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Índice
INTRODUÇÃ O
PRIMEIRA DESCULPA
1. O Primeiro Pedido de Desculpas de Justino em favor dos Cristã os
2. Justin exige justiça
3. Exija uma investigaçã o judicial
4. Os cristã os sã o condenados injustamente por serem cristã os
5. Cristã os sã o acusados de ateísmo
6. A acusaçã o de ateísmo é refutada
7. Todo cristã o deve ser julgado por sua pró pria vida
8. Os cristã os confessam sua fé em Deus
9. A adoraçã o de ídolos é um culto vazio
10. A adoraçã o devida a Deus
11. Seu reino nã o é deste mundo
12. Viver sob o olhar de Deus
13. Os cristã os servem a Deus racionalmente
14. Demô nios escravizam cristã os
15. Os ensinamentos de Cristo
16. Sobre paciência e palavrõ es
17. Cristo ensinou a obediência civil
18. Provas de imortalidade e ressurreiçã o
19. A Ressurreiçã o
20. Analogias pagã s com a doutrina cristã
21. Analogias com a histó ria de Cristo
22. A filiaçã o de Cristo e suas analogias
23. Apresentaçã o da argumentaçã o
24. Variedade de cultos pagã os
25. Falsos deuses sã o abandonados pelos cristã os
26. Agentes masculinos do diabo
27. Exposiçã o culpada de crianças
28. Deus cuida de suas criaturas
29. A continência dos cristã os
30. Cristo era um má gico?
31. Dos profetas judeus
32. Cristo profetizado por Moisés
33. A maneira como o nascimento de Cristo foi profetizado
p
34. O local de nascimento profetizado de Cristo
35. Outras profecias cumpridas
36. Diferentes tipos de profecia
37. O Pai fala
38. O Filho Fala
39. O Espírito fala
40. A vinda de Cristo profetizada
41. O reino de Cristo profetizado
42. Profecias usando o tempo passado
43. Doutrina da responsabilidade humana
44. Esta doutrina é a doutrina dos profetas
45. O reinado de Cristo é profetizado
46. A Palavra no mundo antes de Cristo é Cristo
47. A profetizada devastaçã o da Judéia
48. As obras profetizadas e a morte de Cristo
49. Os judeus nã o o reconheceram
50. Sua humilhaçã o foi prevista
51. A majestade de Cristo
52. Certeza do cumprimento da profecia
53. Resumo das profecias
54. Como nasceram as mitologias pagã s
55. Os símbolos da cruz
56. Os demô nios continuam a agir
57. Os demô nios instigam a perseguiçã o
58. Eles ainda enviam hereges
59. O que Platã o deve a Moisés
60. A doutrina da Cruz segundo Platã o
61. Batismo Cristã o
62. O batismo é imitado pelos demô nios
63. Como Deus Apareceu a Moisés
64. Mais interpretaçõ es erradas da Verdade
65. A dispensaçã o dos sacramentos
66. Da Eucaristia
67. Do primeiro dia da semana
68. Conclusã o
SEGUNDO DESCULPA
1. introduçã o
2. Urbico condena cristã os à morte
3. Justino ao Crescente do preconceito contra os cristã os
4. Por que os cristã os nã o se matam
5. Como os anjos transgrediram
6. Nomes de Deus e Cristo, seus significados e poder
7. O mundo é preservado para o bem dos cristã os
8. O mundo odeia os portadores de sementes
9. A tortura eterna nã o é uma mera ameaça
10. Comparaçã o de Cristo com Só crates
11. Como os cristã os veem a morte
12. A inocência dos cristã os é provada por sua alegria na morte
13. A Palavra está em todos os homens
14. Justin reza para que este apelo seja publicado
15. Conclusã o
Justin mártir
DESCULPAS
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Este livro é um produto de seu tempo e não reflete necessariamente o pensamento atual, que evoluiu, como seria
se fosse escrito hoje.
CONTEÚDO
INTRODUÇÃ O
PRIMEIRA DESCULPA
1. O Primeiro Pedido de Desculpas de Justino em favor dos Cristã os
2. Justin exige justiça
3. Exija uma investigaçã o judicial
4. Os cristã os sã o condenados injustamente por serem cristã os
5. Cristã os sã o acusados de ateísmo
6. A acusaçã o de ateísmo é refutada
7. Todo cristã o deve ser julgado por sua pró pria vida
8. Os cristã os confessam sua fé em Deus
9. A adoraçã o de ídolos é um culto vazio
10. A adoraçã o devida a Deus
11. Seu reino nã o é deste mundo
12. Viver sob o olhar de Deus
13. Os cristã os servem a Deus racionalmente
14. Demô nios escravizam cristã os
15. Os ensinamentos de Cristo
16. Sobre paciê ncia e palavrõ es
17. Cristo ensinou a obediê ncia civil
18. Provas de imortalidade e ressurreiçã o
19. A Ressurreiçã o
20. Analogias pagã s com a doutrina cristã
21. Analogias com a histó ria de Cristo
22. A filiaçã o de Cristo e suas analogias
23. Apresentaçã o da argumentaçã o
24. Variedade de cultos pagã os
25. Falsos deuses sã o abandonados pelos cristã os
26. Agentes masculinos do diabo
27. Exposiçã o culpada de crianças
28. Deus cuida de suas criaturas
29. A continê ncia dos cristã os
30. Cristo era um má gico?
31. Dos profetas judeus
32. Cristo profetizado por Moisé s
33. A maneira como o nascimento de Cristo foi profetizado
34. O local de nascimento profetizado de Cristo
35. Outras profecias cumpridas
36. Diferentes tipos de profecia
37. O Pai fala
38. O Filho Fala
39. O Espírito fala
40. A vinda de Cristo profetizada
41. O reino de Cristo profetizado
42. Profecias usando o tempo passado
43. Doutrina da responsabilidade humana
44. Esta doutrina é a doutrina dos profetas
45. O reinado de Cristo é profetizado
46. A Palavra no mundo antes de Cristo é Cristo
47. A profetizada devastaçã o da Judé ia
48. As obras profetizadas e a morte de Cristo
49. Os judeus nã o o reconheceram
50. Sua humilhaçã o foi prevista
51. A majestade de Cristo
52. Certeza do cumprimento da profecia
53. Resumo das profecias
54. Como nasceram as mitologias pagã s
55. Os símbolos da cruz
56. Os demô nios continuam a agir
57. Os demô nios instigam a perseguiçã o
58. Eles ainda enviam hereges
59. O que Platã o deve a Moisé s
60. A doutrina da Cruz segundo Platã o
61. Batismo Cristã o
62. O batismo é imitado pelos demô nios
63. Como Deus Apareceu a Moisé s
64. Mais interpretaçõ es erradas da Verdade
65. A dispensaçã o dos sacramentos
66. Da Eucaristia
67. Do primeiro dia da semana
68. Conclusã o
SEGUNDO DESCULPA
1. introduçã o
2. Urbico condena cristã os à morte
3. Justino ao Crescente do preconceito contra os cristã os
4. Por que os cristã os nã o se matam
5. Como os anjos transgrediram
6. Nomes de Deus e Cristo, seus significados e poder
7. O mundo é preservado para o bem dos cristã os
8. O mundo odeia os portadores de sementes
9. A tortura eterna nã o é uma mera ameaça
10. Comparaçã o de Cristo com Só crates
11. Como os cristã os veem a morte
12. A inocê ncia dos cristã os é provada por sua alegria na morte
13. A Palavra está em todos os homens
14. Justin reza para que este apelo seja publicado
15. Conclusã o
INTRODUÇÃO
Poucos, se algum, dos apologistas sã o tã o conhecidos quanto Justin,
e poucos, se houver, merecem mais sua reputaçã o. Sã o Justino foi o
primeiro iniciador da filosofia cristã , e o primeiro apologista de grande
mérito. Ele nã o é, de fato, um grande homem e dificilmente pode ser
chamado de grande escritor; mas ele é um homem de franqueza e
sinceridade transparentes, e um escritor cujo ú nico objetivo é explicar e
defender a verdade. O que falta em profundidade de pensamento,
compensa em amplitude de empatia. Se sua habilidade retó rica é
imperfeita, ele é persuasivo por sua seriedade simples. Na juventude
dedicara-se à filosofia e, depois de sua conversã o, nã o via razã o para
renunciar à perseguiçã o ou abandonar seu nome distintivo. Por este
ú ltimo ele se autodenomina Justino, o Filó sofo, um título que a Igreja
substituiu pelo mais glorioso Justino Má rtir. A chave para sua mente é
sua sede de satisfaçã o intelectual. Ele nã o é um gênio original que pode
pensar em um sistema para si mesmo; nenhum crítico ousado que,
aceitando um sistema, pode ver suas fraquezas; mas ele é
eminentemente o estudante imparcial, o homem de alta cultura, para
quem a declaraçã o filosó fica da verdade é tã o necessá ria que ele nã o
pode descansar até que a encontre. E assim, para ele, a revelaçã o cristã
se apresenta sob o disfarce da verdadeira filosofia. Ele nã o é cego para
os outros aspectos dela, mas este é o que o pega. E é à persistência
silenciosa, mas inabalável, com que ele a apresenta, que se deve
principalmente o efeito de seus escritos sobre a Igreja.
Incluiremos dele um breve relato de sua vida e obra, e entã o
tentaremos estimar sua posiçã o na literatura cristã .
Sua vida - Justin era filho de Prisco e neto de Bacchius, e nasceu
em Flavia Neapolis em Samaria. Ele se autodenomina samaritano, mas
isso nã o deve significar que ele era de sangue semita. Sem dú vida, ele
era um gentio de origem, provavelmente um grego, certamente
ignorante do hebraico, incircunciso e criado em costumes pagã os. A
data exata de seu nascimento é incerta. Ele fala sobre si mesmo na
Apologia escrita 150 anos depois de Cristo, mas esse é possivelmente
um nú mero arredondado. A tradiçã o coloca seu martírio sob a
prefeitura de Rustico, que começou no ano 163, e fala dele como
estando em pleno vigor de sua idade. Se aceitarmos a tradiçã o, seu
nascimento pode ser estabelecido por volta do ano 110. Ele recebeu
uma educaçã o cuidadosa - pagã , é claro. Ele primeiro estudou literatura
e histó ria, ou o que é o mesmo, as obras de poetas, oradores e
historiadores. Em suas desculpas, ele fez uso frequente de seus estudos
literá rios; mas é claro que nele o filó sofo estava muito acima do homem
de letras, e o amor à verdade era muito mais ardente do que o gosto
pelas belezas da linguagem e pelo requinte da arte. estilo.
Como a maioria dos pais, Justin é muito mais preciso sobre sua
histó ria espiritual do que sobre sua histó ria de vida exterior. No diá logo
com o judeu Trifã o, ele faz um interessante relato dos esforços que
empreendeu na busca da verdadeira sabedoria.
Naqueles dias, como agora, a filosofia corrente era materialista.
Mas naqueles dias, como agora, os espíritos mais fervorosos nã o
conseguiam encontrar descanso em nenhum ensinamento que ficasse
aquém de Deus. Desde o primeiro alvorecer de seu entusiasmo
filosó fico, Justino nos assegura que seu principal objetivo era aprender
sobre Deus. Cheio de esperança, ele se juntou a um professor estó ico e
recebeu instruçã o tripla em física, ló gica e ética. Mas quando ele se
aventurou a indagar sobre a Natureza Divina, foi-lhe dito, como dizem
aos homens agora, que no reino da causalidade física nã o há lugar para
Deus; que o Divino está fora da esfera do conhecimento científico.
Desapontado, mas nã o desanimado, ele se voltou para a escola
peripatética ou aristotélica, mas aqui se deparou com um espírito de
prudência mundana que estava mais ansioso para garantir o
pagamento de um aluno do que para transmitir o dom do
conhecimento. A ideia de lucrar com as dificuldades de um pesquisador
repugnava a todos os espíritos nobres dos tempos antigos. O espírito
generoso dos primeiros filó sofos, que comunicavam livremente seus
pensamentos, ainda nã o havia desaparecido. Justino decidiu nã o se
envolver mais com esse indigno professor e o trocou por um pitagó rico
de grande reputaçã o, a quem expressou os desejos de seu coraçã o. Este
professor, que parece ter sido um homem honesto, insistiu na
necessidade de um longo curso de estudo matemá tico e astronô mico
como uma preliminar indispensável para o reino ainda mais abstrato da
teologia. Justino ficou perplexo. Ele sabia pouco ou nada desses
estudos, estudo que parecia muito difícil para o discípulo. Ele queria
aprender sobre Deus, e foi-lhe dito que primeiro deveria aprender
geometria. Ele respeitava seu mestre, percebeu sua pró pria ignorâ ncia,
mas foi o verdadeiro instinto que o fez se afastar dele. "O mundo com
sabedoria nã o conheceu a Deus." Se Deus deve ser conhecido apenas
como a mais abstrata de todas as abstraçõ es, Ele nã o deve ser
conhecido de forma alguma. Entã o agora, com o coraçã o pesado, o
jovem investigador se virou mais uma vez e procurou seu ú ltimo guia
pagã o. Este era um platô nico, que parece ter entrado em sua mente com
mais ou menos sucesso e o inspirou com novas esperanças de alcançar
seu objetivo. A Igreja sempre confessou sua ternura para com Platã o; há
nele uma verdadeira afinidade com muitas das doutrinas da igreja. Nã o
foi por acaso que Justino foi levado diretamente de Platã o a Cristo.
Um dia, enquanto ele vagava pela praia absorto em meditaçã o, um
velho de semblante agradável o abordou, puxou-o para uma conversa e
discutiu se a filosofia pode realmente resolver os problemas da vida ou
dar certeza à alma duvidosa. Justino é honesto demais para dizer que
sim, mas pergunta: "Se a filosofia nos falhar, a quem recorreremos?" E
entã o o anciã o explicou-lhe que houve homens a quem o pró prio Deus
comunicou a verdade: homens santos, amigos de Deus, profetas, aos
quais seu Espírito veio e os encheu de sabedoria superior à deles, e que
suas palavras foi preservado por longas eras para a orientaçã o da
humanidade, até entã o entesourado em segredo, mas recentemente, na
plenitude dos tempos, manifestado a todos os homens por Jesus de
Nazaré, Ele mesmo o maior dos profetas, e o Filho de Soaring. E ele
disse ao jovem que levantasse sua alma em oraçã o, "para que as portas
da luz também se abram para você, pois essas coisas só podem ser
vistas e conhecidas por aqueles a quem Deus e seu Cristo deram
entendimento".
Essa conversa constituiu o ponto de virada na vida de Justin. Ele
nunca mais viu o velho, mas aquelas palavras comoventes cortaram
profundamente sua alma. Ele refletiu sobre eles e se convenceu de que
na revelaçã o dada por Cristo e pelos amigos de Cristo estava a
verdadeira filosofia divina. Assim, Sã o Justino tornou-se um cristã o, e
um cristã o muito fervoroso, cheio de ardor para ganhar almas para
Cristo. Quando se virou? O historiador Eusébio e Zonaras dizem que
durante o império de Adriano, e esta é a opiniã o comum; mas com isso
a data nã o é indicada, exceto de forma muito imprecisa. Alguns
disseram que a conversã o ocorreu antes de 126, porque a perseguiçã o
de Adriano cessou nessa época, na qual Sã o Justino sem dú vida
admirou a constâ ncia dos má rtires. De pouco vale o argumento, pois
por um lado nã o está provado que nã o houve má rtires depois de 126 e,
por outro, o sentimento de admiraçã o, embora nascido ao ver os
tormentos, poderia ter crescido mais tarde até determinar a conversã o.
Outra conjectura também pode ser feita. Eusébio de Cesaréia escreve
que Justino ainda seguia a filosofia grega quando Adriano concedeu
honras divinas a Antínoo. E como a divinizaçã o de Antinous ocorreu em
132, a conversã o de San Justino é posterior a esta data. Por outro lado,
como Adriano morreu em 138, a conversã o de Sã o Justino ocorreu
entre 132 e 138.
Mas, notemos, ele nã o rompeu com a filosofia. Ele continuou
admirando a parte da verdade que se encontra neles e admirando
Platã o e Só crates, Zenã o e os estudos. Ele nã o acreditava, como Taciano
e Hérmias, que a filosofia fosse uma coleçã o de absurdos e um inimigo
do cristianismo. Para ele, ela tinha sido a escrava da verdade. Para ele, o
sistema cristã o coroa e glorifica, mas nã o destró i, seus predecessores.
Ele continua a usar a toga de um filó sofo: tentou infiltrar o espírito
cristã o na filosofia grega e formar uma filosofia cristã . Convencido de
que saber dizer a verdade e silenciar é atrair a ira divina, dedicou-se
aos ensinamentos da religiã o cristã e da filosofia cristã . Abriu uma
escola em Roma, onde passou dois longos temporadas.
Assim que foi batizado, ele parece ter dedicado sua vida à defesa
pú blica da fé, sem buscar polêmica, mas, mantendo as vestes do
filó sofo, está pronto para o debate em todos os cantos. Ouvimos falar
dele em É feso e em Roma, onde viveu por alguns anos. É registrado por
Santo Irineu que ele escreveu contra o heresiarca Marciã o, a quem ele
também desafia em ambas as Apologias. Marciã o esteve em Roma por
volta do ano 145, e lá sem dú vida conheceu Sã o Justino. Ele também
desafiou outras heresias e escreveu muitos livros, que se perderam.
Eusébio cita alguns deles, como as Saltas e um livro sobre a alma. A
autenticidade da Cohortatio ad Graecos e do tratado De Monarchia é
discutida hoje . Sem tocar nesse assunto diretamente com as Desculpas,
nã o pretendo examine-o.
A presença diá ria de um apologista cristã o nesses grandes centros
deve ter chamado a atençã o do pú blico. Nã o podemos nos perguntar se
Justin fez inimigos. Destes, o mais amargo era um Crescente, um cínico,
a quem Justin havia condenado publicamente por ignorar os princípios
que atacava e por cujo ressentimento ele esperava retaliaçã o. Por outro
lado, como aprendemos em seu Diá logo, ele ocasionalmente se
encontrava com partes amistosas em disputa, que discutiam seus
pontos de divergência sem preconceito. O judeu Trypho, que aparece
ali, é um exemplo notável disso. Ele é tã o diferente da média de seus
compatriotas quanto se pode imaginar. Sem julgamento, amigável,
disposto a ouvir e apreciar os argumentos apresentados contra ele, ele
parece um modelo de controvérsia. Ele tem uma falha, no entanto, que
neutraliza essas vantagens. Pois embora seja um observador
escrupuloso da lei cerimonial, ele é evidentemente um cético de
coraçã o. A seriedade de Justino é descartada por ele mesmo. Admire,
mas nã o acredite. Ele é um tipo daquela classe de helenistas
esclarecidos, dos quais Fílon de Alexandria é o produto mais elevado,
que estabeleceu um modus vivendi com a cultura pagã ; eles eram
companheiros muito mais agradáveis do que os faná ticos palestinos
para quem o cristianismo era uma abominaçã o, mas eram assuntos
igualmente pouco promissores para a conversã o.
Nã o temos informaçõ es seguras sobre o resto da vida de S. Justino.
Sabemos que ele ensinou uma segunda vez em Roma e foi capaz,
enquanto viveu, de manter o espírito ardente de Taciano em sujeiçã o à
verdadeira fé. Alguns outros nomes sã o mencionados em conexã o com
ele, mas nenhum de preeminência na Igreja. Embora nã o buscasse o
martírio, estava totalmente preparado para isso. Por natureza, ele nã o
era imune ao valor de uma morte nobre. Ele cita com admiraçã o a
morte de Só crates e outros grandes pagã os como testemunho vá lido da
inocência de suas vidas; e ele nos conta como, embora ainda pagã o,
ficou profundamente comovido com a constâ ncia dos cristã os sob
tortura e morte, e como, com base apenas nessa evidência, ele rejeitou a
crença nas calú nias espalhadas contra eles. E na Divina Providência ele
foi chamado para dar a mesma evidência, com resultados abençoados
semelhantes.
Seu martírio - Já na segunda Apologia Sã o Justino havia indicado
seu pressentimento de que Crescente ou outros inimigos de Cristo o
denunciariam, para que fosse condenado à morte. Assim aconteceu, e
aparentemente nã o passou muito tempo entre a segunda Apologia e o
martírio: Taciano o diz e Eusébio o repete, e ambos atribuem a
acusaçã o a Crescente. Conservam-se as atas do martírio de San Justino,
redigidas em grego, na mesma língua em que se realizou o processo.
Todos reconhecem que neles pulsa a sinceridade, e embora alguns
queiram apontar pequenos erros neles, ou eles nã o existem ou sã o
compatíveis com a autenticidade das atas. Entã o podemos confiar neles.
Os atos indicam com bastante precisã o a data do martírio. Segundo
eles, o prefeito que condenou San Justino e seus companheiros foi
Rustico. Pois bem: Jú nio Rú stico, amigo de Marco Aurélio e seu
confidente mais íntimo, aquele que ensinara Epicteto a ler e a quem o
imperador confiava todos os seus negó cios pú blicos e privados, era
prefeito de Roma em 163, ano em que o imperador aconteceu na
capital. Rustico sucedeu a dois perseguidores: Ubico, que em 160
condenou à morte os três cristã os mencionados na segunda Apologia, e
Juliano, que em 162 condenou Santa Felicidade e seus filhos. O ano do
martírio deve ter sido, entã o, 163, ou De qualquer forma, o 161. Ernesto
Renan estava determinado a livrar Marco Aurélio da responsabilidade
pela morte de Sã o Justino: achava errado um imperador filó sofo
condenar à morte um filó sofo cristã o; por isso antecipou a data do
martírio e atribuiu-a a Antonino Pío. Coisa estranha! Em tudo os
racionalistas tendem a atrasar a data dos acontecimentos da Igreja
primitiva, e no entanto o martírio de Sã o Justino é antecipado por puro
preconceito. Porque, embora Marco Aurélio fosse um filó sofo, ele
menosprezava a filosofia cristã ou talvez a considerasse uma futura
rival da sua; De qualquer modo, esta circunstâ ncia nã o foi suficiente
para que o imperador filó sofo distorcesse o curso das leis e
pronunciasse a absolviçã o do filó sofo Cristã o. Para responder _ para o
argumento levado de as processo, ele alegou renan que estes falam de
um Justin má rtir diferente do filó sofo; mas ele má rtir de que falam as
atas foi mestre dos cristã os e portanto, foi o mesmo filó sofo Sã o Justino.
todos os críticos e Os historiadores acreditaram até Renan que o Justin
desses atos era ele mesmo das Desculpas. E já foi dito que, para o
sotaque sinceridade com que sã o escritos, os atos do martírio de Santo
justin eles sã o muito diferentes de outros atos romanos, muito menos
seguro . Por fim , digamos que a afirmaçã o de Renan nã o ha encontrado
apoiadores entre os críticos posteriores, e vamos fazer um sumá rio do
conteú do desta ata.
Justino nã o apareceu sozinho diante do prefeito Chariton: uma
mulher chamada Caridad, Evevelpisto, Hierax, Peon e Liberiano o
acompanharam em seu martírio. Essas pessoas obscuras
provavelmente frequentavam a casa do grande doutor, que nã o
desdenhava de ensinar a verdade a homens, mulheres e escravos
humildes. O prefeito dirigiu-se primeiro a Justin, dizendo-lhe:
"Submeta-se aos deuses e obedeça aos imperadores." "Ninguém",
respondeu o filó sofo, "pode ser repreendido ou condenado por ter
seguido as leis de Nosso Senhor Jesus Cristo." “Que ciência você
estuda?” interrompeu o prefeito. "Estudei todas as ciências e acabei
aderindo à doutrina dos cristã os, embora isso desagrade aos que estã o
dominados pelo erro." " E essa, miserável, é a doutrina que te agrada?"
"Sim; eu sigo os cristã os, porque eles têm a verdadeira doutrina. " "Que
doutrina é essa?" "Consiste en creer en un solo Dios, creador de las
cosas visibles y de las invisibles, y en confesar a Jesucristo, Hijo de Dios,
predicho anteriormente por los profetas, futuro Juez del linaje humano,
mensajero de salvació n y maestro de cuantos consienten en recibir sus
enseñ anzas. Yo, pobre creatura humana, soy dema siado débil para
hablar dignamente de su divinidad infinita: fue esa la misió n de los
profetas. Hace siglos que por la inspiració n de lo Alto anunciaron ellos
que vendría al mundo el que he llamado Hijo de Deus."
Parecia natural que Rú stico, que se gabava de ser filó sofo,
encontrando um sá bio e um verdadeiro filó sofo, lhe fizesse perguntas
mais profundas sobre a doutrina que seguia. Nã o foi assim, no entanto;
Orgulhoso de sua filosofia, sem dú vida desprezava a filosofia cristã ,
considerando-a a filosofia dos escravos. O fato é que ele perguntou
abruptamente: "Onde vocês se encontram?" Justino foi muito prudente
para responder claramente a esta pergunta comprometedora, e
responde: "Você acha que nos encontramos sempre no mesmo lugar?
