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Capítulo II – Patologias e tratamento da madeira

II.3 – PROPRIEDADES MECÂNICAS

A árvore possui uma estrutura com elevada eficácia para resistir aos esforços submetidos
durante o seu período de vida, essencialmente os esforços de flexão produzidos pela acção
do vento. O mesmo não se pode dizer quanto aos esforços de compressão produzidos pela
acção da gravidade.

A madeira possui uma elevada resistência à tracção paralela às fibras. Como exemplo de
peças solicitadas a este esforço, podem-se referir a linha e o pendural das asnas. A relação
entre a tensão e a deformação é praticamente linear até á rotura.

A resistência à compressão paralela às fibras da madeira é elevada. Como exemplo de


peças sujeitas a este esforço podem-se referir os pilares, os montantes e as pernas das
asnas. A relação entre tensão e deformação é linear numa primeira fase e não linear na
segunda fase. Quanto menor for o módulo de elasticidade, menor é a resistência à
compressão de peças esbeltas. A resistência à tracção é superior à resistência à compressão
nas madeiras livres de defeitos. No entanto, em madeira classificada, a resistência à
tracção é inferior à resistência à compressão, devido à influência dos defeitos
(essencialmente nós).

A resistência à flexão das madeiras é elevada. Exemplo de peças: vigas, vigotas, madres e
pernas das coberturas, etc.

A resistência à tracção perpendicular às fibras da madeira é baixa (~ 30 a 70 vezes


menor que na direcção paralela às fibras), devido à existência de poucas fibras na direcção
perpendicular ao eixo da árvore e à consequente falta de travamento das fibras
longitudinais. Esta questão é crítica no caso de peças curvas.

A resistência à compressão perpendicular às fibras da madeira é menor que na direcção


paralela às fibras. A relação tensão de compressão perpendicular às fibras-deformação, é
inicialmente linear, passando para um estado de esmagamento sem ser perceptível, de
imediato, a rotura da peça. Este esforço é característico nas zonas de apoio das vigas,
onde se concentra toda a carga em pequenas superfícies que deveriam ser capazes de
transmitir a reacção sem sofrer deformações.

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A resistência ao corte produz tensões tangenciais que actuam sobre as fibras da madeira do
seguinte modo:
- corta as fibras transversalmente pela acção do esforço tangencial de corte, sendo a
rotura dada por esmagamento;
- a rotura é realizada por deslizamento das fibras na direcção longitudinal através da
acção das tensões tangenciais de deslizamento longitudinal;
- a rotura é realizada por deslizamento das fibras laterais por efeito das tensões
tangenciais de deslizamento lateral (este tipo de esforço surge em casos específicos,
tais como nas ligações coladas entre a alma o banzo de vigas em duplo T);

Em relação ao módulo de elasticidade da madeira, este varia consoante o tipo de esforço


(à tracção ou compressão). Geralmente é usado o módulo de elasticidade aparente, que
corresponde à flexão.

A resistência da madeira poderá ser especificada pela escolha de determinada espécie e da


qualidade pretendida isto é, classificação visual (N518:1995) ou mecânica com a
determinação do módulo de elasticidade (EN519:1995), ou através da classe de resistência
mecânica (EN338:1995, conforme se verifica no quadro II.I, para as madeiras maciças).

Quadro II.I – Classes resistentes da madeira maciça e valores característicos


Espécie Coníferas Espécie Folhosas
C14 C16 C18 C22 C24 C27 C30 C35 C40 D30 D35 D40 D50 D60 D70
Propriedades resistentes em N/mm2 (MPa)
Flexão fm,k 14 16 18 22 24 27 30 35 40 30 35 40 50 60 70
Tracção // ft,0,k 8 10 11 13 14 16 18 21 24 18 21 24 30 36 42
Tracção ft,90,k 0.3 0.3 0.3 0.3 0.4 0.4 0.4 0.4 0.4 0.6 0.6 0.6 0.6 0.7 0.9
Compressão // fc,0,k 16 17 18 20 21 22 23 25 26 23 25 26 29 32 34
Compressão fc,90,k 4.3 4.6 4.8 5.1 5.3 5.6 5.7 6.0 6.3 8.0 8.4 8.8 9.7 10.5 13.5
Corte fv, k 1.7 1.8 2.0 2.4 2.5 2.8 3.0 3.4 3.8 3.0 3.4 3.8 4.6 5.3 6.0
Propriedades de rigidez em KN/mm2 (GPa)
Modulo
Elasticidade //
E0,mean 7 8 9 10 11 12 12 13 14 10 10 11 14 17 20
Modulo
Elasticidade // E0,k 4.7 5.4 6.0 6.7 7.4 8.0 8.0 8.7 9.4 8.0 8.7 9.4 11.8 14.3 16.8
(5ºpercentil)
Modulo E. E90,mean 0.23 0.27 0.30 0.33 0.37 0.40 0.40 0.43 0.47 0.64 0.69 0.75 0.93 1.13 1.33
Módulo de
distorção
G 0.44 0.50 0.56 0.63 0.69 0.75 0.75 0.81 0.88 0.60 0.65 0.70 0.88 1.06 1.25
3
Densidade em Kg/m
Densidade k 290 310 320 340 350 370 380 400 420 530 560 590 650 700 900
Densidade média 350 370 380 410 420 450 460 480 500 640 670 700 780 840 1080
mean

O quadro II.II relaciona as classes de Qualidade com as classes de Resistência das


espécies de madeira mais usadas em estruturas, de acordo com a prEN 1912 [3].

