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24º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

IV-080 - O PLANO DA BACIA DO PARDO – ETAPA DE PLANEJAMENTO DA


SUB-BACIA DO RIO PARDINHO

Dionei Minuzzi Delevati(1)


Mestre em Desenvolvimento Regional, professor do Departamento de Engenharia, Arquitetura e Ciências
Agrárias da UNISC – Universidade de Santa Cruz do Sul. Coordenador do Núcleo de Pesquisa e Extensão em
Recursos Hídricos e Vice-presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Pardo.
Valéria Borges Vaz
Especialista em Gestão de Recursos Hídricos pela UFSM. Secretária Executiva do Núcleo de Pesquisa e
Extensão em Recursos Hídricos e do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Pardo.
Mizael Dornelles
Acadêmico do Curso de Geografia/UNISC
Camila Cardoso dos Reis
Acadêmica do Curso de Engenharia Ambiental/UNISC

Endereço(1): Av. Independência, 2296. Sala 105b, Bloco 1 – Bairro Universitário – Santa Cruz do Sul/RS –
CEP: 96815-900 – Brasil – Telefone (51) 37177470– email: dionei@unisc.br

RESUMO
A Bacia Hidrográfica do Rio Pardo (BHRP), localizada na região central do Estado do Rio Grande do Sul,
aflui no Rio Jacuí, sendo integrante da região hidrográfica do Guaíba. A área da Bacia do Pardo, representa
1,3% da área do Estado, abrangendo 13 municípios, sendo eles: Barros Cassal, Boqueirão do Leão,
Candelária, Gramado Xavier, Herveiras, Lagoão, Passa Sete, Rio Pardo, Santa Cruz do Sul, Sinimbu, Vale do
Sol, Venâncio Aires e Vera Cruz, com um total de 212.531 habitantes, em 2003 (ECOPLAN, 2005). Em
março de 1999, foi criado o Comitê Pardo, um órgão deliberativo com a função de gerenciar a Bacia do Pardo,
atuando diretamente em seu estudo e preservação. Trata-se de uma estância política decisória, que a cada dois
anos tem eleições para escolher seus integrantes, composta por representantes dos usuários da água (40%),
população da bacia (40%) e do governo federal e estadual (20%).
Neste sentido, um dos principais instrumentos para gestão de recursos hídricos é o Plano de Bacia. Depois de
instituído o Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica, a formulação do Plano de Bacia mostra-se como
uma das principais atividades a serem implantadas. Cabe salientar que a legislação das águas do Brasil, a Lei
9.433/97 que em seus artigos 6°, 7° e 8° descreve os planos de recursos hídricos como planos diretores, sendo
elaborados em nível de bacia hidrográfica, Estado ou Federações.
O Plano Pardo corresponde a Consolidação do Conhecimento sobre os Recursos Hídricos da Bacia do Rio
Pardinho e Elaboração do Programa de Ações da Sub-Bacia do Rio Pardinho, iniciada em 2004 e finalizada
em dezembro de 2006, e está dividida em três etapas. A primeira etapa (A) trata da consolidação de
informações, resultando no diagnóstico da bacia. Na etapa (B), foi realizado o processo de enquadramento das
águas e o apontamento de cenários futuros e na terceira etapa (C) ocorreu o programa de ações para a Sub-
Bacia do Rio Pardinho.

PALAVRAS-CHAVE: Plano Bacia Pardo, Sub-bacia Pardinho e Modelo Multicritério.

INTRODUÇÃO
A Bacia Hidrográfica do Rio Pardo (BHRP), localizada na região central do Estado do Rio Grande do Sul,
aflui no Rio Jacuí, sendo integrante da região hidrográfica do Guaíba. A área da Bacia do Pardo, representa
1,3% da área do Estado, abrangendo 13 municípios, sendo eles: Barros Cassal, Boqueirão do Leão,
Candelária, Gramado Xavier, Herveiras, Lagoão, Passa Sete, Rio Pardo, Santa Cruz do Sul, Sinimbu, Vale do
Sol, Venâncio Aires e Vera Cruz, com um total de 212.531 habitantes, em 2003 (ECOPLAN, 2005). Em
março de 1999, foi criado o Comitê Pardo, um órgão deliberativo com a função de gerenciar a Bacia do Pardo,
atuando diretamente em seu estudo e preservação. Trata-se de uma estância política decisória, que a cada dois
anos tem eleições para escolher seus integrantes, composta por representantes dos usuários da água (40%),
população da bacia (40%) e do governo federal e estadual (20%).

