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Ciclos Geoquímicos 2005_2006

Principais Reservatórios Terrestres – Respostas ao Questionário Teórico

1. Como se caracterizam as interacções fundamentais entre a Atmosfera, Biosfera,


Hidrosfera e Litosfera? Refira alguns exemplos. (3)
Como sistemas dinâmicos, abertos e contíguos que são, os quatro reservatórios
mencionados – Atmosfera, Biosfera, Hidrosfera e Litosfera – promovem e permitem, entre si,
um sem vasto número de trocas de energia e massa (fluxos) ao longo das suas vastas e
íntimas (interpenetradas) interfaces. Tais transferências, em processos cíclicos mantidos ao
longo de milhares de milhões de anos da história da Terra, induziram as evoluções sofridas
por estas geosferas. É de notar que esta dinâmica é alimentada por duas fontes de energia
distintas: a radiação solar e o decaimento radioactivo verificado no interior da Terra.
O esquema seguinte pretende representar alguns exemplos de fluxos existentes entre
estes reservatórios.

2. De que forma o metabolismo influenciou a evolução da atmosfera ao longo da história


da Terra? (4)
Aceita-se que a atmosfera primitiva começou por ser redutora e que o oxigénio, hoje seu
componente essencial, só tardiamente entrou na sua composição. Este carácter redutor ou,
pelo menos, não oxidante manteve-se durante os primeiros 2 a 2.5 Ga da história da Terra,
segundo o registo geológico. Foi sob este tipo de atmosfera, e sem protecção da actualmente
existente camada de ozono, que surgiram e se desenvolveram os primeiros organismos
heterotróficos, organismos estes que necessitam para a sua nutrição de substâncias orgânicas
já elaboradas.
Diminuída de grande parte do vapor de água, entretanto passado à hidrosfera, a atmosfera
residual de então evolucionou, primeiro, por fotodecomposição ou fotólise, ou seja, por
dissociação do vapor de água e do dióxido de carbono por radiação ultravioleta solar, com
libertação de oxigénio, que cessou ou diminuiu drasticamente após ter sido atingido um certo
nível de concentração deste gás.
Posteriormente, mais de mil milhões de anos depois, a evolução da atmosfera terrestre teve
por base a fotossíntese, originando assim uma fase de produção de oxigénio condicionada
pela biosfera. O gás produzido desta forma era fixado imediatamente pelos materiais ferrosos
existentes nas águas dos oceanos, passando directamente para a litosfera sob a forma de
sedimentos (e. g. Banded Iron Formations), sem ser libertado para a atmosfera.
Com a evolução e diversificação da vida terrestre, que promovem o desenvolvimento de
organismos autotróficos, ocorre uma adaptação a um metabolismo aeróbio, que conduziu a
processos de respiração nos eucariotas, na passagem do Pré-câmbrico ao Fanerozóico. Estes
fenómenos coincidem com o aumento do teor de oxigénio livre na atmosfera.

3. Diga o que entende por Produção Primária Líquida. Qual a diferença entre este
conceito e a Produção Primária Bruta e a Produção Primária do Ecossistema? Discuta
sucintamente as relações entre a Produção Primária em plantas e as principais zonas
climáticas da Terra. (5 e 6)
A Produção Primária Líquida (NPP) é dada pela taxa de acumulação de carbono orgânico
nos tecidos das plantas terrestres, enquanto que a Produção Primária Bruta (GPP)
corresponde à taxa de absorção de CO2 por parte das mesmas. O primeiro parâmetro possui
uma relação com a taxa de fotossíntese já que, sendo uma medida de fixação de carbono na

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biomassa, significa que ao valor da GPP já foi subtraída a perca de CO 2 por via da respiração
(Rp):
NPP  GPP  R p .
A Produção Primária do Ecossistema (NEP) corresponde à diferença entre a Produção
Primária Líquida e a soma das respirações dos herbívoros (Rh) e dos decompositores (Rd):
NEP  NPP  ( Rh  Rd ) .
A NPP varia consoante as regiões climáticas já que a quantidade de flora e o tipo de
vegetação nas diferentes províncias do globo é dependente do clima. Assim, em regiões
desérticas e zonas geladas a NPP será reduzida ou até mesmo nula, enquanto que a floresta
tropical, representando o clima antagónico, pode apresentar produções anuais muitíssimo
elevadas.

4. Discuta a curva de incremento da biomassa vegetal de um ecossistema com o tempo.


Que factores controlam esse crescimento? (7)
A curva de incremento da biomassa vegetal de um ecossistema com o tempo segue um
modelo exponencial em que numa fase inicial ocorre um aumento significativo da mesma,
correspondente ao desenvolvimento da biodiversidade do ecossistema recém-formado, ao fim
da qual é gradualmente atingido um patamar de equilíbrio, que representa uma diminuição
deste incremento até ser obtido um regime estacionário. Esta última fase resulta de um
balanço de massa que promove um equilíbrio entre os tecidos mortos e os ganhos de novos
tecidos vegetais, levando à produção de detritos e sua decomposição (decomposição por
microrganismos, bactérias e fungos; libertação de CO 2, H2O e elementos nutrientes; produção
microbiana de compostos orgânicos bastante resistentes – húmus).
O crescimento da biomassa vegetal é influenciado pela precipitação e pela temperatura do
meio, factores que definem as diversas regiões climáticas consideradas no globo terrestre.

