. — Levantei
os braços de novo e fiquei ali, com meu sexo exposto enquanto ele me
observava. — É tão bonita e te desejo tanto.
Inclinou e começou a tirar a camiseta para me deixar totalmente
nua, olhou nos meus olhos, e eu levantei minha mão para traçar o
contorno de suas tatuagens com meus dedos. O vi fechar os olhos e
suspirar como se aquele simples gesto o agradasse, baixou seu rosto
até o meu e me beijou. Retribui o beijo, segurando seu cabelo, abri
minha boca para ter acesso a sua língua e a minha se envolveu nela,
este ato tinha algo selvagem e urgente. Quando se afastou, senti os
lábios inchados, ele lambeu meu pescoço e eu inclinei a cabeça
tratando de lhe dar mais acesso. Começou um caminho de beijos até
chegar a meus peitos, sua língua roçou meu mamilo, deixando um
rastro úmido, tomou em sua boca e sugou com força. Arqueei
procurando por mais, me deu uma ligeira dentada e uma corrente
elétrica percorreu meu corpo. Tomei sua cabeça com minhas mãos e o
mantive aí, seu cabelo era suave ao toque e eu adorei senti-lo, tinha
fantasiado muitas vezes o tocando. Sua mão subiu lentamente pelo
interior de minhas pernas até chegar a meu centro, separou minhas
dobras e acariciou meu clitóris. Meu corpo estava em chamas, nunca
havia sentido nada parecido. Um de seus dedos penetrou em meu
interior e me fez estremecer.
— Pequena, está tão molhada, é tão bom te tocar, morro por me
enterrar profundamente em você.
— Alexy, por favor — disse me agarrando mais forte a seu cabelo.
— Por favor o que? Me diga o que quer. — Senti um segundo dedo
me invadindo, e essa sensação me fez esquecer do que me ia dizer. —
Diga isso meu amor, me diga o que quer.
— Quero você, quero só você. — Arqueei minhas costas tratando
de procurar um alívio que não conseguia encontrar, sua boca
abandonou meus peitos e me senti vazia, mas então depositou um beijo
em meu umbigo. Saltei quando senti sua língua em meu sexo, levantei
a cabeça e só vi seu cabelo negro estendido por minhas pernas; seu
rosto se perdia em meu centro. Isso era muito, agarrei os lençóis
enquanto levantava os quadris, e ele tomou com suas mãos para me
manter quieta. — Alexy, não posso mais.
— Sim pode, meu amor, claro que pode.
Continuou com sua deliciosa tortura, e a sensação mais prazerosa
se apoderou de mim. Sua língua era suave, enquanto lambia e sugava
meu clitóris, senti uma pequena dentada e logo chupou com força.
Gritei seu nome enquanto me tremia do mais intenso prazer que
alguma vez tivesse experimentado. Quando se afastou, eu estava
suando e com a respiração agitada. Ele ficou de pé e começou a tirar
sua calça, e eu mantive o olhar fixo nele enquanto ficava gloriosamente
nu. Senti o nó que tinha na garganta, era o homem mais lindo que
tinha visto e, por alguma razão, estava nesse momento comigo, me
fazendo amor. As tatuagens que cobriam seus braços e costas se
estendiam até seu quadril e logo ao longo de sua perna direita. Foquei
então em seu membro ereto e meu coração se agitou, era grande, e eu
não estava segura de poder suportá-lo. Caminhou lentamente e ficou
sobre mim, baixou a cabeça e juntou seus lábios com meus.
— Agora é minha, Alana, só minha, vou apagar de sua mente
todos os que a tiveram antes, — sussurrou sem separar seus lábios dos
meus. Assenti sem saber que mais dizer, eu queria ser dele. Ia
esclarecer que não tinha havido nenhum antes, mas senti sua ereção
roçar meu sexo ao mesmo tempo que me beijava novamente, tomei seu
rosto com minhas mãos enquanto devolvia o beijo. Logo, lentamente,
começou a entrar em mim, ele era muito grande. Meu corpo se negou
a aceitar a invasão, tratei de relaxar e notei como ia relaxando para
deixá-lo entrar, mesmo assim, era tão bom o ter dentro.
— Maldição pequena, está tão apertada que temo te machucar.
— Não vai, — disse em um ofego, e continuou seu caminho em
meu interior, me senti cada vez mais cheia. De repente se impulsionou
e, com uma investida, esteva totalmente dentro. Gritei de dor, fechei os
olhos e não pude evitar que algumas lágrimas se derramassem. O
escutei amaldiçoar e abri os olhos de novo para olhá-lo, em seu rosto
havia um gesto de horror.
— Me diga, por favor, que não era virgem.
Olhei sem compreender, claro que era virgem, por que queria que
dissesse o contrário?
— Eu... Lamento não ter te falado isso, mas pensei que você
soubesse.
Amaldiçoou novamente e logo juntou sua frente com a minha e
começou a repartir pequenos beijos por todo meu rosto.
— Me perdoe, meu anjo, me perdoe por me comportar como um
animal e ser brusco com você, é que eu… — Se deteve antes de
continuar a frase.
— Não se preocupe, sempre dói a primeira vez, ao menos escutei
isso — disse com um sorriso, tratando de fazê-lo sentir melhor. Ele
começou a se retirar, mas envolvi minhas pernas a seu redor para
impedir pensei que o fato de que fosse meu primeiro amante o
incomodava, certamente ele preferia as mulheres que soubessem como
se dirigir na cama.
— Não faça isso, não se afaste. Lamento não ser uma mulher
experiente como Saskia, mas me ensine, posso fazer melhor. — Me
senti envergonhada de não ser boa.
— Não, não faça isso, nunca se compare com ninguém. Você não
é como nenhuma delas, está claro? — Olhei nos seus olhos e assenti.
— Sou eu que não sou digno do presente que acaba de me dar, mas te
prometo que farei tudo para estar a sua altura.
— Você é perfeito, por isso te amo, e sou feliz de que seja o
primeiro. —Envolvi meus braços em seu pescoço e o atraí de novo a
minha boca.
— E te juro que serei o último. Nunca, nunca vou permitir que
nenhum outro homem te toque, matarei a quem se atrever a te olhar.
É minha, pequena. —Logo que terminou de falar, começou a se mover
novamente, entrando e saindo. A dor tinha desaparecido totalmente e
nesse instante só ficava o prazer que estava me dando. Segurei seus
ombros e cravei as unhas em suas nádegas, senti sua língua acariciar
meu pescoço e, logo, uma pequena dentada no lóbulo de minha orelha
— Minha. — repetiu enquanto investia mais rápido para me levar
novamente a um explosivo orgasmo. Terminamos ofegando, se virou
para ficar deitado de costas e me pôs em cima dele sem sair de mim.
Permanecemos assim um momento, sem dizer nada, só escutando
nossas respirações.
13
ALEXY

Estávamos em silêncio, ela estava sobre mim enquanto acariciava


suas costas, seguíamos unidos e minha ereção não tinha desaparecido,
tinha que sair dela para não a machucar, mas era tão bom tê-la assim.
Amaldiçoei mil vezes a Cassy e me amaldiçoei outras mil por ter
acreditado em suas palavras quando me assegurou que Alana tinha
tido vários amantes; assim que vi seu gesto de dor e senti um leve
aroma de sangue, me dei conta do engano que tinha cometido.
Uns minutos depois senti sua respiração tranquila e soube que
tinha adormecido, virei com cuidado para não a despertar e a depositei
na cama, muito devagar, saí de seu interior. A mancha de sangue no
meio de suas pernas e em meu pênis fizeram que eu quisesse golpear
a mim mesmo, caminhei até o banheiro e me lavei, peguei uma toalha
para molhá-la com água quente, retornei à cama e separei suas pernas
com cautela, a limpei bem e logo a cobri com o lençol. Peguei o telefone
e saí do quarto, caminhei nu pelo corredor enquanto discava o número
de meu irmão.
— Aqui é o bonito Cam, que cumpre todas suas fantasias — me
respondeu a voz ao outro lado.
— Esqueça, o dia que estiver tão fodido que necessite que cumpra
uma de minhas fantasias me assegurarei de me cortar a cabeça eu
mesmo. — A gargalhada veio em seguida.
— Irmão, você sempre de tão bom humor, a que devo a honra de
sua chamada?
— Não seja palhaço, necessito que venha a minha casa e traga
roupa para Alana.
Ele ficou em silêncio um momento e então retornou seu bom
humor.
— Tenho cara de assessor de modas ou o que? Por certo, o que
aconteceu que a doce Alana esteja nua?
— Deixa de perguntar o que não te interessa e move seu traseiro
rápido. —Mais gargalhadas.
— Assim caiu em sua rede, sabia que não ia resistir muito tempo.
— Cameron, não me encha o saco, se não estiver aqui em meia
hora, chutarei seu traseiro até que não possa ser sentar por um mês,
entendido? — Desliguei antes de lhe dar tempo para reclamar, mas eu
também tinha um sorriso em meus lábios; claro que tinha caído, e
nunca havia me sentido tão bem.
Voltei ao quarto e meu pequeno anjo estava de lado, com o rosto
apoiado em suas mãos; seu cabelo se estendia pelo travesseiro. Sabia
que não devia tomá-la novamente, mas a atração que sentia era mais
forte que eu, afastei o lençol de seu corpo e nesse momento se virou
para ficar deitada sobre suas costas; suas pernas ligeiramente abertas
me convidavam. Me inclinei como um escravo que quer adorar a sua
ama e passei minha língua por sua boceta, ela as separou mais, para
me dar um maior acesso. Saboreei-a como se se tratasse de um doce
manjar, pois era assim que ela era para mim, a escutei ofegar e soube
que estava acordada.
— Alexy. — Meu nome saiu em um sussurro de seus lábios.
Com minha mão separei mais seus lábios e acariciei seu clitóris
enquanto seguia lambendo, logo introduzi um dedo, estava totalmente
úmida e disposta para mim. Um segundo dedo se uniu ao primeiro e,
com o polegar, esfreguei seu clitóris fazendo movimentos circulares.
Ela se contorceu enquanto suas pequenas mãos agarravam o lençol.
Continuei com minhas carícias até que a senti apertar meus dedos.
Soube que estava perto e acelerei os movimentos, e ela levantou os
quadris para levar seu sexo mais a minha boca quando gritou meu
nome; era maravilhoso escutá-la dizer meu nome quando chegava ao
orgasmo.
Levantei para ficar frente a frente e a beijei para que provasse seu
próprio sabor de meus lábios, com meus joelhos separei suas pernas e
me acomodei no meio delas. Lentamente, comecei a penetra-la estava
tão apertada que quase era doloroso, mas nunca havia me sentido tão
bem. Me retirei e logo a virei para que ficasse de barriga para baixo,
afastei seu cabelo e tracei um rastro de beijos por suas costas até
chegar a seu traseiro, mordisquei e lambi suas nádegas, separei suas
pernas e me introduzi nela por trás; um gemido escapou de sua
garganta. Sem me separar, levantei-a para que ficasse sentada sobre
minhas pernas, com suas costas apoiada em meu peito, e ela inclinou
sua cabeça sobre meu ombro e virou para me dar acesso a sua boca. A
beijei introduzindo minha língua enquanto minhas mãos acariciavam
seus peitos, tomei seus mamilos em meus dedos e dei um suave
apertão. Ela gemeu e levantou sua mão para segurar meu cabelo, e eu
comecei a investir nela lentamente, e enquanto que com uma mão
continuava acariciando seus peitos, levei a outra no meio de suas
pernas até encontrar o seu clitóris, o apertei com meus dedos e apanhei
em sua boca o sensual som que fez. Acelerei meus movimentos,
entrando e saindo, até que a senti alcançar seu clímax. Com mais
algumas investidas explodi e me derramei em seu interior. Caímos à
cama abraçados; devagar, me separei dela e dei a volta para ficar frente
a frente, seus lindos olhos brilhavam da paixão que acabávamos de
compartilhar.
— Te amo, — disse com seu olhar fixo no meu.
Nesse momento soube que nunca haveria ninguém mais para
mim como Alana, ela era a companheira que tinha estado esperando
durante séculos.
— Também te amo, meu pequeno anjo, te amo para sempre, —
disse e a beijei. Então tomei uma decisão, talvez egoísta, mas não me
importava, nada a afastaria de mim nunca. Inclinei e sussurrei em seu
ouvido: — Entrego-te minha alma para que se una à tua e sejam uma
só para sempre. — Com essas singelas palavras, Alana e eu estaríamos
unidos pela eternidade. Não esperei que me respondesse, pois ela não
entendia o significado, mas o fez e meu coração quis explodir de
felicidade.
— Entrego-te minha alma para que se una à tua e sejam uma só
sempre, —repetiu se segurando mais a mim; o ato de amor se converteu
na união de duas almas.
— Sabe o que acaba de acontecer? — perguntei acariciando seu
rosto. — Quando repetiu minhas palavras?
— Realmente não sei, só sei que parecia correto fazê-lo. —
respondeu enquanto tomava uma mecha de meu cabelo.
— Acabamos de nos unir para sempre, pequena, agora é
totalmente minha.
Alana abriu os olhos e se levantou até ficar sentada, seus peitos
ficaram justo diante de meus olhos e não pude evitar me aproximar
para tomar um em minha boca.
— Como se nós tivéssemos casado? — perguntou com um ofego.
Me afastei e a olhei de novo.
— Eu diria que é mais do que se nós estivéssemos casados, pois
em nosso caso, não existe o divórcio. — ela fez uma cara que me
preocupou.
— É uma lástima, já estava pensando na repartição dos bens.
Um sorriso brotou de meus lábios quando compreendi que estava
brincando.
— É uma pequena malvada — disse e a empurrei sobre suas
costas para me pôr sobre ela, baixei a cabeça e tomei seu lábio inferior
entre meus dentes. De repente, um gesto de preocupação apareceu em
seu rosto. — Está tudo bem, pequena?
— É que... Acabo de dar conta de que algum dia eu serei velha e
morrerei, e você seguirá igual está agora.
— Você nunca vai morrer, meu amor, não enquanto eu viver.
O som da porta soou e interrompeu a conversa; estava tão absorto
que não tinha escutado a motocicleta de meu irmão se aproximar.
— Cam chegou, me espere aqui, já volto, não se atreva a sair
vestida só com minha camiseta — adverti antes de ficar de pé e
caminhar até a porta.
— Sim, carinho. — Escutá-la usar o termo carinhoso fez coisas
em meu coração que não sabia que existiam. — Talvez devesse colocar
um pouco de roupa, não acredito que seu irmão goste de te ver nu —
disse apontando para minha nudez.
Voltei e peguei a calça que tinha deixado no chão, depois de
colocar a beijei e saí para encontrar meu irmão.
Quando abri, Cameron se encontrava do outro lado, apoiado em
sua moto, com as pernas cruzadas. Assim que me viu, um enorme
sorriso se estendeu por seu rosto, rapidamente se levantou e entrou,
depositou as bolsas com a roupa no chão e cruzou de braços.
— Não disse que podia entrar.
— Pare de se comportar como um porco, vim até aqui como muito
amavelmente me ordenou, o mínino que pode fazer é me convidar a
entrar. — O sorriso dele nunca se apagou.
— Bom, já trouxe o que te pedi, agora pode ir, tenho coisas que
fazer.
— Coisas como voltar para a cama com a doce Alana?
— Não é seu problema o que eu faço com minha mulher.
De repente, seu sorriso se apagou e uma expressão de assombro
apareceu para substitui-la.
— Quando diz sua mulher refere ao que estou pensando? —
perguntou.
— E o que se supõe que está pensando? Geralmente, seus
pensamentos não estão dirigidos a nada que esteja ligado com a
realidade.
— Não seja safado, sabe muito bem o que quero dizer. Acaso se
uniu a ela? — O olhei sem responder, simplesmente, assenti. Nunca
esquecerei a expressão de felicidade que vi em meu irmão nesse
momento. Como uma rajada, se aproximou e esticou seus braços. —
Não posso acreditar, irmão, cento e cinqüenta anos convivendo com
você e esta é a melhor notícia que me deu em todo esse tempo, então
ela sabe o que é, o que somos?
— Sim, sabe, se inteirou ontem à noite quando saiu de casa e um
demônio a atacou e esteve a ponto de matá-la.
— Maldição, ela está bem? — perguntou preocupado.
— Está, aceitou melhor do que esperava, ao menos não me vê e
foge gritando.
— Sim, isso posso ver, não só não fugiu, mas agora mesmo está
em sua cama e não sabe quão feliz isso me faz.
— Obrigado, — só isso consegui dizer.
— Você merece, de verdade? Merece ter uma razão a mais em sua
vida que a sede de vingança.
Suas palavras começavam a me afetar.
— Pare de se comportar como uma menina chorona.
— Vá a merda, não me importa ser uma menina chorona, estou
feliz por você.
Passos suaves se escutaram pelo corredor, ambos nos viramos
para ver meu pequeno anjo de pé, vestida só com minha camiseta que
chegava a baixo de seus joelhos. Amaldiçoei ao ver o sorriso na cara de
meu irmão e, quando fez ameaça de se aproximar dela, me coloquei
frente a ele tão rápido que esteve a ponto de se chocar comigo.
— Não se atreva a se aproximar — grunhi. Um lento sorriso
apareceu em seus lábios, logo, olhou atrás de mim.
— Olá, nova pequena irmã. — Saudou-a por cima de meu ombro,
e eu me virei para vê-la sorrir.
— Olá, novo grande irmão.
— Hora de ir — disse dando um empurrão, e ele levantou os
braços em um gesto de inocência.
— Está bem, se me pede isso assim, com sua completa
amabilidade, tenho mais que obedecer. — jogou um beijo a Alana e se
foi.
— E você, pequena desobediente, te quero na cama e nua, agora!
— Ela me olhou com os olhos muito abertos e correu para o quarto.