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Neste sentido, um dos principais instrumentos para gestão de recursos hídricos é o Plano de Bacia. Depois de
instituído o Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica, a formulação do Plano de Bacia mostra-se como
uma das principais atividades a serem implantadas. Cabe salientar que a legislação das águas do Brasil, a Lei
9.433/97 que em seus artigos 6°, 7° e 8° descreve os planos de recursos hídricos como planos diretores, sendo
elaborados em nível de bacia hidrográfica, Estado ou Federações.

O Plano Pardo corresponde a Consolidação do Conhecimento sobre os Recursos Hídricos da Bacia do Rio
Pardinho e Elaboração do Programa de Ações da Sub-Bacia do Rio Pardinho, iniciada em 2004 e finalizada
em dezembro de 2006, e está dividida em três etapas. A primeira etapa (A) trata da consolidação de
informações, resultando no diagnóstico da bacia. Na etapa (B), foi realizado o processo de enquadramento das
águas e o apontamento de cenários futuros e na terceira etapa (C) ocorreu o programa de ações para a Sub-
Bacia do Rio Pardinho.

É importante salientar que a Bacia Hidrográfica do Rio Pardo teve uma divisão em 13 sub-bacias justificada
pela necessidade de se criar uma unidade específica para o Rio Pardinho, em vista a Elaboração do Programa
de Ações da Sub-bacia do Rio Pardinho. Formou-se assim, duas grandes áreas de estudo, A BHRP que refere-
se a Consolidação do Conhecimento sobre Recursos Hídricos (Etapas A e B) e a Bacia do Rio Pardinho,
englobando o Programa de Ações (Etapa C). A Bacia Hidrográfica do Rio Pardo, possui dos rios principais
Pardo e Pardinho, que neste estudo foram divididos em três sub-bacias: Pardo que contempla: Alto Pardo;
Médio Pardo; Alto Plumbs; Baixo Plumbs; Sub-Médio Pardo; Baixo Pardo. E a do Pardinho que está sub-
divida em: Alto Pardinho;Alto-Médio Pardinho; Alto Pequeno; Alto-Médio Pequeno; Médio Pardinho;
Andréas; Baixo Pardinho. Estas sub-divisões estão especificadas no mapa abaixo:

CARACTERIZAÇÃO DA SUB-BACIA DO RIO PARDINHO


A sub-bacia do Pardinho representa 30% do total da Bacia Hidrográfica do Rio Pardo, tendo uma área de
drenagem correspondente a 1086,19 km². A disponibilidade hídrica foi considerada adotando-se vazões com
90% de garantia (q90%), com valor igual a 1,3 l/s/km² enquanto que se comparado a vazão da Bacia do Pardo
tem-se um aumento em torno de 50%, com valor igual a 2,8 l/s/km² (ECOPLAN, 2005).

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Esta sub-bacia está divida em sete sub-bacias, contemplando os municípios de Boqueirão do Leão,Gramado
Xavier, Herveiras, Sinimbu, Santa Cruz do Sul, Vera Cruz e Venâncio Aires. No Quadro abaixo segue as sub-
divisões da bacia hidrográfica do Pardinho com as respectivas siglas e áreas:

Quadro1 – Sub-bacias do Pardinho, siglas e áreas


Sub-bacia Sigla Área 9 Km²
Alto Pardinho APi 64,60

Alto-Médio Pardinho AMPi 306,70

Alto Pequeno APe 92,90

Alto-Médio Pequeno AMPe 134,71

Médio Pardinho MPi 187,63

Andréas An 80,19

Baixo Pardinho BPi 219,46


Fonte: ECOPLAN, 2005

A seguir apresenta-se as descrições das divisões da Bacia do Rio Pardinho:

• O Alto e Alto-Médio Pardinho consistem nas Unidades relativas à bacia hidrográfica do rio Pardinho a
montante da confluência do rio Pequeno. Em conjunto, essas duas Unidades possuem área superior a 370
km2, tendo sido divididas em razão das diferenças no relevo e no uso dos solos. A Unidade do Alto
Pardinho consiste nas nascentes do rio Pardinho, em altitudes variando entre 700 a 300 m, onde
predominam áreas de campos entremeadas com mata. No Alto-Médio Pardinho o relevo apresenta-se mais
acidentado, com as altitudes do terreno variando entre 600 e 100 m e havendo predominância das áreas
cobertas com mata. Nessa Unidade, os principais afluentes do rio Pardinho são os arroios Pinhalzinho,
Marcondes e Cerro da Mula, pela margem direita. A cidade de Herveiras encontra-se integralmente nessa
Unidade.

