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COPYRIGHT © 2023 LALI OLIVER

Todos os direitos a obra são reservados.

É proibida a reprodução total e parcial desta obra de qualquer forma ou quaisquer meios
eletrônicos, mecânicos e processo xerográfico, sem a permissão da autora. (Lei 9.610/98).
Essa é uma obra de ficção. Os nomes, personagens, lugares e acontecimentos na obra são
produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes e acontecimentos reais é
mera coincidência.
PREPARAÇÃO E REVISÃO DE TEXTO:
Lali Oliver
Tânia Rieffel

DIAGRAMAÇÃO:
Lali Oliver

ARTE DA CAPA:
Tamires Nogueira (@bytnart)

DESIGN DE CAPA:
Lilly Desiggn (@lillydesiggn)
SUMÁRIO

SINOPSE

PLAYLIST

CAPÍTULO 01

CAPÍTULO 02

CAPÍTULO 03

CAPÍTULO 04

CAPÍTULO 05

CAPÍTULO 06

CAPÍTULO 07

CAPÍTULO 08

CAPÍTULO 09

EPÍLOGO

CENA EXTRA

AGRADECIMENTOS
OBRAS DA AUTORA

Até Que a Morte os Separe


Heaven: Good Girls Bad Guys
Infinity: Good Girls Bad Plans
As Coisas Que Eu Não Disse

SÉRIE MEMORIES
EAST – Livro 1
HERO – Livro 2
SINOPSE

Um Natal sem um Papai Noel.


E uma noiva prestes a cancelar seu casamento.
O que mais poderia dar errado no Natal da família Tyler-Sherlock?

Grace está vivendo a ansiedade com a chegada de seu casamento, e nem o Natal
consegue tirar o nervosismo que se acumula feito uma bola de neve. Mas, percebendo que
aqueles que estão ao seu redor, farão de tudo ao seu alcance para torná-la feliz, Grace descobre
que, talvez, nem tudo está perdido.

Ainda assim, ela enfrenta seu próprio dilema em meio a nevasca, chocolates-quentes e
presentes. Afinal de contas, como contar para o seu noivo apaixonado que o casamento que tanto
aguardam será cancelado?
NOTA DA AUTORA

Oi, leitor! Feliz Natal!


Antes que embarque na leitura, preciso deixar algumas coisas claras: Primeiro, Heaven e
Infinity são obras interligadas, porém, não é obrigatória a leitura de Infinity, por mais que a
leitura de ambos possa lhe dar mais conhecimento sobre a vida dos personagens. No entanto, é
indispensável a leitura de Heaven: Good Girls Bad Guys, afinal, o conto se baseia no
relacionamento de Grace e Seth, oito anos após o fim de Heaven.
Segundo, Depois do Epílogo não apresenta nenhum tipo de gatilho. É uma história curta,
leve, doce e natalina. Contudo, às minhas leitoras que chamo em segredo de manteiga derretida,
recomendo ler acompanhada de um lencinho e uma garrafa d’água para repor as lágrimas.
Depois do Epílogo é uma despedida.
É um breve adeus.
Espero que aproveitem cada segundo, como eu aproveitei ao escrever.
Boa leitura.

Da mesma autora que conta estrelas, com muito, muito amor,


Lali.
PLAYLIST

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acessar a playlist do conto.

Depois do Epílogo
Para Grace, Seth e Noah.
Dei vida a vocês, e em troca, colocaram luz na minha.
Obrigada por serem as estrelas que iluminam o meu céu.
Para os leitores de Heaven,
Obrigada por me levantarem quando cai.
Este conto é para vocês.
Capítulo 01

Nós poderíamos deixar as luzes de Natal até janeiro.


(...) Eu te conheço há 20 segundos ou 20 anos?
Posso ir aonde você vai?
Podemos ser próximos assim para todo o sempre?
LOVER — Taylor Swift

24 de dezembro
08:17 AM

A neve lá fora é um lembrete que o Natal acontece em um dia.


A casa do meu maninho está enfeitada com tudo que o Natal nos dá direito de usar e
abusar. Pisca-pisca adornam todo o exterior da casa, pendurados no telhado. Quem vê as luzes ao
longe sequer sabe a confusão que foi colocá-las, uma vez que Seth e Noah, como sempre,
passaram boa parte do tempo discutindo sobre quem deveria subir e quem deveria segurar as
escadas para evitar um acidente.
Sinceramente, acho que eles não confiam um no outro para segurar a porcaria da escada.
Foi por isso que, quando a decisão de quem faria o quê foi tomada e os dois foram para o lado de
fora, os pisca-pisca já estavam colocados, um trabalho de poucos minutos feito por mim e
Sophie.
Além disso, com a ajuda da Lice, também tínhamos decorado a frente da casa com uma
réplica de uma rena logo à frente do trenó do Papai Noel, um boneco de neve pequeno feito pela
Summer e um maior feito pela Triz. Confesso que foi engraçado ver o rosto surpreso de ambos
quando viram a decoração pronta. Então, por termos decorado o lado de fora, os garotos ficaram
responsáveis pelo interior, montando a árvore, espalhando pisca-pisca pela sala extensa da casa
do Noah e colocando guirlandas nas paredes.
— Você está quieta — Sophie observa, erguendo os olhos do seu caderno de receitas, o
qual ela folheava para se planejar para a ceia.
Sophie ama o que faz, então, a sua organização com direito a cronometro de quando uma
coisa deve sair do forno e outra deve entrar, não é algo de se surpreender. O sucesso da sua nova
doceria não deveria espantá-la, pois Sophie Sherlock é uma mulher completamente
comprometida com qualquer coisa que se propõe a fazer. A Sweets&Sunshines foi um presente
do Noah de um ano de casamento à Sophie que, como a mulher orgulhosa que é, se recusou a
aceitar. Ela então pegou todas as economias que havia economizado e comprou o comércio do
Noah. A relação dos dois era engraçada, para dizer o mínimo.
Desvio os meus olhos dos seus, fitando toda a cozinha de sua casa que parece ter saído de
uma revista de decoração. Uma ilha de granito grande se encontra logo no centro do cômodo
com cooktop e pia acoplada, armários brancos planejados contornam uma parede inteira e uma
geladeira grande o suficiente para caber a mim dentro. Além de eletrodomésticos profissionais
que Sophie usa com muita frequência para criar novas receitas.
— Não consigo parar de pensar no meu casamento — que acontece em trintas dias. Volto
a encará-la, vendo que Sophie deixou o caderno de lado e tem sua atenção toda em mim. Seu
cabelo está preso em um coque despojado e por ainda ser cedo, ela veste um robe branco — Isso
é normal, não é? Tipo, não sei, você não estava nervosa no dia do seu casamento, e,
sinceramente, tenho muita inveja de você, mas falta somente um mês e já estou surtando…
Me calo quando sinto seus dedos calejados — por conta do trabalho manual na doceria
— envolverem minhas mãos. Seu toque desliza pelo dorso da minha mão e isso, de certa forma,
me acalma.
— Tudo bem se sentir assim. — ela sorri, dando de ombros ao revirar os olhos — Tá, eu
não fui a noiva surtada, mas isso não quer dizer que não estive nervosa nos outros dias. É algo
especial e coisas especiais causam frio na barriga e nervosismo… Mas, — Sophie hesita, me
encarando com cautela — tem certeza que é isso?
— PERDEMOS O PAPAI NOEL! — a voz do Noah chega na cozinha quando ele
atravessa o cômodo, parando sob nossa vista ao se curvar, levando as mãos aos joelhos e
respirando profundamente — Caralho, estou ficando sedentário.
— Coloque um dólar no potinho, Noah — Sophie ralha.
Noah, por sua vez, ergue um dedo do meio para a esposa.
Pressiono meus lábios com força quando ele volta a se colocar ereto, deixando que não só
eu, mas Sophie tenha a visão perfeita do Noah com uma máscara de argila verde cobrindo todo o
seu rosto. Uma tiara rosa em sua cabeça repuxa as mechas castanhas para trás, impedindo-as de
cair em seu rosto e sujar de argila.
— Por que está com isso na cara? — indaga a mulher do meu irmão de consideração.
Noah bufa, cruzando os braços.
— O Natal está logo aí, amor. Preciso ficar gato — responde, com um dar de ombros,
antes de abrir um sorriso lascivo — Não que eu precise me esforçar muito para isso, mas… Não
ouviu o que eu disse? Perdemos o Papai Noel!
— Explique — peço, ainda sem me acostumar com os dias de beleza que Summer o
convenceu a fazer todo final de semana, aos sábados.
No começo, Noah se recusava, mas não levou muito tempo para Summer derreter o
coração dele com uma habilidade assustadora, levando o meu maninho para o mundo do skin-
care. Claro que, Noah também fez suas exigências onde ele não passava nenhum produto que,
em suas palavras, ao tirá-lo, sentiria sua alma sair do corpo tamanha a dor. Sim, exagerado. Mas
esse não seria o Noah sem todo o seu drama.
— O homem que contratamos para ser o Papai Noel cancelou — conta antes de soltar um
suspiro, derrotado — Minha mãe, meu primo, a namorada dele, a mãe do Seth, os pais da Grace
e todos os nossos amigos estarão aqui! Como vamos fazer um Natal sem um Papai Noel? A
Summer precisa do Papai Noel!
Sophie move os lábios de um lado a outro, cruzando os braços sobre o granito do balcão
ao se inclinar ali em uma expressão pensativa.
— Podemos contratar outra pessoa, ou talvez, até um de vocês possa se vestir.
Noah bufa uma risada.
— Olhe para mim — ele aponta para si mesmo, usando um roupão preto com argila no
rosto e tiara rosa — Sou sexy demais para ser o Papai Noel da minha filha. Não, obrigado. Sei
que o Seth também irá se recusar e Summer é tão apegada ao tio que notaria a ausência dele.
— Podia contratar um palhaço, então. Fazer diferente de todo mundo — Noah semicerra
os olhos em minha direção e, mais uma vez, preciso conter o sorriso.
— Isso não teve graça, maninha.
Solto uma risada baixa, quando, de repente, minha visão encontra seu foco, como em
todas as vezes que ele aparece. A sensação de ser apaixonada pelo mesmo cara há anos é surreal,
indescritível. As borboletas ainda voam em meu estômago quando vejo Seth entrar no cômodo,
usando uma calça moletom cinza e uma camiseta branca que deixam os músculos em exibição.
Seu cabelo preto está desgrenhado como quem acabou de sair da cama e suas íris azuis me
encontram no mesmo instante que ele entra na cozinha. Seth Mason sequer hesita ao vir até mim,
deslizando suas mãos grandes pela minha cintura antes de deixar um beijo casto em meus lábios.
— Bom dia, gata.
— Bom dia, gato.
Sorrio quando seus lábios tocam os meus de novo, como se não conseguissem ficar longe
de mim. A barba por fazer que cresce em seu rosto roça em minha pele, causando calafrios.
— Você não estava na cama quando acordei.
— Desculpe, acordei faminta — era mentira.
Após passar o dia decorando a casa, já que fizemos tudo às pressas por Noah, Sophie e
Summer terem feito uma viagem de família para visitar a tia de Sophie que não poderia
comparecer no Natal, acabamos nos estabelecendo aqui, mas não era algo que acontecia com
pouca frequência. Uma vez que Noah fez questão de dar um quarto para mim e Seth, com um
closet onde guardamos nossas próprias roupas para os dias que decidimos ficar, sob a insistência
do casal e, claro, de Summer.
Um pigarreio faz Seth afastar seu rosto do meu, mas que não faz questão de me soltar.
Ele revira os olhos antes de deslizá-los para o seu melhor amigo, piscando assustado, dando-se
conta pela primeira vez do estado do Noah.
— Mas que porra é essa?
— Um dólar, Seth — Sophie emite e Seth afunda a mão em seu bolso em busca de
alguma nota.
Ao encontrar, ele desliza cinco dólares para Sophie que segura antes de se mover para o
“Potinho do Palavrão - edição 39” que está em cima da geladeira. Eu tinha quase certeza de que a
faculdade da Summer já estava paga com todas as edições anteriores do Pote do Palavrão. Noah
nunca aprendia, muito menos Seth. Mas, na maioria das vezes, quando Summer estava presente,
eles faziam seu esforço trocando os palavrões pelas siglas, ou a primeira letra como C para
caralho e cacete, ou P, para porra.
— Pode ficar com o troco — Seth brinca antes de deslizar os olhos de volta para o Noah,
exigindo uma resposta.
— Dia de beleza, cara — Noah dá de ombros, antes de semicerrar os olhos — Você
deveria fazer também. Estou enxergando algumas ruguinhas entre as sobrancelhas.
— Filho da pu…
— Bom dia! — Summer surge de repente usando um pijama rosa de coelhinho, com um
sorriso contagiante no rosto e, assim como o pai, ela tem máscara de argila cobrindo a sua face e
uma tiara branca sobre a cabeça.
— Bom dia, querida.
— Bom dia, mamãe — ela caminha até Sophie, deixando um beijo na bochecha dela
quando Sophie se abaixa, rindo quando sua bochecha fica melada com argila — Bom dia, tia
Grace — a garotinha caminha até mim, fazendo o mesmo que fez com a mãe ao deixar um beijo
estalado em minha bochecha — Bom dia, tio Seth.
— Bom dia, gatinha.
Summer solta uma risadinha envergonhada, como sempre faz quando Seth a chama por
esse apelido. Noah, ainda na porta, revira os olhos.
— Ah, o Alec ligou — a garotinha informa ao se virar para o pai.
Agora o sorriso gigantesco que estava em seus lábios quando ela entrou na cozinha fez
sentido, pois Summer desenvolveu uma paixonite infantil pelo Alec, o primo do Noah, onze anos
mais velho que ela.
— Ele disse que vai chegar um tiquinho mais cedo.
Noah solta um suspiro, provavelmente ainda preocupado com a ausência do Papai Noel.
Eu sei o quanto as datas comemorativas são importantes para ele, principalmente porque são
nestas datas que todos que amamos se reúnem e dessa forma, passamos o dia juntos. Assim como
Sophie planejava a ceia e todos os aperitivos com antecedência, Noah fazia o mesmo ao
organizar os quartos de visitas que, por sorte, sua casa gigantesca era suficiente para caber a
todos, embora a maioria se hospedasse em algum hotel. Ainda assim, Noah Sherlock planejava
um Natal perfeito.
— Defina cedo.
— Em duas horas.
Capítulo 02

Oh, irmão, nossa conexão é mais profunda que a tinta.