Despertei e senti o lado da cama vazio, fiquei de pé rapidamente


e corri pelo corredor, assustado; não entendi como não me dei conta de
que ela não estava. A escutei na cozinha e meu coração se acalmou,
segui o som de sua voz e a encontrei diante o fogão, mexendo em algo
na frigideira. Cantarolava enquanto movia o quadril, e de novo vestia
uma de minhas camisetas e sabia que não tinha nada por baixo. Meu
corpo reagiu em seguida, uma grande ereção se levantou e me
aproximei. Ela estava tão perdida em sua música que não me escutou
chegar, rodeei sua cintura com meus braços e me inclinei para dar um
beijo no pescoço, quase tinha que me dobrar para estar a sua altura.
— Estou com muita, muita fome — disse dando uma ligeira
mordida no pescoço.
— Falta pouco, só uns minutos mais e o café da manhã estará
pronto.
— Eu quero comer agora. — Pressionei minha ereção contra suas
costas enquanto introduzia minhas mãos por debaixo da camiseta para
acariciar seus peitos. A escutei ofegar, e isso foi tudo, a levantei e a
coloquei sobre o balcão; rasguei a camiseta e a joguei de lado para
deixá-la nua. — Assim que quero você sempre, sem uma peça de roupa
que esconda seu lindo corpo de mim. — Separei suas pernas e me
ajoelhei; meu rosto ficou no lugar que queria, segurei seu traseiro com
minhas mãos e comecei a lamber seu sexo como um homem que está
morrendo de fome. Ela se segurou a meu cabelo enquanto empurrava
meu rosto em seu centro, eu lambi e mordisquei seu clitóris. Estava
tão duro que começava a doer, me afastei para ficar de pé e, abrindo
mais suas pernas, entrei nela. Sua cabeça caiu para trás e aproveitei
para beijar seu pescoço enquanto empurrava com força, seguro seu
rosto e puxei para beijá-la. Sua pequena mão começou uma lenta
carícia por meu peito até chegar a meus mamilos, e estremeci de prazer
quando os torceu em seus dedos. Empurrei mais duro e a senti se
apertar a meu redor enquanto espasmos se apoderavam de seu corpo.
Gritou em minha boca sua liberação, isso foi tudo, senti o calor que
formava redemoinhos em meu membro e gozei me derramando em seu
interior.
— Bom dia, — saudou com seus olhos brilhando pelo prazer. A
beijei e comecei a sair dela.
— Bom dia, pequeno anjo, acredito que agora sim quero tomar o
café da manhã.
De repente, ela pareceu se lembrar do café da manhã e se virou
para ver a frigideira que tinha deixado no fogão.
— Sinto muito, mas acredito que agora você terá que cozinhar,
meu café da manhã certamente te causaria uma morte imediata. —
disse apontando para os ovos, que nesse instante estavam pretos,
enquanto a fumaça começava a tomar a cozinha.

Chegamos cedo ao bar, a envolvi com meus braços tratando de


que ninguém se aproximasse dela, não queria nenhum bêbado sequer
olhando em sua direção, certamente, o mataria sem pensar. Procurei
com o olhar meus irmãos e os vi sentados na mesa de sempre, ambos
olhavam de forma cautelosa, talvez calculando o humor que eu
chegaria hoje.
— Pequena, vá com o Cam e peça algo para beber enquanto eu
falo com meus irmãos.
— Está bem, — concordou ficando nas pontas dos pés para me
dar um beijo, mesmo assim, não conseguia chegar até minha boca,
então a levantei e fiz que rodeasse minha cintura com suas pernas e a
beijei, apertei seu traseiro com minha mão, querendo deixar claro para
qualquer um a quem pertencia. Se afastou respirando agitadamente e
a cor em suas bochechas me fez saber que estava excitada, era bom
porque eu estava tão duro que só queria trancá-la em meu escritório e
despi-la, mas primeiro tinha coisas a resolver, assim que a pus de novo
no chão fiquei observando até que chegou ao bar onde meu irmão a
recebeu com um abraço. A seu lado se encontrava Raven, que também
sorriu e empurrou um cara fora do banco para que ela pudesse sentar.
Esperei que estivesse acomodada, então se virou e me soprou um beijo.
Cam disse algo que a fez ruborizar, dei a volta para enfrentar a meus
amigos, suas expressões cautelosas tinham mudado, nesse instante,
Tarek sorria enquanto Marcus franzia o cenho.
— Cara, não sei o que deixa meu estômago mais enjoado, sua cara
de cão raivoso rosnando a qualquer um que se aproxime, ou a cara de
imbecil apaixonado que tem agora mesmo. — disse Tarek assim que
me sentei. —Você não vai começar a pintar as paredes de rosa e nem
pendurar balões de coração vermelhos né?
— Foda-se, — disse com um olhar assassino.
— Foi pego pelas bolas, não é? — Seu estúpido sorriso começava
a me incomodar, mas quando olhei em direção ao bar e vi suas tranças
balançarem enquanto ria com o Cameron, soube que era verdade.
Estava preso mas não me importava, assim simplesmente encolhi
meus ombros, e a risada de meu amigo retumbou por todo o lugar.
— O que foi esse espetáculo que acaba de dar com o maldito
mascote?
Tarek parou de rir e fechou a cara enquanto levava o copo de
uísque aos lábios.
— Você sempre tão oportuna. —falou de forma sarcástica a recém
chegada.
Marcus permaneceu impassível, sem se incomodar em olhá-la;
para ele, Saskia não era maior que um inseto.
— Vá à merda, não estou falando contigo.
— O que eu faço ou deixo de fazer com minha mulher não é seu
problema, —respondi, me virei de costas e dei o assunto por
terminando; devia saber que com ela as coisas não eram tão simples.
— Com sua mulher? Essa coisa não é nenhuma mulher, não sei
se se deu conta de que acabou de sair das fraldas. Não me diga que se
uniu a ela, não fez isso não é?
— Já basta! Te disse que, se continuasse me enchendo o saco, ia
te expulsar do meu bar.
— Você teve a audácia de se unir a uma maldita humana depois
de todo o tempo que te esperei. Eu sou como você, eu poderia ser sua
igual, ela não é nada mais que um lixo humano.
Meus olhos brilharam com fúria.
— Quantas vezes tenho que te dizer que nunca te prometi nada,
você abriu as pernas porque quis, eu não te disse que te faria minha.
— Mas estivemos juntos durante um ano, — me gritou furiosa.
— Um ano que dormi com outras várias mulheres, — lembrei. —
Você não foi para mim mais do que elas, a diferença é que enquanto as
demais aceitaram o que eu dava e desapareciam, você continuava
sendo uma dor em meu traseiro.
— Filho da puta, vai se arrepender. Olha... — disse apontando
para Alana, — Ela será sua perdição, eu vou me encarregar de que não
possa viver em paz com a puta mascote.
Fiquei ali vendo enquanto empurrava pessoas que caíam como
bonecos de pano em seu caminho enquanto saía do bar, e soube que
tinha ganho uma inimiga perigosa, a conhecia o suficiente para saber
que não tinha escrúpulos.
— Sabe que a cadela vai procurar uma maneira de te foder, não
é? — perguntou Tarek. Marcus simplesmente assentiu se mostrando
de acordo.
— Sei, mas vou estar preparado para o que vier.
14
ALANA

Estava eufórica, quase como se estivesse em um sonho. Olhei de


novo à mesa onde Alexy falava com seus amigos, meu coração se
agitava só de pensar em todas as coisas que tínhamos feito, era muito
bonito para seu próprio bem e deixava meu coração acelerado. Hoje,
estava com seu comprido cabelo solto e lembrei a noite anterior,
quando minhas mãos os seguravam enquanto sua boca se perdia em
meu sexo; um calor conhecido apareceu no meio de minhas pernas e
senti a ligeira umidade de minha excitação. Sacudi a cabeça tratando
de afastar esses pensamentos, não era o lugar adequado. Cameron
estava ocupado servindo doses, assim decidi fazer algo por minha
conta.
— Vou ao escritório, — avisei enquanto descia do banco onde
estava sentada.
— Claro, minha nova irmã mais nova, daqui a pouco vou te levar
algo de comer — disse me piscando um olho.
Caminhei pelo corredor que estranhamente, desde que comecei a
trabalhar aqui, se encontrava iluminado, mas justo nesse instante
estava escuro. De repente, uma figura emergiu das sombras e parou
na minha frente, o que me fez dar um salto.
— Cassy, me assustou.
Seu olhar transmitia tanto desprezo que me doeu, ela tinha sido
minha amiga por muito tempo.
— Vi você, — me disse apertando os punhos. — Estava agarrada
a ele como um maldito carrapato, quase parecia devorá-lo no meio da
pista. — Seus olhos estavam vermelhos e me perguntei se estava
bêbada ou drogada, nunca a tinha visto com drogas, mas com ela era
difícil saber. — Assim que pôde, já foi parar na cama dele. — Enquanto
falava ia ser aproximando.
Instintivamente, me afastei, mas então levantou sua mão e vi a
faca que segurava.
— Não faça isto, fomos amigas durante muitos anos, o Alexy não
tem nada a ver, você não estava com ele, nunca demonstrou que estava
realmente apaixonada, vi você ficar com um e com outro.
— Claro que fiz, — gritou enfurecida. — Me deitava com qualquer
um procurando acalmar o ardor que me deixou seu descaso, mas
sempre esperei que ele mudasse de idéia. Estive aí à sombra, esperando
que se desse conta de que eu existia, mas então apareceu você, se
fazendo de boba, com sua pose de menina virginal e necessitada. — Me
empurrou, fazendo que minhas costas se chocassem com a parede, e
aproximou a faca perigosamente do meu rosto. — Tive que suportar ele
com a cadela da Saskia, mas ao menos ela é uma mulher de verdade,
já você não é nada é uma insignificante.
— Cassy, por favor — implorei tratando de me desviar da faca.
— Acredita que ele continuará gostando de você se tiver uma
cicatriz? Escutei que te chama de pequeno anjo, isso é taaaao fofo. Me
pergunto se vai continuar pensando que parece um anjo quando sua
cara ficar pior que a do Marcus. Comecei a tremer, tomou uma de
minhas tranças e puxou com força, o que me causou dor. — Acredito
que devemos ir dar um passeio, aqui não é seguro, em qualquer
momento pode chegar alguém que interrompa nosso encontro
fraternal, vamos! — ordenou apertando a faca em meu pescoço.
Senti um pequeno ardor quando cortou minha pele, ela era mais
alta que eu e isso lhe dava uma vantagem; comecei a caminhar pelo
corredor enquanto me deixava levar.
— Está drogada, — Disse quando nos aproximávamos da porta;
escutei-a rir.
— Desde que o imbecil do Dan desapareceu do mapa sem dizer
nada, conheci um tipo novo que tem coisas muito interessantes.
Fechei os olhos e me compadeci dela, nunca ninguém a tinha
amado realmente. Em nosso ambiente, receber um pouco de amor era
quase como ganhar na loteria, por isso não a culpava pela forma como
estava se comportando. Saímos pelos fundos até o beco e pude ver as
motocicletas estacionadas. Nesse momento, voltou a me empurrar
contra a parede.
— Agora sim, estamos completamente sós. Me agradeça por isso
assim poderá comprovar se seus sentimentos são reais ou só te quer
por sua cara bonita. — Enquanto falava, sorria, suas pupilas estavam
dilatadas e sua mão começou a tremer, esmagou todo seu peso contra
mim e levantou a faca.
— Se souber o que te espera, iria abaixar essa faca agora. — A voz
do Cameron me retornou à vida.
— Não se intrometa, isto não é problema seu — respondeu ela
sem olhá-lo.
— É problema meu quando está ameaçando à mulher do meu
irmão com uma faca, abaixe ela e não me obrigue a ser rude com você.
Acredite, eu serei o menor de seus problemas, Alexy não terá piedade
de você.
A vi titubear, e isso deu tempo ao Cameron para se lançar sobre
ela. Com uma velocidade que surpreendeu às duas, a separou de mim
e arrancou a faca de sua mão. Levei os dedos à garganta onde senti a
umidade, olhei para ver o rastro de sangue; soube que a ferida não era
grave, mesmo assim, sentia um pequeno ardor. Cassy olhava para
Cameron, com os olhos arregalados.
— Como fez isso? — perguntou recuperando um pouco a
sanidade.
Ele a olhou como se estivesse demente, mas eu sabia que só era
uma estratégia.
— Não sei o que está falando, está tão drogada que não sabe o que
diz. Agora te aconselho que solte isso antes que resolva usar esta faca
contra você, ou talvez deixe que meu irmão faça, te garanto que doerá
mais.
— Cam, não a assuste, deixa que vá, — disse o segurando no
braço, olhei pela última vez a que tinha sido minha amiga e insisti a
ele para entrarmos de novo no bar. A princípio, não queria, mas depois
de lançar um olhar ameaçador, me seguiu. Levou-me ao escritório e fez
que me sentasse no sofá.
— Vou procurar Alexy.
— Não, n não diga nada a ele. — Segurei a sua mão, e ele ficou de
joelhos e suspirou.
— Sinto muito, pequena, nisto não posso ceder, ele de todos os
modos vai se inteirar e será pior se deixar passar mais tempo. Já é
bastante ruim que por minha culpa a psicótica de sua amiga esteve a
ponto de te matar, eu tinha que cuidar de você; terei sorte se não chutar
meu traseiro.
Apenas uns minutos depois que saiu, a porta se abriu e Alexy
entrou como um raio e me levantou para me segurar em seus braços.
— Está bem, anjo?
— Estou bem, não foi nada.
Me afastou para inspecionar meu pescoço.
— Fodido inferno, como foi que Cameron deixou que acontecesse
isto? —Tomei seu rosto entre minhas mãos e o aproximei de mim para
beijá-lo.
— Não foi sua culpa.
— É claro que foi, ele tinha que cuidar de você.
— Já basta, — gritei enquanto me retorcia para que me baixasse.
Quando o fez, o olhei apoiando os punhos em meus quadris. — Cam
não é minha maldita babá, entendeu?
A surpresa era óbvia em seu rosto, mais logo um sorriso a
substituiu.
— Linda! Depois de tudo, meu pequeno anjo pode dizer palavras
más.
Relaxei minha postura e me aproximei de novo para rodear sua
cintura com meus braços, apoiei minha cabeça em seu peito e seus
braços me rodearam de forma protetora.
— Tudo está bem, Cassy estava fora de seus sentidos, mas ela
não é má pessoa.
— Isso é o que você pensa, pequena, é incapaz de ver a maldade.
— Não é melhor me dar um beijo? — provoquei levantando a
cabeça para olhá-lo, inclinou e roçou seus lábios nos meus, então se
afastou.
— Primeiro, vamos limpar essa ferida. — pegou meus braços e me
recostou no sofá, desaparecendo no banheiro. Um momento depois
retornou com gazes e álcool e começou a me limpar com cuidado,
embora realmente não doesse muito. — Está bem? — perguntou com
preocupação. Assenti e continuou limpando até que esteva satisfeito.
— Vou jogar as gazes sujas, já volto. — Me deu um beijo e se levantou.
Vi ele caminhar, suas calças de couro se ajustavam perfeitamente
a suas pernas musculosas e marcavam seu traseiro; meu estômago
ainda se contraía de me lembrar dele nu. Nesse momento saiu do
banheiro e seu olhar se encontrou com o meu, um rubor cobriu minhas
bochechas e soube que se deu conta de meus pensamentos porque um
sorriso se desenhou em seus lábios.
— Parece que meu pequeno anjo está tendo pensamentos sujos
comigo. Me diga, pequena, se puser minha mão dentro de sua roupa,
vai estar molhada? — perguntou se inclinando para sussurrar em meu
ouvido. Estremeci, e isso foi resposta suficiente, me ajudou a me sentar
e começou a tirar minha roupa. — Devo agradecer a meu irmão por
seus gostos em vestuário, ficou realmente bonita vestida dessa forma.
Eu gostava que me visse assim, que não pensasse em mim como
uma menina. Quando me deixou completamente nua, se afastou e
começou a se despir. Quando tirou toda sua roupa e ficou de pé frente
a mim, totalmente nu, olhei sem nenhum pudor. Passei a língua por
meus lábios, enquanto uma sensação de excitação se instalava no meio
de minhas pernas, me olhou com um sorriso e tomou seu membro com
sua mão.
— Você gosta do que vê, pequena? — engoli a saliva e assenti, um
lento sorriso cruzou por seu rosto. — Sabe quantas vezes enquanto
trabalhava eu te observava imaginando nua estendida sobre minha
escrivaninha? —Levantei a cabeça sem poder acreditar no que me
estava dizendo, nunca teria imaginado que pudesse despertar tais
sentimentos nele; uma parte de mim se sentiu orgulhosa. — Fantasiava
com a idéia de sua pequena boca envolta em mim, você gostaria disso,
anjo?
Nesse momento, recuperei a voz e, com o coração mais acelerado
que nunca, respondi.
— Sim, eu gostaria demais.
Ele se aproximou até que sua ponta quase roçou meus lábios.
— Então abre sua boquinha para mim. — Obedeci em seguida e
se introduziu devagar, era muito grande e não cabia tudo, assim tomei
a base com minha mão para acariciá-lo. — Maldição, isto é melhor que
em minhas fantasias. — Eu me sentia poderosa, lambi da base até a
ponta e logo chupei de novo. Ele tomou minha cabeça com ambas as
mãos e começou a entrar e sair rapidamente. Acariciei seu testículo e
o escutei gemer. — Maldição, anjo, preciso me controlar se não vou
gozar em sua boca. — Começou a fazê-lo, mas apertei seu traseiro com
minhas mãos para impedir, — Merda, não sabe o que me faz, estou
completamente fodido. — Logo que terminou de falar, sua cabeça caiu
para trás e deixou escapar um grunhido; senti o líquido quente se
derramar em minha garganta e engoli, lembrei de uma vez que Abby e
eu falamos sobre um homem gozar em sua boca, naquele momento nos
pareceu asqueroso, mas nesse instante, com Alexy, nunca nada tinha
sido tão perfeito. Se afastou de mim enquanto eu seguia olhando, se
sentou no sofá e me pôs escarranchada sobre ele. — Ainda não
terminamos, — disse passando a língua por meus lábios para me
beijar. — Quero que me monte. — Sem dizer nada, abaixei a minha
mão para levá-lo a meu interior, nada nunca me preparou para o que
significava fazer amor com o Alexy, era a sensação mais maravilhosa.
Comecei a baixar devagar até que esteva completamente enterrado em
mim. — Isto é como estar na maldita glória. — Eu estava
completamente de acordo, comecei a subir e descer enquanto ele
apertava meus quadris, me inclinei para beijá-lo e nossas línguas se
enredaram. Segurei seu cabelo com força quando senti o redemoinho
que se formava na parte baixa de meu ventre, mordi seu lábio com força
quando o orgasmo me alcançou, o senti se esticar e se derramar em
meu interior enquanto rosnava meu nome.
Ficamos durante um tempo nessa posição, eu com a cabeça
apoiada em seu peito enquanto ele passava sua mão por minhas
costas, de forma distraída, tracei a linha de suas tatuagens.
— Eu gosto, onde você fez? — perguntei sem deixar de desenhar
o padrão com a ponta de meu dedo.
— Marcus — respondeu, e eu levantei a cabeça assombrada.
— Marcus fez suas tatuagens? — Sorriu enquanto tirava o cabelo
de meu rosto.
— E também as do Tarek, Cam e Raven.
— Wow, ele é um artista! — comentei assombrada.
— É, só que não está acostumado a demonstrá-lo muito
freqüentemente. São realmente incríveis — disse enquanto puxava meu
rosto para me beijar.
15
SASKIA

