O casal era infeliz, casaram-se e viveram infelizes para sempre.
Brigas constantes perturbavam-lhes, causando a morte deles por conta da insatisfação do casamento dos mesmos. Notório que ambos foram para o inferno, onde pagariam pelos seus pecados. No inferno, um ano parecia um século. Indubitavelmente, ficariam por ali até que suas almas apodrecessem ou evaporassem. Eternamente, seriam obrigados a assistir a causa da morte deles: -Primeiro ela começa a discutir com o marido sobre a possibilidade de adotar cães para fazer companhia a eles, consequentemente, ele não concorda com essa opinião. O que acabou gerando uma incessante discussão que acabou com ela servindo uma xícara de chá para o esposo, não uma xícara de chá qualquer, continha ácido fluorídrico na bebida e ocasionalmente fez com que ele visse o frasco do veneno no armário onde buscaria açúcar. Vai imediatamente até a esposa, tomado pela raiva, estrangula ela até a morte e espera até que a sua chegue também. Eram obrigados a suportarem-se por muitos anos no inferno, até que quando ela conseguiu um jeito de escapara das celas e dos grilhões que prendiam-lhes naquele lugar. Descobriu como voltar para casa e retornou a sua rotina diária (pelo menos tentaria). Inegavelmente, ela esquecera de um detalhe, que como na terra, também haviam leis a serem cumpridas no inferno, os chamados testamentos. E o primeiro testamento dizia “Uma vez no inferno, sempre no inferno. Nunca houve, não há e nem haverá como escapar sem que os demônios vigiem-no eternamente”. Ela até tinha a liberdade de sair de lá, mas a mesma teria de conviver com os anjos caídos à sua volta. Achara que era tolice então, tentaria voltar a viver como antes, e não teria de se preocupar com outras coisas e até pôr em dia sua rotina que tanto gostava. Sem a sua percepção, estava rodeado pelos detestados anjos caídos ou demônios que observavam-na constantemente e distorciam sua mente, mudando na forma de como ela pensava, gerando uma conturbada esquizofrenia paranoide aguda. No mundo das alucinações e ilusões, estava pagando pelos seus erros (aqueles da qual não tinha consciência) e teria de de carregá-los, assim como Cristo carregou a cruz nos ombros. Pesadelos atormentavam a sua enfraquecida mente durante as noites, eram apenas pequenos “gatilhos” do que restara de suas lembranças, como quando cavalgava pela planície e quando andava de bicicleta nas ruas de Londres, lembranças dela vestida de noiva na casa da mãe. Tristemente, não se recordara do marido morto, que agora estava a apodrecer no purgatório. Maltratado e surrado todos os dias pelos anjos caídos. Seu rosto não tinha mais expressões, mal se lembrava do que era felicidade, apenas restara tristeza e arrependimento. Todos as noites rezava pelo perdão de Deus, mas achava que era ouvido, até que fora levado ao paraíso, por realmente ter reconhecido seus erros e arrependido pelo seu passado. Agora, talvez voltaria a sorrir, não ao lembrar da situação da esposa, mas seu rosto esboçava o que era pra ser um sorriso e de seus olhos escorriam lágrimas. A mulher, ainda desorientada, aceitava o mundo como era, pra ela tudo era a vida normal de uma mera mulher que vivia sozinha, infelizmente, sua mente não recordava de seus erros e pecados cometidos. Apesar de tudo, a solidão à perturbava, havia tomado conta de seu coração. Percebera que não tinha ninguém, a vida que ela vivia não era feliz, então chorou, chorou como uma criança com fome. Pelo chão escorriam as lágrimas do que era arrependimento, mas não tinha sabedoria sobre. Descera até o porão, estava a tanto tempo ali e nuca dera importância ao local, descia as escadas de madeira envelhecida, dominada pelos cupins. Ao entrar percebeu muita coisa que faria suas lembranças voltarem, exclusivamente uma foto no chão, marido e esposa se casando, a esposa era ela, ela tinha alguém e ela precisava desse alguém para ser feliz. Lamentavelmente, não há nada que ela pudesse fazer, seu destino estava escrito. Os anjos caídos estavam cientes disso, era o momento crucial para acabar com tudo isso, ela iria “morrer” novamente, ela também já sabia disso, esperou até a sua hora chegar sentada em uma cadeira no porão empoeirado. Os demônios, foram avançando em direção a velha casa e destruíram- na completamente, sem deixar nada para trás, o telhado partiu-se ao meio e despencou por cima dos móveis que as pessoas valorizam, mas no inferno ou no céu, nada mais importa, apenas o que você fez pagará com a mesma moeda. Eles foram avançando até que chegaram no porão e se jogaram todos por cima dela, jogando-a contra o chão. Indubitavelmente, ela não fora para o céu, viveria eternamente no inferno. Talvez conseguisse o perdão, mas talvez ela não reconheceria. Sem ter escolha, teria de se arrepender, mas, será que o caminho do casal se cruzaria novamente em um futuro próximo?