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Encontro Nacional de
Acessibilidade Cultural
Sumário
Relato do Processo de Montagem do Espetáculo Acessível “A História do Peixe Grande” ............................. 4
Por entre obras de arte, cafés e diferentes públicos: uma experiência transdisciplinar em acessibilidade
cultural. ............................................................................................................................................................ 17
Vivência Linguística, Cultural E Artística No Aprendizado De Libras Por Alunos Ouvintes De Artes: Relatos De
Experiências Do Evento Artes & Libras Em Ciclo ............................................................................................. 29
Acessibilidade para pessoas com deficiência visual: Resultados do Memorial do Anglo UFPel ..................... 47
Jardim sensorial do Parque das Ciências: uma proposta de espaço para inclusão na interface com a
alfabetização científica e educação para a sustentabilidade .......................................................................... 77
Construindo Trajetórias Acessíveis para Pessoas Surdas na Plataforma OBAMA ........................................ 116
Acessibilidade programática dentro de uma pró-reitoria de extensão: Desafios e Possibilidades .............. 123
Livros que tocam: a definição dos materiais na concepção de livros ilustrados táteis ................................. 135
TRADUÇÃO AUDIOVISUAL ACESSÍVEL: Língua de Sinais e Legendas para Surdos e Ensurdecidos para o
‘making of Boi Encantado uma história cantada’ .......................................................................................... 141
Representações das Casas Gêmeas por tecnologias de fabricação digital: uma contribuição para o acervo
tátil do entorno da praça Cel Pedro Osório, Pelotas ..................................................................................... 168
Design orientado para o tato: elaboração de guia para a representação de figuras táteis para o estímulo
precoce em crianças deficientes visuais ........................................................................................................ 181
Tecnologia como forma de acessibilidade e aproximação das comunidades surdas: o éthos surdo na
contemporaneidade. ..................................................................................................................................... 211
Poéticas da voz e deficiência visual: O diálogo entre peça sonora, contação de histórias e audiodescrição na
escola ............................................................................................................................................................. 220
Resumo
O presente trabalho é o relato do processo de montagem do espetáculo teatral “A história
do peixe grande”, idealizado para ser acessível em sua estética às pessoas com deficiência. A
proposta foi criar um espetáculo onde a percepção sensorial das pessoas cegas e surdas fosse a
base para a criação de uma poética para a cena. Para tanto, estudamos a percepção sob o viés de
Maurice Merleau-Ponty e as poéticas da arte contemporânea multissensorial. A metodologia
utilizada foi a pesquisa participativa, na qual a pesquisadora é também autora, diretora e atriz
espetáculo. Os registros foram realizados a partir de fotos, vídeos e entrevista com os
participantes.
Palavras-chave: teatro; acessibilidade; multissensorial.
Abstract
The present work is the account on the process of setting up the theatre play “The tale of
big fish”, designed to be accessible in its aesthetics to people with disabilities. The idea was to
create a play where the sensory perception of blind and deaf people was the basis for the creation
of poetics for the scene. For this, we have studied perception under the perspective of Maurice
Merleau-Ponty and the poetics of multisensory contemporary art. The methodology used was
participatory research, in which the researcher is also author, director and actress. The records
were made from photos, videos and interviews with the participants.
Keywords: theater; accessibility; multisensory.
Introdução
1. Fundamentação Teórica
É uma nova forma de utilização dos significantes do teatro que provoca uma nova forma de
relação com o espectador, por meio de uma experiência partilhada.
2. O Processo de Montagem
2.3 Música
Como o espetáculo é um musical, diversas partes da narrativa são cantadas, sendo
acompanhadas pelo violonista cego Jonas Santiago (figura 1), responsável também pela criação
dos climas sonoros para as cenas. Jonas também participou de outros momentos do processo
criativo, funcionando como consultor cego para diversos aspectos da cena.
Figura 1. Foto da cena. Descrição da imagem: À esquerda, quatro personagens narradores, sendo dois homens e duas
mulheres. Três estão em pé e uma está sentada, olhando para o boneco, que é uma cachorra. À direita, do outro lado
do palco, o músico Jonas Santiago sentado em uma cadeira tocando violão, com óculos escuros. E ao seu lado
esquerdo, o intérprete de Libras, com roupa preta.
2.4 O uso do espaço/ cenário
A partir da necessidade da visita guiada ao cenário criado por Tiago Costa, iniciamos o
projeto de construção de um tapete sensorial, para que o passeio pela casa da Liana, pelo rio e
pelos outros elementos de cena ficasse mais significativo. Este recurso está sendo criado com
diversas texturas e aromas, sendo um grande piso podotátil.
Figura 2. Rio de tecido perfumado passando pela plateia. Apresentação no Sesc Quitandinha. Descrição da imagem:
Fotografia horizontal da cena. Em primeiro plano, o tecido fino azul claro com tiras de plástico passa por cima das
cabeças de crianças e adultos, que com as mãos o levam adiante. Ao fundo, duas personagens femininas observam o
movimento. Por trás delas, a casa cor de rosa do cenário, com uma porta e uma janela de tecido claro. A apresentação
acontece embaixo de uma tenda branca. Ao fundo, vê-se árvores.
4. Considerações Finais
Acreditamos que o processo de montagem não seja um fim, mas um ponto de partida, pois
certamente a obra irá se modificar com a interação do público, principalmente do público com
deficiência, que dará suas impressões e sugestões. Nossa proposta foi fazer uma provocação, dar
um pontapé inicial ao investigar a criação de um espetáculo que tivesse a deficiência como um
provocador para a poética da cena, e para isso foi necessário pesquisar uma nova estética, a partir
dessa outra condição sensorial da existência.
Registramos aqui a necessidade da continuação dessa pesquisa, agora com o enfoque na
recepção do público com deficiência. Na verdade do público em geral, pois trata-se de um
espetáculo feito para todos, onde o propósito é sempre unir, estarmos juntos na nossa
diversidade.
Referências
Resumo
Este trabalho é um relato de experiência com foco nas sensibilizações e oficinas realizadas
no Museu da Geodiversidade (IGEO/UFRJ) pelo projeto de extensão “Um museu para todos:
adaptação da exposição Memórias da Terra (MGeo-IGEO/UFRJ) para a inclusão da pessoa com
deficiência”. O projeto possui um forte caráter transdisciplinar entre os conhecimentos da
geografia, geologia, museologia, terapia ocupacional, arquitetura e urbanismo, letras-LIBRAS e
ciências da computação. As propostas de sensibilização e as oficinas têm como objetivo a
apresentação e discussão da acessibilidade cultural para pessoa com deficiência com enfoque na
dimensão atitudinal e tem se mostrado muito potente para se pensar e oportunizar a inclusão de
pessoas com deficiências em ambientes culturais. Por meio dessas ações tem sido possível
contribuir para a promoção da cidadania e do direito cultural da pessoa com deficiência dentro da
instituição e transpor tais discussões através do caráter extensionista do projeto que busca a
articulação com a comunidade, indo além dos muros institucionais.
Palavras-chave: Museu da Geodiversidade; Acessibilidade; Dimensão Atitudinal.
Abstract
This paper is an experience report focusing on awareness raising and workshops held at
the Geodiversity Museum (IGEO / UFRJ) by the extension project “A museum for all: adaptation of
the Memories of the Earth (MGeo-IGEO / UFRJ) exhibition to include disabled person ”. The
project has a strong transdisciplinary character among the knowledge of geography, geology,
museology, occupational therapy, architecture and urbanism, LIBRAS letters and computer
sciences. Awareness raising proposals and workshops aim to present and discuss cultural
accessibility for people with disabilities with a focus on the attitudinal dimension and have shown
very potent to think about and facilitate the inclusion of disabled persons in cultural
environments. Through these actions it has been possible to contribute to the promotion of
citizenship and cultural rights of persons with disabilities within the institution and to transpose
such discussions through the extension character of the project that seeks articulation with the
community, going beyond the institutional walls.
Keywords: Museu da Geodiversidade; Accessibility; Attitudinal Dimension.
Introdução
1. Fundamentação teórica
Com base nos conceitos desenvolvidos por Sassaki (2009), a acessibilidade se dá por meio
de seis dimensões que se atravessam. São elas: a arquitetônica relativa às barreiras físicas; a
programática que são através de políticas públicas, normas, legislações e etc; a comunicacional
nos meios de informação entre pessoas; metodológica nas diversas possibilidades dentro dos
processos de aprendizagem na educação, lazer e trabalho; instrumental referente às barreiras nas
ferramentas, utensílios, instrumentos e etc. e a atitudinal no que se referem aos estigmas,
preconceitos, estereótipos e discriminação que podem ser resultado da falta de conhecimento
sobre aspectos plurais e singulares das pessoas com deficiência. Tendo como base essas
dimensões essa proposta se dá no aspecto atitudinal em vista que as relações sociais que se
mostram como diferencial nas dinâmicas que ocorrem nos diversos espaços.
No contexto nacional, desde a Constituição de 1988, foram consolidados direitos
fundamentais para pleno desenvolvimento da cidadania do povo brasileiro. No que diz respeito à
pessoa com deficiência, apenas nos anos 2000 com a lei de nº 10.098 surgem às primeiras
orientações em relação a providências à promoção da acessibilidade. Na continuidade das
políticas públicas em 2008 o Brasil se torna signatário da Convenção Internacional das Pessoas
com Deficiência da Organização das Nações Unidas ocorrida em 2007.
Em 2015 com a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (LBI) – Lei nº 13.146,
passa a se discutir a deficiência através do modelo social deixando de lado modelo médico. Com
isso muito do que se relacionava à ineficiência no modelo médico, passa a ser visto como
diversidade no modelo social, entendendo também as deficiências das estruturas sociais para a
fruição das pessoas com deficiência e passa a considerar o contexto a que essa pessoa está
inserida. Dessa forma, buscou-se garantir o direito em diversas camadas do contexto social, tais
como saúde, educação, moradia, trabalho, assistência social, transporte e à mobilidade, a cultura,
ao esporte, ao turismo e ao lazer.
No que diz ao direito de acesso à cultura, Oliveira e Sarraf (2016, p. 152) afirmam:
A garantia do direito de acesso à cultura para pessoas com deficiência promove uma nova
dinâmica no universo da arte e das manifestações culturais, uma vez que acolhe e celebra a
diversidade de nossa sociedade e elimina barreiras de atitude que ainda existem, mas que
devem ser superadas.
Dentro dos espaços culturais uma estratégia para trabalhar a dimensão atitudinal é através
de capacitações, sensibilizações, rodas de conversa entre outras atividades de interação dialógica
entre pessoas com e sem deficiência. O que permite abordar aspectos relativos às diversas
especificidades humanas, bem como as deficiências dos espaços compartilhados que não dão
condições de fruição estética as pessoas com deficiência. Através dessa construção coletiva é
possível de forma interdisciplinar gerir tais espaços, tendo em vista a importância da participação
ativa de pessoas com deficiência para se pensar e implantar políticas públicas.
3. Perspectivas futuras
Referências
BRASIL. LEI Nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasília, DF, jul. 2015. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso em: jul.2018.
BRASIL. Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Estabelece normas gerais e critérios básicos
para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade
reduzida, e dá outras providências. Brasília, DF, set. 2000. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/lei10098.pdf Acesso em: set. 2018.
Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil - Rio. Declaração Universal dos Direitos
Humanos. 2009. p. 16.
Nada sobre nós sem nós: relatório final 16 a 18 de outubro de 2008/. Oficina Nacional de
Indicação de Políticas Públicas Culturais para Inclusão de Pessoas com Deficiência – Rio de
Janeiro, RJ: ENSP/FIOCRUZ, 2009. 124 p.
OLIVEIRA, A. S.; SARRAF, V. P. Do direito à Cultura, ao Esporte, Turismo e ao Lazer. In: SETUBAL, J.
M.; FAYAN, R. A. C. (Organizadores). Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência –
Comentada. Campinas: Fundação FEAC, 2016. p. 146-153. ISBN: 978-85-69685-03-6.
RESENDE, A. P. C., VITAL, F. M. de P. A convenção sobre Direitos das Pessoas com Deficiência
Comentada. Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Coordenadoria Nacional para
Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, 2008. 164 p.
SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: acessibilidade no lazer, trabalho e educação. Revista Nacional
de Reabilitação (Reação), São Paulo, Ano XII, mar./abr. 2009, p. 10-16.
Por entre obras de arte, cafés e diferentes públicos: uma experiência
transdisciplinar em acessibilidade cultural.
Between Works of arts, cafés and diferente audiences: a transdisciplinar
experience in cultural acessibility.
Angeli, Andréa A. C. (doutora em Psicologia Social e Institucional- UFGRS);
Nascimento, Luciana A. (terapeuta ocupacional voluntária– UFSM).
Departamento de Terapia Ocupacional. Centro de Ciências da Saúde.
Universidade Federal de Santa Maria – UFSM.
dea_amparo@yahoo.com.br; lunascimento.to@gmail.com
Resumo
Abstract
TOCCA: Transdisciplinary Program in Occupational Therapy, Body, Culture and the Arts,
develops teaching, research and extension activities between dance and occupational therapy
courses at the Federal University of Santa Maria. Its actions seek to observe, map and invent
devices that, among others, provide an expansion of experiences of cultural enjoyment and
production. TOCCA has two axes of action: One Body in the World and Walking. This work will
present one of the actions of the axis “a body in the world” that takes place at the Santa Maria
Museum of Art (MASM), and turns to the constitution and implementation of transdisciplinary
practices with the education sector promoting fruition in art accessible to various audiences in the
museum space.
Keywords: Occupational Therapy; Art-Health Interface; Cultural Accessibility.
Introdução
1. Fundamentação teórica
2. Metodologia
A equipe do programa busca construir espaços de trocas e de constante avaliação por meio
de grupos de estudos, supervisão e reuniões com os estudantes em estágio e voluntários, reuniões
clínicas para a discussão de casos em conjunto com sujeitos das instituições parceiras. De outro
lado, busca-se o registro constante das ações por meio de anotações, fotografias e vídeos das
ações desenvolvidas, que são analisados nas supervisões e reuniões da equipe de trabalho. Deste
modo, todos (equipe e sujeitos) podem cooperar na leitura da realidade e análise dos
acontecimentos, integrando teoria e prática, discussões com os sujeitos da atenção e supervisão
do grupo de trabalho. Utiliza-se da cartografia como método na análise das linhas de força que
compõem o território do programa, para a construção da intervenção e produção de
conhecimento com o vivido. Por meio da cooperação se desmancham espaços disciplinares ou a
manutenção de saberes, circunscritos a determinadas áreas do conhecimento, deseja-se o
encontro com o (s) outro (s) e a invenção de linguagens, ações que deem conta de exprimir as
necessidades vividas em cada espaço em que estão as atividades do programa. Um saber no entre
surge e se afirma em cada local.
O programa tem por linhas de análise da cartografia de suas atividades em todos os níveis
alguns vetores, abaixo descritos. Por meio deles a partir dos relatos de experiências nas reuniões,
observamos, procuramos material teórico que ajude a pensar e analisamos as proposições.
Desautomatizar – promover a tomada de consciência dos clichês, dos modos de fazer que
estejam automatizados pelas repetições cotidianas, dos valores nos quais estamos imersos e que
repetimos de modo pouco/nada crítico.
Sensibilizar – acordar os sentidos do corpo para os diferentes modos de expressão e de
percepção do mundo. Provocando uma ampliação do repertório por meio do contato com
atividades artísticas, histórias, imagens. O trabalho, portanto, investe na potencialização dos
processos criativos por meio da sensibilização, aproximação, apreciação de obras de arte (artes
plásticas, literatura, artes do corpo) e da experimentação em atelier de diferentes linguagens
expressivas e atividades corporais.
Agir/produção de si e do mundo - possibilitar a experimentação com diferentes linguagens
de modo a suscitar a invenção e a construção de um projeto pessoal em um coletivo.
Construir coletividades e cooperar – despertar e promover o desenvolvimento de redes
cooperativas na realização das atividades, estimulando a produção de vínculos pautados pelo
respeito à diferença.
No MASM, atua-se com reuniões semanais com a equipe do setor educativo, observando a
exposição e as estratégias de monitoria de modo crítico em relação à promoção de acesso à
fruição, bem como, construindo atividades e propostas que facilitem a apropriação da experiência
no museu, aproximando os sujeitos da produção de cultura e arte. Em reuniões mensais,
analisamos as proposições e tecemos conjuntamente direções para o próximo mês, tendo em
vista os artistas e suas produções. O museu tem uma circulação de exposições que mudam de uma
a duas vezes no mês.
Durante o ano de 2019 foram acompanhados três diferentes grupos e seus processos,
ligados a diferentes instituições de faixa etárias distintas. Ao longo deste período no Museu de
Arte de Santa Maria, nota-se o fortalecimento dos agentes da proposta, bem como a relação de
todos os envolvidos para com a instituição museológica. Após um tempo é possível perceber que
há um pequeno volume de visitantes variável de acordo com a itinerância das obras e artistas, ou
seja, pouquíssimos grupos habitualmente visitam o museu. A partir da proposta da manutenção
dos grupos visitantes, que mensalmente se fazem presente, as mudanças institucionais emergem,
a saber, maior participação de profissionais do museu e seus estagiários na construção das ações
educativas e monitorias, o desejo de conversar sobre o que propor e de levar as atividades das
segundas para outros grupos de pessoas que frequentam o espaço, a compreensão da
necessidade de discutir acessibilidade cultural no segmento de patrimônio cultural do conselho
municipal de cultura, dentre outros. Assim, ocorre uma maior articulação da equipe, por meio de
reuniões semanais com a equipe local, e mensais com a equipe gestora, desde modo, envolvendo
desde o setor administrativo até a diretoria na tarefa de pensar as estratégias de aproximação do
publico com as obras e o processo criativo do artista. O raciocínio deixa de ser só o de permitir
uma abertura da sensibilidade a partir das características de cada público, e passa a incluir
necessidades reais de cada usuário para a acessibilidade, e também, a apresentação repertório
para uma possível alfabetização visual do público. Discute-se junto, às vezes com a presença do
artista, sobre as características das obras e da linguagem mais presente no trabalho, e a partir
disso, desenvolvem-se desenhos para as monitorias e atividades de apropriação no educativo.
Interessante notar, que as monitorias passaram a contar com estagiários de terapia ocupacional e
de artes visuais trabalhando juntos.
O acompanhamento da visita mediada e da atividade educativa com os grupos tem
proporcionado vivencias de cenas que respondem e provocam a ampliação das ações. Com o
trabalho pode-se constatar que boa parte dos sujeitos frequentadores de instituições que acolhem
pessoas com deficiência, em sofrimento psíquico e/ou em situação de vulnerabilidade social não
havia estado em um museu antes, incluindo até mesmo alguns responsáveis técnicos que
acompanham os grupos. Muitos revelam alegria no retorno, curiosidade com as novas
exposições, desejo pelas atividades expressivas do educativo mostrando um novo engajamento
com o espaço museológico.
4. Considerações finais
Parece-nos que as estratégias de mediação devam ser atividades que explorem vivências
lúdicas e expressivas, que acolham os diferentes modos de ver e sentir favorecendo a diversidade
de modos de experimentar a fruição de espaços e obras, e que ampliem a sensibilidade dos
frequentadores do museu, assim como suas capacidades perceptivas e cognitivas. Nesta direção,
que o frequentador possa construir diálogos singulares com as obras, ao mesmo tempo em que
tenha acesso a outras conversas já estabelecidas com elas.
Tem interessado nossa equipe, criar dispositivos que favoreçam contágios entre modos de
percepção do mundo produzidos por sujeitos com capacidades perceptivas, motoras, subjetivas,
cognitivas diversas. Que pode a obra provocar no ver e no sentir? Que museu se pode
experimentar nesses diferentes lugares e posições?
Em um segundo movimento, observamos que será necessário imaginar estratégias para a
melhor apropriação da fruição por parte de pessoas com deficiências. E desta maneira, ampliar e
estimular a leitura do objeto cultural pelo público fruidor, levando-o a perceber, analisar,
interpretar, criticar, enfim, decodificar esse objeto, explorando-o e apropriando-se desta
experiência de modo significativo na vida.
Referências
Resumo
Abstract
“Student does photo?” Is the name / provocation that drives the PhD research conducted
at the Pedagogy Course of the Federal University of Rio Grande do Sul, under the guidance of Prof.
Susana Rangel Vieira da Cunha, completed in 2012. This study came from questions raised in my
pedagogical practice as a Photography Workshop teacher at a special school for people with
intellectual disabilities developed with two classes in 2009 and 2010, comprising seventeen
students, from nine to nineteen years old. The central questions of this action research were: how
can the teaching of photography potentiate experiences of expression and authorship at school
and how students who study in special schools establish relationships with photography and the
process of photographing. For the analysis, contributions from Cultural Studies and Visual Culture
Studies were used. This research proposes photographic language as part of the school curriculum
and recognizes photography as a pedagogical methodology that enhances students' experiences
of expression and authorship.
Keywords: special education; teaching; photography.
A fotografia é um campo de estudo pessoal, uma atividade de lazer que passou a intervir
no meu fazer na sala de aula como professora de uma escola especial, inicialmente como recurso
para a documentação das atividades desenvolvidas, vindo a compor a minha proposta pedagógica.
A câmera e as imagens despertavam o interesse e atenção dos alunos, eles solicitavam
fazer as suas fotos. Formou-se a necessidade em oferecer uma Oficina de Fotografia para quem
quisesse aprender/criar com o processo de fazer fotos. Este projeto iniciou em 1999, e o período
de 2007 a 2012 foi dedicado à pesquisa no Curso de Doutorado da Faculdade de Educação da
UFRGS, com a orientação da Dr.ª Susana Rangel Vieira da Cunha.
A tese foi nomeada como “Aluno faz foto? - O fotografar na escola (especial)”, este título
em forma de questão é uma provocação perante a necessidade de refletirmos sobre uma
pedagogia do fotografar e representa comentários de senso comum frente à possibilidade ou não
de pessoas com deficiência intelectual produzirem as suas imagens.
A pesquisa acompanhou dois anos da Oficina de Fotografia (2009/2010), envolvendo
dezessete alunos, na faixa etária entre nove e dezenove anos. A Oficina, em uma perspectiva
inclusiva ofereceu sete vagas para alunos vindos de escolas regulares da comunidade e os demais
eram matriculados na escola especial sede da pesquisa. A metodologia utilizada foi de abordagem
qualitativa, com um desenho próprio orientado pela Pesquisa Baseada em Arte e pela Pesquisa
Cartográfica.
As questões centrais investigadas discorreram sobre como o ensino do fotografar pode
potencializar experiências de expressão e de autoria na escola e como os alunos que estudam na
escola especial estabelecem relações com a imagem fotográfica e com o processo de fotografar.
O corpo teórico contou com contribuições dos Estudos Culturais (Maura Corsini, André
Giroux) dos Estudos da Cultura Visual (Suzana Rangel, Fernando Hernández, Irene Tourinho).
Diferentes campos de conhecimento relativos a linguagem fotográfica foram leituras que também
produziram efeito na pesquisa, destaco as produções de Roland Barthes, André Rouillé, Rafael
Dieh, Luis Eduardo Achutti, Patricia Kirst e Vanessa Maurente.
Saliento neste registro a potência dos alunos fazerem imagens, visto que estudantes de
uma escola especial ao fotografarem interrogam as expectativas sobre as suas possibilidades de
aprendizagem. Essa potência torna-se mais explicita e importante em termos de intervenção
quando os sujeitos se encontram em situação nas quais suas possibilidades enunciativas podem
ser consideradas restritas pela sua condição estrutural (DIEHL, 2007, p. 56).
A tese contesta o entendimento comum de que pessoas com deficiência intelectual não
são capazes de se expressar pelo fotografar. Dúvida recorrente entre os familiares, a comunidade
e até por colegas da área que se admiravam perante as imagens produzidas pelos participantes da
pesquisa. A possibilidade de utilizarem um equipamento que a princípio seria sofisticado pela
tecnologia e exigiria certo domínio surpreendia, principalmente por serem alunos dos quais
normalmente não é esperado que pudessem aprender a lidar com uma “máquina”.
Embora o imaginário social faça vislumbrar um grupo de pessoas infantis, sem condições
de participação e de efetivação de suas próprias escolhas, os participantes da pesquisa pelas suas
fotos não concebiam e nem denotavam a existência desta classificação.
A identidade e a diferença têm que ser ativamente produzidas. Elas não são criaturas do
mundo natural ou de um mundo transcendental, mas do mundo cultural e social. Somos nós
que as fabricamos, no contexto de relações culturais e sociais. A identidade e a diferença
são criações sociais e culturais (SILVA, 2000).
O fotografar e as imagens a que os alunos têm acesso são parte dessa cultura. As
fotografias por eles realizadas referiam-se a jovens, mulheres, homens, pessoas com Síndrome de
Down, alunos, professores, cabelereiros, modelos, pessoas com transtorno global do
desenvolvimento, indivíduos com sonhos, amores, dúvidas, entre tantas identidades que os/nos
habitam e podem “vir a ser”.
As expressões pessoais e poéticas na fotografia frente às propostas de intervenção
pedagógica na Oficina propunham outro significado ao campo utilitário e informacional que
massivamente compreende o campo fotográfico: “Coloca a subjetividade no meio, modificando os
modos de ver e as maneiras de mostrar” (ROUILLÉ, 2009).
A experimentação de diversos modos de se relacionar e fazer as imagens fotográficas
orientava o planejamento das aulas. Possibilitavam refletir sobre a "imaginação fotográfica" como
forma de produção de conhecimento que articula técnica, tecnologia, estética e visão de mundo
(MARTINS, 2008).
A imagem está sempre ligada, muitas vezes profundamente a um sujeito, um ‘eu’, em suas
ações, sentimentos e percepções, em suas infinitas singularidades (ROUILLÉ, 2009, p. 206). Os
alunos tinham possibilidade de inscreverem-se em um suporte que lhes oferecia reconhecimento,
eram protagonistas do seu fazer, sentir, viver.
O aluno atribuía sentido a determinada cena no ato de fazer as imagens fotográficas,
inscrevia sua escolha. O que diferia da produção de uma foto que os/nos surpreendesse pelas suas
“boas qualidades”; compreendia a singularidade da sua experiência, o seu modo de responder e
dar sentido ao que lhe acontecia, passava, e ao “passar transformava”. O acontecimento era
comum/coletivo, mas o “saber da experiência” era particular (LARROSA, 2002).
As fotos mostravam o que lhes tocava e o que lhes acontecia. Os alunos participavam do
mesmo grupo de estudo da Oficina, mas a relação que estabeleciam ao fotografar era singular, o
modo como respondiam ao que lhes passava os autorizava a dizer “fui eu que fiz”.
O autor constituía-se no processo de fotografar, como “o produto do ato de fazer a sua
obra” (BARTHES, 1988, p. 51). O fazer a imagem e a existência desta perante o olhar do outro lhe
conferia esta qualidade.
Os participantes da pesquisa deixavam a sua marca em um suporte que lhes dava
visibilidade e reconhecimento, como protagonista do seu fazer, sentir, viver. Outras visibilidades
podiam ser produzidas: as suas vontades, desejos, sonhos combinavam-se com o que viam; com o
que fazia ou não sentido e constituía a sua experiência-vida. A sua singularidade sobressaía à
“singularidade do objeto fotografia” e se expressava pela imagem compartilhada pelo seu grupo
de convivência, que neste caso era a escola.
A Oficina de Fotografia na Escola Especial desafiava construir com os alunos [e comigo]
outras histórias de aprender e de ensinar. O ensino do fotografar provocava a experimentação de
uma posição diferenciada por quem a faz, a de autor, produtor de uma realidade (TITTONI, 2010,
p. 65). O aluno (a escola) ampliava a sua posição de expectador para a de produtor das imagens.
Este estudo possibilitou dar palavras e novos sentidos para esta vivência de ensino e de
aprendizagem, destacando a importância do fotografar como parte do currículo escolar, demarcou
na escola o fotografar como prática pedagógica. Proposta constituída por redes de relações
articuladas pelo professor com os alunos: no planejamento, pelo fazer, pelo acaso, considerando a
flexibilidade das propostas, tendo como referência as artes visuais e cênicas, constituindo parceria
com instituições relacionadas as artes, a ciência, a criação - prazer ao ensinar/aprender.
As fotos feitas pelos participantes da pesquisa apresentavam o “seu olhar” o qual difere de
quem “os olha”. Possibilitava vê-los para além da “marca social da deficiência”, as imagens
questionavam a posição do espectador visto que a “não eficiência” encontra-se na maneira como
são olhados. A câmera em suas mãos constituiu outras visibilidades. As suas fotografias não
discriminavam pessoas “com” e “sem” deficiência intelectual.
Referências
BARTHES, Roland. “A morte do autor”, in: O rumor da língua. São Paulo: Brasiliense, 1988.
CORAZZA, S. M. Na diversidade cultural, uma docência artística. Porto Alegre, Pátio – Revista
Pedagógica, ano V, n.17, maio/julho 2001. p. 27-30.
DIEHL, Rafael; TITTONI, Jaqueline. Trabalho, poder e sujeição: trajetórias entre o emprego, o
desemprego e os "novos" modos de trabalhar. Porto Alegre: Dom Quixote, 2007. 236 p.
FABRIS, Anna Tereza. Identidades virtuais: uma leitura do retrato fotográfico. MG: Editora UFMG,
2004.
FotoLibras: Guia para elaboração e implementação de projetos de fotografia participativa com
surdos. Recife: Editora Grupo Paeés, 2009. 164 p. II. Color.
Instituto de Psicologia. Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional, Porto
Alegre, BR-RS, 2000. Ori.: Fonseca, Tania Mara Galli.
MARTINS, Raimundo. Cultura visual: imagem, subjetividade e cotidiano. Disponível em:
http://www.corpos.org/anpap/2004/textos/ceaa/RaimundoMartins.pdf. Acesso em: 24 jun. 2008.
MEIRA, Marli; SILVIA, Pillotto. Arte, afeto e educação – a sensibilidade na ação pedagógica. POA:
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ROUILLÉ, Andre. A fotografia entre o documento e arte contemporânea. SP: SENAC, 2009.
SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais.
Petrópolis: Vozes, 2000. P. 7-72.
Vivência Linguística, Cultural E Artística No Aprendizado De Libras Por
Alunos Ouvintes De Artes: Relatos De Experiências Do Evento Artes &
Libras Em Ciclo
Linguistic, Cultural And Artistic Experience In Learning Libras By Students Listeners Of
Arts: Experiences Reports Of The Event Arts & Libras In Cycle
Natália Schleder Rigo, Mestra em Estudos da Tradução;
Bianca de Oliveira, Graduada em Artes Visuais,
Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC
nataliarigo@gmail.com;
bibians.bb@gmail.com
Resumo
The late acquisition of Libras by the deaf and the lack of adequate professionals in most
schools, brings up the need to promote language policies and access to culture within the
university space. According to Decree No. 5.626 / 2005, which regulates Law No. 10.436 / 2002,
the discipline of Brazilian Sign Language (Libras) is compulsorily offered in all higher education
undergraduate courses. At the Arts Center of Santa Catarina State University (Universidade do
Estado de Santa Catarina), the course is offered in the Visual Arts, Music and Theater courses. It is
understood that Libras, as a compulsory subject, needs to be offered from a teacher education
perspective as future deaf teachers in inclusive schools. Seeking to prepare academics for the
teaching of deaf from the introductory learning of Libras and knowledge of the Deaf Art and Deaf
Culture, the discipline proposes since 2016 the collective realization of Arts & Libras in Cycle. It is
an event with diverse activities that bring together academics and the local deaf community. The
actions in this event can be understood as initiatives of language policies and inclusion in UDESC,
because they are actions that lead Libras to occupy different spaces and promote the participation
of deaf people in the university.
Keywords: Arts; Brasilian Sign Language; Formation; University.
Introdução
Posto isso, cabe pontuar que na primeira edição do evento foram ofertadas apenas oficinas
de artes visuais ministradas pelos alunos ouvintes. A partir da segunda edição em diante, o
entendimento da importância da presença de surdos no evento não apenas como participantes,
mas também como ministrantes; as oficinas passaram a contemplar também outras linguagens
artísticas como: teatro, dança, cinema e música, ministradas por alunos ouvintes e Surdos
atuantes e referência na esfera artística.
As duas edições seguintes (2017 e 2018) foram financiadas mediante a edital de projeto de
extensão da UDESC, o que viabilizou trazer convidados surdos importantes de outros estados,
como Lucas Ramon Maciel (cartunista); Leonardo Castilho (arte-educador do MAM, ator e DJ);
Lucas Sacramento (1º teatrólogo surdo do Brasil); e também Jonatas Medeiros, profissional
ouvinte Tradutor e Intérprete de Língua de Sinais (TILS) que possui excelentes trabalhos dentro da
esfera artística.
1. Fundamentação Teórica
[...] são estabelecidas ações para implementação das línguas. No caso do Brasil, existe uma
política linguística em relação à Língua Brasileira de Sinais, a Libras, instaurada por meio da
Lei 10.436 de 2002, chamada de Lei de Libras, que reconhece essa língua como língua
nacional usada pelas comunidades surdas brasileiras. A partir da Lei de Libras, foi assinado
um decreto para implementar essa lei, o Decreto 5.626 de 2005, que apresenta uma série
de ações relativas à Libras, no sentido de garantir seu reconhecimento, sua valorização, sua
disseminação e sua manutenção (QUADROS, 2017).
2. Metodologia
Quando se trata educação para surdos é preciso esclarecer que não se faz referência ao
ensino formal que se tem nas escolas públicas ou em particulares, nem mesmo há um espaço
físico que se estruture como uma escola. O ponto de partida para se pensar na educação para os
Surdos é a sua língua, seja qual for o ambiente em que se está inserido a Língua Brasileira de Sinais
(LIBRAS), deve ser o alicerce para a construção e aquisição do conhecimento, criando um
ambiente seguro, familiar, socioafetivo, onde o aluno/participante se identifique e seja possível
desenvolver todos os sentidos. (SLOMSKI, 2010, p. 19-20).
Pleiteando amenizar os danos que os alunos surdos sofrem com a falha educação inclusiva,
e almejando instrumentalizar os acadêmicos do Centro de Artes (CEART) como futuros professores
de pessoas surdas, o evento Artes & Libras em Ciclo, além de considerar todos os autores
referência do campo da linguística da LIBRAS e as leis e decretos a favor da acessibilidade e
inclusão, também utilizou como referência elementos da Pedagogia Visual e da Pedagogia Surda
defendidos por CAMPELLO (2008).
A primeira edição do Artes & Libras em Ciclo, realizada em novembro de 2016, envolveu
um trabalho coletivo entre os alunos que, de forma bastante autônoma, e de acordo com seus
respectivos interesses, se dividiram em grupos. Alguns alunos ficaram responsáveis pela parte
logística do evento, ou seja, pela organização do material de divulgação, confecção e diagramação
dos cartazes, identidade visual, reserva de salas, listas de presença, certificados de participação,
etc.; outros ficaram responsáveis pela curadoria e organização da exposição de obras de artistas
surdos; e os demais se organizaram para ministrar as oficinas que, naquele ano, envolveu as
linguagens de pintura, gravura e cerâmica.
Para a divulgação do evento, entendendo a cultura visual surda, a professora orientou que
os alunos elaborassem vídeos convidando em Libras a comunidade surda a participar das oficinas.