• O Alto e Alto-Médio Pequeno consistem em Unidades relativas à bacia hidrográfica do rio Pequeno,
principal afluente do rio Pardinho, com área de drenagem aproximada de 227 km2. O Alto Pequeno possui
características semelhantes ao Alto Pardinho, destacando-se apenas a presença da cidade de Boqueirão do
Leão. Da mesma forma, o Alto-Médio Pequeno possui condições similares à Unidade do Alto-Médio
Pardinho.

• O Médio Pardinho compreende áreas situadas a jusante da confluência do rio Pequeno com o rio Pardinho
até uma seção localizada a montante da rodovia RS-287, totalizando cerca de 188 km2. O relevo apresenta
forte variação, passando das escarpas para os fundos de vales mais planos, com altitudes oscilando entre
500 a 100 m. Há forte presença de mata nas áreas com maior declividade e predominância de atividade
agrícola nos fundos dos vales. A cidade de Sinimbu encontra-se localizada nessa Unidade.

• A Unidade de Estudo relativa à bacia hidrográfica do arroio Andréas, com 80,19 km2, foi definida em
razão da sua importância como manancial para o abastecimento de água da cidade de Vera Cruz
(localizada nessa Unidade). O relevo apresenta variações e as altitudes do terreno oscilam entre 500 e 100
m. O uso do solo é caracterizado pela agricultura, inclusive com a presença de áreas de arroz irrigado.

• O Baixo Pardinho consiste na unidade mais a jusante da sub-bacia do rio Pardinho, contando com uma
área de 219 km2. As altitudes variam entre 300 e menos de 100 m e o uso do solo apresenta uma forte
mistura entre áreas urbanas, campos e áreas cultivadas (soja e arroz). Destaca-se, como principal afluente
do rio Pardinho, nessa Unidade, o arroio Grande (pela margem esquerda). Outro importante destaque
nessa Unidade refere-se à cidade de Santa Cruz do Sul e à presença de seu parque industrial.

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A ETAPA C - PROGRAMA DE AÇÕES DA SUB-BACIA DO RIO PARDINHO


Nesta etapa, acontece a planificação de ações e programas de intervenções práticas para atingir determinados
objetivos, definidos normalmente como problemas, durante a execução do plano de bacia. As intervenções
necessárias devem ter viabilidade técnica e serem analisadas sob o ponto de vista técnico, econômico e
ambiental da implantação das ações propostas.

Para o maior entendimento dos objetivos e metas desta Etapa, segue abaixo, o Quadro 1, com a relação da
natureza dos principais problemas da Bacia Hidrográfica do Rio Pardo, identificados durante a elaboração do
Diagnóstico dos Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Pardo – Etapa A.

Quadro 2 – Natureza dos Problemas Ambientais da Bacia Hidrográfica do Rio Pardo


Natureza dos Problemas Problemas
Excesso - Cheias
Quantidade de Água
Escassez - Secas
Degradação de Origem Urbana
Qualidade de Água
Degradação de Origem Animal
Assoreamento dos Cursos D'água
Desbarrancamento de Margens
Alterações na Morfologia Fluvial
Retificação de Traçado
Obstrução das Calhas Fluviais
Déficit de Mata Ciliar
Ambientais
Uso Inadequado do Solo
Fonte: ECOPLAN, 2005.

