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ARTETERAPIA E SÁUDE MENTAL: PSICOPATOLOGIA PSICOSSOMÁTICA

Arteterapia é uma área de atuação profissional que utiliza recursos artísticos


com finalidade terapêutica (Carvalho, 1995);
A arteterapia encontra diferentes aplicações: na avaliação, prevenção,
tratamento e reabilitação voltados para a saúde, como instrumento pedagógico
na educação e como meio para o desenvolvimento (inter)pessoal através da
criatividade em contextos grupais;
A arte é um poderoso canal de expressão da subjetividade humana, que
permite ao psicólogo e a seu cliente, seja ele um indivíduo, seja um grupo,
acessar conteúdos emocionais e retrabalhá-los através da própria atividade
artística;
A arte nos abre a uma realidade alternativa (1995, p.61 *Ciornai*), na qual o
homem pode perceber, figurar e reconfigurar suas relações consigo, com os
outros e com o mundo (1995, p.61);
Portanto, no trabalho do psicólogo mediado pelo fazer artístico, destaco como
princípios fundamentais a concepção da arte como atividade expressiva e
criativa: não se trata apenas da expressão da subjetividade, da objetivação de
emoções, sentimentos e pensamentos em uma forma artística (desenho,
pintura, modelagem etc.), mas especialmente da sua transmutação pela arte,
da sua reconfiguração em novas formas e em outros sentidos, em um processo
no qual, ao criar na arte, o sujeito se recria na vida;
A arteterapia pretende valorizar a singularidade do sujeito sem perder de vista
o coletivo, utilizando a arte, que é um caminho de expressão, de comunicação
e síntese da experiência pessoal da pessoa. Representando conteúdos
inconscientes e conscientes, integra aspectos afetivos e cognitivos de saúde e
doença, sendo benéfica para ampliar a compreensão do ser humano;
As atividades artísticas permitem que a pessoa simbolize as suas percepções
sobre o mundo, sobretudo quando não consegue expressar-se verbalmente ou
através da linguagem escrita. Através da arteterapia é possível trabalhar outras
linguagens não-verbais, como a sonora, a corporal e a plástica, estimulando
também a audição, a visão, as funções motoras e cognitivas.

ARTETERAPIA FREUDIANA
Na visão de Naumburg, a expressão artística é como um espelho, que reflete
diversas informações, estabelecendo uma ponte no diálogo entre consciente e
inconsciente (Andrade, 1995);
Baseada na concepção freudiana do determinismo do inconsciente, cujos
pensamentos e sentimentos se expressariam mais em imagens do que
palavras, como posto por Freud na teoria dos sonhos;
Naumburg considera que a atividade pictórica favorece a projeção de
conteúdos inconscientes, favorecendo, por uma via simbólica, a comunicação
entre paciente e terapeuta;
(...) conforme Andrade, através do uso da expressão gráfica ou plástica
começam a desenvolver a verbalização ao explicar e falar a respeito de suas
produções artísticas (2000, p.73);
Naumburg trouxe como princípio básico da arteterapia psicanalítica o
reconhecimento de que todo indivíduo, independentemente de possuir ou não
um treinamento artístico, tem a capacidade de projetar seus conflitos interiores
em formas visuais;
Nessa abordagem, a interpretação da expressão artística acontece sempre na
relação transferencial, na qual o sujeito é incentivado pelo terapeuta a
descobrir por si mesmo o significado de suas produções, estimulando-se o uso
da livre associação, a fim de que ele expresse em palavras os sentimentos e os
pensamentos projetados nas imagens pictóricas;
Segundo Naumburg, a arteterapia pode auxiliar na redução do tratamento e na
diminuição da transferência negativa, pois as imagens objetivadas atuam então
como uma comunicação simbólica imediata que sobrepuja as dificuldades
inerentes na linguagem verbal (1991, p.389);
Na arteterapia psicanalítica, outro ponto fundamental é a concepção da arte
como uma forma de sublimação, tal como postulado por Freud. A sublimação
designa o processo no qual as pulsões são desviadas de seu objetivo original,
de ordem sexual, e utilizadas em atividades culturais, tais como a criação
artística ou a investigação intelectual, visando objetos socialmente valorizados
(Laplanche & Pontalis, 1998).