Escondida nas sombras, presenciava o espetáculo que estavam


dando as humanas, teria gostado tanto de ver a cara da cadela mascote
do Alexy marcada pela faca de sua amiga, mas o imbecil do Cameron
tinha que fazer sua aparição de anjo vingador. Odiava ele totalmente e
sabia que o sentimento era recíproco, o teria matado faz muito tempo
se não fosse por Alexy sempre ter um olho posto nele, o via como a seu
maldito filho, mas talvez agora tivesse minha oportunidade. Olhei e
prometi em silêncio que me encarregaria dele, mas nesse momento
tinha algo mais importante em mente. Vi o mascote lançar um olhar
compassivo a sua amiga: os humanos podiam ser criaturas
verdadeiramente estúpidas, acabou de ser atacada pela outra mulher
e, mesmo assim, ela sentia compaixão. Era uma sorte que os
Demonials não tivessem sentimentos. Esperei até que Cameron e ela
se foram para abordar Cassy, depois de tudo, teria minha
oportunidade. Ela ficou um momento ali, ainda assustada pelo que
acabava de ver. Deu a volta e começou a caminhar, era agora ou nunca,
assim saí das sombras e me pus frente a ela; quando me viu, um olhar
de desagrado apareceu em seu rosto.
— Saia, Saskia, tive suficiente por hoje, não me interessa ver seu
traseiro presunçoso.
Por um instante, tive vontade de acabar com ela, a cadela não
sabia com quem estava falando, mas parei, ela me ajudaria a cumprir
um propósito.
— Alexy também te desprezou. — Tratei de adotar meu tom mais
amistoso possível, como se ambas compartilhássemos a mesma pena,
sabia que dessa forma conseguiria te-la ao meu lado.
— Pelo menos comigo ele não estava fodendo, tenho certeza que
perdeu mais que eu.
Apertei os dentes para suas palavras mordazes, minha paciência
estava acabando.
— Ao menos não me trocou por minha melhor amiga depois que
me arrastei a ele suplicando que me comesse. — Sabia que Cassy fazia
isso, entrava no escritório de Alexy e se oferecia. Por fim abandonou
sua posição defensiva e afundou os ombros.
— O que seja, o importante aqui é que ele escolheu Alana, de todas
as mulheres no mundo, escolheu precisamente a ela.
— E isso te dói, não é verdade? Que ficou com ela, a garota a que
você achou que era sua amiga, depois de tudo, o que tem ela para te
oferecer? — Começava a jogar com sua mente e estava no caminho
certo, os humanos eram tão previcíveis e fáceis de enganar. — Você
confiou nela e ela te traiu, primeiro, com seu namorado, alegando que
ele tentou estrupá-la, fez que Alexy a levasse para sua casa para depois
se enfiar na sua cama. — A ira fervia nas profundidades de seus olhos
e soube que tinha ganho. — Me diga, Cassy, você não gostaria de ter
uma revanche? — Me olhou com interesse e soube em seguida sua
resposta até antes que a pronunciasse.
— É obvio que quero.
Sorri de forma triunfal, pobre mascote, agora ia saber que não era
pário para mim.
Entramos em um luxuoso edifício e tomamos o elevador, mas no
lugar de subir, fomos três pisos mais abaixo.
— Onde vamos? — perguntou nervosa.
— Fique calma, só iremos ver um amigo. — O elevador se abriu
para um comprido corredor; assim que entramos nele, senti as câmeras
sobre nossas cabeças. O homem não era tolo, conhecia cada
movimento do lugar; soube que nos observava do momento em que
estacionamos no parque ao lado. Dois demônios vigiavam a porta,
embora estivessem em sua forma humana, o negro total de seus olhos
delatava sua alma escura. Senti Cassy endurecer quando puseram os
olhos sobre ela, podia escutar o rápido batimento de seu coração e,
pelos sorrisos malignos deles, soube que também que estavam
escutando, era como um néctar para eles sentir o medo dos humanos,
se alimentavam de cada sentimento negativo. A porta se abriu e
compreendi que tinham dado a ordem de nos deixar passar, caminhei
de forma segura, não era a primeira vez que estava ali. Meu olhar se
chocou com o do Aidan McKenna, o escocês, que estava de pé ao lado
da grande escrivaninha. Ele me olhava sem nenhuma expressão,
sempre tinha sido um mistério para mim, sempre estava aí, mas nunca
soube realmente que papel jogava; o ignorei e procurei a quem
realmente me interessava.
— O que te traz aqui, minha querida Saskia? — perguntou o
homem atrás da escrivaninha; parecia um rei instalado em seu trono,
tinha um sorriso arrogante de quem sabe que é poderoso. Uma parte
de mim se sobressaltou quando meu olhar se encontrou com o seu, era
tão parecido ao Alexy que poderiam passar por irmãos, entretanto,
também eram diferentes em muitos aspectos. O indivíduo que me
observava sem nenhum pudor vestia um elegante traje de cor cinza
feito sob medida e tinha o cabelo muito curto penteado para trás, as
unhas de suas mãos estavam bem cuidadas; era do tipo que parecia
mais a uma estrela de cinema, justamente o contrário de meu homem,
que exalava poder, sempre vestido de negro, com seu corpo coberto de
tatuagens e seu cabelo comprido, sabia que este sujeito nunca poderia
despertar em mim a metade do que me causava Alexy.
— Razvan, é um prazer te ver — disse me sentando sem que me
convidasse. — Trouxe um presente para você. — Mostrei Cassy que se
encontrava atrás de mim e que parecia um gato assustado. Nesse
momento, ele pareceu notar sua presença e a olhou como se não fosse
mais que um simples inseto que não merece nem um segundo de sua
atenção; Razvan odiava aos humanos.
— E o que te faz pensar que me interessa uma simples barata
humana? — perguntou se recostando em sua cadeira.
— Não espero que ela te interesse, mas ela te ajudará a conseguir
o que quer.—
Soltou uma gargalhada que me fez sentir tola, e isso me
enfureceu.
— Eu não necessito de ajuda para conseguir o que quero, você
deveria saber disso a algum tempo.
Levantei uma sobrancelha sem me intimidar, sabia que tinha uma
carta na manga.
— Dessa vez vai precisar, — disse me levantando para ir me sentar
em seu colo.
Sem dizer nada, ele começou a me acariciar por debaixo da saia.
— Estou certo de que você está errada, mas te darei a
oportunidade de expressar sua opinião. — Enquanto falava, sua mão
subiu pelo interior de minhas pernas e mordiscou meu pescoço, forte,
estava segura de que tinha deixado marcas: sorri, acabava de obter
mais um triunfo.
— Então, nossa querida Cassy aqui é amiga da mulher humana
do Alexy.
Por um momento, Razvan deixou sair uma forte gargalhada.
— Mulher humana. Devo dizer que, quando tomei à puta da
Lenuta a força se não tivesse certeza de que era seu primeiro amante,
duvidaria que o bastardo fosse meu filho, — disse enterrando seus
dedos profundamente em meu interior, de forma dolorosa. Tinha
estado na cama de Razvan o suficiente para saber que era selvagem,
causar dor era o que o deixava duro, assim separei minhas pernas para
lhe dar acesso. Seus dedos seguiram trabalhando em mim, sem
importar que houvessem duas pessoas mais presentes.
— Parece que seu filho se apaixonou — disse chateada.
— É só um covarde — se queixou mordendo de novo meu pescoço
enquanto enterrava mais duro seus dedos em meu sexo e começava a
movê-los. Queria responder que, Alexy tinha de covarde o que Razvan
tinha de bondoso, absolutamente nada; e era isso o que me atraía nele,
essa força. Durante o último ano cultivei a esperança de que me
escolhesse, cheguei ao ponto de me humilhar esperando que fosse só
para mim, não era estúpida, sabia que enquanto estava comigo
também houveram outras, mas isso nunca me importou, pois sabia
que todas elas eram descartáveis, só brinquedos que jogava quando se
cansava. Eu tinha sido a única constante em sua vida até que apareceu
ela, o maldito mascote humano; nunca compreenderia o que tinha visto
nela. Ele era fogo, um fogo que me consumia cada vez que me tomava,
só de lembrar a forma selvagem como me agarrava me deixava
molhada, ela era um ser simples e banal, nunca conseguiria estar a
sua altura. — Está tão molhada, poderia me escorregar em seu buraco
agora mesmo, — disse Razvan interpretando mal meu estado de
excitação; se só soubesse que era o filho que tanto desprezava que
ocupava todos meus pensamentos. — McKenna. — Só com essa
palavra o escocês entendeu a ordem, vi pegar Cassy e tirá-la de la
enquanto ela reclamava.
— Onde a levará? — perguntei, embora realmente não me
importasse com o que acontecesse com ela.
— A uma jaula, onde deve estar, já veremos se nos serve para algo
de verdade. Enquanto isso, você e eu nos divertiremos. — Soube em
seguida o que queria, fiquei de pé enquanto o via tirar seu membro
ereto de suas calças. Rapidamente me sentei sobre ele e o tomei
profundamente em meu interior enquanto o cavalgava. Ele rasgou meu
vestido até liberar meus peitos e se inclinou para levar meu mamilo a
sua boca e dar uma forte dentada; a dor era prazerosa, Razvan
conseguia me levar ao ápice rapidamente. Fechei os olhos e pensei no
Alexy, não era que não desfrutasse do sexo com o Razvan, era que
sempre que o fazíamos minha mente estava em outro homem.
16
ALEXY