5. Descreva sucintamente o ciclo petrológico, identificando os principais reservatórios e


fluxos. Quais os processos geológicos que, de forma directa ou indirecta, estão
subentendidos? Cite exemplos elucidativos. (8)
No Ciclo Petrológico podem ser considerados três reservatórios principais dinâmicos –
Crusta, Manto e Sedimentos – que interagem continuamente ao longo do tempo, por
processos cíclicos, através de fluxos de energia e matéria, promovendo uma evolução
conjunta destes sistemas.
Material quente proveniente do manto ascende para níveis mais superficiais entrando na
constituição da crusta, gerando rochas ígneas por arrefecimento brusco ou lento (fluxo manto
→ crusta). As elevadas temperaturas verificadas neste meio mais profundo podem
metamorfizar as rochas crustais. No sentido inverso (fluxo crusta → manto), a crusta fornece
massa ao nível mantélico por afundamento das suas rochas constituintes, através de vários
processos de transporte, como a subducção, onde estas poderão sofrer fenómenos de fusão.
Pode ser também considerado um fluxo crustal interno que representa a reciclagem de rochas
crustais cristalinas, através, por exemplo, de processos de metamorfismo. Também por
metamorfismo o reservatório sedimentar pode contribuir com massa para a crusta (fluxo
sedimentos → crusta). A erosão das suas rochas constituintes fornece material sedimentar no
sentido contrário (fluxo crusta → sedimentos). Estes podem ser erodidos, reciclando material
deste reservatório, gerando um fluxo interno. O material sedimentar que se deposita em
grandes bacias pode ser transportado até ao manto, por afundamento das mesmas (fluxo
sedimentos → manto).
O diagrama seguinte pretende representar de forma muito esquemática o ciclo petrológico,
admitindo reservatórios em equilíbrio e manutenção de fluxos lineares.

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6. Diga o que entende por litosfera e caracterize, do ponto de vista composicional, as
diferentes componentes que a integram. Quais os principais problemas que,
vulgarmente, se colocam a esta caracterização e de que forma os mesmos podem ser
resolvidos ou minimizados? (9)
O termo litosfera é utilizado para distinguir, com base em propriedades físicas, a camada
envolvente exterior da Terra (excluindo a hidrosfera e a atmosfera) que engloba a crusta
terrestre (continental e oceânica, relativamente jovens) e o manto superior rígido.
A composição da crusta, que constitui uma pequeníssima percentagem da massa total da
Terra, é muito heterogénea e é influenciada por todos os processos que ocorrem nas massas
mais profundas (maiores). Estes processos resultam de fluxos energéticos que se dão entre os
diferentes níveis, assegurados por um regime térmico, que promovem uma re-
homogeneização química. A sua composição global poderá ser modelada considerando que
esta é constituída por 2/3 de basalto e 1/3 de granito, que é semelhante à composição dos
andesitos do Arcaico. As composições médias ponderadas para as principais rochas
sedimentares não diferem substancialmente das composições médias globais da crusta
determinada da forma acima descrita, apoiando desta forma estes resultados.
Na composição da crusta continental é possível de serem observadas algumas tendências
para os diferentes grupos de elementos químicos: (1) os elementos alcalinos e alcalino-
terrosos são, por norma, passíveis de fácil solubilização, embora catiões com grande raio
iónico (como o Rb, o Cs e o Ba) sejam normalmente retidos, adsorvidos em minerais de argila;
(2) elementos relativamente imóveis incluem-se nos grupos do Al (Al, Ga), Ti (Ti, Zr, Hf) e REE
(incluindo Y, Sc), para além dos que formam usualmente iões com valência elevada (e. g. Th e
Nb); (3) metais de transição do 1º período da TP revelam comportamento tendencialmente
imóvel, não obstante a mobilidade relativa do Ni e V; (4) Si geralmente retido no quartzo.
Admite-se que, globalmente, a crusta oceânica se encontre estratificada pela seguinte
ordem, do topo para a sua base: sedimentos de cobertura; rochas basálticas fracturadas;
rochas basálticas maciças atravessadas por diques; diques e basaltos maciços; metagabros e
gabros com bolsadas de plagiogranitos e protrusões de serpentina; gabros e metagabros com
protrusões serpentiníticas e bolsadas de rochas ultramáficas; rochas ultramáficas
serpentinizadas; harzburgitos e lherzolitos mantélicos. É de notar que a estratigrafia dos
fundos oceânicos normalmente aceite não poderá ser aplicada uniformemente devido a
domínios tectónicos e de dinâmica magmática e hidrotermal distintos.

7. Descreva sucintamente o ciclo global da água, identificando os principais


reservatórios e fluxos. De que forma este fluxo é afectado pelo balanço anual de
radiação solar? (11)
No ciclo hidrológico global podem ser considerados três grandes reservatórios – os
Oceanos, a Atmosfera e os Continentes –, interligados por fluxos que promovem o transporte
de água, podendo esta encontrar-se em qualquer um dos estados físicos (sólido, líquido ou
gasoso).
O ciclo inicia-se nos oceanos, que corresponde a cerca de 97% da massa total da
hidrosfera, onde ocorre o fenómeno da evaporação da água oceânica, por influência da
radiação solar incidente, transferindo-a sob a forma de vapor para a atmosfera (fluxo oceanos
→ atmosfera). Da condensação deste vapor resulta a formação de nuvens que,
consequentemente, irão dar origem a precipitação. Se esta ocorrer directamente sobre regiões
oceânicas (que são os locais mais prováveis para este processo, já a superfície terrestre é
maioritariamente coberta por oceanos), gera-se um fluxo de retorno – fluxo atmosfera →
oceanos. Quando a precipitação incide sobre as regiões continentais (fluxo atmosfera →
continentes), a água poderá ter um dos seguintes destinos: ou volta para a atmosfera por
evapo-transpiração (fluxo continentes → atmosfera), ou irá ser escoada através de cursos de
água superficiais ou subterrâneos para os oceanos (fluxo continentes → oceanos), ou ainda irá
ficar temporariamente retida em calotes de gelo, lagos ou em biótopos.
Intuitivamente conclui-se que todo este ciclo hidrológico é fortemente dependente da
energia proveniente do Sol, já que é a sua radiação a energia motriz de todo o sistema. Claro
está que a maior ou menor incidência da sua radiação na superfície terrestre, após atravessar
toda a atmosfera, irá condicionar a quantidade de água que sofre evaporação e, logo,
condensação, formando uma maior ou menor soma de nuvens que, consequentemente, irão
dar origem a precipitações mais ou menos intensas. É também necessário referir que quanto