ARTETERAPIA JUNGUIANA
A arteterapia junguiana desenvolve-se no Brasil tendo como principais
referências o próprio Jung e o trabalho de Nise da Silveira. Nessa perspectiva,
a função da atividade artística é mediar a produção de símbolos do
inconsciente;
Para Jung, uma palavra ou uma imagem é simbólica quando implica alguma
coisa além do seu significado manifesto e imediato (1977, p.20), sendo que
esse outro sentido remete ao inconsciente;
Contudo, enquanto para Freud o inconsciente é formado por conteúdos
reprimidos, relativos à história pessoal do indivíduo, Jung concebe, além do
inconsciente pessoal, a existência do inconsciente coletivo, formado pelos
instintos e pelos arquétipos, o autor o chama de coletivo, pois ele não é
constituído de conteúdos individuais, mas de conteúdos que são universais e
aparecem regularmente (2001, p.355);
Outra diferença é que, para Jung, além de memórias de um passado
longínquo, também pensamentos inteiramente novos e ideias criadoras podem
surgir do inconsciente (1977, p.38), já que lhe é inerente uma função criadora,
que se manifesta nas imagens dos sonhos, das fantasias, nos mitos e na
expressão plástica;
Conforme salienta Silveira, tais produtos da função imaginativa do inconsciente
são autorretratos do que está acontecendo no espaço interno da psique, sem
quaisquer disfarces ou véus (2001, p.85), sendo uma característica própria da
energia psíquica transformar-se em imagem;
Em decorrência disso, a abordagem junguiana em arteterapia não é baseada
na interpretação das imagens como representações veladas do inconsciente,
cujo sentido viria a posteriori, dependendo da verbalização do paciente;
Ao contrário, Silveira coloca que o importante ao indivíduo é dar forma, mesmo
rudimentar, ao inexprimível pela palavra: imagens carregadas de energia,
desejos e impulsos (2001, p.86), nas quais a libido poderá ser apreendida viva,
e não esfiapada pelo repuxamento das tentativas de interpretação racionais
(2001, p.86);
Acerca da origem dessas imagens do inconsciente, que encontram uma via de
expressão no fazer artístico em arteterapia, a Psicologia analítica distingue dois
tipos, conforme descreve Silveira: a) imagens que representam emoções e
experiências vivenciadas pelo indivíduo, originando-se do inconsciente pessoal
e b) imagens arquetípicas, originadas do inconsciente coletivo, que são de
caráter impessoal, configurando-se a partir de disposições inatas, que formam
a estrutura básica e as camadas mais profundas da psique;
Segundo a autora, as imagens arquetípicas configuram vivências primordiais
da humanidade, semelhantes nos seus traços fundamentais (2001, p.86),
exprimindo, de diferentes modos em função da época e do lugar, os mesmos
afetos e ideias básicos do ser humano;
(...) Assim, os símbolos expressos na arte não são vistos como simples
projeção de conteúdos inconscientes, mas como mecanismos à sua
transformação qualitativa, contribuindo para o equilíbrio psíquico;
Nessa perspectiva, entende-se que, ao externalizar no papel o drama interior
vivido de modo desordenado, o indivíduo não só dá forma a suas emoções,
mas através disso despotencializa figuras ameaçadoras (Silveira, 2001, p.18);
(...) O psicólogo pode também estruturar as atividades expressivas a partir de
alguns objetivos ou temas pertinentes ao caso em questão, visando com isso a
auxiliar a pessoa em seu processo de individuação;
Na arteterapia Junguiana, psicólogo acompanha a pessoa em seu caminho
para a auto realização, dialogando e procurando facilitar essa jornada através
da arte;
A mandala é um símbolo do self, isto é, do si-mesmo, representando ao
mesmo tempo o centro e a totalidade psíquica (Jung, 2001). A função
terapêutica de desenhar mandalas está ligada à autodescoberta, pois elas
registram o estado psíquico do indivíduo em diferentes momentos,
representando, a partir de linhas, cores e formas, sua energia psíquica e a
organização de seu mundo interno. A partir daí, podem proporcionar insights
profundos, conduzindo a pessoa em sua jornada rumo ao self;
Ao trabalharmos com arteterapia na perspectiva junguiana, devemos evitar o
uso da interpretação, por isso, a melhor forma de fazer a leitura de uma
mandala é pedindo à própria pessoa para entrar em contato com o que
desenhou, procurando perceber e integrar os sentidos presentes naquela
imagem.