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Quadro II.II - Relação das classes de qualidade com as classes de resistência das espécies de madeira mais
usadas em estruturas
CLASSE DE
CLASSE DE
MADEIRA QUALIDADE
RESISTÊNCIA
(NORMA)
Pinho bravo (Pinus pinaster
EN (NP 4305) C18*
Ait.)
Casquinha (Pinus silvestris SS (BS 4978) C24
L.) GS (BS 4978) C16
S13 (DIN 4074) C30
Espruce (Picea abies Kars) S10 (DIN 4074) C24
S7 (DIN 4074) C16
Câmbala (milícia excelsea
A. Chev. ou M. Regia A. HS (BS 5756) D40
Chev.)

* Para a classe E do Pinho bravo, recomenda-se a adopção dos valores


indicados na Ficha LNEC M2: “Pinho bravo para estruturas”

Os factores que influenciam as propriedades mecânicas da madeira são o teor de


humidade, a duração da carga aplicada, a qualidade da madeira. De forma mais reduzida, a
temperatura e o efeito do tamanho da peça de madeira, também influenciam as
propriedades mecânicas da madeira.

No caso do teor de humidade da madeira (para teores inferiores ao ponto de saturação das
fibras) aumentar, significa que irá existir maior quantidade de água na parede celular e
consequente diminuição da resistência e do módulo de elasticidade. A humidade
influencia as propriedades da madeira de diferente modo. Isto é a resistência à compressão
(tanto paralela como perpendicular às fibras) é a mais influenciado pela humidade,
independentemente da qualidade da madeira, seguido da resistência à flexão e por último a
resistência à tracção paralela às fibras que é praticamente independente do teor de
humidade da madeira.

O efeito da duração da aplicação da carga tem influência na resistência da madeira, que


diminui para grandes durações de tempo. A explicação desta característica da madeira,
deve-se ao facto de quando existirem irregularidades naturais, por exemplo nós na
madeira, quando submetida a cargas de curta duração se concentrarem grandes tensões sob
um comportamento elástico, ao passo que quando se submete a madeira a cargas de longa
duração a concentração de tensões à volta dos nós tende a reduzir-se devido ao
comportamento não linear elástico da madeira. “(...) considerando a madeira como um
material fissurado e de comportamento visco-elástico cujo comportamento mecânico só

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pode ser explicado com suficiente precisão quando se tem em conta as teorias da visco-
elasticidade e da mecânica da fractura.” [4].
Por esta razão, a madeira reage bem aos efeitos do vento e sismo. Deve-se ter em atenção
que este efeito não deve ser confundido com o efeito de fadiga e da idade da estrutura.
O factor com maior importância na resistência da madeira é a sua qualidade, mais
concretamente são os defeitos que esta poderá possuir, como por exemplo:
- os nós criados pelos ramos das árvores;
- o desvio da fibra afectada pela presença de nós;
- a existência de fendas longitudinais radiais aquando da secagem que cortam os anéis
de crescimento transversalmente;
- fendas longitudinais tangenciais produzidas pela separação dos anéis de crescimento e
que são consequência da falta de aderência entre as membranas da madeira devido às
irregularidades do crescimento da árvore.
- o descaio da madeira, designação dada quando existe falta de madeira nas arestas das
peças de madeira, defeito da serragem associado ao corte da árvore.

O efeito da temperatura na madeira é reduzido, no entanto para temperaturas abaixo de


0ºC os valores característicos da resistência à flexão, à compressão e ao impacto são
maiores que para temperaturas normais. Para temperaturas muito elevadas a madeira
também pode sofrer redução gradual da resistência.

Existe também uma relação entre a resistência da madeira e o seu volume sendo
inversamente proporcional. Este efeito é mais notório em relação ao esforço de tracção
perpendicular e paralela às fibras e em relação ao esforço de corte.

II.4 – MADEIRAS USADAS NA CONSTRUÇÃO

Existem dois grandes grupos de madeiras usadas na construção, que são as madeiras
maciças e as madeiras industriais.
Dentro das madeiras maciças existe a madeira roliça, a falquejada e a serrada. A madeira
roliça é usada nas construções rurais, em estacas, nos escoramentos, nos postes, etc. Este
tipo de madeiras deve ser usado sob condições meio seca, cujo teor de humidade ronda os
30%, ou seca ao ar em que existe o ponto de equilíbrio entre a humidade no interior das
células e a humidade atmosférica.

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