Eram quase quatro da madrugada quando voltamos para casa, a


noite no bar tinha estado bastante movimentada, tivemos que enxotar
alguns bêbados. Faltava pelo menos um quilômetro quando pude ver a
coluna de fumaça que sobressaía por cima das árvores, não tinha
vizinhos, assim sabia que isso não podia vir de nenhum outro lugar
que não fosse minha casa. Amaldiçoei e acelerei; assim que chegamos,
minhas suspeitas se confirmaram quando a vi pegando fogo. Alana
lançou um grito abafado, saímos da moto rapidamente, mas antes de
poder me dar conta, estávamos rodeados por quatro demônios.
Amaldiçoei, em minha pressa para ver o dano, não tinha sido suficiente
precavido.
— Parece que chegou a tempo para ver o espetáculo, — disse um
deles com um sorriso que me encarregaria de apagar.
— Filhos da puta. — Coloquei Alana atrás de mim para protegê-
la, enquanto me preparava para o enfrentamento, em outro momento
não teria me preocupado pela diferença em números, mas nesse
instante tinha que proteger a minha mulher, assim só um descuido
seria letal. Começaram a nos cercar e eu fiz o mesmo, então dois deles
atacaram ao mesmo tempo, e eu, em poucos segundos, tinha me
transformado. Tinha uma vantagem, minhas asas, assim rapidamente
tomei a Alana e me elevei por cima deles, a levei a parte traseira da
casa e meu coração caiu quando vi a estufa em chamas. Afastei os
pensamentos sentimentais, não havia tempo para isso, mas a escutei
dar um grito e levar a mão à boca. Quando me virei para ver o que a
perturbava, Balaur se encontrava em meio de um atoleiro de sangue.
Meu estômago se revoltou, meu amigo tinha ido. Ela foi se aproximar,
mas impedi. — Ele já partiu, não podemos fazer nada por ele. — Antes
que pudesse dizer algo mais, abri rapidamente a porta da pequena
adega onde guardava os implementos que usava na estufa e a joguei lá
dentro. — Fique aí e não saia até que venha buscar você.
— Alexy. — ela se segurou a mim, mas me soltei de seu aperto.
— Tudo ficará bem, anjo.
Fechei a porta e me pus de costas a ela; justo nesse momento os
quatro demônios chegaram ao lugar, dois deles se aproximava mim
enquanto os outros dois ficaram atrás, certamente esperavam que me
afastasse da adega para pegar minha mulher, mas isso não
aconteceria, não era a primeira vez que brigava em um dois contra um,
me preparei para despachar ao primeiro rapidamente. Assim que se
aproximou, saltei sobre ele e com minhas garras fiz um corte limpo,
sua cabeça rodou pela grama, embora isto só serviu para que os outros
três se reagrupassem e viessem ao mesmo tempo em mim. Fechei
minhas asas, seguro de que não as usaria e porque não queria que me
atrapalhassem.
— Então, morcego, não vai voar? — perguntou um com um sorriso
retorcido, sabiam que não o faria, não me separaria da porta para dar
a oportunidade de que chegassem a meu anjo.
— Com sanguessugas é melhor brigar no chão — respondi de
forma despreocupada enquanto calculava minhas possibilidades.
Soube que tentavam chegar a ela quando dois se localizaram a meu
lado e o outro em frente a mim. Como se o tivessem ensaiado, os três
atacaram ao mesmo tempo.
Soltei minhas garras e atingi um deles no rosto para destroçar seu
olho, o vi cambalear para trás e grunhir de dor. Chutei o que se
aproximou pelo lado direito e então senti as garras do outro se
enterrando em meu lado esquerdo, uma forte dor me atravessou, mas
não tive tempo de me fixar no dano, me mantive inclinado esperando
um novo ataque. O que se encontrava ferido ainda não se recuperava
de tudo e seu olho machucado o impedia de ver bem, o que me facilitou
o trabalho; quando se aproximou, me inclinei até o lado onde não via e
o empurrei contra a parede enquanto cortava sua cabeça. Os outros
dois se equilibraram sobre mim e me derrubaram, vi as garras de um
deles ir direto a minha garganta e, como pude, consegui desviar o golpe,
o empurrei para longe e dei uma cotovelada no outro para o tirar de
cima. Fiquei de pé rapidamente e eles fizeram o mesmo, segui batendo
minhas garras como se tratasse de uma espada e consegui cortar a
mão de um deles, que uivou de dor, mas não abandonou a luta. Eu não
estava disposto a morrer, assim que me lancei até eles, só eram dois,
por isso quando se aproximaram, abri minhas asas e me permiti tomar
um risco, me levantei por cima deles e, girando no ar, cortei ambas as
cabeças ao mesmo tempo. Caí no chão e fiquei agachado enquanto
respirava agitadamente. Levei um momento para me acalmar e corri
para procurar minha mulher. Quando abri a porta, ela se lançou a
meus braços chorando, a apertei forte contra meu peito. Era a primeira
vez que tinha sentido medo de morrer, e era só porque não podia pensar
na idéia de não estar a seu lado para protegê-la. Levei a mão ao meu
lado tentando ignorar a forte dor, mas era uma ferida considerável.
— Vamos, anjo, temos que chegar rápido ao bar, — disse a
arrastando até a motocicleta, faltava pouco menos de uma hora para
que amanhecesse e, se o sol saísse antes que chegássemos ao bar,
estaria completamente cego, o que nos deixaria vulneráveis. Acelerei e
conduzi o mais rápido possível enquanto Alana se agarrava a minhas
costas. Sabia que estava chorando, embora tratava de esconder os
soluços, os pequenos sons que fazia não escapavam a meu ouvido.
Apertei sua mão tratando de confortá-la, começava a me sentir como
um puto egoísta por colocá-la neste mundo, ela era frágil e não estava
preparada para tudo o que tínhamos que enfrentar. Infelizmente, não
havia nada que pudesse fazer para mudar isso, se não a amasse tanto,
ainda ficava o fato de que estávamos unidos para sempre, assim não
existia uma forma de mantê-la afastada, a única coisa que podia fazer
era mantê-la a salvo até meu último fôlego.
Por fim cheguei ao bar respirei aliviado, o sol já estava saindo,
meus olhos começavam a doer e minha visão, a se apagar.
Caminhamos até os fundos. Dentro, tudo estava em silêncio, supus
que meus irmãos estavam dormindo. Seguimos no corredor que levava
às habitações e a levei até a cama, onde fiz que se sentasse.
— Me espere aqui, tenho que ir falar com meus irmãos.
— Não, deixe eu limpar as feridas antes. — Segurou a minha mão
e não tive outra escolha que permitir fazer o que queria, sabia que a
ferida curaria sozinha, inclusive já começava a sentir a ardência que
produzia a cura. Mesmo assim, me sentei em silencio e esperei que
fizesse seu trabalho. Correu ao banheiro e retornou um minuto depois
com várias coisas na mão. Com uma tesoura cortou minha camiseta e
jogou os restos de um lado.
— Dói? — perguntou preocupada. Nunca ninguém tinha feito isso
por mim, e isso me levou a compreender que, não importava mais nada,
jamais poderia deixar que saísse do meu lado. Nesse momento não só
tinha a vingança como único motivo para seguir lutando, também tinha
a meu anjo.
— Não dói muito, já tive piores, — disse me inclinando para beijar
seus lábios. Com uma concentração que qualquer médico invejaria, ela
limpou e enfaixou minha ferida.
— Já está bom, acredito que isso servirá.
— Obrigado, carinho. — Olhei-a, e seus olhos vermelhos me
fizeram recordar que ela, embora não tivesse ferida, também tinha
sofrido muito. — Está tudo bem? — Assentiu, mas então um soluço
escapou de seus lábios.
— Balaur, — disse em meio ao pranto; também me doía ter
perdido a meu amigo.
— Eu sei, meu amor. — A coloquei em meu colo, apoiei o queixo
em sua cabeça enquanto acariciava suas costas. — Também lamento
que se foi. — Escondeu o rosto em meu peito e permiti chorar até que
se acalmasse. Quando por fim notei que o pranto tinha diminuído,
levantei seu rosto e a beijei. Continuei a abraçando até que dormiu, a
deitei na cama com cuidado para não despertá-la e fui a meu armário
para procurar uma camiseta limpa, a vesti e saí do quarto em busca de
meus companheiros.
Bati na porta do Tarek e passou um minuto até que esta se abriu;
meu amigo saiu sem se preocupar com cobrir sua nudez.
— Posso saber que merda você quer? — perguntou, passando a
mão por seu desordenado cabelo e deu um ruidoso bocejo.
— Vamos nos reunir em meu escritório, avisarei ao Marcus e o
Cameron enquanto se veste.
— Demônios, o que, não pode esperar até que tenha dormido o
suficiente? Irmão, ontem à noite estive com três garotas e me deixaram
esgotado, sabe ao que me refiro? — Seu sorriso me fez saber que se
encontrava muito satisfeito com suas façanhas.
—Vá à merda, o filho de puta do Razvan incendiou minha maldita
casa, matou a meu cão e esteve a ponto de matar minha mulher. Me
perdoe se suas aventuras não me impressionam. — Arregalou os olhos
e a boca quando terminei de falar.
— Que diabos? Estarei lá em dois minutos. — Não se incomodou
em fechar a porta, voltou para dentro tão rápido que um humano o
teria perdido de vista, assim simplesmente me dirigi às portas do
Marcus e o Cameron e gritei que os esperava em meu escritório
enquanto me dirigia para lá. Raven não vivia no clube e, embora sua
casa estava a poucas ruas, sabia que era impossível que pudesse
chegar aqui a essa hora, teria que esperar até a noite para poder
começar a rastrear ao filho de cadela que havia me fodido desde que
era um menino.
Apenas cinco minutos depois, a porta se abriu e meus irmãos
entraram, todos tinham expressões sombrias, inclusive Tarek, que
sempre tinha alguma piada para contar.
— O que foi que aconteceu? — perguntou Cameron se sentando
frente a mim. Tarek sentou a seu lado e Marcus, por sua vez, sentou
no sofá.
— Quando chegamos a casa, tudo estava queimando e quatro
malditos demônios estavam nos esperando. — Apertei os punhos
querendo ter as tripas do Razvan em minhas mãos. — Queimaram
tudo, incluíndo a estufa. Além disso, mataram ao Balaur.
— Filhos da puta — grunhiu Cam sabendo o que o cão significava
para mim.
— Acredita que Razvan os enviou para te matar ou só queria jogar
com você? — perguntou Marcus.
— Não sei, mas vou descobrir.
Quando retornei ao quarto, encontrei meu pequeno anjo
acordada, sentada na beirada da cama. Fui até ela e fiz que ficasse de
pé, então comecei a despi-la. Quando terminei, fiz o mesmo com minha
roupa, levantei o lençol e deitei na cama para segui-la, a abracei por
trás, coloquei suas costas a meu peito e em seguida suas pernas se
enredaram com as minhas.
— Sabe? — disse depois de um curto silêncio.
— Humm? — Estava começando a dormir quando falou.
— A primeira vez que vi se trasformar, quando me defendeu desse
demônio, estava tão assustada que não reparei muito em sua
aparência.
— E agora? — perguntei já completamente acordado com suas
palavras e preocupado de havê-la assustado muito por como me via.
— Então hoje te vi de novo; sabe, os chifres, olhos vermelhos e
garras dão um pouco de medo. — Fez uma pausa e comecei a me
afastar pensando que tinha medo de mim, mas suas seguintes palavras
me detiveram. — Mas então vi as asas, nunca tinha visto algo tão
bonito. Como é ter asas? — Essa pergunta me fez sorrir, na verdade,
não era algo que houvessem me perguntando antes, ter asas para mim
era como ter mãos ou pernas.
— Não sei, não é diferente de nenhuma outra parte de meu corpo,
embora deva admitir que ajudam quando tenho que voar. — Beijei seu
cabelo e a trouxe mais perto.
— Eu gostaria de ter asas também, — disse acariciando meu
braço.
— Não importa que não as tenha, amor, você tem as minhas.
— Por que os outros não tinham?
— Porque as asas são o que nos define como uma parte de anjos,
mas quando algum de nós decide ir completamente para o lado do mal,
essa parte é retirada.
— Compreendo, acredito que eu gosto mais que seja bom, suas
asas o deixam realmente sexy. — Quando falou, se virou para ficar
frente a mim; tinha que admitir que um grande peso saiu do meu peito.
Para outros humanos, nós não seríamos mais que monstros, eles não
veriam nada bom, entretanto, aqui estava meu anjo, pensando que algo
de mim era atrativo.
— Não sabe como me alegra saber que não te causa repulsa
quando me trasformo porque será algo que terá que ver
freqüentemente. — Me inclinei para beijá-la enquanto acariciava o
interior de suas pernas. Essa parte de minha anatomia que desejava
seu toque começou a despertar. Um momento depois, suas bochechas
se coloriram e pensei que era a coisa mais bonita que já tinha visto,
sabia que estava envergonhada de algo, mas não entendia bem por que.
— Me pergunto se... Bom, já sabe, se... — Estava nervosa, beijei
sua têmpora para tranqüilizá-la.
— Só diga, não tem que ter medo nem vergonha comigo. — Isso
pareceu lhe dar coragem porque levantou a cabeça e me olhou
diretamente aos olhos.
— Quero que faça amor comigo sendo você. — suas palavras
soaram confusas e tive um pequeno ataque de risada.
— Anjo, sempre fiz amor contigo sendo eu, nunca foi ninguém
mais.
Deu um pequeno suspiro exasperado, como se a frustrasse que
não entendesse suas palavras.
— Refiro a sua outra forma. — Isso acendeu todos meus alarmes,
de nenhuma maldita maneira ia fazer o amor com minha forma
Demonials.
— Esquece, isso não é possível. — Afastei-me, e isto a
desconcertou.
— Quer dizer que só pode se transformar quando está em alguma
briga?
Era minha oportunidade de mentir, dizer que sim e mantê-la
protegida, mas esse olhar em seus olhos fazia que tivesse que dizer a
verdade sempre.
— Realmente não, não trocamos devido à situação em que nos
encontramos,. De fato, poderia simplesmente trocar e viver pra sempre,
embora certamente veria um montão de humanos fugir aterrorizados.
— Então, por que não quer comigo? — perguntou parecendo
ferida.
— Porque minhas garras e meus dentes são afiados e poderia te
machucar, isso definitivamente não vai acontecer. — Sua expressão se
suavizou e pensei que deixaria o assunto, mas devia conhecê-la melhor,
ela simplesmente se aproximou mais de mim e me olhou com sua cara
de cachorrinho que sabia que me tinha de joelhos se quissesse.
— Eu sei que você nunca me machucaria, sem importar as
circunstâncias em que nos estamos.
Maldição, tinha que aprender a dizer não, mas certamente isso
não aconteceria nesse momento. Com um suspiro, me levantei da cama
e fiquei em sua frente que se sentou, dando uma boa olhada no meu
corpo nu, fechei os olhos e deixei que meu corpo transformasse. A
pequena espetada na frente e na costas começou em seguida e em um
segundo estava frente a ela em toda minha glória do Demonials. Abri
os olhos para calcular sua reação e me aliviou saber que não havia
medo, estava me olhando com total fascinação, e que me condenassem
se isso não me deixou duro, nunca tinha feito amor estando assim, de
fato, nem sequer o teria considerado se ela não tivesse pedido isso, mas
nesse instante me parecia o mais excitante. Me aproximei devagar para
dar tempo que assimilasse.
— É tão lindo, em todas suas formas — falou estendendo a mão
por meu rosto. — Seus olhos.
— São os olhos de um demônio —disse os fechando.
— Não — sussurrou e os beijou. — São os olhos de um anjo. —
Coloquei meus lábios nos seus, tratando de não machucá-la com meus
dentes. Pouco a pouco a deitei na cama e me acomodei sobre ela,
passou sua mão pelos chifres. — São suaves, — os acariciou fazendo
que baixasse minha cabeça para passar a língua por eles. Uma corrente
se estendeu por meu corpo; merda, isso era bom, nunca imaginei que
fossem tão sensíveis. — E são uma parte de você, assim os amo.
Não sabia que poderia amar mais a alguém, era seguro que eu já
me sentia perdido por ela antes disto, mas nesse momento estava
completamente irreparável. Inclinei a cabeça para que a ponta dos
chifres não a tocasse e a machucasse e lambi seu pescoço. Suas mãos
se esticaram e as passou suavemente por minhas asas, isso esteve a
ponto de fazer com que gozasse e nem sequer estava dentro dela ainda.
Acabava de descobrir que cada parte de mim que tinha escondido
reagia a seu toque de uma forma elétrica; mordi o lóbulo de sua orelha
e a escutei ofegar.
— Não posso esperar mais, me diga que está pronta para que
possa entrar em você. — Com minhas garras era impossível que
pudesse aproximar a mão até seu sexo passa saber se estava
suficientemente úmida.
— Estou pronta desde o momento em que ficou em pé e vi se
transformar. Sempre estou para você, nunca duvide disso.
Que me condenassem se meu anjo não sabia o que dizer sempre.
Separei suas pernas e, devagar, comecei a entrar nela enquanto seus
olhos estavam fixos nos meus; quando por fim estava totalmente em
seu interior, nos dois gememos.
— Se mova rápido, por favor, — pediu enquanto se agarrava às
penas de minhas asas, isso estava me deixando mais quente, assim
comecei a investir com força.
— Assim? — perguntei sem reduzir a velocidade.
— Sim, meu amor, assim.
Tomei sua boca e a beijei, e ela mordeu meu lábio com força. Um
redemoinho começava a se formar em meu interior e, sem poder evitar,
me afastei e baixei a cabeça até um de seus peitos; tomando um
mamilo, comecei a sugar enquanto arqueava suas costas. Por um
momento, perdi a concentração e quando me dei conta do que tinha
feito, era muito tarde, um pequeno rastro de sangue saía de seu peito;
a tinha machucado. Fui me afastar sentindo horror do que tinha feito,
mas ela se agarrou mim e me impediu isso.
— Não pare, por favor, não dói. — Fez uma pausa enquanto
enterrava suas mãos em meu cabelo e atraía a sua boca. — Na verdade,
eu gostei. — me disse antes de me beijar. Esse foi meu sinal, me afundei
novamente e, desta vez, não parei até a ter gritando meu nome. Gozei
com força em seu interior e ficamos assim um momento, sem que
ninguém dissesse nada; ao final, fui eu quem rompeu o silêncio.
— Lamento muito ter te machucado, — me desculpei passando a
língua pela pequena mancha de sangue.
— Eu não, isso foi incrível. Temos que fazer de novo, agora estou
segura de que te amo em todas suas formas.
O sorriso em seu rosto era tudo o que necessitava para saber que
estava bem.
17
RAZVAN