O principal objetivo da Etapa C – Programa de Ações da Sub-Bacia do Rio Pardinho, está em propor um
conjunto de intervenções vinculados aos recursos hídricos, a serem implementadas nesta sub-bacia, de forma
que estas, traduzam os anseios e expectativas sociais em relação aos recursos hídricos, visando a melhoria de
suas condições no futuro. As metas intermediárias para atingir os objetivos propostos estão dividas em três
grupos específicos: a) objetivos e metas referentes aos recursos hídricos: qualidade e quantidade das águas,
proteção dos ecossistemas aquáticos e morfologia fluvial; b) objetivos e metas de ordem ambiental:
recuperação da vegetação ciliar, adequação do uso dos solos, incremento de áreas legalmente protegidas,
proteção de hábitats significativos; e c) objetivos e metas de natureza sócio-institucional: integração das ações
de gestão de recursos hídricos e meio ambiente, fortalecimento da identidade de bacia hidrográfica, gestão de
conflitos de usos de recursos hídricos, capacitação técnica e educação ambiental, e implementação dos
instrumentos de gestão de recursos hídricos. (ECOPLAN, 2006)

O Programa de Ações da Sub-Bacia do Rio Pardinho compreende na sua totalidade, vinte e seis ações,
divididas em sub-programas, conforme apresentadas no Quadro 2.

Quadro 3 – Programa de Ações da Sub-Bacia do Rio Pardinho


Sub-Programas Ações
Ação 1: Construção de Barragens para Reservação de
Sub-Programa 1: Águas Superficiais – Aumento Água no Rio Pequeno e no Arroio Dona Josefa
da Disponibilidade de Água Ação 2: Construção de Açudes para
Reservação de Água
Ação 3: Incentivo ao Uso Racional da Água na
Agricultura, abastecimento Humano e Indústria
Sub-Programa 2: Águas Superficiais – Aumento
Ação 4: Redução de Perdas de Água no Abastecimento
da Disponibilidade de Água e Redução das
Público
Demandas
Ação 5: Avaliação e Incentivo ao Uso de Fontes
Alternativas – Poços e Cisternas
Ação 6: Sistema de Tratamento de
Sub-Programa 3: Águas Superficiais – Qualidade Esgotos de Santa Cruz do Sul

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das Águas Ação 7: Controle de Atividades Poluidoras


em Áreas Urbanas
Ação 8: Controle de Atividades Poluidoras de Origem
Humana em Áreas Rurais
Ação 9: Educação Ambiental no Âmbito Formal
Ação 10: Educação Ambiental no Âmbito
Sub-Programa 4: Capacitação e Educação Informal e Não Formal
Ação 11: Capacitação para Gestores de Recursos
Naturais – Gestão de Recursos Hídricos
Sub-Programa 5: Revitalização do Rio Pardinho –
Ação 12: Recomposição de Mata Ciliar e Limpeza das
Recuperação da Mata Ciliar e Desobstrução dos
Calhas Fluviais
Cursos de Água
Ação 13: Recuperação e Conservação dos Recursos
Sub-Programa 6: Uso do Solo – Microbacias Naturais de Microbacias Rurais da Sub-Bacia do Rio
Pardinho
Sub-Programa 7: Uso do Solo – Áreas Protegidas Ação 14: Indicação de Áreas Protegidas para Criação
de Unidades de Conservação
Ação 15: Sistema de Informações – Rede de
Monitoramento
Ação 16: Estabelecimento de Diretrizes para Outorga e
Cobrança pelo Uso da Água na Sub-Bacia do Rio
Sub-Programa 8: Gestão de Recursos Hídricos Pardinho
Ação 17: Verificação da Efetividade das Regras de
Licenciamento Frente aos Objetivos do
Plano e Inserção do Plano de Bacia
nos Planos Diretores Urbanos
Sub-Programa 9: Vulnerabilidade das Águas Ação 18: Zoneamento de Aqüifero e Proteção de Áreas
Subterrâneas de Recarga (em Áreas Críticas)
Ação 19: Controle de Extração de Água Subterrânea:
Construtivo/Operacional/Volumétrico
Sub-Programa 10: Morfologia Fluvial – Traçado Ação 20: Controle de Retificações de
Natural dos Leitos dos Rios Cursos de Água
Ação 21: Intervenções Estruturais para Redução das
Cheias no Rio Pardinho
Ação 22: Sistema de Alerta contra
Sub-Programa 11: Suscetibilidade a Enchentes Enchentes no Rio Pardinho
Ação 23: Zoneamento da Passagem de Cheias em Áreas
Urbanas para Definição de Restrições de Ocupação nos
Planos Diretores de Desenvolvimento Urbano
Ação 24: Plano de Comunicação do
Programa de Ações
Ação 25: Biomonitoramento da Sub-Bacia do
Rio Pardinho
Sub-Programa 12: Geral
Ação 26: Gestão, Acompanhamento e Monitoramento
da Implementação do Programa de Ações da Sub-Bacia
do Rio Pardinho