Assim, cada grupo montou um texto em português que foi traduzido para Libras. A sinalização do
convite foi realizada pelos próprios alunos e, uma vez gravados e editados, os vídeos foram
compartilhados e divulgados na comunidade surda local através de mídias sociais de comunicação.
Figura 2: Duas imagens retiradas dos vídeos de divulgação das oficinas que forma gravados pelos
alunos de artes visuais. Na imagem da esquerda a aluna está gravando o vídeo para a oficina de
aquarela. Ela está no ateliê de pintura ao lado de cavaletes e quadros realizando o sinal de UDESC.
Na imagem da direita há dois alunos (um homem e uma mulher) no ateliê de cerâmica, gravando o
vídeo da oficina de modelagem. Eles estão entre mesas e peças de cerâmica e o aluno está
realizando o sinal do número 6.
Nesse sentido, é importante refletir o quanto uma exposição de artes visuais de autoria
surda é importante, uma vez que contribui não apenas com o reconhecimento e a projeção de
artistas visuais surdos (profissionais ou não), mas também serve como incentivo e inspiração para
possíveis novos artistas da comunidade surda. A importância de atividades como essa é
indiscutível também porque elas implicam diretamente no protagonismo surdo, na
representatividade dessas pessoas, ao passo que inauguram um espaço artístico político de fala e
visibilidade de uma minoria excluída historicamente.
Como antes já citado, Quadros (2017) entende as políticas linguísticas como ações que
garantem que as línguas ocupem diferentes espaços e esferas. Portanto, no que tange a realização
dos saraus do evento, é possível dizer que a abrangência de novos espaços para a realização dessa
atividade em especial (como no caso do Jardim Botânico Municipal) também reflete um tipo de
política linguística implicada pelo evento.
Participei da oficina de Dança (Salsa) e fizemos exercícios rítmicos em círculo sem áudio e
foi incrível a boa participação dos Surdos presentes. Percebi que para o Surdo o ritmo não
precisa de som, ritmo é silêncio, são os movimentos de silêncio que determinam o ritmo. Eu
me surpreendi positivamente, agradeço a oportunidade do evento e da convivência.
(Acadêmico do Curso de Licenciatura em Música)
Todos esses entendimentos, oportunizados aos alunos de forma prática e real, são
justamente propósitos da disciplina de Libras e sua existência nos currículos de licenciatura das
universidades. Essas questões todas, uma vez internalizadas pelo futuro profissional da educação
básica, por si só, justificam a obrigatoriedade da Libras nas graduações. Direta e indiretamente,
esses saberes permitem ao acadêmico se enxergar como agente social transformador da educação
de grande responsabilidade e, também, como multiplicador desse conhecimento nas escolas ou
em outros espaços educativos, uma vez que é isso que leva à verdadeira inclusão das minorias
linguísticas.
A experiência para a comunidade surda local também foi bastante rica:
Já participei de vários eventos culturais e alguns de formação artística, mas o Artes & Libras
em Ciclo foi feito com uma qualidade muito maior, realmente pensado para a comunidade
surda. As oficinas não foram pensadas somente para fazer arte, mas também explicaram
como as técnicas funcionam, nos deram contextos e muitos exemplos visuais. Achei o Sarau
uma oportunidade muito grande de troca com os alunos ouvintes da instituição, pois nós
(surdos) pudemos mostrar nossa cultura, contado piadas e recitando poesias. Eu agradeço
muito por ter esse evento, não há nada de ruim que eu possa mencionar, pra mim a palavra
excelência define esse projeto. (Participante da 1ª Edição, 2016)
Os Surdos são sujeitos que compartilham de uma língua, cultura e identidade própria,
fazem parte de uma minoria linguística não reconhecida no Brasil e enfrentam, cotidianamente
diversos tipos de preconceito. São pessoas que passam longos anos de suas vidas confinados em
clínicas médicas e escolas com políticas inclusivas precárias, onde são privados do convívio com
seus pares, do direito de terem professores Surdos nos quais possam se enxergar e se identificar.
São privados do direito de ter sua própria arte e literatura estudada em sala de aula; do direito de
terem sua identidade Surda respeitada e, principalmente, são privados de seus direitos de acesso
à informação e ao conhecimento diretamente na sua língua.
Neste sentido, o evento Artes & Libras em Ciclo promoveu o ensino de artes visuais para
Surdos apropriadamente, respeitando seus direitos linguísticos e suas especificidades para o
aprendizado. Além de também reconhecer o protagonismo Surdo, trazendo convidados artistas e
educadores surdos para compartilhar seus trabalhos. Essa troca entre a comunidade acadêmica e
a comunidade surda foi extremamente importante pois estreitou os laços entre a UDESC e os
Surdos, possibilitando a ocupação da Libras no CEART. Espera-se que a partir deste evento, seu
alcance e visibilidade, abra-se caminhos para novas propostas educativas e culturais de acesso da
Comunidade Surda à Universidade do Estado de Santa Catarina.
4. Considerações Finais
O crescimento expressivo do evento ao longo dos três anos, bem como sua consolidação
dentro da UDESC e dentro da comunidade surda, se deve a várias razões, dentre elas: o esforço
coletivo dos alunos do curso de Artes Visuais e da professora de Libras (responsáveis pela
organização e execução do evento); a disposição de recursos via edital de extensão (que viabilizou,
por exemplo, o pagamento de importantes convidados de fora da cidade—referências surdas da
esfera artística—e, também a devida valorização de profissionais locais); o trabalho de ampla
divulgação do evento dentro da comunidade surda, bem como a transmissão ao vivo das
atividades via internet (que implicou, por exemplo, no alcance de pessoas participantes residentes
fora do estado de SC e também do país) e, por fim, da participação ativa da comunidade surda nas
atividades ofertadas durante as edições.
Diante do exposto, é evidente o quanto as diversas atividades promovidas nas edições do
evento Artes & Libras em Ciclo podem ser compreendidas como ações de políticas linguísticas de
inserção da Libras no âmbito da universidade, bem como de participação inclusiva de surdos nos
contextos educacionais do ensino superior. Vale mencionar que, além das atividades que foram
aqui brevemente descritas (exposição de arte, roda de conversa, sarau e oficinas), o evento em
suas três edições ao longo dos últimos anos compreendeu também outras atividades, mas que por
hora não serão mencionadas neste relato.
Finalmente, este trabalho trouxe o tema das políticas linguísticas e de inclusão de surdos
no ensino superior, tendo como foco um relato do evento Artes & Libras em Ciclo organizado
pelos alunos do curso de Artes Visuais do CEART em conjunto com a professora da disciplina de
Libras da UDESC. Foram apresentadas aqui algumas das atividades previstas na programação do
evento, em especial, da primeira edição do Artes & Libras em Ciclo realizada no ano de 2016. Com
base na descrição das atividades, e de algumas ações relacionadas ao evento, foi possível tecer
algumas considerações e reflexões neste trabalho pautadas no entendimento sobre a importância
da Libras no contexto do ensino superior, bem como sobre a importância da participação de
surdos de forma inclusiva no âmbito da universidade.
Referências
BRASIL. Lei 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras e dá
outras providências. Diário Oficial da União, Presidência da República, Brasília, DF, 2002.
BRASIL. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de
abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de
dezembro de 2000. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, DF, 03 dez. 2005.
BRASIL. Relatório sobre a Política Linguística de Educação Bilíngue: língua brasileira de sinais e
língua portuguesa. Grupo de Trabalho, designado pelas portarias nº 1.060/2013 e nº 91/2013,
Brasília, DF, 2014
MESQUITA, L. S. Políticas Públicas de Inclusão: o acesso da pessoa surda ao ensino superior.
Revista Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 43, n. 1. pp. 255-273, 2018.
QUADROS, R. M. de. Língua de Herança: língua brasileira de sinais. Porto Alegre: Penso, 2017.
SEVERO, C. G. Política(s) Liguística(s) e Questões de Poder. Revista Alfa, São Paulo, v.57, n.2,
pp.451-473, 2013.
FENEIS – Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos. A educação que nós surdos
queremos. Documento elaborado pela comunidade surda a partir do pré-congresso ao V
congresso Latino-Americano de Educação Bilíngue para Surdos. Porto Alegre: UFRGS, 1999.
Disponível em: www.feneis.com.br.
PERLIN, G. & MIRANDA, W. Surdos: o narrar e a política. Em: Ponto de Vista. Florianópolis, n.05, p.
217-226, 2003.
PERLIN, Gládis Taschetto. Identidades surdas. In SKLIAR, Carlos (Org.) A surdez um olhar sobre a
diferença. Porto Alegre: Mediação, 1998.
SKLIAR, C. (Org.). A Surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Mediação, 2012.
Acessibilidade em Museus: O Estado da arte dos museus nacionais
portugueses
Museums accessibility: The state of the art of Portuguese National Museums
Desirée Nobre Salasar, Terapeuta Ocupacional;
Célia Maria Adão de Oliveira Aguiar de Souza, Doutora em Ciências da Educação;
Francisca Ferreira Michelon, Doutora em História.
Universidade Federal de Pelotas – UFPel
dnobre.to@gmail.com
Resumo
Neste trabalho buscou-se analisar o Estado da Arte dos museus nacionais portugueses
vinculados à Direção Geral do Patrimônio Cultural (DGPC). Dos quinze museus pertencentes à
DGPC, seis foram selecionados para a visita. O critério de inclusão dos museus na amostra foi
elencar àqueles que já possuíam algum trabalho referente à pauta da acessibilidade. Para tal,
utilizou-se metodologia qualitativa e quantitativa com o objetivo de investigar o discurso da
equipe ligada à acessibilidade e a aplicabilidade deste na exposição de longa duração dos museus
estudados. A conclusão aponta que os museus possuem limitações nos recursos de tecnologia
assistiva, mas principalmente em recursos humanos especializados. Observou-se que a
acessibilidade está intimamente ligada ao Setor Educativo e em decorrência desta situação, acaba
por não ser um tema transversal na instituição. Orienta-se para a necessidade dos museus
possuírem um Programa de Acessibilidade vinculado ao Plano Museológico, para que as ações
desta área ultrapassem os limites do setor educativo e sendo transversais na instituição,
proporcionem melhores experiências aos visitantes com e sem deficiência e mais recursos para a
área.
Palavras-chave: Acessibilidade em Museus; Portugal; Museus Nacionais.
Abstract
This paper aimed to analyze the State of Art of Portuguese national museums linked to the
Directorate General of Cultural Heritage (DGPC). Of the fifteen museums belonging to the DGPC,
six were selected for the visit. The criterion of inclusion of museums in the sample was to list those
who already had some work related to the accessibility agenda. To this end, a qualitative and
quantitative methodology was used to investigate the team's discourse linked to accessibility and
its applicability in the long-term exposure of the museums studied. The conclusion is that
museums have limitations on assistive technology resources, but especially on specialized human
resources. It was observed that accessibility is closely linked to the Education Sector and as a
result of this situation, turns out not to be a cross-cutting theme in the institution. It is oriented to
the need of the museums to have an Accessibility Program linked to the Museological Plan, so that
the actions of this area exceed the limits of the educational sector and being transversal in the
institution, provide better experiences for the disabled and without visitors and more resources
for the museum area.
Keywords: Accessibility in museums; Portugal; National Museums
Introdução
A Lei de Quadros dos Museus Portugueses, Lei 47, é anterior ao Estatuto Brasileiro dos
Museus, pois data de 19 de agosto de 2004. Assim como a brasileira, compete a este processo
regulatório a definição dos princípios da política museológica nacional. No que tange aos
princípios da política museológica portuguesa, dispostos no artigo 2º, dois se destacam para este
trabalho: o princípio do primado da pessoa, onde se busca a concretização dos direitos
fundamentais e o princípio do direito à cidadania, através da valorização da pessoa.
No artigo 3º que conceitua Museu, o inciso b aponta a necessidade de “facultar acesso
regular ao público e fomentar a democratização da cultura, a promoção da pessoa e o
desenvolvimento da sociedade”. Ou seja, vê-se também que, assim como no Brasil, não há
menção explícita sobre a deficiência nos princípios dos museus. Entretanto, ao usar palavras-
chave como democratização, promoção da pessoa e direito à cidadania, este público encontra-se
incluído também. Entretanto há algumas diferenças entre as legislações portuguesas e brasileiras
cabem ser salientadas.
Em oposição à legislação brasileira que, desde 2015 – após a Lei Brasileira de Inclusão-
aponta que o Programa de Acessibilidade do museu deve ser um documento próprio ou estar
contido no Plano Museológico, a legislação portuguesa não faz nenhuma menção a este
documento e os profissionais entrevistados, em unanimidade, o desconheciam. No artigo 86, que
aborda o Programa Museológico, apenas é citado o projeto de arquitetura, que deve estar em
harmonia com o primeiro.
Porém, dois artigos chamam atenção: o 58 e o 59. O primeiro diz respeito ao apoio aos
visitantes, que segundo a lei deve proporcionar qualidade da visita e uma função educativa e o
segundo que aborda especificamente o apoio para pessoas com deficiência:
1. Metodologia
O presente artigo buscou verificar o Estado da Arte da Acessibilidade Cultural para pessoas
com deficiência nos museus portugueses geridos por instituição pública. O critério para seleção
dos museus apresentados nesta pesquisa foi elencar àqueles que já possuem ações ou recursos de
acessibilidade implementados. Assim, o corpus da pesquisa é composto por sete instituições:
Museu Nacional do Azulejo, Museu do Teatro e da Dança e Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves
(Lisboa), Museu Nacional Machado de Castro (Coimbra), Museu Nacional Soares dos Reis (Porto) e
Museu Nacional Grão-Vasco (Viseu). Foram feitas visitas técnicas às instituições, onde se realizou
uma entrevista semiestruturada com a equipe responsável pela acessibilidade e a utilização de
uma ficha de avaliação técnica estruturada com as seis dimensões de acessibilidade
(arquitetônica, atitudinal, comunicacional, metodológica, instrumental e programática) para a
exposição de longa duração. Os museus foram contatados e autorizaram a pesquisa, apenas o
Museu Nacional Grão Vasco não respondeu e por este motivo foi excluído da análise de dados. A
coleta de dados foi realizada entre os meses de novembro e dezembro de 2018 com o apoio da
CAPES e do Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural da
Universidade Federal de Pelotas.
Desta forma, ao tornar o museu inclusivo, para além de garantir o exercício da cidadania
cultural para as pessoas com deficiência e a efetivação das políticas públicas já citadas
anteriormente, o uso de mediações multissensoriais é efetivado para estabelecer vínculos
sensíveis entre todos os visitantes e o museu.
3. Considerações Finais
Referências
PORTUGAL. Lei 40. Lei Quadro dos museus Portugueses. Disponível em:
https://dre.pt/web/guest/pesquisa/-/search/480516/details/maximized Acesso em: 20/02/2019.
_________. Decreto-Lei 115. Aprova a orgânica da Direção Geral do Patrimônio Cultural.
Disponível em: https://dre.pt/web/guest/pesquisa/-
/search/177827/details/normal?q=decreto+lei+115+dgpc Acesso em: 20/02/2019
SARRAF, Viviane Panelli. Acessibilidade em espaços culturais: mediação e comunicação sensorial.
São Paulo: EDUC; FAPESP, 2015.
TOJAL, Amanda Pinto da Fonseca. Comunicação museológica e ação educativa inclusiva. In:
CARDOSO, Eduardo; CUTY, Jenifer (Orgs.). Acessibilidade em ambientes culturais: relatos de
experiências. Porto Alegre: Marcavisual, 2014. p 1433.
TOSTES, Vera Lúcia Bottrel. O problema das reservas técnicas: como enfrentar o apego devorador?
Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, n. 31, p. 74-80, Brasília, DF: MINC/IPHAN,
2005.
Acessibilidade para pessoas com deficiência visual: Resultados do
Memorial do Anglo UFPel
Accessibility for the visualy impaired: Anglo Memorial Results
Desirée Nobre Salasar,Terapeuta Ocupacional;
Francisca Ferreira Michelon, Doutora em História.
Universidade Federal de Pelotas – UFPel
dnobre.to@gmail.com
Resumo
Abstract
This paper aims to present the ways of translating the photographs exhibited at the Anglo
Memorial for visually impaired people and normovisuals who wish to visit using sales. The
photographs on display at the Memorial are part of the Anglo Pellets Anglo Fridge Collection at
UFPel Memory and go back to the history of the extinct Anglo Fridge until the building became the
Federal University of Pelotas. Given that there are still traces of what was once an important
industrial and working space for the city, the Anglo Memorial seeks to rescue this social memory
by committing itself to cultural accessibility through accessibility resources for people with
disabilities. Visual impairment. These resources aim to provide visitors with multiple experiences
of information presented on different media that complement each other in order to translate
what is printed on the photograph to the visitor through their remaining senses. The results
presented here were collected in qualitative assessments made immediately after the visits. It is
concluded that the main resource of this space is accessible mediation, because it is through it
that there is potentialization of Memorial's assistive resources.
Keywords: Anglo Memorial; Visual impairment; Cultural accessibility.
Introdução
1. Metodologia
2. Resultados e Discussão
A Audiodescrição (AD), segundo Nóbrega (2013), é uma arte que transforma imagens em
palavras. Atuando como uma forma de tradução intersemiótica, ela tem como objetivo principal
transmitir as informações visuais em uma descrição objetiva daquilo que está sendo visualizado,
para que pessoas com deficiência visual tenham acesso a formatos que são essencialmente
visuais, como a fotografia.
Embora seja um recurso relativamente novo no país, vem tornando-se muito fomentada a
pesquisa e a prática nesta área. Mesmo sendo muito eficaz no que tange o acesso universal, a AD
não consegue suprir todos os elementos que compõem uma foto artística, fazendo com que
alguns elementos percam o impacto ou não sejam percebidos. A perspectiva da foto é um
exemplo, pois algumas cenas, nas quais o ponto de fuga cria planos, com grande significação
visual, perdem o impacto quando descritas. É neste momento em que se encontra o limite da
audiodescrição. Portanto percebeu-se que se fazia necessário outro recurso para dar conta da
informação, assim o Memorial do Anglo conta também com os esquemas e maquetes táteis e
legendas em braile. O que faz com que a pessoa com deficiência visual consiga, de fato, enxergar a
foto que está sendo mostrada é o somatório dos recursos: primeiro ele ouve a audiodescrição da
foto, em seguida a mediadora conduz a sua mão pelo esquema tátil explicando-o cada detalhe,
através do toque, sobre o que ele acabou de ouvir e depois ele tem o acesso à legenda da foto em
braile.
Desta forma, o visitante consegue enxergar a foto através dos seus sentidos
remanescentes, de forma que a visão não é necessária para o entendimento da exposição.
Assim observou-se que a ordem em que os recursos são apresentados e a forma com que a
mediação é feita são fundamentais para que a informação seja passada com êxito, uma vez que se
trocada a ordem de apresentação dos recursos, a informação torna-se confusa. Portanto é de
suma importância, neste espaço, a presença do mediador e a sua capacitação nesta área.
3. Conclusão
Referências
Resumo
Assim como a Terapia Ocupacional, a Cultura é um tema que perpassa por diversas áreas e
fases da vida do ser humano. Amplamente discutida atualmente, a atuação do TO nesta área ainda
caminha seus primeiros passos. Deslocando-se da área da saúde, o escopo da cultura aprofunda-
se no fazer humano como uma forma de ampliação do cotidiano e de experiências
potencializadoras de vida.
Este trabalho tem como objetivo apresentar o Terapeuta Ocupacional atuando em museus,
de forma a permear as seis dimensões de Acessibilidade: atitudinal, arquitetônica,
comunicacional, metodológica, instrumental e programática.
Através de uma metodologia qualitativa foi realizada uma análise de conteúdo de
documentos advindos de duas experiências da autora: a atuação em um Programa de Extensão da
Universidade Federal de Pelotas pelo período de cinco anos, e o Estágio em Acessibilidade Cultural
realizado no Museu da Comunidade Concelhia da Batalha (Portugal) no ano de 2015.
O resultado apresenta um trabalho pioneiro no país onde o terapeuta ocupacional tem
habilidades para atuar nas seis dimensões de acessibilidade, podendo ser inserido na equipe de
planejamento, desenvolvimento e execução de uma exposição acessível e destacando-se como o
profissional responsável pelo Programa de Acessibilidade.
Palavras-chave: Terapia Ocupacional; Acessibilidade em Museus; Acessibilidade Cultural.
Abstract
Like Occupational Therapy, Culture is a theme that permeates various areas and phases of
human life. Widely discussed today, TO's performance in this area is still in its first steps. Moving
from the health area, the scope of culture deepens in human doing as a way of expanding daily life
and life-enhancing experiences.
This paper aims to present the Occupational Therapist working in museums, in order to
permeate the six dimensions of Accessibility: attitudinal, architectural, communicational,
methodological, instrumental and programmatic.
Through a qualitative methodology, a content analysis of documents coming from two
experiences of the author was performed: the performance in an Extension Program of the
Federal University of Pelotas for a period of five years, and the Internship in Cultural Accessibility
held at the Community Museum. da Batalha (Portugal) in the year 2015.
The result presents pioneering work in the country where the occupational therapist has
skills to work in the six accessibility dimensions, and can be inserted in the planning, development
and execution team of an accessible exhibition and stands out as the professional responsible for
the Accessibility Program.
Keywords: Occupational Therapy; Accessibility in museums; Cultural accessibility.
Introdução
1. Metodologia
2. Resultados
3. Conclusão
Assim conclui-se que, embora tenha uma diferença entre os contextos de Brasil e Portugal,
o terapeuta ocupacional tem campo sólido para atuar em museus como um mediador de
acessibilidade cultural para pessoas com deficiência, tanto nas esferas de educação (através do
setor educativo), lazer (garantia de ambientes culturais inclusivos para que os sujeitos tenham
capacidade de performance, habituem-se à estes espaços e por consequência apresentem volição
para visitá-los), trabalho (proporcionar que pessoas com deficiência sejam protagonistas de suas
intervenções e que estejam, de fato, incluídos) e de participação social.
As conclusões apontadas neste trabalho derivam de uma pesquisa qualitativa acerca da
acessibilidade em museus, visando apresentar o papel do terapeuta ocupacional como mediador
de acessibilidade cultural para pessoas com deficiência. Desta forma, após a discussão exposta,
acredita-se que para uma atuação voltada para a promoção da cidadania e diversidade cultural, o
terapeuta ocupacional deve perpassar pelas seis dimensões de acessibilidade (atitudinal,
arquitetônica, instrumental, metodológica, programática e comunicacional) de forma a garantir a
efetivação da interação entre sujeito-ambiente-informação. Por conseguinte, entende-se que os
objetivos que permearam a concretização deste trabalho foram cumpridos uma vez que foi
possível apresentar as diversas atuações do terapeuta ocupacional no contexto museológico,
enfatizando ainda, o seu diferencial frente a outros profissionais.
A investigação abriu, também, um diálogo entre terapeutas ocupacionais, museólogos,
educadores e demais profissionais envolvidos em museus, de forma a ressaltar a importância da
interdisciplinaridade entre a equipe, buscando agregar conhecimentos para o desenvolvimento de
produtos de tecnologia assistiva baseados no Desenho Universal. É notório que há um número
significativo de terapeutas ocupacionais que realizam atividades e intervenções em prol da
cidadania cultural e das políticas públicas de cultura, desta forma, se busca contribuir para ampliar
a discussão deste campo para a categoria.
Doravante, este estudo subsidia novas perspectivas da profissão no campo da cultura,
ampliando suas possibilidades para além da utilização dos museus para fins terapêuticos,
apresentando estes espaços como potenciadores e promotores de cidadania e diversidade
cultural. Corrobora ainda para a configuração de um novo campo de práticas socioculturais
provindas da demanda das pessoas com deficiência, que anseiam pelo momento de poderem fruir
em um espaço cultural sem barreiras.
Referências
Dorneles, Patricia. (2011) Identidades inventivas: territorialidades nas redes de cultura viva na
região sul. Tese (Doutorado em Geografia). Programa de Pós-Graduação em Geografia, Instituto
de Geociências. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre.
Dorneles, Patrícia; Lopes, Roseli Esquerdo. (2016).Cidadania e diversidade cultural na pauta das
políticas culturais. Cadernos de Terapia Ocupacional UFSCAR. São Carlos, v. 24, n. 1, p. 173-184.
DORNELES, Patricia; ALBERTACCI JUNIOR, Geraldo. Rede de articulação, fomento e formação: O
curso de especialização como instrumento da política e acessibilidade cultural para pessoas com
deficiência. In: CARDOSO, Eduardo; CUTY, Jenifer (Orgs.). Acessibilidade em ambientes culturais:
relatos de experiências. Porto Alegre: Marcavisual, 2014. p.102-120.
Sassaki, Romeu Kazumi. (2009) Inclusão: acessibilidade no lazer, trabalho e educação. Revista
Nacional de Reabilitação (Reação). São Paulo, v. 12, p. 10 -16, mar./abr.
Diagnóstico de Acessibilidade da Biblioteca do Instituto de Estudos em
Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Accessibility Diagnosis of the Library of the Institute of Public Health Studies of the
Federal University of Rio de Janeiro
Raquel Chagas de Araújo, Especialista em Acessibilidade Cultural;
Cláudia Reinoso Araújo de Carvalho, Doutora em Saúde Pública.
Universidade Federal do Rio de Janeiro- SIGLA
raquelchagas@iesc.ufrj.br / claureinoso.ufrj@gmail.com
Resumo
Abstract
Introdução
Pensar os espaços públicos acessíveis e inclusivos é criar condições para que todos possam
usufruir do espaço, dos bens e das informações de forma plena. Dessa forma, inclusão é entendida
como “um processo que contribui para um novo tipo de sociedade através de transformações, nos
ambientes físicos [...] e na mentalidade de todas as pessoas” (SASSAKI, 2010, p. 40).
A legislação brasileira de acessibilidade exige que espaços públicos urbanos e edificações
possam ser usados por todos, incluindo pessoas com os mais diversos tipos e níveis de deficiência.
A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (BRASIL, 2015) especifica em seu artigo 42
que “a pessoa com deficiência tem direito à cultura, ao esporte, ao turismo e ao lazer em
igualdade de oportunidades com as demais pessoas”. Consequentemente, as bibliotecas
consideradas um equipamento de cultura, têm destaque no Plano Nacional de Cultura (PNC), que
em sua estratégia de ação, estabelece como metas importantes para o país até 2020 a garantia
que 100% das bibliotecas atendam aos requisitos legais de acessibilidade. (AS METAS, 2012 p. 84).
Nesse sentido as Bibliotecas Universitárias estão não somente ligadas ao cumprimento das metas
do PNC, como também à qualidade dos cursos de suas universidades através da Portaria 1.679 que
exige a implementação de requisitos de acessibilidade para pessoas com deficiência como
condição de autorização e reconhecimento de cursos e credenciamentos de instituições pelo
Ministério da Educação (MEC). (BRASIL, 1999).
Dentre os diversos espaços culturais, a Biblioteca do Instituto de Estudos em Saúde
Coletiva (IESC) que faz parte do Centro de Ciências da Saúde (CCS) foi avaliada quanto suas
condições de acessibilidade. A referida Biblioteca compõe a rede de bibliotecas da Universidade
Federal do Rio de Janeiro. Essa rede de 45 bibliotecas é coordenada pelo Sistema de Biblioteca e
Informação (SiBI), órgão suplementar do Fórum de Ciência e Cultura (FCC) da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ), e tem por objetivo principal a interação de suas bibliotecas à política
educacional e administrativa da Universidade, servindo de apoio aos programas de ensino,
pesquisa e extensão. A Biblioteca do IESC foi criada na década de 1990 com o intuito de atender às
necessidades informacionais do corpo docente, discente e técnico administrativo e o público em
geral. Seu acervo é especializados em Saúde Coletiva.Contudo pela Biblioteca do IESC fazer parte
do Centro de Ciências da Saúde (CCS) não atende somente à Saúde Coletiva como todos os cursos
relacionados à saúde. Sendo assim, analisou-se o quantitativo de 83 pessoas com deficiência
matriculadas nesse Centro desde 2017 até janeiro de 2019 nos cursos de graduação
Observa-se esse crescimento através dos investimentos públicos feitos para aumentar a
oferta de vagas para pessoas com deficiências nas Instituições Federais de Ensino Superior. Dessa
forma no segundo semestre do ano de 2017 a UFRJ recebeu pela primeira vez estudantes com
deficiência por meio de ações afirmativas do Sistema de Seleção Unificada (SiSU). Dessa forma,
contabilizou-se durante o segundo semestre de 2017 um total de 109 matrículas de alunos com
deficiência auditiva, visual, de locomoção e cognitiva. Em fevereiro de 2019 a UFRJ já contava com
251 alunos com deficiência matriculados.
Com o ingresso desses novos alunos e a necessidade em prestar um serviço de qualidade
este trabalho teve por finalidade propor adaptações razoáveis que não acarretem prejuízo da
pessoa com deficiência, a fim de assegurar o acesso aos serviços e produtos da Biblioteca em
igualdade de condições com as demais pessoas através da minimização das barreiras atitudinais,
tecnológicas, arquitetônicas, comunicacionais e de acesso à informação.
1. Fundamentação teórica
Acessibilidade pode ser considerada como uma condição essencial ao ambiente que
permite a melhoria da qualidade de vida do indivíduo gerando resultados sociais positivos,
contribuindo para o desenvolvimento inclusivo e sustentável (ENAP, [s. d.]). O acesso à cultura é
um direito do cidadão. A Declaração Internacional de Direitos Humanos (1948), documento de
referência para garantia dos direitos do homem, afirma, no artigo 27, que: “Toda a pessoa tem o
direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar
no progresso científico e nos benefícios que deste resultam”. Nesse sentido, promover a
acessibilidade nos espaços culturais para pessoas com deficiência e novos públicos e propiciar a
eles o protagonismo é trabalhar pela garantia do direito de participação de todo ser humano na
vida cultural da comunidade.
O Plano Nacional de Cultura instituído pela Lei 12.343 estabelece objetivos, diretrizes,
estratégias e metas de orientação para o poder público na formulação de políticas culturais que
incluem as bibliotecas como ampliação de acervos em instituições de ensino, criação de centros
integrados de memória (Bibliotecas, arquivos e museus), construção e reforma de bibliotecas,
implementação de política nacional de digitalização e atualização tecnológica de laboratórios de
produção, conservação e restauro dos acervos, distribuição de conteúdo audiovisual nas
bibliotecas e capacitação de bibliotecários para a atuação como mediadores de leitura (BRASIL,
2010). O PNC ainda prevê metas para serem atingidas até 2020 em especial a Meta 29, que
determina que seja acessibilizado 100% dos espaços e instrumentos culturais como as bibliotecas
(BRASIL, [s.n.]). Contudo as instituições culturais no país precisam se adequar e obedecer as leis
existentes para eliminar as barreiras de acesso, adaptando seu espaço físico e oferecendo bens e
atividades em formatos acessíveis, capacitando funcionários no atendimentos as pessoas com
deficiência.
Tratando especificamente da deficiência auditiva encontra-se a lei nº 10.436, reconhece a
Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) como a primeira língua da pessoa surda e língua portuguesa
em segundo lugar (BRASIL, 2002). Alem disso, a legislação prevê que os estabelecimentos culturais
tanto na esfera municipal quanto na federal, devem disponibilizar intérpretes de LIBRAS
/Português ou servidores fluentes em LIBRAS.
Tendo em vista a relevância do tema da acessibilidade e inclusão e a necessidade de
organizar, sistematizar e estabelecer a articulação institucional, a UFRJ desde 2007 vem discutindo
sobre o tema através de ações interdisciplinares por meio de mobilização coletiva de grupos
interessados, passando pela constituição do Núcleo Interdisciplinar de Acessibilidade (NIA) em
2007, sua posterior incorporação à Divisão de Inclusão Social, Acessibilidade e Assuntos
Comunitários (DINAAC) em 2010, a criação do Fórum Permanente UFRJ Acessível e Inclusiva em
2016, até a instituição da Diretoria de Acessibilidade (DIRAC) em 2018. (UFRJ, 20217). Com a
criação Fórum o SiBI passou a fazer parte das discussões e contribui com ações como de
mapeamento e diagnóstico de acessibilidade nas bibliotecas, além de integrar a Câmara de
Projetos, Obras, Questões Ambientais e Qualidade de Vida onde colabora com assuntos ligados a
acessibilidade em bibliotecas e com outras projetos de acessibilidade na Universidade.
2. Metodologia
4. Considerações finais
Pôde-se analisar com o trabalho que a Biblioteca ainda não está acessível aos alunos com
deficiência. Notou-se que a acessibilidade arquitetônica e comunicacional atendem parcialmente
aos quesitos mínimos de acessibilidade, já a instrumental e programática precisam ser
implementadas. Dessa forma, este diagnóstico a implementação da acessibilidade na biblioteca do
IESC, assim como, nortear ações de acessibilidade para os gestores do Instituto e outros projetos
nas bibliotecas pertencentes ao SiBI.
O ingresso de alunos com deficiência é uma realidade nas universidades e embora tenha
aumentando se confrontado ao total de matriculas no ensino superior do país em 2014 o
percentual não chegou nem perto de 1% do total, representando somente 0,42%. Estima-se que
este percentual tenha se modificado e que mais alunos estejam cursando universidade, o que
reforça a necessidade de acessibilizar os espaços das universidades.
Referências
ARAÚJO, Cidália et al. Estudo de Caso. Métodos de Investigação em Educação. Braga, Portugal:
Universidade do Minho, Instituto de Educação e Psicologia, 2008.
AS METAS do plano Nacional de Cultura. Brasília, DF: Plano Nacional de Cultura, 2012.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050: Norma Brasileira 9050. Rio de Janeiro,
2015.
BRASIL. Casa Civil. Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, de 2015. Brasília, DF.
BRASIL, Lei n. 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e
dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República. 2002.
BRASIL. Ministério da Cultura. Plano Nacional de Cultura. [s.n.].
BRASIL. Ministério da Educação. Portaria n.º 1.679 de 2 de dezembro de 1999. Brasília, DF:
Ministério da Educação, 1999.
ESCOLA NACIONAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (ENAP). Programa de inclusão de pessoas com
deficiência: principais conceitos. [s.d.].
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
SASSAKI, R. K. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. 8ª ed. Rio de Janeiro: WVA, 2010.
SASSAK, R.K. Inclusão: paradigma do século 21. Inclusão – Revista da Educação Especial. Brasília:
Secretaria de Educação Especial, n. 1, a.1, out., p. 19-23, 2005.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO. Ação afirmativa para pessoas com deficiência chega
à UFRJ. Rio de Janeiro: UFRJ, 2017.
Relato de experiência da Oficina de Sapatos em uma turma inclusiva (?)
Shoe Workshop Experience Report on an Inclusive Class (?)
Diogo Roberto Conceição da Silva
Centro Universitário Ritter dos Reis
diogoconsil@gmail.com
Resumo
Abstract
Experience report of a workshop about shoe industry and the shoe manufacturing in an
inclusive Elementary School class of a state school in Porto Alegre. Being carried out two action
plans for the inclusion of the class for the student who had autism spectrum syndrome. The
activity took place during one afternoon as part of a large project involving actions on professions.
It was observed that during the development of the workshop, which established the discussion
about the art of shoe making and its different perspectives, the student in question managed to
stay during the class and interact observing the work of other classmates. However, not
presenting your work to others. It is concluded that for the development of the workshop the
student was able to interact with the others. In addition, it is clear that the guest professional who
dynamized had availability to organize different materials, within their field knowledge about
school inclusion.