Observei à humana, que tremia enquanto era presa em minha


jaula e manteve a cabeça baixa como um animal assustado. Sim,
deveria ter medo, nem sequer imaginava os planos que tinha para ela;
um sorriso escapou de meus lábios. A meu lado, Aidan McKenna se
mantinha de pé de maneira estóica, nunca dizia nada se não falava
com ele, e isso era bom, odiava gente que falava demais, por isso o
mantinha. Alguma vez temi que ficasse contra a mim, mas durante
séculos tinha me servido, assim estava seguro de que o tinha adestrado
bem, fazia o que pedia sem questionar minhas ordens. Em uma
ocasião, pensei que o bastardo do Alexy ocuparia seu lugar, por isso,
quando cortei a cabeça da puta que o pariu, o deixei viver, esperava
que me buscasse pedindo refúgio, mas então o estúpido cresceu e só
quis procurar vingança por sua pobre mãe assassinada; era fraco como
ela, merecia morrer. Retornei minha atenção à humana, que me
ajudaria a cumprir meus propósitos. Quando tivesse à mulher do Alexy
em minhas mãos, me asseguraria de que morresse igual a Lenuta e que
ele estivesse presente para ver.
— Ligue para ela. — ordenei.
A mulher levantou a cabeça, suas pupilas estavam dilatadas e seu
coração pulsava tão rápido e fazia tanto ruído que começava a me dar
dor de cabeça, embora nós não sofrêssemos disso.
— Eu... Eu.
— Agora! — gritei mais forte para que deixasse sua estúpida
gagueira, se não, iria mata-la antes que fizesse o que necessitava.
Pegou o telefone com a mão tremendo, odiava a fragilidade dos malditos
humanos, escutei o telefone tocar três vezes e a voz do outro lado; em
seguida soube que era ela.
— Alana? — perguntou a mulher depois de limpar a garganta.
— Cassy, é você? — Podia escutar toda a conversa apesar de estar
a quase um metro de distância do telefone.
— Sim, sou eu... — ela me olhou, deve ter visto algo em meus
olhos porque em seguida retomou a atenção ao telefone. — Queria falar
contigo.
— Claro, por que não vem ao clube?
Neguei e disse em voz baixa “Alexy”, o desejo se fez presente em
seus olhos, tinha prometido que o teria se me ajudasse a se desfazer
de sua mulher; outro traço dos humanos, eram capazes de vender sua
alma ao diabo para conseguir o que queriam, sem importar a quem
traíam no processo.
— Não, acredito que é melhor nos vermos em outro lugar, não
acredito que seja bem-vinda ai depois do que aconteceu na última vez,
além de que Cameron me ameaçou se voltasse.
Fez-se um silêncio e apertei os punhos esperando que a cadela
não estragase tudo.
— Bom, não pode culpá-lo por isso, você tinha uma faca em minha
garganta e ameaçava me matar.
Parece que tinha perdido um interessante pedaço de informação;
assim a puta da Cassy tinha tentado matar sua amiga. A vi fazer uma
careta.
— Já te disse que sinto por isso.
— Não, na verdade, não disse.
Começava a pensar que a mulher do Alexy não era tão tola.
— Bom, sim, sinto muito, a verdade é que nesse dia estava
drogada.
Claro e seguia estando drogada, tinha me assegurado de
administrar suas drogas cada dia que passou aqui.
— Está bem, me diga onde.
A satisfação me percorreu, algo mais para anotar às debilidades
humanas, eram muito fáceis de manipular. Entreguei um papel com a
direção do edifício e ela repetiu a sua amiga.
— Quanto tempo acredita que demore para vir da casa do Alexy
até o lugar?
— Na verdade, agora mesmo estou no clube, a casa... Houve um
problema, estamos ficando aqui por agora.
Sabia o que tinha acontecido com a casa, eu mesmo tinha dado a
ordem. Não podia evitar, era malditamente bom sendo cruel,
entretanto, tinha enviado quatro de meus melhores homens para fazer
o trabalho e nenhum tinha voltado. Tinha que dar crédito a meu
bastardo filho, o sujeito era um guerreiro feroz, era uma verdadeira
lástima que preferisse estar do lado dos bons; certamente, teria sido
implacável.
— Compreendo, então vem logo, por favor. Lembre-se que não
pode dizer a ninguém que vamos ver nos.
— Não se preocupe, nos vemos aí — disse a voz ao outro lado e
desligou.
— Fez muito bem, quase posso me sentir orgulhoso. — Deu-me
um sorriso tímido, se sentindo satisfeita de ter traído a sua amiga só
para ficar com seu homem.
— Agora me diga, como vou conseguir Alexy?
Ah, ela pensava que eu ia cumprir essa parte; quase ri em voz
alta.
— Espere, falta uma última parte para que obtenha seu prêmio.
— Caminhou decidida até ficar a meu lado; escutar que conseguiria o
que queria pareceu lhe dar ânimos. — Neste momento, Cassy, vai me
entregar sua alma. — Com os olhos arregalados tratou de se afastar
mas fui rápido e a peguei pelo pescoço enquanto a prendia à parede. —
Diga, diga que me entrega sua alma de forma voluntária. — Me olhou
aterrorizada e apenas se deu conta de que meus olhos não eram como
os dos humanos, assim dei algo mais, troquei minha aparência, meus
chifres saíram e minhas mãos se converteram em garras. Enquanto
mostrava dentes afiados, seu coração pulsou tão rápido que pensei que
em qualquer momento ia explodir e sairia de seu peito. A humana
estava aterrorizada, isso me fez sentir extasiado. Quando não falou o
suficientemente rápido, tomei sua mão e, com uma de minhas garras,
cortei seu dedo anelar. Ela gritou de dor enquanto lágrimas se
derramavam por suas bochechas. — Me dirá o que quero se não quiser
perder a mão completa.
— Não, por favor, — suas suplicas saiam quebradas.
— Mulher, eu não tenho compaixão, acaso não se deu conta disso
quando me ajudou a enganar sua amiga para vir até mim? — Um gesto
de remorso apareceu em seu olhar quando soube o que planejava.
— Você prometeu que ele estaria comigo, — sussurrou.
— Humana burra, Alexy está unido a sua amiga, o que quer dizer
que compartilha sua alma com ela, a única forma de romper esse
vínculo é se ele estiver morto. — Abriu a boca várias vezes como um
peixe. — Compreende agora? Não o terá a menos que deseje um
cadáver.
— Mentiu para mmi.
— Estúpida, de verdade é tão ingênua para pensar que te diria a
verdade sem ter o que desejava? Agora não me faça perder mais tempo
e me diga o que quero. — As palavras pareciam não querer sair de sua
boca assim tive que sacudi-la um pouco e finalmente o fez.
— Entrego minha... Minha alma de forma voluntária.
— Assim não, tem que dizer meu nome: “Razvan, toma minha
alma, a qual te entrego de forma voluntária”. Repete cada maldita
palavra, agora.
— Ra… Ra…
— Deixa de gaguejar, maldição. — Cortei um segundo dedo e
gritou mais forte, começava a ficar pálida e temi que morresse antes de
falar.
— Razvan, toma minha alma, a qual te entrego de forma
voluntária. — disse as palavras em meio a soluços, mesmo assim, a
sensação mais agradável deslizou por minhas costas, olhei diretamente
aos olhos e soube que tinha conseguido. Amava estes momentos,
quando podia me alimentar da alma dos humanos, sentia a energia
entrar em meu corpo ao mesmo tempo que via como abandonava o
corpo humano. Seus olhos começaram a perder o brilho enquanto sua
vida se apagava; finalmente, seu corpo caiu, e eu me afastei para
permitir que caísse ao chão como se fosse um saco sem valor. Respirei
e me ajeitei minha roupa.
— Se livre do lixo — disse a McKenna, mas então, quando se
aproximou, uma ideia melhor passou em minha mente. — Sabe onde
fica o sujo bar do Alexy? — Assentiu. — Então a leve e deixe lá, mas
antes espere, quero enviar uma pequena mensagem. — Rasguei sua
blusa e depois de deixá-la nua da cintura para cima, com uma de
minhas garras escrevi meu nome em seu peito; este sim que seria um
bom presente para meu querido filho. Agora sim ri em voz alta.
18
ALANA

Estava limpando o bar quando o telefone tocou, quase ninguém


ligava lá, só as garotas que trabalhavam ali, assim supus que se tratava
de alguma delas. Cameron estava no escritório do Alexy, com o Tarek
e o Marcus, inclusive Raven; a noite anterior, todos fomos à casa ou,
melhor dizendo, ao que sobrou dela; só havia cinzas. Ainda me doía
recordar o momento em que enterramos Balaur. Logo depois de uma
larga inspeção, nos demos conta de que não encontraríamos nada que
pudéssemos resgatar e, quando estávamos prontos para ir, topei com
um vaso de barro: uma das rosas tinha sobrevivido. Nunca esquecerei
a expressão do Alexy quando a entreguei, era como se essa planta
significasse que ainda tínhamos esperanças. O som do telefone me fez
voltar à realidade, tinha esquecido de que estava tocando.
— Olá, — atendi enquanto acomodava uns copos na estante.
Escutar a voz de Cassy me sobressaltou, fazia vários dias que não tinha
notícias dela. Alguma vez tinha estado tentada de chamá-la para saber
se estava bem, mas não estava segura de que queria falar comigo. A
conversa foi estranha, só me disse que queria falar comigo, mas
imaginei que queria se desculpar. Não conhecia o lugar que me passou,
assim tomaria um táxi, eram apenas onze da manhã, por isso supus
que não era perigoso sair par a rua.
Embora Cassy me pediu que não dissesse ao Alexy onde ia, não
estava disposta a fazer isso, nunca escondi nada e não começaria
agora, sem importar o que me dissesse minha antiga amiga. Bati na
porta do escritório dele antes de abrir, todos estavam em silêncio,
parecia que, apesar horas reunidos, não conseguiam encontrar uma
solução.
— Posso falar com você? — perguntei olhando ao Alexy.
— Agora não.
Alexy estava sentado em sua escrivaninha com os braços apoiados
a cada lado de sua cadeira.
— Mas...
— Disse que agora não, Alana. — Sua voz soou forte, nunca me
chamava Alana, e isso fez que meu estômago se retorcesse.
— Sinto muito, — disse e fechei a porta. Tive vontade de chorar,
ele nunca era duro comigo, mas tinha que entender que estávamos em
uma situação complicada. A noite anterior, quando voltamos ao bar, os
quatro se fecharam e não haviam saído ainda; Alexy nem sequer foi
dormir e o bar não abriu. Sem saber que mais fazer peguei, uma folha
e uma caneta e escrevi uma curta nota.
“Lamento ter interrompido só queria te dizer que Cassy me
chamou para que nos encontrassemos, não vou demorar.
Te amo.”
Logo depois de deixar o papel sobre o bar onde pudessem vê-lo
facilmente, peguei minha pequena bolsa e saí. Na rua, o sol brilhava,
embora fosse frio, caminhei até que encontrei um táxi e, depois de me
acomodar na parte traseira, falei o lugar aonde devia me levar. Quando
estacionou frente a um elegante edifício, pensei que estava errada,
Cassy e eu nunca visitávamos esta parte da cidade, não conhecíamos
nenhum rico e não tínhamos dinheiro para visitar as lojas luxuosas
que tinham perto.
— Esse é o endereço certo? — perguntei ao motorista.
— É obvio, senhorita, é aqui, a rua e o número. — respondeu
mostrando a placa de numeração que se encontrava na parte superior
da porta de entrada que, de fato, sim era o mesmo.
— Está bem, muito obrigado. — Paguei e sai insegura. Por um
momento, fiquei ali sem saber o que fazer, então me ocorreu que talvez
minha amiga tinha conseguido um trabalho de limpeza aqui; isso era
algo mais provável. Me sentindo mais tranqüila, entrei na ampla
recepção. Atrás do balcão havia um homem com um terno preto, me
dirigi até ele. — Olá, fiquei de me encontrar aqui com uma amiga, mas
não estou segura de que seja o lugar correto, — disse mostrando a nota
que tinha com a direção.
— Este é o lugar, esses são os escritórios que se encontram no
porão, vá pelo elevador.
Um pressentimento começou a se apoderar de mim, algo não
estava certo nesse lugar. Estava a ponto de voltar atrás e ir quando o
elevador se abriu, e minhas suspeitas se confirmaram quando vi Saskia
com um sorriso. Me virei rapidamente para sair correndo, mas um
golpe na parte traseira de minha cabeça me deteve; então tudo se
apagou.
Não soube quanto tempo passou, mas despertei com uma forte
dor e com que algo incômodo, então me dei conta do que era: me
encontrava em uma sala muito iluminada, tanto que a luz machucava
meus olhos, estava completamente nua e minhas mãos, atadas na
parte de cima por umas correntes, o que me deixava quase pendurada.
Sentia-me como em uma espécie de sacrifício. Um ligeiro pigarro
chamou minha atenção e voltei procurando a origem disso. Estava a
ponto de me engasgar, frente a mim havia um homem que se parecia
muito com Alexy, só que vestia um traje elegante e tinha o cabelo muito
curto, seu olhar era vazio e o negro em seus olhos me disse que se
tratava de um demônio.
— Querido Razvan, parece que nossa convidada já se dignou a
despertar. —Saskia se materializou junto ao homem enquanto posava
uma mão de forma íntima sobre seu ombro.
Esse era Razvan, o homem que Alexy procurava com tanto afinco.
Senti meu corpo tremer, cheia de terror; se ele havia me trazido aqui,
era com um objetivo: Ia me usar como isca para atrair ao Alexy.
— Onde está Cassy? — perguntei olhando para todos os lados.
Razvan, que tinha estado completamente em silêncio, por fim
falou, outra coisa mais que o fazia diferente do Alexy, sua voz não tinha
nenhum sotaque.
— Parece que nossa querida Cassy vendeu sua alma ao demônio.
Um suor frio desceu por minhas costas quando compreendi o que
implicava suas palavras.
— Você a matou. — Não era uma pergunta e já sabia a resposta,
e ele encolheu os ombros como se não tivesse importância.
— Não deveria soar tão triste menina, ao contrário, deveria estar
agradecida, sua amiga fez um trato comigo em troca de conseguir seu
homem.
Senti a bílis subir por minha garganta, ela tinha feito tudo isto,
tinha me traído e feito tudo isso só para conseguir ficar com ele. Queria
ficar frente a frente com ela nesse momento e torcer seu pescoço eu
mesma, sua obsessão pelo Alexy não tinha limites e a levou inclusive à
morte.
— Suponho que nunca teve a amabilidade de mencionar que não
tinha esse poder, — disse de forma sarcástica, estava morrendo de
medo, mas nunca permitirei que ele ou Saskia percebecem.
Sua risada retumbou por toda a sala e foi um som bastante
sinistro.
— Sabe? Acredito que deveriam ler a letra pequena do contrato
antes de aceitar assiná-lo. — A seu lado, ela riu, e isso fez que minha
ira fosse até ela.
— É uma maldita cadela, — cuspi querendo alcançá-la e arrancar
seus olhos. — Não se importou em vender o homem que supostamente
ama. A quanto tempo sabia onde encontrar este maldito? Por que não
disse?
— Mais cuidado com suas palavras, maldita mascote, —
resmungou, se aproximando, me lançou um sorriso. A maldita estava
certa que iria conseguir seus propósitos, isso me dizia que não conhecia
em nada o homem que dizia amar; Alexy nunca a perdoaria que tivesse
escondido a informação que tanto procurou. — Já sei a um bom tempo,
só queria usar como um ás sob a manga.
Nesse instante fui eu quem quis rir, então olhei ao Razvan.
— Quão fodido é que não sabe que ela está disposta a te vender
no momento em que Alexy estalar os dedos? Talvez devesse escolher
melhor em quem deposita sua confiança. — Nem tive tempo de reagir
quando a mão de Saskia rodeou meu pescoço e começou a apertá-lo
tão forte que me impedia de respirar.
— Basta! Se a mata agora, não conseguiremos que o bastardo
venha por ela. Depois terá tempo para se divertir.
Por fim me soltou e me agitei procurando ar.
— Você e eu acertaremos as contas logo, puta humana. — disse e
se virou para sair e me deixar só com o demônio.
— Se não fosse humana, talvez me agradaria, — comentou com
um sorriso.
— Se você não fosse um maldito monstro que tenta matar a seu
próprio filho, talvez me agradaria, — cuspi com todo o ódio que sentia,
não me importava que me assassinasse, tinha certeza de que faria de
qualquer maneira.
Razvan me olhou durante um momento mais e depois de uma
ligeira inclinação de cabeça, saiu e me deixou só.
Meus braços começavam a doer, estar nessa posição durante
tanto tempo estava incômodo, não podia me mover e meus pés mal
alcançavam o piso, assim tinha que me levantar. Fazia várias horas
que encontrei com o Razvan, ou ao menos isso me parecia. Pensei no
Alexy, certamente, a essa hora já teria se dado conta de que não estava
no bar. Me amaldiçoei por ter acreditado em Cassy, isso tinha sido
minha perdição. Quando aprenderia a não ser tão ingênua? A porta
começou a se abrir e me preparei para ver Saskia, o olhar assassino
que me deu antes de ir havia dito que procuraria vingança e sabia que
o que me faria seria muito doloroso. Meu coração acelerou, mas respirei
aliviada quando quem entrou foi outro homem, embora a calma durou
pouco quando recordei que estava nua. Quão retorcido era Razvan para
me despir e me pendurar como se fosse um pedaço de carne em um
açougue? O homem trazia uma bandeja que deixou no chão, pois não
havia outro lugar onde colocá-la, se inclinou e pegou o que parecia um
lençol que estava dobrado cuidadosamente em um canto. Seu olhar
nunca fez contato comigo, coisa que agradeci, e podia tê-lo beijado
quando se aproximou e sem me olhar cobriu meu corpo. Em silêncio,
retornou até a bandeja e tomou um copo que tinha um líquido de cor
amarela, colocou um canudinho e aproximou de meus lábios. Havia
algo diferente nele, mas não conseguia saber o que, além de que estava
sendo amável claro. Igual aos outros, não aparentava ter mais de trinta
ou trinta e cinco anos, vestia um terno preto muito fino. Olhei suas
mãos bem cuidadas, seu cabelo era de uma cor loiro escuro e uma
ligeira barba cobria seu rosto. Então me olhou diretamente e
compreendi qual era a diferença: seus olhos, estes não eram
completamente negros, de fato, tinham cor, um verde intenso. Bebi o
líquido que parecia ser suco de laranja.
— Obrigada, — disse quando o afastou. Assentiu sem dizer nada
e se virou para ir, mas antes que o fizesse, falei: — Por que está aqui?
— Ele me olhou arqueando uma sobrancelha, mas não respondeu. —
Refiro a por que está com o Razvan, você não é como eles. — Estava
segura de que não era, os demônios tinham os olhos completamente
negros, inclusive Razvan e Saskia, desde que tinha abandonado o
clube, o que me dizia que ela também se entregou completamente ao
mal.
— O que te faz pensar que não sou como eles? — perguntou
finalmente, seu sotaque escocês era muito marcado.
— Seus olhos. — Me olhou confuso. — Seus olhos têm cor; os
deles, não.
— E acredita que isso me faz diferente? — Enquanto falava,
cruzou os braços para parecer intimidante.
— Foi bom comigo.
Inclinou a cabeça e me estudou um momento.
— Talvez só estou tentando que sua morte não seja tão terrível.
—Bom, isso para mim é sinal de bondade.
O que pareceu ser um sorriso surgiu no canto de seus lábios, mas
o apagou tão rápido que pensei que tivesse imaginado.
— Nunca confie nos que pareçem amáveis.
Fiz uma careta recordando que fazia apenas alguns minutos
estava me amaldiçoando internamente por isso.
— Obrigada, teria sido bom que me desse esse conselho antes de
vir parar aqui.
— Nunca é tarde. — Quando recolheu a bandeja e abriu a porta,
de novo comecei a sentir medo. Se ele me deixasse só outra vez,
possivelmente Saskia viria e me assassinaria. — Ela não virá, — disse
como se lesse meus pensamentos.
Finalmente, a porta se fechou e fiquei em completo silêncio.
19
ALEXY