De modo algum; o Deus dos cristã os nã o está encerrado em um
determinado lugar: invisível, ele preenche o céu e a terra; em todos os
lugares seus fiéis o adoram e o exaltam”. "Vamos", insistiu o prefeito,
"diga-me onde você congrega, onde você reú ne seus discípulos." Foi
fá cil responder à pergunta, assim reduzida de alcance, e Justino
responde concretamente: "Eu Eu tenho vívido até agora aproximar de
lar de a tal Martin, junto à s termas do Timó teo. É a segunda vez que
venho a Roma; Nã o conheço outra morada na cidade senã o esta." Era
hora de terminar o interrogató rio, e o prefeito fez a pergunta decisiva:
"Você é, entã o, cristã o?" "Sim", respondeu Sã o Justino, " Eu sou cristã o."
Resta continuar perguntando a Justino, e o prefeito se voltou para os
réus, perguntando a Chariló n: "Você também é cristã o?" "Com a graça
de Deus eu sou." "Vocês também seguem a fé de Cristo? - perguntou ele
a Caridad, talvez irmã do primeiro. - Pela graça de Deus, também sou
cristã o. - E você, quem é você? mas, como cristã o, recebi de Cristo a
liberdade: por seus benefícios, por sua graça, tenho a mesma esperança
que esses."
Foi, sem dú vida, a primeira vez que um escravo ousou reivindicar
perante um magistrado romano a sua dignidade de homem, falar de
libertaçã o espiritual, proclamar a igualdade das almas. Rustico deveria
ter encontrado nas palavras de Evelpisto um eco das de seu admirado
Epicteto, que disse a um Senhor: "O escravo tem sua origem, como você,
do pró prio Jú piter: ele é seu filho, como você; ele nasceu das mesmas
sementes divinas." Rustico está em silêncio, no entanto; Provavelmente
tinha lido com prazer as palavras de Epicteto, mas agora nã o as
tolerava, pois se tornavam uma realidade concreta e viva nos lá bios de
um discípulo de Cristo, de uma testemunha do verdadeiro Libertador. O
século dos Antoninos fez muito para suavizar a condiçã o dos escravos;
mas nem os magistrados nem os juristas romanos gostaram que eles
proclamassem seus direitos muito alto. Por alguma coisa Celso e Cecílio
diziam que o cristianismo cuidava demais dos escravos. Provavelmente
os romanos daquela época viram, como Paul Allard escreve em
"Histó ria das Perseguiçõ es", Volume I, um abuso que deveria ser
tolerável para que pudesse ser duradouro e continuar a beneficiá -los.
Nem os imperadores nem seus conselheiros pensaram em introduzir
no a escravidã o uma reforma profunda que, sem atingir a equidade
alguma, caminhava resolutamente para ela. Por isso Rustico deu pouca
atençã o à s palavras ardentes de Evevelpisto, que se proclamava escravo
de César, mas liberto de Jesus. Rustico virou-se para Hierax para
perguntar: "Você é cristã o?" "Certamente, sou cristã o: amo e adoro o
mesmo Deus que estes." "Foi Justin quem fez de vocês cristã os?"
"Sempre fui cristã o", respondeu Hierax, "e sempre continuarei a sê-lo."
Levantando-se entã o, Pawn disse: "Eu também sou cristã o." "Quem te
instruiu?" "Recebi esta boa doutrina de meus pais." Evevelpisto
acrescenta: "Ouvi com muito prazer as aulas de Justino, mas já havia
aprendido a religiã o cristã com meus pais". "Onde estã o seus pais?" "Na
Capadó cia". "E o seu, de que país eles sã o, Hierax?" "Nosso verdadeiro
pai", disse Hierax, "é Cristo, e nossa mã e, a fé, pela qual acreditamos
nele. Meus pais terrenos já morreram. Além disso, fui trazido para cá de
Icomum, na Frígia." Talvez Hierax também fosse um escravo. "Como é o
seu nome? o prefeito finalmente perguntou ao Liberiano. Você também
é cristã o e ímpio para com os deuses?" "Eu também sou cristã o: amo e
adoro o ú nico verdadeiro Deus."
Mas antes de pronunciar a sentença, o prefeito fez uma nova
tentativa. Ele tentou alcançar a apostasia de Justin, acreditando que isso
seria seguido pela dos outros. Entã o ele disse a ele: "Ouça-me: você, que
é considerado eloqü ente e acredita que possui a verdadeira doutrina, se
eu te mandar açoitar e depois degolar, você pensa que irá para o céu
imediatamente?" "Espero", respondeu Justino, "receber a recompensa
destinada aos que cumprem os mandamentos de Cristo se eu acabar
sofrendo os tormentos que você me anuncia. até o fim do mundo."
"Você pensa, entã o, que vai subir ao céu para receber sua recompensa
lá ?" "Acho que nã o: eu sei e tenho tanta certeza que nã o tenho a menor
dú vida." Uma fé tã o firme desconcertou Rustico sem dú vida: tinha de
ser assim, se ele compartilhava das hesitaçõ es de Marco Aurélio sobre a
persistência da alma apó s a morte. Entã o ele disse: "Vamos ao que
interessa; aproximem-se, todos vocês, e sacrifiquem aos deuses."
Justino toma a palavra e responde: "Nenhum homem sensato abandona
a piedade para cair na impiedade e no erro". "Se você nã o obedecer
minhas ordens, será torturado sem piedade." Justino responde: "É
nosso maior desejo sofrer por Nosso Senhor Jesus Cristo e nos salvar.
Porque assim nos apresentaremos seguros e tranquilos ao terrível
tribunal do pró prio Deus." e Salvador, por quem, segundo a disposiçã o
divina, passará o mundo inteiro". E todos os má rtires, levantando a voz,
acrescentaram: "Fazei depressa o que quereis; somos cristã os e nã o
sacrificamos o ídolos".
A ú nica coisa que restava ao prefeito era pronunciar a sentença; fê-
lo nestes termos: "Que aqueles que nã o quiseram sacrificar aos deuses
e obedecer à ordem do imperador sejam açoitados e levados à pena de
morte, segundo as leis." A sentença foi executada imediatamente. Os
corpos dos má rtires foram levados por alguns cristã os, que os
colocaram em local conveniente. Assim falam as atas, imitando a
reserva prudente com que os fiéis de Esmirna noticiaram a morte de
Sã o Policarpo; esta reserva prudente é uma nova prova da antiguidade
daqueles processo. Justino possui dupla dignidade no "nobre exército
de má rtires" e no "brilhante pergaminho dos santos".
Nã o temos motivos para supor que ele tenha entrado no
sacerdó cio. Como um evangelista leigo itinerante, cuja comissã o veio
diretamente do Espírito Santo, ele fez um trabalho para o cristianismo
nã o apenas maior do que qualquer um de seus contemporâ neos, mas
um que perdurou em toda a sua vitalidade essencial até hoje e durará
tanto tempo quanto como os homens apreciam: simplicidade, seriedade
e honestidade de coraçã o.
Suas obras -Os escritos que chegaram até nó s sob o nome de
Justin sã o bastante numerosos. Mas a crítica declara apenas três como
genuínos, a saber, as duas Apologias e o Diá logo com o Judeu Trifã o.
Eusébio nos informa que ele era um escritor volumoso. E devemos
inferir o mesmo de seus livros existentes. Seu uso é difuso e nã o
sistemá tico, e é feita referência a eles em outras obras importantes que
agora pereceram, notadamente um tratado contra todas as heresias e
um livro contra Marciã o. Além destes, ele escreveu um ensaio sobre
psicologia, uma oraçã o aos gregos, uma exortaçã o, um ensaio sobre a
unidade da essência divina e alguns outros; tratados sob esses nomes
chegaram até nó s em vá rios casos, mas sua autenticidade é
extremamente duvidosa.
As três obras genuínas provavelmente foram publicadas na
seguinte ordem: a primeira Apologia, a segunda Apologia, o Diá logo.
Apesar de todo o aprendizado e engenhosidade investidos neles, as
datas de composiçã o ainda sã o incertas. A primeira Apologia foi
evidentemente escrita sob Antonino Pio. Eusébio o atribui ao quarto
ano daquele imperador (141 DC); mas um bom argumento avançou
essa data para vá rios anos depois, provavelmente por volta de 147 ou
148 dC A segunda Apologia foi certamente escrita depois da primeira e
sob a prefeitura de Urbico, que provavelmente se estendeu de 145 a
158 ou 159 dC Dentro desses limites, é suficiente para fixar sua
composiçã o. O diá logo nã o foi escrito em Roma, mas provavelmente em
É feso, onde Justino pode ter se retirado por prudência apó s o segundo
pedido de desculpas.
Primeira Desculpa . É o mais longo e, sem dú vida, um dos três ou
quatro mais importantes remanescentes da literatura da Igreja
primitiva. Começa assim:
''Ao imperador Tito Aelius Adriano, Antonio Pio, Augusto Cesar, a
seu filho Verissimo, filó sofo, e a Lú cio, filó sofo, filho de Cesar por
nascimento mas de Pio por adoçã o, amante da cultura, assim como ao
sagrado Senado e a todo o povo romano, em defesa daqueles que,
[chamados] de todas as linhagens de homens, sã o odiados e
maltratados injustamente; Justin, filho de Prisco, [neto] de Baguio, um
dos cidadã os de Flavia Neapoles [populaçã o] da Síria [pertencente] à
Palestina [endereça] esta sú plica e esta petiçã o escrita para eles."
Há algo de muito eficaz nesta enumeraçã o destes títulos augustos,
cada um dos quais é dado para servir de estímulo, para que aquele que
o possui demonstre verdadeiramente o que é de nome, o Piedoso, o
Verdadeiro, o Filó sofo. Justino apela com confiança ao imperador e aos
príncipes, como homens que pretendem governar bem, para nã o
condenar seus correligioná rios ignorados. Durante os reinados de
Adriano e Antonino Pio, a antiga lei "christianos esse non licet"
continuou a ser aplicada com as moderaçõ es introduzidas pelo rescrito
do Trabalho a Plínio, o Jovem. Os cristã os nã o eram condenados a
menos que fossem formalmente acusados, mas se a acusaçã o
precedesse e se provasse que eram cristã os, eram impostas as penas
mais graves, principalmente a morte. Os cristã os esperavam um
tratamento melhor de imperadores honestos e justos como Adriano e
Antonino Pio. Eles pensaram que poderiam se dirigir a esses
imperadores leal e diretamente, com rosto aberto, como uma pessoa
honesta se dirige a outra pessoa honesta. Assim fez Sã o Justino com
suas duas Apologias, e ambas sã o notáveis nã o só pelo valor da
doutrina e pelo vigor do raciocínio, mas pela atitude franca e resoluta
do autor. Quadratus e Aristides, cerca de vinte e cinco anos antes,
abriram o caminho, pedindo ao imperador paz e tolerâ ncia para os
cristã os. Mas nã o conhecendo quase nada da escrita de Cuadrato e
pouco da de Aristides, e mesmo isso por meio de versõ es e adaptaçõ es,
nã o podemos saber bem o tom com que se expunham esses defensores
voluntá rios de uma religiã o perseguida. O mesmo nã o ocorre com as
Apologias de Sã o Justino, que preservamos integralmente em sua língua
original, o grego. É profundamente comovente a serenidade com que
este homem, sem outros recursos senã o a sua consciência, sem mais
poder do que aquele que lhe dá a profunda convicçã o de que defende a
verdade e o bem, se dirige aos imperadores romanos, senhores do
mundo. Portanto, desafia uma investigaçã o imparcial sobre o cará ter
dos cristã os acusados, protestando veementemente contra a
condenaçã o injusta pelo mero nome de cristã o.
Aponta o verdadeiro modo de vida dos fiéis, mostra quã o
superficiais sã o as acusaçõ es de ateísmo, de imoralidade, de planos
revolucioná rios; e vindica a posiçã o dos cristã os de serem considerados
sú ditos leais e obedientes. O Império nã o pode duvidar da fidelidade
dos cristã os. Como adverte Sã o Justino, os cristã os cumprem as leis, sã o
os primeiros a pagar impostos e reservam apenas uma liberdade: a da
consciência. Eles reconhecem os imperadores como autoridades
legítimas e supremas; eles apenas resistem em adorá -los como deuses,
porque adoram um só Deus. Eles nã o sã o apenas cidadã os excelentes,
mas também auxiliares do Império, porque ensinam que ninguém
escapa do olhar de Deus , que os bons sã o recompensados por Ele e os
maus sã o punidos inflexivelmente. Isso evita crimes e ajuda a cumprir
as leis. Ao estabelecer a ordem nas almas, os cristã os ajudam
poderosamente a estabelecê-la na sociedade.
Ele defende a adoraçã o de Cristo, incompreensível como parece
aos pagã os, com base na qual eles deveriam entender. Ele exemplifica a
verdade divina de seu ensinamento, a conformidade de muitas de suas
doutrinas com a razã o humana, por exemplo, o julgamento futuro, a
filiaçã o divina, o fim do mundo; mesmo os milagres (diz ele) podem ser
ilustrados a partir da experiência profana, embora devam ser
cuidadosamente guardados contra a acusaçã o de magia pelos
incrédulos. A evidência da profecia é suficiente para refutar esta
acusaçã o, uma vez que a profecia descreve com precisã o todas as
principais características da histó ria passada de Cristo e, portanto, nos
dá confiança de que seu cumprimento futuro também ocorrerá . Justino
aponta firmemente para os antigos escritos judaicos, pois estes eram
um argumento ao qual os romanos sempre deram peso.
Os capítulos finais contêm um relato (infelizmente muito breve) da
prá tica dos ritos cristã os e do método de adoraçã o. É o locus classicus
em todas as controvérsias sobre o cerimonial da Igreja primitiva, e
tirado dos Ensinamentos Apostó licos. Ele contém uma passagem bem
conhecida sobre a Eucaristia nas primeiras comunidades cristã s,
familiar para muitos e extremamente importante como autoridade na
prá tica litú rgica. Esta descriçã o da missa cristã em meados do segundo
século é do maior interesse e nã o pode ser lida exceto com a mesma
emoçã o com que foi escrita.
Se o apelo de Justin chegou à s mã os do imperador, nã o sabemos. É
muito improvável que um governante tã o escrupuloso como Antonino
pudesse deixar de lado esse argumento, expresso em linguagem tã o
moderada e lidando com tanta franqueza com o ponto em questã o; e,
no entanto, nã o podemos afirmá -lo. Há profunda intensidade nas
palavras finais: "Leve estas coisas em devida consideraçã o, se elas
parecem estar de acordo com a razã o e a verdade; mas se elas parecem
absurdas para você, despreze-as como absurdas, mas nã o decrete a
morte contra inocentes. homens como contra inimigos [e
criminosos].]." É profundamente comovente a serenidade com que este
homem, sem outros recursos senã o a sua consciência, sem mais poder
do que aquele que lhe dá a profunda convicçã o de que defende a
verdade e o bem, se dirige aos imperadores romanos, senhores do
mundo.
Se Antonino, ao ler aquelas palavras, nã o as impressionou,
podemos fazer uma estimativa do peso dos preconceitos, acumulados
ao longo de séculos de orgulho nacional e de uma disciplina que
favorece apenas uma parte, que torna até o mais puro e nobres dos
romanos eram inacessíveis à discussã o cristã .
Que efeitos produziu? Acreditava-se há dois séculos que os frutos
disso eram grandes. Sã o Justino exigiu que sua calú nia fosse transferida
para os arquivos pú blicos e implorou aos imperadores, ou melhor, ao
imperador e a César, que informassem o Senado e o povo romano. A
segunda Apologia assume que a primeira era universalmente
conhecida. E parece claro que Antonino Pio cessou a perseguiçã o ao
nome cristã o pela Apologia de Sã o Justino. Baseiam-se para fazer esta
afirmaçã o numa carta dirigida por Antonino Pio ao Conselho da Á sia, na
qual proíbe condenar qualquer pessoa pelo simples facto de ser cristã .
Há , com efeito, uma analogia muito marcante entre a Apologia e a
epístola, e deve-se supor, pela mesma razã o, que esta ú ltima foi
inspirada pela primeira. Além disso, foi somente através da Apologia de
Sã o Justino que Antonino Pio pô de alcançar um conhecimento tã o exato
do Cristianismo como mostra em seu epístola.
Esta é a opiniã o de Maró n; em vez disso, Allard afirma que o efeito
prá tico da Apologia para com as perseguiçõ es foi nulo. Se ele foi do
escritó rio de entrada ("officium a libellis") ao escritó rio do imperador, o
bom Antonino, preocupado com outros assuntos, provavelmente nã o o
honrou com um olhar. E se chegasse ao interrogató rio de César Marco
Aurélio, é provável que o tivesse lido com desdém e atribuído as
afirmaçõ es nele feitas à cegueira e à obstinaçã o. Depois de 150, como
antes dessa data, a política dos imperadores em relaçã o ao cristianismo
continuou a ser a mesma de Trajano: nã o era lícito ser cristã o, e um
cristã o devidamente acusado nã o podia escapar da morte senã o
negando ser cristã o ou abjurando Cristandade. Essas duas meias, que
nã o estavam disponíveis para nenhum outro criminoso, estavam em
grande parte nas mã os dos cristã os e garantiram a absolviçã o. Alguns
anos depois da apresentaçã o da primeira Apologia, Sã o Justino traçou,
no Diálogo com o judeu Trifão, um quadro glorioso e terrível da
condiçã o dos cristã os. "Judeus e pagã os", escreve ele, "perseguem-nos
por todos os lados e só nos deixam com a vida quando nã o podem tirá -
la. Cortam-nos a garganta, crucificam-nos, entregam-nos à s feras,
torturam-nos nó s com correntes, com fogo, com as mais horríveis
torturas. Mas quanto mais dano nos é feito, mais cresce o nú mero de
cristã os”. Nada mudou, entã o, na política imperial em relaçã o aos
cristã os. A ú nica preocupaçã o de Antonino Pio era que a ordem pú blica
nã o fosse perturbada por causa dos cristã os. No processo contra os
cristã os, deviam ser mantidas as formas processuais prescritas por
Trajano e Adriano. Para exigir respeito por essas normas, Antonino
enviou vá rios rescritos. Melito de Sardes escreveu, com efeito, a Marco
Aurélio: "Na época em que você governou o Império com ele, seu pai
escreveu à s cidades que nã o deveriam causar tumultos por nossa
causa; ele o fez em particular aos de Larisa , Tessalô nica e Atenas, e
todos os gregos”. A carta de Antonino ao Conselho da Á sia nã o lista
Melitó n nesta lista. Tal carta é notoriamente apó crifa. Por outro lado, se
Justin teve que escrever um segundo pedido de desculpas, foi
simplesmente porque o primeiro falhou. Se o primeiro tivesse tido o
sucesso retumbante que Maró n supõ e, o segundo careceria de razã o de
existir. E assim vemos que na segunda Apologia, a situaçã o dos cristã os
é a mesma da primeira: menciona perseguiçõ es e martírios depois da
primeira. Desculpa.
A verdade está , aparentemente, num meio termo entre ambas as
opiniõ es. É notó rio que a primeira Apologia nã o introduziu nenhuma
mudança radical nas relaçõ es entre os cristã os e o império, pois as
perseguiçõ es continuaram, com tanta crueldade quanto antes. Como
Allard, acho que a carta ao Conselho da Á sia é apó crifa e tentarei prová -
lo no comentá rio. Mas o fato de Justin ter decidido publicar um segundo
Apology mostra que o primeiro nã o foi completamente inú til. Se o
primeiro tivesse sido jogado na cesta de papéis velhos ou registrado
por pura fó rmula, sem qualquer intençã o de agir de acordo com ela, o
que escreveria o santo má rtir uma segunda Apologia, que
necessariamente deveria sofrer o mesmo destino? O sucesso da
primeira Apologia nã o foi completo nem nulo: algo se conseguiu com
ela, mas pouco, e por isso foi conveniente escrever o segundo.
O que foi alcançado com a primeira Apologia? O pró prio Allard
indica isso citando as palavras de Melitó n de Sardis. O imperador estava
preocupado que por ocasiã o dos tumultos populares cristã os nã o
surgissem, e para isso ele enviou vá rios rescritos; portanto, a primeira
Apologia nã o caiu no vá cuo. Certos abusos, se nã o reprimidos
radicalmente, pelo menos foram mitigados. Um dos grandes abusos era
que os cristã os fossem levados ao Tribunal por motins populares, e isso
deve ter sido severamente proibido por Antonino Pio: nenhum
julgamento poderia ser instaurado contra os cristã os ou condenado,
exceto por meio de uma acusaçã o adequada; um tumulto popular, pelo
qual alguns cristã os foram arrastados para o Tribunal, nã o era uma
acusaçã o adequada nem poderia servir de base para um julgamento.
Isso já era alguma coisa, e de minha parte conjecturo que isso foi
conseguido com a primeira Apologia. Há também alguma razã o para
suspeitar que, em vista dos vigorosos argumentos de Sã o Justino, os
juízes foram recomendados a indagar sobre a conduta dos cristã os
acusados e particularmente sobre a verdade dos crimes pelos quais
foram acusados. Na segunda Apologia diz-se, com efeito, que, apelando
à tortura, alguns escravos dos cristã os foram levados a reconhecer que
estavam a cometer os crimes que lhes eram imputados. Talvez tenha
sido com base nisso que a suposta carta de Antonino Pio ao Concílio da
Á sia foi inventada; parece que eles queriam acrescentar algum outro
encargo à simples condiçã o de Cristã o.
A Segunda Desculpa é muito mais curta que a primeira e menos
composta. É mais um panfleto ocasional produzido por uma falha
inadvertida da justiça do que um tratado sistemá tico. A indignaçã o de
Justino foi despertada pelo conflito de Lolio Urbico, o distinto soldado
que entã o ocupava a prefeitura da cidade, no caso de alguns cristã os
que ele havia condenado à morte sem julgamento. Parece que uma
dama romana que era casada com um marido dissoluto e que levava
uma vida dissoluta tornou-se cristã ; apó s o que, considerando
intolerável o comportamento do marido e incapaz de induzi-lo à
conversã o, ela meditou a separaçã o. Seus amigos a persuadiram a
aguentar um pouco mais, mas no final seus excessos foram tã o
flagrantes que ela foi forçada a se valer da lei e entrar com um processo
de divó rcio por difamaçã o. O marido entregou-a à s autoridades, de
quem, no entanto, obteve a trégua sob a alegaçã o de "actio reixo riae"
de alienar os seus bens e prometeu responder à acusaçã o quando esta
questã o fosse resolvida. O imperador Antonino Pio admitiu a exceçã o
protelató ria, o que foi muito justo, e a mulher provavelmente conseguiu
impedir o golpe dessa forma. Determinado a se vingar, ele induziu um
centuriã o, amigo dele, a acusar um Ptolomeu, por meio de quem ela
havia se convertido, perante o prefeito e acusá -lo de ser cristã o. Existia
entã o um apostolado secular muito ativo; bons cristã os tentaram
ganhar seguidores para sua religiã o com tratamento individual, e
muitas vezes conseguiram. Isso motivou muitas reclamaçõ es dos
pagã os e, assim, Aristides reclamou amargamente sobre "esses
palestinos ímpios que introduzem discó rdia nas famílias". Urbico
permitiu que ele ficasse alguns meses na prisã o; depois, intimou-o a
comparecer e, ao ouvir sua confissã o, condenou-o à morte;
procedimento que até despertou a ira de um homem chamado Lú cio,
presente no tribunal, que acusou o prefeito de injustiça. Urbico ficou
satisfeito ao responder: "Parece, entã o, que você também é cristã o." E
Lú cio confessando que era, também foi incriminado, e conduzido a
morte.
Justino dirige seu protesto ao Senado e, incidentalmente, ao
Imperador, e nã o tem medo de acusar Urbico de traidor da justiça. Ele
nã o é estranho ao perigo que incorre em sua maneira de falar. Ele
espera confiantemente, seja pela açã o das autoridades ou pelas
maquinaçõ es de Crescente, seu inimigo pessoal, compartilhar o destino
daqueles que defende. Mas ele implora ao imperador, antes de decidir
contra ele, que ouça seus argumentos, se ainda nã o os leu, e julgue
entre ele e seus acusadores.
Ele entã o passa da questã o pessoal para queixas mais gerais. Trata
da discussã o tantas vezes avançada que os cristã os, se estivessem tã o
ansiosos pela morte, poderiam afastar dos magistrados o problema de
condená -los por suicídio. "Homens infelizes!", ele disse uma vez para si
mesmo, "nã o há cabrestos, nem rochas, nem á guas profundas do mar,
por meio das quais você possa pô r fim à existência que você detesta e
buscar por si mesmo o Deus que você tanto deseja. "saber."
Perguntaram como o Deus dos cristã os, sendo onipotente, como diziam,
tolerava que seus adoradores fossem cruelmente perseguidos e mortos.