Dentre as ações listadas, observa-se que muitas delas, embora estejam vinculadas aos sub-programas
correspondentes, interferem ou ainda estão correlacionadas com outros sub-programas, de acordo com seus
objetivos e resultados alcançados. Como por exemplo, os Sub-Programas 1 e 2 (Águas Superficiais), 8
(Gestão de Recursos Hídricos), 9 (Vulnerabilidade das Águas Subterrâneas) e 11 (Suscetibilidade a
Enchentes), apresentam influência direta sobre os aspectos relativos à quantidade de água na Sub-Bacia.

Destaca-se que três, dos doze sub-programas, respondem por cerca de 90% do total de recursos financeiros a
serem investidos na implantação do Programa de Ações, sendo eles: o Sub-Programa 1: Águas Superficiais –
Aumento da Disponibilidade de Água (20,54%), Sub-Programa 3: Águas Superficiais – Qualidade das Águas

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(60,20%), o que apresenta maior demanda de recursos financeiros para sua execução (R$ 48.646.200,00) e o
Sub-Programa 11: Suscetibilidade a Enchentes (10,09%). (ECOPLAN, 2006)
No que se refere ao horizonte temporal, os objetivos foram estabelecidos com base no período de 12 anos,
sendo as metas intermediárias projetadas para horizontes menores. O período de realização dos estudos e
trabalhos da Etapa C totalizaram onze meses (dezembro 2005 a outubro de 2006), contando-se a revisão dos
relatórios. Dentre este período foram realizadas quatro reuniões ordinárias e três extraordinárias do Comitê
Pardo. Embora, esta seja uma das Etapas que demandou maior tempo e envolvimento dos representantes do
Comitê Pardo, principalmente no que se refere a tomadas de decisões e encaminhamentos, não houve período
suficiente para análise do relatório pela plenária do Comitê Pardo, dentro do prazo de execução do Plano
Pardo.

Para suprir esta lacuna, foi criada em dezembro de 2006, uma Câmara Técnica do Programa de Ações da Sub-
Bacia do rio Pardinho, composta por membros do Comitê Pardo, que reunem-se mensalmente para realizar a
avaliação de cada ação proposta no programa. De acordo com avaliações de alguns representantes do Comitê
Pardo, esta é uma das Etapas mais importantes, pois é a partir desta, é que devem surgir efetivamente as ações
para resolução dos principais problemas da Bacia.

Considera-se entre os principais desafios a serem enfrentados nesta Etapa: a disponibilidade financeira para
implementação das ações, a efetiva participação da sociedade no sentido de “abraçar esta causa” juntamente
com o Comitê Pardo, a sistematização das informações para a gestão dos recursos hídricos, entre outros.

Em termos de avanços, no que se refere a questão da gestão dos recursos hídricos da Bacia do Rio Pardinho, a
principal ação, está voltada a continuidade dos trabalhos que foram desenvolvidos durante a elaboração do
Plano da Bacia, como um todo. Pois, foi durante a elaboração destes estudos e relatórios, que uma boa parte
da população foi mobilizada, dando ênfase a participação dos representantes do Comitê Pardo, que esteve
envolvida neste processo, visando a busca de soluções aos problemas relacionados aos recursos hídricos.
Portanto, a não continuidade dessas ações, quaisquer sejam as justificativas expostas, podem colocar em risco
todo um trabalho que foi construído em termos de fortalecimento da participação social no âmbito da Bacia
Hidrográfica.

O termo de referência dispõe que o planejamento de recursos hídricos não foi ainda objeto de aplicação
prática no Estado do Rio Grande do Sul, conforme o Departamento de Recursos Hídricos da SEMA, que
entende a elaboração do Programa de Ações da Sub-bacia do Rio Pardinho, se constitui em oportunidade
ímpar de praticar e avaliar o processo de planejamento preconizado na Lei nº 10.350/94. Assim, pretende-se
que esta etapa consolide um modelo de planejamento passível de ser aplicado em outras bacias de rios de
domínio do Estado do RS, considerando, evidentemente, as especificidades regionais. Para tanto, foi proposto
e utilizado o método multicritério de apoio a decisão.