Keywords: Cultural accessibility; Inclusion; Elementary School; Shoe WorkshopEstrutura e
Formatação
1. Incluindo e oficinando
2. Metodologia
3. Prática e experimentações
Para a realização da oficina, apresentou-se à turma uma mala com diferentes materiais.
Sendo realizado um momento expositivo onde as mesas foram separadas em três grupos em
forma de “U”, mas as cadeiras foram colocadas no centro, todas viradas para o quadro, onde havia
uma mesa em que eram colocados os sapatos apresentados anteriormente.
Foi feitauma palestra sobre a importância do sapateiro na sociedade atual e da indústria
calçadista. Posteriormente, diversos sapatos foram disponibilizados para manipulação da turma.
Os mesmos, eram passados pelas crianças para que pudessem sentir as texturas e observar de
perto os detalhes das peças. Após a palestra, foi feita uma seção de perguntas e respostas sobre o
funcionamento dos sapatos, bem como, dúvidas sobre a profissão de sapateiro e do designer de
calçado.
Logo, foram questionados sobre o que mais gostavam de fazer entre as 03 opções: pintar,
recortar ou fazer cartazes. Após as escolhas, foram para mesas agrupadas, chamadas de “estações
de trabalho”, onde realizaram as suas funções designadas previamente: uma que trabalhariam
recortando, outra pintando e outra criando cartazes. Afim de simular uma empresa que cria um
sapato específico anteriormente apresentado.
Na estação de trabalho de recorte, tiveram que pegar suas tesouras pois iriam cortar
figuras designadas pelo oficineiro. Foram dadas 05 folhas para cara criança, em que havia um
molde em miniatura das diversas peças que constituem o molde do sapato que estava sendo
apresentado. Para, então, demonstrar que o sapato é produzido a partir de vários pedaços que
são recortados e depois costurados e colados.
Na estação da criação, ficava exposto o sapato para inspirar e fomentar a criação de um
cartaz para vender o sapato. Utilizando as folhas tamanho A4, fizeram diversas frases, desenhos e
cores onde criaram diferentes cartazes para vender o sapato, mostrando o que mais gostavam no
calçado.
Na estação de trabalho de pintura foi exposta a figura impressa da imagem do quadro
Paisagem em Grasse, 1911 de Renoir. As crianças deveriam averiguar quais eram as cores mais
utilizadas na obra do artista e colocá-las em uma folha de papel onde chamariam de “tabela de
cores”. O aluno com espectro autista ficou com um desenho de um sapato que ele deveria colorir
com as cores que estavam no quadro. Inicialmente o aluno aceitou a folha da mão da professora
responsável pelo projeto que acompanhava a turma e pegou os lápis de cor; entretanto, ele se
recusou a fazer a atividade conforme orientações. A criança, no entanto, não se desorganizou ou
foi agressivo, simplesmente sorria ao ver a imagem da obra de Renoir e fazia movimentos
repetitivos de balançar o corpo para frente e para trás. Demonstrou alegria quando as demais
crianças apresentaram todos os processos finais enfileirados na mesa, mostrando em ordem as
etapas para criar o calçado iniciando com os moldes, passando para as tabelas de cores,
posteriormente para os cartazes e então chegando ao calçado.
Durante o momento de compartilhar as obras desenvolvidas, foi possível perceber que o
aluno com síndrome do espectro autista interagia com as obras dos demais sorrindo para elas
quando apresentadas a ele. Nos demais momentos, ele permaneceu em aula realizando
movimentos repetitivos leves, mas presente em todo o tempo da oficina na sala junto das demais
crianças da turma e a professora responsável da turma.
4. Considerações Finais
Referências
Resumo
Abstract
This paper presents the results of a digital representation process, using photogrammetry
and sculptural modeling techniques, which aimed to document objects from the collection of the
Parque da Baronesa Municipal Museum in the city of Pelotas, RS. Particularly is the case of
furniture of the nineteenth century, a chatterbox, composed of two armchairs hinged by a tea
table. It is a complex geometry that makes it difficult to obtain an accurate model. This type of
exercise, as in every representational process, causes the expansion of knowledge about the
object treated, and may enhance the museological discourse. The representations obtained also
constitute the first stage for the generation of tactile models, which aim to make the museal
experience interactive, facilitating the enjoyment mainly of the blind public.
Keywords: representation; documentation; digital photogrammetry
Introdução
Figura 1: Composta por três fotografias lado a lado. A foto da esquerda ilustra uma das salas do Museu da Baronesa, a
sala azul, com piso em madeira encerada, onde ao centro temos uma "conversadeira" que são duas poltronas
individuais estofadas fabricadas em madeira torneada e envernizada com estofamentos em tecido na cor bege e
articuladas por uma mesa central que possibilita uma maior ou menor aproximação entre as pessoas sentadas. A foto
do meio enquadra toda a edificação do Museu, cercada pelo parque arborizado em um dia ensolarado. Trata-se de
um casarão, com paredes rosa, de um pavimento, à exceção de um único cômodo que se ergue ao centro da
edificação. Vê-se à esquerda a fachada principal composta por uma porta central com três janelas de cada lado, todas
com bandeira de arco pleno. À direita, uma árvore encobre parte da fachada lateral, percebendo-se ainda uma
sequência de janelas em todo plano desta fachada. As janelas do segundo pavimento são iguais às do primeiro, porém
sem o arco. A foto da direita apresenta outra sala do museu, com piso em madeira, onde em primeiro plano temos
uma máquina de costura de ferro fundido a pedal com gabinete de madeira, com um guardanapo em tecido branco
posicionado para ser costurado. Há uma cadeira estofada frente à máquina, um sofá à esquerda e ainda um conjunto
de sofá e cadeiras mais ao fundo junto à parede com cortinas leves que deixam entrar a luz do dia. Fonte: à esquerda,
autores, ao centro e à direita: https://www.facebook.com/pg/museuparquedabaronesa/
A peça, selecionada neste estudo, além de ser apropriada para estruturar um método de
representação, traz peculiaridades que apontam sobre estas relações interpessoais. Trata-se de
um mobiliário que formaliza uma maneira de estabelecer maior ou menor proximidade para uma
conversa a dois. São duas poltronas conectadas por uma mesa de chá, conforme ilustra a Figura 1.
A geometria complexa deste objeto problematiza o processo de representação para a
aquisição de um modelo preciso, capaz de dar conta de documentar e salvaguardar suas
características formais. Recentemente, com o caso do incêndio ocorrido no Museu Nacional, no
Rio de Janeiro, ficou evidenciada a importância de utilizar recursos tecnológicos, de representação
digital tridimensional, para a documentação de um acervo. Hoje está sendo possível obter réplicas
de objetos perdidos ou danificados. A possibilidade de reprodução, de obtenção de modelos
digitais para a impressão 3D, em diferentes escalas de produção ou de proporção em relação ao
objeto original, tem permitido gerar uma infraestrutura para avançar em uma comunicação
acessível para diferentes públicos e interesses, científicos, educativos, sociais e/ou culturais. A
partir dos estudos registrados, por exemplo, em WERNECK (2010), CARDOSO e CUTY (2014),
compreende-se a importância deste tipo de comunicação em espaços museais. A experiência,
nestes ambientes, pode ir além da contemplação visual ativando outros sentidos, especialmente o
tátil, para a inclusão de pessoas com algum tipo de deficiência visual.
Nesta direção, de investir no reconhecimento e apropriação de tecnologias avançadas de
representação, este estudo relata o processo de documentação da “conversadeira”, tomada como
objeto adequado, não somente por envolver formas geométricas complexas, mas para o contexto
onde está inserido, ser único para testemunhar uma determinada narrativa histórica sobre as
relações interpessoais.
1. Fundamentação Teórica
A fotogrametria (medição por meio da fotografia) apresenta-se como uma alternativa para
os procedimentos de levantamento manuais (com instrumentos como réguas, esquadros, fitas
métricas, etc.) por permitir coletar grande densidade de informações dimensionais de forma
rápida, registrando com precisão a localização de cada ponto da superfície de um objeto
GROETELARS, (2012). É um processo fundamentado na trigonometria, associando pontos, por
exemplo, entre duas fotografias de um mesmo objeto obtidas sob pontos de vista diferentes. Esta
comparação permite localizar as coordenadas de pontos visíveis em ambas as fotografias. A
fotogrametria digital automatiza este cálculo permitindo associar um número ilimitado de
fotografias, e, por redundância, consegue atribuir um alto grau de precisão para gerar uma nuvem
de pontos que representa fielmente todas as partes visíveis (pelo conjunto de fotografias) da
superfície do objeto a ser representado. O resultado de um levantamento por fotogrametria
digital é esta “nuvem de pontos”.
O levantamento fotogramétrico é um processo de engenharia reversa DEZEN-KEMPTER,
(2015), sendo assim, constrói a representação digital a partir do objeto concreto, obtendo se a
partir desta técnica, uma documentação precisa sobre a forma e a aparência do mesmo,
considerando o estado e as condições lumínicas do momento da obtenção das fotografias.
A modelagem digital tridimensional, tradicionalmente é auxiliada por técnicas de geração e
transformação geométrica a partir da compreensão do tipo de geometria envolvida e de leis,
procedimentos necessários para a representação. No caso desta engenharia reversa, como ocorre
com a fotogrametria digital, não existe esta lógica representacional. Os pontos são localizados de
acordo com o objeto real, sem declarar as regras que definem a superfície do objeto. Desta
maneira, se aplicarmos de maneira automatizada um procedimento para unir todos os pontos da
nuvem, a malha gerada será arbitrária, gerando por exemplo grandes planos que não
correspondem com a rugosidade que a superfície contém. Existem ferramentas digitais que
facilitam estes ajustes de maneira similar a um processo escultural, tanto em termos de software
como de dispositivos de interface naturais que permitem a manipulação (manual, por tela de
computador sensível ao tato), como por meio de uma caneta que simula a sensação de como se
estivesse pressionando uma argila. É o caso da modelagem escultural.
Frente a isto, a fundamentação deste trabalho esteve centrada na compreensão de como
funcionam as tecnologias de representação, disponíveis no contexto deste estudo, e de que
maneira podem ser utilizadas para se estabelecerem como método de documentação e de
infraestrutura para a produção de modelos táteis.
2. Materiais e métodos
Figura 2. Composta por três imagens lado a lado. A imagem da esquerda mostra uma nuvem esparsa de pontos que
não definem exatamente a forma e aparência da "conversadeira". A imagem ao centro ilustra uma nuvem densa de
pontos, que define o móvel de maneira muito aproximada da realidade. E à direita temos o modelo 3D, digital, gerado
da "conversadeira" com um aspecto realístico, da fotografia. Fonte: autores.
Figura 3. Composta por três colunas de imagens das diferentes representações produzidas da conversadeira. A
primeira coluna está dividida em duas imagens: a de cima traz a representação da estrutura do móvel sem o estofado,
destacando a forma dos elementos torneados que sustentam a mesa de chá e configuram a base dos assentos de uma
das poltronas. Na imagem abaixo desta primeira tem-se a fotografia do modelo da conversadeira impresso em 3D, em
plástico cinza, com o estofado modelado de maneira simplificada. Na coluna do meio tem-se uma fotografia da tela do
computador visualizando-se o modelo digital preciso de uma das poltronas, em cor de argila. Na frente do monitor,
que é sensível ao toque e à pressão, há uma mão segurando uma caneta digital que toca no modelo do estofado, para
esculpir sua forma com maior nível de realismo. A coluna da direita traz um conjunto de representações em
linguagem técnica, vistas ortogonais (frontal, superior e lateral esquerda) do modelo 3D, e uma perspectiva do
modelo digital finalizado da "conversadeira", todo ele na cor branca. Fonte: À esquerda, Veiga, Vecchia e Borda, 2015.
Demais, autores.
4. Considerações Finais
Referências
BORDA, A.; SILVEIRA, D.; MEDINA, A.; VECCHIA, L. Pontos (de vista) sobre o patrimônio: entre o
escaneamento e a fotogrametria In: XX Congreso de la Sociedad Iberoamericana de Gráfica
Digital, Buenos Aires. Blucher Design Proceedings. São Paulo: Editora Blucher, 2016. v.3. p.651 -
556
CARDOSO, Eduardo; CUTY, Jenifer. Acessibilidade em ambientes culturais. Porto Alegre: Marcavisual, 2012.
ISBN 978-85-61965-12-9.
Resumo
Abstract
The work consisted in the development of a sensory Garden project that is being installed
in the Science Park of the Câmara Cascudo Museum of the Federal University of Rio Grande do
Norte (UFRN) as a proposal for social inclusion, especially for people with disabilities, and from a
pedagogical perspective for science teaching, being also a recreational option and a possibility of
promoting education for sustainability. The goal is that the space be also collaborative for people
who see to experiment with different ways of approaching their senses, Visiting the Garden
temporarialy blindfolded, for example. The project was developed in an interdisciplinary
perspective, involving a team of teachers and students of architecture, design, biology, chemistry
and physics.
Keywords: sensory Garden; inclusion; sustainability.
Introdução
Um jardim sensorial pode ser usado como um local que acalma e estimula suavemente os
sentidos. Esse tipo de ambiente pode se tornar um lugar onde, por exemplo, crianças com autismo
e outros distúrbios do processamento sensorial se sentem seguras e confortáveis para explorar
seus sentidos sem serem sobrecarregadas por eles. Para pessoas que não têm uma deficiência, um
jardim sensorial é benéfico por se constituir, ainda, em uma ferramenta educacional divertida que
lhes permite explorar e aprender sobre os seus sentidos na interface com a natureza. No jardim,
as pessoas são encorajadas a tocar, cheirar, saborear e geralmente interagir com o ambiente ao
seu redor trazendo à tona o sentido de respeito e responsabilidade pela natureza. A expectativa é
de que o jardim se estabeleça como um espaço de manutenção sustentável oferecendo uma
experiência sensorial que colabore para o bem-estar pessoal e coletivo e com a sustentabilidade
de um modo geral. Também deve promover a inclusão de pessoas com variadas deficiências por
meio de atividades desenvolvidas em um jardim sensorial, por meio da formação em educação
científica e educação para a sustentabilidade.
1. Fundamentação teórica
2.Metodologia
A concepção do Jardim sensorial do Parque das Ciências foi desenvolvida a partir das
seguintes fases, envolvendo a equipe multidisciplinar: (1) Visitas técnicas: alguns membros da
equipe visitaram propostas similares para analisar o funcionamento de um jardim sensorial, a
saber: Jardim Sensorial do Jardim Botânico e outros jardins na França e em Portugal. Durante essa
fase, a equipe discutiu os aspectos positivos em cada um dos locais visitados. (2) Definição das
premissas do projeto: após a discussão sobre os pontos que prioritários no projeto, estabeleceu-se
os princípios norteadores do jardim. (3) Levantamento do local: foi realizado um reconhecimento
do local delimitado para a implantação do jardim e posterior levantamento dimensional e
fotográfico. Esse momento foi fundamental para reconhecer os limitantes do trajeto como as três
árvores e uma fossa existentes. (4) Desenho do traçado do percurso (estudo preliminar): a partir
da planta baixa do local, foi estabelecida uma proposta de percurso e desenho de piso. (5) Análise
do percurso e ajustes no desenho: o traçado planejado foi simulado in loco, com pedras e estacas
de madeira, de maneira que o consultor cego pudesse caminhar no percurso de forma autônoma.
Após a observação não participativa do cego percorrendo o trajeto e uma discussão final,
identificou-se a necessidade de ajustes na planta para que permitisse o acesso mais fácil aos
troncos das árvores. Cabe destacar que desde o início do projeto evitou-se o desenho de um
percurso labiríntico, permitindo uma rápida compreensão do local. O percurso principal receberá
o piso tátil, desenhado obedecendo às normas da NBR 16537 (ABNT, 2016). (6) Definição dos
volumes de vegetação para criação do paisagismo: devido às limitações de execução da obra e da
aquisição de materiais pelo sistema de contratos da universidade, optou-se em construir
jardineiras em concreto no local em duas alturas diferentes, contemplando o alcance das mãos
pelos cadeirantes e pelas crianças. Além das jardineiras, foram previstos vasos para a construção
de muros verdes que delimitam o espaço do jardim. (7) Definição das plantas (em fase de
desenvolvimento): serão selecionadas plantas sensoriais resistentes e diversificadas em altura,
cor, textura e aroma, fornecendo interesse sensorial durante todo o ano e que possam ser
cultivadas facilmente. Plantas perenes, coberturas de solo, gramíneas ornamentais, pequenos
arbustos e plantas comestíveis poderão ser incorporadas ao projeto, a depender de fatores
diversos. (8) Projeto executivo (em fase de desenvolvimento): serão realizados estudos de
adequação dos materiais selecionados, de acordo com a disponibilidade do almoxarifado da
universidade. Foi inicialmente previsto para o piso o uso de pedras naturais ou concreto ou feitas
por crianças para incluir impressões de mão, impressões de folha, conchas, mármores, mosaicos
de azulejos coloridos ou vidro liso. Por fim, o projeto passará para o detalhamento dimensional
para execução da obra com a quantificação e descritivo dos materiais. (9) Construção: execução da
obra, prevista para dezembro de 2019.
O projeto aqui relatado está ainda em desenvolvimento, sendo cumpridas as etapas acima
descritas até a fase 6. As discussões promovidas pela equipe multidisciplinar, incluindo um
consultor cego, foram determinantes para as tomadas de decisão na concepção do projeto.
Dentre elas, vale destacar a inclusão de vias secundárias para acesso aos troncos das árvores. A
escolha dos materiais, de acordo com os limites impostos, especialmente para aquisição de
materiais, podem ser o diferencial do jardim sensorial proposto, ao compreender que ele é fruto
de ação de extensão universitária. Assim, o jardim será composto por pisos variados, com plantas
de diferentes cores e texturas e diversificadas funções (alimentação, fitoterápico, ornamental). Ao
longo do percurso foram projetados bancos e áreas de contemplação para as atividades de
educação ambiental, sendo que todos os espaços devem se adequar às pessoas que são usuárias
de cadeira de rodas, idosas e crianças de modo a lhes permitir, por exemplo, ouvir, provar, tocar,
cheirar e ver as plantas e outros possíveis recursos ao alcance das mãos. Ao considerar o público
com deficiência visual, toda a sinalização será executada em texto ampliado e texto em braille, em
materiais à prova de intempéries e no dimensionamento de acordo com as normas de
acessibilidade estabelecidas na NBR 9050 (ABNT, 2015). Além do percurso sensorial, o projeto
contemplará atividades educativas explorando os sentidos, utilizando para isso as ferramentas do
design de serviços.
4. Considerações finais
O desenvolvimento de um jardim sensorial que seja uma referência como espaço educativo
para todo o estado do Rio Grande do Norte é uma concepção inovadora na medida em que amplia
a discussão para além do espaço físico, envolvendo diferentes dinâmicas de interação com o
visitante com deficiência. Em sua essência, o jardim deve ser um lugar que estimula os sentidos,
característica que o distingue de um jardim tradicional. Os elementos que o constituem, com
qualidades sensoriais particulares, têm a intenção de criar um ambiente estimulante e benéfico
para todos os usuários daquele espaço. Para pessoas com deficiência, pretende-se estabelecer um
espaço que possa fornecer aos indivíduos subsídios que os ajudam a interpretar e utilizar melhor o
meio Ambiente, promovendo, assim, também, a educação para a sustentabilidade.
Espera-se que o jardim venha a ser, num contexto de carência desse tipo de
equipamento urbano de aprendizagem, uma oportunidade de diálogo com outras iniciativas
inovadoras de educação formal e não formal, onde se pode aprender sobre muitos temas de
interesse geral, marcadamente aqueles relativos ao ambiente e todas as associações possíveis na
perspectiva de uma cidade mais inclusiva e sustentável. Almeja-se ainda que a experiência
multidisciplinar e os procedimentos metodológicos executados para alcançar o objetivo de
construir um jardim sensorial universitário possam contribuir com outras propostas de inclusão,
colaborando com a discussão levantada durante todo o processo de concepção e construção.
Referências
Resumo
Abstract
The aim of this article is to bring the debate on cultural accessibility (social policy) to the
professional training of social workers, based on the research Cultural Accessibility in times of
resistance: access, accessibility and culture expressions of the contemporary social question to
obtain the title of Specialist in Cultural Accessibility.
Keywords: Cultural Accessibility; Social Policy; Social Work.
Introdução
Este artigo tem como objetivo apresentar o resultado da pesquisa realizada no âmbito do
Programa de Pós-graduação em Acessibilidade Cultural – Departamento de Terapia Ocupacional
da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Onde buscou-se
suscitar o debate da Acessibilidade Cultural no Serviço Social, trazendo reflexões sobre a
constituição de uma identidade cultural para a pessoa com deficiência.
A pesquisa dialoga com o movimento histórico que constitui o Serviço Social como
profissão e sua relação com a “questão social”, bem como as alterações culturais produzidas no
contexto engendrado pela Sociedade Global, a fim de provocar inquietações sobre as políticas
sociais inclusivas e os desafios imanentes à formação de assistentes sociais na atualidade. Ao
considerar o debate da Acessibilidade Cultural, enquanto política social, portanto, objeto da
atuação do Serviço Social, na formação do/as assistentes sociais no âmbito da graduação,
pretende-se provocar a profissão quanto a sua implicação na temática, buscou-se atentar ao
propósito e compromisso democrático do projeto Ético-político do Serviço Social.
Com base na teoria social crítica, o estudo compreendeu procedimentos metodológicos de
pesquisa qualitativa, exploratória, bibliográfica e documental sobre os temas: acessibilidade,
cultura, desigualdade, formação do/a assistente social, “questão social” e serviço social. A
pesquisa qualitativa se imbui das abstrações da complexidade dos fenômenos da vida real e se
aprofunda no mundo dos significados, nos permitindo investigar o universo da produção humana,
entendendo os fenômenos constitutivos da realidade social (MINAYO, 2012).
Pesquisar a matriz curricular do Serviço Social, considerando o movimento histórico de
transformação da profissão, associando-o a com a lutas e conquistas das pessoas com deficiência,
exigiu atentar para a complexidade da realidade das políticas públicas brasileiras. O que permitiu
identificar o potencial democratizador da profissão em relação a Acessibilidade Cultural.
Assim, foi possível averiguar a hipótese de que a Acessibilidade Cultural aparece entre as
refrações da “questão social” a medida que, como política pública social, sofre os impactos da
subordinação à política econômica, como também problematizar os limites dos conceitos de
inclusão X exclusão, expressões polêmicas e amplamente questionáveis no campo teórico que
acolhe o Serviço Social.
Como objetivo geral da pesquisa se delineou: suscitar o debate da Acessibilidade Cultural
no Serviço Social, trazendo reflexões sobre a constituição de uma identidade cultural para a
pessoa com deficiência. E, como objetivos específicos: dialogar com o movimento histórico que
constitui o Serviço Social como profissão e sua relação com a “questão social” e, com as alterações
culturais produzidas no contexto engendrado pela Sociedade Global; provocar inquietações sobre
as políticas sociais inclusivas e os desafios imanentes à formação dos/as assistentes sociais na
atualidade.
Nesta interação investigativa foi possível identificar a Acessibilidade Cultural, como política
social, intrinsecamente cristalizada no fazer profissional do Serviço Social e a questionar: sendo o
Serviço Social, um projeto profissional hegemonicamente político, poderia ele prescindir o debate
da Acessibilidade Cultural da sua formação profissional?
Admite-se, que esta não é uma questão simples, da dimensão de respostas da ordem
prática. Mas, justamente, por ser o Serviço Social um projeto profissional portador de uma práxis
reflexiva “cuja a pertinência é exclusiva aos indivíduos do gênero humano” (NETTO, 1994, p.34),
que se coloca a necessidade de reconhecer e situar a Acessibilidade Cultural entre as expressões
da “questão social” na atualidade.
A cultura no mundo globalizado tem vestes de produto cultural, e como tal, são
privilegiadas políticas culturais voltadas ao mercado. A produção cultural, também, atravessada
pelas relações contraditórias do universo do trabalho, tende a refletir a organização social
hegemônica. Esse fator, aliado a austeridade com fomento e investimento cultural, inscreve a
necessidade do/as profissionais do Serviço Social se atualizarem quanto as políticas públicas
inclusivas.
Nesta direção, diversos desafios se apresentam na realidade social, de forma que se torna
essencial dar visibilidade às expressões da “questão social” na cena da Acessibilidade Cultural. Um
argumento que tem se consolidado no âmbito das Ciências Sociais e Humanas é que as diversas
esferas da vida participam na constituição do ser, sendo elas a classe social, a região, a religião, a
sexualidade, a idade, a raça, o gênero. De modo que, se sinaliza a importância de constituir um
olhar sensível às interseções das relações sociais que perpassam a vida das pessoas com
deficiência.
Existe um tipo de discriminação que tem rebatimentos em todas as esferas da vida social e
laboral, que se apresenta em uma forma de subordinação diretamente relacionada às questões de
gênero e raça (CRENSHAW,2002). A “discriminação interseccional” considera que grupos sociais
não são homogêneos, seja de mulheres ou negros, existem, também, outras características e
experiências pessoais presentes, tornando-os diferentes e múltiplos em suas particularidades.
Acredita-se, que as lentes da intereseccionalidade podem nos permitir enxergar o processo
de discriminação imposto as pessoas com deficiência e a visualizar expressões de heranças
culturais de subordinação que perpetuam as desigualdades sociais, indo “além do que se vê” no
oceano turbulento do cotidiano social e profissional de assistentes sociais na atualidade.
Importa ainda atentar para alterações paradigmáticas na área da saúde, implicando
mudanças nos tipos de abordagem à deficiência. Verifica-se, duas tendências bastante distintas: a
da abordagem centrada na pessoa com deficiência (fatores orgânicos) e; da abordagem centrada
no meio (fatores ambientais), prevalecendo a visão interacionista junto à acadêmicos dos cursos
de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (OMOTE, 2006).
Segundo a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde da
Organização Mundial de Saúde – OMS, houve um movimento de passagem entre o Modelo
Médico da Deficiência (centrando na pessoa com deficiência), o Modelo Social da Deficiência
(centrado no meio), até o Modelo inclusivo de interação da pessoa-meio (BUCHALLA;
FARIAS,2005). O que incorre na defesa da participação social da pessoa com deficiência nas
diversas esferas da vida social.
Desta forma, acredita-se que o viés interacionista compartilha dos valores democrático e
do reconhecimento das lutas históricas pela efetivação de direitos. Assim como, pela ampliação da
cidadania através da participação social no campo das políticas públicas, considerando que as
diversas esferas da vida participam na constituição do ser, observando os efeitos que elas exercem
sobre os indivíduos, que se insere o conceito de deficiência sob a lente da interseccionalidade.
No que toca a realidade brasileira, acredita-se, haver a presença marcante do corte de
classe, no qual as vulnerabilidades socias expostas às classes sociais mais pobres lhes situam como
maioria entre as vítimas das deficiências. Sejam em decorrências de doenças infectocontagiosas,
pelas diversas violências rurais e urbanas e outros. Portanto, atravessar a temática da
acessibilidade, sem antes, ainda que brevemente, explicitar as lupas colocadas sobre os conceitos
de deficiência, acessibilidade e cultura, seria um esforço superficial e efêmero.
3. Considerações Finais
Acredita-se, que abordar um tema tão caro a sociedade, a participação social e cultural das
pessoas com deficiência, não pode ocorrer se não, através de um olhar crítico que busca além da
superfície aparente apreender a realidade. Destaca-se, portanto, que as bases de sustentação da
Acessibilidade Cultural, postas como estão, aliadas ao cenário político, econômico e social de
intolerância e desrespeito à diversidade, sem que se realize sobre elas análises críticas, podem
contribuir a valorização de padrões meritocráticos da sociedade de classes.
No Brasil, o movimento social da pessoa com deficiência se fortaleceu no contexto da
redemocratização, quando do enfraquecimento da ditadura militar. De certa forma, este
movimento contribuiu para constituição de uma identidade cultural para as pessoas com
deficiência, confirmando sua efetiva participação política e social. Então, pensar acessibilidade
requer ir além de disponibilizar acesso para as pessoas com deficiência, entendendo-a como
práticas inclusivas e de participação social, que envolve aspectos culturais, sociais e políticos.
A acessibilidade simboliza um conjunto de direitos, extrapolando a dimensão técnica,
estando mais relacionada com a qualidade de vida essencial ao desenvolvimento da pessoa com
deficiência (SARRAFI,2018). Assim, a Lei Brasileira da Inclusão de 2015 apresenta o conceito:
“Acessibilidade é o direito que garante à pessoa com deficiência viver de forma independente e
exercer seus direitos de cidadania e de participação social” (LBI, 2015, artigo 53).
Admite-se, então, que o Serviço Social, sendo um projeto profissional hegemonicamente
político, não deve e não pode se furtar ao debate da Acessibilidade Cultural. Nesta direção, sem a
pretensão de dar conta da totalidade dos desafios que se apresentam na realidade social, mas
com intuito de dar visibilidade às expressões da “questão social” na cena da Acessibilidade
Cultural, que três desafios serão apresentados nas a linhas a seguir.
Como primeiro desafio se coloca a busca pela superação da prática imediatista e
superficial, descolada das mediações com a totalidade social. Na tentativa de superar a
“imediaticidade do cotidiano” (NETTO, 2006, p.14) em busca de direções emancipatórias do ser,
que as lentes da intereseccionalidade, Crenshaw (2002), nos ajudam a enxergar o processo de
discriminação imposto as PcDs, uma vez que “invisibilidade interseccional” dialoga
simbioticamente com a temática da acessibilidade. Além de nos permitir visualizar expressões de
heranças culturais de subordinação que perpetuam as desigualdades sociais, portanto, sendo um
conceito adequado ao debate da Acessibilidade Cultural.
Como segundo desafio, reconhecer as diversas desigualdades sociais, buscando combater a
hierarquização das prioridades de atenção, segundo orientações partidárias, dogmas ateístas ou
religiosos, que em nada contribuem para construção de uma sociedade justa e inclusiva. Destaca-
se, então, o quinto princípio do Código de Ética Profissional do Serviço Social “Posicionamento em
favor da equidade e justiça social, que assegure universalidade de acesso aos bens e serviços
relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática” (CFESS, [2012],
p.23).
Por fim, mas não necessariamente em último lugar se apresenta o terceiro desafio, o da
resistência, na defesa do projeto profissional contra hegemônico que constitui o Projeto Ético
Político do Serviço Social. Consciente de que nem toda resistência se configura contra
hegemônica, incide, portanto, a essencialidade de apreender o movimento cultural gestado pela
ordem dominante. Sobretudo, nestes tempos de crise econômica e política em que os valores
democráticos estão ameaçados, sob o discurso da defesa de valores tradicionais.
O Serviço Social, como profissão, tem se colocado historicamente em defesa da
democracia, postulando como um dos seus princípios éticos: o compromisso da categoria com o
empenho para eliminação de todas as formas de preconceito e à participação de grupos
socialmente discriminados (CFESS, [2012]). É, portanto, como compromisso ético da categoria
profissional que a defesa da inclusão e acessibilidade, como políticas sociais, se apresenta como
um desafio a ser enfrentado pelo Serviço Social.
REFERÊNCIAS
Resumo
A legendagem para surdos e ensurdecidos (LSE), além de ser uma poderosa ferramenta de
inclusão, pode ser um excelente recurso didático para o aprendizado de línguas, porém ainda são
raras as iniciativas que contemplem seu uso em vídeos produzidos em Língua de Sinais. Entre os
gêneros de vídeos produzidos em Libras, tem-se o gênero tradução de textos acadêmicos,
comumente utilizado em cursos de Letras com habilitação em Língua Brasileira de Sinais (Libras)
como forma de acesso de alunos surdos a esses textos científicos em sua língua materna. Este
trabalho, que tem suporte teórico e metodológico nos estudos da Tradução Audiovisual Acessível
(TAVa), trata da legendagem desse gênero. A metodologia empregada é do tipo descritiva. Foi
escolhido um vídeo da tradução de um texto que integra a bibliografia recomendada do curso de
Letras-Libras da Universidade Federal do Ceará. A pesquisa traça uma análise descritiva desse
processo de legendagem, apresentando as dificuldades encontradas, as peculiaridades observadas
nesse gênero de vídeos e as estratégias adotadas por estes pesquisadores, com vistas à orientação
de outros legendistas na tarefa de tornar vídeos produzidos em Libras acessíveis também a
pessoas que não tem fluência nessa língua.
Palavras-chave: Tradução Audiovisual Acessível; Legendagem; Língua Brasileira de Sinais.
Abstract
The Subtitling for the deaf and hard-of-hearing (SDH), besides being a powerful inclusion
tool, can be an excellent didactic resource for language learning, but the initiatives that include
their use in sign language videos are still rare. Among the genres of videos produced in Brazilian
Sign Language, there is the genre translation of academic texts, commonly used in Languages
Programs with qualification in Brazilian Sign Language as a form of access of deaf students to these
scientific texts in their mother tongue. This work, which has theoretical and methodological
support in the studies of Accessible Audiovisual Translation (AVT), deals with the subtitling of this
genre. The methodology employed is the descriptive type. A video of the translation of a text that
integrates the recommended bibliography of the Language program of the Federal University of
Ceará was chosen. The research traces a descriptive analysis of this subtitling process, presenting
the difficulties encountered, the peculiarities observed in this genre of videos and the strategies
adopted by these researchers, for a purpose of guiding other subtitlers in task of becoming videos
produced in Brazilian Sign Language accessibles also to people who do not have fluency in that
language.
Keywords: Accessible Audiovisual Translation; Subtitling; Brazilian Sign Language.
Introdução
1. Fundamentação teórica
2. Metodologia
4. Considerações finais
Este trabalho teve por objetivo descrever o processo de produção de LSE de vídeos em
Libras do gênero texto acadêmico, uma área ainda não explorada pelos estudiosos em TAVa.
Foram apontadas as dificuldades encontradas ao longo do processo e apresentadas algumas
estratégias adotadas para a produção de uma LSE que considere as peculiaridades desse tipo de
material audiovisual. Durante o processo, verificou-se que um tempo de exposição em tela de 5
segundos mostrou-se mais adequado no que tange à marcação das legendas seguindo o fluxo de
fala do tradutor. Para trabalhos futuros e com um tempo maior, pretendemos fazer um estudo
exploratório com surdos, a fim de testar a recepção de legendas seguindo essa “regra dos 5
segundos” e as estratégias aqui apresentadas de tradução das datilologias e repetições.
Referências
Resumo
Abstract
This article reports the activities developed at the Museu Municipal Parque da Baronesa,
located in Pelotas/RS, aiming at the implementation of a project that offers wider access to the
public, especially to individuals with special needs. Through bibliographic research, meetings with
institutions related to the theme and participation in events, the museum seeks to adapt the
current legislation, equips its staff for better service, producing guided tours, acting as a partner in
the production of tactile pieces and directed workshops. especially the visually impaired.
Nevertheless, it seeks to analyze its own physical structure for necessary adaptations.
Keywords: Baroness Museum; Accessibility; Adaptation.
1. Introdução e fundamentação teórica
Para Sassaki (2009, p.2), a acessibilidade é um benefício, uma facilidade, que se deseja
alcançar “[...] em todos os contextos e aspectos da atividade humana [...]” e, desta forma, atinge
todas as pessoas, com algum tipo de deficiência ou não.