Sã o Justino responde dizendo que a morte nã o é um mal tã o grande
quanto os pagã os imaginavam e que Deus um dia vingará o sangue de
seus servos, anulando o poder dos demô nios e destruindo pelo fogo um
mundo perseguidor. E, por sua vez, tomando a ofensiva, encontra no
martírio um argumento a favor da divindade do cristianismo. Só crates
nã o encontrou ninguém disposto a morrer por ele; em vez disso, Cristo
os encontrou aos milhares. Como Isso pode ser explicado exceto pelo
poder divino de Cristo e sua doutrina? E assim continua Sã o Justino,
defendendo os cristã os perseguidos com tanta ló gica quanto energia.
Quem vir a admirável constâ ncia com que os cristã os aceitam a mais
dura morte poderá acreditar que cometem os crimes abomináveis que
os pagã os lhes atribuem e vivem na mais espantosa degradaçã o moral?
Os cristã os sã o o sal do mundo, e se Deus ainda nã o castigou o mundo, é
porque os cristã os detêm seu braço vingador.
Sobre a Eucaristia -. Refiro-me apenas à doutrina teoló gica
exposta por Sã o Justino nas duas Apologias, que tem muitos pontos de
interesse.
1. De capital importâ ncia é a mençã o que na primeira Apologia Sã o
Justino faz à Eucaristia (terceira parte capítulo 66) e ao sacrifício da
missa. Menos importante, mas sempre ú til, é a mençã o ao batismo, e já
se vê que ele coloca ambos os ritos na categoria de mistérios ou
sacramentos. Nã o menciona a confirmaçã o; Nã o sabemos o motivo do
silêncio. Grave deve ter sido, sem dú vida, na opiniã o de Sã o Justino, a
necessidade de negar as calú nias pagã s a respeito dos mistérios cristãos,
quando ele, ignorando a disciplina do arcano, resolveu manifestar aos
infiéis em que consistiam os mistérios. Cristã os. Fê-lo com grande
emoçã o e sucesso. A liturgia da missa que ele descreve nã o é romana,
mas oriental; sem dú vida, o apologista estava mais acostumado a isso. É
retumbante a afirmaçã o que faz da presença real de Cristo na
Eucaristia. “Nã o tomamos o pã o consagrado – escreve – como pã o
comum, nem o cá lice consagrado como bebida comum, porque
sabemos que sã o o corpo e o sangue daquele Jesus que se encarnou por
nó s”. E depois acrescenta que, assim como Jesus tinha verdadeira carne
e verdadeiro sangue, também esta carne e sangue estã o na Eucaristia. A
presença de Cristo na Eucaristia é, portanto, tã o real e verdadeira como
sã o reais e verdadeiros o corpo e o sangue que o Salvador tem na sua
pró pria espécie.
Outras indicaçõ es importantes se somam a este magnífico
testemunho. A presença real de Cristo na Eucaristia e a obrigaçã o de
consagrá -la sã o confirmadas pelas palavras de Cristo, que os apó stolos
preservaram para nó s em memó rias que chamamos de evangelhos. E a
consagraçã o do pã o e do cá lice é feita por aquele que preside a
congregaçã o cristã , (bispo ou presbítero), por meio de oraçõ es que
contenham as palavras pronunciadas pelo Salvador. Em caso de dú vida,
cite expressamente as palavras: Este é o meu corpo. Este é o cálice do
meu sangue. Faça isso em memória de mim.
É impossível falar com mais clareza. Nã o há o menor indício nas
palavras de San Justino que possa acomodar um sentido figurado. E nã o
perca de vista que Sã o Justino, escrevendo ao imperador e a César,
extremamente interessados em conhecer a verdade sobre os mistérios
cristã os, deveria ser o apologista a falar com clareza, sem anfibologia.
Escrevendo para pagã os e tendo grande interesse em Para tornar a
doutrina cristã credível para eles, Sã o Justino nã o teria omitido a
explicaçã o da Eucaristia como símbolo, sinal ou figura do corpo de
Cristo, explicaçã o que evitaria que surgissem dificuldades no espírito
dos pagã os. Quando Sã o Justino de modo algum sugere tal explicaçã o, é
um sinal claro de que está em manifesta oposiçã o à s palavras de Cristo,
ao dogma cristã o. E é claro que a doutrina sobre a Eucaristia que Sã o
Justino propõ e tã o definitivamente só poderia ser a doutrina comum na
Igreja em meados do século II. Sã o Justino nã o diz expressamente na
Apologia que o Pã o Eucarístico e o cá lice consagrado sã o um verdadeiro
sacrifício, mas o afirma no Diá logo com Trifã o e o insinua na Apologia;
as oraçõ es a que alude continham, sem dú vida, a oferenda de dons
eucarísticos a Deus, oferenda que nã o falta a nenhuma liturgia.
2. Em Sã o Justino, como em todos os apologistas, o sentimento de
justiça é muito vivo. O dogma de que Deus recompensará os bons e
castigará os maus é um dos que mais se repete e com mais energia nas
Apologias de Sã o Justino. E se repete muitas vezes que o castigo dos
ímpios deve ser o fogo eterno, um fogo que deve durar para sempre e
que sempre deve atormentar os condenados. Sã o Justino está
infinitamente distante dos universalistas, segundo os quais chegará o
dia em que Deus chamará a Si e abençoará aqueles que estã o pagando a
devida pena de seus pecados no inferno. A eternidade das penas do
inferno é, na opiniã o de Sã o Justino, um postulado essencial da justiça
divina. Os castigos eternos devem ser para os demô nios e para os
homens perversos; mas entre um e outro Sã o Justino aponta uma
diferença: os ímpios já sofrem no inferno, e Deus nã o espera o juízo
final para castigá -los; por outro lado, os demô nios ainda nã o sofrem as
penas do inferno nem começarã o a sofrê-las até o dia do juízo final. Esta
doutrina, no que diz respeito aos demô nios, nã o é aceita hoje; no
entanto, Sã o Justino nã o foi o ú nico a defendê-la, pois outros pais
também a defenderam, e particularmente Santo Hilá rio; Santo Tomá s o
menciona, sem marcá -lo com nenhuma nota, e Cayetano escreve que
seu erro pode ser defendido sem heresia. Que tal era o pensamento de
Sã o Justino fica claro no capítulo 28 da segunda parte da primeira
Apologia, pois nele afirma que os demô nios irã o para o fogo eterno
apó s a sentença que cair no juízo. final.
3. Sã o Justino fala frequentemente de demô nios e diz a eles atribui
uma açã o constante, importante e fatal nas coisas dos homens. Os
demô nios seduziam os homens, levando-os à idolatria; corromperam a
revelaçã o primitiva e tentaram desvirtuar o mistério da Encarnaçã o e
os fatos do futuro Redentor, fingindo heró is a quem atribuíam coisas
semelhantes à s de Cristo; na antiguidade perseguiram aqueles que,
como Só crates, ensinavam a verdade e o bem; dificultaram a açã o
santificadora de Cristo e lançaram contra os primeiros cristã os as
terríveis calú nias que desorientaram tantos homens e os separaram do
cristianismo; Sem essas calú nias, a propagaçã o do cristianismo teria
sido muito mais rá pida e completa. Esta doutrina de Sã o Justino está
em total acordo com os Evangelhos e com a experiência de todos os
homens. espiritual.
4. Sã o Justino fala dos anjos em um pará grafo da primeira Apologia,
que foi; muito comentado -capítulo 6-. Ele pretende demonstrar que os
cristã os nã o sã o ateus, e para isso diz que adoram o Pai de todas as
virtudes, Deus sem defeito algum; o Filho, que nos ensinou a verdade, e
com ele o inumerável exército de anjos que o seguem e sã o semelhantes
a ele, e o Espírito profético. O significado é bastante claro: os cristã os
adoram a Deus Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, e aos anjos que seguem
o Filho e sã o semelhantes a Ele. Claro, deve-se assumir que Deus é
adorado de forma absoluta e suprema, isto é, com adoraçã o de latria e
anjos como criaturas excelentes e sagradas, ou o que é o mesmo, com
uma adoraçã o inferior, que os teó logos posteriores chamaram de dulia.
Os anjos sã o venerados porque formam o acompanhamento do Filho e
sã o semelhantes a Ele; sem dú vida, eles foram criados. Nã o devemos
nos incomodar com o fato de que o Espírito Santo, como objeto de
adoraçã o, é mencionado depois dos anjos: seria absurdo, de fato, supor
que Sã o Justino considera o Espírito Santo em algum sentido inferior
aos anjos. A adoraçã o recai principalmente sobre Deus Pai, Filho e
Espírito Santo e, secundariamente, sobre os anjos, considerados
acompanhantes do Filho e imitadores do Filho. Nã o é de estranhar que
Sã o Justino veja uma relaçã o especial entre o Filho e os anjos, porque
eles foram feitos pelo Filho, como todas as coisas, e porque o Filho,
sendo a imagem mais perfeita do Pai, é considerado o modelo segundo
quais os anjos foram criados. anjos.
5. Sobre a criaçã o do mundo, Sã o Justino, na primeira Apologia,
capítulo 10, afirma que Deus fez todas as coisas da matéria sem forma,
e no 59 louva Platã o por ter afirmado o mesmo. Disso alguns quiseram
deduzir que a doutrina de Sã o Justino sobre a origem do mundo é a
mesma de Platã o e que, portanto, Sã o Justino nã o aceitou o dogma da
Criaçã o e se limitou a considerar Deus como o organizador do mundo.
Sabe-se que Platã o considerava a matéria como eterna e incriada .
Poderia Sã o Justino também ter considerado assim ? De maneira
nenhuma. Sã o Justino aplaude o que há de bom e verdadeiro na
doutrina de Platã o , nã o o que há de falso e imperfeito nela. E é bem
compreensível que Sã o Justino estivesse mais inclinado a elogiar os
filó sofos, e particularmente a Platã o, do que a conservá -los, nã o só
porque via com simpatia a filosofia grega em geral, mas porque estava
interessado em enfatizar que as doutrinas cristã s tiveram em eles
algum precedente que os sustenta, um precedente que aliá s veio,
segundo Sã o Justino, do Antigo Testamento. Além disso, na obra da
Criaçã o distinguem-se duas coisas: a primeira criaçã o da matéria e seu
posterior ordenamento para a formaçã o do mundo; Sem dú vida, Sã o
Justino alude a esta segunda criaçã o nos textos indicados. De resto, Sã o
Justino já adverte que Deus fez o mundo das coisas indicadas por
Moisés. E como Moisés indica claramente no primeiro capítulo do
Gênesis que Deus fez o céu e a terra no início , ou seja, a matéria da qual
o céu e a terra foram formados posteriormente, São Justino sem dúvida
admite a primeira criação da terra. assunto.
6. Nã o devo omitir a importâ ncia que a tradiçã o divina tem nas
duas Apologias. A cada passo, na exposiçã o da doutrina, deparamo-nos
com esta frase: “Assim fomos ensinados”, aludindo ao ensinamento
divino transmitido pelos apó stolos e pela Igreja. Esse respeito pelos
ensinamentos divinos é muito importante para quem veio das escolas
filosó ficas da Grécia, continuou a se professar como filó sofo depois de
se converter ao cristianismo e sempre defendeu os privilégios da razã o
humana. Mas a filosofia de Sã o Justino era a filosofia cristã , que aspira à
perfeita reconciliaçã o entre ciência e fé, e entre cujos princípios
fundamentais está a subordinaçã o da razã o humana à inteligência
divina. E como Os ensinamentos divinos chegaram até nó s? À s vezes,
como tratando da Eucaristia, Sã o Justino afirma que conhecemos as
doutrinas de Cristo porque os apó stolos as preservaram para nó s.
naquelas memó rias dele que sã o chamadas de Evangelhos. Mas outras
vezes nada diz que o ensinamento que menciona está contido no
Evangelho e, portanto, deve-se supor que esta doutrina divina chegou
até nó s através do magistério da Igreja. Este foi, aliá s, o meio ordiná rio
pelo qual a doutrina cristã alcançou a maioria dos fiéis. É claro,
portanto, que Sã o Justino admite a tradiçã o divina como fonte da
Revelaçã o. De resto, se Sã o Justino faz amplo uso dos Evangelhos, faz
pouco uso dos outros livros do Novo Vai.
7. A doutrina trinitá ria de Sã o Justino suscitou muitas discussõ es.
Alguns acreditaram que Sã o Justino tirou de Platã o toda a doutrina
relativa ao Verbo Filho de Deus. Mas é claro que se ele poderia ter
tirado algo de Platã o e dos platô nicos posteriores a respeito do Logos,
ele nã o aprendeu o mistério da Trindade, mas da Igreja, pois nem
Platã o nem os platô nicos posteriores conhecem a Trindade das pessoas
dentro do absoluto. unidade da Essência divina. E quanto ao pró prio
Verbo, o Filho de Deus, Sã o Justino nã o deveria ter ido à s obscuras
fontes platô nicas, tendo a fonte clara e limpa do Quarto Evangelho e de
todo o Novo Testamento, que fala tã o ampla e conclusivamente da Filho
de Deus, da sua natureza verdadeiramente divina e da sua unidade
íntima e essencial com o Pai. Se Sã o Justino tivesse sido o primeiro na
Igreja a falar de Jesus Cristo como o Filho de Deus, alguém poderia se
perguntar de onde ele tirou essa doutrina; mas o pró prio Cristo ensinou
constantemente sua filiaçã o divina, apresentou-se como o Filho de
Deus, falou e agiu constantemente como tal. Que Platã o iria ensinar a
Sã o Justino sobre o Filho de Deus que ele nã o poderia aprender muito
melhor com os Evangelhos e com a divina tradiçã o apostó lica? E a
doutrina da Palavra divina foi expressamente afirmada no quarto
Evangelho e unanimemente admitida na Igreja, muito antes de Sã o
Justino. Por fim, nã o é preciso dizer que Platã o nã o disse nada sobre a
pessoa do Espírito Santo. A profissã o de fé na Trindade era exigida de
todo aquele que ia ser batizado, e o batismo era conferido em nome da
Trindade, como recorda Sã o Justino ao falar do batismo e da Eucaristia
e como Cristo havia ordenado no célebre texto conservado por Sã o
Mateo. Em suma, o mistério da Trindade é especificamente cristã o e Sã o
Justino só poderia aprendê-lo na Igreja. Enquanto ele era platô nico, ele
nã o sabia de forma alguma este inefável mistério.
De resto, a noçã o que Platã o formou do Logos é bastante imprecisa,
e muitos supõ em que o famoso filó sofo só quis exprimir com essa
palavra a inteligência divina ou as ideias nela existentes. De qualquer
forma; nã o há razã o para supor que o Logos seja para Platã o uma
pessoa distinta que subsiste dentro da Divindade. Também nã o se deve
esquecer que para Platã o o mundo é uma imagem perfeita de Deus,
uma realizaçã o completamente perfeita das idéias divinas, razã o pela
qual ele transfere para o mundo o que a doutrina cató lica afirma do
Verbo como esplendor e imagem do Pai e figura do sua substâ ncia.
Além disso, a progênie divina que o grande filó sofo à s vezes menciona é
a ciência, o conhecimento, a luz intelectual que emana da essência
divina tã o necessariamente quanto a luz emana do sol.
Com efeito, Sã o Justino cita na primeira Apologia um texto de
Platã o, no qual alguns vêem claramente manifestada a doutrina da
Trindade. É retirado da segunda epístola de Platã o. Mas é tã o escuro
que o pensamento nã o é claramente percebido. A escuridã o é estudada,
como fica claro no texto: Platã o escreveu de tal maneira que somente os
iniciados poderiam entendê-lo. E embora San Justino cite o texto,
também nã o o esclarece. Aparentemente, ele repete aqui sua doutrina
sobre os diferentes graus de conhecimento. Sã o quatro: inteligência,
pensamento, fé e conhecimento pela imaginaçã o. Segundo isso, as
palavras de Platã o nã o conteriam uma alusã o a uma tríade misteriosa,
mas à quaternidade pitagó rica. Mas este nã o é o lugar para empreender
a explicaçã o de tais coisas obscuras. E, além disso, nã o deve nos
surpreender que Sã o Justino, interessado em buscar precedentes para a
doutrina cristã na filosofia, quisesse ver em Platã o alguns precedentes
para o mistério da Trindade.
Mas nos interessa investigar se Sã o Justino ensinou, como alguns
acreditam, o subordinacionismo, isto é, a subordinaçã o do Filho ao Pai
ou a inferioridade do Uno em relaçã o ao Pai. Em geral, os pais ante -
nicenes nã o eu expliquei a ele mistério ou de ele para Trindade e ele
para relaçã o entre as pessoas divinas com a clareza e a precisã o do
Concílio Niceno, dos padres do século IV e dos concílios posteriores a
Nicéia. Eles atribuíram ao Pai um certo principado dentro da Natureza
divina e sugeriram que somente o Pai é Deus super omnia . Algo disso
também é perceptível nas Apologias de Sã o Justino, mas, claro, menos
do que em outros padres dos três primeiros séculos. Quem comparar o
modo de falar do Filho e de suas relaçõ es com o Pai com o que Sã o
Dionísio de Alexandria teve, por exemplo, um século depois, notará uma
clara superioridade por parte de Sã o Justino. Nã o há frase nas
Desculpas relativa a este ponto tã o séria que nã o possa ser entendida
em um sentido perfeitamente ortodoxo. Um dos pará grafos mais duros
é o da segunda Apologia em que Sã o Justino indica que o Pai é o
primeiro na Trindade, o primeiro no seio da Divindade, e o Filho o
segundo, razã o pela qual deveria dizer que o Espírito Santo é o terceiro.
No entanto, que dú vida há de que esta afirmaçã o pode ser entendida
em um sentido perfeitamente ortodoxo? Os teó logos especificaram
perfeitamente a doutrina. Entre as pessoas divinas nã o há prioridade
nem posterioridade na ordem do tempo, porque todos os três sã o
eternos, pois a natureza divina, e a eternidade com ela, é comum a
todos os três. Também nã o há prioridade ou posterioridade da
natureza, porque toda posterioridade da natureza é incompatível com a
Divindade e impossível em uma pessoa verdadeiramente divina. Dentro
da Divindade nã o há prioridade ou posterioridade senã o aquela
fundada na origem, e assim o Pai é, ratione originis, anterior ao Filho,
assim como o Pai e o Filho sã o anteriores ao Espírito Santo pela mesma
razã o. Esta prioridade ou superioridade de origem é o que, de forma
um tanto obscura e imprecisa, foi expressa por muitos padres ante-
nicenos. Nem todos falaram com tanta precisã o como o Papa Sã o
Dionísio ao censurar os excessos -talvez mais verbais que conceituais-
de seu homô nimo o de Alexandria.
E se nã o há sentença de Sã o Justino que nã o possa ser entendida
em sentido ortodoxo, ao contrá rio, há muitas que nã o podem ser
entendidas senã o como reconhecimento da divindade plena, pró pria e
perfeita do Filho. Mesmo nos textos mais perigosos, o Filho e o Espírito
Santo se unem e se coordenam com o Pai e se distinguem das criaturas
que pertencem a outra ordem de realidade. O Pai, o Filho e o Espírito
Santo vivem no seio da Divindade, que é incomunicável à s criaturas. No
capítulo 22 da primeira Apologia ele diz abertamente que Cristo é Deus
e homem e acrescenta que a geraçã o pela qual o Filho procede do Pai é
completamente diferente da criaçã o, pela qual procedem as coisas de
Deus; Parece que estamos ouvindo Sã o Tomá s, quando fala da processio
ad intra e da processio ad extra em Deus. Imediatamente antes de seu
glorioso martírio, Sã o Justino também proclamou, segundo os atos, a
verdadeira divindade do Filho. Quando Rustico, prestes a dar a
sentença, exigiu a abjuraçã o de San Justino, Ele respondeu que
passando pelo martírio "nos apresentaremos com segurança perante o
terrível tribunal de nosso Deus e Salvador". Morreu, entã o,
proclamando Jesus Deus e Salvador, como verdadeiro Deus como
verdadeiro Salvador.
Sã o Justino, para tornar credível o grande mistério da filiaçã o
divina do Verbo, dá exemplos de vá rios a quem o paganismo chamava
filhos de Jú piter ou de outros deuses. É claro que os exemplos nã o
contribuem para dar uma ideia muito elevada da filiaçã o divina; a mais
aceitável é a de Minerva emergindo da cabeça de Jú piter. Mas, em todo
caso, os pagã os, que falavam dos filhos de Jú piter, entendiam essa
filiaçã o em sentido pró prio e pró prio. VERDADEIRO.
8. O mistério da Encarnaçã o é um dos mais lembrados e explicados
por Sã o Justino; Constitui, é claro, a doutrina central da primeira
Apologia. Jesus Cristo, Deus e verdadeiro homem, o Filho de Deus, que
assume a natureza humana para salvar os homens, é aquele anunciado
muitos séculos antes pelos profetas e aquele que Sã o Justino prega e
exalta com firme vocaçã o. Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro
homem. O grande apologista nã o aborda o problema cristoló gico tal
como foi colocado no início do século V; mas, analisando os textos do
mesmo, vê-se claramente que a sua doutrina é aquela que foi
posteriormente definida pelos concílios de É feso e Calcedô nia: uma só
pessoa em Cristo e duas naturezas completas, perfeitas, sem mistura ou
confusã o entre elas. Sim.
A doutrina soterioló gica é clara em Sã o Justino: muitas vezes ele
repete que o Filho de Deus encarnou para nos salvar. Ele é nosso
Salvador e por Ele fomos redimidos. Ele é também o nosso Mestre,
aquele que, completando a antiga Revelaçã o, nos ensinou a verdadeira
Religiã o. Ele é a verdadeira luz que ilumina todo homem que vem a este
mundo; tudo o que há de verdadeiro e bom no mundo é feliz emanaçã o
do Verbo encarnar.
9. Contra a doutrina da necessidade e do destino, ensinada pelos
estó icos, Sã o Justino defende vigorosamente a liberdade humana como
prerrogativa inerente à nossa natureza e como condiçã o necessá ria
para que possamos fazer moralmente o bem ou o mal, elaborar o nosso
pró prio e futuro eterno e merece a gló ria do céu ou as terríveis dores do
inferno. Esta defesa enérgica que Sã o Justino faz da liberdade humana
como condiçã o indispensável para a responsabilidade moral levou
alguns a pensar que Sã o Justino nã o aceitava o dogma do pecado
original. mais, embora nã o Falo da doutrina do pecado original, nã o há
dú vida de que ele aceitou esse dogma. No capítulo 61 da primeira
Apologia ele fala da necessidade do batismo; considera indispensável
apagar nã o só os pecados pessoais, mas também os da nossa geraçã o e
as misérias que a acompanham; O batismo é necessá rio para que nã o
permaneçamos filhos da ignorância e da necessidade. Isso indica a
condenaçã o geral que pesa sobre os homens, ou seja, o pecado original.
10. Mas, acreditava Sã o Justino verdadeiramente que Só crates,
Herá clito e outros gentios foram salvos por meio de Jesus Cristo, de cuja
redençã o participaram, mesmo sem conhecê-lo expressamente? Assim
parece Sã o Justino afirmar no capítulo 46 da primeira Apologia: os que
viveram antes de Cristo, segundo a reta razã o, eram cristã os, como o
foram, entre os gregos, Só crates e Herá clito, e entre os bá rbaros,
Abraã o, Elias e outros, muitos. O destino de Só crates e Platã o foi,
portanto, segundo Sã o Justino, igual ao de Abraã o, Elias, dos patriarcas
e dos profetas, pelo que se deve dizer que foram salvos. E se eles
realmente eram cristã os, nã o há objeçã o a serem salvos. Tal tese,
porém, nã o pode ser sustentada, porque ninguém pode ser salvo sem fé
sobrenatural, e aqueles homens - que nã o conheceram a Cristo -
também nã o tiveram fé sobrenatural. Mas, embora o significado ó bvio
das palavras de Sã o Justino pareça favorável a essa opiniã o, uma leitura
mais atenta nos convence de que nã o. Entã o.
Notemos, antes de tudo, que Sã o Justino quer explicar neste
capítulo nã o como aqueles que viveram antes de Cristo foram salvos,
mas como eles foram justamente condenados. Propõ e-se, com efeito,
responder à seguinte dificuldade: se ninguém pode ser salvo sem
Cristo, nã o havia possibilidade de salvaçã o para aqueles que viveram
antes de Cristo e, portanto, nã o podem ser culpados por nã o terem feito
obras dignas de salvaçã o nem há razã o para condená -los. Ele responde
à dificuldade dizendo que, mesmo antes da Encarnaçã o, o Verbo
iluminou todos os homens. Eles puderam, entã o, conhecer a verdade e
fazer o bem, sendo, pelo menos em parte, cristã os; se nã o o fizessem,
eram, portanto, culpados e justamente condenados. A soluçã o, em
substâ ncia, é a mesma dada por Sã o Paulo na carta aos Romanos. Os
gentios, mesmo sem terem lei escrita, tinham a lei natural, escrita no
fundo do coraçã o, e se a infringirem sã o totalmente responsáveis por
essa violaçã o, que constitui um verdadeiro pecado. Se Sã o Justino
acrescenta que foram os cristã os que viveram segundo a razã o, nã o
significa que foram completamente cristã os, mas cristã os até certo
ponto, porque tudo o que é verdadeiro no mundo e todo o bem que se
pratica é uma irradiaçã o da Palavra divina. Mas o pró prio Sã o Justino
explica, nos capítulos 8 e 10 da segunda Apologia, a diferença entre os
verdadeiros cristã os e os que sã o apenas meio cristã os. Os pagã os com
irradiaçõ es cristã s conheceram parte da verdade e cumpriram parte da
lei, porque a verdade foi divulgada; mas os que sã o verdadeiros cristã os
contemplam toda a verdade concentrada em Cristo e, se honram a sua
fé, cumprem toda a lei. Portanto, a analogia entre os pagã os que
viveram retamente antes de Cristo e os cristã os nã o é completa, de
onde se conclui que os pagã os nã o poderiam ser salvos, embora os
cristã os e os patriarcas da Antiga Lei sejam salvos. Se aqueles que antes
da vinda de Cristo viviam segundo a razã o fossem salvos, aqueles que
agora vivem segundo a razã o sem conhecer a Cristo também deveriam
ser salvos, e nã o parece que Sã o Justino aceitasse isso de forma alguma.