ARTETERAPIA GESTÁLTICA
Sendo a Psicologia da Gestalt originalmente uma teoria da percepção, esse é
um conceito central na arteterapia gestáltica, na qual a vivência artística tem
como finalidade ampliar a percepção do sujeito sobre si mesmo. Gestalt é uma
palavra alemã que significa forma, uma configuração, o modo particular de
organização particular das partes individuais que entram em sua composição
(Perls, 1988, p.19);
Rhyne utiliza o termo para se referir à percepção de uma configuração total,
por exemplo, a pessoa perceber sua personalidade como um todo, cujas
diversas partes formam, em seu conjunto, a realidade daquilo que ela é,
lembrando que o todo é mais do que a simples soma de suas partes;
Nessa abordagem, a função terapêutica do fazer artístico é a aquisição de
insights sobre como percebemos, nas formas criadas, tanto o mundo como a
nós mesmos;
Rhyne entende a atividade artística como um modo consciente de integração
entre fantasia e realidade, que se encontram de maneira construtiva na obra
criada. Esta constitui, então, uma ponte entre as realidades interna e externa,
pela qual se expressariam mensagens enviadas pela pessoa para si própria;
A compreensão de tais mensagens se baseia na percepção de inter-relações
entre a forma do objeto criado na atividade artística e os processos subjetivos
do criador, que assim toma conhecimento de aspectos seus até então
desconsiderados, e, conforme Andrade, tendo insights e integrando seu
passado no seu presente, desejo e realidade como um projeto de futuro (2000,
p.129).
Uma categoria central na arteterapia gestáltica é a vivência, que significa
experienciar um evento, estando pessoal e emocionalmente envolvido nesse
acontecimento, ou seja, é estar aqui-e-agora, como protagonista e observador
do acontecimento em curso;
Nesse sentido, a vivência de arte em Gestalt é um meio para o contato do
sujeito consigo mesmo, definindo-se no conjunto formado por: a) fazer formas
artísticas, b) estar emocionalmente envolvido nas formas que estão sendo
criadas como um evento pessoal, c) observar o que está sendo feito, e d)
perceber através das produções realizadas não somente como a pessoa está
neste momento, mas também maneiras alternativas possíveis para
desenvolver-se seguindo modelos mais desejados por ela mesma (Andrade,
2000, p.131);
Como coloca Rhyne, as imagens criadas não têm um significado particular por
si mesmas; o modo como as percebemos dá-lhes significado (2000, p.140).
Assim, um recurso que pode ser usado em arteterapia gestáltica é associar a
expressão escrita às atividades plásticas, como uma forma de dinamizar a
awareness, pois os sentidos da mensagem visual poderão tornar-se mais
claros para o próprio sujeito por meio da descrição que escreverá acerca de
sua produção artística;
Ciornai coloca que o papel do arteterapeuta gestáltico é acompanhar e guiar a
busca do cliente, utilizando os processos artísticos para intensificar o contato
do sujeito consigo mesmo, com os outros e com o mundo, de modo que a arte
seja para ele uma fonte no aprendizado de si mesmo. E aprendendo uma nova
forma de se expressar dentro de uma atividade artística, o sujeito poderá
encontrar também novos caminhos em sua vida (Ciornai, 1995).

UMA CONCEPÇÃO ESTÉTICA DO HUMANO


Para além das diferenças entre as vertentes aqui examinadas (psicanalítica,
junguiana e gestáltica), constato que há uma certa visão de homem como ser
criativo, compartilhada pelas diferentes vertentes, a qual estaria na base da
arteterapia, perpassando por suas diversas molduras;
Trata-se, a meu ver, de uma concepção estética do humano, visto como capaz
de criar e de recriar-se, um ser em constante devir, sendo a arte um catalisador
nesse processo, pois possibilita ao homem experimentar formas diferentes de
se expressar e, em consequência, de ser no mundo;
(...) a função terapêutica do fazer artístico apenas se inicia com essa
autodescoberta, aprofundando-se à medida que, na atividade criadora, o
sujeito também se redescobre em novas formas, podendo reinventar-se como
outro;
De acordo com Reis, a experiência estética proporciona ao sujeito o contato
com a alteridade, com o diferente, com o inesperado, com o novo, engajando o
sujeito em uma forma de percepção diferente da cotidiana, uma percepção
sensível e criativa (2011, p.85);
Se A arte cura? como questionado no título do livro organizado por Carvalho,
creio que essa cura não possa ser pensada desvinculada da função criadora
que qualquer atividade artística deveria ter, quando apropriada como
instrumento pela Psicologia.