Das tatuagens em nossa pele.
Embora não compartilhemos o mesmo sangue.
Você é meu irmão e eu te amo, essa é a verdade.
Brother — Kodaline

24 de dezembro
10:29 AM

— Pare de surtar.
— Não estou surtando — Noah mente, andando de um lado a outro com o celular em
mãos, digitando com uma força suficiente para quebrar o aparelho — Por que caralhos, em toda
New York, não tem um Papai Noel disponível? Puta que pariu!
Ele arremessa o aparelho em sua cama, o celular quica no colchão algumas vezes antes de
Noah soltar um suspiro, parecendo derrotado ao sentar-se na ponta do colchão, afundando os
dedos em suas mechas castanhas. Agora, sem aquela coisa em sua pele, consigo levá-lo a sério.
— O que está acontecendo? — pergunto, caminhando pelo seu quarto até sentar-me ao
seu lado.
O cômodo tem toda a maturidade que Noah não tem, com paredes pintadas em um tom
creme, uma cama de casal gigantesca com uma mesinha branca em cada lado, ambas com abajur
em cima e o mesmo livro que sei que Noah e Sophie estão lendo juntos. Também há um quadro
pendurado logo acima da cama que eu mesmo desenhei, transformando uma fotografia do
casamento do Noah onde o casal estava perdido de mais um no outro, sem perceber o momento
que capturei a foto. Noah abraça a Sophie com um sorriso verdadeiro nos lábios, enquanto
Sophie está radiante, envolvendo o pescoço de Noah com seus braços, linda em seu vestido de
noiva.
Eu não vejo a hora de ver Grace no dela.
— Eu sou um bom pai?
— Você realmente está perguntando isso? — viro para ele, sem conter o vinco que surge
entre minhas sobrancelhas. Ao ver a aflição nítida em seus olhos, concluo que sim, ele está
falando sério — Noah, você é o melhor pai que já vi em toda minha vida. Digo isso porque seu
pai foi maravilhoso comigo, então vi nele o pai que sempre quis. Você pode não perceber isso,
mas, às vezes, vejo muito do Aidan em você.
Ele desvia os olhos dos meus antes de fungar.
— Sinto falta dele todos os dias, mas no Natal, a saudade me aperta tanto que dói. — ele
admite, segurando as lágrimas que surgem em seus olhos — Porra, eu… Quero ser como ele,
entende? Quero dar muito orgulho a meu pai ao tornar o Natal de todo mundo especial, da
mesma forma que ele fazia. Mas estou enlouquecendo porque não consigo encontrar um Papai
Noel para minha filha, todos chegarão antes do esperado por causa da previsão de aumento da
nevasca e nem embalei todos os presentes ainda…
— É normal nem tudo dar certo, mas isso não quer dizer que você está estragando o
nosso feriado. Francamente, Noah, mesmo que a casa não estivesse decorada, não houvesse
presentes ou uma ceia, acha mesmo que não estaríamos felizes? — indago — Isso não é o
importante, são só detalhes que dão um toque a mais no Natal. O importante é quando estamos
todos juntos, e nós teremos isso.
— Mas…
— Sem mas — interrompo, vendo-o fechar os lábios com força antes de respirar fundo
— Aidan ficará orgulhoso de você, tendo um Papai Noel ou não.
— “E daí que acabou a luz? Meu Natal não vai ser estragado por isso. Onde estão as
velas?”
Uma terceira voz nos faz virar para a porta, onde Alec, o primo do Noah, está apoiado no
batente.
Ele veste um moletom preto com anti-social escrito no centro, calça jeans cinza e all star
preto. Ao ver os nossos olhares confusos, direcionados a ele, o garoto somente dá de ombros.
— O tio Aidan disse isso, em um dos natais. A energia caiu por causa da nevasca, bem na
hora da ceia. Minha mãe estava quase chorando porque tinha passado dias planejando o que
preparar e o tio Aidan disse essas mesmas palavras. Nós três corremos em busca das velas, no
escuro, foi engraçado. Transformamos aquilo em uma gincana completamente injusta, devo
salientar, pois, vocês, idiotas, eram mais velhos que eu. De qualquer forma, no fim da noite,
estávamos com hematomas de tanto que tropeçamos e jantamos à luz de velas. De todos os natais
que lembro, aquele foi meu favorito.
Alec tem HSAM — Memória Autobiográfica Altamente Superior — basicamente, Alec
Harry tem todas as lembranças das quais viveu guardadas em sua mente, sem esquecer detalhe
algum. Algumas famílias tinham álbuns para contar e relembrar suas histórias, nós tínhamos o
Alec.
— Não me lembrava disso — Noah murmura, encarando o primo com um sorriso
pequeno nos lábios — Obrigado.
Alec somente move os ombros, sem perceber o quanto a memória compartilhada era
importante para Noah. O meu melhor amigo se levanta, caminhando até o primo antes de
envolvê-lo em um abraço. Por mais que Noah fosse bem mais velho que o garoto, Alec era um
cara alto, tendo a mesma altura que ele.
Me levanto, caminhando até os dois quando Noah se afasta e comprimento Alec com um
abraço desajeitado como todas as vezes antes de bagunçar seu cabelo de propósito, não fazendo
muita diferença uma vez que as mechas castanhas sempre estão desgrenhadas.
— Foi mal chegar agora. — Lamenta, pressionando os lábios — Não queríamos correr o
risco de ficar presos na nevasca e não poder vir. A tia Kate chega em alguns minutos junto com a
mãe de Seth. Clara está lá embaixo.
— Summer viu que chegou?
Alec nega, pressionando os lábios.
Todo mundo sabe da paixão da garota pelo primo do Noah. Embora Summer fosse uma
criança e não entendesse muito de relacionamentos, ela estava na fase que consumia filmes de
princesa mais de três vezes ao dia, seguido por filmes com romance. Então, a mente fértil ainda
acredita que Alec é seu príncipe encantado, mesmo que ele seja anos mais velho e
comprometido.
— Não. Sophie disse que ela estava no quarto, então vim ver você antes de vê-la. — ele
sopra o ar com força — Ela ainda está com aquela coisa?
Noah cruza os braços.
— O crush em você? Sim.
— Deus, me ajude — o garoto expressa quase que em um sussurro antes de girar os
calcanhares, saindo do quarto comigo e Noah ao seu encalço. — Vocês vão mesmo me seguir?
— Por que não?
Alec grunhe a minha resposta, caminhando pelo corredor já conhecendo a casa antes de
parar em frente a uma porta branca, com uma placa que diz “Aqui dorme uma princesa”. Noah
passa por ele, dando dois toques na porta antes de abri-la, colocando somente a cabeça entre a
fresta.
— Summer…
— Sim, papai?
— O Alec está aqui.
Ouvimos o som de coisas caindo no chão e Alec revira os olhos enquanto eu contenho
uma gargalhada.
— Eu estou bonita?
— Pelo amor de Deus, Summer!
Nem preciso vê-lo para saber que Noah, assim como o primo, também revirou os olhos
ao empurrar a porta, exibindo o quarto com paredes rosa, carpete lilás, uma cama de princesa e
logo ao lado, um cantinho cheio de brinquedos.
Summer já não está mais com seu pijama, agora, usa um vestido rosa com sapatilhas
brancas. Ao seu redor, várias peças de LEGO estão espalhadas pelo chão, então logo suponho
que o que quer que tenha caído, deveria ter sido montado pela garota que estava se tornando tão
apaixonado por LEGO quanto seu pai.
— O-oi, Alec — ela gagueja antes de abrir um sorriso de orelha a orelha, ainda parada
em meio às peças com uma única na mão — Quanto tempo, não? Você está tão lindinho.
— Minha filha está flertando? — Noah sussurra, inclinando para que sua voz chegue ao
meu ouvido — Cara, eu acho que vou vomitar.
— Oi, Summer. — Alec responde, empurrando as mãos no bolso do moletom antes de
adentrar o quarto, observando as peças no chão — O que estava montando?
Os olhos da garota praticamente brilham com o interesse do Alec. Ela passa a tagarelar
sem tirar os olhinhos apaixonados do primo do Noah e quando este, por outro lado, coloca um
dedo na boca como se fizesse menção de vomitar, Summer o expulsa de seu quarto.
Gargalho alto sem me conter enquanto saímos do quarto da garotinha, caminhando agora
em direção às escadas a fim de ir para o primeiro andar da casa.
— Tenho impressão de que nem vou dormir quando a Summer for para a faculdade —
Ele para de supetão, virando para mim com os olhos arregalados — Acho que vou precisar de
uma arma.
Estalo a língua no céu da boca.
— Você não está falando sério.
Noah estreita os olhos castanhos ao apoiar a mão em meu ombro.
— Muito sério, Seth — quando mordo meus lábios, tentando não rir de sua expressão, ele
revira os olhos — Quando você for pai de menina, irá entender. Por enquanto, seja a porra do
meu melhor amigo e me consiga uma arma. Não vou deixar nenhum moleque encostar na minha
filha.
Não consigo ficar sério por muito tempo, e gargalho tanto que minha barriga dói.
Estavam todos na casa do Noah.
Os pais de Grace foram os últimos a chegar de Boston, uma vez que ainda tiveram que
fazer check-in no hotel que estavam hospedados antes de virem até aqui por não se aguentarem
de saudade da filha. Eles eram pais incríveis, que apoiavam suas escolhas e a incentivavam a
sempre fazer o que lhe fazia feliz, principalmente quando Grace decidiu que queria abrir sua
livraria a fim de ter seu próprio negócio.
Eu tinha andado com ela por toda New York em busca do lugar perfeito, até que
encontramos um espaço há poucas quadras da Lowey, minha galeria, ela já tinha assinado os
papéis e começado a reforma no lugar. Grace não só queria vender livros, mas mensalmente,
fazer eventos para que pessoas que não pudessem comprá-los, tivessem a chance de levá-los para
casa. Ela disse uma vez que todos mereciam se refugiar do mundo algumas vezes, e eu não
poderia concordar menos com ela.
Quando Grace perdeu a memória, me vi mergulhado em um livro após o outro, a fim de
esquecer a realidade que me cercava. Agora, nunca estivemos em um relacionamento tão
perfeito, e, ainda assim, a sensação de me refugiar do mundo com ela é maravilhosa.
— Podemos conversar?
Saio dos devaneios quando a mulher que amo para a minha frente. Todavia, Grace parece
nervosa e no mesmo instante fico ereto, sem saber o que aconteceu, mas disposto a fazer o que é
preciso para tirar essa expressão do seu rosto.
— Está tudo bem?
A loira morde os lábios, olhando para as pessoas atrás dela que estão espalhadas pela sala
extensa do Noah. Seus pais e minha mãe conversam em um sofá, vez ou outra gargalhando alto.
Clara, Triz e Lice fazem o mesmo no outro canto da sala, parando a conversa por um segundo ao
observarem Alec ajudar Summer a montar alguma coisa. Na cozinha, sei que Noah e Colin
devem estar atrapalhando Sophie e Jef com os chocolates-quente, uma vez que Colin não sabe
cozinhar e Noah sugere coisas demais como se fosse o melhor cozinheiro do mundo, tirando a
Sophie — formada em gastronomia — do sério.
Os longos dedos de Grace envolvem os meus, batendo as alianças de noivado uma contra
a outra quando ela me leva escada acima, nos afastando de todos que estão no primeiro piso.
A acompanho sem dizer uma palavra, tentando e falhando em não pensar o pior quando
Grace permanece em silêncio ao caminhar até nosso quarto, abrir a porta e se afastar, esperando
que eu entre primeiro.
— Você está me assustando.
— Por favor, Seth. Entra.
Faço o que ela pede, entrando no cômodo e me virando para ela no momento seguinte.
Grace fecha a porta com as costas, sequer me olhando nos olhos ao fazer isso, permanecendo
com a atenção fixa nos sapatos que calça. Me aproximo dela, levando dois dedos ao seu queixo a
fim de erguê-los para mim. Quando suas íris castanhas encontram as minhas, há lágrimas ali.
— Amor? O que aconteceu?
Uma lágrima escorre por sua bochecha rosada, e suas próximas palavras são duras o
suficiente para quebrar o meu coração em pedaços.
— Não posso me casar com você.
Capítulo 03

Porque querido sem você


Todo o brilho de mil holofotes
Todas as estrelas que roubamos do céu noturno
Nunca serão o bastante
Never Enough — Loren Allred

24 de dezembro
10:56 AM

Seth dá um passo para trás, como se minhas palavras fossem um tiro que ele havia
recebido em seu peito, sem chances de se proteger. Eu não o culpo, no entanto, mas não posso,
não posso me casar.
Seth pisca boquiaberto, as palavras não saem de seus lábios. Ele somente pisca,
processando o que eu disse com as íris azuis me fitando, esperando que eu corrija ou que diga
que ele compreendeu minhas palavras errado.
— Eu… — ele prende o ar, umedecendo os lábios com a língua enquanto um vinco é
formado em sua sobrancelha — Não entendo. Você parecia bem de manhã. O que aconteceu em
poucas horas que a fez mudar de ideia? Não te amo menos que horas atrás, Grace. Pelo contrário,
amo ainda mais. Então, por favor, antes de me partir em pedaços, diga o porquê.
— Eu simplesmente não posso, Seth — as lágrimas descem por minhas bochechas sem
permissão. — Não posso… Não posso…
— Por que, Grace? Por quê?!
Ele se aproxima.
— Só me diz o porquê.
— Porque estou grávida!
Se não fosse o relógio preso à parede emitindo seu tic-tac, eu teria sérias dúvidas se o
tempo havia parado ou não, pois Seth parecia uma estátua à minha frente. Seus olhos ainda
piscavam, mas nenhum músculo se mexia, sequer tinha noção se ele respirava ou não. Eu
precisava que ele tivesse uma reação, qualquer uma. Mesmo que uma delas fosse gritar comigo
por cancelar nosso casamento.
Seus lábios se movem, e, contrariando tudo o que eu esperava, Seth gargalha.
— Por que está rindo?
Seus olhos praticamente ficam marejados pelo tanto que Seth ri.
— Porque, Grace Barbie Lorey — Seth volta a se aproximar de mim, segurando-me em
seus braços como se eu fosse sua vida, a qual ele não quer perder. — A menos que esse bebê não
seja meu, neste caso, você teria muito o que explicar, eu irei, sim, me casar com você.
— Esse bebê é seu, sim! — afirmo, tentando não parecer chocada com a acusação, por
mais que a todo instante, Seth Mason me observa com tanto carinho que seus olhos azuis brilham
intensamente. — É seu filho, Seth. É seu bebê.
— Meu bebê — ele repete em um sussurro, apoiando sua testa na minha.
Fecho meus olhos, aspirando o ar com força e sentindo as batidas do meu coração se
acalmarem.
Não era desse jeito que eu queria revelar as coisas, mas não queria Seth pensando que
estou cancelando nosso casamento porque não o amo, pois isso está longe de ser uma verdade.
Eu o amo, amo com todo meu coração. Da mesma forma que amo intensamente a criança que
cresce dentro de mim.
— Por que não quer se casar?
Continuo com meus olhos fechados, nossas testas apoiadas uma a outra, conforme sinto
uma mão se apoiar em minha barriga, enquanto a outra permanece em minha cintura. Não sei se
Seth percebe o que está fazendo, mas o gesto me acalma ainda mais.
— Já estava suspeitando, pois estou atrasada e a costureira avisou que meu vestido
precisava ser ajustado… Fiz o teste semana passada e pedi para Triz trazer o resultado. Estou
grávida de três meses. A barriga logo vai aparecer, não dá tempo de encontrar outro vestido, vou
estar com os hormônios à flor da pele e…
Me calo quando seus lábios tomam os meus, silenciando-me da maneira mais deliciosa
possível. Solto um gemido quando sinto sua língua deslizar por meus lábios antes de finalmente
deslizar pela minha língua. Seth não apenas me beija com vontade, mas com uma paixão intensa,
deslizando as mãos pela lateral do meu corpo antes de me suspender, permitindo que eu enrole
minhas pernas em sua cintura, retribuindo o beijo que se torna quente a cada segundo.
— Meu bebê — ele repete quando nos afastamos em busca de ar, mas ainda permaneço
em seus braços, sem vontade alguma de me afastar quando dou risada. — Eu vou ser pai, amor.
Deslizo meus dedos por sua bochecha, antes de deixar um beijo singelo em seus lábios,
voltando a apoiar nossas testas uma contra a outra.
— Vamos ser pais — confirmo — Não me odeie por não querer me casar em trinta dias.
— Eu entendo — ele sussurra, sorrindo de lado — Sei que é um dia especial para nós
dois. E não a culpo por querer que o vestido que levou tanto tempo para encontrar ainda caiba
em você. Não precisamos cancelar, somente adiantar um pouco para, talvez, antes da barriga
aparecer… — um suspiro lhe escapa quando ele bufa uma risada — Você me deu um susto do
caralho. Achei que não quisesse mais casar comigo.
— O que? Não! Meu Deus, eu seria louca se me recusasse a casar com você.
— Seria mesmo — ele concorda, arrancando mais uma risada de mim antes de me levar
até a cama de casal que há no quarto. Seth me acomoda com delicadeza, antes de subir em cima
de mim, suspendendo o corpo com os cotovelos sem conseguir tirar os olhos da minha barriga —
Acha que é uma menina?
Dou de ombros.
— Não sei. Por quê?
— Porque acho que também vou precisar de uma arma.
Não entendo o que significa “também”, então resolvo não perguntar, somente rindo por
fim, antes de segurar seus braços e trazê-lo até mim.
— Eu te amo, Seth.
— Eu te amo, gata.