Para que todos estes itens sejam compreendidos pela missão do museu, é necessário que a
equipe tenha o entendimento de que o acesso à instituição deve ser disponibilizado a toda a
população, de forma geral. Para tal, adaptações físicas devem ser previstas, sempre levando em
conta o fato de que o museu está sediado em uma construção histórica, tombada em nível federal
e que requer uma análise criteriosa no que diz respeito à implantação deste tipo de modificações.
Neste sentido, a Normativa nº 1, de 25/11/2003, do IPHAN, estabeleceu diretrizes, critérios e
recomendações para a promoção da acessibilidade, que se aplicam aos edifícios ou imóveis
declarados bens de interesse cultural ou de valor histórico e artístico.
As reformas realizadas, entre 1978 e 1982, adaptaram a antiga residência familiar para um
ambiente museológico, dedicado à exposição do acervo e à recepção do público em geral, sem
levar em conta a acessibilidade dos visitantes com deficiência. Atualmente, o espaço expográfico
conta com quinze salas, cujo percurso permite o trânsito de uma pessoa em cadeira de rodas, mas
com inúmeras limitações e barreiras.
A estrutura do local não contemplou banheiros adaptados nem no interior do museu e tão
pouco no parque. O prédio possui dois andares superiores acessados por uma escada de madeira
em espiral, mas a forma construtiva da casa não oferece alternativas para instalação de elevador,
mesmo de pequenas dimensões.
Durante visita ao Museu da Baronesa, a terapeuta ocupacional, Desirée Nobre Salasar,
observou diversas deficiências atitudinais e comunicacionais ao longo do percurso de visitação,
como, por exemplo: o tamanho de fonte utilizada em textos, bem como o espaçamento,
dificultam a leitura para pessoas com baixa visão; as informações na entrada não avisam que o
local dispõe de cadeira de rodas, não mencionam a existência de peças táteis; a rampa existente,
que é móvel, deveria ser fixa (e por este motivo precisa ser solicitada); as regras de não tocar, não
mexer ou sentar, também se constituem em barreiras. Uma análise superficial demonstrou o
quanto é preciso avançar.
Em 2016, as primeiras atividades que mobilizaram a equipe do museu relacionaram-se à
busca de uma parceria com o Grupo de Estudos para o Ensino/Aprendizagem de Gráfica Digital
(GEGRADI), da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAURB), da Universidade Federal de
Pelotas (UFPEL), coordenado pela Profa. Dra. Adriane Borda Almeida da Silva, que atua junto aos
espaços museológicos da instituição de ensino, com temáticas que envolvem o conceitos de
desenho universal e o método da adição gradual da informação (AGI), para criação de
representações táteis com diferentes escalas e partes do objeto (VECCHIA et al., 2017).
No Museu da Baronesa, a experiência se desenvolveu no âmbito do projeto de pesquisa
Modela Pelotas V e reuniu o trabalho de alunos da graduação em arquitetura e urbanismo, da
especialização em Gráfica Digital e do Mestrado em Arquitetura (FAURB/UFPEL). Esse contexto
proporcionou o estudo, o desenho e a confecção de maquetes táteis (modelos 3D) de peças do
mobiliário do acervo.
Após a impressão 3D dos modelos táteis, as peças foram testadas com auxílio de uma
pessoa com deficiência visual, que atuou como consultora voluntária do projeto, e de um
mediador da equipe do museu.
Entre 2017 e 2018, os modelos foram aperfeiçoados, com base na própria técnica de
execução das representações do mobiliário, e da avaliação de grupos de pessoas com deficiência
visual, que fizeram parte do projeto turístico e cultural “Olho de Sogra”, organizado por Leandro
Freitas Pereira. Nesses momentos, os mediadores utilizaram o método de audiodescrição.
2. Metodologia
A inclusão do MMPB no roteiro do encontro “Olho de Sogra” foi uma oportunidade para a
equipe entrar em contato com o universo das pessoas com deficiência visual, trocar experiências e
analisar uma série de aspectos em que a instituição e a equipe podem se aprimorar no quesito
acessibilidade. O encontro aconteceu em duas edições que contaram com city tour pelo Centro
Histórico, antigas charqueadas e praia do Laranjal. Por meio das narrativas descritivas e oficinas
táteis, as pessoas com deficiência visual puderam vivenciar experiências nos campos do turismo,
da história, da memória e do patrimônio.
Olho de Sogra primeira edição 2017 - Visita guiada pelo interior do museu. Profissionais da
equipe da instituição realizaram a visita como de costume. O diferencial ficou a cargo de uma
descrição em cada um dos ambientes, realizada por um dos organizadores do encontro. Durante o
percurso os guias fizeram paradas para que os visitantes pudessem tocar em algumas peças do
acervo, previamente selecionadas.
Olho de Sogra segunda edição 2018 - Atividade dividida em três momentos: o primeiro
consistiu em visita guiada, ministrada por dois membros da equipe, um responsável por contar a
história do museu, de acordo com o conteúdo programático e outro realizando uma descrição dos
ambientes, situando os visitantes em cada uma das salas, comentando sobre as dimensões dos
ambientes, as cores, móveis e objetos; no segundo momento, foram apresentadas miniaturas de
peças do acervo, impressas em 3D, produzidas por meio do projeto Modela V, da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal de Pelotas; no terceiro momento aconteceu
uma oficina de estímulo sensorial, em que os visitantes cegos tiveram a oportunidade de tocar
uma série de objetos selecionados entre o material de apoio educativo. Em uma espécie de
gincana, cada membro do grupo pôde manusear cada uma das peças, descrevendo suas
percepções e oferecendo um palpite sobre o que poderia ser o objeto. Ao final da atividade o
mistério foi revelado a todos.
Os processos de produção das representações táteis estão em aperfeiçoamento, com
relação ao detalhamento, técnicas e programas utilizados. Também está em análise a inclusão de
novas peças de mobiliário do acervo do Museu da Baronesa.
4. Considerações Finais
Em etapas futuras o projeto pretende criar ações educativas para trabalhar com as escolas
de forma inclusiva, as quais serão multiplicadoras de novos discursos, livres, por exemplo, de
expressões pejorativas associadas a deficiências.
Como última fase desta iniciativa, pretende-se trabalhar com a inclusão direta, por meio do
trabalho voluntário de pessoas com algum tipo de deficiência – alunos da UFPEL, por exemplo –
que possam, através de sua presença, humanizar as relações da instituição com o público de
forma geral.
Esse conjunto de ações, algumas já em andamento, outras ainda em planejamento, fazem
parte do desejo expresso pela equipe técnica para tornar o Museu da Baronesa uma instituição
voltada para todos os públicos. Dessa forma, parte da história da cidade, que reside tanto no
prédio como no acervo ali preservado, estará ao alcance de um maior número de pessoas,
independentemente de suas especificidades.
Referências
Resumo
Abstract
However, there is much to advance and this highlights the importance of assistive
technology resources. For example, audio description as a communicational accessibility feature
that brings benefits when translating visual information into verbal information, especially for
people with visual impairment. The present study is a comparative research about the choices for
structuring the script of audiodescription and musical consulting for concerts of erudite
instrumental music. The present study is a comparative research about the choices for structuring
the script of audiodescription and musical consulting. The methodology chosen, from the point of
view of the structuring of the script, began theoretically from the concept of musical
development, identification of chords, melodies and themes of Correa (2010) and the importance
of timbres, intensity, tone and sound Okamoto (2002).A comparison was made between the
recommendations of the graduate advisor in music with the final script in order to understand
what was absorbed. From the feedback of the users it was possible to understand the
effectiveness of the script. The results showed that the audio description team has absorbed most
of the consultant's considerations and when you created your own sentences were based on the
knowledge of the professional music. That will be developed audio description and the
importance of the participation of disabled consultant with training in the area.
Keywords: musical consultancy for audio description scripts; people with visual impairment;
accessibility in concert halls.
1. 1º Movimento – Introdução
4 4º Movimento - Análise
A pesquisa apontou que os termos técnicos devem ser utilizados e que os mesmos não
interferem na fruição da obra, segundo os usuários, além de demonstrar contentamento em
relação à estrutura proposta pelo roteiro de audiodescrição. Por fim está evidente a importância
da participação de um profissional com conhecimentos da linguagem musical à este tipo de
espetáculo contribuindo ativamente no processo de elaboração dos roteiros. O audiodescritor
consultor, profissional com deficiência visual, que pretende atuar no processo de elaboração de
roteiros de audiodescrição para concertos de música instrumental erudita, deverá levar em
consideração diversos aspectos. Dentre eles, deve sugerir à equipe de audiodescrição a pesquisa
sobre: a importância do histórico da orquestra e sua estrutura; passando pela audiodescrição de
instrumentos, instrumentistas e sala de concerto até a importância da formação da equipe de
audiodescrição na área musical.
A partir das três fontes de dados utilizadas nesta pesquisa foi possível o cruzamento de
dados entre o roteiro do consultor e o da audiodescritora, a comparação dos resultados com o
feedback dos usuários e consequentemente a conclusão da eficácia da estrutura dos roteiros de
audiodescrição proposta pela audiodescritora com a consultoria do profissional com deficiência
visual. O estudo revela que o profissional com deficiência visual consultor em audiodescrição deve
ter conhecimentos musicais, ter uma metodologia sistematizada específica para o
desenvolvimento desse tipo de roteiro de audiodescrição, abordagens diferenciadas e uma
estratégia pedagógica para trabalhar em projetos de concertos acessíveis.
Referências
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Acessibilidade comunicacional em vídeo-documentário: da criação (in-
vitro) a validação de sinais-termo na LSB
Communicative accessibility in video documentary: from creation (in-vitro) to
validation of term signals in LSB
Flávia Roldan Viana, Doutora em Educação;
Jefferson Fernandes Alves, Doutor em Educação;
Isaack Saymon Alves Feitoza Silva, Mestre em Estudos da Tradução;
Rafael Emil, Mestrando em Educação.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
flaviarviana.ufrn@gmail.com
Resumo
Introdução
1. Fundamentação teórica
A janela de LSB (ou Libras – Língua Brasileira de Sinais) e a Legendagem para Surdos e
Ensurdecidos – LSE são recursos audiovisuais imprescindíveis quando tratamos de acessibilidade
comunicacional para usuários surdos.
Entretanto, a tradução/interpretação em Libras de conteúdos específicos contidos em
vídeo-documentários ou em videoaulas requer muitas vezes a criação de novos sinais ou de
adequação de sinais ao contexto regional e ao conteúdo em si. Isso se deve ao fato de haver a
possibilidade de sincronizar a LSE com a tradução/interpretação de Libras com o tempo dos
discursos orais da produção audiovisual. Surge, então, a criação in-vitro de sinais-termo.
O termo criação in-vitro de sinais-termo é compreendida neste artigo como a
elaboração/criação dos sinais em situação de pesquisa, em oposição a criação natural de sinais
que surgem naturalmente das comunidades surdas, por serem sinais que não estão presentes
rotineiramente no discurso surdo. Ou seja, são necessários em situações particulares, de interesse
pontual, que pode vir a ser foco de interesse de outros surdos, como é o caso dos conteúdos que
são tratados nos vídeo-documentários. As pesquisas de Costa (2012), Prometi (2013), Douettes
(2015), Nascimento (2016), Felten (2016) e Santos (2017) discutem a criação, descrição,
categorização, organização e registro de sinais-termo na LS.
Costa (2012) em sua pesquisa de Mestrado criou o “Enciclolibras”, no qual registrou os 126
sinais-termo do Corpo humano que foram criados no período da pesquisa. O pesquisador seguiu
procedimentos metodológicos em que incluía a criação de sinais e a validação desses sinais pela
comunidade surda. De acordo com o autor, o termo “sinal-termo”, em sua dissertação, é utilizado
para “designar um sinal que compõe um termo específico da LSB, no caso desta pesquisa, os
sinais-termos apresentados referem-se a termos do Corpo Humano apresentados em LSB”
(COSTA, 2012, p. 33), fazendo, assim, uma distinção entre o uso do sinal para o léxico comum e do
sinal-termo para o léxico especializado.
Prometi (2013) em sua pesquisa de dissertação criou e validou 52 verbetes referentes a
sinais-termo da notação musical, organizando, assim, um glossário bilíngue de LSB e Língua
Portuguesa (LP) para desenvolver a compreensão musical em sujeitos surdos.
A ficha terminológica de Faulstich (1995) foi utilizada para que os sinais-termo do campo
musical fossem registrados. De acordo com a pesquisadora “se o glossário ou dicionário for
bilíngue e reverso, deverá ser composto assim: ⌐ L2 → L1, como Português → LIBRAS e ⌐ L1→ L2
como LIBRAS → Português” (PROMETI, 2013, p. 49). A respeito da criação de dicionários bilíngues,
Faulstich (2010, p. 175) coloca que “os dicionários bilíngues confrontam dois sistemas linguísticos
e, notadamente, dois sistemas lexicais”.
Douettes (2015) ao final de sua pesquisa registrou 93 sinais-termo para compor o Glossário
Semibilíngue de Termos Bíblicos em Libras. Cada sinal-termo registrado possuía o conceito e um
exemplo. Como análise de conclusão o pesquisador alerta para a forma e o modo como os
glossários são organizados e apresentados aos surdos.
Nascimento (2016) em sua pesquisa tinha por objetivo desenvolver um glossário ilustrado
semibilíngue da área de Meio Ambiente, com vista à escolarização de surdos do Ensino
Fundamental. As etapas (procedimentos metodológicos) seguidos pela pesquisadora, muito
contribuiu para a organização dos passos metodológicos desta pesquisa.
A pesquisa de Felten (2016, p. 95) permeia o campo semântico dos sinais-termo da História
do Brasil. Utilizou a construção de Unidade Terminológica Sinalizada (UTS) proposta por Faria-
Nascimento (2009), “que consiste na análise dos parâmetros isoladamente e combinados”.
Santos (2017) em sua tese objetivou criar uma proposta de organização e registro de
glossário bilíngue, Língua Portuguesa - LP e Língua de Sinais Brasileira – LSB. A pesquisadora criou
um glossário com um sistema de busca.
2. Metodologia
4. Considerações finais
A criação de sinais in-vitro no meio acadêmico permite ampliar espaços de estudos para o
indivíduo surdo. A limitação de acesso a ambientes virtuais de aprendizagem, para além das áreas
que circunscrevem o ensino de LSB e de Língua portuguesa como L2 (segunda língua) para surdos
(foco dos cursos de graduação em Letras/Libras), afasta a possibilidade da participação desse
alunado em discussões em outras áreas de pesquisa.
Outro ponto a ser considerado é a ausência de sinais-termos nas áreas de especialidade e o
processo de construção e organização lexicográfica. A criação de sinais-termos requer tempo,
pesquisa e, sobretudo, rigor científico em sua validação e registro. Apesar do crescente número de
publicações de dicionários bilíngues para surdos com foco em áreas específicas da saúde, da física,
da matemática, entre outros, é preciso refletir sobre o uso e o acesso eficaz pelos usuários surdos.
No âmbito desta pesquisa tem-se observado que a escolha dos sinais-termos a serem
criados, considerando o contexto do uso, assim, como, a organização das fichas terminológicas,
para posterior composição de um dicionário na área, são passos metodológicos essenciais para a
construção de repertórios terminográficos em LSB e para os estudos lexicográficos na área, tendo
em vista que muitos dos dicionários bilíngues especializados que foram criados apresentam uma
lista de termos descontextualizados. Além do que, muitos sinais-termos são criados em momentos
pontuais, isolados e/ou restritos a um grupo, mas não são registrados, causando variação
linguística, que pode vir a dificultar a padronização do léxico especializado e a comunicação
científica dessa área em LSB.
Outro ponto a ser observado é a participação de consultores surdos na construção da
acessibilidade comunicacional que fortalece o discurso de acessibilidade, sendo imprescindível
para compreendermos as barreiras comunicacionais.
Referências
Abstract
Recent investigative actions in the scope of inclusion necessarily pervade discussions about
accessibility. This article presents the trajectories that are being followed in the OBAMA Platform's
deaf accessibility project, designed for teachers who teach mathematics to have access, in a single
web address, to the largest number of learning objects (OA). The relationships that are established
for the deaf subject, is not reduced to the mere transmission of information, but encompasses its
specificities of learning. Adoption of the Pounds Window with a Pounds Translator / Interpreter
(TILS), among other accessible visuals such as Deaf and Deaf Subtitles, flagged visual maps, can
ensure deaf Libras users promote web accessibility.
Keywords: Accessibility; Deafness; Web.
Introdução
Ao acessar a página inicial, o usuário pode realizar seu cadastro para obter um login de
acesso a plataforma. Porém, um usuário surdo da plataforma perderia muitas informações, o que
acarretaria desânimo para interagir com a mesma. É nessa linha de investigação que analisamos a
multiplicidade de recursos acessíveis que desafiou a equipe de desenvolvedores da Plataforma
OBAMA em suas práticas, para pensarmos as adaptações ao público surdo como um Componente
de Acessibilidade e Responsividade (OBAMA-CARE).
A falta de acessibilidade constitui uma barreira de acesso às pessoas com deficiência.
Entretanto, o componente de acessibilidade, muitas vezes, não é percebida por produtores de
sites e conteúdos digitais (GÓES e GOMES, 2011). Ainda de acordo com as pesquisadoras, quando
analisamos os recursos de acessibilidade existentes para usuários surdos na rede mundial de
computadores, encontramos, na maioria das vezes, somente vídeos com legendas explicativas em
português – o que não contempla a realidade da parcela maior deste grupo social, que tem o
português como segunda língua. Entretanto, não é somente garantir o acesso às tecnologias, faz-
se necessário oferecer multiplicidade de conteúdos que dialoguem com as diferentes realidades
culturais e sociais dos sujeitos envolvidos, para que eles possam efetivamente ter acesso
(MONTARDO e PASSERINO, 2007).
2.2 Caminhos percorridos
“Nada sobre nós, sem nós” (Versão do lema Nothing about us without us – do Disability
Rights Movement), foi uma expressão difundida em 1981 por ocasião do Ano Internacional da
Pessoa com Deficiência. Pela primeira vez as pessoas com deficiência tomavam a frente do
movimento que até então era representado por instituições.
Ao se pensar em acessibilidade, nossas ações não podem partir de comunidades
majoritárias para apresentar projetos que, através de tentativas de convencimento, devem ser
aceitos pelos grupos chamados minoritários. As ações, os pensamentos, as ideias, devem partir de
ações coletivas que envolvam as pessoas com deficiência, e nos quais possam ser desvelados os
sentidos acerca da acessibilidade e das especificidades de cada grupo. Uma compreensão que vai
além do aspecto individual.
Dessa forma, o primeiro passo percorrido quando começamos a discutir a acessibilidade
para surdos da plataforma OBAMA foi apresenta-la à comunidade surda (estudantes e professores
surdos do curso de Licenciatura em Letras-Libras/Língua Portuguesa de uma Universidade Federal
do Nordeste) para identificar como a plataforma poderia dialogar com o debate sobre
acessibilidade, que informações não eram completamente compreendidas pelos sujeitos surdos,
pela falta de acessibilidade, e quais recursos acessíveis à comunidade surda seriam indispensáveis.
As discussões geradas no âmbito deste grupo foram mediadas em LSB e a primeira dúvida
levantada referiu-se a questionamentos sobre o sinal da plataforma OBAMA, na tentativa de
compreender o significado da mesma. O sinal serve para os significados usados no vocabulário
comum da Libras. Por ser uma língua viva e nova, os sinais na Libras estão sendo constantemente
criados e modificados, à medida que a comunidade surda se apropria de conceitos e significados.
Perpassaram também no grupo discussões acerca de pequenas abas explicativas ao passar
o cursor nas palavras e a falta da tradução/interpretação em Libras. Entretanto, os avatares de
tradutores-intérpretes de Libras foram rejeitados, por não terem expressões faciais e corporais, e
vídeos com surdos ou ouvintes sinalizando textos explicativos sobre a plataforma foram exaltados
como melhores na transmissão de informações. Essa última reflexão é muito importante no que
diz respeito ao alcance que pode ter para a comunidade surda. Isso porque, existem tradutores
que podem ser usados em dispositivos móveis e totens de atendimento, como o ProDeaf e o
HandTalk, e estudos que apontam possibilidades de traduzir as legendas ocultas para Libras
criando sinais em extensão animada GIF. Porém, são recursos que não são bem aceitos pelo grupo
investigado, quando o objetivo é acesso a conteúdo da web.
Após esse contato inicial, o segundo passo para trilharmos caminhos de acessibilidade para
pessoas surdas na plataforma OBAMA foi apresentar a plataforma a um professor surdo para que
o mesmo pudesse criar um sinal-termo para a plataforma. Na LSB o sinal-termo designa um sinal
que compõe um termo específico da língua de sinais, sob a fundamentação teórica da Lexicologia
e da Terminologia. O sinal criado para a plataforma OBAMA é composto pela configuração da mão
em “O” – “B” – “A”, nessa sequência, que em frente ao corpo desenham o sinal do infinito, à
medida em que a mão faz as configurações das letras “O” – “B” – “A”, remontando ao símbolo do
infinito sugerido na ponta da letra “a”, da logomarca OBAMA.
O terceiro passo foi a gravação de um vídeo de apresentação da plataforma
OBAMA, que fica disponível na página da plataforma e no canal do Youtbe (http://bit.ly/2T6FVYg).
O vídeo foi, então, traduzido e interpretado para a Libras e, posteriormente, deverá ser incluído a
legendagem para surdos e ensurdecidos. Vale ressaltar que, a tradução-interpretação do vídeo de
apresentação da plataforma foi realizada por um ouvinte, profissional intérprete da área de Libras.
Além da tradução-interpretação em Libras da apresentação da plataforma foram realizados takes
em Libras de cada um dos itens do menu. A atuação de profissionais Tradutores e Intérpretes de
Língua de Sinais (TILS), é importante para os usuários da Libras, não só pela eliminação de
barreiras comunicacionais, mas, também, pela ampliação da acessibilidade, valorização da cultura
e da língua da comunidade surda. A utilização de vídeos com TILS aproxima mais o surdo dos
conteúdos da web.
Os próximos passos serão destinados a validação pela comunidade surda do trabalho
desenvolvido, no qual iremos avaliar a qualidade da tradução-interpretação em Libras e a latência
para a exibição do conteúdo. Trataremos, também, das questões relacionadas aos arquivos das
legendas, como por exemplo: a inclusão da legenda nos vídeos de tradução-interpretação de
Libras e a exibição da legenda oculta em outro campo do vídeo no caso de ter pessoas ouvintes
também assistindo.
Acreditamos no potencial no desenvolvimento da acessibilidade da plataforma como
possível solução para uma maior integração de surdos às novas mídias, por permitir que eles
façam uso da sua língua nativa, e uma maior aproximação de professores surdos no uso da
plataforma, podendo vir a ser um canal de contribuição para a elaboração de planos de aula
acessíveis e para a construção de OA acessíveis na área da Matemática.
3. Considerações Finais
Referências
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Acessibilidade programática dentro de uma pró-reitoria de extensão:
Desafios e Possibilidades
Programmatic accessibility within an extension dean: Challenges and Possibilities
Francisca Ferreira Michelon, Doutora em História;
Desirée Nobre Salasar, Terapeuta Ocupacional
Universidade Federal de Pelotas – UFPel
dnobre.to@gmail.com
Resumo
Abstract
Introdução
O conceito de Desenho Universal surgiu nos Estados Unidos, no final da década de 90, na
Universidade da Carolina do Norte. Apresentaram-se os sete princípios que embasavam um novo
fundamento de projeto. Visando o uso equitativo, a flexibilidade no uso, o uso simples e intuitivo,
a informação perceptível, a tolerância ao erro, o baixo esforço físico e tamanho e espaço para
aproximação e uso, qualquer produto oriundo de um projeto fundado nestes princípios seria
dirigido a todos, porque partiria da premissa da não exclusividade do produto para determinada
categoria de pessoa. Ou seja, ele não nasce sob o ponto de vista da inclusão da pessoa com
deficiência, mas sim da inclusão aos mais diversos públicos, através da pluralidade da sociedade.
Assim, os princípios do desenho universal asseveram o novo entendimento da acessibilidade que
se coloca como um meio para a inclusão da pessoa com deficiência. A aplicação do desenho
universal é consequência de uma tomada de decisão que privilegia o coletivo sobre o individual. A
decisão postula, por princípio, a condição “para todos”. No que tange ao ambiente universitário, a
adoção do conceito pode ser o diferencial em ter a inclusão como práxis e o entendimento de que
a Universidade caracteriza-se como lugar para todos.
No ano de 2015, a Universidade Federal de Pelotas, através da portaria 1.731, constituiu
uma Comissão Especial para elaborar e implementar o Plano Institucional de Acessibilidade, com o
objetivo de estabelecer uma política institucional de acessibilidade e inclusão aos discentes e
servidores da universidade.
A promoção da acessibilidade dentro da instituição está sob responsabilidade do Núcleo de
Acessibilidade e Inclusão (NAI UFPel), que desde 2017 conta com o apoio da Comissão de apoio ao
NAI (CONAI).
A CONAI é formada por servidores e discentes ligados à temática da inclusão, que se
reúnem periodicamente para discutir e assessorar a construção de políticas públicas e práticas
pretendidas pelo NAI.
1. Metodologia
No ano de 2018 foram executadas cinco atividades que constavam na primeira versão do
Plano de Acessibilidade da PREC.
A Revista Expressa Extensão, publicação quadrimestral da PREC, está disponibilizada em
dois formatos (PDF e EPUB), sendo este último acessível aos leitores de tela utilizados por pessoas
com deficiência visual. A equipe ainda está trabalhando para inserir a descrição das imagens dos
artigos na revista.
Com a intenção de explorar o tema, em setembro de 2018 a Expressa Extensão lançou
uma edição com a temática “Culturas Acessíveis”, que contou com seis artigos originais, oito
relatórios, três ensaios e uma entrevista sobre Acessibilidade Cultural.
Como meio de acessibilizar o conteúdo visual das suas mídias de informação, o uso da
hastag #PraCegoVer nas redes sociais da PREC e descrição de imagens no site foi implementado.
Foram realizadas, ainda, oficinas e ações de sensibilização para as deficiências durante o
Dia do Patrimônio, Primavera dos Museus (2018) e Semana dos Museus (2019) através da Rede de
Museus.
Estava previsto no Plano de Acessibilidade da PREC a criação de um documento Norteador
para a Rede de Museus da UFPel. Porém durante as discussões de organização da Primavera dos
Museus optou-se por abrir o material e disponibilizá-lo para o público em geral, uma vez que não
havia nada publicado sobre o tema em específico (programas de acessibilidade para museus).
Assim nasceu o ebook “Um museu para todos: Manual para programas de acessibilidade”
lançado durante a Semana dos Museus de 2019. Com menos de seis meses de publicação, ela já
consta como referência estadual e nacional.
Em maio do ano corrente, a CONAI solicitou que os Planos de Acessibilidade já existentes
fossem atualizados. Com base neste pedido, o plano da PREC foi revisto e novas ações foram
acrescentadas para curto, médio e longo prazo, com duração até 2021/02.
Atualmente as ações de curto prazo são quatro: Oficinas de sensibilização para recepção de
públicos com deficiência para os servidores e bolsistas da PREC, 1 publicação por ano em formatos
acessíveis, Uso das Hastags #PraCegoVer #Pratodosverem nas publicações com imagens nas redes
sociais e site da PREC, Documento norteador para eventos promovidos pela PREC.
Em médio prazo estão as ações de: 1 sessão de filme, ao ano, com ao menos um recurso de
acessibilidade no Cine UFPel, Mapeamento dos projetos e programas de extensão que trabalhem
com a temática de acessibilidade e inclusão – com recorte por áreas temáticas., Oficinas para
aproximação dos projetos e programas que trabalham com inclusão, Desenvolvimento de
Programas de Acessibilidade para os Museus da Rede de Museus da UFPel, I Seminário de
Acessibilidade Cultural, Dossiê da Expressa Extensão sobre Acessibilidade, Roda de conversas
sobre acessibilidade e inclusão na UNAPI, Vizinhança e Fórum Social., Fomentar a participação
para apresentação de projetos de extensão em eventos da área de acessibilidade e inclusão.
Já para longo prazo constam as ações: Site da PREC acessível, Oficinas de sensibilização
para coordenadores de projetos de extensão para inclusão de alunos com deficiência em suas
equipes, Documento norteador sobre acessibilidade para os projetos/programas de extensão,
Oficinas de sensibilização para recepção de públicos com deficiência para os servidores e bolsistas
da PREC, Diagnóstico de Acessibilidade da PREC e a Revisão do Plano de Acessibilidade da PREC.
3. Considerações finais
Referências
BRASIL. Lei 13.146. Lei Brasileira de Inclusão – Estatuto da Pessoa com Deficiência. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm>. Acesso em:
27/03/2018
Desenho Universal – Habitação de interesse social. Governo do Estado de São Paulo.
SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: acessibilidade no lazer, trabalho e educação. Revista Nacional
de Reabilitação (Reação). São Paulo, v. 12, p. 10 -16, mar./abr. 2009..
A Tribo da Lakota: explorando os sentidos - Um estudo sobre a
acessibilidade e inclusão através da coletânea de livros infantis A Tribo
da Lakota
The Lakota Tribe: Exploring the Senses - A study on accessibility and inclusion
through the children's book collection The Lakota Tribe
Gabriella Zubelli, Mestre em Arquitetura e Urbanismo, Especialista em Acessibilidade Cultural
Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ
gabriella.zubelli@gmail.com
Resumo
A adequação dos espaços, serviços e produtos, para acessibilidade e inclusão visa assegurar
e promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais da
pessoa com deficiência e mobilidade reduzida, buscando a sua inclusão social e cidadania, sendo
de extrema importância o desenvolvimento de produtos que promovam a autonomia de todos.
O objetivo deste trabalho é a sensibilização de crianças (com e sem deficiência) e adultos
para a temática da acessibilidade. Foi desenvolvido material de inclusão complementar aos livros
da coletânea A Tribo da Lakota, onde as crianças poderão vivenciar junto aos pais ou professores
sobre as dificuldades e facilidades encontradas no dia a dia de pessoas com deficiência. O material
é composto por uma maleta sensorial com kits temáticos sobre diferentes tipos de deficiência e
por uma cartilha inclusiva como material complementar à maleta.
Palavras-chave: Acessibilidade; Literatura; Literatura infantil; Material pedagógico.
Abstract
The adequacy of spaces, services and products for accessibility and inclusion aims to
ensure and promote, under equal conditions, the exercise of fundamental rights and freedoms of
persons with disabilities and reduced mobility, seeking their social inclusion and citizenship, being
extremely The importance of developing products that promote the autonomy of all.
The objective of this work is to raise awareness of accessibility (with and without
disabilities) for adults and children. Complementary inclusion material has been developed for the
books in the Lakota Tribe collection, where children can experience with their parents or teachers
about the difficulties and facilities encountered in the daily lives of people with disabilities. The
material consists of a sensory case with thematic kits on different types of disability and an
inclusive primer as a complementary material to the case.
Keywords: Accessibility; Literature; Children's literature; Pedagogical material.
Introdução
Promover acessibilidade não diz respeito apenas a pessoas com deficiência, mas sim a
todos os usuários. Respeitando as diferenças, é possível promover espaços inclusivos que
propiciem segurança conforto e autonomia em seu uso. Ao tratar o tema inclusão, falamos
também de temporalidade de perdas funcionais (visual, auditiva, motora ou mesmo cognitiva),
por exemplo: uma grávida, uma mãe com criança de colo ou carrinho de bebê, uma perna
quebrada, o uso de óculos, a chegada da idade. Trabalhar a Acessibilidade e a Inclusão é criar um
espaço que fala de igualdade, de autonomia, de olhar, e principalmente de enxergar o outro em
sua diversidade, seja em produtos, serviços ou ainda no ambiente de trabalho, das escolas e de
casa.
A criação de produtos que propiciem a disseminação da acessibilidade e da inclusão sobre
a temática em questão permite que o conhecimento e atinja a maior gama de pessoas possível,
auxiliam a percepção de que detalhes fazem a diferença, e de que cada um reconheça sua parcela
de responsabilidade para impulsionar mudanças inclusivas. Muitas barreiras são encontradas no
dia a dia de pessoas com deficiência e mobilidade reduzida. Barreiras físicas, de acesso à
informação, e barreiras atitudinais. Esta última muitas vezes ocorre por falta de informação da
população, que não tem o conhecimento sobre as necessidades mínimas de acessibilidade e
inclusão em um produto, projeto ou serviço. Desta forma, constata-se a necessidade inerente de
produtos, serviços e espaços que tragam qualidade de vida, conforto, segurança e autonomia à
essa população.
Objetivo
A Cartilha tem como base a disseminação de conteúdo acessível para pais e educadores. A
proposta é trazer conhecimento de base de temáticas de acessibilidade para que pais e
educadores que não estejam familiarizados com o tema, tenham um material para ser trabalhado
com as crianças de maneira lúdica e intuitiva.
Essa cartilha tem em seu conteúdo informações básicas de Braille, Libras, Audiodescrição,
Audiotexto, Narrativas, Contrastes, Desenho Universal, Barreiras atitudinais, Linguagem simples,
Pranchas de comunicação, Pictogramas, Miniaturas táteis, QR Codes, dentre outras pertinentes à
temática além de diretrizes gerais sobre as diferentes deficiências e tem a proposta de ser
material complementar de apoio ao público.
Conclusão
Referências
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todos.
UK Association for Accessible Formats, 2015 - Accessible PDF for assessments: Guidelines
www.assistiva.com.br / www.maisdiferencas.org.br / www.lapeade.com.br/
Livros que tocam: a definição dos materiais na concepção de livros
ilustrados táteis
Books that touch: the definition of materials in the design of tactile picture books
Gabrielle Aguiar Del Vecchio
Orientadora Cláudia Rodrigues de Freitas
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS
gabidelvecchio1@gmail.com
Resumo
O presente artigo se atém a um recorte da pesquisa ‘Literatura infantil para diversidade:
livros acessíveis táteis’. Tais livros permitem acesso ao universo literário, auxiliando no letramento
de alunos cegos e com baixa visão. Frente à escassez desse material, o objetivo do artigo está
atrelado a produção de imagens para pesquisa guarda-chuva, por meio de diferentes materiais e
processos de fabricação. O referencial teórico tem como autores Elisabeth Romanelli, Emilia
Christie Picelli Sanches, Juliana Bueno e Claudia Mara Scudelari de Macedo. A metodologia
empregada foi pensada para produção das imagens onde foi realizado testes de materiais (EVA,
papel paraná, bismark, mdf, PVC, acrílico), meios de fabricação (laser, a mão, máquina
Silhouette®) e parâmetros, formas das imagens e camadas, além de colagem (dupla face, cola
branca e silicone). Após os primeiros testes foram elaboradas as imagens. Houve constante
preocupação em carregar elementos do design universal, possibilitando livros que possam ser
contemplados e contribuam para o letramento do maior número de crianças possível. A pesquisa
encaminhou-se no desafio: como trazer imagens para livros táteis? Os livros envolvem quem
necessita da acessibilidade e também para as crianças que enxergam, já que abrangem imagens
lúdicas, cores contrastantes e interativas, em verdadeiro processo de inclusão.
Palavras-chave: livro em braille, imagem tátil, acessibilidade.