Finalmente, Sã o Justino faz essa indicaçã o a respeito dos pagã os que
vivem bem, confirmando sua tese sobre as maquinaçõ es dos demô nios
para impedir a salvaçã o dos homens por Cristo. Estas maquinaçõ es,
segundo diz, estenderam-se também contra homens que, mesmo sendo
pagã os, faziam boas obras e neste sentido preparavam a obra de Cristo;
é por isso que a perseguiçã o aos demô nios atingiu Só crates e alguns
outros que queriam separar os homens da adoraçã o de ídolos, ou o que
é o mesmo, da adoraçã o de demô nios. Mas Sã o Justino, limitando-se a
esta observaçã o, nã o estuda se as boas açõ es daqueles pagã os tinham
algum valor para a vida eterna ou se aqueles que as praticavam
poderiam ser salvos com elas. Sã o Justino também elogia a força dos
atletas e compara a sua força com a dos má rtires, para concluir que se
os pagã os louvavam os atletas pela sua força, deveriam louvar os
má rtires cristã os pelo mesmo motivo. Mas ninguém pensará que Sã o
Justino considerava a força dos atletas uma virtude cristã , muito menos
a considerava suficiente para a salvaçã o. Entã o, apesar da ó bvia
interpretaçã o que as palavras de Sã o Justino sugerem, há razã o para
acreditar que ele nã o incluiu Só crates e Herá clito entre os bem-
aventurados.
11. Sã o Justino, como já indicado, é um defensor resoluto da
harmonia entre ciência e fé e acredita que Cristo nã o veio ao mundo
para destruir nada, mas para embelezar e engrandecer tudo. O homem
pode vir a conhecer a verdade e, de fato, os antigos filó sofos conheciam
uma parte da verdade. Uma filosofia cristã que harmoniza razã o e
Revelaçã o é possível; Sã o Justino foi um dos primeiros trabalhadores
dessa filosofia. Embora Sã o Justino nã o tenha chegado a dizer que a
alma é naturalmente cristã , o pensamento de Tertuliano palpita em
muitos de seus pará grafos. É a alma naturalmente cristã , porque tem
aspiraçõ es que, de fato, só se desenvolvem plenamente no cristianismo.
O desejo de possuir a verdade, a aspiraçã o à perfeiçã o moral e o desejo
de felicidade talvez pudessem ser satisfeitos sem o cristianismo; mas
hoje, de fato, só encontram seu pleno desenvolvimento no cristianismo.
Fora dele nã o há segurança para as crenças, nem firmeza na prá tica do
bem, nem conforto efetivo em meio à s tribulaçõ es e angú stias do
mundo. É por isso que a alma é naturalmente cristã , e todo foco de
verdadeira luz intelectual e toda conduta pura e elevada sã o, em ú ltima
aná lise, cristã s e o cristianismo pode reivindicá -los como seus. Todo
conhecimento humano é uma fraca participaçã o no conhecimento
divino: nossas idéias sã o apenas um reflexo, uma participaçã o na
Palavra divina, que, como já disse Sã o Joã o, é a verdadeira luz que
ilumina todo homem que vem a este mundo. A Palavra divina é,
segundo Sã o Justino, como uma semente fecundíssima, Verbum
seminale, porque dessa luz divina emana o conhecimento humano e a
sua luz é a que brilha nos nossos rostos, segundo a frase dos salmos:
"Signatum est super nos lumen vultus tui." Todas essas ideias de San
Justino têm grande valor intelectual e, junto com a sede de virtude que
palpita em todas as suas pá ginas, dã o a elas um verdadeiro charme.
11. Muitos erros foram atribuídos a San Justino. Você alguns
censuraram por terem elogiado aqueles que compareceram
espontaneamente perante os Tribunais para confessar que eram
cristã os e assim receber o martírio. Entre muitos outros, ele elogia
Lú cio e seu companheiro, que, sem serem forçados por ninguém,
confessaram diante do prefeito Urbico que eram cristã os. Nã o há , no
entanto, nenhum erro em tal declaraçã o de Sã o Justino. Aqueles que
espontaneamente confessam a sua fé nã o podem ser condenados:
podem haver muitas razõ es que tornam lícita, recomendável e santa
esta apresentaçã o espontâ nea dos cristã os perante os tiranos
perseguidores. Desta forma, um magnífico exemplo de fé e força é dado
aos outros, as fraquezas anteriores sã o reparadas, os perseguidores sã o
confundidos e muitas outras vantagens sã o alcançadas. Sã o incontáveis
os má rtires que apareceram espontaneamente diante dos tiranos e que
a Igreja colocou entre os santos. Para justificar a apresentaçã o
espontâ nea nã o é necessá rio nenhum impulso extraordiná rio do
Espírito Santo: basta o parecer da prudência ordiná ria, segundo o qual
existem razõ es que justificam essa apresentaçã o. Escusado será dizer
que a apresentaçã o nã o deve ser feita para demonstraçã o de força
humana ou por qualquer outro motivo impró prio, mas apenas por
motivos puros e cristã os. Quando alguém se apresenta por motivos que
nã o sã o justos, nã o é de estranhar que lhe falte forças diante dos
tormentos, como faltou aquele Quinto, de quem se fala na carta da
Igreja de Esmirna em que o martírio de Sã o Policarpo é narrado. A
primeira condiçã o para se apresentar voluntariamente é a certeza
moral de que, com a graça divina, nã o lhe faltará a fortaleza necessá ria
para suportar as mais terríveis tormentos.
Ao ler o capítulo 4 da segunda Apologia, alguns julgarã o que Sã o
Justino nã o condenou o suicídio de um cristã o que põ e fim à sua vida
para ir para o céu o mais rá pido possível. Mas é claro que Sã o Justino o
condena expressamente, expondo as razõ es pelas quais os cristã os que
aceitam fortemente a morte imposta pelos tiranos nã o apelam de forma
alguma ao suicídio. Alguns má rtires, como Santa Apoló nia,
espontaneamente se adiantaram a lançar-se ao fogo e outros tormentos
a que tinham sido condenados. Mas só uma inspiraçã o superior do
Espírito Santo poderia justificar essas atos.
Quanto ao resto, nã o se deve tentar livrar Sã o Justino de qualquer
erro. Ele acreditava que a versã o dos setenta intérpretes havia sido
inspirada por Deus e, no entanto, era obra do homem, embora a
aceitaçã o e uso da Igreja desse autoridade à quela versã o grega do
Antigo Testamento. Embora ele nã o o afirme abertamente, ele parece
inclinado a acreditar que Jesus Cristo proibiu absolutamente todos os
juramentos, que, portanto, nunca podem ser lícitos entre os cristã os.
Com fundamentos aparentemente muito fracos, ele acreditava que
Platã o e outros filó sofos antigos aprenderam com o Antigo Testamento
as grandes verdades de ordem moral e religiosa que ensinavam em seus
livros. Puderam conhecê-los apenas pela luz da razã o, o que nã o foi
negado logicamente por Sã o Justino, pois sempre confiou nas forças da
razã o humana. E para maior abundâ ncia; contavam com a orientaçã o
segura da Revelaçã o primitiva. Alguns exemplos retirados da mitologia
parecem menos adequados hoje do que para Sã o Justino; mas eles
podem ter uma força circunstancial que hoje lhes falta. O principal erro
que é justamente atribuído para Santo Justin é milenarismo,
certamente nã o o milenarismo corporal, rude e abominável, mas um
milenarismo espiritual de mais alto linhagem, que ainda tem alguns
adeptos. Mas como Nã o defendeu o milenarismo em suas Apologies,
termino com esta simples indicaçã o.
PRIMEIRA DESCULPA
PRIMEIRA PARTE. A INOCÊNCIA DOS CRISTÃOS E A INJUSTIÇA
COM QUE SÃO JULGADOS
1. Primeira Desculpa de Justino em favor dos Cristãos dirigida a
Antonino Pio
Ao Imperador Tito Aelius Adriano, Antonio Pio, Augusto Cesar [1] , a seu
filho Verissimo, filó sofo, e a Lú cio, filó sofo, filho de Cé sar por
nascimento, mas de Pio por adoçã o, amante da cultura, bem como ao
sagrado Senado e a todo o povo romano, em defesa daqueles que ,
[chamados] de toda linhagem de homens, sã o odiados e maltratados
injustamente; Justin, filho de Prisco, [neto] de Baguio, um dos cidadã os
de Flavia Neapoles [2] [populaçã o] da Síria [pertencente] à Palestina [eu
dirijo] esta sú plica e esta petiçã o escrita para eles.
2. Justin exige justiça
A razã o ordena que aqueles que sã o verdadeiramente piedosos e
filó sofos honrem e amem apenas a verdade, recusando-se a aceitar as
opiniõ es dos antigos se forem perversas. Porque a sã razã o nã o apenas
ordena que nã o sigamos aqueles que agiram ou ensinaram
injustamente, mas també m que o amante da verdade deve
absolutamente, acima de sua pró pria alma, e mesmo que a morte o
ameace , resolver firmemente fazer e dizer ele ou que é _ apenas o. E
posiçã o que sã o chamados de piedosos e filó sofos e em todos os
lugares se diz de você s que sã o guardiõ es da justiça e amantes da
cultura [e da verdade], será visto se você s realmente sã o assim. Porque
[nã o nos apresentamos] com esta carta para lisonjeá -lo ou para falar-
lhe coisas agradáveis, mas para pedir que você ordene o julgamento
[dos cristã os] de acordo com um procedimento de investigaçã o
delicada e cuidadosa, para que [impedido] por preconceito, ou movido
pelo desejo de agradar a homens supersticiosos, ou por um ímpeto
contrá rio à razã o, ou Porque um boato ruim ressoa por muito tempo
em sua mente, pronuncie sentença contra si mesmo. [3] [De nossa parte]
estamos convencidos de que ningué m pode nos prejudicar, a menos
que nos mostre que cometemos um erro e nã o sejamos considerados
culpados. Você certamente pode nos matar, mas nã o nos causar danos
reais. [4]
3. Exija uma investigação judicial
Mas, para que ningué m pense que esta linguagem é contrá ria à
razã o e imprudente, rogamos que os crimes que lhes sã o imputados
[cristã os] sejam investigados [cuidadosamente] e que se estes crimes
forem comprovados como verdadeiros, que sejam punidos como justo.
[5] Mas, se tal coisa ningué m pode provar, a reta razã o nã o permite que
se faça injustiça a homens inocentes por causa de um boato ruim ou,
melhor, que você o faça a si mesmo, que considera justo fazer negó cios
nã o pela razã o, mas pela paixã o. E todo prudente dirá que a boa
soluçã o, a ú nica e justa, é esta: que os sú ditos dê em razã o à sua vida e
doutrina acusadas e que, por sua vez, os que governam nã o dê em a sua
sentença movidos pela violê ncia e pela tirania, mas pela piedade e
filosofia. Desta forma, aqueles que comandam e aqueles que obedecem
alcançarã o [agir] bem. É por isso que um dos antigos disse em certo
lugar: "Enquanto os que mandam e os que obedecem nã o agirem como
filó sofos, as cidades nã o serã o felizes." [6] Nosso dever é , portanto,
expor nossa vida e nossa doutrina à [consideraçã o de] todos, para que
nã o façamos nossa a pena incorrida, pecando por ignorâ ncia ou
cegueira, aqueles que parecem ignorar nossas coisas. E vosso dever é
que, devidamente ouvida a causa, como manda a razã o, venhais a ser
bons juízes. Porque, uma vez que a causa é conhecida, nã o haverá
desculpa diante de Deus mais tarde se você nã o proceder com justiça.
4. Os cristãos são condenados injustamente por seu mero nome
como cristãos
Pelo [ú nico] nome, nada pode ser julgado bom ou mau, sem
[examinar] os atos que estã o incluídos sob esse nome. Pelo nome pelo
qual somos conhecidos, somos bons. Mas, assim como nã o
consideramos justo pedir a absolviçã o pelo nome, no caso de sermos
considerados criminosos, da mesma forma, se nada fizermos, nem pelo
nome pelo qual somos designados nem pela nossa conduta , cabe a
você evitar que, ao punir injustamente homens que nã o tenham sido
provados [qualquer crime], incorra nas penas da justiça. Pelo nome, de
fato, nem elogios nem puniçõ es podem ser dados com razã o até que se
prove que algo excelente ou algo ruim foi feito. Para aqueles que sã o
acusados antes de você , nã o imponha uma penalidade até que seu
crime seja provado. Mas para o que ele faz para nó s, você s tomam o
nome como argumento [suficiente], embora para o que ele faz para o
mesmo nome você s devam se dirigir principalmente contra aqueles
que o usam. Somos acusados de ser cristã os; mas odiar o que é bom,
ó timo, é contrá rio à justiça. [7] Por outro lado, se algué m nega esse
nome e afirma que nã o é cristã o, você o liberta, [o que implica] que
você nã o tem nada para argumentar contra ele por um crime. Mas se
algué m confessa, aplicais a pena pela mera confissã o, sendo oportuno
examinar a conduta de quem confessa e de quem nega, para que pelos
atos se saiba que tal é cada um . [8] Bem , é assim que é . como alguns ,
tendo aprendido com seu mestre Cristo a nã o negar [sua religiã o]
quando solicitado, assumem a missã o de exortar, da mesma forma que
aqueles que vivem mal talvez forneçam esse mal à queles que por
outros motivos estã o dispostos a atribuir impiedade e injustiça a todos
os cristã os. E isso nã o é feito corretamente. Porque alguns, portando o
nome e o há bito da filosofia, nã o fazem nada digno desta profissã o.
Você també m sabe que aqueles que outrora tinham opiniõ es e
ensinavam coisas contrá rias, todos se chamam pelo nome ú nico e
comum de filó sofos. [9] E alguns deles ensinavam ateísmo. Os poetas
també m cantam ao lascivo Jú piter junto com seus filhos, e aqueles que
representam essas fá bulas nã o sã o proibidos por você , ao contrá rio,
você concede prê mios e honras à queles que com voz meló dica
insultam esses [o Deuses].
5. Cristãos são acusados de ateísmo
Que essas coisas significam? Quanto a nó s, que prometemos nã o
cometer nenhuma injustiça nem ensinar tais impiedades, você s nã o
examinam julgamentos, mas, com afeto contrá rio à razã o e agitados
pelo flagelo de demô nios malignos, você s punem sem julgamento
verdadeiro e sem [guardar as regras de ] prudê ncia. Com isso, você é
informado sobre o que é verdade [10] Antigamente, os demô nios
malignos, quando presentes, estupravam mulheres e corrompiam
crianças e mostravam coisas terríveis aos homens, a tal ponto que
aqueles que julgavam essas coisas nã o pela razã o ficavam cheios de
terror, pelo contrá rio, dominados pelo medo, e ignorando a existê ncia
de demô nios malignos, eles os chamavam de deuses e designavam
cada um com o nome que o demô nio lhes havia imposto. Mas depois
que Só crates se esforçou para trazer essas coisas à luz com uma
palavra verdadeira e com toda diligê ncia e separar os homens dos
demô nios, estes mesmos, encantados com a maldade dos homens,
trabalharam para que ele fosse morto como ateu e ímpio. disse isso ele
introduziu novos demô nios [11] . E da mesma forma eles tramam isso
contra nó s. E nã o apenas entre os gregos essas coisas foram ditas pela
Palavra por meio de Só crates, mas també m [foram ditas] entre os
bá rbaros pela mesma Palavra, que se vestiu em [nossa] forma, se fez
homem e foi chamado Jesus Cristo. E como nEle cremos, nã o só nã o
dizemos que os demô nios que fizeram tais coisas sã o bons, pelo
contrá rio, os chamamos de demô nios maus e abomináveis, cujas açõ es
nã o se assemelham nem mesmo aos homens que amam a virtude . [12]
6. A acusação de ateísmo é refutada
É aqui que somos chamados de ateus. E nó s reconhecemos que
somos ateus se é sobre esses [demô nios] que sã o [falsamente]
considerados como deuses, mas de forma alguma se é sobre o Deus
mais verdadeiro, Pai da justiça, temperança e outras virtudes, em quem
nenhum defeito [ou imperfeiçã o] se mistura [com o bem]. Adoramos e
honramos a Ele e a Seu Filho, que veio Dele e nos ensinou essas coisas,
e o exé rcito de anjos bons, muito diferentes [dos demô nios], que O
seguem e se assemelham a Ele e ao Espírito profé tico. Nó s os
veneramos com razã o e verdade, por toda inveja, porque, como todos
podem ver, nó s distribuímos a doutrina que nos foi dada. [13]
7. Todo cristão deve ser julgado por sua própria vida
Mas algué m dirá : “Alguns, quando foram reduzidos à prisã o, foram
convencidos de criminosos. Freqü entemente você condena muitos
depois de ter investigado a vida dos prisioneiros, mas nã o os condena
porque antes de ter demonstrado o crime de outros. [14] Reconhecemos
plenamente que, assim como entre os gregos, aqueles que ensinavam
doutrinas de seu agrado se chamavam pelo nome ú nico e comum de
filó sofos, embora suas doutrinas fossem muito diversas, da mesma
forma que entre os bá rbaros [15] foram sá bios ou foram considerados
como tal, um nome comum també m foi imposto . Todos, de fato, se
dizem cristã os. Rogamos, pois, que se investiguem os atos de todos os
acusados perante vó s, para que aquele que foi convencido do delito seja
punido como perverso, mas de modo algum como cristã o. Mas, se
algué m se mostra isento de toda culpa, seja absolvido como cristã o
inocente. De resto, nã o pedimos que proceda contra os mesmos
informantes: chega de tortura [16] sua pró pria maldade e ignorâ ncia das
coisas sã o para eles Olá bom.
8. Os cristãos confessam sua fé em Deus
Dizemos essas coisas para você , nã o para nó s mesmos; você pode
entender assim, porque está em nosso poder negar quando somos
[acusados] e interrogados [sobre nossa religiã o]. Mas nã o queremos
viver acorrentados à mentira. Desejando, com efeito, uma vida eterna e
pura, encaminhamo-nos para a vida de Deus, Pai de todos e [supremo]
Artífice, e apressamo-nos a confessar porque estamos convencidos e
acreditamos que estes bens podem ser alcançados por aqueles que
com a sua Com obras, eles provaram a Deus que o seguiram e que
amaram a morada de Deus, pois nã o há mal algum que nos rejeite.
Porque, para resumir, essas sã o as coisas que esperamos, as mesmas
coisas que aprendemos e ensinamos [aos outros] de Cristo. Da mesma
forma, Platã o disse que os ímpios, quando caírem nas mã os de Minos e
Radamanto, serã o punidos por eles. Dizemos que isso mesmo virá
sobre eles, mas pela mã o de Cristo, e isso permanecendo em seus
corpos junto com suas almas, para que sejam punidos com castigo
eterno, e nã o apenas com uma sentença de mil anos. , como ele disse. E
se algué m disser que isso é incrível para nó s e que nã o pode ser feito,
certamente é leve e daqueles que se cometem todos os dias desde que
nã o estejamos convencidos de nenhum crime . [17]
9. A adoração de ídolos é um culto vazio
É Ã
TERCEIRA PARTE. OS MISTÉRIOS CRISTÃOS
61. Batismo Cristão
Agora vamos expor como fomos renovados e consagrados a Deus
por meio de Cristo; assim nã o poderemos dizer que expomos a
doutrina deficientemente, pois se omitirmos isso talvez nos digam.
Todos aqueles que estã o convencidos de que as coisas que ensinamos e
dizemos sã o verdadeiros e acreditam nisso e se consideram fortes o
suficiente para viver dessa maneira, aprendam a orar e pedir perdã o a
Deus por seus pecados anteriores atravé s do jejum, enquanto oramos e
jejuamos juntos com eles. Entã o eles sã o conduzidos por nó s a um
lugar onde há á gua [81] , e lá eles sã o regenerados da mesma forma que
nó s fomos regenerados. Porque entã o eles recebem a lavagem com
á gua em nome do Pai de todos e do Senhor Deus e Salvador, nosso Jesus
Cristo, e do Espírito Santo. Cristo disse, com efeito: "A menos que você
seja regenerado, você nã o entrará no reino dos cé us." (Jo. 3, 3.5) E é
bem sabido por todos que é impossível para quem já nasceu reentrar
no ventre materno. També m foi explicado, como dissemos acima, pelo
profeta Isaías como aqueles que pecam e fazem penitê ncia devem ser
purificados do pecado. Porque assim falou: «Lavai-vos, purificai-vos,
extirpai da vossa alma o mal, aprendei a fazer o bem e a fazer justiça ao
ó rfã o; defendei a viú va e vinde discutir, diz o Senhor. fossem como o
escarlate, fá -los-ei brancos como a lã , e se forem vermelhos como o
carmesim, Eu os farei como a neve branca. Mas se você nã o me ouvir, a
espada o devorará . Pois os lá bios do Senhor falaram estas coisas." (Is. 1,
16-20) E dos Apó stolos recebemos a seguinte razã o para tudo isso.
Desde a nossa primeira geraçã o foi obra de nossos pais e por eles nó s
fomos gerados sem saber e por necessidade atravé s de uma semente e
do contato de ambos os pais, pois fomos educados em maus há bitos e
instintos perversos, para nã o continuarmos sendo filhos de
necessidade e de ignomínia, mas de escolha e ciê ncia, bem como para
receber pela á gua o perdã o dos pecados que cometemos
anteriormente, pronuncia sobre aquele que quer ser regenerado e fez
penitê ncia por seus pecados o nome do Pai de todos, Senhor Deus, e
este ú nico nome usamos quando o levamos à pia batismal para ser
batizado. Com efeito, nã o há ningué m que possa dar um nome a Deus,
que é inefável, e se algué m dissesse que Deus tem nome, estaria
completamente delirante. E essa pia se chama iluminaçã o [82] , porque
aqueles que aprendem essas coisas sã o iluminados na mente. Mas
aquele que é iluminado també m é batizado em nome de Jesus Cristo,
que foi crucificado sob Pô ncio Pilatos, e em nome do Espírito Santo,
que pelos profetas anunciou de antemã o todas as coisas referentes a
Jesus.
62. O batismo é imitado pelos demônios
E como os demô nios ouviram este batismo pregado pelo profeta,
eles ordenaram que aqueles que entrassem em seus templos para
mendigar e oferecer-lhes libaçõ es e gordura [de animais] se
purificassem por aspersã o com á gua [83] ; eles també m fazem outra
coisa, que é que eles lavam completamente aqueles que marcham antes
de chegarem aos templos nos quais os pró prios demô nios sã o
colocados. [Outra circunstâ ncia], a de ordenar aos sacerdotes que
tirem os sapatos de todos aqueles que entram nos templos e veneram
os demô nios com os mesmos [atos], é devido ao fato de que os
demô nios imitaram o que aconteceu com o mencionado profeta
Moisé s. Pois Jesus Cristo, nosso [Senhor], na forma de fogo, apareceu a
Moisé s, que estava cuidando das ovelhas de seu tio materno na Ará bia,
e ordenou-lhe que descesse ao Egito e trouxesse de lá o povo de Israel,
que habitava lá . [84] . Entã o ele disse a ele: "Tire os sapatos e, chegando
mais perto, ouça." (Ex. 3, 5) Entã o ele, aproximando-se, ouviu que
deveria descer ao Egito e que seria chefe do povo de Israel quando
deixasse a terra em que vivia. E tendo recebido de Cristo, que na forma
de fogo havia falado com ele, desceu e tirou o povo depois de ter
realizado grandes e admiráveis prodígios, que você pode estudar
cuidadosamente em seus livros, se desejar.