Saio do banheiro com uma toalha presa na minha cabeça. Seth já havia se arrumado e
descido para a sala então sabia que as batidas suaves na porta não eram dele. Prendo o roupão,
amarrando-o com um laço antes de segurar a maçaneta e encontrar Noah do outro lado da porta,
me encarando de maneira preocupada.
— Está tudo bem? — indaga.
— Ia te perguntar o mesmo. Por que parece tão aflito?
Agora, Noah parece chocado.
— Por que você não? — ele adentra o quarto, e eu fecho a porta ao me apoiar nela —
Seth me chamou para conversar em particular, pediu que eu cancelasse meu presente de Natal
que, já dando spoiler, era uma viagem de lua de mel. Aquele idiota não quis me dizer o motivo,
somente disse que o casamento foi cancelado. Pode me dizer o porquê? — seus olhos se
semicerram e ele trinca o maxilar — Juro por Deus que se ele te machucou, me diga que faço
picadinho dele! E então, meu presente de Natal será um réu primário.
— Você está mesmo o ameaçando? Seth é o seu melhor amigo.
— E você é a minha irmã! — devolve, sem hesitar. — Grace, não importa quem a
machuque, vou querer defender você. E seja lá quais forem os motivos para você cancelar algo
que sei que vem sonhando a anos, me diga, que farei meu papel de melhor amigo e irmão, e irei
consertar.
Suspiro, não posso contar que estou grávida. Uma vez que estraguei o momento de
surpreender o Seth, queria ao menos ter a chance de surpreender meus amigos, anunciando na
manhã de Natal. Eu precisava guardar esse segredo por um único dia, somente isso. Mas Noah
estava dificultando pela maneira que me observava, exatamente como um irmão protetor olha
para uma irmã.
Caminho até ele, abraçando-o e sentindo seus braços retribuírem o gesto. Sinto o toque
no topo da minha cabeça quando o Noah a beija, transmitindo o carinho que ele sente por mim.
Um carinho que é completamente recíproco.
— Eu te amo, maninha. Faço qualquer coisa por você — murmura — E, se preciso matar
meu melhor amigo, tudo bem. Vai doer, mas faço.
— Não precisa matar ninguém — não contenho a risada, erguendo a cabeça para
encontrar seus olhos — Seth não fez nada — além de colocar um feto em minha barriga,
completo em meus pensamentos. — Eu… tive problemas com a reserva do local.
É mentira, claro. Mas Noah parece acreditar.
— Não tem como mudar a data?
Pressiono meus lábios, balançando a cabeça de um lado a outro ao negar.
Considerando que na última prova do vestido, que aconteceu há uma semana, o vestido
não estava querendo fechar, então sabia que não teria muito tempo antes da barriga começar a
aparecer.
Eu já deveria ter suspeitado bem antes, no entanto, com todos os planejamentos do
casamento, a reforma na minha livraria e a programação para este Natal, sequer parei para pensar
que minha menstruação estava completamente atrasada. As suspeitas só começaram a surgir
junto aos enjoos matinais que, por sorte, boa parte acontecia quando Seth estava no trabalho.
— Quer dizer que você não sabe quando vai casar?
Quando nego, ele solta um suspiro, afastando-se para se sentar na cama. Eu o observo
perdido em seus próprios pensamentos, acompanhando de perto a mudança em suas feições,
quando as sobrancelhas que antes estavam unidas se afastam e um sorriso cresce em seus lábios.
— Esse sorriso está me assustando.
Seu sorriso cresce.
— Porra, eu sou um cara genial!
Cruzo os braços, já acostumada com seu egocentrismo, então somente aguardo Noah se
vangloriar para que finalmente possa compartilhar seus pensamentos.
— Casem-se amanhã.
Eu praticamente engasgo com minha própria saliva.
— O que?
Ele dá de ombros, como se a ideia de organizar um casamento às pressas não fosse nada
demais.
— Casem-se amanhã — repete — A noite, para ser mais específico.
Noah se coloca de pé, ficando de frente para mim. Preciso erguer a cabeça para olhar em
seus olhos, completamente em choque.
— Grace não é o ambiente que torna o seu casamento mágico. Então, se não pode se
casar naquele lugar, dane-se, case no jardim da minha casa.
— Mas… está nevando…
— O casamento da Phoebe aconteceu na neve — lembra ele, com um sorriso pequeno
nos lábios — E lembro que você chorou assistindo aquele episódio de Friends. Também lembro
quando disse que queria algo parecido.
— Noah…
— Grace, estamos todos aqui. Todos que amam você e todos que você ama. Está nevando
lá fora, e aposto que com a ajuda dos nossos amigos podemos transformar meu jardim numa
cerimônia perfeita. Alec pode levar você ao Ateliê para pegar o seu vestido e Clara pode arrumá-
la, aquela garota tem talento com maquiagem. Então, maninha, você pode escolher confiar em
mim e se casar amanhã com o amor da sua vida, ou pode escolher esperar, sem saber quando terá
a chance de caminhar no altar.
Ele captura uma lágrima que nem notei que havia escapado.
Essa ideia é completamente insana, tanto quanto seu casamento na praia, com uma noiva
entrando no altar com um buquê de LEGO. Fazer um casamento às pressas, amanhã, no Natal,
pode dar completamente errado. No entanto, eu quero isso. Quero me casar em meio aos flocos
de neve, quero caminhar até o Seth, declarar meus votos e dizer o quanto eu o amo, amo tudo o
que temos e tudo o que vamos construir.
— Então, o que acha?
— Acho que você é o melhor irmão do mundo.
Ele sorri, exibindo suas covinhas.
— É um sim.
Não é uma pergunta, não quando ele me conhece o suficiente para saber a minha
resposta.
Sim, irei me casar amanhã.
Capítulo 04

Quando as estrelas se alinharem, eu estarei lá.


Ah, eu não me importo com os outros (...)
E tudo que me importa é você
Você grudou em mim como uma tatuagem
Tattoo — Loreen

24 de dezembro
12:51 AM

— Eu não entendi bem — a voz rouca do pai da Grace é a primeira a ecoar pela sala de
estar após todos permanecerem em silêncio. Em seguida, o sr. Lorey solta uma risada — Vocês
não estão mesmo dizendo que querem se casar amanhã, não é? No Natal.
Grace pressiona os lábios com força e não me passa despercebido quando seus joelhos
começam a se mover, prontos para bater seus pés em um ritmo acelerado no carpete da sala.
Antes que ela dê sinal de seu nervosismo, apoio uma mão em um de seus joelhos e outra em suas
costas, com uma leve carícia. Sinto seu corpo relaxar acima do meu, onde está sentada. Nós
dividimos uma poltrona enquanto os outros acentos se mantêm ocupados pela quantidade de
pessoas reunidas no cômodo.
Os pais de Grace, minha mãe e a mãe do Noah dividem o sofá branco que sei que custou
o dobro do que Noah paga em seus brinquedos. Há outro sofá idêntico em frente a ele, com uma
mesa de centro no meio, nele, Triz, Lice, Jef e Colin estão sentados. Noah e Sophie estão em pé,
ao nosso lado, assim como Alec e sua namorada, Clara, estão em pé na entrada da sala, com
Summer ali entre o casal.
Minha mãe parece estar perdida em seus próprios pensamentos, parece que depois que
Noah reuniu todos e Grace contou que queria se casar na noite de Natal, sem dar muitos detalhes
do porquê, sua mente tomou outro rumo, um que não está nesta sala.
Seu cabelo, preso em um coque elegante, está mais escuro desde a última vez que eu a vi,
por mais que tenha alguns fios mais claros pelo efeito de luzes. Seus olhos verdes piscam com
lentidão, ainda processando toda a informação que recebeu e seus lábios fartos estão
entreabertos, me causando um déjà vu da noite que contei que pediria Grace em casamento.
Minha mãe é uma pessoa pequena comparado a mim, sendo menor que Grace com seus
um e cinquenta e cinco de altura, mas mesmo sua estatura baixa e seu rosto angelical não a faz
passar despercebida, pois sua voz doce e sua risada alta é o suficiente para ser ouvida por toda
New York, mesmo enquanto ela está em Lake Green, cidade localizada nas proximidades de
Boston. Por isso que, seu silêncio, às vezes, me assusta.
— Mãe?
Ela desperta, girando seu rosto para mim.
— Podemos conversar? Um minutinho, por favor.
Eu assinto, sem nem hesitar, enquanto Grace prontamente se levanta do meu colo,
permitindo que eu me levante. Antes de seguir minha mãe, paro em frente a Grace, segurando
seu rosto com ambas as mãos a fim de atrair toda a sua atenção para mim.
— Vai ficar tudo bem, amor. Não precisa se preocupar, tá? — espero por seu manear de
cabeça antes de deixar um beijo em sua testa e tomar o mesmo caminho que minha mãe tomou
ao passar por Alec, Summer e Clara.
Encontro minha mãe na cozinha, sentada em uma das banquetas no mesmo tom claro dos
móveis e eletrodomésticos ali.
— Ela está grávida, não está?
— Como…
Minha mãe revira os olhos como se essa não fosse a pergunta certa a se fazer.
— Francamente, Seth Mason Tyler… — sua cabeça se move de um lado a outra, em
repreensão — Chame do que quiser, mas tenho uma intuição forte quando o assunto é gravidez.
Eu sabia da chegada do Noah antes mesmo da Kate saber.
— E nem quis impedir? Agora tenho que lidar com uma dor de cabeça constante.
Ela semicerra os olhos, não entrando na brincadeira.
Bufo baixo, me aproximando de onde ela está sentada. Ela parece ainda mais baixa nessa
posição, então me sento na banqueta que está ao lado da sua.
— Sei que está chateada por não ter contado, mas soube a poucas horas… Ainda estou
assimilando.
Um sorriso pequeno cresce em seus lábios e no instante seguinte sinto sua mão em meu
joelho.
— Eu vou ser vovó — ela sussurra, sabendo ser um segredo — Não poderia estar mais
feliz com isso. Finalmente poderei me gabar para as minhas amigas que terei um neto —
Charlotte ri quando estreito meus olhos — O que? Não finja que não sabe que essa será a
primeira coisa que farei quando chegar em casa. Mas… em questão do casamento…
— Sei que é apressado — me intrometo, tomando suas mãos na minha — Mas, para
mim, não importa se casarei com a Grace amanhã, mês que vem ou no próximo ano, minha
resposta será a mesma. Eu amo aquela mulher, mãe, e mesmo que não vamos nos casar de modo
tradicional, para mim não é importante. Juro que se você e a Kate não fossem me matar por não
estarem presente, eu teria fugido um dia após ela ter aceitado meu pedido e teria me casado. Mas
não fiz, porque sei que precisamos de todos que amamos conosco no dia mais importante de
nossas vidas, e, agora, estão todos aqui.
Um pigarreio nos faz desviar atenção para a porta da cozinha onde o sr. e a sra. Lorey
estão na porta, com a filha entre eles. Não sei exatamente o que eles ouviram e por isso sinto
meu coração sair pela boca por talvez ter soltado a bomba que engravidei a filha deles antes da
hora. No entanto, o sorriso nos lábios da mulher que amo não parece de alguém que teve seu
segredo revelado, somente de alguém que está apaixonada.
Porra, eu amo esse sorriso.
— Queríamos ter certeza que a decisão da Charlotte é a mesma que a nossa sobre esse
casamento — Jenny Lorey, diz, sequer me preocupo com sua decisão uma vez que o sorriso em
seu rosto, tão iluminado quanto o da filha, já entrega sua resposta — Grace nos explicou sobre a
reserva no hotel que iriam se casar deu errado… — a mentirosa em questão pressiona os lábios,
compartilhando um olhar cúmplice comigo — E por mais que eu adorasse a ideia de ajudá-los a
procurar outro lugar, adoro ainda mais a ideia de fazer um casamento íntimo mesmo que
tenhamos que correr para preparar tudo.
Meus olhos deslizam para o Gregory Lorey que permaneceu calado até então.
— Se minha filha quer se casar às pressas, fico feliz que seja com você. Gosto de saber
que a ama e que irá cuidar dela.
— Então… — Grace instigue, no instante que Noah e sua mãe surgem atrás dela. Meu
melhor amigo passa o braço por seu ombro, em um abraço carinhoso, fazendo Grace rir antes de
olhar para todos nós e, por fim, encarar seus pais. — Apoiam a minha loucura?
Seu pai bufa.
— Até parece que não nos conhece.
— Sim, querida. Apoiamos.
Grace e eu sequer temos tempo de comemorar quando Noah sopra um apito — que nem
sei de onde surgiu. E como um time de hockey no rinque, todos que estavam na sala se reúnem
na cozinha.
Grace se coloca ao meu lado enquanto as pessoas se acomodam nas banquetas ou
procuram um canto para ficar quando Noah pisca para Summer. A garotinha caminha até a ilha
de granito, subindo em uma banqueta com a ajuda da Lice e então seus dedos apertam um botão
embutido na pedra. No mesmo instante, um compartimento em um dos armários começa a
descer, revelando um quadro branco.
— Que merda é essa? — Alec indaga.
— Um dólar… — Clara cantarola ao seu lado, ciente da regra da casa.
Alec revira os olhos.
— Merda não é um palavrão.
— Acho que estou tendo um deja vu — Noah murmura, antes de abrir uma gaveta,
tirando de lá uma caneta própria para o quadro com um sorriso que ele não consegue esconder e
ainda com um apito preso por um cordão em volta do seu pescoço.
O sorriso em seu rosto parece de uma criança em uma manhã de Natal, algo me diz que
ele sempre quis usar esse quadro.
Noah então se vira para Sophie, com um olhar convencido.
— Eu disse que isso seria útil.
Sophie nem se dá ao trabalho de responder ao rolar os olhos de um lado a outro, mas
Noah não se importa quando sopra a porcaria daquele apito outra vez antes de colocar a mão na
cintura do mesmo jeito que nosso treinador da faculdade fazia em nossos treinos.
— Temos menos de vinte quatro horas para realizar o casamento dos sonhos dos meus
melhores amigos no jardim de casa. Então, estou no comando. Alguma dúvida?
— Quem te colocou no comando? — pergunto — Essa é a minha dúvida.
Noah assopra o apito outra vez.
— A noiva — devolve, com um sorriso provocante como quem me desafia a ir contra as
vontades da Grace. Porém, Noah e todos ali sabem que não farei isso. — Mais alguma objeção,
Seth?
— Sim. Se assoprar o apito mais uma vez, farei você o engolir.
— Por favor… — A voz de Alec murmura baixinho, mas ainda assim o escuto.
Sem medo do perigo, Noah assopra mais uma vez.
— Pedido negado. Alguém topa trocar o noivo? Fica difícil fazer meu trabalho com um
cara desses. — ele se vira para a Grace — Tenho uma lista de amigos enorme, basta me dizer se
quer loiro, moreno, alto, rico, pobre, jogador ou ex-jogador e consigo para você.
Tento não rir, mas não consigo.
— Está oferecendo alguém para a minha noiva?
Pela visão periférica, vejo Sophie cobrir a boca e Summer repete o gesto, mesmo que não
saiba o porquê, somente copiando a mãe.
— Não pode me culpar por querer o melhor para ela.
— Isso não pode ser sério, é? — O pai da Grace indaga em um canto da cozinha.
— Você não vai falar ou fazer nada? — encaro Grace, pedindo socorro sem usar
palavras.
Ela não precisa controlar o Noah, pois sei que isso é algo impossível de acontecer. No
entanto, que tire pelo menos a porra daquele apito.
Grace, no entanto, somente dá de ombros.
— Estou com vocês por tempo suficiente para compreender que é melhor permanecer em
silêncio enquanto os dois brigam feito crianças — como se fosse combinado, todos ali, desde
nossos amigos à familiares, meneiam a cabeça em concordância — Noah, pode, por favor,
prosseguir…
— Só um minuto, vou ver meus contatos.
— Com o planejamento do casamento! — Grace corrige com os olhos arregalados, mas
sei que o motivo de seus lábios estarem pressionados com tanta força é para não rir — Meu
Deus! Não vou trocar o Seth.
— Obrigado pela parte que me toca.
Noah ergue uma sobrancelha, trocando o peso dos pés.
— Tem certeza?
— Noah Harry Sherlock, pode se concentrar, por favor! — Sophie explode, dando a volta
na ilha para se colocar ao lado do marido.
Como se quisesse ver a discussão de perto, Alec se afasta da parede, dando alguns passos
para mais perto da ilha a fim de ver o espetáculo melhor.
Lice, melhor amiga da Sophie, faz o mesmo. A morena tem um sorrisinho divertido e um
olhar ansioso à espera de uma discussão entre o casal, uma vez que as brigas entre Sophie e
Noah sempre são hilárias. No entanto, Sophie parece realmente disposta a fazer o casamento
acontecer, não iniciando uma briga — mesmo que seja sempre Noah quem as inicia.
— Temos poucas horas para dar tudo o que aqueles dois merecem e você está
dificultando. Então, todos aqui, concordam em me ter à frente e o Noah como meu ajudante?
Noah estala a língua.
— Eles não vão concordar com essa babo… — antes mesmo que ele termine a frase,
todos, até mesmo sua própria enteada, levantam os braços. Noah leva a mão ao peito, antes de
semicerrar os olhos para cada um de nós — Eu ainda posso trocar o presente de vocês por
carvão!
— Tá, tá, tá — Sophie branda, revirando os olhos — Vamos lá. Temos um casamento
para ser realizado no Natal e não espero menos que a perfeição.
Em menos de dez minutos, a lousa estava cheia com os rabiscos do Noah que me
lembravam muito os traços que nosso treinador fazia para explicar novas táticas e passes,
contudo, a diferença estava que ao invés de x, círculos e riscos, tínhamos tudo separado por
equipes e o que cada um faria escritas no quadro, para melhor compreensão.
Com tudo meticulosamente planejado pela mente genial da Sophie, nossa programação
de Natal foi completamente substituída pelo casamento inesperado. A melhor parte é que todos
pareciam felizes com isso.
Grace e eu não poderíamos estar mais gratos.
Capítulo 05

Eu esperei cem anos.