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maior for a quantidade de nuvens formadas na atmosfera, menor será a incidência solar, já
que estas promovem uma maior reflexão destas radiações.

8. Qual a composição comum manifestada pelas águas pluviais e quais os constituintes


que denunciam maior ou menor influência marinha ou continental. Neste contexto, quais
os componentes que melhor traduzem os efeitos (poluentes, em particular) da
actividade humana? (12)
Os seguintes quadros mostram as composições usuais das águas pluviais em meio
continental e marinho (1) e as associações primárias nas mesmas águas (2).

(1) (2)

Uma das consequências mais devastadoras da actividade humana para o meio ambiente e,
neste caso, também para as águas pluviais, é a utilização de componentes poluentes. Neste
contexto, as chuvas ácidas são a manifestação desta actividade. Inicialmente nelas
encontram-se alguns gases que reagem com a água e outros compostos gasosos, formando
novas espécies; tal é o caso do CO2, SO2, NO2, HCl, conduzindo à formação de ácidos (como
o H2CO3, H2SO4, HNO3 e HCl) ou bases (como o NH4OH). A maioria dos compostos ácidos
experimentam forte dissociação, daqui resultando as águas ácidas, enriquecidas em SO42-,
NO3-, Cl-, HCO3- e H+.

9. Quais os principais componentes das águas fluviais? Qual a sua origem e de que
forma a actividade humana pode ser determinante? Neste contexto, quais as principais
questões que se levantam em torno da matéria orgânica e dos nutrientes azóticos e
fosfatados? (13)
As águas fluviais são constituídas essencialmente por água, matéria inorgânica em
suspensão, espécies inorgânicas dissolvidas (provenientes dos sistemas litosfera, hidrosfera e
biosfera ou estando relacionadas com espécies atmosféricas de origem antropogénica),
nutrientes dissolvidos, matéria orgânica dissolvida e em suspensão, e metais traço dissolvidos
ou em suspensão.

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O seguinte quadro revela as origens dos elementos maiores dissolvidos águas fluviais,
verificando-se que em alguns elementos, como o Cl-, o Na+ e o SO4, a contribuição
antropogénica pode ser determinante.

Relativamente aos nutrientes azóticos deve-se referir que a sua principal fonte continental
é a fixação biótica, sendo esta em grande parte resultante da actividade humana na agricultura
e na utilização de fertilizantes. Quanto aos nutrientes fosfatados, a sua remoção dos sistemas
continentais processa-se via runoff fluvial, sendo que a quantidade de fósforo incorporada na
matéria orgânica supera largamente a que é libertada via meteorização e remoção pelas
águas fluviais, ficando conservado nos sistema biológicos, principalmente retidos nos solos.
Desde modo verifica-se que a acumulação destes nutrientes no subsolo pode ter fortes
consequências em termos da sua contaminação.

10. Quais os principais processos químicos envolvidos na remoção inorgânica e


biogénica dos constituintes vulgares das águas de estuário? (14)
A composição das águas estuarinas é fortemente influenciada pela mistura de águas
fluviais e águas marinhas nos estuários; no entanto, outros factores contribuem para a
remoção ou introdução de componentes nestas águas, sendo estes, resumidamente:
→ Trocas efectivas entre os sedimentos de fundo e a coluna de água, envolvendo componentes
dissolvidos e particulados em suspensão;
→ Actividade biológica significativa na coluna de água propriamente dita, nas águas envolventes
(de extensão variável) de sapais e nos sedimentos de fundo;
→ Reciclagem biológica de nutrientes (C, N, P, Si) e dissolução de particulados orgânicos
(produção e consumo);
→ Actividade humana (descargas de diversos tipos e incremento das suspensões sólidas
decorrentes da actividade agrícola) → efeitos cumulativos devido ao tempo de residência
relativamente elevado das águas nos estuários → eutrofização.

11. Caracterize globalmente a composição química da água do mar e discuta, de forma


sucinta, os processos biológicos e não biológicos intervenientes, assim como os
condicionamentos impostos aos modelos vulgarmente utilizados? (15)

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12. Quais as principais fontes de energia envolvidas nas reacções químicas que
determinam a variabilidade composicional das águas oceânicas? Justifique a sua
resposta. (16)
A variabilidade composicional das águas oceânicas tem como uma das suas causas as
reacções químicas que se processam neste reservatório. Estas reacções necessitam de
energia para que se desenvolvam, possuindo três fontes:
→ Reacções químicas: reacções que libertam energia fornecem esta para outras reacções que a
necessitam;
→ Energia solar: as plantas marinhas, através da fotossíntese, sintetizam e segregam compostos
orgânicos e inorgânicos (esqueletos e carapaças) que estão em desequilíbrio com a água do
mar; os animais marinhos consomem matéria orgânica fotossintetizada e também segregam
compostos inorgânicos quimicamente instáveis. Como consequência há remoção de certos
elementos químicos; estes serão reintroduzidos após a morte dos organismos e progressão
dos processos de dissolução;
→ Energia decorrente de processos geológicos: essencialmente vulcanismo submarino e
actividade hidrotermal.
Processos metassomáticos e hidrotermais, por interacção fluido-rocha, e processos
biológicos são os principais responsáveis pela alteração da composição das águas marinhas.
Nos processos biológicos destaca-se que estes controlam, na sua essência, as concentrações
em Ca2+, HCO3-, SO42+, H4SiO4, O2, NO3- e ortofosfato.

