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Resumo
Introdução
A arteterapia é uma forma de usar arte em benefício do bem estar pessoal e social, pois
proporciona possibilidades diversas de extravasar sentimentos, como frustração, depressão,
decepção e outras adversidades da vida, assim como diversas situações que possam colocar
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No final do século XIX, psiquiatras revelaram interesse pelas produções artísticas dos
pacientes psiquiátricos iniciando então um estudo e descobrindo a conexão entre a arte e
saúde mental. Os psiquiatras que mais se destacaram foram Ambroise Tardieu, Paul Max
Simon e Marcel Reja.O psiquiatra Carl Gustav Jung posteriormente passou a trabalhar com o
fazer artístico. (BILBAO,2004 p.35-36)
Jung sempre teve como objetivo dizer que a função principal da terapia é possibilitar o
autoconhecimento, Bilbao (2009, P.52), ainda afirma “Jung não apenas coloca as imagens em
uma posição central, mas também atribui a elas um poder com o qual o indivíduo deve se
confrontar para se desenvolver. Para Jung só a própria pessoa tem o poder de curar.”
Nesse contexto, podemos ainda referenciar Perny (2009, p.140-141), quanto aos
aspectos positivos relacionados ao estímulo da criatividade que segundo o autor contribui com
o desenvolvimento do indivíduo.
A arteterapia tem como finalidade usar a arte como um meio de expressão, dando ao
individuo a liberdade de se comunicar através dos sentimentos. Ao invés de ter como objetivo
um produto final como um quadro esteticamente agradável, o mesmo terá uma obra onde seu
inconsciente está presente, para que seja analisado com a finalidade de tratamento e não entrar
como julgamento aos padrões estéticos externos sobre a obra. (ROCHA, 2009; JARREU,
1994; PAÍN, 2009; LIEBMANN, 2002).
Em um contexto terapêutico o expressar por meio da arte, instiga pouco a pouco, a
criatividade, a percepção, a sensibilidade, a imaginação, a cognição, pois pode ser exposto por
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meio da terapia em atividades como: a dança, música, representações plásticas ou teatro. Esse
tipo de terapia pode ser importante e contribuir com o desempenho social e educacional do ser
humano. Estejam eles mergulhados em problemas graves ou apenas instigando a arte como
fonte de laser e de comunicação. Enquanto o paciente está em tratamento, por mais que ele
pretenda em um futuro atuar como artista plástico, o terapeuta deve deixar claro que naquele
momento, o propósito da atividade, é o de se apropriar das técnicas artísticas como forma de
tratamento psicanalítico, então sua criatividade não deve estar vinculada ao propósito inverso,
mas sim, com intuito de estimular seu bem estar e elevar sua auto-estima. (PHILIPPINI,
2009; PEREIRA, 1976; COUTINHO, 2009; MONTEIRO, 2009).
Segundo apresenta Rhyne (2000), sobre os aspectos pessoais que devem ser
estimulados, como forma de expressão artísticas dos pacientes que apoiam-se na arteterapia,
destaca-se suas considerações, uma vez que:
Jung teve como objetivo levar o indivíduo a desenvolver experimentações com o seu
próprio self e ter a capacidade de lidar de forma criativa com as suas dificuldades. A
psicologia junguiana é marcada por um desenvolvimento criativo que torna o símbolo visível
por meio do consciente. Dessa forma, o arteterapeuta tem de ter conhecimento tanto na área
de artes quanto em psicologia, o mesmo deve liberar seu potencial criativo assim como seu
paciente, pois é fundamental ao terapeuta ter um acompanhamento mais próximo,
especialmente de um supervisor. O ambiente para a produção da imagem, como o
atelier/consultório constitui-se como fator primordial para o inicio do desenvolvimento do
tratamento. (COUTINHO, 2008/2009; PSY 1995; PAÍN, 2009; PHILIPPINI, 2009;
URRUTIGARAY,2008).
Essa aproximação entre arte e psicologia, mesmo ela não sendo muitas vezes visível,
vem do fato de serem objetos culturais que compartilham um mesmo espírito. A inclusão da
arteterapia na grade curricular do curso superior de artes plástica pode ser de grande valia aos
pacientes. O acadêmico de artes não atuaria como psicólogo, mas como arteterapeuta
auxiliando assim o tratamento terapêutico aplicado pelo psicólogo.
Muitas escolas de psicoterapia usaram a arte como um método auxiliar para
diagnosticar e tratar pacientes, tanto como uma liberação emocional como uma terapia
ocupacional; utilizando materiais de arte como expressão, estimulavam as pessoas a criarem
suas próprias “mensagens”.