Mas esperaria mais um milhão por você
Nada me preparou para o que o privilégio de ser seu faria
Turning Page — Sleeping At Last

24 de dezembro
03:01PM

Há algo de errado.
Não sei exatamente o quê, mas sinto uma sensação inquietante em meu peito, uma
intuição que ainda não entendo o que me diz. Talvez o casal à minha frente, sentados no banco
do motorista e passageiro, trocando olhares ocultos possam aumentar essa sensação. Ou, talvez,
seja somente a ansiedade de me casar na manhã seguinte que pode estar me fazendo imaginar
coisas.
— Está tudo bem? — pergunto do banco de trás.
Vejo Alec me olhar pelo retrovisor do seu carro por um segundo antes de voltar a encarar
a estrada à frente. Considerando que há neve na estrada, o trânsito está mais parado que os dias
comuns na cidade agitada, uma vez que os carros se movimentam devagar.
— Está sim.
— Tem certeza?
— Sim, temos — Clara responde, virando-se para olhar para mim — Acho romântico o
que todos estão fazendo para realizar uma cerimônia às pressas. Você é sortuda.
— Sortuda ou louca? — inquiro.
— Os dois. — Alec murmura, recebendo um tapinha de sua namorada em sua perna.
Ele se vira para ela com os olhos divertidos e um sorriso brincalhão nos lábios antes de se
concentrar na estrada outra vez, seguindo o GPS com o endereço do Ateliê.
Triz havia ligado para a gerente do lugar, implorando que ela abrisse só por alguns
minutos, o suficiente para provar o vestido pela última vez antes de levá-lo para casa. Por sorte, a
gerente ainda estava na cidade, não viajaria no feriado e concordou em nos ajudar.
— O quê? Estou sendo sincero. É uma atitude muito romântica, mas louca também. —
explica, antes de contornar a esquina, se aproximando do Ateliê antes de estacionar em frente a
construção branca com vidraças com vista para os vários manequins com vestidos de todos os
tipos — No entanto, juro que se o Noah me ligar outra vez com um monte de ordens, meu
presente de casamento para vocês será o cadáver dele.
— A relação de vocês é tão amorosa quanto a que ele tem com o Seth.
Alec dá de ombros, estalando a língua.
— Amo meu primo… Setenta por cento das vezes — isso me faz rir — Vou ficar no
carro. Não sei se pode estacionar aqui, então se alguém chegar vou explicar a situação. Vocês
podem ir.
Clara e eu assentimos antes de sair do carro, fugindo da neve que cai sobre nossas
cabeças ao empurrar a porta do ateliê, ouvindo o sininho tocar com nossa entrada. Vejo os olhos
castanhos de Clara deslizarem pelos manequins, seus ombros magros se movem quando ela solta
um suspiro baixo.
Por todos os domingos em que nos reunimos na casa do Noah, sei praticamente tudo
sobre a relação dos dois, ao menos, tudo o que ambos contaram. Alec e Clara estão juntos há um
ano e alguns meses, e por mais que estejam longe um do outro, por estudarem em universidades
diferentes — ela em Yale e ele na NYU — eles até que se viram bem. Apesar de ambos terem
dezenove anos, Alec e Clara são completamente maduros para a idade, tendo que conviver com
os desafios cotidianos do relacionamento, além da vida agitada universitária que compartilham,
considerando que Clara faz parte da equipe de natação da Yale enquanto Alec, seguindo os
passos do primo, conseguiu um lugar dentro do time de hockey da New York University.
— Já pensou em usar um desses?
Clara se vira para mim tão rápido que seu cabelo preto, preso em um rabo de cavalo,
ricocheteia quando ela se vira, assustada com o que eu disse.
— Quê? Não! — ela pigarreia, abrindo a boca algumas vezes enquanto as palavras se
formam em sua mente — Não sei… bem, eu…
— Ei, tudo bem — solto uma risada baixa sem me conter — Você ainda é nova, está na
universidade e ainda lidando com todas aquelas competições de natação. Não precisa se
preocupar com casamento agora.
Clara solta um suspiro, antes de dar uma risada nasalada.
— É estranho ser a única no vestiário que não fala sobre casamento com as outras
garotas. Mas amo mesmo o Alec e sei que ele me ama. Quando acontecer, vou estar ansiosa para
dizer “sim” — ela cruza os braços, olhando ao redor — Se Alec me pedisse em casamento agora,
perguntaria se ele enlouqueceu.
Dou risada com isso.
— E, ainda assim, você diria “sim”
Ela assente, pressionando os lábios pela timidez.
Nosso assunto se encerra quando vejo a ruiva pelo canto do olho. Emma caminha até
mim com um sorriso empolgado, quase que saltitando ao seguir até mim. Ela vem me atendendo
desde minha primeira visita ao ateliê que pertence a sua tia. E embora sei pouco sobre ela, sei
que Emma fica responsável pelo ateliê por poucos dias, somente para ajudar a tia com a
demanda, uma vez que ela já tem outro emprego.
— Não acredito que irá se casar hoje!
— Me desculpa — me adianto em dizer — Não queria atrapalhar sua Véspera de Natal
e… — me calo quando ela me abraça, ignorando completamente minhas desculpas antes de se
afastar, encarando-me com seus olhos claros.
Emma é uma mulher tão linda por dentro quanto por fora, principalmente por me aturar
por tantos meses, em busca do vestido perfeito. Ela tem bochechas cheinhas, olhos claros e um
cabelo ruivo lindo que bate em suas costas.
— Não ouse se desculpar — branda ela com um sorriso gentil — Além do mais, só irei
encontrar April e Meg à noite, então eu estou livre. Acredite em mim, é melhor passar a tarde
com você do que em casa com um aquecedor quebrado.
Sorrio aliviada por não estar atrapalhando o feriado de ninguém. Sei que meus amigos e
família são loucos o bastante para colaborar com esse plano, no entanto, isso não quer dizer que
todas as outras pessoas irão deixar sua folga de lado para contribuir com isto. Estava realmente
feliz que Emma não se importava e estava solicita para ajudar.
Apresento Emma à Clara antes de finalmente adentrar o ateliê, seguindo para o segundo
andar onde ficam as salas reservadas com paredes preenchidas por espelho e provador. Há uma
plataforma oval bem no centro do cômodo e divãs brancos para quem estiver acompanhando se
sentar.
Clara se acomoda em um dos divãs, enquanto visto o vestido com a ajuda de Emma.
Prendo a respiração por um instante, receosa que o vestido não feche quando Emma começa a
subir o zíper. Quando o ar sai por meus lábios, quase deixo lágrimas escaparem ao ver que o
vestido entrou.
— Acho que não teremos que fazer mais ajustes.
— Ainda bem… — murmuro em um sopro, antes de seguir para o lado de fora do
provador e subir em cima da plataforma, encarando Clara — Então?
— Grace… — sua voz se perde em um sussurro — Meu Deus.
— Acho que vou chorar — me viro para a porta da sala privativa, encontrando Triz ali.
Tem neve no sobretudo preto que ela veste, assim como em seu cabelo do mesmo tom que a
roupa — Emma, me desculpa por chegar entrando, mas assim que terminei minha parte tive que
correr para vê-la.
Ela se aproxima, a plataforma em que estou é alta o suficiente para que fiquemos na
mesma altura, posto que Triz é mais alta que eu. Minha melhor amiga e madrinha tem lágrimas
nos olhos, ela as seca com as pontas dos dedos, sem tirar os olhos de mim.
— Grace, você está perfeita.
— Mesmo? — indago com a voz embargada. Merda de hormônios.
— Sim! — Clara e Triz respondem ao mesmo tempo quando tiro os olhos dela e me
observo pelo espelho preso à parede.
Eu nunca me senti tão bonita e tão feliz.
A saia branca marcava a minha cintura e tinha um caimento meigo, arrastando-se no
chão. Na parte superior, o tecido tinha detalhes brilhantes que me fizeram suspirar. A gola é alta,
contornando meu pescoço e, as mangas, também cheias de detalhes rendados, iam até meus
pulsos.
Não sou uma pessoa com uma autoestima tão alta quanto Noah, sobretudo, agora, eu não
me importava em dizer aos quatro ventos que eu seria a noiva mais linda do mundo se casando
no Natal.
— Irá se casar ao ar livre? Nessa neve? — Emma indaga, não sinto o tom de julgamento
em sua voz, apenas curioso. Então assinto, observando-a pelo espelho.
Emma é praticamente um vulto vermelho ao sair da sala privativa, deixando minhas
amigas e eu com um ponto de interrogação na testa. No entanto, quando a ruiva volta com algo
em mãos, tudo faz sentido.
Ela sobe na plataforma, ficando bem atrás de mim e coloca a peça por cima dos meus
ombros, abotoando em meu pescoço. A renda da gola não se perde com o tecido branco e
quentinho, pelo contrário, ela se ajusta como se fizesse parte do vestido. A peça branca, presa em
meu pescoço, deixam meus ombros retos e caem por meus braços, aberta sem atrapalhar a visão
do vestido. Fazendo toda a diferença.
— Considere um presente de casamento. — Emma sorri, encarando-me pelo reflexo —
Ninguém quer a noiva morrendo de frio em sua cerimônia.
— Obrigada — não estava agradecendo pelo presente, mas por todos os dias em que
passamos juntas em busca do vestido perfeito.
Eu não tinha encontrado, e estava sendo estressante toda a procura. Então, de repente,
Emma surgiu com este, não havia em nenhum manequim, nenhuma arara. Seja lá de onde ela
tenha tirado o vestido de noiva mais lindo que já vi, sabia que era único.
— Gosto de acreditar que sou sua fada madrinha — ela brinca — Não precisa agradecer,
Grace. Foi bom trabalhar com você.
— Não poderia deixar de dizer o mesmo. Obrigada por fazer parte disso.
Suspiro aliviada, encarando-me novamente pelo espelho.
Vestido de noiva? Confere.
Capítulo 06

Oh, lar, deixe-me voltar para meu lar


Lar é qualquer lugar que eu esteja com você
Oh, lar, deixe-me voltar para meu lar
Lar é qualquer lugar que eu esteja com você
Home — Edith Whiskers

24 de dezembro
03:26PM

— Você está me deixando nervoso — digo, sentindo a ansiedade do Noah me contagiar.


— Não fiz nada além de respirar.
— Então, pare de respirar.
Já tínhamos pegado nossos smoking e passado na única barbearia que encontramos aberta
para cortar o cabelo. Não fiz nenhuma mudança drástica, muito menos Noah.
Sophie está sendo de grande ajuda, servindo como nossa planejadora, então confiei
cegamente nela e deixei que resolvesse as coisas com a ajuda de nossas mães e dos pais da
Grace, enquanto eu precisava fazer uma única coisa, conferir o meu presente de casamento para
Grace.
Considerando que o casamento era para acontecer em trinta dias, tive que correr com
Noah para conseguir resolver tudo às pressas, por sorte, consegui pegar o que eu precisava,
embora o cara da imobiliária tenha me olhado com uma carranca por estragar seu feriado.
— Acha que ela vai gostar?
Noah olha ao redor.
A casa está vazia e por isso nossas vozes ecoam por todos os lados. A cozinha em
conceito aberto está logo ao lado. A iluminação aqui é perfeita por conta das janelas, dessa
forma, toda a luz natural de fora vem para dentro. Também há um lavabo e um outro cômodo
espaçoso com uma iluminação tão perfeita quanto na sala, até mesmo consigo imaginar um
escritório onde passarei meu tempo quando não for para a galeria. No andar de cima, há dois
quartos com suíte. Confesso que, enquanto procurava pela casa perfeita, nenhuma vez passou
pela minha cabeça em pegar uma casa com um único quarto. Talvez eu quisesse tanto ser pai que
secretamente procurava não uma casa para um casal e sim para uma família.
— Ela vai amar, cara. — Meu melhor amigo, afirma.
É claro que Noah esteve comigo durante toda a procura. Enquanto Grace passava meses
em busca do seu vestido perfeito, eu procurava a casa perfeita. Sabia que estava na hora de sair
daquele apartamento, mesmo que meu coração apertasse ao deixá-lo para trás, pois foram tantas
lembranças, tantos momentos…
Todavia, com o casamento se aproximando e a realidade que minha noiva e eu
começaríamos uma nova vida, cheguei à conclusão que deveríamos nos mudar. Criar raízes em
um novo lar como Noah fez com Sophie.
— Tem certeza de que ela não vai ficar brava por eu ter pegado uma casa para nós sem o
consentimento dela? — inquiro, realmente preocupado — Sei que falta assinar uns papéis para
ser definitivo, mas…
— Esse casamento está causando preocupações desnecessárias — interrompe Noah,
colocando seus olhos castanhos em mim — Você é o cara que invadiu o dormitório dela, roubou
livros que nunca devolveu e está preocupado com uma casa que, claramente, a Grace vai amar?
O lugar é ótimo, Seth. A vizinhança é boa, é perto da Lowey e da livraria dela. Isso não poderia
ser mais perfeito.
Suspiro, talvez eu esteja mesmo enlouquecendo, por mais que uma casa não seja algo
banal. Mas, Noah está certo, o lugar é perfeito. De todos que visitei, em cada um deles, encontrei
um ou dois defeitos. No entanto, quando entrei nesta casa, tudo que fiz foi visualizar nós dois
morando aqui.
Consegui vê-la sentada em uma mesa de jantar na cozinha, me observando cozinhar
como sempre faz. Consegui vê-la decorando nossa casa, fazendo questão de preencher uma
estante com livros. Consegui vê-la prender quadros com fotos na parede, me ignorando enquanto
ofereço ajuda. Consegui nos ver aqui.
— Bom, ainda não devorei um pote de sorvete, acho que estou bem.
Seus olhos se semicerram, encarando-me com seriedade.
— Isso não teve graça. Ainda falta algumas horas para seu casamento, então dá tempo de
você surtar como eu fiz na minha vez.
Eu torcia para que isso nunca acontecesse.
— Capitão — ouço a voz vir de fora, antes de Jef aparecer na porta de entrada. Não
importa quanto tempo faça desde que nos formamos em New York University, Jef e meu ex-
parceiro de equipe, Colin, sempre irão me chamar de Capitão — Está tudo pronto.
— Mais que pronto — Colin aparece ao lado do marido, olhando por cima dos ombros
antes de me encarar com um vinco entre as sobrancelhas. Seu cabelo loiro está penteado para
trás, sem nenhum fio fora do lugar — Na verdade, acho que temos que lutar contra a neve.
Noah dá de ombros, como se não fosse nada demais.
— Fomos jogadores de hóquei, um pouquinho de neve não faz mal a ninguém.

— Um pouquinho de neve não faz mal a ninguém, huh?


Noah estala a língua quando desdenho dele, encarando a neve que se acumula à nossa
frente, atrapalhando o que Colin e Noah tinham planejado para mim. Minha festa de despedida
de solteiro.
Íamos fazer o que fazemos em todos os invernos, o que fizemos por anos durante o
período de faculdade. Íamos jogar hockey, ao menos, era o que eu esperava antes de encontrar a
neve cobrindo todo o gelo.
Eu esperava que a festa de despedida de solteira da Grace fosse melhor que a minha,
onde suponho que passarei metade do tempo tirando a neve em meio aos intervalos para respirar.
Não sabia o que Triz estava preparando para Grace, principalmente porque, como se não
bastasse um casamento inesperado, meus amigos não largaram a ideia de fazer nossas festas. A
morena me prometeu que não haveria strippers, nem nada do tipo. Noah prometeu o mesmo a
Grace, meses atrás, quando estávamos cogitando a ideia do que fazer.
— Não sabia que ia ter tanta neve.
— Sério? — Jef implica por mim — É inverno, Sherlock! Está nevando para um caralho.
O que queria que tivesse?
— Não fala comigo assim! Não mandei tanta neve para cá e por que só eu tenho que
planejar tudo? Vocês também são amigos do Seth.
Colin pigarreia e com os olhos no celular, ele responde:
— A descrição do grupo que você criou é literalmente “Noah está no comando, quaisquer
sugestões serão desconsideradas” — os olhos claros de Colin levantam da tela indo lentamente
até Noah — Algo a declarar?
— Culpado — Noah pragueja, antes de pegar seu celular.
Mas seja lá o que ele esteja planejando fazer, interrompe seus próprios movimentos
quando um caminhão limpa-neve cruza a rua. No momento seguinte, o celular de Noah apita, ao
visualizar a mensagem, ele ri.
— Caralho, como eu amo minha esposa. Não é à toa que o sobrenome dela é Sherlock.
— Ele nunca vai se cansar dessa piada do sobrenome, não é? — Colin sussurra em meu
ouvido quando chegamos à conclusão de que Sophie, de algum modo, mandou aquele caminhão
até nós.
Não era a primeira vez que a mente ardilosa da esposa do Noah fazia algo, resolvendo
nossos problemas. Noah sempre fazia a mesma piadinha, todas às vezes.
— Definitivamente não.