13. Qual a composição do ar e de que forma as emissões desencadeadas pela


actividade humana perturbam os balanços naturalmente estabelecidos? (17)
→ Principais componentes: N2, O2, Ar, seguidos de CO2;
→ Metano – equilíbrio meta-estável no oceano: perturbações nas temperaturas da água podem
levar a alterações nas quantidades de CH4 na atmosfera (poderá ter originado algumas
extinções em massa);
→ CO2: tempo de residência relativamente elevado (aproximadamente 15 anos); composição em
equilíbrio constante ao longo da atmosfera;
→ Ozono: concentrações baixas na troposfera, mas altas na estratosfera; resulta das seguintes
reacções:
O2 → O + O
O2 + O → O3 (reacção exotérmica)
Um dos responsáveis pelo aumento de
temperatura na estratosfera.

15. Quais os principais tipos de aerossóis e como se caracterizam? Quais as fontes que
determinam a sua abundância relativa? Que efeitos (directos e indirectos) se lhes
associam? (19)
Os aerossóis provêm principalmente de fontes continentais, marinhas e antropogénicas.

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Ciclos Geoquímicos 2005_2006
Modelação de Ciclos Biogeoquímicos – Respostas ao Questionário Teórico

1. Diga o que entende por reservatório, fluxo, sumidouro e fonte.


Um reservatório corresponde a toda e qualquer quantidade de material com características
físicas, químicas ou biológicas, o qual, para efeitos de análise, se considera ser
suficientemente homogéneo. O seu conteúdo pode ser definido em termos de massa ou de
concentração.
A quantidade de material transferido de um reservatório para outro por unidade de tempo
designa-se por fluxo, cujas unidades são massa por unidade de área por unidade de tempo,
quando os sistemas envolvem transporte de massa.
Ao fluxo de material para o interior de um reservatório dá-se o nome de fonte (source),
enquanto que o fluxo no sentido inverso, ou seja, para fora do reservatório, corresponde a um
sumidouro (sink). Em grande parte dos modelos assume-se que este último é proporcional ao
conteúdo (massa) do reservatório, correspondendo a u, sistema semelhante a um processo
cinético de primeira ordem. Se este fluxo é constante independentemente do conteúdo do
reservatório, o processo é de ordem 0, e, de forma geral, pode ser de ordem α=2, 3, …, n,
originando sistemas não lineares.

2. Diga o que entende por Ciclo Biogeoquímico de um elemento químico.


O ciclo de um determinado elemento químico corresponde à sua transferência dentro de
um sistema constituído por dois ou mais reservatórios, de uma forma cíclica. O termo ciclo
biogeoquímico é utilizado quando o ciclo do elemento considerado envolve os reservatórios
Atmosfera, Hidrosfera, Litosfera e Biosfera (organismos vivos), na sua totalidade ou em parte.

3. O que são modelos de caixas (box models) e que parametrização é necessária


efectuar para construir um modelo?
A quantificação de fluxos e interligações entre reservatórios de forma a avaliar as
interdependências existentes no ciclo de diversos elementos são os objectivos da modelação
de ciclos biogeoquímicos. A sua elaboração recorre a modelos de caixas (box models), em que
cada caixa representa um dado reservatório que pode ter associada uma determinada
concentração de um elemento químico, sendo os fluxos as ligações a outros reservatórios, que
determinam quanto desse elemento por unidade de tempo é transferido para fora do
reservatório (sumidouro) ou para o seu interior (fonte). Assim, associado a um reservatório
pode estar associada não só a concentração de um elemento, mas também outros parâmetros
como sejam a sua massa total e o seu volume ou dimensões geométricas.

4. Diga o que entende por tempo de renovação, tempo de resposta e tempo de


residência.
O tempo de renovação é o tempo necessário para que toda uma massa M de uma
substância considerada seja renovada num determinado reservatório.
M .
H 
Qout
Não havendo fluxos de entrada, corresponde também ao tempo e escoamento do sistema.
No caso mais simples, em que o fluxo de saída (sumidouro) é proporcional ao conteúdo do
reservatório, Qout  kM , o tempo de renovação é o inverso da constante de proporcionalidade,
 H  k 1 , que é análogo a uma lei cinética de primeira ordem (k = coeficiente de transferência).
Se a massa for removida por dois ou mais processos i em separado (i=1, …, n), cada um com
o respectivo fluxo, o tempo de renovação de cada processo pode ser definido como:
M
  .
Hi
Qi
Uma vez que o fluxo total Qout   i Qi , estas escalas de tempo encontram-se relacionadas
com o tempo de renovação do reservatório por:
 H1   Hi1 .
i

9
A equação que descreve a variação de massa no reservatório é uma equação diferencial
que satisfaz a condição de balanço de massa:
dM M .
 Qin  Qout  Qin 
dt H
Se o reservatório está num estado estacionário, isto é, em que os fluxos das fontes são
iguais aos fluxos dos sumidouros, dM  0.
dt