METODOLOGIA
ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NA ETAPA C E O MÉTODO MULTICRITÉRIO DE APOIO A
DECISÃO
As atividades de trabalho que integram a etapa C – Programa de Ações, estão divididas em 6 subgrupos: C-1
definições prévias; C-2 proposição de prioridades, C-3 avaliação da viabilidade do programa de ações; C-4
consolidação dos resultados; C-5 detalhamento da implementação do programa de ações; C-5 edição de um
relatório final com o programa de ações da sub-bacia do Rio Pardinho. Importante notar que os estudos foram
realizados no âmbito da Bacia Hidrográfica do Rio Pardo e a proposição do Programa de Ações se restringe a
Sub-Bacia do Pardinho.

O início da etapa C constituiu-se da definição, pelo Comitê Pardo, das necessidades de ações e o
estabelecimento dos objetivos e metas do programa de ações (C-1). As necessidades de intervenções futuras
na bacia foram elaboradas a partir do estudo do diagnóstico e dos cenários futuros. É importante ressaltar que
tratou-se de um levantamento de necessidades, identificando “onde e no que intervir”. Em um momento
posterior, foram traçadas as ações com a finalidade de sanar as necessidades e estabelecer os objetivos e metas
do programa, isto é, “ o que fazer e como fazer”, para solucionar tais questões.
A proposição de ações e projetos a integrarem o Plano Pardo (C-2) priorizou as linhas gerais de ação, através
de um modelo multicritério de apoio a decisão – MCDA (Multicriteria Decision Aid). Em síntese, este modelo

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objetiva auxiliar as decisões em situações em que há necessidades de serem identificadas prioridades a partir
de múltiplos critérios, normalmente quando coexistem interesses em conflito (ENSSLIN, NETO e
NORONHA, 2001).

O paradigma científico construtivista, adotado pelo MCDA, reconhece a importância da subjetividade dos
decisores, ou seja, aspectos como valores, preconceitos, cultura, intuição. Vale lembrar que o MCDA
considera que os atores (indivíduos e grupos de influência) “têm interesses relevantes e diversos na decisão e
irão intervir diretamente para afetá-la, através do sistema de valores que possuem. Além disso, aqueles
indivíduos e grupos de influência que não participam ativamente da decisão, mas que são afetados por suas
conseqüências, também precisam ser considerados” (ENSSLIN, NETO e NORONHA, 2001, p. 17). Os
autores ainda afirmam que, atores são diferentes e percebem e interpretam a mesma situação de forma
diferente e sob esta ótica constroem sua própria visão de prioridades e problemas. O Modelo caracteriza-se
por entender que as pessoas são sujeitos ativos do processo decisório, aceitando as incertezas e deixando
opções em aberto para garantir flexibilidade em relação a eventos futuros (ECOPLAN, 2006).

Em outras palavras, conforme esclarecem Gomes, Gomes e Almeida (2004), o enfoque do Apoio Multicritério
a Decisão, não tem a finalidade de apresentar uma solução, mas sim como o próprio nome sugere apoiar o
processo decisório. No caso da Bacia Hidrográfica do Rio Pardo possibilitou uma hierarquização das
principais ‘linhas de ação’ relacionadas com os problemas vinculados aos recursos hídricos.

Para a aplicação do modelo, considerando a metodologia complexa, foram elaboradas estratégias para obter as
respostas necessárias, prescindindo maiores informações. A priorização das linhas de ação teve como
dinâmica adotada, questionários aplicados as categorias do Comitê, ficando estas, estabelecidas como
decisores. O preenchimento dos questionários, ocorreu na reunião ordinária de 11 de abril de 2006, em Santa
Cruz do Sul. A metodologia selecionada divide-se em:

• identificação do contexto decisório: o decisor tem o poder e a responsabilidade de ratificar uma decisão e
assumir as conseqüências desta, sejam elas boas ou más.

• estruturação do problema: “foi adotada uma abordagem de estruturação por Pontos de Vista
Fundamentais, (Bana e Costa, 1992), que considera os objetivos dos atores e as características das ações
como sendo igualmente importantes no processo de estruturação do problema.” (ECOPLAN, 2006, p. 49)

• estruturação do modelo multicritério: foram determinados pontos de vista fundamentais (PVFs) e


elementares (PVEs), estes últimos, meios para alcançar os primeiros. Posterior foi construída uma árvore
de pontos de vista que possui uma estrutura hierárquica dos diversos aspectos a serem considerados
quanto a avaliação das ações, sendo definidos os descritores (a escala de valores de cada um dos pontos
de vista), as funções de valor da intensidade de preferências, os critérios de avaliação e a definição das
taxas de substituição.
• avaliação das ações potenciais: “Estando estruturado o Modelo de Avaliação Multicritério, é possível
utilizá-lo para avaliar a performance das ações e, se necessário, gerar novas e melhores alternativas.”
(ECOPLAN, 2006, p.56)

• análise dos resultados do modelo e recomendações.