Minutos mais tarde, Alec chegou após ter deixado Grace, Triz e Clara no Spa. Sophie
também enviou uma mensagem avisando que tudo que eu precisava para o que estava planejando
estava pronto, antes de também encontrar as garotas, levando consigo Summer e nossas mães.
O pai de Grace chegou alguns minutos depois de Alec, mas preferia somente assistir
nossa partida improvisada enquanto se servia de chocolate-quente que Sophie havia mandado por
ele.
Como Jef não fazia questão de jogar, mas sabia as regras, ele recebeu a posição de juiz e
o apito do Noah. Meu melhor amigo tinha duas redes no porta-malas do seu Jeep para demarcar
o gol e todos nós — Noah, Colin e Alec e eu — tínhamos tacos em mãos.
Minha dupla era o primo do Noah, enquanto Noah permaneceu com nosso ex-
companheiro de equipe. Poderia ser injusto considerando que Colin e Noah, por anos, jogaram
junto comigo e sabiam cada uma de suas táticas, contudo, Alec praticamente cresceu conosco e
tinha o melhor de nós dois. Se ele não fosse bom, não teria entrado para o time de hóquei da
NYU.
— Vamos fazer um jogo justo aqui, garotos — Jef fala como um verdadeiro juiz — E,
por favor, por esse casamento, não se machuquem. Grace vai me matar se o Seth sofrer um
arranhão e Sophie me fará picadinhos…
— Ele não se importa com a gente? — Alec murmura atrás de mim.
— Percebi o mesmo — Colin murmura no mesmo tom, atrás de Noah — E ele é meu
marido.
Jef sopra o apito no mesmo instante que solta a puck, antes de se afastar para a borda do
gelo. Tomo posse da puck, empurrando Noah com os ombros antes de deslizar com os patins
sobre o gelo, aplicando uma velocidade suficiente para arremessar a puck até o Alec.
Observo o garoto receber o disco e ser alvo de Colin quando ele desliza para cima dele.
Colin, junto com Noah, foi considerado um dos melhores atacantes do time e por isso prevejo
Alec ser derrubado por ele.
Alec finge ir para a esquerda, mas a falsa jogada não surpreende Colin que já viu de tudo
dentro dos quatro anos jogando pela NYU, então, exatamente por isso, Colin vai para a direita.
Mas, numa velocidade surreal, Alec vai para a esquerda, esperando que Colin faça o mesmo e
quando Colin o faz, Alec atira a puck por debaixo de suas pernas.
Estamos jogando sem goleiro, principalmente por ser uma partida para passar o tempo,
então vemos a puck atingir a lateral da trave da rede e deslizar para dentro da área do gol.
— Caralho.
— Puta merda.
Jef apita, sinalizando o fim da jogada com o gol marcado.
Alec tem um sorriso de desafio nos lábios, apoiado no taco pressionado contra o gelo.
Colin, no entanto, encara a puck abandonada dentro do gol com a boca levemente aberta.
Lentamente, ele se vira para Noah e eu.
— Quem ensinou esse garoto a jogar?
Noah e eu erguemos nossas mãos ao mesmo tempo.
— Que os deuses do hóquei os abençoem.
— Amém — Noah, Alec e eu respondemos juntos.
Capítulo 07

Está é uma linda noite,


para fazer uma mudança em nossas vidas
Cigarros, garrafa vazia de vinho.
Eu tenho você ao meu lado,
falando sobre amor e vida
Oh quão sortudo sou,
quando olho nos seus olhos?
One Life — Ed Sheeran

24 de dezembro
06:49PM

Meu vestido já foi levado para a casa do Noah, assim como os vestidos das madrinhas, os
buquês, véu, tudo que uma noiva precisa para um casamento já estava em minha posse, prontos
para serem usados. Estava com tanta ansiedade para que meu noivo me visse naquele vestido que
não me importaria em casar hoje. Toda a ansiedade e receio que sentia foi perdido depois de
alguns minutos relaxantes.
Duvido que o dia do Seth tenha sido tão tranquilo e calmo quanto o meu. Não sabia que
estava precisando passar a tarde no spa até passar uma tarde no spa com todas as minhas amigas.
Minha barriga ainda dói das palhaçadas que Triz contou, fazendo todas as garotas e eu rirem, até
mesmo a pequena Summer, independentemente se entendia a piada ou não.
Não trocaria essa despedida de solteira por nada, por mais que, quando vejo Triz fazer
um caminho que não é para a casa que deveríamos ir, concluo que meu dia ainda não terminou.
— Aonde estamos indo?
Triz retira os olhos da estrada para me olhar de relance antes de encontrar seu foco nas
ruas outra vez, dirigindo com tanta calma quanto Alec ao passo que o sol começa a desaparecer,
tornando as ruas de New York mais escuras.
Todavia, a neve havia feito uma pausa, mesmo que o frio ainda permanecesse, fazendo-
me usar um suéter com gola alta por baixo de um casaco que se entendia até meus joelhos. O tom
branco do casaco contrastava com minha calça jeans escura como as botas que se estendiam até o
meio de minhas coxas.
— O quanto você ama o Seth?
— Muito. Com a mesma quantidade de estrelas existentes no céu.
Triz ri baixinho.
— Inacreditável! Anos se passaram e a resposta dos dois é a mesma — murmura, mas
para si mesma do que para mim.
Em seguida, ela entra em uma rua que conheço muito bem, afinal de contas, passei muito
tempo vindo até aqui, verificando e acompanhando a reforma de perto. Quando Triz estaciona
em frente a construção com janelas de vidro cobertas por lona branca, ela tira o cinto de
segurança, virando o corpo para mim, atraindo minha atenção.
Há lágrimas em seus olhos e imediatamente surge nos meus também.
— Acho que nem você e nem o Seth sabem o quanto o amor que vocês têm é lindo.
Observando vocês, vejo o amor que cada ser humano merece ter. Eu sei que no começo não
facilitei muito…— ela ri baixinho — Na verdade, não facilitei nada. E é exatamente por isso que
sei o quanto lutaram um pelo outro, quantos obstáculos precisaram passar para finalmente chegar
nesse dia. Não consigo pensar em ninguém que mereça um final feliz tão lindo quanto você, B. E
vou amar o Seth por ele tornar você a noiva mais radiante desse mundo inteiro… E a mãe mais
adorável também.
— Meu Deus — praguejo em meio às lágrimas, tirando meu cinto de segurança com
rapidez e abraçando Triz com força, chorando com a cabeça apoiada em seu ombro — Acha
mesmo que serei uma boa mãe?
— Esse bebê vai crescer rodeado de muito amor. Acha que não será?
Eu vou cuidar dessa criança com todo o amor e carinho que puder, e não tenho dúvidas
que os sentimentos bons que sinto quando estou com meus amigos, minha família, será todo
transmitido para o bebê também.
Me afasto de Triz, deslizando o dorso da minha mão por minhas bochechas, antes de
olhar para a livraria fechada pela construção e encarar Triz novamente.
— O que estamos fazendo aqui?
Triz tem um sorriso gentil nos lábios.
— Noah e eu chamamos de uma viagem no tempo…
— Sinto um “Mas” chegando.
— Mas Mason chama de encontro — ela aponta para a livraria com o queixo — Seu
último encontro estando noiva, B. Ele realmente te ama e faz tudo para te ver feliz. Mas vá, veja
com seus próprios olhos.
Me despeço de Triz, saindo do carro do Noah que ela pegou emprestado para me trazer
antes de vê-la dar partida. Já tem lágrimas em meus olhos e um sorriso insiste em crescer sem
nem mesmo saber o que está por vir. Suspirando fundo, me aproximo da entrada e empurro a
porta.
Uma lufada de ar é tudo que me escapa ao entrar, fechando a porta atrás de mim sem tirar
os olhos de Seth, parado há alguns passos de mim. Tem pétalas de rosas por todo o piso branco e
à nossa volta, por todos os lugares, tem muito varais de luzes, todos preenchidos por fotografias
nossas, minhas…
Me perco observando as fotos de longe, sentindo as lágrimas começarem a deslizar por
minha face e só depois percebo que atrás dele tem um lençol estendido no chão com uma garrafa
de champagne dentro de um balde, frutas em uma cesta e vários livros ao redor.
Dou risada em meio às lágrimas.
— Nós vamos ler? Mesmo?
— O encontro dos seus sonhos, eu sei.
Ele ri baixinho, sua voz rouca ecoando por todo o espaço antes de se aproximar com as
mãos dentro do bolso de sua calça jeans. Ele veste um sobretudo e eu praticamente solto um
suspiro quando Seth para a minha frente.
Não importa quantas vezes eu o veja, eu o sinta, sempre terei a mesma sensação de
quando o vi a primeira vez. Sempre sentirei um frio na barriga com borboletas voando por todos
os lugares, então vem o calor, me aquecendo somente com sua presença e, depois, a melhor
parte, quando meu coração bate acelerado, nenhum pouco acostumado com o que Seth Mason
me causa.
Eu o amo.
Amo tanto.
Estrelas não estão sendo suficientes para medir o que sinto por ele. Uma galáxia inteira
não é o suficiente quando Seth tira uma mão do bolso e caminha lentamente comigo por cada
uma das fotografias, sem dizer uma única palavra enquanto contém suas próprias lágrimas ao
flagrar tantos momentos felizes capturados.
Paro em frente a uma foto, sem soltar sua mão e sorrio ao observar a careta que faço com
um rosto encaixado no corpo de um palhaço. Não acredito que consegui viver meses da vida sem
lembrar do nosso primeiro encontro, por sorte, as lembranças voltaram até mim, multiplicando
ainda mais o que eu sentia por ele.
Seth continua andando, me levando consigo, fazendo uma viagem no tempo, relembrando
tudo que passamos. Vejo as fotos de festas de halloween em que combinamos as fantasias. Seth
estava lindo vestido todo de preto, usando lentes de contato para que suas íris ficassem roxas e, é
claro, que ele não perdeu a chance de dizer “Olá, Grace, querida” outra vez.
Deus, como eu o amo.
Quando nós visualizamos cada foto, ambos perdidos em pensamentos, em suas próprias
lembranças, Seth continua com sua mão entrelaçada a minha ao me levar até o centro, onde
estava quando o encontrei.
— O que achou?
Olho em volta, observando os varais de luzes iluminando o nosso redor antes de fixar
minhas íris no único homem que, por anos, consegue me arrancar suspiros apaixonados.
— Acho que sou uma mulher de sorte.
Ele sorri.
E eu me perco um pouco nele, me surpreendendo então, quando, de repente, Seth se
ajoelha à minha frente.
Então eu conto até três, eu me ajoelho
E eu te pergunto, querida honestamente
Eu esperei todo esse tempo, só para fazer certo
Então te pergunto, esta noite, você vai casar comigo?
Apenas diga sim
É uma palavra, um amor, uma vida
One Life — Ed Sheeran

Grace me tem desde a primeira vez que coloquei meus olhos nela.
Sou dela, completamente, inteiramente. Não há volta, não há fuga ou maneira de evitar
que isso persista e, mesmo que houvesse, eu recusaria. Não me importo em estar com a mulher
que amo com todo o meu coração.
A maneira que ela me olha, que sorri, como se nada no mundo importasse é tudo o que eu
poderia querer para ser feliz. Não preciso de mais tendo Grace ao meu lado.
— O que está fazendo? — indaga quando me ajoelho em sua frente — Já passamos por
isso. Você já me pediu em casamento e eu disse “sim”.
— Sim — concordo — Mas eu quero fazer isso. Quero repetir tudo o que disse e todas as
coisas que eu não disse, bem aqui, com nossas melhores lembranças ao redor.
Ela arfa, antes de pressionar os lábios com força e assentir para que eu continue.
— Grace Barbie Lorey, na primeira vez que fiz isso, não sabia como seria o nosso futuro.
Apenas sabia da certeza que tinha sobre torná-la minha esposa e futura mãe dos meus filhos… —
eu umedeço os lábios, piscando os olhos e afastando as lágrimas que surgem ali quando desço
minhas íris claras até sua barriga — Bem, a parte de sermos pais aconteceu mais rápido do que o
esperado, então, posso estar sendo ainda mais louco por propor isto, mas quero que faça parte
dessa loucura comigo. Quero me casar com você. Não amanhã, ou daqui um mês. Hoje. Grace
Barbie Lorey, esta noite, você aceita se casar comigo?

Capítulo 08
Oh, os olhos dela, os olhos dela
Fazem as estrelas parecerem
que não estão brilhando
O cabelo dela, o cabelo dela
Se movimenta perfeitamente
sem ela precisar fazer nada
Ela é tão linda.
E eu digo isso para ela todos os dias
Just The Way You Are — Bruno Mars

24 de dezembro
10:38PM

— Vamos mesmo fazer isso? — Grace pergunta, sem parar de sorrir — É loucura!
— Então, por que está sorrindo?
Seu sorriso cresce mais quando Grace apoia a cabeça no encosto do banco do meu Jeep,
sem tirar os olhos castanhos dos meus.
— Porque quero isso mais que tudo nesse mundo. — responde em um sussurro, como se
fosse um segredo. — Eu te amo, Seth.
— Eu te amo, gata.
Uma batida na janela atrapalha nossa troca de olhares e então focamos em Noah do lado
de fora do carro, fazendo movimentos com as mãos para abaixar a janela do vidro.
— Ele está com walk talk? — minha noiva pergunta, segurando o riso.
Reviro os meus olhos, pois sim, Noah está com um walk talk em mãos, mas não apenas
isso, também há um fone de ouvido sem fio preso em sua orelha.
Toda a família sabia sobre o casamento que aconteceria horas antes do planejado, e, por
sorte, todos concordaram e conseguiram terminar tudo a tempo. Dessa forma, Grace e eu
estaríamos casados no Natal e não atrapalharíamos os planos natalinos de ninguém. Ainda
iremos amanhecer em nossos pijamas, tomar chocolate quente e abrir os presentes. Embora tudo
que eu poderia pedir, já estava sentada ao meu lado.
— O passarinho pousou no ninho — a voz de Noah chega até nós quando abaixo a janela
do Jeep.
O walk talk emite um ruído e em seguida a voz da Lice surge através do aparelho:
— Que?
— O passarinho pousou no ninho, caralho. Não leu as instruções de código que passei?
— Toda aquela papelada era para ler? Foi mal, cacete.
Noah bufa, levando uma mão na cintura antes de revirar os olhos.
— A Grace chegou, porra. Vem buscar a noiva.
— Tá, tá, tá.
— Câmbio, desligo. — Diz ele antes de empurrar o aparelho para dentro do casaco que
veste e abrir a porta para Grace. Noah segura sua mão, ajudando-a descer ao mesmo tempo que
solta um suspiro cansado — Caralho, maninha. Eu devo te amar muito mesmo para lidar com
toda essa gente. Estão me enlouquecendo!
Grace sorri, se jogando nos braços de Noah ao abraçá-lo.
Não ouço o que ela diz para ele, por estar com sua cabeça entre o pescoço do nosso
melhor amigo, ao mesmo tempo que fica na ponta dos pés para alcançá-lo. No entanto, por mais
que não a ouça, vejo o sorriso genuíno que cresce nos lábios do Noah e como seus olhos brilham
quando ele retribui o abraço.
E eu, simplesmente, permaneço ali, observando-os.
Sei que Grace ainda não contou sobre a gravidez para ele, mas não há dúvidas de que
Noah irá comemorar por nós, de que ele estará em todos os nossos momentos, como sempre
esteve. Sou grato pela amizade que construí com ele.
— Te amo, maninha. — Ele murmura antes de se afastar — Agora vá, Lice está te
esperando para aprontá-la. Entre pela sala de estar e suba direto as escadas, nada de espiar.
Grace ri, concordando, antes de se virar para mim.
— Vejo você no altar — digo quando seus olhos me encontram.
Ela sorri, sem se conter.
— Eu serei a de branco.
Então Grace se afasta, adentrando a casa de Noah.
E eu nunca estive tão ansioso para vê-la outra vez.
Grace está se arrumando no quarto principal da casa com a ajuda das outras garotas para
cabelo e maquiagem. Enquanto isso, estou no meu quarto da casa do Noah, fechando os últimos
botões do meu smoking preto, ao mesmo tempo que espero minha deixa para descer até o térreo
e ir para o jardim, sem ver a Grace, claro, dada toda a tradição de não poder ver a noiva em seu
vestido. Balela. Isso apenas me deixa ainda mais ansioso.
Ouço dois toques na porta antes de ver Noah abri-la pelo reflexo do espelho. Ele caminha
devagar até mim, também com seu smoking no mesmo tom que o meu, mas com a diferença que
as gravatas dos padrinhos são borboletas enquanto a minha é o estilo clássico.
— Como está?
— Não estou nervoso, se é isso que está perguntando.
Ele bufa.
— Não é possível que só eu tive minhas horas de surto pouco antes do meu casamento —
reclama, antes de levantar a manga do smoking para ver o relógio preso em seu pulso — Falta
algumas horas, dá tempo para surtar um pouquinho.
Solto uma risada, deixando de olhá-lo pelo espelho ao virar meu corpo em sua direção.
— Mesmo que você tenha estado à frente com os preparativos, por incrível que pareça,
confio em você. Então sei que nada vai dar errado.
— Exceto a nevasca — A voz de Colin chega até nós quando ele adentra o quarto. — O
casamento precisa acontecer agora. Está nevando lá fora e se aumentar mais, não há como
realizar a cerimônia.
Eu busco Noah sem deixar de encará-lo com preocupação, mas ele apenas reprime um
suspiro, antes de caminhar a passos lentos até mim, colocando uma mão em meu ombro.
— Por que está sorrindo? — pergunto quando um sorriso contente toma seus lábios,
como se a ideia de uma nevasca caindo no céu não fosse motivo de preocupação.
— Porque o cara lá de cima deve gostar muito de você. Preciso te mostrar uma coisa.
Mas tem que prometer que não vai chorar, pois não posso lidar com isso agora. Se você chorar,
eu choro. Vai acabar com a minha maquiagem.
Solto uma gargalhada, mas, minutos depois, contenho as minhas lágrimas.