Abstract
This article focuses on a section of the research 'Children's Literature for Diversity: Tactile
Accessible Books'. Such books allow access to literary universe, assisting in literacy of blind and
low vision students. Faced with the scarcity of this material, the objective of the article is linked to
the production of images for umbrella research, through different materials and manufacturing
processes. The theoretical framework has as authors Elisabeth Romanelli, Emilia Christie Picelli
Sanches, Juliana Bueno and Claudia Mara Scudelari de Macedo. The methodology used was
designed to produce images where material tests were performed (EVA, paraná paper, bismark,
mdf, PVC, acrylic), manufacturing means (laser, hand, Silhouette® machine) and parameters,
shapes of the images and layers, as well as bonding (double sided, white glue and silicone). After
the first tests the images were elaborated. There was a constant concern to carry elements of
universal design, enabling books that can be contemplated and contribute to the literacy of as
many children as possible. The research was on the challenge: how to bring images to tactile
books? The books involve those who need accessibility and also children who see, as they include
playful images, contrasting and interactive colors, in a true process of inclusion.
Keywords: braille books, tactile image, accessibility.
Introdução
O presente estudo contém como objetivo a fabricação de imagens táteis com produção em
escala de forma mais padronizada e automatizada com o uso de diversos materiais para auxiliar o
letramento de crianças deficientes visuais e com baixa visão. A partir dos resultados de trabalhos
anteriores dentro da pesquisa guarda-chuva, percebeu-se nessas crianças o desejo de terem
acesso à esse tipo de livro mais frequentemente, uma vez que essa categoria de leitura não é
muito disseminada no país, incluindo nas bibliotecas das escolas. Parte dessa carência de livros
táteis pode ser explicada pela dificuldade de sua realização em maiores quantidades, visto os
processos manuais necessários para sua confecção.
Conforme dados do IBGE no ano de 2010, vivem mais de 500 mil pessoas cegas no Brasil
(IBGE, 2010), sendo a produção de livros em braille baixa perto da demanda necessária,
principalmente quando se fala em livros infantis. Nas livrarias hoje, essa dificuldade é encontrada,
sendo vistos, na maioria das vezes, livros estrangeiros de maior qualidade que entretanto não se
adequam ao orçamento de quem deseja comprá-los. O propósito de produzir imagens táteis para
os livros em desenvolvimento nessa pesquisa está em auxiliar o processo de fabricação de livros
nacionais, que hoje é mais demorado e laborioso, o que contribui para que não se faça essas
produções em grandes quantidades e para que as bibliotecas não possuam cópias dessas
produções e não criem oportunidades para as crianças entrarem em contato com essas obras,
havendo a falha no incentivo e apoio do letramento da criança com deficiência visual.
Foi observado que as crianças apresentavam certa dificuldade em ler os livros, pois haviam
alguns problemas técnicos e estruturais que prejudicavam a transmissão da informação. Baseado
nestas observações, a equipe buscou a padronização da produção dos livros para facilitar a leitura
da criança, e também uma automatização da fabricação para conseguir confeccionar várias cópias
iguais, bem como para agilizar o processo de montagem.
Então abriu-se o questionamento: como trazer histórias literárias para o cotidiano de
crianças que necessitam de livros acessíveis de uma maneira mais inclusiva? Para isso, focamos na
realização de livros atrativos não somente para quem necessita de acessibilidade, mas também
para as crianças videntes. Assim, todas as crianças independente de sua limitação podem ler
juntas, já que as páginas incluem cores com bastante contraste, imagens lúdicas e interação com o
leitor, aprofundando o processo de inclusão.
1. Fundamentação teórica
O referencial teórico tem base alguns artigos nacionais buscados anteriormente do qual
facilitaram que fosse possível a elaboração de imagens, dos quais: “Design do livro tátil ilustrado:
processo de criação centrado no leitor com deficiência visual e nas técnicas de produção gráfica da
imagem e do texto”, de Elisabeth Romanelli (2016) e “Imagens táteis tridimensionais: um modelo
para a tradução tátil a partir de imagens estáticas bidimensionais” de Emilia Christie Picelli
Sanches, Juliana Bueno e Claudia Mara Scudelari de Macedo (2017).
2. Metodologia
4. Considerações finais
Devido à todo o processo utilizado para a confecção dos livros, conclui-se que para a
fabricação de imagens táteis para os livros táteis acessíveis há a necessidade de um conjunto de
técnicas visando tanto os materiais e processos quanto o contato com os próprios usuários desse
material. Além disso, o apoio de uma equipe multidisciplinar, principalmente na área de design,
pedagogia e letras, é essencial para que possa haver troca de conhecimento, chegando em um
resultado efetivo do trabalho desenvolvido.
Referências
Resumo
Abstract
Introdução
O Boi de Mamão é uma das brincadeiras mais significativas da cultura popular catarinense.
Bumba meu boi, boi de pano, boi de mamão. É desta forma que Soares (2002) relata a história dos
nomes que ouviu em conversa com os brincantes mais antigos do boi de mamão em Santa
Catarina. A brincadeira do boi também é encontrada em outras regiões do Brasil: Bumba Meu Boi,
Boi Bumbá, Boi de Reis, etc. Embora existam variações regionais, a temática da brincadeira é
sempre a mesma, morte e ressureição do boi.
É natural que com o decorrer do tempo, o boi de mamão sofra transformações
incorporando novos elementos e ritmos. A cultura vai se recriando e renovando, agindo como
uma ponte para ultrapassar a barreira do tempo. Segundo Lúcio (2006), essa realidade igualmente
se reflete na perpetuação das tradições culturais, e também diz respeito à continuidade da
manifestação do Boi de Mamão em Santa Catarina. Registrar e difundir a cultura do Boi de Mamão
é uma estratégia para salvaguardar o patrimônio cultural dos catarinenses.
Foi da vontade de manter a cultura popular viva e homenagear o mestre folclorista José
Marcondes, Seu Zé do Boi, do Grupo Folclórico Beco do Beijo, de Tubarão/SC, que em 2011 nasceu
o espetáculo Boi Encantado, do Grupo Encantados Contadores de Histórias.
No ano de 2016, por meio do Programa Municipal de Incentivo à Cultura de Imbituba, na
Categoria Patrimônio Cultural e Cultura Açoriana, o Grupo Encantados Contadores de Histórias/SC
realizou o projeto Boi Encantado: registro da cultura do Boi de Mamão. O projeto teve como
objetivos promover a inclusão de pessoas com deficiência visual por meio da inserção da
audiodescrição, e valorizar a brincadeira do boi de mamão como patrimônio cultural catarinense e
também do Brasil e gerou dois produtos culturais, um CD Boi Encantado uma história cantada com
audiodescrição e um audiovisual com o making of das gravações.
Motta & Filho (2010, p.7), descrevem o conceito de audiodescrição como:
recurso de acessibilidade que amplia o entendimento das pessoas com deficiência visual em
eventos culturais, gravados ou ao vivo, como: peças de teatro, programas de TV,
exposições, mostras, musicais, óperas, desfiles e espetáculos de dança; eventos turísticos,
esportivos, pedagógicos e científicos tais como aulas, seminários, congressos, palestras,
feiras e outros, por meio de informação sonora. É uma atividade de mediação linguística,
uma modalidade de tradução intersemiótica, que transforma o visual em verbal, abrindo
possibilidades maiores de acesso à cultura e à informação, contribuindo para a inclusão
cultural, social e escolar. Além das pessoas com deficiência visual, a audiodescrição amplia
também o entendimento de pessoas com deficiência intelectual, idosos e disléxicos.
Em 2017, o Boi Encantado foi uma das iniciativas contempladas no 5º Prêmio Culturas
Populares, Categoria Acessibilidade, destinada às iniciativas com produtos e serviços direcionados
às pessoas com deficiência. Um reconhecimento da cultura popular em prol da acessibilidade
cultural.
Segundo a Nota Técnica 01/2018 (IBGE, 2018), com a releitura dos dados de pessoas com
deficiência do Censo Demográfico 2010 à luz das recomendações do Grupo de Washington, há
uma redução do percentual da população brasileira com deficiência de 23,9% para 6,7%, sendo
1,1% o percentual da população de pessoas surdas (conforme o Censo, pessoas com deficiência
auditiva que não conseguem ouvir de modo algum ou têm muita dificuldade).
Nos últimos cem anos, as ideias dominantes a respeito da surdez giraram em torno de que
os surdos se encaixam com naturalidade ao modelo médico, baseado numa pedagogia corretiva,
instaurada nos princípios do século XX para normalização e institucionalização do indivíduo. Nesse
modelo há uma tendência em negar a existência da comunidade surda, da língua de sinais, das
identidades surdas e das experiências visuais, justamente as características que diferenciam os
surdos de qualquer outro grupo social (SKLIAR, 2001).
Diante o exposto, o presente trabalho teve como objetivo tornar acessível para pessoas
surdas, o conteúdo do audiovisual ‘making of Boi Encantado uma história cantada’, por meio da
tradução em Língua de Sinais e da LSE para fins de verificação com um grupo técnico da área.
1. Fundamentação teórica
A Língua Brasileira de Sinais, identificada pela sigla LIBRAS, é a língua utilizada pelas
comunidades surdas brasileiras. Na especificação para TV digital brasileira, a janela em LIBRAS
corresponde ao espaço delimitado no vídeo onde as informações são interpretadas na língua de
sinais.
A legenda para surdos e ensurdecidos tem como objetivo, além de transpor por escrito as
falas dos personagens, identificar os falantes, ruídos, trilha musical ou ainda qualquer outra
informação sonora relevante para a compreensão da cena, proporcionando ao espectador notas
importante para o entendimento da obra (SPOLIDORIO, 2017).
Para a tradução audiovisual para a Língua de Sinais – TALS (mudança do termo Janela de
Libras para TALS proposta por Nascimento e Nogueira, 2019) foram seguidos os parâmetros
linguísticos, de tradução e de gravação recomendados pela ABNT NBR 15290 (2005) e pelo Guia
para Produções Audiovisuais Acessíveis (BRASIL, 2016): escolhas lexicais e terminológicas
considerando os aspectos culturais e linguísticos da língua-fonte; plano de filmagem americano,
posição da TALS no lado inferior direito e redução da imagem do conteúdo principal para priorizar
a oferta da em língua de sinais em tamanho adequado, permitindo uma visualização mais clara e
ampla.
Os parâmetros utilizados na composição da LSE seguiram as recomendações consideradas
mais acessíveis para o público brasileiro, de acordo com as especificações apresentadas por Araújo
(2008): legendas condensadas, velocidade de 145 ppm, com no máximo duas linhas, segmentação
da legenda pelos cortes das cenas, pelo fluxo da fala e pela sintaxe e a identificação de falante e
de efeito sonoro pelo uso de colchetes. Embora Araújo (2008) recomende legendas com fonte em
cor amarela com borda preta, optou-se por utilizar a fonte em cor branca com borda preta,
seguindo pesquisas realizadas por Cardoso et al (2018).
Os recursos de acessibilidade foram inseridos no making of em modalidade aberta, onde
aparecem sobre a imagem, não sendo possível ao usuário desabilitar esta função. A tradução para
a língua de sinais foi realizada pelo tradutor e intérprete Tiago Coimbra Nogueira, docente do
curso de Letras LIBRAS da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, Departamento de
Língua Moderna. A inserção da TALS e da LSE no audiovisual foi feita por Bruna Souza, no
laboratório do estúdio do Curso de Letras LIBRAS da UFRGS.
2. Metodologia
pequisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada
em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no
qual os pesquisadores ou participantes representativos da situação ou do problema estão
envolvidos de modo cooperativo ou participativo.
A pesquisa avaliativa para validação dos recursos de acessibilidade foi realizada com quatro
mulheres surdas, entre 24 e 40 anos, três de Santa Catarina, uma de Laguna e duas de
Florianópolis e uma de Brasília/Distrito Federal, que dominam a língua de sinais e o português, a
partir da exibição do audiovisual ‘making of Boi Encantado uma história cantada’.
A coleta de dados foi realizada de duas maneiras, a primeira coletiva e a segunda
individual. Na pesquisa coletiva, o making of foi exibido uma única vez, na presença da
pesquisadora, seguido por uma conversa com as participantes.
Na pesquisa individual, foi enviado por endereço eletrônico um questionário em
português, com sete perguntas de múltipla escolha, que versavam sobre a qualidade da tradução,
o tamanho da janela, o contraste para visualização dos sinais, velocidade das legendas e relevância
do tema junto à comunidade surda, juntamente com o link do vídeo, disponível em:
https://youtu.be/S--sxygKTSc. Das quatro pessoas participantes da etapa coletiva, três
responderam o questionário individual.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vieira (2012) constatou que os surdos têm uma compreensão parcial da legenda e que a
janela de LIBRAS é a forma mais confortável de acessibilidade. A autora complementa que não são
todos os surdos que conseguem se apropriar da língua portuguesa na modalidade escrita ou oral
e, mesmo os usuários do português, têm dificuldade de identificar gêneros textuais e outros
aspectos relacionados ao português.
O uso da legenda para surdos e ensurdecidos e, sobretudo, da língua de sinais é
fundamental para garantir aos surdos um acesso pleno à informação das produções culturais
audiovisuais. Terceiro (2013) menciona que a interpretação em língua de sinais é mais eficaz na
transmissão de informações do que o uso de legendas em português, e defende a pluralização de
recursos de acessibilidade na mídia televisiva com um maior enfoque neste recurso.
O que está mudando são as concepções sobre o sujeito surdo, as descrições em
torno de sua língua, as definições sobre as políticas educacionais, a análise das relações de saberes
e poderes entre surdos e ouvintes, etc. É somente a partir da convivência em sociedade, que tanto
surdos como ouvintes, poderão perceber as diferenças, compreendendo o valor e a importância
de cada um, desde que as mesmas oportunidades de informação sejam oferecidas e respeitadas
(SACKS, 2011).
Entre tantos desafios da sociedade em relação à acessibilidade, um deles é garantir a
totalidade dos direitos, no que diz respeito ao acesso dos surdos à educação e à cultura. Partindo
do pressuposto de que cultura, educação e comunicação estão diretamente relacionadas, é
imprescindível o uso dos recursos de acessibilidade que favoreçam a inclusão da comunidade
surda, bem como os surdos serem agentes transformadores e produtores de cultura (SARRAF,
2018).
REFERÊNCIAS
Resumo
Abstract
The present work brings the conception of poetic mediation applied on the optics of
accessibility through the Brazilian Sign Language - LIBRAS, making a poetic mediation in LIBRAS a
method used by art educator in mediation with deaf high school students. The pertinent questions
were established in the production of a support material that was constituted from the
observation of signs in LIBRAS of city spaces in which there was some sculpture by artist Sérvulo
Esmeraldo, honored in the exhibition.
Keywords: Poetic Mediation; LIBRAS; Museology.
1Autor: José Vinícius de Melo Scheffer. Licenciado em Artes Visuais pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Ceará – IFCE Campus Fortaleza. Pesquisador de Iniciação Cientifica vinculado à linha de Práticas
Educativas do IRIS – Grupo de Estudo da Formação de Professores de Artes Visuais /CNPq. Assistente de Coordenação
e Arte Educador do Museu de Arte Contemporânea do Ceará – MAC.CE do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura -
CDMAC. E-mail: melo.viny@gmail.com
Introdução
Este trabalho é sobre o processo de mediação museal para alunos surdos através da Língua
Brasileira de Sinais - LIBRAS, na qual analisaremos os processos de mediação poética de alunos
específicos do ensino médio de uma escola de Fortaleza na visita ao museu.
O tema surge da necessidade encontrada pelo autor nos percursos profissionais inseridos
na educação informal pelo qual o autor vivenciou durante sua trajetória enquanto arte - educador.
Compreendendo as problemáticas de ensino que se relacionam com o processo de ensino –
aprendizagem de surdos, a principal demanda se tem pelo processo de acessibilidade em espaços
culturais, do qual o trabalho tem como objetivo geral.
Será analisado o Museu de Arte Contemporânea do Ceará – MAC.CE2 na área do setor
Educativo através do projeto intitulado de Museu Acessível, com essa oportunidade, vindas do
estágio remunerado que a empresa proporciona, compreendemos no primeiro momento como é
importante para os alunos surdos o contato com a Língua de Sinais Brasileira – LIBRAS, nesse
contexto, foi possível aplicar uma metodologia de mediação utilizando a sinalização em LIBRAS e a
utilização da Escrita da Língua de Sinais.
A metodologia utilizada se baseia na abordagem qualitativa de pesquisa com ferramentas
de diário de bordo e pesquisa ação que compreendemos na utilização de anotações e imersão do
pesquisador no cotidiano dos alunos transformando não somente as atitudes do alunado como
também do profissional que está em constante mudança e adaptação no modo de fazer.
A relevância da pesquisa está direcionada a comunidade surda, principalmente a crianças e
jovens surdas que necessitam de um amparo acessível no seu processo de aquisição Cultural,
demonstrado por pesquisa que a criança e jovens surdos precisam estar em contato direto com a
cultura, com adultos que utilizam a língua de sinais e com colegas que possam interagir.
1. Fundamentação teórica
2
O Museu de Arte Contemporânea do Ceará – MAC.CE foi inaugurado em 1999 junto com o espaço que o comporto
conhecido como Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura – CDMAC que abriga também o Museu de Cultura Cearense
– MCC, um planetário, duas salas de cinema, um teatro e dois anfiteatros além de outros espaços, tudo gerenciado
pelo Instituto Dragão do Mar – IDM e vinculado a Secretária de Cultura do Ceará – SECULTCE.
“A pessoa com deficiência tem direito à cultura, ao esporte, ao turismo e ao lazer em
igualdade de oportunidades com as demais pessoas, sendo-lhe garantido o acesso: I - a bens
culturais em formato acessível; II - a programas de televisão, cinema, teatro e outras
atividades culturais e desportivas em formato acessível; e III - a monumentos e locais de
importância cultural e a espaços que ofereçam serviços ou eventos culturais e esportivos
(BRASIL, 2015).”
A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência - LBI conquistada pelas pessoas com
deficiência, somada a demanda do Plano Nacional Setorial de Museus 2010/2020 - IBRAM que traz
a diretriz de “Garantir a acessibilidade física, social, informacional e estética de todos os tipos de
público aos museus de arte...”, orienta o projeto de acessibilidade implantado no Museu de Arte
Contemporânea do Ceará intitulado de “Museu Acessível”, que funciona em três linhas a)
Formação; b) Troca de Experiências; c) Acessibilidade Museal. Para a compreensão das demandas
das pessoas com deficiência, o museu no eixo “Troca de Experiência” aproveitou a Primavera de
Museus 2018, uma ação proporcionada pelo Instituto Brasileiro de Museus - IBRAM que em 2018
aconteceu de 17 a 23 de setembro com o tema “Celebrando a educação em Museus”, para
articular o Fórum sobre Cultura Surda, Acessibilidade em Museu e Educação 3, desse fórum, foi
percebida questão levantada sobre a área da surdez, comunidade e identidade surda.
Recentemente, a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS foi reconhecida como língua materna
dos Surdos, através da Lei Nº 10.436 de 24 de abril de 2002, o que proporcionou aos mesmos um
reconhecimento perante a sociedade. O Decreto Federal n° 5626, de 22 de dezembro de 2005,
estabelece que os alunos com deficiência auditiva tenha direito a educação da língua brasileira de
sinais (Libras) e a língua portuguesa como sua segunda língua; logo as crianças devem ter acesso à
língua materna o mais cedo possível. Esse processo de ensino caracteriza-se como bilinguismo,
onde “o conceito mais importante que a filosofia bilíngue traz é de que os surdos formam uma
comunidade, com cultura e língua próprias.” (GOLDFELD, 1997, p.43).
A mediação cultural, nos museus de arte, é considerada a atividade mais importante
empregada ao Arte – educador, sendo planejada, pesquisada e aplicada por conceitos de
mediação cultural que:
“... pode ser entendida como trabalho de aproximação entre sujeitos e os produtos e
artefatos culturais, tais como obras de arte, livros, exposições, espetáculos e o acesso aos
espaços culturais, tendo como figura-chave o mediador que promove essa transação entre
o processo de produção, difusão e apropriação...” (PAULA, 2012, p. 58).
3
O Fórum sobre Cultura Surda, Acessibilidade em Museus e Educação que ocorreu no mês em que é celebrado o
Orgulho Surdo, conhecido pela comunidade surda como Setembro Azul. Nesse encontro, marcado para dia 22 de
setembro de 2018, será apresentado o que é Museu de Arte Contemporânea do Ceará - MAC/CE, como o museu tem
pensado a acessibilidade para pessoas com deficiência e seu projeto de ações educativas. Esperamos que nessa
ocasião se construam debates e proposições de pessoas surdas, com deficiência, pesquisadores, professores e
interessados na área para as políticas de acessibilidade do MAC/CE.
“Na visita-descoberta, atividades ou jogos são propostos dentro do espaço expositivo. Ela
possibilita a descoberta de novos elementos e olhares para um determinado conteúdo
exposto. É o tipo de visita mais interativa, pois depende quase que exclusivamente do
visitante para ser realizada.” (MARANDINO, 2018, p. 23).
“Educação não formal: qualquer atividade organizada fora do sistema formal de educação,
operando separadamente ou como parte de uma atividade mais ampla, que pretende servir
a clientes previamente identificados como aprendizes e que possui objetivos de
aprendizagem.” (MARANDINO, 2017).
“A a/r/tografia é uma forma de representação que privilegia tanto texto (escrito) quanto a
imagem (visual) quando eles se encontram em momento de mestiçagem ou hibridização.
A/R/T é uma metáfora para: Artist (artista), Reserch (pesquisador) e teacher (professor) e
graph (grafia: escrit/representação). Na a/r/tografia saber, fazer e realizar se fundem. Elas
se fundem e se despeçam criando uma linguagem mestiça híbrida. Linguagem das fronteiras
da auto e etnografia e de gêneros. A Artógrafo, o praticante da artografia, integra esses
múltiplos e flexíveis papéis na sua vida profissional. Não está interessada em identidade, só
papéis temporais. Vive em um mundo de intervalos tempo/espaço, em espaços liminares,
terceiros espaços, entre- lugares. Buscar vários espaço desde aqueles que nem são isso nem
aquilo e também aqueles que são isso e aquilo ao mesmo tempo. Buscar o diálogo,
mediação e conversação.” ( DIAS e IRWIN, 2013, p. 25).
“Além da produção cinética e concreta, Sérvulo Esmeraldo também foi autor de uma série
de esculturas públicas que marcam cenários como a Beira Mar, de Fortaleza. Sempre
geométrico, ele dizia que o círculo, o quadrado e o triângulo eram as bases dos trabalhos.
“Esses três elementos estão presentes na maioria dos meus trabalhos, eles ganham um
certo encaixe que se une, seria a imagem primeira do meu trabalho”, explicava.” (MACIEL,
2017)
“Quando as crianças conseguem aprender uma escrita que é representação da sua língua
natural têm oportunidade de melhorar todo seu desenvolvimento cognitivo... depois que as
crianças aprendem os símbolos da escrita da língua de sinais, aparecem muitas ideias e
variações na sua escrita, pois cada um está à vontade para expressar seus pensamentos,
sem a insegurança de tentar encontrar a palavra da língua oral, que procura, e não
4
“O Prêmio Marcantonio Vilaça, uma iniciativa da indústria brasileira, é considerado uma das mais tradicionais
premiações de arte do país e completa 15 anos em 2019. Em seis edições, 30 artistas e três curadores foram
contemplados com bolsas para produção de trabalhos, que percorreram todo o Brasil em mostras itinerantes. A cada
edição, o prêmio contempla cinco artistas, que, além da bolsa, têm sua produção acompanhada por um crítico ou
curador de arte. Exposições itinerantes com obras dos artistas premiados percorrem capitais de diferentes regiões do
país. Em paralelo ao Prêmio, a CNI, o SESI e o SENAI realizam o Projeto Arte e Indústria, que presta homenagem a
artistas cujos processos de criação estão relacionados à produção industrial. Ao longo de suas três edições, foram
homenageados os artistas brasileiros Abraham Palatnik, Amélia Toledo e Sérvulo Esmeraldo.”
5
“O Instituto Filippo Smaldone foi fundado em 1988, essa instituição filantrópica e pública abrange a cidade de
Fortaleza e municípios vizinhos e tem como objetivo oferecer um atendimento educacional e de reabilitação a
crianças e adolescentes com deficiência auditiva, através de parcerias e convênios com a Prefeitura Municipal de
Fortaleza, a Secretaria de Educação e outras instituições privadas, oferecendo atividades pedagógicas, dança rítmica,
fonoaudiologia, ensino de Libras e apoio psicossocial à família do indivíduo com surdez.”
encontra, quando encontra não sabe bem se era aquela a palavra certa.” (STUMPF, 2005,
p.44)
3. Considerações finais
Referências
BRASIL. Lei n. 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe Sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e
dá Outras Providências. Brasília, DF, jul 2002.
BRASIL. Lei n. 13.146, de 6 de julho de 2015, Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência. Brasília, DF, jul 2015.
BRASIL. MINISTÉRIO DA CULTURA, INSTITUTO BRASILEIRO DE MUSEUS - MinC/IBRAM. Plano
Nacional Setorial de Museus - 2010/2020 (2010: Brasília – DF). Disponível em:
<http://www.museus.gov.br/wp-content/uploads/2012/03/PSNM-Versao-Web.pdf>. Acesso em:
24 jul. 2019.
CNI SESI SENAI. Prêmio Indústria Nacional Marcantonio Vilaça para as Artes Plásticas. Brasília – DF.
<http://www.portaldaindustria.com.br/sesi/canais/premio-marcantonio-vilaca-home/6-edicao-
20172018/> Acesso em: 24 jul. 2019.
DIAS, Belidson, IRWIN, Rita L. (orgs). Pesquisa educacional baseada em arte: A/r/tografia. UFSM:
Santa Maria, 2013.
GOLDFELD, M. Breve relato da educação de surdos. In _____. A criança surda: linguagem e
cognição numa perspectiva sócio-interacionista. São Paulo: Plexus, 1997. p. 24- 43
MACIEL, Nahima. Artista plástico Sérvulo Esmeraldo deixa como legado obra com invenções.
Correio Brasiliense, Brasília - DF 2017.
<https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e
arte/2017/02/11/interna_diversao_arte,572832/artista-plastico-servulo-esmeraldo-deixa-como
legado-obra-com-invencoe.shtml> Acesso em: 24 jul. 2019.
MARANDINO, Marta (Org.). Educação em museus: a mediação em foco. São Paulo: Geenf / FEUSP,
2008.
MARANDINO, Martha. Faz sentido ainda propor a separação entre os termos educação formal,
não formal e informal? Ciênc. educ. (Bauru) vol.23 no.4 Bauru Oct./Dec. 2017
PASSERON, René. “A poiética em questão”. In: Porto Arte, Porto Alegre: Instituto de Artes/ UFRGS,
v.13 n.21, jul. 2004.
PAULA, Thais Regina Franciscon de. A mediação em museus: um estudo do projeto “Veja com as
mãos” / Thais Regina Franciscon de Paula. – Marília, 2012
SMALDONE. Instituto Filippo. Fortaleza – CE
<http://institutofilipposmaldone.com.br/fortaleza/?page_id=40> Acesso em: 24 jul. 2019.
Audiolivro na remição de pena pela leitura: um estudo com
as apenadas do Presídio Regional de Pelotas
Audiobook on redemption of penalty by reading: a study with female
convicts of the Regional Penitentiary of Pelotas
Letícia Soares Nunes Duarte, mestra, Universidade Federal de Pelotas, leticiamaisedu@gmail.com
Júlio Caetano Costa, doutor, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, jcosta8129@gmail.com
Resumo
Um dos direitos do presidiário diz respeito à remição da pena, benefício assegurado pela
Lei 7.210/84, Lei de Execução Penal, que visa possibilitar ao encarcerado a diminuição do tempo
da pena por uma atividade executada por ele, seja por trabalho ou estudo. A leitura no espaço
carcerário oportuniza a retirada das apenadas da ociosidade diária de 365 dias por ano, um
trabalho realizado pela Terapia Ocupacional que ocupa o ambiente carcerário, procurando
apresentar reflexões que contribuem para a promoção da prática de leitura das mulheres. Assim, a
leitura tem sido instituída para tal finalidade e faz parte da proposta do presente estudo, uma
pesquisa qualiquantitativa que resultará em audiolivro e que através do projeto garante o direito à
leitura, um direito à cultura, incluindo no universo literário pela atividade da terapia ocupacional
na cultura. A pesquisa se encontra em fase de execução, duração de um ano, conta com a parceria
da Universidade Federal de Pelotas, Presídio Regional de Pelotas e Vara de Execução Criminal,
visando serem autoras da leitura ou ledoras, cujo produto favorecerá analfabetos, pessoas com
deficiência visual, física, intelectual, auditiva, com múltiplas deficiências e autistas.
Palavras-chave: Audiolivro; leitura; remição de pena.
Abstract
One of the convict’s rights pertain to the redemption of penalty, benefit assured by the
Law 7.210/84, Law of Criminal Enforcement, which aims to enable to the incarcerated the
reduction of sentence time by activities performed by them, be it by work or study. The act of
reading in prison space offers the opportunity to remove the convict’s idle time of 365 days a year,
a work done by Occupational Therapy which occupies the prison environment, seeking to present
reflections which will contribute to the promotion of reading exercise for these women.
Therefore, reading has been instituted for this purpose and is part of the current study’s purpose,
a cuali-quantitative research which will result in an audiobook and through this project guarantees
the right to reading, the right to culture, being included in the literary universe through the activity
of occupational therapy in culture. The research is currently under execution stage, duration of
one year, has the partnership between Federal University of Pelotas, Regional Penitentiary of
Pelotas and Criminal Enforcement Court, aiming to be the authors of reading activities or readers,
whose product will favor the illiterate, people with visual, physical, intellectual or hearing
impairments, multiple impairments and the autistic.
Keywords: Audiobook; reading; redemption of penalty.
Introdução
Todo o indivíduo levado ao cárcere fica privado da sua liberdade de ir de vir, não lhe sendo
permitido nenhum contato com o lado externo, mesmo porque a finalidade é a sua exclusão do
mundo natural. No cárcere, mesmo tendo de cumprir as regras estabelecidas pela instituição
penal, pois terá de arcar com as consequências pelo ato cometido, tem direitos e que devem ser
acatados, no caso em pauta deste trabalho, o processo de sua aprendizagem que será prejudicado
diante da situação prisional (HIRATA, 2014).
Diante do exposto supra, tem-se que um dos direitos do presidiário diz respeito à remição
da pena, ou seja, um benefício assegurado pela Lei nº 7.210 de 11 de julho de 1984, Lei de
Execução Penal. A finalidade da referida lei é a de possibilitar ao encarcerado a diminuição do
tempo da pena por uma atividade executada por ele, seja por trabalho ou estudo. Para tanto, a
leitura tem sido instituída para a remição do tempo da pena (BRASIL, 1984).
Para atender as necessidades do presente estudo, este trabalho teve como objetivo geral
implementar um projeto de leitura usando tecnologia sonora para a remição de pena da
encarcerada no Presídio Regional de Pelotas. E, como objetivos específicos: a) analisar o processo
de remição de pena no tocante à execução do projeto com base na legislação; b) apresentar
algumas concepções acerca da leitura e de formas de registro do processo de recepção; c)
caracterizar a intervenção da terapia ocupacional junto às apenadas no tocante ao ato de ler; d)
verificar externalidade da leitura da apenada pelo uso da tecnologia; e e) traçar o perfil da
apenada e sua frequência e hábitos de leitura.
Para chegar-se à remição de pena pela leitura, torna-se oportuno, mostrar que a remição
pelo estudo não era prevista pela LEP, apenas por trabalho, no entanto, em junho de 2011, dos
artigos 126 ao 129 foram alterados, abarcando a remição por estudo. A LEP determina que para
cada três dias de trabalho e/ou para cada 12 horas de estudo a pessoa presa tem direito de remir
um dia de pena. Isto é, seja trabalhando e/ou estudando, as horas são convertidas em tempo de
pena cumprida, diminuindo o tempo que a pessoa vai ficar presa (BRASIL, 1984).
A proposta da remição de pena pela leitura em um ambiente que priva a liberdade se
torna fator decisivo para possibilitar a administração do processo literário, por se tratar de um
novo paradigma que prima em alcançar as necessidades pertinentes do sistema prisional (JULIÃO;
PAIVA, 2014). Remição entendida por Campos et al. (2018) como uma forma de pagamento e não
de perdão, neste caso, seria remição. Explicam ainda as autoras que “As pessoas presas podem,
portanto, buscar se engajarem em seu processo de transformação para, assim, ampliarem suas
possibilidades de (re)socialização” (CAMPOS et al., 2018, p. 117).
No Brasil, o benefício da remição de pena pela leitura passou a ser adotado nas instituições
prisionais, através da Lei Estadual nº. 17.392 de 2012 no Paraná, em complemento da remição
por estudo determinada pela LEP. Atualmente, o benefício da remição da pena pela leitura é
usado de forma ampla visando dirimir o tempo de reclusão, como é feito pelo trabalho, ou pelo
estudo. Para remição de pena pela leitura, a pessoa privada de liberdade precisa ler um livro,
apresentando depois uma resenha em 30 dias, o que diminui quatro dias de sua pena. A leitura
reduz até 48 dias por ano (SILVA; STEIN; CUNHA, 2017).
Em 2018 a Vara de Execução Criminal da Comarca de Pelotas, através da Resolução nº.
01/2018, instituiu nos âmbitos dos estabelecimentos carcerários de Camaquã, Canguçu, Jaguarão,
Rio Grande e Pelotas a possibilidade de remição de pena pela leitura, que de forma protagonista
irá influenciar uma política estadual da questão (RIO GRANDE DO SUL, 2018). E, no Rio Grande do
Sul, a Superintendência de Serviços Penitenciários, através da Portaria nº. 033/2019, regulamenta
a remição de pena pela leitura nas unidades prisionais do Estado do Rio Grande do Sul às pessoas
privadas de liberdade, com ou sem condenação, preferencialmente àquelas que ainda não têm
acesso à remição pelo trabalho, educação ou curso profissionalizante (RIO GRANDE DO SUL, 2019).
Para isso, após a leitura de obra literária clássica, científica, filosófica, dentre outras, o preso
deverá realizar um relatório de leitura, uma produção textual que será avaliada pela equipe de
remição da leitura, considerando as ideias principais do livro, de 30 a 60 linhas e três quesitos:
estético, limitação do tema e fidedignidade. Deve-se ainda observar aspectos relacionados à
compreensão e a compatibilidade do conteúdo e o nível de escolaridade do preso, e caso o
avaliador entenda necessário, realizará avaliação oral como complemento da avaliação escrita.
Observa-se, portanto, que tudo se torna um grande desafio quando as questões educativas
servem de motivo para polemização por envolverem indivíduos privados da liberdade. O fato é
que todo ser humano privado da liberdade e que vive como um prisioneiro em uma penitenciária
se envolve regularmente com o aprendizado característico de uma prisão, ficando submetido a
aprender mais sobre crime, e isso não reeduca um presidiário, ao contrário, isso se torna utópico
diante da realidade do preso.