63. Como Deus Apareceu a Moisés
Todos os judeus até agora reconhecem que o Deus que anô nimo
falou com Moisé s. Portanto, o Espírito Santo, repreendendo-os atravé s
do mencionado profeta Isaías, fala desta forma, como já dissemos: "O
boi conheceu o seu dono e o jumento a manjedoura do seu dono, mas
Israel nã o me conheceu e o povo você nã o conheceu". Você nã o me
entende." (Is. 1, 3) E Jesus Cristo, argumentando com eles porque nã o
tinham Sabendo que nã o era nem o Pai nem o Filho, ele també m falou
assim: "Ningué m conhece o Pai senã o o Filho, nem o Filho senã o o Pai e
aquele a quem o Filho o quiser revelar." (Mt. 11, 27) Mas o Verbo de
Deus é seu Filho, como já dissemos. Ele també m é chamado de Anjo e
Apó stolo [85] , porque anuncia todas as coisas que devem ser
conhecidas, e é enviado para indicar todas as coisas que sã o
anunciadas, como diz o pró prio Senhor: "Quem me ouve, ouve aquele
que me enviou". (Lc. 10, 16) E isso certamente apareceu nos escritos
de Moisé s, nos quais lemos estas palavras: "E o Anjo de Deus falou a
Moisé s em uma chama de fogo saindo da sarça, e disse: Eu sou o que
sou , O Deus de Abraã o, o Deus de Isaque, o Deus de Jacó , o Deus de seus
pais, desça ao Egito e tire o meu povo”. (Ex. 3, 2.14-15) Mas as coisas
que se seguem podem saber, se quiserem, pelos mesmos livros, porque
aqui nã o podemos escrever tudo. E dissemos estas coisas para
demonstrar que Jesus Cristo é o Filho de Deus e o Apó stolo de Deus, o
qual, sendo o Verbo preexistente e tendo-se feito ver, seja em forma de
fogo ou em imagem incorpó rea, tendo-se tornado agora um homem
pela linhagem humana para cumprir a vontade do Pai, ele també m se
dignou a sofrer todas as coisas que os judeus tolos inventaram por
impulso dos demô nios. O qual o mencionou pelo nome nos
comentá rios de Moisé s: “E o Anjo de Deus falou com chama de fogo , e
disse: Eu sou o que sou, o Deus de Abraã o, o Deus de Isaque e o Deus de
Jacó ”. " Eles afirmam que o Pai e Criador de todas as coisas falou essas
palavras; por isso o Espírito profé tico, repreendendo-os, disse: "Mas
Israel nã o me conheceu e meu povo nã o me entendeu." E novamente
Jesus, como já dissemos, estando com eles disse: "Ningué m conhece o
Pai senã o o Filho, nem o Filho senã o o Pai e aquele a quem o Filho o
quis revelar. Assim, entã o, os judeus, que sempre julgaram que o Pai
havia falado com Moisé s sobre todos eles, sendo aquele que falou o
Filho de Deus, que se chama Anjo e Apó stolo, com razã o sã o acusados
pelo Espírito profé tico e pelo pró prio Cristo de que nã o conheciam
nem o Pai nem o Filho, dizem que o Pai é o Filho, estes sã o acusados de
nã o conhecerem o Pai ou saberem que o Pai do universo tem um Filho,
porque o Verbo sendo o primogê nito de Deus, també m é Deus. Ele
apareceu a Moisé s e aos profetas na figura do fogo e em imagem
incorpó rea, mas agora, nos dias do vosso impé rio, feito homem, como
já dissemos, [nas entranhas] da Virgem, segundo a vontade do Pai, pela
salvaçã o daqueles que crer nele tolerou ser contado por nada e sofrer
[corporalmente], para vencer a morte por sua morte e ressurreiçã o.
Mas o que foi dito a Moisé s da sarça: "Eu sou o que sou, o Deus de
Abraã o, o Deus de Isaque, o Deus de Jacó e o Deus de vossos pais", é a
prova de que estes subsistem mesmo depois da morte e que eles sã o
homens [fié is] de Deus. Pois estes foram os primeiros de todos os
homens a buscar a Deus: Abraã o, que foi o pai de Isaque, e Isaque, de
Jacó , como escreveu Moisé s.
64. Mais interpretações erradas da Verdade
Nas fontes de á gua ele [os gentios] ergueram a imagem daquele
que eles chamavam de Kore [86] ; Isso també m foi feito por impulso dos
demô nios, que disseram que ela era filha de Jú piter e imitaram as
palavras de Moisé s. Que isso aconteceu, você pode saber pelo que já foi
dito. Porque Moisé s, como dissemos acima, falou assim: "No princípio
Deus criou o cé u e a terra. Mas a terra era sem forma e desordenada, e o
Espírito de Deus movia-se sobre as á guas". Imitando, portanto, aquele
Espírito Divino, que se dizia mover-se sobre as á guas, eles chamavam
Prosé rpina de filha de Jú piter. E com igual malícia disseram que
Minerva havia sido gerada por Jú piter, mas nã o por coito, porque
sabendo que o mundo foi feito por Deus atravé s do Verbo, depois de tê -
lo pensado e considerado, chamaram a primeira noçã o ou ideia de
Minerva. Mas para nó s parece extremamente ridículo usar a forma de
uma mulher para expressar a primeira noçã o. Da mesma forma os fatos
acusam os outros que se dizem filhos de Jú piter . [87]
65. A dispensação dos sacramentos
Mas nó s, depois de termos batizado aquele que confessou a sua fé e
a aceitaçã o da nossa doutrina, levamo-lo aos que se chamam irmã os,
onde se reú nem, a fim de fazerem oraçõ es comuns por nó s, por aquele
que acaba de ser iluminados [pelo batismo] e por todos os outros que
estã o em toda parte, para que, tendo alcançado o conhecimento da
verdade, possamos também ser enriquecidos com a graça de que,
levando por nossas obras uma vida justa, venhamos a ser observadores
do [divinos] preceitos e por meio deles alcançamos a salvaçã o eterna.
Nos cumprimentamos com o beijo [fraterno] quando terminamos de
rezar. Em seguida, o pã o é apresentado a quem preside os irmã os e, ao
mesmo tempo, o cá lice de á gua e vinho. Uma vez que essas coisas foram
recebidas por ele, ele dá louvor e gló ria ao Pai de todos por meio do
nome do Filho e do Espírito Santo e por fim realiza o Eucaristia
qualquer Açã o de obrigado por aqueles presentes que ha recebido.
Terminadas as oraçõ es e açõ es de graças, todo o povo aclama:
Amém. Amém, na língua hebraica, significa o mesmo que seja feito [ou
assim]. Mas depois que o presidente terminou as oraçõ es e todo o povo
aclamou, aqueles que entre nó s sã o chamados diá conos distribuídos
entre os presentes, para que cada um deles pudesse participar deles, o
pã o, o vinho e a á gua, e os Eles trazem os ausentes.
66. Da Eucaristia
E este alimento entre nó s se chama Eucaristia, e a ningué m é lícito
comê -lo, a nã o ser os que crê em que as coisas que ensinamos sã o
verdadeiras, foram lavados com o batismo mencionado, para remissã o
dos pecados e regeneraçã o, e vivem da maneira que Cristo ordenou.
Pois nã o comemos estas coisas como pã o comum ou vinho comum,
mas, assim como Jesus Cristo , nosso Salvador, feito carne pela Palavra
de Deus, teve carne e sangue para nos salvar, assim també m recebemos
por tradiçã o aquele alimento no qual o Dia de Açã o de Graças foi feita
pela oraçã o que conté m as palavras do mesmo, e com a qual nosso
sangue e nossa carne sã o nutridos pela conversã o, é a carne e o sangue
daquele Jesus encarnado. Porque os apó stolos, em seus comentá rios
chamados Evangelhos, ensinavam que isto era o que Jesus havia
ordenado, isto é , que Ele, tendo recebido o pã o e dado graças, disse:
"Fazei isto em memó ria de mim; isto é o meu corpo ." , e que tendo
recebido també m o cá lice e dado graças, disse: "Isto é o meu sangue", e
que só a eles o deu (Mt. 26, 26; Mc. 14, 22; Lc. 22, 19 ). E para que isso
també m pudesse ser feito nos misté rios de Mithras, os demô nios
malignos, que o imitaram, o ensinaram. Porque ou você sabe ou pode
facilmente investigar que o cá lice de á gua é colocado nos misté rios do
iniciado, acrescentando algumas palavras . [88]
67. Do primeiro dia da semana
Desde entã o sempre comemoramos essas coisas, e quem tem
[bens] ajuda a todos os necessitados e está sempre unido uns aos
outros. E em todas as ofertas louvamos o Criador de todas as coisas por
meio de seu Filho Jesus Cristo e por meio do Espírito Santo. E no dia
que chamam de Sol (domingo) [89] Aqueles que habitam tanto as
cidades como os campos se reú nem no mesmo lugar para ler os
comentá rios dos apó stolos ou os escritos dos profetas pelo maior
tempo possível. Mais tarde, quando o leitor terminar, o que preside
toma a palavra para admoestar e exortar à imitaçã o de coisas tã o
distintas. Entã o todos nos levantamos ao mesmo tempo e oferecemos
[nossas] oraçõ es; e, como já dissemos, em Assim que paramos de orar,
eles trazem pã o, vinho e á gua, e aquele que preside faz oraçõ es e açõ es
de graças com todas as suas forças, e o povo aclama Amé m, e a
comunicaçã o dos [presentes] sobre os quais eles recaíram a açã o de
graças é feita pelos diá conos a cada um dos presentes e aos ausentes.
Os que abundam [em bens] e querem dar à vontade o que cada um
quer, e o que se arrecada é depositado nas mã os de quem preside, e
socorre os ó rfã os e as viú vas e os que, por doença ou outro motivo, eles
estã o em necessidade, assim como os que estã o nas prisõ es e os
hó spedes que vê m de longe; em uma palavra, cuide de todos os
desamparados. E no dia do Sol (domingo) todos nos reunimos, em
parte porque é o primeiro dia em que Deus, fazendo voltar a luz e a
maté ria, criou o mundo, e també m porque nesse dia Jesus Cristo, nosso
Salvador, ressuscitou dos mortos. Eles o crucificaram, com efeito, no
dia anterior ao de Saturno (sá bado), e no dia seguinte, isto é , ao do Sol
(domingo), aparecendo aos apó stolos e discípulos, ele ensinou aquelas
coisas que nó s entregamos aos seus consideraçã o.
68. Conclusão
Tenha essas coisas em devida consideraçã o se elas parecem estar
de acordo com a razã o e a verdade; mas se eles parecem insignificantes
para você, despreze-os como insignificantes, mas nã o decrete a morte
contra homens inocentes como contra inimigos [e criminosos].
Anunciamos a você que nã o escapará do julgamento de Deus se
permanecer na injustiça; sempre exclamaremos: Faça o que mais
agrada a Deus. E embora nos apoiando em o epístola do má ximo e mais
ilustre imperador Adriano, seu pai, poderíamos exigir que mandasse
fazer os julgamentos da forma que pedimos, nã o o pedimos, porém,
com maior determinaçã o porque foi assim que Adriano arranjou, mas
porque sabemos que pedimos apenas coisas, fizemos este discurso e
esta exibiçã o de nossas coisas. Também adicionamos uma có pia da
referida epístola no final para que você possa ver que também estamos
dizendo a verdade nisso. Esta có pia é como prossiga:
Rescrito de Adriano em favor dos cristãos.
A Minúcio Fundano. [90]
Recebi a carta que Serenio Graniano me escreveu, um homem
muito distinto, a quem você sucedeu. Parece-me que é um assunto que
nã o deve ser negligenciado, mas sim examinado, para que os homens
nã o sejam perturbados e os caluniadores nã o tenham oportunidade de
cometer crimes. Entã o, se as pessoas da sua província querem apoiar
abertamente sua acusaçã o contra os cristã os e levá -la ao tribunal que
responde por ela, eles [os magistrados] podem receber essa acusaçã o.
Mas de forma alguma dê atençã o a simples pedidos ou clamores
[pú blicos]. É muito mais justo do que se algué m quiser acusar [no
formal, que você saiba dessas acusaçõ es. Se, portanto, algué m acusar
certos cristã os e provar que eles cometem infraçõ es à s leis, manda [até
a tortura], conforme a gravidade do crime. Mas, por Hé rcules, se
algué m denuncia caluniosamente, tenha o cuidado de punir o
denunciante com as mais severas torturas por causa de sua
perversidade . [91]
Carta de Antonino à comunidade de Ásia.
Imperador Cé sar Tito, Elio Adriano, Antonio Augusto Pío , Pontífice
Má ximo, adornado quinze vezes com o poder tribunício e trê s com o
poder consular, pai do país, à comunidade da Á sia, saudaçõ es. Ele
certamente pensou que os deuses cuidariam para que tais homens nã o
se escondessem. Porque se pudessem, imporiam penalidades, muito
mais do que você , à queles homens que nã o querem adorá -los. A quem
você certamente causa problemas, e os acusa como se fossem ateus, e
imputa a eles alguns outros crimes que nã o podemos provar. Mas eles
acreditam que morrer por seu Deus vale mais do que viver. Eles
també m triunfam sobre você , pois renunciam à vida em vez de
obedecer aos mandatos que você deseja impor a eles. Com relaçã o aos
terremotos que aconteceram e estã o acontecendo, nã o convé m que
você se lembre deles, pois você se desespera quando eles chegam. Você
nã o pode se comparar com aqueles homens, que [nesses momentos]
confiam em Deus muito mais do que você . Em tempos comuns, você
parece nã o saber que os deuses existem, você nã o cuida de seus
templos nem tem zelo pelo culto devido à Divindade. Por isso você s
odeiam aqueles que honram [a Deus] e os perseguem até a morte. A
respeito desses homens, alguns outros governadores provinciais já
haviam escrito ao meu divino pai [Adriano]. Ele lhes disse para nã o
fazer nada contra eles, a menos que fosse provado que eles estavam
conspirando contra o Impé rio Romano. També m fui consultado por
muitos outros sobre esse assunto e respondi a eles no mesmo sentido
que meu pai. Se, portanto, algué m acusar um cristã o como tal, o
acusado é absolvido de todas as acusaçõ es, ainda que se prove que é
cristã o; em vez disso, o acusador é punido. [92]
Epístola do Imperador Marco ao Senado, na qual testemunha
que os cristãos foram a causa de uma vitória.
O imperador César Marco Aurélio Antonio, germâ nico Pó rtico
Sarmá tico, ao povo romano e ao sagrado Senado, saudaçõ es. Dei-vos
conta da grandeza do meu projeto 45 , quã o grandes foram as
vantagens alcançadas nos confins da Alemanha, apesar do perigo em
que me encontrava, cercado de inimigos, quando, cansado, apó s longa
luta, setenta e quatro dragõ es me cercaram no espaço de nove milhas
no Comunto. E quando já estavam bem perto, nossos batedores no-lo
anunciaram, e Pompeiano, mestre de nossa milícia, mostrou o que já
sabíamos (pois ele estava cercado por uma multidã o imensa e ordeira,
enquanto eu tinha comigo um pequeno e heterogêneo exército de a
legiã o primeiro, décimo, Germica e Ferentarios); isto é, que um imenso
exército estava lá , forte de novecentos e setenta mil homens.
Comparando, portanto, eu e o primeiro de minha espécie com a
multidã o de inimigos bá rbaros, decidi pedir ajuda aos meus deuses
nativos. Mas como eles nã o me deram atençã o e eu vi a situaçã o difícil
em que minhas tropas estavam, chamei alguns de nó s que se chamam
cristã os e, tendo perguntado a eles, reconheci a multidã o e o grande
nú mero deles e fiquei indignado contra deles, o que certamente nã o foi
oportuno, pois mais tarde conheci o poder do mesmo. Mas eles
começaram nã o observando as flechas ou as armas ou as trombetas
(porque isso lhes é proibido por Deus, que eles carregam em suas
consciências e, portanto, é plausível que aqueles que suspeitamos
serem ateus tenham Deus vivendo espontaneamente em suas
consciências). e que sã o fortalecidos pela presença de Deus), mas,
lançando-se por terra, rezaram nã o só por mim, mas por todo o
exército, para que eu lhes apaziguasse a fome e a sede. Porque fazia
cinco dias que nã o tentávamos á gua por falta dela. Estávamos, de fato,
no centro da Alemanha e nos confins dos inimigos. E assim que eles se
jogaram no chã o e invocaram o Deus que eu nã o conhecia,
imediatamente caiu chuva do céu, muito fria certamente a que caiu em
nosso campo, mas nos inimigos dos romanos tornou-se granizo
ardente. E junto com a oraçã o, a presença de Deus se mostrou
imediatamente insuperável e invencível . Começando, entã o, aqui,
permitiremos que estes sejam Cristã os, porque se eles pedirem tais
armas contra nó s, eles poderã o obter seus desejos. Pela mesma razã o,
ordeno que nã o é lícito acusar um homem de ser cristã o. E se houver
alguém que acuse um cristã o só porque é cristã o, basta-lhe, se
confessar que o é, provar que só foi acusado porque é cristã o [para
obter a absolviçã o]; Também ordeno que o acusador seja queimado
vivo. E o cristã o que confessa [sua Religiã o] e provar que nã o é acusado
de nada além de ser cristã o, a pessoa com o governo da província nã o o
forçará a se afastar desta Religiã o ou tirará sua liberdade [de continuar
nela ] .
Eu quero que esta minha ordem seja confirmada por um Senado-
consulto e esta minha constituiçã o seja publicada no Fó rum de Trajano
para que possa ser lida [por todos]. E o prefeito Verasnio Pollio se
encarregará de enviá -lo a todas e cada uma das províncias. E todos que
quiserem usá -lo e possuir uma có pia dele podem retire-o da có pia que
apresento para publicaçã o. [93]
SEGUNDO DESCULPA
Segundo pedido de desculpas do próprio Justino em favor dos
cristãos, dirigido ao Senado Romano.
1. introdução
As coisas que aconteceram ontem e anteontem em sua cidade sob
Urbico, ó romanos! sã o da mesma natureza que nó s e que embora nã o
o saibas e nã o o queiras, [seduzidos] pelo esplendor das tuas
dignidades, sancionadas por lei, está s com todos os nossos irmã os. Em
toda parte, se algué m for corrigido pelo pai, pelo vizinho, pelo filho,
pelo amigo, pelo irmã o, pelo marido ou pela esposa por causa de algum
crime, isto é [aquele que leva perante os Tribunais aos Cristã os ], pelo
seu amor ao deleite e pela resistê ncia que sempre opõ e à virtude. A
ú nica exceçã o a isso sã o os pró prios cristã os, que afirmam que os
maus e lascivos serã o atormentados com o fogo eterno e que, ao
contrá rio, aqueles que praticam a virtude e vivem imitando a conduta
de Cristo irã o viver com Deus, sem que já tem que sofrer alguma dor;
aqueles que se tornaram cristã os devem ser excluídos. Os demô nios
malignos fazem o mesmo, sã o nossos inimigos e tê m os juízes [dos
cristã os] sob seu poder e viciados em sua adoraçã o. Ambos incitam os
magistrados, como se agitados por demô nios, a nos matar. E para que
você esteja perfeitamente ciente de todo o assunto tratado na Urbico,
vou explicar o que aconteceu. [94]
2. Urbico condena cristãos à morte
Uma mulher que antes era intemperante vivia com seu marido
intemperante; mas, depois que ela aprendeu a doutrina de Cristo, ela se
converteu a uma vida melhor e se esforçou para persuadir o marido a
se converter també m. Para isso expô s a doutrina cristã e anunciou as
torturas que devem sofrer no fogo eterno os que vivem luxuriosamente
e contra a reta razã o. Mas ele, perseverante nas mesmas desordens,
distanciou-se do afeto da esposa. E a mulher julgando ímpia doravante
dividir a cama com aquele marido que, contrariando a lei natural e as
normas jurídicas, buscava por toda parte os caminhos do prazer, quis
retirar-se do casamento. Mas respeitando a autoridade de seus
[parentes], que a aconselharam a permanecer casada e disseram que
algum dia ela finalmente daria esperança de conversã o ao marido, ela
se obrigou a permanecer. Mas depois que seu marido, tendo ido para
Alexandria, começou, de acordo com os anú ncios, a fazer coisas ainda
piores, temendo que ela se tornasse cú mplice de atos iníquos e ímpios
se continuasse no casamento e vivesse sob o mesmo teto e
compartilhasse os mesma cama, ela marchou enviando o que você
chama de repú dio. Entã o aquele ilustre e bom homem, tendo que se
alegrar que sua esposa, antes entregue ao vinho e a todos os tipos de
vícios e licenciosidade com criados e mercená rios, agora estava
completamente afastada de fazer tais coisas e insistia em mantê -lo
longe das mesmas desordens. nã o se contenta com o repú dio e acusa a
divorciada de ser cristã . E ela, presenteando-o com um memorial, ó
imperador!, implorou para poder consertar as coisas em sua casa
primeiro e prometeu que responderia à acusaçã o mais tarde. E você ,
Imperador, concordou com o pedido dele. Mas seu ex-marido, que na
é poca nã o podia agir contra ela, dirigiu sua vingança contra um certo
Ptolomeu, a quem Urbico puniu com tortura e que havia sido o
professor da mulher na doutrina cristã . Ele persuadiu um certo
centuriã o, amigo dele, a prender Ptolomeu para levá -lo à prisã o,
perguntando-lhe apenas se ele era cristã o. Entã o Ptolomeu, como era
um amante da verdade e muito retraído em seu espírito de fraude e
mentira, tendo confessado que era cristã o, foi jogado na prisã o pelo
centuriã o e foi perseguido por um longo tempo na prisã o. Finalmente
levado à presença de Urbico, da mesma forma foi questionado apenas
se era cristã o e plenamente consciente [dos seus deveres] pela
doutrina que recebera de Cristo; ele novamente confessou o ensino da
verdade divina. Porque quem nega alguma coisa ou nega porque aquilo
mesmo [que nega] era conveniente ou, considerando-se indigno dela e
separado dela, evita a confissã o: nenhuma dessas duas coisas cabe em
um verdadeiro cristã o. Tendo, entã o, Urbico ordenado que Ptolomeu
fosse condenado à morte, um certo Lú cio, que també m era cristã o,
vendo um julgamento tã o contrá rio à razã o, questionou Urbico assim:
"Que julgamento é esse? Por que você impõ e uma pena a este homem,
que nã o é culpado de adulté rio ou estupro, nem assassino, nem ladrã o,
nem sequestrador, nem condenado por nenhum crime, mas apenas
confessou ser cristã o? Nã o julgas, Urbico, como convé m a um piedoso
imperador, nem a um filó sofo filho de Cé sar. [95] , nem ao sacrossanto
Senado." Entã o ele, sem responder mais nada, falou assim a Lú cio:
"Você també m me parece ser daquela linhagem de homens." E tendo
respondido a Lú cio: "Em alto grau" , Urbico ordenou que ele també m
fosse levado [para tortura]. tortura.
3. Justino ao Crescente do preconceito contra os cristãos
Eu também espero ser atacado por um desses homens que
mencionei e amarrado à vara por isso, ou talvez por aquele arrogante
Crescente, amigo da ostentaçã o. Porque ele nã o é nem digno do nome
de filó sofo, porque afirma publicamente coisas sobre nó s que ele ignora
completamente, a saber, que os cristã os sã o ímpios e ateus, e ele diz
isso para agradar a multidã o enganada do povo humilde. Porque se, nã o
tendo lido a doutrina de Cristo, ele nos persegue, no entanto, ele é
certamente muito perverso e muito pior do que os homens ignorantes,
que muitas vezes têm o cuidado de nã o falar de coisas que ignoram,
para nã o dar falso testemunho sobre eles. E se leu, nã o entendeu a
majestade desta doutrina, ou se a entendeu, trabalha assim para que os
homens nã o suspeitem que é cristã o, e nesse caso é muito mais vil e
perverso, porque se deixa levar pela opiniã o inculta do vulgo e pelo
medo. Gostaria, no entanto, que você soubesse que eu, depois de lhe
fazer algumas perguntas sobre o assunto, cheguei à convicçã o de que
ele pró prio nada sabe. E para que se verifique que estou falando a
verdade, estou pronto, se essas discussõ es nã o chegaram a suas mã os,
para propor novamente minhas perguntas a vocês. Regia certamente
seria esta obra. Mas se minhas perguntas e suas respostas chegaram a
seus ouvidos, você verá claramente que ele nada sabe de nossas coisas.
E se ele sabe disso e, por medo de seus ouvintes, nã o ousa, como
Só crates, falar, acaba nã o sendo um filó sofo, mas um defensor de lendas
vulgares, pois ignora aquele pensamento mais bonito de Só crates: " Nã o
há como honrarmos mais o homem do que a verdade." Mas o cínico, que
constitui o fim ú ltimo na indiferença, nã o pode buscar outro bem fora
daquele de indiferença.
4. Por que os cristãos não se matam
Mas que ninguém raciocine desta forma: com a morte que damos a
vocês, todos vocês vã o para [seu] Deus e nã o perturbem mais nossos
negó cios. Vou explicar porque nã o fazemos isso e porque, quando
questionados, confessamos sem medo. Nã o é em vã o que aprendemos
que Deus criou o mundo, mas que o criou para a linhagem humana, e já
dissemos que agrada a Deus quem o imita e que, pelo contrá rio, nã o
gosta de quem por obra ou palavra abraça o pior. Se, pois, todos nó s
atentarmos contra a nossa vida, seremos, no que depender de nó s, a
causa de que nã o mais homens sejam engendrados nem instruídos na
doutrina divina, mais ainda, a causa de que a humanidade desapareça;
Estaríamos agindo, entã o, contra os desígnios de Deus se fizéssemos tal
coisa. Quando questionados, nã o negamos, porque nã o nos
consideramos culpados de qualquer má açã o, por um lado;
Acreditamos, por outro lado, que é ímpio nã o dizer toda a verdade, pois
sabemos que dizê-la agrada a Deus e, em ú ltima aná lise, porque
queremos livrá -lo de uma iníqua preconceito.