O tempo de residência é o tempo médio dispendido por um átomo ou molécula dentro de


um determinado reservatório. Se o percurso dessa partícula é dependente de transporte físico
poderá ser utilizado o termo tempo de trânsito.
Como os reservatórios são sistemas multipartículas há que se considerar uma distribuição
de tempos de residência entre as partículas do reservatório. Assim, sendo (t) a função de
probabilidade dos tempos de residência, em que (t)dt representa a fracção de um elemento
traçador com um tempo de residência entre t e dt, o tempo de residência médio é dado por:

 r   t (t )dt .
0
A idade de uma partícula num reservatório corresponde ao tempo de permanência desde a
sua entrada no reservatório. Seja ψ(t) a função de densidade de probabilidade da idade das
partículas, a idade média de uma partícula no reservatório é:

 a   t (t )dt .
0

O tempo de resposta, ou tempo de relaxamento, é o tempo de ajuste necessário ao


regime estacionário após uma perturbação no sistema. É também definido como o tempo
1
necessário para reduzir o equilíbrio para e  37%. A sua expressão é:
 rel  k 1 .

5. Discuta sucintamente as vantagens e as limitações inerentes às modelações dos


ciclos biogeoquímicos.

A descrição matemática de ciclos biogeoquímicos permite, ainda que dificilmente,


estabelecer o comportamento de um sistema em termos qualitativos quando o número de
reservatórios é superior a dois, mesmo na situação de linearidade do sistema. Através da
mesma é possível estudar tendências evolutivas e repostas alternativas em função da variação
dos parâmetros de entrada (cenários alternativos) e colocar hipóteses (e testá-las no limite do
possível) sobre a evolução química do nosso planeta. No entanto, a descrição dos sistemas
ainda é grosseira, e tratar as interdependências entre elementos auto-catalíticos (feedback
positivo) é ainda uma limitação importante devido à não linearidade.

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Ciclos Geoquímicos 2005_2006
Principais Ciclos Biogeoquímicos – Respostas ao Questionário Teórico

1. Quais são os principais mecanismos operantes no metabolismo anaeróbio e porque


razão é necessária a existência de consórcios de organismos para a decomposição da
matéria orgânica nestas condições?
Os organismos anaeróbios possuem a capacidade de produzir energia através de
transferências de electrões de uma fonte de electrões (composto dador) para um sumidouro
dos mesmos (molécula receptora), ambos externos, reduzindo um ou mais receptores
terminais de electrões. Estas reacções alternativas permitem a respiração dos organismos na
ausência de O2, mas, frequentemente, não suportam o crescimento do organismo.
A energia resultante destes processos é relativamente baixa quando comparada com a
produzida pelos organismos de metabolismo aeróbio, que permite a um só organismo oxidar
completamente os compostos orgânicos. A mineralização em CO 2 em condições
metanogénicas é um processo multi-sequencial, envolvendo uma associação de organismos.

2. Refira os processos de fixação biológica de CO 2 e de que forma influenciam a


fraccionação isotópica. Qual a gama de assinaturas (δ13C) que estes processos deixam
na atmosfera e no oceano?
A fixação de CO2 faz através de quatro processos importantes:
1. Ciclo de Calvin: O processo de carboxilação associado a este ciclo – que ocorre em todas
as plantas verdes e muitos micro-organismos –, é catalizado pela enzima Rubisco, que possui
uma maior afinidade pelo CO2 e por isótopos estáveis mais leves do que pelo O 2; a fixação do
CO2 resulta na redução do isótopo 13C, com valores de δ13C entre -10‰ e -20‰;
2. Acetil co-enzima A: Através deste processo, bactérias anaeróbicas, incluindo
metanogénicas, acetogénicas e autotróficas redutoras do sulfato promovem uma fraccionação
isotópica de δ13C que produz valores entre -20‰ e -40‰;
3. Ciclo de redução do ácido tricarboxílico;
4. Ciclo do 3-hidroxipriopionato.
A fotossíntese assimila preferencialmente 12C, promovendo razões isotópicas δ13C
aproximadamente entre 3 a 25‰ para a atmosfera, dependendo do percurso efectuado; por
exemplo, no ciclo de Calvin, pelo percurso C3, as razões vêm δ13C ~ 15 – 25‰; no caso do
fosfenol piruvato carboxilase, realizando-se o percurso C4, δ13C ~ 3 – 8‰. As trocas atmosfera
→ oceano permitem uma extensão desta fraccionação isotópica para o oceano. Para escalas
de tempo da mesma ordem de grandeza da mistura verificada no oceano, o efeito isotópico é
diluído, mas mensurável no seu reservatório global do DIC.
Existem ainda outros factores que afectam a fraccionação isotópica no oceano, como as
trocas gasosas na superfície do mesmo, reacções químicas entre as várias espécies
constituintes do DIC, fotossíntese dos organismos marinhos (δ13C ~ 10 – 30‰). O
reservatório carbónico dos fundos oceânicos é pouco afectado.

3. Porque razão sendo o metano muito menos abundante que o CO 2 acabe por ter uma
importância igualmente fundamental no ciclo global do C? Discuta em termos da
dinâmica, química e física, do metano relativamente ao CO 2 e das principais fontes de
metano, naturais e antropogénicas.

Dentro do ciclo global do carbono é possível ser considerado o subciclo do metano. Apesar
dos seus fluxos para a atmosfera serem inferiores aos verificados para o CO2, a sua
importância revela-se nos ciclos que não envolvem grandes transferências de C e onde o CH 4
pode ser um indicador precioso, tendo igualmente um efeito no clima desproporcional
relativamente à sua abundância: o metano absorve 20 vezes mais radiação de grande
comprimento de onda que o CO2 e tem um efeito radioactivo integrado no tempo, que se
segue a uma injecção instantânea deste gás relativamente à mesma injecção de CO 2 (GWP -
Greenhouse Warming Power). O GWP para o CH4 é de 7 para um período de 500 anos.
O seu tempo de vida é superior ao do CO2, com cerca de 11 anos.
Através da oxidação a partir de reacções com radicais OH e sem qualquer outra troca
envolvida, é possível remover metano da atmosfera (resposta rápida a aumentos de CH4,
dependentes da taxa de oxidação).

