Julia Santos Lourenço, Natalia Zamperlini Frigini e Thayná Simões.
2023/1
EMPAZINADA, FOTOPERFORMANCE, 2019
Fotografia digital, 297 x 420 mm. Foto: site da artista/Reprodução Castiel Vitorino Brasileiro ● Nascida em Vitória, Espiríto Santo em 1996, Castiel Vitorino Brasileiro é artista, escritora, psicóloga formada pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e mestranda em psicologia clínica na PUC-SP. Macumbeira, a artista aborda em suas obras questões de espiritualidade, ancestralidade (não só a afro-brasileira como também a ancestralidade travesti), principalmente sobre o processo de reconstrução de seu laço ancestral Bantu através de memórias e afetos familiares. Outros temas abordados pela artista são temas relacionados a psicologia, como os processos de trauma e de cura. ● Indicada ao PIPA 2019 e 2021 e Artista Selecionada Prêmio PIPA 2021, o site do prêmio a descreve como: “[Castiel] vive a Transmutação como um designo inevitável. Dribla, incorpora e mergulha em sua ontologia Bantu. Assume a cura como um momento perecível de liberdade. Estuda e constrói espiritualidade e ancestralidade interespecífica.”
Imagem 1 - Foto da artista divulgada em seu site.
● Castiel é uma artista multifacetada que utiliza diferentes linguagens artísticas em suas obras como fotografia, vídeo, performance, instalações, poesia, pintura, desenho, escultura, mosaico, dança e costura. ● Fez sua primeira exposição coletiva nomeada Davisuais em 2016 com sua obra “tensionamentos”. Posteriormente expôs em outros espaços e teve sua primeira exposição individual em 2019 intitulada “O trauma é brasileiro” em vitória. Já expôs em espaços importantes como o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM), na Pinacoteca de São Paulo, entre outros. Internacionalmente já expôs em países como Estados Unidos, Alemanha, Espanha, Inglaterra e Áustria e também já ganhou diverso prêmios. ● A artista descreve seu trabalho como: “Investigo como a violência criada durante a escravidão construiu uma nação genocida. Estudo os processos de colonização de países africanos e seus desdobramentos em território brasileiro, fazendo do meu corpo o foco principal deste trabalho através de performance e fotografia”. Imagem 2 - Divulgada pelo site Século Diário. Documentário Quarto de Cura ● O documentário consiste em um vídeo produzido pela artista em 2019 retratando sua experiência instalativa intitulada “Quarto de Cura”, localizada no Morro da Fonte Grande, em vitória, local de nascimento e infância da artista. Experiência realizada entre 15/12/2018 à 11/01/2019, era anteriormente uma das instalações da exposição Malungas, realizada no Museu Capixaba do Negro (Mucane) e após o fim da exposição foi realocada para o Morro da Fonte Grande. O local escolhido para a instalação é um quarto de 6 m2 utilizado previamente para guardar instrumentos na casa do mestre da banda de congo Vira Mundo, Renato Santos, da qual Castiel fez parte quando criança. Em uma entrevista ao portal Subtile, a artista fala um pouco sobre sua infância no local:“Nasci dentro de uma comunidade quilombola, mesmo, porque eu compreendo o Morro da Fonte Grande como um espaço quilombola (…) É onde eu fiz o Congo, onde eu fiz capoeira, é onde eu aprendi a dançar, é onde eu aprendi a ler também. Então, o que acontece comigo em relação à arte é que ela me acompanha desde o início da minha vida (…) a prática de estetizar a vida…” ● Entre os objetos utilizados no quarto se encontram: fotografias digitais, desenho feito com tinta de tecido, tecido, costura, silicone, impressão 8,5x16cm, tambores, casacapotes de vidro e plástico, água, pedras, conchas, incensos, velas, defumador, esteira de palha, mesa e prateleira de madeira, xarope, garrafadas, pomadas, chá, sabonetes, venenos, sisal, plantas: alecrim, malva, hibisco, canela-de-velho, camomila, calêndula, espada-de-Ogum, espada-de-Iansã, aroeira, alfazema, boldo. Outros objetos encontrados são os pertences do Mestre Renato, principalmente os instrumentos de congo