O jardim da casa do Noah nem parece o local familiar que passamos todos os domingos
juntos, não, vai muito além disso, o jardim da casa do meu melhor amigo parece ter sido
construído justamente para esse momento acontecer.
A neve cobre a grama, deixando tudo branco ao nosso redor, no entanto, um tapete
branco com pétalas de rosas na mesma cor jogada nele se estende da porta da saída do jardim até
a árvore de carvalho onde há a casa de madeira da Summer. Ou seja, a estrutura da casa serviria
como um telhado para o altar improvisado que há em frente à árvore com um grande arco
branco, composto com detalhes que se remetem a flocos de neve.
As poucas cadeiras para nossos amigos e familiares já estão divididas entre o tapete e,
definitivamente, a neve não atrapalha. Pelo contrário, só torna esse momento mais mágico.
— Ai, merda! — ouço Noah praguejar e isso é o suficiente para tirar os olhos da vista de
seu jardim e me virar para ele, encontrando-o tirando o lenço de seu bolso para secar seus olhos
— Você prometeu que não ia chorar, caralho.
— Desculpe — fungo, secando minhas lágrimas com a manga do smoking. Sequer havia
notado que chorava ao estar tão inerte com o que todos tinham preparado para Grace e eu —
Noah, isso…
— Eu sei. — Ele sorri, contente ao analisar o trabalho feito — Mas isso é o mínimo que
posso fazer por vocês dois, cara.
— Não é — me viro para ele, fixando meus olhos em suas íris castanhas — Você não
tem ideia, mas você sempre me dá o seu melhor, assim como para Grace. Às vezes sinto que não
mereço sua amizade, porque ela é grande, generosa e linda demais. Até mesmo para mim.
Noah estala a língua, desviando os olhos dos meus para que eu não veja as novas
lágrimas que tomam seus olhos, porém, vejo quando uma escapa, deslizando por sua bochecha.
Ele não a seca, no entanto.
— Confesso que penso o mesmo. Às vezes acho que não mereço tudo que recebo na vida.
Minha mãe, você, minha irmã, esposa, filha… Mas então, penso que não seria quem sou hoje
sem nenhum de vocês. Sinceramente, nem sei onde eu estaria sem vocês… — Ele vira seu rosto
para mim — Não sei onde eu estaria se não tivesse o meu melhor amigo comigo.
Sorrio, não precisando dizer o mesmo, pois sei que Noah pode ver isso em meus olhos.
— Está pronto? — Ele indaga, secando as lágrimas de uma vez e deixando suas costas
rígidas ao pegar seu walk talk novamente.
Deslizo meus olhos pelo jardim outra vez, capturando cada movimento da neve ao cair
antes de manear a cabeça, assentindo.
— Alec?
— O que foi?
— Avisa a todos para virem para fora. Não esqueçam seus casacos.
A resposta não vem, e, quando surge, é logo atrás de nós.
— Cara, você sabe que estamos na mesma casa, certo? — Alec indaga, usando um paletó
preto por baixo de um casaco que estende até o meio de suas coxas, e com um walk talk igual ao
do Noah em mãos. As mechas castanhas em seu cabelo, como sempre, estão completamente
desgrenhadas — Pra quê isso?
— Que graça teria? — Indaga o Noah, estalando a língua com desdém antes de cruzar os
braços — Agora, volta para sala e usa o walk talk.
Alec grunhe, pisando duro ao caminhar de volta para sala.
Em seguida, o aparelho do Noah faz um ruído e a voz do Alec surge através dele.
— Francamente… Estamos indo.
Capítulo 09

E o tempo todo eu acreditei que encontraria você


O tempo trouxe o seu coração para mim
Eu te amei por mil anos
Eu te amarei por mais mil
A THOUSAND YEARS – CHRISTINA PERRI

24 de dezembro
11:30PM

Está nevando lá fora e graças a peça que compõe meu vestido de noiva, não sentirei frio
algum durante a cerimônia. Há cachos em meu cabelo loiro que batem em minhas costas e uma
tiara prateada adorna o topo da minha cabeça. Clara foi a responsável pela maquiagem,
deixando-a em um tom suave e fazendo questão de usar produtos à prova d’água. E, por mais
que tenham me avisado que haveria um tapete para que meus saltos não afundassem na neve,
optei por uma bota branca de salto baixo. De todo o modo, o vestido é longo o suficiente para
cobri-la.
Meu coração martela em meu peito, em um ritmo completamente acelerado. As garotas
me deixaram sozinha, para que eu pudesse respirar e assim o faço, me observando pelo espelho
que há no quarto do Noah e sem deixar de notar o leve volume formado em minha barriga. É
quase imperceptível, mas eu vejo.
— Você não tem ideia do mundo que te espera aqui fora… Do quanto você será amado
não só por mim e seu pai. Eu prometo, meu bebê, prometo que lhe darei as memórias mais lindas
e a vida mais feliz. Não vejo a hora de conhecê-lo…
— Querida! Você está linda!
Sorrio, assustando-me ao ser pega desprevenida pela minha mãe entrando no quarto.
Rapidamente, abaixo minha mão, tirando de cima da minha barriga.
— Cadê meu lencinho, Gregory?
Meu pai surge logo atrás dela, adentrando o quarto. Ambos estão usando casacos grossos
por conta da cerimônia acontecer ao ar livre. Sophie já tinha preparado chocolate quente para
todos ou amanheceremos na noite de Natal com um resfriado.
Meu pai arfa ao me ver e ao invés de passar o lenço que há em suas mãos para minha
mãe, ele seca suas próprias lágrimas. Isso me faz rir alto enquanto minha mãe não contém um
rolar de olhos.
— Meu Deus, querida… Você está… perfeita!
— Tem certeza?
Minha mãe bufa com a minha pergunta, caminhando até mim e tomando minhas mãos
nas suas. Seus olhos brilham, não só por conta das lágrimas que ela segura, mas por conta de
toda emoção.
— Você é perfeita, Grace. De todas as maneiras possíveis. Em seu exterior e interior.
Você é a mulher mais perfeita e tenho muito orgulho de ver todos os seus passos.
Me jogo em seus braços, ignorando seu aviso sobre amassar o vestido e a abraço. Logo
sinto meu pai se unir a nós e preciso fechar os olhos para conter todas as emoções que se
instalam em meu peito. Todas elas, sem exceção, boas.
— Obrigada por me apoiarem e por estarem aqui.
— Não perderíamos isso por nada, querida.
Em seguida, um pigarreio nos faz nos afastarmos e é então que encontro Noah na porta
com seu mais novo amigo íntimo, walk talk. Mas, pela primeira vez em muito tempo, não ouço
nenhum som de suas tagarelices rotineiras ou palavrões. Noah não diz nada. Apenas me encara
boquiaberto.
— Ele está bem? — minha mãe indaga.
— Se ele está assim, imagina o noivo.
Eu sorrio, encarando o Noah. Seus olhos piscam repetidas vezes e seus lábios se
entreabre, embora nenhum som escape.
— Acho… — ele começa em um sussurro — Acho que tive um deja vu da primeira vez
que a conheci. Eu… Porra.
Eu conheci o Noah duas vezes.
E, nos nossos dois primeiros encontros, senti uma empatia muito grande pelo garoto de
covinhas. Claro que, na segunda vez que senti o mesmo, era porque já o conhecia. No fundo, já
sabia que o amava como um irmão. Ainda assim, a relação que construí com Noah veio em um
piscar de olhos e se tornou eterna desde então. Ele é meu irmão, não importa se não temos o
mesmo sangue. Noah Sherlock é e sempre vai ser o meu irmão. Assim como sou, e sempre serei,
a sua irmãzinha.
— Acho que não posso levá-la até o altar querida. — Meu pai solta de repente, pegando a
todos ali desprevenidos. Seus olhos castanhos deslizam de mim para Noah duas vezes, antes de
me encarar novamente. — Sinto que entreguei você ao Mason há muito tempo, antes mesmo de
conhecê-lo, e, por mais que seja algo que um pai sempre faz com sua filha, de qualquer forma,
esse casamento não está sendo nada tradicional… — ele então se vira para Noah, que tem seus
olhos arregalados ao entender o rumo que a conversa está tomando — Seria uma honra para mim
que o melhor amigo da minha filha, aquele que esteve com ela por tanto tempo, a leve para o
altar.
Noah pisca, antes de balançar a cabeça de um lado a outro.
— Eu não posso, sr. Lorey. Isso é importante demais.
— Sim, é. — Meu pai concorda. — Mas vejo o amor incondicional que há em vocês.
Vejo a amizade que construíram e que só cresce a cada ano. Essa é uma nova fase para a minha
Grace, para vocês. Então façam isso juntos. Por favor.
Noah desliza os olhos até mim, sem saber o que dizer.
Não precisamos de palavras alguma para concordarmos com meu pai.
— Está pronta, maninha?
— Sim.
Noah sorri abertamente, exibindo as covinhas.
— Então, vamos. Seu noivo te espera.

Meus pais fazem a caminhada juntos, seguido por Jef e Colin, Clara e Alec, Triz e Lice,
Sophie e Summer. Então, seguro a respiração, com um dos braços envolvendo o do Noah
enquanto esperamos minha deixa.
Sua risada me chama atenção e agradeço por essa distração ao levar minha atenção toda
para ele. De onde estávamos, na cozinha e um pouco afastados da porta que leva ao jardim, não
tinha como nos verem.
— O que foi?
— Apenas fiquei pensando o que a Grace do antes que nem queria saber do capitão de
hockey da universidade iria achar desse momento. No mínimo, que você de agora é louca.
Dou risada.
— Acho mais louco pensar o que o Seth do antes acharia desse momento.
Noah move os lábios de um lado a outro, enquanto pensa.
— Provavelmente iria de livre e espontânea vontade para um manicômio. — nós
gargalhamos juntos. — Que bom que evoluímos.
Eu não poderia deixar de concordar.
— A noiva está pronta. — Noah diz, mas não para mim, e sim para o walk talk.
— Sem códigos dessa vez? — indago, recebendo um olhar de esguelha seguido por um
sorriso de lado.
— Não é preciso, maninha. — com os olhos em mim, Noah leva o walk talk a altura de
seus lábios — Música… — em resposta a ele, o instrumental de “A Thousand Years” começa a
tocar — Luzes… — meus olhos escapam dele por um leve segundo, somente para ver o mesmo
varal de luzes que vi mais cedo iluminar todo o caminho — E, pela última vez usando essa
coisa… Estamos a caminho. Câmbio, desligo.
Ele larga o walk talk atrás dele, deixando sobre o granito do balcão da cozinha e ao
mesmo tempo, respiramos juntos antes de darmos os nossos primeiros passos.
Minhas unhas pressionam o casaco do Noah quando minhas botas tocam o tapete branco
e mesmo com toda camada de tecido, Noah sente, sorrindo baixinho. Sua risada me acalma, e
afasta qualquer nervosismo que poderia crescer em mim. Meus olhos se erguem, encontrando
todos os nossos amigos e nossa família encarando-nos sem deixar de sorrir. No entanto, não
importa a distância que estejamos, eu sempre irei enxergá-lo.
Seth Mason tem o sorriso mais lindo que já vi. Os olhos de oceano brilham conforme
meus passos são lentos, no ritmo do instrumento embora tudo que posso escutar nesse momento
são as batidas constantes do meu coração, desejando estar ainda mais perto dele.
Minha cabeça se ergue para cima e sorrio ao ver o céu completamente estrelado enquanto
a neve cai sobre nossas cabeças, tornando o momento ainda mais especial. Ao voltar meus olhos
para meu noivo, solto uma risada baixa percebendo que Seth fez o mesmo no instante que volta a
me encarar, após ver o céu acima de nós.
— Oi, amor — ele diz quando paro a sua frente.
— Oi, amor — respondo, sem conter o suspiro apaixonado.
— Promete não a machucar, cara. A ameaça segue de pé, caso isso aconteça.
Seth sorri achando graça, mesmo que Noah esteja sério.
— Prometo.
— Ótimo! — diz, contente com a resposta de Seth antes de deixar um beijo em minha
testa e se afastar, ficando ao lado de Sophie e Summer enquanto tomo o lugar à frente do meu
noivo.
— Podemos começar? — O pastor indaga, sorrindo para nós dois, mesmo realizando uma
cerimônia em uma Véspera de Natal.
Seth e eu assentimos, sem afastar os olhos do outro. É como se não existisse ninguém à
nossa volta, mesmo enquanto os olhos de todos estão em nós, mesmo enquanto o pastor diz um
discurso que deve ser lindo, por mais que eu não escute nenhuma palavra.
A risada rouca e melódica do meu noivo me desperta, fazendo-me piscar diversas vezes.
— O quê?
Ele ri novamente, sussurrando em seguida:
— Os votos, querida.
— Ah, sim, claro — todos sentados nas cadeiras riem do meu devaneio — Está bem. Eu
queria ter escrito algo, para assim saber o que dizer, mas no fundo sabia que falar para um
pedaço de papel é bem mais difícil do que falar olhando em seus olhos — suspiro, encarando o
homem que amo a minha frente — Não sabia que era possível alguém se apaixonar pela mesma
pessoa duas vezes. Mas sou a prova que isso acontece sim, pois me apaixonei perdidamente por
você na primeira vez e do mesmo jeito na segunda. E, sinto que, sigo me apaixonando um pouco
mais todos os dias. Sou grata por cada momento que passei com você, Seth Mason.
“Noah me perguntou o que a Grace do antes faria ao nos ver nesse momento, me casando
com aquele jogador de hóquei que ela deu o fora não uma, mas duas vezes seguidas.
Sinceramente, por um leve segundo, penso que essa Grace ficaria completamente em silêncio, se
perguntando como algo tão estranho poderia ter acontecido, como nós chegamos aqui. Depois,
ela sorriria ao chegar à conclusão de que assim como os diversos livros de romance lidos,
também mereci o meu final feliz. Esse é o meu final feliz, Seth. Com você ao meu lado. E,
depois de ler tantos livros, viver tantas histórias, conhecer tantos romances, finalmente chego à
conclusão de que a minha história é o romance mais lindo que já vi. Obrigada por me dar esse
final. Obrigada por me amar tanto quanto eu te amo.”
Sinto seus dedos capturarem uma lágrima solitária em minha bochecha. Em seguida,
repito seu gesto, capturando a sua. Ambos sorrindo, perdidos nos olhos marejados do outro.
— Grace… Vai ser difícil superar isso — ele suspira, e todos dão risada. Seth Mason
toma minhas mãos na sua, seu calor é sempre bem-vindo — Não tenho um histórico de leitura
tão grande quanto o seu, mas os poucos livros que li, me mostraram o que é se apaixonar por
uma garota tão perdidamente que nada mais no mundo importa. Aprendi que às vezes ela pode
odiá-lo no começo, ou se fazer de difícil, mas o tempo logo mostrará não só para ela, mas para
ele também que existe algo ali, existe amor.
“Nosso tempo foi mais longo do que o normal, e nós vivemos todos os clichês possíveis
para que isso acontecesse. No entanto, aqui estamos. Posso ser todos os protagonistas que quiser
que eu seja, contudo, prefiro prometer que serei sempre eu, Seth Mason Tyler, seu futuro marido,
o jogador de hóquei que recebeu alguns “nãos” e ainda assim continuou perdido em você. Ainda
sou o cara que viu a mulher da vida dele escorregar e esquecê-lo completamente, mas, mais que
isso, ainda sou o cara que estava disposto a fazê-la se apaixonar por mim uma segunda vez
porque não suportava a ideia de não tê-la em minha vida. Não suportava a ideia de seguir sem
você. Sou esse cara, Grace. Sou o cara que morreu todos os dias, esperando por você. Sofri, me
machuquei, quebrei. Mas, bastou tê-la na minha vida outra vez que todas as minhas feridas se
curaram. Se alguém tem que agradecer por um final feliz, esse alguém sou eu. De todas as
pessoas no mundo, mesmo aquelas que só existem em livros, você ainda é a minha favorita,
Grace Lorey. Obrigado por ter colocado uma vírgula em nossa história e não um ponto final.
Obrigado por me amar tanto quanto eu te amo. E, sim, de todas as histórias de romance, a nossa
é a mais linda que já vi.”
EPÍLOGO