4. Resultados e discussão
No tocante às práticas de leitura das 13 detentas que tomaram parte na pesquisa, 23,8%
apreciavam o gibi para ler na infância, 30,77% citam obras clássicas como: Meu Pé de Laranja
Lima, A Bela Adormecida, João e Maria, Cinderela, Rapunzel e o Chapeuzinho Vermelho; 69,23%
tinham livros em casa; 84,61% tinham acesso aos livros infantis na escola; e 92,31% enfrentaram
dificuldades para ler. Quanto ao abandono aos estudos, 30,77% deixaram a escola para trabalhar
e ajudar em casa. Sete anos de idade (46,17%), média das que aprenderam a ler e 92,31% das que
gostam de ler; 46,17% definem “ler” como “conhecer novos lugares, novas histórias, culturas”;
38,46% leram para os filhos; 30,77% tiveram a mãe como leitora, embora 30,77%, não tiveram
ninguém que lesse para elas. Sobre a leitura de algum livro durante o cumprimento da pena,
76,92% citaram poemas, crônicas, obras direcionadas à espiritualidade e de autoajuda.
Consideram escritores como: Augusto Cury, Max Lucado, Angela Sirino, Zúbia Gasparete, Paulo
Coelho e Edir Macedo, e destacaram os seguintes livros: Crônicas de Narnia, Casa de Vidro,
Cinquenta tons de cinza, A mulher virtuosa, Poder da fé, Somos todos filhos de Deus? A última
pedra, Espírito Santo, A fé sobrenatural e Dona da fé; 46,17% não estavam lendo nenhum livro no
momento, ao passo que 30,77% ocupavam o tempo lendo a Bíblia e outras obras intituladas: A
culpa é das estrelas, Nada acontece por acaso, Brida, Tudo tem seu preço, Uma via com propósito
e Muito longe de casa. A preferência delas alcançou 61,54% para obras ligadas à religiosidade e
autoajuda, sendo este último, o assunto mais procurado (61,54%). A noite foi o melhor horário
para leitura para 61,54% das detentas, com a finalidade de aprender (23,08%). No tocante a
trabalhos realizados no presídio para a remição de pena, 69,23% responderam sim. Resumo de
algum livro, 53,85% fizeram na escola; 69,23% não lerão só pela remição da pena; 61,54% não
escrevem ou recebem cartas; 53,85% desconhecem o termo audiolivro, levando a entender que
nenhuma ouviu falar sobre audiolivro, nem mesmo contato com ele. Do total das detentas,
53,85% têm familiar deficiente, e vêem projeto do audiolivro muito importante para pessoas com
deficiências.
5. Considerações finais
Referências
BRASIL. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de Execução Penal. DOU de 13.7.1984.
BRASIL. Decreto nº 9.522, de 8 de outubro de 2018. DOU de 9.10.2018.
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Leitura: Teoria & Prática v.28, n.55, p.28-36, 2010.
Os direitos culturais das pessoas com deficiência no Brasil
The cultural rights of people with disabilities in Brazil
ZAMARO, Lígia H. F. Mestranda em Artes Visuais
Universidade de São Paulo – USP
ligia.zamaro@usp.br
Resumo
Abstract
Brazilian legal provisions on the rights of persons with disabilities are among the most advanced
in the world. However, as regards the exercise of cultural rights to the full, there is a gap between
legal framework and accessible cultural practices. In this article, we will evaluate brazilian
normative documents, focusing on the identification of this déficit. Initiatives that recognize
accessibility as a mandatory requirement for project approval will also be conferred – such as Lei
Rouanet and Proac (Cultural Action Program of the State of São Paulo), more access to projects.
people with disabilities their cultural citizenship through the democratization of accessibility.
Keywords: Cultural rights; Cultural accessibility; Disabilty.
Introdução
O acesso de pessoas com deficiência à cultura não vem de longa data nos
documentos normativos brasileiros. Uma das pautas a respeito aparece nas metas do Plano
Nacional de Cultura, de forma mais evidente. Este, posterior à Convenção Internacional sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiência, já é mais taxativo quanto ao acesso, à fruição e participação
de pessoas com deficiência na cultura.
O PNC é composto por 36 estratégias, 274 ações e 53 metas, estas últimas
veiculadas por meio da Portaria nº 123, de 13 de dezembro de 2011. No Plano, a ocorrência da
palavra acesso aparece 83 vezes, referindo-se a acesso de populações à cultura, acesso financeiro
e acesso cultural. Ao longo do texto, é perceptível uma melhor definição do termo deficiência,
muito mais próximo de um entendimento social da deficiência, semelhante a documentos como a
Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.
Dentre as metas, aquelas que diretamente dizem respeito aos temas da
acessibilidade, do direito à cultura e do acesso a bens culturais por pessoas com deficiência,
ressaltamos a meta 29, cujo objetivo é “garantir que as pessoas com deficiência possam ter acesso
aos espaços culturais, seus acervos e atividades” e que orienta à implementação de: “100% de
bibliotecas públicas, museus, cinemas, teatros, arquivos públicos e centros culturais atendendo
aos requisitos legais de acessibilidade e desenvolvendo ações de promoção da fruição cultural por
parte das pessoas com deficiência.” (BRASIL, 2011, p. 86).
Em outro trecho, inicialmente o aspecto da acessibilidade física é citado, mas entendido
como parte de um conjunto de ações com vistas à participação e não uma mera eliminação de
barreiras arquitetônicas:
A acessibilidade é uma das questões centrais para a qualidade de vida e o pleno exercício da
cidadania das pessoas com deficiência. As instituições culturais no país precisam obedecer
às leis existentes a esse respeito. Ou seja, têm de eliminar as barreiras ao acesso físico das
pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. O acesso dessas pessoas aos espaços
culturais, seus acervos e atividades deve ser viabilizado de duas maneiras: adaptar o espaço
físico para essas pessoas; e oferecer bens e atividades culturais em formatos acessíveis. (…)
É preciso estimular os espaços culturais para que desenvolvam ações voltadas para a
promoção da efetiva fruição cultural por parte das pessoas com deficiência, tais como
oferecer equipamentos e serviços que facilitem o acesso aos conteúdos culturais. Exemplo
disso é o uso do Braille, de LIBRAS e da audiodescrição. (Ibid, p. 86)
Art. 42. A pessoa com deficiência tem direito à cultura, ao esporte, ao turismo e ao lazer em
igualdade de oportunidades com as demais pessoas, sendo-lhe garantido o acesso: I - a bens
culturais em formato acessível; II - a programas de televisão, cinema, teatro e outras
atividades culturais e desportivas em formato acessível; e III - a monumentos e locais de
importância cultural e a espaços que ofereçam serviços ou eventos culturais e esportivos.
(BRASIL, 2015)
Entretanto, para além do Estado de São Paulo, há ainda iniciativas públicas esparsas,
constatando-se ainda uma ausência de devida fiscalização em nível nacional com foco regulatório,
o que pode vir a prejudicar a aplicação dos aspectos de inclusão na cultura.
3. Considerações finais
Enfim, a busca de um modelo de política pública que estabeleça bases para a previsão de
acesso à população com deficiência tem tudo para se beneficiar da legislação recente, no cenário
brasileiro. O foco dos documentos, calcado na universalização de acesso, pressupõe a
democratização e reforça a urgência de superação das barreiras ao acesso ao patrimônio cultural.
A cultura (em suas diversas linguagens estéticas, meios e propostas) deve desenvolver, assim, uma
variação de abordagens, estratégias e meios para a fruição, participação, acesso e criação de
pessoas com deficiência. O desenvolvimento do acesso físico, comunicacional e relacional às
propostas culturais previstas no Plano Nacional de Cultura e nos demais instrumentos norteadores
reitera esta urgência; a acessibilidade demonstra ser uma grande ferramenta à implementação
dos direitos culturais de toda a população, com e sem deficiências. Para que isso aconteça de
forma a efetivar esta construção de direitos, é necessário que em todas as instâncias públicas –
federal, estadual e municipal – sejam criados e incentivados modelos de ação cultural que
aproximem os instrumentos legais de sua efetivação na prática, na diminuição das barreiras de
acesso cultural.
Referências
BRASIL. Lei Federal de Incentivo à Cultura - Lei Rouanet - Lei nº 8.313, de 23 de Dezembro de
1991. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8313cons.htm - Acesso em 28 jul.
2019.
BRASIL. Decreto Federal nº 5761, de 27 de abril de 2006. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Decreto/D5761.htm - Acesso em 28
jul.2019
BRASIL. Decreto Legislativo nº 186, de 9 de julho de 2008. Disponível em: Brasília: Diário Oficial da
União - Seção 1 - 10/7/2008, Página 1 (Publicação Original). Atualmente está vinculado ao texto da
Lei Brasileira de Inclusão, LBI (2015), também presente neste documento.
BRASIL. Decreto Federal nº 6.949, de 25 de agosto de 2009. Disponível em: Brasília: Diário Oficial
da União - Seção 1 - 26/8/2009, Página 3 (Publicação Original):
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D6949.htm - Acesso em: 27
jul. 2019
BRASIL. Lei Federal nº 12.343, de 2 de dezembro de 2010. Disponível em:
http://pnc.cultura.gov.br/ - Acesso em 26 jul, 2019
BRASIL. Projeto de lei: 7671/2010. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=483858 - Acesso
em 26 jul. 2019
BRASIL. Lei Brasileira de Inclusão (LBI) - Lei Federal nº 13.146 de 06 de julho de 2015. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm - Acesso em: 28
jul. 2019
BRASIL. Projeto de Lei N.º 6.860, 2017. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=F9CDD9DDA7AE686
D7ABC7F91A5D6EEF0.proposicoesWebExterno1?codteor=1527487&filename=Avulso+-
PL+6860/2017 Acesso em: 28 jul. 2019
SÃO PAULO (Estado) Instrução Normativa CAP nº 02/2015. Publicada no Diário Oficial do Estado
de São Paulo em 21 de julho de 2015 - Poder Executivo – Seção I, páginas 35 e 36. Disponível em:
http://201.55.6.39/StaticFiles/SEC/proac/Instru%C3%A7%C3%A3o%20Normativa%20n%C2%BA%2
002-2015_publicada%20no%20DOE%20em%2021-07-2015.pdf - Acesso em: 27 jul. 2019
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Convenção Internacional sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência (2006). Disponível em: https://www.governodigital.gov.br/documentos-
earquivos/A%20Convencao%20sobre%20os%20Direitos%20das%20Pessoas%20com%20Deficienci
a%20Comentada.pdf - Acesso em 28 jul. 2019
Representações das Casas Gêmeas por tecnologias de fabricação digital:
uma contribuição para o acervo tátil do entorno da praça Cel Pedro
Osório, Pelotas
Representation of the Casas Gemêas with the use of digital fabrication: a
contribution for the tactile acquisition from the surroundings of the Cel Pedro Osório
square, Pelotas
Livia Marques Boyle, Anelize Souza Teixeira, Eduarda Galho dos Santos, Igor Correa Knorr, Karine Chalmes Braga,
graduandos de Arquitetura e Urbanismo, Adriane Borda, doutora
Universidade Federal de Pelotas – UFPel
liviaboyle@gmail.com
Resumo
Abstract
This paper presents the results of an activity developed within the framework of a
extensionist discipline, recently instituted in the curriculum of the Architecture and Urbanism
course at the Universidade Federal de Pelotas (UFPel). It was proposed to of the current
headquarters of the Carlos Ritter Museum of Natural Sciences, situated around Coronel Pedro
Osório Square, belonging to the set of examples of the city’s architectural
patrimony, from the 19th and early 20th centuries. For this, methods were investigated that
better portray the architectural space and meet formative interests for the
contemporary way of producing and communicating: from digital representation and fabrication,
aiming at cultural accessibility for the visually impaired.
Keywords: Cultural Inclusion; Tactile Models; Digital Fabrication.
Introdução
Figura 1: composta por duas imagens lado a lado. A imagem da esquerda ilustra a maquete da Praça
Coronel Pedro Osório, Pelotas, RS, e de seu entorno edificado na escala 1:500. São aproximadamente 30
edificações ao redor desta praça, configuradas em diferentes alturas. 13 destas edificações estão
representadas em plástico branco, incluindo a forma dos detalhes de fachada. As demais edificações estão
representadas em madeira, de maneira simplificada. Sobre a fotografia desta maquete, há uma seta que
aponta para uma circunferência, ambas em vermelho, que indica a localização das Casas gêmeas, que ainda
estão representadas em madeira. Todas estas representações estão sobre uma foto aérea colorida do
próprio lugar. A imagem da direita se refere a uma fotografia das Casas Gêmeas, sendo edificações de
esquina, de estilo eclético, de dois andares. Possuem, como base, um porão alto que contém gateiras ou
pequenas aberturas para ventilação, e, como coroamento, uma platibanda decorada, incluindo frontões
triangulares. Estão na cor bege, com janelas de veneziana, em madeira, pintadas de branco. A fachada
principal, de menor testada, no andar inferior, tem bem ao centro duas portas em madeira escura, de
acesso a cada uma das casas. São portas em arco pleno e agrupadas por um arco maior, de mesmo tipo,
ladeadas por pares de janelas também em arco pleno. No andar superior existem seis janelas alinhadas
com as seis aberturas do andar inferior. Cada par de janelas está agrupado por balcões rendados em ferro.
A fachada lateral contém em cada andar seis janelas, com a mesma lógica da fachada principal, as de baixo
em arco pleno e as de cima levemente arqueadas, agrupadas duas a duas pelas sacadas com balcões
rendados em ferro. Deve-se destacar que o ecletismo destas casas envolve o predomínio de estilos
arquitetônicos neoclássicos e renascentistas, por conta dos arcos plenos, platibandas vazadas e frontões
triangulares. Incluiu também elementos do Maneirismo e Barroco, como os consolos que sustentam as
sacadas e frontões. Além disto, o estilo art nouveau está presente na fachada lateral, na composição da
estrutura metálica dos vitrais da janela.
Fonte: à esquerda, foto editada de Nunes et al, 2018. À direita fotografia de Rafael Lopes
Pereira et al (2017) atenta para o potencial das maquetes físicas de arquitetura, as quais
possibilitam ampliar a percepção da forma das edificações e do contexto urbano, para qualquer
pessoa, independentemente de suas capacidades visuais. O estudo referido, em particular, traz
um aporte científico diferenciado por ter, como autor principal, um profissional experiente em
arquitetura, constituindo-se pesquisador doutor em arquitetura após agregar a experiência de
perda total do sentido da visão.
Pallasmaa (2011) traz uma abordagem crítica acerca do domínio visual sobre outras
modalidades sensoriais na prática de arquitetura. Para o autor “embora as novas tecnologias
tenham reforçado a hegemonia da visão, elas também podem ajudar a reequilibrar as esferas dos
sentidos” (PALLASMAA, 2011, p.34). Embora esta reflexão esteja direcionada para o contexto da
produção de arquitetura propriamente dita, utiliza-se desta ideia também para contextualizar a
lógica do uso das tecnologias de fabricação digital.
VEIGA et al (2013) e PERONTI et al (2016), estudos que incluem uma revisão bibliográfica
sobre o tema de produção de mapas táteis, auxiliaram no reconhecimento de exemplos, métodos
e questões a serem problematizadas sobre este tipo de produção, especialmente envolvendo
tecnologias de fabricação digital.
2. Materiais e Métodos
Figura 2: Composta por três imagens que registraram o uso dos mapas táteis e portáteis, no Museu do
Doce, Pelotas/RS, durante a semana municipal do Patrimônio, agosto/2018. Na foto da esquerda uma
criança utiliza o mapa, com o auxílio de uma mediadora. Ao centro, destaca-se as mãos de visitantes sobre
um mapa. À direita, duas visitantes adultas utilizando o mapa. Fonte: BRAGA, ALMEIDA E BORDA, 2018
Outro estudo utilizado como referência foi o realizado por SPERLING, VANDIER E
SCHEEREN, 2015. Dirigido também à comunicação tátil de arquitetura, este estudo apresenta um
modelo de representação em camadas, organizado em um sistema de encaixes possibilitando a
compreensão das plantas baixas de uma edificação em altura, configurado como uma caixa com
um sistema de “gavetas” (uma por andar).
A etapa de produção envolve todo o processo de apropriação das tecnologias de
representação e fabricação digital por corte a laser, compreendendo o estudo de sistemas de
montagem/encaixe/fixação para a configuração de uma maquete por meio de tais tecnologias e
materiais disponíveis no contexto deste estudo. Está sendo utilizada uma máquina cortadora a
laser com mesa de corte nas dimensões 45 x 75 cm e o material empregado, até o momento, é a
madeira (MDF).
A etapa de experimentação e validação refere-se à observação de como os usuários do
Museu estão percebendo a importância do uso deste tipo de recurso que está sendo
disponibilizado. Esta etapa conta com ações, junto ao Museu, do próprio grupo de autores deste
estudo além da observação e relato da equipe de mediação da referida instituição universitária.
3. Resultados e Discussão
O uso da fabricação digital por corte a laser possibilitou a representação dos diferentes
elementos de fachada pela marcação com várias graduações: fraca, média e forte; isso permitiu
dar a sensação de profundidade e volumetria aos elementos decorativos. No entanto, para as
diferenças de volumetria mais significativas, como as sacadas, existiu a necessidade de explorar
técnicas de encaixe. A representação possibilita pelo tato compreender a volumetria principal e os
contornos aparentes da edificação, além das distribuições internas dos ambientes, por meio dos
mapas. Ao mesmo tempo busca contemplar a expectativa do público vidente, na perspectiva de
um desenho universal, como enfatiza Pereira et al (2017). A tecnologia de fabricação digital facilita
também a reprodução dos mapas para serem caracterizados por diferentes linguagens. E, o
sistema de “gavetas” proposto na maquete permite uma dinâmica de disponibilizar os mapas
táteis e portáteis de acordo então com as especificidades de um determinado visitante do Museu.
A mesma maquete permite variar os tipos de mapas. Outra questão é a possibilidade dos mapas
serem reproduzidos em material acrílico, permitindo a higienização mais efetiva, tendo em vista o
uso tátil.
4. Considerações Finais
Referências
BORDA, A. Tactile narratives about an architecture’s ornaments. In: SIGRADI XXI, CONGRESSO DA
SOCIEDADE IBERO-AMERICANA DE GRÁFICA DIGITAL. Anais... Chile: SIGRADI, 2017. p. 1-6.
BRAGA, K.C.; ALMEIDA, R.; BORDA A. Produção e Experimentação de um Mapa Tátil Portátil: Caso
Aplicado Junto à Casa do Conselheiro. In: V Congresso de Extensão e Cultura da UFPel, 2016,
Pelotas. Anais… V CEC, 2016, p. 158 - 161.
ORNSTEIN, S.W. (org.). Desenho universal: caminhos da acessibilidade no Brasil. São Paulo:
Annablume, 2010.
PALLASMAA, Juhani. (2011). Os olhos da pele: a arquitetura e os sentidos. Porto Alegre:
Bookman.
PEREIRA, C.; HEITOR, T.; HEYLIGHEN, A. Exploring invisibility through multisensory spatial research
methods. In: EUROPEAN CONGRESS OF QUALITATIVE INQUIRY, 2017, Leuven. Proceedings
Quality and Reflexivity in Qualitative Inquiry. p. 9-18. Disponível em:
<https://kuleuvencongres.be/ECQI2018/ecqi-2017-proceedings.pdf>. Acesso em: 26 set. 2018.
PERONTI, G. VEIGA, M. BORDA, A. A extensão da percepção: uma experiencia da produção de
modelos táteis para descrever a ambiência gerada pela clarabóia do Casarão 8, Pelotas, RS. In: III
Congresso de Extenção e Cultura da UFPel, 2016, Pelotas. Anais… III CEC, 2016, p. 48-51.
SARRAF, V.P. (2013). A Comunicação dos sentidos dos sentidos nos espaços culturais brasileiros:
estratégias de medições e acessibilidade para as pessoas com suas diferenças. 235p. Tese de
Doutorado – Programa de Pós-graduação em Comunicação e Semiótica, PUC/São Paulo
SPERLING, D. M.; VANDIER, I; SCHEEREN, R. Sentir o espaço: projeto com modelos táteis. In: XIX
Congresso da Sociedade Ibero-americana de Gráfica Digital 2015, novembro 2015 , vol.2, num.3. p.
108 – 112.
Publicação de literatura multiformato para crianças
Multi-format literature publication for children
Resumo
Esta pesquisa tem como objetivo estudar técnicas e formatos para a produção de uma
publicação de literatura multiformato para crianças, para promover a inclusão social de crianças
com necessidades educacionais especiais dentro e fora do ambiente escolar, dando a todos
oportunidades iguais de leitura e comunicação. A partir do embasamento teórico e metodológico,
foi possível fazer a caracterização do público-alvo, a análise dos possíveis formatos de publicação
de livros para crianças, a análise de similares e a análise de processos e materiais para o
desenvolvimento do projeto. Como resultado, foi possível identificar diretrizes para a produção de
um livro multiformato que possibilitasse a produção de um protótipo funcional da publicação para
fins de verificação futura com o público-alvo.
Palavras-chave: publicação multiformato; acessibilidade; literatura para crianças.
Abstract
This research aims to study techniques and formats for producing a multi-format literature
publication for children, to promote the social inclusion of children with special educational needs
inside and outside the school environment, giving equal opportunities for all to read and to
communicate. From the theoretical and methodological basis, it possible to create the
characterization of the target audience, the analysis of the possible formats for publication of
children's books, the similar analysis, the analysis of processes and materials for the development
of the project. As a result, it was possible to identify guidelines for producing a multi-format
publication that enabled the production of a functional prototype of the publication for future
verification with the intended audience.
Keywords: multi-format publishing; accessibility; literature for children.
Introdução
Conforme o censo das pessoas com deficiência de 2010, o total de 61,1% das pessoas com
algum tipo de deficiência não possui instrução ou fundamental completo, enquanto para as
pessoas sem nenhuma deficiência o percentual cai para 38,2% (BRASIL, 2010). Os números
expõem o caráter excludente da educação brasileira, revelando que o acesso à direitos básicos,
como educação pelas pessoas com deficiência no Brasil tem sido dificultado.
Assim, este trabalho pretende contribuir para o desenvolvimento de uma publicação de
literatura multiformato para crianças que atenda às diferentes necessidades educacionais
especiais, diminuindo a lacuna existente entre as pessoas com e sem deficiência na educação
brasileira. Acredita-se que os livros multiformato podem promover a interação entre as crianças
com e sem deficiência e seus colegas e familiares em diferentes contextos sociais, potencializando
o desenvolvimento cognitivo, social, psicológico e emocional, dando oportunidade para que todos
tenham acesso à mesma narrativa.
Delimitou-se que o público-alvo são as crianças em fase de alfabetização, a partir do
segundo ano do ensino fundamental. Foi desenvolvido para o projeto um texto autoral em
colaboração com uma aluna da Licenciatura em História da UFRGS, do gênero fantasia, sendo
abordadas questões que tratam de bullying e de diferenças. O propósito do material é ser
distribuído preferencialmente para escolas da rede pública de ensino e ser disponibilizado online
para download pelos pais que tenham interesse de trabalhar com as crianças também fora do
ambiente escolar.
1. Metodologia
2. Fundamentação teórica
4. Considerações finais
Referências
Resumo
Abstract
From research on drawing teaching models for visually impaired people, along with criteria
for the production of tactile books pointed by international institutions, a series of guidelines for
the representation of tactile figures for stimulating children with disabilities has been established
visual. These guidelines gave rise to a guide-type publication designed under the design process of
graphic editorial design. The purpose of the guide is to be an instrument to assist the person of the
mediator (educators, parents, family members or caregivers) in the elaboration of tactile figures,
so that the figures can be used to motivate children from the first months of life, using touch for
knowledge and interaction with your world. Children in this age group often suffer cognitive
development losses due to lack of stimulation, which often impedes the recognition of their
surroundings and socialization. Still, with the tactile stimulation since childhood, it is estimated to
insert the search for recognition of figures as part of learning for the perception of more complex
images in the future of these children.
Keywords: visual impairment; child development; graphic design.
Introdução
A visão é o canal mais importante de comunicação de uma pessoa com o mundo exterior.
Tal como a audição, a visão capta registros do ambiente, próximos ou distantes, e permite ao
cérebro organizar as informações trazidas pelos outros órgãos dos sentidos. Quando a visão falta,
é preciso recorrer a outro sistema-guia (VIGOTSKY, 2011). O principal deles, para os deficientes
visuais, é o tato. É preciso aprender a “ver” com as mãos. E esse aprendizado, se não for motivado,
pode nunca acontecer.
Muitas são as iniciativas de tentar transformar em táteis as ilustrações que foram
elaboradas para serem vistas. Utilizam-se recursos de contorno em relevo, termoformagem,
pontilhismo, colagens com texturas, entre outros. Contudo, os esforços se concentram, na maior
parte das vezes, em aproveitar as ilustrações existentes, sem haver uma reelaboração das
ilustrações de acordo com as características de percepção das pessoas com deficiência visual. Até
mesmo, porque, ainda pouco se sabe sobre isso. “Há razões para pensar que muitas vezes a forma
como cegos representam mentalmente os objetos é incompatível com a maneira como os
videntes os representam normalmente no desenho” (VALENTE, 2010, p. 76).
Sendo assim, duas premissas se fazem presente. Primeiro, não é possível se exigir o
reconhecimento de figuras táteis sem antes educar para isso. Não adianta usar de recursos em
relevo e texturas se as pessoas não são educadas para entender essas imagens. Segundo, “para
que as pessoas cegas possam usufruir de imagens táteis mais complexas, parece essencial a
aprendizagem de desenhos mais simples ou que tenham tido contato com este tipo de forma de
representação desde a infância”, (VALENTE, 2010, p. 78).
Sendo assim, entende-se que a adequada elaboração de um instrumento que oriente
educadores, pais, familiares e cuidadores a motivar as crianças até os cinco anos com deficiência
visual ao uso do tato, pode contribuir para a educação de percepção e compreensão de imagens
táteis mais complexas quando adultas.
1. Fundamentação teórica
2. Metodologia
O guia foi criado, diagramado e finalizado. Após, foi submetido à análise de educadoras
com experiência na educação de crianças com deficiência visual. As educadoras foram
selecionadas pelo seu conhecimento de formação e pelo convívio com rotinas que exigem
estímulos e uso do tato de diferentes maneiras. Para a análise, foi estabelecido um encontro em
grupo, com cinco participantes, sendo uma delas uma pessoa com deficiência visual. A análise do
aconteceu por meio de uma entrevista semiestruturada, onde foram discutidas a relevância e
clareza das informações, a estrutura do guia e a indicação das instruções essenciais à criação de
figuras táteis. Estabeleceu-se um roteiro inicial com questões apoiadas em teorias e hipóteses de
interesse ao estudo, buscando tratar da amplitude do tema de acordo com as entrevistadas.
A maior parte das instruções apontadas no guia estavam alinhadas com as práticas das
educadoras, de acordo com suas experiências com pessoas com deficiência visual. Orientações
sobre tamanho de fonte, suportes, materiais, usos das figuras e referência ao Braille foram
considerados adequados na maneira como apresentados no guia. Como ponto a ser repensado, a
análise apontou a importância da figura do mediador. As educadoras solicitaram que ficasse claro
e de forma destacada as orientações sobre como a pessoa do mediador é importante na
convivência com uma criança com deficiência visual, quais os cuidados e acompanhamentos
necessários que precisam ter no momento de representar uma figura tátil e como direcionar a
percepção do tato com as crianças. Destacaram a importância de salientar que o papel do
mediador não está restrito apenas ao educador, mas cabe, também, aos pais, familiares e
cuidadores. Entendem que as figuras podem ter o seu uso ampliado para além de livros, já que o
estímulo tátil em crianças pequenas acontece, também, por meio de lâminas caixas, cartazes e
outros brinquedos. Ainda, discutiu-se muito a respeito da caracterização do que seria o estímulo
tátil precoce, já que para muitas crianças, com idade acima dos cinco anos, muitas vezes, faltam os
ensinamentos básicos que deveriam ter sido passados quando as crianças eram pequenas.
4. Considerações finais
Por mais que critérios de reprodução de figuras táteis eficazes já não sejam uma novidade
na sua exploração, uma publicação que concentre os principais deles e ainda os apresente de
forma criativa e de fácil leitura, com acesso fácil, representa uma inovação para o meio de
educação de crianças com deficiência visual. É preciso facilitar a compreensão e a aplicação das
figuras pelos educadores, pais e familiares, para que as crianças com deficiência visual se sintam
motivadas a explorar pelo tato o meio no qual vivem. Com isso, educando o tato e a percepção
háptica, estarão mais próximas de entender e compreender as imagens táteis ao longo da vida.
Referências
CORREA SILVA, María del Pilar. Imagen táctil: una representación del mundo. Barcelona, 2008.
DUARTE, Maria Lúcia Batezat e PIEKAS, Mari Ines (org). Desenho infantil em pesquisa: imagens
visuais e táteis. Curitiba, PR: Insight, 2011
REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. 25 ed. Rio de
Janeiro: Vozes, 2014.
ROMANI, Elizabeth. Design do livro tátil ilustrado. São Paulo, 2016. Tese de doutorado.
SÁ, Elizabeth Dias et al. Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Visual.
SEESP/SEED/MEC: Brasília, 2007. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf
/aee_dv.pdf >. Acesso em: 2016
VIGOTSKY, L. S. A Defectologia e o estudo do desenvolvimento e da educação da criança
anormal. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 37, n. 4, p. 861-870, dez. 2011.
VIGOTSKY, L. S. O desenvolvimento psicológico na infância. Tradução: Claudia Berliner. São Paulo:
Martins Fontes, 1999.
Licenciatura em Teatro: por um currículo mais inclusivo
Degree in Theatre: for a more inclusive curriculum
Mateus Gonçalves, mestre em Artes Cênicas;
Anderson Fabrício Teixeira Soares, licenciado em Teatro;
Maria Feitosa de Lima, licenciada em Teatro
Universidade Regional do Cariri – URCA
mateus76@yahoo.com
Resumo
O trabalho apresenta a trajetória para a inserção do debate e dos estudos sobre inclusão e
acessibilidade na grade curricular do Curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Regional do
Cariri (URCA), situada em Crato/CE. A reformulação curricular proposta tem origem nas reflexões
iniciadas no estágio curricular desenvolvido por estudantes deste curso junto à Associação de Pais
e Amigos dos Excepcionais (APAE), um dos campos de atuação escolhidos. A partir daí houve a
reflexão no Núcleo Docente Estruturante do curso, da necessidade de se implementar uma
disciplina específica para a abordagem mais aprofundada e adequada sobre acessibilidade cultural
e inclusão no âmbito do teatro. A disciplina criada foi a de Educação Inclusiva e Acessibilidade e
passará a compor o primeiro semestre do curso a partir de sua aprovação pelo Conselho Estadual
de educação do Ceará.
Palavras-chave: teatro, acessibilidade, currículo.
Abstract
The work presents the trajectory for the insertion of the debate and studies on inclusion
and accessibility in the curriculum of the undergraduate course in theatre of the Regional
University of Cariri (URCA), located in Crato/CE. The proposed curricular redesign originated in the
reflections initiated in the curricular internship developed by students of this course with the
association of parents and Friends of the Exceptional (APAE), one of the chosen fields of action.
From there there was the reflection in the structuring Faculty of the course, the need to
implement a specific discipline for the more thorough and appropriate approach on cultural
accessibility and inclusion within the theater. The discipline created was that of inclusive
education and accessibility and will compose the first semester of the course from its approval by
the State Council of Education of Ceará.
Keywords: theatre, accessibility, curriculum.
Introdução
O teatro pode ser inclusivo, assim como qualquer processo artístico. Entretanto não
podemos afirmar que é inclusivo nas práticas a que costumamos ter acesso, porque para isso seria
necessário que todos os agentes envolvidos em seu processo criativo e pedagógico tivessem
conhecimentos específicos e práticas apropriadas, desde o ponto de vista da estrutura
organizacional e física, até a construção do texto dramático e espaço cênico apropriado e
adaptado. Isto ainda não é uma realidade na grande maioria das situações. Um fator importante
para a alteração dessa realidade no campo do teatro acreditamos ser a inclusão, nos diferentes
currículos dos diferentes níveis de ensino, de discussões e estudos sobre inclusão e acessibilidade
cultural. Assim, percebemos que a formação de professoras e professores de teatro preocupados
com a efetiva inclusão de todas as pessoas, é algo de grande importância.
Este trabalho tem por objetivo apresentar como se deu a inclusão da temática da
acessibilidade cultural no currículo do Curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Regional
do Cariri-URCA, a partir da experiência vivenciada pelos autores na concretização dessa proposta.
Será narrada a trajetória percorrida desde a percepção da ausência desta temática no currículo do
curso, até a criação e proposta de inclusão de um novo componente curricular com foco na
educação inclusiva e no debate sobre acessibilidade.
Já contamos em nosso país com uma legislação bastante moderna no que diz respeito aos
direitos das pessoas com deficiência, mas é preciso que a sociedade como um todo, e de maneira
especial os cursos de formação de professoras e professores de teatro, entenda a urgência de
debatermos e concretizarmos tais leis no cotidiano de nossas instituições. O currículo aqui é
entendido como campo de debate e trincheira das várias lutas e desafios que são travados
diariamente por pessoas com deficiência, ao tentarem acessar equipamentos culturais e
educacionais. Em diferentes instituições de ensino superior, a inclusão da temática da
acessibilidade cultural ainda é restrita a disciplinas como LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais, que é
obrigatória a partir de uma diretriz estabelecida pelo Conselho Nacional de Ensino Superior do
MEC – Ministério da Educação.
Ao nos encontrarmos no Curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Regional do
Cariri-URCA (Crato/CE), Mateus Gonçalves como professor do curso e Anderson Fabrício e Maria
como licenciandos, iniciamos uma reflexão sobre as possibilidades de pesquisar e entender
melhor a complexidade que envolve a inclusão de pessoas com deficiência no teatro. Esse debate
teve início quando em um dos estágios curriculares (em 2016), o campo de atuação escolhido foi a
Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) em Juazeiro do Norte/CE. Ali teve início um
processo de estudo que foi se desenvolvendo até a escrita dos trabalhos de conclusão de curso,
ambos abordando as relações entre as pessoas com deficiência e o teatro. Nossos estudos tiveram
grande impulso com o encontro de um termo que até então desconhecíamos: capacitismo. Ao
estudarmos seu significado e o quanto o preconceito contra pessoas com deficiência acaba por ser
algo estrutural em nossa sociedade, percebemos que tínhamos que propor algo para que durante
a formação na licenciatura, estudantes e professoras/professores estudassem e debatessem de
maneira mais aprofundada a educação inclusiva.
Todo debate que ocorria durante o estágio e após sua finalização, também era
desenvolvido no Núcleo Docente Estruturante (NDE) do referido curso de licenciatura. Como o
professor que orientava este estágio também atuava como coordenador do curso, e
consequentemente era presidente do NDE, a pauta da inclusão e da acessibilidade cultural teve
espaço na análise curricular em curso naquele Núcleo. Além das inquietações promovidas durante
o estágio e nos estudos subsequentes, também houve a problematização de nosso currículo pela
Pró-Reitoria de Graduação da Universidade que entrou em contato o NDE para que aplicasse a lei
que incluía a disciplina de Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) em nosso currículo, como disciplina
obrigatória.