5. Como os anjos transgrediram
E se algué m atacar este pensamento, o que de maneira alguma
aconteceria, se tivé ssemos Deus em nosso auxílio, que os ímpios, como
dizemos, nos oprimem com seu poder e nos impõ em torturas, esta
dificuldade també m será resolvida por meu Deus , que criou o mundo
inteiro, colocando todas as coisas terrenas sob o poder dos homens e
preparando os elementos celestes, os quais, como é sabido, foram
criados també m para o homem a fim de servirem para o aumento dos
frutos e a sucessã o da estaçõ es, e tendo estabelecido esta lei divina, ele
confiou o cuidado dos homens e das coisas colocadas sob o cé u aos
anjos, aos quais ele encarregou esta missã o. Mas os anjos,
transgredindo a ordem estabelecida, cometeram desonestidade com as
mulheres e tiveram filhos que foram chamados de demô nios; Mais
tarde sujeitaram os homens a duras servidõ es, em parte com escritos
má gicos, em parte com terrores e torturas que lhes infligiram, em parte
com os sacrifícios, incensos e libaçõ es que lhes ensinaram, pois
começaram a precisar dessas coisas desde o momento em que foram
emancipados. .das doenças da concupiscê ncia; Por fim, semearam
entre os homens mortes, guerras, adulté rios, crimes e toda espé cie de
vícios. Assim, os poetas e os autores de fá bulas [e lendas], por nã o
conhecerem os anjos nem saberem que os demô nios por eles
engendrados agiram contra homens e mulheres, contra cidades e as
naçõ es, as coisas que consignaram nos livros, transferiram tudo isso
para o pró prio Deus e para aqueles que, por descendê ncia, vieram a ser
seus filhos e para aqueles que foram chamados irmã os do mesmo,
Netuno e Plutã o, e seus filhos. E chamaram cada um com o nome que
cada um dos anjos havia imposto a si mesmo e a seus filhos. [96]
6. Nomes de Deus e Cristo, seus significados e poder
Mas nenhum nome foi capaz de dar um nome ao Pai de todos,
porque ele ainda nã o nasceu. Porque qualquer que seja o nome que lhe
é imposto, indica prioridade por parte daquele que o impô s. E as
denominaçõ es Pai, Deus, Criador, Senhor, Dono, nã o sã o nomes
verdadeiros, mas qualificadores derivados dos benefícios do pró prio
Deus. E o Filho [de Deus], que é o ú nico que é propriamente chamado
Filho, Verbo antes que o mundo fosse criado, que estava junto com Ele
e foi gerado, por quem Ele criou e ordenou todas as coisas desde o
princípio, este Filho, Eu direi, porque ele foi ungido e por ele Deus
ordenou todas as coisas, seu nome é Cristo [Ungido] [97] Este nome
expressa, na verdade, algo incognoscível, pois o qualificador de Deus
nã o é um nome verdadeiro, mas a opiniã o natural do homem sobre
uma realidade indizível. Mas Jesus tem o nome de homem e Salvador e
a realidade significada por esses nomes. Porque, como já dissemos, ele
se fez homem e veio ao mundo por meio do parto, segundo a vontade
de Deus Pai, para a salvaçã o dos crentes e para a ruína dos demô nios.
Muitos de nossos [irmã os] cristã os, conjurando pelo nome de Cristo,
crucificado sob Pô ncio Pilatos, curaram muitos endemoninhados em
todo o mundo e em sua cidade, a quem outros conjuradores,
encantadores e má gicos nã o foram capazes de curar; hoje també m os
curam, expulsando e derrotando os demô nios que valentã o
7. O mundo é preservado para o bem dos cristãos
Portanto, Deus conté m a confusã o e evita a confusã o. dissoluçã o de
todo o mundo, com a qual anjos maus, demô nios e homens perversos
nã o existiriam mais [98] e assim opera atravé s da semente dos cristã os,
que sã o a causa da preservaçã o da natureza das coisas. [99] Pois, se nã o
fosse assim, você nã o poderia fazer essas coisas nem ser incomodado
por demô nios malignos, mas o fogo do julgamento, descendo [à terra]
destruiria todas as coisas como antigamente o dilú vio, que nã o poupou
ningué m , mas um só com sua família, a quem chamamos Noé e você s
chamam Deucaliã o, de quem mais uma vez se espalhou uma grande
multidã o de homens, parte bons e parte maus. Assim dizemos que
haverá uma conflagraçã o no futuro, e nã o como os estó icos acreditam,
de tal forma que todas as coisas se transformem umas nas outras, o
que parece extremamente estranho. Porque os homens nã o agem nem
sofrem o que lhes sobrevé m arrastados pelo destino, mas por sua livre
vontade fazem o bem ou pecam; por açã o de demô nios malignos,
homens excelentes sã o perseguidos e acorrentados, como Só crates e
alguns outros semelhantes; Pelo contrá rio, Sardanapalus, Epicuro e
outros como eles parecem felizes na abundâ ncia e esplendor de todas
as coisas. E como os estó icos nã o entendiam bem essas coisas,
afirmavam que todas as coisas acontecem por necessidade do destino.
Mas como Deus criou gratuitamente no princípio a linhagem dos anjos
e dos homens, justamente os que pecam sofrerã o os tormentos do fogo
eterno por seus pecados. Mas a natureza de cada coisa criada afirma
ser capaz de virtude e vício; De fato, ele nã o faria nada louvável se nã o
pudesse se inclinar para nenhum dos lados. E assim o declaram
també m aqueles que em cada regiã o ditaram leis oportunas de acordo
com a reta razã o ou filosofaram sobre questõ es morais, pois mandam
fazer algumas coisas e evitam outras. Essas mesmas coisas sã o
constantemente provadas pelos estó icos quando disputam sobre os
costumes, do que facilmente se vê que, ao lidar com príncipes e coisas
incorpó reas, eles nã o estã o no caminho certo. Porque se eles dizem que
as coisas que sã o feitas pelos homens sã o obra do destino ou afirmam
que Deus nã o é algo diferente das coisas, que eles dã o voltas e voltas e
acabam sempre na mesma comida, segundo isso eles nã o poderiam ter
uma noçã o de uma coisa, alguns que nã o está sujeito à corrupçã o, e
pela mesma razã o eles aparentemente constituíam o mesmo Deus,
ambos considerados em parte e vistos como um todo, na maior
misé ria e maldade. Em outro caso, eles tiveram que dizer que nã o há
vício ou virtude, o que é contrá rio a toda razã o, noçã o e inteligê ncia
sã s.
8. O mundo odeia os portadores de sementes
Mas como os estó icos, pelo menos no que diziam sobre os
costumes, chegaram a raciocinar corretamente, o que à s vezes
acontece també m com os poetas, porque a semente da razã o está
intimamente ligada a toda a linhagem humana, sabemos que os
discípulos dessa doutrina foram odiados ou mortos. Entre os que
floresceram em nosso tempo, conhecemos Herá clito, como já foi dito, e
Musonius. [100] Os demô nios trabalhavam muito e à s vezes, como já
mostramos, conseguiam odiar aqueles que de alguma forma tentavam
viver segundo a razã o e evitar o vício. Portanto, nã o deve ser surpresa
que o que procuram acomodar suas vidas nã o a uma parte da verdade
disseminada, mas à verdade plena que emerge do conhecimento e da
contemplaçã o de toda a Palavra, ou seja, de Cristo, sã o objetos de ó dio
muito maior, ó dio despertado pelos demô nios , que certamente pagará
as merecidas penas e as dignas torturas, submersas no fogo eterno.
Porque se [os demô nios] já foram derrotados pelos homens em nome
de Jesus Cristo, isso é uma indicaçã o segura de que o tormento no fogo
eterno os aguarda e a seus adoradores. [101] Assim, de fato, os profetas
anunciaram que isso aconteceria e nosso mestre o ensinou Jesus.
9. A tortura eterna não é uma mera ameaça
Mas para que ningué m diga o mesmo que dizem aqueles que se
consideram filó sofos, a saber, que as coisas que dizemos sobre os
tormentos dos ímpios no fogo eterno sã o ruídos e ameaças vã s, e que
nosso objetivo é que os homens sigam a verdade movido pelo medo, e
nã o pela beleza da pró pria virtude ou porque lhes agrada, responderei
que, se isso nã o for verdade, ou Deus nã o existe ou, se existe, nã o se
importa com os homens, nem a virtude e o vício tê m alguma realidade,
e que apenas aqueles que transgridem os mandatos principais sã o
punidos pelos legisladores. mas é claro sã o malvado e como ele Pai de o
eles mesmos [legisladores] Ele os ensina por sua palavra a fazer as
mesmas coisas que Ele faz, iníquos sã o aqueles que nã o obedecem ao
mesmo [102] . E se algué m alegar contra isso as diversas espé cies de leis
humanas e acrescentar que certos atos sã o bons para uns e maus para
outros, mas aqueles que alguns consideram bons sã o maus para outros
e aqueles que sã o bons para uns sã o maus para outros, ouça. O que
vamos dizer sobre este ponto? Como sabemos que as leis foram
acomodadas pelos anjos maus à sua maldade, e como os homens
semelhantes aos demô nios se regozijam com essas leis, a razã o correta
deve vir para mostrar que nem todas as opiniõ es dos homens nem
todas as leis sã o boas, exceto algumas má s. e outros bons. Para o as
quais direi a esses homens as mesmas e outras coisas semelhantes e,
se necessá rio, dissertarei mais detalhadamente sobre esse assunto.
Mas agora volto ao meu propó sito.
10. Comparação de Cristo com Sócrates
É notó rio, portanto, que as nossas [crenças] sã o muito mais
sublimes do que toda a doutrina humana, porque tudo o que pertence
ao Verbo, tudo o que é Cristo, que se manifestou por nó s, a saber: corpo,
razã o e alma. Porque todas as coisas que filó sofos e legisladores
pensaram ou disseram em todos os tempos, todas essas coisas Eles
sabiam das coisas porque de alguma forma descobriram e
consideraram a Palavra. Mas como nã o sabiam todas as coisas que sã o
da Palavra, isto é, de Cristo, freqü entemente diziam coisas
contraditó rias. E aqueles que, tendo sido mais velhos do que Cristo
segundo a natureza humana, tentaram investigar [e aprovar] ou rejeitar
pela razã o cada uma das doutrinas, estes foram levados a julgamento
como ímpios e curiosos. Dos quais o mais zeloso neste ponto, Só crates,
foi acusado dos mesmos crimes que nó s. Os demô nios diziam que ele
introduzia novidades e que nã o considerava como deuses aqueles que a
cidade adorava como tais. E ele, de fato, expulsando Homero e outros
poetas da cidade, incitou os homens a se afastarem dos demô nios, por
quem as coisas que os poetas escreveram foram inventadas. E para que
conhecessem a Deus, a quem nã o conheciam, pelo exercício da razã o,
exortou-os com estas palavras: "Nã o é fá cil encontrar o Pai e Criador de
todas as coisas, nem, se o encontrardes , é seguro pregá -lo a todos."
Tudo isso foi realizado por nosso Cristo com sua pró pria autoridade.
Porque ninguém seguiu Só crates até que ele morreu por sua doutrina,
mas Cristo que foi parcialmente conhecido também por Só crates
(porque a Palavra penetrou e penetra tudo, e por meio dos profetas ele
predisse coisas futuras, e por si mesmo ele ensinou em nossa natureza
humana sua doutrina), nã o só os filó sofos e homens de letras
acreditaram, mas também os trabalhadores e as pessoas
completamente ignorantes, que desprezavam a gló ria, o medo e a
morte; porque ele é um poder inefável do Pai, nã o um mero
instrumento da razã o humana.
11. Como os cristãos veem a morte
Mas nó s nã o seríamos mortos, nem homens perversos e demô nios
seriam superiores a nó s, se todo homem que é engendrado [e nasce]
nã o tivesse a morte como necessidade indeclinável e como lei
suprema. Pela mesma razã o, quando pagamos esta dívida, damos
graças. Mas agora, contra Crescente e contra os que repetem as
mesmas ilusõ es que julgou excelentes e oportunas alegar aquele dito
de Xenofonte [103] . Com efeito, Xenofonte escreve que Hé rcules,
caminhando por uma certa encruzilhada, encontrou a Virtude e o Vício,
que lhe apareceram na forma de mulheres, e que esta, certamente com
um vestido muito ornamentado e pró prio para [provocar] o amor e
com um rosto que esses ornamentos tornavam gracioso, e com olhos
prontos para lisonjas, ela falou assim com ele, a saber: que se ele a
seguisse, ela o faria viver eternamente feliz e belo, com o mesmo
ornamento mais esplê ndido que ela usava . Acrescenta que a Virtude,
de rosto esquelé tico e [pobre] roupa, ele disse a ela: "Se você se
entregar a mim, você nã o se adornará com elegâ ncia e brilho expirado
e perecível, mas com ornamentos sublimes e eternos." Portanto, todo
aquele que foge das coisas que parecem belas e segue o que considera
duro e distante da razã o, este, segundo nossa firme convicçã o, da qual
temos absoluta certeza, alcançará a vida bem-aventurada. Porque o
vício, depois com suas açõ es mostra como uma casca externa as coisas
que sã o pró prias da virtude e verdadeiramente boas, com a imitaçã o de
coisas incorruptíveis (porque nada incorruptível pode ter ou fazer)
reduz os homens colados à terra à servidã o, atribuindo à virtude os
males que sã o inerentes a ele [vício]. Mas aqueles que conhecem os
bens verdadeiros e de alguma forma fingidos, estes [tornam-se]
incorruptíveis graças à virtude. E isto, posto em prá tica por cristã os e
atletas e por aqueles que fizeram coisas como as que os poetas
atribuem à queles que por engano dos homens sã o venerados como
deuses, nã o deve ser considerado absurdo pelo mero argumento de
que desprezamos a morte, que por si só ela parece digno de nó s
fugirmos de ela.
12. A inocência dos cristãos é provada por sua alegria na morte
E eu mesmo, quando me deleitei com a doutrina de Platã o e ouvi
falar dos crimes imputados aos cristã os, mas os vi aproximar-se da
morte e de outras coisas que parecem atemorizantes aos homens,
entendi que era impossível que aqueles homens vivessem na maldade
e no amor de prazeres. Porque o lascivo e o intemperante e aquele que
considera entre as coisas boas os banquetes em que sã o servidas
carnes humanas, como pode ele abraçar a morte, que deve privá -lo de
todos esses bens? Como nã o preferir permanecer constantemente
nesta vida? Como ele nã o deveria tentar esconder seus crimes do
magistrado e nã o se apresentar espontaneamente ao magistrado para
ser condenado à morte? E alguns homens perversos, movidos por
demô nios malignos, vieram perpetrar um crime horrível. Porque como
alguns foram mortos como criminosos dos crimes que nos foram
imputados, levaram os nossos criados, algumas crianças e outras
mulheres pequenas, para serem atormentados, e com torturas
horríveis os obrigaram a denunciar esses crimes fabulosos que
abertamente e à luz do dia eles [os acusadores]. E como essas coisas
estã o tã o longe de nó s, pouco nos preocupamos com acusaçõ es, pois
temos o Deus Ingê nuo e Inefável como testemunha de nossos
pensamentos e de nossas açõ es. Que razã o existe para nã o
reconhecermos publicamente que todas essas coisas -os supostos
crimes- sã o realizados corretamente e demonstremos que sã o uma
filosofia divina, [para o que nos bastaria] dizer que quando matamos
um homem celebramos os misté rios de Saturno e que enquanto nos
enchemos de sangue, como vulgarmente dizem, fazemos uma
cerimó nia semelhante à tua, que consagras a um ídolo que nã o só
molhaste com sangue de gado, mas també m com sangue de homens,
bebendo o sangue de homens que massacraram um homem muito
nobre e distinto entre você s, e que també m somos imitadores de
Jú piter e outros [deuses] enquanto nos metemos desonestamente com
crianças, a quem corrompemos, e em uniã o carnal promíscua com
mulheres, també m buscando refú gio nas obras de Epicuro e dos
poetas? Mas porque aconselhamos a fugir de tais prá ticas e dos autores
e imitadores destes crimes, e os defendemos agora neste discurso,
somos atacados de vá rias formas. Mas nã o damos atençã o a isso
porque sabemos que Deus, simplesmente, tudo vê . [104] Quem dera que
hoje algué m gritasse com uma voz trá gica de um lugar superior:
"Envergonhado de atribuir a homens inocentes as coisas que você faz
publicamente e de censurar as coisas que estã o intimamente ligadas a
você e seus deuses aos homens a quem essas coisas nã o alcançam de
forma alguma. Arrependam-se, arrependam-se ."
13. A Palavra está em todos os homens
Vendo, entã o, o invó lucro perverso em que o demô nios malignos
haviam embrulhado a doutrina divina dos cristã os para aterrorizar os
outros homens e vendo també m os autores de tais mentiras, zombei
desse invó lucro e da opiniã o popular, e considero o maior elogio que
eles me considerem um [bom] cristã o e com todos os meus esforços Eu
luto para me tornar um. E nã o porque as doutrinas de Platã o sejam
contrá rias a Cristo, mas porque nã o sã o totalmente semelhantes, como
sã o as de outros, por exemplo, estó icos, poetas e historiadores. De fato,
cada um falava bem quando via disseminada uma parte da razã o
divina, com a qual se harmonizava perfeitamente. Mas aqueles que
estavam em contradiçã o consigo mesmos em coisas muito sé rias,
estes nã o alcançaram, ao que parece, nem uma doutrina mais elevada
[do que os outros] nem um conhecimento que nã o pode ser rejeitado.
Assim, quantas coisas foram ditas corretamente por outros, pertence a
nó s, cristã os. Porque adoramos e amamos depois de Deus o Verbo, que
nasceu do Deus nã o nascido e inefável [105] visto que se fez homem por
nó s, para que, participando da nossa misé rias os remediariam. Porque
todos os escritores puderam ver a verdade atravé s da semente da
razã o, intimamente inerente a eles, mas com alguma obscuridade. Uma
coisa é , com efeito, a semente de algué m e a imitaçã o concedida
segundo as forças [do sujeito], e outra coisa diferente ela mesma cuja
comunicaçã o e imitaçã o sã o concedidas por engraçado do mesmo .
14. Justin reza para que este apelo seja publicado
Rogamos-te, pois, com este memorial que dês publicidade a esta
calú nia, pondo no fundo dela o que te parecer melhor, para que os
outros saibam das nossas coisas e os homens venham a saber destas
coisas e se libertem das suas erros e da ignorâ ncia em que estã o de
coisas muito excelentes. Estes, certamente por causa deles, mostram-se
submetidos a torturas, porque a faculdade de distinguir o que é honesto
e o que é torpe é inerente à natureza humana, e, ainda por cima,
enquanto nos condenam, acusando-nos dos crimes toscos que
proclamam, e no entanto, honram os deuses que cometeram pecados
semelhantes a estes e ainda hoje exigem coisas semelhantes dos
homens, pronunciam sentença contra si mesmos, pois nos impõ em a
morte, a prisã o ou alguma outra pena gravíssima, como se fô ssemos
culpado de tais crimes; portanto, nenhum outro juiz é necessá rio [para
condená -los].
15. Conclusão
Desprezei também a ímpia doutrina de Simã o, cheia de Além de ser
um erro, embora tenha sido relatado entre meus compatriotas, os
samaritanos. E se a vossa autoridade se juntar a esta calú nia, iremos
expô -la de forma a que todos a vejam para que, se possível, se
convertam. Este é o ú nico fim que nos propusemos ao escrever esta
petiçã o. Nã o há nada de errado com nossas instituiçõ es se forem
julgadas corretamente, pelo contrá rio, sã o mais sublimes do que
qualquer filosofia. Pelo menos sã o certamente muito diferentes dos
sotadistas, dos filandeus, dos dançarinos, dos epicuristas e outros, que,
apresentados no palco, todos podem ver, e escritos, todos podem ler. E
feito o que estava ao nosso alcance, acabamos suplicando que todos os
homens em toda parte se tornem dignos de conhecer a verdade. Espero
que você, como convém à piedade e à filosofia, dê uma sentença justa
em sua pró pria causa.
[1] Os títulos aqui conferidos pelo mártir são os mais preciosos; pois a família dos Antoninos, de Adriano a Cômodo,
usava os títulos de filósofos e também de pais da nação. O Desculpa vai dirigido , em primeiro lugar, para o Imperador
Antonino cheep e para seus dois filhos adotivos, Marco Aurelio e Lucio Varo. Marco Aurélio já era César e tornou-se
imperador com a morte de Antonino Pio; assim que ascendeu ao trono, Marco Aurélio associou Lú cio Varo ao Império,
dando-lhe o título de imperador Antonino, que se chamava Pio pela veneração que sempre teve pela memória de seu
pai adotivo e predecessor, Adriano; Tinha seus nomes primeiro. Marco Aurélio é designado nesta Apologia com o nome
de Verísimo . Dos três grandes personagens aos quais a Apologia é dedicada em primeiro lugar, um era conhecido
como piedoso e o outro como filósofo, e isso bastou para que o apologista chamasse os três de piedosos e filósofos,
como, pelo menos implicitamente, ele chama no corpo da Apologia. Essa dupla qualidade deu a São Justino maior
direito de reivindicar que o imperador, César e o suposto futuro César respeitassem a justiça em suas relações com o
Cristãos.
[2] Alguns acreditavam que Baquio era um segundo nome do pai de San Justino; mas a comparação com as
genealogias antigas permite afirmar que Bacquio foi o pai de Prisco. Flavia Neapoles foi a cidade romana que
substituiu a antiga Sichem. A Palestina era considerada uma parte ou, pelo menos, uma extensão da Síria, da
qual dependia administrativamente.
[3] Diz-se deles que são defensores da justiça; agora pedem-lhes justiça para os cristãos e, se não o fizerem, mostrarão
que tal elogio de piedosos e filósofos não é justo. Se ditarem uma sentença contra a justiça, pronunciar-se-ão contra si
mesmos e mostrarão que não sabem resistir às paixões humanas.
[4] Este pensamento é de Platão de sua Apologia a Sócrates quando ele fala aos atenienses. Realmente, o mal físico e a
morte material não nos prejudicam muito, porque são compatíveis com a perfeição moral e com a realização de nossos
destino.
[5] As ú ltimas três palavras deste parágrafo promoveram contendas e suposições entre os comentaristas. Crave os
traduz assim: "Não, deixe-os ser mais severamente punidos do que outros homens". – Cristianismo Primitivo.
[6] De Platão, livro V., de sua Repú blica. Este é um ditado muito familiar na boca desses imperadores, portanto seu uso
pelo apologista é muito pertinente.
[7] A reclamação geral das antigas apologias era ser acusado, condenado e executado pelo mero nome de cristão; e
esse nome era o orgulho deles, o ornamento da graça, com o qual eles se gloriavam mais do que qualquer outro título.
O campeão Attalus quando foi levado ao anfiteatro com desacato, tinha uma mesa com a inscrição "Este é Attalus o
cristão", Eusébio Hist. Ecles. lib. V. E quando o apóstata Juliano, quando o Cristianismo estava quase convertendo o
mundo, propôs que o nome desaparecesse da face da terra e como uma zombaria ele chamou os cristãos de Galileus e
proclamou uma lei para eles serem chamados assim, Nan. Invect, em Julian I.
[8] A ignorância e malícia de perseguir a conta de seus nomes é encontrada em Tertuliano, cap. III; Lactâncio, lib. IV,
cap. VII. Nosso Salvador é chamado Chrestos por Suetônio, in vita Claudii, mas os cristãos são claramente mencionados
por Plínio, o Jovem, Tácito, Celso e outros . E quando os pagãos soltavam aquele rugido: Christianos ad Leones, eles
pronunciavam seus nomes perfeitamente. Não parece, portanto, que São Justino quis explorar como base para um
argumento o modo vicioso que alguns pagãos tinham de chamar Cristo e cristãos. Parece mais raro que São Justino
disse uma vez que o nome cristão é bom e que os cristãos são excelentes por causa de seu nome; Por isso, alguma
probabilidade não pode ser negada à opinião daqueles que, com Grabe, afirmam a sinonímia de Christiano e Chreston.
Os que se negam a admiti-lo lembram-se de que São Justino , em o II Desculpas, deriva o nome de Cristo de natal -
pomada- e chrisis - unção -, e acrescentam que o que é ungido e o que é ungido são coisas boas, por isso é fácil ir um
passo além e dizer que o nome cristão é bom e que os cristãos são ótimos pelo nome . Também não é estranho que,
por um jogo de palavras, o cristão fosse chamado de cristão e se deduzisse dessa sinonímia que ele deveria ser bom e
ú til para a piedade. São Teófilo de Antioquia, que certamente não forçou a palavra chrestianos, afirma, no entanto, que
o ungido é suave e bom.