A ARTE NO CONTEXTO DA SAÚDE MENTAL


A história da arteterapia no CAPS Geral SER III/ UFC teve início com a criação
dos primeiros grupos arteterapêuticos em junho de 2007. Salienta-se que,
embora não tenha havido critérios rígidos para o ingresso nesse grupo,
procurou-se priorizar as pessoas que expressassem algum tipo de interesse
pela arte;
Outro fator tido como prioritário ao acesso às atividades diz respeito aos
diagnósticos médicos dos usuários, em casos como esquizofrenia, transtorno
afetivo bipolar e alguns quadros de depressão;
A arte é, então, vista como um instrumento de enriquecimento dos sujeitos,
valorização de expressão e descoberta de potencialidades singulares.
Importante salientar que, ao final de todo o fazer criativo, os participantes são
estimulados a observar seus trabalhos, fazendo reflexões sobre seus
significados, percebendo o processo desde o primeiro momento da
representação artística.

ARTETERAPIA COM IDOSOS


A arteterapia pode ser um ótimo instrumento de trabalho com idosos, pois pelo
seu aspeto lúdico proporciona às pessoas que estão nesta fase da vida,
expressar os seus sentimentos, emoções, medos e angústias, em relação ao
seu processo de envelhecimento;
Através da arte, o idoso pode resgatar situações de vida que não foram
devidamente elaboradas, e a partir dos recursos artísticos e expressivos, pode
configurar tais situações e elaborá-las e integrá-las na sua consciência;
Fazer e vivenciar a arte promove relaxamento, redução do nível da ansiedade,
inquietude, impaciência e angústia - que é normal no indivíduo idoso;
É uma oportunidade de ser escutado, de receber atenção, que em muitos
casos é o que muitos idosos precisam. É também uma forma de lazer, onde o
idoso preenche o tempo de forma prazerosa. Recuperam a sua autoestima,
pois são capazes de pintar, desenhar, modelar...
Através da arteterapia, a produção plástica facilita a abertura de canais de
comunicação, de percepção e de sensibilidade, proporcionando ao idoso uma
melhor aceitação de si e da sua realidade.

ARTE COMO TERAPIA


A arte para o homem pré-histórico teria um sentido mágico, se referia ao
mundo invisível dos espíritos. Talvez o temor, ou uma forma de controle da
natureza fez o homem construir utensílios, moradias... A arte foi associada à
forma e função,o trabalho do homem como construção de sua própria cultura;
Pode-se entender que, uma condição fundamental para a criação construtiva
em arte é estabelecer uma reflexão de sentido, talvez um centro interior
avaliador. Então a criação construtiva tornar-se-á terapêutica;
Neste sentido, entende-se que as oficinas de arte podem funcionar como
terapia, pois, a viabilidade e importância das oficinas como tratamento na área
de saúde mental é uma prática que vem somar ao acompanhamento
medicamentoso e tratamento psicoterápico individual, propondo uma ruptura
das práticas psicológicas tradicionais;
A arte é uma agente de cura quando permite que o indivíduo reencontre os
seus símbolos. Para Ciornai (2004), a utilização de linguagens artísticas em
processos terapêuticos é como ver o velho com um novo olhar, reconstruir de
uma forma nova. Trabalhando a criação se torna uma fonte de reflexão e
autoconhecimento;
Na arteterapia não se tem uma preocupação estética, apenas em expressar
sentimentos. Esta cartasse pode proporcionar ao indivíduo possibilidades de se
reorganizar internamente, pois a atividade artística por si só é regeneradora;
Percebe-se a partir do exposto que a arteterapia é a utilização de recursos
artísticos para fins terapêuticos. O eixo central é a interação organismo-meio e
essa interação acontece através de dois processos simultâneos: a organização
interna e a adaptação ao meio;
O processo de criação provoca esta reorganização interna de sentimentos e
pensamentos e a partir deste ponto é possível estabelecer uma linguagem com
o externo, a realidade.