Eram três da tarde quando saimos do escritório, queria ter saido


antes, pois quando gritei com meu anjo, me senti como o pior filho da
puta, mas tinha que encontrar uma solução rápida, isto era para
mantê-la a salvo. Razvan sabia onde me encontrar e eu não duvidaria
que usaria Alana para chegar até mim. Fui ao nosso quarto esperando
encontrá-la lá, mas estava vazio; chamei, mas não respondeu; corri
para o bar e, quando estava chegando, vi Cameron lendo um papel.
Seu olhar se encontrou com o meu e o que vi nele eu não gostei.
— Onde ela está? — perguntei, e então me passou o papel.
As simples palavras nele fizeram que meus joelhos quase se
dobrassem, ela tinha saído sozinha, tinha ido me procurar para me
dizer isso e se eu tivesse dado a oportunidade de falar conseguiria evitar
isso.
— Talvez só esteja com Cassy e não vai demorar para voltar.
Mas algo me dizia que não estava certo, tinham passado quatro
horas.
— Tenho que encontrá-la. — Fui para a saída quando meu irmão
pegou meu braço.
— Não faça uma estupidez, como a encontrará se não pode ver
nem seu maldito nariz se sair agora?
— Maldição, Cam! Não posso esperar até que seja de noite, é muito
tempo.— Era muito, não podia suportar pensar em meu anjo sozinha,
em alguma parte, precisando de mim.
— É só esperar mais um pouco. — Meu irmão tentava me acalmar,
mas minha cabeça não deixava de imaginar todas as coisas ainda que
poderiam estar acontecendo.
— O que aconteceu? — perguntou Tarek, vindo pelo corredor
seguido do Marcus e o Raven.
— Alana saiu e Alexy está enlouquecendo, — respondeu Cam
enquanto eu passeava pelo lugar. Os outros fizeram silêncio ao
compreender minha preocupação.
As horas passaram e não tinha notícias da minha mulher. Eram
seis da tarde quando por fim foi seguro sair, quase corri pelo corredor
até a parte traseira do bar, onde se encontrava minha motocicleta.
Escutei meus irmãos me seguindo e saí, vi algo que me fez parar e me
chocar com quem fosse que estivesse atrás de mim. Soube que se
tratava do Tarek quando o ouvi falar.
— Mas que demônios?
Caminhei até o corpo seminu que tinha sido abandonado no beco,
perto da porta, com os olhos abertos e sem brilho que me olhavam do
chão; tinham despojado de sua alma. Uma mistura de terror e ira se
apoderou de mim quando vi as letras gravadas no peito do Cassy.
— Razvan, — disse em voz alta, estava me enviando uma
mensagem alta e clara. — Maldito bastardo, está com a minha mulher.
Se se atrever a tocar um só fio de seus cabelos, me encarregarei de
arrancar seu negro coração e me banhar com seu sujo sangue.
Comecei a caminhar até minha motocicleta, mas uma forte
explosão na parte dianteira me deteve, escutei o grito de Cam e
rapidamente todos corremos. Dentro, tudo era um caos, a porta tinha
sido derrubada e pelo menos vinte demônios se encontravam por todo
o lugar. Estávamos em séria desvantagem, nós éramos apenas quatro,
pois nunca ia permitir que Cam participasse da luta. Meu irmão caçula
nunca foi parte disto, ele só se encarregava do bar, de fato, poucas
vezes o tinha visto com sua aparência Demonials, já que estava
acostumado a se misturar mais com os humanos, mas nesse instante
tinha suas asas estendidas e se encontrava em posição de ataque.
— Cameron, sai daqui. — ordenei me movendo até estar perto dele
se por acaso algum dos demônios atacasse, assim podia cobri-lo
enquanto saia.
— O caralho que eu vou sair. — Seus olhos vermelhos brilhavam
com fúria.
— São demônios, Cam, não complique, só vá.
— Pare de me tratar como um maldito menino. Se por acaso não
se lembra, nasci faz mais de cento e cinqüenta anos, — cuspiu soando
frustrando. — Ficarei e lutarei como vocês.
— Nunca fez isso, não está preparado. — Quis que entendesse
que só queria protegê-lo.
— Não preciso que cuide de mim, já não sou esse menino perdido
que encontrou. — Quando terminou de falar, foi tão rápido que não tive
tempo de alcançá-lo, e o vi investir contra o demônio que estava mais
perto. Raven se moveu à mesma velocidade que meu irmão e se
posicionou a seu lado, coisa que agradeci porque nesse momento três
demônios se dirigiram em minha direção.
— Que comece a festa, — gritou Tarek se lançando à frente, o vi
voar por cima deles e, com o que pareceu ser só um borrão, a cabeça
de um rodou pelo piso; isso tinha sido rápido, mas ainda ficaram
muitos.
Quando os três que vinham em minha direção estavam frente a
mim, saltei e no processo derrubei a um deles com uma patada. Os
outros dois se voltaram vaiando, mas não dei tempo de atacar de novo,
fui em sua direção, estendendo os braços a ambos os lados, e, quando
os alcancei, saltei de novo e lancei minhas garras para trás arrancando
suas cabeças. Ao longe, vi Marcus, que decapitou um e esquivou de
outro. O demônio que eu acabava de chutar se levantou e atacou, outro
vinha por meu lado esquerdo. No momento em que chegaram a mim,
ao invés de me elevar do piso, me inclinei e movi meus braços como se
tivesse duas facas, embora minhas garras funcionassem muito melhor,
cortei o estômago de um, que se dobrou enquanto levava o braço a seu
redor, isto me deu tempo para cortar sua cabeça; ao outro, apenas
alcancei a parte superior de suas pernas, e isto não causou muito dano.
Mesmo assim, tinha feito retroceder o suficiente para acabar com seu
companheiro e ir para ele. Quando terminei com ele vi algo redondo
voar pelo ar e estralar na parede atrás de mim, uma cabeça rodou pelo
piso. Olhei o lugar em busca da origem e me encontrei com Tarek, que
estava totalmente coberto de sangue, mas que sorria em minha direção;
só o filho da puta podia rir e fazer brincadeiras em um momento como
esse. Enquanto isso uma forte dor se instalou em minhas costas; um
demônio tinha aparecido e enfiado suas garras no meio das minhas
asas. Amaldiçoei e estendi a mão para trazê-lo frente a mim.
— Nunca volte a tocar minhas malditas asas, sanguessuga, minha
mulher as ama. — Torci seu pescoço enquanto tratava de me liberar
dele, mas eu estava muito furioso e isso jogava em minha vantagem.
Pouco a pouco, todos foram caindo. Quando faltavam uns quatro,
procurei o Cam em meio do caos e o vi lutar com um demônio uma vez
que outro se aproximava pela parte de trás. Tudo aconteceu em câmara
lenta, gritei para alertá-lo, mas estava muito seguro de que era tarde.
Um nó se formou em meu estômago ante o que ocorreu: as garras do
demônio foram direto ao pescoço de meu irmão e, quando estava a
ponto de alcançá-lo, Raven apareceu como do nada e se colocou em
seu caminho, e foi sua cabeça a que se separou de seu corpo. Cam se
virou nesse momento, de forma descuidada, e deu tempo a seu
oponente de cravar as garras em seu estômago e fazer uma enorme
ferida que quase o partiu na metade. O sangue começou a sair, quando
cheguei até onde se encontrava terminei com sua batalha; do outro
lado, Tarek e Marcus fizeram o mesmo com o que tinha assassinado
Raven.
Ajoelhei-me junto a meu irmão e peguei em meus braços, sabia
que sua ferida, apesar de ser bastante séria, não era mortal, mesmo
assim, não podia evitar de me preocupar. Um silêncio total encheu o
lugar, parecia que ninguém se atrevia a se mecher.
— Raven ,— disse Cam em sussurro enquanto deixava escapar
um soluço. - também chorei, estava doendo tanto.
— Não se preocupe com isso agora, — o acalmei, engulindo o nó
que havia em minha garganta. Acabávamos de perder um de nossos
irmãos, ele tinha se sacrificado pelo Cam, e nesse momento sentia uma
mistura de dor e alívio. Abracei ao Cameron mais forte e senti Tarek e
Marcus cair de joelhos a nosso lado, sabia que se sentiam da mesma
forma que eu. Cam seguiu chorando e ficamos ali durante um bom
momento.
— Acredito que é hora de limpar este desastre. — A voz do Marcus
estava carregada de dor.
— Levarei Cam para o quarto. — Levantei meu irmão em meus
braços, somos quase do mesmo tamanho e peso, mesmo assim, pude
pegá-lo sem problemas. Quando cheguei, coloquei cuidadosamente na
cama. Não se moveu, embora seus olhos permaneciam abertos e seu
olhar estava perdido; se encontrava em estado de choque. Cortei sua
camiseta e procurei ataduras e toalhas, me assegurei de deixar sua
ferida limpa e o enfaixei. Sabia que ia sarar, mas também que devia
estar com uma forte dor, embora, não se queixava. Uma vez terminado
meu trabalho, o cobri com um lençol. — Tudo vai ficar bem, — disse
antes de sair de novo até o bar.
A devastação era total, tudo estava destruído; corpos para todo
lado; as paredes cobertas de sangue; as mesas e cadeiras em pedaços;
os copos e taças das estantes, convertidas em um monte de vidros.
Tarek e Marcus tinham levantado o corpo do Raven e o depositaram
sobre o bar, ambos tinham expressões afligidas, tinham o torso nu e
manchados de sangue, reparei então que eu estava igual. Nos três
ficamos de pé durante uns momentos enquanto olhávamos o cadáver
de nosso companheiro. Raven era quem a menos tempo estava conosco,
uns vinte anos, mesmo assim, parecia mais. Aproximei até estar junto
ao corpo e pus minha mão sobre seu coração.
— Obrigado, irmão, lamento que tivesse que ir, mas onde quer
que esteja, nunca nada será suficiente para agradecer seu sacrifício, e
te juro por minha vida que o responsável pagará com seu sangue.
— Que assim seja, — concordou Tarek pondo sua mão sobre a
minha.
— Que a luz te guie, — disse Marcus e descansou sua mão sobre
a do Tarek.
Senti o calor se estender por meu corpo, ao igual ao de meus
irmãos. Um segundo depois, nos três nos separamos e o corpo do Raven
ardeu em chamas, este era nosso equivalente a uma sepultura. O ideal
teria sido levá-lo ao campo para permitir que o vento levasse as cinzas
quando o corpo estivesse totalmente carbonizado, mas nesse momento
não dava tempo e, se o deixávamos aí, começaria a se desintegrar e se
converter em só uma mancha negra, o que era o fim. Enquanto via as
chamas consumi-lo, fui transportado a outra época, mais de
quinhentos anos atrás. De novo tinha dez anos e me encontrava
recostado no chão, segurando a mão de minha mãe enquanto seu corpo
começava a se consumir até não ser mais que um montão de cinzas
negras; até isso Razvan tinha me roubado, a oportunidade de dar a
minha mãe uma despedida adequada.
20
ALANA

Comecei a adormecer, mas então senti o puxão que deram nas


correntes quando meu corpo estava ficando mole. Meus braços
estavam duros, meus ombros doíam, estavam a várias horas
suportando quase todo meu peso. Senti vontade de chorar, tudo isto
era minha culpa, se Razvan trouxesse Alexy aqui, seria minha culpa;
nunca deveria ter saído do bar, nunca deveria ter agido de forma tão
inconsciente. Por isso, o homem que amava podia terminar morto. A
porta se abriu e me estiquei à espera de ver quem seria meu visitante
esta vez, tive vontade de gritar de frustração quando a vi entrar
rebolando.
— Como eu gosto de te ver nessa posição, mascote, — disse Saskia
passeando a meu redor; o ruído que faziam os saltos de suas botas no
piso me incomodava.
— Bom, é uma cadela louca, que mais poderia esperar?
— Sempre se fazendo de sonsa, é uma pena que Alexy esteja tão
cego, que não veja quão insignificante é. — Odiava não poder me
liberar, odiava estar a mercê deles. — Mas sabe o que? Quando Razvan
acabar contigo, vou voltar com o meu homem. — aproximou-se até
chegar seus lábios a minha orelha. — Se esquecerá de você. Quando
estiver no meio das minhas pernas, será meu nome que vai gritar.
Apertei os dentes e me movi tratando de afastá-la.
— Quando Razvan acabar comigo, Alexy irá cortar sua cabeça, a
esta hora já deve saber que é a cadela que o traiu.
— Ele nunca saberá que fui eu.
— Aham, não sei se penso que você é muito otimista ou muito
ingênua, só olhar seus olhos para saber que vendeu sua alma ao
demônio.
— Se cale, puta. — Senti algo afiado cortar minhas costas e não
pude evitar o grito de dor. — Talvez peça ao Razvan que permita me
encarregar pessoalmente de você, me assegurarei de te cortar em
pedaços tão pequenos que possa servir de comida aos abutres. — Me
cortou uma segunda vez e soube que estava utilizando uma de suas
garras, fechei os olhos e tratei de não gritar de novo, isso era o que
queria, me ver chorar, mas se ia morrer, ao menos teria a satisfação de
não suplicar clemência.
— Razvan requer sua presença. — O acento escocês se escutou
da porta.
Quando abri os olhos, ali estava o homem que tinha me ajudado
antes; seu olhar estava posto na Saskia.
— Que oportuno, —disse ela com um olhar chateado que ele
ignorou. — Já nos veremos, mascote, e continuaremos com a diversão.
— Quando chegou à porta, ele não se moveu para lhe dar espaço, assim
ela teve que ficar de lado para sair pelo pequeno espaço que ficava. —
Estúpido. — rosnou e se afastou.
O homem, como tinha feito a primeira vez, sem olhar meu corpo
nu, se aproximou e voltou a pôr o lençol que Saskia tinha tirado, me
deixou sozinha. Nesse momento, me permiti chorar enquanto sentia o
líquido quente descer por minhas costas até minha bunda nua.
O tempo passava lentamente, me sentia totalmente exausta,
começava a pensar que talvez era melhor provocá-los e fazer que me
matassem, dessa forma, meu amado Alexy não teria nenhum motivo
para vir me buscar e não estaria exposto. Então por fim tive uma
esperança, estava decidida, provocaria Razvan e Saskia e desse modo
terminariam comigo rapidamente. Isso me fez sentir melhor, me permiti
chorar, certamente não voltaria a ver a única pessoa que alguma vez
me amou, mesmo assim, meu coração se encheu de felicidade porque
nos poucos meses que estive a seu lado fui mais feliz que em toda
minha vida.
O ruído que a porta fez me alertou, esta era minha oportunidade,
fechei os olhos e pedi a quem pudesse me escutar que me desse o que
precisava, tinha que conseguir, era a única forma de mantê-lo a salvo.
Um momento depois, fiz uma pausa e os abri novamente, disposta a
provocar tanto ao Razvan ou a Saskia que não teriam mais alternativa
se não acabar comigo, mas meu ânimo caiu quando quem veio foi o
homem misterioso.
— Ele vem por você.
Pensei que se referia a seu chefe.
— É o que quero, só espero que desta vez me mate. — Me olhou
confunso.
— Te matar?
— Não é isso que Razvan pretende fazer? Se não, porque teria o
trabalho de me trazer até aqui?
Um gesto de compreensão apareceu em seu rosto.
— Eu falava de seu homem, ele vem te buscar.
O terror me invadiu, de maneira nenhuma poderia permitir que
chegasse aqui, o matariam assim que pusesse um pé dentro desse
lugar.
— Não, por favor, me ajude, ele não pode vir aqui, diga que já
estou morta, de todos os modos, estarei em pouco tempo. — O homem
me olhava totalmente confuso, enquanto as lágrimas corriam por meu
rosto. — Não pode vir aqui, por favor, por favor, não deixe que venha.
— Parece que não o conhece, se não vier para te salvar, virá matar
Razvan por ter te matado, não há nada que possa fazer.
Comecei a chorar mais forte.
— Tudo é minha culpa, nunca deveria confiar em Cassy, nunca
deveria sair do bar sem dizer nada. Agora o monstro o matará.
— Talvez devesse lhe dar um pouco mais de crédito, não conheço
Moldoveanu pessoalmente, mas passei anos sabendo dele, e algo que
aprendi, é que é um homem perigoso com o que não quer cruzar.
Razvan até agora teve sorte porque se manteve escondido, se não, seu
Alexy teria o matado faz muito tempo.
Surpreendeu o respeito em seu tom de voz, este sujeito trabalhava
com o monstro, mas estava segura de que não tinha nenhum tipo de
lealdade.
Comecei a pensar que poderíamos ter algum tipo de esperança,
assim que me concentrei nisso como se fosse uma espécie de mantra.
Alexy viria por mim e, voltaríamos para casa sem que a sombra de
Razvan e Saskia estivessem nos perseguindo.
21
ALEXY