que contribuem ainda mais para o trabalho. Estes objetos como plantas medicinais, garrafadas, pomadas, patuás, entre outros, se relacionam com a cura, a ancestralidade e espiritualidade da artista. ● O trabalho também aborda questões sobre a indústria farmacêutica e denuncia o racismo praticado por estas empresas que ganham dinheiro apagando tradições e elementos de cura e testando seus produtos em populações negras, indígenas e racializadas de modo subalterno. O local escolhido se assemelha às casas das benzedeiras da comunidade, outro motivo pelo qual a artista preservou o local, contribuindo com o espaço já existente. Outro ponto em que o trabalho toca é na falta de acesso da comunidade da Fonte Grande a atendimento psicológico. As visitas eram agendadas e, de acordo com a artista: "Não entendo como apenas uma exposição ou galeria. Estou criando uma experiência instalativa em que as pessoas podem vir conhecer. Mas quero transformar também em local de pesquisa e atendimento aos modos da psicologia e das benzedeiras". DOCUMENTÁRIO QUARTO DE CURA / Castiel Vitorino Brasileiro. Imagem 3 - EXPOSIÇÃO "O TRAUMA É BRASILEIRO", NA GALERIA HOMERO MASSENA EM VITÓRIA, 2019 Foto: Kevin Felipe Barbosa/Reprodução Imagem 4 - Exposição “O trauma é brasileiro”. Foto: Castiel Vitorino Brasileiro. O Trauma É Brasileiro.DOC ● A obra é um documentário feito pela artista e por Roger Ghil e, de acordo com esta, o documentário é um registro das experiências estéticas de Cura profana, desenvolvidas e propostas com sua primeira exposição individual “O Trauma é Brasileiro”. A exposição foi realizada na galeria Homero Massena em Vitória, tendo sua inauguração no dia 11 de Junho de 2019 e se encerrando dia 24 de Agosto de 2019. Na exposição Castiel propõe cura para traumas sócio-históricos que adoecem a sociedade brasileira atual e são manifestados através do racismo, da LGBTfobia e do machismo. A origem destes traumas se encontra na colonização europeia que através do extermínio de povos africanos e indígenas e de suas culturas, impôs um projeto de civilização branca, cristã e cisgênera. A instalação “Quarto de Cura” fez parte da exposição. ● “Quando digo que há um trauma que é brasileiro, faço um convite à psicologia a pensar os adoecimentos produzidos no Brasil. Essa é uma responsabilidade que a psicologia se recusa a aceitar, tampouco pensa de modo referenciado nos processos de subjetivação brasileiros e latino-americanos. Ao longo da graduação fui aprendendo que a cura não existe, mas as pessoas racializadas, mesmo sem terem a ajuda da psicologia na promoção de sua saúde, se curam e a afirmam a cura. Elas têm outro referencial de saúde. Com as benzedeiras aprendi que a cura é uma experiência de saúde perecível e efêmera, que precisa se modificar, assim como nosso corpo. Tenho nomeado minha pesquisa em psicologia de Clínica da Efemeridade, uma clínica que aposta nessa encruzilhada entre arte, psicologia e curandeirismo. E entende que os processos de promoção de saúde são desencadeados não apenas por psicólogas(os), como também por padeiros, primas, e benzedeiras. A prática clínica de promoção de vida não deve entendida como propriedade da psicologia, e a psicologia precisa descolonizar-se para conseguir produzir saúde às pessoas que ela ajudou a subalternizar” diz a artista. O TRAUMA É BRASILEIRO.DOC ( Castiel Vitorino Brasileiro e Roger Ghil) Referências: ● https://www.premiopipa.com/castiel-vitorino-brasileiro/ ● https://projetoafro.com/artista/castiel-vitorino-brasileiro/ ● https://artcetera.art/arte-visual/castiel-vitorino-brasileiro/#10-obras-mais-famosas-da-Castiel-Vitorino-Brasileiro ● https://secult.es.gov.br/Not%C3%ADcia/artista-propoe-experiencias-clinicas-para-promover-a-cura-do-racismo ● https://www.seculodiario.com.br/cultura/no-museu-e-no-morro-um-quarto-de-cura ● https://www.es.gov.br/Noticia/exposicao-o-trauma-e-brasileiro-em-cartaz-ate-o-proximo-sabado-24 ● https://amlatina.contemporaryand.com/pt/editorial/trauma-brasileiro-castiel-vitorino/