[9] Aqui ele fala da vida desses primitivos mestres (discípulos), que aos poucos foram submetendo os pagãos ao
cristianismo. Este foi o motivo que funcionou em Justin. Ele viu sofrimento e paciência prodigiosos; Ele viu que seus
princípios estavam acima do padrão da melhor filosofia e que o que eles ensinavam eles viviam e conseqü entemente
sofriam extraordinariamente. São Justino enfatiza a condescendência demonstrada para com os filósofos, muitos dos
quais ensinavam doutrinas perversas e pregavam abertamente o ateísmo, e com os poetas que ultrajavam os deuses
ridicularizando e pintando brilhantemente seus vícios, enquanto para os cristãos, que não tinham nenhuma dessas
audácias condenáveis, um rigor foi usado cruel.
[10] O mesmo se repete no segundo pedido de desculpas, e foi uma opinião corrente antes e depois de Justin. Eles
concluíram que esses espíritos malignos tinham um tipo de corpo mais refinado, que era revigorado pelas correntes
de sacrifícios e pelo poder incrível que exerciam sobre a humanidade, de onde vem essa opinião. São Justino atribui
claramente a raiva perseguidora dos pagãos aos impulsos dos demônios. Tal acusação poderia perturbá-los, e é por
isso que o apologista indica que é necessário dizer o VERDADEIRO. Ainda a ha disse e continua dizendo isso
[onze] É quando Sócrates estava estabelecendo a adoração de um Deus ú nico em Atenas, um artigo de Melito contra
ele, acusando-o de ser ateu e introdutor de deuses estranhos, veja a Apologia de Platão.
[12] Fica clara a elevada ideia que San Justino tem da filosofia e dos filósofos. Sócrates recebeu, segundo ele, algum
raio de luz da Palavra divina, ensinou a unidade de Deus e rejeitou os demônios, que os pagãos consideravam
verdadeiros deuses. Os demônios, que mataram Sócrates como ateu, agora reproduzem a mesma acusação contra os
cristãos, a quem também querem exterminar.
[13] Os cristãos adoram o verdadeiro Deus, não falsos deuses. Sua crença em Deus é muito mais forte do que a dos
pagãos; suas idéias sobre a Divindade, muito mais elevadas; seu respeito pela Divindade, incomparavelmente maior.
Eles não reservam o doutrina divino para Sim sozinho, mas que o quer se comunicar a tudo ele mundo .
[14] Se nenhum preso é punido pelo crime comprovado em outros, como pode um cristão ser punido por ter provado
que outro cristão era culpado? culpado?
[15] Clemente de Alexandria freqü entemente chama os judeus de "bárbaros" e Epifânio de Salamia chama o
Cristianismo de "barbarismo". - Lang.
[16] Isso está de acordo com o rescrito de Adriano, onde penalidades severas ameaçam aqueles que acusam
falsamente os cristãos.
[17] Neste parágrafo a doutrina da eternidade das penas do inferno é expressa com total clareza e firmeza. São
Justino rejeita expressamente a doutrina de Platão, segundo a qual as sentenças dos condenados na vida após a morte
não deveriam durar mais de mil anos, e contrasta esta afirmação com a doutrina cristã da eternidade das sentenças
do inferno. E não se deve dizer que São Justino considera o erro que os cristãos incorreriam neste ponto se estivessem
realmente errados sobre isso. Esse erro básico seria leve em relação ao Estado, cuja vida não poderia perturbar; mas
de modo algum seria um pequeno erro de ordem dogmática e religiosa. O Estado poderia ter pouco interesse nisso;
dogma, consciência e Deus estão muito interessados. São Justino também afirma expressamente o dogma da
Ressurreição.
[18] Baruch 6, 17 e depois muitos apologistas também zombaram dos pagãos, que transformaram os homens em
criadores e guardiões do Deuses.
[19] São Justino refere-se aqui às doutrinas que os cristãos receberam por tradição de Cristo e de o apóstolos.
[20] “ Um Deus inominável” este é um título dado mais de uma vez nesta apologia e muito frequente em outros
escritos deste mártir. Nesta e em suas palavras seguintes, Justino ensina que Deus-Pai e o Filho não são nomes
próprios, mas apenas títulos, que damos a eles em razão de suas boas obras e ações, etc.; e a razão pela qual ele dá
esta afirmação é: - o Deus unigênito sendo eterno, e seu Filho coexistindo eternamente com o Pai, não poderia ter um
nome porque não houve ninguém antes deles que lhes desse um nome.
[21] Alguns comentaristas quiseram corrigir este texto por acreditar que nele se aprova a doutrina platônica, contrária
à criação do mundo. Segundo Platão, a matéria é inata e eterna e, portanto, Deus, como o autor do mundo, nada fez
senão ordenar a matéria pré-existente. Mas o texto é criticamente verdadeiro e não há razão para corrigi-lo. São
Justino não nega a criação usando esta linguagem; todos nós falamos de uma segunda criação, que nada mais foi do
que a ordenação da matéria sem forma.
[22] São Justino afirma expressamente que as calú nias levantadas contra os cristãos por instigação do demônio
dificultaram muito a propagação do cristianismo. Sem esses obstáculos, o Verbo divino teria iluminado a inteligência do
pagãos.
[23] Os primeiros cristãos foram consolados com a expectativa do Reino dos Céus, pelo qual nada mais fizeram do que
se preparar para morrer; e porque eles estavam continuamente falando sobre isso e confortando um ao outro com a
esperança do reino, eles foram ouvidos por seus inimigos e falsamente acusados de traição ao império, quando,
infelizmente! (como Justino aqui assegura aos imperadores) eles representavam nada menos; e o que muito
contribuiu para essa paixão pela morte foi a opinião geral de que o dia do ajuste de contas estava próximo, um dia
terrível, do qual eles rezavam para não serem espectadores. Essa opinião apareceu cedo a partir da cautela dada por
São Paulo aos tessalonicenses (2Tess. 2, 3-4) e durou algum tempo, como evidenciado em alguns lugares em
Tertuliano, de cù lt. Fome. lib. 2 C. 9, ad uxor. lib. eu, c. 5, que mencionamos aqui porque esta opinião aparece várias
vezes neste pedido de desculpas.
[24] Esforços são feitos para esconder o mal não por respeito à lei, mas na esperança de fazer com que as más ações
passem despercebidas pelos juízes. Se não existisse essa esperança, muitos crimes não seriam cometidos. Mas quase
sempre existe essa esperança, pois o criminoso toma algumas providências que acredita serem suficientes para evitar
a descoberta de seu crime. Por isso há tanto crime e as leis humanas são tão insuficientes para impedir o
transbordamento do mal. Quando São Justino escreve que quem busca o sigilo quando faz o mal não o faz por medo
das leis penais, ele indica que a verdadeira explicação para esse comportamento se encontra na esperança de
esconder o crime do juiz. Se não houvesse tal esperança, mesmo que houvesse leis penais, o segredo.
[25] São Justino também atribui à sugestão dos demônios o pensamento de que os governantes não querem que os
homens se tornem bons para que nunca faltem sú ditos para punir. O apologista não tem uma ideia tão diminuída do
imperador e de seus filhos adotivos que atribua a eles tais sentimentos. Sem dú vida, eles fariam todos os homens bons
se pudessem. Mas vendo que seguem uma doutrina que tanto poderia contribuir para reduzir o nú mero de crimes e
delinquentes, alguns maliciosos, impelidos pelo demônio, poderiam atribuir tais sentimentos ao imperador e ao
príncipes.
[26] Se o governante colocar uma falsa tradição antes da verdade, poderá punir, pois é o dono da força, exatamente o
mesmo que o ladrão, dono da força, pode roubar e matar.
[27] Cristo é aqui chamado de Apóstolo de Deus por ter sido enviado por Ele ao mundo, como diz Hebreus 3:1: "...
Considerai a Jesus, o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa fé."
[28] Aqui se trata das formas de oferendas: pão e vinho, matéria do sacrifício cristão que se oferece espiritualmente;
de acordo com os Padres do primeiro Concílio de Nicéia, eles chamavam "ser sacrificados sem sacrifícios rituais". Nesse
sentido, Justino discute a forma grotesca dos sacrifícios gentios, consumindo no fogo o que Deus preparou para seu
alimento. Indica que atribuímos aos nossos usos e aos dos pobres os mesmos dons que os fiéis oferecem, parte dos
quais se destina ao sacrifício eucarístico. Ao lado das vergonhosas pompas pagãs ele coloca como antítese as pompas
ou solenidades cristãs, que, conforme a razão, agradam a Deus e elevam o mundo. Espírito.
[29] A menção de hinos neste lugar, e nenhuma palavra deles ao falar da maneira pú blica de adoração, indica que não
era sua intenção dar todos os detalhes do que era feito nas assembléias religiosas; O que é certo é que cantar os
salmos fazia parte do serviço divino e era parte principal dele, como diz Plínio em sua carta a Trajano: "Eles cantavam
os salmos juntos, alternados ou alternados." Esses salmos eram principalmente de Davi, ou composições extraídas da
Sagrada Escritura ou de suas próprias composições, como visto na Apologia de Tertuliano c. 39 e que continuou até o
Concílio de Laodicéia, onde foi ordenado que nenhum salmo composto por particulares poderia ser recitado na igreja,
Cant. 59.
[30] O leitor descobrirá continuamente nesta apologia que Deus é chamado de Criador de todas as coisas e Pai do
Universo; isso se repete, pois alguns hereges da época negavam que Deus fosse o criador do céu e da terra, e
mencionam expressamente Marcião, que ensinava um deus maior que o Criador do mundo.
[31] Cristo não era um charlatão ou um sofista. Em seus discursos, em todos os seus ensinamentos, revelou-se o poder
de Deus para convencer e persuadir os homens, bem como para dominar a natureza. Nunca um homem falou com a
autoridade e força persuasiva que Jesus Cristo teve.
[32] Justino não se conforma com as próprias palavras da Escritura, mas apenas com seu significado.
[33] Aqui São Justino não condena os segundos casamentos contraídos após a morte de um dos cônjuges, mas sim os
contraídos por meio do divórcio enquanto ambos os cônjuges ainda estão vivos. As leis romanas a que São Justino
alude aqui permitiam que o divórcio vinculante passasse para outros nú pcias. Embora permitido por lei e comum
naqueles tempos, foi condenado pela igreja.
[3.4] Sem dú vida, essas citações bíblicas que Justino apresenta à consideração dos pagãos são verdadeiramente
ensinamentos divinos do Sermão da Montanha e devem ter causado profunda impressão nos pagãos que os leram
pela primeira vez.
[35] Sobre esta passagem “Ao que te bater numa face, oferece-lhe a outra.” Isidoro, o Pelusius
(360-451) (Epist. 127, l. 3) expressou verdadeiramente o espírito primitivo da passagem, assim
ele diz: "O Rei do Céu veio nos instruir sobre as leis do céu, que ele propô s por conflito para o
mundo, já que nos jogos olímpicos quem luta e ganha a guirlanda; aqui aquele que é espancado
e suporta pacientemente recebe a coroa; ali quem é atingido devolve golpe por golpe, aqui
quem vira a face e recebe o golpe, sua vitó ria é celebrada pelo coro dos anjos; pois a vitó ria
cristã nã o é medida pela vingança, mas pela paciência. Esta é a nova lei da coroa; esta é a nova
forma de conflito e alegria
[36] Para este propósito, Tertuliano discute, Apol. C. 42, que embora não pagassem os impostos para a manutenção
dos templos pagãos, eles compensavam isso com o pagamento fiel dos impostos restantes. A verdade é que os
primeiros cristãos eram conscienciosos em tudo, mas nada mais do que no que dizia respeito ao pú blico e
preocupavam-se com os seus deveres e obediência aos seus governantes, que geralmente eram os piores homens.
[37] Da mesma forma Tertuliano em seu Apol. c. 39, nos diz que é uma parte solene da Igreja em seu tempo orar pela
felicidade e prosperidade dos príncipes sob os quais eles viveram.
[38] Aqui estão duas coisas afirmadas por Justino, primeiro que as almas, uma vez chegada a morte, estão em estado
de passibilidade e que os ímpios sofrerão tormentos eternos.
[39] São Justino enumera aqui todas as artes mágicas que foram usadas em seu tempo; eles também foram
enumerados posteriormente por Tertuliano em sua Apologética. Algumas dessas práticas são obscuras. Em algumas
cerimônias religiosas, crianças aparentemente não corrompidas eram vistas; Tertuliano fala de outras coisas
maravilhosas que foram feitas com as crianças: "Se pueros in elogium oraculi elicuent". Havia entre os magos alguns
que produziam sono nos homens e nesses sonhos os faziam ver coisas extraordinárias, precursores, sem dú vida, dos
atuais mestres do hipnotismo. Chamavam-se paredros aqueles espíritos que residiam habitualmente no corpo de um
homem para proteção e defesa do mesmo. A alusão a crianças incorruptas provavelmente está relacionada à crença
pagã de que as almas daqueles que sofreram uma morte violenta permaneceram com os cadáveres e talvez
impedissem a corrupção de esses.,
[40] Semelhante foi o caso dos dois endemoninhados dos gadarenos que saíram dos tú mulos “extremamente
violentos, para que ninguém pudesse passar por ali. ” (Mt. 8, 28) São Justino não afirma que as almas dos mortos
entrem nos corpos dos homens, como às vezes entram os demônios. Ele fala hipoteticamente, colocando-se do ponto
de vista dos pagãos. Também recorda a doutrina da metempsicose e da descida de Ulisses, sem que isso signifique que
compartilhe a doutrina de Pitágoras ou o pensamento de Homero na Odisséia. Em todo caso, este argumento para a
sobrevivência da alma nada mais é do que conjectural.
[41] São Justino demonstra que o cristianismo ensina tudo o que há de bom na filosofia grega, mas muito mais
perfeitamente do que ela. O artista é maior e melhor que a obra e, portanto, o homem é melhor que os ídolos que faz
com a mão, e aos quais venera por causa de uma aberração. inconcebível.
[42] Quando São Justino escreve que o Verbo é o primeiro que vem de Deus, parece referir-se à geração eterna e
divina do Verbo, não à geração humana e temporal de Jesus Cristo. Pelos exemplos que ele cita, pode-se ver que ele
fala de homens convertidos. em deuses ou que receberam geração divina; refere-se também, portanto, à geração
divina de Cristo. De resto, qualquer um pode notar que o argumento usado por São Justino foi um argumento ad
hominem. Aqueles que admitiram que não poucos homens se tornaram deuses e filhos de Jú piter, por que rejeitariam
a afirmação de que Jesus Cristo é o filho de Deus? O argumento já perdeu a força, porque hoje ninguém admite que os
homens se tornem deuses. Por outro lado, o argumento que se tira da conduta depravada dos deuses do paganismo
conserva sempre a sua força e mostra até que ponto o homem pode degradar-se na sua inteligência e na sua coração.
[43] Também chamado de Jove, é o principal deus da mitologia romana, pai dos deuses e dos homens. Aqui Justino faz
um paralelo e demonstra que Cristo, o Deus dos cristãos, nem como o Filho de Deus, nem como o filho da Virgem, nem
como um homem crucificado, pode ser contestado ou negado seu culto sagrado por aqueles que têm tantos filhos de
Jú piter e semelhantes sofrendo a morte em louvor constante entre eles.
[44] São Justino quer mostrar que Jesus Cristo merece ser chamado Deus por sua sabedoria, embora não tivesse outra
natureza senão a humana e nenhuma outra qualidade senão a humana. Mas, nesse caso, ele não seria o verdadeiro
Deus: ele seria chamado de Deus em um sentido impróprio. Não acrediteis que, colocando-se nesta hipótese, São
Justino renuncie por um momento à tese da verdadeira divindade de Cristo. Ele imediatamente acrescenta que a
geração do Verbo é completamente diferente da criação de outras coisas e tem um caráter muito especial. São Justino,
então, tem uma doutrina completamente diferente da de Ário. Para que os pagãos achem plausível a geração do Verbo,
ele cita novamente o que eles disseram a respeito de Mercú rio. Mas note que com essas comparações, São Justino
apenas tenta desfazer preconceitos e demonstrar que a doutrina cristã é pelo menos tão crível quanto a doutrina
pagã. Alguns criticaram São Justino por ter escrito que Jesus nasceu -per virginem e não ex virgine-, mas os dois são
quase sinônimos. Muitos Padres e a Liturgia falam sobre isso da mesma forma que São Justino.
[Quatro cinco] O segundo argumento é baseado, por um lado, na imoralidade dos deuses pagãos e, por outro, na
necessidade de uma ajuda verdadeiramente divina para sair efetivamente desses absurdos e obscenidades como os
cristãos .
[46] Este argumento em favor do Cristianismo é tirado do fato de que os pagãos perseguem furiosamente o
verdadeiro Cristianismo e libertam o Cristianismo desfigurado por hereges (nestes primeiros dias, Simão, o Mago,
Menandro, Marcos, Basilides). ao qual o Criador do mundo não é o Deus supremo, mas que este era uma entidade
separada e inferior ao Deus dos cristãos, uma ideia muito semelhante à dos gnósticos. Justino não sabe se os crimes
abomináveis imputados aos verdadeiros cristãos são cometidos nas reuniões dos hereges. Acredita-se que o livro ao
qual ele alude tenha sido escrito por Justin.
[47] Justin insiste nos crimes abomináveis dos gentios, assim como Irineu em Against Heretics, lib. eu, c. YO; c. IX
relatando as abominações com mulheres da mesma forma que Clemente de Alexandria faz em Stromata
(Miscellaneous), lib. III, quanto às orgias entre homens e mulheres; Epifânio em suas Heresias XXVI, fala que os
gnósticos tinham suas esposas em comum. Além disso, Epifanio conta que os gnósticos em suas reuniões matavam
recém-nascidos em um pilão resultante de suas uniões promíscuas e depois os devoravam como sua “Páscoa perfeita”.
Todas essas atrocidades foram atribuídas aos cristãos, demonstrando uma imoralidade desenfreada. O parágrafo onde
ele fala sobre a inversão ou destruição da luz divina tem causado algumas dificuldades. Entendemos isso no sentido de
que os pagãos diziam que os cristãos faziam na escuridão o mesmo que faziam à luz do dia.
[48] Isso para manter a pureza era humanamente impossível para os pagãos conceber. E pela mesma razão pensavam
que nas reuniões noturnas dos cristãos se entregavam a abomináveis excessos. O pedido deste jovem perante o
prefeito foi negado, mas mesmo assim ele continuou a viver na pureza como testemunho para sua consciência e para
os outros cristãos, pois sabia que os pagãos manteriam sua descrença.
[49] Aqui ele começa a provar sua segunda tese, a saber, a verdade da Encarnação .
[cinquenta] Há aqui um erro histórico inexplicável. Como Justino poderia supor que a versão alexandrina do Antigo
Testamento é da época de Herodes? Sabe-se que é muito mais antigo e que foi feito na época de Ptolomeu
Philodelphus. Como poderia Justino, que embora fosse gentio de origem, nascera na Palestina e conhecia
perfeitamente bem a história judaica, ignorar isso? É por isso que deve ser entendido não por engano pelo escritor,
mas pelo copista ignorante que traduziu mal os nomes.
[51] O principal objetivo de Justino aqui nesta profecia é estabelecer a geração divina de Cristo e, portanto, ele o
chama enfaticamente de “a semente de Deus” em oposição à “semente do homem”, que ele imediatamente repete
duas vezes expondo o sangue da uva.
[52] Neste capítulo, há várias coisas a serem observadas, São Justino chama Moisés de o primeiro profeta porque ele
foi o primeiro a escrever suas profecias. São Justino indica que o Verbo é a mesma virtude divina que deu sombra à
Virgem. Junte uma profecia de Balaão com outra de Isaías; disso é a profecia sobre a estrela de Jacó. Provavelmente,
como São Justino citou de memória, ele foi descuidado e inadvertidamente juntou as duas profecias. Em sua cronologia
incerta Justin considera , para ele parecer, gostar ou primeiro pro feta_ _ _ para adão , cujas profecias eram cinco ou mil
anos passados para Cristo.
[53] Aparentemente, São Justino não alude aqui à pessoa do Filho de Deus, porque atribui sempre a inspiração ao
Espírito Santo ou profético; o apologista geral fala da inspiração divina comunicada ao profetas.
[54] Quando São Justino escreve que os judeus convidaram Cristo a julgar, recorda livremente a cena do Pretório
descrita no capítulo 27 de São Mateus.
[55] E é claro que ele atribui a profecia de Zacarias a Sofonias. Se não houver erro de copista aqui, deve-se reconhecer
que Justin escreveu o pedido de desculpas rapidamente.
[56] Palavras tiradas de Hipólito e Cícero de Eurípides as traduziram para o latim. Como se vê, São Justino insiste
muito na facilidade com que os cristãos poderiam livrar-se de toda perseguição com a mentira. O apologista cita com
alguma desordem, e de memória, estes textos do Antigo Vai. Os textos são muito bem escolhidos; Só falta o capítulo 53
de Isaías, uma maravilhosa proclamação da Paixão.
[57] Este salmo 95 é citado por São Justino com grande liberdade; o mais estranho é que aqui faltam algumas peças,
que são citadas no Diálogo com Trifão. É por isso que alguns conjecturam que as alterações não são devidas ao
escritor, mas ao copistas. São Justino erra quase quinhentos anos quando indica que as previsões de Davi foram feitas
mil e quinhentos anos antes da Paixão de Cristo. Embora a cronologia do Antigo Testamento seja bastante incerta, é
pouco provável que São Justino estivesse errado. muito.
[58] São Justino erra quase quinhentos anos quando indica que as previsões de Davi foram feitas mil e quinhentos
anos antes da Paixão de Cristo. Embora a cronologia do Antigo Testamento seja bastante incerta, é pouco provável que
São Justino estivesse errado. muito.
[59] Os pagãos estavam muito inclinados a deduzir, com os estóicos, uma necessidade fatalista para a previsão das
coisas por vir, isso é evidente pelo que Orígenes responde a Celso sobre esse assunto (Against Celsus lib. II). Justino,
como nos primeiros Pais, magnifica o poder da vontade do homem, sendo a doutrina comum nos primeiros dias até o
surgimento da controvérsia pelagiana. Mesmo assim, todos reconheceram um poderoso auxílio da graça divina para
elevar a alma para as coisas divinas e espirituais. E Justino diz a seu adversário que é inú til para um homem pensar
que entenderá corretamente os profetas, a menos que sejam auxiliados por "uma poderosa graça derivada de Deus".
Diálogo com Trifo.
[60] Certamente as palavras de Deuteronômio não foram ditas por Deus aos nossos primeiros pais, mas por Moisés
aos israelitas; mas vê-se que coincidem substancialmente com a situação e a liberdade de escolha em que, segundo o
capítulo 15 do Eclesiástico, Deus colocou o nosso primeiro pais.
[61] República de Platão, livro X, ed. Henr. Stephani .
[62] Sem dú vida, São Justino exagera quando diz que os filósofos e poetas pagãos tomaram emprestado dos profetas
hebreus tudo o que eles escreveram sobre a imortalidade da alma, as sanções da vida futura e outros assuntos
semelhantes. Eles poderiam tê-lo recebido da tradição primitiva por outros canais; eles foram capazes de saber o
principal pelo ú nico motivo. Em particular, não há dependência literária do texto citado de Platão em relação a
qualquer texto de Moisés. Quanto ao resto, São Justino não encontra nenhuma necessidade absoluta, exceto que Deus
deve julgar todos os homens e recompensá-los ou puni-los, de acordo com seus respectivos méritos. Uma vez
estabelecido este princípio, os prêmios e penalidades podem ser indicados com a previsão dos atos livres do homens.
[63] Os oráculos de Histaspes (Hidaspes) é o nome de um sábio persa fictício, autor de uma profecia em circulação nos
tempos cristãos antigos, apêndice oriental dos livros sibilinos. Justin é o primeiro a mencionar esses "oráculos de
Histaspes", embora não diga nada sobre seu conteú do. Mas a seguinte informação é fornecida por Clemente de
Alexandria: No segundo século houve um livro grego que se espalhou em círculos cristãos e pagãos sob o nome de
Histaspes, no qual os cristãos descobriram, ainda mais claramente do que nos livros sibilinos, referências a Cristo e seu
reino; especialmente à sua filiação divina, aos sofrimentos ainda iminentes para ele e seus seguidores do mundo e
seus governantes, embora igualmente para a paciência preservadora dos fiéis e a segunda vinda do Senhor. Lactantius
também nomeia Histaspes duas vezes. Segundo ele, Histaspes proclamou a queda do império romano; Nas tribulações
que precedem o fim do mundo, ele predisse que "os piedosos e fiéis, separados dos ímpios, levantarão as mãos ao céu
com choro e lamentação e implorarão a proteção de Jú piter, que olhará para a terra e ouvirá o clamor dos homens e
destruirá os ímpios". "Todas as coisas" acrescenta Lactantius "que são verdadeiras, exceto uma, que atribuiu a Jú piter
as coisas que Deus fará." Além disso, havia certas previsões escatológicas apresentadas por Lactâncio que estavam de
acordo com as de Histaspes, Hermes e a Sibila, por um lado, e com a futura esperança cristã, por outro. De acordo com
um escritor desconhecido do século V (edição de Buresch em seu Claros, páginas 87-126, Leipzig, 1889), as revelações
de Histaspes tratavam "da encarnação do Salvador".