Enquanto observávamos as cinzas que ficavam do corpo do


Raven, o telefone do bar tocou. Me estiquei por cima do bar e atendi.
— Edifício Empire, fica no centro, — disse uma voz ao outro lado
com um forte sotaque escocês, e desligou.
— Tenho que ir por Alana, — informei a meus irmãos e comecei a
caminhar até os fundos para procurar minha motocicleta.
— Espere, nós vamos contigo, — anunciou Marcus, me parando.
— Não, preciso que fiquem aqui, alguém tem que se encarregar de
limpar o lixo. — falei fazendo um gesto até os corpos de demônios que
estavam dispersados por todo o lugar. — Além disso, necessito que
cuidem do Cam.
— É suicídio enfrentar Razvan sozinho; além disso, pode ser uma
armadilha, estou seguro de que foi McKenna que ligou, todos sabemos
que trabalha para o bastardo. — Vi a preocupação no olhar de Tarek,
sabia que ele pensava que não sairia vivo desta, mas eu não estava
disposto a me dar por vencido.
— Tarek fica cuidando do Cam, eu irei contigo, — propôs Marcus.
— Eu também quero ir, — interveio Tarek dando um passo à
frente. — assim como vocês, tenho direito de conseguir minha
vingança. — Seus olhos vermelhos brilhavam com fúria, conhecia seus
sentimentos, sabia o quão importante era isto para ele.
— Eu sei, irmão — disse pondo minha mão em seu ombro. — Mas
agora mesmo meu irmão e minha mulher são mais importantes,
lamento te pedir que desta vez fique para trás, mas estou te confiando
a vida do Cam, e você melhor que ninguém sabe que ele, mais que meu
irmão, é meu filho. — ficou em silêncio um momento, finalmente,
assentiu; compreendia o que estava custando fazer isto e agradecia
profundamente que o fizesse.
— Prometo que terá sua vingança, mesmo que não for por sua
própria mão, — jurei logo depois de abraçá-lo.
— Conto com isso, — me respondeu.
Quando estacionamos na parte dianteira, meu companheiro
inspecionou o lugar. O setor era bastante luxuoso, na rua podia se ver
estacionados vários automóveis caros, o edifício tinha um aspecto
moderno, com grandes janelas de vidro que ocupavam toda a frente,
tão imponente; definitivamente, o rato do Razvan gostava de
demonstrar que tinha poder.
— Então é assim a toca do lobo, — comentou meu irmão
levantando a cabeça até a parte alta do edifício de uns quarenta
andares.
— Parece que seu negócio de armas e drogas é bastante lucrativo.
— respondi.
— Não deveríamos ser mais sigilosos com nossa chegada? —
questionou enquanto caminhávamos até a entrada.
Neguei com a cabeça.
— Não teria sentido, estou seguro de que Razvan tem cada
polegada disso aqui vigiado, a esta hora já deve saber que estamos aqui.
Paramos antes de entrar, com certeza um verdadeiro inferno nos
esperava lá dentro.
— Se por acaso não sairmos vivos, quero que saiba que foi bom
conhecê-lo.
— Aqui é onde me abraça, me beija e me diz que me ama? —
perguntei brincando.
— Diabos, não, vamos deixar a merda romântica para o Tarek.
Ri, mas em seguida voltei a ficar sério porque era verdade que
tínhamos uma grande possibilidade de não sair vivos.
— Agradeço que tenha vindo comigo.
— Bom, não é como se tivesse algo melhor que fazer, — disse
encolhendo os ombros. — Era vir e confrontar uma morte segura, ou
recolher os corpos das sanguessugas mortas; assim decidi que a
limpeza não é o meu lance.
Sacudi a cabeça enquanto dava um comprimento no ombro e
começávamos a caminhar novamente.
Olhávamos todos os lados esperando ser atacados a qualquer
momento, embora nos tenhamos nos metido em uma armadilha,
conscientes disso, não queríamos que nos pegassem despreparados. O
interior do edifício era bastante luxuoso, nossas botas ressonavam no
piso de mármore negro e as paredes eram tão brancas que pareciam
brilhar; alguns vasos e quadros de artistas famosos que não conhecia
nem me interessavam decoravam o interior.
Tudo estava muito silencioso, como se o edifício estivesse vazio,
embora fossem nove da noite. Escutamos os ruídos que nos alertavam
de passos se aproximando e sentimos o estalo da porta que tinha sido
trancada.
— Parece que Razvan não deseja que abandonemos seu luxuoso
lugar.
Ouvi o sarcasmo na voz do Marcus, então nos vimos rodeados por
uns dez demônios.
Esperamos que nos atacassem, mas, em troca, começaram a
sacar armas e nos apontar.
— É sério pensam que essa merda funciona? — perguntei.
Quando o primeiro disparo saiu, não se escutou como a detonação que
produzia uma arma de fogo, ao contrário, vi um pequeno tubo que se
cravou em minha pele, logo senti outro, e outro mais.
— Filho da puta, são sedativos. — Escultei a voz de meu amigo já
longe nesse momento, eu já começava a perder a consciência. Quis
gritar pela minha estupidez, tinha subestimado Razvan pensando que
lutaria da forma em que o fazíamos sempre.

Acordei me sentindo desorientado, levantei a mão para passar no


rosto e então senti um puxão. Olhei até um lado para ver que estava
preso a fortes grilhões, isso me fez despertar de vez, me encontrava
pendurando no teto, pelos pés e mãos. Lutei para romper as correntes,
mas estas eram muito fortes, e comecei a rugir furioso.
— Maldito Razvan, — gritei enquanto lutava com minhas
amarras.
Minhas mãos estavam em carne viva, não soube quanto tempo
tinha passado quando escutei um som, girei a cabeça por todos lados
procurando de onde vinha, até que uma tela de televisão se iluminou.
Por um momento, não vi nenhuma imagem, mas então meu coração
quase explodiu quando o rosto de meu anjo apareceu nela; parecia que
estava adormecida ou deprimida, não podia decifrá-lo. A câmara
começou a se afastar e me permitiu vê-la completamente, e o que vi
esteve a ponto de me lançar direto ao inferno: seu corpo nu estava
pendurado por correntes e a cabeça estava em uma posição que me fez
perguntar se ainda seguia viva. A ira obscureceu minha visão, a última
vez que tinha chorado foi quando tinha dez anos e Razvan tinha
assassinado a minha mãe, mas nesse instante, vendo minha pequena
Alana, não pude evitar que uma lágrima escapasse. Nesse momento, o
ser que mais desprezava se aproximou dela e levantou sua cabeça para
gira-la em direção à câmera. A pele estava pálida, e ele fez que abrisse
os olhos; estava viva, meu anjo estava viva. Por um segundo, me permiti
respirar tranqüilo, mas isso durou pouco.
— Vê, Alexy? Não pôde fazer nada por sua mãe e não poderá fazer
nada por sua mulher, agora ela me pertence. — Com uma de suas
garras desenhou um R na parte superior de seu seio direito, ela gritou
de dor enquanto o sangue brotava, então ele se inclinou e a lambeu. A
vi tentando se afastar ao mesmo tempo que lutava com as correntes
que sustentavam suas mãos, mas ele riu de seu esforço.
— Se afaste, monstro. — a escutei gritar enquanto levantava os
pés para chutá-lo.
Nunca me senti tão orgulhoso, era pequena e tão frágil que Razvan
poderia rompê-la com um só dedo e, mesmo assim, ela lutava com ele.
A imagem desapareceu e o televisor desligou, sabia que estava jogando
comigo, tratando de me descontrolar e o pior de tudo era que estava
conseguindo.
De novo lutei com as malditas ataduras, mas pareciam
inquebráveis.
— Não deveria se incomodar. — minha cabeça se levantou ao som
dessa voz, tinham passado séculos da última vez que a escutei, mas
era como se não tivesse passado o tempo. — Deve te interessar saber
que as correntes foram feitas no inferno, assim não poderá as romper,
acaso não te parece uma idéia genial de minha parte?
— Filho da puta, se certifique de me matar porque se não, juro
que eu também levarei você ao maldito inferno para te arrancar as
vísceras.
O bastardo teve a ousadia de rir, o que fez que meu sangue
fervesse mais.
— Sabe? Devo reconhecer que tem muito valor, é uma pena que
saiu tão fraco como a puta de sua mãe.
Rugi mais forte e me lancei para frente, mas só consegui
machucar mais meus pulsos.
— Não se atreva a mencioná-la com sua suja boca.
— Teria gostado que tivesse escutado como gritava pedindo
clemência quando a estuprei — puxei com força as correntes e senti o
líquido quente brotar e descer por meus braços. — Devo dizer que não
foi tão bom, era uma cadela frígida.
Estava disposto a me arrancar as mãos se com isso conseguisse
chegar a ele
— Juro por sua memória que vou acabar com você, maldita
sanguessuga.
— É bastante dramático, querido filho, especialmente porque
agora mesmo não está em condições de ameaçar. Mas não se preocupe,
serei um bom papai e permitirei ver como sua mulher vai gozar quando
a tiver.
Enquanto falava, ia girando ao me redor, parou atrás de mim e
quis virar a cabeça, mas as correntes não me permitiam isso.
— Sempre odiei estas malditas asas, vocês se acreditam
superiores por té-las. Me pergunto o que faria sem elas.
Uma forte dor se estendeu por minhas costas quando suas garras
começaram cortá-las.
— Filho da puta, — gritei. As malditas correntes não cediam nem
um pouco, joguei a cabeça para trás e tive a sorte de acertar; Razvan
deu um grito de dor e se afastou. Me sentia como um animal furioso,
tinha falhado com minha mãe e nesse momento estava falhando com
meu anjo.
— Sempre te odiei, maldito bastardo, — disse. — Lembra disto?
—perguntou enquanto cravava uma de suas garras em meu estômago.
— Não te parece um deja vú? — A dor me atravessou e recordei quando
tinha feito o mesmo quando eu era um menino. — Mas desta vez me
assegurarei de não te deixar vivo. Por agora, te permitirei um tempo de
meditação.
O vi sair enquanto cantarolava uma antiga canção. Nesse
momento, meu ódio aumentou mais se isso fosse possível.
Um momento depois, escutei passos que se apressavam pelo
corredor e me preparei, sabia que Razvan pretendia fazer dano a Alana
antes de acabar comigo. A porta se abriu com força se estalando na
parede, e McKenna entrou correndo. Rosnei, mas então Marcus estava
atrás dele e um enorme alivio me percorreu quando vi meu irmão vivo;
estava bastante golpeado e machucado, mas ao menos estava vivo.
McKenna se apressou a abrir os grilhões e me deixou livre.
— O que está fazendo? Se isto for uma espécie de truque, juro que
acabarei com você.
— Que tal se em lugar de ameaçar me agradecer por estar
salvando seu traseiro? — Se voltou para a porta e nos fez um gesto
para que o seguíssemos. Uma vez fora nos guiou por um corredor.
— Está bem? — perguntou Marcus olhando minhas feridas.
— Sobreviverei, só para acabar com esse filho da puta. — respondi
— Maldição, acredito que temos companhia, — gritou McKenna.
Quando escutei, olhei à frente para ver que um grupo de demônios
vinha em nossa direção. — Se afastem, — disse tirando algo de seu
bolso.
Marcus e eu retornamos por onde vínhamos, e este lançou um
artefato até os demônios; a explosão nos deixou tonto, mas em
segundos todos se converteram em cinzas.
— Cara, isso sim foi eficiênte, — comentou Marcus.
— Me agradeça por isso também. — respondeu nosso novo aliado
enquanto começávamos a correr. — Temos quinze minutos para tirar
sua mulher antes que este lugar voe em pedaços.
— Por acaso você colocou explosivos? — perguntei, correndo mais
rápido.
— Como pensava em sair vivo daqui se não derrubando esta
maldita coisa?
Tinha que lhe dar um ponto por isso, estava nos ajudando mais
do que esperávamos.
Quando viramos em uma esquina, uma alta figura saiu de uma
sala. Apertei os punhos quando vi de quem se tratava, ela inclusive não
nos tinha visto, parecia que tinha escutado a explosão e isso a tinha
alertado de que algo estava acontecendo; olhou em nossa direção
quando as solas de nossas botas ressonaram. Assim que me viu, seus
olhos se aumentaram e quis desviar o olhar, mas era muito tarde, tinha
visto o suficiente para saber que não só passou ao lado escuro, mas
sim, de alguma forma, estava aliada com meu pior inimigo. Tão rápido
que não dei tempo de escapar, cheguei a seu lado e a peguei no pescoço.
— Se atreveu a me trair, cadela. — Pela primeira vez, em seus
olhos vi verdadeiro terror.
— Não, Alexy, me escute, eu o fiz por nós.
— Acredita que com essa merda me vai convencer?
— Juro, eu te amo e só queria que estivéssemos juntos.
— Eu sei que foi cúmplice do rato do Razvan para trazer minha
mulher aqui. Me diga, em que mais o ajudou?
— Além de abrir as pernas para ele? — disse McKenna atrás de
mim. Saskia começou a negar, mas eu sabia que o escocês não mentia.
— Por favor, Alexy, não acredite em nada do que está dizendo.
— Inclusive se não acreditasse em suas palavras, teria que
acreditar em seus malditos olhos de demônio. É obvio que acredito no
que está dizendo, sabia que podia jogar baixo, mas nunca imaginei que
seria tanto, e agora vai pagar por ter me traído e ter jogado com a vida
da mulher que amo.
— Não, A... — Não terminou de falar, levantei minha mão e, sem
me deter nem um segundo, cortei sua cabeça.
— Cara, não é de conhecimento que não se deve tocar em uma
dama nem com uma pétala de rosa?
Olhei McKenna dando uma advertência, então levantou as mãos
em gesto de rendição e parou.
— Essa não era uma dama, era uma puta traidora.
Passamos pelo lado do cadáver da Saskia e nos focamos no que
realmente nos preocupava nesse momento, conseguir sair com vida.
— Sua mulher está nessa direção, o quarto está ao final do
corredor; deixei a porta aberta. Enquanto você vai por ela, nos
encarregamos dos outros demônios.
Assenti e corri na direção que me indicou.
Quando cheguei senti como se me tivessem dado um murro que
tirou todo o ar de meus pulmões. Seu pequeno corpo nu pendurava de
umas correntes, tinha a cabeça inclinada sobre seu peito, seu cabelo
se encontrava desordenado e um de seus seios estava coberto de
sangue devido à marca que Razvan tinha feito; nesse momento senti
minha fúria tomar conta.
— Anjo. — Assim que escutou minha voz, sua cabeça se levantou
e seus olhos se focaram em mim, estavam vermelhos e inchados, como
se tivesse estado chorando.
— Alexy, você veio, — disse com voz entrecortada.
— É obvio que vim, anjo, eu iria até o inferno por você.
— Está ferido, — falou olhando o sangue que brotava da ferida
que havia em meu abdômem.
— É só um arranhão, ficarei bem.
Cortei suas correntes sem problemas, felizmente, Razvan não
tomou tantas precauções com seus grilhões. A seus pés descansava
um lençol, assim que a cobri, a levantei em meus braços e ela se
agarrou a meu pescoço.
— Lamento muito, — soluçou escondendo o rosto no meu
pescoço. — É minha culpa que teve que vir, e agora está machucado.
—Shhh, não diga isso, meu amor, ele teria me trazido de qualquer
forma, sabia que só há uma coisa que pode me machucar, e é te perder.
Nada disto é sua culpa — disse juntando minha testa com a sua.
— Vão para algum lugar? — Razvan se encontrava com os braços
cruzados, como se não tivesse nenhuma preocupação no mundo,
enquanto me lançava um olhar malicioso.
Com cuidado, depositei a minha mulher no chão e a aproximei da
parede.
— Fique aqui, anjo. — Então, enfrentei a meu inimigo. — Não, é
obvio que não irei sem antes deixar o lugar limpo.
O filho de puta riu, mas começou a se aproximar como um leão
que espreita a sua presa. Tentei mover minhas asas para ver o quanto
estava machucada, e a forte dor me disse que desta vez não poderia as
usar.
Avancei nele e ambos rodamos pelo piso, isto machucou ainda
mais minhas asas, mas não me importei, esta era minha oportunidade
de acabar com ele. Conseguiu ficar de costas no chão e sobre mim
enquanto lançava sua garra em direção a meu pescoço, mas me
esquivei. Em troca, levantei minha mão e as enterrei em seu estômago,
da mesma forma que ele tinha feito comigo, o empurrei e o afastei.
Razvan ficou de pé enquanto grunhia.
— Para quem havia se gabado de como ia me matar, está fazendo
um péssimo trabalho. — provoquei.
—Não vai pensar assim quando tiver sua cabeça pendurada em
minha mão, — disse com fúria enquanto avançava contra mim
novamente.
Deixâ-lo furioso estava funcionado, seus movimentos eram
descontrolados, isto me permitia esquivá-lo. Virei e acertei sua
bochecha, que começou a sangrar, e ele passou o dorso da mão e,
depois de olhar o rastro de sangue, levou a boca e o lambeu.
— Nunca será rival para mim, puto bastardo.
— Fala muito, Razvan, começo a pensar que sua língua é maior
que sua força. — Me olhou por um momento e seu olhar se desviou até
Alana.
“OH, não, de maneira nenhuma”, antes, teria que me matar para
chegar a ela. Quando se moveu em sua direção, o empurrei contra a
parede com força; algumas pequenas partes se desprenderam e caíram
ao piso. Antes inclusive de que pudesse se levantar, chutei sua virilha
e fiz que se dobrasse.
— Parece que alguém por aqui não poderá foder nunca mais, —
disse com sarcasmo. — Isso é bom, não podemos nos arriscar que saia
igual a você.
Razvan voltou a atacar e conseguiu me derrubar, escutei o grito
de Alana, que tinha se mantido em silêncio todo o tempo. Não ia perder
esta batalha, se fizesse, minha mulher morreria, e isso era algo que não
estava disposto a deixar acontecer. Uma das garras do Razvan se
aproximou perigosamente do meu rosto mas consegui detê-lo com
minhas duas mãos, e fiquei sentado sobre seu peito. Sem soltá-lo,
dobrei sua mão até que escutei o rangido do osso quebrado. Quando
tentou se liberar, apertei mais forte e finalmente esta se desprendeu do
braço; Razvan rugiu de dor. Quando me dispunha a terminar o
trabalho e por fim acabar com a maldita besta, uma forte explosão se
escutou em alguma parte, o ruído me desorientou, e isso deu tempo de
me empurrar longe e de ficar de pé.
— Isto não acabou, — disse enquanto sustentava seu braço que
sangrava; seu pulso estava no chão. Correu e desapareceu pela porta.
Tentei segui-lo, mas lembrei que McKenna havia dito que só
tínhamos quinze minutos antes que o lugar explodisse. Amaldiçoei pela
oportunidade perdida e me apressei para pegar Alana em meus braços
e tirá-la daqui.
— Vamos, anjo, é hora de ir para casa.
Ela beijou meu pescoço enquanto me abraçava.
Corri pelo corredor até que encontrei Marcus e McKenna nos
esperando junto à porta das escadas.
— Teremos que subir os três andares por aqui, — disse este
último. — Não podemos nos arriscar a ficar presos no elevador.
Subimos tão rápido quando pudemos até chegar ao primeiro piso.
Quando saímos, tudo estava em chamas. De repente, vi Marcus ficar
tenso, como se estivesse paralisado, então lembrei como tinha morrido
sua família e a forma em que tinha tido suas cicatrizes.
— Marcus, temos que sair daqui. — Pareceu que não me escutava
porque não se moveu. — Por um demônio, Marcus, vamos morrer se
não formos.
Então, por fim reagiu e corremos desviando das chamas. Assim
que acabamos de sair o edifício explodiu e a onda expansiva nos
arrastou; caí de joelhos enquanto protegia Alana com meu corpo.
Marcus e McKenna caíram uns metros mais à frente.
— Isso foi quase, — se queixou McKenna ficando de pé, sua roupa
estava rasgada e seu rosto cheio de cortes, um de seus braços sangrava
tanto que deixava uma pequena poça no piso.
Olhei para Marcus que não estava em melhores condições, parecia
que ambos tinham tido muita diversão se desfazendo dos amigos do
Razvan.
— Conseguiu? — perguntou Marcus se aproximando de mim,
sabia que me perguntava se tinha conseguido matar ao Razvan, e
neguei me sentindo frustrado.
— Então suponho que nossa busca contínua, — falou de forma
tranqüila.
— Tarek não ficará muito feliz de saber que ele escapou.
— Parece que não o conhece? Pelo contrário, estará feliz de saber
que ainda tem uma oportunidade de pôr suas mãos no sujo bastardo.
Isso fez me sentir menos culpado por não ter podido cumprir o
que prometi a meu irmão.
— Então aqui é onde nos despedimos, — comentou McKenna.
— Obrigado, nunca esquecerei o que fez. — Estendi a mão e ele a
pegou.
— Sei que não o fará, eu me encarregarei de que se lembre. Boa
sorte, garota, é muito valente. — disse, se inclinando para estar à altura
de minha mulher.
— Obrigada, — respondeu ela. — Mais ainda não sei seu nome.
— McKenna, Aidan McKenna.
Ficamos ali vendo enquanto se afastava, a nossas costas o edifício
continuava em chamas, ao longe, se escutava as sirenes dos bombeiros
e as patrulhas da polícia.
— Hora de ir para casa, — Todos concordaram e então fomos para
o bar.
Hoje posso não ter cumprido a promessa que tinha feito a minha
mãe, mas, fiz uma nova, prometi que cuidaria de meu anjo com minha
própria vida.
22
ALANA