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4. Quais os processos que controlam o CO2 no oceano?
A quantidade de CO2 no reservatório oceânico depende dos seus fluxos de entrada e saída
que este estabelece com a atmosfera e com os sedimentos do fundo, por fenómenos de
transferência de massa como a difusão, a dissolução e a precipitação de compostos que
englobam esta molécula. Existem três principais processos, ditos bombas, que controlam estes
fenómenos: a bomba de solubilidade, a bomba biológica e a bomba dos carbonatos.
Como o próprio nome indica, o primeiro tipo de bomba está relacionado com a solubilidade
do CO2 nas águas oceânicas, sendo que é tanto maior quanto mais baixa for a
temperatura, controlando a sua pressão parcial e o fluxo de transferência entre a atmosfera e
os oceanos.
A bomba biológica está associada a processos biológicos em promovem a transferência de
CO2 e, logo, carbono entre a atmosfera, os oceanos e os sedimentos. Através da fotossíntese
o fitoplâncton, organismos que proliferam na zona eufótica, consome CO2 dissolvido nas águas
marinhas, libertando também este composto via respiração. O dióxido de carbono é
igualmente utilizado para a formação de carapaças e conchas de organismos vivos, os quais,
depois da sua morte, sofrem decomposição, transferindo este gás de volta aos oceanos. As
estruturas inorgânicas dos mesmos acumulam-se nos fundos oceânicos, dando posteriormente
origem a sedimentos, promovendo uma remoção de CO 2 do reservatório em causa, por
precipitação de CaCO3. Este processo altera a alcalinidade das águas, libertando parte deste
constituinte para a atmosfera – bomba dos carbonatos.

5. Que mecanismos de origem terrestre e oceânica determinam (ou podem vir a


determinar) a evolução do ciclo do carbono no futuro?
A evolução do ciclo global do carbono é dependente de vários factores com maior ou menor
impacto para o futuro do mesmo. É possível mencionar diversos mecanismos de origem
terrestre e oceânica que intervêm fortemente neste ciclo biogeoquímico.

Mecanismos Terrestres:
1. Crescimento induzido por factores metabólicos que afectam a taxa de fotossíntese,
respiração, crescimento e decaimento;
2. Reflorestação de zonas afectadas no passado, mudanças na utilização ou gestão dos solos,
afectando a mortalidade dos elementos da floresta, a estrutura da idade da floresta e
consequentemente a taxa de acumulação do C.
3. Factores fisiológicos ou metabólicos.
4. Fertilização com CO2: existe uma resposta directa através do aumento da taxa de
fotossíntese e crescimento da planta. Resposta desconhecida no longo prazo. Exemplo: as
plantas acabam por se habituar às elevadas concentrações de CO 2 e acabam por reduzir a
taxa de fotossíntese para os níveis normais.
5. Fertilização com N2: Actividade humana aumentou a abundância das formas biologicamente
activas de azoto (NOx e NH4). Adição de N2 aumenta a NPP (aumento da capacidade de
armazenamento de C).
6. Adições de N podem saturar os sistemas: (i) aumento da nitrificação e lixiviação do nitrato
(acidificação dos solos e águas); (ii) empobrecimento em catiões e desequilíbrio entre
nutrientes; (iii) produtividade reduzida.
7. Química Atmosférica: dois factores importantes são o O 3 troposférico e o enxofre (chuvas
ácidas). Estas (NO3- e SO42-) promovem a mobilidade dos micronutrientes nos solos (K+, Ca2+,
Mg2+), mobilidade e toxicidade do Al e aumento do conteúdo do azoto e enxofre nos solos.
Efeitos desconhecidos na acumulação do carbono.
8. Variabilidade e Mudanças Climáticas: Variações anuais nos sumidouros terrestres de C são
muito grandes. A variabilidade devida à respiração é superior que a devido à fotossíntese. A
respiração é mais sensível a variações de temperatura e humidade.
9. Sinergias entre mecanismos fisiológicos: aumento conjunto de CO2 e N2 tem como efeito o
crescimento da biomassa em maior quantidade que o expectável. O aumento relativo é maior
em zonas nutricionalmente pobres.
10. Modelos para o C terrestre: Os sumidouros terrestres variam entre 1.5 e 4.0 Pg C a -1. A
magnitude do fluxo de C terrestre projectado para o ano de 2100 varia entre ser uma fonte de
0.5 Pg C a-1 e um sumidouro de 7 Pg C a-1.

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11. Mecanismos de distúrbio ou demográficos: sumidouros terrestres resultam da recuperação
de ecossistemas objecto de distúrbio no passado.
12. A dificuldade em estabelecer cenários para o futuro depende da definição dos mecanismos
importantes e em que situação o são. Por exemplo: aumento de CO 2 pode induzir uma maior
capacidade de armazenamento de C, mas o aumento da temperatura pode induzir a
substituição de biomas por outros (florestas por savanas e pradarias), induzindo uma fonte
efectiva de C para a atmosfera.