Ao debatermos mais profundamente essa alteração curricular, percebemos que para
darmos conta de todas as questões que pensávamos ser pertinentes na formação de professoras e
professores de teatro, somente a inclusão da LIBRAS como disciplina obrigatória em nosso
currículo não seria suficiente. Obviamente que sensibilizar futuras professoras e professores de
teatro para as questões da surdez, via essa disciplina, era algo muitíssimo importante, mas não
dava conta de tantas outras questões que efetivamente possibilitam uma educação inclusiva.
Acabamos por propor a criação de uma disciplina que abordasse essas questões de
maneira mais abrangente. Assim houve em 2018, a criação da disciplina Educação Inclusiva e
Acessibilidade, pensada para ocorrer no primeiro semestre do Curso, com a seguinte ementa:
Após essa proposição, o colegiado do Curso aprovou por unanimidade sua inserção na
grade curricular, o que passará a ocorrer assim que os trâmites institucionais forem concluídos e a
reformulação curricular aprovada pelo Conselho Estadual de Educação do Ceará.
Acreditamos que toda a trajetória percorrida, bem como os desafios que forem surgindo
na implementação desta nova disciplina, são parte importante na construção de uma educação
inclusiva de fato, onde as pessoas com deficiência possam ter acesso ao fazer, estudar, poetizar e
fruir teatro. À medida que estudantes forem sendo recebidos com uma disciplina que
problematize as questões relativas à inclusão e acessibilidade, toda sua formação subsequente
estará sensível a estas questões e novas propostas, atividades, estudos e desafios passarão a
compor sua formação profissional como um todo.
Referências
LIMA, Maria Feitosa de & SOARES, Anderson Fabrício Teixeira. CAPACITISMO: uma visão crítica a
partir da experiência de estágio. Revista online V ANAIS JITOU. Rio de Janeiro, 2018.
MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão escolar: o que é? por quê? como fazer? São Paulo:
Moderna, 2003.
Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura em Teatro. Departamento de Teatro. Universidade
Regional do Cariri/URCA. Crato: 2018.
Subjetividade e emoção em um roteiro de audiodescrição
Subjectivity and emotion in an audiodescription script
Milena S. Eich, Doutoranda em Educação;
Carla B. Valentini, Dra. em Informática na Educação
Universidade de Caxias do Sul – UCS
milenaseich@gmail.com; carlabeam@gmail.com
Resumo
Abstract
The study aims to think over the presence of subjectivity and emotion in the
audiodescription script of the animated short film Piper (2016). The script writing integrates the
accessibility proposal of the Virtual Learning Object Incluir. It is considered that the presence of
the audiodescriber’s subjectivity and emotion when elaborating a script of AD is one of the
possible ways to qualify the final result and provide the visually disable people with cultural
enjoyment and access to information in the most diverse contexts.
Keywords: audiodescription; subjectivity; emotion.
Introdução
1. Audiodescrição
2. Metodologia
O estudo foi realizado como uma das etapas da pesquisa Pesquisando com pessoas com
deficiência visual para construção de acessibilidade para o Objeto de Aprendizagem Incluir,
financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pelo
Programa de Pós Graduação em Educação (PPGEDU) da Universidade de Caxias do Sul/RS. O grupo
de pesquisa objetiva desenvolver e implementar uma proposta de acessibilidade para todo o OVA
Incluir, bem como avaliar os módulos de Tecnologia Assistiva e Deficiência Visual (DV). Nas etapas
da pesquisa, em um primeiro momento, realizou-se a análise do objeto com vistas a identificar o
conteúdo imagético presente e que precisaria ser audiodescrito para que as PcDV tivessem acesso
aos vídeos, fotos, gráficos e jogos inseridos no OVA Incluir com autonomia. Após, passou-se a
etapa de roteirizar o conteúdo identificado. Nesta etapa, roteirista e consultor trabalharam em
conjunto para construir a acessibilidade via AD. Assim, como forma de apresentar algumas
reflexões advindas do processo de roteirização, na próxima seção traremos alguns excertos de um
dos roteiros elaborados, a fim de apontar a presença da subjetividade e da emoção como aspectos
indissociáveis do ato de roteirizar.
Para fins de análise fez-se uso do conteúdo imagético presente no submódulo Imagens e
Palavras, que utiliza o teaser do curta metragem de animação Piper (2016) como motor para
provocar a reflexão dos usuários sobre deficiência visual e a audiodescrição.
Assumindo-se a audiodescrição como uma modalidade tradutória que é permeada pelo
modo de ver o mundo, pelo contexto social, pelas crenças e até pela idade do audiodescritor,
considera-se que a subjetividade desse profissional está impregnada no roteiro por ele elaborado.
Por esse motivo, entende-se que não há como um audiodescritor roteirizar um conteúdo
imagético de forma objetiva, sem marcas pessoais e de estilo. Conforme Araújo (2017, p.36) se a
objetividade existisse “... todos os audiodescritores priorizariam a mesma informação visual e
todas as audiodescrições seriam iguais. Segundo essa concepção de tradução, ao fazermos uma
AD, as soluções estariam fora do audiodescritor e não seriam fruto de sua análise da situação a ser
descrita.
A primeira versão, elaborada no subtitle workshop 6e salva no bloco de notas, gerou um
primeiro roteiro, que foi enviado por e-mail ao consultor para revisão. A partir das sugestões do
6
Para mais informações visite o site: www.urusoft.net/ Acesso em: 29 de jul. 2019.
consultor foram feitos ajustes e a segunda versão foi enviada novamente a ele que a aprovou para
posterior narração.
Roteiro versão 1
1
00:00:00,000 --> 00:00:05,109
Um passarinho com peninhas cinza e branca corre pela areia da praia em direção ao mar.
2
00:00:06,125 --> 00:00:12,420
Lá, encontra sua mamãe. Ela bica a areia a procura de mariscos. Com o biquinho aberto o
passarinho espera pelo alimento.
3
00:00:12,856 --> 00:00:15,157
Com a cabeça, a mamãe empurra o passarinho à frente.
4
00:00:17,974 --> 00:00:20,958
Ele enfia o biquinho na areia. Uma conchinha se prende ao bico.
5
00:00:21,331 --> 00:00:24,688
Chacoalha a cabecinha. Tenta tirar a conchinha com os pezinhos.
A partir das interações realizadas entre o roteirista e o consultor, alguns aspectos podem
ser ressaltados, dentre eles a subjetividade. No caso da primeira versão do roteiro de Piper
observa-se presença da subjetividade do audiodescritor roteirista. Este traz sua marca
interpretativa em que opta pelo uso de palavras como mamãe (pela forma como a fêmea trata o
filhote) e mariscos (interpretação dada por conta de estes estarem presentes na beira da praia).
Na revisão feita pelo consultor, este destacou em algumas inserções a questão da
interpretação (subjetividade do roteirista), que considerou excessivas (vide inserção 2 abaixo).
2
00:00:06,125 --> 00:00:12,420
4. Considerações Finais
A elaboração de uma audiodescrição não é trabalho simples, mas sim um trabalho que
requer atenção, sensibilidade e conhecimentos diversos. Portanto, acredita-se que não negar a
subjetividade e a emoção quando da escrita do roteiro é um dos caminhos possíveis para
qualificar o resultado final e proporcionar às PcDV a fruição cultural e o acesso à informação nos
contextos sociais e educacionais.
Referências
Resumo
O presente trabalho busca trazer reflexões acerca da confecção de mapas táteis, a partir da
ótica dos ambientes culturais e das experiências desenvolvidas no Projeto de Extensão “Um
Museu Para todos: adaptação da exposição Memórias da Terra para inclusão da pessoa com
deficiência” do Museu da Geodiversidade, na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Através da
análise de oito protótipos diferentes, são abordadas questões como materiais adequados e
inadequados, legibilidade e compatibilização com o espaço físico, metodologias de confecção e
identificação de barreiras no espaço expositivo, à luz das definições de Sassaki. São discutidas,
ainda, a NBR 9050 (com recorte nas especificações para mapas táteis, de 2004), a falta de
normatização para ambientes arquitetônicos e as consequências desta ausência não só para a
elaboração, mas, principalmente, para a legibilidade de mapas. Para isto, o Projeto tem concebido
esta ferramenta de modo transdisciplinar e articulado, envolvendo graduandos e profissionais de
áreas diversas para enriquecimento da troca de experiências multissensoriais, a fim de
democratizar a vivência dentro do espaço museológico e solidificar a cidadania cultural.
Palavras-chave: acessibilidade cultural, inclusão, cidadania cultural.
Abstract
The present work aims to bring reflections about the making of tactile maps, from the
perspective of cultural ambiences and the experiences developed in the Extension Project “A
Museum for All: adaptation of the Memories of the Earth exhibition for inclusion of the disabled”
at the Museu da Geodiversidade, in the Federal University of Rio de Janeiro. Through the analysis
of eight different prototypes, questions as adequate or inadequate materials, readability and
compatibility with the physical space, methodologies of confection and identification of barriers in
the exhibition space are discussed, from Sassaki’s definitions. In addition, the NBR 9050 (based on
the specifications for tactile maps, 2004), the absence of standardization for architectural spaces
and the consequences of this lack are also discussed not only for the elaboration, but mainly for
the readability of maps. For this purpose, the Project has conceived this resource in a
transdisciplinary and articulated way, involving undergraduates and professionals from different
areas to enrich the exchange of multisensory experiences, in order to democratize the experience
within the museological space and solidify the cultural citizenship.
Keywords: cultural accessibility, inclusion, cultural citizenship.
Introdução
Os museus podem ser entendidos como espaços de articulação entre ciência, cultura e
indivíduo, que preservam a memória cultural através dos patrimônios material e imaterial de uma
sociedade e suas transformações. Nesse sentido, a cultura ali retratada deve constituir-se de
forma heterogênea, buscando construir um desenvolvimento social apoiado no respeito às
identidades e à pluralidade cultural, onde as interações estabelecidas dentro do ambiente
museológico devam ser, não só uma forma de se reconhecer constituinte de uma cultura, mas de
conhecer e acolher o outro em sua diferença, realçando a diversidade.
Estas interações permeiam, para além da função social dos museus, os direitos à cultura e
ao lazer, para todos os indivíduos, sob quaisquer especificidades. E, pautado na defesa desses
direitos (previstos expressamente na Declaração Universal dos Direitos Humanos e normatizados
na Constituição Federal Brasileira de 1988), o Museu da Geodiversidade objetiva fortalecer a
construção de espaços culturais acessíveis e que estimulem a consciência inclusiva.
O Projeto de Extensão “Um museu para todos: adaptação da exposição Memórias da Terra
para inclusão da pessoa com deficiência”, afim de expandir o alcance do conhecimento
geocientífico, tem desenvolvido estratégias, ações e ferramentas de acessibilidade, que são
concebidas de modo transdisciplinar e articulado, envolvendo graduandos e profissionais de áreas
diversas – como Geologia, Geografia, Terapia Ocupacional, Arquitetura e Letras-Libras.
Como desdobramento de uma das ações desenvolvidas pelo Projeto, há o mapa tátil, que
consiste em auxiliar a orientação espacial através da representação da exposição e da localização
de elementos relevantes, como acessos, acervos manuseáveis e possíveis obstáculos (paredes,
desníveis, expositores, etc.). Sendo assim, o presente trabalho traz reflexões acerca do
desenvolvimento do mapa tátil, que tangenciam questões de legibilidade, correspondência com o
espaço físico, escala, representações, materiais e a carência de trabalhos de normatização para
este recurso.
1. Fundamentação teórica
Como forma de garantir o acesso à cultura, a Lei 4.317/2009, que institui a Política Distrital
para Integração da Pessoa com Deficiência, consolida as normas de proteção e dá outras
providências, ressalta em seu parágrafo único, do Capítulo 5, Art. 67, a obrigatoriedade da
adaptação das instalações culturais, desportivas, de turismo e de lazer, para permitir o acesso, a
circulação e a permanência da pessoa com deficiência, de acordo com a legislação em vigor.
Ao trazer a função social dos museus, Castro (2018) atenta sobre a necessidade de um
espaço museológico atuar como locais para a fruição, o conhecimento e autoconhecimento e a
afirmação da identidade sociocultural de todos os seus frequentadores. Deste modo, é preciso
considerar se a forma como o museu se comunica é universal, eliminando as barreiras existentes.
Segundo Sassaki (2009), os conceitos de acessibilidade e barreiras são indissociáveis, uma
vez que cada dimensão da acessibilidade representa a ausência de uma barreira, totalizando seis
dimensões, a saber: arquitetônica (sem barreiras físicas), comunicacional (sem barreiras na
comunicação entre pessoas), metodológica (sem barreiras nos métodos e técnicas de lazer,
trabalho, educação, etc.), instrumental (sem barreiras de instrumentos, ferramentas, utensílios,
etc.), programática (sem barreiras embutidas em políticas públicas, legislações, normas, etc.) e
atitudinal (sem preconceitos, estereótipos, estigmas e discriminações nos comportamentos da
sociedade para pessoas que têm deficiência). Ou seja, sendo a acessibilidade uma qualidade do
meio, esta só pode ser plenamente alcançada quando todas as suas dimensões forem atendidas
ou quando todas as barreiras do meio forem inexistentes.
A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (LBI ou Estatuto da Pessoa com
Deficiência), de 2015, trouxe consigo diversas atualizações, dentre elas, adequações de conceitos
anteriormente previstos – como as definições dadas pela Lei 10.098/2000 (que estabelece normas
gerais e critérios básicos para a promoção de acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência¹
ou com mobilidade reduzida). Segundo a definição em vigência, pessoa com deficiência é:
Aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou
sensorial, e que, ao interagir com barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva
na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas (BRASIL, 2015).
Sendo assim, para a elaboração do mapa tátil, conhecer a exposição e localizar os acervos
manuseáveis, bem como possíveis obstáculos e barreiras, é determinante para um projeto com
linguagem simples e objetiva, uma vez que a má representação desses elementos, bem como a má
disposição da sinalização tátil, interfira diretamente na locomoção autônoma e segura dentro do
espaço museológico.
Através de etapas vem sendo realizada a confecção do mapa tátil de localização. Protótipos
elaborados no Laboratório de Modelos e Fabricação Digital – LAMO, da Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo da UFRJ tem sido utilizados para estudos sobre a efetiva funcionalidade do recurso
que não tem como público alvo apenas as pessoas cegas e com deficiência visual, mas sim todo o
público que através da representação poderá se orientar e conhecer o espaço do Museu da
Geodiversidade.
O primeiro protótipo foi elaborado em 2015, à mão, em papel EVA, para dimensionamento
e setorização dos módulos da exposição, onde os únicos obstáculos representados eram as
paredes, também em E.V.A (borracha sintética). O segundo protótipo (2016) foi feito com papel
Paraná, e além das paredes, também foram indicados o percurso do piso tátil, os acervos
manuseáveis, desníveis e banheiros. A partir do segundo protótipo, foi possível discutir questões
acerca do material, da legibilidade da linguagem tátil e da elaboração de legendas em Braille.
Figura 1 e 2 - Primeiro e segundo protótipos do mapa tátil (Fonte: Arquivo pessoal das autoras).
[Início da descrição. Figura 1: Imagem retangular. Fundo bege. A planta baixa recortada manualmente em E.V.A em
cores variadas busca contrastes e nos limites das salas foram usadas tiras de E.V.A. preto. Abaixo há legenda impressa
a tinta e fixada a cima legenda feita em acetato com reglete de bolso positiva. Figura 2: Imagem retangular. Fundo
preto, na parte superior a esquerda na cor bege há a logo do MGeo, ao seu lado esta escrito “MGEO”, Abaixo “UFRJ” e
abaixo esta as siglas em Braille. A planta baixa na cor bege demonstra sugestão de roteiro para visita, acervos
disponíveis ao toque, banheiros e uma sequência numérica para localização dos espaços. Abaixo do mapa há legenda
informando todos os símbolos contidos no mapa. Fim da descrição.]
Quanto à legibilidade da linguagem tátil, a partir das avaliações, esta se mostrou ineficaz,
dada a quantidade de informações diferentes e a quantidade de salas, dificultando a percepção do
espaço físico do Museu. Assim sendo, as representações dos acervos manuseáveis foram retiradas
do mapa tátil para serem dispostas por módulos, que, acrescidos da descrição do conteúdo de
cada sala, constituiriam o Livro em Braille² (outra ação desenvolvida pelo Projeto),
complementando o Mapa Tátil com informações mais específicas.
A divisão de informações entre gerais (acessos, obstáculos físicos e piso tátil, dispostas no
mapa tátil) e específicas (acervo tátil e conhecimentos geológicos, dispostas no Livro em Braille)
tem como principais funções otimizar a compreensão do ambiente museológico e enriquecer a
experiência dentro dele. Referente às legendas em Braille, foram utilizados acetato e plástico vinil
(PS) para testes. O acetato, por ser um material transparente e parecer bom, pois ficaria discreto,
prejudica o acabamento, uma vez que o material utilizado para fixação da legenda fica aparente. O
PS, embora tenha bastante durabilidade (pois não é afetado pela corrosão) e não prejudique o
acabamento, também seria fixado por colagem, resultando em manutenções periódicas das
legendas, pois as mesmas, enventualmente, descolariam da base com o manuseio do mapa.
A escrita Braille, em ambas as legendas, foi feita manualmente com o auxílio de uma
Reglete de bolso positiva, a tradução para braille foi feita através do Braille Fácil 4.0, um programa
desenvolvido pelo Núcleo de Computação Eletrônica (NCE) da UFRJ e disponível para download
gratuitamente.
Tendo as sinalizações repensadas a partir dos dois primeiros protótipos, os posteriores
foram feitos em acrílico e reduzidos aos dois primeiros módulos da exposição para evitar o
desperdício do material, dada a dificuldade de aquisição das placas e do seu maior custo em
relação ao papel Paraná. Os acrílicos diferenciavam-se pelas cores contrastantes e espessuras
distintas, que variavam entre 2mm e 5mm, a saber: acrílico branco leitoso (2mm), acrílico amarelo
(4mm), acrílico azul (4mm) e acrílico translúcido (5mm).
Os principais itens de análise foram: Base de suporte, base principal, paredes, sinalização
tátil e simbologias. E com a combinação de diferentes cores e espessuras, confeccionamos três
protótipos distintos entre si para serem avaliados junto às pessoas com deficiência.
Em todos os três protótipos (3, 4 e 5, de 2017), as representações do piso tátil e das
legendas foram feitas em acrílico. Contudo, o material demonstrou-se inadequado devido a sua
rigidez e deformação ao entrar em contato com o calor da máquina a laser, especialmente no piso
tátil direcional e nas legendas (que possuem peças muito pequenas – menores que 1,5mm). Posto
isso, nos protótipos 6 e 7 (2018), o acrílico foi substituído por esferas inox, próprias para a escrita
Braille, tanto na legenda em si quanto na representação do piso tátil de alerta.
Além desta substituição, nos protótipos 6 e 7 foi possível testar dois tipos de
sistemas de fixação das esferas inox: o sistema de colagem e o sistema de encaixe. Entretanto,
apesar do aperfeiçoamento dos protótipos, o piso tátil direcional ainda carece de materiais
adequados – sendo, este, um desafio para os protótipos futuros.
3. Perspectivas futuras e considerações finais
Apesar da NBR 9050 trazer diretrizes à confecção de Mapas Táteis, estas diretrizes se
restringem à inclinação do mapa, ao dimensionamento da instalação (altura e reentrância para
cadeira de rodas) e às legendas em Braille. A falta de normatização, portanto, configura-se como
uma das maiores dificuldades da representação tátil de espaços arquitetônicos.
Ademais, os museus e espaços culturais, em geral, tem a peculiaridade de exposições
rotativas e/ou atualizações no posicionamento de acervos, que tem como consequência a
atualização do piso tátil. E, em março de 2018, foi inaugurado o módulo “Gondwana: a Terra em
movimento” na exposição Memórias da Terra, onde se fez necessário, a priori, a revisão do
projeto anterior para verificar sua aplicabilidade e correspondência com o espaço físico.
Uma das principais premissas do projeto é buscar atender ao lema “Nada Sobre Nós Sem
Nós”, inserindo a pessoa com deficiência em todos os processos de uma ação de inclusão, e não
apenas na validação final. Em visitas mediadas junto aos alunos da disciplina de Acessibilidade
Cultural do Departamento de Terapia Ocupacional, onde os visitantes com deficiências de diversas
especificidades são mediados pelo acervo no MGEO e a todo o momento trazem suas perspectivas
sobre as fruições e possíveis adequações para a exposição (como a altura de alguns suportes e
inclinação de legendas) que apontam barreiras existentes, o que contribuiu no projeto de piso tátil
que foi revisado e repensado considerando barreiras antes não apontadas. E, com a revisão de tais
barreiras, à luz de Sassaki, fez-se necessário o aumento da representação das mesmas no Mapa
Tátil e a atualização do Projeto de piso tátil, alterando a quantidade de pisos de alerta e o próprio
percurso em si.
Como próximos passos, no que tange ao mapa tátil, foi sugerido por alguns alunos da
disciplina de especialização em Acessibilidade Cultural, que o percurso do piso tátil fosse retirado
do mapa (uma vez que ele por si só, no próprio ambiente, guiaria o circuito expositivo) para a
inserção de novas barreiras e a reinserção dos acervos manuseáveis (apesar de constarem no Livro
em Braille), pois seriam informações mais significativas. Esta alteração auxiliaria também na
dificuldade de representação do piso tátil direcional, que, ainda sem material definido, não teria a
necessidade de ser representado. No entanto, todas as propostas de alterações, incluindo os
protótipos anteriores, serão consideradas para a confecção de protótipos futuros, a fim de
favorecer a permuta de experiências multissensoriais.
E, através do desenvolvimento do Projeto, o Museu da Geodiversidade tem se
solidificado, gradativamente, como um corpo atuante na busca pelo exercício igualitário da
cidadania, estabelecendo, assim, novos diálogos com a comunidade acadêmica e com a sociedade.
1
O conceito “pessoa portadora de deficiência” embora não seja adequado hoje, foi utilizado na Lei 10.098, de 19 de
dezembro de 2.000. A LBI, de 6 de julho de 2015 usa o conceito atualizado de “pessoa com deficiência”.
² Livro com o conteúdo escrito da exposição “Memórias da Terra” (MGeo/IGEO-UFRJ), tal como apresentação do
museu, texto de cada módulo, etiqueta do acervo disponível ao toque e outras informações complementares em
Braille e os mapas de cada módulo em ponto Braille no intuito de diminuir as barreiras comunicacionais do espaço
expositivo.
Referências
Resumo
Este trabalho é um relato de experiência com foco nas sensibilizações e oficinas realizadas
no Museu da Geodiversidade (IGEO/UFRJ) pelo projeto de extensão “Um museu para todos:
adaptação da exposição Memórias da Terra (MGeo-IGEO/UFRJ) para a inclusão da pessoa com
deficiência”. O projeto possui um forte caráter transdisciplinar entre os conhecimentos da
geografia, geologia, museologia, terapia ocupacional, arquitetura e urbanismo, letras-LIBRAS e
ciências da computação. As propostas de sensibilização e as oficinas têm como objetivo a
apresentação e discussão da acessibilidade cultural para pessoa com deficiência com enfoque na
dimensão atitudinal e tem se mostrado muito potente para se pensar e oportunizar a inclusão de
pessoas com deficiências em ambientes culturais. Por meio dessas ações tem sido possível
contribuir para a promoção da cidadania e do direito cultural da pessoa com deficiência dentro da
instituição e transpor tais discussões através do caráter extensionista do projeto que busca a
articulação com a comunidade, indo além dos muros institucionais.
Palavras-chave: Museu da Geodiversidade; Acessibilidade; Dimensão Atitudinal.
Abstract
This paper is an experience report focusing on awareness raising and workshops held at
the Geodiversity Museum (IGEO / UFRJ) by the extension project “A museum for all: adaptation of
the Memories of the Earth (MGeo-IGEO / UFRJ) exhibition to include disabled person ”. The
project has a strong transdisciplinary character among the knowledge of geography, geology,
museology, occupational therapy, architecture and urbanism, LIBRAS letters and computer
sciences. Awareness raising proposals and workshops aim to present and discuss cultural
accessibility for people with disabilities with a focus on the attitudinal dimension and have shown
very potent to think about and facilitate the inclusion of disabled persons in cultural
environments. Through these actions it has been possible to contribute to the promotion of
citizenship and cultural rights of persons with disabilities within the institution and to transpose
such discussions through the extension character of the project that seeks articulation with the
community, going beyond the institutional walls.
Keywords: Museu da Geodiversidade; Accessibility; Attitudinal Dimension.
Introdução
1. Fundamentação teórica
Com base nos conceitos desenvolvidos por Sassaki (2009), a acessibilidade se dá por meio
de seis dimensões que se atravessam. São elas: a arquitetônica relativa às barreiras físicas; a
programática que são através de políticas públicas, normas, legislações e etc; a comunicacional
nos meios de informação entre pessoas; metodológica nas diversas possibilidades dentro dos
processos de aprendizagem na educação, lazer e trabalho; instrumental referente às barreiras nas
ferramentas, utensílios, instrumentos e etc. e a atitudinal no que se referem aos estigmas,
preconceitos, estereótipos e discriminação que podem ser resultado da falta de conhecimento
sobre aspectos plurais e singulares das pessoas com deficiência. Tendo como base essas
dimensões essa proposta se dá no aspecto atitudinal em vista que as relações sociais que se
mostram como diferencial nas dinâmicas que ocorrem nos diversos espaços.
No contexto nacional, desde a Constituição de 1988, foram consolidados direitos
fundamentais para pleno desenvolvimento da cidadania do povo brasileiro. No que diz respeito à
pessoa com deficiência, apenas nos anos 2000 com a lei de nº 10.098 surgem às primeiras
orientações em relação a providências à promoção da acessibilidade. Na continuidade das
políticas públicas em 2008 o Brasil se torna signatário da Convenção Internacional das Pessoas
com Deficiência da Organização das Nações Unidas ocorrida em 2007.
Em 2015 com a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (LBI) – Lei nº 13.146,
passa a se discutir a deficiência através do modelo social deixando de lado modelo médico. Com
isso muito do que se relacionava à ineficiência no modelo médico, passa a ser visto como
diversidade no modelo social, entendendo também as deficiências das estruturas sociais para a
fruição das pessoas com deficiência e passa a considerar o contexto a que essa pessoa está
inserida. Dessa forma, buscou-se garantir o direito em diversas camadas do contexto social, tais
como saúde, educação, moradia, trabalho, assistência social, transporte e à mobilidade, a cultura,
ao esporte, ao turismo e ao lazer.
No que diz ao direito de acesso à cultura, Oliveira e Sarraf (2016, p. 152) afirmam:
A garantia do direito de acesso à cultura para pessoas com deficiência promove uma nova
dinâmica no universo da arte e das manifestações culturais, uma vez que acolhe e celebra a
diversidade de nossa sociedade e elimina barreiras de atitude que ainda existem, mas que
devem ser superadas.
Dentro dos espaços culturais uma estratégia para trabalhar a dimensão atitudinal é através
de capacitações, sensibilizações, rodas de conversa entre outras atividades de interação dialógica
entre pessoas com e sem deficiência. O que permite abordar aspectos relativos às diversas
especificidades humanas, bem como as deficiências dos espaços compartilhados que não dão
condições de fruição estética as pessoas com deficiência. Através dessa construção coletiva é
possível de forma interdisciplinar gerir tais espaços, tendo em vista a importância da participação
ativa de pessoas com deficiência para se pensar e implantar políticas públicas.
3. Perspectivas futuras
Referências
BRASIL. LEI Nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasília, DF, jul. 2015. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso em: jul.2018.
BRASIL. Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Estabelece normas gerais e critérios básicos
para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade
reduzida, e dá outras providências. Brasília, DF, set. 2000. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/lei10098.pdf Acesso em: set. 2018.
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Indicação de Políticas Públicas Culturais para Inclusão de Pessoas com Deficiência – Rio de
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M.; FAYAN, R. A. C. (Organizadores). Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência –
Comentada. Campinas: Fundação FEAC, 2016. p. 146-153. ISBN: 978-85-69685-03-6.
RESENDE, A. P. C., VITAL, F. M. de P. A convenção sobre Direitos das Pessoas com Deficiência
Comentada. Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Coordenadoria Nacional para
Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, 2008. 164 p.
SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: acessibilidade no lazer, trabalho e educação. Revista Nacional
de Reabilitação (Reação), São Paulo, Ano XII, mar./abr. 2009, p. 10-16.
Tecnologia como forma de acessibilidade e aproximação das
comunidades surdas: o éthos surdo na contemporaneidade.
Technology as a way of accessibility and approximation of the deaf communities: the
deafened ethos in contemporaneity.
Nelson Goettert, Doutorando em Letras pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul – UFRGS
nelsongoettert71@gmail.com
Karoline Kist, Mestranda em Educação pela Universidade Santa Cruz do Sul – UNISC
kakakist@gmail.com
Resumo
O presente estudo é uma aproximação das pesquisas realizadas pelos autores que teve
por objetivo discutir o desenvolvimento e o uso das Tecnologias Digitais pelos surdos no que tange
a aproximação e as formas de acessibilidade para a comunidade surda. As tecnologias têm sido um
desafio para a comunidade surda, no sentido de serem ferramentas para a busca pelo
conhecimento através da língua escrita nas redes sociais, mas também, tem facilitado de forma
mais rápida quando se viabiliza e facilita a utilização da Língua de Sinais. Com base nessas
questões, o presente estudo apresenta as seguintes questões: tais recursos tecnológicos
aproximam os surdos das diferentes regiões no que remete à comunicação? De que forma essas
tecnologias são incorporadas no éthos surdo? Para tentar responder a tal questionamento,
analisamos os recursos tecnológicos utilizados atualmente no Brasil e em outros países, os quais
têm proporcionado a comunicação dos surdos entre pares e com os ouvintes para a inclusão social
desses sujeitos. Verificamos as estratégias de uso de tecnologias digitais pelos surdos na aquisição
de novos conhecimentos, na comunicação, no desenvolvimento de uma segunda língua, em seus
cotidianos. Com o presente estudo, inferimos que a tecnologia está contribuindo para a vivência
diária dos sujeitos surdos, com relação a sua independência e autonomia, o que proporciona a sua
acessibilidade. Do mesmo modo, tais tecnologias têm proporcionado a comunicação entre surdos
de todas as regiões do seu país e com surdos de outros países. A tecnologia aproxima-os e elimina
barreiras territoriais.
Palavras-chave: Recursos tecnológicos; Acessibilidade comunicacional; Libras.
Abstract
The present study approximates the researches carried out by the authors who aimed to
discuss the development and use of digital technologies by the deaf regarding the approximation
and the forms of accessibility for the deaf community. The technologies have been a challenge for
the deaf community, in the sense of being tools for the search for knowledge through the
language written on social networks, but also, it has facilitated faster when it enables and
facilitates the use of Sign Language. Based on these questions, the present study presents the
following questions: are these technological resources approaching the deaf from different
regions in what refers to communication? How are these technologies incorporated into the
deaf éth? To try to respond to such questioning, we analyze the technological resources currently
used in Brazil and other countries, which have provided the communication of the deaf between
peers and with listeners for the social inclusion of these subjects. We verified the strategies of
using digital technologies by the deaf in acquiring new knowledge, in communication, in the
development of a second language, in their daily lives. With the present study, we infer that
technology is contributing to the daily experience of deaf subjects, with respect to their
independence and autonomy, which provides their accessibility. Similarly, such technologies have
provided communication between deaf people from all regions of their country and with deaf
people from other countries. Technology approaches them and eliminates territorial barriers.
Keywords: Regional variations. Technological Resources. Accessibility.
Introdução
A concepção em torno da surdez tem se modificado devido as lutas dos surdos, os quais
têm assumido papel importante em todos os espaços. Ao longo da história, constatam-se duas
concepções da surdez: a concepção clínico-patológica e a sócioantropatológica. Nesse estudo nos
deteremos na perspectiva socioantropatológica, em que: “A surdez não é concebida como uma
deficiência que impõe inúmeras restrições ao aluno, mas como uma diferença na forma como o
indivíduo terá acesso às informações do mundo” (PEREIRA C. et al., 2011, p. 21). Nessa concepção,
o sujeito surdo é considerado membro de uma comunidade minoritária com direito a língua e
cultura próprias. Sobre o termo que tange à cultura surda, Strobel (2008), a define da seguinte
forma: “o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de modificá-lo a fim de se torná-lo acessível
e habitável ajustando-os com as suas percepções visuais [...]. Isto significa que abrange a língua, as
ideias, as crenças, os costumes e os hábitos do povo surdo” (STROBEL, 2008 p. 24).
Compreender os surdos como usuários de outra língua se faz importante na concepção
socioantropatológica. Conforme a Lei 10.436/2002, a Libras é reconhecida como língua e como
forma de acessibilidade aos sujeitos surdos que a utilizam. Com o seu reconhecimento, faz-se
importante também a acessibilidade tecnológica aos sujeitos surdos.
O presente estudo é uma aproximação das pesquisas realizadas pelos autores que teve por
objetivo discutir o desenvolvimento e o uso das Tecnologias Digitais pelos surdos no que tange a
aproximação e as formas de acessibilidade para a comunidade surda. As tecnologias têm sido um
desafio para a comunidade surda, no sentido de serem ferramentas para a busca pelo
conhecimento através da língua escrita nas redes sociais, mas também, tem facilitado de forma
mais rápida quando se viabiliza e facilita a utilização da Língua de Sinais. Com base nessas
questões, o presente estudo apresenta as seguintes questões: tais recursos tecnológicos
aproximam os surdos das diferentes regiões no que remete à comunicação? De que forma essas
tecnologias são incorporadas no éthos surdo? Para tentar responder a tal questionamento,
analisamos os recursos tecnológicos utilizados atualmente no Brasil e em outros países, os quais
têm proporcionado a comunicação dos surdos entre pares e com os ouvintes para a inclusão social
desses sujeitos. Verificamos as estratégias de uso de tecnologias digitais pelos surdos na aquisição
de novos conhecimentos, na comunicação, no desenvolvimento de uma segunda língua, em seus
cotidianos.
O levantamento dos recursos tecnológicos de comunicação deu-se através de busca na
internet, com essas buscas fomos construindo o corpus de analise nesse trabalho. No total para a
análise é de 104. Realizamos uma análise qualitativa e descritiva sobre os recursos encontrados.
Poderíamos dizer que o inicio da comunicação de surdos com o mundo digital se dá pelo
uso de ferramentas de comunicação síncrona de bate-papo. Por exemplo, no ano de 1996 foi
criado o ICQ, que se espalhou rapidamente, inclusive entre a comunidade surda. Os bate-papos
aconteciam a distância, assim surdos de cidades do interior começaram a se comunicar com
surdos de outras cidades. Inicialmente os surdos tinham dificuldade com as palavras, porém, o uso
contínuo proporcionou o conhecimento de novas palavras e a ampliação do vocabulário em Língua
Portuguesa. E esse formato dinâmico de se comunicar proporcionou o aprendizado bilíngue
desses sujeitos, trazendo novas conquistas e interações para a comunidade surda. Isso aconteceu
porque o grupo de surdos de Porto Alegre, por exemplo, que era minoria, não tinha acesso às
informações das demais cidades do Estado e vice-versa. Essas interações traziam novidades de
todos os lugares, o que acabou influenciando o gosto pela leitura.