CONCEITUALIZAÇÃO
A psicossomática é uma ciência interdisciplinar que integra diversas
especialidades da medicina e da psicologia para estudar os efeitos de fatores
sociais e psicológicos sobre processos orgânicos do corpo e sobre o bem-estar
das pessoas;
Psicossomática é um termo que pode ser empregado para qualquer tipo de
sintoma, seja ele físico, emocional, psíquico, espiritual, profissional, relacional,
comportamental, social ou familiar;
Segundo Eksterman (1992), a Medicina Psicossomática é um estudo das
relações mente-corpo com ênfase na explicação psicológica dos sintomas
corporais;
A psicossomática é a ciência que estuda as doenças orgânicas com descarga
no corpo, isto é, uma lesão de órgão ou sistema provocado por alguma
disfunção do sistema nervoso;
Na psicossomática, pensa-se a realidade na sua unidade, considerando os
aspetos biológicos e psicológicos. Interessa-se pelos aspetos de interação
causa/efeito, a pessoa como um todo na sua perspectiva biológica e relacional,
isto é, pensar a realidade na sua totalidade: a entidade biológica e a entidade
psicológica;
De acordo com Holmes (1997) há uma diferença entre os transtornos
somatoformes e transtornos psicossomáticos: nos dois tipos de transtornos as
causas são psicológicas, e os sintomas são físicos;
A distinção entre eles é que nos distúrbios somatoformes não há lesão física
(ex., um indivíduo reclama de dor no estômago e na verdade não há nada
fisicamente errado com o órgão), enquanto com os distúrbios psicossomáticos,
há lesão física (ex., úlceras envolvem lesões no revestimento do estômago)
(MOURA, 2008).

BREVE HISTÓRICO
Segundo Moura (2008) o termo “psicossomático” foi utilizado pela primeira vez
em 1818 por Heinroth, psiquiatra alemão, ao fazer referência a insônia e a
influência das paixões na tuberculose, epilepsia e cancro. No século seguinte
as descobertas de Freud permitiram uma melhor compreensão desses
fenômenos;
Em 1922 Deutsch reintroduziu esse termo em Viena. Antes da psicanálise,
entendia-se que as doenças eram causadas por agentes externos. Havia, é
claro, muitas iniciativas em tentar compreender a relação corpo e mente;
O próprio surgimento do termo psicossomática em 1828 por Johann Heinroth
testemunha isto. Ele postula que paixões sexuais são importantes para a
manifestação de doenças como tuberculose, epilepsia e câncer, ressaltando a
importância dos aspectos físicos e psíquicos integrados nos processos de
adoecer (VOLICH, 2000, p. 43);
A psicossomática evoluiu das investigações psicanalíticas que contribuem para
o campo com informações acerca da origem inconsciente das doenças, e mais
especificamente dos estudos das paralisias e anestesias histéricas originados
das contribuições pré - psicanalíticas de Jean-Martin Charcot e Josef Breuer;
A expressão doença psicossomática foi utilizada inicialmente para referir-se
apenas a certas doenças como a úlcera péptica, asma brônquica, hipertensão
arterial e colite ulcerativa onde as correlações psicofísicas eram muito nítidas
posteriormente foi-se percebendo que tal concepção é potencialmente válida
para todas as doenças (MELLO FILHO, 2005);
Segundo Cardoso (2005), a história da psicossomática poderia ser dividida em
duas grandes correntes: de um lado, as correntes inspiradas nas teorias
psicanalíticas e com base no conceito de doença psicossomática; de outro
lado, a inspiração biológica, alicerçada no conceito de stress;
Já Mello Filho (1992) considera três fases distintas na evolução da
Psicossomática: a inicial ou psicanalítica, em que foi estudada, entre outros
assuntos, a origem inconsciente das doenças e o fenômeno de regressão; a
intermédia ou behaviorista, na qual houve uma tentativa para enquadrar os
estudos feitos em humanos e animais nas ciências exatas; e a atual ou
multidisciplinar, em que é dada importância às influências sociais e se
considera a Psicossomática como atividade de interação e integração de dados
de diferentes áreas do saber.