Oh, mas eu me lembro


Do primeiro beijo, da primeira noite,
da primeira música que te fez chorar
Da primeira dança (...)
Mal posso esperar para ver tudo que ainda vai acontecer
Nosso primeiro filho e depois mais um milhão de primeiras vezes
FIRST TIMES – ED SHEERAN

25 de dezembro
11:11 AM

É Natal.
E este é o ano que mais senti a magia nesse feriado. Talvez amanhecer ao lado do meu
marido, com um novo anel em meu dedo anelar e um novo sobrenome contribui para que a
magia aconteça. Ou, talvez, seja o fato de que despertei com as carícias de Seth em minha
barriga. Seus olhos já estavam em mim quando abri os meus, assim como o sorriso preguiçoso.
— Bom dia, esposa.
— Bom dia, marido.
— Marido — ele testa em sua língua, segurando o bocejo antes de não resistir e soltá-lo.
— Isso soa tão bem.
Sorrio, ainda sentindo seus dedos fazendo movimentos circulares contra a minha pele.
— Você ao menos dormiu? — indago quando o vejo soltar um segundo bocejo.
Nós comemoramos até tarde, então não era de se surpreender que todos na casa ainda
dormissem. Eu sequer sabia que horas eram, mas havia tirado um bom cochilo e me sentia pronta
para encontrar todos na sala e contar a novidade enquanto abrimos os presentes.
— Sim. — ele ri — Acordei a pouco tempo, apenas me levantei para escovar os dentes
antes de voltar para cama. E, se quer saber, tive um sonho maravilhoso.
— O que eu perdi enquanto você dormia? — Seth hesita, reconhecendo a frase que saiu
por meus lábios sem que eu sequer tivesse controle e acaba sorrindo com isso.
— Com nós. — responde, por fim — E, tenho quase certeza que é uma menina.
— E se for um menino?
Ele estala a língua, não acreditando muito no que eu digo.
— É uma menina, amor. Confia em mim. É intuição de pai.
Meu coração erra uma batida com suas últimas quatro palavras. Acho que nunca vou me
acostumar com essa nossa nova versão. Sempre vou suspirar, como se ainda estivesse sonhando.
Ou, no caso, dentro do sonho do meu marido.
— Está pronta para contar?
Suspiro.
Parece que venho esperando por isso por anos, quando, na verdade, faz apenas algumas
horas.
— Sim, estou.

Todos estão reunidos na sala de estar. Cada um ainda de pijama e embora a hora do
almoço se aproximasse, ainda tínhamos uma xícara com chocolate quente em mãos. Bom,
Summer já estava na segunda, sendo a primeira a despertar, ansiosa para abrir os presentes e por
isso acordou sua mãe logo em seguida.
— Obrigada, tio Seth! Eu amei! — Summer levanta do tapete onde estava sentada,
correndo até onde Seth e eu estamos e abraçando o tio. Seth havia lhe dado patins, pois tanto ele
quanto Noah haviam prometido que a ensinaria patinar no próximo inverno. — Podemos ir
patinar agora?
— Calma — Noah ri da pressa de sua filha enquanto se abaixa para pegar um envelope
embrulhado debaixo da árvore decorada. — Ainda temos nossos presentes para abrir, mocinha.
Summer revira os olhos, mas assente ao que seu pai diz obedientemente ao abraçar sua
caixa com os novos patins e se sentar na porta da sala, a espera.
Noah caminha até mim com o envelope em mãos, mas não o entrega, somente para a
nossa frente, dividindo olhares entre mim e Seth. Não compreendo o motivo de suas íris
castanhas me parecerem marejadas.
— Esse é o de vocês. Não é bem um presente, mas, é algo que… — ele gagueja,
dobrando o braço ao coçar a nuca. — Merda. Achei que ia ser mais fácil.
— Está tudo bem? — pergunto, tocando seu braço com uma mão.
Noah assente, timidamente.
— Preciso contar uma coisa, mas posso esperar…
— Vá em frente, maninha. Está tudo bem.
Me viro para Seth, encontrando suas íris me dando o apoio que preciso.
Pigarreio, atraindo a atenção de todos ali para mim e imediatamente fico nervosa. Na
noite de ontem, durante os votos, não senti nenhuma hesitação, mesmo diante de todos. Agora,
sinto meu coração saindo pela minha garganta.
Seth sente o nervosismo em mim e seus dedos entrelaçam nos meus.
— Eu não pensei muito em como contar isso, mas… bem, vou dizer de uma vez, nossa
família vai aumentar.
Todos ficam boquiabertos, em um completo silêncio. Quando, de repente, Noah solta.
— Como sabe que a Sophie está grávida?
Eu me engasgo.
— O que?
— Acho que a Grace não estava falando de mim — Sophie diz baixinho, enquanto é a
minha vez de ficar em um absoluto silêncio, sem reação alguma.
Noah pisca.
— Espera… — seus olhos se arregalam — Você está grávida? Porra! Eu vou ser tio?
Noah se joga em meus braços, me mantendo ali enquanto meus olhos ficam marejados,
processando as palavras que ele soltou pegando todos ali completamente desprevenidos. Quando
ele me afasta, uma lágrima escapa de seus olhos antes dele encarar Seth ao passo que Sophie se
aproxima.
Seth está petrificado.
— Você vai ser pai? — ele pergunta em um sussurro.
Noah estende o envelope, pressionando os lábios enquanto Sophie o abraça de lado. Seus
olhos estão tão emocionados quanto o restante de nós.
Seth pega o envelope, e eu me aproximo para ver o que há dentro. A imagem do
ultrassom da Sophie mostra o quão pequeno o bebê em sua barriga está, provavelmente com
pouco menos de um mês.
Seth se joga em seus braços, abraçando o melhor amigo. Os dois puxam a mim e Sophie
para o abraço ao mesmo tempo, nos incluindo ali. Quando nos separamos, encontramos todos
nos observando enquanto tentam controlar suas próprias lágrimas, ao mesmo tempo que
processam o que acabou de acontecer.
— Seremos pais! — Seth e Noah gritam em uníssono.
Sophie gargalha, antes de me encarar.
— Seremos mamães! — ela diz por mim, me arrancando um sorriso.
Uma comemoração se instala por toda a sala. Somos uma bagunça de sorrisos e lágrimas.
Todos querem saber quanto tempo sei que estou grávida e quanto Sophie sabe. Aparentemente,
tivemos a mesma ideia de revelar na manhã de Natal. Sophie e Noah sabiam há poucas semanas
e estavam grávidos de um mês, enquanto eu estava de quase três meses.
— Acho que não aguento mais emoções por hoje — digo, abanando meu rosto após
receber abraços de todos.
Meus pais arrancaram o dobro de lágrimas que eu havia soltado até então ao me
envolverem em um abraço que foi suficiente para aquecer meu coração enquanto diziam que
estavam ansiosos para conhecer seu primeiro neto.
— Ainda não dei o seu presente — Seth sussurra em meu ouvido, fazendo-me virar para
ele. Quando aponto para minha barriga, meu marido gargalha — Certo. Nossa filha é o melhor
presente do mundo, mas ainda tem o que você precisa desembrulhar.
Ele tira do bolso uma caixinha pequena, e eu a apego, sorrindo como a Summer estava ao
abrir os seus presentes. Desfaço o nó bem-feito que prendia a caixa preta e seguro a fita de cetim
em minhas mãos enquanto tiro a tampa, encontrando uma chave ali.
— Chave? — semicerro os olhos, antes de erguer até encontrá-lo — Não é o que estou
pensando, é?
Ele morde os lábios, pela primeira vez, parecendo o homem mais nervoso que já cheguei
a conhecer.
— Sei que fui precipitado e eu deveria ter levado você para ver a casa, mas...
— Eu amei — o interrompo, me aproximando para deixar um beijo em seus lábios —
Mesmo não tendo visto ainda, sei que vou amar.
— Bom... — Ele prolonga a palavra em seus lábios — Você pode ver agora. Basta
atravessar a rua.
Isso me faz sorrir abertamente ao mesmo tempo que desvio o olhar para a janela atrás da
árvore de Natal como se pudesse ver a casa, mesmo sem saber qual seja.
— Seremos vizinhos do Noah? — Pergunto, sem conter o sorriso que só cresce, assim
como a felicidade em meu peito.
Ele dá de ombros
— Eu não conseguiria ficar longe dele, amor. E, acredito que nem você.
Meu marido me conhece tão bem…
Noah se aproxima, os olhos ainda estão avermelhados assim como a pontinha de seu
nariz. Ele passa um braço por meus ombros, abraçando-me de lado. O sorriso que abriu ao
anunciar que teria um filho, ainda não deixou seus lábios.
— Ainda não acredito que esconderam isso de mim.
Seth sorri, abraçando Sophie de lado quando ela se aproxima.
— Vocês fizeram o mesmo… Bom, até o Noah soltar antes da hora.
Sophie suspira.
— E ainda assim é um recorde.
Nós gargalhamos, com exceção de Noah que apenas revira os olhos. Seu foco acaba indo
para a chave em minhas mãos e o sorriso retorna para seu rosto. Ele deixa um beijo em minha
testa, antes de se inclinar dada a diferença de altura para sussurrar em meu ouvido.
— Ele nunca vai admitir isso para mim, mas tenho certeza de que Seth só comprou a casa
perto da minha porque sente falta do seu velho amigo aqui. Estou certo?
— Não sei sobre o que está falando — dou de ombros, mas Noah sorri quando eu levanto
os polegares, assentindo ao que ele diz.
— Estou muito feliz por nós, maninha — ele murmura antes de se virar para Seth e
Sophie à nossa frente. Noah estende a mão, segurando a da Sophie e Seth faz o mesmo,
segurando a minha e me puxando para si, trocando Sophie e eu de lugar — Estou muito feliz. É a
melhor sensação que já senti.
— Aidan estaria orgulhoso.
Noah sorri com a menção do pai, e novas lágrimas surgem em seus olhos.
— Vai ser difícil superar esse Natal no ano que vem.
— Não acho — digo, me envolvendo nos braços de Seth. Meus olhos deslizam por todos
nossos amigos e familiares, antes de encontrar Noah e Sophie — Nossos filhos estarão aqui no
ano que vem.
Os dois sorriem, sem deixar de concordar.
Sinto uma sensação boa em meu peito, uma paz, não sei defini-la ou explicar como é
senti-la dentro de mim. Apenas sinto que, definitivamente, este é o meu “felizes para sempre” e
ele não poderia ser mais lindo.
Caramba, quem diria.
Todos os aviões que voamos.
As coisas boas que passamos.
Que eu estaria bem aqui falando com você
Sobre outro caminho.
Sei que adorávamos pegar a estrada e rir
Mas algo me dizia que aquilo não iria durar.
Tive que mudar
Olhar as coisas de modo diferente,
ver a coisa como um todo
Aqueles foram grandes dias.
O trabalho duro sempre compensa
Agora te vejo em um lugar melhor.
See You Again — Whiz Khalifa
CENA EXTRA

Como podemos não falar sobre família


Quando a família é tudo que nós temos?
Tudo o que passei. Você estava lá, ao meu lado
E agora você vai continuar comigo para o último passeio
See You Again — Whiz Khalifa