Mecanismos Oceânicos:
1. Mecanismos físico-químicos: o aumento do CO2 atmosférico afecta a taxa de absorção pelos
oceanos através de, pelo menos, 8 mecanismos, metade químicos, metade físicos.
2. Factor tampão (Factor de Revelle);
3. Aquecimento: decréscimo da solubilidade do CO2; feedback positivo ao aquecimento global.
4. Mistura vertical e estratificação: aumento da temperatura sugere que a estabilidade (térmica)
da coluna de água aumenta. O amortecimento dos gradientes torna o sistema mais estagnado.
Em contrapartida, o aumento do ciclo hidrológico aumenta a frequência e intensidade das
tempestades, promovendo a mistura.
5. Circulação termo-halina: particularmente sensível às alterações climáticas, nomeadamente a
formação da NADW.
6. Feedbacks/Processos biológicos: a sua compreensão é limitada e os efeitos líquidos estão
longe de serem previsíveis.
7. Adição de nutrientes limitando a produção primária: azoto inorgânico é limitativo da produção
primária marinha. Disponibilidade em zonas de upwelling, por isso sensível à circulação
oceânica.
8. Utilização amplificada de nutrientes: um dos mistérios da biologia marinha é a observação de
regiões com abundância de nutrientes e pouca clorofila (HNLC). Uma das hipóteses, que tem
recebido mais atenção é a limitação em Fe.
9. Modificações das razões elementares da matéria orgânica no oceano: A razão C:N:P nas
partículas orgânicas marinhas encontra-se reconhecida como permanecendo constante há
muito tempo. Até que ponto se podem modificar é algo de desconhecido.
10. Aumento da razão carbono orgânico/carbonato no output da produção biológica: uma vez
que a produção de carbonato biogénico aumenta pCO 2, o aumento desta razão aumenta a
eficiência da bomba biológica.

6. Quais os principais mecanismos de produção de O2?


Os principais mecanismos naturais de produção de oxigénio são a fotossíntese e a fotólise
da água. A fotossíntese, de longe o processo de maior importância, pode ser representada de
uma forma simplista pela equação
6CO2 + 6H2O → 6O2 + C6H12O6,
correspondendo ao processo de obtenção de energia das plantas superiores, organismos
eucariotas (algas) e dois grupos de procariotas – cianobactérias e proclorófitas. De notar que
este mecanismo necessita de radiação solar para que se efectue.
O mecanismo associado à fotólise da água consiste na fragmentação de moléculas de
água nos gases hidrogénio e oxigénio, através de radiação incidente, ocorrendo
essencialmente na atmosfera superior a partir do vapor de água aí existente.

7. Quais os principais mecanismos de consumo de O2?

É de facto extraordinário verificar a quantidade e variabilidade de processos que dependem


do consumo de oxigénio quando são tão escassos os mecanismos que o libertam, que
promovem a sua disponibilidade biológica e geológica. Os principais processos biológicos de
consumo deste gás estão relacionados com o metabolismo dos organismos, desde a
respiração celular e macroscópica aeróbia, passando pela fotorrespiração, até metabolismos
de compostos carbónicos (C1) e inorgânicos.
A respiração celular aeróbia corresponde à oxidação de substratos orgânicos com oxigénio
para fornecer energia sob a forma de ATP e NADH (inclui a glicólise, o ciclo de Krebs e a
fosforilação oxidativa). Como é bastante óbvio, organismos microscópicos aeróbios necessitam
de menos quantidade de oxigénio do que a macrofauna.

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A fotorrespiração prende-se com o facto de que a já mencionada enzima Rubisco (ciclo de
Calvin) pode admitir tanto CO2 como O2, sendo este um inibidor competitivo da fotossíntese.
Este processo produz CO2, sem elaboração de ATP, sendo activado em climas quentes e
secos, por encerramento dos estomas, conduzindo a um empobrecimento em CO 2 e
acumulação de O2.
Organismos metilotróficos podem metabolizar compostos C1 – como o metano, o metanol, o
formaldeído e o formato –, consumindo O2 para a sua síntese. Estes compostos são em solos
e em sedimentos com produtos de fermentação aeróbia, consumindo o metano produzido
durante a metanogénese.
Os organismos quimiolitotróficos, de metabolismo inorgânico, oxidam compostos
inorgânicos como fonte de energia e de electrões, podendo ser também autotróficos. A fixação
do CO2 não se encontra ligada à produção de O 2 pela estequiometria da fotossíntese, sendo
muito distinta desta.
Uma larga porção da produção primária é consumida por mecanismos de degradação
aeróbia, por parte de organismos de maior porte. A produção primária terrestre parcialmente
degradada pode ser incorporada nos solos e posteriormente erodida. A sua preservação pode
durar vários milénios nestas condições. Com a excepção de algumas bacias restritas, grande
parte da coluna de água marinha está oxigenada. Estudos sedimentológicos e do fluxo de
partículas demonstram que grande parte da produção primária marinha é completamente
degradada, antes da sua deposição nos fundos oceânicos; a produção de O 2 é compensada
pelo seu consumo nos oceanos. A penetração de oxigénio nos sedimentos é muito limitada,
embora possa ser amplificada pela actividade de organismos escavadores.
Existem cinco principais processos químicos abióticos que consomem oxigénio: a oxidação
eficiente de gases vulcânicos, quer na atmosfera, quer em águas naturais ou superfícies
minerais, podendo estar envolvidos alguns organismos quimiolitotróficos; oxidação de
minerais, por exposição à oxidação; em fontes hidrotermais, onde se dá a rápida oxidação de
espécies reduzidas emanadas pelos fluidos hidrotermais e erupção basáltica, promovendo a
sua alteração; oxidação do Fe e do S em transições óxido/anóxido; oxidação abiótica da
matéria orgânica, por foto-oxidação de M. O. dissolvida e particulada e dos combustíveis
fósseis, por fogos de queima de vegetação e combustíveis e por oxidação do metano na
atmosfera.