Aquela manhã despertei e respirei aliviada, ainda não podia


acreditar que tivéssemos saído do pesadelo. Tinha pensado que íamos
morrer, que perderia Alexy, mas, felizmente, tínhamos conseguido
graças à pessoa que menos esperávamos. Tomara que algum dia volte
a ver o Aidan McKenna, nunca o agradeceria o suficiente.
— No que esta pensando, anjo? — perguntou Alexy beijando meu
ombro.
— No Aidan, que graças a ele conseguimos sair com vida desse
lugar. —Virei para ficar frente a ele e escondi meu rosto em seu
pescoço.
— Sempre terei uma dívida com ele, — disse acariciando minhas
costas. — Me ajudou salvar a sua vida, e isso será suficiente para que
a partir de agora e durante o resto de minha vida tenha minha gratidão.
— Por que você acredita que ele traiu Razvan?
Alexy ficou em silêncio, pensando na minha pergunta.
— Realmente não acredito que o tenha traído, penso que nunca
esteve de seu lado, McKenna não se entregou totalmente ao mal, assim
isso me leva a considerar a idéia de que estava com o Razvan por outras
razões.
Sua hipótese era bastante razoável, Aidan não tinha sido cruel
comigo enquanto estava presa.
A mão com que Alexy acariciava minhas costas baixou lentamente
até chegar a meu traseiro, suas carícias eram suaves, levantei a cabeça
para encontrar seu rosto perto do meu. Me estiquei para chegar a sua
boca e dei uma suave mordida no lábio. Ele deixou sair um pequeno
gemido e eu o empurrei para que ficasse de costas e pudesse me sentar
sobre ele. Agarrou meu cabelo e aproximou minha boca à sua para um
beijo intenso, minhas mãos percorreram seus ombros enquanto ele
seguia me fazendo amor com sua língua. Comecei a beijar seu queixo,
lentamente fui baixando, e ele levantou a cabeça para me dar acesso a
seu pescoço. Aproveitei para passar minha língua; seu sabor era doce
e salgado ao mesmo tempo, e nesse momento compreendi que a
fragrância amaderada que sempre sentia e que me deixava louca não
era nenhuma colônia, era simplesmente algo que fazia parte de sua
raça. Deixei que minhas mãos vagassem por seu peito enquanto eu
prosseguia o caminho de meus beijos até chegar ao lugar que desejava,
sua enorme ereção me convidava a prová-lo, segurei com meus dedos,
inclinei a cabeça e lambi.
— Santo céu, amo quando faz isso. — Sua voz saiu como uma
espécie de rosnado, suas mãos seguraram os lençóis , dei uma segunda
lambida e, chupei com força a ponta. Seu corpo se arqueou, e o levei
mais profundo em minha boca, apoiei minhas mãos em suas pernas
enquanto o saboreava. Seus olhos estavam fixos nos meus e nossos
olhares não se separaram nunca.
— E eu amo fazer isso, — disse me afastando um momento para
retornar a minha tarefa de o agradar. Fazer isto me deixava totalmente
excitada, dei atenção especial à parte sensível atrás de seu pênis, sabia
que gostava quando lambia alí. Minha língua fez redemoinhos, o
provocando, e ele seguiu gemendo. Minhas mãos acariciaram suas
pernas, subi um pouco até chegar a seus quadris e seu abdomem.
— Anjo, estou a ponto de explodir. — Baixei uma de minhas mãos
até segurar seu testículo e raspei brandamente com meus dentes, isto
pareceu ser o detonador porque um grito saiu de sua boca enquanto se
derramava na minha garganta. — Maldição, acho que quero ficar nesta
cama o resto de minha vida.
Ri de sua idéia, tinha que reconhecer que era muito tentadora, e
me aproximei de seus lábios para beijá-lo. Apenas os toquei quando já
me tinha de costas e separava minhas pernas com seu joelho para
entrar em mim. Fez amor devagar e beijou cada parte de meu corpo.
— Te amo, —disse enquanto deitamos abraçados.
— E eu amo você, anjo.
Logo depois de beijar minha testa, me abraçou mais forte e
dormimos.
Despertei só. No lado, sobre o travesseiro, encontrei uma pequena
nota acompanhada de uma rosa vermelha.

“Estarei no escritório.
Te amo.”

Saí da Cama e fui tomar um banho, deixei que a água caísse por
meu corpo, lavei meu cabelo e finalmente saí para me secar. Me
aproximei do espelho e o limpei, pois tinha ficado embaçado pelo vapor.
Enquanto secava, fiquei olhando para a cicatriz que estava no meu
peito, o R que tinha marcado Razvan. Tinham passado duas semanas
e nesse momento era só uma marca vermelha. Era um feio aviso do que
tínhamos que passar, muitas coisas tinham mudado; Cassy e a Saskia
estavam mortas; Cam já não era o mesmo esde a morte de Raven,
passava a maior parte do tempo em silêncio, só ajudando a reconstruir
o bar, poucas vezes falava e, embora tentássemos chegar a ele, não
estávamos conseguindo. E o pior de tudo era que Razvan estava em
algum lugar, escondido e esperando o momento certo para atacar.
Voltei ao quarto para me vestir e reparei na rosa que descansava
sobre a mesa de cabeceira, então uma idéia passou pela minha cabeça.
Com um sorriso e mais animada, me vesti rapidamente e corri pelo
corredor; bati na porta de Marcus.
— Olá, — saudei com um sorriso.
— Alexy não está com você. — disse no lugar de responder a
minha saudação, e olhou até o corredor.
— Não está, vim porque quero te pedir ajuda com algo, é uma
surpresa que quero dar a ele. — Sua expressão se suavizou quando me
escutou dizer aquilo. Marcus, apesar de seu aspecto sombrio, amava a
seus irmãos.
— Que tipo de surpresa estamos falando? — perguntou cruzando
os braços.
— Acho que preciso de um pouco do seu trabalho artístico, —
disse com um sorriso.
— Trabalho artístico?
— Sim, quero que faça uma tatuagem.
Se afastou como se minhas palavras tivessem veneno.
— Esquece, Alexy me matará se colocar uma mão em cima de
você.
— Por favor, eu só... Só quero cobrir isto, — roguei baixando um
pouco minha camiseta para mostrar a marca. Vi fazer uma careta,
jogou a cabeça para trás e suspirou.
— Está bem, vamos fazer. — Entrou no seu quarto e o segui.
Nunca o tinha visto, mas era um lugar bastante agradável. Nas
paredes tinham alguns desenhos que estava segura de que ele tinha
feito. Havia um em especial, uma mulher e uma garota mais jovem que
vestiam roupas que pareciam de outro século. Era em branco e preto,
assim não podia saber a cor de seus olhos, mas algo me dizia que eram
da mesma cor que os do Marcus. Então lembrei que Alexy havia dito
que sua mãe e irmã tinham sido assassinadas.
— Tem alguma idéia em mente para o desenho? — perguntou
afastando minha atenção do desenho.
— Sim, tenho uma idéia muito boa.
Três horas depois, o trabalho estava terminado, me olhei no
espelho para apreciar minha nova tatuagem e gritei de emoção. Corri
para abraçar Marcus, que me devolveu com um sorriso; era a primeira
vez que via sorrindo. Talvez não só Tarek necessitasse de uma garota
que o amasse, certamente, em algum lugar, havia uma para Marcus
também. Agradeci e fui procurar Alexy. Encontrei-o sentado atrás de
sua escrivaninha, com várias faturas espalhadas por todos lados. Sabia
que a reconstrução do bar estava gerando muitos gastos e ainda tinha
a casa. Entrei sem bater e, quando me viu, seu rosto se iluminou.
Caminhei até chegar a seu lado, e ele empurrou a cadeira para me
permitir sentar em seu colo.
— As coisas estão muito complicadas? — perguntei e dei um
suave beijo.
— Não se preocupe, não é nada que não possamos solucionar.
Parecia otimista, e isso afastou um pouco minha preocupação,
assim de novo me foquei na razão que havia me trazido aqui, desci de
suas pernas enquanto ele me observava com curiosidade.
— Tenho uma surpresa para você, — contei entusiasmada pelo
que ia mostrar.
— Sério? Acredito que eu gosto de surpresas.
— Pois esta você gostará mais. — Enquanto falava, comecei a tirar
a blusa, tirei lentamente para evitar me machucar, já que a zona seguia
um pouco dolorida. Quando tirei completamente, deixei cair no chão e
fiquei esperando sua reação. No momento em que seus olhos chegaram
a minha tatuagem, se abriram amplamente. — Você gostou? — Minha
voz soava nervosa.
— Vem aqui, — me ordenou sem nenhuma expressão que me
fizesse pensar se gostava ou não. Assim que me aproximei novamente,
me sentou em seu colo enquanto brandamente riscava a superfície das
rosas vermelhas que subiam por meu peito até meu ombro e
terminavam nas costas. — São lindas, — disse finalmente, o que me
fez dar um suspiro de alívio.
— Marcus as fez para mim. — Sua frente se enrugou.
— Está dizendo que meu irmão viu seus peitos nus enquanto fazia
a tatuagem?
— Isso é a únicoa coisa que te preocupa?
— Bom, sim, um pouco.
Neguei sem poder acreditar que sentisse ciúmes de algum de seus
irmãos.
— Pode ficar tranqüilo, ele não viu meus peitos, eu só baixei a alça
da blusa para que fizesse. — Sua atenção voltou de novo para as rosas.
— Ele fez um trabalho maravilhoso.
— Sim, e o melhor de tudo é que já não tenho a marca do Razvan
em meu corpo.
Sua boca capturou a minha, rodeei seu pescoço com meus braços
enquanto nos beijávamos.
Senti sua mão acariciar meus peitos nus, logo me levantou para
me sentar e me permitir sentir sua ereção. Eram estes momentos onde
sentia que éramos invencíveis, que nada podia nos tocar nem sequer o
mal de nossos inimigos.
EPÍLOGO
Alexy

Todos estavam ajudando na reconstrução do bar, éramos uma


família unida, todos dispostos a nos apoiar quando alguém precisasse.
Meus irmãos e eu tínhamos construído este lugar uma vez, assim o
faríamos de novo, depois de tudo, era como nosso segundo lar. Procurei
Alana e a encontrei no alto de uma escada, ao lado do Cameron, ela
segurava uma broxa de pintura enquanto dizia algo que o tinha feito
sorrir. Meu coração se agitou, meu anjo estava empenhado em tirar
Cam de sua escuridão, coisa que agradecia, porque cada dia meu irmão
se encontrava mais sombrio e temia que pudesse se perder.
— Ele vai ficar bem, — disse Marcus parando a meu lado. Girei a
cabeça e me dei conta de que ele também tinha seu olhar focado em
minha mulher e meu irmão. Igual a mim, meu amigo se preocupava
com Cam; ele, Tarek e eu o tínhamos visto crescer e cuidamos dele.
Assenti sem saber o que dizer, estava certo de que Marcus o
compreendia melhor que ninguém, ele era igual até certo ponto, ainda
seguia sem falar muito e estava acostumado a se afastar de todos, seu
único objetivo era caçar ao Razvan. O que me preocupava realmente
era não saber o que aconteceria depois, Marcus não tinha nenhuma
outra razão a que se segurar e eu não estava disposto a dizer adeus a
outro irmão; ter perdido ao Raven tinha afetado bastante a todos,
especialmente ao Cam, que continuava se culpando de sua morte.
— Eu continuo pensando que temos que colorir algumas paredes,
— se queixou meu anjo em voz alta para que todos a escutássemos.
— Esquece, pequena loira, —respondeu Tarek agitando um
martelo em sua direção. — Se insistir em pintar uma parede rosa,
cortarei minha cabeça eu mesmo para não ter que ver essa merda.
— Eu não disse que era rosa, talvez branca.
Ri diante da discussão que estavam tendo desde que começamos
a reconstrução; ela insistia em colocar um pouco de cor e Tarek seguia
negando.
— Ainda é uma cor inaceitável para mim.
— Ah, sim? E o que é aceitável para você, só preto? — Meu amigo
encolheu os ombros e, sorriu.
— Também o marrom dos mamilos de algumas garotas, —
respondeu piscando um olho.
— Auch, é um pervertido, — gritou enquanto arremessava a
broxa, que foi justamente em seu peito e salpicou seu rosto com
pequenas manchas negras.
— Mas que demônios? Alexy, não controla a sua agressividade
mulher?
— Eu não preciso que ninguém me controle. —repreendeu Alana
cruzando os braços. — E falando das partes sagradas de uma garota,
acredito que deveriam deixar que as que trabalham aqui vistam mais
roupa, não deveriam ficar por aí se exibindo.
— As partes sagradas de uma garota? Sério? — riu Tarek. —
Mulher, chamam-se tetas, simplesmente tetas.
— Como for, não acredito que devam ficar por aí mostrando suas
tetas —disse fazendo o gesto de aspas com seus dedos.
— Está louca? — perguntou Cameron participando pela primeira
vez da discussão. — Se se vestirem, perderíamos todos os clientes.
— Não estou de acordo, além disso, eu não gosto que meu homem
esteja vendo mulheres nuas.
Meu peito de inflou ao escutá-la me chamar de seu, porque sim,
eu era e o seria até meu último fôlego.
— Com isso não se preocupe, garota loira, — comentou Tarek
seguindo com seu martelo. — O homem perdeu os ovos no dia que pôs
os olhos sobre você. Qualquer uma das garotas poderia ficar totalmente
nua frente a ele e não a veria, por que acha que todas recorrem a mim
por consolo? É uma verdadeira sorte que eu seja tão disposto. — O
sorrisso arrogante no rosto de meu amigo me fez balançar a cabeça; o
homem não tinha remédio.
— Algum dia aparecerá uma garota pela a qual vai se apaixonar.
— disse ela.
— Esquece, carinho, meu coração é muito grande para que o
entregue a uma só.
— Sim, definitivamente me assegurarei de te lembrar isso quando
estiver perdido.
Algo me dizia que essa promessa se cumpriria e eu queria estar
aqui para presenciá-lo.
— Não posso acreditar que estejam tendo esta conversa, por acaso
tem alguém maduro neste lugar? — queixou-se Marcus, mas pude ver
o indício de um sorriso em seus lábios.
Eu gostava da camaradagem que havia entre eles, a tinham aceito
no primeiro momento, todos a viam como a uma irmã e cuidavam dela.
Nossa luta não estava nem perto de terminar, simplesmente tivemos
uma trégua, mas todos sabíamos que acabaria logo. Por isso estávamos
nos preparando para fazer frente ao que seja que estivesse por vir.
Razvan voltaria, e o esperava ansiosamente. Caminhei até onde se
encontrava meu anjo; assim que me viu, um enorme sorriso apareceu
em seus lábios, sem aviso, se lançou em meus braços, eu a segurei e
beijei enquanto escutava meus irmãos rirem a nosso redor. Não
sabíamos o que nos proporcionaria o futuro e tínhamos a certeza de
que a luta seria sangrenta, mas ao menos tinha uma razão para querer
sair vivo dela.

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