RESULTADOS
Na análise dos resultados do modelo multicritério foram indicadas prioridades preliminares, segundo o juízo
de valor dos decisores, identificadas ações de aperfeiçoamento para a bacia hidrográfica do Pardo e
alternativas de priorização de ações. A avaliação das ações potenciais teve como base o referido modelo,
assim, não existirá um modelo certo ou errado, mas sim, modelos baseados em percepções diferentes
(ECOPLAN, 2006).

Referente a aplicação do Modelo Multicritério, este, por tratar-se de um modelo relativamente complexo, e
por não haver forma de explicar detalhadamente sua metodologia ao Comitê, algumas decisões, de cunho
técnico, foram tomadas pela Consultora e submetidas à aprovação da Comissão de Acompanhamento do Plano
(composta por representantes do DRH, da FEPAM e Membros do Comitê Pardo). Porém, algumas decisões
não poderiam prescindir da aprovação de seus membros (adequadamente informados do processo). As

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principais etapas levadas ao conhecimento dos agentes decisores do Comitê foram: os descritores (sob a forma
de um quadro com os objetivos e metas do Programa de Ações) e a hierarquização das linhas de ação (que é a
priorização das linhas de ação, adotada como uma dinâmica em forma de questionário que foi aplicada com as
categorias do Comitê). (ECOPLAN, 2006)

Essa tradução de linguagem do modelo multicritério que ocorreu em dois momentos, além de considerar a
participação membros como decisores reais do processo de consolidação, imprime uma co-responsabilidade a
todos integrantes do Comitê, na medida em que a eles cabe a definição das diretrizes que o Plano deve seguir.
Na Dinâmica para a Priorização das Linhas de Ação, em reunião da consultora e a Comissão de
Acompanhamento do Plano Pardo:

“...ficou definido que o resultado da aplicação do modelo seria uma lista de


hierarquização de linhas de ação para cada categoria do Comitê, e que a categoria
responderia à dinâmica em conjunto, sendo que a resposta da categoria deveria ser
fruto de um consenso. Entende-se que, dessa forma, abre-se um espaço de
negociação dentro da própria categoria. Além disso, na medida em que a categoria
exerce seu papel de decisor frente aos interesses de seus representados, está
legitimando a sua participação no Comitê, comprometendo-se (e co-
reponsabilizando-se) com construção do Plano de Bacia.
Decidiu-se, também, que, embora cada categoria formasse uma unidade específica
de respostas, haveria uma única dinâmica, orientada por um único condutor, com
todas as categorias ao mesmo tempo, sendo que os técnicos da Consultora, além de
conduzirem à dinâmica, atuariam como facilitadores, respondendo às dúvidas que
fossem surgindo ao longo do evento. Uma das vantagens de fazer a dinâmica com
um único grupo é que facilita as interações entre as categorias e as dúvidas podem
ser esclarecidas em conjunto. “(ECOPLAN, 2006, p. 89)

Cabe salientar, que na aplicação dos questionários referentes a esta etapa, contou-se com a participação de 10
das 15 categorias do Comitê. As cinco categorias ausentes tiveram a oportunidade de registrar suas
prioridades na escolha final, ocorrida em 9 de maio de 2006.

Os resultados de cada categoria (listas de priorização) foram trabalhados estatisticamente, visando a


construção de duas hipóteses (da média e da moda, sugeridos pela consultora, o DRH a FEPAM e ratificado
pelo Comitê) de hierarquização contemplando todos os resultados apresentados. Na reunião extraordinária de
09 de maio de 2006 (Santa Cruz do Sul), as duas hipóteses foram submetidas a plenária (agora, através da
votação por membros e não por categorias). Houveram questionamentos quanto a possibilidade de efetuar
alterações na ordem das prioridades, e após algumas sugestões de inversões específicas, finalmente ficou
definida as seguintes prioridades pelo Comitê:

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Quadro 4. Priorização definida pelo Comitê, com base no Modelo Multicritério.