Quando se cria uma imagem, ao vê-lo seu conteúdo pode ser extremamente obvio,
porém sua mensagem verdadeira pode ser outra. As cores utilizadas, os traços, o local que o
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desenho foi feito no papel. Analisar uma obra não significa saber interpretá-la; a análise tem
um enfoque técnico e racional e se baseia em fatos comprovados, a interpretação resulta na
síntese da análise. (ZINKER, 2007; ROCHA, 2009; COUTINHO, 2009; BÉDARD, 1998).
Podemos observar a palavras de Bédard (1998), quando destaca a importância do
desenho como forma de expressão para contribuir no tratamento com a arteterapia.
Lápis de ponta fina O individuo que escolhe o lápis com a ponta fina tem
preferência por conforto e luxo, tem tendência a procurar
a companhia de pessoas que tem destaque, pode ter uma
dificuldade a auto-afirmação.
Lápis de ponta mediana Tem facilidade com a adaptação e é uma pessoa flexível
e livre.
Lápis de ponta grossa A pessoa que escolhe o lápis de ponta grossa não é
influenciável, e uma vez tomada a decisão, não muda de
idéia de forma alguma.
Quadro 1 – Significado da característica do indivíduo ao escolher o lápis para desenhar.
Fonte: Bédard (1998)
Cada cor admite uma interpretação, podendo ela ser positiva ou negativa.
Segundo Bédard os desenhos realizados numa só cor tem uma grande importância,
podendo denotar preguiça ou falta de motivação (QUADRO 4) (1998, p. 37).
A expressão artística não pode ser apenas estudada por um pequeno grupo de pessoas
(os artistas), a arte está envolvida com a história da humanidade e suas conquistas, com a
herança cultural dos povos e com o desenvolvimento individual das pessoas. Teorias
apresentam que o envolvimento com a arte pode capacitar o raciocínio lógico, a sensibilidade,
a capacidade de expressão. Aplicar esta prática na educação estimula a criatividade e a
imaginação, além de promover embasamentos para que a personalidade do indivíduo seja
trabalhada, assim como adequações nas questões relacionadas ao temperamento e ao caráter
da pessoa. (COSTA, 2004, p.10-13)
Quando a arte se junta com o universo da Psicologia e da Psicanálise, amplia a
potência do processo de criação humana. Apresentando assim as qualidades do indivíduo,
ajudando-o a pensar, sentir e agir de forma positiva ao longo de sua vida. A questão principal
desse estudo não é ensinar arte no sentido usual. Qualquer pessoa enferma ou não, pode se
beneficiar deste tratamento, sejam elas crianças, adolescentes, adultos, idosos,
etc.(CARVALHO, 1995; BILBAO, 2004; PHILIPPINI, 2008; PEREIRA, 1976; RIVERA,
2005).
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Para que não ocorra um tratamento inadequado, o artista deve ter no curso acadêmico
matérias de psicologia e arteterapia, podendo assim ao concluir sua formação, iniciar junto ao
psicólogo o tratamento adequado para seus pacientes. O arteterapeuta trabalha com a saúde
mental, destacando em seu paciente a observação, a sensibilidade, e as atitudes permitindo
que o mesmo conquiste maior confiança durante o tratamento, refletindo em seu processo
social de convívio, além de prepará-lo para melhor conhecer a si mesmo, identificando suas
deficiências e contribuindo para conviver com elas de forma mais harmônica e saudável.
A instituição escolhida para ser realizado este artigo foi a Escola de Música e Belas
Artes do Paraná (EMBAP). A formação em artes deste, esta dividida em quarto cursos que
são: Escultura, Pintura, Gravura e Licenciatura em Desenho; todos têm um período de quarto
anos para a conclusão.
1º Ano Desenho I
Desenho Geométrico e Geometria Descritiva
Expressão em Volume
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Expressão Gráfica
Historia da Arte e Estética I
Plástica
Técnicas de Pintura
Antropologia Cultural
2º Ano Anatomia
Croquis
Desenho II
Desenho Técnico
Escultura I
Historia da Arte e Estética II
Introdução a Metodologia Científica
Perspectiva e Sombra
Pintura
3º Ano Anatomia Aplicada
Cerâmica
Desenho III
Escultura II
Ética
História da Arte e Estética III
Material e Equipamentos de Escultura
4º Ano Desenho IV
Escultura III
História da Arte e Estética IV
Técnicas e Projetos em Escultura
Estágio Supervisionado Profissionalizante
Quardro 5. Matriz Curricular de 2010 do curso de Licenciatura em Desenho.