OITO MESES DEPOIS

Apresso meus passos, praticamente correndo ao avistar o hospital à minha frente. Assim
que atravesso a porta de vidro, caminho até a recepção, mas, antes que possa perguntar qualquer
coisa, vejo meu melhor amigo correr até mim pela visão periférica. Noah se joga em meus braços
antes mesmo que eu possa dizer um “olá” ou um “como está?”, afinal, não o vejo há uma
semana.
A Lowey nunca viu dias melhores. Temos eventos sociais três vezes na semana para
mostrar novos quadros de artistas locais, e eventos beneficentes uma vez a cada duas semanas
em que o valor de cada quadro acumulado é doado para instituições de caridades. E, por tanto
sucesso, é comum que eu participe de conferências em outras cidades para divulgar minha
galeria, por mais que por muito tempo eu tenha recusado os convites que recebia por não querer
ficar longe da minha família, todavia, Grace garantiu que ficaria tudo bem e que eu deveria ir.
Mas, ao receber a mensagem do Noah, informando que o bebê chegaria, não perdi tempo
ao pegar o primeiro voo de volta para New York, uma semana depois, o que é muito para quem
está acostumado a ter Noah em minha vida todos os dias, principalmente porque minha casa está
localizada logo à frente da sua. Somos vizinhos e, sinceramente, ninguém pareceu surpreso com
a escolha de locação, principalmente nossas mães que nunca nos viram separados.
Meu melhor amigo nasceu alguns meses depois de mim, nós crescemos juntos,
comemoramos todos os aniversários, Páscoa, Ação de Graças, Natal e Ano Novo. E sou grato
pra caralho que, anos depois, seguimos compartilhando os mesmos feriados, seguimos na vida do
outro, embora alguns dias seja mais estressante que outros, me lembrando os velhos tempos de
quando compartilhamos aquele apartamento e discutimos por absolutamente qualquer coisa.
Mesmo cada um tendo sua própria casa, a história não mudou.
Na verdade, a história se repete, literalmente.
Minha filha nasceu dois meses atrás. Consigo me lembrar de tudo como se fosse ontem,
as memórias ainda estão vívidas em minha mente e sei que é o efeito de ser um papai babão.
Winter Lorey Tyler nasceu com dois quilos e meio, cabendo na palma da minha mão. Sua
pele é branca como a da mãe, e, para a tristeza da Grace, isso e o tom claro dos fios de seu cabelo
é toda a semelhança entre as duas. Winter é basicamente minha cópia. Mesmo pequena, os traços
idênticos são nítidos. Minha princesinha tem os olhos redondos com íris azuis de um tom
perfeito. Seu nariz é pequeno, levemente empinadinho e seus lábios são bem desenhos. Eu
poderia passar toda a minha vida observando todos os traços de Winter e jamais me cansaria.
Mas, agora, é a vez do Noah conhecer seu filho.
— Suponho que ele ainda não nasceu.
— Não — responde, ainda em um abraço apertado. Em seguida, Noah se afasta,
afundando os dedos em seu couro cabeludo, bagunçando completamente as mechas, mas sem dar
muita importância — Caralho, ele nem nasceu e já estou surtando. Não lembro do parto da Grace
ter demorado tanto.
— Calma. Sophie já passou por isso, vai ficar tudo bem. Como ela está?
— Louca — devolve sem papas na língua — Aparentemente, as contrações fazem uma
mulher que nunca xinga, falar mais palavrões do que eu em toda a minha vida. Sophie quase
quebrou minha mão de tanto apertar e ainda me expulsou do quarto… Espera, cadê a Grace?
— Mandei mensagem quando estava a caminho, ainda não a vi.
A expressão preocupada em sua face se suaviza. Os olhos do Noah praticamente ficam
marejados ao se dar conta de que nem parei para ver minha esposa e minha filha, ao correr direto
para o hospital. Eu não poderia fazer diferente, no entanto. Embora a saudade me mate, tenho em
mente que Grace é uma mãe maravilhosa, vi com meus próprios olhos a maneira que ela cuida da
nossa filha, com uma perfeição genuína, perfeita para o papel de mãe. Além disso, sei que Grace
entende a pressa em ver como Noah estava primeiro, entende tanto que ela mesma fez a sugestão
de que viesse direto para o hospital quando eu já estava a caminho.
— Você veio direto para cá? Por mim?
— É seu primeiro filho, Noah — consto, apoiando uma mão em seu ombro, não querendo
perder a chance de provocá-lo — Além disso, os cinco áudios com oito minutos cada foi o
suficiente para me assustar e entender que você estava tendo um colapso. Achei melhor me
certificar de que não estava fazendo nenhuma loucura.
Ele revira os olhos.
— Não mandei tantos áudios.
— Sim, mandou — não sou eu quem responde.
Meus olhos deslizam para Grace como um ímã sendo atraído com uma força
extraordinária. Minha esposa, a mulher da minha vida, tem um sorriso reluzente nos lábios que
parece iluminar tudo ao seu redor. Seu cabelo está amarrado em um rabo de cavalo, cílios
grossos emolduram seus olhos e os lábios estão levemente rosados com seu gloss com sabor de
morango. Em seus braços, nossa pequena dorme como se nada no mundo importasse, além de
seu sono.
Me aproximo das duas em passos largos, selando meus lábios nos de Grace.
— Senti tanto a sua falta.
— Sério? — inquiri com um sorriso travesso — Eu nem vi o tempo passar.
— Ha-ha — solto uma risada falsa, antes de me voltar para Winter. Logo Grace a estende
para mim e eu a seguro com todo o cuidado. Por mais que segurar minha filha seja a melhor
sensação que já senti em toda a minha vida, confesso que é estranho ter um ser humano tão
pequeno em meus braços — Oi, meu amorzinho. Você sentiu falta do papai, não é?
— Todos os dias — Grace murmura baixinho, mas não passa despercebido ao caminhar
até Noah, abraçando-o — Como está, maninho? Ansioso?
Noah solta um bufo descontraído, trocando o peso dos pés enquanto tenta não demonstrar
toda a ansiedade que exibiu para mim minutos atrás. Mas sua farsa não perdura por muito tempo
quando ele revira os olhos, inclinando todo o corpo para que sua cabeça se apoie nos ombros da
Grace.
— Pode ir lá e fazer meu filho vir para esse mundo, tipo, agora?
— Sabe que não posso forçar, não é?
— Mas você pode tentar.
— Sim, posso. — Ela aproveita que a cabeça de Noah está em sua altura, dando um beijo
em sua testa antes de se afastar, deixando mais um selinho em meus lábios ao seguir em direção
ao corredor, sabendo exatamente onde Sophie está.
Noah e eu caminhamos até a sala de espera. Eu me sento em um dos assentos vazios,
embalando Winter em meus braços e somente ergo meus olhos dela quando sinto o cheiro de
cafeína, encontrando o copo que Noah me estende.
— Sei que está saudades dela. — ele diz com um sorriso pequeno nos lábios ao encarar
Winter, como todas as vezes que o faz — Mas também sei que está cansado e precisa de café. Eu
fico com minha afilhada.
Não discuto e nem mesmo recuso a oferta, passando minha filha em seu macacãozinho
branco com bolinhas para o padrinho dela, antes de aceitar o copo com a quantidade de cafeína
que eu precisava.
Não durmo há algumas horas e quero ficar ao lado do Noah enquanto esperamos por
Sophie dar à luz, mesmo que leve horas. Noah permaneceu comigo enquanto Grace entrava em
trabalho de parto. Por mais que tenha sido “rápido”, numa questão de três horas, ele não saiu do
nosso lado por um momento sequer. Eu devia isso a ele, não por Noah ter feito o mesmo, mas
por ser meu melhor amigo, meu irmão, minha família.
— Estava pensando… — Noah comenta com os olhos presos em Winter antes de erguê-
los para mim enquanto tomo um gole do café — Nossas mães passaram por isso anos atrás, e,
aqui estamos nós.
— Pensei a mesma coisa quando cheguei aqui — admito — Minha filha vai ser a mais
velha — ergo uma sobrancelha, sem conter o ar de diversão.
Lembro que uma das muitas discussões entre mim e Noah quando éramos pequenos era
em questão da idade, em que eu me sentia superior por ser mais velho, mesmo com seis meses de
diferença.
— Aposto que meu filho vai ser o mais alto.
— Como sabe? Ele pode puxar o lado da família da sua mãe.
Noah dá de ombros, estalando a língua no céu da boca.
— Sophie e eu somos altos, tenho certeza de que ele será também. A diferença de idade
não vai ser nada quando Winter parar de crescer, mas ele não.
É a minha vez de estalar a língua.
— Vou ensiná-la a jogar hóquei e ela vai dar uma surra no seu filho.
— Ela não vai poder dar uma surra nele quando ele fizer mais gols.
— Vou mostrar todos os livros a Winter e ela vai dar spoilers para ele.
— Pegou pesado.
Nós gargalhamos ao mesmo tempo, prendendo a risada no segundo seguinte ao mirar
Winter, ainda em seu sono profundo. Deixo uma risada escapar, balançando a cabeça de um lado
a outro.
— Acha que eles serão como nós?
— Inseparáveis? — Noah une as sobrancelhas, hesitando em responder ao pensar. —
Vejamos, você estava me esperando quando nasci, por mais que fosse só um bebê. Éramos
praticamente vizinhos, tínhamos nossas tradições de família, estudamos juntos, fomos para a
mesma faculdade, moramos juntos, nos casamos com mulheres incríveis e nos tornamos vizinhos
outra vez… — ele solta um suspiro, encarando Winter. Não me passa despercebido o brilho em
seus olhos, dada as lágrimas acumuladas ali — Winter está aqui esperando pela chegada dele. Se
ela for só um por cento do que os pais dela são para mim, então o meu filho é um garoto de sorte.
Desvio meus olhos para o teto, afastando minhas próprias lágrimas.
— Eles serão inseparáveis… — murmuro.
— Até o fim. Exatamente como nós.
Quando o café dentro do copo chega ao fim, descarto em uma lata de lixo, encontrando
Grace vindo ao nosso encontro com um sorriso largo. Noah nem precisa que ela diga uma única
palavra para compreender que está na hora. Ele deixa um beijo no topo da cabeça de Winter
antes de me entregá-la, soltando uma respirada funda.
— Me deseja boa-sorte.
— Você não precisa — respondo segundos depois, com um sorriso em meus lábios —
Vai ajudar a sua esposa a trazer seu filho para o mundo, porra — Noah abre um sorriso gigante
quando suas palavras, ditas dois meses atrás, nesta mesma sala de espera, escapa por meus
lábios.
Observo meu amigo se distanciar, antes de descer os olhos para minha filha. Seus
olhinhos estão abertos, as íris azuis me encaram e posso jurar que seus lábios formam um sorriso
pequeno.
— Ei, dorminhoca. Acordou bem na hora.
Grace se coloca ao meu lado, encarando Winter da mesma forma de mãe coruja de
sempre, com brilho nos olhos e um sorriso lindo nos lábios.
— Você está ansiosa para conhecer o seu novo melhor amigo?
— Ela sorriu?
— Estranho, mas sim — Grace solta um risinho contido — Acho que ela gostou da ideia.

Trinta minutos mais tarde

— EU SOU PAI DE UM MENINO! — Noah surge de repente, assustando-nos com sua


comemoração.
Ele ainda usa uma touca em sua cabeça e uma camiseta azul bebê do hospital, assim
como a calça no mesmo tom. Seus braços estão arqueados, da mesma forma que ele comemorava
um gol em nossa época de faculdade.
Ao ver Winter ativa no braço da mãe, balbuciando sons desconexos enquanto mexe os
dedinhos pequenos, Noah sorri de maneira maliciosa, cruzando os braços ao trocar o peso dos
pés.
— Acordou só para conhecer seu futuro namorado, huh?
— Namorado? — inquiro, estreitando os olhos — O que aconteceu com melhores
amigos? Minha filha não vai namorar ninguém!
— Vai começar… — Grace murmura.
— Cara, estou dando a chance de Winter namorar um galã. Meu filho é muito lindo. Puta
que pariu! Achei que iria olhar e ver aquela cara estranha com formato de joelho e teria que
mentir para Sophie igual menti para vocês dois. Mas, porra, eu gerei uma obra de arte. O garoto
tem potencial para ser modelo e só tem minutos de vida.
— O que disse sobre a minha filha? — Grace pergunta em um tom sério.
Noah somente dá de ombros.
— Águas passadas, maninha. Depois que passou alguns dias, Winter ficou bonitinha, mas
era feia que doía. Felizmente, não poderão falar isso do meu filho. Venham ver com seus
próprios olhos.
Noah praticamente saltita ao se virar e, por mais que Grace esteja pronta para discutir e
defender a beleza da nossa filha, parece ainda mais ansiosa para conhecer nosso novo membro da
família.
— Aposto que Winter é muito mais bonita que ele. Noah só está blefando. — Divaga e
não tenho certeza se ela diz isso para si mesma ou para mim, mas respondo mesmo assim.
— É claro que ele está blefando! Até parece que não conhece o Noah. Prepare-se para
mentir, o filho dele nem deve ser tudo isso.
Não precisamos mentir. Noah estava certo.
Seu filho não tinha rosto de joelho, sequer tinha orelhas grandes demais para sua cabeça.
O moleque parecia pronto para estrear em um comercial sobre fraldas e, sinceramente, isso
estava me preocupando. Pois uma criança bonita, gerada pelo Noah, o tornará mais egocêntrico
do que ele já é. Se antes tínhamos que nos preocupar com toda a sua falação de o quanto ele é um
gato que isso e aquilo, agora, teríamos que aguentar Noah tagarelando sobre a beleza do seu
filho.
O pirralho — o qual ainda não sei o nome, mas adorei chamá-lo assim em meus
pensamentos — nasceu com quinhentas gramas a mais que minha filha, o que já fez Noah
apontar que sua teoria de que ele será mais alto que Winter é verdadeira. Ele era uma mistura
perfeita de Noah e Sophie, com traços angelicais da mãe, com lábios cheios, nariz pequeno e
olhos bem redondos. Com íris castanhas que me lembram dos olhos do Noah, em um tom mais
escuro, quase assemelhando ao preto. O garoto já nasceu com cabelo, os fios em sua cabeça eram
de um castanho-claro.
— Como está se sentindo, Sophie?
— Cansada — ela responde em um murmuro, antes de abaixar os olhos para o pequeno
em seus braços — Mas muito feliz. Não vejo a hora da Summer conhecer o irmãozinho.
Noah, sentado na cama ao seu lado, deixa um beijo na bochecha de sua esposa, sem tirar
os olhos do filho. Ele não parou de observá-lo desde que entrou no cômodo. Eu sabia como era a
sensação, por isso não o julgava.
— Quer segurá-lo?
— Posso?
Sophie sorri, achando graça de sua pergunta óbvia antes de se mover, colocando o seu
filho nos braços do pai. Noah logo se ajusta, sentando-se em uma postura confortável, ainda
observando seu filho.
— Eu disse que ele era bonito — mesmo emocionado, Noah não perde a chance de me
provocar ao erguer os olhos para mim, movendo a cabeça para o lado logo em seguida, pedindo
para me aproximar.
Com Winter em meu colo, caminho até ele, me colocando ao lado da cama enquanto
posso sentir os olhos de nossas esposas em nós, tão emocionadas quanto Noah e eu.
Noah observa a afilhada antes de deslizar os olhos para Sophie que somente meneia a
cabeça, piscando com cumplicidade.
Nenhum dos dois nos contou qual seria o nome de seu filho. E, confesso que parte de
mim acreditava que eles sequer tinham escolhido já que Noah não é uma fonte segura para
guardar segredos, mas, não ficaria surpreso se, pela primeira vez, ele tivesse guardado o nome do
filho as sete chaves só para fazer esse momento acontecer. Só para repetir o que, anos atrás, sua
mãe fez.
— Vai mesmo reencenar isso?
Noah ergue as sobrancelhas.
— É claro que vou.
Então, me sento em uma poltrona que estava ali, garantindo que nós ficássemos na
mesma altura. Noah dividiu os olhares entre mim, minha filha e seu filho, com um sorriso que
seria impossível mandá-lo esconder.
— Winter, quero que conheça seu melhor amigo. Este é Nathaniel Aidan Sherlock.
— Bem-vindo ao mundo, Nathaniel.
Grace se aproxima, com lágrimas já rolando em sua bochecha. Ela se coloca ao meu lado,
antes de observar cada um de nós.
— O que está pensando, amor?
Ela dá de ombros, secando a próxima lágrima que lhe escapa com as costas da mão.
— É estranho olhar para nós assim. Passamos por tantos obstáculos, construímos e
conquistamos tantas coisas maravilhosas. Sinto que, como nos livros, finalmente chegamos ao
nosso final feliz.
Noah e eu trocamos olhares cúmplices, pois Grace não poderia ter usado palavras
melhores para descrever o que sentimos. Sentada ao lado de Noah, Sophie sorri, concordando ao
mesmo tempo que captura suas lágrimas com as pontas de seus dedos.
— Vou agradecer ano após ano, e ainda assim não será suficiente. Obrigada por
proporcionarem o meu final feliz.
Noah se inclina, deixando um beijo casto nos lábios de sua esposa antes de suspirar.
Encarando cada um de nós com um sorriso, meu melhor amigo parece perdido em seus próprios
pensamentos ao dizer:
— Então é isso que acontece depois do epílogo.

FIM...,
AGRADECIMENTOS

Não importa o que você faça, para tudo, há um começo, meio e fim.
O começo de Heaven foi lindo, desesperador para uma autora completamente amadora,
que, sinceramente, não sabia o que estava fazendo, mas insistiu mesmo assim.
Heaven me conquistou, me derrubou, me levantou, me reergueu. Meu carinho pela obra
é imensurável. Infinity surgiu para ser o meio e foi essencial para mim, não como autora, mas,
principalmente, como pessoa. Todos que me acompanham sabe sobre meu favoritismo com
relação ao Noah e como sempre irei colocá-lo em um pedestal. Não faço isso por ele ser o alívio
cômico das histórias ou por seus trejeitos e traços. Noah é meu favorito porque, de alguma
maneira bizarra, o senti perto de mim quando pensei em desistir. Noah me manteve firme
naquilo que mais amo fazer: escrever.
Eu paro para contar estrelas todas as noites por causa dele.
Bom, aqui está o fim.
Não sabia exatamente como deveria dar um fim a Heaven e Infinity, um fim que fosse
lindo e digno para cada um deles. Mas sabia que Grace e Seth mereciam um casamento e, que
você, leitor, merecia saber o que acontece depois do epílogo. O conto basicamente se
desenvolveu sozinho e estou verdadeiramente feliz por como as coisas terminaram. Estou
completamente em prantos, mas muito feliz.
Realizada também é uma palavra ótima para descrever o que sinto.

Para os meus personagens queridos e que são motivo de muito choro e risada, tudo que
posso dizer no momento é que as longas noites acompanhada por algumas xícaras de café se
transformou em algo lindo. Algo puro. Genuíno. Nunca me passou pela cabeça o quão longe eu
iria com vocês e o quão longe estou disposta a ir por vocês.
Para você, leitor, não posso fechar este arquivo sem dizer que agradeço por ter feito
parte disso. Por ter visto meus personagens crescerem. Obrigada por todo apoio, por cada surto,
cada mensagem e cada áudio que me mandam e pensam que não irei ouvir haha. Obrigada!
Grace, Seth, Noah e Sophie, isto é um adeus.
E caro leitor, para você, é um até logo. Espero vê-lo em breve.

Finalizando da forma que o Noah finalizaria,


câmbio, desligo.
Autora nas redes sociais:
@autoralali

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