PSICANÁLISE E PSICOSSOMÁTICA
As indagações sobre as relações entre o psíquico e o somático percorrem toda
a obra de Freud. Os primeiros trabalhos sobre a histeria permitiram-lhe
reconhecer a influência do funcionamento psíquico nos sintomas somáticos,
onde se evidencia a relação entre histeria e sexualidade, apresentando-se
também a noção de conversão, através da qual o conflito psíquico seria
transposto para o soma, carregando o sintoma de significado simbólico;
De acordo com Cardoso (1995), o maior legado de Freud para as investigações
psicossomáticas se deve ao conceito de conversão individual. Esse termo
conversão foi utilizado por Freud para explicar a transposição de um conflito
psíquico na tentativa de resolvê-lo em termos de sintomas somáticos, motores
ou sensitivos;
Passados mais de cem anos do surgimento da psicanálise, atualmente há um
campo de conhecimento denominado hoje como psicossomática psicanalítica
do qual compartilham diversos autores e posicionamentos, em que há um
acordo em se considerar uma multiplicidade de causas para o adoecer
relacionados com conflitos inconscientes (MELLO, 2009).

ARTETERAPIA NO NOVO PARADIGMA DE ATENÇÃO EM SAÚDE


MENTAL
A Reforma Psiquiátrica no Brasil e no mundo trouxe e traz mudanças na
percepção e intervenção dos profissionais da saúde em relação à doença e ao
doente mental;
A Reforma tem como base a reabilitação psicossocial da pessoa com
sofrimento mental, propondo práticas mais humanizadas que visam à
reintegração desse indivíduo à sociedade;
A arteterapia e outras técnicas expressivas são consideradas intervenções
importantes dentro desse novo enfoque mais humano.
HISTÓRIA DA ARTETERAPIA
A partir da Reforma Psiquiátrica, notam-se mudanças relacionadas ao
tratamento das doenças mentais, surgindo uma nova concepção de cuidado
com tais doentes, visando uma melhor qualidade de vida para tais pessoas,
bem como a sua retirada do ambiente manicomial, proporcionando sua
reinserção na sociedade;
Rissato et al (2008), aponta que nesse contexto extra-hospitalar, a arte passa a
ter um papel de grande importância, possibilitando a reabilitação e inclusão
sóciofamiliar dos doentes mentais, priorizando o tratamento do indivíduo como
um todo;
Tommasi (2005) destaca que a arte sempre esteve vinculada à existência
humana, como meio de diálogo, interação social, registro histórico,
desenvolvimento da estética, do belo e harmônico;
De acordo com Ciornai (2004), Margareth Naumburg – artista plástica,
educadora e psicóloga americana – foi quem primeiro interessou‐se pelo elo
entre o trabalho desenvolvido na sua escola, onde utilizava‐se o método
Montessori e o campo da psiquiatria e da psicoterapia;
Naumburg, apesar de não ter sido a primeira a empregar o termo arteterapia,
ficou conhecida como “mãe” da técnica por ter sido a primeira a diferenciá‐la
claramente como um campo específico, estabelecendo os fundamentos
teóricos sólidos para seu desenvolvimento;
De acordo com Achterberg (2000), na década de 1980, a arteterapia chega ao
Brasil por Selma Ciornai, psicoterapeuta gestáltica com formação em
Arteterapia em Israel e nos Estados Unidos, que a apresentou a São Paulo,
criando o primeiro curso de Arteterapia do país, no Instituto Sedes Sapientiae;
A Associação Brasileira de Arteterapia (2009) define essa técnica como um
estilo de trabalhar empregando a linguagem artística como alicerce da
comunicação cliente-profissional; seu cerne seria a criação estética e a
elaboração artística a favor da saúde;
(...) Dra. Nise percebeu na linguagem não verbal instigada por intervenção das
expressões artísticas como desenho, pintura, modelagem e dança, a
possibilidade para penetrar no mundo psíquico dos pacientes. Os pacientes, no
ateliê, podiam expressar conteúdos internos, afirmando a si e aos outros, que
mesmo estando internamente desorganizados, apresentavam aspectos
conservados e intactos em sua estrutura psíquica. (sua abordagem era
Psicanálise Junguiana);
(...) A arteterapia vem ganhando espaço cada vez maior no campo da saúde
mental, apresentando-se como uma das ferramentas fundamentais para
amenizar os efeitos negativos da doença mental. É central a promoção do
bem-estar da pessoa com sofrimento psíquico, uma vez que a arteterapia
propicia mudanças nos campos afetivo, interpessoal e relacional, melhorando o
equilíbrio emocional ao término de cada sessão;
Tratando-se especificamente do campo da saúde mental, ressaltamos que a
arteterapia apresenta um novo olhar e uma nova forma de cuidar e proporciona
uma evolução no quadro de doentes mentais.

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