Ordem Linha de Ação Fundamental Linha de Ação Elementar


Disponibilidade de Águas
1º Águas Superficiais
Qualidade das Águas
Educação Ambiental
2º Capacitação e Educação
Capacitação Técnica
3º Mata Ciliar
Ocupação do solo
Manejo do Solo
4º Uso do Solo
Avicultura e Suinocultura
Áreas Protegidas
Instrumentos de Gestão
5º Gestão de Recursos Hídricos
Efetividade Institucional
Vulnerabilidade das Águas

Subterrâneas
Traçado Natural do Leito dos Rios
7º Morfologia Fluvial
Obstrução dos Cursos de Água
8º Suscetibilidade a Enchentes

Segundo Ecoplan (2006), as três primeiras prioridades integram áreas de atuação distintas (recursos hídricos,
sócio-institucional e ambiental), indicando um equilíbrio importante na futura implementação do Programa de
Ações. A consultora ainda afirma que a utilização do Modelo Multicritério monstrou-se significativamente
válida, adequada e efetiva, tendo atingido o objetivo proposto de identificar as prioridades de ação do Plano
de Bacia, através da participação social (representada pelas categorias do Comitê Pardo) e suportada em bases
tecnicamente consistentes e viáveis.

Em um primeiro momento, sem o conhecimento do arcabouço teórico-metodológico aplicado na execução


desta etapa do Plano Pardo, pode parecer que a simples definição de um problema e a sugestão de correções
pode vir através de um método tradicional eletivo oferecer uma panacéia, mas, o modelo multicritério é mais
realista, propondo alternativas, avaliando e adequando propostas. Por outro lado, as categorias representativas
que constituem o Comitê, respondem conforme seus preceitos, havendo divergências entre estes.

Se comparada a metodologia aplicada na segunda etapa, dentro do processo de Enquadramento, onde através
de consultas públicas a sociedade da Bacia pôde expressar suas expectativas em relação aos usos futuros
pretendidos para as águas superficiais da Bacia do Pardo, essa terceira etapa exige uma diferente abordagem.
A exigência deve-se antes de mais nada a dois momentos distintos do Plano Pardo, tendo em vista o
datalhamento das especificidades de cada ação a ser executada. No entanto acreditamos que se realizadas
novas consultas adaptadas a esse momento, os resultados não divergiriam muito dos agora apresentados, mas
um número maior de atores teria a oportunidade de participar.

CONCLUSÃO
Pode-se constatar que o modelo multicritério de apoio a decisão teve boa aceitação entre os representantes do
Comitê. O fato desta terceira etapa (C) estar restrita a Sub-bacia do Pardinho, não diminui nem limita os
trabalhos realizados até então, pois o método utilizado mostra-se como interessante alternativa de promover a
integração e participação de significativa parcela da comunidade da bacia. No entanto, entendemos que a
maneira de aplicação do modelo multicritério, além das prioridades definidas no resultado final deste
processo, não divergiriam muito se aplicada novamente a consulta pública. De qualquer forma, trata-se de
uma oportunidade ímpar de praticar e avaliar o processo de planejamento do Plano de Bacia.

Há uma expectativa positiva em relação ao processo de implementação do Programa de Ações proposto para
Sub-bacia do Rio Pardinho, que para sua efetividade alguns fatores são fundamentais, como: a participação e

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24º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

mobilização da sociedade, a busca de parceiros e apoiadores para execução das ações e o apoio do governo
estadual, conforme estabelece a Lei 10.350/94.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. ECOPLAN Engenharia. Relatório do Diagnóstico-RE-A (versão final), novembro de 2005.
2. ECOPLAN Engenharia. Relatório do Programa de Ações-RE-C (versão revisada), outubro de 2006.
3. ENSSLIN, L.; NETO, G. M.; NORONHA, S. M. Apoio à decisão: metodologias para estruturação de
problemas e avaliação multicritério de alternativas. Florianópolis: Insular, 2001, 295p.
4. GOMES, L. F. A. M.; GOMES, C. F. S.; ALMEIDA, A. T. de. Tomada de decisão gerencial: enfoque
multicritério. São Paulo: Atlas, 2002. 264 p. ISBN 85-224-3113-2.

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