Os oráculos sibilinos são coleções de profecias que foram dadas por sibilias ou videntes divinamente inspirados.
Devido à aceitação que tiveram e à sua influência na formação das opiniões religiosas da época, os judeus helenísticos
de Alexandria, durante o século II aC, compuseram versos da mesma forma, que atribuíram às sibilas, e os circularam
entre pagãos como um meio de espalhar doutrinas e ensinamentos judaicos. Esse costume continuou nos tempos
cristãos e foi adotado por alguns cristãos, de modo que no segundo ou terceiro século surgiu uma nova classe de
oráculos de fontes cristãs. Portanto, os oráculos sibilinos podem ser classificados como pagãos, judeus ou cristãos.
[64] A noção de Justin aqui é que Cristo era o Eterno e a Sabedoria de seu Pai, a Fonte da Razão, assim como o sol é a
fonte da luz, e que dele havia uma razão naturalmente derivada em todo homem, como um raio ou emanação. luz
daquele sol; Orígenes tem o mesmo pensamento.
[65] Ver História Eclesiástica de Eusébio, lib. IV, c. 4 e Apologia de Tertuliano c. 21 sobre o edito contra a entrada dos
judeus na Terra Santa.
[66] Esta era a antiga forma de palavras proclamadas pelo diácono aos catecú menos, quando estavam para ser
batizados.
[67] São Justino continua citando livremente o capítulo 53 de Isaías, uma profecia muito clara da morte de Cristo. O
sepultamento de Cristo foi arranjado entre os ímpios, mas na verdade foi feito entre os ricos. Jesus teria sido enterrado
entre os executados se José de Arimatéia, um homem rico, não tivesse reclamado seu corpo para enterrá-lo em um
sepulcro novo.
[68] As palavras relacionadas à profecia da Ascensão são retiradas do Salmo 23, 7 aquelas relacionadas à segunda
vinda do Senhor, que no texto são atribuídas a Jeremias, são de Daniel 7, 13.
[69] São Justino cita toda essa profecia sob o nome de Zacarias, mas parte dela corresponde a Isaías e outra parte é do
próprio São Justino. É muito pouco o que se tira de Zacarias.
[70] Este texto não é tirado de Isaías, mas de Jeremias, 9, 26. Os gentios, segundo ele, eram incircuncisos no corpo
porque guardavam o prepú cio; os judeus, por outro lado, eram incircuncisos de coração porque guardavam em seus
corações o prepú cio que haviam cortado de seus corpos. E o incircunciso de coração resiste mais à graça divina do que
aquele que é apenas incircunciso de corpo. E embora Santo Irineu indique que a conversão dos gentios é mais difícil
do que a dos judeus, isso pode ser entendido em sentido compatível com a vigorosa afirmação de São Justino.
[71] São Justino começa aqui a demonstrar a terceira parte de sua tese, ou seja, que as fábulas dos poetas foram
inventadas pelos demônios para separar os homens da fé cristã.
[72] Por esse nome os romanos o conheciam; Ele era o deus da medicina, dizem que ele poderia ressuscitar os mortos.
Asclépio foi como os gregos o conheceram.
[73] O texto é retirado de Lamentações de Jeremias 4, 20. Já é um tanto obscuro e, portanto, sua aplicação não pode
ser muito claro.
[74] São Justino vê a figura da Cruz, no corpo humano com os braços estendidos, no arado que sulca a terra, nas velas
que movem os navios... Essas considerações hoje parecem um tanto pueris; mas não devem ser assim quando São
Justino os usou, porque Tertuliano os usou novamente em sua Apologética; talvez por isso não apresentassem nenhum
de seus deuses como cruz e, para diminuir esse impedimento, seria conveniente apresentar a figura da cruz reinando
na natureza e nas obras dos homens. homens.
[75] Do que diz São Justino, segue-se que mesmo em seu tempo a heresia de Simão Mago foi importante. O apologista
quer convencer os discípulos de Simão de que ainda pode haver erro deles e pede que seja destruída a estátua que o
Senado e o Senado lhe consagraram. cidade.
[76] São Justino cita as primeiras palavras do Gênesis. E, de acordo com a versão da Septuaginta escreve que após a
primeira criação a terra era invisível ou invisível. Significa realmente que a terra era informe e que por falta de forma,
ordem e beleza não estava em condições de ser vista. Embora São Justino elogie Platão por ter ensinado a formação do
mundo por Deus, não é por isso que ele concorda com Platão em outra afirmação do filósofo, ou seja, em não atribuir a
Deus a primeira criação da matéria, mas apenas a ordem e a disposição do mundo. Já indica, com efeito, que Deus
formou o mundo das coisas indicadas por Moisés, isto é, da matéria na forma da qual o céu e a terra foram
posteriormente formados. Claramente, então, São Justino atribui a Deus a criação da matéria primitivo.
[77] Na mitologia grega, ele é o senhor das trevas. Dizia-se que suas espessas névoas de escuridão circundavam as
bordas do mundo e preenchiam os lugares sombrios abaixo.
[78] É um diálogo escrito por Platão em que ele se refere a questões fundamentais como problemas cosmogônicos
como a origem do universo, no físico sobre a matéria e antropológico sobre a natureza humana.
[79] doutrina de Platão é citado, aparentemente, com cuidado por San Justino. Platão disse essas coisas não do Verbo
Divino, que ele não conhecia, mas da alma do mundo. E naturalmente, ele não tirou essa doutrina de Moisés. De resto,
São Justino é de opinião que o Verbo se estende no mundo à maneira de uma cruz, e por isso censura Platão, segundo
o qual a Virtude divina -que São Justino interpreta do Verbo- não é estendido em forma de cruz, mas carretel A cruz
que se estende pelas quatro partes do mundo bem representa a ação iluminadora do Verbo nele. Ainda é um pouco
estranho que Justin suponha que Moisés fez uma cruz de metal. Em todo caso, esta afirmação deve ser entendida no
sentido de que Moisés ordenou que a imagem da serpente e uma cruz fossem feitas e então a primeira foi colocada
sobre ela. Moisés escreve que a serpente foi colocada na insígnia, no sinal, e São Justino supõe que o sinal só poderia
ter sido o da cruz. A Escritura também não diz que a serpente foi colocada no tabernáculo, mas São Justino assim o
acreditava. Como se vê, São Justino glosa o capítulo 21 da Nú meros.
[80] Justino foi acusado de platonizar a doutrina da Trindade; mas vemos como ele mesmo diz que Platão sabia que o
mundo havia sido criado pelo Verbo e que a terceira pessoa da Trindade, o Espírito, não lhe era desconhecido. Esta é a
prova de que nem Justino nem os cristãos derivaram a doutrina da Palavra criando o mundo dos escritos de Platão,
mas dos Profetas. Além disso, ele declara perante o Imperador e o Senado, que esta não era sua opinião singular, mas a
doutrina da Igreja Católica e que este tremendo mistério era comumente conhecido por todos os cristãos e ensinado
em todas as igrejas.
[81] “… Eles são conduzidos por nós a um lugar onde há água.” É evidente que os lagos e rios foram os ú nicos
batistérios ou fontes que a igreja teve nos primeiros duzentos anos. Após o segundo século, os batistérios foram
construídos a uma curta distância das igrejas, especialmente nas catedrais, assim chamadas de igrejas batismais.
[82] O batismo tinha muitos nomes e um deles era Iluminação, o mais nobre deles, por três motivos: 1. Porque o
conhecimento dos catequizados anteriormente foi iluminado, 2. Porque é a nossa primeira entrada no Cristianismo e
em Cristo a nossa luz supereminente "que ilumina todo o homem que nasce", especialmente os que nascem pelo
baptismo; 3. Porque o diabo é exorcizado para dar lugar a Cristo "verdadeira luz".
[83] Este batismo simulado foi colocado pela estratégia do diabo no mundo gentio, então o encontramos afirmado não
apenas por Justino, mas por todos os escritores primitivos, em particular no “Sobre o Batismo, c. 5" . Assim os homens
foram iniciados nos mistérios de Elêusis. Eles também os iniciaram nos ritos de Isis e Mitra.
[84] Não sei por que ele supõe, com um erro notório, que Moisés guardava as ovelhas de seu tio materno, enquanto
ele guardava as de seu sogro. Alguns conjecturaram que ele confunde Moisés com Jacó, que guardava as ovelhas de
seu tio materno. Labão.
[85] Cristo é chamado de Anjo (Ex. 3, 2), mas em nenhum lugar Apóstolo; na epístola aos Hebreus 3, 1, da qual se
concluiu que esta epístola era conhecida e aprovada por Justino.
[86] O termo Kore é uma tipologia escultórica do Período Arcaico da Grécia Antiga, constituída por uma estátua
feminina em pé.
[87] Entre todas as doutrinas e práticas gentias, que São Justino supõe serem emprestadas da antiga Lei, dificilmente
há uma em que a imitação apareça tão claramente quanto na lenda de Minerva. O que os gentios dizem sobre
Minerva, saindo da cabeça de Jú piter, parece ser copiado do capítulo 8 de Provérbios, no qual são descritas a natureza
e a ação da Sabedoria incriada. Parece que São Justino deveria ter desenvolvido mais este pensamento que se limita a
indicar.
[88] Esta descrição da missa, a mais antiga que temos, é muito notável. Notemos primeiro que São Justino, embora
tenha escrito em Roma, descreve a liturgia oriental da missa, não a romana. O beijo era dado na Igreja latina
imediatamente antes da comunhão e não imediatamente após a oração comum, como escreve São Justino. Da mesma
forma, na Igreja latina os diáconos distribuíam apenas o cálice, e São Justino encarregou-os da distribuição do pão
eucarístico. Os cristãos se reuniam para assistir ao sacrifício da missa aos domingos, não nos outros dias da semana;
Domingo já era feriado para os cristãos. A missa consta das seguintes partes: leitura dos livros sagrados; a pregação de
quem preside -bispo ou presbítero-; a oração comum de todos os participantes; as orações e ações de graças de quem
preside à consagração da Eucaristia - orações e ações de graças feitas com toda a intenção e devoção possível-; uma
estrondosa aclamação do povo, que saú da a consagração da Eucaristia, sua distribuição entre os presentes e a
condução do pão eucarístico aos ausentes. Os presentes comungaram; os ausentes, somente sob as espécies de pão. O
bispo ou padre provavelmente tinha alguma latitude para orações e ações de graças, que ainda não tinham uma
fórmula rígida; mas São Justino diz categoricamente que as próprias palavras pronunciadas por Jesus faziam parte das
orações do padre; a consagração, portanto, foi feita em substância, a mesma de hoje. O consagrador sem dú vida deu
graças a Deus por duas coisas: por ter criado o pão e o vinho para nosso sustento e por ter feito com que esses
elementos fossem mudados por meio da consagração. em ele corpo e sangue de Jesus Cristo . Papel compreensivo de
esse adorar do Domingo também foi a coleta, como St. Justin.
[89] É chamado domingo por Justino e Tertuliano, porque aconteceu que neste dia da semana os pagãos o dedicaram
ao sol e, portanto, esse nome era bem conhecido por aqueles, os Padres comumente o usavam em suas desculpas aos
imperadores pagãos. Mas o nome mais apropriado e prevalente era o Dia do Senhor, como é chamado pelo próprio São
João (Ap. 1, 10).
[90] As desculpas de Aristides, especialmente a de Cuadrado, surtiram bons efeitos no imperador Adriano, que obteve
este rescrito (carta real ou mandado emitido pelo rei a pedido e petição de alguma pessoa, já revogando um direito ou
concedendo-o) a favor dos cristãos
[91] Este rescrito de Adriano foi, sem dú vida, escrito em latim e, sem dú vida, foi colocado em latim por São Justino
como um apêndice de sua Apologia. O historiador Eusébio o traduziu para o grego. Alguns contestaram a
autenticidade deste documento: a) porque não era necessário após as instruções estritas dadas por Trajano a Plínio;
b) porque as frases dos mesmos inocentes perseguidos, dos caluniadores que aproveitam as ocasiões para saciar sua
crueldade já anunciam a linguagem que os apologistas deveriam usar; c) porque a linguagem é vaga e flutuante: não
aparece na concessão verdadeiramente imperial do rescrito de Trajano a Plínio nem no estilo firme dos rescritos de
Adriano contidos nas Pandectas; d) e o mais grave é que não sabemos o que significam: depois de lidos, não sabemos
se para condenar alguém bastava provar que era cristão ou era necessário demonstrar que era cristão havia cometido
crimes comuns; e e) porque Tertuliano, que comenta tanto o rescrito de Trajano e algumas linhas depois menciona
Adriano, nada diz sobre sua carta a Minú cio Fundano. Não é provável que ele não soubesse disso, nem que o julgasse
indigno de menção. Esses argumentos não são conclusivos. Mesmo após o rescrito de Trajano a Plínio, dú vidas como
essas poderiam surgir. Bastava a simples denú ncia ou era necessária uma acusação formal? Bastava um clamor, um
tumulto popular para apresentar um cristão perante o Tribunal? Deve o acusador ser punido se a acusação for
considerada caluniosa, e com que penalidade se for o caso? O rescrito de Adriano responde a essas questões, se a
linguagem e o estilo deste documento são vagos e indecisos, isso prova não a falsidade, mas sim a autenticidade do
documento, pois se sabe que tal era o caráter pessoal e o estilo literário de Adriano. Quanto ao resto, os rescritos
costumavam ser redigidos não pelos imperadores, mas pelos curiais, e por isso não se pode dar muita ênfase ao seu
estilo. Nem mesmo os textos de Adriano, preservados nas Pandectas, são suficientes para estabelecer uma comparação.
O texto é bem claro: para condenar um cristão é preciso provar que ele infringiu a lei. Mas se nenhuma outra infração
pudesse ser provada, pelo menos ficaria provado que ele havia infringido a lei fundamental: christianos esse non licet.
A omissão de Tertuliano não é um argumento decisivo, não mais do que os argumentos negativos normalmente são:
Tertuliano não poderia mencionar todos. Em vez disso, provam a autenticidade: a) a alegação de São Justino, que
escreve pouco depois da data desse documento. Como o apologista poderia alegar perante o imperador um
documento cuja falsidade foi registrada na Chancelaria imperial?; b) As circunstâncias especiais deste rescrito. Se
tivesse sido fingida, à imitação de Trajano, a consulta e a resposta seriam preservadas. Mas neste caso a resposta é
preservada, mas não a consulta, e a resposta é dirigida não ao governador que consultou, mas ao seu sucessor. Isso não
é invenção de um falsificador, mas algo imposto pela realidade. c) Não se descobre no rescrito o tom de amigo discreto
ou advogado cristão solidário, muito menos o de apologista vergonhoso, mas apenas o de estadista romano, amante da
justiça e da severidade do procedimento. Se neste rescrito Adriano faz uma alusão dura aos caluniadores, mais dura
foi a disposição do mesmo imperador pela qual se ordenava que os acusados como testas de ferro fossem obrigados a
dar seus nomes perante os Tribunais.
[92] É dito por antigos escritores eclesiásticos que esta Apologia de nosso mártir adoçou o espírito de Antônio e sendo
apoiada por sú plicas e reclamações dos fiéis da Ásia, produz esta carta do imperador aos estados da Ásia, e os de
Larissa, Tessalônica, Atenas e toda a Grécia (Vid. Euseb. L. iv, c. 26). Envie cartas para todos eles, mas o da Ásia é o ú nico
que existe. É a resposta ao que os estados enviaram sobre a perseguição aos cristãos devido aos terremotos ocorridos
e que foram imputados aos cristãos, bem como todos os infortú nios ocorridos. Seguindo Paul Allard, esta carta de
Antonino Pio ao Concílio da Ásia pode ser considerada apócrifa. As razões são as seguintes: 1. Embora esta carta
geralmente apareça como um apêndice da primeira Apologia de São Justino, é verdade que o apologista não a alegou
ou mesmo aludiu. Como Tal silêncio seria explicado se esta carta fosse autêntica, já que em tal caso ela não poderia
deixar de ser conhecida por você? E São Justino, que copia o rescrito a Minú cio Fundano, quanto melhor teria copiado
esta carta, muito mais favorável aos cristãos e escrita pelo mesmo imperador a quem foi dirigida a Apologia! Dir-se-á
que a carta é posterior à primeira Desculpa; mas nesse caso , como é que ele não menciona isso na segunda, já alguns
anos depois da suposta carta? 2. A linguagem desta carta é de desprezo pelos deuses do Gentilismo, de censura de
seus adoradores e de aplausos sinceros aos cristãos. Como tal linguagem pode ser concebida em um imperador pagão,
encarregado de defender a religião? do Estado ? ele_ _ linguagem e Não é _ de um imperador _ romano ou , sem ou de
a apologista. 3. Se esta carta fosse verdadeira, a paz da Igreja teria vindo através dela e, portanto, mais de um século e
meio antes do edito de Milão. Porque dizer que o cristão não poderia ser condenado apenas por ser cristão, mas
apenas por crimes comuns, equivalia a reconhecer legalmente que os cristãos eram livres para praticar sua religião.
Como Então, o sangue dos cristãos continuou a ser derramado? como _ a situação jurídica destes não melhorou nos
tempos de Antonino Pio? É verdade que Eusébio considerou esta carta autêntica, mas o melhor historiador às vezes
pode estar errado. O que se pode admitir é que Antonino Pío ditou os rescritos aos de Larisa, Tessalônica e Atenas, dos
quais falava o apologista Melitón. Esses rescritos se perderam, mas seguramente foram inspirados pelo mesmo espírito
daquele dirigido a Minucio Fundano: não se podia permitir que movimentos populares se levantassem contra a
Cristãos.
[93] Esta Constituição de Marco Aurélio é anexada como ú ltimo apêndice à primeira Apologia de San Justino. É claro
que ele próprio não poderia ingressar em San Justino, porque morreu muitos anos antes da publicação da
Constituição. Pela mesma razão não nos interessa muito o estudo da Apologia de São Justino. Direi apenas que a
Constituição é patentemente apócrifa. Há um argumento decisivo para afirmá-lo. Se esta Constituição fosse autêntica, a
perseguição contra os cristãos teria se extinguido nos ú ltimos anos de Marco Aurélio, porque quem assim falou e
promulgou tal Constituição não poderia continuar perseguindo os cristãos. E justamente a perseguição se intensificou
nos ú ltimos anos do Império de Marco Aurélio. A perseguição não terminou em 174, data da guerra contra os Quadi, à
qual pertence este incidente; pelo contrário, tornou-se mais cruel. Por seu lado, Marco Aurélio, longe de atribuir a
chuva que salvou o exército romano nas guerras contra os Quadi aos apelos dos soldados cristãos , atribui-a, no final
do primeiro livro dos seus Pensamentos, à intervenção dos deuses do Gentilismo a seu favor, sendo a imagem de
Jú piter Plú vio a ú nica que aparece nas medalhas e no baixo-relevo de a coluna Antonina que consagram esta
memória. Se houve um milagre, Marco Aurélio não o atribuiu ao Deus dos cristãos. É verdade que Tertuliano, escritor
muito próximo desses acontecimentos, admitiu a autenticidade daquela Constituição; mas isso só prova que seu
espírito crítico não era igual à sua eloqü ência. Além disso, Tertuliano procedeu neste ponto com notório preconceito:
ele queria mostrar que apenas maus imperadores haviam perseguido o cristianismo, e por isso estava interessado em
provar que Marco Aurélio não deveria ser contado entre os inimigos do cristianismo, mas entre aqueles que via-o com
simpatia.
[94] Mais do que para os cristãos, esta segunda Apologia é escrita para os gentios, e São Justino o diz porque quer
levá-los ao conhecimento da verdade. Embora os gentios sejam ingratos e cruéis com os cristãos, eles não podem
deixar de considerá-los e tratá-los como irmãos. Este primeiro parágrafo da Apologia é longo e complicado. Alguns
acreditam que faltam palavras para completar o significado e para encaixar bem as frases espalhadas. De acordo com
Marón, acrescentei algumas palavras e, para tornar o pensamento mais claro, dividi o longo parágrafo em três. O
pensamento fundamental é que os malfeitores e os demônios são os instigadores das perseguições contra os cristãos.
E precisamente como São Justino deve assumir a posição de um marido indigno, que, convidado ao arrependimento
por sua esposa cristã, não quis mudar de vida, mas sim se atolar mais no vício, e, repudiado por sua esposa por esse
motivo , acusou-a de ser cristã, portanto, generalizando o fato, começa dizendo que aqueles que foram corrigidos por
seus parentes ou amigos depois os acusam de serem cristãos, se realmente o são. Com esse espírito de rancor e
vingança, os pagãos agiram; apenas os seguidores de Cristo estavam longe desse espírito covarde de vingança. Era,
sem dú vida, frequente que cristãos fossem acusados por parentes, amigos ou vizinhos.
[95] Urbico era, aparentemente, Quinto Lollio Urbico e ocupava o cargo de pretor urbano. Vê-se que, embora a
Apologia seja dedicada ao Senado, é perfeitamente dirigida ao imperador. O piedoso imperador mencionado aqui foi,
sem dú vida, Marco Aurélio, pois Antonino Pio já havia morrido quando esta segunda Apologia foi escrita; O filho
filósofo de César é Lú cio Vero, associado ao Império. É um tanto estranha a tenacidade de São Justino em chamar esse
homem de filósofo sem alívio.
[96] São Justino erroneamente acredita que anjos tiveram relações carnais com mulheres e que demônios nasceram
dessa relação carnal. Este erro se deve a uma má interpretação do que é dito no capítulo 6 do Gênesis a respeito da
união dos filhos de Deus (Setitas) com os filhos dos homens (Cainitas). É verdade que dessa união nasceram não os
demônios, mas os gigantes. E São Justino supõe que essas gerações dos anjos foram convertidas pelos politeístas em
gerações dos Deuses.
[97] A doutrina de São Justino sobre a Palavra é perfeitamente compatível com a fé nicena. A Palavra existia no seio do
Pai antes da criação do mundo . Foi ungido como o Verbo e como o Filho de Deus, porque é o esplendor da glória do
Pai, figura da sua substância e luz da luz. O pensamento católico posterior dispensou esta unção e só considera aquilo
que Cristo recebeu como homens, mas não foi por isso que aquela doutrina esteve em perigo. alguns.
[98] É claro que o fim do mundo não destrói demônios ou homens perversos; mas já estes, reduzidos à impotência
absoluta, não incomodarão os bons .
[99] São Justino acredita que o mundo é preservado pelos cristãos, porque se não fosse por eles, a justiça de Deus já o
teria destruído. Isso também é o que diz o autor da epístola a Diogneto e outros. apologistas.
[100] Esta é uma grande honra para os estóicos, e é uma pena que sua virtude não tenha um fundamento mais sólido
e um caráter mais humano. Havia muitos musonianos; mas aqui é feita referência, aparentemente, a Musonius, o
Tirreno, um filósofo estóico que, segundo Suidas, foi morto por Nero. É estranho que São Justino não cite também
Sêneca.
[101] Aqueles que expulsaram os demônios dos corpos dos possuídos indicaram que eles foram punidos; além disso,
ao expulsá-los, costumavam enviá-los ao fogo do inferno.
[102] Deus é o Pai de todos os legisladores: dEle eles recebem sua autoridade. E a lei eterna de Deus é a fonte de
todas as leis humanas. Este é o pensamento de S. Justin.
[103] Ele viveu por volta de 431-354 aC Ele foi um historiador, militar e filósofo da Grécia Antiga.
[104] São Justino censura os pagãos que praticam ou consentem que se faça em pú blico o que eles censuram nos
cristãos como uma iniquidade monstruosa. Realmente os sacrifícios humanos não tinham acabado com tudo no
império. Em Cartago, que nesse ponto imitou e superou Tiro, nunca faltaram sacrifícios humanos. O procônsul Tibério
enforcou em Cartago muitos sacerdotes desses cultos abomináveis, mas não conseguiu acabar completamente com o
sacrifício humano. E São Justino alude ao culto de Jú piter Lacial, em que os homens eram imolados na própria Roma.
[105] Alguns são de opinião que São Justino ensina claramente neste lugar a subordinação do Filho de Deus ao Pai,
porque o verdadeiro Deus é ingênito e inefável e, no entanto, o Filho é gerado. Além disso, a Palavra é adorada, isto é,
depois de Deus, ou em segundo lugar, e com adoração semelhante à de Deus. No entanto, o ser não gerado pode
corresponder a Deus em razão da natureza e em razão da pessoa: no primeiro sentido, corresponde igualmente ao Pai
e ao Filho; no segundo é exclusivo do Pai. Porque, embora São Justino coloque sempre o Verbo em segundo lugar e o
Espírito Santo em terceiro, a verdade é que nunca os une com as coisas criadas, mas sempre com o Pai.