Fonte (Escola de Música e Belas Artes do Paraná)
Incluindo a matéria terapêutica no curso, poderemos ver uma nova grade curricular:
1º Ano *Desenho I
*Desenho Geométrico e Geometria Descritiva
*Expressão em Volume
*Expressão Gráfica
*Historia da Arte e Estética I
*Plástica
*Técnicas de Pintura
*Antropologia Cultural
*Arteterapia I
2º Ano *Anatomia
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*Croquis
*Desenho II
*Desenho Técnico
*Escultura I
*Historia da Arte e Estética II
*Introdução aMetodologia Científica
*Perspectiva e Sombra
*Pintura
*Arteterapia II
3º Ano *Anatomia Aplicada
*Cerâmica
*Desenho III
*Escultura II
*Ética
*História da Arte e Estética III
*Material e Equipamentos de Escultura
*Arteterapia III
4º Ano *Desenho IV
*Escultura III
*História da Arte e Estética IV
*Técnicas e Projetos em Escultura
*Estágio Supervisionado Profissionalizante
*Estágio Supervisionado em Arteterapia
Quadro 6. Grade Curricular reformulada incluindo a matéria de Arteterapia.
Van Gogh após ter cortado sua própria orelha e tendo alguns surtos posteriormente,
pediu ao seu irmão que o internasse em uma clínica psiquiátrica, sendo então registrado como
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paciente voluntário, teve direito a dois quartos, um para sua acomodação e outro para
continuar pintando. Ele tinha o intuito da auto curar-se por arteterapia. Foi por meio da arte
que o artista se ligava ao mundo, à natureza e às pessoas que o cercavam. Frida Kahlo foi
outra artista com uma história de um inconsciente que se desenvolveu. O acidente que sofreu
aos 18 anos transformou sua vida, os médicos desacreditavam na possibilidade dela
sobreviver. Durante meses ficou imobilizada e encontrou na arte uma maneira de expressar o
que sentia. O surrealismo é um movimento que tem uma grande aproximação com a
psicanálise, mesmo Freud não aceitando essa teoria, atualmente os psiquiatras estudam cada
vez mais essa nova tendência de aproximação, ou seja dentro da história da arte existem
várias exemplos de cura e de manifestações psicológicas que foram bem sucedidas, ou que
ajudam nos estudos da psi. (MONTEIRO, 2009; RIVERA, 2005).
fácil nem simples, mas a sua conquista oferece o mais magnífico dos frutos: a expansão da
consciência”.
.Considerações Finais
O artista que se transformar em arteterapeuta deve estar ciente que o paciente sempre
estará em primeiro lugar, sua forma de trabalho deverá ser a expressão do sentimento criativo
e não a simples cópia. A cópia pode prejudicar o tratamento terapêutico, pois o objetivo é a
expressão do inconsciente.
A arteterapia é um aliado para transformação do paciente, pois o contato com a arte
revela o mundo interior e inconsciente do mesmo. Ter esta disciplina na grade curricular
formará profissionais capazes de auxiliar no tratamento psicoterapêutico, porém é importante
ressaltar que o acadêmico de artes aplicará um tratamento alternativo supervisionado por um
psicólogo ou psiquiatra. O artista não dominará a psicologia num todo para tratar por
completo o paciente.
REFERÊNCIAS
BAPTISTA, Ana L. Estudos em arteterapia: diferentes olhares sobre a arte. Rio de Janeiro:
Wak, 2009
BÉDAR, Nicole. Como interpretar os desenhos das crianças. Quebec : Isis, 1998.
COSTA, Cristina. Questões de arte: o belo, a percepção estética e o fazer artístico. São Paulo:
Moderna, 2004.
KAST, Verena. A dinâmica dos símbolos: fundamentos da psicoterapia junguiana. São Paulo:
Loyola, 1997
LIEBMANN, Marian. Exercícios de Arteterapia para grupos. 3ed. São Paulo: Summus, 2002.
PAÍN, Sara e JARREAU, Gladys. Uma Psicoterapia por El arte:teoría y técnica. Buenos Aires:
Nueva Visión, 1994.
PEREIRA, Regina C. C. A espiral do símbolo: a arte como terapia. Petrópolis: Vozes, 1976.
RIVERA, Tania. Arte e Psicanálise. 2ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
RHYNE, Janie. Arte e Gestalt: padrões que convergem. 2ed. São Paulo: Summus, 2000.