Do mesmo modo, o e-mail, quando surgiu, chegou também para a comunidade surda e
também influenciou na escrita em Língua Portuguesa dos seus integrantes. Na década de 90 o uso
da internet era muito caro, a internet chegava aos locais de forma discada. Hoje em dia é muito
diferente. A internet é liberada 24 horas, mas antigamente não era assim, era tudo mais
demorado, havia muitas limitações, pois, o acesso à tecnologia ainda era escasso.
Nos Estados Unidos, o acesso a redes Wi-Fi é disponibilizado em lugares públicos, o que
autoriza que os surdos acessem conteúdos e informações sem precisar pagar pelo provedor, como
é feito no Brasil. Há pessoas surdas no Brasil que procuram por lugares nos quais haja Wi-Fi com
acesso gratuito, como opção para aqueles que não possuem pacote de internet. Nesse contexto
de conectividade, um aplicativo que tem facilitado a comunicação é o WhatsApp, que envia
mensagens de texto e de vídeo, desde que o usuário esteja conectado à Internet. No entanto, a
problemática no Brasil tem sido o acesso à Internet em velocidade que oportunize a transmissão
de dados de vídeo, com clareza e com custo mais acessível.
Nos dias atuais, a internet é uma ferramenta crescente e em menos de um segundo
enviamos e recebemos mensagens instantâneas. Qualquer pesquisa se torna mais célere, é
possível acessar sites, Youtube, Facebook, Instagram, entre outras redes sociais de forma rápida.
E, com isso, os surdos também se beneficiam com o uso dessas novas tecnologias, pois elas
possibilitam a transmissão de imagens, como vídeos e fotos! A comunidade surda está aderindo às
novas tecnologias, pois está utilizando essas ferramentas como um importante meio de
comunicação.
As informações, quando conectadas, por exemplo, com a troca de dúvidas e de
esclarecimentos em chats e em vídeos no YouTube ou no Facebook, se transformam em
conhecimento para os usuários. Os surdos usam o Facebook e Instagram para o compartilhamento
de vídeos ou para copiá-los; depois, realizam a divulgação entre surdos e ouvintes. Há acesso mais
rápido à informação e, ao que tudo indica, a busca pelo conhecimento nos meios digitais tem sido
uma nova via de constituição da identidade surda, também para garantir a constituição de uma
identidade pessoal. Witches e Lopes (2018, p.8) analisam “a produção de uma forma de vida
surda a partir da correlação de três eixos que, para Foucault (2010), constituem uma experiência:
a formação de saberes, a normatividade de comportamentos e os modos de ser do sujeito”.
Modos esses que, de acordo com os referidos autores, “têm sido traduzidos e nomeados, de
maneira que a exaltação das identidades ocupe lugar nos debates” (WITCHES; LOPES, 2018, p. 8-
9).
É possível também perceber que, a partir da década de 1990, houve desenvolvimento dos
surdos no que concerne ao uso da língua portuguesa, em virtude das discussões sobre o
bilinguismo e o uso frequente de meios que utilizam a língua escrita para estabelecer a
comunicação. A educação de surdos na década de 90 ainda não estava implicada no mundo
digital, pelo fato de a internet ser ainda muito lenta e pelo pouco acesso a recursos tecnológicos
por parte da população nesse período. Mas com os avanços, isso mudou. Atualmente, é possível
fazer um vídeo em Língua de Sinais e enviá-lo para um tradutor de Libras, que pode retornar a
mensagem traduzida em texto escrito. Essa dinâmica se faz importante para surdos que estão
estudando, principalmente para os que estão em cursos de graduação e pós-graduação, pois lhes
permite utilizar a sua língua materna.
Essa ampliação tecnológica tem sido difundida nas práticas de pesquisas de mestrado,
doutorado, escrita de artigos, entre outros processos acadêmicos vivenciados pelos surdos. Os
surdos enfrentam muitas barreiras na produção de teses, dissertações, trabalhos de conclusão de
curso, pelo fato de ter o português como segunda língua. Então, na maioria dos casos se faz
necessário contratar um profissional tradutor, para transcrever suas ideias. A tradução pode ser
feita pessoalmente, com o surdo sinalizando e o intérprete ao lado transcrevendo, ou através de
envio de vídeos, recurso tecnológico que possibilita essa aproximação do texto.
Dessa forma, a condição bilíngue dos sujeitos surdos lhes garante o acesso – ou não – às
informações. Na contemporaneidade, os sujeitos surdos estão implicados em um mundo digital,
logo os modos de ser surdo também sofrem mudanças. A isso as autoras Lopes e Thoma (2013, p.
115) nomeiam como éthos surdo, ao dizerem que eles
De acordo com o site Infotec Blog, atualmente existem 2,8 milhões de apps disponíveis
para o sistema operacional da Google e outros 2,2 milhões lançados para os celulares da Apple.
Com o passar do tempo, foi-se criando aplicativos para os diversos tipos de gostos. E foram
também criados apps para a comunidade surda que têm versão em Libras. Alguns foram criados
para difusão de sinais, outros para crianças utilizarem, bem como para uso didático. São inúmeras
possibilidades. Aqui no Brasil, começou com poucos aplicativos. Em uma pesquisa realizada em
2019 pelo segundo autor do presente estudo, ele encontrou no Play Store do seu iphone 14
aplicativos que abordam Libras, os quais são: Hand Talk; Vlibras; Sinalario Disciplinar em Libras;
Alfabeto Libras; Rybena; Central de Libras; Icom; Tv Ines; Librario; Viavel Brasil; Primeira Mao;
Matrak; Cil-smped; Cine Acesso.
Atualmente, esses aplicativos têm se ampliado de acordo com as demandas que vêm de
todos os lados. Cada aplicativo é criado por um motivo próprio ou por uma preocupação, que leva
à elaboração da ideia do seu projeto. Alguns são mais movimentados e têm mais acesso, mais
qualidade. Outros podem não agradar ou não ter muita qualidade. Os aplicativos podem ser
criados em diversos lugares de acordo com a vontade de cada criador. Por isso, eles carregam
consigo as variações linguísticas regionais de cada local. Vejamos alguns deles, na sequência.
– Hand Talk: foi fundado em 2012 e realiza tradução digital e automática da língua
portuguesa para a Libras. Também apresenta um Tradutor de Sites para a acessibilidade digital em
Libras para a comunidade surda. O objetivo da criação de tal aplicativo é quebrar a barreira de
comunicação que há entre surdos e ouvintes. O aplicativo foi desenvolvido por um ouvinte
alagoano.
– Rybená: o primeiro software criado no Brasil (versão beta) para auxiliar na comunicação
entre surdos e ouvintes foi disponibilizado em 2001. Nele, o boneco utilizava apenas o recurso da
datilologia, sem utilizar os sinais em Libras e as expressões faciais. Como esperado, não foi aceito
nem incorporado no cotidiano dos surdos por sua limitação comunicativa, que apenas transcrevia
o que estava em português para o alfabeto em Libras, sem haver a tradução entre as línguas.
– Central de Libras: é uma plataforma para acesso à Central de Intermediação de
comunicação para videochamadas em Libras para os usuários surdos, que podem ser disponíveis
pelas operadoras Algar Celular, Nextel, Oi, Sercomtel Celular, TIM e Vivo. Esse aplicativo torna os
surdos independentes dos ouvintes, pois eles podem efetuar ligações por telefone e marcar o
horário de consultas médicas, realizar ligações para a família ou emergências.
– VLibras: resultado de uma parceria entre o Ministério do Planejamento, Desenvolvimento
e Gestão (MP), por meio da Secretaria de Tecnologia da Informação (STI) e a Universidade Federal
da Paraíba (UFPB), a Suíte VLibras consiste em um conjunto de ferramentas computacionais de
código aberto, responsável por traduzir conteúdos digitais (texto, áudio e vídeo) para a Libras,
tornando computadores, dispositivos móveis e plataformas Web acessíveis para pessoas surdas.
Dos aplicativos mencionados acima, alguns são elaborados para o público surdo, como é o
caso do ProDeaf. Contudo, o que realmente se ressalta é a apropriação, por parte dos surdos, dos
produtos desenvolvidos para o público em geral e disponibilizados no mercado. A apropriação de
programas pela comunidade surda tem demonstrado um caminho, no sentido da construção da
autonomia e de maior possibilidade de interação entre surdos e ouvintes não usuários da Libras.
A primeira empresa a utilizar um sistema de comunicação por mensagem de texto via
celular foi a NOKIA, a pedido da WFD - World Federation of the Deaf. A WFD tem sua sede na
Finlândia, assim como a empresa que, então, desenvolveu o recurso para que mais apoio pudesse
ser assegurado, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos surdos.
Uma outra tecnologia capaz de converter qualquer página da internet ou texto escrito em
português para a Língua Brasileira de Sinais. Um derivado do Rybená, que tem como objetivo
facilitar a troca de mensagens entre surdos, é o Torpedo Rybená; com esta tecnologia o surdo
consegue receber uma informação em português no seu celular e ver a tradução em Libras, mas
especificamente em datilologia. Contudo, o avatar do Rybená não possui expressão facial, que é
parte essencial na transmissão da informação em Língua de Sinais (AMORIM, 2012, p. 250).
Outra alternativa que pode ser conferida foi o aplicativo desenvolvido pela Apple para
Ipads e Iphones. Trata-se de um software dicionário, que utiliza avatares humanos para a
representação da Língua Americana de Sinais (ASL). A pesquisa criou um programa para o Iphone,
o que tornou a compreensão dos sinais mais clara.
O aplicativo representa um grande apoio para a divulgação da língua de sinais e se constitui
como relevante ferramenta de pesquisa para os surdos, que passam a ter a oportunidade de
participar do desenvolvimento e da criação do dicionário.
Em ASL, existem vários dicionários e noventa programas da Apple para a divulgação da
língua de sinais e a promoção da comunicação entre surdos e ouvintes, em qualquer lugar. No
Brasil, estão disponibilizados apenas sete programas da Apple em Libras, mas espera-se que, com
o tempo, outras tecnologias sejam desenvolvidas, já que, em ASL, as pesquisas na área acontecem
há mais tempo, se comparadas ao Brasil.
No Facebook se encontra os Gestuais, é a Federação Mundial das Línguas Gestuais, ali
mantém o seu objetivo de tecnologias digitais, como Mobile Hands App, Drone app 112 e
emergência app 122, visando o futuro apoio à inclusão das pessoas com deficiência, onde tem
movimento surdo no Brasil e outros países nestas informações para buscá-los.
Assim, o éthos contemporâneo, a atitude que orienta e constitui formas de vida das pessoas
com surdez, mas especificamente das pessoas que compõem as comunidades surdas e que
se autodeclaram surdas, guardam em si tanto o que caracteriza a Modernidade e sua
estrutura disciplinar quanto o que caracteriza a Contemporaneidade e suas formas de vida
em tensão, paradoxais e em constantes contraposições e desencaixes (LOPES; THOMA,
2013, p. 116, tradução própria).
Enfim, as tecnologias fazem parte de nós, elas se incorporam em nossas vidas e promovem
aprendizado e novos desafios. Hoje se tornam algo importante para a comunicação dos sujeitos
surdos no seu cotidiano, diante das possibilidades da comunicação e sua interação com pessoas de
diversas regiões do país e até mesmo de outros países.
Afinal, a tecnologia está contribuindo muito para a vivência diária dos sujeitos surdos, a
necessidade de comunicar, independente dos outros, com autonomia, o que proporciona a
inclusão social, bem como a comunicação entre surdos de todas as regiões do seu país e com
surdos de outros países. A tecnologia aproxima-os e elimina barreiras territoriais.
Referências
AMORIM, M. L. C. Evolução de tecnologia assistiva para surdos no Brasil no mundo. In: PERLIN,
BRASIL. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril
de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19
de dezembro de 2000. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2005/decreto/d5626.htm>. Acesso em: 20 dez. 2012.
BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e
dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10436.htm>. Acesso em: 12 out. 2012.
FOUCAULT, M. Verdade e poder. In: ______. Microfísica do poder. 16. ed. Rio de Janeiro: Graal,
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Poéticas da voz e deficiência visual: O diálogo entre peça sonora,
contação de histórias e audiodescrição na escola
Voice Poetics and Visual Impairment: The dialogue between sound play, storytelling
and audio description in school
Thiago de Lima Torreão Cerejeira, Mestrando em Educação no PPGED/UFRN;
Jefferson Fernandes Alves, Doutor em Educação e professor no PPGED/UFRN
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
cerejeiratlt@gmail.com
jfa_alves@msn.com
Resumo
Este estudo analisa o processo de criação cênica em contexto escolar envolvendo alunos
com e sem deficiência visual, tendo como referências a peça sonora, a contação de histórias e a
audiodescrição, e que objetiva, a partir do jogo improvisacional e dessas formas narrativas que
enfocam a cena sonora, encontrar novas possibilidades de se comunicar e se relacionar com o
outro, constituindo uma fonte de reflexão para professores e alunos no sentido de explorar as
relações dialógicas e os princípios alteritários. Esse recorte está vinculado a um estudo de
Mestrado em Educação em andamento do PPGED/UFRN, intitulado "Poéticas da voz e deficiência
visual: o diálogo entre peça sonora, contação de histórias e audiodescrição na escola", no qual
utilizou-se a metodologia de pesquisa-intervenção com alunos de uma escola da rede estadual do
município de Natal/RN. Os resultados obtidos evidenciaram que a mediação de processos cênicos
que convergem para o campo da cena sonora contempla um ensino focado na experimentação
desses processos artísticos, vinculado à compreensão da educação como um espaço de
construção interativa do sujeito por meio de novas formas de comunicação e de expressão.
Palavras-chave: Deficiência visual e teatro; Acessibilidade e inclusão; Peça sonora.
Abstract
This study analyzes the process of scenic creation in a school context involving students
with and without visual impairment, having as references the sound piece, of stories and the
audiodescription, and that aims, from the improvisational game and those narrative forms that
focus on the sound scene, to find new possibilities of communicate and to be related to the other,
constituting a source of reflection for teachers and students in the sense of exploring the dialogical
relations and the alteritarian principles. This cut- is linked to a Master's Degree in Education in
progress of PPGED / UFRN, entitled “Voice Poetics and Visual Impairment: The dialogue between
sound play, storytelling and audio description in school”, in which the methodology was used of
intervention research and a qualitative approach with students from a school in the state of Natal
/ RN. The results obtained showed that the mediation of scenic processes that converge for the
field of the sound scene contemplates a teaching focused on the experimentation of these artistic
processes, linked to the understanding of education as a search space of identity and the
construction of the subject with the incorporation of his subjectivity and new forms of
communication and expression.
Keywords: Visual impairment and theater; Accessibility and inclusion; Sound piece.
Introdução
Este estudo pretende investigar processos de criação cênica em contexto escolar que tem
como referência a peça sonora, a contação de histórias e a audiodescrição, em uma perspectiva
inclusiva, considerando, portanto, a participação de alunos com e sem deficiência visual.
A imersão nesses processos criativos que elegem a matriz da audibilidade como
preponderante podem evidenciar uma gama de possibilidades para desenvolver diversas
potencialidades relacionadas ao aprendizado, à constituição intelectual, crítica e social, bem como
à ampliação de novas formas de comunicação e interação, aspecto determinante para a
construção de sujeitos produtores de sentido, já que vivemos hoje em um mundo marcadamente
imagético.
Desse modo, propõe-se uma experimentação inversa, no sentido de utilizar o campo da
teatralidade e do jogo improvisacional afim de explorar novas possibilidades estéticas que vem da
ordem do audível, ampliando assim as formas de interpretar, de ler as coisas, de mediar os
processos de leitura, de apropriação do fenômeno teatral e de ver, ouvir e compreender o mundo
que nos cerca. Dessa maneira, as diversas nuances assumidas pela palavra (e pelos sons) nos
contextos da peça sonora, da contação de história e da audiodescrição nos ajudam na constituição
de uma experiência cênica no campo do audível, por meio da qual a fruição teatral se constitua
pelo exercício do "ouvir" e não, necessariamente do "ver", deslocando esteticamente o eixo da
percepção da matriz visual para a audibilidade, de tal maneira que se possa estabelecer interfaces
entre os mundos da vidência e da não vidência, a partir do deslocamento relativo da primazia
visuocêntrica do teatro.
1. Aportes teóricos
2. Enquadramento metodológico
As oficinas aconteceram em quatro grandes blocos com cerca de 3 encontros cada. Nos
dois primeiros blocos o enfoque esteve na produção das próprias sonoridades e na percepção de
um para com o outro, nos jogos com audiodescrição e produção de sentidos através do
acionamento multissensorial do corpo. Nos dois blocos seguintes foram introduzidos o conceito
provisório da peça sonora, as criações de suas próprias histórias em minigrupos, a partir dos jogos
improvisacionais e a transcriação dessas histórias para o formato de peça sonora.
No bloco final, os alunos puderam experimentar a apresentação dos extratos cênicos em
formato de intervenção artística verbo-sonora no espaço escolar. As rodas de conversa e as
entrevistas coletivas permitiram identificar, dentre os depoimentos dos alunos, as dificuldades em
"perceber-se e perceber o outro", "a importância do recurso da audiodescrição para os colegas
com deficiência visual", "a possibilidade de interagir com os colegas que antes não existia".
Esse exercício de deslocamento do centro axiológico relaciona-se, por conseguinte, com a
perspectiva de construir uma ambiência educacional marcada por exercícios dialógicos e
alteritários (BAKHTIN, 2017), e com a potência de construir outras relações e formas de
comunicação e expressão no contexto escolar, a partir do exercício contemporâneo de poéticas da
voz em íntima relação com a dimensão da tradição da cultura oral, tomando como referência as
concepções de Zumthor (2007). Espera-se que a constituição de novas relações dialógicas e,
portanto, alteritárias, engendrem encontros cênicos que expandam a capacidade de se reinventar
a partir da própria provocação das artes cênicas pelo eixo da audibilidade.
Referências
Bakhtin, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2017.
BAVCAR, Evgen. O Corpo, Espelho Partido da História. In: NOVAIS, Adalto (org.). O homem-
máquina. A ciência manipula o corpo. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. p. 135-142.
BOAL, Augusto. Jogos para atores e não-atores. 13. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.
BUSATTO, Cléo. Práticas de oralidade na sala de aula. 1. ed. São Paulo: Cortez, 2010. (Coleção
Oficinas aprender fazendo).
DESGRANGES, Flávio. A pedagogia do teatro: provocação e dialogismo. 4. ed. São Paulo: Hucitec,
2017.
LARROSA, Jorge. Linguagem e educação depois de Babel. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2014.
(Coleção Educação: Experiência e Sentido).
SCHAFER, R. Murray. O ouvido pensante. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1991.
SPOLIN, Viola. Jogos teatrais na sala de aula: um manual para o professor. São Paulo: Perspectiva,
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ZUMTHOR, Paul. Performance, recepção, leitura. 2. ed. São Paulo: Cosac Naify, 2007.
Sensibilização em Acessibilidade Cultural: resultado Bonito (MS – Brasil)
Awareness on Cultural Accessibility: results of Bonito (MS – Brazil).
Verônica de Andrade Mattoso, Mestre em Ciência da Informação (IBICT/UFRJ);
Ivone Angela dos Santos, Especialista em Acessibilidade Cultural (UFRJ);
Márcio José Felipe, tecnólogo em Redes de Computadores (UNESA-RJ);
Patricia Silva Dorneles, pós Doutora em Terapia Ocupacional (UFSCar)
veronicamattoso@uol.com.br;
ivoneangela@gmail.com;
mfelipeti@gmail.com ;
patrícia.dorneles.ufrj@gmail.com
Resumo
Abstract
The Cultural Foundation of Mato Grosso do Sul has promoted awareness actions on
cultural accessibility during the 20 th edition of Bonito’s Winter Festival, from July 25 th to July 28
th of 2019. The objective was to break attitudinal barriers. The actions were based on the premise
“Nothing about us, without us” – thus, it was held with the involvement of disabled people – and
exploited through cinema, gastronomy and discussions. With audio description, LIBRAS
transcription and subtitle for deaf and hard-of-hearing (SDH), the following Brazilian movies were
shown: “In your place” (No seu Lugar), “On Wheels” (Sobre Rodas) and “Your world doesn’t fit in
my eyes” (Teu mundo não cabe nos meus olhos); all of them followed by discussions. The debate
(Escutatória) “Nothing about us, without us” has approached the protagonism of disabled people
in cultural spaces. A “Sensorial Happy Hour” was held to emphasize the relevance of cultural
accessibility in gastronomy, with the purpose to promote commensality for all. The participation of
disabled people in Bonito’s festival and the development of awareness actions have not only
broken attitudinal barriers, but also have left a legacy of possibilities to equal acceptance and
coexistence in cultural, gastronomic and hospitality spaces of the city.
Key-words: Awareness; Cultural Accessibility; 2019 Bonito’s Winter Festival
Introdução
1. Fundamentação Teórica
1.1: Sensibilização
Em 2005, o Ministério da Educação, por meio da Secretaria de Educação Especial, publicou,
em cinco fascículos, o manual intitulado “Projeto Escola Viva: garantindo o acesso e permanência
de todos os alunos na escola”, cujo Volume 3, intitulado “Sensibilização e Convivência”, foi
organizado por Maria Salete Fábio Aranha (2005). No documento, Aranha (2005, p.10) caracteriza
em dois tipos as atividades que os autores compreendem de sensibilização, apesar de não estar
explicitado textualmente desta forma: 1) as simulações e 2) as de reflexão intelectual. Para a
autora, as simulações seriam aquelas que favoreceriam “a ampliação perceptual do que é conviver
com características e consequências de deficiências”. Para tanto, os envolvidos “simulariam”, por
exemplo, a deficiência visual ao amarrar uma venda nos olhos com cuidado para que não passasse
nenhuma luz. As de reflexão intelectual seriam aquelas que proporcionariam pensar a temática, a
partir de debates sobre produtos culturais que tenham pessoas com deficiência como
protagonistas ou abordem, de alguma forma, a questão da deficiência (filmes, desenhos, peças de
teatro etc). Aranha incentiva a prática destas ações, seguidas de momentos de diálogo nos quais
os participantes possam dizer como se sentiram “principalmente naquelas em que são simuladas
vivências de deficiências, pois sabemos que essas podem se constituir em experiências muito
enriquecedoras e marcantes para a pessoa” (ARANHA, 2005, p.11).
O outro documento selecionado e que aborda a noção de sensibilização relacionada à
acessibilidade é intitulado “Capacitação em Acessibilidade”. Criado em 2013, permanece
disponível no site da Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência
(SNPD) e refere-se a um conteúdo que teve por objetivo geral fornecer metodologia para
“capacitar” profissionais e agentes sociais para atuarem na fiscalização, planejamento e
implantação da Acessibilidade nos estados e municípios brasileiros. Propõe metodologia
desenvolvida por meio de uma série de atividades expositivas. No sumário da Metodologia, o
primeiro painel, intitulado “Acessibilidade, Panorama e Tendências”, propõe na aula 1
“Sensibilização sobre o tema, definições e conceitos” (SNPD, 2013, p.1-2). Na continuidade, o
documento, não especifica uma dinâmica que tenha sido empreendida para “sensibilizar” os
participantes, tampouco de que modo teria sido desenvolvida e/ou realizada. Todavia, é possível
perceber no conteúdo da aula 1 que a abordagem de “Sensibilização”, prevista no sumário, dá
lugar, no item 1.1, a “Definições e Conceitos”, os quais iniciam-se com ênfase em Direitos
Humanos e, na página 31, enfatiza a vulnerabilidade a que estão expostas as pessoas com
deficiência, quanto às barreiras atitudinais:
O enfoque de direitos humanos que embasa as políticas da SNPD não visa somente às
soluções materiais. Às vezes os recursos existem, mas o acesso a eles é dificultado por
preconceitos, discriminação, negligência e até mesmo por falta de conhecimento sobre as
dificuldades enfrentadas por essa população. Deficiência é, em grande parte, aquilo que a
estrutura física, social e de atitude da sociedade imputa às pessoas que têm restrições em
suas funcionalidades. O conhecimento desse modo de vida diferente nos alerta e nos ajuda
a entender a deficiência, não como uma circunstância pessoal, mas como uma estrutura
social que estabelece deveres entre os organismos internacionais, órgãos do Estado,
movimentos organizados e grupos sociais, contando sempre com a participação das pessoas
com deficiência.
Conclui-se, então, que a maior complexidade para ver garantido às pessoas com deficiência
o direito à inclusão sociocultural pode, absurdamente, estar nas chamadas barreiras atitudinais
que estão nas pessoas por medo, por preconceito e até por ignorância para lidar ou conviver com
as pessoas com deficiência, como complementam Lima et al (2010, p.3):
1.2: Empatia
Para a compreensão das ações de sensibilização, merece ênfase outro elemento norteador.
Este elemento é a noção de “empatia” e está relacionado a como as pessoas se sentem quando
participam e após participar de atividades de sensibilização, como as que Aranha denominou
“vivências de deficiências”. O Prof. Augusto Galery, Doutor em Psicologia Social, pesquisador do
laboratório de Estudos em Psicanálise e Psicologia Social (LAPSO) da Universidade de São Paulo
(USP) e professor do Centro Universitário Álvares Penteado (FECAP), destaca a vulgarização da
definição de “empatia” como “a capacidade de se colocar no lugar do outro”, expressa que esta
definição contém riscos e propõe-se a tentar explorá-los, a fim de compreender de que modo faz-
se necessário “extrapolar o homogêneo e enxergar o diferente”(GALERY, 2018, p.1). Ele inicia
justificando “tratar-se de um ato impossível” colocar-se no lugar do outro:
Não temos instrumentos ou capacidade psíquica para tanto. O ser humano pode
sensibilizar-se e pode se identificar com o outro de forma a compreender, a partir de sua
própria experiência, que o outro também é um ser humano. No entanto, ele nunca poderá
realmente se colocar no lugar do outro, pois suas histórias de vida, suas identidades e
mesmo suas características biopsicossociais nunca coincidirão. (GALERY, 2018, p.1)
Para a cientista da informação, “a arte e a produção artística são comunicadas sob a forma
de informação artística e tendo como suporte as novas tecnologias de informação, o que pode
levar à concretização de um trabalho social e educativo”. Portanto, “a convergência do trinômio
arte, educação e sociedade pode sustentar a formação individual e social, norteadora da
consciência e propulsora da inclusão social”. Outro aspecto abordado por Pinheiro relaciona arte à
consciência humana, evidenciado nas seguintes afirmativas que, segundo ela, “se vinculam
mutuamente: ‘a arte não é um subproduto do desenvolvimento social (senão) mas um dos
elementos essenciais que entram na constituição da sociedade’ e ‘... foi, e ainda é, o instrumento
essencial para o desenvolvimento da consciência humana’. E conclui o raciocínio refletindo sobre a
ação de educar na atualidade, agora fundamentada no pensamento de Takahashi:
[...] Educar em uma sociedade da informação significa muito mais que treinar as pessoas
para o uso das tecnologias de informação e comunicação: trata-se de investir na criação de
competências suficientemente amplas[...]. Trata-se também de formar indivíduos para
‘aprender a aprender’[...] (TAKAHASHI, 2000 apud PINHEIRO, 2005, p.53)
3. Resultado Bonito
Ampliar a acessibilidade, não apenas para pessoas com mobilidade reduzida mas, para
todas as deficiências
Eu caminhava em uma rua paralela à avenida principal e vi uma senhora reclamar que
precisava andar no meio da rua para evitar buracos na calçada. A meta de acessibilidade é
difícil, mas deve estar por todos os lados, não só nos espaços principais.
Tornar acessível a todos.
O que falta para a cidade de Bonito se tornar mais acessível é se colocar no lugar (empatia)
e desconstruir algumas ideias PRÉconceituosas/estereotipadas que grande parte das
pessoas, por ignorância, apresenta. Como por exemplo: uma pessoa com cegueira andando
na rua sozinha ouve o seguinte questionamento, você está andando sozinha? Cadê sua
mãe/acompanhante para te guiar. Além disso, a cidade precisa promover mais formações
como a que ocorreu em Bonito para fazer propagar o conhecimento.
Regras estabelecidas pelo poder publico, para que empresários possam se adequar sem ter
prejuízos, e assim fazer um trabalho de qualidade para acessibilidade de todos.
Por parte da administração pública e privada falta vontade. Atitude.E também falta que
essas pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida se façam presentes e assim exijam
que os seus direitos sejam respeitados. Frequentar os espaços mesmo antes deles estarem
100% acessíveis criando a necessidade de adequação e melhorias. Pois qdo não há
demanda, os responsáveis por estas melhorias não terão sensibilidade para fazê-las.
4. Considerações Finais
Referências
ARANHA, Maria Salete Fábio. Projeto Escola Viva : garantindo o acesso e permanência de todos
os alunos na escola : necessidades educacionais especiais dos alunos / Maria Salete Fábio
Aranha. - Brasília : Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2005.
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Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) / Secretaria Nacional de Promoção dos
Direitos da Pessoa com Deficiência (SNPD) / Coordenação-Geral do Sistema de Informações sobre
a Pessoa com Deficiência; Brasília : SDH-PR/SNPD, 2012.
GALERY, Augusto. Empatia na educação inclusiva: conviver e ensinar na diferença. In: DIVERSA.
Publicado em 12.01.2018. Disponível em: https://diversa.org.br/artigos/empatia-na-educacao-
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LOPES, Marcos Venícios de Oliveira. Sobre estudos de casos e Relatos de Experiência... Revista da
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Secretaria do Audiovisual. Disp:
https://www.camara.leg.br/internet/agencia/pdf/guia_audiovisuais.pdf.
PINHEIRO, Lena Vania Ribeiro. Educação da sensibilidade: informação em arte e tecnologias para
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RENÉ BARBIER, L'écoute sensible dans la formation des professionnels de la santé. Conférence à
l´Ecole Supérieure de Sciences de la Santé. Brasilia, juillet 2002. Disponível em:
http://www.saude.df.gov.br.
SECRETARIA NACIONAL DE PROMOÇÃO DOS DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA –
Capacitação em Acessibilidade. Disponível em:
https://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/acessibilidade/conteudo-para-capacitacao-em-
acessibilidade .
PROJETO GETLibras: Experiência de interpretação Português-Libras na
Parada de Luta LGBTI de Porto Alegre de 2019
PROJECT GETLibras: An experience of interpretation Portuguese-Libras at the Porto
Alegre LGBTI Fighting Parade in 2019
Vinicius Martins Flores, Mestre em Letras; Diego Rafael Machado da Silva, graduando em Letras Bacharelado- ênfase
tradução interpretação em Libras; Angelo Rosa Collioni , graduando em Pedagogia; Kemi Oshiro Zardo, Master em
Estudios de cine y audiovisual contemporáneos, Univerditat Pompeu Fabra - Barcelona, España.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS / getlibras@gmail.com
Resumo
Abstract
Introdução
Vivemos em uma sociedade que discursa sobre a necessidade de ser inclusiva, e a cada dia
que passa, mais e mais pessoas com deficiência passam a frequentar as escolas comuns, espaços
de educação formal, e os acessos aos espaços culturais são ampliados, mesmo de forma tímida. E
os movimentos sociais possuem acessibilidade? O que é acessibilidade para uma pessoa surda
usuária de Libras em movimentos sociais? Essas são questões que impulsionam nosso grupo de
estudos – GETLibras (Grupo de Estudos em Terminologia em Língua Brasileira de Sinais).
O presente relato ilustra as atividades do Grupo de Estudos em Terminologia em Língua
Brasileira de Sinais (doravante GETLibras), desenvolvido como programa de extensão no curso de
Bacharelado em Letras – com ênfase em tradução e interpretação de Libras (Língua Brasileira de
Sinais) -Língua Portuguesa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O grupo tem
como objetivo o estudo de termos em Língua Brasileira de Sinais (Libras) nas seguintes áreas:
política; anatomia; LGBTI; religião. A proposta inicial do programa de extensão foi mapear termos
recorrentes nas áreas mencionadas e verificar a função do sinal-termo no ato interpretativo e sua
equivalência semântica com o termo interpretado. O GETLibras começou a partir
questionamentos originados em outra pesquisa denominada: “O efeito da iconicidade da Libras
em aprendizes bilíngues bimodais ouvintes”, coordenada pelo professor Vinicius Martins Flores.
A formação de tradutores e intérpretes de língua de sinais em nível de graduação na
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS iniciou-se em 2016, sendo assim a primeira
turma está ainda em andamento e a UFRGS é a única universidade do estado do Rio Grande do Sul
que oferta tal formação neste nível de ensino. Portanto, muito do currículo precisa ser observado
para assim elaborar uma formação que atenda a demanda do mercado de trabalho e que tenha
ligação com a área acadêmica e as pesquisas atuais. Neste sentido o GETLibras também se embasa
para buscar esse elo de levar a teoria até a prática e trazer a prática para o espaço teórico.
O GETLibras iniciou as atividades no mês de outubro de 2017, inicialmente seguindo seu
propósito de mapear e verificar termos, mas em 2018 já iniciou ações sociais. A motivação partiu
dos próprios participantes, que são estudantes da UFRGS. O grande gatilho que impulsionou a ter
um desdobramento de atividades no grupo foi o contato com a comunidade surda de Porto Alegre
e região metropolitana, visto que a acessibilidade em espaços da saúde, da arte e de espaços de
movimentos sociais são raros ou inexistentes na região. Assim surgiu um novo braço do GETLibras,
que é o programa de extensão Assessoria linguística e tradução: Novas experiências em
acessibilidade comunicacional/UFRGS. Portanto, as experiências aqui em diante relatadas são do
programa que foi criado para atender as demandas percebidas pelos estudantes ao longo das
coletas de termos do GETLibras. Escolhemos para este trabalho relatar sobre a atividade de
interpretação simultânea da Língua Portuguesa para Libras na Parada de Luta LGBTI de Porto
Alegre em 2019.
1. O processo de organização
A forma de tradução (CAVALLO; REUILLARD, 2016) adotada para a Parada de Luta LGBTI de
Porto Alegre em 2019 foi a interpretação, na modalidade simultânea, sendo realizada na direção
Língua Portuguesa - Libras. Portanto, as línguas envolvidas eram a Língua Portuguesa na
modalidade oral-auditiva e a Língua Brasileira de Sinais na modalidade visuoespacial. Com base em
evidência anedótica nas Paradas que ocorreram em 2018, tínhamos uma ideia do que deveríamos
esperar para 2019, portanto, listamos termos que poderiam nos proporcionar problemas
tradutórios (NORD, 1997) nos eventos passados para ter base de preparação para o atual.
Para além das experiências, o repertório musical da cantora Valesca Popozuda fora
importante para pensar na terminologia que poderia ser empregada ao longo do evento. Pois os
artistas locais poderiam referenciar algo em seus discursos ou usar as músicas para seus shows.
4. Conclusão
Referências
CAVALLO, P. Necessidades terminológicas dos intérpretes vs. as dos tradutores: análise de três
produtos terminográficos multilíngues. Cadernos do IL, Porto Alegre, n.º 54, p. 47-65, out. 2017.
CAVALLO, P.; REUILLARD, P. C. R. Estudos da Interpretação: tendências atuais da pesquisa
brasileira. Letras & Letras, v. 32, n.º 1, p. 353-368, 21 ago. 2016.
FEBRAPILS. Nota Técnica sobre a contratação do serviço de interpretação de Libras/Português e
Profissionais. Brasília: FEBRAPILS, 2017(Nota Técnica Nº 02).
NORD, C. Translating as a purposeful activity. Functionalist approaches explained. Manchester: St.
Jerome Publishing, 1997.