8. Enuncie algumas das evidências, devidamente justificadas, que apoiam a existência


de um evento que levou à oxigenação da atmosfera terrestre entre 2.2 e 2.0 Ga?

Existem várias evidências de diversos campos (e, logo, independentes) que indicam a
transição de uma atmosfera redutora para uma oxidante no intervalo 2.2 – 2.0 Ga. No registo
geológico, a transição das BIF’s, ou Banded Iron Formations, onde afloram minerais de Fe não
oxidados, para as denominadas red beds, já com intensa oxidação deste tipo de minerais (~2.0
Ga), reflecte o acumular de oxigénio na atmosfera terrestre, atingindo uma dada concentração
do mesmo que permitiu a oxidação verificada.
Com a acreção da Terra, dá-se a libertação de gases. Os compostos CH4, H2O, N2, NH3 e
H2S são retidos pelo campo gravítico, enquanto que H 2 e He escapam para o espaço. Por
processos de fotólise, H2O, NH3 e H2S dão origem aos produtos O2, N2 e S; por oxidação de
CH4 e H2S, produz-se CO2, CO e SO2. A elevada pressão parcial de CO2 e CH4 mantém efeito
estufa, com a superfície terrestre a uma temperatura ≈ 90ºC. A água permite a manutenção do
ciclo hidrológico e a meteorização mineral; o CO 2 reage com silicatos; o oceano forma-se
possuindo um tampão bicarbonato; CH4 é rapidamente oxidado (O2 derivado da fotólise da
água).
A progressiva oxidação do Planeta também é assegurada pela emissão de H2 em gases
vulcânicos (forte potencial redutor; escapa da atmosfera).
Gases vulcânicos actuais oxidados, resultantes da oxidação do manto (presentemente no
buffer quartzo-faialite-magnetite, QFM).
A oxidação ter-se-á dado há 3.6 – 3.9 Ga.
O Arcaico:
Baixos níveis de O2: pirite e uraninite em sedimentos detríticos; Paleossolos (Mount Rose,
Australia): com 2.75 Ga, contém até 10% de MO com δ13C –33%0 a –55%0 (Rye & Holland,
2000) ⇒ Ciclo do C através do metano e organismos metanotróficos. Solos modernos com

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δ13C < –40%0 têm de ter uma fonte de metano externa. Paleossolos mais recentes (2.4 Ga)
revelam perca de Fe durante a meteorização e formação dos solos.
Fraccionação isotópica do S: Desvios importantes em δ33S e δ34S em sulfuretos e sulfatos
ocorreu entre 2.4 e 2.0 Ga; denotam a transição da fotoquímica do SO2 para a meteorização
oxidante de sulfuretos.
Razões isotópicas de N e S: Concentrações baixas ou limitadas de O2; Não pode ocorrer
desnitrificação, a qual gera N2 com δ15N negativo relativamente à fonte NO3 −; o nitrato
actual está enriquecido em 15N relativamente à atmosfera; Redução bacteriana do sulfato
produz um sulfureto empobrecido em 34S. Diferenças no Arcaico em δ34S < 2%0 indicam
uma fraccionação menor.

Evolução da fotossíntese:
A produção inicial de CH4 terá contribuído para a oxidação da crosta por via indirecta:
fotodissociação do metano e escape de H2;
O Fe impede a acumulação de O2;
Serpentinização como processo de oxidação via libertação de CH4 e H2;
Só quando as fontes de Fe2+, CO e CH4 são inferiores à de O2 pode este acumular na
atmosfera.
Efeitos isotópicos da fotossíntese:
Desvio no δ13C dos carbonatos: cianobactérias e fixação biológica do CO2.
Balanços de massa com isótopos, apontam para que a partição entre o C orgânico e
inorgânico, e a produtividade global e sedimentação de C não variou significativamente nos
últimos 4 Ga.
Ciclo biogeoquímico do C mostra uma consistência ao longo de 4 Ga de evolução biológica,
apesar das grandes inovações na produção primária e respiração;
2. A consistência da sedimentação da MO versus carbonatos significa que as contribuições
relativas de várias fontes e sumidouros para o sistema oceano + atmosfera se tem mantido
constante.
Parece indicar que a meteorização oxidante das rochas sedimentares se encontrava activa no
Arcaico, antes da acumulação do O2 atmosférico.
Evidências para a fotossíntese no Arcaico:
Estromatólitos;
Fósseis em rochas do Arcaico e Proterozóico, associados à assinatura de δ13C providencia
uma evidência indirecta que a fotossíntese terá evoluído cedo (3.5 Ga).
Detecção de esterenos C27 e C30 em rochas com 2.7 Ga (Pilbara, Australia), compostos
derivados dos esteróis, maioritariamente produzidos pelos eucariotas (aeróbicos).
A Atmosfera Proterozóica:
Oxigenação da atmosfera Proterozóica:
Sobrevivência aos UV: intensidade solar inferior; Fe2+ dissolvido no oceano; águas ricas em
substâncias húmicas.
Stress aos UV: explicação possível dos 500 Ma entre o aparecimento das cianobactérias e a
acumulação do O2. Síntese do composto que bloqueia os UV requer O2.
Valores δ13C elevados (até 10 %0) nos carbonatos marinhos com 2.3 – 2.0 Ga.
Evidências para o aumento do O2 aos 2.3 – 2.0 Ga: BIF’s e red beds;
Glaciação Huroniana: arrefecimento do clima em resposta ao aumento do O2 → rápido
consumo do CH4 atmosférico.

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